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Relação entre pais e filhos: uma travessia difícil

A relação entre pais e filhos é semelhante a percorrer de uma corda bamba. Há


momentos em que a corda oscila, obrigando a um intenso esforço físico e mental em busca do
equilíbrio. Há momentos em que a corda está firme, sem mexer, o que torna o percurso suave
e quase inconsciente. Há momentos em que a corda oscila violentamente, deitando abaixo
quem a percorre e obrigando-o a um esforço violento para não cair no abismo.

A relação entre pais e filhos adolescente é uma travessia da corda bamba com todas as
possibilidades de sucesso e insucesso. Há várias forças que justificam esta instabilidade. Ser
adolescente implica procurar um espaço de autonomia, o que desencadeia um gradual
afastamento dos pais, que deixam de ser a referência central ou a primordial.

(− Tu não percebes nada…)

Os amigos ganham uma importância até aí desconhecida e as cumplicidades começam a


aparecer.

(− Prefiro conversar com a Rita…)

O diálogo torna-se mais difícil e as confidências, que antes eram espontâneas, vão-se sendo mais
raras. É neste momento que muitos pais sentem que perderam o controlo da situação. Este
sentimento é real, pois é também a autoridade parental e os modelos até aí veiculados que
começam a ser questionados e, por vezes, substituídos.

Quando se passa por uma experiência como esta, importa não perder a calma. Forçar
os filhos a falar é silenciá-los ainda mais. Pô-los de castigo é afastá-los. Controlá-los em excesso
é estimular os segredos. Há que aceitar que é impossível saber cada momento, cada escolha,
cada amigo, cada opção.

(− Eu é que sei…)

Há que compreender que os segredos são normais. Até as pequenas mentiras.

(− Nunca fiz isso…)

Esta é uma fase difícil na evolução do relacionamento entre pais e filhos porque implica
adaptação. A melhor forma de a viver passa pela construção de espaços de diálogo, não forçado
mais estimulado. O silêncio não pode imperar. Há que falar, nem que seja de banalidades. A
supervisão, exercida de forma discreta, é também fundamental. Perceber que tipo de amigos
acompanham o filho, como ele encara a escola e a aprendizagem, como usa as tecnologias, onde
vai quando sai. Fundamental também é não abdicar de determinadas regras. Esta opção
permitirá ao adolescente reorganizar o mundo, sabendo que há limites, que a autonomia nunca
poderá ser sinónimo de abuso de liberdade ou de egoísmo. Há que respeitar e exigir respeito.
Amar e procurar compreender e ajudar.

Deste modo, a corda bamba continuará a oscilar, a ameaçar deitar ao chão quem a
percorre ou mesmo a querer rebentar, mas quem a atravessa não se sentirá tão indefeso porque
sabe que, ainda que caia, há uma rede que o protegerá e que, ainda que balance, há uma vara
que ajudará ao equilíbrio.

Ser mãe e pai é uma travessia difícil, mas cada passo em frente significa uma conquista
inigualável. É por isso que não desistimos.

Carla Marques

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