Carta on-line
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27 de Fevereiro de 2019 - ano XIX - n° 1043
Cartas Capitais
A nova face do Kremlin
Rosa dos Ventos
A munição de Bebianno
Frases
Do caderninho de Stanislaw
Editorial
Reforma anacrônica
A Semana
A Semana
Guilherme Boulos
Prisão perpétua para Lula?
Editorial
O jantar dos ricos
Reportagem de capa
Quatro cabeças, nenhum governo
Responsive image
Reportagem de capa
Destrambelhado no leme
Plural Livro
Atração mortal
Bravo!
Bravo!
QI O poder é um deboche
A iconografia do deboche
QI Saúde
Depressão perinatal
QI Estilo
O beijo da vida
QI História
A quem pertence Da Vinci?
Afonsinho
O torcedor é a vítima
Vara
Por Severo
A
O diretor Wagner Moura tem sido criticado por ter escolhido o cantor Seu Jorge para
representar Marighella em seu filme homônimo
MARIGHELLA
QUANTOS MAIS?
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Os áudios trocados com o presidente dão indícios de que ele não baixa o
facho para nenhuma autoridade. Deu respostas para Bolsonaro sem
arrogância, mas também sem humildade. Foi fritado mesmo assim. Afastou-
se só depois de ouvir os encômios do presidente visivelmente irritado.
Enalteceu na televisão os méritos de Bebianno, e “seriedade” foi um deles.
Em resposta, prometeu que não sairia com a “pecha de bandido, de
patrocinador de laranjais ou traidor”. Quase ao mesmo tempo teria chamado
Bolsonaro de louco, mas negou a acusação.
ANDANTE MOSSO
Mais do mesmo
As primeiras linhas do pacote anticrime, resultado das elucubrações de Sérgio
Moro, encantam a muitos curiosos. Foi mais ou menos assim que o autor,
orgulhosamente, encaminhou o anteprojeto levado por ele ao Congresso.
Quem já leu não aplaudiu e concluiu: “É uma dose mortal de mais do mesmo”.
Falso regresso
Anunciaram, mas não garantiram, o renascimento da União Democrática
Nacional (UDN), com a bandeira de Carlos Lacerda, apelidado pela esquerda
de “Corvo”. Também anunciaram que a velha sigla já colheu mais de 400 mil
assinaturas.
Um golpe de propaganda que não vai longe. Nessa linha, já basta o PTB falso
de Roberto Jefferson.
Transição
O general Mourão, vice- -presidente da República, partiu em defesa do
presidente Bolsonaro: “A divulgação dos áudios foi uma deslealdade muito
grande com o presidente. O principal problema foram os áudios, pois isso
rompe a intimidade” Morreu o militar e nasceu o político Hamilton Mourão.
Reparo
O ministro-presidente do Superior Tribunal Militar, José Coêlho Ferreira,
contesta a nota desta coluna e explica: “O Superior Tribunal Militar nega
qualquer pronunciamento neste sentido, por parte de seu presidente, que é a
autoridade investida do papel de falar em nome da Corte”.
Vaga no governo
Wilson Witzel, governador do Rio, ainda não conseguiu armar a equipe.
Recentemente, ofereceu a Subsecretaria de Trabalho à deputada Flordelis
(PSD), cantora evangélica, eleita com quase 200 mil votos.
Ela recusou. Há quem diga por razão de cisma. Durante anos Roberto
Jefferson controlou a vaga. Pelo jeito, Flordelis não alimenta maior apreço por
Jefferson.
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“Perdi. Perdeu, playboy. O pessoal do Congresso não gosta de mim. Se fosse o presidente,
ia passar” - General Hamilton Mourão, vice-presidente da República, ao comentar a
decisão da Câmara de sustar os efeitos do decreto que ampliava a lista de servidores com
poder de classificar documentos como sigilosos, assinado por mourão
“Se esta senhora tivesse como se defender, e fosse de sua vontade, uma
arma de fogo legal resolveria justamente este absurdo. Imagine as sequelas
eternas deixadas por esse covarde? A defesa pessoal dentro de sua casa têm
(SIC) que ser prioridade urgente do Congresso Nacional”
Carlos Bolsonaro, filho do presidente e vereador do Rio de Janeiro, ao
repercutir no Twitter a violência sofrida pela empresária Elaine Caparróz em
seu apartamento na Barra da Tijuca, onde foi espancada pelo advogado
Vinícius Batista Serra. Basta se inteirar da notícia para perceber que uma
arma de fogo, legal ou ilegal, teria transformado este CASO absurdo em
feminicídio
“Hoje tive a alegria de almoçar com dois queridos amigos, o Ministro Ernesto
e a Ministra Damares. No cardápio: amor pelo Brasil, fidelidade ao nosso
presidente e uma deliciosa sobremesa via whatsapp com nosso amigo, o prof.
Olavo de Carvalho”
Ricardo Vélez Rodríguez, ministro da Educação, ao informar pelo Twitter o
indigesto cardápio da ala psiquiátrica do governo
“Se, num cálculo modesto, três por cento dos brasileiros são gays, eles são
seis milhões de pessoas. Por que então só 24 mil deles votaram no tal Jean
(Willys)? É que, obviamente, ele não representa a população gay. Isso para
mim é o óbvio dos óbvios.”
Olavo de Carvalho, guru e contabilista dos bolsonaristas, pelo Twitter. “Vai ver
não deu pra todo mundo se mudar pro Rio de Janeiro ao mesmo tempo”,
especulou a jornalista Cecília Oliveira
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Um dos pratos importantes trazia frutos do mar excitados por uma nevasca de
bottarga ralada. Trata-se de um típico produto da Sardenha, onde nasceram,
entre outros, Antonio Gramsci, Enrico Berlinguer e meu avô paterno. Era ele
da região de Oristano, onde se produz a melhorbottarga de toda a ilha e onde
costumo visitar primos muito queridos. Por isso tornei-me perito em matéria
de tainha mediterrânea, forçada a pastar nas lagunas comuns do mar sardo, e
as de Oristano são as mais ricas em pastagens subaquáticas. Os ovários das
fêmeas são retirados na hora certa, colocados debaixo de um peso depois de
salgados. As ovas endurecem envoltas por uma pele finíssima, formam duas
sacolas achatadas unidas no alto, e esta é a iguaria, que tanto pode ser
fatiada quanto ralada.
Cheguei à conclusão de que esta parva categoria social que não justifica o
nome de burguesia seria capaz de comer, perdão, degustar a receita
seguinte: cocô de galgo, ou de outra raça nobre, conforme ela própria
definiria, sobre torradas ao forno de lenha, previamente cobertas por uma
camada de manteiga normanda de Coutances, a inebriar o menino Marcel
Proust só pelo nome. Uma tropa incapaz de perceber o grau atingido de
ridículo exorbitante é altamente representativa daquele 1% da população que
ganha acima de 7 mil reais por mês, e daí para cima.
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Em uma das milionárias contas de Paulo Preto na Suíça... foi emitido um cartão em nome
de Nunes Ferreira, afirma o MPF
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À época, ele era secretário da Casa Civil do governo de São Paulo, na gestão
de José Serra, também do PSDB.
O crime da homofobia
Em voto de 155 páginas, o ministro Celso de Mello, decano do Supremo
Tribunal Federal, defendeu a criminalização da homofobia. Segundo ele, a
prática deveria ser equiparada ao crime de racismo, enquanto o Congresso
não criar uma legislação específica sobre a discriminação por orientação
sexual. “Sempre que um modelo de pensamento fundado na exploração da
ignorância e do preconceito põe em risco a preservação dos valores da
dignidade humana, da igualdade e do respeito mútuo entre pessoas, incitando
a prática da discriminação dirigida a comunidades expostas ao risco da
perseguição e intolerância, mostra-se indispensável que o Estado ofereça a
proteção adequada aos grupos hostilizados”, disse. Até o fechamento desta
edição, ele foi o único magistrado a proferir o voto no julgamento.
“Vão perder tudo”, diz o presidente dos EUA aos militares leais a Maduro
presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu um ultimato aos militares
que sustentam o governo de Nicolás Maduro. Além de exigir o
reconhecimento do opositor Juan Guaidó como presidente interino da
Venezuela, estabeleceu prazo até o sábado 23 para que eles permitam a
entrada de “ ajuda humanitária” no país.
”Em recente entrevista ao jornal mexicano La Jornada, Maduro disse que seu
país “se tornaria um Vietnã se um dia Trump mandasse o exército dos EUA
nos atacar”. E citava a existência de 2 milhões de venezuelanos armados e
prontos a defendê-lo. O governo brasileiro está disposto a contribuir para o
barril de pólvora na fronteira. Bolsonaro decidiu participar de uma operação
planejada pelos EUA, iniciativa que não segue regras da ONU e é vista com
desconfiança pela Cruz Vermelha.
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Desde que foi preso, uma série de chicanas jurídicas impossibilitam Lula de
conceder qualquer tipo de entrevista, direito estendido a inúmeros presos
brasileiros. No mês passado, o ex-presidente foi covardemente impedido de
comparecer ao velório do próprio irmão. Julgado por inimigos públicos,
completamente silenciado e privado da despedida de um irmão, Lula é um
preso político. Querem fazê-lo morrer na cadeia, situação que ele tem
enfrentado com grande dignidade.
A luta pela liberdade de Lula segue como parte importante das tarefas
democráticas que a oposição brasileira tem diante de si. •
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Era melhor que o dia não tivesse amanhecido, mas, sendo impossível,
amanheceu. As ruas da capital encheram-se de camisas da CBF, tapados
acorreram aos melhores postos, a atmosfera preencheu-se da festiva alegria
dos internos de um manicômio enfim emancipados. A “inexorável marcha do
tempo” fez despontar no horizonte o Rolls-Royce conversível modelo 1952. A
despeito da história de que tenha sido presente da rainha Elizabeth II, da
Inglaterra, fora encomendado pela Presidência por Getúlio Vargas, ensina o
biógrafo Lira Neto. Na posse de Collor, transportou o presidente eleito e o
topete indomável de seu vice, Itamar Franco. Na de Fernando Henrique, no
primeiro mandato, a careca de Marco Maciel ofereceu melhor aerodinâmica.
Lula também deu carona ao vice, José de Alencar. Dilma mandou trocar a
placa do carro, de “Presidente” para “Presidenta do Brasil”. Previdente, viajou
com a filha Paula, livrando-se de ser arremessada na pista por Michel Temer,
que se acomodou em um Cadillac logo atrás.
No
Para o cientista político Fernando Limongi, Jair é “maluco completo”. Para a analista de
mídias digitais Claudia Castelo Branco, “manipulador”
“Meu pai sempre nos defendia quando fazíamos alguma arte”, contou o
traquinas Zero Um à revista Piauí em perfil do pai publicado em 2016. “Minha
mãe é que era mais durona.” Considerado a cabeça ponderada de Cérbero,
Flávio foi o pivô do caso Queiroz, o primeiro a indicar a safra recorde de
laranjas. O ex-assessor e ex-motorista Fabrício Queiroz movimentou 1,2
milhão de reais em um ano, de maneira considerada “atípica”, segundo
relatório do Coaf, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras. Policial
militar aposentado, Queiroz é amigo de Jair Bolsonaro desde a década de
1980. Trabalhou por mais de dez anos como segurança e motorista de Flávio,
até ser exonerado em outubro do ano passado. Sua filha, Nathalia, também
foi funcionária do Zero Um. Demitida em dezembro de 2016, foi nomeada
para o cargo de secretária parlamentar de Jair em Brasília menos de uma
semana depois. Tinha o dom de estar em dois lugares ao mesmo tempo, visto
que o relatório de presenças no gabinete de Bob Pai não apresenta uma
única falta de Nathalia, que também atuava como personal trainer de
celebridades no Rio de Janeiro. Da conta de Queiroz saíra um cheque de 24
mil reais destinado à primeira-dama, razão pela qual ganhou nas redes o
apelido de Micheque. Segundo o presidente, era parte do pagamento de um
empréstimo que fizera ao amigo no valor de 40 mil, afinal o sujeito que
movimenta 1,2 milhão também tem o direito a estar na pindaíba.
Zero Um alega não ter relação com os negócios do amigo, mas preferiu “dar o
Queiroz” no dia de seu depoimento ao MP. Uma semana depois, pediu a
suspensão das investigações no STF, reivindicando o foro privilegiado. “Deu o
Queiroz” também nas redes sociais. Depois de o Coaf apontar como
suspeitos 48 depósitos em dinheiro na conta do senador em apenas um mês,
a cabeça ponderada de Cérbero saiu de cena ou quase isso. “É possível que
esteja seguindo à risca a estratégia de sair do foco, combinada a uma agenda
de posts vinculados apenas às suas ações”, diz Claudia Castelo Branco. “A
fuga completa das redes não é uma boa estratégia para os políticos. O Aécio
Neves, por exemplo, não tuíta nada desde setembro de 2016.” Aécio é um
deputado-zumbi. Flávio Bolsonaro foi escolhido o 3o secretário da Mesa
Diretora do Senado. “O Brasil está mudando”, tuitou um dia antes o
procurador Deltan Dallagnol, a comentar sobre a eleição do presidente da
casa.
Zero Três em três atos: como “chanceler” em campanha, a destilar ódio com o deputado
Mamãe Falei e no churrascão do Queiroz
Por fim, há o Zero Três, o deputado federal pelo PSL de São Paulo Eduardo
Bolso-naro. Conhecido também como Bolsonarinho, disse bastar um soldado
e um cabo para fechar o STF, o que gerou uma crise com a Corte. Eleito o
Bob Pai, Bob Filho saiu em turnê internacional. Travestido de chanceler,
prometeu a mudança da embaixada brasileira em Israel de Tel-Aviv para
Jerusalém, cidade sagrada em disputa entre judeus e árabes, cumbuca na
qual é prudente não meter as mãos. Foi visto nos Estados Unidos com um
boné que fazia campanha pela reeleição de Donald Trump em 2020. Perto de
sua atuação como embaixador informal, o chanceler de fato Ernesto Araújo
parece uma pessoa razoável, ainda que belisque azulejo e atire pedra em
avião. No Twitter, as publicações do Zero Três são as mais compartilhadas
pelo Recruta Zero. “Sua função é cutucar, mandar indiretas, fabricar intrigas”,
revela Claudia. “Entre os filhos, é o calculista.” Para a analista, está claro que
Carlos morde, Flávio pondera, Eduardo “busca os culpados”, Jair manipula.
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O ministro da Justiça, Sérgio Moro, foi outro que por esses dias esteve em
posição de adequar-se às conveniências. Primeiro, o ex-juiz teve de engolir
que sua tentativa de criminalizar o caixa 2 fosse excluída do pacote de
combate ao crime que Bolsonaro mandou ao Congresso na terça-feira 19.
Afinal, comentou Moro, “o governo está sensível ao debate e nós queremos
levar os projetos ao Congresso e convencer os parlamentares do acerto”. Só
vai convencer por milagre. O Congresso não vai aprovar uma lei contra si. De
quebra, o ministro Moro minimizou a gravidade do caixa 2. Disse que não é
corrupção. O juiz Moro era bem mais radical. “Caixa 2 em eleições é trapaça,
um crime contra a democracia”, afirmou em uma palestra em Harvard, em
abril de 2017. Causava-lhe “espécie” quem defendesse que grana por fora era
menos grave do que grana no bolso.
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Após condenar Lula sem provas e liberar trechos sigilosos da delação do ex-
ministro Antonio Palocci em plena campanha eleitoral, Sérgio Moro recebeu
como recompensa pelos serviços prestados o Ministério da Justiça e a
promessa de ocupar uma cadeira na Suprema Corte. Na avaliação do jurista
Fábio Konder Comparato, professor emérito da Faculdade de Direito da USP
e doutor honoris causa pela Universidade de Coimbra, esse é apenas o
desfecho de um enredo tramado pelos americanos dez anos atrás, quando o
então juiz participou de suspeitíssimo treinamento oferecido pelo
Departamento de Estado dos EUA, conforme revelou um documento vazado
pelo WikiLeaks.
programas da Microsoft.
Benevides: Os EUA não aceitam que a América do Sul deixe de ser o seu
quintal. A descoberta do pré-sal não apenas despertou a cobiça, mas também
toda a arrogância dos americanos. “Não, eles não têm competência para lidar
com tal riqueza.” Mas pior do que isso é a traição de políticos brasileiros que
apoiaram essa entrega, é imperdoável. Fico indignada por ver gente da minha
geração, que quando jovem se dizia progressista, e nessa idade provecta
torna-se entreguista. A Lava Jato é perfeitamente coadunada com esse
projeto, é teleguiada por interesses americanos.
Coragem. “A Comissão Arns inspirou-se nos esforços de dom Paulo para sustentar não só
os desprovidos, mas também os perseguidos da ditadura”, diz Comparato
CC: O senhor costuma dizer que a eleição de Lula em 2002 foi acidente de
percurso, porque ele não fazia parte do esquema oligárquico. E o Bolsonaro?
Comparato: Tenho certeza de que ele recebeu apoio dos americanos. É muito
estranho. Ele se dizia um nacionalista e, desde a campanha eleitoral, passou
a defender abertamente os interesses dos EUA. Logo depois de eleito, seguiu
os passos de Donald Trump e transferiu a embaixada brasileira em Israel para
Jerusalém, o que gerou enormes prejuízos às empresas que negociavam com
os países árabes. Também é sintomático o afastamento da China, que até
agora é o nosso principal parceiro comercial.
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CartaCapital: Como se sente diante das mentiras sobre a sua decisão pelo
autoexílio?
Jean Wyllys: Não me surpreende.Quem me calunia, quem reproduz e divulga
mentiras a meu respeito não tem escrúpulos. São criminosos. Tudo isso
começou em 2011, quando assumi meu primeiro mandato. Só não fui
destruído pelas fake news porque eu e os assessores que trabalhavam
comigo desenvolvemos um know-how para lidar com a situação. Acusaram-
me de participação na facada em Bolsonaro, fato que ainda está sob
investigação. Quem inventa e compartilha essas mentiras deveria explicar o
motivo de o Adélio Bispo de Oliveira ter sido proibido pela Justiça de falar.
CC: Quem o substituiu na Câmara dos Deputados foi David Miranda. O que
espera da atuação dele?
JW: Nós dois somos gays, pertencemos à comunidade LGBT, mas somos
diferentes, elaboramos de maneiras diferentes e temos relações diferentes
com o partido. Acho, de qualquer forma, que ele cumprirá um excelente
mandato.
CC: Por que optou por não aparecer no tapete vermelho ao lado da equipe do
filme Marighella?
JW: Era um momento de Wagner Moura e dos atores. Eu sou só amigo do
Wagner e do Bruno Gagliasso. Eu queria ver o filme como um cidadão
comum. E consegui. Queria também prestigiar meu amigo. É o primeiro
longa-metragem dele. O filme me emocionou profundamente. O primeiro filme
de Wagner é inesquecível, uma obra-prima.
O arcebispo foi vítima de uma campanha difamatória dos militares, revelam informes
diplomáticos
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Em suas viagens para a Europa, onde era ouvido e respeitado, Dom Hélder
não se cansou de denunciar os crimes da ditadura. Em 1970, para citar um
exemplo, discursou para 14 mil estudantes, professores e intelectuais no
Ginásio de Esportes, em Paris. Neste mesmo ano, foi sordidamente atacado
por dossiês montados pela ditadura para denegrir sua imagem junto ao
Comitê Nobel.
De acordo com Mariz, esse encontro lhe foi relatado por Alarico Silveira,
então chefe do Serviço de Informações do Itamaraty. Até um padre belga foi
mobilizado para analisar cada texto escrito pelo arcebispo e apontar o
perigoso comunista que se escondia sob a batina.
Atualmente domiciliado em Paris, o jornalista e escritor José de Broucker,
biógrafo de Dom Hélder, continua na luta pela preservação da memória do
brasileiro. Recentemente, ele escreveu o prefácio de um livro que reúne
cartas escritas pelo arcebispo durante o Concílio Vaticano II. “As
circunstâncias deram-lhe estatura e audiência internacional, por sua coragem
na defesa dos direitos humanos. E ele pagou um preço alto.”
Em 1970, Dom Helder foi preterido para o Nobel da Paz por um desconhecido
biólogo americano, Norman Borlaug, pesquisador de cereais para a Fundação
Rockefeller. Em 1971, o chanceler alemão Willy Brandt foi o escolhido. Em
1972, o Nobel da Paz não foi atribuído e, em 1973, Henry Kissinger dividiu o
prêmio com o norte-vietnamita Le Duc Tho, pelas negociações de paz para o
Vietnã. Este último recusou o prêmio, ao observar que a paz ainda não tinha
sido restabelecida na região. •
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Pacto. O deputado Eduardo Bolsonaro com o “Bolsonaro chileno”, José Antonio Kast, à
procura de um modelo num país que ainda depende do cobre
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A história revela que conhecer e respeitar o que é “próprio para hoje” tem sido
importante para viver com relativo conforto em todos os momentos de todas
as sociedades. As consequências desse mecanismo sobre a conduta das
multidões só começaram a ser analisadas por psicólogos e juristas, no fim do
século XIX, com o aumento da velocidade da difusão das informações pelos
jornais. O “próprio de hoje” são as “modas”: do pensamento (as ideologias),
da moralidade, da manifestação artística, da participação nas mídias sociais
e, talvez, a mais visível, o que e como nos vestimos. Tal comportamento
talvez seja a procura de conforto individual num mundo onde a insegurança
nos ameaça.
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A pequena história que vou contar é de uma criança atormentada – mas não
me queixo, de jeito nenhum. O que somos senão o resultado de embates e
sofrimentos que vivenciamos e superamos (ou não) desde a infância
profunda? Há que valorizá-los e guardá-los carinhosamente no coração. Por
outro lado, é triste, sem dúvida, ver uma criança sofrer. Dostoievski, que era
um defensor ardoroso das crianças, disse certa vez que o sofrimento delas é
o argumento mais poderoso contra a existência de Deus. Enfim, deixo o leitor
com essa dúvida, e começo.
Minha mãe, para quem acabo de ler o artigo e que, em outros tempos, talvez
discordasse veementemente, disse, com um sorriso cético: “O passado
somos nós que fabricamos, com as recordações que nos agradam ou não”. E
acrescentou: “Vão pensar que você está biruta”. •
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Ele disse que agora é vital que a Grã-Bretanha tenha seu próprio inquérito
sobre interferência estrangeira: “Não devemos deixar isso para os
americanos”.
Ela afirma que a intimação veio depois de o Guardian revelar que ela visitou o
fundador do WikiLeaks, Julian Assange, enquanto era funcionária da
Cambridge Analytica, em fevereiro de 2017, três meses depois da eleição dos
EUA.
Seu advogado disse a The Observer que a reunião com Assange ocorreu
depois de um encontro casual em Londres com conhecidos comuns. Ele
durou 20 minutos e consistiu principalmente em Assange lhe falar “sobre sua
visão de mundo”. Ele disse que não falaram sobre a eleição dos EUA.
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A Lamentação sobre o Cristo Morto (de Andrea Mantegna) pranteia um suicida, segundo
Minois; Hamlet (interpretado no cinema por Laurence Olivier) indaga-se sobre ser ou não
ser e decide continuar a viver
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Deus, sob essa ótica, é patrão. Os fiéis têm de preservar a própria vida como
a um bem de consumo devotado à sociedade. “Os interesses de Deus são
semelhantes aos dos proprietários: dispor da própria vida é usurpar tanto os
direitos de um como os direitos dos outros”, narra. A proibição do suicídio é
sincronizada à servidão humana. “Aquele que se priva da vida peca contra
Deus, do mesmo modo que aquele que mata um escravo peca contra o dono
do escravo”, afirma São Tomás de Aquino (1225-1274). O mundo medieval
reserva todo tipo de punição ao cadáver do suicida supostamente demoníaco,
que deve ser arrastado e proibido de merecer enterro cristão. O confisco de
bens será outra punição exemplar ao morto (ou melhor, aos parentes do
morto). “A execução do cadáver é ao mesmo tempo um ritual de exorcismo e
um tratamento com propósito dissuasivo.”
Da
Idade Média, Minois recua ao antes de Cristo. No século XV, “os homens
redescobrem, com admiração, o passado greco-romano e seus grandes
homens, e não sabem o que fazer diante do suicídio de Aristodemo,
Cleômenes, Temístocles, Isócrates, Demóstenes, Pitágoras, Empé-docles,
Demócrito, Diógenes, Hegésias, Zenão, Cleanto, Sócrates, Lucrécio, Ápio
Cláudio, Crasso, Caio Graco, Mário, Catão, o poeta Lucrécio, Antônio,
Cleópatra, Brutus, Cássio, Varo, Pisão, Coceio Nerva, Silano, Sêneca,
Calpúrnio Pisão, Otão e muitos outros. Será que a morte voluntária de tantos
personagens tão respeitáveis pode ser qualificada indistintamente de covardia
indigna que leva à condenação eterna?”
Sem pretender analisar os séculos XIX, XX e XXI, o autor chega por fim ao
suicídio romântico à moda do jovem Wer-ther de Goethe (1749-1832). Entram
em cena casos como o de dois militares aparentemente homossexuais que se
matam juntos na véspera do Natal de 1773. É a única menção que o autor faz
à sexualidade masculina como motivo suicida (fora esse momento, o tema só
aparece, sempre entre mulheres, como um ato de expiação do estupro).
Werther mata-se por amor a uma mulher casada, e deflagra suposta epidemia
suicida entre fãs de Os Sofrimentos do Jovem Werther (1774). Goethe como
que se retrata com o dilema filosófico de Fausto (1806-1834), que responde a
Hamlet, também diante de um crânio vazio. “Os suicidas filosóficos vão para o
nada, os suicidas românticos vão para o céu e os suicidas comuns vão para o
inferno”, Minois provoca mais uma vez.
Minois não trata da pulsão suicida que parece nortear líderes atuais como
Trump e outros menos cotados, mas os atos deles e de seus súditos
aparecem inscritos na fala do poeta francês Alain Chartier (1385-1430): “Teu
tempo já vai chegando ao fim e as desgraças de tua nação mal começaram.
O que pensas ainda ver na vida senão morte dos amigos, rapina dos bens,
campos devastados, cidades destruídas, senhorio imposto, país desolado e
servidão geral? (...) Deves te arrepender um pouco por continuar vivo
enquanto teu país sucumbe diante de teus olhos e a Fortuna retira a
esperança e o prazer de tua vida”. O rei faz os súditos, ou os súditos fazem o
rei? •
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CRÉDITOS DA PÁGINA:
EXPOSIÇÃO A forja de símbolos de
Leonilson
Uma mostra do artista cearense na Fiesp reúne mais de 120 obras, várias delas
inéditas em São Paulo
O crânio aberto jorra castelos e uma joia de bijuteria, na obra sem título que compõe a
mostra Leonilson: Arquivo e Memória Vivos
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O que Leonilson diz tem uma qualidade universal, mas é nesse pequeno
artesanato desconcertante que ele causa o maior efeito: a costura quase
insignificante, a atenção convocada para um certo garimpo visual, emocional,
a autossuficiência dos seus objetos. O artista cearense José Leonilson (1957-
1993) morreu precocemente, com apenas 36 anos, tempo no qual ilustrou
artigos de jornal, tornou-se um dos destaques da chamada Geração 80,
flanou pela metrópole e fez incontáveis amigos. Mas deixou principalmente
uma obra de notável originalidade e frescor, coisa que poderá ser conferida
de forma ampla na exposição Leonilson: Arquivo e Memória Vivos, no Centro
Cultural Fiesp, até 19 de maio.
O caubói Western Spaghetti foi criado pelos italianos Giancarlo Berardi e Ivo Milazzo
É cada vez mais claro que fomos (e estamos sendo) dragados por algoritmos
em escolhas que vão desde o café da manhã à eleição presidencial, seja no
Brasil, seja nos Estados Unidos, na França, na Índia. Esta é a parte podre das
manipulações das redes sociais, mas, antes de atribuir toda culpa a nerds de
olhos vidrados nos computadores, é bom ouvir o que o estrategista político
britânico Dominic Cummings tem a falar. Baseado em fatos infelizmente reais,
o filme Brexit, em exibição desde o início do mês na HBO, gira em torno
desse personagem de bastidor que liderou a campanha pela saída do Reino
Unido da União Europeia, em 2016. O filme, com direção de Toby Haynes e
roteiro de James Graham, enfrenta o desafio de tratar de um tema em
andamento – os ingleses ainda estão batendo cabeça sobre qual caminho
seguir.
A Ponte. De Daniel Maclvor. No CCBB-SP (Rua Álvares Penteado, 112, Centro), sexta, sábado e
segunda-feira, às 20 horas, e domingos, às 18 horas. Até 25 de março. Ingressos a 30 reais.
Três irmãs, que se presume um dia terem sido muito unidas, reencontram-se
anos depois sob o mesmo teto para cuidar da mãe que, acamada e à beira da
morte, vive à base de morfina e rabisca garranchos em post-its para se
comunicar. A mais velha, Theresa (Bel Kowarick), é freira e mora numa
colônia religiosa; Agnes (Debora Lamm) vive na capital e é atriz; a caçula
Louise (Maria Flor) é quem cuida da matriarca, mas a primeira imagem que
nos transmite é a de uma jovem avoada viciada em séries de tevê.
Algumas lições emergem dos textos: as redes sociais criam “milhões de teses
e de antíteses, mas não há síntese”, diz o advogado Ronaldo Lemos, no livro
da Companhia das Letras, acrescentando que para vencer uma eleição no
Brasil é preciso recorrer a “ficções sociais”, como, por exemplo, “escolher
inimigos que sejam bons de odiar”. A construção de uma narrativa polarizada
favoreceu a ascensão de Bolsonaro, que abusa de um “vocabulário limitado,
palavras de ordem fortes e adjetivos agressivos”, afirma Abranches. Carlos
Melo menciona que a “inflexão política” rumo à “insensatez” ocorreu por haver
“muito descontentamento e crítica armazenados”, mas também por erros
políticos continuados, que flanavam em torno da “falsa polarização” entre o
PT e o PSDB.
OESTE
Funk de Chicago
O ÓDIO COMO POLÍTICA: A REINVENÇÃO DA DIREITA NO BRASIL
Vários autores, Boitempo, 128 págs., Boitempo, 15 reais.
Ausente das gravações por 12 anos, a diva do suingue Chaka Khan volta com
o CD Hello Happiness, ode a uma felicidade plástica, menos orientada ao
funk de raiz que às modernidades velhuscas da house music.
Country do Mississippi
A banda roqueira nova-iorquina Mercury Rev faz tocante homenagem a uma
diva country no doce Bobbie Gentry’s,The Delta Sweete Revisited, todo
cantado por vozes femininas como Hope Sandoval, Norah Jones, Laetitia
Sadier e Beth Orton.
Electro britânico
O que era alegria electro na virada do século dissolveu-se na melancolia e
nos climas soturnos do CD homônimo de volta do grupo britânico Ladytron, de
temas como “The Mountain”, que em nada lembram a velha diversão de
“Playgirl” (2001).
Faroeste brasileiro
Por razões que a razão desconhece, os EUA descobriram o sanfoneiro
forrozeiro pernambucano Camarão (1940-2015) e lançam a coletânea The
Imaginary Soundtrack to a Brazilian Western Movie 1964-1974. Só Freud
poderia explicar.
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As
Na
Jogo de cena. Um vendia a imagem de atleta; outro capitaliza o estilo Vuitton; o mestre
dominava os artifícios
Para encarnar o mocorongo que ensaia ser, o capitão Jair tem, portanto,
muito a aprender. Fernando Collor bem que tentou vestir o figurino de
impostor, convenceu, mas durou pouco. O capitão do mato e o caçador de
marajás, os dois mais o Jânio, têm em comum a crença na supremacia infinita
da trapaça e na ignorância abúlica da audiência. Tanto a política despreza a
verdade que a mentira passou a ser o grande eleitor. A mentira, o boato e a
calúnia excitam – e o poder de excitar prevalece hoje sobre a cabeça fria e a
reflexão responsável de que a democracia faz atributos.
Jânio, Collor, Doria creem na supremacia da trapaça e na
inércia abobalhada da plateia
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CRÉDITOS DA PÁGINA: Mídia Social, Mídia Social e Alan Santos/PR, Lula Marques/Folhapress e
Aloisio Mauricio/Fotoarena
Depressão perinatal
É um erro esperar que os sintomas apareçam. O aconselhamento prévio evita
situações extremas
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No entanto, 10% a 15% das mulheres que dão à luz caem numa tristeza que
não tem fim, sem entender o que se passa nem identificar a causa de tanta
infelicidade, num momento que julgavam lhes trazer muita alegria.
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Uma batalha histórica será travada nos próximos meses entre França e Itália,
mas, ao contrário dos conflitos do passado, se tiver que verter alguma coisa,
será vinho, não sangue. O pretexto são os 500 anos do Renascimento, data
meio arbitrária que pelo menos evoca o gênio dos gênios do período,
Leonardo da Vinci, morto em maio de 1519.
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O torcedor é a vítima
O
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Não adianta insistir, por mais que tentem nos humilhar, espezinhar mesmo,
não vamos desistir, aqui é a terra do Conselheiro e de Lampião, Zumbi dos
Palmares, do futebol, do Carnaval, somos assim até para falar das maiores
tristezas – nossa música é um samba-canção.
Fiquem pra lá com seu ódio, seu rancor; hora de se juntar, de se unir para
avançar no rumo da fraternidade, da solidariedade, isolar e afastar para bem
longe essas cabeças dançadas, cegas pelos privilégios que as mantêm
aprisionadas no obscurantismo da Idade Média.
Enquanto isso, os torcedores ficam a ver, voando para lá e para cá, cifras
inimagináveis, que ao fim das contas eles é que produzem.
Em resumo, vamos seguindo ao sabor das vagas do mar tocado pelos ventos
incertos e tem gente que acompanha esses movimentos como se não fosse
outra forma de ditadura, e a cada dia vai aumentando o número de “sinistros”
militares, até que seja fechado o Congresso ou haja uma reação organizada
da sociedade brasileira.
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