Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
Assessores
Fernanda Narezi Pimentel Rosa
Marcelo Sorrentino Neira
Paulo José de Palma
Ricardo José Gasques de Almeida Silvares
Rogério Sanches Cunha
Analista Jurídica
Ana Karenina Saura Rodrigues
Boletim Criminal Comentado Setembro-
2019- (semana nº 04)
SUMÁRIO
SUMÁRIO --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 2
ESTUDOS DO CAOCRIM -------------------------------------------------------------------------------------------------- 3
1-Tema: Lei 13.654/18 e a alteração da pena pelo Juízo de Execução....................................................3
2- Tema: Medida cautelar de suspensão de atividade econômica pode atingir pessoa jurídica.............8
DIREITO PENAL:----------------------------------------------------------------------------------------------------------- 11
1-Tema: Art. 240 do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA. Crime formal. Crime Comum. Crime
de subjetividade passiva própria. Tipo misto alternativo....................................................................11
2
Boletim Criminal Comentado Setembro-
2019- (semana nº 04)
ESTUDOS DO CAOCRIM
O inciso I do art. 157 do CP (emprego de arma) foi revogado pela Lei 13.654/18, que acrescentou
ao mesmo artigo 157 o §2º.-A, majorando a pena somente quando o crime for executado com
arma de fogo.
A restrição promovida pela Lei 13.654/18 é benéfica, ou seja, deve retroagir para retirar a
majorante relativa a todos os roubos cometidos com objetos outros que não armas de fogo.
Neste sentido já decidiu o STJ em recurso especial no qual se buscava, originalmente, o reajuste
da pena aplicada em primeira instância, que havia erroneamente desconsiderado a consumação
da subtração cometida com emprego de uma faca:
“A atual previsão contida no art. 157, § 2º-A, inciso I, do Código Penal, incluído pela Lei n.
13.654/2018, limita a possibilidade de aumento de pena à hipótese de a violência ser cometida
mediante emprego de arma de fogo, assim considerado o instrumento que "(...) arremessa
projéteis empregando a força expansiva dos gases gerados pela combustão de um propelente
confinado em uma câmara que, normalmente, está solidária a um cano que tem a função de
propiciar continuidade à combustão do propelente, além de direção e estabilidade ao projétil",
de acordo com o art. 3º, XIII, do Decreto n. 3.665/2000”.
Sabendo que a lei nova que de qualquer modo favorece o agente retroage mesmo depois do
trânsito em julgado, cabe ao juiz da execução aplicar seus termos (Súmula 611 do STF).
STJ- AgRg no HC 509.701/DF, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em
06/08/2019, DJe 15/08/2019
1. Com a revogação do inciso I pela Lei n. 13.654/18, o Juízo da Execução Penal pode considerar
o emprego de arma branca na primeira fase da dosimetria da pena e deslocar o concurso de
pessoas para a terceira, desde que não seja agravada a situação do sentenciado.
3
Boletim Criminal Comentado Setembro-
2019- (semana nº 04)
EMENTA
4
Boletim Criminal Comentado Setembro-
2019- (semana nº 04)
1- Tema: Medida protetiva. Art. 9º, § 2º, II, da Lei n. 11.340/2016 (Lei Maria da Penha).
Manutenção do vínculo trabalhista. Afastamento do local de trabalho. Vara especializada em
violência doméstica e familiar. Competência.
A amplitude da competência conferida pela Lei n. 11.340/2006 à Vara Especializada tem por
propósito permitir ao mesmo magistrado o conhecimento da situação de violência doméstica e
familiar contra a mulher, permitindo-lhe bem sopesar as repercussões jurídicas nas diversas
ações civis e criminais advindas direta e indiretamente desse fato. Providência que, a um só
tempo, facilita o acesso da mulher, vítima de violência doméstica, ao Poder Judiciário, e confere-
lhe real proteção (RHC n. 100.446, Rel. Ministro Marco Aurélio Belizze, DJe 27/11/2018). Em
relação à Justiça do Trabalho, o art. 114, I, da Constituição Federal prevê sua competência para
processar e julgar as ações oriundas da relação de trabalho. No entanto, no caso, o pedido sobre
o reconhecimento do afastamento do trabalho advém de ameaças de morte sofridas,
reconhecidas pelo juiz criminal, que fixou as medidas protetivas de urgência de proibição de
aproximação da ofendida e de estabelecimento de contato com ela por qualquer meio de
comunicação, conforme previsto no art. 22 da Lei Maria da Penha, circunstâncias alheias ao
contrato de trabalho. O inciso II do § 2º do art. 9º da Lei n. 11.340/2006 prevê que o juiz
assegurará à mulher em situação de violência doméstica e familiar, para preservar sua
integridade física e psicológica, a manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o
afastamento do local de trabalho, por até seis meses. A referida lei prevê, em seu art. 14, a
competência da vara especializada para execução das causas decorrentes de violência
doméstica. Logo, no que concerne à competência para apreciação do pedido de imposição da
medida de afastamento do local de trabalho, cabe ao juiz que reconheceu a necessidade anterior
de imposição de medidas protetivas apreciar o pleito.
PROCESSO: REsp 1.757.775-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, por unanimidade,
julgado em 20/08/2019, DJe 02/09/2019
5
Boletim Criminal Comentado Setembro-
2019- (semana nº 04)
COMENTÁRIOS DO CAO-CRIM
Os mecanismos de assistência à mulher, de acordo com o art 9º. da Lei 11.340/06, tripartem-se
em: (a) “assistência social” (Lei 8.742/1993), incluindo a ofendida no cadastro de programas
assistenciais do governo federal, estadual e municipal;
(c) “à segurança pública”, garantindo à vítima proteção policial, bem como abrigo ou local
seguro, quando houver risco de vida e, se necessário, acompanhamento da ofendida para
assegurar a retirada de seus pertences do local da ocorrência ou do domicílio familiar (ver art.
11).
Ao juiz é dado, nesse caso, garantir à mulher a manutenção dessa relação jurídico-laboral, a
exemplo do que se verifica no art. 471 da CLT, que trata da suspensão e da interrupção do
contrato de trabalho, in verbis: “Ao empregado, afastado do emprego, são asseguradas, por
ocasião de sua volta, todas as vantagens que, em sua ausência, tenham sido atribuídas à
categoria a que pertencia na empresa”.
Uma primeira corrente defende a competência da Vara do Trabalho. Para tanto, lembra a
redação do art. 114 da CF/1988:
Se o que se discute no art. 9º. é a manutenção de um vínculo trabalhista, então matéria acha-se
na competência da Justiça do Trabalho. Sobretudo após o advento da EC 45/2004, que deu nova
6
Boletim Criminal Comentado Setembro-
2019- (semana nº 04)
A conveniência em se atribuir à Justiça especializada toda e qualquer causa que envolva relação
de trabalho vem bem apanhada pela jurisprudência do STF, merecendo que se confira: “Órgãos
que se debruçam cotidianamente sobre os fatos atinentes à relação de emprego (muitas vezes
quanto à própria experiência dela) e que por isso mesmo detêm melhores condições para
apreciar toda a trama dos delicados aspetos objetivos e subjetivos que permeiam a relação de
emprego” (CComp 7.204-1/MG, j. 29.06.2005, rel. Min. Ayres Britto).
Daí, para muitos, o equívoco do legislador em atribuir à Justiça comum (da Vara da Violência
contra a Mulher) a competência para conhecer de matéria que, obviamente, tem cunho
trabalhista e, por consequência, da competência daquela justiça especial. Por tratar-se de
competência firmada no texto maior, não se permite que lei infraconstitucional o afronte, pelo
que o dispositivo em estudo, nesse ponto, pode ser mesmo taxado de inconstitucional. Em
sentido contrário, admitindo a competência do Juizado da Violência Doméstica para conhecer
da matéria, Maria do Perpétuo Socorro Wanderley de Castro.1
Uma segunda corrente discorda, lecionando ser da Vara da Mulher, pois as circunstâncias são
alheias ao contrato de trabalho.
O STJ, no julgado em comento, concordou com esta posição e decidiu ser a competência da vara
especializada para execução das causas decorrentes de violência doméstica, nos termos do art.
14 da Lei.
1 . Idem, ibidem.
7
Boletim Criminal Comentado Setembro-
2019- (semana nº 04)
2- Tema: Medida cautelar de suspensão de atividade econômica pode atingir pessoa jurídica
COMENTÁRIOS DO CAO-CRIM
No âmbito das medidas cautelares de natureza pessoal no processo penal, a prisão preventiva é
considerada ultima ratio. É o que se extrai do § 6º do art. 282 do CPP: “A prisão preventiva será
determinada quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar (art. 319)”.
Este dispositivo reforça o caráter residual da prisão preventiva, a ser imposta, em caráter
excepcional, apenas quando inexistente outra opção. Em atendimento, pois, ao princípio da
presunção de inocência, a regra é a liberdade. Em um estágio intermediário, privilegia-se a
adoção de medidas cautelares. E, apenas em último caso, quando inviável quaisquer das
alternativas anteriores, decreta-se a prisão preventiva. A possibilidade de adoção da medida
cautelar rompe, assim, com a anterior bipolaridade, que se restringia a duas possibilidades: a
prisão ou a liberdade provisória (com ou sem fiança).
O Código de Processo Penal elenca no art. 319 as medidas que podem servir de alternativa à
prisão, dentre as quais se encontra a suspensão do exercício de função pública ou de atividade
de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática
de infrações penais.
Outro exemplo que pode ser citado – e que foi objeto de julgamento pelo STJ no RMS 60.818/SP
(j. 20/08/2019) – é o de quem utiliza postos para vender combustíveis furtados, roubados ou
adulterados.
8
Boletim Criminal Comentado Setembro-
2019- (semana nº 04)
No caso julgado, o agente, dono de um posto de combustíveis, era apontado como membro de
uma organização criminosa responsável pelo roubo de 291.000 litros de etanol e de 1.000 litros
de óleo diesel, parte dos quais era revendida no posto de propriedade do investigado.
Mas o julgamento teve uma peculiaridade: o que se discutia era a suspensão da atividade
econômica do posto de combustíveis, não do proprietário, que já estava preso preventivamente.
A empresa havia ajuizado mandado de segurança alegando que a cautelar fundamentada no inc.
VI do art. 319 do CPP não poderia ser decretada contra pessoa jurídica que não era investigada
e nem denunciada, dada a natureza dos crimes apurados, que não permitem a responsabilização
criminal do ente fictício. Alegava-se ainda ser indevida a cumulação da prisão preventiva do dono
do posto com a cautelar de suspensão da atividade econômica do mesmo estabelecimento.
O mandado de segurança ajuizado perante o Tribunal de Justiça de São Paulo foi denegado, razão
pela qual houve recurso ao STJ, que manteve a decisão sob o argumento de que a jurisprudência
do tribunal se firmou no sentido de ser possível à cautelar atingir pessoas jurídicas utilizadas
como instrumentos da prática de crimes financeiros:
“Com efeito, não há necessidade de que a pessoa jurídica tenha sido denunciada por crime para
que lhe sejam impostas medidas cautelares tendentes a recuperar o proveito do crime, a
ressarcir o dano por ele causado ou mesmo a prevenir a continuação do cometimento de delitos,
quando houver fortes evidências, como no caso dos autos, de que a pessoa jurídica é utilizada
como instrumento do crime de lavagem de dinheiro.
Desnecessário, também, que haja prévia sentença condenatória transitada em julgado para a
imposição da suspensão de atividade comercial de empresa, já que a medida cautelar somente
demanda fortes indícios da existência de crime.
Com efeito, a jurisprudência desta Corte vem entendendo que a suspensão do exercício de
atividade econômica ou financeira de pessoa jurídica tem amparo legal no art. 319, VI, do CPP e
está intimamente ligada à possibilidade de reiteração delitiva e à existência de indícios de crimes
de natureza financeira.
(…)
No caso concreto, a autoridade apontada como coatora indicou a existência de fortes indícios
de que a empresa recorrente era utilizada para comercializar o combustível roubado pela
organização criminosa, suspeita essa fortalecida pelo fato de que alguns dos integrantes da
organização constavam na folha de pagamento da empresa.
9
Boletim Criminal Comentado Setembro-
2019- (semana nº 04)
(…)
Também não socorre a recorrente a tese de que seria ilegal a cumulação de prisão preventiva
com outras medidas cautelares. A permissão para que isso ocorra está expressa no art. 282, §
1º, do CPP e se justifica, na hipótese em exame, na medida em que a restrição da liberdade é
dirigida ao denunciado e a medida cautelar objeto da controvérsia atinge pessoa jurídica
utilizada como instrumento do crime. Como bem ponderou a autoridade apontada como
coatora, “a prisão se destina à restrição da liberdade do denunciado, para evitar que a prática
criminosa seja reiterada por ele e a suspensão das atividades é para impedir que a própria
atividade econômica seja utilizada para a prática de crimes por outros agentes” (e-STJ fl. 37).
Essa suspeita é reforçada pela afirmação da empresa recorrente de que a administração do posto
“se dá (como sempre se deu) pela gerente da empresa” (e-STJ fl. 542).
Muito embora o art. 282, § 6º, do CPP recomende que a prisão preventiva somente seja imposta
em ultima ratio, quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar prevista no
art. 319 do CPP, a recomendação não constitui impedimento de imposição concomitante de
outras medidas cautelares. Isso não é raro, por exemplo, quando se determina a prisão
preventiva de investigados ou denunciados e o sequestro de valores ou bens de sua propriedade,
ou até mesmo de propriedade de terceiros, que se acredita constituírem produto ou
instrumento de crime.”
10
Boletim Criminal Comentado Setembro-
2019- (semana nº 04)
DIREITO PENAL:
1-Tema: Art. 240 do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA. Crime formal. Crime
Comum. Crime de subjetividade passiva própria. Tipo misto alternativo.
O delito do art. 240 do ECA é classificado como crime formal, comum, de subjetividade passiva
própria, consistente em tipo misto alternativo.
11
Boletim Criminal Comentado Setembro-
2019- (semana nº 04)
corréus com duas adolescentes, há duas condutas de subsunção típica única, motivo pelo qual
se conclui pela existência de crime único.
PROCESSO: PExt no HC 438.080-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Quinta Turma, por unanimidade,
julgado em 27/8/2019, DJe 2/9/2019
COMENTÁRIOS DO CAO-CRIM
No caput do art. 240 do ECA são seis as condutas típicas previstas, todas ligadas, direta ou
indiretamente, à criação de material pornográfico envolvendo criança e adolescente: produzir
(pôr em prática, levar a efeito, realizar), reproduzir (apresentar novamente, imitar fielmente),
dirigir (dar orientação, comandar), fotografar (imprimir a imagem de alguém por meio da
fotografia), filmar (registrar a imagem de alguém por meio de vídeo) e registrar (alocar em bases
de dados) cena de sexo explícito ou pornográfica, assim entendida qualquer situação que
envolva criança ou adolescente em atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou exibição
dos órgãos genitais de uma criança ou adolescente para fins primordialmente sexuais (art. 241-
E).
Trata-se de tipo misto alternativo, ou seja, se o agente, no mesmo contexto fático, incorrer em
mais de uma ação nuclear típica (dirigir e filmar, por exemplo), responderá por apenas um crime,
embora isso possa se refletir na aplicação da pena.
a) agencia (trata com terceiros, diligencia), facilita (propicia sem a exigência de esforço), recruta
(alicia, angaria), coage (constrange, força), ou, de qualquer modo, intermedeia (põe-se entre
duas ou mais pessoas com a finalidade de tratar sobre determinado assunto) a participação de
criança ou adolescente nas cenas referidas no caput;
b) com eles contracena (participa efetivamente da cena de sexo explícito ou pornográfica criada).
Como já atentado nas considerações iniciais, esta última conduta, principalmente, pode também
configurar crime mais grave, como no caso de o agente praticar cena de sexo explícito com uma
criança de dez anos de idade, por exemplo, caracterizando estupro de vulnerável.
A exemplo do que exposto no caput, se o agente, no mesmo contexto fático, praticar mais de
uma conduta, não desnatura a unidade do crime, devendo a multiplicidade de ações ser
considerada na aplicação da reprimenda.
12
Boletim Criminal Comentado Setembro-
2019- (semana nº 04)
O crime é punido a título de dolo, consubstanciado na vontade consciente de praticar uma das
ações nucleares típicas preconizadas no caput e no § 1.º, sem a exigência de qualquer finalidade
específica.
O momento consumativo do delito é atingido pela prática de qualquer das ações nucleares
típicas. Trata-se de crime formal, na linha do que decidido no julgado em comento.
13
Boletim Criminal Comentado Setembro-
2019- (semana nº 04)
14