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Pós-Graduação em Educação

Psicopedagogia institucional

Psicopedagogia institucional:
avaliação psicopedagógica

Luciana de Luca Dalla Valle


Maristela Cristina Metz
FAEL
Diretor Executivo Marcelo Antônio Aguilar

Diretor Acadêmico Francisco Carlos Sardo

Coordenador Pedagógico Francisco Carlos Pierin Mendes

editora Fael
Autoria Luciana de Luca Dalla Valle
Maristela Cristina Metz
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Projeto Gráfico e Capa Patrícia Librelato Rodrigues

Revisão Juliana Melendres

Programação Visual e Diagramação Karlla Cristyne Plaviak

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FOTOS DA CAPA
Anissa Thompson
Jos van Galen
Julia Freeman-Woolpert
Krishnan Gopakumar
Stefan Krilla
Viviane Stonoga

Todos os direitos reservados.


2012
Psicopedagogia
institucional

Resumo

Com a finalidade de ampliar o conhecimento teórico sim, com toda a comunidade escolar. Na escola, o psicope-
e prático a respeito da psicopedagogia institucional, o pre- dagogo trabalha juntamente com a equipe escolar, fazendo
sente artigo está composto com estudos e reflexões teóri- abordagens, avaliações e intervenções em grupos, com o
cas, bem como com exemplos reais da psicopedagogia na intuito de melhorar o processo ensino-aprendizagem.
prática. A psicopedagogia institucional está voltada para os
processos de aprendizagem e pode ser pensada na dimen- Palavras-chave:
são hospitalar, empresarial e escolar. Na escola, busca pre-
venir, remediar e solucionar problemas voltados ao processo Psicopedagogia. Psicopedagogia institucional. Con-
educativo, não se limita apenas a trabalhar com alunos e, texto escolar.

1 . Introdução 2
. Psicopedagogia
A psicopedagogia institucional tem como cerne institucional
analisar a instituição, auxiliando no processo ensi-
Ensinar, investigar, aprender, descobrir, estudar. Afi-
no‑aprendizagem. O psicopedagogo, nesse contexto,
nal, a que se dedica a psicopedagogia institucional?
ocupa-se de compreender como o indivíduo aprende,
considerando sua cultura e seus diferentes saberes.
Para a compreensão do tema aqui sugerido, será
Embora o psicopedagogo institucional possa atuar feita uma inserção na história, buscando explicar o que é
na área da saúde, da educação e em outros espaços, a psicopedagogia e de que forma essa ciência contribui
neste artigo, será focada a sua atuação no espaço com a aprendizagem em si e com a melhoria da vida
escolar, com o objetivo de demonstrar que é possível das pessoas.
proporcionar uma educação para todos, revertendo o
atual quadro educacional do país, em que a exclusão Segundo Sonia Moojen Kiguel (1991), citada por
mostra-se presente. Bossa (2007, p. 20): “Historicamente a psicopedago-
gia surgiu na fronteira entre a pedagogia e a psicologia,
O psicopedagogo enquanto agente colaborador da a partir das necessidades de atendimento de crianças
escola, alicerçando sua atuação na teoria e prática, pode com distúrbios de aprendizagem [...]”.
contribuir para a prevenção e a solução de possíveis
problemas que possam existir na comunidade escolar. Para melhor compreender, a psicologia tem um tra-
balho direcionado para o ser que aprende; a pedagogia
No decorrer do texto, a partir de estudos teóricos
para o processo educacional; e a psicopedagogia para
e de práticas aplicadas, será possível a reflexão sobre
o processo de aprendizagem, numa visão de que todos
o papel desse profissional, o código de ética e as dife-
podem aprender, desde que sejam criadas situações
rentes abordagens de avaliações e intervenções que
poderão ser realizadas na escola com estudantes, pro- que favoreçam essa aprendizagem.
fessores, funcionários e comunidade, contribuindo com
Atualmente, não há na psicopedagogia apenas
o processo educativo.
uma visão remediativa, focando o atendimento às
Para contribuir com o conhecimento dos leitores, dificuldades que já estão instauradas e, sim, um pro-
bem como delinear caminhos para a prática, o texto cesso investigativo e de estudo da aprendizagem, para
contemplará, além de informações, exemplos de situa- auxiliar na prevenção e na solução de problemas que
ções reais de vivências psicopedagógicas institucionais possam existir na esfera escolar, familiar, empresarial
no espaço escolar. e hospitalar.
Na busca de caminhos para prevenir e solucionar Quando se faz referência à psicopedagogia insti-
problemas já existentes, a psicopedagogia, procurando tucional, geralmente a escola é a instituição em desta-
ter uma visão global do sujeito, não atua isoladamente, que. No entanto, é importante saber que esta pode ser
se integra com as demais áreas do conhecimento cien- realizada em diferentes contextos, entre eles: hospitais,
tífico, buscando, por meio de intervenções individuais ou empresas e famílias.
em grupo, compreender a área cognitiva, afetiva, social
e psicológica do indivíduo. Fagali (1988) explica que, no hospital, a psicopeda-
gogia trabalha com os sujeitos internados, possibilitando
Essa necessidade da psicopedagogia entender o a aprendizagem por meio de oficinas e da ludicidade. Na
todo faz dela uma ciência integrada às demais ciências, empresa, o psicopedagogo atua ampliando formas de
e juntas procuram responder questões que dizem res- treinamento, resgatando a visão do todo, descobrindo
peito à aprendizagem, não somente na escola como capacidades, construindo projetos para buscar melho-
também em contextos diferenciados. res saídas que beneficiem a empresa e o empregado.
Na família, volta-se o trabalho para auxiliar nos proces-
Fagali (1993) argumenta que as questões psicope- sos de aprendizagem dos filhos, resgatando o papel da
dagógicas vão muito além da pesquisa dos problemas família no ambiente educacional. Na escola, tem por
de aprendizagem, abre um leque da atuação do psico- objetivo projetos que visem diagnosticar a instituição,
pedagogo na psicopedagogia curativa ou terapêutica e definir papéis, instrumentalizar pessoal, implantar pro-
na psicopedagogia preventiva. gramas, analisar e reconstruir conteúdos, reintegrando
o aluno no processo do conhecimento.
A psicopedagogia curativa ou terapêutica tem por
objetivo reintegrar o sujeito no processo de construção São diversos os espaços em que o psicopedagogo
do conhecimento, apresenta uma conotação clínica
pode atuar, será enfatizada, neste artigo, a psicopedago-
quando desenvolvida em consultórios, fazendo atendi-
gia institucional na esfera escolar.
mento individual. No contexto institucional, essa prática
também acontece, porém com atendimentos em grupo.
2.1. Psicopedagogia
A psicopedagogia preventiva tem por objetivo refle- institucional escolar
tir sobre a realidade e propor intervenções vinculadas
ao cognitivo e afetivo, que irão contribuir para melhoria Entendendo a escola como instituição que visa
dessa realidade, ela atua antes que o problema apareça. preparar o estudante para a vida em sociedade, garan-
Trata-se de assessoria junto às instituições para rede- tindo assim que possa ampliar seus conhecimentos já
finir os processos pedagógicos, como a releitura e a adquiridos, bem como construir novos saberes, cabe a
reelaboração das programações curriculares, a análise psicopedagogia considerar que todos são capazes de
mais detalhada de conceitos, desenvolvendo diferen- aprender e participar de relações sociais diversas.
tes formas de trabalhar e, também, a possibilidade da
criação de materiais para atender à diversidade, visando Porto (2011) conceitua duas naturezas da psico-
facilitar a prática pedagógica e visando contribuir com o pedagogia em instituições escolares. A primeira voltada
processo de ensino-aprendizagem. para os alunos que apresentam dificuldades na apren-
dizagem, o objetivo da psicopedagogia nesse contexto
Assim, a psicopedagogia se ocupa não apenas com é considerar o ritmo de cada um e buscar auxiliar na
os sujeitos que estão aprendendo, mas também com os reintegração e adaptação na sala de aula, articulando a
fatores envolvidos nessa aprendizagem. Não acontece cognição com a afetividade.
apenas em ambientes escolares e, sim, em todos os
contextos que, de alguma forma, sejam necessárias Enfatiza-se aqui a solução de problemas já instala-
intervenções para mediar, resolver ou prevenir conflitos. dos no contexto escolar e que precisam ser soluciona-

Essa necessidade da psicopedagogia entender o todo faz dela uma ciência


integrada às demais ciências, e juntas procuram responder questões
que dizem respeito à aprendizagem, não somente na escola
como também em contextos diferenciados.

Psicopedagogia institucional

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dos para que se garanta uma educação de qualidade, grupo de alunos. Nesse espaço, acontece o encontro
ou seja, aprendizagem para todos. da diversidade, há trocas de saberes e compartilhar de
culturas, que não pode e não deve ser desconsiderado.
A segunda natureza mencionada pela autora diz
respeito a uma assessoria aos pedagogos, orientadores, No que diz respeito a culturas, Forquim (1993)
professores, pais. Também integrando o afetivo ao cog- explica que na escola há duas culturas a serem consi-
nitivo, a psicopedagogia trabalha nessa ocasião ques- deradas: a cultura escolar e a cultura da escola.
tões vinculadas ao grupo, buscando uma transformação
interna da instituição, em que há um resgate da motiva- A cultura escolar diz respeito à cultura do professor,
ção, das relações interpessoais e de sensibilização para o dos funcionários, dos alunos, estas se diferenciam pelas
conhecimento. Um trabalho que busca ao mesmo tempo experiências vividas. Embora os seres humanos perten-
eliminar problemas e prevenir o aparecimento de outros. çam à mesma natureza, há uma divisão de pobres, ricos,
brancos, negros, índios, mulheres, homens e cabe à
Na compreensão da função da psicopedagogia na escola valorizar essa diversidade e saber trabalhar com
instituição escolar, será feita uma reflexão a respeito do as desigualdades, lembrando que, no convívio com as
espaço escolar. diferenças, o ser humano percebe-se como sujeito mais
amplo no mundo.
Nada mais viável para iniciar a reflexão sobre a ins-
tituição escolar do que as palavras do educador Paulo Para elucidar este momento do texto, utilizam-se
Freire (1999) apud Porto (2011, p. 20). palavras ditas por um aluno durante uma intervenção
psicopedagógica.
Escola é... o lugar onde se faz amigos. Não se
trata só de prédios, salas de aula, quadros, pro-
Dizia o aluno de forma simples e marcante: como
gramas, horários, conceitos... Escola é, sobre-
tudo, gente, gente que trabalha, gente que seria o mundo se não fossem as diferenças, penso que
estuda, gente que se alegra, se conhece, se seria como um bolo feito apenas com um ingrediente.
estima. O diretor é gente, o professor é gente, Como seria um bolo feito apenas com farinha? Ou ape-
o aluno é gente, cada funcionário é gente. E a nas com açúcar? Já parou para pensar que a junção de
escola será cada vez melhor, na medida em
que cada ser se comporta como colega, como diferentes ingredientes é que fazem o bolo ser sabo-
amigo. Nada de ilha cercada de gente por roso?
todos os lados. Nada de ser como tijolo, que
forma parede indiferente, frio, só. Importante na Diante desse relato, uma reflexão se faz pertinente:
escola não é só estudar, é também criar laços como seria a escola se não fossem as diferentes cultu-
de amizade, é criar ambiente de camaradagem,
ras e saberes?
é conviver, é se amarrar nela. Ora, lógico... em
uma escola assim vai ser fácil estudar, crescer,
fazer amigos, educar e ser feliz. A cultura da escola está relacionada, segundo ainda
Forquim, a elementos encontrados comuns em qual-
Há que considerar que até pouco tempo as escolas quer instituição escolar: as salas de aula, as carteiras, os
eram muito parecidas nas suas funções e pouco tinham uniformes, as disciplina, elementos estes que também
nas suas ações as palavras aqui apresentadas, escritas precisam ser compreendidos para poder saber como a
por Paulo Freire. escola é, como funciona.

Tratava-se de um espaço organizado para a trans- Além das diferentes culturas existentes na institui-
missão e a recepção de conteúdos, o que menos impor- ção escolar, há também diversos saberes e formas de
tava eram as relações humanas, os sentimentos afetivos aprender que precisam ser consideradas.
e tão pouco visava à construção de uma sociedade
democrática, ou seja, o professor era quem ensinava e Podemos fazer referências aqui à teoria das inte-
o aluno era quem aprendia. ligências múltiplas, abordada por Howard Gardner,
psicólogo americano que enfatiza que todos os seres
Nos dias atuais, a escola assume uma nova postura humanos possuem inteligências que diferem nos graus
e o primeiro elemento a ser considerado é o aluno ou de desenvolvimento.

Psicopedagogia institucional: avaliação psicopedagógica

3.
Assim, o aluno pode conhecer e entender o mundo 2.2. A atuação do
por meio da linguagem, da matemática, do espaço, da psicopedagogo
música, do próprio corpo, das relações intrapessoais e
interpessoais e por que não dizer, por meio da natureza,
na instituição
do desenho e das crenças espirituais.
A princípio, apresenta-se uma breve reflexão sobre
esse profissional e os compromissos que lhe são atri-
O fato é que a escola não pode pensar que todos
buídos, presentes no Código de Ética da Associação
aprendem da mesma forma e com os mesmos proce-
Brasileira de Psicopedagogia – ABPp.
dimentos, precisa estar atenta ao aluno enquanto sujeito
histórico e específico. Histórico porque se constitui a partir
O primeiro compromisso diz respeito aos princípios
de sua vivência, específico porque apresenta saberes que
da profissão, enfatizando que para o exercício da psico-
não são comuns a todos, pois a inteligência não é única.
pedagogia torna-se necessário a graduação no 3º grau,
bem como curso de pós-graduação em psicopedago-
gia reconhecido oficialmente. A atuação na área pode
“Inteligência é a capacidade de resolver problemas
e criar produtos que sejam valorizados dentro de
ser de natureza clínica e institucional, ou seja, na área
um ou mais cenários culturais” (GARDNER, 1994, da saúde ou da educação, com objetivo de remediar
p. 2). As pessoas resolvem problemas e criam pro- ou prevenir possíveis problemas, considerando família,
dutos de maneiras diferentes. escola e sociedade.

O segundo aspecto diz respeito às responsabilida-


Gardner (2000) menciona que as escolas deveriam des do psicopedagogo que, de acordo com o código
ter três elementos que possibilitariam identificar e trabalhar de ética, envolve a atualização, o zelo pelo bom relacio-
com as capacidades dos alunos: “os especialistas em ava- namento com especialistas de outras áreas, a colabo-
liação” que teriam capacidade de identificar os interesses ração, a difusão e a prestação de serviços, avaliações
dos alunos; “os agentes de currículos” que teriam como com definições claras de diagnósticos, preservação da
tarefa de orientar os estudos considerando as capaci- identidade, parecer e diagnóstico, respeito e dignidade
dades; e “os agentes escola-comunidade” que estariam na relação profissional e responsabilidades por eventu-
procurando na comunidade espaços profissionais para os ais críticas que possa fazer de colegas.
estudantes, de acordo com suas capacidades.
A relação com outras profissões também é um
Cultura e saberes são elementos que estão presen- compromisso do profissional, devendo sempre manter e
tes no dia a dia escolar e que não podem ser ignorados desenvolver boas relações, trabalhando nos limites que
quando se pensa em educação como direito de todos. lhe são reservados, reconhecendo que muitos casos
Cabe à escola ensinar no sentido de auxiliar o aluno a que atende podem pertencer a outros profissionais.
acrescentar novos saberes aos já existentes e explicar o
Cabe ressaltar que a aprendizagem e o ser humano
desconhecido, promovendo situações de aprendizagem
em si são muito complexos, ficando quase impossível
que relacionem conhecimentos informais com formais.
compreendê-los apenas por meio de uma área de
Barbosa (2001) enfatiza que a escola precisa valori- conhecimento, muitas vezes é preciso um diálogo entre
zar todas as combinações de capacidades presentes no profissionais para que seja possível concluir um diag-
aluno e não pensar que a inteligência é única e uniforme, nóstico preciso. O psicopedagogo precisa pensar em
oportunizar um currículo rico e flexível que valorize as uma formação interdisciplinar.
facilidades, as possibilidades e competências de todos.
Formação interdisciplinar, assim como a pes-
quisa interdisciplinar, nasce de uma vontade
Mas a escola está preparada para essa ação? Entra construída coletivamente, exigindo uma matu-
aqui a figura do psicopedagogo na instituição escolar ração prolongada em que se vai concebendo
como agente facilitador da descoberta, construção e uma nova forma de conhecer que será capaz
reconstrução do conhecimento, das relações e também de modificar os mais sisudos e tristes prognós-
ticos para o amanhã, em educação e na vida
do caminhar da instituição escolar. (BATISTA, 2001, p. 137).

Psicopedagogia institucional

4.
Isso implica que, em cada situação que o psicope- Na escola, contratado ou assessor, o psicopeda-
dagogo é colocado para remediar ou prevenir, deverá gogo ocupa a posição de trabalho que visa à melhoria
prevalecer a capacidade de humildade e escuta e, prin- das relações com a aprendizagem.
cipalmente, a predisposição para realizar trabalho em
parceria com outras áreas, com um objetivo comum: 3
. Diferentes abordagens
melhorar a realidade.
para investigação
Avançando na reflexão, o sigilo é outro compro- diagnóstica e
intervenções
misso atribuído ao psicopedagogo no código de ética,
saber guardar segredo de fatos que tenha conheci-
mento é fundamental, no entanto, saber informar sem psicopedagógicas
conotação de quebra de sigilo a outros profissionais nas instituições
sobre seu cliente é estabelecer relações imprescin-
díveis. Em relação às avaliações que o profissional A atuação psicopedagógica, seja ela na clínica ou
realizar e à exposição dos prontuários, estes somente na instituição, atua buscando compreender o sujeito para
poderão ser fornecidos a terceiros com concordância assim identificar as causas da dificuldade apresentada.
do avaliado ou de seu responsável.
Ocupa-se particularmente da relação entre a inteli-
Diante dos compromissos aqui apresentados do gência e a afetividade com diferentes abordagens, que
psicopedagogo, avança-se a reflexão sobre a atuação permite o diagnóstico e a intervenção, assim como em
desse profissional na instituição, de que forma poderá ocasiões que possibilitam a prevenção.
atuar, sem quebrar os compromissos atribuídos no
Entende-se por investigação diagnóstica o desenho
código de ética?
da situação feita após observações, entrevistas, conver-
Para Carlberg (1998), autora fundamentada nas teo- sas, escuta de relatos, coletânea de documentos.
rias de Enrique Pichon Rivière e estudos de Jorge Visca,
Intervenções dizem respeito às ações que serão
o psicopedagogo para atuar na instituição poderá ser
realizadas pelo psicopedagogo após diagnóstico. Às
contratado ou ser assessor, em ambos os casos deverá
vezes, essas ações não visam solucionar um problema
conhecer e desenvolver muito bem trabalhos em grupo
diagnosticado e, sim, prevenir para que não ocorram
e ter um bom equilíbrio emocional, além dos compromis-
futuros problemas.
sos de ética bem-definidos já abordados anteriormente,
visto que estará trabalhando com possíveis conflitos. É fato que na instituição escolar, particularmente
falando, o psicopedagogo na maioria das vezes é solici-
O psicopedagogo quando contratado passa a fazer
tado para resolver problemas já existentes, é utopia pen-
parte da instituição e ocupa um lugar no grupo tendo
sar que esse profissional possui uma “varinha mágica”
como função administrar conflitos, identificar sintomas,
que o permite resolver sozinho todos os problemas.
organizar projetos, criar estratégias, mediar situações
de ensino-aprendizagem, observar, levantar hipóteses, A atuação do psicopedagogo é uma atuação com-
fazer encaminhamentos, auxiliar na equipe pedagógica, partilhada, ou seja, exige que o trabalho seja feito na
orientar pais, professores, alunos, funcionários, saber coletividade.
escutar. É importante saber que nessa condição de
contratado, o psicopedagogo não poderá realizar den- Peterossi (2005) afirma que, para acontecer um tra-
tro da instituição avaliação psicopedagógica individual, balho educativo, é preciso diálogo entre os participantes
apenas poderá realizar sondagens. e todos devem caminhar para o mesmo destino. Sendo
o ato educativo intencional, organizado e progressivo,
O psicopedagogo assessor não faz parte do grupo, não pode ser realizado apenas por um profissional e
ele vem de fora e faz diagnóstico da instituição, ele é sim por uma equipe que tenha objetivos comuns. Nessa
chamado temporariamente para realizar um trabalho ocasião, mudar a realidade depende da instituição com
específico de avaliação, intervenção e supervisão. auxílio do psicopedagogo.

Psicopedagogia institucional: avaliação psicopedagógica

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Dentro da escola, o psicopedagogo não vai aplicar No psicodrama é trabalhada a representação de
testes individuais, sempre buscará o trabalho em grupo papéis, as pessoas que participam atuam livremente,
quer seja com alunos, pais, professores, funcionários, expressam sentimentos, dramatizam situações conflitu-
dependendo da queixa apresentada. osas e refletem sobre elas.

Ao aluno, geralmente a queixa está relacionada às Na instituição escolar, por meio do psicodrama é
dificuldades que levam ao fracasso escolar (dificuldade possível observar e prevenir problemas de relação e
de adaptação, dificuldade na leitura, na escrita, indis- comunicação entre os sujeitos do processo que, muitas
ciplina escolar, evasão). À escola, a queixa diz respeito vezes, interferem no trabalho como um todo no interior
às relações pessoais (intrapessoais e interpessoais), da instituição.
ou seja, relação dos professores e funcionários entre si
e com a equipe escolar, relação dos professores com Uma sugestão é trabalhar na escola com role
os alunos, do diretor com professores e funcionários, playing, em português significa a interpretação de per-
questões de motivação, de elaboração de projetos, da sonagens, ou seja, a representação teatral de situações
interação com as famílias, das práticas significativas, que acontecem e interferem na qualidade da aprendiza-
do trabalho frente à inclusão e demais questões de gem, como a situação de professores que diziam não
ordem pedagógica. estarem preparados para a inclusão, funcionários que
chegam atrasados, pais que reclamam o tempo todo,
Com a sociedade, o psicopedagogo é solicitado alunos que brigam muito.
para auxiliar na relação família-escola, no grupo de pais,
nos projetos de extensão, na compreensão da diversi- Em certa ocasião, ao trabalhar com professores
dade existente na escola. que estavam demonstrando rejeição ao trabalhar com
alunos com dificuldades visuais, auditivas e físicas, foi
Apresenta-se a seguir abordagens que o psicope- proposta a seguinte intervenção: organizaram-se os
dagogo poderá realizar na instituição que possibilitam a professores em duplas, cada dupla representaria dois
avaliação e a intervenção, sempre priorizando o trabalho papéis – um professor representaria o professor de fato
em grupo.
e o outro representaria o aluno com alguma deficiência.
Cada dupla recebeu uma caixa contendo escrito qual
3.1 Abordagem do a dificuldade do aluno e, também, objetos para que o
psicodrama professor que estava representando o aluno utilizasse,
exemplo: vendas nos olhos para o cego, cadeira de
Criado pelo médico Jacob Levy Moreno, a princípio rodas para o deficiente físico, mordaça e tampão de
com o objetivo de terapia de grupo, devido a sua eficácia ouvido para o professor que representaria o surdo. A
expandiu-se para a área da saúde, da educação e das atividade era uma aula passeio nos arredores da escola
organizações. O psicodrama investiga a mente humana, para verificar as placas existentes. O professor deveria
atua como pesquisa e intervenção nas relações inter- explicar ao seu aluno o que estava escrito nas placas,
pessoais (relação de pessoas com outras pessoas) e bem como garantir sua segurança de locomoção. Em
nas relações intrapessoais (relação da pessoa consigo dada situação, os papéis foram invertidos.
mesma), auxiliando no reconhecimento e reflexão de
diferenças e conflitos. Após a realização da atividade, fez-se um círculo
com todos os professores para que demonstrassem por
Cassins (2007) aborda o psicodrama como sendo meio da linguagem oral como foi a experiência.
a representação de papéis com poder terapêutico. As
pessoas que participam da técnica vivenciam dramas Nessa ocasião tiveram a oportunidade de refletir
internos e fazem reflexões sobre seus atos, conseguindo sobre como é ter uma dificuldade e também como tra-
achar soluções que lhes permitem viver mais harmonio- balhar com um aluno portador de deficiência.
samente. Na escola “é um método de grande valor pre-
ventivo, principalmente se considerar sua aplicabilidade Outra alternativa para trabalhar com psicodrama
em grandes comunidades, como é o caso do ambiente são os jogos, apresenta-se o Jogo das Palmas sugerido
escolar” (CASSIN, 2007, p. 27). por Yozo (1995, p. 26):

Psicopedagogia institucional

6.
3.2 Abordagem do
Jogo das Palmas
grupo operativo
Instruções: grupo em pé anda pela sala aleato-
riamente, ao comando do psicopedagogo, dado por A teoria dos grupos operativos foi criada pelo psi-
canalista suíço Pichon Revière, quando trabalhava em
palmas, deverão formar subgrupos. Por exemplo: duas
um hospital psiquiátrico na Argentina e por falta de fun-
palmas formam subgrupos de 2 pessoas, 3 palmas for-
cionários teve que improvisar, colocando os próprios
mam subgrupos de 3 pessoas. Sai do jogo quem não
pacientes na função de enfermeiros.
conseguir ficar em um subgrupo.

Observação: é importante que no primeiro momento Para Pichon-Rivière (1998), grupo é conceituado
formem-se subgrupos que todos possam participar. como conjunto de pessoas que impulsionadas por neces-
sidades parecidas se reúnem com o objetivo de realizar
uma tarefa. Cada participante é diferente e exercita sua
Nesse jogo, ao ser realizado com professores, é fala, sua opinião, seu silêncio, seu ponto de vista.
possível refletir como é ficar fora do subgrupo, levando
essa reflexão para o processo de inclusão. Como o Para esse autor, os papéis que constituem um
aluno se sente quando não é aceito por professores e grupo são:
colegas? xx Líder de mudança: aquela pessoa que no
grupo conduz a tarefa, ele leva adiante o grupo
Para que possa ser realizado um psicodrama na
e até mesmo se arrisca em certos momentos.
escola, é importante um lugar adequado e um profissio-
nal preparado porque não há espaço para o improviso, xx Líder de resistência: é o sujeito que conduz o
as falhas geradas durante sua aplicação poderão trazer grupo para trás, é ele que sabota tarefas, que
consequências irreversíveis, o que poderia ser a solu- promete fazer e não faz, mas por outro lado ele
ção de conflitos poderá estar gerando novos conflitos. é extremamente necessário porque quando o
No exemplo acima citado, se o psicopedagogo mostrar líder de mudança acelera demais e se afasta
uma postura totalmente a favor da inclusão poderá ser da realidade, o líder de resistência segura, ele
mal interpretado, ocorrendo o mesmo se ele se colocar faz com que enxergue a situação. Assim, os
contra a inclusão. Sua função é analisar as repostas e dois líderes são importantes no grupo para
manter o equilíbrio.
não dar respostas durante o jogo.
xx Bode expiatório: ele assume as culpas do
É importante ressaltar que o psicodrama não é uma grupo.
dinâmica de grupo, pois os participantes representam
xx Representante do silêncio: obriga o grupo a
e não é possível saber qual será a reação de cada um
falar, ele estabelece a comunicação, assume
deles. Já na dinâmica de grupo a atividade, os materiais as dificuldades do grupo.
são selecionados previamente, aplica-se uma técnica
com um objetivo já elaborado, prevendo os resultados. xx Porta-voz: é a pessoa que fala o que o grupo
está tendo dificuldade de fazer.
No psicodrama é considerada a espontaneidade e
O objetivo da abordagem por meio do grupo opera-
criatividade, aspectos que auxiliam na aprendizagem.
tivo para Barbosa (2001) é mobilizar a mudança, fortalecer
o grupo, levando-o a se adaptar à realidade. Há a apren-
Para Ramalho (2010, p. 35) “ser espontâneo é
dizagem por meio da tarefa, cuja denominação desta é
tomar decisões adequadas, perante o novo, agir de
epistemologia convergente, em que todas as ciências do
forma transformadora e coerente, considerando sempre
homem funcionam como unidade operacional, conhecido
os laços afetivos, construídos na rede”.
como ECRO (Esquema Conceitual Referencial Operativo),
quando o psicopedagogo envolve o grupo no conheci-
Ou seja, quando o aluno aprende a ser espontâneo
mento, nos conceitos, consegue compreender o grupo na
também demonstra criatividade e não realiza as ações
totalidade e tem referência para atuar nesse grupo.
sendo induzido ou automaticamente, passa a ser um
agente ativo. O ECRO ajuda a entender o grupo, ajuda também a
atuar no grupo, orientando as mudanças que precisam

Psicopedagogia institucional: avaliação psicopedagógica

7.
ser feitas em torno de uma determinada tarefa. “A rea- Visca (1987) sustenta que o vínculo afetivo que a
lização de uma tarefa está ligada ao ECRO individual e criança tem com a aprendizagem pode favorecer ou
grupal” (BARBOSA, 2001, p. 192). impedir que esta aconteça, pode ser algo positivo como
também gerar medos nos alunos, sendo necessária uma
Freire (1979) explica que o grupo se processa em
intervenção psicopedagógica para que haja evolução.
três momentos diferentes: 1º momento – pré-tarefa: o
grupo evita a tarefa por medo da perda do conhecido e A epistemologia convergente, segundo o autor,
por medo do ataque do desconhecido. Há uma ansie-
apresenta uma matriz diagnóstica que orienta a prática
dade presente e grande resistência de mudança. 2º
momento – a tarefa: o grupo centraliza-se na tarefa e do psicopedagogo, esta é composta por: análise do con-
inicia a elaboração e superação dos medos. 3º momento texto. Esta deve ser a primeira ação realizada pelo psi-
– projeto: o grupo planeja as ações. copedagogo. Trata-se da observação da realidade sem
esquecer que a escola está em um contexto mais amplo
Durante o trabalho com grupo operativo é impor- que precisa ser considerado. É preciso observar o espe-
tante que o coordenador realize a análise no interior do cífico (sintoma a ser observado), o singular (a instituição
grupo, ou seja, uma avaliação para saber como ele fun- como um todo) e o universal (sociedade). Explicação
ciona para então poder ajudá-lo a mudar. das causas: as causas que coexistem temporariamente
podem estar vinculadas na ordem do conhecimento,
Para esse fim, Pichon de Rivière (1998) propõe
a utilização do cone invertido, instrumento de avaliação quando existe falta de aprofundamento do conhecimento
que apresenta seis vetores que permitem fazer a leitura do objeto ou situação ou até mesmo o desconhecimento.
do grupo, assunto que será tratado no adiante. Ordem da interação, quando os vínculos afetivos com a
aprendizagem ou com os protagonistas da aprendiza-
O papel do psicopedagogo nos grupos operativos gem não ocorrem. Ordem do funcionamento, diz res-
é tornar claro que o objetivo do grupo deve ser comum peito ao funcionamento da instituição como um todo: a
e na instituição escolar deve estar centrado na aprendi- organização, a comunicação, o ritmo, as funções. Ordem
zagem, todos do grupo devem buscar qualidade no ato estrutural que se refere à estrutura da instituição, como se
de ensinar e aprender.
organiza, quais os níveis de hierarquia existentes. Explica-
ção das origens das causas: porque estão acontecendo
3.3 Abordagem da os sintomas, é o momento de relacionar os dados obti-
epistemologia dos e apontar para uma intervenção na realidade. No
convergente grupo será dada uma explicação histórica que será rela-
cionada com a instituição, para descobrir o que originou
A epistemologia convergente foi criada por Pedro o problema. Análise do distanciamento do fenômeno em
Luiz Visca, psicopedagogo argentino que considera que relação ao parâmetro considerado aceitável: na escola
fatores afetivos e sociais influenciam na aprendizagem essa análise deverá considerar a proposta pedagógica
do ser humano. e verificar se os desvios são de ordem comportamen-
tal, organizacional, metodológico, funcional, conceitual.
Barbosa (2001) explica que, na epistemologia con-
vergente, a aprendizagem e seus problemas são estu- Não se pode esquecer que parâmetros de normalidade
dados por três vetores: a psicogenética, o afeto e os vín- estão relacionados com valores do grupo, o que pode
culos sociais, o que possibilita ao psicopedagogo pensar ser anormal para um, pode ser normal para outro grupo.
em múltiplas causas que interferem na aprendizagem.

O ato de aprender não está limitado apenas à Se numa instituição é esperado que o grupo de
escola, abrange desde o contato do aluno, em seu alunos mantenha um determinado comportamento,
nascimento, com a figura materna, e amplia-se com as e uma de suas classes apresenta um comporta-
relações nos grupos. mento afastado daquele considerado normal, esse
fenômeno se caracteriza como um sintoma a ser
Na escola, o objetivo dessa abordagem é a articu- pesquisado no interior da instituição (BARBOSA,
lação de saberes, melhorando o nível de conhecimento 2001, p. 143).
dos envolvidos no processo.

Psicopedagogia institucional

8.
xx Levantamento de hipóteses: serão levantadas Assim, uma abordagem sistêmica implica um olhar
hipóteses sobre a configuração futura da rea- do psicopedagogo das partes para o todo, considerando
lidade atual, trata-se de uma previsão do que que somente se entende as partes se conhecer o todo,
poderá ser feito para melhorar o sintoma, com ou seja, não é possível entender um problema na escola
bases em fundamentos teóricos. se não entender primeiramente essa escola. Essa abor-
xx Indicações e encaminhamentos: diz respeito dagem possibilita o trabalho individual ou em grupo, sem
ao encaminhamento da situação para outros perder a globalidade como chave e a consciência de
profissionais. que a mudança em uma das partes implica mudança no
todo, ou seja, todos influenciam e são influenciados.
Esses são os procedimentos do psicopedagogo ao
trabalhar com a epistemologia convergente na institui- Para exemplificar o que se diz, uma fábula:
ção escolar.

3.4 Abordagem da A ratoeira


teoria sistêmica
Um rato olhando pelo buraco da parede vê o fazen-
Gasparian (1997) conceitua sistema como sendo deiro e sua esposa abrindo um pacote. Pensou logo no
um todo organizado formado por elementos que depen- tipo de comida que poderia haver ali. Ao descobrir que
dem um dos outros. Para melhor compreensão, toma-se era uma ratoeira, ficou aterrorizado. Correu ao pátio da
como exemplo o relógio explicado por Demo (2005). fazenda advertindo a todos. Foi ao galinheiro e falou:

O relógio é formado por uma série de peças con- – Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira na casa!!!
catenadas. O relógio não existe em forma de partes
desmontadas, mas estas é que formam o relógio. O A galinha disse:
relojoeiro precisa saber das partes para compreender o
– Desculpe-me Sr. Rato, eu entendo que isso seja
todo e garantir que este funcione.
um grande problema para o senhor, mas não me preju-
Esse sistema mencionado por Gasparian (1997) dica em nada, não me incomoda.
pode ser aberto ou fechado, dependendo do grau de
O rato foi até o chiqueiro e disse ao porco:
trocas estabelecidas. O fechado não realiza intercâmbios
com o meio externo e o aberto interage com outros
– Há uma ratoeira em casa, uma ratoeira !!!
sistemas.
O porco respondeu:
A instituição escolar é um sistema aberto, interage
com outros sistemas, como a família e a sociedade e – Desculpe-me Sr. Rato, mas não há nada que eu
muitas soluções podem ser encontradas pelos psicope- possa fazer, a não ser rezar. Ratoeira é pra pegar ratos.
dagogos se a escola for observada como um sistema Fique tranquilo que o senhor será lembrado nas minhas
composto por partes. “[...] a escola pode ser vista como preces.
um conjunto de elementos materiais ou não, que depen-
dem reciprocamente uns dos outros, de maneira a for- O rato dirigiu-se então à vaca. E ela lhe disse:
mar um todo organizado” (GASPARIAN, 1997, p. 27).
– O que Sr. Rato? Uma ratoeira? Por acaso estou
A autora destaca propriedades de um sistema aberto em perigo? Acho que não!!!
que merecem ser abordadas neste artigo: 1. Causalidade
circular: nada pode ser entendido sem estar relacionado Então o rato voltou para casa, cabisbaixo e aba-
com outros elementos, todos se movem juntos. 2. Equi- tido, para encarar a ratoeira do fazendeiro. Naquela noite
libração: é o processo de mudança e transformação. 3. ouviu-se um barulho, como o de uma ratoeira pegando
Equifinalidade: capacidade de reunião em torno de uma uma vítima. A mulher do fazendeiro correu para ver o
missão coletiva. 4. Globalidade: não é possível mudar que havia pegado. No escuro, ela não viu que a rato-
apenas uma parte, o todo sofre alterações. eira havia pegado a cauda de uma cobra venenosa. E a

Psicopedagogia institucional: avaliação psicopedagógica

9.
cobra picou a mulher... O fazendeiro a levou imediata- Todos os participantes tomam parte da conversa-
mente ao hospital. Ela voltou com febre. E todo mundo ção, as pessoas estabelecem uma relação, para assim
sabe que para alimentar alguém com febre, nada melhor compreender o todo.
que uma canja de galinha. O fazendeiro pegou sua faca
e foi providenciar o ingrediente principal: galinha. Como A dinâmica de grupo pode ser utilizada pelo psico-
a doença da mulher piorasse, os amigos, parentes e vizi- pedagogo para avaliar, intervir e prevenir problemas na
nhos vieram visitá-la. escola que acontecem com alunos, professores, funcio-
nários, pais.
Para alimentá-los, o fazendeiro matou o porco. A
mulher não melhorou e acabou morrendo. Muita gente Beauclair (2010) considera que, na psicopedago-
veio para o funeral. O fazendeiro então sacrificou a vaca gia, a dinâmica de grupo possui um caráter de vivência,
para alimentar aquele povo todo. ou seja, os participantes no grupo conseguem ener-
gias para ampliar e desenvolver sentimentos, emoções,
Disponível em: <www.fabulasecontos.com.br>. conhecimentos sobre si e sobre o grupo e, assim, fazer
Acesso: 24 jun. 2012. com que o ambiente sofra mudanças positivas.

Na instituição escolar, o psicopedagogo por meio


O psicopedagogo, em uma abordagem sistêmica, da dinâmica de grupo pode observar comportamentos,
precisa considerar todos os elementos da instituição, comunicação, iniciativas, liderança, enfim, consegue
estar sintonizado e atuar para promover mudança. Às conhecer os indivíduos, favorecendo o diagnóstico.
vezes, um elemento que parece não afetar a todos é o
responsável pelo problema, como a ratoeira que parecia Por outro lado, nas dinâmicas de grupo se efetivam
ser um problema apenas para o rato passa a ser um diálogos, se compartilham ideias, culturas que contri-
problema de todos. buem para mudança de comportamento, quer seja de
alunos, pais ou funcionários.
Essa capacidade de observação exige do psico-
pedagogo estudo teórico e compreensão de como as É importante lembrar que, para se conseguir sucesso
partes se relacionam, essa compreensão se dá quando na dinâmica de grupo, o psicopedagogo precisa planejar
há uma observação da situação, feita de vários ângulos, a atividade, levando em consideração a necessidade e a
que será melhor explicada no decorrer do texto quando idade intelectual dos envolvidos e organizar a atividade
for abordado o tema avaliação. com início (explicação dos objetivos), desenvolvimento
(condução da atividade), término (avaliação) e feedback
3.5 Dinâmica de grupo para que não ocorram interpretações erradas.

Entende-se que um grupo diz respeito a duas ou É necessário que, durante a atividade, aconteça uma
mais pessoas que interagem para resolver alguma situ- relação psicopedagogo-participantes em uma postura de
ação, possuem objetivos comuns. diálogo, ou seja, todos deverão ter direito à palavra.

A ideia de grupo é bastante remota, desde os Alguns mitos e preconceitos durante a dinâmica pre-
tempos primórdios o homem utiliza da organização em cisam ser quebrados, Andreola (2007) identifica-os como:
grupo para sanar suas necessidades. Ao se observar
uma criança é possível perceber que desde que nasce xx Exclusividade: diz respeito à ideia de que
participa de grupos, primeiramente do grupo familiar e, apenas um dos integrantes do grupo tem
após, vai ampliando essa interação com novos grupos, condições de exercer a liderança, na verdade
assim vai construindo sua identidade. todos podem ser líderes de acordo com suas
capacidades, a liderança deve ser exercida
Dinâmica de grupo diz respeito a momentos orga- simultaneamente. É comum nas salas de aula,
nizados em que todos participam, se conhecem, há uma presenciar-se situações em que um aluno da
interação de valores, filosofias, conhecimento. “Na ver- classe é o líder. Ele é escolhido para ler, para
dadeira dinâmica de grupo não há locutores e ouvintes, representar, para organizar, enfim, parece que
mas apenas interlocutores” (ANDREOLA, 2007, p. 16).

Psicopedagogia institucional

10.
os demais alunos não são capazes de exer- Lembrando que, na escola, o psicopedagogo
cer tais tarefas. Esse tipo de procedimento poderá realizar dinâmicas de grupos com professores,
não pode existir quando se trabalha com pais, alunos e funcionários, algumas delas estão sendo
dinâmicas de grupo, todos são capazes e há sugeridas a seguir.
lideranças diversificadas. Um aluno que não
1. A queixa da escola é de que os professores
consegue ser líder pela comunicação, pode
estão rotulando alunos.
ser líder pela ação.

Rótulos

Um fato Objetivo: o exercício demonstra a facilidade com


que as pessoas são rotuladas reduzidas ao que se pode
Durante uma sessão grupal, na primeira etapa des- ver na “embalagem”, sem que tenham tempo de mos-
tinada à comunicação verbal dos participantes, um deles trar o que realmente são.
não falou nada. Na segunda etapa em que a tarefa era
montar um quebra-cabeça coletivamente, o mesmo Tamanho do grupo: vinte ou trinta pessoas, dis-
indivíduo ficou de lado observando durante 15 minutos. postas em sete (7) subgrupos.

Em dado momento quebrou o silêncio com a Tempo exigido: 1 hora.


seguinte expressão: Material utilizado: cartões e fita adesiva.
– Está tudo errado! Ambiente físico: sala de aula ampla, sem car-
teiras.
Assumiu a liderança e em poucos minutos o quebra
cabeça estava montado (ANDREOLA, 2007, p. 19). Processo: Sete dos integrantes, um de cada sub-
grupo, receberão – sem que saibam o que nele está
escrito – um rótulo a ser aderido à sua testa. Nos rótulos
estarão escritas frases como as que se seguem:
xx O líder nasce líder. É outro aspecto mencio-
nado pelo autor, pois a liderança não é inata, xx sou engraçado, ria;
as capacidades de cada um podem ser trans-
xx sou tímido, ajude-me;
formadas em força de liderança, este é um
preconceito que impede o desenvolvimento xx sou surdo, grite;
do grupo.
xx sou mentiroso, desconfie;
xx Um terceiro mito é pensar que liderança não
se adquire. A observação do psicopedagogo, xx sou criativo, ouça-me;
com conhecimento teórico e prático, é capaz xx sou insignificante, ignore-me;
de promover novas lideranças.
xx sou muito poderoso, bajule-me.
As chamadas “panelinhas” também devem ser
evitadas, não é viável deixar que o grupo se organize Os membros do grupo devem andar pela sala,
sempre naturalmente, mas também não se pode sim- se relacionando de acordo com os dizeres dos papéis
colados à testa de quem se aproxima.
plesmente desmanchar os subgrupos, se estão juntos é
porque algo positivo têm. Fechamento: o facilitador perguntará a cada
um dos ‘rotulados’ como se sentiu naquela situação, e
Assim, o ideal é valorizar os subgrupos e incentivar que tipo de percepção teve sendo assim discriminado
a formação de novos subgrupos, de acordo com as ati- (VITIELLO, 1997, p. 77).
vidades propostas indica-se a forma de organização.

Psicopedagogia institucional: avaliação psicopedagógica

11.
2. A queixa da escola é de que os pais não avaliar? Será que a avaliação terá algum benefício ou
participam da educação e aprendizagem dos apenas irá mostrar aquilo que a escola já sabe?
filhos.
A avaliação deverá ser compreendida como uma
ação que visa entender o processo educativo para,
Jogo dos “Sonhos de Valsa” então, possibilitar ao psicopedagogo diagnosticar e inter-
vir. Trata-se de uma investigação da queixa apresentada.
Material: 4 bombons, tipo “Sonho de Valsa”
Para Meneses e Batista (2003, p. 119)
Desenvolvimento:
Arrumar os bombons numa mesa. Solicitar 4 volun- Para avaliar, precisamos nos reportar ao
conhecimento individual e coletivo, devemos
tários que deverão ficar com os braços abertos, na estar durante todo o processo “antenados” a
horizontal. cada gesto, a cada fala, a cada registro, no
sentido de estruturar nossas próprias “cria-
Pedir que cada um, sem abaixar os braços, procure ções” dando-nos condições de argumentar e
apanhar um dos bombons, desembrulhá-los e levá- sustentar nossas hipóteses ou, então, de pro-
curar fundamentar nossas buscas.
los à boca.
Nesse contexto, percebe-se que a avaliação é um
Qualquer tentativa será válida, desde que os braços
processo coletivo e não deve estar presente apenas nos
não saiam da posição inicial.
momentos de dificuldades, mas também de facilidade,
Dicas para o coordenador: de avanços, de situações reflexivas no dia a dia escolar.

Nenhum participante conseguirá atender ao pro- Ao deparar-se com a queixa da instituição, o psi-
posto sem a ajuda do outro. copedagogo passa a utilizar procedimentos, técnicas,
abordagens que permitem identificar a causa do sin-
Quando descobrirem que cada um, tomando um toma, tais como:
dos bombons com a ajuda da mão desocupada do
outro, poderá junto com o colega desembrulhar e xx observa (das aulas, o recreio, a postura dos
alimentar-se mutuamente, será encontrada a solu- professores, as atividades extracurriculares,
ção do problema. a atuação dos gestores, o comportamento
dos pais);
Conclusão
xx levanta dados (notas, faltas, repetência, número
xx Os problemas podem ser resolvidos se: de alunos, estrutura, situação socioeconômica);
xx For feito o uso da cooperação. xx realiza entrevistas (pais, alunos, professores,
xx Forem analisados os pontos críticos do pro- funcionários, diretor, pedagogo);
blema.
xx analisa (documentos, avaliações, produções
xx As decisões forem tomadas em conjunto. dos alunos, planejamento, material didático,
Adaptado de: <www.juraemprosaeverso.com.br/FilhosePaisouPaisEFilhos/
Dinjogosdoson.htm>.
distribuição do tempo, espaço escolar, crono-
grama);
xx estuda (Projeto Político-Pedagógico da institui-
4
. Avaliação e investigação ção, regimento, organograma, cronograma e
outros documentos pertinentes);
psicopedagógica na
xx faz reuniões, promove oficinas, realiza conver-
instituição escolar sas informais, grava e filma situações.
Quando o trabalho psicopedagógico é solicitado Enfim, o psicopedagogo trabalha com inúmeras
na instituição escolar, o primeiro procedimento a ser fontes de dados para poder entender o que está acon-
realizado é a avaliação psicopedagógica. Mas, por que tecendo e atribuir um posicionamento positivo ou nega-

Psicopedagogia institucional

12.
tivo em relação a situação, trilhando depois para uma xx Quanto aos turnos e horários da escola: o
dinâmica de ação que conduza a mudança. calendário escolar prevê tempo destinado ao
encontro de professores para estudos discus-
4.1 Mapeamento da são e implementação de projetos?

instituição xx Quanto aos recursos físicos: existem horários


para frequência à biblioteca pelos alunos e
Uma proposta de avaliação é sugerida por Porto professores? A biblioteca atende às necessi-
(2011), que visa mapear a instituição escolar para então dades? Em caso negativo, o que fazer para
intervir com uma proposta pedagógica. melhorar? A escola busca utilizar novas tec-
nologias? Programas de TV, rádios, vídeos
Mapear diz respeito a analisar a instituição, primei- são aproveitados para discussão de profes-
ramente identificando-a e depois caracterizando a situa- sores, alunos e comunidade? Existe horário
ção socioeconômica, a cultura da comunidade escolar, a estipulado para utilização de computadores
estrutura organizacional, os turnos e horários, o sistema pelos alunos?
de avaliação, o diálogo com a realidade, os objetivos e
xx Quanto ao sistema de avaliação: como é uti-
metas, a programação.
lizada a avaliação no cotidiano escolar? Quais
Porto (2011, p. 124-125) apresenta um roteiro de os objetivos da avaliação? O que acontece
avaliação utilizado para realizar o mapeamento institucional: com o aluno reprovado, melhora, piora ou
mantém o mesmo rendimento? Quais os crité-
xx Identificação da unidade escolar: entidade rios avaliativos?
mantenedora, nome e endereço completo,
decreto de criação, atos ou portaria, autori- xx Diagnóstico: dialogar com a realidade e obter
zação de funcionamento dos cursos, cursos o resultado do confronto entre a situação que
que oferece: níveis e modalidades, estrutura a escola vive e o que ela deseja viver.
do curso: série, ciclos, grupos não seriados, xx Objetivos e metas. A partir do diagnóstico onde
classificação da escola. são relacionadas as características da realidade
xx Caracterização socioeconômica e cultural da e os problemas da instituição, a escola deverá
comunidade escolar: quais as principais ati- formular seus objetivos e metas que devem
vidades socioeconômicas da comunidade. ser perseguidos por todos da instituição.
Quais as principais tradições culturais? Quais xx Programação: é a proposta de ação para apro-
as atividades de lazer? Há outras escolas na ximar a realidade existente da realidade dese-
área? Como é feito o atendimento à saúde? jada. A escola vai estabelecer ações concretas:
Descrição da realidade escolar. Quais as difi- projetos para atualização dos professores, pro-
culdades na escola em relação à aprendiza- jetos para a comunidade, compras, reestrutu-
gem dos alunos, ao ambiente escolar, às disci- ração do espaço físico.
plinas e ao trabalho dos professores? Quais as
causas de distanciamento entre a realidade e Com a utilização do roteiro aqui sugerido, o psico-
o pretendido? Que atividades são bem aceitas pedagogo auxiliará a instituição escolar a se reorganizar
pelos alunos? Como é a participação da família e assim oferecer um trabalho com maior qualidade.
no currículo?
Barbosa (2001) aborda que avaliar também é
xx Estrutura e organização da escola: recursos investigar, nesse sentido quando a queixa é levantada é
humanos existentes, calendário escolar, matrí- preciso selecionar os itens importantes que deverão ser
cula, organização das turmas, transferências, observados para poder indicar formas de atuação. Con-
turnos e horários da escola, sistema de ava- forme os sintomas que incomodam, deverão ser elabo-
liação, recursos físicos disponíveis, currículo, radas perguntas pelo psicopedagogo que irão auxiliar no
programas e projetos. trabalho posterior que será realizado.

Psicopedagogia institucional: avaliação psicopedagógica

13.
Abaixo seguem itens que poderão ajudar na investi- Primeiramente, é importante saber que para realizar
gação proposta pela autora (BARBOSA, 2001, p. 65). uma EOCMEA, segundo autora, é preciso um grupo de
três profissionais, porque esse instrumento será aplicado
Queixa: indisciplina em grupos. Assim um dos integrantes será o coorde-
nador e os outros dois serão observadores, um da
Perguntas:
temática e outro da dinâmica, sem hierarquia e atuando
xx Quais são as normas estabelecidas? como colaboradores no momento da dinâmica.

xx Como elas foram instituídas? O coordenador deverá apresentar a tarefa ao grupo


xx Os responsáveis pelo cumprimento das mes- e intervir para que o grupo entre na tarefa se caso for
mas conhecem sua origem e necessidade? necessário. O observador da temática vai registrar tudo
o que o grupo verbaliza e o observador da dinâmica
xx Como são colocadas e cobradas as regras em
registrar a ação do grupo.
relação àqueles que devem cumpri-las?
xx Qual o papel do modelo no que se refere ao Todos os dados obtidos durante a dinâmica serão
cumprimento de normas? analisados pela equipe de profissionais envolvida, estes
identificarão sintomas e elaborarão hipóteses de caráter
xx Como se lida com o não cumprimento das
afetivo, cognitivo, funcional e cultural.
regras?
xx Quem fica responsável pelo controle? Hipótese de caráter afetivo está relacionada à dis-
puta entre os alunos e professores, aos rótulos, aos vín-
xx A visão de autoridade supõe o encaminha-
culos afetivos entre si e à aprendizagem, à ansiedade
mento para a autonomia?
demonstrada no grupo, à comunicação. Hipótese de
Nota-se que, para saber o que está causando a caráter cognitivo: é a observação do nível de cognição
indisciplina em uma determinada turma da escola, é do grupo. Hipótese de caráter funcional: a falta de pla-
preciso conhecer as relações na escola, o que poderá nejamento e organização dos alunos, o enquadramento
estar favorecendo esse sintoma. dos alunos e professores, as descobertas em relação
à sexualidade. Hipótese de caráter cultural: aqui será
Quando o psicopedagogo elabora questões perti- observado se há passividade das meninas frente aos
nentes que permitem conhecer melhor a escola e sua meninos e a questão da religiosidade.
relação com a queixa, consegue-se escolher a interven-
ção mais adequada que às vezes não é somente reali- Agora que você leitor já entendeu um pouco
zada com a turma indicada, mas com várias instâncias sobre esse instrumento, ele será situado no contexto
da instituição. educacional.

4.2 EOCMEA
Na EOCMEA inicia-se o primeiro contato com
a instituição, em que será identificada a queixa. Esse
Carberg (1998) idealizou um instrumento para auxi- momento poderá ser conduzido via entrevista aberta,
liar na observação e análise do sintoma, o qual deno- em que se observa a temática da conversa, ou seja,
minou de EOCMEA (Entrevista Operativa Centrada na o que se pensa sobre a queixa e, também, o que se
Modalidade do Ensino Aprendizagem). Essa entrevista deixa de pensar. Analisa-se a queixa e organiza-se a
visa uma aproximação ao objeto de estudo, de maneira dinâmica que será aplicada no subgrupo, o qual Visca
a perceber o que o grupo sabe e o que não sabe, se (1987) nomeia de enquadramento do processo diag-
propõe a pesquisar a dinâmica, a temática e o produto. nóstico. Partindo do pressuposto que o diretor da escola
Ou seja, identificar a modalidade de ensino-aprendiza- já verbalizou uma queixa do grupo e este está dividido
gem da escola para depois fazer encaminhamentos que em vários subgrupos, cabe à coordenação da instituição
visam à correção. indicar com qual subgrupo será realizada a EOCMEA.

A pergunta deve ser, nesse momento, como realizar Analisa-se a dinâmica e organiza-se o primeiro
uma EOCMEA em uma instituição escolar? sistema de hipótese que, segundo Jorge Visca (1987),

Psicopedagogia institucional

14.
não é um diagnóstico, mas serve de referência para a síveis hipóteses ou levantar outras. Realiza-se o terceiro
pesquisa. Nesse momento são utilizadas as hipóteses sistema de hipótese para se obter uma hipótese diag-
de caráter afetivo, cognitivo, funcional, cultural. Depois nóstica, a qual deverá ser entregue à instituição em
são escolhidos os instrumentos de investigação que irão forma de informativo. Nesse informativo deverá estar
confirmar ou não as hipóteses levantadas. Na institui- todas as informações de forma resumida e clara. “É
ção pode-se utilizar de observações, entrevistas, coleta fundamental que o informativo possua uma introdução
de dados, análise de materiais, técnicas projetivas para explicativa sobre a forma como se analisa um sintoma
compreender o perfil grupal e nunca individual. Reali- institucional e as necessidades de se fazer relação entre
za-se o segundo sistema de hipóteses, no qual poderá as várias instâncias” (BARBOSA, 2001, p. 173).
ser utilizado o cone invertido.
Apresenta-se a seguir um exemplo de EOCMEA
realizado por uma das autoras deste artigo, Maristela
O cone invertido é um instrumento composto por Cristina Metz, juntamente com duas profissionais.
seis vetores de análise que permitem a observação da
operação interior de um grupo. A integração dos ele-
mentos torna explícito o que se encontra implícito no Queixa: em uma escola da rede municipal, a
movimento interno do grupo. A pertença seria o senti- turma do 3º ano faz competições o tempo todo, eles
mento de pertencer à dinâmica grupal. A cooperação se agridem na sala pelo fato de um querer ser melhor
é a capacidade de se colocar no lugar do outro. A per- do que o outro, não é possível realizar um trabalho em
tinência está ligada à realização da tarefa. A comu- equipe, predomina o individualismo.
nicação diz respeito ao conteúdo da mensagem e à
forma como este é transmitido, os ruídos que poderão Materiais: pirulitos
vir a interferir no processo. Aprendizagem, momento
Procedimentos. todos os alunos foram convida-
em que o grupo apodera-se do conhecimento. A tele é
dos a se organizarem em círculo e ficarem em pé. Em
o clima grupal (BARBOSA, 2001).
seguida foi distribuído um pirulito para cada participante,
o qual deveria pegá-lo com a mão direita, com o braço
estendido. O braço não poderia ser dobrado em hipó-
tese alguma. Solicitou-se que, com a mão esquerda,
Pertença Comunicação cada participante tirasse o papel do pirulito e entregasse
ao coordenador sem dobrar o braço direito. Então,
solicitou-se que sem sair do lugar, sem dobrar o braço
Cooperação Aprendizagem direito e sem utilizar o braço esquerdo cada participante
chupasse o pirulito.

Pertinença Tele Análise: Durante a aplicação da ECOMEA, o


grupo demonstrou receptividade e interesse pela ativi-
dade proposta. Os alunos demonstraram compreensão,
Mudança
porém muita dificuldade para perceber que só poderiam
chupar o pirulito se o colega ajudasse. Dois integrantes
Na utilização do cone invertido para análise, é pre- do grupo (meninos) se revoltaram e acabaram dobrando
ciso um exercício constante para estabelecer relações o braço e chupando o pirulito por si só criticando a ativi-
entre os vetores. Os vetores da esquerda apresentam dade. Depois de muitas tentativas, uma menina no grupo
características quantitativas e os da direita qualitativas. estendeu o braço e deu seu pirulito para outra menina
Quando há uma articulação e passagem da quantidade chupar. Com esse procedimento, os demais integrantes
para a qualidade, há mudança. fizeram a mesma coisa, menos os dois meninos.

Depois do segundo sistema de hipótese, pode-se O produto revela um trabalho grupal marcado pela
organizar uma pesquisa na escola para descartar pos- indiferença e falta de receptividade.

Psicopedagogia institucional: avaliação psicopedagógica

15.
Primeiro sistema de hipótese: havia uma rela- As intervenções que aqui serão propostas oportuni-
ção de disputa entre os alunos. A turma toda já carregava zam a observação, a avaliação, a reflexão e a mudança
um rótulo dos professores como sendo desunida. Os alu- no contexto escolar se estas forem aplicadas por um
nos queriam realizar rapidamente a tarefa para serem os profissional capacitado que tenha uma intenção educa-
primeiros. Havia um bom nível de entendimento perante a tiva planejada.
tarefa. Ausência de planejamento e organização dos alunos,
ausência de enquadramento por parte de professores. 5.1 Jogos dramáticos
Instrumentos de investigação: utilizou-se, para Yozo (1995) relata que J.L Moreno aos 4 anos de
prosseguir o trabalho, entrevista com as professoras que idade, em uma brincadeira com colegas, fez o papel
trabalham na turma, observação das aulas, entrevista de Deus e ao ser questionada por que não voava, fez
com os alunos, observação das práticas pedagógicas. a tentativa e caiu no chão. Esse episódio fez com que
Utilizou-se o cone invertido como instrumento avaliativo Moreno aprofundasse seus estudos, percebendo que a
e realizou-se projeto de intervenção uma vez na semana maioria das pessoas tem espontaneidade e criatividade,
com o grupo, no sentido de trabalhar a importância do e quanto mais o indivíduo é espontâneo, mais aumenta
trabalho em equipe na sala de aula.
sua criatividade.
Segundo sistema de hipótese: havia uma
Assim, o jogo dramático quando inserido no con-
competição entre os alunos e falta de planejamento do
texto escolar permite avaliar e desenvolver a espontanei-
professor para trabalhar com equipes.
dade e a criatividade do indivíduo. O aluno, ao mesmo
Os resultados alcançados foram positivos, o pro- tempo em que participa da ludicidade, é convidado a
blema foi solucionado. trabalhar com conflitos que fazem parte do dia a dia.

Terceiro sistema de hipótese: havia um obs- Na verdade, o jogo dramático está inserido na teoria
táculo de caráter funcional que impedia o trabalho em do psicodrama e aborda o social, o grupal e o contexto
equipe na referida turma. dramático, em que há uma separação da realidade da
fantasia e prevalece o imaginário.
Devolutiva: a devolutiva foi entregue para a coor-
denadora da escola em forma de informativo psicope- O mesmo autor para um jogo dramático é impor-
dagógico. tante ter um diretor, um ego-auxiliar, protagonista, cená-
rio e auditório.

Muitas outras técnicas podem ser utilizadas para Ao diretor cabe selecionar os jogos, definir os obje-
o processo de avaliação e investigação na psicopeda- tivos, estabelecer ligações e sugerir modificações.
gogia escolar, como jogos estruturados, dinâmicas de
Ao ego-auxiliar é o intermediário entre o prota-
grupo, oficinas, entrevistas questionários.
gonista e o diretor, ele pode atuar como ator, guia ou

5
. Propostas de intervenção
investigador social.

institucional Protagonista é quem centraliza o jogo dramático,


pode ser o grupo todo. Cenário é onde se constrói o
Intervir está relacionado a promover o ato de jogo dramático e auditório são os participantes durante
aprendizagem, auxiliar a escola a criar mecanismos que o jogo.
melhorem o desempenho é uma das funções do psico-
pedagogo. As etapas do jogo são compostas por aquecimento,
tendo este duas fases: inespecífico, que é o primeiro
Cabe lembrar que toda e qualquer intervenção a contato do diretor com o grupo; e o específico em que
ser realizada na instituição escolar precisa ser planejada, os participantes são preparados para a construção de
estar articulada ao contexto educacional, é preciso coe- papéis. Outra fase é a dramatização, que se trata do jogo
rência na ação. em si e a oportunidade de, nessa fase, o psicopedagogo

Psicopedagogia institucional

16.
identificar conflitos. Depois vêm os comentários feitos alguma característica que o identifique) e “entrega” para
pelos participantes do jogo, em seguida, o processa- o participante à sua direita e assim por diante;
mento que é a releitura da dramatização e comentários
e, enfim, o processamento teórico que é a introdução de c. cada pessoa recebe e repassa a “escultura” ao
conceitos e objetivos propostos. seguinte, prosseguindo até passar pelo último partici-
pante;
Sugestão 1
d. comentário breve sobre o que cada um considera
que recebeu, sendo que o “escuto” confirma ou não;
Um bicho
e. repete-se o mesmo procedimento a partir do
1. Materiais: não há.
segundo participante, e assim por diante, até todos pas-
2. Instruções: sarem pela experiência;

a. cada participante pensa em suas características f. comentários.


pessoais e escolhe um bicho que o identifique;
(YOZO, 1995, p. 15)
b. cada um deverá representar, no contexto dramá-
tico, as características que lhe é apresentada;

c. cada elemento do grupo deverá descobrir e dizer Sugestão 3


qual a características que lhe é apresentada;

d. se acertar, o “bicho” deve acentuá-la e, em Renascimento


seguida, mostrará outra característica, passando a adivi-
(Da Crisálida à Borboleta)
nhação a outra pessoa seguinte.

Se errar, mantém a mesma característica e 1. Materiais: não há (variação: pode-se utilizar


passa a palavra ao próximo, e assim por diante; tules ou similares para a construção do casulo e, poste-
riormente, das asas).
e. depois, o grupo procura descobrir qual é o bicho
escolhido; 2. Instruções:

f. no final, cada participante explica o porquê da a. cada participante deita-se no chão, de forma
escolha; confortável e de olhos fechados;

g. compartilhar. b. após um breve aquecimento, deve imaginar que


está dentro de um casulo (cor, tamanho, textura, tempe-
(YOZO, 1995, p.10)
ratura, forma, etc.), explorando-o ao máximo;

c. as estações do ano passam e, aos poucos, cada


Sugestão 2 um vai percebendo que está se transformando numa
linda borboleta (tamanho, asas, etc.) dentro do casulo;

Escultura d. no momento exato, começa a romper o casulo,


pois a transformação está completa;
1. Materiais: não há.
Nota: Ao sair do casulo, devem abrir os olhos, para
2. Instruções:
verificar sua transformação (cor das asas, forma, etc.).
a. o grupo em círculo, sentados;
e. ao sair do casulo, percebe que está com fome
b. inicia com voluntário “esculpindo” com as pró- (ainda não percebe os outros) e o alimento encontra-se
prias mãos algo que considera significativo (ou à sua disposição;

Psicopedagogia institucional: avaliação psicopedagógica

17.
f. aos poucos, percebe o ambiente que o cerca,
iniciando um processo de reconhecimento da área e, Queixa: agressividade dos alunos do 5º ano no
em seguida, percebe os outros seres à sua volta, esta- horário do recreio (intervalo).
belecendo contato com eles.
Tema: patrulheiros escolares
Nota: deve-se respeitar o ritmo e o tempo interno
de cada um. Esse jogo pode ser adaptado e aplicado às Duração: um semestre
três fases da matriz, propiciando deste a Identidade do
Eu até o Reconhecimento do Tu. Objetivo: vivenciar situações na escola que exi-
gem responsabilidade, diálogo e compromisso.
(YOZO, 1995, p. 19)
Objetivos específicos:

xx instigar a participação;
5.2 Projetos xx desenvolver o espírito de liderança;
xx estimular o diálogo no gerenciamento de con-
São muitas as queixas das instituições escolares
flitos;
aos psicopedagogos, entre elas: as dificuldades de
aprendizagem, a indisciplina, a violência, a falta de com- xx valorizar capacidades;
promisso dos pais e alunos com a educação, a dificul- xx aguçar a capacidade de escrita.
dade de relações interpessoais.
Metodologia
A ideia de um trabalho com projetos realizada pelo
xx Conversação sobre o projeto com todos os
psicopedagogo institucional permite intervir nessa rea- professores da instituição, funcionários, pais e
lidade. equipe gestora.
Mas, afinal, o que é projeto? xx Apresentar o projeto aos alunos do 5º ano,
aceitando sugestões de aprimoramento.
É uma intenção articulada a uma sequência de xx Montar com os alunos o manual do patrulheiro
ações planejadas que buscam alcançar um objetivo. escolar.

Na psicopedagogia, essas ações organizadas Procedimentos


podem resolver um problema, amenizar ou prevenir.
xx Convite aos alunos do 5º ano para participa-
Entende-se por um bom projeto aquele que se rem do projeto, atuando como patrulheiros no
momento do recreio das salas do 1º, 2º e 3º
tem clareza de seus propósitos, sequência de atividades
ano. Estarão utilizando um colete de identifi-
bem-definidas e avaliação constante.
cação e terão a missão de gerenciar conflitos
dos alunos durante o recreio, por meio de diá-
Para se dar início a um projeto, primeiramente o
logo, poderão sugerir brincadeiras e somente
psicopedagogo precisa investigar a realidade, utilizando
em última hipótese chamar o psicopedagogo
os procedimentos propostos neste artigo ou, ainda, que estava no pátio, acompanhando o projeto.
outros aqui não abordados. Após cada recreio, antes de retornarem a sala,
deveriam narrar o que aconteceu e registrar
Com o grupo, após diagnóstico, estabelecer uma
em forma de relatório.
relação dialógica para que todos se envolvam no pro-
cesso. xx Confecção de coletes aos alunos escrito:
“Patrulheiro Escolar”.
Apresenta-se o relatório de um projeto de trabalho xx Sorteio para definir quem serão os patrulhei-
realizado por uma das autoras do projeto, com alunos ros, montagem de cronograma. Planejamento
do 5º ano de uma escola municipal. de atividades.

Psicopedagogia institucional

18.
Resultados obtidos: após um mês de aplica- Investigação via observação: havia, na sala,
ção do projeto, percebeu-se que o recreio do 5º ano alunos que gostavam de música, de poesia e de ativi-
estava mais tranquilo, mais organizado. Os alunos não se dades no pátio.
agrediam, brincavam com as atividades que eles mes-
mos tinham propostos para os alunos menores. Durante Procedimentos: planejar aulas que possibili-
os relatos feitos, a princípio, utilizavam palavrões para tassem a compreensão da tabuada pela poesia, pela
explicarem o que aconteceu no recreio ao psicopeda- música e pelo espaço.
gogo. Por exemplo: “Aquele burro, o Marcelo do 1º ano,
derrubou a Fernandinha”. Não conseguiam visualizar se 1º passo: explicou-se aos alunos o que era uma
a queda foi intencional ou não, apenas criticavam. Os poesia, como ela era organizada. Distribui-se poesias aos
relatos escritos também eram precários, utilizavam a alunos para que lessem e identificassem as rimas. Mon-
linguagem formal. Após muitas intervenções nos rela- tou-se um mural na sala com poesias. A seguir, foi feito
tos, notou-se um resultado surpreendente na postura, um desafio à turma, se estariam dispostos a criar uma
oralidade e escrita dos alunos. Os problemas de agres- poesia com a tabuada do 2. Foi um impacto para eles.
sividade foram amenizados. Afinal, qual a relação entre a tabuada e a poesia? Fala-
ram, “é uma poesia diferente”. Mesmo assim, aceitaram
e coletivamente a produção foi realizada, tendo a profes-

5.3 Uma proposta


sora como escriba no quadro (inteligência linguística).

de intervenção UMA POESIA


considerando as Vamos ler para entender
inteligências múltiplas Multiplicar é somar
Preste atenção
Na seção 2.1 apresentou-se a teoria das inteli- É preciso interpretar.
gências múltiplas, abordada por Howard Gardner, espe-
cialista em educação e neurologista, que enfatiza uma 2x1 é 2
nova visão sobre a forma de aprender de cada pessoa, Vamos pensar?
argumentando que um bom professor procura desco- 2 olhos eu tenho
brir de que forma a mente humana aprende com mais Preciso observar.
facilidade. 2x2 são 4
2+2 são 4 também
Na escola, o que se percebe é que a inteligência lin-
guística e a lógico-matemática estão muito presentes e as 4 patas tem a gata
demais são muito pouco exploradas, dificultando o pro- Que vai e vém
cesso ensino-aprendizagem, pois as pessoas não resol- 2x3 são 6
vem seus problemas utilizando uma única inteligência. 2+2+2 são 6 também
Meia dúzia de lápis na caixa
Assim, uma intervenção que contemple várias for-
Que tal desenhar alguém?
mas de ensinar o mesmo conteúdo atingirá um número
mais significativo de alunos, promovendo avanços na 2x4 são 8
educação. 2+2+2+2 são 8 também
Tenho 8 paquerinhas
Enquanto psicopedagogas, trabalhando diretamente
E não gosto de ninguém.
com alunos que apresentam dificuldades na aprendiza-
gem, demonstram uma amostra de um possível trabalho 2x5 são 10
a ser realizado. 2+2+2+2+2 são 10 também
Tenho 10 dedos na mão
Queixa: os alunos do 3º ano não compreendem Consigo gesticular amém.
a tabuada.
2x 6 são 12

Psicopedagogia institucional: avaliação psicopedagógica

19.
2+2+2+2+2+2 são 12 também Olha palma, palma, palma
Em uma caixa de ovos Olha pé, pé, pé
12 ovos tem. 2x4 são 8
2x7 são 14 8 xícaras com café.
2+2+2+2+2+2+2 são 14 também Olha palma, palma, palma
14 amiguinhos Olha pé, pé, pé
Fazem muito bem. 2x5 são 10
2x8 são 16 10 dedinhos no meu pé.
2+2+2+2+2+2+2+2 são 16 também (Produção coletiva, estudantes do 3º ano da Escola
Tenho 16 reais Municipal Dr. Pedro Passos Leoni – Lapa – Pr)
Posso ir no armazém.

2x9 são 18
Com ritmo e gestos, os alunos aprenderam a tabu-
2+2+2+2+2+2+2+2+2 são 18 também
ada cantando.
Tenho 18 anos
Posso viajar sozinho de trem. 3º passo: observando que os alunos gostavam
2x10 são 20 de atividades ao ar livre, em que pudessem movimentar
2+2+2+2+2+2+2+2+2+2 são 20 também o corpo, foi proposto o jogo da tabuada no pátio da
Faltam apenas 80 escola. Colocou-se em uma caixa a multiplicação dos
para chegar no 100. números. Quando era falada a multiplicação, os alunos
(Produção coletiva, estudantes do 3º ano da Escola deveriam se organizar formando o resultado.
Municipal Dr. Pedro Passos Leoni – Lapa – Pr)
Exemplo: 2x2, os alunos deveriam formar grupos
de 4 elementos.
Ao interpretar a poesia, enfatizaram-se muitos con-
ceitos que sem perceber os alunos haviam colocado: a Nessa proposta, considerou-se as inteligências mais
utilização das rimas, duplo sentido da palavra bem, noção afloradas nos alunos do 3º ano para ensinar a tabuada
de dúzia, de meia dúzia, subtração, adição, número, mul- do 2, posteriormente, os alunos ficaram motivados e
tiplicação, construção do número, maioridade. foram desafiados a produzir poesias e músicas com as
demais tabuadas.
2º passo: sugestão de representação da tabu-
ada do 2 na música (inteligência musical). Utilizou-se o Antunes (1998) enfatiza que, durante muito tempo,
ritmo da música de domínio popular: “Caranguejo não o processo de ensino centrou-se na figura do professor
é peixe”. que era responsável pela transmissão do conhecimento,
hoje ele passa a ser um colaborador do aluno.
A tabuada do 2 não é difícil
O papel do novo professor é o de usar a pers-
É bem fácil de saber pectiva de como se dá a aprendizagem, para
Ela só fica difícil que, usando a ferramenta dos conteúdos pos-
Para quem não quer aprender. tos pelo ambiente e pelo meio social, estimule
as diferentes inteligências de seus alunos e os
Olha palma, palma, palma leve a tornarem aptos a resolver problemas ou,
Olha pé, pé, pé quem sabe, criar “produtos” válidos para seu
tempo e sua cultura (ANTUNES, 1998, p. 98).
2x 2 são 4
4 barcos na maré.
Quando o psicopedagogo consegue realizar um
Olha palma, palma, palma trabalho dessa natureza em sala de aula, modificando
Olha pé, pé, pé situações, também passa a ser um orientador do pro-
2x3 são 6 fessor que terá mais confiança para propor práticas que
6 sapatos com chulé. considerem as capacidades de seus alunos.

Psicopedagogia institucional

20.
6
. Considerações finais que possibilitam uma melhor abordagem reflexiva pelo
leitor, auxiliando na formação profissional.
Este artigo teve como objetivo ampliar o conheci- Cabe mencionar que a psicopedagogia institucional
mento teórico e prático sobre a psicopedagogia insti- busca a compreensão dos atores educativos de forma
tucional na esfera escolar, com o intuito do profissional global, com o intuito de compreender as possíveis quei-
pedagogo atuar junto à comunidade escolar, buscando xas apresentadas no contexto escolar ou, ainda, preve-
contribuir para a melhoria da educação. nir para que conflitos e dificuldades na aprendizagem
não ocorram.
Como o processo educativo é organizado, inten-
cional e contínuo, exige do profissional que nele atua O psicopedagogo é um profissional necessário na
conhecimentos teóricos e práticos que vão além do escola, não apenas para avaliar alunos e situações, mas
somente saber, é preciso também saber fazer. Nesse para intervir junto à comunidade escolar com a crença
sentido, ao longo do texto, foram narradas situações de de que é possível ensinar a todos os alunos, basta saber
intervenções psicopedagógicas realizadas na escola, direcionar a prática.

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