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UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

TAUBATÉ - SP
2019

Pretende-se com essa atividade elaborar uma reflexão sobre o processo de


tornar-se pessoa por meio da relação terapêutica a partir da teoria de Carl Rogers e
da apresentação dos trabalhos expostos na I Mostra Humanista Existencial na
Psicologia de Base Fenomenológica realizada na Universidade de Taubaté.
A atividade apresentada pelas alunas Ana Beatriz Simões e Mariana Couto,
sob orientação da Prof. Dra. Rosa Maria Frugoli da Silva questionam se a vida das
pessoas se desenvolve a partir delas próprias ou dos outros.
Tal indagação tem base no pensamento de Soren Kierkegaard, filósofo
Dinamarquês, o qual postulou a ideia de que a angústia é um produto humano
antecedente a escolha. Por essa perspectiva, a angústia se instala quando o
indivíduo não escolhe, vivendo na dúvida e ao se esquivar de decidir-se este se põe
como ente em sua existência, sem cumprir uma existência autêntica como ser no
mundo. Assim, ocorre como consequência que elementos não simbolizados e
incongruentes se manifestarão como sintomas na vida dos indivíduos, na percepção
que tem sobre si, sobre o mundo e no modo como se relacionarão consigo e com os
demais, sendo esses contextos e demandas que chegarão ao consultório para
serem trabalhados.
Na escultura Face do Pensador, o intuito é ilustrar o homem refletindo,
momento que antecede à escolha, representando o que se faz a todo o momento
como situação presente na vida diária do homem, e diante da possibilidade de se
fazer algo ou de abster-se das situações e conflitos manifesta-se a angústia
humana.
A escultura Face da Ingenuidade retrata o momento em que o homem se
encontra em sua zona de conforto, são os contextos em que o homem vive no
“automático”, na zona de conforto, sem pensar na sua subjetividade e optando por
não escolher e portanto existindo como ente.
A escultura Face do Salto para Liberdade representa o salto qualitativo que se
manifesta quando o homem toma decisões em sua vida que o libertam da angústia,
ainda que temporária com possibilidades de existir como ser, sendo possível
elaborar a compreensão que ao negar a sua vontade o homem nega a sua própria
existência.
E ainda que após a escolha a pessoa tenha que se resolver com o desespero
que eventualmente possa emergir pelo arrependimento de uma decisão e com a
responsabilidade da liberdade de escolha, é por meio dessas escolhas que partem
de propósitos, objetivos, desejos, sonhos, fantasias, ou seja, que partem da
subjetividade produzida pelo conjunto de experiências autênticas e simbolizadas
que o homem existe no mundo e para si mesmo. Ao passo em que à medida que o
homem faz escolhas baseadas nos outros, este se manifesta como ente ou ainda se
pelo estado de inocência não se vivência o conflito, não se sente tensão e nada o
aflige, a pessoa então nem sempre compartilha a mesma realidade com os outros e
também não manifesta como ser, e sim como ente.
Quanto à relação terapêutica e ao processo de tornar-se pessoa, as atitudes
de empatia, consideração positiva incondicional e escutas ativas propiciam ao
cliente existir enquanto ser durante a sessão. Isto, porque ao se estabelecer um
clima e relação de confiança, o cliente pode permitir-se experenciar os diversos
aspectos da sua experiência da mesma maneira como os ente e apreende pelo seu
sistema visceral e sensorial, sem as distorções para adaptar-se aos ambientes e se
adequar a cultura.
A terapia de acordo com Rogers (1961) possibilita a aprendizagem de uma
aceitação plena e livre, sem receio dos sentimentos de outas pessoas e estas
colocações se alinham com as ideias de Kierkegaard, assim, durante a sessão o
cliente se percebe como ser, cumprindo sua existência no aqui e agora durante a
sessão. E a vivência dessa experiência deve ser o objetivo do processo terapêutico,
para que manifeste essa existência autêntica e genuína para a vida externa ao
consultório.
O cliente ao se vivenciar como ser, ou seja, por escolhas motivadas por
propósitos autênticos a sua pessoa, desenvolve uma aceitação sobre si na qual as
atitudes negativas em relação ao eu diminuem e as atitudes positivas aumentam
(ROGERS, 1961).
Na terapia centrada na pessoa, Rogers (1961) expõe que o cliente pode
modificar as suas vivências e experiências que são construídas a partir do outro,
passando a dirigir-se para si e com isso simbolizando a significação que
determinado comportamento ou atitude tem par si próprio. E com esse processo se
desenvolve a tomada de consciência, acumulando de modo integrado e não
distorcido as experiências e desta forma o indivíduo torna-se no que é, num ser
construtivo, realista, liberto e satisfeito.
No processo terapêutico, a responsabilidade é um elemento importante
conforme apontado por Rogers (1992), pois a angustia em busca de mudança e
transformação o põe contato com a necessidade de decidir por si e em deparar-se
na responsabilidade sobre si, que levará ao salto qualitativo para a liberdade de ser
quem se é e quem se deseja ser, como apresentado na exposição.
A exploração das atitudes/experiências do cliente o coloca e contato com
experiências muitas vezes incoerentes com o self, o que causa as vezes
estranhamento e temos frente à mudança que também é desejada e que depende
de um processo imprevisível (ROGERS, 1992). Esta exploração traz a possibilidade
do cliente perceber atitudes negadas e que são importantes para a reorganização do
self a medida que são traduzidos à consciência. Nesse processo de organização do
self, quando o cliente percebe que uma parte de sua personalidade foi reconstruída
e se faz presente em novos comportamentos, isso fortalece a disposição em seguir
a exploração sobre si (ROGERS, 1992).
No processo psicoterapêutico, essa dinâmica de explorar a si mesmo e se
descobrir, pode levar o cliente a angústia que antecede a escolha, citada na teoria
de Kierkegaard, fazendo o cliente perceber o quanto este vive a partir do outro e isso
é um chamado para a responsabilidade de se posicionar diante a vida, por escolhas
e decisões que implicam em manifestar a sua existência no aqui e agora.

REFERÊNCIAS

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