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07/01/2020
Número: 0837195-28.2019.8.14.0301
Classe: AÇÃO CIVIL PÚBLICA
Órgão julgador: 4ª Vara da Fazenda de Belém
Última distribuição : 11/07/2019
Valor da causa: R$ 1.000,00
Assuntos: Hospitais e Outras Unidades de Saúde
Segredo de justiça? SIM
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DO PARA (AUTOR)
MUNICIPIO DE BELEM (RÉU)
PARA MINISTERIO PUBLICO (FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
13052 02/10/2019 11:05 Decisão Decisão
025
PODER JUDICIÁRIO
Processo nº 0837195-28.2019.8.14.0301
Classe: AÇÃO CIVIL PÚBLICA (65)
AUTOR: MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DO PARA
DECISÃO INTERLOCUTÓRIA
Relata o parquet que a Sra. ELIZANIA DOS SANTOS PANTOJA apresenta quadro de anemia
falciforme, tendo realizado tratamento cirúrgico no quadril em vista da grande perda óssea na região devido
ao seu quadro clínico, o que ensejou a necessidade de implante de prótese, sem que houvesse previsão para a
realização da cirurgia no Hospital Maradei.
Assim, afirma que a paciente teve atendimento agendado via TFD para o Estado da Bahia, há
aproximadamente dois anos, porém, até a data do ajuizamento desta demanda, não teria sido convocada para
realizar o procedimento, motivo pelo qual buscou a intervenção do órgão Ministerial.
Assinado eletronicamente por: LUIZ OTAVIO OLIVEIRA MOREIRA - 02/10/2019 11:05:58 Num. 13052025 - Pág. 1
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Alega que expediu ofícios para os órgãos competentes e obteve a resposta da SESMA, que
informou acerca da impossibilidade do atendimento à paciente em razão do esgotamento de locais de
referência no tratamento, dentro e fora do Estado.
Diante disso, ajuíza a presente a ação, sustentando que cabe ao Município de Belém a obrigação
constitucional e legal de fornecer o tratamento ora pleiteado.
Pleiteou ainda a concessão de medida liminar a fim de antecipar os efeitos da tutela almejada.
Juntou documentos.
Este Juízo se reservou para apreciar o pedido de tutela antecipada após a manifestação do réu (ID
nº 11506495).
É o relatório.
DECIDO.
Afirma que a interessada é atendida pelo TFD, mas que até a data do ajuizamento da demanda
não teria sido convocada para a realização do procedimento no Estado do Pará e nem em outro local.
Por sua vez, o Município de Belém informou que não há possibilidade de realização do
tratamento cirúrgico ante a negativa de todos os locais de referência tanto neste Estado como em outro.
Pois bem.
O art. 294, do Novo CPC, dispõe que a tutela provisória pode fundamentar-se em urgência ou
evidência.
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Verifica-se, assim, que a tutela provisória é gênero das tutelas de urgência e evidência, aquela
podendo ser cautelar ou antecipada (parágrafo único).
A tutela de urgência, conforme dispõe o art. 300, do CPC, será concedida quando houver
elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil ao
processo (fumus boni iuris e periculum in mora).
O art. 300, do CPC, desta forma, permite ao juiz, a requerimento da parte, antecipar, total ou
parcialmente, os efeitos da tutela pretendida na inicial, desde que se convença da verossimilhança da
alegação e que haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação em decorrência da demora na
prestação jurisdicional.
No caso sob análise, verifico a presença dos requisitos legais para o deferimento do pleito
antecipatório, visto que as provas nos autos acostadas e o próprio objeto do pedido demonstram a
probabilidade do direito da interessada.
Ademais, em se tratando de direito à saúde, o tempo, certamente, poderá acarretar prejuízos para
a paciente, com o prolongamento do seu sofrimento ou, até mesmo, com o agravamento do quadro, o que
enseja o periculum in mora.
O direito à saúde está inserto no rol dos direitos e garantias fundamentais da Constituição Federal
de 1988, expresso no art. 6º do diploma referido, que trata dos direitos sociais:
Adiante, a Carta Constitucional disciplina a o direito à saúde no art. 196, dispondo o seguinte:
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao
acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação
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Não se pode olvidar ainda que a saúde é indissociável do direito à vida, eis que este direito,
insculpido no art. 5º da Constituição Federal, significa o direito de não ser morto, de permanecer vivo, mas
também refere-se ao direito de ter uma vida digna (LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado.
14 ed. So Paulo: Saraiva, 2010, p. 748).
Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de
Direito e tem como fundamentos:
[ . . . ]
A dignidade é essencialmente um atributo da pessoa humana: pelo simples fato de "ser" humana,
a pessoa merece todo o respeito, independentemente de sua origem, raça, sexo, idade, estado civil ou
condição social e econômica.
É dentro desse contexto que se enquadra o presente caso, visto que a Sra. ELIZANIA DOS
SANTOS PANTOJA, em razão de artroplastia de quadril anteriormente realizada, necessita de revisão de
prótese para o implante de uma de maior durabilidade e melhor qualidade devido ao risco de falha, conforme
laudo médico de ID nº 11498598.
No caso, o Ministério Público junta aos autos documentos suficientes que comprovam a
necessidade do procedimento cirúrgico e o decurso do tempo sem que a interessada tenha sido atendida.
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Contudo, as alegações do requerido não possuem fundamento para afastar a obrigação
constitucional que lhe é imposta.
Neste sentido:
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. DIREITO À
SAÚDE. FORNECIMENTO DE PROCEDIMENTO CIRURGICO. REPOSIÇÃO
DE PRÓTESE DO QUADRIL. DEVER CONSTITUCIONAL.
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DA UNIÃO, DOS ESTADOS E DOS
MUNICÍPIOS. O fornecimento gratuito de medicamentos e demais serviços de saúde
constitui responsabilidade solidária da União, dos Estados e dos Municípios, derivada
do artigo 196 da Constituição Federal c/c o art. 241 da Constituição Estadual.
Precedentes do STF e STJ. Apelação provida. (Apelação Cível Nº 70080793052,
Vigésima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Marco Aurélio
Heinz, Julgado em 03/04/2019).
(TJ-RS - AC: 70080793052 RS, Relator: Marco Aurélio Heinz, Data de Julgamento:
03/04/2019, Vigésima Primeira Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça
do dia 06/05/2019)
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(TJ-MG - AC: 10141160013613002 MG, Relator: Kildare Carvalho, Data de
Julgamento: 07/03/2019, Data de Publicação: 12/03/2019)
Deste modo, de acordo com o conjunto probatório juntado aos autos, resta comprovado que a
cirurgia pleiteada, além de ter sido requerida pelo médico que assiste a interessada junto à rede pública
municipal, é indispensável para a melhora da sua qualidade de vida, devendo o Município de Belém envidar
esforços para possibilitar o procedimento cirúrgico pleiteado via SUS ou rede particular, mormente pelo fato
de que a paciente aguarda o tratamento desde o ano de 2016.
Isto posto, verifico a verossimilhança das alegações da parte autora e o perigo da demora ante o
objeto do pedido.
Não garantir a assistência pleiteada é uma forma de desrespeito à vida da interessada, não sendo
ético e tampouco legal permitir a convivência desta sem o tratamento adequado.
Finalmente, verifico que o autor atribui à causa a importância de R$1.000,00 (mil reais), sem que
demonstre a relação entre o objetivo pecuniário almejado e o valor indicado.
Ocorre que deve ser atribuído à demanda montante consentâneo ao benefício econômico
perseguido, tudo em conformidade com o disposto nos arts. 291 e 292, do CPC, inclusive para fins de
aferição da competência para analisar e julgar o feito diante da existência do Juizado Especial da Fazenda
Pública da Comarca de Belém, criado pela Resolução nº 018/2014-GP.
Em assim sendo, embora já apreciado nesta oportunidade o pedido antecipatório visto a urgência
que a lide requer, deve o requerente adequar o valor da causa ao disposto no Código de Processo Civil,
fixando-o conforme o benefício econômico objetivado.
Ante as razões expostas e de tudo mais o que consta dos autos, DEFIRO O PEDIDO DE
TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA pleiteada pelo Ministério Público, pois presentes os requisitos
autorizadores da medida, para determinar ao requerido que disponibilize o tratamento cirúrgico
prescrito pelo médico que assiste a interessada ELIZANIA DOS SANTOS PANTOJA, na rede pública
ou particular, no prazo de 15 (quinze) dias úteis, nos termos da fundamentação acima.
No mais, intime-se o demandante para que corrija o valor atribuído à causa ou comprove
que este corresponde ao objetivo pecuniário pretendido, no prazo de 15 (quinze) dias, nos termos do
art. 319, inciso V c/c arts. 320 e 321, CPC.
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Servirá a presente decisão, por cópia digitalizada, como MANDADO DE INTIMAÇÃO, nos
termos do Prov. Nº 03/2009 da CJRMB – TJE/PA, com a redação que lhe deu o Prov. Nº 011/2009 daquele
órgão correcional. Cumpra-se na forma e sob as penas da lei.
Intimem-se. Cumpra-se
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