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APRENDIZAGEM

COOPERATIVA

Autor: Paulo Sergio da Costa

UNIASSELVI-PÓS
Programa de Pós-Graduação EAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Dr. Malcon Tafner

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel

Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Profa. Elisabeth Penzlien Tafner
Prof. Norberto Siegel

Revisão de Conteúdo: Profa. Karina Nones Tomelin

Revisão Gramatical: Marcilda Regina da Cunha Rosa

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci
Copyright © Editora Grupo UNIASSELVI 2009
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.

373.37
C8373a Costa, Paulo Sergio da.
Aprendizagem Cooperativa/Paulo Sergio da Costa. Centro
Universitário Leonardo da Vinci. - Indaial: Grupo Uniasselvi, 2009 .x 92 p.: il.

Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7830-785-1

1. Aprendizagem - Ensino 2. Cooperativas.


I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. II. Núcleo a. Distância
de Ensino-IV. . Título

Impresso por:
Paulo Sergio da Costa (Paulinho)

Possui graduação em Educação Física e


Especialização em Psicomotricidade – Pedagogia
do Movimento Humano. Desenvolve estudos sobre
Pantomima, mais conhecida como Mímica, a arte da
linguagem não-verbal.
Sumário

APRESENTAÇÃO��������������������������������������������������������������������������� 7

CAPÍTULO 1
As Necessidades de uma Alternativa
para o Ato de Educar������������������������������������������������������������������� 9

CAPÍTULO 2
Aprendizagem e Ludicidade������������������������������������������������������� 25

CAPÍTULO 3
A Pedagogia da Cooperação e do Movimento Humano���������� 47

CAPÍTULO 4
Cooperação e Projeto de Vida������������������������������������������������� 63

CAPÍTULO 5
A Perspectiva Pedagógico-Cooperativa
e o “(Des)Envolvimento” do ser.����������������������������������������������� 79
APRESENTAÇÃO
Olá, caro(a) pós-graduando(a), seja bem-vindo(a) à disciplina Aprendizagem
Cooperativa e ao universo da Cooperação.

Esta disciplina tem como objetivo levar você à compreensão do significado


do sentido cooperativo e de sua aplicabilidade no processo educativo. Também
objetiva trazer algumas sugestões de atividades, bem como de atitudes e de
condutas pedagógicas para criar um ambiente que favoreça o espírito cooperativo
e a transcendência do fenômeno educar.

No 1º capítulo, expomos os fatos que nos levam à necessidade de buscar


uma nova proposta metodológica mais relacional entre professor, aluno, escola e
conteúdos de ensino.

No 2º capítulo, apresentamos as concepções de aprendizagem e seus elos


no contexto cooperativo, com destaque aos seus processos didáticos.

No 3º capítulo, abordamos a concepção do movimento humano e sua relação


com o processo da busca por uma relação mais dual no que tange aos atores
sociais inerentes ao processo educativo.

No 4º capítulo, temos a explanação dos princípios voltados à criação de um


ambiente pedagógico cooperativo.

No 5º capítulo, buscamos reconhecer as perspectivas inerentes a um


processo pedagógico que privilegie a cooperação e seus possíveis obstáculos
quanto à adoção como proposta pedagógica.

Então, agora, mãos à obra e vamos estudar!


C APÍTULO 1
As Necessidades de uma Alternativa
para o Ato de Educar

A partir da perspectiva do saber fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Adquirir os conceitos básicos referentes aos elementos norteadores da


formação do ser chamado humano e de suas perspectivas como sujeito da
sua história.

 Identificar os processos formadores de um sujeito vivido (corpo).


Aprendizagem cooperativa

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AS NECESSIDADES DE UMA ALTERNATIVA
Capítulo 1 PARA O ATO DE EDUCAR

ConteXtualização
Ao longo da história da educação, assistimos ao nascer de inúmeras
especulações, conceitos, concepções e tendências com o propósito de construir
ou reconstruir uma nova face da educação e, assim sendo, a formação de um
novo sujeito pertinente a nossa sociedade.

Na busca por referências substanciais a este respeito, encontramos


Cabe ao
em Werneck (1999, p. 22) o seguinte apontamento:
educador a
[...] para existir uma verdadeira relação de alegria na difícil tarefa
escola, é preciso uma renovação pedagógica, antes de oferecer
de tudo. Uma renovação dos conteúdos ensinados condições
bem como suas abordagens será fundamental, pois
somente assim se é possível alcançar a liberdade, a para que o
autonomia, a criatividade e a cidadania. aluno possa
conquistar
Temos o entendimento de que cabe ao educador a difícil tarefa de a liberdade
oferecer condições para que o aluno possa conquistar a liberdade de de aprender,
aprender, bem como conquistar a tão importante individualidade. Isto bem como
só será possível com espírito de liberdade para perceber, conhecer, conquistar a
reconhecer e ver o mundo com os olhos de Ser livre. Neste âmago, surge tão importante
a necessidade da busca de novos instrumentos para que isto se torne individualidade.
possível e mensurável quanto aos aspectos que o ato de educar sugere.

No viés da forma tradicional, surge a cooperação traduzindo o sentido de


uma construção coletiva, tendo como princípio a bagagem individual de cada
aluno, alicerçada por eixos epistemológicos que possam nortear seus horizontes
e dar contornos de legitimidade necessária para levá-lo a se tornar epistemofílico,
ou seja, a gostar do conhecimento.

Epistemologia: tem sua origem do grego (episteme = ciência


e conhecimento + logos= estudo, discurso, teorização. Portanto,
a epistemologia trata do processo de conceituação, validação e
afirmação dos conhecimentos.

Mesmo diante da necessidade apresentada, ainda é comum nos depararmos


com certos “ranços” de conservadorismo. Você se lembra da postura pedagógica
de alguns professores de sua vida escolar? Você já assistiu ao filme Sociedade
dos Poetas Mortos? Você se lembra do termo Agricolai, Agricolei... utilizado em
uma das cenas iniciais do filme? Pois é sobre isso que estou relatando.
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Aprendizagem cooperativa

Para que haja uma ruptura deste processo, é primordial resgatar


É primordial
os significados e os significantes do processo de educar, que devem
resgatar os
ser traduzidos em um ambiente dialético. Esta diversidade das práticas
significados e
pedagógicas necessita que o educador reflita sobre suas diferentes
os significantes
concepções de aprendência no que se refere ao sentido do movimento
do processo de
cooperativo e às funções atribuídas a esse movimento.
educar.
Você já deve ter se deparado com algumas ações educativas que
O estático não
promovem a supressão de parâmetros ligados ao movimento, com o
leva à estética,
intuito de garantir uma atmosfera de disciplina e ordem. Todavia, partindo
não promovendo,
de que os gestos refletem a percepção e a condição de constituir uma
assim, uma nova
interpretação dos fatos e dos atos que nos cercam, a impossibilidade dos
visão da ética.
mesmos levam nossos alunos a uma esclerose interpretativa do mundo,
(COSTA, 2003,
pois o estático não leva à estética, não promovendo, assim, uma nova
p. 75).
visão da ética. (COSTA, 2003, p. 75).

Quando a porta da sala de aula se fecha, transformando-se em um quadrante


hermético, isto é, em um lugar isolado de outros mundos, onde a interlocução, a
dialética e o pulso da dual descoberta não culminam com um propósito incomum,
a ação pedagógica perde o sentido, não propiciando o desenvolvimento e o
envolvimento efetivos e eletivos de todos.

Tomando por base as palavras de Bachelard (2004, p. 87), podemos entender


como se constitui a função que mencionamos:

O educador que sonha os sonhos da Razão Educativa não


teme a morte da Pedagogia, porque deseja verdadeiramente o
bem-viver e sua sabedoria consiste em empenhar-se na busca
do sentido para sua vida e para a educação, procurando assim
pedagogizar a vida para dar mais vida à educação.

Ao agir como sugere Bachelard (2004), o educador passa para a mediação


dos fazeres, transformando o ambiente pedagógico em uma oficina de produção
do conhecimento.

Um CHamado para a Cooperação


Diante do cenário exposto, no qual a educação se insere, necessitamos buscar
uma concepção que se forme por uma convergência de atitudes e condutas que
não se apresentem apenas por força da experiência, mas que sejam construídas
a cada passo, investigando, sugerindo, contextualizando e vivendo, deflagradas
ou realizadas por um fator fundamental: a ação do sujeito. Em outras palavras,
que ocorra um processo por meio do qual o ser humano passe a ser organizado e
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AS NECESSIDADES DE UMA ALTERNATIVA
Capítulo 1 PARA O ATO DE EDUCAR

também organizador do mundo em uma constante, longa e trabalhosa construção


que haure a substância das suas ações e de sua formação.

“Se o importante é competir, o fundamental seria cooperar?”


(BROTTO, 2003, p. 38).

É simplesmente
O princípio clássico da cooperação inserido no contexto do
a redescoberta
processo educativo não é uma invenção pedagógica do terceiro
do verdadeiro
milênio. É simplesmente a redescoberta do verdadeiro sentido da
sentido da
educação, poeticamente cantado, dançado, jogado, com o principal
educação,
interesse de proporcionar a mediação, a interlocução, a dialética e a
poeticamente
construção de conhecimentos próprios. É comum, nesta estrutura, que
cantado,
os alunos trabalhem juntos para atingir um objetivo comum. Trocam
dançado, jogado,
ideias ao invés de trabalharem sozinhos, diferentemente de trabalhos
com o principal
em grupo, em que não há garantias de que todos serão participativos. A
interesse de
aprendizagem cooperativa está estruturada de tal forma que um aluno
proporcionar
não pode se aproveitar dos esforços de um colega.
a mediação, a
interlocução,
Contudo, as escolas e os educadores encontram várias
a dialética e a
dificuldades para transformar suas práticas tradicionais em outras que
construção de
atendam aos interesses dos educandos, que os preparem para o nosso
conhecimentos
mundo o qual reinventamos a cada dia.
próprios.

Atividade de Estudos:

1) Quais as principais dificuldades que podem ser encontradas na


aplicabilidade de um processo educativo com base na Cooperação?

( ) Falta de preparo pedagógico e entusiasmo do corpo docente.

( ) “Desfragmentação”, pelos alunos, dos valores básicos com


relação à convivência humana.

( ) Dirigentes educacionais que não cogitam esta hipótese.

( ) Proposta pedagógica das escolas que não favorecem esta


possibilidade.

( ) Todas as respostas.
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Aprendizagem cooperativa

2) Escolha uma das respostas apresentadas e elabore um texto. ___


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O Ato de Coajudar, de CoeXistir e de


Co-Operar
Existe uma grande necessidade de buscarmos novos rumos para a educação.
Falamos a respeito disso de uma forma muito mais abrangente do que um projeto,
palavras, composições e demais delongas acerca do tema. Referimo-nos a uma
postura diferenciada no sentido de acordar, de fato, para a devida importância do
fazer educação e de seu compromisso legítimo na estrutura social em que vivemos.

Alicerçamo-nos nos parâmetros expostos por Barreto (2000, p. 47):

Os nossos valores estão em declínio, porque as pessoas


recebem recompensas sociais, políticas ou materiais pela
desumanidade para com seus semelhantes. A criança engana,
o advogado ilude, o político frauda, a firma que adultera,
o terrorista que mata, o pai que espanca, todos têm algo a
ganhar de imediato. Geralmente às custas de outras pessoas.

Temos a percepção de que há grande necessidade de uma “reformulAÇÃO”


dos parâmetros substanciais e relevantes do nosso convívio social e pedagógico.

Esta ação educativa busca “DESenvolver”, em cada participante, habilidades,


como liderança, comunicação em grupo, colaboração e autonomia. São
terminologias diferentes que remetem a concepções e a respostas diferenciadas,
porém tendo em comum o objetivo de colocar o aluno como sujeito da sua
aprendizagem, alusiva a uma conduta de coajuda, de autor e de condutor de seu
processo de formação em comunhão com ideias, atitudes e condutas dos demais.
Na constatação de Valdés Arriagada (2002, p. 78), Piaget e Vygotsky
reafirmam a importância da interação do sujeito com outros indivíduos no processo
da aprendizagem, dando a noção de compartilhamento. Por outro lado, Freire

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AS NECESSIDADES DE UMA ALTERNATIVA
Capítulo 1 PARA O ATO DE EDUCAR

(1998, p. 85) discute a questão da autonomia e do seu desenvolvimento, assim


como inter-relaciona os conceitos de cooperação e autonomia: [...] “para que a
autonomia se desenvolva, é necessário que o sujeito seja capaz de estabelecer
relações cooperativas.”

Cunha (1995, p. 25) destaca “a importância da atuação dos outros membros


do grupo social na mediação entre a cultura e o indivíduo e na promoção dos
processos interpsicológicos que serão posteriormente internalizados”. O autor
ressalta que o desenvolvimento do indivíduo deve ser olhado de maneira
prospectiva, isto é, para além do momento atual, com referência ao que o indivíduo
já se apropriou e sob a perspectiva dos novos conhecimentos que poderão ser
incorporados à sua trajetória.

Para Valdés Arriagada (2002), existem diversos contextualizadores


Para que a
da prática educativa que evocam a cooperação e o interacionismo,
autonomia se
retratando a necessidade da existência sumária entre indivíduo e
desenvolva, é
ambiente na construção dos processos existenciais do ser humano.
necessário que o
Nessas abordagens, o sujeito é um elemento ativo na sua construção
sujeito seja capaz
de elementos inequívocos e inerentes à forma e à ação – formação – do
de estabelecer
indivíduo cujo ato principal é sua atuação no ainda “não-mundo-próprio”.
relações
cooperativas.
Você já deve ter percebido, caro(a) pós-graduando(a), que não
existe mais a condição de atuar em educação ou sequer pleitear um
aparte na dimensão em que o aluno seja apenas instruído ou, digamos, ensinado,
como um procedimento básico para o esclarecimento do mundo que o cerca. É
preciso ir muito além. Já caminhamos bastante, mas precisamos caminhar mais.
É condição urgente “engatarmos” ou “resgatarmos” uma postura mais humanizada,
um perfil mais doce e proximal dos nossos alunos e nos mostrarmos mais “gente”,
buscando nessas atitudes uma contextualização de aprendizagem que encontre
seus significados e significantes no lastro de existir.

De acordo com Moran (2007, p. 51),

É importante educar para a autonomia, para que cada um


encontre o seu próprio ritmo de aprendizagem e, ao mesmo
tempo, é importante educar para a cooperação para aprender
em grupo, para intercâmbio de idéias, para participar de
projetos, realizar pesquisas em conjunto.

Diante do exposto por Moran (2007, p. 51), tomamos o contraponto de


Lago Rodrigues (2003, p. 106), para quem “o ser humano necessita, para
uma aprendizagem substancial, de interagir com outras pessoas, de estar
funcionalmente atuante no contexto de aprendizagem e que seu papel seja
oportuno”. Isto é uma condição primária que deve se fazer presente em qualquer
ambiente pedagógico.
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Aprendizagem cooperativa

Porquanto, criar um ambiente de respeito e educação (referimo-nos a


atributos ligados à educação, aos elementos que nos acompanham de berço, tais
como bom dia, boa tarde, obrigado, etc.) se trata de uma condição básica e sem
argumentos contrários para que possamos dar os primeiros passos para começar
a produzir conhecimento. Se para produzirmos conhecimento é necessário
diálogo, como dois mundos que não se respeitam podem se entender? Sendo
assim, o título do livro de Werneck (1999) serve para ilustrar este episódio: Se
você finge que ensina, eu finjo que aprendo.

Os processos de aprendizagem nos quais se evidencia uma conduta


cooperativa deve ser encorajada desde seus primórdios de convivência letiva,
sendo que qualquer colocação, ponderação, conduta, questionamento, enfim,
qualquer manifesto referente ou não ao que esteja em pauta será imensamente
valorizado e, se possível, inserido no conteúdo a ser explorado. Quando isso não
for possível, que todos tomem parte da construção desta possibilidade, pois outras
virão. Isto porque somos pessoas em evolução, conforme menciona Marcelo D2
(2007), em sua música Qual é?:

[...] E o que você precisa prá evoluir?

Me diz o que você precisa prá sair daí? [...]

A proposta da criação de um ambiente de aprendizagem que aprecie


procedimentos cooperativos é norteada pelo encorajamento nas interações
educacionais, podendo ser apenas no fato de simplesmente ouvir uma ideia.
Podemos ilustrar esta situação com a crônica de Alves (1999, p. 65-71) a seguir.

ESCUTATÓRIA

Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado


curso de escutatória.

Todo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a


ouvir.

Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que


ninguém vai se matricular.

Escutar é complicado e sutil.

Diz Alberto Caeiro que... Não é bastante não ser cego para ver
as árvores e as flores.
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AS NECESSIDADES DE UMA ALTERNATIVA
Capítulo 1 PARA O ATO DE EDUCAR

É preciso também não ter filosofia nenhuma.

Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como


são as coisas.

Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.

Parafraseio o Alberto Caeiro: ‘Não é bastante ter ouvidos para ouvir


o que é dito’.

É preciso também que haja silêncio dentro da alma.

Daí a dificuldade: A gente não agüenta ouvir o que o outro diz


sem logo dar um palpite melhor...

Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer.

Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada


consideração... E precisasse ser complementado por aquilo que a
gente tem a dizer, que é muito melhor.

Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e


sutil de nossa arrogância e vaidade.

No fundo, somos os mais bonitos...

Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados


Unidos estimulado pela revolução de 64.

Contou-me de sua experiência com os índios: Reunidos os


participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio.

Vejam a semelhança...

Os pianistas, por exemplo, antes de iniciar o concerto, diante do


piano, ficam assentados em silêncio...

Abrindo vazios de silêncio... Expulsando todas as idéias


estranhas.

Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de


repente, alguém fala.

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Aprendizagem cooperativa

Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio.

Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro


falou os seus pensamentos...

Pensamentos que ele julgava essenciais.


São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro
falou.

Se eu falar logo a seguir... São duas as possibilidades.

Primeira: Fiquei em silêncio só por delicadeza.

Na verdade, não ouvi o que você falou.

Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar


quando você terminasse sua (tola) fala.

Falo como se você não tivesse falado.

Segunda: Ouvi o que você falou. Mas, isso que você falou como
novidade eu já pensei há muito tempo.

É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o
que você falou.

Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é


pior que uma bofetada.
O longo silêncio quer dizer: Estou ponderando cuidadosamente
tudo aquilo que você falou.

E, assim vai a reunião.

Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência


de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente
começa a ouvir coisas que não ouvia.

Eu comecei a ouvir.

Fernando Pessoa conhecia a experiência...

E, se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras...


No lugar onde não há palavras.

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AS NECESSIDADES DE UMA ALTERNATIVA
Capítulo 1 PARA O ATO DE EDUCAR

A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa.

No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada.


Somos todos olhos e ouvidos.

Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia,


ouvimos a melodia que não havia...

Que de tão linda nos faz chorar.


Para mim, Deus é isto: A beleza que se ouve no silêncio.

Daí a importância de saber ouvir os outros: A beleza mora lá


também.

Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se


juntam num contraponto.

A partir daí, deliberadamente o respeito segue seu caminho como algo


absoluto e que deve ser incontido nas relações que ali e acolá (dizemos isso,
pois a essência desta relação precisa transcender a apatia e a inércia de
procedimentos que não são mais adequados e aceitos no ato de ensinar a
aprender alguma coisa) se forjarem. A possibilidade de direcionarmos discussões
é real; a busca de soluções e de conversas sobre um ato comum é possível; assim,
podemos promover atividades em conjunto com o intuito de viver experiências
mais entusiasmadas e próximas de uma realidade mais humanitária, menos
seccionada, com tendência de serem muito mais ricas em aspectos pedagógicos
e mais motivadoras para os envolvidos.

A seguir apresentamos a dinâmica “Um por todos, eu por você”


que tem a finalidade de formar uma sociedade mais humana e justa
e identificar no outro seu valor.

Nome: “Um por todos, eu por você”

Formação: Dispersos em um ambiente delimitado.

Desenvolvimento: Cada participante recebe uma papeleta (pedaço de

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Aprendizagem cooperativa

papel) onde deve escrever seu nome e sobrenome. Após isso, o mesmo deve
ser dobrado e colocado em um recipiente que possui “corte” em sua tampa,
assemelhando-se a um “cofrinho”. Concluindo esta etapa, cada participante
deverá “pegar” uma das papeletas do recipiente e verificar o nome contido na
mesma. Se constar seu próprio nome, a papeleta deve ser trocada.

Depois que todos tiverem com as devidas papeletas, o mediador deve


perguntar aleatoriamente a um participante qual o nome contido em sua papeleta.
Ex.: “Maria, quem consta na sua papeleta?/ Eu tirei o João./ João, Maria é seu
anjo”. O mediador deve proceder assim, de forma sucessiva, até que todos
possuam seus “anjos”.

Com procedimentos como o que sugerimos ou, pelo menos, parecidos,


podemos formar uma sociedade menos preconceituosa, mais humana e justa,
sabendo reconhecer no outro a sua real capacidade e valor. De acordo com
Cutrera (2000, p. 52), “[...] as diferenças representam grandes oportunidades de
aprendizado. As diferenças oferecem um recurso grátis, abundante e renovável...
o que é importante nas pessoas – e nas escolas – é o que é diferente, não o
que é igual”. Neste sentido, a aprendizagem cooperativa vem para demonstrar
que podemos ensinar uns aos outros, reconhecendo em nossos alunos suas
habilidades e dificuldades e ensinando-os a compartilhar suas aptidões com os
demais, ajudando até mesmo o professor em suas dificuldades na mediação de
conhecimentos entre os alunos.

Scholögl (2000, p. 82) se refere à conduta pedagógica do


O papel do
mediador e afirma que “[...] o papel do professor que estrutura grupos
professor que
cooperativos desloca-se do papel de um transmissor de informações
estrutura grupos
para o de mediador da aprendizagem [...]”. Podemos aceitar, como
cooperativos
atitude cotidiana do fazer pedagógico, as cinco principais tarefas em
desloca-se do
um processo cooperativo citadas por Campos, Costa e Santos (2007,
papel de um
p. 22 - 23):
transmissor de
informações para a) Especificar claramente os objetivos a serem atingidos por
o de mediador da todos e cada participante do grupo. Isso é fundamental para
aprendizagem. que todos saibam o que se espera de cada um que faça
parte do grupo;

b) Tomar decisões sobre colocar os alunos em grupos de


ensino para garantir a heterogeneidade. Para isso uma
sugestão de atividade: ‘Quem nasceu nos meses de janeiro
e fevereiro deste lado, março e abril do outro lado’ e assim
por diante;

c) Explicar claramente que atividades de ensino são esperadas


dos alunos e como a interdependência positiva deve ser
demonstrada;

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AS NECESSIDADES DE UMA ALTERNATIVA
Capítulo 1 PARA O ATO DE EDUCAR

d) Controlar a eficácia das interações cooperativas e intervir


para proporcionar assistência à tarefa, atuando como
um mediador do saber. Percorrer o ambiente de ensino,
visitando cada grupo esporadicamente é muito eficiente;

e) Avaliar as realizações do aluno e a eficiência do grupo, de


forma clara e concisa.

Sendo assim, caro(a) pós-graduando(a), com esta postura pedagógica, o


mediador passa a ter subsídios para, de maneira mais correlata com o processo
ensino-aprendizagem, proporcionar aos discentes uma alternativa facilitadora
para a assimilação de conteúdos e interação com os diversos saberes oriundos
da abordagem de um assunto, além dos aspectos de socialização (integração de
um grupo) e sociabilização (o grupo mobilizado para um feito qualquer) que são
elementos indispensáveis para todos os indivíduos.

Nome: “O caçador, o tigre e a espingarda”

Formação: Três grupos distintos, de preferência com o mesmo número de


participantes. Uma variante de um ou mais componentes em cada grupo não fará
a diferença.

Desenvolvimento: Cada “personagem” da atividade – o caçador, o tigre e a


espingarda – serão representados por gestos, conforme mostramos a seguir:

Caçador Tigre Espingarda


Duas mãos voltadas
para frente do corpo, Gesto de empunhadura
Continência dedos entreabertos e de uma arma de fogo, no
semiflexionados, em caso, uma espingarda.
forma de “garras”.

Ao sinal do mediador, os componentes de cada grupo deverão realizar juntos


o mesmo gesto, identificando um personagem. Para que escolham qual gesto
reproduzirão, um pequeno tempo será cedido. Cada personagem “prevalece” sobre
o outro, conjugando assim uma pontuação, conforme demonstrada na sequência:

Caçador vence a A Espingarda vence o


O Tigre vence o Caçador
Espingarda Tigre

A cada rodada, um grupo receberá um ponto, de acordo com o gestual


escolhido.

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Aprendizagem cooperativa

Regras Básicas: Todos os componentes do grupo devem fazer o mesmo


gesto, identificando assim o personagem escolhido. Vale repetir o gesto quantas
vezes interessar ao grupo.

Você, caro(a) pós-graduando(a), deve achar estranho um jogo com tal


configuração, pois um personagem “prevalecerá sobre o outro” em um estudo no
qual estamos procurando privilegiar a cooperação. Isto, sem dúvida, se aplica a
mais do que um jogo de competição. Porém, neste instante, estamos buscando
um instrumento por meio do qual possamos demonstrar aos alunos que, juntos,
mesmo em pequenos grupos, podemos realizar feitos grandiosos. Imagine se
todos estiverem na mesma comunhão de ideias? Poderemos ir mais longe!

Por Que se Incomodar com a


Competição?
Vivemos em uma situação social complexa, atenuada por divergências em
campos substanciais e de importância relevante para a convivência humana.
Alguns mais céticos afirmam que temos uma verdadeira convulsão social, em que
o ter supera preponderantemente o ser. Diante disso, o que fazer?

A escola, berço social da produção do conhecimento e da constituição de


saberes (pelo menos assim deveria ser entendido) deve se posicionar politicamente
(sem partidarismo!) perante esta conclusão e seus integrantes – desde a portaria
até a diretoria – para que todos assumam este compromisso de formação de
condutas e atitudes positivas em todos os patamares de convivência social.

As mudanças de paradigmas pelas quais passa a atual sociedade apontam


para uma irreversibilidade e ensejam forte repercussão na educação como um
todo. Tais acontecimentos exigem uma reflexão de seu significado e o assumir
de uma nova postura referente às novas metodologias de ensino, da linguagem,
da organização e dos recursos pedagógicos utilizados para a socialização da
informação e do conhecimento.

Considerando que a educação é uma fenomenologia autônoma, em relação


a cada um de nós, e coletiva, dentro de uma realidade social, haja vista que a
convivência diária sugere um certo urbanismo social, podemos também indicar,
desde então, a unidade, digamos assim, de um urbanismo pedagógico, no qual
estão presentes os elementos incultos e inerentes às práticas de “formAÇÃO” de
seus componentes, denotando uma transcendência dos laços de uma pedagogia
laica e impregnada de ações inertes.

22
AS NECESSIDADES DE UMA ALTERNATIVA
Capítulo 1 PARA O ATO DE EDUCAR

Atividade de Estudos:

1) Prevalecer um ambiente onde a contribuição mútua não é


celebrada, onde as diferenças socioculturais e políticas tornam
arbitrárias as atitudes, a correlação a valores, a hábitos e a
costumes, sugere uma necessidade de modificar os eixos
norteadores das ações educativas promulgadas. Cite três
contribuições da adoção de uma estratégia de ensino que
privilegie a cooperação como princípio pedagógico.
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Sob a ótica de Freire (1980, p. 97), “Como educador eu dou muito mais
ênfase a uma compreensão de um método rigoroso de conhecer. A minha grande
preocupação é o método enquanto caminho do conhecimento”.

Assim, a relação aluno e professor atinge a prospecção de


Assim, a
transcendência além-muros, criando elos salutares com outros
relação aluno e
elementos da sociedade, tais como família, e recriando (ou criando,
professor atinge
dependendo do ponto de vista) sua relação com a escola. Dessa
a prospecção de
forma, contribuiremos para a formação de uma sociedade menos
transcendência
preconceituosa, mais humana e justa, sabendo reconhecer no outro a
além-muros,
sua real capacidade e valor, diminuindo as diferenças, aproximando as
divisões, multiplicando valores e somando forças.
criando elos
salutares com
outros elementos
da sociedade,
Algumas ConsideraçÕes tais como família,
e recriando
Neste capítulo, procuramos apresentar os aspectos norteadores da (ou criando,
formação do Ser chamado humano sob uma perspectiva metodológica dependendo do
da cooperação, beneficiando, assim, seus interlocutores, com subsídios ponto de vista)
e possibilidades de se tornarem agentes da sua própria história. sua relação com
a escola.
No próximo capítulo, nosso eixo será a influência deste contexto na
qualidade de vida dos nossos alunos e como selecionar instrumentos
para a configuração de um projeto cooperativo.
23
Aprendizagem cooperativa

ReFerÊncias
ALVES, Rubem. O amor que acende a lua. Campinas: Papirus, 1999.

BACHELARD, Gaston. Ensaio sobre o conhecimento aproximado. Rio de


Janeiro: Contraponto, 2004.

BARRETO, Sidirley de Jesus. Psicomotricidade: educação e reeducação.


Blumenau: Acadêmica, 2000.

BROTTO, Fábio Otuzi. Jogos cooperativos: o jogo e o esporte como um


exercício de convivência. São Paulo: Projeto Cooperação, 2003.

CAMPOS, Fernanda C. A.; COSTA, Rosa M. E.; SANTOS, Neide. Fundamentos da


Educação a Distância, Mídias e Ambientes Virtuais. Juiz de Fora: Editar, 2007.

COSTA, Paulo Sérgio da. CriARTEvidade: jogos e atividades para todas as


ocasiões. Florianópolis: CEITEC, 2003.

CUNHA, M. S. V. Motricidade humana: um paradigma emergente. Blumenau:


FURB, 1995.

CUTRERA, Juan Carlos. Recreação. Florianópolis: Ceitec, 2000.

FREIRE, João Batista. Educação de corpo inteiro. São Paulo: Scipione, 1998.

LAGO RODRIGUES, Zita Ana. Ciência, filosofia e conhecimento: leituras


paradigmáticas. Florianópolis: Editora Cortez, 2003.

MARCELO, D2. D2: Perfil. São Paulo: Som Livre: 2007. 1 disco compact (60 +
min.): digital, estéreo.

MORAN, José Manoel. A Educação que desejamos: novos desafios e como


chegar lá. São Paulo: Papirus, 2007.

SCHOLÖGL, Emerli. Expansão criativa. São Paulo: Vozes, 2000.

SOCIEDADE dos poetas mortos. Peter Weir. Estados Unidos: Touchstone


Pictures: Buena Vista Pictures, 1989. 1 DVD.

VALDÉS ARRIAGADA, Marcelo. Psicomotricidade vivenciada. Blumenau:


Edifurb, 2002.

WERNECK, Hamilton. Se você finge que ensina, eu finjo que aprendo. São
Paulo: Vozes, 1999.

24
C APÍTULO 2
Aprendizagem e Ludicidade

A partir da perspectiva do saber fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Compreender as diferentes facetas educativas existentes nas mais conhecidas


linhas epistemológicas referentes à aprendizagem.

 Organizar ambientes de aprendizagem que privilegiem a formação do


conhecimento e a constituição do saber.
Aprendizagem cooperativa

26
Capítulo 2 APRENDIZAGEM E LUDICIDADE

ConteXtualização
Aprendizagem é uma condição que oferece a possibilidade de entender
como os seres humanos utilizam as habilidades necessárias ao movimento. Seus
princípios são inseridos em uma gama manifesta de convexidades e concavidades
sintáticas, de abstratas e reais figurações, de subjetivas e objetivas intuições,
de doxas e epistemológicas cognições, possibilitando, assim, a compreensão
de um complexo emaranhado chamado vida. Esta condição pode ser ampliada
quando exposta a outra ou a outras formas de interagir com o meio, expandindo
os horizontes de compreensão de mundo e de realidades que ainda não foram
expressas e vivenciadas.

Doxa: opinião, verbalização ou ponto de vista sem um parecer


científico.

Epistemológico: o que possui um espírito, um cunho científico.

Em relação ao exposto, podemos tomar por base os seguintes escritos de


Lago Rodrigues (2003, p.13),

O otimismo presente na crença de que o conhecimento


científico – o método e sua aplicação – universalmente aceito,
levaria a humanidade a uma total ampliação de seus saberes
e potencialidades sobre a realidade, tanto física, como natural
ou social, reduzindo drasticamente os males da mesma, não
se concretizou.

As questões acerca da formação de conhecimentos e da constituição de


saberes diferem nas mais diversas pesquisas sobre o tema e, sem dúvida, envolvem
diferenciais que nos permitem maiores esclarecimentos para a compreensão
desta fenomenologia. Indubitavelmente, todas as temáticas abordadas e expostas
mostram que a antropologia, a ideologia e a cultura possuem fortes e contundentes
elementos formadores na personalidade e no caráter de um indivíduo e, assim,
contornos substanciais na sua conduta e atitudes.

Dependendo de uma variedade de fatores, tais como motivação (relação


consigo mesmo), incentivo (elemento que impulsiona e seduz para uma relação
dual com o objeto), experiência e capacidades previamente adquiridas (tendo
como eixos primordiais aspectos antropológicos, culturais e ideológicos),
conquistaremos ou não índices satisfatórios e níveis mais consistentes.

27
Aprendizagem cooperativa

Dentre os fatores mencionados, damos destaque à motivação, que pode


ser conceituada, de acordo com Sabetti (1995, p.118), como “uma vontade que
leva o indivíduo a desempenhar uma ação ou ter um comportamento de uma
determinada forma”, por diversos fatores, como estímulos externos e internos,
podendo, assim, afetar o desempenho na prática da ação desejada. A ansiedade
do indivíduo pode causar diferentes sentimentos, como apreensão, nervosismo
e preocupação, fazendo com que responda ou se prepare para uma situação
ameaçadora. A motivação pode ser desenvolvida por meio de objetivos específicos
que são superados devido ao desejo de cumpri-los, podendo muito ajudar como
meio de atingir melhor desempenho na aprendizagem.

Atividade de Estudos:

1) Indiscutivelmente existem diversos mecanismos que favorecem um


ambiente pedagógico mais saudável. Dentre eles, a motivação é
que toma um patamar de destaque neste processo. Descreva, em
poucas palavras, de que forma a presença e a ausência deste
elemento podem acrescentar algo de positivo ou de negativo na
senda educativa.
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ConcepçÕes SoBre Aprendizagem


Segundo Vayer e Destrooper (1986, p. 35), “A aprendizagem pode ser
compreendida como uma modificação adaptativa, sistemática e relativamente
durável da conduta”.

De acordo com Lago Rodrigues (2003, p. 65), “Aprendizagem é uma


mudança na capacidade ou disposição humana, que persiste por um período de
tempo e que não é simplesmente devido ao processo de crescimento”.

28
Capítulo 2 APRENDIZAGEM E LUDICIDADE

Para Barreto (1998, p. 24), aprendizagem “refere-se à modificação


Aprendizagem
de atitudes e comportamentos; busca de informações; aquisição de
refere-se à
habilidades; adaptação às mudanças e aquisição de conhecimentos”.
modificação
É, portanto, vivenciando, explorando, experimentando, descobrindo,
de atitudes e
manipulando e se percebendo que o indivíduo poderá integrar-se,
comportamentos.
organizar-se e modificar hábitos e condutas. Tudo isso aliado a uma
ação educativa que preze o movimento como um meio educativo, em
que o ser humano apreende o mundo, colhe dele os elementos significativos,
elabora e re-elabora suas estruturas cognitivas e motoras para sustentar as
futuras aprendizagens.

Seguindo a práxis mencionada, de acordo com Valdés Arriagada (2002, p. 67),

A aprendizagem deve conceber-se através de uma tríade


indissolúvel que se complementa e enriquece mutuamente:
a comunicação, a criação e a formação do pensamento
operativo, tendo como fundamento metodológico e ponto
de partida a brincadeira, a qual é a maneira que a criança
descobre o mundo, sobre a égide da ação do seu corpo, com
relação ao outro e ao meio que a circunda.

Nessa ação educativa, o professor é um facilitador das diversas aprendizagens


do aluno, orientando a tarefa de aprender para dinâmicas de trabalhos divertidas,
com significado, baseado na globalidade das pessoas, nas relações internas e
externas, conducente ao desenvolvimento formativo e integral do ser humano.

As diversas experiências vivenciadas nos ambientes pedagógicos


oferecem aos alunos uma valiosa contribuição para a construção de diversos
conhecimentos e a constituição de saberes, os quais influenciam diretamente a
consciência do sujeito.

Em uma representação simbólica sobre aprendizagem, em um contexto


metafórico, podemos citar os postulados da Profª Draª Gilda Luck, de Curitiba
/ PR, em sua tese doutoral, de Luck (2000, p. 68) que nos traz argumentos
substanciais sobre este assunto:

O primeiro instante de apresentação de um novo conceito,


nossos educandos deparam-se com a simbologia da fonte,
onde o néctar do conhecimento sacia a necessidade de
esclarecimento e clarividência (tornar claro e evidente) dos
diversos fatos que nos cercam no dia-a-dia.

Logo em seguida, nos deparamos com a fogueira, instante


em que o diálogo toma parte do desenvolvimento dos
trabalhos buscando os contrapontos dos diversos saberes
e aprendências obtidas antes e durante a exploração do
conteúdo em foco.

29
Aprendizagem cooperativa

E, para finalizar (se me permite assim chamar), nos deparamos


Qualquer que com a caverna, onde ocorre a depuração das informações
seja o princípio obtidas, constituindo e reconstituindo os valores e paradigmas
norteador de inerentes ao princípio de compreensão de cada ser humano.
aprendizagem,
uma questão Faz-se necessário buscar, na propensão de quaisquer
é condição metodologias de ensino, os alicerces necessários para tornar um
sine qua non: elemento de estudo o mais lúdico, lúcido e investigativo possível,
o respeito pela sem deixar de lado elementos fundamentais, como o riso, a alegria,
individualidade a espontaneidade, o prazer de estar junto, enfim, os aspectos que
do aluno. Por envolvem o trinômio lúdico curiosidade-interesse-prazer.
favor, jamais se
esqueça disso! Por se tratar de envolvimento com pessoas, não podemos
deixar de destacar que elas diferem em muitas maneiras. Por isso,
caro(a) pós-graduando(a), qualquer que seja o princípio norteador de
aprendizagem, uma questão é condição sine qua non: o respeito pela
individualidade do aluno. Por favor, jamais se esqueça disso!

Atividade de Estudos:

1) Na citação de Costa (2003, p. 56), “O papel do educador é facilitar


todas as interações a respeito da relação aluno/mundo, aquele é
obrigado a colocar este em situações que o incitem a exercer o
seu EU”, destacamos alguns elementos que devem fazer parte
do cotidiano de desbravamento do conhecimento:

( ) A empatia com o conteúdo, a postura eclética dos


conhecimentos inerentes ao tema em exposição e as dinâmicas
que favorecem sua compreensão.

( ) A segurança, pois ninguém terá o direito de criticar nenhum


outro componente do grupo; o respeito mútuo entre professor
e aluno e entre os alunos e, fundamentalmente, um ambiente
preparado para o desenvolvimento que será proposto.

( ) A presença do movimento é preponderante, pois, sem ele,


não haverá reflexão sobre o objeto de estudo e, com isso,
as sínteses necessárias para a concepção dos saberes não
ocorrerá.

( ) Todas as alternativas estão corretas.

30
Capítulo 2 APRENDIZAGEM E LUDICIDADE

2) Escolha uma das alternativas apresentadas e disserte sobre ela.


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Durante um processo inicial de aprendizagem ou implementação de


qualquer proposta pedagógica, principalmente com nuances fora dos padrões
esteticamente estabelecidos como “normais” e “aceitos” para uma condução
de uma aula, o comportamento dos alunos se caracteriza por lentidão em
assimilação de conceitos, inconstância e tônus elevado, indisciplina ou atitudes
que nos remetem a este entendimento. Além disso, mesmo quando realizam as
atividades corretamente, não possuem certeza do que fizeram. Mas isso é apenas
um começo de adaptação ou readaptação a uma ação educativa com contornos
diferenciados das demais. Não se apavore !

A eficiência como os indivíduos processam várias formas de


A eficiência como
informação frequentemente determina os seus níveis de aprendizagem.
os indivíduos
Os sinais sensoriais do ambiente são chamados de informação
processam
exteroceptiva, enquanto que aqueles dentro do corpo são chamados
várias formas
de informações proprioceptivas ou cinestésicas (em se tratando de
de informação
aprendizagem motora e/ou psicomotricidade).
frequentemente
determina os
Estas envolvem três estágios com as seguintes características:
seus níveis de
aprendizagem.
• usam muitas fontes de informação sensorial;

• são flexíveis e adaptáveis e, portanto, eficazes no controle de ações lentas e


contínuas;

• operam de maneira relativamente lenta.

Piletti (1995, p.115-116) nos descreve o “comportamento de relação sensorial


que os seres vivos possuem com o meio ambiente que são os cinestésicos, os
auditivos e os visuais”.

Os cinestésicos possuem a característica de estarem sempre em

31
Aprendizagem cooperativa

movimento. Predominantemente as extremidades de seus corpos (mãos e pés)


estão frias, porém o suor é eminente na cabeça e pescoço (Você já observou
algumas crianças com “colar” de sujeira no pescoço?).

Os auditivos se caracterizam por estarem com a face um pouco de lado,


olhos esbugalhados, boca entreaberta e muito atentos a tudo o que é falado.
Estes “emprestam” de fato seus ouvidos para o interlocutor.

Quanto ao visual, sua leitura corporal é outra, bem diferente dos demais:
sua cabeça fica um pouco abaixada, porém com total visão do interlocutor. Seus
pensamentos, com base na verbalização, tomam contornos de “fantasia”, sendo
esta uma forma de interagir com o objeto. Possuem, nas últimas páginas de seus
cadernos ou material de anotações, muitos desenhos.

Se, diante do exposto, observamos que temos diferentes faces


de indivíduos numa mesma classe, como podemos organizar apenas
um plano de aula para uma mesma sessão?

Deparamo-nos constantemente com alunos que, durante o período de


alfabetização, quebram em demasia a ponta do lápis ou com alunos que
necessitam “apertar um pouco a mão” junto ao caderno ou afim, pois quase não
é possível reconhecer a sua escrita. Nesses casos, estamos diante de dois, por
assim dizer, distúrbios do tônus: a hipertonia e a hipotonia. Ambos estão ligados
diretamente à densidade muscular envolvida neste segmento.

Uma forma simples para identificar alunos que possuem o domínio da escrita
é dividir a turma em duplas e pedir para que um dos alunos escreva seu próprio
nome. Depois disso feito, o outro aluno deve “massagear” todo o membro superior
que o primeiro aluno utilizou para escrever, desde o “topo da cabeça”, passando
pelos ombros, até a ponta dos dedos da mão. Em seguida, o primeiro aluno volta
a escrever seu nome. Qualquer alteração percebida, comparada ao primeiro
momento, nos permite previamente diagnosticar este distúrbio de escrita.

Deparando-se com um quadro em que um indivíduo necessita “apontar” seu


lápis demasiadamente ou após escrever as palavras que estão impressas nas
folhas anteriores, temos um traço clássico de hipertonia.

Já a hipotonia possui um quadro oposto: o controle segmentar existe; o


domínio da rotação do punho também. Entretanto, a tensão muscular aplicada
para a produção dos símbolos gráficos que representam a escrita é falha.

32
Capítulo 2 APRENDIZAGEM E LUDICIDADE

Para ambos os casos, um trabalho com o qual podemos obter resultados


satisfatórios, no sentido de amenizar a situação, é o toque em forma de massagem.
Pode ser dirigida pelo próprio mediador ou pelos próprios alunos.

O controle da pressão com que segura o instrumento que produzirá a


escrita dependerá do controle do relaxamento segmentar. Este é trabalhado e só
alcançado por meio da vivência de atividades adequadas, tais como:

a) segurar uma bola com muita força, deixar cair, apanhá-la e repetir o processo;

b) apertar as mãos e relaxar em seguida;

c) executar movimentos circulares com o braço estendido, passando depois para


apenas o antebraço e, em seguida, só para a mão;

d) em pé, a um estímulo sonoro, relaxar como um boneco de pano;

e) na posição de decúbito dorsal, olhos fechados, relaxar os braços ao longo do


corpo;
f) na posição de decúbito dorsal, olhos fechados, relaxar os dedos das mãos
lentamente;

g) na posição de decúbito dorsal, olhos fechados, virar a cabeça para o lado,


fingindo dormir;

h) na posição de decúbito dorsal, olhos fechados, no compasso de uma música


suave e relaxante, acompanhar as “sugestões” de relaxamento emitidas pelo
orientador;

i) colocar areia dentro de uma garrafa pet com as mãos;

j) rasgar tiras de jornal.

A percepção e a sensação seguem lado a lado numa conjectura ambígua.


Entendemos por percepção a habilidade de reconhecer um estímulo, interpretá-
lo e identificá-lo, incorporando-o às exigências precedentes. Podemos raciocinar
da seguinte maneira: quanto maior o estímulo recebido pela criança, maior a
percepção atingida.

A percepção surge a partir da experiência sensorial, isto é, de situações vividas


anteriormente. Em consequência, podemos deduzir que, quanto maior a quantidade
de experiências, maior e mais rico será o desenvolvimento da criança, por meio de
atividades que incluam habilidades motoras de equilíbrio, agilidade, coordenação,

33
Aprendizagem cooperativa

flexibilidade, força, velocidade e resistência que intensificariam o amadurecimento


da inteligência, das habilidades de leitura e da formação de conceitos.

Desde o útero materno, a criança experimenta o mundo por meio do


movimento, que possibilita que se comunique com o meio que está em seu torno.
Desde seu período intrauterino, passando pelo nascimento até seus últimos
dias, recebe estímulos do ambiente, amadurecendo suas estruturas físicas e
psicológicas. Afirmamos isso em virtude das transformações que o corpo sofre
nas diferentes etapas do crescimento e desenvolvimento de sua senda existencial.

Com relação especial à criança, durante seu processo educacional, esta


pode ser orientada na exploração do espaço, nas mudanças de ambientes e nos
jogos de imitação já nos primeiros anos da vida escolar. Uma criança
que, ao começar a andar, apoia-se em cadeiras, passa sob mesas,
O corpo é o
sobe em pequenos degraus, diverte-se com bolas e brinca com outras
predicado
crianças terá um desenvolvimento motor superior ao daquela que só
fundamental para
anda no carinho empurrado por alguém.
um princípio de
aprendizagem
O movimento humano é base para o domínio motor. Em suas
efetivamente
etapas de desenvolvimento, citamos a prerrogativa sobre as descobertas
significativa e
primárias do corpo: o esquema corporal, etapa do desenvolvimento em
propícia a uma
que nomeamos as partes do corpo, começando por partes periféricas
eficácia durante o
(mãos e pés) e, depois, partes mais seletivas, tais como cotovelo, punho,
trajeto de vida do
tornozelo, etc. Na imagem corporal, identificamos e localizamos estas
Ser, pois o ato de
partes do corpo quando solicitados. A consciência corporal parte
educar é um ato
para a identificação, a nomeação e o reconhecimento de suas distintas
inacabado.
funções motoras (os pés para andar, as mãos para escrever, etc.).

Atividade de Estudos:

1) Descreva uma atividade musical que contemple, em sua letra, as


partes do corpo humano.
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Capítulo 2 APRENDIZAGEM E LUDICIDADE

Sem dúvida, o corpo é o predicado fundamental para um princípio de


aprendizagem efetivamente significativa e propícia a uma eficácia durante o trajeto
de vida do Ser, pois o ato de educar é um ato inacabado. Estes elementos estão
diretamente ligados a três fatores: crescimento, desenvolvimento, desenvolvimento
motor e aprendizagem motora, tomando o cuidado de observar que:

• Crescimento: multiplicidade de células e aumento nos aspectos latitudinais e


longitudinais esqueléticos.

• Desenvolvimento: ascensão do homem ao mais humano. A motricidade


garante o dinamismo revelador e comunicativo da procura e da conquista de
mais Ser.

• Desenvolvimento motor: procura o desenvolvimento das faculdades motoras


imanentes do indivíduo.

• Aprendizagem: melhora relativamente aparente no comportamento e na


leitura do meio e interpretação dos signos conceituais, com resultado na
prática e na experiência.

O fortalecimento de informação e a discriminação ocorrem quando um estímulo


de impulsos nervosos é enviado ao cérebro do indivíduo, onde ocorre a integração
com experiências passadas para perceber a resposta indicada. Uma interpretação
da informação fornecida gera um resultado. Se a criança não interpreta ou não dá
um significado à informação fornecida, a percepção e a coordenação neuromuscular
serão inadequadas, resultando uma resposta motora defeituosa.

O desenvolvimento perceptivo-motor favorece a aptidão para a leitura


prevenindo uma imaturidade perceptiva que resultaria na incapacidade de
diferenciar, ao máximo, símbolos visuais impressos.

Alguns indícios que podem revelar deficiências perceptivo-motoras são:

a) falta de coordenação em habilidades motoras,

b) falta de habilidades para atividades cotidianas,

c) falta de vontade de participar de jogos diversos,

d) falta de predominância lateral,

e) dificuldade em associar símbolos e formas,

35
Aprendizagem cooperativa

f) constante desatenção,

g) dificuldade em interpretar direções laterais,

i) incapacidade de citar nominalmente partes do corpo,

j) dificuldade em colorir símbolos e

k) incapacidade de reproduzir corretamente letras, números e símbolos.

Os elementos apresentados são de suma importância na elaboração e na


evolução do grafema, pois o não-domínio articular, neste caso, a rotação de
punho, sem dúvida levará a distúrbios da escrita como, por exemplo, a disgrafia .
Mas isso é outra história ...

Para Dubois (1994, p. 38), “É preciso insistir no fato de os processos de


aprendizagem serem baseados no sistema de comunicação entre o cérebro e o
meio, por intermédio do corpo.”

Sob a perspectiva educativa oferecida em uma comunhão de articulações,


surge a condição de releitura do meio em que vivemos nas mais variáveis
nuances, pois a relação plural do sujeito com os objetos e com outros sujeitos
oferece uma condição de transcendência de um estado latente para um estado
com maior proximidade com o tônus de formação de novas consciências.

A consciência, em comunhão aos dizeres de Medina (1983, p. 23-


A consciência,
28), “é o que nos diferencia entre os seres humanos”. Esta pode ser
em comunhão
entendida como o estado pelo qual o corpo percebe a própria existência
aos dizeres de
e tudo o mais que existe. Sob esta perspectiva, encontramos três graus
Medina (1983, p.
de consciência no que concerne às possibilidades de interpretação e
23-28), “é o que
de atuação no mundo e em seus mundos.
nos diferencia
entre os seres
O primeiro deles se caracteriza por indivíduos que vivem
humanos”.
sintonizados no atendimento básico das suas necessidades para
sobrevivência. São “donos da razão”, não admitindo nenhuma
ponderação sobre seus princípios, pontos de vista e opiniões, pois estes são “o
certo” e a “lei”. Esta Consciência é chamada de Intransitiva.

Em um parâmetro superior, encontramos a Consciência Intransitiva


Ingênua, que trata de indivíduos que estão à mercê dos fatos, mitos e crendices
que o cercam no dia a dia. Restringem-se a interpretações vagas e simplistas
sobre a fenomenologia da vida. Acreditam em tudo o que ouvem e lêem. São
dominados pelo mundo e por seus objetos, pois não conseguem explicar a
realidade que os envolvem.

36
Capítulo 2 APRENDIZAGEM E LUDICIDADE

Por fim, a Consciência Transitiva Crítica é composta por indivíduos que


transcendem amplamente a superficialidade dos fenômenos e se assumem como
sujeitos de sua própria história. Conforme Medina (1983, p. 28), “[...] só é possível
alcançar este último grau de interpretação do mundo por intermédio de um projeto
coletivo de humanização do próprio homem [...]”. As consciências são movimentos
construídos somente quando o homem se junta com outros homens e ao mundo.
Esta construção se faz de forma efetiva e coletiva dentro de todas as contradições
que possuímos uns com os outros.

Atividade de Estudos:

1) Tomando por base o que Medina (1983, p. 23 - 28) descreve a


respeito de formação de consciências, faça um paralelo sobre
os parâmetros mencionando em que o movimento humano pode
contribuir para a construção de novas leituras sobre o mundo em
que o indivíduo se insere.
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A Educação, a Formação do
ConHecimento e a Constituição do
SaBer
A Educação existe para servir a vida, a essência do ser humano e tudo o que
contém de mais belo na humanidade, tornando a convivência entre as coisas e as
relações no mundo mais harmoniosas e respeitosas.

37
Aprendizagem cooperativa

A educação também pode ser vista como uma integração dinâmica de um


fluxo energético, que coloca os pensamentos em movimento. Leia o seguinte
trecho da música “Pensamento”, do grupo Cidade Negra (2008):

[...] E o pensamento ... é o fundamento


Eu ganho o mundo sem sair do lugar
Eu fui para o Japão
Com a força do pensar
Passei pelas ruínas
E parei no Canadá
Subi o Himalaia
Prá no alto cantar
Com a imaginação que faz
Você viajar, todo mundo [...].

Por meio da onda de energia mencionada na música “Pensamento”, a


informação relativa a esta transformação é levada, por intermédio da convivência,
a todas as partes de nossas vidas e para o meio que nos cerca. Esta transformação
nos conduz a um campo maior de percepção.

Com a posição descrita por Schlögl (2000, p.13), temos mais subsídios para
compreender esta fenomenologia:

É certo pressupormos que haja uma resposta certa, ou conjunto


de respostas certas durante este processo de transformação,
pessoal ou coletiva. O mais importante é que estas respostas
sejam a construção de cada um, justamente porque o ato de
responder exige mais do que um simples jogo de lógica. Exige
um contato íntimo com os próprios sentimentos. É preciso
unir os pontos de referência interiores, para se chegar a uma
resposta que seja única, pessoal e quase inacabada.

Para que este processo de transformação ocorra de fato, não


Toda e qualquer
devemos esquecer ou sequer ousar tornar irrelevante 4 momentos
pessoa, por
distintos na formação do ser humano: 1) a história individual e coletiva
menos idade que
do grupo; 2) permitir ao homem sintonizar o seu momento; 3) romper
tenha, já possui
as fronteiras do conformismo; e 4) repensar sobre a condição humana.
um contexto
de história
pessoal que
a) A História Individual e Coletiva do Grupo
pode influenciar
positiva ou
Toda e qualquer pessoa, por menos idade que tenha, já possui
negativamente
um contexto de história pessoal que pode influenciar positiva ou
o meio em que
negativamente o meio em que vive. Como podemos, caro(a) pós-
vive.
graduando(a), desprezar tal informação antes de promulgar qualquer

38
Capítulo 2 APRENDIZAGEM E LUDICIDADE

que seja um princípio pedagógico norteador das tarefas escolares cotidianas,


seus conteúdos e rituais de ação educativa?

Para começar a adentrar este labirinto de apresentações, sugerimos o jogo


a seguir:
Nome: Bingo Humano

Formação: Dispersos em um espaço delimitado, todos munidos com folhas


A4 e material para escrita (lápis ou caneta).

Esta atividade se divide em quatro momentos distintos:

1º Momento: Escolher o “nome” com o qual participará do jogo. Associado


ao nome ou apelido do participante, será necessário “criar” um “sobrenome” que
seja o de uma fruta que mais aprecie.

EX.: Nome: João # Fruta de que gosta - Banana # Nome no jogo: “João
Banana”

Nome: Maria # Fruta de que mais gosta - Laranja # Nome no jogo: “Maria
Laranja”.

IMPORTANTE: Este nome, após escolhido, não deve ser modificado até o
término do jogo.

2º Momento: Preparar a cartela do bingo. Na cartela, deverão aparecer 16


(dezesseis) retângulos pequenos. Para tal, cada participante deve proceder da
seguinte maneira:

 Dobrar a folha ao meio. Ponta com ponta, no sentido horizontal, sempre


marcando bem as dobras.

39
Aprendizagem cooperativa

 Após esta dobra, aplicar outra, formando, assim, um novo retângulo (ponta com
ponta e marcando bem todas as junções). Este movimento se repetirá 4 vezes.

3º Momento: Ao abrir a folha desfazendo as dobras, haverá 16 retângulos,


conforme citado. Isto feito, a tarefa é cada participante preencher os retângulos
existentes somente com o nome dos demais companheiros (o nome do participante
não fará parte da sua cartela, e a cartela será preenchida apenas de um lado).
Cada preenchimento acontecerá após a apresentação prévia dos participantes
entre si. Um aperto de mão e “Como vai, eu me chamo ‘João Banana’, e você,
como se chama?”

4º Momento: Completada a cartela, cada participante volta ao seu lugar para


início do “bingo” propriamente dito.

Um “locutor” buscará, aleatoriamente, os participantes para que os mesmos


digam seus nomes. A cada nome citado, os participantes devem verificar a existência
ou não deste na sua cartela. Caso exista, marcar com um “X”. Será considerado
vencedor do bingo aquele participante que marcar 4 “X” em uma única linha –
horizontal, vertical ou diagonal, conforme ilustração a seguir:

Ana Lúcia Pedro Alberto


Pera Caqui Goiaba Abacate

Davi Marta Maria Osmar


Maça Kiwi laranja Manga

José Carolina Rafael Cristina


Uva Mamão Melancia Acerola

João Pedro Thais Paulo


Banana Pêssego Abacaxi Ameixa

40
Capítulo 2 APRENDIZAGEM E LUDICIDADE

 Caso seja necessário, continuar até que seja preenchida toda a cartela.

Cabe esclarecer que os “sobrenomes” podem ser repetidos.

Se você precisava de uma atividade para ocupar os minutos finais da sua


aula, o jogo termina por aqui. Neste caso, o denominamos de Fim Pedagógico.
Porém, se você procura, em suas atividades, uma ponte para o novo, pode utilizá-
lo como uma estratégia de ensino. Nesse caso, denominamos esta atividade de
Meio Educativo.

A partir de agora, abordamos os eixos multi, trans, inter e pluri disciplinares


desta atividade.

Existem alguns aspectos que devemos relevar na aplicabilidade deste jogo,


pois existem muitas nuances que podem torná-lo bastante instrutivo em vários
focos conceituais. Instante cultural, vejamos:

• Perguntamos à turma se foi percebida a quantidade de frutas que foram


ditas como preferidas pelos participantes. Damos a sugestão de, na semana
seguinte ou em outro dia qualquer, cada um trazer um pouco da fruta de sua
preferência para que seja preparada uma deliciosa salada de frutas. Esse dia
ficará então instaurado como O Dia da Merenda Saudável, com todos os
rituais que são utilizados antes, durante e depois de uma refeição.

• Podemos ressaltar as peculiaridades alimentares de cada região do Brasil


e também do exterior. Apropriando-se disso, qualificaremos os nutrientes
encontrados em cada fruta, os benefícios e a necessidade do seu consumo
diário, bem como a importância da sua inserção no cardápio, evitando, assim,
alimentos industrializados.

• Perguntamos, então, aos alunos quem, em sua família, sabe fazer algum
“quitute” com a fruta de que eles mais gostam. Sendo assim, pode ser
determinado que, no mês seguinte, haverá uma reunião com os responsáveis
pelos alunos e que, neste dia, após a pauta ser completada, terá um Festival
de Gastronomia.

Premiação? Quem serão os jurados? As próprias crianças e seus familiares!


Todos são vencedores! Todos ganham com tal atividade.

Com relação às frutas, podem ser estudados o formato, a dimensão, o


diâmetro, as figuras geométricas que formam e outros aspectos da Geometria.

A composição de cores igualmente pode ser estudada, desde o broto até o


amadurecimento do fruto: verde ao estar crescendo e vermelha e/ou amarelo ao estar

41
Aprendizagem cooperativa

pronta para consumo. Estamos citando princípios da Educação Artística.


De posse de um mapa do Brasil, poderemos buscar onde é predominante a
colheita desta ou daquela fruta (Geografia).

Pergunta: “Esta fruta é de origem brasileira ou veio para cá com a colonização?”


Esta pergunta levará a várias inquirições. Estamos com a História.

“Por quantos e por quais nomes esta fruta é conhecida nos diversos estados
do Brasil?”. Sabemos, devido às particularidades da nossa língua, que algumas
frutas possuem nomes diferenciados (Língua Portuguesa).

A aplicabilidade deste jogo e seu caráter integrativo, ressalvando


fatores biopsicossociais, constituem o binômio lúdico de condição básica de
entretenimento e alegria no desenvolvimento de qualquer atividade.

b) Permitir ao Homem Sintonizar o seu Momento

Para sabermos aonde queremos ir, precisamos saber de onde estamos


vindo e onde estamos agora. Assim poderemos traçar um caminho, espelhado
ou não, original ou plagiado, com ascensão ao sucesso ou conformado com as
peculiaridades ínfimas da vida.

Para muitos, e concordamos com isso, sucesso é um somatório de talento


com oportunidade e, no instante em que este chegar, devemos agarrá-lo como se
fosse (quem sabe é) a última coisa de nossas vidas.

Um momento envolvente, em que cada participante do grupo apenas


diga quem é ele, de onde vem e para onde espera ir, já é o suficiente para
começarmos a descrever o perfil dos nossos alunos, bem como seus anseios e
esperanças por estarem aqui ou ali.

Sugiro, assim, outra interessante atividade:

Nome: Cápsula do Tempo

Formação: Dispersos em um ambiente delimitado.

Desenvolvimento: Cada um dos participantes escreverá em uma folha o


momento pessoal e histórico que está passando naquele momento. Após isso,
todos devem dobrar bem esta folha e colocá-la dentro de uma garrafa para que,
no final do ano letivo ou temporada de estudos, seja aberta novamente.

42
Capítulo 2 APRENDIZAGEM E LUDICIDADE

c) Romper as Fronteiras do Conformismo

De fato, quem espera atingir algum degrau de sucesso jamais pode esperar
chegar a lugar algum continuando a fazer e realizar as mesmas coisas que
outrora. Sinto muito, caro(a) pós-graduando(a), assim não dá.

É preciso dar um passo adiante em busca da realização pessoal,


“O que você está
e este passo se chama ATITUDE ! Faça uma perguntinha básica a
fazendo agora a
seus alunos: “O que você está fazendo agora a fim de conquistar o
fim de conquistar
tão desejoso sonho pessoal ou carreira profissional?” Se a resposta for
o tão desejoso
“estudando”, diga a eles, olhando para uma janela, que muitos também
sonho pessoal
estão fazendo isso e, assim, ninguém está fazendo nada diferente que
ou carreira
os demais.
profissional?”
Fazer a diferença – eis a questão !!!

Deixe isso escrito em diversos locais da escola e da sala de aula. Comece os


afazeres escolares com esta frase escrita no quadro. Coloque em suas lâminas de
retroprojetor ou Power Point, como queira, mas a deixe sempre à vista de todos.

d) Repensar Sobre a Condição Humana

Você já assistiu ao filme A Corrente do Bem (2000)? Você se lembra de


que um dos personagens do filme era um Professor e de como ele começou uma
das suas aulas? Não se lembra? Nós ajudamos: um certo professor de Estudos
Sociais passa tarefa um tanto que inusitada para seus alunos: que criassem algo
que, de alguma forma, pudesse modificar o comportamento das pessoas e, assim,
mudar o mundo.

Todos os alunos apresentaram suas ideias no decorrer das aulas, mas um


deles propôs algo que continha um diferencial: cada pessoa deveria oferecer um
gesto de ajuda para três pessoas diferentes no seu dia a dia. Porém, a pessoa
que recebesse este gesto, deveria dar continuidade a esta atitude, oferecendo
também a três pessoas o favor recebido, formando assim uma corrente, uma
Corrente do Bem como se chama este maravilhoso filme.

Você já se imaginou propondo algo semelhante aos seus alunos? Pense


nisso com muito carinho...

43
Aprendizagem cooperativa

Competição X Cooperação: Quem


GanHa e Quem Perde com esta Peleja?
Uma ação educativa, um jogo ou qualquer proposta pedagógica que envolva
pessoas pode conter diversas abordagens no seu aspecto prático. Em uma delas,
acompanhando o exposto por Costa (2003, p. 34), podemos citar a Educação
pelo Jogo e a Educação para o Jogo.

Educação pelo jogo: neste aspecto, os elementos pertinentes a sua práxis


são utilizados como meios educativos, em que a intenção de trabalho é a formação
do tônus, diferenciando-se do tônus muscular. Sua contextualização abrange
aspectos trans/inter/multi e pluridisciplinares, não se fixando na linearidade do
tema de trabalho. Essencialmente, buscamos formas conceituais em outras
fontes de conteúdo para tornar a informação mais abrangente e concreta para
os educandos, traduzindo-se numa relação com a história coletiva na qual se
movimentam diversos aspectos que transcendem os fenômenos inerentes a sua
prática em si, estruturando e reestruturando valores morais, éticos, religiosos, etc.
Uma teia de conhecimentos necessários à educação em geral.

Educação para o jogo: nesta abordagem, prevalece a intenção da utilização


do jogo como fim em si mesmo, ou seja, sua finalidade básica é o aprendizado/
ensino direcionado ao ato motor, não se estendendo a elementos diversos
contidos nas formas variadas de saber.

A partir do momento em que a indústria se tornou o modelo para a


organização para várias esferas na sociedade, a ênfase na produção tornou-se
referência também nos jogos.

Os jogos tornaram-se rígidos e excessivamente orientados para a vitória,


sendo que a contagem dos pontos, o vencer a qualquer custo e a pressão
psicológica causada pela possibilidade da derrota e da falha, sobrepujam o puro
divertimento.

Promover situações nas quais as crianças competem freneticamente umas


com as outras por algo que só elas podem alcançar é uma maneira segura de
garantir o fracasso e a rejeição para a maioria. De fato, muitos fazem questão
de promover um vencedor ou poucos vencedores em detrimento dos demais,
deixando uma sobra considerável de “rejeitados” do esporte para formar a maioria
da população.

Os indivíduos formados com base em uma concepção pedagógica


cooperativa, na aceitação e no sucesso, possuem uma chance muito maior de

44
Capítulo 2 APRENDIZAGEM E LUDICIDADE

desenvolver uma saudável autoimagem, uma adequada autoestima, da


Os indivíduos
mesma forma que uma criança nutrida com substâncias saudáveis tem
formados com
maior chance de desenvolver um corpo forte e saudável.
base em uma
concepção
pedagógica
Algumas ConsideraçÕes cooperativa,
na aceitação
Vimos, neste capítulo, os fundamentos estabelecidos por diversas e no sucesso,
correntes a respeito de aprendizagem e ludicidade. Cabe ressaltar que, possuem
para um contexto de aprendizagem cooperativa, também é necessária uma chance
uma boa dosagem de motivação – o combustível necessário para muito maior de
se apropriar do movimento para a realização de uma ação qualquer desenvolver
–, ludicidade e todo instrumento que possa trazer a luz da alegria, do uma saudável
riso e da felicidade e, fundamentalmente, a apropriação do saber como autoimagem,
elemento mágico nesta senda que é viver. uma adequada
autoestima.
No próximo capítulo, veremos a tendência das propostas para
um bem comum em que o ambiente de aprendizagem propício a uma
dualidade contextual faz a diferença na formação de um indivíduo e em aspectos
de ensino mais favoráveis à constituição de saberes concatenados a outros
contextos de cunho proximal ou não à ideia central do assunto abordado.

Até lá !

ReFerÊncias
A CORRENTE do bem. Direção de Mimi Leder. EUA: Bel-Air Entertainment:
Warner Bros, 2000. 1 DVD.

BARRETO, Sidirley de Jesus. Psicomotricidade: educação e reeducação.


Blumenau: Acadêmica, 2000.

CIDADE Negra. Perfil: Cidade Negra. São Paulo: Som livre, 2008. 1 disco
compact (60 + min.): digital, estéreo.

COSTA, Paulo Sérgio da. Criartevidade: jogos e atividades para todas as


ocasiões. Florianópolis: CEITEC, 2003.

DUBOIS, Daniel. O labirinto da inteligência. Lisboa: Instituto Piaget, 1994.

45
Aprendizagem cooperativa

LAGO RODRIGUES, Zita Ana. Ciência, filosofia e conhecimento: leituras


paradigmáticas. Florianópolis: Editora Cortez, 2003.

MEDINA, João Paulo Subirá. A educação física cuida do corpo e “mente”.


São Paulo: Papirus, 1983.

PILETTI, Claudino. Didática especial. São Paulo: Ática, 1995.

SABETTI, Stephano. Ondas de transformação: dinâmicas e práticas de


transformação social. Tradução de Dinah de Abreu Azevedo. São Paulo:
Summus, 1995.

SCHLÖGL, Emerli. Expansão criativa. Petrópolis: Vozes, 2000.

VALDÉS ARRIAGADA, Marcelo. Psicomotricidade vivenciada. Blumenau:


Edifurb, 2002.

VAYER, Pierre; DESTROOPER, Jean. A dinâmica da ação educativa para as


crianças inadaptadas. São Paulo: Manole, 1986.

46
C APÍTULO 3
A Pedagogia da Cooperação
e do Movimento Humano

A partir da perspectiva do saber fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Constatar a tendência das ciências pedagógicas para a necessidade de uma


cosmovisão que divida menos e una mais.

 Buscar estratégias de ensino favoráveis e facilitadoras para a constituição


desta proposta pedagógica.
Aprendizagem cooperativa

48
A PEDAGOGIA DA COOPERAÇÃO E
Capítulo 3 DO MOVIMENTO HUMANO

ConteXtualização
É evidente que não nascemos com todos os sistemas de comportamento,
crenças e demais modos de conduta. As orientações destrutivas, bem como as
construtivas, são aprendidas. Elas ocorrem como resultado de um processo de
socialização de vivências infinitas, dentro e fora do ambiente escolar, fazendo
parte do contexto de história pessoal de cada indivíduo.

Em conformidade com Orlick (1992, p. 118),

[...] quando os objetivos são claramente delineados e


acordados antecipadamente, os estímulos passam a ser mais
consistentes, os comportamentos desejáveis são reforçados
pelos demais componentes do grupo e as atitudes e condutas
possuem uma relação mais dual com o objeto em estudo [...].

Com isso, o prazer de ir adiante, da busca sensata pelo evoluir e do


Está em jogo a
esmero de contribuir com a superação de desafios torna-se inevitável.
tênue convivência
entre indivíduos
A pedagogia da cooperação chamou a atenção de um número
que procuram
crescente de especialistas interessados na explicação mais precisa do
de imediato o
comportamento cooperativo e das circunstâncias que o fomentam. Em
melhor para si e
suma, está em jogo a tênue convivência entre indivíduos que procuram
para aqueles que
de imediato o melhor para si e para aqueles que esperam conviver com
esperam conviver
os demais em busca de algo plural para ambos e para o bem do grupo,
com os demais
em geral, em longo prazo. Ao invés de supor uma racionalidade forte
em busca de algo
para deliberações, a proposta cooperativa adotou a perspectiva de que
plural para ambos
os agentes atuantes no processo procurem uma atuação sob regras
e para o bem do
práticas, sem efetivar um cálculo rigoroso de tudo o que é necessário
grupo, em geral,
para encontrar uma solução técnica indicada, ou seja, que vivenciem
em longo prazo.
deliberadamente cada segundo de suas existências como se cada
instante mágico da vida fosse único.

Formação de uma Teia Cooperativa


Existe uma frase clássica utilizada pelos profissionais de propaganda: “Nada
supera o talento”. Partindo desta premissa, uma das questões importantíssimas –
e pedimos, caro(a) pós-graduando(a), jamais se esqueça disso –, o talento nato
do profissional em educação será um dos grandes alicerces para quem procura
romper com as superficialidades das práticas pedagógicas que não levam a uma
transcendência da fenomenologia do apreender. Adquirir um conhecimento
sobre um objeto é possível para qualquer um. Para utilizar o poder deste

49
Aprendizagem cooperativa

conhecimento para o bem comum de todos, é necessária certa reflexão sobre as


ações pertinentes a este objeto e a este movimento. Não estamos nos referindo
apenas ao aspecto do ato motor, mas também à substancialidade inerente às
atitudes e às condutas em prol do outrem, do desvendar o desconhecido aparente
e do “destrono” do “achismo” que torna as questões inelegíveis.

O movimento humano é fato irrefutável em todo componente educacional,


pois, como já vimos, não é possível promover qualquer elemento conceitual e
consciente sem estar “se mexendo”. Afirmamos isto com veemência, pois este
parâmetro faz parte do milésimo segundo de existência de um ser humano, a
partir da sua concepção intrauterina. Por isso não podemos negar sua existência,
principalmente quando nos encontramos em um momento sagaz e de grande
autenticidade que é o ato de educar.

Percebe-se a Em comunhão com a ideia exposta por Cunha (1995, p. 39), no


necessidade de que se refere ao “(des)envolvimento” do ser, entendemos que:
uma ruptura e de
uma quebra de [...] ninguém se transcende sozinho, mas tão-só numa
sociedade livre e libertadora. A passagem do físico ao
paradigmas que ser humano em movimento intencional (a motricidade)
não promovam pressupõe a passagem da sociedade injusta a uma sociedade
a energia em que todos (todos!) os cidadãos são sujeitos e não objectos
e em que à cultura burguesa do ter se anteponha a cultura
intencional da solidária do ser, expressa na construção de uma democracia
transcendência econômica, social e cultural e no aprofundamento da
ou separação. democracia participativa [grifos do autor).

Percebe-se a necessidade de uma ruptura e de uma quebra de paradigmas


que não promovam a energia intencional da transcendência ou separação.

Quando nos referimos a uma proposta que envolva um processo cooperativo,


imaginamos um caminho compartilhado de aprendência (aprende com essência),
em que o ensinar e o aprender ocorrem em um verdadeiro emaranhado de
situações, onde cada um e cada uma são considerados(as) mestres-aprendizes,
“com-vivendo” a descoberta de si mesmos e do mundo, por meio do encontro com
os outros, diante de situações-problema que os desafiam a encontrar soluções
cooperativas para o sucesso de todos e para o bem-estar “Com-Um”.

Um propósito pedagógico que busque a sustentação cooperativa pode ser


percebido como um conjunto de ações educativas que compõe diversos fazeres
com o intuito de orientar a caminhada daqueles que se aventuram rumo ao centro
essencial de sua própria “Comum-Unidade”.

Trata-se de uma pedagogia viva, acontecendo em alguns momentos e em


muitos movimentos, sendo organicamente articulada com os passos e “com-

50
A PEDAGOGIA DA COOPERAÇÃO E
Capítulo 3 DO MOVIMENTO HUMANO

passos” dados ao longo do caminho por quem caminha e caminha junto. É uma
jornada de realização exterior para promover a transformação interior da pessoa e
do grupo (BROTTO, 2009).

Tomamos a perspectiva trazida por Freire (1980, p. 57) que encontra uma
forte relação entre a cooperação e as questões políticas das classes socialmente
desfavorecidas: “uma de nossas tarefas é educar para não aceitar passivamente
a injustiça [...] como educadores temos que transmitir outros valores. Podemos
oferecer a alternativa da solidariedade e do senso crítico diante do egoísmo e da
resignação”.

Com essa possibilidade, cooperar ganha uma visão e um papel transformador,


destacando-se, pois liberta do círculo vicioso de ser sempre o melhor, o primeiro,
conduzindo a uma atitude menos competitiva e menos excludente. Isto porque
o interesse se volta para a participação, eliminando a pressão de ganhar ou
perder produzida pela competição; liberta da eliminação, pois procura incluir e
integrar todos, bem como evitar a eliminação dos mais fracos, dos mais lentos,
dos menos habilidosos etc.; liberta para criar, pois criar significa construir, o que
exige colaboração; facilita a participação e a criação, pois permite a flexibilização
das regras e a mudança da rigidez das mesmas; e liberta da agressão física, pois
busca evitar condutas de agressão, implícita ou explícita, em algumas situações
de conflito. Trata-se de uma prerrogativa voltada para a paz.

Nos postulados de Barreto (1999, p. 95), identificamos “a vivência grupal


como um tipo de aprendizagem que tem como especificidade ser plena de
sentido”. O autor apresenta suas características:

1. Envolvimento pessoal: a pessoa inclui-se no evento da aprendizagem,


tanto no aspecto afetivo quanto cognitivo;

2. É autoiniciada: mesmo com estímulos externos, o senso de descoberta, de


captar, de compreender, vem de dentro;

3. É penetrante: por suscitar modificação no comportamento, nas atitudes e


nas condutas de cada elemento do grupo;

4. É avaliada pelo participante que sabe se a aprendizagem está indo ao


encontro de suas necessidades;

5. É verificada pelo elemento de significação que traz ao participante.


“Significar é a sua essência.”
Este processo de transformar a experiência em ação, normalmente não

51
Aprendizagem cooperativa

ocorre sozinho. As pessoas necessitam de um tempo de processamento para tirar


conclusões e fazer associações com sua vida. Neste momento, o profissional em
educação que atuar com esses parâmetros possui papel fundamental, pois é por
meio de sua mediação que o participante pode ir mais fundo em sua reflexão.

Portanto, para que ocorra aprendizagem, é fundamental cuidar do


processamento do jogo. Vaysse (1993, p. 118) propõe, neste momento, “a
utilização desta vivência grupal, que busca a participação ativa e viva do grupo
no processo” - a experiência concreta por meio de uma atividade; a análise
dessa experiência, por meio do compartilhamento de observações, sentimentos
e reações; a busca da conceituação, pelo entendimento das semelhanças e
diferenças observadas no grupo; e a aplicação dessas descobertas na vida real.

O ciclo mencionado, conforme Brotto (2003, p. 53-54), aplicado a um


processo educativo, marca as seguintes fases:

1a – Vivência - a atividade por meio da experiência concreta: o


ato de jogar e de se deparar com algo que leve os participantes
ao novo;

2a – Relato - a análise dessa experiência: por meio do


diálogo e da reflexão dentro do grupo como um todo ou em
duplas, trios, etc. Pode ser aberto ou estimulado por questões
levantadas pelo educador. É fundamental ficar atento(a) para
que todos que desejam tenham oportunidade de falar. Cuidado
com participantes que “falam demais” tomando todo o tempo
do grupo;

3a – Processamento - a busca da conceituação: associada


à fase anterior por meio do entendimento das semelhanças
e diferenças e da associação da vivência com padrões de
comportamento no grupo e a sistematização da experiência
vivida. Cuidado com respostas e/ou colocações prontas,
fechadas e com a indução. Vale lembrar que quem participa
do jogo tem sua bagagem, assim como valores e crenças que
nem sempre são os de quem propõe a atividade ou de outro
participante e que devem ser respeitadas;

4a – Generalização - associar a experiência com o dia-a-dia:


fazer um breve paralelo com a realidade, mantendo o foco
no tema e no momento do grupo. Quem propõe a atividade
está exercendo o papel de mediador para proporcionar uma
reflexão em que cada um processe a vivência a partir de suas
experiências anteriores.

5a Aplicação - a proposta de aplicação dessas descobertas na


vida real: ocorre uma síntese das reflexões e a proposta das
aplicações dessas reflexões ao seu dia a dia.

52
A PEDAGOGIA DA COOPERAÇÃO E
Capítulo 3 DO MOVIMENTO HUMANO

Segundo Cutrera (1993, p. 50), “quando as pessoas vivenciam um jogo em


todas as fases propostas, elas têm melhor chance de alcançar a aprendizagem
por trabalharem, de forma harmônica, os dois hemisférios cerebrais”. O autor
ainda explica que “Estimulamos o acionamento do hemisfério direito nas fases
da vivência e do relato de sentimentos e o esquerdo nos momentos de avaliação,
análise e analogias”.

Para Cutrera (1993, p. 50), “Ao fechar o Ciclo de Aprendizagem Vivencial, o


comportamento final não somente estará pautado no racional, mas também no
emocional, buscando assim resgatar o ser humano integral”.

Tema: açucareiro

Para fechar um dia de trabalho, nada como uma boa atividade em grupo.
Peça que todos dêem as mãos, mesmo sentados. Após isso, diga que contará
de um a três e, ao dizer três, cada participante do grupo deve ajudar o outro a
levantar de onde está sentado. Após, o grupo deverá formar um círculo, chamado
carinhosamente de açucareiro. Todos devem estar com os braços entrelaçados,
como um casal em um passeio numa praça. A partir daí, solicite que cada um
mentalize uma palavra que simbolize tudo o que vivenciou na jornada do dia.
Após um sinal, um gesto qualquer, todos devem bradar esta palavra, abraçando
pelo menos três pessoas e repetindo a palavra para cada um que abraçar.

Como Começar, por Onde Ir?


Todo profissional em educação que se deparou com alguma nova experiência,
no início de um ano letivo, com algum conflito generalizado em algum ambiente
de aprendizado, deve ter feito esta pergunta – Como começar, por onde ir? – para
si mesmo ou para algum colega de trabalho. Inúmeras situações devem ter sido
apontadas como eficazes, desde os costumeiros “corretivos” e “castigos”, como
deixar o aluno sem recreio, tirar pontos nas avaliações, privar o aluno das aulas
de Educação Física ou amedrontá-lo com uma prova excepcionalmente difícil nas
avaliações bimestrais. Outro dia, nos deparamos com uma famosa, mas não tão
corriqueira situação: “Vou fazer prova oral se não ficarem quietos!”

Mas isso funciona? Funcionou, de fato, alguma vez? Por alguns momentos,
pode ser que sim, pois a amedrontamento é espantoso. Quem é que vai querer
ser exposto desta forma?

Em busca de algum incremento para as aulas, situações inúmeras surgem


nos diferentes veículos de comunicação e em diversos livros sobre este assunto.

53
Aprendizagem cooperativa

Personagens difundem vitoriosas e funcionais maneiras de manter a “disciplina e


a ordem” em sala de aula e, com isso, conseguir que os alunos aprendam.

Sempre que começamos ou recomeçamos um período letivo com uma turma,


independente da idade e localidade em que nos encontrávamos (dizemos isso,
pois já atuamos em escolas localizadas em centros urbanos, como também em
periferias), a condição primária da relação entre todos os que ali estavam era a
de ninguém ter o direito de criticar negativamente nenhum componente do grupo,
tanto com palavras, como com gestos ou com qualquer outro instrumento que
pudesse colocar seu semelhante em situação constrangedora.

No início, sempre foi difícil, pois o preconceito não estava apenas no patamar
racial, mas na forma de expressar, na forma de pensar, na forma de ser, na
forma de interagir. Isso levava muitos alunos a ficarem imersos em seus mundos,
indiferentes e alheios ao que ocorria, apenas proporcionando o óbvio para
“passarem de ano” e atingirem a média necessária, sem muito comprometimento
com as tarefas escolares diárias.

Este comportamento também se refletia em suas vidas fora da escola,


principalmente nas relações de amizade e, até, amorosas. A ideia de apenas “ficar”
nos fins de semana ou em situações extras, tais como festas e afins, tornava-se
rotineira. “Mas é que é assim que a gente vive”, afirmou um desses alunos.

Como primeiro passo para que surgisse uma proximidade, sugerimos a


seguinte situação: após o mediador dizer a palavra “ZAP”, todos os alunos devem
dizer seus próprios nomes.

Numa etapa seguinte, cada aluno deverá se apresentar para um aluno que
esteja mais próximo a ele. Assim, quando o educador dizer a palavra “ZIP”, cada
aluno deverá dizer o nome do aluno ao qual ele se apresentou.

Em um terceiro momento, cada aluno deverá se apresentar para outro


companheiro que esteja bem distante dele na sala de aula. Assim, quando o
mediador disser a palavra “ZUP”, os alunos devem dizer o nome do último amigo
ao qual ele se apresentou.

Terminada todas as etapas, na próxima, o mediador dirá em sequência as


palavras “ZAP”, “ZIP” e “ZUP”, com pequenos intervalos uma da outra, a fim de
que os alunos digam seus nomes, o nome do primeiro aluno para quem ele se
apresentou primeiro e o nome do aluno ao qual ele se apresentou posteriormente.

Trata-se de uma atividade envolvente e que promove um clima bem


harmonioso com a turma para início de qualquer atividade diária.

54
A PEDAGOGIA DA COOPERAÇÃO E
Capítulo 3 DO MOVIMENTO HUMANO

Após esta atividade, sugerimos alguma apresentação do grupo de dança


Lord of The Dance. Olhe, caro(a) pós-graduando(a), quem não viu deve assistir
bem ligeiro! Trata-se de um grupo que promove o sapateado como expressão
artística e um excelente exemplo de trabalho em grupo e no qual podemos calçar
nossas intenções de expectativas quanto ao desempenho do grupo nas diversas
tarefas que serão desenvolvidas. Com certeza será um fato marcante.

Outros exemplos de participação cooperativa que podemos citar são as


camadas menos favorecidas economicamente que procuram manter a prática
de mutirões (para a construção de suas residências e a limpeza de suas ruas,
feitas por absoluta necessidade de sobrevivência) e a soberba organização
das grandes escolas de samba. A partir daí, temos excelentes referenciais para
ilustrar o que pretendemos e também o que esperamos do grupo e de cada
integrante dele.

Mas, caro(a) pós-graduando(a), em que consiste, de fato, a preparação


adequada para participar com êxito de um grupo que está fazendo um trabalho de
natureza colaborativa? Em primeiro lugar, uma sincera e madura capacidade de
aceitar crítica sobre a contribuição feita.

Em segundo lugar, a liderança de qualquer grupo que quer ter êxito na sua
missão deve extirpar qualquer tipo de intimidação das ações educativas propostas.
Isso pode ser entendido por quem será o mediador, educador ou profissional de
educação que desenvolverá os conteúdos com os alunos, quanto aos próprios
componentes do grupo. No que se refere ao educador, ser autoritário difere de ser
autoridade. O autoritário impõe; a autoridade propõe. Não se esqueça disso, por
favor! NUNCA!

Mostre aos alunos que um verdadeiro líder está lá para coordenar


O autoritário
as ideias criativas dos outros, apenas de vez em quando lançando mão
impõe; a
de uma contribuição sua. Essa situação pode ser apontada, também,
autoridade
na prática esportiva, acrescentando a existência do “capitão” em uma
propõe.
equipe, cuja atuação não é a de “reclamar com o árbitro” como muitos
julgam, e sim ser um braço estendido do técnico dentro de campo.

Em terceiro lugar, a busca permanente pela excelência no trabalho do grupo


é essencial. Apenas isso garante a renovação e a atualização constante do grupo.

55
Aprendizagem cooperativa

Atividade de Estudos:

1) Existem inúmeros procedimentos que devemos levar em


consideração na propensão de uma proposta que contemple
procedimentos didático-pedagógicos envolvendo a cooperação.
Quais os elementos que constituem de fato a preparação
adequada para participar com êxito de um grupo que está fazendo
um trabalho de natureza colaborativa?

( ) Uma sincera e madura capacidade de aceitar a contribuição


crítica de um dos componentes ou de componentes do grupo.

( ) Nenhum tipo de intimidação deve ser apontada como estratégia


de “controle de turma” ou coisa parecida.

( ) A busca permanente pela excelência no trabalho proposto ao


grupo é essencial para a conquista de resultados elevados. Isso
beneficiará todos.

( ) Todas as respostas apresentadas.

2) Escolha uma das respostas e faça um texto com, no mínimo, 5


linhas.
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Observando os apontamentos de Litto (1984, p. 54-55), podemos também


enumerar alguns aspectos comportamentais que podem contribuir positivamente
ou negativamente para o sucesso dos trabalhos que serão organizados, tais como
os expostos a seguir.

56
A PEDAGOGIA DA COOPERAÇÃO E
Capítulo 3 DO MOVIMENTO HUMANO

POSITIVOS NEGATIVOS
Manter claramente os objetivos e as
tarefas a serem cumpridas durante o
dia. Escutar os demais companheiros
Realizar lutas de poder dentro do grupo.
dando toda atenção necessária e exigir
honestidade e generosidade de cada
participante do grupo.
Ser antiético, como cobrar de alguém
Faltar a reuniões do grupo em caso
algo que não foi combinado ou de
excepcional.
elogiar falsamente alguém.
Não “ficar em cima do muro”. Tomar
Deixar atritos levarem a confrontações e
sempre uma posição com relação aos
tensões.
fatos expostos.
Interar-se a respeito do que todos estão
Ser preguiçoso.
realizando.
Ser “pirata de ideias” – planos e
Saber gerenciar, sem lamúrias, os
programas – passando-os para
recursos escassos.
terceiros.

Didática da Cooperação
O que há de mais excitante quando nos propomos implementar um novo
processo pedagógico é a possibilidade de recomeçarmos, ou seja, a possibilidade
de “do nada se criar alguma coisa”.

Pelo simples fato de muitas posturas pedagógicas serem


invariavelmente repetidas no cotidiano escolar, muitos indivíduos
– crianças, jovens e, até, adultos – simplesmente as aceitam de O objetivo
bom grado, pois as consideram natural e normal. Costumeiros e principal da
corriqueiros são procedimentos pedagógicos baseados em um proposta
processo de apresentação simples de conteúdos, um banco de pedagógica
perguntas e respostas e uma previsão de avaliações normalmente cooperativa
escritas, contendo questionamentos sem muita reflexão, apenas em é criar
um campo intuitivo, quase uma loteria. oportunidades
para o
O objetivo principal da proposta pedagógica cooperativa é criar aprendizado e
oportunidades para o aprendizado e para a interação prazerosa. É para a interação
abrir uma discussão, baseando-se nos escritos de Franco (1988, prazerosa.

57
Aprendizagem cooperativa

p. 53): “O papel segmentar é de ampliar ou meramente começar uma verbalização


a respeito da contribuição da escola para nossas vidas”. Mostrar que uma simples
reunião de pessoas socializadas competitivamente, em pequenos grupos, não é o
suficiente para melhorar a cooperação e a amizade. Elas devem ser ligadas entre
si de uma maneira independente – a estrutura das atividades que serão propostas
estabelece as condições de interdependência.

Segundo Franco (1988, p. 53), “pelo trabalho o homem se faz homem,


modifica a natureza, transforma suas condições de vida”.

Algumas atividades induzem a uma maior interdependência cooperativa que


as outras. Um exemplo: divida o grupo em diversos subgrupos com, no máximo,
três componentes. Em seguida, atribua uma letra para cada um dos grupos e
enumere cada componente. Assim teremos, no grupo “A”, a formação A1, A2 e
A3, seguindo assim com os demais grupos.

Dê para cada integrante do grupo um material impresso sobre o tema


em questão. Solicite que todos os componentes do grupo leiam o conteúdo e
conversem a respeito do que leram. Após isso, cada integrante deverá escrever
suas considerações a respeito do conteúdo lido. Após esta etapa, pedir que todos
os que possuam o número 1 formem um novo grupo e assim por diante.

Os integrantes desses novos grupos deverão apresentar suas conclusões


aos demais componentes do grupo. Após as explanações, todos devem conversar
a respeito do que ouviram, reiterar seus pontos de vista e reescreverem suas
conclusões, caso seja necessário, buscando nesses apontamentos as possíveis
concordâncias e discordâncias ocorridas durante as exposições.

Terminada esta nova etapa, todos devem retornar à composição primária dos
grupos e comentarem a respeito do que ouviram. Após, o grupo deve produzir uma
resenha sobre o tema de trabalho em questão, fazendo uma breve apresentação
para toda turma. Leia os versos da música “Monstro Invisível” (RAPPA, 2008):

[...] Vejo a história, ela comungar


Vejo a minha história com a sua comungar [...].

Em atividades como a que citamos, é possível efetuar um rodízio maior de


participantes dos grupos, criando, assim, novas relações de interdependência.
Esta proposta tem por maior objetivo estabelecer objetivos coincidentes, que
sejam envolventes e que ofereçam a todos iguais condições de demonstrarem
suas qualidades.

58
A PEDAGOGIA DA COOPERAÇÃO E
Capítulo 3 DO MOVIMENTO HUMANO

Atividade de Estudos:

1) Dentre os que podem contribuir positiva ou negativamente para o


sucesso dos trabalhos que serão organizados, temos:

a) ( ) Positivos: fome, aptidão motora e desatenção. Negativos:


apatia, vontade de vencer e criatividade.

b) ( ) Positivos: respeito a todos os membros do grupo, não


ficar “em cima do muro” e manter claro aonde o grupo
deve chegar. Negativos: lutas de poder, preguiça e falta de
pontualidade.

c) ( ) Positivos: estar alheio(a) às decisões pertinentes, defender


demasiadamente seus pontos de vista e fazer apenas o
mínimo para compor suas tarefas. Negativos: Oferecer as
ideias dos demais como sendo sua, propagar notícias de
atritos entre companheiros e entregar suas tarefas em dia.

2) Converse com 3 amigos a respeito da resposta certa e, com eles,


faça uma síntese com, no mínimo, 5 linhas.
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59
Aprendizagem cooperativa

Algumas ConsideraçÕes
Caro(a) pós-graduando(a), neste capítulo, nós constatamos a necessidade
de buscar novos horizontes frente às condutas pedagógicas e observamos a
eficácia de uma proposta cooperativa e de seus aspectos principais quanto a sua
aplicabilidade no cotidiano escolar.

Seguiremos nossos estudos e, no próximo capítulo, abordaremos as


características para a elaboração de um projeto cooperativo e situações
favoráveis para a criação de um ambiente de correntes de aprendizagem com
suporte cooperativo.

Nos Veremos em breve!

ReFerÊncias

BARRETO, Sidirley de Jesus. Contato. Blumenau: Acadêmica, 1999.

BROTTO, Fábio Otuzi. Jogos cooperativos: o jogo e o esporte como um


exercício de convivência. Santos: Projeto Cooperação, 2003.

A Pedagogia da Cooperação: Construindo um Mundo onde Todos podem


VenSer!. Disponível em: <http://www.projetocooperacao.com.br/2009/04/14/a-
pedagogia-da-cooperao-construindo-um-mundo-onde-todos-podem-venser/>.
Acesso em: 15 mar. 2009.

CUNHA, M. S. V. Motricidade humana: um paradigma emergente. Blumenau:


FURB, 1995.

CUTRERA, Juan Carlos. Recreação. Florianópolis: Ceitec, 1993.

FRANCO, Luís Antonio Carvalho. A escola do trabalho e o trabalho da escola.


São Paulo: Autores Associados, 1988.

FREIRE, Paulo. Conscientização. São Paulo: Moraes, 1980.

LITTO, Frederic M. Comunicação e novas tecnologias: reflexões. São Paulo:


Com Arte Eca, 1984.

60
A PEDAGOGIA DA COOPERAÇÃO E
Capítulo 3 DO MOVIMENTO HUMANO

ORLICK, Terry. Vencendo a competição. São Paulo: Círculo do Livro, 1992.

RAPPA, o. Monstro Invisível: Single. São Paulo: Warner Music, 2008. 1 disco
compact (68 + min.): digital, estéreo.

VAYSSE, Jean. Rumo ao despertar a si mesmo: uma abordagem do


ensinamento deixado por G. I. Gurdjieff. São Paulo: Pensamento, 1993.

61
Aprendizagem cooperativa

62
C APÍTULO 4
Cooperação e Projeto de Vida

A partir da perspectiva do saber fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Relacionar as características predominantes e princípios necessários para um


projeto cooperativo.

 Organizar um ambiente pedagógico sustentável e favorável à criação de


parcerias de aprendizagens pertinentes à Cooperação.
Aprendizagem cooperativa

64
Capítulo 4 COOPERAÇÃO E PROJETO DE VIDA

ConteXtualização
Em nosso processo de existência, as referências de mundo, as interpretações
de fatos e atos e a compreensão dos fenômenos eloquentes à vida que são
construídos e reconstruídos pelos atributos conceituais – pelo menos assim
deveria ser – surgem como parâmetros essenciais para a atribuição de novos
valores a nossa identidade.

Gonçalves (1994, p. 09) se refere a este ponto de vista e nos traz que,
“No entanto, a realidade não é um mistério impenetrável e, a cada momento,
descobrir, atrás da aparência das coisas, a sua essência, é uma aventura e um
desafio constante”.

É certo que tal visão de si mesmo e do movimento interior que a torna


possível não nos são dados de forma espontânea. Continuamente nos sentimos
tomados pela desordem da agitação exterior e prisioneiros das dúvidas, dos
conflitos e imaginações que impedem uma visão mais profunda do que somos ou
do que poderíamos vir a ser.

É essa relação do homem com sua realidade, real ou imaginária, concreta


ou subjetiva, que o leva à curiosidade de tentar explicar suas relações com a
natureza, consigo mesmo, com o transcendente, com o próximo e com o meio,
podendo, a partir daí, perceber suas irregularidades como gente no que se refere
aos fenômenos que o cercam.

CaracterÍsticas e Formas de
Cooperar
Pensamos nas diversas situações lacônicas que nos impedem de sair
do casulo estereotipado, rotulado e demarcado por valores ínfimos, acenando
claramente o quanto ainda precisamos crescer em relação aos pressupostos
ligados a ações educativas.

De que serviria um aluno capaz de declamar lindos poemas de Camões


se fosse incapaz de dizer “bom dia” ou “obrigado” para quem atravessa seu
caminho? Que adiantaria um aluno conseguir levantar um peso enorme do chão
numa prova de halterofilismo, mas não conseguir repartir um pedaço de pão
com quem tem fome? Fica complicado compreender isso, você concorda? “Um
indivíduo pode ser mais forte ou mais inteligente do que os demais, mas somente
será prestigiado se essas qualidades forem colocadas a serviço do outro ou do
todo”. (ORLICK, 1992, p. 19).

65
Aprendizagem cooperativa

Cremos que podemos transcender um “bocadinho” mais nas pretensões que


temos quanto à educação e ao que gostaríamos de seus resultados, muito mais
além, por exemplo, do que é descrito na canção de Titãs (1997): “[...] a gente não
quer só comida. A gente quer comida, diversão e arte [...]”.

Uma pausinha aos neurônios. Está difícil encontrar aquele bom


livro de que você gosta? Visite, então, <http://www.estantevirtual.
com.br>. Este site é um conglomerado de vários sebos do Brasil.
Nele, você pode encontrar diversas obras a preços módicos.

Temos a certeza, e mais ainda de que muitos também concordam


com este pensamento, de que, como característica básica, a educação
Educação tem
tem a capacidade de promover a autonomia de uma pessoa, de levá-la
a capacidade
a pensar por si só, de obter a consciência de uma escala de valores,
de promover a
de ser um agente de transformação social e, assim, de encontrar a
autonomia de
transcendência de estar vivo e viver em plenitude.
uma pessoa, de
levá-la a pensar
Em face disso, todo e qualquer profissional de educação ou
por si só, de obter
atuante em áreas afins deve trabalhar incansavelmente todos os
a consciência de
aspectos com seus alunos, para a formação de pessoas realizadas,
uma escala de
engajadas e que saibam se portar neste mundo de intensas mudanças
valores, de ser
culturais, sociais, políticas, religiosas, sexuais, entre tantas outras que
um agente de
aqui poderíamos citar.
transformação
social e, assim,
O papel do educador é facilitar todas as interações a respeito da
de encontrar a
relação aluno/mundo. O educador é obrigado a colocá-lo – ou ajudá-lo
transcendência
a se encontrar – em situações que o incitem a exercer o seu EU: trata-
de estar vivo
se de uma situação educativa e de apresentação, não apenas uma
e viver em
certa normalidade de mundo. Quando nos referimos a MUNDO, não
plenitude.
fazemos menção a um hemisfério cilíndrico com alguns continentes e
mares, mas ao universo contido dentro de cada um de nós.

Atividade de Estudos:

1) Quais as capacidades atribuídas primordialmente à educação?


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66
Capítulo 4 COOPERAÇÃO E PROJETO DE VIDA

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Cremos, caro(a) pós-graduando(a), que o primeiro e fundamental elemento


que devemos levar em consideração, antes de qualquer prenúncio, é a busca
da resposta para uma indagação: “Quem pretendemos formar?”. Referimo-nos
ao sujeito, aluno, como queira intitular – elemento peculiar no seio social, moral,
ético, religioso, familiar, etc.

Se o eixo principal de onde se originará toda proposta pedagógica e todo


seu desenvolvimento é a indagação apresentada, buscar a resposta é elementar
e necessário para a formalização de qualquer atributo sequencial que possamos
raciocinar sobre o que o aluno pode “vir-a-ser”. Sem ela, fica complicado. Sendo
esta a forma viva de todo processamento de pensamentos e emoções relativas
às questões diversas que serão abordadas durante a convivência letiva, seria um
sacrilégio pedagógico irreparável.

Após esta primeira indagação respondida, outra deve ser proferida: “O que
devemos informar?” Substancialmente esta questão deve ser examinada com
muito critério, sem poluição de ideologias baratas e de ruídos semânticos e apontar
elementos de abundante pesquisa, reflexão e contextualização. A pluralidade de
ideias, a multiplicidade de abordagens, a transmutação de aspectos laborais e
a interligação de fatores conceituais devem ser grandes e fantásticas narrativas
dos diferentes enigmas a serem explorados nas viagens para a construção do
conhecimento.

Buscando a conformidade das duas questões respondidas, surge a


indagação fundamental, com a qual todos precisam ter sintonia no que se refere
aos seus atributos: “Como vamos informar?”. Neste instante, vamos tratar de
como um enredo se apresentaria, caso traçássemos um paralelo com uma escola
de samba. Harmonia, elementos ilustradores, metáforas, casos reais e histórias
são os suportes para instigar a descoberta da grandeza humana.

Entretanto, não devemos nos esquecer, sobretudo, de como mensurar todo


este ambiente de saberes. “Como vamos avaliar?” deve seguir como a próxima

67
Aprendizagem cooperativa

pergunta a ser respondida, Entender este momento como um instante privilegiado


de todo o processo deve ser a retórica contundente de todos os indivíduos
inseridos nestas experiências. Isto, se aceitarmos – não como um acerto de contas
- mas conscientemente, de que todo movimento produzido levará a uma nova
ordem de sentidos, adaptações, seleções, aceitações e contradições eminentes e
emanados dos assuntos promulgados.

Afora os principais desdobramentos estabelecidos, uma necessidade que


devemos levar em consideração é a da segurança. Todos os comportamentos
aparentemente desviados de uma “certa normalidade” e todas as relações dos
alunos perante seus mediadores e perante as tarefas que estes lhes propõem
podem ser ligados à possibilidade de fracasso desses alunos ao longo da sua
história escolar. Tratar deste assunto já nos primeiros momentos será fundamental.
Basta que você faça uma retrospectiva do capítulo anterior.

Outro fator que contribui favoravelmente para a interação pedagógica é o


ambiente – o mundo material, das salas e dos objetos –, pois são elementos
que favorecem simultaneamente o relacionamento com o mundo abstrato para
o conceitual, por intermédio do mediador e da sua relação com os demais
componentes do grupo e também pela sua relação com os conteúdos a serem
desenvolvidos.

Quanto mais rico for o meio, maior a possibilidade de o aluno desenvolver um


elemento essencial para o ser humano: a imaginação. Entretanto, é necessário
entender que o termo “rico” significa, aqui, “rico em possibilidades”, e não em
variedade e número de objetos. A variedade leva à dispersão, e não à criação.

Ainda mais uma exigência quanto ao meio ambiente: o quadro da ação


educativa deve estar aberto para o mundo, para que seja possível a comunicação
com os outros grupos, bem como as trocas com a própria sociedade, fora da
escola ou da instituição, fundamentada na criatividade e no estímulo de uma
ação e de uma reflexão sobre a realidade. Uma boa ideia é que a turma escreva
pequenas cartas com suas esperanças de vida e as soltem em balões, numa
alusão aos filmes épicos que ilustram os contos de náufragos e de garrafas que
vagaram muitos e muitos anos com uma mensagem em seu interior.

Afirma Freire (1980, p. 42) que “Este ponto de partida encontra-se nos próprios
homens. Mas já que os homens não existem fora do mundo, fora da realidade, o
movimento deve começar com a relação homem-mundo”. Consequentemente, o
ponto de partida deve estar sempre nos homens, no seu aqui e no seu agora, os
quais constituem a situação do poder atuar como sujeitos da sua própria história,
situando seu momento histórico.

68
Capítulo 4 COOPERAÇÃO E PROJETO DE VIDA

Outro fator que devemos levar em consideração é o movimento. Não


nos referimos aqui a um contexto ligado apenas ao ato motor, mas a uma
transcendência do pensamento em busca do firmamento das razões, das
antíteses e das sínteses a respeito dos conteúdos e assuntos abordados. Para
ilustrar esta situação, ouça a canção “Pensamento”, de Cidade Negra.

Esta canção, de preponderante importância e essencial fundamento no


aperfeiçoamento das condutas morais e éticas, se refere ao conhecimento e ao
reconhecimento de como funciona o mundo e de como o indivíduo deve se portar
nesse mundo ou nesses mundos.

Atividade de Estudos:

1) Com o interesse de oferecer uma ação educativa abrangente


no que diz respeito à amplitude de seus conceitos e ao fator de
significado para a vida do aluno, devemos levar em consideração:

( ) Segurança, ambiente e movimento, pois, sem estes elementos,


qualquer projeto pedagógico tende a sucumbir ao longo de seu
desenvolvimento.

( ) “Quem vamos formar?”, “O que vamos formar?” e “Como


vamos informar?” são questionamentos fundamentais a serem
respondidos nos primeiros passos da elaboração de uma
proposta educativa.

( ) A avaliação torna-se fundamental, pois se faz necessária a


mensuração dos objetivos estabelecidos com o intuito de
manutenção do sentido ou readequação da prática pedagógica.

( ) Todas as alternativas apresentadas.

2) Com base na(s) alternativa(s) escolhida(s), opte por uma e disserte


sobre a mesma.
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69
Aprendizagem cooperativa

TÔnus, Atividade LÚdica e Jogo em


“Comum-Idade”
Existem dois elementos fundamentais que devem ser levados em
consideração na elaboração de qualquer proposta pedagógica. Podemos
afirmar, caro(a) pós-graduando(a), que, em qualquer idade, são a curiosidade e
a imaginação.

Consideramos estes elementos cruciais, pois não há ser humano que


não seja curioso nem quem não projete sua imaginação ao longínquo quando
estimulado a vagar por seus pensamentos.

É possível que, com a utilização da curiosidade e da imaginação


É possível
como instrumentos para a exploração de quaisquer conteúdos, a
que, com a
indisciplina não prepondere como um possível fato associável à prática
utilização da
educativa.
curiosidade e da
imaginação como
Seguimos a lucidez de Werneck (1999, p. 62), para quem “[...]
instrumentos para
o aluno busca um referencial elementar fora do foco principal do
a exploração
processo de aprendizagem quando este não atende claramente as
de quaisquer
suas necessidades, ou quando a linguagem utilizada está aquém
conteúdos, a
de seus entendimentos [...]”. Partindo deste pressuposto, podemos
indisciplina não
entender a indisciplina não como um malefício, mas como um
prepondere como
manifesto de criatividade, pois, se não tivéssemos este impulso – de
um possível fato
nos incomodarmos com o superficial e quebrar paradigmas – como
associável à
poderíamos usufruir os benefícios que os grandes inventores criaram
prática educativa.
ao longo dos tempos? Criar instrumentos para que esta manifestação
tome um rumo apropriado e cumulativo na ação de aprendizagem é o
grande desafio para quem atua com educação.

Para buscar as referências de um conjunto de ações educativas que privilegiem


a criação de um ambiente de cooperação, o mediador, educador ou como queira
ser chamado o profissional em educação atuante, naquele momento, precisa ter
como foco principal a transformação e a quebra de paradigmas, buscando, assim, a
ampliação da leitura de mundo e da realidade que a vida oferece. Isto porque o ser
humano se manifesta em comum acordo com seus princípios de crença, de valores
e de fundamentos culturais, sendo estes que oferecem a percepção e a sensação
para gerar as respostas e ações sobre seu universo.

Para Brotto (1999, p. 56), “O sucesso de um projeto cooperativo está atrelado


ao quanto o mediador está envolvido com a proposta de libertação, de autonomia
e de busca incessante de novos rumos para a sociedade.”

70
Capítulo 4 COOPERAÇÃO E PROJETO DE VIDA

Brotto (1999, p. 56) entende que

Freqüentemente surgem situações em que a escola, tendo


que ensinar cada vez mais e mais, acaba por educar menos
e menos. Lida-se muito com informação em detrimento da
formação do indivíduo. Os jovens envoltos em trocas contínuas,
tanto de seu corpo físico quanto da quantidade de informações
e mudanças ultrassônicas do mundo moderno, terminam
absorvidos pelo fluxo de atividades e responsabilidades dentro
e fora de sala de aula, principalmente nas camadas mais
pobres, onde, inicia-se a chamada luta pela sobrevivência
muito cedo, e com isso a formação de valores fica prejudicada.
A escola, muitas vezes sem perceber, tem reforçado
demasiadamente valores como: ser o melhor, colocar o foco no
resultado e não no processo e na qualidade, objetivar a derrota
do oponente ao invés da melhora do desempenho, reforçando
assim, atitudes e posturas competitivas, as quais poderão
reproduzir na vida adulta, através de rivalidade, exploração
de seus semelhantes, pouca ou nenhuma solidariedade,
exclusão, violência, destruição ambiental, e quando educarem
seus filhos é os valores que aprenderam que irão transmitir.

Compreendemos, com a citação de Brotto (1999), que o contexto


interpretativo da postura da escola na sociedade atual deve ser composto não
apenas por transmissão de conhecimentos. Relatar isso é “chover no molhado”,
pois, em inúmeras concepções, estas composições de palavras advertem sobre
isso. Por isso, por favor, leia a citação de Brotto (1999) mais uma vez. Releia. Você
percebeu a dimensão da responsabilidade que temos em nossas mãos? Não há
espaço para ações educativas sem contextualização, sem o devido envolvimento
de seus componentes tampouco sem estrutura que marque, de fato, a vida de
cada um de nós.

Orlick (1992, p. 77) nos coloca que “Dar uma contribuição ou fazer alguma
coisa bem feita simplesmente não exige necessariamente a derrota ou a
depreciação de outra pessoa”. Muitas pessoas ainda acreditam que, para vencer
ou ter sucesso, é preciso ser um feroz competidor, é necessário lançar-se de um
suposto direito de galgar degraus da vida “pisando na cabeça” de quem vê pela
frente, sem respeitar o limite da boa educação.

Muitos profissionais em educação, simplesmente por suas inadequadas


pedagogias, podem destruir a autoimagem dos alunos, aniquilar a esperança
de dias melhores. Consideramos inadequada pedagogia, por exemplo, insinuar
que um grupo de alunos ou determinado aluno é incapaz de aprender (Pasme...
mas isso ainda acontece bastante!) ou menosprezar um aluno quando, ao fazer
uma leitura, fica nervoso e gagueja. Diante disso, perguntamos: alguém sem
esperança é o quê?

71
Aprendizagem cooperativa

Caro(a) pós-graduando(a), seus alunos podem estar vendo em você o único


motivo para continuarem vivos e com a esperança de serem alguém na vida. Por
favor, coloque esta responsabilidade sobre seus ombros, acredite nela antes que
um outro alguém o faça, oferecendo aos seus alunos a porta de entrada para o
obscuro mundo da marginalidade.

É comum ouvir defensores de concepções que não abarcam tanta liberdade


de expressão, movimentação ou envolvimento em prol da aprendizagem e do
chamado “controle de turma”, sob o pretexto de que assim ficariam mais bem
preparadas para viverem no mundo em que vivemos. Ora, nossos cientistas
ainda não conseguiram misturar água com óleo. Portanto, não conseguiram criar
a possibilidade de produzir conhecimento dentro de um campo que não seja
dinâmico.

Esse mito é derrubado por diversos autores, como Zita Ana Lago Rodrigues
(2003) e Hamilton Werneck (1999), pois, na verdade a não-promoção de um
elevado nível de compartilhamento, de envolvimento de todos para a realização
de um bem “como-um”, a propulsão da competição exacerbada diminui a
autoestima e aumenta o medo de falhar, reduzindo a possibilidade da evolução
da expressão de capacidades e o pleno desenvolvimento do sujeito, favorecendo
continuamente atos de exclusão.

“A Cooperação é a força unificadora mais positiva que


agrupa uma variedade de indivíduos com interesses separados
numa sociedade coletiva.”
Haratmann

O trabalho realizado em comunhão de ideias e coparticipação proporciona


a todos uma disponibilidade de “par-tici-par” (tecer um novo par, em par) no ato
coletivo, gerando, assim, a esplendorosa magia do trabalho. O decorrer destas
atividades são “pró-movidas” pelo entusiasmo – estar com alegria de Deus –
deixando seus registros por meio do testemunho. Esta dinâmica de ação educativa
não possibilita à instauração do ócio, desfavorecendo a existência da indisciplina
e possíveis conflitos onerosos à boa convivência em grupo, em todos os aspectos
pedagógicos possíveis e imagináveis.

72
Capítulo 4 COOPERAÇÃO E PROJETO DE VIDA

Eu Movimento, Tu Movimentas, Nós


ConQuistamos: do Jeito Simples de
“Vir- A- Ser” À Formação Do TÔnus
No que se refere a tônus, podemos buscar os parâmetros pautados em dois
âmbitos distintos: a tonicidade muscular, que contempla a proporcionalidade
da hipertrofia muscular, distinta nos paradigmas de treinamento desportivo, re-
educação postural global e musculação. Ocorre um aumento considerável de
fibras musculares, fazendo com que a carga de trabalho com diversos aparelhos
e pesos seja o grande aliado neste parâmetro.

Outrossim, temos a formação de tônus com base no desenvolvimento


humano, na construção de personalidade e caráter, enfoque utilizado nas
referências obtidas em Alexandre Lowen, Angelo Gaiarsa e André Lapierre.

O conceito de Cunha (1995, p. 48) de que “[...] assim porque no movimento


transparece intencionalidade, porque o movimento reflete e projeta uma
totalidade, porque o movimento integra o processo cognoscitivo e tem claramente
a ver com um processo libertador [...]”, nos postula a necessária observação para
não entendermos o fator corporeidade como um dilema conceitual proclamado
erroneamente ao longo da história científica, como um arcabouço irracional, de
plenitude mecanicista e de evidência empírica.

Na abordagem de Cunha (1995, p. 73-74) sobre sua propriedade conceitual


contemporânea, o corpo nos revela um conjunto de paradigmas bem diferentes das
abordagens combalidas por uma insensatez pedagógica: é subjetivo, controverso,
metodologicamente versátil, complexo e metodicamente contextualizada.

• Subjetivo: com seus fatores históricos, o corpo nos revela seus diversos
estereótipos adquiridos (e muitos ainda preservados) na magnitude das
influências sociais que ele se submeteu por inúmeras razões analítico-
estéticas, favorecendo uma verdadeira crise agônica, desprezando a qualidade
de SER, o mundo da vida, esquecendo que são seres humanos. Mas, pior
do que tudo isso, parte da ciência julga que, quantificando tão-só conhece o
homem na sua integralidade.

• Controverso: na leitura das Escrituras, passando por Platão, La Mettrie e


Descartes, o corpo é relativamente denominado como algo impuro, fragilizado,
lacônico, fragmentalizado e torpe em sua significância. Mostra-se, em sua face
de desventura nas mãos de Hall, descrito em pintura por Rembrandt, como
um dos propósitos científicos mais conceituais no discurso da epistemologia

73
Aprendizagem cooperativa

atual: a anatomia. Porém, ainda deparamos com convicções adversas a sua


verdadeira funcionalidade, entre outras, a de encontrar pessoas que não
permitem grávidas caminhem nas ruas em um dia ensolarado com seus
ventres à mostra, pois “a água da barriga ferve”, acredita ?

• Metodologicamente versátil: como não enxergar isso desta máquina maravilhosa,


em combustão permanente, cheio de dobradiças mecanicamente perfeitas e
dotado de uma engenhosidade mágica, capaz de reproduzir um ser tão complexo
quanto e que pode possuir um grau de consciência completamente diferente
da sua origem. Uma cadela dará à luz outro cão, que será um cão ternamente;
uma eqüina dará à luz um potro que se comportará assim o resto de sua vida,
mas ao ser humano isso não é possível, pois o social, o cultural, o religioso e
o conhecimento podem influenciar seu desenvolvimento e daí surgir um grau de
interação com o mundo diferente de seus ancestrais.

• Complexo: coração, pulmões, veias e artérias, olhos, ouvidos, enfim, formam


uma intrincada rede que mantém nossa existência. A cada pulsar cardíaco, a
cada inspiração e expiração, o fluido da vida corre em nossas veias, levando o
néctar necessário à magnânima existência de cada um de nós. E pensar que
a cada sublime movimento cardíaco, inúmeras células, longínquos capilares
generosamente recebem o líquido precioso recheado de oxigênio.

• Metodicamente contextualizada: ao se compor uma proposta educativa,


a subjetividade deve ser um princípio norteador de cada contexto
observado. Escola não foi criada para tratar ambigüidades, pois esta nos
oferece uma retórica controversa e nebulosa em comparação a um conjunto
de ideias a qual nos oferece uma dualidade lógica, que possibilite a criação
de antíteses e substancialmente sínteses, próprias a uma convexidade ou
uma concavidade de atributos.

O movimento é um elemento transformador e intencional, executado


A motricidade
por um canal que permite poder dizer o que sou. A motricidade diz-
humana é um
nos que o mundo está dentro de nós antes de qualquer tematização.
ato, é virtualidade
Porque o ser humano é portador de sentido – daí a sua intencionalidade
para a ação, é
operante da motricidade ou movimento humano. Podemos concluir que
o movimento
os conceitos de corpo-próprio, de intencionalidade e da vida atravessam
intencional
a Fenomenologia da Percepção. E, segundo Merleau-Ponty, (apud
de quem visa
MANUEL SÉRGIO 1994, p. 28) “conhecer é tornar presente qualquer
transcender e
coisa, com a ajuda do corpo”.
transcender-se.
Este elemento – o corpo – torna-se, então, um paradigma para a
construção da apropriação de uma ação educativa que privilegie a possibilidade do
“eu-contigo”, do “eu-consigo”, da interação do “conosco” – em um paradigma que

74
Capítulo 4 COOPERAÇÃO E PROJETO DE VIDA

não cai epistemologicamente, porque tem fundamentação lógica: a motricidade


humana é um ato, é virtualidade para a ação, é o movimento intencional de quem
visa transcender e transcender-se, numa continuidade das áreas do saber.

O ser humano é dotado de uma grande capacidade cultural-intelectual e, ao


saber mais, conhece mais coisas; ao conhecer mais coisas, logicamente, pode
estar capacitado para uma melhor captação sensitiva, emocional e profunda de
maior qualidade e quantidade de coisas. Deste modo, saberá gostar, apreciar e
se sensibilizar com a boa música, com as imponências da natureza, com diversos
tipos de manifestação artística, com a literatura, com a conversa, com a boa
amizade. Sua postura enquanto pessoa pode ser observada da seguinte forma:

A escola e todo o alicerce que a sustenta são uma célula viva que deve
interagir intimamente desde seus primórdios momentos de concepções, passando
pelo seu histórico-cultural e antropológico social até a iminência do surgimento de
sujeitos protagonistas de suas próprias histórias e contundências em seu meio,
mostrando assim um fluxo e o refluxo de aprendências e saberes universais.

Parte da crise pela qual a escola passa é o resultado de uma A “pedagogia do


expressão inócua da sua relação político-social de longas datas, astronauta”, em
mostrando um grande desequilíbrio provocado pelas disfunções de que a maioria
seus discursos sem fundamentação e, pior ainda, sem que suas dos grandes
práticas correspondam necessariamente ao que transcorre diariamente gurus apontam
fora dela. Esta postura colabora efetivamente, no âmbito público, com a seus telescópios
trilogia corrupção-má administração-impunidade que são as principais para a sala de
categorias governamentais e sociais. Seguimos os dizeres de Claudio aula, pouco
de Moura Castro (2009) quando retrata, em uma das suas colunas enxergando e
sobre a “pedagogia do astronauta”, em que a maioria dos grandes pouco ensinando
gurus apontam seus telescópios para a sala de aula, pouco enxergando sobre o que serve
e pouco ensinando sobre o que serve e o que não serve aqui na Terra. e o que não serve
aqui na Terra.
Isso nos dá a dimensão necessária para a compreensão da
enorme necessidade de emergir a construção de novas propostas
mundividenciais e multivivenciais, de perspectivas para novas formas de ver e
interpretar o Homem como um ser transformado e transformador da sociedade e
do mundo. Esta nova perspectiva do Homem e do Mundo realça o conhecimento
científico que procura dialogar mais profundamente com toda uma realidade.

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Aprendizagem cooperativa

“A pior morte que existe é se viver inutilmente” (TAIGUARA


apud CRUZ, 2008).

Por isso, viva e deixe viver intensamente, antes que a cortina da vida feche e
venhamos a ficar sem os merecidos aplausos.

Seguimos em vida.

Algumas ConsideraçÕes
Caro(a) pós-graduando(a), neste capítulo, você adquiriu conhecimentos
pertinentes à identificação dos princípios necessários para o desenvolvimento
de um projeto cooperativo e de suas nuances como ação educativa e também
para como organizar um ambiente pedagógico que possa favorecer esta linha
pedagógica.

No próximo capítulo, buscaremos reconhecer os grandes entraves para


a implementação de um projeto cooperativo e as estratégias da promoção de
“estarmos juntos”.

ReFerÊncias
BROTTO, Fábio O. jogos cooperativos. Santos: Ed. Re-Novada, 1999.

CASTRO, Claudio de Moura. Educar é contar histórias. Veja, São Paulo: Abril
S.A., n. 2116, 10 jun. 2009. Semanal. Disponível em: <http://veja.abril.com.
br/100609/p_030.shtml>. Acesso em: 15 jun. 2009.

CRUZ, Ester Mian da. Soletrando: Taiguara, teu sonho não acabou. Folha da
Região, Araçatuba, p. 2. 12 set. 2008.

CUNHA, M. S. V. Filosofia das atividades corporais. Lisboa: Conpendium, 1995.

FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação. Uma


introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Moraes, 1980.

76
Capítulo 4 COOPERAÇÃO E PROJETO DE VIDA

GAIARSA, Angelo. Psicologia do movimento. Bragança Paulista: Instituto


Superior da Região Bragantina, 1982.

GONÇALVES, Maria Augusta Salin. Sentir, pensar e agir: corporeidade e


educação. Campinas: Papirus, 1994.

LAGO RODRIGUES, Zita Ana. Ciência, filosofia e conhecimento: leituras


paradigmáticas. Florianópolis: Editora Cortez, 2003.

MANUEL SÉRGIO. Motricidade Humana - Contribuições para um paradigma


emergente. Lisboa, Portugal: Instituto Piaget, 1994 (coleção epistemologia e
sociedade).

ORLICK, Terry. Vencendo a competição. São Paulo: Círculo do Livro, 1992.

TITÃS. Titãs Acústico. São Paulo: Gravadora Warner Music. BR. Ltda, 1997. 1
disco compact (1h11min.): digital, estéreo.

WERNECK, Hamilton. Se você finge que ensina, eu finjo que aprendo. São
Paulo: Vozes, 1999.

77
Aprendizagem cooperativa

78
C APÍTULO 5
A Perspectiva Pedagógico-Cooperativa
e o “(Des)Envolvimento” do Ser

A partir da perspectiva do saber fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Reconhecer as perspectivas educativas da cooperação e suas dificuldades de


implementação como princípio pedagógico.

 Conceber estratégias de ensino que agucem a necessidade de “estar juntos”.


Aprendizagem cooperativa

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A PERSPECTIVA PEDAGÓGICO-COOPERATIVA
Capítulo 5 E O “(DES)ENVOLVIMENTO” DO SER

ConteXtualização
Ao longo de todo o escrito até agora, percebemos a necessidade de, pelo
menos, discutir e refletir sobre referenciais pedagógicos que nos apontem um
sentido mais humano e a direção para uma concepção que, em suas atribuições,
contemple a transcendência da superficialidade dos fenômenos inerentes ao
“apre-ender” e que a aprendizagem seja mais centrada nas efetivas possibilidades
do momento e das circunstâncias que o conhecimento oferece.

Aprender é mais que supostos conhecimentos acumulados; é


Aprender é tornar
tornar o saber um aliado para desvendar o mundo e nos divertir com
o saber um aliado
ele. Podemos verificar isto nos seguintes postulados de Enderle
para desvendar
(1987, p. 68): “quem pelos caminhos dos conteúdos assimila
o mundo e nos
significados, significantes e transfere soluções, quem descobre a
divertir com ele.
distância verdadeira entre o que se sabia e o que se aprendeu está
efetivamente progredindo”, percebe nitidamente sua “trans-forma-ação”
e, consequentemente, obtém uma visão de mundo diferenciada.

Mesmo com essa nítida constatação, ainda é comum encontrar diversos


profissionais em educação que acreditam que estas ideias libertárias em prol de
um maior envolvimento dos alunos são traiçoeiras e que só devemos confiar na
razão de que a diretividade e o autoritarismo são atitudes mais do que suficientes
para ensinar alguma coisa a alguém.

Um exemplo para ilustrar esta postura é dado por Chauí (2000, p. 43), ao
citar Platão em sua Alegoria da Caverna:

Ele ‘imaginava’ uma caverna onde alguns homens estão


acorrentados desde a infância. Seguem seus dias olhando
para a parede de fundo, de costas para a entrada onde existe
uma fogueira. Neste fundo são projetadas sombras de coisas
e pessoas que estão do lado de fora. Se um destes homens
conseguirem se soltar, no início seus olhos estranharão a luz,
mas depois de um tempo perceberá que o que via na caverna
era apenas sombras.

As sombras são, nada mais, nada menos, do que amarras que não permitem
aos homens darem um passo adiante daquilo que os faz se sentirem confortáveis.
É parte das coisas que compõem nossa senda pessoal e profissional. As verdades
que surgem por meio da ruptura com a propedêutica podem ser atingidas pelo
pensamento e pela razão. Ainda hoje, o que esta alegoria pode nos mostrar é
que o real pode ser uma grande ilusão, devendo e precisando ser colocado em
dúvida. Isto se aplica facilmente à educação.

81
Aprendizagem cooperativa

Atividade de Estudos:

1) É percebível que, ao propormos um pensamento e compormos


uma ideia, precisamos sublimar a sensibilidade de inquirir
sobre o objeto de estudo, de permitir o manifesto do outro e de
incorporar estes novos fundamentos na formulação de novas
condutas frente a novos paradigmas. Contudo, esta interpretação
de mundo esbarra na falta de lucidez que, metaforicamente, pode
ser explicada por Platão (Mito da Caverna). Diante do exposto,
podemos concluir que:

( ) “Nas minhas aulas quem manda sou eu. Eu sei e pronto. Quem
quiser ficar na sala de aula que fique; se não ficar, o meu salário
será pago do mesmo jeito; por conta disso, já vamos abrindo o
caderno e copiando os textos que estão no quadro”.

( ) Estar conformado com as coisas da vida é uma atitude saudável,


pois a exposição desnecessária não é bem-vinda, nos levando
a ficar deslumbrados com a vida. Estou bem como sou e não
me interessa mudar.

( ) De fato, é necessário ampliar os horizontes e quebrar com o


continuísmo que emperra a interpretação dos fenômenos que
nos cercam e nos atam em busca de novas concordâncias.

( ) “Estudar dá muito trabalho. Esse negócio de ficar sentado e


ouvir professor falar não é prá mim. ‘Estou fora’. Ganho meu
dinheiro fazendo os ‘meus bicos’. Já dá para ir às festas e tomar
minhas cervejas. Já está muito bom assim”.

2) Diante das diferentes indagações, converse com três colegas a


respeito das circunstâncias apresentadas.
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A PERSPECTIVA PEDAGÓGICO-COOPERATIVA
Capítulo 5 E O “(DES)ENVOLVIMENTO” DO SER

Desenvolvimento da Cooperação:
EstÍmulos e OBstáculos
O desenvolvimento de práticas pedagógicas que traduzam empatia inclusiva
em suas ações tem tido uma crescente importância na atualidade em virtude de
uma série de movimentos em favor da garantia de uma probabilidade maior de
aprender mais o que é ensinado, de remediar uma atitude educativa mais austera,
pleiteando condições mais favoráveis para a produção do conhecimento ou para a
formação e informação adequada de todos os envolvidos nesta atuação.

Vivemos em uma “sociedade doente”, desequilibrada e carente. Por toda


parte, ouvimos advertências de catástrofes próximas, de desintegração, em
especial dos ecologistas. Enfim, vivemos em uma época traduzida em evidências
como uma espada de dois gumes: por um lado, somos favorecidos pelos grandes
benefícios oferecidos pelas mil tecnologias, pelas riquezas materiais que tornam
países e classes mais prósperas; por outro, o aumento demasiado e o contraste
entre a riqueza e a miséria desencadearam uma crise espiritual angustiante.

E nós, seres humanos, nos deparamos com a confrontação de dois grandes


problemas:

Concordamos com Morais (1993, p. 14), quando afirma que “Para muitos ou,
quem sabe, para a maioria, o primeiro problema tem sido tão assoberbante que
aparece como o único: em especial aos olhos do economicismo atual, que reduz o
ser humano ao homo economicus – produtor e consumidor”, apenas e nada mais.

E em se tratando de sociedade, a escola não pode ficar de fora deste


macrocosmo. Todos estes questionamentos e muitos outros que ainda poderíamos
citar (inclusão, conflitos políticos, segregação racial, preconceito variados, etc.)
deveras são esquecidos como procedentes do composto conceitual estabelecido
nas elaborações dos projetos pedagógicos.

Pessoalmente, vamos nos sentir incomodados ao ver uma criança na rua,


em uma noite fria, enrolada em um pedaço de papelão ou vagando descalça em
busca do que comer. Como ser humano, que diferença ela possui para meus
filhos que, naquele momento, estão em casa aquecidos com mantas, alimentados
e prontos para dormir em uma cama confortável? O que, de fato, estou fazendo
para que esta realidade perdure ou seja extirpada dos nossos dias? Trata-se de
algo para refletirmos.

83
Aprendizagem cooperativa

Você deve ter observado que escrevi Projeto Pedagógico ao invés do


tradicional Projeto Político-Pedagógico. Bom, explicamos o nosso pensamento
a respeito disso: acreditamos que, quando respondemos aos questionamentos do
capítulo anterior – Quem, com o que e de que forma vamos formar e informar
– já estamos tomando uma postura política, não partidária por excelência, mas
uma relação de coexistência do que está por “vir-a-ser” e ao que será feito de
forma direta na construção de conhecimentos e consolidação de saberes.
Portanto, atribuir o termo político seria configurar um vício de linguagem, neste
caso, o pleonasmo.

Mas voltando ao nosso assunto ...

Trazer à tona assuntos que não estão, a princípio, dentro do foco


Creio que, para
conceitual não é uma perda de identidade de um princípio metodológico.
tanto, deveríamos
Creio que, para tanto, deveríamos chamá-los de “temas essenciais”, ao
chamá-los
invés de apenas transversais, dada a sua importância na elucidação
de “temas
dos fatos, mitos e crendices que cercam a imensurável questão de
essenciais”, ao
estar vivo, de ser gente e de, com suas ideias, transformar um meio em
invés de apenas
um ambiente mais fraternal e justo.
transversais,
dada a sua
Todas estas reflexões sobre metodologias de ensino, posturas
importância na
éticas e morais, experiências em que o diálogo se funde com a
elucidação dos
transposição do que ainda é real para o que pode vir a ser concreto,
fatos, mitos
se trata de práxis transformadora, norteada por valores expressos e
e crendices
expressivos – liberdade, verdade e justiça – parafraseando Gonçalves
que cercam a
(1994, p. 144). Buscamos uma visão cosmopolita de corporeidade,
imensurável
movimento humano e formação de sujeito, englobando o homem
questão de estar
como unidade, como um ser-no-mundo, que cria sua própria essência
vivo.
genérica no processo da história humana, constituindo um ponto de
partida para a elaboração do nosso senso crítico e evolutivo.
O diálogo se
funde com a
Uma referência coletiva, por assim dizer cooperativa, nos
transposição do
traz a predominância da contribuição de um para o outro, de todos
que ainda é real
para o todo. De fato, ainda há impedimentos que não privilegiam
para o que pode
os contrapontos de uma operação proximal de nossos alunos, pois
vir a ser concreto,
perderíamos a fiel identidade do que na verdade devemos ensinar e
se trata de práxis
do que devemos aprender.
transformadora,
norteada por
Para muitos, o indivíduo é naturalmente indisciplinado e rebelde
valores expressos
a imposições e às normas que o prendem e limitam as liberdades,
e expressivos
verdadeiras ou falsas. Por isso, um conjunto de prerrogativas
– liberdade,
pedagógicas que não possui a ordem e a disciplina como âmago de
verdade e justiça.
suas atribuições não pode e não tem como sobreviver.

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A PERSPECTIVA PEDAGÓGICO-COOPERATIVA
Capítulo 5 E O “(DES)ENVOLVIMENTO” DO SER

Ora, onde foi colocado, até agora, que devemos limitar a liberdade? Onde
está escrito que haverá alguma imposição por alguém? Onde está destacado que
não haverá disciplina? O que propomos é uma liberdade consciente, que não seja
inócua, conquistada passo a passo, dia após dia e que se perpetue por toda a
existência do indivíduo que nela se alimentar e salutarmente envolva suas atitudes
e condutas, constituindo assim uma “(re)evolução” de toda as experiências vividas
e “com-vividas”.

Atividade de Estudos:

1) Irrefutavelmente, nós, percursionistas emblemáticos do


conhecimento, temos como dever primário promover a igualdade e
a proximidade dos alunos nos diversos campos que o conhecimento
pode oferecer, valorizando e levando a compreensão dos traços
individuais em prol de um ato coletivo. Para isso, um elemento
crucial fará a grande diferença como procedimento pedagógico:

( ) O diálogo será um grande balurte nas tramas educativas que


propusermos, pois proporciona a transposição do que ainda é
real para o que pode vir a ser concreto, por se tratar de práxis
transformadora, norteada por valores expressos e expressivos –
liberdade, verdade e justiça, elevando o sujeito a uma condição
de “ser-no-mundo”.

( ) A disciplina deve ser preconizada já nos primeiros dias, pois os


alunos precisam saber quem manda na sala de aula.

( ) Cadernos cheios de tarefas, quadro negro cheio de temas e


conteúdos e silêncio absoluto: assim é que se faz educação.

( ) Os indisciplinados, a coordenação resolve. Os que vão


aprender ficam perto do(a) professor(a). Os demais, façam o
que quiserem.

2) Depois de responder, junte mais dois colegas de turma e converse


a respeito das questões que julgam “erradas” e respondam
sucintamente ao seguinte questionamento: “Até que ponto estes
procedimentos podem contribuir negativamente para a formação
de um indivíduo?”
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Aprendizagem cooperativa

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As ideias inatas Segundo Cunha (1995, p. 24), “Mas, porque as ideias inatas
procedem não procedem não dos objetos ou da vontade, antes são pura criação do
dos objetos ou da espírito – está cavando um abismo intransponível entre o pensar e o
vontade, antes ser, entre o espírito e o corpo, entre as ideias e suposições”.
são pura criação
do espírito – As palavras de Cunha (1995) nos trazem e relatam a insensatez
está cavando que se apodera de muitos que labutam diariamente na educação,
um abismo concepções inabaláveis diante da necessidade de pertencer a uma
intransponível torpe e fragmentada forma de transmitir algo inconcebível e inoperante
entre o pensar na vida de qualquer que seja o ser humano. Leia a letra da música
e o ser, entre o todos estão surdos, de Roberto Carlos (2001).
espírito e o corpo,
entre as ideias e Outro dia, um cabeludo falou:
suposições. ‘Não importam os motivos da guerra
A paz ainda é mais importante que eles’.
Esta frase vive nos cabelos encaracolados
Das cucas maravilhosas
Mas se perdeu no labirinto
Dos pensamentos poluídos pela falta de amor.
Muita gente não ouviu porque não quis ouvir
Eles estão surdos!!!

Aos nossos alunos, devemos oferecer mais do que contemplados direitos à


cidadania de uma formalidade jurídica. Diante da arquitetura pedagógica que a
cooperação pode oferecer, pertencer a algo é, pois, estar engajado, tal qual sujeito
de sua trajetória de vida, exercendo a condição de ator sem a visão cartesiana
de ser diferente, do não obter e não conceber, que finalmente rotula mais que
postula, divide mais que soma, diminui mais que multiplica.

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A PERSPECTIVA PEDAGÓGICO-COOPERATIVA
Capítulo 5 E O “(DES)ENVOLVIMENTO” DO SER

Elementos de uma ação Educativa


Cooperativa
Trata-se de um assunto provocante, mas a intenção é esta: apresentar um
questionamento importante à medida que examinamos seus diversos conceitos.

Afirmar com veemência que esta ou aquela forma de ensinar é normal


significa que a que utilizamos atualmente é ineficaz e que proporcionará aos
nossos alunos uma má ou boa aprendizagem?

Essa ambiguidade implícita ao qualificativo nos indica de antemão que se trata


de partes distintas de nós mesmos, uma vez que, conforme as regras, enquanto
uma gostaria de buscar novos horizontes e galgar degraus de excelência em suas
aulas, o outro lado se subtrai aos padrões ditos normais da pedagogia.

Paralelamente a isso, podemos notar uma mudança sutil em nossos


comportamentos. Deparamo-nos com notícias alarmantes que nos levam a pensar
sobre os possíveis motivos de ter acontecido; ouvimos uma música que possui
uma tocante letra; assistimos a um filme que possui uma passagem emocionante
ou um fato marcante em nossas vidas. Tudo nos traz para a realidade e acabamos
nos sentindo humanos novamente. Com isso, nosso delicado jeito de ver as coisas
e de lidar com elas torna-se diferente e, no caso do educador, não foge à regra,
pois este lida diretamente com um bem precioso da nossa sociedade: “as gentes”.

Você apareceu do nada


E você mexeu demais comigo
Não quero ser só mais um amigo
Você nunca me viu sozinho
E você nunca me ouviu chorar
Não dá pra imaginar quando [...].

- Titãs (1997) – “Prá Dizer Adeus”.

Entre numerosas histórias narradas pelo Celso Antunes, nos recordamos do


Professor Cézar, que não acreditava em construtivismo. Uma das suas falas era
que “não adiantava tentar me convencer. Isso é bobagem. Pretexto para quem não
quer dar aula”. E assim se comportava a cada instante, relutando em apresentar
algo que sequer lembrasse, o que, para ele, se tratava de um “profano assunto”.

Certa vez, indagado sobre como era sua aula, o Professor Cézar começou a
descrever: “Nunca começo a minha aula sem buscar a atenção dos alunos. Busco
um assunto que deveras esteja ligado à vida deles e assim vou”.

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Aprendizagem cooperativa

- “Bem ... e daí”? Seria clara a pergunta a seguir, pois o interesse em saber mais
um pouco a respeito do que se passava dentro da sala de aula aguçava.

- “Bom, com o plano e seus ganchos descritos na lousa, destaco os pontos fortes
do assunto do dia, mostro o que é teoria e o que hipótese, destaco o que é
causa e consequência, comparando com a vida da gente”.

- “Bom... e depois disso?”

- “Com a turma ligada, explico o plano e cada item que o compõe, peço a eles
que procurem novas palavras para confirmar o assunto e, chegando ao fim,
peço a eles que tratem do assunto, comparativamente a outros e que discutam
com seus amigos a respeito. Peço, também, que façam anotações sobre o que
mais chamou a atenção deles e que venham compor uma síntese. Ao final da
aula, trato de repassar o tema proposto, sendo que os alunos podem buscar
coisas novas relacionadas ao que falamos e ao que conversaram com seus
amigos. É assim que tudo se desenrola”.

Para Celsinho, Cézar foi o professor mais construtivista que ele conheceu.

Perguntamos, caro(a) pós-graduando(a): Até que ponto você já não se


relaciona com atitudes cooperativas no seu dia a dia escolar ou acadêmico? De
tudo aquilo que falamos, ilustramos, citamos e até trechos de canções narramos,
alguma coisa lhe é familiar? Deu a impressão de que “já fiz isso antes” ou “parece
que já faço isso há bastante tempo? Surge aí uma pergunta silenciosa. Para
refletir, trazemos a seguinte afirmação de Walt Disney (apud BUTCHER, 2009)
que transformou seus sonhos em realidade:

Aqui, no entanto, só não olhamos para trás por muito tempo.


Nós continuamos seguindo em frente, abrindo novas portas
e fazendo coisas novas, porque somos curiosos... e a
curiosidade continua nos conduzindo por novos caminhos.
Siga em frente.

Se a forma de ensinar alguma coisa está no cerne do maior e mais precioso


atributo humano – a sua existência –, seu papel é profundamente decisivo na
formação do caráter, na personalidade e na compreensão de mundo por um
indivíduo, pois serão estas referências que sustentarão seus eixos de interpretação
e relação com seu meio.

O ser humano, antes de tudo, é um composto condensado da natureza, pois


reúne os quatro elementos:

Ar – sopro # Terra – corpo # Água – sangue # Fogo – espírito

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A PERSPECTIVA PEDAGÓGICO-COOPERATIVA
Capítulo 5 E O “(DES)ENVOLVIMENTO” DO SER

Não podemos negar esta possibilidade. Isso acontecendo A formação de


seria negar a nossa própria existência! Por isso, a formação de um um ser humano,
ser humano, queira na escola, queira onde seja, precisa e deve ser queira na escola,
diversificada, pois a falta de energia e a necessidade de vivenciar esta queira onde seja,
alegria no presente é crucial e instintivamente ávida e não podemos precisa e deve
adiá-la para um depois. ser diversificada,
pois a falta de
O risco é, contudo, que a escola apareça aos alunos como um
energia e a
medicamento amargo que é preciso ser engolido por eles agora, a fim
necessidade
de garantir, para mais tarde e, para alguns, bem mais tarde (devido
de vivenciar
à repetência), prazeres prometidos, senão assegurados. Então, a
esta alegria no
escola cairia na resignação de um presente vazio, até enfadonho, como
presente é crucial
condição de sucesso social por longas datas.
e instintivamente
ávida e não
Mas para resgatar isso ou quem sabe, inicialmente propor a
podemos adiá-la
alegria da descoberta, da compreensão, do encontro e desbravamento
para um depois.
do conhecimento que liberta e oferece liberdade, do sentir, da
“criARTEvidade” (que cria arte e dá vida), parte do “(des)envolvimento”
do potencial de cada um, sendo um o outro e o outro ele e ele, NÓS! Mas para
que isso se realize, é preciso que a escola adote funções ímpares a serem vividas
no presente: que os alunos, professores e a própria escola possam buscar a
satisfação do conhecimento e a constituição de saberes durante seu convívio
dentro do período letivo, e não postergá-la.

Segundo Elkonin (1998, p. 86-89)

[...] para que haja a verdadeira alegria na escola, é necessário


que uma renovação pedagógica privilegie o corpo e que este
seja a temática central. Assim, será possível alcançar os
objetivos educacionais pretendidos, tais como a liberdade, a
autonomia a democracia e, por conseguinte, a autonomia.

Nas colocações de Elkonin (1998), encontramos o emblema tão desejado em


todo processo escolar.

Como vimos, não é apenas buscar uma nova formatação metodológica, mas
também uma essencial visão universal de todo contexto que se insere na magnitude
de educar, pois não se trata de um instrumento estanque, “desfragmentado” e
laico em seu propósito. O que não podemos é dar continuidade a banalidades
insípidas, pois elas são “ilegais, imorais ou engordam”, como já cantava Roberto
e Luiza Possi.

Não há como projetar um futuro a partir daquilo que não vivemos, sobre
o qual não refletimos e que não é passível de respaldo científico. Este estado

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Aprendizagem cooperativa

parte de uma imaginação utópica (que pode ou não ser real – por favor, busque
na etimologia da palavra) que se resguarda no impulso das invenções, das
descobertas, mas também das revoluções, fora e dentro de cada um de nós,
explodindo os quadros minimizadores da rotina, dos hábitos circulares, levantando
a hipótese única de estarmos vivos. É isso que interessa.

Algumas ConsideraçÕes
Chegamos ao final do nosso caderno de estudos. Educar é um fenômeno que
nunca se extingue, devido a seus feitos serem belos e, assim, jamais inacabados.

Cooperar, estar com as mãos livres e desimpedidas para acolher, com


pensamentos abertos e com o coração em silêncio para, de fato, ouvir, utilizar
palavras apaziguadoras sem o fel da discórdia e do desamor, são frutos a serem
cultivados na alma daqueles que chamamos alunos.

Por favor, jamais se esqueça disso. Faça disso um contrato com a vida e com
o que proclamas como trabalho.

Portanto, seja muito feliz, caro(a) pós-graduando(a)! Além disso, faça da vida
uma arte e dela faça parte. Celebre cada instante como único e mágico. Encante
multidões com seu sorriso, com seus feitos e suas histórias e os feitos e histórias
daqueles que mais admiras. Com um único detalhe: apenas faça, nada mais que
isso, sem que espere um único aplauso...

ReFerÊncias
BUTCHER, Pedro. A reinvenção da Disney. Disponível em: <http://observatorio.
ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=427ASP012>. Acesso em: 10 jun. 2009.

CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 2000.

CUNHA, M. S. V. Filosofia das atividades corporais. Lisboa: Conpendium, 1995.

ELKONIN, D. Psicologia do Jogo. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

ENDERLE, Carmen. Psicologia do desenvolvimento. Porto Alegre: Artmed,


1987.

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A PERSPECTIVA PEDAGÓGICO-COOPERATIVA
Capítulo 5 E O “(DES)ENVOLVIMENTO” DO SER

GONÇALVES, Maria Augusta Salin. Sentir, pensar e agir: corporeidade e


educação. Campinas: Papirus, 1994.

MORAIS, Vamberto. O Sentido da vida: trabalho, lazer e ganância nas


sociedades humanas. São Paulo: Ibrasa, 1993.

ROBERTO Carlos. Acústico MTV - Roberto Carlos. São Paulo: Sony & BMG,
2001. 1 disco compact (81 + min.): digital, estéreo.

TITÃS. Titãs Acústico. São Paulo: Gravadora Warner Music. BR. Ltda, 1997. 1 disco
compact (1h11min.): digital, estéreo.

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Você também pode gostar