Propuestas de participación
Eje temático/Sub eje 2. Categorías críticas de la formación e
investigación para el Trabajo
Social/Servicio Social Contemporáneo
Modalidad a. Ponencias
Autoría Edson Marques Oliveira
Título Serviço Social e a Revolução do
Design: centralidade no ser humano e
nos serviços.
Institución de pertinência Universidade Estadual do Oeste do
Paraná, Campus de Toledo-PR
Dirección de correo electrónico coacholiveira@hotmail.com
País Brasil
INTRODUÇÃO
Em 2016 foi comemorado no Brasil os 80 anos da existência do Serviço Social. Nesse ano
(2017) também se comemoraria (ou pelo menos deveria ser) os 100 anos do clássico
Diagnóstico Social de Mary Ellen Richmond,(RICHMOND,1917) a primeira grande obra que
traz a proposta de fundar uma nova ciência e uma nova profissão, o Serviço Social, que até
então era considerado uma atividade de ajuda e caridade. Um estudo recente (OLIVEIRA,
2017) faz um levantamento sobre a importância do pensamento de Mary Richmond na
atualidade, e surpreendeu ao constatar que em vários países da Europa e mesmo aqui da
América Latina, existe um repensar sobre as bases do Serviço como faz Aranda (2003), que
lança luzes renovadas sobre aspectos que até então, pelo menos no Brasil, eram
desconhecidos. Por exemplo, sobre a da critica em que a abordagem richmoniana seria
puramente funcionalista e demasiadamente psicossocial, mas que na verdade, e segundo
esse autor, a fonte principal de Richmond foi o interacionismo simbólico. Tendo como principal
autor pragmático e teórico interacionista o filósofo e psicólogo social George H. Mead, onde
Richmond em seu segundo livro de maior importância “ O que é o Serviço Social de Casos”,
(Richomond,1922) a mesma faz menção explicita da admiração e reconhecimento da
influência desse autor e de suas ideias.
Qual a importância desse fato histórico¿ O primeiro seria entender que, mesmo depois de 100
anos, essa abordagem, bem ao contrario de ser reiterativa, ou individualista no sentido de
fragmentar a compreensão e intervenção junto a situação apresentada pelos sujeitos, a
mesma entende que a realidade social não se impõe aos indivíduos ou grupos, ou seja, não
há um determinismo histórico ou fatalismo socialmente determinado, sendo que as relações
são permanentemente modeladas e reconstruídas pelos atores ao longo e no interior de
processos de interação. Segundo, que essa visão e perspectiva, formulada a mais de 100
anos por Richomond é atual e recorrente no campo dos estudos que requerem maior
compreensão sobre os laços socais, cooperação e solidariedade, como no caso da economia
social e solidária (Nicolletti,2011) e movimentos sociais (Gohn,2008) e mostrando com isso, a
vitalidade das ideias de Richmond e a possibilidade de novas aplicações (Dugué, 2009 e
Chopart, 2000, Barriga Muñoz, Martínez Alonso,2011)
Mas um dos grandes legados de Richmond, e que tem ressonância até os dias atuais, é a
perspectiva de considerar que a atuação do assistente social sendo semelhante ao trabalho
de um artífice, no caso, um artífice das relações sociais, como ela mesma afirma:
Tal metáfora, dada por Richmond a 100 anos atrás, não seria melhor e mais adequada para
a presente reflexão. Pois vivemos tempos líquidos com problemas sólidos e complexos que
precisam ser enfrentados com inteligência, leveza, sabedoria e destreza para propor ações
que transformem as vidas e a sociedade que vivemos o que precisa de inovação, humanidade
e sobre tudo com criatividade, pois como nos ensina Bobbio:
Assim, espero contribuir como essa reflexão e aproximação ao Design, que considerando a
realidade Brasileira, seria uma forma atualizada de reafirmar o que á 100 anos atrás Richmond
entendia ser o papel do assistente social, que sai de uma ação de caridade, para uma
profissão e ciência social aplicada com uma perspectiva de ser um artífice das relações
sociais, onde a centralidade era a pessoa humano e seu atendimento cotidiano, sem perder
de vistas as ações em busca de reformas e políticas mais abrangentes, e hoje, no século XXI
o assistente social pode ser considerado, (como procuramos mostrar ao longo desse artigo)
um Designer do Bem-Estar, da qualidade de vida e por que não, da felicidade do ser humano
expressos nos direitos, sustentabilidade e dignidade humana principalmente a partir da
projeção e gestão de serviços sociais para sua qualidade de vida e atendimento não de
arranjos políticos, ideológicos, ou interesses institucionais, mas sobretudo atendimento as
reais necessidades de realização das pessoas na perspectiva de construção de um mundo
melhor e diferente do que estamos vivendo, nisso o Serviço Social pode ser visto como uma
ciência da gestão de design de serviços sociais para a sustentabilidade humana. Creio que
esse papel é de suma importância para o Serviço Social como disciplina e do assistente social
como profissional. Nesse sentido a importância de revisitarmos as nossas origens e nossos
fundamentos históricos, e recuperar a essência da centralidade do Serviço Social, a saber a
realização plena do ser humano.
Para melhor compreensão desse processo e sua conexão é preciso iniciar o entendimento
pelo sentido da palavra Design. Design, é derivado em seu uso corrente devido a forte
influência do italiano, que significa disegno que na renascença dava o sentido de rascunho,
desenho de um trabalho e em geral traduzia a ideia de raiz, de início de um trabalho, ou ainda
a ação de projetar, planejar. Constata-se que desde o século XVI o entendimento de Design
passa a ter maior centralidade na ideia de plano, projeto voltado para o objetivo das artes
aplicadas, tendo maior expressão na língua inglesa, como um verbo dando sentido de
simular, projetar, esquematizar, configurar, proceder. O que é reforçado pela origem
etimológica da palavra advinda do Latim na palavra signo, que significa desenho. Um conceito
valido na atualidade para ampliar a compreensão do que seja Design, é o conceito do
Conselho Mundial de Sociedades de Design Industrial - ICSID, que desde 2002, dissemina a
seguinte compreensão contemporânea de Design.
Como se pode notar, o Design tem várias aplicações, em várias áreas da vida humana, é
comum vermos expressões como Design de interiores, Design de Modo, Design Gráfico,
Design Arquitetônico, entre outras. Mas atualmente o Design apresenta outros
desdobramentos, como o Design Social e de Serviços, que vendo sendo influenciado por uma
perceptiva que critica de não só anteder a lógica de mercado, mas ir além. Essa influência
vem principalmente do pensamento de Victor Papanek, publicitário que em 1971 lança o livro
“ Design for the Real World” ( design para o mundo real, que segundo Cardoso (2016,p18)
Na atualidade esse novo paradigma e desdobramento do Design vem afetando grande parte
de novos seguimentos. Em especial a proposta do Design Social e o Design para Inovação
Social e Sustentabilidade, como preconizado, por Manzini (2008), e para a área de serviços
como propõe Stickdorn e Schneider ( 2014) . Nesse sentido, hoje o entendimento de Design
é que o mesmo deve propiciar uma conexão interna entre arte e técnica, e uma atitude
industrial, engenhosa e habilidosa, mas também integrativa de valores da vida, da
sustentabilidade e do bem-estar, valorizando mais o atendimento as reais necessidades dos
seres humanos (centrado no ser humano), do que criando ilusões estéticas só para o estimulo
do consumo e de coisas que não tratam efetivamente de necessidades humanas reais, mas
de um consumo superficial sem sentido e significado.
Logo, o Design atual, propõe conectar a lógica da arte e ciência de forma a tornar possível
uma nova forma de cultura, de mentalidade, tanto na produção, no consumo como das
relações sociais com um horizonte na busca do bem-estar, do bem comum, da justiça e da
sustentabilidade, pela via da pluralidade, interdisiciplinariedade, com o foco no ser humano e
principalmente, na visão de co-criação e participação de todos para a projeção de soluções
inovadoras e que de fato gerem mudanças e transformações no mundo real e no viver
cotidiano das pessoas. E isso tem sido feito a partir de uma proposta metodológica chamada
de Design Thinking que passamos a apresentar em suas linhas mais gerais.
O Design Thinking (DT) surge de uma proposta de uma empresa privada, a IDEO, empresa
norte-americana de Design, criada e desenvolvida por Tim Brown, que afirma que o DT tem
uma especificidade, a saber:
Em grande medida esse método procura alterar o modo de pensar a busca por soluções e
enfrentamento de problemas, substituído o trabalho individual, restrito a gabinetes e
escritórios e ampliando o lócus de pesquisa e elaboração de projetos, já não mais individual
e deslocado do mundo real, mas centrado nas reais necessidades do ser humano, tendo como
principal elemento a participação ativa do mesmo, proclamando e agindo assim, num
processo de co-criação de produtos e serviços.
No que tange aos produtos e artefatos, pode ser ilustrado com o exemplo do Eliodomestico
( DESIGN BRASIL, 2013), criado pela designer Gabriele Diamanti, que é um projeto open-
sourced que transforma água salgada em água doce e foi projetado para pessoas em países
em desenvolvimento, como Índia e África, e produz até 5 litros/dia, como pode ser visto na
figura 1 .
Fonte: http://www.designbrasil.org.br/design-em-pauta/5-bons-exemplos-de-design-social/
Também se observa sua influência em outros campos, como inovação, tanto de serviços
como de gerenciamento e estratégias, podemos destacar alguns contribuições. A principal
delas está na reflexão profunda e critica quanto ao modelo de produção e consumo do atual
sistema, e do conceito de inovação, já não só para o mercado, sendo que mesmo sendo
direcionado para o mercado, também tem recebido uma consciência crítica, principalmente
no modelo na perspectiva do Design para a articulação de uma produção sustentável, a
exemplo da proposta e conceito de Design para a Inovação Social considerado por Manzini
(2008, p. 61) como sendo: “(...) mudanças no modo como indivíduos ou comunidades
agem para resolver seus problemas ou criar novas oportunidades”.[grifo nosso]. Com
base nessa proposição e entendimento de Design para Inovação Social, Pereira, Engler e
Martins (2015, 39), concluem que
Logo, essas evidências se aproximam e muito do Serviço Social, podendo ser uma conexão
de grande importância como já a muito tempo foi sinalizado pelo brilhante e visionário trabalho
de Ursula Karsch, no clássico “ Serviço Social na era dos Serviços”, que já em 1985 apontava
a importância desse campo, bem como, a peculiaridade dos serviços públicos e sociais, como
se pode destacar:
Assim propõe trocar a lógica de projetar serviços só para o lucro e levar a uma nova visão de
projetar serviços e negócios com atenção no ser humano, de forma empática, impactando de
forma sistêmica a qualidade dos serviços, principalmente na área pública e comunitária, que
é outro desdobramento nessa área que vamos dar maior atenção. Cabe ressaltar que Design
de serviços, é entendido como:
Logo, projetar serviços no campo publico se entende como projetar serviços sociais que
atendam as reais necessidades da sociedade efetivamente. O modo de operacionalizar, ou
seja a metodologia, segue em grande medida a mesma perspectiva do Design Thinking, como
mostra Stickdorn e Schneider (2016) o Design Thinking aplicado aos serviços deve apresentar
cinco princípios fundamentais: 1) centrado no usuário, 2) cocriativo, 3) sequencial, 4) evidente
e 5) hoslítico. Segue a proposta que esses principios são operacionalizados numa seguencia
metodologica de criação e cocriação projetiva do serviços, a saber: a) exploração, b) criação,
c) reflexão e d) implementação. Essa lógica, esse cuidado e centralidade no ser humano,
acredito ser uma das maiores revoluções para o campo principalmente dos serviços públicos
que carecem de maior clareza teorica e conceitual, mas que já mostram sinais proposperos,
a exemplo do estudo de aplicação da lógica do Design no campo de um serviço público de
saúde, mais precisamente numa Unidade Básica de Saúde do SUS, em específico quanto
aos serviços para pacientes diabéticos, onde a pesquisadora conclui:
“As atividades de codesign presentes no método possibilitaram que a rede
de valor envolvida no cuidado com a saúde do diabético compartilhasse
seus conhecimento e encontrasse um caminho para a evolução do
serviço [...] Nesse fluxo o diabético deixa de procurar o posto apenas
para casos de doença e passa a frequentá-lo para monitorar a sua saúde.”
( Freire, 2016, p.22) [grifo nosso]
Em outros termos, a produção “cientifica” não produz conhecimento que de fato possa ser
colocado em prática, que permita a geração de novas tecnologias e estratégias de
intervenção. A formação político-ideológica-partidária não instrumentaliza para a intervenção,
fator esse, não exclusivo do Brasil. E que pode, como procuramos até aqui defender, se abrir
para um dialogo com outros saberes, como no caso do Design e principalmente da lógica da
centralidade no ser humano, fator esse que não é novo, pois Richomond na origem do Serviço
Social numa perspectiva interacionista já trabalhava com os atores numa perspectiva ampla
não fragmentada mas interativa e de empondenramento dos sujeitos e seus grupos locais.
Nesse sentido esse dialogo pode resultar numa troca de aprimoramento tanto para o Serviço
Social como para o Design, e essa conexão e diálogo entre Serviço Social e o Design
possibilita visualizar o emergir uma nova abordagem, que podemos aqui denominar de
Design Sócio-Humano, onde o assiste social assume o papel de um artífice e designer das
relações sociais na gestão de projetos de design de serviços sociais para o bem-estar, a
sustentabilidade humana e por que não, sua realização e felicidade. E como exemplo de
aplicabilidade possível, destacamos brevemente uma experiência prática realizada em 2017,
no Brasil na Unioeste, campus de Toledo-PR, no curso de Serviço Social onde esse autor,
coordenando um projeto de extensão, realizou em parceria com a Prefeitura Municipal da
cidade de Toledo, junto com setores da Educação, Assistência Social e Saúde, envolvendo
estudantes de Serviço Social de uma disciplina de Gestão e Inovação Social, e aplicando o
método do Design Thinking, construímos uma proposta de política pública municipal de
assistência e atendimento ao estrangeiro e imigrante, o que representava a época mas de
2.000 pessoas. As figuras 1,2 e 3 ilustram três momentos dessa atividade.
10
3
9
5
2 8
1
7
4
Figura 01: Equipe de técnicos Figura 02: Equipe de técnicos e Figura 03: Protótipo final
trabalhando grupo de Haitianos.
Esse exemplo mostra claramente que é possível integrar o ensino, a extensão e a pesquisa
com a criação de instrumentos e estratégias de intervenção na realidade humano social,
centrada nas reais necessidades do ser humano, no caso em tela, os imigrantes em sua
maioria Haitianos que participaram ativamente dessa proposta. Os alunos da disciplina
tiveram uma experiência diferenciada de aprendizado, a extensão contribui com a transmissão
de conhecimentos para a comunidade, e assessoramento de conhecimento estratégico para
a comunidade, e os profissionais e estudantes que participaram, tiveram a experiência de
repensar sua prática serem co-autores com os usuários de uma política e de um serviço que
dá acesso a direitos e o exercício de cidadania, sem contar a economia que a gestão pública
terá pois está implantando um serviço com maior possibilidade de êxito, otimizando recursos
e potencializado ações e isso simultaneamente com o processo de ensino e aprendizado
profissional. E apresentando para a gestão pública local, Prefeitura, uma proposta robusta,
fundamentada e desenhada de forma real e com potencial de eficiência, eficácia e efetividade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A tese apresentada para a presente reflexão foi de que existem vários pontos de conexão
entre o Serviço Social e o Design, o que em grande medida foi comprovada a partir do
exemplo e de toda a exposição feita, sendo possível afirmar a conexão entre Serviço Social
e Design destacando os seguintes e principais pontos e razões evidenciadas: a) pela busca
de uma sociedade diferente da que está posta, b) isso deve ser feito tendo como centralidade
das ações o ser humano e suas reais necessidades; c) que a aplicação tanto do Design
Thinking como da intervenção do Serviço Social, é estabelecer e fortalecer os laços coletivos,
a cocriação de projetos e serviços que atendam as pessoas e não aos interesses de sistemas
e grupos sectários; d) que esses projetos e serviços, tenham a qualidade merecida e de direito
e dignidade para todos, principalmente os serviços públicos tendo com premissa do acesso e
usufruto dos direitos mas com participação e co-resposabilidade dos clientes, usuários e
cidadãos, e) isso permite ter uma maior humanização da gestão dos serviços, pautada na
empatia e na colaboração e cocriação dos projetos. Por fim, tais elementos e constatações
podem animar e motivar novas pesquisas e conexões confluentes e colaboração e
aprendizados mútuos entre Serviço Social e Design, afinal como afirma Megico (2016,p.21),
“Design é inteligência criativa para criar futuros possíveis. Desse dialogo, pode-se vislumbrar
o emergir de um modelo de intervenção e de formação profissional, o que denominamos de
Design Sócio-Humano, onde vemos contribuições, tanto do Serviço Social, com sua visão
ampla e significativa de totalidade do ser humano em sua inserção no contexto social, como
do Design com sua dinamicidade e geração criativa de soluções par problemas complexos. E
assim como afirma Megico “[...] Esta é a revolução. Sim, somos|seremos todos, de certa
forma, designers.” [grifo nosso], e como já sugeriu Mary Richmond a 100 anos atrás para
sermos artífices, quem sabe hoje, numa visão atualizada, nos assistentes sociais possamos
ser Artífices e Designers das Relações Sociais para o Bem-Estar, Qualidade de Vida e
Sustentabilidade Humana no século XXI, quem viver, verá.
REFERÊNCIAS
BROWN, Tim. Design Thinking: uma metodologia poderosa para decretar o fim dsa
velhas ideias. Tradução de Cristina Yamagami. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010
CARDOSO, Rafael. Design para um mundo compelxo. São Paulo: Ubu Editora, 2016
FREIRE, Karine de Mello. Design para serviços: uma intervenção em uma Unidade
Básica de Saúde do Sistema único de Saúde Brasileiro. Estudos em Design, Revista
Online. Rio de Janeiro, v.24, número 2, 2016
GOHN, Maria da G. Novas teorias dos movimentos sociais. São Paulo: Loyola, 2008.
KARSCH, Ursula M. Simon. O Serviço Social na Era dos Serviços. São Paulo: Cortez, 1985
LIPOVETSKY, Guilles. A felicidade paradoxal. São Paulo: Cia das Letras, 2007
SILVA, Ilda Lopes Rodrigues da. Mary Richmond: um olhar sobre os fundamentos do
Serviço Social. Rio de Janeiro: CBCISS, 2004