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termo anarquismo, é muito anterior a ela, e implica uma série de reflexões sobre
entendimentos possíveis das idéias de indivíduo, sociedade e liberdade, realizadas em
sociedades distintas, em diferentes momentos históricos.
De acordo com Harold Barclay antes do anarquismo ter surgido como uma perspectiva
distinta, seres humanos viveram milhares de anos em sociedades sem
governo. Anarcoprimitivistas também acreditam que, por um longo período antes da
história escrita, as sociedades humanas foram organizadas por princípios anárquicos.
No entanto, existe um debate sobre as evidências antropológicas nas quais esta
afirmação se fundamenta. Foi somente depois do surgimento das sociedades
hierárquicas que as idéias anarquistas foram formuladas como uma resposta crítica e
rejeição a toda forma de instituição política coercitiva baseada em relações sociais
hierárquicas.
Muitos anarquistas não primitivistas consideram equivocada as especulações dos
primitivistas, uma vez que a limitação dos registros e as analogias com as sociedades
autóctones contemporâneas possuem claras limitações de contexto. Outros consideram
ainda que a crença primitivista de uma pré-história libertária tem seu fundamento em um
arcabouço mitológico ocidental que remete a era de ouro da antiguidade grega em que
“homens e animais viviam em harmonia”, e ao jardim do Éden cristão “antes do pecado
original”; mas também em mitos modernos decorrentes de leituras enviesadas da própria
filosofia ocidental como o “bom selvagem” deJean Jacques Rousseau.
O radicalismo dos primitivistas normalmente é refutado pelas outras vertentes
anarquistas….
Além disso o anarco-primitivismo se difere do anarquismo verde, que é bem mais atual,
ao qual não vê o mau na tecnologia e sim na sua aplicação.
A Grécia Antiga também viu florescer a primeira instância do anarquismo enquanto ideal
filosófico. Os Cínicos Diógenes de Sínope e Crates de Tebas advogaram por formas
anárquicas de sociedade, mas pouco resta de seus escritos. O filósofo Zenão de Cítio o
fundador do Estoicismo, muito influenciado pelos Cínicos, descreveu sua visão de uma
sociedade horizontal em torno de 300 a.C. A República de Zenão se baseava em uma
forma de anarquismo onde não existia necessidade de estruturas estatais. Zenão era,
de acordo com Kropotkin, “O maior expoente da filosofia anarquista na Grécia Antiga”.
Como resumido por Kropotkin, Zenão “repudiava a onipotência do estado, sua
intervenção e regimentação, e proclamava a soberania da lei moral do indivíduo”. Na
filosofia grega, a visão de Zenão de comunidade livre sem governo é oposta a utopia
pró-estatal da República de Platão. Em oposição a Platão, Zenão argumentava que a
razão poderia substituir a autoridade na administração dos assuntos humanos. Sua
defesa da anarquia se baseava na premissa de que o instinto de auto-preservação
necessariamente levaria os humanos ao egoísmo, no entanto, a natureza teria suprido o
homem com um corretivo para esse aspecto, um outro instinto desociabilidade.
Como muitos anarquistas modernos, ele acreditava que se fosse permitido aos povos
seguissem seus instintos, não precisariam de leis, cortes ou polícia, nem de templos ou
espaços de adoração pública, não utilizariam dinheiro e formas de economia do dom
tomariam seu lugar nas trocas. As reflexões de Zenão só chegaram até
contemporâneidade na forma de trechos fragmentados.
Em Atenas, o ano 404 a.C. foi comumente conhecido como “o ano da anarquia”. De
acordo com o historiado Xenofonte, trata-se de fato de um período em que Atenas foi
governada pela oligarquia dos “Trinta”, instalada pelos espartanos após sua vitória na
segunda guerra do Peloponeso, e devido ao fato de que existia um Arconte no governo,
nomeado pelos oligarcas, na pessoa de Pythodorus, os atenienses se recusaram a
aplicar na ocasião seu costume de chamar o ano pelo nome do arconte, preferindo
chamá-lo de ‘ano da anarquia'”.
Na China em 600 AC, o pensador taoísta Lao Zi foi o principal responsável pelo
desenvolvimento do princípio de “não-comando” no Tao Te Ching, importante texto do
taoísmo filosófico. Com base neste princípio muitos taoístas passaram a viver nos
conformes com um modo de vida muito semelhante àquele chamado de “anarquista” na
modernidade.
Em 300 AC, também o filósofo Bao Jingyan advogaria abertamente por uma sociedade
que não estivesse baseada na existência de senhores ou servos.
Para Leo Tolstoi, o Anarquismo Cristãotem como um dos seus mais importantes
expoentes em Gerrard Winstanley, que fazia parte dos movimento dos Diggers na
Inglaterra durante a Guerra Civil Inglesa. Em seus escritos, Winstanley afirmava que as
“bençãos da terra” deveriam “ser comuns a todos… e nenhum senhor sobre os
demais.” Em um de seus panfletos em meio ao século XVII, Winstanley defendia a
criação de pequenas comunas agrárias de propriedade coletiva economia socialmente
organizada, que entrariam para a história como os agrarianos.
Século XVIII
Thomas Jefferson também manifestou sua opinião sobre a sociedade sem governo:
A base dos nossos governos é a opinião do povo, o mais fundamental dos objetivos
deveria ser manter esse direito; e se fosse deixado para mim decidir se deveríamos ter
um governo sem imprensa ou imprensa sem um governo, eu não hesitaria um momento
em optar pelo o último. Mas o que quero dizer é que cada homem deve receber esses
jornais e ser capaz de lê-los. Estou convencido que aquelas sociedades (como as dos
índios) que vivem sem governo contam em sua maior parte com um grau infinitamente
maior de felicidade que aqueles que vivem sob os governos europeus. Entre os
primeiros, a opinião pública substitui a lei e cria freios morais mais poderosos do que as
leis jamais serão onde quer que existam. Entre os últimos, sob a desculpa de governar,
eles dividem suas nações em duas classes, os lobos e as ovelhas. Não estou
exagerando. Esta é uma descrição verídica da Europa.
Piotr Kropotkin considera que William Godwin através de sua obra Inquérito acerca da
justiça política de 1793, foi o “primeiro a formular as concepções políticas e econômicas
do Anarquismo defendendo explicitamente a abolição de todas as formas de governo.
No entanto, neste texto Godwin não utilizou a palavra anarquismo por considerar a época
um termo pejorativo, uma forma de insulto comum a todo pensamento e ação
progressistas e revolucionários. Nesta obra Godwin defendeu a abolição do governo
através de um processo gradual de reforma e esclarecimento. Por suas idéias Godwin é
considerado nos dias de hoje um dos fundadores do “Anarquismo filosófico e um dos
antecessores do utilitarismo.”
Século XIX
Em 1825 nos Estados Unidos, Josiah Warren participou da comunidade experimental
pensada por Robert Owen chamada New Harmony, que desapareceu alguns poucos
anos depois devido a conflitos internos. Em 1827, com New Harmony desintegrada, ele
retornou a Cincinnati. Como Kenneth Rexroth escreveu, “quase todos os críticos de New
Harmony disseram que ela havia falhado pela falta de uma liderança forte, disciplina e
comprometimento. Warren chegou a conclusão exatamente oposta.” Warren condenou
a falta de soberania individual da comunidade como o motivo principal do fracasso da
experiência. Ele se esforçaria ainda para organizar outras comunidades anarquistas
como a Utopia e a Modern Times.
Anarcoindividualismo
A partir da influência da obra O único e sua propriedade escrita por Max Stirner e
publicada em Leipzig na Alemanha em 1844 surge uma nova vertente libertária
conhecida como anarquismo individualista ou abreviadamente anarcoindividualismo.
Neste livro Stirner lança uma crítica radical pró-indivíduo e antiautoritária sobre à
sociedade prussiana contemporânea e por extensão à toda sociedade ocidental. O livro
proclama que todas as formas de religião e ideologias, assim como o estado, a legislação
e os sistemas educacionais são ilegítimos por repousarem em conceitos vazios que
buscam limitar os indivíduos através da sobreposição da autoridade de uns sobre a
individualidade de outros.
Os argumentos apresentados por Stirner com base no criticismo hegeliano,
questionavam muitas das ideologias que a época eram populares entre elas o
nacionalismo, o estadismo, o liberalismo, o socialismo, o comunismo e o humanismo.
Socialismo libertário
Na segunda metade do século XIX o socialismo libertário ou anarquismo comunista
ganharia corpo a partir dos escritos de teóricos como Mikhail Bakunin e Piotr Kropotkin
em diálogo com a critica marxista do capitalismo, mas sintetizando também um outro
conjunto de críticas à proposta “estadista revolucionária” (ditadura do proletariado)
defendida por Marx e Engels para a superação do capitalismo, enfatizando a importância
de uma perspectiva comunal para manutenção da liberdade individual num contexto
social. Nesse sentido a alcunhaSocialismo libertário se contrapõe a perspectiva do
Socialismo autoritário defendido por Marx, Engels e outros autores identificados com
seus escritos.
Bakunin viu a necessidade de defender a classe trabalhadora contra a opressão e a
dominação da classe dominante como um meio de dissolver o estado. Kropotkin por sua
vez baseado em estudos de zoologia eevolução biológica concluiu que a cooperação
superava de longe a competição em sua importância para sobrevivência das espécies.
Em 1902 ele publicaria suas conclusões e suas críticas às idéias emergentes
deDarwinismo social em seu livro Mutualismo: Um Fator de Evolução.
Sobre os liberais
Século XX
Por todo o século XX, os anarquistas atuaram politicamente junto aos movimentos
operário, camponês e feminista. Muitos libertários também dedicaram suas vidas à luta
contra o autoritarismo, o racismo e o fascismo. A influência destas lutas sobre algumas
vertentes anarquista é notável.
Os anarquistas assumiram importantes papéis em diversas revoltas e revoluções no final
do século XIX e início doséculo XX, como o levante do exército negro na Ucrânia,
também conhecido como movimento makhnovistacontra as forças sovietes que
chegaram ao poder com a Revolução Russa em 1917.
No Brasil e na América do Sul junto com as levas de imigrantes vindos da Europa desde
a segunda metade do século XIX, o Anarquismo se fez conhecer, inicialmente através
de diversas publicações nas principais cidades. Logo floresceram centenas de sindicatos
anarquistas, centros culturais e escolas libertárias, a maioria delas de orientação anarco-
sindicalista. Pelo menos duas greves gerais ocorreram na década de 1910 e esta mesma
década terminaria com uma insurreição anarquista no ano de 1919paralisando a capital
do país.
Neste contexto no Brasil destacam-se as atuações de diversos ativistas entre
eles Edgard Leuenroth, Djalma Fettermann, Domingos Passos, José Oiticica, Maria
Lacerda de Moura, Neno Vasco Oreste Ristori, Gigi Damiani, Zenon de Almeida, Fábio
Luz, Florentino de Carvalho, Avelino Fóscolo entre outros.
Nos Estados Unidos, muitos dos imigrantes vindos da Europa no início deste século
também eram anarquistas. Grupos de libertários italianos se organizariam em diversas
atividades, algumas delas de cunho ilegalista na luta por melhores condições de trabalho
e contra a miséria a que estavam submetidos. Notável também foi a atuação dos
anarquistas judeus vindos da Rússia e Europa Oriental desde a segunda metade do
século XIX. Estes fundaram diversos jornais anarquistas que circulavam por redes
internacionais de informação e solidariedade.
Também no contexto estadunidense do início do século XIX foi especialmente marcante
os episódios referentes ao julgamento e condenação de Sacco e Vanzetti que por todo
mundo mobilizaram milhares de trabalhadores a tomarem as ruas em solidariedade e
exigindo justiça. Muitos sindicatos e organizações operárias norte-americanas de
orientação anarco-sindicalista desempenharam um papel importante na formação do
espectro político daquele país. Entre eles destacam-se a atuação histórica dos ativistas
da Industrial Workers of the World.
Merecem destaque no contexto estadunidense a atuação de Alexander Berkman, Emma
Goldman, Johann Most, Kate Austin, Lucy Parsons, Luigi Galleani, Voltairine de
Cleyre, Rudolf Rocker entre muitos outros.
Ao fim da Segunda Grande Guerra, a Europa estava dividida entre a região capitalista
sob a influência do liberalismo estadunidense, e a região comunista sob o controle da
União Soviética, estabelecendo as bases geográficas para a dicotomia política entre o
comunismo e o capitalismo que se espalharia pelo globo na forma de golpes,
insurreições, invasões e guerrilhas. No entanto, a influência filosófica do anarquismo
permaneceria latente até ressurgir na década de 1960.
Fonte: https://www.anarquista.net/historia-do-anarquismo/(Adaptado)