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Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

PJe - Processo Judicial Eletrônico

15/01/2020

Número: 0700255-90.2020.8.07.0018
Classe: AÇÃO POPULAR
Órgão julgador: 4ª Vara da Fazenda Pública do DF
Última distribuição : 15/01/2020
Valor da causa: R$ 1.000,00
Assuntos: Atos Administrativos
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Advogados
FRANCISCO DOMINGOS DOS SANTOS (AUTOR)
EDUARDO OCTAVIO TEIXEIRA ALVARES (ADVOGADO)
ARLETE AVELAR SAMPAIO (AUTOR)
EDUARDO OCTAVIO TEIXEIRA ALVARES (ADVOGADO)
FABIO FELIX SILVEIRA (AUTOR)
EDUARDO OCTAVIO TEIXEIRA ALVARES (ADVOGADO)
REGINALDO VERAS COELHO (AUTOR)
EDUARDO OCTAVIO TEIXEIRA ALVARES (ADVOGADO)
DISTRITO FEDERAL (RÉU)

Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
53596303 15/01/2020 petição inicial Petição
16:19
EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DE FAZENDA
PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL.

URGENTE – PEDIDO DE SUSPENSÃO LIMINAR.


SEM CUSTAS INICIAIS – PREVISÃO CONSTITUCIONAL.

FRANCISCO DOMINGOS DOS SANTOS (Chico Vigilante),


brasileiro, vigilante, casado, portador da Cédula de Identidade nº 522.772 – SSP/DF,
inscrito no CPF/MF sob o nº 297.313.721-72, residente e domiciliado na QNP 18,
Conjunto E, Casa 29, Setor P Sul, Ceilândia, Brasília/DF, CEP: 72.231-805,
REGINALDO VERAS COELHO, brasileiro, professor, casado, portador da Cédula de
Identidade nº 1.161.448 – SSP/DF, inscrito no CPF/MF sob o nº 635.010.241-00,
residente e domiciliado na CSB 1P, Lote 4, Bloco B, Apartamento 203, Taguatinga Sul,
Brasília/DF, CEP: 70.297-400, ARLETE AVELAR SAMPAIO, brasileira, solteira,
deputada Distrital, portadora da Cédula de Identidade 270.138 – SSP/DF, inscrita no
CPF/MF sob o nº 057.330.141-72, residente e domiciliada na SQN 106, Bloco H,
Apartamento 606, Brasília/DF, CEP: 70.742-080, e FÁBIO FÉLIX SILVEIRA,
brasileiro, deputado Distrital, solteiro, portador da Cédula de Identidade nº 2.368.461 –
SSP/DF, inscrito no CPF/MF sob o nº 010.806.391-79, residente e domiciliado na SQN
312, Bloco B, Apto. 210, Brasília/DF, CEP: 70.765-020, vêm, por seu advogado, com
base no art. 5º, LXXIII, da Constituição Federal de 1988, e art. 1º da Lei nº 4.717/65,
propor a presente

AÇÃO POPULAR,
com pedido de suspensão liminar do ato lesivo
impugnado,

Número do documento: 20011516084587000000051308744


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em desfavor do DISTRITO FEDERAL, pessoa jurídica de direito público interno, por
intermédio da Secretaria de Estado de Transporte e Mobilidade do Distrito Federal,
inscrita no CNPJ/MF sob o nº 00.394.726/0001-56, representado pelo Procuradoria-Geral
do Distrito Federal, sediada no SAM, Projeção A, Edifício Sede da Procuradoria-Geral
do Distrito Federal, Brasília/DF, CEP: 70.620-000, Telefone: (61) 3325-3300; e-mail:
procuradoria@pg.df.gov.br, pelos motivos de fato e de direito a seguir deduzidos.

PRELIMINARMENTE

Legitimidade ativa

A ação popular é o instrumento jurídico que deve ser utilizado para


impugnar atos administrativos omissivos ou comissivos que possam causar danos ao
patrimônio público e a sua coletividade. Portanto, a ação popular é o meio adequado
colocado à disposição do cidadão, que possibilita o exercício de vigilância entre a
adequação das atividades desenvolvidas pela Administração Pública e o interesse coletivo
e o bem comum dos administrados.

No que diz respeito à ação popular propriamente dita, a previsão


constitucional sobre seu cabimento é de cristalina interpretação:

“LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação


popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de
entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao
meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor,
salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da
sucumbência”.

Os autores da demanda possuem a qualidade de cidadãos em pleno gozo


de seus direitos políticos, conforme a documentação comprobatória em anexo e, diante
da impossibilidade de sustarem a norma de competência do Poder Executivo do Distrito
Federal, vêm socorrer-se do Judiciário para evitar que a população sofra com uma medida
nociva como o aumento abusivo da tarifa do transporte público como a seguir melhor
esmiuçado.

Número do documento: 20011516084587000000051308744


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DOS FATOS

No dia 10/01/2020, o Excelentíssimo Sr. Governador do Distrito Federal


em exercício publicou o Decreto nº 40.381/20201, que “Classifica as linhas dos modos
rodoviário e metroviário do Serviço Básico do Sistema de Transporte Público Coletivo
do Distrito Federal - STPC/DF e fixa as respectivas tarifas”. (Doc. Anexo).

O referido Decreto teve como finalidade principal aumentar o valor das


tarifas devidas ao usuário, valores cobrados diretamente dos passageiros pagantes não
gratuitos do STPC. Confira-se:

“Art. 3º As tarifas do modo rodoviário do Serviço Básico do Sistema


de Transporte Público Coletivo do Distrito Federal passam a vigorar
com os seguintes valores:
I - as linhas classificadas como "Urbana 1 (U-1) " e "Urbana 3 (U-3)
" passam de R$ 2,50 (dois reais e
cinquenta centavos) para R$ 2,75 (dois reais e setenta e cinco
centavos);
II - as linhas classificadas como "Metropolitana 1 (M-1) ",
"Metropolitana 3 (M-3) " e "Urbana 2 (U-2) "
passam de R$ 3,50 (três reais e cinquenta centavos) para R$ 3,85
(três reais e oitenta e cinco centavos);
III - as linhas classificadas como "Metropolitana 2 (M-2) " passam
de R$ 5,00 (cinco reais) para R$ 5,50
(cinco reais e cinquenta centavos);
Art. 4º A tarifa do modo metroviário do Serviço Básico do Sistema
de Transporte Público Coletivo do Distrito
Federal - METRÔ/DF passa a vigorar com o valor único de R$ 5,50
(cinco reais e cinquenta centavos).
Art. 5º As tarifas relativas ao Serviço de Transporte Público
Complementar Rural - STPCR passam a vigorar
com os seguintes valores:
I - as linhas integrantes do Grupo I de R$ 3,50 (três reais e cinquenta
centavos) passam para R$ 3,85 (três
reais e oitenta e cinco centavos);
II - as linhas integrantes do Grupo II de R$ 3,50 (três reais e
cinquenta centavos) passam para R$ 3,85 (três
reais e oitenta e cinco centavos);
III - as linhas integrantes do Grupo III de R$ 3,50 (três reais e
cinquenta centavos) passam para R$ 3,85 (três
reais e oitenta e cinco centavos);
IV - as linhas integrantes do Grupo IV de R$ 5,00 (cinco reais)
passam para R$ 5,50 (cinco reais e cinquenta
centavos).

1 DODF de 10/01/2020, p. 7.

Número do documento: 20011516084587000000051308744


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Art. 6º Fixa-se o percentual a que se refere o artigo 2º da Lei n.º 445,
de 14 de maio de 1993 em 4%.

Só para ilustrar, traz-se abaixo a variação entre os novos valores e aqueles


que vigoram até o dia 12/01/2020, que foram implementados pelo Decreto nº
37.940/2016. Confira-se:

LINHA TARIFA TARIFA VARIAÇÃO (%)


DECRETO DECRETO
37.940/2016 40.381/2020

Urbana 1 e 3 R$ 2,50 R$ 2,75 10%

Metropolitana 1 e 3 R$ 3,50 R$ 3,85 10%


e Urbana 2

Metropolitana 2 R$ 5,00 R$ 5,50 10%

Metrô R$ 5,00 R$ 5,50 10%

Importante destacar que já no governo passado, gestão Rodrigo


Rollemberg, ocorreram dois aumentos2 da tarifa usuário, majorando o valor a ser
pago pelo cidadão entre 66% a 75% com relação à gestão anterior. Só para
exemplificar, no final da gestão Agnelo Queiroz, a maior tarifa paga pelo cidadão era
de R$ 3,00, sendo que tal valor, ao fim do governo passado, foi ampliado para R$
5,00, ou seja, um aumento real de 66% (sessenta e seis por cento) para o contribuinte.
Confira-se:

Gestão Agnelo Gestão Rollemberg Gestão Ibaneis


tarifa aumento tarifa aumento tarifa aumento
Circulação R$ 1,50 0% R$ 2,50 66% R$ 2,75 10%
Ligação I R$ 2,00 0% R$ 3,50 75% R$ 3,85 10%
Ligação II R$ 3,00 0% R$ 5,00 66% R$ 5,50 10%
Inflação do período 28,7% (IGPM) Inflação do Período 27% (IGPM)

2
O Decreto nº 36.762/2015 já havia onerado os valores das tarifas usuário em até 50%, conforme anexo.

Número do documento: 20011516084587000000051308744


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Assim, é importante destacar, de acordo com o quadro acima, que a tarifa-
usuário, de 2016 a 2017, já foi reajustada em até 75% para o contribuinte, ferindo, assim,
inexoravelmente, o princípio da modicidade tarifária, já que o que se pretende é transferir
para a população o ônus pela manutenção do sistema público de transporte do DF, como
se verá adiante.

Dito isso, sobreleva esclarecer, por outro lado, que, no ano de 2018, o
Distrito Federal arcou com R$ 276.582.490,00 a título de completação tarifária visando
à manutenção do equilíbrio financeiro do Sistema de Transporte Público do Distrito
Federal, que é o valor subsidiado pelo governo às empresas de transporte público. No
entanto, no ano de 2019, como se pode constatar abaixo, tal valor foi reduzido para R$
114.393.860,86, ou seja, uma economia aos cofres públicos de R$ 162.188.629,14, isto
é, uma redução de gastos na ordem R$ 141% (cento e quarenta e um por cento) com
relação à tarifa-técnica. Confira-se:

Fonte: SIGGO

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Fonte: SIGGO

Mesmo com a inegável redução de gastos públicos acima demonstrada, o


governador do Distrito Federal, conforme noticiado amplamente pela mídia, defende o
atual aumento dizendo que “pelos estudos realizados e levando em conta o reajuste da
tarifa técnica, esse reajuste se mostra necessário para melhorar as contas e manter o
sistema em pleno funcionamento3”.

No entanto, como se viu, desde o ano de 2015 as tarifas foram reajustadas


ao consumidor, considerando o decreto de 2020, em até 85%, enquanto o DF, só no ano
de 2019, economizou R$ 162.188.629,14, isto é, R$ 141% (cento e quarenta e um por
cento) em relação ao ano de 2018, o que revela a falta de motivos para o presente aumento
da tarifa, sob pena de reverter para o usuário o ônus de manter equilibrado o sistema
de transporte público do DF.

Com relação aos estudos que subsidiaram à edição do ato impugnado,


apresenta-se, em anexo, cópia integral do Processo Administrativo nº 00090-
00035959/2019-59, instaurado no âmbito da Secretaria de Estado de Transporte e
Mobilidade do Distrito Federal.

3
Disponível em:
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2020/01/10/interna_cidadesdf,819466/reajuste
-das-tarifas-de-onibus-e-publicado-no-diario-oficial-do-df.shtml.

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Sobreleva destacar, ainda, que a Câmara Legislativa do Distrito Federal –
CLDF, na data do dia 13/01/2020, solicitou ao Poder Executivo a imediata suspensão do
aumento das tarifas, alegando a instituição de grupos de trabalho para a apresentação de
proposta de aumento tarifário45,

Por fim, apresenta-se, em anexo, estudo realizado pela Fundação Getúlio


Vargas – FGV, por meio dos quais se sugere a redução em 2,5% dos custos na prestação
dos serviços do STPC/DF.

DO DIREITO

Do cabimento da ação popular

A ação popular é o meio adequado para se pleitear a anulação ou a nulidade


de atos lesivos ao patrimônio público e um modo geral e elenca as hipóteses de nulidade,
conforme o art. 2º da Lei 4.717/65. “In verbis”:

“Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades


mencionadas no artigo anterior, nos casos de:
a) incompetência;
b) vício de forma;
c) ilegalidade do objeto;
d) inexistência dos motivos;
e) desvio de finalidade”. (Grifos nossos)

No caso em tela, o presente aumento da tarifa de transporte, além de


penalizar toda a população do Distrito Federal, em especial os trabalhadores mais
humildes que dependem do transporte público coletivo, com os reajustes tarifários
fixados pelo Decreto nº 40.381/2020, também está maculado pelos vícios a seguir
noticiados.

4
https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2020/01/13/camara-legislativa-do-df-pede-suspensao-de-
reajuste-nas-tarifas-de-onibus-e-metro.ghtml
5
http://www.cl.df.gov.br/web/guest/ultimas-noticias/-/asset_publisher/IT0h/content/camara-pedira-ao-
governador-a-suspensao-do-reajuste-das-passagens-de-
onibus?redirect=http%3A%2F%2Fwww.cl.df.gov.br%2F

Número do documento: 20011516084587000000051308744


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Conforme se constata do texto do decreto ora impugnado, os fundamentos
que levaram ao presente aumento da tarifa do transporte público constam do Processo
Administrativo nº 00090-00035959/2019-59, instaurado no âmbito da Secretaria de
Estado de Transporte e Mobilidade do Distrito Federal.

Dito isso, impõe-se, prima facie, observar o que dispõe o art. 12 da Lei nº
239/92, que “dispõe sobre a extinção do Caixa Único, sobre a criação de novos
mecanismos de gerenciamento do sistema de transporte público do Distrito Federal e dá
outras providências”. Confira-se:

“Art. 12. Fica o Poder Executivo, ouvido o Conselho de


Transporte Público Coletivo do Distrito Federal, autorizado a
proceder adequação no modelo de exploração dos transportes
públicos do Distrito Federal, mediante:” (Grifamos).

De igual forma, releva destacar o disposto no art. 17 da Lei Distrital nº


4.011/2007, que dispõe sobre os serviços de transporte público coletivo integrantes do
Sistema de Transporte do Distrito Federal, instituído pela Lei Orgânica do Distrito
Federal, e dá outras providências. Observe-se:

“Art. 17. As tarifas dos serviços integrantes do STPC/DF serão


fixadas pelo Poder Executivo, com base em estudos de custos e
tarifas desenvolvidos pela entidade gestora, observadas as
disposições legais e ouvido, previamente, o CTPC/DF”.
(Grifamos).

Pois bem, no que se refere aos estudos de custos, verifica-se, a partir da


justificativa apresentada às fls. 48/64 do citado processo administrativo, que o Distrito
Federal parte da equivocada premissa de que:

“Atualmente, a sistemática de remuneração pela prestação dos


serviços de transporte coletivo por ônibus de concessionárias é feita,
em geral, por intermédio de tarifa-técnica, que é o valor necessário
para fazer frente aos custos operacionais do sistema. Essa tarifa-
técnica é composta por uma parcela paga pelo usuário, denominada
Tarifa Usuário (TU), e outra para pelo Governo do Distrito Federal,
chamada de Complemento Tarifário (CT). Verifica-se, no entanto,
que à medida que a diferença entre o custo do sistema e dos
valores pago pelo usuário aumenta, há uma imediata pressão nos
valores que o Tesouro Distrital precisa desembolsar para
completar esse custeio. Assim, considerando a crise econômica,
financeira e fiscal que passa o país e Distrito Federal,

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especialmente, tal circunstância tende a dificultar sobremaneira
a gestão, operação e manutenção do sistema de transporte
público, um serviço essencial para toda a população da Capital
Federal”. (Grifos nossos).

Sobre esse ponto, é imperioso rememorar que, ao contrário do que é dito


acima, as despesas do DF relacionadas à manutenção do equilíbrio financeiro do sistema
de transporte público reduziram em aproximadamente 141% entre os anos de 2018 e
2019, não sendo crível, portanto, a alegação de que houve o aumento de tal despesa a
ponto de se justificar a elevação do valor pago pelo usuário, muito pelo contrário, o GDF,
como demonstrado acima, economizou de R$ 162.188.629,14.

Dessa forma, a motivação acima esposada, com a devida venia, é genérica,


não se prestando, portanto, para o fim colimado pelo ente distrital. Nesse sentido,
precedente do e. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios – TJDFT. Confira-
se:

“DIREITO ADMINISTRATIVO. INDEFERIMENTO DE


LICENÇA-CAPACITAÇÃO. ATO DISCRICIONÁRIO.
POSSIBILIDADE DE CONROLE JURISDICIONAL.
MOTIVAÇÃO PRECÁRIA E INIDÔNEA. VÍCIO DE
ILEGITIMIDADE. SENTENÇA MANTIDA. I. Não pode ser
considerado juridicamente idôneo ato denegatório de licença-
capacitação que se limita a consignar, sem qualquer
embasamento de fato ou de direito, a falta de conveniência e
oportunidade para a Administração Pública. II. Não obstante o
perfil discricionário do ato administrativo, motivação genérica e
sem apoio em elementos concretos não pode ser considerada
apta a respaldá-lo juridicamente. III. A motivação não constitui
requisito meramente formal de validade do ato administrativo,
daí porque deve ser juridicamente idônea do ponto de vista
substancial, a teor do que estatui o artigo 50, § 1º, da Lei
9.784/99. IV. Do mesmo modo que o Poder Judiciário pode avaliar
o ato administrativo sob o ângulo da legalidade, pode fazê-lo para
checar a legitimidade do exercício da discricionariedade
administrativa a fim de expungir abusos e desvios de poder. V. O
próprio mérito do ato administrativo pode ser sindicado
judicialmente porque a discricionariedade está jungida a parâmetros
de legalidade sob a perspectiva da finalidade e do interesse público.
VI. Se por um lado o juízo de conveniência e oportunidade não
pode ser subtraído ao administrador, o seu exercício pode ser
aferido à luz dos princípios da legalidade, da legitimidade, da

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eficiência e da impessoalidade. V. Recurso e remessa necessária
desprovidos6”. (grifos nossos).

Ainda de acordo com a citada nota técnica de justificativa, observa-se que


a parte requerida alega que as tarifas ficaram inalteradas entre os meses de janeiro/2006
até setembro/2015, tendo sido modificadas somente nos anos de 2015, 2016 e 2017, sendo
que tais reajustes não foram suficientes para acompanhar a inflação do período, sendo
necessário, para tanto, a elevação em 16,19%.

Apesar disso, não se observa qualquer estudo técnico apto a embasar, com
segurança, o aumento pretendido pelo Estado, a não ser a alegação de acompanhamento
da inflação. A detida análise do processo administrativo em questão evidencia que os
motivos que conduziram ao aumento tarifário foram basicamente o suposto déficit
experimentado pelo Distrito Federal no setor, ou seja, o que se extrai é pretensão de
transferir ao usuário do serviço público de transporte coletivo a responsabilidade
financeira pelo sustento do sistema.

Dessa forma, os argumentos apresentados, com a devida venia, não se


sustentam uma vez que, como demonstrado acima, o valor pago pelo Estado para
compor a denominada tarifa-técnica reduziu 141% (cento e quarenta e um
porcento) no ano de 2019, não havendo, assim, em princípio, qualquer razão para a
edição do presente decreto.

Nesse contexto, não se pode esquecer que, enquanto o Estado aumentou


os valores das tarifas do transporte público em dez por cento, o salário mínimo foi
majorado, tão apenas, em 4,1%, passando de R$ 998,00 para R$ 1.039,00 no presente
ano, revelando, assim, a desproporcionalidade da medida, já que grande parte dos
usuários do transporte público são trabalhadores de baixa renda que ganham um salário
mínimo, ferindo, dessa forma, o princípio da modicidade tarifária.

Assim, em que pese não ter havido reajustes da tarifa-usuário entre os anos
de 2006 a 2015, houve, a partir da gestão Rodrigo Rollemberg, a majoração do valor

6
(Acórdão 900887, 20140111314599APO, Relator: JAMES EDUARDO OLIVEIRA, Revisor: CRUZ
MACEDO, 4ª TURMA CÍVEL, data de julgamento: 14/10/2015, publicado no DJE: 26/10/2015. Pág.:
347).

Número do documento: 20011516084587000000051308744


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pago pelo usuário em 76% a 85%, considerando, em complemento, o decreto ora
impugnado. Obviamente que a remuneração do trabalhador brasiliense, usuário do
sistema, não acompanhou tal atualização, despontando, assim, de forma cabal, a
desproporcionalidade da medida ora objurgada.

Superado o ponto, a Lei nº 12.587/2012, que institui as diretrizes da


Política Nacional de Mobilidade Urbana, estabelece que:

“Art. 8º A política tarifária do serviço de transporte público coletivo


é orientada pelas seguintes diretrizes:
(...)
VI - modicidade da tarifa para o usuário”.

Isso quer dizer que a política tarifária do transporte público coletivo exige
do gestor que, ao fixar a tarifa para o usuário, o faça pela menor tarifa possível de ser
cobrada do usuário para que este desfrute de um serviço público adequado, com
qualidade e continuidade, conforme se colhe do art. 6º, §1º da Lei nº 8.987/957, de modo
a garantir cada vez mais a universalização do serviço público.

Assim, a prestação do transporte público de qualidade à população reveste-


se em um direito social expresso no art. 6º da Constituição Federal. Um dos princípios
desse Direito se dá por meio de uma política de modicidade tarifária, de modo a incidir o
ônus econômico na justa medida da capacidade econômica de cada cidadão, tutelando
aqueles menos favorecidos.

Nesse sentido, a política tarifária adotada pelo atual Governo do Distrito


Federal promove uma inversão do ônus econômico de financiamento do transporte
público coletivo, uma vez que onera somente as receitas diretamente arrecadadas pelos
usuários, sem otimizar a arrecadação das outras receitas previstas contratualmente.
Os aumentos das tarifas usuário como forma de financiamento do STPC vêm sendo
adotados devido a incapacidade técnica, administrativa, e, principalmente, política do
Governo em promover ajuste que impactem atores diversos dessa política, a exemplo das

7
Art. 6º Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento
dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato.
§ 1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança,
atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas.

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concessionárias do STPC. É obrigação do Estado promover o aumento tarifário, via tarifa
usuário, somente após esgotadas todas as demais alternativas, seja por meio da
receita, seja por meio da diminuição da despesa dos contratos de concessão, fato este
que comprovadamente não ocorreu.

Essa é exatamente a lógica prevista na Lei Federal nº 8.987/95, que “dispõe


sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos previsto no
art. 175 da Constituição Federal, e dá outras providências”, que em seu art. 11 determina
que deve o Poder Público prever receitas alternativas, complementares, acessórias
com “vistas a favorecer a modicidade das tarifas”. Confira-se:

“Art. 11. No atendimento às peculiaridades de cada serviço público,


poderá o poder concedente prever, em favor da concessionária, no
edital de licitação, a possibilidade de outras fontes provenientes de
receitas alternativas, complementares, acessórias ou de projetos
associados, com ou sem exclusividade, com vistas a favorecer a
modicidade das tarifas, observado o disposto no art. 17 desta Lei”.
(Grifamos).

Diante disso, é forçoso concluir que a política adotada pelo Governo do


Distrito Federal é IMEDIATISTA, ao imputar o aumento tarifário, de modo a diminuir o
gasto do Tesouro com o sistema, consubstanciando-se na medida mais CÔMODA, em
detrimento da busca pela otimização de outras receitas acessórias (INCAPACIDADE
TÉCNICA E ADMINISTRATIVA), ou racionalização do sistema, com diminuição do
gasto (INCAPACIDADE POLÍTICA frente à pressão das concessionárias).

Dito isso, afigura-se possível afirmar que o aumento da tarifa ao usuário,


em se tratando de medida que visa à manutenção do sistema público de transporte, deve
ser tomada como última opção, depois de esgotadas todas as outras alternativas
capazes de gerar receita, o que não se observa no caso concreto. Optou-se,
sumariamente, por sacrificar o trabalhador ao invés de buscar-se outras receitas
complementares, tornando-o responsável pela manutenção do sistema.

Na linha do até aqui exposto, o Conselho do Transporte Público Coletivo


do Distrito Federal – CTPC/DF, por força do que dispõem o art. 12 da Lei nº 239/92, bem
como o art. 17 da Lei Distrital nº 4.011/2007, foi instado a se manifestar sobre a

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implementação do aumento da tarifa, fls. 69/70 do citado processo administrativo, ocasião
em que foram feitas as seguintes ponderações. Confira-se:

Note-se, pois, que a decisão de aumentar a tarifa, nos moldes


consubstanciados pelo Decreto nº 40.381/2020, não foi indicada pelo CTPC/DF, muito
pelo contrário, contou com reprovação da maioria daquele colegiado, que propôs, em
regra, a obtenção de outros meios de receita complementar, sem onerar o usuário de
transporte público.

É bem verdade que as manifestações colegiadas do CTPC/DF não têm o


condão de, por si sós, vincular as decisões a serem tomadas pelo Poder Executivo, mas
igualmente verdadeira é a premissa de que tais conselhos são canais efetivos de

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participação da comunidade, que permitem estabelecer uma sociedade na qual a
cidadania deixe de ser apenas um direito, mas uma realidade.

Dessa forma, os conselhos são, assim, espaços públicos de composição


plural e paritária entre Estado e sociedade civil, de natureza deliberativa e consultiva,
cuja função é formular e controlar a execução das políticas públicas setoriais, revelando-
se ser o principal canal de participação popular encontrada em todas as instâncias de
governo8.

DA TUTELA DE URGÊNCIA

O art. 300 do Novo Código de Processo Civil:

“Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver


elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de
dano ou o risco ao resultado útil do processo”.

A probabilidade do direito do autor está fartamente demonstrada nas


razões alinhavadas acima, mormente pela ofensa ao princípio da modicidade tarifária, já
que não se comprovou ter o DF buscado outros meios de complementação da receita
tarifária senão o aumento da tarifa ao usuário.

Além disso, comprovou-se acima que a despesa do DF com a manutenção


do Sistema de Transporte Público, no ano de 2019, reduziu 141%, não sendo razoável,
portanto, atribuir ao usuário a manutenção do equilíbrio do sistema, sem buscar-se outros
meios de fontes complementares de receita.

Soma-se a isso, ainda, o fato de a parte requerida, entre os anos de 2016 a


2020, já ter reajustado a tarifa para o usuário em 76% a 85%, demonstrando, assim, a
desproporcionalidade e irrazoabilidade da medida ora combatida, sobretudo quando
comparada a estagnação da remuneração dos trabalhadores brasileiros nos últimos anos,

8
Definição extraída do parecer ministerial ofertado no bojo do Processo nº 0700429-07.2017.8.07.0018,
que tramitou na 1ª Vara de Fazenda Pública do DF, cujo objeto consistiu, igualmente, em anular decreto
que aumentou tarifa pública de transporte do DF. No caso, a sentença foi de procedência da ação pelos
mesmos motivos aqui alinhavados.

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mormente com relação aos usuários do sistema de transporte público, que, na grande
maioria, são pessoas de baixa renda.

O fumus boni iuris, por sua vez, encontra-se presente na medida em que a
cada dia de vigência do decreto impugnado o dano econômico aos usuários do sistema de
transporte público do DF, com a consequente limitação de acesso ao serviço público de
transporte, sobretudo aos mais necessitados, aumenta, sendo imperiosa a intervenção
judicial para a cessação do abuso perpetrado pela parte adversa.

Portanto, em sendo assim, a concessão de tutela de urgência para


suspender o aumento abusivo das tarifas no transporte público é medida que se impõe.

DO PEDIDO

Por todo o exposto, requer-se:

a) o deferimento de tutela de urgência de natureza cautelar, nos termos dos


arts. 300 e seguintes do Código de Processo Civil, para suspender os efeitos das planilhas
de reajustes das tarifas fixadas para os modos rodoviário e metroviário do Serviço Básico
do Sistema de Transporte Público Coletivo do Distrito Federal, aumentadas abusivamente
pelo Decreto nº 40.381/2020;

b) a citação do requerido, nos termos da lei;

c) a intimação do d. representante do Ministério Público, para atuar como


custos legis;

d) ao final, seja julgada procedente a presente ação popular, para anular


em definitivo o Decreto 40.381/2020, no que se refere ao aumento das tarifas rodoviárias
e metroviárias do Sistema de Transporte Público Coletivo do Distrito Federal;

e) a produção de provas, em especial documental.

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Dá-se à presente o valor de R$ 1.000,00 (um mil reais), isento os autores
de custas nos termos da Constituição Federal.

Pelo deferimento.

15 de janeiro de 2019.

EDUARDO OCTAVIO TEIXEIRA ALVARES


OAB/DF nº 30.309

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