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X Seminário ALAIC 2019

Diálogos desde el sur:


comunicación+ comunidad+ alternatividad
24 e 25 de outubro de 2019 - Universidade Federal Fluminense (UFF)
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Fazer-cinema em uma escola em transformação


FERREIRA, Gisele. 1
Universidade de Brasília

Resumo

Ao constatar que as imagens, na contemporaneidade, formam um dispositivo (FOUCAULT, 2013)


que constitui o sujeito, parece-nos cada vez mais importante investigar e incentivar criações de
auto-narrativas periféricas (ZANETTI, 2014). Por conta da popularização das tecnologias digitais
de captação de imagem e da distribuição gratuita proporcionada pelas novas mídias, certas
narrativas outrora intangíveis, começam a ser acessíveis neste novo regime de visibilidade
(BRUNO, 2003). A experiência aqui apresentada reflete sobre uma oficina de cinema realizada para
crianças do Ensino Fundamental I (EF1), de sete a doze anos, no Educandário Humberto de
Campos (EHC), localizado na zona rural de Alto Paraíso de Goiás/GO. Ancorado na Pedagogia do
Cinema (BERGALA, 2008) e na Pedagogia do Oprimido (FREIRE, 2005), o processo de mediação
propunha a análise fílmica de curta-metragens e o fazer-cinema (BERGALA, 2008; GUIMARÃES,
2018). As principais questões político-pedagógicas da oficina foram promover a auto-reflexão das
crianças sobre seu lugar no mundo e experienciar a cerrado, o território e a cultura do campo de
uma forma lúdica. A instituição educacional na qual aconteceram as atividades é uma iniciativa da
comunidade kardecista Cidade da Fraternidade, cujas terras foram ocupadas por movimentos
sociais da reforma agrária em 2000. Hoje, a situação está regularizada para cerca de 120 famílias e a
maior parte dos estudantes mora nos assentamentos Silvio Rodrigues e Esusa. O Acampamento
Dorcelina Folador, mais recente, espera regulamentação do Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (Incra). Desde 2016, o EHC vem passando por mudanças em seu Projeto Político
Pedagógico, buscando alternativas para uma educação transformadora2. As principais propostas da

1
Jornalista e produtora cultural, Gisele Motta Ferreira media processos de realização cinematográfica desde 2016, em
escolas e espaços não-formais de educação. Doutoranda em comunicação na Universidade de Brasília. Mestre em
Comunicação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
2
“Escola Transformadora” é um conceito do programa internacional promovido pela Akosha, que se define como “a
maior comunidade de empreendedores sociais do mundo”, segundo o website oficial do projeto, disponível em:
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escola são a educação democrática (DEWEY, 1959), a metodologia de projetos e a arte-educação
(BARBOSA, 2007). Através do trabalho coletivo com as famílias e Estado, idealiza-se uma
comunidade educadora (PACHECO, 2014) e uma escola do bem-viver3. Nos primeiros encontros
com as crianças, através de chuva de ideias, conversa e elaboração de roteiro de pesquisa, cada uma
das cinco turmas do EF1 foi subdividida em pequenos grupos, que desenvolviam seus projetos
concomitantemente. Provido de equipamentos simples (uma câmera DSLR, uma seminautomatica e
um smartphone), crianças do campo criaram suas próprias narrativas audiovisuais a partir de seus
desejos e práticas do brincar. Permeadas pelo imaginário dos contos de fadas, pela cultura de massa,
especialmente pelo cinema de gênero (ZANI, 2009), e pela experiência na natureza, os curta-
metragens4 mostram uma infância do campo por ela mesma.

Palavras-chave
Pedagogia do Cinema; Fazer-cinema; escola do campo; regimes de visibilidade; auto-narrativas.

Referências bibliográficas

BARBOSA, Ana Mae. Inquietações e Mudanças no Ensino da Arte. São Paulo: Cortez, 2007.

BERGALA, Alain. A Hipótese-cinema. Rio de Janeiro: Booklink; CINEAD-LISE-FE/UFRJ, 2008.


(Coleção Cinema e Educação).

BRUNO, Fernanda. Máquinas de ver, modos de ser: vigilância, tecnologia e subjetividade. Porto
Alegre: Sulina, 2013.

DEWEY, John. Democracy and Education. Chicago: The Project Gutemberg, 2008.
http://www.gutenberg.org/files/852/852-h/852-h.htm. Acesso em 20/04/2019.

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.

https://escolastransformadoras.com.br/o-programa/sobre/. Acesso em 09/08/2019. Nas diversas discussões coletivas


dentro do EHC sobre o tema, há concordância que não somos uma escola transformadora, mas uma escola em
transformação que se inspira em diferentes experiências para criar práticas próprias.
3
Conceito vinculado ao programa governamental regional para Alto Paraíso de Goiás, chamado de Território do Bem
Viver, alinhado com os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU. Decreto disponível em:
http://www.gabinetecivil.go.gov.br/pagina_decretos.php?id=16244.
4
Disponíveis online em: https://www.youtube.com/channel/UCFGOt0q2uacD8ggS2MzpClQ/videos. Acesso em
05/08/2019.
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FOUCAULT, Michel. Política e Ética: uma entrevista. In: MOTTA, Manoel (Org.). Michel
Foucault: Ética, Sexualidade e Política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004. p. 218-224.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. São Paulo: Graal, 2013.

GUIMARÃES, Luis. Fazer-cinema na escola. 2018. 169f. Dissertação (Mestrado em Educação) –


Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 2018.

PACHECO, José. Aprender em Comunidade. São Paulo: Edições SM, 2014.

ZANETTI, Daniela. O cinema da periferia: narrativas do cotidiano, visibilidade e reconhecimento


social. 2010. 319f. Tese (Doutorado em Comunicação e Cultura Contemporâneas) - Faculdade de
Comunicação, Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2010.

ZANI, Ricardo. Cinema e narrativas: uma incursão em suas característicad clássicas e modernas. In:
Conexão - Comunicação e Cultura, Caxias do Sul, v. 8, nº. 15, jan./jun, p.131-149. 2009.

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