Estado brasileiro e Partidos políticos

AULA 2 Quando se pensa na formação do Estado brasileiro, é preciso conside-

rar um fator histórico primordial: a colonização portuguesa. Na análise
sociológica desse fator, destaca-se uma característica marcante: o “pa-
trimonialismo”, prática comum à maioria dos governos absolutistas.

O patrimonialismo é a característica de um Estado que não possui dis-

tinções entre os limites do público e do privado

No Brasil, o patrimonialismo foi implantado pelo Estado colonial português, quando o processo
de concessão de títulos e poderes quase absolutos aos senhores de terra legou à posteridade uma
prática político-administrativa em que o público e o privado não se distinguem perante as autori-
dades. Assim, torna-se “natural” desde o período colonial (1500-1822), perpassando pelo período
Imperial (1822-1889) e chegando mesmo à República Velha (1889-1930) a confusão entre o público
e o privado. O patrimonialismo é uma idéia essencial para a definição do “Homem Cordial”, conceito
idealizado pelo sociólogo Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil.
Victor Nunes Leal, em seu clássico Coronelismo: enxada e voto trabalha de modo magistral o
patrimonialismo no Brasil. Para este autor, a medida que o poder público ia se afirmando sobre o po-
der privado, o Estado imperial teria extra-legalmente tolerado que o fazendeiro (o chamado “coronel”)
embarcasse dentro da “canoa” do Estado moderno, em troca da “força moral” (dos votos). E o Estado
brasileiro continuou, embora ilegalmente, homologando os poderes formais e informais destas figu-
ras. Já os fazendeiros, souberam adaptar-se aos novos tempos, e embarcaram também na “canoa
sem remo” da república. O legado do poder privado, mesmo hoje, ainda sobrevive dentro da máquina
governamental com o uso e presença do “jeitinho brasileiro”, quando a maioria dos políticos veem o
cargo público que ocupam como uma “propriedade privada” sua, ou de sua família, em detrimento
dos interesses da coletividade.

Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Patrimonialismo. Acesso em: 20.10.2014. Texto adaptado.

Sociologia 3 - Aula 2 21 Instituto Universal Brasileiro

 Estado Brasileiro e Partidos Políticos
Origem e formação do
Estado brasileiro
Histórico de dominação patrimonialista
O Brasil, assim que passou a ser colo-
nizado por Portugal, contou com a gerência
de um Estado absolutista e patrimonialista,
que logo procurou a melhor via para prote-
ger suas conquistas.
A dominação patrimonialista é exerci-
da numa forma de dependência econômica
dos dominados e de sentimento de lealdade
destes aos seus dominadores, a exemplo do
que sucedia no sistema feudal. Nesse caso,
porém, o Estado desenvolveu um estamen-
to burocrático, em que os nobres ocupavam
cargos a troco de favores políticos, portanto
longe do Estado racional.
Estamento. Constitui uma forma de
estratificação social com camadas fechadas,
com pouca mobilidade social. Historicamen-
te, os estamentos caracterizavam a socieda-
de feudal da Idade Média, mas o conceito foi
ampliado. A expressão estamento burocrá-
tico foi utilizada por sociólogos brasileiros,
sempre associada ao patrimonialismo.
Sociologia 3 - Aula 2
Vimos que o Estado patrimonialista se
alterou com o sistema capitalista, mudando
suas estruturas internas e especializando
cada vez mais seus administradores, juris-
tas, militares. Os reis de Portugal, no entan-
to, andaram na contramão da História, ce-
dendo as sesmarias (terras não cultivadas) a
nobres portugueses que, para cultivá-las, to-
maram à força a mão de obra indígena local
ou trouxe da África o trabalho escravo, que
marcaria para sempre as relações sociais em
nosso país. Esse Estado se colocava acima
dos grupos sociais, interferia na economia e
elaborava normas jurídicas sem ouvir as ins-
tituições da sociedade.
A colônia era fortemente controlada
pelo Estado português, que ditava as al-
terações econômicas, sociais e políticas.
Com a independência do Brasil em 1822,
era de se esperar que aos poucos fossem
introduzidas mudanças no âmbito social,
liberando aos poucos o país do jugo do Es-
tado. Mas isso não ocorreu, passando-se
para o Estado outras atribuições, como a
regularização da estrutura agrária e a cria-
ção de empregos.
Monarquia, Parlamentarismo e República
A Constituição de 1824 formulou o Esta-
do e elegeu o poder moderador, representado
pelo monarca (Monarquia), como o principal
instrumento de dominação sobre o ministério
(executivo), a câmara e o senado (legislati-
vo), a representação (eleições), o judiciário
(magistrados) e a administração provincial.
Quando em 1847 se instituiu o Parla-
mentarismo, após várias revoltas de forças
políticas liberais contra o poder do rei, o
que houve, na verdade, foi uma tentativa
de conciliação entre o poder moderador e
algumas idéias liberais democráticas de
uma parcela da nação.
Com a proclamação da República,
consagrada federativa pela Constituição de
22 Instituto Universal Brasileiro
1891, as províncias (Estados atuais) ga-
nharam autonomia, cada qual com sua pró-
pria Constituição, forças armadas, códigos
eleitorais e jurídicos, autonomia para tomar
empréstimos no exterior e criar impostos de
exportação. Cada província também teve
o poder executivo, legislativo e judiciário,
eleição escolhida por sufrágio universal em
eleições majoritárias e proporcionais, e em
um sistema presidencialista.
A palavra República tem origem no
latim res publica, cujo significado é “coisa
pública”; aplicado, por extensão aos bens
ou patrimônio público.
Estado liberal & Produção de café
É importante ressaltar que o Estado
republicano federativo tinha um objetivo:
dar suporte à produção cafeeira, que ocu-
pava grandes extensões de terra e estava
voltada para a exportação, de certa forma
atendendo a uma classe de proprietários
rurais vindos do império.
Entretanto, houve aqui uma ruptura
do que seria uma república federativa, uma
vez que ao poder federal era permitido in-
tervir nas províncias, conforme o artigo 6°
da Constituição de 1891, para assegurar a
ordem, a estabilidade e o cumprimento das
leis federais.
A criação da política dos governadores,
durante o governo de Campos Sales (1900),
Sociologia 3 - Aula 2
nada mais foi que um instrumento para colo-
car o governo federal a serviço dos Estados
produtores de café.
Passando pela História de nosso
país, vemos que os produtores do café
sempre foram privilegiados pelo go-
verno central, seja com o Convênio de
Taubaté (1906), que desvalorizava a
moeda brasileira para favorecer a ex-
portação do produto; ou pela compra
dos estoques, quando havia exceden-
te de produção.
Política das oligarquias
Os conflitos regionais e as lutas
das oligarquias pelo poder dos Estados
ficaram à margem do governo central.
Os partidos republicanos dominantes
controlavam as eleições, que não eram
livres, de modo que as possibilidades
de que o poder fosse ocupado pela
oposição eram quase nulas.
Esse estado político-econômico
perdurou sem conflitos enquanto foi
mantida essa política de aliança dos
Estados de Minas Gerais e São Pau-
lo, e inclusive foi praticado também nos
municípios.
O dinamismo econômico da
agroindústria cafeeira passou a domi-
nar a federação, caracterizando o Es-
tado liberal no Brasil como oligárquico,
ou seja, formado por poucos.
Como vimos, recebemos um Esta-
do pronto de Portugal, que foi se acomo-
dando às necessidades de uma classe
de burocratas e produtores, instalando-
se o capitalismo liberal sem lutas san-
grentas, sem um regime democrático
e sem o apoio do povo em geral. Com
isso, uma grande parcela da população
ficou excluída dos benefícios da vida
23 Instituto Universal Brasileiro
 moderna, principalmente trabalhadores
assalariados.
A crise econômica de 1929, os
movimentos políticos em nosso país,
como o tenentismo e as ações do Par-
tido Comunista do Brasil, e a queda da
política oligárquica ocasionaram impor-
tantes mudanças.
Estado Novo
Com a queda da República Velha (ou
Primeira República), em 1930, o Brasil dá
um grande passo rumo à industrialização da
economia capitalista. Já tínhamos a base de
uma indústria de bens de capital para a trans-
formação do café e, a partir daí, inicia-se a
industrialização, com a produção de bens
de capital, ou seja, produção de maquinário
para a indústria.
Vários conflitos originados dessa po-
lítica econômica levaram à centralização
do poder, culminando com o Golpe de
Estado do governo de Getúlio Vargas em
1937, instituindo o Estado Novo que se es-
tendeu até 1945. O período ficou conhe-
cido como a Era Vargas. Não houve mais
eleições, de modo que foi implantado um
regime ditatorial.
Sociologia 3 - Aula 2
Governos populistas
O parlamento retoma com a redemo-
cratização de 1946 a 1964, mas funciona de
forma dependente do poder executivo. Nessa
fase, ampliam-se as responsabilidades esta-
tais pela educação e saúde pública, em res-
posta à sociedade civil que se industrializava
e necessitava de mão de obra qualificada para
a produção e a prestação de serviços. Apenas
uma pequena parcela da sociedade, entretan-
to, se beneficiava das medidas adotadas pelo
Estado. Período identificado pelos historiado-
res como República Liberal, inclui entre os go-
vernos populistas a Era Vargas.
Ditadura Militar
A Ditadura Militar, período que durou
de 1964 a 1984, propiciou uma fase de
grande industrialização, com o Estado cen-
tralizador e o capital sendo os protagonis-
tas dessa situação. O parlamento nacional
continuou distante das tomadas de decisão
nesse processo político-econômico.
Estado neoliberal: século 21
Após 1984, houve a democratização do
país e assistimos à privatização de indústrias
estatais. No início do século 21, o Estado
brasileiro tem governos que enfatizam a polí-
tica neoliberal, mas permanece um forte po-
der estatal herdado de nossa história política,
econômica e social.
O conceito de neoliberalismo passa
por uma evolução de sentido. Atualmente,
caracteriza-se pelo apoio a uma maior li-
beralização econômica, privatização, livre-
24 Instituto Universal Brasileiro
comércio, mercados abertos, a desregula-
mentação, além de reduções nos gastos do
governo, a fim de reforçar o papel do setor
privado na economia.
No caso do Estado brasileiro, há mo-
mentos cíclicos nas diferentes esferas, em
que é possível observar que, além do neo-
liberalismo, há reflexos da política de Bem
Estar Social, na qual o Estado se torna
responsável por atender as demandas da
população, regulando serviços, bem como
fornecendo à sociedade esses mesmos
serviços como forma de garantir melhor
qualidade de vida.
O Estado brasileiro conforme a
Constituição de 1988
Segundo a Constituição em vigor, o
Brasil formou um Estado Democrático de
Direito, cujo modelo de governo é a Re-
pública Federativa, formada pela União in-
dissolúvel dos Estados e municípios e do
Distrito Federal.
O sistema de governo é o presi-
dencialista, e a Constituição tem como
um de seus princípios fundamentais
a independência entre os poderes da
União, que são o legislativo, o executi-
vo e o judiciário.
Sociologia 3 - Aula 2
Poder legislativo
É exercido pelo Congresso Nacional,
no âmbito federal, formado por um sistema
bicameral: Câmara dos deputados e Sena-
do. Se uma matéria tem início na Câmara
dos deputados, o Senado faz sua revisão,
e vice-versa.
A câmara é composta por 513 depu-
tados, eleitos para um mandato de quatro
anos. Os deputados representam a popu-
lação de cada Estado e do Distrito Federal,
de forma proporcional, respeitando o limite
mínimo de oito deputados e máximo de se-
tenta para cada unidade da Federação.
O Senado é composto por 81 senado-
res, eleitos por um mandato de oito anos.
Cada Estado é representado por três sena-
dores, bem como o Distrito Federal.
Competências do Congresso Nacional
• Elaborar emendas à Constituição;
• Preparar leis complementares, or-
dinárias, leis delegadas, medidas provisó-
rias, decretos legislativos e resoluções;
• Exercer o processo legislativo so-
bre todas as matérias de competência da
União (Estado) como: questões tributárias,
arrecadação e distribuição de recursos;
• Elaborar leis e planejamento orça-
mentário, que definem como os recursos
do governo serão gastos;
• Criar programas de desenvolvimento;
• Criar órgãos, cargos e empregos
públicos federais;
• Trabalhar com questões monetá-
25 Instituto Universal Brasileiro
rias, financeiras, cambiais etc.;
• Autorizar o presidente da República a
declarar guerra ou celebrar a paz ou permitir
o trânsito no país de forças estrangeiras;
• Autorizar o afastamento do presidente
ou do vice-presidente por mais de 15 dias;
• Fixar os subsídios do presidente, do
vice, dos deputados, dos senadores;
• Julgar as contas do presidente, fis-
calizar os atos do poder executivo, além de
várias outras atribuições.
Ao Congresso, compete ainda de-
cidir sobre acordos e tratados interna-
cionais que impliquem algum prejuízo
para o patrimônio nacional.
Atribuições exclusivas da
Câmara dos deputados
• Autorizar instauração de processo
contra o presidente e o vice-presidente da
República e os ministros de Estado;
• Fazer fiscalização contábil, financei-
ra, orçamentaria, operacional e patrimonial
do Estado, que são as mais importantes.
Atribuições exclusivas do Senado
• Processar e julgar o presidente e o
vice-presidente da República, ministros de
Estado, comandantes das Forças Armadas,
ministros do Supremo Tribunal Federal,
procurador-geral da República e o advoga-
do geral da União nos casos de crime de
responsabilidade;
• Aprovar operações de empréstimo
externo da União, Estados, Distrito Federal
e municípios.
Poder executivo
Sociologia 3 - Aula 2
Constitui o governo do Estado e exerce
função administrativa, atuando direta ou in-
diretamente na execução de programas e na
prestação de serviços públicos, em nível es-
tadual (governador) ou federal (presidente).
Esfera federal
O poder executivo tem a função é vi-
giar e controlar os demais poderes, nomear
os ministros do Supremo Tribunal Federal
(STF) e dos demais tribunais superiores,
além de participar da elaboração de leis,
por meio da sanção (aprovação) ou veto
(rejeição) aos projetos, e também da esco-
lha dos ministros do Tribunal de Contas da
União (TCU). O presidente exerce ainda o
controle supremo das Forças Armadas.
Esfera estadual
O poder executivo estadual é exerci-
do pelo governador, eleito por mandato de
quatro anos. O governador tem como seus
auxiliares diretos o vice-governador e os
secretários estaduais. Exerce em seu ter-
ritório toda competência que não lhe seja
vedada pela Constituição Federal. Entre
outros objetivos, deve garantir que os di-
reitos e garantias fundamentais não sejam
violados e garantir o respeito à unidade da
Federação, à Constituição Federal e à Es-
tadual. A organização político-administrati-
va compreende os municípios, regidos por
leis próprias. A ênfase deve estar na ques-
tão social e não apenas na econômica.
Esfera municipal
O poder executivo municipal tem
como chefe o prefeito, que é escolhido para
exercer o mandato de quatro anos, tendo
como auxiliares diretos o vice-prefeito e
os secretários municipais. O prefeito tem
funções políticas e administrativas que se
traduzem no planejamento das atividades,
obras e serviços municipais. Cabem ao
prefeito também a apresentação, a sanção,
a promulgação e o veto de proposições e
projetos de lei. O executivo municipal tem
26 Instituto Universal Brasileiro
o dever de, em cada ano, apresentar a pro-
posta orçamentária à câmara dos vereado-
res, para sua aprovação.
Poder judiciário
Tem uma estrutura complexa, com-
posta de uma série de órgãos que possuem
diferentes hierarquias e obedecem à divi-
são das esferas de governo da União.
As justiças trabalhista, eleitoral e militar
são consideradas especializadas.
Os órgãos do poder judiciário são: Su-
premo Tribunal Federal, Conselho Nacional
de Justiça, Superior Tribunal de Justiça, os tri-
bunais regionais federais e juízes federais, os
tribunais e juízes do trabalho, os eleitorais e os
militares dos Estados e do Distrito Federal.

A teoria dos três poderes foi desen-

Em nosso país, o poder judiciário é
dividido em uma justiça de âmbito federal
(comum ou especializada) e outra estadual.
volvida pelo filósofo Charles de Montes-
quieu em seu livro O Espírito das Leis
(1748). Com base na afirmação de que
“só o poder freia o poder”, Montesquieu
afirmava que para não haver abusos,
era necessário, por meios legais, dividir
o Poder de Estado em Executivo, Legis-
lativo e Judiciário. No Brasil, esses são
exercidos respectivamente, pelo presi-
dente da república, Congresso Nacional
e Supremo Tribunal Federal (STF).

Quadro descritivo: composição e atuaçãodos poderes

governamentais nas esferas do Estado brasileiro

Executivo Legislativo Judiciário

Justiça Federal
Congresso Nacional Comum (Tribunais
Presidência da
Superiores, Regionais
República
e Juízes Federais)
Federal
Quem exerce: Justiça Federal Es-
Quem exerce:
Senadores e deputados pecializada (Justiça
Presidente e ministros.
federais. Eleitoral, Militar e do
Trabalho.
Governo Assembléia ou Câ-
mara Legislativa
Tribunal de Justiça e
Estadual Quem exerce:
Juízes Estaduais.
Governador e secre- Quem exerce:
tários de Estado. Deputados estaduais.

Prefeitura Câmara de
Vereadores
Municipal Quem exerce: -
Prefeito e secretários Quem exerce:
municipais Vereadores

Sociologia 3 - Aula 2 27 Instituto Universal Brasileiro

 Partidos Políticos
Para completar, vejamos a formação dos
partidos políticos e sua atuação nos diferentes
governos, para também entendermos a sua
ideologia.
Conceito de ideologia. Surgiu no sé-
culo 18 com o filósofo francês Destutt de Tra-
cy (1754-1836), para designar a “ciência das
idéias”. Mais tarde, com a contribuição de ou-
tros pensadores, Karl Marx e o alemão Friedrich
Engels (1820-1895), o conceito agrega o senti-
do de consciência social de uma classe domi-
nante ou conjunto de ideias falsas destinadas a
mascarar a realidade social aos olhos da classe
dominada. Atualmente usa-se este termo como
o conjunto de ideias dominantes numa socieda-
de ou como “visão de mundo” de uma classe
social, de uma sociedade ou de uma época.
Como surgiram os partidos no Brasil?
Diferentemente do que ocorreu nos Esta-
dos Unidos e na Europa, onde os partidos po-
líticos foram importantes instrumentos de luta,
de reivindicação, de transformação social, aqui
o capitalismo tardio e a sociedade escravocrata
ou excludente fizeram da vida política um espa-
ço reservado para poucos e que dispensa a par-
ticipação das classes médias no poder político.
► Partido Moderado: base para o Par-
tido Conservador e o Partido Liberal
No Primeiro Reinado, surgem os liberais
que formam o Partido Moderado, em oposição
aos liberais extremados. Na regência de Diogo
Antônio Feijó (1784-1843), como consequência
de conflitos no interior do Partido Moderado se
subdividiu em dois grupos: os regressistas, que
formariam o Partido Conservador; e os progres-
sistas, que formariam a base do Partido Liberal.
Esses partidos atuaram em regime parla-
mentar, bipartidário, baseado na troca de gabi-
netes, que tinha como modelo o parlamentaris-
mo inglês. É interessante observar que ambos
vinham de um mesmo estamento e grupos so-
ciais que representavam a classe dominante.
As diferenças apareciam em momento de con-
flito e tinham um cunho regional.
Sociologia 3 - Aula 2
Embora houvesse diferenças em seus
programas partidários, quando no poder, os
liberais e os conservadores se pareciam. Am-
bos lutavam pela ocupação de cargos e por pri-
vilégios que só o Estado poderia oferecer.
► Partido Democrático e Partido
Republicano
O Partido Democrático não teve penetra-
ção nas camadas mais baixas da sociedade, pois
seu papel era legitimar a dominação da velha oli-
garquia. No período republicano, o domínio foi do
Partido Republicano e de seus representantes
regionais. Durante a política dos governadores,
praticamente não existiu oposição parlamentar.
Próximo do fim da República Velha, era formado
o Partido Democrático, em 1926, como uma va-
riante do velho republicanismo.
► Ideologia dos Anarquistas e Parti-
do Comunista
Diferentemente do que ocorreu na Fran-
ça, as camadas mais baixas não foram no
início republicanas, optando pelo anarquis-
mo ou pelo comunismo para a construção de
uma sociedade mais justa. Os anarquistas ti-
veram uma participação muito importante na
greve geral de 1917 no Brasil, e os comunis-
tas fundaram o Partido Comunista em 1922.
Anarquismo. Filosofia política que en-
globa teorias, métodos e ações que objetivam a
eliminação total de todas as formas de governo
compulsório, sendo contra qualquer tipo de or-
dem hierárquica que não seja livremente aceita.
Partidos de oposição radical
No decorrer de nossa história política, ve-
mos que os opositores mais radicais nunca che-
garam ao poder. Embora tivessem tido impor-
tância no sentido de revelar os problemas mais
sérios da formação social brasileira, a classe
28 Instituto Universal Brasileiro
 dirigente jamais conseguiu absorver essas críti-
cas de forma democrática. Sempre houve forte
repressão às críticas radicais, e surgiram regi-
mes políticos ditatoriais, restringindo ainda mais
as liberdades. Foi assim no Getulismo e depois
na Ditatura Militar, períodos em que a vida parla-
mentar foi extinta e permaneceu sem qualquer
representante político legitimado pelo voto.
► Novos partidos
Depois do Getulismo, em 1946, com a
nova Constituição, o legislativo foi se recu-
perando, sendo criados novos partidos:
• Partido Social Democrático (PSD);
• União Democrática Nacional (UDN);
• Partido Trabalhista Brasileiro (PTB);
• Partido Comunista Brasileiro (PCB);
• Partido Socialista Brasileiro (PSB);
• Partido Republicano Progressista
(PRP) e outros.
► Golpe militar e criação do biparti-
darismo: ARENA e MDB
Com a criação dos partidos parecia ter se
iniciado a construção de uma democracia libe-
ral. Mas, viu-se que não era bem assim: primei-
ro ocorreu a cassação do Partido Comunista em
1947; e em 1964, com o golpe militar, todos os
partidos foram cassados. Por meio de um Ato
Institucional, criaram-se a Aliança Renovadora
Nacional (ARENA) e o Movimento Democrático
Brasileiro (MDB). O primeiro apoiava o regime,
por isso também chamado de partido da situa-
ção; e o segundo, deveria fazer uma oposição
consentida, identificado como partido de oposi-
ção. Durante o militarismo, segmentos sociais
ganharam força no sentido de derrubar o regime
militar, e o MDB foi o partido que juntou todos
esses segmentos.
A tomada do poder pelos militares por meio
do golpe em 1964 foi seguida por medidas que
visavam estabelecer o novo regime. Para isso
foi publicado no mesmo ano o Ato Institucional
Sociologia 3 - Aula 2
Número Um. Mas a situação política mos-
trou que seriam necessárias novas medidas para
barrar a oposição e então foi decretado em 1965
o Ato Institucional Número Dois (AI-2). O novo
Ato era mais rígido que o primeiro e reforçava as
ações do Executivo, era composto por trinta e
três artigos. Foi o AI-2 que determinou o fim de
mais de dez partidos políticos existentes no Bra-
sil (representados pelas siglas PSB, PTB, UDN,
PSP, PDC, MTR, PTN, PST, PSB, PRP, PR, PL,
PRT), estabelecendo um sistema bipartidário
(ARENA e MDB).
► A partir de 1979: volta do pluripar-
tidarismo
Mudanças estavam acontecendo no
seio da sociedade, principalmente no interior,
ensejadas pelo desenvolvimento da econo-
mia. Os partidos comprometidos com uma
sociedade mais igualitária tinham seus an-
seios anulados pelos grandes empresários
(nacionais e do exterior), dirigentes políticos,
altos burocratas, intelectuais etc. Estes con-
tavam com o apoio da política centralizadora
do Estado, que beneficiava a classe dirigente
no confronto com as forças sociais democrá-
ticas, uma vez que projetos para beneficiar
certos setores não passavam pelo parlamen-
to, que não tinha poder real de decisão. Em
1979, após a Anistia, os partidos políticos fo-
ram autorizados a funcionar. Assim se esta-
beleceram a maioria dos partidos que hoje
estão em atividade.
Não havia espaço para a oposição de-
fender suas idéias dentro do parlamento, mas
a própria realidade econômica e social criou
condições para seu fortalecimento. Foi assim
que, em 1980, foi fundado o Partido dos Tra-
balhadores (PT) com uma nova proposta de
fazer política. A massa de trabalhadores as-
salariados formou a base do PT, dando voz
àqueles que não podiam tê-la em razão de
nossa sociedade ser marcada pelo domínio
de poderosos grupos econômicos e políticos.
Mas o que foi extraordinário na época parece
que convergiu e perdeu suas bases primitivas,
reflexo de mudanças no mundo do trabalho
que fez os funcionários das indústrias perde-
rem sua identidade anterior.
29 Instituto Universal Brasileiro
 Nas primeiras décadas do século 21, o Bra-
sil chega a mais de trinta partidos políticos, mas a
ideologia partidária é muito discutível, haja vista as
conspirações e os acertos partidários. Muitos par-
tidos racham, gerando outras siglas; outros desa-
parecem; ou mudam de nome, cores e bandeiras,
porém suas lideranças se mantêm as mesmas.
Estado Brasileiro e Partidos Políticos
O Brasil, assim que passou a ser colo-
nizado por Portugal, contou com a gerência
de um Estado absolutista e patrimonialista. A
dominação patrimonialista é exercida numa
forma de dependência econômica, marcada
pela ausência de limites entre o público e o
privado por parte dos administradores.
Monarquia, parlamentarismo e república
Monarquia. A Constituição de 1824 for-
mulou o Estado e elegeu o poder moderador (mo-
narca), como o principal instrumento de domina-
ção sobre o ministério (executivo), a câmara e o
senado (legislativo) e o judiciário (magistrados).
Parlamentarismo. Quando em 1847 se
instituiu o parlamentarismo, o que houve, na
verdade, foi uma tentativa de conciliação entre
o poder moderador e algumas ideias liberais
democráticas de uma parcela da nação.
República. Com a proclamação da Re-
pública, consagrada federativa pela Constitui-
ção de 1891, as províncias (Estados atuais)
ganharam autonomia, cada qual com sua pró-
pria Constituição.
Estado liberal & Produção de café
O Estado republicano federativo tinha
um objetivo: dar suporte à produção cafeeira.
Estado Novo
Vários conflitos originados da política eco-
nômica da Revolução de 1930 levaram à cen-
tralização do poder, culminando com o Golpe de
Estado do governo de Getúlio Vargas em 1937,
instituindo o Estado Novo que se estendeu até
Sociologia 3 - Aula 2
1945, período conhecido como Era Vargas.
Governos populistas
O parlamento retoma com a redemocratiza-
ção de 1946 a 1964, mas funciona de forma de-
pendente do poder executivo. Alguns historiadores
incluem Vargas no bloco de governos populistas.
Ditadura Militar
Período que durou de 1964 a 1984, pro-
piciou uma fase de grande industrialização,
com o Estado centralizador e o capital sendo
os protagonistas dessa situação.
Estado neoliberal: século 21
Após 1984, houve a democratização do
país e assistimos à privatização de estatais. No
início do século 21, o Estado brasileiro tem go-
vernos que enfatizam a política neoliberal, mas
permanece um forte poder estatal herdado de
nossa história política, econômica e social.
O Estado brasileiro conforme a
Constituição de 1988
Segundo a Constituição em vigor, o Bra-
sil formou um Estado Democrático de Direito,
cujo modelo de governo é a República Fede-
rativa, formada pela União indissolúvel dos
Estados e municípios e do Distrito Federal.
Como surgiram os partidos no Brasil?
Aqui o capitalismo tardio e a sociedade
escravocrata ou excludente fizeram da vida
política um espaço reservado para poucos e
que dispensa a participação das classes mé-
dias no poder político.
► Partido Moderado (1930-40): base
para o Partido Conservador e o Partido Liberal
► Partido Democrático e Partido Repu-
blicano (1926)
► Ideologia dos Anarquistas e Partido
Comunista (1922)
► Novos partidos (1946)
► Golpe militar (1964) e criação do bi-
partidarismo: ARENA e MDB
► A partir de 1979: volta o pluripartida-
rismo
30 Instituto Universal Brasileiro
 estatal ou qualquer outra forma de poder.

a) ( ) I e III
b) ( ) II e III
c) ( ) I e II
1. Na obra Raízes do Brasil, publica- d) ( ) I, II e III
da em 1936, o sociólogo Sérgio Buarque de
Holanda aplica o conceito de patrimonialis- 4. Considere as funções dos poderes
mo para interpretar as estruturas políticas e do Estado federal brasileiro em relação às
econômicas emergentes na sociedade bra- leis e identifique (1) para função do poder
sileira. O patrimonialismo descreve: legislativo, (2) para função do poder execu-
tivo e (3) para função do poder judiciário;
a) ( ) a falta de distinção, por parte em seguida, assinale a alternativa com a
dos líderes políticos, entre o patrimônio pú- sequência de números correta.
blico e o privado.
b) ( ) a ação consciente da população ( ) Execução das leis.
e dos governos no trato do patrimônio público. ( ) Criação das leis.
c) ( ) um comportamento em que o ( ) Fiscalização do cumprimento das
patrimônio público não é utilizado como se leis.
fosse propriedade privada.
d) ( ) um fenômeno que se restringe a) ( ) 2, 3, 1.
exclusivamente aos governos absolutistas, b) ( ) 3, 2, 1.
sem reflexos na atualidade. c) ( ) 1, 3, 2.
d) ( ) 2, 1, 3.
2. A Constituição de 1891, elaborada
no início do período republicano, garantiu
alguns avanços, embora estivesse vincu- 5. (Enem. Adaptada) Leia o texto e
lada aos interesses das elites agrárias do as explicações para identificar a alternativa
país. A política econômica do período da correta.
Primeira República (1889-1930) tinha como
objetivo central dar suporte à produção: PSD - PTB - UDN
PSP - PDC - MTR
a) ( ) cafeeira. PTN - PST - PSB
PRP - PR - PL - PRT
b) ( ) de cana-de-açúcar.
Finados
c) ( ) automobilística.

d) ( ) de carne bovina. FORTUNA. Correio da Manhã, ano 65.
n. 22 264, 02.11.1965
3. Identifique as afirmativas corretas.
O texto foi publicado no jornal Correio
I – Com a queda da República Ve- da Manhã, no dia de Finados de 1965. Sua
lha, em 1930, e o início da Era Vargas, em relação com os direitos políticos existentes
1937, o Brasil deu um grande passo rumo à no período indica a:
industrialização da economia.
II – No período da Ditadura Militar a) ( ) extinção dos partidos nanicos.
(1964-1985), o Estado tinha caráter cen- b) ( ) retomada dos partidos esta-
tralizador, e o parlamento ficava distancia- duais.
do das tomadas de decisão. c) ( ) adoção do bipartidarismo re-
III – No início do século 21, o Estado gulado.
brasileiro é marcado pela política neolibe- d) ( ) valorização da representação
ral, totalmente livre da herança do poder parlamentar.
Sociologia 3 - Aula 2 31 Instituto Universal Brasileiro

1. a) ( x ) a falta de distinção, por parte
dos líderes políticos, entre o patrimônio pú-
blico e o privado.
Comentário. Patrimonialismo é um termo
utilizado para descrever a falta de distinção por
parte dos líderes políticos entre o patrimônio
público e o privado em um determinado go-
verno de determinada sociedade. Mediante tal
prática, os governantes consideram o Estado
como seu patrimônio, numa total confusão en-
tre o que é público e o que é privado, noção
que prevaleceu durante o período dos estados
absolutistas. Mas o fenômeno do patrimonialis-
mo não se restringe exclusivamente aos gover-
nos absolutistas. Apesar de ser abominado na
administração pública moderna, ainda pode ser
verificado nos casos de corrupção que ocorrem
no poder público.
2. a) ( x ) cafeeira.
Comentário. No período da Primeira
República (1889-1930), a economia brasileira
permanece centrada na produção cafeeira; e
a política é dominada pela oligarquia do café.
Também chamada República Velha, foi subdi-
vidida pelos historiadores em dois períodos:
República da Espada (1889-1894), com poder
mais centralizador; e República Oligárquica
(1894-1930), com maior poder para as eli-
tes regionais como São Paulo (oligarquia do
café). Os capitais da cafeicultura contribuem
com avanços no processo de modernização
e diversificação das atividades econômicas.
As oligarquias dominantes (São Pulo e Minas
Gerais) se revezavam no poder, por isso o pe-
ríodo recebe a denominação “política do café
com leite”. Mas a superprodução cafeeira e a
política de valorização do café foram profun-
damente afetadas pela crise mundial de 1929.
Um dos fatores que justificaram o golpe de
1930.
3. c) ( x ) I e II
Comentário. As afirmativas I e II estão
absolutamente corretas. I - Com a queda da
República Velha, em 1930, e o início da Era
Sociologia 3 - Aula 2
Vargas, em 1937, o Brasil, realmente, deu um
grande passo rumo à industrialização da eco-
nomia. II - No período da Ditadura Militar (1964-
1985), o Estado tinha caráter centralizador, e
o parlamento ficava distanciado das tomadas
de decisão. A parte inicial da afirmativa III está
correta, pois no início do século 21, o Estado
brasileiro é marcado pela política neoliberal.
Mas o neoliberalismo não está totalmente livre
da herança do poder estatal ou qualquer outra
forma de poder; pelo contrário.
4. d) ( x ) 2, 1, 3.
Comentário. Confira a ordem e explica-
ções corretas.
( 2 ) Execução das leis. Poder executivo:
exerce principalmente a função administrativa
de gerenciar o Estado, aplicando a lei nas vá-
rias esferas.
( 1 ) Criação das leis. Poder legislativo:
exercido pelo Congresso Nacional, composto
pela Câmara dos Deputados e pelo Senado
Federal. As duas casas possuem poder equiva-
lente, mas características distintas.
( 3 ) Fiscalização do cumprimento das
leis. Poder judiciário: verifica a legalidade das
leis em relação à constituição e seu cumpri-
mento. Os juízes dos diferentes tribunais são
nomeados pelo poder Executivo.
5. c) ( x ) adoção do bipartidarismo re-
gulado.
Comentário. O texto apresenta os par-
tidos que foram extintos em outubro de 1965,
após a promulgação do AI-2, em 1966. Daí a
associação com o dia de finados. Com esse se-
gundo ato institucional, os militares aumentam
a repressão, vários partidos têm suas sedes in-
vadidas e o poder Judiciário passa a sofrer in-
tervenções do governo militar. Com o pluriparti-
darismo extinto, é estabelecido o bipartidarismo
em que o partido da situação era representado
pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA), e
a oposição era feita pelo Movimento Democrá-
tico Brasileiro (MDB), mas de forma controlada.
Os partidos foram obrigados a se integrar a um
desses grupos: o alinhado com o regime militar
e o da oposição consentida. Como os partidos
da esquerda mais radical haviam sido cassa-
dos, os conservadores formaram a ARENA e
os de centro-esquerda e liberais-democratas
se juntaram ao MDB.
32 Instituto Universal Brasileiro