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O início da História do Anarquismo não coincide com o surgimento e a positivação do

termo anarquismo, é muito anterior a ela, e implica uma série de reflexões sobre
entendimentos possíveis das idéias de indivíduo, sociedade e liberdade, realizadas em
sociedades distintas, em diferentes momentos históricos.

Sociedades sem governo e a pré-história

De acordo com Harold Barclay antes do anarquismo ter surgido como uma perspectiva
distinta, seres humanos viveram milhares de anos em sociedades sem
governo. Anarcoprimitivistas também acreditam que, por um longo período antes da
história escrita, as sociedades humanas foram organizadas por princípios anárquicos.
No entanto, existe um debate sobre as evidências antropológicas nas quais esta
afirmação se fundamenta. Foi somente depois do surgimento das sociedades
hierárquicas que as idéias anarquistas foram formuladas como uma resposta crítica e
rejeição a toda forma de instituição política coercitiva baseada em relações sociais
hierárquicas.
Muitos anarquistas não primitivistas consideram equivocada as especulações dos
primitivistas, uma vez que a limitação dos registros e as analogias com as sociedades
autóctones contemporâneas possuem claras limitações de contexto. Outros consideram
ainda que a crença primitivista de uma pré-história libertária tem seu fundamento em um
arcabouço mitológico ocidental que remete a era de ouro da antiguidade grega em que
“homens e animais viviam em harmonia”, e ao jardim do Éden cristão “antes do pecado
original”; mas também em mitos modernos decorrentes de leituras enviesadas da própria
filosofia ocidental como o “bom selvagem” deJean Jacques Rousseau.
O radicalismo dos primitivistas normalmente é refutado pelas outras vertentes
anarquistas….
Além disso o anarco-primitivismo se difere do anarquismo verde, que é bem mais atual,
ao qual não vê o mau na tecnologia e sim na sua aplicação.

Filosofia ácrata na Grécia da Antiguidade

O Busto de Zenão de Cítio é considerado por Kropotkin “O maior expoente da filosofia


anarquista na Grécia Antiga”
A utilização das palavras “anarchia” e “anarchos”, ambas significando “sem
governantes”, podem ser traçadas até as Ilíadas de Homero e as Histórias de Herodotus.
O primeiro uso político conhecido da palavra anarquia aparece na peça Sete Contra
Tebas de Aeschylus , datada de 467 a.C.. Nela, Antigona se recusa abertamente a
aceitar o decreto dos governantes a abandonar o corpo de seu irmão Polyneices não
sepultado, como punição por sua participação no ataque a Tebas, diante do decreto ela
diz “mesmo se ninguém quiser participar comigo, sozinha correrei o risco em sepultar
meu próprio irmão. terei eu que agir em oposição desafiadora aos governantes da cidade
(ekhous apiston tênd anarkhian polei)”.

Aristipo de Cirene, um dos maiores discípulos de Sócrates, grande estudioso das


questões éticas, certa vez afirmou que os sábios não deveriam abrir mão de suas
liberdades em prol do estado. No entanto, nenhum de seus escritos sobreviveu ao tempo
e tudo que se conhece sobre suas reflexões está baseado nas obras de seus
comentadores.

A Grécia Antiga também viu florescer a primeira instância do anarquismo enquanto ideal
filosófico. Os Cínicos Diógenes de Sínope e Crates de Tebas advogaram por formas
anárquicas de sociedade, mas pouco resta de seus escritos. O filósofo Zenão de Cítio o
fundador do Estoicismo, muito influenciado pelos Cínicos, descreveu sua visão de uma
sociedade horizontal em torno de 300 a.C. A República de Zenão se baseava em uma
forma de anarquismo onde não existia necessidade de estruturas estatais. Zenão era,
de acordo com Kropotkin, “O maior expoente da filosofia anarquista na Grécia Antiga”.
Como resumido por Kropotkin, Zenão “repudiava a onipotência do estado, sua
intervenção e regimentação, e proclamava a soberania da lei moral do indivíduo”. Na
filosofia grega, a visão de Zenão de comunidade livre sem governo é oposta a utopia
pró-estatal da República de Platão. Em oposição a Platão, Zenão argumentava que a
razão poderia substituir a autoridade na administração dos assuntos humanos. Sua
defesa da anarquia se baseava na premissa de que o instinto de auto-preservação
necessariamente levaria os humanos ao egoísmo, no entanto, a natureza teria suprido o
homem com um corretivo para esse aspecto, um outro instinto desociabilidade.
Como muitos anarquistas modernos, ele acreditava que se fosse permitido aos povos
seguissem seus instintos, não precisariam de leis, cortes ou polícia, nem de templos ou
espaços de adoração pública, não utilizariam dinheiro e formas de economia do dom
tomariam seu lugar nas trocas. As reflexões de Zenão só chegaram até
contemporâneidade na forma de trechos fragmentados.

Em Atenas, o ano 404 a.C. foi comumente conhecido como “o ano da anarquia”. De
acordo com o historiado Xenofonte, trata-se de fato de um período em que Atenas foi
governada pela oligarquia dos “Trinta”, instalada pelos espartanos após sua vitória na
segunda guerra do Peloponeso, e devido ao fato de que existia um Arconte no governo,
nomeado pelos oligarcas, na pessoa de Pythodorus, os atenienses se recusaram a
aplicar na ocasião seu costume de chamar o ano pelo nome do arconte, preferindo
chamá-lo de ‘ano da anarquia'”.

Os filósofos gregos Platão e Aristoteles utilizaram o termo anarquia em seu sentido


negativo, em associação com a idéia de democraciaa qual acreditavam ser
inerentemente vulnerável e passível de deteriorar em tirania. Platão acreditava que a
corrupção criada pela democracia propiciava a hierarquia “natural” entre classes sociais,
gêneros e grupos de idade, para sua ampliação “anarquia encontra um caminho nas
casas privadas, e termina por chegar até os animais e infectá-los”. (‘República’, livro 8).
Aristoteles diz em seu livro sei das ‘Políticas’ quando discute revoluções, que as classes
superiores podem ser motivadas a levar a cabo um grupo em suas contendas para
prevenir a “desordem e anarquia (ataxias kai anarkhias) nos assuntos do estado. Este
filósofo também associou a anarquia com a democracia quando afirmou existirem traços
“democráticos” nas tiranias, denominou a anarquia uma licença possível entre escravos
(anarkhia te doulôn)” bem como entre mulheres e crianças. “Uma constituição deste tipo”,
concluiu, “terá um amplo número de apoiadores já que viver desordenadamente (zên
ataktôs) é mais prazeroso às massas que levar uma vida sóbria”.
Filosofia ácrata na China da Antiguidade

Na China em 600 AC, o pensador taoísta Lao Zi foi o principal responsável pelo
desenvolvimento do princípio de “não-comando” no Tao Te Ching, importante texto do
taoísmo filosófico. Com base neste princípio muitos taoístas passaram a viver nos
conformes com um modo de vida muito semelhante àquele chamado de “anarquista” na
modernidade.
Em 300 AC, também o filósofo Bao Jingyan advogaria abertamente por uma sociedade
que não estivesse baseada na existência de senhores ou servos.

Movimentos e idéias ácratas no medievo

Existiram variedades de movimentos anárquicos religiosos na Europa durante a Idade


Média, incluindo aIrmandade do Espírito Livre, os Klompdraggers, os Hussitas, Adamitas
e os primeiros Anabaptistas. Sobre estes últimos Bertrand Russell afirmaria em sua
História da Filosofia Ocidental que os Anabaptistas “repudiaram todas as leis, desde que
consideravam que o bom homem seria guiado a todo instante pelo Espírito Santo… por
essa premissa eles chegaram ao comunismo…”.

Em Gargantua e Pantagruel (1532-52), François Rabelais escreveu no Abby


de Thelema (palavra grega que significa “vontade” ou “desejo”), um utopia imaginária
onde seu princípio era “Faça Como Queira”, lugar no qual não havia governantes ou
governados. Graças a esta contribuição literária, bem como aos seus questionamentos
críticos de fundo ético através da sátira aos governantes de seu tempo, Rabelais é
considerado por alguns anarquistas, entre eles Voltairine de Cleyre, um importante
precursor do pensamento ácrata. Quase na mesma época, um estudante francês de
Direito, Étienne de La Boétie escreveu seu Discurso sobre a Servidão Voluntária, no qual
ele argumentava que a tirania é resultado da submissão voluntária, e deveria ser abolida
pelas pessoas através da recusa a obedecer as autoridades que acreditavam estar
acima delas.

Do século XVI ao XVII

Para Leo Tolstoi, o Anarquismo Cristãotem como um dos seus mais importantes
expoentes em Gerrard Winstanley, que fazia parte dos movimento dos Diggers na
Inglaterra durante a Guerra Civil Inglesa. Em seus escritos, Winstanley afirmava que as
“bençãos da terra” deveriam “ser comuns a todos… e nenhum senhor sobre os
demais.” Em um de seus panfletos em meio ao século XVII, Winstanley defendia a
criação de pequenas comunas agrárias de propriedade coletiva economia socialmente
organizada, que entrariam para a história como os agrarianos.

Século XVIII

No entanto, na era moderna o primeiro a empregar o termo “Anarquia” com um sentido


outro que não o caos foi Louis-Armand, Barão de Lahontan, em sua obra Novas viagens
da América Setentrional (Nouveaux voyages dans l’Amérique septentrionale) (1703)
onde descreveu os povos indígenas habitantes originais das Américas como sociedades
sem estado, leis, prisões, padres ou propriedade privada, seres em anarquia.

Em Uma defesa da Sociedade Natural (A Vindication of Natural Society) (1756), Edmund


Burke defendeu a abolição do governo, posteriormente afirmaria que a obra era para ser
um trabalho satírico. Três décadas depois William Godwincomentaria os escritos de
Burke e seu tratado afirmando que neste “os males das instituições políticas existentes
foram revelados com uma força de razão e capacidade de eloqüência incomparáveis,
enquanto a intenção do autor era mostrar que esses males deveriam ser considerados
trivialidades.”

Thomas Jefferson também manifestou sua opinião sobre a sociedade sem governo:
A base dos nossos governos é a opinião do povo, o mais fundamental dos objetivos
deveria ser manter esse direito; e se fosse deixado para mim decidir se deveríamos ter
um governo sem imprensa ou imprensa sem um governo, eu não hesitaria um momento
em optar pelo o último. Mas o que quero dizer é que cada homem deve receber esses
jornais e ser capaz de lê-los. Estou convencido que aquelas sociedades (como as dos
índios) que vivem sem governo contam em sua maior parte com um grau infinitamente
maior de felicidade que aqueles que vivem sob os governos europeus. Entre os
primeiros, a opinião pública substitui a lei e cria freios morais mais poderosos do que as
leis jamais serão onde quer que existam. Entre os últimos, sob a desculpa de governar,
eles dividem suas nações em duas classes, os lobos e as ovelhas. Não estou
exagerando. Esta é uma descrição verídica da Europa.

Piotr Kropotkin considera que William Godwin através de sua obra Inquérito acerca da
justiça política de 1793, foi o “primeiro a formular as concepções políticas e econômicas
do Anarquismo defendendo explicitamente a abolição de todas as formas de governo.
No entanto, neste texto Godwin não utilizou a palavra anarquismo por considerar a época
um termo pejorativo, uma forma de insulto comum a todo pensamento e ação
progressistas e revolucionários. Nesta obra Godwin defendeu a abolição do governo
através de um processo gradual de reforma e esclarecimento. Por suas idéias Godwin é
considerado nos dias de hoje um dos fundadores do “Anarquismo filosófico e um dos
antecessores do utilitarismo.”

Existiram diversas correntes ácratas e libertárias durante a Revolução Francesa, com


alguns revolucionários empregando o termo “anarchiste” em um prisma positivo como no
início de setembro de 1793. Os Enragés se opuseram a um governo revolucionário como
uma contradição em termos. Denunciando a ditadura Jacobina, Jean Varlet escreveu em
1794 que “governo e revolução eram incompatíveis, a menos que o povo deseje
estabelecer autoridades constituídas em permanente insurreição contra elas próprias.
“Em seu “Manifesto dos Iguais, “Sylvain Maréchal defendeu o desaparecimento, de uma
vez por todas da “distinção revoltante entre ricos e pobres, grandes e pequenos, mestres
e servos, governantes e governados.”

Século XIX
Em 1825 nos Estados Unidos, Josiah Warren participou da comunidade experimental
pensada por Robert Owen chamada New Harmony, que desapareceu alguns poucos
anos depois devido a conflitos internos. Em 1827, com New Harmony desintegrada, ele
retornou a Cincinnati. Como Kenneth Rexroth escreveu, “quase todos os críticos de New
Harmony disseram que ela havia falhado pela falta de uma liderança forte, disciplina e
comprometimento. Warren chegou a conclusão exatamente oposta.” Warren condenou
a falta de soberania individual da comunidade como o motivo principal do fracasso da
experiência. Ele se esforçaria ainda para organizar outras comunidades anarquistas
como a Utopia e a Modern Times.

Reunindo colonos vindos de França no Rio de Janeiro no ano anterior, inspirado na


teorias de Fourier, em 1842 o Dr. Benoit Jules Mure se dirige à margens da Baía de
Babitonga, perto da cidade histórica de São Francisco do Sul com o objetivo de iniciar
aquela que ficaria conhecida como a primeira experiência libertária do hemisfério sul, o
Falanstério do Saí ou Colônia Industrial do Saí. A experiência duraria poucos anos devido
ao despreparo de seus componentes e incapacidade de coesão que resultou em um
grupo à frente do qual estava Michel Derrion. Este constituiria outra colônia a algumas
léguas do Saí, num lugar chamado Palmital: a Colônia do Palmital. No entanto, ambas
experiências não prevaleceriam.
Mais de quarenta anos depois, em 1889 um grupo articulado por esforço do agrônomo-
veterinário Giovanni Rossiengajaria em uma nova experiência de comunalismo
experimental. No municipalidade de Palmeira, no interior do Paraná eles dariam forma a
uma comunidade baseada nos princípios libertários do cooperativismo, do anti-
clericalismo e na negação de outras instituições tradicionais como a hierarquia, o
matrimônio e a família nuclear(família tradicional com dois pais e filhos): esta fora
denominada Colônia Cecília em referência a um dos romances previamente escritos por
Rossi. Apesar desta experiência também ter sido de curta duração, seu impacto no
imaginário foi tremendo tanto no Brasil como na Itália. Canções e livros foram escritos
inspirados nesta experiência que seria rememorada por mais de cem anos entre os
anarquistas.

O primeiro anarquista autoproclamado

Pierre-Joseph Proudhon é considerado o primeiro anarquista auto-intitulado, uma


classificação que ele adotou em sua primeira obra O que é a Propriedade?, publicada
em 1840. Por essa razão alguns consideram Proudhon como o fundador da teoria
anarquista moderna. Ele é o autor da teoria do ordenamento espontâneo na sociedade,
onde a organização emerge sem um coordenador central para impor suas próprias idéias
de ordem contrra as vontades de indivíduos agindo em seus próprios interesses; seu
famoso mote sobre esta questão é, “Liberdade é a mãe, não a filha, da ordem.”
Em “O que é a Propriedade?” Proudhon responde a questão seu famoso mote em tom
de denúncia “Propriedade é um roubo”. Nesse trabalho, ele se opõe a instituição da
“propriedade” (propriété), em que os donos possuem direitos plenos de “usar e abusar”
de sua propriedade da forma como desejarem. Em contraste ele defende o que chama
de “possessão”, ou propriedade limitada de recursos e bens apenas quando em
utilização mais ou menos continuada. Posteriormente, no entanto, Proudhon afirmaria
que “Propriedade é Liberdade”, e argumentaria que é ela a única proteção contra o poder
do estado.

Sua oposição ao estado, à religião institucionalizada, e à certas práticas capitalistas


inspiraram libertários que vieram depois dele, transformando-o em um dos principais e
mais influentes pensadores de seu tempo.
Enquanto ele se opunha ao comunismo, a política de aluguéis e aos favorecimentos na
remuneração por trabalho, também se opôs a escravidão do salário capitalista (i.e. lucrar
em cima do trabalho de outrem).

Proudhon defendia como sistema econômico alternativo o mutualismo, chamandoo os


trabalhadores a se auto-organizarem em sociedades democráticas, com condições
igualitárias para todos os seus membros, em prol do colapso do feudalismo”. Sob o
capitalismo, argumentava, os empregados são “subordinados, explorados” e a “condição
permanente daquele que obedece, é a escravidão”.
As idéias de Proudhon tiveram grande influência nos movimentos da classe operária
francesa, e seus seguidores foram ativos na revolução de 1848 na França bem como
durante a Comuna de Paris em 1871. No entanto, nas duas ocasiões havia outros grupos
de anarquistas ativos que ora concordavam, ora faziam frente aos seguidores de
Proudhon. Entre os anarquistas que participaram da Revolução de 1848 na França estão
incluídos Anselme Bellegarrigue, Ernest Coeurderoy eJoseph Déjacque, este último foi
a primeira pessoa a se autodeclarar um “libertário”. Déjacque foi também um crítico do
antifeminismo de Proudhon e de seu mutualismo, adotando uma posição anarco-
comunista.

Outros anarco-comunistas, como Kropotkin, posteriormente também discordariam de


Proudhon por sua defesa da “propriedade privada” na produção do trabalho (i.e.
trabalhos, ou “remuneração pelo trabalho feito”) ao invés da livre distribuição de produtos
do labor.

Anarcoindividualismo

A partir da influência da obra O único e sua propriedade escrita por Max Stirner e
publicada em Leipzig na Alemanha em 1844 surge uma nova vertente libertária
conhecida como anarquismo individualista ou abreviadamente anarcoindividualismo.
Neste livro Stirner lança uma crítica radical pró-indivíduo e antiautoritária sobre à
sociedade prussiana contemporânea e por extensão à toda sociedade ocidental. O livro
proclama que todas as formas de religião e ideologias, assim como o estado, a legislação
e os sistemas educacionais são ilegítimos por repousarem em conceitos vazios que
buscam limitar os indivíduos através da sobreposição da autoridade de uns sobre a
individualidade de outros.
Os argumentos apresentados por Stirner com base no criticismo hegeliano,
questionavam muitas das ideologias que a época eram populares entre elas o
nacionalismo, o estadismo, o liberalismo, o socialismo, o comunismo e o humanismo.

Socialismo libertário
Na segunda metade do século XIX o socialismo libertário ou anarquismo comunista
ganharia corpo a partir dos escritos de teóricos como Mikhail Bakunin e Piotr Kropotkin
em diálogo com a critica marxista do capitalismo, mas sintetizando também um outro
conjunto de críticas à proposta “estadista revolucionária” (ditadura do proletariado)
defendida por Marx e Engels para a superação do capitalismo, enfatizando a importância
de uma perspectiva comunal para manutenção da liberdade individual num contexto
social. Nesse sentido a alcunhaSocialismo libertário se contrapõe a perspectiva do
Socialismo autoritário defendido por Marx, Engels e outros autores identificados com
seus escritos.
Bakunin viu a necessidade de defender a classe trabalhadora contra a opressão e a
dominação da classe dominante como um meio de dissolver o estado. Kropotkin por sua
vez baseado em estudos de zoologia eevolução biológica concluiu que a cooperação
superava de longe a competição em sua importância para sobrevivência das espécies.
Em 1902 ele publicaria suas conclusões e suas críticas às idéias emergentes
deDarwinismo social em seu livro Mutualismo: Um Fator de Evolução.

Anarquismo ilegalista e Niilismo

Tendo suas bases na filosofia anarcoindividualista em um contexto de grande


perseguição e violência por parte dos estados nacionais para com os libertários o anarco-
ilegalismo ganhou força no final do século XIX na forma de ciclos de retaliação, vingança,
sabotagem e assassinatos orquestrados entre estadistas (reis, generais e presidentes)
e os ilegalistas, minoritários entre os libertários, em sua maioria adeptos da chamada
propaganda pelo Ato.
Acreditavam os ilegalistas que através de atos de violência e assassínios de figuras
chave do capitalismo seria possível alcançar um momento revolucionário onde o estado
e a dominação capitalista seriam abolidos. Sua forma mais radical surgiu na Rússia onde
na luta contra o estado e diante de um alto grau de repressão, diversos revolucionários
em sua guerra contra o poder consideravam que os poderes do estado deveriam ser
derrubados fosse qual fosse o custo. Este movimento ficou conhecido como Niilismo e
teve entre suas principais figuras o revolucionário Sergey Nechayev.
Tais ações na medida em que serviam de base para propaganda antianarquista bem
como justificativa para amplas perseguições a grupos libertários sem qualquer
envolvimento, foram amplamente refutadas por muitos outros anarquistas que as
consideravam ineficientes, nocivas e contra produtivas.
A despeito dos anarcoilegalistas e niilistas serem muito poucos se comparados às
demais vertentes, fundamentados em seus atos os propagandistas do anti-anarquismo
trabalharam durante muito tempo com o intuito de associar o anarquismo as imagens da
bomba, do punhal, assim como ao caos. Como em muitos casos, mais tarde outros
grupos anarquistas adotariam tais imagens como seus próprios símbolos.

Sobre os liberais

Os liberais foram frequentemente rotulados de “anarquistas” pormonarquistas, mesmo


quando não defendiam a abolição da hierarquia. Ainda assim, eles promoveram ideais
limitados de igualdade, através da defesa de direitos individuais, e da responsabilidade
dos povos de julgar seus governantes, providenciando uma base para o desenvolvimento
do pensamento anarquista. Desenvolvida com base nos preceitos liberais a sociedade
política estadunidense possui diversos pensadores cuja obra é considerada tanto pelos
liberais quanto pelos anarquistas, é o caso de Henry David Thoreau e sua
obra Desobediência civil. Como ele, outros liberais clássicos considerados radicais entre
seus pares acabaram por ser associados com a tradição do socialismo libertário.
Anarcocapitalismo surgiria bem mais tarde quando grupos de liberais defendendo
ideologias de livre-mercado ao ponto de negarem a necessidade do estado, aspecto no
qual se assemelharam ao anarquismo. Outros anarquistas argumentam que o
capitalismo é um sistema hierárquico que viola os princípios de não-hierarquia da filosofia
anarquista. Anarcocapitalistas e anarquistas (anticapitalistas) geralmente concordam
que o anarcocapitalismo é parte da tradição liberal clássica da escola libertariana de
pensamento ao invés de estar afiliado ao anarquismo “clássico”.
Liberais e neo-liberais não são anarquistas.

Século XX

Por todo o século XX, os anarquistas atuaram politicamente junto aos movimentos
operário, camponês e feminista. Muitos libertários também dedicaram suas vidas à luta
contra o autoritarismo, o racismo e o fascismo. A influência destas lutas sobre algumas
vertentes anarquista é notável.
Os anarquistas assumiram importantes papéis em diversas revoltas e revoluções no final
do século XIX e início doséculo XX, como o levante do exército negro na Ucrânia,
também conhecido como movimento makhnovistacontra as forças sovietes que
chegaram ao poder com a Revolução Russa em 1917.
No Brasil e na América do Sul junto com as levas de imigrantes vindos da Europa desde
a segunda metade do século XIX, o Anarquismo se fez conhecer, inicialmente através
de diversas publicações nas principais cidades. Logo floresceram centenas de sindicatos
anarquistas, centros culturais e escolas libertárias, a maioria delas de orientação anarco-
sindicalista. Pelo menos duas greves gerais ocorreram na década de 1910 e esta mesma
década terminaria com uma insurreição anarquista no ano de 1919paralisando a capital
do país.
Neste contexto no Brasil destacam-se as atuações de diversos ativistas entre
eles Edgard Leuenroth, Djalma Fettermann, Domingos Passos, José Oiticica, Maria
Lacerda de Moura, Neno Vasco Oreste Ristori, Gigi Damiani, Zenon de Almeida, Fábio
Luz, Florentino de Carvalho, Avelino Fóscolo entre outros.

Nos Estados Unidos, muitos dos imigrantes vindos da Europa no início deste século
também eram anarquistas. Grupos de libertários italianos se organizariam em diversas
atividades, algumas delas de cunho ilegalista na luta por melhores condições de trabalho
e contra a miséria a que estavam submetidos. Notável também foi a atuação dos
anarquistas judeus vindos da Rússia e Europa Oriental desde a segunda metade do
século XIX. Estes fundaram diversos jornais anarquistas que circulavam por redes
internacionais de informação e solidariedade.
Também no contexto estadunidense do início do século XIX foi especialmente marcante
os episódios referentes ao julgamento e condenação de Sacco e Vanzetti que por todo
mundo mobilizaram milhares de trabalhadores a tomarem as ruas em solidariedade e
exigindo justiça. Muitos sindicatos e organizações operárias norte-americanas de
orientação anarco-sindicalista desempenharam um papel importante na formação do
espectro político daquele país. Entre eles destacam-se a atuação histórica dos ativistas
da Industrial Workers of the World.
Merecem destaque no contexto estadunidense a atuação de Alexander Berkman, Emma
Goldman, Johann Most, Kate Austin, Lucy Parsons, Luigi Galleani, Voltairine de
Cleyre, Rudolf Rocker entre muitos outros.

Na Europa, no primeiro quarto do século XX, os movimentos anarquistas alcançaram


êxitos relativos, ainda que breve, e acabaram por ser violentamente reprimidos. No
entanto, nas décadas de 1920 e 1930, o conflito entre o anarquismo e o estado foi em
grande medida eclipsado pelo conflito entre o capitalismo e o comunismo – entre suas
vertentes o Liberalismo, o Fascismo, e o Stalinismo – que terminou com a derrota do
Fascismo Europeu na Segunda Guerra Mundial. Durante a Guerra Civil Espanhola– que
muitos consideram um preludio da Segunda Guerra – um amplo movimento anarquista
popular organizado em milícias e organizações operárias se estabeleceu na Catalunha
em 1936 e 1937 e coletivizou a terra e a indústria. Com o tempo e o crescimento dos
aparatos de controle stalinistas na República, os anarquistas foram primeiro colocados
de lado para depois serem esmagados. A ação stalinista beneficiaria a chegada ao poder
do regime franquista de orientação fascista, do qual os stalinista oficialmente fizeram
oposição.

Ao fim da Segunda Grande Guerra, a Europa estava dividida entre a região capitalista
sob a influência do liberalismo estadunidense, e a região comunista sob o controle da
União Soviética, estabelecendo as bases geográficas para a dicotomia política entre o
comunismo e o capitalismo que se espalharia pelo globo na forma de golpes,
insurreições, invasões e guerrilhas. No entanto, a influência filosófica do anarquismo
permaneceria latente até ressurgir na década de 1960.

Um ressurgimento do interesse popular no anarquismo se deu durante as décadas de


1960 e 1970. No Reino Unido ele esteve associado com o movimento Punk; a banda
Crass é celebrada por suas ideias pacifistas e anarquistas. Na Dinamarca, a Cidade Livre
de Christiania é fundada no subúrbio de Copenhagen. A crise de emprego e habitação
na maior parte do leste europeu leva a formação do movimento de comunas e okupas
que permanece vigoroso em diversas partes da Europa, principalmente na Espanha e
Alemanha.
Em 1980 novas vertentes do anarquismo ganham corpo nas reflexões e práticas de
grupos libertários que se distanciam do anarquismo clássico. De um lado o ecologismo
radical, rejeição da tecnologia moderna, e a crítica à civilização tornam-se as bases do
Anarcoprimitivismo defendido nas reflexões de teóricos como John Zerzan e nas práticas
de ativistas como Theodore Kaczynski o Unabomber.

Fonte: https://www.anarquista.net/historia-do-anarquismo/(Adaptado)

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