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O CUIDADO DE CRISTO PELAS IGREJAS
Apocalipse 1.4-20
A seção epistolar de Apocalipse começa de maneira bastante típica: “João, às sete igrejas
que se encontram na Ásia” (1.48). O escritor se identifica no início — em contradição ao
nosso hábito de assinar no fim da carta — e nomeia os pretendidos leitores de seu traba-
lho.
O apóstolo João, agora já muito idoso e o último apóstolo vivo, escrevem de seu exílio
pessoal em Patmos (1.9) aos santos do continente, cada vez mais isolados. (Nota: Não
temos meios de saber se Apocalipse foi enviado aos crentes da Ásia enquanto João ainda
se encontrava na ilha ou se foi necessário aguardar a volta dele a Éfeso depois da morte
de Domiciano) Referidas simplesmente como às “sete igrejas que se encontram na Ásia”,
elas são mencionadas individualmente no verso onze. “Ásia” aqui não significa natural-
mente o continente da Ásia ou a região que designamos como Ásia Menor; mas refere-se
a uma província romana situada na costa centro-oeste da Ásia Menor.
As “sete igrejas” não representam a igreja de todos os tempos e lugares, mas tratava-se
de congregações do povo de Deus nas cidades de Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira,
Sardes, Filadélfia e Laodicéia. Nos dois capítulos seguintes deste volume, examinaremos
brevemente cada uma dessas cidades e as igrejas dali. Basta por enquanto imaginar a
razão dessas congregações específicas terem sido citadas. Havia certamente mais do
que sete igrejas na Ásia na época; Colossos, por exemplo, fica situada exatamente à su-
doeste de Laodicéia (cf. Cl 1.2). Essas sete talvez fossem as mais centrais como meios
de comunicação na província, ou talvez exatamente sete igrejas foram citadas devido ao
significado especial do número “sete” (i.e., perfeição) para a natureza deste livro apocalíp-
tico. Não podemos afirmar com precisão porque essas e apenas essas sete igrejas foram
nomeadas; mas estamos certos, porém, de que a mensagem do livro foi dirigida a todos
os santos em circunstâncias semelhantes às dessas sete congregações de crentes.
A saudação é típica dos escritos do Novo Testamento: “Graça e paz a vós outros”. Existe
algo de impressionante e belo na maneira como esta saudação está associada aos três
membros da divindade. Primeiro, esta graça e paz são “da parte daquele que é, que era,
e que há de vir". A reverência dos judeus pelo nome sagrado “Yahweh” (Javé), não permi-
tia que este fosse pronunciado por eles, usando em vez disso uma série de paráfrases e
descrições do Pai celestial. A referência de João àquele “que é, que era, e que há de vir”
baseia-se certamente na identificação que o Todo-Poderoso fez de si mesmo a Moisés
em Êxodo 3.14, destinada a enfatizar sua condição eterna em contraste com a predomi-
nância momentânea de Roma. Segundo, a bênção de graça e paz é dada também pelos
“sete Espíritos que se acham diante do seu trono”. Além do uso do número sete nos escri-
tos apocalípticos para indicar perfeição, este é certamente um modo de referir-se ao Espí-
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rito Santo. Se não for este o caso, o livro de Apocalipse não menciona então em ponto
algum o Espírito de Deus. Terceiro, graça e paz são invocadas “da parte de Jesus Cristo,
a fiel testemunha; O primogênito dos mortos, e o soberano dos reis da terra”. Em todas as
coisas, Jesus é aquele que dá verdadeiro testemunho das coisas de Deus (cf. Jo 3.32) e
quem estabeleceu o perfeito exemplo de fidelidade nesse papel. Pelo fato dele ter morrido
para não negar o Pai, os cristãos que passam por dificuldades têm um modelo perfeito a
imitar. Se um filho de Deus for chamado para morrer pela sua fé (cf. Ap 2.10), essa pes-
soa deve lembrar-se que o céu vingou Jesus, levantando-o dentre os mortos. O mesmo
poder que o ressuscitou está presente em todos os cristãos fiéis (cf. Rm 8.11) e irá res-
suscitá-los e glorificá-los. Vivo para sempre, Jesus é “o primogênito dos mortos” (i.e., so-
berano no reino de Deus, cf. Sl 89.27) e “soberano dos reis da terra” (i.e. no controle da
história e suficientemente poderoso para estabelecer ou destruir os governantes humanos
— inclusive os arrogantes césares).
A menção do nome de Jesus, João dá início a uma doxologia relativa à salvação concedi-
da por ele: ''Aquele que nos ama, e pelo seu sangue nos libertou dos nossos pecados, e
nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio pelos
séculos dos séculos. Amém (1.5b-6).
A glória e o domínio pertencem a Cristo, não a Roma. Devido ao seu amor permanente
que instigou sacrifício pelos nossos pecados, de uma vez para sempre, todos os que fo-
ram purificados pelo seu sangue são constituídos reino. Além disso, este reino presente é
aquele em que todo cristão funciona como sacerdote do serviço divino, continuamente.
O verso sete leva a saudação de João a um ponto alto; “Eis que vem com as nuvens, e
todo olho o verá, até quantos o traspassaram. E todas as tribos da terra se lamentarão
sobre ele. Certamente. Amém”. A maioria das pessoas lê este versículo como uma refe-
rência direta à segunda vinda de Cristo no fim dos tempos. Embora não precisemos negar
que a mensagem aqui tenha um cumprimento final nesse acontecimento, o teor das linhas
de abertura de Apocalipse contraria a ideia de ser esta a principal referência. João já en-
fatizou que ele está tratando de coisas “próximas” (Ap 1.3); todavia, a volta pessoal de
Cristo não ocorreu logo depois do livro ter sido escrito. O que aconteceu pouco depois
disso foi o juízo contra Roma, a fim de cumprir os detalhes das coisas prestes a serem
reveladas no mesmo. Isaías 19.1 fala da volta do Senhor “cavalgando numa nuvem ligei-
ra” contra o Egito, com o resultado que “os ídolos do Egito estremecerão diante dele”. É
mais razoável interpretar este verso, vendo seu cumprimento imediato na volta de Cristo
em juízo contra Roma e considerar seu segundo advento como um cumprimento posterior
desta predição. Ambos os acontecimentos seriam conhecidos de toda a humanidade (i.e.,
“todo olho o verá") e faria com que os incrédulos “se lamentassem" sobre a sua presença.
A saudação termina com uma segunda afirmativa (cf. 1.4b) da eternidade de Yahweh. “Eu
sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-
poderoso” (1.8). Apesar do perigo e da perseguição obscurecerem o seu mundo, aqueles
santos que temiam Domiciano foram chamados a reconhecer que Deus não abdica de
sua posição de soberano tanto para eles como para qualquer outro. Ele continua no seu
trono e os santos não estão sós em suas dificuldades.
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João é Incumbido de Escrever
João nos conta as circunstâncias em que veio a escreve! este livro: “Eu, João, irmão vos-
so e companheiro na tribulação, no reino e na perseverança, em Jesus, achei-me na ilha
chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus. Achei-me no
espírito, no dia do Senhor, e ouvi por detrás de mim grande voz. como de trombeta, di-
zendo: “O que vês, escreve em livro e manda às sete igrejas: Éfeso, Pérgamo. Tiatira,
Sardes, Filadélfia e Laodicéia”
Patmos era uma ilha prisão que ficava a cerca de 112km a sudoeste de Éfeso. João fora
banido para ali devido à sua fidelidade a Cristo a fim de separá-lo de todos os crentes que
procuravam a sua orientação e estabilidade. Ele não estava, no entanto, sozinho e aban-
donado em Patmos. Certo domingo ( “o dia do Senhor”, cf. Charles, pp.22-23) durante sua
estada ali, ele achou-se “no espirito”. É praticamente certo que seu coração já estava
cheio com pensamentos de Deus, num espírito de adoração: e consciente de seus irmãos
adorando no continente, João foi tomado pelo Espírito Santo com o propósito especial de
falar a ele e através dele. Estar “no Espírito" por causa das visões que se seguiram deve
ter sido semelhante para ele à condição experimentada por Pedro no eirado de sua casa
em Jope (At 10.9-16). Lucas diz sobre Pedro, "sobreveio-lhe um êxtase” (Gr. ekstasis).
Kittel observa sobre o termo ekstasis que seu sentido mais literal é "mudança de lugar";
figuradamente então, poderia ser usado em relação a alguém transportado em espírito ou
mente (cf. Ap 4.2) para lugares, cenas, ou eventos que não pertencessem ao espaço e
tempo que seu corpo estava ocupando.
Sob o controle e influência direta do Espírito de Deus, João teria permissão para ver e
ouvir coisas que não faziam parte de seu ambiente físico natural. Não se tratava de sim-
ples sonho ou fantasia, pois essas cenas lhe foram apresentadas por Deus, a fim de reve-
lar o resultado do intenso conflito entre a igreja e Roma.
Por causa de seu exílio na colônia penal de Patmos, João pôde identificar-se com seus
leitores como “irmão vosso e companheiro na tribulação" pela qual passavam no momen-
to: ele compreendia a situação e as necessidades deles. Pois partilhava de seus proble-
mas. Todavia, também lembrou seus leitores que não participavam apenas das dificulda-
des, mas também ‘‘no reino e na perseverança, em Jesus”; eles participavam juntos da
tribulação e também de algo bem maior. A mensagem está começando a ser insinuada
para eles: não estamos sós em nossa tribulação. De um lado, ainda temos uns aos ou-
tros; e de outro, como será enfatizado momentaneamente, temos um Salvador cheio de
cuidado, movendo-se entre nós e procurando nosso bem-estar em todas as coisas espiri-
tuais.
De passagem, não devemos deixar de notar a ideia de reino que João apresenta em Apo-
calipse. O reino de Deus não é algo a ser introduzido no final dos eventos prestes a se-
rem registrados: Cristo fez de nós reino ao livrar-nos do pecado com o seu sangue (1.6),
e João e seus irmãos daquela época eram participantes em lugar de simplesmente
aguardar o “reino...em Jesus” (1.9). As pessoas que leem Apocalipse como um registro
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dos acontecimentos que irão preceder a vinda do reino estão ignorando a perspectiva do
próprio livro sobre o reino como uma realidade existente e ativa.
A voz que João ouviu falando com ele era “como de trombeta” (i.e., autoritária, denotando
algo importante) e deve ter sido a do próprio Cristo (cf. vs. 17-19). O Senhor deu instru-
ções a João para escrever as coisas que estava vendo e fazer circular o registro entre as
sete igrejas da Ásia. O encorajamento extraído por João do conhecimento dessas coisas
devia ser partilhado com outros que necessitassem do mesmo consolo e segurança.
Quando João ouviu a voz forte por trás dele, voltou-se para ver de onde vinha e recebeu
sua primeira visão do Cristo do Apocalipse.
“Voltei-me para ver quem falava comigo e, voltado, vi sete candeeiros de ouro, e, no meio
dos candeeiros, um semelhante a filho de homem, com vestes talares, e cingido à altura
do peito com uma cinta de ouro. À sua cabeça e cabelos eram brancos como alva lã, co-
mo neve; os olhos, como chama de fogo; os pés semelhantes ao bronze polido, como que
refinado numa fornalha: a voz como voz de muitas águas. Tinha na mão direita sete estre-
las, e da boca saía-lhe uma afiada espada de dois gumes. O seu rosto brilhava como o
sol na sua força” (1.12-16).
Sua Aparência
A pessoa vista por João era alguém semelhante “a filho do homem”. Esta mesma expres-
são ocorre em Daniel 7.13-14 e a visão apocalíptica desse texto do Velho Testamento é
com certeza o pano de fundo para o personagem nesta passagem. O Filho do Homem foi
o motivo escolhido por Daniel e grandemente ampliado na literatura apocalíptica entre os
judeus (cf. referência a 1 Enoque No Capítulo 1). Em Daniel 7, o profeta de Deus em exí-
lio na Babilônia teve uma visão de quatro grandes animais surgindo sucessivamente de
um mar revolto. Uma cena de Juízo foi então testemunhada, caindo fogo do céu e devo-
rando a quarta besta, Neste ponto da visão Um Semelhante ao Filho de Homem apresen-
tou-se diante do Juiz (ie., o Ancião de Dias), e recebeu um reino eterno e universal.
João associa então a figura que lhe aparece com aquela pessoa já conhecida dos estudi-
osos das Escrituras como o Filho do Homem. Ele o faz entrar em cena como já tendo re-
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cebido o reino do Pai e achando-se agora preparado para defendê-lo daqueles que queri-
am destruí-lo. As vestes do Filho do Homem (i.e., uma roupa que ia até os pés) indicam
uma pessoa de qualidade e posição: a roupa não está amarrada na cintura (como a de
um trabalhador) mas no peito (“onde repousa a soberania”, Roberts). As vestes aqui dão
uma ideia daquelas usadas pelo sumo sacerdote no Velho Testamento e podem ter o
propósito de sugerir o papel de Cristo como o sumo sacerdote de seu povo — segundo a
ordem de Melquisedeque.
Quanto à sua pessoa, a cabeça e os cabelos do Cristo são brancos; o branco é sempre
um símbolo de pureza nos escritos apocalípticos e talvez aqui represente também digni-
dade e sabedoria. Seus olhos como chama de fogo, penetrantes e chamejantes (ie, capa-
zes de penetrar as profundezas do coração humano). Seus pés são como bronze polido e
preparados para esmagar os que quisessem impedir seus propósitos de justiça. Sua voz
tem o majestoso poder de muitas águas. Da sua boca saía uma afiada espada de dois
gumes, a Palavra de Deus (cf. Hb 4.12), sendo a sua aparência como um todo tão ofus-
cante quanto o sol em seu apogeu.
Embora esta espécie de análise de partes de sua aparência tenha um certo valor, esfor-
çar-se demasiado para formar uma ideia literal de um homem com essas características
resulta em absurdo. Caird nos adverte contra a tendência de “desenrolar o arco-íris” neste
ponto e diz corretamente que o propósito de João não se encontra em cada elemento iso-
lado da descrição, mas em criar uma “reação de espanto e imensa reverência" entre os
seus leitores, como ele mesmo sentiu em resposta à visão profética inicial do Filho do
Homem.
Representadas aqui como candeeiros, as igrejas não têm luz própria, mas simplesmente
refletem a luz de Cristo e do evangelho. Esta é a tarefa de toda congregação fiel do corpo
de Cristo em toda geração e não simplesmente o dever das sete igrejas da Ásia. Quando
a igreja está cumprindo essa missão junto ao mundo, Cristo acha-se presente nela, vigi-
ando e protegendo.
João observa também sete estrelas em sua mão direita. Isto é novamente interpretado
para nós no verso vinte: “as sete estrelas são os anjos das sete igrejas”. Nos capítulos
dois e três, as sete curtas epístolas às igrejas da Ásia são dirigidas àquelas igrejas por
meio do “anjo” de cada uma delas. Apesar da palavra usada aqui (Gr. angelos) referir-se
frequentemente aos seres celestiais, espirituais, que servem a Deus no céu, não devemos
provavelmente pensar em ‘‘anjos da guarda” das igrejas, mas em ministros humanos tra-
balhando entre elas. Angelos significa simplesmente ''mensageiro” (cf. Lc 7.24; 9.52), e
indica provavelmente aqui o pregador ou corpo de bispos responsáveis por apresentar o
conteúdo de Apocalipse ao povo das igrejas. O fato desses mensageiros estarem “na sua
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mão direita” (1.16) sugere tanto a natureza especial do seu ministério como a fonte de sua
autoridade para cumpri-lo.
Em todo o seu esplendor, como o Filho do Homem ressurreto e glorioso, Jesus se move
entre as igrejas. Ele conhece o seu progresso e o perigo que correm, sustentando e forta-
lecendo aqueles que declaram e defendem a sua mensagem entre elas. Ele cuida das
igrejas e está atento ao que acontece em seu meio. Quer sofrendo às mãos dos romanos
no primeiro século ou enfrentando tribulações por causa de sua fé num ambiente antagô-
nico hoje, os santos de Deus não estão sozinhos.
A Reação de João
“Quando o vi, caí a seus pés como morto” (1.17a). Tão poderosa foi a sua visão inicial do
Senhor Jesus, que João sentiu-se esmagado por ela. Isto nos faz lembrar da reação do
apóstolo diante da transfiguração de Cristo mais de meio século antes deste evento,
quando ele, Tiago e Pedro ficaram espantados com a glória do Senhor naquela montanha
sagrada (cf. Mt 17.6).
“Porém ele pôs sobre mim a sua mão direita, dizendo: Não temas; eu sou o primeiro e o
último, e aquele que vive: estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos,
e tenho as chaves da morte e do inferno” (1.17b-18).
De novo, como fizera no Monte da Transfiguração, Jesus agiu a fim de acalmar João, to-
cando-o e dizendo-lhe para não ter medo (cf. Mt 17.7). A seguir, numa identificação tripla
de si mesmo, ele providenciou no sentido de afastar o medo de João contando-lhe como
a sua presença garante a vitória sobre tudo que poderia provocar ansiedade.
Em primeiro lugar, ele fala da sua eternidade; Jesus é “o primeiro e o último, e aquele que
vive”. Se a perversidade de Roma e sua aparente invulnerabilidade amedrontavam João e
os santos, elas não eram nem surpreendentes nem temíveis para Jesus. A perseguição
dos crentes por parte de Roma não passava de um 'relâmpago" para quem conhecia a
eternidade. Homens perversos e poderes malignos haviam surgido antes de Roma e ou-
tros viriam após ela. O Deus eterno sobreviveu a todos e seus retos propósitos continuam
a ser cumpridos.
Segundo, ele fala de sua ressurreição pessoal, dizendo: “Estive morto, mas eis que estou
vivo pelos séculos dos séculos”. Isto significa: “João, o pior que Roma pode fazer a qual-
quer um de vocês é tirar sua vida mortal (cf. MT 10.28); esse foi meu destino às mãos
deles enquanto estava na carne, mas veja por si mesmo como a morte serviu apenas pa-
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ra introduzir-me na glória. O mesmo acontecerá com qualquer de vocês que venha a so-
frer até a morte por minha causa!"
Terceiro, ficamos sabendo que ele tem “as chaves da morte e do inferno”; a ressurreição
não só fez Jesus voltar pessoalmente à vida, mas também lhe deu autoridade universal e
eterna sobre a morte e a vida. A morte não pode destruir, e o inferno não pode constran-
ger. No fato de Cristo ter conquistado a morte, ele a conquistou para todos os que crerem
nele. Não é preciso, então, temer. Tenha coragem na sua luta com o mal e saiba que tem
toda razão para isso. O seu Salvador venceu e fará partilhar da sua glória cada um da-
queles que enfrentar e vencer o seu desafio especial. Tomando de empréstimo as pala-
vras inspiradas de Paulo, resumimos: “Porque para mim tenho por certo que os sofrimen-
tos do tempo presente não são para comparar com a glória por vir a ser revelada em nós”
(Rm 8.16-18).
Conclusão
Que efeito esta visão deve ter tido sobre o apóstolo! A princípio solitário, exilado, separa-
do dos irmãos a quem amava no dia do Senhor, ele certamente estava sentindo o desâ-
nimo que todos sentimos em alguma circunstância particular de perigo espiritual, Depois,
quando o Senhor lhe apareceu, João passou da depressão ao terror. Finalmente, comovi-
do, consolado e tendo a promessa do Filho do Homem, tudo o mais perdeu a importância.
João tinha um Redentor vivo e que dava vida, as ameaças ou atos de violência de Roma
contra elo não contavam. Desde que partilhar dos sofrimentos de Cristo é também parti-
lhar da sua glória, João podia rejubilar-se em meio à tribulação que Satanás estava tra-
zendo sobre ele.
Esta mensagem destina-se apenas a João? Será ele o único que o Senhor quer confortar,
aparecendo em Patmos? Claro que não. Jesus então lhe ordena: “Escreve, pois, as coi-
sas que viste, e as que são, e as que hão de acontecer depois destas” (1.19). A mensa-
gem deste livro deveria sair de Patmos, alcançando todo santo perturbado, desanimado e
ansioso.
Quando um santo que sofre em qualquer geração tem motivo para perguntar: “Jesus se
importa quando meu coração está pesado / quando a dor é profunda demais para sentir
alegria e cantar; / Quando o fardo aumenta e os cuidados afligem, / Quando o caminho é
penoso e longo?", a mensagem do livro de Apocalipse faz-se ouvir através dos séculos
dizendo: “Ele se importa, sei que se importa, / Seu coração se comove com meu sofri-
mento; / Quando os dias são difíceis e as noites sombrias, / Sei que meu Salvador se im-
porta” (Frank E. Graeff).
Jesus se preocupa com as igrejas que levam o seu nome e com todo filho de Deus nes-
ses grupos do seu povo.
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CARTAS ÀS IGREJAS (1)
Apocalipse 2. 1-17
As sete igrejas da Ásia estavam prestes a passar por uma grande prova de sua fé devido
à perseguição que já se iniciara no fim do primeiro século. Na visão inicial do Salvador no
capítulo um de Apocalipse, ele tinha sido visto andando em meio a essas igrejas. Ele es-
tava ali para consolar, encorajar e apoiar; também iria observar, advertir e preparar. Como
expresso por Caird: “As cartas em conjunto constituem uma visitação das igrejas para
verificar se estão preparadas para resistir à crise que se aproxima”.
Enquanto o Cristo ressurreto e glorificado movia-se entre as sete igrejas da Ásia, ele viu
muitas coisas que o animaram. Descobriu também algumas deficiências e pontos fracos.
Ele escreveu então a cada uma das igrejas a fim de aconselhá-las de acordo com a sua
situação específica. Não é difícil acreditar que essas sete congregações eram bastante
típicas das igrejas encontradas em geral através de todo o império romano. Caso positivo,
este é outro elemento para a resposta à pergunta: “Por que essas sete apenas?" feita no
Capítulo Dois.
Cada carta segue um padrão. Primeiro Jesus é descrito em termos de alguma parte da
visão da sua glória que foi vislumbrada no capítulo I. Em cada caso, as qualidades focali-
zadas antecipam algum fato sobre a igreja especificada. Este é outro modo de enfatizar a
sua competência para satisfazer todas as necessidades do seu povo. Segundo, um exa-
me da igreja é levado a efeito. Os pontos bons e maus são incluídos e um julgamento jus-
to concedido de acordo com as obras da mesma. Duas igrejas (i.e., Esmirna e Filadélfia)
recebem apenas louvor do Senhor, enquanto uma delas (Laodicéia) só merece censura.
Terceiro, o encorajamento à fidelidade encerra cada carta. Um apelo apropriado é feito
aos rentes para serem fiéis a Cristo e tornar-se assim vencedores. Eles são instados a
ouvir a voz do Espírito de Deus enquanto ele os anima para serem constantes.
Neste capítulo e no seguinte, examinaremos cada uma das note cartas, segundo a forma
que acabamos de identificar. Depois de um breve esboço da cidade e um resumo do que
sabemos sobre a origem da igreja ali existente, observaremos a identificação que Cristo
faz de si mesmo á igreja, seu julgamento sobre ela, e seu apelo a ela.
Éfeso era uma cidade importante no aspecto político, comercial e religioso no primeiro
século. Situada na rota principal que ia de Roma em direção ao leste e favorecida com um
bom porto no Mar Egeu, tornou-se o maior centro comercial em toda a Ásia Menor. Tendo
recebido autonomia de governo por parte de Roma e sendo considerada cidade-sede do
tribunal de justiça para a província da Ásia, era ali que os romanos ouviam os casos le-
gais mais importantes e passavam as sentenças. Éfeso constituía também um grande
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centro religioso, pois o famoso Templo de Diana (Gr. Artemis, At 19.23) e pelo menos dois
templos dedicados à adoração do César romano achavam-se ali localizados.
Paulo visitou Éfeso pela primeira vez durante sua segunda viagem missionária (A.D. 48-
51/2). No decorrer de um fim de semana, ele argumentou com os judeus na sinagoga, fez
alguns convertidos e deixou Priscila e Aquila ali, a fim de continuarem o trabalho (At
18.18-21). Ele voltou a Éfeso na terceira viagem (A.D. 52-57) e permaneceu na cidade
mais tempo do que em qualquer outro lugar durante toda a sua carreira de pregador. No
decorrer de um ministério de três anos, não só a igreja naquela grande cidade foi fortale-
cida, mas também “dando ensejo a que todos os habitantes da Ásia ouvissem a palavra
do Senhor, tanto judeus como gregos” (At 19.10; cf. 10.31). Depois da partida de Paulo,
Timóteo (1 Tm 1.3) e o apóstolo João trabalharam ali.
A descrição que Cristo dá de si mesmo no início da carta à igreja de Éfeso enfatiza seu
cuidado cheio de amor pelos santos dali. “Estas coisas diz aquele que conserva na mão
direita as sete estrelas e que anda no meio dos sete candeeiros do ouro” (2.1b). Seu amor
constante pela igreja de Éfeso irá contrastar com o afeto decrescente desta por ele.
O Juízo de Cristo
Em seus escritos anteriores, João havia advertido contra os falsos mestres e indicado a
atitude que os crentes fiéis deveriam tomar quanto a eles (cf. 1 Jo 4.1; 2 Jo 9-11). Para
seu crédito, os santos de Éfeso atenderam a essas recomendações. Os nicolaítas são
destacados como um grupo de heréticos por eles repudiado. Embora pouco saibamos
sobre a natureza exata deste grupo (cf. 2.15), acredita-se geralmente que eles defendiam
a acomodação do cristianismo ao seu ambiente
Havia porém uma falta séria na igreja de Éfeso, que ameaçavam anular todos os pontos
positivos na mesma e até acabar por destrui-la. “Tenho, porém, contra ti que abandonaste
o teu primeiro amor” (2.4). Esta igreja permitira que seu amor inicial por Cristo e uns pelos
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outros esfriasse. Ela fora evidentemente uma igreja ativa e leal quando Paulo escreveu-
lhes; o amor deles por Paulo evidencia-se muito bem no registro de Atos. Na ocasião des-
ta carta do Senhor, as coisas haviam-se modificado drasticamente.
As obras dos efésios eram boas e estavam até dispostos a serem censurados por causa
de Cristo, mas faltava o motivo certo para essas coisas. Devemos lembrar neste ponto o
ensino de Paulo no sentido de que o serviço espiritual realizado sem amor não aproveita
aquele que o faz (1 Co 13.1-3).
Este tipo de situação deve ser bastante comum em todas as gerações. Consideremos,
por exemplo, a pessoa que começa a ensinar uma aula bíblica ou desempenhar um mi-
nistério na prisão por amor e zelo pela causa de Cristo, mas depois continua com esse
projeto só porque ninguém mais oferece-se para substitui-la. Isso acontece às vezes?
Acontece com você? Aqueles dentre nós que “cresceram na igreja” devem ter especial
cuidado quanto a isto. Cremos em certas doutrinas e praticamos certas coisas apenas por
simples tradição ou lealdade a nossas famílias? Ou estamos agindo por convicção pesso-
al e amor sincero pelo Senhor?
Ficamos imaginando como uma igreja poderia ter tantos pontos positivos e, ainda assim,
apresentar uma falha tão fundamental. Mounce ofereceu os seguintes comentários sobre
este ponto, que consideramos bastante sugestivos: “Toda virtude carrega dentro de si
mesma as sementes de sua própria destruição. Parece provável que 0 desejo de manter
a sã doutrina e a ação imediata tomada para expulsar todos os impostores havia criado
um clima de suspeita em que o amor fraternal não podia sobreviver... As boas obras e a
sã doutrina não são substitutos adequados para aquela rica relação de amor mútuo parti-
lhado por pessoas que acabaram de experimentar o amor de Deus que redime”.
O Apelo de Cristo
O Salvador tentou reavivar o amor dos Efésios que se apagava e devolvê-lo ao seu antigo
estado de fé e zelo. “Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te, e volta à “prática das
primeiras obras; e se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te
arrependas” (2.5). Ele tentou fazer com que os cristãos de Éfeso recordassem e contras-
tassem seu primeiro serviço de amor com o serviço ritualista que então prestavam; ele
esperava assim usar a memória deles como uma alavanca de arrependimento para res-
taurá-los ao primeiro amor. Sem arrependimento, a igreja deixaria de dar glória a Deus e
não mais seria uma luz para o mundo. O Senhor teria então de remover o seu candeeiro.
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Ao lado desta ameaça encontramos igualmente uma promessa: “Quem tem ouvidos, ouça
o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor, dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida
que se encontra no paraíso de Deus” (2.7).
Esmirna fica a cerca de 65km de Éfeso. Uma cidade muito bela, era conhecida como o
Ornamento da Ásia. A cidade ainda existe, tendo tomado o nome turco de Izmir e sendo
um patrimônio histórico.
Esmirna estava ligada de perto ao culto imperial, pois já em 44 A.C. construíra um templo
para o imperador Tibério. Quando mais tarde Domiciano começou a forçar a deia de culto
ao imperador, Esmirna destacou-se como à precursora do mesmo em toda a Ásia. Como
veremos na carta à igreja dali, isto colocou-a em posição bem difícil. Uma boa parte da
população judia consentiu no culto imperial juntamente com os pagãos, e os cristãos pas-
saram a ser então ameaçados por ambos os grupos religiosos inimigos.
“Estas coisas diz o primeiro e o último, que esteve morto e tornou a viver” (2.8b). Com a
ameaça da extrema perseguição e até martírio (cf. 2.10) sobre as suas cabeças, Jesus
identifica-se a esses crentes como aquele que já venceu a morte. Ele lhes assegura que a
sua ressurreição é a promessa que o mesmo irá suceder-lhes. Como a mãe que acalma o
medo do filho antes de uma operação, dizendo-lhe: “Estarei aqui quando você despertar”,
Cristo estava acalmando a ansiedade daqueles santos, afirmando-lhes que estaria com
eles ao fim do suas tribulações.
O Juízo de Cristo
A inspeção desta igreja por parte dele deu lugar aos seguintes comentários: “Conheço a
tua tribulação, a tua pobreza, mas tu és rico, e a blasfêmia dos que a si mesmos se decla-
ram judeus e não são, sendo antes sinagoga de Satanás” (4.0),
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material e não espiritual; nas coisas espirituais, comentou O Senhor, os cristãos dali eram
ricos. Sabemos que o cristianismo sempre teve mais seguidores entre os pobres e rejei-
tados da sociedade (cf. 1 Co 1.26-29). Além disso, a pobreza de alguns cristãos nessa
cidade era provavelmente devida ao fato do governo ter confiscado as propriedades deles
e tanto judeus como pagãos boicotado seus negócios. A “blasfêmia” (i.e. calúnia) por par-
te dos judeus, pode ter sido similar aquela que Jesus ouviu de seu próprio povo quando o
acusaram de associar-se a Belzebu (Mt 10.25). A calúnia desses judeus tornou-se tão vil
e ofensiva que Jesus descreveu-os como “sinagoga de Satanás”.
O Senhor só teve elogios para essa igreja. Ele sabia que era “rica” em fé, amor e cora-
gem. Esta espécie de riqueza é sempre preferível aos bens materiais, pois nem os la-
drões nem a inflação podem tomá-la do indivíduo. Além disso, ela vai para a eternidade
com o seu possuidor.
O Apelo de Cristo
A exortação feita a esta igreja é inteiramente positiva em seu tom. Ela encoraja os santos
a ficarem firmes na sua fé em face de um intenso período de tribulação que estava próxi-
mo. “Não temas as coisas que tens de sofrer. Eis que o diabo está para lançar em prisão
alguns dentre vós, para serdes postos à prova, e tereis tribulação de dez dias. Sê fiel até
a morte, e dar-te-ei a coroa da vida. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igre-
jas. O vencedor, de nenhum modo sofrerá dano da segunda morte” (2.9-10).
Nada foi oculto daquelas pessoas. Elas ficaram sabendo o que as esperava e foram enco-
rajadas a preparar-se. Numa linguagem que lembra muito Mateus 10.28, foi-lhes dito que
aqueles que vencem com Cristo — mesmo que a sua vitória, a dele, fosse alcançada
através da própria morte — estão a salvo de qualquer dano futuro pela “segunda morte”
(i.e., o lago de fogo, cf. Ap 20.14).
A resposta de Policarpo parece ser um eco exato da carta quo estamos estudando. As
palavras de encorajamento aos quo deveriam permanecer fiéis até à morte estavam sem
dúvida gravadas em seu coração. Numa contagem regressiva a partir do ano 155, che-
gamos ao ano 69 A.D. como a data da sua conversão (ou, talvez, nascimento). Portanto,
é bastante possível que ele fosse um membro daquele corpo de crentes quando esta car-
ta escrita por João chegou a Esmirna.
13
Onde Estava o Trono de Satanás (2.12-17)
A cidade de Pérgamo, embora não fosse o maior ou mais importante centro comercial da
Ásia, era a capital da província. Ela se gabava de possuir uma das mais famosas bibliote-
ca do mundo, com um total acima de 200.000 volumes. Sua fabricação de pergaminho
tornara-se conhecida. O santuário do Asclépio, o deus-serpente, considerado pelos pa-
gãos como deus da cura, localizava-se em Pérgamo. Charles chama a cidade de “Lour-
des da Província da Ásia”, por atrair pessoas do tocas as partes do mundo que buscavam
ali uma cura.
Do maior interesse para o nosso estudo é o fato de Pérgamo ser o centro do culto ao im-
perador na Ásia. O primeiro templo construído para Roma e seu soberano na Ásia foi edi-
ficado ali com permissão de Augusto em 29 A.C. A partir dessa época, tornou-se o Centro
oficial da devoção religiosa ao império em toda a região. Este fato explica porque Pérga-
mo é chamada por Cristo de lugar “onde está o trono de Satanás”. Desde que essa cida-
de destacava-se entre todas no culto imperial, chama-la de trono de Satanás era bastante
adequado. Embora não tenhamos qualquer informação direta sobre a origem da igreja
aqui, podemos entender facilmente que o conflito entre a mesma e o culto ao imperador
veio a ser inevitável.
Para esta igreja, o Cristo ressurreto e soberano aparece Como “Aquele que tem a espada
afiada de dois gumes” (2.12b). A Palavra do Deus que sai da boca do Filho do Homem
tem autoridade (Mt 28.18) e poder (2 Co 5.19). Do mesmo modo que luta a favor dos fieis,
ela luta contra os infiéis.
O Juízo de Cristo
“Conheço o lugar em que habitas, onde está o trono de Satanás, e que conservas o meu
nome, e não negaste a minha fé, ainda nos dias de Antipas, minha testemunha, meu fiel,
o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita” (2.13).
A virtude declarada desta igreja era sua capacidade de permanecer fiel ao nome de Cristo
em meio a pressões inconcebíveis para render culto ao imperador romano. De fato, den-
tre as sete igrejas da Ásia, esta é a única especificamente mencionada como já tendo ex-
perimentado o martírio.
Um irmão identificado apenas pelo nome de Antipas pagou com a vida pela sua fé, mas o
restante da igreja permaneceu fiel ao nome de Cristo, não tendo negado a fé sob circuns-
tâncias tão assustadoras.
Apesar da firmeza geral da igreja de Pérgamo, havia entre eles o problema de que alguns
de seus membros estavam ensinando uma doutrina muito perigosa sem objeção. “Tenho,
14
todavia, contra ti algumas coisas, pois que tens aí os que sustentam a doutrina de Balaão,
o qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante dos filhos de Israel para comerem coi-
sas sacrificadas aos ídolos e praticarem a prostituição. Outrossim, também tu tens os que
da mesma forma sustentam a doutrina dos nicolaítas” (2.14-15).
Balaão colocou uma pedra de tropeço diante dos filhos de Israel em sua experiência no
deserto, fazendo-os tolerar a idolatria e tentando-os a cometer fornicação com as filhas de
Moabe (Nm 22.1-25; cf. 31.16). Os balamitas são associados aqui aos nicolaítas (cf. 2.6),
indicando assim uma semelhança de opinião entre os dois grupos. Sua heresia comum
parece ter sido a de defenderem a liberdade de todas as restrições entre os cristãos. En-
quanto Paulo tornou claro que “não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da me-
sa dos demônios...” (i.e., adorar a Cristo através das atividades da igreja e continuar parti-
cipando das festas e orgias pagãs, 1 Co 10.21), esses falsos mestres levavam as almas
fracas a acreditar que os dois sistemas não se excluíam mutuamente.
A censura a toda a igreja neste ponto era devida à sua atitude negligente para com esses
falsos mestres. A igreja estava sendo demasiado tolerante; ninguém os censurava e evi-
dentemente não pensavam em excluí-los da comunhão dos santos. Por mais penoso que
seja esse curso de ação, ele é exigido da igreja quando é descoberto no corpo pecado
voluntario, sem que haja arrependimento. “Não sabeis que um pouco de fermento leveda
a massa toda? Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois da
fato som fermento” (1 Co 5.6-7). Este conselho de Paulo à igreja de Corinto certamente se
ajusta à situação em Pérgamo. Nem Corinto nem Pérgamo estavam tomando uma posi-
ção firme contra o mal dentro do corpo. Se Éfeso errou por mostrar-se escrupulosamente
ortodoxa mas sem amor, Pérgamo falhou ao tolerar o erro em nome do amor. Nesses
dois extremos vemos o exemplo de uma situação comum na igreja: tendemos ao dogma-
tismo em questões onde devíamos exercer tolerância ( assuntos de julgamento e opinião
pessoal, Rm 14) e somos negligentes nos pontos que requerem uma posição inflexível
(assuntos revelados de fé e moral).
Apelo de Cristo
A esperança oferecida a esses santos dependia de sua disposição em tratar com esses
falsos mestres em seu meio. “Portanto, arrepende-te; e se não, venho a ti sem demora, e
montra eles pelejarei com a espada da minha boca. Quem tem ouvidos, ouça o que o Es-
pírito diz às igrejas. Ao vencedor, dar-lhe-ei do maná escondido, bem como lhe darei uma
pedrinha branca, e sobre essa pedrinha escrito um nome novo, o qual ninguém conhece,
exceto aquele que o recebe” (2.16-17),
Aquele que vencesse tanto as perseguições de Satanás como aos falsos ensinamentos,
sobre os quais foram feitas advertências em Pérgamo, receberiam o “maná escondido” (
sustento espiritual de Deus enquanto estivessem no deserto do pecado), uma “pedrinha
branca” (i.e., um sinal de inocência e vitória), e um “novo nome” escrito nessa pedrinha (
uma forma especial do nome de Cristo a ser usado por aqueles que partilham de sua vitó-
ria sobre Satanás, cf. 3.12).
15
CARTAS ÀS IGREJAS (2)
Apocalipse 2.18-3.22
Tiatira recebeu a mais longa de todas as sete cartas às igrejas da Ásia. Isto poderia levar-
nos a supor que esta fosse uma igreja grande e influente na mais importante cidade da
Ásia. Mas, de fato, Tiatira era bem insignificante em comparação com as outras seis cida-
des asiáticas. Tiatira não possuía grande importância política, cultural ou religiosa. Ela
fora estabelecida como uma cidade-fortaleza para proteger a entrada de Pérgamo, capital
da Ásia. Ela participava do comércio da província, destacando-se pela fabricação habili-
dosa dos corantes de púrpura e uso dos mesmos.
Como acontece com a maioria das sete igrejas, não temos um conhecimento exato sobre
a sua origem. Pode ter sido estabelecida como resultado do trabalho abrangente de Paulo
em Éfeso (cf. At 19.10); outra possibilidade é que tenha sido fundada devido à conversão
de Lídia e sua casa, comerciantes de púrpura que foram convertidos por Paulo quando
estavam a negócios em Filipos (At 16.11-15). O que sabemos a respeito da igreja em Tia-
tira é que, como a maioria das igrejas de todos os tempos, ela possuía tanto pontos posi-
tivos como negativos.
O Senhor se apresenta no início desta epístola como sendo poderoso, destemido e capaz
de tratar do problema da igreja de maneira cabal. “Estas coisas diz o Filho de Deus, que
tem os olhos como chama de fogo, e os pés semelhantes ao bronze polido” (2.18b).
Ele é o Ser Divino (i.e., “o Filho de Deus”) que conhece os segredos de cada coração (i.e.,
“olhos como chama de fogo”, cf. Hb 4.13), e pode fazer cair a ira do céu sobre os malfeito-
res (l.e., “os pés semelhantes a bronze polido”). Em breve irá repreender a perversa Je-
zabel e seus seguidores com a plena autoridade de seu ser.
O Juízo de Cristo
Antes de condenar essa mulher perversa por suas atitudes pecaminosas e influência per-
niciosa dentro da igreja, O Senhor menciona o lado positivo da igreja de Tiatira. “'Conheço
as tuas obras, o teu amor, a tua fé, o teu serviço, a tua perseverança e as tuas últimas
obras, mais numerosas do que as primeiras” (2.19). Quanta diferença entre a igreja de
Éfeso e a de Tiatira. Éfeso deixara o seu primeiro amor; o amor e às boas obras de Tiatira
continuavam crescendo.
16
O problema com esta igreja estava concentrado numa mulher perversa (Jezabel) e sua
influência sobre alguns dos membros. “Jezabel” é provavelmente um nome simbólico para
essa mulher e não seu nome real. É bem difícil que um pai cristão desse a uma filha o
nome de “Jezabel” ou a um filho chamasse “Judas”. Mas o nome se aplicava bem a ela,
pois comportava-se do mesmo modo que a personagem do Velho Testamento que se
opôs ao Senhor e ao seu caminho de justiça em Israel (cf. 1 Rs 16.31).
Esta mulher tinha evidentemente influência entre os crentes e se dizia “profetisa” guiada
pelo Espírito para ensinar e comportar-se como fazia. Sombras do movimento carismático
moderno e sua afirmação de levar as pessoas a falarem em línguas e outros dons sobre-
naturais em virtude de uma ordem do alto!
Toda a informação que possuímos indica que a doutrina dela era idêntica à dos nicolaítas
e balamitas mencionados antes nessas cartas às sete igrejas. Tratava-se de uma doutrina
de transigência. Ela e seus seguidores compareciam às festas pagãs de Tiatira e partici-
pavam delas, afirmando que isso estava certo desde que continuavam fazendo parte da
adoração e obra de Cristo. “Numa cidade cuja vida econômica era dominada por associa-
ções comerciais em que as práticas religiosas pagãs se haviam tornado critério para filia-
ção, o convertido cristão tinha de enfrentar o problema de transigir com a sua posição pe-
lo menos o suficiente para permitir participação numa refeição comum dedicada a alguma
divindade pagã. Rejeitar esta acomodação poderia significar isolamento social e dificulda-
des econômicas” (Mounce). Jezabel ofereceu uma “solução” para este difícil problema.
Ela declarou que era possível viver simultaneamente nos dois mundos. Jesus afirmou o
contrário. O pecado da igreja estava em tolerar o ensino e influência dessa mulher, sem
impedi-los.
Apelo de Cristo
“Dei-lhe tempo para que se arrependesse; ela, todavia, não quer arrepender-se da sua
prostituição. Eis que a prostro de cama, bem como em grande tribulação os que com ela
adulteram, caso não se arrependam das obras que ela incita. Matarei os seus filhos, e
todas as igrejas conhecerão que eu ou aquele que sonda mente e corações, e vos darei a
cada um, segundo as vossas obras” (2.21-23). A atitude severa do Senhor com relação a
Jezabel não era dura nem injustificada. A mulher tivera tempo para arrepender-se de seu
pecado, mas não quis fazê-lo. Portanto, tanto ela como os que seguiam sua orientação
mereciam juízo severo. Este seria executado pelo Senhor.
Aos membros da igreja que não estavam seguindo Jezabel, O apelo do Salvador foi este:
“Digo, todavia, a vós outros, os (demais de Tiatira, a tantos quantos não têm essa doutri-
na e que não conheceram, como eles dizem, as coisas profundas de Satanás: Outra car-
ga não jogarei sobre vôs; tão-somente conservai o que tendes, até que eu venha. Ao ven-
cedor, e ao que guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei autoridade sobre as na-
ções, e com cetro de ferro as regerá, e as reduzirá a pedaços como se fossem objetos de
barro; assim tomo também eu recebi de meu Pai, dar-lhe-ei ainda a estrela da manhã.
Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às Igrejas” (2.24-29).
17
Resolver o caso de Jezabel era o problema mais importante da igreja, Jesus não colocou
então “outra carga” sobre ela. Mas era necessário tratar do caso de Jezabel! Para os que
"perseverassem” nas boas obras e ficassem firmes até o fim, o Senhor prometeu a “es-
trela da manhã" (Ap 22.16), isto deve ser provavelmente entendido como a promessa de
sua presença e bênçãos na vida dos fiéis. O poder de Cristo está voltado contra os per-
versos, mas sustêm e ajuda os justos.
Sardes era uma cidade que vivia de suas glórias passadas. No século seis A.C. ela al-
cançou o apogeu de sua existência sob o rei Creso. Ficava situada no Monte Tmolus e
sua de sua existência acrópole era virtualmente inexpugnável; só havia uma passagem
para a acrópole e ela podia ser protegida com facilidade. Os Inimigos jamais conseguiram
invadi-la. Todavia, a cidade foi tomada sorrateiramente, quando deixaram de guardar o
ponto de entrada, permitindo que Ciro (546 A.C.) e Antíoco (218 A.C.) a capturassem sem
dificuldade. Uma cidade inteira permitiu que seu excesso de confiança a fizesse cair —
não uma mas duas vezes em sua história. No ano 17 A.D., Sardes foi devastada por um
terrível terremoto. A parte principal da cidade foi então mudada para a planície ao pé do
Monte Tmolus. Na ocasião em que Apocalipse foi escrito, ela era uma cidade decadente.
Sardes morria aos poucos.
Não sabemos também nada sobre a história da igreja em Sardes. Tudo que conhecemos
é obtido desta epístola. Podemos observar através dela que a condição da igreja se com-
parava à da cidade onde se encontrava. A não ser que despertasse para a sua verdadeira
condição, ela morreria.
O Juízo de Cristo
As cartas às sete igrejas começam geralmente chamando atenção para as coisas boas
que podem ser ditas e depois passam aos problemas. Neste caso, porém, o Senhor vai
18
direto ao ponto sobre a condição do corpo em Sardes: “Conheço as tuas obras, que tens
nome de que vives, e estás morto” (3.1c).
Esta igreja tinha um “nome” ou reputação entre os homens, mas o juízo do Senhor contra
ela era por tratar-se de uma igreja morta. Para uma igreja tão acostumada a receber elo-
gios humanos, deve ter sido um tremendo choque ouvir tal julgamento.
É preciso notar que Sardes não estava evidentemente passando por qualquer persegui-
ção. Como isto poderia estar acontecendo, a não ser que a igreja tivesse deixado de
evangelizar? Uma igreja piedosa, zelosa e evangelística irá confrontar dificuldades na sua
tentativa de evangelizar num ambiente hostil de perseguição governamental. A igreja de
Sardes deve ter-se contentado com a realização dos serviços comuns para os membros
sem suscitar oposição, a fim de não criar problemas com os judeus, pagãos, ídolos ou
qualquer outra coisa Sardes deve ter-se contentado com a realização dos serviços co-
muns para os membros sem suscitar oposição. À igreja de Sardes era pacífica, caso você
aprecie a paz de um cemitério!
A única coisa positiva dita a respeito desta igreja está na forma de um cumprimento dirigi-
do à minoria de seus membros. “Tens, contudo, em Sardes, umas poucas pessoas que
não contaminaram as suas vestiduras, e andarão de branco junto comigo, pois são dig-
nas" (3.4). Enquanto a maioria dos membros da igreja de Deus em Sardes havia-se con-
taminado através da inatividade, arrogância espiritual, e falta de zelo evangelístico, existi-
am ainda algumas almas fiéis que estavam tentando continuar ali o trabalho do Senhor.
Essas foram chamadas “dignas” — não por si mesmas, naturalmente, mas pela graça de
Deus — de andar com o Senhor em vestes alvas.
O Apelo de Cristo
O Filho do Homem fez esta exortação à igreja de modo geral: “Sê vigilante, e consolida o
resto que estava para morrer, porque não tenho achado íntegras as tuas obras na pre-
sença do meu Deus. Lembra-te, pois de como tens recebido e ouvido, guarda-o, e arre-
pende-te. Porquanto, se não vigiares, virei como ladrão, e não conhecerás de modo al-
gum em que hora virei contra ti" (3.2-3).
Contra o pano de fundo das duas humilhações sofridas por Sardes às mãos dos inimigos
que tomaram a cidade de surpresa, a igreja é advertida para despertar para a sua missão.
A chama tinha apagado em Sardes e somente algumas fagulhas restavam entre as bra-
sas mortas. Se essas fagulhas fossem sopradas pelo arrependimento e rededicação, a
igreja inteira voltaria a arder como antes.
19
mes confessados diante do Pai (i.e., reivindica- dos como pertencendo ao Senhor, cf. Mt
10.32).
A cidade de Filadélfia foi fundada em meados do segundo século A.C. por Atalo II. Sua
lealdade e amor por seu irmão Eumenes, conquistou-lhe o título de “irmão afetuoso” (Gr.
philadelphos). A cidade veio assim a chamar-se Filadélfia, cidade do amor fraternal. Atalo
fundou a mesma como um centro para a difusão da cultura, língua e estilo de vida gregos
na Lídia e na Frígia. Cristo apresentou a essa igreja um desafio ao trabalho missionário
de um tipo mais elevado e amplo do que o planejado por Atalo.
Nada sabemos das circunstâncias em que foi fundada a igreja em Filadélfia. Ela é uma
das duas igrejas entre as sete que não apresentou falhas.
“Estas coisas diz o santo, o verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi, que abre e nin-
guém fechará. e que fecha e ninguém abre" (3.7b). Nesta identificação tripla de si mesmo,
é fácil perceber a importância dos termos “santo” (i.e., divino) e “verdadeiro” (i.e., veraz).
O terceiro elemento não é tão evidente, embora seja da mesma forma inteligível e im-
pressivo.
A “chave de Davi” nos leva de volta a Isaías 22.22. Ali, Eliaquim, o fiel administrador do
bondoso rei Ezequias é apresentado como tendo a “'chave da casa de Davi" e só a ele
pertencia o direito de admitir suplicantes à presença do rei. Sua posição assemelhava-se
até certo ponto à do secretário particular do presidente. Ninguém se chegava ao rei senão
através dele, pois apenas ele tinha o direito de abrir ou fechar a porta de acesso à sua
presença.
O Juízo de Cristo
“Conheço as tuas obras — eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a qual nin-
guém pode fechar — que tens pouca força, entretanto guardaste a minha palavra, e não
negaste o meu nome. Eis que farei que alguns dos que são da sinagoga de Satanás, des-
20
ses que a si mesmos se declaram judeus, e não são, mas mentem, eis que os farei vir e
prostrar-se aos teus pés, e conhecer que eu te amei. Porque guardaste a palavra da mi-
nha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o
mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra” 3.8-10).
A “porta aberta” diante desta igreja era de oportunidade evangelística. O fato de “ninguém
poder fechar” essa porta era uma promessa de que poder algum conseguiria opor-se à
igreja do Senhor para frustrar o seu propósito final de glorificar a Deus — mesmo que
provações temporárias (tais como a perseguição da igreja por parte de Roma) sejam às
vezes desanimadoras. Além dos problemas com as perseguições imperiais, a igreja de
Filadélfia parece estar também experimentando bastante oposição dos judeus da cidade
(i.e., “a sinagoga de Satanás"). Na grande hora de tribulação que se esboça diante das
igrejas da Ásia, Jesus prometeu ser o defensor daqueles que continuassem fiéis à sua
palavra. Embora a igreja de Filadélfia parecesse ter apenas “pouca força” (i.e., poucos
membros, dinheiro e proeminência), ela compreendia que o verdadeiro poder está na le-
aldade a Cristo e sua palavra poderosa.
O Apelo de Cristo
A exortação do Senhor a esta igreja nada tem a ver com o arrependimento ou ameaças
de desastre. Trata-se, pelo contrário, de um encorajamento para que continuem fiéis e da
promessa de recompensa que aguarda os crentes perseverantes. “Venho sem demora.
Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa. Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no
santuário do meu Deus, e daí jamais sairá; gravarei também sobre ele o nome do meu
Deus, o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que desce do céu, vinda da par-
te do meu Deus, e o meu novo nome. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às
igrejas” (3.11-13).
A exaltação dos que vencerem é apresentada aqui de duas maneiras. Primeiro, o vence-
dor será feito “coluna” no templo de Deus. Isto indica que a pessoa que passa pelo teste
nesta terra e mantém a fé em Deus, jamais será ameaçada de morte novamente; terá
plena segurança no céu “'e daí jamais sairá”.
Ninguém cairá do céu, pois o período completo de provas do homem é passado aqui nes-
ta terra. o céu é um lugar de recompensas e júbilo, e não de novos testes. Segundo, o
vencedor receberá vários nomes. Ele levará o nome de Deus (i.e.. o nome da família da
divindade), o nome da cidade de Deus ( i.e.. para indicar sua cidadania na mesma), e o
Novo nome do próprio Jesus (i.e., o nome daquele por cujo sangue foi salvo e através de
cujo poder alcançou a vitória).
21
dessa opulência era resultado da venda da lã preta e macia ali tecida. Laodicéia era tão
abastada que quando um terremoto destruiu grande parte da cidade em 60 A.D., seus
cidadãos a reconstruíram sem ajuda do estado. Era uma cidade orgulhosa, rica é autos-
suficiente.
A igreja dali foi fundada por Paulo ou um de seus companheiros, pois sabemos que tinha
interesse pessoal em seu bem-estar e escreveu uma carta aos irmãos que lá se achavam
(Cl 4.16).
A carta se inicia com esta apresentação do Filho de Deus: “Estas coisas diz o Amém, a
testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus" (3.14b).
“Amém” é um termo colocado no início ou fim de uma declaração para enfatizar sua vera-
cidade (cf. Jo 3.3.5). O Cristo 6 um “amém” pessoal para todas as comunicações celesti-
ais à humanidade, uma segurança pessoal de sua verdade e confiabilidade. Ele é tam-
bém chamado de “'teste
O Juízo de Cristo
Nada positivo é dito sobre a igreja de Laodicéia. “Conheço as tuas obras, que nem és frio
nem quente. Quem dera fosses frio, ou quente! Assim, porque és morno, e nem és quente
nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca” (3.15, 16).
Muitos comentaristas acreditam que o adjetivo ''morno" refira-se aqui ao sentimento espiri-
tual do povo de Laodicéia — não eram despidos de entusiasmo religioso (i.e., “frios'') nem
urgentes na fé (i.e., “quentes”). Outra possibilidade de interpretação é estabelecida por
Rudwick num artigo no The New Bible Dictionary (editado por J.D. Douglas) sobre “'La-
odicéia”. Ele escreve: “Apesar de toda a sua riqueza, a cidade não podia produzir nem o
poder curativo da água quente, como sua vizinha Hierápolis, nem o poder refrescante da
água fria encontrada em Colossos; mas apenas água morna, útil somente para uso como
emético (vomitório). A igreja foi acusada da mesma inutilidade”. Quanto ao último ponto
de vista, o juízo de Cristo aqui é dirigido contra as obras inúteis dos membros de Laodi-
céis em lugar da atitude que ficava por detrás dessas obras. Como observa Mounce, esta
interpretação explica de maneira satisfatória por que Cristo teria preferido que a igreja
fosse “fria” e não ''morna”.
Por que as obras deles foram julgadas inúteis? Os dois versos seguintes explicam: “Pois
dizes: Estou rico e abastado, e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infe-
liz, sim, miserável, pobre, cego e nu. Aconselho-te que de mim compres ouro refinado
22
pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja
manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os teus olhos, a fim de que ve-
jas. Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso, e arrepende-te'' (3.17-19).
A igreja de Laodicéia era orgulhosa e arrogante em seu cenário de esplendor; ela se ava-
liava numa perspectiva totalmente inadequada. Embora não percebesse a sua verdadeira
condição espiritual, o Senhor a observava. Aos seus olhos, esta igreja era “infeliz, miserá-
vel, pobre, cega e nua”.
A única esperança para Laodicéia estava em deixar de lado sua autossuficiência arrogan-
te, passando a depender verdadeiramente do Senhor Jesus. Ela necessitava de “ouro”
(i.e., um tesouro espiritual), '“vestiduras brancas” (i.e., pureza genuína), e “colírio” (i.e.,
remédio para a sua cegueira espiritual) que só ele podia fornecer.
O Apelo de Cristo
Os de Laodicéia poderiam interpretar esta censura severa como se sentissem que a sua
situação era desesperadora? Poderiam julgar-se rejeitados pelo amor de Deus? O Senhor
lhes diz: “Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso, e arrepende-te. Eis
que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua
casa, e cearei com ele e ele comigo. Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu
trono, assim como também eu venci. e me sentei com meu Pai no seu trono. Quem tem
ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas" (3.19-22).
Este não é um Cristo duro e sem amor que exorta o povo de Laodicéia. O quadro aqui é
de uma visão terna e suplicante do Filho do Homem que busca salvar, curar e animar. Ele
oferece vitória e glória a quem quer que se volte na sua direção.
Conclusão
Essas sete igrejas representam uma ampla gama de possibilidades. Nada pode ser dito a
favor de uma delas e duas não recebem censura, A maioria tem tanto fraquezas como
pontos fortes.
Não é isso que acontece com os corpos locais do povo de Deus em qualquer geração?
Por ser este o caso, muito precisa ser aprendido mediante um estudo cuidadoso das epís-
tolas a essas sete igrejas. Percepções, conselhos, advertências e encorajamento chegam
até nós e nos desafiam a assemelhar- nos mais às igrejas que o céu quer que sejamos
em nosso tempo na história. Não ousamos negligenciar as lições valiosas aqui encontra-
das.
23
Apocalipse 4.1-6.17
Através dos três primeiros capítulos de Apocalipse, a atividade do livro tratou de cenas na
terra. O Senhor ressurreto apareceu a João numa visão em Patmos e escreveu cartas
separadas a cada uma das sete igrejas da Ásia. Quando o capítulo quatro começa, po-
rém, a voz majestosa do Cristo convida João a olhar por trás das cenas dos acontecimen-
tos limitados pelo tempo na terra, para ver o que está acontecendo no próprio céu. “De-
pois destas coisas olhei, e eis não somente uma porta aberta no céu, como também a
primeira voz que ouvi, como de trombeta ao falar comigo, dizendo: Sobe para aqui, e te
mostrarei o que deve acontecer depois destas coisas (4.1).
Como resultado de tal convite, João terá o privilégio de conhecer a mente de Deus e con-
templar o futuro. Ser-lhe-á permitido ver o que espera a igreja de sua época, o que Roma
ceifará em consequência de seus pecados contra o povo de Deus e o resultado final do
grande conflito entre a igreja e o império dos Césares. Ele não verá tais coisas com seus
olhos físicos, mas espirituais (i.e., “no Espírito”, 4.2): ele as observará numa série de vi-
sões que lhe foram concedidas pelo Senhor.
Do ponto vantajoso da eternidade, João teve permissão para olhar de uma perspectiva
diferente os acontecimentos perturbadores que estavam causando tanta ansiedade entre
as igrejas. Ele teve ordem do Salvador para escrever o que viu e comunicar isso às igre-
jas de seus dias. Essas visões apocalípticas asseguraram aos santos o triunfo final dos
fiéis e os encorajaram a não desanimar nas suas dificuldades.
Estudaremos neste capítulo a visão inicial de João sobre o cenário celestial. Veremos o
Pai sentado em seu trono no céu e a adoração que recebe constantemente da criação.
Testemunharemos uma cena comovente em que um livro contendo o destino da humani-
dade é visto no céu. Finalmente, nos alegraremos ao aprender que o Cordeiro de Deus
(i.e.. Jesus Cristo) é tanto digno como está disposto a abrir esse livro e revelar seu conte-
údo aos seres humanos.
O Trono do Todo-Poderoso
“E eis armado no céu um trono, e no trono alguém Sentado: Quando foi permitido que
João olhasse por trás das cenas do ódio, perseguição o poder aparentemente invencível
Roma, lançados contra os santos na terra, a primeira a que ele notou foi que o trono de
Deus continuava intacto e ainda ocupado pelo Todo-poderoso. César podia insultar Deus
e reivindicar o direito de ser adorado pelos homens, mas isso em nada mudava o esque-
ma eterno das coisas. Os Faraós, Nabucodonosor, Antíoco e os Césares alegaram su-
premacia sobre o povo de Deus em Várias épocas, tentando desalojá-lo como soberano
do universo. Em contraste com a glória passageira de Seus tronos, a glória e autoridade
permanentes do trono estabelecido no céu continuam. Quem está sentado no trono pode
ser identificado com certeza? Sim, pois o cântico de louvor que sobe até ele é este: “San-
24
to, santo, Santo, é o Senhor Deus, o Todo-poderoso, aquele que era, que é e que há de
vir" (4.8b). Este é Deus Pai em seu trono eterno. No capítulo que estudamos, ele está em
companhia de Deus, o Espírito Santo (cf. 4.5b, “os sete espíritos de Deus") e a ele se uni-
rá no próximo capítulo, Deus, o Filho (cf. 5.6).
João não consegue dar uma descrição precisa do Pai: mas apenas uma ideia de sua ra-
diância. A beleza da sua presença fez com que se lembrasse de pedras preciosas, jaspe
e sardônio. Em volta do trono há um arco-íris da cor da esmeralda. Contra o pano de fun-
do do arco-íris dado como sinal a Noé, este arco-íris é uma lembrança do caráter de Deus
que cumpre seus tratos. Ele tem uma aliança com a sua igreja e não se esquecerá do seu
povo na época de crise. “'Relâmpagos, vozes e trovões'' saídos do trono criavam um am-
biente de reverência.
João viu ao redor do trono 24 anciãos (4.4.). Isto representa provavelmente a reunião dos
remidos das duas grandes alianças de Deus com a humanidade. Os doze patriarcas do
Velho Testamento e os doze apóstolos do Novo Testamento são combinados para dar-
nos um total de 24 anciãos em volta do trono de Deus. Eles já receberam a sua coroa da
vida (cf. Ap 2.10) e as vestes brancas da vitória. As coroas dentes prefiguram o que será
concedido aos fiéis de todas as idades. Também ao redor do trono achavam-se “quatro
seres viventes” (4.6-8) que representam por sua vez os animais selvagens [i.e., o leão),
os animais (i.e. novilho ou boi) criaturas que voam (i.e., a águia), e a humanidade. Toda a
criação de Deus é então representada como rendendo adoração a ele, servindo os seus
propósitos, e louvando-o constantemente. Não é Roma que governa o mundo, mas Deus!
Não é Domiciano que é voluntariamente louvado por todos e cada um dos elementos da
criação, mas o Todo-poderoso! Não são apenas as obras das mãos de Deus que dão gló-
ria a Deus constantemente (cf, SI 19.1), mas também os remidos dentre os homens jun-
tam-se a esse louvor infindável. Quando o hino de exaltação, “Santo, Santo, Santo” é can-
tado, os 24 anciãos juntam-se ao mesmo e depositam suas coroas diante dele. O fato de
tirarem as coroas (4.10) não deve ser tomado como se desprezassem o dom da vida
eterna que lhes foi concedido, mas sim que reconhecem humildemente o fato dessa vida
pertencer unicamente ao Deus soberano em seu trono, sendo sua apenas pela graça por
Ele conferida.
A medida que continua o cântico de louvor, toda a natureza e os remidos unem-se, dizen-
do: “Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque
todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas”
(4.11). Deus recebe toda a glória, e o cântico deles reconhece que todas as coisas exis-
tem pela vontade dele. Se isto for verdade, a igreja na terra não precisa temer que Roma
(ou qualquer outro poder perverso) possa contrariar essa vontade divina.
25
te saber o que continha. “Vi na mão direita daquele que estava sentado no trono, um livro
escrito por dentro e por fora. de todo selado tom sete selos. Vi também um anjo forte. que
proclamava em grande voz: Quem é digno de abrir o livro e de lhe desatar os selos?" (5.1-
2).
Este é o livro do destino da humanidade. Nele podia ser encontrada a sorte dos santos
sofredores, o resultado das manipulações de Roma contra a igreja, e um esboço do futu-
ro, à partir dos dias de João até o final da luta particular travada entre seus irmãos e as
forças de Satanás. As coisas reveladas nas visões subsequentes de Apocalipse estava”
ligadas a esse livro. Havia alguém “digno” de abrir o livro e revelar o seu conteúdo?
“Ora, nem no céu, nem sobre a terra. nem debaixo da terra, ninguém podia abrir o livro,
nem mesmo olhar para ele (5.3-4). Nenhum anjo, profeta ou santo das eras passadas
tinha mérito para tomar o livro das mãos do Todo-poderoso e abrir os seus selos. A reve-
lação das “coisas que em breve devem acontecer" que havia sido prometida e agora inici-
ada, terminaria repentinamente? O fim da história seria nega o a João? De modo algum!
Deus não caçoa nem escarnece, e não apresenta uma promessa e depois a retira dos
mortais excitados e ansiosos.
A única personagem no céu ou na terra digna de abrir esse livro importante não havia
ainda entrado em cena ou, pelos menos, não fora ainda objeto da atenção de João. “To-
davia, um dos anciãos me disse: Não chores: eis que O Leão da tribo de Judá, a Raiz de
Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos. Então vi, no meio do trono e dos qua-
tro seres viventes e entre os anciãos, de pé, um Cordeiro como tinha sido morto. Ele tinha
sete chifres, bem como sete olhos que são os sete espíritos de Deus enviados por toda a
terra. Veio, pois. e tomou o livro da mão direita daquele que estava sentado no trono”
(5.5-7).
O Cristo visto antes em Apocalipse da maneira descrita no capítulo um, surge agora como
um Cordeiro como tinha sido morto”. Ele é o Cordeiro de Deus que tira os pecados do
mundo inteiro (cf. Jo 1.29). Ele continua apresentando as marcas da morte sacrificial so-
bre si, mas não está morto; está de pé e vivo. Ele possui igualmente poder (i.e., sete chi-
fres) e conhecimento (i.e.. sete olhos) que operam em benefício dos que o seguem e nele
confiam. Por ser quem é e pelo que fez, ele é o único digno (em santidade e autoridade)
de abrir e revelar o conteúdo do livro do destino da humanidade.
Quando entra em cena, não há conflito entre ele e o Pai. O Pai e o Filho acham-se unidos
em propósito e ação, e O Filho toma o livro das mãos do Pai, a fim de continuar com é
mensagem de revelação prometida ao apóstolo.
Vale a pena notar que embora Cristo como o Cordeiro de Deus seja o motivo traçado em
maior detalhe em Apocalipse: ele é também representado no verso cinco como o Leão da
tribo de Judá e como a Raiz de Davi. Essas figuras procedem ambas das passagens
26
messiânicas do Velho Testamento. Judá é chamado de “leãozinho"' e recebe a promessa
de que o cetro não se apartaria dele até a chegada de seu pretendente legítimo (o Rei
messiânico) (Gn 49.9-10); e Isaías 11.1 prediz essa mesma personagem real surgindo
como ''um rebento do tronco de Jessé”. Com o poder de um leão feroz e a autoridade de
um rei, Jesus é não obstante apresentado como o Cordeiro sacrificial que faz expiação
pelo pecado. Todavia, para que ninguém possa pensar nele como sendo um fraco em
vista de ser mostrado como um manso Cordeiro, jamais devemos perder de vista o poder
e autoridade por ele possuídos em seu cargo real.
Com o livro nas mãos do Cordeiro e a perspectiva da revelação do seu conteúdo, os se-
res viventes, os 24 anciãos, milhares de anjos (5.11), e todos os seres criados (5.13) jun-
taram suas vozes para louvá-lo: ''E entoavam novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o
livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste, para Deus
os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação, para o nosso Deus os constituíste
reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra” (5.9-10). O Cordeiro e o Pai são ambos dig-
nos de louvor. De acordo com o emprego frequente do número sete (i.e., perfeição) na
literatura apocalíptica, o Cordeiro é exalta- do por meio de sete expressões. A voz do
exército de anjos o adora com este cântico: ''Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber
o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor" (5.12).
O movimento dramático do capítulo seis está ligado ao que acontece quando o Cordeiro
abre o livro recebido do Pai. A abertura dos quatro primeiros selos segue um padrão es-
tabelecido. A medida que cada selo é aberto, uma voz diz: “Vem” e surge um cavalo e um
cavaleiro. Este não é com certeza um livro comum. João não lê nem ouve o seu conteú-
do; ele vê o conteúdo do mesmo numa série de visões.
A maioria dos estudiosos do Apocalipse considera o quatro cavalos e seus cavaleiros co-
mo representando os flagelos que Deus envia sobre Roma. Embora esta seja uma opini-
ão plausível, parece deixar em aberto uma pergunta importante: Se se trata de julgamen-
tos iniciais de Roma, por que os mártires que aparecem em relação ao quinto selo pedem
a Deus para começar a vingar a sua casa contra esse poderoso inimigo?
Talvez seja melhor considerar os quatro primeiros selos como uma predição de perigos
crescentes que deverão ainda cair sobre os cristãos no império romano. Afinal de contas,
o Senhor jamais encorajou seu povo a manter um otimismo ingênuo; ele sempre foi since-
ro sobre as perspectivas do sofrimento que espera o seu povo. É mais provável que os
27
primeiros quatro selos mostrem o que a igreja deveria enfrentar por parte de Roma antes
dessa nação perversa começar a sentir os juízos de Deus contra ela. Se os entendermos
desta forma, a questão dos mártires faz perfeitamente sentido no contexto.
Quando foi aberto o primeiro selo, um cavalo branco montado por um poderoso vencedor
apareceu (6. 1-2). O segundo revelou um cavalo vermelho com um cavaleiro que fazia os
homens se matarem entre si (6.3-4). O terceiro mostrou um cavalo preto cujo cavaleiro
tinha uma balança na mão, com o propósito de medir os alimentos necessários aos ho-
mens (6.5-6). O quarto revelou um cavalo amarelo, cujo cavaleiro se chamava “Morte”
(6.7-8).
Cada um desses símbolos significa, por sua vez, guerra, carnificina, fome e morte. Roma
já “'declarara guerra” contra a igreja nos dias de João, mas a matança só estava então
começando (e.g., apenas um mártir nas sete igrejas da Ásia até aquela época). A medida
que o conflito intensificou-se, pressões econômicas iriam submeter muitos cristãos a difi-
culdades e até inanição. O resultado final dessas forças convergentes seria o devorar da
Morte e do Inferno. A ruína sempre segue na esteira de calamidades tais como a conquis-
ta, derramamento de sangue e fome. “E foi-lhes dada autoridade sobre a quarta parte da
terra para matar à espada, pela fome, com a mortandade e por meio das feras da terra"
(6.8b).
Com a identificação das coisas prestes a acontecer na terra por meio dos quatro primeiros
selos, a abertura do quinto nos transporta de novo para o céu, a fim de observar e reação
dos mártires às perseguições mais intensas de seus irmãos que ainda viviam na terra.
“Quando ele abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas daqueles que tinham sido
mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam. Cla-
maram em grande voz, dizendo: Até quando, é Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não
julgas nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?” (6.9-10).
O lamento desses mártires não deve ser visto como um apelo irado por vingança, desde
que um tal espírito seria indigno de santos do Deus Vivo. Em lugar disso, pedem justiça e
a vindicação do próprio Deus — sua verdade, sua causa, sua igreja — entre os homens.
A resposta da divindade aos mártires é feita em duas partes. Primeiro, eles receberam
vestes brancas para usar. Os inimigos julgaram ter derrotado essas pessoas piedosas,
matando-as; mas a morte, na verdade, lhes assegura a entra- da na vitória, no descanso
e exaltação. Segundo, foi-lhes assegurado que Deus vingaria a sua igreja — no tempo
que lhe aprouvesse. “Então, a cada um deles foi dada uma vestidura branca, e lhes disse-
ram que repousassem ainda por pouco tempo, até que também se completasse o número
dos seus conservos e seus irmãos que iam ser mortos como igualmente eles foram”
(6.11).
Este é um caso claro nas Escrituras do “problema do mal” sendo apresentado num cená-
rio bem pouco comum. Se existe um Deus poderoso e cheio de amor que cuida de seu
povo, por que permite que este seja submetido a tão terríveis condições? A resposta a
essa pergunta não é fácil em cada caso especifico. Confiamos em que Deus age reta-
mente em cada situação e nos entregamos a ele, a fim de que nos ajude a atravessar as
dificuldades. Na hora oportuna, ele fará com que tudo termine e recompensará o seu povo
28
fiel. Ao mesmo tempo, ele destruirá os perversos e seus estratagemas. Até que chegue
essa ocasião para cada santo ou igreja que sofre, é nossa responsabilidade aguardar e
confiar no Senhor. No drama do Apocalipse o “Até quando?” de 6.10 não é respondido
plenamente até que a derrota completa de 19.2 tenha tido lugar.
Quando o sexto selo é aberto neste drama que se desenrola (6.12-17), o destino de Ro-
ma começa a ser previsto. O tema do “terremoto” é comum na literatura apocalíptica para
indicar o caos social e político. A ideia do sol tornar-se negro e a lua como sangue não
será certamente cumprida literalmente. De fato, Pedro citou uma profecia de Joel sobre o
sol escurecer e a lua transformar-se em sangue e alegou que ela estava sendo cumprida
naquele primeiro Pentecostes depois da ressurreição do Cristo dentre os mortos (At 2.20).
Nem em Atos nem em Apocalipse essa linguagem deve ser tomada literalmente. A refe-
rência de Atos aponta para o cancelamento de uma ordem religiosa judaica, e à referên-
cia de Apocalipse tem seu cumprimento na cessação da ordem política romana.
O terror desse período é salientado pela previsão das coisas que acompanhariam a que-
da de Roma: o fato do céu enrolar-se como um pergaminho, as montanhas e ilhas serem
movidas dos seus lugares, e o medonho terror sentido por toda humanidade. Como ob-
serva Hendriksen. o ponto desta descrição não é destacar uma série de eventos literais
que servirão como sinal do fim do mundo, mas indicar O terrível desespero dos perversos
quando Deus age na história para impedir seus planos. Ele fala a respeito da passagem:
“ela enfatiza o terror do dia da ira para os perversos. Os elementos se desintegrando, os
terremotos, as estrelas caindo, etc. acrescentam pavor ao quadro”.
Não se pode deixar de notar em 6.15 que exatamente sete categorias de homens são
citados: os reis, os príncipes (os grandes), os comandantes, os ricos, os poderosos, e to-
do escravo e todo livre. Este número encontrado tantas vezes neste livro diz que o juízo
sobre os perversos irá abranger toda classe de pessoas. Ninguém que tenha resistido à
verdade santa de Deus será poupado da sua ira.
Conclusão
29
O sexto capítulo termina citando as palavras dos perversos. Quando chegar o dia da
ira divina para eles, irão clamar aos rochedos e montes, dizendo: “Caí sobre nós, e
escondei-nos da face daquele que se assenta no trono, e da ira do Cordeiro, porque
chegou o grande dia da ira deles; e quem é que pode suster-se?” (6.16-17). Quer po-
de suster-se? Quem Poderá suportar quando a ira de Deus manifestar-se na terra
contra Roma? Esta pergunta é respondida no capítulo sete, quando o céu age para
marcar e proteger os que pertencem a Deus contra o terrível dia da ira que se aproxi-
ma.
João foi transportado numa visão de sua prisão na ilha e o véu foi aberto para ele,
tendo permissão para vislumbrar a situação real do Pai, Filho e Espírito Santo em sua
glória. Foi-lhe permitido observar a adoração deles por parte de toda a criação. Ele
recebeu garantias a serem transmitidas aos seus companheiros de sofrimento sobre a
estabilidade divina que se oculta atrás do poder transitório de um inimigo perverso e
ímpio. Não devemos perder de vista o ponto focal dessa visão para nosso próprio
tempo na história, quando as coisas do reino de Deus parecem estar ameaçadas de
todo lado.
30
Na abertura do sexto selo (6.12-17), ocorreu uma previsão geral do destino de Roma de-
vido às suas tentativas de destruir a igreja. Um terremoto, o escurecer do sol, a transfor-
mação da lua em sangue, e outros símbolos apocalípticos comuns ao juízo e à conquista,
prefigurando a condenação que cairia sobre um Cesar impenitente e seus dedicados se-
guidores.
Quando a terrível sorte de Roma foi revelada nesta cena, o clamor se fez ouvir: “Chegou
o grande dia da ira deles; e quem é que pode suster-se?" A catástrofe da queda de Roma
seria tão terrível que parecia uma expectativa da destruição de toda a humanidade. Mas
isso não aconteceria. Antes da abertura do sétimo selo, o Senhor mostrou a João como
os 144.000 da Israel de Deus seriam marcados como proteção contra os terrores que es-
tavam à frente. O capítulo sete constitui então uma espécie de parênteses entre o sexto e
o sétimo selos: trata-se de uma garantia de que alguns (i.e., os santos fiéis a Deus) irão
suster-se no dia da ira do Cordeiro contra Roma.
Devemos fazer aqui uma pausa para observar que o Apocalipse tem três séries de setes:
sete selos (6.1-8.1), sete trombetas (8.2-11.19), e sete taças da ira divina (15.1-16.21). Os
selos, as trombetas e as taças são relacionados uns com outros, mas não repetem a
mesma história três vezes. Cada um leva ao outro, o sétimo selo revela as sete trombetas
e a sétima trombeta anuncia as sete taças de ira. Uma visão geral breve desta sucessão
de acontecimentos irá ajudar-nos a compreender como este sétimo capítulo de Apocalip-
se contribui para o fluxo de ação no livro como um todo.
Primeiro, a abertura dos sete selos mostra a preocupação de Deus com o destino da sua
igreja e promete a ruína de Roma em vista de sua perseguição aos santos. Segundo, o
soar das Sete trombetas anuncia juízos preliminares sobre o império dos Césares. Mes-
mo quando elas estão sendo tocadas, porém, um Deus Gracioso está castigando apenas
gradualmente (i.e., uma terça parte” da terra, do mar, etc., Ap 8.7,9,10,11,12): o Propósito
desses julgamentos limitados é advertir os perversos e dar-lhes oportunidade de arrepen-
der-se. Depois do toque da última trombeta, fica aparente que Roma já ultrapassou a sua
possibilidade de perdão. “Os outros homens, aqueles que não foram mortos por esses
flagelos, não se arrependeram das obras das suas mãos, deixando de adorar os demô-
nios e os ídolos de ouro, de prata, de cobre, de pedra e de pau, que nem podem ver, nem
ouvir, nem andar, nem ainda se arrependeram dos seus assassínios, nem das suas feiti-
çarias, nem da sua prostituição, nem dos seus furtos” (Ap 9.20-21). Terceiro, com a pos-
sibilidade de arrependimento perdida para Roma, o toque da sétima trombeta chama os
anjos vingadores cuja tarefa é levar o império à destruição final. “Vi no céu outro sinal
grande e admirável, sete anjos tendo os sete últimos flagelos, pois com estes se consu-
mou a cólera de Deus" (15.1).
No capítulo sete vemos que o céu está fazendo uma pausa antes de lançar sua fúria so-
bre Roma, a fim de firmar a igreja perturbada contra o que está para acontecer. Este capí-
tulo é uma garantia contra a sua destruição, seja pelos seus inimigos ou em meio à tribu-
lação que Deus está prestes a fazer cair sobre o ambiente perverso ao seu redor.
31
A Restrição dos Anjos
“Depois disto vi quatro anjos em pé nos quatro cantos da terra, conservando seguros os
quatro ventos da terra, para que nenhum vento soprasse sobre a terra, nem sobre o mar,
nem sobre árvore alguma” (7.1).
Os “'quatro ventos da terra” referidos neste verso simbolizam a ira punitiva de Deus contra
os homens perversos. À destruição pelos quatro ventos é um elemento comum nas figu-
ras apocalípticas. De fato, mesmo num livro não-apocalíptico como Jeremias, a ira de
Deus é representada como uma grande tempestade de vento. “Eis a tempestade do Se-
nhor! O furor saiu e um redemoinho tempestuou sobre a cabeça dos perversos” (O rede-
moinho neste caso é formado pelo vento — N.T.) A cena presente mostra então os ele-
mentos do universo prontos a responderem às súplicas dos mártires para que façam vin-
dicar a causa de Deus na terra e castiguem a perversa Roma pelas suas perseguições.
Esses ventos destrutivos estavam sendo reprimidos pelos quatro anjos. Os quatro anjos
que assim procediam são agora abordados por um quinto que se dirige a eles: “'Vi outro
anjo que subia do nascente do sol, tendo o selo do Deus vivo, e clamou em grande voz
aos quatro anjos, aqueles aos quais fora dado fazer dano à terra e ao mar, dizendo: Não
danifiqueis nem a terra, nem o mar, nem as árvores, até selarmos em suas frontes os ser-
vos do nosso Deus” (7.2-3).
O anjo no capítulo sete ordenou que a destruição de Roma fosse adiada até que os ino-
centes de suas abominações recebam a marca. O propósito de marcá-los na testa era o
mesmo da visão de Ezequiel; deviam ser poupados da completa desolação que Deus re-
servava para os perversos.
Os que tiverem na testa a marca de Deus irão suportar a terrível calamidade que se apro-
xima. A pergunta de Apocalipse 6.17 está sendo respondida!
Avançando no livro de Apocalipse, os terrores associados com o soar das trombetas não
atingirão os marcados por Deus [Ap 9.4): mais adiante ainda, os que receberam este selo
especial estão de pé no Monte Sião junto ao Cordeiro de Apocalipse (Ap 4.1): e quando o
livro termina, eles são retratados em uma condição de bem-aventurança eterna no céu
(22.4).
Esta marca ou selo não é física, um sinal colocado sobre cada crente de maneira literal.
(Note que os seguidores de Satanás também receberão uma marca especial no drama
32
deste livro, Cf. Ap 13.16-17; 14.9; 16.2). O ponto deste simbolismo é simplesmente que
cada líder no grande conflito entre o será e o mal conhece os seus seguidores. O povo
leal a Deus não selado [protegido) a fim de que os castigos de Apocalipse não possam
destrui-lo. As forças de Satanás vão receber igualmente um selo que garantirá a sua par-
ticipação na mesma ira que estará sujeito o seu líder.
Os 144.000 de Apocalipse
O total dos que receberam o selo de Deus é 144.000 composto de 12.000 de cada uma
das doze tribos de Israel. Como um grupo deve ser identificado?
As duas primeiras possibilidades são bastante improváveis. Mostrar que Deus protegeu o
povo do Velho Testamento através dos perigos de eras passadas não seria diretamente
relevante ao fluir da mensagem do livro neste ponto, e à noção de que Deus ainda tem
um plano especial para os descendentes carnais de Abraão contradiz tudo o que o Novo
Testamento ensina sobre a base de aceitação diante dele (cf. Gl 5.6).
Parece certo que essas não são as doze tribos da Israel do Velho Testamento de forma
literal, em face do fato de que duas delas (i.e., Dã e Efraim) não foram sequer nomeadas.
Quando à ideia do número 144.000 ser uma referência velada aos cristãos judeus prestes
a serem perseguidos por Roma, uma mensagem desse tipo ofereceria bem pouco conso-
lo aos crentes gentios dos dias de João. E a igreja na época tinha uma população maior
de gentios do que judeus.
A interpretação mais razoável parece ser que os 144.000 são todos aqueles crentes —
tanto judeus como gentios — que permaneceriam fiéis ao Senhor em face das persegui-
ções iniciadas por Domiciano. Conforme expresso por Charles: “Em outras palavras, os
144.000 não pertencem à Israel literal mas espiritual, e são compostos de todos os povos
e nações e línguas. Deste ponto de vista o número 144.000 não apresenta qualquer difi-
culdade. Trata-se de um número simplesmente simbólico e não definido.”
33
A igreja é muitas vezes mencionada no Novo Testamento como a Israel de Deus (cf. Mt.
19.28; Lc 22.30; Rm 2.29; Gl 6.16; Tg 1.1; et al.). João já usou esta imagem em Apocalip-
se (2.9; 3.9) e irá repeti-la mais adiante (21.2,12).
Deve ser notado que o fato dos santos serem selados como mostra este capítulo, não
garante que fiquem isentos de danos físicos em épocas de perseguição nem impossibilita
a sua apostasia. Esses dois propósitos são servidos: (1) ficam protegidos contra prova-
ções insuportáveis que poderiam destruir sua fé (cf. 1 Co 10.13) e (2) garante que por
maiores que sejam as perdas sofridas pelo povo de Deus na terra, elas não irão afetar
sua recompensa celestial no sentido de diminui-la (cf. 2 Tm 4.7-8).
Quem previu não só uma intensificação das dificuldades para a igreja sob o reinado de
Domiciano, mas também os terrores de Deus que seriam lançados contra ele e o perverso
império que governava e perguntou: “Quem pode suster-se?' tem aqui a sua resposta: À
igreja fiel de Deus suportará até o fim. mediante a proteção, poder e propósito de Deus.
A Grande Multidão
“Depois destas coisas vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as
nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de
vestiduras brancas, com palmas nas mãos” (7.9).
Os 144.000 estão na terra; a grande multidão está no céu propriamente dito (a saber, ''em
pé diante do trono”). Os 144.000 são santos sofredores mas fiéis na terra; a grande multi-
dão no céu já venceu e entrou no estado abençoado de descanso e triunfo. Eles estão
vestidos de branco e têm palmas nas mãos. Tanto as vestes brancas como as palmas
significam triunfo. Este grupo é mostrado como uma garantia à igreja na terra, pois o
mesmo Deus que assistira à grande multidão nos tempos difíceis estava agora vigiando a
igreja aflita nos fins do primeiro século (cf. Hb 12.1-3).
Quando o coro de louvor a Deus é iniciado pelos remidos da terra, o exército celestial de
anjos que rodeia o trono se une ao seu cântico. Sua adoração é evidentemente estimula-
da diante da obra divina, trazendo à glória seres humanos através de suas provações.
“Todos os anjos estavam de pé rodeando o trono, os anciãos e os quatro seres viventes,
e, ante o trono se prostraram sobre os seus rostos e adoraram a Deus, dizendo: Amém. O
louvor. e a glória. e a sabedoria, o as ações de graça, e a honra, e o poder. o a força se-
jam ao nosso Deus pelos séculos dos séculos. Amém” (7.11-12).
Você talvez tenha notado que um total de sete qualidades são atribuídas a Deus no cânti-
co. Cada uma é precedida pelo artigo definido em grego; isto indica que o grau supremo
34
ou mais elevado de cada qualidade é atribuído a Deus. O fato de existirem sete delas é
outro jogo com os números tão comum na literatura apocalíptica.
A fim de chamar a atenção de João para o grupo já introduzido no verso nove. um dos 21
anciãos junto ao trono perguntou-lhe sobre a identidade daquelas pessoas. “Um dos an-
ciãos tomou a palavra. dizendo: Estes. que se vestem de vestiduras brancas, quem são e
donde vieram?” (7.13). O propósito da pergunta não era pedir informação, pois sua identi-
dade era conhecida de todos no céu. mas chamar atenção para o meio pelo qual essas
pessoas tinham sido libertas e salvas.
O fato do ancião que falava ao apóstolo não estar realmente interessado na identidade da
grande multidão fica evidente quando ele responde à sua própria pergunta: ''Respondi-
lhe: Meu Senhor, tu o sabes. Ele, então me disse: São estes os que vêm da grande tribu-
lação, lavaram as suas vestiduras, e as alvejaram no sangue do Cordeiro, razão por que
se acham diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu santuário; e aque-
le que se assenta no trono estenderá sobre eles o seu tabernáculo" (7.14-15).
Para os que suportaram “grande tribulação" (nota: já experimentada por essas pessoas e
não no futuro, no final dos tempos) e permaneceram puros em virtude do “sangue do Cor-
deiro", não existem desejos insatisfeitos em seu estado glorioso. Como o tabernáculo de
Deus está estendido sobre eles, o resultado é este: “Jamais terão fome, nunca mais terão
sede. não cairá sobre eles o sol. nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no
meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes
enxugará dos olhos toda lágrima” (7.16-17).
As glórias dos remidos são demasiado magnificentes para serem descritas na língua hu-
mana. O melhor que João pôde fazer. enquanto o Espírito de Deus o inspirava para falar
do céu, foi usar uma série de negativas — jamais terão fome. nunca mais terão sede. não
cairá sobre eles ardor algum. Como uma bem-aventurança assim tão perfeita é possível?
O Cordeiro é sua origem! Ele é o pastor. Ele leva suas ovelhas para as águas da vida. Ele
as leva tão perto do trono que Deus pode estender a mão e enxugar cada lágrima.
Conclusão
35
dade e perseguição. Esses acontecimentos serão descritos graficamente na lingua-
gem poderosa de um apocalipse.
O capítulo sete assegurou aos leitores do Apocalipse que a igreja fiel será mantida em
segurança na mão de Deus através de todos esses eventos. Todo o corpo de Cristo
que permanecer fiel (i.e., os 144.000 da Israel espiritual) ficará de pé diante do juízo e
ira divinos devastadores.
36
Entre a abertura do sexto e sétimo selos, houve uma pausa para que a igreja fiel fosse
selada contra os perigos que acompanhariam a ira divina a ser lançada sobre Roma. Este
“interlúdio” foi relatado no capítulo sete de Apocalipse, tendo sido o tópico do capítulo an-
terior deste volume. Agora, terminado o interlúdio e tendo a igreja sido assegurada do
cuidado de Deus em meio à crise que se aproxima, é tempo de voltar à sequência dos
selos que o Cordeiro vem abrindo em nosso drama. Especificamente, é tempo de abrir o
sétimo e último selo.
Em nosso estudo dos capítulos oito a onze de Apocalipse, veremos que a abertura do
sétimo selo revela sete anjos que fazem soar sete trombetas. Essas trombetas simboli-
zam o juízo parcial contra o império perverso. Neste estágio, os julgamentos são parciais.
a fim de dar a Roma oportunidade para arrependimento e salvação. A perspectiva da ira
divina é temperada com a esperança da misericórdia.
Como aconteceu com a abertura dos sete selos, observaremos um interlúdio entre o so-
prar da sexta e da sétima trombetas. Sua natureza e propósito serão explicados oportu-
namente.
Um amigo meu passou pela experiência de um tornado cair sobre a sua casa, descreveu-
me o silêncio sinistro que precedeu sua chegada. O ar acalmou-se, houve um período de
silêncio e a seguir o tornado abateu-se sobre ele com todo o seu medonho poder. Algo
semelhante a esta experiência é descrito em relação à abertura do sétimo selo. ''Quando
o Cordeiro abriu o sétimo selo, houve silêncio no céu cerca de meia hora*' (8.1). O silên-
cio dramático minutos antes da tempestade enfatiza o impacto dos juízos prestes a serem
revelados. Os “Ventos dos quatro cantos da terra" vão ser lançados contra o mundo de
César (cf. Ap 7.1-3). Sete anjos recebem sete trombetas de juízo es tocar 18.2 e um outro
anjo acrescentou “muito incenso” às orações dos mártires para que Deus defendesse a
sua causa entre os homens (8.3-4). “E o anjo tomou O incensário, encheu-o do fogo do
altar e o atirou à terra. E houve trovões, vozes, relâmpagos e terremoto” (8.5). Deus ouve
às orações de seus santos na terra? Ele age em resposta às suas súplicas? Esta cena
mostra que tais perguntas devem ser respondidas afirmativamente. Os anjos estão agora
preparados para fazer soar suas trombetas de juízo (8.6).
O céu está pronto para mover-se contra os inimigos da igreja. Deve ser novamente ob-
servado que a ação é restrita e impelida pelo desejo de que Roma se arrependa e não
que seja destruída. Essas trombetas não anunciam julgamentos finais, pois apenas uma
“terça parte” é afetada por cada uma delas
37
O Soar das Seis Trombetas
As quatro primeiras trombetas afetam o ambiente. A primeira (8.7) envia saraiva, fogo e
sangue sobre a terra, a fim de queimar um terço da sua vegetação; a segunda (8.8-9) pre-
judicou uma terça parte do mar, as criaturas que nele se moviam e os navios que nele
navegavam; a terceira (8.10-11) afetou as águas da terra, tornando-as amargas; e a quar-
ta (8.12) fez com que a terça parte dos corpos celestiais deixasse de iluminar a terra.
A cena em questão não deve ser lida, segundo adverte Morris, como se fosse “prosa cien-
tífica”. Interpretar literalmente a literatura apocalíptica é um disparate. Essas quatro pri-
meiras trombetas representam o fato do pecado da humanidade afetar o próprio planeta
(cf. Rm 8.20) e que parte do juízo de Deus contra Roma envolveria catástrofes na nature-
za, tais como falta de colheitas, perda do comércio marítimo, etc. Por pior que fosse o so-
ar dessas quatro trombetas, ficamos sabendo imediatamente que maiores calamidades
ainda estão por vir. “Então vi, e ouvi uma águia que, voando pelo meio do céu, dizia em
grande voz: Ai, ai, ai dos que moram na terra, por causa das restantes vozes da trombeta
dos três anjos que ainda têm de tocar” (8.13).
As três últimas trombetas são piores do que as quatro primeiras, pois não afetam só o
ambiente do homem, mas também diretamente os perversos.
O soar da quinta trombeta (9.1-12) revela uma das cenas mais misteriosas e amedronta-
doras de todo o livro. Quando o quinto anjo soprou sua trombeta, uma estrela (i.e., men-
sageiro, cf. AP 1.20b) veio “o céu ara a terra “e foi-lhe dada a chave do peço do abismo .
abismo” (Gr. abyssos) é a habitação de demônios (Lc 8.31) e o lugar de castigo preliminar
dos anjos decaídos, da besta [Lc 17.8) e do próprio Satanás (Ap 17.8)
Quando o mensageiro abriu esse abismo terrível, a atmosfera achava-se coberta de fu-
maça que saía do mesmo. Da fumaça saíram medonhos gafanhotos-demônios cuja mis-
são não era comer à vegetação da terra mas ferir e atormentar os homens que ''não têm
O selo de Deus sobre as suas frontes” (cf. 9.4). Eles estavam destinados a criar tal angús-
tia entre os homens que suas vitimas buscariam alívio na morte, mas não lhes seria con-
cedido que morressem (9.5-6).
Devemos lembrar que não se trata da descrição de uma criatura real, nem, como sugeri-
ram alguns intérpretes dispensacionalistas, de uma predição do primeiro século sobre
uma batalha contra helicópteros de guerra. Beasley-Murray chama isto de “fantasia con-
trolada”, fornecendo uma descrição altamente imaginativa do juízo divino contra Roma. A
última parte do verso sete parece tornar claro que qualquer seja a aflição incluída aqui,
ela vem da parte de homens perversos. Durante um longo período de tempo (i.e., “cinco
meses”), a humanidade sofrerá um destino pior do que a morte às mãos desses homens.
A sugestão de Summers agrada quando ele diz que a visão dos gafanhotos do abismo
''simboliza a podridão diabólica, a decadência interna do império romano”. Um dos fatores
que provocou a queda de Roma foi a série de governantes e líderes corruptos que manti-
veram o poder. Um tal espírito de corrupção interna é descrito aqui como vindo de dentro
do império (fora da terra), trabalhando para a sua destruição.
38
Esse exército terrível tinha um rei cujo “nome em hebraico” é Abadom, e em grego, Apoli-
om” (9.11). Em suas línguas respectivas, ambas as palavras significam destruidor. Quem
quer que seja esta pessoa, trata-se de um destruidor de tudo que é bom e santo. Vários
comentaristas chamam a atenção para a íntima associação entre o nome grego deste
personagem (Apoliom) e do deus grego Apolo. Desde que Domiciano afirmou sua divin-
dade por ser uma encarnação de Apolo, é possível que João estivesse usando aqui lin-
guagem secreta para identificar o líder (real) das forças que iriam trazer a destruição ao
mundo como sendo justamente o imperador de Roma. Esta interpretação coincidiria com
a identificação de Summers sobre a invasão dos gafanhotos notada acima.
Ao soprar da sexta trombeta (9.13-21), uma voz procedente dos quatro ângulos do altar
de ouro no céu, exclama: “Solta os quatro ângulos do altar de ouro no céu, exclama: “Sol-
ta O quatro anjos que se encontram atados junto ao grande rio Eufrates” (9. 14b). Numa
passagem anterior ficamos sabendo das orações oferecidas nesse altar para que a causa
de Deus vença na terra (cf. AP 6.9-10: 8.3-4). Essas orações estão sendo ouvidas e res-
pondidas! A saber, quatro anjos (não devem ser confundidos com os de Ap 7.1) soltam
um exército temível de “vinte mil vezes dez milhares” que estava preso no rio Eufrates. O
Eufrates era a fronteira oriental do império romano. Além dele ficavam os ferozes cavalei-
ros partos. O exército parto havia derrotado as forças romanas em Carrahe em 53 A.C. e
em Vologese no ano 62 A.D. e Roma sentia-se mais insegura quanto à possibilidade de
futuras invasões, justamente com respeito a essa região.
O simbolismo da sexta trombeta tinha como propósito despertar medo em Roma com re-
lação aos terríveis inimigos da fronteira oriental. A predição não fica necessariamente
confinada aqui à probabilidade de chegada dos partos, mas talvez indique a vinda de in-
vasores impiedosos como eles que deviam ser temidos e receados. A quinta trombeta
chama a atenção para a vulnerabilidade de Roma devido à sua corrupção interna: a sexta
enfoca uma série de invasões surgidas de fora
Os cavalos montados pelos inimigos de Roma nesta visão sopram “três flagelos"' (i.e.,
fogo, fumaça e enxofre), matando um terço dos homens (9.17-18). Será que existem ca-
valos com cabeça de leão? Cujas caudas sejam como serpentes, com cabeça para mor-
der e ferir a humanidade? Claro que não. Trata-se de literatura apocalíptica e o autor tem
uma grande latitude a seu dispor, a fim de criar imagens e pintar quadros fantásticos que
transmitam uma impressão geral. Esta impressão geral criada aqui representa claramente
a ruína indescritível e inconcebível que cairia sobre Roma com a invasão de suas frontei-
ras por inimigos implacáveis.
Mesmo em sua ira ardente, Deus mostra porém a sua misericórdia através desta cena
espantosa. A destruição fica limitada a um terço da humanidade, na esperança de que os
outros dois terços se arrependam de suas obras más. “Os outros homens, aqueles que
não foram mortos por esses flagelos. não se arrependeram das obras das suas mãos,
deixando de adorar os demônios e os ídolos de ouro, de prata. de cobre, de pedra e de
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pau, que nem podem ver, nem ouvir, nem andar, nem ainda se arrependeram dos seus
assassínios, nem das suas feitiçarias, nem da sua prostituição, nem dos seus furtos”
(9.20-21). O pecado principal do império era a idolatria: o povo de Roma estava adorando
o imperador em lugar do Deus verdadeiro. E como a imoralidade anda sempre ao lado da
idolatria, eles eram dados a assassinatos, feitiçarias, fornicação e roubos.
O soar da sexta trombeta revela que Roma já avançara muito para poder salvar-se. O
pecado gera pecado e o coração dos perversos tornou-se de tal forma endurecido que
não podiam mais arrepender-se. Nada mais resta senão enviar o último flagelo sobre o
reino perverso da besta.
O Episódio do Livrinho
João viu um anjo forte, envolto em radiância celestial e autoridade, que abrangia a terra e
o mar (10.1-2). Quando o anjo abriu a boca, ele “bradou em grande voz como ruge um
leão” (10.3). Uma voz assim tão poderosa (cf. Amós 3.8) encheria sem dúvida o coração
de todos de temor; ela faria com que tivessem um pressentimento desagradável, a não
ser que soubessem estar a salvo.
João relatou que o clamor do anjo foi acompanhado de “sete trovões” e que ele foi proibi-
do de escrever a sua mensagem (10.3-4). O som do trovão é uma voz de advertência. Ele
dá um aviso antecipado da chegada de uma tempestade e adverte as pessoas para que
se preparem para a mesma. À recusa do céu em permitir que João escrevesse a mensa-
gem dos sete trovões, foi simplesmente para destacar a ideia de que Deus já concedera
ampla oportunidade de arrependimento e não podia ser então considerado injusto por
descarregar a sua ira nesse ponto. Não haveriam mais sons de trovão! Nem mais adver-
tência para Roma! Não haveria mais demora em executar o juízo de Deus contra esse
perverso perseguidor da igreja!
Foi assim que o anjo levantou a mão direita para o e céu jurou pelo Todo- poderoso que
“já não haverá demora; mas nos dias da voz do sétimo anjo, quando ele estiver para tocar
a trombeta, cumprir-se-á, então. O mistério de Deus, segundo ele anunciou aos seus ser-
vos, os profetas” [10.6-7). Qual é o “mistério” aqui? Com certeza trata-se do propósito de
Deus com respeito à igreja. Deus planejou a igreja e a salvação dos homens nela desde à
eternidade: seus servos. Os profetas” haviam falado incessantemente deste propósito
divino (cf. 1 Pe 1.10-12). As forças de Satanás não terão permissão para derrotar esse
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propósito na vida de João. na vida dos crentes contemporâneos dele, ou na vida dos cris-
tãos de hoje.
Nossa atenção é agora chamada e se fixa num livrinho aberto que o anjo forte tem nas
mãos (cf. 10.2). “A voz que ouvi, vinda do céu, estava de novo falando comigo e dizendo:
Vai. e toma o livro que se acha aberto na mão do anjo em pé sobre o mar e a terra. Fui,
pois. ao anjo, dizendo-lhe que me desse o livrinho. Ele então me fala: Toma-o, e devora-
o: certamente ele será amargo ao teu estômago. mas na tua boca, doce como mel" (10.8-
9). Um episódio visionário semelhante tem lugar em Ezequiel 2.8-3.3. O rolo do livro de
Ezequiel era “doce como o mel'' em sua boca, embora contivesse palavras de “lamenta-
ções, suspiros e ais”. À experiência de João veio a ser do mesmo tipo.
O livrinho continha os juízos de Deus sobre os que o haviam rejeitado. Ele falava de la-
mentações, luto, e flagelos contra Roma devido à sua pecaminosidade. Com certeza fala-
va também dos sofrimentos e dissabores que os cristãos teriam de suportar ainda às
mãos desse poder perverso.
João recebeu a ordem: ''Toma-o e devora-o"”. Isto refere-se a tomar, ler e entender (i.e.,
digerir") o conteúdo do livrinho. Ele era “doce” na boca, por tratar-se de uma experiência
em que estava recebendo a revelação divina; mas ficou ''amargo” em seu estômago, em
vista dos flagelos e prognósticos contidos no mesmo serem de molde a entristecer qual-
quer um que acreditasse na sua mensagem.
Qual seria a missão de João durante o período da ira de Deus contra Roma? Qual a sua
responsabilidade? “Então me disseram: É necessário que ainda profetizes a respeito de
muitos povos, nações, línguas e reis" (10.11). A mensagem recebida por João era urgente
e todos os homens precisavam ouvi-la. Isto ele realizou não só pessoalmente (depois de
sua volta do exílio), mas também através das páginas do livro que estamos estudando
agora.
Depois de esclarecer a tarefa de João durante a crise que se aproxima, o drama prosse-
gue, explicando o papel da igreja como um todo durante a destruição de Roma e o caos
que se seguiria a esse evento.
As Duas Testemunhas
Ao iniciar-se o capítulo onze, João fala de uma visão em que recebeu uma vara de medir
e a seguinte ordem: “'Dispõe-te e mede o santuário de Deus, o seu altar, e os que naque-
le adoram”.
Os que pretendem datar o livro de Apocalipse, situando-o nos dias da perseguição de Ne-
ro nos anos 60, indicam a referência “santuário de Deus” feita aqui como prova de que o
41
templo de Jerusalém continuava de pé quando ele foi escrito. Embora seja verdade que
esta expressão indicava originalmente o templo judaico (tanto em certas passagens do
Velho Testamento com em várias referências do Novo Testamento), parece inconcebível
que o Apocalipse tivesse mencionado essa estrutura. No livro de Apocalipse, os judeus
são “a sinagoga de Satanás” (Ap 2.9; 3.9); eles são representados como inimigos do To-
do-poderoso, do Cordeiro e da igreja. A igreja fiel é que é considerada como o “templo de
Deus” em Apocalipse (Ap 3.12). No caso de João, portanto, essa expressão só poderia
referir-se neste contexto ao templo espiritual de Deus, a igreja (cf. 1 Co 3.16; 1 Pe 2.5). “O
átrio exterior do santuário” (11.2) é uma referência simbólica ao mundo dos homens que
se acha fora do corpo de Cristo.
A ordem dada a João para ''medir” o templo é outro meio de representar o propósito de
Deus, a fim de proteger e preservar a igreja contra os perigos. “O significado aparente-
mente indica que aquilo que é medido segundo a ordem de Deus fica sob o seu controle e
cuidado diretos. A igreja será protegida na catástrofe vindoura (cf. o selo de 7.3). Isto não
significa que ninguém perecerá, pois haverão mártires, mas a igreja não será destruída”
(Morris).
O átrio exterior que não foi medido e continua sem proteção (i.e., o mundo) é entregue ao
pecado e portanto sofrerá eventual destruição. Todavia, haverá um tempo em que será
permitido que os habitantes desse átrio exterior cometam abusos contra a igreja — con-
tanto que não a destruam: “por quarenta e dois meses calcarão aos pés a cidade santa”.
Os quarenta e dois meses não representam um período literal de três anos e meio, mas
indicam um tempo de duração limitada. Deus não irá tolerar que a cidade santa, o templo,
o altar e seus adoradores sejam calcados aos pês indefinidamente. Não permitirá que os
justos sejam eternamente perseguidos, sem qualquer alívio.
Neste ponto da visão, seu foco começa a surgir. O céu dá uma missão a 'duas testemu-
nhas" (também chamadas de “duas oliveiras” e “dois candeeiros”, 11.4) para que profeti-
zem vestidas de pano de saco durante os quarenta e dois meses (i.e., 1.260 dias) em que
cidade e o templo de Deus estejam sendo calcados aos pés pelas nações. O número dois
na literatura apocalíptica refere-se aquilo que foi fortalecido ou duplicado. Desde que os
candeeiros já foram identificados como igrejas (cf. Ap 1.20), as duas testemunhas repre-
sentam a mesma em sentido coletivo.
As duas testemunhas representam toda a igreja fiel durante o período da provação imi-
nente e retratam a missão da igreja em tais circunstâncias: a pregação fiel e contínua do
evangelho. As testemunhas estão vestidas de pano de saco — o que indica luto e tristeza
— mas permanecem fiéis à sua tarefa. As profecias de condenação sobre os inimigos de
Deus as entristece; o sofrimento que suportam às mãos dos perversos as faz sofrer; sua
dedicação ao Cordeiro as mantém firmes em sua tarefa através de tudo isso! Quem ousar
opor-se ao seu trabalho irá sentir a ira do Senhor, como represália (11.5-6).
Os versos sete a dez mostram o que acontecerá às testemunhas depois de terem realiza-
do sua tarefa de dar testemunho fiel do evangelho entre os homens pecadores. A “besta”
surge do abismo, entra em luta contra as testemunhas, derrota-as e as mata.
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A besta introduzida aqui é ainda mais proeminente na segunda metade de Apocalipse
(caps. 12-22). Ela deve ser identificada com o imperador romano, e o fato de “surgir do "
abismo” indica sua associação com os poderes do mal. Quando ela mata as duas teste-
munhas nesta cena dramática, parece ter dominado a igreja. As testemunhas jazem na
rua e os homens se alegram com a sua morte. Como observa Summers: “Não é preciso
muita imaginação para ver nisto a atitude do império romano nesse período, quando pa-
recia que o cristianismo estava sendo esmagado para nunca mais levantar-se”.
Toda esta atividade tem lugar “'na praça da grande cidade que, espiritualmente, se chama
Sodoma e Egito, onde também seu Senhor foi crucificado” (11.8). Embora alguns tomem
isto como uma referência a Jerusalém (i.e., a cidade em que Jesus foi crucificado), essa
cidade havia sido destruída na época em que nosso livro foi escrito. Esta referência enig-
mática significa Roma. Afinal de contas, Jesus tem sido crucificado em mais lugares do
que apenas na Jerusalém terrena. Segundo Hebreus 6.6. os homens “estão de novo cru-
cificando para si mesmos o Filho de Deus” toda vez que se entregam ao pecado e endu-
recem seus corações contra a justiça, a ponto de não poderem mais arrepender-se e
afastar-se do seu pecado. Os nomes e memórias de lugares perversos do passado, tais
como Sodoma, Egito e Jerusalém são usados aqui para indicar a cidade mais pecadora
dos dias de João, Roma. Como o império tinha sido ''atormentado” pela pregação fiel do
evangelho por parte das duas testemunhas, seus habitantes perversos alegraram-se com
a aparente destruição das mesmas. Mas, a história ainda não acabou! “Mas, depois dos
três dias e meio, um espírito de vida, vindo da parte de Deus, neles penetrou, e eles se
ergueram sobre seus pés, e àqueles que os viram sobreveio grande medo” (11.11).
Quando parecia que Roma tinha derrotado a igreja, ela iria erguer-se das cinzas da per-
seguição. Este tipo de quase extinção e consequente volta vibrante à vida ocorreu mais
de uma vez na história da igreja. Quando Roma caiu, a igreja sobreviveu; e até os inimi-
gos da igreja teriam ''medo” ao reconhecerem que o poder divino estava por detrás de tal
reavivamento. A subida das duas testemunhas ao céu simboliza a exaltação dos mártires
que morreram durante a época da grande perseguição da igreja por parte de Roma. Isto
terá seu cumprimento completo e final, naturalmente, quando os santos forem arrebata-
dos para estar com o Senhor, por ocasião da volta deste (cf. 1 Ts 4.17). “Mas, enquanto
isso, essa exaltação foi antecipada à vista do mundo pelo tributo pago às vítimas de uma
perseguição, algumas vezes poucos anos depois de sua desonra e morte” (Swete).
Com o final do segundo ai (i.e., a sexta trombeta), chegou a hora de soar a sétima e últi-
ma trombeta (i.e., o terceiro ai).
“O sétimo anjo tocou a trombeta, e houve no céu grandes vozes, dizendo: O reino do
mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos sécu-
los. E os vinte e quatro anciãos que se encontram sentados nos seus tronos, diante de
43
Deus, prostraram-se sobre os seus rostos e adoraram a Deus, dizendo: ''Graças de da-
mos, Senhor Deus, Todo-poderoso, que és e que eras, porque assumiste o teu grande
poder e passaste a reinar. Na verdade, as nações se enfureceram; chegou, porém, a tua
ira, e o tempo determinado para serem julgados os mortos, para se dar o galardão aos
teus servos, os profetas, aos santos, e aos que temem o teu nome, assim aos pequenos
como nos grandes, é para destruíres os que destroem a terra. Abriu-se, então, o santuá-
rio de Deus, que se acha no céu, e foi vista a arca da aliança no seu santuário, e sobrevi-
eram relâmpagos, vozes, trovões, terremotos e grande saraivada” (11.15-19).
Como já foi dito, existem três séries de setes no Apocalipse: sete selos, sete trombetas e
sete taças. No caso dos dois primeiros, o sétimo na série revela o total de séries que se
seguem. Por exemplo, a abertura do sétimo selo introduziu a visão das sete trombetas, e
agora o toque da sétima trombeta dá início à série final de visões em que as sete taças da
ira de Deus são o foco central.
As cenas que têm início com o capítulo doze se concentram no próprio Satanás e o fra-
casso de todos os seus planos contra o povo de Deus. A série final de visões que começa
nesse ponto demonstra que Satanás e todos os seus aliados (i.e., o império romano e
seus imperadores perversos) não dominam o mundo, mas sim Deus e o seu Cristo!.
De fato, as vozes do céu proclamam: “O reino deste mundo deve tornar-se o reino de
nosso Senhor e de seu Cristo: e ele reinará para sempre e sempre.” Jesus Cristo foi exal-
tado para reinar sobre o seu povo no primeiro Pentecostes depois de sua ressurreição
dos mortos (At 2.34-36). Ele continuará a reinar sobre o reino de Deus até a sua segunda
vinda e a destruição da morte que ocorrerá nessa ocasião (1 Co 15.24-28). (Nota: Em 1
Coríntios 15.28, Paulo declara nitidamente que o domínio de Jesus sobre o reino termina-
rá na sua segunda vinda, quando vai entregar o reino ao Pai. Como pode então ser dito
que ele '“reinará pelos séculos dos séculos?” O termo ''para sempre” (pelos séculos dos
séculos) é empregado muitas vezes nas Escrituras, a fim de referir-se a uma instituição
ou estado de coisas que prevalecerão até que algumas condições expressas ou implícitas
em uma aliança sejam satisfeitas. Por exemplo, Êxodo 12.14 diz que a Páscoa deve ser
observada para sempre (“estatuto perpétuo"), e Êxodo 31.17 indica a mesma coisa a res-
peito do sábado. Eles deveriam durar até que a aliança de que faziam parte tivesse reali-
zado o seu propósito. O reinado de Cristo sobre o seu reino durará “para sempre” no sen-
tido de que vai perdurar enquanto essa entidade existir na terra e só terminará quando a
aliança e situação que permitiram a sua existência neste mundo tenham sido consuma-
das.
Outra possibilidade sobre este ponto é sugerida por Mounce. Ele salienta que o reinado
singular de Cristo sobre o reino terminará no segundo advento, mas que o reinado com-
partilhado com a divindade através de toda a eternidade servirá para prolongar o seu do-
mínio “pelos séculos dos séculos".)
O verso dezoito indica o tema a ser desenvolvido mim na seguinte de visões: recompensa
dos santos fiéis e a destruição de Roma. Embora a linguagem se assemelhe admitida-
mente a uma referência ao fim dos tempos, o fluxo de atividades no livro não nos levou
ainda a esse período. São muitos os incidentes que devem ocorrer ainda na terra, relata-
dos nos capítulos doze a vinte. As recompensas e castigos tratados aqui não são portanto
44
aqueles do Juízo Final, mas do juízo contínuo de Deus na história para reivindicar os que
são seus e derrotar o propósito dos seus inimigos.
Mas, o tema da recompensa dos santos e castigo dos perversos já não foi tratado antes
no livro? Por que uma nova série de visões sobre O mesmo tema?
Esta verdade fundamental já foi realmente revelada, mas à sua ênfase estava nas impli-
cações da mesma com relação à igreja. Deus estaria com seu povo, dando-lhe vitória e
protegendo-o contra os inimigos — este encorajamento dos santos foi a mensagem domi-
nante. À história será agora contada novamente com uma ênfase diversa. Não vai falar de
ajuda aos cristãos que sofrem, mas de castigo e desolação para os que os perseguem.
Conclusão
A partir do capítulo doze, 08 detalhes terríveis da derrota final de Roma serão esboça-
dos com algum detalhe. Uma nova série de personagens vai entrar No drama apoca-
líptico, a fim de contar o término da história. As imagens se tornarão mais impressio-
nantes, à medida que a mensagem do livro é levada ao seu crescendo final.
O capítulo doze de Apocalipse dá início à Parte Dois do livro. A Parte Um (caps. 1-11)
apresenta um panorama geral do conflito entre a igreja e Roma, dá à igreja a certeza da
proteção divina através de grandes aflições por causa da perseguição, e prediz a derrota
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de Roma como um castigo do céu. A Parte Dois (caps. 12-22) focaliza a atenção nos pe-
cados do império e mostra como será completa a sua destruição.
A Parte Um falou sobre os pecados de Roma contra a igreja e ofereceu ao império a opor-
tunidade para arrepender-se e salvar-se da condenação e ruína. As seis primeiras trom-
betas soaram e houve juízos parciais contra o império. O seu povo não se arrependeu de
sua luxúria, sua perseguição dos santos e sua conduta assassina contra a igreja; até pa-
rece que seus corações se endureceram ainda mais com os primeiros juízos, a ponto de
não haver mais possibilidade de voltarem atrás e se arrependerem. A Parte Dois inicia o
movimento final do livro, a fim de mostrar a ira divina contra Roma que virá ''sem demora”.
Tendo avançado demais e não podendo ser mais poupada, Roma enfrenta o julgamento
rápido e severo.
A seção que se inicia com o capítulo doze foi prevista no episódio do livrinho, dois capítu-
los antes. João viu ali um anjo forte com um livrinho na mão. Uma voz do céu disse a Jo-
ão que se aproximasse do anjo e recebesse dele o livro. Fui, pois, ao anjo, dizendo-lhe
que me desse o livrinho. Ele então me fala: Toma-o, e devora-o; certamente ele será
amargo ao teu estômago, mas na tua boca, doce como mel. Tomei o livrinho da mão do
anjo e o devorei, e na minha boca era doce como mel; quando, porém, o comi, o meu es-
tômago ficou amargo. Então me disseram: É necessário que ainda profetizes a respeito
de muitos povos, nações, línguas e reis” (Ap 10.9-11).
A ação na Parte Dois do livro é muito mais rápida do que na Parte Um. Ela ocorre às ve-
zes com tal velocidade que temos de esforçar-nos para acompanhá-la.
Vamos então neste capítulo estabelecer-se o cenário para o restante do Apocalipse atra-
vés de uma identificação cuidadosa da mulher, de seu filho e do dragão que tenta destruí-
los.
A Mulher Grávida
46
“Viu-se grande sinal no céu, a saber, uma mulher vestida do sol. com a lua debaixo dos
pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça, que, achando-se grávida, grita com as do-
res de parto, sofrendo tormentos para dar à luz” (12.1-2).
A figura da mulher neste capítulo chama a atenção do leitor para a continuidade entre o
Velho e o Novo Testamento.
A imagem da mulher dando à luz enfatiza a ligação íntima que devemos observar entre a
velha e a nova aliança. A mulher grávida que dá à luz na primeira parte do capítulo é à
Israel carnal; a mulher que foge de seus inimigos na última parte do capítulo 6 a Israel
espiritual (i.e., a igreja).
A mulher brilha (i.e., vestida do sol e da lua) com à revelação divina. A coroa que usa tem
doze estrelas. chama” do atenção para os doze patriarcas e as doze tribos de ISRAEL.
Não pode haver dúvida quanto à sua identidade.
A representação de Israel como uma mulher grávida não é nova nas Escrituras. A figura
parece sempre sugerir a presença de esperança, embora a mesma seja geralmente
acompanhada de angústia e sofrimento. Por exemplo, Miquéias olhou para além do casti-
go de Israel e Judá por causa dos seus pecados, quanto falou no século oito A.C. e apon-
tou um tempo em que o reino de Deus seria estabelecido é o Messias reinaria. “Como a
que está para dar à luz” (i.e., dores de parto). Judá seguiria para o cativeiro na Babilônia
(Mg 4.10).
Mas seria remida desse cativeiro e finalmente daria à luz seu filho (Mq 3.3). Esta é clara-
mente uma profecia messiânica no livro de Miquéias.
Nos versos de abertura deste capítulo, este desempenho especial da Israel carnal é colo-
cado novamente diante de nós. Israel está grávida, ansiosa pelo nascimento do Messias.
Mas há um presságio terrível no horizonte!
47
Um Grande Dragão
“Viu-se grande sinal no céu, a saber, uma mulher vestida do sol, com a lua debaixo dos
pós e uma coroa de doze estrelas na cabeça, que, achando-se grávida, grita com as do-
res do parto, sofrendo tormentos para dar à luz. Viu-se também outro sinal no céu, e eis
um dragão, grande, vermelho, com sete cabeças, dez chifres e, nas cabeças, sete diade-
mas. A sua cauda arrasta a terça parte das estrelas do céu, as quais lançou para a terra;
e o dragão se deteve em frente da mulher que estava para dar à luz, a fim de lhe devorar
o filho quando nascesse” (12.3-4).
Não é difícil identificar o dragão visto em sonho por João, pois o verso nove deste mesmo
capítulo indica: “que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo”. O dragão é
uma representação simbólica de Satanás e seu propósito perverso de impedir o plano
celeste de prover um redentor para a humanidade. O fato do dragão ser vermelho chama
provavelmente atenção para o derramamento do sangue dos mártires provocado por ele.
Suas sete cabeças e dez chifres indicam sua grande vitalidade e poder. Seus diademas
significam seu poder de reinar sobre os que são seus. O fato da cauda do dragão poder
arrastar as estrelas do céu, mostra que se trata de um adversário formidável.
O dragão se aproxima da mulher prestes a dar à luz e sua intenção é devorar o filho dela
quando este aparecer. A imagem brutal é clara. Satanás quer destruir Jesus e a sua obra.
Ele na verdade buscou destruir o Messias desde o início.
Satanás providenciou para que Jesus fosse rejeitado pelos seus, abusado pelos homens
perversos e condenado à morte. Mal sabia ele que exatamente mediante essa sequência
de eventos, estava colaborando com o propósito de Deus. A maior reivindicação do Mes-
sias estaria associada à sua ressurreição dos mortos pelo poder do Espírito Santo.
A Criança
48
“Nasceu-lhe, pois, um filho varão, que há de reger todas as nações, com cetro de ferro. E
o seu filho foi arrebatado para Deus até ao seu trono” (12.5).
Nessas poucas pinceladas de sua pena, João vai desde a encarnação do Filho de Deus
até a sua ascensão. Ele está certo em fazer isso, pois seu propósito em Apocalipse não é
dar um relato detalhado da vida e ministério de Jesus na terra, pois já fez isso em seu
evangelho.
O ponto aqui é simplesmente que jesus tinha um arque adversário pronto para destruí-lo
no momento em que aparecesse. O dragão achava-se preparado para saltar sobre a cri-
ança indefesa! Mas não foi feliz. O céu não permitiu que vencesse!
A mulher aqui representa claramente a igreja (i.e., a Israel espiritual) e não a Israel carnal,
pois esta estava participando da perseguição da igreja na época em que Apocalipse foi
escrito (cf. Ap 2.9: 3.9). Depois da vinda de Cristo e do estabelecimento da igreja, não
restam mais quaisquer promessas especiais para a Israel carnal.
Os estudiosos atentos das Escrituras ficam atônitos e alarmados ao ver tanta literatura
produzida com o tema de que a atual nação de Israel é o objeto da profecia do Velho e
Novo Testamento e que Deus está operando através dessa nação a fim de realizar seus
propósitos no mundo de hoje. Isso não é simplesmente verdade! Deus não tem qualquer
outra promessa em aberto para os judeus segundo a carne. “Porque em Cristo Jesus,
nem a circuncisão (i.e., pertencer à raça de Israel), nem a incircuncisão (i.e., ser de raça
gentia), tem valor algum, mas a fé que atua pelo amor (i.e., ser cristão)” (Gl 5.6). As pro-
messas de Deus não são para os judeus na carne, mas para os descendentes espirituais
do pai Abraão. “Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a
que é somente na carne, Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão a que
é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens,
mas de Deus” (Rm 2.28).
As pessoas cujos corações foram circuncidados pelo batismo (Cl 2.11-12) são o povo de
Deus hoje. Quer judeu ou gentio segundo a carne, todos têm a mesma esperança em
Cristo. Isto não é antissemitismo ou uma declaração de convicção política quanto à nação
de Israel; mas simplesmente uma afirmativa teológica de que é falso associar qualquer
promessa espiritual de Deus ou qualquer promessa sobre o futuro da igreja à Israel car-
nal. Essa atitude mostra uma incompreensão fundamental da natureza da atuação de
Deus nas Escrituras e na história.
Mesmo antes de ter deixado a terra. Cristo prometeu que os poderes do mundo invisível
não prevaleceriam contra a igreja neste mundo (Mt 16.18). Tanto com relação ao seu pro-
49
pósito de estabelecer a igreja como à questão de sua sobrevivência debaixo da persegui-
ção. Cristo deu sua palavra de que a igreja teria a proteção do céu.
É verdade que a proteção fornecida à igreja neste drama é no “deserto”. mas de toda for-
ma ela é protegida! A igreja existe num mundo de pecado, perseguição e perigo. Ela so-
brevive nele mediante a providência e proteção do Senhor dos céus e da terra.
Permanecerá constante;
Essas são palavras que cantamos com tanta frequência e refletem a segurança prometida
pelo Senhor à sua igreja no deserto.
A Guerra no Céu
À luta entre o bem e o mal envolve realmente o universo inteiro. Trata-se de um confronto
cósmico entre Deus e tudo que é santo de um lado e Satanás e tudo que é maldade do
outro. Frustrado então em seu esforço para destruir Cristo, Satanás é agora representado
como seguindo-o em sua ascensão ao céus apenas para ser barrado, derrotado e lança-
do para a terra por Miguel e seus anjos.
“Houve peleja no céu. Miguel e os seus anjos pelejaram contra o dragão. Também peleja-
ram o dragão e seus anjos; todavia, não prevaleceram; nem mais se achou no céu o lugar
deles. E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o
sedutor de todo o mundo, sim. Foi atirado para a terra e, com ele, os seus anjos. Então
ouvi grande voz do céu, proclamando: Agora veio a salvação, O poder, o reino do nosso
Deus e autoridade do seu Cristo, pois foi expulso o acusador de nossos irmãos, o mesmo
que os acusa de dia, e de noite, diante do nosso Deus. Eles, pois, o venceram por causa
50
do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram, e, mesmo em
face da morte, não amaram a própria vida. Por isso, festejai, ó céus, e vôs os que nele
habitais. Ai da terra e do mar, pois o diabo desceu até vós, cheio de grande cólera, sa-
bendo que pouco tempo lhe resta” (12.7-12).
Esta não é uma recapitulação literal de acontecimentos é nada disto aconteceu em rela-
ção à ressurreição e ascensão. Lembre-se, este é um drama apocalíptico. Nem a passa-
gem relata a origem de Satanás, pois a cena aqui não é sobre o início dos tempos e sua
queda antes da criação do mundo (cf. 2 Pe 2.4: Jd 6), mas uma recapitulação da condição
da igreja no primeiro século. É uma representação simbólica da reação agressiva de Sa-
tanás quando o Messias escapou do seu plano perverso para destruí-lo.
Quando Satanás e seu exército maligno tentam invadir a cidadela dos justos no céu, Mi-
guel e seus anjos os enfrentam e travam luta com eles. Como Deus é a fonte da sua for-
ça, Miguel e seus anjos vencem e lançam os intrusos para a terra.
Ao terminar este conflito, uma “grande voz” é ouvida do céu. Não fica claro se foi a voz de
uma única pessoa ou do coro unificado de todos que habitam na cidade santa. As pala-
vras do cântico (i.e., “nossos irmãos”, nosso Deus”) tendem a apoiar a última ideia. De
qualquer modo, o hino não atribui a vitória sobre Satanás a Miguel, mas ao sangue do
Cordeiro (v.11). Toda vitória sobre Satanás, sobre o pecado e o “eu” é obtida através des-
se mesmo poder.
De modo particular, o hino parece apontar para à vitória que alguns já haviam conquista-
do pelo martírio (i.e., “em face da morte, não amaram a própria vida”) e indica com segu-
rança a mesma vitória que outros irão obter. O cântico é de júbilo confiante. A batalha já
foi ganha pelo sangue do Cordeiro, embora muitos ainda devam partilhar da sua glória.
Ao mesmo tempo, os que se unem no hino de vitória preveem horrores futuros para os
santos na terra. Eles sabem que Satanás, derrotado e frustrado, irá fazer cair sobre eles
toda a sua fúria. Haverá agora um número muito maior de mártires, pois Satanás percebe
que sua única esperança — tendo falhado em destruir Cristo — é voltar-se para os segui-
dores dele, a fim de atormentá-los e feri-los. A perseguição do povo de Deus na terra será
então intensificada. “As tribulações dos justos perseguidos não são devidas à força de
Satanás, mas ao fato dele ter sido derrotado. Ele está fazendo todo o mal que pode en-
quanto pode, mas não poderá continuar agindo assim por muito tempo" (Morris).
Expulso do céu, Satanás focaliza toda a sua atenção e ódio sobre a mulher (i.e., a igreja)
na terra. “Quando, pois, o dragão se viu atirado para a terra, perseguiu à mulher que dera
à luz o filho varão” (12.13). A perseguição da igreja na terra não é uma coincidência, mas
um resultados das maquinações de Satanás.
O dragão atormenta a mulher com uma série de maldades. mas o Senhor mantém a sua
promessa e ele a salva. “E foram dadas à mulher as duas asas da grande águia para que
voasse até ao deserto, ao seu lugar, aí onde é sustentada durante um tempo, tempos, e
metade de um tempo, fora da vista da serpente. Então a serpente arrojou da sua boca.
atrás da mulher, água como um rio, a fim de fazer com que ela fosse arrebatada pelo rio.
A terra, porém, socorreu a mulher; e a terra abriu a boca e engoliu o rio que o dragão ti-
51
nha arrojado de sua boca” (12.14-16). Ou Satanás não sabe, ou não acredita, ou se julga
suficientemente poderoso para anular a promessa de Cristo de que os poderes do mundo
invisível não prevalecerão contra a sua igreja.
Incapaz de destruir a igreja inteira, Satanás volta-se então para a destruição dos santos
individualmente. “Irou-se o dragão contra a mulher e foi pelejar com os restantes da sua
descendência, os que guardam os mandamentos de Deus e sustentam o testemunho de
Jesus" (12.17).
"Os restantes da sua (da mulher) descendência” é a maneira de João referir-se aos ir-
mãos e irmãs da criança vista antes neste capítulo. Esses são os cristãos fiéis que conti-
nuam a guardar os mandamentos de Deus e a manter o testemunho de Jesus em face de
oposição determinada.
Não é difícil compreender o assunto desta parte da visão. Cada crente deve examinar-se
a si mesmo, a fim de assegurar se de que continua seguindo de perto os passos do Sal-
vador. Caso contrário, Satanás terá maiores oportunidades para alcançá-lo e “devorá-lo”.
O diabo é obstinado e ardiloso em sua obra de destruição das almas. Baseado em outra
metáfora do Novo Testamento, pense na igreja como o rebanho de Deus. As ovelhas que
ficam juntas umas das outras e sempre perto do pastor estão seguras e protegidas. Mas,
se uma das ovelhas começa a desgarrar-se ou tomar um caminho diferente daquele do
rebanho? Ela perde a sua proteção e os lobos podem pular sobre ela. Da mesma forma,
O Cristão que se desgarra ou começa a palmilhar caminhos proibidos está pondo em pe-
rigo a sua alma. Fique perto do pastor; permaneça junto ao rebanho; não arrisque a sua
segurança.
Conclusão
OS ALIADOS DO DRAGÃO
Apocalipse 13.1-18
52
Ao iniciar-se à segunda metade de Apocalipse, é preciso certificar-se da lista de persona-
gens que atuarão nos atos finais do livro. No capítulo anterior, identificamos à mulher, seu
filho, o dragão, e o restante dos filhos da mulher.
No capítulo treze, devemos conhecer mais dois personagens importantes da nossa peça.
“A besta que emerge do mar” e a “besta que emerge da terra” irão unir-se ao dragão, tor-
nando-se suas aliadas e lutando contra os santos de Deus. O dragão e as duas bestas
irão combinar-se num trio ímpio que perseguirá os seguidores do Cordeiro.
“E (o dragão) se pôs em pé sobre a areia do mar. Vi emergir do mar uma besta, que
tinha dez chifres e sete cabeças e, sobre os chifres, dez diademas e, sobre as cabe-
ças. nomes de blasfêmia" (13.1).
O mar sombrio e misterioso foi muitas vezes associado aos poderes malignos na anti-
guidade. O mar mencionado aqui é mais tarde chamado de “abismo” (Ap 17.8). Am-
bos os termos indicam a mesma coisa, apontando para a origem do mal. O dragão
fica de pé na praia daquele mar medonho e aguarda O aparecimento de seu primeiro
aliado. Um monstro amedrontador aparece e fica claro que a sua presença tem como
objetivo ajudar Satanás em seus projetos perversos.
Esta besta representa a Roma imperial personificada por seus imperadores. As sete
cabeças são imperadores individuais de Roma, cuja identidade será discutida em mais
detalhes em relação com nosso estudo de Apocalipse 17.9-10 no Capítulo Doze. Os
dez chifres e seus diademas representam os vários reis-vassalos de reinos sujeitos a
Roma e através de quem o seu poder internacional foi exercido (cf. Ap 17.12). O no-
me(s) de blasfêmia nas cabeças desta besta indicam os títulos divinos reivindicados
pelos vários imperadores. Lembre-se, por exemplo, que Domiciano exigiu que seus
súditos falassem dele como dominus et deus (i.e., Senhor e Deus).
“A besta que vi era semelhante a leopardo, com pés como de urso, e boca como de
leão. E deu-lhe o dragão o seu poder, o seu trono e grande autoridade” (13.2). Esta
53
besta tem poder ameaçador. Pense nos traços medonhos de um leopardo, urso e
leão; junte todos eles numa só criatura e o resultado é essa besta que emerge do mar.
Note que ela obtém seu poder, trono e autoridade do dragão. É Satanás quem se
oculta por trás de toda oposição maligna à obra de Deus no mundo. Operando através
de agentes humanos, ele procura impedir e destruir tudo o que é justo e santo. Neste
caso, ele estava exercendo autoridade através dos imperadores ímpios que usaram.
O poder de Roma para perseguir e caçar os cristãos da época de João e depois des-
ta.
Satanás é quem promove na verdade toda mentira, toda obra imoral e toda oposição à
justiça. Na situação atual em que nos encontramos, tanto o Cordeiro como o dragão
agem através de agentes humanos exclusivamente. No primeiro século da era cristã,
os anjos vinham à terra, ocorriam possessões demoníacas e batalhas contra os pode-
res sobrenaturais (i.e., milagrosos) eram travadas entre os homens. Deus não está
ressuscitando os mortos hoje e Satanás não está possuindo os indivíduos contra a
vontade deles. Filmes como “O Exorcista,” “O Omem,* e outros, assim como certos
grupos religiosos, influenciam as pessoas fazendo-as crer que devem recear a inva-
são de sua personalidade por parte de Satanás. Mas a coisa é muito mais simples do
que essas teorias nos levam a pensar. A batalha pelas almas humanas está sendo
travada mediante agentes humanos e não através de anjos e demônios na terra. So-
mos agentes de Deus na medida que amamos e praticamos a justiça; o indivíduo é
um instrumento do diabo, na medida em que segue o erro e pratica o pecado.
O mito chamado Nero redivivus dá origem a esta imagem. Nero morreu pelas suas
próprias mãos em 68 A.D., depois do senado romano tê-lo condenado à morte. Como
tinha sido muito odiado pelo povo nos últimos anos de seu governo, houve grande jú-
bilo quando foi anunciada a sua morte. Logo a seguir, porém, começou a circular um
rumor de que ele não estava realmente morto, mas tinha fugido em direção a Partia e
voltaria para lutar contra Roma, a fim de castigar o império por tê-lo rejeitado. No final
do primeiro século a ideia de que Nero continuava vivo desapareceu, sendo substituí-
da pelo temor ainda mais ridículo de que ele voltaria dos mortos para comandar exér-
citos contra Roma.
54
Tanto a presente passagem como Apocalipse 17.11 parecem refletir este mesmo ce-
nário — apesar de haver uma pequena modificação. Não se trata de João, um cristão,
acreditar neste mito gentio, mas de ter usado um mito conhecido e geralmente com-
preendido para comunicar aos cristãos parte da dura realidade de sua situação sob os
sucessores do perverso Nero. “Nero realmente voltará, mas reencarnado num outro
governante perseguidor, um oitavo que faz parte dos sete (xvii. II)” (Caird).
Nero comandou uma terrível perseguição da igreja em Roma e nas suas cercanias,
depois de um grande incêndio na capital no ano 64 A.D. A medida que essas perse-
guições foram revividas e ampliadas sob imperadores subsequentes, “e toda a terra
se maravilhou, seguindo a besta”. Ele parecia invencível. As perseguições imperiais
da igreja terminaram com a morte de Nero, todavia estavam sendo repetidas na última
década do primeiro século. João estava no exílio, Antipas fora martirizado e o pior
ainda estava por vir!
A reação do mundo não-cristão a esta nova perseguição é descrita deste modo: ''E
adoraram o dragão porque deu a sua autoridade à besta: também adoraram a besta,
dizendo: Quem é semelhante à besta? quem pode pelejar contra ela? Foi-lhe dada
uma boca que proferia arrogâncias e blasfêmias, e autoridade para agir quarenta e
dois meses; e abriu a sua boca em blasfêmias contra Deus, para lhe difamar o nome e
difamar o tabernáculo, a saber, os que habitam no céu. Foi-lhe dado também que pe-
lejasse contra os santos e os vencesse. Deu-se lhe ainda autoridade sobre cada tribo,
povo, língua e nação” (13.4-7).
Esta linguagem não seria apropriada para a perseguição limitada dos santos sob o
reino de Nero. Ele confinou-se a Roma e suas vizinhanças. A perseguição encabeça-
da por esta besta rediviva abrange ''cada tribo, povo, língua e nação”.
55
das estátuas de sua pessoa e que os súditos do império manifestassem sua lealdade
a Roma cultuando no seu santuário. Os cristãos não cederam e Domiciano recusou-se
a isentá-los da exigência. Foi esse o início das perseguições.
Muitos cristãos sofreriam às mãos da besta, a alguma iam morrer. À promessa feita a
esses santos perseguidos ora no sentido de que a justiça de Deus triunfaria sobre a
besta e seus aliados. Os que tiverem usado a espada nas perseguições, sofrerão da
mesma forma (i.e., serão mortos pela espada). O povo de Deus confia seu destino a
ele e aguarda e vingança divina de sua causa; isto significa a sua paciência (ou, mais
corretamente, sua “perseverança”) e fé.
Quão fiel cada cristão é ao seu Senhor? Quanto ele suportará por causa daquele que
suportou à morte à favor do todos? Sô em circunstâncias como essas — com uma
besta medonha lançando sua fúria sobre o povo de Deus — O que qualquer um de
nós pode saber. Pedro professou seu desejo de morrer com Cristo em lugar de negá-
lo, todavia sua fé falhou na hora do teste. Os recipientes originais de Apocalipse havi-
am professado sua fé em Jesus. Eles estavam sendo agora advertidos que muitos
teriam de provar essa fé, suportando pacientemente as dificuldades.
Como se o dragão e à besta que emerge do mar não bastassem para lutar contra os
crentes, surge uma segunda besta, completando o trio de atormentadores.
“Vi ainda outra besta emergir da terra, possuía dois chifres, parecendo cordeiro, mas
falava como dragão. Exerce toda a autoridade da primeira besta na sua presença. Faz
com que a terra e os seus habitantes adorem a primeira besta, cuja ferida mortal fora
curada” (13.11-12). Esta segunda besta tem aparência de cordeiro (i.e., apresenta-se
como uma figura religiosa), mas sua voz é de dragão (i.e., fala mentiras e calúnias da-
nosas instigadas por Satanás, cf. Jo 8.44). Sua missão é fazer com que os homens
sobre a terra adorem a besta que já saiu do mar (i.e., o império personificado em seus
imperadores).
56
16.13; 19.20). Da mesma forma que a verdadeira religião deve ter os seus profetas e
defensores, a falsa também os possui.
O texto indica então os meios empregados por esta segunda besta em sua obra de
induzir a humanidade a adorar o imperador. De um lado, havia falsos sinais e prodí-
gios: “Também opera grandes sinais, de maneira que até fogo do céu faz descer à
terra, diante dos homens. Seduz os que habitam sobre a terra por causa dos sinais
que lhe foi dado executar diante da besta” (13.13-14a). Nada há de novidade sobre a
falsificação de milagres com respeito às falsas religiões (cf.2 Ts 2.9). Havia também a
edificação de templos e imagens do imperador: “Dizendo aos que habitam sobre a
terra que façam uma imagem à besta, àquela que ferida à espada, sobreviveu”
(13.14b).
Nenhuma outra passagem de Apocalipse suscitou tanta discussão quanto esta. Qual o
significado do número místico 666?
A sugestão mais comum para a solução deste mistério parece ser o nome “Nero Ce-
sar”. Este nome tem um atrativo especial em relação ao Nero redivivus, cujo mito já foi
mencionado. O nome grego Neron Kaisar quando transliterado para o hebraico, resul-
ta realmente no número 666. Ficamos porém imaginando porque uma carta escrita
aos cristãos gregos da província asiática de Roma iria recorrer a uma identificação tão
cheia de rodeios. Qual a probabilidade dos leitores originais obterem a identificação
correta?
57
número era conhecida dos leitores originais de João, mas perdeu-se na história sub-
sequente. Ele talvez esteja certo.
João diz que 666 é “número de homem” ou, simplesmente, “o número do homem”.
Seis é um número que fica aquém da perfeição (i.e., “sete” na literatura apocalíptica);
elevando-se alguma coisa ao seu terceiro poder (e.g., o “santo, santo, santo” atribuído
a Deus anteriormente neste livro), ela alcança seu apogeu. 666 não é então nada
mais nada menos do que o mal elevado ao máximo — maldade ao enésimo grau! To-
dos os que colocam a sua confiança na humanidade em geral ou em qualquer ser
humano ou poder humano, acham-se em rebeldia contra Deus. Eles confiam na sabe-
doria humana, em sua força e suas obras; os santos de Deus só confiam nele, no seu
poder, sabedoria e obras. Esta a distinção fundamental entre os perdidos e os salvos
em qualquer geração da história do mundo.
Conclusão
58
A cena está agora preparada para a segunda metade do livro do Apocalipse. Sabemos
quem são os heróis: a mulher (i.e.. Israel), o Cordeiro (i.e. Jesus, o filho da mulher), os
outros filhos da mulher (i.e., os santos). Também sabemos quem são os vilões ou bandi-
dos: o dragão (i.e.. Satanás), a besta (i.e., o império romano personificado em seus impe-
radores), e o falso profeta (i.e.. O culto dos sacerdotes que reforçam a adoração ao impe-
rador).
Tão certo como o Senhor conhece o seu povo (i.e., os que levam a marca de Deus na
fronte), ele também conhece os que se entregam ao desafio arrogante da sua vontade
(i.e., os que têm a marca da besta).
Ao travar-se a batalha entre as forças do bem e do mal, não será difícil manter em ordem
o elenco de personagens.
Quando a causa de Deus triunfar, os que receberam a marca da besta irão perecer em
sua rebelião.
O CORDEIRO TRIUNFANTE
Apocalipse 14.1-20
dos; embora tenham de morrer pela sua fé, a vida eterna que
lhes foi concedida como dom gratuito de Deus não lhes será
de palavras.
59
a imaginação e atenção do leitor ficam presas ao seu desenro-
lar.
nossa fé.
60
O Cordeiro e os 144.000
se agora triunfantes.
pois. É bem provável que & intenção do livro seja indicar neste
segurança e confiantes.
61
colocado nos 144.000 no capítulo sete. São esses os que
pertencem a Deus.
à infidelidade espiritual.
62
citadas como adultério (cf. Os 4.12: 2 Co 11.2: Tg 4.4). Os
adoração a Cesar.
onde quer que ele vá, compreendendo que foram remidos por
63
Três Anúncios Feitos Por Anjos
inimigos.
64
pelo triunfo da justiça. Não devemos jamais esquecer que a ira
poderão escapar. o mo
65
certeza da destruição de Roma. “Caiu, caiu a grande Babilô-
co . sem mistura.
a ira de Deus ''sem mistura”. Õ termo grego aqui seria melhor traduzido como
descrita pelo anjo: ''E (quem quer que tenha adorado a besta)
66
dia nem de noite. os adoradores da besta e da sua imagem, e
adorar a besta.
67
favor de Cristo. A expressão “no Senhor" é usada várias vezes
determinada situação”.
permanecem fiêis ao seu Senhor, mesmo que isso signifique a morte! Tais indivíduos
recebem descanso de suas obras, e
A Destruição de Roma
68
cena do Juizo Final, mas do que ocorrerá quando as proclama-
uta a serem la
céu, outro anjo. tendo ele mesmo também uma foice afiada
Saiu ainda do altar outro anjo. aquele que tem a aut ridade
69
e lançou-a no grande lagar da cólera de Deus" (14.17-19).
uvas (vs. 17-20) não são dois juízos separados. Eles são
70
607), ou aproximadamente 296km, numa profundidade que al-
Conclusão
destino das nações assim como dos indivíduos está nas mãos
71
pelos seus lábios; estarão com ele na sua hora de triunfo sobre
ro. há sete selos (Ap 4.1-6. 17). Eles constituiram uma série de
Roma. Esta série não é uma repetição das mensagens das duas
72
primeiras séries de setes. A igreja foi protegida contra a
de Deus” (15.1).
73
João não viu apenas sete anjos preparados para liberar os
74
Esses mártires parecem saber o que os sete anjos têm em
que sabem não pode ser adiado (cf. Ap 10.6), eles o louvam
derramar-se.
75
resplandecente. e cingidos ao peito com cintas de ouro. Então
um dos quatro seres viventes deu aos sete anjos sete taças de
76
são inúteis. Afinal de contas. ele não quer que ninguém
Pe 3.9).
poupada já se perdeu. |
separadamente.
77
À medida que são despejadas, note como se parecem com
78
que os homens na terra estavam simplesmente colhendo o que
também sangue lhes tens dado a beber: são dignos disso '
79
Embora todas essas calamidades das quatro primeiras
la como castigo pelos seus crimes contra o céu. O seu povo não
o seu nome.
Embora as quatro primeiras taças tivessem afetado a terra de maneira geral, a quinta
golpeou o trono da besta e seu reino. “'Derramou o quinto a sua taça sobre o trono da
besta, cujo reino se tornou em trevas, e os homens remordiam as línguas por causa
da dor que sentiam, e blasfemaram o Deus do céu por causa das angústias e das úl-
ceras que sofriam; e não se arrependeram de suas obras” (16.10-11).
O “'trono'' da besta é o centro do seu império em Roma. O fato desse reino ter-se
transformado em '“'trevas”, refere-se simplesmente ao enfraquecimento e diminuição
do domínio de Roma sobre o mundo. Dificuldades desta magnitude poderiam ter leva-
do os humildes a reconhecerem os seus erros e se arrependerem, mas no caso dos
orgulhosos romanos só os levou à aumentar sua pecaminosidade. j
80
Eufratos) como uma terra de perigos terríveis é desconheci-
afastado. e
81
dentro do contexto do conflito do primeiro século entre a igreja
mantanha de Megido).
ali que se deu a derrota de Sisera pelo cega talho tamoso. Foi
82
º estão desafiando o estilo da literatura apocalíptica e perdendo
de Apocalipse.
aquele que vigia e guarda as suas vestes, para não andar nu, e
83
Com efeito, Jesus estava dizendo ao povo de Deus perseguido:
113
é este ponto e não devem ceder e ficar nus nesta hora fin
justamente agora!” | ai
derramou o sétimo anjo a sua taça pelo ar, é SalU grande vo;
vo a Roma. .
84
para dar-lhe o cálice do vinho do furor da sua ira” (16.19b). O
fúria divina.
85
Os godos entraram na Itália, capturaram Roma e devasta-
e famílias podem ser arruinados por ele, mas até mesmo toda
Conclusão
86
O livro de Apocalipse descreve o juízo divino contra Roma
queda de Babilônia.
87
Uma Visão da Grande Meretriz
Um dos sete anjos da ira convidou João para fazer com ele
(17.1-2).
88
espiritual (Na 3.1-4; Is 23.15; Jr 3; cf. Ap 14.8). O seu uso aqui
tria das mais grosseiras (cf. 2 Ts 2.3-4). Esses atos com certeza
ões.
estado romano.
89
escrito um nome, mistério: BABILÔNIA, A GRANDE, A MÃE
por ela, mas vista como uma abominação por João; ela continha à história terrível de
suas perseguições da igreja.
mesma.
Neste ponto da história, o anjo que levou João para ver essa
90
Ap 16.13-14); todavia, seu destino já foi selado, estando
sor Nero.
91
119
Oda).
92
“Depois destas coisas, vi descer do céu outro anjo, que
caído. Todavia, sua queda era tão certa que o anjo falou sobre
93
coisa certa, tanto mais difícil é manter a cabeça erguida e
evento.
94
economia construída sobre a extravagância de Roma os deixa
em ti se ouvirá” (18.21-23a).
95
comercial, os divertimentos e o convívio normal da sociedade
cem a Deus.
96
Deus estivera no controle todo o tempo, mas muitos tinham
humana é novamente manifesto a todos. Ouvimos então: “Aleluia! Pois reina o Senhor
nosso Deus, o Todo-poderoso”
(19.6b).
do Cordeiro” (19.7).
tentar rompê-lo.
triz (cf. Apo 17.4; 18.16). Suas roupas não são ostentosas nem
97
vestir-se de linho finíssimo, resplandecente e puro. Porque o
profecia” (19.10).
o Cristo Triunfante em todo o seu esplendor. Montado num cavalo branco (19.11) e
com diademas sobre a cabeça (19.12),
98
se chama o Verbo de Deus'' (19.13). O sangue em suas vestes
triunfo. |
afiada” sai da sua boca (19. 15a); é ele quem irá pisar “o lagar
99
perseguidores da igreja colherem aquilo que semearam. O dragão, a besta e o falso
profeta reuniram suas forças
das sete taças da ira divina. Não se trata de uma batalha, mas
diante dela, seduziu aqueles que receberam a marca da besta, eram a adoradores da
sua imagem. Os dois foram lançados
100
profeta [i.e., o culto de adoração ao imperador) foram lança-
último.
te” na mão (20.1). Ele segurou o dragão “'e o prendeu por mil
anos significa que ele foi despojado dos terríveis poderes que
todo o período da Era Cristã. Ele jamais terá de novo tal poder
101
mente dito. Irá ele dar início a um poder mundial ao estilo de
à perseguição romana recebem permissão para reinar com o seu Senhor. Este reina-
do é no céu e não na terra (i.e., onde os
santos; ele não está ligado com a segunda vinda, mas com a
versículos.
102
acha-se incluído na linhagem de Jesus de Nazaré (Mt 1.11-12),
contentamento utópicos.
103
aqui reunidos pela última vez. Mas qualquer seja a sua
vez para sempre. Ele é enviado para partilhar do destino da besta e do falso profeta.
“'O diabo, o sedutor deles, foi lançado
(20.10).
Conclusão
A mensagem de esperança, consolo e ânimo aos cristãos do primeiro século que recebe-
ram originalmente este livro é clara. Sejam fiéis ao Cordeiro, pois a vitória lhe pertence.
104
O DESTINO ETERNO DOS REMIDOS
Apocalipse 20.11-22.21
À maior parte do livro de Apocalipse está ligada com os juízos de Deus na história, espe-
cialmente seus juízos sobre a perversa Roma, devido à sua perseguição da igreja. A partir
do capítulo quatro, esses juízos foram descritos em símbolos apocalípticos. A mensagem
do livro estaria completa se O Apocalipse terminasse no capítulo 20, versículo 10. Mas o
Espírito Santo não concluiu o livro com a conquista de Roma e seus aliados. Ele permitiu
que João se projetasse dessa época na história para a consumação de todas as coisas
na volta de Jesus. Em Apocalipse 20.11 avançamos para muito além da época dos juízos
divinos na história até o Juízo final do mundo inteiro.
A cena do Juízo nesse ponto se harmoniza perfeitamente com todos os demais fatos re-
velados sobre esse dia no restante do Novo Testamento. Toda a humanidade se reunirá
diante do grande trono do Senhor e o julgamento será feito segundo as obras feitas na
carne, sendo final e irrevogável a decisão tomada acerca de cada pessoa.
Nesta seção de Apocalipse vemos o drama completo da redenção humana levado ao seu
ato final.
O Juízo Final
A cena diante do grande trono branco inspira reverência. “Vi um grande trono branco e
aquele que nele se assenta, de cuja presença fugiram a terra e o céu, e não se achou
lugar para eles. Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé diante do
trono. Então se abriram livros. Ainda outro livro, o livro da vida, foi aberto. E os mortos
foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros”
(20.11-12).
Através de todo Apocalipse Deus Pai é visto sentado no trono do céu. Deus Filho é porém
apresentado como juiz de todos os homens no último grande dia, em passagens tais co-
mo Atos 17.31. Existe algum conflito ou contradição nas Escrituras, neste ponto? Não há
problema, pois João já esclareceu o assunto na informação dada em seu evangelho, Ele
Citou Jesus como tendo dito: “E o Pai a ninguém julga, mas ao Filho confiou todo o julga-
mento, a fim de que todos honrem o Filho, do modo porque honram o Pai” (Jo 5.22-238).
Os atos do Pai, do Filho e do Espírito Santo são sempre os de um só Deus. Quando a
Bíblia afirma que Deus 6 “um” (cf. Dt 6.4), tais declarações não devem ser compreendidas
em termos do dígito numérico (ie.,"1" na sequência numérica 0,1,2,3, etc.), mas como re-
ferência à unidade divina (Gn 2.24; Jo 17.22; Gl 3.28) que persiste em todas as obras de
Deus.
Depois de chegada esta hora do Juízo Final sobre a humanidade, o céu e a terra são
descritos como fugindo. Isto é melhor explicado quando João acrescenta o comentário de
que “não se achou lugar para eles”, parecendo indicar que o cosmos que conhecemos
105
através de nossos sentidos físicos simplesmente deixou de existir na visão de João: eles
foram destruídos completa e absolutamente. Isto certamente se enquadra com o que sa-
bemos da segunda vinda de Cristo através dos escritos de Pedro. Depois de dizer que a
sua volta iria apanhar muitos desprevenidos e despreparados, ele escreveu: “os céus
passarão com estrepitoso estrondo e os elementos se desfarão abrasados: também a
terra e as obras que nela existem serão atingidas" (2 Pe 3.10b).
A seguir é aberto um outro livro, o qual é identificado para nós, trata-se do “livro da vida”.
É a lista de cidadãos da Nova Jerusalém (cf. Ex 32.32; MI 3.16; Lc 10.20; Fp 4.3; Ap 3.5).
Este livro contém os nomes dos eleitos de Deus, o povo escolhido e chamado. Aqueles
cujos nomes estiverem escritos no livro da vida nada tem a temer por estarem perante o
trono. Aqueles cujos nomes não constarem dele, postam-se diante do trono sem esperan-
ça, pois, “se alguém não foi achado inscrito no livro da vida, esse foi lançado para dentro
do lago do fogo”(20.15).
A ideia de que este juízo será feito ''segundo as suas obras” não deve ser confundida. A
Bíblia ensina que a salvação é pela graça através da fé (Ef 2.8-9). O fato da pessoa não
poder salvar-se pelos seus próprios méritos é ensinado em todo o Velho e Novo Testa-
mentos. João não está se afastando desse tema aqui. Dizer que o juízo será baseado nas
“'obras'' neste contexto significa simplesmente afirmar que todos os feitos da pessoa du-
rante a sua vida na terra serão levados em conta.
Com toda certeza, a obra principal de cada indivíduo inscrita nesses livros de registro de-
verá ser o relato de sua resposta a Cristo e ao seu oferecimento de perdão através do seu
sangue.
Enquanto vivermos na carne no planeta terra, cada um de nós deve tomar uma decisão
com respeito a Cristo. Respondemos com fé ou incredulidade, ou nos submetemos à sua
soberania e vivemos para a sua glória, ou resistimos a ele e continuamos a andar em
nosso caminho errado. Essa resposta é a mais importante nos livros de registro das obras
humanas. Outros fatos, sobre sacrifícios feitos ou serviços rendidos por causa de Cristo,
serão tomados em conta ao determinar a proporção da recompensa de cada um (cf. 1 Co
3.10-15), mas o fato de nossa fé submissa em Jesus é o ponto crucial. Outros fatos sobre
blasfêmias e oposição deliberada a Jesus serão tomados em consideração ao fixar o grau
de castigo da pessoa (cf. Lc 12.47-48), mas o fator determinante que irá separá-la eter-
namente do Senhor é a incredulidade. João testemunhou também o destino da morte e
do inferno nesta cena. “Então a morte e o inferno foram lançados para dentro do lago do
fogo. Esta é a segunda morte, o lago do fogo” (20.14). A morte é o destino comum da
106
humanidade, e o inferno é igualmente o seu destino comum. Depois de ambos terem de-
volvido todos os que neles se encontram, serão simplesmente destruídos, pois já serviram
ao seu propósito e nada mais lhes resta.
É interessante notar, porém, que João não se concentra no lago de fogo e nas coisas e
pessoas lançadas nele. Sua preocupação principal é descrever as glórias dos remidos na
Nova Jerusalém.
A Nova Jerusalém
“Agora que todo mal foi destruído para sempre e todos os agentes do mal lançados no
lago de fogo, que o antigo céu e terra desapareceram, o juízo final encerrou-se, e a morte
e inferno foram destruídos, Deus cria um novo céu e uma nova terra, e faz nascer a Nova
Jerusalém" (Charles).
Quando Pedro previu a destruição dos céus e da terra materiais na passagem citada an-
tes, ele mostrou um novo ambiente futuro para os remidos de Deus, escrevendo: “Nós
porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita
justiça” (2 Pe 3.13). Em sua visão global de todas as coisas relativas ao drama da reden-
ção em Apocalipse, João viu o cumprimento desta promessa divina (21.1).
Sua atenção fixou-se especialmente na cidade santa que parecia ser o foco central do
novo cosmos. ''Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte
de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo” (21.2). A Nova Jerusalém é o
céu preparado para a igreja remida (cf. Hb 12.22). Ela é como “noiva adornada para o seu
esposo”. Ao contrário da medonha meretriz vista antes em Apocalipse, ela manteve-se
pura e incontaminada, achando-se pronta para a sua união permanente com Cristo.
Nesta cidade santa, todas as barreiras entre Deus e seu povo são removidas. “Então ouvi
grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus
habitará com eles. Eles serão povos de Deus e Deus mesmo estará com eles” (21.3). A
vida na terra é um período experimental para as criaturas de Deus. Temos evidências da
existência e presença da divindade nesta vida, mas de todo modo o adoramos à distância
e somos algumas vezes submetidos a terríveis pressões — como aconteceu com os san-
tos sob os romanos — destinadas a afastar-nos dele. No céu, o indivíduo está na presen-
ça imediata de Deus, olha diretamente para ele e o adora sem qualquer interrupção. Nem
tribulações nem tentações podem entrar no céu e fazer cessar esta perfeita comunhão.
De fato, a vida no céu não inclui desajustes ou necessidades insatisfeitas. A morte, o luto,
o choro, a dor, e as “primeiras coisas” (i.e., as coisas como eram conhecidas previamente
na terra) não mais existem ali (21.4-7). Os santos atormentados do primeiro século esta-
vam sendo informados por João que sua situação presente não perduraria. Os cristãos
sofredores de nossa época podem animar-se com base nessa mesma certeza.
107
Os que não fizerem parte da igreja remida na volta de Cristo terão um destino diferente e
horrível à sua espera. Eles " terão de participar da mesma “segunda morte'”' a que o dra-
gão, a besta, e o falso profeta já foram condenados (21.8).
João dá uma descrição bastante detalhada da cidade santa vista por ele. Um dos sete
anjos que vira anteriormente por ocasião da queda de Roma transportou-o ''no Espírito”
até uma alta montanha; desse ponto vantajoso, ele pôde observar a cidade minuciosa-
mente (21.9-10).
A glória de Deus enche o lugar (21.11), e sua absoluta segurança é garantida por uma
“grande e alta muralha” que a cerca (21.128). As doze portas da cidade têm os nomes
das doze tribos de Israel escritas sobre as mesmas (21.12b-13). Isto enfatiza a restrição
colocada quanto à entrada na cidade; ela é a casa de Deus e daqueles que saíram da
terra e foram purificados pelo sangue do Cordeiro (cf. Ap 7). Sobre os doze fundamentos
da cidade santa estão escritos os nomes dos doze apóstolos (21.14). Esta honra é pres-
tada aos Doze por terem proclamado fielmente o evangelho e estabelecido a igreja medi-
ante seus esforços (cf. Ef 2. 19-20).
A glória da Nova Jerusalém é tão grande que todas as outras glórias desvanecem perante
ela e se tornam sem importância quando comparadas à mesma. ''As nações andarão me-
diante a sua luz, e os reis da terra lhe trazem a sua glória. As suas portas nunca jamais
fecharão de dia, porque nela não haverá noite. E lhe trarão a glória e a honra das nações”
(21.24-26).
Em meio a esta descrição do céu, João certamente sento as limitações da linguagem hu-
mana para tal tarefa. Como pôr em palavras as glórias da Nova Jerusalém: Por falta de
um meio melhor para prosseguir, ele simplesmente recorre a alguns termos negativos na
sua descrição. “Nela nunca jamais penetrará coisa alguma contaminada, nem o que prati-
ca abominação e mentira... Nunca mais haverá qualquer maldição” (21.27a; 22.39). As
coisas que foram odiosas à igreja e a prejudicaram na terra, não podem entrar em sua
última habitação para inflingir-lhe mais sofrimentos ou mal algum.
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“Então me mostrou o rio da água da vida, brilhante como cristal, que sai do trono de Deus
e do Cordeiro. No meio da sua praça, de uma e outra margem do rio, está a árvore da
vida, que produz doze frutos, dando o seu fruto de mês em mês, e as folhas da árvore são
para a cura dos povos . (22.1-2). Summers indica que esses versículos identificam as três
coisas básicas necessárias à vida (i.e., água, alimento e saúde) e retratam a capacidade
de Deus para satisfazer essas necessidades de seu povo. “'A água da vida e o fruto pere-
ne da árvore da vida fornecem o alimento e a água; as folhas com seus poderes curativos
fornecem a saúde. Juntos, eles simbolizam o cuidado de Deus pelos que são seus. Como
pode alguém viver para sempre? Eis aqui a resposta, e ela vem do “trono de Deus e do
Cordeiro'' — Deus tem tudo o que é necessário para manter a vida eterna do homem.”
A face de Deus será vista então pelos que estiverem com ele (22.4; cf. Ex 33.20; Jo 1.18),
e os remidos participarão do reino eterno do Deus cujo amor e graça os salvou (22.5).
O Fecho de Apocalipse
“Disse-me ainda: Estas palavras são fiéis e verdadeiras. O Senhor, o Deus dos espíritos
dos profetas, enviou seu anjo para mostrar aos seus servos as coisas que em breve de-
vem acontecer. Eis que venho sem demora. Bem-aventurado aquele que guarda as pala-
vras da profecia deste livro" (22.6-7).
Essas palavras com certeza foram ditas pelo anjo revelador que estivera mostrando a Jo-
ão as várias coisas deste livro (cf. 22.8b,16a). “Estas palavras são fiéis e verdadeiras'' é
uma garantia relativa a todo o livro de Apocalipse. A lembrança de que todas essas coisas
“em breve devem acontecer", é uma advertência contra o tipo de abuso a que o livro foi
tantas vezes submetido. O Apocalipse é abusado por aqueles que tentam encontrar em
suas páginas um modelo para o nosso tempo; trata-se de um documento para os santos
perseguidos do primeiro século sobre o resultado de suas provações. Suas lições e prin-
cípios permanentes abrangem todas as gerações, mas suas profecias específicas sobre a
história humana já foram cumpridas de nossa perspectiva no tempo. A declaração “Eis
que venho sem demora” do verso sete tem a ver com os eventos que estão se desenro-
lando contra Roma (i.e., juízos na história) e não com a vinda pessoal de Jesus no Juízo
final.
João acrescenta a seguir sua confirmação de que o livro foi escrito de próprio punho e
contém visões e revelações que lhe foram dadas pelo Senhor. “Eu, João, sou quem ouviu
e viu estas coisas. e, quando as ouvi e vi, prostrei-me ante os pés do anjo que me mos-
trou essas coisas, para adorá-lo. Então ele me disse: Vê, não faças isso; eu sou conservo
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teu, dos teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras deste livro. Adora a
Deus” (22.8-9).
Encontramos finalmente uma advertência aos leitores de João para atentarem na mensa-
gem de Apocalipse. Falando pelo próprio Jesus, o anjo diz a João que não o sele para as
futuras gerações; as coisas neste livro logo irão acontecer (22.10-13). A humanidade deve
ficar então preparada em vista dos juízos perscrutadores do Senhor que estão prestes a
ter início (22.14).
A fim de dar a máxima ênfase à importância deste livro e à urgência de atender à sua
mensagem, o próprio Jesus fala a fim de confirmar sua veracidade: ''Eu, Jesus, enviei o
meu anjo para vos testificar estas coisas às igrejas. Eu sou a raiz e a geração de Davi, a
brilhante estrela da manhã” (22.16).
Jesus disse a João: “Certamente venho sem demora (a fim de executar os juízos descri-
tos neste livro”, João com certeza pensou nas coisas terríveis que estavam acontecendo
com seus irmãos no continente da Ásia e respondeu, “Amém. Vem, Senhor Jesus” (22.20)
O Senhor respondeu a esta e a outras orações dos santos perseguidos do final do primei-
ro século e derrotou o opressor deles, submetendo-o a uma terrível devastação.
Conclusão
Que alegria a entrega deste livro deve ter produzido no coração dos seus primeiros leito-
res! Eles não podiam prever o resultado de seus esforços, mas o Deus que tem toda a
história seu domínio — tanto o futuro como o passado ou o presente — podia prognosti-
car o seu fim. Ele agora o revelou a eles, permitindo-lhes saber que a vitória do Cordeiro
estava assegurada. O Cordeiro tem realmente inimigos, mas eles não podem vencê-lo,
pois o reino, o poder, e a glória pertencem unicamente a ele.
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