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1. BIOGRAFIA
1.1. Vida e Obra
Carl Rogers nasceu dia 08 de janeiro de 1902 em Oak Park, Illinois, um subúrbio de
Chicago. Nascido em berço religioso, a família Rogers era alicerçada em uma rígida cultura
protestante a permear em seu cotidiano, vislumbrado de valores morais tradicionais e
conservadores. Ambos os pais possuíam formação universitária, algo incomum naquele
tempo, o que concatenava na sua constante estimulação intelectual para a posteriori ser
compreendida dentro de uma academia.
Aos 12 anos, Rogers e sua família mudaram-se para uma nova residência aos
arredores de Chicago, a qual possuía um extenso terreno agrícola e fértil, engendrando a partir
desse momento o interesse do mesmo pela agricultura e ciências naturais. Em decorrência de
tal fato, Rogers matricula-se no curso de Agronomia da Universidade de Wisconsin em 1919,
já apresentando traços de facilitador e organizador mediante seu envolvimento em atividades
comunitárias. Em 1922 decide-se cursar História com o intuito de tardiamente seguir carreira
religiosa. Em 1924, após graduar-se na universidade, Rogers matricula-se ​no Seminário da
União Teológica em Nova Iorque, ambiente que retoma a constituição conservadora e
tradicionalista da qual viveu e cresceu. No mesmo ano casa-se com sua amiga de infância,
Ellen Elliot, com quem posteriormente teve dois filhos chamados David Elliott Rogers (1926)
e Natalie Rogers (1928). Durante sua estadia, Rogers frequenta algumas aulas na faculdade de
Psicologia, onde conhece os psicólogos Goodwin Watson e William Kilpatrick, e finalmente
acaba percebendo não ter vocação na carreira religiosa. Transferido ​para o Teachers College
da Columbia University, foi introduzido na psicologia. Nesta mesma universidade obteve seus
títulos de Mestre, 1928, e Doutor, 1931.
Em 1926 inicia seu trabalho n​o Instituto de Aconselhamento Infantil (Institute for
Child Guidance) em Nova Iorque; em 1928 concebe seu mestrado, sendo sua tese a criação de
um teste de personalidade para crianças. Em 1929 começara um caminho que iria durar 12
longos anos ao dirigir o Centro de Observação e Orientação Infantil, local onde conhece Otto
Rank, cuja prática terapêutica torna-se uma grande influência para a sua carreira. É importante
dissertar que ​suas primeiras experiências clínicas foram calcadas na abordagem behaviorista
como interno do Institute for Child Guidance, sofrendo ao longo dos anos mudanças graduais
para o campo da psicanálise.
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Em 1938 Rogers torna-se o primeiro psicólogo a ser diretor no Centro de Observação


e Orientação Infantil, ganhando uma luta travada há anos com os psiquiatras e seu maior
prestígio, consideração social e intelectual do que os psicólogos. Foi mediante esses 12 anos
de trabalho que Rogers assediou ideias e atingiu novas percepções sobre tratamentos
psicoterapêuticos que adiante irão formular sua teorização.
Seu primeiro livro é lançado em 1939, o qual denominado “O tratamento clínico da
criança-problema” expressa a coletânea de suas pesquisas produzidas até então. É a partir
desse ponto que ele inicia seu reconhecimento pela academia como psicólogo clínico. Rogers
protagoniza em seus dizeres uma psicoterapia menos diretiva do que o usual, como também
na interpretação e no direcionamento. O enfoque é realizado através da aceitação dos
sentimentos do cliente mediado pelo terapeuta, fazendo surgir assim a Terapia Centrada na
Pessoa, ou Abordagem Centrada na Pessoa.
Nos anos seguintes a serem percorridos, essencialmente entre 1945 a 1957, Rogers
engrandece consideravelmente sua produção de pesquisa no entorno de seus estudos teóricos
e práticos com o intuito da maior validação mesmos, assim como a procura de novas
descobertas. A consequência de tal ato é o grande número de publicações científicas acerca de
seus achados, como também sua conseguinte ​ocupação na cátedra de Psicologia da
Universidade de Ohio em 1949. Nesse ínterim, Rogers torna-se professor de Psicologia na
Universidade de Chicago e secretário executivo do Centro de Aconselhamento Terapêutico.
No ano de 1961 é publicado o best-seller “Torna-se pessoa”, um marco na vida de
Rogers no que tange a ascensão de seus investimentos em estudar psicoterapia de grupos. Em
1970, outro lançamento sucedeu-se, o “Grupos de encontro”, deferido como um livro de
consulta essencial na área da psicologia. Dois anos depois o assunto principal a ser estudado
transfigurou sem rumo para a reflexão dos aspectos sociais e políticos acerca dos grupos de
encontro, surgindo assim o livro “Poder Pessoal” por volta de 1977.
Nos últimos anos de sua vida, Rogers apresenta um enfoque cada vez mais observado
em interesses pela dimensão espiritual do homem, pela sua transcendência e consecutiva
assimilação do homem com o universo. Aos 85 anos foi indicado para o Prêmio Nobel da Paz,
e em 1979 há a perda de sua esposa.
Carl Rogers faleceu no dia 4 de fevereiro de 1987 em La Jolla, Califórnia, após uma
fratura do colo do fêmur. Dentre seus marcos, podemos citar, por duas vezes, sua eleição à
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presidente da Associação Americana de Psicologia, e recebendo desta mesma associação os


prêmios de Melhor Contribuição Científica e o de Melhor Profissional.

1.2. Desenvolvimento do pensamento rogeriano


Para compreender melhor o pensamento Rogeriano, é indispensável que se entenda as
três fases que constituem o seu pensamento. São elas: Psicoterapia aconselhamento e método
não diretivo, terapia centrada no Cliente e a abordagem centrada na pessoa.

Ao ser adentrado no Brasil, o pensamento Rogeriano sofreu alguns impactos, estando


entre eles a crítica ao diagnóstico da época e os direcionamentos, per se tidos como diretos,
que eram feitos na consulta terapêutica da época com intuito de aconselhamento.

A partir desse momento, Rogers direcionou o seu pensamento partindo do pressuposto


de que o indivíduo possui sua própria potencialidade, e com isso consegue sozinho chegar ao
seu autoconhecimento mediante o contato consigo mesmo. Com base nesse pensamento,
foram desenvolvidos alguns conceitos a serem explicados a seguir, tais quais: Não
diretividade; O terapeuta como facilitador; As atitudes do terapeuta; Conceitos da pessoa em
pleno funcionamento.

O aconselhamento não diretivo é um método que possui doze fases, e tem o objetivo
de fazer com que o paciente adquira autoconhecimento. O final da terapia ocorre, portanto,
somente quando há o amadurecimento psíquico do sujeito acompanhado de uma melhor
elaboração construtiva de respostas sobre si. Parte-se do princípio que a ideia desse método
não é gerar uma dependência, e sim auxiliar o autoconhecimento do indivíduo em patamares
que esse possa conseguir se analisar por si só.

A despeito dessa forma de se pensar a psicoterapia, Rogers (1973) elenca as doze fases
já mencionadas, sendo elas:

I. Buscar ajuda. Mesmo que seja influenciado por outras pessoas o paciente deve tomar a
iniciativa de pedir ajuda.
II. Explicitação da relação transparente do paciente e psicólogo. O psicólogo deve situar a
psicoterapia como um lugar onde o indivíduo pode obter auxílio para construir as soluções
para seus problemas, explicitando que não tem as respostas que o indivíduo busca.
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III. O psicólogo deve estimular que o indivíduo expresse seus sentimentos em relação à
problemática que enfrenta, de modo a mostrá-lo que será acolhido e respeitado.
IV. O psicólogo deve reconhecer e aceitar os sentimentos negativos que surgirem
conforme o desenrolar da terapia, de modo a criar um espaço apropriado para que o cliente
aprenda a reconhecer esses sentimentos em si, entendendo-os como parte de si.
V. Reconhecimento pelo indivíduo de seus elementos positivos. Quando os sentimentos
negativos começam a simbolizar e, são seguidos por uma expressão receosa dos impulsos
positivos que levarão o indivíduo ao desenvolvimento.
VI. O psicólogo deve aceitar e reconhece os sentimentos positivos que se exprimem da
mesma maneira como aceitava e reconhecia os sentimentos negativos, de maneira que o
indivíduo reconheça ambos como partes de si.
VII. O indivíduo entende e aceita a si mesmo e, assim, estabelece-se uma base para que
ascenda aos níveis posteriores do processo.
VIII. Surge aqui um esclarecimento sobre possíveis linhas de ação, que pode vir
acompanhado de uma possível dúvida a respeito da capacidade de trilhar novos caminhos em
busca de uma mudança. Cabe ao psicólogo, aqui, auxiliar a reconhecer os caminhos
existentes, tal como o sentimento de temor que se faz presente diante das novas
possibilidades.
IX. Aqui tem início ações positivas que, embora restritas, são altamente significativas.
Pode ocorrer, ainda, que o indivíduo reconheça as novas possibilidades, mas que denote falta
de coragem para exercê-las.
X. Surge aqui, por parte do indivíduo, uma compreensão mais profunda de si que o
convida a olhar com mais profundidade para suas ações.
XI. O sujeito aumenta sua confiança na capacidade de direcionar a si mesmo.
XII. Há o sentimento de uma decrescente necessidade de ajuda, e o reconhecimento por
parte do cliente de que a relação com o psicólogo deve chegar ao fim.

Rogers em seu livro “Terapia centrada no cliente”, aponta a necessidade do terapeuta


entender seu papel de facilitador no momento da terapia. É apresentado, portanto, de maneira
sucinta, as conseguintes ideias concebidas descritas nesse livro a seguir:
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I. Aceitação positiva incondicional. O terapeuta se mostra disposto a aceitar qualquer


afeto ou atitude do paciente. Receber e aceitar o outro como ele é, e fazer com que o paciente
se sinta bem no ambiente de análise.
II. Compreensão empática. Capacidade do terapeuta de se colocar no lugar do outro. O
terapeuta vê o mundo a partir dos olhos do paciente.
III. Congruência ou autenticidade. O terapeuta possui a capacidade de estabelecer uma
relação genuína e sem barreiras com o cliente.

Esse elucida que, um orientador competente na Terapia Centrada no Cliente, apresenta um


conjunto de atitudes coerentes e em evolução, sendo uma das atitudes mais significativas do
orientador a relação do valor e do significado do sujeito. Pode-se dizer que o orientador
escolhe trabalhar de modo coerente sobre o que o cliente é capaz de suportar. Isto significa a
construção de uma situação interpessoal na qual o conteúdo possa chegar à consciência do
cliente, e per se, gerar uma demonstração significativa da aceitação do cliente por parte do
orientador como uma pessoa capaz de conduzir a si mesma.

Centrar-se no cliente não significa que o terapeuta tenha sozinho um papel ativo na
relação de análise, porém detém significâncias acerca de tornar o cliente como foco de sua
atenção. Se antes a orientação era dita para permanecer fora do caminho do cliente, neste
momento ele é levado a comprometer-se numa busca por compreensão empática do sistema
de referência da outra pessoa.

Consumada tais ideias, Rogers esclarece que a postura centrada no cliente não tem
vínculo com a passividade e a aparente falta de interesse ou envolvimento do terapeuta no
momento da análise. Essa relação, portanto, só existe quando o terapeuta for profunda e
genuinamente capaz de adotar tais atitudes, sendo elas: Aconselhamento centrado no cliente,
centralização no Cliente. Tais possibilidades apenas poderão ocorrer quando houver uma
determinada previsibilidade do processo a seguinte descoberta da capacidade do cliente.

2. CONTEXTO HISTÓRICO
Tendo em vista que as experiências da vida de um homem e o modo em que elas se
articulam com o meio em que esse se encontra inserido são determinantes imprescindíveis
para a formulação de ideais contidos dentro de sua linha de pesquisa, torna-se necessário
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conceituar a época e os acontecimentos que antecederam a criação da Abordagem Centrada na


Pessoa (ACP).
Nascido em um período que antecede as duas grandes guerras mundiais, Rogers
passou sua infância, adolescência e juventude cercados por um período turbulento em nível
mundial. Em decorrência das episódicas mortes em campos de batalha, a ACP surgiu e
desenvolveu-se no presente instante de movimentos de Contracultura que estavam a ocorrer
ao redor dos EUA. A Contracultura foi designada como um contexto político e cultural
enfrentado pela sociedade ocidental mediante contestações e paralisações estudantis, luta
pelos direitos das minorias raciais, liberação sexual e movimentos feministas. Emergido em
um ambiente onde se era experimentado novas atuações, os questionamentos rogerianos
foram facilitados pelas práticas da época vigente, sendo os conceitos da ACP ressoantes à
ideologia daqueles que detiam o movimento de Contracultura, a consecutiva massa.
Convicções tais quais liberdade, auto-realização e o respeito aos valores humanos
eram pautas constantemente defendidas por esses movimentos de caráter revolucionário na
tentativa de contradizer os períodos de terror que a maior parte da população mundial passara.
Portanto, encontra-se aqui Rogers como o grande responsável pelos psicólogos finalmente
realizarem psicoterapia, ação que anteriormente apenas médicos psiquiatras poderiam exercer.
Intitulada como a “terceira força da Psicologia”, Rogers foi um dos responsáveis pela
formulação da psicologia humanista, a qual surge para abrir espaço conceitual para além das
abordagens contemporâneas da época, o behaviorismo e a psicanálise. Essa defendia a
potencialidade do indivíduo e na sua conseguinte sociabilidade, além de outros inúmeros
fatores não cabíveis na conseguinte temática do trabalho.
No Brasil, a ACP conseguiu seu consecutivo espaço diante outro cenário. Com imensa
popularidade apresentada já nos EUA, o trabalho de Rogers estendeu-se pela Europa e por
toda América Latina, sendo no Brasil mediante a professora Mariana Alvim (1909-2001). Em
1945 conheceu Rogers pessoalmente em uma visita a Chicago no intuito de instruir-se melhor
na chamada então técnica não-diretiva. No ano seguinte, Alvim esteve lecionando no Rio de
Janeiro, e tal fato sucedeu-se até se mudar para Brasília em 1960, tendo mediado nesse
ínterim aulas na Universidade da Bahia.
No Rio Grande do Sul, data-se por volta da década de 1950 quando a teoria de Carl
Rogers foi assimilada e estudada pela classe de psicólogos ali presentes. O intuito dessa
imersão ocorreu devido ao fato de a análise a ser oferecida pelos psicólogos, naquela época,
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ser considera de segunda linha, uma vez que eram os médicos a aplicar consultas terapêuticas
devidamente bem vistas pela sociedade. Diante o contexto absurdado, grupos de psicólogos se
reuniam com o objetivo de conseguir utilizar uma abordagem em razão a oposição aos
psiquiatras.
Na década de 1960, com a criação dos cursos de graduação em Psicologia no Brasil, as
teorias humanistas, incluindo a ACP, ganhavam cada vez mais espaço por agora estarem
sendo estudadas de maneira regulamentada e mais abrangente. Um determinante essencial
para ter ocorrido essa gigante abertura de espaço foi a de que as principais universidades que
possuíam a possibilidade de cursar Psicologia encontravam-se nas metrópoles, onde o
pensamento intelectual era de maior acessibilidade, como também dessas cidades conterem
um maior número de habitantes. Antagônico ao cenário da época, os ideais disseminados pela
teoria de Carl Rogers, como dito anteriormente, entregavam ao indivíduo um certo otimismo,
principalmente acerca do grau de potencialidade do ser humano que sua abordagem
apresentava, como também a crença de um futuro melhor do que o presente vivido, tendo sido
a ditadura militar instaurada 4 anos depois.

3. ANÁLISE CRÍTICA

(gustavo e ester)
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Referencias
BUYS, R. C. A psicologia humanista. In: JACÓ-VILELA, A. M.; FERREIRA, A.
A. L.; PORTUGAL, F. T. (Orgs.). ​História da psicologia​: Rumos e
Percussos. Rio de Janeiro, Nau Editora. 2010, p. 339-348.

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