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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL

DA COMARCA DE SÃO PAULO-SP

NOME, brasileiro, estado civil, profissão, inscrito no CPF nº xxxx, portador do RG nº xxx,
residente e domiciliado na , bairro , São Paulo – SP, CEP nº xx, TEL: (11) 123456789, por
intermédio de sua advogada, infraconstitucionada, vem, mui respeitosamente, perante
Vossa Excelência, com fulcro no art. 5º, X, da Constituição Federal; arts. 186 e 927, do
Código Civil; e, art. 14, do Código de Defesa do Consumidor, propor a presente:
AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE VALOR C/C INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL
Em face do BANCO DO BRASIL S.A, pessoa jurídica de direito privado, CNPJ:
00.000.000/0001-91 com endereço na SBS Qd. 01, Bloco G, 24º andar; CEP:70.070-110,
Bairro Asa Sul, Brasília – DF, pelos motivos de fato e de direito que passa a expor:

DOS FATOS

No dia 29/05/2019 por volta de 07:50 ao retornar do plantão médico o Requerente teve
seu celular roubado em via pública, conforme boletim de ocorrência em anexo, impetrou
grandes esforços para localizar o meliante porém sem sucesso. Contudo, cerca de uma hora
após o sinistro ao verificar sua conta junto a Requerida verificou uma transferência
bancária estranha no valor de R$ 9.550,00 por TED para uma conta bancária (comprovante
em anexo) do Itaú no nome de fulano da Silva, CPF xxxx, agência xxx, cc xxx (end. Rua
clemente alvares).
Ressalto, Excelência, que o Requerente sempre foi muito cuidadoso em relação a proteção
de senhas, não havendo em seu celular qualquer senha de cartão ou algo do tipo, além do
que nunca fez operações bancárias tão altas, nem mesmo Autorizou ou sabia possuir limite
de tanta grandeza, seja para transferência online, seja para outras operações.
Imediatamente após descobrir este fato o Requerente dirigiu-se até a agência do Banco do
Brasil (endereço -), sendo informado que para tal situação apenas seria possível a
resolução por meio telefônico a central. Durante o procedimento foi constatado várias
tentativas de compras online, devido a isto o cartão foi bloqueado.
Em ato contínuo foi solicitado o ressarcimento pela via administrativa do banco,
acreditando de boa-fé na solução pacífica do problema, uma vez que o valor da transação
era completamente incomum das habituais.
Ademais, não houve qualquer mecanismo de segurança para impedir a transação atípica,
em momento algum ligaram para o Requerente para questionar tal operação. Frisa-se
excelência o Requerente NUNCA, aumentou o seu limite de transferência da via eletrônica.
Contudo a atende informou que deveria primeiro aguardar um dia útil para entrar com a
solicitação, um ato completamente inconsequente, uma vez que apenas comungou com a
prática delitiva. Completamente inconformado com essa posição do banco o qual o
Requerente é cliente fiel há anos, buscou ajuda no banco Itaú, contudo, foi informado que o
valor já havia sido sacado.
O Requerente ficou completamente desolado, uma vez que seu aniversário seria dentro de
dois dias (01/06) e grande parte do dinheiro seria para custear a vinda de sua família até
São Paulo, pois suas raízes são paraenses, esse encontro era muito estimado por todos e
teve que ser cancelado.
No mesmo dia o Sr. fulano e sua irmã Sra. fulana da Silva foram presos e confessaram a
prática delitiva, revelando uma espécie de esquema em que o dinheiro foi divido entre
vários particípes, sendo recuperado apenas a quantia de R$ 1.118,00 (mil cento e dezoitos
reais).
No dia seguinte (30/05/2019) o Requerente, ainda abalado emocionalmente, se dirigiu a
agência do Banco do Brasil da Avenida Paulista para dar inicio ao processo administrativo
interno de ressarcimento da transferência ilícita, do qual resultou o protocolo de número
(em anexo) e foi informado que a resposta seria enviada através de carta pelos correios,
dentro de três a quinze dias úteis.
Por volta de cinco a sete dias úteis o Autor recebeu uma carta com a resposta, uma frase
única “a apuração foi concluída e o processo julgado como improcedente”, para mais
informações procurar o gerente.
Completamente aflito e buscando entender a recusa ao ressarcimento, ligou para o Sr.xx,
seu gerente, e foi a partir desse momento que a empresa ré passou a jogar as
responsabilidades em uma verdadeira roda burocrática sem saída, o gerente afirmou que
não teria informação alguma instruindo o Autor a procurar a agência em que fez a
contestação.
Ao chegar à agência fez todo o procedimento de atendimento, ao chegar ao guinche a
atendente informou que apenas o seu gerente (Sr.xx) teria a informação, frente a isso
buscou a central de atendimento pela via telefônica, sendo-lhe informado que não havia
informações além das constantes na carta, e que seria impossível entrar com novo
requerimento, pois só existia uma tentativa para esse procedimento.
Vossa Excelência,ficou claro que o Autor esgotou todas as medidas administrativas de
resolução consensual da presente lide, porém é latente o grande desrespeito e os danos
tanto materiais quanto morais, uma vez que conforme todas as provas juntadas aos autos
irão compravam práticas que vão desde uma simples negativa de informações a falta de
segurança mínima diante de transações suspeitas, UM CLARO DESRESPEITO AO
CONSUMIDOR.
II– PRELIMINARMENTE
– DA RELAÇÃO DE CONSUMO E A INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA
A relação havida entre as partes amolda-se as definições dos arts. 2º e 3º do Código de
Defesa do Consumidor, além de ser previsto na súmula nº 297 do STJ, competente o juizado
cível para julgar questões atinentes a esta relação.
Além do mais, fica desde já o Réu responsável pelos benefícios esculpidos na legislação
especial, dentre as quais a inversão do ônus da prova conforme determina o art. 6º, VIII, do
CDC, senão vejamos:
Art. 6º. São direitos básicos do consumidor: (...)
VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a
seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando
for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;
Saliente-se que no caso em foco, o Requerente, sendo consumidor hipossuficiente e
verificando-se a veracidade das alegações, detém então os requisitos para que o douto
Magistrado se digne a conceder a inversão do ônus da prova em favor do mesmo.
– DA PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR
A Constituição Federal promulgada em 1988 prevê, em diversos dispositivos, a
obrigatoriedade de defesa e proteção ao consumidor.
Contemplou e dispôs expressamente sobre a proteção às relações de consumo e sobre a
criação de um Código de Defesa do Consumidor – Título II – Dos Direitos e Garantias
Fundamentais, no Capítulo I – Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos, no art. 5º,
XXXII; Título VII – Da Ordem Econômica e Financeira, no Capítulo I – Dos Princípios Gerais
da Atividade Econômica, no art. 170; e no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias,
no art. 48. Senão vejamos:
Art. 5º. XXXII – o Estado promoverá, na forma da Lei, a defesa do Consumidor;
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre
iniciativa, tem por fim assegurar a todos a existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observados os seguintes princípios:
(...)
V – defesa do consumidor;
– DOS DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR
Com a finalidade de promover a efetiva defesa do consumidor o CDC instituiu, em seu art.
6º, os Direitos Básicos do Consumidor, ensejando assim a proteção à sua vida, saúde e
segurança, além de estabelecer outros direitos essenciais àqueles que consomem produtos
ou se utilizam de serviços.
Entre os direitos alinhados no mencionado dispositivo legal, interessa mais de perto ao
presente feito, os seguintes:
Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:
I – a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no
fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;
IV – a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou
desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de
produtos e serviços;
V – a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais
ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;
VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos
e difusos;
VII – o acesso aos órgãos judiciários e administrativos, com vistas à prevenção ou
reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a
proteção jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;
VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com inversão do ônus da prova, a
seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando
for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;
III – DO DIREITO
– DA RESTITUIÇÃO DOS VALORES
Como visto alhures, o Requerente teve seu aparelho telefônico brutalmente roubado, e em
cerca de uma hora, de maneira quase impossível teve R$ 9.550,00 (nove mil quinhentos e
cinqüenta reais) transferido de sua conta junto a empresa ré, e imediatamente após tomar
conhecimento da transação, menos de uma hora após entrou em contato com a Requerida
na tentativa de invalidar tal operação e para bloqueio do cartão e só após isso realizou o
boletim de ocorrência.
O Requerente sempre teve todos os cuidados possíveis com a guarda, manuseio e uso de
senha dos seus cartões, mas por uma fatalidade quase que cotidiana no nosso país, o
mesmo foi roubado. Ao contrario da Requerida que forneceu a senha do cartão para um
terceiro de má- fé, aumentou o valor do limite de transferência online, sem qualquer
medida de segurança, data de nascimento, nome da mãe, ou até mesmo uma ligação ou
qualquer forma de contato. Demonstrou assim o despreparo e falta de segurança da
empresa, frisa-se dever básico.
O Requerente incansavelmente ainda tentou resolver a questão do ressarcimento
diretamente com a requerida, seja no dia do sinistro, seja no dia após e até mesmo depois
do recebimento da resposta. Porém Excelência, sequer informações eram dadas, e neste
cenário o Autor se sentiu completamente lesado e sem qualquer apoio por parte da
empresa em quem tanto confiou, e que agiu de má-fé durante todo o procedimento.
O dever da empresa, ora Requerida, era de ressarcir o Requerente pelo valor transferido
pelo fato de ter ocorrido fraude no sistema da própria Requerida, em que não houve o
cuidado e segurança necessária que o serviço deve oferecer.
É de bom alvitre salientar que a relação entre a Requerida e o Requerente trata-se de uma
relação de consumo, qual é versada pelo Código de Defesa do Consumidor. Dessa forma,
independentemente de culpa, a Requerida não forneceu a segurança necessária para a
utilização de seus serviços, pois conforme estabelece o CDC trata-se de responsabilidade
objetiva do fornecedor de serviços e, em consonância com a legislação, todo aquele que se
dispõe a fornecer bens e serviços tem o dever de responder pelos fatos e vícios resultantes
do empreendimento, independentemente de culpa, conforme estabelece o art. 14, § 1º, do
CDC, senão vejamos:
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente de existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos
serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e
riscos.
§ 1º. O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode
esperar, levando- se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I – o modo do seu fornecimento;
II – o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III – a época em que foi fornecido.
Para corroborar ao entendimento, é uníssona a jurisprudência no sentido de que em uma
relação de consumo a responsabilidade do fornecedor de serviços é objetiva e integral
pelos danos causados ao consumidor, veja-se:
EMENTA: Apelação – Contrato bancário – Conta-corrente – Ação de indenização por danos
materiais e morais – Sentença de acolhimento parcial dos pedidos – Irresignação, do réu,
improcedente. Transferência eletrônica indevida realizada a partir da conta bancária da
empresa Autora, mediante internet banking. Cenário dos autos prestigiando a boa-fé da
demandante, presunção não infirmada pelo banco réu, que não demonstrou a legitimidade
da operação. Inequívoca responsabilidade deste último pelo ocorrido, nos termos da
orientação cristalizada na Súmula 479 do STJ. Acertada, portanto, a condenação do réu à
restituição da integralidade do valor desviado da conta da Autora. Dispositivo: Negaram
provimento à apelação.
(TJ-SP - AC: 10174510720178260008 SP 1017451-07.2017.8.26.0008, Relator:
Ricardo Pessoa de Mello Belli, Data de Julgamento: 13/05/2019, 19ª Câmara de
Direito Privado, Data de Publicação: 28/05/2019)
EMENTA: Prestação de serviços (bancários). Ação declaratória de inexigibilidade de débito
c.c. reparação de danos. Movimentação fraudulenta da conta bancária da Autora. Falha na
prestação do serviço. Responsabilidade objetiva da instituição financeira. Tudo nos autos
aponta no sentido de que houve movimentação fraudulenta da conta bancária da Autora
por terceiro estelionatário, que burlou o sistema de segurança do réu, e que se aproveitou
para realizar compras a débito, empréstimos e saques de ativos financeiros. Assim, a
declaração de inexistência do débito em relação a ela era mesmo medida que se impunha.
Ao réu incumbia garantir a segurança dos serviços prestados e, havendo imputação de
defeito no serviço, provar fato caracterizador de qualquer das excludentes do § 3º do art.
14, acima referido. No entanto, desse ônus não se desincumbiu. As instituições financeiras
respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos
praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias. Não resta dúvida de que a falha
de segurança no serviço fornecido pelo réu causou dano moral à Autora. O valor da
reparação arbitrado na r. sentença (R$5.000,00) revela-se adequado, atendendo aos
anseios reparatório e punitivo, e ao caráter profilático e pedagógico da medida. Apelação
não provida.
(TJSP; Apelação Cível 4036570-70.2013.8.26.0224; Relator (a): Sandra Galhardo
Esteves; Órgão Julgador: 12ª Câmara de Direito Privado; Foro de Guarulhos - 8ª Vara
Cível; Data do Julgamento: 05/07/2019; Data de Registro: 05/07/2019)
Portanto Excelência faz jus o Requerente receber o valor de R$ 8.432,00 (oito mil e
quatrocentos e trinta e dois reais) a título de restituição dos valores transferidos
criminosamente da conta corrente do Requerente, com juros e correção monetária desde a
data do desembolso.
– DO DANO MORAL
Além do efetivo dano material sofrido pela transferência criminosa, o qual deve ser
ressarcido. Nesse Contexto, o Superior Tribunal de Justiça assevera, de acordo com a
súmula 479:
"As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito
interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações
bancárias."
No entanto, não se pode relegar a plano inferior ou atribuir a mero aborrecimento do
cotidiano o dano moral sofrido.
Podemos citar primeiramente a possibilidade do banco ter evitado todo o problema, caso
tivesse cancelado a operação na primeira vez que o Requerente foi até o banco uma hora
após o seu roubo para informar a transferência criminosa, e mesmo sabendo dos fatos a
requerida pediu para que o mesmo voltasse apenas no outro dia, o que perpetuou a prática
delitiva.
Essa omissão resultou no cancelamento da vinda dos familiares do Requerente para o
aniversário dele que ocorreu dois dias após o roubo (01/06/2019), uma vez que o dinheiro
iria custear as passagens dos pais e a estadia destes na capital. Sem qualquer dinheiro, teve
que recorrer a empréstimos de amigos mais próximos para ter pelo menos o que comer nos
dias subseqüentes.
O segundo momento que excede um simples aborrecimento do cotidiano, se deu no
momento em que após receber a carta, resposta da solicitação do ressarcimento, não
obteve o mínimo respeito da instituição, pois buscou mais informações com seu gerente
que o encaminhou para a agência, e ao chegar na agência foi informado que deveria
procurar seu gerente. Totalmente confuso buscou a central de atendimento em que
friamente lhe informou que não tinha nenhuma outra informação ou motivos para
esclarecer, advertindo que sequer deveria pedir um novo ressarcimento, pois só existia
uma tentativa para tal procedimento.
No caso em tela, é latente que o Requerente teve sua honra e moral abalada,
principalmente pelo fato do banco não fornecer a Requerente alguma resposta conclusiva
sobre o caso, provar que ela não entregou a senha ao criminoso, muito menos, efetuar o
ressarcimento do valor total.
Além de diversos transtornos e gastos excessivos, tendo que recorrer a amigos para ter
suas necessidades básicas atendidas, tudo isso dois dias antes de uma data que
pessoalmente sempre foi considerada especial e de celebração, seu aniversário.
É válido lembrar Excelência que o dano moral consiste em toda e qualquer violação que
não venha a ferir bens patrimoniais, mas sim, aos princípios de ordem moral, no que se
refere à plena liberdade individual, ao respeito à honra e ao próprio indivíduo.
A Constituição Federal em seu art. 5º, X, consagra a tutela do direito à indenização por dano
material ou moral decorrente da violação de direitos fundamentais, tais como a honra e a
imagem das pessoas, senão vejamos:
Art. 5º. X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
Assim, é garantida a reparação dos prejuízos morais e materiais causados ao ser humano.
Tal dispositivo assegura a preservação do princípio da dignidade da pessoa humana, da
intimidade e da intangibilidade dos direitos da personalidade.
Dessarte, não restam dúvidas que a situação gerou transtornos ao Requerente, que
ultrapassam o mero aborrecimento, quando não há boa fé por parte da Requerida (art. 4º
da lei 8.078/90) deve também ser aplicado o disposto no art. 6º do CDC, em seu inciso VI,
que prevê como direito básico do consumidor, a prevenção e a efetiva reparação pelos
danos morais sofridos, sendo a responsabilidade civil nas RELAÇÕES DE CONSUMO
OBJETIVA, desse modo, basta apenas a existência do dano e do nexo causal.
“VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos
e difusos;”.
No mesmo contexto, estrutura-se a falha na prestação de serviços da Requerida, na forma
dos artigos 30 e 35 e incisos do CDC.
“Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer
forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou
apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o
contrato que vier a ser celebrado.”.
É insofismável que a Requerida feriu os direitos do consumidor, ora Requerente, ao agir
com total descaso, desrespeito e negligência, como preconiza o art. 927 do Código Civil,
configurando, ainda, a má prestação de serviços, o que causou danos de ordem domiciliar,
social e profissional.
Ressalta-se que culpa da Requerida nem mesmo seria necessária para determinar a sua
responsabilidade pelo dano causado à Requerente. Conforme a teoria do risco – no artigo
supracitado, estabelece:
“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos
casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo Autor do
dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.”
O art. 186, caput, do Código Civil estabelece o conceito de ato ilícito e a obrigação de
reparar o dano ainda que exclusivamente moral, in verbis:
“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”
Por se tratar de conduta que “excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim
econômico ou social”, incide a chamada responsabilidade objetiva, bastando à parte
comprovar a existência do dano, da conduta e do nexo causal entre o prejuízo sofrido e a
ação do agente em última análise, como assim comprovou a Requerente no presente caso.
As jurisprudências de nossos Tribunais admitem tal indenização, senão vejamos:
EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL – Indenização – Prestação de serviços bancários –
Transferências de valores realizadas pelo internet banking sem o conhecimento da
correntista, mediante ação fraudulenta de terceiro – Aplicação do CDC – Inversão do ônus
da prova – Aplicação do art. 6º, VIII, do CDC - Responsabilidade objetiva do Banco pelo fato
do produto e do serviço, bem como pelo vício do produto e do serviço – Responsabilidade
civil – Indenização - Ato ilícito e falha na prestação do serviço bancário – Responsabilidade
objetiva do Banco, a par da sua responsabilidade também resultar do risco integral de sua
atividade econômica – Precedentes do Colendo STJ - Restituição à Autora do valor
indevidamente transferido – Admissibilidade - Dano moral – Ocorrência – Desnecessidade
de prova – Dano "in re ipsa" – Indenização fixada em R$ 10.000,00- Admissibilidade –
Sucumbência exclusiva do Banco-réu Honorários advocatícios majorados de 15% para 20%
sobre o valor da condenação, nos termos do art. 85, § 11, do CPC/2015 - Recurso da Autora
provido e recurso do Banco-réu desprovido.
(TJSP; Apelação Cível 1008419-56.2018.8.26.0003; Relator (a): Álvaro Torres Júnior
; Órgão Julgador: 20ª Câmara de Direito Privado; Foro Regional III - Jabaquara - 2ª
Vara Cível; Data do Julgamento: 01/07/2019; Data de Registro: 03/07/2019)
EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL – Contrato bancário – Conta corrente - Transferência
de valor realizada sem o conhecimento da correntista, mediante ação fraudulenta de
terceiro – Falha na prestação dos serviços bancários evidenciada – Banco-réu responde
pela falha no seu sistema de segurança, pois os fraudadores tiveram acesso às informações
sigilosas pessoais do seu cliente – Banco-réu concorreu para a fraude bancária – Não foi
demonstrada culpa exclusiva da vítima - Excludente de responsabilidade civil não
comprovada - Aplicação da Súmula 479 do STJ - Responsabilidade civil do Banco-réu
configurada – Danos materiais devidos – Manutenção da sentença de procedência da ação
de indenização por danos materiais - Sentença confirmada pelos seus próprios
fundamentos, nos termos do art. 252 do Regimento Interno deste Egrégio Tribunal de
Justiça – Honorários advocatícios majorados de 10% para 15% sobre o valor da
condenação, em observância ao disposto no art. 85, § 11, do CPC/2015 - Recurso
desprovido, com observação.
(TJSP; Apelação Cível 1000800-19.2018.8.26.0248; Relator (a): Álvaro Torres Júnior
; Órgão Julgador: 20ª Câmara de Direito Privado; Foro de Indaiatuba - 2ª Vara Cível;
Data do Julgamento: 01/07/2019; Data de Registro: 03/07/2019)
Nesse contexto, a conduta da Requerida em não fornecer qualquer medida de segurança
para vetar operação inegavelmente ilícita, uma vez que forneceu a senha do cartão e
aumentou o limite de transferência bancária online, configura ato ilícito, gerando ao
Requerente o direito de ser ressarcido, não só pelo valor retirado de sua conta ilegalmente,
como também pelos danos morais sofridos.
O Requerente passou por tamanha humilhação, ao não ter dinheiro para se alimentar e com
tudo isso precisou pedir dinheiro emprestado para amigos próximos, além do
cancelamento da viagem de seus pais para o seu aniversário, tudo por conta da falta de
preparo e segurança da empresa Requerida.
IV – DOS PEDIDOS
Diante de todo o exposto requer-se:
A. A citação da empresa Requerida, para que, querendo, apresente resposta a presente
ação;
B. A aplicação do contido no art. 6º, VIII, do CDC, no tocante à inversão do ônus da prova;
C. A total procedência da ação para fim de condenar a Requerida ao pagamento:
I. Da indenização por danos morais no valor de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais),
considerando a situação apresentada na presente peça processual que confirmam a
responsabilidade da Requerida e o direito do Requerente em ser indenizada;
II. A restituição do valor de R$ 8.432,00 (oito mil e quatrocentos e trinta e dois reais), haja
visto que este valor fora utilizado por terceiro de má-fé, mediante fraude, por conta da má
prestação dos serviços da Requerida;
Protesta provar o alegado por todos os meios de provas em direito admitidos, depoimento
pessoal, oitiva de testemunhas, bem como das demais provas que no decorrer do processo
se demonstrarem indispensáveis para elucidar as questões debatidas.
Dá-se a causa o valor de R$ 33.432,00 (trinta e três mil reais e quatrocentos e trinta e dois
reais).
Nestes termos,
Pede e espera deferimento.
Belém, 10 de julho de 2019.
_____________________________________
Stephany Ferreira Chaves
OAB/PA nº 27.102

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