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Eletrônica Digital

Setembro/Outubro 2011 I SABER ELETRÔNICA 456 I 67

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editorial
Editora Saber Ltda.
Diretor Tecnologia e Custos
Hélio Fittipaldi
Nos últimos anos os fabricantes de microcontro-
ladores estão aderindo ao core ARM, tendendo este
a se tornar um padrão de mercado. A concorrência
www.sabereletronica.com.br
twitter.com/editora_saber obriga os fabricantes a perseguirem a meta de ter
Editor e Diretor Responsável microcontroladores cada vez mais rápidos, eficientes
Hélio Fittipaldi
Conselho Editorial e baratos se quiserem sobreviver. Apresentamos nos
João Antonio Zuffo, Hélio Fittipaldi
últimos tempos alguns desenvolvimentos com micros
Redação
Elizabete Rossi de diversos fabricantes e, agora, descrevemos o Kinetis
Revisão Técnica
Eutíquio Lopez (da Freescale) em um circuito DAC – Conversor Digital-Analógico elaborado
Colaboradores pelo engenheiro e professor Edriano Carlos de Araújo.
Alexandre Capelli
Augusto Einsfeldt O comportamento da indústria elétrica e eletrônica durante o ano de
César Cassiolato
Edriano Carlos de Araújo 2011 foi analisado pela ABINEE, a qual apresentou um quadro preocupante
Eutíquio Lopez
Filipe Pereira e requer urgente intervenção do Congresso Nacional para trabalharem
Luís Fernando F. Bernabe
Newton C. Braga em novas leis que diminuam a altíssima carga de impostos e burocracia do
Designers poder público, o que provoca um Custo Brasil que transfere para o exterior
Carlos Tartaglioni,
Diego M. Gomes os nossos empregos. O desemprego em grande volume no Brasil ainda
Publicidade
Caroline Ferreira poderá ser evitado, se os parlamentares e o poder executivo souberem agir
coordenadamente e sem o mesquinho jogo político.
De acordo com os números divulgados, o faturamento da indústria ele-
PARA ANUNCIAR: (11) 2095-5339
troeletrônica, neste ano, crescerá 8% na comparação com 2010, totalizando
publicidade@editorasaber.com.br R$ 134 bilhões, o que frustra as expectativas anteriores que projetavam,
Capa
Freescale Semicondutores/Divulgação inicialmente, um crescimento de 13%, mas ainda é bom se comparado
Impressão
Parma Gráfica e Editora
com outros países em crise. Este crescimento não espelha um aumento da
Distribuição produção local mas sim, na maioria dos casos, um aumento de importações
Brasil: DINAP
Portugal: Logista Portugal tel.: 121-9267 800 de produtos que eram fabricados aqui no Brasil, mas que devido aos altos
ASSINATURAS custos gerados pela burocracia e impostos governamentais transferem
www.sabereletronica.com.br
fone: (11) 2095-5335 / fax: (11) 2098-3366 empregos para o exterior. Só para ilustrar com um componente que não
atendimento das 8:30 às 17:30h
Edições anteriores (mediante disponibilidade de requer alta tecnologia, temos os para-raios que em 2010 tiveram um volume
estoque), solicite pelo site ou pelo tel. 2095-5330, ao
preço da última edição em banca. de importação de US$ 10,5 milhões. Em 2011 houve um aumento de 113%,
Saber Eletrônica é uma publicação bimestral atingindo US$ 22,5 milhões.
da Editora Saber Ltda, ISSN 0101-6717. Redação,
administração, publicidade e correspondência: Submissões de Artigos
Artigos de nossos leitores, parceiros e especialistas do setor serão bem-vindos em nossa revista. Vamos analisar cada
Rua Jacinto José de Araújo, 315, Tatuapé, CEP apresentação e determinar a sua aptidão para a publicação na Revista Saber Eletrônica. Iremos trabalhar com afinco em
03087-020, São Paulo, SP, tel./fax (11) 2095- cada etapa do processo de submissão para assegurar um fluxo de trabalho flexível e a melhor apresentação dos artigos
5333. aceitos em versão impressa e online.

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índice

16 Componentes
12 Conheça os Ultracapacitores

Microcontroladores
16 DAC - Conversor Digital-Analítico - no
microcontrolador Kinetis, da Freescale

Eletrônica Aplicada
23 Curso sobre Arduino - Parte 3

30 Controle para Automação Industrial

40
PLL, P, D, PID - Uma abordagem prática sobre
essas técnicas

38 Reduzindo a EMI com Componentes


Magnéticos

Instrumentação
40 Curso sobre Osciloscópio - Parte 2

45 Medidas em RF Digital

48 Minicurso LabView - Parte 7

Projetos
54 Sistemas de Supervisão e Aquisição de Dados

48 Desenvolvimento
58 Introdução ao VHDL

64 Fonte Fixa de 12 / 12,6 / 13,2 V x 10 A

Editorial 03
Acontece 06
Reportagem
08
Índice de anunciantes

Samtec ................................................................................... 5 Metaltex .............................................................................. 21 NovaSaber ....................................................................... 63


Tato ..................................................................................... 9 Honeywell ........................................................................... 29 Infineon ....................................................................... 2ª capa
Patola ................................................................................. 9 Mosaico ........................................................................... 51 National Instruments .................................................. 3ª capa
Globtek .............................................................................. 15 Cika .................................................................................. 53 Texas Instruments ...................................................... 4ª capa

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acontece
Agilent Technologies apresenta a 1ª Aplicação
com Osciloscópio para o Protocolo Ethernet 64b/66b

A empresa norte-americana acaba de Infiniband consistem nas três tecno- melhoradas continuamente de modo
aumentar o seu portfólio de aplicações logias que se beneficiam do protocolo que os profissionais possam entregar
com osciloscópio, apresentando o sof- citado, justamente pelo seu menor produtos mais robustos.
tware de decodificação e “triggering” custo. Além de decodificar os sinais 64b/ 66b,
para o protocolo Ethernet 64b/ 66b. A O software N8815A foi desenvolvido o software N8815A também identifica
série Infinium, da Agilent, é a primeira e para ajudar os projetistas das tecnolo- apropriadamente sinais PRBS e seus
única família de osciloscópios capaz de gias 10Gbase-KR e 40Gbase-KR, defi- comprimentos. Quando os projetis-
suportar a decodificação e o gatilha- nidas pelo padrão IEEE 802.3, as quais tas querem ter certeza de que estão
mento desse protocolo. operam sobre vias de PCIs backplane.A passando realmente um padrão PRSB
Até os dias de hoje, as poucas soluções nova aplicação compartilha a vantagem de um determinado comprimento
disponíveis para esse protocolo, uti- trazida pela série Infinium, no que se para o seu sinal, o N8815A permite a
lizando osciloscópio, destinavam-se a refere à busca e decodificação serial eles apurarem o padrão desejado e o
barramentos como I²C, SPI, CAN ou múltipla, obtida recentemente, o que seu comprimento exato. A aplicação
esquemas de decoding baseados em 8b/ permite aos projetistas observarem 4 também leva em conta correções de
10b. Os projetistas de 64b/ 66b trabalha- dessas vias simultaneamente. erros precoces.
vam com dificuldade em seus projetos, Na maioria das indústrias eletrônicas A aplicação N8815A Ethernet 10GBase-
obrigados a fazerem a decodificação do americanas há equipes de projetistas e KR é suportada pelos osciloscópios
protocolo manualmente. testadores que produzem projetos de Infinium das séries 90.000 e 90.000X,
A aplicação N8815A Ethernet 10Gbase- hardware com uma crescente sofistica- da Agilent, sendo que esta última família
KR faz a decodificação em tempo real, ção. Isso se vê nas fábricas de computa- possui os mais rápidos osciloscópios
permitindo que as equipes de projeto dores, telecomunicações , semiconduto- em tempo real da indústria, alcançando
desenvolvam produtos de qualidade res, Espaço Aéreo/ Defesa, automóveis uma largura de faixa de 33 GHz. Esses
superior em menos tempo. e wireless. Os osciloscópios consistem novos equipamentos apresentam o
O protocolo Ethernet 64b/ 66b é utili- na ferramenta inicial dos engenheiros menor ruído de fundo e menor “jitter”
zado principalmente pelas atuais tec- para testes e “debug” dos seus projetos, entre os osciloscópios industriais,
nologias de transmissão e networking portanto, esses instrumentos precisam garantindo assim uma precisão de
de dados. FibreChannel, Ethernet e ter suas capacidade gerais de medida medida superior.

Produtos
Fontes “Green Power” da Globtek cumprem
os requisitos de Eficiência – Nível V

A série GT-41135 de Fontes de Ali- saída contínua até 12 W. Os modelos Certificados (UL e cUL), bem como
mentação tipo Plug-in, com Lâminas fechados são alojados em invólucros de outras agências internacionais
intercambiáveis e entradas IEC, está de policarbonato sem aberturas de de segurança de modo a cumprir as
disponível para venda, tanto no modelo ventilação, resistentes a impactos, com Regulações de EMI/RFI e as Diretivas
de lâmina única (wall plug-in) quanto refrigeração térmica, nas dimensões de de EMC/CE e FCC Classe B para apli-
para comercialização na forma de kits, 43,5 x 74 x 35,3 (mm). cações ITE.
nas seguintes regiões do mundo: Amé- Essa família de fontes caracteriza-se por Todos os modelos trazem os “logos” das
rica do Norte, Europa, Reino Unido, apresentar: Tensão de Saída regulada agências e a marcação CE. Relatórios ,
Austrália, China, Coreia, África do Sul com baixíssimo “ripple”, Especificações incluindo CB, são produzidos por labo-
e Argentina. de Proteção internas contra sobrecor- ratórios certificados independentes.
As fontes possuem configurações mecâ- rente, sobretensão, sobretemperatura Projetos customizados e/ou modifica-
nicas com dupla isolação obrigatória, e outras. A série GT-41135 admite dos de acordo com o cliente também
fornecem tensões de saída reguladas Tensão de Entrada Universal de 90 a são possíveis. A Globtek oferece agora
desde 5,0 até 48,0 VDC em incremen- 264 VAC, e obedece aos requisitos das uma garantia de 5 anos para os produ-
tos de 0,1 VDC: e proveem potência de normas IEC/EN60950, de Laborátorios tos desta série.

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acontece
1ª Apresentação do Ambiente completo de
Produção de Baterias de Alto Desempenho

A Productronica, principal feira mundial de confiabilidade, tempo de vida útil Managing Director da VDMA Produc-
de novos produtos eletrônicos, acaba e também nos tamanhos. Isso, por si tronica e Chefe do Grupo Industrial de
de apresentar o seu show especial só, exige enormes avanços na produ- Produção de Baterias do Fórum VDMA
“Battery Manufacturing and power ção, o tema- chave da Productronica. E-Motive; Prof. Dr. Achim Kampker,
electronics”, organizado em estreita A solução para o maior desafio, ou da RWTH Aachen University; Guido
colaboração com a Associação Produ- seja, a redução de custos, requer uma Feind, Chefe de Vendas da Siemens/
trônica na Federação Alemã de Enge- estreita cooperação entre fabricantes, Sistemas de Automação Industrial; Dr.
nharia – VDMA, com a RWTH Aachen fornecedores, empresas de engenharia Michael Wenzel, Managing Director
University, o Instituto Fraunhofer mecânica e institutos de pesquisa. da Holding Grupo Reis; Rainer Kurtz,
para Tecnologia da Produção e outras A Productronica 2011 reuniu todos os Managing Partner da Ersa e Presidente
empresas líderes. participantes importantes do mercado e do Comitê Técnico Consultivo da Pro-
O ambiente de produção da bateria com- estabeleceu novas normas com respeito ductronica; Norbert Bargmann, Presi-
pleta, desde o revestimento do material à interação entre máquinas, processos, dente do Conselho de Administração
do eletrodo até o módulo concluído, foi tecnologias de automação, produtos inter- da Messe München Gmbh.
apresentado pela primeira vez como mediários, etc. e os produtos finais foram Com efeito a partir do outono de 2012,
parte de um evento comercial. Dessa demonstrados durante o show especial. a Messe München GmbH ampliará
forma , a Digatron Industrie-Elektro- Com a ajuda de especialistas em “virtual o seu portfólio na Divisão de Novas
nik, a ERSA, F&F Devoltec, Automação factory”da RWTH Aachen University, Tecnologias; a nova feira de negócios
IBG, KUKA Roboter, KMS Automação, os visitantes da feira foram capazes de orientados para o futuro “ Energy Sto-
M+W Group, Manz, OMT, Reis Robo- construir interativamente uma fábrica de rage” irá abranger a cadeia completa
tics, Siemens, UTL, e Viscom expuseram baterias e até mesmo desenvolver alguns para as tecnologias de armazenamento
suas novas soluções para a cadeia do cenários de custos. Além disso, empresas de energia e novas baterias. A “Energy
processo de fabricação em uma área de e institutos comprometidos com o tema Storage” será realizada anualmente
200 m². O show especial foi realizado divulgaram as últimas informações sobre ao mesmo tempo que a Productro-
no Hall B2 da Productronica. mercados, tecnologias e estratégias rela- nica, no Novo Centro de Feiras de
Caracterizadas pelo alto desempenho, tivas à produção de baterias no Fórum Negócios de Munique, acompanhada
as baterias para os carros elétricos da Inovação. por conferências que durarão vários
ou energias renováveis diferem muito A seguir, alguns nomes de Especialistas dias. Ela deverá ter início no dia 13 de
das baterias para laptops ou telefones que participaram da feira Mundial novembro e estendendo-se até 16 de
celulares, por exemplo, em termos Productronica 2011: Dr. Eric Maiser, novembro de 2012.

“PCIM - América do Sul”


será lançada no Brasil

A PCIM – América do Sul será realizada nacionais como internacionais, uma vez será replicada na PCIM - América do Sul.
pela primeira vez em São Paulo (Brasil), que existe um aumento na procura de O foco principal será voltado para os
de 11 a 13 de setembro de 2012. informações, troca de ideias e possibili- semicondutores de potência, compo-
Após o sucesso da PCIM - Europa e da dades de mostrar conceitos e soluções. nentes passivos, gerenciamento térmico,
PCIM - Ásia, a empresa organizadora Com a PCIM - América do Sul, a Mesago os novos materiais e suas aplicações na
“Mesago PCIM GmbH” lançará o novo oferece às empresas e aos especialistas área de “movimento”, energias renová-
evento no Brasil visando aumentar em tecnologias e ciências aplicadas uma veis e controle da energia.
o alcance internacional da principal plataforma ideal para atenderem às três O Conselho de Especialistas para a PCIM
Exposição/Conferência sobre produtos demandas citadas simultaneamente, - América do Sul, formado por 26 mem-
de eletrônica de potência, movimento comenta o Sr. Udo Weller – presidente bros, é liderado pelo Prof. Marcelo Lobo
“inteligente”, energias renováveis e da empresa organizadora do evento. Heldwein do Instituto de Eletrônica de
controle da energia. A fórmula - conceito já comprovada ante- Potência – INEP, da Universidade de Santa
O crescente mercado de produtos riormente, combinando uma exposição Catarina (Brasil) em conjunto com o Prof.
eletrônicos no Brasil oferece grandes de temas dirigidos com conferências Ivo Barbi, chefe do INEP e com o Prof. Leo
oportunidades, tanto para empresas orientadas para as aplicações em curso, Lorenz da Infineon Technologies.

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reportagem
Hélio Fittipaldi

Setor eletroeletrônico
cresce em 2011,
mas importações
preocupam
H
umberto Barbato, presidente da Na figura 3, mostra o Índice de Produ- empresas para competir. Para o presi-
ABINEE e os diretores da enti- ção e Importação de Produtos Elétricos dente da ABINEE, a situação já chegou a
dade apresentaram os números e Eletrônicos em 2011 onde podemos tal limite que apenas mexer no câmbio
do faturamento da indústria notar que a produção (92,6) é menor talvez não seja suficiente para reverter
eletroeletrônica, em 2011 que crescerá que a importação (127,4). Estamos per- esta perda de competitividade. “O que
8% em comparação com 2010, totalizando dendo participação pois houve queda de precisamos é criar um programa de
R$ 134 bilhões. 7,4% de produção física e cresceu 21% a incentivos para estimular a compra de
As expectativas do início do ano pre- importação. produtos de empresas instaladas no
viam um crescimento de 13%. Já a balança Em 2008 35% dos produtos eletroele- Brasil. As estatais e operadoras têm que
comercial, do setor, deverá fechar com trônicos eram importados, hoje são 42%. ter vantagens para comprar daqui”, disse.
um déficit de mais de US$ 32 bilhões, Segundo Barbato, há alguns anos o (Figura 05 e 06)
o que significa crescimento de 18% em faturamento refletia o nível de atividade Citando o ex-ministro Delfim Netto
relação ao ano passado. Esse déficit é das empresas, hoje, porém, este índice não que, em reunião do Conselho Consultivo
resultado das importações que deverão está refletindo a situação efetiva pela qual da ABINEE, abordou a necessidade do
atingir US$ 40 bilhões e das exportações passa o setor eletroeletrônico. “É preciso Brasil criar empregos para uma população
que não chegarão aos US$ 8 bilhões. No analisar, o quanto
transcorrer do ano, as perspectivas de se do mercado in-
atingir 13% em 2011 foram aos poucos terno está sen-
diminuindo como mostra a figura 1. do atendido por
O diretor da área de Pesquisas e produto local ou
Estatísticas Econômicas da ABINEE o por importação”,
economista Luiz Cezar Elias Rochel em disse.
sua apresentação mostrou O quadro do Incentivadas
Desempenho da Industria Elétrica e Ele- pelo real valoriza-
trônica – 2011 (figura 02) e observou que do, as importações
os estoques não tem variado tradicional- de bens finais re-
mente e um ano para o outro. Isto quer presentaram 22%
dizer que, o que aumentou, foi mesmo do faturamento
comercializado. Podemos observar que o total do setor, o
investimento caiu 14,8% e também houve que evidencia a
queda de produção física de produtos. dificuldade das F1.

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reportagem
di

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economicamente ativa de 130 milhões de Na ocasião, Barbato voltou a res- Um dos setores mais afetados pelo
habitantes em 2030, Barbato afirmou que saltar que a realização da Copa do câmbio é o de Geração, Transmissão e Dis-
com o atual processo de destruição do Mundo e das Olímpiadas no país deve tribuição de Energia Elétrica (GTD), cujas
parque industrial instalado no país, não servir como uma alavanca de oportu- importações atingiram um crescimento de
haverá capacidade para absorver esta mão nidades para as empresas instaladas 54% em 2011. O diretor da área na ABINEE,
de obra potencial. no país. Newton Duarte, afirmou que os números

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reportagem

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mostram uma tendência ‘horripilante’. O diretor da área de informática, automação e transferência da produção
“Partimos de um quadro de superávit, no Hugo Valério, afirmou que o problema para outras localidades com menor custo
qual importávamos metade do que expor- de competitividade no país não é re- de mão-de-obra, o que pode gerar uma
távamos e, agora, pela primeira vez, fomos cente, mas vem se agravando por conta queda de empregos no país”, ressaltou.
deficitários. Isto aponta que as empresas não do Custo Brasil e do câmbio, que expõe Para ele, é necessário que o governo
têm mais competitividade para atender os ainda mais os gargalos estruturais. “Dessa encare esta situação por um prisma
projetos daqui”. forma, as empresas passam a buscar maior estratégico.

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reportagem

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Segundo o diretor da área de teleco- Destacando os trabalhos da ABINEE estrangeiros que não pagam isto, como os
municações da entidade, Paulo Castelo com o objetivo de fortalecer da indústria chineses.Almoçar hoje em São Paulo é mais
Branco, o processo de desindustrializa- de componentes, o diretor da entidade, caro do que em diversas cidades do mundo.
ção já está chegando ao segmento. “As Aluízio Byrro, afirmou que sem o desen- Os funcionários dos restaurantes ganham
importações representaram 33% do volvimento de uma indústria desta área no mais hoje? Não. Então por que isto? É o
faturamento das empresas neste ano”, Brasil, a agregação de valor dos bens finais custo Brasil.
enfatizou. continuará reduzido. Precisamos de uma boa estratégia
Ele acrescentou, ainda, que, para atenuar O diretor Newton Duarte, disse que para o Brasil. A estratégia da marolinha,
o arrefecimento nas vendas de equipamen- precisamos dar isonomia à empresa brasi- da conversa fiada não dá mais. A presi-
tos, as empresas estão transferindo seus leira. Impostos, investimentos, juros, câmbio dente Dilma precisa agora por ordem
negócios para a parte de serviços. semelhantes aos nossos concorrentes na casa. E

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Componentes

Conheça os
Ultracapacitores
Quando nos referimos aos veículos autônomos e robôs móveis, a
primeira forma de fonte de energia que nos vem à mente para alimentar
esses equipamentos é a bateria. No entanto, as baterias têm limitações,
e em busca de novas formas de fontes de energia algumas delas têm
se revelado muito interessantes em diversas aplicações. Uma delas é
o ultracapacitor. Com densidade de armazenamento altíssima e uma
capacidade de corrente extremamente elevada, essa nova fonte de
energia para alimentar robôs, veículos e outros equipamentos poderá
abrir novos campos para o projetista. Veja neste artigo o que são os
ultracapacitores.

Newton C. Braga

A
té hoje a melhor forma de ob- O Capacitor
termos energia barata e em boa Um capacitor é formado por duas placas
quantidade para movimentar de metal separadas por um material isolante
robôs, veículos e alimentar outros denominado dielétrico. O material de que
equipamentos elétricos e eletrônicos, é é feito o dielétrico determina seu nome:
conseguida através de baterias. capacitores de mica, cerâmica, poliéster,
Essas células químicas convertem policarbonato, eletrolítico, etc.
energia química em energia elétrica em um Na figura 2 temos a construção básica
fluxo constante com um bom rendimento, de um capacitor.
mas possuem algumas limitações. A quantidade de cargas que um capa-
Uma bateria tem a corrente máxima citor pode armazenar, ou seja, sua capaci-
limitada pela sua resistência interna. Assim, tância, depende da superfície das placas
ela não pode fornecer picos de corrente de metal (armaduras), da espessura do
elevados, o que pode ser importante em dielétrico e do material de que este é feito
algumas aplicações. através do que denominamos “constante
Se uma bateria tiver que fornecer uma dielétrica”.
corrente muito intensa por um curto inter- Desse modo, para armazenar mais
valo de tempo, a sua tensão cairá e a maior cargas os capacitores devem ter grandes
parte da energia passará a ser dissipada no superfícies de armadura e a espessura do
seu interior, conforme ilustra a figura 1. dielétrico deve ser a menor possível.
Isso significa que elas são boas para Uma técnica muito usada para se conse-
fornecer energia em pequenas doses por guir boas capacidades de armazenamento,
intervalos prolongados de tempo. Entretanto, e portanto grandes capacitâncias, consiste
não é somente em baterias que podemos em se enrolar o dielétrico e as armaduras
armazenar energia elétrica. Um dispositivo na forma de tubos, obtendo-se assim os
que também pode armazenar cargas elétricas chamados capacitores tubulares, conforme
sob determinada tensão é o capacitor. mostra a figura 3.

12 I SABER ELETRÔNICA 457 I 2011


Armazenando energia
no capacitor
A energia armazenada em um capacitor
depende tanto de sua capacitância quanto
da tensão em que as cargas se encontram,
observe a figura 4.
Essa energia pode ser calculada pela
fórmula:

E = 1/2 x C x V2
F5. Construção de um
Onde: capacitor eletrolítico.
E é a energia, em joules (J);
C é a capacitância do capacitor, em F1. Energia perdida devido à
farads (F); resistência interna do gerador.
V é a tensão em que as cargas são man-
tidas, em volts (V).
Ocorre, entretanto, que os capacitores
comuns não são capazes de armazenar mui-
ta energia. Os maiores capacitores comuns
são os eletrolíticos.
Neles, o dielétrico consiste de uma finís- F6. Capacitores ele-
sima camada de óxido de alumínio que é for- trolíticos comuns
mada num eletrodo quando uma substância
química deno­minada eletrólito a ataca, veja a F2. O capacitor básico.
figura 5.
Esse óxido, além de ser finíssimo tem
uma constante dielétrica algo elevada, o que
permite a obtenção de capacitâncias altas.
Os tipos comuns com tamanhos mos-
trados na figura 6 podem ter capacitâncias
de 1 µF a 100 000 µF, tipicamente.
Maiores densidades de armaze­namento
podem ser obtidas com materiais de constan- F7. Capacitores
tes dielétricas maiores tais como o tântalo, de tântalo.
dando origem assim à família dos capaci- F3. Construção de um
tores de tântalo exibida na figura 7. capacitor tubular.
Mas, mesmo assim, a energia armaze-
nada em um capacitor de 100 000 µF (0,1F)
com uma tensão de 6 V é irrisória, quando
comparada a uma pilha. Um capacitor desse
tamanho armazena:

E = 1/2 x 0,1 x 36
E = 1,8 joules

Isso significa que ele poderia alimentar F4. Um capacitor F8. O capacitor funciona como um
uma lâmpada de 6 V x 100 mA (600 mW) armazena energia reservatório de energia "extra"
por apenas 3 segundos!
No entanto, os capacitores possuem uma Assim, o capacitor poderá ser útil se
Qual a vantagem de característica que as baterias não têm: baixa precisarmos fornecer uma corrente muito
empregar capacitores resistência interna. alta a um circuito por um curtíssimo inter-
como fontes de energia? Os capacitores podem fornecer toda a valo de tempo.
É evidente que com essa capacidade de energia armazenada de forma praticamente É por este motivo que, na maioria dos
fornecimento de energia, um capacitor não instantânea. Isso ocorre porque possuem circuitos eletrônicos, em paralelo com a ba-
pode substituir uma pilha comum ou bateria uma resistência interna muito baixa que teria ligamos um capacitor de alto valor, que
capaz de alimentar a mesma lâmpada por não limita a corrente como sucede no caso é justamente para suprir os picos de corrente
horas seguidas. das baterias e pilhas. mais intensos em determinados momentos,

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Componentes

mente por todos os poros. Pode-se, então,


obter uma densidade de capacitância até 100
vezes maior do que a que seria possível com
as tecnologias de fabricação dos capacitores
eletrolíticos convencionais.
Em outras palavras, dois capa­citores
com mesmo tamanho e mesma tensão de
trabalho, sendo um eletrolítico comum e
F9. O ultracapacitor está entre as pilhas/ o outro um ultracapacitor, mostram que
baterias e os capacitores comuns. este último tem uma capacitância 100 vezes
maior, atente para a figura 11.
Outra característica importante que é
obtida nos ultracapacitores é sua baixíssima
resistência em série, conforme podemos ver
pelo circuito equivalente da figura 12, o qual
limita a corrente de pico de descarga.
Os ultracapacitores têm resistências
da ordem de fração de milésimo de ohm.
Assim, para um capacitor de 0,1 mohm com
2,5 V, é possível obter uma corrente de pico
F11. Os ultracapacitores pos- de 625 ampères! Um exemplo do que isso
suem capacidade de armazena- significa: um ultracapacitor do tamanho de
mento 100 vezes maior que os uma moeda desenvolvido por uma empresa
F10. Construção de um ultracapacitor. eletrolíticos comuns. americana é capaz de armazenar energia
suficiente para fornecer (por alguns segun-
dos) a corrente necessária para a partida de
um motor de caminhão!
Aplicações atuais e possíveis para os
ultracapacitores:
• Nobreak - Os ultracapacitores podem
manter o circuito em funcionamento
por alguns segundos durante curtas
interrupções no fornecimento de
F12. Circuito equivalente energia. Além disso, eles atuam
a um ultracapcitor. como excelentes dispositivos para
absorver surtos e transientes.
o que não poderia ser feito com uma bateria o ultracapacitor como fonte de energia em • Partida rápida para carro - Os ultra-
comum, conforme mostra a figura 8. um ponto intermediário entre o capacitor capacitores podem ser usados para
comum e a bateria, observe a figura 9. a partida de carros sob quaisquer
Os Ultracapacitores Conforme já vimos, em um capacitor a condições de tempo já que seu
Se, por um lado, as baterias fornecem capacitância é tanto maior quando maior é desempenho, diferentemente das
correntes pequenas durante intervalos de a superfície efetiva das armaduras e menor baterias, não é afetado pela tempe-
tempo longos e, por outro, os capacitores a espessura do dielétrico. ratura. Além do mais, o processo da
podem ser colocados para fornecer cor- Para se obter capacidades de armazena- partida contribui para a diminuição
rentes intensas por curtíssimos intervalos mento enormes, o que se faz no ultrapacitor da vida útil da bateria pela corrente
de tempo, o projetista poderá, em breve, é utilizar um eletrodo poroso (à base de exigida, sendo o capacitor uma al-
contar com uma solução intermediária: o carbono), o qual é imerso numa substân- ternativa para seu prolongamento.
ultracapacitor. cia condutora (eletrólito), veja exemplo na • Pré-aquecimento do catalisador - Os
Empregando tecnologias apropriadas figura 10. catalisadores dos carros precisam
será possível multiplicar a densidade de O eletrólito penetra nos poros do de um certo tempo para se aque-
armazenamento de energia e, com isso, carbono e, ao reagir, forma uma película cerem e entrar em ação, evitando a
fabricar capacitores de valores tão elevados ultrafina, (da ordem de ângstrons) cobrin- emissão de gases poluentes. Com o
que permitam o armazenamento de quan- do internamente todos os poros e atuando uso do ultracapacitor no pré-aque-
tidades de energia comparáveis àquelas assim como dielétrico. cimento esses dispositivos entram
que uma pilha ou bateria comum é capaz A superfície total ocupada pelo dielétrico em ação no momento em que o
de armazenar. Isso nos permitirá colocar é enorme, uma vez que se espalha interna- carro é ligado.

14 I SABER ELETRÔNICA 457 I 2011


• Sinalização em boias e faróis Com os ultracapacitores isso é possível.
alimentados por baterias solares Podemos citar como exemplo o caso de
durante o dia. um robô de combate que pode requerer
• Aplicações onde carga rápida é uma alta potência apenas por um instan-
importante, tais como brinquedos te para acionar uma garra que esmague
e veículos mecatrônicos, etc. o adversário, ou ainda para desferir um
• Backup de memórias - mantendo potente golpe.
alimentadas RAMs, por longos Um robô que seja usado em trabalhos de
intervalos de tempo. salvamento poderá precisar de uma potência
• Uso automotivo, principalmente em instantânea elevada para arrombar uma
veículos elétricos. porta ou vencer um obstáculo encontrado
em seu caminho.
Aplicações em Robótica Na indústria, uma potência instantânea
e Mecatrônica muito alta pode ser usada para que uma fer-
Existem casos onde se necessita de uma ramenta possa furar, cortar ou dobrar uma
potência muito grande por apenas alguns peça, mesmo que a máquina não disponha
segundos ou mesmo fração de segundo, o de uma fonte de capacidade elevada. A
que não pode ser conseguido a partir de energia ficará armazenada no ultracapacitor,
baterias ou motores comuns. sendo depois aplicada ao ponto em que é
necessária apenas pela fração de segundo
que resulte nos efeitos desejados. E

EMI - Uma arma? Mas, e os deles? Os russos desen-


EMI é a abreviação de Electro- volveram na ocasião uma tecnologia
Magnetic Interference ou Pulso eletrônica totalmente baseada em
Eletromagnético. Há alguns anos, os válvulas (o que no Ocidente era visto
militares soviéticos desenvolveram como atraso!), que não são sensíveis
uma arma bastante simples baseada aos pulsos eletromagnéticos. Desse
na sensibilidade dos aparelhos eletrô- modo, os equipamentos deles não
nicos à interferência eletromagnética: seriam afetados.
em um conflito com os americanos, A “guerra fria” acabou e parece que o
eles simplesmente detonariam uma projeto não tem mais finalidade, mas
bomba atômica entre a ionosfera e a existe ainda um perigo: os computa-
atmosfera da Terra. Como a ionosfera dores e outros sistemas sensíveis de
funciona como uma das armaduras de armazenamento de dados.
um gigantesco capacitor onde a outra Um terrorista que esteja levando um
armadura é a própria Terra, contendo ultracapacitor numa maleta (o qual
uma carga elétrica descomunal, a é pequeno o suficiente para isso) e
detonação colocaria em curto esse entre em um local com muitos com-
capacitor descarregando-o com uma putadores, poderá (com o simples
faísca de proporções enormes no apertar de um botão) comandar um
local da explosão. circuito de descarga de baixa resis-
Pois bem, essa faísca geraria uma tência formado por um pedaço de fio
corrente de descarga com a produ- ou uma bobina.
ção de um pulso eletromagnético tão O resultado será uma corrente
forte que queimaria todos os circui- instantânea de várias centenas ou
tos eletrônicos sensíveis em um raio milhares de ampères que gerará
de muitos quilômetros. Assim, todos um potente pulso eletromagnético
os equipamentos eletrônicos do ini- capaz de afetar computadores, discos
migo, tais como radares, sistemas de rígidos, memórias, etc., apagando seu
guia de mísseis, detectores e sistemas conteúdo ou paralisando seu funcio-
de comunicações ficariam instantane- namento! Uma forma de terrorismo
amente inutilizados! que deve ser prevista e analisada!

2011 I SABER ELETRÔNICA 457 I 15


Microcontroladores

DAC Conversor
Digital-Analógico
com microcontrolador Kinetis, da Freescale
Aprenda a desenvolver um Conversor Digital-Analógico com um
microcontrolador de núcleo ARM
Edriano Carlos de Araújo

É
notável o aumento de fabricantes programador a capacidade de inovar e fazer
produzindo microcontroladores a diferença, pois devido à grande quantidade
equipados com núcleos ARM que, de possibilidades oferecidas pelo microcon-
por sua vez, estão cada vez mais trolador, o sucesso e a qualidade do produto
próximos de se tornarem padrão de mercado. sendo desenvolvido estão diretamente ligados,
Para os fabricantes, fornecer microcontrola- à capacidade do profissional.
dores rápidos, eficientes e baratos se tornou Partindo deste princípio, será proposta
uma questão de sobrevivência o que, natural- uma situação-problema simples que possa
mente, faz com que invistam cada vez mais ser desenvolvida de maneira fácil e prática,
em pesquisa e desenvolvimento. mas que proporcione ao leitor ferramentas
suficientes para o entendimento deste
Os µCs Kinetis periférico. Não serão abordados neste ar-
Atualmente podemos encontrar mi- tigo a transferência por DMA e a geração
crocontroladores repletos de periféricos, de interrupções, ficando estes para uma
cada vez mais rápidos e baratos, o que não segunda parte.
ocorria no passado. Para o desenvolvimento destas tarefas
Seguindo esta tendência de mercado, utilizaremos o Kit de desenvolvimento
a Freescale Semicondutores lançou a sua KiwikStik (figura 1).
mais recente família de microcontroladores
Kinetis que, segundo a sua própria definição, O módulo DAC
é “the gateway to the most scalable portfólio of A figura 2 mostra um diagrama de
ARM® MCUs in the industry”. blocos do módulo DAC. Suas principais
O Kinetis possui dois módulos DAC de features são:
12 bits que podem ser alocados para um pino • Tensão de saída em passos de
de saída, entrada do módulo comparador, 1/4096 Vin;
conversor digital-analógico, amplificador • Vin “tensão de entrada” selecionável
operacional ou para outros periféricos. entre duas fontes distintas;
Conforme descrito anteriormente, os • Operação estática do módulo em
periféricos presentes nesta família de micro- modos STOP e WAIT;
controladores não estão simplesmente isola- • Buffer de 16 palavras com níveis
dos no sistema executando funções simples, máximo e mínimo selecionáveis,
mas sim fazendo parte de um sofisticado e capazes de gerar interrupções;
complexo conjunto de features que devolve ao • E suporte a DMA.

16 I SABER ELETRÔNICA 457 I 2011


Situação-problema
Utilizando o módulo DAC do Kinetis,
gerar uma forma de onda senoidal de 5 kHz,
analisando o impacto no uso da CPU e dos
recursos aplicados no projeto.

Proposta A
Nesta primeira solução, o módulo será
configurado de maneira simples sem conside-
rar o buffer de 16 palavras, ou qualquer outra
característica avançada do DAC, utilizando
o periférico como um módulo isolado muito F1. Kit de desenvolvimento KiwikStik.
semelhante à maioria dos DACs presentes
em microcontroladores mais antigos.
É importante salientar que durante o
desenvolvimento deste artigo, o Reference
Manual do Kinetis K40 já estava em 1731
páginas e aumentando com o tempo, pois,
como em toda família nova, ajustes são feitos
de tempos em tempos. Portanto, mesmo
lendo este artigo, é de suma importância
se ter o Reference Manual próximo.
Também é importante entender que
devido à grande quantidade de registradores
contidos nesta família de microcontrola-
dores apenas iremos inicializar os regis-
tradores que afetam diretamente o nosso
desenvolvimento, deixando os demais em
sua condição de RESET.

Primeiro passo
Configurar o módulo. Para um melhor
entendimento será utilizado como base o
exemplo contido no CD que acompanha
o livro (box 1):
• Configurar o clock para o periféri-
co. Neste caso, o clock é habilitado
setando o BIT 12 do registrador F2. Diagrama de Blocos do Conversor Digital-Analógico (DAC).
SIM_SCGC2;
• Se, por algum motivo, o clock do BOX1 : Configuração do módulo DAC
módulo não seja habilitado, uma void inic_dac(void)
interrupção por Hard fault será ge- {
rada, portanto é muito importante UInt8 offset;
que o clock do módulo seja habilitado SIM_SCGC2 |= SIM_SCGC2_DAC1_MASK; // Habilita o clock do DAC1
(figura 3a); DAC1_C0 = 0; // Limpa registradores de controle do DAC
• Zerar o conteúdo dos registradores DAC1_C1 = 0;
de controle. Este passo não é obriga- DAC1_C2 = 0;
tório, pois, em sua grande maioria // Habilita DAC1 trigger por software e referencia2
os registradores “nascem do Reset” // OBS: Referencia dois -> VDDAD
em zero (figura 3b, 3c e 3d); DAC1_C0 |= DAC_C0_DACEN_MASK | DAC_C0_DACTRGSEL_MASK | DAC_C0_DACRFS_MASK;
• Configurar os registradores de // Desabilita Buffer neste caso apenas o primeiro registrador é usado
controle (tabela 1). DAC1_C1 = 0 << DAC_C1_DACBFEN_SHIFT;
//Posiciona ponteiro do buffer na posição zero e o limite máximo para 15
Segundo passo DAC1_C2 |= DAC_C2_DACBFUP(0x0F) | DAC_C2_DACBFRP(0x00);
Configurar uma interrupção de tempo }
responsável pela atualização do mesmo e

Novembro/Dezembro 2011 I SABER ELETRÔNICA 457 I 17


Microcontroladores

criar uma sub-rotina para atualizar o valor


de saída do DAC. Lembrando que, neste
caso, apenas o primeiro registrador do
buffer será utilizado:
a) SIM_SCGC2 |= SIM_SCGC2_DAC1_MASK; // Habilita o clock do DAC1 • Rotina responsável por atualizar
a saída do DAC. Ao atualizar o
registrador DAC1_DAT0H a saída
é atualizada. O Kinetis possui um
conjunto de 32 registradores intitu-
b) DAC1_C0 = 0; // Limpa registradores de controle do DAC lados DACx_DATxL E DACxDATxH,
ambos de 8 bits, para cada um dos
seus módulos DAC. A representação
deles neste artigo ocuparia muito
espaço, sendo melhor sua verificação
c) DAC1_C1 = 0; no reference manual (box 2);
• Rotina de interrupção gerada a
cada 6,25 µs. Esta rotina é baseada
no timer PIT0, para maiores infor-
mações sobre a sua inicialização
d) DAC1_C2 = 0;
F3. Habilitação do clock do módulo DAC. vide capítulo TIMER (box 3). Nesta
rotina foi implementada uma tabela
BOX2 : Rotina de atualização da saída do DAC onde cada valor diz respeito a uma
void grava_dac(UInt16 dado) posição da senoide (figura 4);
{ • Rotina Principal inicializa a PLL,
DAC1_DAT0L = (UInt8)(dado); // carrega o byte menos significativo
DAC1_DAT0H = (UInt8)((dado >> 8) & (0x0F)); // carrega o byte menos significativo configura o TIMER e o DAC. A
} partir deste ponto uma interrupção
é gerada a cada 6,25 µs atualizando
o DAC e, consequentemente gerando
BOX3 : Rotina de interrupção gerada a cada 6,25 µs
uma senoide. O código-fonte para a
unsigned const int Dac_Tab1[]={4095,4050,3918,3704,3418,3071,2680,2262,1833,1415,1024,6 PLL e o Timer está presente no CD
77,391,177,45,0, 45,177,391,677,1024,1415,1833,2262,2680,3071,3418,3705,3918,4050};
void Timer_Isr(void) que acompanha o livro.
{ Neste momento o programa será gra-
PIT_TFLG0 = 0X01; // limpa o flag da interrupção de tempo vado e executado e o resultado comentado
++ Dac_Timer; // incrementa o ponteiro utilizado para carregar a tabela
if (Dac_Timer > 31) Dac_Timer = 0; // zera o ponteiro caso fim da tabela a seguir:
grava_dac(Dac_Tab[Dac_Timer]); // efetivamente atualiza o valor do dac
(void) PIT_TCTRL0; // prepara para que outra interrupção seja servida
int main(void)
}
{
inicializa_pll2();
DAC1_C0 |= DAC_C0_DACEN_MASK | DAC_C0_DACTRGSEL_MASK | DAC_C0_DACRFS_MASK; Configura_Timer();
DACEN Nível lógico um habilita todo o sistema. 1 inic_dac(); // Inicializa DAC com buffers
Este módulo pode ser conectado a duas fontes de referencia VDDAD alimen- desabilitados
tação externa ou VREFs gerada internamente pelo Kinetis.
for(;;)
É muito importante observar que, se VREFs for utilizada simultaneamente
DACRFS para o DAC e para o ADC alguma degradação nas medidas feitas através do {
ADC pode ser observada. }
Nível lógico 0 VREFs selecionado.
Nível lógico 1 VDDAD selecionado. 1
Seleciona a maneira como um novo dado é fornecido na saída do DAC. Conforme mostra a figura 5 é possível
DACTRGSEL Nível lógico zero, o trigger é feito por hardware. observar que o objetivo foi alcançado e
1
Nível lógico um, o trigger é feito por software. uma senoide de 5 kHz foi gerada na saída
DAC1_C1 = 0 << DAC_C1_DACBFEN_SHIFT; do DAC. É importante salientar que para
Nível lógico zero desabilita o buffer. que o resultado fosse alcançado uma in-
DACBFEN 0
Nível lógico um Habilita o Buffer.
terrupção foi gerada a cada 6,25 µs e uma
DAC1_C2 |= DAC_C2_DACBFUP(0x0F) | DAC_C2_DACBFRP(0x00);
posição de memória carregada, utilizando
Posição do ponteiro do buffer. Neste exemplo será usado somente o
DACBFRP 0 assim muito tempo de processamento da
primeiro registro.
Limite máximo do ponteiro do buffer. Neste caso esta configuração não é CPU para uma tarefa relativamente simples
DACBFUP 15
relevante, pois apenas o primeiro registrador será utilizado. para o Kinetis.
T1. Contribuição dos regis-
tradores de controle.

18 I SABER ELETRÔNICA 457 I 2011


BOX4 : Habilitação do modo swing

void inic_dac_sw_trg(void)
{
UInt8 offset;
SIM_SCGC2 |= SIM_SCGC2_DAC1_MASK; // Habilita o clock do DAC1
DAC1_C0 = 0; // Limpa registradores de controle do DAC
DAC1_C1 = 0;
DAC1_C2 = 0;
// Habilita DAC1 trigger por software e referencia2
// OBS: Referencia dois -> VDDAD
DAC1_C0 |= DAC_C0_DACEN_MASK | DAC_C0_DACTRGSEL_MASK | DAC_C0_DACR-
F4. Uma posição FS_MASK;
// Habilita Buffer neste caso todos os 16 registradores da fila serão usados no modo
de senoide.
SWING
DAC1_C1 = DAC_C1_DACBFEN_MASK | DAC_C1_DACBFMD(1);
//Posiciona ponteiro do buffer na posição zero e o limite máximo para 15
DAC1_C2 |= DAC_C2_DACBFUP(0x0F) | DAC_C2_DACBFRP(0x00);
// Carrega a tabela nos 16 registradores do DAC
for (offset=0; offset != 16; ++ offset)
{
DAC_DATL_REG(DAC1_BASE_PTR,offset) = (UInt8)(Dac_Tab[offset]);
DAC_DATH_REG(DAC1_BASE_PTR,offset) = (UInt8)((Dac_Tab[offset] >> 8) & (0x0F));
}
}

DAC1_C1 = DAC_C1_DACBFEN_MASK | DAC_C1_DACBFMD(1);


F5. Senoide de 5 kHz
Nível lógico zero desabilita o buffer.
na Saída do DAC. DACBFEN 1
Nível lógico um Habilita o Buffer.
Seleciona o modo de trabalho do buffer os quais podem ser definido como.
Proposta B Normal mode: Neste modo o buffer se comporta de forma circular o ponteiro
Neste segundo exemplo será utilizado vai de zero a quinze e retornando ao zero reiniciando o ciclo.
um pouco mais dos features avançados Modo ativado em 00.
do Kinetis, o objetivo será o mesmo: gerar Swing mode: neste modo o ponteiro vai de zero a quinze não retornando ao
DACBFMD 1
zero e sim decrescendo até zero.
uma forma de onda senoidal de 5 kHz na Modo ativado em 01.
saída do DAC, porém diminuindo um One-time scan: Neste modo o ponteiro incrementa a cada trigger e para na
pouco mais o consumo em processamento posição quinze.
exigido da CPU. Modo ativado em 10.
T2. Configurações dos
Para que este objetivo seja alcançado
registradores de controle.
o buffer de 16 words do Kinetis será ha-
bilitado e o trigger por software realmente BOX5 : Carregamento único da tabela 2 no buffer do DAC
aproveitado: for (offset=0; offset != 16; ++ offset)
• Assim como na primeira proposta, {
DAC_DATL_REG(DAC1_BASE_PTR,offset) = (UInt8)(Dac_Tab[offset]);
o primeiro passo será configurar o
DAC_DATH_REG(DAC1_BASE_PTR,offset) = (UInt8)((Dac_Tab[offset] >> 8) & (0x0F));
módulo. Algumas mudanças básicas }
podem ser observadas nesta nova
configuração como, por exemplo o
buffer foi habilitado assim como o tabela será carregada uma única vez Antes Depois
modo swing; no buffer, excluindo a necessidade void Timer_Isr(void) void Timer_
{ Isr(void)
• Habilitando-se o modo swing (box 4) de acesso a memória pela CPU todas PIT_TFLG0 = 0X01; {
temos a nossa disposição 16 palavras as vezes que um novo dado deva ser ++ Dac_Timer; PIT_TFLG0 = 0X01;
do buffer e não 32 como utilizamos carregado (box 5); if (Dac_Timer > 31) DAC1_C0 |= 1
Dac_Timer = 0; << DAC_C0_DAC-
anteriormente, portanto a tabela será • Reescrever a rotina de interrupção. grav a_dac(Dac_ SWTRG_SHIFT;
carregada de tal forma que a cada 16 Neste caso uma interrupção a cada Tab[Dac_Timer]); (void) PIT_TCTRL0;
interrupções metade da senoide seja 6,25 µs ainda se faz necessário, (void) PIT_TCTRL0; }
}
gerada, conforme ilustra a figura 6. porém o único processamento por
T3. Re-escrita
• Configurar os registradores de con- parte da CPU será o de acionar o
da rotina de
trole. A partir deste ponto apenas trigger por software e o periférico interrupção.
mudanças ou adaptações no código se encarregará de atualizar a saída
serão explicadas (tabela 2); do DAC (tabela 3); F6. Uma metade
• Carregar a tabela no buffer do DAC. • Não há mudanças significativas na da senoide é
Ao contrário da primeira proposta, a rotina principal: gerada a cada 16
interrupções.

Novembro/Dezembro 2011 I SABER ELETRÔNICA 457 I 19


Microcontroladores

F7. Senoide de 5 kHz na saída do DAC.

int main(void)
{
inicializa_pll2();
Configura_Timer();
inic_dac_sw_trg();// Inicializa DAC com
buffers habilitados e trigger por software
for(;;)
{
}

• Como observado, a rotina grava_dac


não se faz necessária assim como
não será mais preciso carregar uma
posição da tabela Dac_Tab a cada
interrupção.
• Através da figura 7 é possível notar
que o resultado obtido foi o mesmo
da proposta anterior, utilizando mui-
to menos processamento da CPU.

Proposta C F8. Diagrama de blocos


Neste terceiro exemplo o objetivo será o do módulo PDB.
mesmo: gerar uma forma de onda senoidal
de 5 kHz. O principal diferencial desta BOX6 : Configuração dos registradores de controle
proposta será o de que não haverá consumo void inic_dac_sw_trg(void)
da CPU para geração da senoide, sendo esta {
UInt8 offset;
tarefa executada única e exclusivamente SIM_SCGC2 |= SIM_SCGC2_DAC1_MASK; // Habilita o clock do DAC1
pelos periféricos DAC e PDB. DAC1_C0 = 0; // Limpa registradores de controle do DAC
• O módulo PDB provê tempos contro- DAC1_C1 = 0;
DAC1_C2 = 0;
lados em função de triggers externos // Habilita DAC1 trigger por hardware e referencia2
ou internos, ou de pulsos programa- // OBS: Referencia dois -> VDDAD
dos para os periféricos ADC e DAC; DAC1_C0 |= DAC_C0_DACEN_MASK | DACDAC_C0_DACRFS_MASK;
// Habilita Buffer neste caso todos os 16 registradores da fila serão usados no modo SWING
utilizando estes “TICs” programa- DAC1_C1 = DAC_C1_DACBFEN_MASK | DAC_C1_DACBFMD(1);
dos, podemos automatizar a geração //Posiciona ponteiro do buffer na posição zero e o limite máximo para 15
da senoide, onde cada atualização do DAC1_C2 |= DAC_C2_DACBFUP(0x0F) | DAC_C2_DACBFRP(0x00);
// Carrega a tabela nos 16 registradores do DAC
DAC será disparada através de um for (offset=0; offset != 16; ++ offset)
TIC do PDB. Este módulo não será {
alvo de estudos neste momento, mas DAC_DATL_REG(DAC1_BASE_PTR,offset) = (UInt8)(Dac_Tab[offset]);
DAC_DATH_REG(DAC1_BASE_PTR,offset) = (UInt8)((Dac_Tab[offset] >> 8) & (0x0F));
é possível verificar um pouco de sua }
estrutura através do Diagrama de }
Blocos da figura 8; DAC1_C0 |= DAC_C0_DACEN_MASK | DACDAC_C0_DACRFS_MASK;
• Como de costume, o primeiro passo Seleciona a maneira como um novo dado é fornecido na saída do DAC.
DACTRGSEL Nível lógico zero, o trigger é feito por hardware. 0
será o de configurar os registradores
Nível lógico um, o trigger é feito por software.
de controle, e para tal utilizaremos

20 I SABER ELETRÔNICA 457 I 2011


a mesma função da proposta ante- BOX7 : Habilitação do clock do módulo PDB
rior, fazendo apenas uma pequena
void Configura_Pdb(void)
alteração comentada (box 6); {
• Observe que a máscara DAC_C0_ // HABILITA CLOCK DO MÓDULO PDB
SIM_SCGC6 |= SIM_SCGC6_PDB_MASK;
DACTRGSEL_MASK, foi retirada
// HABILITA O MODO DE CONTAGEM CONTINUA E TRIGGER POR SOFTWARE
do código, fazendo com que o bit PDB0_SC = PDB_SC_CONT_MASK | PDB_SC_TRGSEL(15);
DACTRGSEL do registrador C0 fique // CARREGA O INTERVALO ENTRE TRIGGERS NO COMPARADOR DO PDB
PDB0_DACINT1 = (uint32_t)0x013DUL;
em zero. Habilitando assim o trigger
// HABILITA HABILITA GERAÇAO DE TRIGGERS PARA O DAC
por hardware; PDB0_DACINTC1 |= PDB_INTC_TOE_MASK;
• Configurar o módulo PDB (Pro- // HABILITA O MÓDULO PDB
PDB0_SC |= (uint32_t)0x81UL;
gramable Delay Block). O PDB é um
// INICIA A GERAÇÃO DE TRIGGERS ATRAVÉS DE UM SOFTWARE TRIGGER.
periférico do Kinetis que torna PDB0_SC |= PDB_SC_SWTRIG_MASK;
possível gerar triggers periódicos }
tanto para os módulos ADC quanto
DAC. Através deste periférico tam-
bém é possível gerar delays entre contrário uma interrupção por hard a rotina configura PDB que, a partir
conversões dos ADCs e conversões falt será gerada (box 7). deste momento, será responsável
do DAC. Devido a complexidade • Veja um exemplo do contador em pela atualização do DAC (box 8);
e versatilidade destes módulos, modo contínuo na figura 10; • Conforme a figura 11, é possível
aqui serão apenas configurados os • Rotina de interrupção. Não há notar que o resultado obtido foi o
registradores pertinentes ao DAC, mais necessidade de uma rotina de mesmo alcançado pelas propostas
conforme figura 9 (para maiores interrupção, o PDB se encarregara anteriores, com a vantagem de que
esclarecimentos consultar o capitulo de gerar uma atualização do DAC a partir do momento em que o PDB
PDB no Reference Manual). a cada 6,25 µs; foi inicializado Não há consumo
• Como regra uma das dicas mais • Rotina Principal. Foi retirada a em processamento da CPU, fican-
importantes é: nunca se esqueça rotina configura timer, a qual não do esta livre para executar outras
de habilitar o clock do módulo, caso mais se faz necessária e acrescentada tarefas.

Novembro/Dezembro 2011 I SABER ELETRÔNICA 457 I 21


Microcontroladores

Conclusão
O Conversor digital-analógico do Ki-
netis pode ser configurado e utilizado de
várias formas, desde as mais simples até as
mais avançadas, cabendo ao programador
identificar a melhor maneira de se imple-
mentar a sua solução.
Ainda é possível otimizar o funciona-
mento do DAC fazendo uso de suas inter-
rupções, ou até mesmo do DMA, quando a
quantidade de dados a se transferir se torna
uma preocupação.
PDB0_SC = PDB_SC_CONT_MASK | PDB_SC_TRGSEL(15) Em algum momento pode-se questio-
Este Bit controla a maneira como o contador do PDB funciona. nar a qualidade da senoide gerada, porém
Nível lógico zero, o contador do PDB será inicializado no modo one-shot, onde o
CONT 1 para o entendimento do projeto esta foi
contador faz apenas uma varredura e aguarda o próximo trigger.
Nível lógico um, O contador será inicializado no modo continuo. pensada desta maneira para proporcionar
F9. Configuração uma melhor compreensão do periférico,
do módulo PDB. e algumas soluções podem ser utilizadas
para melhorar a qualidade:
BOX8 : Configuração da rotina principal • Colocar um filtro passabaixas na
int main(void) saída do DAC, utilizando-se um
{ resistor e um capacitor para obter
inicializa_pll2();// Inicializa Inicializa PLL
inic_dac_sw_trg();// Inicializa DAC com buffers habilitados e trigger por hardware uma senoide de 5 kHz perfeita;
Configura_Pdb();// Inicializa PDB • Aumentar a taxa de amostragem de
for(;;) saída, para isto deveríamos ativar as
{
} interrupções e alimentar o buffer do
Kinetis a cada vez que o buffer esva-
ziasse. E assim teríamos consumo de
processamento da CPU novamente;
• Ativar o DMA e programá-la para
sempre que o buffer esvazie, a
mesma transfira um novo bloco de
dados, desta forma sem consumo
de processamento da CPU;
Como, foi visto, cabe ao programador
O trigger do modulo pode ser selecionado entre várias fontes do Kinetis, tornan- desenvolvedor achar a solução que melhor
do seu funcionamento muito flexível, neste caso específico o trigger utilizado
lhe atenda tanto em tempo de aprendizado
TRGSEL será por software. 15
Através deste BIT é possível selecionar a fonte do Trigger Quinze seleciona por quanto em custo. E
software.

PDB0_DACINT1 = (uint32_t)0x013DUL;
Específica o intervalo entre triggers aplicado ao DAC. Quando o valor especificado
INT
em INT for igual ao valor do contador um trigger é gerado.

PDB0_DACINTC1 |= PDB_INTC_TOE_MASK;
TOE Habilita o gerador de trigger para o DAC. 1
Nível lógico um, Habilita Trigger externo para o gerador de intervalos do DAC.
EXT 0
Nível lógico zero, Ultiliza o mesmo trigger do PDB para o gerador de intervalos.
F10. Contador do PDB em F11. Senoide de 5 kHz
modo da rotina principal. na saìda do DAC.

22 I SABER ELETRÔNICA 457 I 2011


abcdefghijklmnopqrstuvwxy
ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ

Eletrônica Aplicada

Dando continuiade ao curso apresen-


Par
Curso sobre 3
te tamos a descrição e sintaxe dos principais
tipos de variações e funções aplicáveis

Arduino
no Arduino e também duas aplicações
práticas: o controle de um servomotor de
posição e a conversão analógico-digital
para aquisição de sinais

Filipe Pereira

Variável do tipo Boolean seja, permite preencher o mesmo double exemplo_1 = 1.589; // Declara
Uma variável deste tipo apenas pode com valores provenientes do pino um variável do tipo “double” e atribui-lhe
tomar dois valores distintos - “true” ou analógico 3 o valor de “1.589”
“false”. Esta variável reserva 1 Byte de • (11) i++; // Incremento do valor de
memória para a sua utilização. “i” inicialmente a zero, instrução Variável do tipo array
semelhante a “i=i+1” e a Noção de string
Sintaxe: • (12) teste = !teste; //modifica o valor É considerado um array, um vetor de
• boolean variável = “valor”; atribuído à variável booleana “tes- variáveis do mesmo tipo ao qual se pode
• Quando é referido acima a “valor”, te” ou seu oposto ( se “true” fica aceder através do seu respectivo índice. O
estamos nos referindo a “true” ou “false”, e vice-versa) conceito de string é comumente utilizado
“false”. • (13)} para designar um vetor de variáveis do
• (14) while(i<=10); // Se a condição tipo char.
Exemplo: se verificar, repete o ciclo; caso não
• (1) int entrada_analogica=3,val,i= se verifique, o ciclo termina Sintaxe:
0,f[10]; // Declaração de uma vari- • (15) } tipo_variável nome_variável[índice]
ável do tipo integer, com o nome = valor;
“entrada_analogica” inicializada Variável do tipo Ao declarar um índice de valor 10, es-
com o valor “3”, de uma variável do float vs double tamos na verdade reservando 11 espaços
mesmo tipo com o nome “val” não A variável do tipo float apresenta uma na memória para a variável do tipo decla-
inicializada, “i” inicializada com o maior resolução, face às variáveis do tipo rado. Pois, também, temos de contar com
valor “0” e de um vetor “f[]” com integer. São reservados em memória 4 o índice zero, este fator torna-se muitas
11 posições de memória do mesmo Bytes (32 bits), para armazenar o seu con- vezes objeto de erro.
tipo (integer). teúdo. Este tipo de variável pode conter
• (2) boolean teste = false; // Definição valores no intervalo de −3.4028235∗10^38 Exemplos:
de uma variável do tipo boolean e 3.4028235∗10^38. Paralelamente, o con- • float exemplo[10]; // Declaração
inicializada com “false” ceito de double leva-nos a considerar uma de um vetor com 11 “espaços”, do
• (3) void setup() { variável que possua o dobro da precisão tipo “float”
• (4) Serial.begin(9600); // Permite de uma variável do tipo float, apesar de no • float exemplo_2[]={1,2,3,4,5,6,7,8,9
a inicialização da comunicação contexto de estudo a declaração de uma ,10}; // Declaração de um vetor do
Série variável do tipo float ou do tipo double tipo” float”, que vai ter um índice
•(5) pinMode(entrada_ serem iguais. Ou seja, não existe um in- compreendido entre 0 e 9
analogica,INPUT); // Permite defi- cremento de precisão mantendo o mesmo • char exemplo_3[11]=”Hello World”;
nir o pino 3 como “INPUT” espaço reservado de memória para ambos // Declaração de uma string
• (6) } os tipos utilizando o Arduino. • char exemplo_4[11]={‘H’,’E’,’L’,’L’,’
• (7) void loop(){ O’,’ ‘,’W’,’O’,’R’,’L’,’D’}; // Declara-
• (8) do{ // Permite definir o início Sintaxe: ção de uma string com o conteúdo
do ciclo • float variável = valor; semelhante ao exemplo anterior,
• (9) val=analogRead(entrada_analo- • double variável = valor; mas com outra forma de colocar o
gica); // Permite a leitura analógica mesmo conteúdo
do valor do pino 3, atribuindo o seu Exemplos:
valor à variável “val” float exemplo = 1.589; // Declara um pinMode()
• (10) f[i]=val: //Atribui o valor da variável do tipo “float” e atribui-lhe o Ao recorrer a esta instrução, é possível
variável “val” ao vetor “f[i]”, ou valor de “1.589” configurar o modo de comportamento

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Eletrônica Aplicada
Industrial
de um determinado pino, possibilitando • O “Modo” acima descrito, pode ser o nome “botao”, inicializada com
assim defini-lo como input ou output, definido como: o valor “3” e de uma variável do
esta definição normalmente é efetuada • “HIGH” mesmo tipo com o nome “val” não
recorrendo à função “void setup()”. • “LOW” inicializada com nenhum valor
• (2) void setup() {
Sintaxe: Exemplo: • (3) Serial.begin(9600); // Permite
• pinMode(Número do pino, • (1) int botao=3,val; // Declaração de a inicialização da comunicação
Modo); uma variável do tipo integer com Série
• O “Modo” acima descrito pode ser o nome “botao”, inicializada com • (4) pinMode(botao,INPUT); //
definido da seguinte forma: o valor “3” e de uma variável do Permite definir o pino 3 como
• “INPUT” mesmo tipo com o nome “val” não “INPUT”
• “OUTPUT” inicializada com nenhum valor • (5) pinMode(13,OUTPUT); // Per-
• (2) void setup() { mite definir o pino 13 como “OU-
Exemplo: • (3) Serial.begin(9600); // Permite TPUT”
• (1) int botao=3,val; // Declaração de a inicialização da comunicação • (6) }
uma variável do tipo integer com Série • (7) void loop(){
o nome “botao”, inicializada com • (4) pinMode(botao,INPUT); // • (8) val=digitalRead(botao); // Per-
o valor “3” e de uma variável do Permite definir o pino 3 como mite a leitura do valor do pino 3
mesmo tipo com o nome “val” não “INPUT” digital, atribuindo o seu valor à
inicializada com nenhum valor • (5) pinMode(13,OUTPUT); // Per- variável “val”
• (2) void setup() { mite definir o pino 13 como “OU- • (9) if(val==1) // Ciclo if que testa a
• (3) Serial.begin(9600); // Permite TPUT” condição – “val>=500” (maior ou
a inicialização da comunicação • (6) } igual a 500)
Série • (7) void loop(){ • (10) digitalWrite(13,HIGH); // Se a
• (4) pinMode(botao,INPUT); // • (8) val=analogRead(botao); // Per- condição for verificada, é atribu-
Permite definir o pino 3 como mite a leitura analógica do valor ído ao pino digital 13 a condição
“INPUT” do pino 3, atribuindo o seu valor à “HIGH” (5 V)
• (5) pinMode(13,OUTPUT); // Per- variável “val” • (11) }
mite definir o pino 13 como “OU- • (9) if(val>=500) // Ciclo if que testa • (12) else{ // Caso a condição do ciclo
TPUT” a condição – “val>=500” (maior ou if não se verifique
• (6) } igual a 500) • (13) digitalWrite(13,LOW); // Se a
• (7) void loop(){ • (10) digitalWrite(13,HIGH); // Se a condição não for verificada, é atri-
• (8) val=analogRead(botao); // Per- condição for verificada, é atribu- buído ao pino digital 13 a condição
mite a leitura analógica do valor ído ao pino digital 13 a condição “LOW” (0 V)
do pino 3, atribuindo o seu valor à “HIGH” (5 V) • (14) }
variável “val” • (11) } • (15) }
• (9) if(val>=500) // Ciclo if que testa • (12) }
a condição – “val>=500” (maior ou Input/Output analógico
igual a 500) digitalRead() – analogRead()
• (10) digitalWrite(13,HIGH); // Se a Possibilita a leitura de uma entrada Possibilita a leitura do valor analógico
condição for verificada, é atribu- digital específica, retornando um valor no do pino especificado com um conversor
ído ao pino digital 13 a condição formato integer (int). Se obtivermos um A/D com uma resolução de 10 bits, o que
“HIGH” (5 V) valor de retorno de “1”, estaremos perante leva a que um valor compreendido entre 0
• (11) } uma leitura do tipo “HIGH” (valor lógico e 5 V esteja compreendido entre os valores
• (12) } 1). Se tal não se verificar, e tivermos um inteiros (int) 0 e 1023.
valor de retorno igual a “0”, estaremos Sintaxe: Variável do tipo inteiro =
digitalWrite() perante uma leitura do tipo “LOW” (valor analogRead(Número do pino);
Possibilita estabelecer nos pinos con- lógico 0).
figurados como output, através da instru- Exemplo:
ção “pinMode”, a saída dos respectivos Sintaxe: • (1) int botao=3,val; // Declaração de
pinos com o valor lógico 1 (HIGH – 5 V) • Variável do tipo integer = digital- uma variável do tipo integer com
ou com o valor lógico 0 (LOW – 0V) Read (Número do pino); o nome “botao”, inicializada com
o valor “3” e de uma variável do
Sintaxe: Exemplo: mesmo tipo com o nome “val” não
• digitalWrite(Número do pino, • (1) int botao=3,val; // Declaração de inicializada com nenhum valor
Modo); uma variável do tipo integer com • (2) void setup() {

24 I SABER ELETRÔNICA 457 I 2011

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• (3) Serial.begin(9600); // Permite • (5) pinMode(13,OUTPUT); // Per- Sintaxe:
a inicialização da comunicação mite definir o pino 13 como “OU- • delay (tempo que deseja efetuar a
Série TPUT” pausa – ms);
• (4) pinMode(botao,INPUT); // • (6) }
Permite definir o pino 3 como • (7) void loop(){ Exemplo:
“INPUT” • (8) val=analogRead(botao); // Per- • (1) int led_pin=13; // Declaração
• (5) pinMode(13,OUTPUT); // Per- mite a leitura analógica do valor de uma variável do tipo integer
mite definir o pino 13 como “OU- do pino 3, atribuindo o seu valor à com o nome “led_pin”, sendo-lhe
TPUT” variável “val” atribuído o valor “13”
• (6) } • (9) if(val>=500) // Ciclo if que testa • (2) void setup() {
• (7) void loop(){ a condição – “val>=500” (maior ou • (4) pinMode(led_pin,OUTPUT);
• (8) val=analogRead(botao); // Per- igual a 500) // Permite definir o pino 13 como
mite a leitura analógica do valor • (10) analogWrite(9,255); // Ins- “OUTPUT”
do pino 3, atribuindo o seu valor à trução com a mesma função que • (5) Serial.begin(9600); // Permite
variável “val” “digitalWrite(9,HIGH)” a inicialização da comunicação
• (9) if(val>=500) // Ciclo if que testa • (11) } Série
a condição – “val>=500” (maior ou • (12) else{ • (6) }
igual a 500) • (13) analogWrite(9,0); // Instru- • (7) void loop(){
• (10) digitalWrite(13,HIGH); // Se a ção com a mesma função que • (8) digitalWrite(led_pin,HIGH);
condição for verificada, é atribu- “digitalWrite(9,LOW)” // É atribuído ao pino digital 13 a
ído ao pino digital 13 a condição • (14) } condição “HIGH” (5 V)
“HIGH” (5 V) • (15) } • (9) delay(200); // É efetuado um
• (11) } delay de 200 ms, antes de efetuar a
• (12) } Tempo – millis() próxima instrução
Possibilita o retorno da quantidade de • (10) digitalWrite(led_pin,LOW);
analogWrite() tempo, em milissegundos, na forma de // É atribuído ao pino digital 13 a
Possibilita a utilização dos pinos PWM uma variável do tipo “unsigned long”. O condição “LOW” (0 V)
(Pulse Width Modulation) da placa Ardui- valor retornado representa o tempo que • (11) delay(600); // É efetuado um
no. O sinal PWM mantém-se até ser mo- passou desde que o programa atual co- delay de 600 ms, antes de efetuar
dificado através de uma outra instrução meçou a ser executado. O overflow (voltar a próxima instrução, neste caso a
que afete esse pino, a frequência do sinal ao início, valor zero) do contador ocorre função “void loop()” recomeça
PWM criado é de ≅ 490 Hz. passado um tempo de ≅ 50 dias. • (12) }

Sintaxe: Sintaxe: Servomotor


• analogWrite(Número do pino, • unsigned long tempo = millis(); Um servomotor é um pequeno dis-
valor); positivo, cujo veio pode ser posicionado
• O “valor” referido anteriormente Exemplo: numa determinada posição angular de
varia entre 0 (sempre desligado), • (1) unsigned long tempo; // Decla- acordo com um sinal de entrada. En-
até ao valor 255 (que representa um rada uma variável do tipo unsigned quanto esse sinal se mantiver constante
sinal de 5 V constante). long com o nome “tempo” e for enviado para o servomotor, este irá
• (2) void setup() { manter a sua posição angular. Ao variar o
Exemplo: • (3) (…..) sinal de entrada, possibilita uma variação
• (1) int botao=3,val; // Declaração • (4) } da posição angular do veio. Os servomo-
de uma variável do tipo integer • (5) void loop(){ tores são muito usados no controle de
com o nome “botao”, inicializada • (6) tempo = millis(); // Atribui à aviões telecomandados, robôs, barcos
com o valor “3” e de uma variável variável “tempo” o valor, em milis- telecomandados, helicópteros telecoman-
do mesmo tipo com o nome “val” segundos, desde que o sketch atual dados, entre outras possíveis aplicações.
não inicializada com nenhum começou a ser executado Veja figura 1.
valor • (7) } Um servomotor, como se pode ver na
• (2) void setup() { seguinte figura, possui três entradas. Uma
• (3) Serial.begin(9600); // Permite delay (milissegundos) entrada é a alimentação (normalmente 5 V
a inicialização da comunicação Possibilita efetuar uma pausa no pro- para servomotores standard), outra será
Série grama em execução, por uma quantidade a massa e a última que falta referir será o
• (4) pinMode(botao,INPUT); // de milissegundos especificada. Útil para sinal de entrada. Este sinal de entrada será
Permite definir o pino 3 como manter um estado durante uma certa um pulso PWM, onde, fazendo-se variar o
“INPUT” quantidade de tempo. seu “duty-cicle”, podemos variar a posi-

2011 I SABER ELETRÔNICA 457 I 25

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Eletrônica Aplicada
Industrial
ção angular do servomotor. Isto em servo-
motores de posição, pois também existem
servomotores de rotação contínua. Nestes,
a variação do “duty-cicle” fará variar não
a posição angular, mas a velocidade e
sentido de rotação do servomotor. Existe
possibilidade de modificar, sem grande
dificuldade, um servomotor de posição
para rotação contínua. Esta modificação é
permanente, não podendo ser reversível.
No entanto, o objetivo deste subcapítulo
não se centra nisso, mas sim em como
fazer a sua interação com a plataforma de F1. Servomotor: aspecto
desenvolvimento Arduino. (Figura 2) e símbolo.
Pela análise da figura anterior, pode-
mos constatar que os componentes mais
importantes de um servomotor de posição
são os seguintes:
• Circuito de controle (Control Cir-
cuit)
• Potenciômetro (Potentiometer)
• Motor DC (Motor)
O circuito de controle, como o próprio
nome indica, é responsável por controlar e
mover o motor DC, com base nas informa-
ções obtidas pela leitura do potenciômetro
e do sinal de entrada. O potenciômetro,
neste contexto, é utilizado acoplado ao
eixo de rotação para conseguir obter a
posição angular do eixo.
A enorme aplicabilidade dos servo- F2. Componentes de um servo-
motores leva a que, tendo em conta o motor de posição.
universo da eletrônica, seja uma temática
obrigatória. Dessa necessidade surge a Sintaxe: Exemplo:
criação de uma biblioteca específica para • Servo.attach(Pino); • (1) #include<Servo.h> // Declaração
facilitar a operação com servomotores, • Servo.attach(Pino, Valor do ân- da biblioteca <Servo.h>
que até já se encontra disponível no Sof- gulo mínimo, Valor do ângulo • (2) Servo Exemplo; // Criação de
tware de desenvolvimento Arduino. máximo); uma variável do tipo Servo, com o
A biblioteca “Servo.h” utiliza os pinos • “Servo” – Variável do tipo “Servo” nome de “Exemplo”
9 e 10 para fazer o controle dos respectivos pode ser declarada da seguinte • (3) void setup(){
servomotores, ao utilizar esta biblioteca forma: • (4) Exemplo.attach(10); //Atri-
(ao associar um servomotor a uma das • Servo nome_a_atribuir: Podendo buição da variável do tipo Servo
duas saídas) não poderá utilizar-se os pi- atribuir qualquer nome à escolha, “Exemplo”, ao pino digital 10
nos 9 e 10 para outras aplicações. A seguir, o exemplo abaixo é esclarecedor em • (5) (…..)
vai ser explorada a sintaxe possível para relação a esta questão: • (6) void loop(){
facilitar o uso desta biblioteca. • “Valor do ângulo mínimo” – • (7) (…..)
Permite definir qual a largura • (8) }
Sintaxe das Instruções da mínima do pulso a utilizar, em
Biblioteca <Servo.h> - at- microssegundos, que vai corres- detach()
tach() ponder ao ângulo mínimo (0°). Permite eliminar a ligação entre uma
Permite atribuir a um pino (pinos • “Valor do ângulo máximo” – variável do “Servo” a um dos pinos pos-
disponíveis – 9 ou 10), uma variável do Permite definir qual a largura síveis de utilizar pela biblioteca “<Servo.
tipo “Servo”. A atribuição de uma variável máxima do pulso a utilizar, em h>” (Pinos 9 e 10). Se nenhum dos pinos
deste tipo vai ser necessária para controlar microssegundos, que vai cor- possíveis estiver atribuído a uma variável
o respectivo servomotor. responder ao ângulo máximo do tipo “Servo”, os pinos 9 e 10 podem ser
(180°). utilizados normalmente.

26 I SABER ELETRÔNICA 457 I 2011

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Sintaxe: • (4) void setup(){ attached()
• Servo.detach(); • (5) Exemplo.attach(10); // Atri- Instrução que permite verificar se
• Servo” – Variável do tipo Servo pode buição da variável do tipo Servo uma variável do tipo “Servo” se encontra
ser declarada da seguinte forma: “Exemplo”, ao pino digital 10 atribuída a um pino específico.
• Servo nome_a_atribuir; • (6) Exemplo_2.attach(9); // Atri-
buição da variável do tipo Servo Sintaxe:
Exemplo: “Exemplo_2”, ao pino digital 9 • Estado (int) = Servo.attached();
• (1) #include<Servo.h> // Declaração • (7) (…..) • Servo” – Variável do tipo “Servo” pode
da biblioteca <Servo.h> • (8) void loop(){ ser declarada da seguinte forma:
• (2) Servo Exemplo; // Criação de • (9) Exemplo.write(0); // Faz com • Servo nome_a_atribuir;
uma variável do tipo Servo, com o que um servomotor de posição, • “Estado” 0,1 , ou seja, só pode to-
nome de “Exemplo” por exemplo, se movimente para mar o valor “true” (valor “1”) ou
• (3) void setup(){ a posição correspondente ao ân- “false” (valor “0”).
• (4) Exemplo.attach(10); // Atri- gulo “0”
buição da variável do tipo Servo • (1) Exemplo_2.write(90); // Faz com Exemplo:
“Exemplo”, ao pino digital 10 que um servomotor de rotação contí- • (1) #include<Servo.h> // Declaração
• (5) (…..) nua, por exemplo, pare a sua rotação da biblioteca <Servo.h>
• (6) void loop(){ • (11) } • (2) int atribuido=0; // Declaração
• (7) Exemplo.detach(); // Elimina a de uma variável do tipo integer de
ligação entre a variável do tipo Ser- read() nome “atribuído”, atribuindo-lhe
vo “Exemplo”e pino digital 10 Instrução que retorna o valor do o valor de “0”
• (8) analogWrite(10, 255); // Como último ângulo utilizado, recorrendo à • (3) Servo Exemplo; // Criação de
nenhuma variável do tipo Servo instrução “Servo.write(Ângulo)”. uma variável do tipo Servo, com o
se encontra atribuída, podem-se nome de “Exemplo”
usar as funcionalidades PWM dos Sintaxe: • (4) void setup(){
pinos 9 e 10 Ângulo (int) = Servo.read(); • (5) Exemplo.attach(10); // Atri-
• (9) } Servo” – Variável do tipo Servo pode buição da variável do tipo Servo
ser declarada da seguinte forma: “Exemplo”, ao pino digital 10
write() Servo nome_a_atribuir; • (6) (…..)
Permite movimentar o eixo de um • (7) void loop(){
servomotor de posição para o ângulo Exemplo: • (8) atribuido = Exemplo.attached(); //
pretendido. No caso de um servomotor • (1) #include<Servo.h> // Declaração Atribui o valor 1 à variável atribuído,
de rotação contínua, o valor 0 correspon- da biblioteca <Servo.h> caso a variável do tipo Servo “Exem-
derá à velocidade de rotação máxima • (2) int angulo = 0; // Declaração de uma plo” se encontre associada a algum
num sentido, o valor 180 a velocidade de variável do tipo integer de nome “ân- pino; caso contrário retorna o valor 0
rotação máxima noutro sentido e o valor gulo”, atribuindo-lhe o valor de “0” • (9) if (atribuido ==1){ //Se a variável
90 será o ponto em que o servomotor se • (3) Servo Exemplo; // Criação de do tipo Servo “Exemplo” estiver
encontrará parado. uma variável do tipo Servo, com o atribuída, a condição é verificada
nome de “Exemplo” • (10) Exemplo.write(180); // Faz com
Sintaxe: • (4) void setup(){ que um servomotor de posição se
• Servo.write(Ângulo); • (5) Exemplo.attach(10); // Atri- movimente para a posição corres-
• Servo” – Variável do tipo “Servo” buição da variável do tipo Servo pondente ao valor “180”
pode ser declarada da seguinte “Exemplo”, ao pino digital 10 • (11) }
forma: • (6) (…..) • (12) (…..)
• Servo nome_a_atribuir; • (7) void loop(){ • (13) }
• “Ângulo” 𝜖 [0,180] • (8) Exemplo.write(angulo); // Faz
com que um servomotor de posição Resumo
Exemplo: se movimente para a posição cor- O uso desta biblioteca simplifica a ope-
• (1) #include<Servo.h> // Declaração respondente ao valor da variável ração com servomotores, o que não impli-
da biblioteca <Servo.h> “ângulo” ca que a movimentação dos servomotores
• (2) Servo Exemplo; // Criação de • (9) angulo = (Exemplo.read() + 1); // não seja feita com recurso diretamente à
uma variável do tipo Servo, com o Vai incrementado uma unidade ao instrução “analogWrite()”, ou seja, gerar
nome de “Exemplo” último valor de ângulo utilizado, os sinais PWM diretamente. Tal é possí-
• (3) Servo Exemplo_2; // Criação de recorrendo à instrução “Exemplo. vel, obviamente, porém mais trabalhoso,
uma variável do tipo Servo, com o write(angulo)” existindo esta biblioteca para simplificar
nome de “Exemplo_2” • (10) } esse trabalho de implementação.

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Eletrônica Aplicada
Industrial

F3. Conversão F4. o clock de sistema é


analógico-digital. dividido pelo prescaler.
Aquisição de Sinal:
Conversão A/D
Os microcontroladores utilizados até
ao momento, nos modelos disponíveis da
plataforma de desenvolvimento Arduino,
possuem conversores A/D com 10 bits de
resolução (informação retirada do data-
sheet dos respectivos microcontroladores),
ou seja, uma entrada analógica cujo valor
varia entre 0 V e 5 V, terá a sua corres-
pondência em binário a valores entre 0
(0000000000) e 1023 (1111111111) respec-
tivamente. O que nos leva a resoluções na
ordem dos 5 mV. Figura 3.
Segundo informação disponível no F5. Conteúdo do
datasheet dos respectivos microcontrola- registro ADCSRA.
dores, a primeira conversão A/D demora
25 ciclos de Clock enquanto as restantes é este o Clock de entrada que vamos grante do registro ADCSRA, que pode ser
demoram 13. Esta diferença acontece, pois obter no nosso conversor A/D. O Clock visto na figura 5.
a primeira conversão A/D precisa de efe- de sistema é dividido por um “fator As combinações possíveis, para os
tuar a inicialização do ADC. Analisando de divisão” (Prescaler), sendo este sim bits referidos anteriormente, podem ser
o referido anteriormente, e considerando o Clock que vamos obter no nosso resumidas pela tabela 1.
um Clock de 1 MHz, podemos facilmente ADC como podemos constatar pela Ou seja, o Clock de entrada do con-
concluir o seguinte (ignorando a conver- figura 4. versor A/D é obtido através da seguinte
são inicial): Mas existe uma forma de configurar condição:
este “fator de divisão”, fazendo variar o
106 conteúdo do bit ADPS0, ADPS1 e ADPS2 Clock de Sistema (16 MHz)
N°amostras por segundo = = 77000 (como se pode constatar pela análise da ƒinput clock =
13 Fator de divisão (Prescaler)
figura anterior). Estes bits são parte inte-

Ou seja, estamos perante uma taxa de ADPS2 ADPS1 ADPS0 Fator de divisão
77 kHz. Analisando a taxa de amostragem 0 0 0 2
obtida, e tendo em conta o referido no 0 0 1 2
subcapítulo anterior, a frequência máxima 0 1 0 4
do sinal a amostrar deve ser menor que 0 1 1 8
38,5 kHz, de forma a respeitar o Teorema 1 0 0 16
da Amostragem. 1 0 1 32
O Arduino possui um “Clock de 1 1 0 64 T1. Combinações
sistema” de 16 MHz, no entanto, não 1 1 1 128 possíveis para
os bits.

28 I SABER ELETRÔNICA 457 I 2011

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Da equação anterior podemos retirar tasheet do respectivo microcontrolador.
Fator de Clock de entrada
facilmente, e apenas efetuando o cálcu- Na sequên-cia serão descritas quais as divisão no ADC
lo acima referido para cada condição instruções a utilizar, dando um exemplo
(Tabela 2). de implementação. 2 8
Pela análise da tabela anterior 4 4
podemos afirmar, então, que a maior Sintaxe utilizada: 8 2
frequência de amostragem que pode- • sbi(Nome do registro, Nome do 16 1
remos obter se situa nos 8 MHz, o que bit); // Define o bit “Nome do bit” 32 0,5
T2. Valores
nos leva a concluir: para haver uma situado no registro “Nome do re- 64 0,25
de Clock de
reconstrução sem perda de informação gistro” a 1 (set bit) 128 0,125 entrada no
de um possível sinal amostrado, o mes- • cbi(Nome do registro, Nome do ADC.
mo deverá ter uma frequência máxima bit); // Define o bit “Nome do bit”
de 4 MHz. situado no registro “Nome do re-
Taxa de amostragem
Depois do abordado anteriormente, gistro” a 0 (clear bit) Fator de
(kHz) (Valores
resta referir a forma de fazê-lo, indi- O código acima apresentado está elabo- divisão
aproximados)
cando a sintaxe a utilizar para alterar rado de forma a medir, na realidade, qual
os registros referidos antes. A sintaxe o tempo gasto para efetuar uma conversão 128 8
utilizada não serve especificamente para A/D. Os valores foram obtidos por medi- 64 16
alterar o conteúdo do registro ADCSRA, das experimentais, fazendo a média de 32 31
podendo a mesma sintaxe ser utilizada 1000 amostras de tempo gasto na conver- 16 50
para alterar o conteúdo de outros regis- são A/D (Valores obtidos por comunicação 8 63
T3. Valores
tros com as respectivas adaptações, é série efetuando a aquisição e cálculo com o 4 83
obtidos na
claro. Os registros disponíveis, e o seu Software MatLab). Os resultados obtidos 2 125 conversão
conteúdo e função, encontram-se no da- são apresentados na tabela 3. E A/D.

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abcdefghijklmnopqrstuvwxy
ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ

Eletrônica Aplicada
Industrial

Controle para
Automação Industrial
PLL, P, D, PID – Uma abordagem
prática sobre essas técnicas
O assunto “controle”para siste- Controle Phase-Locked muito útil nos sistemas de micro-ondas
mas automáticos, principalmente Loop (PLL) dos radares, desenvolvidos na Segunda
A primeira filosofia de controle que Guerra Mundial.
com servomecanismos, é um tanto
veremos é o PLL. Esse nome pode ser Contudo, devido ao grande número
curioso nos meios acadêmico e traduzido de várias formas, mas, “elo de estágios de um receptor super-hete-
industrial. Enquanto de um lado travado em fase”, no meu entender, é o ródino (frequências intermediárias), um
mais adequado. método mais simples era necessário. Em
vê-se cálculo integral e transfor-
1932 um time de engenheiros ingleses
madas de “Laplace”, do outro uti- Mas o que é um elo desenvolveu um novo receptor, chama-
lizam-se softwares de controle de travado em fase, afinal? do “homódino”, mais tarde renomeado
O PLL é um sistema fechado de con- “sincródino”. Basicamente, era composto
movimento e supervisórios. Mas,
trole, cujo funcionamento é baseado na de um oscilador local, um mixer, e um
afinal, qual é o ponto comum entre detecção da diferença de fases entre a sa- amplificador de áudio.
esses dois “mundos”? Quais são as ída e a entrada de dois sinais, controlados Quando o sinal recebido era mistura-
através de um oscilador. do ao sinal do oscilador local, na mesma
técnicas, a melhor tecnologia e os
Como mencionado logo na introdução fase e frequência (principal diferença com
circuitos práticos que executam es- deste artigo (e aproveitando, agora para o super-heteródino), a saída era o sinal de
ses controles? É possível tratarmos explicá-lo melhor), você não encontrará áudio pronto para ser amplificado. O úni-
muitas fórmulas e teoremas matemáticos co problema com esse método era garantir
o assunto em uma linha ideal entre
nessa matéria. Isso não significa, entre- a precisão da frequência de oscilação do
a teoria e a prática? tanto, que não os julguemos importantes, oscilador local. Erros de “drift”nesse mó-
A intenção deste artigo é res- apenas desejamos passar ao leitor uma dulo comprometiam a recepção.
visão mais prática sobre o tema , uma A solução foi mudar o oscilador tra-
ponder a essas questões e mostrar,
vez que a teórica é relativamente fácil de dicional para um oscilador controlado
no campo, como funcionam e ser obtida. por tensão (VCO). Dessa forma, as frequ-
quais são as características das Para abordarmos sobre a técnica de ências do sinal recebido e do mixer eram
PLL, acredito que “vale a pena”estudar comparadas via um detector de fase. O
principais filosofias de controle:
um pouco sobre sua história. “erro”entre elas gerava um sinal dc de
PLL, Proporcional, Integral, Deri- Antes de ser utilizada no controle correção que atuava sobre o VCO, corri-
vativo, e PID. Como sempre, com de movimento, a técnica de PLL foi (e gindo assim o erro de drift.
até hoje ainda é) muito usada nos equi- Resumindo, o PLL é composto por
propostas de soluções práticas.
pamentos de RF, principalmente em um oscilador controlado por tensão,
rádios. Na verdade, no início de 1930, cuja frequência é oriunda de um sinal
o rádio super-heteródino dominava o DC de controle, gerado a partir da dife-
Alexandre Capelli mercado. A própria RCA (Radio Corpora- rença de fase entre o sinal recebido e o
tion of America) monopolizava o mercado próprio oscilador local. Caso ambos os
deste tipo de equipamento que já ultra- sinais estejam em perfeito sincronismo,
passa o ambiente residencial. A técnica a tensão de correção (controle) DC de-
do super-heteródino, por exemplo, foi verá ser nula.

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Curiosamente, o primeiro artigo Essa tensão controlará o oscilador
escrito de que se tem registro a respeito VCO, de modo a manter a frequência de
dos princípios de PLL foi de autoria do entrada igual a de saída (fe = fo), porém,
francês H. de Bellescise, em “La Réception com uma defasagem fixa entre ambas.
Synchrone”. A figura 2 mostra um exemplo típico
Algum tempo depois, em meados de de defasagem de 90 °, onde, nessa condi-
1940, o PLL começou a equipar circuitos ção o circuito fica estável, sincronizado e
dos osciladores verticais de TV, chamados travado em fase. Em outras palavras, o PLL
de “Synchro-Lock”. mantém as frequências de entrada e saída
A partir daí a tecnologia PLL foi esten- iguais às custas de uma defasagem fixa.
dida para outras áreas, tais como: satélites, É bom lembrar, entretanto, que a capa-
decodificadores FSK, controle de motores, cidade de manter a estabilidade é limitada
robótica, e receptores AM e FM. segundo uma faixa de variação de frequ- F1. Diagrama de um
Embora o foco deste artigo seja o ência do sinal de entrada. Esse parâmetro PLL básico.
controle de motores e servomecanismos, é é conhecido como “lock range”, e a figura
nos receptores de rádio que podemos con- 3 exibe um exemplo de comportamento
templar bem esta evolução. Quem mora do PLL, segundo Vc em função de fe.
na cidade de São Paulo, por exemplo, e
tem mais de trinta anos de idade, já deve Comportamento Dinâmico
ter notado a diferença de performance O circuito PLL tem, por excelência,
dos rádios automotivos atuais quando se um comportamento dinâmico. Para cada
transita pela Avenida Paulista. variação de frequência do sinal de entra-
Considerado um dos locais mais po- da, uma resposta imediata da tensão de
luídos com interferências eletromagnéti- controle para o oscilador ocorre. É fato,
cas no mundo, devido a maciça presença contudo, que o sinal de entrada pode ter
de antenas transmissoras (TVs, rádios, sua frequência invariável (fixa).
serviços, telefonia, etc.), não permitia Alguns autores dizem que, nessa situ-
o funcionamento de nenhum rádio por ação, o comportamento do PLL é estático,
mais de 10 m de trajeto. Nem mesmo o e apenas quando variações sucessivas de
famoso “road-star”conseguia um bom fe acontecem é que ele pode ser conside-
resultado. O jeito era desligar o rádio rado dinâmico.
(ou colocar uma fita cassete) até sair do Particularmente, prefiro dizer que,
perímetro próximo a região. Hoje, porém, quando temos fe fixa, o PLL é “menos
um rádio (“normalmente também equi- dinâmico”(se é que isso existe!) do que
pado com CD”) opera sem interferências quando fe varia significativamente.
do lado do prédio da Gazeta! Como? A preocupação com isto não é em vão,
Com o PLL. porém. Através da figura 4 podemos notar
o comportamento do PLL sob variações
Como funciona o PLL? severas de fe. Como os circuitos não são F2. Exemplo típico de
A figura 1 ilustra o diagrama de um perfeitos, atrasos e defasamentos são defasagem de 90°.
PLL básico, onde temos: um detector de introduzidos à resposta do circuito em
fase, um filtro passabaixa, e um oscilador variações muito rápidas. Com certeza, este
controlado por tensão. Sendo: é um fator a se considerar na utilização
• Ve = sinal de entrada desta técnica.
• Vd = sinal de detector de fase para
o filtro Construindo um PLL
• Vc = tensão de controle DC para Construindo separadamente cada
o VCO bloco e, depois, interligando-os.
• Vo = sinal de retorno (saída) O bloco detector de fase pode ser
Temos que, na ausência de sinal de construído com uma simples porta “OU”-
entrada Ve, a tensão Vc é zero, e o VCO exclusivo. O filtro pode ser feito com um
oscila na frequência central fo . Caso a fre- circuito RC. Os dois blocos já unidos são
quência do sinal de entrada (fe) varie, uma mostrados na figura 5.
tensão Vd surgirá na saída do detector de Quanto ao VCO, conforme ilustra a fi-
fase e, após filtrada, se transformará em gura 6, é montagem com um FET cujo gate
uma tensão de controle Vc. é excitado por uma rede de deslocamento F3. Comportamento
do PLL.

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Eletrônica Aplicada
Industrial
de fase. Notem que um dos capacitores é
um varicap, que muda sua capacitância
segundo a tensão a qual está submetido.
Alterando sua capacitância, automatica-
mente, a frequência de operação do VCO
muda na mesma proporção. Estrategi-
camente, a tensão de controle é alocada
exatamente sobre o varicap.

Não há um modo
mais simples?
Sim, utilizando circuitos integrados
projetados para essa função. A figura 7
nos traz dois exemplos da National, o LM
565 em encapsulamentos “metal can”e
“dual-in-line”. Outros tipos famosos são:
NE560 a NE567 (Signetics), MC 4046 (Mo-
torola) e NTE 989 (NTE Electronics).

Acionamento CA com PLL


A figura 8 exibe a estrutura básica de
um acionamento do motor elétrico CA
trifásico, cujo princípio de funcionamento
baseia-se em PLL. A vantagem deste tipo
de equipamento sobre um acionamento
convencional é uma maior estabilidade
do torque mediante uma variação abrupta
na carga.
A etapa de potência do dispositivo é
feita por um conversor tipo Buck, excitado
por PWM. A corrente do motor é moni-
torada por TCs (transformadores de cor-
rente) e configuram “uma”das entradas
do módulo PLL. A outra entrada é o sinal
do encoder que, nesse sistema, informa a
velocidade de rotação.
F4. Comportamento Podemos analisar o comportamento
dinâmico. dinâmico desta técnica através da figura 9.

F5. Detector F6. Oscilador controlado


de fase. por tensão (VCO).

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Observem que a posição rotórica
tende a permanecer constante segundo a
variação de carga. Tendo como ponto de
partida a situação “a”, onde o motor está
sob regime constante de carga, notamos
a curva “L”ao centro do gráfico. Quando
reduzimos a carga repentinamente (si-
tuação “b”), a corrente de fase também
diminui.
Isso acontece devido a resposta do
circuito PLL, que atua sob o circuito PWM.
Este último controla a potência sobre o
conversor Buck.
Por outro lado, quando a carga é acres-
cida em um intervalo de tempo pequeno,
a corrente aumenta, causando o efeito
contrário.
É fácil visualizar que o deslocamento
para a direita da posição rotórica (situa-
ção b), e para a esquerda (situação c) não
foram significativos. Em outras palavras,
mesmo após variação da carga, o torque F7. LM565H ou
tendeu a se manter constante. LM565CH.
Quanto mais rápido for o circuito PLL,
tanto menor será a variação do torque.
Esse tipo de acionamento é muito
utilizado em servomotores que atuam
no movimento do eixo (máquinas-fer-
ramenta, por exemplo), ou em sistemas
onde a precisão de velocidade de rotação
é necessária sem, contudo, exigir um
sistema vetorial.
Mais adiante mostraremos um quadro
comparativo entre essa filosofia de contro-
le e as demais.

Controle ON-OFF
Outro método de controle, mais sim-
ples que o PLL, é o tipo “on-off”. Devido F8. Acionamento do motor
a sua simplicidade as variações são mais elétrico CA trifásico.
bruscas, e a ação menos precisa. Porém,
há casos em que ele é suficiente para um
bom resultado.
O que o leitor deve ter em mente é a
estrutura básica de um sistema de con-
trole. Não importa qual tipo de ação esse
controle exerça, essa estrutura é sempre a
mesma. A figura 10 ilustra o diagrama de
blocos básico. Três são os parâmetros que
comandam o processo:
• Valor desejado – set point (SP)
• Valor real (PV)
• Algoritmo de controle.
A ideia básica é simples, o controlador
compara o valor desejado (SP) com o valor
do processo (PV) e, através do algoritmo de F9. Comportamento dinâmico
do acionamento CA com PLL.

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Eletrônica Aplicada
Industrial

F10. Diagrama de blocos F11. Sistema de controle


do controle ON - OFF. ON - OFF.

controle, faz as devidas correções a fim de


“PV”aproximar-se ao máximo de “SP”.
O PLL, on-off, ação proporcional,
entre outros, portanto, são os algoritmos
de controle. Cada qual com sua filosofia
de executar a correção.
A figura 11 apresenta um esquema
básico de controle on-off. Uma “cuba”tem
sua temperatura controlada por meio de
um resistor de aquecimento e um ter-
mistor. Programado determinado valor,
ou melhor faixa de valores, assim que a
temperatura atinge o set-point, o relé é F12. Resposta do controle
desligado. proporcional.
Uma vez que ela decaia, o relé ativa o
resistor novamente. Esse controle é muito
comum nos equipamentos de refrigeração
residenciais e industriais.
A principal vantagem do “on-off”é sua
simplicidade, e sua desvantagem é a falta
de precisão e linearidade.

Controle Proporcional
Nem sempre é possível controlar um
sistema através do on-off, entretanto. Mui-
tas vezes, necessitamos de uma ação mais
suave. Uma filosofia do controle deste tipo
é a proporcional. F13. Controle
Sua ação pode ser vista na figura 12. proporcional.
Assim como no on-off, também há um
momento de desligamento total, ou acio- operação varia de 50 °C a 550 °C. Já o raio lado, no intervalo, sua ação é linear (suave)
namento total, mas, nesse caso, há uma de ação do controlador limita-se à faixa de até atingir a temperatura de 450 °C. Neste
curva entre os extremos. 150 °C a 450 °C, então, entre os extremos ponto, o controle desligará o TRIAC.
Se fôssemos utilizar o mesmo exemplo ligado e desligado existe uma região sem A porcentagem de “ação ativa”neste
da “cuba”teríamos de substituir o relé por controle proporcional. caso pode ser determinada através dos
um TRIAC e, ao invés de simplesmente O ponto central é 300 °C, com uma valores limites. Ou seja, o “range”de
ligá-lo (ON) ou desligá-lo (OFF), contro- faixa de atuação de ± 150 °C. controle proporcional é 300 °C (450 °C
laríamos seu ângulo de disparo. Caso a temperatura caia abaixo dos 150 –°C). Dividindo esse valor pela variação
Ainda com base na curva, podemos °C, o “TRIAC”entrará em plena condução de temperatura total do processo 500 °C
ver no exemplo que a temperatura de (ângulo de disparo próximo a 0°). Por outro (550 °C –°C), teremos 300/500 = 60 %.

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F14. Erro de F15. Circuito F16. Resposta
off-set. integrador. do controle.

Outra maneira de explicarmos o com-


portamento desse controlador é através
do seu ganho (A), que é a relação entre
a porcentagem de variação do elemento
controlador pela variação proporcional da
grandeza. Assim temos:

100
Faixa proporcional =
ganho

No exemplo, o ganho é:

100% (total do processo)


60% (range de controlador)

E como construir o circuito


de controle proporcional?
Através de um circuito de diferença F17. Controle
e um amplificador linear. A figura 13 PI.
mostra o modo clássico utilizando dois
amplificadores operacionais. O primeiro
deles faz a diferença entre o valor real
e o desejado, que, então, é amplificada
pelo segundo A.O. Embora não esteja na
figura, o sistema é fechado, isto é, o sinal
do termistor informa o valor real (PV)
através da entrada inversora do primeiro
operacional.
Os valores dos resistores serão anali-
sados mais adiante, através da tabela de
ajustes e ganho.

Controle Integral
Outro conceito importante quando
estudamos controle é o erro de “off-set”.
O erro de “off-set”é uma característica
intrínseca a qualquer ação de controle de
variáveis. F18. Circuito F19. Resposta
derivativo. do controle.

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Eletrônica Aplicada
Industrial
Em termos práticos quando uma gran- (SP), mas sim ligeiramente fora dele. Isto proporcional ao ganho, pois os sinais são
deza (temperatura, rotação de um motor, ocorre porque a malha de controle (ampli- sempre tratados pelas entradas inversoras.
etc) varia, a resposta do circuito não se es- ficadores operacionais, por exemplo) possui Desta forma, quanto maior o ganho, menor
tabiliza no exato valor desejado do set point um ganho. O erro de off-set é inversamente o erro e vice-versa. Figura 14.

Então, basta um circuito com


ganho quase infinito, para o
erro ser quase zero, certo?
Teoricamente sim, mas na prática,
quando aumentamos o ganho, o sistema
começa a oscilar e perde estabilidade. Esse
parâmetro, portanto, deve ser ajustado de
modo a prover o menor erro segundo a
melhor estabilidade.
No controle proporcional isto é feito ma-
nualmente, mas há sistemas que exigem uma
correção de off-set automática e, mais do que
isso, dinâmica. Para esses casos, utilizamos
uma ação conjunta entre o controle propor-
cional e a ação integral, o chamado controle
PI. Eletronicamente, o circuito de ação inte-
gral é o próprio integrador (figura 15).
Através da figura 16 podemos contem-
plar as diferentes respostas das ações pro-
porcional, integral e proporcional/integral
F20. Ação segundo a variação de uma grandeza.
PD. O circuito completo de um controlador
PI pode ser visto na figura 17, onde nota-
mos que apenas um somador une as ações
proporcional e integral.

Controle Derivativo
A principal característica do controle
derivativo é a correção proporcional à
velocidade com que o desvio aumenta.
Caso haja uma ação conjunta entre o
proporcional e o derivativo, teremos uma
correção antecipada a um desvio que ainda
não aconteceu. Isto também é chamado de
“supercorreção”.
Eletronicamente, a ação derivativa pode
ser implementada através de um simples
circuito derivativo (figura 18).
Na figura 19 observamos as diferentes
respostas entre as ações P, D, e PD segundo
a alteração de uma grandeza. Notem que há
uma reposta mais rápida em relação a PI.
Um controlador PD pode ser construí-
do conforme o circuito da figura 20. Neste
caso também um somador articula as ações
proporcional e derivativa.

Controle PID
Há ainda uma outra necessidade de
controle, onde processos com “tempo
F21. Con- morto”(da ordem de dois minutos) são
trole PID.

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elevados. “Tempo morto”significa que
a faixa proporcional a ser estabilizada é
muito ampla e torna-se necessário um
tempo de ajuste grande para evitar-se
oscilações.
Os controles PI e PD não apresentam
bons resultados nesses casos. A solução,
portanto, é o circuito PID (proporcional/
integral/derivativo) e que pode ser visto
na figura 21. Assim como nos demais, uma
etapa somadora articula as ações.
O melhor ponto de operação (otimi- F22. Calmento de 1/4 sintonia F23. A oscilação fica constante
zação) para o controle PID ocorre quando de Ziegler-Nichols. em amplitude e período.
temos um caimento de ¼ no tempo de
ajuste segundo a variação da grandeza obtemos, aproximadamente, uma razão e desvantagens de cada uma, servindo
(figura 22). de caimento de ¼. como guia ao técnico ou engenheiro de
aplicação.
Mas como posso determinar Tenho que, efetivamente,
os ganhos, e, consequente- fazer todos esses passos para Conclusão
mente os resitores dessas otimizar meu controle? Não A teoria, regras práticas e demais
malhas de controle? há um modo mais simples e conceitos tratados nesta matéria, são
O método de ajuste de controle em objetivo? válidos tanto para processos da ma-
malhas fechadas mais conhecido e utili- Ziegler e Nichols descobriram que as nufatura quanto contínuos. O circuito
zado até hoje, foi desenvolvido em 1942 equações mostradas na tabela 1 fornecem de controle PID, por exemplo, é o
por J. G. Ziegler e N. B. Nichols, quando bons resultados para controle em malha mesmo para acionar um servomotor
trabalhava na empresa americana “Taylor fechada. Basta, então, cumprir os respec- de um eixo robótico, ou um TRIAC
Instrument Company”, na cidade de tivos ganhos. para “resistência”de aquecimento de
Rochester, Nova Iorque. Esse método, um forno.
apesar de antigo, é o mais empregado por Supondo que eu queira con- Em breve, analisaremos outros sis-
instrumentistas e na área de controle de trolar motores através dos temas, tais como V –I e EMF.
processo, tanto nos discretos (manufatu- sistemas em malha fechada, Esperamos, porém, ter desmis-
ra), como nos contínuos. como posso saber qual é a tificado as famosas “funções de
O método consiste em determinar um melhor filosofia segundo transferência”abordadas com tanta
ganho, chamado de ganho crítico (Gu), minha necessidade? ênfase em teoria de controle, e mostrar
e um período designado como período A tabela 2 abaixo deve proporcio- um pouco sobre a aplicação real em
crítico (Pu). Para isso, deve-se seguir nar uma comparação entre vantagens campo. E
alguns passos.
• Tira-se a ação integral e a derivativa Ganho proporcional Tempo Integral Tempo Derivativo
do controlador, deixando apenas a Controle (P) Gu/2
proporcional. Controle (PI) Gu/2,2 1,2 Pu
• Mantém-se o controlador em modo Controle (PID) Gu/1,7 2/Pu Pu/8 T1. Equações para
automático em malha fechada. o controle
• Ajusta-se o ganho do controlador
em um nível baixo a fim de se evitar Controle
oscilações no sistema. P PI PID PLL
• Aumenta-se o ganho, passo a passo, Alta O
até que a oscilação fique constante Precisão Média O O
em amplitude e período, como é
Baixa O
ilustrado na figura 23.
Com base no ganho crítico e no período Alta O O
Velocidade
crítico, os ajustes do controlador são calcu- Baixa O
lados para um ideal do controlador. Boa performance em baixa rotação O O
Ziegler e Nichols observaram que em Alto O
um controlador proporcional o ganho
Custo Médio O
ideal é a metade do ganho crítico, isto
Baixo O O
é: Ganho (A) = Gu/2, com esse ganho T2. Comparativo para
diversos controles.

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abcdefghijklmnopqrstuvwxy
ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ

Eletrônica Aplicada
Energia

Reduzindo a EMI
com componentes magnéticos
Newton C. Braga

E
Técnicas de layout e de distri- m artigo anterior, nesta mesma Revis- tanto como elementos de filtros quanto
ta, mostramos como os procedimen- no armazenamento de energia, conforme
buição de componentes em uma tos apropriados de disposição de tri- mostra a figura 1.
placa podem reduzir em muita lhas, componentes e circuitos numa Quando o problema é interferência
a EMI gerada por circuitos. No placa de circuito impresso podem ajudar a irradiada, os indutores mais eficientes são
reduzir de forma acentuada os problemas de os do tipo toroidal, veja a figura 2.
entanto, quando mesmo essas EMI (Interferência Eletromagnética). Uma característica importante deste
técnicas não reduzem a EMI aos No entanto, nem sempre é possível tipo de componente é que, pela sua cons-
níveis desejados, componentes reduzir os problemas aos níveis aceitáveis trução ele é menos sensível à interferência
somente com esses procedimentos, caso que pode ser induzida pela presença
apropriados deverão ser usa- em que componentes adicionais deverão de componentes próximos. De fato, se
dos. Uma família importante ser empregados. Em especial destacam- houver indução, o toroide faz com que
de componentes empregados se os componentes indutivos, ou seja, as tensões induzidas tenham a mesma
aqueles baseados em bobinas e núcleos intensidade, mas fases opostas, cancelan-
na redução da EMI é aquela de ferrite que, pelas suas propriedades, do-se, portanto.
representada pelos tipos que podem cortar ou desviar sinais de fre-
se baseiam no magnetismo, ou quências que não devam ser irradiadas Choques em modo
ou não devam passar para uma linha de comum e diferencial
seja, pelos componentes induti- alimentação. Os choques em modo comum e dife-
vos ou magnéticos.Neste artigo Os componentes indutivos usados rencias são empregados para eliminar ru-
trataremos de alguns desses com a finalidade de se reduzir a EMI po- ídos que se propagam através de um par
dem ser classificados em quatro grandes de condutores. Ruído em modo comum,
componentes, baseados em grupos de que trataremos a seguir. conforme já vimos em artigo publicado
ampla documentação do ca- nesta revista, é aquele que aparece nos
tálogo de Indutores e Produtos Inutores dois condutores de uma linha, conforme
Dos componentes indutivos, os cho- ilustra a figura 3.
Magnéticos da Vishay ques ou indutores são os mais utilizados. Os choques para rejeição de sinais
Esses componentes podem ser usados em modo comum devem ser colocados

F1. Uso de choques F2. Indutor do


ou indutores. tipo toroidal.

38 I SABER ELETRÔNICA 457 I 2011

SE455_EMI.indd 38 14/12/2011 12:18:52


os mais próximos quanto seja possível
tanto do receptor quanto do transmissor.
Também podem ser colocados na entra-
da de sinal na própria placa de circuito
impresso.
Escolhendo um choque apropriado,
é possível, inclusive, fazer o casamento
de impedâncias entre a linha de sinal e F4. Uso de trans-
formadores.
o circuito.

Trasnformadores
Os transformadores têm como prin-
cipal vantagem nos circuitos onde são
usados o fato de proporcionarem isola-
mento entre a linha de sinal e o circuito F3. Choques em modo
de processamento desse sinal, conforme comum e diferencial.
sugere a figura 4.
Outra vantagem está na eliminação
das diferenças entre os potenciais de terra
que poderão existir entre o circuito trans-
missor e o circuito receptor do sinal.
Um ponto importante em que a imu-
nidade ao ruído se faz necessária, são os
circuitos de excitação de tiristores.
F5. Anéis e chips
Além de proporcionar um isolamento F6. Filtros
de ferrite.
entre o circuito de potência e o circuito de LC e LCR.
controle, normalmente baseado em lógica
com microcontroladores ou microproces- Como selecionar compo- componentes indutivos de alta impedân-
sadores, quando operando com pulsos, nentes para evitar EMI cia são os recomendados. Alguns cuida-
ele proverá uma imunidade muito maior Antes de escolher quais componentes dos são necessários para o projeto:
para componentes como IGBTs, dada suas usar e de que forma, é preciso identificar • Os componentes que reduzem EMI
capacitâncias algo elevadas de entrada. os locais do circuito onde o ruído deve ser devem ser colocados o mais próxi-
eliminado. Existem áreas dos circuitos que mo possível das fontes de ruído.
Ferrite beads podem atuar como antenas irradiando os • Os componentes devem ser esco-
Os anéis de ferrite para montagem em ruídos, assim como outras áreas que podem lhidos de tal forma a casar sua im-
superfície (SMD) ou chips de ferrite, como atuar como antenas recebendo os ruídos. pedância com a linha de condução
também são chamados, são usados para Então, o projetista deve fazer um em que eles forem colocados.
eliminar a RF que pode estar presente em estudo do melhor local para posicionar o • O componente selecionado deve ser
linhas de sinais ou alimentação de placas componente que irá eliminar um possível dimensionado apenas para reduzir
de circuito impresso, observe a figura 5. sinal que esteja sendo transmitido ou cap- nos níveis desejados os ruídos.
Os anéis de ferrite na forma de chips tado indevidamente. Nos circuitos onde
SMD se comportam como dispositivos de uma pequena atenuação é desejada, os Conclusão
alta impedância para os sinais de RF, mas componentes indutivos apenas já podem Os componentes indutivos ou mag-
apresentam uma baixíssima resistência proporcionar os resultados desejados. néticos podem ajudar muito na redução
para a corrente contínua e sinais de baixas No entanto, nos circuitos mais com- dos problemas com a EMI. Porém, como
frequências. plexos de alta velocidade, poderá ser ne- existem diversos tipos com características
Esses componentes são especificados cessário combinar componente indutivos que se adaptam à diferentes aplicações, é
normalmente para a impedância que com capacitivos, formando assim filtros. preciso saber escolher o tipo ideal
apresentam em uma frequência de 100 Filtros LC e LCR, veja a figura 6, devem Lembramos que a inclusão de novos
MHz. Assim, dependendo da aplicação, ser considerados. componentes em um circuito implica não
será necessário que o projetista analise Um ponto importante a ser conside- só no aumento de custos como também
os gráficos de comportamento dos com- rado na escolha dos componentes para o na necessidade de um espaço maior, o
ponentes visados para verificar como filtro é a estabilidade do terra do circuito. que nem sempre é algo que se permite
eles se comportam na frequência dos Para os sistemas estáveis, os componentes num projeto. Os limites para a inclusão
sinais que devem passar ou que devem capacitivos já podem levar aos resultados de novos projetos e o aumento de custos
ser rejeitados. esperados. Todavia, para terras instáveis, são sempre muito estreitos. E

2011 I SABER ELETRÔNICA 457 I 39

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Instrumentação

Curso sobre o
Osciloscópio Parte
2

Dando continuidade ao estudo do Osciloscópio,


abordamos nesta segunda parte do curso o “osci-
loscópio digital”

Eng. Filipe Pereira

Osciloscópio Digital mede a amplitude do sinal em tempos iguais.


Um osciloscópio digital tem etapas Para levar a cabo esta amostra, sem erros
parecidas com as de um osciloscópio analó- de medida, é necessário que os pulsos de
gico, embora funcione de forma totalmente amostra tenham uma frequência extrema-
diferente (como mostra a figura 1). mente estável. Consegue-se isso com um
Em primeiro lugar, e à semelhança do oscilador a cristal, que é disparado quando
osciloscópio analógico, tem-se uma etapa recebe o pulso do início de exploração do
atenuadora e um pré-amplificador verti- circuito de disparo.
cal que amplifica o nível de sinal ao valor Observe-se no diagrama de blocos que
adequado para as etapas seguintes. o oscilador a cristal aplica também os seus
Do pré-amplificador vertical, o sinal pulsos retangulares a um conversor digital/
deriva em direção a dois circuitos: por um analógico (D/A). Este conversor é necessário,
lado, aplica-se ao comparador que faz parte já que para a varredura horizontal do spot
do circuito de disparo, mediante o qual necessitamos de uma tensão em dente de
selecionaremos o instante do sinal que serra, e o oscilador a cristal gera apenas
dará lugar à varredura horizontal do spot pulsos retangulares. Com o conversor D/A
na tela. Por outro, aplica-se a um conversor obtemos uma tensão em dente de serra
analógico / digital (A/D), no qual cada am- muito estável e linear, válida para aplicar
plitude instantânea do sinal que se visualiza às placas de deflexão horizontal do tubo
é convertida num código binário. de raios catódicos previamente amplifica-
Para esta conversão é necessária uma das ao valor adequado pelo amplificador
amostra do sinal; isso quer dizer que se horizontal.

40 I SABER ELETRÔNICA 457 I 2011


Prossigamos o percurso do sinal em dire-
ção às placas de deflexão vertical do tubo.
Frisamos que o sinal analógico foi
convertido em pulsos binários à saída do
conversor A/D. Assim pois, a partir deste
ponto, o sinal pode ser tratado como qual-
quer sinal digital e guardá-lo num circuito
de memória. Do circuito de memória o
sinal pode tomar dois caminhos: um para
o conversor D/A onde se converte de novo
numa onda analógica de forma igual à
original.
O outro caminho para o sinal digital é
em direção a um microprocessador (µP).
O µP permite efetuar medidas automá-
ticas dos parâmetros do sinal, tais como
intervalos de tempo, tempos de subida e de
descida, amplitude, frequência e visualizar
F1. Diagrama de blocos de um osciloscópio digital.
estes dados na própria tela mediante caracte-
res alfanuméricos (osciloscópios Read - Out)
ou enviá-los para uma impressora.

Amostragem do sinal nos


osciloscópios digitais
O conversor analógico - digital é a etapa
chave do funcionamento dos osciloscópios
digitais e tem por função transformar o sinal
analógico numa série de pulsos elétricos.
Para que a amostra do sinal seja correta
e se apresente na tela um sinal que corres-
ponde ao real, a amostra deve realizar-se,
pelo menos, a uma frequência dupla da
maior harmônica do sinal (figura 2).
a) Onda senoidal que se pretende
amostrar (figura 2a);
b) Pontos de amostragem. Na amos-
tra da onda (figura 2b) observa-se
que, desde que se inicia o ciclo F2. Amostragem do sinal no osciloscópio digital.
até que volte a passar pelo mes-
mo ponto, efetuaram-se quatro
amostras, e com elas obteremos informação que obtemos e mais próximo número praticamente infinito de harmônicas
um total de quatro valores ou estaremos da forma de onda do sinal, pelo desta onda fundamental, tal como se mostra
amplitudes para codificar; que poderemos reproduzi-la com a máxima graficamente na figura 3.
c) Pulsos obtidos como consequência fidelidade (figura 2d). A velocidade de representação nos
dessa amostragem. Estes pulsos Como a frequência da amostragem está osciloscópios digitais é lenta, já que é a
de diferentes amplitudes, serão limitada tecnologicamente, para aumentar soma de vários tempos: de quantificação,
os que se codificam de imediato o número de amostras por período deve de voltar à memória, de processamento
em binário (figura 2c). reduzir-se o limite da largura de banda do do sinal e de conversão do digital a ana-
Se levarmos a cabo uma amostragem aparelho, com o fim de, pelo menos, poderem lógico.
a uma frequência maior, por exemplo efetuar-se duas amostras por período.
triplicando a frequência do oscilador de O problema complica-se perante a pre- Medida de Frequências
cristal, obteremos uma série de valores sença de harmônicas do sinal de entrada. Para medir a frequência de um sinal
cujo conjunto se aproxima mais da forma Um caso típico é o de uma onda retangular com o osciloscópio pode-se proceder das
de onda original. ou quadrada. seguintes maneiras:
Disto se deduz que, quanto maior for a Toda a onda retangular é formada por • Com a base de tempo calibrada;
frequência da amostragem, melhor será a uma onda senoidal de igual frequência e um • Por meio das figuras de Lissajous.

2011 I SABER ELETRÔNICA 457 I 41


Instrumentação

Onda Fun-
damental
f= 100 MHz

2ª harmô- F4. Variando-se a frequência do gerador


nica para obter uma circunferência ou elipse
f= 200 MHz na tela.

3ª harmô-
nica
f= 300 MHz

4ª harmô-
nica F5. A frequência desconhecida é diferen-
f= 400 MHz te das proporcionadas pelo gerador.

F3. Onda senoidal (100 MHz) e três har-


mônicas em 200; 300 e 400 MHz. Observando a imagem na tela, é possível
deduzir a relação de frequências entre os
dois sinais aplicados.
Com a base de Por meio das figuras Na figura 6 mostram-se exemplos.
tempo calibrada de Lissajous Para obter o valor da frequência desco-
Este método é o mais simples. Consiste Pressionar o botão XY (que desliga a base nhecida, basta contar o número de vezes que
simplesmente em aplicar o sinal a uma de tempo) e aplicar o sinal de frequência o traço cruza o eixo de simetria horizontal
entrada vertical e ajustar o varredura até se desconhecida às placas de deflexão vertical da tela, e dividi-lo pelo número de vezes
obter na tela um ou mais ciclos do sinal. do osciloscópio. A seguir, aplica-se o sinal de que cruza o eixo de simetria vertical dela.
Obs.: O número de ciclos que aparece na um gerador de sinais às placas de deflexão O quociente é multiplicado pela frequência
tela é o que corresponde ao número de vezes horizontal do osciloscópio. conhecida proporcionada pelo gerador de
que a frequência do sinal é superior à frequ- Efetuadas estas operações, faz-se variar a sinais, obtendo-se o valor da frequência
ência de varredura.o. Se ambas as frequências frequência do gerador de sinais até se obter desconhecida.
são iguais, obtém-se um só ciclo. Se não se uma circunferência ou uma elipse na tela.
fx = fg nh/nv
consegue obter um só ciclo na tela é porque Quando isso se consegue indica-nos
a frequência de varredura não alcança o alto que a frequência desconhecida do sinal é onde:
valor da frequência do sinal. a mesma que a do gerador de sinais, se os fx é a frequência desconhecida;
Contando o número de divisões de dois sinais aplicados são senoidais. fg é a frequência proporcionada pelo
um ciclo do sinal e multiplicando-o pela Se, com a gama de frequências do gera- gerador de sinais;
velocidade de varredura da base de tempo dor de sinais não se conseguir a citada cir- nh é o número de vezes que o traço cruza
(s/div., ms/ div., s/ div.) obtemos o Período (T), cunferência ou elipse é porque a frequência o eixo de simetria horizontal da tela;
fazendo o seu inverso obtemos a frequência desconhecida é distinta das proporcionadas nv é o número de vezes que o traço cruza
do sinal (f = 1/T). pelo gerador de sinais (figura 5). o eixo de simetria vertical da tela.

42 I SABER ELETRÔNICA 457 I 2011


F6. Sistema de pós-aceleração
com tensão muito elevada.

F7. Medida de defasagens com


a base de tempo calibrada.

Por meio das figuras Fazem-no à frequência


de Lissajous em
necessária para repre-
Tendo em conta que os sinais aplicados tempo
sentar corretamente
num único ciclo de
ao osciloscópio são da mesma frequência, real.
amostragem o sinal de
na tela aparecerão círculos ou elipses com entrada.
diferentes graus de excentricidade. A excen-
tricidade da elipse na tela determina a defa-
Usam amostras do
sagem entre os dois sinais analisados. sinal em diferentes
Na figura 8, mostram-se algumas Oscilos- pontos, em cada ciclo de
imagens, nas quais se indicam os seus cópios amostragem. Posterior-
digitais mente, reconstituem em
defasamentos. O osciloscópio no modo XY, em memória um ciclo com
permite-nos determinar rapidamente o des- tempo todas as amostras.
fasamento existente entre dois sinais. equi- Este tipo de amostra-
valen- gem tem o inconvenien-
te. te de que só é utilizável
Aplicação simultânea de duas com sinais periódicos,
tensões alternadas senoidais da mas oferece a vanta-
gem de aumentar a
mesma frequência e em fase largura de banda do
A imagem que surge na tela é um traço aparelho.
oblíquo da direita para a esquerda e cuja

2011 I SABER ELETRÔNICA 457 I 43


Instrumentação

F9. Aplicação de duas tensões senoidais


de mesma frequência e em fase.

F8. Medida de defasagens através


das figuras de Lissajous.

inclinação depende da relação entre as


amplitudes das tensões.

Aplicação simultânea de
duas tensões alternadas
senoidais da mesma frequência
defasadas de 1/4 de ciclo
A imagem resultante é uma circun-
ferência se as tensões forem da mesma
amplitude. Sendo de amplitudes diferentes,
a figura é uma elipse de eixo maior vertical
ou horizontal conforme a tensão de maior
amplitude for aplicada às placas verticais F10. Duas tensões senoidais de mesma
ou horizontais (figura 10). frequência e defasadas de 1/4 ciclo.

Aplicação simultânea de
duas tensões alternadas
senoidais da mesma frequência
defasadas de 1/2 ciclo
Neste caso a figura que surge na tela é
um traço oblíquo da esquerda para a direita,
com uma inclinação de 45° se as tensões
forem da mesma amplitude. Se forem de
amplitudes diferentes, a inclinação poderá
tomar valores entre 0° e 90° (figura 11). E

F11. Duas tensões senoidais de mesma


frequência e defasadas de 1/2 ciclo.

44 I SABER ELETRÔNICA 457 I 2011


Medidas em
RF Digital
P
Neste artigo, baseado em ara se garantir que um sistema de Hz. Na figura 1 damos um exemplo de
material da Agilent Technolo- telecomunicações funcione perfei- como a energia se distribui numa medida
tamente, livre de interferências, deste tipo.
gies, trataremos um pouco das ruídos, desvios de fase, tempori- Uma outra medida realizada nos sistemas
medidas feitas nos circuitos de zação e muito mais, é necessário realizar digitais é a da potência no canal adjacente.
RF digital. a medida precisa de diversos parâmetros. Ela permite verificar o nível de interferência
Essas medidas incluem a análise do circuito que afeta os usuários de canais adjacentes.
Newton C. Braga modulador e do circuito demodulador, ca- Além disso, testa a quantidade de energia de
racterização do sinal transmitido, etc. um sinal de RF modulado digitalmente que
O uso do osciloscópio nas medidas de se espalha pelos canais próximos.
RFdigital não é tão simples como acontece O resultado desta medida é a relação
na maioria dos circuitos analógicos, tanto (em dB) da medida no canal adjacente com a
de alta quanto de baixa frequência. O modo potência total transmitida, conforme ilustra
como os sinais são gerados e a própria a figura 2.
modulação exigem técnicas especiais para Para sistemas pulsantes como o TDMA,
a medida, e a interpretação dos parâmetros as medidas de potência possuem também
deve ser feita com pleno conhecimento de uma componente de tempo que deve ser
seu significado. levada em conta. Os tempos de “burst”
Assim, as medidas em RF digital nor- devem ser considerados quando o circuito
malmente são divididas em quatro catego- liga e desliga. Neste caso, pode ser feita uma
rias: potência, frequência, temporização e média da média do tempo em que os ciclos
precisão de modulação, as quais passamos de sinal estão presentes.
a analisar a seguir.
Frequência
Potência As medidas de frequência são tam-
As medidas de potência realmente estão bém complexas nos sistemas digitais de
relacionadas com a potência da portadora, o comunicações. Nestes sistemas, a faixa
ganho dos circuitos amplificadores e as perdas ocupada é uma medida importante a ser
introduzidas nos circuitos atenuadores. feita, pois ela permite verificar se a faixa
Os circuitos usados nos sistemas destinada à comunicação está sendo usada
modulados digitalmente têm as mesmas corretamente.
características dos ruídos. Eles se espalham A medida da faixa ocupada (BW =
por uma certa banda de frequências, tendo bandwidth, ou largura de faixa) mede como
que ser feita uma integração numa certa o espectro de frequências é ocupado pelo
faixa, ou ainda devem ser tomadas medidas sinal, observe a figura 3.
de densidade espectral (PSD). Esta faixa é medida em Hz e a potência
As medidas de potência têm geralmente envolvida nela é especificada por uma por-
a faixa normatizada em uma largura de 1 centagem. Por exemplo, um sinal coloca: 99%

2011 I SABER ELETRÔNICA 457 I 45


Instrumentação

da potência na faixa analisada. Uma forma


de expressar o resultado desta medida seria
“99% da potência do sinal está contida numa
faixa cuja largura é 30 kHz”.
As larguras de faixa encontradas nos
sistemas variam bastante, dependendo de
diversos fatores. Temos, por exemplo, 30 kHz
para os sinais NADC/DQPSK e 350 kHz para
os sinais GSM, e GSMK.. Para vídeo digital
a faixa é tipicamente de 6 a 8 MHz.
Observe que a simples utilização de um F1. Distribuição de energia F3. Medida da banda ou
frequencímetro nessas medidas não fornece em medidas de potência. largura de faixa BW.
precisão, dada a distribuição de um sinal
por um espectro relativamente amplo.

Temporização
As medidas de temporização são feitas
principalmente nos sistemas pulsados, ou
por “burst”. Elas incluem a determinação de
parâmetros como os intervalos de repetição,
ciclos ativos, tempos entre erros de bits,
tempo on, tempo off, etc.
Uma medida importante é a da precisão
de modulação. Ela envolve a medida de
quão próximos dos estados da constelação, F2. Medida de potência no canal adjacente.
ou da trajetória do sinal, está o sinal real em
relação ao sinal teórico. Neste caso, o sinal
analisado é demodulado e comparado com
uma referência. Os dois sinais são combi-
nados, restando, então, a diferença residual
que pode ser medida.
Para estas medidas, é necessário ter
recursos para gerar um sinal de referência
preciso. Este é muito importante para se
avaliar a qualidade de um sinal, encontrando
problemas no sistema. Uma vez que o sinal
residual seja obtido, torna-se muito fácil
visualizar pequenas discrepâncias, que F4. Diagrama I/Q para um sinal 64 QAM. F5. Diagrama de constelação.
podem ter sido obscurecidas pelo processo
de modulação e que não seriam visualizadas
de outra forma. Para demodular este sinal, é preciso que A diferença entre os dois fornece um “ve-
Para estas medidas, também é fun- o circuito demodulador consiga identificar tor de erro” (exemplo na mesma figura).
damental saber interpretar os erros de exatamente a posição na constelação (fase e A medida deste vetor de erro consiste
magnitude de vetor. Para entender como intensidade) do sinal transmitido, fornecendo numa ferramenta poderosa de análise de
realizá-las, convém recordar alguns prin- assim o conjunto de bits correspondentes. problemas em sistemas de comunicações
cípios da modulação vetorial. O layout do diagrama de constelação digitais. Podemos, pela análise deste vetor,
Os bits de informação são colocados e as localizações ideais dos sinais depen- determinar diversos desvios que ocorrem
numa portadora de RF variando a inten- dem do formato de modulação escolhido, na transmissão de um sinal. Assim, a aná-
sidade e a fase do sinal portador. A cada tais como BPSK, 16QAM, DQPSK, etc. A lise deste vetor consiste em um recurso
transição do clock, a portadora ocupa uma trajetória tomada pelo sinal ao passar de fundamental de service que o profissional
única de certas posições no plano I x Q, uma locação para outras depende da im- de telecomunicações deve conhecer. Por
conforme mostra a figura 4. plementação do sistema. Nessa medida, este vetor pode-se determinar que tipo de
Cada locação corresponde a um conjunto o que se faz é determinar o fasor do sinal degradação está ocorrendo em um sinal no
específico de dados, formando assim um real correspondente a cada posição da seu percurso do transmissor ao receptor.
diagrama de constelação, conforme ilustra constelação e compará-lo com o fasor do A Agilent Technologies possui um
a figura 5. sinal ideal, observe a figura 6. documento que ensina a usar as medidas

46 I SABER ELETRÔNICA 457 I 2011


F6. Medida de vetor de erro correspon- F8. Espectro de Erro (EVM) função
de a cada posição da constelação. da frequência (MHz).

Na figura 7 mostramos como um ruído


de fase pode aparecer no sinal.
Um sinal perfeito tem uma constelação
que é simétrica em relação à origem. Um
sinal deslocado desta posição indica que a
constelação não é “quadrada”, havendo um
erro de quadratura.
Devemos, inclusive, analisar a Magnitu-
de do Vetor de Erro em relação ao tempo.
EVM (Magnitude do Vetor de Erro) é a
F7. Ruído de fase inter- diferença entre o sinal de entrada e o sinal
ferindo no sinal. de referência interno.
Quando analisados como função do
tempo, os erros podem ser relacionados
da magnitude de erro na análise do sinal, com pontos específicos da forma de onda de
ajudando a identificar suas origens. Trata-se entrada como, por exemplo, picos, passagem
do Product Note 89400-14. por zero, etc. O EVM é uma magnitude
Há diferentes mecanismos de erro que escalar e os picos indicam que compressão
afetam os sinais de diversas formas. Esses ou corte do sinal.
mecanismos podem alterar o sinal apenas Um caso típico de não linearidade no
em intensidade, em fase ou em ambos ao cruzamento por zero pode ser dado toman-
mesmo tempo. Conhecendo o modo como do como exemplo um amplificador push-
cada erro se manifesta, pode-se chegar a pull, quando as duas metades do sinal são
determinados tipos de problemas. manuseadas por transistores diferentes.
Quando o erro de fase (em graus) é O Espectro de Erro (EVM) em função da
substancialmente maior que o erro de frequência é calculado a partir da Fast Fourier
intensidade (em porcentagem), algum tipo Transformer (FFT, ou Transformada Rápida
de modulação de fase indesejável está acon- de Fourier) e resulta na apresentação de uma
tecendo. Isso pode ser causado por ruído, imagem no domínio da frequência com
problemas de espúrios ou acoplamentos detalhes que não são visíveis no domínio
cruzados, ou ainda frequências indevidas do tempo, veja exemplo na figura 8.
geradas em etapas do circuito.
Os Erros de fase I/Q são medidas refe- Conclusão
renciadas no tempo. Logo, quando analisa- Não basta ter a instrumentação apro-
dos em função do tempo, eles mostram a priada para se analisar os sinais existentes
forma de onda de qualquer sinal residual nos circuitos de telecomunicações digitais.
ou interferente. É preciso saber interpretá-las. Em função
A presença de sinais senoidais ou ou- deste conhecimento, a realização de medidas
tras formas regulares de onda indicam um específicas em um sistema pode revelar
sinal interferente. Ruído uniforme é sinal problemas importantes de funcionamento
de alguma forma de ruído de fase (random, que, de outra forma, seriam muito mais
jitter, PM/FM residual, etc). difíceis de localizar. E

2011 I SABER ELETRÔNICA 457 I 47


Instrumentação

Minicurso LabVIEW
Aprenda Fazendo
Parte
Veremos neste artigo como proceder para a coleta dos dados, análise
e aplicação de algumas variáveis estatísticas
7
Luis Fernando F. Bernabe

E
stamos chegando à reta final. A Coletando dados
nossa proposta está parcialmente Vimos que os processos para coleta de
concluída. Fazendo uma breve dados foram bastante simplificados com
revisão: começamos com algumas o avanço da tecnologia e a aplicação da
possíveis linguagens, iniciamos a opera- informática no processo e na intstrumen-
ção do equipamento com a sua descrição tação, com a utilização de computadores,
simplificada e algumas aplicações “stand programas mais amigáveis, interfaces “Plug
alone” como apresentação, fizemos um & Play” e rede. Há um grande volume de
comparativo entre as linguagens aborda- casos de sucesso neste ramo da Eletrônica.
das, apresentamos o processo completo de Muitos equipamentos foram criados e/ou se
conexão USB ao PC com os programas de desenvolveram devido a estas aplicações
interfaceamento utilizados, desenvolvemos inclusive.
algumas aplicações funcionais e caminha- A eletrônica neste campo se iniciou
mos para uma aplicação mais profissional com experimentos científicos e militares
e amigável com o usuário final. aplicados em desenvolvimentos de ar-
Depois de todas estas informações, mamentos, sistemas de defesa, RADAR e
falta pouco para chegarmos ao término SONAR desde antes da 2ª Guerra Mundial,
desta série. Mas, como o final não é agora, e foi mantida durante a “Guerra Fria” e
nesta parte continuamos, seguindo nossos nas missões espaciais a partir dos projetos
objetivos iniciais. Apolo e Saturno, até os ônibus espaciais e
Agora vamos analisar como podemos os atuais satélites para GPS e missões para
proceder para coletarmos os dados da Marte e outros planetas.
melhor forma possível, se é possível e inte- Se hoje temos mais facilidade de coleta
ressante fazermos uma análise dinâmica ou de dados por conta destes sistemas auto-
estática, e ainda aprender ou rever algumas matizados, devemos nos lembrar sempre
das variáveis estatísticas aplicadas a coleta de qual variável física estamos medindo,
de dados digitalizados. de seus problemas específicos inerentes à

48 I SABER ELETRÔNICA 457 I 2011


medição e termos um cuidado especial com de um ensaio dinâmico; o que simplifica Se o termostato da câmara térmica for
o volume de dados coletados desnecessaria- bastante. Com dois pontos nas extremida- do tipo mecânico/eletrônico (liga/desliga),
mente, que terão de ser descartados depois, des da faixa podemos obter uma precisão há a necessidade de termos que esperar a
em outro processo, consumindo mais tempo razoável o suficiente, sem precisarmos de temperatura se estabilizar por um tempo
na análise destes dados. Antes tínhamos um uma câmara térmica especial ou um banho mais longo devido a histerese. A histerese
sistema dedicado a cada tipo de sensor, hoje seco de calibração de termopares. ocorre sempre que um dado circuito ou
todos podem ser conectados num mesmo Para esta tarefa temos que pensar em componente muda de estado ativo para
sistema. Temos que ter cuidado para não nos quais pontos de temperatura seriam inte- inativo, e vice-versa.
enganarmos quanto aos sensores, seus tipos, ressantes para a calibração dos sensores. As câmaras térmicas mais precisas pos-
faixa de trabalho, deriva térmica, precisão, É desnecessário calibrar um sensor numa suem controladores duplos simultâneos, de
reprodutibilidade, etc. faixa de utilização na qual o mesmo nunca resfriamento e aquecimento e um sistema
Este tema é muito vasto além de in- seja utilizado. Para que serve a calibração microcontrolado embarcado, com controle
teressante, para limitarmos a quantidade de um termopar tipo J até o seu limite de PID (Proporcional, Integral e Derivativo) que
de desvios no mesmo, vamos retomar a 780 °C sendo que este trabalha numa cuba coloca neste ambiente a dose certa de “frio”
nossa meta experimental: “coletar dados de pré-aquecimento de vapor, e que a e calor, para manter a temperatura dentro da
suficientes para a calibração de um sensor temperatura máxima deste equipamento precisão especificada pelo fabricante.
termopar e comparando-o a um segundo, é de 150 °C? A histerese é a diferença máxima de
de referência e previamente calibrado”. Dependendo do seu fornecedor, talvez valor de medida apresentada por um ins-
o processo de calibração fosse mais sim- trumento qualquer, dentro da sua faixa
A filosofia de calibração plificado para calibrar este termopar na de trabalho, quando efetuada a medida
Para executarmos este projeto vimos o faixa de 0 °C a 200 °C. Será que sendo mais em duas condições diferentes, crescente e
equipamento, a interface e os programas; simples, também seria mais barato e rápido decrescente.
agora vamos aos detalhes externos ao com tempo de entrega menor? Dependendo
conjunto e que são fundamentais para a do caso, sim. Se o processo for altamente
sua realização prática. automatizado, com banho seco controlado
Quando desejamos efetuar uma medida por um programa que também fizesse a Box 1
comparativa entre sensores de temperatura, aquisição de temperatura, a resposta po-
Vale a pena procurar algumas
ambos os sensores devem estar nas mesmas deria ser não.
bibliografias e outras referên-
condições exatas de variação térmica, ter Aqui, como estamos avaliando os pro-
cias sobre o assunto Matrizes:
os mesmos volumes de sensor e estarem cedimentos de automação didaticamente,
no mesmo ambiente, com tempo suficiente não temos a rigidez de calibrarmos os James Joseph Sylvester
para que se estabilizem as suas leituras. termopares em um processo homologado. http://pt.wikipedia.org/wiki/
Idealmente teríamos que ter um ambiente Com esta liberdade, podemos então colocar James_Joseph_Sylvester
com temperatura controlada, com o menor os sensores imersos em água com gelo (0 °C)
Arthur Cayley
volume possível, para termos condições de e em água fervente (100 °C), como alguns de
www.ime.usp.br/~leo/imatica/
variação rapidamente estabilizadas mesmo nós fizemos nas aulas de ciências. Além do
historia/cayley.html
depois de alterarmos a sua temperatura. que, temos que considerar um sistema que
Para a calibração de sensores de alta possa ser simplificado ao máximo. www.portalsaofrancisco.com.
precisão (faixa especial de 1,1 °C) e que Obs.: Lembramos que teremos que br/alfa/arthur-cayley/arthur-
trabalham com grandes variações de efetuar uma correção de valores obtidos de cayley.php
temperatura, são necessários ensaios repe- temperatura com a pressão atmosférica em
Joseph-Luis Lagrange
tidos em condições dinâmicas de trabalho, função da altitude em que estamos.
http://pt.wikipedia.org/wiki/
gerando algumas rampas de aquecimen- Desta forma, para executarmos esta
Joseph-Louis_Lagrange
to/resfriamento, medindo características calibração como apresentamos aqui nesta
importantes de inércia térmica, tempo série, faremos a aquisição de um baixo volu- www.iem.unifei.edu.br/juliano/
de resposta, comparação ponto a ponto, me de dados, o suficiente para realizarmos Download/EME33/Historia/
precisão, reprodutibilidade, estabilidade uma média, melhorando a precisão das Lagrange/texto_Lagrange.pdf
de medição, etc. Considerando, claro, a medições realizadas.
Teoria das Matrizes
sua aplicação, só para citar extremos em Há alguns modos interessantes de efetu-
www.geometriadinamica.kit.
aplicações comerciais: forno industrial de armos as medidas deste ensaio. O primeiro e
net/Microsoft%20Word%20-
fundição, câmara térmica de laboratório e mais antigo é o processo estático. Com este
%20AlgebraLinear.pdf
aviônica. método definimos as temperaturas de interes-
Como estamos em uma apresentação se e com uma estufa/geladeira controlada por www.lia.ufc.br/~mcampelo/
didática, a filosofia de medição é “um pouco” um termostato (por ex.) estabelecemos a tem- notas-matrizes.pdf
diferente. Podemos fazer as medições em peratura mais baixa e a medimos com os dois
degraus estáticos de temperatura, ao invés sensores, comparando as duas leituras.

2011 I SABER ELETRÔNICA 457 I 49


Instrumentação

Resumindo, vamos considerar um alunos. O mais curioso é que atualmente James Joseph Sylvester deu o nome de
voltímetro qualquer, ajustamos o fundo todas as ciências exatas têm uma forte matriz pelo seu significado coloquial: local
de escala para 200 Vdc, conectamos o utilização desta “organização matemática” onde algo se gera ou cria. Antes, o arranjo
voltímetro a uma fonte de até 300 Vdc. para a solução de problemas, isso se deve numérico da matriz era denominado “...um
Com este arranjo, variamos a tensão de 0 principalmente a informatização. Isso exige bloco retangular de termos...” de onde se
Vdc até 200 Vdc em passos de 10 Vdc, de que os profissionais destas áreas devam ter originavam vários determinantes.
modo crescente. Observamos a leitura do necessariamente uma boa habilidade com Apesar de ter criado o nome matriz,
voltímetro e comparamos com a da fonte. as matrizes. Sylvester a enxergava apenas como parte
Quando medirmos 200 Vdc, refazemos as Comecemos por uma revisão simples do dos determinantes e, somente com seu
medidas novamente em variações decres- básico: Como surgiram as matrizes? amigo Cayley, as matrizes passaram a ter
centes, iniciando em 200 Vdc indo até 0 Vdc. Bem, no seu início as matrizes foram vida própria.
A histerese é a diferença destas medidas utilizadas apenas como um modo de organi- As matrizes nasceram da necessidade
de tensão (no caso) nestas duas situações zar os dados numéricos para serem melhor dos matemáticos dos séculos XVIII e XIX,
possíveis. A histerese varia com a grandeza, vistos em conjunto, era o que conhecemos quando começaram a investigar a Teoria das
normalmente é menor no fim da escala, por hoje por tabela ou planilha. Formas Quadráticas. Hoje, consideramos
isso é montado um gráfico de histerese dos Muito recentemente, considerando a imprescindível estudar essas formas através
instrumentos e dos sensores. sua história, há pouco mais de 150 anos, da notação e metodologia matricial, como
Sobre a histerese em instrumentação as matrizes foram reconhecidas como vetores (x,y,z), mas naquela época elas eram
o “Curso de Formação de Operadores de tema importante da Matemática. Por volta tratadas numericamente, como escalares.
Refinaria”, na área de “Instrumentação desta época se tornou um método para a Na equação 1, a seguir, apresentamos
Básica” está disponível gratuitamente organização de números de uma equação uma equação de duas variáveis representada
na internet pela Petrobras. Quem quiser que encontrariam a sua solução através de na sua forma quadrática, tanto via notação
aprender sobre instrumentação, este é um seu determinante !!! escalar como com a notação matricial:
material excelente. Se o leitor tiver mais O primeiro matemático a utilizar este
curiosidade, procure “Curso de Formação
de Operadores de Refinaria” (com aspas
método de solução parece ter sido Au-
gustin-Louis Cauchy, 1826. Mas, o nome [ ][ ]
q(x,y) = ax2 + 2bxy + by2 =[ xy ] * ab * x
bc y
mesmo) no Google. www.dequi.eel.usp. matriz como conhecido hoje, só veio com
br/~felix/Instcont.pdf James Joseph Sylvester, 1850. Seu amigo A primeira utilização prática do conceito
Arthur Cayley, com o seu livro “Memoir de matriz ocorreu quando Lagrange c. 1790
Faltou um “detalhe” on the Theory of Matrices” (1858), divulgou reduziu a caracterização dos máximos e
Ao escrever artigos em sequências esse nome e demonstrou algumas de suas mínimos de uma função real de várias
longas, mesmo que tenham a justificativa utilidade práticas. variáveis, ao estudo do sinal da forma
de serem mais didáticos ou de abordarem
temas mais complexos, há grande possi-
bilidade do escritor se perder, de “fugir”
do tema central e/ou serem esquecidos
pontos importantes que complementam os
objetivos. Por isso, atenção e planejamento
são fundamentais.
Cometi um deslize, e me esqueci de
abordar um tópico fundamental dos nossos
artigos, o assunto é Matriz, tanto na breve
revisão matemática quanto no próprio
LabVIEW. Peço que me desculpem pela
falta deste tópico nos artigos. Faço um
parêntese na sequência abaixo para depois
retornar ao tema como deveria ser abordado
anteriormente.

As matrizes
As matrizes sempre foram assuntos
“chatos” tanto de serem ensinados como
de serem aprendidos em nossa matemática
de segundo e de terceiro graus. Acredito
que seja por falta de aplicações práticas
que envolvam e despertem o interesse dos F1. Diagrama de
Blocos completo.

50 I SABER ELETRÔNICA 457 I 2011


quadrática associada à matriz das segundas
derivadas dessa função. Box 2
Assim, podemos dizer que a Teoria
“Internet e Formação de Professores de
das Matrizes teve como mãe a Teoria das
Matemática: Desafios e Possibilidades” www.mat.uc.pt/~jaimecs/indexhm.
Formas Quadráticas, pois seus métodos e
html
resultados básicos foram gerados lá. Hoje, www.athena.biblioteca.
contudo, o estudo das formas quadráticas unesp.br/exlibris/bd/brc/ www.infoescola.com/matematica/
é um mero capítulo da Teoria das Matrizes. 33004137031P7/2005/garcia_tmr_ historia-da-matematica/
Fonte: www.mat.ufrgs.br/~portosil/pas- me_rcla.pdf (underscore)
http://usuarios.upf.br/~pasqualotti/
sa3b.html
“A História da Matemática, o Porquê hiperdoc/matematica.htm
e o Como”
Construindo matrizes http://pt.wikipedia.org/wiki/Cro-
em LabVIEW www.uff.br/historiadamatematica/ nologia_da_história_da_matemá-
Por que vamos utilizar matrizes? Na siteantigo/Arquivos/Historia_da_ tica (underscore)
������������
verdade, vamos utilizar as matrizes na sua Matematica_por_que_e_como_
http://pt.wikipedia.org/wiki/
função mais simples, a tabela, uma lista Andre_Weil.pdf (underscore)
História_dos_números_longos
de temperaturas relacionada com valores
A História da Matemática : (underscore)
de tempos da medida. Com se tratam de
duas grandezas físicas diferentes, não www.ime.usp.br/~leo/imatica/his- Todo o Conhecimento
existe a possibilidade de trabalharmos com toria/ Humano perde muito do seu
determinantes (o resultado da matriz) e estímulo de conquistar os alunos
http://educar.sc.usp.br/licencia-
termos um resultado válido. A não ser que e evoluir também, pelo fato de
tura/2003/hm/page01.htm
fossem linearizados os dados das medições que seus professores se esquecem
e que criássemos duas equações de cada http://pt.wikipedia.org/wiki/Histó- da Sua História e os seus mais
gráfico resultante, para compararmos a ria_da_matemática importantes colaboradores.
medição padrão com a do outro sensor
em calibração.

2011 I SABER ELETRÔNICA 457 I 51


Instrumentação

F2. Front Panel completo

Aqui vamos utilizar a matriz como do primeiro, dê um espaço suficiente para A matriz 2 (Array 2) é construída pelo
tabela, isso significa que construiremos a reproduzir a figura 1. Aproxime o cursor do mesmo processo. Esta matriz é de uma colu-
matriz, mas o seu tratamento matemático mouse do lado da variável N, do loop. Com na, pois é a saída do FOR LOOP interno.
é de tabelar os números numa sequência o botão direito, clique neste ícone e dentro Para vermos os dados em sequência,
de interesse. No LabVIEW as matrizes e da janela, escolha o botão Create Control no caso conseguiremos visualizar somente
as tabelas têm tratamentos diferentes. Os aparecendo um botão de controle nos dois o último, refaça as mesmas ligações dos
dados de uma matriz podem ser numéricos, campos, Block Diagram e Front Panel. fios que foram feitas para as matrizes, até
em string, hexadecimal, binário, etc. Já na Coloque dentro dos dois loops uma o último loop. Selecione o tipo de Tunnel
tabela, o foco é apresentação de dados, todo VI Random Number (Functions > Pro- permitindo ou não a indexação, neste caso,
o conteúdo tem que estar exclusivamente em gramming > Numeric). Esta VI tem o a função de indexação está desativada.
strings, no LabVIEW há uma biblioteca de formato de dois dados juntos. Com a VI No último loop, o externo, aproxime o
conversão de formatos de dados e utilizamos dentro dos loops, aproxime o cursor dela cursor e crie um Indicator novamente, do
apenas uma VI para resolver este caso. Há e automaticamente aparecerá um carretel mesmo modo que o anterior.
aplicações em que temos que montar uma de “linha” de conexão. Clique com o botão Veja, na figura 2, o Front Panel com-
matriz e numa próxima etapa, convertê-la direito, um Indicator. Este é o number (0 pleto.
para tabela e incluí-la no gerador de rela- to 1). Clique novamente neste terminal Observe os controles de execução dos
tórios, por exemplo. da VI, arraste o fio de ligação até a borda loops, Loop 1 Externo LINHA e Loop 2
Como todo bom programador sabe, do loop e clique nesta borda novamente. Interno LINHA, estes botões criam as
para se construir uma matriz precisamos A função inicial deste Tunnel (saída do dimensões das matriz na saída. Selecione
dos dados a serem inseridos em sequência loop) é de Auto-Indexed, dentro do ícone outros valores de Linha e Coluna.
de formação em matriz. Para fazermos isso aparecem os colchetes [ ] indicando que a O indicador number (0 to 1) apresenta
utilizamos os Loop For tantas vezes quantas saída está automaticamente indexada no o último valor do sorteio dos dados. Os
forem as dimensões da matriz. formato matriz. Aproxime o cursor, clique dados são iguais aos do indicador number:
Comecemos, então. Abra o LabVIEW no botão esquerdo do mouse, e arraste o fio 0 to 1 que é a saída dos dois loop, mas sem
com uma VI em branco. Com o botão de ligação até a borda do outro loop e clique a indexação.
direito do mouse, clique na área branca do nela, como feito na anterior. Verifique que os controles number (0 to
Block Diagram, com a paleta de Functions Para construir as matrizes, o modo 1), number: 0 to 1, Array 2 e Array apre-
procure nas estruturas de loop, o Loop For, mais simples é aproximar o cursor do ícone sentam os mesmos valores no display e na
(Functions > Programming > Structures), do Tunnel e clicar com o botão direito e última posição, no caso das matrizes.
desenhe o loop no diagrama de blocos em selecionar o botão Indicator. Neste ponto Assim, caros leitores, ficamos por aqui,
tamanho médio, em seguida, repita o pro- foi construído a Array. Selecione o Label e na próxima edição continuaremos passo
cesso e desenhe o segundo Loop For dentro para que fique visível, se preferir. a passo até atingirmos nossa meta. E

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abcdefghijklmnopqrstuvwxy
ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ

Projetos

Sistemas de Supervisão e
Aquisição de Dados
N
Sistemas de aquisição de da- os últimos anos tem-se visto um realizado por máquinas dedicadas e
dos e controle de dispositivos crescente desenvolvimento de customizadas a uma determinada tarefa,
sistemas de aquisição e trata- visando cada vez mais o aumento da
vêm sendo desenvolvidos para
mento digital de sinais, sendo produtividade e eficiência. As funções de
diferentes áreas de atuação, tanto que vários fatores têm contribuído para controle eram implementadas através de
industriais como científicas. O seu a evolução nesta área: dispositivos mecânicos que automatiza-
objetivo é apresentar ao obser- • O avanço da microeletrônica que vam algumas tarefas críticas e repetitivas.
tem possibilitado o aumento das Estes dispositivos eram desenvolvidos
vador, os valores das variáveis capacidades e velocidades dos para cada tarefa e devido à natureza
ou parâmetros que estão sendo DSPs, elemento central de uma mecânica dos mesmos, tinham vida útil
aplicação de tratamento digital reduzida e alta manutenção.
medidos.
de sinal; Posteriormente, com o advento dos
• A crescente performance dos com- relés e contatores, estes dispositivos foram
putadores pessoais, tal como a sua substituídos e apareceram dispositivos
relação qualidade/preço e a sua automáticos em linhas de montagens,
César Cassiolato confiabilidade; dando um grande passo na época. A ló-
• A existência de cada vez mais e gica a relés viabilizou o desenvolvimento
melhores ferramentas de desenvol- de funções de controle mais complexas e
vimento de software, que permitem sofisticadas.
criar aplicações de alto nível com Após a Segunda Guerra Mundial,
avançadas interfaces gráficas; houve um avanço tecnológico e aparece-
• O desenvolvimento de novas tec- ram as máquinas por comando numérico
nologias de comunicação que e os sistemas de controle na indústria
permitem o controle remoto de de processo, assim como o conceito de
instrumentos, usando a internet e referência de tensão para instrumentação
o wireless como veículos de trans- analógica. Surgem os primeiros circuitos
missão de dados. integrados, os CIs, que proporcionaram o
Por que uma empresa precisa de um desenvolvimento de uma nova geração de
sistema de aquisição e supervisão? Sim- sistemas de automação. Vale lembrar que
ples…para proporcionar níveis melhores em 1947, Willian Shockley, John Barden e
de qualidade, redução dos custos opera- Walter Brattain inventaram o transistor,
cionais, maior desempenho de produção que é um componente eletrônico am-
e, fundamentalmente, para facilitar a ex- plamente utilizado nos processadores
celência operacional.Vale citar um pouco modernos, de forma integrada.
da história dos avanços tecnológicos e No início dos anos 70, os primeiros
que culminaram com “n” benefícios em computadores comerciais começaram
desenvolvimento de sistemas de aquisi- a ser utilizados como controladores em
ção, controle e automação. sistemas de automação de grande porte,
porém estes computadores eram grandes,
Um pouco de história ocupando muito espaço, de alto custo,
Os primeiros sistemas de automação difíceis de programar e muito sensíveis
foram desenvolvidos no final do século ao ambiente industrial. Mas, tinham a
XIX durante a revolução industrial.O vantagem de manipular a aquisição e
trabalho que era manual passou a ser controle de várias variáveis.

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Ainda na década de 70 tivemos um
grande avanço em termos de automação.
A partir de uma demanda existente na
indústria automobilística norte-ameri-
cana, foi desenvolvido o Programmable
Logic Controller (PLC), ou Controlador
Lógico Programável (CLP). O CLP é
um computador dedicado e projetado
para trabalhar no ambiente industrial,
onde sensores e atuadores são conecta-
dos a cartões de entradas e saídas. Os
primeiros CLPs tinham um conjunto de
instruções reduzido: normalmente so-
mente condições lógicas, e não possuíam
entradas analógicas, podendo manipular F1. Componentes de um sistema
apenas aplicações de controle discreto. de aquisição de dados.
Os CLPs substituíram os painéis de con-
trole com relés, diminuindo assim o alto
consumo de energia, a difícil manutenção
e modificação de comandos e também as
onerosas alterações de fiação.
Atualmente, devido à demanda das
plantas industriais, os CLPs manipulam
tanto controle discreto quanto malhas
analógicas. Estes sistemas são usualmente
chamados de Controladores Programá-
veis, por não serem limitados a operações
com condições lógicas. As atuais funções
de controle existentes em uma planta
industrial são em geral distribuídas entre
um número de controladores programá-
veis, os quais são montados próximos aos
equipamentos a serem controlados. Os
diferentes controladores são normalmente
conectados via rede local a um computa-
dor supervisório central, o qual gerencia
os alarmes, receitas e relatórios. F2. Interação de um sistema de aquisição
Entramos em uma fase onde a tec- de dados com os fenômenos físicos.
nologia e conectividade industrial eram
proprietárias e um “casamento” entre e memória e o mais interessante, dando Um grande desenvolvimento verifi-
cliente e fornecedor acontecia. No mer- vazão a alta escala de produção com cou-se na interface gráfica com o advento
cado apareceram os SDCSs (Sistemas custos reduzidos, foi uma vantagem de de ferramentas baseadas no Windows.
Digitais de Controle Distribuídos). forma geral, pois aumentou a oferta de A simplicidade da operação juntou-se à
Na década de 90, o mundo começou microcontroladores, CIs e ASCIs para crescente capacidade de processamento,
a presenciar enormes avanços na área toda a indústria. estabelecendo a união entre os computa-
tecnológica em que os circuitos eletrô- E se não bastasse esta revolução ele- dores e a instrumentação. Tornou-se ha-
nicos passaram a proporcionar maior trônica, os sistemas mecânicos também bitual os instrumentos serem embutidos
eficiência, maiores velocidades, mais passaram e vêm passando por inovações em computadores de aplicação geral, per-
funcionalidades, maiores MTBFs (Mean e modificações conceituais com a incorpo- mitindo medidas diversas e manipulações
Time Between Failures, maior confiabilida- ração da capacidade de processamento, complexas, e ainda grandes capacidades
de), consumos menores, espaços físicos tornando-os mais rápidos, eficientes e con- de armazenamento em memória ou disco,
menores e ainda, com reduções de custos. fiáveis, com custos de implementação cada monitorização inteligente, apresentação
Ao mesmo tempo em que impulsionou vez menores. Ao longo dos últimos anos gráfica de fácil compreensão e controle
o desenvolvimento de computadores, é cada vez mais frequente a utilização de dos processos avançados.
interfaces e periféricos mais poderosos, componentes eletrônicos para acionamen- Não resta dúvida que, hoje, não é so-
com alta capacidade de processamento to e controle de sistemas mecânicos. mente a condição de controle que importa.

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Projetos

A gestão da informação, a inteligência da registradores, dependendo do tipo de baseados em redes neurais e estatística,
instrumentação, a tecnologia verdadeira- dispositivo usado. são capazes de explorar um conjunto de
mente aberta e não proprietária, e os bene- Assim, tem-se entrada e saída mape- dados, extraindo ou ajudando a eviden-
fícios da tecnologia digital são os fatores ada em memória (Memory-Mapped IO) ou ciar padrões nestes dados e auxiliando
que agregam valores ao usuário. entrada e saída mapeada em espaço de na descoberta de conhecimento. Esse
entrada e saída (IO Mapped IO). conhecimento pode ser apresentado por
Objetivo de um sistema de essas ferramentas de diversas formas:
aquisição de dados Sistemas de Supervisão e agrupamentos, hipóteses, regras, árvores
Os sistemas de aquisição têm por Aquisição de Dados de decisão, grafos, ou dendrogramas.
finalidade obter dados digitais atra- Abreviadamente SCADA (provenien- Um passo fundamental para um
vés de medições de grandezas físicas te do seu nome em inglês Supervisory processo de data mining bem sucedido
(analógicas), tais como temperatura, Control and Data Acquisition), são sistemas é ter um sistema de aquisição de dados
pressão,densidade, pH, umidade, posi- que utilizam software para monitorar que possa gerar um banco de dados,
ção etc, e vêm sendo incorporados por e supervisionar as variáveis e os dis- relatórios, logs, etc. Disto nascem os
diversas vertentes, tanto industriais positivos de sistemas de controle. São repositórios organizados (Data Marts e
quanto científicas. conectados através de drivers específicos. Data Warehouses).
Estas grandezas são “sentidas” por Estes sistemas podem assumir topologia
sensores ou transdutores, e são con- simples, cliente-servidor ou múltiplos A ferramenta de
vertidas em quantidades elétricas por servidores-clientes. aquisição de dados
acondicionadores de sinais que levam De forma genérica, um sistema de Este tipo de ferramenta exige a trans-
os sinais até hardwares dedicados e os supervisão é uma ferramenta de software ferência rápida de dados entre disposi-
transformam em valores digitais. Estes que permite monitorar e controlar partes tivos, software de processamento e de
valores são processados por controlado- ou todo um processo industrial. Têm dois aplicação com interface gráfica avançada,
res e segundo lógicas de controles devol- módulos básicos: o desenvolvedor e o sensores e controladores de elevada
vem a resposta processada aos atuadores executável (“run-time”). precisão. Com a velocidade dos avanços
(elementos finais de controle), como se vê A maioria dos passos de programação tecnológicos, cada vez mais equipamen-
na figura 1. Em sua grande parte, os valo- é automatizada, suprindo a maior parte tos e instrumentação vêm com hardwares
res medidos não são iguais ao da variável das necessidades de um projeto sem a poderosos. Na vertente do software, as
real, ou seja, o sistema de aquisição tem real necessidade de conhecimento de tecnologias vão-se tornando cada vez
como entrada o valor real da variável e linguagem de programação. Em casos mais normalizadas, permitindo um de-
sua saída é o valor medido. mais complexos e específicos, onde os senvolvimento mais rápido e eficaz dos
Os sensores transformam um fenô- passos não estão automatizados, algu- produtos.
meno físico em sinais elétricos que, uma mas ferramentas incorporam módulos O campo de estudos da instrumenta-
vez detectados/produzidos, variam de de programação em VBA (Visual Basic ção virtual ainda está a dar os primeiros
acordo com os parâmetros físicos que For Applications) ou VBS (Visual Basic passos. Nos próximos anos serão de-
estão sendo monitorados, e devem ser Script). senvolvidos vários equipamentos avan-
acondicionados para fornecer sinais çados em recursividades, os chamados
apropriados ao hardware de aquisição Data Mining instrumentos virtuais. Serão os blocos
de dados. Os circuitos e ou elementos de Prospecção de dados ou mineração para a construção da nova geração de
acondicionamento de sinais amplificam, de dados (também conhecida como data instrumentação e medida. As ferramen-
isolam, filtram e excitam sinais para que mining) é o processo de explorar gran- tas devem ser simples e de fácil uso pelo
estes sejam apropriados aos hardwares des quantidades de dados à procura usuário. Devem permitir o acesso a toda a
de aquisição. Uma vez acondicionados de padrões consistentes, com regras de funcionalidade proporcionada pela apli-
e trabalhados na forma desejada, os si- associação ou sequências temporais, para cação, maximizando a funcionalidade e
nais podem ser lidos em controladores detectar relacionamentos sistemáticos mantendo a simplicidade da interface.
ou mesmo computadores, com placas entre variáveis, detectando assim novos
específicas instaladas, e armazenados em subconjuntos de dados. Conclusão
diferentes formas, como arquivos de tex- Esse é um tópico recente em ciência A aplicação da computação para
to, excel, banco de dados etc. Figura 2. da computação mas que utiliza várias automatização de diversos processos
técnicas da estatística, recuperação de in- industriais tem crescido de forma sig-
Tipo de endereçamento em formação, inteligência artificial, sistemas nificativa, e mais certo são os benefícios
Sistemas de Aquisição de aquisição de dados e reconhecimento advindos da introdução da computação
de Dados de padrões. A mineração de dados é for- no processo produtivo que tem incre-
Os dispositivos responsáveis por mada por um conjunto de ferramentas e mentado a produtividade e reduzido
manipular os dados utilizam endere- técnicas que através do uso de algorit- as possibilidades de falhas durante o
ços que podem ser de memória ou de mos de aprendizagem ou classificação processo.

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Vimos neste artigo, de forma breve
que uma das aplicações que se destacam
é a utilização de sistemas de aquisição
de dados e supervisão para monitorar os
mais diversos sensores que integram um
determinado processo e a partir das infor-
mações obtidas enviar sinais de controle
para outros dispositivos, ou gerar relató-
rios técnicos para posterior análise.
Usuários vem colhendo benefícios
com sistemas avançados de aquisição
de dados e supervisão. Essa mudança
é encarada como um processo natural
demandado pelos novos requisitos de
qualidade, confiabilidade e segurança
do mercado. A sua utilização traz uma
vantagem competitiva, no sentido que
essa nova tecnologia traz aumentos
de produtividade pela redução das
variabilidades dos processos e redução
dos tempos de indisponibilidade das
malhas de controle. E F3. Exemplo de uma
variável de processo.

F4. Tela típica de repre-


sentação de processo.

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Desenvolvimento

Introdução
ao VHDL
Este artigo apresenta o que são exatamente os circuitos integrados
de lógica programável e como eles funcionam, com uma abordagem
técnica e prática desses componentes.
Augusto Einsfeldt

T
odo projetista está acostumado a Uma descrição comportamental facilita
utilizar desenhos esquemáticos para a vida do projetista pois ele não precisa se
representar circuitos eletrônicos. preocupar com detalhes puramente mate-
Naturalmente este é um modo fácil máticos como os mapas de Karnaugh para
de também representar circuitos lógicos. Em redução de lógica ou mesmo a construção
poucos instantes, analisando um esquema de decodificadores para selecionar cada
é possível entender o funcionamento do passo de uma máquina de estados. Por
circuito e, desde que o esquema seja bem exemplo, um contador síncrono pode ser
feito, qualquer outro projetista poderá descrito como: if rising_edge(clock) then
trabalhar sobre o mesmo e não apenas o saida<=saida+1; end if;. Note-se que o uso
projetista original. de lógica síncrona é natural em HDL (de
Contudo, quando o projeto é complexo, fato, para fazer um contador assíncrono tipo
o número de folhas de esquemas aumenta, ripple-carry dá um bocado de trabalho. Leia
o tamanho das páginas aumenta e o funcio- mais no quadro Lógica Síncrona).
namento já não fica tão claro para qualquer Se alguém pensar em fazer o mesmo
um. Alterações de projeto exigem redese- usando esquemas, precisa lembrar-se que
nhar uma ou mais páginas e se a alteração cada estágio do contador possui um porta
for significativa pode exigir a subdivisão de AND com tantas entradas quanto o número
Saiba mais um circuito em páginas adicionais. de estágios anteriores. E quantos estágios
Esquemas são uma boa forma de repre- são necessários? Se for um contador de 8
Sugestões para acesso a mais
sentar circuitos mas, em muitos casos, um bits serão 8 estágios. Mas, e se o projeto
informações na Internet:
outro meio pode ser mais eficaz e poupar exigir 2 bits a mais porque ocorreu uma
www.gmvhdl.com/ VHDL.html algum tempo no processo de desenvolvi- alteração nas especificações? No esquema
mento. será preciso desenhar mais dois estágios (se
www.erc.msstate.edu/ ~reese/
Este outro meio é o uso de uma lin- couberem na folha) ou criar uma nova folha
vhdl_synthesis/
guagem textual para descrição do circuito, para desenhar o contador completo e depois
www.vhdl-online.de/ HDL (Hardware Description Language), onde desenhar as referências de interconexão
o comportamento do circuito é o que mais das páginas, etc.
www.eej.ulst.ac.uk/tutor.html
importa e não exatamente onde cada sinal Como isso é feito em HDL? Como pode
é conectado. ser visto no exemplo citado, a largura em

58 I SABER ELETRÔNICA 457 I 2011


bits do contador não entra na equação. Ela é C para código assembly. A implementação é Lógica Síncrona
definida em uma parte anterior onde o sinal equivalente a traduzir a descrição assembly
Um projeto é síncrono quando
é descrito como: signal saida : std_logic_vec- em código objeto para um processador.
todos os registradores empregados
tor (7 downto 0);. Esta linha diz que o sinal Apesar do uso da linguagem VHDL
são acionados por um único sinal
saida tem 8 bits de largura. Se o projetista estar relacionado, de forma direta, apenas
de clock, ou por uma derivação
quiser mudar para 10 bits basta alterar esta com a síntese, durante o desenvolvimento de
síncrona deste clock (como alguma
linha para signal saida : std_logic_vector (9 um projeto deve-se levar em conta os efeitos
saída de um divisor). Este procedi-
downto 0);. Simples, não? na implementação conforme o dispositivo
mento tem a vantagem de tornar
Linguagens HDLs são aplicáveis no utilizado. Uma função lógica com muitas
conhecido o momento em que cada
projeto de circuitos integrados (ASICs – Ap- entradas poderá ser implementada mais
sinal será registrado.
plication Specific Integrated Circuits) e no uso eficientemente em um CPLD do que em
em circuitos de lógica programável (FPGAs um FPGA. Contudo, se esta mesma função Em um projeto assíncrono o acio-
e CPLDs). Naturalmente, existem muitas for descrita de maneira a ser um agrupa- namento dos registradores é feito
linguagens de descrição de hardware além mento de pequenas funções o resultado pelo resultado da lógica combina-
do VHDL, como VERILOG, ABEL e AHDL. poderá ser mais adequado para um FPGA cional de um ou mais sinais e está
Como VHDL tem sido mais divulgada e do que para um CPLD. Isso ocorre porque sujeito a variações de atrasos e
aplicada em empresas e universidades, os CPLDs tem poucos geradores de função escorregamentos inerentes a estes
esta foi escolhida para esta série de artigos (até poucas centenas), porém cada um com circuitos. Neste caso, o projetista
que são, de fato, um mini-curso na revista muitas entradas (alguns com mais de 40), ao não pode prever com precisão
Saber Eletrônica. passo que o FPGA tem muitos geradores de o momento em que vão ocor-
A primeira versão disponibilizada funções (até muitos milhares) com poucas rer e isso pode ocasionar falhas
da linguagem VHDL (VHSIC Hardware entradas (tipicamente entre 4 e 6). funcionais. Um caso típico destes
Description Language) surgiu em 1987 e foi Outro aspecto é que a descrição em acontece quando um determinado
originalmente encomendada pelas Forças VHDL pode ser ou muito específica ou, por projeto só funciona bem quando
Armadas americanas. Sistemas complexos outro lado, mais genérica. Ela é específica utiliza-se um FPGA ou CPLD
e produzidos por múltiplas empresas exi- quando indica claramente como o circuito fabricados em uma data específica e
giam uma linguagem padronizada para deverá ser montado e utilizando recursos ainda trabalhando sob temperatura
modelagem e simulação. Por isso muitas particulares do dispositivo. Por exemplo, controlada. Qualquer mudança nos
das instruções não são sintetizáveis, ou seja, indicando o uso de um componente chama- atrasos internos devido à varia-
não podem ser convertidas em um equi- do CB8CE, que é natural dos componentes ções térmicas ou do processo de
valente em circuitos eletrônicos e servem, Xilinx, o projetista estaria empregando um fabricação pode comprometer o
por exemplo, para permitir a simulação de contador binário de 8 bits. Isso também é funcionamento.
circuitos. Em 1993 surgiu uma nova revisão chamado de instanciação (ou ocorrência
Um contador síncrono muda todas
que é empregada até hoje, o VHDL-93. forçada). Já uma descrição genérica deixaria
as suas saídas quase no mesmo
a ferramenta de síntese calcular qual circuito
instante, independentemente do
Fundamentos representaria uma função declarada. Neste
número de bits, enquanto um
Antes de tudo é importante saber como caso a declaração valor <= valor + 1; produz o
contador tipo ripple-carry terá seu
um texto que descreve o comportamento de mesmo resultado final, ou seja, um contador
último bit mudando após o tempo
um circuito pode ser convertido no circuito binário. Este cálculo feito durante a síntese
somado de todos os atrasos de
eletrônico propriamente dito. Existem duas é chamado de inferência (ou dedução).
cada estágio.
etapas principais neste processo: síntese e Naturalmente a inferência é mais
implementação. simples de usar e de se entender quando Todo projeto pode ser síncrono.
A síntese é a tradução da linguagem HDL o projeto de outra pessoa é lido. Pode Apenas em alguns casos poderá
em um outro texto descritivo que emprega existir, contudo, uma grande diferença ser necessário o uso de um clock
referências de interconexão entre elementos no resultado final: o componente CB8CE de referência mais alto do que o
básicos de lógica digital como portas lógicas, emprega recursos otimizados dos dispo- exigido no projeto para garantir a
registradores e pinos de entrada e saída. sitivos Xilinx e garantidamente oferecerá inclusão de mudanças rápidas em
A implementação emprega o resultado o melhor desempenho em espaço ocupado alguns sinais.
da síntese e outras referências específicas e velocidade, enquanto a inferência poderá
do dispositivo a ser utilizado (conforme usar recursos genéricos dos dispositivos e
um determinado modelo de FPGA ou de ser menos rápida ou ocupar mais espaço.
CPLD) para calcular como este dispositivo Todavia, ao empregar o CB8CE o projetista
deverá ser programado para obter-se o está determinando que o contador terá 8 destes componentes e possivelmente ocupar
circuito esperado. bits de largura. O que ocorre se ele precisar mais espaço com os 5 bits restantes e des-
A síntese é equivalente à compilação em de 11 bits? Seguindo o raciocínio do uso de necessários. Usando a inferência somente o
software: traduz-se de uma linguagem como componentes ele deveria incluir mais um número de bits usado será implementado.

2011 I SABER ELETRÔNICA 457 I 59


Desenvolvimento

library IEEE; type bit is (‘0’, ‘1’); Sel <= ‘1’; automaticamente (como o ISE da Xilinx)
use IEEE.STD_LOGIC_1164.ALL; type boolean is (false,true); if enable then costumam colocar o tipo como BEHAVIO-
use IEEE.STD_LOGIC_ARITH.ALL; type integer is range 0 to 103; soma := conta + 32; RAL. O VHDL não examina esta informação.
use IEEE.STD_LOGIC_UNSIGNED.ALL; - se não especificar o range: assume 32 bits Você pode usar quaisquer palavras tais
type real is range - 31.5 to 47.2;
entity main is - útil apenas para simulação. Não é sinte-
como: COMPORTAMENTO, DESCRICAO,
Port ( LED : out std_logic; MINHA_ARQUITETURA, ABC123, etc.
tizável
CLOCK : in std_logic);
end main; type std_logic is ( ‘Ú’,’X’,’0’,’1’,’Z’,’W’,’L’,’H’,’ ’); Em suma, o tipo da arquitetura serve mais
- também existe o std_ulogic mas este é mais para a pessoa que vai ler o projeto ter uma
architecture RTL of main is rígido e não permite situações conflitantes como ideia da finalidade e a palavra usada não é
signal div : std_logic_vector (7 downto 0); múltiplas saídas
begin tri- state conectadas
importante para o VHDL.
process (clock) type my_type is (RST, LOAD, FETCH, SHIFT); A arquitetura tem um início (begin) e
begin - este é o tipo enumerated um fim (end). Entre o begin e a primeira
if rising_edge(clock) then
div <= div + 1; linha (architecture) são declarados os sinais
end if; Quadro 2: Tipos Escalares e alguns internos que serão usados neste projeto ou
end process; exemplos de uso.
elemento de projeto. Os sinais devem ser
led <= div(7); entendidos como fios que vão interligar os
end RTL; Assim o projetista não precisa re-escrever componentes e portas lógicas do circuito.
ou copiar trechos extensos em VHDL para No exemplo do quadro 1 o único sinal uti-
Quadro 1: Um projeto VHDL que pisca um único arquivo, mantendo a legibilidade lizado que já não foi declarado no “port” da
um LED ao ritmo de CLOCK/256.
e repetibilidade dos resultados. entidade é um barramento de 8 bits que é a
A estrutura de um arquivo VHDL saída de um contador de 8 bits chamado DIV.
As ferramentas de síntese são capazes contém sempre a declaração das bibliotecas Entre o begin e o end deve ser incluído um
de um bom nível de otimização que resulta utilizadas e duas seções básicas e obriga- texto descrevendo a lógica do circuito. No
no emprego dos recursos específicos dos tórias: ENTITY e ARCHITECTURE, como caso do exemplo esta descrição possui um
fabricantes de lógica programável. Por pode ser visto no exemplo do quadro 1. PROCESS (processo) e uma linha de lógica
isso, preferencialmente, o projetista deve No texto deste quadro todas as palavras combinacional muito simples que diz que
descrever o hardware usando inferência, e caracteres que são reservadas do VHDL o sinal LED deve ser fornecido a partir do
tornando o projeto mais claro e mais fácil ou tipicamente obrigatórias em qualquer bit 7 do contador DIV.
de ser desenvolvido. Mais a frente veremos projeto (como as bibliotecas) estão marca- Equações lógicas podem ser facilmente
este assunto novamente. dos em negrito. As poucas partes que não implementadas e todos os operadores (fun-
Importante: os sinais e comandos estão em negrito são aquelas dependentes ções) comumente usados estão à disposição.
(palavras reservadas) em VHDL podem e produzidas pelo próprio projetista. Uma equação deste tipo seria, por exemplo:
ser escritos tanto em minúsculas como em A seção ENTITY (entidade) serve como clk_x <= clock and (not div(0)) and div(3);.
maiúsculas ao longo de todo o texto. um cabeçalho onde são indicados todos Neste caso um sinal de saída chamado
os sinais de entrada e de saída do projeto “clk_x” seria o resultado de uma porta
VHDL ou elemento a ser descrito. No exemplo, a AND de três entradas com os sinais clock,
VHDL é uma linguagem típica: simples palavra main é o nome da entidade e nor- bit 0 de DIV invertido e o bit 3 de DIV. Já
em sua funcionalidade básica e complexa malmente também será o nome do arquivo um decodificador de endereço poderia
quando o projetista aproveita todos os seus VHDL. Os sinais no “Port” da entidade ser descrito como chipselect <= ‘0’ when
recursos. possuem um descritor indicando o sentido (addr = ”0011000000000001” and wr = ’0’
Cada projeto em VHDL é sempre do sinal: In, Out e Inout e o tipo do sinal. and ale = ’1’) else ‘1’;. Note-se que o sinal
distribuído em um ou mais arquivos de Os tipos mais usados são: Bit, Std_logic, “chipselect” vai ficar em nível lógico zero
texto, geralmente coma extensão .vhd. Bit_vector e Std_logic_vector. Na prática quando o barramento de endereço for 0x3001
Cada arquivo contém sempre a descrição utiliza-se preferencialmente std_logic ou e ao mesmo tempo tendo os sinais “wr” em
funcional completa de um elemento do pro- std_logic_vector. A razão disto será vista nível zero e “ale” em um. Caso contrário, o
jeto ou mesmo do projeto inteiro. De fato, o mais adiante. sinal ficará em 1. Esta operação lógica uti-
arquivo VHDL de um elemento é um projeto A seção ARCHITECTURE (arquitetura) lizou um recurso do VHDL que é um teste
em si sendo usado como um componente. é onde o projetista descreve o funciona- condicional. Para fazer isso em esquemático
O arquivo principal, topo do projeto, que mento da entidade. A primeira linha da levaria um pouco mais de tempo...
contém referências de interconexão com os arquitetura deve indicar duas coisas: o
outros arquivos pode ser imaginado como tipo de arquitetura (no exemplo: RTL) e o Tipos de sinais
a descrição de um diagrama de blocos. Ge- nome da entidade à qual a arquitetura está Existem diversos tipos pré-definidos
ralmente, funções complexas e já verificadas relacionada (no exemplo: main). O tipo da para serem atribuídos aos sinais. Eles são
são mantidas como um projeto individual arquitetura pode, de fato, ser qualquer nome divididos em dois grupos: ESCALARES e
(análogo a uma sub-rotina bem depurada escolhido pelo projetista. Programas que COMPOSTOS. O quadro 2 mostra os tipos
quando programamos um computador). geram a estrutura de um arquivo VHDL escalares.

60 I SABER ELETRÔNICA 457 I 2011


O tipo BIT somente pode ter dois esta- 9 estados diferentes e isso permite fazer Durante a síntese estes estados adicionais
dos: 1 e 0. Por esta razão ele não poderia ser verificações funcionais mais completas além são tratados internamente como nomes
associado a um sinal que possa ficar em alta de tornar viável a implementação de sinais ou códigos atribuídos aleatoriamente. O
impedância (tri-state). O tipo BOOLEAN em tri-state (Z). O significado de cada um projetista deve saber disso pois o hardware
serve para verificação em testes condicio- dos estados possíveis é: U : Não inicializado; final, não sabendo como atuar durante a
nais. O tipo INTEGER é útil para equações X : Forçado “Unknown”; 0 : Forçado Zero; presença destes estados, pode funcionar
matemáticas e contadores, mas não é prático 1 : Forçado Um; Z : Alta impedância; W : incorretamente.
quando se precisa extrair um ou mais bits “Unknown” fraco; L : Zero fraco; H : Um Os tipos enumerados são muito usados
para serem usados em outras equações. fraco; - : Don’t care. A maioria dos estados é para definir os possíveis estados de uma
Do ponto de vista do hardware um sinal somente útil em projetos mais complexos. Os máquina de estados finitos (FSM ou Finite
INTEGER é, de fato, um barramento de n estados ‘0’, ‘1’, ‘Z’ e ‘-‘ são mais usados. State Machine). Obviamente o nome de cada
bits, sendo o número de bits correspondente O tipo MY_TYPE (apenas no exemplo estado ajuda a entender a sua finalidade
ao necessário para expressar toda a gama pois poderia ter qualquer nome) é também e é mais amigável que séries de valores
de valores que o sinal pode ter (indicado chamado de tipo enumerado, ou seja, onde binários.
no range). cada estado possível recebe um nome es- Os tipos compostos apareçem no quadro
O REAL é um tipo apenas aplicável em colhido pelo projetista. Durante o processo 3. Os VECTORs são pré-definidos e não
simulações e não poderá ser sintetizado, de síntese os sinais de tipo enumerado são exigem uma declaração de tipo (type). Um
isto é, a ferramenta de síntese não saberá montados como barramentos com tantos std_logic_vector ou bit_vector representa
como traduzir um sinal REAL em hardwa- bits quantos necessários para, através de um barramento de tantos bits quanto os
re. Note-se que operações aritméticas com números binários ou one-hot (barramento de declarados na expressão X downto Y, onde
números reais somente podem ser feitas n bits onde apenas um bit de cada vez pode X é o número do bit mais a esquerda do
através da implementação de um hardware ficar em nivel 1), representar todos os estados barramento e Y o mais a direita. Embora
correspondente, para o processamento em declarados. Observar que, na representação Y possa ter qualquer valor (sempre menor
ponto flutuante. Tal implementação fica por binária poderão ser possíveis mais estados que X) recomenda-se usar 0 (zero) pois al-
conta do projetista. do que os declarados (com 3 bits existem 8 gumas ferramentas de síntese causam erros
O tipo STD_LOGIC é o mais usado. combinações e quando apenas 5 estados quando Y é maior que zero. A declaração de
Ele permite que o sinal possa assumir até são declarados ainda sobram outros três). largura pode ser tanto DOWNTO como TO.

2011 I SABER ELETRÔNICA 457 I 61


Desenvolvimento

Signal teste: bit_vector (3 downto 0) : = 0”0100”; 1. Os arrays e vetores devem ser


do mesmo tipo;
array
type memoria is array (3 downto 0) of std_logic; 2. Os arrays e vetores devem ser
type dados is array (255 downto 0) of integer range 0 to 9;
*bit_vector e std_logic_vector são tipos compostos pré-definidos do mesmo tamanho;
a) 3. As designações são posicionais,
type OPCODE is recorded da esquerda para direita;
parity : bit;
address : std_logic_vetor (3 downto 0); signal word : bit_vector (15 downto 0);
data : std_logic_vector (7 downto 0); signal data : bit_vector (7 downto 0); signal BusX, BusY : bit_vector (2 downto 0)
num_value : integer range 0 to 5 signal aux : bit vector (3 downto 0);
signal BusZ: bit_vector (0 to 2);
crc : bit_vector (1 downto 0); signal zz : std_logic_vector (0 to3);
end record; signal a, b, c, d : bit;
(a,b,c,d) <= aux; (*)
signal TxPacket, RxPacket : opcode; data < (c, aux(1), aux(2), data (0), ‘0’, ‘0’, b, a); BusY <= BusX BusZ <= BusX
TxPacket word <= (15 => ‘1’, 14 => data(2), 0 2 1 0 BusX 2 1 0 BusX
=> c,2 a, others => ‘0’);
zz <= ( others => ‘1’);
Address Data Num CRC 2 1 0 BusY 0 1 2 BusZ
Parity

*Apenas tipos escalares podem ser agregados


b) no lado esquerdo da instrução.
c)

Quadro 3. Tipos Compostos: a) Vetores e Arrays - Os vetores são os mais comuns; Quadro 4. Atribuições (conexão) com ve-
b) Record - Barramento composto de vários sinais; c) Agregados (agregates) tores e arrays. A importância na ordem
- forma de associação de sinais. do barramento.

O VHDL não impõe restrições e a ordem de deslocamento (shift register) e a saída momento que a forma posicional serve
(do bit mais significativo para o bit menos resultante usada numa interface serial de para indicar a posição exata de um bit de
significativo) sempre é feita da esquerda comunicação. Outro exemplo é o uso do um barramento. Como no exemplo em 3c,
para a direita. record para descrever microinstruções segunda linha, onde o sinal c vai ligado
Recomenda-se usar consistentemente de um processador. Para acessar as partes no bit 7 de data, o sinal aux(1) vai no bit 6 e
apenas uma orientação, pois do contrário individuais de um record basta usar: assim por diante.
uma conexão entre dois sinais pode signi- Já a forma nomeada indica em que bit
ficar a inversão de um barramento (veja o <signal_name>.<field_name> do barramento o sinal em questão será
quadro 4). ligado. Veja a terceira linha do exemplo
Normalmente, usa-se a ordem DOWN- Exemplo: onde o sinal data(2) é ligado ao bit 14 de
TO por ser a mesma da representação em word. Lembre-se disso, pois estas formas
esquemas e a mais natural aos projetistas Signal contador : std_logic_vector (3 downto 0); posicional e nomeada são empregadas em
de circuitos lógicos. TxPacket.address <= contador; outras referências no VHDL.
A inicialização, feita na declaração TxPacket.num_value := 3; Adicionalmente ao exemplo uma expres-
dos sinais (como indicado no exemplo TxPacket.parity <= contador (0) xor contador são data <= (a,b,c,d,aux); não funcionaria
do quadro 3a – :=”0100”), é útil para a si- (1) xor contador (2) xor contador (3); porque a ferramenta de síntese percebe que
mulação e não é sintetizável. Quando um … os tipos de data e aux são diferentes.
sinal não é inicializado, os simuladores Também a expressão zz <= aux; não
não conseguem calcular os resultados das funcionaria pelo mesmo motivo, contudo
lógicas dependetes deste sinal. No caso Finalmente, os agregados são na verdade isso pode ser resolvido, neste caso, empre-
do ModelSIM, um ou mais sinais e outras a forma de associar partes individuais de gando-se uma função de conversão de tipos:
lógicas dependentes deste de um sinal não outros sinais e constantes de forma a com- zz <= to_stdlogicvector (aux);
inicializado aparecem na janela de análise por um sinal diferente. O uso da palavra Ainda sobre sinais, na representação de
como uma linha vermelha. reservada “others” indica que todas as valores, conforme o tipo usa-se:
Um tipo muito interessante e que demais posições não explicitamente indica-
desperta a imaginação dos projetistas é das devem assumir o estado apontado. Os Bit ou Std_logic = ‘0’ ou ‘1’ ou ‘Z’
Bit_vector ou Std_logic_vector = “0010”
o RECORD. Com ele, monta-se um barra- agregados somente podem ser compostos
ou “1110101001Z00”
mento complexo onde cada parte pode ser de elementos associados de forma posicional Intege = 23 ou 18594 ou 89234551
tratada individualmente. ou nomeada.
Depois este barramento pode ser Os dois modos não podem ser usados
carregado, digamos, em um registrador juntos na mesma atribuição. Vale dizer neste E

62 I SABER ELETRÔNICA 457 I 2011


Eletrônica Aplicada

Setembro/Outubro 2011 I SABER ELETRÔNICA 455 I 29

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abcdefghijklmnopqrstuvwxy
ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ

Desenvolvimento

Fonte fixa de
12/12,6/13,2 V x 10 A

E
quipamentos de uso móvel tais O uso de um circuito integrado de
Equipamentos de uso móvel como transmissores de VHF, FM, precisão, como referência de tensão, tor-
como transmissores podem ser 11 metros, radioamadores das na esta fonte muito estável e segura na
faixas de ondas curtas, inversores, alimentação de qualquer equipamento
facilmente alimentados pela ba-
etc., exigem correntes elevadas quando indicado para o carro ou bateria como
teria do carro, no entanto, se eles alimentados por uma fonte. Em alguns fonte de alimentação.
forem usados em uma bancada casos, a corrente de operação a máxima
ou precisarem passar por testes, potência pode chegar aos 10 ampères, o Como funciona
que inviabiliza o uso de fontes comuns ou O circuito de entrada consta de um
ajustes ou reparações precisarão simples eliminadores de pilhas. transformador que abaixa a tensão da rede
de uma fonte cuja capacidade O que propomos neste projeto é uma de energia de 110 V ou 220 V para uma
excelente fonte de alimentação de 12 a tensão menor, entre 15 e 20 V sob corrente
de corrente está muito além da
13,2 V que pode fornecer correntes até máxima de 10 A.
fornecida por projetos comuns. O 10 A, servindo pois para a alimentação Há transformadores que podem ser
circuito que descrevemos aqui é de todos os equipamentos descritos na encontrados prontos para esta finalidade.
introdução. Mas, se isso não for possível, o leitor terá
ideal para alimentar transmissores
de comunicações de uso móvel
com potências até 50 W e mesmo
para circuitos especiais, a exemplo
dos inversores.

Newton C. Braga

F1. Esquema elétrico


da fonte fixa.

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duas alternativas: uma será mandar en- ainda dois capacitores de 4 700 µF x 35 V maior que outro, sofrendo com isso uma
rolá-lo e outra será usar um de tensão na ligados em paralelo. sobrecarga que pode levá-lo à queima.
faixa indicada, mas com corrente menor, Temos finalmente a etapa de regulação: Na saída do circuito, além de um fu-
caso em que a capacidade da fonte ficará a referência de tensão é dada pelo circuito sível adicional de proteção de 15 A temos
reduzida. Neste caso, se ela puder ainda integrado 7812, o qual deverá ser montado também um capacitor de desacoplamento
ser usada com o equipamento que o leitor num bom radiador de calor. Ligando ao e um resistor de carga, cuja finalidade é
dispuser, não haverá nenhum problema. terminal de referência deste integrado dio- manter a tensão nos terminais, mesmo na
A tensão reduzida pelo transforma- dos, podemos alterar levemente a tensão ausência de uma carga externa.
dor é então retificada por uma ponte de saída. A chave S2 se encarrega disso.
de diodos. Podem ser colocados diodos Para cada diodo colocado no circuito Montagem
separados ou pontes completas, conforme temos um acréscimo de 0,6 V o que nos O circuito completo da fonte é mos-
indicadas na lista de material. leva a 13,2 V, que é aproximadamente a trado na figura 1.
Como cada diodo só conduz durante tensão que encontramos nos terminais de A disposição dos componentes em
metade do ciclo de alimentação, sua espe- uma bateria de uso automotivo de 12 V uma placa de circuito impresso é ilustrada
cificação de corrente deve ser apenas um quando completamente carregada. na figura 2.
pouco maior que metade do valor máximo O circuito integrado 7812 só fornece Os transistores devem ser montados
de saída. Assim, diodos para 8 A ou mais correntes até 1 A, mas esta intensidade em radiadores de calor de pelo menos 50
podem ser utilizados. Sua tensão inversa é suficiente para excitar três transistores cm quadrados (5 cm x 10 cm), com fixação
de pico (PIV) deve ser de pelo menos 100 2N3055 ligados em paralelo. Cada transis- em local de boa ventilação.
V para maior segurança. tor poderá então controlar 3,33 ampères, o O regulador de tensão CI1 deve ter um
Logo após a retificação temos a filtra- que está bem dentro de sua capacidade. radiador de calor menor.
gem, que deve ser excelente para que não Veja que nos emissores dos transis- Para a retificação pode ser usada uma
ocorram zumbidos na reprodução sonora tores temos resistores de 0,22 ohms. Sua ponte Semikron SKB 7/02, ou ainda os
dos aparelhos alimentados. finalidade é distribuir igualmente a cor- diodos SK2 ou SK3 para 200V.
É uma prática segura usar 1 000 µF rente entre estes componentes, pois suas O capacitor eletrolítico de filtragem,
para cada ampère de corrente de saída características não são exatamente iguais. de 10 000 µF, pode ser obtido com a liga-
com uma fonte até 12 V. Recomendamos, Sem os resistores existe o perigo de um ção de dois eletrolíticos de 4 700 µF x 35
portanto, um capacitor de 10 000 µF ou transistor ter de conduzir uma corrente V em paralelo.

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Desenvolvimento

Os resistores R2, R3 e R4 são de fio de paralelo, caso a corrente máxima desejada Prova e uso
0,22 ohms com pelo menos 2 W de dissi- seja um pouco menor ou maior que a Para provar a fonte, é só ligar algum
pação. Tendo dificuldades em se conse- indicada aqui. aparelho com consumo conhecido em sua
guir estes valores de resistores, existem Por exemplo, com dois transistores saída, e verificar se a tensão se mantém
alternativas: 2N3055 poderemos ter uma fonte até 5 ou estável. Uma lâmpada de 12 V de farol de
• Ligação de dois resistores de 0,47 6 A; e com apenas um, a fonte chegará aos carro é uma boa carga para esta prova.
ohms x 1 W em paralelo. 3 ou 4 A de saída. Na ligação de equipamentos eletrôni-
• Ligação de quatro resistores de 1 Por outro lado, acrescentando mais um cos em geral tais como transmissores, apa-
ohm x 1W em paralelo. transistor, levando a 4, poderemos ter saí- relhos de som, transceptores e toca-fitas é
A chave S2 seleciona a tensão de saída: das que superam os 12 A. Evidentemente, preciso observar a polaridade dos fios.
na posição A temos 12 V, na posição B te- o transformador e os diodos deverão ter A lâmpada néon é opcional, servindo
mos 12,6 V e na posição C temos 13,2 V. suas especificações alteradas para as novas apenas para indicar que a fonte se encon-
O resistor R6 deve ser de fio com pelo correntes que deverão ser fornecidas. tra ligada. E
menos 5 W de dissipação.
Observamos que os fios de ligação que
conduzem as correntes principais devem
ser todos grossos (18 ou 16).
Uma outra modificação possível para
este projeto consiste em se alterar a quan-
tidade de transistores 2N3055 ligados em

Lista de Materiais
Semicondutores:
CI1 - 7812 - circuito integrado regu-
lador de tensão
Q1, Q2, Q3 - 2N3055 - transistores NPN
de alta potência
D1 a D2 - diodos SK2 ou SK3 (Semi-
kron)
D3, D4 - 1N4002 - diodos de silício

Resistores:
R1 - 220 kW x 1/8 W
R2, R3, R4 - 0,22W x 2 W - fio
R5 - 2,2 kW x ½ W
R6 - 100W x 5 W - fio

Capacitores:
C1 - 10 000 µF x 35 V - eletrolítico
- ver texto
C2 - 100 µF x 16 V - eletrolítico

Diversos:
NE-1 - lâmpada néon comum
S1 - Interruptor simples
S2 - Chave de 1 polo x 3 posições,
rotativa
T1 - Transformador com primário
conforme a rede local de energia
e secundário de 15 a 22 V x 10 A
- ver texto
F1 - Fusível de 3 A
F2 - Fusível de 15 A

Placa de circuito impresso,radiadores de


calor para os transistores,fios,solda,cabo
de força, suporte para os fusíveis, caixa
para montagem, fios com garras para
conexão ao aparelho alimentado ou
conector do tipo acendedor de cigarros
de carro, fios comuns, solda etc.
F2. Montagem em
placa de circuito

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