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Denise Deschamps
O que implica em afirmar que a técnica é o que existe de mais variável no campo
da clínica psicanalítica, onde podemos conceber teoricamente a existência de um
número quase infinito de procedimentos e de manejos técnicos, desde que sejam
compatíveis com as exigências fundamentais da teoria e do método
psicanalítico”.(BIRMAN, J.)¹
A autora Joyce McDougall em muitos dos seus livros, nos chama a atenção em
alguns aspectos em particular, embora saibamos que inúmeros outros estejam
contidos em suas obras, talvez até mais interessantes ou importantes dos que os
que nos deteremos aqui nesse texto, mas como foi dito anteriormente, esse texto
aqui parte de questionamentos que nascem em algo que fala em primeiro lugar da
minha própria prática, desse eu, aqui nesse caso que se apresenta como aquilo que
é meu, em uma clínica pretendida como psicanalítica.
Outro nome que não podemos esquecer é o de Donald Winnicott, que empreende e
imprime todo um traçado bastante próprio na aplicação do método psicanalítico.
Mais adiante não podemos deixar de pensar em Heinrich Racker e Pichon Rivière,
entre alguns outros que tocaram a questão da técnica ou desenvolveram conceitos
a partir dela.
Voltemos mais um pouco a Birman:
“Da mesma forma, Freud enunciou em 'Conselhos aos médicos sobre o tratamento
analítico', em 1912, que as regras técnicas que enunciara eram sem dúvida alguma
o resultado de uma longa experiência clínica e que os analistas podiam evitar
longos esforços inúteis em adotá-las. Porém, estas regras eram as que lhe
“convinham pessoalmente”, mas que outros analistas com um “temperamento”
diferente do seu podiam encontrar e adotar no processo analítico uma 'atitude
diferente'.
Falar de pontos teóricos parece sempre trazer uma certa concordância, as questões
surgem quando se vai aplicar o método, construindo então, com os pressupostos
da técnica, a psicanálise enquanto um fato, uma intervenção, uma realização(o ato
de analisar). Sabemos que questões simples como: receber ou não um presente,
responder a determinadas perguntas, dar ou não diagnóstico etc, não se
encontrarão respondidas em uma simples “orientação de procedimento”. Essas
serão sempre questões que a técnica em psicanálise responderá, mas responderá
com algo que remete de volta ao par analítico, porque vai como tudo mais em
análise, depender do singular daquele sujeito, do singular daquela transferência,
dos inúmeros acordos construídos entre o sujeito analisando e o sujeito analista,
entre os entrelaçados singulares das histórias que se atualizam no par da
transferência. Cada indivíduo analista “revisita” a cada dia de trabalho tudo aquilo
que o constrói enquanto sujeito no mundo, sujeito que atualiza seus vínculos e
busca saídas em seu cotidiano. Ali, despido em frente ao seu analisando, enquanto
se cobre com o manto invisível do suposto saber nele depositado e que nunca será
realmente vestido. O rei está nu. Viva o rei! Assim é o analista na condução da
análise, passeia nu com seu manto invisível.
Vejamos um bom exemplo apresentado por Ferenczi em sua obra citada acima,
faremos um pequeno recorte:
Sabemos, também, que outra importante sustentação para esse “ser” psicanalista é
o seu compromisso com a transmissão, mais do que formar outros analistas, esse
compromisso permite colocar em discussão a psicanálise atuada pelo analista.
Nesse ponto se colocarão em evidência as questões institucionais que cercam todo
saber psicanalítico, instituições essas que, assim como qualquer uma das outras,
sofrem sempre da tendência a se cristalizarem e acabar por formar dogmas que
substituem e afastam do real saber, porque esse último requer, desde sempre, a
possibilidade de mudança, de certo nível de questionamento e rompimento,
formando novas questões, novas indagações. Mannoni nos fala abertamente disso
em seu livro “Da Paixão do Ser à Loucura de Saber” , ela nos conta do quanto seria
difícil aos analistas em formação, ou mesmo os já de longo trajeto, mostrar sua
prática quando essa parece não seguir o estreito caminho técnico que se transmite
enquanto “fazer” psicanalítico, afinal a aceitação no meio falará diretamente do seu
prestígio profissional que lhe devolverá no real, tanto seu meio de subsistência,
quanto em seu íntimo, a noção de ser admirado e respeitado. Nos leva, a autora, a
pensar na importância do ato de escrever para todo psicanalista, visando
publicação ou não. Renato Mezan, aqui no Brasil, também escreverá de forma
bastante pertinente sobre esse aspecto, o ato de escrever para um psicanalista.
Dentro dessa discussão, outra ainda se colocará, a de o que seria necessário para
se reconhecer uma instituição enquanto formadora de psicanalistas, ou indo ainda
mais longe, do que formaria um psicanalista. A resposta dada que remete ao tripé
parece se apresentar sempre, ele é composto pela exigência da análise do analista
em formação, da prática supervisionada e da aprendizagem teórica. Mas será que
esse tripé realmente responde a essa questão? Como reconhecer onde esse tripé é
aplicado dentro daquilo que se constitui como o irredutível do método psicanalítico?
Trabalhar com a transferência e resistência, como disse Freud, seria o suficiente
para se pensar ali em psicanálise?
Uma vez que se autoriza enquanto tal, passará esse psicanalista, ao longo de sua
trajetória(pessoal/profissional), por alguma modificação que o afastaria daquilo que
se poderia reconhecer enquanto prática psicanalítica? Deixa-se de ser psicanalista
em algum momento, uma vez que já o foi?
Um psicanalista que nunca se pergunta sobre sua prática, que nunca entra em crise
em relação a ela, é realmente comprometido com aquilo que há de mais
característico nela, sua capacidade transgressora, e assim ainda se poderá chamar
ao que faz de psicanálise?
Onde se constrói a ética psicanalítica, aquela que atravessa cada sujeito analista no
mundo onde vive? Existe uma ética da e na clínica, ou ela abarca toda a vivência
do analista?
Para finalizar esse texto e ampliar a possibilidade desse convite que faço, deixo-os
com Ferenczi:
“Esse desejo impetuoso de tudo saber, que me levou neste último parágrafo às
distâncias fabulosas do passado e me fez, com ajuda de analogias*, ultrapassar o
que ainda nos escapa, traz-me de volta ao ponto de partida dessas considerações:
o problema do apogeu e declínio do sentimento de onipotência. Como dissemos, a
ciência deve renunciar a essa ilusão, ou pelo menos saber até que ponto ela
penetra no domínio das hipóteses e das fantasias”. (FERENCZI, S. pg 87)¹
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