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Direito processual Civil I

Noções introdutórias

Quando alguém sente necessidade de se dirigir a um tribunal para pedir ajuda, tem
alguma coisa que pretende ver resolvia, que se chama litígio, uma parte já terá falado
com a outra e pretende qualquer coisa que não está a conseguir ver ser resolvida,
dirigindo-se ao tribunal, esta pessoa é o réu.

Temos o autor e o réu.

O autor dirige-se ao tribunal e pretende qualquer coisa. O tribunal pode decidir isto de
duas maneiras: atribui razão ao autor – condena o réu no pedido – ou pode entender
que o autor não tem razão – absolve o réu do pedido.

Existe uma situação que é aquela em que o juiz olha para as condições que tem para
decidir e repara que não estão preenchidas, isto é, condições a nível formal, por
exemplo: um tribunal de família não é competente para decidir uma situação que
deveria ser tratada num tribunal comercial. Nestas situações o juiz tem de meter fim ao
processo, não pode condenar nem absolver o pedido. Assim, faz uma terceira coisa,
absolve o réu da instância, neste caso o juiz não se está a pronunciar sobre o que está
pedido, não está a dizer nada em relação ao mesmo.

A absolvição da instância faz com que o problema continue sem estar resolvido.

Assim, temos de distinguir decisões de mérito de decisões de forma:

 Decisão de mérito – o juiz toma ou não toma decisão de mérito, o juiz


pronuncia-se ou não se pronuncia sobre aquilo que foi pedido em concreto.
Quando o juiz condena no pedido está a conhecer do mérito. Basicamente temos
dois tipos de decisão de mérito: absolvição do réu e condenação do réu.

 Decisão de forma – absolvição da instância. As condições formadas estão


preenchidas e o processo avança, se as condições formais não estiverem
preenchidas, há absolvição da instância.

LEONOR DE MATOS PEREIRA


Para iniciar o processo, o autor começa por uma petição inicial, a petição é um
documento em que o autor propõe uma ação contra outro sujeito. É uma peça processual
em que o autor descreve os factos, invoca as regras que acha que lhe são favoráveis e
termina formulando um ou mais pedidos.

A petição inicial tem de ser escrita por artigos.

Na forma de processo comum a secretaria começa a tratar do processo agarrando no


processo e fazendo a autuação (cria uma espécie de caderno com tudo o que vai
acontecer no processo), a seguir o réu contesta e é tudo autuado.

A secretaria autua, dá número ao processo e dá-se a distribuição, atribuindo ao juiz o


processo de forma aleatória, de modo a garantir a imparcialidade, para se ter a certeza
de que as partes não podem escolher o seu juíz.

A secretaria, depois disto, faz a citação, que está na fase dos articulados, MAS NÃO É
UM ARTICULADO, é uma espécie de carta registada. É a forma através da qual se
informa o réu de que está a decorrer um processo contra ele.

Recebendo a citação o réu tem 30 dias para apresentar uma contestação, o réu não é
obrigado a contestar, nem tem o dever de o fazer, a contestação é um ónus, se não se
defender perde a oportunidade de dizer que o que o autor pediu é mentira.

Quando o réu não contesta, em regra, TODOS os factos que o autor alegou são
dados como verdadeiros.

O réu pode então decidir entre contestar ou ficar em reveria.

O réu pode defender-se de duas maneiras que têm sempre de vir separadas da
contestação:

-Impugnação – existe sempre que o réu diz que um ou mais factos alegados pelo autor
são mentira.

-A exceção é uma forma de defesa que não implica dizer que determinado facto é falso,
neste caso está a alegar-se algo que faz com que, se o juiz der razão ao réu, este seja
absolvido do pedido ou da instância.

Por exemplo: o tribunal pode não ser competente, isto é uma exceção que nada tem a
ver com o mérito da causa, isto é uma exceção dilatória que é uma circunstância que
impede o juiz de conhecer o mérito da causa, conduzindo à absolvição do réu da

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instância. Se o réu alega uma destas coisa, então está a defender-se por exceção
dilatória.

As exceções dilatórias fazem com que o réu seja absolvido da instância.

As exceções perentórias fazem com que o réu seja absolvido do pedido, o réu tem
razão. O réu pode fazer outra coisa que não é uma defesa, mas sim um contra-ataque
que é uma reconvenção, isto é, um pedido também contra o autor na contestação, o
autor põe uma ação em que pede alguma coisa e o réu para contra-atacar faz também
um pedido. O réu pede qualquer coisa ao autor.

Em 2013, o legislador reduziu as situações em que há réplica para dois casos: a regra
encontra-se no 584º que diz que depois do réu contestar, o autor pode apresentar outro
articulado de resposta (réplica) em duas situações: se o réu tiver feito um pedido
convencional ou se a ação for passível de apreciação negativa.

A réplica é agora excecional e passa a existir para responder também às exceções.


Quando a contestação chega à secretaria esta notifica o autor, primeiro cita o réu, mas
depois tudo o que as partes fazem a secretaria notifica as partes.

Citação só há uma no processo, porque é o ato através do qual a secretaria dá


conhecimento ao réu de que há um processo contra ele. Quando a secretaria avisa o
autor da contestação do réu já é notificação porque o autor já sabe da existência do
processo.

E se, mais tarde, acontecer um facto que é interessante para o processo?

Pode apresentar-se um articulado superveniente – peça articulada através da qual se dá


conhecimento ao juiz de que aconteceu algo do qual não se tinha conhecimento na
altura do pedido, contestação, etc.

Terminada a fase dos articulados, a secretaria entrega os autos ao juiz. O processo é


concluso ao juiz.

A instância – relação triangular em que são partes o tribunal, o autor e o réu.

Até à citação apenas estão na instancia o tribunal e o autor. Só com a citação é que se
encontram os três.

Se o juiz se apercebesse que era incompetente antes da citação, não podia absolver o réu
porque não havia réu na instância, essa situação era um indeferimento da petição inicial,
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indeferimento preliminar que era o juiz dizer que este processo não reúne as
condições necessárias para conhecer o mérito da causa e o juiz dissesse isso antes do réu
ser sequer citado.

Atualmente, já se absolve o réu da instância.

Em regra, a secretaria cita sem perguntar ao juiz, mas há situações em que a secretaria
continua a enviar a peça processual ao juiz para este ler e decidir. Mas a regra é a
secretaria citar sem informar, em regra a citação é feita oficiosamente, sem ninguém
mandar, por sua própria iniciativa.

Gestão processual – 4 momentos:

 Despacho pré-saneador

 Audiência Prévia

 Despacho saneador – os atos do tribunal chamam-se todos despacho, menos a


sentença. As partes quando querem pedir alguma coisa ao tribunal fazem
requerimentos. Este despacho é o momento a meio do processo quando o juiz
vai verificar se pode ou não conhecer do mérito da causa. Há casos em que os
prazos podem ser diferentes, imaginando que, por exemplo, uma das partes é
estrangeira e vai ter de pedir os documento na embaixada ou mesmo no
estrangeiro, daí ser necessário mais tempo.

Despacho saneador é o momento em que o juiz tem de dizer se as condições


estão preenchidas ou não.

O juiz pode ajudar a corrigir a exceção dilatória porque o objetivo é chegar


à questão de mérito.

 Despacho do 596º

Depois desta fase há uma audiência final e depois sentença.

Na audiência final o objetivo é a produção de prova – chamar as testemunhas e etc.

Na sentença o juiz decide e põe termos ao processo.

Princípios e deveres estruturantes do processo civil

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A) Garantia de acesso aos tribunais – prevista no artigo 2º/1 CPC que determina
que a proteção jurídica através dos tribunais implica o direito de obter, em prazo
razoável a decisão judicial. Já o 2º/2 dispõe que a todo o direito, exceto quando a
lei determine o contrário, corresponde a ação adequada a fazê-lo reconhecer em
juízo. Para tornar efetiva a garantia do acesso à via judiciária torna-se
imprescindível a eliminação de tais obstáculos de ordem económica.

B) Princípio dispositivo em confronto com o princípio do inquisitório – Quando


o direito de uma pessoa é violado por outra estamos perante um conflito de
interesses. O tribunal só poderá resolver esse conflito se a resolução lhe for
solicitada pelo interessado. O pedido é formulado quando a ação é proposta, ou
seja, na petição inicial. O titular do direito violado terá de propor a ação
adequada, desencadeando desse modo a atividade do tribunal para que seja
proferida a decisão que venha a solucionar o conflito.

Segundo o Princípio do dispositivo as partes dispõem do processo, cabendo ao


juiz controlar a observância das normas processuais e, por fim, proferir a decisão
acerca do conflito de interesses que determinou a proposição da ação. É aos
litigantes que pertence a iniciativa da ação e o impulso necessário ao seu
prosseguimento, sendo-lhes igualmente permitido fazê-la terminar. A atividade
inicial a desenvolver pelas partes está consagrada no artigo 3º/1 que determina
que o tribunal não pode resolver um conflito de interesses que a ação pressupõe
sem que a resolução lhe seja pedida por uma das partes e a outra seja chamada a
deduzir oposição. O processo só tem início por força do impulso do autor ao
formular o respetivo pedido ao tribunal. Neste sentido responde o artigo 5º que
diz que cabe às partes alegar os factos essenciais que constituem a causa de pedir
e aqueles em que se baseiam as exceções invocadas.

Nos termos do disposto no artigo 608º/2 o juiz deve resolver todas as questões
que as partes tenham submetido à sua apreciação.

O princípio do inquisitório vem definido no artigo 411º, nos termos do qual


incube ao juiz realizar ou ordenar, mesmo oficiosamente, todas as diligências
necessárias ao apuramento da verdade e à justa composição do litígio, quanto
aos factos que lhe é lícito conhecer.

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Embora o impulso processual incuba às partes, cumpre ao juiz providenciar pelo
andamento regular e célere do processo, promovendo oficiosamente as
diligências necessárias ao normal prosseguimento da ação e recusando o que for
impertinente ou meramente dilatório; o juiz deve ainda suprir a falta de
pressupostos processuais cuja sanação seja possível – artigo 6º/1 e 2.

Incumbe ao juiz convidar ao suprimento das insuficiências ou imprecisões na


exposição ou concretização da matéria de facto alegada, concedendo prazo para
apresentação de novo articulado – 590º/4.

O juiz pode requisitar informações, pareceres técnicos, plantas, fotografias,


objetos ou documentos necessários ao esclarecimento da verdade – 436º/1.

C) Princípio do contraditório – se por um lado o tribunal não pode resolver um


conflito de interesses sem que a resolução lhe seja pedida por uma das partes,
por outro lado, não o pode resolver sem que a outra parte seja devidamente
chamada para deduzir oposição. É o que resulta do disposto do 3º/1.

Depois de o autor rer proposto a ação, o réu tem de ser citado para a contestar,
sendo-lhe proporcionada a oportunidade de se defender – 569º/1.

É através da citação do réu que se dá cumprimento ao princípio do contraditório.


Este princípio tem consagração legal não só na fase dos articulados, mas em
todas as fases do processo incluindo na do julgamento, continuando a ser
observado na fase do recurso.

Com base nele se prescreve a proibição da prolação de decisões surpresa, não


sendo lícito aos tribunais decidir questões de facto ou de direito, mesmo que de
conhecimento oficioso, sem que tenha sido facultada às partes a possibilidade de
sobre elas se pronunciarem. Este princípio permite a cada uma das partes
deduzir as suas razões, oferecer as suas provas, controlar as provas do adversário
e discretear sobre o valor e resultados de umas e outras.

D) Princípio da igualdade das partes – Ambas as partes devem ser consideradas


como detentoras dos mesmos direitos e oneradas com os mesmos deveres,
encontrando-se numa posição e paridade entre si e perante o tribunal. Está
consagrado no 13/1 da CRP.

E) Princípio da cooperação – encontra-se definido no artigo 7º, essencialmente no


seu nº1, ao determinar que na condução e intervenção no processo, devem os

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magistrados, os mandatários judiciais e as próprias partes cooperar entre si,
concorrendo para se obter a justa composição do litígio.

F) Princípio da economia processual – consiste em procurar obter o máximo


resultado da atividade processual desenvolvida. Procura-se que se alcance a
resolução do máximo de litígios com o menor esforço processual possível. Para
alcançar um determinado resultado processual devem utilizar-se os meios
necessários e não mais que esses. Pretende-se reduzir o número de processos e
evitar os atos e formalidades desnecessários.

G) Dever de gestão processual – artigo 6º - podem considerar-se englobados não


só o poder de direção do processo como também o princípio de adequação
formal. São atribuídas ao juiz um conjunto de faculdades que lhe permitem
decidir o modo de tramitação do processo, mas também o poder de praticar e
mandar praticar os atos considerados necessários para uma rápida e justa
resolução do litígio. Compete ao juiz as diligências necessárias ao normal
prosseguimento da ação, recusando o que for impertinente ou meramente
dilatório e, ouvidas as partes, adotando os mecanismos de simplificação e
agilização processual que garantam a justa composição do litígio em prazo
razoável.

H) Dever de boa fé processual – as regras da boa fé devem estar presentes em


todas as relações jurídicas, nomeadamente na formação dos contratos, conforme
exige o 227º do CC. Quando a parte infringe este dever incorre em
responsabilidade como litigante de má fé, podendo ser condenada em multa e
em indemnização à parte contrária.

I) Princípio da instrumentalidade – Se a vontade das partes não pode conseguir


certo efeito fora do processo, não deve ser possível conseguir tal efeito através
de atuações processuais.

Espécies de ações

Nos termos do artigo 10º do CPC, as ações são declarativas ou executivas, consoante o
seu fim.

Ações declarativas – Conforme resulta do nº2 desse mesmo artigo, estas ações
declarativas podem ser:

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a) De simples apreciação;

b) De Condenação;

c) Constitutivas

 As ações de simples apreciação são aquelas que têm por fim obter
unicamente a declaração da existência ou inexistência de um direito ou
de um facto. Estas ações podem ser positivas ou negativas. São
positivas quando tiverem por fim obter a declaração de existência de um
direito ou de um facto. São negativas as que têm por fim obter a
inexistência de um direito ou de um facto.

 As ações de condenação são aquelas que, segundo o artigo 10º/3-b), têm


por fim exigir a prestação duma coisa ou de um facto, pressupondo ou
prevendo a violação de um direito. As ações de condenação
correspondem ao que no CC se chama de ações de cumprimento (817º
CC) e nelas pede-se a declaração do direito a uma prestação, mas pede-se
mais do que isso: pede-se que o tribunal faça seguir essa declaração
de uma ordem para que o réu cumpra. Nestas ações o autor pretende,
não só, que seja declarado o seu direito que está a ser violado pelo réu,
mas também que este seja condenado à reintegração desse mesmo
direito, quer através da realização de uma determinada prestação, quer
por meio de uma atitude de abstenção ou omissão. A sentença de
condenação pressupõe a existência de uma declaração da existência do
direito, como sempre acontece. O autor pretende mais que a declaração
do seu direito e, por isso, pede também a condenação do réu.

 As ações constitutivas vêm elencadas no artigo 10º/3-c), sendo as que


têm por fim autorizar uma mudança na ordem jurídica existente. Há uma
relação material potestativa: o autor exerce (ou pretende exercer) um
direito potestativo, estando os efeitos de tal exercício sujeitos à conditio
júris de uma sentença favoráveis que reconheça e declare o direito,
implicitamente autorizando ou desencadeando tais efeitos. A sentença
cria um estado jurídico, pela modificação ou extinção do anterior. Por ex:
ação de divórcio.

Ações executivas – 10º/4 CPC – são ações executivas aquelas em que o credor requer
as providencias adequadas à realização coativa de uma obrigação que lhe é devida.
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Formas de Processo

Os processos classificam-se, quanto à forma, em especiais e comuns (art. 546º CPC).

O processo especial é aquele que se aplica aos casos expressamente designados na lei e
o processo comum é aquele que é aplicável a todos os casos a que não corresponda
processo especial (546º/2). O processo especial é a forma de processo, cujo âmbito de
aplicação está definido na lei.

O processo comum constitui a regra e o processo especial a exceção.

Regime do processo especial – Nos termos do artigo 549º/1 o processos declarativos


especiais regulam-se pelas disposições que lhes são propiás e pelas disposições gerais e
comuns e, em tudo o que não estiver regulado naquelas disposições, pelo que se
encontra estabelecido para o processo comum.

Processo de declaração – o processo comum de declaração (art. 548º) segue a forma


única. O âmbito de aplicação do mesmo é afetado por processos especiais e
procedimentos, são eles os seguintes:

- A ação declarativa especial para o cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes


de contratos (art. 1º DL 296/98 de 1/9) que se destina a exigir o cumprimento de
obrigações pecuniárias de contratos de valor não superior a 15000€.

- A injunção também aprovada por esse DL visa conferir força executiva a requerimento
destinado a exigir o cumprimento das obrigações pecuniárias emergentes de contratos
de valor não superior a 15000€.

O valor da causa

Um dos requisitos da petição consiste em exigir que o autor indique o valor da causa –
artigo 552º/1-f) CPC. Torna-se, por isso, indispensável conhecer os critérios legais a que
o autor se deve reportar para atribuição de tal valor. O artigo 296º/1 estabelece que a
toda a causa deve ser atribuído um valor certo, expresso em moeda legal, o qual
representa a utilidade económica imediata do pedido; nenhuma petição inicial é

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recebida se dela não constar a indicação do valor da causa (558º/e)). Todo o processo
tem um valor em dinheiro, determinado quer pela avaliação dos interesses em causa
(297º a 310º), quer, quando se trate de interesses não patrimoniais e não avaliáveis em
dinheiro, artificialmente (segundo o art. 303º).

O artigo 297º determina os critérios gerias para a fixação do valor da causa nos
seguintes termos:

- Se pela ação se pretende obter qualquer quantia certa em dinheiro, é esse o valor da
causa, se pela ação se pretende obter um benefício diverso, o valor da causa é a quantia
em dinheiro equivalente a esse benefício;

- Cumulando-se na mesma ação vários pedidos, o valor da causa é a quantia equivalente


à soma dos valores de todos eles;

- No caso de pedidos alternativos, atender-se-á unicamente ao pedido de maior valor e,


no caso de pedidos subsidiários, ao pedido formulado em primeiro lugar.

Se houver cumulação de pedidos – 555º - o valor resulta da soma de todos eles.

No caso de pedidos alternativos – 553º - será considerado o pedido de maior valor.

O artigo 298º fixa critérios para casos especiais.

Os mais importantes critérios de aferição do valor da causa são os seguintes:

 Se a ação tiver por objeto qualquer quantia certa em dinheiro, o valor da causa
corresponde a esse montante (297º/1 1ª parte);

 Se a ação tiver por fim fazer valer o direito de propriedade sobre uma coisa, o
valor desta será o valor da causa (302º/1);

 Se a ação versa sobre o estado das pessoas ou sobre interesse imateriais, o valor
da causa é o equivalente à alçada da Relação e mais 0,01€ (303º/1);

 Se a ação tiver por objeto a apreciação da existência, validade, cumprimento,


modificação ou resolução de um ato jurídico, o valor da causa é aferido pelo
valor do ato determinado pelo preço ou estipulado pelas partes (301º/1);

 Se na ação pedirem prestações vencidas e prestações vincendas, o valor da causa


´r determinado pelo valor de umas e outras (300º/1);
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 Nas ações de alimentos definitivos e nas de contribuição para despesas
domesticas, o valor da causa é o quíntuplo da anuidade correspondente ao
pedido (298º/3)

O artigo 303º fixa o valor das ações sobre o estado das pessoas ou sobre interesses
imateriais ou difusos.

O nº1 do artigo determina que as ações sobre o estado das pessoas ou sobre interesses
imateriais se consideram sempre no valor equivalente à alçada da Relação e mais 0,01€.

O nº2 estende esta mesma regra às ações para atribuição da casa de morada da família,
constituição ou transferência do direito de arrendamento.

O nº3 do mesmo preceito dispõe que nos processos para a tutela de interesses difusos, o
valor da ação corresponde ao do dano invocado, com o limite máximo do dobro da
alçada do tribunal da relação.

Dizem respeito ao estado das pessoas as ações de divorcio, as de separação judicial de


pessoas e bens, as de anulação de casamento, as de investigação de maternidade ou de
paternidade, as de impugnação de maternidade, de impugnação de paternidade ou de
impugnação de perfilhação, as de natureza do processo e medidas cautelares, etc.

Por força do artigo 44º/1 da Lei nº62/2013 de 26 de agosto, em matéria cível a alçada
dos tribunais da Relação é 30000€.

As ações sobre o estado das pessoas têm sempre o mesmo valor que é, portanto, de
30000,001€. Sendo este valor superior à alçada do Tribunal da relação em 0,01€,
permite que da sentença se possa recorrer até ao STJ. Esta possibilidade traduz a
importância que é atribuída a estas ações.

Quanto aos interesses imateriais estão neles compreendidas as ações que visam
alcançar um interesse não patrimonial, ou seja, que não é suscetível de se quantificar em
dinheiro. Estão nesse caso, as ações em que se pretende a inibição ou limitações ao
exercício das responsabilidades parentais.

Os interesses difusos dizem respeito a pessoas não individualmente determinadas,


trata-se de interesses cuja titularidade pertence a todos e a cada um dos membros de
uma comunidade ou de um grupo, mas que não são suscetíveis de apropriação por
qualquer deles.

Momento a que se atende para a fixação do valor – artigo 299º:

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- Na determinação do valor da causa, deve atender-se ao momento em que a ação é
proposta, exceto quando haja reconvenção ou intervenção principal;

- O valor do pedido formulado pelo réu ou pelo interveniente só é somado ao valor do


pedido formulado pelo autor quando os pedidos sejam distintos, nos termos do 530º/3;

-O aumento referido só produz efeitos quanto aos atos e termos posteriores à


reconvenção ou intervenção.

O nº1 do 299º estabelece a regra geral que para a fixação do valor da causa se deve
tomar em conta o momento em que a ação é proposta. Aponta, porém, duas exceções:

1) Pedido reconvencional

2) Requerida intervenção principal

Tribunal e Competência

Os sujeitos do processo civil são o tribunal e as partes. O tribunal pode ser definido
como o órgão de soberania investido especificamente na função jurisdicional (202º/1
CRP). Os tribunais são órgãos imparciais que utilizam, em regra, o direito substantivo
como critério de decisão e que têm competência para proferir decisões dotadas de
valores próprios, como são os de caso julgado.

Na ordem jurídica portuguesa há vários tribunais: tribunais comuns e tribunais


especiais; tribunais estaduais e tribunais arbitrais.

Tribunais comuns e especiais – Os tribunais de comarca, Relações e STJ formam um


todo judiciário, hierarquizado.

Chama-se tribunal comum àquele que pertence a uma ordem de tribunais a que, no seu
conjunto, é atribuída competência genérica, isto é, competência para dirimir todos os
litígios, salvo os que, por lei, estejam reservados a tribunais de outra ordem (art. 211º/1
CRP; 40º/1 LOSJ).

Chama-se tribunal especial àquele que pertence a uma ordem de tribunais cuja
competência é delimitada por lei.
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Há uma ordem de tribunais comuns – a ordem dos tribunais judiciais – art. 209º/1-a)
CRP e uma ordem de tribunais especais – a ordem dos tribunais administrativo e fiscais
– art. 209º/1-b) e 212º CRP e 29º/1-b) LOSJ.

Quadro geral dos tribunais: A organização judiciária portuguesa

 Tribunais judiciais – O disposto no artigo 210º CRP permite traçar o seguinte


quadro de tribunais judiciais: STJ que é o órgão superior da hierarquia dos
tribunais judicias (210º/1 CRP; 29º/1-a) e 31º/1 LOSJ) e está instalado em
Lisboa (art. 45º LOSJ); as Relações, são, em regra, tribunais de 2ª instância (art.
210º/4 CRP, 29º/2 e 67º/1 LOSJ); os Tribunais de Comarca, são, em regra
tribunais de 1ª instância (210º/1 CRP; 29º/3 e 79º LOSJ).

 Tribunais administrativos e fiscais – A competência dos tribunais


administrativos e fiscais é delimitada pelo seu objeto: os litígios emergentes de
relações jurídicas administrativas e fiscais (art. 144º/1 LOSJ). O STA é o órgão
superior da hierarquia dos tribunais administrativos e fiscais (art. 312º/1 CRP,
146º LOSJ, 11º/1 ETAF).

Competência Interna

A competência é fixada no momento de propositura da ação – art. 38º LOSJ – o que


significa que são irrelevantes as alterações de facto que decorram ao longo da ação
(38º/1). As modificações de direito, ou seja, qualquer modificação ao regime da
competência é maioritariamente irrelevante (38º/2), a não ser que seja suprimido o
órgão a que a causa estava afeta ou quando o tribunal não era competente, mas uma
alteração legislativa determina que passa a ser competente. Assim, a ação continua a
decorrer nesse Tribunal.

A competência dos tribunais judiciais, no âmbito da jurisdição civil, é regulada


conjuntamente pelo estabelecido na LOSJ e pelas disposições do CPC – 60º/1 CPC.

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Nos termos do disposto no 60º/2 do CPC e no 37º/1 da LOSJ, a ordem interna reparte-
se, na ordem interna, pelos diferentes tribunais segundo a matéria, o valor da causa, a
hierarquia e o território.

A) Competência em razão da jurisdição:

 São da competência dos tribunais judiciais as causas que não sejam


atribuídas a outra ordem jurisdicional – artigo 64º CPC + 40º/1 LOSJ

 As LOSJ determinam quais as causas em que, em razão da matéria, são da


competência dos tribunais e das secções dotados de competência
especializada – art. 65º.

 No artigo 4º do ETAF diz que ações são da competência dos tribunais


administrativos e fiscais.

A) Competência em razão da hierarquia:

 Hierarquicamente temos 3 níveis de tribunais judiciais: Primeira instância,


Relação e STJ. A 1ª instância e a Relação têm alçadas. Todas as ações são
propostas na 1ª instância, o valor da alçada determina se é possível ou não
recorrer.

 Os tribunais de 1ª instância, estando situados na base da pirâmide hierárquica,


têm a função de julgar todas as questões, qualquer que seja o valor da ação.
Quando o valor da ação ultrapassa a sua alçada (5000€), será possível interpor
recurso das suas decisões para o Tribunal da Relação, que julgará em 2ª
instância. Se a ação tiver um valor superior ao da alçada da Relação (30000€), a
decisão por este proferida pode ainda ser objeto de recurso para o STJ.

Nota: Há ações que admitem SEMPRE recurso, independentemente do seu valor –


629º/2 e 3.

A LOSJ estabelece quais as causas que, pelo seu valor se inserem na competência da
instância central e da instância local – art. 66º. Já o 41º LOSJ determina a competência
em razão do valor, entre os juízos centrais cíveis e juízos locais cíveis.

A incompetência em razão do valor da causa é sempre de conhecimento oficioso do


tribunal, seja qual for a ação em que se suscite – art. 104º/2.

A) Em razão do território:
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 Se o tema da ação for uma das matérias que entra nas regras especiais do 70º
ao 89º aplicamos essa.

 Se não for juízo dessas vamos para o 80º ou 81º.

Exceção: Casos em que, em abstrato nada têm a ver com Portugal, mas em que existe
um pacto de jurisdição pelo art. 25º do regulamento, atribuindo competência a
Portugal – nessa situação temos mesmo de ser competentes.

 Vamos à competência territorial e nada indica que possa ser em Portugal que se
venha a propor a ação.

 Aplicamos o 80º/3 – se mais nada tiver ligação a Portugal vamos utilizar aqueles
critérios e se mais nenhum der, propõe-se a ação em Lisboa. Se já sabemos que
os tribunais portugueses são competentes TEMOS MESMO DE APLICAR
O 80º/3. Este art. utiliza-se SÓ quando os tribunais portugueses são
competentes – o 80º/3 NÃO É UTILIZADO PARA DESCOBRIR SE
PORTUGAL É COMPETENTE.

Questão doutrinária da dupla funcionalidade – Alguns autores defendem que


podemos retirar do regulamento competência territorial – MTS. Todas as regras que
apontam para o Estado em concreto, apenas lhe concedem competência
internacional – art. 7º do regulamento, por ex. diz os tribunais do “lugar”. Prof.
MTS entende que, quando o legislador fala de “lugar” está a determinar a
competência internacional e territorial porque está a ir ao lugar específico dentro do
estado.

Nestes casos, quando aplicamos a regra que dá competência internacional – dupla


funcionalidade – falamos dela na competência internacional e na territorial.

A) Em razão da matéria:

 Portugal está dividido em termos de organização de justiça em Comarcas. Em


cada comarca há um tribunal de comarca. A partir de 2013 criaram-se os
tribunais de competência territorial alargada – 83º LOSJ.

1ª Coisa a fazer: Ver se há, para o caso em concreto, algum tribunal de competência
territorial alargada competente. Dizer que, em razão da matéria, esta ação não é de

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competência dos tribunais de competência territorial alargada – 111º LOSJ. Se for da
competência desses tribunais não é do de comarca – competência residual.

2ª Coisa a fazer: Juízos de competência especializada – não são nem o juízo cível
central nem o juízo cível local, são os outros todos. Começamos por afastar todos
aqueles que não são o local cível e o central cível: trabalho, família, etc.

3ª coisa a fazer: Vamos ver o juízo central cível – 117º. Vão para o juízo central cível
as ações de matéria civil.

-Para seguir para o central cível: tem de ter a forma de um processo comum e um
valor superior a 50000€ - não esquecer que se houver mais que um pedido temos de
juntar os valores.

-Para seguir para o local cível: forma de processo especial e valor inferior a 50000€.
Tem competência residual – fica com todos os processos que não são dos outros juízos.

Juízos de competência genérica: apenas depois de saber qual é o território competente


é que conseguimos saber quais os tribunais de cada comarca. Vai para o juízo de
competência genérica quando não há todos os tipos de tribunais de competência
especializada.

Incompetência

Antes de propor a ação, deve o autor procurar saber qual o tribunal competente para a
mesma, tendo em conta as diversas regras enunciadas.

 Incompetência absoluta: Art. 96º CPC: a incompetência absoluta corresponde


à infração das regras de competência em razão da matéria e da hierarquia, das
regras de competência internacional e ainda ao caso em que a ação foi proposta
no tribunal comum quando devia ter sido proposta no tribunal arbitral.

A incompetência absoluta pode ser arguida pelas partes e deve ser suscitada
oficiosamente pelo Tribunal.

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Qualquer das partes tem legitimidade para arguir incompetência absoluta do
tribunal, o que significa que pode ser arguida pelo próprio autor, que foi quem a
ocasionou.

A verificação de incompetência absoluta implica as seguintes consequências


(99º/1):

-Absolvição do réu da instância: quando a citação não depende de prévio


despacho judicial, porque incumbe à secretaria promove-la oficiosamente
(226º/1), o juiz terá o primeiro contacto com o processo só depois dos
articulados. Conhecerá o vício no momento de proferir o despacho saneador –
595º/1-a). Neste caso, ao conhecer da incompetência absoluta, tem de limitar-se
a absolver o réu da instância. Na verdade, o juiz depara-se com uma exceção
dilatória (557º/a) e 278º/1-a)), o que terá como consequência a absolvição do
réu da instância por força do 576º/1 e 2.

Se a incompetência for arguida antes de ser proferido despacho saneador, pode


conhecer-se dela imediatamente ou reservar-se a apreciação para esse despacho.
Se for arguida depois de despacho, deve conhecer-se logo a arguição – 98º.

-Indeferimento em despacho liminar – quando o processo o comportar – o


processo comporta o indeferimento quando a citação depender de prévio
despacho judicial (266º/4). Neste caso, o juiz, em vez de ordenar a citação do
réu, profere despacho de indeferimento liminar ao detetar o vício da
incompetência absoluta do tribunal, de que deve conhecer oficiosamente.

 Incompetência relativa: corresponde à infração das regras de competência


fundadas no valor da causa, na divisão judicial do território ou decorrentes do
estipulado na convenção prevista no art. 95º - art. 102º.

A incompetência relativa pode ser arguida pelo réu, sendo o prazo de arguição
fixado para a contestação, oposição ou resposta, ou não havendo lugar a estas,
para outro meio de defesa que tenha a faculdade de deduzir.

Fases Incompetência:

1) Ver qual a norma de competência que foi violada. Ver se a respetiva


incompetência é absoluta ou relativa.
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2) Averiguar se é ou não de conhecimento oficioso: normalmente o caso prático
diz que o autor e o réu disseram.

3) O que é que o juiz deve fazer?

-Continuar com a ação e conhecer do mérito da causa (se não for de


conhecimento oficioso e as partes não alegarem.

-Absolver o réu da instância.

-Pode haver remessa para o tribunal competente

Artigos relativos a Incompetência presentes no Reg:

 Art. 26º do Reg. – Pacto tácito – É o nome que se dá à situação em que o


regulamente se aplica, a ação é proposta num tribunal incompetente, mas essa
incompetência não decorre de violação do artigo 24º, pode ser de todos os outros
artigos, o réu contesta, mas não diz que o tribunal é incompetente. Depreende-
se que o réu está a aceitar, assim, o tribunal TORNA-SE COMPETENTE.

 Art. 28º - se o réu não comparecer, pode ser de conhecimento oficioso mas tem
de se verificar determinadas condições: o lugar onde a ação foi proposta não
pode ser o domicilio do réu; o réu não pode ter comparecido, não praticando a
contestação.

 Art. 27º - caso de violação do 24º, é sempre de conhecimento oficioso, quer o


réu compareça ou não.

 Violação do 24º - Após se concluir que o regulamento se aplica, que é um caso


do 24º, que os tribunais competentes são os estrangeiros, mas a ação foi proposta
em Portugal: art. 24º foi violado – gera incompetência absoluta; art. 27º diz-nos
que é de conhecimento oficioso; o juiz deve absolver o réu da instância – 99º/1
1ª parte CPC.

Se o réu compareceu e alegou a incompetência não há necessidade de


mencionar nenhum destes artigos.

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Competência Internacional

A competência internacional surge quando existe um problema com conexão


com outra ordem jurídica, além da portuguesa – conflito plurilocalizado.

Trata-se de saber se uma determinada questão deve ser resolvida pelos tribunais
portugueses ou pelos tribunais de um Estado estrangeiro. Se a situação não
revelar qualquer conexão com ordens jurídicas estrangeiras, tudo se passa no
âmbito da competência interna.

Casos de competência internacional:

1) Verificar se é um conflito plurilocalizado.

2) Primado do Direito da União Europeia – art. 8º CRP, assim, começamos


pelo regulamento 1215/2012. SÓ APLICAMOS O CPC SE O
REGULAMENTO NÃO SE APLICAR (nesse caso vamos ao 62º, 63º e 94º).

Quando é que se aplica o regulamento?

Preenchimento de 3 âmbitos:

a) Material – art. 1º do regulamento – aplica-se a ações de matéria civil ou


comercial. VERIFICAR SE NÃO ENTRA NUMA DAS EXCEÇOES DO
Nº2.

b) Temporal – art. 66º do regulamento – ações intentadas desde 10 de janeiro


de 2015.

c) Espacial/subjetivo – Art. 6º não diz o mesmo que o 4º, É OBRIGATÓRIO


FALAR NO 6º. O artigo está escrito pela negativa – diz as ações a que o
regulamento não se aplica. Temos de fazer uma leitura a contrario.

Diz que temos de aplicar a lei do nosso estado membro sempre que o réu não
tem domicilio no estado membro. Se o réu tiver domicílio num estado
membro aplica-se o regulamento.

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O regulamento só se aplica se o réu tiver domicílio num estado membro ou
se estiver no 18º/1, 21º/2, 24º e 25º (exceções em que mesmo sem domicílio
em estado membro o regulamento se aplica).

Se o regulamento disser que Portugal não é competente – acava a aplicação


da lei.

Se não tiver domicilio no estado membro temos de ir ver as exceções que


podem fazer com que se aplique o regulamento na mesma:

18º/1 – consumo

21º/2 – contrato de trabalho

24º - aplica-se independentemente do domicílio do réu às situações lá


descritas

25º - pactos de jurisdição – são acordos entre as partes no sentido de


determinarem qual o tribunal competente a nível internacional – as partes
escolhem um país.

Ver os requisitos de jurisdição do pacto e tem de ter escolhido um país da EU


– aplica-se o regulamento neste caso, mesmo que o réu não tenha domicílio
num estado membro.

Temos de passar pelos 4 artigos para ver qual se aplica no caso concreto.

Concluindo que o regulamento se aplica: vamos ver as regras sobre


competência do regulamento: identificar qual o tribunal competente: até
ao art. 26º retirando os que servem para fixar o âmbito, os restantes artigos
dizem qual o tribunal competente.

Estas regras têm uma hierarquia entre elas:

25º - competência exclusiva a não ser que as partes escolham outro tribunal.

1 – se for um caso de 24º não há necessidade de procurar mais nenhum


artigo, uma vez que é competência exclusiva.

2 – artigos 15, 19 e 23 estão acima do 25 por causa do 25º/4

3- Artigo 25

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4- Artigo 10º a 23º - seguros, trabalho, consumo

5- Artigo 4º - regras gerais – 7º, 8º e 9º - regras especiais. Art. 5º diz nos


como é que estas se relacionam – nenhum prevalece sobre os outros, entre a
regra geral e as especiais nenhuma prevalece sobre as outras, o autor pode
optar por quais quer aplicar.

Requisitos Pacto de Jurisdição:

 Tem de ser o pacto de jurisdição que escolhe um tribunal do estado


membro;

 O domicílio deixou de ser um requisito

 Tem de identificar uma determinada relação jurídica – não é possível


fazer um pacto para todas as situações jurídicas que venham a ocorrer
entre A e B.

 Tem de ser celebrado por escrito ou de acordo com as outras alíneas


do 25º

 Não pode afastar as regras do 15, 19, 23 e 24

 Não pode ser substantivamente nulo nos termos da lei do estado que
as partes escolheram para regular o seu conflito.

 Mesmo que o contrato seja nulo não fica a validade do pacro afetada
automaticamente – a sua validade tem de ser avaliada à parte.

Se todos se verificarem, aplica-se o 25º e considera-se que o regulamento se aplica.

DEPOIS DE VERMOS QUE OS TRIBUNAIS PORTUGUESES SÃO


COMPETENTES PELO REGULAMENTO NÃO PODEMOS TOCAR NOS
ARTIGOS 63º, 62º E 94º DO CPC.

Duas hipóteses:

1) Tribunais Portugueses competentes – Passar para a COMPETÊNCIA


INTERNA;

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2) Tribunal Português não é competente: Princípio Kompetenz-Kompetenz:
Tribunal tem competência para tomar uma decisão de mérito acerca da sua
própria competência perante o caso que lhe é apresentado. Assim, Portugal deve
considerar-se incompetente. Incompetência absoluta de conhecimento oficioso
(96 e 97 CPC) e através de uma interpretação literal do 99º/2 poderia resultar
remessa para o tribunal competente. Entretanto, como indicado por MTS e PCS,
por motivos de soberania nacional dos Estados, ordem política e jurisdição
internacional, as regras de competência interna não se bilateralizam. Assim, essa
incompetência absoluta resulta numa exceção dilatória (577-a)) que tem
como consequência a absolvição do réu na instância (576º2) ou
indeferimento e despacho liminar (99º/1), consoante tenha sido constatada
no despacho saneador ou na própria sentença ou depois da petição inicial
mas antes da citação nos termos do 590º, o que resultaria na extinção do
processo para ambos os casos.

E se o regulamento não se aplicar? CPC  passar para a competência


interna: “não obstante da não aplicação do regulamento, o artigo 59º diz que
os tribunais portugueses são internacionalmente competentes quando se
verifiquem algum dos elementos de conexão. Assim:

-63º (exclusiva)

-94º (pactos)

-62º + território

Partes do Processo

Noções gerais

Noção de parte – para além do tribunal, os outros dois sujeitos da relação jurídica são
as partes ou litigantes. Parte é aquele que pede em próprio nome a atuação duma
vontade da lei, e aquele frente à qual ela é pedida. Assim, parte é aquele que pede em
juízo uma determinada forma de tutela jurídica e aquele contra o qual essa forma
de tutela é pedida.

As partes ativas chamam-se autores e as partes passivas chamam-se réus.

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Qualidade de parte – 3 conceções sobre a qualidade de parte:

-Sentido material – as partes processuais são os sujeitos da relação material


controvertida;

-Sentido formal – as partes processuais são aquele ou cada um daqueles que pede a
tutela jurisdicional e aquele ou cada um daqueles frente aos quais tal tutela é pedida.

-Sentido funcional – as partes processuais são definidas a partir da formação do


respetivo processo.

Dualidade de partes – todo o processo exige duas partes, isto é, uma ou mais partes
ativas e uma ou mais partes passivas: é o que pode ser designado pelo princípio da
dualidade de partes. Assim decorre a proibição dos processos “consigo próprio”, isto é,
dos processos em que o autor e o réu sejam a mesma pessoa.

Identificação das partes

Nos termos do 552º/1-a), as partes devem ser identificadas pelo autor através da
indicação dos seus nomes, domicílios ou sedes e, sempre que possível, números de
identificação civil e de identificação fiscal, profissões e local de trabalho.

Podem verificar-se problemas na identificação do réu:

 Quando o réu é corretamente identificado pelo autor, mas é diferente da pessoa


que ele queria demandar. O erro só pode ser corrigido através de uma desistência
do pedido pelo autor (283º/1), se isso não acontecer, a ação será julgada
improcedente.

 O réu é incorretamente identificado pelo autor, não havendo, contudo, dúvidas


sobre a sua identidade (ex: na petição inicial chama Joel António Silva, quando
na verdade se chama “José António Silva”); se a citação puder ser dada como
realizada na pessoa certa, não há nenhum vício e o erro pode ser corrigido, por
analogia, com o disposto no artigo 614º/1, a requerimento do autor.

 O réu é corretamente identificado pelo autor, mas é citada uma pessoa diferente
da indicada pelo demandante, por ex: na petição inicial, o réu é identificado
como sendo “João Maria Silva”, mas é citado alguém com o nome de “José
Maria Silva”, nesta hipótese, a citação é inexistente (188º/1-b)).

Legitimidade das partes


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Para que o juiz possa conhecer do mérito da causa, torna-se necessário que as partes,
além de possuírem personalidade e capacidade judiciária, tenham legitimidade para a
ação.

Legitimidade singular – a legitimidade processual é a possibilidade de se estar em


juízo quanto a um certo objeto. A legitimidade processual é independente de qualquer
titularidade efetiva do objeto do processo: aquela legitimidade é um pressuposto
processual; esta titularidade é uma condição da procedência da ação.

Podemos distinguir legitimidade direita de legitimidade indireta. A direta é aquela


que é reconhecida ao titular da situação subjetiva ou a alguém que tem interesse em
discutir com ele a titularidade dessa situação. A indireta é aquela que é concedida a
alguém que se substitui ao titular do objeto do processo e visa definir as condições em
que um sujeito que não é o titular da situação subjetiva pode litigar, em nome próprio
sobre esta.

 Pode dizer-se que a legitimidade pode pertencer quer a quem é o alegado titular,
ativo ou passivo, da situação subjetiva alegada em juízo, quer a quem, apesar de
não ser esse titular está autorizado a estar em juízo como parte.

 A parte terá legitimidade como autor se for ela quem juridicamente pode fazer
valer a pretensão.

 A parte terá legitimidade como réu se for ela a pessoa que juridicamente se pode
opor à pretensão do autor.

Legitimidade direta – Deve ser apreciada em função de dois critérios:

1) O interesse em demandar e em contradizer, ou seja, o interesse na obtenção de


uma tutela favorável através de uma decisão de procedência ou improcedência
da ação.

2) O poder de produção, pela parte, dos efeitos que podem decorrer da decisão de
procedência ou improcedência da ação, isto significa que para se ser parte
legítima não basta ter interesse em demandar ou em contradizer, pois que é ainda
necessário que a parte, ativa ou passiva, possa produzir os efeitos substantivos
que decorrem da procedência ou improcedência da ação.

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Aferição: O interesse em demandar e em contradizer é o interesse em alcançar uma
tutela jurisdicional favorável, pelo que o autor é parte legítima se for a parte que tem
interesse em obter uma decisão de procedência e o réu é parte legítima se for a parte
interessada em conseguir uma decisão de improcedência.

O critério de aferição da legitimidade é o interesse em demandar e em contradizer


referido no art. 30º/1¸pois que é pelo interesse em obter procedência ou improcedência
da ação que se pode determinar a parque que pode demandar ou ser demandada. O
interesse em demandar e em contradizer são interesses independentes entre si, porque
cada uma das partes possui um interesse próprio numa tutela favorável.

O interesse em demandar e em contradizer não deve ser confundido com o interesse em


agir.

A parte possui o interesse em demandar e em contradizer sempre que tenha um direito


que deva ser defendido ou acautelado, mas o interesse processual ou interesse em agir
só existe quando a parte puder retirar alguma utilidade da tutela jurisdicional requerida.

 O artigo 30º/1 afere a legitimidade das partes através de um interesse direto em


demandar ou em contradizer, pelo que o que conta para a aferição desses
interesses é a relação que o artigo 30º/1 exige entre a parte e o objeto litigioso.

 O mesmo não pode ser dito dos interesses em demandar e em contradizer


referidos no 30º/2: estes interesses exprimem-se pela utilidade decorrente para o
autor da procedência da ação e pelo prejuízo sofrido pelo réu com essa mesma
procedência. O professor MTS diz que este artigo não tem nada a ver com a
legitimidade, deveria ser autónomo e está mal enquadrado. Este artigo diz
respeito ao interesse processual que é outro pressuposto processual. Assim,
quando falamos de legitimidade, devemos apenas mencionar o 30º/1 e 3.

O que torna uma parte ilegítima? Ilegitimidade singular: Uma parte pode ser
ilegítima porque em função do pedido e da causa de pedir há alguém que não tem nada
a ver com aquele processo, ou seja, este é o tipo de legitimidade que se afere em função
do objeto. Olha-se para o objeto do processo e para a pessoa e vê-se que relação existe.
Se concluo que alguém está naquele processo e não tem nada a ver com o que é pedido,
a única solução é afastá-la do processo – absolvição do réu da instância por falta de um
pressuposto processual. Esta falta de legitimidade é insanável.

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Legitimidade Plural (pluralidade de partes)

Na sua forma mais simples o processo tem apenas duas partes em confronto:
demandantes e demandado, autor e réu.

Às vezes, porém, a ação é proposta por vários autores ou contra vários réus. Nestes
casos existe uma pluralidade de partes.

A pluralidade pode ser ativa ou passiva, consoante se verifica do lado dos autores ou
do lado dos réus. E pode ser mista quando a ação é instaurada por vários autores contra
vários réus.

A pluralidade de partes pode dar origem ao litisconsórcio ou à coligação. No


litisconsórcio há uma pluralidade de partes, mas unicidade quanto à relação material
controvertida. Na coligação há não só uma pluralidade de partes, mas também
diversidade de relações materiais controvertidas.

Quando o interesse respeitar a uma pluralidade de partes principais que se unam no


mesmo processo para discutirem uma só relação jurídica material, estamos perante a
figura do litisconsórcio. O termo litisconsórcio serve para exprimir a imagem de várias
pessoas que, no mesmo processo civil, correm a mesma sorte, associadas que estão no
lado do ataque ou da defesa.

Nota: nem sempre a intervenção de terceiros pode dar origem a litisconsórcio. Para
haver litisconsórcio é necessária a formação de uma pluralidade de partes principais.
Por isso não se formará litisconsórcio no caso de assistência, visto que o assistente é
parte acessória.

Litisconsórcio lato sensu – à pluralidade de partes principais dá-se o nome de


litisconsórcio, no sentido lato desta palavra – 32º e ss. CPC, 280º e 630º).

Modalidades de litisconsórcio

Litisconsórcio Voluntário e Necessário:

Litisconsórcio Necessário

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Quando a intervenção de todos os interessados for imposta e o incumprimento
do ónus implicar a ilegitimidade da parte demandante ou demandada, o
litisconsórcio é obrigatório ou necessário. Existe litisconsórcio necessário
sempre que exista uma situação em que é obrigatório haver 2 autores ou 2
réus.

A intervenção pode ser imposta:

- Pela lei: litisconsórcio necessário legal (33º/1);

-Pelo contrato fonte da relação controvertida (que impõe que o direito só


possa ser exercido por todos ou contra todos, ou simultaneamente por todos
contra todos) – litisconsórcio necessário convencional ou contratual. (33º/1)

-Pela necessidade de assegurar o efeito útil normal da decisão a obter:


litisconsórcio necessário natural (33º/2 e 3).

Se faltar alguém os que estão na ação são parte ilegítima. Sempre que este
litisconsórcio legal é preterido, a parte que está na ação e que devia estar
acompanhada, mas não está é parte ilegítima. Para haver legitimidade eles têm
de lá estar os dois.

Fácil de sanar – chama-se a outra pessoa – é uma ilegitimidade SEMPRE


sanável através do fenómeno da intervenção de terceiros:

-Intervenção espontânea de terceiros: 311º CPC;

-Intervenção de terceiro provocada (316º/1 e 318º/1-a)).

 Litisconsórcio Necessário Legal: O litisconsórcio necessário legal verifica-se


nas hipóteses em que a lei impõe, sob pena de ilegitimidade, a intervenção dos
vários interessados. São várias as disposições legais que impõem o
litisconsórcio:

- CPC: 34º (direitos e dívidas dos cônjuges); 354º/2 (incidente de habilitação);


922º/1 (consignação em depósito) e 953º/1 e 954º (regulação de avarias
marítimas).

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- CC: 419º/1 (direito de preferência), 496º/2 (titularidade do direito à
indemnização por morte da vitima), etc.

Como é que sei que existe? Existe o princípio da instrumentalidade: não


posso conseguir através do processo civil efeitos que me estão vedados fora do
processo.

-Litisconsórcio conjugal ativo: encontra-se regulado no artigo 34º/1: devem ser


propostas por marido e mulher, ou por um deles com consentimento do outro, as
ações de que possa resultar a perda ou a oneração de bens que só por ambos
possam ser alienados, ou a perda de direitos que só por ambos possam ser
exercidos, incluindo as ações que tenham por objeto, direta ou indiretamente, a
casa de morada da família.

Quanto aos bens próprios: cada cônjuge administra esses bens (1678º/1 CC) e
pode aliená-los livremente (1682º/2 CC). Por isso, o cônjuge tem legitimidade
para propor sozinho ações referentes a esses bens e contra ela podem ser
propostas ações com o mesmo objeto. Contudo, há algumas exceções como:
móveis utilizados por ambos na vida do lar ou como instrumento comum de
trabalho (1682º/3-a)); estabelecimento comercial, salvo vigorando o regime de
separação de bens; casa de morada da família própria pi arrendada.

Bens comuns: (1717º e ss.) Há que distinguir entre bens comuns administrados
por um só dos cônjuges ou bens comuns administrados por ambos. Os
administrados apenas por um dos cônjuges são os do 1678º/2- b) a e) do CC.

Só há restrições à legitimidade de cada um dos cônjuges na zona das ações


patrimoniais. Quanto às ações pessoais – divórcio; ações de filiação – cada um
dos cônjuges tem legitimidade para intentá-las sozinho.

Concluindo, no litisconsórcio necessário conjugal ativo em vez de ser proposta


por ambos os cônjuges, pode a ação ser intentada por um deles com o
consentimento do outro. Se o cônjuge não der o seu consentimento, a falta pode
ser judicialmente suprida, aplicando-se, com as necessárias adaptações, o
disposto no artigo 29º (34º/2). O processo de suprimento de consentimento no
caso de recusa encontra-se no artigo 1000º.

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Litisconsórcio necessário conjugal passivo – as ações que têm de ser propostas
contra ambos os cônjuges (34º/3): ações emergentes de facto praticado por
ambos os cônjuges; ações emergentes de facto praticado por um deles, mas em
que pretenda obter-se decisão suscetível de ser executada sobre bens próprios do
outro – recorrer ao regime das dividas.

Verifica-se, portanto, quando a ação diz respeito a um facto praticado por ambos
os cônjuges, quando respeita a dividas comunicáveis (1691º e 1695º).

O Prof. Lebre de Freitas, acentua o “pretenda” referido no artigo e concede ao


credor possibilidade de escolha em propor a ação contra apenas um dos
cônjuges, apesar de a dívida ser comum. Teixeira de Sousa critica esta visão,
uma vez que não considera a imperatividade do regime da responsabilidade pela
dívida dos cônjuges e é incompatível com o regime que se encontra estabelecido
no âmbito da ação executiva.

Litisconsórcio necessário convencional – pressupõe a vontade das partes: é


esta que impõe que o direito só possa ser exercido por todos ou contra todos ou
ainda por todos contra todos. Põe-se o problema de saber se esta vontade incide
no domínio substantivo ou processual ou num e noutro.

Por ex: A empresta 10000€ a B e C e convenciona que só dos dois em conjunto


exigirá a quantia mutuada: assim, por força da instrumentalidade processual só
poderá demandar B e C, se demandar um só, este é parte ilegítima.

MTS – Se as partes só dizem como é que os direitos devem ser exercidos em


processo convencionalmente significa que estão a dar ao exercício processual
um regime diferente do regime extra processual – violação do princípio da
instrumentalidade. A regra tem de dizer respeito a como os direitos são exercidos
dentro e fora dos processos. São nulas por contrariedade à lei e violação do
princípio da instrumentalidade. Ainda que tenham sido as partes a decidir assim,
por convenção entre elas – se não for verificado o paralelo entre a convenção
processual e extra-processual – existe ilegitimidade.

LEONOR DE MATOS PEREIRA


Litisconsórcio Necessário Natural – Diz o artigo 33º/2 que é necessária a
intervenção de todos os interessados quando, pela própria natureza da relação
jurídica, ela seja necessária para que a decisão a obter produza o seu efeito útil
normal.

99% das vezes, se o artigo não instituísse o litisconsórcio necessário legal, ele
existiria como natural.

Sempre que o legislador institui o litisconsórcio necessário legal é porque


descobriu que existia um litisconsórcio necessário natural, mas teve medo que a
jurisprudência não o identificasse e por isso quis deixá-lo explicito.

Como é que descobrimos um litisconsórcio necessário natural?

Só se descobre fazendo a pergunta: o que é que acontece se algum destes


sujeitos não estiver na ação?

Se concluímos que o que acontece é inadmissível, então têm de estar todos –


Litisconsórcio Necessário Natural.

Como é que se faz este juízo? Temos de imaginar uma situação em que estão
apenas na ação alguns sujeitos e que o juiz decide essa ação.

No futuro, aquele que esteve de fora da ação é parte numa nova ação em que o
pedido é o mesmo. Aquilo que temos de ver é se esta circunstância causa algum
problema em termos de coexistência na ordem jurídica de duas decisões
incompatíveis.

Se descobrirmos isso, então podemos concluir que a primeira decisão é inútil


porque apareceu uma a seguir que a contradiz.

Há LN natural sempre que uma ação não possa produzir o seu efeito útil normal
– tornar-se definitiva.

A ação de divisão de coisa comum é o melhor exemplo:

A, B e C têm um terreno;

A farta-se e quer a divisão de coisa comum e propõe ação só contra B e diz que o
terreno é dos 3, quer que o tribunal o divida pelos 3, mas a única pessoas que
demanda é B.

Se concluirmos que esta decisão tem alguma utilidade não há LN Natural

LEONOR DE MATOS PEREIRA


O juiz divide o terreno em 3.

Só A e B é que estiveram na ação.

Mais tarde, C decide que não quer mais ter a coisa em propriedade comum e
propõe ação com o mesmo pedido que já tinha sido feito por A.

Mas a sentença na altura não era oponível a C, uma vez que ele não fez parte do
processo.

A e B não podem chegar ao pé de C e dizer-lhe que a sua parte é x.

Se o C propuser a ação contra eles, nenhum vai poder dizer nada contra isso. O
juiz vai voltar a dividir o terreno. A primeira ação não teve qualquer efeito
útil. Era um litisconsórcio necessário natural.

Assim, resumindo, ESQUEMA MENTAL:

1º) Imaginar o que aconteceria se não estivessem todos na ação;

2º) Imaginar uma segunda ação com os mesmos sujeitos e o 3º que não esteve na
primeira ação;

3º) A decisão que o juiz vai tomar na 2ª ação, torna a 1ª inútil?

4º) Se a resposta for sim, estamos perante um litisconsórcio necessário natural.

Dá-se LITISCONSÓRCIO VOLUNTÁRIO (art. 32º) - quando existe uma


pluralidade de partes principais porque a lei o permite. A regra é, havendo uma
pluralidade de interessados, a da liberdade do autor na escolha das partes da causa:
esta pode, em regra, intentar a ação contra todos os interessados ou contra alguns
deles, ou mesmo um só, e pode fazê-lo sozinho ou acompanhado por todos os
interessados ou parte deles. Se a ação for intentada apenas por um só ou parte dos
interessados contra um só ou parte dos interessados, deve o tribunal conhecer
unicamente das quotas-partes do interesse ou da responsabilidade das partes em juízo,
ainda que o pedido abranja a totalidade (32º/1). Este regime comporta, no entanto, duas
exceções:

- Se a lei ou contrato permitirem que por menos que todos ou contra menos que
todos seja formulado o pedido por inteiro (32º/2), por ex: A é credor de B, C e D
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por 6000€, pede essa quantia só a B e C; se a obrigação for conjunta, o tribunal
condena-os a pagar 4000€, se for solidária, 6000€ (512º/1 e 519º/1 CC). Em
qualquer caso, o litisconsórcio é voluntário – se A quisesse, demandava só B, ou
só C, ou só D, ou propunha três ações separadas.

- Em caso de contitularidade de direitos em que a lei permite a um só dos


contitulares agir em juízo pela totalidade do direito, fundamental é o artigo
1405º do CC, segundo o qual cada consorte pode reivindicar de terceiro a coisa
comum, sem que este possa opor-lhe que ela não lhe pertence por inteiro.

Exemplos de litisconsórcio voluntário: 512º/1 – obrigações solidárias; 538º/1 –


pluralidade de credores de uma prestação indivisível; 1286º/1 – defesa da
composse; 1405º/2 – coproprietários; 606º - ação sub-rogatória.

Diferenças entre litisconsórcio voluntário comum e conveniente:

- Litisconsórcio Voluntário Comum  a única vantagem é a sentença abranger


mais sujeitos, limita-se à vantagem base. Ex: divida solidária.

Dois devedores que me devem 10000€, posso pedir o mesmo quer apenas a um,
quer aos dois – forma de ver sempre o meu crédito pago.

-Litisconsórcio Voluntário conveniente  Litisconsórcio que a lei impõe para


conseguir outra vantagem e sob a pena de a parte perder essa vantagem. Assim,
se A, casado com B, em regime de separação, contrai, perante C uma divida de
4000€ para ocorrer aos encargos normais da vida familiar, esta é da
responsabilidade de ambos os cônjuges; por ela respondem os bens próprios de
qualquer dos cônjuges, assim, se C demanda A, só pode pedir os 4000€ e fazer
penhorar bens de A; se C demanda A e B, pode pedir os 4000€ e fazer penhorar
os bens de A e B.

Assim, dizemos que o litisconsórcio é voluntário conveniente porque tem outra


vantagem que não só a vantagem base. Um bom exemplo é também o caso das
dívidas parciárias: se propuser contra os dois devedores consigo que ambos me
paguem e recebo o dinheiro que ambos me devem em vez de o dinheiro que
apenas um me vai ter de pagar.
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O que acontece numa dívida parciária é que: tenho dois devedores A e B;
proponho ação só contra um. Era mais vantajoso pedir a ambos, porque se pedir
apenas a um (imaginando que a totalidade é 10000€), o juiz reduz o pedido e só
conhece 5000€, reconhece a respetiva quota parte, ainda que o pedido abranja a
totalidade – 32º/1 última parte.

Conhecimento oficioso da ilegitimidade: a falta de legitimidade é sempre de


conhecimento oficioso, o juiz apercebe-se de que falta um autor ou um réu.

Art. 6º/1 – o juiz tem o dever de ajudar as partes a sanar exceções dilatórias.

Mas o juiz não pode ele próprio chamar a parte que falta, apenas pode chamar
ambas as partes à atenção no despacho pré-saneador. As partes trocam
articulados, o processo vai concluso ao juiz, se há preterição de litisconsórcio
necessário, o juiz deve dizer que identificou a preterição de litisconsórcio
necessário e diz às partes que se quiserem chamar a parte que falta o devem
fazer.

Neste caso, a intervenção de terceiro chama-se intervenção principal


provocada.

Este caso é a única situação em que o autor também é citado, tem de estar na
ação mesmo que não queira. A pessoa que é chamada, quer seja o autor quer seja
réu, mesmo que não diga nada no processo, a partir do momento em que é
citado, está no processo, o processo continua na mesma quer ele se pronuncie ou
não.

O autor ou o réu pede para que seja citada a outra parte que falta – o juiz depois
disso fá-lo, mas o pedido tem de partir do autor ou do réu.

Notas:

Patrocínio judiciário – constituição de advogado – em algumas situações é


obrigatória a constituição de advogado. Se o autor constituiu e o réu não o fez
não preenche os pressupostos – nunca daria para prosseguir a ação – 577º/h).

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A constituição de advogado por parte do réu não é pressuposto processual –
apenas pelo autor é que é um pressuposto, caso contrario o réu nunca constituiria
advogado e a ação não prosseguiria por falta de pressuposto.

Substituição Processual – verifica-se nas situações em que a parte legitimada


não é o titular do objeto do processo, ou seja, nos casos em que alguém faz valor
em nome próprio um direito alheio.

Art. 30º/3 – admite que a legitimidade possa ser reconhecida a quem não seja o
titular do objeto da ação. A parte legitimada que não é titular desse objeto é o
substituto processual; o seu titular é a parte substituída.

A substituição que decorre da transmissão ou cessão da coisa litigada é uma


substituição legal, dado que é por força da lei.

A substituição processual pode ser voluntária – pode ter por fundamento um ato
processual de caráter negocial. Só se pode verificar quanto à parte ativa e com
exceção da transmissão ou cessão do direito litigioso na pendência de causa
(63º/1), não é admitida a substituição voluntária de uma parte por outra, essa
substituição só é eficaz se for autorizada antes da propositura da ação.

Exemplo de substituição processual voluntária: um dos cônjuges pode


autorizar o outro a propor uma ação relativa a um bem comum – artigo 34º/1 e
pode conceder mandato ao outro cônjuge para administrar os seus bens próprios
– 1678º/2-g) CC.

A substituição processual voluntária só é admissível quando a lei a preveja.

Substituição Processual representativa vs. não representativa:

- Substituição representativa: aquela em que o substituto processual defende


interesses alheios. Ex: administrador da insolvência.

-Substituição não representativa – aquela em que o substituto processual age


na defesa, ainda que não exclusiva, de interesses próprios. Ex: a legitimidade
dos herdeiros do doador para ação de revogação, por ingratidão da doação.

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Substituição própria e imprópria:

-Própria – aquela em que o substituto processual pode estar em juízo sem a


presença simultânea do titular do direito litigioso. A generalidade das situações
de substituição processual corresponde a esta caracterização.

-Imprópria – é aquela em que se exige a presença simultânea do substituto


processual e da parte substituída.

Efeitos da substituição processual: Um dos efeitos típicos da substituição


processual é a extensão à parte substituída do caso julgado formado na ação
em que intervém o substituto processual.

Intervenção de terceiros:

Espontânea adesiva – pode ter por base um litisconsórcio necessário ou


voluntário – 311º.

É deduzida de um simples requerimento, fazendo o interveniente seus as


articulados do autor ou do réu – 312º-/2, por ex: A, um dos credores solidários,
propõe uma ação contra B; C, um outro desses credores, pode intervir como
aderente do lado de A.

O interveniente tem de aceitar a causa no estado em que se encontrar e passa a


gozar do estatuto de parte principal a partir do momento dessa intervenção –
313º/3.

Espontânea autónoma – O interveniente formula a sua própria petição inicial


se quiser intervir como autor ou contesta a pretensão se quiser intervir como réu
– 314º.

Intervenção Provocada – Pode ser utilizada para sanar a preterição de um


LN – 316º/1, para permitir a constituição de um LV – 316º/2 e 3 e para
reconhecer o direito de regresso de um codevedor solidário – 317º/1.

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Pressupostos Processuais

A lei exige, para apreciação do mérito da causa, que as partes apresentem um


certo numero de características que funcionam como pressupostos processuais.

Como resulta do artigo 152º/1, os juízes têm o dever de administrar a justiça,


proferindo despacho ou sentença sobre as matérias pendentes.

LEONOR DE MATOS PEREIRA

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