Objectivos
Com esta primeira parte da segunda unidade pretende-se que os estudantes vão alicerçando em
ideias cinemáticas e dinâmicas correctas o estudo dos movimentos feito na segunda parte.
As ideias cinemáticas (do grego kínema = movimento) dizem respeito ao movimento em si:
ideias de referencial de um movimento, de posição, de velocidades, de acelerações, entre outras.
As ideis dinâmicas (do grego dynamis = força) têm já a ver com a relação entre as forças e os
movimentos, por exemplo as ideias relacionadas com as leis fundamentis de Newton e suas
consequências.
Vamos inciar o estudo de uma parte da Física chamada Mecânica. Esta tem como objecto de
estudo os mais diversos tipos de movimentos. Engloba aspectos cinemáticos, que têm a ver com
a forma como se descrevem os movimentos, aspectos dinâmicos, que respeitam às relações
existentes entre as forças e os movimentos e aspectos estáticos que dizem respeito ao equilíbrio
dos corpos e condições para esses equilíbrios.
Neste curso pretende-se integrar o mais possível estes aspectos e tratá-los a um nivel
relativamente elementar.
Quando é que se pode falar em movimento e em repouso? É correcto dizer que a Terra se move?
E um passageiro sentado num comboio quando este passa por um túnel, move-se ou está em
repouso ? Questões como estas não têm sentido, pois as respostas que originam não são sempre
as mesmas! Por exemplo, à escala do Sistema Solar e portanto tendo como referência o Sol, é
certo afirmar que a Terra se move, mas se estivermos a pensar em nós, no nosso dia-a-dia, a
Terra está parada e nós movemo-nos nela! De facto, movimento e repouso são conceitos
relativos, pois dependem dos sistemas que se consideram como referência.
O conjunto contínuo dos pontos P (x,y,z)
chama‐se espaço do referencial
x
Os referenciais cartesianos podem ser a uma, duas ou três dimensões, consoante se estudam o
movimento rectilíneo que ocorre num espaço unidimensional (uma dimensão), o movimento
plano não rectilíneo que ocorre num espaço bidimensional (duas dimensões), ou o movimento
que ocorre no espaço tridimensional (a três dimensões).
Newton admitiu a existência de referenciais físicos em
repouso absoluto, isto é, que estão desgarrados de
qualquer dos corpos que constituem o universo e que como
sabemos se movem uns em relação aos outros. O espaço de
um referencial desses chama-se um espaço absoluto.
Ainda que esta ideia seja inaceitável à luz da Física actual,
ela foi historicamente próspera, pois tornou possível um
grande número de modelos matemáticos e experiências
conceptuais (ou do pensamento) que permitiram construir
boa Física.
Um modelo físico é um modo de ver uma entidade física. Não é a própria entidade. Como o
estudo da realidade física, daquilo que existe no mundo físico, é complexo, a Física vai
esudando essa realidade por aproximações sucessivas.
A realidade é que a Terra se move, um carro move-se na rua, nós movemo-nos, tudo se move
em relação a algo. O que vemos mover-se são sempre corpos, maiores ou menores, em linha
recta ou às curvs, rodando sobre si mesmo ou não e sempre formados por milhões e milhões de
partículas elementares, moléculas, átomos, etc., que também se movem no interior desses
corpos. Mas, para começar, estamos interessados no estudo do movimento de um corpo como
um todo e, em certas condições, tem sentido deixar de ter em conta os movimentos das diversas
partes do corpo, muito mais desprezar os movimentos das suas partículas elementares e
considerar os corpos como se tivessem colapsado num só ponto com toda a massa do corpo
concentrada nesse ponto. Construímos asim um modelo do corpo que se chama uma partícula
(antigamente chamava-se um ponto material).
Será que um ciclista, ao passar num determinado ponto da Serra da Estrela na Volta a Portugal,
se pode considerar uma partícula? Será que um atleta, na sua prova de salto em altura, pode ser
considerado uma partícula? E o Sol a mover-se em torno da Terra?
A resposta a estas perguntas depende de cada caso. Só podemos considerar um corpo como uma
partícula quando no estudo do seu movimento, os movimentos das suas partes podem ser, sem
perd de rigor, ignorados. Tal sucede no caso da Mecânica quando se trata de uma situação em
que as dimensões do corpo são desprezáveis, quando comparadas com as distâncias por si
percorridas num certo trajecto.
Uma partícula (que tem massa) pode ser estudada através de um modelo que a representa como
se fosse um ponto P(x,y,z) com uma massa (pontual) associada.
A massa é uma grandeza física escalar, intrínseca a cada partícula ou sistema (conjunto) de
partículas. No domínio da Física clássica a massa de uma partícula considera-se constante, a
menos que ela corresponda a um corpo que está a receber ou a perder materiais (um foguetão a
ejectar gases, por exemplo) e a massa de um sistema de partículas considera-se a soma das
massas destas.
Realize a Actividade 1.
consoante se adopte como referencial um eixo Ox, Oy ou Oz, respectivamente. Estas equações
aparecem muitas vezes acompanhadas da sigla do Sistema de Unidades em que estão expressos
a posição x e o tempo t. Se for o Sistema Internacional de Unidades aparece a sigla SI.
A posição do corpo em cada instante identifica-se com o valor positivo, nulo ou negativo da
coordenada da posição no eixo de referência.
Realize a actividade 2.
Muitos estudantes costumam confundir a trajectória de uma partícula com o gráfico que traduz a
variação da posição em ordem ao tempo. Assim, por exemplo, a figura que se segue traduz o
gráfico tempo-coordenada x corresponde ao movimento de uma partícula numa trajectória
rectilínea. A trajectória é uma linha recta e o eixo Ox das abcissas de posição está assente sobre
a recta . Esta linha quebrada é uma representação gráfica.
Podemos por exemplo concluir deste gráfico que, ao longo da trajectória recta, a partícula partiu
de uma posição 5 m à frente da origem das posições (x0 = +5 m), que nos dois primeiros
segundos andou 5 m no sentido positivo, depois parou durante 2 s, a seguir prosseguiu, depois
parou e aos 6 s começou a andar para trás tendo percorrido 30 m para trás dos 6 s aos 10 s.
Se não nos fosse dito que o movimento da partícula foi em linha recta, poderíamos pelo gráfico
tirar alguma conclusão acerca da trajectória do corpo? Não pois nada nos garante que o
movimento ocorresse num plano, fosse a duas dimensões e este gráfico traduzisse apenas a
variação da abcissa x da partícula, havendo um outro gráfico para traduzir a variação da
ordenada y.
Distância percorrida
Por exemplo, a distância percorrida por uma partícula que corresponde a uma pequena porção
da extremidade de um ponteiro dos segundos, numa volta completa (60 s), é o comprimento da
circunferência de raio com comprimento igual ao comprimento do ponteiro. Se esse raio for de
15 mm = 0,015 m, a distância percorrida pela partícula em 60 s é:
Vimos que a grandeza distância percorrida, s, mede a distância que um corpo percorreu sobre a
trajectória — obviamente positiva. Assim, quando se percorrem 310 km do Porto a Lisboa isto
não significa que
a distância do Porto a Lisboa é 310 km: significa apenas, e só, que a distância percorrida, na
estrada, foi de 310 km.
Porém, a distância percorrida nada informa sobre a mudança de posição. Por exemplo,
podemos andar 620 km e acabarmos por não mudar de posição! Basta sair de casa, ir do Porto a
Lisboa e voltar ao Porto! Ou dar algumas voltas completas numa trajectória circular! A
grandeza com que se mede a mudança de posição entre dois instantes é o deslocamento: trata-
se de uma grandeza vectorial, porque a mudança de posição envolve sempre uma quantidade
(distância entre posições) e uma orientação (direcção e sentido).
O deslocamento, é a grandeza vectorial que define a mudança de posição de uma partícula,
num certo intervalo de tempo.
Como o carrinho se moveu da posição de partida x = 0,0 m para a posição de chegada, x = 50,0
m, então o deslocamento é o vector representado. Ele aponta no sentido positivo do eixo, pelo
que a sua projecção no eixo é positiva. Esta projecção permite-nos obter o que se designa por
componente escalar do vector deslocamento, segundo esse eixo Ox. Esta componente escalar é
positiva e igual à variação da coordenada de posição do carro:
Este é o valor deste deslocamento, neste caso igual à distância percorrida, que é 50,0 m.
Resolva as actividades 3 e 4
GRANDEZAS VECTORIAIS E OPERAÇÕES COM VECTORES
(in VALADARES, Jorge, SILVA, Luís, TEODORO, Vítor - Física, 11 º ano, Ed. Didáctica,
Lisboa, 1998)
Rapidez média: uma grandeza não vectorial
Quando fazemos uma viagem de 300 km em 4 h, ora mais depressa, ora mais devagar, ora
parando, dizemos que a «velocidade média» foi 300 km/4 h = 75 km/h. De acordo com a
definição física de velocidade, esta afirmação está incorrecta, como vamos verificar. Em
Física, a grandeza que se obtém dividindo a distância percorrida pelo intervalo de tempo
correspondente chama-se rapidez média.
Na linguagem comum, confunde-se rapidez média com velocidade média, termos que, em
Física, correspondem a dois conceitos distintos: a velocidade média é uma grandeza vectorial e
a rapidez média é uma grandeza escalar (não tem direcção nem sentido), e tem sempre um valor
positivo ou nulo.
Quando afirmamos que fomos de A a B à rapidez média de 90 km/h, queremos dizer que, em
média, em cada hora, percorremos a distância de 90 km. Note-se que o ponteiro do velocímetro
não marcou sempre 90 km/h, uma vez que nas rectas se andou mais depressa e nas curvas e
cruzamentos mais devagar. Então que grandeza marcou o ponteiro do velocímetro em cada
instante?
Resolva a actividade 5
O ponteiro do velocímetro de um veículo marca a rapidez com ele se move em cada instante.
Um «instante» é, do ponto de vista físico, um intervalo de tempo muito pequeno, tão pequeno
que nele a rapidez se pode considerar praticamente invariável.
Como definimos teoricamente a rapidez?
Define-se recorrendo à ideia de limite: aquilo para que tende uma grandeza variável. A rapidez
num instante t é, pois, um conceito-limite. Há obviamente uma rapidez média, Δs/ Δt, em cada
intervalo de tempo Δt centrado no instante t. Para achar a rapidez neste instante t faz-se tender o
intervalo de tempo Δt, centrado no instante t, para zero e determina-se o limite para que tende a
velocidade média. Como para intervalos de tempo muito pequenos que englobam o instante t a
rapidez já muito pouco varia, a rapidez média torna-se praticamente constante e igual à rapidez
no instante t
Portanto a rapidez instantânea, ou, simplesmente, rapidez pode ser definida como o limite da
rapidez média, quando o intervalo de tempo tende para zero (ou seja, quando este vai sendo
cada vez mais pequeno e próximo de zero, em torno do instante a que se refere a rapidez):
s = f (t)
e representa-se pela notação .
Função Derivada
u u'v − v 'u
y= ⇒ y' =
v v2
y = log a u u'
⇒ y' = log a e
u
y = sen u ⇒ y ' = u ' cos u
y = cos u ⇒ y ' = −u 'sen u
y = tg u ⇒ y ' = u 'sec 2 u
Um exemplo:
Suponhamos que que o espaço percorrido por uma partícula em movimento obedece à equação
horária:
Tem-se
Dizer que um carro vai, num dado instante, com a rapidez de 70 km/h, não significa que ele
tenha andado 70 km nem que anda há uma hora. Significa que se andasse sempre àquele ritmo
percorreria 70 km em 1 h, 35 km em 0,5 h (30 min), 3,5 km em 0,05 h (3 min) e 35 m em
0,0005 h (1,8 s). Como em 1,8 s o carro já praticamente nada poderá alterar a sua velocidade,
podemos ter uma ideia que 0,9 s antes desse instante estava 17,5 m antes na trajectória e 0,9 s
depois estará à frente 17,5 m.
A rapidez de um carro tem a ver com a taxa de variação da distância percorrida. Mostra-nos,
pois, se a distância que o carro vai percorrento está a aumentar mais ou menos depressa ou
devagar. Como a distância percorrida é uma grandeza escalar, a rapidez é uma grandeza
intrinsecamente escalar.
Vamos ver a seguir que a velocidade do carro é uma grandeza diferente. Tem a ver com a taxa
de variação da posição. Mostra-nos, pois, se a posição do carro vai vai variando mais ou menos
depressa ou devagar e para onde vai varindo a cada instante. Este para onde implic um
direcção e um setido, o que faz com que a velocidade seja uma grandeza intrinsecamente
vectorial.
Resolva a actividade 6
A rapidez média e a rapidez são muito fáceis de obter quando se conhece a representação
gráfica que traduz a distância percorrida em função do tempo.
A rapidez média da partícula entre dois instantes ti e tf obtém-se a partir deste tipo de gráficos
determinando o declive do segmento de recta que liga os pontos do gráfico correspondentes aos
pares (ti,si) e (tf ,sf) Por exemplo, para o intervalo de tempo que vai de t = 1,0 s até t = 4,0 s,
vem:
Quando, como é o caso anterior, a rapidez média é constante seja qual for o intervalo de tempo
considerado, o seu valor coincide com o da rapidez em qualquer dos instantes intermédios. Ou
seja: no movimento a que corresponde o gráfico anterior a rapidez (módulo da velocidade) foi
sempre 0,5 m/s.
A velocidade média é a grandeza que indica se o deslocamento de uma posição para outra foi
realizado mais ou menos lentamente, ou mais ou menos rapidamente, num certo intervalo de
tempo. Como o deslocamento é uma grandeza vectorial, a velocidade média é também uma
grandeza vectorial:
No caso do movimento a uma dimensão num referencial Ox, o valor do deslocamento é, como
vimos, dado pela diferença Δx entre a abcissa de posição final e a inicial.
Assim, o valor da velocidade média calcula-se neste cso de um movimento unididensional n
direcção de Ox por:
Δx
vmx =
Δt
O sinal + ou – do valor da velocidade média tem a ver com o facto de o deslocamento entre as
posições inicial e final que se consideraram ter ocorrido no sentido positivo ou negativo do eixo
Ox que se considerou.
Note-se que esta definição implica que, sendo o deslocamento nulo, a velocidade média também
é nula (a divisão de 0 por qualquer número é sempre 0!). Quer dizer: se, por exemplo, uma
partícula deu uma volta completa a uma pista, voltando à posição inicial, a sua velocidade
média foi nula! Evidentemente, a rapidez média pode ter sido maior ou menor, mas nunca nula.
Resolva a actividade 7
A grandeza que nos informa se a posição de uma partícula, num certo instante, está a variar
mais depressa ou mais devagar e para onde (em que direcção e sentido) está a variar é a
velocidade instantânea ou, simplesmente, velocidade. Por outras palavras, quando conhecemos
o vector velocidade de uma prtícula, num certo instante, sabemos o ritmo a que ela se está a
deslocar e para onde (em que direcção e sentido) se está a deslocar. A definição matemática de
velocidade é, tal como a definição de rapidez, aparentemente complexa, pois trata-se de uma
grandeza limite.
Porém, a ideia básica é simples: a velocidade num instante t é o limite da velocidade média, ,
quando o intervalo de tempo Δt em que esta se mede vai sendo cada vez menor, tendendo para
zero (na vizinhança de t).
Quanto menor for este intervalo de tempo (aproximando-se de zero), mais a velocidade média
se vai aproximando da velocidade instntânea ou seja da taxa instantânea de variação da posição.
No limite, pode representar-se este modo de operar pela expressão:
Δx − 1,5m
vmx = = = −0,5m / s
Δt 3s
Como o declive da recta que representa a função x(t), a qual, neste caso, é a função x = – 0,5 t,
com x em metros e t em segundos, é constante, qualquer que seja o intervalo de tempo que se
considere, o quociente do deslocamento pelo respectivo intervalo de tempo é sempre – 0,5 m/s.
Significa isso que o valor da velocidade é constante e igual a -0,5 m/s.
E se o gráfico da função x = f (t) não for uma recta ou constituído por troços de pequenos
segmentos de recta? Nesse caso, isso significa que o valor da velocidade varia de instante a
instante e, por isso, já não podemos utilizar o valor da velocidade média num certo intervalo de
tempo como valor da velocidade do corpo nos vários instantes constituintes desse intervalo de
tempo!
Como se determina, nesse caso, a velocidade de um corpo num certo instante a partir de um
gráfico posição-tempo?
Recordamos que o valor da velocidade num instante genérico t é a derivada da função tempo-
posição
x = f (t)
e mostra-se na Matemática que tal derivada nesse instante t é dada pela tangente à curva que
traduz essa função x = f (t) no ponto de abcissa t. Ou seja: para determinar a velocidade num
certo instante, basta traçar a recta tangente à curva no instante em que se pretende calcular a
velocidade e determinar o declive dessa recta tangente.
Por exemplo, nos gráficos seguintes podemos ver a curva que traduz a posição y de uma
partícula lançada verticalmente de baixo para cima ao longo de um eixo Oy em função do
tempo. A trajectória é uma linha recta vertical, a curva que traduz a função y = f (t) é como
vemos uma parábola. São inconfundíveis!
Está ilustrado na página seguinte o modo como se determina, com base no declive da tangente à
curva y = f (t) o valor da velocidade da partícula no instante 2 s, com a partícula ainda a subir,
no instante 3 s, quando a partícula atingiu a posição mais elevada e no instante 4 s, quando a
partícula já está a descer.
Estes declives das tangentes à curva da referida função y = f (t) correspondem à derivada da
função y = f (t), respectivamente nos instantes 2 s, 3 s e 4 s.
No gráfico seguinte vy representa o valor da velocidade no movimento ao longo do eixo, valor esse que é
positivo quando a velocidade tem o sentido positivo do eixo e negativo quando tem o sentido negativo do
eixo.
y
O
No gráfico está representada a variação do valor da velocidade da partícula nos instantes 0 s e 1 s. Está
também determinado o valor da variação de velocidade, Δvy, no intervalo de tempo entre os dois
instantes, Δt.
Designa-se por aceleração média a grandeza que mede a variação, em média, da velocidade por unidade
de tempo:
r
r Δv
am =
Δt
No caso representado a aceleração média tem o valor -10 m / s 2 pois a componente (projecção) da
velocidade no eixo, que vai tendo valores cada vez mais negativos, vai variando de -10 m/s em cada
segundo. Note-se que este valor é o declive da recta que traduz a função vy (t). Este declive é negativo
porque esta função é decrescente.
Como nesta situação o declive é constante, o gráfico vy (t) é uma recta e poderíamos calcular o valor da
aceleração média utilizando qualquer intervalo de tempo e a correspondente variação Δvy. Por exemplo, se
utilizássemos o intervalo de tempo de 0 s a 0,6 s, teríamos (– 6,0 m/s) /0,6 s que iria conduzir-nos ao
mesmo valor da aceleração.
A aceleração média do movimento de queda livre vertical tem o módulo 9,8 m/s2 (aceleração da
gravidade normal, ou seja valor a latitudes médias e baixa altitude) e é uma grandeza vectorial dirigida
«para baixo». Considerando um eixo Oy como o representado acima (sentido positivo para cima), o seu
valor é -9,8 m/s2. Este valor significa que o módulo ou magnitude da velocidade varia, em média, de 9,8
m/s em cada segundo e o seu sentido é oposto ao do eixo Oy (geralmente, mas não obrigatoriamente,
dirigido para cima). Se arredondarmos para o valor - 10 m/s2, equivale a uma variação de - 2,0 m/s em
cada 0,2 s, como se mostra no gráfico anterior.
Se considerássemos o eixo de referência Oy dirigido para baixo, dado que a velocidade média cresce para
baixo, a aceleração média teria um valor positivo.
Em suma: a aceleração média é uma grandeza vectorial cuja direcção e sentido são determinados pela
r
r Δv
variação de velocidade, Δv , e cujo módulo é .Exprime-se, no SI, em metros por segundo quadrado
Δt
-1
ms
porque = ms-2
s
A aceleração (instantânea)
Vimos que a velocidade era a grandeza vectorial que media a variação da posição de uma partícula em
cada instante. É dada pelo limite da velocidade média determinada para um intervalo de tempo centrado
nesse instante à medida que esse intervalo de tempo vai tendendo para zero:
r
r Δr
v = lim
Δt → 0 Δt
De forma análoga, podemos afirmar que a aceleração é a grandeza vectorial que mede a variação da
velocidade de uma partícula em cada instante. É dada pelo limite da aceleração média determinada para
um intervalo de tempo centrado nesse instante à medida que esse intervalo de tempo vai tendendo para
zero:
r
r Δv
a = lim
Δt → 0 Δt
r
Da mesma forma que o limite que define a velocidade traduz a derivada do vector- posição r em ordem
ao tempo,
r r
r Δr dr
v = lim =
Δt → 0 Δt dt
r
o limite que define a aceleração traduz a derivada da velovidade v em ordem ao tempo,
r r
r Δv dv
a = lim =
Δt → 0 Δt dt
E, da mesma forma que o valor da velocidade é dada pelo declive da tangente no gráfico posição-tempo,
(é a derivada da posição em ordem ao tempo) o valor da aceleração é dada pelo declive da tangente no
gráfico velocidade-tempo (é a derivada da velocidade em ordem ao tempo).
2.1 Algumas ideias gerais e essenciais sobre as forças
A força
A palavra força, tal como muitas outras palavras vulgares, tem um significado em Física
muto preciso, que se afasta do significado que lhe atribuímos no dia-a.dia.
Assim, p. ex., é vulgar dizer-se: “aquele sujeito tem muita força”. Esta afirmação não
tem qualquer sentido em Física, pois a força não é nada que seja pertença de um corpo.
Uma pessoa pode conter mais ou menos energia (energia interna do sistema pessoa),,
mas não pode conter força.
Outro ex.: “aquela bola chutada vinha cheia de força”. Esta frase denota uma clara
confusão entre duas grandezas muito diferentes: força e magnitude da velocidade. Uma
bola veloz move-se com grande rapidez (magnitude da sua velocidade vectorial), mas
não trás força. Se aquece as mãos do gurada-redes que a defende, é porque trás muita
energia (cinética) que se transfere para as mãos do guarda-redes (energia interna).
A força, em Física, é sinónimo de interacção. Para sermos mais exactos, quantifica uma
interacção.
A bola é veloz porque nela actuou uma força de grande intensidade quando ocorreu o
pontapé do jogador nela. A força só actuou enquanto o pé esteve a interctuar com a
bola. Quando esta se afastou do pé, não mais actou força na bola.
O que têm de comum estas duas situações? Em ambas ocorreu uma interacção e, com esta, um
par de forças. Uma num corpo, outra no outro.
E o que têm de diferente? Num dos casos, um objecto electrizado por fricção interactuou com
duas pequenas esferas de um pêndulo e exerceu forças atractivas nelas mesmo antes de os
corpos estarem em contacto com esse objecto. Diz-se que ocorreram interacções «a distância»,
um com cada esfera. No outro caso ocorreu o que se chama uma interacção «por contacto»
Ao fim e ao cabo, o que ocorre nestas e em todas as interacções é a actução de forças entre as
partículas a distâncias maiores ou menores. No caso da interacção dita de «contacto», as forças
entre as partículas da bol e da raquete também acabam por ser «forças a distância», pois essas
partículas mantêm entre si distâncias microscópicas.
Então uma primeira aparente conclusão é que as interacções são a distância. Como veremos
mais tarde, esta conclusão é errónea, pois na realidade as interacções entre corpos distantes
também terão de ser interpretadas em termos de forças de contacto entre as partícuas de um
corpo e os chamados campos criados pelas partículas do outro corpo.
O que é importante para já saber é que de uma interacção entre corpos resulta um par de forças
com as seguintes características:
- sentidos opostos
Estas considerações, constituem o enunciado da lei da acção-reacção, enunciada por Newton do
seguinte modo:
“A toda a acção opõe-se sempre uma reacção igual, ou, as acções mútuas de dois corpos um
sobre o outro são sempre iguais e dirigidas em sentidos opostos.”
Sempre que numa partícula B actua uma força devida exclusivamente à acção da partícula A,
r r
FB / A , na partícula A actuará sempre uma força devida á partícula B, FA / B , e verificar-se-á
sempre que estas forças são simétricas:
r r
FA / B = - FB / A
Realize as actividades 8 e 9
Quando Newton estabeleceu esta lei, nos Principia, passou logo a comentá-la e um dos
exemplos que utilizou é o célebre exemplo do «cavalo que puxa uma pedra amarrada a uma
corda».
Ao analisar este exemplo, afirma a determinada altura que a corda “puxará o cavalo, na
direcção da pedra, tanto quanto ela puxa a pedra na direcção do cavalo, e obstruirá o
progresso de um tanto quanto promove o do outro”.
Para que exista variação de velocidade num corpo, tem que existir uma ou várias forças não
equilibradas a actuarem no corpo. Vamos agora referir-nos à modificação que ocorre no
movimento de uma partícula quando é actuada por uma força ou por forças cuja resultante
(soma vectorial de todas as forças aplicadas) não é nula.
Particularmente, vamos estudar o caso do movimento de uma partícula com uma trajectória
rectilínea, actuada por uma resultante de forças que mantém, enquanto actua, sempre a mesma
direcção, o mesmo sentido e a mesma intensidade.
Este estudo é realmente importante, pois engloba diversas situações do dia-a-dia, entre as quais
estão a queda livre, o movimento ascensional seguido de queda (é o caso referido nos très
gráficos da secção anterior) e os movimentos dos projécteis, em condições em que a resistência
do ar é desprezável, pois nesses casos a única força que actua é a força gravítica da Terra (que
se pode considerar constante, permanentemente vertical e dirigida para baixo, nessas pequenas
regiões da Terra onde tais movimentos ocorrem.
r
Quando uma partícula está actuada por forças cuja resultante, F , é constante, ocorre uma
variação uniforme da grandeza vectorial velocidade, variação essa que é expressa (como vimos)
r
pela grandeza vectorial aceleração, a =
, que neste caso é também constante.
A palavra aceleração é frequentemente utilizada de modo impreciso ou incorrecto na linguagem
comum. Em Física, aceleração é o nome de uma grandeza que mede a taxa da variação de
velocidade instantânea com o tempo.
Na linguagem vulgar, acelerar significa aumentar a velocidade. Na linguagem científica,
acelerar significa modificar a velocidade, seja esta modificação um aumento do módulo da
velocidade, uma diminuição do módulo da velocidade ou simplesmente uma variação da
direcção da velocidade sem alteração da rapidez. Assim, por exemplo, se um automóvel
descreve uma curva sempre a 40 km/h está a acelerar, pois a velocidade do automóvel, ainda
que mantenha o seu módulo sempre igual a 40 km/h, está a mudar de direcção, uma vez que a
velocidade é um vector tangente à trajectória curva que, por ser tangente, está a variar.
Foi Newton que estabeleceu a relação fundamental que ocorre entre a resultante das forças que
actum numa partícula e a alteração da velocidade da mesma. Reinterpretando o que ele afirmou,
poderemos enunciar a seguinte lei, considerada a lei fundamental da dinâmica clássica (também
conhecida por segunda lei de Newton, sendo a lei da acção-reacção a terceira e a lei da inércia a
primeira):
A aceleração de uma partícula tem a direcção e o sentido da resultante das forças que nela
actuam sendo proporcional a essa força resultante.
v v
Esta lei traduz-se pela equação F = ma , expressão que traduz o facto de os vectores força e
aceleração terem a mesma direcção e sentido. Para onde está dirigida a força, está também
dirigida a aceleração. O escalar m é a massa do corpo.
Quando a massa está expressa em quilogramas (kg) e a aceleração em metros por segundo
quadrado (m/s2), a força vem expressa em newtons (N), porque 1 N = 1 kg × 1 m/s2.
Embora na maioria dos casos a força resultante que actua num corpo tem uma direcção diferente
da sua velocidade inicial, o que faz com que o corpo não prossiga na direcção desta, vamos
agora considerar o caso em que a força e, portanto, a aceleração tem a direcção da velocidade
inicial. E como, além disso, admitimos que a força e, portanto a aceleração, se mantém
constante, estas grandezas vectoriais mantêm-se sempre com a direcção da velocidade.
- a força ser uma força resistente, ou seja opor-se ao movimento, e então o sentido da aceleração
é oposto ao da velocidade; é, p. ex. o caso de um corpo lançado verticalmente de baixo para
cima - velocidade para cima e peso para baixo;
- a força ser uma força potente, ou seja favorável ao movimento, e então o sentido da aceleração
é o mesmo da velocidade; é, p. ex. o caso de o corpo lançado verticalmente de baixo para cima,
quando já vem a dscer - velocidade para baixo e peso para baixo.
Este tipo de movimentos rectilíneos em que a velocidade vai variando uniformemente, porque a
aceleração é constante designam-se por movimentos rectilíneos uniformemente variados.
Quando:
r r
- os vectores a (constante) e v têm a mesma direcção e sentido e portanto a rapidez ou
módulo da velocidade aumenta, os movimentos são uniformemente acelerados;
r r
- os vectores a (constante) e v têm a mesma direcção mas sentidos opostos e portanto a
rapidez ou módulo da velocidade diminui, os movimentos são uniformemente retardados;
Consideremos um carro actuado por uma força resutante nula. Nestas condições, a aceleração
do carro também será nula. A velocidade será então constante, e o movimento rectilíneo
(porque a trajectória é rectilínea) e uniforme (porque a rapidez é constante).
Se uma força constante for potente, portanto com o sentido da velocidade inicial, a aceleração e
velocidade terão o mesmo sentido. A velocidade será crescente. É o caso, por ex., de um
carro em movimento rectilíneo cujo velocímetro revela um aumento regular de 10 km/h em
cada segundo. A variação de velocidade do carro é de 10 km/h em cada segundo, sempre no
sentido do movimento.
A aceleração mede a taxa da variação da velocidade com o tempo. Podemos dizer que, neste
caso, ela é de 10 km/h por segundo no sentido do movimento.
A magnitude ou módulo da aceleração pode exprimir-se em:
Se uma força constante for resistente, portanto com o sentido oposto ao da velocidade inicial, a
aceleração e velocidade terão sentidos opostos. A velocidade será decrescente. É o caso, por
ex., de um carro em movimento rectilíneo cuja velocidade diminui regularmente de 10 km/h em
cada segundo (o carro vai travando). A variação de velocidade do carro é 10 km/h em cada
segundo, no sentido oposto ao do movimento:
Neste caso, a aceleração tem sentido oposto ao do movimento e o valor de 10 (km/h)/so:
A manter-se esta situação, a velocidade do carro passará:
A lei da inércia
Acabámos de ver que quando um corpo não é actuado por forças ou é actuado por forças
equilibradas (força nula), a aceleração também é nula e o corpo mantém o seu estdo cinético:
tem sentido oposto ao do movimento e o valor de 10 (km/h)/so:
Ou permanece em repouso se estiver em repouso ou mantém a sua velocidade, ou seja mantém-
se em movimento rectilíneo e uniforme, se estiver a mover-se. Este facto está de acordo com
uma tendência natural dos corpos para manterem o seu estado cinético e que se chama inércia.
Sabemos que «custa muito» fazer arrancar um corpo «muito pesado» que está parado. E «custa
imenso (muita força) a ser parado quando se move. Sucede o contrário com um corpo «leve».
Que significa este «custa muito»? Significa que temos de aplicar uma grande força e algumas
vezes durante muito tempo. Força e tempo são determinantes da alteração do estado cinético
(repouso ou movimento) dos corpos. Há uma tendência maior ou menor dos corpos para se
manterem no estado cinético em que estão. A esta tendência chama-se inércia. Curiosamente
também há uma tendência maior ou menor das pessoas para manterem as ideias que têm e a que
se chama inércia intelectual.
Sempre que, ao exercermos uma força num corpo, tentamos alterar a sua velocidade (em
direcção e/ou em módulo), notamos mais ou menos dificuldade em o conseguir. Este facto leva
muita gente a pensar que há uma espécie de força resistente, que o corpo exerce em si próprio, e
que se opõe à força que nós nele exercemos. Mas tal força resistente não existe. Trata-se de uma
concepção errónea. O que há é uma propriedade de todos os corpos, a sua massa, expresa em
quiogramas (no SI), que faz com que eles tenham maior ou menor inércia: por si sós, pela
natureza e número das suas partículas, uns mais, outros menos, têm uma tendência natural para
manter a sua velocidade constante, têm inércia.
Por exemplo, um petroleiro demora algumas dezenas de minutos a parar, percorrendo mesmo
uma distância considerável antes de se imobilizar. Por outro lado, uma canoa, que se desloque
com a mesma velocidade do petroleiro, pode ser facilmente parada ao fim de alguns segundos.
O petroleiro e a canoa podem deslocar-se à mesma velocidade, de facto, mas diferem num
aspecto fundamental: a inércia do petroleiro é muito maior do que a da canoa.
Consideremos agora que o petroleiro e a canoa estão parados. A velocidade deles é nula. Para
fazer com que atinjam a mesma velocidade, é necessário aplicar uma força muito maior no
petroleiro do que na canoa e, possivelmente, durante muito mais tempo (intuitivamente
entendemos que este intervalo de tempo vai depender da força aplicada). Porquê? Porque a
inércia do petroleiro é, como dissemos, muito maior do que a inércia da canoa.
Consideremos novamente que o petroleiro e a canoa estão a andar a uma certa velocidade. Para
fazer com que descrevam uma mesma trajectória curva, será também necessário aplicar uma
força muito maior no petroleiro do que na canoa e/ou durante mais tempo (o que conta é o
produto da força pelo intervalo de tempo). Isto deve-se, também, ao facto de a inércia do
petroleiro ser muito maior do que a inércia da canoa.
A inércia do petroleiro é muito maior do que a da canoa. Que significa esta afirmação?
A inércia é uma propriedade fundamental dos corpos: traduz a sua tendência para não
mudar de velocidade.
• um corpo não aumenta de velocidade, não diminui de velocidade, nem muda a direcção da
velocidade só por si, isto é, só muda se lhe forem aplicadas forças não equilibradas;
• quanto maior for a inércia de um corpo, mais difícil é fazê-lo mudar de velocidade, quer dizer,
maior terá de ser o produto da força a aplicar pelo tempo de aplicação desta para lhe mudar a
velocidade.
Segundo esta lei (também conhecida por lei da inércia), repouso e movimento rectilíneo, com
velocidade constante, são situações físicas semelhantes. Se um corpo está parado, a resultante
das forças que nele actuam é nula (o facto de estar parado não significa, pois, que não actuem
forças…):
Utilização das leis de Newton em diversas situações
AS FORÇAS NUM PLANO INCLINADO SEM ATRITO
(In VALADARES, J., Silva, L., TEODORO, V., Física, 11º ano, Didáctica Editora, 1998)
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