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De Profundis

Cartas do Abismo
De Profundis
Cartas do Abismo
De Profundis
Cartas do Abismo
Um Jogo de Michal Oracz
VISITE:
Da série
www.rpg-portal.pl
New Style
www.hogshead.demon.co.uk
www.edgeent.com
Design e Planejamento: Jose M. Rey
Tradução para o Inglês: Maja Apollonia Pica
Tradução para o Castelhano: Luis Velasco
Supervisão Editorial: Gustavo A. Diaz

Agente Entrópico de uma Raça Cósmica Desconhecida: Dario Aguillar


Sociedade nas Cartas: Mario Marquez e o o zumbi do rodio.
Colaboradores: Estrella del Campo, Moises Donoso, Carlos Serra e Lisardo
Suárez.

Editor: Jose M. Rey

De Profundis foi publicado originalmente por Wydawnictwo Portal na Polônia, e foi


publicado sob licença em inglês por Hogshead Publishing Ltd. Todos o conteúdo sob Copyright
2001 de Wydawnictwo Portal e Michal Oracz. New Style é uma marca registrada de Hogshead
Publishing Ltd. Edição em castelhano sob copyright de Edge Entertainment. Todos os direitos
reservados. Nenhuma parte deste publicação pode ser reproduzida de modo algum sem a
permissão por escrito do editor.

Call Of Cthulhu (O Chamado de Cthulhu) é uma marca registrada de Chaosium Inc. Sua
aparição neste produto não pretende ser nenhum desafio a sua propriedade ou estado.
Desejamos expressar nosso agradecimento e respeito a todos os membros da Chaosium.

Devido ao tema tratado, esse jogo é recomendado somente para pessoas maduras e
mentalmente estáveis, que tenham um ponto de vista firmemente fundado do mundo e da
realidade. De Profundis é um jogo. Somente deve ser lido e interpretado como um
jogo. Sob nenhuma circunstância deve ser tratado como um modo de vida.

Creditos da Edição Brasileira:


Tradução: Eduardo Costa
Revisão: Ian González.
Diagramação: Ideos.

Nossos sinceros agradecimentos a todas as pessoas que de alguma forma contribuiram


para a conclusão desse projeto. Especialmente aquelas que ficavam excitadas para jogar
quando falávamos sobre o jogo.

Nosso também sincero e profundo agradecimento à bondosa alma que


disponibilizou para download a versão espanhola de De profundis, a
única que conseguimos além da polonesa, que obviamente não serviu para ado de Ct
nada além de vermos a capa. Seja lá quem for, onde você tiver, receba m
hu
O Cha

l hu

nossas mais verdadeiras vibrações de agradecimento.

Comunidade Sectários de Cthulhu:


http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=30809715
email:
sectarios_de_cthulhu@yahoo.com.br
Sectários de Cthulhu - Grupo de Tradução
apresentar-lhes
E aqui estamos nós de novo. Mais uma vez, o grupo de tradução Sectários de Cthulhu tem o prazer de
o.
mais uma obra concluída: senhoras e senhores, apresento-lhes o fantástico De Profundis - Cartas do Abism

Para quem não conhece nosso grupo, aqui está um breve resumo de nossa história:
itora possuidora
O grupo de tradução "Sectários de Cthulhu" nasceu quando, indignados pela falta de iniciativa da ed
causa comum: levar o
dos direitos autorais do jogo Call of Cthulhu no Brasil, um grupo de fãs resolveu unir-se por uma
Agora estamos aqui,
fantástico mundo de Call of Cthulhhu aos jogadores desprovidos de conhecimento em outra língua.
disponibilizando nosso segundo livro, completamente traduzido, revisado e diagramado.

Em breve, teremos mais novidades a todos vocês...


... Vocês não perdem por esperar.

nosso e-mail ou
Obrigado a todos que acreditaram no nosso trabalho estamos abertos a sugestões, críticas e elogios pelo
nossa comunidade no Orkut.

Eduardo Costa da Silva, fundador do Sectários de Cthulhu - Grupo de tradução.

edu_lovecraft@yahoo.com.br

ado de Ct
m
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O Cha

l hu
O Sonho
25 de dezembro de 1998

Saudações!
sua r esp osta d a mi n h a últ i m a carta . Ain d a assim lhe escr ev o sem demora, pois desde então têm ocorrido fatos
Ainda não recebi q u e estou c ompl etamente louco. Lembra-se de nossas
sei por on de c om eçar p ar a que você n ão p en se
importantes. Coisas estranhas. Não ntes dos típicos jogos mal feitos do subconsciente? Já se passaram
sobre o s so n ho s? Aqu eles so nh os cu r io sos e pou c o freq ü entes , d ifere
conversas noi t e de 20 para 21 de dezembro, eu tive um sonho mais vívido e
mi n h a últ i ma exper iênci a desse tip o. Mas a gora . . . Na
alguns anos desde a stos bosq u es de Brundnice que nós explorávamos quando éramos
outro . Es t ava em um bosq u e . Rec or d a- se d os v
estranho que qualquer s que c h egav a m tão alto que suas copas se perdiam na escuridão
Cr ei o que era o m esmo bosq u e. En o rm es tr onco
crianças, durante as férias? n ossos pés, en r ed an do- se nas raízes retorcidas que sobressaiam da
barr an cos, esp alha nd o -se a o r ed or dos
sobre nós. Névoa que caia sobre os de musgo. Sai da vila, adentrando em profundezas do bosque tão
a de ag ulha s de pinhe iros. Tud o, l it er alm en te, estav a cobe rto
densa cop s, n unca nos atrevíamos a percorrer nem mesmo uma fração dessa
r seria p ratic amen t e im possí vel. Qua ndo éram o s c r i a nça
remotas que volta r ed or iam envel hecendo, tornando-se maiores e mais assustadoras.
quan to tem p o vagu ei, d i as talv ez. As árvo r es ao m eu
distância. Não sei por esc u ri d ão e a n eblin a. Algo me chamava, me arrastava, como uma
a qu e g uar d av a u m ter r í v el seg redo ent r e a
Cada uma parecia uma fortalez ho para o cora ção do bo sq ue, todas as cenas ficaram gravadas em
te c ontar ei às a ven t ur as qu e vivi no c amin
hipnótica e bela melodia. Algum dia antiga zona agreste, uma densa massa de enormes pilares partidos
ia p a ra semp r e. P or h or a, só te direi que a o fin al c h egu ei a uma
minha memór a u m a magn ética voz, percorrendo muitas milhas através do bosque
stosa ment e em m ei o a um horr ív el p â nt an o. D ali v i n h
que se erguiam maje un s t ronc os pod r es. O volume da voz no pântano aumentou, como se
o d e m in h a avó. Um a c aban a feita de ju n cos e alg
antes de chegar ao vilarej a t osca mesa e umas est antes cheias de pequenos potes, ervas secas e
íc ie com gr a nde esfor ço . E ntrei . A p ós u m
algo tentasse alcançar a superf den t ro , so br e um m onte de r oupas de couro, encontrei um livro. Eu
s, ha v ia um velho b aú . E u o abr i :
folhas amareladas e com algo preso nela o. Na parte de trás havia palavras escritas, talvez um título: De
q ue tinha u mas g r ossas c ober tur a s de cour o d u r o, f e itas a mã
o peguei e vi i ário. Mas enquanto passava as grossas páginas cheias de letras vi
a p esad a ca p a. À p r imei r a vista pen s ei que er a um d
Profundis. Abri h av ia vi v id o naqu ela cabana em meio aos bosques e pântanos, perto
ha s f ór m u las e sím bolo s. Era u m jogo. A lg uém
numerosas tabelas, estran a af ast ad o d o r est o d o m undo gastou seu tempo escrevendo algo a que
e cri ad o alg o in c ompr e ensív el. Um er emit
da fronteira oriental da Polônia, p an h ou em seu tr ab alho a mesm a voz que me havia atraído pelos
o hav i a sid o ? Será q ue o acom
chamou De Profundis. Que tipo de louc mi n has mãos, tremi com um misto de dúvida e assombro. Então eu
o sab ia se a q ui lo era u m so nh o ; segur and o o manu sc r ito em
pântanos? Nã
despertei. p r od u z qu an do, havendo encontrado um tesouro em um sonho, você
Provavelmente v oc ê conh ece essa in t ensa sen sa ção de perd a qu e se
eu e não t em nad a nas m ãos. Talv ez m enos qu e n ada: um v azi o deixado pelo objeto de seu desejo. Devo
acorda para descobrir que o perd
uir o qu e m antiv e em mi n ha s mãos p or um mom ento en q uan t o estav a nos domínios de Hipnos e Shub-Niggurath, nos bosques oníricos.
reconst r
to me recor do, mas com o diz em , b ast a ver um a v ez uma c oi sa para que esta se grave nas profundezas do subconsciente para
Não sei de quan le sonh o e não posso pensar em outra coisa que não seja o misterioso
po rque passo u quas e uma sema n a desd e qu e ti v e aque
sempre. Isso espero, ei sozi nho. N a pr óxima carta te mandarei minhas anotações, para
eria o esf orço de d ezen as de p essoa s, m as t entar
livro. Reconstruí-lo requer omiti r todas as relaç ões complexas e confusas entre o jogo e nossa
m a nusc rito do erem it a. E n tret an to , vou
que tenha uma idéia do conceito do r
m u n d o, e a s regr a s q u e eu sequ er e n t en do aind a. E st ou seg ur o de uma coisa: trata-se de algo mais que um jogo. Assusta-me pensa
vida, nosso
a posso ouvi-la.
no que realmente é. Recordo bem a atraente voz daquele bosque; aind
New Style
5 de Janeiro de 1999

d a N ew St yle? A ev oluç ão d os j o g os d e i nt erp r et aç ão est á ca da vez mais rápida. Lembra-se das noites que dedicamos
Já ouviu falar dos jogos uad r ic ul a do r ep let o d e mapas de túneis e outras construções? Ainda os
les j og ad os sobr e um peda ço d e p a p el q
aos “jogos de masmorras”, aque todos esses a nos, a lg un s desses desenhos se amarelaram e adquiram a
jog ad os por m e u est úd io ; depo i s de
tenho. Atualmente há um monte deles q ue ist o é v erda d e at é c er to pon to. Quando me sento junto a eles à noite,
m ui to r eai s. Sab e? C rei o
aparência de autênticos mapas de labirintos tam a out ros lugares. Levam-me até labirintos: labirintos da mente, de
uma lâm p ad a c om um a x í c ar a d e c af é, me trans por
sob a suave luz de le s q ue se t ran sf or maram em jogadores, mas são na realidade outra coisa;
i stér io esc on di d o n o p ro fun do d as a l m as d aque
lembranças, talvez um m me p e r g unt o o quê é que esta acontecendo... Já te mencionei aquele
busc a de out r o m und o, oc ult o. À s v ezes
um tipo de sonhadores sempre em
o jogo n a qual est ou obc e c ad o. Bo m, o que ac ont ec er i a se o publicasse? Suponho que o considerariam um jogo da New Style. ando
sonho e no j ogo entro em estranhos transes, como se alguém me estivesse sussurr
é? A N ew S tyle e eu. . . À s v ezes, qu an d o tr abal ho
Estranho, não m. B om, poi s é isso. Ou quase, porque continuo precisando usar o
ê já ou vi u falar em “p s ic ogr af ia”? A c h o que si
coisas ao ouvido. Voc - m e o qu ê é o que você dirá a respeito. Tenho a misteriosa sensação de
as ca r t as t en t ar ei d esc r ev er o j ogo. Per g unto
cérebro. Em minhas próxim o jog o sai rá sozi nh o, com pleto, terminado. Como se já estivesse aqui; em
e abr i sse um a p or t a em m eu cér eb r o,
que, se tivesse a chave adequada sen t ir qu e está aqu i , m as talvez não possa alcançá-lo; apenas vejo os
i sg á - lo at rav és d a f echa dur a. Posso
algum lugar, e eu somente tivesse que f c onsi go encaixar todas as peças, mas sei que são partes de um todo.
vou ju n tan do co mo pe d aç os d e um queb r a- c abeç a. Não
fragmentos e os
De Profundis
11 de janeiro de 1999

is. E tenho tido sonh os. Mel hor, visõe s. O vi nasc er e surgi r do Abismo. Muitas pessoas, muitos jogadores
Eu sei. Chama-se De Profund onte da reali dade . De Prof undis se tornará uma ponte para eles, lhes
torna rem- se louc os, ver além do horiz
querem e tentam ver a faceta oculta do mundo, algu ém capaz de captar os desejos desses pesquisadores saídos de seus esconderij
os
o que busc am. Não sou mais que um mero instr umen to;
permitindo alcançar . Mas estou segur o de que o fará. Às vezes luto contra mim mesmo, contra esta
é um jogo mald ito que n unca dever i a vir a lume
no Abismo. De Profundis ento. Espe ro que, se eu não conseguir me opor a esse poder, você o detenha e
te aos mais profu ndos sent idos do p ensam
coisa que sussurra na noite diretamen q u e essa coisa que agor a se trans forma em De Profundis entre em nosso mundo.
tos sonh ador es como eu. Ante s
não deixe que seu sujo toque contamine incau s de resist ir à força d a angu stiosa lo ucura . Quanto mais luto, com mais força
-se de minh as tenta tiva
Está me manipulando como uma marionete, rindo Prof undi s, trabalhando a seu favor. A que é que se propõe? O que é que
de adve rtênc ia que escre vo é um instr umen to para De
cresce. Cada palavra ura conc entra da. Ao final, minha resistência se esgotará e esta louca idéia terá
A louc ura é conta giosa , você sabe, e isto é louc
quer? Me dá medo pensar. devo ser seu servo . Dev o escrever esse jogo. Absorve-me mais e mais. Onde
escre ver, devo admi rar essa obra blasf ema,
controle absoluto sobre mim. Devo dar os toqu es fina is. Dese nho tabel as, e reviso tudo. A visão da idéia completa
é escre ver, pensa r, criar . Dói
estão o medo e a apreensão? Tudo o que faço cei a escre ver. Aind a pude v er o final em alguma parte de minha mente, o
me assus tou qu a ndo come
me persegue a todo o momento. Essa visão é o que s de vida. É horrível: agora posso ver como se arrasta nesta direção.
obra , escri to não em folha s de pape l, mas em folha
horripilante epílogo desta - me com as obra s de Howard Phillips Lovecraft. Talvez tudo o que está me
Você sabe que desde semp re, creio qu e d esde que nasc i; enca ntei
bilid ade, uma cri se psico lógic a; talve z deva culp ar a influ ência dessa literatura por tudo. Tenho a impressão de que
acontecendo agora não seja hipersensi a, pego um volu me de suas histó r ias, uma qualquer. O abro ao azar, e o que
as linha s de suas obr a s. Olh
Lovecraft deixava advertências escondidas entre faz senti r cala frios quan do pensa s nela s e te torna louco em sonhos. E então:
de cone s proib idos que te
vejo? O eremita escrevia histórias sobre as visões prod uto de uma reconstrução acidental a partir de várias coisas diferentes, nesse
to d as as pode rosas visõe s da re a lidad e, foi o
“Essa pequena visão, como ro que nada mais seja capaz de repetir esta reconstrução; de resto, se eu viver o
l e as anota ções de um profe ssor falec ido. Espe
caso, um antigo artigo de jorna cade ia”. Não é isso uma pista? Uma advertência? Mas muitos continuam
ment e um só elo em tão horr ível
bastante, jamais adicionaria consciente za, aind a que apar entas se ser um escritor normal. Muitos outros o haviam
n ó s. Ele sabia algo , tenho certe
escavando o desconhecido mais e mais, como janel a que se abre para a verdade, terrível e Incompreensível. A cadeia ganha
Incl usive , h oje em dia muit os tenta m limp ar a sujeir a dessa
entendido também. o utro mund o conti nuam pressionando, emergindo, devorando vítimas, usando-as
ha inclu sive no merc ado. E vária s entid ades do
novos elos. A praga se espal livro s terrí veis, porém somente para aqueles que como ele entendem o horror e a
seus objet ivos. Love craf t escre veu sobre
como instrumentos para alcançar
loucura. fui longe demais para desistir.
Se não fosse tarde, abandonaria esta traiçoeira tarefa. Mas agora já
Os Três Pilare9s
23 de janeiro de 199

inh a últ i m a c ar t a? Espe r o qu e m e p er d oe p or aque las fan tasi as; excedi-me terrivelmente em minhas horas
Sobre o que eu estava escrevendo em m todas as loucas fantasias provocadas pela enfermidade. Pode ser que
peg uei u ma g rip e ou alg o p i o r. Ago r a a febre se foi , e c om ela
de trabalho e adoeci, t udo qu e é “lo v ecraf ti ano” parece cercado de loucura, de um horror “além da
do c omeç o a o f i m, é ap en as um jogo. E
De Profundis seja estranho, mas, r or. Q u er ia te ma nd ar algo sobre o jogo, e ao invés disso te perturbei com
assi m , H. P. L ov ec r aft é m ai s que hor
compreensão desse mundo”. Ainda
estranhos argumentos. Sinto muito. su st en t assem sob r e t r ês tronc o s. Isso é D e Profundis: como um símbolo com a
Concentremo-nos. Imagine uma árvore c o m m u itos r am os q ue se
Nya r lat hot ep . Com p õe-s e d e tr ês p ar tes, desc ansa sobre t rês pilares: a primeira são as Cartas do Abismo; a segunda,
forma das três patas d e
C apel a. E st ão c on ec tad as de m a nei r a ind i ssolú v el, f or m an do j un tas o jogo completo. De certo modo são distintas fases ou
Fantasmagoria; e a terceira, A o Abis mo é o j og o pr i nc i p a l, e os outros dois o alimentam de certo modo. Se me
tam e se apói am entr e si . Car t as d
níveis relacionados, que se complemen o ma i s apr op r i ad o ser i a “psic o dr a ma por correspondência”, ao menos no que se
n i r D e P r o f u n dis, c r ei o que
perguntarem por um momento com o que defi r ei o. P ode um Jog o p or C or rei o f az er algu ém ficar louco? A coisa muda de
c om um jog o p o r co r
refere à primeira parte. Por favor, não o confundas i ru r giã o em um cérebro vivo. O psicodrama pode nos arrastar ao redemoinho da
for m a de p sicod r am a , j á qu e est e oper a com o um c
figura ao ser escolhida a músi c a pr oc eden t e d e sabe Deus onde. Perdoe-me, volto a me deixar levar. É
o mari o net es m ov en do- se ao ritmo d e um a
loucura e lançar-nos por aí com t r o em alg o, sem p r e me envo lv o completamente. Assim ignore futuras afirmações
Voc ê sa be qu e, qu a nd o me co nc en
por estar envolvido com o tema do jogo. u n d is é c om p ost o p or tr ês tip os de psicodrama. O primeiro, psicodrama por
Volt an d o ao assun to : D e Prof
desse tipo; com isto deveria pedir desculpas. e solo. P osso ver c om o se f or m a um a t orme nta; o céu está cinza e carregado. As
psi c odra mas d e c am p o
correspondência, é acompanhado pelos outros dois: os ai n da h oje, assi m que parar aqui. Vou correndo ao escritório dos correios antes
o vid r o da jan ela. Que ro m and ar essa ca r ta
primeiras gotas já golpeavam
que comece a chover de verdade. Terei terminado na próxima vez.
Psicodrama
2 de fevereiro de 1999

a esc r ev er algo mai s sobr e o ps i cod r am a. Bom , supo nh o qu e n ão podemos passar por cima do assunto,
Em sua última carta você me pediu p ar
sobre o p sic odra ma por c or resp on dênc ia, d e cam p o, solo ou de qu alquer outro tipo quando não estamos familiarizados com esse tipo de
como podemos discutir
jogo?
RPG , mas não t em m est r e de jog o. O s jog ad or es c ri am tud o eles mesmos, de seus personagens aos eventos que
O psicodrama é quase um preci sa de n ada p ara jogar uma sessão de psicodrama: descrição do
é jog ad or e mest r e ao mesm o t em p o. Nã o
acontecem no cenário. Cada participante ogad or es, reun idos em u m loc al escur o, simp lesmente fecham os olhos e um deles
en tura p r epar ad a. O s j
mundo, folhas de personagem, regras nem uma av j o g ad or con ta a parte seguinte da história. Os demais se unem para criar a
os vão a té ali gu i ad os por sua im ag i naçã o. Ou t ro
descreve um lugar. Tod ndo frag m entos de sua h istória comum, alternando-se, alterando entre o estilo de
son ag en s p r in cip ai s. Um po r u m vão cont a
aventura na qual eles são os per or ou mestr e de j ogo. A história é criada entre diversos escritores situados no
luga r es e su c essõe s c omo faria u m e scrit
drama radiofônico e a descrição dos p od e im ag inar até on d e i sso i rá lev á-los. Ao jogar com os olhos fechados, você
d in âmic a e a princ í p i o ning u ém
mesmo nível; assim trocam idéias de maneira en tes tr am as, se apr ox im ando da f r on t eir a dos sonhos e começando a visualizar as
d esen vo l vend o a s d if er
confronta sua visão com a dos demais, continuando e a os jog ad or es a esferas mais e mais profundas de seu subconsciente, até que ao
en gan ados ; à m ed id a q ue o j og o con t in u a , lev
cenas da partida. Não estão o d e p sicod r am a hou ver terminado, os jogadores estarão surpreendidos pelo
a q ue no s uni m os n o son h o. Qua nd o a sessã
final se unem da mesma maneir
ecuperarem-se.
desenrolar dos acontecimentos e necessitarão de bastante tempo para r psicodrama. Se quiser, leia agora. Em minha próxima carta abordarei detalhes
Anexei na carta uma fotocópia de um artigo mais longo sobre o a c r u zar o um br al da c r ua realidade e descobre a flexibilidade e a
a reali d a de, on de v oc ê ap r en d e
específicos; como as horas nas quais o jogo suplanta s e espal h e s uas cinzas. Mas para mim não há volta. É fantástico...
o. Se nã o desej ar, n ã o abr a as c ar tas. Q u ei me-a
efemeridade de nosso mund
H.P. Lovecraft 8e deufeveremairo deid199éia9
eu sonh o esc r eveu sobr e coisa s co m as quai s já esto u fam i li a rizad o. De vez em quando, nas amareladas páginas apareciam
O autor do livro de m m vi out r os que não reconheci. O que isso pode significar? Começo a me perguntar
os nomes malditos que L ov ec r aft menc ion a e m sua obr a. M a s t ambé
coisa s que Love craf t escre veu fora m in vençõ es d ele. Ond e est á a linha que separa a loucura da realidade?
quantas das
son h o, é baseado no legado do Eremita de Providence e seus segudaqu idores.
ou traba lhan d o, qu e tento r ec on strui r a p artir d e m eu
O jogo no qual est
notar á qu e antes tu d o este foi tr am ado segui ndo as princ i pais características do estilo literário eles
Se você tiver entendido bem a essência do jogo, anto parte d e su a s obr as cont é m descr ições dos mais variados eventos, uma parte igualmente grande és
autores. Concretamente, me tenho dad o conta que, en qu en
órias d e difer entes pesso as, c i tada s de man ei r a liter al e com p leta, ou em forma de longas confissões e meditações dos personagrtas;
composta de cartas: as hist e jornais, c a
Sim , as h istór ias d e L ov ec r aft sã o c on fissõ es em p apel , os d i ár ios de seus personagens. Estão cheios de documentos, artigoss ddessa história estão
principais.
su a ess ên ci a . Ess e é o núcl eo d e su a atmo sfera e rea lism o, seu p rincípio mais íntimo. Os personagen
disso é que são feitos, neles residem u ra. Con f or m e v ã o d esv en d and o A Verdade, seu mundo fica reduzido ao pouco e a nada. Qua ndo
sós, e sozinhos devem enfre nta r o hor r or, o m ed o e a louc eg ar do que nossos próprios personagen uja
s, c
e sozi n ho s. D evid o à p r ópria n at u reza do jogo t emo s meno s a carr
jogamos De Profundis estamos completament refle tir a obra de Love craf t ser ia d est r ui r seu próprio espírito. Não sei se o autor do De Profundis
principal função em um jogo de i n ter preta çã o q ue d esej e do
conc ei to d os jogo s de i nter p reta ç ão, m as nós si m . Mui tas vezes temo s participado de aventuras baseadas nesse primeiro componentemente
de meu sonho conhecia o a próp ria
que tem lug a r n o m u n d o físico . É h ora d e experimentar o outro: experiências psicológicas, alcançar com
esquema lo vecra ftian o, n a ação
nat ur ez a daqu i lo que t em tocad o os p róp r io s perso nage ns da s dem en tes histórias. Também é hora de você do que se trata
saber
um mistério real, descobrindo a
De Profundis.

De Profundis consiste em escrever cartas.


os de interpretação.
É ser quem freqüentemente temos interpretado em seções de outros jog
É atravessar a linha que separa o jogo da realidade.
De Profundis é psicodrama.
do A bi smo nã o é um j ogo po r corre ios. É um jo go de corr esp on d ência. Você interpreta um personagem que escreve cartas
Agora vejamos, Cartas k en st ei n de Mar y Sh elley , o Drácula de Bram Stoker, etc. se lembra de Drácula?
das hist ór ia s de L ov ec r aft, o F r an
de estilo e atmosfera simila res a
an h a sen saç ão de ser u m a auten t ica r ep lica d e docu ment os reais . Em De Profundis a ação tem lugar
Está cheio de cartas e diários, dando a est r íveis. Ao longo de muitas cartas, muitas semanas ou
s per son ag en s, que se enco n tram com p od er es e m i stér io s in comp reens
principalmente no psicológico de seu de p eque nos det a lhes. Seu m elh o r método de aprendizagem é a leitura de HPL e outros autores de
meses, O jogo progride lent a ment e, de form a su t il, cheio
histórias de horror e mistério do século XIX e meados do XX. cime n t os qu e os rodei am, segre d o s desc obertos em livros antigos ou os resultados
Nessas cartas, nossos personagens descobrir ão os m ister i osos a conte
o ou a med i tação . Logo lhe co n ta r ei mai s sobr e i sto em um a outra carta, quando você souber fazer um personagem.
da investig açã

p si c od r am a; su posta men t e, ele p od e p r ovoca r ex periê nc i as t erriv elmente profundas e chocantes, mas também exige de um grnãoandese
Voltando ao tos deles
sem m enci on ar as i nibiç ões que torna m impo ssív el p ara algu ns jogadores em potencial participarem de uma boa partida.asMui d o psico drama estão
esforço, fren t e dos outro s, e c om razã o em alg uns casos. Isto significa que as port
atreveriam a aventurar-se nest a p orno gr af i a esp i r itual na em cena.
Não , c la ro qu e n ão. Nã o há po r que ser em priv ad os d o qu e esse gênero tem para oferecer. É aí que De Profundis oenprtraóprio lugar
fechadas para eles?
senti r o psico dram a d e u m a mane ira mais distin ta, não em um cená rio, mais sim na comodidade d
Graças a esse jogo, agora todo mundo pode r es se mant ém. É mais , dur a nt e sécul os se tem sabido que uma carta escrita permite um contato
onde mora. Ainda assim, a estre it a r elaçã o en t re os j o gado utido
r e a g en t e do qu e um enc o nt r o cara a c ar a . Tome com o exem plo as cartas trocadas entre mim e você. Muitas vezes temos hádisccerta s
muito mais profund o ent nossa s con v er sas. E m enco nt r os direto não podemos ser tão aber tos;
, que n unc a havia apar ec id o em
nelas problemas de um âmbito muito pessoal
restrições, apesar de tantos anos de amizade.
o escri to m i nha pr i meir a carta para De Prof u n d is. Mas talv ez não tenha explicado a idéia do jogo ao
P.S.: Deveria saber que já tenh a. Deix o que a louc a tram a criada pelo Eremita dos pântanos me arraste. O jogo
e por i sso est ou an sio so p ela respo st
destinatário (não te direi quem é), a d e t udo qu e n os rodei a. A c r ed ite, não é loucura. Ou pelo menos espero que não seja. Até a
criado por ele pode abrir nossos olho s p ara a v erda d ei ra for m
próxima.
H.P. Lovecraft: o cenário19ede fasevereirro egde 199ra9s
or m am rap idamente em lodo cinza. Nuvens carregadas de água, de uma cor
p ou cos m ontes d e n eve bran c a se t r an sf
Lá fora est á ch oven d o, os
rado e p áli d o sol. Esc u rece rap i d am ente qu an do n eva d est a m aneir a: uma tempestade úmida e pegajosa visibilidade
. A
cinzenta, entre verde e azul. Um bor en con t ro. Qua ndo caminho pela rua ou pego um ônibus, atento-art me aos olhares
n év oa den sa . E nessa esc u ridão m e
diminui como se esti véssem os em um a
les que sabem , e esper am . Olh e ao se u r ed or com mui ta a ten ção, porque agora você também faz e disso. Nas p
furtivos de algumas pessoas. São aque o leva r p ela at m osfer a ou t en ho jogad o com forças cuja compreensão está fora do alcanceas.humAangora o. À
realidade, não sei até q ue p on t o eu t en ho m e dei x ad t ást icas e, às vezes, assustadoras aven tur me
r eal, m ai s si m em algu m lu g a r im a g inári o, saí d o d e nossa s f an
vezes penso que já não vivo no mundo f or m a d if er en t e. Bem , lem br e-se : De Profundis é uma porta para a loucura, ainda que só pareça um
decidi também a cru zar a linha e v er tudo de uma
jogo. Vou voltar a me concentrar nele. Posso contar com você? d éi as ac er c a d o u n i v erso d o jog o, esp ecialmente, a relação deste universo com o
Caso a resposta seja positiva, dei x e-m e lh e ex p licar alg u m a s i Só de
ça surpr een den te, mas n ão j og amos n o m und o d e HP L, nós o fazemos em nosso próprio mundo, o mundo reatl.udo,
criado por Lovecraft. Talv ez lh e pare
ov ec r a f t e outro s escre v er am . Isso é exa t am en te o que m e r ec or d o do manuscrito do Eremita; depois de ele
vez em quando utilizamos elementos do que L regras para a troca de correspondência entre os poucos estranhos que tenham encontrado o lado oculto de
não estava criando um jogo, mais sim uma série de
nossa realidade. ent e todos os jog os de i n t er preta ç ão, em D e Profundis você não encontrará um
Em outras palavras, ao contrário do qu e a contec e em p rat i ca m
p r o pó si t os d o jog o. N ã o se tem est abel ec i d o u m cen ár i o f i c t ício para seguir, nem um bestiário, nem uma série de
mundo já feito, criado para servir aos
m as que n a pr at i c a sã o c omum en t e aceit adas . É assi m que at rav essaremos a linha entre o espaço do jogo e
informações secretas, aparentemente desconhecidas, as regras para modificar os elementos do mundo real e buscar segredos, magia e pesadelos ocultos nele; te
o mundo em que vivemos. Mais tarde te descreverei permitem perceber nossa realidade de maneiras diferentes, vendo outros mundos no lugar daquele a que
mandarei uma carta sobre os mistérios dos filtros que o. Mas por outro lado, De Profundis é para os amantes da literatura lovecraftiana, pois, ao que
estamos acostumados. O jogo se passa em nosso mundr nela as coisas sobre as quais escreveu o Solitário de Providence. Aqui, Lovecraft não tem o cargo de
observamos a realidade ao nosso redor, tentaremos veescreveu histórias de mistério... E um dos que vislumbraram A Verdade.
criador do universo de jogo. Só é um autor real que ia est ar co n fuso : supo nham os q ue em nosso mundo há algo, mas colocamos em
Para resumir o que acabo de di zer , e d ei x ar clar o o que p od er
exat am ente o que f oi d esc r i t o por L ov ec r aft em sua obr a . J á ver emos quando começarmos a jogar; então descobriremos pequenos
discussão se esse Algo é
pedaços e fragmentos d'A Verdade sobre os mistérios de nosso mundo. o s p er son a g en s d e Love craf t tiv e ram q ue enfrentar, realmente estamos ante um
Como pessoas em um mundo real, enf r en t an d o sit u açõe s às qu e um
g am os u m jogo de hor r or d o qu al c onhe cem os os m ai s esc ur os seg r ed os antes de começar, porque não os temos descrito emsabe
mistério: o desconhecido. Não jo em os em que d i r eç ão so prar á o vento. Ninguém sabe. Isso é o que o torna um psicodrama. Nada
manual. Aqui, conf or m e começ a o j og o, não sab
aonde lhe levará. i g ar em u m a bi bli ot ec a. Vam os a uma biblioteca com nossos próprios pés, e ali
Em De Profundis não dizem os ao mest r e d e jogo qu e vamo s i n v est
tários vag os q ue n os pr ov oque m c a lafri os d e h orr or c ósm i co. Temo s a nossa disposição todos os livros e bibliotecas do mundo para
buscaremos pistas e come n
buscar segredos e verdades ocultas disfarçadas. idi an a c om as obr as d e Love craf t e d e outros autores que tinham visões parecidas
Por tanto, o mundo de jogo é uma m i st ur a d e nossa reali d ade c ot Por
d o lado o cult o do m u n do . Q u as e qu a lq uer f ã de Lov ec r af t já fez associações próprias quando lia suas histórias.
com as que tanto eles como nó s t em os
o u n iver so d e HP L: u m a p essoa o relac iona c om a físic a p ós-e i nst ieniana; outros como Stephen Haw ; eki ng
isso quase todo mundo tem uma visão diferente d s d e Jun g, as ex p eriên c i as d e M on r oe e a ficção de Dunsany e Hadgenson. Em De Profdirei undis,
ainda outros como os mitos de Cli v e Bak er , a s t eoria ov ec ra f t em suas histórias. Todo mundo tem to à
ão imag in at iva e a ssom brosa d os fei tos d esc r i tos p or L
qualquer um pode tentar provar suas interpretaç investigações. Em De Profundis não só reconstruímos a criação de Lovecraft em pequenas doses; vamos
sua versão dos “Mitos”, suas próprias reflexões e L escreveu sobre A Verdade que ia descobrindo, mas, contudo ele pode ter -se equivocado muitas vezes,
mais além e criamos algo novo. Algo nosso. HP olos.
interpretando de maneira incorreta certos fatos e símb o jogo: é mui to p rov áv el qu e aquilo à que chamamos de Mitos exista em nosso
Para terminar, deixe-me d esc r ev er- te br evem en t e o uni v erso d
desc r evê- lo em part e. Não sabem os a té q ue p on t o ele av er i g uou a verdade e até que ponto criou uma ficção literária. Já está na hora
mundo. HPL tentou
de tentarmos descobrir. Hora de observar atentamente ao nosso redor. expor essa diferença sutil no papel do universo de jogo entre De Profundis e os
Isso é tudo por enquanto. Espero ter sido preciso o bastante ao
RPG's tradicionais.
o as tr ês p ar t es qu e com p õem De P r of und is só f or m am u m jog o completo em conjunto, você deve aprender como criar um personagem
P.S.: Com d o assi m , nas próximas cartas tratarei principalmente do problema da
ai s detal h a dam en t e em qu e c on si st e ca d a um a dela s . Sen
antes que eu explique m
criação de personagem.
A Sociedade
3 de março de 1999

Aca bo de cheg a r em c asa e pr ep arei u m chá quen te par a mim! Est á muito frio lá fora! Outra vez chovendo, e esse maldito vento não deixa
Ufa! te pelas ruas, porque não gosto desse olhar bisbilhoteiro. Fui ver
o d a lua o bserv a atr á s de carr egad a s nuv en s. Co r ri r apid amen
de soprar. O turvo olh out r a pesso a na n ossa Sociedade. Como você já sabe, ele é um grande aficionado
ncentr a do em De Prof undi s, assim , já temo s
Grzegorz; ele também está co “son hos lú c idos” h á algu ns anos. E assim minha Sociedade vai crescendo; como
r z q u em n os intr o duz iu ao conc eito de
pela temática do horror. Foi Grzego deve faze r é en con trar v árias pessoa s que compartilham seus interesses. Você me
undi s, a prim ei ra coisa q ue se
vai a sua? Para começar a jogar De Prof ure c an didatos ao seu redor. Procure se relacionar com gente mais ou menos
que gosta ri a de ten tar c o meça r so z inho. S u gi r o qu e proc
escreveu dizendo reali d ade nã o seja tão simples e óbvia como para a cega maioria. Ah! E não
miste rioso s de nosso mund o ; pesso as pa r a as q u ais a
interessada nos aspectos De P r of und is é t ão espec ífico que mesmo as pessoas que não tenham nenhuma
ores de R P G! D e m a nei r a a lg uma!
pense que deve limitar -se a jogad Proc ur e por aque les que se delic iam com a leitura de um livro, com pesquisa em
ão d if iculd ad e em comp reen d ê- lo .
experiência com esse tipo de jogo não ter li cáv eis e com a b usca do miste rioso e do estranho em nosso mundo. Podem ser
inves tigaç ã o d e f en ômen o s inexp
bibliotecas, com as loucas fantasias, com a e pesso as que gostem de Lovecraft. Aqueles que não estiverem familiariza
dos
sia o u por f ic ção ci en tífica que não jogue m esp ec ia l ment
aficionados por fanta om o um jog o ; pode m vê-lo como uma diversão através da para-literatura. E os
ão nem sequ er t em por que tra t ar De P r ofu ndi s c
com os jogos de interpretaç ã o p recis am se preoc upar com a falta de tempo para jogar mais um jogo, como
e se d ispon h a m a con h ec er alg o n ovo; n
jogadores de RPG? Bastará qu N ão t em os p or qu e t oma r essa difícil decisão, porque De Profundis não
e q uan t i d ade de títul os n o m er c ado.
costuma acontecer por causa da grand qu ai s não pode mos jogar R P G d e nenhuma outra maneira: quando estamos
tará n aqu eles mom entos nos
substituirá os outros jogos; apenas os complemen lu g ar de ônib us. D e P rof undi s está aber t o também àqueles que não tem tempo
d o v amos a alg u m
sozinhos em casa, quando sairmos para passear ou quan e vez em quan do esse mundo mágico com que nos brindam os jogos de RPG.
às p artid as, mas que talve z quei r am visitar d
para assistir regularmente obrig aç ões que lhes hav iam separado da face oculta do mundo, dos reinos da
c ar ta se li v ram mom entan ea ment e d a s
Enquanto escrevem ou lêem uma que dif er em em algu m aspec to da grande massa de pessoas alienadas que vivem
ar com seus tentá culo s todos aque les
imaginação. De Profundis tenta captur
os em uma jaula.
fechadas entre os muros de seu pequeno mundo, como ratos sem cérebr outras cidades. Também poderíamos jogar De Profundis entre nós, e quem sabe,
Procure as pessoas adequadas. Não importa se vivem longe, em do jogo , todos os detalhes e meus pensamentos sobre ele, de maneira
en q uan to é mais impo rt a nt e para m im t e ex p licar o co n ceito
talvez o façamos. Mas por
tão exata quanto me seja possível. minh a Soc i edad e, esper o e desej o que você encontre algumas para a sua. Depois
Vou procurar algumas poucas pe rson a lid ad es excep ciona is para
ar os grup os. Qu an do estive r m os prep ar a dos, ergu erem os as co rtina s e começaremos o espetáculo. Bem, por hoje já chega.
podemos mistur
De Profundis e O Chamado de13 de Cmarçthu lhu
o de 1999

“O Cha mado de Cthu lhu” foi excel ente. F oi como se eu estive sse sendo transportado à mansão de
Ah! A narração da sua última partida de u
sse s en tado entre vocês , e ido co m o grup o para as profu ndez as do oceano. Sem dúvida foi uma partida de O Chamado de Cthulh
Damian, como se estive
de primeira qualidade! esso as que inter preta m inves tigad ores em de O Chamado de Cthulhu. Bom, elas
O que me levou a falar d i sso é o fato de você ter menc iona do as p
nto par a suas parti das. E m vez de criar n ovo s perso n a gen s, pod em jogar De Profundis com os antigos, ou com
podem ver De Profundis como um compleme super vi si onad o p el o mestr e de jogo, os levará à segunda esfera dos relatos de
tigad o r es, prov avelm e n te
os atuais. O intercambio de cartas entre os inves c epçõe s ment ais, às reflexões e às conjunturas, incluindo as buscas em autênticas
ades das ment es dos inves tigad ores, a o r eino das per
Lovecraft, às profundid a s exper iên cias priva das de nossos personagens, extremamente importantes, que
o e lu g ar para comp artil ha r com outro s
bibliotecas. Por fim haverá temp detal hame nto da vida pesso al dos personagens é uma característica da literatura
s em uma sessã o de jogo norm al. Este
infelizmente não podem ser interpretada todas as histó rias são algu m tipo de diário, repleto de descrições dos mais sutis
marc a regis trada . Qua se
lovecraftiana que poderia ser considerada sua infor maçõ es de t od a s as parte s, sendo a lgum as em forma de cartas, relatos de
i t uais, na qual há
pensamentos, medos, suposições e transformações espir nhos e notas de outros exploradores do inexplicável. De que outra maneira se
c ontec idos, infor mes dos habi tante s de luga res estra
testemunhas de mistérios a dure muit os anos , como por exemplo, Richard Upton Pickman ou o descendente
sujeit o a uma lenta trans form ação , que
poderia interpretar um personagem
sh da mald i ta Inns mout h? Para isso preci sa m os usar o psico dram a, que dura meses ou anos; precisamos da correspondência.
dos Mar
tr o car id éias sobr e os Mito s com o elega nte estilo pro porc iona d o pelas cartas? Devem se dedicar a esse outro
E os mestres de jogo que quiserem s limitações? Não há nada que os impeça de fazer isso.
r da distâ ncia que possa vir a sep arar os jogad ores, dentr e outra
universo? Jogar apesa

se nosso s coleg as da Weh rmac ht das sessõ es de jogos de Piot h (de Vampiros e de Segunda Guerra
P.S.: O que você acharia is dessa s exper iênci as. A história do batalhão maldito nunca
que as coisa s muda ram para eles depo
Mundial) entrassem em contato? Sabemos
você me diz?
sequer foi concluída; Piotr simplesmente não a continuou. O que
ao seu red or. Ana lise detalh adam ente tudo que lhe rodei a. Não tem notado nada estranho ultimamente?
P.S.S.: Observe tudo
A Sociedade dee maarço Rde 199ede9
25

a lista dos m em br os da sua Soc i ed ad e De P r of un di s. N unc a imaginei que alguém como Joacek, por
Para ser sincero, me surpreendi com a. Talvez eu mesmo lhe escreva e tente manter correspondência com
sessã o. Dig a - m e, com o ele está? Ou m elh or , n ão me con te nad
exemplo, jogaria uma os de jogad ores? P reste atenção há duas maneiras de jogar De Profundis: a
menc ion ei qu e p od er íamo s mist u rar no ssos grup
ele. Ah, sim. Lembra que te reu nido, deve d eci d ir se p ref ere jogar com um grupo de poucas pessoas (como em
or i n d ividu alm ente, ou o to d o o g r up o
sociedade local e a rede. Cada jogad am os de R ed e, um grup o aber to, de limites indefinidos, no qual qualquer um
e testa r a so rte n o q u e c h am
um RPG tradicional), ou lançar -se ao mar r a con seg ui r e t roca r en dereç os de p essoa q ue ainda não conheceram: aficionados
usar vár ios mét od os pa
pode participar. Se decidirem jogar na Rede, podem ar te d o m u n do. Um desses possíveis métodos é usar a lista dos meus amigos que já
a des, d e remo tas z on a s do p aís ou at é qual qu er p
por Cthulhu de outras cid para a Red e. Man d arei-Te a lista dentro de pouco tempo. Talvez te interesse
s e a tuam c om o coord en ad or es temp or ár i os
foram iniciados em De Profundi
seguro de que você fará isso.
introduzir algo mais e se tornar também um contato na Rede. Estou g ru p o de am igos. A ssi m ser á v ocê que decidirá tudo, escolhendo as regras e
A não ser, suponhamos que prefi ra corr e s ponde r-se s ó com seu
ambientação (assim, os shoggots o devoraram!).
resolvendo qualquer problema com quem quiser violar as normas da s de Per son a gen s. Entendeu? É isso! Não seria uma fantástica experiência?
Agora veja a f olh a que te m an dei c om os exem plos de A r quéti po
rível A n cião ou até mesm o um per son ag em d e h istór i as em quad r i nhos! Pequena loucura! Mas, por favor, estabeleça que
Ser Pickman, Whateley, o Ter algu m mom en to algu ém se u nirá à rede com a intenção de interpretar um dos
nem d oi s R.V . Pi c k m an. E m
não pode haver dois Wilbur Whateley nd o u m enc ar go pes ad o. E ser á m elh or que faça muito bem o trabalho, porque,
p essoa desej ar , est ar á a ss um i
personagens famosos. Se for isso mesmo que a louc o qu e n ão d ev e se r levad o a sér io. Q uando alguém perde o papel de um dos
ar a f am a d e ser u m
do contrário, não tardará em perder esse papel e ganh on ível p a ra ser interpretado por alguém mais apropriado. Se alguém quiser
ov ecr af t, est e perso n a gem fi cará nova men te d isp
famosos personagens de L or ç ar m u ito, senti r o perso nagem e, de certo modo, ganhar a aceitação do resto
um long o p er íodo d e temp o, ter á qu e se esf
interpretar Herbert West durante
interpretam a si mesmos.
dos participantes. Estes problemas não existem com os jogadores que , ou o p intor R ober t Bla ke, outro ind ivíduo estranho. Os dois personagens são
Eu estou considerando a opção de int er preta r o p apel de Pick man tico
r essus cita r B l a k e par a a par tida, p oi s ele m or r eu em O mora dor das Trevas. Mas Pickman me atrai mais. Ah, mostrar o autên
estupendos. Tentaria conv erter -se em um uivante carniçal, roendo ossos humanos, ocultando-se em
sensí v el dos art ist as e, p or essa mesm a razã o,
sentido das coisas: ser o mais
essoa poderia compreender isso?
cavernas de eterna escuridão localizadas no reino dos sonhos. Que p
u?
Meu personagem5 doe uabrilEde 199 9

Q u an d o v ir á a p ri mave r a e d i sp er sa r á a n év oa? Q u an d o d esap arecerá a escuridão que invade meus


A neve ainda não derreteu completamen t e.
dos p ássa r os esp a nt ará ao si lê n c io e os od i osos g an i d os d os c or v o s? Estou cansado da onipresença do frio e da umidade.
sonhos? Quando o canto cr i a çã o d e p erson agen s, mas não se preocupe, explicarei isso com mais detalhes em
Você tem me escrito a r espei to d e d úv id as e ambi gü i d ad es sobre a
em m i n h as mão s o li v r o d o E r em i t a do s p â nt a nos. N est es mo men tos, tenho outras dúvidas. Concretamente, às vezes
cartas próximas. Depois de tudo, tive D e Pr o fun di s? A i nd a n ão h av ia dito, mas você deve saber que tenho outro
m esmo ou u m p erson agem d e
não tenho certeza de quem sou: eu sou eu Esqu eç a-o. Na v er d ad e, eu gost ar i a de criar mais uns dez personagens. Mas
or do jogo, o E r emi ta.
personagem preparado além de Pickman: o do criad
nção e tempo, até quase me transformar nele.
sei que será melhor escolher apenas um; dedicarei a ele toda minha ate vem agora?
Voltando as suas dúvidas: você já sabe do que trata o jogo, o que
nterpretaremos no jogo, pois podemos escolher entre:
O passo seguinte é escolher com que personagem jogaremos, a quem i
- Nós mesmos;
- Um investigador tirado de O Chamado de Cthulhu;
- Um personagem de uma história de HPL ou outro autor. pr et ar a nós mesmos, não será mais fácil fazê-lo? Não serão os
es t em seu en c ant o p ar t i c ular . Se esc olh ermo s int er
Cada uma dessas opçõ róp r i o eu; é n osso me lhor trunfo. Quando interpretarmos nós mesmos
a, nos d ar íam os melh or i nt erp r et an d o nosso p
resultados mais autênticos? Sem dúvid atr av és d as c ar ta s cheg am os a c on h ec er um ser humano autêntico, vivo, alguém
t r e n osso mun do e o jog o, e
eliminamos quase completamente a barreira en
real, com um espírito muito semelhante ao nosso. em q ue t ão int er essa nte nos pareceria interpretar. Podemos acrescentar um passado
Mas também pode m os mo di f ic ar u m p ouco , c r ian do um p er so nag
o s ou p r of issões (as obr a s d e HP L est ão ch ei as d e d out or es, inspet ores, e muito mais), podemos adaptá-los a época em
misterioso, trocar a idade, os títul o p er son ag em basea d o em n ós mesmos. Mas temos que lembrar uma coisa: se
ar qu a lq uer c oi sa, c r ia nd o um nov
que a partida se desenrola. Podemos mud p or c omp leto. D ev e ser ao m enos, u m hobby nosso. Por exemplo, se você quiser
at ér i a, dev em os dom in á- la
queremos interpretar uma autoridade em uma m est u d an t e de Arqueologia. Se quiser interpretar um doutor em História, dever
ia
log o qu e v ia ja p o r todo o m u n d o, ao men os d e ver i a ser
interpretar um arqueó avel m en t e; se nossa s cartas parecem artificiais, forçadas, pouco confiáveis ou até
D e qual qu er out r o m od o f r ac assar ía mos m i ser
entender de História, e bem. a v er ão si d o em vão. O en canto se quebrará e a magia do psicodrama converter -
sti do n a at m osf er a e t od as as i n t u i ções h
mesmo ridículas, todo o esforço inve
se-á em um grotesco pseudo-jogo.
eress ant e; eu i a te ma nd ar um ar t ig o d e psic olog ia an ex o à c ar ta , mas não o encontro. Acabo de entrar em casa e encontrei todos os
P.S: É int a nela est iv esse bem fechada. O artigo desapareceu; uma pena, pois
o se o v en t o os ti v esse t ir a do da m e sa . A i nd a q ue a j
papéis jogados pelo chão, com o h u m an o. Bom , o m an d ar ei tão logo o encontre. Porém... é estranho. Sinto
es sobre u n s ex p eri men tos c om o c ér ebr
continha umas conclusões interessant
s? Não, não é possível.
uma inexplicável ansiedade. Haverá alguém remexido em meus papéi
Os Dois Període 199do9s
18 de abril

ue m e ma n dou. Com o voc ê pô d e adoe cer assim tão de repen te? Talv ez os médicos estejam equivocados e
Fiquei muito triste com as últimas notícias q
de gri p e. Ma s po r outro lado m e aleg ro de que esteja gosta n do do jogo, mesmo sem ter-lhe explicado muita coisa. De repente você
seja apenas um novo tipo ? Jun t os pode mos inventar e imaginar, por isso te peço, por favor, me mande
do qu e já come çou a jo g ar. Por Deu s, como
me surpreende ao escrever me dizen e da min h a. Eu m or r o d e vontade de ler comentários mais precisos vindos de
d o jogo, pois sem dúv i da será di f erent
sua visão dos aspectos mais particulares
você. Em que período está jogando? Presente ou passado?
Ah, sim. Aqui devo enfatizar algo. da Soci edade local, onde só uns poucos amigos jogarão De profundis,
escol ha d o temp o e lu gar em que se d esen ro la rá uma pa r tida
Ainda que a en ta ç ão e um universo pré-estabelecidos. Um grupo de amigos pode
ira muit o li v re e si mple s, na R ed e deve have r uma ambi
possa ser realizada de uma mane ém pode m exper imen tar jogan do em outros mundos não-lovecraftianos. Só dirá
to de perso na g ens par a jogar ; e tamb
escolher qualquer país, época e conjun
luto.
respeito a eles. Mas na Rede isso não tardará para causar o caos abso
Eu sugeriria um dos períodos abaixo para um jogo em Rede:
da de 20; ou
1) A época das histórias de Lovecraft; para ser mais exato, na déca
2) Aqui e agora: o presente, com as datas atuais. en t o em que c o meça na Rede, os dias, meses e anos transcorrem
íodos está cong elad o no temp o, e no mesm o mom
Certamente, nenhum dos per “aqu i e agor a”, em que a s datas são idênticas nas cartas e no mundo
q u e isto é relat ivam ente sim p les com o
paralelamente aos do mundo real. E enquanto dia e mês, mas um ano diverso. Começamos em 1920, e mais dois anos após
po d em se torna r confu so com o temp o, ao ter o m esmo
real, “os anos vinte”
começar será 1922! separ ado s, e n ão só p on do as datas adequadas nas cartas que mandemos, sendo
É importante distinguir de f or m a clara en t re o s dois unive rsos
erdo da seguinte maneira:
também marcado por sobre, junto ao remetente, no canto superior esqu enquanto que um pequeno triângulo azul marcará nas cartas “os anos vinte”.
- um pequeno círculo vermelho que significará “aqui e agora”; do adequado e “preparar a ambientação” antes de abri-la. Quando
isso, após receb er um a c arta, o joga d or p ode aj u star - se ao perío
Graças a p az e tr an qüilidade, colocará a música adequada e, como Pickman,
a o fim, você tom ará um café, sent a rá em se u acen to em
um longo e árduo dia chegar desti natá rio não terá como se preparar, a não que rasgue o que passou antes e a
o. Se não ma r c a rmos nossa ca r ta, o
por exemplo, lerá a carta de um amig ser aber tas dessa mane ira e nem serem lidas depressa, durante o dia, como se
Nest e jog o , as carta s n ã o d ev em
olhe; mas isso não deveria acontecer assim.
as melhores histórias.
fosse algo comum. As Cartas do Abismo devem ser saboreadas como N a s par t idas dos “anos vinte” não existe Lovecraft; nossos personagens nunca
Outra difer ença entr e os dois per í odo s é o pape l de L o vecra ft.
olog ia de suas hist ór ias não nos perm ite, apesa r de po d ermo s obte r delas personagens, lugares ou temas a vontade.Em outras
terão ouvido falar dele. A cron r ed o s; R. Bla k e p ode co ntinuar escrevendo suas histórias e pintando seus loucos
h pode oc u ltar aind a seus terrí vei s seg
palavras, em nossa partida, Innsmout u anto vive com seu ir m ã o que não pára de crescer. Por outro lado, no “aqui e
c onhe cime ntos ocul tistas , enq
quadros, e W. Whateley, aumentando seus d o iníc i o do sécul o XX . Algu ém que supostamente poderia ver algo sobre A
or de relat os de mist ér io
agora”, Lovecraft existe para nós como um aut
Verdade.
gera is, n os temp os atua is nós i nterp retam os n ós mesm os, tenta ndo ser tão realistas e sutis quanto for possível, de maneira que
Falando em termos os vinte ”, em comp ensação, nós podemos permitir mais ficção e mais
entos fanta sioso s em nossa histó ria. Nos “a n
sejam verossímeis as interposições de elem hi st órias de Love craf t. O “aq ui e agora” é mais realista enquanto os “anos
pode mos beb e r di r etam ente das
liberdades literárias, da mesma maneira que
vinte” são mais lovecraftianos.

Responda-me tão logo possa.


E fique bom depressa!
Dois Personagens nos dois3 dePmaerio díod os
e 1999

pouc o d e sol, não chov e ma i s e faz calo r. Talv e z esta nova lu z brilhante concedida por nossa estrela faça
Fnai lmente o tempo mudou! Já há um noite? Na minha, pesadas nuvens cobriram o céu em menos de uma
qu e tiv e d ois di a s atr ás. Ac on t eceu algo e st ranh o n a su a ca sa essa
desaparecer o pesadelo am en te me veio uma dor de cabeça e decidi que o melhor seria ir dormir. Deus!
i nferna l. O c éu estav a tão escur o que im ed i at
hora e começou uma tormenta h os essa n oi te? De qu e abism os surgiram arrastando-se? Pela primeira vez na
i ram v isi tar- m e e at or ment ar m eu s son
De onde saíram os demônios que decid so rte, a lemb ranç a desse m edo vai-se desvanecendo lentamente. Com forças
a noite de W alp ur g is. P or
minha vida senti o que de verdade significa
revigoradas, me dediquei novamente com paixão a De Profundis. inter essan tes, o que torna difícil escolher um só para jogar. Sugeriu-me como
Você se queix ava de que os dois p er íodos sug er idos são igua lm en te
lhes um dos universos. Não creio que isso seja uma boa idéia.
solução para a questão proibir uma das opções aos jogadores, impondo- icos? Porque cada um tem seus pontos fortes indispensáveis. O “aqui e agora”,
Por que dar a possibilidade de escolher entre dois momentos histór e, que conh ecem os do dia a dia, a partida será mais simples, isso não
r e, est á no nosso sang u e . N este ambi en t
ou o presente, conhecemos melhor, desde semp . M a s ex atamente o contrário. Nossa realidade é tão rica, tão cheia de notícias
m undo não seja inter essan te, ou que n ão t en ha mi st érios
quer dizer que nosso ê-la , nem sequ er nos aspectos mais gerais. Não creio que algum dia venhamos a
ões c onsp i rativ a s que nã o pode mos t entar abr an g
e tão propensa a interpretaç s ocorr em ao nosso r edo r todos os dias, e novas luzes iluminam velhos mistérios.
abor dar; n ov os a conte cime ntos sen sa ci o nai
ficar sem temas interessantes para i nume ros jorna is, prog r am a s de televisão, etc. todos eles são como tesouros
rn o, p od em os apr ov eitar -nos de
Além disso, ao jogar no mundo mode
abandonados, minas de idéias. nage ns das h i stórias de L ov ecr af t! É o mundo onde os Whateley cruzam sua
E que dizer dos “anos 20”? É o mund o h a bitad o pelos perso
o m undo em que u m estra n ho mete or o c ai n a g ranja d e Nah u m Ga rdner, em que Pickman retrata seus pesadelos, Carter tentar
linhagem com Yog-Sothoth ,
ser o d outor Fran kenst ein , R ober t Bla ke se ma t a de puro horr or ao olhar pela janela e Akeley manda cartas cada vez
alcançar Kadath, West brinca de os 20 são a atmo sfera do jog o! Ainda que, normalmente, estejamos menos
c r iatura s ali en ígena s. O s a n
mais estranhas de seu sítio assediado por úni ca c oi sa que pode m o s f azer é co meçar a partida nele com alguma margem de
a dos det alhes do mesm o, a
familiarizados com esse mundo, inseguros acerc . E mais , nos anos 20 era muito mais comum a troca de cartas, por mais que
p eque na, e i rmos a pren d en do as m inúc ias com o tempo
erro, preferencialmente
nos últimos anos essa tradição tenha sido de certa maneira revigorada. sugiro que joguemos De Profundis com dois personagens diferentes: um no mundo
Ambos os universos são únicos e incomparáveis. Por isso é que te nage m com a da época; assim, nosso personagem criado no estilo
bém re c omen do c om bina r a esc olh a do perso
moderno e outro nos “Anos 20”. Tam “aqu i e agor a” nos inter pretar ía mos n ós mesmos. Nas seções de jogo seguintes,
vint e, enqu a nt o que no
Lovecraftiano seria usado em nossa partida dos anos
destas duas épocas e tipos de personagens.
que irei te mandando nas próximas cartas, distinguirei entre os estilos
p r etand o dois per so nag en s, tenha mui to c u idad o pa ra n ão confu ndir as tramas ou os personagens das duas épocas, e
P.S: Se você estiver inter
a muito cuidado.
procure também não confundir você mesmo com um personagem. Tenh
O País
11 de maio de 1999

p reta r os pe rson ag en s m a is i nqu iet a nt es. E c om o v oc ê est á en tre eles, provavelmente já estejamos jogando
Bem, bem, bem. Muitos decidem inter
De Profundis. Ou quase. ag en s: eles devem ser coerentes com os locais em que vivem; em uma partida de
Tenho um último c om en tá ri o a f azer sobr e a c ri a ção d e perso n
i sso c om os o u tr os jog ad or es an t es d e come ç ar . Se, por ex em p lo, escolhermos interpretar a nós mesmos, normalmente
Sociedade local deveríamos combinar g atór io que sej a dessa m an ei ra. Se algum jogador conhece algum povo ou cidade
n osso país. Poré m, n ão é obri
escolheremos nosso atual lugar de residência, r ep rodu zir com f i d eli d ade os usos e co stumes do lugar, poderia perfeitamente
ad o t empo sufic i en t e p ara
de outro país como a palma da mão ou lá tenha est
“simular” que vive ali. a do s an os 20 , a ques tão está mais aberta a discussão; nesse contexto nos
Com os personagens f ic tí c i os, os q ue cria m os p ara u m a p artid
m , Ip sw ich, etc. E se int er pr et am os um per son ag em cr iad o p or Lovecraft, não há nenhuma dúvida: vivemos no local
sentiríamos tentados a jogar em Arkha p equ en a m ar g em d e err o, p or ém como no caso da época, deveremos nos esforçar
er em os per m i ti r nova men te uma
onde o personagem viveu. Nessa situação, pod á a qual i dade da partida, e fortalecerá o entretenimento gerado pela mesma.
m ent ar n ossos co n hecim en t os so br e o loca l. Isso m elh orar
ao máximo para au ar as d uas p artid as às quais os jogadores da rede terão acesso. Assim, pois, a
Tudo o que nos r esta f azer é anun c ia r os p aíses n os qu ais terão lug
19 20 oc or r er á no est ad o de M assac huset ts, n a cos ta lest e n orte-americana e, geralmente, no Estados Unidos. A
partida da rede que começará em em n osso p róp r i o paí s. Hipo teticamente, já que falamos de especialistas em
tr o lad o , ser á jogad a p rinc ip alm ente
campanha de “aqui e agora”, por ou do mund o ; assim é c om o d ev er i a ser em De Profundis. Cartas de Katmandú,
c h eg ar de qual quer p arte
conhecimentos proibidos, suas cartas poderiam b u sc amo s. A ú n i c a coi sa que se r eque r e é a familiarização com o lugar e a
es t êm a a tmo sf er a que
Sibéria, África, Israel, Egito... Todos estes lugar
cultura.
c elad a n a def inição d o seu per son agem . A não ser, supo nd o, qu e você ainda não tenha determinado “detalhes” como a
E essa será a última pin o en sin ar o p a i n osso ao vigário se tratando de um jogador com a sua
, por que me preoc u p o em fala r i sso? É com
família, o domicílio, o passado, etc. Mas prep ar ado e a ex per iênc ia d eve ser m ai s verossímil que em qualquer outro RPG.
o, tudo já dever i a est ar
experiência. Além disso, para interpretar a si mesm n ag en s sã o cheios de emoções, tem personalidades, frases favoritas, etc.
Lembre qu e o a u tor d as suas car tas é o p er son a gem . O s perso
Mas você não precisa que eu diga tudo isso, não é verdade?
O Estilo
22 de maio de 1999

b astan te verde , as er vas, as árv o res, o m usgo , os ar bu stos. Ma s o frio se aproxima outra vez. Nuvens carregadas de água estão
Tudo est á
o bala nça as c o pas d as árvo r es e a c ortin a de mi n h a ja nela . E eu te escrevo uma carta. Ah, sim. A carta.
tapando o sol. O vent ponto d e encontro para jogar. É nela onde acontecem as coisas e onde
A carta é nosso t abul ei r o p ara jogar D e Prof un d is. É o nosso
ns; o lu gar no que pode m o s viv er aven turas e m anter con v ersaç ões. De Profundis consiste em escrever cartas.
representamos nossos personage s oal. D i fer en t e de uma encontro ou diálogo “cara-a-cara”. Durante uma
Uma carta é uma form a mu i to esp ec í fi ca d e con t ato in t erpes
nosso s pen sa ment os, por p u ro i m p ulso, e a super fic i alida d e se i ns tala no diálogo. Nas cartas temos a oportunidade de
conversação, podemos perder o fio de en te pa r a esc rev er o q ue p en samo s de forma que expresse exatamente o que sentimos. A
p i o a o fi m . Temo s temp o sufi c i
expressar todo o que queremos do princi out r a vez, tem esse ar úni c o de passa do, tão presente na obra dos escritores do século
de estar entra ndo em mod a
arte de escrever cartas é antiga, e apesar a vida consultando antigos textos e escrevendo cartas.
íp io s do XX . E isso s em men c ion ar Love craf t, qu e pa ssou
XIX e prin c
do que eu , e mi n h a i ntenç ão er a t e escre ver so br e outra s coisa s. Rec ebi uma carta sobre De Profundis de
Mas você já sabe tudo isso muito melhor
te, mas...
Darek, membro da sua Sociedade. E, bem, é um relato breve, decen com relação a estrutura e disposição de uma carta. Sem isso, sua credibilidade se
Lembre aos integrantes do seu grupo que existem algumas regras atenç ã o deles sobre o fato de que, por exemplo, uma carta a um estranho
at m osf er a , estilo ou boas i d éi as c onten ha. Cha me a
perde, sem importar quanta qu est ão) é u m a coisa , uma carta a alguém que se conhece há anos é outra, que a
u m a terce ira pesso a (com o no c aso em
que tenha sido recomendado por d uas an t erior es, e que um intercâmbio formal de que idéia entre dois eruditos que se
correspondência semanal mantida p or doi s bon s amig os é d i f er en te das
emais.
respeitem, mas não se conhecem é completamente distinto de todos os d apresentar.
Quando você escreve a alguém pela primeira vez deve antes de tudo se e que vierm os a f or m ar se conhecem há muito tempo, isso não seria
osto de qu e os p erson agen s da Soci edad
Por outro lado, se partimos do pressup co m eçare mos a parti da, p od emos supo r que esse não é o início de nossa
prim eira c ar t a c o m a qual
necessário. Desta maneira, quando escrevemos a iores, inexistentes.
correspondência, inclusive; pode ser até que nos refiramos a cartas anter afadas em uma velha máquina de escrever. Não seria um exagero usar pena ao
Depois, as cartas dever ser escritas à mão ou, no máximo, datilogr ente nos esforçamos com nossas cartas. Como você pode ver, eu me encantei
io e que realm
invés de canetas normais. Isso demonstra que respeitamos o destinatár perimentado muitos acontecimentos estranhos ultimamente; que não são mais que uma
ex
pelo uso de tinta marrom. E já que falamos de nossas cartas, temos
conseqüência de se jogar De Profundis, não é? o seu grup o t am bém s e in teir em : suas cartas deveriam começar com uma saudação
Além disso, embora você já sai b a, dever i a faze r c o m qu e tod os d
r com uma despedida e uma assinatura.
típica (“Saudações, Michael” ou “Querido Grzegorz”) e acaba depo i s d e ter mo s ju ntad o um m onte de cartas, quisermos lê-las outra vez e
Outra coisa importante: as datas! Se dentr o d e alg u m t em p o,
úni c o da d o qu e possu irem os pa r a c o locá -las na or d em adeq uad a . Se não estão datadas, teremos um duro
reconstituir nossa correspondência, as datas serão o ndo.
trabalho pela frente. Acredite, eu passei por isso e sei do que estou fala das cartas e dos diários, de ardis para expressarmos certas emoções, a atmosfera e
Poderia continuar falando durante horas sobre o estilo específico Prof u ndi s. Descobrir estes segredos e truques “do trabalho” torna-se
é, em gran de med i d a, a alm a d as p ar tid a s em De
disposição desejadas, mas isto pensa men t os n as carta s, diários de viajem, etc; todos esses romances e histórias de
só. P ar a estru turar a linha d e nosso s
gratificante e divertido por si rácula, nos serão de grande ajuda.
princípios do século XX, e também do XIX, como Frankenstein ou D
il's . N ad a de e- m ai ls! C om eles não tar d ar í am os p ara destr uir a atmosfera do jogo completamente. A não
P.S: Só mais uma coisa: os e-ma t r atad o, crian do uma vi são d o mun do atual: a Internet, a agilidade, os
ã o di f erent e d as duas que t em os
ser que alguém queira jogar em uma ambientaç as e cheia s d e alv or oço, anôn i m as e co i sas d o tipo. Desta maneira poderia ser criado
celulares, os fluxos de informações, a troca de mens a g ens cu r tas, r ápid
X . M a s as facil idad es e a com o di d ade q ue a Inter net nos atr ai são enganosas. A transmissão de
um mundo da Teoria da Conspiração ou Arquivo e-ma il. Uma carta requer esforço, toma seu tempo, exige concentração. Também
é
de um pape l é comp letam ent e difer ente da feita via
pensamentos através
ei to pelo dest i na t ário. Os e-ma il's são umas imun d í c i es gr ossei ras, cheias de falhas; muitas vezes só acrescentamos um par de
uma demonstração de resp e que aqueles que achar os e-mail's uma forma normal de
ment os d a men sa gem anter ior qu e respo ndem os sem p en sar . Deix
comentários rápidos a frag s que passa rem j ogan do De Profundis. De qualquer forma, cuidado com os correios
comunicação dêem um pouc o d e d esc anso a seus comp u t ad o res n as tarde
destinatário.
eletrônicos, pois destorcem a comunicação e nossa atitude para com o
ção
Mentede maioe Ade 199
2 9

e passa d a tive um son h o g r otesc o, qu ase d i v er tid o , no qual tive uma conversa com Nyarlathotep: uma conversa sobre
Você não vai acreditar. Noit músi c o. Pelo q u e vi , me deu a impressão de que a lentidão e preguiça do sacerdote
seu sacer dote, que era u m a espéc ie d e
arte. Havia sido invocado por N y a r latho t ep se m ost ra m u ito compreensivo para com os artistas. Fqu i ei surpreso ao tomar
ao seu Sen h or. A pesar de tu d o,
decepcionaram bastante
e escri tores desfr utam d e sua p r oteçã o. Qua ndo ia emb or a i a, tiv e a impressão de que o sacerdote estava
conhecimento de quantos grupos, quantos pintores certo ap reço por meu tr abal ho. L ogo vi drag õ es de quatro cabeças no exterior, destroçando
perdido. Apesar disso, também me parec eu q ue ele sen t ia
pesso as. Qu an to m ai s com i am , m ai s c r esc i am e in c h a va m , at é que finalmente explodiram. Era apenas um sonho.
edifícios, golpeando e devorando com a louc ura? E nqua nto estamos dormindo, no momento em que nossa mente consciente não
Engraçado: e se esta for uma m an ei r a d e se f azer um p acto
está atenta para nos proteger. medo s e susp ei ta s não sejam nada além da minha imaginação.
Espero que ten ha si d o some nte um simp les sonh o, e qu e todos esses
quer o te con t ar hoje. N as carta s escri tas p ara De P r ofu n dis, que significa transcrever em papel nossas experiências
Há outra coisa que
interiores, e que significa quando falamos de nossas ações físicas? rap ar tid a aos RP G' s, fornecendo-nos um espaço que (embora muitos jogadores
Já mencionei que De P r of un di s é c omo u m a alt erna tiva e con t
ao ler isso) t ais j ogos não são capa zes d e si m u lar: o rei n o d os pensa mentos, experiências e reflexões de nossos personagens. E mais,doe
fiquem de pé indignados
trar - nos nas con f usas li nhas de n ossas ment es, e tem um gr an d e potencial para isso. Mas nem só
estilo em De Profundis quase nos obriga a cen r ias está v incu lad o insep ara v elme nte ao m u n do em que vivemos, as coisas que nos sucedem e às
pensamentos vive o homem. Este reino das ex periê nc i as p róp
m edos e suspe itas p o dem estar r elaci on a das c om algo exter n o. Mui tas vezes são apenas uma forma diferente de perceber o
pessoas que conhecemos. E nossos nossa ment e. Dur ante q uan t o tempo você poderia escrever somente sobre os horrores contidos em
mundo; não são coisas que exist em de form a i n d epen dente em ossos
o, n est e j ogo a “aç ão ” é t ão im p orta n te qu an to a em oção . Só que aqui, a “ação” é apenas um pretexto para expressar ncomo
sua cabeça? Port an t uma velha igreja a noite, não seria para encontrar algo estranh o,
u ndi s, se n oss os jo gado res d ecidi r am sair a explo rar
pensamentos. E m De p r of
Será para ex p erim en t ar a lg o est r a nho. P ara ter algo sobre o q ue pensar e escrever mais tarde. Nas partidas de RPG
acontece em uma partida de RPG. ou en c ontr a rá que o que sent e e pensa. Teoricamente, a estrutura dos jogos de interpretação
nos interessa mais o que o person agem está fa z en d o, p od e f azer da
ação . Mas aqui , a “açã o” é m il vezes mais su t il e, c om o norm almente só pode ser experimentada por um personagem, o autroprara
nos predispõe mais a da de RPG , o mestre do jogo da uma descrição objetiva dos acontecimentos ecatdoacumb luga
carta, sempre é per c ebi d a de mane ir a subje tiva. E m uma parti as das
p o r to d os os jog a dores , Em D e P r of un di s n ão n ec essi t am os disto. Aqui, enquanto exploramos as
que sejam percebidas da mesma maneira no ssas p r ópr i as psi qu es. In c lusiv e uma coluna que na realidade esteja limpa e seca poderia ser
ruínas que estão escondidas no bosq ue, estam os ex p lora ndo
t a d e li mo e se t orna r blasf em a . O mun d o é tal q ual o vemo s. E o “como o vemos” marca nossas emoções, personalidatades,de
vista como podre, cober
t es e tamb ém n ossa próp ria louc ura. O que si g n i fi ca r ão a lg as e medusas para alguém que todas as noites sonha com a cidade mor
experiências, men
R'lyeh?
sequ er perce bemo s aqu i é a alm a do jogo ( e das h ist ória s de lovecraft também) Suspeitas, sonhos,
Algo que em uma partida de RPG nem s próprias raízes...
referências, transformações interiores, reflexos, o descobrimento de nossa certa. HPL seguia em suas obras esta aproximação para com a ação: durante
...e, às vezes, ação. No lugar e momento adequados, na dosecartas, onde ele escreve sobre suas suspeitas na investigação de algum mistério, ao
três quartos da história lemos as memórias do narrador, seu diári o ou suas
e o per son ag em adve rte qu e u lt rap asso u os li m i t es. Só en t ão se cheg a a algum lugar, e ali: se desencadeia o pandemônio e
final chegamos ao clímax, em qu ento se escon d ia em seus p esad elos. Em De Profundis, esta estrutura pode ser mais ou mensuosa
ocorre o encontro cara a c ara c om o ho r ror que a té esse mom
três pr i meir a s cart as ap r esen t am o mist ér io sutil men t e ao leito r; nas seguintes, o autor vai revelando mais e mais segredbuos,sca da
assim: as duas o u ir a
ad e passa p or m u d ança s, a ten s ão a u ment a, assi m como os m edos, até que finalmente chega uma carta anunciando que ele decfidiu i nal na troca de
personalid tas, m and a das pouc o a n tes da mort e do remetente, colocando um ponto
origem do mistério. Depois disso, talv ez c h eg ue ma i s c ar
en te, est e é só um exem plo de u m dos m ui t os cam i nhos que pode ríam os seguir para criar uma campanha.
correspondências. Naturalm p ara De Prof un d is i mpli cam em uma ênfase diferente na ação. Nos “anos
Também é importante acres cen t ar que ca d a perío do q ue suger i mos
li t erár i a, mais ficç ã o, e i nter p reta m os perso nag en s inven t ados ou de Lovecraft. Há também mais espaço para os feitos
20” temos uma maior ambi en tação
t ur a s e a s vi ag en s. O “ A qui e agor a ”, em c on trapa r t id a, nos impõe o realismo; nesta versão, o universo existe de forma tangreível,as
extraordinários, as a ven m ai s fác i l a taref a de escre ver sobre nossas experiências, refletir sob
mos a nós m esm os. I sso to r na
nas ruas ou nos jornais, e pode ser que interprete u lta o defrontamento com eventos fantásticos e, conseqüentemente, a ação.
para n óia e a teor ia da c onsp ir aç ã o, enq u a n to qu e dific
coisas, a
fi c ar m u it o temp o aqui dentr o ; f az tanto c alor e o a m bien t e é tão agonizante que não posso respirar.
Bem, gostaria de finalizar. Não se pode egue a temp estad e notu rn a . Ulti mam en te, quase todos os dias, caem raios e se
Tudo está pegajoso. Irei dar um passeio pelo bosq ue an t es que ch
z que você não passeia por um bosque?
escutam trovões tão logo escurece. A propósito, quando tempo fa
Sobre o que devo24edescrjunhevo deer199?9
i ma ca rta te ma n dei c omen t ários sobre o est ilo d e n ossas missi vas. Agora vou me concentrar nos diferentes tipos de tramas,
Em minha últ exem p los de temas para que podem ser usados em nossas campanhas por
jog a r De Prof u n d i s. A seg ui r vo c ê vai en c ontr ar
“cenários” ou “aventuras”, para
em forma de lista.
correspondência, e sua possível estrutura. Permita-me apresentá-los d e L ov ecraf t par a no sso perso nage m. Feito isso, nos concentramos nele e o
1. Os mitos que nos rodeiam: E scolh emos uma r aça ou m ito
ialis t a n esse mi t o em p a rticu la r, co n hecen d o ele com o ning uém mais seria capaz. É muito mais realista
transformamos em nosso pesadelo. Nos tornamos espec ução de “cas os inexplicáveis” um atrás do outro, como se fosse uma série de
r d ura n te anos u m só misté rio qu e oc or rer a resol
um personagem investiga açõe s e av en t u ras se desenrolarão em torno dele. Por isso De Profundis não
os irá se tor n ar n ossa histó r i a; nossa s in v estig
televisão. O tema que escolhem r a c omeç ar, e o r est o n ós m es mos teremos que criar. Um só jogador pode explorar
em Love craf t o que neces sitam os pa
precisa de bestiário. Podemos encontrar ag i nou, e pode ria f azer alg o d i f er ente do cenário, mais estranho ainda. Poderia
n da como n i ngué m j a m ai s im
um determinado tema de uma maneira tão profu
ser algo que ninguém mais conhecesse. q ue i n ter prete mos uma pessoa inocente, que tenha acidentalmente topado com um
2. Um episód io miste r i oso : O i nício de um p es adel o. P ode ser
ara sem p re. Ten ebr osos seres e seg r ed os come çam a apar ecer a seu r edor, e ela mesma começa a mudar. Pode ser que busque
mistério que lhe tenha marcado p
respostas, ou talvez apenas confie a alguém seus temores e suspeitas. i c i ad o” em bu sc a d a “ V er d a de”, que tenha dedicado toda sua vida a buscar e
3. Teoria da Conspiração: Nosso per so nage m pode ser u m “in
do s M i - go em n o sso mund o ou p aís. Hip ot etic a ment e, a m edida em que avança a investigação, os
verificar os mais pequenos traços da presença, digamo s,
ag em aume ntarã o grad u alme nt e, até que fin a lmen te “ele enten da tudo”, compreendendo quem são realmente as pessoas das
níveis de paranóia do person
unicação e tudo o mais.
agências governamentais, quem controla os políticos, os meios de com alg u m ramo da ci ên cia, com o a Física, Psicologia , História e Biologia, ou
4. Pensamentos, reflexões, inves tig aç ões: Talv ez tra balh em os em
d e li vros sobre o c ultis mo, enga jados na t arefa de enc o nt r ar p is tas e menções relacionadas com os mitos de
tenhamos condições de mergulhar em montanhas a m de pertencer apenas à imaginação de um escritor louco. Pode valer a pena
dela s têm si d o estud a d as po r cient istas m odern os, e d eixar
Lovecraft. Algumas
tentar investigar um pouco e só depois compartilhar nossas conclusões. ões ent r e os póli p os voa dores e os Djins do deserto, ou entre o mito do Shoggoth,
Mais de um investigador i nicia do tem se p erg u n t ado sobre as relaç
os tumores e o mistério da vida. en c ontr a r mu i ta s coisa s inter essan tes p a ra nossas cartas, inclusive citações diretas.
5. Investigação e experimentos: Pesqui sa ndo em livr o s po d emos
o p ara n ão c r i armo s f ontes de i n form a ç ões o u livro s fictíc ios, ou r ealizar experimentos em laboratórios imaginários e depois escrever
Não há nenhum motiv o que cert a ment e ex i ge amplos conhecimentos no campo em questão.
robl ema estar ia em man t er a vero ssi milh an ça,
nossas conclusões. O único p s, pode m os desc r ever n a c orrespondência nossas expedições, ações ou experiências
6. Acontecimentos: Além de nossa s in v est i g açõe s e pensa m en to
ei s q ue haj a mos p r esen c ia d o no passa do. Nest e caso, pode mos descr ever as coisas quando regressarmos: quando
dos últimos dias, ou ainda eventos inexplicá v
tenha acab ado. Há o u tr a man ei ra : t oma r n o tas, usan do os momentos adequados para gravá-las na
estivermos relaxados um pouco, ou tão logo tudo n ão quan do estejamos correndo na escuridão, no meio da ação ou nadando;
apo n ta m entos de est il o jor n alíst ic o. Na t ur alm ente,
memória ou como rápidos
na úmida câmara de algum calabouço.
mas, por exemplo, quando estivermos viajando de trem ou descansando e refle x ã o. E st as viage ns deveriam ser longas expedições, que durem meses ou,
7. Cartas de nossas viagen s: Um a com b in aç ão esp ec ial d e ação
no mínimo, semanas. a v ós, pai s, v elhos conh eci d os e out r os que têm recordações do passado nos tem
8. Histórias de família: Quantos relat os m i st er iosos nosso s
t asm as, v am p iros, brux as , demô nios, casa s assom b r ad a s, lu gare s malditos, antepassados lendários, feiticeiros... Os adultos
contado? Espíritos, fan á -la s d e n ov o; recop ile-as se puder. É certo que muitas dessas histórias são
essa s h i st ór ias. L embr e-as , ou p rocu re escut
adoram assustar as crianças com q u e impo r t a é que a histó r i a seja boa, que possamos utilizá-las como ponto de
a vós , mas isso nã o i mpor ta. O
apenas o produto da imaginação de nossos a lend a . Você pode estud ar esses relat os, deixando que te arrastem lentamente a
j a a lg o d e v erda d e em to d a
partida para nossa campanha. Pode ser que ha o h istór ic o, regressando ao passado. Depois de tudo, não se trata de uma histó
ria
bu sc and o suas raí z es, inves tiga n do o s detal hes e o con t ex t
suas profundezas,
antepassados? Que fizeram? E você mesmo, quem é?
qualquer. É a sua história, suas raízes. Quem eram realmente seus r es. Tud o ao no sso redor parece tedioso e indigno de menção. Mas vejamos por
9. Paisagens: Outro elem en to i mpor tante é a desc r ição dos luga
con h ec e os loca is que faze m pa r te de nossa r ot i n a. Par a ele, n osso bairro poderia tornar-se até exótico.
outro ponto de vista: nosso destinatário n ão
em u m dist r i to d e b locos pav i m en tados , “tr an qü ilos” e d e m á f am a, com um bosque no horizonte, visível das janelas que
Eu, por exemplo, vivo ezas u ma t umba d e an tes da Primeira Guerra Mundial. Há uns dez anos, tivemos
am os c r ian ças, en c ontr a mos nas suas p rofu n d
dão para o sul. Quando ér oz e e v in t e a n im a is c ad a uma, famintos e agressivos. Poderia continuar falando de tudo eros isto
problemas com umas mat i lh as de cães selv agen s, c om en tre d s inúm
tem p o, fazen d o uma lista de m u ita s c oi sas das quai s a maio r ia dos habitantes do lugar nem sequer reparam. E este é apenas um do
durante muito
ordinários e cinzentos bairros. qu e viv a p r óxim o ao mar, nas mont anha s, em um bosque, perto da fronteira
Para mim seria uma experiência inc r í vel ler c a rtas d e algu ém
de qu alqu er out r a cid a de, gr an de ou pequ ena, c a da um t em seu próprio espírito; todas são distintas e merecem
oriental ou do distrito dos lagos. E também vei t ar do p otenc ial d o lug ar ond e mora , se do porto vier um estranho odor ou se escuta um
ser descritas. Todas guardam segredo s. Só o au tor po d e se apro
se os bêba d os con t am est r an h as h istór i as nas r uas d o por to ou se o carteiro teve que passar por dourados campos de milho
estranho chamado vindo do mar;
car tas, c am p o s que de n oi t e f or am var r i d os p or m i sterio sos f og o s f á tuos, então, nosso país tão familiar se converteria sem dúvida em uma
para recolher nossas
terra tão cheia de segredos como a Nova Inglaterra de Lovecraft. or m ai s, mas que podem ser exóticas para outras pessoas, e seria uma pena
não
Todo mund o vive rod ead os d e c oi sas que lhe p arece m c om uns, n
tentar aproveitar isso. jogo seja focada nos atos de escrever e ler cartas, nele também cabem as outras
10. Tema s tirad os d os livr o s d oi s e três: Ain d a qu e a mai o ria do
formas de psicodrama além da correspondência. d o, irão pr ecisar dos outros livros que formam De Profundis, sobre os quai s
Se os jogadores quer em ser abso rvido s c ompl et am ente por o u t ro mun e reduz ir-
ivo deles é p reenc h er du as lacu n as d a v ida do j ogado r: os momentos de solidão e de viagem. Jogar De Profundis não devqu
logo lhe falarei . O obj et
se esc r evem a s c artas , porq ue se assi m for, est as se torna m força das, perdendo grande parte de sua alidade,
se aos momentos de concentração nos quais qu e ocor re a um pi n tor senta do fr e nte a uma tela em branco, que pode sentir de repente um
autenticidade e atmosfera. Esta síndro me pode ser simil ar ao
inspi raç ão p er d i d a. A lg o lhe par ali sa. A s sim p oi s, quan d o você sentar para escrever uma carta, deve ter uma idéia clara
vazio em sua cabeça, toda sua n ão por q ue seja nos sa v ez e nos caiba escrever algo, e sim porque temos algo importante par a
sobre o que vai pôr nela . E sc r ev emo s nossa s Car tas d o Abis mo er uma
c io nais, d esc ober tas, aven tu r as, exper i ên ci a s. E m out r a s pala vras, De Profundis não deveria começar quando vamos escroevque nos
dizer, notícias sensa parte d e n os sas m en t es est am os jogando, observando nossa realidade,
e em c ad a m omen to, com a lgum a
carta, e sim muito antes. Cada dia, quas n dis n os p rop or c ion a. J og am o s en q uanto caminhamos por uma rua, quando subimos em um
rodeia, de uma forma especial atra v és das lente s qu e D e P r ofu
janel a, etc. Fala r ei m ais a r esp eito d i sso nas cart a s que trata rã o dos dois livros restantes. Mas, ainda assim, é bom que você
ônibus, quando olhamos pela
os em nossa s c ar tas esta r á volta d o pri n cipa lm ent e p ara essas duas formas de psicodrama cartas, mesmo que a primeira seja a maiss
saiba que o que tratar em e log o após , com as m odi ficações apropriadas, descrevemos em nossa
en t am ; nela s, ex p erim ent am os o qu
importante para o jogo. As outras duas a alim ões gr an des. Voc ê p assa t a rdes i n teir as t ran c ado em sua casa, com chá quente e folhas de papel
cartas. Muitas vezes nem sequer teremos qu e f azer mod i f ic aç
av en turas , v i si ta bi bliot ecas, de d entr o do ônib u s v ê c asa s d e aspec to tenebroso e lugares estranhos... Está jogando De
diante de si para ler, escreve suas t en t ar m os o lhá - la sob o p rism a adequado, escolheremos corretamente os detalhes e logo ose
Profundis. Se fizermos um b om u so de no ssa r ealid ad e, se
e m istur a d os d a man ei r a p er f ei t a ), o bten d o algo que n ão p od eríamos ter simplesmente inventado. Sentados em frente à mesa
descrevemos (modificad os
ai s nos o corre ri am sem elh an tes cen a s, lu g ares, t r am a s e at m osfer as. As coisas sobre as quais escrevemos
imaginando sobre o que poderíamos escrever, jam
devem surpreender e cativar tanto aos outros quanto a nós mesmos. jog ar d e uma m aneir a mai s sutil . Por exemplo, poderíamos corresponder-nos
11. Cartas normais: Em algum moment o d a p a rti d a aind a p od emos
out r a p essoa du r an t e algu m temp o, p ara que mais t a rde alg u ma coisa possa ser ligada com o que foi dito no
de uma maneira completamente normal co m
o h or ror . M as devem os nos esf or ç ar o su ficie n te com essa corr esp ondência para que a mesma se torne interessante, nos
passado e então nascerá lentamente ca r t a s. En c ontra r u ma bo a r a z ão para trocar esse tipo de carta, uma capaz de convencer o
absorva e tenha algo em comu m com a a tm o sfera das outra s
ito bem elaboradas e ter uma carga intuitiva razoável.
outro jogador, será um trabalho árduo. Essas cartas deverão ser mu e m deter m inad as c artas ou campanhas encontraremos elementos que podemos
Está claro que esta divis ã o é ap en a s u m a conv en iên c ia , e que
categ or ias, e em mui tas ou tras. Assi m com o p o der iam est a r lhe ocorrendo idéias que nem sequer foram mencionadas até agora. oSea
enquadrar em todas estas mei
en d o v oc ê po d er ia anotá -las e m e man d ar por c ar ta? Ou melh or, não faça isso; assim você terá algo com o que me surpreender em
isso estiver acontec
uma campanha de De Profundis. as , com a inten çã o d e criar um a a tmos fer a similar à da obra de Lovecraft, que
Ao procurar estabelecer um tema apropr i ad o para n ossas pa r tid
É m uito m ai s f ácil apr ov ei tar sua obr a p ara De pro f undi s que para uma partida de RPG, que tem bases
melhor lugar para tirar idéias que seus liv ros?
t e, não t er emo s por q ue basea r n ossa s car t as só em HP L. Pod emos fazer uso d qualquer tipo de terror, ou ainda de
diferentes da literatura. Naturalmen
obras não relacionadas a ele. ar a s idéia s. Per d oe-M e; u ltimamente estive escrevendo como uma máquina, sem
Ufa! Escrevi tanto que n ã o estou t e d ando t empo p ara acom p an h
n h ã cedo , m e sen t o par a esc r ev er imedi atam en t e e não p a ro até que a noite esteja bem adiantada. Trabalho
parar nem para respirar. Levanto-me de ma
pouc o ag or a. Ah, sim: como f oi o solst ício de ver ão? Bom , esper o haver lhe dado algo para pensar. Até
melhor na escuridão; uma pena que esta dure tão
a próxima.
Realismo e clima antes2 julhdeo detu199do9
a de todos os artif ícios qu e usáv a mos em n ossas p rim ei ras p art i da s de jogos de terror? Aquelas folhas datilografadas, e os diários?
Você se lembr r o m i stér io e o terror, quando nem sequer sabíamos o que era um jogo
os, o s q u e f azía mos ap en as par a ler m a is tar d e e senti
Ou ainda os outros, mais antig
de RPG e só jogávamos O Labirinto da Morte e o Atari. pare cesse m r ea is; não no s pr eo cup ava seu estilo ou ortografia. Só uma coisa
Fazíamos esses documentos e man u scrito s com a in tençã o d e q ue
os qu a is Love craf t escre via , e sen tir que nosso mund o já n ã o er a mais cinzento, nem comum, nem
importava: o clima! Pegar um desses diários sobre
mundano... Sim, bons tempos aqueles... bra daqu ele misté ri o d a imaginação que transforma nosso mundo em um reino
Disso se trata De P r ofu n dis; exata m ente d isso. Sab ia? Lem
seg u ir um a atmo sf er a op resso r a de reali sm o, oc ulta em n osso mundo. Nossas cartas têm que conseguir que o
mágico? O propósito deste jogo é c on a passo, carta a carta. O realismo e a
v erda d e. Vam os-l h e prep a rand o par a isso d e fo r ma g radu al, p asso
destinatário creia que tudo o que escrevemos é vemo s obrig ados a sacrificar um pelo outro, e vice-versa. Mas de início, vamos
e mi stério n em semp r e estão em conso nân c ia . Às vez es n os
atmosfera de terror an do v oc ê d escreve algo em sua carta, imagina que isto não é um jogo. Tente
ador de nossa s cart as seja o m á ximo reali smo. Qu
deixar que o critério norte an d o, ai n da q ue lh e dê trabalho. Coloque a sua imaginação para trabalhar,
o como se fosse algo r eal . I nsi st a ten t
imaginar tudo o que está escrevend ez d e r epen te voc ê se d ê c onta de que nem tudo o que escreveu parece tão real
q u e separ a o j ogo da reali d ade. Talv
esqueça-se do mundo. Atravesse a linha eira par a come ç ar t u do d e novo ; p ara saber a sensação que se tem ao escrever A
d e pa p el e a l a n ce na li x
como deveria. Talvez faça uma bola com a folha c om p a lavra s. De repente, já não estará escrevendo uma história; já não será
ade tã o t errív el e in c r í vel que não p od e e xpre ss ar -se
Verdade, uma Verd tenti c o mi st ério; só então terá criado uma autentica Carta do Abismo, uma que
á mate riali zar no pape l o autên t ico terro r, o a u
literatura. Só então poder som br a s o u a m a rca de uma garra, e fazê-lo de maneira que nosso leitor sinta
t ará. É m elh or escre v er sobre algu m a s
todo mundo, sem exceções, acredi arece r hist ór ias c omun s. N ão se trata de escrever uma boa história ou jogar uma
e cen as espet acul ares faze ndo p
calafrios, que descrever terríveis aventuras s d a r eali d ad e. Temo s que prest ar atenç ão aos mínimos detalhes. Estas são as
a q ue separ a o que escre vemo
partida interessante; trata-se de transpor a linh desca m band o para o artificial, o burlesco, largue a caneta e vá fazer outra
P r ofu n dis. Q uand o não pud er mais con t in uar e est i ver
únicas regras em De a hora . Leia e esc ute com atenção as histórias reais que as pessoas contam; preste
u tr o dia, ou no m esmo di a, p orém não n a mesm
coisa. Poderá continuar no o o ex t raor d in á rio ou i n críve l. Faça o mesmo com as histórias contadas por seus
o à s vezes as pesso as t en t am expli car alg
atenção principalmente na forma com ec ra f t , lei a a h ist ória de Z adok Allen em A Sombra Sobre Innsmouth. Está
tir um gosti n h o d o estilo de L ov
avós sobre a época deles. Depois, para sen er á rio, e si m g rosse iro, ai nda q ue rela tivamente realista; um tremendo contraste
u idad a d a rua. N ão é li t
escrita de maneira coloquial, na linguagem desc
com o resto da história. ço par a c onve r sa s a lheias a partida; nada de comentários em “off ”, como nas
Creio que você já sabe qu e n as Car t as d o A bi sm o não há esp a
sessões de O Chamado de Cthulhu? d a pr i meir a a últ i m a pala vra, incluindo as possíveis manchas de café ou as
A carta deve manter -se fiel à am bi entaç ã o do p rin c í p io ao f im;
marcas de dobragem. er p ret ar a lgué m que não vai crer em nada que não tenha visto ou tocado, tem que
Nas resta trata r do pape l dos cétic os. Se alg um joga d or que r in t
a atmo sfera qu e os dema is est ão c r iand o. Até um “não -cre nte” pode ser interpretado de forma que contribua para o realismo
ter cuidado para não arruinar t e, c omo oc or r e às vez es c om aqueles que jogam RPG pela primeira vez. Está
da seção e nã o u m mero coa d ju v an
da partida, se tornando um protagonista i nsist e em n eg ar o m i stério e luta contr a A Verdade até finalmente sucumbir, a
e p ercep ção. Qua n d o o c ét i co
claro que é uma simples questão de intuição faz er chili ques fáceis ou comentários importunos, será uma chatice.
r- se m ar a vilh osa . Mas se o jogad o r d e cétic o se limit a a
partida pode torna toda a parti da porq ue pensava que causaria uma boa impressão com sua “atitude
Pode ser que voc ê se lem br e d o i diot a d o Max , sorr i ndo dur a nt e
E ag or a lemb ra a excel ent e in terp r etaçã o de M ic hal quan do int erpretava o Sr. Gabriel, um ancião que não acreditava
adulta”, indiferença e cinismo.
c ontinu a v a sendo racio nal e c ét i co m esmo q uan d o estav a di a nt e de fenômenos claramente paranormais?
em na da e
e, mas cada v ez que o f aç o v olt o rapid a ment e par a escre v er . Sem dúvida, creio que vou parar por hoje. Vou
Tenho podido sair pouco ultimament As gotas de chuva estão golpeando o vão da porta. O brilhante disco
a tabel a p ara o c ap ítulo de ar quét i pos. São d uas d a m a dru g ad a .
apenas terminar um n ão d u rma h oje. Tenho muitas idéias, e falta muito para amanhecer.
su spens o no céu azul esc u ro d a noi t e. Talv ez eu
da lua aparece e desaparece
Interação
9 de julho de 1999

ir eu m esm o a Bru d nice par a t est ar su a teor ia qu e p ermi tir qu e você se aventure dessa maneira. Não
Não! Nem se você quiser ir lá! Prefi ro
e eu t enho alg uns p aren tes ali. T ampo uco v oc ê c on h ec e os bo sq ues; nem sequer pode imaginar sua imensa extensão e como é fácil se
conheces nada do vilarejo o d etalh a d amen t e, t ão logo melhore o tempo e volte o verão. Porque no momento
et o - lhe qu e i rei e t e esc r ev er ei expli c and o tud
perder neles para sempre. Prom f azer f ri o e c om e ça a c h ov er. Como passou pela sua cabeça uma visita ao campo
-dia , m as log o c om eça a v en tar e
aqui faz calor do amanhecer até o meio radá v el bri sa t em p erad a , um p ouc o de sol; sem calor em demasia, nem tampouco
o t em p o que f a z ag or a: uma ag
com esse tempo? Se ao menos sempre fizesse
ais provável é que amanhã volte a chover.
frio. E essas preciosas nuvens brilhantes sobre o céu azul. Mas o m is. A int er a ç ão é muito importante. Você já sabe onde está o problema não é?
Estou escreven do u m c a p í tu lo sobr e a i nter aç ão em D e P r of u n d
cod r am a p or corr esp on d ênc i a se jog a entr e d uas per son ag en s (o u mais), e que ambas devem tomar parte na criação da
Não podemos esquecer que o p si
r ev em os n ão d ev e ser um si m p les recep t or p a ssivo de no ssas i déias , alguém que reproduzirá nossas histórias. Devemos
aventura. A personagem para quem esc d ades e av e nt ur as, i g n or an d o o qu e o outro haja mencionado. Jogar com pessoas
en as sobre suas p róp r ias ativi
evitar essa situação em que ambos escrevam ap ac aba sen do abolido. Devemos criar a história juntos; nossas cartas devem estar
tor nar á abor r ec edor, p er d e o sent i d o e p or fi m o c on t at o
tão egoístas logo se do psic od r a ma. São importantes tanto as perguntas quanto as respostas. Você
ci an d o e d a nd o f o r ma às d o out r o . Isso é a a lma
relacionadas entre si, influen en cher su a s c ar t as d e “ Vou a... Tenho... Posso...”. Responder às questões
r espon d en t e e su as exp er i ên cias, e n ão
deve mostrar interesse por seu cor
o quanto o usado para propor as suas.
propostas pelo outro em sua carta deveria levar, ao menos, tanto espaç mais provável é que sejam assumidos papéis de jogador ativo e passivo, de maneira
Apesar de tudo, cada vez que se realiza uma troca de cartas, o es e
t e. É m ai s ou m en os a ssi m, d u rante um a fa se da p art i da u m d o s jogadores relata suas aventuras, da intensificação de suas atividad
mais ou menos eviden ad or q ue r elax a sse um pouco sua correspondência e assumisse o papel de uma
t os, ser i a mui t o a má vel p or p a r t e d o out r o jog
de seus estranhos acontecimen r sit uaç ões a r t if i c ia i s on de, por exemplo, um jogador descreve como as forças do
Isso se d ev e a o f at o d e n ão quer er m os cria
espécie de confidente do primeiro. o v er - se a seu r ed or , e r ec ebe com o reposta uma dose similar de horror, na qual,
em , as somb ras n ão dei x am de m
mal estão cercando sua casa, pessoas morr ca sa desd e qu e tr o u xe uma mi st eriosa estatueta do Iraque. Uma história que
que alg o se in stalou em sua
por outro exemplo, um assustado arqueólogo diz er a ap e nas um dos jogadores. Enquanto isso, o outro jogador levará uma vida
estr an h os e aven tu r as se rá mui t o m ai s r eali sta se o corr
possua acontecimentos s, in v estig ar á os detalhes, dará conselhos, fará comentários, perguntará e
r á mui t o t em p o p en san d o, v er i fi c an do data
tranqüila: lerá livros, passa v en h a n a tram a d e seu cor respondente, começando a trabalhar em sua casa com
cime n t os, et c . O u pode ser qu e in t er
responderá, compartilhará seus conhe es seu s e send o o p rot ag on i sta d os mesm os a partir de então. Mas isso terá que ser
nad o em sua c ar t a, f azen d o -lh
alguns dos detalhes que o outro haja mencio ze e sur jam c on t r ad i ções. O jog ado r passivo pode escrever sobre todas as suas
alg uém c om et er alg um d esli
feito com muito cuidado, para que não ocorra de d o o jog a dor ativo frear seu ritmo, o outro poderá acelerar.
d ev e ev i t ar qu e i nc luam m u i ta aç ão. A ssi m , quan
experiências; simplesmente, m esmo ; talv ez su gest ione ao outro jogador uma trama, negue os acontecimentos,
d o c om d ezen as d e tr u ques e t át i c as ag o r a
Sua cabeça deve estar se enchen nhar as av en t ur as de um único jogador. Esse tipo de truque, e muitíssimos
nvest i g ad o, atra i a os out r os p ara a c ompa
discuta, forneça um caso para ser i o são n o p si cod r a ma p ad r ão. P or hor a, vou escrevendo os que me ocorrem em meu
ut ili zado s aqui assi m c o mo
outros, que esperam ser descobertos, podem ser
s a jogar.
bloco de notas. Prepare-se para algo muito especial quando começarmo
O Ritmo
21 de julho de 1999

se nad a além d e esc rever D e P r of und is. Nã o é r aci onal no senti do que nós humanos damos a palavra. É
Esta Coisa já não me deixa fazer qua reensível. E devo escrever. Não sei porque, mas me deixa colocar
Uma f or m a d e int elec t o inc ri velm en te desen v olvi d a, ma s i n comp
estranha, alienígena. sejam favor áv eis, d e qualquer maneira. Antes de tudo quer que eu termine o
ia n as en trelin h as. P r ovav elm ente est a s lhe
algumas palavras de advertênc
ecr iar co m p letam ente o li vro d o E r emit a. Mas , o qu e ac ontecerá quando eu acabar? Quanto tempo me resta?
traba lho de r
O temp o passa sem com p aixã o. Faz m eses q ue fi qu ei obc ec ad o pela imagem de um jogo saído de um sonho e
Não posso deixar de pensar nisso. A s suces siva s c ar tas vão revel ando mais e mais acontecimentos da
d e um a c am p an h a é p ar ec ido co m isso.
comecei a escrever. E em De Profundis, o ritmo P G s ão os lon gos intervalos de tempo. Em uma carta mencionamos algo, na
di fer en ça im p ort an t e ent r e ele e um jog o d e R
vida do personagem. Uma o men t al d o per sonag em; outra acrescenta, todavia mais acontecimentos, etc. A
is e uma interp r et aç ã o, m o di f i cando o esta d
seguinte acrescentamos algo ma tr am a, criam os situa ç õ es para nossas cartas, comporemos de forma planejada
olv em os os diver sos aspec t os d e nossa
ação vai se revelando lentamente desenv r ados e em solid ão. Cr i am os a trama mediante um lento e longo processo de
lar n o s pr o po r c iona , c on c ent
uma série de temas que o abrigo de nosso u rante mese s. Isso faz com que tudo se torne muito diferente de um jogo de RPG
ci as próp rias e t ran sforma ç ões da ment e, plan ejan d o d
investigação, experiên
normal.
nt a nos, ofídi c a e su ssurr a n te, jog a com igo ex at am en t e d essa m anei ra. Vai embora para logo voltar, mais forte, e quando
E esta loucura dos pâ qu e acab ar qu eimarei tudo, e nada se entenderá disso. O que você
mu d a de figu r a . O qu e ela n ão sabe é qu e a ssim
penso que o final se aproxima... Tudo a p odero sa voz, m as esc ond o m eus autênticos pensamentos atrás da nevoa escura,
o. E u esc revo, obed ecen do
tem é apenas uma parte do jogo; um mero esboç
formada pelas verdades, mentiras e ficções, que compõe De Profundis. ncas ou de um azul esverdeado. Às vezes, uma nuvem cinza de tempestade. Você
O céu está manchado; as manchas são brilhantes, aquosas, bra
me entende?
A Conspiração9
31 de julho de 199

in ic ie um súbi to a g uace ir o, c om eça a sop rar um fort e ven to que lança folhas e terra por todas as partes.
Que calor! E que ar quente. Antes que
As tempestades são breves, passageiras. ais deles p rovav elme n te começará a te escrever em breve. Ah, e eu gostaria de
Dei o seu endereço a v ár i os d e m eus jog ad or es, en t ão um ou m
tr oc a d e en der eç os entr e o s jogad ores da Red e em D e P rof u n di s. Primeiro, tem que acontecer no contexto da partida,
descrever como são as regras acerca da u m d os jog ad or es estej a pr oc u r a nd o uma informação especifica sobre a cultura do
ivo váli d o. Se, p o r ex emp lo,
e não pode ser em vão, é preciso haver um mot t as as a p r esen t aç ões ad equa d as. Com u n ique por carta o seu primeiro colega que
or , t alv ez d ev am ser f ei
Antigo Egito, e outro é um arqueólogo ou historiad p ar t ic u la r; que há alguém que pode saber ou pode ter experimentado algo
ovavelm en te lh e p ossa a j ud ar c om esse p robl ema em
conhece alguém que pr eça d e seu en d er eç o postal. Sim, em segundo plano estão os endereços. Como
ev a seu n om e, um a br ev e d escri ç ã o e nã o esqu
relacionado com o tema. Escr ã o difer ent es d o n om e e e nd e reço do personagem interpretado. É uma espécie de
d o jo g ad or qu e v oc ê vai esc r ev er ser
você já percebeu, o nome e o endereço e v ár ias Soc ied ad es usam p seu d ôn i mos e endereços falsos quando manipulam seu
m u n d o, os c or resp on den tes d
conspiração. Escondidos, ocultos por todo o
ecem as verdadeiras identidades dos demais.
correio. Os ignorantes nunca se dão conta, mas os conspiradores conh contato gradual com os integrantes, primeiro só com um, que logo pode nos
Uma das formas de entrar na grande Rede é ir fazendo um t er cui d ado para não misturar os dois períodos de jogo, dando a um
n os r eco m e n da r . Qua n do r ec om en d ar em -n os, devem os
recomendar outros; ou a outros
séc. XX!
personagem contemporâneo o endereço de um que viveu no principio do o tempo. Foi embora, aceitando o convite de alguém com quem havia trocado
Só mais uma coisa: um de meus colegas desapareceu faz pouc o com ele. Assim você precisa ter muito cuidado. Isso não é um RP
G
um out ro jogad or, e ai n da nã o v olt ou. N ão t emo s nen h um contat
algumas cartas, alg
ao vivo. Leve essa recomendação bem a sério.
nal
A Metamorfose9 ede agoostoFide 199 9

t em est a do c h o v end o c on st antem en t e e est á v en t an d o u m p ouc o. Acha que isso é o verão? Um pouco de
Úmido e cinza, como todos os dias. Hoje P r o f undis se espalha. A escuridão, a chuva e a depressão também
e g ea das pela ma nh ã e p ela n oi t e. A p r a g a qu e traz De
sol pálido ao meio-dia nsf or m ou- se em ou t ra pessoa. Tenho medo. E tudo começou como um interessante
d e Grz eg or z? Grz egor z j á n ão ex i ste. T r a
contribuem muito. Lembra-te d e M a r c i n, o q ue se f oi ? Escrevi sobre ele em minha última carta. Bom, pois
aram o v en eno e a louc ur a ? Lem br a
jogo. Onde está o espinho do qual sug agor a v i v em em u m m und o di f er ente; um mundo que nós não podemos ver.
são un s est r a nhos . Sor rid en tes,
voltou. Mas não é o mesmo. Está mudado, o jog o par a tod o per son ag em . Love craf t escrevia muito sobre isso. Pickman, o
Sim. A metamorfose, a transformação i n ter i or , é a essên c i a d
vai muda nd o p ouco a p ouc o e f i n alme n t e se t rans f or m a em um p ara seguir o mistério até o fundo, para cruzar a última linha que
pintor de Carniçais, que os nen h um d ad o s u bst ancial. Arthur Jernyn e seu obsessivo interesse por uma
an R omer o, sobre c uj a m et am or f ose não tem
nos separa do desconhecido. Ju ig u a nd o os m ai or es mist ér ios d a realidade. Joe Slater, escalando as proibidas
a N egr a. Ran d olp h Car t er , av er
antiga civilização das selvas da Áfric O d esc end en t e do s M arsh d e I nn smo uth, ao descobrir seu terrível legado. Todos
h os mo r r er am em um só d i a.
muralhas de sonhos. Iranon, cujos preciosos son
s transformações acabaram em morte.
sofreram estranhas e horríveis transformações. Para muitos deles, tai Prof u n d i s, a mort e de um personagem merece um lugar especial, particular. É
A morte. Outro t ema ao q ual L ov ec r aft d av a ên f ase. Em D e
al izar nossa c ampa nha; um ex t r ao r di n ár io f i nal n o clí m ax d o hor ror, rodeado de eventos blasfemos. Mas antes de tudo,
uma das formas que temos de fin não t em n ad a a v er c om o f r ac asso. Há de ser uma despedida em grande estilo,
n dis a mo r t e é uma p ar te do jogo e
você tem que entender que em De Profu a da f i na l, m er ec ed or a d a h on r a de c or oar nossa longa aventura. Deve, de certo
st ó r ias de L ov ec r aft . A jog
com classe suficiente para estar à altura das hi de ar t e. T enho uma série de idéias para a última carta. Aqui têm algumas:
istór i a q ue p assam os m eses a c r i a r . D ev e ser um a obr a
modo, completar a h i leg í v ei s, d e calig rafia grosseira, carregadas de medo, esperando o final, os
- Uma carta ho r ror iz ad a: as últ im as an ot aç ões, p r atic a men t e
se T r a ta d e u m di ári o ou um c ad er n o de v i ag em p od e ser esc r it o até o final, incluindo a última frase cortada e a última
últimos fios de racionalidade. Se em tese, ela precisa ser enviada de alguma maneira.
ód ica . Se se t rat a de um a c arta , d ev em os lev ar em c onta que ,
linha espas m
d e se i r f az er algo ext r ema men te p er i g oso , en qu an t o se enc on tr a ag uardando o inesperado, antes de deixar
- Uma carta de despedida escrita antes
uir.
nosso mundo (como aconteceu com Carter), ou antes, de se autodestr de m o do que o c on texto das últimas cartas permita ao outro imaginar o motivo do
- Uma ruptura: r om p er de rep en t e o f lux o d e co r resp ond ênc i a,
e tud o se t orne um c om p let o m i st ér io : d ev olv en d o as c art as env iada s a um personagem que tenha deixado de existir, ou
silencio. Você ainda pode fazer com qu
ém é p os sí v el volt ar a escre v er depo i s d e um lon g o p er íodo de silen cio, descrevendo porque não lhe foi permitido
mandando uma notificação chocante. Tamb
a de como isso pode ser feito).
responder (leia a história Um Sussurro nas Trevas para ter uma idéi i m as p á g i n as podem ter sido arrancadas e tudo o que pode ser lido são umas
- Páginas ar r a nc ad as: som en te p ara d i ár i os e c a dern os. As últ
palavras incompletas nos restos que sobraram. a. N essas ú lt im as c art as é tão importante o conteúdo como o estilo. Devem ser
O que me diz? Parece-m e que v oc ê f ar i a isso de ou t ra m aneir
tor i n t eli g en te possa p er c eber uma mud an ça n o a u t o r , d et ec tar que algo não vai bem, por sua caligrafia, pelas
perfeitas até o último detalhe, para que o lei oc ê p o de ut i li zar lápi s, j á qu e, a o c ontr ário de uma pena, as palavras escritas
as esc r i tas a o ar li vr e v
palavras que use, múltiplos motivos. Para as cart
continuarão sendo legíveis quando se molhem. ez que ir am os ev i t ar experiências drásticas demais, especialmente a morte. Tudo
Só uma coisa a mai s: q uan do i nt erp r et am os a n ós m esm os, t alv
deve m os ser m od er ad os. Por out r o lad o, quan do in ter pr etam os a um personagem inventado, fictício, podemos nos
bem que é só ficção e literatura, mas
ente a quem as leia.
permitir tudo, preparando situações e confissões que afetem incrivelm
Encomendas, diários e co21isadesagostdoo de t199ipo9
i o. M as, é r ealm en t e f i cç ão ? Com eç o a duv i d ar . Cad a v ez tor n a-se mais difícil diferenciar as cartas
Recebi outra carta; ou melhor, um diár m p or taria de maneira alguma que nossa realidade fosse em verdade tão
t eri or d e n ossas men t es, d as que pr ov em d o mun do r eal. N ão i
fictícias, que vem do in as ser i a m ex a tam ent e iguais então. Todas seriam Cartas do Abismo.
emo s n as c ar t as do j ogo. Os d oi s t ip os de cart
similar ao pesadelo que descrev em qualquer outro momento o calor é abrasador.
Faz sol, calor, falta ar. Só a noite se pode esperar uma tempestade; etc; regras que se aplicam à correspondência entre duas pessoas. Mas
artas,
Tenho escrito muito sobre coisas como a interação, a estrutura das c esc olh er j og ar soli t ar i am en t e, c om um personagem alheio ao mundo;
jog a r D e Prof u n dis. Voc ê pode
devo salientar que esta não é a única maneira de so b a i nf luen c ia de experiências e acontecimentos muito especiais se decidiria a
nen hum ti po d e cor r esp o nd ênc i a. Q u e som ente
alguém que não mantenha i nter essad o, um c eg o tentando se comunicar. Este tipo de cartas de eremitas são
en d o su a s co nf issões a alg uém pot enc ialm ente
mandar uma ou mais cartas cont n ão esp er am r esp o s t a . Algu ém recluso e aterrorizado manda suas cartas da
e d e d i ári os p ar a os q uai s os aut or es
principalmente monólogos; uma espéci an do a j ud a. M as essas c ar t as dev em ser interessantes o bastante para que os
as c om men sag en s ao m ar , busc
mesma maneira que um náufrago atira garraf men to c om o est e, on de n ão esp er am os obter uma resposta, podemos escrever um
et c . Com u m ex p eri
outros jogadores queiram lê-las, levá-las em conta,
endereço fictício ou até mesmo mandar a carta de forma anônima. d iá r i o, que t a lv e z mai s tarde enviemos a alguém junto como alguma informação
Outra modificação op c i on al p a r a De P r of u n d is é escr ev er um
om o ma nd am o s c ân on es d o h or ror , u m g r osso c ad er n o r ep let o d e texto, único, de que só exista um exemplar, um
importante. Um diário escrito à mão, c t os t r uque s e téc ni c as i n t er essan t es n el e; por exemplo, páginas arrancadas, como
o r ec ebe. Pod e m os usar mui
tesouro de valor incalculável para a pessoa que tad a. Ou poderíamos incluir desenhos, muito mais que nas cartas, se é que vo

com seu inc r ív el cad er n o de v i agem a uma c asa enc an
ocorreu daquela vez a. Ir r a di a u m a magia e atmosfera incomparáveis. Ao mesmo tempo, se pode
m anus c r it o assi m é m u it o m ai s que u m a h i st óri
inclui algum nelas. Um u rante a lg u m t empo : p eq uen as obras (cartas pintadas com esmero, por exemplo)
tísti ca que evolu i u at r avés dos c or r ei os d
enquadrar em uma nova corrente ar in at ár i o v erá o t raba lh o e esf or ç o que empreendidos na obra; ninguém verá os
ez n i n g uém ma i s a lém do d est
criadas tendo em mente uma só pessoa. Talv con t rast a en or m emen t e com a ten d ênc ia moderna à pseudo-arte de massas, que
par a c om essa p essoa ! N ão
resultados. Isso sim que é mostrar nosso respeito
não é nada além de um produto a venda? q ue, g er alm en te, uma carta é mais curta que um diário e requer menos esforço.
Por suposição, isso t ambém se a p li ca a o esc r ever a s c ar tas, a in d a
od em c om o f ar o d e suas m ag n íf i c as i déias só c h eg a r em a u m d est i na tário específico. Pode ser que então escolham copiar
Pode ser que alguns jogadores se incom essoa s, fazen do -se leves m od i fi caç ões para que cada carta se torne apropriada a
pod e ser m an d ar p ar a vár i as p
a carta. A mesma idéia, história ou missiva t ex t o do r est o de no ssas c ar tas p a r a essa pessoa, mas isso não deveria ser um
est ar enqu ad rad a n o con
seu destinatário. Pois cada correspondência deve
e iguais, a alguns amigos.
problema. Podemos mandar cópias quase idênticas, mas não exatament s, e não devemos esquecer das encomendas postais! Mandar uma encomenda é
E já que falamos de técnicas alternativas para De Profundi p lo, uma p ed r a r ara, uma misteriosa estatueta, um velho tomo ou um
ser el etr i zant e. Se den t r o c oloc ar m os, p or ex em
relativamente barato, e o efeito pode an do algu n s d et alh es, i m ag in e o c li ma que criaremos! Naturalmente, em nossas
ar t a r ef er en t e ao obj et o e ap on t
frasco com um pó estranho, incluindo uma c de jorna i s ou fo t og r afias . Ult i m am ent e, os cães ladram muito e muito alto.
or es, c omo r ec or tes
cartas normais também podemos incluir objetos men
a acontecerão coisas estranhas.
Aproxima-se uma festa pagã: uma homenagem a Diana. Com certez
Guarde as cadrte 199as!9
31 de agosto

úmi d os, mas eu est ou est ranh amen te f eli z, c om o se o q ue a con t ec eu a meu redor não me tivesse afetado. As
Os dias voltaram a ser frios, escuros e e li teralmente infernal. Os trovões ressoavam constantemente e raios
Uma tem pest ad e in ferna l c ast i gou a c ida de à n oi te; h or r ív el
ruas estão encharcadas. ar as c or ti nas d os edi fícios. Houve um momento em que acreditei que nunca
c huv a e o v en to q uase c on seg u ir a m ar ranc
brilhantes cortavam o céu. A -se ver o d ano q ue fez. E eu estou sentado em minha mesa, revisando cartas.
t rês hor as. A gor a, à lu z d o d ia, pode
terminaria. A pior parte durou umas E, entretanto não terminamos.
Bem. Nossas correspondências já produziram um bom monte de cartas.
Que acontecerá quando o fizermos? Bom, aí as cartas continuam.
is!
Nunca se desfaça de nenhuma carta escrita para De Profundis. E ma
mandá-las.
Tente copiar, de alguma maneira, as cartas que você escreve antes de os out r os jog ad or es escreverem. Para que? Para poder juntá-las,
d ên ci a, ta nt o as suas ca r t as qu an t o as qu e
Precisará de toda a correspon t i ana , c ar reg ad a de at mosfera, longa e complexa... Poderíamos
r eali st a c omp l e ta! A t er r a dora , lo v ecraf
construindo um texto longo; uma história hiper u tores, com p ost a p or c ar tas sobre D e P rofundis. Só se tem que combiná-las em
a h i stór ia com v ár i os a
seguir acrescentando qualificações a esta lista. Um sem p re de d at ar corretamente cada carta. Isso nos permitirá organizá-las
um d os m ot i vos p elo q uai s d ev em os lem br ar - nos
um mesmo texto! Esse é
e a coleção se tornará quando terminarmos a campanha.
corretamente com facilidade. Sem mencionar a incrível recordação qu ormal. Quando mantemos uma troca regular de cartas com alguém, escrevemos
A cópia de cartas é uma prática freqüente na correspondência n p essoa , e out r a m an dam os pelo correio. Quando chega a resposta,
m a c ai x a, no esp aç o r eser v ad o p a ra essa
duas cópias de cada missiva. Pomos uma em u os a qu e ac abamos de receber. Desta forma controlamos a continuação de nossa
n ossa mem ór i a len d o nossa últ im a c ar t a, e só en t ão lem
primeiro refrescamos
adas, a que assuntos se fez referencia.
correspondência; podemos ver quais de nossas perguntas foram contest
Joguemos e componhamos histórias! sso mund o! A convi dare mos a estar entre a gente, entre as massas! E
a C oisa cresç a . A dei x arem os vi r par a o no
Joguemos, joguemos! Deixe que ar ão o mund o tod o, t o dos os lugares! Logo se fará um filme! Que a
s! Hav er á m ui t os ex em p lare s! A lca nç
então publicaremos uma coleção! De Profundi
se apodere do mundo inteiro!
loucura colha seus frutos! Que a loucura reptiliana de Nyarlathotep
Psicodramade desetembrcao de mp o
1999
11

t u do ac abad o? Talv ez tenha alca n ç ad o seu objet ivo e seg u ido seu caminho; estará agora com outra pessoa que tenha começado a
Já se foi. Ter á
lo?
jogador e o mantenha vivo? Ainda não te alcançou? Você pode senti- Pode-se sentir no ar como o inverno se aproxima. Ontem a noite voltava para
Pela manhã ainda faz sol, mas logo começa o frio e escurece. chem o horizonte de nossas sujas cidades. Quando se escuta com atenção o
tantas que en
casa. De repente escutei o guincho típico de uma fábrica; uma das cofonia de ruídos, sons dos que normalmente nós não percebemos. Fricções, zumbidos,
ca
que nas cidades chamamos silêncio, dá para perceber uma autêntica estranho nele; todos os dias podemos ouvir o eco dos rumores, os golpes surdos e os
a
rugidos, guinchos... O guincho de uma fábrica. Não havia nad uilômetros de distância. Nada estranho. Ou não? É possível que um ser procedente
q
barulhos que a cidade produz, tão fortes que nos alcançam ainda a Terra, este disfarçado nessa enorme fábrica? Talvez esse rugido que agita a cidade
a
de uma dimensão desconhecida, maior que qualquer animal do planet déssemos ver da nossa janela o lugar onde o mal se assenta? E se não podemos vê-lo
pu
provenha de sua garganta e não de simples suportes de metal. E se com banalidades amplamente aceitas que expliquem o propósito da cada edifício, de
porque nossos hábitos normais nos cegaram, porque estamos satisfeitos besta uiva com toda a força de sua voz e nunca lhe prestamos atenção. São apenas os
a
cada som produzido pela cidade? Encerrada em uma imensa sala,
ruídos da cidade.
Você quer tomar consciência desse outro mundo? o h o rizon t e. Encontre um edifício alto e observe sua cidade com
janel a e an ali se a v izi n h an ça com cui d ad o, at é
Sente-se junto a uma In n smou t h ou Rob ert Blake em O Assombro nas Trevas.
o m od o que Z a dok Alle n em A Som bra sobre
discernimento. Olhe e pense do mesm s, para poder ver a autêntica cara do mundo.
E, com a força da imaginação, coloque uma lente diante de seus olho
r cuidadosamente. Até que veja.
Depois, quando sair para dar um passeio ou uma volta, volte a olha n ossa percepção da realidade. Às vezes, a linha entre a realidade e
u e p rom et i que esc r ev eria sobre o m ist ér i o d a s len tes, que m udam
Faz tempo q de v er alg o que a maioria das pessoas não é capaz de perceber. E outras
inaçã o se con fund em . De v ez em qu an d o som os c ap a z es
as quimeras de nossa imag
então eles também podem reconhecer-nos.
vezes podemos ver, ou melhor, reconhecer, “àqueles que vêem”. E u m jog o d e RP G a alg uém que não o conheça e chocar -se contra um murro de
Você nunca sofreu a frust ra ç ão d e expli car a lg uma vez o que é
eios” na imag inaçã o. O qu e v oc ê est á qu er en d o d izer? Pesso a s se sentam ao redor de sua mesa e ao mesmo tempo
incompreensão? Há alguns “bloqu or? Mas v oc ês pode m ver essas co isas ou não? É muito difícil explicar a essência
Sem t ab u lei r o , sem com p utad
percorrem labirintos, bosques e cidades? n em c om nad a p arecid o. P ois se prep are para uma mudança de papéis, porque vou te
dos jogos de RPG a alguém que não esteja f a mi li ariza d o nem co m eles
m a f orm a de jogar di fer en te ao s jogo s d e R P G t r ad i c iona is; talve z diferente de qualquer outra coisa que você já tenha jogado.
explicar u
Refiro-me ao psicodrama de campo, para uma ou mais pessoas. e, tudo o que podemos ver. Uma rua. Um bairro. Um corredor em
e t abul ei ro. O tabu leiro é o mund o ao n osso r ed or , a r eali d ad
É um jogo d
parede. A vista de uma janela.
um sótão. O interior de um ônibus. Um quadro pendurado em uma bi n em. As so brep onha a realidade. Sobreponha como um fotógrafo sobreporia
Concentre-se e libere su as fanta si as n o m u n do. D ei x e qu e se c om
nt a gem. C ri e uma f ot om ontag e m da reali d ade c om bi nand o - a com sua imaginação. Jogue no tabuleiro que existe ao
dois “negativos” para criar uma fo tomo
su a ment e. Obs er ve. Jogu e, sint a e descr eva. Prov o ca um cho q ue entre o espaço-tempo real e a sua imaginação.
seu redor com as peças do interior de
Encontre a origem dos seus sonhos. Isso se chama Fantasmagoria.
cê ver e exper i m entar será m uito m ai s c hocan te q ue o qu e pode ria c riar só com a sua imaginação. Protegidos pelas paredes de nossos lares
O que vo vida di ária cinza aparecerão diante de seus olhos de forma completamente
r u m cená rio tão au tênti co. Ago r a, os detal hes d e nossa
jamais poderíamos cria
tangível e real, ao lado dos horrores que nascem de sua mente. sual i zá-lo m elh or. Mas à frente você começará a ter mais experiência com este
O efeito será leve no princ íp io, mas m a is adia n te d a rá p ara v i
m a que n os f am iliar i zamo s com os jog os de R PG. A f an t asm agor ia será mais vívida; se delineará de forma mais real no
novo tipo de sensação, da mesma f or
n os mo vem os t od o s os d i as. Gan har á mais ca lor , ser á mai s ta ngív el e profunda; e lançará âncora no que houver ao seu
tabuleiro de nosso mundo, no qual
redor.
a c asa depo is de u m a par ti d a d e R P G, p a ssam os próx imo a u m a boca de esgoto. A rua vazia, a amarelada
Lembra-se? Uma noite, voltand o a do esgoto se move e aparece um braço
m o co v as a n osso redor . A lgu ém d iz, “He i , im ag ine que a tamp
luz suave dos faróis, sombras tão profundas co
putrefato!”
ent e t odos o vi mos s air ! Si m , isso era ps icod r am a d e cam p o. E scu tar essa história não basta para senti-la, vivê-la. O fato é que para
E de rep a calça da no silencio da morte da noite, sentindo o vento frio no rosto,
ad o ali p resen te quan d o a c ont ec eu, e v ê- lo ! D e p é sobr e
senti-lo teríamos que ter est u m f rio brilh o, m ov en do-se com as ondas do oceano. Escutando o cantar dos
você , e a lu a at rás d as n uv ens br an cas, com
vendo o céu negro estrelado sobre e é qu e n ão basta ap en as i mag ina r uma cena assim. É preciso vivê-la! Você deve
ei r an do a no it e fr ia. O impor tan t
grilos e o coaxar das rãs à distância. Ch ao m enos a m ai or parte: t ud o o que compor a cena, menos uma coisa, nascida
esc ut á-la por si p r óp ri o. Ou
senti-la com seus dedos, vê-la com seus olhos e r a, rodea dos de edifícios de verdade, pelos ruídos da cidade, rajadas de vento.
..
acres cen tad a a ela , sobre p ost a. Qua n do est a mos aí f o
de nossa imaginação,
nar -se-á real.
Então, a cena que visualizamos nos impactará como uma bala. Tor mo s; q ue ac on tecerá se um ser de Marte surgir por trás desse muro? Oh,
dos mund os d iferen tes quan d o qui ser
Seremos capazes de invocar ilusões
não... Já basta.
O horror em17 dseuasetembrjoaden19el99a
end o. C am i n h o até a p ar ad a d e ôn ibus, como todos os d ia s. A Estrela está me vigiando a mais de um mês. Brilha junto à lua,
Está anoitec men sa gem silenciosa, porém persistente. Está palpitando, sussurrando.
. C ai sobr e m im com o se esp er asse alg o , emiti nd o uma
igualando seu resplendor hora s. N i n g u ém mais v ê a Estrela, como se estivessem cegos...
um d os pou c os que vão ao c en t ro a est as
Permaneço nas sombras, sendo dis pela noite . E nqua nto anda pela cidade, caminha, dirige, anda de ônibus,
Anoitece. A noite é o r eino da i m ag ina ç ão. Jog u e D e P r ofu n
jogue de di a tamb ém. Mas o m elh o r aco n tece pela n oi te, o mund o inteiro se torna misterioso, se entrelaça com a
bonde, metrô ou trem. Quando der, om o os espéc imes alien í g en as de raça s repugnantes, disfarçadas, escondendo-se entre as
noi t e sae m ta n to os espec tros c
realidade, com o reino dos sonhos. Pela
pessoas sob a escuridão. e, at r avés da jan ela, v i um ôni bu s va z io, decrépito, abandonado; deve ser uma
Agora estou no ônibus, na metade d a rot a . Par a mos. A o long
en te, conv oco minh as f an tasi a s e c om eço u a joga r . Con tudo aind a olho esse ônibus. Sim... o tenho visto
linha noturna em metade de lugar nenhum. Lentam li nha n em sequ er a p arece n os h orár i os. O vejo escuro, ruidoso, quase caindo aos
algumas vezes. Nunca durante o dia; ouvi falar que o núme ro d essa
da par ad a c omo um ser vivo, det en do- se semp r e a uns met r os da luz do farol. Sobe pouca gente. De onde saiu este ônibus infernal?
pedaços. Aproxima-se
Quem o conduz? Aonde vai? Algum dia o pegarei? meu lad o. Fan t asm agoria... Não me havia dado conta até agora; bem, mais
Estamos saindo d a par a da. Um garo to peq uen o est á senta do ao
com s u a m ãe n o ôn ib u s no t urno . E st ava sen t ad o p r óx im o de m im, o ônibus ia cheio e por isso não me dei conta. Até a
outro garoto voltando para casa e ele está só , n ão estav a c o m sua mãe, não estava com ninguém! Mas não parecia
terceira parada, onde finalmen te p r est ei a ten ç ão. E n tã o p er c ebi qu
con t r á rio, pare c i a seg ur o d e si m esm o, a té mesm o u m p ouc o ag ressiv o, selvagem. Depois de descer do ônibus, dei a volta
assustado nem perdido. Muito pelo
equenas adagas.
para vê-lo afastar -se e sorriu. Vi então seus caninos em forma de p c r uzan do di versos ca m in h os che i os de edifícios, esculturas, fontes; um autêntico
Não, já é suficiente. Passamos pelo g r an d e p ar que de Cha r z ow,
i oso s. Rap idam ente saí mo s das r u as lar g as, d esa pa r ec em os n a esc uridão, que nos leva às altas travessas das
labirinto repleto de lugares ocultos e mister faróis c lar ei a m a r ua p r incip al do p arqu e. Passamos junto a uma luz que parece
let a escur id ã o, os p ou cos
grades do zôo. Nada disto se vê na mais comp alg uma acol hedo ra c a sin h a esc ond id a ent re as árvores. Mas... Um momento. Aqui
D ev e ser a jan ela de
flutuar no ar, contra a negra superfície da noite. que uma c oli n a c om m u ita s ár v ores e a lg uns ar bustos grandes demais. Eu gostaria de
não há edifícios! Se não me engano, esta parte do b osqu e não é mais
iu seu traje t o e a lu z já n ão estav a lá. V er ifica rei quan d o volt ar amanhã pela manhã, ou alguma
ter olhado outra vez, mas não tive tempo; o ônibus seg u
outra noite. . Foi min h a imag in ação ou ele se moveu de repente? Não, deve ter sido uma
Logo passamos jun to a um m on umen to qu e sur g ia d a esc ur idão
ilusão...
ar a reali dade ao seu r ed or é evo c ar um est ad o d e p aran óia c ontr ola da, ou de esquizofrenia. Você vê algo e diz que isso
A melhor maneira de filtr str o s e os m i st ér ios qu e habitam o planeta disfarçados. Pode ver através de
oc ult o do m u n d o, a auten t ic a c ar a d os mon
é assim. Pode ver o fundo falso, o lado
que têm sido ocultados de você.
tudo isso, através de sua camuflagem. Começa a perceber os detalhes o a ed i fí c io s de a pa r t ament os, est rada s e portas; logo, ao lado de um vagabundo
Agora me encontro caminhando por u m a r u ela escu r a. Pass o junt
o a c abeç a p ara olhá - lo o u t ra vez. Mas n ã o... não h á n ada ! Que aconteceu? Eu o vi; a um momento
que procura um abrigo para passar a noite. Volt
aginado ele?
esse lugar estava ocupado pela negra silhueta de um homem. Terei im m ã o, h á mui tos temas e tramas que poderiam proporcionar grande mistério e
Enquanto cam in h a p ela cidad e; a o seu r ed or , ao alca n ce d e tua
as escol her um deles e d esenv olv ê- lo. Você d á i n í c io à fan t asm a gori a, e a loucura abre suas portas lentamente...
aventura. Você precisa apen o en co n tro que hav ia m arcado, assim, tinha que passar o momento de alguma
Fui a uma cidade esta m anhã . F a ltava mais d e um a h or a p ara
al dura nte uma m ei a h or a, d ei a volta e enqu ant o v o ltava procu rei alguma loja interessante, alguma livraria talvez.
maneira. Caminhei pela rua princip a ssi m que a n dei d e n o vo p ela mesm a rua e voltei outra vez; quando percorria a mesma
Nada. Regressei ao lugar do encontr o, m as a in d a f altav a m ei a ho ra,
tam en t e a m i nha v olt a, d e repen te v i aqu ilo. Atrá s u m velho mur o de pedra a ponto de desmoronar, vi a cúpula
distancia pela quarta vez, olhando aten u m entai s, tão pr óx i m as a r ua, e n ão me ter dado conta? Era como se alguém tivera
dourada de uma basílica. Como pude passa r ju n t o a essas r uí n as m on
ara d esv iar a aten ç ão, qu e f i z era a ig r eja inv isí v el a os t rans eunte s. Cada uma das vezes que passei diante só
lançado um feitiço sobre o antigo edifício; p
, os telha dos das cobe rt u ras, impe rm ea biliz a dos com alc a trão ; só casinhas. Como pude não me dar conta do
pude ver o primeiro plano: o muro, a planta p a rque , at é a f ilei ra de casa s vi z inha s a rua? E atrás do muro, entre as árvores,
c omo se d elim itasse u m
velho muro de pedra que se estendia no fundo, s.
havia um edifício circular antigo, com uma enorme cúpula de tons verde
eiro mom ento em que o vi, o edifí cio me a t raiu com incrí vel poder, mas as pessoas do lugar que passeavam com seus cães e os
Desde o prim ônibus, não sabiam do que eu estava falando. Assim deverei
não se dava m con t a. Qua nto perg untei mais tarde pelo edifí cio no
transeuntes não viam nada;
.
eu mesmo visitar o velho prédio e passar pelo arco de pedra no seu muro mesmo lugar. Cada vez descobrimos novos detalhes, vivemos novas experiências e
A fantasmagoria pode compor-se de uma série de expedições ao algu ns dias depo is visita mos de novo o lugar. Também podemos tomar
s tudo em uma carta ou um diári o, e
aventuras fantasmagóricas. Voltamos, escrevemo
apressadas notas em um caderno de apontamentos enquanto estamos ali.
E isto ocorre muitas vezes... s. Out ro passa nte arrasta os pés na minha frente. De repente vejo sua
nho por uma ruela escur a entre as fileir as de casa
É noite e novamente cami seus três dedo s, larg os, negros, quase como os de um pássaro... Três
o, aper tar- s e e se trans form ar. Ele estira
mão direita, escondida na manga do abrig
ima.
afiadas garras surgem, prontas para destroçar a garganta mais próx Q u ando o f az, geralmente passa a ter três dedos e garras...
Será essa a lend a do demô nio que pode possu ir as mãos huma nas?
falar disso.
Outro acontecimento: observo o espelho do banheiro... Não, não vou s? Segundo se diz, são para construir a nova auto-estrada.
os mese
Você Viu todas as escavações que estão fazendo em Katowice nos últim
é nenhuma auto-estrada. Estão procurando algo.
Estão desmantelando pontes e ruas, derrubando casas inteiras. Não rapa do que levav a um estojo de violão. Todo mundo se afastou dele
em um ônib us. Era um músi co esfar
Uma noite, um estranho vagabundo subiu
inconscientemente, como se fosse perigoso... recon hecer os frag ment os da outra face da realidade. Que o simplista paradigma
A única coisa que se pode faze r é mant er os olho s bem aber tos e
não o engane.
predominante que cega à gente ante qualquer coisa que não se encaixe egam nesse tipo de psico dram a? Tente-o, ainda que provavelmente lhe custe
Já sabe o que é a fantasmagoria? Con hece o s méto dos que se empr
ir possí veis tema s das coisa s ao seu redor , apre nda a fingi r com as interpretações que surgem em tua
trabalho a princípio. Observe como você tentar extra
cabeça, olha como elas vão se expandindo, se desenvolvendo.
Sabe como escrever tudo depois? e a terra at é o horiz onte. Os dias são cada vez mais curtos. O céu é
tem pinta do de verm elho com seu brilh o o céu
Ultimamente, o pôr-do-sol
te, com o odor da água evaporando-se no ar.
uma abóbada de nuvens; está bastante escuro, o ambiente é agonizan , desco brir a verda de. Cheg ar ao luga r onde nasceu o pesadelo. Ali é onde
Vou a Brudnice. Devo encontrá-lo, loca lizar a orige m de tudo
novo as ev idenc ias de meu sonh o. Exis tirá algu ma em nossa reali dade? Estará a cabana com o Jogo dentro? O pântano? A
começou tudo. Devo ver de
Coisa que o habita? Estarão lá?
Psicodrama solito deár199io9
9 de outubr

ado. E a Coisa está aqui. Próxima.


Estou em Brudnice. Sozinho. Bosques impenetráveis rodeiam o povo s sozin ho; jogando com o terceiro livro. Não, não vou te contar do
o. N ão va i ac red itar em mi m , mas est ou j ogan do De P r of u ndi
Estou jogand ê nem a ninguém. Escute, não procure o que desconhece, o que nunca
u ra. Porq u e v o cê é meu a mi g o. E não o direi nem a voc
que se trata esta parte da louc
deveria ser conhecido. lo u m dad o e i nter p reto seu resul tado em tabelas que crio durante o jogo. Enchi
Fui transportado completamente para o r eino da i magi n açã o. Ro
r ar est a s tabel a s alg u m dia as ler e jogar com elas, sem dúvid a se tornará louco. Já não há saída. É
grossos cadernos com notas. Quando alguém encont as, esc r evo, rolo dados, jogo. Devo chegar ao final, é a única saída que me
e dema is; não h á como v olt ar at rás. D esen h o tabel
demasiado tarde. Fui long
resta.
p o u c as nuve ns ci nzen t as que h av iam n o c éu. É estra nho, mas f a z muito calor, embora isso não me importe muito. Há
O vento fez desaparecer as
t ecer . Pela m an h ã tamb ém. Pode -se ver c omo o sol p a ssa ex at am en te por cima do horizonte durante todo o dia.
névoa ao anoi c o, enqu an to jogo. Agora não sei o que é o que me acontecerá quando por fim
Criei um a fi ch a de p erson agem . A fu i pr een chen d o pou c o a pou
completar suas enredadas espirais. o de De P r of und i s. A primeira coisa que fiz foi a casa de minha avó, onde
Tenho estado me dedic ando ao m apa q ue criei p ara o ter c eir o livr
m a s outra s c a sas, a r u a e o p o voa d o in tei r o ; depo is , as m ú lt iplas trilhas e caminhos que levam aos bosques. Divido
estou agora mesmo. Logo desenharei algu é o mapa no q ual j ogo m i nha últim a partida. As tabelas e os dados me deixam
D epois r olo os dad os. E st e
tudo em círculos, quadrados, campos, áreas. redos que jam ais poderia ter sonhado. Nunca tinha suspeitado deles...
a imag inaçã o. D esc u bro os segr ed os d e mi n h a ment e, seg
vagar pelas terras d t o. Ago r a mesm o estou fazendo tabelas e listas com esse propósito. Devem ser
Ah, sim! Hoje à noite ve r ifica rei os r esult ados de u m ex perim en
o gerador será ampliado quando eu trabalhar nele novamente.
maiores e mais complexas que as do gerador de viagens! A propósito, tr ap aças , n ão tenho nen h um “d ado na manga”. Faço uma rolagem com total
Aqui não há mestre de jogo qu e v ig ie meus atos, mas n ão f a ço
p areci do d em ais c o m a reali dade . A q ui, f az er trapa ças sign i fi car ia perder a sanidade lentamente. Também
honestidade e comprovo o resultado. Este jogo é
permitir isso.
avançaria mais lentamente, perdendo minha experiência. Não posso E st á além de qual quer descrição, mas funciona; transporta-me a outro mundo,
É assim que estou em Br u d n ic e, só. Cria n d o ta bela s e reg ras.
talvez ao que se oculta dentro do nosso.
Rolo os dados... ej o. Está rodea da de ár vores por todas as partes. Algo me persegue;
casa a ba ndon ada nos li mites do v ilar
Estou em frente a uma velha e solitária p a ssar muito tempo vagando pelos bosques. A porta está fechada, mas
n est a c asa. Corr o, mas o can sa ço já se en con t ra em mim, por
mas encontrarei refugio a i u u m dado e f oi p arar debaixo da mesa. Ufa, aqui está. Olho ao meu redor.
oi s de du as t en t ativa s. Esto u d en tro. . . ai! C
por sorte consigo abri-la dep amen t e an os. B om , subin do as escadas encontro um escritório (...) Lá espero
en t rado n ad a desde m uito temp o; segur
Pó, teias de aranhas. Aqui não tem rodea n do em t orno da casa . D ev o me certificar de que todas as cortinas estejam
en d o e é q uase noite . Há algo
algumas horas. Do lado de fora está chov
fechadas... mite.
A capela é a maior das loucuras. Aqui, os geradores crescem sem li sas e c h eias de luz. O resto do céu está completamente vazio. Até
nuve ns que est ão per t o do so l. Pequ enas p i n c elad as aquo
Só é possível ver as brilh a com for ç a sobre a terra, e pequenos raios de luz se lançam
o nt o bri lh an t e entre as manc has aqu osa s. Às v ezes
mesmo o sol não é nada além de um p
contra a vastidão do bosque.
A mecânica da11 sde novepembrorgunde 199ta9s
f iq uei feliz com i sso! Mui t o me aleg r a sa ber que se en c ontra bem. Tira um peso da minha consciência.
Recebi sua carta! Você não sabe o quan to
tem p o qu e me p ergu nt o como f unci ona o p en same n t o; qu alqu er pensamento. Exato! Faço-me pequenas perguntinhas, não é? É o
Faz algum o c om o provas: a exploração do fosso mais profundo da alma e do
or. Per gu n tas. .. e nosso s céreb ro s. P e rg un ta s qu e sã
mistério das regras e o gerad
subconsciente. Psicodrama. u em boa form a? Tais r uíd os me assustariam? Trago comigo uma arma? A
Ao invés de provas, perguntas. Com o m e en con t ro h oje? Esto
Com as r espos tas a essas per g unta s, a sessã o flu i só, su av em en te. É psicodrama. Devemos saber o quê e como aconteceu.
usaria? Poderia? nd o enco ntro r astr os, obstáculos ou monstros, me ponho à prova perguntando-me
Trabalho com o m ap a, lanç o os d ad os, b u sc o na s t abel as. Qua
?
coisas ou me ajudo rolando os dados. Há alguma forma de sair daqui o que compõe De Profundis. A Coisa me importuna tentando que o faça. Mas
Decidi que nem sequer vou te enviar um rascunho do último livr
desta vez não me renderei. A capela permanecerá em Brudnice. t o esfor ç o? Fcai r á só u m a ca sa vazia quan do me for, como aconteceu com o do
Me pergunto se isto é o fim. É assim que tu d o acab a, a pó s t an
i rá alg u ém de Bru dn i ce p ara enco ntrar m eu jogo? Esse bla sf emo jogo que surgiu arrastando-se do Abismo.
eremita nos pântanos? V m pela man h ã, mas agora a estrada está completamente bloqueada e há neve
Neva um pouco; as pr i meir a s n eves. T em fei t o uma lig ei r a f riage
derretendo por todas as partes. O gelo nasce na água.
Alegra-me que todos estejam bem.
Cumprimente todo mundo por mim.
A última carta9
22 de novembro de 199

só ficar am algu m as ár eas esbr a nqu i ça das. E st á chov en do, mas é melhor agora... O céu está escuro,
A neve derreteu, outra vez está tudo seco, nuvens coloridas são como altos edifícios no céu, enormes telhados,
na linh a do hor i zont e há algu m tr aç a do mais claro . As m uitas
esverdeado e azul, só oi tecer cheg a logo , por volta das quatro da tarde. Pela noite, a lua se oculta
lara nja, azul -esc uras e p ú rpu r as. O an
brancos, amarelos, creme, rosa,
a Capela. Nem a Fantasmagoria.
uma ou outra vez por trás das iluminadas nuvens. Já não preciso jogar
Eu vou ao bosque. nas d u as últim a s sema nas. Dentro de um mês serão as Saturnais:
t e. Vo u te expli c ar o qu e acon teceu
Assim que voltar lhe escreverei novamen
quando fará um ano que tudo começou. claro, que já seja demasiado tarde...
Agora a Coisa sabe que não vou terminar De Profundis. A não ser, o rosto, se é que tem. E, ou consigo detê-la, ou... Devo encontrar a
lhe
O fim se aproxima. Quero olhar a Coisa diretamente nos olhos. Ver- Dédalo, um labirinto cósmico cheio de portas e caminhos turvos que
um bosque. É um
resposta nos pântanos. Assim parto para o bosque, mas é mais que o s bosq ues de t odos os mund os. Enc ontrarei-me com pequenos duendes, com o
ond e se enco ntram to dos
levam a invisíveis mundos e dimensões. É o vínculo cidad es do bo sq ue ou árvores que caminham? Voltarei algum dia?
i as d e Shu b-N i ggur ath? En c ontr ar ei g r an d es
povo centauro ou com as Cr ou é a risa da de algu m outro habitante do bosque? O vilarejo está em silêncio,
São três da manhã. Posso ouvir o cant o dos pá ssa ros notu r no s,
morto. O vento é o único que não dorme. esp er an d o. Qua ndo a n oit e ret r oce derá? Quando aparecerá sequer a mais tênue
Às quatro da manhã. Já empacotei as c o isas m ai s úteis . Esto u
r ei esta carta na caixa d e corre io de u m vizi n h o. Espe ro que a entregue ao carteiro. Bom. Tampouco
luz para me dar um pouco de fé? Quando sair, deixa
importa tanto. Logo lhe contarei os detalhes quando voltar. r idão rein a ai nda no oeste, violeta e azul esverdeada. O vermelho e o laranja
Amanhece. O horizont e emp a lid ec e rap idam en te pelo lest e. A escu
os. Eu sigo.
brilham em torno de um reluzente sol. A névoa flutua sobre os prad
De Profundis
Cartas do Abismo
Da primeira carta:
“...Entrei. Depois de uma tosca mesa e umas prateleiras
cheias de pequenos frascos, ervas secas e paginas
amareladas com algo rabiscado nelas, havia um velho baú. O
abri. Dentro, sobre um monte de roupas de couro, encontrei
um livro. O peguei e vi que tinha umas grossas capas de
couro duro, feitas à mão. Na parte de trás havia umas
palavras inscritas, talvez o titulo: De Profundis. Abri as
pesadas capas. A primeira vista pensei que era um diário.
Mas enquanto passava as grossas paginas cheias de letras,
vi numerosas tabelas, estranhas formulas e símbolos. Era um
jogo. Alguém tinha vivido naquela cabana em meio aos
bosques e pântanos, próximo da fronteira oriental do
povoado mais próximo; tinha ficado escrevendo algo que
chamou de De Profundis. Que tipo de louco havia sido? O
acompanharia em seu a mesma voz que tinha me atraído aos
pântanos? Não sabia se aquilo não seria um sonho;
levantando o demente manuscrito em minhas mãos, tremi com
uma mistura de duvida e assombro...”

Você conhece bem a sua própria mente?


Jogos dentro de jogos e mundos dentro de mundos: o
terror se esconde atrás de cada esquina de nossa vida
cotidiana e historias de medos alem da imaginação nos
chegam em forma de cartas escritas por estranhos. De
Porfundis é uma revelação no mundo dos jogos, uma volta às
nobres raízes do terror com um estilo de jogo completamente
novo. Compare suas experiências com outros e descubra,
lendo, como suas descrições se entrelaçam formando uma
colcha de retalhos de terror psicológico, em uma rede que
envolve o mundo inteiro e que envolverão você
irremediavelmente.

De Profundis é um RPG inovador sem Mestre de Jogo,


ambientado na época atual ou nos anos 20, ao estilo H.P.
Lovecraft. Pode ser jogado sozinho ou em grupo. Escrito em
um estilo atmosférico e absorvente, este livro contem toda
a informação que você precisa para entrar no inquietante
mundo do jogo, alem de descrições de técnicas de drama
psicológico para usar.

De Profundis faz parte da linha New Style, aclamado


pela critica de jogos de RPG inovadores que desafiam os
gêneros clássicos. Outros titulosa são Pappetland e Power
Kill, Frankestein Factory e Violência: El Juego de Rol de
Flagrantes y Repugnantes Derramamientos de Sangre.

Este jogo é voltado para adultos mentalmente


equilibrados. Não é um suplemento para O Chamado de
Cthulhu.

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