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MAX WEBER
T EXTOS SELECIONADOS
Tí tulo srcinal:
Parlament und r egi er ung i n N euor dneten D eutschland
( Cap. IV de Parlament und Deutschland); The “R elati ons of the
R ur al communi ty to Other B r anches of S oci al S ci ence” (Congress of
Ar ts and S ci ence, U ni ver sal E xposi ti on, S t. L oui s, 1904);
“Wahrecht und Demokratie in Deutschland.
Textos publicados sob licen ça de:
Dunker & Humblot, Berlim
Impress ã o e acabamento:
DONNELLEY COCHRANE GR ÁFICA E EDITORA BRASIL LTDA.
DIVIS ÃO C Í RCULO - FONE (55 11) 4191-4633
I S B N 85-351-0916-1
APRESENTAÇÃO
Maurício Tragtenberg
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WEBER
ão e explicação
Compreens
nifica
buem çõaoes sociais,
peda ço na
demedida
papel aem
funque çã
as oduas
de pessoas envolvidas
servir como meio atri-
de troca ou
paga mento ; a l é m d isso , essa fun çã o é rec onh ecida por um a comun ida de
maior de pessoas.
Segundo Weber, a capta çã o desses sentidos contidos nas a çõ es
humana s n ã o p oderia ser rea lizada por meio , exc lusivam ente, dos pro -
cedimentos metodol ógico s da s ci ê nci a s na tur a is, embo ra a rigo ro sa ob-
serva çã o dos fatos (como nas ci ê ncias naturais) seja essencial para o
cientista social. Contudo, Weber n ã o pretende cavar um abismo entre
os dois grupos de ci ê ncias. Segundo ele, a considera çã o de que os fe-
n ô menos obedecem a uma regularidade causal envolve refer ê ncia a
um m es mo e squema l ógic o de p rova, t a nt o na s ci ê nc ias natura is qua nto
nas humanas. Entretanto, se a l ógica da explica çã o causal é id ê ntica,
o mesm o n ã o se p oderia dizer dos tipo s de l eis gera is a serem formula dos
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OS ECONOMISTAS
pa ra ca da um do s doi s gr upo s de disc ipl ina s. A s lei s soc ia is, par a Webe r,
estabelecem rela çõ es causais em termos de regras de probabilidades,
segun do as q ua is a det ermin a dos p roc esso s devem seguir- se, o u ocorr er
simultaneamente, outros. Essas leis referem-se a constru çõ es de “ com-
port a ment o com sent ido ” e serve m pa ra ex pl ica r proc esso s pa rt icula res.
Para que isso seja poss í vel, Weber defende a utiliza çã o dos chamados
“ tipos ideais ” , que representam o primeiro n í vel de generaliza çã o de
conceitos abstratos e, correspondendo à s exig ê ncias l ógicas da prova,
es t ã o intimamente ligados à realidade concreta particular.
O legal e o ítpico
desenvolveria
nalmente em direuma forma
çã o aparticular
um fim e des ea f osse orie
çã ontsocial sef oorma
a da de fizesse
a aracio-
tingir
um e somente um fim. Assim, o tipo ideal n ã o descreveria um curso
concreto de a çã o, ma s um des envo lvi mento norma tiva mente ideal, isto
é , um curso de a çã o “ objetiva men t e poss í vel ” . O tipo idea l é um conceito
va zio de c ont e ú do real: ele dep ura a s prop rieda des do s fen ômenos rea is
desencarnando-os pela an á lise, para depois reconstru í -los. Quando se
trata de tipos complexos (formados por v á rias propriedades), essa re-
constru çã o a ssume a fo rma de s í ntese, que n ã o recupera os fen ômenos
em sua real concre çã o, mas que os idealiza em uma articula çã o signi-
ficativa de abstra çõ es. Desse modo, se constitui uma “ pauta de con-
trasta çã o” , que pe rm ite situa r os fen ômeno s reais em sua rel a tividade.
P or co ns eguint e, o t ipo idea l n ã o const itui nem um a hip ótese ne m um a
proposi çã o e, assim, n ã o pode se r fa lso nem verda deiro , ma s v á lido ou
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WEBER
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OS ECONOMISTAS
seria poss í vel encontrar fen ômenos sociais que poderiam ser inclu í dos
neles, quanto se poderia tamb é m deparar com fatos lim í trofes entre
um e outro tipo. Entretanto, observa Weber, essa fluidez s ó pode ser
clar a mente perc eb ida qua ndo o s pr óprios conceitos tipol ógicos n ã o s ã o
flui dos e e st a bel ecem front ei ra s r í gidas entre um e outro. Um conceito
bem definido estabelece nitidamente propriedades cuja presen ça nos
fen ômenos sociais permite diferenciar um fen ômeno de outro; estes,
contudo, raramente podem ser classificados de forma r í gida.
O sistema de tipos ideais
O capitalismoé protestante?
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WEBER
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OS ECONOMISTAS
apenas
mento do tolerada.
dever O conceito
dentro das de voca
profiss çã oseculares
ões como valoriza çã o do cumpri-
Weber encontra ex-
presso nos escritos de Martinho Lutero (1483-1546), a partir do qual
esse conceito se tornou o dogma central de todos os ramos do protes-
t a nt ismo. Em Lu t ero, cont udo, o conc eito de voc a çã o t eria perma nec ido
em sua forma tr a dic iona l, i sto é , algo aceito como ordem divina à qual
cada indiv í duo deveria adaptar-se. Nesse caso, o resultado é tico, se-
gundo Weber, é inteiramente negativo, levando à submiss ã o. O lute-
ranismo, portanto, n ã o p oderi a ter sido a ra z ã o explicativa do esp í rito
do capitalismo.
Weber volta-se ent ã o para outras formas de protestantismo di-
versas do luteranismo, em especial para o calvinismo e outras seitas,
cuj o ele men t o b á sico era o profundo isolamento espiritual do indiv í du o
em rela çã o a seu Deus, o que, na pr á tica, significava a racionaliza çã o
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WEBER
Agr í colas no E lba e A Psi cofi si ologi a do T r abalho I ndustr i al. Entre os
segundos, devem ser ressaltadas suas an á lises cr í ticas da sele çã o bu-
rocr á tica dos l í deres pol í ticos na Alemanha dos Kaiser Guilherme I e
II e da despolitiza çã o levada a cabo com a hegemonia dos burocratas.
Para a teoria pol í tica em geral, contudo, foram mais importantes os
conceitos e categorias interpretativas que formulou e que se tornaram
cl á ssicos nas ci ê ncias sociais.
Weber dis t ing ue n o conce it o de po l í tic a dua s a cep çõ es, u ma ge ra l
e outra restrita. No sentido mais amplo, pol í tica é entendida por ele
como “ qualquer tipo de lideran ça independente em a çã o” . No sentido
restrito, pol í tica seria lideran ça de um tipo de associa çã o espec í fica;
em outra s pala vra s, tra ta r-se -ia da li de ra n ça do E sta do . Est e, por sua
vez, é defendido por Weber como “ uma comunidade humana que pre-
t ende o mono p ólio do us o leg í t imo da for ça f í sic a dentro de de termina do
territ ór io” . Definidos esses conceitos b á sicos, W eber é conduzido a des-
dobrar a natureza dos elementos essenciais que constituem o Estado
e assim chega ao conceito de autoridade e de legitimidade. Para que
um E st a do ex ista , diz W ebe r, é n ecess á rio que um conjunt o de pe ssoa s
(toda a sua popula çã o) obede ça à autoridade alegada pelos detentores
do poder no referido Estado. Por outro lado, para que os dominados
obede ça m é necess á rio que os detentores do poder possuam uma au-
toridade reconhecida como leg í tima.
A autoridade pode ser distinguida segundo tr ê s tipos b á sicos: a
racional-legal, a tradicional e a carism á tica. Esses tr ê s tipos de auto-
ridade correspondem a tr ê s tipos de legitimidade: a racional, a pura-
mente afetiva e a utilitarista. O tipo racional-legal tem como funda-
mento a do mina çã o em virtu de da cren ça na validade do esta tut o le ga l
e da compet ê nci a func iona l, ba se a da , p or sua ve z, e m regra s ra ciona l-
mente criadas. A autoridade desse tipo mant é m-se, assim, segundo
uma ordem impesso a l e universa lista , e o s limites de seus p oderes s ã o
determinados pelas esferas de compet ê ncia, defendidas pela pr ópria
ordem.
tra tivo Quando a autoridade
orga nizado , to ma aracional-legal envolve
forma de e strut ura um corpo
buro cr áadminis-
tic a , a mpl a mente
analisada por Weber.
A autoridade tradicional é imposta por procedimentos conside-
rados leg í timos porque sempre teria existido, e é aceita em nome de
uma tradi çã o reconhecida como v á lida. O exerc í cio da autoridade nos
Estados desse tipo é definido por um sistema de status, cujos poderes
s ã o de t ermina do s, em primeiro luga r, po r presc ri çõ es concretas da or-
dem tr a dic iona l e, em seg undo l uga r, pe la a ut orida de de o utr a s pe sso a s
que est ã o acima de um status particular no sistema hier á rq uic o e sta -
belec ido. Os poder es s ã o ta mb é m determ ina do s pe la ex ist ê nci a de uma
esf era a rbi tr á ria de gr aça, aberta a crit é rio s va ria do s, c omo o s de ra z ã o
de Estado, justi ça substantiva, considera çõ es de utilidade e outros.
P ont o i mpo rta nt e é a inexist ê ncia de separa çã o n í tida entre a esfera
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WEBER
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C RONOLOGIA
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BIBLIOGRAFIA
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York, 1934.
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P ARLAMENTARISMO
NUMA E GOVERNO
ALEMANHA R ECONSTRU Í DA*
1 Este s e nsai os fo ram pu bl icado s p or Max W ebe r, G esammelte poli ti sche S chri ften, ed. J o-
hannes Winckelmann (2 ª ed.; T ü bingen: Mohr, 1958), 294-394. Os ensaios foram pela pri-
meira vez publicados em conjunto na s é rie Die innere Politik, organizados por Siegmund
Helmann (M ü nchen e Leipzig: Duncker & Humblot, 1918). Em certas passagens Weber
serviu-se da segunda parte de Wirtschaft und Gesellschaft, que naquela é poca n ã o tinha
ainda sido publicado. Por isso, o leitor encontrar á certas repeti çõ es nas exposi ções que
Weber fa z do governo de dignit á rios e de democ ra ta s, ma s a o mesmo tempo o lei tor observar á
a conex ã o entre as opini ões pol í ticas de Weber e sua percep çã o erudita das mudan ça s
seculares. Entretanto, como o pr óprio Weber frisa no pref á cio, ele n ã o rei vindic a a utoridade
cient í fica em suas opini ões pol í ticas. Al é m disso, o leitor n ã o deve esquecer que o ensaio
teve srcem em artigos jornal í sticos que repetiam os t ópicos principais com persist ê ncia
propagand í stica. “ A Pol í tica como Voca çã o” reenceta alguns dos temas de seus escritos do
tempo da guerra. É rea lmente a so ma de sua perspec tiva pol í tica; por é m, em sua concis ã o,
é um trabalho ainda mais ocasional do que seus escritos pol í ticos anteriores e, conseq ü en -
temente, necessita de explana çõ es ma is desenvol vida s e co ncreta s, co mo o e nsa io p resente.
Nos ú ltimos anos a pol í tica de Weber tem recebido grande aten çã o. A sele çã o que se segue
é ú til como leitura de fundo para a compreens ã o de seus escritos pol í tico s; ta mb é m cont é m
muitas refer ê ncias a outros assuntos pertinentes.
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OS ECONOMISTAS
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WEBER
nosso s sol da dos; e sses a t os v ã os sem d ú vida pre judic a va m gra ndemente
as possibilidades de uma discuss ã o pol í tica objetiva.
P a rec e-me q ue nossa t a refa primo rdia l e m casa consiste e m tornar
poss í vel para os soldados que regressam a reconstru çã o da Alemanha
que eles salvaram — com o voto em suas m ã os e atrav é s de seus
representantes eleitos. Assim precisamos eliminar os obst á culos l eva n-
tados pelas condi çõ es atuais, a fim de que os soldados possam dar
in í cio à reconstru çã o logo ap ós o t é rmino da guerra, em vez de ter de
se envolve r em co nt rov é rsias es t é reis. Nenhum sofisma pode esconder
o f a t o de qu e o sufr á gio imparcial e o governo parlamentar s ã o o ú nico
meio para esse objetivo. Insincera e sem-vergonha é a queixa de se
estar considerando uma reforma — “ sem que os soldados fossem con-
sultados ” — quando, de fato, s ó a reforma lhes daria a oportunidade
de participarem decisivamente de assuntos pol í ticos.
Diz-se, al é m disso, que toda cr í tica à nossa forma de governo
proporcionaria muni çã o a nossos inimigos. Durante vinte anos esse
argumento foi usado para nos fazer calar. Agora é muito tarde. Que
podemo s a go ra pe rder fora do p a í s co m essa cr í t ica ? Os inimigos po dem
se parabenizar se os antigos danos persistirem. Especialmente agora,
que a grande guerra atingiu o est á gio em que a diplomacia come ça a
entra r em a çã o nova ment e, é c hegada a ho ra de f a ze r t udo para imp edi r
a repeti çã o dos velhos erros. Por enquanto as perspectivas s ã o infeliz-
mente muito limitadas. Mas os inimigos sabem, ou vir ã o a saber, que
a demo cra cia a le m ã n ã o pode c oncluir um a pa z desfa vor á vel se pretend e
ter algum futuro.
O indiv í duo cujas cren ças supremas colocam toda forma de go-
ve rno a utorit á rio acima de todos os interesses pol í tic os da na çã o pode
defender essas suas id é ias. N ã o é poss í vel discutir com ele. Contudo,
n ã o nos venha com conversa v ã sobre o contraste entre as concep çõ es
de Estado da “ Europa Ocidental ” e “ da Alemanha ” . Estamos lidando
aqui com simples quest ões de t é cnicas (constitucionais) para a formu-
la
um çã no úde pol li
mero í ticas
mitanacionais. Para um
do de alterna Estado
tivas. de um
P a ra massas
po l existe
í t ico apenas
ra ciona l a forma
de governo adequada, em qualquer é poca, é uma quest ã o objetiva que
depende das tarefas pol í tic a s da n a çã o. É meramente uma falta de f é
na s po tenc iali da de s da Ale ma nha qua ndo a fi rma m q ue a germa nic id a de
estaria sendo posta em risco se compartilh á ssemos t é cnicas e institui-
çõ es ú t ei s de go verno com outr os po vo s. Ma is a inda , o pa rla ment a rismo
nunca foi estranho à hist ória alem ã , e nenhum dos sistemas contras-
ta ntes, ca ra cter í st ico da Ale ma nh a so ment e. Circunst â nci a s pl ena men-
te ob riga t ória s e objetiva s fa r ã o com q ue um E sta do a le m ã o com govern o
parlamentarista seja diferente de qualquer outro. N ã o seria uma po-
l í tic a equil ib ra da , ma s sim a o estilo do s li tera tos se e ssa quest ã o fosse
transformada num objeto de vaidade nacional. N ã o sabemos hoje se
uma rec onst ru çã o p a rla menta r positiva ocorrer á na Ale ma nha . Ta l re -
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OS ECONOMISTAS
constru çã o poder á ser frustrada pela direita ou ser impedida pela es-
que rda. E ss a ú ltima hip ó tese tamb é m é poss í vel. Os interesses vitais
da na çã o colocam-se, é claro, acima da democracia e do parlamenta-
rismo. Mas se o parlamento fracassasse e o velho sistema voltasse,
isso teria sem d ú vida conseq üê ncias de longo alcance. Mesmo ent ão
poder-se-ia dar gra ças ao destino por sermos alem ã es. Mas ter-se-ia
que a ban do na r para se mpre qua is quer gra ndes esp eran ça s pe lo fut uro
da Alemanha, independente do tipo de paz que ter í amos.
O a ut or, q ue vo t ou pel o pa rt ido conserva dor h á qua se tr ê s d é cadas
e mais tarde votou pelo partido democr á tico, e foi ent ã o convidado a
esc reve r pa ra o K r euzzei tung e escreve agora para jornais liberais, n ão
é pol í tico ativo e nem pretende s ê -lo. A t í tulo de precau çã o, deve-se
aduzir que ele n ã o tem liga çõ es de natureza alguma com nenhum
importante pol í tico alem ã o. Tem boas raz ões para crer que nenhum
partido, nem mesmo a esquerda, se identificar á com o que ele tem a
dizer. Isso se aplica particularmente ao que lhe é mais importante
pessoalmente (se ç. IV, abaixo), e esse é um assunto sobre o qual os
par tido s n ã o t ê m opini ões dive rgent es. O a ut or opto u po r su a s op ini ões
pol í ticas porque os acontecimentos das ú ltimas d é cadas h á muito o
convenceram de que toda pol tica alem , independente de seus obje-
t ivo s, est á c ondena da a o fra ca sso í , em vis tãa da es t rut ura const ituc iona l
e da natureza de nossa m á quina pol í tica, e de que essa situa çã o per-
durar á se a s c ondi çõ es n ã o muda rem. Mais a inda , e le conside ra muito
improv á vel que sempre exi st ir ã o l í deres milita res, a o pre ço de enorm es
sacrif í cios de vidas.
Mudan ç a s t é cnicas na forma de governo por si mesmas n ão
faze m uma na çã o vig oro sa , ou fe liz, o u va lio sa . E la s po dem somente
el imina r o bst á culos t é cnicos e s ã o, a ssi m, mera mente um m ei o pa ra
determinado fim. É lament á vel talvez que tais assuntos burgueses
e prosaicos, que aqui discutiremos com deliberada autolimita çã o e
com exclus ã o de todas as grandes quest õ es culturais essenciais que
se nos defrontem, possam ser de fato importantes. Mas assim s ão
a s co isa s. T em sido p rovad o p el os a contec iment os im po rt a nt es e t ri-
via is: pe la evo lu çã o pol í tic a da s d é ca da s rec entes , mas t a mb é m muito
recentemente pelo malogro total da lideran ç a pol í tica na pessoa de
um burocrata excepcionalmente capaz e decente (Georg Michaelis)
— foi uma esp é cie de te ste p a ra a a n á lise a pre se nt a da po uc o a ntes
do acontecimento nos artigos aqui republicados. 1
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WEBER
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I
O L EGADO DE BISMARCK
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OS ECONOMISTAS
1 Mo ritz B usc h (1821-1899) foi o princ ip a l agente de publ icidade e p a negiri sta oficial de
B is ma rc k. Suas mem órias, B i smar ck: A lgumas P ági nas S ecretas de S ua H i stór i a (Londres:
Macmill a n, 18 98), fo ra m primei ra mente publi cada s na Ingla terra , devi do a restri çõ es legais
vigentes na Alemanha.
2 Ap ós a s medida s inic ia is do esfo r ço de Bismarck para control ar a Igrej a Ca t ólic a (o cha ma do
Kult urka mpf, 18 72-1887, soli da ment e a poia do pel os par tidos liberais), o correu um a tent a do
contra sua vida perpetrado por certo Kullmann, tanoeiro desempregado, cat ólico, em Bad
Kiss ingen , em j ulho de 1 874. Como oc orreu nova ment e em 1 878, qu a ndo os so cial- democra ta s
foram responsabilizados pelos atentados de Hodel e de Nobiling contra a vida do velho
imperador, Bismarck imediatamente tentou tirar vantagem pol í tica deste incidente em seu
conflito com o Partido do Centro. “ Podeis repudiar este assassino quanto o quiserdes ”,
exclamou ele (estando bem vivo) durante o debate do or çamento seguinte, “ mas ele se
agarra firmemente à aba de vossos casacos; sois v ós quem ele considera seu partido. ” Ver
Karl Bachen, Vorgeschichte und Politik der deutschen Zentrumspartei, III (K öln: Bachen,
1927); 219s.
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WEBER
1 Friede ric h J uli us S ta hl ( 1802-1861) e Ludwig von G erlack ( 1795-1877), a mbos c onselhe iro s
do rom â nt ico rei prussia no Frederico G uilherme IV, era m l í deres do c onserva dorismo agr á r io
protestante na Pr ú ssia da metade do s é culo. Stahl, um dos mais eficientes porta-vozes do
Direito Divino dos Reis ap ós a revolu çã o de 1848, foi de grande influ ê ncia na formula çã o
em diretrizes conservadoras da Constitui çã o prussiana de 1850. Gerlack, co-fundador do
Kreuzzeitung, op ôs-se a Bismarck at é o fim, chegando mesmo a ser membro dos delegados
do Partido do Centro do Reichstag depois de 1870. Sobre o mais antigo movimento cris-
t ã o-social em geral, ver W. O. Shanahan, G er man Pr otestants F ace the S ocial Questi on:
The Conservative Phase, 1815-1871 (Notre Dame: University of Notre-Dame Press, 1954).
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1 Rudo lf v on B en nig se n ( 1824-1902), J ose ph V ölk ( 1819-1882) e Fra nz Augu st Fr eikerr S chenk
von Stauffenberg (1834-1901) eram l í deres do Partido Nacional Liberal. Bennigsen chefiou
o par tido de 186 6 a 1898; recusou uma cadeira no governo de 18 77 e a fa stou- se do reichsta g
durante 1883-1887, pois sentia n ã o mais poder cooperar com Bismarck. O direitista V ölk
deixou o partido na primeira discuss ã o sobre legisla çã o tarif á ria em 1878; Stauffenberg,
do sul da Alemanha, foi um dos l í deres do Sezession esquerdista de 1881. Benedikt Franz
Le o Wa ld eck (180 2-1870) era o l í der da esquerda democr á tica na Assembl é ia Nacional
Prussiana de 1848 e novamente na Dieta prussiana durante o conflito constitucional de
1861-1869.
2 O p a i d e Web er d es emp enho u pape l s igni fi ca tivo no P a rtido Nacio na l Li be ral de Berl im
da era bismarckina. Foi magistrado municipal delegado na Dieta prussiana e delegado no
Reichstag. Bennigsen, Miquel e outros l í deres do partido eram h óspedes freq ü entes em
sua casa, e “ já se permitiam aos filhos mais crescidos... ouvir as discuss ões pol í ticas e
a bsorver aq uilo que pudessem co mpreender ” . (Maria nne We ber, M ax Weber : E i n Lebensbild,
Tü bingen , Mohr , 19 26, 42 .) Ainda qu e Weber s ó t ivesse c a torze a nos em 18 78, os interesses
do menino prec oce penetra va m profunda ment e em a ssunt os p ol í tico s (cf. a s cart a s do menino
de catorze e quinze anos reeditadas na obra de Baumgarten, Max Weber , op. cit. , 6-13);
conseq ü entemente, esta afirma çã o e as seguintes podem realmente ser baseadas em suas
pr óprias mem órias daquele per í odo.
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WEBER
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OS ECONOMISTAS
ticas. De qua lquer ma neira , os a cont eciment os po st erio res justi fi caram
1
1 Bis marc k f un do u o Re ich c omo um a Fed era çã o das dinastias reinantes, as quais eram
repre senta da s no B undesra t (Co nselho Federal) ; co ntrolava m formalmente t oda a le gisl a çã o
e “ governavam ” atrav é s de seu presidente, o chanceler, que era indicado pelo imperador
e que normalmente era tamb é m o primeiro-ministro da Pr ú ssia. O Reichstag era a ú nica
institui çã o “ unit á r ia ” , isto é , representa nt e do p ovo a lem ã o como um todo, ma s tinha a pe na s
poderes deliberativos e or çament á rios e nenhum controle sobre o governo federal. Muitas
fun çõ es estatais — as igrejas, a educa çã o, as ferrovias, os correios, e no caso da Bav á r ia
a t é o ex é rcito — permaneciam sob a jurisdi çã o dos Estados individuais. As institui çõ es
centrais que existiam de fato eram dominadas pela Pr ú ssia.
2 Sob re o s bastido res do Conf li to Cons tituc iona l P russi ano, que l ev ou Bismarck ao p oder,
ver The S oci al and P oli tical C onfli ct i n P r ussia: 1848-18 64, de Eu gene N. A nd erson ( Lin coln:
The University of Nebraska Press, 1954).
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WEBER
1 Ludwig W indtho rst ( 1812-1891), a ntigo mini stro ha no ve riano da J usti ça, era o l í der do
Partido Cat ólico do Centro, e como tal era o maior advers á rio parlamentar de Bismarck,
ainda que à s vezes cooperasse durante toda a gest ã o deste.
2 So bre Bi s ma rc k e a l eg is la çã o anti-socialista, ver Guenther Roth, T he S ocial D emocr ats
i n I mper i al G er many (Totowa , N.Y.: T he B edminst er P ress, 196 3) ch. II I; Vernon L.
Lidtke, T he Owtlawed P arty: S oci al D emocr acy i n G er many, 187 8-1890 ( P rincet on U ni-
versit y P ress, 19 66).
35
OS ECONOMISTAS
pl
Serê ndida bandeira
convertida em eleitoral
demagogiaaos(esociais-democratas
p pela pr diga-se) ófoi
é ssima demagogia, pria causa.
tam-
b é m o destino da legisla çã o da previd ê ncia social do Reich nas m ã os
de Bismarck, por mais valiosa que se possa considerar essa legisla çã o
em si mesma . B isma rc k rej ei t a va a le gisl a çã o tra balhis ta de p ro te çã o,
a qual, afinal de contas, era indispens á vel à preserva çã o da for ça da
n a çã o. Rej ei t a va -a a cusa ndo- a , em pa rt e com a rgum ent os inc rivel ment e
superficiais, de interferir nos direitos do patr ã o. Pela mesma raz ã o,
Bismarck utilizou-se das disposi çõ es da legisla çã o antisocialista para
fazer a pol í cia destruir os sindicatos, os ú nicos poss í veis portadores
de uma rep rese nt a çã o objetiva de int eresses da cla sse o per á ria . Assim,
compeliu os membros dos sindicatos ao mais extremo radicalismo de
pura pol í tica partid á ria . P or outro l a do , imi ta ndo c erta s pr á tic a s a me-
ricanas, Bismarck acreditava poder criar uma atitude positiva para
1 Qu ando Bis marc k, em 1 879, q ui s e levar as tarif as alf ande g á rias a fim de tornar o Reich
menos dependente das contribui ções financei ra s dos Est a dos- membro s, o P a rtido do Centro
pa rt icula rista (ma s protec ionista ), de c ujo s votos e le p reci sa va , insistiu que q ua lquer exc esso
a cima de c ento e trint a milh ões de marcos nas novas rendas fosse transferido aos Estados;
se o Reich quisesse qualquer parcela de tais somas, a quest ã o seria novamente remitida
ao parlamento, o qual votava as contribui çõ es de inscri çã o anuais. Georg von Und zu
Fr a nckenst ein (1 825-1890), preemin ent e mem bro b á varo do partido, foi o autor desta cl á u-
sula. Na Pr ú ssia ela foi complementada pelo projeto Huene (1885-1893), obra do delegado
do Centro e latifundi á rio silesiano Karl Huene Baron von Hoiningen (1837-1900); esse
projeto exigia que o Estado prussiano passasse quase quinze milh ões de marcos do legado
Fra ncke nstein a os co nda dos e munici palidades, “ a fim de e li mina r um est í mulo para gast os
insalubres do or çamento do Estado Prussiano ” . Cf. Ernst Rodolp Huber, D eutsche V er fas-
sung sgeschichte sei t 1789, III (Stu tt ga rt : Kohl- ha mmer, 19 63), 951; Ba chen, Z entr umspa rt ei,
op. cit., III, 394 ff.
36
WEBER
com o Esta do , uma gra tid ã o pol í tic a , atra v é s da concess ã o de benef í cios
so ciais a par tir de fundos p ú blic os ou d e fun dos priva dos co mpuls órios.
Grave erro pol í tico: toda pol í tica, que j á tenha contado com gratid ão
pol í tica, fracassou. Tamb é m para a pr á tica pol í tica das boas obras,
vale o ditado: “ Perderam seu sal á r io” . Obtivemos benef í cios para os
enfermos, para os inv á lidos, para os veteranos e para os velhos. Al-
m ej á vamos isso, sem d ú vida. Mas n ã o conseguimos as garantias ne-
cess á rias para preservar a sa ú de f í sica e mental, e para propiciar,
para a sa ú de f í sica e ps í qu ica , a defe sa de seus int eresse s co m so brie-
dade e dignidade; em outras palavras, precisamente a parte poli ti ca-
mente r elevante da popula çã o oper á ria foi deixada de lado. Como no
K ultur kampf, B isma rc k a qui pa sso u po r ci ma de todas a s c onside ra çõ es
psicol ógicas importantes. Acima de tudo, na quest ã o dos sindicatos,
um detalhe passou despercebido, detalhe esse que mesmo hoje alguns
pol í ticos ainda n ã o entendem. Um E sta do que dese ja ba se a r o e sp í rito
da s ma ssa s de se u po vo na honra e na sol idar ie da de n ã o pode esquecer
que, na vi da di á ria e na s luta s e con ômica s d os ope r á rios, os sent iment os
de honra e solidariedade s ã o as ú nicas for ças morais decisivas para a
educa çã o das massas, e que por essa raz ã o deve-se deixar que esses
sentimentos se desenvolvam livremente. Isso, sim, significa, sob o as-
pe ct o pura ment e po l í tico, praticar “ demo cra cia so cia l ” numa é poca qu e
inevitavelmente ainda permanecer á capi ta li sta dura nte muito temp o.
E sta mos aind a hoj e so frendo a s conseq üê nci a s dessa pol í tic a . B is ma rc k
havia criado em torno de si uma atmosfera pol í tica que, em 1890,
deixava-lhe apenas a alternativa de rendi çã o incondicional a Windt-
horst ou de um coup d’état, se ele q uisesse perma nece r n o poder. A ssim,
n ã o foi acidental que a na çã o tivesse reagido com total indiferen ça à
sua ren ú ncia.
Em vi sta da ha bi tua l gl orif ica çã o n ã o cr í tica, n ã o diferen çada , e
pri nci palment e de gra da nt e da po l í tic a de Bisma rc k, p a rec ia j á n ã o sem
temp o, p a ra variar, c ha ma r a a ten çã o para esse lado da quest ã o. Pois
aescrita
parte para
mais ainfluente
mesa dedaNatal
literatura popular
do filisteu (istosobre Bismarck tem sido
é , burgu ê s de esp í rito
vulga r e e st reito) , que p refe re a form a t ot a lment e apol í tic a de adora çã o
de her ói tornada t ã o comum entre n ós. A literatura sobre Bismarck
nesse es tilo sa tisfa z a t a l se nt ime nt a li smo e toma a li be rda de de se rvir
seu her ói oculta ndo sua s li mit a çõ es e dif a ma ndo s eus advers á rio s. Ma s
n ã o se pode educar dessa maneira a na çã o no sentido de que ela de-
senvolva h á bitos de pensamento pol í tico independente.
N ã o diminui a estatura gigante de Bismarck o ser justo para
com seus a dvers á rios, salientar sem disfarces as conseq üê ncias de sua
misantropia e assinalar o fato de que, desde 1878, a na çã o est á desa-
costumada a participar, mediante seus representantes eleitos, da re-
solu çã o de seus assuntos pol í ticos. Tal participa çã o, afinal de contas,
é a precondi çã o para desenvolver o discernimento pol í tico.
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OS ECONOMISTAS
1 Herbe rt vo n Bismarck (1849-1904) foi sec ret á rio de Estado para Assuntos Estrangeiros no
governo de seu pai de 1886 at é a queda deste, em 1890.
38
II
BUROCRACIA E L IDERAN Ç A
POL Í TICA
1. B ur ocr aci a e Pol í tica
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OS ECONOMISTAS
40
WEBER
mente t í pico de todas essas organiza çõ es; sua exist ê ncia e sua fun çã o
s ã o inseparavelmente causa e efeito dessa concentra çã o dos meios de
produ çã o — de fato, o aparelho é sua pr ópria forma. A crescente “ so-
cializa çã o” na esfera econ ômica, hoje, significa um inevit á vel aumento
na buro cra tiza çã o.
O “ progresso ” em dire çã o ao Estado burocr á tico que julga e ad-
minist ra segundo o di reito e pre cei t os r a ciona lment e esta bel ecido s t em
hoje em dia estreitas rela çõ es com o desenvolvimento capitalista mo-
derno . A mode rna emp resa ca pi ta li sta ba se ia- se f unda menta lme nt e no
cá lculo e pressup õe um sistema administrativo e legal cujo funciona-
mento pode ser racionalmente calculado, em princ í pio pelo menos, em
virtude de suas normas gerais fixas, exatamente como o desempenho
previs í vel de uma m á quina. A moderna empresa capitalista n ã o pode
aceitar o que é popularmente denominado “ justi ça de c á di ” : julgar,
segundo o senso de eq ü idade do juiz, determinada causa ou segundo
out ros meio s e princ í pio s irra ciona is de a plic a çã o ju r í dic a que ex istira m
em toda parte no passado e ainda existem no Oriente.
A emp resa m oderna ta mb é m a cha inc ompat í veis os go vern os teo-
cr á ticos ou patrimoniais da Ásia e de nosso pr óprio passado, cujas
administra çõ es f unci ona va m de ma nei ra pat ria rc a l se gundo s eu p r óprio
crit é rio individual e, de resto, segundo a tradi çã o inviolavelmente sa-
gra da , ma s irraci ona l. O fat o de que a “ justi ça de c á di ” e a correspon-
de nt e a dmini stra çã o s ã o freq ü entemente venais, precisamente em fun-
çã o de seu car á ter irracional, permitiu o desenvolvimento, e ami ú de
a exuberante prosperidade, do capitalismo de negociantes e fornece-
dores do governo, e de todos os tipos pr é -racionais de capitalismo co-
nh ecido s dura nt e qua t ro mil a nos, esp ecia lment e o ca pi t a lismo do a ven-
tureiro e do buscador de pilhagem, que viviam da pol í tica, da guerra
e da administra çã o. Contudo, as caracter í sticas espec í ficas do capita-
lismo moderno, ist o é , a orga niza çã o do tr a ba lho rigo ro sa mente r a ciona l,
imp lant a da na tec no logi a ra ciona l, e m co nt ra ste c om a s fo rma s a ntiga s
de aquisi
tados çã o capitalista,
irracionalmente n
e nunca o se desenvolveram
ãpoderiam em nenhum
ter neles aparecido, desses Es-
porque
essas organiza çõ es modernas, com seu capital fixo e c á lculos precisos,
s ã o por dema is vulner á ve is a irra ciona li da des le ga is e a dministra tiva s.
Somente poderiam ter se manifestado em circunst â ncias tais como: 1)
na Inglaterra, onde o desenvolvimento da jurisprud ê ncia estava pra-
ticamente nas m ã os dos advogados, que, a servi ço de seus clientes
capitalistas, inventaram formas apropriadas para a transa çã o de ne-
g ócios, e de cujo meio eram recrutados os ju í zes, rigo rosam ent e li ga do s
a casos precedentes, isto é , a esquemas previs í veis; 2) onde o juiz,
como no Estado burocr á tico com suas leis racionais, é mais ou menos
um aut ô mato cumpridor de par á grafos: os documentos legais, junta-
mente com as custas e emolumentos, s ã o colocados na entrada na
esperan ça de que a dec is ã o eme rj a na sa í da junta mente c om a rgume n-
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OS ECONOMISTAS
1 Aid é ia de que o Direito Romano fomentou o capitalismo é parte do anedot á rio dos cr í ticos
amadores: todo estudante deve saber que todos os princ í pios elementares legais caracte-
r í sticos do capitalismo moderno (desde a a çã o, o deb ê nture, a hipoteca moderna, a letra
de c â mbio e todo s os tipos de tra nsa çã o, a t é as forma s ca pi ta li sta s de a sso cia çã o na ind ú stria,
na mine ra çã o e no com é rcio) eram completamente desconhecidos no Direito Romano e s ão
de o rigem medieval, e em part e germ â nicos. Al é m disso, o Direito Roma no nunca conseguiu
se firmar na Inglaterra, onde o capitalismo moderno se srcinou. A aceita çã o do Direito
Romano na Alemanha tornou-se poss í vel devido à a us ê ncia das grandes associa çõ es nacio-
na is de a dvo ga dos que na I nglat erra se o puse ra m a esta evo lu çã o, e devido à buroc ra tiza çã o
do direito e da administra çã o. O capitalismo moderno, em seus in í cios, n ã o se srcinou
nos burocr á ticos Estados-modelo, onde a burocracia era um produto do racionalismo do
Estado. O capitalismo avan çado, tamb é m, a princ í pio n ã o se limitou a esses pa í ses; de
fato, nem se localizou neles em primeiro lugar; apareceu onde os ju í zes eram recrutados
das fileiras de advogados. Hoje, contudo, o capitalismo e a burocracia se encontraram e
formaram í ntima uni ã o. (Nota de rodap é de Weber.)
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WEBER
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OS ECONOMISTAS
l í tic a para intere sse s ge ra is . P a ra a buro cra cia, iss o a ume nt a ria a opor-
tunidade e a tenta çã o de aproveitar-se dos interesses econ ômicos di-
vergentes e de expandir o sistema de ajuda pol í tica m ú tua pela con-
cess ã o de cargos e contratos, a fim de preservar seu pr óprio poder.
Qua lquer co nt rol e p ú blic o exe rcido sobre a a dm inist ra çã o seria ilus ório,
pois as medidas e os acordos decisivos dos grupos interessados seriam
realizados atr á s das portas fechadas das associa çõ es n ã o p ú blicas e
seriam ainda menos control á veis do que antes. No parlamento, seria
o homem de neg ócios astuto e n ã o o l í der pol í tico quem colheria as
vantagens dessa situa çã o: um ór g ã o “ representativo ” dessa natureza
seria o menos adequado imagin á vel para a solu çã o de problemas po-
l í ticos de acordo com crit é rios verdadeiramente pol í ticos. Tudo isso é
evidente para quem compreende esses assuntos. Tamb é m é óbvio que
tais medidas n ã o conseguiriam diminuir a influ ê ncia capitalista nos
partidos e no parlamento, ou mesmo eliminar, ou pelo menos sanar a
agita çã o dos partidos. Sucederia o oposto. O fato de que os partidos
ope ra m n o princ í pio de l ivre re crut a ment o impe de sua r egulam enta çã o
pelo Estado; isso escapa ao discernimento daqueles cr í ticos que gosta-
ria m de reco nh ecer so ment e orga niza çõ es estabelecidas por direito p ú-
blico, n ã o as que se es ta be le cem no c a mpo de bat a lha da ordem so cial
de hoje.
No s E st a do s m odernos, o s pa rt ido s po l í t icos po dem ba sea r-se fun-
da menta lme nt e e m do is p rinc í pios intr í nsec os distin t os. P odem os p a r-
tidos ser essencialmente organiza çõ es para concess ã o de cargos, como
o t ê m sido nos Estados Unidos desde o fim das grandes controv é rsias
sobre a interpreta çã o da Constitui çã o. Nesse caso est ã o os partidos
meramente interessados em colocar seu l í der na posi çã o m á xima, a
fim de que este possa transferir cargos estatais a seus seguidores, ou
seja, aos membros dos staffs ativos e de campanha do partido.
Desde que os partidos n ã o t ê m princ í pios expl í citos, eles compe-
tem um contra o outro, incluindo em seus programas as exig ê ncias
das quais
muito esperam nos
pronunciada o maior impacto.
Estados Unidos Essa caracter
devido à a uí stica partid
s ê ncia ria é
de umásis-
tema par lam enta r; o pre side nt e da fe dera çã o, eleito pelo povo, controla
— juntamente com os senadores eleitos pelos Estados — a concess ã o
do vasto n ú mero de cargos federais. Apesar da corrup çã o resultante,
esse sistema era popular, pois impedia o aparecimento de uma casta
burocr á tica. Tecnicamente era exeq üí vel, porquanto mesmo a pior ad-
ministra çã o, conduzida por diletantes, podia ser tolerada em vista da
ilimitada abund â ncia de oportunidades econ ômicas. A crescente neces-
sida de de subst itu ir o inexpe rient e protegido pe lo pa rt ido e funcio n á rios
oportunistas pelo funcion á rio e spe cia lizado, tecnic a ment e tr ei na do, re -
duz progressi va ment e os benef í cios do pa rt ido e re sulta inevi t a vel ment e
numa burocracia de tipo europeu.
Ou, ent ã o, os partidos se baseiam sobretudo em uma ideologia
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WEBER
1 S obr e o S ezessi on e sua fus ã o com o Partido Progressista, ver acima, parte II, cap. XIV,
n º 9. Sobre a organiza çã o em geral dos partidos alem ã es durante o Imp é rio, ver Thomas
Nipperdey, Die Organization der deutschen Parteien vor 1918 (D ü sseldorf: Droste, 1961).
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OS ECONOMISTAS
se dèár etamb
mis pa rlaémenta r deve -senaà Alemanha.
m parcialmente a u s ê nci a de
Napart
IdadeidoMs buroc raétiza
dia, do s. Isso
a admi-
nistra çã o exercida por dignit á rios locais dominava todas as formas de
associa çõ es ; a inda pre do mina em c omunida des pe quena s e de ta ma nho
m é dio, mas hoje em dia “ os cidad ã os respeit á veis ” , “ pree minent es h o-
mens de ci ê ncia ” , ou qualquer que seja seu r ótulo, s ã o usados mera-
mente como propaganda, n ã o como executores das rotinas decisivas.
P ela me sma ra z ã o, v á rios dignit á rios dec ora t ivo s figura m n os conselhos
da s so cie da des a n ô nima s po r a çõ es; pr í ncipes da Igreja s ã o ostentados
nos c ong ressos do la ica t o ca t ólic o; a ut ê nt icos e pseudo- a rist ocra t a s com-
parecem à s reuni ões da Liga dos Agricultores, e dignos historiadores,
bi ólogos e e spec ia lista s do g ê nero, gera lment e inexp erie nt es e m a ssun-
t os po l í t ico s, s ã o a tra í do s p a ra a a gi ta çã o do s pala dinos pa ngerm â nicos,
ansiosos de proveitos de guerra e privil é gio s ele itora is. O tra ba lho p ro-
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telementares
í vel , po is toda orgafoi
da vida, niza çã o, mesmo
adaptada da s provid
a seu modo de operaê ncias pelas çãcoisas maiseli-
o. Uma
mina çã o p rogressi va do c a pi t a lismo priva do é t eorica men t e conc eb í vel,
a inda q ue certa mente n ã o seja t ã o f á cil como o fazem supor os sonhos
de alguns cr í ticos que desconhecem o assunto. Essa elimina çã o, com
toda a certeza, n ã o ser á uma das conseq üê ncias desta guerra. Mas
supo nh a mos que, no fut uro, o ca pi t a lismo priva do sej a el imina do . Qua l
seria o resulta do pr á tico? A destrui çã o da es trut ura de a ço do tra balho
indust ria l mo derno? N ã o! A a boli çã o do ca pi t a lismo priva do signif ica ria
simplesmente que tamb é m a alta administra çã o das empresas nacio-
nalizadas ou socializadas tornar-se-ia burocr á t ica . As co nd i çõ es de tra -
balho di á rio dos empregados assalariados e dos oper á rios nas minas
e estradas de ferro estatais, na Pr ú ssia, ser ã o acaso perceptivelmente
dif ere nt es , na rea li da de, da s c ondi çõ es na s gra ndes e mpres a s de ca pi ta l
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OS ECONOMISTAS
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1 Co mo fontes russ as me afi rmara m que o Sr. Ke re nsk i se teri a util izado de sta passagem
extra í da do Frankfurter Zeitung em com í cios p ú blicos para mostrar a necessidade de sua
ofensiva como uma prova de “ for ça ” , permitiam-me aqui dirigir-me explicitamente a este
coveiro da jovem liberdade da R ú ssia: uma ofensiva s ó pode ser lan çada por algu é m que
disponha dos necess á rios recursos — por exemplo, artilharia suficiente para reter a infan-
ta ria inimi ga em sua s tr inc heiras, e sufic ientes meio s de tra nspo rte e de suprime ntos para
deixar os pr óprios soldados em suas trincheiras sentirem sua depend ê ncia desse algu é m
para a obten çã o de alimento. A “ fraqueza ” do chamado governo “ social-revolucion á r io ” d o
Sr. Kerenski, contudo, estava em sua falta de cr é dito, como j á vimos, como j á foi explicado
alhures (Cf. “ Russlands Ü bergang zur Scheindemokratie ” , em Die Hilfe, 26 de abril de
1917, reimpresso em GPS, 192-210), e na necessidade de negar seu pr óprio idealismo, de
concluir uma alian ça com a “ Entente ” imperialista burguesa, e assim sacrificar centenas
de milhares de seus pr óprios compatriotas como mercen á rios para interesses alien í genas
a fim de conseguir cr é di to p ara a manuten çã o de sua pr ópria domi na çã o na p á tria. Creio
que infelizmente tinha raz ã o quanto a esta previs ã o, como quanto a outras que fiz em
outro lugar a respeito da atitude da R ú ssia . (N ã o vejo raz ã o para modificar esta passagem,
escrita h á muitos meses.) (N. de rodap é de Weber.)
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1 N achtwächterstaat era o ep í teto comumente aplicado ao Estado liberal com sua redu çã o
de fun çõ es, pelos cr í ticos da doutrina do laissez-faire . A refer ê ncia, é claro, se endere ça à
Inglaterra manchesteriana.
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da a dmi nisdito)
priamente tra çã o se
ou, ja m tãira
ent o, dos
que,depara ei o ( si stema
se usemmanterem par lamentar
em seus cargos, pro-
precisam do voto expresso e declarado de confian ça da maioria, ou, ao
menos, que n ã o sejam objeto do voto de desconfian ça (seleção parla-
mentar dos l í deres) e, por essa raz ã o, devem prestar contas absolutas
de seus atos à revis ã o do parlamento ou de suas comiss ões (r esponsa-
bilidade parlamentar dos l í deres) e dever ã o, ainda, conduzir a admi-
nistra çã o de acordo com as diretrizes estabelecidas pelo parlamento
(controle administrativo do parlamento). Ent ã o os l í deres dos partidos
dominantes t ê m uma part icip a çã o positiva no go verno, e o pa rla ment o
converte-se num fator de pol í tica positiva, ao lado do monarca que
a go ra go rve rna n ã o ma is e m virt ude de se us direitos fo rm a is da coroa
— pelo men os n ã o exclusivamente —, ma s em vi rt ude de sua infl u ê ncia
pessoal, influ ê ncia que permanece grande de qualquer maneira, mas
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OS ECONOMISTAS
varia de acordo com seu grau de prud ê ncia e energia pol í tica. Isso é
o que significa Volksstaat (Estado do povo), independente de o termo
ser apropriado ou n ã o; em contraposi çã o, um parlamento de gover-
na do s que s ó recorre à p ol í tica negativa em face de uma burocracia
dominante representa uma vers ã o do Obrigkeitsstaat (E sta do de au-
toridades). Aqui estamos interessados nas conseq ü ê ncias concretas
da posi çã o do parlamento.
Quer amando, quer odiando a pol í tic a pa rl a me nta r — n ã o pode-
mos afast á -la. Quando muito, o parlamento pode ser reduzido à im -
pot ê ncia pol í tica, como fez Bismarck com o Reichstag. Al é m das con-
seq üê nc ias gerais da “ pol í tic a neg a tiva ” , a fraq ue za do parla mento tem
outros resultados (que podem ser mais bem compreendidos se primei-
ra ment e nos le mbra rm os do pa pe l de um pa rla ment o fo rt e). Todo c on-
flito no parlamento implica n ã o somente numa luta por quest ões im-
portantes mas tamb é m numa luta pelo poder pessoal. Onde quer que
o par lam ento se ja t ã o f ort e que, via de regra , o mona rca confie o go verno
ao porta-voz de uma maioria bem definida, a luta dos partidos pelo
poder ser á uma disputa pelo mais alto posto executivo. A luta é en t ã o
conduzida por homens que t ê m fortes instintos de poder pol í tico e
qua li da des a lta mente dese nvo lvi da s de li dera n ça pol í t ica , e c onseq ü en -
temente a possibilidade de assumir as posi çõ es mais elevadas; pois a
sobreviv ê ncia do partido fora do parlamento, e incont á veis interesses
de natureza ideol ógica e parcialmente bem material, estreitamente li-
ga dos a o pa rt ido , e xige m q ue l í deres c a pa zes c heguem a posi çõ es-chave.
S oment e so b semel ha nt es c ondi çõ es p odem homens co m t empe ra ment o
e talento pol í ticos ser motivados a se sujeitarem a essa esp é cie de
sele çã o pela competi çã o.
As coisas s ã o completamente diferentes se, sob o r ótulo de “ go-
verno mon á rquico ” , a indica çã o a posi çõ es-chave for conseq üê ncia de
autopromo çã o de burocratas ou devida a uma acidental amizade in-
flue nt e (da cort e), e se um pa rla ment o impo t ent e p rec isa r se submet er
aà tal
parforma çã ot de
te de ques õesgoverno.
imp ort aTamb é m mpe
nt es, dese nesse caso
nha as ambi
m na ntes
t ura lmeçõ pessoais,
e um papel
e dire çõ es de formas subalternas muito diferentes, e dire çõ es como as
que t ê m sido seguida s n a Ale ma nh a desde 1 890. Al é m de rep rese nt a r
os interesses econ ô micos locais de leitores influentes, a concess ã o de
ca rgos suba ltern os t orn a -se o princ ip a l int eresse do s pa rt ido s. O c hoque
entre o Chanceler B ü low e o Partido do Centro (em 1906) n ã o foi
motivado por diferen ças pol í ticas, mas essencialmente pela tentativa
do chanceler de ab-rogar o direito de concess ões de cargos do partido
que a inda hoj e ca ra cteriza m a compo si çã o do c orpo de pesso a l de a lgun s
ór g ã os centrais do Reich. O Partido do Centro n ã o é o ú nico nesse
par tic ula r. Os pa rt ido s c onserva do res ma nt ê m seu monop ó lio de cargo
na Pr ú ssia e procuram atemorizar o monarca com o espectro de r e-
volu çã o” sempre que esses benef í cios se encontrem em perigo. Os par- “
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OS ECONOMISTAS
mas n ã o podem sent a r-se no Re ichst a g. E ssa cl á usula foi simpl esmente
uma imita çã o mec â nica da exclus ã o dos pares brit â nicos da C â mara
dos Comuns (e provavelmente trasladada da Constitui çã o prussiana).
Conseq ü entemente, foi um ato de irreflex ã o, e essa cl á usula precisa
agora ser eliminada. Por si mesmo, isso n ã o ser á equivalente à intro-
du çã o do si stema parla menta r o u do pat ro na to p a rlamenta r, ma s c riar á
a oportunidade para que um parlamentar politicamente competente
sej a a o mesmo t empo membro impo rt a nt e do go verno i mperia l. É d if í cil
compree nder po r q ue um dep ut a do que se mo stra a dequa do par a uma
posi çã o-chave deva ser for çado a abandonar sua base pol í tica antes
que possa assumir seu posto.
Se Bennigsen tivesse ingressado no governo na é poca (1877/78)
e tivesse deixado o Reichstag, Bismarck teria transformado um im-
portante l í der pol í tico num funcion á rio administrativo sem apoio par-
lamentar, e o partido (nacional-liberal) teria sido dominado por sua
ala esquerda ou teria se desintegrado — e este talvez fosse o objetivo
de Bismarck. Hoje o deputado (nacional-liberal) Schiffer perdeu sua
influ ê ncia no partido unindo-se ao governo e entregando-o, assim, à
ala do big business. 1 Dessa maneira, os partidos s ã o “ decapitados ” , e,
em vez de pol í ticos eficientes, o governo ganha funcion á rios sem trei-
na mento pro fi ssi ona l numa ca rrei ra buro cr á tic a e se m a infl u ê ncia de
um parlamentar. Isso resulta no mais baixo modo conceb í vel de “ su-
bornar ” os partidos. O parlamento se transforma num degrau para a
carreira de talentosos aspirantes a secret á rios de Estado: essa id é ia
tipicamente burocr á tica é defendida por cr í ticos em pol í tica e direito,
que assim consideram o problema do parlamentarismo alem ã o solu-
cionado de uma maneira especificamente “ alem ã ” ! Esses mesmos c í r -
culo s zo mba m da pr á tic a da pro cura de c a rgo s, que a el es se a pre se nt a
como um fen ômeno exc lusivam ente “ europe u ocident a l ” e “ democr á tico ” .
Nunca compreender ã o que os l í deres parlamentares buscam cargos
n ã o motivados por sal á rio ou posi çã o, mas para alcan çar o poder e a
responsabilidade que dele dimana, e que esses l í deres s ó podem ter
bom ê xito se tiverem um s é quito parlamentar; tamb é m nunca com-
preender ã o esses c í rculos que h á uma diferen ça entre fazer do parla-
mento uma se çã o de recrutamento para l í deres ou trampolim para
carreiristas burocr á ticos. Durante d é cadas os mesmos grupos ridicu-
larizara m o s p a rlamentos ale m ã es e seus pa rt idos p or verem n o gove rn o
algo como um inimigo natural. Mas em nada os perturba o fato de
qu e, devi do a restr i çõ es — dirigi da s e xclusivam ent e cont ra o Reic hst a g
— do artigo 9, o Bundesrat e o Reichstag s ã o tratados por lei como
for ças hostis que s ó podem estabelecer rela çõ es entre si atrav é s de
declara çõ es da tribuna do segundo e da mesa de confer ê ncias do pri-
1 E ugen S chi ffer (1 860-1954), deput a do na ciona l-libera l, foi nomea do sub secret á rio de Esta do
no tesouro Imperial em 1917.
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WEBER
1 É engra çado que, logo no (ultraconservador) K r euzzei tung , um escritor an ônimo deduza a
incompatibilidade das duas posi çõ es da considera çã o jur í dica formal de que os deputados
parla menta res deve m vota r de a cordo c om sua s co nvic ções, mas os membro s do Bundesra t
de acordo com instru çõ es. O K r euzzei tung n ã o se incomoda com o fato de que numerosos
Landr ä te, que desde os tempos de Puttkamer t ê m sido respons á veis pela “ representa çã o
da linha pol í tica do governo ” , tenham assento na Dieta prussiana; nem é o K r euzzei tung
perturbado por secret á rios imperiais de Estado que, como delegados na Dieta prussiana,
como seria de se esperar, criticassem as instru çõ es recebidas, como membros do Bundesrat,
do governo respons á vel perante esta Dieta. Se um l í der partid á rio, que é tamb é m um
membro do B undesrat , n ã o pode conseguir instru çõ es que co rresponda m à s sua s co nvic çõ es ,
deve renunciar. De fato, isso deveria ser feito por todo pol í tico. Voltaremos a isso mais
abaixo. (N. de rodap é de Weber.)
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OS ECONOMISTAS
a sua gra nde c a pac idade de tra balho e a se u insup er á vel c onh eciment o
sobre o or çamento. Ele foi certamente o ú ltimo delegado a ser capaz
de verificar o destino que o Minist é ri o da G ue rra dava a ca da ce nta vo
gasto a t é n a ma is remo ta ca nt ina . Ape sa r de a borrec ido s, func ion á rios
do Minist é rio da G uerra em di ve rsa s o ca si ões expressaram a mim sua
admira çã o com refer ê ncia à capacidade de entendimento que Richter
demonstrava ter desses assuntos. Presentemente, a eminente posi çã o
de Matthias Erzberger, do Partido do Centro, reside em sua atividade
fren é tica, sem a qual a influ ê ncia desse pol í tico, cujo talento pol í tico
é bastante limitado, mal seria compreens í vel. 1
Contudo, a atividade n ã o qualifica um homem para a lideran ça
no governo nem em um partido — duas coisas que de modo algum
s ã o t ã o diferentes quanto o sup õem nossos rom â nticos cr í ticos. Que eu
saiba, todos os partidos alem ã es tiveram no passado homens com ta-
le nt o de li dera n ça pol í t ica : Von B ennigsen; V on Miq uel, Von S t a uffen-
berg, V ölk e outros, entre os nacionais-liberais; Von Mallinckrodt e
Windhorst , do P a rt ido do Cent ro; V on B eth usy- H uc, V on Minnigero de,
Von Manteuffel, entre os conservadores; Von Saucken-Tarputschen,
entre os progressistas; e Von Vollmar, entre os sociais-democratas.
Todos eles faleceram ou se retiraram do parlamento, como Bennigsen
n a d é cada de 1880, porque n ã o podiam ingressar no governo como
l í deres partid á rios. Se delegados tornam-se de fato ministros, como
Von Miquel e M ö ller, t ê m que abandonar seus compromissos pol í ticos
anteriores a fim de se ajustarem aos minist é rios puramente burocr á-
ticos. (Na ocasi ã o, M öller disse encontrar-se na desagrad á vel situa çã o
de ter tornado p ú blicas suas opini õ es particulares em seus antigos
discursos quando ainda era deputado!) Contudo, restam muito l í deres
na tos na Ale ma nha . Mas onde se enc ont ra m? A resp osta a go ra é f á cil.
P a ra cita r um ex empl o, refi ro-me a um h omem cuj a s o pi ni ões e at itudes
pol í ticas em rela çã o a reformas sociais s ã o radicalmente opostas às
minhas. Por acaso acredita algu é m que o atual diretor da Krupp, an-
tàerio
s frorm ent eori
nt eiras um ent
funci
a ison á riovap de
, e sta ú blic o, ele
stina do amen t o a tstra
a dmini ivo na pol ior
r a ma í tica
emprelativa
res a
industria l da Ale ma nha , e m vez de diri gir um minist é rio-chave ou um
podero so par tido p a rla menta r? 2 P or qu e ent ã o preenche ele a primeira
fu n çã o e, presumivelmente, sob as atuais condi çõ es, recusaria a se-
gunda ? P a ra ga nha r ma is dinhei ro ? Supo nho, em ve z di sso , uma r a z ã o
1 Mat thias E rzbe rger ( 1875-1921) foi o ma is p ree mine nte memb ro d o P a rtido do Centro
dura nte o pe r í odo da guerra. L í der da a la esquerda demo cr á tica , desempenhou pa pel -cha ve
no processo de parlamentariza çã o e nos primeiros tempos do governo de p ós-guerra; foi
assassinado por fan á ticos nacionalistas em 1921. Cf. Klaus Epstein, M atthias E r zber ger
and the D i lemma of G er man Democracy (Princeton: Princeton University Press, 1959).
2 Ap ós 1918, Alfred Hugenberg realmente tornou-se ambas as coisas: de sua base propagan-
d í stica no jornalismo e na ind ú stria cinematogr á fica ele prosseguiu para chefiar o Deutsch-
Na tiona le Pa rt ei direitista em 1 928 e ingr esso u no primei ro gabinet e de Hit ler c omo ministr o
da Economia em 1933, na esperan ça completamente err ônea de poder manipular Hitler.
60
WEBER
1 I sso é uma refe r ê nci a a um pro v é rbio muito usad o: “ Em assuntos monet á rios G emütlichkeit
encontra seus limites ” ; diz-se que foi formulado pela primeira vez pelo industrial e l í der
liberal David Nansemann na Dieta prussiana em 8 de junho de 1847.
61
OS ECONOMISTAS
eles tiverem ê xito. É assim que deve ser. A a o pol tica é sempre
determina da pe lo “ princ í pio de n ú meros pequenos çã” , isto í é , a ma no bra-
bilidade pol í tica superior de pequenos grupos l í deres. Em Estados de
massas, esse elemento cesarista é inextirp á vel.
Contudo, esse elemento sozinho garante que a responsabilidade
para com o p ú blico, que se dissiparia dentro de uma assembl é ia cons-
titu í da de muitas cabe ças a governar, est á a cargo de pessoas clara-
mente identific á veis. Iss o é especialmente ver í dico de uma democracia
propriamente dita. Funcion á rios eleitos diretamente pelo povo revela-
ram-se em duas situa çõ es: primeiramente, nos cant ões locais, onde os
1 Bismarc k f oi mi ni str o pruss iano d a mal o rgani zada Die ta F ederal e m Frankf urt, n a qual a
Áustria ainda desempenhava papel dominante, de 1851 a 1859. Cf. Oskar Meyer, Bismarcks
K ampft mit Ö sterrei ch am Bundestag zu F r ankfurt (1851-1859) (B erl in : K oebl er, 1927).
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WEBER
membros de uma popula çã o est á vel conhecem-se uns aos outros pes-
soalmente, e as elei çõ es podem ser determinadas pela reputa çã o de
uma pessoa na comunidade. O segundo caso, que é v á lido somente
com v á ria s re se rva s, é a el ei çã o a o ma is a lto c a rgo p ol í tic o num E sta do
de massas. Rara me nte é o ho mem ma is p ro emi nente, ma s geralment e
um l í der pol í t ico a pro pria do , que a t inge o poder supremo dessa m a neira .
Contudo, para a massa de funcion á rios de escal ã o intermedi á rio, es-
pecialmente os que necessitam de um treinamento especializado, a
elei çã o popular, via de regra, fracassa completamente, e por raz ões
compreens í vei s. No s E st a do s U nidos , o s ju í zes indica dos pe lo president e
elevam-se acima daqueles eleitos pelo povo, em termos de capacidade
e integridade. O homem que os indicava era, afinal de contas, respon-
s á vel p el a qu a lif ica çã o do funcion á rio e o pa rt ido go verna nt e era o qu e
so fria, se gra ndes a buso s oc orresse m m a is ta rde. No s E sta do s U nido s
o sufr á gio imparcial tem resultado freq ü entemente na elei çã o de um
homem de confian ça para o cargo de prefeito, com ampla liberdade
pa ra cri a r sua pr ó pri a a dmini stra çã o munic ip a l. O si stema par la menta r
ingl ê s igualmente tende para o desenvolvimento de tais configura çõ es
cesar ista s. O primei ro-minist ro gan ha uma cresc ent e posi çã o do mina nt e
em rela çã o ao parlamento, do qual ele saiu.
Exa ta mente c omo qualquer o utra orga niza çã o huma na , a sel e çã o
de l í deres pol í ticos atrav é s dos partidos tem suas falhas, mas com
respeito a estas os cr í ticos alem ã es discorreram ad nauseam durante
a s ú ltimas d é cadas. Claro est á que o sistema parlamentar tamb ém
esp era do i ndiv í duo que este se subo rdine a l í deres que freq ü entemente
s ó po dem s er a ceit os co mo um “ ma l meno r ” . Ma s o Obrigkeitsstaat n ã o
lhe d á nenhuma escolha e lhe imp õe burocratas em vez de l í deres, o
que c om ce rt ez a fa z uma pe quena dif ere n ça . Ainda ma is, a pl utoc ra cia
floresce na Alemanha tanto quanto em outros pa í ses, ainda que de
forma um pouco diferente. Os cr í ticos pintam os grandes poderes ca-
pi t a lista s na s c ores ma is so mbria s, e note- se, n ã o obsta nt e, se m n enhum
conh
mesmos eciment o. Hque
poderes, á a conhecem
lgumas s óseus
lidaspr
raz õesóprios
por tr interesses
á s do f a tbem
o de que estes
melhor
do que aqueles te óricos de gabinete, colocam-se com unanimidade do
lado do burocr á tico Obrigkeitsstaat e contra a democracia e o parla-
mentarismo; isso é especialmente ver í dico com rela çã o à in d ú stria pe-
sada, o mais impiedoso desses poderes capitalistas, mas essas raz ões
permanecem fora do conhecimento dos filisteus liter á rios. À sua ma-
nei ra moraliza nt e, es tes a ssi na lam o fa to de que o s l í dere s par tid á rios
s ã o motivados pela vontade de poder e seus seguidores por interesse
eg oí sta na busca de cargos — como se os aspirantes burocr á ticos n ã o
tivessem igualmente seu pensamento polarizado pelo bin ômio carrei-
r a /sa l á rio , ma s fo ssem inspira dos p el os m ot ivo s m a is desi nt eressad os.
O papel da demagogia na luta pelo poder demonstrado a todos pela
atual (janeiro 1918) campanha jornal í sticaé a respeito de quem de-
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OS ECONOMISTAS
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III
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OS ECONOMISTAS
lidar com problemas pol í ticos. Isso n ã o é a cid ent a l; a nt es se ria esp a n-
toso se capacidades intrinsecamente t ã o estranhas umas à s outras
eme rgisse m dentr o da mesma estrut ura pol í t ica . Como j á a ssi na lamos ,
n ã o é do dever do funcion á rio p ú blico entrar na arena pol í tic a comba -
t endo p or sua s co nvic çõ es pr óprias, e nesse sentido engajar-se na luta
pol í t ica . Ao cont r á rio, seu orgulh o est á em c onservar a imp a rc ialida de
pol í tica, e, conseq ü entemente, em passar por cima de suas pr óprias
inclina çõ es e opini ões, a fim de aderir consciente e judiciosamente a
um regulamento geral assim como a uma diretriz especial, mesmo e
particularmente se estas n ã o correspondem a suas pr óprias atitudes
pol í ticas. Mas os chefes da burocracia precisam continuamente solu-
cionar problemas pol í ticos — problemas de M achtpoli ti k assim como
de K ultur poli tik . A pri mei ra ta ref a do par lam ento é su pe rvisio na r esse s
chefes da burocracia. Entretanto, n ã o apenas as tarefas designadas
a os a lto s esc a l ões da buro cra cia ma s ta mb é m c a da de ta lhe t é cnico dos
n í vei s a dminist ra t ivo s inferio res po dem t orn a r-se po litic a ment e impo r-
tantes e sua solu çã o pode depender de crit é rios pol í ticos. Os pol í ticos
deve m ser a for ça de e quil í brio cont ra a do mina çã o burocr á tica. A isso,
entretanto, resistem os interesses de poder dos setores dirigentes de
uma mera burocracia, que querem ter m á xima isen çã o de supervis ã o
e estabelecer um monop ólio em cargos de gabinete.
1. Supervis ão E fi caz e a B ase de Poder da B ur ocr aci a
A supervis ã o efic a z sobre o fun ciona lismo dep ende de ce rt a s pr é -
condi çõ es. Independentemente de ter suas ra í zes na divis ã o adminis-
t ra t iva de tr a ba lho , o poder de todo s o s buroc ra t a s reside em do is tipo s
de co nh eciment o: prim eiro , co nh eciment o t é cnic o no s ent ido ma is a mplo
do termo, adquirido mediante treinamento especializado. Quer esse
tipo de conhecimento seja tamb é m representado no parlamento, quer
os deputados possam, em car á ter particular, consultar especialistas
em determinado caso, é incidental e é um assunto pessoal. Para su-
pervisionar
ra menta daa) deadministra
p eri tos p eraçãntoe numa
ã o hcomiss
á o que ãsubstitua a acarea
o parla menta r, na preçãseo n(ju-
ça
de funcion á rios convocados dos respectivos departamentos. Essa aca-
r ea çã o garante, por si mesma, o controle e a imparcialidade do in-
terrogat ó rio. Hoje o Reichstag simplesmente carece do direito de
proceder dessa forma: a Constitui çã o o condena a uma ignor â ncia
pr ó pria de amador.
E nt reta nt o, o c onh eciment o e spe cia lizad o p or si s ó n ã o explica o
poder da burocracia. Al é m disso, o burocrata tem informa çõ es oficiais
que s ó s ã o consegui da s median te can a is a dministra tivo s e que lhe fo r-
necem os dados nos quais ele pode fundamentar suas a çõ es. S ó quem
consegue ter acesso a esses dados, independentemente da boa vontade
dos funcion á rios, pode supervisionar eficazmente a administra o. De
acordo com as circunst â ncias, os meios apropriados s ã o a inspe çãçã o de
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WEBER
na
pelamaneira pelabrit
imprensa qual os tr e seus
â nica â mites das comiss
leitores. ões s ã oreflete-se
Essa maturidade acompanhados
n ã o em votos de n ã o-confian ça, nem em acusa çõ es de ministros e se-
melhantes espet á culos do desorganizado parlamentarismo franco-ita-
liano, mas no fato de que a na çã o se mant é m informada da conduta
de seus neg ó cios pela burocracia, e a supervisiona continuamente. S ó
as comiss ões de um parlamento poderoso podem ser o ve í culo para o
exerc í cio dessa salutar influ ê ncia pedag ógica. Em ú ltima an á lise, a
buroc ra cia s ó pode lucrar com esse desenvolvimento. O relacionamento
do p ú blico com a burocracia raramente mostrou tanta falta de com-
preens ã o como na Alemanha, pelo menos em compara çã o com pa í ses
que possuem tradi çõ es parlamentares. Isso n ã o espanta. Em nosso
pa í s, os fun cio n á rios t ê m q ue l ida r co m pro bl ema s que em pa rt e a lguma
se tornam vis í ve is p a ra n ós. As realiza çõ es desses funcion á rios nunca
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OS ECONOMISTAS
evontade
faladas.f Oé rrea
que eimporta
a experi êéncia quesensata
a intelig ê ncia e essas
determinem o conhecimento,
palavras, a
quer sejam elas ordens ou discursos de campanha pol í tica, notas di-
plom á ticas ou pronunciamentos oficiais no parlamento. Entretanto, a
demagogia ignorante ou a impot ê nc ia to rna da ro tina — ou ambas —,
triunfam num parlamento que s ó faz criticar, sem conseguir acesso
aos fatos, e cujos l í deres nunca s ã o colocados numa situa çã o em que
sejam for çados a provar seu brio. É parte daquela lament á vel hist ór ia
de imaturidade pol í tica, que uma é poca tota lme nt e a pol í tica produziu
em nosso pa í s, ou seja, que o filisteu alem ã o contempla institui çõ es
pol í ticas tais como o parlamento ingl ê s com os olhos cegos por seu
pr óprio ambiente; cr ê ele assim que pode pretensiosamente olhar com
desprezo para tais institui çõ es do alto de sua pr ópria âimpot ê ncia po-
l í tica, deixando de reconhecer que o parlamento brit nico tornou-se,
68
WEBER
afinal de contas, o campo de provas para aqueles l í deres pol í ticos que
consegui ra m co loca r um qua rt o da huma nida de so b o do m í nio de uma
diminuta mas politicamente prudente minoria. Atente-se a um impor-
tante pormenor: uma parte, de certa forma digna de considera çã o, se
rende u vo lunta ria mente a es se do m í nio. Onde est ã o os resu lta dos c om-
pa r á veis do extremamente elogiado Obrigkeitsstaat alem ã o? A prepa-
r a çã o pol í tica para tais realiza çõ es n ã o se consegue, evidentemente,
media nt e disc ursos o st ent oso s e dec ora t ivo s pe ra nt e o pa rla ment o, ma s
somente pelo trabalho constante e ativo numa carreira parlamentar.
Nenhum dos importantes l í deres ingleses alcan çou uma alta posi çã o
sem ter adquirido experi ê ncia nas comiss ões, e freq ü entemente em
v á rios ór g ã os gove rna menta is. Some nt e um tr ei na mento int ensi vo , pe lo
qual é n ecess á rio q ue o po l í t ico p a sse na s co miss ões de um parla mento
en é rgic o e a tivo , tra nsfo rma ta l assembl é ia n um c a mpo de re crut a mento
n ã o par a mero s dema go go s, ma s par a pol í t icos de pa rt icipa çã o posit iva .
At é hoje o parlamento brit â nico tem sido inigual á vel a este respeito
(ningu é m pode honestamente neg á -lo). Somente tal coopera çã o entre
funcion á rios p ú blicos e pol í ticos pode garantir a supervis ã o cont í n ua
da a dmi nis tra çã o, e com ela a educa çã o pol í tic a de l í deres e liderados.
P ubl icidade da a dmini stra çã o, impo st a pe la vigil â nc ia pa rlam enta r ef i-
caz, deve ser exigida como pr é -condi çã o para qualquer trabalho par-
lamentar e educa çã o pol í tica fecundos. N ós tamb é m come çamos a tri-
lhar por essa estrada.
1 A Ha up ta uss chuss foi f ormada em o utub ro de 1916. Era realme nte a Co mi ss ã o Or çamen-
t á ria, com o poder de se reunir mesmo quando o Reichstag n ã o estava em sess ã o, com o
prop ósito espec í fico de debater quest ões estrangeiras e assuntos de guerra; compreendia
representantes de todos os partidos numa base proporcional. Cf. Matthias e Morsey (eds.),
op. cit., I, XIV ss.
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1 Ent re de zemb ro de 1917 e mar ço de 1918, Trotsky negociou com representantes alem ã es
diplom á ticos e militares em Brest-Litovsk. Os Catorze Pontos de Wilson datam de janeiro
de 1918.
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1 A 6 de j ulho de 1 917, Erzbe rger, em se nsaci ona l di sc urso , re ve lou na Ha uptaussc huss o
fracasso da campanha submarina sem limites e, com o apoio de uma nova coaliza çã o
parlamentar (Weber geralmente se referia a ela como os “ partidos de maioria ” ), exigiu
uma resolu çã o de paz do Reichstag e r á pida reforma parlamentar. Com a ajuda das au-
toridades militares, que faziam seu pr óprio jogo, esses lances resultaram na queda do
chanceler Bethmann-Hollweg alguns dias mais tarde. Contudo, o parlamento n ã o teve
influ ê ncias na sele çã o do novo chanceler, o administrador da Alimenta çã o prussiano Dr.
Georg Michaelis; mesmo com rela çã o à pr ópria f órmula amb í gua do parlamento de “ pa z
se m a quisi ções territoriais vio le nta s ” , este s ó obteve sua ades ã o relutante com a ressalva
“ como eu a interpreto ” . Conseq ü entemente, o Reichstag n ã o tinha confian ça no no vo c ha n-
celer e uma segunda crise irrompeu em agosto, por ocasi ã o da nota papal de paz, que
resultou na cria çã o da C omiss ã o do s Sete par a supe rvisi onar a reda çã o da resposta alem ã.
Fina lmente, e m outubro, ap ós o go verno ter an unci a do sua inten çã o de suprimir o Partido
Socialista Independente, de esquerda, por causa de sua suposta (mas mal documentada)
instiga çã o de um motim naval, a comiss ã o conjunta dos partidos da maioria (a Interfrak-
tionelle Ausschuss) exigiu e conseguiu a exonera çã o de Michaelis. Nas negocia ções que se
seguiram, o Reichstag insistiu, com ê xito, que o idoso e irresoluto sucessor, o primei-
ro-ministro b á varo, conde Hertling, um membro conservador do Partido do Centro e
ele pr ó prio antigo delegado do Reichstag, chegasse a um acordo com este a respeito de
diretrizes pol í ticas e assuntos de pessoal antes de assumir o cargo em novembro. Para
um op ortuno sum á rio dessa s evol u çõ es “ parlamentarizantes ” em 1 917, ver E pstein, Ma tt -
hias Er zbe rge r, op. cit. , caps. VIII-IX.
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OS ECONOMISTAS
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WEBER
os minist experimentados
mentares é rios puramentetornaram
pol í ticos
poss estavamí ve
agora nas m
l, afina os de ona
l, f a ze rãfunci parla-
ra
m á quina da pol í tica dom é stica com razo á vel desenvoltura, ainda que
o artigo 9, al í nea 2, continuasse a mostrar seus efeitos perniciosos. 2
1 Em a go sto de 1917, d ois im portantes p arlamentares ing re ssaram no m in is t é rio de Micha elis.
Paul von Krause, delegado nacional na Dieta prussiana, foi nomeado secret á rio imperial
da Justi ça, e Peter Spahn, l í der do Partido do Centro do Reichstag, tornou-se ministro
prus siano da J usti ça. Em outubro, o delegado nacional-liberal, Eugen Schiffer, foi nomeado
subsecret á rio de Estado do Tesouro Imperial.
2 No go ve rno Hertl in g, o s p arlamentares o bti ve ram pe la pri me ir a ve z p osi ções de cria çã o d e
diretrizes pol í ticas. O l í der do Partido Progressista do Reichstag, Friedrich von Dayer,
recebeu a vice-chancelaria imperial, e o nacional-liberal de esquerda Robert Friedberg foi
empossado vice-primeiro ministro na Pr ú ssia.
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OS ECONOMISTAS
t erna s; a nt es, essa s difi culda des o rigina m-se de dua s fo nt es: 1) o a ba n-
dono do p rin c í pio r í gido de B isma rck de que o s genera is deve m co ndu zir
a guerra de acordo com a l ógica militar, mas o chefe do governo deve
concluir a paz de acordo com considera çõ es pol í ticas (das quais as
considera çõ es estrat é gic a s c onst ituem a pe na s um fa tor) ; 2 ) a inda ma is
importante, o fato de que alguns cortes ã os subalternos julgaram ú t il
e compat í vel com um governo alegadamente “ m on á rquico ” fornecer à
imprensa del ibe ra çõ es de a lta pol í t ica , a fim de favorec er c ertos par t ido s
pol í ticos. 1
Nossas condi çõ es p odem esc la rec er a qu a lquer um qu e o go verno
exercido por funcion á rios de carreira n ã o é equivalente à a us ê ncia de
governo de partidos. Um Landrat tem que ser um conservador na
P r ú ssia , e desde 1878, qua ndo termin a ra m os o nze a nos ma is p rof í cuos
de tr a ba lho par lam enta r na Ale ma nha , no sso pse udo -par lam enta rismo
repousou no axioma cultivado por membros interessados de partidos
de que todo governo e seus representantes precisam ser “ conservado-
r es ” , com apenas algumas concess ões ao patronato da burguesia prus-
siana e do Partido do Centro. Isso e nada mais é que significa o “ su-
prapartidarismo ” da burocracia. Esse estado de coisas n ã o foi modifi-
cado pela li çã o que a guerra ensinou em todos os outros pa ses: que
todos os partidos participantes do governo tornam-se “ da na íçã o” . Os
interesses sect á rios da burocracia conservadora e de seus grupos de
interesse aliados dominam o governo. Defrontamo-nos agora com as
conseq üê ncias inevit á veis dessa hipocrisia, e continuaremos a enfren-
t á -las na é poca de paz. N ã o o parlamento sozinho mas todo o sistema
go ve rna menta l t er á de pagar por isso.
1 A cris e de ja nei ro de 1918 teve sua ori gem em dis putas entre as li de ra n ças civil e militar
a respeito da conduta das negocia çõ es de paz de Brest-Litovsk com a R ú ssia. Cf. tamb é m
a nota 24 acima.
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81
IV
BUROCRACIA E P OL Í TICA
E XTERNA
1. O F r acasso do G over no em não R efr ear D eclar ações
Prejudiciais do Monarca
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OS ECONOMISTAS
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WEBER
publ ica ment e e so bre qua lquer a ssunt o de gra nde impo rt â ncia pol í tica,
e o parecer do primeiro deve ser aceito enquanto ele estiver exercendo
seu cargo. Este e seus colegas faltam a seus deveres se permanecem
no cargo depois de essa regra ter sido violada mesmo uma s ó vez. Por
t r á s de toda a arenga de que “ a n a çã o n ã o quer uma sombra como
r ei ” , e f ra ses se melha nt es, esse s homens n ã o esc ondem sen ã o seu desejo
de p erma nec er e m seus c a rgos de ix a ndo de renun cia r a el es. Isso na da
tem a ve r direta mente co m o c a so do go ve rno parla menta r; é simples-
mente uma quest ã o de integridade pol í tica. A esse respeito, nosso go-
verno tem falhado vezes sem conta da mais miser á vel das maneiras.
Esses fracassos devem-se à nossa estrutura pol í tica defeituosa, que
coloca homens de mentalidade burocr á tica em postos de lideran ça po-
l í tica. A quest ã o do governo parlamentar torna-se altamente signifi-
cativa, j á porque sob determinadas condi çõ es n ã o h á outro meio para
re a lizar e gara ntir as muda n ça s nec ess á ria s. A fi m de evi t a rmos qua l-
quer mal-entendido sobre nossa posi çã o, deve mos a cresc ent a r q ue, em
quase todos os casos, as declara çõ es do monarca foram n ã o somente
subjetivamente compreens í veis, mas à s vezes tamb é m politicamente
justificadas — na medida em que fo i p oss í vel disce rn i-lo nessa oca si ã o.
Mais ainda, em alguns casos foi provavelmente ú til transmitir as in-
tensas re a çõ es pe sso a is do mona rc a a tr a v é s de c a na is dip lom á t icos a os
gove rn os em qu est ã o. Ma s a publi ca çã o de ta is de cla ra çõ es se const itu iu
num ato politicamente irrespons á vel, e nesse caso a responsabilidade
recaiu sobre a lideran ça pol í tica, por t ê -la tolerado ou instigado.
Na Ale ma nh a pa rec e t er si do esquec ido qu e ex iste uma t remenda
diferen ça entre um pol í tico (o primeiro-ministro ou mesmo presidente
de uma rep ú blica) fazer uma declara çã o no parlamento, por exemplo,
n ã o importa qu ã o de sa gra d á vel seja ela, e esse mesmo pol í tic o to rna r
p ú blica uma declara çã o pessoal do monarca e depois “ assumir a res-
ponsabilidade ” por essa declara çã o por meio de um gesto dram á tico
mas vulgar. Uma declara çã o p ú bl ica do mona rc a n ã o pode de fato ser
liv
querement
se servee crit
delaicapara
da no p a objetivo,
esse í s; co n seqcontra
ü entemente,
uma cre la pro tege
í ticaodireta
es ta dista
das ,
pr óprias a çõ es desse estadista. No estrangeiro, entretanto, essas res-
t r i çõ es n ã o existem e a cr í tica centra-se no monarca. Um pol í tico pode
e deve renunciar se as condi çõ es mudam e novas diretrizes pol í ticas
se tornam necess á rias contra as quais ele j á tenha se pronunciado,
mas o monarca deve permanecer, e com ele suas palavras. Uma vez
que este tenha se comprometido publicamente, n ã o pode retirar suas
palavras, ainda que tente faz ê -lo dentro de uma situa çã o nova. Sus-
cita m-se pa ix ões e sentim ent os de honra , p ois apoi a r o mona rca é u m a
quest ã o de honra nacional — e os cr í ticos ignorantes tais como os
pangerm â nicos (e seus editores) prosperam grandemente. Na p á tri a e
no es tr a ngei ro , as pa lavra s do mona rc a s ã o le va da s a s é rio e a sit ua çã o
se radicaliza. Este foi realmente o padr ã o em todos esses casos. Exa-
85
OS ECONOMISTAS
1 S obr e um di á logo algo conciliador entre Rhodes e Guilherme II, ver op. cit., p. 72 s.
2 S obr e a ver s ã o do imperador acerca de sua oposi çã o ao telegrama e sua antevis ã o do
protesto p ú blico ingl ê s, ver op. cit., p. 69 s.
3 Na é poca, a R ú ssi a, a Fran ça e a Alemanha — que se c onfe ssava m a larma das em face do
Perigo Amarelo — imp edi ram o J a p ã o de anexar a pen í nsula Liaotung no rastro de seu
triunfo militar sobre a China (Tratado de Shimonoseki, abril de 1895). Com rela çã o aos
aspectos alem ã es dessas negocia ções, cf. a autobiografia do Imperador Guilherme II, op.
cit. , p. 6 8, e J oha nnes Ziekursch, D as Zei talter Wi lhelms I I , vol . III de Politische Geschichte
des neuen deutschen K aiser r ei ches (Frankfurt: Sozeitatsverlag 1930), p. 92 ss.
86
WEBER
1 O p rese nte de Nat a l d o imp erador para o Tzar Nic ho las em 1 895 foi um d es enho aleg órico
executado conforme seu esbo ço pelo pintor Knackfus, mas apresentado como trabalho do
pr óprio imperador. Retratava o Arcanjo Miguel reunindo uma corte de damas blindadas,
ide ntific a da s po r seus bra s ões como Germ â nia, Brit â nia, R ú ssi a e outra s, p ara uma cruzada
cont ra o P erigo A ma relo , representa do c omo um Molo ch sa nguin á rio paira ndo numa nu vem
so bre as pa c í fic a s ci da des da Eur opa . O prese nte e seu t í tulo, “ Na ções da Eur opa , pro tej a m
seus bens mais sagrados ” , cedo se tornaram conhecidos e alvo de ridiculariza çã o, mas o
impe ra do r a cre ditou ter a lca n ça do uma vi t ória diplo m á tica q ua ndo seu embaixador info rmou
que o infe li z rece ptor tinha emo ldurado e pendura do a ob ra de a rte: “ Realmente funci ona !
Como é sat is fat ór io ” , escreveu ele à margem do relat ório. Cf. Erich Eych, D as per sönlichem
R egi ment Wi lhelms I I . (Zü rich: Reutsch, 1948), 119; Emil Ludwig, K ai ser Wilhelm I I , tra-
duzido por Ethel C. Mayne (Londres: Putnam, 1926), p. 223 s.
2 Em 27 de j ul ho d e 1900, Guil he rme II p ro fe ri u se u abo mi n á vel discurso “ Huno ” , do qual
derivou o ep í tet o comument e aplic a do aos so lda dos alem ã es nos pa í ses a nglo- sa x ões durant e
a Primeira Guerra Mundial. Ao despachar as tropas que iriam participar da sufoca çã o da
rebeli ã o Boxer, com o conde Waldersee como comandante-em-chefe nominal da for ça ex-
pedicion á ria internacional de tropas russas, japonesas e inglesas, Guilherme disse entre
outras coisas: “ N ã o se dar á perd ã o, n ã o se far ã o prisioneiros. Quem quer que caia em
vossas m ã os estar á à vossa merc ê . Assim como os hunos sob Átila tornaram famoso o
nome de sua ra ça h á mil anos , que ainda nos assomb ra em tradi ções e l enda s, v ós imprimireis
o nome dos alem ã es sobre a China por mil anos vindouros, de forma que nenhum chin ês
jamais ousar á levantar novamente o mesmo olhar vesgo a um alem ã o” — um p é ssimo
troc a dil ho, si gnifi cando um m a u olhar em um olhar de ol hos ra sga dos . E m seus discurso s
navais, Guilherme empregava termos como o do “ punho de ferro ” que a Alemanha queria
aplicar ao mundo. Cf. Eyck, op. cit., p. 200, 272.
87
OS ECONOMISTAS
os fins pol í ticos concretos que o Chanceler B ü low poderia ter desejado
promover quando tolerou tal romantismo pol í tico, que desnecessaria-
mente ofendeu o senso de honra dos chineses. Se teve o discernimento
necess á rio para perceber a inutilidade pol í tica e o malef í cio de todos
esses acontecimentos e contudo sentiu que tinha de considerar as con-
di çõ es que exigiam que se tolerassem os mesmos, ele devia ter renun-
ciado no interesse do monarca bem como da na çã o.
H á s é ri a s d ú vida s so bre se a public a çã o do disc ur so do impera dor
em Damasco (perante o t ú mulo de Saladino, em 8 de novembro, 1898)
foi ú t il e m n ossa s rela çõ es c om a R ú ssi a . No ssa s si mpa tia s pe la cul tu ra
isl â mica e nosso s int eresses po l í tic os na integrida de territori a l da Tur-
quia eram bem conhecidos no exterior e n ã o nec essi ta vam de ta ma nha
ostenta çã o e spalha fa tosa. Contudo, inde pe ndentement e da const el a çã o
pol í tic a pre do mina nt e na é poca , teria sido melho r evita r a s impress ões
criadas por esse gesto p ú blico. Aqui, tamb é m , é f á cil perceber quem
sairia beneficiado em seus planos.
Se ainda pu d é ssemo s t er d ú vida s sob re o e xe mplo a cima , a s co isa s
s ã o por é m perfeitamente claras no que diz respeito à alocu çã o p ú blica
que o imperador pronunciou em T â nger n o in í cio da crise de Ma rr ocos.
Mesmo elementos neutros aprovaram a posi çã o da Alemanha, mas
a inda um a ve z fo i um s é rio e q u í vo co utili za r o mo na rca pa ra um gesto
p ú blico. Ainda n ã o sabemos que ofertas fez a Fran ça, ap ós a queda
de Delcass é (seu ministro do Exterior), mas muitas coisas estavam
claras ent ã o: ou a Alemanha se decidia a entrar em guerra pela in-
depend ê ncia marroquina, ou o assunto teria que ser decidido pronta-
mente de uma forma que levasse em considera çã o os interesses e o
senso de honra de ambos os lados, oferecendo a Fran ça algumas com-
pensa çõ es. Isso poderia ter tido conseq üê ncias de longo alcance em
nossas rela çõ es com a Fran ça. Por que n ã o foi feito? A palavra do
monarca, como se sabe, tinha empenhado a honra da na çã o em favor
do sult ã o do Ma rr ocos, e port a nt o n ã o pod í a mo s aba ndo n á -lo. Cont ud o,
o governo
result n tã o
a do de tinha
udo foi orealmente
cola pso adeinten s, oseguido
A lgec ira çã de entrar em sguerra.
do epi ódio O“ Pan-
ther ” e fi na lment e o a ba ndono do Ma rroc os; a o mesmo tempo , a t ens ã o
intermin á vel provoc ou a disposi çã o pa ra a gu erra na Fran ça , f a cil ita ndo
a ssi m a pol í t ica inglesa de envo lvi ment o. D ese nvol veu- se par a le la ment e
a impress ã o de que a Alemanha sempre cederia, apesar das palavras
do imperador. Isso tudo aconteceu sem que nenhuma compensa çã o
pol í tica fosse proporcionada à Alemanha.
Os objetivos da pol í tica exterior alem ã , especialmente de al é m -
mar, eram extremamente limitados, se comparados aos de outras na-
çõ es, e os resultados dessa pol í tica foram insignificantes. Contudo, ela
produziu tens õ es e viva agita çã o como as de nenhum outro pa í s, e
freq ü entemente essas sensa çõ es, totalmente in ú teis e prejudiciais, fo-
ra m criada s pe la pub li ca çã o de dec la ra çõ es do impe ra do r. E sse m é todo
88
WEBER
1 Em 13 de a bri l d e 1906, Guil herme II env iou um te legrama a o mini stro do Exterio r da
Áustria, conde A. Goluchowski, no qual dizia: “ Vós demonstra stes ser um perfei to padrinho
no duelo e podeis ter a certeza de que retribuirei em caso de necessidade ” . Isso contribuiu
para a queda de Goluchowski alguns meses mais tarde. O embaixador alem ã o em Paris,
pr í ncipe Radolin, queixava-se numa carta a Friedrich von Holstein (8 de maio de 1906):
“ E sta mos, afina l de c onta s, c ompl eta ment e iso la dos no mun do, e todos no s odei a m, incl usive
a Áustria, que est á absolutamente furiosa por causa do telegrama a Goluchowski ” . Ver
Norma n R ich e M. H . Fischer (e ds.) , T he H olstei n P aper s, IV ( Ca mbridge : At the U nive rsity
P res s, 1913 ), p. 421, s.
89
OS ECONOMISTAS
1 Ver ac ima, no ta 3 2. So br e o caso Daily Telegraph, ver Wilhelm Schussler, Die Daily-Tele-
gr aph-A ffai r e. Fu rst B ullo w , Ka iser W ilhel m un d die Kr ise des Zweiter Reiches 1 908 (G öt -
ting en: Mu sterschm idt, 1912).
2 Aparenteme nte um termo pejorat iv o para a ma ioria do s p ro gres si sta s, ma ioria so cial- de-
mocrata e membros do Partido de Centro que no ver ã o de 1917 adotaram uma resolu çã o
de paz sem amplia çã o territorial e explora çã o pol í tica, econ ômica ou financeira. — Numa
cart a esc rita em 19 17, o del egado na cional- li beral G usta v S treseman n, que iri a ser o pre e-
minent e ministro do e xterior da Rep ú blic a de Weimar , ma s que foi um en é rgico a nexio nista
durante quase toda a guerra, proporciona um exemplo da esp é cie de duplicidade da qual
Weber zomba aqui: “ Se hoje at é secret á rios de Estado conservadores nos dizem atr á s de
porta s fec ha das que des eja m a parlamenta riz a çã o porque temem que a a dministra çã o pes-
soal da pol í tica pelo impe ra dor po ssa causa r da nos ime nsur á veis à A le ma nha , ent ã o pode-se
falar sobre isso em c í rculos confidenciais, mas, como um homem de monarquia, n ã o nos é
poss í vel levar perante o p ú blico essa ser í ssima justifica çã o para a parlamentariza çã o” . Cf.
Matthias e Morsey (eds.), D er I nter fr akti onelle Ausschuss, op. ci t. , I, 157, n º 10.
90
WEBER
nos pontos-chaves
ocupados por pol do governo,
í ticos os quais
— homens deviam, contrariamente,
experimentados em pesar osser efeitos
de declara çõ es p ú blicas, homens com o senso de responsabilidade do
pol í tico e n ã o com o sentido de dever e de subordina çã o do buro cra ta ,
que é adequado em seu lugar, mas pernicioso em pol í tica.
Aqui nota-se claramente o abismo que separa o burocrata do
pol í tico. O funcion á rio p ú blico deve sacrificar suas convic çõ es à s exi-
g ê ncias da obedi ê ncia; o pol í tico deve rejeitar publicamente a respon-
sabilidade por a çõ es pol í ticas que se chocam com suas convic çõ es e
deve sa crific a r seu car go a essa s c onvic çõ es. Mas isso nunca a cont eceu
na Alemanha. O pior aspecto do assunto n ã o foi ainda revelado. É
sabido com certeza que quase todos os homens que estavam encarre-
gados de nossa pol í tica naquela d é cada desastrosa, em car á ter confi-
dencia l, e n ã o apena s o ca sio na lme nt e, ma s rep etida s veze s, de cli na ra m
de dar uma resposta material à s publica çõ es de car á ter decisivo pelos
quais aceitaram responsabilidade formal. Se algu é m perguntasse com
es pan to p or q ue um es ta dista pe rma nec ia em se u c a rgo se e ra inc a paz
de evitar a publica çã o de uma dec lar a çã o question á vel, a resposta ha-
bitual era que “ algu é m outro seria encontrado ” para autorizar essa
publica çã o. Isso pode bem ser verdade, mas tamb é m indica a falha
decisiva do sistema. Algu é m o ut ro seri a enc ont ra do ta mb é m se o chefe
do governo tivesse de tomar a responsabilidade como o deposit á rio de
um departamento eficaz?
91
OS ECONOMISTAS
sua pr ópria
somente falhaesfera.
h á Contudo,
v á rias d no dom masí tamb
é cadas, nio do pol
é mí tico, a burocracia
projetou n
no monarca ão
a odiosidade de seu pr óprio comportamento desorientado, a fim de se
esconder atr á s desse mesmo monarca. Dessa maneira, a burocracia
ajudou a ocasionar numa coliga çã o mundial contra n ós, por cuja a çã o
o monarca poderia ter perdido sua coroa e a Alemanha todo o seu
futuro pol í t ico , n ã o fosse pelo magn í fico desem penh o de nosso ex é rcito.
No interesse da na çã o e da mo na rquia , to da a lte rna tiva constituc iona l
que evita tais ocorr ê ncias é melhor que este estado de coisas. Conse-
q ü entemente, o estado atual deve ter fim, custe o que custar. N ã o há
d ú vida (e prova-se facilmente) de que n ã o h á diferen ças de opini ã o
partid á ria sobre esses acontecimentos seriamente prejudiciais. Contu-
do, os pol í tic os da a la direi ta ou n ã o po ss u í a m sufic ie nt e ca r á t er po l í tico
ou tinham demasiados interesses pessoais de forma a n ã o externar
92
WEBER
com
insultopenalidades
deliberado,severas, inclusive
qualquer indiv penalidades
í duo quecriminais
colocar em casosões
opini de mon á rqui-
cas perante o p ú blico da na çã o ou do estrangeiro sem previamente
submet ê -las à s autoridades competentes para que se procurem todas
a s gara ntia s a de qua da s a o ca so . Em co nc ord â nci a com su a s o briga çõ es
constitucionais, o chanceler deve assumir pr é via responsabilidade por
t a is publ ica çõ es. Isso é impo rta nt í ssimo. É a pe na s re t óri ca vazia qua ndo
mais tarde, no parlamento, o chanceler reage a protestos afirmando
que se responsabiliza pela publica çã o. Ainda que isso seja feito, uma
declara çã o do monarca n ã o pode ser criticada com franqueza sem co-
locar seu prest í gio pol í tico em perigo. Acima de tudo, entretanto, tal
afirma çã o do cha ncele r n ã o é soment e sem pro p ó sito, ma s p olitic a ment e
uma mentira se o chanceler n
ésimplesment ã o foi consultado antecipadamente e
e se deixo u leva r. S e ele n ã o foi rea lment e cons ult a do c om
93
OS ECONOMISTAS
atantntesesda
imppub
li cali ca o depol
çãna
çõ es uma
í tic adec
ex lar a çã. Seria
terna o do amoinda
na rca
melquhoe rtivesse impo r-
se a comiss ão
pudesse ser transformada num Conselho da Coroa Imperial, o qual,
juntamente com os chefes departamentais respons á veis e alguns esta-
distas mais antigos, poderia discutir importantes alternativas da po-
l í tica externa antes da decis ã o e, se poss í vel , na prese n ça do mo na rc a .
Na aus ê ncia de um ór g ã o desse tipo no n í vel do Reich, o Conselho
P russian o da Coro a a go ra ex erc e com freq üê nci a es sa fun çã o, n ã o ape-
nas em assuntos prussianos mas tamb é m em assuntos politicamente
importantes com refer ê ncia ao Reich como um todo (e conseq ü ente-
mente tamb é m aos Estados-membros n ã o-prussianos). Formalmente,
essa atividade s ó pode ser consultiva, visto que a responsabilidade
constitucional do chanceler n ã o pode ser reduzida e tampouco o papel
const itucio na l do impe ra dor em r ep resenta r o Rei ch no ex t erio r. L ogi-
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WEBER
95
V
GOVERNO P ARLAMENTAR E
DEMOCRATIZA Ç ÃO
1. Sufr ági o Uni ver sal e Parlamentar i smo
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OS ECONOMISTAS
98
WEBER
tr iar ca is, porque a mode rna pro paga nda de ma ssa torna o suc ess o el ei -
tora l de pe ndente da ra ciona li za çã o da empresa do p a rt ido : o f uncio n á r io
do partido, a disciplina do partido, a imprensa do partido e a propa-
ganda do partido. Os partidos s ã o organizados com rigor sempre cres-
cente. Esfor çam-se por conseguir a ades ã o a t é mesmo de adolescentes
a suas fileiras. A m á quina clerical faz isso automaticamente para o
P a rt ido do C ent ro, o a mbient e so cia l o fa z par a os conserva dore s. Outr os
partidos t ê m suas pr óprias organiza çõ es juvenis, tais como a “ J uv en-
tude Nacional-Liberal ” e os grupos juvenis dos social-democratas. Da
mesma maneira, os partidos utilizam-se de todos os interesses econ ô-
micos. Eles organizam cooperativas e sindicatos de produtores e con-
sum idores, e c olocam mem bros de co nfia n ça com o fun cio n á rios n os po s-
tos do partido assim criados. Eles fundam escolas de orat ória p ú blica
e de treinamento de agitadores, de redatores e de empregados admi-
nistrativos, em parte amparadas por fundos milion á rios. Surge uma
vasta lite ra tura pa rtid á ria fina nciada pe los mesmo s ca pi t a is p rovi ndos
da contribui çã o por grupos de interesses e utilizados na compra de
jornais, no estabelecimento de escrit órios de publicidade e empresas
similares. Os or ça ment os do pa rt ido cresc em ra pi da ment e, pois o cust o
das elei çõ es e o n ú mero dos agitadores na folha de pagamento aumen-
ta m. J á n ã o é poss í ve l c onq uista r u m distrito ma is a mplo , fe ro zmente
disputado, sem gastar pelo menos vinte mil marcos. (No momento,
homens de neg ócios com interesses pol í ticos investem seus lucros de
guerra, em vasta escala, nos chamados jornais patri ótic os de toda s a s
es p é cies, preparando-se para as primeiras elei çõ es do p ós-guerra.) A
m á quina do partido cresce em import â ncia e, proporcionalmente, de-
clina a influ ê ncia dos dignit á rios.
As c oisas a inda se aprese nt a m inst á veis. A organiza çã o dos par-
tidos burgueses, que difere grandemente no grau de coordena çã o in-
t erna , como j á fo i assina lado ant es , a pre se nt a a pro xi ma da mente o qua -
dro seguinte. As atividades locais s ã o geralmente executadas “ extra-
ocupacionalmente ” pelos sdignit
gra ndes c idades. Diretore á rios,
de j orna is o ue apor
dvofuncion rios,
ga do s cheá fi a m somente nas
a s a g ê ncias,
em c omunida des de ta ma nho m é dio . Soment e os distr itos ma is a mplo s
t ê m sec ret á rio s a ssala riado s que v iaj a m para c á e pa ra l á . Associa çõ es
loca is e re gio na is c oope ra m, de dife rent es ma neira s, na sel e çã o de ca n-
dida t os e na esc olha de slogans ele itora is. A pa rt icipa çã o das a sso cia çõ es
regionais é determina da par tic ula rment e pe la nec es sidade de c oa li z ões
el ei t ora is e de a cordos de dese mpa t e. Os l í dere s da s o rga niza çõ es lo ca is
recrutam os membros permanentes de cada local por meio de uma
var ie da de d e man eiras, e ntr e as qua is as a sse mbl é ias p ú blicas desem-
pe nha m um papel de gra nde impo rt â ncia. As atividades dos membros
s ã o muito limitadas; geralmente n ã o fazem mais que pagar suas con-
tribui çõ es, assinar o jornal do partido, comparecer com certa regula-
ridade à s assembl é ias em que se apresentam oradores do partido, e
99
OS ECONOMISTAS
todos os assuntos n
acontecimentos. ã o-eclesi á sticos, como o provam repetidamente os
O atual est á gio do desenvolvimento acabou definitivamente com
o antigo estado de coisas, quando as elei çõ es costumavam ocorrer na
base de id é ias e slogans que eram formulados por ide ólogos e ent ã o
propagados e discutidos na imprensa e em com í cios; quando os candi-
da tos eram a pre se nt a do s po r co miss ões ad hoc e, se eleitos, uniam-se
para formar partidos que permaneciam flex í veis em sua composi çã o;
quando, finalmente, esses grupos parlamentares constitu í am as lide-
r a n ças de pessoas de igual opini ã o em todo o pa í s — principalmente
a li de ra n ça que f ormulava a s que st ões par a a s e le i çõ es seguint es. Agora ,
em c ont ra posi çã o, o fu n cio n á rio do pa rt ido est á surgindo em toda pa rt e,
ainda que num ritmo desigual, como o elemento din â mico da t á tica
partid á ria . Simulta nea mente c om el e, a a rrec a da çã o orga niza da de fun-
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WEBER
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OS ECONOMISTAS
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WEBER
1 P a ul Si nger ( 1844-1911), i ndustrial de B erl im, era membro imp orta nte do P a rtido Soc ial-
Democr á tico, cuja delega çã o ao Reichstag chefiou de 1885 em diante.
2 É isso exatamente que ocorreu mais tarde na Rep ú blica de Weimar, onde a representa çã o
proporcional tamb é m levou a uma prolifera çã o de partidos baseados puramente na repre-
senta çã o de interesses de grupos espec í ficos.
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OS ECONOMISTAS
1 Re centeme nte, em 1967, d ois de legado s no Bundes tag da Re p ú blic a Federa l Alem ã tive ra m
que p art il har uma ú nic a sa le ta ; os qua dros de pe sso a l de pe squisa da s fac çõ es p a rlamentares
eram pequenos demais e estavam completamente sobrecarregados. Ainda era dif í cil para
o P a rlam ento e os part ido s individuais recruta r pesso a l co nvenc iona l e espe cia l, da ma neira
como s ã o recruta dos o s qua dros de p esso a l das comiss ões co ngressio na is nos E sta dos U nido s.
104
WEBER
dos
contradvers
a sua peá rios
sso ae , competidores e pode
a s ra z ões e os meioster
de certeza de que,
como subiu na lutaã o impla-
sofrer
cá vel publicidade. Uma observa çã o objetiva, portanto, dever á mo stra r
qu e, de modo gera l, a sel e çã o dent ro da dema go gia do pa rt ido se ve rific a
segundo um crit é rio de modo algum menos funcional do que para a
sele çã o rea li za da a port a s fe cha da s no do m í nio da buroc ra cia . E xe mplo s
contr á rios s ã o proporcionados somente por pa í ses novos, tais como os
Est a do s U nido s, ma s uma contesta çã o dessa observa çã o seria simples-
mente insustent á vel com refer ê ncia aos Estados alem ã es, na Europa.
Al é m disso, se mesm o um chefe de E st a do-Ma ior (H elmut h von Mol t ke)
comple t a ment e inco mpetent e, a o come ço da G ue rra Mundi a l, n ã o deva
ser um argumento contra a habilidade da monarquia para recrutar
l í deres, ent ã o tamb é m é inadmiss í vel que se assaquem contra as de-
mocracias esses erros de recrutamento.
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OS ECONOMISTAS
1 Augu st B eb el (1840-1913) foi o l í der do Partido Social-Democr á tico desde sua funda çã o,
em 1869.
2 C om r ela çã o a Richter e E rzberger, ver n ota s a nt erio res. E rnst Lieber ( 1838-1902), membro
li beral do P a rtido do Centro, di rigiu a del ega çã o p a rlamentar de se u part ido a p ós a morte
de Windthors em 1891.
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WEBER
nã o é A democratiza
o mais o ativa deporque
çã candidato
proclamado massa demonstrou
significa queseuo lvalor numí der pol í tico
cí rculo de dignit á rios, tendo-se tornado um l í der por causa de suas
pro ez a s par lam enta res, ma s signif ica , si m, que el e a dquire a confian ça
e a f é qu e a s ma ssa s depo sita m n el e conq uista ndo o poder pe los meio s
da demagogia de massa. Em ess ê ncia, isso significa uma mudan ça
cesarista de sele çã o de l í deres. Na verdade, toda democracia propende
nessa dire çã o. Afinal de contas, a t é cnica especificamente cesarista é
o plebiscito. N ã o é um vot o ou um a el ei çã o comum , ma s uma pro fiss ã o
de f é na voca çã o a l í der daquele que recorre a essas aclama çõ es. O
l í der cesarista aparece à moda militar como Napole ã o I, ditador que
teve sua posi çã o confirmada por um plebiscito, ou ent ã o aparece à
ma
cia nei rax burgues
do E é rci t o, dea :um
me adiareivi
nt endica
confirma
çã o ação opoder,
plebiscit
da pa á ria
rt e, cde
omuma quiesc ên -
po l í tico
n ã o-militar, como Napole ã o III. Ambas as abordagens s ã o t ã o antag ô-
nicas ao princ í pio parlamentar como o s ã o (naturalmente) ao legiti-
mismo da mo na rqu ia heredi t á ria . Toda esp é cie de elei çã o p opula r d ireta
do mandat á rio supremo e, mais, toda esp é cie de poder pol í tico que se
a p óia na confian ça das massas e n ã o na do parlamento — inclui-se
aqui tamb é m a posi çã o de um h er ói popula r guerr eiro como Hin denbu rg
— est á no caminho que conduz a essas formas “ puras ” de aclama çã o
cesarista. Isso é particularmente ver í dico com respeito à posi çã o do
presidente dos Estados Unidos, cuja superioridade sobre o parlamento
deriva de sua escolha e elei çã o (formalmente) democr á ticas. As espe-
r a n ças que uma figura cesarista como Bismarck atribu í a ao sufr á égio
universal e a maneira de sua demagogia antiparlamentar tamb m
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OS ECONOMISTAS
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WEBER
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OS ECONOMISTAS
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WEBER
casos, o plebiscito tamb é mum o bstruiria gra ve mente a passa gem de todo s
os projetos que resultam de compromisso entre interesses confli-
ta nt es , pois ra z õ es as ma is di ve rsa s po dem c onduzir a um “ n ã o” quando
n ã o h á um meio de conciliar interesses opostos, mediante negocia çõ es .
O referendum desco nh ece o compr omisso so bre o q ua l se ba seia a ma io-
ria das leis em todo Estado de massas, com pronunciadas divis ões
regionais, sociais, religiosas e outras. É dif í cil imaginar como num
E sta do de massa s c om gra ve s tens ões de classe possam ser adotadas,
pelo voto popular, medidas tais como leis tribut á rias que n ã o sejam
taxa çã o sobre a renda progressiva, confisco de propriedades e “ nacio-
naliza çõ es ” . Essas dificuldades talvez n ã o impressionassem um socia-
lista. Entretanto, n ã o conhecemos nenhum exemplo de mecanismo es-
tatal que, exposto à s press ões de um referendum, tenha efetivamente
institu í do ta is impo st os t erritoria is, nomina lment e ex cessi vo s co m fre-
q üê ncia, e pa rci a lment e co nfisc a do res; isso é t ã o ver í dico c om r efer ê ncia
aos Estados Unidos quanto o é com rela çã o aos Cant ões su íços onde
as condi çõ es s ã o muito favor á veis, visto que a popula çã o, por for ça da
ve lha tra di çã o, ra ciocina em t ermos obj etivos e é m uito be m poli tiza da .
Al é m do mais, os princ í pios plebiscit á rios enfraquecem o papel aut ô-
nom o do l í der do pa rt ido e a respo nsa bil ida de do s fun cion á rios p ú blicos.
Uma rejei çã o dos funcion á rios dirigentes por meio de um plebiscito
que desaprova suas propostas n ã o obriga e nem pode obrigar estes a
renunciarem, como o pode conseguir um voto de n ã o-confian ça em Es-
tados parlamentares; pois o voto negativo n ã o identifica suas raz ões
de ser e n ã o obriga a ma ssa que vo ta nega tiva mente, c omo obriga um a
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OS ECONOMISTAS
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WEBER
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OS ECONOMISTAS
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WEBER
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OS ECONOMISTAS
narquia aut ônoma qu e pro duz os mesmos fe n ômenos.) Uma mente fria
e clara — e é disso , a fina l de c ont a s, qu e dep ende o suc esso na pol í tica,
esp ecia lment e na pol í tica democr á tica — pre domina de f orma t ã o ma is
acentuada numa tomada de decis ã o respons á vel 1) quanto menor for
o n ú mero dos que tomam essa decis ã o, e 2) quanto mais claras forem
as responsabilidades para cada qual deles e para aqueles a quem li-
deram. A superioridade do senado americano sobre a c â mara dos de-
putados, por exemplo, é em grande parte devida ao menor n ú mero de
senadores; as melhores realiza çõ es pol í ticas do parlamento ingl ês s ã o
produtos de uma responsabilidade inequ í voca. Onde quer que tal cla-
reza de resp onsa bi li da de se ja negl ige nci a da , o si stema par tid á rio fra-
cassa como qualquer outro. Do ponto de vista do interesse nacional,
a utilidade pol í tica dos grupos de interesses solidamente organizados
assenta-se na mesma base. Completamente irracional é a “ massa ” de-
sorganizada, a democracia das ruas. Existe em maior intensidade em
pa í ses o nde o pa rla ment o é impo t ent e ou é po litic a ment e desa credita do ,
isto é , principalmente em pa í ses sem partidos organizados racional-
mente. Na Alemanha, independentemente da aus ê nc ia da “ filo sof ia de
botequim ” e da prese n ça de um tempe ra mento ma is c a lmo , orga niza çõ es
como os sindicatos, mas tamb é m como o Partido Social-Democr á tico,
const ituem um a for ça de e quil í brio muit o impo rt a nt e cont ra o “ dom í n io
da t urb a ” , direto e i rra ciona l, t í pico de n a çõ es pura men t e ple bisc it á rias.
Desde a epidemia de c ólera de Hamburgo (em 1892) at é o pre-
sente, tem sido necess á rio apelar para essas organiza çõ es, repetida-
mente, e m busc a de aux í lio , sempre que o mec a nismo e st a t a l se mostrou
ina dequa do . Que isso n ã o sej a esqu ecido q ua nd o os tempos de pro va çã o
tiverem terminado.
Na A lema nha , ta mb é m, os dif í ceis primeiros anos do p ós-guerra
ser ã o um teste severo para a disciplina das massas. N ã o pode haver
d ú vidas de que os sindicatos, em particular, enfrentar ã o dificuldades
sem prec ede nt es. P ois a gera çã o de jove ns, que gan ha m a go ra sa l á rios
dez
sa gevezes
ira vidmais
a à elevados
vo nt a deque
queem tempos
nunca se redepepaz
tir eá gozam de uma
, est á sendo de pas-
sa costum a da
de qualquer senso de solidariedade, de utilidade e de qualquer capa-
cidade de a da pta çã o a o esfo r ço econ ô mic o orga niza do . Um “ sindicalismo
de imaturidade ” surgir á logo que essa juventude se defrontar com a
norma lida de do s tempos de p a z. É c erto que enc ont ra remo s a bunda nt e
“ radicalismo ” puramente emocional dessa esp é cie. Nos centros popu-
losos ser ã o bem poss í ve is tenta tivas de putsch (" go lp e de Est a do") sin-
dicalista. Haver á um vigoroso e r á pido desenvolvimento da opini ão
pol í tica, em vista da grave situa çã o econ ômica, do estado de esp í rito
pol í tico representado pelo grupo Liebknecht. Devemos indagar se as
massas persistir ã o no previsto negativismo est é ril para com o Estado.
É uma quest ã o de histeria. Isso depender á primeiramente de o orgu-
lhoso a forism o “ O a pel o a o medo n ã o encont ra eco n os c ora çõ es a le m ã es ”
116
WEBER
117
OS ECONOMISTAS
sej a considera do po li t ica ment e ina cei t á vel colocar os soldados, que re-
gressam da guerra, numa desvantagem eleitoral em rela çã o à quelas
camadas que mantiveram ou ainda melhoraram sua posi çã o social,
propriedade e clientela durante o per í odo em que os soldados no fr ont
davam suas vidas em favor daqueles que ficaram em casa. É claro
que a obstru çã o dessa necessidade pol í tica é poss í vel, mas teria con-
seq üê ncias terr í veis. Nunca mais estaria a na çã o t ã o solid á ri a di a nte
de uma a me a ça ex t erna como o esteve e m a go st o de 1914. E st a r í amos
condena do s a perma nec er num pa í s pequen o e conser va dor, t a lvez c om
uma razo á vel administra çã o p ú blica em assuntos puramente t é cnicos,
ma s, de qua lquer ma nei ra , um po vo pro vinc ial sem a oport unida de de
ser levado em conta na arena da pol í tica mundial — e tamb é m sem
nenhum direito moral nesse sentido. 1
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C APITALISMO SOCIEDADE
ELEMANHA
R URAL NA A *
* Traduzido da sexta impress ã o (G a laxy B ook, 19 63) da edi çã o publicada em 1946 pela Oxford
University Press, Inc.: F r om Max Weber : E ssays i n S oci ology (translated, edited and with
an Introduction by H. H. Gerth and C. Wright Mills).
C APITALISMO E SOCIEDADE
R URAL NA ALEMANHA 1
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OS ECONOMISTAS
122
WEBER
O campon
quais ê s tamb
as cidades é m tisentas.
estavam inha de aba condi
Essas stec er o s e x é rcitos com recrutas,
çõ es vigoraram at dosé que
os privil é gios tribut á rios foram extintos e o servi ço militar tornou-se
compuls ório para todos, no s é culo XIX. Finalmente, o campon ê s de-
pendia da comunidade produtiva em que a coloniza çã o semicomunista
o havia colocado, dois mil anos antes. N ã o podia fazer o que queria,
mas o que a primitiva rota çã o das colheitas determinava, condi çõ es
que continuaram a existir at é que esses la ços semicomunistas se dis-
solveram. Mesmo depois da aboli çã o de toda essa depend ê ncia legal,
o campon ê s n ã o se p ôde tornar um pequeno agricultor que produzia
ra ciona lment e, c omo oc orr eu, po r exe mplo, c om o seu c olega a merica no.
Numero sa s rel í quia s das a nt ig a s c ondi çõ es comunistas de flores-
tas, á gua, pastos e at é mesmo terra cultiv á vel, que uniram os campo-
neses e o s prendera m à s f orma s de a dministra çã o que lhe s fo ra m t ra ns-
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OS ECONOMISTAS
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WEBER
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OS ECONOMISTAS
os seus
econ representantes
ômico e t ê m ligaestçã o í ntima
ã o envol
comvidos,
o pa c íomo
s. Osa efeitos
gricult dissolventes
ores, n o conflit
do o
capitalismo s ã o, com isso, aumentados. Como a propriedade da terra
d á posi çã o social, os pre ços das grandes propriedades superam o valor
de s ua pro dutivida de. B yron p ergunta va do se nhor de terra s: “ P or que
Deus na sua ira o criou? ” . A resposta é : “ Rendas! Rendas! Rendas! ”.
E na ve rdade as rend a s s ã o a ba se ec on ômic a de to da s a s a ris toc ra cias
que necessitam de uma renda n ã o-pro ve nie nt e do tr a ba lho par a a sua
exist ê ncia. Mas precisamente porque o J unker prussiano despreza a
posse urbana do dinheiro, o capitalismo o transforma num devedor.
Uma tens ã o cada vez maior entre a cidade e o campo resulta dessa
situa çã o. O conflito entre o capitalismo e a tradi çã o tem agora cono-
t a çõ es pol í ticas, pois se o poder econ ômico e pol í tico passa definitiva-
mente para as m ã os do capitalista urbano surge a quest ã o de se os
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WEBER
pe qu eno s ce nt ros rura is de i nforma çã o pol í tica, com sua cultura social
peculiar, entrar ã o em decad ê ncia, e as cidades, como as ú nicas depo-
sit á rias da cultura pol í tica, social e est é tica, ocupar ã o todo o campo
de batalha. Essa quest ã o é id ê ntica à quest ã o de se as pessoas que
foram capazes de viver para a pol í tica e o Estado, como por exemplo
a ve lha a ris toc ra cia a gr á ria econ ômic a indepe ndent e, se r ã o subst itu í da s
pelo dom í nio exclusivo dos pol í ticos profissionais que devem viver da
pol í tica e do Estado.
Nos Estados Unidos esse problema foi resolvido, pelo menos no
pre se nt e, por uma da s ma is s a ngrent a s guerra s do s tempo s mo derno s,
que terminou com a destrui çã o dos centros aristocr á ticos, sociais e
pol í t icos dos distrit os ru ra is. Me smo na Am é ric a , c om a s suas t ra di çõ es
democr á ticas vindas desde o puritanismo como um legado perene, a
vit ória sobre a aristocracia dos plantadores foi dif í cil e conquistada
com os maiores sacrif í cios sociais e pol í ticos. Mas, em pa í ses de civi-
liza çõ es antigas, a quest ã o se complica muito mais, pois ali a luta
entre o poder das no çõ es hist óricas e a press ã o dos interesses capita-
listas convoca certas for ças sociais à ba ta lha, co mo adve rs á rias do ca-
pi t a lismo burgu ê s. No s E st a do s U nidos, essas for ça s e ra m p a rc ialme nt e
desconhecidas, ou se colocavam em parte ao lado do norte. Devemos
fazer aqui algumas observa çõ es.
Nos pa í ses de civiliza çã o antiga e possibilidades limitadas de
expans ã o econ ômica, o interesse financeiro e seus representantes t êm
um papel social consideravelmente menor do que num pa í s novo. A
import â ncia da camada dos funcion á rio s esta ta is é , e deve ser, muito
maior na Europa do que nos Estados Unidos. A organiza çã o social
muito ma is c ompli ca da torna indis pe ns á ve l na Europ a um gra nde n ú -
mero de funcion á rios especializados, de cargo vital í cio. Nos Estados
Unidos, haver á u m n ú mero muito menor deles, mesmo depois que os
movimentos de reforma do servi ço p ú blico tenham alcan çado seus ob-
jetivos. O jurista e o funcion á rio a dmini stra tivo na Ale ma nha , a pe sar
de sua educa
versidade, tem çã o made
cerca is rtrinta
á pidae ecinco
mais anos
intensiva,
quandono preparo
seu per para a uni- í odo de
preparo e sua atividade n ã o-remunerada é conclu í da e ele consegue
um cargo lucrativo. Portanto, s ó pode sair dos c í rculos abastados; é
pre para do para um serv i ço n ã o-remun era do , o u m a l remun era do , e s ó
po de e nco nt ra r rec ompensa pe lo se u t ra ba lho na a lta po si çã o social
de sua voca çã o. Adquire, com isso, um car á ter que est á longe dos
interesses financeiros e que o coloca ao lado dos advers á rios do
d om í nio desses interesses. Se em velhos pa í ses civilizados, como a
Alemanha, surgir a necessidade de um ex é rcito forte para manter
a independ ê ncia, isto significar á , para as institui çõ es pol í ticas, o
apoio a uma dinastia heredit á ria.
O adepto resoluto das institui çõ es democr á ticas — como eu —
n ã o pode desejar afastar a dinastia, quando ela foi preservada. Nos
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OS ECONOMISTAS
E sta do s mil ita res, se e la n ã o é a ú nic a forma histori ca mente endo ssa da
pe la qu a l o do m í nio ces a rista do s a rrivis t a s mili ta res po de se r evita do ,
ela ainda é a melhor forma. A Fran ça est á continuamente amea ça da
por esse dom í nio; as dinastias t ê m interesse pessoal na preserva çã o
do s direitos e de um gove rn o lega l. A mona rq uia heredit á ria — po dem os
julg á -la teoricamente, se desejarmos — a sse gura a o E sta do , que é for-
çado a ser um Estado militar, a maior liberdade para os cidad ã os —
t ã o grande quanto seja poss í vel numa monarquia — e, enquanto a
dinastia n ã o se degenera, ter á o apoio da maioria pol í tica do pa í s. O
parlamento ingl ê s sabia muito bem por que oferecia a Cromwell a
coroa, e o ex é rcito deste sabia igualmente bem por que o impediu de
aceit á -la. Essa dinastia heredit á ria, privilegiada, tem uma afinidade
com os detentores dos outros privil é gios sociais.
A Igreja pertence à s for ças conservadoras nos pa í ses europeus;
primeiro, a Igreja Cat ólica Romana, que, na Europa, devido mesmo
a o se u gra nde n ú mero de a dep t os, é um poder de import â nci a e ca r á t er
muito diferentes do que possui nos pa í ses anglo-sax ões; mas tamb é m
a Igre ja Luter a na . Ambas a p ó iam o campon ê s, com seu modo de vida
conservador, contra o dom í nio da cultura urbana racionalista. O mo-
vimento cooperativo rural tem, em acentuadas propor çõ es, a dire çã o
de cl é rigos, que s ã o os ú nico s capa zes de l idera n ça nos distritos rura is.
Os pontos de vista eclesi á stico, pol í tico e econ ômico est ã o, no caso,
combinados entre si. Na B é lgica, as cooperativas rurais s ã o um meio
que o partido clerical tem na luta contra os socialistas, apoiados pelas
un i ões dos consumidores e pelos sindicatos. Na It á lia, quase ningu é m
tem cr é dito em certas cooperativas se n ã o apresentar uma certid ã o de
religi ã o. Da mesma forma, uma aristocracia agr á ria encontra grande
apoio da Igreja embora a Igreja Cat ólica seja, nos aspectos sociais,
ma is demo cr á tica hoje do que antigamente. A Igreja v ê com satisfa çã o
as rela çõ es de trabalho patriarcais porque, ao contr á rio das rela çõ es
puramente comerciais criadas pelo capitalismo, elas t ê m um car á t er
pessoal
um servo, humano.
e n ãA Igreja
o as acredita
simples que as
condi relac omerci a is
çõ es çõcesriaentre
da s um
pel osenhor
merc ea do
de trabalho, podem ser desenvolvidas e dotadas de um elemento é tico.
Os contrastes profundos e condicionados historicamente, que sempre
sep a ra ra m o c a t olic ismo e o l ut era nismo do c a lvi nismo, fo rt a le cem essa
atitude anticapitalista das igrejas europ é ias.
Fina lme nt e, num vel ho pa í s ci vil iza do , a “ a ris toc ra cia da educ a -
çã o” , como gosta de ser chamada, constitui uma camada definida da
popula çã o, sem interesses pessoais na economia. V ê , por isso, a pro-
ciss ã o triun fa l do c a pi t a lismo com m a is c etic ismo e a cr í tic a com m a is
viol ê ncia do que acontece, natural e justamente, em pa í ses como os
Est a do s U nido s.
Qua ndo a educ a çã o intelectual e est é tic a se torna uma pro fi ss ã o,
seus representantes ligam-se, atrav é s de uma afinidade í ntima, com
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WEBER
mente
combinaerradas se n
çã o peculiar ãdeo motivos
tiver presentes esses grandes
se faz sentir nesses pa complexos.í sesUma
antigos e
explica o desvio entre as condi çõ es europ é ias e americanas. Al é m da
necessidade de forte preparo militar, h á essencialmente dois fatores:
primeiro, algo que n ã o existiu jamais na maior parte da Am é rica e
que pode ser designado como “ atraso ” , ou seja, a influ ê ncia de uma
forma mais antiga de sociedade rural, que est á desaparecendo gra-
dualmente. O segundo grupo de circunst â ncias que ainda n ã o se tor-
na ra m e fe tivas na Am é ric a , ma s à s qu a is e sse p a í s — t ã o entusia sma do
com cada milh ã o de aumento em sua popula çã o e com a ascens ã o do
valor da terra — estar á inevitavelmente exposto, exatamente como
ocorreu com a Europa, é a densidade da popula çã o, o alto valor da
terra , a ma is ac entua da di fe re nc ia çã o de ocupa çõ es e as condi çõ es pe-
culiares que disso resultam. Em todas essas condi çõ es, a comunidade
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WEBER
Tal como ocorreu com a maioria dos fatos hist óricos é pouco pro-
v á ve l que possa mos a tr ib uir a um a ú nic a ra z ã o a ca usa ex clusiva dessa
conduta diferente dos senhores de terras, pois nesse caso a ter í amos
encontrado em fontes documentadas. Entretanto, uma longa s é rie de
fatores causais foi acrescentada como explica çã o, principalmente pelo
pro fe sso r Vo n B el ow , num a investiga çã o cl á ssi ca , e m seu tra ba lho Ter-
ritorium und Stadt. A tarefa s ó pode ser a de amplia çã o dos pontos
de vista, especialmente pelas considera çõ es econ ômicas. Vejamos em
qu e po nt os a s co ndi çõ es do se nh or d e terr a s do le st e e do oeste dife rira m
qua ndo tent a ra m a rra ncar de se us c a mpo nese s ma is do que o s tributos
tradicionais.
O in í cio de opera çõ es amplas foi facilitado, para os senhores do
leste, pelo fato de que sua condi çã o de senhoria agr á ria, bem como a
patrimonializa çã o da s a utoridades p ú blic a s, c resce ra m n o sol o da velha
liberdade do povo. O leste, por outro lado, era um territ ório de colo-
niza çã o. A estrutura social patriarcal eslav ônica fora invadida pelo
clero alem ã o, em conseq üê ncia da sua educa çã o superior, pelos comer-
ciantes e artes ã os alem ã es em conseq üê ncia de sua habilidade t é cnica
e comerc ia l superior, pe los ca va lei ros a lem ã es em conseq üê nci a de seu
melho r co
do leste, a nh eciment
estrutura o da daa gric
social ultu ra .com
Alemanha, Al ésuas
m disso,
for à é poca da çasconquista
pol í ticas,
havia sido completamente feudalizada. A estrutura social do leste foi,
desd e o i n í cio, a da pta da à preemin ê ncia soc ia l do ca va le iro , e a inva s ã o
alem ã pouco modificou essa situa çã o. O campon ê s, mesmo nas mais
favor á veis condi çõ es de atividade, perdera o apoio que lhe fora dado
no per í odo feudal pelas tradi çõ es firmes, a velha prote çã o m ú tua, a
jurisdi çã o da comunidade no Weist ümer no oeste. O campesinato es-
1
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WEBER
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WEBER
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da
umaterra
certa. Qu a ndoqua
renda; o pre ndoçoadaa cumula
terra se elevar
çã o dao ssuficiente
gra nde spara garantir
fo rtuna s a lca n ça r
um ponto ainda mais alto que o de hoje, quando, ao mesmo tempo, a
possibilidade de ganhar lucros proporcionais pelos novos e constantes
investimentos no com é rcio e ind ú stria tiver baixa do a pont o de os “ ca -
pit ã es de ind ú stria ” , como o correu em t oda pa rt e no mun do, c ome çarem
a lutar pela preserva çã o heredit á ria de seus bens, ao inv é s de novos
investiment os qu e tr a zem t a nt o luc ro c omo risc o — en t ã o, na realida de,
o desejo das fam í lias capitalistas de formar uma “ nobreza ” surgir á ,
provavelmente n ã o na forma embora de fato. Os representantes do
ca pita li smo n ã o se c ont ent a r ã o m a is co m u m jo go t ã o ino fensivo qu a nt o
os estudos de á rvores geneal ógicas e os numerosos aspectos de exclu-
sivida de so cia l, t ã o surpre ende nt es p a ra o es tr a ngei ro . Some nt e qua ndo
o capital chegar a essa posi çã o e come çar a monopolizar a terra em
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OS ECONOMISTAS
estiveram
de elementosdesaparecendo, e se, ao
do leste europeu mesmo
crescer, tempo, a enorme
poder á surgirimigra çã ,o
a li , se m demo ra
uma popula çã o rural que n ã o ser á assimilada pela cultura do pa í s,
tr a nsmitida histori ca mente. E ssa po pul a çã o poder á modific a r, de modo
decisivo, o padr ã o dos Estados Unidos e formar, gradualmente, uma
comunidade de tipo bastante diferente da grande cria çã o do esp í rito
anglo-sax ã o.
Para a Alemanha, todas as quest ões fat í dicas de pol í tica econ ô-
mica e social, e de interesses nacionais, est ã o intimamente ligadas a
esse contraste entre a sociedade rural do leste e a sociedade do oeste
com seu m a ior desenvolviment o. N ã o me par ece corret o considera r a qu i,
num pa í s estr a ngeiro , o s pro ble ma s pr á t icos qu e essa situa çã o provo ca .
O destino, que nos deu uma hist óçãriao densa
de milhares de anos, que nos
colocou num pa í s com uma popula e uma cultura intensiva,
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WEBER
1 S t . L ouis.
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O E OSÁ“
C AR ”*
R NACIONAL
TJE UNKERS
* Traduzido da sexta impress ã o (G a laxy B ook, 19 63) da edi çã o publicada em 1946 pela Oxford
University Press, Inc.: F r om Max Weber : E ssays i n S oci ology (translated, edited and with
an Introduction by H. H. Gerth and C. Wright Mills).
O C ARÁT E R NACIONAL
E OS “J UNKERS ”1
1 "W ahl re cht un d De mo kr atie in De uts chl and", G esammelte Poli ti sche S chri ften (Munique,
Dreimaskenverlag, 1921). Compreende um trecho de um folheto que “ Die Halfe ” — o
departamento editorial de livros da pequena revista que Naumann dirigia — publicou em
dezembro de 1917.
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1 B ürgerlichen.
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WEBER
da de de econ
talidade qu e osômica
a lunos p a gaassocia
dessas ssem o s juros
çõ es, ntal tipo
ã o cont ribu í ssedesapare-
dificilmente para a imo r-
ceria. Pelo contr á rio , o si stema de fra ternida des e studa nt is e xp a nde- se
cada vez mais, pois as liga çõ es sociais que hoje se criam nessas asso-
cia çõ es s ã o uma form a esp ec í fic a de selec iona r fu ncio n á rio s. E a pat ent e
de o fic ia l, que t em co mo requisit o p reli mina r a fil ia çã o a uma a sso cia çã o
duelista, garantida de forma vis í vel pelas fitas com as suas cores, d á
acesso à “ sociedade ” .
Na verdade, a press ã o em favor da be bida e a s t é cnicas de duelo
das associa çõ es estudantis ajustam-se cada vez mais à s necessidades
das constitui çõ es mais fracas dos aspirantes à quelas fi ta s, que, de vido
à s liga çõ es, se tornam cada vez mais numerosos. Ao que se diz, h á
a t é mesmo abst ê mios em alguns desses grupos duelistas. A fus ã o in-
telectual dessas associa çõ es, que tem aumentado continuamente nas
d é cadas recentes, é um fator decisivo. T ê m salas de leitura pr óprias
e publica çõ es especiais, que os alunos enchem exclusivamente de po-
l í tica “ patri ótica ” bem-intencionada de um car á ter indizivelmente pe-
queno-burgu ê s. O interc â mbio social com os companheiros de aula de
forma çã o social ou intelectual diferente é evitado ou pelo menos difi-
cultado. Com tudo isso, as liga çõ es das sociedades estudantis se ex-
pandem constantemente. Um vendedor que pretenda conseguir uma
patente de oficial, como condi çã o para casar-se na “ sociedade ” (parti-
cularmente, com a filha do patr ã o), matricular-se- á numa das facul-
da des de e conomia qu e s ã o freq ü enta da s p rinc ip a lme nt e pe la sua vida
associativa.
A medi da do moralista n ã o é a medida do pol í tico. Qualquer que
seja o julgamento que se possa fazer dessas associa çõ es per se, elas
certamente n ã o proporcionam educa çã o para uma personalidade cos-
mopolita. Pelo contr á rio, seu sistema cansativo e seu penalismo s ã o,
afinal, inegavelmente banais; e suas formas sociais subalternas cons-
tituem o oposto mesmo dessa educa çã o. O mais est ú pido clube anglo-
sa x ã o oferece uma educa çã o cosmopolita melhor, por mais vazios que
possamos julgar os esportes que constituem o objetivo do clube. Com
a sua sele çã o de membros freq ü entemente muito rigorosa, ele sempre
se baseia no princ í pio da rigorosa igualdade dos cavalheiros e n ã o no
princ í pio do “ penalismo ” , que a burocracia tanto valoriza como prepa-
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R
MEUNDO
J E I Ç ÕE R ELIGIOSAS
E SSUAS DI R E Ç ÕEDO
S*
* Tradu zi do da se xta im pre ss ã o (G a laxy B ook, 19 63) da edi çã o publicada em 1946 pela Oxford
University Press, Inc.: F r om Max Weber : E ssays i n S oci ology (translated, edited and with
an Introduction by H. H. Gerth and C. Wright Mills).
R E J E I Ç ÕE S R ELIGIOSAS DO
MUNDO E SUAS DI R E Ç ÕE S1
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OS ECONOMISTAS
pol ó gico de um fen ô meno hist órico. Permitem-nos ver se, em tra ços
particulares ou em seu car á ter total, os fen ômenos se aproximam de
uma de nossas constru çõ es: determinar o grau de aproxima çã o do fe-
n ô meno hist órico e o tipo constru í do teoricamente. Sob esse aspecto,
a constru çã o é simplesmente um recurso t é cnico que facilita uma dis-
posi çã o e termin ologia ma is l ú cida s. N ã o obsta nt e, so b c erta s co ndi çõ es ,
uma constru çã o pode significar mais, pois a racionalidade, no sentido
de uma “ coer ê ncia ” l ó gica ou teleol ógica, de uma atitude intelectual-
t e órica ou pr á tico- é tica, tem, e sempre teve, poder sobre o homem, por
mais limitado e inst á vel que esse poder seja e tenha sido sempre em
face de outras for ças da vida hist órica.
As int erpreta çõ es rel igio sa s do mund o e a é tic a da s rel igi ões c ria -
das pelos intelectuais e que pretendem ser racionais estiveram muito
sujeitas ao imperativo da coer ê ncia. O efeito da r azão, especialmente
de uma dedu çã o teleol ógica de postulados pr á ticos, é percept í vel sob
certos aspectos, e com freq üê ncia muito claramente, entre todas as
é t ica s religi osa s. Isso o corre po r m eno s q ue a s int erpre t a çõ es reli gio sa s
do mundo, no caso individual, tenham concordado com a exig ê ncia de
coer ê ncia, e por mais que tenham integrado pontos de vista em seus
postulados é t icos q ue n ão po dia m ser deduzido s ra ciona lment e. A ssim,
pelas raz ões substantivas, podemos ter esperan ça de facilitar a apre-
senta çã o de um assunto que, de outro modo, seria multif á rio, atrav é s
de tipo s ra ciona is c onst ru í do s de forma a de qua da . P a ra ta nt o, de ve mo s
pre para r e ress a lta r a s fo rma s interi ormente ma is “ coerentes ” de con-
duta pr á tica, que podem ser deduzidas de pressupostos fixos e dados.
Acima de tudo, um ensaio assim sobre a sociologia da religi ão
visa, necessariamente, a contribuir para a tipologia e sociologia do
racionalismo. Este ensaio, portanto, parte das formas mais racionais
que a realidade pode assumir; procura ele descobrir at é que ponto
certas conclus ões ra ciona is, que po dem ser esta bel ecida s t eoric a ment e,
foram realmente formuladas. E talvez descubramos por que n ã o.
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WEBER
cia
do sdevoto
do mundque o, oé ascetismo a de
instrumento t ivoDeus
, qu ee, por
é uma açã
outro o, desejada
lado, a porpossess
Deus, ão
contemplativa do sagrado, como existe no misticismo, que visa a um
es ta do de “ possess ã o” , n ã o a çã o, no qual o indiv í duo n ã o é um instru-
mento , ma s um “ recipiente ” do divino. A a çã o no mu nd o é vi sta , assim,
como um perigo para o estado irracional e outros estados religiosos
vo lta do s pa ra o out ro mundo. O a sc etismo at ivo ope ra dent ro do mun do ;
o a sc etismo ra ciona lment e a t ivo , a o do mina r o mun do , b usca domestic a r
o q ue é da cri a tura e ma ligno a tra v é s do tr a ba lho numa vo ca çã o “ mun-
dana ” ( a sc etismo do mundo) . Ta l a sc etismo c ont ra st a ra dic a lment e com
o misticismo, se este se inclina para a fuga do mundo (fuga contem-
plativa do mundo).
O contraste diminui, por é m, se o ascetismo ativo limitar-se a
contr olar e sup era r a ma li gnid a de da criat ura na pr ópri a na ture za do
agente. Nesse caso, ele fortalecer á a concentra çã o sobre as realiza çõ es
ativas e redentoras, firmemente estabelecidas e desejadas por Deus,
a ponto de evitar qualquer a çã o nas ordens do mundo (fuga asc é tica
do mundo). Com isso, o ascetismo ativo, em sua apar ê ncia externa,
aproxima-se da fuga contemplativa do mundo.
O contraste entre o ascetismo e o misticismo tamb é m é reduzido
se o m í stico contemplativo n ã o chega à conclus ã o de que deve fugir
ao mundo, mas como o asc é tico voltado para o mundo, permanece nas
ordens do mundo (misticismo voltado para o mundo).
1 C f. n ot a 59, p á g. anterior.
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olho s da é tic a munda na do hero í smo. A lheia -se do estigm a da vio l ê ncia
de que nenhuma a çã o pol í tica pode fugir.
Todas as outras solu çõ es à s tens ões da pol í tica e religi ã o est ã o
cheias de concess ões ou de pressupostos que devem parecer necessa-
ria ment e deso nestos o u ina cei t á veis à é tic a da fraterni dade aut ê ntica.
Alguma s dessa s so lu çõ es s ã o, n ã o obsta nt e, interess a nt es e m princ í pio
e como tipos.
Toda organiza çã o da salva çã o por uma institui ção compuls ór ia
e uni ve rsa li sta da gra ça sente-se respons á ve l, p era nt e Deus, p el a s a l-
mas de todos, ou pelo menos de todos os homens a ela confiados. Essa
institui çã o se sentir á , portanto, com direito a opor-se, e com o dever
de opor-se, com a for ça impiedosa a qualquer perigo oriundo de uma
m á orienta çã o da f é . Sente-se obrigada a promover a difus ã o de seus
meios de gra ça salvadores.
Quan do a s a ris toc ra cias sa lv a do ra s es t ã o incumbida s, po r ordem
de seu Deus, de domar o mundo do pecado, para a Sua gl ória, d ã o
srcem ao “ cruzado ” . Foi o que ocorreu no calvinismo e, em forma
diferent e, no isla mism o. Ao mesmo t empo , po r é m, a s a ris toc ra cias sa l-
vadoras distinguem as guerras “ santas ” ou “ justas ” de outras, pura-
mente seculares, e portanto profundamente indignas. A guerra justa
é travada para a execu çã o dos mandamentos de Deus, ou pela defesa
da f é , o que de certa forma significa sempre uma guerra religiosa.
Portanto, as aristocracias salvadoras rejeitam a compuls ã o de partici-
parem das guerras das autoridades pol í ticas que n ã o se classificam
clar a mente co mo gue rra s sa nt a s, c orresp ondentes à vontade de Deus,
ou seja, guerras n ã o-afirmadas pela pr ópria consci ê ncia do crente. O
ex é rcito vitorioso dos Santos de Cromwell agiu dessa forma quando
tomou posi çã o cont ra o se rvi ço mi li ta r ob riga t ório. As aristocracias da
salva çã o preferem ex é rcitos m erce n á rios a o servi ço mili t a r compuls ório.
Caso os homens violem a vontade de Deus, especialmente em nome
da f é , os fi é is c hega m a conclus ões fa vo r á ve is a uma revo lu çã o religiosa
ativa,
do queem aovirtude
homem. da senten ça de que se deve obedecer antes a Deus
O luteranismo religioso, por exemplo, tomou a posi çã o contr á ria.
Rej ei t ou a cruza da e o direito à resist ê nc ia a tiva contr a qua lque r co a çã o
se cular em a ssuntos de f é ; considerou essa coa çã o uma a rbi tra rie da de ,
que emaranha a salva çã o no pragmatismo da viol ê ncia. Nesse campo,
o luteranismo s ó conhece a resist ê ncia passiva. Aceitou, por é m, a obe-
di ê ncia à autoridade secular como irrecus á vel, mesmo quando essa
a utoridade tenha da do ordem de gue rra , p orqu e a r es ponsa bil idade da
guerra cabe a ela, e n ã o ao indiv í duo, e porque sua autonomia é tica,
em contraste com a institui çã o universalista (cat ó lica) da gra ç era
a,
reconhecida. A inser çã o da reli gio sida de m í stic a pe culi a r a o cristia nis-
mo pessoal de Lutero parou pouco antes de tirar as conclus ões totais
do assunto.
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1 Teori came nt e, isso é realizado com maior coer ê ncia no Bhagavad-Gita, como iremos ver.
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6. A E sfer a E st ética
A é tica religiosa da fraternidade situa-se em tens ã o din â mica
com q ua lquer co mpo rt a ment o consci ent e-ra ciona l que siga a s sua s pr ó-
prias leis. Em propor çõ es n ã oças
menores, essa tens ã o tamb é m ocorre
entre a é tica religiosa e as for de vida “ deste mundo ” , cujo car á t er
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é esse nci a lment e n ã o-ra ciona l, o u ba sic a ment e a nt i-ra ciona l. A cima de
tudo, h á tens ã o entre a é tica da fraternidade religiosa e as esferas da
vida est é tica e er ó tica.
A religiosidade m á gica est á numa rela çã o muito í ntima com a
esfera est é tica. Desde seu in í cio, a religi ã o tem sido uma fonte ines-
got á vel de oportunidades de cria çã o art í stica, de um lado, e de estili-
za çã o pela tradicionaliza çã o, do outro. Isso se evidencia em v á rios ob-
jetos e processos: í dolos, í cones e o ut ros a rt ef a t os religi oso s; na pa dro-
niza çã o das forma s co mpro va da s ma gic a mente, o que c onst itui um pri -
meiro passo na supera çã o do na tur a li smo p or um a fi xa çã o de “ estilo ” ;
n a m ú sica, como meio de ê xt a se, exo rcismo o u m á gica apotropaica; em
feiticeiros que eram cantores e dan çarinos m á gicos; em rela çõ es de
tom comprovadas magicamente e portanto magicamente padronizadas
— as primeiras fases preparat órias na evolu çã o dos sistemas tonais;
nos passos de dan ça magicamente provados como uma das fontes de
ritmo e como uma t é cnica de ê xtase; nos templos e igrejas, como as
maiores de todas as edifica çõ es, c om sua ta ref a a rquitet ônica estereo-
tipada (e, com isso, formando um estilo) como conseq üê ncia de finali-
dades estabelecidas de uma vez por todas, e com formas estruturais
que se tornam estereotipadas atrav é s da efici ê ncia m á gica; em para-
mentos e implementos de igreja de todos os tipos, que serviram como
objetos da arte aplicada. Todos esses processos e objetos foram classi-
ficados de acordo com a riqueza das igrejas e templos oriunda do zelo
religioso.
Para a é tic a rel igi osa da fra t ernidade, ta l como p a ra um rigo rismo
é tico a pr i or i , 1 a a rt e como v e í culo de efe it os m á gicos n ã o s ó t em pouc o
valor como é a t é mesmo suspeita. A sublima çã o da é tica religiosa e a
busca da salva çã o, por um lado, e a evolu çã o da l ógica inerente da
arte, por outro, tenderam a formar uma rela çã o cada vez mais tensa.
Todas as religi ões sublimadas da salva çã o focalizaram apenas o sig-
nificado, e n ã o a forma, das coisas e atos relevantes para a salva çã o.
As r eligi õ es salva do ra s desvalo riza ra m a forma como c ont inge nt e, c omo
algo da criatura e que a afastava do significado. Por parte da arte,
por é m, a ing ê nua rela çã o com a é tica religiosa da fraternidade pode
permanecer ininterrupta ou pode ser repetidamente restabelecida, en-
qua nt o e com a fre q üê nci a qu e o int eresse consci ent e do o bjeto da a rt e
es tej a inge nua mente ligado a o cont e ú do, e n ã o à fo rm a em si. A rela çã o
entre uma é tica religiosa e a arte continuar á harmoniosa no que diz
respeito à arte, e enquanto o artista criador considera seu trabalho
resultado seja do carisma ou da “ habilidade ” (srcinalmente m á gica),
seja do jogo espont â neo.
1 " R igor ism o é tico a priori “ , como aqui usamos, refere-se a uma f é nos princ í pios morais
baseados na ” lei natural", ou em imperativos categ óricos deduzidos da raz ã o. A é tica dos
es t óicos, ou o culto da raz ã o durante a Revolu çã o Francesa, ou o Kantismo, s ã o exemplos.
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7. A E sfer a E r ótica
A é tic a frat erna l da rel ig i ã o de sa lva çã o est á em tens ã o profund a
com a maior for a irracional da vida: o amor sexual. Quanto mais
ç
sublimada é a sexualidade, quanto mais baseada em princ í pio, e coe-
rente, é a é tic a de s a lva çã o da fraterni dade, ta nto mais aguda a tens ã o
entre o sexo e a religi ã o.
Origi na lme nt e, a rel a çã o entre o sexo e religi ã o foi muito í ntima.
As r ela çõ es se xua is fazia m, freq ü entement e, pa rt e do orgia st icismo m á -
gico ou eram o resultado n ã o-intencional da excita çã o orgi á stica. A
base da seita dos sk optsy (Castradores) na R ú ssia evoluiu de uma
tenta tiva de e li mina r o re sul ta do se xual da da n ça orgi á stica ( radjeny )
do Chlyst , considera da pe ca minosa . A pro st itui çã o sagrada nada tinh a
que ver c om um a supo sta “ pro misc uida de primit iva ” ; fo i, ha bitua lme n-
te, a sobreviv ê ncia do orgiasticismo m á gico no qual todo ê xtase era
considerado
como h omossexua“ sagrado ” . E oaanprostitui
l, é muit tiga e, com o profana
çãfreq üência,heterossexual, bem a da.
ba sta nt e sofistic
(O treinamento das tr í bades ocorre entre os chamados aborí gi nes.)
A transi çã o dessa prostitui çã o para o matrim ônio legalmente
constitu í do est á chei a de todo s o s t ip os de fo rm a s int ermedi á ria s. Con-
cep çõ es do matrim ônio como uma disposi çã o econ ômica para garantir
a seguran ça da esposa e a heran ça legal para o filho; como uma ins-
titui çã o importante (devido aos sacrif í cios mortais dos descendentes)
na vi da no al é m; e t ã o imp ort a nt es par a a pro cria çã o — essa s co ncep çõ es
do ca sa mento s ã o pr é -prof é ticas e universais. Nada t ê m, portanto com
o a sc etismo em si. E a vida se xua l, per se, teve seus fantasmas e seus
deuses como qualquer outra fun çã o.
Uma certa tens ã o entre a religi ã o e o sexo s ó se destacou com
o cult o t empor á rio da ca stidade do s sa cerdo tes. Essa ca stidade ba sta nt e
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OS ECONOMISTAS
antiga nem pode ter sido determinada pelo fato de que, do ponto de
vista do ritual vigorosamente padronizado do culto da comunidade, a
sexualidade era facilmente considerada como especificamente domina-
da pel os dem ôn ios. A l é m d isso , n ã o era por a ca so qu e subse q ü entemente
as religi ões prof é ticas, bem como as ordens de vida controladas pelos
sacerdotes, regulamentavam, quase sem exce çã o importante, as rela-
çõ es sexuais em favor do matrim ôni o. O contraste de toda regulamen-
t a çã o racional da vida com o orgiasticismo m á gico e todos os tipos de
frenesis irracionais se expressa nesse fato.
A tens ã o entre religi ã o e sexo foi aumentada pelos fatores evo-
lucion á rios, de ambos os lados. No lado da sexualidade, a tens ã o levou
da sublima çã o ao “ erotismo ” , e com isso a uma esfera cultivada cons-
cientemente, e portanto n ã o-rotinizada. O sexo foi n ã o-rotinizado n ã o
s ó, ou nec essa ria ment e, no se nt ido de se r estr a nh o à s conven çõ es, pois
o ero tismo c ont ra sta com o na tu ra li smo s óbrio do campon ê s. E foi pre-
cisamente o erotismo que as conven çõ es da Cavalaria habitualmente
t oma va m c omo objeto de sua r egulam ent a çã o. E ssa s co nven çõ es, por é m ,
regulamentaram caracteristicamente o erotismo, disfar çando as bases
naturais e org â nicas da sexualidade.
A qualidade extraordin á ria do erotismo consistiu precisamente
num afastamento gradual do naturalismo ing ê nuo do sexo. A raz ã o e
significa çã o dessa evo lu çã o, por é m, envo lve m a ra ciona liza çã o universa l
e a intelectualiza çã o da cultura. Desejamos delinear, brevemente, as
fases dessa evolu çã o. Partiremos de exemplos do Ocidente.
O ser total do homem est á , agora, alienado do ciclo org â nico da
vida camponesa; a vida se tem enriquecido cada vez mais em seu
conte ú do cultural, seja esse conte ú do ava li a do i nt el ectua lme nt e, o u de
forma supra-individual. Tudo isso se operou, atrav é s do estrangula-
mento do valor da vida, em rela çã o ao que é simplesmente dado, no
sentido de um maior fortalecimento da posi çã o especial do erotismo.
Este foi elevado à esfera do gozo consciente (no sentido mais sublime
da express
pa re cia umaã o).
a beNrtura
ã o obstante,
pa ra a eess
na verdade devido
ê nci a ma is i rraa essa
cionaeleva
l, e p ort a nt çã o, ele
o ma is
real, da vida em compara çã o com os mecanismos da racionaliza çã o. O
grau e a forma pela q ual uma ê nfa se de va lor é colocada no erotismo,
como tal, variaram enormemente por toda a hist ória.
Para os sentimentos incontidos dos guerreiros, a posse das mu-
lheres e a lut a por elas t ive ra m o mesmo valor que a luta pe los teso uros
e conquista do poder. Na é poca do helenismo pr é -cl á ssico, no per í od o
do ro ma nce cavalheiresco, uma decep çã o er ó tica podia ser considerada
por Arqu í loco uma experi ê ncia significativa, de relev â ncia duradoura,
e a captura de uma mulher podia ser considerada um incidente in-
compar á vel numa guerra her óica.
Os tragedi ógrafos conheciam o amor sexual como um poder au-
t ê ntico do destino, e seu repert ório inclu í a ecos duradouros dos mitos.
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per á vel
entre da realiza
si. Nessa o dolimite
çãsem
entrega desejo de amor é t ãna fus
o radical ã o direta
quanto possdas almas
í vel em
sua oposi çã o a toda funcionalidade, racionalidade e generalidade. É
citada aqui como o significado singular que uma criatura, sem sua
irracionalidade, tem para outra, e somente para essa outra espec í fica.
Do ponto de vista do erotismo, por é m, esse significado, e com ele o
conte ú do de valor da pr ópria rela çã o, baseia-se na possibilidade de
uma comunh ã o experimentada como uma unifica çã o completa, como
um desaparecimento do “ t u ” . É t ã o esmagadora que pode ser interpre-
tada “ simbolicamente ” : como um sacramento. O amante considera-se
preso à es s ê ncia da verdadeira vida, que é eternamente inacess í vel a
qualquer empresa racional. Sabe-se livre das frias m ã os ósseas das
ordens racionais, t ã o completamente quanto da banalidade da rotina
cotidiana. Essa consci ê ncia do amante baseia-se na indelebilidade e
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a rela Do
çã oponto de vista
er ó tica devedemanter-se
qualquer ligada, deé tica religiosa
forma mais da
oufraternidade,
menos
requintada, à brutalidade. Quanto mais sublimada for, tanto mais
brutal. Inevitavelmente, esta rela çã o é considerada de conflito. Tal
conflito n ã o é exclusivamente, nem mesmo predominantemente, o
ci ú me e a vontade de possess ã o, excluindo terceiros. É muito mais
do que a coa çã o mais í nt ima da a lma do c ompan hei ro me no s bruta l.
Essa coa çã o existe porque jamais é percebida pelos pr óprios parti-
cipantes. Pretendendo ser uma dedica çã o extremamente humana,
ela constitui o gozo sofisticado de si mesmo no outro. Nenhuma
comunh ã o er ó tica consumida sabe-se baseada em qualquer outra
coisa que n ã o uma destina ção misteriosa de um para o outro: o
destino , neste sentido mais elevado da palavra. Com isso, ela se
sabe “ legitimada ” (num sentido inteiramente amoral).
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ment os t eve in í cio. D os gra ndes sist ema s de pedag ogia , so ment e o con-
fucionismo e o da Antiguidade do Mediterr â neo souberam como fugir
ao poder dos sacerdotes. O primeiro o conseguiu em virtude de sua
poderosa burocracia estatal, e o segundo pela falta absoluta de admi-
nistra çã o burocr á tic a . Com a el imina çã o dos p a dres no setor educ a t ivo ,
a pr ópria religi ã o sacerdotal foi eliminada nesses casos. Com essas
exce çõ es, por é m, os cleros forneceram e controlaram, regularmente, o
pessoal das escolas.
N ã o foram apenas os interesses genuinamente sacerdotais que
provocaram as sempre renovadas liga çõ es entre a religi ã o e o intelec-
tualismo. Foram, tamb é m, a compuls ã o interiorizante do car á ter ra-
cional da é tica religiosa e a busca especificamente intelectualista da
salva çã o. Na verdade, toda religi ã o em sua subestrutura psicol ógica e
int el ect ua l, e na s sua s concl us õ es pr á t ica s, tomo u uma posi çã o diferent e
em rela çã o a o i nt el ect ua lis mo, se m pe rm itir, por é m, que desa pa rec esse
a tens ã o interiorizante ú ltima, pois ela se baseia na disparidade ine-
vit á vel entre as formas ú ltimas das imagens do mundo.
N ã o h á , abso luta mente, ne nhum a rel igi ã o “ coerente ” , f uncio na ndo
como uma for ça vital que n ã o é compelida, em algum ponto, a exigir
o credo non quod, sed quia absurdum — o “ sacrif í cio do intelecto ” .
N ã o é necess á rio, e seria imposs í vel, tratar detalhadamente dos
es t á gios da tens ã o entre a religi ã o e o conhecimento intelectual. A
religi ã o redentora defende-se do ataque do intelecto auto-suficiente. E
a ssi m o fa z, de certo , rigo ro sa mente ba se a da em princ í pi os, fo rm ula ndo
a pretens ã o de que o conhecimento religioso se move numa esfera
dife rent e e que a na t ureza e signifi ca do do conh eciment o rel igio so s ã o
totalmente diferentes das realiza çõ es do intelecto. A religi ã o p retend e
oferecer uma posi çã o ú ltima em rela çã o ao mundo atrav é s de uma
percep çã o direta do “ significado ” do mundo. N ã o quer oferecer o co-
nhecimento intelectual relativo ao que é ou que deveria ser. Pretende
revel a r o sentido do mun do n ã o por meio do intelecto, mas em virtude
de um caos
mitido a ris
quema da iluso
fazem umina çã o. Esse
da respectiva t carisma, ao que
é cnic a e se
se ldiz, s m da
ib erta trans-
ó és subs-
titui çõ es e nga no sa s e e rr ô nea s, a prese nt a da s c omo c onh eciment o pe la s
impress ões confusas dos sentidos e as abstra çõ es vazias do intelecto.
A religi ã o acredita que elas s ã o, na verdade, irrelevantes para a sal-
va çã o. Libertando-se delas, o homem religioso prepara-se para a re-
cep çã o da percep çã o important í ssima do significado do mundo e de
sua pr ópria exist ê ncia. Em todas as tentativas da filosofia de tornar
demonstr á vel esse signific a do ú lt imo, e a posi çã o (pr á t ica ) qu e se se gue
da compreens ã o, a religi ã o redentora v ê apenas o desejo do intelecto
de escapar à sua pr ópria autonomia leg í tima. A mesma opini ã o se
mant é m em rela çã o à s tentativas filos óficas de conseguir o conheci-
mento intuitivo que, embora interessado no “ ser ” da s c oisas, t em uma
dignida de que dife re princ ipalment e da dignida de do conh eciment o re-
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OS ECONOMISTAS
ligio so. A cima de t udo, a religi ã o v ê t udo isso c omo um produt o espec í fico
do ra ciona lis mo me smo, do qu a l o int el ect ua li smo, por essa s tent a t iva s,
desejaria muito escapar.
A religi ã o da salva çã o, por é m, vista de sua pr ópria posi çã o, deve
se r r es ponsa bi li za da por t ra nsgress õ es igua lment e inc oerentes, t ã o logo
ela abre m ã o da incomunicabilidade inexpugn á vel das experi ê ncias
m í sticas. Quando coerente, essa religi ã o s ó pode ter os meios de pro-
vocar experi ê ncias m í sticas como acontecimentos: n ã o tem meios de
comunic á -las e demonstr á -las de f orma a de qua da . Qu a lque r t enta tiva
de influenciar o mundo levar á a religi ã o m í stica a correr esse perigo,
t ã o logo a tenta tiva a ssuma o ca r á ter de pro paga nda . O mes mo é v á lido
para qualquer tentativa de interpretar o sentido do universo racional-
mente, embora a tentativa tivesse sido repetidamente feita.
Os po st ula dos reli gio sos po dem ent ra r em co nflit o com o “ mundo ”
de diferentes pontos de vista, e o ponto de vista em quest ã o é sempre
de gra nde impo rt â nc ia para a di re çã o e a forma pe las q ua is a “ salva çã o”
ser á buscada. Em todos os tempos e todos os lugares, a necessidade
de salva çã o — cultivada conscientemente como a subst â ncia da reli-
giosidade — resultou da tentativa de uma racionaliza çã o sistem á tica
e pr á tica das realidades da vida. Na verdade, essa conex ã o tem sido
ma nt ida co m gra us var iados de ev id ê nci a : nesse n í vel , toda s a s rel igi ões
exigiram, como pressuposto espec í fico, que o curso do mundo seja, de
a lg uma fo rma , si gni fi cativo, pe lo menos na medida em qu e se rela cione
com os interesses dos homens. Como j á vimos, essa pretens ã o surgiu
naturalmente como o problema habitual do sofrimento injusto, e, da í,
como o postulado de uma compensa çã o justa para a distribui çã o desi-
gual da felicidade individual no mundo. Da í , a pretens ã o tendeu a
progredir, passo a passo, no sentido de uma crescente desvaloriza çã o
do mun do . Qua nt o ma is i nt ensa ment e o pe nsa ment o ra ciona l ocupo u-se
do problema da compensa çã o justa e re tr ib ut iva, t a nt o meno s pa rec eu
poss í vel uma solu çã o totalmente interior e tanto menos prov á vel, ou
mesmoPelo significativa,
que mostramuma as
soluapar çã oê ncias,
exterior.
o curso atual do mundo n ão
teve mui ta rel a çã o com esse po st ula do da compensa çã o. A desigua lda de
etic a mente n ã o-motivada na distribui çã o da felicidade e mis é ria, para
a qual parecia conceb í vel uma compensa çã o, continuou irracional; o
mesmo ocorreu com a simples realidade da exist ê ncia do sofrimento,
pois a difus ã o universal do sofrimento s ó podia ser substitu í da por
outro problema, ainda mais irracional, a quest ã o da srcem do pecado
que, segundo o ensinamento dos profetas e sacerdotes, deve explicar
o sofrimento como um castigo ou um meio de disciplina. Um mundo
cria do pa ra o ex erc í cio do p eca do de ve par ecer a inda menos e t ica ment e
pe rfeito do qu e um m und o condena do a o so friment o. De q ua lquer m odo ,
a imperfei çã o absoluta deste mundo estabeleceu-se firmemente como
um postulado é tico. E a futilidade das coisas mundanas s ó pareceu
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WEBER
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OS ECONOMISTAS
senhorOdecampon
terras e êos, her
como Abra ã o, podia
ói guerreiro morrer
feudais podiam“ saciado da vida ” . O
fazer o mesmo,
pois ambos cumpriam um ciclo de sua exist ê ncia, al é m do qual n ã o
alcan çavam. Cada qual, a seu modo, podia alcan çar a perfei çã o do
mundo interior em conseq üê nc ia da clareza ing ê nua da sub st â ncia de
sua vida. Ma s o home m “ culto ” , que l uta para se a pe rfe i çoa r, no sentido
de adq uirir o u c ria r “ valores culturais ” , n ã o pode fa zer isso. P ode “ can-
sar-se da vida ” , mas n ã o pode “ saciar-se da vida ” , no sentido de com-
pletar um ciclo. A possibilidade de aperfei çoamento do homem de cul-
t ura pro gride indefi nida ment e, ta l como o corre co m os va lores c ultu ra is.
E o segmento que o recipiente individual e passivo, ou o co-construtor
ativo, pode abarcar no curso de uma vida finita, se torna mais insig-
nificante na medida em que mais variados e m ú ltiplos se tornam os
valores culturais e as metas do auto-aperfei çoamento. Da í o condicio-
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1 C f. n ot a 5 9 ac im a.
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nos à parte. A esperan ça escatol ó gica mais moderna, por é m, faz que
o deus da pureza e da benevol ê ncia ven ça, tal como o cristianismo faz
qu e o S a lva do r t riunfe so bre o ma l. A form a ma is c oerente de dua lis mo
é a concep çã o popular mundial do c é u e inferno, que restabelece a
soberania de Deus sobre o esp í rito do mal, que é Sua criatura e com
isso a credita qu e a onipo t ê nci a divi na es t á sa lva. Ma s, c om r el ut â ncia,
deve ent ã o, abertamente ou n ã o, sacrificar parte de seu amor divino.
Se mantida a onisci ê ncia, a cria çã o de um poder de mal radical e a
admiss ã o do pecado, especialmente em comunh ã o com a eternidade
dos castigos do inferno para uma das pr óprias criaturas finitas de
Deus, e para pecados finitos, simplesmente n ã o corresponde ao amor di-
vino. Nesse caso, somente uma ren ú ncia da benevol ência tem coer ência.
A cren ça na predesti nação realiza essa ren ú ncia, de fato e com
plena coer ê nci a . A rec onh ecida inc a pa cida de do homem em esc rut iniza r
os caminhos de Deus significa que ele renuncia numa clareza sem
amor à acessibilidade do homem a qualquer significado do mundo.
Esta re n ú ncia encerrou todos os problemas desse tipo. Fora do c í rculo
de virtuosos eminentes, a f é nesta coer ê ncia n ã o teve dura çã o p erma -
nente. Isso ocorreu porque a f é na predestina çã o — em contraste com
a f é no poder irracional do “ destino ” — exige a suposi çã o de uma
destina çã o providencial, e portanto um pouco racional, do condenado,
n ã o s ó à desgra ça, mas ao mal, embora exigindo a “ puni çã o” do con-
denado e, com isso, a aplica çã o de uma categoria é tica.
Tratamos da significa çã o da f é na predestina çã o [em outro local]. 1
Mais t a rde e xam ina remo s o du a lismo z oroa stria no, e rapi da mente a penas
— porq ue o n ú mero de crentes é pequeno . P oderia ser t ota lme nt e omit ido,
se n ã o fosse a influ ência das id éias persas de ju í zo final, bem como a
doutrina dos dem ônios e anjos, at é o juda í smo recente. Devido a essas
influ ências, o zoroastrismo é de consider á vel significa çã o hist órica.
A terceira forma de teodic é ia que vamos discutir foi peculiar à
religiosidade dos intelectuais indianos. Destaca-se em virtude de sua
coer ê nci a , be m co mo p el a sua ex t ra ordin á ria rea li za çã o meta f í sic a : une
a auto-reden çã o do homem, semelhante à do virtuoso, com a acessibi-
li da de unive rsa l à salva çã o, a mais rigorosa rejei çã o do mundo com a
sua é tic a org â nica social, e a contempla çã o como o caminho mais des-
tacado para a salva çã o com uma é tica vocacional do mundo interior.
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Í NDICE
WEBER — Apresenta çã o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
Cr onol ogia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
B ib li ogra fi a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
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OS ECONOMISTAS
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