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Kurgan foi assaltado por uma estranha sensação.

Era como se um passado desconhecido o


assaltasse com memórias alheias. O lugar exalava nostalgia e decadência o que, vá-se lá saber
porquê, tornava tudo tão apelativo.

O caminho de terra batida, poeirento como só o conseguia ser no Verão, era ladeado
por ruinas e casas semi-habitáveis. O olhar metropolitano de Kurgan detectava, de vez em
quando, uma casinha que seria digna de ser habitada. Prevaleciam, no entanto, as ruinas, de
madeira podre e negra, assaltadas pela vegetação. As frondosas caseiras transbordavam das
ruinas para as bermas da estrada onde, estoicamente, eram assaltadas pela poeira sempre que
alguém passava.

O condutor de Kurgan seguia sem muitos cuidados. Os buracos da estrada faziam a


carrinha debater-se e queixar-se como se de uma avozinha cheia de artrite se tratasse.
Finalmente pararam. Kurgan pagou ao motorista e saiu. Momentos depois, da carrinha, só
sobrava uma nuvem de poeira branca ao fundo da rua.

E lá estava Kurgan junto à casinha de madeira que tantas vezes imaginara. Poderia
chamar-se casa àquela isbá? A sua fachada verde que há muito necessitava de uma pintura
oferecia aquele ar de tradição imponente que mesmo nas mais pequenas coisas exige respeito
de quem observa.

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