(rápidas análises)
Fonte de Pesquisa: http://www.releituras.com/machadodeassis_bio.asp
Acesso: 05 de janeiro de 2013
Poesia
Prof. Raul Castro
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Elementos da Narrativa e casos, essas referências são implícitas, só podem ser
percebidas por leitores familiarizados com as grandes obras da
Características literatura. Esse é um dos motivos de se poder dizer que o estilo
Autoria: Prof. Raul Castro de Machado é um estilo "culto" (pois ele faz uso da cultura e sua
LINGUAGEM e ESTILO: compreensão aprofundada exige cultura da parte do leitor).
Elaborada em uma linguagem bem simples, pode-se Costuma-se chamar intertextualidade a esse diálogo que se
considerar uma característica de um pré-realismo, a linguagem estabelece, no texto de um escritor, com textos de outros
na obra é a mesma adotada no resto de suas obras. autores, do presente ou do passado. Machado de Assis foi um
O estilo de Machado de Assis assume uma originalidade grande virtuose da intertextualidade.
despreocupada com as modas literárias dominantes de seu Em seus romances mais importantes, Machado de Assis
tempo. Mesmo suas obras iniciais — Ressurreição, Helena, Iaiá pratica a interpolação de episódios, recordações, ou reflexões
Garcia — que eram pertencentes ao Romantismo (ou ao que se afastam da linha central da narrativa. Essas
convencionalismo), possuem uma ainda tímida análise do "intromissões" de elementos que aparentemente se desviam do
interior das personagens e do homem diante da sociedade, que tema central do livro correspondem a procedimentos chamados
ele virá mais amplamente desenvolver em suas obras do digressões. As digressões são, naturalmente, muito mais
Realismo. Os acadêmicos notam cinco fundamentais comuns nos romances do que nos contos, pois nestes a
enquadramentos em seus textos: "elementos clássicos" brevidade do texto não permite constantes retardamentos da
(equilíbrio, concisão, contenção lírica e expressional), "resíduos narrativa. Nessas digressões, Machado é constantemente
românticos" (narrativas convencionais ao enredo), seduzido pelo impulso de falar sobre a própria obra que está
"aproximações realistas" (atitude crítica, objetividade, temas escrevendo, isto é, faz metalinguagem, comentando os
contemporâneos), "procedimentos impressionistas" (recriação do capítulos, as frases, a organização do todo. Embora também
passado através da memória), e "antecipações modernas" (o presente nos contos, esses elementos de metalinguagem são
elíptico e o alusivo engajados à um tema que permite diversas neles bem mais raros e discretos.
leituras e interpretações). Uma das características mais atraentes e refinadas de
Machado de Assis é sua ironia, uma ironia que, embora chegue
O estudioso Francisco Achcar traça um plano francamente ao humor em certas situações, tem geralmente uma
resumidamente no estilo de Machado de Assis, escrevendo: sutileza que só a faz perceptível a leitores de sensibilidade já
"[...] alguns dos pontos mais importantes da prosa narrativa treinada em textos de alta qualidade. Essa ironia é a arma mais
machadiana: corrosiva da crítica machadiana dos comportamentos, dos
Machado é o grande mestre do foco narrativo de primeira costumes, das estruturas sociais. Machado a desenvolveu a
pessoa, embora tenha exercido com mestria também o foco de partir de grandes escritores ingleses que apreciava e nos quais
terceira pessoa. Ele sabe colocar-se no lugar de um narrador se inspirou (sobretudo o originalíssimo Lawrence Sterne,
hipotético e vivenciar todos os seus grandes problemas. romancista do século XVIII). Na representação dos
Ao contrário dos realistas, que eram muito dependentes de comportamentos humanos, a ironia de Machado de Assis se
um certo esquematismo determinista (isto é: pensavam que associa àquilo que é classificado como o seu grande poder
tudo, no comportamento humano, era determinado por causas 'analista da alma humana'."
precisas), Machado não procura causas muito explícitas ou Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Estilo_de_Machado_de_Assis
claras para a explicação das personagens e situações. Ele sabe
deixar na sombra e no mistério aquilo que seria inútil explicar. Ainda no estilo machadiano não podemos esquecer de que
Foi justamente por não tentar explicar tudo que Machado não ele falava com o leitor, como podemos ver nessa passagem na
caiu na vulgaridade de muitos realistas, como Aluísio Azevedo. página 31 onde se usa até mesmo pronomes na 1º pessoa do
Há coisas que não se explicam, coisas que só podem ter plural:
descrição discreta. Nisso, Machado de Assis foi um grande Eugênia desfiou uma historiazinha de toucador, que
mestre. omito em suas particularidades por não interessar ao nosso
A frase machadiana é simples, sem enfeites. Os períodos caso, bastando saber que a razão capital da divergência
em geral são curtos, as palavras muito bem escolhidas e não há entre as duas amigas fora uma opinião de Cecília acerca da
vocabulário difícil (alguma dificuldade que pode ter um leitor de escolha de um chapéu.
hoje se deve ao fato de que certas palavras caíram em desuso).
Mas com esses recursos limitados Machado consegue um estilo Os aforismos
de extraordinária expressividade, com um fraseado de agilidade Ainda no estilo machadiano podemos encontrar os
incomparável. aforismos: [Do gr. aphorismós, “limitação; definição; breve
A descrição dos objetos se limita ao que neles é funcional, definição, sentença”.] Aparece, na maioria dos dicionários, com
ou seja, àquilo que tenha que ver com a história que está sendo este sentido, ou seja, com uma definição semelhante à de
contada. O espaço é singelo, reduzido, e as coisas descritas provérbio, dito, ditado, dizer, adágio, rifão, anexim e à de
parecem participar intimamente do espírito da narrativa. máxima, sentença, apotegma, sendo as fronteiras entre estes
Uma das maiores características da prosa de Machado de termos pouco definidas. O aforismo e esta segunda série de
Assis é a forma contraditória de apreensão do mundo. Machado termos podem ter, no entanto, uma dimensão mais culta. Surge
em geral apanha o fato em suas versões antagônicas, e isso lhe como ponto de contacto entre o filosófico e o literário: ”Forme de
dá um caráter dilemático. É também uma forma superior e mais transition qui organise le général et lui impose l’empreinte de
completa de ver as coisas. Machado tem os olhos voltados para l’individuel, l’aphorisme se trouve à la frontière de la philosophie”
as contradições do mundo. (Silvian Iosifescu, “L’aphorisme et la poésie des idées”, Cahiers
Chamamos aparência aquilo que aparece a nossos olhos, roumains d’études littéraires, 1, 1987, p.54). Deve ser analisado
aquilo que primeiramente surge à observação; chamamos segundo o conteúdo semântico e os padrões estruturais. É um
essência aquilo que consideramos a verdade, aquilo que é estilo de discurso ligado à percepção do mundo e que pode
encoberto pela aparência. Mas o que tomamos por essência contribuir para a expressividade da mensagem.
pode não ser mais do que outra aparência. O estilo machadiano A análise linguística dos aforismos pode revelar certas
focaliza as personagens de fora para dentro, vai descascando as estratégias lexicais, sintácticas e semânticas. Assim, para além
pessoas, aparência atrás de aparência. Por isso, Machado é do conteúdo, deve-se ter em conta a forma de expressão,
considerado grande "analista da alma humana". normalmente curta e concisa. Tem habitualmente sentido
A linguagem machadiana faz referências constantes aos figurado e grande expressividade estilística. A sua função
estilos de outros grandes autores do Ocidente. Na maioria dos pragmática é fundamental. A forma lacónica, de expressão curta,