1
Apresentação
2
como expressão da identidade e personalidade da organização e suas manifestações
através de suas crenças, valores, rituais, normas , tabus , estórias, heróis e forma de
comunicação.
3
transformação do trabalho nos últimos tempos tem exigindo do profissional mudança
no seu perfil. A demanda do mercado de trabalho por profissionais com perfil
empreendedor acontece também nas organizações, onde características
empreendedoras são requeridas e valorizadas.
Para você que busca a excelência no que faz, esta disciplina espera que as
novas configurações das organizações sejam assimiladas e principalmente sirvam
para a busca do sucesso em todas as organizações que você faz parte: seu meio
familiar, social e de trabalho. Não esqueça que a saúde mental é a soma da
capacidade para amar mais a capacidade de trabalhar. Amar e produzir. Família,
trabalho e amigos.
As autoras
4
Sumário
Capítulo 1 – ORGANIZAÇÕES
1.1 Conceito de Organizações, 8
1.2 Evolução das Organizações, 9
1.3 Modelo Mecanicista, 11
1.4 Organizações como Organismo, 12
1.5 Modelo Japonês, 13
1.6 Revolução da Tecnologia da Informação, 15
5
4.3 Identificação, 58
4.4 Idealização, 59
6
Capítulo 1 – AS ORGANIZAÇÕES
Neide Pérsico
7
ou asilos. Os contratos de trabalho eram de longo tempo, como forma de fixar os
empregados.
Posteriormente as fábricas passaram a se localizar nos arredores das cidades.
As indústrias se apresentavam como construções gigantes, que expeliam fumaça que
acinzentavam as cidades, seus apitos eram ouvidos por todos e marcavam sua
presença e controle. O ambiente das indústrias, suas condições de trabalho eram
insalubre e inadequados, a ventilação e iluminação era escassa. Os salários baixos, o
que levava os trabalhadores a morarem em porões e amontoarem-se em quartos com
poucas condições sanitárias.
Em decorrência da industrialização, a população cresceu e as cidades
tornaram-se feias e envoltas em uma atmosfera fumacenta.
Grande número de pessoas saíram do campo e migraram para perto das
indústrias, provocando a urbanização.
Os meios de transporte sofreram uma aceleração, surgiram os trens, o
telégrafo , o selo, o telefone, levando a um avanço econômico, social, tecnológico e
industrial.
A Revolução Industrial começou em torno de 1860 e provocou principalmente:
- Aparecimento das fábricas e empresas.
- Substituição do artesão pelo operário especializado.
- Crescimento das cidades e administração pública.
- Surgimento dos sindicatos.
- Início do Marxismo em função da exploração do capital.
- Primeiras experiências sobre administração de empresas.
As principais mudanças na concepção do trabalho foi a substituição da
habilidade do artesão pela máquina, que produz com mais rapidez, maior quantidade e
qualidade, reduzindo tempos de produção e a substituição da força do homem ou do
animal pela força da máquina.
1
Chiavenato, 2000, p.225
8
- A organização é um sistema que interage com o meio.
- A organização tem objetivos definidos.
- A organização é formada por subsistemas interdependentes.
- O ambiente organizacional é dinâmico.
- Por vezes é difícil estabelecer os limites entre a organização e o
ambiente.
Para Etizione, citado por Chiavenato3, as organizações apresentam algumas
características que se apresentam em maior ou menor grau:
- Hierarquia de autoridade.
- Regras, procedimentos, controles e técnicas.
- Divisão do trabalho e especialização no mesmo.
- Objetivos definidos.
2
Chiavenato, 2000
3
Chiavenato, 2000
4
Martins, 1982
9
Burocráticas, modelo adotado pelas organizações para sistematizar e controlar suas
operações e seus funcionários.
Chiavenato5 relaciona as principais características do modelo burocrático:
1. Hierarquia de autoridade – o modelo de estrutura de poder é a pirâmide, onde
os cargos de maior autoridade estão no topo e na base está a mão-de-obra
operacional. A rede de comando é de cima para baixo, isto é, as decisões são
tomadas no topo, enquanto que os demais devem cumprir as ordens, como
dever. Cada parte superior controla as atividades e pessoas que estão baixo
na hierarquia.
2. Existem normas e regras escritas de conduta para os funcionários: a conduta
dos funcionários é regida por normas e regras, o funcionário deve se portar
segundo as mesmas.
3. Existe um contrato de trabalho: todo funcionário tem uma carga horária de
trabalho a ser cumprida e em troca recebe um salário por seu trabalho.
4. Há uma separação entre a vida pessoal e o trabalho na organização. O
funcionário trabalha na fábrica, não importando para a organização a vida
pessoal, o interesse se concentra apenas na vida profissional.
5. Os recursos materiais não pertencem ao funcionário. Os meios de produção
não pertencem aos trabalhadores, não pertencem a eles as ferramentas,
máquinas usadas no trabalho.
Uma mudança significativa no mundo do trabalho ocorreu, até então, o
trabalhador era dono dos seus instrumentos de trabalho. O tempo dedicado ao
trabalho era definido por ele, ele mantinha o controle sobre seu tempo e do seu ritmo
de trabalho. O produto era confeccionado totalmente por ele, o trabalhador concebia e
manufaturava o produto por completo, passando na indústria a produzir parte dos
produtos. Tirou-se o sentido de realização, tornando o trabalho alienado.
Para Weber o modelo burocrático era uma forma racional e legal de exercer a
dominação. Se apresentava como um modelo ideal, no qual os resultados poderiam
ser maximizados, com precisão e disciplina. Podendo ser aplicado a qualquer
organização, a burocracia demonstrava ser superior em relação a outras formas de
organização. A organização burocrática era comparada a uma máquina, a nível de
precisão, habilidade e rendimento.
Para Weber o modelo burocrático era superior e primordial na administração de
uma população cada vez mais crescente.
5
Chiavenato, 2000
10
1.3 Modelo Mecanicista
6
Morgan, 1996
11
estrutura formal, no entanto, é sabido que as relações informais acontecem em todos
os níveis da organização.
Outra crítica ao modelo Mecanicista-burocrático é a dificuldade em atender
com rapidez e agilidade as demandas por mercado por ser um sistema rígido, onde a
norma prevalece sobre o resultado.
Diante de um modelo que dava mostras de não ser tão eficiente o quanto se
propunha, outros olhares foram necessários para compreender as organizações.
12
Dentro da visão orgânica há a aceitação e reconhecimento da existência de
relações informais, isto é, diferente do que prega o modelo burocrático, que previa e
só reconhecia as relações formais, isto é, o previsto nas estruturas de poder e
funcional, onde as pessoas só mantinham relações que estivessem relacionadas ao
trabalho. Toda e qualquer troca de amizade, de parceria, de alianças eram negadas.
A visão orgânica reconhece que os funcionários estabelecem relações
informais, que em horário de intervalo, de almoço, as pessoas se encontram, trocam
informações, diante de situações de insegurança e ansiedade agrupam-se para
sentirem-se mais seguros, existem necessidades sociais, de pertencimento,
necessidades de reconhecimento, segurança.
Os funcionários nas empresas não são robôs, são pessoas com vida que se
revela na dinâmica de cada organização, apesar de tentativas, por parte de alguns
administradores de não aceitar e tentar neutralizar e estabelecer mecanismos de
controle dos aspectos humanos no dia-a-dia das organizações.
Na década de 80, o ocidente voltou sua atenção para o oriente. O Japão atraiu os
olhares das empresas do ocidente por lançarem no mercado produtos com preço
bastante competitivos e com qualidade superior.
As empresas japonesas foram pioneiras em importantes mudanças na gestão
de suas organizações, mudanças essas que levaram o sucesso testemunhado por
todo mundo.
Mesmo tendo vivido uma recessão econômica sofrida em função da II Guerra
Mundial, o Japão conseguiu se posicionar economicamente chegando a apresentar
ameaça para as indústrias do ocidente.
Esse sucesso foi atribuído, principalmente ao modelo de gerenciamento das
indústrias, que diferia em muito do modelo burocrático e do modelo adotado pelo
ocidente.
Principais diferenças
- Enquanto no modelo burocrático o poder estava centralizado no topo, as
decisões eram tomadas por poucos funcionários que ocupavam cargos de maior valor,
e os demais eram executadores, cumpridores de ordens e orientações, no modelo
japonês as bases são consultadas, participando do processo decisório. No modelo
burocrático o poder segue o exemplo de uma pirâmide e o japonês o poder é mais
distribuído.
13
Modelo burocrático Modelo Japonês
Poder centralizado em poucos Poder exercido por
mais pessoas
14
com o modelo mecanicista-burocrático onde a hierarquia autoritária e a visão funcional
e individual é que se destacam.
Nas últimas décadas muitas empresas ocidentais adotaram princípios
japoneses em seu gerenciamento. Técnicas adotadas como trabalhos em grupo,
programas participativos, treinamento em diferentes funções e áreas objetivavam
aumentar o comprometimento do funcionário e buscar resultados propostos pela
empresa.
7
Castel, 1999
8
Mintzberg, 1979
15
Ponto Final
Podemos perceber que nos últimos duzentos anos a sociedade passou por
mudanças sociais, econômicas, estruturais bastante significativas. Essas mudanças
revelam-se na forma de viver, como trabalho. Até a primeira Revolução Industrial o
trabalho acontecia principalmente na agricultura ou em oficinas. Com o surgimento das
indústrias, essa passou a grande consumidora da mão-de-obra e com isso a
necessidade de organizar e coordenar o trabalho das pessoas foi primordial.
O primeiro modelo de gerenciamento foi o Burocrático – Mecanicista. Diante
das restrições do Modelo Burocrático surgiu o movimento de conceber a organização
como sendo dinâmica, possuindo vida e com eles as pessoas que a integravam.
Nos anos 80 a cultura entrou em cena como um aspecto o ser considerado e
valorizado para buscar o comprometimento dos funcionários na busca dos resultados
propostos pela empresa.
Na década de 90 aconteceu a revolução tecnológica, chamada de Revolução
da Informação que trouxe grandes mudanças na estruturação das organizações e
conseqüentemente na forma de trabalhar.
Esses movimentos reverteram em mudanças na forma de trabalhar das
pessoas e consequentemente nas suas vidas como pessoas. No âmbito das
organizações, das máquinas, percebe-se que há muito a ser estudado, a nível de
humano, para que esse humano possa colocar em prática todas suas potencialidades.
Atividade
16
( ) Com a Revolução da Informação surgiram as organizações em rede.
Capítulo 1
1 – Chiavenato, 2000, p. 225
2 – Ibid, 2000
3 – Ibid, 2000
4 – Martins, 1982
5 – Chiavenato, 2000
6 – Morgan, 1996
7 – Castel, 1999
8 – Mintzberger, 1979
Referências Bibliográficas
17
Capítulo 2 – COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL APARENTE E SUBJACENTE
Sonia Beatriz Bagatini
1
Moscovici, 2003
2
Foguel, 1985
3
Morgan, 1996, p. 209
4
Osório, 2003
18
2.1 Comportamento Aparente
5
Moscovici, 2003
19
Foguel6 ao retratar as questões que afloram x que não afloram em uma
organização, descreve que nas relações dos grupos aflora muito mais as conversas
sobre os interesses da empresa, os resultados, virtudes, habilidades, problemas e
oportunidades de mercado. Sendo estes assuntos abertos à conversação porque
englobam as metas, tecnologia, mercado, estrutura, finanças e competência técnica.
Neste sentido esses conteúdos que dizem respeito ao formal e ao concreto da
cultura organizacional são aceitos e ficam no claro, no visível. Adaptada de uma
ilustração apresentada por Stanley Herman citada em Foguel7, apresenta o desenho
de um iceberg, denominado “iceberg organizacional” onde todo o aparente da
organização aqui descrito seria o topo do iceberg, ou seja, que está acima do nível da
água, portanto é o que parece, é aceito. Já o que está imerso ou “escondido” na parte
inferior do iceberg seria o subjacente, ou o não aparente, o escuro, ou a sombra da
organização.
6
Foguel, 1985
7
Ibid, 1985
8
Morgan, 1996
20
familiar e social do sujeito. À medida que amadurece o homem vai sublimando ou
canalizando estes impulsos para que atuem de forma aceita pelo mundo externo.
Freud o pai da psicanálise, citado por Morgan9, “considera ser a essência da
sociedade a repressão do indivíduo e a essência do indivíduo a repressão de si
próprio”. Esta concepção nos remete a busca de sentidos ocultos da cultura
organizacional nas condutas tanto daqueles que foram seus fundadores como aqueles
que a preservam, e pode elucidar ainda mais a metáfora de que o homem é prisioneiro
então de sua história pessoal, e seguidores de Freud e Jung apontados por Morgan10,
que de acordo com esta visão, o passado influencia o presente através do
inconsciente. E a conscientização pelas pessoas desta influência seria a sua
liberdade. Criaram formas de auto conhecimento que levam as pessoas a entenderem
como na relação com o mundo exterior surgem dimensões ocultas internas. Como as
organizações são criadas ou fundadas e mantidas ou preservadas por seres humanos,
é evidente que as estruturas ocultas ou subjacentes das pessoas que constituem
estes grupos através dos relacionamentos interpessoais, influenciam diretamente esta
organização. Portanto podem favorecer melhor entendimento desta organização.
9
Morgan, 1996
10
Ibid, 1996
21
nas organizações da qual faz parte, seja familiar, de trabalho, social ou outras.
Moscovici11 ao tratar sobre a “sombra” das organizações em um enfoque psicanalítico,
refere que “o inconsciente é considerado determinante de muitas ações
aparentemente inexplicáveis por outros enfoques teóricos”
11
Moscovici, 2003
12
Anna Freud, 1968, cap. 3, 4, 5 e 9
22
- Racionalização: Criação de justificativas bem elaboradas, lógicas e coerentes que
não correspondem a idéia ou sentimento real, pois este poderá ser muito doloroso ao
Ego. Exemplo da estória da raposa e as uvas
-Fixação: A pessoa se fixa em um padrão, idéia ou atitude, por temer outras que
poderiam provocar alguma insatisfação ou sentimento negativo.
- Negação: O mecanismo que faz a pessoa negar um fato, uma idéia ou uma situação
que poderá trazer a tona um impulso. Podemos citar as distrações, esquecimentos,
bloqueios de percepção.
- Regressão: Caracteriza um retrocesso a formas anteriores de pensamento ou
desenvolvimento causado por frustrações ou conflitos. Gestores podem recorrer a este
tipo de mecanismo ao se defrontarem com situações de conflito, então surge o desejo
de voltar a formas anteriores de administrar para buscar no passado a situação de
satisfação. A repetição de experiências anteriores, porém podem significar um
fracasso pior do que aquele experimentado em uma situação difícil de mudança, por
exemplo.
- Formação Reativa: É o mecanismo que visa transformar um sentimento ou uma
atitude em formas opostas de manifestação. Podemos citar como exemplo uma
secretária que está com muita raiva de seu gerente, e como não é possível
demonstrar a raiva, ela se dirige com muita delicadeza e educação oferecendo uma
xícara de café, ao invés de expressar seu impulso agressivo.
-Sublimação: A sublimação é um mecanismo muito importante, pois, canaliza
impulsos ameaçadores e não aceitos socialmente em formas aceitáveis. Um bom
exemplo deste mecanismo encontra nas pessoas que possuem impulsos agressivos e
sublimam para atividades esportivas ou para obra de arte.
Foguel13 reforça que a importância da compreensão destes mecanismos
refere-se ao fato de que nas organizações as pessoas não estão atentas para seus
motivos inconscientes. Não percebem que pensam de uma forma e agem de outra, ou
ainda não tem atitudes como desejariam ter. A busca do autoconhecimento é
essencial para compreender estes mecanismos e então transforma-los em força para
uma melhor adaptação e se sentir bem e feliz.
Se as organizações conhecerem os motivos conscientes, mas também os
inconscientes dos fundadores, por exemplo, colabora para estratégia de uma
organização, bem como proporcionar espaços para que as pessoas possam expressar
e canalizar estes instintos, fantasias, sentimentos e desejos é fundamental para que o
esforço individual para não demonstrá-los através da repressão no ambiente
13
Foguel, 1985
23
organizacional, não venha se tornar doentio ou avançar para outras formas negativas
de insatisfação. As tendências nas organizações tem sido, sim, proporcionar
momentos inclusive de brincadeiras e atividades lúdicas em que estas tensões
normais de adaptação a situação externa sejam desmistificadas diminua assim a
ansiedade.
14
Morgan, 1996
15
Moscovici, 2003, p. 32
16
Morgan, 1996
17
Moscovici, 2003
24
Assim como na psique do humano, a sombra organizacional apresenta
conteúdos de forças não conhecidas e podem apresentar potencial positivo para
energia e criatividade para a organização. Estudiosos e pesquisadores são unânimes
em acreditar que a conscientização da sombra individual e coletiva abre caminho para
o auto-conhecimento, reconhecimento de preconceitos e melhora o desenvolvimento
da organização e dos indivíduos que a compõe.
Seguindo o pensamento do inconsciente coletivo, Jung, citado por Morgan18,
estudou uma estrutura que faz a ligação do individuo com o inconsciente coletivo e
denominou de arquétipo. O mais interessante está na constituição dos arquétipos,
pois estes são formados por idéias e formas herdadas de outras culturas e gerações.
Conteúdos inconscientes encontrados em sonhos, mitos e idéias de homens
primitivos, antigos e modernos. Vários arquétipos se fazem presentes nas sociedades
e nas organizações, como o de guerreiro e herói, de rei, mago, príncipe romântico, da
quaternidade (por exemplo, uma diretoria em que “quatro são os grandes”) em que a
magia mística do número quatro que significa equilíbrio, totalidade até a perfeição.
Outro muito presente nas organizações são os da grande mãe e do velho sábio os
mitos da questão das estratégias masculinas e femininas. O mais conhecido é do herói
e jornada heróica. Em todas as épocas e culturas da humanidade o herói é o símbolo
da luta do bem contra o mal, e na suas jornadas. Grandes líderes como Moisés Jesus
Cristo, Buda foram sendo associados a outros líderes, pela condição de liderança em
assumir riscos, desafio, perigos, e oportunidades de mudanças, transmitindo aos seus
seguidores integridade e poder. A herança destes valores através do inconsciente
coletivo faz com que os grupos identifiquem estas características nos papéis de
liderança. Podemos na atualidade identificar a busca por liderança carismática, por
exemplo, como uma revivência do mito do herói e jornada heróica, ou seja, do
inconsciente coletivo.
18
Morgan, 1996
25
Donald Winnicott, psicanalista especializado na infância, citado por Moscovici19,
estudou o papel destes objetos para o desenvolvimento da criança. Eles criam uma
área de ilusão como uma ponte entre o mundo interior e exterior da criança. Entre o eu
e o não eu, portanto mantém na criança um sentido de identidade. Com alguma
modificação neste objeto, a criança sente que sua existência está sendo ameaçada.
Quem já não viu ou foi uma criança que segura uma fralda de tecido para dormir ou
sentir-se confortável e tranqüilo, e não permite que a mesma seja lavada para não
modificar suas características? Pois é tão comum e tão importante para o
desenvolvimento humano.
É importante porque através deste objeto de transição a criança vai formando
sua identidade e a relação com o mundo externo. Posteriormente estes objetos vão
sendo substituídos por outros e assegurando a capacidade de aceitar mudanças. Na
fase adulta este objeto pode estar relacionado a um grupo de trabalho, a uma tarefa, a
uma filosofia e até pessoas da organização da qual faz parte. Mas se por outro lado
houver uma maior fixação por determinado objeto, com incapacidade para renunciá-lo
reflete um adulto com rígido comprometimento com algum aspecto particular e que
não aceita mudanças.
Conforme Moscovici20, ”É bastante difícil abandonar um passado/presente
seguro confortável para enfrentar um presente/futuro incerto que impõe alterações na
própria identidade. A teoria dos objetos transicionais ajuda a compreender os
processos dessa passagem”.
Neste sentido você pode refletir que a teoria do objeto transicional se tornou
uma contribuição para planejamento e implementação de mudanças e
desenvolvimento organizacional. Uma mudança não é apenas uma atividade ou um
negócio racional, e si m também implica em processos inconscientes de medo de
perda da identidade da estabilidade e conforto na relação com o mundo externo.
Sendo assim mais uma vez você pode observar que o inconsciente embora não
apareça esta sempre atuando e influenciando as pessoas e os grupos.
Se um objeto transicional é uma fase intermediária inicialmente da criança se
desprendendo da mãe, deixando primeiro o seio materno pela chupeta, depois pelo
ursinho de pelúcia e depois por outros. Isso quer dizer que a diferenciação do “eu” e
do “não eu” (que é a mãe), é uma mudança que ocorre aos poucos, gradativamente.
E assim deve ser nas mudanças profissionais e organizacionais.
O adulto continua com necessidade de objetos transicionais que são
substituídos por outros nos processos de mudança quer inevitavelmente todos
19
Moscovici, 2003
20
Moscovici, 2003, p. 24
26
vivenciam. O próprio agente de mudança (líder, consultor ou outra pessoa) em uma
organização poderá servir de objeto transicional.
21
Osório, 2003
22
Ibid, 2003, p. 18
27
consentimento e a cumplicidade dos demais membros do grupo”. A fantasia presente
é a de que este líder que está por nascer é a perfeição.
Você deve estar pensando em que implica essas modalidades emocionais para
o funcionamento da organização. É de extrema importância que entenda estes
supostos básicos porque eles interferem diretamente na tarefa no trabalho. E se eles
persistirem por muito tempo pode se tornar parte da cultura organizacional. No caso
da dependência imagine que o grupo espera tudo de seu líder e segue as
determinações, ninguém se manifesta para assumir alguma responsabilidade diante
de uma situação emergencial.
Dependência extrema significa a baixa ou nenhuma existência de autonomia
ou iniciativa por parte das pessoas. Se o líder for um “pai” que luta, protege e provê
atenderá as necessidades e à fantasia inconsciente do grupo. È importante salientar
que as figuras líder e grupo se complementam. O líder que mantém este grupo tem a
necessidade oposta de onipotência, protetor e provedor. Um exemplo claro deste
suposto básico encontramos nos grupos religiosos, e em organizações que a ordem,
disciplina submissão e obediência são o eixo de sua cultura.
Com todos os conteúdos estudados até aqui você deve perceber que este
suposto até pode atender as fantasias inconscientes deste grupo, mas também
sabemos que mesmo filhos mais dóceis se rebelam porque o ser humano evolui e se
evolui dentro de um grupo com esta modalidade emocional, a resposta a mudanças
pode ser de agressividade. Sabemos que há uma ordem direta entre servidão e
explosão, quanto mais submisso o grupo maior é a reação com emoções muito
intensas diante de adversidades ou mudanças. Este grupo dependente ao se desiludir
com figura do líder por não atender todas as suas necessidades, pode passar para a
modalidade de luta e fuga.
Já o suposto básico de luta e fuga inclui defesas mais primitivas em relação a
ansiedade. Nesta modalidade o grupo percebe tudo que lhe favorece como bom e
tudo que não lhe favorece como mau ou inimigo. Como a concentração é no negativo,
só resta atacar ou fugir deste inimigo. Encontram-se emoções muito fortes de raiva,
ódio, medo e suspeição que leva o grupo a ação em um dos dois pólos.
Como o próprio nome já diz a luta se caracteriza por contestações em relação
ao líder, podendo chegar a situações mais radicais de competitividade, confrontos, e
hostilidade. A forte característica então é a paranóia que se estende a outros grupos
pessoas ou departamentos de uma organização.
No outro pólo de fuga, é gerada pelo medo do “inimigo”. O grupo se distancia
isolando-se assim do perigo. Nas organizações muitos grupos com este
funcionamento demonstram através de tarefas detalhadas, controles com
28
funcionamento eficientemente econômico, o desejo de segurança interna e não
exatamente o interesse com a produtividade. Não conseguindo lidar ou enfrentar o
inimigo, então evade, foge se isola. Esta característica de alienação protege o grupo
dos perigos ou das pessoas e do mundo externo perigosos. Você pode pensar que
existem vantagens para este tipo de funcionamento porque é muito comum nas áreas
industriais, comerciais e políticas.
Mas perceba que o grupo vai perdendo contato com a realidade, se torna
inerte, não aberto à renovação. Contrariando, assim, tudo que se sabe sobre a
natureza humana, criatividade e espontaneidade. E, conseqüentemente, pode isolar a
própria organização, o que converge dos princípios de adaptação externa das
organizações para sua sobrevivência e crescimento como você estudará no próximo
capítulo e já conheceu a natureza das organizações no capítulo anterior.
Na última modalidade que é a de acasalamento, pela definição você já deve ter
percebido que a idéia essencial diz respeito a um grupo muito mais positivo porque
tem esperança. Se algo, pessoa ou idéia poderá surgir para salvar o grupo de
determinada situação ou ansiedade o grupo desenvolve muito mais iniciativas. Estas
iniciativas são feitas em pares “como um acasalamento simbólico” sempre encorajado
ou estimulado pelos demais membros do grupo. Aqui a fantasia inconsciente é de que
um novo líder ou idéia vai resolver os problemas causando certo alívio de ansiedade e
proporciona satisfação que é pleno de fé e esperança. As características essenciais
destes grupos são: a criatividade, flexibilidade, liderança democrática, a busca por
inovações e o desafio. A realidade organizacional que mais possui este grupo são as
de pesquisa, de desenvolvimento e de alta tecnologia. A visão é sempre voltada para
o futuro, procuram sempre inovações com estilo colaborativo, correm riscos se
preocupam em melhorar o mundo e são voltados mais para o prazer do que o lucro.
Mesmo com todas estas características positivas, esta modalidade pode levar a riscos
excessivos devido ao super otimismo e idealismo que se tornam perigosos somados a
outra característica que desconsidera a realidade econômica pode levar ao fracasso.
Muitas vezes estes grupos são subgrupos de uma organização ou um departamento,
que não precisam mesmo se preocupar com a questão do lucro, que ficando a cargo
de outro setor. Neste caso os riscos de fracasso são bem menores ou inexistentes.
Para Osório23, estes supostos básicos se entrelaçam e estão sempre presentes
nos grupos de trabalho. Você já deve ter notado que quanto mais forte e atuante as
fantasias inconscientes de cada modalidade mais comprometida negativamente está a
tarefa. O que deve acontecer sempre é o amadurecimento do grupo e assim esta
23
Osório, 2003
29
interferência negativa nas tarefas vão diminuindo, conforme aumenta a maturidade do
grupo.
Rioch, citado por Osório24, afirma que em grupos mais maduros, “o líder do
grupo dependente é apenas confiável; o do grupo de luta-fuga é tão somente corajoso
e o do grupo de acasalamento é simplesmente criativo”. Portanto conhecendo estas
modalidades emocionais é possível proporcionar aos grupos espaços para trabalhá-
las é possível que estes grupos amadureçam e atinjam o nível descrito por Rioch
tornando a organização bem mais próxima de alcançar os resultados e objetivos e seu
crescimento.
24
Ibid, 2003, p. 18
30
Ponto Final
31
relações humanas. Maturidade que e possibilita não perder o foco da racionalidade e
o foco do cerne das relações humanas que é suas necessidades, motivações e
emoções, que se manifestam nos comportamentos no dia a dia.
Atividade
Capítulo 2
1 – Moscovici, 2003
2 – Foguel, 1985
3 – Morgan, 1996, p. 209
4 – Osório, 2003
5 – Moscovici, 2003
6 – Foguel, 1985
7 – Ibid, 1985
8 – Morgan, 1996
9 – Ibid, 1996
10 – Ibid, 1996
32
11 – Moscovici, 2003
12 – Anna Freud, 1968, cap. 3, 4, 5 e 9
13 – Foguel, 1985
14 – Morgan, 1996
15 – Moscovici, 2003, p. 32
16 – Morgan, 1996
17 – Moscovici, 2003
18 – Morgan, 1996
19 – Moscovici, 2003
20 – Moscovici, 2003, p. 24
21 – Osório, 2003
22 – Ibid, 2003, p. 18
23 – Ibid, 2003
24 – Ibid, 2003, p. 18
Referências Bibliográficas
33
Capítulo 3 – CULTURA ORGANIZACIONAL
Neide Pérsico
1
Moscovici, 1995
2
Ibid, 1995
34
Morgan3 aborda a importância do entendimento da cultura para a compreensão
dos eventos e ações da vida de uma organização.
A cultura organizacional é repassada a todos os funcionários, novos e antigos.
É através dela que é divulgado as regras que regem o comportamento da empresa, o
que é valorizado, o que é passível de punição, o que é esperado, qual é o percurso
para se atingir ascensão, o que é permitido e o que não é permitido.
Moscovici4 relaciona que a cultura pode ser percebida, conhecida através da
parte material, isto é, prédios, móveis, organização e distribuição das salas, máquinas,
áreas, etc. Da estrutura psicosocial, isto é, da estrutura de poder definida e praticada,
bem como de relações entre as pessoas, áreas, etc. A terceira dimensão é a
ideológica, isto é, os valores, as crenças e os pressupostos básicos que permeiam as
ações da organização.
Fleury5 cita Schein, que refere que a cultura de uma organização pode ser
desvendada a partir da análise da:
1 – A História da Organização, em que condições e quando foi fundada, as
circunstâncias da época, a personalidade do fundador, fatores sociais e políticos da
época.
2 – Situações críticas, de crise revelam como a organização se porta. É nos momentos
de crise, de sucesso ou fracasso que as crenças, os valores se revelam com nitidez.
3 – Na admissão de novos funcionários, através de programas de integração e
treinamento se dá o primeiro contato formalizado com a cultura da organização,
principalmente com as normas, regras, procedimentos e valores daquela instituição.
4 – As políticas de Recursos Humanos através, isto é, através de políticas de
admissão, demissão, disciplina, política de remuneração, benefícios, promoções,
treinamento e outras mais a empresa revela-se.
5 – A forma como acontece a comunicação na organização é um indicador de sua
cultura. A comunicação pode ser formal ou informal, se dá pelos canais formais ou a
comunicação informal prevalece, é clara ou velada, é objetiva ou passa dupla
mensagem.
6 – A organização do trabalho, como é realizada a gestão, a distribuição do trabalho, o
uso do poder indicam o funcionamento organizacional.
É consenso entre autores que a cultura organizacional apresenta-se não só no
que é comunicado abertamente, mas também, deve ser entendida como sendo fruto
de razões inconscientes. Muitos comportamentos organizacionais são explicados por
3
Morgan, 1996
4
Moscovici, 1995
5
Fleury, 1991
35
motivos inconscientes que se revelam simbolicamente em cerimônias, ritos, crenças,
relações, mitos, estórias, etc.
A idéia de que o sucesso de uma organização está associado a uma cultura
forte invadiu as organizações e os administradores trabalham e criam estratégias para
o fortalecimento da cultura.
Morgan6 refere que a organização como cultura destaca o lado humano da
organização. Na cultura repousa muitos simbolismos e significados que devem ser
interpretados para serem compreendidos e que a cultura dá significado a vida
organizacional. A cultura envolve-se com a comunicação de normas, valores,
linguagem, cerimônias que transmitem valores, crenças, ideologias, cujo principal
objetivo é reforçar padrões de comportamento desejáveis e esperados pela
organização, por isso, uma das propostas principais da cultura é exercer controle
sobre o comportamento das pessoas. Exemplo é percebido quando a empresa define
o tipo de sentimentos que são aceitos e não aceitáveis no trabalho, que tipo de
termos, linguagem é bem vista.
Na cultura organizacional há uma simbologia que pode ser usada para alcançar
objetivos propostos pela organização.
Segundo Morgan7 muitos administradores são convencidos de que uma cultura
forte levará os funcionários a trabalharem com maior comprometimento e mais
contentes, o que tem os levado a usar a cultura como meio de controle para tingirem
seus objetivos.
Importante salientar que a cultura é determinada, principalmente, pelos
dirigentes da organização, podendo ser o fundador ou dirigentes contratados. Forças
contrarias por parte dos funcionários podem ocorrer em forma de resistência e
boicotes.
Autores também concordam que pode existir subculturas, isto é, áreas,
departamentos podem apresentar uma cultura própria, diferente da apresentada pela
organização.
Parte da cultura de uma organização é expressa simbolicamente, através de
rituais, cerimônias, estórias, mitos, seus heróis. Essa expressão se dá com o uso do
imaginário das pessoas. Mas o que é o imaginário? Freitas8 discorrendo sobre o
imaginário refere-se como sendo a imaginação, o espaço mental onde estão
6
Morgan, 1996
7
Ibid, 1996
8
Freitas, 2002
36
representados desejos, fantasias, sonhos. Castorides citado por Freitas9, refere que a
sociedade é repleta de significados, símbolos compartilhados pela sociedade.
O imaginário é o espaço onde existem significados que são compartilhados que
para entender é preciso fazer uso da imaginação, isto é, ver o que não está expresso
objetivamente, enxergar significado, sentido.
As pessoas quando nascem já encontram uma sociedade repleta de
significados e símbolos.
Conforme foi visto no capítulo anterior, Moscovici10 discorre sobre o
inconsciente coletivo de Jung que segundo sua teoria somos herdeiros de um repetido
inconsciente dos nossos antepassados, o que constitui o inconsciente coletivo, que é
comum a grupo de pessoas, comunidade, a humanidade. E existência do inconsciente
coletivo explicaria a perpetuação de algumas crenças, tabus, simbologia.
Na sociedade o racional, o real convive igualmente com o imaginário.
As organizações preenchem hoje um espaço anteriormente ocupado por outras
instituições, ocupando também o espaço de representação do simbólico.
As organizações na busca acirrada por resultados buscam cada vez mais
meios para atingir seus integrantes e captam as mudanças sociais e as necessidades
das pessoas e as usam, reelaboram para atingirem seus objetivos.
Freitas11 refere que Enriquez vê a organização como sistema que é ao mesmo
tempo cultural, simbólico e imaginário. As organizações procuram traduzir uma
realidade como se a vida social fosse aquilo que foi definido pelos seus fundadores ou
aquilo que se passa dentro de seus limites. A organização cria uma vida funcional e
social a qual as pessoas se vinculam e onde buscam significados. A cultura
organizacional faz uso desse imaginário para dar significado e criar significado a vida
cooperativa. A organização fica sem sentido, quando não incorpora na sua dinâmica
valores, crenças, normas, processos de interpretação e socialização, quando não
serve de tela para as necessidades inconsciente dos seus integrantes, onde podem
ser projetados suas fantasias, sonhos, quando não serve de cenário para a vivência e
projeção do imaginário das pessoas.
Segundo Freitas12 um exemplo é a busca pela excelência, pela maior parte das
organizações, onde um valor de conquista passa da organização para o individuo. A
empresa busca a excelência e o individuo torna essa busca pessoal, suprindo e
buscando o sentimento de excelência de ser o melhor. As organizações criam a
9
Ibid, 2002
10
Moscovici, 1995
11
Freitas, 2002
12
Ibid, 2002
37
possibilidade de todos serem heróis, através de programas internos, trabalha-se com o
imaginário, o desejo de ser o melhor, de superação, de atingir o topo e ser campeão.
Podemos pensar que a cultura de uma organização vai além de se restringir as
normas, regras, valores, há uma vida oculta por trás muito maior que a que se
apresenta. Uma vida repleta de simbolismos e significados que a organização coloca e
que encontra respaldo em seus participantes.
3.2.1 Valores
13
Freitas, 2002
14
Ibid, 2002
15
Foguel,
38
Os valores podem ser permanentes ou mudados conforme as necessidades da
organização, o contexto sócio-econômico e político da época.
Como quem define os valores são os dirigentes é de se esperar que nos níveis
mais altos da estrutura hierárquica é onde se encontra uma maior adesão aos
mesmos.
Os valores podem ser compartilhados ou não pelos integrantes da
organização. Valores compartilhados é quando a pessoa concorda com aqueles
valores, os valores em questão fazem parte da lista de valores pessoais, fazendo com
que a pessoa assuma aquele valor como se fosse pessoalmente seu. Ex: a empresa
tem a ética como valor importante e o funcionário também acredita na importância de
se ter um comportamento ético.
Todo valor organizacional que encontra ressonância na lista de valores de seus
integrantes se revelará mais forte para o atingimento dos objetivos organizacionais e
os objetivos pessoais. Por isso pesquisa realizada por Posner, Kouzes e Schmidt
citada por Freitas16 refere que compartilhar valores tem relação com sentimento de
sucesso pessoal, uma vez que a pessoa divide com a organização o sucesso
alcançado.
O compartilhamento dos valores leva também a um maior comprometimento
com a organização, uma vez que o funcionário adota o valor como sendo seu,
resultando em um senso de responsabilidade maior.
Outro ponto é que o compartilhamento de valores leva a um comportamento de
mais autoconfiança. A pessoa sente-se mais segura em defender e atuar, uma vez
que se sente respaldada pela organização.
Conclui-se que os valores de uma organização indicam a seus integrantes o
que é valorizado e o que é desprezado. O que é mais importante para se conseguir
sucesso, ascender na organização, ser reconhecido. O que é considerado, os pontos
mais importantes em tomadas de decisões. Os valores são de extrema importância na
determinação do funcionamento de uma organização e condução dos trabalhos.
16
Freitas, 2002
17
Foguel,
39
certas formas de agir e pensar pode levar ao estabelecimento de uma crença, a qual
primeiramente é consciente e posteriormente é introjetada e passa a atuar de forma
inconsciente. Foguel18 refere que as crenças compõem o mundo oculto da
organização.
As crenças dividem com os valores o centro da cultura de uma organização,
são a base de todo comportamento, jeito de ser e personalidade da organização, no
entanto, não é divulgada abertamente a seus integrantes, uma vez que não se
apresenta de forma clara e objetiva, é revelada em ações, posturas e visões.
As crenças estão principalmente relacionadas a como a organização percebe
seus funcionários, clientes, produto , mercado.
18
Ibid,
19
Freitas, 2002, cap. 2
40
5 - Universalismo/Particularismo: as regras, as normas, os valores são aplicados a
todos independente da posição, cargo ou é feito distinção, há dois pesos e duas
medidas. As pessoas são tratadas igualmente ou é feito distinção?
Freitas20 cita Deal e Kennedy que referem que os ritos, rituais e cerimônias são
usados para transmitir aos seus integrantes: o comportamento esperado dos
funcionários, o que é valorizado, são reforçados os comportamentos positivos e
passíveis de premiação e reconhecimento. Esse tipo de pratica assume força, por
normalmente ocorrer em público, frente a grupos maiores, onde o reconhecimento é
realizado publicamente.
Os rituais e cerimônias apresentam uma pratica criativa, lúdica da cultura.
Ocorre uma dramatização, encenação, onde são dramatizados os valores, crenças, as
regras do jogo para manter o equilíbrio e estabilidade reduzindo inseguranças e
20
Freitas, 2002
41
assinalando os caminhos e meios para conseguir a aceitação e sucesso na
organização.
Nos rituais e cerimônias há a expressão objetiva ou implícita dos principais
valores e crenças da organização.
Entre os rituais mais comuns praticados estão os rituais de reforço, onde o
objetivo principal é reforçar comportamentos, desempenhos, resultados atingidos,
reconhecendo publicamente. Exemplo é a escolha do funcionário do ano, onde é
reforçado o cumprimento das normas, comportamento disciplinado, comprometimento
com o trabalho, além do desempenho.
Os rituais de integração é bem comum de acontecerem nas organizações, o
objetivo principal é criar a integração, sentimento de pertencimento e
comprometimento com a organização. Exemplo são as festas de natal, de final de ano,
onde a confraternização se faz presente, os sentimentos de solidariedade são
salientados, ocorre a liberação das emoções.
Saídas no final do expediente para tomar um chop, jantares, churrascos podem
ser usados para minimizar conflitos, situações de tensão entre participantes da equipe
ou entre áreas. Os chamados rituais de redução de conflitos, normalmente acontecem
quando o clima encontra-se tenso podendo comprometer o trabalho.
42
Segundo Freitas21 as estórias são:
- São reais, baseadas em fatos acontecidos
- É de conhecimento de todos, isto é, é divulgada, contada
- As pessoas acreditam nas estórias
As estórias desempenham um papel importante na divulgação da cultura uma
vez que são de fácil propagação, as pessoas se interessam por estórias uma vez que
envolvem a experiência, a vivência de outras pessoas, servindo como exemplo e
possuem poder de persuasão maior.
3.2.5 Tabus
3.2.6 Heróis
Os heróis são pessoas que foram representativas por seus feitos ou por
representarem fortemente a organização. Possuem uma influência forte na vida da
instituição. Podem ser representados na pessoa do fundador ou um profissional
associado ao sucesso da empresa ou que a tirou de alguma crise, situação séria. Os
heróis personificam a organização, seus valores e crenças. Servem de modelo a ser
seguido, copiado, por representarem força, sucesso, determinação, luta e coragem.
21
Freitas, 2002, cap. 2
22
Foguel,
43
Freitas23 refere que os heróis são pessoas visionárias, com perfil
empreendedor, intuitivas. Existem heróis natos e criados. Os heróis natos são pessoas
reais que tiveram os méritos anteriormente relacionados, já os criados trabalham com
o imaginário das pessoas. A organização cria heróis para atender o imaginário de ser
herói. A cultura organizacional é um campo do imaginário , através da figura do herói a
pessoa busca retomar seu sentimento de força e onipotência, para tanto,a
organização cria programas como metas e desafios, que ao serem alcançados a
pessoa assume a cena, a posição de vencedor, herói. Os heróis criados são
temporários, tem tempo marcado, pois outro virá e assumirá a posição.
Segundo Freitas24 as organizações trabalham com os heróis criados, para:
-Tornarem o sucesso atingível e humano.
-Servirem de modelo.
-Simbolizarem a organização no mundo exterior.
-Motivarem as pessoas para o sucesso.
Enquanto os heróis criados são temporários , os natos se mantem por muito
tempo na memória da organização, se não por toda sua vida.
3.2.7 Normas
3.2.8 Comunicação
23
Freitas, 2002
24
Freitas, 2002
44
uma organização, já que faz parte de sua existência a interelação entre os processos
que a compõe.
As pessoas constantemente estão se comunicando, essa comunicação pode se dar
via oral, através de escrita, documentos, através de gestos, comportamentos, através
de transações simbólicas, isto é nem sempre a comunicação se dá diretamente e de
forma objetiva. Na cultura de uma organização podemos identificar essa linguagem
através de simbologias nas estórias, heróis, mitos, nos rituais, cerimônias.
Freitas25 “As culturas são criadas, sustentadas, transmitidas e mudadas através
da interação social - modelagem, imitação, correção, negociação, contar estórias e
fofocas, remediações, confrontações e observações (atividades baseadas na troca de
mensagens e na definição de significados). As organizações, pois são vistas como
fenômeno de comunicação, sem o qual inexistiriam”.
A comunicação acontece em dois níveis: o nível tático, que se refere a forma,
os meios e o nível temático que se refere ao conteúdo, ao tema da comunicação.
Deal e Kennedy citado por Freitas26 refere que a comunicação se dá em forma
de rede, onde as pessoas assumem papéis diferenciados, conforme suas posições,
suas características e personalidade, experiência e vivências.
- Confidentes: são pessoas que não possuem poder formal, mas possuem poder
informal, são capazes de uma percepção aguçada dos fatos, são bem informados.
- Fofoqueiro: são pessoas que sempre atentos aos acontecimentos sabem detalhes
dos fatos e os repassam sem censura, muitas vezes não usados, normalmente não
estão em cargos de destaque.
- Espiões: são pessoas que transitam, tem acesso a pessoas de diferentes níveis
levando informações para uso de interesse da organização.
25
Ibid, 2002, p. 34
26
Freitas, 2002
45
- Conspiradores: é a união de duas ou mais pessoas que estabelecem aliança para
arquitetarem em prol de interesses próprios.
46
Ponto Final
Atividade
Capítulo 3
1 – Moscovici, 1995.
2 – Ibid, 1995.
3 – Morgan, 1996.
4 – Moscovici, 1995
5 – Fleury, 1996.
6 – Morgan, 1996.
7 – Ibid, 1996.
8 – Freitas, 2002
9 – Ibid, 2002
10 – Moscovici, 1995.
11 – Freitas, 2002
12 – Ibid, 2002
47
13 – Ibid, 2002
14 – Ibid, 2002
15 – Foguel.
16 – Freitas, 2002
17 - Foguel
18 – Ibid,
19 – Freitas, 2002, cap. 2
20 – Freitas, 2002
21 – Ibid, 2002, cap. 2
22 – Foguel,
23 – Freitas, 2002
24 – Ibid, 2002
25 – Ibid, 2002, p. 34
26 – Ibid, 2002
Referências Bibliográficas
FLEURY, Maria Tereza Leme. Cultura e poder nas organizações. 2 ed. São Paulo:
Atlas, 1996.
Foguel,
FREITAS, Maria Ester de. Cultura Organizacional: identidade, sedução e carisma?
. 3. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2002.
MORGAN, Gareth. Imagens da Organização. São Paulo: Atlas, 1996.
MOSCOVICI, Fela. Renascença organizacional: a revalorização do homem frente
a tecnologia para o sucesso da nova empresa. 5. ed. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1995.
48
Capítulo 4 – COMPORTAMENTO E PROCESSOS INCONSCIENTES
Neide Pérsico
1
Morgan, 1996
49
desconhecidos pela pessoa. O grande feito de Freud foi essa descoberta e verificar a
influência do inconsciente no comportamento das pessoas, na maneira como vivem,
sentem, e nos vínculos que estabelecem. Aqui nos deteremos no vínculo com as
organizações de trabalho, vínculo que muitas vezes transcende a relação funcional,
uma troca de trabalho por uma remuneração.
A organização como cenário para a vivência de processos inconscientes
Primeiramente, vamos abordar as conseqüências do surgimento das
organizações, como ambientes de trabalho, na vida psíquica das pessoas.
No primeiro capítulo referimos que até a Revolução Industrial, o trabalho
basicamente acontecia na agricultura e nas oficinas onde os trabalhadores eram
donos, senhores do seu trabalho. O trabalhador não tinha um horário definido, não
havia regras que determinavam seu comportamento, ele tinha a liberdade, conforme
sua necessidade de trabalho, era seu próprio senhor.
Com o surgimento das fábricas o trabalho sofreu grandes mudanças, bem
como a sociedade como um todo. O homem foi obrigado a deixar suas oficinas e
agricultura para trabalhar nas indústrias e lá se submeteu ao cumprimento de horários,
a exigência de produção, a regras, a uma rotinização ainda não experimentada.
Segundo Freud2 o homem, a sociedade criou regulamentos para ordenar seus
integrantes, privando-os de sua liberdade pulsional, a qual teve que ser renunciada em
prol da convivência em sociedade. As organizações fazem essa função, controlam o
comportamento de seus integrantes, padronizam em função de objetivos de
organização, e para ser aceito o homem se submete. O homem buscando adaptação
e segurança segue o princípio da realidade, se submetendo a função de trabalhador
automático. O modelo burocrático reprime psiquicamente, culturalmente e
inconscientemente as pessoas.
Morgan3 escreve que as organizações são fenômenos psíquicos, no sentido de
que são processos conscientes e inconscientes que as criam e as mantém como tais,
com a noção de que as pessoas podem, na verdade, tornar-se confinadas ou
prisioneiras de imagens, idéias, pensamentos e ações que esses processos acabam
por gerar.
O autor coloca a idéia que as pessoas no seu dia-a-dia são iludidas por idéias
e pensamentos provenientes de percepções limitadas que cada um de tem da
realidade.
Essa percepção distorcida da realidade pode ser superada, amenizada pelo
esforço do auto-conhecimento, ampliando a percepção para além do objetivo, do
2
Freud, 1974
3
Morgan, 1996, p. 205
50
aparente. Algumas pessoas empenhadas nesse caminho conseguem ter uma visão
mais clara das situações e fatos, outras por resistência e incrédulas de existência de
processos inconscientes ficam limitadas na percepção objetiva. Os seres humanos
percebem a realidade conforme suas vivências e vivem suas vidas conforme suas
histórias.
As experiências, o tipo de vínculos estabelecidos, as inseguranças, os medos,
crenças é que irão determinar como as pessoas vão se posicionar no mundo.
A personalidade é formada à medida que a pessoa aprende a lidar com seus
impulsos internos, seus desejos e os conflitos oriundos desses conflitos. No
desenvolvimento da personalidade esses impulsos e desejos que não estão de acordo
com a consciência moral, ou ao que é esperado, vão sendo reprimidos e mantidos sob
controle. Assim vai formando-se o inconsciente, que se torna um reservatório de
repressão. Com o passar do tempo esses conteúdos guardados no inconsciente se
manifestam em traços de personalidade e a pessoa aprende a se proteger e controlar
os conflitos internos, suas necessidades e sentimentos de culpa.
O modelo mecanicista-buracrático é um exemplo de organização que reserva
um significado oculto para seu excessivo zelo pela regulamentação, planejamento,
controle e rotinização das suas atividades, bem como obediência e disciplina.
Essas características são pertinentes a personalidade obsessiva compulsiva.
As pessoas com personalidade obsessiva-compulsiva buscam a segurança, através
do controle, ter conhecimento de tudo que o cerca, são pessoas rígidas quanto ao
cumprimento de suas responsabilidades e buscam fazê-lo sempre da melhor forma,
tendo dificuldade em aceitar erros, falhas consigo mesmo e com os outros. Preza pela
organização e repetição dos modos de realizar suas atividades.
As pessoas com esse tipo de perfil sentem-se confortáveis em trabalhar em
empresas burocráticas, uma vez que suas características pessoais encontram apoio
no sistema. A repetição e controle exercido pela organização atende a uma
necessidade interna de controlar o seu comportamento e das outras pessoas para se
sentir seguro.
Analisando a forma de organização burocrática, a regulamentação excessiva, o
controle sobre o comportamento das pessoas, o planejamento e a programação rígida
do trabalho, bem como, a valorização do cumprimento de regras, de obediência, da
produtividade, do dever e de disciplina , essas características ocultam um
funcionamento obsessivo-compulsivo de ser.
51
Morgan4 cita a história de Taylor, considerado o pai da Administração
Científica, conhecido por seus trabalhos relacionados à organização e especialização
dos trabalhos, esse estudioso revelava uma personalidade com características fortes
obsessiva- compulsivas, com uma forte necessidade de controlar e dominar sua vida.
Sua vida toda era regida por horários rigidamente controlados, tanto no campo
profissional como pessoal.
Morgan5 relata que mesmo suas caminhadas eram cuidadosamente
planejadas, seus movimentos, o tempo era cronometrado. Taylor já manifestava esses
traços desde criança, onde a disciplina, o controle das emoções, a meticulosidade, a
perfeição nos seus trabalhos, estavam sempre presentes. Taylor pertencia a uma
família de posses e apresentava comportamento puritano, mesmo na adolescência e
após na vida adulta continuou apresentando tais características. Taylor encontrou na
organização burocrática um campo para atuar toda sua ansiedade em organizar,
disciplinar, controlar de forma rigorosa o ambiente. Na verdade o que desejava
inconscientemente era por ordem e controlar seu mundo interno, sua vida interna.
Organizar o ambiente externo, disciplinar e controlar o ambiente, o
comportamento das outras pessoas seria um meio de controlar suas emoções
internas, as quais viviam em constante conflito.
Não foi Taylor quem idealizou o modelo mecanicista, mas sim, ele encontrou
na organização um interesse por controles rígidos, disciplina que foram reforçadas
com suas teorias.
A manifestação do inconsciente não se dá somente no exemplo de
organização burocrática. Há também os labomaniacos, pessoas com mania de
trabalho. Pessoas que canalizam para o trabalho toda sua energia reprimida, há uma
sublimação dos impulsos, convertidos em uma atividade socialmente valorizada.
Ocorre uma desenfreada canalização para o trabalho com longas jornadas de
trabalho, deixando a vida pessoal, familiar em segundo plano, é como uma compulsão
ao trabalho. Esse tipo de comportamento pode estar encobrindo problemas
emocionais, ocorre como que uma fuga das dificuldades internas. Problemas de
vínculo, ansiedades, problemas de auto-estima podem estar sendo encobertos.
Muitas organizações dependem e estimulam esse tipo de comportamento, uma
vez que, a principio, quanto maior o envolvimento do funcionário com o trabalho, mais
este contribuirá com o resultado.
Há empresas que se caracterizam por um comportamento expresso através de
sua cultura, fálico-narcisista, isto é, que estimulam comportamentos auto-confiantes e
4
Morgan, 1996
5
Morgan, 1996
52
exibicionistas, onde o fato de serem admiradas, reconhecidas como melhores trás
uma satisfação exagerada. Aqui também pessoas com características fálico-
narcisistas, que necessitam da admiração dos outros, desejam ser centro das
atenções, com comportamentos individualistas conseguem satisfazer essas
necessidades internas pessoais.
Os valores culturais que servem para integrar o grupo podem ter sua origem
em motivos inconscientes, ocultos à consciência do grupo. Por exemplo, empresas
que exageradamente reforçam os laços entre a equipe de trabalho, podem estar
ocultando a presença de fantasias de desintegração do grupo, bem como a
necessidade de idealização e promoção de conquistas de forma exagerada, como se
o grupo fosse o melhor, sem falhas, é a equipe ideal, enquanto todas as falhas, e
sentimentos como ineficiência, inveja, são projetadas em outras pessoas, não
pertencentes a equipe. Ocorre a idealização da equipe, como forma de proteção, e a
desvalorização dos outros que servem de depositários de seus pontos negativos e
sentimentos considerados maus pelo grupo.
Outras empresas se caracterizam por reforçar a competição, a luta entre seus
componentes gerando comportamentos competitivos, inveja, entre os próprios
membros, ao invés de projetarem em membros de outros grupos. Esse tipo de
funcionamento leva ao boicote do sucesso de colegas, minando as relações. A
presença da ansiedade persecutória, isto é, de estar sendo boicotado, a falta de
confiança acaba inibindo o desempenho e o estabelecimento de relações de confiança
na organização.
Morgan6 usa a metáfora de prisões psíquicas para representar esses
comportamentos entre organização e os indivíduos, que levam ao aprisionamento de
padrões de pensamentos e crenças estabelecidas no inconsciente das pessoas. O
autor refere-se a esses processos como armadilhas, referindo que as pessoas são
prisioneiras das armadilhas do próprio inconsciente.
As organizações em geral principalmente, as indústrias seguem um modelo
patriarcal, onde prevalecem valores masculinos, como a racionalidade, a disciplina, o
comando, a autoridade, características que reprimem o lado feminino, como a
criatividade, o apoio, a intuição. Em organizações mais formais ocorre uma reprodução
da relação pai e filho na relação chefe-subordinado, onde as ordens são aceitas em
clima de obediência.
As organizações pela sua estruturação remetem a estrutura familiar, podendo
aquela ser uma extensão dessa.
6
Morgan, 1996
53
Morgan7 sobre a abordagem patriarcal “em contraste com valores matriarcais,
que enfatizam amor incondicional, otimismo, confiança, compaixão e uma capacidade
de intuição, criatividade e felicidade, a estrutura psíquica de família dominada por
homens tende a criar um sentimento de impotência, acompanhado por um medo e
dependência da autoridade”.
A liderança dentro das organizações também pode refletir aspectos
inconscientes, alguns se relacionam de forma distante, fria com seus subordinados ou
colegas por não suportarem a competição e rivalidade, por despertarem sentimentos
de inveja e raiva inconscientemente sentidos.
Max Weber, citado por Morgan8, estudando as organizações burocráticas
concluiu que quanto mais eficiente o modelo burocrático, quanto mais se instala mais
consegue reprimir os aspectos humanos.
O que não se deve deixar de comentar que esses aspectos não são suprimidos
pacificamente, essas forças lutam por revelar-se e ressurgir do inconsciente reprimido,
o que esta suprimido da consciência luta por ressurgir e tomar seu espaço. Muitos
desses aspectos ressurgem em forma de stress, mentiras, fraudes, depressão,
doenças ligadas ao trabalho.
As organizações são sistemas onde coexistem os aspectos da cultura, do
simbólico e do imaginário. O aspecto cultural refere a cultura organizacional que toda
organização apresenta, simbólico refere-se aos mitos, rituais, símbolos que fazem
parte do comportamento organizacional. O imaginário onde o cultural e o simbólico se
realizam, sem ele a cultura e o simbólico não seriam possíveis. Refere que as
empresas podem fazer uso do imaginário de duas formas: usam o imaginário
reforçando as armadilhas psíquicas e prendendo as pessoas a aspectos que a
impedem de sentir-se mais livre.
Essas armadilhas podem estar relacionadas a desejos narcisistas de
onipotência, carência de amor, de segurança onde a organização atende a essas
necessidades.
Por outro lado temos organizações que se fazem uso do imaginário em prol da
criatividade e não há o reforço ao aprisionamento das armadilhas psíquicas.
Freud9 coloca três ameaças principais de sofrimento para a pessoa: a primeira
é a dirigida ao corpo físico; a segunda é a proveniente do mundo externo através da
ameaça de destruição e a terceira em função das relações estabelecidas durante
nossa vida. O autor coloca a terceira como maior fonte de sofrimento e dor. Enfatiza
7
Ibid, 1996, p. 218
8
Morgan, 1996
9
Freud, 1974
54
que a perda de relacionamentos estabelecidos ao longo da vida, desde a infância até
a vida adulta, é a maior fonte de dor para o sujeito.
Conforme Freud a relação da empresa com o trabalhador, é de dor, uma vez
que para adaptar-se, o sujeito deve renunciar, reprimir impulsos não aceitos, não
permitidos nesses ambientes.
Há uma submissão por necessidade materiais ou necessidades psíquicas
inconscientes.
Grandes empresas fazem uso de uma cultura forte, com rituais, mitos, crenças,
valores fortemente utilizados como forma de retirar ,minimizar angustias, ansiedades
individuais e transformá-las em sentimentos coletivos, como alivio ao sofrimento
emocional.
Dejours10 referindo-se à despersonalização que muitas organizações forçam
seus funcionários a se submeterem acaba gerando uma despersonalização da pessoa
também fora do trabalho, mesmo em casa a pessoa repete comportamentos
estereotipados adquiridos nos ambientes de trabalho, exemplo é o ritmo acelerado
com que se realizam algumas atividades fora do trabalho, reproduzindo o ritmo
imposto no trabalho.
Toda pessoa tem defesas a nível psíquico, quando essas falham, não
conseguindo mais manter a integridade mental da pessoa, cria-se um campo fértil para
o estabelecimento de psicopatologias.
No desenvolvimento da personalidade, a pessoa cria uma imagem ideal de
como gostaríamos de ser, imagem essa criada a partir das expectativas e dos
modelos dos pais ou pessoas importantes na vida da criança. Na tentativa de ganhar o
amor e reconhecimento, algumas pessoas, ficam presas a essa imagem e procuram
perseverantemente atingir esse ideal, esse ideal chama-se de ideal de ego. O que
explica o comportamento de muitas pessoas pela luta do reconhecimento nas
organizações, não só pelos méritos materiais, status, mas pela busca do
reconhecimento interno. Por outro lado as empresas trabalham, estimulando essa
busca pelo ideal de ego, e o sujeito seduzido pela imagem do espetacular, do sonho
de retornar o sonho de onipotência e grandeza vividas na infância aderem a essa
busca. Não há patologia no estabelecimento de um ideal de ego, esse faz parte do
desenvolvimento da personalidade, no entanto ele pode aprisionar a pessoa na busca
desse ideal como sendo a única forma de receber reconhecimento e ser amado.
As organizações se mostram um cenário onde muitos desejos e necessidades
pessoais podem ser satisfeitas. Exemplo é do narcisismo individual, que encontrará a
10
Dejours, 1987
55
oportunidade para manifestar-se e realizar a ilusão de ser uma pessoa forte, ideal,
cheia de atributos a serem reconhecidos e admirados. Por outro lado essa busca do
ideal pessoal, no ideal organizacional, proposto pela empresa, essa realização pode
levar o sujeito a uma dependência e acabar confundindo o seu eu com a identidade da
organização.
O cenário profissional, o status, o prestigio oriundos de atuação profissional,
pode tornar-se a fonte que dá sentido, o único meio para sucesso e realização
pessoal.
Freitas11 escreve sobre essa possibilidade: “As organizações modernas
acenam com a possibilidade de todos serem heróis, desde que assumam sua
“natureza” esportiva de ganhador. O heroísmo é socialmente transmissível, a ação,
supervalorizada; e a rapidez, o tempo em que tudo deve ser dar. O narciso que existe
em cada um é chamado a se manifestar, não de vez em quando, como é normal, mas
permanentemente”.
As pessoas são chamadas a serem as melhores, ao nível de excelência de
superar a si mesmo e aos demais, no entanto, não há lugar para todos, é estimulada
uma competição perversa, onde superar é o que importa, não importando os meios, o
chegar ao topo é mais importante, tanto para o indivíduo, como para a organização, o
que a princípio, mostra-se como uma forma de buscar resultados, revela-se
posteriormente como uma perversidade que compromete a própria empresa.
Nos tempos atuais as grandes empresas tendem a criar o modelo de
comunidade ou de família. O que liga as pessoas não é mais apenas o profissional,
mas um meio de viver relações. Relações, em outras épocas vividas na comunidade,
através da igreja, da escola, das atividades do bairro, da família, hoje supridas pelas
empresas, em atividades, encontros, laços que se estendem para a família do
funcionário. Muitas empresas reforçam o sentimento de serem uma família
Giddens12 faz referência que: “A modernidade pode-se dizer, rouba o
referencial, protetor de pequena comunidade e de tradição, substituindo-as por
organizações muito maiores e impessoais”.
O indivíduo encontra-se privado de referenciais que servem de apoio
psicológico e que lhe dão segurança e vazio é ocupado pelas organizações.
Freitas13 relaciona três processos inconscientes, que comumente ocorrem nas
organizações por sua estrutura, características e funcionamento, que servem de
11
Freitas, 2002, p. 63
12
Giddens, 2002, p.38
13
Freitas, 2002
56
cenário para a vivência e revivências de processos psíquicos inerentes a dinâmica
humana.
4.2 Transferência
14
Freitas, 2002
57
em que a atenção dos pais é substituída pela dos chefes, dos pares ou da
organização...”.
O processo de transferência na organização pode se dar de forma espontânea
como também ser induzido. São reforçadas as relações de obediência e lealdade,
como também demonstrações idealizadas, narcisistas, agressivas com o foco dirigido
para a produtividade.
No processo de transferência induzido pela organização e manifestação se dá
nas relações, nos afetos, sentimentos, qualidades, atitudes e comportamento dirigidos
aos objetivos organizacionais.
O erro, o medo de não ser tão bom, assume um valor muito maior na
organização, já que é testemunhado por todos, o testemunho do grupo diante de um
erro e o não reconhecimento acentua o valor do mesmo e o medo da vergonha.
Segundo Freitas15 vivemos numa sociedade de vergonha, não onde a vergonha atinge
o sujeito não na sua intimidade, mas porque é testemunhada por outras pessoas
4.3 Identificação
15
Freitas, 2002, p. 89
58
Muitas empresas, na vida moderna, se apresentam como único lugar de valor,
e provedor de todas as necessidades, se colocando em posição de destaque servindo
de modelo para identificação e idealização.
Diante de indivíduos com fragilidades a nível de identidade, enfraquecimento
dos vínculos sociais e familiares, carências afetivas, insegurança quanto a condução
da própria vida, ausência de modelos de referência e apoio, a organização se
apresenta como referência de força e sucesso. É neste sentido que a pessoa
identifica-se com o ideal organizacional e abraça seus objetivos como se fossem seus.
Essa identificação também é incentivada pela empresa e conduzida para seus
objetivos.
Exemplo é quando um funcionário se mostra resistente e hostil ao seu chefe,
podendo experimentar ansiedade pelo medo de retaliação e rejeição. Como forma de
equacionar a situação pode identificar-se com a chefia, realizando um processo de
identificação com o agressor, como forma de fugir, livrar-se de sentimentos de
perseguição e exclusão por parte do superior.
A identificação apesar de ser um processo que se realiza internamente é
passível de contestação e questionamento.
4.4 Idealização
59
uma dependência e a uma distorção da percepção, onde a crítica fica ausente, sendo
que o idealizador corre o risco de ser a sombra do idealizado.
Mais do que nunca as empresas apresentam-se como ideais e perfeitas, não
reconhecendo erros, falhas, defeitos e procurando um devotamento completo de seus
integrantes.
60
Ponto Final
Atividade
Completar o texto
Morgan concebe as organizações como_____________________________
onde processos conscientes e _____________________________ são vivenciados.
Processos inconscientes se apresentam no dia-a-dia nas relações
interpessoais e com a própria organização. A _________________________ é um
processo inconsciente através do qual a pessoa reedita, revive, na atualidade modelos
de relacionamentos vividos na infância.
As organizações têm usado o ____________________________ das pessoas
em prol do atingimento de seus objetivos. Nos tempos atuais as organizações se
apresentam como referência servindo de modelo de _____________________ e
___________________ .
A mania por trabalho é denominada __________________________ .
Capítulo 4
1 – Morgan, 1996
2 – Freud, 1974
3 – Morgan, 1996
4 – Ibid, 1996
5 – Ibid, 1996
6 – Ibid, 1996
61
7 – Ibid, 1996, p. 218
8 – Ibid, 1996
9 – Freud, 1974
10 – Dejours, 1987
11 – Freitas, 2002, p. 63
12 – Giddens, 2002, p. 38
13 – Freitas, 2002
14 – Ibid, 2002
15 – Ibid, 2002, p. 89
Referências Bibliográficas
62
Capítulo 5 – PERSONALIDADE E MOTIVAÇÃO
Neide Pérsico
5.1 Personalidade
74
Kolb, 1997, p. 49
75
Ibid, 1997
63
problemas e necessidades. Se as fases não são passadas de forma satisfatória,
pendências são levadas para as fases posteriores, gerando dificuldades e problemas.
Normalmente quando falamos sobre a personalidade de alguém, estamos nos
referindo aos traços que as fazem diferentes de outras pessoas, a essas diferenças
chamamos de traços individuais. As pessoas são classificadas conforme suas
características, em introvertidas, extrovertidas, seguras, inseguras, e assim
sucessivamente.
Segundo Freud (apud Kolb76), a personalidade é formada por três partes,
chamadas de três instâncias: id, ego e superego.
No id reside os impulsos primitivos, representa a porção da personalidade onde
estão os impulsos fisiologicamente determinados como respirar, buscar saciar a fome,
buscar a integridade física, instinto sexual e de procriação. O instinto de proteção
contra a dor emocional, angústia, raiva, também é encontrado no id. O id é a fonte de
toda energia psíquica da personalidade. Nele operam dois instintos opostos, duas
forças contrárias que é o de criação, da vida e o da destruição.
O id opera pelo princípio do prazer, quer dizer, busca sempre o prazer, a
satisfação da vontade, da necessidade, independente de qual seja, de vida ou de
destruição. Há constante busca pelo alívio da tensão e pela evitação da dor. O objetivo
do id é a satisfação imediata e irrestrita dos instintos. Para realizar isso, ele conta com
dois processos: ação reflexa e o processo primário.
As ações reflexas são reações inatas que geralmente conduzem a uma
imediata redução da tensão.
O processo primário envolve uma reação psicológica mais complexa. A tensão
que esta gerando desconforto e não consegue ser liberado ou satisfeito diretamente,
então busca através de uma imagem mental, por exemplo, a imagem de um alimento,
pode satisfazer temporariamente uma pessoa faminta. É a satisfação através de uma
imagem, uma fantasia.
Para Freud, a psique de uma pessoa é dominada pelo id, que se apresenta de
forma inconsciente para a pessoa, forma que se manifesta no ego.
O ego é a parte da personalidade que provem do id, é uma parcela do id
modificada por influência do mundo externo, isto é, pelos pais, escola, pelo ambiente
social, etc.. O ego é considerado o executivo da personalidade. É ele que busca a
satisfação das exigências e instintos do id, fazendo a triagem do que é possível ou
não, prevendo as conseqüências da satisfação dos instintos e necessidades do id. O
76
Kolb, 1997
64
ego é quem estabelece relação entre a realidade externa e o mundo interno da
pessoa, ele busca soluções para as demandas dessas duas realidades.
A terceira instância da personalidade é o superego que é formado a partir das
pessoas importantes na vida da criança. É onde estão inseridos os padrões éticos da
conduta, a moral da pessoa. Durante o período da infância, no qual o ser humano fica
sob a orientação dos pais, forma-se o superego. O superego é o representante interno
dos valores, da ética e moral que são transmitidas à criança pelos pais ou pessoas
importantes e são reforçados via recompensas ou punições. A criança introjeta os
conceitos de certo, errado, do permitido e do proibido, do legal, do ilegal e as
conseqüências desses comportamentos, o superego é o policial interno do sujeito. É
através dele que optamos por um ou outro comportamento conforme o que ficou
registrado como certo e errado, sobre o que é passível de punição ou não. Quanto
mais forte, rígido o superego interno se apresentar, menos tolerância a pessoa terá
com comportamentos que classificará como não aceitáveis. É do superego que
provém os sentimentos de culpa quando a pessoa não agiu conforme julga que
deveria.
Didaticamente podemos dizer que o id representa a parte inata dos impulsos,
necessidades fisiológicas e a busca da satisfação e do prazer. O superego são os
padrões éticos, a moral apreendida e introjetada das figuras parentais, o superego
esta a imagem do ego ideal, isto é, a imagem do eu idealizado, e por fim o ego é
formado pelas vivências da pessoa. O id e o superego é o passado influenciando no
ego, que é o presente.
O ego tem a função de equacionar os impulsos do id e as exigências do
superego, propiciando um comportamento aceitável sem extremos sacrifícios das
necessidades instintivas, das necessidades emocionais e nem dos ideais éticos. O
ego é um mediador entre os impulsos do id e as inibições do superego.
A dinâmica de cada personalidade está relacionada com a liberação ou
bloqueio das demandas do id.
Os princípios lógicos do pensamento racional, não se aplicam aos processos
do id. Nele não existe noção de tempo, do bem ou mal ou noção de qualquer aspecto
moral.
65
Bergeret77 em seus estudos das estruturas da personalidade relacionou quatro
pontos que diferenciam uma estrutura da outra:
- natureza da angústia interna
- tipo de relacionamento com os objetos (pessoas, instituições, religião, etc..)
- principais mecanismos de defesa que fez uso
- sintomas (em caso de psicopatologia)
Sua abordagem não se dá somente no comportamento observável e aparente
e sim na estrutura psíquica que leva a pessoa ao comportamento abservado.
Para Bergeret78 personalidade e caráter são usados como sinônimos. A
maneira como a pessoa se relaciona, defendendo-se ou adaptando-se, a forma como
são dirigidas e tratadas suas necessidades, o nível de conflito interno, suas angústias
e nível de fantasias formam a base do caráter.
O caráter (personalidade) é resultado das exigências pulsionais internas e o
meio exterior.
Bergeret79 escreve sobre a formação do caráter. “Atualmente a maioria dos
autores parece estar de acordo acerca da estabilidade e constância do caráter. Esta
constância dependeria tanto de dados inatos do ego quanto de fatores adquiridos
muito precocemente, depois mais tardiamente, ao nível de estruturação, comportando
as inevitáveis fixações e regressões, das quais o caráter seguiria correspondentes as
contorsões mais ou menos arcaicas”.
O autor reforça a importância do fator hereditário, das experiências dos
primeiros anos de vida, resultando em uma estruturação de personalidade que se
manifestará em comportamentos, certamente com fixações e regressões a etapas
anteriores do desenvolvimento.
A organização do caráter corresponde a uma estrutura latente que se revela
em comportamentos e que é fruto dos progressos e fracassos nas diferentes etapas
da evolução da personalidade. Portanto a fixação em uma das fases, a capacidade de
relacionar-se, o manejo de sentimentos contraditórios, a forma como lida com
demandas pela satisfação dos impulsos de prazer e as restrições da realidade, as
identificações com pessoas, a formação do superego, influenciarão na formação da
personalidade.
Bergeret80 relaciona tipos de caráter que representam as estruturas latentes.
Aqui apresentaremos alguns dos diferentes tipos de estruturas.
1 - O Caráter Histérico de Conversão.
77
Bergeret, 1988
78
Ibid, 1988
79
Ibid, 1988, p.168
80
Ibid, 1988
66
As pessoas com esse caráter apresentam uma imaginação rica e forte
expressão imaginária e há forte dramatização dos sentimentos e situações, são
facilmente sugestionáveis. Em suas relações alterna momentos de proximidade afetiva
e retraimento provocativo. Possuem uma riqueza na linguagem expressiva, mas
passando com facilidade para um comportamento “rabugento”.
As emoções são vividas de forma exagerada. Fato que para outros passariam
sem significado, para essas pessoas são tidos como muito significativo. Há uma
imaturidade afetiva, um medo de desagradar as pessoas e instabilidade emocional.
Busca a admiração das pessoas e mostram-se, seguidamente, com comportamento
dependente.
2 - Caráter Histerofóbico
Apresenta uma estrutura de relacionamento bem adaptado, interiormente e
exteriormente.
Apresenta angústias flutuantes, mas leves, sendo que as causas são,
normalmente, dirigidas a causas exteriores e afetivas. Apresenta-se com uma pessoa
sentimental, com objetivos ideais, há necessidade de parecer e ser virtuoso que é uma
formação reativa contra desejos sexuais e agressivos não aceitos pelo superego. Os
mecanismos de deslocamento e evitação estão presentes com freqüência. Apresenta
medo, ansiedade de punição provindo do superego, por sentimentos e fantasias não
aceitos pelo superego, esse medo é deslocado para o exterior e é aceito normalmente.
Ex: pode apresentar medo de animais, lugares fechados, que são racionalizados e
concebidos como normais.
São pessoas atentas aos acontecimentos do ambiente.
3 - Caráter Obsessivo
São pessoas voltadas para a ordem, organização, limpeza e obstinação.
São pessoas que apresentam crises de consciência, timidez e inibição,
possuem uma certa dificuldade de viver seus desejos. Há uma necessidade de viver
em ordem ,seguindo regras, onde tudo aparentemente revela-se parecendo “sob
controle”. Comportamentos de dúvida, insegurança, isolamento e pensamentos
mágicos, expresso em superstições, manias, são características.
O obsessivo vive em conflito entre o desejo de satisfazer suas necessidades e
o medo de tornar essas necessidades conhecidas a ele e aos outros.
A racionalização é uma defesa usada com freqüência que auxilia na busca do
equilíbrio interno. A pessoa apresenta-se dependente internamente, mas apresenta-se
67
externamente como independente, autoconfiante, servindo de suporte, apoio e como
um conservador dos costumes e padrões sociais.
Bergeret81 relaciona traços que caracterizam o caráter obsessivo: ordem,
obstinação, parcimônia, desprezo do outro, constrição emocional, dúvida de si mesmo,
superego severo, rigidez e perseverança.
A pessoa sofre com a persistência de idéias, apresentando algumas manias
mentais, as palavras podem assumir um poder. O pensamento é classificatório,
teorizado, para mantê-lo sob controle.
O obsessivo pensa mais do que age, evitando o risco de perda do controle. Por
isso para essa pessoa as mudanças são difíceis.
Widlocher e Basquin (apud, Bergeret82) com relação ao caráter obsessivo
acrescentam as características desse caráter: “... acrescentam o aspecto inteligente, a
meticulosidade, a seriedade do pensamento o conservadorismo, as inibições, as
repetições...”
4- O Caráter Esquizofrênico
O caráter esquizofrênico demonstra uma tendência ao retraimento em si
mesmo, ao isolamento, apresentando uma vida interna intensa, de pensamentos e
sentimentos. Alguns comportamentos parecem ilógicos, sem sentido, a afetividade nos
relacionamentos é pouca, no entanto pode por vezes apresentar oscilações entre
manifestações intensas de afeto e ausência de afeto. São pessoas ligadas a
atividades intelectuais, idealistas, tímidas, fechadas, originais ou gozadas.
Parece haver uma espécie de medo e recusa da realidade e do contato com
outras pessoas. São pessoas que parecem nem tristes nem alegres.
Ocorre uma rigidez ideológica que esta relacionada a posições filosóficas e
metafísicas.
5- Caráter Paranóico
Os traços que predominam neste caráter é normalmente comportamento
agitado, crítico, reivindicador, rancoroso, vingativo e idealista, pouco realista,
chegando ao fanatismo no plano ideológico. Mostra-se desconfiado, orgulhoso, certa
frieza afetiva e deformação nos julgamentos.
No dia-a-dia encontramos exemplos em clientes ransinsas, um pai que não
suporta as frustrações banais de vida, um doente que se considera maltratado, um
cidadão protestador, um locatário encrenqueiro, um falso modesto.
81
Bergeret, 1988
82
Ibid, 1988, p.186
68
A desconfiança, traço principal desse tipo de caráter esconde o medo de
perseguição, de isolamento e a suscetibilidade freqüente.
6 - O Caráter Narcisista
O eu dessas pessoas possuem um grau de agressividade, revestida em ação
ou inibida. Há um comportamento depressivo presente no caráter narcisista.
Existe nesses sujeitos um temor de perda do amor e proteção das pessoas
amadas.
Encontramos pessoas com forte angústia e temor de perda do objeto amado,
que pode ser pessoas significativas ou algo que os substituas, são pessoas com
dificuldade de auto-valorização e com uma agressividade reativa, oculta e escondida
em atitudes educadas e afetivas. Essas pessoas duvidam da sua capacidade de amar
e serem amadas. Apresentam, normalmente, um comportamento controlador, em
função do medo de perda do objeto, então procuram mantê-lo próximo através do
controle.
Encontramos aqui outro tipo de pessoa que se sentem possuídas de um
destino infeliz. São pessoas que apresentam uma tendência a repetição de um ciclo
que se repete e confirma um “ser“ “destinado”. A repetição de vivências indica
situações recalcadas, não resolvidas, que buscam uma repetição.
Outros tipos de traços é o comportamento ambivalente quanto a dependência-
agressão, a hiper emotividade, podendo desencadear crises afetivas, formações
reativas fortes. Também podem apresentar comportamento perfeccionista, de controle
e medo de sentir medo. Buscam a atenção, desejam ser o centro em contraponto ao
seu pensar de não ser amado, ser esquecido.
São pessoas instáveis afetivamente, sugestionáveis e agressivas.
No caráter narcisista-hipomaníaco as pessoas se apresentam como falantes,
exuberantes, ativas, uma exuberância de idéias. Para evitar sentimentos de dor,
utiliza de comportamentos mais exuberantes.Não aceitam bem a autoridade de outras
pessoas, não gostam de receber críticas.
5.3 Motivação
83
Moscovici, 1985
69
Esse conjunto de necessidades integra e organiza a vida da pessoa. Maslow coloca as
necessidades em uma escala universal, onde no primeiro nível se encontraram as
necessidades fisiológicas por alimento, água, sono e sexo. No segundo nível estão as
necessidades de segurança. No terceiro nível as necessidades de amor e afiliação. No
quarto nível as necessidades de auto-respeito e admiração dos outros. No quarto nível
estão as necessidades mais superiores de justiça, de busca da realização das
potencialidades como ser humano e da verdade.
As pessoas se concentram nas necessidades que são mais problemáticas para
si. Uma pessoa que diariamente não tem suas necessidades de alimento satisfeitas,
essa passa a ser a preocupação mais permanente e motivo na constante busca de
satisfazê-la. Outro exemplo é quando a pessoa tem alimento em abundância, não
sofrendo carência quanto suas necessidades básicas, sua atenção e interesse
passam a ser necessidades mais superiores. Maslow refere que a análise da
satisfação das necessidades de uma pessoa, bem como em que nível há uma maior
concentração de energia, revela muito da personalidade dessa pessoa.
Maslow também observou que há pessoas que mesmo não tendo suas
necessidades básicas satisfeitas, se concentram nas necessidades superiores.
A motivação humana é amplamente estudada e debatida.
Maslow talvez seja o estudioso da motivação mais conhecido. Sua teoria
motivacional se aplica a todas as áreas do ser humano no trabalho, na família, na
sociedade.
Essa teoria esta baseada em uma escala de necessidade e parte do
pressuposto que o ser humano é movido por elas:
Auto-realização
Estima
Afetivo-social
Segurança
Fisiológico
70
como quando há a satisfação de uma das necessidades, esta atinge a pessoa na
íntegra.
Maslow separou a necessidade em dois grupos sendo que algumas estão
associada a satisfação de deficiências, que o autor chama de Motivação de
Deficiência e outras são as que atendem as necessidades de crescimento.
Segundo essa teoria o ser humano constantemente se encontra com alguma
necessidade, e conforme satisfaz a mais preemente outra surge em seu lugar, há um
constante estado de carência e de satisfação, que podem se apresentar de diferentes
formas.
Muitas vezes uma necessidade consciente, vem associada a outra não
consciente. Ex: estar com fome, é uma necessidade fisiológica e consciente, saciar a
fome com um alimento que gosta, em um restaurante da moda atende a outras
necessidades.
As necessidades de deficiência, isto é, relacionadas a motivação de
deficiência, são supridas de fora, por outros indivíduos e são ligadas a manutenção da
saúde evitar doenças e riscos de vida.
A presença de uma dessas necessidades pode comprometer o pensar e a
maneira da pessoa ver e sentir a vida. Podemos enquadrar aqui as necessidades de:
fome, sono e sede. Uma pessoa com fome há tempo, compromete outros desejos em
prol do alimento. Quando saciada a fome, ela deixa de existir e dá espaço a outra
necessidade. Surge então a necessidade de segurança, que se refere a sentir-se em
ambiente seguro, não correndo risco quanto a sua integridade. A necessidade de
segurança é atendida quando os pais oferecem um ambiente de tranqüilidade, apoio.
O adulto busca em um trabalho mais estável e preferência por situações familiares,
ambientes protegidos da violência, fazendo poupanças e reservas para o futuro, na
procura de uma religião que explique o mundo, a vida humana, a morte.
As necessidades fisiológicas e de segurança satisfeitas aparecem as
necessidades sociais de afeto. A pessoa sente a necessidade de pertencer a um
grupo de amigos, de relacionar-se no trabalho, de ser aceito e querido pelos grupos
aos quais pertence.
Segundo Moscovici84 a frustração e a insatisfação das necessidades ligadas
aos relacionamentos afetivos são uma das principais causas de desajustes e
psicopatologias, e onde encontra-se grande motivo de frustrações.
Tendo mesmo que parcialmente, satisfeitas as necessidades de aceitação e
afeto, o sujeito busca sua valorização, seu reconhecimento como pessoa e
84
Moscovici, 1985
71
profissional. Surgindo então as necessidades relativas a estima da pessoa. A estima
se refere ao conceito que a pessoa tem de si mesmo e ao conceito que as outras
pessoas têm dela. Essa necessidade pode ser entendida como ao desejo de força,
domínio, competência, confiança, independência, desejo de prestigio, status,
reconhecimento, atenção e admiração.
Satisfeitas as necessidades fisiológicas, de segurança de aceitação, de
valorização surge a necessidade mais elevada que é a de auto-realização de realizar-
se como pessoa em todas suas potencialidades.
Roger Harrison (apud Moscovici85) classificou as necessidades em três grupos
a que denominou de: núcleo físico-econômico, núcleo sócio-emocional e núcleo de
competência do ego.
O núcleo físico-econômico envolve as necessidades fisiológicas e as de
segurança.
O núcleo sócio-emocional se refere as necessidades de afeto, amor, contato
com outras pessoas, pertencimento à grupo.
No núcleo de competência do ego estão as necessidades de saber,
compreender, realizar, produzir, criar, ter habilidades.
A maior contribuição de Harrison foi a abordagem de que as necessidades
mudam ao longo da vida, da infância a maturidade as necessidades tomam formas
diferentes e complexidades diversas.
A satisfação das necessidades básicas é uma condição prévia para as demais
necessidades.
A autora faz uma distinção entre a motivação, para um comportamento, quando
por uma carência ou deficiência, e a motivação dirigida para o crescimento. Na
motivação por carência as pessoas motivadas pela motivação de deficiência, buscam
a eliminação da situação desagradável ou ameaçadora, buscando alívio e eliminação
de tensão presente. A satisfação de uma carência gera um prazer inferior resultado da
redução ou alivio do desconforto e da tensão.
A presença da necessidade de deficiência torna as pessoas mais dependentes
das fontes que podem sanar essas carências, repercutindo nas relações interpessoais.
As pessoas passam a perceber essas fontes como gratificadoras e as usam para
sanar suas próprias carências.
A necessidade de amor, sentir-se aceito está classificada entre as
necessidades de carência com repercussões sérias a nível de desenvolvimento da
85
Moscovici, 1985
72
personalidade. No entanto essa carência de amor é insaciável, passando de carência
a fonte de gratificação.
Em um outro nível há as necessidades de crescimento relacionadas a liberação
das potencialidades, ao crescimento da pessoa. Nesta etapa a pessoa tem a
possibilidade de resoluções positivas de criatividade e a busca de integridade do eu.
Segundo Chiavenatto86 o estado de satisfação está diretamente relacionado a
estar em equilíbrio. Estar em equilíbrio é não haver necessidades insatisfeitas. A
pessoa para encontrar-se em equilíbrio psicológico deve estar livre de qualquer
tensão, que o levaria a busca de satisfação.
Quando uma necessidade não é satisfeita ocorre uma frustração, se está é
permanente pode levar a comportamentos de desorganização, agressividade, apatia,
alienação.
Essa tensão gerada por uma barreira ou obstáculo na busca da satisfação,
gera uma tensão, que é represada na pessoa e que se manifestará de outras formas:
por via psicológica (descontentamento, tensão emocional, agressividade, depressão,
etc..) ou via fisiológica (tensão nervosa, insônia, perda de apetite, etc..).
Outro conceito utilizado para compreender a motivação nos ambientes de
trabalho é a Motivação Deôntica. Esse conceito coloca que o senso de dever,
obrigação, responsabilidade encontrado em muitos trabalhadores provem de crenças
religiosas, que reforçam o valor do trabalho como purificação espiritual. Max Weber
em A ética protestante e o espírito da paz relaciona à ética protestante com a
motivação Deôntica.
86
Chiavenato, 1999
73
Ponto Final
Atividade
Completar o texto
A personalidade é resultado de _____________________ de desenvolvimento,
cada qual com suas características, sendo que uma é _____________________ da
anterior.
Segundo Freud, a personalidade é formada por três instâncias:
_________________, _____________________ e ____________________ .
Conforme Maslow o comportamento humano é motivado por
________________ . Cada pessoa dependendo de sua ______________________ se
concentrará em um tipo de necessidade.
As necessidades da escala de Maslow, são: _______________________,
___________________, ________________________, ______________________ e
____________________________ .
Maslow separou as necessidades em básicas e _______________________ .
74
Capítulo 5
1 – Kolb, 1997, p. 49
2 – Ibid, 1997
3 – Ibid, 1997
4 – Bergeret, 1988
5 – Ibid, 1988
6 – Bergeret, 1988, p. 168
7 – Ibid, 1988
8 – Ibid, 1988
9 – Bergeret, 1988, p. 186
10 – Moscovici, 1985
11 – Ibid, 1985
12 – Ibid, 1985
13 – Chiavenato, 1999
Referências Bibliográficas
75
Capítulo 6 – RELACIONAMENTO INTERPESSOAL NAS ORGANIZAÇÕES
Sonia Beatriz Bagatini
A primeira relação do ser humano ocorre na fase fetal. O feto se relaciona com a
mãe, e a mãe se relaciona com o feto que é dependente total desta figura materna para
viver e se desenvolver. Desde então já existe uma relação dual embora o feto, perceba ele e
a mãe como um só, é através dela ele vai formando sua concepção de mundo e de vida. Ao
nascer ainda sente que ele e a mãe são uma coisa só. A partir do amor e dedicação da
mãe, o bebê conhece o mundo além dela. A mãe é o caminho para a relação exterior. Você
tem que saber que mãe se refere aquela pessoa que cuida da criança, que exerce os
76
cuidados maternos e representa uma figura estável ou permanente, não necessariamente a
mãe biológica.
Estudos e pesquisas revelaram que o desenvolvimento do apego da criança a uma
figura estável é a base para a saúde mental e formação da personalidade O apego é o
vínculo infantil que é a base para o relacionar-se humano.
Bolwby1 considera que o apego do bebê à mãe e desta com o bebê, resulta de
certo sistema de comportamentos o sugar, agarrar-se, seguir, chorar e sorrir. Situações de
separação ou privação de vínculo e apego materno segundo sua teoria, são a base das
reações de ansiedade e medo no ser humano. Estas crianças também desenvolvem uma
conduta de apego ansioso ou são incapazes de estabelecer vínculos duradouros na vida
adulta: podem ser incapazes de amar. Para se ter uma idéia da importância destes cuidados
com qualidade na primeira infância, observe o relato deste autor em estudos sobre crianças
privadas desta relação materna amorosa e continente que possibilite a formação de um
apego saudável na mais tenra idade:
“Estas crianças parecem emocionalmente retraídas e isoladas. Não
conseguem estabelecer laços afetivos com outras crianças ou com
adultos e, conseqüentemente, não têm amizades dignas deste nome.
É verdade que elas, às vezes, são superficialmente sociáveis, mas,
examinando-se mais detalhadamente, descobre-se que não existem
sentimentos, não existem raízes, nestas relações. Penso que isto,
mais do que qualquer outra coisa, é a causa de sua impassibilidade.
Pais e professores queixam-se de que nada do que se diga ou faça
tem qualquer efeito sobre a criança. Parece não ter maior
importância para estas almas perdidas o fato de serem aceitas ou
não. Visto que são incapazes de estabelecer relações emocionais
autênticas, a situação de um relacionamento, num dado momento,
não tem qualquer significado para elas.”
1
Bolwby, 1995, p. 38
2
Ajuriaguerra e Marceli, 1986, p. 48
77
Fica muito claro, então, que a disponibilidade da mãe, sua condição psicológica
para conseguir ser a decodificadora e de dar significado as condutas de seu filho, é de
extrema importância, pois depende desta competência para que o bebê se desenvolva, bem
emocionalmente, se vinculando e desenvolvendo o apego.
Se nos primeiros meses a importância destes cuidados maternos é fundamental,
imagine o efeito maravilhoso destes cuidados à medida que a criança vai crescendo e cada
vez mais aumentando suas capacidades de comunicação e de relacionamento com o
mundo externo. Da mãe se estende a família, familiares, mais tarde a escola, a comunidade,
e posteriormente ao trabalho.
De uma dependência bem vivida a criança tende a ser um adulto independente
com limites. De ter sido bem protegida será um adulto seguro e com valores. Mas se for
criada com intolerância e desamor provavelmente será um adulto inseguro com auto-
imagem e auto- estima negativas e introjetado valores distorcidos. Criança negada será um
adulto sem visão com sentimento de inadequação e culpa.
Erikson3 em seus estudos sobre o desenvolvimento do Ego, o dividiu o em oito
idades, que denominou como “as oito idades do homem”. Em cada uma delas o ser humano
tem que passar por um conflito ou uma crise. Na primeira é chamada de confiança básica X
desconfiança básica. Assim como os outros autores, este considera que a criança formará a
confiança de acordo com a qualidade dos cuidados maternos, como ele refere: “o cuidado
sensível das necessidades individuais da criança e um firme sentimento de ser “aceitável”
de ser ela mesma, e se converter no que os demais confiam que chegará a ser”. Esta
confiança básica desenvolvida na criança permitirá sua primeira realização social que é sua
voluntária disposição em deixar a mãe de lado sem raiva ou ansiedade, porque a mãe se
transforma então em uma certeza interior e uma predizibilidade exterior.
As idades seguintes seriam: Autonomia X vergonha e dúvida; iniciativa x culpa;
indústria X inferioridade,:identidade X confusão de papel, intimidade X isolamento,
generatividade X estagnação e integridade do Ego X desesperança. Em todas elas o
indivíduo deve vencer estes conflitos para suas adaptações e seu desenvolvimento
biopsicossocial. Nos conflitos da fase adulta a busca de qualidade de vida. Para se
aprofundar neste estudo consulte o livro que consta nesta bibliografia.
Até a fase da adolescência que corresponde à idade da identidade X confusão de
papel, a influência da família, escola, comunidade, religião é extremamente significativa para
a forma como se relacionará em grupo ou em equipe na sua vida. As demais fases
caracterizam os conflitos que as pessoas vivem, resolvem ou não resolvem permanecendo
3
Erikson, 1976, p. 241
78
em um dos dois pólos e que refletirá diretamente na sua postura diante dos grupos e como
se relacionam com as pessoas.
Das oito idades do homem, é na primeira que a criança constrói a confiança básica
e que vai formar, então, a sua capacidade de ligação e apego, fundamentais para as
relações e capacidade de amar futuras. Bolwby4 também relatou os efeitos para a vida
adulta daqueles que tiveram a experiência de privação materna;
“Esses casos são observados em adultos cuja vida social consiste
numa série de relacionamentos com pessoas mais velhas, que são
sempre uma mãe substituta... a questão é que o paciente necessita
estar constantemente em contato com uma pessoa da qual exige
aquilo que lhe foi negado em sua experiência original com a mãe.
Assim, o seu estilo de vida é determinado pela necessidade de
manutenção de tais relacionamentos. Quando um deles é rompido,
segue-se um período de depressão ou um sentimento de que “algo
está faltando de maneira terrível”, até que uma nova relação seja
estabelecida. Um outro tipo de reação apresenta-se principalmente
sob a forma de exigências excessivas feitas à pessoa escolhida para
satisfazer às privações do início da vida... O problema é sempre o
mesmo - exigências excessivas de alimento, de dinheiro, de
privilégios”.
4
Bowlby, 1995, p. 54
79
muito rígidos o superego tenderá a ser punidor e, castrador dificultando ao ego de sua
interação sadia com o meio externo. Da mesma forma, se os valores introjetados forem
muito frágeis, sem vivência de limites, por exemplo, dificultará a adaptação com os valores
sociais.
Diante destas noções básicas da origem do apegar-se relacionar-se humano,
devemos sempre levar em conta que estas vivências infantis são diferentes em cada seio
familiar e social. Embora a as teorias de desenvolvimento humano tendam a orientar as
melhores formas de cuidado com a criança para projetar o adulto de amanhã, ainda assim a
forma como cada um registra interiormente as suas experiências é muito individual.
80
Nos grupos a interação positiva, criativa e de aprendizagem constante é
semelhante ao exemplo acima. Respeitar as diferenças e fazer delas um crescimento e uma
experiência que enriquece. Em um grupo cada elemento carrega as suas percepções e suas
fantasias. E o grupo é o espaço onde a soma de todas estas características devem se
somar para satisfazer as necessidades de formação de laços, e de cada um que vão dar
uma identidade para grupo.
A convivência entre as pessoas é um fato marcante em termos do destino da vida
de cada um. O sucesso ou insucesso na formação de vínculos interpessoais é
inegavelmente fonte de alegria ou sofrimento e pode, conseqüentemente, ser um poderoso
determinante dos níveis dos sentimentos de auto-estima de cada um.
A interação social
1. O grupo deve ser considerado como o terreno dentro do qual o indivíduo se mantém - sua
integração num grupo depende, portanto, da clara definição de sua participação nos seu
5
Mailhiot, 1970
6
Ibid, 1970
81
espaço vital, ou da caracterização da sua liberdade típica de movimento no interior do
grupo.
2. O indivíduo, conscientemente ou não, utilizando-se do grupo e das relações sociais que
mantém, com vista a satisfazer necessidades próprias, bem como suas aspirações sociais;
portanto, o indivíduo utiliza o grupo como o seu instrumento.
3. Mesmo que o indivíduo se sinta ignorado, isolado ou rejeitado pelo grupo, ele não deixa
de ser um dado da realidade da qual ele faz parte; portanto, valores, necessidades e
expectativas pessoais são por ele gratificados ou frustrados. Nenhum membro deixa de
sofrer o impacto do grupo e não escapa a sua totalidade.
Ainda Lewin citado por Mailhiot7 conclui em seus estudos que para a adaptação
social o indivíduo deve concluir esta superação em atualizar suas aspirações e suas
atitudes, em atingir seus objetivos pessoais, sempre mantendo seus laços com as outras
pessoas do grupo sem rompê-los ou forçá-los e mantendo-se também vinculado com a
realidade coletiva. A realidade coletiva também denominada de campo social que é onde
este indivíduo está inserido, o fundamento de sua existência.
A interação social é então a continuidade do desejo mais primário de ligação, de
vinculação. É nos grupos das organizações que as pessoas também vão suprir suas
necessidades de interação, mesmo que racionalmente seja um grupo de tarefa, você já
sabe que a emoção e o social andam juntos para o sucesso individual e coletivo.
É através do grupo ao qual cada indivíduo pertence que ele consegue satisfazer
suas importantes necessidades sociais também conhecidas como de afiliação, de
pertencimento a um grupo, assim como o de pertencer á uma família ou núcleo familiar, de
pertencer e ser importante para alguém, para um grupo.
É através do grupo que cada um estabelece seu próprio autoconceito, a sua
identidade. O relacionamento com os demais se constitui em importante fonte de informação
sobre cada um em si mesmo. Neste sentido voltamos a questão do feedback que na existe
na fase inicial do relacionamento humano. Pois é através desta troca que nos afirmamos
naquilo que somos e crescemos naquilo que mais podemos ser potencialmente, conforme o
exemplo também das duas pessoas diante do mar.
7
Mailhiot, 1970
82
É dentro do grupo que se pode conseguir auxílio e apoio, tendo em vista a
consecução não somente dos objetivos individuais como também organizacionais. Mais uma
vez a troca, que protege, ajuda, faz crescer e crescer também o próprio grupo ou
organização.
Somente dentro dos grupos é que se pode compartilhar e auxiliar em atividades
que tenham objetivos comuns, como por exemplo, fabricar objetos e produtos, participar de
atividades que visam ao divertimento, prestação de auxílio e muitos outros.
É importante refletir mais detalhadamente de como são estes movimento e
necessidades das pessoas inseridas ou que vão se inserir em um grupo reforçam seu
próprio referencial e sua identidade e também a identidade do grupo que também se
desenvolve, evolui e amadurece como o desenvolvimento do ser humano.
8
Bergamini, 1982, p. 84 a 94
9
Ibid, 1982, p. 86
83
A necessidade de inclusão engloba emocionalmente a necessidade de formar e
manter um sentimento recíproco de interesse uns pelos outros. Ou seja, o indivíduo tem que
ser capaz de se interessar por outras pessoas e fazer com que as outras se interessem por
si. Esta necessidade também busca o sentimento de que a pessoa tem valor e é importante.
Ao fazer parte de um grupo a uma busca de “estar junto”, para ser conhecido e ao mesmo
tempo adquirir uma identidade. No início, portanto, das relações interpessoais, há um
aspecto comum identificado como uma espécie de comprometimento em deixar-se envolver.
A fase de inclusão estará concluída quando todos os membros sentirem que têm
sua presença assegurada no grupo e sabem que sua ausência chama a atenção dos
demais membros.
A segunda necessidade revela que os indivíduos necessitam estabelecer um
relacionamento interpessoal com relações em termos de controle e força. Que traga também
uma relação confortável psicologicamente de ser controlado e controlar. Manter um
sentimento mútuo de respeito pela competência dos outros e merecer o respeito dos outros
também. Em geral, nesta segunda fase podem aparecer tensões e ultrapassá-las significa
um passo além na maturidade do relacionamento das pessoas que compõem o grupo.
A terceira necessidade interpessoal dede afeição é definida como a necessidade
de estabelecer e manter relacionamentos satisfatórios com outras pessoas no tocante ao
amor e à afeição. Para tanto inclui uma relação satisfatória que seja psicologicamente
confortável de iniciar relacionamentos próximos e pessoais bem como suscitar um
comportamento atrai as pessoas para iniciar um relacionamento com ela de relações
próximas e pessoais. Em nível de sentimentos seria, então, estabelecer e manter
sentimento de afeição, ser capaz de amar e ter o amor dos outros. Esta necessidade reporta
ao auto-conceito de se sentir digno de ser amado.
A abordagem de Schutz, aqui descrita, visa deixar claro que tipo de necessidade
está em jogo no relacionamento interpessoal, apontando um fator de grande importância
que reside na busca de equilíbrio, que é constantemente almejado, entre o comportamento
da própria pessoa e dos demais com os quais lhe é dado interagir.
Em resumo, a inclusão está buscando saber quem está dentro ou fora do grupo, o
controle, quem está por cima e a afeição, quem está próximo ou distante.
No primeiro caso temos uma confusão generalizada, no segundo, a competição
que caracteriza o clima habitual de trabalho, e, no terceiro, sente-se que a cooperação é o
principal norteador das ações dos diferentes membros.
Segundo Schutz citado por Bergamini10, “A compatibilidade pode ser entendida
como a propriedade de relacionamento entre duas ou mais pessoas, entre um indivíduo e
10
Bergamini, 1982, p. 92
84
seu papel, ou entre o indivíduo e sua situação de trabalho, que leve a uma satisfação mútua
das necessidades interpessoais e de uma coexistência harmoniosa.”.
Nem sempre percebemos a conciliação dos objetivos individuais e os
organizacionais nesta situação as pessoas para continuarem a fazer parte do grupo devem
ter um certo nível de conformidade. E também nem sempre todos os grupos estão na
terceira e mais produtiva necessidade, da cooperação. Estas identificações servem para o
trabalho organizacional proporcionar reflexões e buscar a sempre a de cooperação.
85
Ponto Final
86
competitividade ou na terceira que é a cooperação. Esta última é onde todos os grupos
deveriam estar.
Este capítulo situa as raízes dos avanços dos trabalhos em relacionamento
interpessoal nas organizações. Atividades inseridas nas organizações que objetivam buscar
uma melhor interação dos indivíduos através de dinâmicas de grupo e vivências para que os
grupos encontrem sua maturidade e consigam alcançar ou se aproximar da terceira
necessidade.
Atividade
Capítulo 6
1 – Bowlby, 1995, p. 38
2 – Ajuriaguerra e Marceli, 1986, p. 48
3 – Erikson, 1976, p. 241
4 – Bowlby, 1995, p.54
5 – Mailhiot, 1970
6 – Ibid, 1970
7 – Ibid, 1970
8 – Bergamini, 1982, p. 84 a 94
9 – Ibid, 1982, p.86
10 – Ibid, 1982 p.92
Referências bibliográficas
87
BOWLBY, John. Cuidados maternos e saúde mental. São Paulo: Martins Fontes, 1981.
ERIKSON , H. Erikson. Infância e sociedade. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1976.
MAILHOT G. B. A dinâmica e gênese dos grupos. São Paulo: Duas Cidades, 1970.
88
Capítulo 7 - PODER E LIDERANÇA
Sonia Beatriz Bagatini
1
Extraído da contracapa do livro O Príncipe, de Nicolau Maquiavel.
89
Iniciar este capítulo com base em um modelo tido como imoral de praticar o
poder tem a intenção de destacar a maneira pela qual habitualmente enxergamos o
poder.
Na história recente do nosso país, período vivido igualmente em toda a
América Latina, assistimos a concentração do poder na mão de ditadores, em geral
militares, provocando a repressão, tortura, morte ou exílio de milhares de pessoas que
discordavam e resistiam ao regime instituído até então. Passaram-se 20 anos para
articular-se a reação do povo brasileiro através do movimento que varreu o Brasil e
ficou conhecido como “Diretas Já”, exigindo a volta das eleições diretas para
presidente da República. Apesar da grande mobilização popular, a emenda
constitucional que reivindicava eleições diretas não foi aprovada no Congresso
Nacional e em conseqüência, José Sarney assumiu a presidência, ainda por via
indireta, substituindo Tancredo Neves que faleceu após a posse.
Somente em 1989, depois de 25 anos de ditadura militar, é realizada a
primeira eleição direta para escolha do presidente da República. Fernando Collor de
Mello é eleito com 35 milhões de votos, derrotando o então candidato Luiz Inácio Lula
da Silva. Em 1992, Collor renuncia à presidência após sofrer processo de
impeachment, desencadeado pela Câmara Federal, contando com o forte apoio do
movimento estudantil denominado de “Caras Pintadas”. Estudantes vestiram-se de
preto, pintaram o rosto de verde-amarelo e com a bandeira da ética e do patriotismo
pressionaram o Congresso Nacional a promover o afastamento de Collor.
A partir desse breve registro histórico, percebemos alguns elementos
inerentes ao exercício do poder e introduzidos para a nossa reflexão. O poder implica
em correlação de forças, disciplina, controle, imposição de leis e, em sua expressão
mais radical, assume a face da tirania e do terrorismo. Mas mantém, de forma
intrínseca, a possibilidade de resistência manifesta na atitude de reação, de
inconformismo e na tentativa permanente de transgredir o que está instituído.
A esse respeito, a doutrina de Maquiavel ainda ensina que os homens
buscam sempre atingir um objetivo de sucesso, glória ou riqueza, e cada um na sua
maneira de ser, desenvolve uma forma de chegar realizar este feito. Esta forma ele se
refere ás características individuais como a paciência, a violência, a habilidade enfim o
caminho que cada um escolhe para ter aquilo que almeja. Podemos observar na
seguinte citação deste autor:
“Notamos também, de dois homens cautos, que um realiza o seu propósito e o
outro não, e, paralelamente, que dois homens alcançam o mesmo êxito atuando de maneiras
diferentes; um, sendo ponderado; o outro, sendo veemente – o que não é conseqüência senão
2
das condições das diferentes épocas, que se conformam ou não às suas formas de agir”.
Foi o poder militar, comentado anteriormente, que sucumbiu ao grande
poder de mobilização dos partidos políticos, organizações civis, lideranças sindicais,
artistas, representantes de setores de diversas categorias profissionais para
desencadear o movimento Diretas Já, redemocratizando o nosso país. Na seqüência,
outras ditaduras latino-americanas foram depostas como, por exemplo, o caso da
Argentina e do Chile.
Roberto Machadoi, em Por uma Genealogia do Poder, introdução do
livro Microfísica do Poder, de Michel Foucault, comenta que o interessante da análise
de Foucault é que o poder não está em um lugar fixo da sociedade. Que é um
processo ou mecanismo que atinge tudo e todos. Para ele o poder não existe e sim as
práticas e relações de poder, e nestas existe a resistência paralelamente, assim como
o poder está em toda a estrutura social:
2
Capítulo XXV de O Príncipe, pg 142
90
“Não é um objeto, uma coisa, mas uma relação. E esse caráter
relacional do poder implica que as próprias lutas contra seu exercício
não possam ser feitas de fora, de outro lugar, do exterior, pois nada
está isento de poder. Qualquer luta é sempre resistência dentro da
própria rede do poder, teia que se alastra por toda a sociedade e que
a ninguém pode escapar: ele está sempre presente e se exerce como
uma multiplicidade de relações de forças. E como onde há poder há
resistência, não existe propriamente o lugar de resistência, mas
pontos móveis e transitórios que também se distribuem por toda a
estrutura social.”
Segundo Machado, Foulcault afirma ainda que é preciso parar de descrever
os efeitos do poder em termos negativos ora classificando-o ora como excludente, ora
como repressor ou como capaz de produzir censura e até mascarar situações. Para
ele, de fato, o poder produz real, produz domínios de objetos e rituais de verdade. O
poder não é só repressão, ele apresenta o lado positivo de aprimoramento, de controle
para participação dos homens na vida social com o desenvolvimento de seus
potenciais. Machado acrescenta::
3
Machado, 1996, p.14
91
funciona como uma maquinaria, como uma máquina social que não está situado em
um lugar privilegiado ou exclusivo, mas se dissemina por toda a estrutura social. Não
é um objeto, uma coisa, mas uma relação. E esse caráter relacional do poder implica
que as próprias lutas contra seu exercício não possam ser feitas de fora, de outro
lugar, do exterior, pois nada está isento de poder. Qualquer luta é sempre resistência
dentro da própria rede do poder, teia que se alastra por toda a sociedade e que a
ninguém pode escapar: ele está sempre presente e se exerce como uma
multiplicidade de relações de forças. E como onde há poder há resistência, não existe
propriamente o lugar de resistência, mas pontos móveis e transitórios que também se
distribuem por toda a estrutura social.”
E Machado4 acrescenta: “mas o que a consideração dos micro-poderes
mostra, em todo o caso, é que o aspecto negativo do poder - sua força destrutiva - não
é tudo e talvez não seja o mais fundamental, ou que, ao menos, é preciso refletir sobre
seu lado positivo, isto é, produtivo, transformador. Citando Foucault, “é preciso parar
de sempre descrever os efeitos do poder em termos negativos: ele ‘exclui’, ele
‘reprime’, ele ‘recalca’, ele ‘censura’, ele ‘abstrai’, ele ‘mascara’, ele ‘esconde’. De fato,
o poder produz; ele produz real; produz domínios de objetos e rituais de verdade”.
Concluindo, Machado5 afirma:
“o poder possui uma eficácia produtiva, uma riqueza estratégica, uma
positividade. E é justamente esse aspecto que explica o fato de que tem como
alvo o corpo humano, não para suplicá-lo, mutilá-lo, mas para aprimorá-lo,
adestrá-lo.
Não se explica inteiramente o poder quando se procura caracterizá-lo por sua
função repressiva. O que lhe interessa basicamente não é expulsar os homens
da vida social, impedir o exercício de suas atividades, e sim gerir a vida dos
homens, controlá-los em suas ações para que seja possível e viável utilizá-los
ao máximo, aproveitando suas potencialidades e utilizando um sistema de
aperfeiçoamento gradual e continuo de suas capacidades.”.
Desta forma, vimos que as relações de poder estão presentes em todas as instituições
(família, empresa, escola, igreja, partido, forças armadas, governo, presídios, clínicas
e hospitais, dentre tantas outras) e se modelam conforme o momento histórico,
político, econômico, social, cultural de um povo, de um país, entre as nações.
4
Machado, 1996, p.15, 16
5
Machado, 1996, p.16
92
Como você já constatou no capítulo 3 a definição de cultura organizacional
convém rever estes conceitos mais volitados para a questão do poder, e,
posteriormente, tratarmos das configurações de poder que se estabelecem.
Para Schein, citado por Fleury6, “cultura organizacional é o conjunto de pressupostos
básicos que um grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao aprender como lidar
com os problemas de adaptação externa e integração interna e que funciona bem o
suficiente para serem considerados válidos e ensinados a novos membros como a
forma correta de perceber, pensar e sentir, em relação a esses problemas”.
Ainda para este autor, a cultura de uma organização pode ser aprendida em vários
níveis:
- nível dos artefatos visíveis: o ambiente construído da organização, arquitetura,
layout, a maneira de as pessoas se vestirem, padrões de comportamento visíveis,
documentos públicos;
- nível dos valores que governam o comportamento das pessoas; nível dos
pressupostos inconscientes: são aqueles pressupostos que determinam com os
membros de um grupo percebem, pensam e sentem.
Fleury7 afirma que para se decifrar a cultura de uma organização é preciso aflorar seus
pressupostos básicos:
- a relação com a natureza: a relação com o ambiente é de dominação, submissão,
harmonia?
- a natureza da realidade é de verdade: as regras de lingüística e de comportamento
que diferem o que é real e o que não é, se a “verdade” da organização é revelada ou
descoberta.
- a natureza humana: a natureza humana é boa, má ou neutra?
- a natureza da atividade humana: o que é considerado “certo” para o ser humano
fazer diante dos pressupostos sobre o ambiente, sobre a realidade, sobre a natureza
humana: ser ativo, passivo, se auto-desenvolver?
- a natureza das relações humanas: como é distribuído o poder e o amor? A vida é
cooperativa ou competitiva, individualista ou cooperativa, baseada na autoridade, na
tradição ou no carisma?
Pensando sobre esses pressupostos, vou citar algumas situações em
empresas e instituições das quais tivemos conhecimento.
Em uma empresa pública, com unidades distribuídas em todo o país, durante um
trabalho de desenvolvimento organizacional, realizado com consultores externos, foi
instituído um prêmio de produtividade. Criados os parâmetros para medir a
produtividade de cada unidade, um deles, obviamente, foi a redução de custos com
6
Fleury, 1996, p.20
7
Fleury, 1996, p.21
93
despesas administrativas. Visando atingir o tal prêmio (um percentual de valores a
mais no salário), gerou-se um clima de competição tão acirrado que, diante da
necessidade de fazer ligações interurbanas para resolver problemas com outras
unidades, os empregados encontraram uma solução: aguardavam que aquela unidade
ligasse para a nossa unidade, pois assim a despesa com a ligação seria lançada na
unidade de outra região.
Essa mesma empresa adotara, na sua política institucional, a intenção de
apoiar a Associação dos Empregados para melhorar a relação informal com o seu
público interno. Dependendo do perfil dos membros da diretoria que assumisse a
Associação, a empresa direcionava mais ou menos recursos para a Associação, de
modo a facilitar ou emperrar a ação dos diretores eleitos pelos empregados.
Esta última situação é significativa para explicitar a relação de poder que se
estabelece dentro de uma organização e nesse caso de uma forma velada.
O organograma, os manuais técnicos e administrativos, os procedimentos de
conduta para ingressar em espaços previamente autorizados a uma determinada
categoria profissional da empresa, a utilização de veículos por parte de alguns
empregados, dentre outros privilégios, são alguns dos aparatos que manifestam as
configurações de poder nas organizações. Os cargos de direção, gerência,
supervisão, coordenação ou qualquer outra denominação congênere, dependendo do
lugar que ocupam na hierarquia, vão reproduzir o que está definido como sua
atribuição para garantir aquilo que a organização escolheu como missão e dentro do
que a cultura organizacional possibilitar ou não.
94
José Roberto Guimarães, atual técnico da seleção brasileira de voleibol
feminino, no que tange os bons resultados conquistados com a equipe, parece ter um
estilo diferente de Bernardinho, pelo menos no que podemos acompanhar pela mídia.
Bernardinho parece ser mais explosivo, exigente, dominado pela paixão. José
Roberto mais sereno, contido nas suas emoções, demonstrando uma dose maior de
tolerância com os eventuais erros que a equipe comete. Você, leitor concorda?
Algumas indagações podem ser feitas. Há diferença entre dirigir um time
feminino e masculino? A diferença de estilos entre Bernardinho e Zé Roberto
contribuem para a performance de cada equipe?
No campo da política partidária, você percebe alguma diferença entre o discurso do
líder do partido A, B ou C, principalmente quando A, B ou C se revezam em ser
governo ou oposição?
Será que o carisma de Che Guevara ou do Papa João Paulo II contribuíram para uma
imagem de personalidades quase que míticas?
É a partir dessas situações colocadas que iniciamos a discussão sobre o tema da
Liderança.
Fiedler, aponta diferentes definições para liderança, encontradas,
respectivamente em Dubin (1951), Homans (1950) e Reuter(1941)
“Liderança é o exercício da autoridade e da tomada de decisões
“O líder é a pessoa que mais de perto atende às normas e aos valores do grupo; essa
conformidade dá a ela a mais alta posição, que atrai as pessoas e implica o direito de assumir
o controle do grupo
“Liderança é uma habilidade de persuadir ou dirigir as pessoas sem o uso o prestígio ou da
força de uma autoridade formal, ou de circunstâncias externas”.
Mas Fiedler apresenta sua própria conceituação de liderança: “Nós definiremos aqui
o líder como um indivíduo no grupo, a quem é dada a tarefa de dirigir e coordenar
tarefas relevantes nas iniciativas grupais, ou quem, na ausência do líder designado,
assume a principal responsabilidade de desempenhar tais funções no grupo.”
E Bergamini8 acrescenta:
“Isso não quer dizer exatamente que ele assuma tal papel durante o tempo todo, isto
é, há momentos nos quais ele o faz de maneira mais diretiva, outras em que
apresenta uma abordagem de menor interferência pessoal. Por outro lado, é possível
observar que interfere em alguns casos com maior freqüência e em outros menos
freqüentemente, mas todas as vezes que o grupo sentir necessidade de um
referencial ou de alguma revisão da orientação de suas atividades, acabará por
solicitar a interferência daquele a quem estão acostumados a seguir.”
8
Bergamini, 1982, p.97
95
- o mito do “líder nato” está destruído na administração contemporânea, pois é
possível desenvolver competências e habilidades que contribuam para compor as
características exigidas da figura de liderança em determinado grupo;
- o fenômeno da liderança depende de um ambiente, de uma circunstância que
favoreça o surgimento da figura do líder e que, por sua vez, recebe “autorização” e
poder de um determinado grupo, legitimando-o como seu líder. Isso significa dizer que
um gerente (poder instituído) não é necessariamente um líder.
- a complexidade da sociedade em que vivemos, exigiu uma outra classificação de
estilos de liderança, antes circunscrito aos estilos autocrático, democrático ou laissez
faire (expressão francesa que significa deixa fazer, no caso específico, aquele estilo
do líder que “deixa rolar para ver como é que fica”).
Melo, citado por Conde , sobre a função gerencial, afirma que, na atualidade,
tem incidido seis tipos de desafios: aqueles referentes à mudança ou adaptação
(capacidade de adaptação e compreensão das mudanças, capacidade de
enfrentamento dos desafios e análise das oportunidades relativas às modificações
ocorridas, capacidade de ser um agente de mudanças preparando a empresa para
elas, capacidade de adaptação a ambientes multiculturais, entre outros); aqueles
relativos ao conhecimento técnico (domínio de informática, capacidade de redação,
habilidade comunicativa, conciliar capacidade técnica e habilidade pessoal, entre
96
outros); desafios referentes a experiência internacional (haver trabalhado no exterior,
haver conhecido outros países, possuir competência intercultural, domínio de línguas
estrangeiras, manutenção de contato com pessoas de unidades da empresa no
exterior, e assim por diante); desafios em relação à equipe (dividir o poder com a
equipe, escolher a equipe adequada, comunicar-se genuinamente com sua equipe);
desafios relativos à relação com pessoas (valorização do ser humano, conhecer sua
equipe, saber ouvir, possuir habilidade interpessoal, investir no próprio crescimento e
promover o das pessoas, saber delegar, estabelecer parcerias, entre outros); desafios
impostos sobre o próprio modo de agir (possuir iniciativa, ser ético, ter bom senso, ser
versátil, possuir capacidade para cumprir metas, inspirar confiança, ser persistente,
intuitivo, entre diversos outros requisitos).
O mundo globalizado exige que as organizações se adaptem, com um grau
de velocidade que denomino até perverso, à descentralização das estruturas e do
poder de decisão, à horizontalidade dos procedimentos e do processo de
comunicação interno, mantendo as interfaces necessárias com o ambiente externo,
atenta aos humores do mercado, que torna tudo rapidamente descartável e obsoleto, o
que, portanto, implica na urgência de novos modelos de gestão.
Retomando o exemplo do nosso emblemático técnico Bernardinho, seria
quase impossível imaginar que, no espaço de tempo de menos de uma década,
presenciaríamos um membro da comissão técnica, em plena quadra, lançando em um
notebook todas as informações pertinentes ao desempenho da equipe durante as
partidas. E, provavelmente, sobre a performance da equipe adversária também.
Diante de tantos desafios, as organizações, sejam elas de quaisquer
naturezas, estão procurando, para preencher seus quadros, lideranças que
concentrem seu foco na manutenção do comprometimento dos empregados com os
objetivos das organizações, garantindo-lhes a saudável liberdade para que eles
utilizem plenamente as suas capacidades e potencialidades.
Neste novo contexto, surgem quatro estilos de liderança para fazer frente às
demandas organizacionais, conforme aponta Certo9,
1. Liderança Transformacional - aquela que cria uma noção de dever dentro da
organização, incentivando novas abordagens na condução e resolução de problemas
e promovendo a aprendizagem a todos os membros da organização.
2. Liderança de Coacher - coacher em inglês significa treinador, técnico; assim, se
caracteriza como a liderança que identifica comportamentos inadequados nos seus
seguidores, apontando os possíveis caminhos, corrigindo-os através de instruções,
para vencer os desafios organizacionais que hoje se impõem.
9
Certo, 2003, p. 331, 332, 333
97
Este autor elenca os principais aspectos para um comportamento de treino: ouvir
atentamente, reunindo dados sobre o que é dito quanto aos sentimentos e emoções
pro trás do que é dito; dar apoio emocional e incentivo pessoal aos seguidores,
motivando-os a dar o melhor de si para atender às exigências das organizações.
Mostra pelo exemplo o que constitui um comportamento adequado, demonstrando
conhecimento técnico no encaminhamento de soluções (colocar a mão na massa).
3. Superliderança - consiste em liderar mostrando aos outros como agir por conta
própria. Se os superlíderes tiverem sucesso, desenvolverão seguidores produtivos que
trabalham independentemente e precisam da mínima atenção do superlíder.
4. Liderança Empreendedora - aquela que se baseia na atitude de que o líder é dono
da empresa, se porta como se estivesse assumindo os riscos pelos erros e acertos na
organização.
Alguns fatores podem contribuir para a redução da necessidade de liderança:
- subordinados com capacidade, experiência, educação e motivação interior;
- as características da tarefa são rotineiras;
- as características como coesão do grupo e alto grau de formalização.
98
Na liderança servidora a autoridade é definida como uma habilidade de levar as
pessoas a fazerem de boa vontade aquilo que se quer que faça. Já o poder é definido
como uma faculdade de fazer com que as pessoas ajam de determinada maneira em
função de influência recebida de alguém que tem força, poder, que se assim não fosse
não fariam.
Nessa linha teórica, o amor do líder aos seus colaboradores se manifesta no dia a
dia, através do seu caráter e busca de satisfazê-los acima de tudo, inclusive em
detrimento das próprias necessidades do líder: Hunter ¹¹ explica que
“Liderança e amor são questões ligadas ao caráter. Paciência,
bondade, humildade, abnegação, respeito, generosidade, honestidade,
compromisso. Estas são qualidades construtoras do caráter, são os
hábitos que precisamos desenvolver e amadurecer se quisermos nos
tornar líderes de sucesso, que vencem no teste do tempo”
Portanto são muitos estudos que nos levam a acreditar que além das
qualificações de gerenciamento, são necessárias também as qualidades de liderança.
Isso para que cada vez mais se alcance os resultados esperados e se concretize os
objetivos de uma organização , sem deixar de lado a importância do relacionamento
interpessoal deste líder/chefe ou simplesmente líder que considere as necessidades
dos seus colaboradores da equipe, que os respeite, incentive, reconheça e muitas
características que nos reportam as coisas simples sem muitas invenções para ser um
líder de sucesso. A busca inclusive no exemplo de Jesus, para exemplificar a liderança
servidora, nos leva a crer em uma nova visão de amor possível no ambiente de
trabalho, como fonte de autoridade, não poder, e de sucesso.
99
Ponto Final
Atividade
Já que a preocupação com a política de segurança pública está na pauta das
reivindicações do cidadão brasileiro, reflita sobre as condições do nosso sistema
penitenciário, com enfoque sobre as facções que estendem seu poder e liderança para
além das fronteiras das prisões, mesmo aquelas consideradas de segurança máxima.
Por que nos sentimos ameaçados e impotentes? Aponte alternativas de
encaminhamento para reduzir essa sensação de insegurança que permeia toda a
sociedade brasileira, com um custo social e econômico de grau elevado. Para tanto,
fundamente suas reflexões, lendo o capítulo As Características das Instituições Totais,
do livro Manicômios, Prisões e Conventos, de Erving Goffman, Editora Perspectiva,
São Paulo. Ao final do estudo, produza um texto, abordando a questão em pauta de
maneira crítica.
Capítulo 7
100
10-Certo, 2003, p. 331, 332, 333
Referências Bibliográficas
FLEURY, Maria Tereza Leme. Cultura e poder nas organizações 2. ed. São Paulo:
Atlas, 1996.
SITES: www.vagalume.com.br
http:/pt.wikipedia.org/wiki/Bernardo_Rocha_de_Rezende
101
Capítulo 8 - Planejamento e Empreendedorismo
Suponhamos que você tenha adquirido uma casa, mas as condições físicas do
imóvel exigem que seja feita uma reforma para atender, minimamente, as suas
necessidades de conforto e segurança na nova moradia.
O primeiro passo é definir como será realizada essa reforma. Provavelmente, você
tenha um esboço de onde quer chegar, sem muita clareza, do tipo ‘sair fazendo’. É uma das
alternativas possíveis. Aí, contando com uma boa dose de sorte, você tem chance de
terminar a reforma atingindo os objetivos que foram rapidamente delineados naquele
esboço.
A alternativa com menos risco é fazer a reforma da sua casa com planejamento.
Se a sua opção for a segunda alternativa, literalmente, mãos à obra!
Primeiramente, será necessário definir o que pretende reformar: o imóvel todo ou
somente uma parte? É preciso que o imóvel esteja desocupado? A reforma será feita por
você mesmo, contando com a ajuda dos amigos, quando sobrar um tempinho, ou você
contratará serviços de terceiros especializados?
Qual o material necessário para viabilizar a obra? Quem fará a cotação de preços, escolher
os fornecedores e comprar efetivamente o material? O(s) fornecedores(s) entregam o
material na obra ou ele é retirado no depósito da loja?
De que recursos financeiros você dispõe? Da poupança acumulada ou buscará crédito em
instituição financeira?
Qual o tempo estimado para a conclusão da obra? As condições meteorológicas indicam
uma probabilidade de estiagem ou um período de chuvas?
102
Enfim, o repertório de perguntas poderia ser ampliado, com um maior nível de
detalhamento, mas a intenção é tão somente fazer um breve exercício de planejamento,
mesmo que de um evento no âmbito mais doméstico, para se traçar, posteriormente, os
planos de ação.
Resguardadas as devidas proporções, vamos adentrar, conceitualmente, no nosso
tema, examinando a função planejamento no mundo das organizações.
Evidentemente, as organizações convivem com um nível de complexidade em grande
escala. São muitas pessoas envolvidas, a tecnologia exigindo renovação freqüente de
máquinas e equipamentos, substituição de softwares, pressões do ambiente externo, no
plano dos consumidores, da comunidade, dos governos, da legislação, do mercado. É
preciso atingir seus objetivos, aumentar a qualidade dos produtos ou serviços e manter a
competitividade.
Para Certo1,
toda empresa existe para um determinado propósito ou objetivo, e os gerentes são
responsáveis por combinar e utilizar os recursos de que dispõe a organização para
garantir que essas empresas alcancem seus propósitos. Caso as atividades sejam
planejadas com eficiência, a produção individual de cada trabalhador contribuirá para
o alcance dos objetivos da empresa.
Ainda segundo Certo2, há quatro funções básicas da administração:
Planejamento - planejar envolve a escolha de tarefas que devem ser desempenhadas a
fim de atingir os objetivos da empresa, descrevendo como as tarefas precisam ser
executadas e indicando quando executá-las. A atividade de planejar enfoca a realização de
metas;
Organização - ato de designar a vários indivíduos ou grupos da empresa, as tarefas
desenvolvidas durante o planejamento. Organizar cria um mecanismo que coloca os planos
em andamento. Os funcionários recebem tarefas que contribuem para os objetivos da
empresa.
Influência - Também citada como sinônimo de motivação, liderança, comando, direção ou
força de vontade - a influência diz respeito primeiramente aos funcionários de uma empresa
e, em última instância, tem como fim aumentar a produtividade.
Controle - é a função administrativa por meio da qual os gerentes reúnem informações que
medem o desempenho recente da empresa; comparam o desempenho atual com padrões
preestabelecidos e determinam, a partir dessa comparação, se a empresa deve implementar
mudanças para alcançar os padrões preestabelecidos.
103
Para atingir o sucesso organizacional e, conseqüentemente, de todos os
empregados envolvidos no processo de planejamento, Certo3 identifica seis etapas a serem
atingidas:
1. Definir os objetivos organizacionais
2. Enumerar formas alternativas de atingir os objetivos
3. Desenvolver premissas sobre as quais cada alternativa se baseia
4. Escolher a melhor alternativa para atingir os objetivos
5. Desenvolver planos para perseguir a alternativa escolhida (estratégicos - de longo prazo e
táticos - de curto prazo)
6. Colocar os planos em ação
7.A etapa de implementação dos planos é relevante para checar a efetividade das etapas
anteriores e propiciar os ajustes necessários para redefinições.
Cena corriqueira na orla carioca, tudo foi iniciado, há mais de cinco décadas, com a
venda do mate Leão e o biscoito de polvilho Globo, doce ou salgado. O mate Leão continua
nas praias, mas também em quiosques nos shoppings. O biscoito Globo não. Não existe
outro ponto de venda, senão nas praias, a embalagem é a mesma, não tem propaganda do
produto. O biscoito Globo faz parte da tradição do Rio e, representa por si só, um caso
típico de uma iniciativa empreendedora.
Depois surgiram os ambulantes de sorvete, cangas, bronzeadores, óculos de sol,
artesanato, ganhando o volume que o texto acima revela. Sem contar os quiosques no
calçadão, explorados comercialmente, a partir de concessão da Prefeitura do Rio de
Janeiro.
Mas o que é empreendedorismo e quais são as características desses
empreendedores?
Segundo Bueno5:
3
Certo, 2005, p.105 e 106
4
Ribeiro, www.empreenderparatodos.adm.br, captado em 10/09/2007
5
Bueno,2005,p.58
104
o termo empreendedorismo originou-se na França, onde Richard Cantillon, de origem
irlandesa, refugiou-se após a queda dos Stuarts. Utilizou a palavra entrepreneur na
teoria econômica para designar aqueles que trabalhavam por conta própria, que eram
inovadores, que corriam riscos, que compravam matéria prima por um preço certo
para revender a preço incerto.
Porém, dentre as várias definições encontradas para a ação empreendedorista, parece ser
Joseph Schumpeter6, economista austríaco, que introduz um novo elemento conceitual:
o empreendedor é o responsável pelo processo de destruição criativa, o
impulso fundamental que aciona mantendo em marcha o motor capitalista criando
novos produtos, novos métodos de produção, novos mercados e, sobrepondo-se
aos antigos métodos menos eficientes e mais caros.
É possível deduzir que Shumpeter associa a idéia de destruição criativa ao movimento
instituinte de um novo paradigma que será incorporado ao sistema de produção.
6
Shumpeter, site www.cibergeo.org, captado em 3/10/2007
7
Navarro, 2000, p.90 e 91
105
Comprometimento - empenha-se na realização de seu sonho. Está comprometido com a
concretização de seus projetos (pessoais e profissionais), mesmo que exijam sacrifícios ou
esforços extraordinários.
Autonomia - seguro é capaz de manter seu ponto de vista mesmo diante da oposição ou de
resultados desfavoráveis.
8
Bueno, 2005, p.68
9
Navarro,2000, p.96
106
Recentemente, um amigo, que reside no Rio de Janeiro, veio a Porto Alegre, após
18 anos da última visita. Com a situação do apagão aéreo, decidiu fazer a viagem de
ônibus, cuja duração é de, aproximadamente, 24 h. Em determinado momento,
conversamos sobre suas impressões da cidade, que conhecera naquela época, o percurso
da viagem, até que chegamos ao momento de comentar as mudanças que aconteceram
nesse período de tempo, principalmente, em relação ao avanço da tecnologia.
Lembramo-nos que, na primeira viagem, falamos por telefone durante o percurso, mas,
naquele tempo, a única possibilidade de contato era através do velho orelhão, nos intervalos
em que o ônibus parava para substituição do motorista ou para fazer alguma refeição.
Agora, entramos em contato por toda a viagem com o advento da telefonia móvel. Aliás, o
aparelho celular não foi somente usado para ligações telefônicas, mas também para o
registro de imagens de todo o trajeto.
No período em que esteve em Porto Alegre, enviou pela internet, com uma
freqüência quase que diária, as fotografias que havia tirado durante os passeios.
Instantaneamente, os parentes cariocas acompanharam sua movimentação na cidade. Os
mais velhos queriam o registro das fotos à moda antiga e lá foi ele para o shopping, com o
pen drive, uma das funções do seu MP3, para reproduzir (e não mais revelar o filme) as
imagens em papel.
No marco de duas décadas, assistimos a transição do disco de vinil para o CD, do
videocassete para o DVD, da TV analógica para a TV digital, do projetor de slides para o
data show, enfim, são apenas alguns exemplos. Toda essa mudança provoca alterações
também no modo de reprodução da informação, gerando o fenômeno da pirataria, dentre
outras questões polêmicas.
Instantaneidade, interatividade, mobilidade, multiplicidades são características da existência
virtual.
Esse cenário traz consigo dilemas a serem superados em várias áreas da vida em
sociedade, em relação ao impacto provocado na esfera do consumo e da convivência.
Poderíamos citar algumas dessas repercussões, como por exemplo, no campo da
educação, da ética, na economia, no aparato jurídico e principalmente no que diz respeito à
exigência de adaptação permanente do ser humano a novas situações. A dificuldade de
acesso à alta tecnologia e a falta de capacitação para operar as novas ferramentas, que são
lançadas como um tsunami, provocam, no sujeito, um sentimento de exclusão, de não
pertencimento e um estado de ansiedade latente.
É com essa rápida reflexão que passamos para o próximo subtítulo.
107
Característica High Touch
10
Navarro,2000, p.97 a 100
108
Além de todas estas características estudadas neste capítulo, a inteligência emocional tem
sido apontada como fundamental para o perfil do bom profissional ou do profissional de
sucesso.
Inteligência emocional
11
www.terra.com.br/istoe/biblioteca/brasileiro/esporte consultada em 10/09/2007
12
Cooper e Sawaf, 1997, p.18
13
Goleman, 1995, p.13
109
paixão e alegria - revela muita coisa sobre como aprendemos os hábitos
emocionais.
Segundo esses autores, com base nas pesquisas da neurociência, é na infância em que
modelamos os circuitos emocionais, tornando-nos mais aptos ou inaptos nos fundamentos
da inteligência emocional.
Na convivência profissional com crianças e adolescentes que sofreram violência intra-
familiar - maus tratos físicos e psicológicos, abuso sexual e negligência grave - tenho
comprovado os danos que as privações de ordem física e emocional na infância podem
causar. Surgem dificuldades no processo de aprendizagem, distúrbio na sexualidade e
desvios de conduta. Se não há intervenção no sentido de reconstituir vínculos afetivos
fragilizados e oferecer as condições adequadas para o pleno desenvolvimento físico e
psicológico dessas crianças, a perspectiva de repercussões negativas na vida adulta é muito
provável. Tornam-se pessoas com baixa auto-estima, apresentam dificuldades no
relacionamento interpessoal, risco de dependência química, dentre outras manifestações,
tendendo à vulnerabilidade pessoal e social.
Mayer citado por Goleman14 descreve os estilos típicos que as pessoas tendem a adotar
para acompanhar e manejar suas emoções:
Autoconsciente - consciente de seus estados de espírito no momento em que ocorrem,
essas pessoas, compreensivelmente, têm certa sofisticação em relação a suas vidas
emocionais. A clareza com que sentem suas emoções pode reforçar outros traços de
personalidade: são autônomas e seguras de seus próprios limites, gozam de boa saúde
psicológica e tendem a ter uma perspectiva positiva da vida. Quando entram num estado de
espírito negativo, não ruminam nem ficam obcecadas com isso e podem sair dele mais
cedo. Em suma, a vigilância delas ajuda-as a administrar suas emoções.
Mergulhadas - são pessoas muitas vezes inundadas por suas emoções e incapazes de
escapar delas, como se seus estados de espírito houvessem assumido o controle. São
instáveis e não têm muita consciência dos próprios sentimentos, de modo que se perdem
neles, em vez de ter alguma perspectiva. Em conseqüência, pouco fazem para tentar
escapar a esses estados de espírito negativos, achando que não têm controle sobre sua
vida emocional. Muitas vezes se sentem esmagadas e emocionalmente descontroladas.
Resignadas - embora essas pessoas muitas vezes vejam com clareza o que estão fazendo,
também tendem a aceitar seus estados de espírito e, portanto, não tentam mudá-los.
Parece haver dois ramos do tipo resignado: os que estão geralmente em bons estados de
espírito e por isso pouca motivação têm para mudá-los, e os que, apesar de verem com
clareza seus estados de espírito, são suscetíveis aos maus e os aceitam com uma atitude
de laissez-faire, nada fazendo para mudá-los, apesar da aflição que sentem - um padrão
encontrado entre, digamos, pessoas deprimidas que se resignam ao seu desespero.
14
Goleman, 1995, p. 61 e 62
110
Certamente as pessoas do perfil autoconsciente se enquadram nas características
de um bom nível de inteligência a emocional, a qual é requisito hoje para muitos cargos e
funções nas organizações, e serve para uma melhor qualidade de vida nas interações
sociais. Além da habilidade de lidar ou manejar com as emoções, a inteligência emocional
consiste na integração das seguintes capacidades:
111
Ponto Final
Atividade:
A partir do conteúdo apresentado, propomos que você identifique, na sua comunidade,
alguma experiência de projeto social destinado à geração de renda. Como roteiro para
aproximação da realidade, sugerimos:
- investigar os motivos que influenciaram a implantação do referido projeto;
- analisar a sua estrutura técnica/administrativa e instalações físicas;
- analisar o processo produtivo;
- fontes de financiamento
- acompanhar os resultados atingidos, considerando-se os planos individual e coletivo.
A partir dessas observações, os (as) alunos (as) deverão elaborar um relatório, emitindo seu
parecer, com base no conteúdo programático.
Capítulo 8
2 - Certo, 2005, p. 5 e 6
112
4 - Ribeiro, www.empreenderparatodos.adm.br, captado em 10/09/2007
5 - Bueno,2005,p.58
6 - Shumpeter, site www.cibergeo.org, captado em 3/10/2007
9 - Navarro,2000. p.96
10 -Navarro,2000, p.97 a 100
11-www.terra.com.br/istoe/biblioteca/brasileiro/esporte consultada em 10/09/2007
12- Cooper e Sawaf, 1997, p.18
13- Goleman, 1995, p.13
14- Goleman, 1995, p. 61 e 62
Referências Bibliográficas
NAVARRO, Leila. Talento para ser feliz. São Paulo: Editora Gente, 2000
SITES: www.empreenderparatodos.adm.br
www.cibergeo.org
www.terra.com.br/istoe/biblioteca/brasileiro/esporte
113
Referências Bibliográficas
114
FREUD, Sigmund. Obras completas de Sigmund Freud – O futuro de uma ilusão. O
mal-estar na civilização. Rio de Janeiro: Imago, 1974. V.XXI.
KOLB, Lawrence. Psiquiatria clínica. 9.ed. Rio de Janeiro: Interamericana, 1977.
MACHADO, Roberto. Microfísica do poder/Michel Foucault. Rio de Janeiro: Edições
Graal, 1979.
MAILHOT G. B. A dinâmica e gênese dos grupos. São Paulo
MOSCOVICI, Fela. Renascença Organizacional. Rio de janeiro: José Olympio, 2003.
MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento interpessoal. 3.ed. Rio de Janeiro: LTC, 1985.
NAVARRO, Leila. Talento para ser feliz. São Paulo: Editora Gente, 2000.
OSÓRIO, Luiz Carlos. Psicologia Grupal: uma nova disciplina para o advento de
uma era. Porto Alegre: Artmed, 2003.
SITES: www.empreenderparatodos.adm.br
www.cibergeo.org
www.terra.com.br/istoe/biblioteca/brasileiro/esporte
www.vagalume.com.br
http:/pt.wikipedia.org/wiki/Bernardo_Rocha_de_Rezende
115
i
1. Machado, 1996, p.14
116