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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

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28/05/2019 PRIMEIRA TURMA

AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 809.489 S ÃO


PAULO

RELATORA : MIN. ROSA WEBER


AGTE.(S) : APAS - ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE
SUPERMERCADOS
ADV.(A/S) : ROBERTO LONGO PINHO MORENO E OUTRO(A/S)
AGDO.(A/S) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE
SÃO PAULO
AGDO.(A/S) : PREFEITO DO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DO RIO
PRETO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO MUNICÍPIO DE SÃO
JOSÉ DO RIO PRETO

EMENTA

DIREITO CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA DO MUNICÍPIO.


TEMPO DE ESPERA EM FILAS DE ESTABELECIMENTOS
COMERCIAIS. INTERESSE LOCAL. AGRAVO REGIMENTAL.
INSURGÊNCIA VEICULADA CONTRA A APLICAÇÃO DA
SISTEMÁTICA DA REPERCUSSÃO GERAL. ARTS. 543-B DO CPC/1973,
1036 A 1040 DO CPC/2015 E 328 DO RISTF. AGRAVO MANEJADO SOB
A VIGÊNCIA DO CPC/1973.
1. Exaustivamente examinados os argumentos veiculados no agravo
regimental, porque adequada à espécie, merece manutenção a sistemática
da repercussão geral aplicada (arts. 543-B do CPC/1973, 1036 a 1040 do
CPC/2015 e 328 do RISTF).
2. Agravo regimental conhecido e não provido.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do


Supremo Tribunal Federal em conhecer do agravo e negar-lhe
provimento, nos termos do voto da Relatora e por maioria de votos, em
sessão da Primeira Turma, sob a Presidência do Ministro Luiz Fux, na

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conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas. Vencido o


Ministro Alexandre de Moraes. Não participou, justificadamente, deste
julgamento, o Ministro Luís Roberto Barroso.

Brasília, 28 de maio de 2019.

Ministra Rosa Weber


Relatora

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PAULO

RELATORA : MIN. ROSA WEBER


AGTE.(S) : APAS - ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE
SUPERMERCADOS
ADV.(A/S) : ROBERTO LONGO PINHO MORENO E OUTRO(A/S)
AGDO.(A/S) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE
SÃO PAULO
AGDO.(A/S) : PREFEITO DO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DO RIO
PRETO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO MUNICÍPIO DE SÃO
JOSÉ DO RIO PRETO

RELATÓRIO

A Senhora Ministra Rosa Weber (Relatora): Contra o comando pelo


qual aplicada ao feito a sistemática da repercussão geral (arts. 543-B do
CPC/1973, 1036 a 1040 do CPC/2015 e 328 do RISTF), maneja agravo
regimental a Associação Paulista de Supermercados (APAS).
A matéria debatida, em síntese, diz com a competência do município
para legislar sobre tempo de espera em filas de supermercados e
hipermercados e a alegação de violação do princípio da livre iniciativa.
A agravante ataca a decisão impugnada, ao argumento de que a
matéria é diversa do paradigma indicado, “Isso porque, no caso em concreto,
não tratamos de lei local editada para estabelecer limite de tempo para espera em
fila de bancos, mas sim de lei Municipal prevendo a obrigação de supermercados
contratarem mão de obra específica com a finalidade de que o atendimento ao
consumidor seja efetuado em tempo que fixa como razoável”.
O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo julgou a controvérsia
em decisão cuja ementa reproduzo:

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - LEI


MUNICIPAL 11.256, DE 18 DE SETEMBRO DE 2012, DO

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MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO - IMPOSIÇÃO DE


TEMPO MÁXIMO DE ESPERA PARA ATENDIMENTO NOS
CAIXAS DE SUPERMERCADOS
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL CARACTERIZADA -
INGERÊNCIA NA ORGANIZAÇÃO INTERNA DO
ESTABELECIMENTO COMERCIAL QUE IMPLICA
VIOLAÇÃO À LIVRE INICIATIVA - RIGIDEZ NA FIXAÇÃO
DE TEMPO COM DESPREZO DA REALIDADE DINÂMICA
DOS SUPERMERCADOS - QUESTÃO QUE COMPORTA
REGULAÇÃO PELAS LEIS MERCADOLÓGICAS E
CONCORRENCIAIS - OFENSA AO PRINCÍPIO DA
RAZOABILIDADE E AO DISPOSTO NO ART. 22, I, DA CF
C.C. ART. 144, DA CE - PRECEDENTE DO ÓRGÃO ESPECIAL
- AÇÃO PROCEDENTE.”

Recurso extraordinário e agravo manejados sob a vigência do


Código de Processo Civil de 1973.
É o relatório.

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VOTO

A Senhora Ministra Rosa Weber (Relatora): Preenchidos os


pressupostos genéricos, conheço do agravo regimental e passo ao exame
do mérito.
Nada colhe o agravo.
Transcrevo o teor do comando pelo qual aplicada ao caso a
sistemática da repercussão geral:

“A matéria restou submetida ao Plenário Virtual para


análise quanto à existência de repercussão geral no RE 610.221-
RG, verbis:
‘DEFINIÇÃO DO TEMPO MÁXIMO DE ESPERA DE
CLIENTES EM FILAS DE INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS.
COMPETÊNCIA DO MUNICÍPIO PARA LEGISLAR.
ASSUNTO DE INTERESSE LOCAL. RATIFICAÇÃO DA
JURISPRUDÊNCIA FIRMADA POR ESTA SUPREMA
CORTE. EXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.’
O art. 328 do RISTF autoriza a devolução dos recursos
extraordinários e dos agravos de instrumento aos Tribunais ou
Turmas Recursais de origem para os fins previstos no art. 543-B
do CPC.
Devolvam-se os autos à Corte de origem.”

Irrepreensível a decisão agravada.


A Corte de origem decidiu a controvérsia nos seguintes termos:

“Volta-se, a presente ação direta, contra a Lei nº 11.256, de


18 de setembro de 2012, do Município de São José do Rio Preto,
sancionada pelo Prefeito Municipal, que tem, em essência, a
seguinte redação:
‘Art. 1° - Ficam os Supermercados e Hipermercados

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do Município de São José do Rio Preto obrigados a colocar


a disposição dos consumidores, pessoal suficiente no setor
de caixas, de forma que a espera na fila para o
atendimento seja no prazo máximo de 15 (quinze)
minutos.
§ 1° - Para comprovação do atendimento previsto no
caput do artigo 1°, deverá ser adotado controle através de
"senha", disponibilizado próximo de cada "Caixa", onde
constará o horário de chegada à fila, sendo anotado
pelo(a) operador(a) de caixa, o horário de atendimento, na
própria senha.
§ 2° - Nos finais de semana (sábados e domingos)
subsequentes aos dias de pagamento do trabalhador (dia
05 e 25 de cada mês) e em feriados, o prazo para o
cumprimento da presente Lei será ampliado para 30
(trinta) minutos.
Art. 2° - O não cumprimento das disposições desta
Lei sujeitará o infrator às seguintes sanções:
I - Advertência;
II - Multa de 100 UFMs;
Parágrafo Único - Em caso de reincidência, o infrator
será punido com aplicação da multa em dobro e assim,
progressivamente.
Art. 3° - A fiscalização para o cumprimento desta Lei
e a aplicação das penalidades referidas no artigo anterior
competem ao órgão municipal que poderá, para tanto,
valer-se de sua própria estrutura administrativa ou firmar
convênios com as instituições competentes.
Parágrafo único - Para dar ciência aos consumidores,
os estabelecimentos previstos no caput do artigo 1°
deverão fixar em local visível informação sobre o tempo
estabelecido para atendimento nesta Lei.
Art. 4° - OS Supermercados e Hipermercados
deverão se adaptar às disposições desta Lei no prazo de 30
(trinta) dias, a contar da data da publicação.
Art. 5° - Esta Lei entra em vigor na data de sua

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publicação.‘
Conforme se observa, a lei local impugnada obriga os
estabelecimentos ali especificados a "colocar a disposição dos
consumidores, pessoal suficiente no setor de caixas, de forma
que a espera na fila para o atendimento seja no prazo máximo
de 15 (quinze) minutos" (art. 1°), sob pena de advertência e
multa, progressivamente em dobro em caso de reincidência (art.
2°).
Impõe ao estabelecimento comercial, assim, a alocação de
recursos humanos suficientes para o atendimento ao público no
tempo ali fixado.
Essa norma legal implica ingerência na organização
interna dos estabelecimentos, em clara invasão de competência
legislativa exclusiva reservada à União pela Constituição
Federal.
Difícil imaginar que a regra em comento não venha a criar
mudanças na divisão do trabalho, na contratação de
funcionários e até na política de preços dos estabelecimentos, o
que extrapola a discussão em torno de um mero interesse local.
Decidiu este Órgão Especial há poucos meses, em caso
bastante similar ao presente:
‘Ação direta de inconstitucionalidade - Lei n. 8.593,
de 9/1/12, do Município de São José dos Campos -
Regulamentação de tempo máximo de espera no setor de
caixas de supermercados - Inconstitucionalidade formal
caracterizada - Imposição de contratação de funcionários,
em ofensa ao art. 22, I, da CF c. c. art. 144, da CE - Lei de
iniciativa parlamentar que atribui a fiscalização a órgão
específico do Poder Executivo Vulneração do art. 47, XIX,
da CE - Inconstitucionalidade material delineada -
Ingerência na organização interna do estabelecimento
comercial que implica em violação à livre iniciativa -
Rigidez na fixação de tempo com desprezo da realidade
dinâmica dos supermercados - Questão que comporta
regulação pelas leis mercadológicas e concorrenciais -
Ausência de pertinência no regramento do tema Ação

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procedente, para declarar a inconstitucionalidade da Lei n.


8.593, do Município de São José dos Campos. (ADIN n.
0130783-66.2012.8.26.0000, Rel. Grava Brazil, votação
unânime. j. 27.3.2013).‘
No voto condutor do citado julgamento, ao qual aderi,
assim como todos os demais integrantes do colegiado na
ocasião, restou consignado:
‘Com efeito, razão assiste à .associação autora ao
dizer que são inúmeras as variáveis que influenciam a
dinâmica dos supermercados com relação ao tempo de
espera nas filas dos caixas, de modo que a fixação de
tempo de atendimento com tamanha rigidez pela lei
municipal chega a arranhar o princípio da razoabilidade.
Na verdade, é' interesse dos próprios supermercados
manter atendimento célere nos caixas, pois, ao contrário,
sofrerão impacto decorrente da perda de clientela, sanção
que talvez seja mais eficaz do que a imposição de multas e
fiscalização por parte do Município.
Em outras palavras, a questão relativa ao tempo de
espera em filas de supermercados comporta regulação
pelas leis mercadológicas e concorrenciais, já que, se
houver insatisfação na prestação do serviço, o consumidor
pode se dirigir a outro estabelecimento.
Importa, por fim, destacar que a hipótese dos autos
não guarda paralelo com os casos em que se admite a
constitucionalidade de fixação de tempo de espera nas
agências bancárias. No caso dos Bancos, o serviço é
disponibilizado por um curto lapso de tempo - que, no
geral, coincide com o horário de trabalho da maior parte
da população - e tão somente nos dias úteis da semana.
Ademais, há uma relação comercial preestabelecida entre
o cliente e o Banco, o que acaba por excluir a liberdade do
consumidor de poder optar por uma instituição financeira
concorrente, caso o serviço de atendimento se mostre
insatisfatório. Já quanto aos supermercados, não se
vislumbra qualquer prévia vinculação a determinado

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estabelecimento comerciai ficando a critério do


consumidor optar pelo horário, dia e local a freqüentar a
rede de supermercados que, na sua ótica, presta o melhor
serviço.‘
Na esteira de tal precedente, julgo procedente a ação para
declarar a inconstitucionalidade da Lei Municipal nº 11.256, de
18 de setembro de 2012, do Município de São José do Rio
Preto.”

Da leitura dos fundamentos do acórdão recorrido, verifico que a


matéria tratada no presente feito, de fato, é idêntica à submetida ao
Plenário Virtual para análise da repercussão geral, relativa à competência
do município para legislar sobre a definição do tempo máximo de espera
de clientes em filas de estabelecimentos bancários e comerciais, a teor do
asseverado no comando agravado acima reproduzido.
Destaco, ainda, que ao contrário do que afirma o recorrente, a lei
atacada não obriga a contratação de pessoal, mas sim a colocação de
pessoal suficiente no setor de caixas para o atendimento aos
consumidores (art. 1º).
Acresço que o paradigma da repercussão geral acima indicado vem
sendo aplicado em casos idênticos ao dos presentes autos. Veja-se, a
propósito:

“SUPERMERCADOS – CAIXA – AGILIZAÇÃO –


DISCIPLINA – INTERESSE LOCAL – PRECEDENTE:
RECURSO EXTRAORDINÁRIO Nº 610.221/SC.” (RE 880078
AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, 1ª Turma, DJe 01-06-2016)

“Agravo regimental no recurso extraordinário. Ação direta


de Inconstitucionalidade. Lei nº 3.578/13 do Município de
Campos do Jordão que estabelece tempo máximo de espera
para atendimento em caixas de supermercado. Matéria de
interesse local. Competência municipal. Precedentes. 1. A
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal vem
reiteradamente afirmando a competência dos municípios para

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legislar sobre matéria consumerista quando sobreleva o


interesse local, como ocorre no caso dos autos, em que a
necessidade de um melhor atendimento aos consumidores nos
supermercados e hipermercados é aferível em cada localidade,
a partir da observação da realidade local. Precedentes: RE nº
880.078/SP-AgR, Primeira Turma, Relator o Ministro Marco
Aurélio, DJe de 1º/6/16; RE nº 956.959/SP, Relatora a Ministra
Rosa Weber, DJe de 28/6/16; RE nº 397.094/DF-AgR, Primeira
Turma, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 27/10/06.
2. Agravo regimental não provido.” (RE 818550 AgR, Rel. Min.
Dias Toffoli, 2ª Turma, DJe 27-10-2017)

O art. 328 do RISTF autoriza a devolução dos recursos


extraordinários e dos agravos de instrumento aos Tribunais ou Turmas
Recursais de origem para os fins previstos nos arts. 1036 a 1040 do
CPC/2015, entendimento assentado nos precedentes proferidos por
membros desta egrégia 1ª Turma, dentre os quais o ARE 654.205-AgR/DF,
Rel. Min. Marco Aurélio, DJe 19.4.2012; o AI 724.356-AgR/RJ, Rel. Min.
Dias Toffoli, DJe 08.02.2012; o AI 809.009-AgR/RS, Rel. Min. Luiz Fux, DJe
19.8.2011 e o RE 587.144-ED/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJe 10.6.2010,
decisões monocráticas, esta última exarada nestes termos:

“REPERCUSSÃO GERAL DA QUESTÃO


CONSTITUCIONAL. QUESTÃO SUSCETÍVEL DE
REPRODUZIR-SE EM MÚLTIPLOS FEITOS. ART. 543-B DO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. ART. 328, PARÁGRAFO
ÚNICO, DO REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. DEVOLUÇÃO DOS AUTOS À
ORIGEM. (...) Apreciada a matéria posta em exame, DECIDO.
No julgamento eletrônico do Recurso Extraordinário 606.358,
Relatora a Ministra Ellen Gracie, o Supremo Tribunal Federal
reconheceu a existência de repercussão geral da questão
constitucional suscitada neste recurso extraordinário.
Reconhecida a repercussão geral do tema, os autos deverão
retornar à origem para aguardar o julgamento do mérito e, após

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a decisão, observar o disposto no art. 543-B do Código de


Processo Civil. Apesar de afirmar que o caso dos autos é
diferente do discutido no Recurso Extraordinário 606.358,
Relatora a Ministra Ellen Gracie, os temas são idênticos. A
pretensa existência de diferença na argumentação jurídica não é
suficiente para obstar a devolução dos autos à origem, pois o
instituto da repercussão geral tem por objeto consolidar o
exame da matéria em um único julgamento considerando todas
as premissas relacionadas ao tema. Pelo exposto, recebo os
embargos de declaração como agravo regimental e, em juízo de
reconsideração, anulo a decisão agravada, mantendo a matéria
sub judice, e determino a devolução destes autos ao Tribunal a
quo para que seja observado o art. 543-B do Código de Processo
Civil, nos termos do art. 328, parágrafo único, do Regimento
Interno do Supremo Tribunal Federal. Ficam prejudicados os
embargos declaratórios opostos contra o despacho de
sobrestamento.”

Cito, ainda, os seguintes julgados: RE 677.589-AgR-ED/SP, Rel. Min.


Luiz Fux, 1ª Turma, DJe 20.9.2012, AI 484.418-AgR/SP, Rel. Min. Celso de
Mello, 2ª Turma, DJe 13.3.2009 e RE 293.970-AgR/DF, Rel. Min. Carlos
Velloso, 2ª Turma, DJ 30.8.2002.
Da mesma forma, esse entendimento também pode ser aplicado aos
casos de devolução dos autos à origem para os fins do art. 1039 do
CPC/2015, correspondente ao art. 543-B, § 3º, do Código de Processo
Civil/1973. Nesse sentido, o RE 635.086-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, 2ª
Turma, DJe 02.5.2011.
Considerada a identidade material havida entre a controvérsia
travada no presente feito e o debate do recurso paradigma, no qual
reconhecida a existência de repercussão geral no Plenário Virtual desta
Corte, irrepreensível a decisão agravada, mediante a qual aplicado o art.
543-B do CPC/1973, atuais arts. 1036 a 1040 do CPC/2015.
Agravo regimental conhecido e não provido.
É como voto.

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Antecipação ao Voto

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ANTECIPAÇÃO AO VOTO

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - Presidente, eu


destaquei porque entendo que não se aplica o precedente da repercussão
geral de fila de banco. Aqui entraria também a questão da livre
concorrência, a razoabilidade, a iniciativa, porque, na questão de bancos -
concordemos ou não -, mas vale para todos os bancos.
Na questão do supermercado, acaba dando um desvirtuamento da
livre concorrência, porque só para supermercados e hipermercados, não
para os mini mercados locais. Isso, nos municípios do interior, a questão
São José do Rio Preto acaba gerando um custo muito maior para os
supermercados e hipermercados, favorecendo os mini mercados locais.
Então, o meu destaque é exatamente no sentido da não aplicação da
repercussão geral por ser casos diversos.
Dou provimento ao agravo interno, propondo que o recurso
extraordinário tenha regular prosseguimento, por não aplicar a
repercussão geral referente à fila de banco, não julgo o caso ainda, mas
não aplico a repercussão.
Então, pedindo vênia à Ministra Rosa Weber, a minha proposta é dar
provimento ao agravo interno, propondo que tanto o agravo como o
recurso extraordinário tenham regular prosseguimento, inclusive para
analisar se não é o caso de julgar.

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PAULO

VOTO

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES:


Trata-se de Agravo Interno em face de decisão da Eminente Min.
ROSA WEBER que devolveu estes autos ao Tribunal de origem para
aplicar o julgado de repercussão geral RE 610.221-RG.

A parte agravante sustenta que referido precedente não fornece


resposta para todos os aspectos discutidos neste caso concreto.

Pois bem: em primeiro lugar, não se desconhece a jurisprudência do


TRIBUNAL no sentido da irrecorribilidade do ato do Relator que
encaminha os autos à origem para aplicação de precedente de
repercussão geral.

Consolidou-se o entendimento de que tal ato, por transferir a outro


órgão jurisdicional a resolução da demanda, é um despacho de mero
andamento, o que atrai o art. 1.001 do Código de Processo Civil de 2015,
segundo o qual “dos despachos não cabe recurso”.

Entretanto, a mesma legislação processual autoriza que o juiz corrija,


até de ofício, os erros materiais (CPC, art. 494). Conforme já registrado no
Plenário, “o erro material é passível de correção, a qualquer
tempo, pelo órgão julgador, de ofício ou a requerimento” (AI 841237 AgR-
QO, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI (Presidente),
Tribunal Pleno, DJe 18-03-2015).

Com base nessa disposição, esta CORTE vem admitindo a revisão do


ato que determina a devolução do processo à origem, para aplicar julgado
com repercussão geral, quando se verificar erro na indicação do

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precedente.

Vejam-se os seguintes precedentes:

“Ementa: DOIS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. ERRO


MATERIAL DO ACÓRDÃO EMBARGADO.
IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO TEMA 96 DA
REPERCUSSÃO GERAL AO CASO. AUSÊNCIA DE
IDENTIDADE ENTRE O PRECEDENTE PARADIGMA E O
PRESENTE RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PRECATÓRIO.
JUROS MORATÓRIOS NO PRAZO PREVISTO NO ART. 100, §
5º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. RE 591.085-RG - REL.
MIN. RICARDO LEWANDOWSKI, TEMA 147 DA
REPERCUSSÃO GERAL. SÚMULA VINCULANTE 17.
INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO À COISA JULGADA.
ACOLHIMENTO DOS DECLARATÓRIOS DA UNIÃO, COM
EFEITOS INFRINGENTES. PROVIMENTO DO SEU RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. 1. O acórdão embargado incorre em erro
material ao devolver os autos à origem para que seja observada
orientação do Tema 96 da repercussão geral. 2. Esta Corte tem
entendimento no sentido de reconsiderar as decisões do
Relator, seja por meio de agravo interno, seja por meio de
embargos de declaração, quando se verifica erro material na
aplicação de precedente do Plenário sob o rito da repercussão
geral. Nesse sentido: RE 594.266 AgR-ED, Relator(a): Min. DIAS
TOFFOLI, Primeira Turma, DJe 26/5/2017; RE 603.185 AgR-ED-
ED, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, DJe
06/3/2017. 3. a 6. omissis.
(RE 596203 ED-segundos, Relator(a): Min. ALEXANDRE
DE MORAES, Segunda Turma, DJe 22-08-2018) “

“EMENTAS: 1. omissis. 2. RECURSO. Agravo regimental.


Reconhecimento de repercussão geral. Temas distintos. Erro
material. Decisão de prejudicialidade do agravo e retorno dos
autos à origem, para os fins do art. 543-B do CPC. Correção, de

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ofício, para torná-la sem efeito. Corrige-se, de ofício, decisão


que contém erro material.
(RE 213974 AgR, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO,
Segunda Turma, DJe 26-02-2010) “

De fato, considerando que a vinculação errônea do caso a precedente


de repercussão geral provoca movimentação inadequada e demorada no
fluxo processual, merece ser prestigiada a oportunidade para se reavaliar
o ato de devolução à origem.

ISSO POSTO, DA ANÁLISE DESTES AUTOS, CREIO, COM A DEVIDA


VÊNIA DA ILUSTRE MINISTRA RELATORA, QUE A PECULIAR HIPÓTESE DESTE
CASO CONCRETO NÃO SE ENCONTRA CONTEMPLADA NO PRECEDENTE DO
TEMA 272 DA REPERCUSSÃO GERAL.

Sr. Presidente, a questão que se coloca neste caso é:

- é possível aplicar, para o caso de tempo máximo de espera em filas


de supermercados, o precedente do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL a
respeito de período de espera dos clientes para atendimento em
instituições bancárias?

Permito-me fazer breve recapitulação deste caso concreto:

Na origem, a Associação Paulista de Supermercados – APAS propôs


ação direta de inconstitucionalidade em face da Lei 11.256, de 18 de
setembro de 2012, do Município de São José do Rio Preto.

Eis o teor da referida norma:

“Art. 1º Ficam os Supermercados e Hipermercados do


Município de São José do Rio Preto obrigados a colocar a
disposição dos consumidores, pessoal suficiente no setor de
caixas, de forma que a espera na fila para o atendimento seja no

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prazo máximo de 15 (quinze) minutos.

§ 1º Para comprovação do atendimento previsto no caput do


artigo 1º, deverá ser adotado controle através de "senha",
disponibilizado próximo de cada "Caixa", onde constará o
horário de chegada à fila, sendo anotado pelo(a) operador(a) de
caixa, o horário de atendimento, na própria senha.

§ 2º Nos finais de semana (sábados e domingos) subseqüentes


aos dias de pagamento do trabalhador (dia 05 e 25 de cada mês)
e em feriados, o prazo para o cumprimento da presente Lei será
ampliado para 30 (trinta) minutos.

Art. 2º O não cumprimento das disposições desta Lei sujeitará


o infrator às seguintes sanções:

I - Advertência;

II - Multa de 100 UFMs;

Parágrafo Único - Em caso de reincidência, o infrator será


punido com aplicação da multa em dobro e assim,
progressivamente.

Art. 3º A fiscalização para o cumprimento desta Lei e a


aplicação das penalidades referidas no artigo anterior
competem ao órgão municipal que poderá, para tanto, valer-se
de sua própria estrutura administrativa ou firmar convênios
com as instituições competentes.

Parágrafo Único - Para dar ciência aos consumidores, os


estabelecimentos previstos no caput do artigo 1º deverão fixar
em local visível informação sobre o tempo estabelecido para
atendimento nesta Lei.

Art. 4º OS Supermercados e Hipermercados deverão se

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adaptar às disposições desta Lei no prazo de 30 (trinta) dias, a


contar da data da publicação.

Art. 5º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.”

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo julgou procedente a


ação direta, nos termos da seguinte ementa:

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - LEI


MUNICIPAL N° 11.256, DE 18 DE SETEMBRO DE 2012, DO
MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO - IMPOSIÇÃO DE
TEMPO MÁXIMO DE ESPERA PARA ATENDIMENTO NOS
CAIXAS DE SUPERMERCADOS -
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL CARACTERIZADA -
INGERÊNCIA NA ORGANIZAÇÃO INTERNA DO
ESTABELECIMENTO COMERCIAL QUE IMPLICA
VIOLAÇÃO À LIVRE INICIATIVA - RIGIDEZ NA FIXAÇÃO
DE TEMPO COM DESPREZO DA REALIDADE DINÂMICA
DOS SUPERMERCADOS - QUESTÃO QUE COMPORTA
REGULAÇÃO PELAS LEIS MERCADOLÓGICAS E
CONCORRENCIAIS - OFENSA AO PRINCÍPIO DA
RAZOABILIDADE E AO DISPOSTO NO ART. 22, I, DA CF
C.C. ART. 144, DA CE - PRECEDENTE DO ÓRGÃO ESPECIAL
- AÇÃO PROCEDENTE. “ (grifos nossos)

O TJSP verificou as seguintes inconstitucionalidades na norma:

a) “ Conforme se observa, a lei local impugnada obriga os


estabelecimentos ali especificados a "colocar a disposição dos
consumidores, pessoal suficiente no setor de caixas, de forma
que a espera na fila para o atendimento seja no prazo máximo
de 15 (quinze) minutos" (art. 1°), sob pena de advertência e
multa, progressivamente em dobro em caso de reincidência (art.
2°).
Impõe ao estabelecimento comercial, assim,' a alocação de

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recursos humanos suficientes para o atendimento ao público no


tempo ali fixado. Essa norma legal implica ingerência na
organização interna dos estabelecimentos, em clara invasão de
competência legislativa exclusiva reservada à União pela
Constituição Federal.
Difícil imaginar que a regra em comento não venha a criar
mudanças na divisão do trabalho, na contratação de
funcionários e até na política de preços dos estabelecimentos, o
que extrapola a discussão em torno de um mero interesse
local”;

b) “Com efeito, razão assiste à associação autora ao dizer


que são inúmeras as variáveis que influenciam a dinâmica dos
supermercados com relação ao tempo de espera nas filas dos
caixas, de modo que a fixação de tempo de atendimento com
tamanha rigidez pela lei municipal chega a arranhar o princípio
da razoabilidade.
Na verdade, é' interesse dos próprios supermercados
manter atendimento célere nos caixas, pois, ao contrário,
sofrerão impacto decorrente da perda de clientela, sanção que
talvez seja mais eficaz do que a imposição de multas e
fiscalização por parte do Município.
Em outras palavras, a questão relativa ao tempo de espera
em filas de supermercados comporta regulação pelas leis
mercadológicas e concorrenciais, já que, se houver insatisfação
na prestação do serviço, o consumidor pode se dirigir a outro
estabelecimento”;

c) “Importa, por fim, destacar que a hipótese dos autos


não guarda paralelo com os casos em que se admite a
constitucionalidade de fixação de tempo de espera nas
agências bancárias. No caso dos Bancos, o serviço é
disponibilizado por um curto lapso de tempo - que, no geral,
coincide com o horário de trabalho da maior parte da
população - e tão somente nos dias úteis da semana. Ademais,
há uma relação comercial preestabelecida entre o cliente e o

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Banco, o que acaba por excluir a liberdade do consumidor de


poder optar por uma instituição financeira concorrente, caso o
serviço de atendimento se mostre insatisfatório. Já quanto aos
supermercados, não se vislumbra qualquer prévia vinculação a
determinado estabelecimento comerciai ficando a critério do
consumidor optar pelo horário, dia e local a freqüentar a rede
de supermercados que, na sua ótica, presta o melhor serviço.”
(grifos nossos)

Em síntese, o TJSP:

a) entendeu que a norma municipal ofende o art. 22, I, da


Constituição de 1988, segundo o qual “Art. 22. Compete privativamente à
União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual,
eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;”;

b) também considerou violado o princípio da razoabilidade;

c) distinguiu, com clareza, a presente situação da hipótese


referente ao tempo de espera em filas de banco.

A Procuradoria-Geral de Justiça do Estado de São Paulo interpôs


Recurso Extraordinário, sustentando que o acórdão recorrido conferiu
equivocada interpretação (I) ao art. 22, I, da CF e (II) ao princípio da
razoabilidade.
O Prefeito do Município de São José do Rio Preto também
apresentou RE, apontando ofensa aos arts. 18, 30, I e 37, da Constituição
Federal.

Ambos os recursos defendem a validade da norma, por diferentes


pontos de vista.

O TJSP mandou subir o RE da Procuradoria-Geral de Justiça, mas


inadmitiu o recurso do Prefeito, que apresentou Agravo.

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Distribuídos os autos à ilustre Min. ROSA WEBER, S. Exa. proferiu a


seguinte decisão:

“A matéria restou submetida ao Plenário Virtual para


análise quanto à existência de repercussão geral no RE 610.221-
RG, verbis:

“DEFINIÇÃO DO TEMPO MÁXIMO DE ESPERA


DE CLIENTES EM FILAS DE INSTITUIÇÕES
BANCÁRIAS. COMPETÊNCIA DO MUNICÍPIO PARA
LEGISLAR. ASSUNTO DE INTERESSE LOCAL.
RATIFICAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA FIRMADA POR
ESTA SUPREMA CORTE. EXISTÊNCIA DE
REPERCUSSÃO GERAL.”

O art. 328 do RISTF autoriza a devolução dos recursos


extraordinários e dos agravos de instrumento aos Tribunais ou
Turmas Recursais de origem para os fins previstos no art. 543-B
do CPC.
Devolvam-se os autos à Corte de origem. “

A Associação Paulista de Supermercados interpôs Agravo Interno,


buscando demonstrar que as questões jurídicas discutidas nestes autos
não são idênticas às enfrentadas no Tema 272 da repercussão geral,
aplicado pela eminente Relatora.

Submetido o Agravo Interno ao sistema de julgamento eletrônico (ou


virtual), registrei destaque, para proporcionar debate mais aprofundado
sobre as alegações do agravante.

Presidente, penso que, efetivamente, há importantes distinções entre


o caso destes autos e o cenário sobre o qual o SUPREMO se deteve ao
julgar o RE 610.221.

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Nesta situação, do tempo de espera em filas de supermercados, há


importantes aspectos que não foram sopesados no caso das filas em
agências bancárias.

Com efeito, para além do exame da divisão de competências


estabelecida no art. 22, I, têm forte presença neste caso os temas da ofensa
ao princípio da razoabilidade e às livres concorrência e iniciativa.

É certo que a imposição de contratação de mão-de-obra adicional


pelos supermercados, cuja atividade está sujeita a fatores totalmente
diversos dos experimentados pelas agências bancárias, influi
decisivamente na atividade exercida por tais empresas.

Vejamos os seguintes argumentos do Agravo Interno:

“Veja-se, como foi tratado mais profundamente nos autos,


que quando o Município cria uma obrigação para que os
supermercados coloquem a disposição do consumidor pessoal
suficiente no setor de caixas e passa a determinar o tempo
máximo que o consumidor pode aguardar atendimento atua de
forma a atingir umbilicalmente a própria natureza do ramo de
negócio exercido pelos supermercados.
Primeiramente diante ao fato de que o modelo de
pagamento deste setor integra historicamente a essência de seu
negócio, sendo uma característica universal e intimamente
ligada ao cerne da própria atividade supermercadista e da
própria concorrência existente no setor, sendo que sua alteração
implica em notável intervenção do Estado na própria
exploração da atividade econômica.
Segundo, porque a atividade supermercadista é, por sua
natureza, sazonal, mas em decorrência da lei local os
estabelecimentos supermercadistas terão de deixar de contratar
sua estrutura de funcionários por questões inerentes ao
desenvolvimento do negócio (satisfazer demanda cotidiana
média de atendimento) para, em atendimento a lei, contratar

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uma estrutura (mão-de-obra específica) voltada ao


cumprimento de uma imposição legal.
Essa imposição legal implica na necessidade de
reformulação de todo o gerenciamento interno da atividade,
com graves impactos a seu negócio (considerando o
engessamento da legislação trabalhista), o que invariavelmente
afetará nos custos e na competitividade, refletindo em aumento
real no próprio custo dos produtos ao consumidor final e a
própria inflação.
Terceiro, porque ilegítima intervenção estatal na livre
iniciativa na medida em que a proteção que pretende o
legislador criar nada mais é que um benefício puramente
especulativo ao consumidor quando falamos deste ramo de
atividade.
Ora, ao referirmos a relação Banco/Consumidor, estamos
diante a uma relação jurídica/comercial pré-estabelecida/pré-
determinada entre uma Instituição Financeira e o consumidor, o
que limita a possibilidade de escolha desse consumidor em
usufruir de instituições concorrentes.
Ademais, essa relação (banco-consumidor) se dá
exclusivamente na prestação de um serviço voltado ao
cumprimento de uma obrigação pelo consumidor, pelo que ao
estabelecer tempo limite de espera pretendeu-se proteger esse
consumidor de eventuais abusos, considerando justamente a
dependência deste com o atendimento pela instituição
financeira para cumprimento de sua obrigação.
No caso dos supermercados, a relação desse ramo de
atividade com o consumidor é puramente comercial
(mercadológica), havendo plena liberdade do consumidor
decidir qual estabelecimento irá suprir suas necessidades, bem
como o dia e horários que melhor se adaptam a sua rotina,
valendo de sua preferência por preço/por atendimento/por
agilidade, etc para escolha do supermercado que irá lhe servir.
Dessa forma, é a livre concorrência a livre escolha do
consumidor que devem servir como base para que o
consumidor se submeta ou não a uma espera em fila de

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supermercado, pois está a sua livre determinação fazer suas


compras em um supermercado que lhe ofereça agilidade no
atendimento ou num supermercado que lhe oferece menor
preço, não se justificando no caso o agigantamento da
intervenção estatal na livre econômica e a grave violação da
própria natureza da atividade regulamentada. “

Cabe, agora, averiguar se o Tema 272 da repercussão geral, invocado


pela douta Ministra Relatora, fornece resposta satisfatória a todas essas
questões.

Tal precedente foi um dos primeiros em que se adotou a técnica da


confirmação da jurisprudência dominante no âmbito do Plenário Virtual.
Com efeito, tal possibilidade foi introduzida no Regimento Interno do
Supremo Tribunal Federal pela Emenda Regimental 42, de 2 de
dezembro de 2010, a partir da experiência que vinha sendo feita em casos
esparsos. O art. 323-A consolidou uma prática adotada em alguns casos
nos anos anteriores.

Neste pioneiro precedente, a ilustre Min. ELLEN GRACIE submeteu


ao Plenário Virtual a seguinte proposição:

“1. Trata-se de recurso extraordinário, com fundamento no


art. 102, III, a, da Constituição Federal, interposto contra
acórdão proferido pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região,
que considerou válida lei municipal que dispõe sobre o tempo
de espera de clientes em filas de bancos.
Alega-se violação aos artigos 21, VIII, 22, VII, XIX, 24, 30, I,
II, 48, XIII, 163, V, e 192, IV (com redação anterior à EC 40/03),
da Constituição Federal. Afirma a recorrente que dispor sobre a
forma como a empresa de banco deve atender os usuários dos
respectivos serviços não se enquadra na moldura de ‘assunto de
interesse local’ (fl. 81).
2. Observados os demais requisitos de admissibilidade do
presente recurso extraordinário, passo à análise da existência de

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repercussão geral.
3. A questão versada no presente apelo extremo possui
relevância do ponto de vista econômico, político, social e
jurídico, nos termos do § 1º do art. 543-A do Código de Processo
Civil. É que o assunto alcança, certamente, grande número de
pessoas por se tratar de questões atinentes às relações de
consumo.
Ressalte-se que, com o reconhecimento da existência da
repercussão geral da matéria, deve ser aplicado o regime legal
previsto no art. 543-B do Código de Processo Civil, conforme
procedimento já apreciado por esta Corte no julgamento das
Questões de Ordem no RE 579.431, no RE 580.108 e no RE
582.650, todos de minha relatoria.
4. Ambas as Turmas desta Corte firmaram o entendimento
de que os municípios têm competência para legislar sobre
assuntos de interesse local, tais como medidas que propiciem
segurança, conforto e rapidez aos usuários de serviços
bancários. Nesse sentido: AC 1.124-MC, rel. Min. Marco
Aurélio, 1ª Turma, DJ 04.08.2006; AI 491.420-AgR, rel. Min.
Cezar Peluso, 1ª Turma, DJ 24.03.2006; AI 709.974-AgR, rel. Min.
Cármen Lucia, 1ª Turma, DJe 26.11.2009; RE 432.789, rel. Min.
Eros Grau, 1ª Turma, DJ 07.10.2005; AI 347.717-AgR, rel. Min.
Celso de Mello, 2ª Turma, DJ 05.08.2005; AI 747.245-AgR, rel.
Min. Eros Grau, 2ª Turma, DJe 06.08.2009; AI 574.296, rel. Min.
Gilmar Mendes, 2ª Turma, DJ 16.06.2006; RE 559.650, rel. Min.
Carlos Britto, DJe 02.12.2009.
Desse modo, entendo que, com o reconhecimento da
existência da repercussão geral e havendo entendimento
consolidado da matéria, os Tribunais de origem e as Turmas
Recursais podem, desde logo, com fundamento no § 3º do
citado art. 543-B, aplicar a citada orientação anteriormente
firmada por este Supremo Tribunal Federal.
Assim, havendo jurisprudência firmada sobre a matéria,
entendo não ser necessária nova apreciação pelo Plenário desta
Corte, possibilitando o julgamento monocrático deste recurso,
nos termos do art. 325, caput, do RISTF, e, ainda, a aplicação

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desse entendimento pelos tribunais deorigem.

5. Ante o exposto, manifesto-me pela ratificação da


jurisprudência deste Tribunal sobre o assunto discutido no
presente recurso extraordinário e pela existência de repercussão
geral da matéria, a fim de que sejam observadas as disposições
do art. 543-B do Código de Processo Civil.”

Extrai-se desse conciso voto que:

a) abordou-se exclusivamente a questão da espera em filas formadas


nas agências bancárias;

b) não é examinado nenhum outro argumento, além da competência


dos Municípios para legislar acerca de assuntos de interesse local.
Nenhuma palavra sobre o princípio da razoabilidade, explicitamente
prequestionado nestes autos, e sobre as livres concorrência e iniciativa,
suscitadas pela parte autora desde a petição inicial da ação direta.

Saliento, por fim, que, diferentemente da questão relativa à espera


em filas de bancos, sobre a qual se formou caudalosa jurisprudência, não
há precedentes específicos em número suficiente para que se possa reputar
pacífico o entendimento do SUPREMO sobre o tempo de espera nos
supermercados. Após ampla pesquisa, verifiquei haver apenas o RE
818.550 AgR, o RE 880.078 AgR, o RE 1126237 e o RE 956.959.
Veja-se que, no RE 818.550, o Relator, ilustre Min. DIAS TOFFOLI,
acolheu os argumentos da Associação de Supermercados referentes à
ofensa à livre iniciativa, o que, a meu juízo, evidencia a insuficiência do
Tema 272 para resolver todos os aspectos da presente controvérsia.
Vejam-se as considerações de S. Exa.:

“Entretanto, em relação ao artigo 2º do diploma legal ora


em análise, o qual prescreve a forma como os empresários terão
de organizar o serviço para se adequarem às imposições criadas

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pela Lei nº 3.578/13, vislumbro ofensa ao princípio da livre


iniciativa insculpido no art. 170 da Constituição Federal.
Nesse ponto, adoto como razões de decidir os
argumentos da Douta Procuradoria-Geral da República os
quais bem expressam o entendimento mais consentâneo com o
espírito da Constituição Federal acerca do tema, delineados nos
seguintes termos:

“(...) parece haver inconstitucionalidade no caput e


nos incisos do art. 2º, uma vez que há ingerência do
município no modo de administração dos
estabelecimentos que a lei menciona.
Não está em causa questão relacionada à saúde ou
à segurança do trabalho, pontos de competência privativa
da União, nem sob o aspecto da segurança ou higiene de
construções, por exemplo, discute-se apenas sobre a
rapidez no atendimento de clientes de supermercados e
hipermercados. Apesar de tal ponto ser de interesse local,
cabe aos estabelecimentos decidir a forma de atuação para
o devido cumprimento da legislação municipal. Não se
lhes pode negar a autogestão, para o funcionamento das
operações e a forma de execução dos trabalhos, sob pena
de ofensa à livre iniciativa, prevista no art. 170 da CR. A
empresa é livre para estabelecer os meios pelos quais
atenderá aos comandos legais como resultado de seu
poder de gestão. Por assim dizer, nesse campo, existe
apenas vinculação da empresa ao resultado imposto na lei.
Os meios pelos quais ela obterá tal fim, ao contrário,
recaem em seu poder de decisão provada, desde que,
claro, não contrariem outras regras materiais válidas,
como as trabalhistas relativas à jornada de labor.
Assim, os Municípios possuem competência para
legislar sobre assuntos de interesse local, tais como
medidas que propiciem segurança, conforto e rapidez aos
clientes de supermercados e hipermercados, cabendo
exclusivamente a esses estabelecimentos definir a forma

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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 27 de 31

ARE 809489 AGR / SP

de operacionalização da lei” (fls. 283/284).”

Por todos esses motivos, Sr. Presidente, peço vênia à Eminente


Relatora para dar provimento ao Agravo Interno, propondo que o Agravo
e o Recurso Extraordinário tenham regular prosseguimento. É como voto.

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Confirmação de Voto

Inteiro Teor do Acórdão - Página 28 de 31

28/05/2019 PRIMEIRA TURMA

AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 809.489 S ÃO


PAULO

CONFIRMAÇÃO DE VOTO

A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (RELATORA) -


Presidente, só enfatizo que se trata de inconstitucionalidade formal e
ainda destaco a ementa do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo nos
seguintes termos:

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - LEI


MUNICIPAL 11.256, DE 18 DE SETEMBRO DE 2012, DO
MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO - IMPOSIÇÃO DE
TEMPO MÁXIMO DE ESPERA PARA ATENDIMENTO NOS
CAIXAS DE SUPERMERCADOS
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL CARACTERIZADA
[…].”

Por isso me parece que é irrelevante, nós temos que saber se o


Município pode ou não legislar sobre este tema. Enfim, esta é a minha
compreensão.
Eu nego provimento.

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Voto - MIN. MARCO AURÉLIO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 29 de 31

28/05/2019 PRIMEIRA TURMA

AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 809.489 S ÃO


PAULO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – Presidente, o tema de


fundo é único: a competência ou não de município para regrar a
problemática fila em estabelecimento. Pouco importa seja estabelecimento
bancário ou comercial.
Por isso, acompanho a Relatora.

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Voto - MIN. LUIZ FUX

Inteiro Teor do Acórdão - Página 30 de 31

28/05/2019 PRIMEIRA TURMA

AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 809.489 S ÃO


PAULO

VOTO

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX (PRESIDENTE) - Eu também


vou acompanhar a Relatora porque tem acórdão nesse sentido, pedindo
todas as vênias ao Ministro Alexandre de Moraes.

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Extrato de Ata - 28/05/2019

Inteiro Teor do Acórdão - Página 31 de 31

PRIMEIRA TURMA
EXTRATO DE ATA

AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 809.489


PROCED. : SÃO PAULO
RELATORA : MIN. ROSA WEBER
AGTE.(S) : APAS - ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE SUPERMERCADOS
ADV.(A/S) : ROBERTO LONGO PINHO MORENO (70291/SP) E OUTRO(A/S)
AGDO.(A/S) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
AGDO.(A/S) : PREFEITO DO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DO RIO
PRETO

Decisão: A Turma, por maioria, conheceu do agravo e negou-lhe


provimento, nos termos do voto da Relatora, vencido o Ministro
Alexandre de Moraes. Não participou, justificadamente, deste
julgamento, o Ministro Luís Roberto Barroso. Presidência do
Ministro Luiz Fux. Primeira Turma, 28.5.2019.

Presidência do Senhor Ministro Luiz Fux. Presentes à Sessão os


Senhores Ministros Marco Aurélio, Rosa Weber, Luís Roberto Barroso
e Alexandre de Moraes.

Subprocurador-Geral da República, Dr. Paulo Gustavo Gonet


Branco.

João Paulo Oliveira Barros


Secretário da Turma

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