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2 DESENVOLVIMENTO

A democracia pode ser definida como o “governo do povo e para o povo”. Ou


seja, o poder de tomar importantes decisões políticas está com o povo. Este aparelho
político contrapõe-se as formas de ditadura e totalitarismo, onde o poder reside em
uma elite auto eleita.

É importante ressaltar que para se chegar a conquista do governo


democrático no Brasil existiram grandes entraves na história e toda uma luta na
caminhada sócio-política e econômica bastante difícil.

Após a queda do Estado Novo a pátria confrontou-se com os problemas do


aprendizado da democracia, e a nova carta magna mostrou que havia anseio de
romper com esse obstáculo. Contudo, a exaltação libertária dos períodos iniciais foi
dando espaço às injeções da polarização política derivada das transformações
ocorridas no mundo em razão da Guerra Fria. A ação dessa categoria dos rumos do
país demonstrou-se, inicialmente, em recaída autoritária, que atingiram comunistas e
sindicatos. Posteriormente reverteu-se no deslocamento da confrontação política para
a definição das estratégias, mas adequada a fim de inserir o Brasil na nova ordem
mundial com base na indiscutível adesão ao modelo capitalista de organização
econômica e social (CHAUI, 1994).

Posteriormente a segunda eleição de Getúlio Vargas, sobrevindo pela era


Juscelino Kubistchek e pelo momento subsequente e mesmo durante os anos de
pesados da ditadura militar, os protagonistas da política brasileira, fossem eles
partidos, setores organizados da população, lideranças políticas ou militares, meios
de comunicação de massa, fossem de oposição ou situação, citavam em suas falas,
obrigatoriamente, alguma crítica ao atraso socioeconômico e uma promessa de
superá-lo (SOUZA, 2012).

Essa postura resultou tanto em longos períodos de vertiginoso dinamismo


econômico quanto em profundas transformações estruturais da sociedade brasileira.
De agrícola e rural, o país passou a constituir uma economia complexa e com uma
sociedade predominantemente urbanizada.
A celeridade dessas mudanças ocasionou em desequilíbrios de ordem
regional, social e cultural, dos quais repercutiram problemas que se transformaram
em ações políticas, as quais colaboraram e xeque as estruturas do poder. Pode-se
perceber esse fato em 1964, 1968, 1978, 1986 e 1992, revelando que a sociedade,
ou setores dela capazes de se fazer ouvir, buscavam de dentro de si as soluções para
as dificuldades com as quais se deparava. A reação à emergência de demandas que
irrompiam da multiforme experiência vivida pelo conjunto da sociedade brasileira
revelou tanto a extensão do arcaísmo atávico dos donos do poder quanto sua
extraordinária capacidade de adaptação e de sobrevivência. E isso se deu recorrendo
à violência mais radical ou mediante o uso da persuasão, da negociação ou, no limite,
do cooptação de antigos adversários políticos cuja adesão os reforça.

Os aspectos sócio-político e cultural expostos espelham a urgência de um


povo na busca da democratização. No entanto, é importante observar que ela interfere
abruptamente em todos os setores da sociedade, exigindo uma ruptura a paradigmas
e obrigando uma nova forma de pensar como afirma Bobbio (2000, p. 17):

“Sabemos por experiência própria que no momento mesmo em que a


democracia se expande ela corre o risco de se corromper, já que se encontra
continuamente diante de obstáculos não previstos que precisam ser
superados sem que se altere a sua própria natureza, e está obrigada a se
adaptar continuamente à invenção de novos meios de comunicação e de
formação da opinião pública, que podem ser usados tanto para infundir-lhe
nova vida quanto para entorpecê-la”.

2.1 Uma reflexão sobre a democracia no mundo

Há de se convir que a democracia foi o sistema de governo mais valorizado


ao longo do século XX. Durante este tempo, a maioria das sociedades que passaram
por transições políticas de consequências marcantes acabou por optar pela adoção
de instituições democráticas na intenção de promover mecanismos mais estáveis e
legítimos de produção da decisão política (LIJPHART, 2000).

A ideia de democracia se desenvolveu em todo o mundo, conforme pode-se


perceber na literatura da teoria social contemporânea, inclusive para aqueles
domínios que se encontram além do campo político, a exemplo da esfera familiar, do
trabalho e da escola.

De acordo com Bobbio (2000) este acontecimento aparenta ser apropriado


ainda que se esteja tratando de países tão diferentes nas dimensões econômica,
social e cultural. Dito de outro modo, mesmo que a profundidade e o enraizamento
das estruturas democráticas em cada uma das nações, bem como os traços de suas
culturas políticas, sejam distintos, é comum encontrar análises nas quais se defende
que as democracias contemporâneas tanto compartilham valores típicos apregoados
pelo ideal deste regime de governo (o voto universal, o parlamento deliberativo, a
prestação de contas etc.), quanto enfrentam problemas semelhantes.

Sob esse panorama, às congratulações feitas à difusão da democracia é


contestada pelo pessimismo concernente ao funcionamento prático deste regime de
governo. Um dos posicionamentos mais aceitos por uma parcela dos pensadores da
teoria política é a de que, não obstante sua tendência de generalização, a democracia
pouco teria se aprofundado desde que assumiu sua forma moderna (RIBEIRO, 1995).

Em outras palavras, sobre a timidez das práticas democráticas em eliminar


antigos problemas do sistema político com os quais tal regime houvera prometido lidar
quando de sua batalha contra o Absolutismo.

Sobre o assunto Bobbio (2000) defende que, um conjunto de grandes


problemas comuns enfrentados pelas democracias contemporâneas que
permanecem sem uma resolução satisfatória, contrariando o que se havia
compromissado quando das revoluções que marcaram o início da Era Moderna. Um
exemplo apontado é a sobrevivência de determinadas oligarquias; a persistência de
poderes invisíveis (tais como os da inteligência a serviço de estados, que pouco
contribui para a democratização do sistema internacional; e, ainda sugere que os
cidadãos ainda não atingiram um patamar razoável no que se refere à aquisição
conhecimento para uma atuação política adequada.

Além dos problemas apontados pelo autor supracitado, diversos outros


questionamentos catalogam o debate sobre as dificuldades das democracias
contemporâneas, onde pode-se citar, o diagnóstico de que há uma dissociação entre
justiça política e justiça social (THOMPSON, 1998).
Ainda sobre esse mesmo prisma, Marques (2009) cita o emprego recorrente
de táticas que visam privilegiar expectativas particularistas por meio de recursos do
estado, em detrimento do interesse público, concretizando o que se chama de
advocacia administrativa; e, ainda, é preciso fazer alusão aos índices decrescentes
de confiança dos cidadãos no sistema político.

Pode-se pensar que estes problemas sejam mais intensos em democracias


que, historicamente, mostram certa instabilidade ou naquelas de sedimentação mais
recente, como é o caso dos países latino-americanos e de alguns do leste europeu.
O fato, contudo, é que o mal-estar quanto ao desempenho das instituições
democráticas provoca preocupações mesmo em democracias maduras.

O entendimento de alguns estudiosos da teoria política a respeito de um


regime de governo que sofre de deficiências em sua dimensão institucional (pois
apresenta problemas persistentes em se desvencilhar de dificuldades tais como o
combate às oligarquias e a representação de interesses particulares) e em sua
dimensão social só poderia indicar falhas (MARQUES, 2009).

Para aqueles que ressaltam as dificuldades atuais da democracia a partir da


comparação entre aquilo traçado como projeto e as práticas políticas, não houve (não
obstante a hegemonia conquistada no último século por este regime) a criação de
novos mecanismos institucionais a permitirem sua maior consolidação e legitimidade,
deixando-se de atender, assim, às várias expectativas do ideário moderno. (MANIN,
1997).

Esta análise, todavia, está longe de ser verdade universal. Não é por
especificar um conjunto de problemáticas que fixam sérias dificuldades à consecução
do ideal democrático, ou mesmo por reconhecer que a democracia deve ser
aprofundada, é fato que ela agoniza ou enfrenta uma crise de remediação dificultosa.

Bobbio (2000) entende que um regime de governo que se tornou tão


amplamente adotado e que fez avançar de forma vigorosa determinados princípios
políticos está moribundo. A democracia não goza no mundo de ótima saúde, como de
resto jamais gozou no passado, mas não está à beira do túmulo. Ela está em
constante processo de transformação, dadas sua dinâmica própria e suas tentativas
de procurar dar respostas a novas demandas que se colocam na pauta de
preocupações de agentes do estado e de atores sociais.
2.2 A transição democrática brasileira

No Brasil, assim como em outras nações que adotaram o regime democrático


também enfrenta grandes problemas com relação a esse regime de governo,
principalmente pela adoção recente a esse sistema.

Em nosso país, o processo de democratização teve início em 1984, após duas


décadas em regime ditatorial, um processo de transição democrática ocorreu quando
o primeiro presidente civil assumiu o executivo por meio de eleições indiretas. Porém,
antes de impetrar a democracia, o Brasil passou por muitos momentos políticos.

Nos tempos das colônias, os direitos políticos eram restritos a uma pequena
quantidade de proprietários de terras, que eram chamados de “homens bons”, a época
do coronelismo. Cabia a eles decidir quem ocuparia cada um dos cargos mais
importantes, além de quais leis entrariam em vigor. Eram realizadas associações entre
elites, e era nítida a exclusão política (PETTA, 2003).

Com a chegada do século XVIII, principiaram as revoltas coloniais baseadas


em ideais iluministas no Brasil. Neste período, em casos como o da Inconfidência
Mineira, havia exigências da criação de um governo republicano que, apesar de ter
direitos, não poderia ser comparada com a busca pela democracia, uma vez que ainda
existia escravidão neste novo regime.

Na ocasião em que houve a independência do Brasil, uma elite era vista


interessada em realizar o fim do pacto colonial. Tratava-se de um acordo onde as
metrópoles aplicavam leis e regras às suas colônias para controlar as compras e
vendas, de forma que só pudessem adquirir e vender produtos de sua própria
metrópole. Dessa forma, as metrópoles europeias tinham seus lucros garantidos no
comércio bilateral, uma vez que compravam matéria-prima a um preço baixo e
vendiam os produtos manufaturados com preços altos. As metrópoles proibiam
completamente o comércio de suas colônias com outros países, ou ainda, como uma
forma de controlar, implantavam altíssimos impostos de forma a inibir essa prática
(COTRIM, 1998).

Ainda sobre a época da independência brasileira, de acordo com Bresser


Pereira (1989) a escravidão foi mantida, mas foi instalado o voto censitário, que
estabeleceu a participação política destinada a uma elite privilegiada. Após esse
período, muitas mudanças ocorreram, como a abolição da escravatura e o direito ao
voto, mas ainda não existia a democracia social.

Durante a primeira república, o sistema eleitoral era corrompido e


completamente corrompido por mecanismos de alternância das oligarquias de poder.
Nesta época, as cidades cresciam, aumentando também o eleitorado. Em 1930
aconteceu uma revolução, e por meio dela, Getúlio Vargas assumiu o poder. A
corrupção e a exclusão política eram tremendas, e Vargas realizou ações contra
os regimes totalitários.

Em 1945, Vargas deixou o posto para que ocorressem eleições e o exercício


da cidadania. Entre 45 e 64, as instituições democráticas se desenvolviam, mas a
desigualdade social crescia. Houve o aumento da dívida externa, e os movimentos
sociais começaram a exigir mudanças e transformações mais aparentes e
significativas para a população (COTRIM, 1998).

Em 1964, houve então o golpe militar, tornando quase inexistentes as


liberdades democráticas do país. Os militares diziam haver uma ameaça de revolução
comunista no país, e instalaram, sob este pretexto, o sistema bipartidário. Apenas
vinte anos depois, os militares saíram do poder e voltaram as eleições diretas. Muitos
partidos se firmaram e houve o retorno da democracia.

Com a escolha de Fernando Henrique Cardoso, em 1995 para presidência da


república, na teoria, o Brasil adentrava o caminho da democracia social. No entanto,
não foi o que ocorreu. Seu governo foi a continuação das políticas neoliberais de
Fernando Collor de Mello, seu antecessor que sofreu impeachment sendo substituído
pelo seu vice, Itamar Franco, que também manteve as mesmas políticas. O processo
todo envolveu autonomia do mercado frente à união, privatização de empresas
estatais e o abandono do estado de bem estar social.

Essas variações na presidência resultaram em muitos problemas


generalizados para o Brasil, acarretando a perda do poder aquisitivo salarial e o
desamparo às necessidades dos cidadãos. Passados oito anos de governo, o país
continuava com o mesmo panorama de semianalfabetíssimo, subnutrição e
miserabilidade (PETRIN, 2014).

O governo do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva e da Presidenta Dilma


Roussef a frente do Partido dos Trabalhadores – PT propôs em seu plano de governo
e bandeira da campanha o combate à desigualdade social, com programas sociais e
assistencialismo, vendendo a ideia de crescimento econômico e redistribuição de
renda.

Alguns pensadores das ciências políticas e jornalistas especialistas da área


afirmam que o Brasil pode ser considerado um país democrático devido às suas
conquistas de liberdade de expressão e de associação, de direito de voto e informação
alternativa, de direito dos líderes políticos competirem por apoio, da elegibilidade para
cargos públicos e das eleições livres.

Apesar disso, é importante ressaltar que o povo tem aparecido com uma fome
de política e democracia incessante. Prova disso são as manifestações que tem
emergido de forma significativa e frequente no país. Apesar das políticas
assistencialistas do atual governo, a sociedade tem clamado por justiça social e
melhora na qualidade de vida. Posicionando-se nas ruas desde a estagnação ao
aumento de passagens de ônibus até o impeachment da presidenta da república.

No entanto, ainda há muito o que se pensar e se fazer com relação a


democracia no país, pois como a definição da palavra diz é o poder do povo, contudo,
com as mazelas sociais, o desemprego, a alta da inflação, a recessão entre outras
problemáticas a sociedade tem se posicionado descrente em redes sociais em
manifestações com relação ao que o país se intitula: um Estado Democrático de
Direitos.

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