VOLTA AO
MUNDO NA MOTA
DO MEU PAI
Raquel Ramos
2 Guião de Leitura Orientada · VOLTA AO MUNDO NA MOTA DO MEU PAI
Caro
professor
O guião de leitura orientada que se apresenta sobre a obra Volta ao
mundo na mota do meu pai baseia-se nos pressupostos teóricos que
sustentam o programa Literature-Based Reading Activities: Engaging
Students with Literary and Informational Text, das autoras Hallie Kay
Yopp e Ruth Helen Yopp.
De acordo com as autoras, a leitura de textos literários deve ser uma
prática continuada nas escolas, tanto na sala de aula como na biblio-
teca escolar, na medida em que o contacto com o texto literário pro-
porciona às crianças e jovens experiências que lhes permitem sentir,
pensar e deslumbrarem-se, enquanto desenvolvem competências de
literacia consideradas essenciais neste século: a) a criatividade, o pen-
samento crítico e as competências associadas à resolução de proble-
mas; b) competências de comunicação e colaboração; c) a literacia da
informação e dos media, associadas ao uso de ferramentas tecnológi-
cas e d) competências sociais e culturais.
Dica 1
O professor pode realizar
todas as atividades propostas
ou selecionar as que se adequam
melhor ao grupo, devendo, no
entanto, promover atividades
durante as três fases.
Dica 2
Todas as atividades propostas pelas
autoras requerem o manuseamento
do livro (impresso ou digital) por parte
do aluno/pares de alunos, de modo
a que este(s) possa(m) ler o texto
ou reler certas passagens, sempre
que necessário.
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Objetivos
Antes Durante Depois
Perspetivas teóricas
As atividades sugeridas baseiam-se nos seguintes pressupostos teóricos:
Teoria da receção:
Segundo esta teoria – defendida sobretudo por Rosenblatt – as experiências, os sen-
timentos, as atitudes e conhecimentos que o leitor tem em relação a determinado tó-
pico influenciam a leitura do texto; porém, o leitor também é influenciado pelo texto
através da relação estética que estabelece com a obra literária. Quando os professo-
res encorajam a leitura de um texto e aceitam respostas pessoais ou quando pedem
aos alunos para refletirem e para se exprimirem sobre o que leram através do dese-
nho, da conversação, da escrita, da dramatização, estão a desenvolver uma atitude
estética do aluno para com o texto literário. Nas atividades de leitura sugeridas pelas
autoras, as opiniões dos alunos são sempre respeitadas, sendo os mesmos convida-
dos a reler, se for necessário, para reverem as suas interpretações e conversarem
sobre as mesmas com os seus colegas ou com o professor.
Teoria construtivista:
Tal como no caso da teoria anterior, de acordo com a teoria construtivista, as expe-
riências do leitor devem ser valorizadas no processo de leitura. Nenhum leitor é uma
tabulae rasa; pelo contrário, cada leitor, por ter conhecimentos, experiências e
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sentimentos diferentes, traz sempre algo de novo para o texto e pode fazer uma inter-
pretação do texto diferente da de outro leitor. O mesmo leitor pode até, em momentos
diferentes da sua vida, fazer interpretações diferentes do mesmo texto. Sendo a lei-
tura um processo ativo, os professores influenciados por esta teoria apreciam as res-
postas subjetivas dos leitores, envolvendo-os em atividades que requerem uma aná-
lise da linguagem, organização da informação e conexões entre as leituras feitas e as
experiências de vida.
Teoria sociocultural:
De acordo com esta teoria – defendida por Vygostsky –, as crianças e os jovens
aprendem através de interações sociais. Os professores que defendem esta teoria
acreditam que os alunos organizam o seu pensamento e constroem significados atra-
vés de interações que estabelecem uns com os outros; por isso, proporcionam aos
leitores momentos de leitura/de trabalho em torno do texto que envolvem a discussão
e a negociação de pontos de vista em relação ao texto.
Responsabilidades do professor
É importante que os professores que se comprometem a desenvolver um projeto de
leitura orientada com os seus alunos:
ANTES DA LEITURA
Atividade 1
Pacotes de ilustrações
(Trabalho de grupo + Plenário)
A turma é dividida em grupos de 5/6 elementos. Os alunos ainda não conhecem a obra.
O professor organiza tantos envelopes quantos os necessários, inserindo em cada um as nove ilus-
trações que se seguem, sem qualquer tipo de ordenação. Cada grupo recebe um envelope. Em
grupo, os alunos constroem uma narrativa possível e, de seguida, partilham-na oralmente com os
colegas, antecipando o enredo.
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Atividade 2
Excertos do livro
(Trabalho individual + Trabalho de grupo)
A turma continua dividida em grupos de 5/6 elementos. O professor distribui envelopes com excer-
tos da obra que irá ser lida. Todos os envelopes contêm os mesmos excertos. Os alunos ainda não
conhecem o livro.
Depois de lerem os excertos, os alunos refletem individualmente sobre possíveis acontecimentos,
personagens e contexto em que decorrerá a história. A seguir, cada aluno lê os seus excertos aos
colegas e, em grupo, trocam opiniões. «Porque é que achas que…?»; «Eu penso que … porque…»
O professor pede aos alunos para anteciparem informação sobre as personagens, o espaço, o tempo
e o enredo, preenchendo uma tabela com informação, em forma de tópicos.
Depois de todos os grupos terem preenchido a tabela, o professor pode solicitar que partilhem
as suas opiniões com os restantes grupos.
Excertos
Capítulo 1
Há muito, muito tempo, quando era um rapaz da tua idade e vivia numa pequena ilha ro-
deada de castanheiros, oliveiras e carvalhos que conheciam histórias centenárias mas não as con-
tavam a ninguém, a minha forma preferida de dar a volta à ilha e de regressar à Casa do Roseiral
era na mota do meu pai.
Capítulo 2
Quando o meu pai dizia “Anda! Vamos dar uma volta!”, ele sabia o significado que essa volta
tinha para mim. E talvez, ainda que inconscientemente, guardasse esse segredo como eu guar-
dava o dele. É que no pequeno palacete do Perna de Ouro, junto à loja da D. Esmeraldinha, mo-
rava a Maria, uma princesa de cabelos negros e com os olhos verdes mais bonitos que existiam
em qualquer ilha.
Capítulo 3
Antes que aquela mão de bruxa me agarrasse, apareceu o Jaime, que era quatro anos mais
velho, quarenta vezes mais experiente e quatrocentas vezes mais audaz do que eu e, puxando-lhe
pela saia, começou ele a bufar:
– Fujam! Fujam, que há fogo na casa da bufona! A casa da bufona está a arder!
A mulher, esbaforida, desapareceu e o Jaime teve de me ajudar a vestir os calções e a camisola
que trouxera consigo. Depois, como se não tivesse acontecido nada de especial, virou-se para
mim:
– Anda, pá! Ninguém viu. Estava tudo a dormir a sesta.
Capítulo 4
Ver a mãe a fazer vestidos, saias e calças para a família inteira do velho Perna de Ouro, in-
cluindo os aventais da bufona, e a avó a passar as camisas do senhor doutor e do velho com a
perna de pau, horas seguidas, a queixar-se do calor e do peso do ferro cheio de brasas, sabendo
que não lhe podiam cobrar nada – porque essa era a forma que tinham acertado de pagar as des-
pesas com a vidraça do palacete e o médico da Maria –, parecia-me um castigo exagerado para
uma família cujo filho tinha atirado uma pedra a uma janela do palacete para poder ver a sua
paixão.
Sem me dar conta, comecei também a não nutrir grande simpatia pela família do Bairro das
Andorinhas.
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Capítulo 5
Foi apenas quando, no final de uma manhã, o vi a sair da Casa do Roseiral e encontrei o meu
pai, a minha mãe e a minha avó (…) numa espécie de reunião séria, que me lembrei da pergunta
do padre Alberto e de como ele tinha mudado de assunto ao ver o meu ar confuso.
– Leonardo, vem sentar-te aqui connosco, por favor!
Quando ouvia esta frase, a terminar em “por favor!”, sabia que alguma coisa importante tinha
acontecido ou estava prestes a acontecer.
– Sabes que já acabaste a 4.ª classe. O teu pai e eu queremos que continues a estudar.
Capítulo 6
Foi então que o Jaime se saiu com a novidade:
– Um dia destes o meu pai vai a salto para França.
Fiquei a olhar para ele e não tive coragem de lhe perguntar o que era “ir a salto”. A palavra
“França” era um desenho amarelo esbatido no mapa da escola.
Capítulo 7
Voltei à Casa do Roseiral na ilha, rodeada de castanheiros, oliveiras e carvalhos, pelo Natal.
O Jaime gozou com os meus modos e a maneira afetada de falar. A avó tinha tricotado duas
camisolas de lã para combinarem com a minha gravata e a mãe engordara um peru para eu me
poder regalar. Das mãos do pai continuavam a sair figuras de homens minúsculos, rostos de mu-
lheres ou formas estranhas que pareciam pássaros a voar.
Capítulo 8
Aparecia na ilha e talvez noutras ilhas como a nossa, no arquipélago que as mesmas forma-
vam num canto do país, com uma certa regularidade, embora fosse visto com mais frequência
nos dias grandes de verão. Não sei se alguém sabia o verdadeiro nome do contrabandista, mas ele
não se aborrecia por todos o tratarem por senhor Saltão.
– Então, senhor Saltão, o que nos traz hoje? – perguntava a avó.
Capítulo 9
Quando regressei ao Seminário, percorrendo os caminhos da ilha onde morávamos, na mota
do meu pai, era o rapaz de onze anos e três meses mais infeliz do arquipélago.
10 Guião de Leitura Orientada · VOLTA AO MUNDO NA MOTA DO MEU PAI
Capítulo 10
– Deixa lá! É melhor assim! Daquele palacete não vem nada que jeito tenha.
Quando quis saber por que dizia ele aquilo, o Jaime, que agora já estava muito mais crescido
e sabia, com toda a certeza, muito mais sobre a ilha onde morávamos, rodeada de castanheiros,
oliveiras e carvalhos, confidenciou-me:
– Tu não sabes o que eles fazem? Todos! Desde a bufona até ao velho?
– Que fazem, para além de cobrarem rendas altas e balúrdios a quem lhes quebra as janelas?
– quis eu saber.
– Os gajos denunciam todos os que vão a salto para França.
Capítulo 11
– Arranja maneira de vires até cá, de camioneta e depois a pé, que aconteceu uma coisa séria.
Já falei com o padre Guilhermino. Como é fim de semana, não há problema nenhum.
Quando quis saber o que se tinha passado, a avó não adiantou nada. Disse apenas:
– Ninguém morreu, filho. Nem eu, que já podia ir.
No dia seguinte fiquei a saber tudo pelo Jaime, que tinha feito um longo percurso até à es-
trada nacional onde a camioneta nos deixava, para me acompanhar até à Casa do Roseiral a pé.
– Foram presos.
Capítulo 12
Mas era abril.
(…)
Ou talvez adivinhassem que coisas importantes estavam para acontecer no país ao qual a
nossa ilha pertencia, rodeada de castanheiros, oliveiras e carvalhos que conheciam histórias cen-
tenárias mas não as contavam a ninguém. Ou talvez ouvissem, no rádio da avó, que vivia no
Bairro da Capela, numa casa cheia de fotografias de parentes antigos que moravam no Brasil e na
América, “E depois do Adeus” e “Grândola, Vila Morena”.
11 Guião de Leitura Orientada · VOLTA AO MUNDO NA MOTA DO MEU PAI
Atividade 3
Ainda antes de lerem a obra, os alunos, em grupos, registam na tabela facultada pelo professor
aquilo que sabem sobre o período que antecedeu a Revolução de 25 de Abril de 1974. Depois de o
professor auscultar a turma toda, continuam a registar o que gostariam de saber. Após a leitura da
obra, os alunos podem regressar à tabela e anotar o que aprenderam.
DURANTE A LEITURA
Atividade 1
Caderno de detetive
(Trabalho individual + Trabalho de pares)
À medida que lê, o aluno anota, num caderninho de detetive, informações e inferências sobre as in-
formações recolhidas. (O aluno pode utilizar uma folha A4 dobrada ao meio ou uma ferramenta tec-
nológica).
No lado esquerdo do caderno, o leitor anota uma informação importante sobre cada capítulo que
está a ler; no lado direito, regista as razões pelas quais considera que a informação é importante ou
porque é que considera que algo está a acontecer, identificando as página e as linhas onde encontra
a informação.
Depois de preencher o seu caderno, cada aluno compara os resultados com os de um colega e
ambos partilham informações e opiniões.
Capítulo 1
O que sei O que acho / Porque é que acho isso
Capítulo 2
O que sei O que acho / Porque é que acho isso
…
13 Guião de Leitura Orientada · VOLTA AO MUNDO NA MOTA DO MEU PAI
Atividade 2
Teia de personagens
(Trabalho de grupo)
O professor distribui pequenos cartões pelos grupos, em número suficiente para a realização da ta-
refa (cartões redondos, quadrados e retangulares).
1.ª Parte:
Cada grupo debruça-se sobre duas personagens e constrói uma teia: no cartão redondo insere o
nome da personagem, nos cartões quadrados, as características dessa personagem, e nos cartões
retangulares os motivos que justificam a caracterização que fizeram da personagem. O professor
pode fotografar os esquemas produzidos para posterior discussão.
2.ª Parte:
Depois de terminada a primeira tarefa, os grupos trocam os cartões entre si (os elementos de cada
personagem devem ser inseridos em envelopes separados) e constroem as teias com a informação
fornecida pelos colegas. No caso de não concordarem com alguma característica ou justificação,
anotam os motivos da discordância e justificam as suas posições.
Personagens:
Leonardo; pai do Leonardo (Raul); Jaime; Maria; bufona; avó; mãe; pai da Maria; padre Alberto; o se-
nhor Saltão.
Efeito da teia
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Atividade 3
5 expressões interessantes
(Trabalho individual + Trabalho de grupo)
Exemplos:
Atividade 4
Organizador gráfico
(Plenário)
Os alunos, em grande grupo, preenchem o organizar gráfico que o professor desenha no quadro ou
cola num placar, fornecendo informação em forma de tópicos relativamente a cada fase do enredo.
DEPOIS DA LEITURA
Atividade 1
Caderneta literária
(Trabalho individual + Trabalho de pares)
O professor distribui uma caderneta literária pelos alunos. Cada aluno escolhe a sua personagem
preferida e aquela por quem nutre menos simpatia; atribui-lhes características psicológicas, dá-lhes
uma nota (de 1 a 5) e escreve um comentário sobre a nota atribuída, como se se tratasse de uma
caderneta escolar.
Posteriormente, o aluno procura um colega que tenha selecionado as mesmas personagem e com-
para os resultados, defendendo o seu ponto de vista.
Nome da personagem:
Nome da personagem:
Atividade 2
Atividade 3
1 Ipois
magina que és o Jaime. Escreve uma carta ao Leonardo a contar-lhe tudo o que aconteceu de-
de ter atacado a bufona e fugido na Famel.