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Temas literários: Realismo, Naturalismo e Parnasianismo

TEXTO 1

O romance Cidade de Deus, publicado em 1997, foi escrito por Paulo Lins, um ex-morador do
bairro que tem o mesmo nome do livro. Resultado de uma pesquisa sobre crime e criminalidade
no Rio de Janeiro, essa obra deu origem ao filme Cidade de Deus, que em meados de 2003 já
tinha sido visto por mais de 3 milhões de pessoas. Abaixo segue um trecho, em que o enunciador
descreve a favela.

Cidade de Deus
(fragmento)

Cidade de Deus deu a sua voz para as assombrações dos casarões abandonados,
escasseou a fauna e a flora, remapeou Portugal Pequeno e renomeou o charco: Lá em Cima, Lá
na Frente, Lá Embaixo, Lá do Outro Lado do Rio e Os Apês.
Ainda hoje, o céu azula e estrelece o mundo, as matas enverdecem a terra, as nuvens
clareiam as vistas e o homem inova avermelhando o rio. Aqui agora uma favela, a neofavela de
cimento, armada de becos-bocas, sinistros-silêncios, com gritos-desesperos no correr das vielas e
na indecisão das encruzilhadas.
Os novos moradores levaram lixo, latas, cães vira-latas, exus e pombagiras em guias
intocáveis, dias para se ir à luta, soco antigo para ser descontado, restos de raiva de tiros, noites
para velar cadáveres, resquícios de enchentes, biroscas, feiras de quartas-feiras e as de
domingos, vermes velhos em barrigas infantis, revólveres, orixás enroscados em pescoços, frango
de despacho, samba de enredo e sincopado, jogo do bicho, fome, traição, mortes, jesus cristos em
cordões arrebentados, forró quente para ser dançado, lamparina de azeite para iluminar o santo,
fogareiros, pobreza para querer enriquecer, olhos para nunca ver, nunca dizer, nunca, olhos e peito
para encarar a vida, despistar a morte, rejuvenescer a raiva, ensangüentar destinos, fazer a guerra
e para ser tatuado. Foram atiradeiras, revistas Sétimo Céu, panos de chão ultrapassados, ventres
abertos, dentes cariados, catacumbas incrustadas nos cérebros, cemitérios clandestinos,
peixeiros, padeiros, missa de sétimo dia, pau para matar a cobra e ser mostrado, a percepção do
fato antes do ato, gonorréias mal curadas, as pernas para esperar ônibus, as mãos para o trabalho
pesado, lápis para as escolas públicas, coragem para virar a esquina e a sorte para o jogo de azar.
Levaram também as pipas, lombo para polícia bater, moedas para jogar porrinha e força para
tentar viver. Transportaram também o amor para dignificar a morte e fazer calar as horas mudas.
Por dia, durante uma semana, chegavam de trinta a cinqüenta mudanças, do pessoal que
trazia no rosto e nos móveis as marcas das enchentes. Estiveram alojados no estádio de futebol
Mario Filho e vinham em caminhões estaduais cantando:

Cidade Maravilhosa
cheia de encantos mil..

Em seguida, moradores de várias favelas e da Baixada Fluminense habitavam o novo


bairro, formado por casinhas fileiradas brancas, rosas e azuis. Do outro lado do braço esquerdo do
rio, construíram Os Apês, conjunto de prédios de apartamentos de um e dois quartos, alguns com
vinte e outros com quarenta apartamentos, mas todos com cinco andares. Os tons vermelhos do
barro batido viam novos pés no corre-corre da vida, na disparada de um destino a ser cumprido. O
rio, a alegria da molecada, dava prazer, areia, rã e muçum, não estava de todo poluído.

(LINS, Paulo. Cidade de Deus. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.)
Glossário:
Exu- entidade iorubanda, considerada como orixá e como mensageiro dos orixás e descrita como
de gênio irritadiço, vaidoso, pode trabalhar para o bem e para o mal.
Pombagira- companheira de Exu.
Orixá- personificação das forças da natureza ou ancestral divinizado, que em vida, obteve controle
sobre essas forças, segundo a tradição do candomblé e da umbanda.
Revista Sétimo Céu- revista de fotonovela popular.
Estádio de futebol Mário Filho- Estádio do Maracanã.
Muçum- tipo de peixe.

1-
Aqui agora uma favela, a neofavela de cimento, armada de becos-bocas, sinistros-silêncios, com
gritos-desesperos no correr das vielas e na indecisão das encruzilhadas.

Relacionando o trecho de Cidade de Deus e o romance naturalista O Cortiço (analisado nas aulas
de literatura), explique como a neofavela também pode ser um neocortiço.

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2- Além da neofavela/neocortiço, cite uma característica do Naturalismo presente no trecho de


Cidade de Deus.
3 linhas

3-
Cidade de Deus deu a sua voz para as assombrações dos casarões abandonados,
escasseou a fauna e a flora, remapeou Portugal Pequeno e renomeou o charco: Lá em Cima,
Lá na Frente, Lá Embaixo, Lá do Outro Lado do Rio e Os Apês.

a) Observe que o sujeito que inicia a narrativa selecionada é Cidade de Deus. Na verdade as
ações praticadas e expressas pelos verbos deu, escasseou, remapeou e renomeou, foram
expressas pela população da favela, mas no trecho, o local (Cidade de Deus) está empregado em
lugar de seus habitantes. Cite a figura de linguagem que foi utilizada.

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b) Que efeito de sentido se produz no texto a utilização da figura de linguagem citada na questão a.

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c) Relacione a explicação da questão b com o Naturalismo.

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4- Transcreva do texto 1 (fragmento de Cidade de Deus) uma expressão que demonstre:


a) opressão do poder público
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b) religiosidade
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c) precariedade da saúde

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5- A transcrição dos versos cantados pelos moradores que chegavam à Cidade de Deus produz, no
texto, um efeito de:
(A) ênfase
(B) ironia
(C) reiteração
(D) fragmentação

6- As enumerações presentes no terceiro parágrafo compõem um painel da vida na Cidade de


Deus. Essa composição está baseada, sobretudo, no seguinte procedimento narrativo:
(A) descrição de aspectos sociais da violência policial
(B) justaposição de símbolos religiosos de origens diversas
(C) referência a comportamentos próprios das grandes cidades
(D) reunião de elementos díspares do cotidiano daquela comunidade

7- Identifique o número de períodos e orações do primeiro parágrafo do texto 1:

2 linhas

8- Em : “ Os novos moradores levaram lixo,..” Identifique a função sintática dos termos grifados:

2 linhas

9- Em: “ Por dia, durante uma semana, chegavam de trinta a cinqüenta mudanças, do pessoal que
trazia no rosto e nos móveis as marcas das enchentes”. Qual o valor semântico da segunda oração
em relação a primeira. Argumente em defesa de sua resposta:

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TEXTO 2

O cortiço
(fragmento)

Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas


pelo fogo. Homens e mulheres corriam de cá para lá com os tarecos ao ombro, numa balbúrdia de
doidos. O pátio e a rua enchiam-se agora de camas velhas e colchões espocados. Ninguém se
conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e choro de crianças esmagadas, e pragas
arrancadas pela dor e pelo desespero. Da casa do Barão saíam clamores apopléticos; ouviam-se
os guinchos de Zulmira que se espolinhava com um ataque. E começou a aparecer água. Quem a
trouxe? Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas.
Os sinos da vizinhança começaram a badalar.
E tudo era um clamor.
A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa. Estava horrível;
nunca fora tão bruxa. O seu moreno trigueiro, de cabocla velha, reluzia que nem metal em brasa; a
sua crina preta, desgrenhada, escorrida e abundante como as das éguas selvagens, dava-lhe um
caráter fantástico de fúria saída do inferno. E ela ria-se, ébria de satisfação, sem sentir as
queimaduras e as feridas, vitoriosa no meio daquela orgia de fogo, com que ultimamente vivia a
sonhar em segredo a sua alma extravagante de maluca.
Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada, que abateu
rapidamente, sepultando a louca num montão de brasas.
(Aluísio Azevedo. O cortiço)
10- Em O cortiço, o caráter naturalista da obra faz com que o narrador se posicione em terceira
pessoa, onisciente e onipresente, preocupado em oferecer uma visão crítico-analítica dos fatos. A
sugestão de que o narrador é testemunha pessoal e muito próxima dos acontecimentos narrados
aparece de modo mais direto e explícito em:
(A) Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo
fogo.
(B) Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas.
(C) Da casa do Barão saíam clamores apopléticos...
(D) A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa.
(E) Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada...

11- O caráter naturalista nessa obra de Aluísio Azevedo oferece, de maneira figurada, um retrato
de nosso país, no final do século XIX. Põe em evidência a competição dos mais fortes, entre si, e
estes, esmagando as camadas de baixo, compostas de brancos pobres, mestiços e escravos
africanos. No ambiente de degradação de um cortiço, o autor expõe um quadro tenso de misérias
materiais e humanas. No fragmento, há várias outras características do Naturalismo. Aponte a
alternativa em que as duas características apresentadas são corretas.
(A) Exploração do comportamento anormal e dos instintos baixos; enfoque da vida e dos fatos
sociais contemporâneos ao escritor.
(B) Visão subjetivista dada pelo foco narrativo; tensão conflitiva entre o ser humano e o meio
ambiente.
(C) Preferência pelos temas do passado, propiciando uma visão objetiva dos fatos; crítica aos
valores burgueses e predileção pelos mais pobres.
(D) A onisciência do narrador imprime-lhe o papel de criador, e se confunde com a idéia de Deus;
utilização de preciosismos vocabulares, para enfatizar o distanciamento entre a enunciação e os
fatos enunciados.
(E) Exploração de um tema em que o ser humano é aviltado pelo mais forte; predominância de
elementos anticientíficos, para ajustar a narração ao ambiente degradante dos personagens.

12- Releia o fragmento de O cortiço, com especial atenção aos dois trechos a seguir.
I-Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e choro de crianças esmagadas,
e pragas arrancadas pela dor e pelo desespero. (...)

II-E começou a aparecer água. Quem a trouxe? Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e
baldes que se despejavam sobre as chamas.

No fragmento, rico em efeitos descritivos e soluções literárias que configuram imagens plásticas no
espírito do leitor, Aluísio Azevedo apresenta características psicológicas de comportamento
comunitário. Aponte a alternativa que explicita o que os dois trechos têm em comum.
(A) Preocupação de um em relação à tragédia do outro, no primeiro trecho, e preocupação de
poucos em relação à tragédia comum, no segundo trecho.
(B) Desprezo de uns pelos outros, no primeiro trecho, e desprezo de todos por si próprios, no
segundo trecho.
(C) Angústia de um não poder ajudar o outro, no primeiro trecho, e angústia de não se conhecer o
outro, por quem se é ajudado, no segundo trecho.
(D) Desespero que se expressa por murmúrios, no primeiro trecho, e desespero que se expressa
por apatia, no segundo trecho.
(E) Anonimato da confusão e do “salve-se quem puder”, no primeiro trecho, e anonimato da
cooperação e do “todos por todos”, no segundo trecho.

13- No período: “ Da casa do barão saíam clamores apopléticos; ouviam-se os guinchos de Zulmira
que se espolinhava com um ataque”. Identifique o valor semântico da sgunda e da terceira
orações:
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14- “ O seu moreno trigueiro, de cabocla velha, reluzia que nem metal em brasa; a sua crina preta,
desgrenhada, escorrida a abundante como as das éguas selvagens , dava-lhe um caráter
fantástico de fúria saída do inferno”. O trecho é formado por uma ou mais orações? Argumente em
defesa de sua resposta, classificando a(s) oração(ôes)

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15- “E ela ria-se ébria de satisfação...”. Como podemos classificar sintaticamente os termos
destacados?

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16- “os sinos da vizinhança começam a bater...” , sintaticamente a expressão destacada é


classificada como adjunto adverbial? Argumente, justificando sua resposta:

3 linhas

TEXTO 3

Fanático pela novidade do automóvel, o jornalista José do Patrocínio foi dos primeiros na
cidade do Rio de Janeiro a ter um. Muito amigo do poeta Olavo Bilac com quem partilhava essa
paixão, emprestou, ainda que relutantemente, o carro ao companheiro. Entretanto o ilustre poeta
jamais havia dirigido. Recebeu minuciosas instruções do proprietário do veículo, mas foi em vão.
Colidiu com uma árvore na primeira curva, transformando o automóvel em sucata. Patrocínio ficou
inconsolável, mas Bilac gabava-se de ser responsável pela primeira ocorrência de acidente de
trânsito no país...
Revista Discutindo Literatura, nº 4, ano I, São Paulo, Escala Educacional.

17- Olavo Bilac é o símbolo do Parnasianismo no Brasil. Tal movimento defendia o lema Arte pela
Arte. Defina esse princípio.
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18- Reescreva o trecho, nas formas possíveis, sem alterações estruturais, substituindo o
instruções por lembretes.
“ Recebeu minuciosas instruções...”
3 linhas

19- Divida o último período do texto 3 em orações e classifique-as.

4 linhas

2- “.., emprestou, ainda que relutantemente, o carro a seu companheiro”. Analise o verbo e seus
complementos, levando em conta a transitividade verbal:

3 linhas

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