Pretende-se com essa atividade elaborar uma reflexão sobre o processo de
tornar-se pessoa por meio da relação terapêutica a partir da teoria de Carl Rogers e da apresentação dos trabalhos expostos na I Mostra Humanista Existencial na Psicologia de Base Fenomenológica realizada na Universidade de Taubaté. A atividade apresentada pelas alunas Ana Beatriz Simões e Mariana Couto, sob orientação da Prof. Dra. Rosa Maria Frugoli da Silva questionam se a vida das pessoas se desenvolve a partir delas próprias ou dos outros. Tal indagação tem base no pensamento de Soren Kierkegaard, filósofo Dinamarquês, o qual postulou a ideia de que a angústia é um produto humano antecedente a escolha. Por essa perspectiva, a angústia se instala quando o indivíduo não escolhe, vivendo na dúvida e ao se esquivar de decidir-se este se põe como ente em sua existência, sem cumprir uma existência autêntica como ser no mundo. Assim, ocorre como consequência que elementos não simbolizados e incongruentes se manifestarão como sintomas na vida dos indivíduos, na percepção que tem sobre si, sobre o mundo e no modo como se relacionarão consigo e com os demais, sendo esses contextos e demandas que chegarão ao consultório para serem trabalhados. Na escultura Face do Pensador, o intuito é ilustrar o homem refletindo, momento que antecede à escolha, representando o que se faz a todo o momento como situação presente na vida diária do homem, e diante da possibilidade de se fazer algo ou de abster-se das situações e conflitos manifesta-se a angústia humana. A escultura Face da Ingenuidade retrata o momento em que o homem se encontra em sua zona de conforto, são os contextos em que o homem vive no “automático”, na zona de conforto, sem pensar na sua subjetividade e optando por não escolher e portanto existindo como ente. A escultura Face do Salto para Liberdade representa o salto qualitativo que se manifesta quando o homem toma decisões em sua vida que o libertam da angústia, ainda que temporária com possibilidades de existir como ser, sendo possível elaborar a compreensão que ao negar a sua vontade o homem nega a sua própria existência. E ainda que após a escolha a pessoa tenha que se resolver com o desespero que eventualmente possa emergir pelo arrependimento de uma decisão e com a responsabilidade da liberdade de escolha, é por meio dessas escolhas que partem de propósitos, objetivos, desejos, sonhos, fantasias, ou seja, que partem da subjetividade produzida pelo conjunto de experiências autênticas e simbolizadas que o homem existe no mundo e para si mesmo. Ao passo em que à medida que o homem faz escolhas baseadas nos outros, este se manifesta como ente ou ainda se pelo estado de inocência não se vivência o conflito, não se sente tensão e nada o aflige, a pessoa então nem sempre compartilha a mesma realidade com os outros e também não manifesta como ser, e sim como ente. Quanto à relação terapêutica e ao processo de tornar-se pessoa, as atitudes de empatia, consideração positiva incondicional e escutas ativas propiciam ao cliente existir enquanto ser durante a sessão. Isto, porque ao se estabelecer um clima e relação de confiança, o cliente pode permitir-se experenciar os diversos aspectos da sua experiência da mesma maneira como os ente e apreende pelo seu sistema visceral e sensorial, sem as distorções para adaptar-se aos ambientes e se adequar a cultura. A terapia de acordo com Rogers (1961) possibilita a aprendizagem de uma aceitação plena e livre, sem receio dos sentimentos de outas pessoas e estas colocações se alinham com as ideias de Kierkegaard, assim, durante a sessão o cliente se percebe como ser, cumprindo sua existência no aqui e agora durante a sessão. E a vivência dessa experiência deve ser o objetivo do processo terapêutico, para que manifeste essa existência autêntica e genuína para a vida externa ao consultório. O cliente ao se vivenciar como ser, ou seja, por escolhas motivadas por propósitos autênticos a sua pessoa, desenvolve uma aceitação sobre si na qual as atitudes negativas em relação ao eu diminuem e as atitudes positivas aumentam (ROGERS, 1961). Na terapia centrada na pessoa, Rogers (1961) expõe que o cliente pode modificar as suas vivências e experiências que são construídas a partir do outro, passando a dirigir-se para si e com isso simbolizando a significação que determinado comportamento ou atitude tem par si próprio. E com esse processo se desenvolve a tomada de consciência, acumulando de modo integrado e não distorcido as experiências e desta forma o indivíduo torna-se no que é, num ser construtivo, realista, liberto e satisfeito. No processo terapêutico, a responsabilidade é um elemento importante conforme apontado por Rogers (1992), pois a angustia em busca de mudança e transformação o põe contato com a necessidade de decidir por si e em deparar-se na responsabilidade sobre si, que levará ao salto qualitativo para a liberdade de ser quem se é e quem se deseja ser, como apresentado na exposição. A exploração das atitudes/experiências do cliente o coloca e contato com experiências muitas vezes incoerentes com o self, o que causa as vezes estranhamento e temos frente à mudança que também é desejada e que depende de um processo imprevisível (ROGERS, 1992). Esta exploração traz a possibilidade do cliente perceber atitudes negadas e que são importantes para a reorganização do self a medida que são traduzidos à consciência. Nesse processo de organização do self, quando o cliente percebe que uma parte de sua personalidade foi reconstruída e se faz presente em novos comportamentos, isso fortalece a disposição em seguir a exploração sobre si (ROGERS, 1992). No processo psicoterapêutico, essa dinâmica de explorar a si mesmo e se descobrir, pode levar o cliente a angústia que antecede a escolha, citada na teoria de Kierkegaard, fazendo o cliente perceber o quanto este vive a partir do outro e isso é um chamado para a responsabilidade de se posicionar diante a vida, por escolhas e decisões que implicam em manifestar a sua existência no aqui e agora.