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Cheque: (aula 25/03) III - o nome do banco ou da instituição financeira que deve pagar (sacado);

IV - a indicação do lugar de pagamento;


1. Requisitos V - a indicação da data e do lugar de emissão;
VI - a assinatura do emitente (sacador), ou de seu mandatário com poderes
Cheque também é circulado por endosso, também é sucessivo ao aval, entre
especiais.
outros requisitos da teoria cambiaria. O consumidor cada vez mais deixa os
cartões de lado e utiliza cheque para facilitar o pagamento, todavia o volume 2. Participantes:
usado de cheques vem caindo porque está concentrado nas relações de Emitente (emissor ou sacador) – É a pessoa física ou jurídica que emite o
micros empresários, por isso não vemos no dia à dia, ainda há uma cheque, que o utiliza para fazer o pagamento de compras ou serviços.
repercussão prática e jurídica do uso do cheque. Beneficiário – É a pessoa física ou jurídica que recebe o cheque. Quando
um cliente faz uma compra numa determinada loja e realiza o pagamento
1.1 Requisitos legais: com cheque, a loja está sendo o beneficiário, pois está recebendo a folha de
 Lei de cheque n° 7357/85 cheque.
 Lei uniforme-decreto n° 57595 Sacado – É banco que forneceu o talão de cheques ao emitente, e é a
instituição bancário que guarda o dinheiro que será usado para cobrir o
1.2 Denominação “cheque” cheque em caso de depósito ou saque no balcão do caixa.
É um requisito previsto no art. 1º da Lei de cheque, é uma menção que afasta
dúvida da espécie cambiaria que está sendo usada. - Podendo haver a entrada de um terceiro avalista ou endossatário.

1.3 Ordem Incondicional de pagar quantia determinada 3. Apresentação e Pagamento (art 32) da Lei de Cheque n° 7357/85
O sacado é um banco ou uma instituição financeira que opera pelo banco, e Cheque pré-datado ou pós-datado – de inserir data fatura no cheque surgindo
não existe o aceite, há uma prévia relação cliente e banco onde há uma ordem conflitos.
a um sacado, o cliente tem que informar os requisitos para quando o
beneficiário for no banco, o banco acolhe o cheque e paga o dinheiro, Art . 32 O cheque é pagável à vista. Considera-se não-estrita qualquer
portando não tem aceite. menção em contrário.
Parágrafo único - O cheque apresentado para pagamento antes do dia
Art . 1º O cheque contêm: indicado como data de emissão é pagável no dia da apresentação.
I - a denominação ‘’cheque’’ inscrita no contexto do título e expressa na
língua em que este é redigido;
II - a ordem incondicional de pagar quantia determinada; O cheque é uma ordem de pagamento à vista e se considera não escrita
qualquer menção em contrário, de acordo com a Lei 7357/85, art. 32 Com
esse entendimento, o cheque pré-datado (com a previsão do termo popular A data de início será a data emitida no cheque, de acordo com o princípio da
bom para) é considerado como não escrito. Diante disso, o banco paga o da literalidade, diante de situação conflituosa em caso de pré-datado
cheque independente o dia pré-determinado entre o emitente e a pessoa permanece a data que está formalmente no título (cheque).
jurídica ou física que recebeu o cheque na relação negocial ignora-se a data
combinada no cheque. O cheque é pago na data da apresentação ao banco, 3.4 Inobservância do prazo de apresentação (art. 47)
independente da data prevista no documento cambial. Nesse caso, aquele a) Quanto ao emitente e seus avalistas
que antecipa a apresentação do título de crédito viola a boa-fé objetiva do b) Quanto ao endossos
contrato (STJ, súmula 370), não necessita se comprovar o dano moral, ele é
presumido. Mesmo após o fim do prazo de apresentação, o cheque pode ser apresentado
para pagamento ao sacado, desde que não esteja prescrito. O fim do prazo
STJ, súmula 370. Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de de apresentação é o termo inicial do prazo prescricional da execução do
cheque pré-datado. cheque.
Só é possível executar o endossante do cheque se ele foi apresentado para
3.2 Prazo de Apresentação (art 33) da Lei de Cheque n° 7357/85 pagamento dentro do prazo legal. Se ele foi apresentado após o prazo, o
a) 30 dias: mesmo lugar emitido onde deve ser pago, será mesma beneficiário perde o direito de executar os co-devedores.
praça. Poderá continuar executando o emitente do cheque e seus avalistas.
b) 60 dias: lugares diferentes será praça diferente.
A praça do cheque é a cidade onde fica o seu banco. Súmula 600-STF: Cabe ação executiva contra o emitente e seus avalistas,
ainda que não apresentado o cheque ao sacado no prazo legal, desde que não
Art . 33 O cheque deve ser apresentado para pagamento, a contar do dia da prescrita a ação cambiaria.
emissão, no prazo de 30 (trinta) dias, quando emitido no lugar onde houver
de ser pago; e de 60 (sessenta) dias, quando emitido em outro lugar do País O portador que não apresentar o cheque em tempo hábil ou não comprovar
ou no exterior. a recusa de pagamento perde o direito de execução contra o emitente, se este
tinha fundos disponíveis durante o prazo de apresentação e os deixou de ter,
3.3 Termo Inicial do prazo de apresentação em razão de fato que não lhe seja imputável (art. 47, § 3º, da Lei nº 7.357/85).
 Não significa que ele não possa cobrar por meio de ação judicial..
O prazo de apresentação do cheque é o prazo de que dispõe o portador do
cheque para apresentá-lo ao banco sacado a fim de receber o valor AULA 02 - CHEQUE - DIREITO CAMBIÁRIO - Prof. Roney Lemos -
determinado no cheque. 02/03/2019
apresentar o cheque dentro de tal prazo, e associado a ideia de boa-fé, que
Continuando aquilo que vínhamos vendo na aula passada, onde precisa necessariamente permear os negócios jurídicos em geral, por essa
fizemos uma análise, primeiramente acerca das repercussões práticas do razão, o descumprimento eventual dessa obrigação, no sentido de aguardar
que, demonstrado a partir de dados da FEBRABAN (Federação Brasileira
de Bancos), mostra uma efetiva e simplificativa redução do volume de
cheques compensados no Brasil. No entanto, ainda assim, há um expressiva Art. 47 Pode o portador promover a execução do cheque:
quantidade de cheques em circulação no país, o que demonstra ainda a
I - Contra o emitente e seu avalista;
presença destes no mercado, e especialmente o mercado intra-empresarial,
já que as relações de consumo não são estabelecidas, em regra, por meio de II - Contra os endossantes e seus avalistas, se o cheque apresentado em
emissão de cheques, como são as empresariais. tempo hábil e a recusa de pagamento é comprovada pelo protesto ou por
Depois nós identificamos a situação jurídica do cheque a partir da declaração do sacado, escrita e datada sobre o cheque, com indicação do dia
lei 7357/85 e a partir da lei uniforme em matéria de cheque, que é a lei de apresentação, ou, ainda, por declaração escrita e datada por câmara de
57595/66, que em certa medida foi transformada para o texto da lei 7357/85. compensação.
Na sequência nós cuidamos dos requisitos formais do título de § 1º Qualquer das declarações previstas neste artigo dispensa o protesto
cheque e começamos aquela análise em torno dos cheques pré-datados ou e produz os efeitos deste.
pós-datados, expressões corriqueiramente empregadas, visando em verdade
a situação do cheque cuja emissão é feita num dado momento com o § 2º Os signatários respondem pelos danos causados por declarações
compromisso das partes envolvidas no sentido de que a apresentação se faça inexatas.
dentro do prazo de tantos dias ou meses, conforme estabelecido em um livro § 3º O portador que não apresentar o cheque em tempo hábil, ou não
de acordo de vontades. comprovar a recusa de pagamento pela forma indicada neste artigo, perde o
Mencionamos que a lei do cheque não dá guarida a essa situação da direito de execução contra o emitente, se este tinha fundos disponíveis durante
pré ou pós datação, embora exista já jurisprudência consolidada no STJ, o prazo de apresentação e os deixou de ter, em razão de fato que não lhe seja
inclusive súmulas cujo enunciado contempla a possibilidade de imputável.
caracterização de dano moral diante da apresentação antecipada do tal § 4º A execução independe do protesto e das declarações previstas neste
cheque pré-datado. Nesse caso, o fundamento central da indenização não artigo, se a apresentação ou o pagamento do cheque são obstados pelo fato de
está na lei de cheque, que não contempla essa possibilidade, mas sim em o sacado ter sido submetido a intervenção, liquidação extrajudicial ou falência.
trechos, tanto do Código Civil, quanto do Código de Defesa do consumidor
(quando se tratar de relação de consumo, por óbvio), que ao regularem as tantos dias ou meses para a apresentação do cheque, pode, efetivamente,
questões de cunho obrigacional, assim sendo obrigação de não fazer/ não conferir o dano moral. É claro que isso, de fato, requer uma apreciação dos
aspectos indenizatórios, além dos pressupostos de caracterização da do sacado, que é o banco, assim escrita sobre o cheque. Então ou foi o
chamada responsabilidade civil, e isso evidentemente precisa ser cheque devolvido pelo banco, ou foi ele protestado, seguindo-se aí aquele
minimamente demonstrado pela parte que reclama indenização. procedimento administrativo, onde serão feitos exames dos aspectos
Depois nós fizemos considerações a respeito da apresentação do formais, onde estando tudo em ordem, o tabelionato competente expede uma
cheque, prazos e consequências da inércia do eventual portador. Fizemos intimação cartorária ao devedor, oportunizando o pagamento em 3 dias, e do
alusão aos prazos que constam no art. 33 da lei de cheque (30 dias quando o contrário, o protesto será lavrado, e restará configurado, para todos os
cheque for emitido no local de ser pago e 60 dias quando emitido em outra efeitos, o inadimplemento do devedor do cheque. Então o protesto, quando
localidade). Pois bem, assim daremos seguimento com a aula de hoje. necessário, há de ser feito nos termos do art. 48, acima descrito, onde, estará
Evidentemente que a expectativa de todo e qualquer credor é receber assim configurado o descumprimento da obrigação de pagar a divida/
a quantia correspondente ao indicado no cheque em algarismos e por cheque pelo devedor cambiário.
extenso. Isso não ocorrendo, ou seja, não sendo efetuado o pagamento do
cheque, e assim este devolvido, quais as medidas a serem tomadas pelo  Agora, apresentado o cheque e já devolvido ao credor, ou seja, já
credor? superada a configuração do inadimplemento pelo devedor, é ainda
Evidentemente, uma das possibilidades que costuma ser empregada, e aí possível levar o cheque a protesto?
existe a dúvida sobre a obrigatoriedade ou não de se fazer o chamado
protesto cambiário do cheque. O artigo seguinte então determina que: Há decisão pelo STJ, que diz: sempre será possível, no prazo para execução
cambial, o protesto cambiário do cheque, com a indicação do emitente ou do
devedor.
Art. 48 "O protesto ou as declarações do artigo anterior devem fazer-
se no lugar de pagamento ou do domicílio do emitente, antes da Nesse entendimento, sabe-se que, iniciada a prescrição executiva, que é de
expiração do prazo de apresentação. Se esta ocorrer no último dia do 6 meses, passado o prazo para apresentação do cheque, que como se sabe é
prazo, o protesto ou as declarações podem fazer-se no primeiro dia útil de 30 dias (mesma praça) ou 60 dias (diferentes praças), o cheque ainda pode
seguinte." ser levado a protesto. Aqui se trata de um protesto em favor da divida, mas
não seria requisito essencial a propositura de ação executiva. Mas costuma-
A sua ocorrência, como fato que possa impulsionar uma possível execução, se de fato ser utilizado como mecanismo de cobrança, não que este seja
ainda que desnecessário a esta, diz respeito a caracterização de um mecanismo formal de cobrança, pois é apenas mecanismo de pura e
consequente inadimplemento. O cheque não foi pago e a prova disso é que, simplesmente atestar o descumprimento formal e solene do pagamento.
embora apresentado em tempo hábil, ele foi protestado por falta de
pagamento, ou mesmo já existe prova desse inadimplemento por declaração  Outra questão. Até quando é possível protestar o cheque?
Reconhecido como sendo um protesto necessário à comprovação do E aí indago, é preciso protestar o cheque para cobrá-lo executivamente? A
inadimplemento, até que se esgote o prazo de apresentação. Tratando-se de rigor, se tem a comprovação da devolução por declaração bancária? não.
protesto facultativo, até que se consume a prescrição executiva, ou seja, Mas se não a tem, aí cogita-se o protesto necessário para este fim. Ou seja,
dentro do prazo de 6 meses. para o fim de caracterização do descumprimento da obrigação de pagar,
É importante constatar que, com o esgotamento do prazo prescricional de dentro do prazo de 30 dias, se for o caso. E depois disso? Quando o prazo
execução, não se afasta o cabimento de meios processuais outros de de prescrição semestral está em curso? Eu posso protestá-lo ainda, só não
cobrança. Há um entendimento jurisprudencial firmado no sentido de que, a posso quando já esgotado este prazo. Vejam neste sentido a manifestação do
despeito de se conferir legitimidade para propositura de ação outra de STJ. Ainda sobre o tema cobrança de dívida com base em cheque, é
cobrança, ou seja, quando não mais é possível haver ação de execução, relevante aqui também considerar a questão dos juros e da correção
impede-se que o cheque venha ser protestado depois. Muitos associam a monetária, sempre se cogita que na ação de cobrança, discute-se a
possibilidade de protesto na condição de titulo executivo, ou seja, na possibilidade de cobrar a correção monetária que não é um plus, ou seja, que
condição de executividade do título. O que termina por demarcar um prazo não é um acréscimo, mas um mínimo suficiente que se evita em razão do
limite para o protesto, e muito comumente essa associação é feita, mas vejam fenômeno inflacionário.
isso com certa ressalva, porque o importante é que, para fins de protesto, a Existem os índices oficiais em preços, vários institutos idôneos que fazem
dívida seja liquida, e que de fato não exista nenhum outro meio de cobrança esses levantamentos, IBGE, FGV, por exemplo, que medem a variação de
judicial. Não é, porém, este o entendimento predominante. Muitos associam, preços dentro de determinado período, envolto assim em índices que tratam
de fato, a possibilidade de protesto cambiário da dívida ao momento limite exatamente essa variação/oscilação. Então, indicar índice de variação
da sua ação executiva, ou seja, até o prazo limite para a execução, onde monetária, não significa obter em si um engano, mas evitar uma perda.
escoado esse prazo, a cobrança judicial é possível e pode o protesto, mas Vamos supor que será aplicado a variação do INPC (Índice Nacional de
pelo menos majoritariamente, entende-se que não, então aqui nós teríamos Preços ao Consumidor), vamos aqui agregar um índice para reestabelecer o
que trabalhar com a hipótese: valor, e vamos, aí sim, aplicar juros de mora em razão do descumprimento
da obrigação em tempo hábil. Neste motivo a tese firmada foi a seguinte:
Estou com o cheque na mão, data de hoje, e quando eu devo apresenta-lo ao
Banco? 30 dias se de mesma praça, 60 dias se de praças diferentes. A partir
deste dia de término do prazo de apresentação, estamos cogitando o prazo “Em qualquer ação utilizada pelo portador para cobrança de cheque, a correção
de 30 dias, tem início o prazo de prescrição executiva que é como se diz, monetária incide a partir da data de emissão estampada na cártula, e os juros de
semestral, que é, portanto de seis meses, considerando o disposto no artigo mora a contar da primeira apresentação à instituição financeira sacada ou câmara
59. de compensação”.
(STJ, Resp. 1556834/SP, 22/06/16).
Por que? Se o cheque estiver com insuficiência de fundos, ele pode ser de determinada mercadoria, não se insere nesse contexto de mercado
reapresentado, mas para efeito de incidência de juros de mora, como aqui se financeiro, então, a incidência de variação da correção monetária, e cujo uso
reconheceu, vale a primeira apresentação, como formalmente operou-se o combinado do 406 e 501 do CC/02 sobre prazos de prescrição, ai nós
descumprimento da obrigação de pagar a soma ali estampada. Então, é teremos que considerar o artigo 59 da lei do cheque. Observem:
possível que o credor exija ali no momento da apresentação da ação de
cobrança, a correção monetária e os juros de mora incidentes, decorrentes Art. 59 “Prescrevem em 6 (seis) meses, contados da expiração do prazo de
da mora e do descumprimento. apresentação, a ação que o art. 47 desta Lei assegura ao portador.”

Aluna pergunta, nesse momento, sobre ENCOGE e INPC Ou seja, 30 dias começou a contar o prazo de 6 meses da ação que esta lei
Resposta do professor: assegura ao portador.
O ENCOGE retrata a variação do INPC. Se você fizer uma comparação, A interrupção da prescrição produz efeitos somente contra o
com esses programinhas que fazem uma atualização monetária e colocar a obrigado, em relação ao qual foi promovido o ato interruptivo. Isso é
correção pela variação do INPC e colocar também ENCOGE, porque a relevante, porque nós teremos que considerar por exemplo, uma peça como
tabela ENCOGE é uma tabela utilizada pelos Tribunais de Justiça dos causa interruptiva da prescrição. O Código Civil contempla esta
Estados, ao invés de somar vários percentuais mensalmente, a tabela indica possibilidade no art. 212, II, o CC estabelece o protesto cambial ou
o índice que correspondente ao mês que você pretende atualizar. Então se cambiário onde a medida interruptiva da prescrição, nós teríamos que
você quer atualizar, por exemplo, a partir do mês de maio, até o mês de considerar ela como prova de realização do protesto dentro deste lapso
outubro, pode usar outro, o original ou o índice que a tabela dispõe e utiliza, temporal, com a produção dos efeitos interruptivos mencionados no 212, II,
já com o valor corrigido monetariamente. do CC/02. Não promovido o protesto, nem um outro ato interruptivo, o prazo
Aí vem a questão dos juros, em relação as dívidas que não tem se esgota dentro de 6 meses. A primeira consequência diz respeito a
natureza bancária. Discute-se que a taxa de juros incidente será aquela persistência ou não da responsabilidade os eventuais coobrigados, p.ex., os
decorrente de combinação dos artigos 403 e 591 do CC/02. Há uma avalistas.
discussão também, se a taxa cobrada pela fazenda nacional aos contribuintes Decorrido o prazo de prescrição semestral, cogita-se da ação de
se faz de acordo com o art. 406 do CC/02, seria a variação da taxa SELIC enriquecimento, ou de locupletamento. Como o emitente e outros
ou seria uma taxa fixa de juros correspondentes a 12% a.a.? Uns dizem 12%, coobrigados se locupletaram injustamente com o não pagamento do cheque,
que essa é a taxa cobrada pelo COPOM, mas outros insistem na incidência sendo necessário, portanto, a representação deste locupletamento injusto dos
da variação da taxa SELIC, então, nós teríamos que considerar nos casos de coobrigados. Em relação ao emitente, presume-se evidentemente a
dívida bancária em que o credor não é um banco, a dívida não foi constituída vantagem individualmente obtida por que em tese recebeu a mercadoria e
em razão de um empréstimo bancário, a dívida decorreu de compra e venda
passou o cheque sem fundos e não houve o consequente pagamento (art.60, Só que veio em 1994 a ação monitória, a ação que objetiva a
Lei do Cheque). cobrança de dívida ou entrega de coisa, veio por meio do 1102 a, b e c no
Só reforçando o art. 59, que trata de 6 meses contados do término antigo CPC/73, ação essa que foi execrada no CPC/15, ou seja, ela
prazo de apresentação, também nesse período é possível promover a ação de possibilita cobrança judicial que não é Executiva e busca também por
Execução contra o devedor e demais coobrigados, como endossantes e intermédio do texto a cobrança de dívida fundada em cheque, para tantos
avalistas, p.ex. No art. 61, ação de enriquecimento contra o emitente e outros temos a Súmula 503 do STJ:
coobrigados que se locupletaram indevidamente como não pagamento do
cheque, prescreve, portanto, em 2 anos contados do dia em que se consumou “O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de
a prescrição contida no art. 59, então vamos somar aqui 2 anos, considerando cheque sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte à data de
que este aqui é o prazo de Execução, e considerando que agora o prazo é de emissão estampada na cártula”. (Súmula 503 do STJ).
locupletamento, que não é executivo e para uns teria a natureza cambiária, Então para esse efeito, nós teremos aqui o prazo de 5 anos, agora o
mas para outros, não. A maioria adota a tese que essa ação de locupletamento prazo de contar o alongamento, é contado do dia seguinte a data estampada
não é cambiária, por isso que estariam afastados os cardeais do direito na cártula, e ai, a remediação monitória com base em cheque, vocês vão
cambiário. A bem da verdade, os bens comuns não tem natureza cambiária perceber que a possibilidade de sua utilização quando já escoado o prazo de
de ação prevista no art. 62: prescrição executiva, apenas possibilita o alcance de devedor e emitente e
não dos avalistas. Define a jurisprudência nesse sentido e há realmente uma
razão de ser, porque a essa altura, o cheque é utilizado como documento
Art. 62 “Salvo prova de novação, a emissão ou a transferência do representativo da dívida, não se discute ai a sua força cambiária, os seus
cheque não exclui a ação fundada na relação causal, feita a prova do efeitos cambiários, eles desaparecem em razão do decurso do prazo, e
não-pagamento.” realmente só por uma via muito excepcional, quando considerada portanto a
Mas a matéria é controvérsia e alguns dizem que tem natureza cambial e obtenção de vantagem ilícita do avalista é que se consegue justificar sua
outros dizem que não tem essa natureza. De todo modo uma coisa é certa, legitimidade, mas isso não é o que ocorre, ai termos que considerar a 3º
ao menos o prazo estará aberto para que o credor lance mão de providência possibilidade, não raro os credores terminam utilizando também o pedido de
judicial na tentativa de receber aquilo que lhe é devido. Nós teríamos que falência como instrumento de cobrança da dívida.
considerar assumir a ação executiva. No entanto, o prazo é exíguo para os
nossos padrões, a prescrição de seis meses costuma fluir rapidamente, e aí, As questões falimentares serão analisadas no próximo semestre,
a saída seria a ação de locupletamento. aqui de passada, é possível dizer que também o cheque, como título
executivo direto, o meio apto a encarar a pretensão falimentar, desde que o
devedor seja empresário. A falência é instituto tipicamente empresarial, a
falência é cultura da insolvência empresarial. Logo, não teremos aqui como é uma ação de execução que pede a citação do devedor para pagar a dívida
escapar da necessidade jurídica de demonstrar, nesse caso exemplo que sob pena de não fazendo no prazo legal, serem penhorados tantos bens
tratamos da dívida cheque-endosso, a demonstração da condição de quantos bastem para satisfação da dívida, ou ação de locupletamento, a
empresário do devedor e aí duas são as hipóteses principais em matéria citação é para apresentação de resposta evidentemente, mas ao fim e ao
falimentar: cabo, forma-se o título executivo judicial em favor do credor ou da
monitória, que a ação também voltada a cobrança de dívida, e a citação
 houve pagamento sem comprovação do cumprimento da obrigação também aqui será para pagar e o título executivo, há a intersecção dos
liquida materializada no título executivo, ou seja, o cheque protestado (ai o chamados embargos monitórios e ao cabo, forma-se o título executivo.
protesto é necessário), sendo a dívida superior a 40 salários mínimos, seria Uma curiosidade é que em dado momento discutiu-se no âmbito do STJ se
então uma possibilidade de utilização do cheque como base para o cheque prescrito para fins executivos poderia pagar ação monitória e o STJ
fundamentar a pretensão falimentar, ou possibilidade de se mostrar ineficaz resolveu sumular essa matéria e editou a súmula 299 dizendo sim que podia.
a ação executiva, porque o devedor citado não pagou, não depositou e nem A tese era o seguinte, a ação monitória é a ação que usa a formação do título
nomeou bens à penhora no prazo legal, logo, consequentemente, é possível executivo não sendo possível a utilização monitória com base em documento
também o credor, comprovando a dissolução, apresentar título de falência que já teve força de título executivo e deixou de ter em razão do decurso do
em face do devedor empresário. Eu faço aqui apenas um parêntese para prazo. Ora, com mais razão ainda eu teria a monitória. Se eu posso utilizar
mostrar que além dessas 3 possibilidades que são tipicamente de cobrança em caso de documento que nunca teve força executiva, por que negar a
de dívidas, é possível também a utilização de título de cobrança falimentar, possibilidade de se cumprir nos casos do título que já teve força executiva e
já que a falência em si não é ação de cobrança, e termina sendo utilizado deixou de ter? Claro que essa era uma reação voltada a proteção do devedor
com esse propósito, como forma de coagir o devedor a efetuar o pagamento, que geraria enriquecimento sem causa, não faria nenhum sentido decidir de
o legítimo credor assim o faz. A essência da falência não é uma ação de forma diversa. Foi bom que o STJ nesse caso, entendeu o cabimento de ação
cobrança, ela assume esse viés porque o devedor empresário temeroso das monitória no caso de cheque editou a súmula 299, tempos depois editou a
consequências do decreto falimentar procura dar soluções ao súmula 503 para definir qual prazo emitir, e claramente aqui atuou com base
inadimplemento. Mas por que temeroso? na previsão do art. 205, § 5, I, CC/02. Já que o prazo para cobrança de
Porque a falência, se decretada, implicará de imediato o fechamento dos dívidas fundadas em documentos escritos é quinquenal.
estabelecimentos, da inabilitação para o devedor exercer a atividade Então nossas observações por hoje ainda sobre cheque, apresentação,
empresária e na imposição de uma série de obrigações de fazer e não fazer protesto, correção e juros e dívidas processuais, típicas de cobrança e até
e nas potenciais consequências penais, é muita coisa, por isso o devedor, atípicas que é o pedido de falência. Mas as típicas, atentem para os prazos
temeroso do eventual decreto falimentar busca dar solução ao de 6 meses, 2 anos, 5 anos, sempre levando em conta os respectivos termos
inadimplemento, mas em si a ação falimentar não é de cobrança. Cobrança iniciais.
CHEQUE – AULA 3 – LEI Nº 7.357/85 09/05/2019 são considerados não escritos. Quando houverem vários endossos em
Transmissão do cheque: branco, entende-se que o signatário adquiriu o cheque através de um destes.
Essa circulação se efetua normalmente pelo endosso, bastando
simplesmente a assinatura do beneficiário no seu verso. O portador ou Além disso, vale a pena ressaltar que o endosso póstumo no cheque
é aquele feito após o protesto, ou declaração equivalente, ou à expiração do
beneficiário se torna, assim, endossante ou endossador e o novo beneficiário,
prazo de apresentação (30 ou 60 dias da emissão), conforme o cheque seja
que o substitui, o endossatário. O cheque possui implícita a clausula à ordem, pagável na mesma praça da emissão ou em praça distinta. A figura é a
podendo circular por endosso, ainda que tal cláusula não conste mesma (forma de endosso e efeitos de cessão de crédito), o momento é o
expressamente no documento. Caso seja apenas riscada a cláusula a ordem mesmo (depois do protesto ou do prazo do protesto), o que muda apenas é o
que vem expressa no formulário do cheque, este ainda poderá ser endossado, elemento temporal
pois a clausula está implícita. Para impedir o endosso, é essencial que conste
expressamente no título a cláusula não à ordem, a qual permite a circulação Aval
por meio de uma cessão de crédito. Não havendo nenhum impedimento No cheque se admite o aval, que é o ato pelo qual alguém assume a
expresso, o beneficiário do cheque poderá declarar a sua vontade de obrigação de pagar, total ou parcialmente, o título, nas mesmas condições
transferir o deu credito a terceiro, assinado o título. Com essa assinatura e a que um devedor desse título. Vale lembrar que segundo o art. 1.647, CC, o
entrega do título ao endossatário, o crédito é transferido e o endossante fica aval de pessoa casada também exigirá outorga conjugal, exceto: separação
vinculado como responsável (devedor indireto) pelo seu pagamento, salvo absoluta. Uma vez dado o aval no cheque, o avalista assume a obrigação de
cláusula em contrário. pagar o título na mesma forma que um devedor desse título (avalizado), ou
seja, poderá ser o devedor principal, se o avalizado for devedor principal, ou
O endosso pode ser em preto ou em branco. O endosso tem o poder um devedor indireto, se o avalizado é o emitente do cheque. Na ausência de
de transmitir todos os direitos resultantes do cheque. Se for em branco, pode indicação, presume-se que o avalizado é o emitente do cheque.
o portador completa-lo com seu nome ou com o de outra pessoa. Independentemente do avalizado, a obrigação assumida pelo avalista é
Juridicamente tem poder, para tanto, de natureza mandataria; pode endossar solidária, autônoma e não personalíssima.
novamente o cheque em branco ou a outra pessoa; pode transferir o cheque OBS: O sacado jamais poderá ser avalista no cheque.
a um terceiro sem completar o endosso e sem endossar. Nesse caso o cheque
Apresentação
transmite-se em branco. Salvo estipulação em contrário, o endossante
garante o pagamento, o que é da essência do instituto do endosso. Pode o As declarações cambiárias (emissão, endosso e aval) firmadas no cheque
endossante proibir novo endosso. Demonstra, com isso, não desejar que o tornam seus signatários, em regra, devedores da obrigação ali consignada e
seu cheque circule para outras mãos. Neste caso não garante ele o pagamento só poderá ser exigida desses devedores quando a obrigação estiver vencida.
a quem o cheque seja posteriormente endossado. Os endossos cancelados O cheque é sempre pagável à vista, considerando-se não escrita qualquer
menção em contrário (art. 32). Assim, é exigível e poderá ser pago a partir
do momento em que for apresentado ao sacado, ainda que nele esteja contrário, devera o sacado efetuar o pagamento em espécie ou crédito em
consignada uma data futura. Na criação do cheque, forma-se uma relação conta. Para efetuar o pagamento, compete ao banco analisar a regularidade
cambiária entre o emitente e o beneficiário. O sacado é alheio a tal relação do título, a provisão de fundos, a ausência de impedimento ao pagamento e
e, por isso, é essencial que o beneficiário se apresente como titular do a legitimidade de quem apresenta. Após conferir todos os elementos
crédito a ser recebido. Só com essa apresentação é que o sacado saberá a essenciais, o banco cumpre a ordem que lhe foi dada pelo emitente. Ao pagar
quem deverá efetuar o pagamento, caso o cheque seja regular e existam o cheque, o sacado deve exigir a entrega do título pelo portador,
fundos disponíveis para tanto. acompanhado do endosso -quitação se o pagamento se der em espécie. Tal
Reapresentação: Em regra exige-se apenas uma apresentação do cheque, no entrega é necessária, para que o título não volte a circular, chegando as mãos
qual o título já estará vencido e já será exigível. Ocorre, que as vezes não é de um terceiro de boa fé e tendo que pagar novamente. Por fim, o
possível a apresentação do cheque, seja por exemplo, por ausência de recolhimento é a prova de que o banco cumpriu devidamente a ordem que
fundos. Assim, ocorre uma segunda apresentação do cheque não pago por lhe foi dada pelo emitente. No caso em que for admitida a emissão de
insuficiência de fundos, a qual pode ser feita dois dias úteis da primeira cheques em moeda estrangeira, o cheque deverá ser pago, no prazo de
apresentação. Caso perdure o ocorrido, o banco deverá inscrever o seu nome apresentação, em moeda nacional à luz do câmbio do dia do pagamento.
no Cadastro de Emitentes de Cheques Sem Fundo. Quando o cheque referir Caso o título não seja pago no ato da apresentação, pode o portador optar
a uma conta conjunta, apenas o nome do emitente do cheque será incluído entre o câmbio do dia da apresentação e o câmbio do dia do pagamento para
no cadastro. efeito de conversão em moeda nacional (Lei no 7.357/85).
Prazos de apresentação: 30 dias, quando emitido em outro lugar onde houver Pagamento parcial: Caso o emitente possua fundos junto ao sacado, mas
de ser pago; 60 dias, quando emitido em outro lugar do país ou no exterior. esses fundos não sejam suficientes para atender ao valor do cheque, o sacado
A definição do prazo de apresentação aplicável irá comparar o local de poderá efetuar o pagamento parcial do cheque. Trata- se de uma opção do
emissão (preenchido pelas partes) e local da agência pagadora (local de banco e não de uma obrigação da sua parte. Exercendo essa opção, o banco
pagamento). Não importa o local da apresentação ou do depósito do cheque. devolverá o título ao beneficiário, com menção expressa no documento de
Vale o que está escrito no título, deve- se analisar apenas o local da agência um pagamento parcial. Nesse caso, o beneficiário não pode recusar o
pagadora e o local de emissão preenchido no documento. Caso seja a mesma pagamento parcial, sendo compelido a receber apenas parte do pagamento.
praça, o prazo será de 30 dias contados da emissão e, caso sejam praças (Art. 38, §único). No caso dos devedores indiretos, se falta o pagamento
distintas, o prazo será de 60 dias. Para cheques emitidos no exterior, o prazo parcial, sua responsabilidade também deverá ser parcial. Bancos não
seria de 20 ou 70 dias, a depender se o lugar de emissão e o lugar de costumar aceitar pagamento parcial, que preferem devolver o título.
pagamento são situados na mesma ou em diferentes partes do mundo. Revogação (contraordem) e sustação (oposição)
Pagamento: Ocorrendo a apresentação do cheque ao sacado, a obrigação ali
consignada se torna exigível. Não havendo qualquer ordem em sentido
Representam declarações de vontade justificadas, para impedir o pagamento Cheque visado: O banco sacado lança e assina no verso do título, declarando
do cheque. Não há mais a figura do cancelamento do cheque que não foi a existência de fundos suficientes, no valor do título, os quais ficarão
emitido. reservados para a liquidação do cheque, pelo prazo de apresentação do título
Revogação ou contraordem: o emitente pode dar uma contraordem, ou seja, (art. 7º). Em última análise, há a retirada do valor do cheque da conta do
revogar a ordem dada, impedindo que o banco efetue o pagamento do emitente dando extrema segurança ao credor. O visto significa que existem
cheque, o emitente deve comunicar ao bando indicando os motivos para tal fundos disponíveis para cobrir o valor do cheque e que tais fundos não serão
ato (art. 35). Nos casos de furto, roubo ou extravio, exige-se a apresentação utilizados para pagar outros cheques, durante o prazo de apresentação do
do boletim de ocorrência policial. Criou- se o motivo 70 que é sustação, cheque visado, ainda que sejam apresentados antes. Após o prazo de
revogação provisória, a ser utilizado na devolução de cheque cuja prazo de apresentação, se o cheque visado não foi apresentado, os valores serão
confirmação não tenha expirado e seja provisória, a sustação e revogação novamente creditados na conta do emitente. O visto no cheque, deve ser
provisória não pode ser repetida. apresentado ao sacado antes da apresentação para pagamento. Tal
Sustação: tanto o emitente como os legítimos possuidores podem sustar o apresentação poderá ser feita tanto pelo emitente, quanto pelo portador
cheque e os efeitos serão imediatos. A sustação e a contraordem se excluem legitimo, sendo nominal e não tenha circulado para endosso.
reciprocamente. A sustação deverá ser requerida por escrito, admitindo-se a Cheque cruzado: não pode ser pago diretamente ao portador, ou seja, não
oposição por meio eletrônico, desde que confirmada nos dois dias úteis pode ser sacado na boca do caixa. O cheque deverá ser depositado na conta
seguintes. Em qualquer caso, ela deve ser fundada em relevante razão de do beneficiário (art. 45). Caso seja depositado em um banco diverso do
direito (Lei no 7.357/85 – 7 art. 36), não cabendo ao banco discutir a sacado, o banco depositário irá receber o cheque e creditará os valores ao
veracidade do motivo apontado. São exemplos de relevantes razões de seu cliente. Caso seja depositado no mesmo banco sacado, este efetuará o
direito a emissão do cheque mediante dolo ou coação, ou mesmo o pagamento ao seu cliente mediante crédito em conta. Essa modalidade traz
descumprimento contratual do credor (desacordo comercial). Nos casos de uma segurança ao emitente. O cruzamento é feito por meio de dois traços
furto, roubo ou extravio, exige-se a apresentação de boletim de ocorrência paralelos na face do cheque, inseridos pelo emitente ou pelo portador,
policial. Em todo caso, é possível também a sustação provisória, que impede podendo ser em geral ou em branco e especial ou em preto, quando indica
imediatamente o pagamento do cheque, mas deve ser confirmada pela que o banco pode receber o cheque. No cruzamento em branco, o cheque
pessoa que sustou o cheque. poderá ser depositado em qualquer banco. Já no cruzamento em preto ou
Modalidades de cheque especial, o cheque deverá ser depositado no banco indicado entre os traços
Como demonstrado, o cheque é e sempre será uma ordem de pagamento à paralelos da face do cheque. Se existirem vários cruzamentos especiais, o
vista. Todavia, admite-se que certos cheques possuam características cheque só pode ser pago pelo sacado quando um dos cruzamentos for para a
próprias, que fazem incidir regras especiais, diversas das comumente usados câmara de compensação, ou seja, não admite a pluralidade de cruzamentos
para o cheque. especiais para bancos distintos.
Cheque administrativo: O emitente do cheque é o próprio banco sacado. Tal Observações relevantes: Em 1968 convivíamos como o código
modalidade é usada pelos próprios bancos para honrar suas obrigações, mas comercial de 1850 e paralelamente com o código civil de 1916, ou seja,
também pelos particulares para dar maior segurança em suas transações, há havia muito mais clara a separação entre a compra e venda civil e a compra
e venda comercial, havia inclusive definição no código comercial da época
uma espécie de compra do cheque administrativo, que será entregue aos
em relação a caracterização da compra e venda quando mercantil ou
credores, dando-lhes mais segurança, uma vez que é difícil imaginar que o comercial, as partes , o comerciante, o objeto (móvel ou semovente). Hoje
banco não tenha fundos. Os particulares comparecem ao banco e pedem a não temos essa separação clara em razão da unificação parcial que se deu
emissão de um cheque do próprio banco, ele transfere os valores da conta do entre Código Civil e Código Comercial da época, evidentemente que não há
interessado para outra conta de sua titularidade e entrega o cheque no valor como perder de vista a caracterização da compra e venda em razão dos seus
respectivo. Há uma taxa pelo serviço prestado. contornos mercantis e empresariais porque o propósito da operação demarca
a natureza empresarial do negócio. Por exemplo, eu fui a loja e comprei uma
cadeira e coloquei no quarto de estudo em minha casa (você atuou como
Duplicata mercantil e de prestação de serviços:
consumidor). No entanto, quando abro um restaurante e preciso comprar o
A duplicata mercantil é um título genuinamente brasileiro que
mobiliário do salão, comprei cadeiras, mas isso se insere no contexto
surgiu num primeiro momento a partir da necessidade de cumprimento de
produtivo, é aquilo que denota a indispensabilidade para o desenvolvimento
obrigação tributária, ou seja, operava-se anteriormente mediante cópia de
da área empresária, pois um restaurante sem cadeiras não funciona, os
faturas e daí a expressão “duplicata”. A fatura do comercial era e continua
clientes não podem ficar no chão. Essa compra e venda que ampara a
sendo um documento que reúne as principais informações de um contrato de
extração da duplicata tem contornos mercantis, a compra e venda que é feita
compra e venda (quem são as partes, qual será o objeto), tem o sentido de
normalmente não tem empresariedade porque não se faz devido a atividade
identificar a qualidade, quantidade, tipo ou marca, ano, modelo, quais os
profissional e habitual, só atende ao interesse do comprador, só isso, não há
valores individualmente considerados, quais as condições de pagamento,
mercancia. Não é toda e qualquer compra e venda que ampara a emissão da
quais os domicílios de devedor e comprador, local onde vai se fazer a entrega
duplicata, sendo a compra e venda com controle mercantil/empresarial o
essa é a fatura comercial.
título de crédito a ser emitido será rigorosamente a duplicata, como se
Por força do que estabelece a lei 5.474/68, em todo contrato de
verifica com a leitura do artigo 2º da lei 5.474/68, a primeira possibilidade é
compra e venda mercantil entre parte domiciliada em território brasileiro
a duplicata mercantil porque é emitida em razão de compra e venda
com brasileiro, com prazo não inferior a trinta dias contados da data da
celebrada com esse propósito de transformação, circulação.
entrega das mercadorias, o vendedor extrairá a respectiva fatura. Esse
Também é possível a emissão da duplicata em razão da prestação de
documento reúne informações essenciais da compra e venda e no ato da
serviços, conforme se percebe da leitura do artigo 20º da mesma lei
emissão da fatura já diz o artigo 2º da mesma lei:
5.474/68.
Art . 2º No ato da emissão da fatura, dela poderá ser extraída uma
Art . 20. As empresas, individuais ou coletivas, fundações ou
duplicata para circulação como efeito comercial, não sendo admitida
sociedades civis, que se dediquem à prestação de serviços, poderão, também,
qualquer outra espécie de título de crédito para documentar o saque do
na forma desta lei, emitir fatura e duplicata.
vendedor pela importância faturada ao comprador.
Na época isso foi um avanço significativo porque as atividades de Art . 2º No ato da emissão da fatura, dela poderá ser extraída uma duplicata
prestação de serviços não são na essência atividades de comercio próprio e para circulação como efeito comercial, não sendo admitida qualquer outra
na época ainda estávamos convivendo com o código comercial de 1850 e o espécie de título de crédito para documentar o saque do vendedor pela
código civil de 1916, não havíamos consolidado os direitos ainda. Dizer que importância faturada ao comprador.
o prestador de serviço poderia se valer da emissão de um título de crédito,
ou seja fazer operação tipicamente comercial já foi mais um avanço, foi uma É também causal, pois na classificação doutrinária os títulos se
demonstração clara da influência da teoria de empresa no Brasil. Então, subdividem em títulos abstratos e causais, não se pode confundir título
também é possível haver a extração da duplicata em casos de serviços, em abstrato com a abstração que decorre do endosso. A emissão pode estar
ambos os casos são reguladas pela lei 5.474/68 , surgiu primeiramente a atrelada a uma causa especial ou não, logo se trata de emissão livre, no caso
ideia de fazer cópias de faturas, daí o nome duplicata. das duplicatas o título é causal porque as hipóteses de emissão são
A partir da ideia de que se trata de um título de crédito, o formalismo exatamente aquelas indicadas no texto legal, ou seja, não pode ter duplicata
próprio foi contemplado. A duplicata conterá diz o artigo 2º, ou seja, será sem compra e venda, também não pode ter duplicata sem prévio contrato de
título formal atende aos requisitos do artigo 2º §1° que estão ali dispostos. prestação de serviços, é causa subjacente que deve estar sempre presente é
IV - o§ 1º A duplicata conterá: aquilo que serve de base, de lastro para ocorrer a perfeita emissão da
I - a denominação "duplicata", a data de sua emissão e o número de duplicata. No entanto, existem empresários emitindo duplicatas sem a
ordem; correspondente compra e venda ou prestação de serviços a chamada
II - o número da fatura; “duplicata fria”, quando se faz a emissão de duplicata sem a correspondente
III - a data certa do vencimento ou a declaração de ser a duplicata à compra e venda ou prestação de serviços evidentemente há ali a clara
vista; intenção de obter vantagem econômica indevida em razão da prática e ainda
nome e domicílio do vendedor e do comprador; é possível com o prejuízo alheio. Evidentemente que quem emite a duplicata
V - a importância a pagar, em algarismos e por extenso; sem causa, sem lastro, não vai fazer com o simples intuito de guardá-la,
VI - a praça de pagamento; colocará em circulação tendo em vista que a duplicata já tem esse efeito
VII - a cláusula à ordem; circulatório. Essa duplicata fria acontece por descuido ou excesso de
VIII - a declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação confiança da pessoa que não exige a comprovação na causa de emissão da
de pagá-la, a ser assinada pelo comprador, como aceite, cambial; duplicata.
IX - a assinatura do emitente. A respeito dos requisitos formais da duplicata é preciso se ater ao
artigo 2º da lei 5474/68, ela precisará conter a denominação “duplicata”,
Também é um título à ordem, é possível observar o caput do artigo constará nela a data de emissão e o número de ordem. Quem emite duplicata
2º, a circulação da duplicata não é obrigatória, é algo implícito, daí porque precisa ter a inscrição em um livro de registro de duplicatas e então vai
a duplicata sempre terá a clausula à ordem. O credor não é obrigado a coloca- sequenciando a emissão atribuindo a ela um número de ordem. O nome e o
la em circulação, mas já existe um indicativo claro dessa potencialidade domicilio do comprador (questão meramente formal de indicação), a
circulatória. importância paga em algarismos por extenso, a praça que é o local de
pagamento, a cláusula a ordem que denota essa potencialidade circulatória,
a declaração do reconhecimento de sua exatidão, da obrigação de pagá-la e sempre materializado mediante assinatura lançado no próprio documento,
a assinatura do emitente (reconhecimento formal e solene da obrigação de como está previsto no art. 6º e os seguintes:
pagar a quantia ali indicada).
§ 1º A duplicata conterá: Art . 6º A remessa de duplicata poderá ser feita diretamente pelo vendedor
I - a denominação "duplicata", a data de sua emissão e o número de ou por seus representantes, por intermédio de instituições financeiras,
ordem; procuradores ou, correspondentes que se incumbam de apresentá-la ao
II - o número da fatura; comprador na praça ou no lugar de seu estabelecimento, podendo os
III - a data certa do vencimento ou a declaração de ser a duplicata à intermediários devolvê-la, depois de assinada, ou conservá-la em seu poder
vista; até o momento do resgate, segundo as instruções de quem lhes cometeu o
IV - o nome e domicílio do vendedor e do comprador; encargo.
V - a importância a pagar, em algarismos e por extenso; § 1º O prazo para remessa da duplicata será de 30 (trinta) dias, contado da
VI - a praça de pagamento; data de sua emissão.
VII - a cláusula à ordem; § 2º Se a remessa for feita por intermédio de representantes instituições
VIII - a declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação financeiras, procuradores ou correspondentes estes deverão apresentar o
de pagá-la, a ser assinada pelo comprador, como aceite, cambial; título, ao comprador dentro de 10 (dez) dias, contados da data de seu
IX - a assinatura do emitente. recebimento na praça de pagamento.
Art . 7º A duplicata, quando não for à vista, deverá ser devolvida pelo
Data certa do vencimento ou declaração de ser a duplicata à vista comprador ao apresentante dentro do prazo de 10 (dez) dias, contado da data
(formalmente a duplicata é a prazo, é até possível desdobrar em prestações), de sua apresentação, devidamente assinada ou acompanhada de declaração,
no caso de pagamento em parcelas prevê o §3°: por escrito, contendo as razões da falta do aceite.
Art . 8º O comprador só poderá deixar de aceitar a duplicata por motivo de:
§ 3º Nos casos de venda para pagamento em parcelas, poderá ser I - avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas
emitida duplicata única, em que se discriminarão todas as prestações e ou não entregues por sua conta e risco;
seus vencimentos, ou série de duplicatas, uma para cada prestação II - vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das
distinguindo-se a numeração a que se refere o item I do § 1º dêste artigo, mercadorias, devidamente comprovados;
pelo acréscimo de letra do alfabeto, em sequência. Dá mais liberdade III - divergência nos prazos ou nos preços ajustados.
circulatória, pode operar em vários bancos diferentes.
O aceite presumido não é empregado pelo legislador isso é construção
O aceite é quase que uma obrigação porque as hipóteses doutrinária que teve como base o artigo 15º, II:
justificadoras da recusa estão taxativamente relacionadas. A recusa de aceite
precisa ser justificada. Existem modalidades de aceite, ele pode ser Art 15 - A cobrança judicial de duplicata ou triplicata será efetuada de
ordinário, presumido ou por comunicação. O aceite ordinário é aquele que é conformidade com o processo aplicável aos títulos executivos extrajudiciais,
de que cogita o Livro II do Código de Processo Civil, quando se tratar:
II - de duplicata ou triplicata não aceita, contanto que, cumulativamente:

a) Haja sido protestada;


b) Esteja acompanhada de documento hábil comprobatório da entrega
e recebimento da mercadoria;
(posso ter o canhoto ao pé da mão que é um comprovante de que a
mercadoria foi realmente recebida, também posso ter outros meios
de comprovação documental).

O aceite por comunicação é percebido no artigo 7º, §1°:

§ 1º Havendo expressa concordância da instituição financeira


cobradora, o sacado poderá reter a duplicata em seu poder até a data
do vencimento, desde que comunique, por escrito, à apresentante o
aceite e a retenção.
A comunicação que trata este parágrafo deve ser certa não pode
restar dúvida, ela pode ser feita por e-mail, mas na dúvida é melhor
que seja feito na ata notarial.

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