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FIOCR
Presidente
N í sia Trindade Lima
EDITORA FIOCRUZ
(GESTãO 2017 - 2020)
Diretor
Manoel Barrai Netto
Editor Executivo
João Carlos Canossa Mendes
Editores Científicos
Carlos Machado de Freitas
Gilberto Hochman
Conselho Editorial
Denise Valle
José Roberto Lapa e Silva
Kenneth Rochel de Camargo Jr.
Ligia Maria Vieira da Silva
Marcos Cueto
Maria Cecília de Souza Minayo
Marilia Santini de Oliveira
Moisés Goldbaum
Rafael Linden
Ricardo Ventura Santos
Políticas de
Saude ^Brasil
continuidades e mudanças
2 a reimpress ã o
EDITORA
FIOCRUZ
Copyright © 2012 dos autores
Todos os direitos desta edição reservados à
FUNDAçã O OSWALDO CRUZ/ EDITORA
Ia edição: 2012
Ia reimpressã o: 2014
2a reimpressã o: 2018
Revis ã o
Jorge Moutinho
Supervisã o editorial
Janaina de Souza Silva
Catalogaçã o na fonte
Instituto de Comunica ção e Informa ção Cient ífica e Tecnológica
Biblioteca de Sa ú de Pú blica
2018
Editora Fiocruz
Av. Brasil, 4.036 - Io andar - sala 112 - Manguinhos
21040- 361 - Rio de Janeiro, RJ
Tels.: +55 (21) 3882 - 9039/3882 - 9041
Fax: + 55 (21) 3882 - 9006
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www.fiocruz .br/editora
Autores
Pref ácio 9
PARTE I - CONTEXTO
1. Desenvolvimento e Institucionalidade da Política Social no Brasil 31
Ana Luiza d’ Ávila Viana e Hudson Pací fico da Silva
PARTE II - CAMINHOS
4.0 Modelo de Intervençã o do Estado na Sa úde: notas sobre a atuação federal 117
Cristiani Vieira Machado
5. A Agenda Federal da Sa úde: dinâ mica e prioridades 149
Cristiani Vieira Machado e Tatiana Wargas de Faria Baptista
6. A Política Brasileira de Atençã o Prim á ria à Saúde 173
Ana Luisa Barros de Castro e M árcia Cristina Rodrigues Fausto
Apêndice 323
Pref ácio
9
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
base em políticas prévias. É nessa inter-rela çã o que as políticas públicas terã o fortes
efeitos de feedback , particularmente os efeitos políticos no sentido da constituiçã o
de atores, preferê ncias e percepções que, ao afetarem a arena específica de cada
política pública, afetam as decisões posteriores.
Nessa trilha analítica , este livro, pelo fato de aliar uma rica empiria com certa
unidade analítica , permite que, em geral, os diferentes capítulos, cada um enfocando
um aspecto da política de sa ú de, superem o cará ter meramente ensaístico e
opinativo que tende a prevalecer em estudos de políticas públicas , entre elas as de
sa ú de. Tal característica nã o significa , contudo, uma an álise isenta de elementos
normativos , particularmente no sentido de reafirmaçã o e compartilhamento de
determinada visã o das políticas sociais, da atua çã o do Estado e dos objetivos do
desenvolvimento - visã o essa que considera esses objetivos como voltados para a
produçã o de bem-estar e equidade entre os cidad ã os. Nessa perspectiva , a sa úde
se apresenta inegavelmente como um fator imprescindível.
Mesmo que tenha como objetivo geral analisar a política de saú de no Brasil
nos anos 2000, particularmente no período correspondente aos dois mandatos
do presidente Lula , a perspectiva histórica orienta a an álise das inova ções e
continuidades que esse período revela , atreladas à própria trajetória da política
de sa úde no país. Ou seja , entender o período recente, por um lado, nã o é factível
sem considerar os desdobramentos no tempo de ações e decisões, entendidas
ainda no â mbito de condicionantes estruturais e políticas - nos termos dos
autores, sem desconsiderar os fatores econ ómicos , políticos e sociais que afetam
as políticas pú blicas. Por outro lado, há que se identificar a atuaçã o de novos atores,
particularmente do presidente da República , e, consequentemente, as novas
agendas que se constituem no período analisado e que sã o o parâ metro para se
entenderem as inova ções. Essas agendas marcam novos vetores de atuaçã o
governamental articulados com a perspectiva política mais geral do governo Lula
- no caso, voltada para a inclus ã o social e para a radicaliza çã o da democracia -,
a qual se manifesta també m na política de sa ú de. É nesse jogo entre a heran ça ,
que inclui as coaliz ões políticas e os interesses consolidados , e a inova çã o que
se desenvolve a política de sa ú de, premida pelas limita ções, mas construindo
inova ções nas brechas do possível.
Embora as diferen ças de ênfase em rela çã o às inova ções e continuidades
transpareçam nos diversos capítulos da coletâ nea , tal aspecto n ã o prejudica a
unidade do trabalho e a sua contribuiçã o significativa ao oferecer um panorama
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PREFÁCIO
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Apresentação
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POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
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I APRESENTAÇÃO
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POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
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I APRESENTAÇÃO
trajetória no sindicalismo. Luiz In á cio Lula da Silva foi fundador do Partido dos
Trabalhadores (PT) em 1979 e participou quatro vezes (1989 , 1994, 1998, 2002) da
disputa presidencial até ser eleito em 2002 para o principal cargo político do país.
A vitória de Lula ocorreu doze anos após o restabelecimento das eleições diretas
para a presid ê ncia e num contexto de otimismo e aposta na mudan ça de orientaçã o
política do Estado.
A agenda de governo apresentada durante a campanha eleitoral mostrava -se
comprometida com os projetos para a á rea social, como também com a manu -
ten ção da estabilidade, do superávit primá rio e do controle da dívida interna.
Desenhou -se, assim, uma plataforma de governo voltada para o crescimento e
o desenvolvimento associados à inclusão social e ao combate às desigualdades
(Coliga ção Lula Presidente, 2002) , ao mesmo tempo que se apresentou uma carta ao
povo brasileiro selando o compromisso na manutenção dos acordos internacionais
feitos na á rea econ ómica (Silva, 2002) .
O governo Lula trouxe expectativas quanto a inflexões nas relações entre Estado
e sociedade, no modelo de desenvolvimento e de proteçã o social. Em que pesem
as contrové rsias em rela çã o à intensidade das transforma ções, em oito anos o
Brasil mudou sua posição na geopolítica e na economia mundial, experimentou
momentos de crescimento económico, com redução das desigualdades de renda, e
aprofundou os mecanismos democrá ticos. Ademais, o gasto público desempenhou
um papel fundamental na resposta do país à crise económica internacional de
2008- 2009. Em 2010, ao término do segundo mandato de Lula , o governo e o
presidente apresentavam índices de aprova çã o bastante elevados, o que favoreceu
a eleiçã o para a Presidência da República de Dilma Rousseff , ministra do governo
e candidata da situa çã o, até entã o sem grande peso político partid á rio no cen á rio
nacional (French & Fortes, 2011).
Já se produziram numerosas análises de autores internacionais e nacionais
sobre o período, com distintos enfoques e sobre variados temas e á reas de políticas
(Pitts, 2009; Love & Baer, 2009; Magalh ães, 2010; Garcia & Sader, 2010) . No entanto,
ainda existem poucos estudos de balan ço sobre as políticas de sa ú de no per íodo
correspondente aos dois mandatos presidenciais de Lula (Teixeira & Paim , 2005;
Bahia, 2010; Machado et al , 2010; Machado, Baptista & Lima, 2010; Menicucci, 2011) .
Um primeiro motivo para a relativa escassez de estudos sobre as políticas na -
cionais de saú de com esse recorte temporal pode ser o cará ter ainda recente do
término desse governo, o que requer cautela na realizaçã o de an álises abrangentes.
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POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
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I APRESENTAÇÃO
10 Apê ndice apresenta o quadro de ministros e dirigentes federais do Ministé rio da Sa ú de no período de 2003 a
2010. Ressalte - se , no entanto, que é frequente dirigentes do ministé rio ocupantes das secretarias de primeiro escalão
terem vinculaçã o político- partid á ria , alé m de trajetó ria té cnico- política na sa ú de. Ademais , a ocupaçã o de alguns
cargos das entidades vinculadas foi influenciada por acordos com partidos ou grupos de interesse. Esse foi o caso
da presidência da Funda çã o Nacional de Sa ú de (Funasa), objeto de negocia ções político- partid árias, e de algumas
diretórias da Agê ncia Nacional de Sa ú de Suplementar (ANS) , que foram ocupadas por pessoas ligadas ao mercado de
planos e seguros de sa ú de.
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I APRESENTAÇÃO
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I APRESENTAÇÃO
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I APRESENTAÇÃO
As Organizadoras
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POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
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Desenvolvimento e Institucionalidade
1 da Política Social no Brasil
A n a Luiza d’ Á vila Viana
31
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
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1 | DESENVOLVIMENTO EINSTITUCIONALIDADE DA POLÍTICA SOCIAL NO BRASIL
Olhar para cada uma das políticas e evidenciar as opções adotadas para
alé m do referencial constitucional é o objetivo deste capítulo, em que a grande
transformaçã o operada no país (do ponto de vista social, econ ómico e político)
é o fio condutor da análise. Para tanto, é fundamental verificar o contexto mais
geral que informa a configuraçã o das políticas sociais, isto é, identificar uma dada
institucionalidade da política , conformada pela existê ncia de estratégias, programas
e projetos direcionados por instituições específicas, compreendendo constru ções
cognitivas e regras normativas integrantes do processo regulatório, que ao mesmo
tempo conté m e modela o comportamento social (Scott, 1995). Dessa forma ,
transformações na institucionalidade da política social implicam redistribuição de
poder no interior de políticas específicas , que se traduz na introdu çã o de novos
atores, objetos, normas e processos, que são governados/liderados por diferentes
orientações/ideologias.
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POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
1Evidentemente, nenhuma mençã o era feita à s verdadeiras origens da crise económica na Am é rica Latina da
década de 1980: o efeito avassalador da sú bita elevaçã o das taxas de juros da economia americana sobre o n ível de
endividamento externo dos pa íses da regiã o e a estraté gia preconizada para o tratamento do pagamento da d ívida ,
cujos termos de ajuste penalizavam ainda mais as já fragilizadas economias latino-americanas.
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1 | DESENVOLVIMENTO EINSTITUCIONALIDADE DA POLÍTICA SOCIAL NO BRASIL
2 Ver as publica
ções recentes do United Nations Research Institute for Social Development (UNRISD) sobre o
desenvolvimento social de diferentes pa íses em diferentes continentes na sé rie Social Policies in a Development Context
Series e , em especial , Draibe e Riesco (2007) .
35
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
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POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
3
A privatiza çã o tornou-se parte integrante das reformas econ ómicas iniciadas no governo Collor - e continuadas
em todo o período de predomínio da institucionalidade neoliberal. Naquela é poca , foram concentrados esforços na
venda de estatais pertencentes a setores estraté gicos (siderurgia , petroqu ímica e fertilizantes) . Entre 1990 e 1994,
o governo federal desestatizou 33 empresas , sendo 18 empresas controladas e 15 participações minoritárias da
Petroquisa e Petrofértil. També m foram realizados oito leilões de participa ções minorit á rias . Com essas aliena ções
o governo obteve uma receita de US$ 8,6 bilhões que , acrescida de US$ 3,3 bilhões de d ívidas que foram transferidas
ao setor privado, alcançou o resultado de US$ 11,9 bilhões. Ver Brasil/MDIC (2002) para mais informações.
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1 | DESENVOLVIMENTO EINSTITUCIONALIDADE DA POLÍTICA SOCIAL NO BRASIL
processo inflacioná rio no Brasil. De acordo com esse plano, “ a desordem financeira
e administrativa do setor público ” (Brasil/ MF, 1993) era a causa fundamental da
infla çã o no país. Coerente com esse diagn óstico, a estratégia utilizada envolveu ,
num primeiro momento: corte de gastos (US$ 6 bilhões das despesas no orçamento
de 1993, abrangendo todos os ministé rios); recuperaçã o da receita tribut á ria
mediante a cria çã o de um imposto provisório sobre movimenta çã o financeira (IPMF)
e medidas de combate à sonegaçã o e evasã o fiscal; austeridade no relacionamento
da Uniã o com estados e municípios para equacionar o problema da d ívida entre
os entes federados; controle e fiscaliza ção dos bancos estaduais; saneamento dos
bancos federais; e continuidade do programa de privatiza ções.
Ainda nessa primeira fase do plano de estabiliza çã o econ ómica , foi criado o
Fundo Social de Emergência (FSE) , dando origem à prá tica - ainda em vigor - de
desvincular parte dos recursos fiscais da Uniã o, os quais deveriam ser transferidos
para estados e municípios ou utilizados para o financiamento das á reas que
compõem a seguridade social. Isso porque a maior parte dos recursos desse
fundo, que podiam ser aplicados em quaisquer ‘programas de relevante interesse
econ ómico e social’, era proveniente de 20% do produto da arrecada çã o de todos
os impostos e contribuições da União, mais a parcela da arrecada çã o resultante
do aumento de alíquotas ou da alteraçã o da base de cálculo de alguns tributos. Na
prá tica , os recursos do FSE foram utilizados para cobrir o d éficit orçament á rio do
governo federal, atuando assim como mecanismo de ajuste fiscal.4
Em linhas gerais, o Plano Real atrelava a estabilidade de preços a um conjunto
articulado de medidas de política econ ómica que, em certa medida, seguiam o
modelo geral de estabiliza çã o aplicado em diversos países da América Latina
durante o período (Batista Jr., 1996) . Os elementos centrais desse modelo incluíam:
uso da taxa de câ mbio como instrumento de combate à infla ção; abertura da
economia à s importa ções, por meio da drá stica redu çã o das barreiras tarif á rias e
nã o tarif á rias; abertura financeira externa , com a adoçã o inclusive de políticas de
estímulo à entrada de capitais externos de curto prazo; medidas de desindexa ção
da economia; ajuste fiscal e austeridade monetá ria; e venda de empresas p úbli-
cas. O objetivo de controlar o processo inflacioná rio foi atingido: a média anual
da inflaçã o, que era de 764% entre 1990 e 1994, caiu para 8,6% entre 1995 e 2000.
4
Destaque- se que o FSE , que deveria vigorar somente no per íodo 1994-1995 , teve seu período de vigê ncia estendido
até os dias atuais , rebatizado nos anos seguintes como Fundo de Estabiliza ção Fiscal (FEF) , de 1996 a 1999, e
Desvincula ção das Receitas da Uniã o ( DRU) , a partir do ano 2000.
40
1 | DESENVOLVIMENTO EINSTITUCIONALIDADE DA POLÍTICA SOCIAL NO BRASIL
Entretanto, o preç o pago pela estabiliza çã o monetá ria foi bastante elevado
em termos económicos e sociais: baixo crescimento económico, desequilíbrio
nas contas externas, aumento da dívida p ública , aumento da carga tributá ria ,
desorganizaçã o/desnacionaliza çã o de segmentos importantes do parque industrial
brasileiro, aumento do desemprego e da informalidade no mercado de trabalho,
queda do nível de rendimento das fam ílias e estreitamento das possibilidades de
financiamento das políticas sociais.
A reforma do Estado foi outro tema de grande centralidade na agenda
governamental durante o período de institucionalidade neoliberal. Partia -se da
constata çã o de que o Estado brasileiro - ele pró prio - vivia uma crise, cujas mani-
festa ções mais evidentes eram: a deteriora çã o dos serviços públicos, o agravamento
da crise fiscal e o esgotamento da estratégia estatizante de interven çã o do Estado
em suas vá rias formas (Estado de Bem- Estar Social nos países desenvolvidos,
estratégia de substituiçã o de importa ções no Terceiro Mundo e estatismo nos países
comunistas).Também se apontava a necessidade de substituir o modelo burocrá tico
de administra çã o pública por um modelo gerencial com ênfase no controle de
resultados (Brasil/ Presid ê ncia da Rep ública , 1995). A delimita ção do tamanho do
Estado, a redefiniçã o do seu papel regulador, o fortalecimento da capacidade de
implementar adequadamente as políticas públicas (governança) e o aumento da
capacidade política de governar (governabilidade) eram as principais questões a
serem enfrentadas no processo de reforma do Estado (Bresser Pereira , 1997). Na
prá tica , esse processo envolveu a adoçã o de programas de privatiza çã o de empresas
estatais, a transferê ncia de serviços até entã o prestados pela administraçã o direta
para o setor pú blico nã o estatal (organizações sem fins lucrativos) e a terceiriza çã o
das atividades auxiliares e de apoio.5 Envolveu também a cria çã o de novos
formatos organizacionais , como as agê ncias reguladoras, as organizações sociais
(OS) e as organiza ções da sociedade civil de interesse público (Oscip) , sinalizando
a progressiva substituiçã o de um Estado do tipo intervencionista por um Estado
regulador.
A criaçã o dessas organiza ções impactou numerosos setores, em especial o
da sa ú de, em raz ã o da transferência da gestã o de equipamentos públicos para
5
“A partir de 1995, com o in ício do governo Fernando Henrique Cardoso, foi conferida maior prioridade à privatização.
O PND é apontado como um dos principais instrumentos da reforma do Estado, sendo parte integrante do Programa
de Governo, e o Conselho Nacional de Desestatização (CND) foi criado, em substituiçã o à Comissã o Diretora . Iniciou-
se uma nova fase da privatização, em que os serviç os pú blicos começam a ser transferidos ao setor privado. Foram
incluídos os setores elétrico, financeiro e as concessões das á reas de transporte , rodovias , saneamento, portos e
telecomunica ções ” (Brasil/ MDIC , 2002: 15) .
41
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
essas novas figuras institucionais, bem como da cria çã o das agê ncias reguladoras ,
inclusive atuando na á rea social. Na verdade, as primeiras agências reguladoras
foram criadas na segunda metade da d écada de 1990, para regular os mercados
de energia elé trica (Aneel) , telecomunica ções (Anatei) e petróleo (ANP). Do ponto
de vista institucional, as agências representaram uma importante inovaçã o na
forma de atua çã o do Estado brasileiro, na medida em que foram constitu ídas
como autarquias especiais, caracterizadas por independ ê ncia administrativa ,
estabilidade de seus dirigentes, autonomia financeira e ausê ncia de subordina çã o
hierá rquica. Alé m disso, elas foram dotadas de competê ncias bastante amplas para
intervir nos mercados sob regula çã o, fiscalizar o comportamento das empresas
reguladas e estabelecer regras e normas para garantir a competitividade dos
mercados.
Do ponto de vista da política industrial, o governo Fernando Henrique Cardoso
manteve as mesmas diretrizes adotadas no início da d écada de 1990, isto é, a
crença de que as ‘forças de mercado’ promoveriam a modernizaçã o produtiva ,
a melhoria da competitividade e o aporte de capital, tecnologia e conhecimento
provenientes do exterior, fazendo com que o país se integrasse às novas regras
do jogo da economia globalizada (Cano & Silva , 2010) . Optou -se, na época , pela
substituiçã o progressiva dos instrumentos setoriais (verticais) por instrumentos
horizontais, com base na premissa de que as empresas mais aptas sobreviveriam
ao desafio da competitividade e seriam premiadas com a integra çã o competitiva
aos mercados globais. Como exemplo dessa postura , destaca-se a desativa çã o das
câ maras setoriais , no final de 1995, que haviam tido papel relevante como locus
de discuss ã o de política industrial e de estabelecimento de acordos para alguns
setores (t êxteis , ind ústria naval, tratores e má quinas agrícolas e, principalmente, o
complexo automotivo) . Partia -se, assim , do pressuposto de que “ a melhor política
industrial era nã o ter política industrial” (Cano & Silva , 2010: 4).6
Outra característica importante do per
íodo foi a emergê ncia de uma sé rie de
leis complementares à Constituiçã o Federal de 1988, que permitiram a expansã o da
autoridade da Uniã o sobre os governos subnacionais (Arretche, 2009) , resultando
na retençã o de parte das transferê ncias constitucionais a estados e municípios ,
mediante: a cria çã o dos já citados mecanismos de desvincula çã o de recursos; uma
nova legisla çã o sobre impostos estaduais (Lei Kandir) , que prejudicou os estados
6
Apesar de a experiê ncia internacional mostrar que pa íses como China e Coreia do Sul estavam adotando políticas
ativas de desenvolvimento industrial , para enfrentar de forma agressiva a concorrê ncia internacional.
42
1 | DESENVOLVIMENTO EINSTITUCIONALIDADE DA POLÍTICA SOCIAL NO BRASIL
43
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
7O Minist é rio do Bem - Estar Social, a Funda çã o Legi ã o Brasileira de Assist ê ncia ( LBA) e a Funda çã o Centro Brasileiro
para a Inf â ncia e Adolescê ncia (CBIA) foram extintos; e a coordena çã o da política de assistê ncia social passou a ser
de responsabilidade da Secretaria de Assistê ncia Social (SAS) , vinculada ao Ministé rio da Previdê ncia e Assist ê ncia
Social.
44
1 | DESENVOLVIMENTO EINSTITUCIONALIDADE DA POLÍTICA SOCIAL NO BRASIL
8
Destaque -se que era intençã o do governo substituir o modelo de repartiçã o simples da previd ê ncia por um
modelo de capitalizaçã o, no qual as contribuições seriam depositadas em contas individuais , obedecendo à ló gica
atuarial dos planos de previdê ncia privada complementar. També m se tentou instituir a cobranç a da contribuiçã o
previdenciá ria para os funcion á rios pú blicos inativos . Ambas as propostas n ã o foram bem sucedidas em sua
tramita çã o no Congresso Nacional.
45
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
9
Muitas dessas inova ções foram introduzidas por meio da ediçã o de instrumentos normativos (normas operacionais)
pelo Ministério da Sa ú de após intensa negociaçã o com gestores de estados e municípios .
46
1 | DESENVOLVIMENTO EINSTITUCIONALIDADE DA POLÍTICA SOCIAL NO BRASIL
A fase de transiçã o é marcada por uma continuidade na política econ ómica ado-
tada no período anterior, do ponto de vista tanto da estabilizaçã o monetá ria quanto
Destaque - se que esses dois mecanismos procuraram compensar as perdas ocasionadas pela suspensã o do repasse
10
de recursos do Fundo de Previdê ncia e Assistê ncia Social (FPAS) para a sa ú de, a partir de 1993, e pelos mecanismos
de desvincula çã o de recursos da União ( FSE , FEF, DRU).
11
Como é previs ível, esses resultados sofrem influê ncias das condições locais, o que produziu , em alguns casos ,
resultados divergentes dessa afirmaçã o.
47
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
48
1 | DESENVOLVIMENTO EINSTITUCIONALIDADE DA POLÍTICA SOCIAL NO BRASIL
12O crescimento do Benef ício de Presta çã o Continuada da Lei Orgâ nica da Assistê ncia Social tem també m inegável
impacto na reduçã o da pobreza: em dezembro de 2009, atingia mais de três milhões de cidad ãos (idosos e portadores
de deficiê ncias pertencentes a fam ílias de baixa renda) com o pagamento de um salário m í nimo mensal.
13
Sobre os programas na Am é rica Latina e no Caribe e suas influências, consultar Fonseca (2009).
49
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
14
Com o Suas , as a ções de assistê ncia social passaram a estar organizadas em dois tipos de proteçã o social: a
Prote çã o Social Básica , de natureza preventiva , e a Prote çã o Social Especial , que compreende a ções de média e alta
complexidades destinadas a fam ílias e indivíduos em situaçã o de risco pessoal ou social, cujos direitos tenham sido
violados ou amea çados. Nos dois casos , os serviços sã o prestados por unidades descentralizadas que atuam como
porta de entrada do sistema - os Centros de Referência de Assistência Social (Cras) - ou especializadas na oferta de
ações de média e alta complexidades - Centros de Referência Especializada de Assistência Social (Creas) .
50
1 | DESENVOLVIMENTO EINSTITUCIONALIDADE DA POLÍTICA SOCIAL NO BRASIL
tados mostram que, de fato, o valor total dos ativos das entidades fechadas de previ-
d ê ncia complementar apresentou aumento expressivo durante o período 2003-
2006, passando de R$ 189 bilhões , em janeiro de 2003, para R$ 377 bilh ões, em
dezembro de 2006 , embora o nú mero de entidades e de participantes tenha
apresentado pouca varia çã o.
A á rea de educa çã o foi marcada pela retomada de a ções e programas destinados
à expansã o do acesso à educa ção superior - tanto nas instituições p úblicas federais ,
cujo nú mero aumentou de 83 para 105, no período 2003- 2006, como nas instituições
privadas, que foram estimuladas com a cria çã o do Programa Universidade para
Todos (Prouni). Este programa passou a oferecer bolsas de estudo (integrais e
parciais) para alunos de baixa renda em instituições privadas de ensino superior;
estas, ao garantirem o acesso aos alunos beneficiados, recebem , em contrapartida ,
isen çã o no pagamento de alguns tributos federais (isen ção fiscal).15 Destaque -se
ainda o fortalecimento da educa çã o a distâ ncia como modalidade de ensino, por
meio da cria çã o da Universidade Aberta do Brasil (UAB).
Na educação básica, a grande inovação foi a substituição do Fundef , criado no
período anterior, pelo Fundo da Aten çã o B ásica (Fundeb) , ampliando seu escopo
de atua çã o para outros níveis de ensino (ensino infantil e ensino médio) e o
comprometimento da União com o financiamento da educa ção básica. O aper-
feiçoamento das ferramentas de avaliaçã o també m foi contemplado no período,
tanto no Sistema de Avaliaçã o da Educaçã o B ásica (Saeb), por meio do Prova Brasil,
quanto no Sistema Nacional de Avalia ção da Educa çã o Superior (Sinaes) , mediante
o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade).
A política de sa ú de continuou a incentivar a aten çã o prim á ria , agora com a
preocupa ção de atingir as regiões Sudeste e Sul e os municípios maiores, alé m
de implantar metas de acompanhamento e avalia çã o desse nível de aten çã o.
Algumas a ções també m foram introduzidas para ampliar o acesso da popula çã o
às a ções de sa ú de bucal (Brasil Sorridente) e de medicamentos (Farmácia Popular).
Já o atendimento aos casos de urgê ncia ganhou centralidade, com a instituição
da Política Nacional de Atendimento à s Urgê ncias e a introdu çã o do Serviço de
Atendimento Móvel de Urgê ncia (Samu) e das Centrais de Regula çã o Mé dica das
Urgê ncias.
15
Somente nos dois primeiros anos de funcionamento do programa foram concedidas cerca de 250 mil bolsas (68%
integrais) , envolvendo a participaçã o de 1.232 instituições privadas de ensino superior em todo o pa ís.
51
POL ÍTICAS DE SA Ú DE NO BRASIL
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1 | DESENVOLVIMENTO EINSTITUCIONALIDADE DA POLÍTICA SOCIAL NO BRASIL
17 1) Programas para fortalecer a competitividade: complexo automotivo; bens de capital ; têxtil e confecções ;
madeira e m óveis ; higiene , perfumaria e cosméticos; constru çã o civil; complexo de serviç os; ind ústria naval e
cabotagem ; couro, calçados e artefatos ; agroind ústria ; biodiesel ; e plá sticos ; 2) programas para consolidar e expandir
a lideranç a: complexo aeronáutico ; petróleo, gás natural e petroqu ímica ; bioetanol; mineração; siderurgia ; celulose
e papel; e carnes; 3) programas mobilizadores e áreas estratégicas: complexo industrial da saúde ; tecnologias de
informa çã o e comunica çã o; energia nuclear; complexo industrial de defesa ; nanotecnologia ; e biotecnologia (Brasil,
2008a).
18A nova classe m édia foi o título de nova pesquisa de Marcelo Néri, do Centro de Políticas Sociais/ Funda çã o Get úlio
Vargas/Rio de Janeiro (CPS/FGV/ RJ) (Neri , 2012) , utilizando os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(Pnad ) e também objeto de an álise de Lamounier e Souza (2010).
54
1 | DESENVOLVIMENTO EINSTITUCIONALIDADE DA POLÍTICA SOCIAL NO BRASIL
19
Em 2005 , os gastos sociais correspondiam a 21,1% do PIB, puxados pela previd ê ncia social geral (7%) , previd ê ncia
do setor pú blico (4,3%), educa çã o (4,1%) e sa úde (3, 3%) , segundo dados do Ipea (2011).
55
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
o BPC
Construçã o Civil
d
ca
E
o
O PBF
o
Previd ência social
1%
Exporta çã o
Commodities
o
o
I <c
Juros da d ívida p ú blica
O'
«3
•c
5 O
-2 ,4 0 2 ,4
56
1 | DESENVOLVIMENTO EINSTITUCIONALIDADE DA POLÍTICA SOCIAL NO BRASIL
Conclusões
O sistema de proteçã o social brasileiro experimentou grande evoluçã o e
aperfeiçoamento nas duas últimas d écadas , seja no plano da institucionaliza ção
de políticas e programas, seja na expansã o da provisão de bens e serviços para
camadas crescentes da popula çã o. A descentraliza çã o das a ções foi realizada
com sucesso em muitos setores, novos parâ metros para a aloca çã o de recursos
foram definidos, o poder regulatório estatal foi reforçado, parcerias entre os setores
público e privado foram estabelecidas e mecanismos de participa çã o e controle
social foram criados. Apesar desse avan ço na institucionalidade das políticas
sociais , os resultados alcan çados no enfrentamento da pobreza e da desigualdade
social foram amplamente condicionados pelo tipo de articula çã o estabelecida
entre as políticas econ ómica e social.
Durante o período em que prevaleceu a institucionalidade neoliberal, houve
grande incompatibilidade entre a estratégia macroeconômica de estabiliza çã o
monetá ria e de reforma do Estado (central e hegem ónica na agenda governamental)
e as possibilidades efetivas de desenvolvimento e inclusã o social, na medida em
57
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
58
1 | DESENVOLVIMENTO EINSTITUCIONALIDADE DA POLÍTICA SOCIAL NO BRASIL
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Saúde e Desenvolvimento Nacional:
2 a gestão federal entre 2003 e 20101
Carlos Augusto Grabois Gadelha
Lais Silveira Costa
1
A análise contida neste capítulo é fruto de algumas experiê ncias de pesquisa, entre as quais se destaca a realizada
com o apoio do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, em 2010, para o desenvolvimento da nota técnica “Melhoria
da sa ú de da popula ção brasileira ” , visando a apoiar o estudo da trajet ória de ações de governo no per
íodo entre 2003
e 2010.
61
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
2Dados os preceitos do Sistema Ú nico de Sa úde (SUS) , que institucionalizam o acesso integral , equ â nime e universal
para a populaçã o brasileira.
62
2 | SAÚDE E DESENVOLVIMENTO NACIONAL
63
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
que n ã o apenas se mostrava factível, como era vista como uma possibilidade de
engendrar um padrã o de desenvolvimento dinâ mico e socialmente justo. Essa
base consistia , de um lado, na redução da desigualdade, na garantia dos direitos
e na inclusã o social, que implicariam uma mudan ça profunda nas condições de
cidadania e de bem- estar da popula çã o, apresentando impactos expressivos na
expansã o e na consolida ção de um mercado interno de massas. De outro lado,
essa expansã o dos direitos e do mercado interno poderia ser aproveitada e se
retroalimentaria pelo investimento produtivo, pela gera ção de inova ções e pela
geraçã o de empregos, caracterizando um círculo virtuoso.
O Plano Plurianual (PPA 2004- 2007) , que inaugura oficialmente a nova estratégia
no Planejamento Governamental, é explícito nessa perspectiva , como evidencia a
cita çã o a seguir:
Se os mecanismos de transmiss ã o do aumento de produtividade ao poder
aquisitivo das famílias trabalhadoras funcionarem a contento, pode-se esta -
belecer o seguinte círculo virtuoso: aumento do rendimento das famílias
trabalhadoras / amplia çã o da base de consumo de massa / investimentos /
aumento da produtividade e da competitividade / aumento do rendimento
das famílias trabalhadoras. (Brasil/ MPOG, 2003: 17)
3
Essa perspectiva que alia o econ ómico ao social é fortemente presente em todos os documentos citados
(Propostas de Governo e Planos Plurianuais) . Para evitar redund â ncia , optou -se por utilizar algumas poucas cita ções
selecionadas do primeiro Programa de Governo e do PPA 2004- 2007 - os marcos que inauguram a nova estrat égia de
desenvolvimento proposta .
64
2 | SAÚDE E DESENVOLVIMENTO NACIONAL
foi com o avan ço na garantia dos direitos definidos na Constituiçã o Federal (Brasil,
1988) e na Lei Orgâ nica da Sa ú de (Brasil, 1990) , relacionados à universaliza çã o do
acesso, à equidade e à integralidade (acesso integral e articulado, envolvendo todos
os níveis de complexidade tecnológica) , tendo ainda como diretrizes organizativas
a descentralizaçã o (regionalizada e pactuada) e a gest ão participativa.
Essa percepção estratégica, com destaque para a universaliza çã o, já se
manifestava no Programa de Governo do primeiro mandato analisado. Nele se
afirmava: “ nosso governo trabalhará para garantir acesso universal, equ â nime e
integral às a ções e serviços de sa ú de, assim como a políticas sociais e econ ómicas
que reduzam o risco de adoecimento e que promovam a qualidade de vida ”.
Explicita -se, assim , o compromisso de empenho para o cumprimento dos princípios
constitucionais e da Lei Orgâ nica da Sa ú de (Programa de Governo, 2002: 47).
A ê nfase na sa úde universal como um direito básico de cidadania se repro-
duz , com a mesma intensidade, no programa para o segundo mandato, nos pla -
nos plurianuais e nos dois documentos principais do Ministé rio da Sa ú de para o
período - o Plano Nacional de Saú de de 2004 e o Programa Mais Sa ú de de 2007 (Brasil/
Minist ério da Sa ú de, 2004, 2007) . De fato, as ideias-força do ‘movimento sanit á-
rio’, que se mobilizou com sucesso para a incorpora çã o da sa ú de universal como
direito na Constituiçã o de 1988, encontraram, nesse momento, espaço político
para atuar em favor de seu cumprimento efetivo, uma vez que a própria com-
posiçã o das equipes ministeriais ao longo do período estudado envolveu sanita-
ristas reconhecidos nos níveis decisó rios mais elevados (Machado, Lima & Baptista ,
2009).
Embora nã o seja proposta deste trabalho fazer uma análise do amplo conjunto
de objetivos e metas relacionados à dimensão social da sa ú de constantes nesses
documentos, cabe elencar algumas diretrizes, decorrentes dessa formula ção
estratégica dos compromissos assumidos ao longo do período em análise: 1) con-
solidaçã o da aten çã o à sa ú de em seus diversos níveis de complexidade; 2) consti-
tuiçã o de uma rede nacional de serviços de sa ú de descentralizada no territó rio;
3) consolida çã o das a ções de preven ção e de vigilâ ncia em saú de; 4) reforço da
regula çã o sanitá ria mediante a consolida çã o do papel da Agê ncia Nacional de
Vigilâ ncia Sanitá ria (Anvisa); 5) melhoria na regulaçã o do segmento de sa ú de
suplementar; 6) garantia de um financiamento estável; 7) introdu çã o de mecanismos
de gestã o; 8) compromisso com o acesso a produtos e insumos estratégicos em sa ú de;
9) desenvolvimento de a ções de promoçã o à sa ú de, fruto do reconhecimento de que
65
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
66
2 | SAÚDE E DESENVOLVIMENTO NACIONAL
6
Para tanto, foi criado, no mesmo momento do lan çamento da PDP, o Grupo Executivo do Complexo Industrial da Sa úde
(Gecis) por decreto presidencial, envolvendo 14 ministé rios e instituições estratégicas para o CIS (Brasil/Ministé rio da
Sa ú de, 2008) .
67
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
68
2 | SAÚDE E DESENVOLVIMENTO NACIONAL
69
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
70
2 | SAÚDE E DESENVOLVIMENTO NACIONAL
Gráfico 1 - Taxa de mortalidade infantil 2008 ( <1 ano) e variação ( %). Brasil - 2003-2008
30 26 , 7
21, 1
19 , 0
20 15 , 8
14 ,1 12 ,8
10 - -21%
- 18% - 19 %
- 23%
- 16% - 17 %
0
Brasil NO NE CO SE su
Taxa de Mortalidade < lano Variação da taxa (2003 a 2008)
Fonte: Brasil/ MS/ SVS, 2010.
Vã rla çã o
2003 2004 2005 2006 2007 2008
2003/ 2008
NO 70 ,4 70, 7 71 , 0 71,3 71, 6 71, 8 1, 9 %
NE 68.3 68, 6 69 ,0 69 ,4 69 ,7 70, 1 2, 7%
SE 72 ,9 73,2 73, 5 73,8 74, 1 74,4 2, 1%
SU 73.6 73,9 74,2 74,4 74 ,7 75 ,0 1,9%
CO 72.6 72,9 73,2 73, 5 73, 7 74,0 1,9%
Brasil 71.4 71,7 72,1 72,4 72 ,5 73,0 2,2%
Fonte: adaptado de Brasil/Ministério da Saúde/ Datasus, 2009.
9
A diminuiçã o constante da mortalidade infantil repercute favoravelmente nesse indicador, mas a mortalidade por
violência entre os jovens em alguma medida anula os ganhos da mortalidade infantil, e este é um dos principais
motivos do crescimento pouco acentuado da expectativa de vida da população brasileira em anos recentes.
71
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
para seis meses) , as a ções regulatórias como a política contra o uso de bebidas
alcoólicas ao dirigir (a Lei Seca , cujos efeitos sã o captados nos indicadores de
violê ncia no trâ nsito) e a imposiçã o da redu çã o de sódio e da restriçã o à gordura
trans nos alimentos são marcos exemplares do início de um processo, ainda
incipiente, de se perceber a sa ú de como um fator associado à qualidade de vida.
Ainda que n ã o caiba aqui uma análise exaustiva da implementa ção dos serviços
em sa ú de, vale enfatizar que, a despeito de serem analisados tradicionalmente
por um prisma setorial, eles s ã o os que possuem maior peso económico do
CEIS, comparados aos segmentos industriais relacionados (de base química ,
biotecnológica , mecâ nica, eletrónica e de materiais). Alé m disso, sã o os serviços
que, ao estabelecerem a demanda por produtos industriais, geram uma dinâ mica
entre os referidos segmentos produtivos e a presta çã o da sa ú de, pautando uma
rela ção sisté mica entre determinados setores industriais e serviços sociais e
definindo os segmentos que, em conjunto, formam o CEIS.
Assim , importa pontuar algumas características da evolu ção da presta çã o dos
serviços em sa úde, uma vez que estes afetam a virtuosidade da relaçã o dessa
agenda setorial com aquela mais ampla de desenvolvimento sustentado nacional.
Note-se que, mesmo na an álise estritamente setorial da sa ú de, os impactos dos
serviços no está gio de desenvolvimento são claros. Houve, no período, a expansã o
dos três níveis de complexidade da atenção, com ênfase para a cobertura da
atençã o bá sica , por meio da Estratégia Sa ú de da Família (ESF) e do Programa Brasil
Sorridente.10 Essa orienta çã o propõe uma nova formataçã o do modelo de aten ção
e orienta-se pela necessidade de superaçã o de um modelo medicalizante, cuja
porta de entrada é o hospital, que tem se mostrado pouco efetivo para a populaçã o
brasileira.
Assim , potencializa -se a organiza ção de uma rede regional, que envolve a
articula çã o dos três níveis de governo, contribuindo para avan çar no está gio de
desenvolvimento do federalismo brasileiro. Alé m disso, a amplia çã o tanto da
capilaridade municipal quanto da abrangê ncia nacional dos serviços implicam
um importante efeito na equidade em sa ú de (Gráfico 2) , enfatizando a rela çã o
entre sa ú de e desenvolvimento. Note-se que, em um país como o Brasil , a escala
de alcance das ações sociais é de alta relevâ ncia , assim como a magnitude do
aumento da cobertura e seu impacto nas iniquidades em sa ú de.
10Os capítulos 5 e 6 deste livro retomam a discussã o dessas políticas, ao abordar respectivamente a dinâ mica da
agenda federal e a polí tica brasileira de atençã o prim ária à sa ú de.
72
2 | SAÚDE E DESENVOLVIMENTO NACIONAL
âS
CD -
r
'Cf
O
LD LO
LD
CT)
CD CO
CN co
co
Q
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
11Conforme resultados da Pesquisa Assist ê ncia Mé dico-Sanit ária (IBGE , 2010) e resultados da Pnad analisados por
Viacava (2010), entre outros estudos.
73
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
74
2 | SAÚDE E DESENVOLVIMENTO NACIONAL
8, 61 8,85
7,08
5, 64
4, 44 4,85
3, 70
1,52 1, 64 1,89
0,85 1,00 1,17 1,32
0,70
(3, 00)
(3, 60) (3,84)
(4, 47)
( 5, 76)
(7, 09) (7 , 21)
(9,51)
75
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
76
2 | SAÚDE E DESENVOLVIMENTO NACIONAL
Segundo dados diretamente fornecidos pelo Departamento de Assist ê ncia Farmacê utica da Secretaria de Ciê ncia ,
13
77
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
78
2 | SAÚDE E DESENVOLVIMENTO NACIONAL
Esse é um dos indicadores que refletem as dificuldades vividas na prá tica de uma
ainda jovem percepçã o da centralidade da relaçã o que a sa ú de e o desenvolvimento
estabelecem entre si. Um exemplo disso é que a proposta desenvolvida pelo Grupo
Executivo do Complexo Industrial da Sa ú de (Gecis) , para o uso estratégico do poder
de compra em sa ú de ainda n ã o teve condições de ser encaminhada ao Congresso
Nacional para ser apreciada.
Ao longo da crise de 2009, esse limite também apareceu, pois, ao contrá rio
do que se observou nos EUA, a gera çã o de demanda efetiva no â mbito da sa ú de
(mediante gastos anticíclicos) n ã o foi priorizada na estratégia governamental, a
despeito de as políticas sociais terem sido responsáveis por sustentar a demanda
da maior parte dos segmentos produtivos da sa ú de naquele período. Em todo caso,
já h á um expressivo conjunto de iniciativas para estimular a produçã o e a inova çã o
nacionais - incluindo os serviços de maior densidade tecnológica - que apontam
para um otimismo, embora cauteloso, da perspectiva de se aliar um sistema
universal a uma base produtiva dinâ mica e inovadora.
79
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
80
2 | SAÚDE E DESENVOLVIMENTO NACIONAL
financiamento (Ugá & Marques, 2005; Machado & Viana , 2009). O Gráfico 4 mostra
que o gasto federal praticamente nã o se alterou em rela çã o ao PIB (situado em 1,7%
do PIB em 2007) , sendo que 70% sã o repassados aos estados, ao Distrito Federal
e aos municípios, fruto da lógica descentralizada de funcionamento do SUS.
Somando o aporte federal ao dos estados e municípios, os gastos públicos chegam
a 3,6% do PIB.
Compara ções internacionais permitem inferir que a proporçã o do gasto
governamental sobre o PIB em rela çã o ao gasto total do governo é incompatível
com um sistema universal. Considerando os países da Organiza çã o para a Coo-
pera çã o e o Desenvolvimento Econ ómico (OCDE) - que também contemplam sis-
temas nã o universais, como o americano -, a desproporçã o é enorme (Tabela 3).
Adicionalmente, nos países desenvolvidos o gasto p úblico representa mais de
70% do gasto em sa ú de, e n ã o há no mundo nenhum sistema universal cujo
financiamento público esteja abaixo desse patamar.
3, 09
3,36 3,45 3, 55 3, 59
a
4
3 0,9 0,9 1, 0 1, 0 3
0,8
1 1,7 1,7 1, 7 1, 7 1
1,6
0 0
2003 2004 2005 2006 2007
Federal Estadual Municipal Total
81
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
A an álise da din â mica entre interesses mercantis e capitalistas nos espa ços sociais
- e, mais importante, como suas contradições podem ser reguladas - faz parte do
processo de compreensã o de quais desafios ainda precisam ser superados pelo
SUS. Nessa análise, o Estado se configura como ator central, e é relevante avaliar
se o modelo de financiamento da sa úde brasileira traz em seu bojo características
capazes de promover relações de equidade de acesso ou se, na prá tica , vem inibindo
a real universaliza çã o do sistema.
O segundo grande desafio é o modelo de gest ã o do SUS, que precisa avan çar
em duas direções principais. Do ponto de vista de uma rede descentralizada e
regionalizada, as vá rias partes do sistema precisam ser articuladas, envolvendo
um resgate e uma redefinição do papel das distintas esferas de governo, e da
relaçã o entre o SUS e o segmento de saú de suplementar, conforme sugerem as
orienta ções do SUS, no sentido de buscar a integra çã o das a ções e dos serviços
de sa ú de, definindo os sistemas de aten çã o básica como os eixos orientadores de
sua agenda política (Costa & Gadelha , 2012; Viana & Machado, 2008) . Urge retomar
a dimensã o nacional de coordena çã o e de indu çã o, para que a desarticulaçã o
institucional - sujeita a todos os tipos de pressã o política - nã o gere um sistema
fragmentado e, de fato, nã o nacional, ainda que disperso no territ ório. Para tanto,
sã o necessá rios desde um fortalecimento da capacidade institucional e profissional
no nível central até recursos para investimento, que sã o escassos e fragmentados,
e seguem , muitas vezes, uma lógica particularista local.
Além disso, do ponto de vista econ ómico, as unidades de produ çã o de bens e
serviços em sa ú de sã o organizadas de modo bastante complexo, caracterizando
uma estrutura produtiva tipicamente empresarial (Gadelha et al , 2010) , o que n ã o
se confunde com sua natureza jurídica (sejam órgã os da administra çã o direta ,
sejam funda ções, empresas p úblicas ou privadas, organiza ções sociais ou outras
82
2 | SAÚDE E DESENVOLVIMENTO NACIONAL
83
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
iilllllli
12
8
5 ,8 %
I
0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Fonte: elaboração própria com dados da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE) do Ministério da Saúde e do Fundo Nacional
de Saúde (FNS).
84
2 | SAÚDE E DESENVOLVIMENTO NACIONAL
Nessa direçã o, entende-se que a constituiçã o de uma base end ógena de ino-
va çã o em sa ú de no país requer a estruturaçã o de uma rede de instituições de
Estado que dê suporte a uma estratégia de â mbito nacional, à semelhan ça do
que ocorre nas á reas de energia e agropecu á ria , em que a Petrobras e a Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecu á ria (Embrapa) ‘ancoram’ o processo de inovaçã o,
em articulaçã o com o setor privado.
Considerando as particularidades da sa úde, o objetivo (expresso no ‘Mais
Sa ú de’) de expansã o nacional da Fiocruz deveria ser aprofundado, para o desafio
de se constituir uma rede nacional regionalizada de inova çã o, articulando essa
instituiçã o-chave na á rea de CT&I e produ çã o em sa ú de com os institutos
nacionais de assistência (Inca , Into, Instituto de Cardiologia, entre outros). Tal
articula çã o pode ser essencial para uma perspectiva de longo prazo que articule a
dimensã o social e a econ ómica , podendo orientar e viabilizar um padrã o adequado
de inovaçã o tecnológica , tanto p úblico como privado, que permita dar um salto
qualitativo num ambiente internacional extremamente competitivo e amea çador.
Em última instâ ncia , somente o enfrentamento do desafio da inova çã o em sa ú de
e de redu çã o das assimetrias internacionais permitiria garantir o acesso integral à
sa ú de pelo cidad ã o, independentemente do grau de complexidade tecnoló gica dos
bens e serviços.
Como decorrência dos desafios previamente indicados - sendo mesmo um fator
condicionante -, o quarto desafio é a necessidade de construçã o de uma capacidade
estratégica no nível federal do sistema de saú de, para garantir o predomínio de
uma visã o nacional em sua orienta çã o e regula çã o. A concepçã o de organizaçã o de
um sistema descentralizado, que prioriza a execu çã o das a ções em nível estadual
e, principalmente, municipal, tem como contrapartida conceituai e operacional a
existência de uma estrutura hierarquizada , capaz de estabelecer a organicidade das
a ções para a configura çã o de um sistema nacional de sa ú de integrado no território.
Para tanto, a esfera federal precisa ter uma alta capacidade de formula çã o e de
indu çã o das políticas nacionais e de regulaçã o do sistema , estabelecendo formas
democrá ticas e coerentes de organiza çã o federativa. Sem isso, a probabilidade de
uma ineficiência sistémica, acompanhada de uma fragmentaçã o das a ções em
sa ú de, parece incontorn ável.
O SUS, como um sistema nacional de sa ú de, também requer a organiza çã o de
uma nova estrutura no nível federal, com a incorpora çã o de um corpo estratégico
de profissionais capazes de elaborar, induzir e avaliar as políticas nacionais. Assim
85
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
será possível, por exemplo, efetuar uma a çã o efetiva para viabilizar os objetivos
de uma atua çã o regionalizada , que tenha uma visã o nacional das iniquidades
e que, inclusive, recupere o espa ço crítico dos estados na a çã o regional. Tornar-
se- á possível també m uma regula çã o da incorpora çã o tecnológica no SUS que
permita induzir aquelas inova ções de que a popula çã o realmente precisa. Sem
isso, a ineficiê ncia sistémica e o descontrole do uso de tecnologias - que de fato
vê m ocorrendo pela ‘judicializa çã o’ da sa ú de - tornam qualquer financiamento
insuficiente para o atendimento de demandas que, nem sempre, se ligam às
necessidades de sa ú de.14
O quinto desafio que deve ser enfrentado refere-se à questã o democrá tica
e aos mecanismos de participa çã o no SUS. A agenda intersetorial da sa ú de e a
rela çã o entre sa ú de e desenvolvimento revelam a necessidade de tirar o SUS do
insulamento setorial nos f óruns participativos de decisã o. As instâ ncias de pac-
tua çã o e de delibera çã o devem ser repensadas para aprofundar a gest ã o demo-
crática , incorporando novas lógicas e novos atores no direcionamento estratégico
e no controle social. No presente, observa-se o risco de essas inst âncias participati-
vas se burocratizarem , refletindo lógicas e interesses localizados que nã o interagem
com uma política nacional de desenvolvimento que remete para novas quest ões e
para a necessidade de ruptura com paradigmas restritos ao campo da sa ú de.
Considerações Finais
14
O sistema nacional de sa ú de inglês , como paradigma dos sistemas universais , é o grande exemplo dessa a çã o que ,
ao mesmo tempo, estimula e regula a incorporação tecnoló gica ; este tema está muito presente na agenda , mesmo
nos sistemas de mercado, como o americano.
86
2 | SAÚDE E DESENVOLVIMENTO NACIONAL
15Para uma recente e abrangente análise dos aspectos conceituais, das tipologias dos sistemas de sa ú de e da situa çã o
internacional e no Brasil , ver os artigos apresentados no livro organizado por Giovanella e colaboradores (2008).
87
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
88
2 | SAÚDE E DESENVOLVIMENTO NACIONAL
Referências
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89
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
90
Financeirização da Assistência
3 Médico-Hospitalar no Governo Lula
L í gia Bahia
91
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
92
3 | FINANCEIRIZAÇÃ O DA ASSISTÊNCIA MÉDICO-HOSPITALAR NO GOVERNO LULA
2003 (24,6%) e 2008 (25,9%) , uis à vis à expansã o financeira do setor suplementar,
exemplificada pela recente ascensã o do principal proprietá rio da empresa de
medicina de grupo Amil ao grupo dos maiores bilioná rios do mundo (IBGE, 2010;
O Estado de S. Paulo, 2011).
Em termos absolutos, o n ú mero de brasileiros vinculados aos planos e seguros
de sa úde aumentou de 43 milh ões para 49, 2 milh ões de pessoas em 2008; mas as
altera ções na configura çã o do setor parecem decorrentes, antes, de movimentos de
capitaliza çã o, fusões e aquisições do que do incremento da demanda (IBGE, 2010).
Antecipando algumas constata ções apresentadas neste capítulo, a mobilidade
social ascendente, muito expressiva nos estratos de renda inferiores da popula çã o,
n ã o alavancou automaticamente a reorganiza çã o das empresas privadas de
sa ú de. Parece ter sido a ‘segunda alma’ do governo petista (a expressã o é de André
Singer, 2010) - isto é, a continuidade do pacto envolvendo juros altos, liberdade de
movimento dos capitais e corte dos gastos p úblicos - a principal propulsora das
mudan ças no setor suplementar.
Porém , os referenciais genéricos nem sempre admitem traduções operacionais
simplificadas. Os efeitos da ortodoxia macroeconômica n ã o se disseminaram
homogeneamente nas políticas de sa ú de (Teixeira & Paim, 2005; Machado et al ,
2010; Bahia , 2010). Paradoxalmente, a reaçã o às ameaças de ataque à moeda e
outros haveres do país, organizadas na saúde sob inspiraçã o dos denominados
arranjos produtivos locais que buscam fomentar a produ çã o industrial, ocorreu
lateralmente aos processos de financeiriza çã o. A cria çã o do Grupo Executivo do
Complexo Industrial da Sa ú de (Gecis) em 2008,1 a organiza çã o de um escritório
da Funda çã o Oswaldo Cruz (Fiocruz) na África 2 e o apoio do governo brasileiro
à implanta çã o da f ábrica de medicamentos em Moçambique que produzirá
antirretrovirais representaram um passo adiante na perspectiva de prioriza çã o de
investimentos produtivos. Essas iniciativas certamente n ã o foram suficientes para
provocar uma onda antifinanceirizaçã o. Contudo, parecem ter sido importantes
para descortinar alternativas e delinear efeitos- demonstra çã o.
Assim , as contradições e a ocupa çã o de espa ços e interesses aparentemente
antagónicos no tabuleiro político e social requerem chaves interpretativas mais
1
A cria çã o do Gecis e sua inserçã o nas polí ticas federais relativas ao Complexo Industrial da Sa ú de sã o abordadas
no capítulo 2.
2 A Fiocruz
África , o primeiro escritório internacional da Funda çã o, foi inaugurado pelo presidente Luiz In á cio
Lula da Silva , o então ministro da Sa ú de, José Gomes Temporã o, o presidente da Fiocruz, Paulo Buss, e autoridades
africanas , no dia 17 de outubro de 2008, em Maputo, Moçambique.
93
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
94
3 | FINANCEIRIZAÇÃ O DA ASSISTÊNCIA MÉDICO-HOSPITALAR NO GOVERNO LULA
95
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
96
3 | FINANCEIRIZAÇÃ O DA ASSISTÊNCIA MÉDICO-HOSPITALAR NO GOVERNO LULA
A Amil (cujo valor de mercado, em janeiro de 2011, era de R$ 5,8 bilh ões) é a
empresa que se firmou como líder dos processos mais recentes de reconfigura çã o
do mercado de assistê ncia suplementar. Outras empresas que integram o seg-
mento sa ú de do setor consumo cíclico da Bovespa são: Dasa (valor de mercado
de R$ 4,6 bilhões); Fleury (valor de mercado de R$ 3, 3 bilhões); Odontoprev (valor
de mercado de R$ 4 bilhões); Tempo Participa ções (valor de mercado de R$ 700
milhões); Biomm (empresa de biotecnologia, lan çou a ções na Bovespa em 2002) e
Cremer (distribuidora e fabricante de produtos médicos hospitalares , que lan çou
a ções em 2008) (Bovespa , 2011). Alé m dessas organiza ções, a Medial direcionou
suas estratégias para a abertura de a ções na Bovespa em 2006. Mas enfrentou
problemas e, em 2009, foi comprada pela Amil.
O Quadro 1 procura elencar, nã o exaustivamente, o processo de expansão da
Amil. Verifica -se que a veloz incorpora çã o de empresas e estabelecimentos de
sa ú de concentrou-se em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília , Paran á e Pernambuco
e, ainda , que os valores estimados de aquisiçã o dessas organiza ções mostraram-
se bastante diferenciados. Segundo as informa ções compiladas, observa -se uma
varia çã o ampla no pre ço pago por leito, ou por cliente das empresas de planos
de sa ú de. Nota -se que o lan çamento de a ções na Bovespa , no final de 2007 ,
alavancou iniciativas de aquisiçã o e fusões iniciadas anteriormente. Com esses
97
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
Quadrol - Trajetória da empresa Amil entre 2002 e 2010 segundo investimentos, lucros,
valor das ações e ocupantes de cargos executivos e administrativos
Ano Aquisições e fusões/ outros investimentos IPO * ( valor arrecadado )/ Presid ência, Conselho
valor das ações Consultivo
Fontes: Bovespa, 2011; Folha úe Londrina , 2007; 0 Globo , 2008; Brasil Económico , 2010; Amilpar, 2011; Agencia Estado , 2010.
* IPO (initial public offering), oferta pública inicial, é o evento que assinala a primeira oferta de ações de uma empresa, isto é, quando ela abre seu capital e
passa a vender ações na Bolsa de Valores. Quando as empresas abrem seu capital, elas transferem aos investidores parte do seu controle acionário. Em troca, as
companhias abertas recebem dinheiro para seus investimentos.
* * Graduados em medicina.
* * * Graduado em engenharia química. De 2003 a 2007, foi ministro de Desenvolvimento,Indústria e Comércio Exterior.Anteriormente, foi presidente do Conselho
de Administração da Sadia S.A., empresa na qual atuou desde 1978.
99
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
Quadro 2 - Trajetória da empresa Medial entre 2006 e 2009 segundo investimentos, lucros, valor das
ações e ocupantes de cargos executivos e administrativos
Ano Aquisições e fusõ es/ outros investimentos Receita/ valor arrecadado Valor das Presidência,
( vendas ) lanç amento das ações a ções Conselho
Consultivo,
consultorias
( estrat égia )
2006 Lanç amento açõ es na Bovespa R $ 750 milhõ es arrecadados R $ 22,10 Luiz Kaufmann * *
com o lanç amento de açõ es ( presidente)
na Bovespa ( expandir
investimentos)
Membros externos
do Conselho:
Alcides Lopes
Tápias, Antonio
Kandir, Betania
Tanure de Barros
2008 Sport Club Corinthians - valor: R $ 16,5 milhões R $ 17,8 milhõ es Ebitda * R $ 21,05 Emílio
Grupo Saúde medicina de grupo, localizada Prejuízo R $ 162 mil Carazzai * * *
em Pernambuco - valor 49% das cotas: R $ 17 (presidente)
milhões Refrear
SAE Laborat órios, localizado em Sã o Paulo - investimentos
valor: R $ 12,3 milhões
Previsão de construir dois hospitais com 650
leitos em São Paulo
Membros
independentes do
Conselho:
Alcides Lopes
Tapias, Antonio
Kandir, Betania
Tanure de Barros
e Gustavo
Fernandes
Moraes
Fontes: Gazeta Mercantil, 2008b; Exame, 2008; atas das reuniões do Conselho de Administração Medial Sa úde S.A., 22 de dezembro de 2006 e 20 de agosto
de 2009.
* Ebitda: lucro antes dos impostos, depreciação e amortização.
* *Luiz Kaufmann, graduado em engenharia. Presidente e CEO da Medial Saúde, sócio da GP Investimentos, diretor-presidente da Aracruz Celulose, diretor-geral
do Grupo Multiplic e vice- presidente do Conselho Diretor do Banco Multiplic, vice- presidente executivo do Grupo Petropar e diretor-geral da Arthur D. Little.
* ** Emílio Carazzai , graduado em direito. Presidente da Caixa Econ ómica Federal e secretário executivo do Minist ério da Fazenda, presidente da Medial Saúde,
diretor executivo da Quadrivium Corporate Consulting, Presidente do Banco Pine, diretor de Planejamento da BompreçoPar, consultor e secretário executivo da
BoozAllen & Hamilton.
* * * * Henning von Koss, graduado em administraçã o de empresas. Presidente do Grupo Bayer e da Bayer Healthcare, membro do conselho das Câmaras da
Indústria Farmac êutica da Colômbia e Venezuela; foi vice- presidente para a Am é rica Latina da Bayer MateriaIScience.
100
3 | FINANCEIRIZAÇÃ O DA ASSISTÊNCIA MÉDICO-HOSPITALAR NO GOVERNO LULA
101
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
3
O IFC , membro do World Bank Group, objetiva reduzir a pobreza e promover o crescimento econó mico sustent ável
nos pa íses em desenvolvimento, apoiando o desenvolvimento do setor privado, por meio da mobiliza ção de capital
para investimentos privados e serviç os de consultoria e mitigaçã o de riscos para empresas e governos. No Brasil,
em 2009, o IFC esteve envolvido com a assessoria para construção e implementação da parceria pú blico- privada do
Hospital do Subúrbio e com investimentos na rede D’Or. Ver informa ções em: < www.ifc .org>.
102
3 | FINANCEIRIZAÇÃ O DA ASSISTÊNCIA MÉDICO-HOSPITALAR NO GOVERNO LULA
Fontes: IFC, 2010; Rede D’Or, 2011; São Luiz, 2011; Sa úde Business Web, 2010b.
* Graduado em medicina, fundador e principal proprietário.
** Graduado em medicina.
*** Graduado em marketing, diretor do Grupo Pão de Açúcar, vice- presidente Comercial e de Marketing da Carl Zeiss Vision, diretor comercial do Makro Atacadista,
diretor de Marketing do Grupo Berlin e da Johnson&Johnson.
**** Informação sobre graduação não disponível. Representante do BTG Pactuai, sócio do BCG Pactuai, diretor financeiro das Lojas Americanas.
103
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
104
3 | FINANCEIRIZAÇÃ O DA ASSISTÊNCIA MÉDICO-HOSPITALAR NO GOVERNO LULA
...[o setor] é altamente fragmentado, sendo formado por 1,7 mil operadoras
.
em atividade e milhares de prestadores de serviços, entre hospitais,
laborató rios, m édicos , e outros profissionais de sa ú de. (...) os beneficiá rios
das dez maiores operadoras de planos m é dico-hospitalares do Brasil somam
28,1% do total em setembro de 2008. (...) de acordo com um relató rio publicado
pela corretora Bear Stearns, em junho de 2006, as 25 maiores empresas de
planos de sa úde dos Estados Unidos respondiam pelo atendimento de 85%
dos clientes. (Medial Sa úde, 2008b)
105
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
A observâ ncia dos limites legais , embora tenha induzido o grupo Fleury
a repassar seu hospital antes de abrir seu capital na Bovespa, parece nã o ter
impedido a rede D’Or nem outras empresas hospitalares de os contornarem e se
associaram a investidores estrangeiros, por meio das transa ções com debêntures
(que conferem a seus detentores direitos similares à queles dos acionistas). O grupo
Vita de Santa Catarina emitiu, em 2005, debê ntures nã o conversíveis em a ções,
mas que garantem aos investidores participação nos lucros. Os títulos da rede D’Or,
porém, poderã o, sim , ser convertidos em a ções (Vita, 2005; Valor Económico, 2010c).
As a ções das empresas relacionadas mais diretamente com o mercado de
assistê ncia suplementar4 nã o são as mais lucrativas , nem se situam entre as mais
negociadas (Bovespa , 2011). No entanto, os processos recentes de capitaliza ção
certamente modificaram profundamente o status da sa ú de no mapa geral dos
investimentos brasileiros.
4
No início de 2011, as a ções das principais empresas do ramo valiam: Amil - R$ 17,50; Dasa - R$ 20,00; Fleury - R$
22 ,90; Odontoprev - R$ 22,40; e Tempo Participa ções - R$ 4,15. Tais a ções têm apresentado oscila ções de preços
relativamente pequenas.
106
3 | FINANCEIRIZAÇÃ O DA ASSISTÊNCIA MÉDICO-HOSPITALAR NO GOVERNO LULA
107
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
5Por meio do decreto n. 4.979, de 2004, que regulamentou o artigo 230 da Lei sobre o Regime Único dos Servi -
_
dores. Disponível em: <http://legislacao. planalto. gov.br/legisla/legislacao.nsf /Viw Identificacao/ DEC% 24.979- 2004?
OpenDocument >. Acesso em : 3 out. 2011.
108
3 | FINANCEIRIZAÇÃ O DA ASSISTÊNCIA MÉDICO-HOSPITALAR NO GOVERNO LULA
adoção de modelos assistenciais integrados, para propiciar aten ção integral aos
clientes; 2) o mascaramento dos subsídios públicos e das tentativas de ampliá-los;
3) a retra çã o das a ções de cobran ça de garantias de cobertura.
Durante o segundo mandato de Lula , os ministros da Sa ú de indicados pelo
PMDB mantiveram, com uma exce çã o, os mesmos nomes nos cargos de direçã o da
ANS. A troca de um diretor de estirpe sanitarista por outro n ã o alterou a essê ncia
da composiçã o política da instituiçã o. No entanto, o projeto de qualifica çã o das
empresas, antes categorizado como essencial para a mudan ça na garantia de
acesso e qualidade para os segmentos populacionais vinculados aos planos de
sa ú de, perdeu vitalidade. Mesmo assim , os esforços para ampliar as coberturas
encontraram outra via de passagem. Em 2007, a inclusã o negociada e progressiva
de procedimentos, proposta com a resolu çã o normativa n. 167, inaugurou uma
din â mica mais aberta nos debates sobre as rela ções entre acesso, utiliza çã o de
serviços e pre ços (ANS, 2008). Simultaneamente, os projetos e os depoimentos de
um dos diretores da ANS em prol das empresas de planos e seguros tornaram-se
mais audíveis. As proposições de estímulos à capitalizaçã o das empresas de planos
e seguros e cria ção de fundo garantidor, acompanhadas da tese sobre a ‘falê ncia
do setor público’, foram expostas em diversos f óruns sobre o sistema de sa ú de no
Brasil.
Esses projetos, embora divergentes , confluíram em torno das iniciativas dis-
seminadas pelos dirigentes da ANS de propagar a comprova çã o dos benéficos
efeitos do crescimento econ ómico para o mercado e, sub-repticiamente, para
a sa ú de. Inicialmente, o aumento das coberturas, especialmente dos planos
odontológicos, foi anunciado como um resultado da sintonia da regula çã o com
o aumento da capacidade de consumo da popula çã o. Uma notícia publicada ,
provavelmente no início de 2008, introduz o novo script da ANS:
Planos odontoló gicos devem crescer 21,4%
O ano passado foi bom , quem dirá 2008. Essa é a previs ã o feita pela ANS
(Agência Nacional de Sa ú de). A expectativa é que o n ú mero de beneficiá rios
aumente em, aproximadamente, 21,4% ao final deste ano, ultrapassando a
marca de 10 milhões de pessoas atendidas. (Agência Seg News , s.d .)
109
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
Considerações Finais
110
3 | FINANCEIRIZAÇÃ O DA ASSISTÊNCIA MÉDICO-HOSPITALAR NO GOVERNO LULA
111
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
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113
B SI A
^ II. Caminhos JÇr.'
%
-
J
W>-
0 Modelo de Intervenção do Estado
4 na Saúde: notas sobre a atuação
federal
Cristiani Vieira Machado
117
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
O modelo de interven çã o do Ministé rio da Saú de nos últimos vinte anos foi
condicionado por uma sé rie de vari áveis. Entre aquelas de cará ter geral, destacam-
se as repercussões das agendas de reforma do Estado no país, que sã o mediadas
pelas características histórico-estruturais do Estado brasileiro e pelas opções dos
diferentes governos. Como variáveis setoriais, vale destacar a trajetória histórico-
institucional da sa ú de e as novas regras para a atuaçã o do gestor federal do SUS.
Ressalte-se ainda um terceiro grupo de vari áveis, de cará ter político-conjuntural,
concernentes ao estatuto político da saú de nos governos do período e às rela ções
entre os atores com peso na definiçã o da política , considerando os limites da
governabilidade do Ministé rio da Saú de.
Os processos de reforma dos Estados Nacionais em vá rios países, a partir do
final da d écada de 1970, foram marcados pela crítica à excessiva interven çã o
estatal. Evans (1993) sinaliza que, após uma onda de reformas fundamentadas em
ideias neoliberais, já nos anos 90, houve, no plano internacional, certa retomada
da valoriza çã o do Estado e da necessidade de fortalecimento de sua capacidade
institucional para o exercício de vá rias fun ções.
Quanto ao modelo de interven çã o estatal, Majone (1999) identifica , nas d écadas
de 1980 e 1990, um movimento de substituiçã o do ‘Estado positivo’ - planejador,
produtor direto de bens e serviços e empregador - pelo ‘Estado regulador’, ainda
que tais mudan ças se expressem de forma diferente entre na ções e á reas da
política. Na á rea da sa ú de, em muitos países europeus , as reformas levaram ao
118
4 | 0 MODELO DE INTERVENÇÃ O DO ESTADO NA SAÚDE
fortalecimento da regula çã o dos sistemas, exercida por meio dos ministé rios da
Sa úde (Figueras et al , 2002).
No Brasil, as repercussões dessas tend ências foram mais evidentes na d écada
de 1990, com características específicas. A d écada foi marcada pela liberaliza çã o
económica e a democratiza çã o (Sallum Jr., 2004) , com o predomínio de uma agenda
de reformas que visou a desmontar o modelo de interven çã o econ ómica e social
conformado na ‘era Vargas’. Tais reformas se nortearam , no plano econ ómico,
pela abertura de mercados, centralidade das medidas de estabiliza çã o fiscal e das
privatiza ções; no plano social, pela expansã o de algumas políticas, porém com
limites ao crescimento dos gastos públicos e ê nfase na descentraliza çã o; e no
plano administrativo, pela busca de redu çã o do tamanho da administra çã o pública
federal e de seu papel de presta çã o direta de serviços (Santos, 2006).
Mattos (2006) , ao discutir as mudan ças no Estado regulador1 brasileiro à luz
das implica ções das interpreta ções sobre o Brasil para as rela ções entre Estado
e sociedade, identifica historicamente dois modelos preponderantes. O primeiro
modelo estatal, conformado a partir do governo Vargas e aprofundado no regime
militar, teria se fundado no pensamento autorit á rio, negando a relevâ ncia da
democracia para o desenvolvimento. A alternativa formulada por Celso Furtado
na década de 1950, de um modelo democrá tico de Estado planejador desen-
volvimentista , nã o teria chegado a se constituir plenamente.
Para o autor, o segundo modelo - caracterizado pela cria çã o de agências
reguladoras, privatiza ções de empresas estatais, terceiriza çã o de fun ções do Estado
e regula ção da economia em uma lógica de defesa da concorrê ncia e correçã o de
‘falhas de mercado’ - teria se afirmado nos anos 90, no governo Fernando Henrique
Cardoso. Tal modelo, pautado pela nega çã o do próprio Estado, envolveria um
movimento político de ‘descentraliza ção’ do poder do presidente e dos ministros ,
de mudan ças no funcionamento da burocracia e de cria çã o de novos mecanismos
ídico-institucionais de formula ção e regula ção de políticas - como as agê ncias
jur
reguladoras (Mattos, 2006).
Já Boschi e Lima (2003) identificam uma mudança expressiva no padrão
de atua çã o do Estado a partir da d écada de 1990, mas ressaltam como um
1 O autor adota uma concepçã o ampla de ‘regula çã o’ para designar qualquer forma de intervençã o do Estado sobre a
economia . Nesse sentido, defende a ideia de que o Estado regulador nã o é uma novidade no caso brasileiro, embora
outros autores designem o modelo de Estado constitu ído na era Vargas como ‘planejador’ ou ‘ desenvolvimentista ’.
Nessa perspectiva , o que varia entre os modelos sã o as formas assumidas pela regula ção e , sobretudo, o seu
significado e implicações em termos das relações Estado-sociedade.
119
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
Planejamento
122
4 | 0 MODELO DE INTERVENÇÃ O DO ESTADO NA SAÚDE
123
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
a articula ção entre planejamento e orçamento, como nos anos 90, por meio dos
PPAs (2004- 2007 e 2008- 2011). Esses PPAs, elaborados ao longo do mandato de um
mesmo presidente da Rep ública , apresentaram diferen ças quanto à orienta çã o
da estratégia de desenvolvimento. Enquanto o primeiro enfatizou a redu çã o da
desigualdade e maior inclusã o social, o segundo apresentou orienta çã o fortemente
económica , visando à acelera çã o do crescimento.
Tais diferen ças refletiram-se na sa ú de, visto que os PPAs influenciaram , em
cada mandato, as estrat égias e os instrumentos de planejamento de iniciativa
do Ministé rio da Sa úde. O fortalecimento da fun çã o planejadora federal, em
uma perspectiva mais integrada e debatida entre á reas, foi buscado por meio da
constru çã o do Plano Nacional de Sa ú de 2004- 2007 (Brasil, 2004). A valoriza çã o
da coordena ção intergovernamental para o alcance de prioridades da política
se traduziu na elabora ção do Pacto pela Sa ú de (Brasil, 2006). Por fim , o esforço
de inserçã o da sa ú de em um projeto de desenvolvimento em transforma ção se
expressou na constru çã o do Plano Mais Sa úde 2008- 2011 (Brasil/Ministério da
Sa ú de, 2009).
Ressalte-se que foram identificados dois momentos no que concerne ao
planejamento federal em sa ú de. O planejamento em sa ú de no primeiro governo
(2003 a 2006) foi marcado por uma orientaçã o democrá tica e gerencialista ,
envolvendo ao mesmo tempo um intenso processo de debate interno ao ministé rio
e com outros atores (do governo federal, de outras esferas de governo) e um
esforço de tradu ção das prioridades políticas em metas objetivas. No período
correspondente ao segundo governo (2007- 2010) , a orienta çã o gerencialista
se manteve e houve um movimento setorial de atrelar a política de sa ú de ao
debate do modelo de desenvolvimento, com repercussões incertas. No entanto, o
processo de planejamento n ã o expressou tã o fortemente a adoção de mecanismos
participativos amplos, tra ço marcante no período anterior. As principais
caracter
ísticas do planejamento federal em sa ú de nos dois governos Lula são
resumidas no Quadro 1.
Financiamento
124
4 | 0 MODELO DE INTERVENÇÃ O DO ESTADO NA SAÚDE
125
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
126
4 | 0 MODELO DE INTERVENÇÃ O DO ESTADO NA SAÚDE
Gráfico 1 - Evolução da execução orçamentária do Ministério da Saúde com ações e serviços de saúde,
em valores empenhados, ajustados pela inflação. Brasil - 1995-2009
70.000.000.000
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Fonte: elaboração própria com dados orçamentá rios de 1995 a 2001 diretamente fornecidos pela Subsecretaria de Planejamento e Orç amento/ Secretaria
Executiva/ Ministério da Sa úde; e dados orç amentá rios de 2002 a 2009 do Siga Brasil ( Brasil/ Senado Federal, 2011).
Obs: recursos ajustados para valores de dezembro de 2009 pelo índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
127
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
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1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
O Execução orçamentária do Ministério da Saúde com ações e serviços de saúde como % PIB
Variação anual do PIB (em %)
Fonte: elaboração própria com dados orç amentá rios de 1995 a 2001 diretamente fornecidos pela Subsecretaria de Planejamento e Orç amento/ Secretaria
Executiva/ Ministério da Saúde; dados orç amentários de 2002 a 2009 do Siga Brasil (Brasil/ Senado Federal, 2011); e dados do PIB do Ipeadata (Ipea , 2011).
Obs.: recursos ajustados para valores de dezembro de 2009 pelo índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE.
128
4 | 0 MODELO DE INTERVENÇÃ O DO ESTADO NA SAÚDE
45.000.000 86, 7 90
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2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
% transferência/ gastos federais com ações e serv. saúde O Total das transferências diretas
Fonte: elaboraçã o própria com dados de transferências federais da Sala de Situação do Ministério da Saúde ( Brasil/ Ministério da Sa ú de , 2011); e dados orça-
mentá rios do Siga Brasil (Brasil/ Senado Federal, 2011).
Obs.: recursos pagos, ajustados para valores de dezembro de 2009 pelo índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE.
129
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
orçamentá ria do ministé rio com a ções e serviços de sa úde cresceu de 54,0%, em
2002, para 86,7%, em 2009. No final do período analisado, a parcela do orçamento
federal com a ções e serviços de sa ú de diretamente executada pelo ministério era
limitada (menos de 14%) , correspondendo principalmente a gastos com pessoal
ativo, gestã o de programas nacionais e custeio de ó rgã os e unidades pró prias.3
Ressalte-se que a proporçã o de transferê ncias ultrapassou 80%, após a
entrada em vigor do Pacto pela Sa ú de, em 2007, e a criaçã o de grandes blocos
de financiamento, que radicalizaram as transferências federais para as esferas
subnacionais. A modalidade de pagamento federal direto a prestadores de servi -
ços ambulatoriais e hospitalares praticamente deixou de existir. Mesmo os recur-
sos de investimentos federais, antes executados por meio de convé nios com
estados, municípios ou prestadores, a partir de 2009 passaram a ser, em parte,
repassados por meio de um bloco específico de transferê ncias - o que nã o signi-
fica que estados e municípios tenham ampla autonomia para a aplica çã o dos
recursos transferidos. Como será visto no próximo item, persistem condicio-
nalidades e vincula ções das transferê ncias a programas nacionais específicos ,
como formas de regulaçã o federal sobre as esferas subnacionais.
Diante do peso ainda relevante dos recursos federais e das influ ê ncias do
ministé rio sobre a sua aplicaçã o, é importante analisar a distribuição desses recur-
sos, considerando os grupos de despesa , campos/ programas de sa ú de e distribui-
çã o territorial.
No que diz respeito aos grupos de despesa , vale ressaltar a persistê ncia, nos
anos 2000, da baixa participaçã o dos investimentos no orçamento do Ministé rio
da Sa ú de, que, no período de 2002 a 2009, oscilou entre 3,4% e 6,3%, em termos do
orçamento empenhado com a ções e serviços de sa ú de. Como demonstra o Gráfico 4,
se considerados os valores efetivamente pagos, esses percentuais s ã o ainda menores
(variam entre 0,5% e 2,1% apenas), visto que o grupo de investimentos é, em geral,
o mais prejudicado nas diferentes etapas da execu çã o orçament á ria da sa ú de,
apresentando a menor relaçã o entre valores empenhados e pagos a cada exercício.
3Machado ( 2007) apontou que , em 2002, as transferê ncias diretas ultrapassaram 70% do financiamento federal das
ações de sa úde. No entanto, o indicador se referia ao peso das transferências diretas para esferas subnacionais em
rela çã o ao pagamento federal direto a prestadores. A fó rmula utilizada naquele trabalho para o c álculo do indicador
foi ‘Proporçã o de transferê ncias = (transferê ncias/ ( transferê ncias + pagamento direto a prestadores))*100\ Portanto,
o c á lculo não inclu ía outros recursos orçament á rios federais de execução direta . Neste capítulo, o indicador se refere
à proporção das transferências no total da execução orçamentária do Ministério da Saúde com ações e serviços de
sa úde, incluindo no denominador o pagamento de pessoal ativo, gest ão de programas e investimentos federais
diretos. Nã o est ã o inclu ídos os pagamentos de inativos e pensionistas, de d ívidas e de opera ções especiais n ão
consideradas como a ções e serviços de sa ú de.
130
4 | 0 MODELO DE INTERVENÇÃ O DO ESTADO NA SAÚDE
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2002 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Fonte: elaboração própria com dados orçamentários do Siga Brasil (Brasil/ Senado Federal, 2011).
4
N ã o foi possível analisar os dados de anos anteriores por indisponibilidade ou problemas de comparabilidade ,
relacionados às mudanças na agrega çã o dos programas orçament á rios em 2004, fruto de altera ções na estrutura
administrativa do Ministé rio da Sa úde em 2003 e do in ício de um novo ciclo do planejamento plurianual, traduzido
no PPA 2004- 2007. Mesmo a utilização de dados de 2008 e 2009 exigiu cautela , pois houve mudanças de nomenclatura
e agregação dos programas no ciclo do PPA 2008- 2011.
131
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
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2004 2005 2006 2007 2008 2009
Fonte: elaboração própria com dados orçamentários do Siga Brasil (Brasil/ Senado Federal, 2011).
Obs.: recursos empenhados, ajustados para valores de dezembro de 2009 pelo índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE.
5
A Secretaria de Gest ã o do Trabalho e da Educa çã o na Sa ú de foi criada em 2003 e passou a ter orçamento pró prio em
2004 , o que pode ter implicado um aumento de recursos entre 2003 e 2004. Porém , nã o foi possível obter os dados de
gastos relativos a esse campo anteriores à cria çã o da Secretaria , que reuniu a ções antes dispersas entre vá rias á reas
e programas do ministério. Para uma discuss ão mais aprofundada , ver o capítulo 7.
132
4 | 0 MODELO DE INTERVENÇÃ O DO ESTADO NA SAÚDE
Gráfico 6 - Variação na execução orçamentária do Ministério da Saúde entre 2002 e 2009, segundo
regiões e total Brasil (‘regionalizável’)
Fonte: elaboraçã o própria com dados orçamentários do Siga Brasil ( Brasil/ Senado Federal, 2011).
Obs.: variação calculada com base em recursos ajustados para valores de dezembro de 2009 pelo índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do
IBGE.
133
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
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Fonte: elaboração própria com dados orçamentários do Siga Brasil (Brasil/ Senado Federal, 2011).
Obs.: variação calculada com base em recursos ajustados para valores de dezembro de 2009 pelo índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do
IBGE.
Regulaçã o
134
4 | 0 MODELO DE INTERVENÇÃ O DO ESTADO NA SAÚDE
Machado, 2001; Machado, 2007; Baptista , 2007). Outras estratégias de regula çã o dos
sistemas de sa úde relevantes no período foram: definição de prioridades e metas
de â mbito nacional, coopera çã o e apoio técnico a estados e municípios, fomento
federal a prá ticas inovadoras , ações de auditoria , controle e avalia ção.
Nos anos 2000, houve continuidades no que se refere à regulaçã o federal sobre
os sistemas estaduais e municipais de sa ú de, persistindo o esforço federal de
indução de políticas no â mbito subnacional. Observa -se no Gráfico 8 que o movi-
mento acentuado de crescimento da quantidade de portarias emitidas pelo Minis-
té rio da Sa úde observado nos anos 90 prossegue nos anos 2000, com pequenas
oscila ções.
Os dados sugerem a persistê ncia de uma importante atuaçã o normativa federal ,
uma vez que muitas portarias se voltam para a induçã o de políticas e regula çã o de
prá ticas dos gestores estaduais , municipais e prestadores.
Considerando que a regula çã o federal é exercida por meio de portarias atreladas
a incentivos financeiros, é interessante analisar o cará ter das transferê ncias de
recursos federais para estados e municípios. A definiçã o do montante e a regu-
laridade das transferê ncias designadas como ‘diretas e automá ticas’ ou ‘fundo a
fundo’, a partir do final da d écada de 1990, dependeram da adesã o das esferas
subnacionais a políticas induzidas pela esfera federal - porque, em face do aumento
das transferências intergovemamentais, o Ministério da Sa ú de adotou estratégias
de financiamento para manter seu poder de decisã o sobre a utilizaçã o de recursos
federais transferidos, de forma que as prioridades nacionais se expressassem nos
diversos estados e municípios. Tal modelo levou à fragmentaçã o das transferências
federais em um n ú mero cada vez maior de parcelas, como se vê no Grá fico 9.
Em que pesem as cr íticas a esse modelo de indução pelos dirigentes que
assumiram o Ministério da Saú de a partir de 2003, observa -se que ele se manteve ao
menos até 2006, tendo ocorrido um aumento do nú mero de tipos de transferênias
durante o primeiro governo Lula. A partir de 2006, esse dado n ão está disponível,
devido às mudanças introduzidas em decorrência do Pacto pela Sa úde (Brasil, 2006).
O Pacto pela Sa ú de representou uma inflexã o no modelo de descentraliza çã o7
com repercussões no modelo de regula çã o federal, uma vez que procurou
substituir a ê nfase na indução por meio de portarias e incentivos federais por uma
lógica de acordos intergovemamentais baseados em metas sanitá rias e de gestã o.
7
O capítulo 8 aborda o tema da descentraliza çã o e regionaliza çã o nos anos 2000, incluindo a análise do conte ú do e
da implantaçã o do Pacto pela Sa úde.
136
4 | 0 MODELO DE INTERVENÇÃ O DO ESTADO NA SAÚDE
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Fonte: elaboração própria com dados do sistema Saúde Legis (Brasil/ Ministério da Saúde, 2010).
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2002 2003 2004 2005 2006
Fonte: elaboração própria com dados da base de Recursos Federais do SUS/Datasus/ Ministério da Sa úde ( Brasil/ Ministério da Saúde/
Datasus, 2011a).
137
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
138
4 | 0 MODELO DE INTERVENÇÃ O DO ESTADO NA SAÚDE
Nos anos 90, houve uma reduçã o do papel federal na presta çã o direta de
serviços e a ções de sa úde, coerente com a diretriz do SUS de descentraliza çã o
político- administrativa e com as diretrizes da reforma da administra ção pública
federal naquela d écada (Machado, 2007). Portanto, no início dos anos 2000 a quan-
tidade de serviços de sa úde sob administra çã o federal já era reduzida , mantendo-
se relativamente estável nos anos seguintes.
Em agosto de 2010, existiam somente 256 estabelecimentos de sa ú de federais,
o que representava menos de 0, 2% do total do país. Tais estabelecimentos se
distribuíam desigualmente no território nacional, com maior nú mero absoluto nos
estados do Rio de Janeiro (49) , Rio Grande do Sul (32) e Minas Gerais ( 26) . Em termos
relativos, o estado de Roraima apresentava maior peso dos serviços federais , que
representavam 4,6% dos estabelecimentos de sa ú de do estado.
A distribuição dos estabelecimentos federais existentes em 2010, por tipo, pode
ser vista no Gráfico 10. Observa -se o predomínio de unidades hospitalares, embora
ainda existam na administra çã o federal unidades ambulatoriais especializadas ,
unidades básicas , serviços de apoio diagn óstico e terapêutico, entre outros.
Apesar do reduzido n ú mero de unidades, os hospitais federais compreendem
cerca de 4% dos leitos disponíveis ao SUS no país, envolvendo serviços de referê ncia
regional ou nacional. Cabe destacar a situaçã o dos hospitais federais localizados no
município do Rio de Janeiro, que, por sua condição histórica de ex- capital do país ,
apresenta maior n ú mero de serviços federais. Nos anos 90 e início dos anos 2000,
houve tensões e instabilidade relacionadas à descentraliza ção de tais hospitais.
Quando se iniciou o governo Lula , em 2003, permaneciam sob gestã o federal três
institutos especializados de referê ncia nacional - o do câ ncer (Inca) , o de trá umato-
ortopedia (Into) e o Instituto Nacional de Cardiologia de Laranjeiras (INCL) -, os
hospitais de Bonsucesso e dos Servidores do Estado. Tais unidades tê m diferentes
perfis de atendimento, estatuto político e possibilidades de capta ção de recursos.
139
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
O Inca é o que apresenta maior projeçã o nacional como referê ncia assistencial,
alé m de sua importâ ncia no apoio à formula çã o de políticas e no desenvolvimento
de pesquisas. Já o Into aumentou sua projeçã o política e recebeu investimentos
expressivos no segundo governo Lula , voltados para a constru çã o de uma nova sede.
Gráfico 10 - Distribuição dos estabelecimentos de saúde federais segundo tipo. Brasil - agosto de 2010
Outros
Hospitais
Posto/ Centro de
Saúde/UBS
Clínica
especial/ Policínica
20%
Fonte: elabora ção própria com dados do Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Sa ú de ( CNES), Datasus, Ministério da Sa úde ( Brasil/ Ministério da Sa ú de/
Datasus, 2011b).
8
A crise , de car á ter assistencial, administrativo e polí tico, teve rela çã o com a baixa prioridade conferida à sa ú de pela
gest ã o municipal e com a exacerbaçã o de conflitos intergovernamentais e interpartid ários. A intervençã o federal
no munic ípio do Rio de Janeiro foi autorizada por decreto presidencial e capitaneada pela equipe do Ministé rio
da Sa ú de na gest ã o Humberto Costa , após um período de impasses relativos à situa çã o da atençã o hospitalar no
município. Alé m dos quatro ex- hospitais federais , a intervençã o abrangeu os hospitais municipais de emergê ncia
Miguel Couto e Souza Aguiar. Um mês após o decreto presidencial, o Supremo Tribunal Federal declarou a
inconstitucionalidade da requisição dos hospitais municipais , e o Ministé rio da Sa ú de passou a se concentrar nas
medidas para a refederaliza çã o das quatro ex-unidades federais (Alves & Machado, 2007).
140
4 | 0 MODELO DE INTERVENÇÃ O DO ESTADO NA SAÚDE
Considerações Finais
A an álise do modelo de interven çã o federal na sa úde ao longo dos dois
governos Lula mostra elementos de continuidade em rela çã o aos anos 90, mas
também revela mudan ças expressivas. Destacaram -se entre 2003 e 2010: o aden -
samento das estratégias de planejamento federal; a persistê ncia de dificuldades
no financiamento, com indícios de progressiva redu ção do poder do Ministé rio da
Sa ú de nesse â mbito; continuidades do modelo regulatório dos anos 90, associadas
a mudanças nas rela ções intergovemamentais e a iniciativas de regulaçã o em
outros campos de atua çã o, sob estruturas da administra çã o direta; papel federal
delimitado e por vezes ambíguo na presta çã o direta de serviços e produ çã o de
insumos para a sa ú de.
No que se refere ao planejamento, houve um movimento de fortalecimento
das estratégias federais, visando a dar direcionalidade mais clara à política. Tais
estratégias se traduziram em instrumentos - planos e pactos - que permitiram
uma visã o de conjunto da política nacional de sa ú de, bem como das prioridades
setoriais a curto e mé dio prazos. O processo de elabora çã o desses instrumentos foi
variável, mas em geral esteve associado a movimentos gerais do governo federal e
envolveu a participaçã o de outros atores setoriais. Durante o primeiro governo Lula ,
a orientaçã o democrá tico- participativa foi bastante evidente no planejamento,
enquanto no segundo governo predominou uma lógica desenvolvimentista , no
sentido de atrelar a saú de ao projeto mais geral de desenvolvimento econ ómico
e social. Nos dois momentos , o planejamento em sa ú de expressou a força do
gerencialismo, no sentido da conversã o das políticas e dos acordos em metas
quantificáveis a serem monitoradas.
Em que pesem os avan ços observados, persistiram fragilidades no planejamento
em sa ú de. Algumas delas se relacionam à complexidade do campo e da condução
nacional de uma política de implementa çã o descentralizada , tais como: as
limita ções na realiza çã o de uma adequada an álise situacional; a escassez de
141
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
142
4 | 0 MODELO DE INTERVENÇÃ O DO ESTADO NA SAÚDE
nhado pela conformaçã o de uma burocracia sólida para dar conta dessas novas
funções no nível central do Ministério da Sa úde (Alberto, Machado & Teixeira, 2011).
Por fim , no â mbito da presta ção direta de serviços de sa ú de e produ çã o de
insumos , observa -se um cará ter residual, embora relevante, da atuaçã o federal,
particularmente em unidades localizadas no Rio de Janeiro (hospitais federais e
unidades produtoras de insumos da Fiocruz). No entanto, existem ambiguidades
no exercício da funçã o federal de produçã o direta de serviços e insumos.
No que se refere aos hospitais federais do Rio, após a refederaliza çã o das
unidades, observou -se um movimento de investimento estatal por meio da rea -
liza çã o de concursos públicos e de ao menos uma grande obra , representada pela
constru çã o da nova sede do Into. Por sua vez , no que se refere ao modelo de gestã o,
os altos dirigentes do Ministério da Sa ú de buscaram parcerias com prestadores
privados filantró picos e defenderam a adoçã o do modelo de funda ções estatais ,
que mistura elementos do direito p úblico com o privado.
Quanto à produção de insumos, em que pesem a importâ ncia das unidades
da Fiocruz , a construção de uma nova fábrica de medicamentos e a cria ção da
Hemobrá s, a ênfase da política de insumos no período nã o foi somente o
fortalecimento da produ çã o pública. Sobressa íram os esforços de aproxima çã o do
ministério com outras á reas do governo e as iniciativas de incentivo à retomada da
produçã o de insumos relevantes para a sa úde pelas ind ústrias nacionais privadas ,
embora os mecanismos institucionais nesse â mbito ainda sejam frá geis. Dadas
as características transnacionais dos mercados de insumos para a sa ú de e as do
capitalismo brasileiro, ainda é cedo para conhecer os efeitos dessas iniciativas.
O modelo de interven çã o federal na sa ú de nos anos 2000 expressa a influ ê ncia
de variáveis estruturais (peso do Executivo federal no Estado brasileiro) e
institucionais (trajetória da política de sa ú de e regras constitucionais-legais pós-
1988). Reflete, também, as mudan ças operadas nos anos 90, relacionadas à reforma
do Estado (modelo de regulaçã o por agências, incentivo à participa çã o privada)
e à trajetória setorial recente (descentraliza çã o de fun ções, reduçã o da presta çã o
federal de serviços).
Além desses dois grupos de variáveis (estruturais e institucionais), é possível
identificar influ ências , no período, das ideias e opções políticas dos atores gover-
namentais e setoriais , particularmente dos dirigentes ministeriais. Por exemplo,
a valorização do planejamento federal refletiu tanto um movimento geral do
governo Lula como o perfil de dirigentes ministeriais implicados na racionalidade
143
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
144
4 | 0 MODELO DE INTERVENÇÃ O DO ESTADO NA SAÚDE
145
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
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147
A Agenda Federal da Saúde:
5 dinâmica e prioridades
Cristiani Vieira Machado
Tatiana Wargas de Faria Baptista
149
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
150
5 | A AGENDA FEDERAL DA SAÚDE
151
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
152
5 | A AGENDA FEDERAL DA SAÚDE
153
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
154
5 | A AGENDA FEDERAL DA SAÚDE
155
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
3O destaque da Estratégia Sa ú de da Fam ília na agenda federal é discutido de forma mais aprofundada no capítulo 6,
referente à política nacional de aten ção prim á ria à sa úde no período recente.
156
5 | A AGENDA FEDERAL DA SAÚDE
Humberto Costa - Médico e jornalista. Jan. 2003 -jul. 2005 - Mudança de estrutura do ministério,
- PT ( PE) - liderança partidária ( 29 meses) com criaçã o de novas secretarias ( de
regional. Vigilância em Saú de; de Gest ã o do
- Ex-secret ário municipal de Trabalho e da Educação em Saú de;
Saúde de Recife. de Ciência, Tecnologia e Insumos
Estratégicos; de Gestã o Participativa),
voltadas para áreas estrat égicas e
unificação da Secretaria de Atenção à
Saúde.
- Definição de marcas de governo na
saúde ( ex.: Brasil Sorridente, Samu,
Farmácia Popular).
- Elabora ção do Plano Nacional de
Saúde (2004 -2007 ).
José Saraiva Felipe - Médico sanitarista. Ago. 2005 -fev. 2006 - Continuidade nas políticas
- PMDB ( MG ) - Deputado ( oito meses) governamentais prioritá rias.
federal. - Início de mudanças na condução de
- Atua çã o no Ministério da algumas áreas da política em relaçã o
Previdência e Assistência ao período 2003 -2005 ( ex.: área de
Social ( anos 80 ) e na Reforma educação em saúde) e maior ênfase
Sanitária. na centralidade de algumas estrat égias
- Ex -secret ário de Estado de ( ex.: Saúde da Família ).
Saú de de MG.
José Agenor A. da Silva - Bioquímico sanitarista. Fev. 2006-mar. 2007 - Continuidade nas políticas
- Sem vínculo partidário ( MG ). (13 meses) governamentais prioritá rias.
- Predomínio de continuidade das
políticas em rela ção à gestão anterior.
- Finalizaçã o e divulga ção do Pacto
pela Saúde.
157
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
Quadro 1- Gestões ministeriais e destaques da agenda federal da saúde. Brasil - 2003-2010 (cont.)
Gestã o Perfil do ministro Dura ção da gestão Destaques da agenda federal da saúde
José Gomes Temporã o - Médico sanitarista. Mar. 2007 -dez. 2010 - Amplia çã o da agenda estratégica,
- PMDB ( RJ ) - filiação no final ( 46 meses) com ênfase nas rela ções entre saú de e
de 2006. desenvolvimento.
- Atuaçã o na Reforma Sanitá ria. - Destaque para a promo çã o da saú de
- Servidor público de carreira. ( regulação de consumo de tabaco
- Pesquisador da Funda ção e á lcool; lançamento de programas
Oswaldo Cruz (Fiocruz ). ‘Saúde Escola’ e ‘Brasileirinhos e
Brasileirinhas Saudáveis’).
- Destaque para o fortalecimento do
Complexo Económico-Industrial da
Saúde.
- Continuidade e expansão de políticas
priorit árias.
- Elabora ção , em 2007, do Plano Mais
Saúde ( 2008 -2011) , atualizado nos
anos seguintes.
158
5 | A AGENDA FEDERAL DA SAÚDE
159
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
25.000 p 6.000
5.000
20.000
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5.000 - 1.000
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2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
4
O ministro Humberto Costa havia tido uma experiê ncia prévia com o modelo do Samu durante sua gest ã o como
secret á rio municipal de Sa úde de Recife , capital de Pernambuco. Alguns dirigentes entrevistados ressaltaram que o
ministro foi bem sucedido em defender o Samu como prioridade junto ao presidente Lula .
160
5 | A AGENDA FEDERAL DA SAÚDE
70,0
60,0 -
57,2
54,9
52,9
50,0 -
49,0
40,0 -
ss
33,0
30,0 - 25,8
24,0
illl
24,3
20,0 -
10 , 0 - 6,9
7 ,8
3,7
1, 2
0,0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
% municípios abrangidos % popula ção abrangida
Fonte: elaboraçã o própria com dados de 2004 a 2008 diretamente fornecidos pela Coordenação Geral de Urgências e Emergências da Secretaria de Atenção à
Saúde do Ministério da Sa ú de (CGUE/ SAS/ MS) e dados de 2009 e 2010 obtidos da Sala de Situação do Ministério da Saúde (Brasil/ MS, 2011).
161
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
162
5 | A AGENDA FEDERAL DA SAÚDE
14.000 - 14.003
12.000
10.790
.*
2
10.000 -
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§
£ 8.000 -
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z 6.459
6.000 -
5.052
4.000 -
2.955
2.000
/ 259 A407
A 504 A 530
A543
0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
A N° farmácias próprias N° farmácias conveniadas (Aqui tem Farmácia Popular)
Fonte: elaboração pró pria com dados da Sala de Situação do Ministério da Sa úde (Brasil/ Ministério da Sa úde, 2011).
163
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
fez com que o nú mero de atendimentos das farm á cias privadas conveniadas
ultrapassasse, em pouco tempo, os atendimentos das farm á cias populares
estatais, segundo dados do Ministério da Sa úde. Ademais , foi proposta para os
anos seguintes uma meta de aumento significativo dos convé nios com farm ácias
privadas, bem como de expansã o do conjunto de medicamentos cuja venda é
subsidiada pelo Estado nesses estabelecimentos.
Outra informa çã o relevante se refere à distribuiçã o regional das farm ácias
populares. A rela çã o entre o n ú mero de farmá cias e o tamanho da popula çã o varia
entre as regiões do país de forma diferente para as duas vertentes do programa.
A distribuiçã o relativa à popula çã o das farm á cias populares estatais, abertas
a partir do estabelecimento de parcerias com municípios ou estados, vinha
favorecendo as regiões Norte e Nordeste, de menor desenvolvimento econ ómico
e com menor oferta de serviços de sa ú de. Já o peso de farm ácias privadas conve-
niadas ao programa, que se expandem aceleradamente a partir de 2006, é mais
expressivo nas regiões Sudeste e Sul, de maior desenvolvimento econ ómico, em
razã o da maior oferta de serviços de sa ú de e da força do comércio varejista de
medicamentos nessas regiões (Gráfico 4).
Gráfico 4 - Farm ácias próprias e farmácias privadas conveniadas do Programa Farmácia Popular por um
milhão de habitantes, segundo regiões do país Brasil - dezembro de 2010 .
Brasi :
Nordesl ;
Centro- Oeste
Sudeste
Fonte: elaboração própria com dados relativos às farmácias da Sala de Situação do Ministério da Sa úde ( Brasil/ Ministério da Saúde, 2011) e dados populacio-
nais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2011).
164
5 | A AGENDA FEDERAL DA SAÚDE
As diferen ças por estados sã o ainda mais expressivas. A rela çã o de farm á cias
privadas por um milh ã o de habitantes varia de 168,3 no Espírito Santo a somente
3, 2 no Amapá. A distribuiçã o territorial das farmá cias dentro dos estados també m
é muito variável. Em todos os estados do Sudeste e do Sul existem farm ácias
privadas conveniadas ao programa em mais de 60% dos municípios. Por sua vez ,
entre os 16 estados das regiões Norte e Nordeste, 15 apresentam farmácias privadas
conveniadas em menos de 30% dos municípios (Gráfico 5), o que, provavelmente,
reflete a vincula çã o entre a presen ça desses serviços e o dinamismo econ ómico
das cidades.
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Fonte: elaboração própria com dados da Sala de Situação do Ministério da Sa úde (Brasil/ Ministério da Saúde, 2011).
165
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
Considerações Finais
166
5 | A AGENDA FEDERAL DA SAÚDE
5Sobre as mudanças no modelo de desenvolvimento e de proteção social no período, ver o capítulo 1 deste livro e
Ipea ( 2010).
167
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
168
5 | A AGENDA FEDERAL DA SAÚDE
Das três políticas priorit á rias do período, o Programa Farm á cia Popular é a que
compreende inova ções mais substantivas, se considerada a trajetória da política de
assistê ncia farmacêutica no Brasil -6 porque, na prá tica , introduziu o copagamento
Estado-usu á rio na aquisiçã o de medicamentos no sistema de sa ú de brasileiro.
Ainda que existam vá rias estratégias de assistê ncia farmacêutica p ública , parte
importante da popula çã o atendida no SUS tem adquirido medicamentos por
meio do programa. Um estudo com base em dados oficiais revelou que, em 2007,
cerca de 48% das pessoas que adquiriram medicamentos nas farm ácias populares
estatais do país o fizeram com receitas emitidas por serviços públicos (Pinto, Castro
& Costa , 2011). Outro estudo evidenciou menor disponibilidade de medicamentos
selecionados nos serviços públicos do que em farmá cias populares , o que pode
explicar a busca pelo programa por usu á rios do SUS (Pinto et al , 2010). Ademais,
dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2008 sugerem a
persistência de deficiências no acesso dos cidad ã os a medicamentos em serviços
públicos de saú de (Viacava, 2010).
Ressalte-se que o copagamento de medicamentos, embora adotado por outros
pa íses, a princípio colide com as diretrizes legais do SUS, que preveem o atendi-
mento integral à sa ú de, inclusive na assistê ncia farmacêutica. Ainda assim , esse
tem sido um entendimento controverso no campo, uma vez que nã o há clareza
no texto constitucional quanto ao financiamento integral de medicamentos.
De toda forma, a introduçã o do mecanismo de copagamento, em um contexto
de acentuadas desigualdades de renda , pode agravar a iniquidade do acesso ao
sistema de sa ú de, o que representaria uma contradiçã o em rela çã o às pró prias
diretrizes gerais do governo Lula e aos princípios do SUS.7
Outro problema se relaciona à indu çã o de uma expansã o da oferta farmacêutica
que reitera o cará ter mercantil da presta çã o de serviços de sa ú de - caracter ística
histó rica do sistema de sa ú de brasileiro. Se, no início, o Programa Farmá cia Popular
se baseava na abertura de farm á cias estatais, a partir de 2006 sua acelera çã o
6 O pa ís foi pioneiro na adoçã o de uma rela çã o de medicamentos essenciais para o sistema p ú blico, nos anos 70, e
na provis ão de medicamentos gratuitos para pessoas com Aids , nos anos 90. Desde o início da implantação do SUS,
houve aumento da oferta de medicamentos no sistema p ú blico e avanços em á reas específicas . No in ício dos anos
2000, já existiam mais de vinte programas federais de assist ê ncia farmacê utica , envolvendo desde medicamentos
de atençã o prim ária at é os de alto custo, com dispensa çã o gratuita . No entanto, persistiam problemas estruturais
na assistência farmacê utica: fragmentação de programas , inefici ências na gestão, permeabilidade a interesses
privados e dificuldades de acesso da popula çã o a medicamentos. Para análises detalhadas da trajet ória e das
políticas de assistê ncia farmacê utica no Brasil, ver Bermudez e colaboradores (2004) e Buss , Carvalheiro e Casas
(2008) , entre outros.
7
Em 2011, no início do governo Dilma Rousseff (período posterior ao enfocado neste capítulo), houve uma mudança
na regulamentação do programa , que passou a isentar os usu á rios do copagamento no caso da aquisição de
medicamentos para diabetes e hipertensã o arterial , configurando a estratégia designada como ‘Sa úde nã o tem Preço’.
169
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
implicou o estabelecimento de convé nios com farmá cias privadas, para a venda de
medicamentos a pre ços subsidiados. No final de 2010, havia milhares de farm ácias
privadas credenciadas no país , e a perspectiva de crescimento dessa vertente. Tal
expansã o requer novos mecanismos de regula çã o estatal sobre esse processo de
dispensa çã o de medicamentos, que ocorre fora das unidades de sa ú de.
É interessante ponderar que duas políticas analisadas - o Brasil Sorridente
e o Programa Farmá cia Popular - se dirigem a á reas (assistência farmacêutica e
odontologia) em que, geralmente, os gastos privados têm peso elevado, mesmo
em países com sistemas de sa ú de universais. Tais pa íses respondem de forma
diferenciada ao desafio da aten çã o nessas á reas, muitas vezes com a adoçã o de
mecanismos de restriçã o pelo lado da oferta ou da demanda. No caso brasileiro,
enquanto o Brasil Sorridente enfatiza a expansã o da oferta pública e gratuita de
serviços, o Programa Farmá cia Popular induz a expansã o da oferta privada e intro-
duz o copagamento no sistema de sa ú de. Em que pesem tais ressalvas, pesquisa
qualitativa do governo em 2009 apontou o Farmá cia Popular como o programa
social federal com maior aprovaçã o junto à populaçã o (Em ano eleitoral..., 2010).
Este capítulo procurou analisar a din â mica da agenda federal da sa ú de no
período correspondente ao governo Lula , considerando elementos do legado ins-
titucional e a definiçã o da agenda governamental. Buscou-se identificar conti-
nuidades e mudan ças na política de sa ú de, bem como contribuir para a com-
preensã o das complexas rela ções entre a agenda setorial de longo prazo e a agenda
política de um governo específico, cujo término ainda é recente. Cabe desenvolver
outros estudos sobre as políticas de sa ú de no período, com diferentes focos, que
considerem a trajetó ria histórica da atua çã o do Estado na á rea e o significado das
mudan ças experimentadas pelo país nos anos 2000, nas esferas econ ómica , social
e político-institucional.
170
5 | A AGENDA FEDERAL DA SAÚDE
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171
A Política Brasileira de Atenção
6 Primária à Saúde1
Ana Luisa Barros de Castro
A aten çã o prim á ria à sa ú de (APS) tem uma longa histó ria no Brasil. Práticas
desenvolvidas nas décadas de 1940 e 1960 estabeleceram a base para a formula çã o
dessa política no país nos anos subsequentes , porém o tema nã o ocupou posiçã o
de destaque no debate setorial até a d écada de 1990.2
A cria çã o do Programa de Sa ú de da Fam ília (PSF) , em 1993/1994, e sua adoçã o
como política priorit á ria do governo federal a partir de 1995 colocaram a APS em
uma posiçã o relevante na agenda decisória da política nacional de sa úde. A im-
plantaçã o do PSF foi um marco na trajet ória da APS no país; as mudan ças geradas
no modelo de atençã o, na reorganizaçã o dos sistemas municipais de sa ú de e no
financiamento da política no pa ís permitem considerá -lo como uma estratégia de
reforma incremental do sistema de sa ú de brasileiro (Viana & Dal Poz , 1998).
O in ício de uma nova conjuntura política em 2003, após a eleiçã o de Lula para a
Presid ê ncia da República , criou expectativas no que diz respeito à conduçã o federal
da política para a APS. Com o novo governo ocorreriam inflexões importantes na
agenda federal da sa ú de? A política de aten çã o primá ria continuaria a ter destaque ?
Haveria mudan ças nessa política em relaçã o ao período anterior?
1
Parte dos resultados de pesquisa apresentados neste capítulo foi publicada no artigo intitulado “A política federal
de atençã o bá sica à sa úde no Brasil nos anos 2000”, na revista Physis (Castro & Machado, 2012) . O presente capítulo,
no entanto, apresenta diferenças em relação ao referido artigo, em termos de coautoria e conte údo. Agradecemos à
revista a autoriza çã o para reprodu çã o parcial do conte ú do do artigo.
2 Cabe mencionar que nos anos 90, no Brasil , optou -se pela utiliza çã o do termo atençã o bá sica (AB) em referê ncia
à política e ao conjunto de ações no primeiro n ível de atenção, embora o termo intemacionalmente usado seja APS.
Isto se deve ao fato de, na é poca , o termo atençã o prim ária à sa ú de ser associado ao enfoque restrito, predominante
nos processos de reforma na Amé rica Latina , sob a influê ncia das agências internacionais. Tal vis ão, hegemónica
no plano internacional , era incompatível com os princípios de universalidade e integralidade do Sistema Ú nico de
Sa ú de (SUS).
173
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
174
6 | A POLÍTICA BRASILEIRA DE ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
175
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
4
Dentre essas experiê ncias locais e regionais , destacam -se o Centro Mé dico Social de Sã o José Murialdo, o Programa
de Medicina Comunit á ria de Londrina , a experiê ncia de Campinas , o Projeto Montes Claros , o Projeto de Paulínia ,
entre outros (Fausto, 2005; Giovanella & Mendon ç a , 2008) .
5
Tal centralização, associada à asfixia da capacidade financeira autónoma dos estados e municípios decorrente
da emenda constitucional de 1969, destruiu , quase completamente , a capacidade de conduçã o descentralizante de
políticas sociais pelos níveis subnacionais de governo (Noronha & Levcovitz , 1994).
176
6 | A POLÍTICA BRASILEIRA DE ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
Nessa época , foram lan çados , pelo Ministério da Sa ú de, dois programas estra -
tégicos para a consolida çã o da rede p ública ambulatorial e para a organiza çã o das
prá ticas nos serviços básicos de sa úde: o Programa de Aten çã o Integral à Sa úde
da Mulher (Paism) e o Programa de Aten çã o Integral à Sa úde da Crian ça (Paisc).
As discussões que geraram a formula çã o desses programas passaram a incorporar
princípios e diretrizes como a descentraliza çã o, a hierarquiza çã o, a regionaliza çã o
dos serviços e, principalmente, a integralidade da aten çã o (Fausto, 2005).
A partir de 1987, as AIS deixaram de ser a estratégia de redefiniçã o da política
de sa úde no â mbito da Previd ência , sendo substituídas pelo Sistema Unificado
e Descentralizado de Sa ú de (Suds). O Suds estava centrado, particularmente,
na forma çã o dos distritos sanit á rios , em que se enfocavam a atençã o integral -
preventiva e curativa - e a regionaliza çã o dos serviços de sa ú de. A APS era tratada
como parte intrínseca às propostas para a reorganiza çã o dos serviços de sa úde
numa perspectiva sisté mica , abrangente e universal. Essa mesma perspectiva
permeou a proposta da 8a Conferência Nacional de Sa ú de sobre os princípios e
diretrizes norteadores do SUS.
A proposta reformista , conduzida no Brasil durante os anos 80, divergia dos
programas seletivos e focalizados de APS financiados pelas principais agências
internacionais em países pobres ou em vias de desenvolvimento (Fausto & Matta ,
2007). Esse movimento reformista teve seu á pice com a promulgação da denomi-
nada ‘Constituiçã o Cidad ã’, em 1988, que representou um marco na história da
sa ú de p ública brasileira , ao introduzir a noçã o de sa ú de como direito social.
A Reforma Sanit á ria Brasileira , iniciada nos primeiros anos da d écada de 1980,
configurou uma ruptura pioneira no padrã o de interven çã o estatal no campo social
e fez da política de sa ú de a primeira política social universal do Brasil. Emerge desse
processo o SUS, coordenado no nível federal exclusivamente pelo Ministério da
Sa ú de (unificando a condu çã o da política nacional de sa ú de) , com a ções de sa úde
descentralizadas e direçã o ú nica em cada esfera de governo (federal, estadual e
municipal).
Já no período SUS, formula -se o Programa de Agentes Comunitá rios de Sa úde
(Pacs) , cuja institucionalizaçã o partiu de experiências locais (de prá ticas com
agentes comunitá rios) , que já vinham sendo desenvolvidas de forma isolada em
diversas regiões do Brasil (Viana & Dal Poz, 1998). O principal objetivo da cria çã o do
Pacs , em 1991, era contribuir para a reduçã o da mortalidade infantil e materna -
principalmente nas regiões Norte e Nordeste - por meio da extensã o da cobertura
177
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
de serviços de sa úde para as á reas mais pobres. Cabe mencionar que a origem do
PSF está diretamente relacionada à cria çã o desse programa.
O PSF, implantado a partir de 1994, preconiza a forma çã o de equipes
multiprofissionais - compostas por médico generalista , enfermeiro, auxiliar de
enfermagem e agentes comunitá rios de sa ú de - para atuarem em território de
abrangência definida , com cadastramento e acompanhamento da popula çã o
residente na á rea. O programa recomenda que cada equipe fique responsável por
seiscentas a mil famílias residentes em á rea geográfica delimitada . Essa equipe
deve conhecer as fam ílias do seu territó rio de abrangência; identificar os problemas
de sa ú de e as situa ções de risco existentes na comunidade; ela -borar programa çã o
de atividades para enfrentar os determinantes do processo sa ú de/doen ça;
desenvolver a ções educativas e intersetoriais relacionadas aos problemas de sa ú de
identificados; e prestar assistência integral às famílias sob sua responsabilidade,
no â mbito da atençã o básica (Brasil/Ministério da Sa ú de, 2006b).
Em 1995, o PSF foi adotado como projeto priorit á rio do governo Fernando
Henrique Cardoso. O cará ter inovador e o tipo de foco do programa - a família e
a comunidade - tomaram-no atrativo como marco de governo por seu potencial
de visibilidade política , o que contribuiu para a sua permanê ncia na agenda
federal (Machado, 2007). Nos anos subsequentes, o programa passou a ser cada
vez mais enfatizado pelo Ministério da Sa ú de, como a principal estratégia para
a estrutura çã o dos sistemas municipais de sa ú de a partir da atençã o primá ria ,
visando a reorientar o modelo assistencial e imprimir uma nova din â mica na
organizaçã o dos serviços e ações de sa ú de.
Em termos normativos , a APS ganhou destaque na política nacional de sa ú de
a partir da ediçã o da norma operacional básica 96 (NOB 96) , que contempla uma
importante mudan ça para o fortalecimento da aten çã o primá ria: a altera çã o
no financiamento com a cria çã o do Piso de Aten çã o Bá sica (PAB) , que tem um
componente fixo, calculado em base per capita , e um componente variável, cujo
principal incentivo vincula -se ao PSF.
A transferê ncia do PAB aos municípios habilitados favoreceu um crescimento
expressivo do n ú mero de equipes de sa ú de da família nas vá rias regiões do país e
a gradual substituiçã o do Pacs pelo PSF, com a inclus ã o dos agentes comunitá rios
nas equipes. Entretanto, a expansã o foi mais acentuada em pequenos municípios ,
especialmente em áreas de baixa densidade assistencial.
178
6 | A POLÍTICA BRASILEIRA DE ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
A an álise da agenda federal da APS a partir de 2003 foi efetuada com base na
definiçã o proposta por Kingdon (1995: 3 - tradu çã o das autoras) , segundo a qual
agenda configura “ uma lista de temas ou problemas que, em um dado momento,
atraem a aten çã o de governantes e de indivíduos fora do governo ligados a estes
governantes”.
179
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
Como visto, o PSF foi uma política governamental prioritá ria de 1995 a 2002
e representou a estratégia escolhida para expansã o e reorganiza çã o da atençã o
prim á ria no país - o que significa que, quando o novo governo assumiu, parte
importante do conteúdo e do escopo dessa política já havia sido definida.
O conteú do referente à aten çã o prim á ria em documentos oficiais revela que o
tema também ocupou lugar de destaque na agenda do Ministério da Sa úde durante
o governo Lula. Alguns dos indícios do relativo peso dessa política na nova agenda
federal sã o: a ênfase do plano plurianual setorial (PPA Sa úde) na aten çã o básica
como porta de entrada ao SUS, com expansã o e aperfeiçoamento da Estratégia
Sa ú de da Família; o crescimento contínuo das equipes e o acompanhamento das
metas relativas à Sa ú de da Família pela Presid ência da República ; a inclusã o da aten-
çã o básica como um dos seis eixos prioritá rios do Pacto Pela Vida (Brasil/Ministério
da Sa ú de, 2006a); a publica çã o da Política Nacional de Aten çã o Básica (Pnab) em 2006
(Brasil/ Ministé rio da Sa ú de, 2006b) , no bojo da sé rie Pactos pela Saú de, e sua
inserçã o em aproximadamente 13% do total de metas do Plano Mais Sa ú de:
direito de todos - 2008- 2011 (Brasil/Ministério da Sa úde, 2008b); o crescimento do
aporte de recursos para a á rea durante todo o governo.
A execu çã o orçamentá ria do Ministério da Sa ú de com o Programa de Aten çã o
Básica aumentou progressivamente (um incremento de mais de 50% em termos
reais entre 2004 e 2009) , embora o peso desse programa , no total dos gastos com
a ções e serviços de sa ú de,6 tenha oscilado no período analisado (Grá fico 1).
Já o Gráfico 2 apresenta a evolu çã o dos valores referentes às transferências
federais para aten çã o bá sica e para média e alta complexidades, no período de 2002
a 2009. Ainda que as transferências para os dois grupos tenham crescido de forma
expressiva e contínua no per íodo, observa -se que o aumento das transferências de
média e alta complexidades foi bem mais acentuado. Tal dado deve ser analisado
com cautela, pois o montante de transferências federais diretas é influenciado
pelos ritmos de adesã o dos estados e municípios à s políticas nacionais , seja por
meio dos processos de habilita çã o (até 2006) , seja pela assinatura de termos de
compromisso de gestã o (a partir da publicaçã o do Pacto pela Saú de, em 2006). Alé m
disso, espera -se que o próprio aumento do acesso às a ções de aten çã o prim á ria
gere maiores demandas de acesso a serviços especializados de média e alta
complexidades.
6Para c álculo dos gastos com a ções e serviços de sa ú de , n ã o sã o considerados os gastos com pagamentos de d ívidas,
de inativos e pensionistas.
180
6 | A POLÍTICA BRASILEIRA DE ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
10.000.000.000 -1
16, 7 r i7, o
9.000.000.000
16,5
8.000.000.000
16,0
16,0
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7.000.000.000 15 , 6 E
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14 ,3 - 14,5 §
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3.000.000.000
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2.000.000.000
1.000.000.000
- 13 ,5
13,0
2004 2005 2006 2007 2008 2009
25.000.000.000,00
20.000.000.000,00
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10.000.000.000 ,00
5.000.000.000,00 -
0,00
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Fonte: elaboração própria com dados do Fundo Nacional de Sa úde/ Datasus/ Ministério da Sa úde, 2010.
Obs.: recursos ajustados para valores de dezembro de 2009 pelo índice de Preç os ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE.
181
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
182
6 | A POLÍTICA BRASILEIRA DE ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
30.000 -
25.000
o 20.000
<u
E
-
'13
15.000
10.000 -
5.000 -
0
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
• Equipes de Saúde da Família 19.068
Equipes de Saúde Bucal 6.170
21.232 24.564 26.729 27.324
8.951 12.603 15.086 15.694
29.300
17.807
30.328
18.982
31.660
20.424
A N úcleos de Apoio à Saúde da Família 395 952 1.317
Fonte: elaboração própria com dados do Sistema de Informação da Atenção Básica/ Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos
em Saúde, 2011.
183
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
9 O programa Territórios da Cidadania foi lan ç ado oficialmente pelo presidente Lula em 25 de fevereiro de 2008.
Tem por objetivo reduzir as desigualdades no meio rural , proporcionando a inclusã o e o desenvolvimento regional
sustentável , bem como a universalizaçã o dos programas básicos de cidadania ( Brasil/Ministério da Sa ú de, 2008a) .
184
6 | A POLÍTICA BRASILEIRA DE ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
A an álise das políticas de sa úde, como aponta Walt (1994), n ã o pode ser feita
apenas com base no seu conteú do, porque sua formula çã o e sua implementa çã o
envolvem processos políticos e rela ções de poder.
No caso brasileiro, as definições da Constituiçã o de 1988 e da legisla çã o do SUS
quanto ao arranjo federativo e à participa çã o social na sa ú de trazem implicações
importantes para a formula çã o das políticas de sa ú de. Tais regras legais ampliaram
as possibilidades de envolvimento de novos atores no processo decisório, gerando
mudanças significativas nas rela ções de poder e impondo a necessidade de
negocia çã o e da formula çã o compartilhada das políticas de sa ú de por meio dos
canais institucionais (Machado, 2007).
A an álise do processo de formula çã o da política de APS no período revelou
que a Estratégia Sa úde da Família ocupou papel de destaque n ã o só na agenda do
Ministério da Sa ú de, mas també m na agenda dos diferentes atores que participaram
da construçã o das políticas nacionais de sa ú de. A CIT e o CNS foram canais
importantes de negociaçã o e pactua çã o da política de APS, ensejando influências
de diversos atores sobre esse processo: profissionais de sa ú de; representantes de
conselhos de classe; da sociedade civil; e atores político- partid á rios.
Ao comparar os pontos mais debatidos nas reuniões da CIT e do CNS, já
era esperado que houvesse diferen ças em rela çã o às discussões travadas, pela
natureza e pelo papel distintos dessas instâ ncias. Os quadros 1 e 2 revelam
185
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
Quadro 1 - Frequência relativa de temas relacionados à política de atenção primária nas pautas de
reuniõ es da Comissã o Intergestores Tripartite e do Conselho Nacional de Saúde - 2003- 2010
2003 77 ,7% 13 ,3 %
2008 30,0% 13 ,3 %
186
6 | A POLÍTICA BRASILEIRA DE ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
2007 - Cadastro nacional das equipes de PSF e Pacs no CNES; - Residência multiprofissional;
- Núcleo de Atençã o Integral/ Núcleo de Apoio à Saúde da Família; - Núcleo de Atenção Integral/ Núcleo de
- Política Nacional de Atenção Básica; Apoio à Saúde da Família.
- Assistência Farmacêutica Bá sica.
2008 - Assistência Farmacêutica Bá sica; - Núcleo de Apoio à Saúde da Família;
- Núcleo de Apoio à Saúde da Família; - Reajuste do PAB fixo.
- Programa Sa úde na Escola;
- Acompanhamento das condicionalidades de saúde do Programa
Bolsa Família.
2010 - Incorporaçã o de agente de combate de endemias na atençã o - Seminário Nacional sobre o Sistema da
primária à saúde; Atençã o Básica;
- Enfrentamento da influenza pandémica; - Política Nacional de Sa ú de Bucal;
- Definiçã o de critérios diferenciados para implanta ção , financiamento - Estrutura çã o da atenção básica;
e manutençã o da Estratégia Saúde da Família para popula ções - Assistência Farmacêutica B ásica.
ribeirinhas na Amazônia Legal e no Mato Grosso do Sul;
- Política Nacional de Alimenta çã o e Nutriçã o;
- Acompanhamento das condicionalidades de saúde do Programa -
Bolsa Família;
- Saúde Bucal;
- Carreira especial no âmbito do SUS para profissionais de saúde da
atenção básica em áreas de difícil acesso ou provimento;
- Programa Sa úde na Escola.
187
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
189
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
Quadro 3 - Configuração dos diferentes momentos que marcaram a inserção da Política Nacional de
Atençã o Primária à Saúde na esfera federal. Brasil - 2003- 2010
Dirigentes Até 11/ 07/ 2005 De 11/ 07/ 2005 até 31/ 03/ 2006
Ministro da Saúde: Humberto Costa Ministro da Saúde: José Saraiva
Secretário -executivo: Gastã o Wagner de Sousa Secretário -executivo: José Agenor Alvares da
Campos Silva
Secretário de Atenção à Saúde: Secretário de Atenção à Sa úde:
Jorge Solla José Gomes Temporã o
Diretor do Departamento de Atenção B ásica Diretor do DAB: Luis Fernando Sampaio
( DAB):
Afra Suassuna De 31/ 03/ 2006 a 16/ 03/ 2007
Ministro da Saúde: José Agenor Alvares da Silva
Secretário-executivo: Jarbas Barbosa/ Paulo Curi
Secretário de Atenção à Sa úde: José Gomes
Temporã o
Diretor do DAB: Luis Fernando Sampaio
Principais documentos Plano Plurianual - Saúde ( 2003 ) Pacto pela Saúde (2006 )
orientadores da política Plano de Metas 2003 (2003) Política Nacional de Atenção B ásica ( Pnab)
Plano Nacional de Sa úde ( 2005 ) ( 2006)
Mais Saúde: direito de todos - 2008-2011
( 2007 )
Oficina de Qualificaçã o do Nasf ( 2010)
Mudanç as Extinçã o da Secretaria de Políticas de Saúde Debates sobre a criaçã o de uma secretaria
organizacionais e transferência do Departamento de Atençã o específica na estrutura administrativa do
relevantes para a APS B á sica para a nova Secretaria de Atenção à Ministério da Saúde, denominada Secretaria
Sa úde, que passa a coordenar o conjunto da de Atençã o Primária e Promoçã o da Saúde,
atençã o. como tentativa de fortalecimento da política
Cria ção da Secretaria de Ciência, Tecnologia e no espa ço institucional. A proposta não se
Insumos Estratégicos ( SCTIE) e da Secretaria concretizou até o final de 2010.
de Gest ã o do Trabalho e da Educaçã o na Saúde Criação da Secretaria Especial de Saúde
( SGTES), que passam a coordenar políticas de Indígena ( somente em outubro de 2010) .
insumos e de recursos humanos, assumindo
algumas a ções que estavam sob o comando do
DAB ( Assistência Farmacêutica B ásica, formaçã o
de profissionais).
Cria ção da Secretaria de Vigilância em Saúde
( SVS), que passou a coordenar a política de
promoção da saúde.
Cria ção da Secretaria de Gestão Participativa
( SGP) - fortalecimento da gestão participativa e
articulaçã o com movimentos sociais.
190
6 | A POLÍTICA BRASILEIRA DE ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
Quadro 3 - Configuração dos diferentes momentos que marcaram a inserção da Política Nacional de
Atenção Primária à Saúde na esfera federal. Brasil - 2003- 2010 ( Cont.)
Concepção de APS Nível de atençã o ( porta de entrada ) estruturante Mesma concepçã o adotada no período anterior ;
do sistema, caracterizado por um conjunto de entretanto, quando a Pnab é publicada, ocorre
atributos, explicitados no referencial teórico o detalhamento dos princípios norteadores e
proposto por Starfield ( 2002 ). fundamentos da atençã o b á sica.
Principais estratégias Reajuste dos principais incentivos de atenção Iniciativas em parceria com o Ministério da
bá sica; Educa ção voltadas para a reorienta ção da
Amplia çã o do escopo das ações no âmbito da forma çã o dos profissionais de sa ú de;
atençã o b ásica, com destaque para a ções de Incorporaçã o de novos profissionais à estratégia
promo çã o da saúde e prevenção de agravos; de Saúde da Família com a criação dos Nasfs.
Integraçã o da atenção básica com os demais
níveis de atenção e á reas do ministério;
Saú de Bucal;
Articulaçã o com as áreas de saúde mental e
vigilância em saúde;
Projeto de Expansão e Consolida ção da Saúde
da Família ( Proesf ) ;
Fortalecimento das a ções de monitoramento e
avaliaçã o.
Caracteriza ção do Presenç a de visões distintas no interior do O modelo de PSF conforme configurado em
momento Ministério da Saúde com rela ção ao modelo de 1994/ 1995 se reafirma como a estrat égia
APS, incluindo certo questionamento da ESF priorit á ria para a atenção primária a ser
como estratégia única para a reorganiza çã o da induzida e financiada pelo gestor federal;
atençã o primária no país; Cria çã o de medidas de reforç o da atenção
Discussõ es relacionadas a propostas de b ásica bastante vinculadas à ESF;
mudança ou flexibiliza çã o do modelo de atençã o Importante inovaçã o: a criaçã o dos Nasfs.
primária em voga desde 1994;
Pontos de tensã o no debate: ESF como
estratégia única; flexibilização do modelo de
ESF; enfrentamento de problemas ou limitações
da estratégia no que tange ao modelo de
atençã o proposto;
Propostas apresentadas: equipes em transiçã o
para a Estratégia Sa úde da Família e equipes
matriciais ( Núcleo de Saúde Integral).
191
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
Considerações Finais
192
6 | A POLÍTICA BRASILEIRA DE ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
193
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
194
6 | A POLÍTICA BRASILEIRA DE ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
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196
Mudanças nas Políticas do
7 Trabalho e da Educação em Saúde
no Governo Lula
Mareia Teixeira
Roberta Gondim de Oliveira
Rosana Freitas Arantes
1
0 enfoque no processo de institucionaliza çã o proposto parte de um conceito alargado de instituições que,
num esforço de sistematização, está em conson â ncia com Hodgson (2006) quando propõe: “ podemos definir as
instituições como sistemas de regras sociais estabelecidas e predominantes , que estruturam as intera ções sociais.
Linguagem , dinheiro, Leis , sistemas de pesos e medidas , empresas (e outras organizações) sã o todas , portanto,
instituições ” (Hodgson , 2006: 17 - Tradução livre) .
198
7 | MUDANÇAS NAS POLÍTICAS DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃ O EM SAÚDE NO GOVERNO LULA
199
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
200
7 | MUDANÇAS NAS POLÍTICAS DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃ O EM SAÚDE NO GOVERNO LULA
201
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
202
7 | MUDANÇAS NAS POLÍTICAS DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃ O EM SAÚDE NO GOVERNO LULA
2 Projeto de investimento do Minist é rio da Sa ú de, institu ído na segunda metade dos anos 1990, mediante acordo
celebrado entre o governo brasileiro e os Bancos Mundial e Interamericano de Desenvolvimento, num montante de
US$ 577 milhões.
203
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
204
7 | MUDANÇAS NAS POLÍTICAS DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃ O EM SAÚDE NO GOVERNO LULA
50.000 n
40.000 \
30.000
\
- \ /
20.000
s \
10.000 v. /
0
V *#
^^ —^— ^^^^^^ ^ ^^^ Aposentados Ingressados
S>
Fonte: elaboração própria com dados do Boletim Estatístico de Pessoal (Brasil/ MPOG, 2010).
3
At é ent ã o, as quest ões relativas ao campo estavam sob condu çã o da Coordena çã o Geral de Políticas de Recursos
Humanos em Sa ú de (CGPRH) do Minist é rio da Sa ú de ou mesmo dispersas entre outras á reas , conforme mencionado.
205
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
4 Vale ressaltar que esteve presente nos debates uma dupla concepçã o sobre o trabalho precá rio. Para o Conselho
Nacional de Secret ários de Sa ú de (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Sa úde (Conasems) ,
o trabalho precá rio estaria relacionado à n ã o garantia dos direitos trabalhistas e previdenci á rios consagrados em
lei, por vínculo direto ou indireto. Já para as entidades sindicais, além da ausê ncia de direitos, a não realizaçã o de
concurso p ú blico ou processo seletivo pú blico para cargo permanente ou emprego pú blico no SUS caracterizaria o
trabalho precá rio. O Minist é rio da Sa ú de acolheu em seus documentos as duas visões.
206
7 | MUDANÇAS NAS POLÍTICAS DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃ O EM SAÚDE NO GOVERNO LULA
207
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
5 Os consensos entre gestores e trabalhadores com rela çã o ao tema foram incluídos nas Diretrizes Nacionais para a
Instituiçã o de Planos de Carreiras, Cargos e Sal ários no  mbito do Sistema Ú nico de Saú de , elaboradas por comissã o especial
instituída pela portaria GM/MS n . 626, de 8 de abril de 2004.
208
7 | MUDANÇAS NAS POLÍTICAS DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃ O EM SAÚDE NO GOVERNO LULA
6
Criada pela portaria do Gabinete Ministerial do MS n . 827, de 5 de maio de 2004 (alterada pela portaria GM/MS n .
174, de 27 de janeiro de 2006) . Sã o componentes da CRTS: Minist é rio da Sa ú de ; Minist é rio da Educa çã o; Minist é rio
do Trabalho e Emprego ; Conass ; Conasems ; Agê ncia Nacional de Vigil â ncia Sanit á ria (Anvisa) ; conselhos integrantes
do Fórum Nacional dos Conselhos Federais da Área da Sa ú de ; entidades científicas das profissões da á rea de sa úde;
MNNP - SUS.
7 Ressalte -se a pesquisa realizada pelo Conass em 2004, que trouxe o diagn óstico da situaçã o nos estados; e a
realizada pelo Centro de Estudo e Pesquisa em Sa úde Coletiva do Instituto de Medicina Social da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (Cepesc/IMS/Uerj) .
209
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
210
7 | MUDANÇAS NAS POLÍTICAS DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃ O EM SAÚDE NO GOVERNO LULA
8Em 2007, foi enviado pelo governo federal ao Congresso Nacional o projeto de lei complementar ( PLC) n . 92/07 , que
dispõe sobre a regulamenta çã o do inciso XIX do art . 37 da Constituiçã o Federal. Contudo, o projeto de lei apenas
autoriza a criaçã o das funda ções , sendo necessário o estabelecimento de lei específica , na qual sua personalidade
jurídica e suas características serã o definidas.
9
Representantes da á rea da sa ú de , particularmente dirigentes do Minist é rio da Sa ú de e alguns pesquisadores da
Funda çã o Oswaldo Cruz , haviam participado dos debates e do processo inicial de formulaçã o da proposta .
211
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
10
A Educa çã o Permanente em Sa ú de apresenta- se como uma proposta de a çã o estrat égica capaz de contribuir
para a transformaçã o dos processos formativos , das prá ticas pedagó gicas e de sa úde e para a organizaçã o dos
serviços , empreendendo um trabalho articulado entre o sistema de sa úde , em suas vá rias esferas de gest ã o, e as
instituições formadoras. Ao se colocarem em evid ê ncia a forma çã o e o desenvolvimento para o SUS, por meio da
constru çã o da educa çã o permanente , prop õe- se a agrega çã o entre desenvolvimento individual e institucional ; entre
serviços e gest ã o setorial ; e entre atençã o e controle social , visando à implementa çã o dos princípios e das diretrizes
constitucionais do SUS. Propõe - se, portanto, que os processos de qualifica ção dos trabalhadores da sa ú de tomem
como referência as necessidades de sa ú de das pessoas e das populações, da gest ã o setorial e do controle social em
sa ú de , que tenham como objetivos a transforma ção das prá ticas profissionais e da pró pria organização do trabalho,
e que sejam estruturados mediante a problematização da atuação e a gest ã o setorial em sa úde ( Brasil/Ministério da
Sa ú de/SGTES/Deges , 2004).
212
7 | MUDANÇAS NAS POLÍTICAS DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃ O EM SAÚDE NO GOVERNO LULA
213
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
11
Outros exemplos: “i) trabalho conjunto do MEC/Inep e Minist é rio da Sa ú de/Deges na constru çã o dos critérios e
instrumentos de avalia çã o dos cursos de gradua çã o da á rea da sa úde, ii) coopera çã o com o Fórum de Pró- Reitores
de Extensã o para incentivo ao internato regional, com o objetivo de ampliar o compromisso de estudantes, docentes
e instituições de ensino superior da á rea da sa úde com a realidade local , seus problemas e soluções; iii) cooperação
com as diferentes Associa ções de Ensino, organizadas num Fórum das Profissões da Saúde , com vistas à adoção da
integralidade como eixo da forma çã o em sa ú de e o trabalho; iv) cooperação com o movimento estudantil com o
objetivo de proporcionar aos estudantes momentos de vivência e aproximaçã o com o sistema de sa ú de desde a ótica
de sua gest ã o, consubstanciada nas vivê ncias e est á gios na realidade do SUS - VER- SUS” (Brasil/SGETS/Deges , 2004) .
12O autor se baseia em informa ções divulgadas no documento “Ministé rio da Sa ú de: caminhos e produtos da Polí-
tica Nacional de Educaçã o Permanente ”, de 2004.
214
7 | MUDANÇAS NAS POLÍTICAS DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃ O EM SAÚDE NO GOVERNO LULA
215
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
Contudo, se por um lado essa inflexã o na condu çã o federal inaugura uma nova
forma de operar a política de forma ção e desenvolvimento para o SUS, delegando
responsabilidades de implementa çã o para os estados e municípios , a centralidade
na regionaliza çã o apresenta, por outro lado, importantes desafios para a efetiva çã o
da política de educa çã o permanente. Destacam-se as assimetrias na maturidade
dos colegiados em termos nacionais e a permanê ncia de disfun ções, ainda n ã o
solucionadas , como a baixa execu çã o dos recursos destinados à educa çã o per-
manente, como demonstrado adiante.
Ressalta -se também que o binómio ensino-serviço, afirmado na nova regula -
menta çã o, pode indicar um afastamento do marco anterior de educa çã o per-
ínseca entre ‘mundo do ensino’ e ‘mundo do
manente, cujo foco era a rela çã o intr
trabalho’, como espa ço de aprendizagem, nos territórios concretos das a ções de
sa ú de e da produ ção de conhecimento e prá ticas. A permanência da dicotomia
entre o espa ço do saber e o mundo do trabalho continuou uma lacuna nã o superada
pelas reformula ções da política de educa çã o permanente.
Muitos projetos continuam a ser formulados nos moldes convencionais de
ensino, pois assumem a forma de capacita ções ou de cursos pontuais , mantendo
fragilidades conceituais e metodológicas que foram questionadas no momento
inicial da política de educaçã o permanente, embora ainda n ão resolvidas. Apesar
desses desafios, a institucionaliza çã o da política de educa çã o permanente sugere
mudanças na direcionalidade das iniciativas de forma çã o e desenvolvimento para
o trabalho em sa ú de.
Ainda no â mbito da educa çã o permanente, foi criado o Programa Nacional de
Telessa ú de. Ele tem por objetivo desenvolver a ções de apoio à assistê ncia à sa ú de
- principalmente de educa çã o permanente de Sa ú de da Família -, contemplando
a implanta çã o de infraestrutura de informa çã o e telecomunica ção com priori -
dade para zonas remotas, isoladas e marginais do país , para possibilitar o
desenvolvimento contínuo, a distâ ncia , das equipes de sa ú de da família. A meta
do programa era contemplar 24.500 equipes de sa ú de da família até 2011; segundo
dados do Ministé rio da Sa ú de, houve o cumprimento de 62% do previsto (Brasil/
Ministério da Sa ú de/SGTES, 2011).
Alé m de programas e projetos relativos ao eixo da educa çã o permanente, a
política de educa ção em sa ú de compreende outros dois eixos estratégicos - educa -
çã o profissional e educa çã o superior.
216
7 | MUDANÇAS NAS POLÍTICAS DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃ O EM SAÚDE NO GOVERNO LULA
217
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
nos instrumentos da política de saúde, envolvendo mudanças nas rela ções intergover-
namentais e nos critérios de regionalização e transferência de recursos federais.
No que diz respeito ao planejamento, propostas para esse campo estiveram
presentes nos principais instrumentos do período. No Plano Nacional de Saúde
(PNS) para o per
íodo 2004- 2007, além de constar como item transversal, em diversas
diretrizes, como na expansão e efetivação da atençã o básica de sa úde, a á rea mereceu
destaque no item sobre gestã o em sa úde, no qual sã o apontadas diretrizes para a
democratizaçã o das relações de trabalho e a implementaçã o da política de educa -
ção permanente (Brasil/Ministério da Saúde/Secretaria Executiva, 2004).
No Pacto pela Sa ú de (Brasil/Ministé rio da Sa ú de/Secretaria Executiva/, 2006) , a
á rea ocupa um capítulo especial, no qual se destacam tanto o papel do Ministério
da Sa ú de na formula çã o de diretrizes nacionais e na coopera çã o técnica para a
gestã o do trabalho e da educaçã o no SUS quanto a proposiçã o de novas atribuições
e formas de coordena çã o entre estados e municípios.
O segundo PNS, para o per íodo 2009- 2011, elaborado em 2008, amplia o conjunto
de estratégias elaboradas para o campo, em estreita rela çã o com o que foi definido
no Pacto (Brasil/Ministé rio da Sa ú de/Secretaria Executiva, 2008) .
A política de gestão do trabalho e educação em sa úde integrou ainda o Plano Mais
Saúde 2008-2011 (Brasil/Ministério da Saúde/Secretaria Executiva, 2010). O plano
inicialmente previa para o eixo da ‘Força de Trabalho em Sa úde’ as seguintes ações:
prover acesso ao Telessa úde; estabelecer ação integrada com o Ministério da Defesa
para suprir a deficiência de profissionais de sa úde em áreas remotas; qualificar a
formaçã o profissional em saú de com a colaboraçã o de equipes de sa úde da família;
promover a especializaçã o dos profissionais de nível superior das equipes de saú de
da família por meio da UnA-SUS; capacitar profissionais de n ível médio em á reas
técnicas estratégicas para a saú de por meio do Profaps; implementar o Programa
Nacional de Qualificaçã o de Gestores e Gerentes do SUS; implantar a Escola de
Governo em Sa úde no Distrito Federal; e recompor a força de trabalho na esfera
federal pela criaçã o de carreiras específicas para o Ministério da Saú de.18
No entanto, durante o período analisado, questões estruturais foram postergadas ,
como a reposiçã o de profissionais federais cedidos a estados e municípios em vias
de aposentadoria , o aumento pela demanda de trabalho em sa ú de versus os limites
18Os valores inicialmente propostos para o financiamento de tais a ções foram revistos ainda em 2008 , após a n ã o
aprova çã o pelo Congresso da continuidade da Contribuiçã o Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) . A
proposta foi ajustada de R$ 2,5 bilhões para R$ 1,4 bilhã o, sendo executados cerca de R$ 777 milhões até 2010, ou
seja , somente 57% dos recursos previstos para o eixo da força de trabalho em sa ú de ( Brasil/Minist é rio da Sa úde/
Secretaria Executiva , 2010) .
218
7 | MUDANÇAS NAS POLÍTICAS DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃ O EM SAÚDE NO GOVERNO LULA
Gráfico 2 - Evolução da execução orçamentária do Ministé rio da Sa úde com gestão do trabalho
e educa ção em saúde. Brasil - 2004-2009
600
500
<T>
O
O
CM 400
CU
T3
2
-O
E
CU
O)
300
T3
CU
T3
CU
E
LU
200
100
Fonte: elaboração própria com dados orçamentários de 2002 a 2009 do Siga Brasil (Brasil/ Senado Federal, 2011).
Obs.: recursos ajustados para valores de dezembro de 2009 pelo índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
219
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
100 ,0
90, 0 tf*
tf*
80, 0 -
70,0
60,0 - tf -
50, 0
40,0 -
30,0 - *v
20, 0 -
10 , 0 -
0,0
2004 2005 2006 2007 2008 2009
Fonte: elaboração própria com dados orçamentários de 2002 a 2009 do Siga Brasil (Brasil/ Senado Federal, 2011).
Obs.: recursos ajustados para valores de dezembro de 2009 pelo índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE.
220
7 | MUDANÇAS NAS POLÍTICAS DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃ O EM SAÚDE NO GOVERNO LULA
Quadro 1- Síntese das Políticas de Gestã o do Trabalho e da Educaçã o em Saúde. Brasil - 2003-2010
Gestão do Trabalho em Saúde
Io momento 2 o momento
01/ 2003 -03/ 2007 03/ 2007-12/ 2010
Estratégias: Estratégias:
- Construçã o de agenda positiva com prioridade no processo de - Segmenta çã o da agenda: proposta de fundaçã o estatal - com
desprecariza çã o, instituição de MNNP, Comissões PCCS/ SUS, previsã o de mudanças nas relações de trabalho.
C âmara Técnica de Regula çã o, Sistema de Informa çã o, Apoio - Prioridade na qualificaçã o da gestã o ProgeSUS e Programa
à EC 51 e Programa de Qualificaçã o da Gestão do Trabalho Nacional de Desenvolvimento Gerencial no SUS ( PNDG ).
( ProgeSUS).
Mecanismos institucionais:
Mecanismos institucionais: - Criação de uma Diret ória de Programas ( SGTES).
- Novo espaço na estrutura do Ministério da Saúde.
- Estímulo à cria ção de Comités e Câmaras Técnicas, Mesa de Financiamento:
Negocia ção, inclusã o do campo no PNS e Pacto de Gestão. - Unifica ção dos orçamentos - rubrica orçament á ria 1.436 em
- Conferência Gestã o do Trabalho e Educaçã o em Saúde. 2008.
- Inclusão no Mais Saúde com destina ção de recursos.
Financiamento:
- Criaçã o de programa orçament ário próprio para a área. Adesão:
- Maior orçamento para gestã o da educa çã o. - Aprova ção de leis sobre novos formatos institucionais FE e
ampliação de adoçã o de contratos com OS nos estados e nos
Adesã o: municípios.
- Forte apoio a nova agenda pela gestão tripartite do SUS.
- Baixa incorporaçã o pelos estados e municípios das diretrizes
federais para a gestã o do trabalho.
Io momento 2 o momento
01/ 2003 -07/ 2005 07/ 2005 -12/ 2010
Estratégias: Estratégias:
Prioridade na educaçã o permanente. Prioridade na reorienta ção da forma ção profissional.
- Foco no processo de trabalho. - Pró -Saúde I, Pró -Saúde II e Pet- Sa úde.
- Formaçã o de ativadores de mudança. - Educa ção profissional - Profaps, Proformar.
- Reorienta çã o da forma ção profissional em sa úde: - Retorno ao binómio ensino-serviço.
AprenderSUS, Ver-SUS e EnsinaSUS. - Amplia ção da parceria com MEC. Transferência da condução
da política de educa ção permanente.
Mecanismos institucionais: - Maior protagonismo das secretarias de Saúde.
- Polos de Educaçã o Permanente - conduçã o da implanta ção - Revisão da política de Educaçã o Permanente
da política; maior protagonismo das instituiçõ es de ensino na
condução dos polos. Inclusã o do campo no PNS. Mecanismos institucionais:
- Inclusã o do campo no Pacto de Gest ão.
Financiamento: - Conferência Gestã o do Trabalho e Educação em Saú de.
- Concentra ção de recursos antes dispersos nos diferentes - Criaçã o de Colegiados de Gest ão Regional ( CGR ), no interior
programas do Ministério da Saúde - programa orçamentário dos quais se instituem as Comissões de Integraçã o Ensino-
próprio para a área; gest ã o de recursos financeiros pelos Serviço ( Cies).
polos . - Extinçã o dos polos.
Ades ã o: Financiamento:
- Alta adesã o às ações propostas. - Ordena ção dos recursos financeiros pelas secretarias de
- Questionamentos em relaçã o ao funcionamento dos polos. Saúde.
- Forte redução na execução orçament ária em 2008.
- Inclusã o no Mais Saúde com destinação de recursos.
Adesã o:
- Dificuldades na formula çã o e execução de planos estaduais de
Educa ção Permanente.
- Amplia ção do número de CIES em funcionamento no país.
Fonte: elaboração própria.
221
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
Considerações Finais
A an álise da atua çã o do Ministé rio da Sa úde no campo da gestã o do trabalho e
da educa çã o em sa ú de no período estudado sugere avan ços significativos, poré m
também limita ções , pautas postergadas ou nã o enfrentadas.
A maior institucionalidade do campo da gestã o do trabalho e da educa çã o
em sa úde na esfera federal possibilitou a constru çã o de uma agenda positiva ,
mais abrangente e clara. Possibilitou també m sua inclusã o nos processos de
planejamento federal e de pactuaçã o intergovernamental das políticas de sa úde,
resultando em maior aporte e regularidade de recursos para a á rea.
A direçã o inicialmente adotada para as políticas do trabalho em sa ú de esteve
vinculada à agenda nacional de desenvolvimento, com uma nova compreen-
sã o sobre o papel do Estado e com as medidas de desprecariza çã o adotadas nos
últimos anos. Contudo, a an álise das a ções efetivadas sugere uma agenda n ã o
plenamente contemplada, com mudan ças em sua direcionalidade durante o
período analisado. A desprecarizaçã o do trabalho pela via da recomposiçã o dos
quadros de servidores públicos por concurso, por exemplo, perde força na agenda
da sa úde ao longo do período.
No que concerne à gestã o do trabalho no SUS, que havia sofrido os efeitos de um
processo prévio de desregulamentação da ação do Estado e da reforma das normas
de vinculaçã o ao setor p úblico, em boa parte do período estudado, enfatiza -se a
formula çã o de diretrizes gerais para a elabora çã o de PGCS e a implementaçã o de
mesas de negocia çã o. Embora construídas de forma participativa , tais propostas
nã o garantem per se a supera çã o dos constrangimentos estruturais e institucionais
presentes na gestã o p ública.
Verifica -se que as a ções de educa çã o tiveram maior poder de mobiliza çã o e
participaçã o de diversos atores federativos. As estratégias de incentivo à sua
implementa çã o, por meio de diferentes instituições de ensino e estruturas de
qualifica çã o dos trabalhadores das secretarias de Sa ú de de estados e municípios ,
apresentaram um saldo positivo no que se refere à institucionalidade da á rea e à
efetivaçã o de a ções.
Contudo, ainda persiste um caminho a ser percorrido no sentido de efetivar
uma política dessa natureza , na medida em que os diferentes atores federativos
precisam , alé m de dominar seus contornos técnico- políticos, rever suas prá ticas
de gestã o do trabalho e de forma çã o. Esse fen ômeno, poré m, pode ser entendido
222
7 | MUDANÇAS NAS POLÍTICAS DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃ O EM SAÚDE NO GOVERNO LULA
223
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
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7 | MUDANÇAS NAS POLÍTICAS DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃ O EM SAÚDE NO GOVERNO LULA
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225
III. Processos
8 0 Processo de Descentralização e
Regionalização do SUS no Contexto
do Pacto pela Saúde1
Luciana Dias de Lima
Lucia de F á tima Nascimento de Queiroz
1Este capítulo representa uma versã o revista e atualizada do artigo “ Descentraliza çã o e regionaliza çã o: din â mica e
condicionantes da implantaçã o do Pacto pela Sa úde no Brasil ” , publicado na revista Ciê ncia & Sa úde Coletiva (Lima et
ai., 2012) . Agradecemos à revista a autoriza ção para reprodu çã o parcial do conte ú do do artigo.
229
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
organizações, cidad ã os) no espa ço geográfico (Fleury & Ouverney, 2007; Viana &
Lima , 2011). Inclui, ainda , o desenvolvimento de estratégias e instrumentos de
planejamento, integraçã o, gestã o, regulaçã o e financiamento de uma rede regio -
nalizada de a ções e serviços de sa ú de (Mendes , 2010; Kuschnir & Chorny, 2010).
Alé m disso, a regionaliza çã o pressupõe a diversidade de aspectos que
distinguem o território no planejamento de políticas p úblicas, buscando garantir a
adequa çã o e a complementaridade das regiões (Viana et al , 2008) e uma inserçã o
diferenciada da sa úde nos processos de desenvolvimento, produçã o e incorporaçã o
tecnológica (Gadelha et al., 2009).
Esses processos guardam especificidades em países de organiza çã o federativa
(Pierson & Liebfried , 1995). Sob regimes democrá ticos, o desenho institucional
das federa ções garante a repartiçã o do poder do Estado, de modo que diferentes
esferas de governo possam participar do processo político e defender seus direitos
originá rios (Lijphart, 2003). Nesses casos, a implanta çã o de sistemas, fundados
em princípios nacionais e igualitá rios como o SUS, supõe o entendimento entre
autoridades com poder e legitimidade que agregam e empregam recursos
diversos na política de sa ú de. Estratégias de reforma , como a descentraliza çã o e
a regionaliza çã o, també m favorecem mudan ças nas rela ções interinstitucionais
previamente estabelecidas entre os entes. Por isso, é comum a observação de
relações de cooperaçã o e competição, acordos, vetos e decisões conjuntas entre
governos com projetos que, frequentemente, se antagonizam na disputa política.
A coordena çã o federativa, compreendida como formas de articulaçã o entre
diferentes instâ ncias governamentais , é um elemento-chave para se garantir
o equilíbrio entre autonomia e interdepend ê ncia dos governos e para amenizar
os conflitos existentes entre eles nas políticas p úblicas (Abrucio, 2005).2 Segundo
Abrucio (2005) , a coordena çã o pode ser instituída por meio de: instrumentos
legais e normativos que definem a distribuiçã o de fun ções e competências
gestoras; inst â ncias federativas e mecanismos de negocia çã o intergovernamental;
funcionamento regular das instituições representativas; papel coordenador ou
indutor do governo federal.
2Tal como sugerido por este autor, a coordenaçã o favorece a cooperaçã o intergovernamental , sendo fundamental
para a otimizaçã o do uso de recursos comuns , como é o caso dos problemas de açã o coletiva que cobrem mais
de uma jurisdiçã o (caso das doenças transmissíveis e outros agravos de sa úde) ; o auxílio aos governos menos
capacitados ou mais pobres para realizarem determinadas tarefas e melhor integrarem o conjunto de políticas
compartilhadas , evitando o jogo de empurra entre os entes ; o combate a comportamentos predat órios , que repassam
custos de um ente à na ção (esse comportamento se expressa , por exemplo, nas dificuldades de atendimento dos
pacientes em unidades mais complexas situadas em municípios- polo); a distribuição de informa ções sobre fórmulas
administrativas bem -sucedidas , incentivando o associativismo intergovernamental.
230
8 | 0 PROCESSO DE DESCENTRALIZAÇÃ O E REGIONALIZAÇÃ O DO SUS NO CONTEXTO DO PACTO PELA SAÚDE
231
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
1990 a 1992 NOB 91/ 92 Ausente Única forma utilizada: repasse direto ao
prestador segundo produçã o aprovada
1993 a 1995 NOB 93 Fraca: vinculada às negociações municipais Forma preponderante: repasse direto ao
isoladas prestador segundo produçã o aprovada
Forma residual: transferências em bloco ( block
grants) segundo montante definido no teto
financeiro
1996 a 2000 NOB 96 Moderada: vinculada às negociaçõ es Forma residual: repasse direto ao prestador
intermunicipais, com participa çã o e media ção segundo produçã o aprovada
da instância estadual ( Programa çã o Pactuada Forma preponderante: transferências
e Integrada - PPI) segmentadas em vá rias parcelas ( project grants)
por nível de atençã o à sa ú de, tipo de serviç o e
programas
2001 a 2005 Noas 2001/ 2002 Forte: vinculada às definiçõ es do conjunto de Forma residual: repasse direto ao prestador
a ções e serviç os a serem contemplados no segundo produçã o aprovada
planejamento regional; ênfase nas negocia ções Forma preponderante: transferências
intermunicipais no processo de planejamento segmentadas em vá rias parcelas ( project grants )
sob coordena çã o da inst ância estadual ( PPI, por nível de atençã o à saúde, tipo de serviç o e
Plano Diretor de Regionaliza çã o, Plano Diretor programas, incluindo a definiçã o de referências
de Investimentos) intermunicipais
2006 a 2010 Pacto pela Saú de Forte: vinculada à amplia ção da concepçã o Transferências em grandes blocos segundo nível
que embasa a regionaliza çã o da saúde de atenção à saú de, tipo de serviço, programas
no âmbito estadual; ênfase na pactua ção e funçõ es
política entre as diferentes esferas de governo;
manutençã o dos instrumentos previstos na
Noas (PPI, Plano Diretor de Regionaliza çã o,
Plano Diretor de Investimentos)
232
8 | 0 PROCESSO DE DESCENTRALIZA ÇÃ O E REGIONALIZAÇÃ O DO SUS NO CONTEXTO DO PACTO PELA SAÚDE
Ausente - Negocia çõ es em â mbito nacional por meio dos conselhos de representaçã o dos
secret á rios estaduais e municipais - Conselho Nacional de Secretários de Saúde
( Conass ) e Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde ( Conasems) - e
Comissã o Intergestores Tripartite ( CIT)
- Definiçã o de responsabilidade sobre algumas - Negocia çõ es em â mbito nacional e estadual, por meio dos Conselhos de Secretarias
a ções programáticas e de vigilância ( sanitária e Municipais de Sa úde ( Cosems) - e da Comiss ã o Intergestores Bipartite ( CIB )
epidemiológica) para a condição de gest ão mais - Iniciativas isoladas de consórcios
avanç ada vigente ( semiplena) - Formalizaçã o de acordos intergovernamentais por meio do processo de habilitaçã o às
condições de gestã o do SUS
- Programa de Agentes Comunit á rios de Saúde - Negocia çõ es em â mbito nacional e estadual e experiências de negocia ção regional
( Pacs) / Programa Saúde da Família ( PSF) isoladas ( ex.: CIB regionais)
- Programas e projetos prioritários para controle - Iniciativas isoladas de consórcios
de doenças e agravos ( carências nutricionais, - Formalizaçã o de acordos intergovernamentais por meio do processo de habilitaçã o às
catarata, varizes, atençã o de urgência / condições de gestã o do SUS e da PPI
emergência, doenç as infecciosas, vigilância
sanitária, atenção à populaçã o indígena)
- Manutençã o dos dispositivos anteriores e: - Negocia çõ es em â mbito nacional e estadual e experiências de negocia ção regional
- Definiçã o das responsabilidades mínimas e isoladas ( ex.: CIB regionais)
conteúdos para a atenção básica - Iniciativas isoladas de consórcios
- Redefiniçã o de procedimentos da atençã o de - Formalizaçã o de acordos intergovernamentais por meio do processo de habilitaçã o às
média complexidade condições de gestã o do SUS, da PPI e de experiências de contrato de gestã o isoladas
- Redefiniçã o de procedimentos da atençã o de alta - Implanta çã o de mecanismos de avalia çã o de resultados ( Agenda da Saúde, Pacto da
complexidade Atençã o B ásica )
- Criação de protocolos para assistência médica
- Definiçã o de responsabilidades em todos os níveis - Negociaçõ es em â mbito nacional, estadual e regional, por meio da conformaçã o dos
e campos de atençã o Colegiados de Gest ã o Regional ( CGR )
- Formalizaçã o de acordos entre gestores por meio da PPI, da assinatura de termos de
compromissos entre os gestores no â mbito do Pacto de Gest ão e do Pacto pela Vida
- Implanta çã o de mecanismos de monitoramento e avalia çã o dos compromissos
pactuados ( conjunto de metas atreladas a indicadores)
& Hill, 1993; Souza , 2006). Foram valorizados elementos de ordem macro, como
aqueles que dizem respeito à formula çã o e à inserçã o do Pacto pela Sa ú de na
política nacional.
Incorporaram-se, ainda, as contribuições do institucionalismo histórico (Thelen &
Steinmo, 1992; Hall & Taylor, 2003) , tendo em vista a sistematização dos fatores que
condicionam a implanta çã o do Pacto pela Sa úde nos estados. Procurou-se dar desta -
que às regras que regem a atuação dos governos e influenciam as escolhas políticas,
aos atores mobilizados e às articulações intergovernamentais em contextos especí-
ficos. Valorizou-se a dimensão temporal, relacionada à ideia de que acontecimen-
tos do passado podem condicionar as decisões políticas no presente (Pierson, 2004).
233
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
234
8 | 0 PROCESSO DE DESCENTRALIZAÇÃ O E REGIONALIZAÇÃ O DO SUS NO CONTEXTO DO PACTO PELA SAÚDE
O debate que culminou com a publicaçã o das diretrizes do Pacto pela Sa ú de,
em 2006, foi desencadeado a partir de 2003. Os novos dirigentes empossados no
Ministério da Sa ú de identificaram a necessidade de realizar mudan ças nas formas
de relacionamento estabelecidas entre as esferas de governo. Havia, na época ,
uma forte crítica ao modelo federal de condu ção da descentralizaçã o no SUS,
desenvolvido no período anterior (1998- 2002): a intensa normatiza ção atrelada
aos incentivos financeiros teria gerado, entre outros fatores , uma excessiva
burocratizaçã o das rela ções intergovernamentais e fragmenta ção acentuada dos
mecanismos de transferê ncia de recursos federais.
Assim , durante a primeira gest ão ministerial da sa ú de do governo Lula (2003
a meados de 2005) , a discussã o sobre a descentraliza çã o teve como foco a neces-
sidade de substituiçã o, dos processos e instrumentos até entã o adotados para a
habilita çã o dos estados e municípios , por prá ticas novas, que induzissem a açã o
coordenada e cooperativa entre os três entes gestores do SUS. Entre os desafios
mais relevantes, destacavam-se: a necessidade de adoçã o de crité rios mais justos
de repartição entre as unidades federadas e de formulaçã o de modalidades ino-
vadoras para as transferê ncias dos recursos financeiros; a formula çã o de metas e
objetivos sanitá rios para a regulaçã o e a avaliaçã o das ações de saú de oferecidas
pelo SUS; a formula ção de estratégias para a organizaçã o da gestão regional do
sistema ; e a definiçã o de uma proposta de organiza çã o para as redes de atençã o,
tendo a aten ção primá ria como ordenadora .
Após amplas discussões, o documento contendo as diretrizes do Pacto pela
Sa ú de 2006 - Consolida çã o do SUS - foi aprovado pela Comissão Intergestores
Tripartite e pelo Conselho Nacional de Sa ú de e publicado por meio de duas
portarias ministeriais,5 contemplando três dimensões: Pacto pela Vida , Pacto em
Defesa do SUS e Pacto de Gest ã o.
Apresentado como uma inovaçã o capaz de fortalecer a gest ã o descentralizada
do sistema , o Pacto pela Sa ú de propõe a redefiniçã o das responsabilidades coletivas
dos três entes gestores e o compromisso com resultados sanit á rios a serem
atingidos no â mbito setorial. Posteriormente, vá rios documentos sã o publicados
com o objetivo de detalhar algumas propostas e instrumentos operacionais do
5 Duas portarias principais consolidam a proposta do Pacto pela Sa ú de: a portaria GM/ MS n . 399 , de 22 de fevereiro
235
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
Pacto, bem como de fornecer orienta ções para a negocia çã o intergestores e para a
implanta çã o de estratégias e políticas em á reas específicas.6
O Pacto pela Vida corresponde à definiçã o das prioridades - que se traduzem
em objetivos e metas de melhoria das condições de sa ú de da popula çã o - a
serem acordadas pelas três esferas de governo. Já o Pacto em Defesa do SUS
indica a necessidade de se retomar uma movimentaçã o política mais ampla , para
garantir os princípios da Reforma Sanitá ria , explicitando iniciativas e a ções que
transcendam os limites setoriais e aumentem a base de apoio à política de sa ú de
nos governos e na sociedade.
O Pacto de Gest ã o, por sua vez , estabelece diretrizes para o aprimoramento da
gest ã o do SUS em oito aspectos: descentraliza çã o; regionaliza ção; financiamento;
planejamento; Programa çã o Pactuada e Integrada (PPI); regula çã o; participa çã o e
controle social; gest ão do trabalho e educa çã o em sa úde.
Em rela ção à quest ão do planejamento, sã o apresentados as diretrizes gerais e
os objetivos do Sistema de Planejamento no SUS, cuja ê nfase recai sobre o processo
de pactua ção intergovernmental das diretrizes gerais e dos instrumentos a serem
adotados (Planos de Sa ú de e Plano Diretor de Regionalizaçã o). Inclui-se a í a PPI,
como processo que visa a definir as a ções e nortear a aloca ção de recursos no SUS
- bem como consolidar as referê ncias entre os municípios - e suas repercussões
financeiras.
O Pacto pela Saú de diferencia -se dos instrumentos anteriormente adotados
no â mbito do SUS por propor a formaliza ção de acordos intergovernamentais em
diversos â mbitos da gestã o e da aten çã o à sa ú de. A adesão ao Pacto é feita por
meio do preenchimento e da assinatura de termos de compromisso de gestã o (TCG)
pelos gestores , que devem ser aprovados e homologados nas respectivas comissões
intergestores em â mbito estadual e nacional, substituindo os antigos processos de
habilitaçã o às condições de gestã o previstas nas normas operacionais do SUS.7
6 Quanto
a esse aspecto, ressalta -se a mudança que o Pacto introduz em relação à forma , tradicionalmente utilizada
pelo Ministé rio da Sa úde , para divulgar suas diretrizes. As proposições em diferentes á reas assumem a feiçã o de
compromissos pactuados e reunidos em cadernos específicos. Até dezembro de 2010, foram publicados 14 volumes
_
da sé rie Pactos pela Sa úde, dispon íveis em: < http:// portal.saude. gov.br/ portal/saude/ profissional/ area . cfmFid
area =1021>. Acesso em: dez. 2010.
7 Ascondições de gest ã o no SUS representavam est á gios diferenciados de descentralizaçã o dos municí pios e estados
na política de saúde, associados a distintas capacidades institucionais dos governos e das secretarias de Sa ú de que
deveriam ser comprovadas durante o pleito de habilitaçã o. Estas foram primeiramente estabelecidas pela norma
operacional básica de 1993 e vigoraram até a Noas. Em ú ltima inst â ncia , as condições de gest ã o no SUS estavam
relacionadas às formas de obtençã o e autonomia para execuçã o orçament ária dos recursos financeiros federais
transferidos para o custeio da assist ê ncia ( Levcovitz , Lima & Machado, 2001) . Em maio de 2006, 682 municípios (12%
do total) , todos os estados e o Distrito Federal estavam habilitados na condiçã o de gest ã o mais avançada prevista na
regulamenta çã o específica do SUS (plena do sistema municipal ou estadual), estando aptos a receber mensalmente
a totalidade das transferências federais para custeio da assistê ncia (incluindo a m é dia e a alta complexidades
ambulatorial e hospitalar).
236
8 | 0 PROCESSO DE DESCENTRALIZAÇÃ O E REGIONALIZAÇÃ O DO SUS NO CONTEXTO DO PACTO PELA SAÚDE
8
Ressalta- se que , quanto à divisã o de responsabilidades sobre a gestã o dos recursos de mé dia e alta complexidades trans-
feridos pelo Ministé rio da Sa ú de , esta permanece subordinada aos acordos estabelecidos entre estados e municípios
no processo de descentralização do SUS, expressos nas respectivas Programa ções Pactuadas e Integradas (PPI).
9 É interessante observar que o parcelamento mantido em cada bloco afasta a proposta do modelo de transferê ncia
do tipo block grants , adotado em muitas federa ções e que se fundamenta na maior autonomia de execu çã o dos
recursos transferidos pelos gestores subnacionais. No Canad á , por exemplo, o principal programa de transferências
intergovernamentais é o Canadian Health and Social Transfer, cujo objetivo é transferir recursos da Uniã o para o
custeio dos programas de sa úde, educaçã o de n ível superior e assistê ncia social. Embora o governo federal relacione
as transferências a certos objetivos finalísticos , o programa impõe , na realidade , poucas condições às províncias e é ,
com frequência , considerado um programa de transferê ncias incondicionais (Watts, 2004).
237
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
10
Pelas diretrizes do Pacto, os recursos depositados em conta ú nica podem ser aplicados nas a ções e nos serviç os de
sa ú de relacionados ao pró prio bloco ( Brasil, 2007).
11
Particularmente no que se refere à definiçã o do conjunto de a ções e serviços de sa ú de , que devem ser contemplados
em cada recorte regional , expressos por meio do Plano Diretor de Regionalização, com flexibilização dos crité rios e
requisitos atrelados aos processos de regionaliza çã o em curso nos estados.
12Nã o se quer com isso desconsiderar o importante papel desempenhado pelas Comiss ões Intergestores Bipartites
regionais institu ídas em alguns estados (como, por exemplo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Mato Grosso) .
238
8 | 0 PROCESSO DE DESCENTRALIZAÇÃ O E REGIONALIZAÇÃ O DO SUS NO CONTEXTO DO PACTO PELA SAÚDE
ritmos e graus de implanta çã o do Pacto pela Saúde refletem, em última instâ ncia, o
modo de conduçã o da política de sa ú de em â mbito estadual, bem como a diversidade
de amadurecimento das relações federativas em cada um dos estados brasileiros.
Gráfico 1 - Evolução do número de adesõ es estaduais ao Pacto pela Saúde. Brasil - 2006-2010
14 -
I
12
10
0
2006 2007 2008 2009 2010
Fonte: dados fornecidos pela Secretaria T écnica da Comissão Intergestores Tripartite do Ministério da Saúde, Brasil.
239
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
Gráfico 2 - Evoluçã o do número de adesões municipais ao Pacto pela Saúde. Brasil - 2006-2010
3.000
2.500
2.000
1.500
1.000 -
500
0
2006 2007 2008 2009
Fonte: dados fornecidos pela Secretaria Técnica da Comissã o Intergestores Tripartite do Ministério da Sa ú de, Brasil.
Obs.: os dados de 2010 se referem ao m ês de setembro.
240
8 | 0 PROCESSO DE DESCENTRALIZAÇÃ O E REGIONALIZAÇÃ O DO SUS NO CONTEXTO DO PACTO PELA SAÚDE
Mapa 1 - Proporção de adesões municipais ao Pacto pela Saúde nos estados. Brasil - 2010
LEGENDA
100%
Entre 70 e 99 ,9%
Entre 50 e 69 , 9%
Inferior a 50%
|Nã o se aplica
Fonte: dados fornecidos pela Secretaria Técnica da Comissão Intergestores Tripartite do Ministério da Saúde, Brasil.
Obs.: os dados se referem ao mês de setembro de 2010
241
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
Quadro 2 - Síntese dos dados sobre a implantaçã o do Pacto pela Saúde por estado. Brasil - 2006-2010
AL 2007 102 Nenhuma Inferior a 50% Inferior a 50% Entre 50% e 70% Acima de 70%
BA 2007 417 Nenhuma Inferior a 50% Inferior a 50% Inferior a 50% Inferior a 50%
CE 2007 184 Nenhuma Acima de 70% Acima de 70% Acima de 70% 100 %
ES 2008 78 Nenhuma Nenhuma Entre 50% e 70% Acima de 70% Acima de 70%
GO 2007 246 Nenhuma Inferior a 50% Inferior a 50% Inferior a 50% Acima de 70%
MA 2007 217 Nenhuma Inferior a 50% Inferior a 50% Inferior a 50% Entre 50% e 70%
MG 2008 853 Nenhuma Inferior a 50% Acima de 70% Acima de 70 % Acima de 70%
PB 2008 223 Nenhuma Inferior a 50% Inferior a 50% Inferior a 50% Entre 50% e 70%
PE 2008 184 Nenhuma Inferior a 50% Inferior a 50% Inferior a 50% Inferior a 50%
RO 2008 52 Nenhuma Nenhuma Entre 50% e 70% Acima de 70% Acima de 70%
RR 2007 15 Nenhuma Inferior a 50% Inferior a 50% Entre 50% e 70% Entre 50% e 70%
SC 2008 293 Nenhuma Inferior a 50% Inferior a 50% Inferior a 50% Acima de 70%
SP 2007 645 Nenhuma Inferior a 50% Acima de 70% Acima de 70% Acima de 70%
TO 2006 139 Nenhuma Inferior a 50% Inferior a 50% Inferior a 50% Inferior a 50%
Fonte: dados fornecidos pela Secretaria Técnica da Comissão Intergestores Tripartite do Ministério da Sa ú de, Brasil.
Obs.: os dados de 2010 se referem ao m ês de setembro.
242
8 | 0 PROCESSO DE DESCENTRALIZAÇÃ O E REGIONALIZAÇÃ O DO SUS NO CONTEXTO DO PACTO PELA SAÚDE
Adesão estadual e municipal ao Alto percentual de adesã o Médio percentual de adesão Baixo percentual de adesão
Pacto pela Saúde municipal ( superior a 70% em municipal ( entre 50% e 70% municipal ( inferior a 50%
2010 ) em 2010) em 2010 )
Adesão estadual precoce AL, CE, ES, GO, MG, MS, MT, PA , MA, PB, RR AC, AP, BA, PE, RJ, RS, SE, TO
( 2006 -2008 ) PR , RN, RO, SC , SP
Fonte: dados fornecidos pela Secretaria Técnica da Comissão Intergestores Tripartite do Ministério da Saúde, Brasil.
Obs.: os dados de 2010 se referem ao mês de setembro.
243
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
300 n
250 -
200 -
150 -
100 -
50 -
0
2006 2007 2008 2009 2010
Fonte: dados fornecidos pelo Departamento de Apoio à Gestão Descentralizada da Secretaria Executiva do Ministério da Saúde, Brasil.
Obs.: os dados de 2010 se referem ao mês de setembro.
Mapa 2 - Ano de implantação dos Colegiados de Gestão Regional nos estados. Brasil - 2006-2010
LEGENDA
EI 2006
2007
2008
2009
2010
Hl Não se aplica
Não há CGR
Fonte: dados fornecidos pelo Departamento de Apoio à Gestão Descentralizada da Secretaria Executiva do Minis-
tério da Saúde, Brasil.
Obs.: os dados de 2010 se referem ao mês de setembro.
244
8 | 0 PROCESSO DE DESCENTRALIZAÇÃ O E REGIONALIZAÇÃ O DO SUS NO CONTEXTO DO PACTO PELA SAÚDE
No entanto, houve situa ções nas quais os estados definiram seus CGR após
2007 , sem que tenha havido uma precedente revisã o dos planos de regionalizaçã o.
Nesses casos , tais inst â ncias apresentavam dificuldades para se constituírem como
fóruns permanentes de negocia ção intergovemamental, por nã o preencherem um
requisito essencial: a correspond ê ncia com regiões reconhecidas ou propostas pelo
conjunto de gestores do SUS nesses estados. Tal situaçã o dificultou a consolida ção
de uma cultura de debate e negociaçã o, fragilizando a governan ça regional na
sa úde.
245
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
Dimensõ es Condicionantes
Histórico - estrutural - Histórico de conformaçã o do estado e de suas regiõ es ( antiguidade do processo, presença de identidade
regional)
- Dinâmica socioeconômica
- Características do sistema de saúde ( complexidade, perfil e distribuiçã o da oferta de serviços )
Político-institucional - Legado de implanta çã o de políticas prévias de descentralizaçã o e regionalizaçã o da sa úde
- Aprendizado institucional acumulado pelas instâncias colegiadas do SUS e pelos governos estaduais e
municipais nos diversos campos e funções gestoras da saúde
- Existência de uma cultura de negocia çã o intergovernamental
- Qualifica çã o t é cnica e política da burocracia governamental
- Modos mais ou menos democráticos de opera ção e conduçã o das políticas de saúde
Conjuntural - Perfil e trajetória dos atores políticos
- Dinâmica das rela çõ es intergovernamentais
- Prioridade do Pacto na agenda governamental dos estados e municípios
Fonte: elaboração dos autores com base em fontes primárias de pesquisa (entrevistas e documentos).
246
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247
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
Considerações Finais
248
8 | 0 PROCESSO DE DESCENTRALIZAÇÃ O E REGIONALIZAÇÃ O DO SUS NO CONTEXTO DO PACTO PELA SAÚDE
na primeira d écada dos anos 2000, observam-se algumas iniciativas voltadas para
minorar esse problema por meio da revisã o e da adequa çã o de instrumentos
setoriais de planejamento (os Planos de Sa ú de, a Programa çã o Anual de Sa ú de e o
Relatório Anual de Gestão).13
Em terceiro lugar, cabe men çã o à fragilidade do modelo de interven ção federal
embutido na proposta do Pacto. A rela çã o entre a celebraçã o dos pactos e o papel
federal nesse processo poderia ter sido aprimorada , com maior valoriza çã o do
planejamento nacional, que n ã o se restringe à coordena çã o de um processo ‘de
base local e ascendente’, uma vez que existem atributos pró prios do planejamento
em cada â mbito territorial.
As experi ências demonstraram que faltou avan çar na configura çã o de
estrat égias e instrumentos de planejamento, regula çã o e financiamento de apoio
à conforma çã o de sistemas públicos de sa ú de regionais em diferentes recortes
territoriais (nos espa ços definidos pelos CGR, nas regiões de fronteira , á reas metro-
politanas, reservas indígenas e á reas de proteçã o ambiental, entre outras). Tam-
bém não foram desenvolvidos mecanismos que favorecessem a participação
de uma ampla gama de atores e o estabelecimento de rela ções coordenadas e
cooperativas entre governos, organizações e cidad ã os nos espa ços regionais.
Por sua vez , problemas de ordem estrutural como as desigualdades territoriais
na sa ú de dificilmente teriam sido equacionados pela ação articulada dos estados
e municípios sem uma efetiva atuaçã o do governo federal. As m últiplas realidades
regionais revelam a necessidade do fortalecimento da lógica territorial no próprio
modelo de interven çã o federal e no processo de planejamento e formula çã o de
políticas nacionais, bem como do esforço financeiro adicional da Uniã o, de modo a
permitir uma diversifica çã o de políticas e investimentos que melhor relacionem as
necessidades de sa ú de às dinâ micas territoriais específicas. As políticas setoriais só
terã o viabilidade se articuladas a políticas nacionais de desenvolvimento regional
de mé dio e longo prazos.
13
Ressalta-se a publica çã o da portaria GM/MS n . 2.751/2009 (Brasil , 2009), cujas proposições foram originadas de
experiê ncias bem -sucedidas em curso nos estados e das constata ções relativas à desconexã o existente entre alguns
processos de pactuação e de planejamento regional.
249
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
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A Secretaria de Gestão Estratégica e
9 Participativa do Ministério da Saúde:
inovação e desafios institucionais -
2003 a 2007
í ris Jord ã o Lessa de Morais
Sarah Escorei
253
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
1
Os resultados completos do estudo original podem ser vistos em Lessa (2010) .
254
9 | A SECRETARIA DE GESTÃ O ESTRATÉGICA E PARTICIPATIVA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE
255
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
significou ampliaçã o de processos deliberativos e de controle social , tendo sido o PPA um verdadeiro ‘espet áculo’ da
participa çã o. Alé m disso, o Programa de Governo 2007/ 2010 da Coliga çã o A Forç a do Povo, Lula Presidente nã o refere
com tanta ê nfase e detalhamento a participação e o controle social , nem mesmo no setor saúde , como tampouco
o PPA 2008- 2011 teve na sua elaboração uma participação social tão ampla quanto a do período anterior ( PT, 2006;
Machado, Baptista & Lima , 2010a).
3
O quadro de dirigentes do Ministé rio da Sa ú de no per
íodo é apresentado no Apêndice deste volume..
256
9 | A SECRETARIA DE GESTÃ O ESTRATÉGICA E PARTICIPATIVA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE
histórica defesa da participa çã o social pelo movimento da Reforma Sanitá ria. Esse
conjunto de fatores est á presente no surgimento da ideia de criaçã o da SGP entre
os envolvidos na Equipe de Transiçã o, assim como na composiçã o do Ministé rio da
Sa ú de.
O primeiro titular da pasta foi o mé dico sanitarista Sergio Arouca , uma das
principais lideran ças do movimento da Reforma Sanit á ria brasileira , que exercera
por duas vezes o mandato de deputado federal (PCB e PPS/ RJ). Ainda que n ã o seja
consensual dizer que Sergio Arouca estaria entre os ministeri áveis da Sa úde,4
deve ser destacado seu protagonismo na Reforma Sanitá ria brasileira e na pró pria
cria ção da SGP. Como integrante da Equipe de Transiçã o, Sergio Arouca participou
da discussã o sobre a possibilidade de se criar uma estrutura , dentro do ministério,
com a funçã o de apoiar os processos participativos no SUS.
Quando o presidente Lula assumiu , se pensou numa Secretaria, no Ministério da Saú de, que fizesse exata -
mente o debate da democratização da gestão e o debate do aperfeiçoamento da participação da comunidade
no servi ço p ú blico. Na é poca, havia toda uma expectativa de democratização, a começar pela sa ú de, que
tinha uma simbologia muito grande, pelo fato de ter sido o Sergio Arouca, o pró prio defensor da Reforma
Sanitária, a quem coube a tarefa de começar este processo. ( Presidente do CNS , 2009 )
Eu acho que nesse momento a intenção de Arouca era o repensar disso. É um modelo que est á meio exaurido
na sua formatação, os conselhos acabam sendo instrumentalizados pelos governos locais, pelas disputas
partid árias etc . A criação dessa secretaria, dentro da concepção de Arouca , seria uma coisa para revolucio-
nar esse processo. ( Secretária do CNS, 2009)
4A imprensa do período noticiou: “ O presidente do PPS [disse] que n ão est á indicando ningué m , nem mesmo o
companheiro Sergio Arouca ” (Freire e Dirceu ..., 2002) .
257
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
258
9 | A SECRETARIA DE GESTÃ O ESTRATÉGICA E PARTICIPATIVA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE
por uma conferê ncia com dez eixos temá ticos, tornando extremamente complexo
o processo de organização e de discussã o das propostas em todas as esferas
governamentais.
Entre as primeiras atividades desenvolvidas pela SGP, no início de 2003, encontra -
se a solicita çã o à Escola Nacional de Sa úde Pública da Funda çã o Oswaldo Cruz
(Ensp/ Fiocruz) do desenvolvimento da pesquisa “ Perfil dos conselhos de sa ú de ” ,
com o objetivo de construir bases de dados para subsidiar as a ções da secretaria
em apoio ao fortalecimento dos conselhos estaduais e municipais de sa úde. Outra
atividade foi a realiza çã o do primeiro Seminá rio de Gest ão Participativa , na cidade
do Rio de Janeiro, em 2004. Esses semin á rios promovidos pela SGP resultaram na
publicaçã o dos Cadernos Estaduais e dos Cadernos Metropolitanos.
A gest ã o Arouca enfrentou , dentro do ministé rio, uma correla ção de forças
desfavorável à implementaçã o da SGP. As dificuldades institucionais naquele
momento se relacionavam ao limitado espaço político do dirigente, ligado ao
PPS, em um ministé rio predominantemente conduzido pelo PT; à baixa dota ção
orçamentá ria; aos poucos cargos de que dispunha a secretaria; e às suas atribuições
que, desde o in ício, trariam conflitos com o CNS.
Em abril de 2003, poucos meses depois de ter assumido o cargo, Sergio Arouca
afastou -se da dire çã o da SGP, por doen ça , ficando, como secret á ria interina , sua
chefe de gabinete, Má rgara Cunha. Arouca faleceu em agosto do mesmo ano, mas
o novo secretá rio, o médico Crescê ncio Antunes, també m militante do PPS, foi
indicado apenas em novembro de 2003.
Durante a gest ã o de Crescê ncio Antunes, as principais atividades da SGP
concentraram -se na realiza çã o da 12a CNS, dos dias 7 a 11 de dezembro de 2003,
nos seminá rios de gest ão participativa e na elabora çã o da versã o preliminar do
ParticipaSUS, que foi divulgada em outubro de 2004, para discussã o interna na SGP
e no CNS. Esse segundo momento da SGP també m foi caracterizado por intensos
embates e conflitos com o CNS.
Em maio de 2005, eclodiu o escâ ndalo do ‘mensalã o’,5 provocando uma crise
política, ideológica e de governabilidade do governo Lula. A gestã o das políticas e
a rela çã o com os movimentos sociais ficaram afetadas pelo desgaste da imagem
do governo. Para contornar essa crise foi necessá rio ampliar a base de sustenta çã o
política do governo, especialmente incorporando o PMDB à coaliz ã o governamental
...pretenso esquema de propinas pagas regularmente a parlamentares federais, com dinheiro público desviado,
5 «
para que votassem a favor do governo ” ( Miguel & Coutinho, 2007: 98).
259
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
6 Antonio Alves havia ocupado os cargos de chefe do Gabinete do ministro Humberto Costa e , posteriormente,
de secret ário-executivo do Ministé rio da Sa úde , quando Gastão Wagner de Souza Campos pediu exoneraçã o por
incompatibilidades na definiçã o de estratégias da política de sa úde.
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A resolu çã o n . 33/92 do CNS estabeleceu como de sua competê ncia “ propor a convoca ção e estruturar a comissã o
organizadora da Conferê ncia Nacional de Sa úde ” (Brasil/Ministé rio da Sa ú de/CNS, 1992) , atribuição mantida na reso-
lu çã o CNS n. 333/03 (Delgado & Escorei, 2008). Conselheiros nacionais de sa úde presidiram ou integraram as
comissões organizadoras das conferê ncias anteriores, assessorados por pessoas que nã o eram conselheiros de sa úde
e, eventualmente, nem mesmo pertenciam aos quadros do Ministério da Sa úde, sem que isso tivesse provocado
qualquer atrito com o CNS.
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por correio e por e - mail, que lan ç ariam seus votos em uma planilha de
votaçã o e a devolveriam à Relatoria , que ent ã o se encarregaria de somar os
votos e realizar a reda çã o final do Relatório. (Xavier, 2004: 195)
Na é poca havia atrito e havia conflito em determinadas situa ções, atrito pol ítico entre o Conselho e a Secre -
taria [ de Gestão Participativa] . Havia por parte do CNS , majoritariamente, o entendimento de que muitos
movimentos que a secretaria deflagrava eram movimentos que não cabia à secretaria enquanto represen -
tação da gestão, mas sim ao pró prio Conselho Nacional de Saúde, como, por exemplo, alguns processos de
capacitação e formação de conselheiros pelo paí s afora. ( Presidente do CNS , 2009 )
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(...) sempre houve uma tensão muito grande dentro do campo da esquerda , entre os integrantes da sa úde do
campo do antigo Partid ão [ PCB ] e os do campo petista [ PT ] , digamos assim; e isso se expressava em todos os
momentos do processo da reforma sanitá ria . Isso é p ú blico e notório! Mas se tinha uma pessoa que estava
al é m disso, e que tinha uma respeitabilidade incontestá vel, era o Arouca. Isso é uma coisa muito positiva ,
mas também uma coisa muito negativa; porque era uma situação que estava respaldada em pessoas e não
em ideias. ( Diretora de departamento da SGP/SGEP, 2009)
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partid á ria entre os atores políticos, tanto da SGP quanto do CNS, influenciando os
embates entre essas instâ ncias.
O estudo de Silva e colaboradores (2009) observa també m um esforço do CNS,
liderado pelos atores hegem ónicos em seus processos decisórios internos, no
sentido de intensificar a atua çã o juntamente com os demais f óruns de controle
social da á rea de sa ú de:
(...) havia uma forte preocupa çã o no Conselho em tentar controlar - e, no
limite, monopolizar - a rela ção com os conselhos municipais e estaduais,
investindo em iniciativas de comunica ção, formaçã o de conselheiros
e produ çã o de informa ções sobre os conselheiros , entre outras. Essa
preocupa ção foi uma das fontes de conflito permanente com a Secretaria de
Gest ã o Participativa do Minist é rio da Sa ú de. (Silva et aí., 2009: 105)
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Principal
Período Contexto e marcos Relação da secretaria com o CNS
característica
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Principal
Período Contexto e marcos Relação da secretaria com o CNS
característica
Para mim, a quest ão mais inovadora , com a reformulação da SGP para SGEP, foi que nós construí mos uma
política da secretaria, que se denomina ParticipaSUS , aprovada no CNS. E não foi simples , porque a dis -
Tal versã o foi també m apresentada na Ensp/Fiocruz , em janeiro de 2005 , pelo ent ã o secret á rio Crescê ncio Antunes.
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cussão e aprovação desta pol ítica envolvia todo o processo de relaçã o do ministério, por meio da secretaria ,
com o CNS e com os movimentos [ sociais ] . Foi preciso construir um di álogo de muita confiança, inclusive de
entendimento de conceitos, de processos, e de quais seriam as ações que constituiriam o escopo da secretaria.
Tecer e construir esse processo junto com os movimentos [ sociais] para, enfim, aprovar a pol ítica . ( Técnica
de departamento da SGP / SGEP, 2009 )
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O Pacto pela Sa ú de é um conjunto de reformas institucionais pactuado entre as três esferas de gestã o (União,
estados e municípios) do SUS, com o objetivo de promover inova ções nos processos e instrumentos de gest ã o, em
desenvolvimento desde 2004. O capítulo 8 aprofunda a discussã o sobre a proposta e a implementação do Pacto.
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Na SGEP tem LGBT, tem negros, populaçã o cigana, campo, floresta ... Os movimentos que dialogam com a
SGEP s ão aqueles que não têm nenhum outro interlocutor em área nenhuma do ministério. O Ministé rio da
Sa úde e a SGEP reproduzem a estrutura discriminatória em relaçã o a esses sujeitos individuais e sujeitos
políticos e seus movimentos. Se a Reforma Sanitária fala direto com o ministro ( ...) por que a gente não fala
direto com o ministro? (Conselheira Nacional de Saúde, 2009 )
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Considerações Finais
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1988 e 2009 foram realizadas oitenta conferê ncias nacionais sobre 33 temas,
das quais 35 realizadas na primeira gestã o do presidente Lula (Pogrebinschi et
al., 2010).14 No setor sa ú de, a inova çã o institucional foi a cria çã o da SGP, embora
respondendo a necessidades políticas conjunturais.
A SGP foi concebida como um espa ço dentro do Ministério da Sa ú de, em que seria
possível repensar a Reforma Sanitá ria e o SUS em conjunto com os movimentos
sociais brasileiros , proposta política abrangente, sustentada na simbologia e
na legitimidade de Sergio Arouca. Com o passar do tempo, a ideia de a SGP ser
um lócus de inteligê ncia para o SUS foi se diluindo, e a definiçã o dos aspectos
programá ticos e das atribuições se direcionou para a promoçã o da equidade
de grupos populacionais vulneráveis e para a efetiva çã o da gestã o estratégica e
participativa por meio das a ções de ouvidoria, auditoria , monitoramento e ava -
lia çã o da gestã o no SUS.
Em nenhum momento a SGP/SGEP integra a correla çã o de forças majoritá ria
no â mbito do poder institucional do Ministério da Saú de. Nas gestões dos secre-
tá rios Sergio Arouca e Crescêncio Antunes, a SGP era a ú nica secretaria do
Ministério da Sa ú de ocupada por dirigentes do PPS, enquanto o ministé rio era
predominantemente conduzido por militantes do PT. Na gestã o do secret á rio
Antonio Alves , a SGEP passa a ser a ú nica secretaria do ministério ocupada por
um dirigente do PT, quando as demais eram ocupadas pelo PMDB. Nesse sentido,
a SGP/SGEP tornou-se uma secretaria ‘à margem’ dentro do ministé rio, em
termos da estrutura de poder político- partid á rio. Mesmo quando a SGEP amplia
seu campo de atua çã o e a rela çã o com os movimentos sociais , a partir de 2005, a
prá tica de gestã o participativa , dentro do Ministério da Sa ú de, parece limitar-se ao
â mbito de um departamento da SGEP, evidenciando obstá culos para a proposta de
democratiza çã o das políticas de sa ú de.
Desde a sua cria çã o, a SGP/SGEP viveu uma intensa disputa com o CNS sobre
qual instâ ncia deveria liderar o processo participativo em sa ú de. O relacionamento
da secretaria com o CNS variou conforme as mudan ças da composiçã o do próprio
Conselho, das gestões ministeriais e da pró pria secretaria. Os conflitos iniciais
relacionavam -se com a compreensã o dos conselheiros de que as atividades e
atribuições da SGP/SGEP sobrepunham -se à s suas, num momento em que o
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“A sa úde, tema pioneiro na hist ória das conferências nacionais e recordista de ocorrê ncias no período anterior a
1988 , conta com 5 conferê ncias realizadas após 1998. A essas se agregam as conferê ncias de sa ú de bucal ( 2) , sa ú de
do trabalhador (2), sa úde ind ígena (3) , sa úde mental (2) e sa ú de ambiental (1), além de gest ão do trabalho e da
educaçã o em sa úde ( 2), ciê ncia , tecnologia e inova çã o em sa úde (2) , e medicamentos e assist ê ncia farmacê utica (1) ,
totalizando, assim , 20 conferê ncias realizadas em 17 anos ” ( Pogrebinschi et al , 2010 : 41).
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CNS queria ter mais espa ço na formula çã o de política e tinha como aval político
o programa de governo. A constru çã o de uma agenda mais positiva - como a
elabora çã o da ParticipaSUS, por meio de amplo debate nas instâ ncias deliberativas
setoriais (direçã o do MS, CNS e CIT) - estabelece uma nova configura çã o para a
própria secretaria , assim como um novo patamar de relacionamento com o CNS.
Também a afinidade político-ideológica da nova comunidade política hegem ónica
dentro do CNS com os integrantes da SGEP levou a uma aproxima çã o entre essas
instâ ncias, sem que focos de conflito entre o CNS e o ministro da Sa ú de deixassem
de se manifestar.
Na base dos conflitos , identificam-se: disputas partid á rias e forma çã o de duas
comunidades políticas , embora estas nem sempre sejam integradas de forma
homogénea por pessoas vinculadas a partidos específicos; baixa densidade con-
ceituai e pouco debate realizado sobre o que se entende por ‘gest ã o participativa’ e
‘controle social’ e suas possíveis articula ções , prevalecendo uma visã o hierárquica
de relacionamento entre as inst â ncias em vez de estratégias de atua çã o conjuntas
e coordenadas; e prioridade conferida a responder às necessidades conjunturais
em detrimento de um planejamento de longo prazo sobre a real necessidade da
secretaria e o papel a ser desempenhado no sistema de participa çã o social em
sa ú de.
A relaçã o da secretaria com os movimentos sociais no período pesquisado
se apresenta como paradoxal. Ela é um canal para a participa çã o de grupos e
movimentos sociais que em geral n ã o têm acesso à formula çã o de políticas do
SUS. Por sua vez , alguns atores sociais consideram que ter a secretaria como
instâ ncia intermediá ria na rela çã o com o ministro confere um status diferenciado
e subalterno, em compara çã o com outros grupos que se articulam diretamente
com ele.
A SGEP, com o passar dos anos , vem se consolidando como uma instâ ncia de
gestã o estratégica e participativa , embora a cada gestã o ministerial apresente um
perfil diversificado de atua çã o. Entre as atividades mais destacadas da secretaria
no período estudado, verificam -se incentivos a estudos sobre o controle social
no SUS, promoçã o de eventos com participa çã o dos movimentos sociais , apoio
aos movimentos sociais e sensibiliza çã o dos gestores nas diversas esferas para o
desenvolvimento do processo democrá tico de formula çã o das políticas de sa ú de.
Ao longo desse per
íodo, n ã o cessaram os questionamentos sobre a necessidade
da existê ncia da secretaria , nem sobre quais seriam as atribuições específicas que
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Entrevistas
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Referências
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0 Legislativo e a Saúde: o debate no
período do governo Lula
Tatiana Wargas de Faria Baptista
M á rcia Maria Garcia Gomes
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O arranjo federativo estabelecido na Carta de 1988 passou a entender os municípios como centros de poder
aut ónomos , expandindo o nú mero de atores e instituições participantes das rodadas de negociaçã o e concilia çã o
na definição de políticas (Abrucio, 2003).
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