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Coelho Netto
COELHO NETTO
BALLADILHAS
Ce sont icy- mes fantasies, par lesguelles je ne
tasche point de donner à cogaoistre les choses, mais
moy . . .
MONTAIGNE.
3.ª EDIÇÃO
1924
Obras de COELHO NETTO
1824.
C.N
MATER
Ei-las de volta enchendo o ar fino e o campo
convalescente com os seus rispidos trissos, com os
ruflos das suas pequeninas azas pretas. Ei-las de
volta, em bandos: umas pousam no beiral dos te-
lheiros, bicando as pennas, trefegas, saracoteantes;
seguem outras para o lado fresco das ilhas onde os
vinhaes enfolham-se.
Ei-las de volta, as andorinhas, que foram invernar
em um paiz sem bruma, tepido e recendente.
Abrem-se todas as gelosias; querem todos vê-las
e recebem-nas sorrindo.
Vergonteas nascem nos esqueletos das arvores e
florinhas tenras abrem côrollas timidas.
Limpido azul substitue a nivosa tristura do céu. É
a primavera que chega. Começam a appare-
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34 BALLADILHAS
Começa a orgia.
Herculano manda vir os prisioneiros: lusitanos e
gauleses, tomados em Carthago.
Abrem-se as flores da sensualidade!
Plena nudez!
Cada mulher é um rio de volupia onde brincam
dois satyros: os seios. Os barbaros, offegantes de
lascivia, pedem com ternos olhos, rangem os dentes
e rugem como leões no tempo calido.
Annos correram.
Uma manhan, a gente do lugar, attrahida por
crescente rumor que vinha da rua solitaria em que
habitava Fausto, acudiu curiosa. Á porta, multidão
de homens e mulheres bradava em altos gritos
indignados, atroando os ares com as pancadas
sonoras da aldraba formidavel. E chegavam
constantemente novos grupos, e a furia crescia
ameaçadora e terrivel. Por fim a porta escancarou-se
e assomou na soleira, pallido, escaveirado, com os
olhos em chamma, os dedos crispados, Fausto, o
chimico quasi nú, com um panno á cinta e todo
manchado de sangue.
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II
III
IV
VI
.......................................
—Bravo! applaudiram os nomades. Bravo!
applaudiu Soliman!
Mas a historia que nos contaste nada tem do
alegre, Nadir, não obstante aqui tens os teus pre-
sentes. E, brandindo o alfange á luz que irradiava: A
cavallo! bradou. A lua branca esmaece.
NA THEBAIDA
Caverna lobrega.
Lenta e lenta, gotta a gotta, a agua instilla,
deriva em perenne fluir: dimana como em lagrimas
e pinga das aculeas stalactites brancas, que dão á
profunda cava, erma e sombria, a semelhança de
uma fauce hiante, denteada de hispidos colmilhos.
O dia passa, a noite passa, e sempre a saxea
guela escancellada vorazmente, ao sol, á treva, aos
ventos.
Féras não a procuram nem peregrinos a querem:
é o refugio merencoreo das estriges e dos gypaetos.
Dizem que nas éras mysticas, quando os deser-
tos acolhiam no seu mysterioso silencio os peni-
tentes, que trocavam o rumor do mundo pelo re-
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BALLADILHAS 159
J
OS REBANHOS ETHEREOS
Foi visitando uma serra, altissima serra emma-
ranhada e sombria, a mais alta, a mais viçosa de
quantas existem no meu paiz, que encontrei, pela
primeira vez, a decantada e meiga religião da ve-
lhice.
É um culto feito de veneração e de amizade, não
só pelos alquebrados anciãos, mas por toda a
velhice. Respeita-se o mendigo de cabellos brancos
e respeita-se a arvore centenaria, por ambos pas-
saram os seculos; em uma as neves não se demo-
raram, refloreceu á nova primavera, outros, porém,
ficaram como geleiras e andam no mundo, vindos de
outro seculo, como estrangeiros, timidos,
procurando na terra o lugar de repouso.
As arvores resistem mais á acção dos annos; é
que nellas trabalha o tempo apenas. Ventos roubam-
lhes folhas, enxurros d’agua desnudam-lhes
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210 BALLADILHAS
E rematava:
— Onde vais ?
— Quero vêr quem canta. Anda ali pelas terras
de traz. A voz é de moço.
—Quero vêr tambem.
O velhinho ergueu-se levando a mão em palla á
altura dos olhos.
— É um rapazola. Eu não disse?
—Vai carreando. É carreiro. Quem será?
O velhinho, por sua vez, encolheu os hombros,
sempre a olhar, mudo de enternecimento.
E o velhinho risonho:
Mater................................................................................... PAG.
.Os cegos............................................................................ 11
O aroma das camélias....................................................... 23
Saldunes .......................................................................... 33
Marcha funebre ............................................................... 39
Mystico............................................................................ 47
Feira de corações.............................................................. 55
Tantalo......................................................................... 65
71
Saudade........................................................................
79
O filtro de Fausto.......................................................
87
Canção triste.................................................................
97
NaThebaida..................................................................
105
Psalmo de amor............................................................
113
Sonho de Eva ..............................................................
119
Memento .....................................................................
131
Soror Dolorida............................................................... 139
Lacrimatorio.................................................................... 147
246 INDICE
PÁG.
O raio do sol ........................................................................ 155
Holocausto ........................................................................... 165
Origem das camelias ............................................................ 173
Ruminante ............................................................................ 181
Os rebanhos ethereos........................................................... 189
O espelho ............................................................................. 197
Infante.................................................................................. 209
Ritornelo............................................................................... 217
O mentiroso........................ ,................................................ 227
O Paraiso .............................................................................. 235