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Essa tal de ACT: O que é a Terapia de Aceitação e Compromisso.

POR: DESIRÉE C. CASSADO

Por volta do segundo ano de consultório me dei conta de que o que eu sabia não
bastava. De que minhas análises não eram o suficiente e, principalmente, de que as
palavras que eu conhecia não alcançavam a profundidade do sofrimento da pessoa
sentada a minha frente.

Depois de feitas as análises funcionais, eu me questionava sobre o que fazer com


as emoções e, sobretudo, em como utilizá-las em direção aos objetivos terapêuticos. Eu,
como muitos colegas analistas do comportamento, nunca acreditei que a redução de
sintomas emocionais deveria ser o foco principal da terapia. Mas confesso que me perdia
em meio às emoções, sensações e significados que preenchiam aqueles 50 minutos. E o
que parecia claro e óbvio para mim, se desconstruía nos conteúdos das falas e na
intensidade do sofrimento do outro.

Assim, as perguntas acumulavam-se: como romper com o comportamento verbal,


as vezes tão distante das contingências? Como alterar a função de um evento privado
aversivo, a ponto dele tornar-se uma resposta emocional que sinalize que o reforço maior
esta a caminho?

Como dar um significado maior à terapia e à vida em si para que se possa abrir
espaço para o mosaico de experiências que significa viver?

Foi então que encontrei alguns textos do Steven Hayes, que foram seguidos de
muitos outros, de muitos outros autores. Com certo ceticismo, levei alguns conceitos para
o consultório e deixei que a experiência conduzisse minha curiosidade.

Estudar a ACT tem sido uma jornada interessante. É uma abordagem nova e em
construção, e isso é interessante. Não há estudos que indiquem que a ACT seja
hierarquicamente superior a nenhuma outra abordagem comportamental e não creio que
este seja objetivo da comunidade acadêmica da área. Mas foi a abordagem com a qual
me identifiquei e tenho prazer em apresentar para vocês nesta coluna.

A Terapia de Aceitação e Compromisso (dito em inglês, ACT) é uma das terapias


mais representativas da chamada Terceira Onda das Terapias Comportamentais (ver
Hayes, 2006 para saber mais sobre as três ondas; e ver Vandenberghe, 2011, para saber
sobre o contexto no qual se desenvolveram as terapias comportamentais no Brasil).

As terapias de terceira onda caracterizam-se por serem particularmente sensíveis


ao contexto e às funções dos fenômenos psicológicos e não apenas a sua forma ou
conteúdo. Os tratamentos tendem a buscar a construção de um repertório amplo, flexível
e eficaz.

Assim, as terapias não são dirigidas especificamente para a redução de sintomas


ou para o tratamento e psicopatologias específicas. Caracterizam-se pela inserção
contextual e sócio verbal dos problemas e a análise funcional dos eventos privados,
destacando o papel do comportamento verbal na origem do sofrimento humano (Conte,
2010; Vandenberghe, 2011; Perez-Alvarez, 2006).

As terapias de terceira geração mais relevantes neste cenário são a Psicoterapia


Analítica Funcional (Kohlenberg & Tsai, 1991), a Terapia Comportamental Dialética
(Linehan et al., 1999) e a Terapia de Aceitação e Compromisso (Hayes, Strosahl & Wilson,
2011).
A ACT, surge de um enquadramento filosófico chamado Contextualismo
Funcional (Hayes, Hayes & Reese, 1988). Tal abordagem filosófica caracteriza-se por ser
monista, não mentalista, funcional, não reducionista, ideográfica e por dividir com o
Interbehaviorismo de Kantor e com o Behaviorismo Radical as mesmas influências
filosófica (Luciano, Valdívia, Gutierrez, Páez-Blarrina, 2006; Twohig, 2012.; Dougher &
Hayes, 2000).

A unidade de análise do Contextualismo Funcional é o organismo como um todo


comportando-se de acordo com elementos históricos e contextuais – pensamentos,
sentimentos e ações - desenvolvendo-se ao longo do tempo e emergindo em um contexto
específico em conformidade com uma história individual e com uma função atribuída na
regulação do comportamento (Dougher & Hayes, 2000, Luciano, Valdivia, Gutiérrez, &
Páez-Blarrina., 2006).

Os estudiosos da ACT rejeitam a ideia de que os pensamentos e sentimentos


causam ações porque os eventos privados estão inseridos num contexto, e até que este
contexto seja especificado, o objetivo de predizer e influenciar o comportamento não pode
ser alcançado. Uma vez que o contexto é especificado, o próprio fato de que estes
eventos privados tem significados específicos dentro de determinados contextos,
demonstra que os mesmos são variáveis dependentes (tal como as ações). Assim, os
eventos privados são respostas à eventos ambientais e não possuem uma relação causal
independente. As tais causas mentais do comportamento são admitidas como
inerentemente incompletas até que as variáveis contextuais sejam especificadas.

O interesse é dirigido ao contexto histórico situacional que origina os eventos


privados e a forma como pensamentos, sentimentos e ações relacionam-se entre si
(Hayes et al., 2011).

Assim, um evento ambiental pode evocar um determinado evento privado e este,


por sua vez, pode influenciar uma determinada ação, mas a causa do comportamento
ainda está no ambiente.

Exatamente por este motivo, pensamentos e sentimentos são elaborados através


de técnicas de atenção plena (Mindfulness) e aceitação, ao invés da reestruturação
cognitiva e equivalentes. Afinal, por não assumir que os eventos privados são causa do
comportamento, o foco não está em mudar tais eventos, mas sim em mudar a relação do
indivíduo com seu mundo privado. Para isso, lhe é ensinado a responder ao eventos
externos (como fazer as coisas que lhe importam), enquanto cadeias de respostas
privadas se sucedem (sejam elas aversivos ou não). O objetivo final é tornar o individuo
menos sensível a tais eventos privados e mais sensível às reais contingências em vigor
(Twohig, 2012).

O sofrimento, segundo a ACT, é fruto da linguagem e a mesma é compreendida


com base nos estudos baseados na Teoria dos Quadros Relacionais, que será abordado
no próximo artigo.

Entrevista com Hélio Guilhardi no Curso de Terapia por Contingências de


Reforçamento (TCR) em Salvador/BA
POR: ALINE COUTO
O Instituto Transformação trouxe a Salvador o prof. Hélio Guilhardi para um curso
que permitiu discutir e aprender bastante sobre a Clínica Comportamental e a TCR, e
também nos deu oportunidade para bater um papo com ele. Confira abaixo a entrevista
exclusiva para o Comporte-se, que participou do curso a convite do Instituto
Transformação e pode agora mostrar um pouco do que aprendemos para os leitores!

Aline - Bom, Hélio, queria começar perguntando sobre a sua trajetória profissional.
A gente sabe que você tem mestrado em Psicologia Experimental na USP, e você tem
também um caminho longo em formação de terapeutas comportamentais, também
publica muito sobre conceitos, tem bastante texto sobre isso lá no site do ITCR... então,
fiquei curiosa pra saber como foi sua trajetória de formação e porque você se interessou
pela clínica, mesmo.

Hélio Guilhardi - Bom, a minha formação no curso de graduação foi sólida no


estudo da Análise Experimental do Comportamento. Isso nós estamos falando da década
de 60. Praticamente não existia no Brasil nenhuma experiência na utilização dos
conceitos da AEC em atividade aplicada e muito menos em clínica. E toda a minha
formação estava dirigida pra me tornar professor universitário. Aí, dentro do nosso curso,
houve uma crise política e todos os professores que ensinaram na época se demitiram.

Aline - Você fez UnB?

Hélio - Não, fiz Católica de Campinas.

Aline - Ah.

Hélio - Era um curso, na época, muito destacado porque ele acolheu em


particular um professor que era egresso da crise de Brasília, que foi o Luiz Otávio [Seixas
de Queiroz], aluno da Carolina Bori, do Rodolpho Azzi, contemporâneo de Maria Amélia
Matos, João Cláudio Todorov, todo esse pessoal. Então tive uma formação sólida porque
toda a programação estava voltada para o seguinte: você se forma, em 1969, vai para os
Estados Unidos e lá você faz mestrado, doutoramento – que foi um projeto, vamos dizer
assim, desenvolvido e utilizado com a Maria Amélia Matos, com a Dora Fix e com o João
Cláudio Todorov. Então o meu plano era... estava se programando essa trajetória pra
mim. [Saiba mais sobre a história que o Hélio conta neste link].

Com a ruptura da relação com a universidade, houve um vazio, e o Luiz Otávio,


que era professor responsável pelas disciplinas de Análise do Comportamento,
desempregado, conversou conosco, alunos, iniciando o último semestre do curso, e falou:
“Vamos montar uma clínica de comportamento”. Então eu, o Luiz Otávio e mais quatro
colegas montamos em abril de 1969 a primeira clínica de Terapia Comportamental no
Brasil. Bom, mas como a minha relação era com a universidade, com a pesquisa, eu
imediatamente procurei a USP. A Maria Amélia Matos estava voltando dos EUA, dando
um novo fôlego para o curso de pós-graduação na USP, em São Paulo. E o grande foco
na época era o mestrado, fazer um mestrado muito sério. Era um plano de Maria Amélia,
Carolina, a equipe de professores. E depois, no mestrado, eu transferi aquele plano dos
EUA para SP. Então eu comecei uma carreira de clínico – no quinto ano de Psicologia, já
comecei a atuar como clínico – e continuei minha formação acadêmica e experimental
agora nas mãos de Maria Amélia Matos.
"[...] até uma característica que eu uso no meu trabalho é que sempre que tenho
algum desafio clínico, procuro na literatura da pesquisa básica um modelo referencial que
me norteie em quais podem ser as variáveis que estão em operação" (Guilhardi)
Uma professora da PUC-Campinas, que fez parte do grupo que se demitiu, era a
Maria do Carmo Guedes, também da área. Uma professora maravilhosa da PUC-SP.
Então ela me convidou a dar aula na PUC-SP. Então eu não continuei minha carreira na
PUC-Campinas por causa desse rompimento, e em 1970, comecei a dar aulas na PUC-
SP e fazer a pós-graduação com a Maria Amélia. Fui trabalhando nesse projeto e
desenvolvi uma tese em pesquisa básica, sobre supressão de respostas com reforço
positivo. Ao invés de usar o modelo de ansiedade com choque livre, no final da
apresentação do CS, eu usava reforço livre maior que o reforço da linha de base. Um
estudo interessante, que mostrou que poderia haver supressão de resposta mesmo com
reforço positivo – então, não é só com o evento aversivo que há supressão. Então é o
que chamam de ansiedade positiva por reforço adicional. Eu usava, ao invés da gota
d’água da linha de base, uma gota cinco vezes maior de leite açucarado. Pois bem, então
todo o meu vínculo, na época, foi com a AEC. E eu fui cedo descobrindo que os conceitos,
descobertos e desenvolvidos e elaborados na pesquisa básica, eram extremamente úteis
para fazer a generalização nas situações de aplicação. Tanto que até uma característica
que eu uso no meu trabalho é que sempre que tenho algum desafio clínico, procuro na
literatura da pesquisa básica um modelo referencial que me norteie em quais podem ser
as variáveis que estão em operação.

Então estou o tempo todo fazendo essa relação entre uma coisa e outra. E como
eu me mantinha dando aula, não me afastei da leitura de material de pesquisa básica.
Então essa, vamos dizer, foi uma situação privilegiada: ser professor e clínico. Só
professor perde um pouco a influência da comunidade do cliente; você não fica exposto a
contingências que levam você a querer resultados, melhora, etc. E quando você só é
clínico tem essa contingência do mundo acadêmico, que é conhecer conceitos, estar
atualizado com a evolução dos conhecimentos, as ligações com a pesquisa, etc.

Então, não foi uma coisa intencional, mas uma coisa que acabei fazendo e
reconheço que foi essencial na minha formação – a relação indissociável entre a
pesquisa, o ensino e a aplicação. Foi basicamente isso.

Aline – Isso se reflete muito na TCR, né? Existe uma relação bem forte, a gente
vê.

Hélio – Eu estou na área desde 1969, então dá pra fazer as contas aí de há


quantos anos estou na área clínica, né? Eu passei por algumas crises durante esse
período longo, foi uma crise de buscar a identidade. Porque quando nós começamos, o
que estava disponível para nós, na clínica, eram os procedimentos desenvolvidos em
situação de pesquisa. E nós não tínhamos, na Análise do Comportamento, modelo para
atuar em clínica. Tínhamos modelo para atuar em pesquisa, em hospital psiquiátrico, com
crianças com déficits importantes de desenvolvimento... mas pra pegar um cliente que
tipicamente vem à clínica, nós não tínhamos modelo. Então uma primeira hesitação foi
onde encontrar esse modelo, e nós acabamos nos aproximando dos trabalhos de Wolpe,
por exemplo, que à época eram chamados de Terapia Comportamental.

Os psiquiatras foram os que primeiro usaram o termo Terapia Comportamental.


Nós, por uma filiação à escola skinneriana, chamávamos nosso trabalho e atuação
prática de Modificação de Comportamento. Esse termo envelheceu e prevaleceu a terapia,
mas originalmente, o termo Terapia era empregado pelos psiquiatras, que tinham uma
forte influência de Pavlov e Hull. Eles não usavam o modelo skinneriano. Hoje já não há
mais essa distinção, mas originalmente é isso... embora devamos reconhecer que quem
primeiro usou o termo Terapia Comportamental foi o Skinner.

Aline – Você acabou falando um pouco quanto à segunda pergunta que eu ia


fazer, que é quanto às discussões de caso e qual o valor disso. Aqui no curso do Instituto
Transformação, o que a gente basicamente fez foi discussão de casos, situações de
clínica. Aí eu queria saber de você qual você acha que é o valor de publicar estudos de
caso, publicar sobre a clínica – que é uma coisa que você faz bastante.
Hélio – É uma pergunta bastante interessante. Nessa busca de modelos, houve
um período em que fiquei pensando assim... o Wolpe, sua equipe e as revistas que
publicavam os trabalhos de terapia comportamental, Behaviour Research & Therapy,
Behavior Therapy & Psychiatry, e havia outras, elas enfocavam o cliente que em inglês é
chamado de outpatient, que é o paciente que não está internado e vem procurar ajuda na
clínica. Então houve um momento em que eu achava que talvez fosse por aí, mas o
modelo conceitual não batia com o modelo skinneriano. Depois comecei a achar que o
modelo skinneriano não dava conta do clínico de maneira geral, até que comecei a
perceber que... dava conta, sim. Que o problema todo estava em ter a transposição dos
conceitos, e não dos procedimentos para a clínica. Porque os procedimentos tem que ser
atualizados.
"E defendo a seguinte ideia: uma teoria, uma abordagem não pode criticar outra a
partir do referencial da primeira. Porém, uma teoria cresce quando os membros que a
defendem e a estudam, que aplicam, que pesquisam a criticam – é uma crítica interna"
(Guilhardi)
Então, os conceitos, como hoje a gente usa – por exemplo, reforço arbitrário e
reforço natural, muito importantes... Quando eu comecei, o Verbal Behavior era
considerado um livro menor do Skinner. Os mais familiarizados diziam “ah, esse é um
livro muito conceitual, não se apoia em pesquisa, são elaborações que o Skinner fez mas
não têm muita utilidade”. Chegou-se a desconfiar da importância desse livro. Tanto que
na década de 70, se fôssemos contar quem teve acesso – nem lido, só tido acesso –,
dava pra contar nos dedos. Ele era considerado um livro menor. E nesse período se viu a
evolução que isso teve.

Bom, então uma coisa que eu procurei fazer foi me manter – descobri que ficar
flutuando de um modelo para outro era um comportamento de fuga/esquiva por
ignorância. Era fuga/esquiva por falta de variabilidade. E me mantive fiel. E defendo a
seguinte ideia: uma teoria, uma abordagem não pode criticar outra a partir do referencial
da primeira. Porém, uma teoria cresce quando os membros que a defendem e a estudam,
que aplicam, que pesquisam a criticam – é uma crítica interna. E a partir dessa crítica
interna a teoria e a prática se desenvolvem. Então, eu aprendi a ser fiel com a minha
abordagem e esgotá-la. Quando ela não me dá uma resposta, é por incompetência minha.
Quando ela não me dá uma resposta, é por falta de uma busca exaustiva da resposta, e
não por não haver resposta.
"Minha posição: acho que devemos procurar mais onde está o tesouro, e não
dizer que o tesouro não existe ou que se esgotou. É muito ingênuo dizer que se esgotou.
Eu questiono com muita ênfase a ideia de terceira onda. Eu acho que não existem ondas,
existe evolução" (Guilhardi)
Então, abandonei totalmente qualquer forma de ecletismo e busca em outras
propostas de soluções que o modelo skinneriano me dá. Por exemplo, preocupações que
a terapia cognitivo-comportamental tem encontram acolhida no modelo skinneriano, que
acho que dá melhores respostas ao que os cognitivistas estudam, sem abandonar a
proposta – pelo contrário, propõe procedimentos até mais consistentes. Então, virou uma
mania, um vício; eu persigo respostas no meu modelo. De uma certa maneira, sou muito
relutante – sou velho nesse aspecto, né... sou ortodoxo, sou teimoso –, eu resisto a
aderir a novas abordagens, a novidades. Por exemplo, a proposta do Kohlemberg [a
terapia analítico-funcional, FAP], eu acho supercoerente. Acho consistente com o modelo
skinneriano. E ele na verdade privilegia a ocorrência de respostas e das contingências na
presença do terapeuta. Mas ele mantém uma consistência com o modelo.

Aline – Você acabou caindo também em outro assunto sobre o qual eu ia


perguntar. Agora, estamos vendo um certo boom – especialmente aqui no Brasil, muitas
publicações, apresentações em congressos, etc. – sobre as chamadas terapias da
terceira onda. O que se fala é: o modelo antigo, da modificação de comportamento, não
dava conta de certas coisas, como a relação terapêutica, e aí se criaram modelos como o
do Kohlemberg, a FAP, e também a Terapia de Aceitação e Compromisso, a ACT. Queria
saber um pouco mais sobre o que você acha.

Hélio – Acho que na verdade Watson não tinha respostas para milhares de
questões que hoje nós já respondemos dentro do modelo behaviorista radical. Claro! Ele
era o primeiro, estava iniciando. E o Skinner nunca esteve preocupado em desenvolver
um sistema para a clínica. As preocupações dele estavam mais ligadas à pesquisa, a
uma conceituação sistemática, à educação e à reorganização social e cultural,
preocupações maravilhosas. Ele já não gastou muito tempo com a clínica. Se nós formos
olhar para as respostas oferecidas para esse assunto, elas são pobres. Porém, o
potencial que a abordagem tem para responder a essas questões é inacreditável.
"O paradigma skinneriano, pelo amor de Deus, ele é incrível, ele é corajoso, ele é
ousado. Pra mim o paradigma skinneriano equivale a coisas como tirar a Terra do centro
do Universo. É um paradigma que eu diria que equivale, nas suas áreas, a contribuições
de Galileu, de Newton, Copérnico, de Einstein... mudança de paradigma". (Guilhardi)
Minha posição: acho que devemos procurar mais onde está o tesouro, e não dizer
que o tesouro não existe ou que se esgotou. É muito ingênuo dizer que se esgotou. Eu
questiono com muita ênfase a ideia de terceira onda. Eu acho que não existem ondas,
existe evolução. E portanto são critérios arbitrários. Há uma superficialidade na análise da
história de aplicação da Análise do Comportamento no Brasil. A terceira onda é um nome
de bom marketing, mas é um nome que acho... leviano. Não vejo onda nenhuma. Vejo
alternativas, vejo outras tentativas... Na história da psicologia, houve tantos movimentos
que foram, vieram; aliás não só na psicologia. Então, eu não critico, eu lamento. Eu
lamento esses movimentos que se desprendem do paradigma.

O paradigma skinneriano, pelo amor de Deus, ele é incrível, ele é corajoso, ele é
ousado. Pra mim o paradigma skinneriano equivale a coisas como tirar a Terra do centro
do Universo. É um paradigma que eu diria que equivale, nas suas áreas, a contribuições
de Galileu, de Newton, Copérnico, de Einstein... mudança de paradigma. E dizer que
novas ondas superam... Eu sinto muito, acho que precisa de profundidade na análise e de
respeito às contribuições de Skinner. Porém, eu respeito desvios, variações... respeito.
Mas eu acho que são movimentos que ainda não tem uma contribuição que eu chamaria,
assim, de um salto. Chamar de terceira onda, acho que é demais.

Eu diria que são variações. E não sou eu que vou julgar. Mas o modelo
skinneriano dá até uma resposta pra isso: as variações comportamentais serão
selecionadas pelos produtos. Há produtos financeiros, há produtos relacionados às
contribuições para a área, contribuições para o cliente. Se as contribuições forem
selecionadas, os movimentos continuarão e se desenvolverão. Se não forem, entrarão
em extinção, serão esquecidos. Então, não vou julgar, mas estou bem confortável com a
minha postura, digamos assim, ortodoxa.

Aline – Bom, para finalizar, gostaria que você falasse um pouco sobre o primeiro
Congresso do ITCR, o I Congresso Brasileiro de Terapia porContingências de
Reforçamento. Vai ser agora em maio, e eu queria que você falasse um pouco sobre o
que ele vai trazer de novo. Parece que vamos ter uma perspectiva nova, atividades bem
diferentes, e eu queria que você falasse um pouco sobre isso.

Hélio – Na verdade, a ideia de fazer o Congresso é viabilizar a expansão do


conhecimento que estamos desenvolvendo na área da Terapia Comportamental e
particularmente da Terapia por Contingências de Reforçamento. Perguntam por que um
novo termo, já que não deixa de ser uma Terapia Comportamental. É porque eu me sinto
confortável dentro da área, mas é uma proposta que visa a explicitar o instrumento de
trabalho, que são as contingências de reforçamento. E eu acho que falta nos cursos de
graduação um forte, claro e explícito compromisso dos professores em ensinar a fazer.
Eu acho que cinco anos de curso é um período muito longo; é um período caro – pois
você está pagando por isso – pra se desperdiçar a oportunidade de ensinar a fazer. Eu
acho que em cinco anos o aluno tem de saber fazer, sair da universidade sabendo fazer.

Então o meu congresso – eu falo “o meu congresso”, porque por enquanto estou
à frente, espero que seja nosso, mas por enquanto é muita pretensão da minha parte –,
ele tem como objetivo atividades com seriedade conceitual e com uma disponibilidade de
ensinar aos participantes como atuar em clínica. O congresso não exclui contribuições
conceituais e experimentais, que eu defendo como essenciais, mas a ênfase é em
ensinar a fazer. É uma primeira experiência, espero que a comunidade responda a esse
convite, e respondendo tentaremos divulgar mais, publicar resultados... esse é nosso
plano. Mas eu queria oferecer ao aluno de graduação – pois nosso objetivo principal é o
aluno de formação e o recém-formado – instrumentos de atuação. E do nosso ponto de
vista, bons instrumentos de avaliação.
"Eu acho que cinco anos de curso é um período muito longo; é um período caro –
pois você está pagando por isso – pra se desperdiçar a oportunidade de ensinar a fazer.
Eu acho que em cinco anos o aluno tem de saber fazer, sair da universidade sabendo
fazer" (Guilhardi)
Acho também que o conhecimento tem que ser exposto a uma comunidade que o
avalie, a partir de feedback. Defendo muito que os trabalhos saiam de dentro da casca do
ovo. Quando falo em casca do ovo, quero dizer que está lá o cliente, o terapeuta como
clara e gema, e a casca protege. Quero quebrar a casca e trazer para a comunidade
descrições de como é feito, do que é feito. Não querendo dizer que este é o jeito de fazer,
mas querendo dizer que este é um jeito de fazer e estamos abertos para trocar
conhecimentos, ideias... em suma, expor o que fazemos às consequências produzidas
pela comunidade.

O meu objetivo é que no Brasil, com as nossas características, possamos


preparar o mais cedo possível, sem comprometer a qualidade da aprendizagem. E eu
acho que em cinco anos é possível preparar muito bem o aluno. Eu tenho tido
experiências maravilhosas, alunos brilhantes, aos potes... muitos. Quero ensinar a fazer,
e ensinar a contar. E ao contar, ter a humildade também de aprender com quem ouve e
dá o feedback. Então, isso é o mais importante.

Aline – Hélio, queria agradecer pelo Comporte-se por mais essa entrevista com
você [risos], você está sempre lá e é sempre uma grande contribuição, inegavelmente.

Hélio – Bom, agradeço a oportunidade e espero ter deixado claras as minhas


colocações... O meu objetivo é contribuir para o desenvolvimento da Análise do
Comportamento.

Relação Terapêutica na Análise do Comportamento: uma introdução ao assunto


POR: NETO

Skinner já dizia que uma das principais tarefas do


terapeuta é representar uma audiência não
punitiva para seu cliente.
A relação terapêutica tem recebido crescente atenção dos profissionais de
diversas abordagens nos últimos anos (Assunção e Vandenberghe, 2010). Não podia ser
diferente entre os Analistas do Comportamento. Guilhardi (citado por Prado e Meyer,
2004) afirma que ela se constitui como uma importante fonte de dados sobre o
comportamento do cliente, junto a seu próprio comportamento verbal. Shinohara (2000)
defende que ela é fator determinante no processo de mudança clínica, que deve
acontecer em meio a um vinculo de confiança e acordo harmonioso entre as partes.
Entretanto, nem sempre foi assim.

As primeiras abordagens de orientação Behaviorista ignoravam quase


completamente o conhecimento a respeito da Relação Terapêutica e mesmo sua
importância. As chamadas Terapia Comportamental e Modificação do Comportamento
tinham uma prática exclusivamente voltada a aplicação de técnicas empiricamente
validadas (Alves e Isidro-Marinho, 2010), e como o que se sabia sobre relação
terapêutica carecia de dados comprobatórios, não havia porque ser levado em
consideração (Braga e Vandenberghe, 2006).

A partir dos anos 70 o cenário começou a mudar. Diversas pesquisas de eficácia,


de diferentes abordagens da Psicologia, demonstravam que a aplicação adequada de
técnicas não era o único fator relevante para a mudança clínica (Assunção e
Vandenberghe, 2010). Os dados apontavam para a importância de fatores como empatia,
autenticidade e confiança – comuns a qualquer relação humana construtiva – no sucesso
do processo terapêutico (Assunção e Vandenberghe, 2010). Conforme explicam
Chambless e Ollendick (2001), o estudo e aplicação de técnicas empiricamente validadas
não perdeu sua importância, mas os elementos ligados à relação terapeuta-cliente
passaram a receber uma atenção cada vez maior dos clínicos e pesquisadores em
Psicologia. Norcross (2002) chamou este processo de “virada relacional” na Psicologia.

Na Relação Terapêutica, terapeuta e cliente se influenciam


mutuamente.

Entre os autores da Análise do Comportamento, o primeiro a chamar a atenção


para a importância dos fatores ligados à relação terapêutica foi Ferster (Alves e Isidro-
Marinho, 2012). Ele demonstrou a existência de sutis relações de controle reciproco entre
os comportamentos de uma terapeuta psicanalista e sua cliente durante a terapia
(Wielenska, 2012). Defendeu que os comportamentos alvo do cliente se repetiam naquele
contexto, o que tornava a relação terapêutica um instrumento de intervenção clínica por
excelência (Alves e Isidro-Marinho, 2010).

A FAP (Functional Analytic Psychotherapy) segue esta mesma proposta (Braga e


Vandenberghe, 2006). Conforme explicam Alves e Isidro-Marinho (2010), o modelo
formulado por Kohlenberg e Tsai defende que todas as intervenções do terapeuta devem
ocorrer na relação estabelecida com seu cliente. Entretanto, Ferster não era tão radical.
Ele via a intervenção na relação terapêutica apenas como um complemento às demais
técnicas que podiam ser usadas.

Nos últimos 15 anos a FAP tem se tornado a principal referência da Análise do


Comportamento sobre o assunto (Wielenska, 2012). Conforme explicam Assunção e
Vandenberghe (2010), ela chama de CRB’s (Clinical Relevant Behavior) os
comportamentos alvo do cliente e os divide em três subcategorias:

· CRB 1: Comportamentos problemáticos apresentados pelo cliente durante a


sessão, cuja frequência deve ser reduzida ao longo do processo terapêutico

· CRB 2: São os comportamentos do cliente que podem contribuir para a


superação de seu problema. Em geral aparecem em frequência baixa durante a sessão e
devem ter sua frequência aumentada. Quando não aparecem, cabe ao terapeuta evoca-
los.
· CRB 3: Observações e interpretações que o cliente faz de seu próprio
comportamento e das variáveis que o controlam. Também devem aumentar de frequência
durante o processo terapêutico.

FAP - em português: Psicoterapia


Analítico Funcional. É hoje inequívoca fonte
de influência entre os Terapeutas Comportamentais.
Os terapeutas que atendem de acordo com a proposta da FAP tem sua conduta
orientada por 5 regras básicas, citadas por Wielenska (2012):

1) Atentar à emissão destes CRB’s durante a sessão clínica

2) Evocá-los, quando não aparecem;

3) Reforçar naturalmente, de modo terapeuticamente empático e compassivo os


CRB 2 emitidos pelo cliente;

4) Observar os efeitos do próprio comportamento sobre o comportamento do


cliente;

5) Fornecer ao cliente informações analisadas funcionalmente, promovendo


estratégias de generalização daqueles comportamentos para outros contextos.

Alguns profissionais da Análise do Comportamento consideram a idéia de se


trabalhar com o manejo dos CRB’s na clínica sem necessariamente ser um Terapeuta
FAP. Brandão e Silveira (2004) abrem esta possibilidade em um capitulo publicado no
livro Terapia Comportamental e Cognitivo Comportamental: Práticas Clínicas, organizado
por Cristiano Nabuco de Abreu e Hélio José Guilhardi (2004). A obra apresenta o manejo
de CRB’s como uma estratégia bastante eficiente no contexto clínico, orientando em
detalhes como é possível realiza-lo, sem que necessariamente se proponha ser um
terapeuta FAP.

A literatura sobre FAP e relação terapêutica é bastante densa e ainda haveria


muito o que se discutir neste texto para esgotá-la. Aqueles que têm interesse em saber
mais a respeito, recomendo como ponto de partida a leitura dos trabalhos citados nas
referências deste texto. Alguns deles estão disponíveis na internet, e via de regra, são de
leitura bastante agradável.

A proposta de Kohlenberg e Tsai é bastante interessante e recomendo a todos –


inclusive aqueles que não pretendem se tornar terapeutas FAP – algum grau de leitura a
respeito. E quem sabe, em breve, publicaremos alguns textos especificamente sobre o
assunto. O que acha da idéia?

Existe espaço para o conceito de autoestima na Psicoterapia Analítico


Comportamental? O papel dos reforçadores condicionados generalizados
POR: CARLOS AUGUSTO DE MEDEIROS

Autoestima é um conceito gerado na psicologia que, por sua vez, foi facilmente
incorporado à linguagem cotidiana. Como diversos outros conceitos similares, é utilizado
como causa de comportamentos. Principalmente de comportamentos de relevância
clínica, como, por exemplo: “Ela não termina com esse mau caráter por causa da sua
baixa autoestima”; “Ele não passa em concurso público porque tem baixa autoestima”;
“Ela fala bem em público porque tem autoestima elevada”.
É muito comum observar no discurso leigo, ou mesmo, técnico de psicologia
clínica que uma meta importante de tratamento é aumentar a autoestima. Uma vez que
ela esteja aumentada, os comportamentos desejáveis passam a ser emitidos com mais
frequência e os indesejáveis param de ser emitidos. Uma causalidade tipicamente
mentalista.

Ao se realizar uma análise mecanicista de forma simplista, pode-se dizer que as


pessoas possuem uma espécie de reservatório interno onde é armazenada a sua
autoestima. De acordo com o nível desse reservatório, a pessoa vai agir ou não de certas
e certas maneiras em determinadas situações. Desse modo, é desejável que este
reservatório esteja sempre cheio. Nessas situações, os comportamentos desejáveis,
principalmente relativos ao contexto social, são prováveis de serem emitidos. Por outro
lado, caso os níveis estejam baixos, são comuns tentativas de evitar situações
socialmente arriscadas, como a exposição pública, por exemplo.

As críticas a esse modelo são as comuns às outras explicações mentais, como o


fato da autoestima não explicar nada, caso não seja explicada; segundo, porque seus
efeitos na condição de variável independente não podem ser observados, já que não
pode ser manipulada diretamente; e, por fim, trata-se de uma explicação circular (Skinner,
1953).

Boa parte das definições de autoestima envolve alguma espécie reconhecimento


pessoal das próprias qualidades e que, obviamente, tal reconhecimento influencia as
atitudes do indivíduo. De certa forma, parte do pressuposto de que a maneira como o
indivíduo se vê ou se define interfere sobremaneira nas suas atitudes. Por exemplo,
pessoas que se descrevem como “incompetentes” tenderão a fracassar mais e evitarão
situações onde o fracasso tenha chance de ocorrer. Pessoas, por outro lado, que se
consideram “atraentes” se exporão a um número maior as situações em que possam
conquistar ou serem cortejadas, já que o sucesso é provável na concepção delas nesses
contextos.

Os usos do conceito de autoestima possuem interseções com os usos de vários


outros conceitos, como segurança e insegurança; coragem e covardia; timidez e
extroversão, autoconfiança ou falta de autoconfiança entre outros. Não foi coincidência a
apresentação do conceito e de seu antônimo. Autoestima é daqueles conceitos que
embute tanto o que ele é, quanto o que ele não é. Ou seja, baixa autoestima como oposto
ou polar de autoestima elevada.

A despeito das discussões filosóficas envolvendo o conceito, o tópico de


interesse é como trabalhar a autoestima em terapia e como elevá-la. Por mais que o
conceito seja um bom resumo de relações comportamentais complexas, deixa a muito a
desejar do ponto de vista da precisão para a previsão e controle tanto almejados pela a
Análise do Comportamento. Obviamente não há como aumentar a autoestima, já que ela
não pode ser manipulada diretamente na condição de variável independe e não pode
sofrer influências quantificáveis de outras variáveis na condição de variável dependente.
No fim das contas, aumentar a autoestima de alguém, se é que isso é possível, trata-se
de mudar a probabilidade dos comportamentos descritos pelo termo. Para analistas do
comportamento, mudar a probabilidade de um dado comportamento só possível ao
manipular as variáveis ambientais das quais é função. Desse modo, o conceito de
autoestima para a análise do comportamento é inútil, já que é um passo intermediário
entre as variáveis ambientais e o comportamento que traz todos os problemas filosóficos
comuns aos demais conceitos mentalistas como ele. A forma parcimoniosa do analista do
comportamento trabalhar é descrevendo as relações comportamentais entre ambiente e
organismo nos três níveis de seleção.

Não há como negar, entretanto, que aqueles comportamentos resumidos pelo


conceito de autoestima são complexos e relevantes para a clínica psicológica. Desse
modo, vale a pena discuti-los utilizando-se, para tanto, a linguagem comportamental:

A autoestima elevada ou positiva diria respeito a uma categoria relativa a


comportamentos que descreve: a) uma alta probabilidade de comportamentos reforçados
em sua maioria por reforçadores sociais (i.e., estabelecidos e mantidos por reforçadores
condicionados generalizados); b) controle predominante por reforçamento positivo em
detrimento do controle por reforçamento negativo; c) comportamentos respondentes
condicionados públicos e/ou privados que ocorrem em situações nas quais os
comportamentos acima são emitidos e quando são reforçados (respostas que variam
juntas na animação, na empolgação e na disposição, por exemplo); d) respostas de
autoconhecimento tendo como topografia categorias descritivas elogiosas (sou inteligente,
sou bonita, sou capaz, sou competente etc.) que resumem os comportamentos dos itens
anteriores e a alta probabilidade de reforçamento dos operantes envolvidos; e) para
essas pessoas, as autodescrições do item “d” poderiam exercer a função de autorregras
(Skinner, 1969/1984), de modo a exercer efeito discriminativo e estabelecedor sobre seus
comportamentos, tornando os comportamentos do item “a” mais prováveis quando a
pessoa se depara com a contingência; f) uma independência dos reforçadores
condicionados generalizados para a emissão de autodescrições elogiosas, o que permite
um controle maior de reforçadores naturais e não sociais sobre os seus comportamentos.

Como descrito acima, a baixa autoestima seria o oposto de tudo isso: a) uma
baixa probabilidade de comportamentos seguidos de reforçadores em sua maioria
sociais; b) uma predominância de controle por reforçamento negativo, daí decorre uma
alta probabilidade de respostas de fuga e esquiva principalmente de exposição social,
onde os comportamentos do item “a” têm baixa probabilidade de reforçamento ou alta
probabilidade de punição; c) comportamentos respondentes aversivos condicionados
públicos ou privados em contingências controladoras dos comportamentos dos itens “a” e
“b” (respostas que variam juntas na ansiedade, no nervosismo, no estresse e na
vergonha, por exemplo); d) respostas de autoconhecimento tendo como topografia outras
categorias descritivas (sou incapaz, sou feio, não consigo fazer nada direito, nada do que
eu tento dá certo etc.) que resumem os comportamentos dos itens anteriores, a baixa
probabilidade de reforçamento e alta probabilidade de punição dos operantes envolvidos;
e) para essas pessoas, as autodescrições do item “d” poderiam exercer a função de
autorregras, de modo a exercer efeito discriminativo e estabelecedor sobre seus
comportamentos, tornando os comportamentos do item “a” menos prováveis e os do item
“b” mais prováveis quando a pessoa se depara com a contingência; e f) os reforçadores
condicionados generalizados como admiração, respeito, posse, demonstrações de amor
etc. são mais importante no controle do comportamento do que os reforçadores naturais
por eles sinalizados.

Como se pode observar, autoestima é um conceito complexo que envolve


comportamentos operantes e respondentes, verbais e não verbais, assim como,
respostas de autoconhecimento ou pelo menos, respostas autodescritivas, sejam elas
precisas ou não.

A tentativa mais óbvia de lidar com pessoas de baixa autoestima é fornecer


elogios de forma a convencê-la que sua autodescrição depreciativa está equivocada.
Esse tipo de intervenção é muito comum de ocorrer quando a pessoa relata desventuras
ou se deprecia. De forma bem simples, essa tentativa proverá reforçamento arbitrário
para comportamentos queixosos e autodepreciativos (Oliveira, 2009). Logo, ao invés de
enfraquecer os comportamentos de baixa autoestima, essa intervenção irá fortalecê-los.
Ao mesmo tempo, ao fortalecer as autodescrições pejorativas, que exercem função de
autorregras, ocorrerá uma diminuição de exposição às situações de reforçamento incerto.
Sendo assim, ele terá menos oportunidade de adquirir o repertório comportamental para
lidar com tais situações. Fora isso, será mais difícil ocorrer a extinção da função
respondente dessas mesmas situações. Respondentes estes que provavelmente
concorrem com os operantes que produziriam reforçamento nas situações de exposição
social.

Na Psicoterapia Comportamental Pragmática[1], abordagem psicoterápica


proposta por Medeiros e Medeiros (2012), a atuação se daria em várias frentes. A
primeira delas seria levar o cliente a relatar, por meio do questionamento reflexivo e de
deveres de casa, as suas próprias qualidades, consequenciando com reforço de
comportamento de ouvinte relatos elogiosos e não consequenciando relatos pejorativos.
Diante de relatos pejorativos, questionar acerca de iniciativas que o cliente poderia emitir
para mudar esse quadro. Tal intervenção tem a função de por em extinção a possível
função manipulativa de relatos pejorativos e, além de criar condições para o cliente
operar no meio para modificar padrões comportamentais que não aprecia em si mesmo,
levá-lo a tatear que as mudanças dependem dele próprio. Essa última função é a mais
importante, no sentido em que muitos clientes se comportam como se falar sobre o que
lhes traz sofrimento seria suficiente para a mudança, e as mudanças não dependem
deles.

Outro aspecto trabalhado é levar o cliente a tatear que os comportamentos são


mantidos em esquemas de reforçamento intermitente. Ou seja, que diversos
comportamentos do cliente, mesmo atendendo aos requisitos da contingência, não serão
reforçados. É importante que tateiem que o fato de um comportamento não ser reforçado
todas as vezes em que ocorre, não significa que ele não será reforçado nunca. Por fim,
que as consequências são para o comportamento e não dizem respeito necessariamente
a quem os emite. Em outras palavras, um comportamento que fracassou não
transformaria quem o emitiu em um fracassado.

Em último lugar, a mudança mais profunda decorre da alteração da função dos


reforçadores condicionados generalizados. Os comportamentos descritos nos itens “a” e
“f” são mantidos principalmente por reforçadores condicionados generalizados. A
obtenção de tais reforçadores se torna o principal Sd para que o cliente mude as
descrições que faz de si mesmo. Se o cliente recebe elogios, admiração, demonstrações
de afeto entre outros reforçadores generalizados passa a se descrever de forma mais
elogiosa. Porém, como esses reforçadores são liberados apenas intermitentemente, não
são suficientes para que a sua descrição acerca de si mesmo seja modificada,
principalmente quando a principal forma de entrar em contato com esses reforçadores é a
emissão de falas autodepreciativas. O controle pelos reforçadores desse tipo acaba por
suplantar o controle exercido pelos reforçadores que sinalizam. Logo, a pessoa se
comporta sob o controle de demonstrações de que é amada, mesmo que os reforçadores
advindos de ser amada, como companhia, sexo e afeto advindos da pessoa com quem se
relaciona não sejam tão reforçadores para ela. Possuir um lindo cachorro de raça que
receba muito elogios mesmo que não goste de brincar e rolar no chão com ele.

A PCP visa, portanto, fazer com que o comportamento fique sob o controle dos
reforçadores sinalizados pelos generalizados mais do que pelos reforçadores
generalizados em si. Mais importante que ter o dinheiro na conta, é gastá-lo consigo
mesmo. Mais importante que ter um lindo cão é se divertir com ele. Mais importante que
ter pessoas que te amam é o prazer da companhia que elas proporcionam. Para a PCP
se amar não é bater metas, mostrar que é bom, capaz, competente e etc. É sim, usufruir
dos reforçadores associados a esses reforçadores condicionados generalizados.

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