Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
Capı́tulo 5
O objectivo deste capı́tulo é estudar duas das técnicas mais úteis para analisar
e compreender sinais analógicos e digitais, e o modo como estes interactuam
com os sistemas lineares invariantes no tempo. Referimo-nos à série de Fou-
rier clássica, para sinais analógicos definidos num intervalo finito, e à série
de Fourier discreta, para sinais digitais com um número finito de amostras.
Os sinais analógicos definidos em toda a recta real e os sinais digitais com
um número infinito de amostras exigem outras técnicas de análise, que serão
estudadas posteriormente.
A intuição geométrica desempenha um importante papel na nossa abor-
dagem às séries de Fourier. A utilidade da análise de Fourier, e as próprias
definições de série de Fourier clássica ou discreta, surgem como consequências
directas das definições de sistema linear invariante no tempo.
5.1 Motivação
A introdução no estudo dos sistemas lineares invariantes no tempo de técnicas
de análise do tipo da série e da transformação de Fourier não é obra do acaso,
mas uma consequência natural da própria natureza dos sistemas em causa.
Tentaremos provar que assim é, usando certos resultados elementares sobre
as funções próprias desses sistemas. Antes de passarmos ao estudo desse
assunto, apresentaremos algumas ideias que podem servir de motivação para
a análise de Fourier.
Relembramos certos conceitos conhecidos de álgebra linear. Uma matriz
M de ordem n × n define uma operação linear num espaço vectorial de
dimensão n. O facto da operação ser linear traduz-se no seguinte: sendo a e
89
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
5.1 Motivação 90
90
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
5.1 Motivação 91
e1 e1
2 x = 2e1 + e2
v2
v1
1 e2 e2
(a) (b)
e1 e1
y = λ 1 u1 + λ 2 u2
x = u 1 + u2
u2 u1
e2 e2
(c) (d)
91
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
5.1 Motivação 92
x = α1 v 1 + α2 v 2 .
M v1 = 1.3 v1 ,
M v2 = 0.7 v2 .
92
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
93
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
n
5.2.1 Produto interno, norma e ortogonalidade em
e n
n
Relembramos que o produto interno de dois vectores a e b pertencentes a ,
e com componentes
a0 , a1 , a2 , . . . , an−1 ,
e
b0 , b1 , b2 , . . . , bn−1 ,
respectivamente, é definido por
n−1
!
%a, b& = ai b i .
i=0
n
No caso mais geral em que os vectores pertencem a , a definição correcta
é
n−1
!
%a, b& = ai b∗i .
i=0
94
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
95
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
$
2
%b, b& = $b$ = |b(t)|2 dt < ∞,
I
ou seja, se a ∈ L2 (I) e b ∈ L2 (I).
Tal como nos casos anteriores, tem-se
%a + b, c& = %a, c& + %b, c&,
%a, b + c& = %a, b& + %a, c&.
A definição de ortogonalidade transpõe-se para este caso usando, como nos
casos anteriores, o conceito de produto interno: dois sinais analógicos de
energia finita dizem-se ortogonais se o respectivo produto interno for nulo.
96
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
f0 (x)
1
...
1 x
f1 (x)
f2 (x)
f3 (x)
...
97
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
1
1 2 1
x x 1 x
2
1 1 3
4 2 4 1
x x 1 3 x
2 4
98
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
x(t) − x(t − h)
a(t) = .
h
A resposta do sistema H ao sinal a(t) é o sinal b(t) dado por
b(t) = H[a(t)]
% &
x(t) − x(t − h)
= H
h
H[x(t)] − H[x(t − h)]
=
h
y(t) − y(t − h)
= ,
h
uma vez que H é linear e invariante no tempo. Se x for diferenciável em t,
temos
x(t) − x(t − h) dx(t)
lim = = x% (t).
h→0 h dt
Assumindo que H é contı́nuo ou fechado, temos
% & % &
x(t) − x(t − h) x(t) − x(t − h)
lim H = H lim
h→0 h h→0 h
%
= H[x (t)]
y(t) − y(t − h)
= lim
h→0 h
%
= y (t).
99
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
5.4 As funções próprias dos sistemas digitais lineares invariantes no tempo 100
100
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
5.4 As funções próprias dos sistemas digitais lineares invariantes no tempo 101
101
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
5.4 As funções próprias dos sistemas digitais lineares invariantes no tempo 102
onde β é uma dada constante complexa. Para obter a solução desta equação
basta resolvê-la em termos de x(k),
x(k − 1)
x(k) = ,
1−β
que conduz imediatamente a
x(0)
x(1) = ,
1−β
x(1) x(0)
x(2) = = ,
1−β (1 − β)2
x(2) x(1) x(0)
x(3) = = 2
= ,
1−β (1 − β) (1 − β)3
e assim sucessivamente. Em geral, temos
x(0)
x(k) = .
(1 − β)k
Pondo α = 1/(1 − β) para simplificar a escrita, obtém-se
x(k) = Aeγk .
102
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
ei (t) = Ai esi t ,
ei (k) = Ai esi k ,
103
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
e0 , e1 , . . . , en−1 (5.6)
104
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
α0 e0 .
105
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
ei (k) = Ai esi k .
A expansão e os coeficientes
No caso digital, a expansão de um sinal f (k) definido para 0 ≤ k < N fica
assegurada por ! !
f (k) = αi ei (k) = αi Ai esi k .
i i
As constantes Ai e si
Seja N um inteiro fixo, positivo, e consideremos os dois sinais exponenciais
a e b definidos por
a(k) = Aeαk ,
106
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
b(k) = Beβk .
Sabemos que o produto interno destes dois sinais é dado por
N
! −1
%a, b& = a(k) b(k)∗ ,
k=0
a(k) = Aejαk ,
b(k) = Bejβk ,
isto é, exponenciais complexas cujo argumento é um imaginário puro.
Para que a e b possam vir a integrar um conjunto ortonormal de sinais
interessa ainda que $a$ = $b$ = 1. Esta condição é fácil de satisfazer, uma
vez que
N
! −1
2
$a$ = %a, a& = Aejαk A∗ e−jαk ,
k=0
ou seja,
N
! −1
2
$a$ = |A|2 = N |A|2 .
k=0
√
Vemos que basta tomar √ A = 1/ N para que $a$ = 1. Naturalmente, to-
mando B = A = 1/ N conduz a $b$ = 1, o que resolve esta primeira
questão.
Calculando agora %a, b&, tentemos determinar a condição que α e β devem
satisfazer para que a ortogonalidade se verifique:
N
! −1
%a, b& = Aejαk B ∗ e−jβk
k=0
N
! −1
1
= ej(α−β)k
N k=0
N
! −1
1
= rk ,
N k=0
107
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
rN = ej(α−β)N = 1.
ei (−1) = ei (N − 1),
ei (N ) = ei (0),
ei (N + 1) = ei (1).
Note-se que, apesar de não existir nada que nos impeça de considerar
108
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
para qualquer i ∈ , não há nisso qualquer vantagem uma vez que
e−1 (k) = eN −1 (k),
e0 (k) = eN (k),
e1 (k) = eN +1 (k),
para dar apenas três exemplos. Por outras palavras, as exponenciais e i (k)
apresentam periodicidade tanto em i, tal como em k, com perı́odo N . Note-se
que
1 2π
ei (k) = √ ej N ik = ek (i),
N
ou seja, ei (k) depende de i da mesma forma que depende de k.
O número de sinais exponenciais digitais ei (k) distintos
1 2π
ei (k) = √ ej N ik
N
que se obtém quando i toma valores inteiros quaisquer, positivos ou negativos,
é exactamente N .
onde
ei (t) = Ai esi t .
Temos de assegurar a ortonormalidade dos sinais ei (t) escolhendo adequada-
mente as constantes Ai e si . Conseguido isto, o cálculo dos coeficientes αi
poderá ser conseguido à custa do cálculo das projecções do sinal f (t) sobre
cada um dos ei (t). Interessa ainda determinar o número de exponenciais
necessárias à expansão de f (t). Abordaremos estes problemas em seguida.
A expansão e os coeficientes
Utilizando os conceitos geométricos anteriormente expostos, e admitindo que
as funções ei (t) são ortonormais num dado intervalo I, o valor dos coefici-
entes αi fica determinado pelas projecções do sinal f (t) sobre cada uma das
exponenciais ei (t), ou seja,
$
αi = f (t)e∗i (t) dt.
I
109
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
Isto não é mais do que formar o produto interno de f (t) com uma das funções
ei (t), tal como fizemos atrás. Chega-se assim às equações
!
f (t) = αi ei (t), (5.8)
i
$
αi = f (t)e∗i (t) dt, (5.9)
I
As constantes Ai e ci
Consideremos agora dois sinais exponenciais a e b definidos por
a(t) = Aeαt ,
b(t) = Beβt .
Consideremos que t pode variar num intervalo finito I conhecido, de compri-
mento T . O produto interno dos sinais a e b é dado por
$
%a, b& = a(t)b(t)∗ dt,
I
110
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
111
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
É instrutivo comparar esta relação com a que se tem para o caso de expo-
nenciais de variável discreta
1 2π
eµ (i) = √ ej N µi .
N
O resultado em causa é
N −1 N −1
'
! ! 1 2π 1 2π 1, se µ = ν,
eµ (i)e∗ν (i) = √ ej N µi √ e−j N νi =
i=0 i=0
N N 0, se µ += ν,
112
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
113
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
que está definida para qualquer t real, é periódica com perı́odo T . Logo, só
se pode ter ! 2π
f (t) = αi ej T it
i
para qualquer t real se f (t) for à partida uma função periódica com perı́odo
T.
Os sinais exponenciais são funções próprias dos sistemas lineares invarian-
tes no tempo, isto é, a resposta de um desses sistemas a um sinal exponencial
é ainda um sinal exponencial. A expressão (5.12) permite representar um si-
nal definido no intervalo [0, T ] como combinação linear de exponenciais, e
114
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
5.8 Exemplos
Considere-se o sinal definido por
+π/4 se 0 < t ≤ π,
f (t) = 0 se t = 0, (5.14)
−π/4 se − π ≤ t < 0.
Determinemos os coeficientes cn da sua expansão em série de Fourier no
intervalo [−π, π].
É fácil ver que c0 é zero, porque o valor médio de f (t) é zero. Os restantes
coeficientes cn são dados por
$ +π
e−jnt
cn = f (t) √ dt
−π 2π
115
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
0.8 f(x)
sin(x)
sin(3x)/3
0.6 sin(5x)/5
sin(x)+sin(3x)/3+sin(5x)/5
0.4
0.2
-0.2
-0.4
-0.6
-0.8
-1
-3 -2 -1 0 1 2 3
Figura 5.4: Os três primeiros termos da série de Fourier do sinal f (t) definido
por (5.14), e a respectiva soma.
π $
π sin nt
= −2j √ dt
0 4 2π
√ $ π
2π
= sin nt dt
4j 0
√
2π 1 − cos nπ
= .
4j n
Logo, '
0 n par,
cn = √
2π 2
4j n
n ı́mpar.
A expansão de f (t) é
√
! 2π 2 ej(2k+1)t
f (t) = √
k∈
4j 2k + 1 2π
1 ! 1
= ej(2k+1)t
2j k∈ 2k + 1
+∞
1 ! 1 ( j(2k+1)t )
= e − e−j(2k+1)t
2j k=0 2k + 1
116
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
1 1
0.8 0.8
0.6 0.6
f(t) f(t)
0.4 1 0.4 3
0.2 0.2
0 0
-0.2 -0.2
-0.4 -0.4
-0.6 -0.6
-0.8 -0.8
-1 -1
-3 -2 -1 0 1 2 3 -3 -2 -1 0 1 2 3
1 1
0.8 0.8
0.6 0.6
f(t) f(t)
0.4 13 0.4 25
0.2 0.2
0 0
-0.2 -0.2
-0.4 -0.4
-0.6 -0.6
-0.8 -0.8
-1 -1
-3 -2 -1 0 1 2 3 -3 -2 -1 0 1 2 3
Figura 5.5: Somas parciais da série de Fourier do sinal f (t) definido por
(5.14), incluindo harmónicos de frequências 1, 2, 7 e 13 vezes a frequência
fundamental.
+∞
1 ! 1 ( j(2k+1)t )
= e − e−j(2k+1)t
2j k=0 2k + 1
+∞
! sin(2k + 1)t
= .
k=0
2k + 1
Neste caso a soma da série é a função f (t), pelo que a utilização do sinal de
igual se justifica.
Como vemos, os coeficientes cn de ı́ndice n par são nulos, e a expansão
só contém harmónicos cuja frequência é um múltiplo ı́mpar da frequência
fundamental.
As somas parciais da série de Fourier de f (t) são definidas por
n
! sin(2k + 1)t
s2n+1 (t) = .
k=0
2k + 1
117
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
0.8
0.6
f(t)
5
0.4 13
25
0.2
-0.2
-0.4
-0.6
-0.8
-1
-3 -2 -1 0 1 2 3
Figura 5.6: Somas parciais da série de Fourier do sinal f (t) definido por
(5.14), incluindo harmónicos de frequências 5, 13 e 25 vezes a frequência
fundamental.
118
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
0.8 0.8
1 3
0.6 0.6
0.4 0.4
0.2 0.2
0 0
-0.2 -0.2
-0.4 -0.4
-0.6 -0.6
-0.8 -0.8
-3 -2 -1 0 1 2 3 -3 -2 -1 0 1 2 3
0.8 0.8
13 25
0.6 0.6
0.4 0.4
0.2 0.2
0 0
-0.2 -0.2
-0.4 -0.4
-0.6 -0.6
-0.8 -0.8
-3 -2 -1 0 1 2 3 -3 -2 -1 0 1 2 3
119
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
0.8
5
13
25
0.6
0.4
0.2
-0.2
-0.4
-0.6
-0.8
-3 -2 -1 0 1 2 3
contı́nua.
Para tal lembremos que a série de Fourier para uma função f (t) definida
em [0, T ] é da forma
+∞
1 ! 2π
f (t) = √ αi ej T it ,
T i=−∞
sendo os coeficientes αi dados por
$ T
1 2π
αi = √ f (t)e−j T it dt.
T 0
Na prática, o cálculo do integral só pode ser efectuado de modo aproximado,
o que se pode fazer de forma simples considerando expressões do tipo
N −1
1 ! 2π
αi ≈ √ f (tk )e−j T itk ∆tk ,
T k=0
onde ∆tk = tk+1 −tk . O processo mais imediato de efectuar esta aproximação
é tomar os N pontos tk equidistantes em [0, T ], ou seja, fazer
kT
tk = = kTa , ∆tk = Ta ,
N
120
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
0.9
0.8
0.7
0.6
0.5
0.4
0.3
0.2
0.1
0
0 100 200 300 400 500
1.6
1.4
1.2
1
0.8
0.6
0.4
0.2
0
-0.2
-0.4
-0.6
0 100 200 300 400 500
0.9
0.8
0.7
0.6
0.5
0.4
0.3
0.2
0.1
0
0 100 200 300 400 500
121
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
122
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
1.5 1
original
1
1 0.8
0.5 0.6
0 0.4
-1.5 -0.2
0 10 20 30 40 50 60 70 0 10 20 30 40 50 60 70
1 1
original original
10 18
0.8 0.8
0.6 0.6
0.4 0.4
0.2 0.2
0 0
-0.2 -0.2
0 10 20 30 40 50 60 70 0 10 20 30 40 50 60 70
$ T
1 2π
αi = √ f (t)e−j T it dt, i∈ ,
T 0
e as expressões para a série de Fourier discreta,
N −1
1 ! 2π
f (k) = √ αi ej N ik , 0 ≤ k < N,
N i=0
N −1
1 ! 2π
αi = √ f (k)e−j N ki , 0 ≤ i < N,
N k=0
podem representar-se de maneira simples utilizando uma notação para o
produto interno de dois sinais que seja independente da sua natureza discreta
ou contı́nua. Isto equivale a ultrapassar um pouco a natureza especı́fica
dos sinais, concentrando a nossa atenção nos aspectos essenciais puramente
geométricos.
123
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
Admita-se que estes sinais são suficientes para gerarem, por meio de com-
binações lineares, qualquer outro sinal em que haja interesse. Diz-se então
que formam uma base. Se o conjunto dos sinais de interesse tiver dimensão
finita, a base conterá apenas um número finito de elementos. Caso contrário,
a base terá necessariamente cardinal infinito.
Para expandir um sinal a em termos da base procede-se do modo que
anteriormente vimos, ou seja, calcula-se a projecção de a sobre cada elemento
bi da base, e somam-se essas contribuições. A projecção de a em bi é dada
por %a, bi &bi , o que justifica a expansão
!
a= %a, bi &bi .
i
124
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
Notas
• O pioneiro das técnicas de análise de sinal hoje colectivamente desig-
nadas por “análise de Fourier” foi Joseph B. J. Fourier (1768-1830).
O seu trabalho principal sobre análise de Fourier foi provavelmente es-
crito em 1807, mas publicado apenas em 1822, devido à oposição de
Joseph-Louis Lagrange (1736-1813) e de outros eminentes matemáticos
da época. A ideia de exprimir funções sujeitas a condições muito pouco
restritivas por uma soma de funções contı́nuas e diferenciáveis (na ver-
dade, analı́ticas) pareceu a Lagrange, e a outros matemáticos de grande
reputação da altura, duvidosa.
• As funções
!
φjk (x) = 2j/2 φ(2j x − k), j, k ∈ ,
onde φ designa a função φ00 da figura 5.3, constituem a chamada base
de Haar , que foi estudada pelo matemático húngaro Alfred Haar (1885–
1933) na primeira década do século XX.
125
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
Problemas
5.1 Mostre que as funções representadas na figura 5.3 são ortogonais entre
si, apesar de terem “larguras” diferentes.
5.2 Prove que as funções definidas por
!
φjk (x) = 2j/2 φ(2j x − k), j, k ∈ ,
onde φ designa a função φ00 da figura 5.3, são ortonormais, isto é,
'
1, se j = $ e k = m,
%φjk , φ&m & =
0, noutros casos.
As funções φjk constituem a base de Haar .
126
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
5.9 Prove que a série de Fourier clássica de um sinal real e par é uma série
de cosenos.
127
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
5.10 Prove que a série de Fourier clássica de um sinal real e ı́mpar é uma
série de senos.
5.11 Prove que a série de Fourier discreta de um sinal real com amostras
x0 , x1 , . . . xN −1 é uma série de cosenos se o sinal for par, isto é, se
xk = xN −k .
5.12 Prove que a série de Fourier discreta de um sinal real com amostras
x0 , x1 , . . . xN −1 é uma série de senos se o sinal for ı́mpar, isto é, se
xk = −xN −k .
5.14 Idem, para o intervalo [−2, 2]. Compare com o resultado do exercı́cio
anterior e explique a diferença.
128
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
5.23 Intercalam-se zeros entre cada uma das N amostras do sinal f (k), cuja
série de Fourier discreta tem coeficientes αk , 0 ≤ k < N . Quais serão
os coeficientes do sinal de 2N amostras resultante?
5.26 Baseando-se nos resultados dos dois problemas anteriores diga como
pre-processar um sinal com N amostras de forma a poder posterior-
mente detectar qualquer erro que possa afectar uma das amostras.
129
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
{α0 , α1 , . . . , αN −1 } −→ {α0 , αN −1 , . . . , α1 }.
existem
r
2, k0 = 0, 1,
M= r+1
2 , k0 = 2,
r+2
2 , k0 ≥ 3.
tais permutações.
130
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
131
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
132
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
4. Para qualquer i tal que f (i) seja conhecido, tomar x(i) = f (i).
5. Repetir a partir do passo 2.
133
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
!
w(k)
! ! ! !1 ! ! !
! !
! !
· · ·! ! ! !· · ·" i
A B
Figura 5.11: Exemplo de sinal w(k), para B − A + 1 = 7 e L = 3.
Referências bibliográficas
A. Antoniou. Digital Filters: Analysis and Design. McGraw-Hill Internatio-
nal Editions, New York, 1979.
R. N. Bracewell. The Fourier Transform and Its Applications. McGraw-Hill
International Editions, New York, 1986.
D. Childers e A. Durling. Digital Filtering and Signal Processing. West
Publishing Company, Saint Paul, 1975.
134
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
135