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3098
S3C2T1
Fl. 3.098
8
7-0
3.097
MINISTÉRIO DA FAZENDA 01
S3C2T1
/2
72
CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS
TERCEIRA SEÇÃO DE JULGAMENTO
3 05
0.7
0 38
Processo nº 10380.730572/201708 1
Recurso nº Voluntário S O
Acórdão nº C ES
3201005.423 – 2ª Câmara / 1ª Turma Ordinária
O
Sessão de 23 de maio de 2019
F PR
Matéria IPI
A R
Recorrente AMBEV S.A.
D -C
Recorrida
PG
FAZENDA NACIONAL
NO
ADOASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL
R Período de apuração: 01/01/2013 a 31/12/2016
GE AUTO DE INFRAÇÃO. NULIDADE. ARTS. 10 E 59 DO PAF. ART. 142
DÃO CTN. CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. INEXISTÊNCIA.
O Auto de Infração lavrado por autoridade competente, com a indicação
Ó R expressa das infrações imputadas ao sujeito passivo e das respectivas
A C fundamentações, constitui instrumento legal e hábil à exigência do crédito
tributário.
Todos os fatos observados pelo Fisco foram cuidadosamente relatados no
Termo de Verificação Fiscal construído como parte integrante do auto de
infração do qual tomou ciência a autuada e os contestou com fartos
argumentos de direito.
Higidez que afasta sua nulidade à luz dos arts. 10 e 59 do PAF e 142 do CTN
DECISÃO DE 1ª INSTÂNCIA. NULIDADE. CERCEAMENTO DO
DIREITO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA
No âmbito do processo administrativo fiscal, não configura cerceamento do
direito de defesa decisão de Delegacia de Julgamento que enfrenta todas as
matérias suscitadas em impugnação, mormente, quando apresenta
fundamentação adequada e suficiente para declarar a improcedência do pleito
de formulado pela contribuinte.
NULIDADE. AUTO DE INFRAÇÃO. AUTUAÇÃO POR PRESUNÇÃO.
Não é passível de nulidade o lançamento tributário realizado em observância
aos ditames do art. 142 do Código Tributário Nacional (CTN), quanto ao
aspecto material.
Descabida a declaração de nulidade quando o relatório fiscal contém a
descrição pormenorizada dos fatos imputados ao sujeito passivo, indicam os
dispositivos legais que ampararam o lançamento e expõem de forma clara e
1
DF CARF MF Fl. 3099
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.099
2
DF CARF MF Fl. 3100
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.100
Os produtos intermediários que geram direito ao crédito básico do IPI, nos
termos do REsp nº 1.075.508, julgado em sede de recurso repetitivo, são
aqueles consumidos diretamente no processo de produção, ou seja, aqueles
que tenham contato direto com o produto em fabricação.
Conjuntura dos fatos que autoriza a aplicação ao presente caso do
entendimento do STF no RE 566.819, visto não haver decisão em contrário
no RE 592.891.
DIREITO AO CRÉDITO DE IPI. ALEGAÇÃO DE BOAFÉ.
IMPOSSIBILIDADE.
A boa fé do adquirente não é suficiente para garantir o direito ao crédito
como se devido fosse se ausentes os requisitos legais previstos na norma de
regência.
ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO
Período de apuração: 01/01/2013 a 31/12/2016
MULTA DE OFÍCIO. ALEGAÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE.
PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO CONFISCO
A autoridade administrativa não é competente para examinar alegações de
inconstitucionalidade de leis regularmente editadas, tarefa privativa do Poder
Judiciário.
O princípio da vedação ao confisco é dirigido ao legislador e ao controle
jurisdicional da constitucionalidade. A multa legalmente prevista não pode
ser afastada pela administração tributária por inconstitucionalidade.
Aplicação da Súmula Carf nº 2
JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. INCIDÊNCIA.
CABIMENTO. SÚMULA CARF Nº 108.
O crédito tributário inclui tanto o valor do tributo quanto o da penalidade
pecuniária. Assim, quer ele se refira a tributo, quer seja relativo à penalidade
pecuniária, não sendo pago no respectivo vencimento, está sujeito à
incidência de juros de mora, calculados na forma da lei.
Incidem juros moratórios, calculados à taxa referencial do Sistema Especial
de Liquidação e Custódia SELIC, sobre o valor correspondente à multa de
oficio (Súmula CARF nº 108).
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar as
preliminares de nulidade, e, no mérito, por maioria de votos, em dar provimento parcial ao
Recurso Voluntário, apenas para determinar a aplicação da decisão proferida pelo STF acerca
da aquisição de produtos isentos da ZFM, vencidos, no ponto, os conselheiros Paulo Roberto
Duarte Moreira, Larissa Nunes Girard e Leonardo Correia Lima Macedo, que entenderam
afastar a sua aplicação, e os conselheiros Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Leonardo Vinicius
Toledo de Andrade e Laércio Cruz Uliana Junior, que deram provimento parcial em maior
extensão, para também manter a classificação fiscal utilizada pela contribuinte. Designada para
3
DF CARF MF Fl. 3101
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.101
redigir o voto vencedor a conselheira Tatiana Josefovicz Belisario. Manifestou intenção de
apresentar declaração de voto o conselheiro Pedro Rinaldi de Oliveira Lima.
(assinado digitalmente)
Charles Mayer de Castro Souza Presidente
(assinado digitalmente)
Paulo Roberto Duarte Moreira Relator
(assinado digitalmente)
Tatiana Josefovicz Belisario Redatora Designada
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Charles Mayer de
Castro Souza, Paulo Roberto Duarte Moreira Tatiana Josefovicz Belisario, Leonardo Correia
Lima Macedo, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Larissa Nunes Girard (suplente convocada),
Leonardo Vinicius Toledo de Andrade e Laercio Cruz Uliana Junior.
Relatório
Por bem sintetizar os fatos, transcrevese o relatório da decisão proferida pela
autoridade a quo no Acórdão nº 0967.245:
Trata o presente processo do auto de infração de fls. 2 a 27, do
qual consta exigência de IPI relativo ao período de janeiro 2013
a dezembro de 2016.
A autuação se deveu à falta de recolhimento do IPI em razão do
aproveitamento de créditos indevidos do imposto, nas seguintes
hipóteses:
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DF CARF MF Fl. 3102
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.102
Inconformada, a autuada sustenta, em resumo:
PRELIMINARMENTE:
nulidade do auto de infração:
1) pelo fato de ter havido da alteração dos critérios jurídicos do
lançamento (novo enquadramento fiscal dos “kits” para
produção de refrigerantes);
2) reclassificação fiscal com ausência de motivação.
NO MÉRITO:
direito ao crédito de IPI sobre os insumos e materiais de
embalagem para fabricação de refrigerantes adquiridos da
ZFM;
direito ao crédito sobre as aquisições ao abrigo da isenção do
artigo 82, II, do RIPI/2010;
ausência de erro de classificação fiscal dos “kits” adquiridos
junto às empresa PEPSI e AROSUCO;
boafé da impugnante e o direito aos créditos glosados;
regularidade do creditamento extemporâneo;
ilegalidade e improcedência da multa de ofício e da cobrança
de juros sobre a multa;
É o Relatório, no essencial.
A Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Juiz de Fora/MG
por intermédio da 3ª Turma, no Acórdão nº 0967.245, sessão de 13/07/2018, julgou
improcedente a impugnação do contribuinte. A decisão foi assim ementada:
ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO
Período de apuração: 01/01/2013 a 31/12/2016
Não há que se cogitar de nulidade por alteração de critério
jurídico nem ofensa ao art. 146 do CTN se a Fiscalização
promove autuação baseada em entendimento distinto daquele
que seguidamente adota o contribuinte, mas que jamais foi
objeto de manifestação expressa da Administração Tributária.
NULIDADE. ALEGADA AUSÊNCIA DE MOTIVAÇÃO E DE
FUNDAMENTO TÉCNICO. INOCORRÊNCIA.
No caso de não haver disputa com relação às características
técnicas do produto, não há que se cogitar de nulidade se a
Fiscalização determina classificação distinta daquela
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DF CARF MF Fl. 3103
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.103
ASSUNTO: CLASSIFICAÇÃO DE MERCADORIAS
Período de apuração: 01/01/2013 a 31/12/2016
ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS IPI
Período de apuração: 01/01/2013 a 31/12/2016
Somente aqueles produtos de natureza específica, originados de
matériasprimas agrícolas e extrativas vegetais é que possuem a
aptidão de gerar crédito do IPI para o adquirente.
DIREITO AO CRÉDITO DE IPI. INSUMOS ADQUIRIDOS DA
ZONA FRANCA DE MANAUS. FALTA DE PREVISÃO LEGAL.
IMPOSSIBILIDADE.
Por falta de previsão legal, não cabe o direito ao crédito de IPI
como se devido fosse relativamente às aquisições de insumos
isentos produzidos na ZFM.
Não geram direito ao crédito de IPI a entrada de insumos que
sejam utilizados apenas indiretamente no processo industrial,
não observando as condições estabelecidas no Parecer
Normativo CST 65/79.
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DF CARF MF Fl. 3104
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.104
Impugnação Improcedente
Crédito Tributário Mantido
Em preliminares:
A nulidade da decisão recorrida por vício de fundamentação e cerceamento
do direito de defesa em razão da ausência de apreciação das provas e argumentos apresentados;
A nulidade da autuação por mudança de critério jurídico;
No mérito:
1 A correta classificação fiscal dos kits concentrados para a fabricação de
refrigerantes;
2 A necessidade da convalidação dos créditos em função da boafé da
Recorrente;
3 O direito ao creditamento de IPI referente à aquisições de filmes, rolhas e
tampas plásticas da Amazônia Ocidental;
4 O direito constitucional ao crédito e IPI referente aos insumos desonerados
adquiridos da ZFM;
5 A regularidade do creditamento de IPI, inclusive extemporâneo, decorrente
da aquisição de materiais intermediários de produção;
6 Improcedência e ilegalidade da multa, em razão do caráter confiscatório; e
7 Improcedência e ilegalidade da cobrança de Juros sobre a Multa.
É o relatório
Voto Vencido
Conselheiro Paulo Roberto Duarte Moreira, Relator
Consta dos autos que o litígio versa sobre o lançamento de IPI, por falta de
recolhimento, decorrente da escrituração e utilização de créditos indevidos desse Imposto.
7
DF CARF MF Fl. 3105
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.105
Os créditos foram reputados indevidos pela fiscalização, porque, inexistindo
lançamento do IPI nas respectivas notas fiscais de aquisição (o emitente informou saída com
isenção), o interessado calculou créditos e os registrou na escrita fiscal, mediante utilização de
classificação tarifária e alíquota do IPI em desacordo com os fatos apurados e com a legislação
aplicável.
Desponta como matéria principal o aproveitamento de crédito de IPI nas
aquisições de matériaprima (kits de "concentrados") da Arosuco/Pepsi na produção de
refrigerante, em cujas notas fiscais não constaram o destaque do Imposto em razão de suposta
isenção . Há também aquisições de materiais de embalagem adquiridos das empresas Valfilm e
Ravibras (filme strech, rolhas e tampas plásticas), cujas saídas também eram consideradas
isentas.
Realizada esta introdução, passase às matérias suscitadas em preliminares e
no mérito.
PRELIMINARES (vencedor)
a. A nulidade da decisão recorrida por vício de fundamentação e cerceamento
do direito de defesa em razão da ausência de apreciação das provas e argumentos apresentados
quanto;
b. A nulidade da autuação por ausência de pressupostos de validade, com
base em presunção: inexistência de apresentação de provas técnicas e de apreciação daquelas
apresentadas no curso do procedimento (laudos);
c. A nulidade da autuação por mudança de critério jurídico;
Tenho por fundamento que os atos administrativos são eivados de nulidade
quando a sua prática pretere formalidade essencial à sua validade ou da qual resulte, sempre e
necessariamente, prejuízo irreparável ao exercício do contraditório e da ampla defesa pelo
interessado.
Constatase in casu que o auto de infração e a decisão recorrida contêm seus
elementos obrigatórios (incisos do art. 10 do PAF); além disso, não se verifica qualquer das
hipóteses de nulidade elencadas no art. 59 do PAF, relativas ao cerceamento do direito de
defesa. A autoridade autuante cumpriu fielmente o que determina o art. 142 do CTN,
identificando os elementos do fato gerador do Imposto e a constituição do crédito tributário,
segundo a legislação de regência. Igualmente, a Turma julgadora de 1º instância pautou sua
decisão acolhendo os argumentos do Fisco tendo motivada sua decisão.
Preliminares de nulidade da decisão da DRJ
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DF CARF MF Fl. 3106
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.106
Percebese desde logo que a recorrente ataca a decisão quanto à abordagem
de suas razões de defesa, que as considera inadequada. Tal comportamento revela o
inconformismo ao que restou decidido; não há motivo de nulidade da decisão nessa matéria.
Em determinado ponto a nulidade da decisão é atribuída à atividade do Fisco
que se utilizou de presunção na reclassificação dos kits de insumo e glosa de créditos de IPI
por não ter apresentado prova documental ou técnica. O vício da decisão seria o de não se
manifestar acerca da ausência de tais pretensas provas.
Tais argumentos foram necessários pois que o parecer elaborado não se
limitou a efetuar a simples tarefa de identificar as mercadorias, mas a de responder aos quesitos
formulados de forma a corroborar o código tarifário pretendido pela AMBEV; dai decorre a
explicitação da decisão em afirmar a competência exclusiva do AuditorFiscal da RFB no
mister de classificação fiscal, que no mérito fora confirmada a reclassificação pela aplicação da
legislação de regência, e não por mera presunção.
Por tudo que se verificou, não há qualquer precariedade nos fundamentos
para afastar a classificação dos kits e tampouco o cerceamento do direito de defesa.
Portanto, não vislumbro qualquer nulidade na decisão recorrida.
Preliminares de nulidade do Auto de Infração
O lançamento fiscal não teve por base presunção fiscal de ocorrência do fato
gerador.
À cada uma das infrações constatadas pela autoridade fiscal seguise farta
descrição das irregularidades à luz da legislação de regência com a indicação dos dispositivos
legais infringidos.
Ao final demonstrou o Fisco o não cumprimento dos requisitos para a fruição
de benefícios fiscais na aquisição de mercadorias da ZFM/Amazônia Ocidental e ao
aproveitamento de crédito ficto do IPI além de minuciosamente demonstrar a correta
classificação fiscal nos termos das Regras Gerais de Interpretação e Notas Explicativas do
Sistema Harmonizado.
Resta assim constatado que o procedimento fiscal foi realizado com estrita
observância das normas de regência. O Relatório Fiscal e as demais peças dos autos
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DF CARF MF Fl. 3107
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.107
demonstram de forma clara e precisa a origem do lançamento, sem arrimo em presunções não
se podendo cogitar de nulidade.
Assevera que a presente autuação fiscal, além de configurar revisão de ato em
desconformidade com as reiteradas práticas administrativas vigentes no momento em que as
supostas infrações de creditamento indevido ocorreram, configura ainda afronta à
jurisprudência judicial majoritária da época.
Antes de passar à questão de direito, impende apontar questões fáticas vez
que a recorrente aduz que a reclassificação foi meio de contornar a jurisprudência judicial
majoritária da época que concedia a isenção do IPI nas aquisições da ZFM
Outra apontamento fático é que remonta o ano de 2015 as autuações da
Receita Federal em face dos adquirentes de kits de insumos que os classifica no Ex 01 ou 02 do
código 2106.90.10.
Passemos à análise da suposta alteração de critério jurídico decorrente da
reclassificação fiscal dos kits de insumos para fabricação de bebidas.
Entendo que para que haja a alteração de critérios jurídicos adotados no
lançamento, vedada pelo art. 146 do CTN, deve ter havido um lançamento de ofício anterior
em relação aos mesmos fatos geradores cujo posicionamento se pretende alterar.
Nesse sentido, não houve qualquer alteração de procedimento fiscal no
tocante à classificação fiscal em relação à contribuinte.
O CARF tem posicionamento firme neste sentido em julgamento de Recurso
da AMBEV. Cito dois deles.
No Acórdão nº 3402004.988, sessão de 21/03/2018, o Relator, Conselheiro
Waldir Navarro Bezerra, firmou o entendimento de que "O fato de o Fisco não haver detectado
anteriormente uma determinada infração praticada pelo contribuinte não pode ser interpretado
10
DF CARF MF Fl. 3108
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.108
como um reconhecimento tácito da validade desta conduta, nem tampouco tomado como uma
“prática reiteradamente observada pelas autoridades administrativas”, que lhe atribua foros de
“norma complementar de lei”.
Em caso análogo, no Acórdão nº 3302006.113, sessão de 27/11/2018, o
Relator Conselheiro Jorge Lima Abud, reproduziu em seu voto manifestação da Procuradoria
da Fazenda Nacional de que "o mero silêncio administrativo não se confunde com adoção de
critério jurídico pela autoridade administrativa".
Assim, não há que se falar em qualquer alteração de critério jurídico no
lançamento a reclassificação fiscal em relação ao contribuinte.
MÉRITO
No julgamento das razões de defesa nas matérias de mérito será obedecida
sua disposição topológica no recurso voluntário, que se inicia com a classificação fiscal dos
kits de insumos para a fabricação de bebidas pela AMBEV, que as empresas da cadeia de
produção denominamos "kits concentrados".
Todavia, impende observar que a classificação fiscal dos kits foi fundamento
subsidiário do Fisco para glosar os créditos aproveitados. Explico.
As vendas de produtos industrializados adquiridos pela AMBEV foram, sem
exceção, com o benefício de uma isenção objetiva regional e os créditos decorrentes dessas
aquisições são fictos, eis que o IPI não foi destacado nas notas fiscais de saída. Teve como
fundamento da isenção e de crédito ficto o art. 81, II (base legal no art. 9º do DecretoLei nº
288/1967) ou art. 95, III (base legal no art. 6º do DecretoLei nº 1.435/1975), ambos
cumulados com o art. 237, todos do RIPI/2010.
Dessa a forma, a fiscalização afastou ambos os fundamentos de isenção e de
crédito fícto, com argumentos de que, em quaisquer das hipóteses, não houve o cumprimento
dos requisitos para a isenção. E, uma vez afastada a isenção, negase o crédito ficto, inobstante
a classificação fiscal do produto.
11
DF CARF MF Fl. 3109
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.109
Classificação fiscal dos "kits" (vencedor)
O direito ao crédito ficto em razão de saídas isentas de produtos
industrializados na Amazônia Ocidental, é conferido quando atendido aos requisitos previsto
no art. 6º, § 1º do DL nº 1.435/75 (arts. 95, III e 237 RIPI/2010). Esse crédito fícto corresponde
à alíquota do código tarifário do produto na TIPI, e somente será efetivo diante de uma alíquota
positiva, pois de alíquota zero nenhum valor se apurará.
À parte da conclusão de que os kits de bebidas não satisfazem os requisitos
de isenção e suas aquisições não geram o direito ao crédito ficto do IPI, a autoridade fiscal
procedeu à reclassificação desses produtos industrializados por entender que não se tratam de
concentrados, na acepção dada ao termo pelo Sistema Harmonizado de classificação (Notas e
regras de classificação).
Dessa forma, neste julgamento há de se analisar os fundamentos para tal
assertiva a fim de se julgar a procedência ou não da reclassificação.
Os textos dos EX 01 e 02 do código TIPI 2106.9010:
12
DF CARF MF Fl. 3110
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.110
2106.90.10 Preparações dos tipos utilizados para elaboração de
bebidas
A recorrente insiste em afirmar1 que a atividade de classificação fiscal de
mercadorias possui caráter eminentemente técnico do que decorre a imprescindibilidade da
análise de laudo técnico elaborado pelo INT.
A AMBEV entende que a classificação se dá pela simples aplicação da RGI 1
do SH, em precedência às demais, porque o texto do Ex 01 do código 2106.90.10 compõese
da expressão "preparação composta" para a fabricação de bebidas não alcoólicas, não se atendo
ao que dispõe os textos das demais regras no tocante às definições e termos utilizados no SH.
Há incorreções no entendimento da recorrente.
A RGI 1 não deixou de ser aplicada.
Partiuse de uma premissa equivocada de que a natureza do conjunto de kits
de insumos é uma "preparação composta", fato refutado pela autoridade fiscal com será
abordado neste tópico.
A correta classificação fiscal de qualquer mercadoria só pode ser alcançada
depois de haver sido prévia e devidamente identificada a respectiva posição de enquadramento.
A aplicação das regras de classificação não se dá ao acaso permitindose escolher qual dos
códigos melhor se identifica com a descrição do bem; ao contrário, a metodologia é lógica e
possui regramento jurídico, que impõe a utilização sequencial observandose os requisitos de
aplicação e de exceção (exclusão) de cada uma delas antes que se prossiga na verificação do
código correto.
É de disposição legal que a classificação fiscal seja de caráter jurídico, isto
porque sujeita à aplicação de regras de classificação e interpretação fiscal cuja competência é
da Secretaria da Receita Federal do Brasil, nos termos do disposto nos arts. 48 a 50 da Lei nº
9.430, de 27/12/1996, nos arts. 46 a 53 do Decreto nº 70.235, de 6/03/1972, no art. 1º do
Decreto nº 97.409, de 22/12/1988, no art. 2º do Decreto nº 766, de 3/03/1993, nos arts. 88 a
102 do Decreto nº 7.574, de 29/09/2011, e nos arts. 2º a 4º do Decreto nº 7.660, de 23/12/2011.
Nesse sentido, pareceres ou laudo técnico não podem apontar ou confirmar
qualquer código tarifário correspondente a mercadoria a qual procedeu à análise de suas
características ou composição, ainda que de forma indireta ao responder quesitos formulados
pelo contribuinte que nitidamente pretende resposta afirmativas à pretensão de determinada
1
"De plano, cumpre ressaltar que, diferentemente do quanto afirmado pela r. decisão recorrida, a operação de
enquadramento de determinado produto em código de classificação fiscal tem caráter essencialmente técnico." (fl.
3.046 do Recurso Voluntário)
13
DF CARF MF Fl. 3111
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.111
classificação que entende correta. O § 1º do art. 30 do Decreto nº 70.235/72 é categórico ao
delimitar as conclusões exaradas nesses trabalhos técnicos:
Art. 30. Os laudos ou pareceres do Laboratório Nacional de
Análises, do Instituto Nacional de Tecnologia e de outros órgãos
federais congêneres serão adotados nos aspectos técnicos de sua
competência, salvo se comprovada a improcedência desses
laudos ou pareceres.
O Laudo técnico do INT, juntado no curso do procedimento fiscal, não foi
rechaçado pelas autoridades fiscal ou julgadora, ao contrário confirma as constatações do Fisco
quanto à existência de kits de insumos individualizados e constituídos por ingredientes.
No entanto, o equívoco do Parecer INT, assinado somente por engenheira
mecânica, é confirmar a classificação fiscal apontada pela AMBEV na formulação dos
14
DF CARF MF Fl. 3112
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.112
quesitos, contrariando sua própria ressalva que fizera ao final do laudo de que " a competência
do enquadramento do produto é da Coordenação Geral do Sistema de Tributação ou das
Superintendências Regionais da Receita Federal, do Ministério da Fazenda”. Percebese ainda
que, erroneamente, o Laudo responde aos quesitos formulados com a transcrição de textos da
NESH, sem que traga conceitos que infirmem as conclusões fiscais, mormente, a fundada no
item XI da Nota Explicativa da RGI 3b.
Encaminho meu voto no sentido de assentir com as conclusões da autoridade
fiscal exarada ao longo da análise no tópico da classificação fiscal e passo, de forma resumida,
a demonstrar os fundamentos daquela autoridade ao constatar que os kits de insumos para
fabricação de bebidas pela AMBEV não se tratam de concentrados na acepção das Regras
Gerais de Interpretação e Notas Explicativas do Sistema Harmonizado.
Fundamento 1: Os produtos que compõem o kit não são preparações
compostas.
A explicação do que vem a ser o termo "preparações" na NCM/TIPI e NESH
foi apresentada pela fiscalização a partir das Notas do Sistema Harmonizado, do que resulta
que sempre se refere a uma mistura, que no caso "composta" tratase de matérias de Capítulos
distintos da NCM/TIPI.
Dessa forma, o texto do Ex 01 e Ex 02 do código 2106.90.10, ao ser
referirem a “preparações compostas”, estão tratando de bens constituídos por uma mistura de
diversas substâncias, que se apresentam em corpo único. Ocorre que os componente dos
‘KITS”, isoladamente considerados, não podem ser identificado como um extrato ou sabor
concentrado, não perfazendo, portanto, o conceito de mercadoria única, como indevidamente
aduz a recorrente.
Os "kit de insumos" se apresentam como conjuntos de ingredientes
embalados individualmente, portanto não misturados, sem identidade una, tampouco prontos
para uso na fabricação de bebidas como se concentrado fosse.
Existem partes sólidas dos kits que se constituem produtos individuais e
podem ser adquiridos de outros fornecedores, o que comprova não se tratarem de "preparações
compostas". São eles: Benzoato de Sódio, Sorbato de Potássio e Ácido Cítrico.
Fundamento 3: A forma de apresentação dos kits exige a observação do
inciso XI, da Regra "3b)" das Notas Explicativas do Sistema Harmonizado e impede considerá
los mercadoria única.
A RGI 1 impõe que a classificação de mercadorias é determinada pelos textos
das posições e das Notas de Seção ou de Capítulo. A RGI 6, que é de aplicação subsidiária às
demais regras, determina a classificação de mercadorias nas subposições de uma mesma
posição pelos textos dessas subposições.
15
DF CARF MF Fl. 3113
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.113
Uma vez determinado que os kits de insumos não se compõem de
"preparações", mas de vários ingredientes individualizados, a autoridade fiscal apenas afastou a
classificação dos kits de insumo no Ex 01 do código 2106.90.10, mas de forma alguma
desprezou a aplicação da RGI 1 como entendeu a recorrente.
O procedimento de classificação realizado pelo Fisco prosseguiu à análise e
fundamentou o afastamento das Regras 2 pois os kits não se tratam de produtos misturados,
incompletos ou inacabados, tampouco desmontado ou por montar. Quanto à Regra 3, concluiu
que a Regra "2b" não deixou qualquer possibilidade de sua aplicação em razão de, como
mencionado, os kits não se constituem produtos misturados ou artigos compostos.
Ainda em relação à Regra 3, a fiscalização informa o correto entendimento da
Nota Explicativa XI da Regra 3b efetuado pelo Conselho de Cooperação Aduaneira, que afasta
qualquer dúvida quanto à classificação dos componentes utilizados para a fabricação de
bebidas. Para elucidar, trago à colação excertos que constam no TVF:
Face à forma de apresentação dos KITS, fazse importante
observar o disposto na 3ª RGI/SH do Sistema Harmonizado, a
qual trata de hipótese em que obras constituídas pela reunião de
artigos diferentes e mercadorias apresentadas em sortidos
acondicionados para venda a retalho devem ser classificadas
como uma mercadoria única
[...]
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DF CARF MF Fl. 3114
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.114
Nota Explicativa XI à Regra “3.b)”, em nítida colisão com a tese
que a fiscalizada pretende fazer prosperar.
Não há, pois, como enquadrar os insumos em análise nessa
Regra “3.b)”, pois não são “produtos misturados”, nem
“obras”, tampouco estão “acondicionados para venda a
retalho”. Logo, a possibilidade de classificação desses KITS, ou
de conjunto de partes não misturadas, como uma mercadoria
única está em desalinho com a aludida Regra, que, insistimos,
não se aplica aos insumos adquiridos de AROSUCO e PEPSI.
[...]
Posto isso, evidentemente, os KITS fornecidos por AROSUCO e
PEPSI à contribuinte não se enquadram como artigo
apresentado desmontado ou por montar.
Portanto, concluise que os componentes dos kits de insumos para fabricação
de refrigerantes que contenha extrato e outros ingredientes, acondicionado em embalagem
individual, não podem ser enquadrados em Ex do código 2106.90.10, mas tãosó em códigos
tarifários conforme sua composição, pela estrita aplicação da RGI 1 com o subsídio da RGI 6.
Fundamento 4: O processo de fabricação do refrigerante no estabelecimento
da engarrafadora distingue a etapa na qual é produzido o concentrado classificado no Ex 01 do
código 2106.90.10.
A descrição do processo industrial no estabelecimento da recorrente revela a
etapa exata em que se obtém o concentrado de refrigerante, que pode ser assim sintetizada:
O xarope simples é enviado a outro equipamento no qual se mistura com os
ingredientes que compõe o kit adquirido da Arosuco/Pepsi, obtendose o xarope composto,
caracterizado como um concentrado;
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DF CARF MF Fl. 3115
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.115
Dessa forma, o concentrado que se classifica no EX 01 ou 02 do código TIPI
2106.90.10, obtido após etapas de industrialização no estabelecimento da AMBEV
(engarrafadora), não corresponde aos componentes dos kits produzidos pela Arosuco/Pepsi,
pois esses (kits) apenas são uma das matériasprimas no processo de obtenção do concentrado.
Ressaltase que essa distinção entre componentes dos kits da Arosuco/Pepsi e o concentrado da
engarrafadora se dá a nível de apresentação física, composição química, identificação nos
termos da legislação do MAPA e, consequentemente, resulta em distintas classificações
tarifárias na TIPI.
É irrazoável e ilógica a pretensão da recorrente de que a classificação do kit
produzido pela Arosuco/Pepsi deva ser a do concentrado obtido no processo industrial da
AMBEV pois a ele se destina como um dos insumos. Tal fundamento não encontra guarida nas
regras de interpretação do SH e NESH.
Dessa forma, não há que se falar em desconsiderar as deliberações do
Conselho de Cooperação Aduaneira (CCA) utilizadas como fundamento para a edição da Nota
Explicativa XI da Regra 3b como alegado pela recorrente (fl. 3.054) que se tratava apenas um
trabalho preparatório anterior à redação da referida Nota. não conferindo qualquer efeito
vinculante.
Como subsídio adicional trago excerto do voto do Conselheiro Waldir
Navarro Bezerra no Acórdão nº 3402004.988, de 21/03/2018 e julgamento de Recurso da
AMBEV:
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DF CARF MF Fl. 3116
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.116
15. Análise do item XI da Nota Explicativa da RGI 3 b), do SH
Considerase que o fato de existir na NESH um item específico
que regula os produtos aqui em discussão é suficiente, por si só,
para demonstrar o erro no entendimento adotado pela AMBEV.
Normalmente, diferentes matérias ou artigos, quando embalados
individualmente, devem ser classificados separadamente, ainda
que integrantes de uma mesma remessa.
Nos termos do art. 16 do Decreto nº 7.212, de 2010, atualmente
em vigência, a classificação de mercadorias no âmbito da
Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) é realizada com o
emprego das seis Regras Gerais para Interpretação do Sistema
Harmonizado (RGI/SH), como também das duas Regras Gerais
Complementares (RGC) e das Notas Complementares (NC).
A regra 1ª RGI dispõe que:
Vejase o que dispõem as Regras Gerais Complementares:
1. (RGC1)
2. (RGC2)
Assim, o ponto de partida para classificar um produto são os
textos das posições e das notas de Seção e Capítulo da TIPI.
Portanto, dúvida não há que as Notas Explicativas do Sistema
Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias
(NESH), versão lusobrasileira, aprovadas pelo Decreto nº 435,
de 27 de janeiro de 1992 e alterações posteriores, constituem
elemento subsidiário de caráter fundamental para a correta
interpretação do conteúdo das posições e subposições do SH.
Neste sentido, deve se observar, em especial, o item XI da Nota
Explicativa da RGI 3 b), transcrito a seguir, que exclui os bens
destinados à fabricação de bebidas do campo de aplicação da
RGI 3 b) do Sistema Harmonizado:
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DF CARF MF Fl. 3117
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.117
XI) A presente Regra não se aplica às mercadorias constituídas
por diferentes componentes acondicionados separadamente e
apresentados em conjunto (mesmo em embalagem comum), em
proporções fixas, para a fabricação industrial de bebidas, por
exemplo.
O CCA (órgão que 1994 passou a ser chamado de Organização
Mundial das Aduanas – OMA) decidiu incorporar a sua decisão
sobre o assunto na NESH, por meio da criação do item XI da
Nota Explicativa da Regra Interpretativa 3 (b). Transcrevo a
seguir trecho:
Em suas sessões de outubro de 1985 (na 55ª. Sessão do Comitê
de Nomenclatura e 55ª. Sessão do Comitê do Sistema
Harmonizado Interino), os Comitês examinaram a classificação
das bases de bebidas constituídas por diferentes componentes
importados conjuntamente em proporções fixas em uma remessa.
(i) Regra Interpretativa Geral 3 (b) . Novo Item (XI).
Após Item ( X ), insira o seguinte novo Item ( XI) :
Da leitura do material, vemos que o item XI da Nota Explicativa
da RGI 3 b)
e de um refrigerante sabor Cola.
O texto da análise do CCA, equivale a uma detalhada exposição
de motivos para o item XI da Nota Explicativa da RGI 3 b),
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DF CARF MF Fl. 3118
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.118
O Sistema Harmonizado é cogente e foi internalizado no Brasil
por meio do Decreto nº 97.409, de 22/12/1988, cujo art. 1°
expressa:
Art. 98. Os tratados e as convenções internacionais revogam ou
modificam a legislação tributária interna, e serão observados
pela que lhes sobrevenha.
Fundamento 6: Os produtos que compõem o kit não são extratos ou sabores
concentrados e quando diluídos em água não resultam na bebida.
Para efeito da legislação do MAPA que trata de bebidas, o produto
concentrado ou o preparado líquido, quando diluído, deverá apresentar as mesmas
características fixadas nos padrões de identidade e qualidade para a bebida/refrigerante. São as
prescrições dos arts. 13 e 30 da Lei nº 8.918/1994, verbis:
Art. 13. A bebida deverá conter, obrigatoriamente, a matéria
prima vegetal, animal ou mineral, responsável por sua
característica sensorial, excetuando o xarope e o preparado
sólido para refresco.
[...]
§ 4º O produto concentrado, quando diluído, deverá apresentar
as mesmas características fixadas nos padrões de identidade e
qualidade para a bebida na concentração normal.
[...]
Está correta a conclusão da fiscalização de que o concentrado deve conter
todos os extratos e aditivos da bebida, o que permite que, quando diluído, apresente os mesmos
padrões de identidade e qualidade do produto final. Isto porque a composição do kit que
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DF CARF MF Fl. 3119
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.119
contenha o extrato e outros ingredientes, se diluído individualmente, não apresentaria as
mesmas características sensoriais e físicoquímicas do refrigerante que porventura viesse a ser
elaborado a partir dele. O aroma, o sabor e a coloração (elementos das características
sensoriais), bem como as características físicoquímicas não seriam iguais. Se assim não fosse,
seriam desnecessárias as outras partes que compõem cada kit.
Assim, não se pode atribuir capacidade de diluição a nenhum componente
dos KITS para fabricação de bebidas. Se o conteúdo de qualquer embalagem individual fosse
diluído, não apresentaria as mesmas características sensoriais e físicoquímicas da bebida que
se pretende comercializar.
Arremata a autoridade fiscal em sua conclusão:
Logo, tratandose das preparações compostas para elaboração
de bebidas da posição 22.02, não há dúvida de que o
concentrado diluído deve apresentar as mesmas características
fixadas nos padrões de identidade e qualidade para a bebida na
concentração normal, tanto que uma diferença fundamental
entre o “EX 01” e o “EX 02” é a "capacidade de diluição", que
no primeiro é superior a "10 partes da bebida", enquanto, no
segundo, é igual ou menor do que "10 partes da bebida". Afinal,
se a preparação diluída não resultar na bebida final, não há
como se definir sua capacidade de diluição em "partes da bebida
por cada parte do concentrado".
Em conclusão, a impossibilidade de os KITS se enquadrarem no
"EX 01" do código 2106.90.10 da TIPI decorre do fato de que no
momento da ocorrência do fato gerador os componentes não
estão misturados; mas, sim, acondicionados em embalagens
individuais.
Conclusões deste Relator quanto à (re)classificação fiscal dos kits de insumos
para a fabricação de bebidas pela AMBEV:
Aplicando a nota explicativa XI da RGI 3B, está correta a fiscalização no
sentido de que essa RGI expressamente no caso de fabricação de bebidas dispõe que "não se
aplica às mercadorias constituídas por diferentes componentes acondicionados separadamente
e apresentados em conjunto (mesmo em embalagem comum), em proporções fixas, para a
fabricação industrial de bebidas, por exemplo."
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DF CARF MF Fl. 3120
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.120
Depreendese que a classificação fiscal não pode ser efetuada de acordo com
as características que o produto só passará a apresentar em etapas futuras da cadeia produtiva,
realizadas em outro estabelecimento industrial.
Portanto, cada componente (que a recorrente denomina "kit concentrado") do
kit de insumo deve ser enquadrado em um código de classificação, segundo a RGI 1 aplicada
subsidiariamente com a RGI 6, antes da realização da operação de industrialização pelo
engarrafador, passando a integrar produto classificado em outro código após a realização da
operação de industrialização.
E quanto à classificação individual dos conjuntos que compõem os diversos
kits a recorrente não manifestou qualquer contestação à reclassificação laborada pelo Fisco.
Da convalidação dos créditos em função da boafé da Recorrente (vencedor)
No caso dos autos, a AMBEV não foi autuada para ser responsabilizada e
penalizada por erro de classificação fiscal de outrem, mas, isto sim, porque, inexistindo o
destaque do IPI nas respectivas notas fiscais de aquisição, a contribuinte calculou créditos e os
registrou na escrita fiscal, mediante utilização de alíquota do Imposto em desacordo com os
fatos apurados e com a legislação aplicável, o que levou à glosa de créditos, reconstituição da
escrita fiscal e exigência dos saldos devedores do IPI decorrentes dessa glosa.
No tocante ao erro de classificação fiscal dos kits de insumos cometido pelos
vendedoresemitentes nas vendas de produtos industrializados cuja alíquotas, também
incorretas, concederia um pretenso crédito de IPI ao adquirente, não prospera os argumentos de
que esse "direito" seria intocável por ser adquirente de boafé.
Isto porque, a inobservância de regramento legal não comporta a transmissão
de direito creditório por se tratar de procedimento contrário ao legalmente prescrito.
Melhor explicando, as pessoas jurídicas que ao arrepio da lei emitiram notas
fiscais cuja classificação aponta incorretamente para uma alíquota positiva do IPI não tem o
condão de atribuir ao adquirente o crédito desse Imposto se nos termos das regras de
classificação fiscal o código tarifário é outro, com alíquota zero.
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DF CARF MF Fl. 3121
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.121
O direito ao crédito de IPI referente à aquisições de filmes, rolha e tampas plásticas
(vencedor)
Primeiro aduz que o art. 6º do DL nº 1.435/75 (art. 95, III do RIPI/2010) não
traz como requisito que a matériaprima de origem regional empregada nos produtos isentos
seja "indispensável" para sua produção. Argumenta que a exigência do cumprimento do
requisito de produto fabricado com matériaprima regional não se insere no intuito extrafiscal
que pautou a criação do benefício fiscal.
A autoridade fiscal afirma que a norma isentiva do art. 6º do DL nº 1.435/75
exige na fabricação de produto com o inequívoco consumo de matériasprimas agrícolas e
extrativas vegetais da específica região amazônica, e tal a recorrente não colacionou qualquer
prova.
Ao contrário do que alega a AMBEV, não há qualquer dificuldade em
conhecer qual o requisito para a fruição da isenção deixou de ser comprovado: simplesmente, é
a fabricação de produto por estabelecimento localizado na Amazônia Ocidental que se utilizou
de matériaprima agrícola ou extrativa vegetal regional (da Amazônia Ocidental, que
compreende a ZFM!).
No ponto, cabe as observações da Conselheira Relatora Semíramis de
Oliveira Duro no Acórdão nº 3301005.324, de 23/10/2018, no julgamento de Recurso também
da AMBEV no qual concluiu que "para fins de gozo ao crédito em tela, os insumos
(originados da Amazônia Ocidental) necessitam ser elaborados com matériasprimas de
origem vegetal, quer obtidas pelo cultivo (agricultura), quer pela via extrativa (retirados da
natureza, da flora nativa), de tal sorte que, nos termos da norma legal isentiva, não há espaço
para o gozo decorrente da aquisição de produto intermediário industrializado onde, na sua
elaboração, não foram empregadas "matériasprimas agrícolas e extrativas vegetais de
produção regional", como ocorreu no caso presente."
Segundo, refuta as assertivas da fiscalização e a decisão recorrida de que não
fez provas da utilização, como materiais de embalagens, em seu processo de fabricação de
bebidas de produtos fabricados com matériasprimas regionais da Amazônia Ocidental para
fruição do benefício da isenção.
A contribuinte pretende inverter o ônus da prova e levar a discussão para o
tema da comprovação da essencialidade da matériaprima na fabricação do produto isento
regional. Vejase o excerto de seu recurso:
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DF CARF MF Fl. 3122
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.122
Pareceme que a contribuinte não assimilou que era seu dever prover os autos
com provas que ateste a utilização de matériaprima agrícola ou extrativa vegetal na fabricação
no âmbito da Amazônia Ocidental de filmes, tampas, rolhas e outros materiais de embalagem
na condição de insumos do processo fabril de bebidas.
Mais uma vez, a essencialidade não foi fundamento da autuação e tampouco
do acórdão da DRJ. Contudo, meu entendimento pessoal é que o requisito de utilização de
matériaprima agrícola ou extrativa vegetal traz consigo a essencialidade de utilização de
insumo dessa natureza para que o benefício atenda aos seus fundamentos de promoção do
desenvolvimento regional da Amazônia Ocidental, tal como se refere a Exposição de Motivos
do DL nº 1.435/75.
A recorrente traz precedente que entende amparar seu pleito na matéria da
essencialidade na composição do produto industrializado isento. Tratase do Acórdão nº 3402
004.284, sessão de 28/06/2017, cujo excerto da ementa, no que interessa, está assim redigida:
"ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE PRODUTOS
INDUSTRIALIZADOS IPI Período de apuração: 30/04/2011 a
31/12/2012 CRÉDITOS. MANUTENÇÃO. INSUMOS
ORIGINÁRIOS DA ZFM. REQUISITOS OBRIGATÓRIOS. A
manutenção do credito de que trata o art. 6o, § Io, do Decreto Lei
n° 1.435/75 é aplicável desde que: a) o produto tenha sido
elaborado com matérias primas agrícolas e extrativas vegetais
de produção regional; b) o produto tenha sido adquirido de
estabelecimento industrial localizado na Amazônia Ocidental e
cujo projeto (PPB) tenha sido aprovado pelo Conselho de
administração da SUFRAMA; e c) o produto seja empregado
pelo industrial adquirente como matéria prima, produto
intermediário ou material de embalagem, na industrialização de
produtos sujeitos ao IPI. INEXISTENTE QUALQUER
EXIGÊNCIA NORMATIVA QUANTO A QUANTIDADE DE
CADA INSUMO NA COMPOSIÇÃO DO PRODUTO
FABRICADO, como pretendido pela fiscalização. Recurso de
Ofício Neoado." (CARF, Processo n° 11065.722445/201509,
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DF CARF MF Fl. 3123
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.123
O precedente acima possui matéria fática não enfrentada nestes autos. Lá se
discutiu a utilização do óleo de dendê, comprovadamente utilizado como matériaprima, com
participação de apenas 2%, na composição do processo produtivo dos filmes stretch.
No caso do presente processo, a autoridade fiscal suscitou apenas a utilização
de resina termoplástica como matériaprima na fabricação dos filmes que, indiscutivelmente,
não se trata de um produto agrícola ou extrativo vegetal de produção regional da Amazônia
Ocidental
Terceiro, destaca que o direito ao crédito subsiste em virtude do princípio da
nãocumulatividade do IPI e da lógica econômica da concessão de incentivos fiscais através da
Zona Franca de Manaus.
Não cabe maiores delongas ou reflexões no argumento.
Ainda que todas os produtos industrializados referidos na discussão tenham
alíquotas positivas, todas as notas de saída, sem exceção, não tinham destaque do Imposto,
conforme observado no TVF (fl. 37).
15) No caso das rolhas e tampas plásticas adquiridas de
Ravibrás Embalagens da Amazônia Ltda, Crown Embalagens
Metálicas da Amazônia S.A. e Rexam Amazônia Ltda, justificar a
utilização de créditos presumidos de IPI (não há destaque de IPI
nas notas fiscais de aquisição), visto que nelas não se visualiza
emprego de matériaprima agrícola ou extrativa vegetal.
O princípio da nãocumulatividade do IPI apenas se efetiva com a concessão
do crédito na entrada de produto industrializado no estabelecimento de contribuinte do Imposto
e corresponde aos valores destacados no respectivo documento fiscal, quando hábeis e idôneos.
Se inexistir IPI destacado crédito não haverá.
Argui a recorrente que os créditos de IPI glosados devem ser mantidos em
decorrência do princípio constitucional da não cumultatividade do IPI.
Afirma que a decisão recorrida selecionou precedente do STF que melhor se
amolda à situação fática para a glosa dos créditos do IPI, sem considerar a violação do
princípio constitucional e a lógica econômica da concessão de incentivos à ZFM.
26
DF CARF MF Fl. 3124
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.124
Assevera a irrelevância da isenção de insumo originário da ZFM ou tributado
à alíquota zero, pois permanece o direito constitucional de não ser onerado duplamente pelo IPI
no ciclo de produção.
Aduz ainda que o crédito de IPI nas operações isentas provenientes da ZFM
possui fundamento diverso, qual seja, o do benefício regional que deve ser interpretado com a
sua finalidade.
Suscita como decisão definitiva e vigente o precedente do STF no RE nº
212.484, enquanto não houver decisão final e definitiva no RE de repercussão geral nº
592.891/SP2, e refuta a aplicação no caso dos REs nºs. 590.809 e 566.819, vez analisaram a
possibilidade de crédito de IPI decorrente de aquisição de produtos isentos e produtos
desonerados em caráter geral, sem adentrar em situações em que a isenção é concedida com
vistas a atender propósitos específicos como no caso da Zona Franca de Manaus.
Vêse clara a intenção da contribuinte em ver afastada toda a legislação
infraconstitucional que limita o direito ao aproveitamento do crédito do IPI nas aquisições às
operações anteriores tributadas, com supedâneo no art. 153, III, § 2º da CF/1988 ou na
superveniência de decisão definitiva em sede de repercussão geral.
Assim sendo, no caso dos produtos isentos adquiridos da ZFM não há
previsão legal para o aproveitamento do crédito, e portanto, segue a regra geral de não
cumulatividade na qual o direito ao crédito decorre de aquisição de produto que teve tributação
do IPI.
Outrossim, a Súmula CARF nº 18 prescreve " "A aquisição de matérias
primas, produtos intermediários e material de embalagem tributados à alíquota zero não gera
crédito de IPI.”
A regularidade do creditamento de IPI, inclusive extemporâneo, decorrente da aquisição
de materiais intermediários de produção (vencedor)
2
Recurso Voluntário fl. 3.068:
A esse respeito, conforme esclarecido em sede preliminar, destacase que ao contrário do quanto consignado pela
r. decisão recorrida, enquanto não for proferida decisão final e definitiva pelo C. STF no RE n° 592.891/SP,
recurso em repercussão geral sobre a matéria, o RE n° 212.484 permanece sendo a decisão definitiva e inequívoca
do C. STF quanto ao direito ao crédito do IPI decorrente de aquisição de insumos isentos oriundos da Zona Franca
de Manaus.
27
DF CARF MF Fl. 3125
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.125
Enganase a recorrente vez que no voto daquela decisão foi tomando em
consideração o indigitado laudo. O Relator manifestouse no sentido de que os produtos
relacionados nos Laudos referemse "a materiais de uso e consumo, peças de reposição e
partes e peças de máquinas. Esses produtos não se desgastam por ação direta no produto em
industrialização e, muito menos, incorporamse a ele. Por isso é que a Administração
Tributária tem posição firme no sentido de que sua aquisição não possibilita o direito ao
crédito de IPI."
Duas questões exsurgem nesta matéria de litígio. A primeira, quais os
requisitos para que determinado bem seja considerado produtos intermediário, isto é, exigese o
consumo/desgaste imediato/direto com o bem em elaboração no processo produtivo ou basta o
simples consumo/desgaste, sem a necessidade do contato físico? A segunda, os ditos "produtos
intermediários" dos autos amoldamse ao conceito estabelecido na legislação ou são, como
concluiu o Fisco/DRJ, materiais de uso e consumo, peças de reposição e partes e peças de
máquinas que não se caracterizam insumos da produção?
A definição do que venha a ser produto intermediário para fins de considerá
lo insumo do processo produtivo no âmbito da legislação do IPI é extraída do Regulamento do
IPI, que no caso do Decreto nº 7.212/2010 (RIPI/2010) encontrase no art. 610:
Art. 610. Consideramse bens de produção:
E o requisito para gerar crédito do IPI encontrase no art. 226:
Art. 226. Os estabelecimentos industriais e os que lhes são
equiparados poderão creditarse:
I do imposto relativo a matériaprima, produto intermediário e
material de embalagem, adquiridos para emprego na
industrialização de produtos tributados, incluindose, entre as
matériasprimas e os produtos intermediários, aqueles que,
embora não se integrando ao novo produto, forem consumidos
no processo de industrialização, salvo se compreendidos entre os
bens do ativo permanente:"
Da leitura dos dispositivos, são produtos intermediários que geram direito ao
crédito do IPI os bens que sejam consumidos ou utilizados no processo industrial mesmo que
não integrem o produto final, e desde que não sejam bens do ativo permanente.
Depreendese a necessidade do bem interagir com/no processo de fabricação
do produto final do que decorre a exigência do contato físico.
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DF CARF MF Fl. 3126
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.126
2. Deveras, o artigo 164, I, do Decreto 4.544/2002 (assim como
o artigo 147, I, do revogado Decreto 2.637/98), determina que os
estabelecimentos industriais (e os que lhes são equiparados),
entre outras hipóteses, podem creditarse do imposto relativo a
matériasprimas, produtos intermediários e material de
embalagem, adquiridos para emprego na industrialização de
produtos tributados, incluindose ‘aqueles que, embora não se
integrando ao novo produto, forem consumidos no processo de
industrialização, salvo se compreendidos entre os bens do ativo
permanente’.
3. In casu, consoante assente na instância ordinária, cuidase de
estabelecimento industrial que adquire produtos ‘que não são
consumidos no processo de industrialização (...), mas que são
componentes do maquinário (bem do ativo permanente) que
sofrem o desgaste indireto no processo produtivo e cujo preço já
integra a planilha de custos do produto final’, razão pela qual
não há direito ao creditamento do IPI.
Excerto do voto:
(...).
No caso, a Recorrente não discorda que os produtos adquiridos
para manutenção e reparação não tenham tido contato físico
direto, nem sofreram ou exerceram diretamente ação no produto
industrializado. No entanto, o desgaste geral das peças e
equipamentos, decorrentes de sua utilização normal, e não por
ação direta no produto em fabricação, não dá o direito ao
creditamento do IPI, conforme se depreende as normas acima
transcritas. De outra parte, a glosa não se deu em face de tais
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DF CARF MF Fl. 3127
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.127
Os produtos intermediários que geram direito ao crédito básico
do IPI, nos termos do REsp nº 1.075.508, julgado em sede de
recurso repetitivo, são aqueles consumidos diretamente no
processo de produção, ou seja, aqueles que tenham contato
direto com o produto em fabricação.
Recurso Especial do Procurador Provido.
No âmbito deste CARF restou assim pacificado a exigência do consumo
direito (contato físico) do produto intermediário com o bem em fabricação durante o processo
de produção.
Igualmente, este Colegiado proferiu decisão unânime com o entendimento de
que elementos do processo produtivo que não atuam diretamente sobre o produto não se
enquadram nos conceitos de matériaprima ou produto intermediário, no Acórdão nº 3201
003.274, sessão de 29/01/2018, de relatoria do Conselheiro Pedro Rinaldi de Oliveira Lima:
ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE PRODUTOS
INDUSTRIALIZADOS IPI
Período de apuração: 07/10/1997 a 22/02/2005
30
DF CARF MF Fl. 3128
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.128
Análise do segundo quesito.
Compulsando os Laudos anexados às fls. 596 a 2.965 dos autos, os materiais
utilizados não revelam a natureza exigida de produtos intermediários que se consomem
diretamente e em contato com produto elaborado no processo produtivo, pelas razões expostas
nas próprias fichas dos laudos, por configurarem ao menos uma das seguintes características:
(i) descrição não identifica o contato direito no processo produtivo; (ii) descrição não identifica
utilização específica; (iii) descrição insuficiente para identificar o bem; (iv) utilização em
equipamento que se evidencia estranho ao processo (exemplo: "bancadas e equipamentos de
laboratório"); (v) utilização em assepsia/ limpeza de peças ou equipamentos (biocida, solvente
de limpeza e desemgraxante); (vi) material de revestimento, vedação, lubrificação, limpeza ou
de conexão de equipamento (mantas, anéis, niples, juntas, abraçadeiras, gaxetas, graxas,
membranas, reparo, batentes, escovas, capas, conectores mecânicos, união de tubo, flanges,
manoplas, presilhas, perfis plásticos e cestos); (vii) materiais ou dispositivos
elétricos/mecânicos (interruptores, contator, estator, chave secccionadora, retentor, manômetro,
sinalizadores luminosos, regulador de pressão, bobinas, sensores, lâmpadas, bombas, pistões,
cabos elétricos, óleos, tarugo de bronze, atuador elétrico rotativo, mangueira hidráulica, óleo
para correia, reguladores de pressão, cartão eletrônico, líquido adesivo, controlador de
temperatura, eletrodos e tencionadores); (viii) máquinas ou suas partes e peças (compressores,
válvulas, luvas de aço, rolamentos, lavadora de garrafas, esteiras de transporte, engrenagens,
cilindros, elementos de aço, eixo cardan, molas, correias, filtros, parafusos, arruelas, porcas,
rodas, discos, corrente transportadora, ventosas, cartuchos, colar, mancais, adaptador de solda,
kit sobressalente, elásticos, vacuómetro, cones, cilindro pneumático, polias, ventiladores,
eletroválvula, transmissor de nível ultrassônico, etiquetadora, empacotadora, sopradora,
chumbador, posicionador eletropneumático, pressostato, espaçador, esteira transportadora,
defletores e calços )
A "título exemplificativo" a AMBEV aduz que o laudo relativo ao "solvente
para limpeza" (nº 95027) e ao "fluído limpa contato" (nº 95015) comprovaria a utilização no
processo produtivo da empresa.
Quanto ao "solvente para limpeza", tratase de um composto químico
utilizado para limpeza e assepsia de componentes e peças, em motores dos equipamentos do
processo de produção e industrialização, sem que haja o contato físico com o material em
elaboração (informação que consta do Laudo fl. 2.659). Portanto, é um produto químico não
utilizado no interior de um equipamento que contém o produto em elaboração, mas em motores
que acionam/movimentam esses equipamentos.
Em relação ao "fluído limpa contato", conforme a descrição do Laudo (item
"7. Função/Aplicação"", tratase, igualmente, de um composto químico utilizado para limpeza
de contato elétrico sem que haja o contato físico com o material em elaboração (informação
que consta do Laudo fl. 2.675). Portanto, é um produto químico não utilizado no interior de
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DF CARF MF Fl. 3129
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.129
um equipamento que contém o produto em elaboração, mas uma substância de uso geral
destinado à limpeza de contatos elétricos de dispositivos não especificados..
Dessa forma, constatado que os materiais relacionados no Laudo AFAG,
inclusive aqueles apontados como exemplificativos no recurso, não são produtos
intermediários na acepção do RIPI/2010 pois não são consumidos em contato direto com o
produto fabricado no processo produtivo da AMBEV. São, em verdade, corroborando tudo o
que consta do TVF e decisão recorrida, materiais de uso, consumo, peças de reposição e partes
e peças de máquinas.
Com base nessas conclusões, despiciendo quaisquer considerações acerca do
aproveitamento de crédito extemporâneo, que sequer foram apresentados notas fiscais de
aquisição.
Improcedência e ilegalidade da multa – Vedação ao Confisco (vencedor)
No tópico, a recorrente entenda pela impossibilidade de se aplicar a multa de
ofício em razão do nítido caráter confiscatório, não devendo prevalecer, conforme
entendimento do plenário do Supremo Tribunal Federal, inclusive em sede de Repercussão
Geral.
Desconhecese qualquer precedente com decisão definitiva na sistemática de
repercussão geral que afasta multa por identificála como confisco.
A vedação ao confisco é princípio constitucional que se dirige ao legislador e
ao controle jurisdicional da constitucionalidade. A multa prevista em legislação não pode ser
afastadas pelo Carf pois decorre de expressa disposição de Lei, conforme o art. 26A PAF.
“Art. 26A. No âmbito do processo administrativo fiscal, fica
vedado aos órgãos de julgamento afastar a aplicação ou deixar
de observar tratado, acordo internacional, lei ou decreto, sob
fundamento de inconstitucionalidade.”
Outrossim, qualquer pronunciamento quanto a inconstitucionalidade de lei é
vedado aos membros deste Conselho, conforme enunciado da Súmula CARF nº 2, segundo o
qual o “CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei
tributária."
Juros de Mora (Taxa Selic) sobre Multa de Ofício (vencedor
No que concerne à alegação referente incidência a juros de mora sobre o
valor lançado de multa de ofício, a matéria está consolidada na Súmula CARF nº 108:
Súmula CARF nº 108
Assim, os juros de mora devem incidir também sobre a multa de ofício, que
integra o crédito tributário constituído de ofício.
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DF CARF MF Fl. 3130
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.130
Conclusão
Diante de todo o exposto, rejeito as preliminares de nulidade da decisão
recorrida e do auto de infração, e no mérito, voto para negar dar provimento
(assinado digitalmente)
Paulo Roberto Duarte Moreira
Voto Vencedor
Conselheira Tatiana Josefovicz Belisario, Redatora designada
Designada para a redação do Voto Vencedor exclusivamente no que se refere
à determinação de aplicação da decisão proferida pelo STF acerca da aquisição de produtos
isentos da ZFM. Para tanto, valhome do Voto proferido pelo Conselheiro Leonardo Vinicius
Toledo de Andrade, nos autos do Processo nº 11020.004010/200949, Acórdão 3201005.426,
julgado na mesma Reunião de julgamento, que reflete o posicionamento adotado pela Turma.
“Em que pese o elevado conhecimento da matéria em julgamento e o bem
fundamentado voto proferido pelo ilustre Conselheiro relator, ouso divergir do posicionamento
adotado.
Conforme consignado pelo ilustre Conselheiro relator, argui a recorrente que
os créditos de IPI glosados devem ser mantidos em decorrência do princípio constitucional da
não cumulatividade do IPI, da decisão do STF nos REs nºs 212.484, 358.493 e 350.446 e do
próprio CARF, nos Acórdãos 20172.942, 20175.412.
O mérito desta questão já foi objeto de apreciação por parte do Poder
Judiciário.
Do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, temse o seguinte precedente:
"TRIBUTÁRIO MANDADO DE SEGURANÇA IMPOSTO
SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS MATÉRIA PRIMA
PROCEDENTE DA ZONA FRANCA DE MANAUS
COMPENSAÇÃO DE VALOR NÃO TRIBUTADO POR
ISENÇÃO PRECEDENTES JUDICIAIS. 1. CABENTE O
CREDITAMENTO DO VALOR DO IPI QUE, EM RAZÃO DE IS
ENÇÃO, DEIXOU DE SER TRIBUTADO EM OPERAÇÃO
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DF CARF MF Fl. 3131
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.131
Importante, aqui se referir a julgado proferido pelo Tribunal Regional Federal
da 4ª Região, conforme ementa a seguir consignada:
"DIREITO TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. IPI.
CONCENTRADO DE REFRIGERANTE PRODUZIDO NA
ZONA FRANCA DE MANAUS. ABATIMENTO EM RAZÃO DA
ISENÇÃO EM OPERAÇÕES ANTERIORES.
Não cumulatividade tributária que não está sujeita às restrições
previstas para os casos de isenção ou nãoincidência pelas
disposições constitucionais atinentes ao ICMS (CR/88, ART153,
PAR3, INC1 E ART155, PAR2, INC1 e INC2)." (TRF4,
AMS 95.04.373844, PRIMEIRA TURMA, Relator GILSON
LANGARO DIPP, DJ 07/08/1996)
Tal processo foi submetido à apreciação do Supremo Tribunal Federal STF,
através do RE nº 212.4842/RS.
Tal decisão apresenta a seguinte ementa:
"CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IPI. ISENÇÃO
INCIDENTE SOBRE INSUMOS. DIREITO DE CRÉDITO.
PRINCÍPIO DA NÃO CUMULATIVIDADE. OFENSA NÃO
CARACTERIZADA. Não ocorre ofensa à CF (art. 153, § 3º, II)
quando o contribuinte do IPI creditase do valor do tributo
incidente sobre insumos adquiridos sob o regime de isenção.
Recurso não conhecido." (RE 212484, Relator(a): Min. ILMAR
GALVÃO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. NELSON JOBIM,
Tribunal Pleno, julgado em 05/03/1998, DJ 27111998 PP
00022 EMENT VOL0193304 PP00725 RTJ VOL0016702
PP00698)
Pois bem. O Ilmo Relator Ilmar Galvão, relator do RE n.
212.484, dissentiu do entendimento esposado no acórdão
recorrido pela União Federal, entendendo que o texto
constitucional (artigo 153, §3º, inciso II), ao estabelecer que o
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DF CARF MF Fl. 3132
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.132
IPI será não cumulativo, “compensandose o que for devido em
cada operação com o montante cobrado nas anteriores”,
somente diz respeito aos valores efetivamente “cobrados” para
dar direito ao crédito. No seu sentir, as isenções do IPI não
visam beneficiar o consumidor final, mas sim o industrial
abarcado pela lei, sendo efetivamente a isenção do IPI uma
forma de diferir o pagamento do tributo na cadeia produtiva.
Desta feita, julga que o contribuinte não tem direito aos créditos
de IPI discutido nos autos.
De outro lado, vem em defesa do contribuinte o Ministro Nelson
Jobim, trazendo uma narrativa sobre a regulação da
concorrência do mercado de refrigerantes e sucos feitos através
de legislação do IPI. Diverge, assim, da posição do Relator,
analisando especificamente o caso da produção de refrigerantes.
Abaixo, colaciono o trecho mais expressivo do seu voto acerca
das especificidades do caso concreto:
O Ministro Nelson Jobim conclui então que, por força da técnica
utilizada no Brasil para a tributação do valor agregado pela não
cumulatividade do IPI, não se pode vedar a utilização do crédito
pretendido pelo contribuinte que compra produtos da Zona
Franca de Manaus, sob pena de tornar cumulativo o tributo não
cumulativo, exterminando o objetivo extrafiscal pretendido pela
tributação. Seguiram este entendimento divergente trazido por
Nelson Jobim o Ministro Maurício Corrêa, o Ministro Sepúlveda
Pertence, o Ministro Octavio Gallotti, o Ministro Sidney
Sanches, o Ministro Néri da Silveira, expressamente
consignando o acompanhamento das razões trazidas pela
divergência. Igualmente votaram pelo não provimento do
recurso os Ministros Moreira Alves e Marco Aurélio Mello.
Ao final do julgamento pelo Pretório Excelso, ao acórdão foi
atribuída a seguinte ementa:
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DF CARF MF Fl. 3133
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.133
Destarte, pela análise das peças processuais trazidas aos autos,
constato que o tema do direito ao crédito de IPI decorrente de
produtos com isenção saídos da Zona Franca de Manaus foi
ampla e claramente tratado pelo contribuinte e apreciado pelo
Poder Judiciário. É manifesto que a discussão jurídica travada
no Mandado de Segurança n. 91.00095524, culminando no
acórdão do RE 212.484/RS, beneficia o contribuinte,
diferentemente do quanto alegado pela Autoridade Fiscal no
item II do Termo de Constatação Fiscal.
Por essas razões, muito embora não haja previsão legal para a
tomada de crédito efetuada pelo contribuinte, há decisão judicial
que lhe dá esse direito, transitada em julgado na data
10/12/1998, ou seja, anteriormente ao período glosado e
cobrado neste auto de infração. Lembrese que a decisão que
julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos limites
da questão decidida (artigo 467 do Código de Processo Civil).
Assim, o item II do auto de infração, o qual se embasa
justamente no argumento de falta de previsão legal para a
utilização do crédito de IPI relativo aos insumos advindos de
fornecedor da Zona Franca de Manaus com o benefício previsto
no artigo 69, inciso II do RIPI/2002, deve ser cancelado."
Importante transcrever excerto do voto do Juiz Convocado Roberto Jeuken
proferido no processo nº 1999.61.00.0144900 (julgado em 02/08/2006 TRF 3ª Região):
"Portanto, no caso daquelas isenções concedidas as empresas
situadas na Zona Franca de Manaus, a exemplo do que também
ocorreria nas chamadas Zonas livres de Comércio, é preciso ter
presente que a desoneração tem objetivos de desenvolvimento
regional, colaborando de molde a baratear a aquisição dos
insumos, e a obtenção de preço final mais competitivo, nos
produtos resultantes do processo de industrialização, na medida
em que o adquirente não precisa pagar o valor do imposto.
Portanto, a finalidade buscada com a isenção, barateamento do
custo de produção, restaria frustrado e aquelas empresas lá
situadas, que fizeram elevados investimentos para iniciar a
produção em locais que no muito das vezes, além de distantes,
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DF CARF MF Fl. 3134
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.134
são inóspitos e não possuem mão de obra qualificada, não iriam
adiante.
Assim, no dizer do Eminente Ministro Marco Aurélio, quando do
julgamento que proferiu no RE. 212.484, seria o mesmo que dar
com uma mão e tirar com a outra.
Destarte, agiu com o costumeiro acerto o Pretório Excelso, vez
que resta potencializado o caráter regional da isenção, frente ao
princípio da nãocumulatividade, ambos contidos no mesmo
patamar constitucional, sendo que aquele se volta ao
cumprimento de um dos objetivos fundamentais da nossa
República, qual seja a redução das desigualdades regionais,
versada no inciso 111 do art. 3°, de nossa lei fundamental."
A adoção de entendimento contrário, com a devida vênia, implica, na prática,
transformar a isenção em espécie de diferimento, com a consequente frustração do princípio da
nãocumulatividade do IPI.
Sobre a nãocumulatividade leciona Geraldo Ataliba:
''A 'compensação' é, nitidamente, categoria jurídica de
hierarquia constitucional: porque criada pela Constituição.
Mais que isso: é direito constitucional reservado ao contribuinte
do IPI; direito público subjetivo de nível constitucional, oponível
à União pelo contribuinte desse imposto federal. O próprio Texto
Constitucional que outorgou à União o poder de exigir oꞏ.JPI,
deu ao contribuinte o direito de abatimento (v. Cléber Giardino,
RDT 29/110). Daí anotar Xavier de Albuquerque: "... a técnica
jurídicotributária ferrou o imposto com a marca da não
cumulatividade, que se erige, em nosso Direito, à dignidade
constitucional" (DTR 59, p.57)." (Questões, Revista de Direito
Tributário 64, pág 168).
É de se consignar decisão monocrática prolatada pelo Ministro do Supremo
Tribunal Federal, Cezar Peluso, no RE nº 504.423:
"1. Tratase de recurso extraordinário contra acórdão do
Tribunal Regional Federal da 4ª Região que entendeu indevida a
compensação de créditos de IPI relativamente à aquisição de
matérias primas e insumos imunes, isentos, não tributados ou
sujeitos à alíquota zero. A recorrente, com fundamento no art.
102, III, a, alega ter havido ofensa ao art. 153, § 3º, II, da
Constituição Federal.
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DF CARF MF Fl. 3135
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.135
A Corte estendeu esse entendimento para o caso de aquisição de
insumos não tributados ou tributados com alíquota zero, no
julgamento do RE nº 350446 (Rel. Min. NELSON JOBIM, DJ de
06.06.2003): "CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IPI.
CREDITAMENTO. INSUMOS ISENTOS, SUJEITOS À
ALÍQUOTA ZERO. Se o contribuinte do IPI pode creditar o
valor dos insumos adquiridos sob o regime de isenção, inexiste
razão para deixar de reconhecerlhe o mesmo direito na
aquisição de insumos favorecidos pela alíquota zero, pois nada
extrema, na prática, as referidas figuras desonerativas,
notadamente quando se trata de aplicar o princípio da não
cumulatividade. A isenção e a alíquota zero em um dos elos da
cadeia produtiva desapareceriam quando da operação
subseqüente, se não admitido o crédito. Recurso não conhecido."
(No mesmo sentido: RE nº 293511AGR, Rel. Min. CELSO DE
MELLO, DJ de 21.03.2003) Mas, no que toca à aquisição de
insumos não tributados ou tributados com alíquota zero, a Corte
no julgamento dos REs nº 370.682 (Rel. Min. ILMAR GALVÃO),
e nº 353.657 (Rel. Min. MARCO AURÉLIO), concluído em
25.06.2007, reviu tal entendimento, decidindo ser indevida
compensação de créditos de IPI decorrentes da aquisição de
matériasprimas e insumos não tributados ou sujeitos à alíquota
zero.
3. Ante o exposto, nos termos do art. 557, § 1ºA, do CPC, dou
parcial provimento ao recurso extraordinário, para,
concedendo, em parte, a ordem, considerar devida apenas a
compensação de créditos do IPI decorrentes da aquisição de
insumos isentos. Custas em proporção. Publiquese. Int..
Brasília, 05 de setembro de 2007. Ministro CEZAR PELUSO
Relator" (RE 504423, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO,
julgado em 05/09/2007, publicado em DJe115 DIVULG 0210
2007 PUBLIC 03102007 DJ 03/10/2007 PP00069)
Deve ser considerado, também, que por ocasião do julgamento do RE nº
566.819, em sede de embargos declaratórios, a Suprema Corte de modo expresso consignou
que a decisão proferida nos autos não versava sobre situação jurídica regida quer pela Lei nº
9.779/99 – artigo 11 –, quer por legislação especial acerca da Zona Franca de Manaus, verbis:
"IPI – CRÉDITO – INSUMO ISENTO – ABRANGÊNCIA.
No julgamento deste recurso extraordinário, não se fez em jogo
situação jurídica regida quer pela Lei nº 9.779/99 – artigo 11 –,
quer por legislação especial acerca da Zona Franca de Manaus.
Esta última matéria será apreciada pelo Plenário ante a
admissão da repercussão geral no Recurso Extraordinário nº
592.891/SP, outrora sob a relatoria da Ministra Ellen Gracie e
hoje redistribuído à Ministra Rosa Weber." (RE 566819 ED,
Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em
38
DF CARF MF Fl. 3136
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.136
Do voto condutor consta:
"É estreme de dúvidas que o Tribunal ressalvou o exame de
controvérsia apanhada quer pela regência da Lei nº 9.779/99 –
artigo 11 –,quer por legislação especial, como é o caso da Zona
Franca de Manaus.
Lembro, como fez o Estado do Amazonas, que a matéria ligada à
Zona Franca de Manaus está para ser julgada, em virtude da
admissão da repercussão geral no Recurso Extraordinário nº
592.891/SP, então sob a relatoria da Ministra Ellen Gracie e
hoje aos cuidados da Ministra Rosa Weber."
Voto vencido proferido pela Conselheira Érika Costa Camargos Autran no
processo nº 16045.720010/201573 (acórdão nº 9303008.368, sessão de 21/03/2019) explana
bem a questão:
"Quanto ao aproveitamento dos créditos de aquisições de
insumos isentos da ZFM, entendo que a mesma é peculiar em
relação à sistemática habitual da não cumulatividade, tendo
natureza de incentivo regional (benefício fiscal), isto é, norma
tributária com função indutora.
É essa a interpretação que nos parece mais consentânea para o
teor do art.9º e incisos do Decreto n.º 288/67.
Recordo que essa matéria já é conhecida por esse Colegiado – o
que exponho que meu entendimento com o voto confortante
manifestado pela ilustre Conselheira Vanessa Cecconello no
acórdão n.º 9303004.205.
Eis seu voto:
[...]
A criação e a implementação da Zona Franca de Manaus
teve três pilares determinantes: (a) a necessidade de
ocupar e proteger a Amazônia frente à nascente política
de internacionalização; (b) a meta governamental de
substituição das importações e (c) a busca pela redução
das desigualdades regionais. O objetivo da sua
idealização pelo Governo Federal foi de criar "no interior
39
DF CARF MF Fl. 3137
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.137
A Constituição Federal de 1988, ao estabelecer um novo
ordenamento jurídico, expressamente prorrogou os
benefícios fiscais concedidos à Zona Franca de Manaus
pelo prazo de 25 (vinte e cinco) anos a partir da sua
promulgação, nos termos do art. 40 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT):
Além de preservar a Zona Franca de Manaus como área
de livre comércio, a norma transcrita acima recepcionou
o DecretoLei nº 288/67, o qual equipara às exportações
as vendas efetuadas àquela região.
A Zona Franca de Manaus é uma área de livre comércio
de importação e de exportação e de incentivos fiscais
especiais, estabelecida com a finalidade de promover o
desenvolvimento regional, através da criação de um
centro industrial, comercial e agropecuário dotado de
condições econômicas que permitam seu desenvolvimento,
em face dos fatores locais e da grande distância, a que se
encontram os centros consumidores de seus produtos,
40
DF CARF MF Fl. 3138
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.138
conforme estabelecido no art. 1º, do DecretoLei nº 288, de
28 de fevereiro de 1967, art. 1º do DecretoLei nº 356, de
15 de agosto de 1968, e art. 504 do Decreto nº 6.759, de
05 de fevereiro de 2009.
1ª SITUAÇÃO: IMPORTAÇÃO DE BENS PARA A ZFM,
AMAZÔNIA OCIDENTAL E ALCs.
2ª SITUAÇÃO: COMPRAS DE PRODUTOS NACIONAIS
(NACIONALIZADOS) PELA ZFM, AMAZÔNIA
OCIDENTAL E ALCs.
4ª SITUAÇÃO: REMESSA (VENDA) DE PRODUTOS DA
ZFM, AMAZÔNIA OCIDENTAL E ALCs.
(Cartilha de Incentivos Fiscais Um guia para quem deseja
investir na Amazônia Ocidental. Disponível em:
http://www.suframa.gov.br/noticias/arquivos/Cartilha_Inc
entivos_Fiscais_P ORT_VF_04_10_2014.pdf. Acesso em
05 de agosto de 2016).
41
DF CARF MF Fl. 3139
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.139
e a não cumulatividade, compensandose o que for devido
em cada operação com o montante cobrado nas
anteriores.
42
DF CARF MF Fl. 3140
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.140
Se não fora assim terseia mero diferimento do imposto.
O que houve, de novo, então, sob a óptica constitucional?
Veio à balha a Emenda Constitucional nº 23, de 1983, a
chamada Emenda Passos Porto, e aí alterouse
unicamente a disciplina concernente ao ICM para
transformarse o crédito que era regra em exceção,
dispondose que o tributo incidiria sobre "operações
relativas à circulação de mercadorias realizadas por
produtores, industriais e comerciantes, imposto que não
será cumulativo e do qual se abaterá..."
43
DF CARF MF Fl. 3141
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.141
Deuse a transformação da regra em exceção, como disse:
a isenção ou a não incidência não implicará crédito e
estou modificando a ordem das expressões "não
implicará" é a regra " crédito de imposto para abatimento
daquele incidente nas operações seguintes, salvo
determinação em contrário da legislação". O crédito,
portanto, tão somente no tocante ao ICM, só poderia
decorrer de disposição legal.
Ora, isentase de algo, de início devido, e, para não se
chegar à inocuidade do benefício, deve haver o crédito,
sob pena, também, de transformarmos a isenção em
simples diferimento, apenas projetando no tempo o
recolhimento do tributo.
Na contabilidade alusiva a débito e crédito, no campo do
ICM, inexiste a especificação da mercadoria. A conta é
única, abrangente. Não há como, depois de produzida
uma certa mercadoria, separarse do valor dessa
mercadoria a quantia referente à matériaprima que lá
atrás dizse isenta.
A Segunda Turma, julgando o Recurso Extraordinário nº
106.844, que versou, é certo, sobre ICM, mas quando o
ICM tinha a mesma disciplina do IPI, concluiu, até a
edição da Emenda Constitucional 23, que "havendo
isenção na importação da matéria prima, há direito ao
crédito do valor correspondente à hora da saída do
produto industrializado". Aludi, também, à decisão do
Plenário, da lavra do Ministro Djaci Falcão, reportando
se a pronunciamentos reiterados das duas Turmas, no
sentido do acórdão atacado mediante este extraordinário.
Em suam, não podemos confundir isenção com
diferimento, nem agasalhar uma óptica que importe em
reconhecerse a possibilidade de o Estado dar com uma
das mãos e retirar com a outra.
Dessa forma, sem que haja norma de estatura maior em
tal sentido, porquanto o princípio da não cumulatividade
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DF CARF MF Fl. 3142
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.142
é constitucional, impossível é concluirse pelo alijamento,
em si, do crédito.
[...]
A discussão retornou ao STF com o reconhecimento da
repercussão geral do tema relativo ao creditamento de
insumos isentos, não tributados ou alíquota zero
especificamente oriundos da Zona Franca de Manaus,
no recurso extraordinário nº 592.891, de relatoria da
Ministra Rosa Weber. A Suprema Corte entende tratarse
de questão diversa daquela anteriormente tratada por
envolver insumos da Zona Franca de Manaus.
Como fundamentado pela Ministra relatora na apreciação
do recurso extraordinário, para o caso específico da Zona
Franca de Manaus a hipótese desonerativa está
amparada constitucionalmente, nos termos do art. 40 do
ADCT, que constitucionalizou a precisão daquela área,
bem como no princípio da igualdade para redução das
disparidades regionais e ainda no pacto federativo. No
caso, estáse diante de incentivos fiscais específicos, não
cabendo a sua interpretação restritiva que culmine com a
sua vedação.
[...]”
Prossegue em seu voto a Conselheira indicando precedentes do CARF sobre
o tema:
"Em consonância com a jurisprudência do STF sobre a matéria,
também o CARF já reconheceu a legitimidade de registro de
créditos nessa hipótese, como visto acima:
45
DF CARF MF Fl. 3143
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.143
Pública Federal direta e indireta, nos termos do Decreto
nº. 2.346, de 10.10.97.
Não se pode omitir que a questão, está submetida perante o Supremo
Tribunal Federal STF, sob o rito da repercussão geral, objeto do RE nº 592.891, o qual foi
recentemente julgado e com decisão favorável a tese posta em discussão pela Recorrente.
No julgamento firmouse a seguinte tese:
"O Tribunal, por maioria, apreciando o tema 322 da
repercussão geral, negou provimento ao recurso extraordinário,
nos termos do voto da Relatora, vencidos os Ministros Alexandre
de Moraes e Cármen Lúcia. Em seguida, por unanimidade,
fixouse a seguinte tese: "Há direito ao creditamento de IPI na
entrada de insumos, matériaprima e material de embalagem
adquiridos junto à Zona Franca de Manaus sob o regime da
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DF CARF MF Fl. 3144
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.144
A Ata de Julgamento nº 13 foi publicada no DJE nº 98, divulgado em
10/05/2019.
"Há direito ao creditamento de Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) na entrada de insumos, matériaprima e
material de embalagem adquiridos junto à Zona Franca de
Manaus (ZFM) sob o regime da isenção, considerada a previsão
de incentivos regionais constante do art. 43, § 2º, III (1), da
Constituição Federal (CF), combinada com o comando do art.
40 (2) do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
(ADCT).
Com base nessa orientação, o Plenário, em julgamento conjunto
e por maioria, ao apreciar o Tema 322 da repercussão geral,
negou provimento a recursos extraordinários interpostos em face
de acórdãos de tribunal regional federal que reconheceram o
direito ao aproveitamento de créditos de IPI quando oriundos da
zona franca da cidade de Manaus, sob o regime de isenção.
Nos recursos extraordinários, a União sustentou que os insumos
adquiridos sob regime de isenção não geram crédito para o
contribuinte, ainda que oriundos da ZFM, considerada a
inexistência de previsão legal expressa nesse sentido, além da
ausência de imposto efetivamente cobrado.
O Plenário afirmou que, como regra geral, no caso de tributo
não cumulativo, quando a operação anterior é isenta, não existe
direito de crédito em favor do adquirente. No entanto, com
relação à Zona Franca de Manaus, é devido o aproveitamento
de créditos de IPI, porquanto há na espécie exceção
constitucionalmente justificada à técnica da não cumulatividade
[CF, art. 153, § 3º, II (3)] que legitima o tratamento
diferenciado. A regra da não cumulatividade cede espaço para a
realização da igualdade, do pacto federativo, dos objetivos
fundamentais da República Federativa do Brasil.
À luz de uma hermenêutica constitucional de índole sistemática,
essa exceção se justifica pela conjugação de diversos
dispositivos constitucionais que, interpretados no seu conjunto
como um sistema e somados com a legislação infraconstitucional
admitem tal exceção. Há um arcabouço de múltiplos níveis
normativos com vista a estabelecer uma importante região
socioeconômica, por razões de soberania nacional, inserção nas
cadeias globais de consumo e de produção, integração
econômica regional e redução das desigualdades regionais e
sociais em âmbito federativo.
47
DF CARF MF Fl. 3145
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.145
A exegese dos benefícios fiscais direcionados para a zona franca
deve ser ampla, o mais abrangente possível, para neutralizar as
desigualdades existentes e dar máxima efetividade aos incentivos
fiscais, como forma de potencializar o desenvolvimento da
região. O art. 40 do ADCT não beneficiou a região como uma
mera formalidade, mas sim representou um programa que
encabeça uma realidade normativa e material caracterizada
pela manutenção da área de livre comércio com seus incentivos
fiscais (ADI 2348).
A despeito da ressignificação constitucional da Zona Franca de
Manaus no curso de décadas da história republicana, a sua
relevância persiste, conforme se depreende das Emendas
Constitucionais (EC) 42/2003 e 83/2014. A opção do legislador
constituinte em assegurarlhe um regime jurídico diferenciado
até o ano de 2073, perpassando gerações, reflete que o projeto
tem desempenhado o seu papel, que vai além do desenvolvimento
regional, como centro industrial, comercial e agropecuário, que
se soma aos demais parques econômicos do Brasil, verdadeiro
motor do crescimento do País.
Ademais, a exigência de lei federal específica para a concessão
de subsídio ou isenção, redução da base de cálculo, concessão
de crédito presumido, anistia ou remissão, de que trata o art.
150, § 6º (4), da CF, tem lugar nas hipóteses em que a incidência
de determinado tributo é a regra aplicável. Contudo, não é esse
o caso, uma vez que a própria Constituição se adiantou em
assegurar a isenção relativamente à Zona Franca de Manaus. Se
a incidência do tributo for a regra, a Carta Magna exige a
observância de um procedimento por meio de lei específica.
Todavia, tal procedimento não tem lugar quando a própria CF
exclui determinada hipótese da regra geral. A situação ora
apresentada, portanto, está fora do alcance da norma inserta no
referido dispositivo constitucional.
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DF CARF MF Fl. 3146
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.146
Em processos envolvendo a exclusão do ICMS da base da cálculo das
contribuições para o PIS e COFINS, tive a oportunidade de externar minha posição de que um
órgão administrativo de julgamento não aplicar o decidido em sede de repercussão geral pelo
Supremo Tribunal Federal STF quando até mesmo o Superior Tribunal de Justiça STJ já não
mais aplica o seu entendimento em sentido diverso é verdadeira afronta ao julgado pela mais
Alta Corte do país.
Muito embora no caso em apreço, em razão da contemporaneidade do
decidido pelo STF, não se tenha notícia de decisões em sintonia com o deliberado pela Corte
Suprema, entendo que é de se aplicar o entendimento lá firmado.
Sobre a aplicação do decidido, consigno:
"DIREITO ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL EM
RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.
LEGITIMIDADE. POLO PASSIVO. ASSISTÊNCIA À SAÚDE.
REPERCUSSÃO GERAL. INSURGÊNCIA VEICULADA
CONTRA A APLICAÇÃO DA SISTEMÁTICA DA
REPERCUSSÃO GERAL. POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO
IMEDIATA DOS ENTENDIMENTOS FIRMADOS PELO
PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL EM
REPERCUSSÃO GERAL. 1. A existência de precedente firmado
pelo Plenário desta Corte autoriza o julgamento imediato de
causas que versem sobre o mesmo tema, independente da
publicação ou do trânsito em julgado do paradigma.
Precedentes. 2. Agravo regimental a que se nega provimento."
(ARE 930647 AgR, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO,
Primeira Turma, julgado em 15/03/2016, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe066 DIVULG 08042016 PUBLIC 1104
2016) (nosso destaque)
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DF CARF MF Fl. 3147
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.147
Do voto, destaco:
"3. No mais, o Supremo Tribunal Federal fixou entendimento de
que a existência de precedente sob o regime de repercussão
geral firmado pelo Plenário daquela Corte autoriza o imediato
julgamento dos processos com o mesmo objeto,
independentemente do trânsito em julgado do paradigma (RE
1.006.958 AgREDED, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Dje
18.9/2017; ARE 909.527/RSAgR, Rel Min. LUIZ FUX, DJe de
30.5.2016.)"
Ainda:
"AGRAVO INTERNO NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
TRIBUTÁRIO. VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DO DEVIDO
PROCESSO LEGAL, DA AMPLA DEFESA E
CONTRADITÓRIO. REPERCUSSÃO GERAL INEXISTENTE.
TEMA 660/STF.
3. "A existência de precedente firmado pelo Tribunal Pleno da
Corte autoriza o julgamento imediato de causas que versem
sobre a mesma matéria, independentemente da publicação ou
do trânsito em julgado do paradigma" (RE 1.006.958 AgRED
ED, Relator Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado
em 21/8/2017, processo eletrônico DJe210, divulgado em
15/9/2017, publicado em 18/9/2017.).
4. Já tendo o STF consignado, no Tema 69/STF, que "o ICMS
não compõe a base de cálculo para a incidência do PIS e da
Cofins", não subsiste a alegada prematuridade em razão de
eventual possibilidade de modulação de efeitos.
50
DF CARF MF Fl. 3148
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.148
Agravo interno improvido." (AgInt no RE nos EDcl no REsp
1214431/RJ, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, CORTE
ESPECIAL, julgado em 15/08/2018, DJe 22/08/2018) (nosso
destaque)
Assim, considerando todos os argumentos expostos, voto por dar provimento
parcial ao Recurso Voluntário interposto.”
É como voto.
Tatiana Josefovicz Belisário
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DF CARF MF Fl. 3149
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.149
Declaração de Voto
Conselheiro Pedro Rinaldi de Oliveira Lima
Conforme Termo de Verificação Fiscal de fls 29, a autoridade lançadora
concluiu que o contribuinte aproveitou créditos de IPI, de forma indevida, em razão dos "Kits",
"Concetrados" ou "produtos que compõem os Kits" estarem, todos, classificados em posições
fiscais que possuem alíquota zero, conforme trechos selecioandos e reproduzidos a seguir:
"Na realidade, o refrigerante não é elaborado com a utilização
de diversos concentrados. Tal bebida é elaborada com a
utilização de diversos ingredientes, que quando misturados entre
si formam um concentrado – aludido xarope composto. Essa é a
questão nuclear.
...
...
...
52
DF CARF MF Fl. 3150
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.150
aromatizantes específicos para a bebida a ser industrializada se
enquadram na posição 2106.90.10 da TIPI, como uma
“Preparação do tipo utilizado para elaboração de bebidas”,
cuja alíquota do IPI é “zero”. Essa preparação, porém, não se
classifica no EX 01 do subitem 2106.90.10, pois, isoladamente,
não apresenta as características de um extrato concentrado.
...
...
...
...
Portanto, a fiscalização conclui que cada um dos componentes desses “kits”
deverá ser classificado no código próprio da TIPI, por não ser um concentrado, por não ser algo
53
DF CARF MF Fl. 3151
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.151
único, por estar embalado de forma separada e por não possuir as mesas características do
produto final se misturados na substância solvente.
A própria fiscalização reconhece que se todos os componentes do "kit"
fossem misturados com a substância solvente, o produto final estaria pronto, ou seja, se
misturados com água, as bebidas da posição 22.02 da classificação constante na TIPI, estariam
prontas.
A fiscalização faz um esforço para parecer coerente a ocorrência de uma
situação que jamais existiria, a mistura dos componentes do "Kit", de forma separada, à
substância solvente, sem que considerar a mistura conjunta do "kit" com uma única
"preparação composta" solúvel.
Faz sentido que os concentrados de refrigerantes sejam transportados em kits,
condição formal que em nada altera a sua condição material, essencial, de ser um concentrado
para refrigerantes.
Ficou demonstrado que não há qualquer interesse da indústria em
comercializar nenhum dos componentes do kit de forma separada, de modo que, resta evidente
que o produto comercializado não é nenhum dos componentes do kit de forma separada, mas
sim o concentrado.
Todas a escrita fiscal e documentos das operações demonstram fielmente esta
condição mercadológica.
Conforme descrito no texto da posição adotada pelo contribuinte, 2106.90.10,
o que se exige é que o produto a ser classificado nesta posição seja uma "preparação
composta", ou seja, em nenhum momento se exigiu que preparação composta seja um único
objeto ou substância, em uma única condição natural (líquida, gasosa ou sólida por exemplo),
assim como nunca se exigiu que o transporte desta "prepração composta" seja feito após a
mistura de seus componentes.
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DF CARF MF Fl. 3152
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.152
Não há base legal para tais exigências.
Esse sim é o centro da questão.
Não há na legislação base legal que determine uma espécie de regra geral
para que as classificações separem os componentes dos produtos quando não misturados com a
substância solvente.
Ao contrário, existe na NESH a exigência de que a classificação privilegie a
essência do produto (Regra 2, a, I das notas explicativas).
A posição criada na TIPI, que permite a classificação fiscal das preparações
compostas, não pode cair em desuso para todo e qualquer setor que não mistura os
componentes da preparação composta de forma prévia à solvência, pois tal entendimento segue
direção oposta ao fim e objetivo final da própria criação de tal posição.
Nos casos em que a fiscalização pretende reclassificar produtos, esta deve
aplicar as Regras Gerais de Interpretação do Sistema Harmonizado de forma escalonada, assim
como a reclassificação fiscal efetuada pelo fisco deve estar irremediavelmente provada nos
autos do processo, de modo a categorizar a situação de fato, sob pena da insubsistência da
exigência fiscal.
Segue em comparação a NCM 2106.90.10, do contribuinte e, em seguida, as
NCMs da fiscalização, a seguir:
(...)
55
DF CARF MF Fl. 3153
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.153
i) O código 2916.31.21, tributado à alíquota zero, é próprio para
embalagens contendo exclusivamente Benzoato de Sódio;
Aliás, como é de conhecimento geral, os Ex Tarifários possuem o fim social
de desoneração, por redução temporária de alíquota, conforme pode ser verificado na doutrina
brasileira, arcabouço legislativo e, inclusive, no próprio site do Ministério da Indústria,
Comércio Exterior e Serviços:
"Ataualizado em: 08/01/2018 O regime de ExTarifário consiste
na redução temporária da alíquota do imposto de importação de
bens de capital (BK), de informática e telecomunicação (BIT),
assim grafados na Tarifa Externa Comum do Mercosul (TEC),
quando não houver a produção nacional equivalente.
Atualmente, o Conselho de Ministros da CAMEX tem promovido
a redução a 0% (zero), ao amparo do ExTarifário. Sem a
aplicação do regime, as importações de BK têm incidência de
14% de Imposto de Importação e, as de BIT, 16%.
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DF CARF MF Fl. 3154
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.154
Viabiliza aumento de investimentos em bens de capital (BK) e de
informática e telecomunicação (BIT) que não possuam produção
equivalente no Brasil;
A concessão do regime é dada por meio deResolução CAMEX nº
66/2014da Câmara de Comércio Exterior (Camex), após análise,
pelo Comitê de Análise de ExTarifários (CAEx), dos pareceres
elaborados pela SDCI."
Não há nos autos sequer os textos das posições apontadas como corretas pela
fiscalização.
É condição determinada no Art. 16 do RIPI/10, que toda a classificação deve
seguir as Regras Gerais para Interpretação do SIstema Harmonizado e às Notas Explicativas:
"TÍTULO III DA CLASSIFICAÇÃO DOS PRODUTOS
Art.16.Farseá a classificação de conformidade com as Regras
Gerais para InterpretaçãoRGI, Regras Gerais Complementares
RGC e Notas ComplementaresNC, todas da Nomenclatura
Comum do MERCOSULNCM, integrantes do seu texto (Lei nº
4.502, de 1964, art. 10).
Premissa básica e antecedente que não foi seguida pela fiscalização, que
sequer divulgou os textos das posições em que pretendeu reclassificar os concentrados.
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DF CARF MF Fl. 3155
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.155
III) A segunda parte da Regra prevê que a classifi cação seja
determinada:
V) Na disposição III) b):
a) A frase “desde que não sejam contrárias aos text os das
referidas posições e Notas”, destinase a precisar, sem deixar
dúvidas, que os dizeres das posições e das Notas de Seção ou de
Capítulo prevalecem, para a determinação da classif icação,
sobre qualquer outra consideração.
Assim, sem saber quais os textos das "novas" posições, como poderia a
fiscalização reclassificar sem, primeiro, analisar se os textos das posições correspondem ao
produto comercializado ou não? Não poderia.
A conseqüência de um lançamento sem substância própria, é a total ausência
de relação dos fatos com a norma, ausência de descrição e fundamentação da infração tributária
no presente processo administrativo fiscal.
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DF CARF MF Fl. 3156
Processo nº 10380.730572/201708 S3C2T1
Acórdão n.º 3201005.423 Fl. 3.156
Estes fatos que somamse à ausência de laudo (por parte da fiscalização)
neste processo, ausência do texto das posições indicadas pela fiscalização, ausência da
subsunção dos fatos e características dos produtos às Regras Gerais da NESH e às posições
apontadas.
E por fim, mas não menos importante, não haveria nenhuma novidade em
seguir esta linha de entendimento para a presente Turma de julgamento, visto que cancelou
inúmeros lançamentos em razão de defeito na reclassificação por parte da fiscalização,
conforme pode ser verificado no Acórdãos 3201003.039, 3201002.253 e 3402003.448.
Em adição, se a SUFRAMA autorizou a operação, visto que não há nenhuma
prova de descumprimento dos requisitos de aproveitamento dos créditos permitidos pela
SUFRAMA, tal atividade é protegida pelo Art. 179 do CTN, in verbis:
"Art. 179. A isenção, quando não concedida em caráter geral, é
efetivada, em cada caso, por despacho da autoridade
administrativa, em requerimento com o qual o interessado faça
prova do preenchimento das condições e do cumprimento dos
requisitos previstos em lei ou contrato para sua concessão."
Diante do exposto, votase para DAR PROVIMENTO PARCIAL ao Recurso
Voluntário, para manter legítima a classificação fiscal 2106.90.10, utilizada pelo contribuinte.
Declaração de voto proferida.
(assinatura digital)
Pedro Rinaldi de Oliveira Lima.
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