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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA ___ FAZENDA PÚBLICA DA

COMARCA DE PORTO VELHO/RO.

VANDERLEI LIMA PEREIRA JUNIOR, brasileiro, menor púbere, nascido em


02/03/2001, portador da cédula de identidade nº 1349811 SSP/RO, inscrito no CPF
sob o nº 034.882.782-20, assistido por sua genitora e também parte litigante nessa
demanda, SANDRA MARIA FERREIRA, brasileira, união estável, portadora da
Cédula de Identidade nº 462580 SSP/RO, inscrita no CPF sob o nº 652.933.202-20,
ambos residentes e domiciliados na rua Emoção, nº 4586, bairro Escola de Polícia,
CEP 76824-826, no município de Porto Velho/RO, vem, respeitosamente, por seus
procuradores devidamente constituídos, ajuizar AÇÃO DE CONCESSÃO DE
AUXÍLIO RECLUSÃO COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA, em face do
INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA DOS SERVIDORES DO
MUNICÍPIO DE PORTO VELHO (IPAM), pessoa jurídica de direito público, através de
sua Procuradoria Geral, localizada na rua Dr. Lourenço Antônio Pereira Lima, nº.
2774, bairro Embratel, CEP 76820.810, no município de Porto Velho/RO.

1. GRATUIDADE DA JUSTIÇA

Trata-se de ação de concessão de auxílio reclusão, com pedido de tutela de


urgência.

Para tanto, o artigo 5º, inciso XXXIV, da Constituição Federal, assegura a todos
o direito de acesso à justiça em defesa de seus direitos, independentemente do
pagamento de taxas.
No mesmo sentido, o artigo 98 do Código de Processo Civil, aduz que a pessoa
natural com insuficiência de recursos para pagar as custas, despesas processuais e
os honorários advocatícios, tem direito à gratuidade de justiça.

Pois bem, cumpre informar que os autores acima qualificados, atualmente, não
dispõem de uma saúde financeira que lhe permitam o pagamento das custas iniciais
exigidas para a propositura da presenta ação, pelas razões abaixo indicadas.

A Sr. Sandra atualmente trabalha como vigilante, auferindo de forma mensal o


importe de R$ __________. Vale destacar que, com o proveito econômico do seu
trabalho, a requerente arca com todas as despesas de sua residência (contas
rotineiras, como água e luz, e os gastos com alimentação), além de garantir a
subsistência de seu filho, que ainda não agrega renda ao núcleo familiar.

Por todo o exposto, com fulcro no artigo 5º, inciso LXXIV da Constituição
Federal e no artigo 98 do Código de Processo Civil, requer-se a concessão do
benefício da gratuidade de justiça em favor da Requerente.

2. FATOS

O segurado esteve recolhido em regime fechado, na Casa de Detenção José


Mário Alves da Silva no período de 22 de abril de 2016 a 04 de setembro de 2017,
conforme Certidão da Secretaria de Estado de Justiça.

Os laudos médicos que acompanham a exordial, demonstram que o segurado


foi diagnosticado com grave moléstia (cardiopatia reumática – CID 10: I05.1; I50)
enquanto cumpria pena, necessitando de constante acompanhamento médico e, por
esse motivo, lhe foi concedida a prisão domiciliar.

Conforme se depreende do processo administrativo nº 01487/2018-01 do


IPAM, no dia 24 de agosto de 2018, foi requerida, perante a autarquia previdenciária
municipal, a concessão do benefício de auxilio reclusão em favor dos dependentes do
segurado Vanderlei Lima Pereira.
O pedido aludido foi indeferido sob o fundamento de que a base previdenciária
da última remuneração do servidor foi superior ao valor estabelecido no art. 5º da
Portaria nº 15, do Ministério da Fazenda, de 16.01.2018.

Todavia, o entendimento da autarquia previdenciária está equivocado, uma vez


que os autores fazem jus à concessão do referido benefício.

Desta forma, a justificativa apresentada pelo IPAM para o indeferimento não


merece prosperar, razão pela qual recorrem ao Poder Judiciário para ver o seu direito
reconhecido, conforme se demonstrará a seguir.

3. DIREITO

3.1. Quanto aos Requisitos

O benefício previdenciário, destinado aos dependentes do segurado preso,


pleiteado nesta ação, encontra previsão legal no artigo 66 da Lei Complementar 404
de 27 de dezembro de 2010. Vejamos o caput:

Art. 66. O auxílio-reclusão consistirá numa importância mensal,


concedida aos dependentes do servidor segurado de baixa renda
recolhido à prisão.

Partindo do dispositivo legal, acima transcrito, se extrai os requisitos


necessários para a sua concessão, são eles: comprovar a condição de dependente,
qualidade de segurado do servidor, baixa renda e comprovação do recolhimento à
prisão.

a) Condição de Dependentes;

O artigo 9º da Lei Complementar 404 de 27 de dezembro de 2010, estabelece


as condições de beneficiários do Regime Próprio de Previdência Social do Município
de Porto Velho /IPAM, na condição de dependente do segurado, in verbis:
Art. 9º São beneficiários do RPPS/IPAM, na condição de dependente do
segurado:
a) Classe I - o cônjuge, a companheira, o companheiro, e o filho não
emancipado, de qualquer condição, com menoridade civil ou inválido;
[...]
§ 1º A dependência econômica das pessoas indicadas na alínea "a" é
presumida e das demais classes devem ser comprovadas através de
certidões expedidas pelos órgãos competentes e declaração própria do
titular, acompanhada de no mínimo, duas testemunhas, devidamente
registrado em Cartório de Registro de Nascimentos, Casamentos e Óbitos.
[...]
§ 3º Considera-se companheira ou companheiro a pessoa que, sem ser
casada, mantenha união estável com o segurado ou segurada, reconhecida
como entidade familiar, configurada na convivência pública, continua e
duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.
[...]

Nesse sentido, vale reiterar que primeiro autor é filho do segurado, e conta
atualmente com 17 anos de idade, enquanto a segunda é companheira do segurado,
estando em regime de união estável com ele há ... anos.

A dependência dos autores fora, inclusive, reconhecida pela ré, conforme se


verifica no processo administrativo no anexo.

Posto isto, não restam dúvidas quanto a condição destes como dependentes
do Sr. Vanderlei Lima Pereira.

b) Qualidade de Segurado do Servidor;

Com relação a qualidade de segurado exigida, requer-se a prova da sua


vinculação ao IPAM, que se dá ou pelo exercício de atividade remunerada vinculada
ao Regime Próprio de Previdência Social do Município de Porto Velho/RO.

O artigo 7º da Lei Complementar 404 de 27 de dezembro de 2010, por sua vez,


estabelece que “a vinculação do servidor ao RPPS/IPAM dar-se-á pelo exercício das
atribuições do cargo de que é titular, nos limites da carga horária fixada pela legislação
municipal”.
Pois bem, o segurado foi admitido em 18 de julho de 2003, no cargo de gari,
sob a matrícula 195.480. Da ficha financeira que acompanha a inicial, verifica-se que
a na época da prisão (22.04.2016) ainda possuía vínculo com a Prefeitura Municipal
de Porto Velho/RO, tendo percebido sua última remuneração em maio de 2016.

Portanto, diante dos fatos e documentos que instruem a inicial, não pairam
dúvidas quanto a qualidade de segurado do servidor a época da prisão.

c) Baixa Renda;

Aqui, é importante reiterar que o artigo 6º da Lei Complementar 404 de 27 de


dezembro de 2010, estabelece que o benefício aqui tratado é destinado a família do
servidor considerado de baixa renda, e que o valor do seu pagamento corresponderá
à última REMUNERAÇÃO no cargo efetivo.

O artigo 22 do mesmo dispositivo legal, define o que é remuneração para fins


de base de cálculo das contribuições previdenciárias previdenciária dos servidores
municipais, vejamos:

Art. 22. Entende-se como remuneração de contribuição, o valor constituído


pelo subsídio ou vencimentos, e dos adicionais de caráter individual ou outras
vantagens de caráter permanente.
§ 1º Não integra a base de cálculo das contribuições previdenciárias:
[...]
III - a indenização de auxílio-transporte;
IV - o auxilio deslocamento;
[...]
VI - o auxílio-alimentação;
[...]
X - as parcelas remuneratórias pagas em decorrência de local de
trabalho;
XI - os adicionais de insalubridade e de periculosidade;
[...]
XIV - outras parcelas cujo caráter seja indenizatório ou temporário e
esteja definido em lei.
Agora, se faz necessária uma análise aprofundada das verbas remuneratórias
recebidas pelo segurado no mês de maio de 2016, colacionada abaixo:

Observe Excelência, que analisando a ficha financeira do segurado e aplicando


os dispositivos da Lei Complementar 404 supramencionados, podemos afirmar que o
valor de sua remuneração para fins previdenciário equivale a R$1.347,70. Explico:

Deve-se desconsiderar o valores percebidos a título de adicional de


insalubridade no importe de R$364,79 (inciso XI) e das verbas de caráter indenizatório
- V.I., (inciso XIV), quais sejam: auxílio de incapacidade de atividade especial
(R$300,00); auxílio alimentação e auxílio transporte (R$228,00).

Também não se pode levar em consideração a gratificação de produtividade


especial – GPE, no importe de R$1.155,00, concedida pela Lei Complementar 391 de
06 de julho de 2010, alterada pela 594 de 23 de dezembro de 2015, uma vez que a
própria legislação aduz que esta “[...] cessará na mesma data em que os requisitos
exigidos neste artigo deixarem de existir”. Assim, não restam dúvidas sobre o seu
caráter temporário, também previsto no inciso XIV do artigo 22 da Lei Complementar
404, já mencionada.

Todas essas considerações até aqui apontadas, já foram reconhecidas no


âmbito administrativo, conforme se verifica na íntegra dos autos que tramitaram junto
ao IPAM. No entanto, tomando unicamente como fundamento o parâmetro
estabelecido pela Portaria nº 15 de 16 de janeiro de 2018 do Ministério da Fazenda,
o referido órgão previdenciário indeferiu o pleito.

O artigo 5º da Portaria utilizada como parâmetro para o indeferimento dispõe


que: “o auxílio-reclusão, a partir de 1º de janeiro de 2018, será devido aos
dependentes do segurado cujo salário de contribuição seja igual ou inferior a R$
1.319,18 [...] ”, ou seja, R$28,52 (vinte e oito reais e cinquenta e dois centavos) abaixo
do valor percebido pelo servidor a título de última remuneração.

Ocorre, Excelência, que o segurado possui uma companheira e é genitor de


um menor, dedicou-se ao serviço público por mais de 10 (dez) anos no cargo de gari,
não tendo acúmulos de bens, tão pouco outra fonte de renda que pudesse lhe permitir
um crescimento econômico significativo e estabilidade financeira.

Por sua vez, as Portarias editadas pelo Ministério da Fazenda atinentes ao teto
do salário de contribuição podem, e nesse caso, devem ser relativizadas. Essa
possibilidade já foi reconhecida pelo Superior Tribunal de Justiça, ao julgar o Recurso
Especial nº 1.741.600. Vejamos:

PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-RECLUSÃO. REQUISITOS PREENCHIDOS.


BAIXA RENDA. EXCESSO MÍNIMO. FLEXIBILIZAÇÃO DOS
PARÂMETROS. CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DE MORA.
DEFINIÇÃO NO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. 1. Para a concessão do benefício de auxílio-reclusão, faz-
se necessário o preenchimento dos seguintes requisitos: a) efetivo
recolhimento à prisão; b) demonstração da qualidade de segurado do preso;
c) condição de dependente de quem objetiva o benefício; d) prova de que o
segurado não está recebendo remuneração de empresa ou em gozo de
auxílio-doença, de aposentadoria ou abono de permanência em serviço; e)
comprovação de baixa renda, para benefícios concedidos a partir da Emenda
Constitucional nº 20/98. 2. É possível a concessão do auxílio-reclusão
quando o caso concreto revela a necessidade de proteção social, permitindo
ao Julgador a flexibilização do critério econômico para deferimento do
benefício, ainda que o salário de contribuição do segurado supere o valor
legalmente fixado como critério de baixa renda.
[...]
O tribunal de origem julgou procedente o pedido de concessão de auxílio-
reclusão apesar de o salário-de-contribuição do recluso ter superado o teto
estabelecido para o período (fl. 263e):
[...]
Nessa linha, ainda, as seguintes decisões monocráticas: REsp 1.694.029/SP,
Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe de 12.09.2017; AREsp 589.121/SP,
Rel. Min. Assusete Magalhães, DJe de 28.04.2015; AREsp 723.389/SP, Rel.
Min. Benedito Gonçalves, DJe de 04.08.2015; AREsp 590.864/SP, Rel. Min.
Sérgio Kukina, DJe de 14.08.2015 e AREsp 587.081/SP, Rel. Min. Marga
Tessler, DJe de 13.05.2015. Entendo que o caso em tela autoriza a
flexibilização do critério de renda do instituidor do benefício.
[...]
Publique-se e intimem-se. Brasília (DF), 09 de agosto de 2018. MINISTRA
REGINA HELENA COSTA Relatora (Ministra REGINA HELENA COSTA,
17/08/2018)

Nesse sentido, não pairam dúvidas que, na acepção jurídica do termo, o


segurado é pessoa de baixa renda. Tanto é, que o próprio Ministério da Fazenda, ao
dispor as novas regras para a concessão do benefício de auxílio reclusão em favor
dos dependentes do segurado, editando a Portaria nº 9 de 15 de janeiro de 2019,
estabeleceu novo teto para o salário de contribuição, qual seja: “igual ou inferior a R$
1.364,43”.

Com esta última atualização, o teto para a percepção do auxílio-reclusão


superando o valor da última contribuição do segurado.

Além disso, vale reforçar que é acometido de doença cardiovascular grave,


tendo com isso, diversas despesas extraordinárias com medicamentos e tratamento
médico, comprometendo ainda mais o orçamento mensal do núcleo familiar.

Porto isto e diante das provas que acompanham a inicial, não restam dúvidas
quanto a caracterização do segurado como pessoa de baixa renda.

d) Comprovação do Recolhimento à Prisão;

Consta nas Certidões emitidas pela Secretaria de Estado de Justiça – SEJUS,


informações que o segurado, Vanderlei Lima Pereira, se encontrava recolhido no
regime fechado na Casa de Detenção José Mário Alves da Silva, dando entrada no
estabelecimento em 22.04.2016.
Após o diagnóstico da cardiopatia reumática – CID 10: I05.1; I50, moléstia que
demanda um constante acompanhamento médico, e que não pode ser realizado no
ambiente prisional, lhe foi concedida prisão domiciliar.

Quanto a isso, já foi pacificado no Superior Tribunal de Justiça. De acordo com


a decisão, 1“o que importa, para autorizar a cessação do auxílio-reclusão, não é o
regime de cumprimento da pena a que está submetido o segurado, mas sim a
possibilidade de ele exercer atividade remunerada fora do sistema prisional, o que não
só se dá quando aquele é posto em liberdade, mas também quando a execução da
pena for realizada em regime prisional aberto ou o segurado estiver em liberdade
condicional”.

Na presente demanda, os laudos demonstram que o segurado está


incapacitado para as atividades laborais de forma total, consequentemente impedido
de exercer atividade remunerada, cumprindo, portanto, o referido quesito.

3.2. Quanto a Data de Concessão do Benefício

Demonstrado que na data do recolhimento do segurado, os autores já


sustentavam a qualidade de dependentes econômicos daquele, tem-se por devido
que o início da contagem do benefício seja da data em que foi cessado o pagamento
pelo empregador, conforme disposto no §3º do artigo 66 da Lei Complementar 404 de
27 de dezembro de 2010.

In verbis: “O auxílio-reclusão será devido a contar da data em que o


segurado preso deixar de perceber dos cofres públicos”.

Destaca-se que na época do recolhimento, o teto estabelecido pela Portaria do


Ministério da Fazenda em vigor (nº 1 de 08 de janeiro de 2016), foi de igual ou inferior
a R$ 1.212,64, ou seja, R$135,06 a menos que o último salário de contribuição do
servidor.

1
http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/Comunica%C3%A7%C3%A3o/noticias/Not%C3%ADcias/Primeira-Turma-
mant%C3%A9m-decis%C3%A3o-que-concedeu-aux%C3%ADlio%E2%80%93reclus%C3%A3o-a-dependentes-de-preso-em-
regime-domiciliar – acesso em 26 de fevereiro de 2018 às 11:58h.
Diante do exposto, considerando que desde o recolhimento a prisão o segurado
possuía a condição de hipossuficiente e que o último pagamento foi realizado no mês
de maio de 2016, a data de concessão em favor dos dependentes, deverá ser fixada
no dia 30 de junho de 2016.

Alternativamente, caso Vossa Excelência, entenda de modo diverso, requer


que a data de concessão seja fixada na data no primeiro requerimento administrativo,
qual seja, em 24 de agosto de 2018.

4. PEDIDOS

Diante do exposto, pede-se:

a) a DESCONSTITUIÇÃO da decisão que indeferiu o benefício previdenciário


em questão;
b) a CONSTITUIÇÃO do benefício previdenciário de auxílio reclusão, desde a
data de suspensão do pagamento de salários por parte da administração
pública (30/06/2017);
c) Subsidiariamente, a constituição do benefício previdenciário de auxílio
reclusão, desde o primeiro requerimento administrativo, datado em
24/08/2018.
d) a CONDENAÇÃO do réu, se for o caso, ao pagamento das parcelas
atrasadas, parcelas sobre as quais deve incidir correção monetária a partir
dos seus vencimentos e juros de mora de 1% (um por cento) ao mês a
contar de sua citação (verbete nº 204 da súmula do Superior Tribunal de
Justiça);

Por fim, requer-se:

e) a concessão dos benefícios da justiça gratuita, na forma do artigo 98 do


CPC;
f) a citação do IPAM para responder à presente demanda, sob as penas da
lei;
g) a produção de todos os meios de prova em Direito admitidos, especialmente
a documental que segue com esta inicial;

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