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Preservação de Documentos

Isabelle C. C. Domingos dos Santos


David Oliveira de Carvalho

Curso Técnico em Biblioteconomia


Educação a Distância
2019
Preservação de Documentos
Isabelle C. C. Domingos dos Santos
David Oliveira de Carvalho

Curso Técnico em Biblioteconomia

Educação a Distância

1.ed. |out. 2019


Professor(es) Autor(es) Catalogação e Normalização
Isabelle C. C. Domingos dos Santos Hugo Cavalcanti (Crb-4 2129)
David Oliveira de Carvalho
Coordenação de Curso
Revisão Liliane Rodrigues de Assis
Isabelle C. C. Domingos dos Santos
David Oliveira de Carvalho Coordenação Executiva
Liliane Rodrigues de Assis George Bento Catunda
Renata Marques de Otero
Coordenação Design Educacional Manoel Vanderley dos Santos Neto
Deisiane Gomes Bazante
Coordenação Geral
Design Educacional Maria de Araújo Medeiros Souza
Ana Cristina do Amaral e Silva Jaeger Maria de Lourdes Cordeiro Marques
Helisangela Maria Andrade Ferreira
Izabela Pereira Cavalcanti Conteúdo produzido para os
Jailson Miranda cursos Técnicos a distância da
Roberto de Freitas Morais Sobrinho Escola Técnica Estadual
Professor Antônio Carlos Gomes da Costa
Diagramação (1.ed. 2019)
Izabela Pereira Cavalcanti
1.ed. | outubro, 2019

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISDB

S237p
Santos, Isabelle C. C. Domingos dos.
Preservação de Documentos: Curso Técnico em Biblioteconomia: Educação a distância /
Isabelle C. C. Domingos dos Santos, David Oliveira de Carvalho. – Recife: Escola Técnica Estadual
Professor Antônio Carlos Gomes da Costa, 2019.
80p.: il.

Inclui referências bibliográficas.


Caderno eletrônico produzido em outubro de 2019 pela Escola Técnica Estadual Professor
Antônio Carlos Gomes da Costa.

1. Conservação de Acervos Documentais e Bibliográficos. 2. Encadernação, conservação e


restauro. 3. Preservação digital. 4. Memória e patrimônio. I. Título.
CDU – 025.85

Elaborado por Hugo Carlos Cavalcanti | CRB-4 2129


Sumário
Introdução .............................................................................................................................................. 6

1.Competência 01 | Conhecer Princípios Deontológicos de Intervenção, Conservação e Restauração


de Bens Culturais .................................................................................................................................... 7

1.1 Passos essenciais para Preservação e Conservação do Acervo ............................................................... 13

1.2 Uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI) ............................................................................... 15

2.Competência 02 | Aplicar Procedimentos de Restauro e Conservação Preventiva em Documentos


.............................................................................................................................................................. 18

2.1 Agentes que danificam os documentos ................................................................................................... 19

2.1.1 Agentes ambientais............................................................................................................................... 19

2.1.2 Agentes biológicos ................................................................................................................................ 20

2.1.3 Agentes químicos .................................................................................................................................. 23

2.1.4 Agente humano..................................................................................................................................... 23

2.2 Pequenos reparos .................................................................................................................................... 24

2.2.1 Materiais geralmente utilizados para pequenos reparos ..................................................................... 25

2.2.2 Ações possíveis para pequenos reparos ............................................................................................... 27

3.Competência 03 | Gerenciar Coleções sob um Plano Institucional de Conservação e de Preservação


.............................................................................................................................................................. 29

3.1 Modelos para a construção de um diagnóstico ....................................................................................... 31

3.2 Possíveis ações de manutenção ............................................................................................................... 34

3.3 Orientações para a Política de Preservação e Conservação .................................................................... 36

4.Competência 04 | Planejar Ações de Salvamento e Emergência de Acervos numa Unidade de


Informação ........................................................................................................................................... 38

4.1 Desenvolver um plano de salvaguarda e emergência ............................................................................. 38

4.2 Avaliação de riscos ................................................................................................................................... 39

4.3 Aspectos do Plano de Salvaguarda e Emergência.................................................................................... 41


4.4 Estratégias para ataque de agentes biológicos........................................................................................ 43

4.5 Tratamento de riscos à saúde e ao meio ambiente ................................................................................. 43

4.6 Requisitos para implementação do Plano de Gerenciamento de Riscos: Salvaguarda e Emergência .... 44

4.7 Critérios para identificação de acervos e peças prioritárias para ações de tratamento de riscos, em
especial nas emergências............................................................................................................................... 45

5.Competência 05 | Conhecer Políticas e Estratégias para a Preservação Digital de Acervos ............ 47

5.1 Estratégias de Preservação Digital ........................................................................................................... 49

Conclusão ............................................................................................................................................. 53

Referências ........................................................................................................................................... 54

Minicurrículo do Professor ................................................................................................................... 56

Isabelle C. C. Domingos dos Santos................................................................................................................ 56

David Oliveira de Carvalho ............................................................................................................................. 56


Introdução
Querido(a) estudante do Curso Técnico em Biblioteconomia seja bem-vindo(a) a mais
uma etapa importante nesta jornada profissional.
Antes de tudo, queremos lhe parabenizar por ter chegado até aqui. Isso mostra o quanto
você é fera! Parabéns! Agora se inicia uma nova etapa para a formação e construção do(a) Profissional
da Informação que cada um(a) de você está se tornando. Nesta nova disciplina você terá contato com
o universo instigante, estimulante e deslumbrante da Preservação de Documentos.
Você verá como é interessante o trato adequado para com os documentos, sobretudo os
suportes físicos. Aprenderá também sobre os documentos digitais, planejamento, gestão e
conservação. Isso não é incrível?!
Dentre algumas coisas que você verá estão: Agentes de degradação do suporte papel;
Conservação, Restauração e Preservação (as diferenças dentre os três e as suas peculiaridades);
Política institucional; Acondicionamento adequado de documentos físicos; Plano de emergência da
biblioteca ou unidade de informação; Diagnóstico de ambiente, compreendendo aspectos físicos,
arquitetônicos e mais especialidades, além de muito mais conteúdo fundamental na sua formação
técnica.
A expectativa é que você encare esta disciplina com muita satisfação, divertimento e
competência. Um(a) excelente profissional da informação é aquele(a) que compreende bem o seu
campo de atuação e promove, com excelência, soluções para os seus usuários, para os suportes com
que trabalha, para a unidade de informação e, consequentemente, para uma sociedade mais bem
informada e igualitária. Vamos lá, então!
Bons estudos a todos (as)!

6
Competência 01

1.Competência 01 | Conhecer Princípios Deontológicos de Intervenção,


Conservação e Restauração de Bens Culturais
Todo início, seja ele qual for, é marcado por estruturas basilares. Por exemplo, uma longa
jornada é iniciada com o primeiro passo; a subida de uma longa escada começa no primeiro degrau;
a evolução de uma árvore centenária se inicia com a plantação de uma minúscula semente; e a
construção de um imenso prédio segue tijolo por tijolo. (Eita! Isso foi quase uma “filosofada” :D).
No mundo acadêmico (o mundo dos estudos) não é diferente. Precisamos caminhar na
direção certa, mesmo que a velocidade não seja imensamente rápida. Assim, a nossa jornada sobre
Preservação de Documentos começa com uma breve reflexão sobre a postura profissional do(a)
Técnico(a) em Biblioteconomia e a ética que envolve este universo. E logo depois iniciaremos o
conteúdo específico acerca dos princípios aplicados ao assunto de Preservação, Conservação e
Restauração. Vamos nessa!
Certamente você já teve contato com o termo “ética” (ou não?). Você já dialogou sobre
isso em casa, na escola, na faculdade ou com amigos? Bem, a ética é fundamental, não só na vida
profissional, mas na vida como um todo. Vamos dar uma olhada nisso e em algumas outras questões
que são básicas para a boa construção profissional – e pessoal.
Você já deve ter refletido nas coisas e situações que caracterizamos/classificamos no dia
a dia como “certo ou errado”, “bem ou mal”. É quase impossível que alguém não consiga, em um
momento específico ou cultura específica, determinar algo que não seja “errado” ou que seja “bom”.
Isso está relacionado diretamente com o que é “ética”.
Figueiredo (2008, p. 4) diz que “a ética pode ser entendida como a ciência da reta
ordenação dos atos humanos desde os últimos princípios da razão”. Isso significa tratar de uma
ciência prática, dos atos práticos.
Ela “é a razão da filosofia da prática. É a forma que configura a matéria (atos
humanos). Por isso, é importante saber que a ética não se ocupa do irracional, como
sugerem algumas interpretações, senão do racional prático, intentando saber o
específico da moral em sua razão filosófica” (CUBELLES, 2002).
Ou seja, é o motivo da escolha de um determinado posicionamento e a sua tomada de
decisão, por exemplo: não haver lixeiro por perto e escolher jogar o lixo no chão da rua ao invés de
guarda-lo para quando encontrar uma lixeira, ou mesmo não respeitar alguém por ser extremamente

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Competência 01

diferente de você, mesmo sabendo que RESPEITO NÃO É OPÇÃO, MAS SIM UMA OBRIGAÇÃO
SOCIAL.
“A ética estuda as relações entre o indivíduo e o contexto em que está situado. Ou
seja, entre o que é individualizado e o mundo a sua volta [mundo moral]. Procura
enunciar e explicar as regras [sobre as quais se fundamenta a ação humana ou razão
pela qual se deve fazer algo], normas, leis e princípios que regem os fenômenos
éticos. São fenômenos éticos todos os acontecimentos que ocorrem nas relações
entre o indivíduo e o seu contexto”. (KORTE, 1999).
Quando falamos em Ética em Biblioteconomia, estamos aplicando a ética ao universo
biblioteconômico, portanto. Isso inclui todas as atividades do(a) Técnico(a) ou do(a) Bibliotecário(a):
políticas institucionais, acesso, disseminação da informação, metodologias, tratamento documental,
etc.
A ética pode ser estudada sob dois aspectos: Axiológico e Deontológico. O Axiológico
dedica-se aos valores que movem o ser humano nas suas ações e comportamento, por exemplo, os
valores de igualdade e liberdade. Já o Deontológico destina-se às regras que orientam as ações e
comportamentos do ser humano, por exemplo, o “CÓDIGO DE ÉTICA E DEONTOLOGIA DO
BIBLIOTECÁRIO BRASILEIRO”, aprovado em sete de novembro de 2018 pelo Conselho Federal de
Biblioteconomia, que tem por objetivo fixar as normas orientadoras de conduta no exercício das
atividades profissionais.

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Competência 01

Para consultar o CÓDIGO DE ÉTICA E DEONTOLOGIA DO BIBLIOTECÁRIO


BRASILEIRO na íntegra, acesso o link abaixo.
http://www.cfb.org.br/wp-content/uploads/2018/11/Resolu%C3%A7%C3%A3o-207-
C%C3%B3digo-de-%C3%89tica-e-Deontologia-do-CFB-1.pdf

Figura 1 – Código de Ética e Deontologia do Bibliotecário Brasileiro, Conselhor Federal de


Biblioteconomia, 2018.
Fonte: os autores, 2019.
Descrição: Imagem em cor sólida com as informações: Código de Ética, Conselho Federal de
Biblioteconomia, CFB.

Quando aplicamos os conceitos, as referências, os entendimentos, da deontologia para


lidar com as atividades de intervenção e conservação de bens culturais, em especial aos materiais
que estamos aprendendo a lidar como Técnicos(as) em Biblioteconomia, falamos de AGIR COM ÉTICA
PROFISSIONAL, sob orientação de regras a serem obedecidas, respeitadas.
Os livros, periódicos, fotografias, correspondências, bases de dados, dentre outros,
precisam ser geridos e manuseados com responsabilidade e adequação aos padrões éticos
estabelecidos por meio de documento, resolução, lei, código, etc. É necessário compreender que na
maioria das vezes existem códigos específicos com direcionamentos específicos, seja numa
determinada profissão ou instituição. Fique atento(a) para lidar com acervos documentais de forma
cuidadosa e respeitosa, pois eles são o Patrimônio Cultural, elementos importantes na construção
do conhecimento social e sua identidade.

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Competência 01

Figura 2 – Bandeira e Constituição Federal do Brasil (1988).


Fonte: os autores, 2019.
Descrição: Metade da Bandeira do Brasil em cores sólidas: verde, amarelo e azul, sem estrelas e
arco central branco.

Segundo a Constituição Federal do Brasil (1988) Patrimônio Cultural pode ser


entendido como:
Os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em
conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos
diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I. as formas de expressão;
II. os modos de criar, fazer e viver;
III. as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV. as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às
manifestações artístico-culturais;
V. os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

Sabendo que em geral as coisas materiais se acabam com o tempo, pois é natural que
tudo tenha um prazo de vida, o grande desafio do(a) Técnico(a) em Biblioteconomia é auxiliar o(a)
Bibliotecário(a) a minimizar os danos causados pelo tempo. Assim, intervindo de forma necessária e
pontual naquilo que precisa, seguindo a estrutura deontológica para com a atividade.
Importa saber que a “missão” não é impedir que os materiais se acabem, pois isso pode
ser inevitável – e provavelmente seja –, mas sim promover alternativas que prolonguem a vida útil
deles enquanto possível.
Para você acionar os métodos, técnicas ou procedimentos que lhe guiarão no auxílio ao
Profissional em Biblioteconomia ou mesmo lhe conduzirão para executar alguma ação de preservação
ou conservação (quando for o caso, devidamente orientado (a)), você precisa conhecer tudo que
envolve este cenário.
Conheça tudo o que for possível. Por exemplo:
• Acervo geral (assuntos e divisões espaciais);
• Suportes que compõem o acervo (físicos e digitais, como computadores, tablets, e-

10
Competência 01

readers, livros e periódicos em papéis, mapas em materiais plásticos, etc.);


• Método de classificação vigente;
• Software adotado na instituição, layout, possibilidades de interação com o usuário;
• Estrutura hierárquica de funções e cargos da instituição;
• Documentos que funcionem como políticas internas, regras, padrões, normas, etc.
• Coleções existentes e Política de Desenvolvimento de Coleções (e informações possíveis
acerca das compras, preços e prazos);
• História da instituição e da Unidade de Informação (quando a unidade for vinculada a uma
estrutura maior);
• Materiais disponíveis para lidar com a conservação e a restauração de documentos (se
são materiais adequados ou são alternativos).
• Dentre outras questões necessárias.
Conhecer a unidade/instituição em que trabalham, as suas demandas, e todos os fatores
que a cercam lhe fornecerá subsídios informacionais necessários para saber o que - como e quando -
fazer, identificar lacunas, promover soluções alternativas e construir ações assertivas.
Além disso, é igualmente necessário saber alguns conceitos básicos para compreender
melhor as ações possíveis e o campo como um todo. Para isso, vamos utilizar o material da autora
Norma Cianflone Cassares que publicou em 2000, pelo Arquivo Estadual e Imprensa Oficial do Estado
de São Paulo, o livro intitulado “COMO FAZER CONSERVAÇÃO PREVENTIVA EM ARQUIVOS E
BIBLIOTECAS”.
Cassares (2000, p. 12) define os três conceitos básicos da área da seguinte forma:

PRESERVAÇÃO É um conjunto de medidas e estratégias de ordem administrativa, política e


operacional que contribuem direta ou indiretamente para a preservação da
integridade dos materiais.

CONSERVAÇÃO É um conjunto de ações estabilizadoras que visam desacelerar o processo de


degradação de documentos ou objetos, por meio de controle ambiental e de
tratamentos específicos (higienização, reparos e acondicionamento).

RESTAURAÇÃO É um conjunto de medidas que objetivam a estabilização ou a reversão de danos


físicos ou químicos adquiridos pelo documento ao longo do tempo e do uso,
intervindo de modo a não comprometer sua integridade e seu caráter histórico.

Quadro 1 – Definições de Preservação, Conservação e Restauração.


Fonte: Cassares (2000, p. 12).

11
Competência 01

Estes conceitos estão no livro “Como fazer conservação preventiva em


arquivos e bibliotecas” (2000) de Norma Cassares.
Aprenda mais acessando o texto completo.
Busque por meio do link disponibilizado pela Associação de Arquivistas
de São Paulo:
http://www.arqsp.org.br/arquivos/oficinas_colecao_como_fazer/cf5.p
df

Lembre-se que você não precisa decorar os conceitos, mas sim entendê-
los. O que lhe guiará na atividade efetiva como Técnico em
Biblioteconomia não serão as definições, conceitos ou textos decorados,
mas sim o conhecimento gerado a partir do estudo deles. Por isso
aprenda e não decore!

Depois de ter contato com os conceitos básicos, podemos entender que a PRESERVAÇÃO
é um conjunto de diretrizes que auxiliará a administração, seja em forma de lei, regra, política
institucional ou outro. A preservação é uma articulação para com a vida útil dos documentos. Muitas
instituições, infelizmente, não criam as suas diretrizes e acabam adotando regras gerais, por exemplo,
Políticas da Biblioteca Nacional (BN) ou Resoluções do Conselho Nacional de Arquivos (Conarq) que,
embora sejam importantes referências, não abrangem as características únicas de cada lugar, cada
unidade de informação, cada biblioteca “espalhada” pelo país.
A importância em criar políticas (documentos com regras específicas para ações e
necessidades especiais) está na peculiaridade de cada unidade de informação/biblioteca. Perceba
que uma Biblioteca de (ou ligada a) uma universidade funcionará de modo diferente de uma
Biblioteca de (ou ligada a) um Museu ou Centro de Documentação. Em uma o usuário provavelmente
utilizará os itens do acervo (e tomará emprestado) até que eles se acabem naturalmente com este
uso, ao passo que na outra o empréstimo pode ser restrito ao local e com instrumentos especiais
para o manuseio, pois há uma preocupação maior com a vida útil destes itens. Por isso é importante
conhecer o local onde trabalha e as suas variáveis, para lidar de forma adequada com o acervo e com
os usuários.

12
Competência 01

A CONSERVAÇÃO leva em consideração a PRESERVAÇÃO (todas as regras estabelecidas


ou adotadas) e promove ações básicas, mínimas, especiais e/ou alternativas, que auxiliam na vida útil
dos documentos (seja em qualquer suporte), evitando, assim, que eles se acabem na velocidade
natural ou acelerada. A Conservação, portanto, é um conjunto de ações assistenciais: higienização de
documentos, invólucros ou estantes; criação de caixas e semelhantes para acondicionar bem os
documentos; pequenos reparos que não interfiram muito na estrutura.
A RESTAURAÇÃO é um passo mais avançado do que a Conservação, pois ela lida com
estruturas documentais já danificadas e que necessitam de intervenção profunda. A Restauração não
pode ser executada por qualquer pessoa, mesmo que esta seja Técnico(a) ou Bacharel(a) em
Biblioteconomia. Acredite, não é só um título que qualifica alguém para executar alguma atividade
com excelência. Utilizar procedimentos secos ou aquosos requer muito mais que títulos, requer
conhecimento, delicadeza e experiência. Por isso a nossa função é mais concentrada em ajudar o(a)
Restaurador(a) do que necessariamente restaurar.
A Restauração visa reconstruir características originais de um determinado Bem Cultural
para que este possa “continuar vivendo” e cumprindo a sua função social.

Você já parou para pensar no porquê de aprender sobre esse assunto?


Se sim, aí vai a resposta: um(a) bom(a) profissional da informação é
aquele(a) munido(a) de conhecimentos basilares da sua área e
potencialmente articulado(a) para ações e reflexões complexas. Com isso,
sabe organizar bem um acervo, preserva-lo, conserva-lo e, se possível e
necessário, tem conhecimentos básicos para restaura-lo sem
comprometer a sua integridade.

1.1 Passos essenciais para Preservação e Conservação do Acervo

Conhecer aspectos fundamentais para o planejamento e execução das atividades de


preservação faz perceber que mesmo a preservação funcionando como direcionadora para a
conservação, ela precisa ser estruturada de forma consistente e absolutamente lógica. Parece bem
óbvio, mas é isso mesmo!
A curiosidade é ponto de partida para investigar o ambiente, o acervo, o perfil dos
usuários, a frequência de acesso, os formatos, os softwares, a estrutura física, a história do local, etc.,

13
Competência 01

e influencia absolutamente no desenvolvimento de Políticas de Preservação e Conservação. Por isso


é preciso levantar dados/informações, compondo os passos essenciais para a preservação, e um bom
começo para isso é o Diagnóstico Geral do Acervo.

1) Diagnóstico Geral do Acervo: representa o passo inicial para o processo de construção das políticas
de preservação e também para a conservação. Ele deve ser estruturado com a finalidade de extrair o
máximo possível de informações e características gerais, como o próprio nome indica, para auxiliar a
compor as normas, processos, procedimentos, plano de emergência, (re)ordenação do espaço, etc.

2) Estrutura Básica Direcional: assim como o Diagnóstico Geral do Acervo, este é um passo
igualmente importante, pois, após o conhecimento aprofundado do acervo, dedica-se a coletar
informações de instituições e materiais bibliográficos de referência adequados à realidade da
estrutura e do acervo para funcionar como direcionador. É importante compreender que não há uma
estrutura única que se tome como verdadeira ou absoluta. O mais importante é conseguir cumprir a
missão de preservar e conservar, e isso pode variar de instituição para instituição ou de local
geográfico para outro. Por exemplo, uma Biblioteca de estrutura metálica próximo ao litoral onde a
salinidade é bem maior pode estabelecer diretrizes diferentes de uma Biblioteca em estrutura de
concreto dentro de uma universidade no interior.

Para a Estrutura Básica Direcional, alguns exemplos são:


a) “Plano de gerenciamento de riscos: salvaguarda & emergência” da Biblioteca Nacional (BN);
b) Artigos e estudos de caso publicados em revistas e eventos científicos;
c) “Resoluções” do Conselho Nacional de Arquivos (Conarq), quando couber, haja vista que o Conarq
lida diretamente com documentos de arquivo e suas variáveis;
d) A “Política de Acervo: manual de gerenciamento e uso”, da Fundação Joaquim Nabuco (FJN);
e) Normas e conceitos da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT);
f) Dentre outros.
Figura 3 – Figura geométrica com exemplos para a Estrutura Básica Direcional.
Fonte: os autores, 2019.
Descrição: Forma geométrica retangular em cor sólida azul com seta apontando para o conteúdo acima.

3) Elaboração de políticas: construir uma comissão de profissionais competentes para criação


e documentação das políticas, regras, normas adotadas.

14
Competência 01

4) Promoção de treinamento: informar, treinar, potencializar todos(as) os(as) profissionais


que lidam com os documentos acerca dos padrões adotados de tratamento e uso para
orientar a prática. Importa que todos(as) os(as) profissionais da unidade sejam
alcançados(as), mesmo aqueles(as) que não farão ações de conservação ou restauração, pois
o uso cotidiano do espaço e dos materiais de forma inadequada pode comprometer a vida
útil dos documentos do acervo.

5) Desenvolvimento de rotinas: construir rotinas é a certeza de construção de uma zona de


segurança para com as atividades de conservação. A rotina orienta o espaço e o tempo. E é
um fator de sucesso quando se tem uma equipe empenhada e comprometida.

6) Criação de Setor Especial: por se tratar de documentos especiais que necessitam de


tratamentos especiais, a criação de um espaço dedicado às atividades de conservação e
restauração se torna necessário. A higienização, por exemplo, lida com micro-organismos que
precisam ser eliminados ou neutralizados. Se houver contato com outros documentos,
poderá contamina-los. Por isso é interessante isolar a ação. Depois de tratar os documentos,
eles voltam para o acervo.

1.2 Uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI)

Além de promover melhor e maior condição para o tratamento adequado para com os
documentos, o risco de contrair doenças por fungos e bactérias é outro grande fator para justificar a
necessidade de utilizar Equipamentos de Proteção Individual (EPI).
Geralmente se utilizam os EPIs apenas no trato com documentos especiais, em situações
que podem promover riscos à saúde do profissional, ou riscos à estrutura do suporte. Por isso não é
comum utilizar em acervos circulantes (acervos passíveis de empréstimo e contato contínuo com os
usuários).

15
Competência 01

E isso acaba se tornando um direcionamento: se você manusear um


documento e isso promove riscos a ele ou a você, utilize os EPIs. É bem
claro e óbvio, não é mesmo?

Os EPIs são:

ÓCULOS DE PROTEÇÃO Os óculos promovem segurança à região dos olhos


e por isso precisam ter a qualidade comprovada.
Algumas situações que eles evitam são: irritação,
conjuntivite e alergias. É importante que ele
Figura 4 – Óculos de proteção apenas proteja sem alterar a cor ou grau de visão,
Fonte: www.prometalepis.com.br e por isso necessariamente devem ser
Descrição imagem: óculos de segurança constituído de um transparentes e com fechamento nas laterais.
arco de material plástico preto com visor transparente de
policarbonato.

MÁSCARAS DESCARTÁVEIS As máscaras, descartáveis, não têm


necessariamente que proteger todo o rosto. Elas
precisam proteger a região nasal, o canal
respiratório. Podem ser de modelos diferentes de
acordo com a gravidade da situação do material
Figura 5 – Mascara descartável trabalhado. Devem ser trocadas frequentemente,
Fonte: www.arican.com.br/
seja a cada atividade, cada dia ou sempre que
Descrição imagem: máscara descartável dupla, na cor
branca, com clips nasal e elástico com material de
houver necessidade. Os modelos são variados.
polipropileno.

TOUCAS DESCARTÁVEIS As toucas são feitas de polipropileno, material


leve, com resistência e ventilação. Oferecem
maior conforto, melhor ajuste, apresentam
elástico especial em todo o perímetro da touca.
Servem para proteger a cabeça contra partículas
suspensas no ar. O cabelo exposto absorve essas
Figura 6 – Touca descartável partículas que causam sérios danos à saúde do
Fonte: www.higistore.com.br/
couro cabeludo, causando irritações e
Descrição imagem: touca descartável branca com elástico
nas laterais.
descamações.
AVENTAL OU JALECO
Além dos tradicionais de tecido 100% algodão,
existem produtos leves e confortáveis que são
confeccionados em polipropileno. Os jalecos
devem, preferencialmente, cobrir completamente
as vestimentas, ou seja, serem fechados nas
Figura 7 – Jaleco costas, compridos e terem mangas longas,
Fonte: www.magazineluiza.com.br/ protegendo o profissional contra dermatites e
Descrição imagem: jaleco manga longa em tecido poliéster. alergias.

16
Competência 01

LUVAS Geralmente as luvas de látex para procedimentos


não-cirúrgicos. Funcionam na proteção contra
micro-organismos que podem provocar danos à
pele. O uso das luvas requer atenção, pois a
proteção deve atender ao profissional, assim
como aos demais materiais. Ao utilizar a luva, não
Figura 8 – Luvas se deve tocar nos olhos ou outros itens do acervo,
Fonte: www.epibrasil.com.br por exemplo. Lembrar sempre que são
Descrição Imagem: Luva de proteção de látex. descartáveis, e por isso não se deve reaproveitar.

Quadro 2 – Equipamentos de Proteção Individual – EPIs.


Fonte: Oliveira (2017).
Descrição: Forma geométrica retangular em cor sólida azul

Mesmo que você sempre utilize os EPIs, deve ter atenção para manter o local de trabalho
sempre higienizado, lavar as mãos, braços e rosto, utilizando álcool também para limpar
equipamentos que possam ter sido contaminados com os micro-organismos (como mesa, espátulas,
óculos, etc.).
Agora nos vemos na próxima Competência. Até lá!

17
Competência 02

2.Competência 02 | Aplicar Procedimentos de Restauro e Conservação


Preventiva em Documentos
Agora veremos algumas informações importantes para compreender melhor como
ocorre a deterioração dos materiais e como o(a) profissional da informação precisa lidar com estes
fatores.
Você bem sabe, mas vale lembrar que as bibliotecas mais tradicionais são constituídas,
em sua maioria, de suportes em papel, geralmente livros, periódicos (revistas, jornais), plantas
arquitetônicas, mapas e outros semelhantes. Sabendo que o papel é um material muito frágil, é fácil
compreender que ele sempre está sujeito ao processo de desgaste. E esse desgaste pode ocorrer por
inúmeros fatores.

Imagine um cenário em que você recebe a notícia de que a unidade


em que trabalham (seja Biblioteca, Centro de Documentação,
Arquivo, Escritório, etc.) está com um grave caso de degradação de
documentos importantes. Qual tipo de situação você imagina ter
acontecido? O que imediatamente vêm à sua imaginação?
São muitas possiblidades, não é mesmo? Além do mais pode ter sido
por causa de insetos, infiltração, incêndio, ou outra situação
diferente. Veja que são inúmeras as infelizes possibilidades.

Os papéis são constituídos por celulose, o que representa uma estrutura vulnerável
inclusive até no contato com a água, que rompe as fibras facilmente. A questão da acidez também
representa uma grande preocupação, pois quando é fabricado muitas vezes o papel recebe ácido em
sua composição, o que pode acelerar a degradação e também pode passar a acidez para outro papel
que esteja em contato.

Uma curiosidade: você sabia que geralmente os papéis mais brancos


têm maior índice de ácidos em sua composição? E é justamente por isso
que são tão brancos. Perceba que quanto menos ácido o papel, mais
alcalino será, o que representa maior qualidade. Interessante, não é?
Tudo bem, talvez nem tão interessante assim...  ☺

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Competência 02

Antes de partirmos para o assunto de degradação dos suportes em papel, se você tiver
curiosidade de conhecer como é feita a fabricação deles, basta acessar os links abaixo. É bem legal e
interessante saber sobre isso também.

Como é feito o papel -


https://www.youtube.com/watch?v=lw_ehZJvLMg
Como é fabricado o papel -
https://www.youtube.com/watch?v=rFqpki-sScM

2.1 Agentes que danificam os documentos

Veremos a partir de então alguns dos possíveis fatores que podem provocar danos
estruturais aos documentos. A nossa expectativa é você aprecie bastante estas informações, pois são
essenciais na formação profissional de cada indivíduo.

2.1.1 Agentes ambientais

Segundo a autora Norma Cassares (2000, p. 14-16), é possível identificar algumas


incidências por agentes ambientais. São elas:
• Temperatura e umidade relativa: estes fatores provocam interferências diretas ao papel.
Mesmo que haja uma excelente conservação dos documentos, o tempo não poupará a
sua estrutura e certamente se acabará. A temperatura provoca o ressecamento do papel
e separação das fibras; já a umidade relativa alta representa um cenário propício para as
colônias de micro-organismos, sobretudo fungos.

A modificação constante de temperatura é mais prejudicial do que


se estiver em temperatura constante.

19
Competência 02

• Radiação da luz: mesmo que não pareça, a incidência de luz é um dos mais graves fatores
de aceleração da degradação dos documentos, ainda mais para o papel. Seja luz natural
ou artificial, sempre haverá radiação que provoque dano aos documentos. A radiação
mais nociva é a Ultravioleta (UV), encontrada no Sol e também em fontes de luzes
artificias.

• Qualidade do ar: este é um fator essencial em um Programa ou Política de Preservação e


Conservação, pois os poluentes contribuem negativamente na degradação dos
documentos.
“Há dois tipos de poluentes – os gases e as partículas sólidas – que podem ter duas
origens: os que vêm do ambiente externo e os gerados no próprio ambiente. Agentes
poluentes podem ter origem no próprio ambiente do acervo, como no caso de
aplicação de vernizes, madeiras, adesivos, tintas etc., que podem liberar gases
prejudiciais à conservação de todos os materiais”. (CASSARES, 2000, p. 16).
No geral, considerando um cenário de obras raras ou especiais, a estrutura ideal é
basicamente um local seco, escuro e frio. Considera-se adequado para um acervo: temperatura em
aproximadamente 20°C, umidade relativa de 45% a 55%, e janelas e outras aberturas com bloqueios
de luz e radiação (cortinas, persianas, filtros anti-UV) para que o panorama seja de pouca luz.

A intensidade da luz é medida através de um aparelho denominado


LUXÍMETRO.

2.1.2 Agentes biológicos

Estes agentes biológicos podem surgir em qualquer ambiente que não promova a
proteção adequada. Geralmente são ocasionados por falta de uma política de conservação e sua
aplicação. Por isso é muito importante a participação cotidiana de todos(as) os(as) funcionários(as)
da unidade. Baseando-se em Cassares (2000), destacam-se:

20
Competência 02

Figura 9 – Imagens de insetos.


Fonte: Spinelli; Brandão; França (2011).
Descrição Imagens: Vários insetos, todos possuem três pares de patas e que tipicamente dispõem de dois pares de
asas, um par de antenas e um par de olhos compostos.

• Fungos: os fungos, que são formados em colônias e se proliferam de forma rápida e


intensa, acham na temperatura e na umidade relativa do ar as condições ideais para se
alastrar, encontrando nos materiais “alimentos” que auxiliam seu crescimento: os papéis,
as colas geralmente utilizadas na encadernação, as capas de couro, as pigmentações,
dentre outros materiais. Os fungos se alimentam fragilizando os suportes e provocando
manchas muitas vezes difíceis de remover.
• Roedores: infestações de ratos e camundongos, além de outros, podem ser encontrados
ocasionados pelas mesmas razões descritas acerca dos fungos. Além disso, são atraídos
por restos de alimentos consumidos próximos ao acervo ou mesmo dentro do espaço.
Embora pareça fácil o uso de armadilhas, recomenda-se não matar os roedores dentro da
unidade, acionando (preferencialmente) um(a) especialista em zoonose.
• Ataques de insetos: os ataques podem ser provocados quando trazidos de ambiente
externo (isso ocorre muito quando novos itens são doados ao acervo), ou mesmo
surgindo em ambiente interno (geralmente pela falta de cuidado com limpeza,
alimentação, controle de temperatura e umidade relativa do ar). Os mais comuns são:
baratas, brocas (Anobídios) e cupins, além dos demais listados anteriormente.

21
Competência 02

Figura 10 – Documentos degradados por roedores.


Fonte: Spinelli; Brandão; França (2011).
Descrição: Três livros com dobradiças degradados por roedores

Certamente não se espera que você, estudante técnico(a) em Biblioteconomia, saiba tudo
sobre o assunto conhecendo cada um destes agentes a fundo. O que se espera é que saiba, mais ou
menos, os possíveis panoramas de problemas e, caso haja uma necessidade específica, possa estudar
mais detalhadamente cada um deles em materiais auxiliares.

Algumas observações importantes


destacadas pela autora Norma Cassares (2000, p. 18):

• O uso de fungicidas não é recomendado; os danos causados


superam em muito a eficiência dos produtos sobre os documentos.
• Caso se detecte situação de infestação, chamar profissionais
especializados em conservação de acervos.
• Não limpar o ambiente com água, pois esta, ao secar, eleva a
umidade relativa do ar, favorecendo a proliferação de colônias de
fungos.
• Na higienização do ambiente, é recomendado o uso de
aspirador.
• Usar proteção pessoal: luvas de látex, máscaras, aventais, toucas
e óculos de proteção (nos casos de sensibilidade alérgica).
• Luvas, toucas e máscaras devem ser descartáveis.

22
Competência 02

2.1.3 Agentes químicos

Alguns agentes químicos também são responsáveis pelo processo de degradação dos
documentos, em especial o papel. São alguns deles: Acidez, pois o papel de uso comercial contém
altos níveis de ácidos, geralmente utilizados na fabricação para o branqueamento da celulose;
Poluição atmosférica, que são altamente ácidos e podem alterar o pH do documento em papel,
sobretudo em locais próximos a carros e avenidas e outras fontes de gases; e Tintas, pois são
fabricadas com elementos químicos que podem provocar a aceleração do desgaste do papel, a
exemplo da tinta ferrogálica que foi muito utilizada desde a Idade Média.

2.1.4 Agente humano

Embora possa parecer que os demais agentes provoquem imenso risco ao acervo, as
questões que envolvem seres humanos podem ser classificadas como as mais agressivas.
Vejamos juntos: imagine que um livro esteja sujeito a condições inadequadas de luz,
umidade relativa do ar, temperatura, e ainda esteja num ambiente próximo a alimentação e gases,
este documento certamente será degradado rapidamente com o passar do tempo. Agora imagine
que outro livro similar seja manuseado de forma desleixada por algum humano, sujeito ao contato
direto com alimentos, rasgos, furto ou mesmo descarte equivocado, isso certamente provocará a
eliminação imediata do documento ou mesmo a sua degradação bem mais acelerada do que
comparada aos demais agentes. Por isso parece que o agente humano é o mais nocivo aos
documentos.

A segurança é um caminho necessário para combater os agentes humanos. Proteção


tanto no aspecto micro – visando os documentos –, quanto no aspecto macro – que compreende o
espaço físico geral, o prédio, a arquitetura.

Com relação à segurança macro, para combater ou minimizar roubo e vandalismo, é


preferível optar por esquema de segurança com câmeras, alarmes, travas e demais alternativas

23
Competência 02

possíveis e necessárias. Já com relação à segurança no aspecto da unidade do documento aplicam-


se cuidados1 como:
• Manusear os volumes e os documentos com cuidado, limpar e secar as mãos antes e após
o manuseio;
• Não fazer nenhum tipo de anotação nas folhas dos documentos;
• Evitar fazer qualquer tipo de dobras nos cantos das páginas dos documentos com a
intenção de marcá-las para leitura. Para tal, utilizar um marcador de papel;
• Não utilizar nenhum material metálico nos livros ou documentos;
• Não molhar as pontas dos dedos ao manusear os documentos;
• Não utilizar fitas adesivas, tipo durex, nos livros ou documentos;
• Não manter as prateleiras de uma estante muito compactada. Certa folga entre os objetos
é aconselhável;
• As estantes em uma área de guarda de acervos devem estar longe da incidência de raios
solares;
• Ao retirar os volumes das estantes, segurá-los pela lombada;
• Não expor ao sol volumes ou documentos que tenham sido atingidos por água;
• Não fazer refeições dentro de áreas de guarda de volumes e documentos.

2.2 Pequenos reparos

São considerados pequenos reparos algumas pequenas ações que são desenvolvidas para
evitar maiores danos aos documentos. Como a lógica nos propõe, os pequenos reparos são feitos em
documentos que foram, de alguma forma, atingidos por algum dos agentes potenciais, conforme
vimos anteriormente.
É importante lembrar que Bacharéis(las) e Técnicos(as) em Biblioteconomia não estudam
a fundo as técnicas de conservação e restauração, assim, as atividades que necessitarem de

1
Lista de cuidados com informações coletadas do Manual Técnico de preservação e conservação: documentos
extrajudiciais CNJ – Ministério da Justiça, Arquivo Nacional e Ministério da Cultura, Fundação Biblioteca Nacional
(SPINELLI; BRANDÃO; FRANÇA, 2011, p. 30-31).

24
Competência 02

intervenção nos documentos devem ser destinadas a profissionais altamente capacitados, ainda mais
quando se trata de obras raras ou coleções especiais, pois são de valor permanente.

2.2.1 Materiais geralmente utilizados para pequenos reparos

Geralmente os materiais utilizados em unidades de informação para pequenos reparos


atendem às demandas de documentos de valor permanente. Por isso se faz necessário a aquisição
de materiais de boa qualidade e confiabilidade, o que representa diretamente um alto investimento,
já que os materiais para esse fim não são tão baratos. Inclusive, muitos destes materiais não são
encontrados com facilidade, sendo muitas vezes necessário fazer a importação dos produtos de
outros estados ou até países.
Quando se trata de um acervo circulante, onde têm aqueles documentos que estão
sempre sendo emprestados, que ainda são amplamente comercializados, como de uma biblioteca
universitária, por exemplo, há a opção de utilizar materiais menos caros e menos específicos, já que
os documentos estão na configuração de grande manuseio e mais acelerada degradação.

Por exemplo, imagine um livro de literatura que acabou de ser


lançado, ele foi comprado pela biblioteca, foi preparado no
processamento técnico e acabou de ser emprestado. Se o livro for
devolvido com um pequeno rasgo, não será necessário utilizar
materiais caros nessa restauração, mas se ocorrer um pequeno rasgo
numa obra da Coleção Rara, aí sim se torna lógica a utilização de
materiais adequados de restauração.

Perceberam a diferença entre o que é regra e o que realmente


acontece no dia a dia das bibliotecas? Isso acontece porque
geralmente as instituições não têm a cultura de dispor de grande
orçamento para compra de materiais de restauração. Daí é
importante ser criativo e eficiente, e ainda ajudar os documentos a
terem vida útil.

25
Competência 02

Segundo Norma Cassares (2000, p. 34) “basicamente, os materiais usados para execução
de pequenos reparos em documentos de biblioteca e de arquivo se resumem a adesivos e papéis
especiais”. Isso porque para procedimentos mais complexos talvez sejam necessários materiais que
só podem ser utilizados por especialista, como é o caso de procedimentos aquosos (procedimentos
que utilizam água deionizada).

Figura 11 – Profissional da informação realizando ações de pequenos reparos em livro degradado.


Fonte: Spinelli; Brandão; França (2011).
Descrição: foto de uma mulher com camiseta cinza, cabelos longos lisos castanhos presos, usando luvas e segurando
lupa, fazendo reparo na folha de um livro.

Os procedimentos e técnicas para a realização de reparos em documentos exigem os


seguintes instrumentos (CASSARES, 2000, p. 34-35):
• mesa de trabalho;
• pinça;
• papel mata-borrão; entretela sem cola;
• placa de vidro;
• peso de mármore;
• espátula de metal;
• espátula de osso;
• pincel chato;
• pincel fino;
• filme de poliéster.

26
Competência 02

2.2.2 Ações possíveis para pequenos reparos

Apresentam-se no Quadro 3 algumas ações possíveis para pequenos reparos:

TÉCNICA AÇÕES POSSÍVEIS

A técnica de Velatura tem por objetivo reforçar a estrutura do documento fragilizado.


Velatura Para isso cola-se (com cola à base de metilcelulose - CMC) uma folha de papel japonês de
baixa gramatura, pois deve-se ficar visível a informação abaixo do papel de reforço.
“Após a aplicação da CMC, deixe-a secar e retire o excesso de papel japonês. No
entanto, nunca devemos usar uma tesoura, pois pode alterar a forma da folha. Use uma
régua e uma lixa para aparar o excesso” (OLIVEIRA, 2017).

Esta técnica é utilizada para preencher espaços nos documentos. Por isso é importante
Enxerto que seja utilizado um papel de gramatura semelhante. Há possibilidade de utilizar o papel
japonês, ou mesmo fabricar o papel no laboratório da unidade.
Geralmente pessoas especializadas fazem esta ação, pois qualquer deslize pode
comprometer o documento num todo.

Quando o cenário é de documentos de acervo circulante, de obras que ainda estejam


Reparos de em venda no comércio, há a tendência de utilizar materiais alternativos, mas quando se
rasgos trata de obras de valor secundário deve-se ter atenção para o uso de Fitas Filmoplast P
(geralmente 2cm x 50m), Papel Japonês (ou Papel Oriental) e cola à base de metilcelulose
(CMC). Algum vezes a situação da fibra é de ressecamento extremo, o que pode
comprometer o reparo, podendo provocar mais danos do que antes.

Reforço de Como área de proteção imediata dos documentos a capa sofre os primeiros impactos
da degradação, pois isso é importante considerar o reforço com o uso de tecido na parte
capa
interior.

É uma técnica seca que tem por objetivo a minimização da camada de sujeira que se
Limpeza com assenta sobre o documento. Muito utilizada em livros, periódicos, mapas, quadros, por
pó de borracha exemplo.
De fabricação artesanal, faz-se um tipo de “boneca”: utiliza-se gaze ou mesmo TNT
branco, com algodão dentro, amarrada por fora com cordão de algodão cru.
Paralelamente rala-se (em ralador de inox higienizado) certa quantidade de borracha látex
branca macia. Após teste em área determinada do documento, aplica-se o pó de borracha
sobre a área e com movimentos leves e circulares retiram-se as manchas das áreas
atingidas.
Quadro 3 – Algumas ações possíveis para pequenos reparos.
Fonte: os autores, com base em Oliveira (2017).

27
Competência 02

Figura 12 – Profissional da informação realizando ações de limpeza com pó de borracha em documento.


Fonte: Spinelli; Brandão; França (2011).
Descrição: ilustração em três momentos: a primeira é ralando a borracha em um prato, segunda juntando as borrachas
raladas e por fim colocando em cima da folha do livro. Em baixo dessas ilustrações aparece a foto de uma mulher de
perfil, com cabelos longos e lisos, fazendo uso desta técnica.

Figura 13 – Profissional da informação realizando ação de intervenção para ajustes em pequenos rasgos.
Fonte: Spinelli; Brandão; França (2011).
Descrição: Um profissional usando bata branca com luvas, sentada; fazendo ajustes em folhas de livros rasgados, em
cima de uma mesa branca, com pincéis, borrachas, lupa.

28
Competência 03

3.Competência 03 | Gerenciar Coleções sob um Plano Institucional de


Conservação e de Preservação
Como já previamente discutimos na Competência 1, a construção de políticas
institucionais representa um passo importante para a organização e padronização das práticas de
Conservação e Restauração.
Cabe ao(à) Técnico(a) em Biblioteconomia auxiliar na construção das políticas
institucionais a partir da aplicação dos conhecimentos desenvolvidos durante as disciplinas do curso
e conhecimentos desenvolvidos paralelamente, seja com materiais alternativos ou conhecimento
prático.
Embora a instituição funcione como unidade, é preciso entender que diversos
documentos de suportes diferentes (couro, tela, papel, madeira, etc.) podem necessitar de atenção
personalizada. A regra de temperatura da coleção de Obras Raras pode não ser a mesma que a
temperatura da Coleção Circulante, assim como o tipo de iluminação e outras variáveis.
E por falar em variáveis, ninguém melhor que o(a) Bibliotecário(a) e o(a) Técnico(a) em
Biblioteconomia para observá-las. Por isso você deve estar sempre com os conhecimentos
atualizados, para que quando as políticas forem construídas vocês possam contribuir
substancialmente.

Falando nisso, se você quer ser um(a) excelente profissional da


informação, deve estar atualizado(a), sobretudo nos assuntos da sua
área.
Vão aí duas dicas de locais incríveis para encontrar materiais e
informações:
• Base de Dados em Ciência da Informação: http://www.brapci.inf.br/
• Biblioo – Cultura informacional: https://biblioo.cartacapital.com.br/

Vamos pensar num questionamento: para se construir quaisquer políticas ou regras


gerais, não seria necessário identificar previamente todas as questões que envolvem a realidade?
Pois bem, a resposta é “sim!”. Portanto, é preciso conhecer bem o acervo (quantidade, estado de

29
Competência 03

conservação, estruturas, suportes, etc.), assim como conhecer bem as suas necessidades como
estruturas individuais (dos documentos e coleções) e estruturas no todo (o prédio, as instalações
elétricas, ventilação, temperatura, umidade relativa, filtros anti-UV, etc.).
Conhecer todas as variáveis parece não ser opcional. A história da instituição, por
exemplo, é importante para saber se o prédio foi acometido anteriormente por infestações, desastres
naturais ou roubo. Por essas razões o diagnóstico se faz necessário. Nós até já discutimos isso antes,
lembra?
Podem ser estruturados dois diagnósticos: Diagnóstico Geral do Acervo e o Diagnóstico
de Preservação.

Ah, antes de prosseguirmos, queremos convidar você a voltar na


subseção 1.1 (Passos essenciais para Preservação e Conservação do
Acervo), pois está absolutamente relacionado com o que estamos
discutindo aqui.

O Diagnóstico Geral do Acervo deve ser construído com a finalidade de identificar o


máximo possível de informações acerca da estrutura geral. É importante que seja uma atividade
multiprofissional, ou seja, desenvolvidos por vários(as) profissionais da instituição, o corpo
administrativo e o corpo técnico. Devem ser observados aspectos humanos, estruturais e
situacionais: estrutura física do prédio, histórico de eventualidades, equipe e suas funções e
procedimentos, divisão espacial e circulação, formato de empréstimo e acesso geral.
Observam-se aspectos acerca de: instalação elétrica, encanação, divisão setorial,
rachaduras e demais riscos estruturais, proximidade das lâmpadas, qualidade da iluminação (tipo de
lâmpadas), temperatura ambiente em horário de funcionamento dada quantidade de usuários e
funcionários por dia, estantes e prateleiras (quantidade, disposição no acervo, qualidade do material,
estado de conservação), prédios vizinhos e riscos potenciais (prédios ao redor com estrutura
espelhada emitem mais calor sobre o prédio da Biblioteca ou Arquivo, ou, árvores ao redor podem
ser indicativos de existência de insetos e outros), cor da unidade e tipo de tinta das paredes, uso de
inseticidas ou alternativas de limpeza e desinfestação, dentre vários outros aspectos possíveis.
Já o Diagnóstico de Preservação tem seu foco nas coleções e unidades documentais,
coletando dados como: tipo de coleção, volumes, tamanhos, estados de conservação, histórico de

30
Competência 03

ataques de micro-organismos, histórico de intervenções (pequenos reparos ou restaurações), títulos,


autor(es), classificação, material do suporte em detalhes possíveis, dentre outras informações mais
específicas que podem auxiliar a construir o cenário para o diagnóstico. Além disso, é importante que
haja campo aberto para eventuais anotações que não dispõe de campo específico.
O importante é que o máximo de informações possa ser coletado a fim de construir uma
eficiente Política de Preservação e Conservação, e que esta permaneça atuante em longo prazo, e de
forma ininterrupta.

3.1 Modelos para a construção de um diagnóstico

A partir do conhecimento prévio do assunto e do local, constroem-se os diagnósticos para


coleta de informações, mas isso – vale lembrar – é sempre construído pela unidade de forma
adequada à sua realidade. Depois de construídos os instrumentos, deve-se aplicar primeiro o
Diagnóstico Geral do Acervo e posteriormente o Diagnóstico de Preservação.
A seguir se apresentam modelos sugestivos de instrumentos de coleta de dados para
diagnósticos. Ambos elaborados pela Professora Danielle Alves Oliveira (2017).

31
Competência 03

Diagnóstico Geral

IDENTIFICAÇÃO

NOME DA INSTITUIÇÃO
ENDEREÇO

DADOS A SEREM OBSERVADOS

ENTORNO DA INSTITUIÇÃO

INSTALAÇÃO FÍSICA

CONDIÇÕES AMBIENTAIS

TIPO DE ACERVO

CONDIÇÕES DE ARMAZENAMENTO

ESTADO DE CONSERVAÇÃO

ESPAÇO FÍSICO

VOLUME DOCUMENTAL

RECURSOS HUMANOS E MATERIAIS

TIPOS DE ACONDICIONAMENTO E ARMAZENAMENTO

FERRAMENTA DE GESTÃO

POLÍTICA DE EMPRÉSTIMO

CONCLUSÕES DO DIAGNÓSTICO

Figura 14 – Tabela Diagnóstico Geral


Fonte: os Autores
Descrição da Imagem: Forma geométrica retangular, dividida em Três espaços retangular dentro da mesa.
Descrição do texto: Diagnóstico Geral; IDENTIFICAÇÃO, NOME DA INSTITUIÇÃO; DADOS A SEREM OBSERVADOS-
ENTORNO DA INSTITUIÇÃOINSTALAÇÃO FÍSICA,CONDIÇÕES AMBIENTAIS, TIPO DE ACERVO,CONDIÇÕES DE
ARMAZENAMENTO,ESTADO DE CONSERVAÇÃO,ESPAÇO FÍSICO,VOLUME, Documental, RECURSOS HUMANOS E
MATERIAIS, TIPOS DE ACONDICIONAMENTO E ARMAZENAMENTO, FERRAMENTA DE GESTÃO,POLÍTICA DE
EMPRÉSTIMO; CONCLUSÕES DO DIAGNÓSTICO.

32
Competência 03

Diagnóstico de Preservação

TÍTULO:
AUTOR:
Nº DE CHAMADA:
ANO: LOCAL:

TIPO DE DOCUMENTO:
( ) Livro ( ) Periódico ( ) Revista ( ) Obra rara ( ) Jornal ( ) Documento avulso

DETERIORAÇÃO DA OBRA

( ) Acidez acentuada
( ) Perda de Pigmentos
( ) Fita adesiva oxidada
( ) Rasgos nas páginas
( ) Materiais metálicos
( ) Outros

Descrever: __________________________________________________________
___________________________________________________________________
_

TRATAMENTO RECOMENDADO:

Figura 15 – Tabela Diagnóstico de Preservação


Fonte: Os autores

33
Competência 03

3.2 Possíveis ações de manutenção

É possível que você inicie as suas atividades profissionais como Técnico(a) em unidades
que já possuam Políticas de Preservação e Conservação, contudo, é mais provável (infelizmente) que
as unidades não tenham ainda.
Para que no cotidiano o acervo se mantenha conservado, algumas ações são possíveis de
realizar mesmo sem a existência de tais regras, mas é absolutamente preferível que tudo seja
orientado e documentado. Algumas delas são: limpeza do ambiente, higienização de documentos,
entrefolhamento e acondicionamento.
A limpeza do ambiente não é opcional e vai desde o recolhimento regular de lixo das
lixeiras até a limpeza das estantes, piso, teto. Recomenda-se delicadeza e precisão para que ao limpar
o ambiente, a sujeira/poeira não alcance o acervo. Pode haver isolamento, se extremamente
necessário, contudo, recomenda-se o uso de aspirador de pó, tecido de algodão e uma solução de
água com álcool (50% + 50%).

Figura 16 – Mesa de higienização de documentos e processo de higienização.


Fonte: Spinelli; Brandão; França (2011).
Descrição: Mesa de madeira forrada por formica branca, na parte superior projetada para frente como um teto de vido.
Possuem altura regulável, permitindo trabalhar sentado ou em pé.

34
Competência 03

A higienização de documentos deve ser uma ação frequente na busca pela durabilidade
do documento. Utilizando os EPIs corretamente (o que vimos na Competência 1) deve-se fazer uso
de aspirador de pó, trincha média, espátulas, bisturis e tecidos de algodão (flanelas). Como a sujeira
geralmente se aloja nas páginas iniciais e finais, o recomendado é intervir nas 10 ou 15 páginas de
ambos os lados.
É importante saber que geralmente se utiliza uma Mesa de Higienização (Figura 14) com
sucção própria para poeiras e remoção de insetos mortos, mas é igualmente importante lembrar que
nem sempre há verba para aquisição deste material, o que é facilmente substituído por uma mesa
(criativamente improvisada) de papel alcalino ou material alternativo. Lembrando que ao abrir o
documento sobre mesa todos os movimentos de higienização devem ser empurrando para frente, de
si para frente.

Não se esqueçam de limpar os instrumentos utilizados na higienização dos


documentos com “álcool 70%”, pois os micro-organismos podem ser
compartilhados de um documento ao outro.

O entrefolhamento é uma técnica que consiste em utilizar folhas de papel neutro para
isolar uma folha ácida de outra em um determinado documento. Isso auxilia a prolongar a vida útil
do acervo, mas como a acidez do papel do documento passa ao papel neutro, é preciso que seja
periodicamente trocado, e o tempo para isso será determinado em cada situação específica.
Diz-se de acondicionamento a técnica de armazenar de forma adequada os documentos
de um acervo. Compreende cada unidade e suas particularidades, e as coleções num todo.
Geralmente os documentos que são acondicionados de forma individual e com grande proteção são
os mais frágeis e com histórico de degradação.

35
Competência 03

Figura 17 – Invólucro para acondicionamento de documento.


Fonte: Spinelli; Brandão; França (2011).
Descrição: Invólucro de papel alcalino em formato de cruz.

Acondicionar bem os documentos é uma atividade intelectual, para além de técnica, pois
a avaliação de cada unidade determinará a sua melhor alternativa, inclusive se serão alocados nas
estantes em posição vertical ou horizontal. Também visualiza a necessidade de uso de envelope em
papel neutro ou caixa com material mais duro e resistente (também com pH neutro).
Para efetivar um bom acondicionamento devem-se compreender bem alguns pontos
como a frequência de uso do documento, a existência de cópia de segurança (pois é preferível
disponibilizar a cópia quanto estiver muito frágil), iluminação (se os raios têm contato direto), e
temperatura (para utilizar o material mais adequado).
Como cada acondicionamento é estruturado de modo individual, respeitando as
necessidades de cada unidade, recomendamos o acesso aos MATERIAS COMPLEMENTARES para
visualizar algumas técnicas possíveis. E quando for praticar, lembre-se de higienizar o local de
produção antes e depois para que os materiais não sejam contaminados por sujidades, assim,
reduzindo a possibilidade de transmissão.

3.3 Orientações para a Política de Preservação e Conservação

Além de tudo o que mencionamos nas seções e subseções anteriores, a Política de


Preservação e Conservação deve contemplar orientações com regras explícitas direcionadas a
funcionários e usuários da unidade sobre: manuseio de materiais (quem, quando e a forma adequada
de manuseio), forma de registro e anotações (principalmente proibições de uso de materiais com

36
Competência 03

tintura, pontas afiadas que podem danificar as fibras ou fotografias com flashes), uso de materiais de
proteção (luvas, máscaras, óculos, etc.), delicadeza ao manusear (local adequado, tempo de
exposição fora dos invólucros de acondicionamento, posição, suporte), dentre outras instruções
necessárias.
Essa nossa Competência foi bem interessante, não é mesmo? Nos veremos na próxima.
Até breve!

37
Competência 04

4.Competência 04 | Planejar Ações de Salvamento e Emergência de


Acervos numa Unidade de Informação
Todas as etapas que constituem o todo são como camadas sobrepostas, onde cada uma
delas permite alcançar determinados objetivos específicos de forma eficiente, resultando num
conjunto de ações positivas e eficazes, se cada passo for executado com atenção e profissionalismo.
Ou seja, cada etapa deve ser bem executada para que a próxima possa também ser.

Para conhecer melhor o Plano de gerenciamento de riscos: salvaguarda &


emergência da Biblioteca Nacional (BN), acesse o link e baixe a versão
“pdf” na íntegra.
http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_obrasgerais/drg_plano_risco_p
or/drg_plano_risco_por.pdf

Figura 18 – Capa do Plano de gerenciamento de riscos: salvaguarda & emergência da Biblioteca Nacional.
Fonte: http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_obrasgerais/drg_plano_risco_por/drg_plano_risco_por.pdf
Descrição: Capa de um livro que tem a foto da biblioteca nacional; uma construção antiga com cincos andares, tendo
escadarias na frente e árvores na calçada.

4.1 Desenvolver um plano de salvaguarda e emergência

Lembra-se do Diagnóstico Geral do Acervo que mencionamos na Competência anterior?

38
Competência 04

Pois bem, ele observa aspectos que são relevantes para um bom planejamento e desenvolvimento
do Plano de Gerenciamento de Riscos, pois se observa aspectos humanos, estruturais e situacionais:
estrutura física do prédio, histórico de eventualidades, equipe e suas funções e procedimentos,
divisão espacial e circulação, formato de empréstimo e acesso geral. Isso contribui substancialmente
para o planejamento das estratégias.
Uma vez coletadas as informações por meio do Diagnóstico Geral do Acervo, avaliadas,
refletidas e discutidas as situações por comissão especial multiprofissional, e com isso construído o
Documento Diagnóstico, uma das etapas posteriores compreende as criações das estratégias para
combater sinistros.
O princípio da preocupação com a salvaguarda e emergência de acervos em uma unidade
de informação deve ser o bem humano. As pessoas são os bens mais preciosos e devem configurar
prioridade em qualquer esquema de segurança e emergência. Vidas humanas sempre em primeiro
lugar.
Quanto ao plano propriamente dito, ele deve ser construído com linguagem de fácil
leitura e compreensão. Deve conter plantas do edifício com indicações de localização das coleções de
obras raras (prioritárias para salvamento), saídas de emergência, localização dos extintores,
equipamentos de primeiros socorros, caixa de energia, sistema de supressão de incêndios, alarmes,
dentre outros.

4.2 Avaliação de riscos

Para que os objetivos de salvaguarda sejam alcançados é preciso conhecer bem os riscos
que envolvem a instituição e o seu acervo. Deve-se investigar, portanto, os potentes agentes de
deterioração, suas estruturas, e as possibilidades técnicas de intervenções que provoquem o melhor
resultado sem pôr em risco a integridade dos documentos.

A investigação deve alcançar os Agentes ambientais (temperatura e


umidade relativa, radiação da luz, qualidade do ar), Agentes biológicos
(fungos, roedores, ataques de insetos), Agentes químicos e Agentes
humanos.

39
Competência 04

De forma mais detalhada, apresenta-se o quadro a seguir com tipologia de riscos, com
dados coletados do Plano de Gerenciamento de Riscos: Salvaguarda & Emergência, da Fundação
Biblioteca Nacional (SPINELLI; PEDERSOLI JUNIOR, 2010).

RISCOS TIPOLOGIA DE RISCOS

Evento raro e catastrófico; evento esporádico de impacto


FORÇAS FÍSICAS
moderado; processo contínuo.
Evento raro de impacto significativo; evento esporádico de impacto
CRIMINOSOS
moderado.
Evento raro e catastrófico; evento raro/esporádico de impacto
FOGO
moderado a significativo.
Evento raro e catastrófico; evento esporádico de impacto
ÁGUA
moderado; processo contínuo.
Evento esporádico de impacto moderado a significativo; processo
PRAGAS
contínuo.
Evento esporádico de impacto moderado a significativo; processo
POLUENTES
contínuo.
LUZ E RADIAÇÃO UV E IR Processo contínuo.
Evento esporádico de impacto baixo a moderado; processo
TEMPERATURA INCORRETA
contínuo.
Evento esporádico de impacto baixo a moderado; processo
UMIDADE RELATIVA
INCORRETA contínuo.
Evento raro e catastrófico; evento esporádico de impacto
DISSOCIAÇÃO
moderado; processo contínuo.
Quadro 4 – Avaliação de riscos e tipologias.
Fonte: os autores, com base Spinelli e Pedersoli Junior (2010).

40
Competência 04

4.3 Aspectos do Plano de Salvaguarda e Emergência

Conforme já vimos na subseção 2.1.4, além de combater fatores de riscos que se


apresentam de forma contínua e natural, ainda há os fatores relacionados ao roubo e vandalismo.
Sobre estes é preferível optar por esquema de segurança com câmeras, alarmes, travas e demais
alternativas possíveis e necessárias.
• Fatores de risco: devem ser observadas também as instalações elétricas e
instalações hidráulicas (seguindo os padrões e diretrizes dos órgãos
normalizadores), e aspectos de segurança relacionados ao histórico natural e de
intervenção humana. Configuram alternativas: portas corta-fogo, saídas de
emergência, extintores, alarmes sonoros, sistema de controle de incêndio,
desobstrução dos corredores.
• Sistema de comunicação: sistema de alarme interligado a instituições de
emergência (Bombeiro Militar, Polícia Militar), comunicação intersetorial por
meio de rede alternativa em caso de queda de energia, rede de comunicação com
especialistas para tratamento de restauração de obras danificadas.
• Formação e qualificação: passo relevante é construir uma equipe eficiente e
informada acerca das práticas em caso de sinistro. Alternativa de sucesso é
realizar treinamento de emergência junto a autoridades, como o Corpo de
Bombeiros Militar ou mesmo Bombeiro Civil. A periodicidade do treinamento será
fator de importância.
Os principais tipos de extintores são:
• Extintor de H2O (água);
• Extintor à base de espuma;
• Extintor de gases e vapores inertes;
• Extintor de pó químico.
Observando que cada tipo difere do outro, assim também são as suas aplicações. O uso
deve ser orientado por autoridades do Corpo de Bombeiro por meio de convite institucional.

41
Competência 04

Quer visualizar um conteúdo muito instrutivo acerca da forma


correta de utilizar o extintor de incêndio? Basta acessar o link e ficar
por dentro:
https://www.youtube.com/watch?v=3QCeyeLRxrM

• Material, equipamentos técnicas e serviço: em caso de situação emergencial, é


preciso que a instituição apresente alternativa rápida para situações especiais,
algumas vezes mesmo antes de encaminhar o material para restauração. Por isso
o Plano de Salvaguarda e Emergência também deve prever materiais,
equipamentos, técnicas e serviços para tais situações, elencando, inclusive, as
circunstâncias sob as quais se aplicam as indicações.

São alguns materiais emergenciais para compor o kit:


• Lanternas;
• Material para segurança pessoal: luvas e botas de borracha, máscaras, entre outros;
• Rolos de papel absorvente;
• Papel mata-borrão;
• Esponjas;
• Sacos de lixo;
• Sacos de plástico para congelamento;
• Balde e panos;
• Blocos de papel, caneta de acetato, lápis e etiqueta para identificar os sacos e materiais
bibliográficos;
• Material de primeiros-socorros;
• Fita adesiva larga;
• Aspirador de água;
• Desumificadores;
• Câmeras frigoríficas.

42
Competência 04

4.4 Estratégias para ataque de agentes biológicos

Até pouco tempo atrás era comum o uso de materiais químicos em unidades de
informação, contudo, observados os riscos à saúde das pessoas e também aos documentos,
ampliaram-se as possibilidades de tratar algumas questões de infestações sem química. Hoje se dá
preferência a essas alternativas. Algumas delas são:
• Desinfestação por congelamento: a técnica consiste em uma alteração brusca da
temperatura com a introdução do objeto em um freezer a -20ºC. Podem ser utilizados
freezers tipo frost‐free verticais que inibem a formação de cristais de água. Os modelos
verticais são mais utilizados porque possibilitam uma visualização e um acomodamento
melhor dos materiais a serem tratados.

• Desinfestação por anóxia: a técnica consiste em substituir ou remover, em ambiente
fechado e controlado, o oxigênio necessário à ativação e ao desenvolvimento dos esporos
e dos insetos. Esse microambiente deve ser mantido estável, ou seja, sem a presença do
oxigênio (índice menor de 0,3%) por um período de 21 dias, no mínimo.
Salientamos que tais alternativas são direcionadas, geralmente, para cenários com
diagnóstico apontando avanço das infestações nos documentos. E como as instituições devem se
precaver contra tais sinistros, é possível que, em meio à necessidade, contrate alguma empresa para
aplicar tais estratégias.

4.5 Tratamento de riscos à saúde e ao meio ambiente

Determinadas diretrizes básicas apontam a prioridade da vida humana em todo o


planejamento de salvaguarda e emergência. Comunicação, informação e proteção individual são
princípios a serem seguidos rigorosamente para o sucesso do processo. Spinelli e Pedersoli Junior
(2010, p. 98) listam algumas destas diretrizes:
• Capacitar equipe de funcionários para ações de primeiros socorros, mantendo kits de
primeiros socorros em perfeitas condições de uso em áreas estratégicas do edifício.
• Manter informação atualizada e acessível sobre o grau de toxicidade de todos os produtos
químicos utilizados. Capacitar os funcionários que lidam diretamente com tais produtos para

43
Competência 04

utilizar, descartar e responder corretamente, em caso de eventuais derramamentos ou


vazamentos.
• Identificar todos os produtos químicos utilizados no prédio, armazenando-os devidamente,
segundo o seu grau de periculosidade e (in)compatibilidade. Atentar para os respectivos
prazos de validade e manter apenas as quantidades mínimas necessárias desses produtos no
interior do prédio.
• Utilizar sistematicamente os equipamentos de proteção individual (EPI) adequados, sempre
que necessário.
• Manter toda a atenção durante o uso de equipamentos com elevado grau de periculosidade
(cortantes, etc.).
• Evitar trabalhar isoladamente, principalmente em ambientes de maior risco, como os
laboratórios.

4.6 Requisitos para implementação do Plano de Gerenciamento de Riscos: Salvaguarda e


Emergência

Mais uma vez reforçamos a relevância de haver a construção coletiva desde as


investigações dos pontos de atenção do acervo até a etapa de Preservação onde são formados e
construídos os direcionamentos para a conservação e restauração. As políticas institucionais devem
resultar de perspectivas que agreguem valor à proteção das coleções, por isso o engajamento de todo
o corpo funcional, técnico e administrativo é sinônimo de sucesso.
É relevante construir uma consciência coletiva para aplicação, implementação e
funcionamento cotidiano do Plano de Gerenciamento de Riscos. Os fatores humanos e técnicos
devem estar interligados e comprometidos com o objetivo de salvaguardar o acervo e as suas
coleções. Alguns dos requisitos apresentados a seguir foram elencados pela Biblioteca Nacional.
(SPINELLI; PEDERSOLI JUNIOR., 2010, p. 15).
Os requisitos necessários à implantação bem-sucedida do Plano de Gerenciamento de
Riscos: Salvaguarda e Emergência incluem:
• Comprometimento institucional em todos os níveis, em particular da Presidência e dos
responsáveis pelos diferentes setores da instituição;
• Atitude proativa de todos os funcionários para que se desenvolva uma “cultura de

44
Competência 04

gerenciamento de riscos” na instituição;


• Constituição formal de uma equipe interna multidisciplinar para a implantação do
gerenciamento de riscos na instituição;
• Disponibilização de recursos financeiros para a implementação de medidas de tratamento
de riscos, conforme os graus de urgência e de prioridade determinados pela avaliação dos
riscos;
• Monitoramento, documentação e revisão contínuos da aplicação do Plano, cuja atualização
sistemática deve ser feita conforme a necessidade ou com a periodicidade preestabelecida
(por exemplo, a cada seis meses);
• Comunicação e consulta contínuas com todas as partes envolvidas e interessadas,
assegurando ampla inclusão e participação ativa no processo e maximizando o uso da
informação e conhecimento disponíveis.

4.7 Critérios para identificação de acervos e peças prioritárias para ações de tratamento de
riscos, em especial nas emergências

No material institucional que aqui adotamos como referência para elucidação (Plano de
gerenciamento de riscos: salvaguarda & emergência), a Biblioteca Nacional estabeleceu alguns
critérios para identificação de acervos e peças preferenciais para ações de tratamento de riscos,
especialmente nas emergências.
Os critérios, que atendem emergencialmente em situações, tais como inundações,
incêndios e colapsos estruturais, abrangem peças do acervo bibliográfico e documental e demais
itens do patrimônio. A importância de se manter as políticas e estratégias atualizadas deve ser uma
prática contínua. Percebemos isso ao ler o material da FBN, que ainda descreve quais são alguns dos
aspectos:
“Procedimentos específicos para a localização, sinalização, segurança e acesso a esses
itens serão estabelecidos e continuamente atualizados, de forma a otimizar o tratamento de riscos
ao patrimônio cultural da instituição”. (SPINELLI; PEDERSOLI JUNIOR, 2010, p. 99).
Alguns aspectos a serem considerados:
• Valor econômico ou raridade do documento.
• Ser insubstituível.

45
Competência 04

• Valor especial para o cumprimento da missão ou objetivos da instituição.


• Valor científico.
• Importância para o país, cidade ou região.
• Documentos com o selo Memória do Mundo.

46
Competência 05

5.Competência 05 | Conhecer Políticas e Estratégias para a Preservação


Digital de Acervos
Desde o surgimento das mídias alternativas de armazenamento de dados, a humanidade
passa por inúmeras e intensas mudanças na forma de armazenamento de dados. Você se lembra
daqueles enormes disquetes? É possível até que não lembre. Parece que foi um dia desses que eles
surgiram, bem como os CDs (Compact Disc), DVDs (Digital Video Disc), o Blu-ray, o Pendrive, o cartão
de memória SD (secure Digital), mSD (Micro Secure Digital), dentre outros mais.
Atualmente a sociedade armazena dados diversos de modo multiforme. Não há apenas
uma ou duas formas de registro em mídias digitais, mas sim inúmeras; tampouco reduzidos são os
canais de compartilhamento e meios de acesso. O que também acompanha essa evolução é a
preocupação para com a preservação dos dados, e por isso tem sido um grande desafio para a
sociedade do século XXI. “Durante os últimos anos do século XX, apenas as bibliotecas, os arquivos e
os centros e institutos de pesquisa e organismos governamentais criavam conteúdo digital relevante”
(ARELLANO, 2004).
No geral, no tempo histórico, o mundo digital é tão novo, tanto para a perspectiva
popular/social de uso e disseminação, quanto para a perspectiva acadêmica, que ainda discute as
definições, os termos que definem as áreas, os instrumentos e as potencialidades. Enquanto
uns(umas) pesquisadores(as) estudam a Preservação Digital sob alguns aspectos, outros(as) têm
falado de Curadoria Digital ampliando ainda mais as perspectivas do processo onde a Preservação
seria apenas uma das suas camadas.
Para Margaret Hedstrom (1996), a preservação digital é “(...) o planejamento, alocação
de recursos e aplicação de métodos e tecnologias para assegurar que a informação digital de valor
contínuo permaneça acessível e utilizável”. Assim, a Preservação Digital inclina-se ao armazenamento
de conteúdos digitais em repositórios de dados para uso e garantia de existência futura.
Segundo Miguel Arellano (2004, p. 17):
Na preservação de documentos digitais, assim como na dos documentos em papel,
é necessária a adoção de ferramentas que protejam e garantam a sua manutenção.
Essas ferramentas deverão servir para reparar e restaurar registros protegidos,
prevendo os danos e reduzindo os riscos dos efeitos naturais (preservação

47
Competência 05

prospectiva), ou para restaurar os documentos já danificados (preservação


retrospectiva).
Portanto, integrar os métodos e tecnologias para a Preservação Digital com a preservação
física parece ser um caminho assertivo, já que alternativas como mídias magnéticas (ex: fitas cassete,
fitas VHS) e discos ópticos (ex: CDs, DVDs) ainda fazem parte da conjuntura de preservação. Daí aplica-
se todas as questões estudadas nas Competências anteriores acerca de temperatura, umidade
relativa do ar, acondicionamento, etc.
Muitos até podem pensar que Preservação Digital é “digitalizar documentos” – o que
geralmente provoca confusão –, mas na realidade é o contrário, já que a digitalização de documentos
é uma opção que faz parte de um grande processo, algo bem maior. Por isso digitalização é um meio
de preservar. Realmente digitalizar é uma prática comum nas instituições para a preservação das
informações dos documentos, sejam instituições públicas ou privadas, mas devem seguir padrões de
alta qualidade, assim como criação de sistema alternativo de segurança (backup). Tudo isso deve
compor uma boa Política de Preservação.

Inclusive, o Conarq (Conselho Nacional de Arquivos) publicou


recentemente a Resolução nº 39, de 29 de abril de 2014 que dispõe sobre
diretrizes para implementação de repositórios arquivísticos digitais
confiáveis. Para acessar, basta clicar no link abaixo:
Resolução nº 39, de 29 de abril de 2014:
http://conarq.arquivonacional.gov.br/resolucoes-do-conarq/281-
resolucao-n-39-de-29-de-abril-de-2014.html

Inúmeros são os documentos que já nascem em estrutura digital, a exemplo dos e-books
do nosso curso. Isso é tão comum hoje em dia e faz parte do nosso cotidiano de forma tão contínua
que parece ser estranho que ainda estejamos afirmando como novidade ou curiosidade. De fato a
sociedade mundial têm feito uso da composição digital para diversos fins, seja para trabalho, estudos
ou lazer.

48
Competência 05

PRESERVAÇÃO DIGITAL
Quer ter acesso a um artigo superinteressante sobre PRESERVAÇÃO
DE DOCUMENTOS DIGITAIS?
Então clica no link e se joga na artigo de Miguel Angel Arellano:
http://www.scielo.br/pdf/ci/v33n2/a02v33n2.pdf

5.1 Estratégias de Preservação Digital

É imprescindível encarar com seriedade a necessidade de criar estratégias de preservação


e mantê-las atuantes e atualizadas para que haja um cuidado eficiente com os documentos digitais.
Segundo Sayão (2010), a obsolescência tecnológica e a fragilidade das mídias de armazenamento,
principais causadoras da perda de documentos digitais, podem levar a perda da memória digital. Por
isso a criação ou a adoção de estratégias é passo fundamental para que o conteúdo – a informação –
do documento seja resguardado.
Para compreender algumas estratégias e “mergulhar” neste universo desafiador, vamos
nos basear no artigo “Estratégias de preservação digital para documentos arquivísticos: uma breve
reflexão”, dos autores Henrique Machado dos Santos e Daniel Flores.
Para Santos e Flores (2010), algumas alternativas são possíveis: Preservação de
tecnologia, Emulação, Encapsulamento, Refrescamento e Migração.

Uma dica muito válida é assistir ao vídeo disponível no YouTube no


link abaixo.
Lá o Prof. Dr. Marcos Galindo da Universidade Federal de
Pernambuco apresenta tópicos que enriquecem o assunto tratado
nessa Competência.
https://www.youtube.com/watch?v=WITR9AaNVtA

49
Competência 05

a) Preservação da Tecnologia: esta tática dedica-se à preservação e manutenção de todos os


componentes de hardware e software utilizados na concepção do objeto digital em sua forma
original. “Sua implementação parte da criação de “museus tecnológicos”, a fim de conservar a
plataforma considerada necessária para correta interpretação/representação dos objetos digitais”.
(SANTOS; FLORES, 2010, p. 90).

b) Emulação: na intenção de preservar o objeto lógico original, sua integridade e finalidade de uso,
utiliza-se um software chamado emulador para “substituir” um software ou hardware que já se
encontra inconciliável, possibilitando assim, a interpretação dos objetos digitais em sua concepção
original (SANTOS; FLORES, 2010).
A emulação esbarra num dos maiores pontos de atenção de unidade de informação: o
financeiro. “A emulação pode apresentar aspectos negativos como a questão financeira, quanto à
necessidade de desenvolver um emulador ou mesmo para aquisição de licenças de uso”. (SANTOS;
FLORES, 2010). Numa visão geral, o que tende ao sucesso de uma emulação está na construção da
Política de Preservação e Conservação, onde devem constar direcionamentos para escolha do
software emulador, seu custo, aplicação e demais aspectos relevantes.

c) Encapsulamento: o encapsulamento é uma alternativa de preservação do objeto lógico em seu


formato original, sem alteração da sua estrutura, assim, mantendo-o inalterado até que ele seja
solicitado pelo usuário num futuro próximo ou distante.
De modo geral, o encapsulamento com a sua aplicação isolada não tem sucesso imediato
na recuperação de documentos digitais, sua aplicação tem por objetivo reunir toda a informação
necessária para a sua recuperação no futuro. “Mesmo assim, o encapsulamento deverá ser abordado
como uma estratégia auxiliar no plano de preservação, pois não há garantia de recuperação dos
documentos digitais no futuro”. (SANTOS; FLORES, 2010, p. 94).

50
Competência 05

Para compreender ainda mais as estratégias brevemente apresentadas,


sugerimos o acesso ao artigo original por meio do link abaixo.
“Estratégias de preservação digital para documentos arquivísticos: uma
breve reflexão”, publicado na Revista Cadernos BAD (2010). Autores:
Henrique Machado dos Santos e Daniel Flores.
https://bad.pt/publicacoes/index.php/cadernos/article/view/1225

d) Refrescamento: “trata-se da transferência de objetos digitais contidos em um determinado


suporte físico de armazenamento, o qual é considerado obsoleto, para outro suporte considerado
atual. Esta transferência deve ser realizada antes que o suporte de armazenamento antigo se
deteriore ou torne-se inacessível, posteriormente, levando a perda dos documentos digitais. Deste
modo, o refrescamento está concentrado na preservação do objeto físico, o suporte de
armazenamento”. (SANTOS; FLORES, 2010, p. 94).

e) Migração: esta estratégia de preservação observa o objeto digital de forma sistemática,


intencionando a transferência periódica de uma configuração para outra (de software ou hardware),
assim como de uma versão para outra, ou de uma tecnologia para outra mais atual.
Segundo Santos e Flores, (2010, p. 95):
A migração poderá ser, por exemplo, solicitação (a-pedido) ou distribuída,
possibilitando diversos caminhos para um mesmo objeto digital ser migrado a fim de
obter a versão mais satisfatória. Nestes procedimentos destaca-se a importância de
preservar o objeto digital em seu formato original, paralelamente ao objeto de
preservação, aquele que é atualizado constantemente. Deste modo caso a migração
obtida no processo não satisfaça os requisitos definidos na política de preservação,
será possível retroceder ao objeto digital original sem prejuízos.
Para a decisão de adotar uma ou mais estratégias para a Preservação Digital é preciso
considerar o contexto da instituição e suas coleções, estruturas, corpo operacional, corpo
administrativo e demais variável. Tudo importa neste processo. Além disso, também considerar que
não existe um esqueleto adequado para adaptação de todas as instituições, pois as estratégias podem
ser mais eficientes em uma unidade do que em outra. Assim, o que é mais relevante se concentra nas
necessidades e possibilidades de cada lugar.

51
Competência 05

O pesquisador Humberto Celeste Innarelli (2007) apresenta o que chama de “OS 10


MANDAMENTOS DA PRESERVAÇÃO DIGITAL”, e que pode lhe auxiliar no desenvolvimento das
atividades de preservação onde você trabalhará no futuro próximo:

Figura 19 – Os dez mandamentos da Preservação Digital.


Fonte: layout dos autores, com informações coletadas em Innarelli (2007).
Descrição da Imagem: formato de duas tabuas marrom e as bordas marrom mais escuro, com o texto dentro.
Descrição do texto: 1. Manterás a política de preservação; 2. Não dependerás de hardware específico; 3. Não
dependerás de software específico; 4. Não confiarás em sistemas gerenciadores como única forma de acesso ao
documento digital; 5. Migrarás seus documentos de suporte e formato periodicamente; 6. Replicarás os documentos
em locais fisicamente separados; 7. Não confiarás cegamente no suporte de armazenamento; 8. Não deixarás de fazer
bacupk e cópias de segurança; 9. Não preservarás lixo digital; 10. Garantirás a autenticidade dos documentos digitais.

52
Conclusão

Depois de estudar todo esse conteúdo incrível pudemos perceber que pensar sobre
Preservação, Conservação e Restauração não é apenas uma ação técnica, mas também intelectual,
de gestão, de articulação de estrutura humana e material. A reflexão deste universo dá indicativos de
que pouco se sabe sobre todo assunto e por isso é assertivo nos munirmos cada vez mais de
informações especializadas e atualizadas.
Cuidar dos documentos, dos acervos, das coleções, de cada unidade de documento, é
uma ação de respeito para com a história e a memória; uma ação de honestidade com a identidade
coletiva; uma ação social. Os documentos têm história e vida; e isso merece ser protegido por pessoas
capazes, profissionais distintos.
Como profissionais da informação, Técnicos(as) em Biblioteconomia, caberá a cada
um(uma) o melhoramento e desenvolvimento das capacidades, dominando os conhecimentos
teóricos e aplicando na prática. Caberá a cada um(uma) prosseguir nessa jornada que apenas
indicamos o caminho.
Com a certeza de que contribuímos um pouco com a sua formação, não despedimos com
muita satisfação e contentamento.
Até a próxima disciplina!
Tchau!

53
Referências

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DEONTOLOGIA DO BIBLIOTECÁRIO BRASILEIRO, QUE FIXA AS NORMAS ORIENTADORAS DE CONDUTA NO EXERCÍCIO DE SUAS
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CUBELLES S. C. COMPÊNDIO DE ÉTICA FILOSÓFICA E HISTÓRIA DE LA ÉTICA. VALÊNCIA: EDICEP; 2002. P. 16-17.

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T.R.B. ARQUIVÍSTICA: TEMAS CONTEMPORÂNEOS. BRASÍLIA: SENAC, 2007.

KORTE, G. INICIAÇÃO À ÉTICA. SÃO PAULO: EDITORA JUAREZ DE OLIVEIRA, 1999.

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RECIFE: SECRETARIA EXECUTIVA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE PERNAMBUCO, 2017.

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REFLEXÃO. REVISTA CADERNOS BAD. N. 1, P. 87-101. JAN-JUN, 2010. DISPONÍVEL EM:
HTTPS://BAD.PT/PUBLICACOES/INDEX.PHP/CADERNOS/ARTICLE/VIEWFILE/1225/PDF_16. ACESSO EM: 06 MAIO 2019.

SAYÃO, L. F. REPOSITÓRIOS DIGITAIS CONFIÁVEIS PARA A PRESERVAÇÃO DE PERIÓDICOS ELETRÔNICOS CIENTÍFICOS.


PERIÓDICO PONTO DE ACESSO. V. 4, N. 3, P. 68-94, DEZ 2010. DISPONÍVEL EM:
HTTPS://PORTALSEER.UFBA.BR/INDEX.PHP/REVISTAICI/ARTICLE/VIEW/4709/3565. ACESSO EM: 05 MAIO 2019.

SPINELLI, J.; BRANDÃO, E.; FRANÇA, C. MANUAL TÉCNICO DE PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO: DOCUMENTOS
EXTRAJUDICIAIS CNJ. MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, ARQUIVO NACIONAL; MINISTÉRIO DA CULTURA, FUNDAÇÃO BIBLIOTECA

54
NACIONAL, [S.L.], 2011, 45 P. DISPONÍVEL EM: HTTPS://FOLIVM.FILES.WORDPRESS.COM/2011/04/MANUAL-AN-BN-
CNJ-2011-C3BALTIMA-VERSC3A3O-2P-FOLHA.PDF. ACESSO EM: 03 MAIO 2019.

SPINELLI, J.; PEDERSOLI JUNIOR, J. L. BIBLIOTECA NACIONAL: PLANO DE GERENCIAMENTO DE RISCOS: SALVAGUARDA
& EMERGÊNCIA. RIO DE JANEIRO: FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL, 2010. 99 P. DISPONÍVEL EM:
HTTP://OBJDIGITAL.BN.BR/ACERVO_DIGITAL/DIV_OBRASGERAIS/DRG_PLANO_RISCO_POR/DRG_PLANO_RISCO_POR.PDF
. ACESSO EM: 02 MAIO 2019.

55
Minicurrículo do Professor

Isabelle C. C. Domingos dos Santos

Bacharel em Biblioteconomia (UFPE) e especializando em Metodologia do Ens. a


Distância. Professora da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco, lotada na ETEPAC (Escola
Técnica Estadual Antonio Carlos Gomes da Costa). Tem vasta experiência em gestão de unidades
informacionais, diagnóstico de acervos, processo técnico, gestão eletrônica de acervos, treinamento
de pessoal, docência em curso técnico, Secretária pedagógica e Educação a distância. Como atividade
de extensão acadêmica participou ativamente do projeto Conexões de Saberes/UFPE, Escola aberta
e Instituto PAPAI. É Consultora em normalização de trabalhos acadêmicos, gestão de acervos e
pesquisadora em assuntos correlatos a biblioteconomia, Ciência da Informação e Educação a
distância.

David Oliveira de Carvalho

Mestre em Ciência da Informação (UFPE), Bacharel em Biblioteconomia (UFPE) e


especializando em Gestão Pública (IFPE). Professor da Secretaria de Educação do Estado de
Pernambuco, lotado na ETEPAC (Escola Técnica Estadual Antônio Carlos Gomes da Costa).
Pesquisador colaborador nos grupos de pesquisa da UFPE: "memória e cultura escrita" e "laboratório
de investigações bakhtinianas relacionadas à cultura e informação". Tem experiência na docência de
nível superior, bem como docência em cursos técnicos, profissionalizantes e de aperfeiçoamento.
Como atividade de extensão acadêmica, é voluntário na coordenação e na docência do "Projeto Mais
Saber" da UFPE, além de também assumir a função de professor e palestrante voluntário no Centro
de Integração Empresa Escola de Pernambuco (CIEE-PE). É Consultor em Gestão Documental com
foco em reestruturação logística, desenvolvimento de políticas, diagnóstico de acervos, higienização
de documentos, gestão eletrônica de acervos, treinamentos e palestras para profissionais e usuários;
e também já atuou como gerente operacional em Gestão de Documentos.

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Você também pode gostar