Quando Tirar os Seios é uma Opção

Depois de ter sido diagnosticada com câncer em um dos seios, ela pediu
ao médico que retirasse os dois, apesar de um dos seios estar sadio. Christina
Applegate, uma atriz norte-americana, é apenas uma das centenas de mulheres
nos Estados Unidos que têm optado por retirar o seio sadio como uma forma de
prevenção do câncer.
Este procedimento, chamado mastectomia profilática, tem-se tornado
cada vez mais comum, inclusive entre mulheres nos estágios iniciais do câncer.
É também um procedimento cirúrgico que algumas mulheres perfeitamente
sadias escolhem por ter um alto índice de câncer na família.
Nos Estados Unidos, a cada três minutos, uma mulher é diagnosticada
com câncer de mama. No Brasil, a situação não é menos preocupante. O câncer
de mama é o que mais causa morte entre as mulheres. Não fica, então, difícil de
entender porque as mulheres tem tanto medo deste tipo de câncer.
Mas por que retirar um seio sadio? Muitas mulheres, depois do câncer,
não querem correr o risco de passar novamente pelo estresse do tratamento.
Outras tem histórias de câncer na família tão severas que pensam ser apenas
uma questão de tempo para o câncer surgir. Já algumas mulheres, preocupadas
com a estética e seu físico, argumentam que a reconstrução cirúrgia dos seios
deixa os seios mais simétricos.
A mastectomia profilática tem também seu benefício com relação ao
custo financeiro, se comparado com o tratamento. Mas provavelmente o
argumento mais forte é que este processo tem uma melhor eficácia na
prevenção do câncer em comparação com outros processos, como a
quimioprevenção, de acordo com pesquisas publicadas no Brasil.
A mastectomia profilática realmente elimina a possibilidade de o câncer
de mama acontecer? Este procedimento cirúrgico minimiza o risco de incidência
de câncer de mama. Remover os seios sadios antes do câncer ser detectado,
por exemplo, pode reduzir o risco do câncer se desenvolver em mais de 90%, de
acordo com médicos nos Estados Unidos. Redução, entretanto, não significa a
garantia de eliminação do câncer.
De acordo com o New York Times de março deste ano, as mulheres,
muitas vezes, não sabem que a reconstrução cirúrgica é diferente do implante
de selicone nos seios para efeito estético. Depois de uma mastectomia
profilática e reconstrução, as mulheres perdem toda a sensibilidade na área
operada. Além disso, não se sabe muito sobre qualidade de vida das pacientes
após o processo cirúrgico; mais pesquisa tem que ser feita nesta área.
Mesmo com todos os benefícios que a mastectomia profilática pode
trazer, é necessário que a mulher esteja completamente consciente de sua
escolha e que esta escolha seja autônoma. Afinal, uma parte do seu corpo vai
ser retirada e isso pode trazer complicações psicológicas. Por outro lado, o que
foi retirado pode ser substituído; o que não se pode substituir é a vida.

Denise M. Osborne é araxaense, doutoranda pela Universidade do Arizona

(USA) em aquisição de segunda língua, e professora de português pela
mesma universidade. dmdcame@yahoo.com

Artigo originalmente publicado pelo Jornal Clarim (Minas Gerais, Brasil).

Osborne, D. (2010, November 26). Quando Tirar os Seios é uma Opção. Clarim,
Ano 15, n. 746, p. A2