Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
mesmo nome, ambos são de iniciativa de alunos e alunas do Programa de Pós Graduação em
Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Pará - PPGSA/UFPA- coordenados pela
profa. Dra. Denise Machado Cardoso.
A revista tem como objetivo publicar trabalhos de pesquisa de estudantes e
pesquisadores(as) que envolvam a Antropologia Visual como metodologia, além de incentivar a
produção, debate e pesquisa dentro desta área, enriquecendo tais discussões e buscando incentivar
novos estudos, principalmente no que diz respeito à Amazônia.
Indexadores:
Latindex
http://www.latindex.unam.mx/latindex/ficha?folio=24570
Sumários.org
http://sumarios.org/revistas/revista-eletr%C3%B4nica-visagem-antropologia-visual-
e-da-imagem
Comissão Editorial
Conselho Editorial
Organização
Chiara Albino
Lisabete Coradini
Revisão
Das/os autoras/es
Tradução
Das/os autoras/es
Webdesigner
Heitor Hatherly
Capa
Foto: Ariel David Ferreira
Arte: Marcio Alvarenga
Edição: Chiara Albino
6 Apresentação
ARTIGOS
Arthur Napoleão Figueiredo
VÍDEOS
Eneida Assis
ENTREVISTAS
Samuel Sá
Apresentação ao Dossiê
Chiara Albino
Universidade Federal de Santa Catarina
tarsila.chiara@gmail.com
Lisabete Coradini
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
lisacoradini@gmail.com
6
Uma definição geral de música deve incluir tanto sons quanto seres
humanos. Música é um sistema de comunicação que envolve sons
estruturados produzidos por membros de uma comunidade que se
comunica com outros membros.
Anthony Seeger
Apresentação 8
partir da prática musical – do ouvir, produzir e consumir a música
brasileira em Lisboa.
Apresentação 10
infregatividade: Estado, subjetividades, políticas e corpos em
movimento no contexto da música eletrônica bagaceira”. Albino
apresenta uma descrição mais ampla da noção de infregatividade,
focando, ao mesmo tempo, seu sentido performativo e produtivo.
Como a autora argumenta, a infregatividade revela modos de conexões
entre o material/econômico e o cultural/performativo.
Apresentação 12
Por fim é importante dizer que esse dossiê traz um quadro de
abordagens teóricas e experiências de pesquisas empíricas, de artigos
de pesquisas em andamentos ou concluídas. E é produto de uma
cooperação investigativa que teve início com a organização do dossiê
“Paisagens sonoras” (2017) organizado por Chiara Albino na Revista
Equatorial do PPGAS/UFRN, quando à época era mestranda do
PPGAS/UFRN e orientanda de Lisabete Coradini. Bem como, com
a organização do Grupo de Trabalho “Musicalidades, espacialidades
e imagens” durante a III edição do Encontro de Antropologia Visual
da América Amazônica 2018 (EAVAAM) coordenado por Chiara
Albino e Lisabete Coradini. É importante ressaltar que alguns dos
trabalhos que compõem o presente dossiê foram apresentados nesse
Grupo de Trabalho, que tinha como objetivo realizar uma discussão
aproximativa da relação mutuamente constitutiva entre
musicalidades, espacialidades e imagens. Particularmente situado na
confluência entre a antropologia urbana, a antropologia da música e
a antropologia audiovisual, reunimos nele pesquisas em andamentos
ou concluídas que discutiram, sobretudo, as musicalidades, as
espacialidades e as imagens como categorias conceituais,
metodológicas e interpretativas da realidade social.
Apresentação 14
Akwẽ Xerente”. Para Ferreira (2019, p. 315)
Referências
Apresentação 16
17 Chiara Albino e Lisabete Coradini
v. 05 | n. 01 | 2019
ISSN: 2446-8290
Seção Artigos
18
“Gênero, Canções e Emoções nos
filmes da Jovem Guarda
Resumo: Nesse artigo busco reflito sobre a concepção de amor romântico e sua relação com
questões de gênero que caracterizam os filmes protagonizados por Roberto Carlos, Wanderléa
Salim e Erasmo Carlos lançados entre 1968 e 1971. Esses três cantores foram as figuras chaves de
um movimento musical que se popularizou como Jovem Guarda, emergido na década de 1960,
fortemente ligado à rebelião jovem e que teve a apropriação do rock como marca distintiva. Nos
filmes analisados, Roberto, Erasmo e Wanderléa não apenas interpretam personagens, mas
engajam-se na construção de suas figuras midiáticas, constituindo narrativas que criam
significados por meio da articulação de imagens, canções e emoções, que desvelam padrões de
masculinidade e de feminilidade. Com isso, olhando e interpretando esses filmes, busco ressaltar
como não apenas a performance das emoções, mas sua própria constituição, é definida por
relações de gênero.
Palavras-chave: Filme Musical; Canção; Relações de Gênero; Antropologia das
Emoções.
19
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 19-47
ISSN: 2446-8290
Abstract: In this paper we approach the conception of romantic love and its relations to gender
issues that characterize the motion pictures starring Roberto Carlos, Wanderléa Salim and
Erasmo Carlos, released between 1968 and 1971. These three singers were the key figures of a
musical movement popularized as Jovem Guarda (Young Guard), emerged in the 1960s, strongly
related to young rebellion and that had the rock appropriation as a distinctive mark. In the films
analyzed, Roberto, Erasmo and Wanderléa not only interpret characters, but engage in the
construction of their media figures, constituting narratives that create meanings by the
articulation of images, songs and emotions that unveil masculinity and femininity patterns.
Therefore, watching and interpreting these films, we seek to emphasize that the performance of
emotions, as well as their own constitution, is defined by gender relations.
Keywords: Musical Film; Songs; Gender Relations; Anthropology of Emotions.
20
Género, Canciones y Emociones em las
peliculas de la Joven Guarda
Resumen: En este artículo reflexiono sobre la noción de amor romántico y su relación con
aspectos de género que caracterizan las películas protagonizadas por Roberto Carlos, Wanderléa
Salim y Erasmo Carlos lanzados entre 1968 y 1971. Estos tres cantantes fueron figuras claves de
un movimiento musical que se popularizó como Joven Guarda, que surgió en la década de 1960,
fuertemente ligado a la rebeldía juvenil y que tuvo la apropiación del rock como marca distintiva.
En las películas analizadas, Roberto Carlos, Erasmo y Wanderléa no solo interpretan personajes,
sino que participan en la construcción de sus figuras mediáticas, construyendo narrativas que
crean significados por medio de la articulación de imágenes, canciones y emociones, que revelan
patrones de masculinidad y de feminidad. Así, mirando e interpretando estas películas, señalo
que no solo la perfomance de las emociones, sino su propia constitución es definida por las
relaciones de género.
Palabras clave: Película Musical; Canción; Relaciones de Género; Antropología de las
Emociones.
21
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 19-47
ISSN: 2446-8290
Roberto quando canta sobre amor, em Por Isso Corro Demais, diz:
Meu bem cada momento que eu fico sem te ver,
aumenta a saudade que eu sinto de você.
Então eu corro demais, sofro demais.
Corro demais, só pra te ver meu bem” (Carlos, 1967).
celebra a amizade do trio, é a única do filme cuja temática não aponta para
a construção de relações de gênero, mas gira em torno de conselhos para o
bem viver.
Em seus dois números musicais, Roberto Carlos interpreta canções
que tematizam relações amorosas. Em Não Vou Ficar, Roberto sinaliza seu
desejo de rompimento de uma relação: “com você não posso mais ficar”
(Carlos, 1969). Em Custe o que Custar, Roberto Carlos assume-se como
aquele que escolhe de quem vai gostar, pra quem vai “dar seu coração”,
cantando:
Já nem sei pra quem eu dou meu coração.
Preciso acreditar
que gosto de alguém
e essa tristeza
vai ter que acabar e custe o que custar (Farias, 1970).
Considerações finais
Notas
Referências
FRITH, S. Sound effects: youth, leisure, and the politics of rock' n' roll.
Nova York: Pantheon Books, 1981.
Resumo: A proposta do artigo é discutir as relações sociais que são estabelecidas a partir da
prática musical – do ouvir, produzir e consumir a música. Partimos do argumento de que, como
produção humana, a música possui um papel relevante na construção e reconstrução de
identidades sociais, e, por consequência, caracteriza as cidades modernas ao contribuir para a
construção de imagens da cidade. Destacamos aqui o valor metodológico que os estudos sobre os
sons têm para as Ciências Sociais, pois nos permite conhecer e entender as trajetórias e
configurações sociais construídas no contexto das cidades, os estilos de vida e as formas de
estrutura social. Nosso recorte espacial é o circuito de “música brasileira” em Lisboa que composto
por várias paisagens sonoras, que não apenas demarcam o espaço urbano, como constroem
representações sobre a referida cidade.
Palavras-chave: Música; Paisagem Sonora; Circuito.
48
The sounds and the meanings: music and
representation forms in the Brazilian
circuito of music in Lisbon
Abstract: The purpose of this article is to discuss the social relations that are stablished from the
musical practice of listening, producing and consuming music. We start from the argument that,
as a human production, music has a relevant role in the construction and reconstruction of social
identities, and, consequently, characterizes modern cities by contributing to the construction of
images of the city. We highlight here the methodological value that studies on sounds have for the
Social Sciences, because it allows us to know and understand the trajectories and social
configurations built in the context of cities, lifestyles and forms of social structure. Our spatial
clipping is the circuit of "Brazilian music" in Lisbon that consists of several Soundscape, which not
only demarcate the urban space, but also construct representations about the city.
Keywords: Music; Soundscape; Circuit.
49
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 48-79
ISSN: 2446-8290
Resumen: La propuesta del artículo es discutir las relaciones sociales que son establecidas a
partir de la práctica musical – de oír, producir y consumir la música. Partimos del argumento de
que, como producción humana, la música tiene un papel relevante en la construcción y
reconstrucción de identidades sociales, y, por consecuencia, caracteriza las ciudades modernas al
contribuir para la construcción de imágenes de la ciudad. Destacamos aquí el valor metodológico
que los estudios sobre los sonidos tienen para las Ciencias Sociales, pues nos permite conocer y
entender las trayectorias y configuraciones sociales construidas en el contexto de las ciudades, los
estilos de vida y las formas de estructura social. Nuestro recorte espacial es el circuito de “música
brasileira” en Lisboa que es compuesto por varios paisajes sonoros, que no solo demarcan el
espacio urbano, como construyen representaciones sobre la referida ciudad.
Palabras clave: Música; Paisaje sonoro; Circuito.
50
Introdução¹
Situação 2
*****
Notas
Referências bibliográficas
FRITH, S. Music and identity. In: HALL, S.; GAY, P. du. (orgs.).
Questions of cultural identity. London: Sage Publications, 1996.
Lisabete Coradini
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
lisacoradini@gmail.com
Resumo: Trata-se de um trabalho sobre novos espaços sonoros e novas maneiras de viver a
música brasileira no exterior. Analisei como a internacionalização da música brasileira e a
chegada de imigrantes brasileiros proporcionaram a criação de novas cenas musicais na cidade de
Barcelona, Catalunya. Realizei um mapeamento de determinadas práticas de consumo,
produção e recepção musical por meio do samba, samba-reggae e batucada (festas populares,
festas mayores, correfocs, carnaval, festa de Santa Eulália, Semana Santa). As análises teóricas
seguiram os princípios e ferramentas da antropologia urbana, antropologia sonora e audiovisual.
O que apresento é o resultado ainda parcial dessa pesquisa realizada durante meu pós-doutorado
no GRAFO (Equipos de Investigación en Antropología Fundamental y Orientada), Universidad
Autonoma de Barcelona (UAB), no período entre julho 2017 e julho de 2018.
Palavras-chave: Antropologia Sonora; Samba; Batucada; Barcelona.
80
“Avisa lá que eu vou”: samba, samba-reggae
and batucada in Barcelona, Catalunya
Abstract: This is a study on new soundscapes and new ways of experiencing Brazilian music
overseas. I have analyzed how the internationalization of the Brazilian music and the settling of
Brazilian immigrants led to the creation of new musical contexts in the city of Barcelona,
Catalunya. I've mapped certain consumption practices, musical production and reception
through samba, samba-reggae and batucada (popular festivities, festas mayores, correfocs,
carnival, Festival of Santa Eulália, Holy Week). The theoretical analyses followed the principles
and tools of urban and audio-visual anthropology, and anthropology of sound. Herein I present
the partial results of the research conducted during my postdoctoral stage at GRAFO (Equipos de
Investigación en Antropología Fundamental y Orientada), Universidad Autonoma de
Barcelona (UAB), between July 2017 and July 2018.
Keywords: Anthropology; Audio-Visual; Anthropology; Samba; Batucada; Barcelona.
81
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 80-103
ISSN: 2446-8290
Resumen: Se trata de un trabajo sobre nuevos espacios sonoros y nuevas maneras de viver la
musica brasileira no exterior. Se analizó cómo la internacionalización de la música brasileña y la
llegada de inmigrantes brasileños propició la creación de nuevas cenas musicales en Bracelona,
catalunya.. Se realizó un mapeo de determinadas prácticas de consumo, producción y
receptividad musical através del samba, samba-reggae y batucada (fiestas populares, efemérides,
correfocs, carnaval, fiesta de Santa Eulalia, Semana Santa). Los análisis teóricos siguieron los
principios y herramientas de la antropología urbana, la antropología del sonido y el audiovisual.
Lo que presento es el resultado aún parcial de esta investigación llevada a cabo durante mi
investigación posdoctoral en GRAFO (Equipo de Investigación em Antropología Fundamental y
Orientada), Universidad Autónoma de Barcelona (UAB), entre julio de 2017 y julio de 2018.
Palabras clave: Antropología; Antropología audiovisual; Samba; Batucada;
Barcelona.
82
Introdução
83 Lisabete Coradini
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 80-103
ISSN: 2446-8290
85 Lisabete Coradini
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 80-103
ISSN: 2446-8290
87 Lisabete Coradini
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 80-103
ISSN: 2446-8290
Foto 1: Convite
89 Lisabete Coradini
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 80-103
ISSN: 2446-8290
Samba Reggae,Olodum
91 Lisabete Coradini
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 80-103
ISSN: 2446-8290
93 Lisabete Coradini
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 80-103
ISSN: 2446-8290
Foto 4: convite
95 Lisabete Coradini
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 80-103
ISSN: 2446-8290
97 Lisabete Coradini
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 80-103
ISSN: 2446-8290
Notas
1. Gostaria de agradecer a acolhida do meu tutor, o Prof. Dr. Jorge Grau Rebolo e
a excelente recepção no Grafo. Grafo é um Grupo de pesquisa que reúne
investigadores, doutores, alunos de doutorado e mestrado, bem como uma
ampla rede de parceiros e colaboradores no Brasil e no exterior. Para maiores
informações sobre o Grafo, ver; h p://grupsderecerca.uab.cat/grafo
2. Projeto de extensão “Narrativas, memórias e itinerários” que coordeno junto
com a Prof.ª Dr. ª Maria Angela Pavan (DECOm/UFRN). Nessas produções
audiovisuais, passamos a investigar os itinerários de vida de indivíduos e grupos
urbanos na cidade de Natal-RN, a partir de suas ações, gestos e vozes. Vozes
nem sempre uníssonas, mas reveladoras de interações, tensões e expressões
sobre a cidade. Entre as produções, estão: “No mato das Mangabeiras” (2014),
“Seu Pernambuco” (2014), “Mestre Zorro” (2016) e “As mulheres das Rocas são
as vozes do Samba” (2016).
3. O documentario “As vozes femininas no samba em Barcelona”, está em fase de
finalização.
4. Um dos meios mais utilizados nessa pesquisa foi a câmera na mão, mas a análise
das entrevistas ficarão para um outro artigo.
5. As bandas Barbados Samba e Sapato Branco fizeram a festa, interpretando
grandes clássicos do samba de gafieira. Estes dois grupos são formados por
Bibliografía
99 Lisabete Coradini
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 80-103
ISSN: 2446-8290
01049313. h p://dx.doi.org/10.1590/S0104-93132008000200007.
104
Sounds of emigration in Latin America
Abstract: Although there are many possible objects of the process of cultural hybridization or
mestizaje, or "creolization". For this work, I chose the object of cultural hybridization as migrant
sounds. For the proposed reflection I will try to define the concepts that revolve around the
encounter between cultures, the hybridization objects and situations, contexts and places in
which it happens. Perhaps you should prefer to use the concept of mestizaje instead of
hybridization or hybridism. I agree with the authors who consider that the temporal dimension is
what distinguishes mestizaje from other forms of union, such as hybridism, mixed
mix, which can be seized statically. Mestizaje is more sonorous than visual, more musical than
pictorial, more narrative than descriptive. It seems to me therefore necessary to review the terms
and concepts and the theoretical reflection and their application in the object and situations
addressed in this presentation.
Keywords: Hybridization; Hybridity; Crossbreeding; Creolization; Migrants Sounds.
105
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 104-132
ISSN: 2446-8290
Resumen: Hay muchos objetos posibles del proceso de hibridación cultural o mestizaje o
"creolización". Para este trabajo, elegí el objeto de la hibridación cultural como sonidos de
migrantes. Para la reflexión propuesta, intentaré definir los conceptos que giran en torno al
encuentro entre culturas, los objetos y situaciones de hibridación, los contextos y los lugares en los
que sucede. Quizás debería preferir utilizar el concepto de mestizaje en lugar de hibridación o
hibridación. Estoy de acuerdo con los autores que consideran que la dimensión temporal es lo que
distingue al mestizaje de otras formas de unión, como el hibridismo, mixto, mezcla, que puede ser
incautada estáticamente. El mestizaje es más sonoro que visual, más musical que pictórico, más
narrativo que descriptivo. Por lo tanto, me parece necesario revisar los términos y conceptos y la
reflexión teórica y su aplicación en el objeto y las situaciones abordadas en esta presentación.
Palabras clave: Hibridación; Hibridación; Cruzamiento; Creolización, Sonidos
Migrantes.
106
O que se assemelha não é forçoso que se reúna e
o que se reúne não é forçoso que se assemelhe.
O devir nunca se adivinha: esta é a dinâmica,
vibrante e frágil da mestiçagem.
(Laplantine e Nouss)
Introdução
Sonoridades Migrantes
Ó laurindinha
Vem à janela
Ver o teu amor
Ai ai ai que ele vai para a guerra
Senhora Raínha
Venha na janela
Venha ver marinheiro
Que la vai para a guerra
Conclusão
Notas
1. G e o r g e s B r a s s e n s - C h a n s o n p o u r l ' a u v e r g n a t -
http://www.youtube.com/watch?v=R4YTPeNobjo
2. S o u s le ciel de paris - Edith Piaf -
h t t p : / / w w w. y o u t u b e . c o m / w a t c h ? v = 7 2 J C f 1 8 L G f c e Paris Musette
http://www.harmattantv.com/video_pop.php?url_video=http://vod.harmattantv .co
m/videos/_uploads/extraits/paris-musette.divx (ou
http://www.myskreen.com/programmes/jean+pierre+beaurenaut).
3. Há muita divergência entre os historiadores, alguns chegaram a projetar 50
milhões, mas R. Curtin (in The Atlantic slave trade: A census, 1969) estima
entre 9 a 10 milhões, a metade deles da África Ocidental, sendo que o apogeu
Bibliografia
NERY, Rui Vieira. “Para uma História do fado” 100 Anos de Fado, CD1,
Lisboa: Público, 2004.
Filmografia
Anexo
Resumo: Este artigo é referente à primeira parte do trajeto da linha musical do violino e de Seu
Rosário, como fruto de uma etnografia realizada na cidade de Parintins, AM, nos anos de 2017 e
2018. Para a construção deste conhecimento, apresento o violino, ou melhor, a violina, e Seu
Rosário como protagonistas, em trânsitos percorridos por ambos. Tendo como argumento o
instrumento como protagonista do conhecimento musical, perpasso pelas ideias de: objetos como
“fazedores de gente” e também de linhas e revestimento; as linhas apresentam-se nas pessoas do
violino e de Seu Rosário; e o termo revestimento das linhas é usado em referência às situações que
constituíram-se nas formas organizacionais musicais iniciais de Seu Rosário. O objetivo do
trabalho é lançar um olhar para reflexão e importância de se pensar em um instrumento como um
agente social chave, refletindo as relações humanas.
Palavras-chave: Violino; Seu Rosário; Linhas; Revestimento; Conhecimento Musical.
133
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 133-151
ISSN: 2446-8290
Abstract: This article refers to the first part of Mr. Rosario and his violin musical line pathes, as
a result of an ethnography carried out in the city of Parintins, AM, in 2017 and 2018. For the
construction of this knowledge, I present the violin, or rather, the sheviolin, and Mr. Rosario as
protagonists, in transits traversed by both. I present as argument, the instrument as protagonist of
the musical knowledge, I approach the following ideas: objects like “people makers” and also lines
and coating; the lines appear on the people of the violin and Mr. Rosario; and the term line
coating is used to refer to the situations that constituted the Mr. Rosario's early musical
organizational forms. The aim of this paper is to make a reflection on the importance of thinking
of an instrument as a key social agent, reflecting human relationships.
Keywords: Violin; Mr. Rosario; Lines; Coating; Musical Knowledge.
134
La construcción de las líneas y del
revestimiento de Señor Rosario y
de su violina en Parintins, AM
Resumen: Este artículo se refiere a la primera parte del camino de la línea musical de violín y de
Señor Rosário, como resultado de una etnografía realizada en la ciudad de Parintins, AM, en
2017 y 2018. Para la construcción de este conocimiento, presento el violín, o mejor, el violín, y
Señor Rosário como protagonistas, en tránsitos recorridos por ambos. Teniendo como argumento
el instrumento como protagonista del conocimiento musical, me permito por las ideas de: objetos
como "personas que crean" y también de líneas y revestimientos; las líneas aparecen en la gente del
violín y Señor Rosário; y el término cobertura de línea se usa para referirse a las situaciones que
constituyeron las primeras formas de organización musical de Señor Rosário. El objetivo de este
artículo es analizar la reflexión y la importancia de pensar en un instrumento como un agente
social clave que refleje las relaciones humanas.
Palabras clave: Violín; Señor Rosario; Líneas; Revestimiento; Conocimiento Musical.
135
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 133-151
ISSN: 2446-8290
criança, o violino ficará guardado até que esta cresça, pois há diferenças
nos tamanhos dos instrumentos.
Existe ainda uma outra razão para que se mantenha este
instrumento em casa. Há um ditado entre os violinistas que diz: “Violino é
igual a vinho, quanto mais velho melhor”. Esta ideia aplica-se devido à
dilatãção da madeira pela passagem do tempo, fazendo com que o som
fique mais “aberto”, e por este fator, pelo fato da madeira estar “amaciada”
, o violino torna-se um objeto mais valorizado. Contudo, é necessário que
esteja em uso, facilitando o processo de “abertura do som”.
Há outro fato interessante que confirma a ideia de Miller: quando
estamos em uma cidade, que não a nossa de origem, é comum quando
procuramos por um endereço exato, ou por uma pessoa especificamente,
citamos como referência algo característico da pessoa procurada. No meu
caso, quando fui a Parintins, e perguntando pelo endereço exato de Seu
Rosário, todas as pessoas o reconheciam pelo violino. No Liceu de Artes e
Ofícios Cláudio Santoro e até na gráfica em que estive, sempre ouvia das
pessoas: “Ah, conheço Seu Rosário, é o do violino, o das Pastorinhas”.
Penso que neste caso, o violino passa a ser o agente-chave, corroborando
com a ideia de que, o que nos torna característicos de nossa própria
sociedade, é o objeto, o agente de Seu Rosário é o próprio violino, como
protagonista de sua história musical na cidade.
Pensar nos aspectos de fabricação do instrumento é importante,
mas pensar no caminho percorrido deste objeto até o momento da
“tocada” é interessante para adentrar nos movimentos das linhas do
conhecimento. O caminho é percorrido por um caminhante, que aqui
chamarei de “o violino peregrino”. Peregrino, como termo usado para
designar um andarilho:
instrumento :
-Foi, mas essa seda ainda é a que veio nela, ainda é natural dela ,
essa violina já teve um, dois, três, quatro donos, eu sou o
quarto dono dela, ela custou R$ 580,00, ela nova, pra um
cidadão lá do Mato Grosso, depois ele vendeu pra um outro lá
1
pro Zé Açu , esse do Zé Açu vendeu pra um outro, aonde esse
outro não soube estimar o instrumento aí porque que a caixa
dela tá assim porque ele fazia brinquedo pros filhos dele e
depois veio para mim, comprei dele.
As linhas e o revestimento
Considerações Finais
Como o instrumento que fala, que chora, que grita, que sofre, que
tem em seu corpo a representação de uma pessoa e que é capaz de
“moldar” uma pessoa. Assim, me propus a investigar o violino como
“fazedor de gente”, a linha “não humana”. Ouvir o violino é ouvir a nós
mesmos: alegrias, tristezas, anseios, progressos, regressos e perceber que o
som encorpado, é o som revestido não é apenas o som revestido de técnica,
mas de vivências e, que a maturidade musical leva um tempo diferenciado
para cada indivíduo. Guardamos, em nossas linhas, níveis específicos de
aprendizagem, o que realmente faz sentido ao processo de aquisição de
conhecimento e com esta informação selecionamos o que é mais
interessante ao momento de execução musical. Este processo, deve ser um
dispositivo para a não segregação do conhecimento musical ou do
conhecimento como um todo, mas que seja considerado como um
elemento rico em possibilidades, visto que respondemos de diversas
maneiras, a determinados estímulos ambientais e sociais e desta forma,
Notas
Referências
SETTI, Kilza. Ubatuba nos cantos das praias: estudo do caiçara paulista e
de sua produção musical. São Paulo: Àtica, 1985.
Resumo: A ideia deste artigo é discutir a afirmação que surgiu durante o trabalho de campo
desenvolvido entre músicos populares indígenas do Noroeste Amazônico brasileiro: todo
instrumento musical possui “alma”. A partir dessa afirmação, busca-se desenvolver relatos
etnográficos para sustentar que na prática da música popular entre os Yepá-Mahsã, os
instrumentos musicais são percebidos como “pessoas” (não-humanas). Desse modo, a música
kuxiymauara do Noroeste Amazônico constitui uma cena fértil para o pensamento e prática
indígena, especialmente no que se refere à música. Para a reflexão, expõe-se um pequeno conjunto
de dados etnográficos no qual exemplos descritivos apresentados pelos interlocutores demonstram
como a música popular articula conceitos e práticas do pensamento indígena do povo Yepá-
Mahsã. Esses exemplos buscam evidenciar como os instrumentos musicais estrangeiros são
concebidos por meio da cosmologia indígena e se relacionam com a origem dos “instrumentos
sagrados”. Reflito, inversamente, como a ideia de um instrumento “moderno” como a guitarra
foi, pouco a pouco, descontruindo-se para que eu compreendesse que, a partir da lógica Yepá-
Mahsã, todos os instrumentos musicais do mundo eram resultantes da ação dos deuses em um
passado mitológico.
Palavras-chave: Yepá-Mahsã; Kuxiymauara; Bahsamori; Biissíu; Jurupary.
152
Kuxiymauara music among the Yepá-Mahsã:
the instruments have “soul”
Abstract: The purpose of the article is to discuss the statement that emerged during the fieldwork
developed among indigenous popular musicians of the Brazilian Northwestern Amazon: every
musical instrument has a “soul”. I seek to develop ethnographic accounts to maintain that in the
popular music practice among the Yepá-Mahsã, musical instruments are perceived as “people”
(nonhuman). Thus, kuxiymauara music from the Northwestern Amazon is a fertile scene for
indigenous thought and practice, especially with regard to music. For reflection, we present a
small set of ethnographic data in which descriptive examples presented by the interlocutors
demonstrate how popular music articulates Yepá-Mahsã concepts and practices of thinking.
These examples seek to highlight how foreign musical instruments are conceived through
indigenous cosmology and relate to the origin of “sacred instruments”. I reflect, conversely, how
the idea of a “modern” instrument such as the guitar was slowly decaying so that I understood
that from Yepá-Mahsã logic all the musical instruments in the world were the result of the action
of the “gods” in a mythological past.
Keywords: Yepá-Mahsã; Kuxiymauara; Bahsamori; Biissíu; Jurupary.
153
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 152-174
ISSN: 2446-8290
Resumen: El propósito de este artículo es discutir la declaración que surgió durante el trabajo de
campo desarrollado entre los músicos populares indígenas del noroeste amazónico brasileño: cada
instrumento musical tiene un "alma". A partir de esta declaración, buscamos desarrollar relatos
etnográficos para mantener que en la práctica de la música popular entre los Yepá-Mahsã, los
instrumentos musicales se perciben como "personas" (no humanas). Por lo tanto, la música de
Kuxiymauara del noroeste del Amazonas es una escena fértil para el pensamiento y la práctica
indígena, especialmente con respecto a la música. A modo de reflexión, presentamos un pequeño
conjunto de datos etnográficos en el que los ejemplos descriptivos presentados por los interlocutores
demuestran cómo la música popular articula conceptos y prácticas del pensamiento indígena del
pueblo Yepá-Mahsã. Estos ejemplos buscan resaltar cómo los instrumentos musicales extranjeros
se conciben a través de la cosmología indígena y se relacionan con el origen de los "instrumentos
sagrados". Reflexiono, por el contrario, cómo la idea de un instrumento "moderno" como la
guitarra se estaba deteriorando lentamente, de modo que entendí que, desde la lógica Yepá-
Mahsã, todos los instrumentos musicales del mundo eran el resultado de la acción del Dioses en
un pasado mitológico.
Palabras clave: Yepá-Mahsã; Kuxiymauara; Bahsamori; Biissíu; Jurupary.
154
Introdução
Gabriel Sodré tentava me fazer entender quando dizia que “tudo vai dar
no bahsamori”. Na perspectiva musical Yepá-Mahsã há uma continuidade
lógica que perpassa todos os instrumentos do mundo por meio do mito de
Biisíu (Jurupary)13. Explicarei sucintamente essa relação a partir de algumas
narrativas míticas disponíveis e publicadas. Por fim, descrevo exemplos de
minha experiência no trabalho de campo sobre a relação entre a música
popular, seus instrumentos e a perspectiva indígena de pensamento.
Entre os grupos indígenas do Alto Rio Negro, de maneira geral, os
instrumentos sagrados (bahsamori) formam os traços distintivos de sua
música. As flautas sagradas são compartilhadas entre os Tukano, os Baníwa
e os Baré.14 Esses grupos as chamam de Miri'ã, Koai e Jurupary,
respectivamente. Compartilha-se seu uso em rituais de iniciação
masculina, normalmente em conjunto com chicotadas. Assim como
compartilham a história da cobra grande como narrativa de origem da
humanidade, as histórias de Jurupary, Biisíu e Koai possuem uma estrutura
de elementos estáveis entre esses grupos indígenas, mesmo com as
divergências linguísticas.
As obra publicada por Alcionilio Brüzzi Silva (1977, 1994), em que
se traduz as narrativas de sábios indígenas do Alto Rio Negro, foi-me
indicada por Jack da Guitarra, assim como por especialistas na
antropologia da música dessa região. As obras apresentam, além de outros
dados, a narrativa cosmológica15 do respeitado pajé/xamã Ponciano
Mendes, traduzida pelo seu filho Graciliano Mendes, do grupo Tariana.
Um passado “mítico” conecta todos os grupos em uma ancestralidade
comum. Neste período, Biisíu, Koai ou Jurupary ensinou aos humanos a
manusearem os instrumentos musicais.
Segundo essa narrativa, em um tempo anterior aos humanos de
hoje em dia, os grupos indígenas do Alto Rio Negro seriam descendentes
dos filhos oriundos da relação entre as “virgens”, primeiras mulheres, e os
“velhos trovões”. Além dos Tukano, diz Ponciano Mendes: “Haviam eles
[as virgens e os velhos trovões] criado os Baníwa” (apud. SILVA, 1994, p.
111). A cobra grande foi o “veículo” que teria transportado e distribuído
todos os vinte e dois povos que habitam o município de São Gabriel.
Após ter ensinado tudo sobre música, danças e festas, Jurupary foi
enganado por algumas crianças. Ele não volta mais ao convívio dos
humanos daquele tempo e “se mata”. No lugar em que morreu nasceu
uma palmeira Paxíuba. As narrativas apontam que o “espírito” de Jurupary
foi para essa palmeira. É dela que se faz as flautas e outros instrumentos
percussivos. A ritualização da vida cotidiana entre indígenas do Alto Rio
Negro leva em conta que a palmeira não é apenas a matéria prima dos
instrumentos, mas a própria “encarnação” do Biisíu.
Mas Jurupary não está apenas nas flautas sagradas. Ele é “chefe das
festas e das danças”, assim como a “cabeça dos instrumentos”. É a sua
presença na terra, ainda em um passado mitológico, de acordo com essa
perspectiva indígena, que ensinou aos homens a “música”. Nesse sentido,
todos os instrumentos, não apenas os “sagrados”, “tradicionais” possuem
origem em Jurupary. Essa crença reforça a ideia da necessidade de “se
benzer” os instrumentos, mesmo teclados eletrônicos ou guitarras
elétricas. Nesses instrumentos “modernos”, ao passo que a manipulação
de poderosos conhecimentos estrangeiros pode ser perigosa, por outro
lado compõe parte essencial da personalidade masculina xamânica
dominar e “amansar” esses conhecimentos, assim como compor cantos,
músicas e dominar um vasto repertório (FELD, 2012; OVERING, 1990;
MONTARDO, 2009).
Como antes dito, o bahsamori (conjunto de instrumentos musicais)
engloba em sua lógica todos os instrumentos musicais, inclusive os
“ocidentais”, “do homem branco”. Justino Tuyuka, parceiro do NEAI16,
narrou uma cena que explica a relevância do bahsamori na
performatividade da música popular entre indígenas: a chegada das caixas
de som amplificadas na comunidade em que nasceu, na Colômbia. Por
volta de 1968, quando sua mãe ouviu pela primeira vez as caixas
amplificadas tocando cumbias e merengues em um volume “ensurdecedor”,
contou-me ele, ficou bastante intrigada e preferiu manter a mesma
proibição que é imposta a todas as mulheres e às crianças na cultura
Tukano quanto à flauta ritual Miriiã. A mãe do Justino achou conveniente
não manter contato visual com a fonte sonora de frequências tão fortes e
Considerações
Pequeno glossário
Notas
1. E s t i m o u - s e e m 2 018 u m a p o p u l a ç ã o d e 4 4 . 816 h a b i t a n t e s .
h t t p s : / / c i d a d e s . i b g e . g o v. b r / b r a s i l / a m / s a o - g a b r i e l - d a -
cachoeira/panorama.
2. http://www.foirn.org.br/povos-indigenas-do-rio-negro/diversidade-
linguistica-no-alto-rio-negro/
3. Muitas vezes descrito como multi-étnico, pluriético, cosmopolita ou outras
nomenclaturas que destacam o sistema social diverso dos povos indígenas da
região.
4. Todas essas nomenclaturas são genéricas e utilizadas de maneira mais ou
menos uniforme na literatura antropológica. Baníwa se refere aos povos que
vivem nas margens do rio Içana. Tukano os que habitam a região do alto rio
Uaupés e rio Tiquié, fronteira entre Brasil e com a Colômbia. Yanomami os
povos que vivem aos pés do Pico da Neblina, fronteira entre Brasil e Venezuela.
Todos esses grupos se encontram convivendo na cidade de São Gabriel da
Cachoeira.
Referências
DOMIN ́ GUEZ, Maria Eugen ̂ ia. Suena el Rio. Ente tangos milongas,
murgas e candombes: músicos e gêneros rio-platenses em Buenos Aires.
Tese de doutorado. Florianop
́ olis: UFSC, 2009.
FELD, Steven. Sound and Sentiment: Birds, Weeping, Poetics, and Song
in Kaluli Expression. Nova York: Duke University Press, 2012.
MENDIV ́ IL, Júlio. The song remains the same? Sobre las biografias
sociales y personalizadas de las canciones. El Oid
́ o Pensante, vol. 1, no 2,
Buenos Aires, 2013.
PIEDADE, Acać io Tadeu de C. Muś ica Ye'pa-̂ masa: por uma antropologia
da muś ica no Alto Rio Negro. Dissertaca̧ o ̃ Mestrado. Florianoṕ olis:
UFSC, 1997.
Resumo: O artigo busca apresentar incipientes reflexões sobre o material visual com a
finalidade de fazer uma leitura dessas imagens em sua relação com a cena musical local por meio
do conceito de paisagens amazônicas, noção que busca enquadrar as representações visuais que
acionam a natureza local – rios, florestas, animais, lugares, etc. - e que foram inventados como
cultura regional. Nesse sentido, interessa ver como essas representações aparecem como narrativas
imagéticas na cena contemporânea da música popular de Belém do Pará. Fica patente que ao se
utilizar essas imagens como referencias os atores sociais que as produzem e veiculam – artistas,
mídia, etc. - têm como intuito referendar visualmente elementos identitários no projeto dessa cena
musical.
Palavras-chave: Antropologia Visual; Paisagens Amazônicas; Cena Musical; Belém do
Pará.
175
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 175-198
ISSN: 2446-8290
Abstract: The article seeks to present incipient reflections on the visual material in order to make
a reading of this imagery in relation to the local music scene through the concept of Amazonian
landscapes, a notion that seeks to frame the visual representations that trigger local nature - rivers,
forests, animals, places, etc. - which were invented as a regional culture. In this sense, it is
interesting to see how these representations appear as imagetic narratives in the contemporary
scene of popular music in Belém do Pará. It is evident that by using these images as references the
social actors who produce and convey them - artists, media, etc. - are intended to visually endorse
identity elements in the design of this music scene.
Keywords: Visual Anthropology; Amazonian landscapes; Musical Scene; Belém do
Pará.
176
Paisajes amazónicos de la musicalidad local:
la escena de la canción popular de Belém
do Pará y la narrativa imaginaria
Resumen: El artículo busca presentar reflexiones incipientes sobre el material visual para hacer
una lectura de esta imágenes en su relación con la escena musical local a través del concepto de
paisajes amazónicos, una noción que busca enmarcar las representaciones visuales que
desencadenan la naturaleza local: los ríos. Bosques, animales, lugares, etc. - Que se inventaron
como cultura regional. En este sentido, es interesante ver cómo estas representaciones aparecen
como narrativas imagéticas en la escena contemporánea de la música popular en Belém do Pará.
Es evidente que al usar estas imágenes como referencias, los actores sociales que las producen y las
transmiten (artistas, medios de comunicación, etc.). - tienen la intención de respaldar
visualmente los elementos de identidad en el diseño de esta escena musical.
Palabras clave: Antropología Visual; Paisajes Amazónicos; Escena Musical; Belém do
Pará.
177
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 175-198
ISSN: 2446-8290
Introdução1
Assim, também a cor verde está na capa de outro disco. Sobre uma
fotografia com folhagens e galhos é ela que dá o tom da capa do disco
“Amazônia” (Imagem 3), do cantor Nilson Chaves. Nessa imagem, a
natureza é “intencionada” em sua singularidade.
Considerações finais
Notas
1. Uma versão deste trabalho foi apresentada no III Encontro de Antropologia
Visual da América Amazônica, realizado entre os dias 19 e 21 de setembro de
2018, Belém/PA, no GT “Musicalidades, Espacialidades e Imagens”.
Agradeço as observações feitas ao texto pelos integrantes do GT durante a
comunicação e aos pareceristas da revista que avaliaram o texto.
2. Esse termo é usado de distintas maneiras em outras abordagens. Aqui faço a
utilização a partir de uma definição conceitual que construí e que acredito ser
pertinente para a proposta desse trabalho.
3. Há uma intenso debate sobre a questão da dicotomia Natureza X Cultura,
como por exemplo, a proposta de Descola de humanização do mundo vegetal e
animal efetivada por povos autóctones, o que redunda em uma espécie de
ampliação da natureza como um continuum que integra homens, animais e
plantas (DESCOLA, 2005), numa integração entre o social e o biológico,
artefato e organismo, sujeito e objeto (INGOLD, 2015). Contudo, a paisagem
amazônica é uma construção imagética que se sustenta em recortes que visam a
um todo como uma ideia de natureza e, portanto, se propõe como uma
representação social que se encontra numa perspectiva de ser algo exterior ao
homem. Ou seja, se trata de uma construção antropológico-narrativa de um
espaço físico com características precisas e que idealmente está apartado do
humano.
4. Segundo Marilena Chauí, um semióforo é uma imagem, um sinal que liga o
invisível ao visível, assentando-se como um dado inquestionável no imaginário
popular. Geralmente, quem o utiliza é elite intelectual, a fim de fazer
sustentação da artificial unidade social. O semióforo, nesse sentido, destitui o
entendimento do processo histórico negando o dissenso, haja vista que
apresenta uma fundação, e não a formação, o que seria algo dotado de
historicidade (CHAUÍ, 2002).
5. O sistema de trocas entre o mundo sensível e o mundo das significações, a
paisagem como elemento fundamental nas formas de sociabilidade e
constituição de memórias (SANSOT, 1983; ECKERT, 2009).
6. Nota metodológica: como aqui se trata de uma reflexão sobre material que
compõe o corpus de um estudo ainda em curso e mais amplo cabe observar as
limitações em torno do volume de dados.
7. No sentido de não ser mera réplica, mas sim uma apreensão que visa à reflexão.
8. Em curso no Programa de pós-graduação em Sociologia e Antropologia
(PPGSA/UFPA) onde desenvolvo o projeto intitulado Urbi et Orbi: mundo da
canção popular de temática amazônica e processos globalizadores, sob a orientação
Referências
Fontes:
A) Impressa:
B) Audiovisual /Ciberespaço:
“Pop ao tucupi: Quem são os artistas da nova geração que estão virando
pelo avesso a música do Pará”. (Disponível em:
h ps://www.youtube.com/watch?v=PO-uB0V7sX4. Acesso em: 21 ago. 2018).
199
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 199-222
ISSN: 2446-8290
Abstract: The present essay seeks to analyze, through music videos, the performances of Getúlio
Abelha and Pedra Homem in the face of musical gender expressions of Brazilian northeastern
forró. Taking into consideration contributions of researchers regarding sonorities and
masculinities in forró, as well as “rural” and “urban” in sexuality and gender studies, the paper
seeks to sketch the relation between the artistic production of dissident subjects and the diffusion
of music as a mediated product in contemporaneity. Thus, the study takes the performance of both
artistic personas as constructive between the musicalities and spacialities of Brazilian northeast
region, and so, deriving from the performatic layer of music videos in the face of the song, which
makes the recognizing of corporalities possible.
Keywords: Performance; Forró; Transviado; Artivism; Videoclip.
200
La emergencia de estéticas baitolas por
el artivismo en el forró Nordestino:
¿cómo bailan los cuerpos disidentes
la música del Rey de Baião?
Resumen: El presente trabajo tiene como objetivo analizar a través del encuadramiento del
videoclip, las performances artísticas de Getúlio Abelha y de Pedra Homem ante las expresiones
del género musical del forró nordestino. Al tomar en consideración las contribuciones de otros
investigadores sobre sonoridad y masculinidad en el forró y sobre lo "rural" y lo "urbano" en estudios
de género y sexualidad, se pretende esbozar la relación entre la producción artística de sujetos
disidentes y la difusión de la comunicación música como producto mediático en la
contemporaneidad. Así, el estudio considera la performance de las dos personas artistas como
constitutiva entre las musicalidades y las espacialidades de Nordeste, de ese modo, oriundas de la
capa performática del videoclip ante la canción que posibilita el reconocimiento de
corporalidades.
Palabras clave: Performance; Forró; Transviado; Artivismo; Videoclip.
201
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 199-222
ISSN: 2446-8290
Introdução 1
Figura 6: livro é dado para pessoa não-binária que aparece no clipe em situação de
rua
Considerações finais
Notas
Referências bibliográficas
_________, Roberto &, Roberto &, Perillo &, Marcelo. (2014). O "rural"
e o "urbano" em estudos de gênero e sexualidade: Etnografia, agência e
mediação. 10.13140/2.1.4096.0963.
Resumo: Neste artigo, percorro duas cenas de festas de música eletrônica underground,
localizadas uma em São Paulo e outra em Berlim. Tais festas são espaços de experimentação de
corpos e prazeres, através da relação entre música, dança, uso de drogas e erotismo. A partir de
pesquisa etnográfica e histórica, analiso as relações entre a música eletrônica underground e
determinadas formas de sociabilidades e usos do tempo. Para tanto, são mobilizados os conceitos
de musicar e de prazer-processo, desenvolvendo a metáfora da pista de dança como um
laboratório.
Palavras-chave: Música; Marcadores Sociais da Diferença; Corpo; Sociabilidade;
Dança.
223
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 223-252
ISSN: 2446-8290
Abstract: In this article, I follow two scenes of underground electronic music parties, located one
in São Paulo and another in Berlin. Such parties are spaces of experimentation of bodies and
pleasures, through the relation between music, dance, drug use and eroticism. From ethnographic
and historical research, I analyze the relationships between underground electronic music and
certain forms of sociability and uses of time. For this, the concepts of musicking and process
pleasure are mobilized, developing the metaphor of the dance floor as a laboratory.
Keywords: Music; Social Markers of Difference; Body; Sociability; Dance.
224
"La pista es un laboratorio":cuerpos,
afectos y experimentación en escenas
de música electrónica underground
Resumen: En este artículo, cubro dos escenas de fiestas de música electrónica underground, una
ubicada en São Paulo y otra en Berlín. Tales fiestas son espacios para experimentación de cuerpos
y placeres, a través de la relación entre música, danza, consumo de drogas y erotismo. A partir de
investigación etnográfica e histórica, analizo las relaciones entre la música electrónica
underground y ciertas formas de sociabilidad y uso del tiempo. Para ello, se movilizan los
conceptos de musicar y placer-proceso, desarrollando la metáfora de la pista de baile como
laboratorio.
Palabras clave: Música; Marcadores Sociales de la Diferencia; Cuerpo; Sociabilidade;
Danza.
225
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 223-252
ISSN: 2446-8290
me contaria que não costuma beijar mulheres, e que aquela era apenas a
segunda vez que tocava os lábios em um peito de mulher.
Este episódio é um bom exemplo de como as cenas de música
eletrônica underground em São Paulo e Berlim se constituem em espaços de
experimentação do corpo e dos prazeres, a partir da relação entre música,
dança, uso de drogas e erotismo. Estes são os temas deste artigo, que
trabalharei tomando de empréstimo a metáfora do laboratório para
pensar na pista como lócus de experimentações em variados níveis, desde
a produção musical e as mixagens dos/as DJs, até as relações das clubbers10
com seus corpos e com os corpos de outras clubbers, permeadas pelos
efeitos das drogas.11
negro e gay, em uma pista dominada por outros homens gays e negros. Aos
poucos, a música de Knuckles contagiou também aquele público. Em
poucos anos, estabelecia-se na noite underground de Chicago uma sensação
de abertura sexual: casos de homofobia eram raros, senão inexistentes.
O musicar clubber
em outras situações.
As experiências dos quatro amigos aconteceram durante o set de
uma DJ negra. Há alguns anos, isso seria improvável, visto que a cena de
São Paulo foi e ainda é majoritariamente branca e de classe média. No
entanto, como vimos acima, as origens da club culture apontam para um
movimento calcado na sociabilidade de pessoas cujos marcadores sociais
da diferença as alocavam em posições desprivilegiadas. Assim, esta
referência é muito presente nas duas cenas, que buscam visibilizar e
valorizar o trabalho de artistas não-brancos, não-homens, não-
heterossexuais. Em São Paulo, a Coletividade Námíbìa lançou nos
últimos anos as DJs negras e trans Ana Giselle e Valentina, além de contar
com diversas performers em cujas apresentações a raça é um tema
constante. Questões de origem e classe também são levantadas, tendo
como bons exemplos a ascensão de DJs e produtores de música vindos de
contextos periféricos, caso de RHR, negro, e de BadSista, negra e lésbica.
Na cena de Berlim, podemos destacar a presença de DJs trans e negras
renomadas, como as estadunidenses Honey Dijon e Lady Blacktronika e a
venezuelana Aerea Negrot. Podemos pensar então que, ao longo da
trajetória das cenas voltadas à pista de dança, esta também se configura em
um laborátorio de relações raciais.
Gostaria de concluir esta seção apresentando a visão de Jackson
(2004) sobre a experiência clubber, que ele chama de clubbing. O autor usa o
conceito de habitus de Bourdieu – processo pelo qual as estruturas sociais
se incorporam nos atores, e argumenta que
[…] a intensidade sensual do clubbing gera um corpo
alternativo em que o quadro estruturante do habitus é
temporariamente apagado, e esse apagamento é a base do
mundo social modificado que se encontra através do clubbing.
Obviamente esta não é a razão pela qual as pessoas vão a
clubes, elas não estão sentadas em casa pensando: “certo, vou
sair para apagar meu habitus”. É uma consequência não
intencional das drogas, da dança e da aglomeração de pessoas.
É uma experiência que impacta crescentemente as pessoas à
medida em que o corpo do clubbing começa a desafiar o corpo
legado a elas por sua própria cultura, assim transformando o
modo como elas negociam sua passagem por seu reino social e
Considerações Finais
Notas
dançar música tocada por DJs (quase sempre subgêneros da música eletrônica)
e consumir psicoativos lícitos e ilícitos. Para uma análise acadêmica pioneira de
club cultures, ver o trabalho de Sarah Thornton (1995).
9. Outros autores de língua inglesa utilizam o termo EDM (electronic dance music)
para resumir os diversos subgêneros da música eletrônica feita para dançar.
Ferreira (2006) traduziu o termo para “música eletrônica de pista”, tradução
que adotarei neste artigo.
10. Utilizo clubber sempre no feminino porque é como aparece no campo de São
Paulo, replicando a tendência de certas sociabilidades LGBT de feminizar
substantivos.
11. Agradeço aos/às pareceristas anônimos/as pelas sugestões e a Marcio
Zamboni pela leitura cuidadosa de uma versão anterior deste artigo.
12. A CDJ funciona com música em formato digital, com pen-drives ou CDs e
corresponde ao toca-discos, reproduzindo boa parte de suas funções.
13. Aqui, uso “o DJ” porque no contexto da disco e dos primórdios da MEP, DJs
mulheres eram raríssimas ou nenhuma, segundo Brewster e Broughton
(2000), entre outros.
14. Single é o nome dado às faixas lançadas individualmente em discos,
acompanhadas apenas por um lado B. Com o surgimento do 12 polegadas e o
remix, passa a incluir mais versões e pode chegar a conter seis faixas.
15. Alguns autores de língua inglesa utilizam o termo social dancing para diferenciar
a modalidade de dança praticada em contextos de sociabilidade da dança
enquanto manifestação artística/profissional ou ritual.
16. De difícil tradução, loop significa uma série ou processo cujo fim está
conectado ao começo; termos aproximados em português seriam “volta” ou
“circuito”.
17. Não recuperarei tais referências neste artigo por uma questão de escopo e
espaço.
18. A polaridade underground/mainstream é mobilizada a todo tempo nas cenas,
não apenas para qualificar a música, mas festas, cenas, e mesmo
comportamentos e formas de estar no mundo. Underground é usado geralmente
no sentido do que acontece longe das vistas do grande público, do que é pouco
conhecido, do que não é ou não seria aceito pelo senso comum; e mainstream
caracteriza o que é convencional, dominante, normativo, careta.
19. Esquenta designa a reunião de amigos que precede a ida a uma festa, seja em um
bar ou na casa de alguém. Nestes momentos de reunião, toma-se uns drinques,
planeja-se a noite e/ou compra-se as substâncias que serão combustível da
jornada que se inicia. Chill-out é como se chama nas cenas o momento de
relaxamento coletivo pós-festa: para muitos, é a chance de baixar os efeitos
estimulantes e eufóricos das drogas. Se envolve música alta e dançante, se
transformando em uma continuação da festa, este momento tende a ser
chamado de after, variante de after-hours (ver nota seguinte).
20. O termo foi criado para nomear as festas que se iniciam pela manhã ou à tarde,
dando sequência às festas da noite anterior.
21. A Cocktail D'Amore e a Homopatik – que em 2016 passou a se chamar Buttons –
são as maiores e mais renomadas festas da cena berlinense.
Referências Bibliográficas
electronic dance music. In: Music Theory Online, vol. 11, n° 4, outubro
de 2005.
LAWRENCE, Tim. Disco and the queering of the dance floor. In:
Cultural Studies, (2) 25, pp. 230-243, 2011.
Chiara Albino
Universidade Federal de Santa Catarina
tarsila.chiara@gmail.com
Resumo: Baseando-me no trabalho de campo que realizo na cidade de Recife, uso o termo
infregatividade para me referir a uma forma de “performatização corporificada da dança”
produzida pelos sentidos erótico-dançantes da música eletrônica dançante bagaceira. A partir
desse uso inicial do termo, gostaria de aqui apresentar uma descrição mais ampla da
infregatividade, focando, ao mesmo tempo, seu sentido performativo e produtivo. Como
argumentarei, a infregatividade revela modos de conexões entre o material/econômico e o
cultural/performativo. Desde uma perspectiva descritivo-analítica dessa dupla dimensão,
apresento neste artigo minhas ideias iniciais sobre a economia performativa da infregatividade.
Também discutirei as interpelações e os modos de subjetivação nos quais os interlocutores são
produzidos pela experiência de serem sujeitos dançantes de uma “música periférica”, para, assim,
repensar o sujeito em termos de corpo.
Palavras-chave: Música Brega; Movimento Bregueiro; Infregatividade; Estado; Modos
de Subjetivação.
253
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 253-289
ISSN: 2446-8290
Abstract: Based on the fieldwork done in Recife, I use the term infregatividade to refer to a form
of “embodied dance performativity” produced by the erotic-dancing senses of bagaceira electronic
dance music. Initially, I would like to present here a broader description of infregatividade,
focusing on its performative and productive sense. As I will argue, infregatividade reveals modes of
connection between material/economic and cultural/performative aspects. From a descriptive-
analytical perspective about this double dimension, I present in this article my initial ideas about
the performative economy of infregatividade. I will also discuss the interpellations and modes of
subjectivation in which the interlocutors are produced by the experience of being a dancing subject
of a “peripheral music”. This idea helps us to rethink the subject in terms of body.
Keywords: Brega Music; Movimento Bregueiro; Infregatividade; State; Modes of
Subjectivation.
254
Economía performativa de infregatividade:
Estado, subjetividades, política y cuerpos
en movimiento en el contexto de la
música electrónica de baile bagaceira
255
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 253-289
ISSN: 2446-8290
Introdução1
já que nem todo brega ou brega-funk pode ser classificado enquanto tal.
Inspiro-me aqui na noção de enact [“pôr em prática”] de Anne Marie Mol
(2005). Mol usa essa noção para mostrar que não existe uma doença
prévia, mas que ela é produzida em ação, na prática, e, que, portanto, não é
exterior ao sujeito. A partir dessa noção, acredito que o que estou
chamando aqui de “música eletrônica bagaceira” não existe anteriormente à
relação entre o sujeito, a música e a dança, pois a qualificação “bagaceira”
acontece quando a dança é posta em prática. A música eletrônica bagaceira
emerge, assim, como um estilo musical “mais envolvente”, que é
experimentada por meio de uma sensibilidade corporal que se expressa na
dança. Por “música eletrônica bagaceira”, em sua definição êmica, entende-se
um estilo de música eletrônica dançante “mais erotizada”, que incorpora
em sua composição os ritmos da “musicalidade local”. Nesse sentido, a
noção de “infregatividade” considera as experiências e vivências particulares
de cada sujeito e os demais elementos que a compõe, como o espaço físico,
as bebidas e as luzes.
“cultura local” e “bem cultural”, não estou aqui tomando a ideia de cultura
como dada. Estou antes fazendo os conceitos que encontro em campo
operarem analiticamente. Ou seja, estou fazendo os conceitos dos
interlocutores realizarem o trabalho analítico. Assim, na medida em que
leva a sério os interlocutores, a minha análise etnográfica foca a ideia de
cultura tal como é constituída pelos interlocutores. E é aí que a disputa
política em torno da música brega como “expressão cultural de Pernambuco”
nos leva a prestar atenção à constituição cultural do estado. Desde uma
perspectiva antropológica, isso implica prestar atenção em
como as pessoas percebem o est ado, como seus
entendimentos são moldados por seus locais particulares e
encontros íntimos e corporificados com processos e
funcionários do estado, e como o estado se manifesta em suas
vidas. A análise desses processos culturais através dos quais o
“estado” é instanciado e experimentado também nos permite
ver que a ilusão de coesão e unitariedade criada pelos estados é
sempre contestada e frágil, e é o resultado de processos
25
hegemônicos que não devem ser tomados como garantidos
(GUPTA; SHARMA, 2006, p. 11).
Para ele, o destaque da noite foi uma das dançarina que, em sua avaliação,
“foi tão destaque quanto a Michele Melo”.
Fotos 06 e 07: Show das Amigas do Brega. Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora,
2019.
Foto 10: Apresentação dos deejays - Brega Naite. Fonte: Arquivo pessoal da
pesquisadora, 2019.
Uma das vezes que acompanhei Heitor à Festa Brega Naite, ele
estava “paquerando” um “boy” que estava a alguns metros de distância do
nosso grupinho. Após alguns minutos trocando olhares com um rapaz, ele
resolveu “chegar no boy” e chamá-lo para dançar. Depois, porém, de dançar
a primeira música, ele “largou o boy” e voltou para o grupo. Ao ser
Considerações
Notas
1. Uma versão inicial deste artigo foi originalmente escrita como trabalho de
conclusão da disciplina “Pessoa e Corporalidade”, ministrada pelas Profas.
Dras. Viviane Vedana e Vânia Zikan Cardoso. Na versão que ora apresento,
também acrescentei as discussões realizadas durante a disciplina “Seminários
Avançados II” (“Antropologia do sujeito”), ministrada pela Profa. Dra. Sônia
Weider Maluf. As duas disciplinas foram cursadas no Programa de Pós-
Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Santa
Catarina em 2018. Agradeço às referidas professoras os diálogos que
estabelecemos em sala de aula.
Posteriormente, uma versão reduzida deste artigo foi apresentada na mesa
temática “Antropologia da Dança e Etnomusicologia: trânsitos teóricos”
durante o I Colóquio Latino Americano de Antropologia da Dança. Uma
segunda versão reduzida, por sua vez, foi apresentada no grupo de trabalho
“Entre arte e política: articulações contemporâneas em pesquisas
antropológicas” durante a XIII Reunião de Antropologia do Mercosul.
Agradeço também à Jainara Oliveira a leitura atenta e as provocações que
foram fundamentais para construção deste trabalho. Agradeço ainda às/aos
pareceristas anônimas/os da Revista Visagem. Cabe ressaltar, no entanto, que
as análises aqui expostas são de minha inteira responsabilidade.
2. O presente trabalho apresenta resultados iniciais da minha pesquisa de
doutorado em Antropologia Social desenvolvida no âmbito do Programa de
Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Santa
Catarina, com financiamento da CAPES (bolsa de doutorado) e orientação da
Profa. Dra. Sônia Maluf e coorientação da Profa. Dra. María Eugenia
Domínguez.
3. O termo infregatividade é mais usado pelos interlocutores e pela festa Brega
Naite, já o termo ixxfregação é mais usado para divulgação das festas do Bar do
Céu (antigo Santo Bar). Os dois termos possuem o mesmo sentido. Importa
apontar aqui que a categoria é mobilizada, em campo, muito além do ato de se
“infregar” no parceiro no momento da dança, pois envolve também
moralidades, sensibilidades e disputas políticas.
4. No meu trabalho de campo, a categoria “bagaceira” diz respeito a um estilo
musical. Devido à polissemia desta categoria, devo esclarecer que, diferente de
outros pesquisadores, não discuto a categoria “bagaceira” como um “apelido
pejorativo” atribuído às boates e aos bares, ou, a uma identidade sexual, ou,
ainda, à “oscilação” entre um estilo musical de “mau gosto” e um “mais
refinado”, mas, sim, como uma categoria que nomeia um estilo de música
eletrônica dançante “mais erotizada”.
5. No original: “not as a singular or deliberate “act,” but, rather, as the reiterative
and citational practice by which discourse produces the effects that it names”.
reinvenção.
19. Em conversa com um produtor musical local, foi enfatizado que após a
popularização da internet e das redes sociais, a carrocinha foi perdendo espaço
e que atualmente a divulgação é praticamente proveniente das redes socais
(Youtube, Instagram, Facebook).
20. Pernambucano, 32 anos, administrador, autodenomina-se “bicha e preta”.
21. Coletivo Pernambuco Golarrolê é um importante nome no cenário de festas
da capital Pernambucana. Em julho de 2019 o coletivo completou treze anos de
trajetória, promovendo festas bastantes apreciadas pelos meus interlocutores,
como as festas Brega Naite, Odara Ôdesce, Maledita, Neon Rocks, Refresh,
Prainha e Putz54. A festa Brega Naite é uma festa interessante para analisar as
diferentes interações promovidas pela musicalidade mais regional da música
eletrônica dançante. Esta festa conta com apresentações de bandas e Mc(s) de
brega e brega funk, além de deejays que investem nos estilos pernambucolismo,
brasilidades e bagaceira. Ver, Santana (2017a).
22. Pernambucano, 30 anos, universitário, autodenomina-se “gay”.
23. As relações entre as boates recifenses inseridas em um “mercado GLS” e a
música eletrônica bagaceira apareceram, inicialmente, em minha pesquisa de
mestrado em antropologia social (SANTANA, 2017a, 2017b) a partir da
inserção dos estilos musicais brega e brega-funk na programação semanal das
festas inseridas neste “mercado GLS”. Nesse sentido, as boates, os bares e as
festas inseridas em um circuito comercial de bares, boates e festas voltado ao
público LGBT é de extrema relevância para circulação do brega e brega-funk
“para além da periferia”. Assim, verifica-se que esse movimento de expansão do
brega e do brega-funk “para além da periferia” também é responsável pelas
transformações pelas quais passaram esses estilos musicais em suas formas de
produção e de circulação, cujo foco anterior era o público heterossexual; mas
nos últimos anos passou a ser também o público LGBT(s).
Em maio em 2019 foi lançado o projeto “Bichas do Brega” no Clube
Metrópole, inspiradas nas Amigas do Brega, o projeto busca fazer paródias com
a temática da diversidade sexual com sucessos do brega. Clipe de Abertura
disponível em: < h ps://www.youtube.com/watch?v=4ufNL29h9Os >. Acesso em
junho de 2019; e clipe da paródia “libera o anel (paródia em plena lua de mel):
< h ps://www.youtube.com/watch?v=4XQxQJB7Ey0 >. Acesso em junho de 2019.
24. No original: “assumption that ''the state'' is an a priori conceptual or empirical
object”.
25. No original: “how people perceive the state, how their understandings are
shaped by their particular locations and intimate and embodied encounters
with state processes and officials, and how the state manifests itself in their
lives.Analyzing these cultural processes through which ''the state'' is
instantiated and experienced also enables us to see that the illusion of
cohesion and unitariness created by states is always contested and fragile, and
is the result of hegemonic processes that should not be taken for granted”.
26. No original: “It is more than a bureaucracy with rules and procedures”.
27. No original: “The proximity with the agents reveals the warmer side of the
mais popular, esse espaço é moralmente desvalorizado por ser considerado por
alguns interlocutores como um “local que cheira a sexo”, “cheio de garotos de
programas”, “povo feio e que se veste muito mal”, inclusive por alguns dos meus
interlocutores. A boate fechou para reforma em 2018 e desde então permanece
fechada. Ver Albino (2018).
42. Categoria êmica para jovens “com pinta de maloqueiro” ou um jovem “que é da
galera”.
43. Pernambucano, 23 anos, estudante, autodenomina-se “gay e pardo”.
Referências
Anaíza Vergolino e Silva é uma daquelas pessoas que nos faz sentir orgulho em conhecer,
em ser amigo. Sua importância e sapiência só não são maiores que sua polidez e caráter.
Historiadora e antropóloga. Ela é responsável pela formação do alicerce e pela
consolidação da antropologia na Universidade Federal do Pará, ao lado de Arthur Napoleão
Figueiredo. Sua importância para a antropologia na Amazônia vai muito além de citações em
obras e quadros pendurados em paredes. Nestes quase 50 anos de vida acadêmica, ela não apenas
levou o Terreiro e o Povo de Santo para a academia, mas a academia para dentro dos Terreiros,
numa relação sensível e profunda de respeito e admiração mútuos que dura até hoje.
Ela é graduada em História (UFPA). Foi bolsista de Arthur Napoleão Figueiredo, seu
grande amigo e incentivador para o campo antropológico e com quem desenvolveu vários projetos
e pesquisas, inclusive a formação da Reserva Técnica do Laboratório de Antropologia Arthur
Napoleão Figueiredo: um imenso acervo com centenas de artefatos da cultura material das
religiões de matriz africana na cidade, além da cultura indígena de várias etnias e da vida
interiorana.
Ela é a pioneira nos estudos sobre a população afro-amazônica na região, especialmente
sobre sua religião, tão fascinante e particular, inaugurando esta linha de pesquisa na UFPA,
ainda nos anos de 1960.
É mestre em antropologia, sob orientação de Peter Fry, pela UNICAMP. Professora
aposentada, mas nunca parada, pela UFPA. Está sempre cercada de alunos e amigos, nunca
nega orientação e uma boa conversa recheada de palavras doces e sábias. Possui uma vasta obra e
coleciona títulos e honrarias. Atualmente é a presidente do Instituto Histórico e Geográfico do
Estado do Pará.
290
Forró em Toulouse:Uma etnografia
multissituada sobre o forró como espaço
performático de sociabilidade e resistência
291
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 291-298
ISSN: 2446-8290
299
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 299-306
ISSN: 2446-8290
Dasipê: fragments of an
Akwẽ Xerente naming rite
307
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 307-316
ISSN: 2446-8290
foi o sobrinho de seu pai (FBS). Brupahi foi pintada e adornada com
algodão por duas mulheres da metade oposta a sua, que para isso
receberam um pagamento em arroz, carne e farinha.
A preparação, não obstante, só foi finalizada no mesmo local onde
no dia anterior ocorreu a corrida da carne. Parte importante dessa
preparação ocorreu quando FBS de Brupahi “amarrou” nos tornozelos da
garota uma corda feita com as fibras de buriti. Nas outras nomeações de
mulheres uma “amarração” semelhante deveria ser feita pelo tio (MB), no
entanto, não encontrei registro semelhante nas nomeações desse ano.
Depois que Brupahi foi preparada os homens foram organizados em
uma fileira. Brupahi, FBS e as mulheres que a pintaram e decoraram
ficaram mais ao fundo. Foram então distribuídos pequenos caules de
plantas. Cada pessoa segurava dois, um em casa mão. Na frente, liderados
por anciãos e por auxiliares, o grupo de homens, Brupahi e as mulheres que
a prepararam, desceram o caminho de terra em direção a aldeia Salto
imitando os pássaros Brupahi. Ao chegar ao centro da aldeia se dirigiram a
porta de algumas casas onde cantaram o nome Brupahi. Após o canto, os
homens voltaram para o Warã e a recém-nomeada para sua casa.
Notas
Referências
Eneida Assis
Eneida Assis, uma excelente etnóloga. Uma das principais pesquisadoras dos povos
indígenas da Amazônia. E, acima de tudo, ela era uma pessoa amiga e sonhadora. Formada em
História (UFPA) e Antropologia (UNB) teve a oportunidade, ainda como estudante, de conhecer
e interagir com pesquisadores renomados do Museu Goeldi e da Universidade Federal do Pará,
isso lhe possibilitou tornar-se uma antropóloga idealista e que mantinha, ao mesmo tempo, o
senso crítico refinado e a lucidez para agir com cautela e ousadia.
Foi líder do GEPI - Grupo de Pesquisa sobre Populações Indígenas e coordenou o OEEI -
Observatório de Educação Escolar Indígena do Territórios Etnoeducacionais Amazônicos.
Eneida era também uma política não apenas na teoria, mas principalmente na prática. Seu
doutoramento em Ciência Política (IUPERJ) permitiu-lhe o aprimoramento teórico do que já
fazia e conhecia empiricamente. Eticamente tornou-se uma das grandes pesquisadoras e
apoiadoras das causas indígenas. Uma grande guerreira. Por conta desse comprometimento as
lideranças destes povos reconhecem o quão importante ela foi nas suas conquistas. Foi batizada
de Kiavnu por estes povos, que a respeitavam e a admiravam.
Era uma excelente contadora de histórias e suas narrativas recheadas de misuras e caretas,
imitando as pessoas ao relatar uma conversa ou episódio. Sua voz e seu corpo se transformavam
nesse instante. Gostava de usar expressões populares ao mesmo tempo em que citava autores e
autoras clássicos e contemporâneos das ciências humanas. Citava ainda exemplos de áreas de
conhecimento aparentemente díspares.
Eneida Assis dava conselhos, usando exemplo de vivências de outras pessoas ou aquilo que fora
vivenciado em seu trabalho de campo. Sua mente era ágil e estava sempre disposta a aprender e a
ensinar. Quando não sabia e não conhecia algo, colocava “os cachorros no mato” para não “ser
lesa” em suas estratégias e ações. E observava, ouvia, aprendia com todos e com tudo. Nunca
desistia de lutar e conseguia suportar as adversidades e adversários.
Eneida deixa saudade. Mas também ensinamentos, lições, iniciados e iniciadas que a manterão
viva pra sempre em nossas pesquisas e em nossos corações.
317
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 318-319
ISSN: 2446-8290
318
“Pascual Toro, flautero” é um documentário etnográfico gravado no
Chaco boreal paraguaio entre 2016 e 2018. Músico indígena, Pascual Toro
herdou o conhecimento da tradição musical associada ao Arete Guasu do
seu pai, quem, como muitos outros guarani e isosenhos, migrou da Bolívia
ao Paraguai após a Guerra do Chaco (1932-1935). Neste vídeo, através da
voz do músico indígena, conhecemos parte da história do seu povo, da
importância do Arete Guasu na sua comunidade e dos conhecimentos
associados à habilidade para ser um bom flauteiro. O vídeo apresenta
também a sequência de temas musicais que compõem a estrutura ritual do
Arete Guasu tal como acontece nos dias de hoje na comunidade guarani
de Santa Teresita (Mariscal Estigarribia, Boquerón, Chaco paraguaio).
Ficha técnica
320
A musicalidade do Boi das Máscaras Faceiro é concebida com
inspiração, poesia e troca recíproca de sentimentos empíricos. Este filme
mostra o processo de concepção de uma "marcha do boi", um ritmo
singular e próprio da manifestação dos bois mascarados. Nildo Zeferino é
um dos principais compositores das músicas que alegram a cultura
popular de São Caetano de Odivelas. Sua inspiração vem de antigos
mestres e compositores das canções de boi. Suas composições são
inspiradas em aspectos próprios do Boi Faceiro como um grupo
representativo do coletivo popular. Em seguida, a música composta é
passada para a Orquestra do grupo. Com a realização dos ensaios e a
execução na integra da música, completa-se o ciclo de mais uma
composição que animará as apresentações do Boi Faceiro. As imagens
estão no formato Mp4 e foram capturadas por uma Camera Cannon T6.
Ficha técnica
322
Josias Ramos é natural de Belém do Pará, nascido em 1986, e
mudou-se com sua família para Bragança (PA) no ano de 2002. Através de
seu tio soube que ia ser realizado o curso de construção de rabecas
(instrumento musical de cordas friccionadas), realizado pelo Instituto de
Artes do Pará e a Irmandade da Marujada de São Benedito de Bragança,
em 2003. Se inscreveu prontamente pois sempre teve vontade de “se
envolver” com música. Josias foi o único de sua turma que conseguiu
montar uma rabeca, e se manteve exercendo o saber-fazer da construção do
instrumento.
Hoje Josias é um dos remanescentes na construção de rabecas,
instrumento musical de grande importância na musica da Marujada.
Manifestação popular em homenagem à um santo católico, São Benedito,
a Marujada foi iniciada em 1798 por uma irmandade negra. Josias não
possui vínculo com a manifestação e não é católico, mas por amor à música
replica os saberes e fazeres da rabeca para que esta tradição não se perca.
Ficha técnica
Artífices do som:
Josias Ramos e a rabeca de Bragança (PA) 324
Turma do Vinil: mil e uma formas de ouvir
325
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 325-329
ISSN: 2446-8290
Introdução
Estratégias de representação
Conclusão
Notas
Ficha Técnica
Referências
Seção Entrevistas
Samuel Sá
Samuel Maria de Amorim e Sá. Antes de ser antropólogo, um ser humano, como um dia
o ouvi afirmando. Também é metodólogo, porque diz ele que nestes tempos ter mais de um
emprego pode ser interessante. Traz em sua bagagem acadêmica e cultural quase cinquenta anos
de Antropologia na Amazônia, onde iniciou sua carreira na graduação em Ciências Sociais na
UFPA. Neste período, foi bolsista orientado pelo Dr. Eduardo Galvão no Museu Paraense Emílio
Goeldi e aluno do Prof. Dr. Orlando Sampaio e Silva. Depois, seguiu para o Rio de Janeiro, onde
especializou-se em História Oral e trabalhou na Fundação Oswaldo Cruz. Estudou na Bélgica e
na década de 70 foi convidado pelo Dr. Charles Wagley para cursar o mestrado e doutorado em
Antropologia na Universidade do Sul da Flórida, campus de Gainsville (EUA), tornando-se,
então, o primeiro antropólogo amazônida a realizar uma formação de pós-graduação strictu sensu
completa fora do Brasil e posteriormente retornar a região para trabalhar. Sua tese de
doutoramento versou sobre o processo de adaptação cultural e as barreiras vivenciadas pelos pós-
graduandos brasileiros nos Estados Unidos. Este não foi o seu primeiro estudo no campo da
Antropologia da Educação, mas, sem dúvida, o mais denso. Estavam, então, abertas as portas
para que ele fundasse o Projeto Extracurricular Temático (PET) em Ciências Sociais, grupo em
que desenvolve um trabalho de “educação universitária”, principalmente entre os alunos de
graduação da UFPA. Atualmente, continua colaborando com a formação de gerações de
cientistas sociais. Aqui, nossa gratidão ao querido Professor Samuel.
330
Entrevista com
María Eugenia Domínguez
Chiara Albino
Universidade Federal de Santa Catarina
tarsila.chiara@gmail.com
Jainara Oliveira
Universidade Federal de Santa Catarina
gomes.jainara@gmail.com
331
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 331-338
ISSN: 2446-8290
Apresentação
Como você avalia a expansão dos estudos sobre música, bem como o
protagonismo das mulheres pesquisadoras nesse campo?
Vejo um protagonismo crescente das mulheres na vida acadêmica e
artística de forma geral, e isto reflete-se também nos estudos realizados
sobre música desde diferentes perspectivas disciplinares. Penso que essa
expansão dos estudos sobre música se relaciona com uma abertura em
relação ao que entendemos quando falamos de música, incluindo não
apenas a obra em si e sim todos os saberes, práticas e performances que
fazem parte do “musicar”, para usar a expressão de Christopher Small,
com todos os condicionantes que os afetam e com todas as transformações
que eles podem operar na vida social. Essa ampliação do objeto que os
estudos sobre música atravessaram durante as últimas décadas também
possibilitou a proliferação de abordagens para o seu estudo, muitas delas
interdisciplinares.
Agradecimentos
As entrevistadoras agradecem à entrevistada a autorização para publicar
esta entrevista. Agradecem ainda à comissão editorial da Revista Visagem
e às organizadoras do dossiê “música e modos de subjetivação em
perspectiva antropológica” o aceite desta entrevista.
Links sugeridos
“Entre flauteiros” h ps://youtu.be/YvkktZ3MrCw
“Opaite ime iya. Todo tiene dueño” h ps://youtu.be/gYk1lquC9x4
339
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 339-345
ISSN: 2446-8290
341
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 339-345
ISSN: 2446-8290
Lucca Perrone Totti - Lucca Totti (Rio de Janeiro, 1997) é Licenciando em Música pela
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). É monitor do projeto de
extensão "Fábrica de Sons Eletrônicos", coordenado pelos professores Alexandre
Fenerich e Paulo Dantas. Atua como guitarrista no projeto Soundpainting Rio, usando
o método de improvisação dirigida para performances sonorizando filmes mudos,
acompanhando grupos de dança e performance, e promovendo festas dançantes. Com
o projeto, participou da II e III JISMA (Jornada Interdisciplinar de Som e Música no
Audiovisual), em apresentações na Cinemateca do MAM; do Seminário Arte e
Oliver Guimarães Armando Bastos - Mestre em Sistemas de Gestão pela UFF (2014),
atualmente cursa Licenciatura em Música na UNIRIO. Possui Graduação em
Comunicação Social - Publicidade e Propaganda - Faculdades Integradas Hélio Alonso
(2005). Atua como técnico administrativo do Centro Federal de Educação Tecnológica
Celso Suckow da Fonseca.
Pedro Luiz Fadel Ferreira - Pedro Fadel é Licenciando em Música pela Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Atua como bolsista PROATEC no
projeto "Juventude, prática musical e expressão: vivendo e criando música com jovens",
343
v. 05 | n. 01 | 2019 | pp. 339-345
ISSN: 2446-8290
Rodrigo Bastos Torrero Diaz - Bacharel em Ciências Sociais pela Fundação Getúlio
Vargas (FGV), com experiência profissional nas áreas de memória, história, audiovisual
e organização de acervo documental. Atualmente é graduando do curso de Licenciatura
em Música da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).
345