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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE


DIREITO DA 2ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE GRAVATÁ/PE

Processo nº 0000646-76.2018.8.17.2670

DANILO APOLÔNIO SERCUNDES SANTOS,


já qualificado nos autos em que contende com ALVES PEIXOTO
AUTOMÓVEIS LTDA, vem, por meio de seus advogados infrafirmados,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, apresentar
RÉPLICA AOS EMBARGOS MONITÓRIOS, pelas razões de fato e
de direito a seguir aduzidas.

I – DA TOTAL IMPROCEDÊNCIA DOS EMBARGOS MONITÓRIOS.


VERDADE DOS FATOS.

Ingressou-se com a presente ação monitória,


para impelir a parte embargante ao pagamento de dívida, lastreada
em cheque prescrito, no montante atualizado de R$ 155.733,90
(cento e cinquenta e cinco mil setecentos e trinta e três reais
e noventa centavos), restando assim demonstrado a plena
existência, validade e exigibilidade do débito pendente de satisfação.
Expediu-se o respectivo mandado monitório,
determinando-se à parte demandada o cumprimento da obrigação de

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pagar no prazo legal, com isenção de custas e redução da verba


honorária, nos termos do art. 701, §1º, do CPC/2015.
Todavia, a parte demandada apresentou
embargos monitórios, alegando que, de fato, houve o empréstimo de
R$ 100.000,00 (cem mil reais) à pessoa jurídica embargante,
afirmando, contudo, que o pagamento já estaria satisfeito, por meio
de financiamento de veículo do tipo Land Rover Freelander 2, HSE I6,
ano e modelo 2010, no valor total de R$ R$ 108.761,48 (cento e oito
mil setecentos e sessenta e um reais e quarenta e oito centavos), o
qual teria sido repassado ao embargado, para uso próprio.
A embargante ainda afirmou que a
representante legal da empresa custeou diversas despesas de ordem
pessoal do embargado, como a reforma do seu imóvel, entre outras,
apesar de não apresentar qualquer recibo ou comprovante de tais
gastos, sustentando que estes supostos dispêndios também teriam
servido para satisfazer a dívida contraída pela empresa embargante
com o embargado.
Justificou-se a menção a tais supostos
pagamentos de despesas pessoais do embargado como pretendida
satisfação do empréstimo, em razão de a representante legal da
empresa embargante e o embargado terem vivido em união estável
por quinze anos, alegando-se ainda que tal fato teria sido
indevidamente omitido pelo embargado, que apenas buscaria a
cobrança judicial da dívida, por não aceitar o fim do relacionamento.
Trata-se de ilação absurda da parte
embargante, que deve ser totalmente desconsiderada, eis que
consiste em mais um subterfúgio da parte devedora para se imiscuir

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do seu dever legal de pagar, plenamente válido, eficaz e pendente de


satisfação. Não discorreu o embargado sobre eventual
relacionamento pessoal com a representante legal da empresa, por
ser matéria estranha e sem relação com a dívida cobrada, até mesmo
porque o débito, de caráter comercial, foi contraído pela empresa
ALVES PEIXOTO AUTOMÓVEIS LTDA – parte embargante – que se
configura como sociedade empresarial, com patrimônio próprio e
capacidade autônoma para contrair obrigações de forma
independente. Logo, a sociedade embargante não se confunde com a
figura dos seus sócios, nem mesmo com seus administradores e
representantes legais.
Nos próprios embargos reconhece-se
expressamente que “Em verdade, houve o mencionado empréstimo
no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais) para a pessoa jurídica
Embargante”, contudo, tenta-se confundir a figura da empresa
devedora com uma das suas sócias. Para o correto deslinde da causa,
é importante não se confundir tais figuras, atentando-se para o fato
de que o empréstimo foi feito em favor da pessoa jurídica devedora,
que teve esse montante agregado ao seu patrimônio, mas que até o
presente momento continua em mora com o pagamento.
Da mesma forma que o nosso ordenamento
veda o uso abusivo da personalidade jurídica para dificultar ou
impedir a satisfação de créditos e obrigações (art. 50, CC/2002 e art.
28, CDC), pela mesma lógica, também não deve ser admitido que
pessoa física, abusivamente, tome vantagem de relações pessoais
com devedores de sua empresa, para frustrar a satisfação dos
débitos da pessoa jurídica.

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Assim sendo, percebe-se que a defesa da


parte embargante encontra-se pautada unicamente na suposta dação
em pagamento de automóvel (Land Rover Freelander 2, HSE I6, ano
e modelo 2010), única despesa comprovada nos autos, que todavia,
não tem o condão de afastar a dívida cobrada.
Os próprios documentos acostados aos autos
pela embargante demonstram a impertinência da aquisição desse
veículo com a dívida ora cobrada, não apenas porque tal aquisição
não foi realizada pela empresa devedora, mas especialmente porque
é facilmente verificável que a aquisição do veículo foi em data
anterior à emissão do cheque que lastreia essa monitória,
veja-se:

CONTRATO DE FINANCIAMENTO DO VEÍCULO (ID 34842370):

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CHEQUE QUE LASTREIA A DÍVIDA COBRADA (ID 30982271):

Não há, portanto, qualquer sentido em se


afirmar que a aquisição do veículo foi realizada para saldar a dívida
do cheque, se o veículo foi adquirido em março de 2015, antes
mesmo de o cheque ser emitido, em maio de 2015. O financiamento
do veículo e a emissão do cheque são, portanto, negócios distintos e
desvinculados.
Ademais, caso tal veículo tivesse, de fato, sido
adquirido com a finalidade de saldar parte da dívida contraída pela
empresa, deveria ter sido formalizada a aquisição em nome do
embargado e não da sócia da empresa embargante. Apesar de insistir
a parte embargante que o embargado utilizava tal veículo “como se
fosse dono”, apenas apresenta como provas dessa suposta afirmação
fotos do embargado dentro de um veículo, sem qualquer sinal distinto
que demonstre ser tratar do mesmo bem objeto do financiamento.
Também afirma a parte embargante que o
embargado teria repassado o veículo que estava em nome de uma

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das sócias da empresa devedora e ficado com o dinheiro para si, mas
não traz aos autos qualquer prova dessa absurda afirmação. Caso o
embargado tivesse negociado em seu nome veículo pertencente a
outra pessoa, necessitaria da autorização desta e, seguramente,
haveria registros da formalização dessa transferência, em poder da
sócia da embargante, além de meras “fotos” sem qualquer força
probante.
Assim sendo, levando em conta que a
aquisição do veículo pela sócia da embargante foi anterior à emissão
do cheque, sendo claro que não serviu para pagamento da dívida em
cobrança, considerando ainda que não foram apresentadas pela
embargante quaisquer provas com aptidão de demonstrar ter o
embargado efetivamente gozado exclusivamente do veículo e dos
valores com a sua revenda, é de se concluir ser totalmente
impertinente cogitar-se acerca das condições desse negócio para
julgamento desta causa, devendo ser totalmente desconsiderado tal
ponto da defesa.
Consequentemente, a ouvida de “testemunha”
requerida pela parte embargante é medida desnecessária, não
havendo razão para designação de audiência instrutória com esse
fim, até mesmo porque o fato discutido – dação em pagamento de
veículo para pagamento da dívida – não se prova mediante ouvida de
testemunha, já que se trata de negociação que deve restar
formalizada por documentos não apresentados pela embargante no
momento oportuno (como aditivos contratuais, comprovantes de
transferências de ativos, propostas de revenda, registros no Detran
em nome do embargado, etc.).

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Enfim, é importante considerar que, conforme


determinado em lei, cheque é título de crédito que contém “ordem
incondicional de pagar quantia determinada”, sendo forma de
pagamento à vista (art. 1º, inc. II, Lei nº 7.357/1985). A parte
embargante, todavia, reconhece a existência da dívida lastreada no
cheque, mas não demonstra ter o embargado concordado em receber
parte do valor da dívida mediante a dação em pagamento de veículo
e não com o desconto do cheque em instituição bancária. Com efeito,
ao contrário do afirmado pela embargante, não houve qualquer
acerto entre as partes quanto à futura devolução do cheque sem
fundos, tendo o embargado retardado a cobrança em juízo da dívida
até o presente momento, apenas por acreditar que poderia resolver a
questão amigavelmente.
Caso, de fato, a embargante tenha emitido
cheque sem intenção real de honrar a dívida, apenas para frustrar o
direito de crédito do embargado, trata-se de conduta ilícita, sendo
pertinente ressaltar que a emissão de cheque sem provisão de fundos
configura modalidade especial de estelionato (art. 171, §2º, VI, CP).

II – DO SUPOSTO EXCESSO DE COBRANÇA


A parte embargante alega suposto excesso de
cobrança, alegando que deveria ter sido aplicada a tabela ENCOGE,
de modo que o valor correto da dívida atualizada seria R$ 118.604,20
(cento e dezoito mil seiscentos e quatro reais e vinte centavos) e não
o montante de R$ 155.733,90 (cento e cinquenta e cinco mil
setecentos e trinta e três reais e noventa centavos) apontado pelo
embargado. Assim, a juízo da embargante, haveria um suposto

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excesso de 37.129,68 (trinte e sete mil cento e vinte nove reais e


sessenta e oito centavos).
Tal alegação de excesso na cobrança, todavia,
não merece prosperar, porquanto a tabela ENCOGE, de acordo com o
determinado na Instrução de Serviço nº 08/2011 do TJPE, é aplicável
para atualização monetária de valores decorrentes de decisões
judiciais em liquidação, ao passo que a dívida em cobrança não se
configura como um “débito judicial”, por ser decorrente de
negociação privada de mútuo, lastreada em cheque.
O próprio TJPE, com base em entendimento
sufragado pelo STJ, já determinou que, mesmo quando ação
monitória é julgada procedente, deve prevalecer o índice de correção
negocialmente acertado, não se aplicando a tabela ENCOGE, veja-se:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. RECURSO DE APELAÇÃO


CÍVEL. AÇÃO MONITÓRIA. SENTENÇA QUE JULGOU
PROCEDENTE A MONITÓRIA PARA CONVERTÊ-LA EM
AÇÃO DE EXECUÇÃO. LIMITAÇÃO DA INCIDÊNCIA DA
CORREÇÃO MONETÀRIA DE ACORDO COM A TABELA DO
ENCOGE E FIXAÇÃO DE JUROS DE MORA À BASE DE 1% AO
MÊS. IMPOSSIBILIDADE. PREVALÊNCIA DA INCIDÊNCIA
DOS ENCARGOS, NA CONFORMIDADE COM O CONTRATO
DE ABERTURA DE CONTA CORRENTE CELEBRADO ENTRE AS
PARTES, PRECEDENTES DO STJ. MODIFICAÇÃO DA
SENTENÇA QUE SE IMPÕE. À UNANIMIDADE DE VOTOS,
DEU-SE PROVIMENTO AO APELO. I- O mero ajuizamento da
ação monitória não tem o condão de fazer cessar a
incidência dos encargos contratados entre as partes, os
quais devem subsistir até a satisfação do título. II -
Reforma da sentença que se impõe para que os encargos

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incidentes sobre o valor devido respeitem as cláusulas


existentes no contrato de abertura de conta corrente, até a
data do efetivo pagamento. III-A unanimidade de votos,
deu-se provimento ao presente Recurso de Apelação Cível.
(TJ-PE - APL: 5045741 PE, Relator: Itabira de Brito Filho,
Data de Julgamento: 02/08/2018, 3ª Câmara Cível, Data de
Publicação: 16/08/2018)

Assim, a propositura de ação monitória para


cobrança de dívida líquida e exequível não tem o condão de
“transformar” o montante pendente de satisfação em “débito
judicial”, sendo certo que no presente caso não se aplica a correção
pela tabela ENCOGE.
Também não merece prosperar a impugnação
da parte embargante quanto à aplicação de juros de mora no
percentual legal de 1%. A esse respeito, a lei do cheque (Lei
7.357/85, art. 52, inc. II) é clara ao determinar a incidência de juros
legais desde “o dia da apresentação” e o STJ, por sua vez, reforçou
tal comando legal, consagrando o entendimento de que a incidência
dos juros legais incide, desde o vencimento da dívida, ainda que
esta venha depois a ser cobrança em ação monitória:

RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA.


CHEQUE. INEXISTÊNCIA DE QUITAÇÃO REGULAR DO
DÉBITO REPRESENTADO PELA CÁRTULA. TESE DE QUE
OS JUROS DE MORA DEVEM FLUIR A CONTAR DA CITAÇÃO,
POR SE TRATAR DE AÇÃO MONITÓRIA. DESCABIMENTO.
CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS MORATÓRIOS. TEMAS DE
DIREITO MATERIAL, DISCIPLINADOS PELO ART. 52,
INCISOS, DA LEI N. 7.357/1985. 1. A tese a ser firmada,

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para efeito do art. 1.036 do CPC/2015 (art. 543-C do


CPC/1973), é a seguinte: "Em qualquer ação utilizada
pelo portador para cobrança de cheque, a correção
monetária incide a partir da data de emissão
estampada na cártula, e os juros de mora a contar da
primeira apresentação à instituição financeira sacada
ou câmara de compensação". 2. No caso concreto,
recurso especial não provido.
(STJ - REsp: 1556834 SP 2015/0239877-3, Relator:
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de Julgamento:
22/06/2016, S2 - SEGUNDA SEÇÃO, Data de Publicação:
DJe 10/08/2016)

Logo, as alegações de excesso de cobrança


são totalmente infundadas, devendo ser afastadas, estando correto
o valor da dívida apontado pelo embargado em sua Inicial.

III – DA LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ


Como exaustivamente demonstrado, a dívida
em cobrança encontra-se ainda pendente de satisfação, eis que a
empresa embargante, apesar de reconhecer a realização do
empréstimo, não conseguiu demonstrar em seus embargos ter se
efetuado o devido pagamento, tentando-se confundir a figura da
empresa devedora com uma de suas sócias, na tentativa de turbar a
correta compreensão do litígio, deduzindo defesas impertinentes e
carentes de lastro probatório. O descumprimento injustificado do
dever de pagar no caso é, portanto, evidente.
Ocorre que a legislação processual censura
expressamente a apresentação de embargos monitórios desprovidos

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de fundamentos, apenas para suspender os efeitos da ordem de


pagamento e retardar a satisfação da obrigação pendente. Nesse
sentido dispõe o §11, do art. 702, do CPC/2015, ao dispor que “o
juiz condenará o réu que de má-fé opuser embargos à ação
monitória ao pagamento de multa de até dez por cento sobre o
valor atribuído à causa, em favor do autor”.
Assim sendo, uma vez reconhecida a total
carência de fundamentos dos embargos e o seu caráter meramente
protelatório, deve-se ser julgada procedente esta ação monitória,
condenando-se a parte embargada ao pagamento de multa, nos
termos do art. 702, §11, do CPC/2015.

IV – DA CONCLUSÃO

Por tudo quanto exposto, requer-se a Vossa


Excelência o prosseguimento do feito, para que os embargos
apresentados sejam julgados totalmente improvidos, confirmando-se
a ordem de pagamento constante no mandado monitório expedido,
desse modo determinando-se o seguimento do feito para
cumprimento do título executivo judicial, nos termos do art. 513 e
seguintes do CPC/2015, além da condenação da parte embargante ao
pagamento de multa, nos termos do art. 702, §11, do CPC/2015.

Termos em que,
Aguarda deferimento.

Recife, 13 de novembro de 2018.

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