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Sociedade:. Ecumênica:. do Triângulo: e da Rosa:. Dourada:.

Fraternidade:. Espiritualista:. do Cruzeiro:. do Sul:.


Escola de Formação Magística da Umbanda

Lei de Pemba – Nível I – Módulo II – Apt 05

Conceituações Elementais

Em relação ao segmento doutrinário-espiritual, é preciso compreender que existe


diferença entre o sistema exo-esotérico fundamentado pela Umbanda, o qual reconhece
Sete Vibrações Originais (consequentemente sete Orixás), e aquele esotérico iniciático
que lida com outras manifestações. O termo exotérico com “x” (do grego
εξωτερικός, exo̱terikós, de fora, exterior), como já elucidado em outras ocasiões, diz
respeito ao conhecimento que se encontra exposto e disponível ao público, sendo,
portanto, considerado universal. Grande parte do conhecimento da Umbanda é de
natureza “exotérica”, convindo recordar que no início os Orixás não figuravam como
argumento central de sua estrutura, fato esse que se deu com o tempo, obedecendo aos
princípios que organizam o plano evolucional de qualquer segmento religioso
doutrinário.
A Umbanda também possui sua contraparte esotérica com “s” (do grego
εσωτερικός, eso̱terikós, para dentro, interno), estabelecida nos aspectos mais
resguardados de seus Fundamentos, muitos dos quais, até certo ponto, considerados
“secretos”. No entanto, a maioria de seus argumentos é tratada de forma exotérica, ou
seja, aberta e até mesmo pública, o que a permite ser exo-esotérica, termo bastante
comum ao interno de algumas Confrarias e Sociedades desde a antiguidade e que
expressam a natureza pública e ao mesmo tempo velada de um determinado segmento,
sem que esse, contudo, seja essencialmente secreto, como ocorre em relação à
Iniciação.
Adentrando nessa relação, é importante que se compreenda que nem todo Templo
de Umbanda possui uma estrutura iniciática, podendo ocorrer inclusive da estrutura
iniciática não se encontrar basada exatamente nos Fundamentos da Umbanda, em seus
ritos e processos (como ocorre a exemplo no Templo), estabelecendo um sistema
próprio. Também os processos iniciáticos, quando o Terreiro os possui instaurados,
podem sofrer diferentes variações e apresentarem-se em ritualística diversa. A Cúpula
Espiritual e seus constituidores é quem definem tais processos.
E mesmo quando possui uma estrutura iniciática, essa esbarra numa separação
claramente visível em relação aos argumentos e processos que estabelece em relação
aos Guias e Orixás. Quando da existência de qualquer segmento de natureza iniciática
ou velada, a estrutura passa a ser considerada esotérica, sendo importante mencionar
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que o basamento iniciático de um Templo de Umbanda pode se fundamentar nos Orixás
ou apenas nos Guias, existindo separações claramente distintas entre um e outro
sistema. Há Templos de Umbanda em que as iniciações são simples, focadas apenas nos
Guias; em outros, são mais elaboradas e associadas aos Orixás. Seja como for, a
estrutura iniciática de qualquer Templo de Umbanda (quando esse a possui) constitui
um segmento à parte daquele tradicional e comumente adotado em relação aos
trabalhos de natureza pública e mesmo nos processos internos reservados aos
mediadores.1
Todo contexto iniciático, esteja vinculado a que Ordem ou Confraria for, se
fundamenta em diferentes aspectos e argumentações de cunho esotérico que também
se diferenciam em níveis. Tanto o conteúdo abordado quanto o direcionamento
ritualístico são diferentes da parte exotérica e aberta. Pretos-Velhos, Caboclos e Exus,
por exemplo, não adentram ao contexto Iniciático, o qual segue uma estrutura
essencialmente relacionada com os Orixás e suas manifestações, existindo clara
distinção entre o segmento que lida e estuda os Guias, sua metodologia e processos e
aquele que se relaciona com as manifestações associadas às Divindades. As
responsabilidades, interesses, envolvimento e obrigações daqueles que se iniciam, são
relativamente maiores que dos mediadores em geral.
O aspecto aberto, mediativo da Umbanda, por exemplo, envolve a participação
direta de Guias que estão presentes em quase todas as manifestações de seus rituais e
que se fundamentam como essenciais ao desenvolvimento de boa parte das atividades
de um Terreiro. Já aquele iniciático não as possui. Ou seja, não existem incorporações
de Guias (à exceção daqueles que presidem os rituais). Tudo se fundamenta no estudo,
na participação, nas regras de convivência, na distribuição de tarefas e no aprendizado
ritual, assim como no entendimento estabelecido entre os Iniciados que se tratam e
participam de um núcleo próprio e reservado.
Assim, o segredo ritual acerca de diferentes argumentos prevalece, exatamente
como prescrevem as Confrarias Iniciáticas. Mas também se consumam os vínculos
físicos e espirituais e se estreitam as relações numa espécie de “corpo ritual fechado”,
o qual se articula segundo propósitos específicos, como em uma pequena comunidade,
posicionando-se os Orixás como propósito central. Cria-se assim uma espécie de

1 Por essa razão, em nosso caso, dizemos que é uma “Sociedade Ecumênica”, já que todo e
qualquer segmento que se julgar conveniente pode fazer parte de sua estrutura ritual,
doutrinária e espiritual. Dessa forma, faz-se diferença clara entre a Fraternidade Espiritualista
do Cruzeiro do Sul:. (com o Núcleo de Estudos Espirituais e a Confraria dos Faroleiros), de
caráter “exotérico”, ou seja, que não faz distinção e se apresenta publicamente aberta a todos, e
os segmentos restritos, “esotéricos” ou “velados” da Sociedade Ecumênica. Aqui, temos então a
Casa de África:. (reconhecida em seu núcleo iniciático), a Casa do Lótus Dourado:. (de caráter
egípcio) e a Escola de Formação Magística da Umbanda (de caráter místico-iniciático em razão
de fundamentar-se na Lei de Pemba). A Confraria dos Faroleiros, embora estabelecida por Pai
Cipriano em 1994, ainda não principiou suas atividades, sendo reconhecida no núcleo
responsável por trabalhos de cura, com a criação de um “hospital espiritual” e a implantação de
projetos sociais. A Casa do Lótus Dourado:. Ainda existe e teve funcionamento até 2008, quando
as atividades foram temporariamente suspensas, estando vinculada ao contexto iniciático
egípcio. Essa última resulta no único núcleo restante do projeto original da Sociedade
Ecumênica (que possuía vertente egípcia) antes de Pai Cipriano se unir a Pai José de Xangô e a
Pai Miguel das Almas e agregar a Umbanda em sua estrutura. Os outros núcleos e segmentos
que a compunham foram suspensos.

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“família”, onde as relações e os compromissos estabelecidos não permitem intempéries
ou desistências fortuitas, sendo que, quando essas ocorrem, desestruturam a todos,
gerando instabilidade e fazendo-se necessários diferentes processos para se
“apaziguar” as energias que se inflamaram, ocasionando rompimento da estrutura a
nível físico e espiritual.
Muitos dos argumentos em relação tanto aos Orixás como às diferentes Forças
Espirituais, pela existência de um contexto iniciático são tratados em seu aspecto
esotérico e não naquele exotérico, sendo certo, assim como em qualquer estrutura
espiritual, que tais diferenças existem e sempre existiram. É um pouco difícil para
alguns, compreenderem porque existem “duas medidas” em relação à transmissão de
certos conhecimentos, uma vez que todos se consideram merecedores e não
conseguem conceber a ideia de “limites”. No entanto, essa é a regra e ela estabelece
seus motivos, sendo esses claramente compreendidos.
O interessante em relação ao conhecimento esotérico iniciático é que esse não
esbarra em quem está mais preparado, quem é mais graduado, quem possui maior
capacidade intelectual, quem acumula mais certificados e títulos, quem leu mais livros,
quem se considera merecedor, quem possui essa ou aquela convicção ou acha que por
ter acumulado um certo conhecimento está apto à tudo. Nada disso importa e isso é
absolutamente fantástico, uma vez que os argumentos são sim de natureza mais
complexa e bastante aprofundados a respeito não somente das Forças que
denominamos Orixás, mas abarcando muitos outros contextos.
É como se a energia iniciática determinasse um padrão e não se baseasse nas
opiniões e julgamentos humanos. Como se o fluxo das energias envolvidas
compreendesse naturalmente algo que está além do intelectualismo e dos padrões de
comportamento supostamente superiores, lançando todas as convicções e opiniões
acerca de quem tem ou não direito, de como deveria ou não deveria ser isso ou aquilo
ao vento. E isso, novamente, é maravilhoso.
A Umbanda tanto em seu contexto esotérico quanto exotérico lida essencialmente
com sete manifestações ditas “essenciais”, reconhecidas nos padrões ressonantes de
energia que denominamos Oxalá, Ogun, Oxóssi, Xangô, Yorí, Yemanjá e Obaluaiê,
embora existam divergências quanto ao posicionamento de Yorí e Oxum na quinta
posição. De fato, existem diferentes pontos a serem observados quando lidamos
diretamente com o conceito das Sete Linhas da Umbanda.
Se atentarmos para a configuração Elementar, de grande importância, Yorí se
encaixa como o único representante esotérico do padrão ressonante do Ar. Em razão
dessa necessidade a configuração se apresenta como correta, embora considere,
particularmente, assim como outros Dirigentes, Oxum como a quinta Vibração Original,
seja pela forte relação de muitas Linhagens com o plano vibratório das Cachoeiras, pelo
fato de representar o Princípio do Amor, aquele Feminino Gerador e por ser essa, de
certa forma, mais atuante que as Crianças. Inclusive, em relação aos Pretos-Velhos, a
Vibração de Yorí é substituída por aquela de Oxum.
Na estrutura das Sete Linhas temos os três Fogos: Oxalá que representa o Fogo
Espiritual e, portanto, Etéreo e Adamantino; Ogun que expressa o Fogo da Atividade,
simbolizando todo sentido de aperfeiçoamento e progresso evolutivo; e Xangô que é o

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Fogo abrasador da Justiça, estabelecido pela Lei de Causa e Efeito e que manifesta o
tríplice aspecto regenerador, destruidor e purificador.
Oxóssi em sua manifestação Telúrica e Eólica sintetiza o aspecto mental, racional e
lógico da criação. É o “provedor”. Não sendo impulsivo e agressivo como Ogun, que
age sem pensar e vai apenas “abrindo” o caminho sem se importar com o que está à
frente, Oxóssi estrutura, reflete, admite possibilidades e estabelece esquemas que
visam “civilizar”, estando, portanto, associado à manifestação da atividade mental que
cria, relaciona e consolida.
Yemanjá se apresenta como a representação do Princípio Original Feminino
Matricial e Hídrico. Nesse sentido, é uma “Deusa Mãe” que se coloca acima de Oxum
que é uma “Deusa Filha”, independente dessa também se relacionar com o sentido de
geração. Recordemos que Yemanjá abarcou cosmogonicamente todos os atributos
referentes às Grandes Mães, quando Ela própria deixou de ser uma Deusa-Filha para se
converter em genitora de uma prole de Deuses (Obá, Ogun, Oxóssi, Xangô, Yansã e
Oxum).2
Yemanjá (de yé, mãe, ómo, filhos, ejá, peixes – a Mãe dos filhos peixes) era uma
Deusa Filha associada às águas dos rios exatamente como Oxum, tanto que sua
saudação, Odò Íyá, “Mãe do rio”, se manteve. Detentora da Cabaça-Ventre em cujo
interno se encontram todos os peixes, formas originais germinais da criação (sendo os
peixes uma representação do Princípio da descendência e da multiplicidade pelas suas
escamas e o Elemento Água), Yemanjá encara o Princípio Matricial Original,
posicionando-se acima de Oxum como “Aquela que gera” por excelência e por essa
razão sintetiza a família. Por fim, temos Obaluaiê, o aspecto Telúrico associado ao
sentido de morte, regeneração, sustentação e equilíbrio dinâmica da existência.
Às sete Vibrações ditas Originais, acrescem-se aquelas de Oxum, Nanã, Yansã e
Omolu, na realidade, tão fundamentais como as primeiras. Se os primeiros Dirigentes
ao estruturarem as Vibrações da Umbanda tivessem seguido não o modelo setenário,
mas sim aquele solar e zodiacal, as correlações em relação aos Orixás se apresentariam
mais harmônicas. Esse sistema duodecimal existe e manifesta a base de algumas
estruturas, como por exemplo, as Linhagens de Exus que se dividem em doze seguindo
as correspondências zodiacais. No entanto, pela adoção do sistema setenário, trinta e
cinco Linhagens restaram exclusas do sistema, o qual teve que se encaixar naquele
formalmente aceito, sendo completamente readaptado em sua verdadeira estrutura.
Já tive a oportunidade de expressar em outros textos mais antigos como a
estruturação desse sistema setenário em relação à Umbanda é falha em diferentes
aspectos, e como Divindades que deveriam ser fundamentais aos seus conceitos foram

2 Esse papel outrora já fora representado por Nanã, muita mais antiga que Yemanjá e também
genitora de filhos divinos (Obaluaiê, Omolu, Oxumarè, Yewá, Iroko e Ossaíym), sendo essa
considerada a respeitada e poderosa descendência da Terra. Os Orixás mais ancestrais e que se
apresentam muito próximos das Divindades Criadoras associadas à antropogênese mística. Vale
ressaltar que Oxalá passa a assumir a “paternidade” divina de Obaluaiê, Omolu, Oxumarè, Yewá,
Iroko e Ossaíym, apenas quando da união das culturas Gêge (oriundos do tronco daometano) e
Nagô (oriundos do tronco nigeriano), durante a diáspora africana. Antes da reelaboração dos
mitos, todos os filhos de Nanã eram considerados nascidos unicamente da Deusa (Obaluaiê,
Omolu, Oxumarè e Yewá) ou por si mesmos (Iroko e Ossaíym). Esse aspecto é um dos fatores
que os posicionam entre as Divindades mais arcaicas.

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excluídas, sabe-se lá as razões, a falta delas ou as conveniências em que se basearam
quando da estruturação das ditas Sete Linhas. Um dos casos mais observados é o de
Ossaíym, Divindade arcaica muito mais antiga que Oxóssi, o qual assume todas as
rogativas místicas como médico, curandeiro e feiticeiro. A princípio, seguindo a relação
entre a importância dos Fundamentos e os Orixás que os representariam, Ossaíym se
encaixaria com certa importância no cenário místico da Umbanda e sua estreita
associação com as ervas sagradas.
Respeitosamente cultuado e muito querido em relação ao sistema iniciático, onde
se compara em importância à Èxú Orixá, Ossaíym é o detentor do poder encerrado nas
folhas. O primeiro médico dos Deuses e dos homens, sendo que inúmeros são os mitos
que confirmam essa posição. Como Èxú (com quem, aliás, divide parte do poder Agbára
de realização), Ossaíym usa um gorro, símbolo de sua essência masculina que fecunda
a Natureza e todo o criado, estando representado pela árvore do conhecimento.
É proto-arcaico, ou seja, nascido de si mesmo, atributo esse pertencente apenas as
Divindades que assumem um papel fundamental no plano da Criação. Pela sua ligação
com as ervas, se encontra muito mais vinculado a Umbanda por meio de seus
Fundamentos que Oxóssi, o qual, em realidade, passou a ser considerado um Deus das
matas aqui, não sendo, a rigor do termo, considerado nem o detentor, nem o guardião
da força encerrada nas plantas. 3
Seja como for, toda essa “construtividade” mística, juntamente com as inúmeras e
diferentes relações que abarca, gera naturalmente um aspecto “esotérico” de seu
próprio sistema. Contudo, ainda assim, esse se apresenta “aberto” publicamente, donde
algumas confusões quando temos que separar cada coisa em suas diferentes
conceituações. E elas sempre acontecem, gerando dois ou mais aspectos a respeito de
um argumento em específico. Com eles, as diferenças e divergências, mas também, em
alguns casos, complementaridade.

Um dos casos mais conhecidos e que deixa muito Umbandista passeando no vácuo é
aquele da Vibração Original de Yorí, juntamente com seus Guias que muitos ainda
acreditam serem de fato crianças, outros, orientais e artistas de diferentes vertentes. A
Vibração existe, mas pela importância que se supõe estar revestida, se apresenta pouco
atuante no cenário da Umbanda, embora seja considerada por alguns autores a terceira
manifestação do Triângulo Vibracional da Umbanda (particularmente discordo e creio
que a posição pertença aos Exus).
Pelo contexto esotérico, essa posição pertenceria a Oxum, e assim o era no início.
Na intenção de se estabelecer o “Triângulo Doutrinário” de manifestação da Umbanda,

3 Embora Ossaíym ocupe uma posição fundamental no culto, dada a sua importância em
diferentes aspectos, a Umbanda chegou ao absurdo de convertê-lo numa Entidade feminina,
relegando-o a posição de uma Cabocla (Cabocla Ossanha). Mas isso não é de se espantar,
quando vemos que o mesmo fora feito com Nanã, também transformada em Cabocla, assim
como Oxum e Yansã. Na mesma linha, Oxumaré e Oxum foram considerados como uma só
Divindade; Omolu foi transformado em Exu dos cemitérios, Ogun passou a endossar armadura
romana, Logunedé excluído por ser considerado “metá-metá”, ou seja, masculino e feminino, e
Èxú Orixá, Divindade essencial, foi completamente suprimido do culto. Em troca, ganhamos
Boiadeiros, Marinheiros, Boêmios e até Piratas. Coisas da Umbanda em seus rompantes de
renovação e na tentativa de readaptar todas as coisas segundo suas convicções, e não seguindo
um princípio esotérico concreto.
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fundamentado nos princípios acerca de suas três roupagens básicas de manifestação
(Pretos-Velhos, Caboclos e Crianças), conviu-se (sabe-se lá por que, mas seguramente
baseado em conclusões pessoais), suprimir Oxum e inserir Yorí, trocando-se inclusive o
nome dos Deuses Gêmeos Ibejí e transformando-o em apenas um, Yorí. Como na
Umbanda se absorve muito e se indaga pouco, assim ficou.
Exemplo similar se deu com Obaluaiê, que pelo seu caráter considerado
“primitivo”, apresentando-se recoberto de palhas e estando vinculado ao contexto das
doenças e da morte, foi substituído por Yorimá, Força até hoje controversa e
seguramente mais uma das tantas criações e modificações levadas a cabo pelos
Dirigentes de Umbanda segundo suas convicções e inclinações doutrinárias.
Seja como for, restam muitas lacunas a respeito dessa confusão em relação à Yorí.
Esotericamente as complicações são muitas, o suficiente para demonstrar que as
elucidações apresentadas são falhas e incompletas em muitos pontos. Se Yorí resulta
numa das três roupagens fundamentais de manifestação dos Guias, deveríamos ter
mais “Giras” de Crianças, aspecto anteriormente não existente e que tomou do
fundamento “Erê” do Candomblé a sua existência, gerando boa parte dessa confusão.
A Linhagem era antes reconhecida no Povo do Oriente, primeiramente sediada ao
interno da Legião de Xangô, mais precisamente naquela de São João Batista (uma das
Linhas Originais e genuínas da Umbanda), tendo depois passada àquela de Oxalá e por
fim convertida em uma Linha de atuação individualizada. Se como podemos constatar, a
quase totalidade dos Guias que se manifestam como Crianças são os próprios Caboclos,
Pretos-Velhos e Exus em roupagem fluídica alterada, bem como diferentes Espíritos em
caráter Estacionário e Missionário, por que dizer que a Linhagem estaria composta
essencialmente por pintores, músicos e artistas?
Além disso, por que a insistente mania da Umbanda em alegar que somente
Espíritos muito elevados e de respeitável condição espiritual militam em algumas de
suas Linhagens, quando a realidade constatável é praticamente outra? A Umbanda
resulta num “sistema evolucional” para encarnados e mais ainda, para os
desencarnados, não sendo uma doutrina onde metade de seus Guias são os seres mais
evoluídos do Plano Espiritual, a outra metade os mais decadentes e no meio disso tudo
se apresentam os mediadores como seus interlocutores dotados do especial “poder da
incorporação”.
Em relação à Yorí, se o intento inicial era aquele de representar uma “Trindade” da
Umbanda, manifestando o Princípio Trino reconhecido no Pai, Mãe e Filho, ou seja,
Fecundador-Ativo, Gerador-Passivo e Gerado-Expansivo, as analogias não fazem
sentido. Se o intento, por sua vez, era expressar o estágio mais adiantado da evolução,
onde perdendo-se todos os nomes e formas, o retorno ao estado de Criança expressa
aqueles que alcançaram o ponto mais elevado, então essa mesma condição não deveria
recair sobre os Pretos-Velhos.
Ademais, se representam esse estado evolutivo de “criança”, ou seja, um estado
místico de desprendimento quase que total, não deveriam estar arrolados entre
Entidades Estacionárias e muito menos se apresentarem como artistas, pintores,
músicos ou o que seja, uma vez que se desligaram de todos os aspectos que poderiam
gerar qualquer laço. Pela Lei de Pemba, teriam todos que se apresentar como

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Entidades Sacrificiais, o que não ocorre. Resta conceber que fora uma representação
do estágio inicial e evolutivo do ser (acompanhando a lógica que os Caboclos
representam a fase intermediaria e os Pretos-Velhos a fase de amadurecimento) ou que
assim o fizeram para não ter que atribuir aos Exus uma participação direta, uma vez
que se necessitavam criar uma “Trindade”.
Afirmando Oxalá como Pai e Yemanjá como Mãe, seguindo o sentido cosmogônico
original, não podíamos ter Yorí como representação do “filho”. Na mais rígida tradição
referente aos Orixás esse aspecto recai sobre Èxú na sua condição de Orixá; o “Terceiro
Elemento”; Nascido da Existência e que carrega consigo a titulatura mística de “o
Gerado”.
Yorí, assim, foi inserido apenas como expressão simbólica desprovida de real valor
esotérico e muito menos cosmogônico. A tradição esotérica nos imporia três
possibilidades: Oxalá, Yemanjá e Èxú (fora de cogitação na Umbanda, embora no
sentido estritamente iniciático esse seja o “Casal Divino” da Criação); Xangô, Yansã e
Ibeji (Yorí), os “genitores” originais dos Deuses gêmeos; ou Oxóssi, Oxum e Logunedé.
Esse último se apresenta como o único “casal divino” dentre os dezesseis Orixás a
obedecer a esse conceito de forma harmônica, onde vemos a participação do pai e da
mãe representada em todos os atributos do filho (terra e água, caçador e pescador, azul
e amarelo, Abebé e Ofá, androgenia divina).4
No contexto “esotérico” da Umbanda, baseado em seu sistema Iniciático, lidamos
com diferentes Orixás além daqueles tradicionalmente reconhecidos. Nesse sentido, as
Sete Linhas Originais, dentro da sua importância, certamente, figuram apenas como
representações dos Princípios Essenciais representativos dos Sete “Atributos
Evolucionais” ou “Causas Manifestas”, reconhecidas no aspecto Espiritual, na
Atividade, no Conhecimento, na Lei de Causa e Efeito (Justiça), no Amor, na Geração e
no sistema Evolucional, respectivamente associados a Oxalá, Ogun, Oxóssi, Xangô,
Oxum, Yemanjá e Obaluaiê.
Todo o sistema esotérico iniciático referente aos Orixás se fundamenta no número
quatro e na multiplicação por ele mesmo, obtendo o dezesseis. Esse conceito nos leva
ao Corpo dos Odús, argumento não pertencente ao contexto doutrinário da Umbanda
em sua conformação “exotérica”, estabelecendo, no entanto, as bases de todo o seu
sistema iniciático esotérico. Assim, aos Orixás comumente aceitos como sendo a base
de seu sistema doutrinário, incluímos também aqueles que são considerados os seus
“Pares Vibratórios”, a saber, Iroko, Obá, Ossaíym, Yansã, Yorí, Oxumarè e Nanã. A
esses, somam-se Yewá e Logunedé, Orixás bastante reconhecidos e com os quais
mantemos relações bastante próximas por meio da estrutura Iniciática.

4 Ibejí não é filho de Oxum. Segundo os mitos arcaicos, os dois Deuses gêmeos nasceram de
Yansã, mas foram por ela abandonados nas margens de um rio, sendo salvos por Oxum que
desde então os criou e educou, convertendo-se em sua mãe criadeira da mesma forma que
Yemanjá adotou Obaluaiê como seu filho. Inúmeros são os mitos que narram as relações de
Yansã com seus filhos gêmeos, representações também da existência nos dois Planos. Essa
correlação com Oxum é puramente cosmogônica, Sendo abandonados por Yansã (o aspecto
cósmico da Criação), passam as duas crianças a serem educadas por Oxum (a representação dos
estados manifestos da matéria), exaltando dessa forma a presença ou permeabilidade do
princípio dual em todas as coisas.

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Os Pares mudam de acordo com os diferentes autores. Pela regra, a Umbanda
tradicional não reconhece e não lida com Orixás como Iroko, Yewá e Logunedé,
substituindo-os por outras manifestações que julga conveniente. Ao grupo desses
dezesseis Orixás acrescentamos ainda outros que fazem parte evidente e marcante na
estrutura Iniciática como Omolu, Oxaguiàn e Ònìle, além de rendermos culto as Forças
consideradas Letíferas, ou seja, “fatalistas”, dentre as quais se destacam Ikú, a Morte,
e o corpo constituído pelos dezesseis Babás Éguns, ou Ancestres Masculinos.
Permeando tudo e presente em todas as manifestações está Èxú na sua condição de
Orixá e os ditos Barás.
No plano das manifestações esotéricas fazemos distinções claras em relação aos
Orixás (vinculados ao contexto das Vibrações Originais) e os padrões de ressonância
Elemental a que se encontram vinculados. Toda Força Adamantina (que assume
aspectos dévicos, surgindo como Deuses) manifesta três aspectos de si mesma; aquele
Masculino ativo; o Feminino passivo e o Neutro, independente da Vibração Original em
que se encontra sediada como masculino ou feminino.
O Princípio Neutro representa a manifestação harmônica e mais pura de uma
determinada Força, resultando no seu próprio equilíbrio. Estabelece um campo de
energia que tudo penetra, refletindo luz, verdade, graça, quietude, lucidez, atração,
fascínio, tranquilidade, promovendo sintonia e receptividade. Todos os Orixás vibram
na realidade nessa polaridade antes de manifestarem arquétipos e atributos, sendo
também a energia mais difícil de trabalhar energeticamente, uma vez que o
“contrapeso” daquelas mais agressivas se torna mais denso e a rebate.
Assim, todas as Vibrações podem ser manipuladas nessa polaridade, independente
de seu padrão ressonante Elemental, ainda que o Princípio Neutro esteja afeto ao
conjunto das Forças Etéreas e Eólicas (Oxalá, Yorí, Oxóssi).
Emanando desse Princípio, consolida-se um campo de energia centrífuga, positivo e
associado ao conjunto das forças Ígneas (Oxalá, Xangô, Ogun). Radiante, essa energia é
criativa, organizacional, transformadora. Já o campo de energia centrípeto é negativo e
associado aos Elementos Água e Terra, limitando e contendo (Yemanjá, Oxum, Nanã,
Oxóssi, Obaluaiê, Omolu). É força instintiva, purificadora, que expressa desejo, amor,
de eliminação e conclusão. Aqui sim, expressando a “Trindade” dessas três forças
essenciais e que tudo regulam, temos o Triângulo de Manifestação da Umbanda
expressado de maneira harmônica em Oxalá (Fogo), Yemanjá (Água) e Yorí (Ar).
Essa relação é puramente energéticp-vibratória, não esbarrando em qualquer
conceituação de gênero. A propósito, o sentido de gênero não existe em relação aos
Deuses e não se manifesta nas Esferas Adamantinas, apresentando-se apenas como o
resultado da diferenciação de um determinado aspecto da energia motriz, que ao se
revelar na esfera física necessita se cristalizar para estabelecer seu propósito e assumir
um papel específico na Criação, equilibrando-se com as matrizes expressas pela própria
Natureza e os padrões existentes no Planeta.
Assim, por exemplo, a afirmação de que Oxalufàn Obíomi é feminino e que Nanã
Adadè Kofí é masculina não deve suscitar espanto e muito menos indignação. 5 Tais
5 De obí, fêmea e omi, água. Não confundir com Obì (craseado), que se refere ao fruto do
obizeiro ou noz-de-cola. Ádadé, consequência. Kofí, levar, portar. Ou seja, “que leva às
consequências”. A propósito, essa Nanã que assume aspecto masculino se encontra relacionada
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aspectos ocorrem com todos os Orixás ditos Essenciais, ou seja, que se relacionam
diretamente com a Criação, relacionando-se com o surgimento das forças ora ativas,
ora passivas que se diferenciam no intento de permitir o equilíbrio necessário à
manifestação da existência em sua fase inicial.
Manifestando um aspecto ativo, outro passivo e um neutro, toda Força se identifica
por ressonância com uma das cinco fases de cristalização ou consolidação de sua
energia segundo os cinco padrões Elementais reconhecidos (Etérico, Ígneo, Eólico,
Hídrico e Telúrico). Esses “cinco Elementos” se correlacionam entre si, manifestando
diferentes aspectos múltiplos que se apresentam como padrões derivativos dessas
mesmas energias e definem estados, atributos e características energéticas que
abarcam desde o aspecto mais sutil e espiritual, àquele mais denso e material.
O Elemento Terra, por exemplo, é Terra em sua matriz original. Mas essa “Terra”,
como concebemos do ponto de vista das energias Elementais, é o resultado imediato de
um processo de cristalização de uma energia menos densa que se projeta como a
combinação de outros Elementos diferenciados em sua própria essência.
Assim, a Terra considerada do ponto de emanação do Elemento Telúrico, é o
resultado da combinação desses cinco padrões de ressonância Elemental entre si, o que
nos permite ir do mais sutil ao mais denso em relação a qualquer um dos cinco
Elementos com que lidamos. Temos então os padrões Terra-Telúrica, Terra-Hídrica,
Terra-Ígnea, Terra-Eólica e Terra-Etérea.
O plano Etérico ou sutil da Terra é cristalino e só pode ser representado em sua
pureza original energeticamente, uma vez que resulta em matéria etérea. O mesmo
com a Terra-Eólica. No plano das manifestações físicas, concebemos essa aproximação
pela pureza das pedras preciosas. A Terra-Telúrica é representada pelas manifestações
do Reino Mineral. A Terra Hídrica é o resultado da interação Terra-Água; aquele Ígneo
pela interação Terra-Fogo, estando fisicamente associado à lava vulcânica e assim por
diante.
Concebemos padrões de diferenciações energéticas para cada estrutura Elementar,
onde podemos, pelas relações facilitadas simbolicamente pelas “intermediações
vibratórias”, compreender o segmento ressonante de cada estrutura e aplicar os seus
efeitos sobre aquilo que almejamos em termos de manipulação prática.
A segunda consideração Elemental em relação aos Orixás é Cosmogônica e tomada
das relações Astrológicas e esotéricas determinadas e reconhecidas como se
apresentam no Planisfério do Altar. Essa configuração e seus efeitos podem diferir da
relação puramente Elemental, sendo esotérica e, portanto, mais rígida, envolvendo um
sistema de harmonias e correspondências que expressam um entendimento além da
simples relação com os Elementos. As correlações aqui são muitas e necessitariam de
com o ferro, sendo inclusive um guerreiro que possui relações com Ogun. Ora, sabemos que o
ferro é um dos maiores interditos de Nanã, tanto que no decurso da Iniciação de uma filha desse
Orixá não se pode usar metal em nada. Até mesmo a faca usada para cortar os alimentos deve
ser de cerâmica e os talheres de madeira. De igual modo, Ogun se manifesta como o Orixá com
o qual Nanã mantém sérios interditos. Essa relação de um Oxalá feminino e uma Nanã
masculino expressa claramente que as diferenciações obedecem padrões que se encontram ao
de lá de qualquer relação mitológica, mas que encerram “enredos” a respeito da própria
manifestação da energia do Orixá. Tais exemplos servem para fazer ver que não podemos
determinar padrões rígidos ou inflexíveis quando estamos lidando com Forças Espirituais e que
essas, sendo representações divinas, se diferenciam em múltiplos aspectos.
9
uma tabela extensa, fazendo as ligações individuais entre cada uma das Vibrações e
suas intermediações.
Por exemplo, em se tratando do plano das movimentações magísticas, Ogun
intermediando com Xangô resulta numa configuração que exalta o sentido de coragem,
direcionamento e determinação. Quando uma meta passa a ser “avistada” e se tona
necessário passar à confiança para a ação. Essa é uma combinação de forças Ígneas
poderosas, usada no direcionamento concreto, atuando de modo a não se permitir que
haja qualquer força que possa “deter” o intento. Aqui dizemos que Ogun se converte no
“impulsionador” do raio de Xangô.
Já Ogun em intermediação com Oxalá (em um Ponto Riscado e se tratando do
aspecto movimentador), estabelece um potencial positivo para processos de
transformação, indicando a passagem do ciclo das energias agressivas para aquelas do
entendimento e do amor. Serviria para situações em que pessoas agressivas, por
exemplo, necessitam de uma sustentação energética que as permite iniciar um
processo de transformação interna ou mesmo quando da presença de desafetos,
intrigas, desunião.
Ogun e Yorí expressam a animação da energia espiritual. O Fogo que permite o
“reacender” da chama interior quando o sentido de Fé se encontra abalado, abrindo
espaço para o surgimento de energias que permitam o clareamento da mente e a
manifestação da energia do amor no coração, ativando os Chakras laríngeo e Cardíaco.
Essa configuração indica a criação de um espaço pessoal; de uma delimitação em
relação aos sentimentos espirituais individuais.
Quando de excessos de irresponsabilidade e uso inadequado da energia mental que
não consegue se desvencilhar dos padrões grosseiros e repetitivos que impedem o fluir
de novas ideias, mantendo o indivíduo num estado de estagnação mental, afetando
todos os campos de realização na sua vida, podemos fixar o plano das energias através
das movimentações com Obaluaiê e Ogun, por exemplo. O importante é compreender a
diferença clara entre um Ponto Riscado que essencialmente identifica uma presença e
outro Ponto que utilizando as Chaves, Raízes e Radicais, estabelece um sentido de
“movimentação”.
Ao afirmar que Obaluaiê é Telúrico, por exemplo, expressamos sua pertença
Elemental original. Ao alegar que o mesmo é Etéreo, Eólico, Ígneo e Hídrico, também
está correto e a afirmativa não deveria gerar espanto. Toda e qualquer emanação divina
se diferencia, isto é, se “divide” em outros aspectos Elementais partindo de sua própria
estrutura. Somos habituados a isso naturalmente pelo contexto Iniciático, onde por
intermédio das diferentes “diferenciações”, ou seja, manifestações de um mesmo
aspecto de um determinado Orixá, reconhecemos outras expressões ou “facetas”
energéticas de sua energia essencial.
O contexto tradicional exo-esotérico da Umbanda não lida com essas
diferenciações, denominadas “qualidades” ou caminhos em linguagem mais
simplificada. Fora das Iniciações os Orixás resultam apenas em manifestações
individualizadas, como se expressassem um único arquétipo. Xangô é Xangô, Oxum é
Oxum, Yemanjá é Yemanjá e assim permanece.

10
Esse modo de lidar com determinados aspectos finda por não permitir ao mediador
reconhecer as diferentes “faces” ou diferenciações em que a energia original se divide.
É como a questão do “preceito”, o qual se faz importante na própria compreensão da
natureza das Forças Espirituais. Apenas exemplificando, Xangô “carrega” dendê em
suas Oferendas. Já para Xangô Ayrá esse é um interdito sério. Xangô recebe amalá de
quiabos como principal Oferenda. Para Xangô Barú esse já é uma proibição grave.
Essas pequenas observações tidas como “proibições” não resultam em aspectos
supersticiosos ou que expressariam simples caprichos das Divindades. São antes,
harmonizações entre diferentes padrões que sustentam a natureza energética essencial
de uma determinada Força. Aspectos do caráter energético sutil dos Orixás, os quais
vibram segundo correspondências instituídas e impressas na própria Natureza. Essas
relações eram reconhecidas por diferentes civilizações.
Entre os egípcios, Ísis assumia diferentes formas e papeis divinos, mantendo ora
ligações com as águas, ora com a terra e o fogo. Áton era ao mesmo tempo, Rá, Pthá e
Ámom, reconhecido em três manifestações diferentes e que se harmonizavam
respectivamente com o Fogo, o Éter e a Terra, resultando claramente nos quatro
aspectos de manifestação da Energia Impulsionadora no ato cosmogônico da Criação.
Hermes (o Èxú dos gregos e romanos) assumia diferentes manifestações e seus
símbolos modificavam de acordo com aquilo que representava, quer fosse apenas em
atributos ou mesmo em relação à sua essência. Hermes Tricéfalo era o guardião das
encruzilhadas. Hermes Ágelos era o mensageiro divino; Hermes Feletéon era o rei dos
ladrões e aqui as serpentes do Caduceu dão um nó a representar o afastamento do
sentido de sabedoria, cura e mensageiro. Hermes Cataíbades assumia o papel de
psicopompo, sendo o condutor das Almas do mortos; como Hermeneutes, era
intérprete, filósofo e tradutor, sendo representado sem pétaso, pédila (o tradicional
chapéu e sandália com asas) ou caduceu. Hermes Carídotes estava associado ao
comércio e não carregava o Caduceu,mas sim uma bolsa de moedas. 6
A despeito da multiplicidade das Divindades, compreendemos primeiramente que
essas são uma só, e que logo em seguida se diferenciam, seja por fatores cosmogônicos,
energéticos, simbólicos, mitológicos ou puramente representativos. O conceito é
absolutamente comum e expressa diferentes relações com o todo ao qual se encontra
envolvido. Em relação aos Orixás, essas diferenciações estabelecem as ligações entre
os vários padrões de forças manifestas, além de assumir característica representativa.
Assim, por exemplo, fazemos distinção entre Ogun alagbedè, o “Ferreiro”, uma
manifestação diferenciada e que revela atributos de natureza espiritual e Ogun Onírè

6 Quando da existência do Isntituto Hermeum, tive a oportunidade de ministrar um curso sobre


o simbolismo oculto impresso nas estátuas que representavam os Deuses Gregos e Romanos.
Em Hermes, particularmente, vemos muitas dessas representações. É fácil reconhecer uma
representação de Hermes Cataíbades, uma vez que o Caduceu está sempre na mão esquerda,
apontando para a frente ou para o chão, a indicar o “caminho” da Alma para o outro mundo.
Quando assume o papel de mensageiro está sempre com o pétaso e a pédila. A iconografia
sagrada e oculta se encontra também muito presente nas representações africanas dos Orixás.
No Brasil, entretanto, as imagens foram realizados sem qualquer conotação com esse sentido
esotérico, mantendo-se apenas as armas ou instrumentos-símbolos.
11
(de Oní, senhor e Irè, “lugar onde se salta”). Esse último, apenas um título de Ogun
como o Senhor de Irè, sua cidade e sede de seu culto ainda hoje, na Nigéria. 7
Os mitos que rodeiam suas explicações servem apenas como elementos
representativos e que ocultam as razões simbólicas ou energéticas. A questão das
intermediações e dos múltiplos aspectos envolvendo cada um dos Orixás segundo os
diferentes padrões de ressonância Elemental já eram reconhecidos. Porém, não eram
vistos ou tratados da forma como hoje os concebemos.
Omolu Azouani, exemplificando, se cobre com palha vermelha. Já para Obaluaiê
Jagún (um Ajá, isso é, pertencente ao grupo dos “Guerreiros Brancos”) o vermelho
constitui uma quizila. Na Umbanda, o Orixá apenas se encobre com palha e é Telúrico.
No entanto, Azouani possui natureza Ígnea e Jágun Eólica. Ogun é essencialmente
vermelho. Ogun Djá é branco e Ogun Alagbedè é azul, sendo que o primeiro não possui
relações com o Elemento Fogo. Na Umbanda era índigo e há pouco tempo tem
retornado ao vermelho. Ogun é Fogo e ferro. Contudo, existe uma insistente confusão
em determinar sua pertença Elemental. Ora lhe dão por Elemento a Água e ora o Ar,
ambos os autores não admitindo indagações a respeito de suas afirmações, procurando
impor uma “verdade inflexível” no novo direcionamento que tenta a toda força
“reconstruir” os Orixás e seus padrões.
Mesmo com Èxú tais diferenciações existem. Èxú Olònàn é branco e não aceita
dendê (que pertence aos aspectos de manifestação do elemento vermelho), sendo
Eólico e Etéreo. Èxú Isirí é Hídrico e Eólico, associado aos rios e ao amanhecer. Oxalá
Odomì é Hídrico; Oxum Gumí é Branca e ligada aos mortos, não se relacionando com os
rios, mas sim com os cemitérios, fazendo “par vibratório” ao lado de Obaluaiê, sendo,
portanto, Telúrica. Os padrões energético-vibratórios para cada diferenciação mudam
naturalmente e isso podemos constatar por meio de diferentes maneiras, especialmente
quando permeados pelo contexto iniciático. Por exemplo, um filho de Xangô Agodò,
outro de Xangô Aganjú, um de Xangô Afonjá e um de Xangô Ayrá, são completamente
diferentes em sua personalidade e temperamento. O primeiro é taciturno e desconfiado.
O segundo é impulsivo; o terceiro agressivo e direto e o último dissimuladamente
pacífico.
Talvez pelo fato do contexto iniciático se relacionar muito naturalmente com essa
conceituação estabelecida pelos padrões de diferenciação que também definem
estruturas Elementais, seja um pouco mais fácil para os Iniciados lidarem com esse
aspecto que o restante do corpo mediativo. De fato, a estrutura iniciática não só lida
com tais manifestações, como segue um rígido esquema em relação às mesmas e aos
seus Fundamentos.
Tomemos Yansã, por exemplo, cuja nomenclatura original é Òyá (de ò, ela, ya,
rasgar), sendo Yansã (de Ìyá, mãe, mésàán, nove, Òrun, Céu) na verdade, um atributo
8
da Deusa, assim como Akóòrò (o invencível) é um atributo de Ogun. Na Umbanda

7 A cidade de Irê está localizada em uma região arborizada, há aproximadamente 460m, de


altitude. Hoje, é uma das 21 cidades que compõem o Estado de Ekiti, na Nigéria, fazendo parte
do chamado Iorubô: os reinos africanos de etnia nagô, que utilizavam o idioma ioruba.

8 Não confundir com ìyá, mãe, yá, estar e yà, separar.

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tradicional Yansã é Senhora dos ventos, ligada ao Elemento Ar. Todavia, acostam-na a
Xangô, quando então assume características Ígneas ao vincular-se ao Fogo e as
tempestades como Senhora dos raios, sendo o vermelho então considerado a sua cor
vibratória. Até aí tudo correto. No entanto, pela rigidez da regra esotérica, todas as
Divindades Eólicas estão naturalmente associadas ao Branco e não ao vermelho.
Uma das principais manifestações de Yansã é quando essa se apresenta como Òyá
Ìgbàlé (de ò-yá-ìgbó-balé ou “Aquela que rasga na floresta da casa dos mortos), a
guerreira e Senhora dos Mortos, que se divide em nove outras manifestações e que
aqui, nesse caso em específico, pertence efetivamente ao Princípio do Branco, não
carregando nada de vermelho e muito menos de Ígneo. A Umbanda há muito tempo
deveria ter feito distinção clara entre Òyá e Òya Ìgbàlé.
Opondo-se ao aspecto comumente reconhecido e generalizado da Deusa (vermelho,
fogo, tempestade), essa Yansã é noturna, fria, úmida, Eólica, Etérea e não possui
qualquer relação com o Elemento Fogo, contrastando com a imagem habitual que a Ela
associamos. Muitos Guias pertencentes à Linhagem das Almas atuam sob a influência
dessa energia (no Templo, Vovô Domício das Almas e Pai Firmino das Almas, por
exemplo) e não necessariamente sob a égide de Obaluaiê. 9
Ayabá Ikú Ilê ou “Rainha da Casa dos Mortos”, numa alusão clara aos cemitérios
tidos como campos de transição, Yansã assume características ctonianas que a
relacionam com as energias concentradas no interior da Terra, o que estreita suas
relações com Orixás como Obaluaiê e Òssáyìn, por exemplo. Sua energia regula e
detém pleno controle sobre as potencialidades elementais do Ar, ordenando e
equilibrando as energias vitais liberadas pelo desprendimento do espírito da matéria,
estabelecendo a ordem e impedindo o desequilíbrio entre os planos.
Quando observamos cuidadosamente as nove denominações de Yansã, vemos
claramente as relações estabelecidas com o sentido de morte, de transição de um Plano
e de uma existência para outra, uma vez que o “rasgar” de seu nome, expressa
claramente o sentido de morte e de transição de uma existência para outra. Uma
associação com as Parcas romanas e as Moiras gregas como Divindades ligadas ao
conceito de morte e que controlavam os destinos dos seres humanos aqui é inevitável. 10
Recobrindo-se por certa complexidade, Òyá Ìgbàlé manifesta-se sob nove aspectos
ou “Qualidades” distintas: Ìgbàlé Funán, “Aquela que é Branca”; Ìgbàlé Furé, “A que
tece e corta o pano branco”; Ìgbàlé Guerè, “Aquela que corta”; Ìgbàlé Toningbé, “Que
purifica destruindo”; Ìgbàlé Fakarebò, “Aquela que ceifa e arrasta para a floresta”;

9 A esse respeito, e embora possa complicar ainda mais, a Linha das Almas é sétupla,
expandindo-se em relação ao contexto das Vibrações Originais. Apenas exemplificando, em
relação aos Guias do Templo, o Caboclo das Sete Flechas atua pela Vibração de Oxalá em
intermediação com Yansã. Pai Miguel é um Preto-Velho que atua pela Vibração de Yemanjá ao
interno da Linha das Almas. Vovó Catarina é Oxum em atuação pela Linha das Almas. O Caboclo
Ubirajara é Oxalá em intermediação com a Linha das Almas. Muitos dos Guias do Templo
pertencem ao pólo vibratório das Almas em suas diferentes manifestações energéticas e de
ação, em razão do Templo ser considerado de ajuste e correção.

10 As Parcas eram três: Cloto (que tece o fio da vida), associada à Ìgbàlé Furé; Láquesis (que
cuida dos destinos), representada por Ìgbàlé Funán; e Átropo (que corta o fio da vida), relação
com Ìgbàlé Guerè.
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Ìgbàlé Dè, “Aquela que chega”; Ìgbàlé Min, “A outra”; Ìgbàlé Lariò, “Que faz grande
estrondo” e Ìgbàlé Adágángbará “Que perfura e arranca de dentro do corpo”.
Na prática, todo Orixá carrega consigo os padrões de ressonância das cinco
correntes Elementais (Etérea, Eólica, Ígnea, Hídrica e Telúrica), bem como funde e
exterioriza outras a partir da combinação entre os Elementos, ainda que um lhes seja
primaz. Intermediações Vibratórias, por exemplo, são o resultado dessas combinações
energéticas e não necessariamente de pertença de um Guia a determinada Linhagem.
Assim, exemplificando, Òya Oníra é Hídrica; Òya Nikè é Telúrica; Òya Igibé é
Etérea; Òya Kará é Ígnea e Òya Topé é Eólica. Xangô Aganjú é Ígneo; Xangô Olorokè é
Telúrico; Xangô Alufàn é Etérico; Xangô Obálubé é Hídrico, Xangô Obáin é Eólico, e
assim com todos os Orixás, estabelecendo intermediações e relações Elementais
diferentes em padrões de ressonância umas das outras.
Você não necessita conhecer os nomes das diferenciações dos Orixás para
compreender o conceito da multiplicidade Elemental, bem como para manipular os
diferentes padrões ressonantes que esses envolvem. Estabelecemos uma “pertença”
Elemental para cada um dos Orixás e compreendemos que seu padrão energético se
diferencia em outros. Quando falamos, por exemplo, que Oxum possui uma contraparte
Ígnea, não existe absolutamente nada de estranho nisso. Você é que talvez não
compreenda as diferenciações Elementais sutis que permeiam essas Forças.
Essa conceituação Elemental que varia segundo o plano de ressonância das
energias é completamente natural para os Iniciados. A Umbanda, no entanto, em
alguns de seus aspectos que deveriam ser “esotéricos” findou por estabelecer uma
espécie de “regra rígida” para alguns argumentos, acarretando dúvidas e até
dissidências em muitas das vezes, como o estabelecimento de um padrão Elemental
rígido para os Orixás, o qual, pelas mãos de alguns autores, não admite argumentações
contra suas certezas.
Para um Iniciado, por exemplo, habituado como se encontra ao sentido de
diferenciação das correntes Elementais, conceber uma Oxum que vibre em harmonia
com o Elemento Fogo, assim como um Xangô Hídrico, um Obaluaiê Eólico, uma
Yemanjá Telúrica é natural e não causa qualquer espanto. Tais “harmonias” diferentes,
como expressado, constituem fatores combinados energeticamente entre os diferentes
Elementos e são absolutamente comuns.
Quem estabeleceu o conceito rígido que Oxalá só pode ser Etéreo, que Yansã é
apenas Fogo e Yemanjá unicamente Água, não permitindo variações entre cruzamentos
de correntes energéticas foi você mesmo. A inflexibilidade do conceito está apenas no
modo como você o compreende. Modificado o foco da compreensão, o conceito se
expande e se mostra em suas diferentes possibilidades.
Por exemplo, um Oxalá centrado apenas em seu Elemento Original, o Éter, expressa
quietude e harmonia. Passando ao Ar, assume movimento e se manifesta pela atividade
mental. Quando entra em sintonia com as correntes de Fogo esse movimento passa a
ser direcionado e se converte em inteligência criativa, vitalidade e clareamento da
visão. Ao baixar para o Elemento Água, a energia de Oxalá se torna receptiva, intuitiva
e sensível. O fator intuitivo associado à Água, se coloca acima da inteligência de Fogo.

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Quando por fim, a energia de Oxalá se afiniza com a Terra, cristaliza seus efeitos,
assume estabilidade e se manifesta em certezas.
Dessa forma, os atributos de Espiritualidade e Fé vinculados ao padrão regido por
Oxalá irão se harmonizar com aquele Etéreo. Um indivíduo que queira despertar o
sentido de espiritualização em alguém que o tenha perdido, irá atuar por meio da
energia Hídrica e Eólica de Oxalá. Os aspectos mais vívidos e ardentes da Fé serão
alcançados pela energia de Oxalá vibrando no plano Ígneo de manifestação. O sentido
de moral e firmeza necessários à realização de determinados processos espirituais
serão alcançados trabalhando a energia de Oxalá em seu padrão de ressonância
Telúrico e assim por diante.

Continua

Flávio Juliano:.
Dirigente

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