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Alferes, V. R. (2000). Atraccao interpessoal, sexualidade e relagées intimas. In J. Vala & M. B. Monteiro (Eds.), Psicologia social (4 ed. revista e aumentada, pp. 125-158). Lisbo: Fundagio Calouste Gulbenkian [7* ed.: 2006} CAPITULO VI Atrac¢ao interpessoal, sexualidade e relacdes intimas A elucidacdo dos modos de influéncia e de interdependéncia social passa pela investigacao de um tipo particular de relagdes interpessoais, dotadas de significagao especial ¢ valor diferen- cial no contexto global das interaccSes huma- nas. Tais relagdes, que podemos definir generi- camente como relacdes de am fundam-se na capacidade de discriminar € avaliar, positiva ou negativamente. as situagdes, de interacgao € traduzem 0 caréeter selectivo dos comportamentos sociais. E. esta dimensao avaliativa que especitica o domi nio da atracgo no contexto mais geral do estudo das relagdes interpessoais: os fendmenos de atracgao dizem respeito aos componentes afectivos das relagdes sociais, em particular ds atitudes, emogdes e sentimentos positivos que experimentamos na relagéio com os outros. O estudo da atracsao interpessoal. iniciado no final dos anos 50. constitui um dominio el da psicologia social. Contudo. desde a década de 70, assistimos a algumas mudancas paradigm ticas que se traduziram: a) na maior importancia atribuida ao estudo das interacgdes no quadro de relagées continuadas: b) na necessidade de dis- tinguir as diversas formas de atraceao, especifi- cando as respectivas condigdes antecedentes € sico Valentim Roatigues Alferes evidenciando a diversidade dos processos psi- coldgicos envolvidos; c) no deslocamento da igo dos factores de atracgao, isoladamente, para as estratégias de auto-apre- sentagdo (valorizagao do papel do individuo como actor social) e para a natureza das situa- ges geradoras de atracgdo (valorizagio do papel dos contextos interpessoais € das normas sociais que estruturam as interacgdes humanas). © primeiro objectivo do presente capitulo consiste. precisamente. em apresentar a litera- tura relevante, pondo em evidéncia as mudangas paradigméticas acima referidas. Assim. na Secco |. depois de uma andlise dos problemas conceptuais e dos modelos teéricos. debrugar- (Fiske, 1992), as reacgbes afectivas negativas aos ganhos diferen- ciais so menos intensas do que nas relagées mais orientadas para 0s «valores do mercado» (Buunk, Doosje, Jans Hopstaken, 1993). Por sua vez, a teoria da interdependéncia social de Thibaut € Kelley (1959; Kelley e ‘Thibaut, 1978) afirma que a determinago das «perdas» € dos «ganhos» e, consequentemente, © Bisa de atracgdo de uma relagao depende dos Proprios padrdes de avalia¢ao utilizados pelos individeos. Mais exactamente, um individuo avalia 05 resultados de uma relagdo comparan do-0s com aquilo que pensa serem os «ganhos» € «perdas que, em meédia, caracterizam uma relago semelhante (nivel de comparagdo). Apenas nas situagdes em que a percepgao dos resultados se situa acima do nivel de compara- fo, a relagdo em causa é considerada como satisfat6ria, Contudo, 2 manutengdo de uma relagdo menos atraente depende, igualmente, do nimero de alternativas dispontveis num dado momento. E preciso que o nivel de comparacao para as aliernativas (definido como 0 nivel mais baixo de «satisfecdes» que um individuo estd disposto a aceitar em comparago com as «satisfagdes» que julga possivel obter numa relagdo alternativa) seja atingido para que o indivéduo ponha termo a relagéo. A principal dificuldade das teorias do reforgo € da troca social reside na especificacio da natureza dos reforros sociais. O que € que € reforgante para um dado individuo, numa dada situagdo? Sem respondermos a esta questo cor- remos 0 risco de cair em explicagdes circulares: define-se a atrac¢ao de A por Bem fungdo dos reforgos/gratificagdes proporcionados por B e, reciprocamente, a atracgao de A € 0 critério para afirmar o cardcter reforcante do comportamento de B. Uma das possiveis solugdes consiste em postular um motivofnecessidade de aprovacao ‘ou consideragao social em tungio do qual se especificaria a natureza dos reforgos (Jones, 1974). Outra solugo consistiria em identificar as possiveis classes de recursos susceptiveis de serem transaccionados nas relagdes sociais (Fou ¢ Foa, 1980), Tal como noutros domfnios da psicologia, a io entre os dois grandes grupos de teorias tende, cada vez mais, a atenuar-se. Como nota Berscheid (1985), na sequéncia de Newcoomb (1968), a consisténcia cognitiva pode ser concep- tualizada como uma classe particular de situagdes, teforgantes. Em contrapartida, os mecanismos subjacentes 20 funcionamiento do reforco e 20 estabelecimento de interdependéncias comporta- mentais dependem, inevitavelmente, do processa- ‘mento cognitivo da informagao social. 1.2. A dindmica da atracgéo: determinantes da atraceao € génese das relagdes interpessoais A atraccdo entre duas pessoas depende, antes de mais. da respectiva proximidade fisica e dos mecanismos mais gerais que tal proximidade poe em jogo. a comecar pela simples familia- ridade. Desde 0 trabalho pioneiro de Zajone (1968) que tem vindo a demonstrar-se os efeitos da mera exposi¢do na atracgdo interpessoal. sendo que tais efeitos se verificam mesmo quando 0s individuos nao tém plena «conscién: cian dos estimulos geradores de atraccao (Bor- nestein. Leone ¢ Gallet. 1987). De igual modo. entre as condigées conducentes & atracc&o, ha que considerar 0 motive de afiliagdo, concebido como a necessidade de estarmos proximo dos outros € de obtermos satisfacdo e suporte emo- cional (Murray, 1938: Schachter, 1959; Winter, 1996) Na revisio que fazem da literatura sobre a atracgio interpessoal, Marlowe e Gergen (1969) criticam a auséncia de distingdes precisas entre 0s diversos tipos de atracco. Com efeito, tanto pelas condigdes antecedentes como pelas carac- teristicas estruturais e processos psicoldgicos envolvidos. no é legitimo tratar indiferenciada- mente relagGes to dispares como aquelas que se estabelecem entre pais ¢ filhos, entre amantes apaixonados ou entre simples colegas de traba- Tho. Contudo, € possfvel identificar um determi- nado mimero de factores que, em maior ou menor grau, sao responsaveis pelas «preferén- cias relacionais» que especificam a generalidade dos fenémenos de atracgdo. Enire esses factores. para além da familiaridade e do motivo de afilia- 40, contam-se a beleza fisica, as semethangas imerpessoais € as avaliagdes (apreciagées) positivas. A beleza fisica A beleza fisica constitui um dos factores ou atributos pessoais cuja influéncia na génese das relagdes interpessoais tem sido sistematica- ‘mente investigada durante as duas titimas déca- das. De acordo com a generalidade dos estudos (Berscheid, 1985. 1986: Berscheid e Reis. 1998: Berscheid ¢ Walster, 1974a), os efeitos positivos dda beleza fisica sobre a atraccao revelam-se con- sistentes através das idades, dos sexos e das categorias socioeconémicas. E ébvio que os padroes de beleza apresentam uma variabilidade histérica (Silverstein, Perdue, Peterson e Kelly. 1986) e uma relatividade cultural bastante acen- tuadas. Contudo. dentro duma mesma cultura € numa mesma época, existe uma convergén- cia notdvel, expressa nas elevadas correlacdes s versus projecto de uma relagao continuada) As semelhangas interpessoais Paralelamente a beleza fisica. & inteligéncia ou a outros atributos pessoais. € possivel identificar tum segundo tipo de condicdes antecedentes da traced interpessoal. que no se situa no plano individual. mas no da prépria relacdo (cf. panto 3.1). Estas condigdes relacionais da atraccao dizem respeito. prioritariamente. as semelhancas interindividuais a0 nivel das atitudes. das opi- nies, dos interesses, dos tragos de personalidade, das competéncias cognitivas € socioemocionais ou de qualquer outra dimensio das actividades hhumanas (Cann, Calhoun ¢ Banks, 1995; Hogg, Cooper-Shaw e Holzworth, 1993). Entre os diversos dominios estudados, a incidéncia da semelhanga de atitudes na atrac- io € aquele que se encontra mais amplamente documentado (Cappella € Palmer, 1990), Com feito, desde os anos 60 que Byme (1971) tem vindo a desenvolver um programa sistemtico de investigagdes que mostra que o grau de atracgio € fungo directa do grau de semelhanga atitudinal O paradigma experimental (dito do falso desco- nhecido) utilizado nestas investigagSes consiste. fundamentalmente, em solicitar a cada individuo que avalie um outro individuo em duas escalas de sete pontos (indicando em que grau gosta dele ¢ fem que medida gostaria de uabalhar com ele) depois de ter tido acesso a um questiondrio de ati- tudes pretensamenie preenchido pelo segundo. Na realidade. & 0 proprio experimentador que preenche o questionério fazendo variar, de modo sistemético. a proporedo de atitudes semelhantes entre os dois sujeitos. com base nas respostas dadas pelo primeiro individuo a um questionério idéntico previamente preenchido. Byrne (1971: Clore e Byrne, 1974) interpreta a relagio funcional entre semelhanca de atitudes € atracgo interpessoal integrando a nogio de validagao consensual, derivada da teoria da comparagio social de Festinger (1954). com 0 conceit cldssico de reforgo. Mais exacta- mente, a verificacdo da convergéncia atitudinal € uma situagdo intrinsecamente reforcante, na ‘medida em que a validaco consensval satisfaz a necessidade de organizagio légica do mundo social ‘A posigdo de Bye contrasta com a assumida pelos defensores da teoria da complemen- taridade (Winch, 1958). segundo a qual slo as assimetrias em diferentes atributos que geram Bs atracgdo. Apesar de a maloria das investigagdes, empfricas favorecer a tese da semethanga, con vém acentuar, como o fazem Gergen ¢ Gergen (1981), que a opgao entre semelhanga e comple- mentaridade implica a consideragio de diversos factores. nomeadamente o tipo da dimensio em estudo. as significagdes sociais que Ihe esto associadas e os motives subjacentes aos com- portamentos individuais no quadro da relagio. Num artigo recente, Rosenbaum (1986a) contesta a importancia atribuida a semelhanga, procurando uma explicago alternativa para os resultados de Byrne. Segundo o autor, ndo € a semelhanga de atitudes em si mesma que gera atracgdo, mas a dissemelhanga que leva ao afas- tamento/repulsfo. Em termos concretos, numa primeira fase da relagao, a dissemelhanca de ati tudes geraria desconforto, levando os individuos a diminuir os contactos. A semelhanga seria, apenas. uma situacdo neutra ou, na melhor das hipoteses, facilitadora das interacgdes compor- tamentais. As verdadeiras razSes da atracgio relacionar-se-iam com os diversos acontecimen: tos ocorridos na interaccéo para além da con- vergéncia de atitudes. A polémica permanece ‘em aberto (Byme. Clore € Smeaton, 1986: Rosenbaum. 1986b: Smeaton, Byme e Murnen. 1989) ¢ a sua completa elucidagdo exigiria uma referéncia extensa a pormenores metodolégicos incompativel com a natureza do presente caj tulo. Por isso, remetemos 0 leitor interessado para a bibliografia citada neste pardgrafo, Hetero-avaliagies, auto-estima € «estratégias de seducaion © corokirio das teorias do reforgo e da troca social. «gosto de quem gosta de min», traduz 3 importincia de uma tereeira categoria de con- digdes antecedentes da alracgio interpessoal: as apreciagdes positivas dos outros. Apesar de amplamente documentado (Blau. 1964: Byrne. 136 1971; Homans. 1961). 0 fendmeno da reciproc dade da atracgio coloca alguns problemas ao vel da interpretagao. Obviamente que a necessi- dade de consideragao positiva (Rogers, 1959) constitui um dos motivos basicos do comport: ‘mento humano. pelo que nao € de estranhar que ‘5 elogios ou comentérios positives do outro relativamente ao meu comportamento me lever a gostar dele: «As amizades sio sociedades de admiragdo métuan. Contudo, mesmo que se con- sidere, na sequéncia de Homans (196i), que a aprovacdo social constitu: um reforgo generali- zado (transituacional), hd que reconhecer que a sua eficécia depende da especificidade das situa- Ges e/ou da presenga de varidveis moderadoras associadas a tragos de personalidade. Entre estas variaveis. cabe referir 0 papel cen- tral da auto-estima, Num estudo de Jones. Knurek ¢ Regan (1973. cit in Jones, 1974). indi- vviduos cujo grau de auto-estima era previamente conhecido foram distribuidos por duas condi- ‘ges experimentais: aprovagéo e desaprovaca. No final de uma discusso com um grupo de estudantes era-thes comunicado que os outros aprovaram (condigdo ) ou nao (condigao 2) as suas posigdes (claro que o sentido das comuni- cages era «manipulado» pelo experimentador). Em seguida, tinham oportunidade de indicar o grau de atracgdo que sentiram pelo «avaliador» Os resultados sto os que se apresentam na Figura 1, Como se pode verificar, a atraccdo € mais elevada na condicéo aprovagao. Contudo. 05 individuos com alta auto-estima s20 menos afectados pelas apreciagdes em qualquer das, duas condigdes (i... manifesta menor atraccio na condigio aprovacdo € maior na condigao desaprovacio). Esta interacgio entre auto- -estima e eprovagdo revela que a «reciprocidade Fiaura 1 A atraccZo interpessoal come fungao da auto-estima e da aprovacio dos outros (Dados originais: Jones, 1974p. 145) Aprovagao Auto-estina 3 sec G 2 ae Desaprover do gostar» €, pelo menos em parte, moderada pela auto-estima do sujeito que é avaliado. Um outro conjunto de circunstincias suscep- tivel de relativizar a importincia da recipro- cidade liga-se directamente & eventual contra- digo entre as auto ¢ hetero-avaliagdes. Se nao hd consonancia entre os elogios que me fazer € aquilo que efectivamente penso de mim, sou levado a duvidar do meu interlocutor, ou porque passo a julgé-lo como menos alicido». ou, mais importante. porque sou levado a pensar nos verdadeiros motivos subjacentes a0 seu com- portamento. Esta tiltima circunsténcia poe em evidencia a contradigio entre duas grandes estruturas motivacionais: a consideragdo social € a consisiéncia cognitiva, Simultaneamente. Jevanta o problema da manipulagao nas relagdes interpessoais. Mais exactamente, numa situacio em que somos alvo de apreciagées positivas procuramos indices que nos permitam decidir sobre a «sinceridaden dos elogios. Trata-se. no fundo, de um processo de atribuigZo, no qual as & objecto de negociagdo ao nfvel da atribuigdo de significagdes e da confirmagao das identidades sociais e sexuais. McCormick e Jesser (1983). a0 analisarem as situagdes de enamoramento. concluem que, apesar do relativo declinio do duplo padrdo sexual, os rapazes, mais do que as, raparigas, continuam a utilizar estratégias, activas de sedugdo. Shotland ¢ Craig (1988) mostraram expetimentalmente que tanto os homens como as mulheres so capazes de dife- renciar entre «intengdes amigéveis» ¢ «intencoes sexuais», ainda que os primeiros manifestem limiares mais baixos para atribuicdo de signifi- cages sexuais. Muehlenhard ¢ Hollabaugh (1988) assinalam que 39.3% das mulheres jd recusaram, pelo menos uma vez. ter relagdes sexuais, ainda que o desejassem. A prevaléncia deste script classico (Women sometimes sav no when they mean yes) esté associada a adesio a esteredtipos tradicionais dos papéis sexuais ¢ a dimensdes atitudinais como a erorofobia- -erotofilia, Note-se que esta investigacao incidiu sobre estratégias de recusa concomitantes com 0 desejo de se envolver numa relacdo sextial e nao em situagies ditas de «assédio sexual». Entre as, razes invocadas para a incongruéncia entre comportamentos e desejos contam-se. para além das de ordem prética, as relacionadas com factores de inibigdo e com a utilizagao de estra- tégias de manipulacéo. ‘A maior «disponibilidade» dos homens para entrarem num script sexual. independentemente 13 do conhecimento prévio do parceiro, € exem- plarmente ilustrada por uma investigago expe- rimental em «meio natural» realizada por Clark ¢ Hatfield (1981, cit. in Hatfield, 1982). Os autores pediram a comparsas dos dois sexos que contac- assem informalmente, em diferentes locais do campus wniversitirio, colegas desconhecidos do sexo oposto. Depois de uma breve frase em que ‘manifestavam que ja hé algum tempo vinkain a reparar neles, os comparsas convidavam os sujeitos para: a) um encontro futuro: ») visitarem, seu apartamento € c) irem para a cama. Sinto- ‘maticamente, 75% dos homens aceitaram ir para a cama, 69% dispuseram-se a visitar o aparta- mento da comparsa e 50% encararam a pos- sibilidade de um futuro encontro: no caso das, mulheres. nenhuma quis ir para a cama com 0 comparsa desconhecido. 6% prestaram-se a visi- tar o respectivo apartamento e, Finalmente, 56% aceitaram marcar um encontro, E 20 nivel dos scripts interpessoais que se desenvolvem as estratégias de sedugio ¢ que os atributos. ou factores pessoais de atraceZ0. s30 susceptiveis de utitizagto estratégica. Por exem- plo. Snyder. Simpson e Gangestad (1986) mos- traram que um elevado grau de automonitori- sagdo esté associado a um maior ntinero de experiéncias sexuais e a atitudes mais permis vas relativamente & sexualidade. Outras varid- veis de natureza disposicional. como o «humor de momento» (Forgas, Bower e Krantz. 1984) ‘0u 0 «estilo competitivor (Laner. 1989), podem influenciar a «entrada nos. scripts sexuais» Forgas e Dobosz (1980) analisaram as represen- tages de vinte € cinco episédios interpessoais heterossexuais (1:g.. um flirt sem consequéncias durante uma festa de amigos. umia situagiio de infidelidade. um casamento de trinta anos. etc.) € chegaram & conclusio de que os sujeitos clas- sificam os scripts interpessoais em fungio de és dimensGes: sexnalidade (sexo fisico versus mero envolvimento afectivu). ralorisaedo ¢ 144 equilibrio das relagdes (celagdes frustrantes ver~ sus satisfat6rias; relagdes simétricas versus desiguais) © amor e compromisso (relagées efémeras versus relagdes duradoiras). Por diltimo, hé que considerar 0 nivel intra- psiquico dos seripts. Ainda de acordo com Simon € Gagnon, enquanto os scripts interpes- soais facilitam a ocorréncia de comportamentos, sexuais, 0s scripts intrapsiquicos constituem uma encenacao privada do desejo e referem-se 2 «sequéncia de significagdes (ligadas a actos, posturas, objectos, gestos) que induz e mantém a activagao sexual, conduzindo eventualmente a0 orgasmon (1987, p. 366). Os scripts intra Psiquices dizem. pois. respeito & ligagao entre fantasias © actividades sexuais, & articulagio entre imagindrio e comportamento (cf. pono 2.2), podendo ser conceptualizados como mapas amorosos individualizados (Money. 1988), ‘Num inquérito recente sobre valores, atitudes @ comportamentos sexuais (Alferes, 1997). procurdmos definir os contornos ¢ evidenciar as figuras centrais da sexuatidade, a partir das respostas de 587 estudantes universitérios. Os resultados obtidos indicam que, tanto no dominio comportamental como nos dominios atitudinal e normativo. 05 dois sexos estao de acordo no que diz respeito & sexualidade pré- -mnattimonial orientada para o prazer e vivida no quadro de uma relacdo emocional duradoira O script do «sexo com afecto» é, pois. um script ‘maioritariamente partilhado, Em contrapartida. a adesdo a0 «sexo pelo sexo» continua a ser quase exclusivamente masculina, Por outras palavras. as respostas dos inquiridos permitem- nos concluir pela existéncia de um duplo padrdo sexual condicional (Reis, 1967: Spre- cher, McKinney @ Orbush. 1987), por oposi¢ao a0 duplo padrao clissico, no qual, independen- temente da tonalidade afectiva da relacdo. a sexualidade pré-matrimonial estaria exclusiva mente reservada aos homens Assim, na gama de idades estudada, a taxa de virgindade masculina & sempre menos ele- vada do que a feminina. Enquanto esta desce abaixo dos 50% (48.1%) na classe 20-21 anos, a taxa masculina é nesta mesma classe etivia, de 16.7%. verificando-se. igualmente, que aos 18-19 anos apenas um tergo dos rapazes contra ‘aproximadamente trés quartos das raparigas . So virgens, Em média. a primeira relagéo sexual dos homens precede de cerca de um ano a das mulheres (17.7 versus 18.8 unos). Os homens tiveram mais parceiros sexuais, quer no iltimo ano, quer durante todo 0 ciclo de vida; de igual modo, tiveram mais «aventuras de uma s6 noite», mais parceiros concomitantes com 0 actual parceiro (cf. Figura 3A), dese- Jando relacionar-se sexualmente com um maior inimero de parceiros e esperando vir a fazé-lo no futuro. Pensam mais sobre sexo. mastur- bam-se mais e tém maior experiéncia do orgasmo (cf. Figura 3C). Do ponto de vista ati- tudinal, revelam-se mais permissivos. admi- tindo mais facilmente 0 sexo ocasional, 0 sexo sem compromissos € © sexo impessoal (cf. jgura 3F), Por sua vez. as mulheres mostram um maior conhecimento da eficécia dos méto- dos contraceptives €. ao nivel das atitudes. manifestam-se mais sensibilizadas para a edu- cagio sexual e planeamento familiar (factor responsabilidade na Figura 3F), No que respeita & primeira relacdo sexual. os homens dectaram-se menos apaixonados pelo parceiro do que as mulheres, ainda que em ambos 05 casos as percentagens ultrapassem os 30% (62.7% para os homens e 88.5% para as mulheres). Nas situagdes em que existe paixio, ‘idade do primeiro parceiro é. igualmente. con- forme aos padres cléssicos: © homem mais velho do que a mulher (cf, Figura 3B). Note-se, contudo, que os homens e as mulheres aplicam uma «norma igualitéria» a idade considerada apropriada para a primeira relagio sexual, se Ficura 3 Sexualidade e duplo padrao em estudantes universitarios portugueses (Dados origina: Alferes. 1997) cma PRES] sng te rn en —_——— pee Onno 36 Homers ae — bona \3Sesasbence Goats ERENT Homers | 47 anos ou menos A Nimero més de pacar seis 1 dace erountincae da primeira lero sewal (percentages) Coto toe soon te 8 1D -Nétodos convaceptivs uiizados nas ims ez relagacssensae (pecontagens) - Motos paren tr (otics nates) ear tr (nctnos poses) _~F- Aue sms (ponies facts daa sage some ponagoee mune ca e783) Go Escalade ianaised Hondrch, 1867) 146 bem que-os primeiros a antecipem de cerca de ‘um ano para os dois sexes. A convergéncia é. ainda, manifesta em rela- fo as atitudes face 8 comunhdo ¢ ao prazer fisico (cf. Figura 3F) € 20 principal morivo para ter relagdes sexuais: a paixdo (ef. Figura 3E). Contudo, as probabitidades de «entrada ‘num scripr sexual concreton.a avaliar pela mag- nitude dos motivos, s4o superiores para o sexo masculino, De um modo geral, quando se trata de inventariar razGes para ter relagbes sexuais. 0 homens ultrapassam as mulheres; ao invés, guando se trata de encontrar raves para evitar ter relagbes sexuais. as mulheres mostram-se mais «produtivas» (cf. Figura 3B). Por sltimo, registe-se que, no plano das praticas contra- ceptivas e de prevencio da SIDA, os dados recolhides so algo preocupantes: 0 uso do pre- servativo ‘corresponde aproximadamente a um tergo das relagdes sexuais relatadas, cabendo outro tergo a pilula € 0 restante & auséncia Ge contracepgia ou a métodos ineficazes (cf. Figura 3D) ‘Uma critica frequente as reorias construtivis- tas da sexualidade (entre as quais se inclui a dos scripts sexuais) diz respeito & negagio do com- ponente bioldgico da sexualidade. Contudo. 0 que esté em jogo na anélise psicossocial da sexualidade ndo sio as potencialidades reprodu- tivas ou as capacidades erdticas, que assentam inevitavelmente num corpo biol6gico filogeneti- camente condicionado, mas a gestdo desse Eorpo no quadro das trocas sexuais. E sobre esta questo que incidira o ponto seguinte 2.2. As experiéncias sexuais Quais so as sequéncias de actos. posturas. objectos e gesios através das quais 0s corpos! Jsujeitos se envoivem em trocas sexuais cul turalmente esperadas, relacionalmente possiveis € individualmente significativas? Basicamente, tais sequéncias podem ser descritas como reac- ges fisiol6gicas e comportamentos manifestos. regulados pelos respectivos resultados, mediati- zados por processos intemos, que sustentam ¢ modulam a activacdo sexual, e, tendencial- mente, desencadeados por condigdes externas de estimulagao (Byrne, 197, 1986; Praybyla e Byrne, 1981). O esquema da sequéncia do com- portamento sexual, proposto por Byrne (1986) ¢ reproduzido na Figura 4, servir-nos-d de fio condutor para uma breve andlise dos «acon- tecimentos» que caracterizam as actividades efou trocas sexuais. Em rigor, 0 esquema apre- sentado refere-se a uma sequéncia comporta- mental individual, aplicando-se, como tal, a actividades auto-ersticas. O estudo das relagdes sexuais entre dois individuos exige, obviamente, a articulagao de duas sequéncias comporta- meniais. Uma sequéncia de comportamento sexual implica modificagdes fisioldgicas eventual- mente conducentes a0 orgastio. Desde 0 traba- Iho pioneiro de Master e Jonhson (1966) que conhecemos com algam pormenor a fisiologia da resposta sexual humana © as modificagées corporais correlativas5. Do ponto de vista da psicologia social, € importante sublinhar. para além da mediacdo cognitiva da estimulagio sexual. 0 papel dos scripts e das representagdes, sociais da sexualidade enquanto sistemas de referéneia em fungdo dos quais os individuos avaliam os resultados da sua prépria actividade sexual, Como nota Fisher (1986), um simples orgasmo durante 0 coito pode ser sentido como uma experiéncia transcendent. para _aqueles cujas expectativas e fantasias sao relativamente 5 Para una discussdo da Fisiologia da resposta sexual humana, padem consultar-se para akém da obra de Master € Jonhson (966). 0s seguintes tabalhos: Zuckerman (1971), Heiman (1977), Rosen e Beck (1986) ¢ Bancroft (1988), ‘modestas, ou como um acontecimento decepcio- nante para os que se erigem outros padres de funcionamento sexual. De igual modo, os actos instrumentais conducentes ao orgasmo inscre- verse, contrariamente ao que é comum pensar- -se, em scripts sexuais cuja significagao ¢ esta- belecida por aprendizagem directa ou vicariante. © corpo e 0s movimentos expressivos do ‘outro constituem, obviamente, o principal esti- 147 mulo sexual externo. Em particular, determic nadas «regides» possuem valor erotico diferen. cial (g., as zonas ditas erégenas ou certas Partes do rosto como 0s libios)®. Contudo, a propria percepeio do corpo como «excitantes influencieda pelos scripts sexuais. Numa inves- tigaglo de Byme e DeNinno (1973, cit. in Baron. Byrne e Griffitt. 1974) era pedido a indi- viduos de ambos os sexos que indi Ficura 4 A sequéncia do comportamento sexual (Fonte: Byme, STiMILOS EXTERNOS PROCESSOS WTERNOS 1986, p. 8) CouPoRTAMENTOS “ABERTOS" soos Proves Proce aie (ances) seancesem espe Expecaons > are: bens seed Proce — (eas) fsogeos t ate © Os etdlogos falam de esiimulas desencadeadores e de exihicfes sera: para se refeivem wo papel que as cuac teristicas morfolggicas ov movimentos instintives ritualizados desempenham a indy (ef. Wickler. 1967 de comportarentos. sexuais Lag nivel de activagdo sexual apés observarem dois tipos de filmes erdticos (um casal integralmente nu mantendo relagdes sexuais incluindo sexo oral-genitai - condigdo coito ~ versus um casal parcialmente vestido plas - condigdo caricias). Em termos globais, os sujeitos indicaram maior activagao na condig&o coito. Mas, mais interessante, os autores mani- pularam, igualmente, as crencas dos sujeitos: na condicdo relagdo amorosa era-Ihes dito que as imagens se referiam a individuos apaixonados recentemente casados; na condi¢do relagao hidica, a8 mesmas imagens eram apresentadas como relativas a individuos que acabavam de se conhecer e tinham como tinico motivo 0 prazer sexual. Os resultados (cf. Figura 5) indicam que, tanto para os homens como para as mulheres, quer se tratasse de coito ou de carfcias, 0 script relagdo lidica produzia maior activacao. Um outro resultado interessante diz respeito & raticando caricias multi- interacedo entre sexo do respondente e tipo de actividade sexual: ignorando 0 tipo de relagao, nas situagdes de carfcias os homens manifestam maior activagao do que as mulheres, verifican- do-se 0 inverso nas situagdes de coito. Note-se que, no contexto da activacao sexual, © corpo nao é s6 um objecto de percepgao. Entre os principais estimulos sexuais conta-se, obvia- mente, @ hetero ou auto-estimulagdo téctil das zonas erégenas. Cabe aqui sublinhar, & seme- Ihanga das técnicas corporais (Mauss, 1936- -1978) identificadas noutros domfnios da interac- Go humans, a existéncia de «técnicas de gestio erética do corpo» socialmente aprendidas e mais, ‘ou menos generalizéveis em funcdo dos grupos e das situagdes sociais (Alferes. 1987), A «encenagdo do desejo» depende, iguai- mente, de componentes internos de natureza afectiva € atitudinal. Mais especificamente, a probabilidade de ocorréncia de respostas sexuais Ficura 5 Activacdo sexual em funcao do sexo ¢ do tipo de contetidos de filmes eréticos (Dadios originais: Baron, Byme ¢ Griffit, 1974, p. 479) Activagio sexual to —____ Homens a< a Filme Uidcoleota | Amorcota > E Liseoearcias © Muiheres influenciada pelas respostas emocionais posi: tivas ou negativas (1.g., ansiedade, culpabili- dade) associadas a0 sexo, Fisher, Byrne e White (1983) afirmam que, do ponto de vista biolé- 10. 0 sexo estaria inicialmente associado a emogdes positivas. Contudo, as experiéncias sexuais e as normas sociais podem conduzir 20 desenvolvimento de sistemas erdtico-fobicos ou erético-filicos que constituiriam verdadeiros reguladores emocionais dos comportamentos sexuais, Para além das respostas emocionais em ‘es avaliativas ou ati- sentido estrito, as orienta ndes relativas & sexualidade (v.g., permissivi- dude) condicionam, igualmente, a probabilidade de ocorténcia dos comportamentos sexuais. As informagaes, «objectivas» ou «distorci das», que 0s individuos tém sobre a sexualidade sto susceptiveis de moldar os seus comporta- mentos. gerande expectativas positivas ou nega- tivas relativamente as eventuais consequéncias das suas aoydes. Entre essas informagdes, con- tam-se as que se referem ao uso de contracey tivos, as relativas a0 préprio desenrolar dos actos sexniais € aos «tiscos» que comportam. A. generalidade dos terapeutas sexuais (ng.. Kaplan. 1979: Masters e Johnson, 1970) insiste. de modo particular, na modificagao das crengas dos respectivos clientes. A politica de preveng3o da SIDA, que tem vindo a ser desenvolvida desde 0 inicio da década de 80, tem como um dos principais componentes 0 fornecimento de informagdes destinadas a permitir 0 chamado «sexo sem risco». Na sua definigao clissica de psicologia soc Allport (1968) sublinhava que, nas interacgoes humanas. 0 «outro» pode ser real, implicito ou imagindrio. Os processos imaginais e as fan- tasias sexuais contam-se, efectivamente, entre os principais componentes da sexualidade humana. ‘Ao contrétio do que Freud (1908/1962) a! mava, as fantasias no so necessariamente um substituto das actividades sexuais. De acordo 149 com diversas investigagdes (Giambra e Martin, 1977; Wilson, 1978), existe uma correlagao posi- tiva entre 0 nimero e a diversidade de fantasias © a frequéncia de actividades sexuais. Além disso, as Fantasias sexuais nao esto associadas a dificuidades no funcionamento sexual, nem a perturbagdes de personalidade (Hariton e Singer, 1974), Pelo contririo, parece existir uma tela- lo positiva entre a quantidade de fantasias & certos tragos de personalidade, como a criativi- dade (Hariton e Singer, 1974) » a independéncia (Brown e Hart, 1977). Para além da diversidade de contetidos e de eventuais diferengas ligadas a0 sexo (Arndt, Foehl e Good. 1985: Wilson, 1978), as fantasias funcionam como estimu- los (internos) desencadeadores das actividades sexuais, desempenhando, igualmente, um papel preponderante na manutengao da excitagao no decurso dessas mesmas actividades (Sue, 1979). E ao nivel dos processos imaginais e das fan tasias, i, do modo como o sexo é organizado pelos scripts intrapsiquicos, que podemos dar conta do cardcter inovador das préticas indivi- duais. A inovagiio depende, obviamente, da margem de liberdade que € dada aos sujeitos pelas codificagdes culturais e interpessoais da sexualidade. Esta margem tende a alargar-se & medida que diminui a eficdcia dos processos simbélicos € se dilui o cardcter imperativo das normas societais. Se os processos imaginais e as fantasias podem estar na origem de variagdes e inovacdes 20 nivel das atécnicas erdticas» e dos «cendrios» que envolvem as interaccdes sexuais, eles nao esgotam, contudo, 0 papel dos sujeitos na en- cenacdo do sexo. A distancia em relagao as encenagdes culturais traduz-se. igualmente, na possibilidade de utilizar 0 sexo com fina distintas das prescritas pelas grandes orien- tages normativas. f precisamente aqui, 20 nivel da «ret6rica dos motivos» sexuais, que se situam as ficgbes pessoais da scxualidade que podem 150 transformar as interacgGes rotineiras em novos scripts sexuais. Este proceso € descrito por Simon e Gagnon (1987) como a passage do registo simbélico (a sexualidade culturalmente codificada) a0 registo metaforico (a sexualidade como expresso de motivacdes ¢ significados pessoalmente construfdos). 3. Estruturas relacionais da sexualidade e modelos de amor Os fendmenos de atrac¢ao estudados na Secglo I so susceptiveis de gerar relagdes interpessoais prolongadas ¢ (relativamente) estiveis. As trocas sexuais, codificadas pelos diversos scripts referidos na Secgao 2, ocorem geralmente, ainda que nao de modo necessério, no quadro de relagdes duradoiras. O sexo cons- titui um dos principais recursos ou fonte de gratificagao/frustracdo das relag6es. humanas. Nesta secedo, debrugar-nos-emos precisamente sobre as relagdes interpessoais intimas, de molde a evidenciarmos a dinamica evolutiva da atracgo € a identificarmos as estruturas rela- cionais da sexualidade. 3.1. Relagdes intimas: aspectos estruturais ¢ dindmicos Durante as décadas de 70 e 80, os psicélogos € outros cientistas sociais comegaram a estudar, de modo sistemético, um tipo particular de relagdes interpessoais: as relagdes intimas. Se bem que a capacidade de construire manter reiagées interpessoais intimas constitua um dos principais critérios de «satide mental» e de satis- fagdo interpessoal, no é fécil definir o conceito de intimidade. Levinger e Snoek (1972) afirmam que todas as relagdes humanas se podem carac- terizar pelo respectivo grau de intimidade, desde a auséncia de qualquer contacto até & mais pro unda reciprocidade, passando por estédios inter- médios de conhecimento. De acordo com um estudo de Rands e Levinger (1979), a probabili- dade de ocorréncia de diversos comportamentos (actividades sociais, contacto fisico, auto-reve- Jago, elogios. criticas, etc.) € directamente condicionada pelo tipo de relagio (conhecimento ocasional, relagdo de amizade, casamento, etc), A intimidade pode, pois, ser perspectivada como um padrao especifico de interacgdes que caracteriza determinadas relagdes. Mas como definir tais relagdes, ou, mais exactamente, como distingui-las das relagdes humaras toma- das na acepgio mais ampla? Hinde define as relagGes pessoais como «uma série de interac- ges entre dois individuos conhecidos um do outro (...) em que a interacgao é afectada pelas interaccdes passadas ou € susceptivel de influen- ciar as futuras» (1979, p. 2). Por outras palavras, tais relagdes pressupdem uma histéria e impli- cam expectativas relacionais mais ou menos generalizaveis. ‘Numa tentativa de sistematizagao do campo das relagdes pessoais, Kelley et al. (1983) pro- Oem que se distingam dois planos de andlise: 0 plano descritive (identificagio dos padres especificos de interacco) e 0 plano explicativo (explicitago dos mecanismos de interde- pendéncia). Mais exactamente (cf. Figura 6), 0s autores comecam por definir a interaccao como um padrdo de acontecimentos interpes- soais. Por acontecimento designam qualquer modificagao que ocorre a nivel individual, no plano cognitivo (pensamentos, erencas), emo- cional ou da propria acco. Para que possamos falar de interacedo é necessério que as modifi cages ocorridas em P estejam directamente relacionadas com as ocorridas em O. i.e., para além das ligagdes internas, as duas cadeias de acontecimentos devem estar interconectadas. Os autores utilizam a expresso conexdes causais para definir as Tigagdes entre acontecimentos das cadeias de Pe O. A estrutura destas ligagées dofine as propriedades da interacgao (ng, inten- sidade, frequéncia, diversidade das conexées eausais). Por sua vez, 08 padrdes espectficos de interacgo sfo condicionados (lagas cuusais) por factores mais ou menos estaveis de natureza atributos. pessoais), rela- disposicional (vg, Ist cional (v.g., atitudes semelhantes), social (1g normas societais) ou ambiencial (g., circuns- tancias fisicas e espacio-temporais). A determi- nagdo da influéncia destes factores (designados genericamente por condigdes causais) nos padrdes de interaceao constituiria 0 objectivo da andlise causal, situando-se a identificagaio das Ficura 6 O contexto causal das interaccdes diddicas. As setas verticais, dentro do recténgulo da interaccdo, representam ligacdes entre acontecimentos (cognigdes, emogées ou comportamentos) que ocorrem em P ou em O. As setas obliquas representam as conexéies entre as respectivas cadeias de acontecimentos. As condigdes causais de natureza ambiental sio indicadas pelas siglas Asoc, (condigdes sociais) € Age, (condicdes fisicas e geograficas). (Fonte: Kelley etal, 1983. p.57) Condgbescausais —— - 0 P20 “hese #— Ai tagsfcasais Pessoa Intracgao P-O lagsfcausis essca.0 no plano descritivo propriamente Neste contexto, as relacdes interpessoais inti- ‘mas definem-se como aquelas em que as cone- xdes causais entre P € O s8o simultaneamente intensas (ve.. P tem capacidade de afectar os acontecimentos de O e vice-versa), frequentes, diversificadas (i.e., no se limitam a aconteci- mentos especificos) e duradoiras (Kelley et al. 1983). Esta definicao esté na base de uma escala de avaliagdo do grau de intimidade das relagdes interpessoais recentemente desenvolvida por Berscheid, Snyder e Omicto (1989). Subjacente a este modelo ou grelha de andlise das relag6es_interpessoais. de inegével valor heurfstico, encontramos a teoria da interde- pendéncia de Thibaut ¢ Kelley (1959; Kelley € Thibaut, 1978). De acordo com estes autores. todas as relagdes interpessoais se caracterizam pela capacidade reciproca de controlar 0s recur- sos materiais € simbélicos do outro através de comportamentos especificos e/ou pela expressa0 de atitudes ou outros atributos disposicionais. Nos parigrafos que se seguem, abordaremos alguns dos principais processos de interde- pendéncia cognitiva. emocional comportamen- tal caracteristicos das relagdes de intimidade. Comunicacio ¢ auto-revelagao Numa relago intima, independentemente da sua natureza institucional e dos recursos nela envolvidos, a comunicacao entre os parceiros €. antes de mais. uma condicdo indispensavel para a existéncia da propria relagdo (Brehm, 1984) E através da palavra? que partilhamos os acontecimentos privados» ou as significagées, do mundo «objectivo e social». E ainda através dela que controlamos avaliativamente 0 com- portamento do outro, que gerimos os conflitos ou construfmos, em boa parte, a imagem que ddamos de nés mesmos. Entre as diversas fungdes® da comunicagio verbal, ha uma que merece especial relevo no quadro das relagSes intimas. Trata-se da fungao auto-referencial: «troca de informagdes que se referem a0 ev, incluindo estados.pessoais. disposigdes, acontecimentos do passado, planos para o futuro» (Derlega © Grzelak, 1979. p. 152). Os psie6logos sociais, na sequéncia dos trabalhos pioneiros de Jourard (1964) e da reo- ria da penetragao social de Altman e Taylor (1973), designam este tipo de comunicagdo por ‘auto-revelagdo. Os contetidos assim partilhados contribuem para intensificar 0 grau de intimi- dade criando estruturas cognitivo-mnésicas comuns (Wegner, Giuliano e Hertel, 1985). De acordo, com diversas investigagées (cf. Derlega, 1984), 0 primeiro aspecto relevance nos comportamentos de auto-revelacao diz respeito 4 reciprocidade: se A informa B sobre os con- tetidos do seu mundo privado. B geralmente responde fazendo revelagdes idénticas (Collins € Miller, 19943, Contudo, este efeito parece caracterizar principalmente os estados iniciais de intimidade; em fases mais avangadas a retri- buigo das auto-revelagdes € frequentemente diferida (Miller e Berg, 1984) As vantagens dos comportamentos de auto- -revelagio, nomeadamente o aumento do conhe- cimento reciproco ¢ a consequente redugio da ambiguidade (incerteza) inerente & relagdo, en- 7 Limitimos a nossa exposigdo a aspectos especificos da comunicagio verbal. O leitorinteressado nas dimensBex no verbais da comunicacio. no quad das relagbes de DePaulo Friedman 11998) mas. poderd consulta. entre ouras, as sinteses de Argyle (1983) 5 Para além das fungdes referenciais, emotivas. ete. a finedo fética caracteriza um tipo particular de comunicagio fauima: as declaragbes reiteradas de amor entre apsixonados visam simplesmerte mane aberto 0 canal de comunicagdo, contram contrapartida na_possibilidade de 0 outro utilizar as informagdes para adquirir con- trolo e poder no seio dessa relagao (Derlega. 1984). Refira-se, ainda, que tais comportamen- tos podem ser utilizados de modo estratégico com 0 objective de validar o conceito-de-si. Relativamente a esta dltima questo colocam- -se alguns problemas de natureza conceptual. Em particular. é dificil discriminar entre: suto- -revelacdo € estratégias de auto-apresentagio. cujo objectivo iitimo consiste no aumento e/ou preservagio do poder de influenciar os outros € controlar 0 ambiente social (Jones ¢ Pittman, 1982). Fisher (1984). numa tentativa de siste~ matizagio conceptual. propde que se defina a auto-revelagio em funcdo dos seguintes atribu- tos: veracidade das informagies. sinceridade relativa aos motivos subjacentes a comunicagao. intencienalidade, novidade ¢ cardcter privado dos conteiidos comunicados. A auto-revelagao distinguir-se-ia, pois. de outros comportamentas de auto-referéncia, Pela sinceridade relativa a0s motivos contrastaria com a auto-apresentacdo: a privacidade dos contetidos separé-la-ia da sim- ples autodescrigGo ea intencionalidade dos lap- 08. Finalmente, pela novidade das informagoes. distinguir-se-ia da mera reperi¢do e, pela veraci dade, da mentira Processos emocionais Por razdes de natureza tedrica e metodolé- gica (cf. ponto 1.1). 0 estudo empirico dos pro- cessos emocionais nas relagdes interpessoais tem sido relegado para segundo plano. Uma das tentativas mais recentes ~ pelo menos em termos, de definigio de uma grelha conceptual suficien- temente abrangente ~ para colmatar esta lacuna deve-se a Berscheid (1983). Procurando arti- cular os aspectos consensuais de diversas teorias das emogdes (v.g.. Mandler. 1975: Schachter. 1964). nomeadamente a relevo concedido & acti- 153 vagio fisioldgica e aos sistemas cognitivos de interpretagdo das situagdes, e recorrendo ao con- ceito de sequéncias de comportamentos supra- -organizados (Mandler, i975). Berscheid propoe que se estudem os processos emocionais. no quadro da greliia de Kelley er al. (1983) acima descrita: «Os fenémenos afectivos que ccorrem numa relagio sio uma fungdo directa, € por vezes previsivel. das varias propriedades de interdependéncia que caracterizam a relagdo» (Berscheid, 1983. p. 118). Mais especificamente, Berscheid afirma que. para que P possa despertar/induzir emogdes em O. & necessério que as respectivas cadeias de acontecimentos intrapessoais estejam interconec- tadas. Caso se verifique esta situagio. qualquer acontecimento na cadeia de P, que interfira/inter- rompa a sequéncia organizada dos aconteci- mentos/comportamentos na cadeia de O. € sus- ceptivel de gerar emogdes em 0. O sinal positivo ou negativo das emogdes geradas depende do tipo de interrupcio (desencadeador de activagio fisiol6gica. que. por sua vez. constitui um sinal para que o sistema cognitivo-interpretativo entre em acgo). Em rigor. ndo € o valor aversivo ou sgratificante da interrupgo em si mesma, mas a expectativa de yue ela facilite ou iniba a sequén- cia organizada de acco, que determina 0 card ter positivo ou negativo da emogio. O modelo proposto permite definir o inve timento emocional numa relacdo como a exten- silo em que cada um dos actores tem 0 poder de interromper as sequéncias de acedo do outro ou. inversamente, 0 grax em que cada um deles é vulneravel as interrupgdes do outro. Esta imterpretago liga 0 investimento emociona! dependéncia relacional: quanto maior € 0 pri- meiro, maior é a segunda. Shaver e Hazan (1985). a0 avaliaram a teoria de Mandler-Berscheid. consideram que, apesar de correcta, ela contém algumas fraquezas. prin cipalmente porque negligencia o papel dos fac- 54 tores de natureza motivacional (motivos, neces- sidades, desejos) na emergéncia das emogées Apoiando-se na teoria da geragéio das emagdes de Roseman (1984), os autores defendem que todos 0s estados emocionais podem ser concep tualizados pela convergéncia ou nao entre resul- tados esperados (desejos) e resultados obtidos. No Quadro I, exemplificam-se estas eventuali- dades, Poder e conflito Do que ficou dito anteriormente, pode facil- mente depreender-se que a capacidade de gerar emogdes positivas no outro constitui uma das diversas condigdes causais relevantes para a anélise do poder no interior de uma relagio. Para além da dependéncia emocional, a depen- déncia informativa € a dependéncia comporta- mental (em sentido estrito) expressam as duas outras grandes categorias de condigées causais, das telagdes de poder. Huston (1983). com base na gretha de Kelley et al, (1983), propde-se analisar 0 poder nas relagdes intimas partindo da distingo entre wg termos correlacionados: influéncia (niveis. oy instancias de interconexio entre os aconteci mentos nas cadeias de Pe O): damindncia (a influéneia de P sobre O é assimétrica relativa- mente & de O sobre P em diversas dreas de fun- cionamento) € poder (conceito explicativo rel tivo @ um tipo particular de influéncia exercida por P de, modo controlado e com vista & obtenco de determinados objectivos ou benefi- ios no quadro da relacdo). Em rigor, 0 conceito de poder nio se refere a um atributo pessoal (Foucault. 1976), nao € uma caracteristica do actor. mas uma relacdo instrumental, no transi tiva e desequilibrada (Crozier. 1977) Seguindo a conceptuaiizagdo de Huston (1983), € admitindo a natureza relacional do poder. os principais parimetros a considerar na sua andlise referem-se: a) aos cometidos ou natureza das actividades que mediatizam o exer- cicio do poder: b) as intengaes do actor (a inten- cionalidade pressupde que P antecipe a quéncias dos seus comportamentos na relagao com 0): c) a0 modo de influéncia ou tipo de conse- Quaoro I Conjugagdes entre resultados desejados e resultados efectivamente obtidos na determinacao dos estados emocionais, segundo a teoria das emogdes de Roseman (Adaptado de Shaver e Hazan. 1985. p. 169) Desejos Resultados desejados Resultados do desejados Resultados Obridas Nav obras Alegria Tristeza Praver Pena Angtistia Alivio Ansiedade Desconforto cestratégias wilizadas pelo actor, d) & magniwude das modificagdes induzidos no individuo-alvo; @) As consequéncias (sucesso ou fracasso) para © actor. Se os contetidos dependem da relagdo © a intencionalidade constitui um critério funda- mental para caracterizar uma relagio de poder. {6 as estratégias podem ser classificadas em termos de grandes categorias de acco. Como exemplo, refira-se a tipologia das estratégias de auto-apresentagao (Jones e Pittman 1982), ante- iormente mencionada, ou a classificagio das mensagens verbais de influéncia (ameacus. promessas. previsdes de boas consequéncias € previsdes de mas consequéncias) proposta por Tedeschi, Schlenker e Lindskold (1972), No caso especifico das relagdes intimas hete~ rossexuais. Falbo e Peplau (198U) solicitaram a duzentos adolescentes de ambos os sexos que descrevessem 0 modo como obtinham do par- ceiso 0 que desejavam nas mais diversas situa- Ges. Os autores identificaram treze estratégias de influéncia que classificaram de acordo com dois pardmetros: directas (v:g.. pedir, conversar) versus indirectas (x:g.. sugerit) € interactivas (isg.. negociar. persuadir) versus solitdrias ( afastamento). Falbo e Peplau vetificaram que os homens utilizam preferencialmente estratégias directas e interactivas. a0 passo que as mulheres privilegiam as indirectas e solitérias. Um outro aspecto relevante para a compreen- sdo das estratégias diz respeito ao tipo de recur sos (condigées causais) que elas mobilizam. A teoria de French e Raven (1959) sobre as bases do poder social (ef. Capitulo X). ao permitir dis- tinguir entre seis tipos de relagdes de poder (legitimo. de recompensa. coercivo, de refe- réncia, de especialista e informativo). pode fun- cionar como dispositivo heuristico para a andlise do poder nas relagdes intimas. Como nota Huston (1983), esta tipologia permite-nos dis- tinguir, por exemplo. entre 0 modelo normative 155 das relagdes conjugais (haseado no poder legi- timo) ¢ 0 modelo que designaremos como inter activo (que se apoia na utilizagio diferencial dos restantes recursos), A gesto dos recursos © as estratégias de exereicio do poder no ambito das relagdes inter- pessoais {ntimas dio geralmente lugar a confli- tos, circunstanciais ou estruturais, caso as condigdes causais que estiveram na sua origem iio sejam removidas ou modificadas (Peterson, 1983), Remetendo 0 leitor para o Capitulo XIII, em que 0s conflitos sociais so abordados de modo sistematico. centrar-nos-emos. aqui, num, tipo particular de conflitos. cujas condigdes antecedentes se relacionam directamente com a experiéncia do citime. Revestindo ou ndo cardcter patol6gico, just ficado ow nao pelos comportamentos abjectivos do parceito, 0 cidime constitui uma das princi- pais causas de disrupgdo das relagées intimas estruturadas em torno da sexualidade e regu- Jadas normativamiente pelos padroes de conju- galidade heterosexual. Bunk ¢ Bringle defi- nem 0 citime como «uma reac¢o emocional aversiva despertada por uma relagio envol- vendo 0 nosso actual ou anterior parceiro com uma terceira pessoa, Tal relagdo pode ser real, imaginada ou esperada, ou pode ter ocortido no pasado» (1987. p. 124). Conceptualizado como uma ameaga contra uma relacdo existente, 0 citime pressupde a existéncia de uma situagao triangular (A mantém uma relagdo com Be qual- quer tentativa para que se estabeleca uma relacdo entre Be C gera citimes em A) e dis- tingue-se das nocbes correlativas de inveja (C pode invejar a relacdo entre A e B) ou rivalidade (Ae C lutam para estabelecer uma relagio com B) (Bryson, 1977. cit, in Brehm, 1984. 1985). Brehm (1984. 1985), sobre 0 citime, sublinha os seus determinantes culturais (importincia das normas sociais que prescrevem 2 exclusividade das relagdes. em ao rever a literatura 156 particular das relagdes sexuais) © imterroga-s sobre o papel da auto-estina na sua génese. Mais exactamente, «0 que est em causa no citime & menos 0 amor do que © amor-préprion (La Rochefoucauld. cit. in Brehm. 1984). Contudo, tanto no que diz respeito as reacgées alectivas ‘como as estratégias de lidar com 0 citime, pare ccem existir, pelo menos na nossa cultura, dife- rengas associadas ao sexo, De acordo com White (1981), as reacgdes emocionais, subordinadas 3 dependéncia da propria relagdo, seriam predo- ‘minantes nas mulheres. enquanto a dependéncia auto-avaliativa (relacionada com a diminuigio da auto-estima) assumiria maior relevancia nos homens. Esta dicotomia encontraria paralelo na categorizacdo das estratégias de esconjuraco do citime sugerida por Bryson (1977): tentativas de preservar e/ou aperfeicoar a relagdo versus tenta- tivas de salvaguardar o amor-préprio. Remetendo o leitor para os trabalhos referi- dos, terminaremos esta seco transcrevendo 0 «conselho» final de Brehm: em todas as relagées intimas deveria poder ler-se 0 seguinte aviso: «E, perigoso para a sua satide ¢ para a do seu par- cceiro no saber ~ seguramente. claramente ¢ para além de quaisquer diividas ~ que voc8 & um ser humano digno € com valor com ou sem o amor do seu parceiro» (1985, p. 276) 3.2. Modelos de amor O estudo das relagdes intimas. de que temos vindo a referir alguns dos principais aspectos estruturais e dindmicos. prolonga a anélise dos fenémenos de atraccdo interpessoal com que ini- cidimos o presente capitulo. Em rigor. a atracgao no constitu mais do que uma das vérias con- ecedentes ou iniciais daquelas rela- tal modo. a sexualidade constitui tum dos principais vectores ou organizadores da intimidade, De que modo se articulam os varios ripos de atraceto com as caracteristicas estruty. rais das relagdes a que eventualmente dio ori gein? Qual € 0 lugar e/ou importancia da sexua- lidade (€ da paixio) no seio de tais relages? A resposta a estas questées passa pela ident cago de modeios globais das retagdes interpes- soais intimas. De acordo com Kelley (1983). tais, modelos — designados por modelos de amor — consistem num conjunto articulado de nogdes a respeito das condigdes causais € da evolucio temporal do amor. do modo como tais condicSes afectam e sao afectadas pela propria interacca0 efou pelos acontecimentos exteriores Como Kelley (1983) sublinha, entre as con- digées causais do amor devem ser referidas as prdprias concepdes. (representagdes/crencas) que os individuos tém a esse respeito. Tais con- cepgdes teriam como causas distais os modelos € mormas culturais. socialmente construidos historicamente datdveis (xg. romantismo, etc.). Kelley propde que se dis- tingam trés grandes modelos: 0 amor passional © amor pragmdtico € © amor altruista. Com base nas suas prOprias investigagdes sobre os componentes do amor e do gostar nas escalas de Rubin, Kelley (1983: Steck et a. 1982) afirma que a necessidade do outro constitui 0 nécleo do primeiro modelo: a confianga e a tolerdncia seriam os componentes centrais do amor prag- matico: por tiltimo. a preocupagdo/ewidado com © outro especificariam o amor attruista, A andlise sistemitica das diferentes teorias/ ‘Ataxonomias do amor € incompativel com as dimensdes desejdveis deste capitulo, Remetendo © leitor para a excelente sfntese de Sternberg (1987), limitar-nos-emos, aqui. a apresentar. de modo esquemdtico. a reoria triangular do amor que © mesmo autor tem vindo a desenvolver desde 0 inicio dos anos 80. Basicamente, Sternberg (1986. 1987: Stern- berg e Grajek. 1984) defende que os fenémenos englobados sob 0 rétulo de amor podem ser amor cortés, categorizados em funcdo de «rés componentes, que formariam os vértices de um trifingulo: ~@ intimidade: sentimentos de proximidade, de vinculagéo a0 outro (componente predomi- nantemente emocional): = @ paixdo: impulsos relacionados com o «romance», a atracso fisica e sexualidade (componente essencialmente motivacional): = a decisdo/compromisso: deciséo a curto prazo de que amamos o outro; a longo prazo, aceitagio do compromisso de continuar a relacdo (componente cognitivo). A combinacao destes trés componentes possi- bilitaria construir uma taxonomia/sistema de classificagao dos diferentes modelos de amor e/ou tipos de atracgo interpessoal. Admitindo apenas a presenga ou auséncia das emogdes, motivacdes e cognicdes ligadas aos trés com- ponentes, estariamos na presenca dos oito tipos sumariados no Quadro I. A semelhanga do que acontece com outras teorias psicométricas do amor (u.g.. Hendrick & Hendrick, 1993: Lee. 1976: Rubin, 1970), a 137 principal limitagio do modelo de Sternberg resulta do facto de nao se basear directamente na anélise dos processos evolutivos € psicossociais, envolvidos nas relagdes amorosas. Contudo, dos pontos de vista descritivo e heuristico. a teoria triangular pode vir a constituit-se como ponto de partida para o estudo sistemético de tais relacdes (Sternberg, 1997). A temética abordada no presente capitulo pode sintetizar-se em sete pontos: 1. O estudo da atracgéio interpessoal coincide com a problemética da génese, desenvolvi- mento € ruptura das relagées sociais preferen- ciais, em particular das relagdes de amizade e de amor. 2. A atracgdo interpessoal, enquanto dominio classico de investigagao em psicologia social, tem sido objecto de diferentes conceptualiza- Ges, nomeadamente em termos de atitudes. de emogées e de comportamentos directamente observaveis. Mais do que mutuamente exclusi- vas, estas conceptualizacées tendem a comple- Quapro II Classificacao dos tipos de amor/atraccao segundo a presenca (+) ou auséncia (-) dos componentes intimidade, paixdo e decisdo/eompromisso (Adaptado de Sternberg. 1986, p. 119) Tipo de amorlarracgao “Tnexisténcia de amor” (wowlove) “Amizade” (liking) “Amor & primeira vista” (nfaruared fove) “Amor vazio" (enpry love} “Amor romantica” (romantic love) “Amor conjugal” (companianate love) “Amor ireflectido” (farwous love) “Amor consumado” (consumate love) Inimidade Paix Componente Decisio/eompromisso 158 mentar-se. O avango recente da investigagio sobre as emogdes constitui uma alternativa credivel para as abordagens cléssicas centradas, no conceito de atitude. 3. Os modelos explicativos dos fenémenos de atracgZo podem agrupar-se em duas grandes categorias: as teorias da organizagao cognitiva € as teorias do reforgo e da troca social. Algu- ‘mas das oposigdes entre as duas perspectivas so mais aparentes do que reais, uma vez que, por um lado, € possivel conceptualizar a consisténcia cognitiva como uma classe particular de reforgos €, por outro, as explicagées actuais do meca- rnismo do reforco fazem apelo a processos cogni- tivos de tratamento da informagao social. 4, Pela natureza das respectivas condigdes antecedentes ¢ pela diversidade dos processos psicologicos envolvidos, os diferentes tipos de atracgao interpessoal nZo podem agrupar-se ‘numa tnica rubrica. Contudo, é possivel identi- ficar um conjunto de factores antecedentes que, em maior ou menor grau, so comuns aos varios tipos de atracgio. Estio nestas condigées a beleza fisica, as semethangas interpessoais © as apreciacées (avaliagdes\ positivas: 5. O amar passional constitui um caso parti- cular de atraccao interpessoal. A especificidade das suas condigdes antecedentes, nomea- damente a mistura heteréclita de estados emocionais positives ¢ negativos, faz dele um dominio privilegiado para 0 confronto entre os diversos modelos explicativos da atracgio inter- pessoal 6. A sexualidade constitui um componente central de diversos tipos de atracgao e funciona como um dos principais recursos no interior de uum niimero considerdvel de relagées sntimas Do ponto de vista da psicologia social, os com- Portamentos sexuais podem ser perspectivados como situagdes de interaccdo’estruturadas por seripts culturais, imerpessoais e intrapsiquicos. Os processos cognitvos, emocionais e fisiol6gi- cos envolvidos numa sequéncia de comporta- mentos sexuais tém como matriz os scripts acima referidos. A sexualidade humana ~ para além, ou apesar, da realidade biolégica — ¢ socialmente construida. 7. Os fenémenos de atracgdo dio lugar a relagdes duradoiras, cujas propriedades estrutu- rais as distinguem das relagdes interpessoais em geral. Tais relagGes organizam-se em tomo da intimidade e caracterizam-se por modos especii cos de comunicagdo e de funcionamento emo- ional A interdependéncia cognitiva, afectiva e comportamental traduz-se em formas diferen- ciadas de exercicio do poder € de resolugao dos conflios interpessoais. Este conjunto de proprie- dades estruturais e de processos psicossociais permite-nos caractetizar as relagdes intimas pelos modelos de amor que the estio subjacentes. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS” Abelson, R.P. (1981), Poychological status of th sript concept American Peyohologis, 36, 715-729. Adams, J. 8. (1968). Inequity in social exchange. tn L, Berkowite (Bd), Adsances in experimental social pochology.- Vol. 2. New York: Agademie Pres. Pp. 266-300. Alferes, V. R. (1987). Blementos para uma andlise psicossocial da sexualidade. 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