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Prefeitura Municipal de Santo André do Estado de São Paulo

SANTO ANDRÉ - SP
Professor de Educação Infantil e Ensino Fundamental

NB050-N9
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OBRA

Prefeitura Municipal de Santo André do Estado de São Paulo

Professor de Educação Infantil e Ensino Fundamenta

Concurso Público N.º 01/2019

AUTORES
Língua Portuguesa - Profª Zenaide Auxiliadora Pachegas Branco
Matemática - Profº Bruno Chieregatti e João de Sá Brasil
Conhecimentos Pedagógicos- Profª Ana Maria B. Quiqueto
Legislação - Profª Ana Maria B. Quiqueto e Silvana Guimarães

PRODUÇÃO EDITORIAL/REVISÃO
Leandro Filho
Christine Liber

DIAGRAMAÇÃO
Renato Vilela
Thais Regis

CAPA
Joel Ferreira dos Santos

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SUMÁRIO
LÍNGUA PORTUGUESA
Leitura e interpretação de diversos tipos de textos (literários e não literários)........................................................................ 01
Sinônimos e antônimos................................................................................................................................................................................... 10
Sentido próprio e figurado das palavras.................................................................................................................................................. 10
Processos de constituição dos enunciados: coordenação, subordinação; concordâncias verbal e nominal................. 62
Pontuação............................................................................................................................................................................................................ 13
Classes de palavras: substantivo, adjetivo, numeral, artigo, pronome, verbo, advérbio, preposição e conjunção:
emprego e sentido que imprimem às relações que estabelecem.................................................................................................. 17
Concordância verbal e nominal.................................................................................................................................................................... 55
Regência verbal e nominal.............................................................................................................................................................................. 62
Colocação pronominal..................................................................................................................................................................................... 68
Crase....................................................................................................................................................................................................................... 68

MATEMÁTICA
Resolução de situações-problema, envolvendo: adição, subtração, multiplicação, divisão, potenciação ou
radiciação com números racionais, nas suas representações fracionária ou decimal;......................................................... 01
Mínimo múltiplo comum; Máximo divisor comum;............................................................................................................................ 07
Porcentagem;..................................................................................................................................................................................................... 19
Razão e proporção;.......................................................................................................................................................................................... 22
Regra de três simples ou composta;......................................................................................................................................................... 25
Equações do 1.º ou do 2.º graus;............................................................................................................................................................... 28
Sistema de equações do 1.º grau;.............................................................................................................................................................. 30
Grandezas e medidas – quantidade, tempo, comprimento, superfície, capacidade e massa; Relação entre
grandezas – tabela ou gráfico;.................................................................................................................................................................... 33
Tratamento da informação – média aritmética simples;................................................................................................................... 39
Noções de Geometria – forma, ângulos, área, perímetro, volume, Teoremas de Pitágoras ou de Tales....................... 44

CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
A prática educativa do professor na educação infantil: A observação, registro e avaliação formativa; A organização
e planejamento do espaço na educação infantil; A pedagogia de projetos didáticos; As relações entre a escola
e a família; O comportamento infantil – o desenvolvimento dos afetos e das relações; O compartilhamento
da ação educativa; O cuidar e o educar.................................................................................................................................................. 01
Os ambientes de aprendizagem na educação infantil: A brincadeira e o desenvolvimento da imaginação e
da criatividade; A brincadeira na educação infantil nas perspectivas psicossociais, educacionais e lúdicas;
Alfabetização; O currículo e a pedagogia da brincadeira; O desenvolvimento da linguagem oral; O desenvolvimento
das artes visuais e do movimento. O trabalho com as múltiplas linguagens........................................................................ 11
A formação pessoal e social da criança: A criança, a natureza e a sociedade; As interações criança/criança como
recurso de desenvolvimento: identidade e autonomia; O desenvolvimento humano em processo de construção
– Piaget, Vygostky e Wallom........................................................................................................................................................................ 38
SUMÁRIO

O desenvolvimento da motricidade: A importância da psicomotricidade na educação infantil; A psicomotricidade


no desenvolvimento da criança; O lúdico e o desenvolvimento psicomotor. O papel da educação psicomotora
na escola............................................................................................................................................................................................................. 45
A matemática na educação infantil: Ensinar e aprender matemática na educação infantil; Espaço e forma;
Grandezas e medidas; Número e sistema de numeração............................................................................................................... 50
Relação entre educação, escola e sociedade: concepções de Educação e Escola;.................................................................... 53
Função social da escola;................................................................................................................................................................................ 57
Educação inclusiva e compromisso ético e social do educador..................................................................................................... 59
Gestão democrática: a participação como princípio......................................................................................................................... 66
Organização da escola centrada no processo de desenvolvimento pleno do educando...................................................... 69
A integração entre educar e cuidar na educação básica...................................................................................................................... 72
Projeto político-pedagógico: fundamentos para a orientação, o planejamento e a implementação das ações
educativas da escola...................................................................................................................................................................................... 74
Currículo e cultura: visão interdisciplinar e transversal do conhecimento............................................................................... 81
Currículo: a valorização das diferenças individuais, de gênero, étnicas e socioculturais e o combate à
desigualdade.................................................................................................................................................................................................... 85
Currículo, conhecimento e processo de aprendizagem: as tendências pedagógicas na escola. 94
Currículo nas séries iniciais: a ênfase na competência leitora (alfabetização e letramento) e o desenvolvimento
dos saberes escolares da matemática e das diversas áreas de conhecimento....................................................................... 100
Currículo em ação: planejamento, seleção, contextualização e organização dos conteúdos; o trabalho por
projetos............................................................................................................................................................................................................... 105
A avaliação diagnóstica ou formadora e os processos de ensino e de aprendizagem......................................................... 113
A mediação do professor, dialogal e problematizadora, no processo de aprendizagem e desenvolvimento do
aluno; a inerente formação continuada do educador..................................................................................................................... 119

Bibliografia
ARÊAS, Celina Alves. A função social da escola. Conferência Nacional da Educação Básica.................................................. 123
AUAD, Daniela. Educar meninas e meninos – relações de gênero na escola. São Paulo: Editora Contexto, 2016....... 124
CASTRO, Jane Margareth; REGATTIERI, Marilza. Relações Contemporâneas Escola-Família. p. 28-32. In: CASTRO,
Jane Margareth; REGATTIERI, Marilza. Interação escola-família: subsídios para práticas escolares. Brasília: UNESCO,
MEC, 2009........................................................................................................................................................................................................... 126
COLL, César. O construtivismo na sala de aula. São Paulo: Editora Ática, 1999. (Capítulos 4 e 5)................................... 128
DELIZOICOV. Demétrio; ANGOTTI, José André. Metodologia do ensino de Ciências. São Paulo: Cortez, 1994.
(Capítulo II: unidades 2 e 3; Capítulo III: unidades 4 e 5).................................................................................................................. 132
DOWBOR, Ladislau. Educação e apropriação da realidade local. Estud. av. [online].2007, vol.21, nº 60, pp. 75-90.. 135
FERREIRA, Gláucia de Melo (org.). Palavra de professor(a): tateios e reflexões na prática Freinet. Campinas, SP:
Mercado das Letras, 2003........................................................................................................................................................................... 143
FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo: Cortez, 2010.............................................................................. 145
FONSECA, Lúcia Lima da. O universo na sala de aula: uma experiência em pedagogia de projetos. Porto Alegre:
Mediação, 2009................................................................................................................................................................................................ 150
FONSECA, Vitor da. Desenvolvimento Psicomotor e Aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2008................................. 153
FORMOSINHO, Julia Oliveira. Pedagogia da infância: dialogando com o passado: construindo o futuro. Porto
Alegre: Artmed, 2007..................................................................................................................................................................................... 157
GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. São Paulo, Vozes, 1986...... 168
SUMÁRIO

HOFFMAN, Jussara. Avaliação mediadora: uma relação dialógica na construção do conhecimento In: SE/SP/FDE.
Revista IDEIAS nº 22, pág. 51 a 59.......................................................................................................................................................... 170
LERNER, Delia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. 1ª Edição – Porto Alegre, Artmed, 2002. 174
LIBÂNEO, J.C.; OLIVEIRA, J. F.; TOSCHI, M. S. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo:
Cortez, 2003, capítulo III, da 4ª Parte...................................................................................................................................................... 180
MACHADO, Rosângela. Educação Especial na Escola Inclusiva: Políticas, Paradigmas e Práticas. 1 ed. São Paulo:
Cortez, 2009...................................................................................................................................................................................................... 183
MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Abrindo as escolas às diferenças, capítulo 5, in: MANTOAN, Maria Teresa Eglér
(org.) Pensando e Fazendo Educação de Qualidade. São Paulo: Moderna, 2001................................................................... 187
MARTINS, Mirian Celeste Ferreira Dias. Didática do ensino de arte: a língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer
arte. São Paulo: FTD, 1998........................................................................................................................................................................... 191
MEC – MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF,
1998. v.1.............................................................................................................................................................................................................. 192
MEC – MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF,
1998. v.2.............................................................................................................................................................................................................. 192
MEC – MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF,
1998. v.3.............................................................................................................................................................................................................. 192
MOYLES, Jane R. Só Brincar? O papel do brincar na educação infantil. Porto Alegre Artmed Editora, 2002................. 192
OLIVEIRA, Zilma Ramos. Educação Infantil: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002.(capítulos: I, e do
V ao XIX)............................................................................................................................................................................................................. 193
PANIZZA, Mabel e Colaboradores. Ensinar matemática na educação infantil e nas séries iniciais: análise e
propostas. Porto Alegre: Artmed, 2006.................................................................................................................................................. 197
PENTEADO, Heloísa Dupas. Metodologia de História e Geografia. São Paulo: Cortez, 2011. (Capítulos 1, 2 e 3).... 207
PIAGET, Jean. Desenvolvimento e aprendizagem. Trad. Paulo Francisco Slomp. UFRGS- PEAD 2009/1........................ 208
PIMENTA, Selma, G.A. A Construção do Projeto Pedagógico na Escola de 1º Grau. Ideias nº 8. 1.990, p 17- 24... 214
ROPOLI, Edilene Aparecida. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar: a escola comum inclusiva.
Brasília: Ministério da Educação. SEESP. Universidade Federal do Ceará. 2010...................................................................... 219
SMOLE, Kátia Stocco; DINIZ, Maria Ignez; CÂNDIDO, Patrícia. Resolução de problemas: matemática de 0 a 6.
Porto Alegre: Artmed, 2003.......................................................................................................................................................................... 232
VINHA, Telma Pileggi. O educador e a moralidade infantil numa perspectiva construtivista. Revista do Cogeime,
nº 14, julho/99, pág. 15-38.......................................................................................................................................................................... 239
WEIZ, T. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. São Paulo: Ática........................................................................................... 251

LEGISLAÇÃO

BRASIL. A criança de 6 anos, a linguagem escrita e o Ensino Fundamental de nove anos. Ministério da Educação/
Secretaria de Educação Básica. Brasília, 2009......................................................................................................................................... 01
BRASIL. Constituição Federal/88 – artigos 205 a 214 e artigo 60 das Disposições Constitucionais Transitórias.
Emenda 14/96.................................................................................................................................................................................................... 02
BRASIL. Ensino Fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade. Brasília,
2007....................................................................................................................................................................................................................... 07
BRASIL. Lei Federal nº 8.069/1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente (atualizada): artigos 7º a 24, 53 a 69,
131 a 140.............................................................................................................................................................................................................. 08
BRASIL. Lei Federal nº 9394/1996 – Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (atualizada).................... 15
SUMÁRIO

BRASIL. Resolução CNE/CEB 04/2010 – Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica. Brasília:
CNE, 2010............................................................................................................................................................................................................ 34
BRASIL. Resolução CNE/CEB nº 5/09 e Parecer CNE/CEB Nº 20/2009 – Diretrizes Curriculares Nacionais para
a Educação Infantil.......................................................................................................................................................................................... 45
BRASIL. Resolução CNE/CEB 07/2010 – Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove)
anos. Brasília: CNE, 2010................................................................................................................................................................................ 48
BRASIL. Resolução CNE/CEB 4/2009 – Institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional
Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial. Brasília: CNE, 2009...................................................... 57
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Introdução. Brasília: MEC/SEF, 2ª
ed. (1ª a 4ª série), Rio de Janeiro: DP&A, 2000. Volume 1 (Itens: Princípios e Fundamentos dos Parâmetros Curriculares
Nacionais e Orientações Didáticas)........................................................................................................................................................... 60
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte. Brasília: MEC/SEF, 2ª ed. (1ª
a 4ª série), Rio de Janeiro: DP&A, 2000. Volume 6 (1ª Parte)............................................................................................................ 90
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília: MEC/
SEF, 2ª ed. (1ª a 4ª série), Rio de Janeiro: DP&A, 2000. Volume 7 (1ª Parte).............................................................................. 95
SANTO ANDRÉ. Lei municipal nº 6.833, de 15 de outubro de 1991 – ESTATUTO DO MAGISTÉRIO MUNICIPAL
(ATUALIZADA).................................................................................................................................................................................................... 114
SANTO ANDRÉ. Lei municipal nº 9.723, de 20 de julho de 2015 – PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO................................... 120
ÍNDICE

LÍNGUA PORTUGUESA

Leitura e interpretação de diversos tipos de textos (literários e não literários)................................................................................ 01


Sinônimos e antônimos.......................................................................................................................................................................................... 10
Sentido próprio e figurado das palavras.......................................................................................................................................................... 10
Processos de constituição dos enunciados: coordenação, subordinação; concordâncias verbal e nominal........................ 62
Pontuação................................................................................................................................................................................................................... 13
Classes de palavras: substantivo, adjetivo, numeral, artigo, pronome, verbo, advérbio, preposição e conjunção:
emprego e sentido que imprimem às relações que estabelecem.......................................................................................................... 17
Concordância verbal e nominal........................................................................................................................................................................... 55
Regência verbal e nominal.................................................................................................................................................................................. 62
Colocação pronominal............................................................................................................................................................................................ 68
Crase............................................................................................................................................................................................................................... 68
Compreender significa
LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE Entendimento, atenção ao que realmente está escrito.
DIVERSOS TIPOS DE TEXTOS O texto diz que...
(LITERÁRIOS E NÃO LITERÁRIOS). É sugerido pelo autor que...
De acordo com o texto, é correta ou errada a afirmação...
O narrador afirma...
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL
Erros de interpretação
Texto – é um conjunto de ideias organizadas e
relacionadas entre si, formando um todo significativo • Extrapolação (“viagem”) = ocorre quando se sai do
capaz de produzir interação comunicativa (capacidade contexto, acrescentando ideias que não estão no
de codificar e decodificar). texto, quer por conhecimento prévio do tema quer
pela imaginação.
Contexto – um texto é constituído por diversas frases. • Redução = é o oposto da extrapolação. Dá-se aten-
Em cada uma delas, há uma informação que se liga com ção apenas a um aspecto (esquecendo que um
a anterior e/ou com a posterior, criando condições para texto é um conjunto de ideias), o que pode ser
a estruturação do conteúdo a ser transmitido. A essa insuficiente para o entendimento do tema desen-
interligação dá-se o nome de contexto. O relacionamento volvido.
entre as frases é tão grande que, se uma frase for retirada • Contradição = às vezes o texto apresenta ideias
de seu contexto original e analisada separadamente, contrárias às do candidato, fazendo-o tirar con-
poderá ter um significado diferente daquele inicial. clusões equivocadas e, consequentemente, errar a
questão.
Intertexto - comumente, os textos apresentam
referências diretas ou indiretas a outros autores através Observação: Muitos pensam que existem a ótica do
de citações. Esse tipo de recurso denomina-se intertexto. escritor e a ótica do leitor. Pode ser que existam, mas
em uma prova de concurso, o que deve ser levado em
Interpretação de texto - o objetivo da interpretação consideração é o que o autor diz e nada mais.
de um texto é a identificação de sua ideia principal.
A partir daí, localizam-se as ideias secundárias (ou Coesão e Coerência
fundamentações), as argumentações (ou explicações),
que levam ao esclarecimento das questões apresentadas Coesão - é o emprego de mecanismo de sintaxe que
na prova. relaciona palavras, orações, frases e/ou parágrafos entre
si. Em outras palavras, a coesão dá-se quando, através de
Normalmente, em uma prova, o candidato deve: um pronome relativo, uma conjunção (NEXOS), ou um
• Identificar os elementos fundamentais de uma ar- pronome oblíquo átono, há uma relação correta entre o
gumentação, de um processo, de uma época (nes- que se vai dizer e o que já foi dito.
te caso, procuram-se os verbos e os advérbios, os São muitos os erros de coesão no dia a dia e, entre
quais definem o tempo). eles, está o mau uso do pronome relativo e do pronome
• Comparar as relações de semelhança ou de dife- oblíquo átono. Este depende da regência do verbo;
renças entre as situações do texto. aquele, do seu antecedente. Não se pode esquecer
• Comentar/relacionar o conteúdo apresentado com também de que os pronomes relativos têm, cada um,
uma realidade. valor semântico, por isso a necessidade de adequação
• Resumir as ideias centrais e/ou secundárias. ao antecedente.
• Parafrasear = reescrever o texto com outras pala- Os pronomes relativos são muito importantes na
vras. interpretação de texto, pois seu uso incorreto traz erros
de coesão. Assim sendo, deve-se levar em consideração
Condições básicas para interpretar que existe um pronome relativo adequado a cada
circunstância, a saber:
Fazem-se necessários: conhecimento histórico- que (neutro) - relaciona-se com qualquer antecedente,
literário (escolas e gêneros literários, estrutura do texto), mas depende das condições da frase.
leitura e prática; conhecimento gramatical, estilístico qual (neutro) idem ao anterior.
(qualidades do texto) e semântico; capacidade de quem (pessoa)
observação e de síntese; capacidade de raciocínio. cujo (posse) - antes dele aparece o possuidor e depois
o objeto possuído.
LÍNGUA PORTUGUESA

Interpretar/Compreender como (modo)


onde (lugar)
Interpretar significa: quando (tempo)
Explicar, comentar, julgar, tirar conclusões, deduzir. quanto (montante)
Através do texto, infere-se que... Exemplo:
É possível deduzir que... Falou tudo QUANTO queria (correto)
O autor permite concluir que... Falou tudo QUE queria (errado - antes do QUE, deveria
Qual é a intenção do autor ao afirmar que... aparecer o demonstrativo O).

1
Dicas para melhorar a interpretação de textos

• Leia todo o texto, procurando ter uma visão geral EXERCÍCIOS COMENTADOS
do assunto. Se ele for longo, não desista! Há muitos
candidatos na disputa, portanto, quanto mais infor- 1. (EBSERH – Analista Administrativo – Estatística –
mação você absorver com a leitura, mais chances AOCP-2015)
terá de resolver as questões.
• Se encontrar palavras desconhecidas, não interrom- O verão em que aprendi a boiar
pa a leitura. Quando achamos que tudo já aconteceu, novas
• Leia o texto, pelo menos, duas vezes – ou quantas capacidades fazem de nós pessoas diferentes do que
forem necessárias. éramos
• Procure fazer inferências, deduções (chegar a uma IVAN MARTINS
conclusão).
• Volte ao texto quantas vezes precisar. Sei que a palavra da moda é precocidade, mas eu acredito
• Não permita que prevaleçam suas ideias sobre em conquistas tardias. Elas têm na minha vida um gosto
as do autor. especial.
• Fragmente o texto (parágrafos, partes) para melhor Quando aprendi a guiar, aos 34 anos, tudo se transformou.
compreensão. De repente, ganhei mobilidade e autonomia. A cidade,
• Verifique, com atenção e cuidado, o enunciado de minha cidade, mudou de tamanho e de fisionomia.
cada questão. Descer a Avenida Rebouças num táxi, de madrugada, era
• O autor defende ideias e você deve percebê-las. diferente – e pior – do que descer a mesma avenida com
• Observe as relações interparágrafos. Um parágra- as mãos ao volante, ouvindo rock and roll no rádio. Pegar
fo geralmente mantém com outro uma relação de a estrada com os filhos pequenos revelou-se uma delícia
continuação, conclusão ou falsa oposição. Identifi- insuspeitada.
que muito bem essas relações. Talvez porque eu tenha começado tarde, guiar me
• Sublinhe, em cada parágrafo, o tópico frasal, ou seja, parece, ainda hoje, uma experiência incomum. É um ato
a ideia mais importante. que, mesmo repetido de forma diária, nunca se banalizou
• Nos enunciados, grife palavras como “correto” ou inteiramente.
“incorreto”, evitando, assim, uma confusão na Na véspera do Ano Novo, em Ubatuba, eu fiz outra
hora da resposta – o que vale não somente para descoberta temporã.
Interpretação de Texto, mas para todas as demais Depois de décadas de tentativas inúteis e frustrantes,
questões! num final de tarde ensolarado eu conquistei o dom
• Se o foco do enunciado for o tema ou a ideia prin- da flutuação. Nas águas cálidas e translúcidas da praia
cipal, leia com atenção a introdução e/ou a con- Brava, sob o olhar risonho da minha mulher, finalmente
clusão. consegui boiar.
• Olhe com especial atenção os pronomes relativos, Não riam, por favor. Vocês que fazem isso desde os
pronomes pessoais, pronomes demonstrativos,
oito anos, vocês que já enjoaram da ausência de peso
etc., chamados vocábulos relatores, porque reme-
e esforço, vocês que não mais se surpreendem com a
tem a outros vocábulos do texto.
sensação de balançar ao ritmo da água – sinto dizer, mas
vocês se esqueceram de como tudo isso é bom.
SITES
Nadar é uma forma de sobrepujar a água e impor-se a
Disponível em: <http://www.tudosobreconcursos.
ela. Boiar é fazer parte dela – assim como do sol e das
com/materiais/portugues/como-interpretar-textos>
montanhas ao redor, dos sons que chegam filtrados ao
Disponível em: <http://portuguesemfoco.com/pf/09-
ouvido submerso, do vento que ergue a onda e lança
dicas-para-melhorar-a-interpretacao-de-textos-em-
provas> água em nosso rosto. Boiar é ser feliz sem fazer força, e
Disponível em: <http://www.portuguesnarede. isso, curiosamente, não é fácil.
com/2014/03/dicas-para-voce-interpretar-melhor-um. Essa experiência me sugeriu algumas considerações
html> sobre a vida em geral.
Disponível em: <http://vestibular.uol.com.br/ Uma delas, óbvia, é que a gente nunca para de aprender
cursinho/questoes/questao-117-portugues.htm> ou de avançar. Intelectualmente e emocionalmente,
de um jeito prático ou subjetivo, estamos sempre
incorporando novidades que nos transformam. Somos
geneticamente elaborados para lidar com o novo, mas
não só. Também somos profundamente modificados por
LÍNGUA PORTUGUESA

ele. A cada momento da vida, quando achamos que tudo


já aconteceu, novas capacidades irrompem e fazem de
nós uma pessoa diferente do que éramos. Uma pessoa
capaz de boiar é diferente daquelas que afundam como
pedras.
Suspeito que isso tenha importância também para os
relacionamentos.

2
Se a gente não congela ou enferruja – e tem gente que já está assim aos 30 anos – nosso repertório íntimo tende a
se ampliar, a cada ano que passa e a cada nova relação. Penso em aprender a escutar e a falar, em olhar o outro, em
tocar o corpo do outro com propriedade e deixar-se tocar sem susto. Penso em conter a nossa própria frustração e a
nossa fúria, em permitir que o parceiro floresça, em dar atenção aos detalhes dele. Penso, sobretudo, em conquistar,
aos poucos, a ansiedade e insegurança que nos bloqueiam o caminho do prazer, não apenas no sentido sexual. Penso
em estar mais tranquilo na companhia do outro e de si mesmo, no mundo.
Assim como boiar, essas coisas são simples, mas precisam ser aprendidas.
Estar no interior de uma relação verdadeira é como estar na água do mar. Às vezes você nada, outras vezes você
boia, de vez em quando, morto de medo, sente que pode afundar. É uma experiência que exige, ao mesmo tempo,
relaxamento e atenção, e nem sempre essas coisas se combinam. Se a gente se põe muito tenso e cerebral, a relação
perde a espontaneidade. Afunda. Mas, largada apenas ao sabor das ondas, sem atenção ao equilíbrio, a relação também
naufraga. Há uma ciência sem cálculos que tem de ser assimilada a cada novo amor, por cada um de nós. Ela fornece
a combinação exata de atenção e relaxamento que permite boiar. Quer dizer, viver de forma relaxada e consciente um
grande amor.
Na minha experiência, esse aprendizado não se fez rapidamente. Demorou anos e ainda se faz. Talvez porque eu seja
homem, talvez porque seja obtuso para as coisas do afeto. Provavelmente, porque sofro das limitações emocionais que
muitos sofrem e que tornam as relações afetivas mais tensas e trabalhosas do que deveriam ser.
Sabemos nadar, mas nos custa relaxar e ser felizes nas águas do amor e do sexo. Nos custa boiar.
A boa notícia, que eu redescobri na praia, é que tudo se aprende, mesmo as coisas simples que pareciam impossíveis.
Enquanto se está vivo e relação existe, há chance de melhorar. Mesmo se ela acabou, é certo que haverá outra no
futuro, no qual faremos melhor: com mais calma, com mais prazer, com mais intensidade e menos medo.
O verão, afinal, está apenas começando. Todos os dias se pode tentar boiar.
http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/noticia/2014/01/overao-em-que-aprendi-boiar.html

De acordo com o texto, quando o autor afirma que “Todos os dias se pode tentar boiar.”, ele refere-se ao fato de

a) haver sempre tempo para aprender, para tentar relaxar e ser feliz nas águas do amor, agindo com mais calma, com
mais prazer, com mais intensidade e menos medo.
b) ser necessário agir com mais cautela nos relacionamentos amorosos para que eles não se desfaçam.
c) haver sempre tempo para aprender a ser mais criterioso com seus relacionamentos, a fim de que eles sejam vividos
intensamente.
d) haver sempre tempo para aprender coisas novas, inclusive agir com o raciocínio nas relações amorosas.
e) ser necessário aprender nos relacionamentos, porém sempre estando alerta para aquilo de ruim que pode acontecer.

Resposta: Letra A
Ao texto: (...) tudo se aprende, mesmo as coisas simples que pareciam impossíveis. / Enquanto se está vivo e relação
existe, há chance de melhorar = sempre há tempo para boiar (aprender).
Em “a”: haver sempre tempo para aprender, para tentar relaxar e ser feliz nas águas do amor, agindo com mais
calma, com mais prazer, com mais intensidade e menos medo = correta.
Em “b”: ser necessário agir com mais cautela nos relacionamentos amorosos para que eles não se desfaçam =
incorreta – o autor propõe viver intensamente.
Em “c”: haver sempre tempo para aprender a ser mais criterioso com seus relacionamentos, a fim de que eles sejam
vividos intensamente = incorreta – ser menos objetivo nos relacionamentos.
Em “d”: haver sempre tempo para aprender coisas novas, inclusive agir com o raciocínio nas relações amorosas =
incorreta – ser mais emoção.
Em “e”: ser necessário aprender nos relacionamentos, porém sempre estando alerta para aquilo de ruim que pode
acontecer = incorreta – estar sempre cuidando, não pensando em algo ruim.
LÍNGUA PORTUGUESA

3
2. (TJ-SC – ANALISTA ADMINISTRATIVO – FGV-2018) uma decisão administrativa, e assim entra na economia.
Observe a charge a seguir: Essa explicação permaneceu controversa e escondida
por muito tempo, mas hoje está clara em um relatório do
Bank of England de 2014.
Praticamente todo o dinheiro que existe no mundo
é criado assim, inventado em canetaços a partir da
concessão de empréstimos. O que torna tudo mais
estranho e perverso é que, sobre esse empréstimo,
é cobrada uma dívida. Então, se eu peço dinheiro ao
banco, ele inventa números em uma tabela com meu
nome e pede que eu devolva uma quantidade maior
do que essa. Para pagar a dívida, preciso ir até o dito
“livre-mercado” e trabalhar, lutar, talvez trapacear, para
conseguir o dinheiro que o banco inventou na conta
de outras pessoas. Esse é o dinheiro que vai ser usado
para pagar a dívida, já que a única fonte de moeda é
o empréstimo bancário. No fim, os bancos acabam com
todo o dinheiro que foi inventado e ainda confiscam os
A charge acima é uma homenagem a Stephen Hawking, bens da pessoa endividada cujo dinheiro tomei.
destacando o fato de o cientista: Assim, o sistema monetário atual funciona com uma
moeda que é ao mesmo tempo escassa e abundante.
a) ter alcançado o céu após sua morte; Escassa porque só banqueiros podem criá-la, e abundante
b) mostrar determinação no combate à doença; porque é gerada pela simples manipulação de bancos
c) ser comparado a cientistas famosos; de dados. O resultado é uma acumulação de riqueza e
d) ser reconhecido como uma mente brilhante; poder sem precedentes: um mundo onde o patrimônio
e) localizar seus interesses nos estudos de Física. de 80 pessoas é maior do que o de 3,6 bilhões, e onde
o 1% mais rico tem mais do que os outros 99% juntos.
[...]
Resposta: Letra D Disponível em https://fagulha.org/artigos/inventando-dinheiro/
Em “a”: ter alcançado o céu após sua morte; = incorreto Acessado em 20/03/2018
Em “b”: mostrar determinação no combate à doença;
= incorreto De acordo com o autor do texto Lastro e o sistema
Em “c”: ser comparado a cientistas famosos; = incorreto bancário, a reserva fracional foi criada com o objetivo de
Em “d”: ser reconhecido como uma mente brilhante;
Em “e”: localizar seus interesses nos estudos de Física. a) tornar ilimitada a produção de dinheiro.
= incorreto b) proteger os bens dos clientes de bancos.
Usemos a fala de Einstein: “a mente brilhante que c) impedir que os bancos fossem à falência.
estávamos esperando”. d) permitir o empréstimo de mais dinheiro
e) preservar as economias das pessoas.
3. (BANPARÁ – ASSISTENTE SOCIAL – FADESP-2018)
Resposta: Letra D
Ao texto: (...) Com o tempo, os banqueiros se deram
Lastro e o Sistema Bancário
conta de que ninguém estava interessado em trocar
[...]
dinheiro por ouro e criaram manobras, como a reserva
Até os anos 60, o papel-moeda e o dinheiro depositado fracional, para emprestar muito mais dinheiro do que
nos bancos deviam estar ligados a uma quantidade de realmente tinham em ouro nos cofres.
ouro num sistema chamado lastro-ouro. Como esse Em “a”, tornar ilimitada a produção de dinheiro =
metal é limitado, isso garantia que a produção de dinheiro incorreta
fosse também limitada. Com o tempo, os banqueiros se Em “b”, proteger os bens dos clientes de bancos =
deram conta de que ninguém estava interessado em incorreta
trocar dinheiro por ouro e criaram manobras, como a Em “c”, impedir que os bancos fossem à falência =
reserva fracional, para emprestar muito mais dinheiro do incorreta
que realmente tinham em ouro nos cofres. Nas crises, Em “d”, permitir o empréstimo de mais dinheiro =
como em 1929, todos queriam sacar dinheiro para pagar correta
suas contas e os bancos quebravam por falta de fundos, Em “e”, preservar as economias das pessoas = incorreta
deixando sem nada as pessoas que acreditavam ter suas
economias seguramente guardadas. 4. (BANPARÁ – ASSISTENTE SOCIAL – FADESP-2018)
LÍNGUA PORTUGUESA

Em 1971, o presidente dos EUA acabou com o padrão- A leitura do texto permite a compreensão de que
ouro. Desde então, o dinheiro, na forma de cédulas e
principalmente de valores em contas bancárias, já não a) as dívidas dos clientes são o que sustenta os bancos.
tendo nenhuma riqueza material para representar, é b) todo o dinheiro que os bancos emprestam é imaginário.
criado a partir de empréstimos. Quando alguém vai até c) quem pede um empréstimo deve a outros clientes.
o banco e recebe um empréstimo, o valor colocado em d) o pagamento de dívidas depende do “livre-mercado”.
sua conta é gerado naquele instante, criado a partir de e) os bancos confiscam os bens dos clientes endividados.

4
Resposta: Letra A Em “c”, a linguagem do personagem mostra intimidade
Em “a”, as dívidas dos clientes são o que sustenta os com o interlocutor = inferência correta
bancos = correta Em “d”, a presença do orelhão indica o atraso do local
Em “b”, todo o dinheiro que os bancos emprestam é da charge = incorreta
imaginário = nem todo Em “e”, as imagens dos tanques de guerra denunciam
Em “c”, quem pede um empréstimo deve a outros a presença do Exército = inferência correta
clientes = deve ao banco, este paga/empresta a outros
clientes
Em “d”, o pagamento de dívidas depende do “livre- 6. (TJ-AL – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FGV-2018) Observe
mercado” = não só: (...) preciso ir até o dito “livre- a charge abaixo.
mercado” e trabalhar, lutar, talvez trapacear.
Em “e”, os bancos confiscam os bens dos clientes
endividados = desde que não paguem a dívida

5. (BANESTES – ANALISTA ECONÔMICO FINANCEIRO


GESTÃO CONTÁBIL – FGV-2018) Observe a charge
abaixo, publicada no momento da intervenção nas
atividades de segurança do Rio de Janeiro, em março de
2018.

No caso da charge, a crítica feita à internet é:

a) a criação de uma dependência tecnológica excessiva;


b) a falta de exercícios físicos nas crianças;
c) o risco de contatos perigosos;
d) o abandono dos estudos regulares;
e) a falta de contato entre membros da família.
Há uma série de informações implícitas na charge; NÃO
pode, no entanto, ser inferida da imagem e das frases a Resposta: Letra A
seguinte informação: Em “a”: a criação de uma dependência tecnológica
excessiva;
a) a classe social mais alta está envolvida nos crimes co- Em “b”: a falta de exercícios físicos nas crianças; =
metidos no Rio; incorreto
b) a tarefa da investigação criminal não está sendo bem- Em “c”: o risco de contatos perigosos; = incorreto
-feita; Em “d”: o abandono dos estudos regulares; = incorreto
c) a linguagem do personagem mostra intimidade com Em “e”: a falta de contato entre membros da família. =
o interlocutor; incorreto
d) a presença do orelhão indica o atraso do local da charge; Através da fala do garoto chegamos à resposta:
e) as imagens dos tanques de guerra denunciam a pre- dependência tecnológica - expressa em sua fala.
sença do Exército.
7. (Câmara de Salvador-BA – Assistente Legislativo
Resposta: Letra D Municipal – FGV-2018-adaptada) “Hoje, esse
termo denota, além da agressão física, diversos tipos
de imposição sobre a vida civil, como a repressão
política, familiar ou de gênero, ou a censura da fala e
do pensamento de determinados indivíduos e, ainda,
o desgaste causado pelas condições de trabalho e
condições econômicas”. A manchete jornalística abaixo
que NÃO se enquadra em nenhum tipo de violência
LÍNGUA PORTUGUESA

citado nesse segmento é:


NÃO pode ser inferida da imagem e das frases a
seguinte informação: a) Presa por mensagem racista na internet;
Em “a”, a classe social mais alta está envolvida nos b) Vinte pessoas são vítimas da ditadura venezuelana;
crimes cometidos no Rio = inferência correta c) Apanhou de policiais por destruir caixa eletrônico;
Em “b”, a tarefa da investigação criminal não está d) Homossexuais são perseguidos e presos na Rússia;
sendo bem-feita = inferência correta e) Quatro funcionários ficaram livres do trabalho escravo.

5
Resposta: Letra C Resposta: Letra D
Em “a”: Presa por mensagem racista na internet = Em “a”: manter-se o direito de livre expressão do
como a repressão política, familiar ou de gênero pensamento. = incorreto
Em “b”: Vinte pessoas são vítimas da ditadura Em “b”: garantir-se o direito de reunião e de greve. =
venezuelana = como a repressão política, familiar ou incorreto
de gênero Em “c”: lastrear leis e regras na Constituição. = incorreto
Em “c”: Apanhou de policiais por destruir caixa Em “d”: punirem-se os responsáveis por excessos.
eletrônico = não consta na Manchete acima Em “e”: concluírem-se as investigações sobre a greve.
Em “d”: Homossexuais são perseguidos e presos na = incorreto
Rússia = como a repressão política, familiar ou de Ao texto: (...) há sempre o risco de excessos, a serem
gênero devidamente contidos e seus responsáveis, punidos,
Em “e”: Quatro funcionários ficaram livres do trabalho conforme estabelecido na legislação. / É o que precisa
escravo = o desgaste causado pelas condições de acontecer... = precisa acontecer a punição dos
trabalho excessos.

9. (PC-MA – DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL –


8. (MPE-AL – ANALISTA DO MINISTÉRIO PÚBLICO – CESPE-2018)
ÁREA JURÍDICA – FGV-2018)
Texto CG1A1AAA
Oportunismo à Direita e à Esquerda A paz não pode ser garantida apenas pelos acordos
Numa democracia, é livre a expressão, estão garantidos políticos, econômicos ou militares. Cada um de nós,
o direito de reunião e de greve, entre outros, obedecidas independentemente de idade, sexo, estrato social,
leis e regras, lastreadas na Constituição. Em um regime crença religiosa etc. é chamado à criação de um mundo
de liberdades, há sempre o risco de excessos, a serem pacificado, um mundo sob a égide de uma cultura da
devidamente contidos e seus responsáveis, punidos, paz.
conforme estabelecido na legislação. Mas, o que significa “cultura da paz”?
É o que precisa acontecer no rescaldo da greve dos Construir uma cultura da paz envolve dotar as crianças
caminhoneiros, concluídas as investigações, por exemplo, e os adultos da compreensão de princípios como
da ajuda ilegal de patrões ao movimento, interessados liberdade, justiça, democracia, direitos humanos,
em se beneficiar do barateamento do combustível. tolerância, igualdade e solidariedade. Implica uma
Sempre há, também, o oportunismo político-ideológico rejeição, individual e coletiva, da violência que tem
para se aproveitar da crise. Inclusive, neste ano de sido percebida na sociedade, em seus mais variados
eleição, com o objetivo de obter apoio a candidatos. Não contextos. A cultura da paz tem de procurar soluções que
faltam, também, os arautos do quanto pior, melhor, para advenham de dentro da(s) sociedade(s), que não sejam
desgastar governantes e reforçar seus projetos de poder, impostas do exterior.
por mais delirantes que sejam. Também aqui vale o que Cabe ressaltar que o conceito de paz pode ser abordado
está delimitado pelo estado democrático de direito, em sentido negativo, quando se traduz em um estado
defendido pelos diversos instrumentos institucionais de de não guerra, em ausência de conflito, em passividade
que conta o Estado – Polícia, Justiça, Ministério Público, e permissividade, sem dinamismo próprio; em síntese,
Forças Armadas etc. condenada a um vazio, a uma não existência palpável,
A greve atravessou vários sinais ao estrangular as difícil de se concretizar e de se precisar. Em sua concepção
vias de suprimento que mantêm o sistema produtivo positiva, a paz não é o contrário da guerra, mas a prática
funcionando, do qual depende a sobrevivência física da não violência para resolver conflitos, a prática do
da população. Isso não pode ser esquecido e serve de diálogo na relação entre pessoas, a postura democrática
alerta para que as autoridades desenvolvam planos de frente à vida, que pressupõe a dinâmica da cooperação
contingência. planejada e o movimento constante da instalação de
O Globo, 31/05/2018. justiça.
Uma cultura de paz exige esforço para modificar o
“É o que precisa acontecer no rescaldo da greve dos pensamento e a ação das pessoas para que se promova
caminhoneiros, concluídas as investigações, por exemplo, a paz. Falar de violência e de como ela nos assola deixa
da ajuda ilegal de patrões ao movimento, interessados em de ser, então, a temática principal. Não que ela vá ser
se beneficiar do barateamento do combustível.” Segundo esquecida ou abafada; ela pertence ao nosso dia a dia e
esse parágrafo do texto, o que “precisa acontecer” é temos consciência disso. Porém, o sentido do discurso,
a ideologia que o alimenta, precisa impregná-lo de
a) manter-se o direito de livre expressão do pensamento. palavras e conceitos que anunciem os valores humanos
LÍNGUA PORTUGUESA

b) garantir-se o direito de reunião e de greve. que decantam a paz, que lhe proclamam e promovem. A
c) lastrear leis e regras na Constituição. violência já é bastante denunciada, e quanto mais falamos
d) punirem-se os responsáveis por excessos. dela, mais lembramos de sua existência em nosso meio
e) concluírem-se as investigações sobre a greve. social. É hora de começarmos a convocar a presença da
paz em nós, entre nós, entre nações, entre povos.
Um dos primeiros passos nesse sentido refere-se à gestão
de conflitos. Ou seja, prevenir os conflitos potencialmente

6
violentos e reconstruir a paz e a confiança entre pessoas 10. (TJ-AL – ANALISTA JUDICIÁRIO – OFICIAL DE
originárias de situação de guerra é um dos exemplos mais JUSTIÇA AVALIADOR – FGV-2018)
comuns a serem considerados. Tal missão estende-se às
escolas, instituições públicas e outros locais de trabalho
por todo o mundo, bem como aos parlamentos e centros
de comunicação e associações.
Outro passo é tentar erradicar a pobreza e reduzir as
desigualdades, lutando para atingir um desenvolvimento
sustentado e o respeito pelos direitos humanos,
reforçando as instituições democráticas, promovendo
a liberdade de expressão, preservando a diversidade
cultural e o ambiente.
É, então, no entrelaçamento “paz — desenvolvimento
— direitos humanos — democracia” que podemos
vislumbrar a educação para a paz.
Leila Dupret. Cultura de paz e ações sócio-educativas: desafios
para a escola contemporânea. In: Psicol. Esc. Educ. (Impr.) v. 6, n.º
1. Campinas, jun./2002 (com adaptações).

De acordo com o texto CG1A1AAA, os elementos


“gestão de conflitos” e “erradicar a pobreza” devem ser
concebidos como
a) obstáculos para a construção da cultura da paz.
b) dispensáveis para a construção da cultura da paz.
c) irrelevantes na construção da cultura da paz.
d) etapas para a construção da cultura da paz. O humor da tira é conseguido através de uma quebra de
e) consequências da construção da cultura da paz. expectativa, que é:
a) o fato de um adulto colecionar figurinhas;
Resposta: Letra D b) as figurinhas serem de temas sociais e não esportivos;
Em “a”: obstáculos para a construção da cultura da paz. c) a falta de muitas figurinhas no álbum;
= incorreto d) a reclamação ser apresentada pelo pai e não pelo filho;
Em “b”: dispensáveis para a construção da cultura da e) uma criança ajudar a um adulto e não o contrário.
paz. = incorreto
Em “c”: irrelevantes na construção da cultura da paz. Resposta: Letra B
= incorreto Em “a”: o fato de um adulto colecionar figurinhas; =
Em “d”: etapas para a construção da cultura da paz. incorreto
Em “e”: consequências da construção da cultura da paz. Em “b”: as figurinhas serem de temas sociais e não
= incorreto esportivos;
Ao texto: Um dos primeiros passos nesse sentido Em “c”: a falta de muitas figurinhas no álbum; =
refere-se à gestão de conflitos. (...) Outro passo é tentar incorreto
erradicar a pobreza e reduzir as desigualdades = etapas Em “d”: a reclamação ser apresentada pelo pai e não
para construção da paz. pelo filho; = incorreto
Em “e”: uma criança ajudar a um adulto e não o
contrário. = incorreto
O humor está no fato de o álbum ser sobre um tema
incomum: assuntos sociais.

11. (PM-SP - SARGENTO DA POLÍCIA MILITAR –


VUNESP-2015) Leia a tira.
LÍNGUA PORTUGUESA

(Folha de S.Paulo, 02.10.2015. Adaptado)

7
Com sua fala, a personagem revela que Em “e”: os preços de cosméticos não deveriam ser
a) a violência era comum no passado. relevantes para os personagens, dada a condição em
b) as pessoas lutam contra a violência. que se encontram.
c) a violência está banalizada. Pela condição em que as personagens se encontram, o
d) o preço que pagou pela violência foi alto. aumento no preço dos cosméticos não os afeta.

Resposta: Letra C
Em “a”: a violência era comum no passado. = incorreto 13. (TJ-AL – ANALISTA JUDICIÁRIO – OFICIAL DE
Em “b”: as pessoas lutam contra a violência. = incorreto JUSTIÇA AVALIADOR – FGV-2018)
Em “c”: a violência está banalizada.
Em “d”: o preço que pagou pela violência foi alto. = Texto 1 – Além do celular e da carteira, cuidado com
incorreto as figurinhas da Copa
Infelizmente, a personagem revela que a violência está Gilberto Porcidônio – O Globo, 12/04/2018
banalizada, nem há mais “punições” para os agressivos.
A febre do troca-troca de figurinhas pode estar atingindo
12. (PM-SP - ASPIRANTE DA POLÍCIA MILITAR uma temperatura muito alta. Preocupados que os mais
[INTERIOR] – VUNESP-2017) Leia a charge. afoitos pelos cromos possam até roubá-los, muitos
jornaleiros estão levando seus estoques para casa
quando termina o expediente. Pode parecer piada, mas
há até boatos sobre quadrilhas de roubo de figurinha
espalhados por mensagens de celular.

Sobre a estrutura do título dado ao texto 1, a afirmativa


adequada é:
a) as figurinhas da Copa passaram a ocupar o lugar do
celular e da carteira nos roubos urbanos;
b) as figurinhas da Copa se somaram ao celular e à cartei-
ra como alvo de desejo dos assaltantes;
c) o alerta dado no título se dirige aos jornaleiros que
vendem as figurinhas da Copa;
(Pancho. www.gazetadopovo.com.br) d) os ladrões passaram a roubar as figurinhas da Copa
nas bancas de jornais;
É correto associar o humor da charge ao fato de que e) as figurinhas da Copa se transformaram no alvo prin-
cipal dos ladrões.
a) os personagens têm uma autoestima elevada e são
otimistas, mesmo vivendo em uma situação de com- Resposta: Letra B
pleto confinamento. Em “a”: as figurinhas da Copa passaram a ocupar o
b) os dois personagens estão muito bem informados so- lugar do celular e da carteira nos roubos urbanos; =
bre a economia, o que não condiz com a imagem de incorreto
criminosos. Em “b”: as figurinhas da Copa se somaram ao celular e
c) o valor dos cosméticos afetará diretamente a vida dos à carteira como alvo de desejo dos assaltantes;
personagens, pois eles demonstram preocupação Em “c”: o alerta dado no título se dirige aos jornaleiros
com a aparência. que vendem as figurinhas da Copa; = incorreto
d) o aumento dos preços de cosméticos não surpreende Em “d”: os ladrões passaram a roubar as figurinhas da
os personagens, que estão acostumados a pagar caro Copa nas bancas de jornais; = incorreto
por eles nos presídios. Em “e”: as figurinhas da Copa se transformaram no
e) os preços de cosméticos não deveriam ser relevantes alvo principal dos ladrões. = incorreto
para os personagens, dada a condição em que se en- O título do texto já nos dá a resposta: além do celular
contram. e da carteira, ou seja, as figurinhas da Copa também
passaram a ser alvo dos assaltantes.
Resposta: Letra E
Em “a”: os personagens têm uma autoestima elevada
e são otimistas, mesmo vivendo em uma situação de LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL
completo confinamento. = incorreto
Em “b”: os dois personagens estão muito bem O que é linguagem? É o uso da língua como forma de
informados sobre a economia, o que não condiz com a expressão e comunicação entre as pessoas. A linguagem
LÍNGUA PORTUGUESA

imagem de criminosos. = incorreto não é somente um conjunto de palavras faladas ou


Em “c”: o valor dos cosméticos afetará diretamente a vida escritas, mas também de gestos e imagens. Afinal, não
dos personagens, pois eles demonstram preocupação nos comunicamos apenas pela fala ou escrita, não é
com a aparência. = incorreto verdade?
Em “d”: o aumento dos preços de cosméticos não Então, a linguagem pode ser verbalizada, e daí vem
surpreende os personagens, que estão acostumados a analogia ao verbo. Você já tentou se pronunciar sem
a pagar caro por eles nos presídios. = incorreto utilizar o verbo? Se não, tente, e verá que é impossível se

8
ter algo fundamentado e coerente! Assim, a linguagem A) Textos narrativos – constituem-se de verbos de
verbal é a que utiliza palavras quando se fala ou quando ação demarcados no tempo do universo narrado,
se escreve. como também de advérbios, como é o caso de an-
A linguagem pode ser não verbal, ao contrário da tes, agora, depois, entre outros: Ela entrava em seu
verbal, não utiliza vocábulo, palavras para se comunicar. carro quando ele apareceu. Depois de muita conver-
O objetivo, neste caso, não é de expor verbalmente o que sa, resolveram...
se quer dizer ou o que se está pensando, mas se utilizar B) Textos descritivos – como o próprio nome indica,
de outros meios comunicativos, como: placas, figuras, descrevem características tanto físicas quanto psi-
gestos, objetos, cores, ou seja, dos signos visuais. cológicas acerca de um determinado indivíduo ou
Vejamos: um texto narrativo, uma carta, o diálogo, objeto. Os tempos verbais aparecem demarcados
uma entrevista, uma reportagem no jornal escrito ou no presente ou no pretérito imperfeito: “Tinha os
televisionado, um bilhete? = Linguagem verbal! cabelos mais negros como a asa da graúna...”
C) Textos expositivos – Têm por finalidade explicar
Agora: o semáforo, o apito do juiz numa partida
um assunto ou uma determinada situação que se
de futebol, o cartão vermelho, o cartão amarelo, uma
almeje desenvolvê-la, enfatizando acerca das razões
dança, o aviso de “não fume” ou de “silêncio”, o bocejo,
de ela acontecer, como em: O cadastramento irá se
a identificação de “feminino” e “masculino” através de prorrogar até o dia 02 de dezembro, portanto, não se
figuras na porta do banheiro, as placas de trânsito? = esqueça de fazê-lo, sob pena de perder o benefício.
Linguagem não verbal! D) Textos injuntivos (instrucional) – Trata-se de
uma modalidade na qual as ações são prescritas de
A linguagem pode ser ainda verbal e não verbal ao forma sequencial, utilizando-se de verbos expres-
mesmo tempo, como nos casos das charges, cartoons e sos no imperativo, infinitivo ou futuro do presente:
anúncios publicitários. Misture todos os ingrediente e bata no liquidificador
Alguns exemplos: até criar uma massa homogênea.
Cartão vermelho – denúncia de falta grave no futebol. E) Textos argumentativos (dissertativo) – Demar-
Placas de trânsito. cam-se pelo predomínio de operadores argumen-
Imagem indicativa de “silêncio”. tativos, revelados por uma carga ideológica cons-
Semáforo com sinal amarelo advertindo “atenção”. tituída de argumentos e contra-argumentos que
justificam a posição assumida acerca de um deter-
SITE minado assunto: A mulher do mundo contemporâ-
Disponível em: <http://www.brasilescola.com/ neo luta cada vez mais para conquistar seu espaço
redacao/linguagem.htm> no mercado de trabalho, o que significa que os gê-
neros estão em complementação, não em disputa.

TIPOLOGIA E GÊNERO TEXTUAL Gêneros Textuais

São os textos materializados que encontramos em nosso


A todo o momento nos deparamos com vários textos,
cotidiano; tais textos apresentam características sócio-
sejam eles verbais ou não verbais. Em todos há a presença
comunicativas definidas por seu estilo, função, composição,
do discurso, isto é, a ideia intrínseca, a essência daquilo conteúdo e canal. Como exemplos, temos: receita culinária,
que está sendo transmitido entre os interlocutores. Estes e-mail, reportagem, monografia, poema, editorial, piada,
interlocutores são as peças principais em um diálogo ou debate, agenda, inquérito policial, fórum, blog, etc.
em um texto escrito. A escolha de um determinado gênero discursivo
É de fundamental importância sabermos classificar depende, em grande parte, da situação de produção,
os textos com os quais travamos convivência no nosso ou seja, a finalidade do texto a ser produzido, quem são
dia a dia. Para isso, precisamos saber que existem tipos os locutores e os interlocutores, o meio disponível para
textuais e gêneros textuais. veicular o texto, etc.
Comumente relatamos sobre um acontecimento, um Os gêneros discursivos geralmente estão ligados a esfe-
fato presenciado ou ocorrido conosco, expomos nossa ras de circulação. Assim, na esfera jornalística, por exemplo,
opinião sobre determinado assunto, descrevemos algum são comuns gêneros como notícias, reportagens, editoriais,
lugar que visitamos, fazemos um retrato verbal sobre entrevistas e outros; na esfera de divulgação científica são
alguém que acabamos de conhecer ou ver. É exatamente comuns gêneros como verbete de dicionário ou de enci-
nessas situações corriqueiras que classificamos os clopédia, artigo ou ensaio científico, seminário, conferência.
nossos textos naquela tradicional tipologia: Narração,
Descrição e Dissertação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co-
char. Português linguagens: volume 1 – 7.ª ed. Reform.
LÍNGUA PORTUGUESA

As tipologias textuais se caracterizam pelos


aspectos de ordem linguística – São Paulo: Saraiva, 2010.
Os tipos textuais designam uma sequência definida CAMPEDELLI, Samira Yousseff, SOUZA, Jésus Barbosa.
pela natureza linguística de sua composição. São Português – Literatura, Produção de Textos & Gramática –
observados aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, volume único – 3.ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2002.
relações logicas. Os tipos textuais são o narrativo, SITE
descritivo, argumentativo/dissertativo, injuntivo e Disponível em: <http://www.brasilescola.com/
expositivo. redacao/tipologia-textual.htm>

9
Observação:
A contribuição greco-latina é responsável pela
EXERCÍCIO COMENTADO existência de numerosos pares de sinônimos: adversário e
antagonista; translúcido e diáfano; semicírculo e hemiciclo;
1. (TJ-DFT – CONHECIMENTOS BÁSICOS – TÉCNICO contraveneno e antídoto; moral e ética; colóquio e diálogo;
JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINISTRATIVA – CESPE – transformação e metamorfose; oposição e antítese.
2015)
Antônimos
Ouro em Fios São palavras que se opõem através de seu significado:
ordem - anarquia; soberba - humildade; louvar - censurar;
A natureza é capaz de produzir materiais preciosos, mal - bem.
como o ouro e o cobre - condutor de ENERGIA ELÉTRICA.
O ouro já é escasso. A energia elétrica caminha para isso. Observação:
Enquanto cientistas e governos buscam novas fontes de A antonímia pode se originar de um prefixo de
energia sustentáveis, faça sua parte aqui no TJDFT: sentido oposto ou negativo: bendizer e maldizer;
- Desligue as luzes nos ambientes onde é possível usar a simpático e antipático; progredir e regredir; concórdia e
iluminação natural. discórdia; ativo e inativo; esperar e desesperar; comunista
- Feche as janelas ao ligar o ar-condicionado. e anticomunista; simétrico e assimétrico.
- Sempre desligue os aparelhos elétricos ao sair do am-
biente. Homônimos e Parônimos
- Utilize o computador no modo espera.
Fique ligado! Evite desperdícios. • Homônimos = palavras que possuem a mesma
Energia elétrica. grafia ou a mesma pronúncia, mas significados
A natureza cobra o preço do desperdício. diferentes. Podem ser
Internet: <www.tjdft.jus.br> (com adaptações)
A) Homógrafas: são palavras iguais na escrita e
Há no texto elementos característicos das tipologias ex- diferentes na pronúncia:
positiva e injuntiva. rego (subst.) e rego (verbo); colher (verbo) e colher
(subst.); jogo (subst.) e jogo (verbo); denúncia (subst.)
( ) CERTO ( ) ERRADO e denuncia (verbo); providência (subst.) e providencia
(verbo).
Resposta: Certo. Texto injuntivo – ou instrucional – é
aquele que passa instruções ao leitor. O texto acima B) Homófonas: são palavras iguais na pronúncia e
apresenta tal característica. diferentes na escrita:
acender (atear) e ascender (subir); concertar
(harmonizar) e consertar (reparar); cela (compartimento)
e sela (arreio); censo (recenseamento) e senso ( juízo); paço
SINÔNIMOS E ANTÔNIMOS. (palácio) e passo (andar).
SENTIDO PRÓPRIO E
FIGURADO DAS PALAVRAS C) Homógrafas e homófonas simultaneamente (ou
perfeitas): São palavras iguais na escrita e na pro-
núncia:
SIGNIFICADO DAS PALAVRAS caminho (subst.) e caminho (verbo); cedo (verbo) e
cedo (adv.); livre (adj.) e livre (verbo).
Semântica é o estudo da significação das palavras
e das suas mudanças de significação através do tempo • Parônimos = palavras com sentidos diferentes, po-
ou em determinada época. A maior importância está em rém de formas relativamente próximas. São pala-
distinguir sinônimos e antônimos (sinonímia / antonímia) vras parecidas na escrita e na pronúncia: cesta (re-
e homônimos e parônimos (homonímia / paronímia). ceptáculo de vime; cesta de basquete/esporte) e
sesta (descanso após o almoço), eminente (ilustre)
Sinônimos e iminente (que está para ocorrer), osso (substan-
São palavras de sentido igual ou aproximado: alfabeto tivo) e ouço (verbo), sede (substantivo e/ou verbo
- abecedário; brado, grito - clamor; extinguir, apagar - “ser” no imperativo) e cede (verbo), comprimen-
abolir. to (medida) e cumprimento (saudação), autuar
Duas palavras são totalmente sinônimas quando (processar) e atuar (agir), infligir (aplicar pena) e
LÍNGUA PORTUGUESA

são substituíveis, uma pela outra, em qualquer contexto infringir (violar), deferir (atender a) e diferir (diver-
(cara e rosto, por exemplo); são parcialmente sinônimas gir), suar (transpirar) e soar (emitir som), aprender
quando, ocasionalmente, podem ser substituídas, (conhecer) e apreender (assimilar; apropriar-se de),
uma pela outra, em deteminado enunciado (aguadar e tráfico (comércio ilegal) e tráfego (relativo a movi-
esperar). mento, trânsito), mandato (procuração) e mandado
(ordem), emergir (subir à superfície) e imergir (mer-
gulhar, afundar).

10
Hiperonímia e Hiponímia outro lado, quando duas ou mais palavras com origens
Hipônimos e hiperônimos são palavras que pertencem e significados distintos têm a mesma grafia e fonologia,
a um mesmo campo semântico (de sentido), sendo temos uma homonímia.
o hipônimo uma palavra de sentido mais específico; o A palavra “manga” é um caso de homonímia. Ela pode
hiperônimo, mais abrangente. significar uma fruta ou uma parte de uma camisa. Não
O hiperônimo impõe as suas propriedades ao é polissemia porque os diferentes significados para a
hipônimo, criando, assim, uma relação de dependência palavra “manga” têm origens diferentes. “Letra” é uma
semântica. Por exemplo: Veículos está numa relação de palavra polissêmica: pode significar o elemento básico
hiperonímia com carros, já que veículos é uma palavra de do alfabeto, o texto de uma canção ou a caligrafia de
significado genérico, incluindo motos, ônibus, caminhões. um determinado indivíduo. Neste caso, os diferentes
Veículos é um hiperônimo de carros. significados estão interligados porque remetem para o
Um hiperônimo pode substituir seus hipônimos em mesmo conceito, o da escrita.
quaisquer contextos, mas o oposto não é possível. A
utilização correta dos hiperônimos, ao redigir um texto, Polissemia e ambiguidade
evita a repetição desnecessária de termos. Polissemia e ambiguidade têm um grande impacto
na interpretação. Na língua portuguesa, um enunciado
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS pode ser ambíguo, ou seja, apresentar mais de uma
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa interpretação. Esta ambiguidade pode ocorrer devido à
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. colocação específica de uma palavra (por exemplo, um
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza advérbio) em uma frase. Vejamos a seguinte frase:
Cochar - Português linguagens: volume 1 – 7.ª ed. Reform. Pessoas que têm uma alimentação equilibrada
– São Paulo: Saraiva, 2010. frequentemente são felizes.
AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras: Neste caso podem existir duas interpretações
literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000. diferentes:
XIMENES, Sérgio. Minidicionário Ediouro da Lìngua As pessoas têm alimentação equilibrada porque
Portuguesa – 2.ª ed. reform. – São Paulo: Ediouro, 2000.
são felizes ou são felizes porque têm uma alimentação
equilibrada.
SITE
Disponível em: <http://www.coladaweb.com/
De igual forma, quando uma palavra é polissêmica,
portugues/sinonimos,-antonimos,-homonimos-e-
ela pode induzir uma pessoa a fazer mais do que uma
paronimos>
interpretação. Para fazer a interpretação correta é muito
importante saber qual o contexto em que a frase é
Polissemia
Polissemia é a propriedade de uma palavra adquirir proferida.
multiplicidade de sentidos, que só se explicam dentro de Muitas vezes, a disposição das palavras na construção
um contexto. Trata-se, realmente, de uma única palavra, do enunciado pode gerar ambiguidade ou, até mesmo,
mas que abarca um grande número de significados comicidade. Repare na figura abaixo:
dentro de seu próprio campo semântico.
Reportando-nos ao conceito de Polissemia, logo
percebemos que o prefixo “poli” significa multiplicidade
de algo. Possibilidades de várias interpretações levando-
se em consideração as situações de aplicabilidade. Há
uma infinidade de exemplos em que podemos verificar a
ocorrência da polissemia:
O rapaz é um tremendo gato.
O gato do vizinho é peralta.
Precisei fazer um gato para que a energia voltasse.
Pedro costuma fazer alguns “bicos” para garantir sua
sobrevivência
O passarinho foi atingido no bico. (http://www.humorbabaca.com/fotos/diversas/corto-cabelo-e-
pinto. Acesso em 15/9/2014).
Nas expressões polissêmicas rede de deitar, rede de
computadores e rede elétrica, por exemplo, temos em Poderíamos corrigir o cartaz de inúmeras maneiras,
comum a palavra “rede”, que dá às expressões o sentido mas duas seriam:
de “entrelaçamento”. Outro exemplo é a palavra “xadrez”,
LÍNGUA PORTUGUESA

que pode ser utilizada representando “tecido”, “prisão” Corte e coloração capilar
ou “jogo” – o sentido comum entre todas as expressões ou
é o formato quadriculado que têm. Faço corte e pintura capilar

Polissemia e homonímia REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


A confusão entre polissemia e homonímia é bastante CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza
comum. Quando a mesma palavra apresenta vários Cochar. Português linguagens: volume 1 – 7.ª ed. Reform.
significados, estamos na presença da polissemia. Por – São Paulo: Saraiva, 2010.

11
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. #FicaDica
SITE Procure associar Denotação com Dicionário:
Disponível em: <http://www.brasilescola.com/ trata-se de definição literal, quando o termo
gramatica/polissemia.htm> é utilizado com o sentido que consta no
dicionário.
Denotação e Conotação

Exemplos de variação no significado das palavras: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


Os domadores conseguiram enjaular a fera. (sentido SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
literal) Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Ele ficou uma fera quando soube da notícia. (sentido Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto
figurado) Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. –
Aquela aluna é fera na matemática. (sentido figurado) São Paulo: Saraiva, 2010.

As variações nos significados das palavras ocasionam SITE


o sentido denotativo (denotação) e o sentido conotativo http://www.normaculta.com.br/conotacao-e-
(conotação) das palavras. denotacao/

A) Denotação
Uma palavra é usada no sentido denotativo quando
apresenta seu significado original, independentemente
do contexto em que aparece. Refere-se ao seu significado EXERCÍCIOS COMENTADOS
mais objetivo e comum, aquele imediatamente
reconhecido e muitas vezes associado ao primeiro 1. (BANESTES – TÉCNICO BANCÁRIO – FGV-2018) Um
significado que aparece nos dicionários, sendo o ex-governador do estado do Amazonas disse o seguinte:
significado mais literal da palavra. “Defenda a ecologia, mas não encha o saco”. (Gilberto
A denotação tem como finalidade informar o receptor Mestrinho) O vocábulo sublinhado, composto do radical-
da mensagem de forma clara e objetiva, assumindo um logia (“estudo”), se refere aos estudos de defesa do meio
caráter prático. É utilizada em textos informativos, como ambiente; o vocábulo abaixo, com esse mesmo radical,
jornais, regulamentos, manuais de instrução, bulas de que tem seu significado corretamente indicado é:
medicamentos, textos científicos, entre outros. A palavra
“pau”, por exemplo, em seu sentido denotativo é apenas a) Antropologia: estudo do homem como representante
um pedaço de madeira. Outros exemplos: do sexo masculino;
O elefante é um mamífero. b) Etimologia: estudo das raças humanas;
As estrelas deixam o céu mais bonito! c) Meteorologia: estudo dos impactos de meteoros sobre
a Terra;
B) Conotação d) Ginecologia: estudo das doenças privativas das mu-
Uma palavra é usada no sentido conotativo quando lheres;
apresenta diferentes significados, sujeitos a diferentes e) Fisiologia: estudo das forças atuantes na natureza.
interpretações, dependendo do contexto em que esteja
inserida, referindo-se a sentidos, associações e ideias que Resposta: Letra D
vão além do sentido original da palavra, ampliando sua Em “a”: Antropologia: Ciência que se dedica ao estudo
significação mediante a circunstância em que a mesma do homem (espécie humana) em sua totalidade
é utilizada, assumindo um sentido figurado e simbólico. Em “b”: Etimologia: Ciência que investiga a origem
Como no exemplo da palavra “pau”: em seu sentido das palavras procurando determinar as causas e
conotativo ela pode significar castigo (dar-lhe um pau), circunstâncias de seu processo evolutivo
reprovação (tomei pau no concurso). Em “c”: Meteorologia: Estudo dos fenômenos
A conotação tem como finalidade provocar atmosféricos e das suas leis, principalmente com a
sentimentos no receptor da mensagem, através da intenção de prever as variações do tempo.
expressividade e afetividade que transmite. É utilizada Em “d”: Ginecologia: estudo das doenças privativas das
principalmente numa linguagem poética e na literatura, mulheres = correta
mas também ocorre em conversas cotidianas, em letras Em “e”: Fisiologia: Ciência que trata das funções
de música, em anúncios publicitários, entre outros. orgânicas pelas quais a vida se manifesta
LÍNGUA PORTUGUESA

Exemplos:
Você é o meu sol! 2. (CÂMARA DE SALVADOR-BA – ASSISTENTE
Minha vida é um mar de tristezas. LEGISLATIVO MUNICIPAL – FGV-2018) “Na verdade,
Você tem um coração de pedra! todos os anos a imprensa nacional destaca os inaceitáveis
números da violência no país”. O vocábulo “inaceitáveis”
equivale ao “que não se aceita”. A equivalência correta
abaixo indicada é:

12
a) tinta indelével / que não se apaga; para justificar o veto a que a historiografia do país seja
b) ação impossível / que não se possui; enriquecida, como se não bastasse o fato de o poder
c) trabalho inexequível / que não se exemplifica; de censura concedido a biografados e herdeiros ser um
d) carro invisível / que não tem vistoria; atentado à Constituição.
e) voz inaudível / que não possui audiência. O Globo, 23/9/2013 (com adaptações).

Resposta: Letra A A palavra “sonegado” está sendo empregada com o


Em “a”: tinta indelével / que não se apaga = correta sentido de reduzido, diminuído.
Em “b”: ação impossível = que não é possível
Em “c”: trabalho inexequível = que não se executa ( ) CERTO ( ) ERRADO
Em “d”: carro invisível = que não se vê
Em “e”: voz inaudível = que não se ouve Resposta: Errado
(...) Permite-se a interdição de registros de época, em
3. (MPU – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CESPE-2010) prejuízo dos historiadores e pesquisadores do futuro.
A pobreza é um dos fatores mais comumente responsáveis Dessa forma, tem sido sonegado, por exemplo, o
pelo baixo nível de desenvolvimento humano e pela relato da vida do poeta Manoel Bandeira e dos
origem de uma série de mazelas, algumas das quais escritores Mário de Andrade e Guimarães Rosa = o
proibidas por lei ou consideradas crimes. É o caso do sentido é o de “impedido”.
trabalho infantil. A chaga encontra terreno fértil nas
sociedades subdesenvolvidas, mas também viceja onde 5. (PC-SP - ESCRIVÃO DE POLÍCIA – VUNESP-2014) O
o capitalismo, em seu ambiente mais selvagem, obriga termo destacado na passagem do primeiro parágrafo –
crianças e adolescentes a participarem do processo de Mesmo com tantas opções, ainda há resistência na hora
produção. Foi assim na Revolução Industrial de ontem da compra. – tem sentido equivalente a
e nas economias ditas avançadas. E ainda é, nos dias de
hoje, nas manufaturas da Ásia ou em diversas regiões do a) impetuosidade.
Brasil. Enquanto, entre as nações ricas, o trabalho infantil b) empatia.
foi minimizado, já que nunca se pode dizer erradicado, ele c) relutância.
continua sendo grave problema nos países mais pobres. d) consentimento.
Jornal do Brasil, Editorial, 1.º/7/2010 (com adaptações). e) segurança.

A palavra “chaga”, empregada com o sentido de ferida Resposta: Letra C


social, refere-se, na estrutura sintática do parágrafo, a Mesmo com tantas opções, ainda há resistência na
“pobreza”. hora da compra.
Em “a”: impetuosidade (força) = incorreto
( ) CERTO ( ) ERRADO Em “b”: empatia = incorreto
Em “c”: relutância (resistência).
Resposta: Errado Em “d”: consentimento (aceitação) = incorreto
(...) É o caso do trabalho infantil. A chaga encontra Em “e”: segurança = incorreto
terreno = refere-se a “trabalho infantil”. A substituição que manteria o sentido do período é
“ainda há relutância”.
4. (MPU – CONHECIMENTOS BÁSICOS PARA O CARGO
33 – TÉCNICO ADMINISTRATIVO - Nível Médio –
CESPE-2013)
PONTUAÇÃO.
Há um dispositivo no Código Civil que condiciona a
edição de biografias à autorização do biografado ou
descendentes. As consequências da norma são negativas.
Uma delas é a impossibilidade de se registrar e deixar
para a posteridade a vida de personagens importantes PONTUAÇÃO
na formação do país, em qualquer ramo de atividade.
Permite-se a interdição de registros de época, em Os sinais de pontuação são marcações gráficas que
prejuízo dos historiadores e pesquisadores do futuro. servem para compor a coesão e a coerência textual, além
Dessa forma, tem sido sonegado, por exemplo, o relato da de ressaltar especificidades semânticas e pragmáticas.
vida do poeta Manoel Bandeira e dos escritores Mário de Um texto escrito adquire diferentes significados quando
Andrade e Guimarães Rosa. Tanto no jornalismo quanto pontuado de formas diversificadas. O uso da pontuação
LÍNGUA PORTUGUESA

na literatura não pode haver censura prévia. Publicada a depende, em certos momentos, da intenção do autor do
reportagem (ou biografia), os que se sentirem atingidos discurso. Assim, os sinais de pontuação estão diretamente
que recorram à justiça. É preciso seguir o padrão existente relacionados ao contexto e ao interlocutor.
em muitos países, em que há biografias “autorizadas” e
“não autorizadas”.
Reclamações posteriores, quando existem, são
encaminhadas ao foro devido, os tribunais.
O alegado “direito à privacidade” é argumento frágil

13
Principais funções dos sinais de pontuação E) Ponto de Interrogação (?)

A) Ponto (.) • Usa-se nas interrogações diretas e indiretas livres.


“- Então? Que é isso? Desertaram ambos?” (Artur
• Indica o término do discurso ou de parte dele, en- Azevedo)
cerrando o período.
• Usa-se nas abreviaturas: pág. (página), Cia. (Com- F) Reticências (...)
panhia). Se a palavra abreviada aparecer em final
de período, este não receberá outro ponto; neste • Indica que palavras foram suprimidas: Comprei lápis,
caso, o ponto de abreviatura marca, também, o fim canetas, cadernos...
de período. Exemplo: Estudei português, matemári- • Indica interrupção violenta da frase: “- Não... quero
ca, constitucional, etc. (e não “etc..”) dizer... é verdad... Ah!”
• Nos títulos e cabeçalhos é opcional o emprego do • Indica interrupções de hesitação ou dúvida: Este
ponto, assim como após o nome do autor de uma mal... pega doutor?
citação: • Indica que o sentido vai além do que foi dito: Deixa,
Haverá eleições em outubro depois, o coração falar...
O culto do vernáculo faz parte do brio cívico. (Napoleão
Mendes de Almeida) (ou: Almeida.) G) Vírgula (,)
• Os números que identificam o ano não utilizam pon- Não se usa vírgula
to nem devem ter espaço a separá-los, bem como Separando termos que, do ponto de vista sintático,
os números de CEP: 1975, 2014, 2006, 17600-250. ligam-se diretamente entre si:
B) Ponto e Vírgula (;) 1. Entre sujeito e predicado:
Todos os alunos da sala foram advertidos.
• Separa várias partes do discurso, que têm a mesma
Sujeito predicado
importância: “Os pobres dão pelo pão o trabalho; os
ricos dão pelo pão a fazenda; os de espíritos genero-
2. Entre o verbo e seus objetos:
sos dão pelo pão a vida; os de nenhum espírito dão
O trabalho custou sacrifício aos realizadores.
pelo pão a alma...” (VIEIRA)
V.T.D.I. O.D. O.I.
• Separa partes de frases que já estão separadas por
vírgulas: Alguns quiseram verão, praia e calor; ou-
tros, montanhas, frio e cobertor. Usa-se a vírgula:
• Separa itens de uma enumeração, exposição de mo-
tivos, decreto de lei, etc. 1. Para marcar intercalação:
Ir ao supermercado; A) do adjunto adverbial: O café, em razão da sua
Pegar as crianças na escola; abundância, vem caindo de preço.
Caminhada na praia; B) da conjunção: Os cerrados são secos e áridos. Estão
Reunião com amigos. produzindo, todavia, altas quantidades de alimentos.
C) das expressões explicativas ou corretivas: As indús-
C) Dois pontos (:) trias não querem abrir mão de suas vantagens, isto
é, não querem abrir mão dos lucros altos.
• Antes de uma citação = Vejamos como Afrânio Cou-
tinho trata este assunto: 2. Para marcar inversão:
• Antes de um aposto = Três coisas não me agradam: A) do adjunto adverbial (colocado no início da ora-
chuva pela manhã, frio à tarde e calor à noite. ção): Depois das sete horas, todo o comércio está de
• Antes de uma explicação ou esclarecimento: Lá es- portas fechadas.
tava a deplorável família: triste, cabisbaixa, vivendo B) dos objetos pleonásticos antepostos ao verbo: Aos
a rotina de sempre. pesquisadores, não lhes destinaram verba alguma.
C) do nome de lugar anteposto às datas: Recife, 15 de
• Em frases de estilo direto maio de 1982.
Maria perguntou:
- Por que você não toma uma decisão? 3. Para separar entre si elementos coordenados
(dispostos em enumeração):
D) Ponto de Exclamação (!) Era um garoto de 15 anos, alto, magro.
A ventania levou árvores, e telhados, e pontes, e
LÍNGUA PORTUGUESA

• Usa-se para indicar entonação de surpresa, cólera, animais.


susto, súplica, etc.: Sim! Claro que eu quero me
casar com você! 4. Para marcar elipse (omissão) do verbo: Nós
queremos comer pizza; e vocês, churrasco.
• Depois de interjeições ou vocativos
Ai! Que susto!
João! Há quanto tempo!

14
5. Para isolar:
A) o aposto: São Paulo, considerada a metrópole
brasileira, possui um trânsito caótico. EXERCÍCIOS COMENTADOS
B) o vocativo: Ora, Thiago, não diga bobagem.
1. (BANPARÁ – ASSISTENTE SOCIAL – FADESP-2018)
Observações: O enunciado em que a vírgula foi empregada em
Considerando-se que “etc.” é abreviatura da desacordo com as regras de pontuação é
expressão latina et coetera, que significa “e outras coisas”,
seria dispensável o emprego da vírgula antes dele. a) Como esse metal é limitado, isso garantia que a pro-
Porém, o acordo ortográfico em vigor no Brasil exige dução de dinheiro fosse também limitada.
que empreguemos etc. predecido de vírgula: Falamos de b) Em 1971, o presidente dos EUA acabou com o padrão-
política, futebol, lazer, etc. -ouro.
As perguntas que denotam surpresa podem ter c) Praticamente todo o dinheiro que existe no mundo é
combinados o ponto de interrogação e o de exclamação: criado assim, inventado em canetaços a partir da con-
Você falou isso para ela?! cessão de empréstimos.
d) Assim, o sistema monetário atual funciona com uma
Temos, ainda, sinais distintivos: moeda que é ao mesmo tempo escassa e abundante.
• a barra ( / ) = usada em datas (25/12/2014), e) Escassa porque só banqueiros podem criá-la, e abun-
separação de siglas (IOF/UPC); dante porque é gerada pela simples manipulação de
• os colchetes ([ ]) = usados em transcrições bancos de dados.
feitas pelo narrador ([vide pág. 5]), usado como
primeira opção aos parênteses, principalmente na Resposta: Letra E
matemática; O enunciado pede a alternativa em desacordo:
• o asterisco (*) = usado para remeter o leitor a uma Em “a”, Como esse metal é limitado, isso garantia
nota de rodapé ou no fim do livro, para substituir que a produção de dinheiro fosse também limitada
um nome que não se quer mencionar. = correta
Em “b”, Em 1971, o presidente dos EUA acabou com o
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS padrão-ouro = correta
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Em “c”, Praticamente todo o dinheiro que existe no
Cochar - Português linguagens: volume 3. – 7.ª ed. Reform. mundo é criado assim, inventado em canetaços a
– São Paulo: Saraiva, 2010. partir da concessão de empréstimos = correta
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Em “d”, Assim, o sistema monetário atual funciona
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. com uma moeda que é ao mesmo tempo escassa e
abundante = correta
SITE Em “e”, Escassa porque só banqueiros podem criá-
Disponível em: <http://www.infoescola.com/ la, (X) e abundante porque é gerada pela simples
portugues/pontuacao/> manipulação de bancos de dados = incorreta - a
Disponível em: <http://www.brasilescola.com/ vírgula pode ser utilizada antes da conjunção “e”,
gramatica/uso-da-virgula.htm> desde que haja mudança de sujeito, por exemplo (o
que não acontece na questão)
GABARITO OFICIAL: E

2. (BANESTES – ANALISTA ECONÔMICO FINANCEIRO


GESTÃO CONTÁBIL – FGV-2018)

Texto 1

Em artigo publicado no jornal carioca O Globo, 19/3/2018,


com o nome Erros do passado, o articulista Paulo
Guedes escreve o seguinte: “Os regimes trabalhista e
previdenciário brasileiros são politicamente anacrônicos,
economicamente desastrosos e socialmente perversos.
Arquitetados de início em sistemas políticos fechados
(na Alemanha imperial de Bismarck e na Itália fascista
de Mussolini), e desde então cultivados por obsoletos
LÍNGUA PORTUGUESA

programas socialdemocratas, são hoje armas de


destruição em massa de empregos locais em meio à
competição global. Reduzem a competitividade das
empresas, fabricam desigualdades sociais, dissipam em
consumo corrente a poupança compulsória dos encargos
recolhidos, derrubam o crescimento da economia e
solapam o valor futuro das aposentadorias”. (adaptado)

15
No texto 1, os termos inseridos nos parênteses – na 4. (BANCO DO BRASIL – ESCRITURÁRIO –
Alemanha imperial de Bismarck e na Itália fascista de CESGRANRIO-2018) De acordo com a norma-padrão
Mussolini – têm a finalidade textual de: da língua portuguesa, a pontuação está corretamente
empregada em:
a) enumerar os sistemas políticos fechados do passado;
b) destacar os sistemas onde se originaram os regimes a) O conjunto de preocupações e ações efetivas, quan-
trabalhista e previdenciário; do atendem, de forma voluntária, aos funcionários e
c) criticar o atraso político de alguns sistemas da História; à comunidade em geral, pode ser definido como res-
d) condenar nossos regimes trabalhista e previdenciário ponsabilidade social.
por serem muito antigos; b) As empresas que optam por encampar a prática da
e) exemplificar alguns dos nossos erros do passado. responsabilidade social, beneficiam-se de conseguir
uma melhor imagem no mercado.
Resposta: Letra B c) A noção de responsabilidade social foi muito utiliza-
Arquitetados de início em sistemas políticos fechados da em campanhas publicitárias: por isso, as empresas
(na Alemanha imperial de Bismarck e na Itália precisam relacionar-se melhor, com a sociedade.
fascista de Mussolini) = os termos entre parênteses d) A responsabilidade social explora um leque abrangen-
servem para se referir aos sistemas políticos fechados, te de beneficiários, envolvendo assim: a qualidade de
exemplificando-os. vida o bem-estar dos trabalhadores, a redução de im-
Em “a”, enumerar os sistemas políticos fechados do pactos negativos, no meio ambiente.
passado = incorreta e) Alguns críticos da responsabilidade social defendem
Em “b”, destacar os sistemas onde se originaram os a ideia de que: o objetivo das empresas é o lucro e a
regimes trabalhista e previdenciário = correta geração de empregos não a preocupação com a so-
Em “c”, criticar o atraso político de alguns sistemas da ciedade como um todo.
História = incorreta
Resposta: Letra A
Em “d”, condenar nossos regimes trabalhista e
Assinalei com (X) as inadequações e destaquei as
previdenciário por serem muito antigos = incorreta
inclusões:
Em “e”, exemplificar alguns dos nossos erros do
Em “a”: O conjunto de preocupações e ações efetivas,
passado = incorreta
quando atendem, de forma voluntária, aos funcionários
e à comunidade em geral, pode ser definido como
3. (BADESC – ANALISTA DE SISTEMA – BANCO DE
responsabilidade social = correta
DADOS – FGV-2010) Assinale a alternativa em que a
Em “b”: As empresas que optam por encampar a
vírgula está corretamente empregada. prática da responsabilidade social, (X) beneficiam-se
de conseguir uma melhor imagem no mercado.
a) O jeitinho, essa instituição tipicamente brasileira pode Em “c”: A noção de responsabilidade social foi muito
ser considerado, sem dúvida, um desvio de caráter. utilizada em campanhas publicitárias: (X) ; por isso, as
b) Apareciam novos problemas, e o funcionário embora empresas precisam relacionar-se melhor, (X) com a
competente, nem sempre conseguia resolvê-los. sociedade.
c) Ainda que os níveis de educação estivessem avançan- Em “d”: A responsabilidade social explora um leque
do, o sentimento geral, às vezes, era de frustração. abrangente de beneficiários, envolvendo , assim: (X) ,
d) É claro, que se fôssemos levar a lei ao pé da letra, mui- a qualidade de vida , o bem-estar dos trabalhadores,
tos sofreriam sanções diariamente. (X) e a redução de impactos negativos, (X) no meio
e) O tempo não para as transformações sociais são ur- ambiente.
gentes mas há quem não perceba esse fato, que é Em “e”: Alguns críticos da responsabilidade social
evidente. defendem a ideia de que: (X) o objetivo das empresas é
o lucro e a geração de empregos , não a preocupação
Resposta: Letra C com a sociedade como um todo.
Indiquei com (X) os lugares inadequados e acrescentei GABARITO OFICIAL: A
a pontuação que faltou:
Em “a”, O jeitinho, essa instituição tipicamente 5. (PC-SP - Investigador de Polícia – Vunesp-2014)
brasileira , pode ser considerado, sem dúvida, um
desvio de caráter.
Em “b”, Apareciam novos problemas , (X) e o funcionário
, embora competente, nem sempre conseguia resolvê-
los.
Em “c”, Ainda que os níveis de educação estivessem
LÍNGUA PORTUGUESA

avançando, o sentimento geral, às vezes, era de


frustração.= correta
Em “d”, É claro , (X) que se fôssemos levar a lei ao pé da (Folha de S.Paulo, 03.01.2014. Adaptado)
letra, muitos sofreriam sanções diariamente.
Em “e”, O tempo não para , as transformações sociais De acordo com a norma-padrão, no primeiro quadrinho,
são urgentes , mas há quem não perceba esse fato, na fala de Hagar, deve ser utilizada uma vírgula,
que é evidente. obrigatoriamente,

16
a) antes da palavra “olho”. Locução adjetiva
b) antes da palavra “e”.
c) depois da palavra “evitar”. Locução = reunião de palavras. Sempre que são
d) antes da palavra “evitar”. necessárias duas ou mais palavras para falar sobre a
e) depois da palavra “e”. mesma coisa, tem-se locução. Às vezes, uma preposição
+ substantivo tem o mesmo valor de um adjetivo: é a
Resposta: Letra C Locução Adjetiva (expressão que equivale a um adjetivo).
“Não posso evitar doutor” = no diálogo, Hagar fala com Por exemplo: aves da noite (aves noturnas), paixão sem
o doutor (vocativo); portanto, presença obrigatória de freio (paixão desenfreada).
vírgula após o verbo “evitar”.
Observe outros exemplos:
6. (TJ-RS – JUIZ DE DIREITO – SUBSTITUTO –
VUNESP-2018) No trecho do primeiro parágrafo de águia aquilino
do texto – Nas escolas da Catalunha, a separação da
Espanha tem apoio maciço. É uma situação que contrasta de aluno discente
com outros lugares de Barcelona, uma cidade que vive de anjo angelical
hoje em duas dimensões. De um lado, há a Barcelona
de ano anual
dos turistas, que se cotovelam nos pontos turísticos da
cidade, … –, empregam-se as vírgulas para separar as de aranha aracnídeo
expressões destacadas porque elas de boi bovino
de cabelo capilar
a) acrescem às informações precedentes comentários
que lhes ampliam o sentido. de cabra caprino
b) sintetizam as ideias centrais das informações de campo campestre ou rural
precedentes.
c) apresentam informações que se opõem às informações de chuva pluvial
precedentes. de criança pueril
d) retificam as informações precedentes, dando-lhes o de dedo digital
correto matiz semântico.
e) estabelecem certas restrições de sentido às informações de estômago estomacal ou gástrico
precedentes. de falcão falconídeo
de farinha farináceo
Resposta: Letra A
É uma situação que contrasta com outros lugares de fera ferino
de Barcelona, uma cidade que vive hoje em duas de ferro férreo
dimensões. De um lado, há a Barcelona dos turistas, de fogo ígneo
que se cotovelam nos pontos turísticos da cidade
Os períodos destacados acrescentam informações aos de garganta gutural
termos citados anteriormente. de gelo glacial
de guerra bélico
CLASSES DE PALAVRAS: SUBSTANTIVO, de homem viril ou humano
ADJETIVO, NUMERAL, ARTIGO, de ilha insular
PRONOME, VERBO, ADVÉRBIO, de inverno hibernal ou invernal
PREPOSIÇÃO E CONJUNÇÃO: EMPREGO
de lago lacustre
E SENTIDO QUE IMPRIMEM ÀS
RELAÇÕES QUE ESTABELECEM. de leão leonino
de lebre leporino
de lua lunar ou selênico
CLASSES DE PALAVRAS de madeira lígneo
1. ADJETIVO de mestre magistral
de ouro áureo
LÍNGUA PORTUGUESA

É a palavra que expressa uma qualidade ou de paixão passional


característica do ser e se relaciona com o substantivo,
concordando com este em gênero e número. de pâncreas pancreático
As praias brasileiras estão poluídas. de porco suíno ou porcino
Praias = substantivo; brasileiras/poluídas = adjetivos
dos quadris ciático
(plural e feminino, pois concordam com “praias”).
de rio fluvial

17
de sonho onírico Grécia greco- / Filmes greco-romanos
de velho senil Inglaterra anglo- / Letras anglo-portuguesas
de vento eólico Itália ítalo- / Sociedade ítalo-portuguesa
de vidro vítreo ou hialino Japão nipo- / Associações nipo-brasileiras
de virilha inguinal Portugal luso- / Acordos luso-brasileiros
de visão óptico ou ótico
Flexão dos adjetivos
Observação:
Nem toda locução adjetiva possui um adjetivo O adjetivo varia em gênero, número e grau.
correspondente, com o mesmo significado: Vi as alunas
da 5ª série. / O muro de tijolos caiu. Gênero dos Adjetivos

Morfossintaxe do Adjetivo (Função Sintática): Os adjetivos concordam com o substantivo a que se


referem (masculino e feminino). De forma semelhante
O adjetivo exerce sempre funções sintáticas (função aos substantivos, classificam-se em:
dentro de uma oração) relativas aos substantivos,
atuando como adjunto adnominal ou como predicativo A) Biformes - têm duas formas, sendo uma para o
(do sujeito ou do objeto). masculino e outra para o feminino: ativo e ativa, mau
e má.
Adjetivo Pátrio (ou gentílico) Se o adjetivo é composto e biforme, ele flexiona no
feminino somente o último elemento: o moço norte-
Indica a nacionalidade ou o lugar de origem do ser. americano, a moça norte-americana.
Observe alguns deles: Exceção: surdo-mudo e surda-muda.

Estados e cidades brasileiras: B) Uniformes - têm uma só forma tanto para o


masculino como para o feminino: homem feliz e
mulher feliz.
Alagoas alagoano Se o adjetivo é composto e uniforme, fica invariável
Amapá amapaense no feminino: conflito político-social e desavença político-
social.
Aracaju aracajuano ou aracajuense
Amazonas amazonense ou baré Número dos Adjetivos
Belo Horizonte belo-horizontino
A) Plural dos adjetivos simples
Brasília brasiliense
Os adjetivos simples se flexionam no plural de acordo
Cabo Frio cabo-friense com as regras estabelecidas para a flexão numérica dos
Campinas campineiro ou campinense substantivos simples: mau e maus, feliz e felizes, ruim e
ruins, boa e boas.
Adjetivo Pátrio Composto Caso o adjetivo seja uma palavra que também
exerça função de substantivo, ficará invariável, ou seja,
Na formação do adjetivo pátrio composto, o primeiro se a palavra que estiver qualificando um elemento for,
elemento aparece na forma reduzida e, normalmente, originalmente, um substantivo, ela manterá sua forma
erudita. Observe alguns exemplos: primitiva. Exemplo: a palavra cinza é, originalmente, um
substantivo; porém, se estiver qualificando um elemento,
funcionará como adjetivo. Ficará, então, invariável. Logo:
África afro- / Cultura afro-americana camisas cinza, ternos cinza.
germano- ou teuto-/Competições Motos vinho (mas: motos verdes)
Alemanha
teuto-inglesas Paredes musgo (mas: paredes brancas).
américo- / Companhia américo- Comícios monstro (mas: comícios grandiosos).
América
africana
belgo- / Acampamentos belgo- B) Adjetivo Composto
Bélgica
franceses É aquele formado por dois ou mais elementos.
LÍNGUA PORTUGUESA

China sino- / Acordos sino-japoneses Normalmente, esses elementos são ligados por hífen.
Espanha hispano- / Mercado hispano-português Apenas o último elemento concorda com o substantivo
a que se refere; os demais ficam na forma masculina,
Europa euro- / Negociações euro-americanas singular. Caso um dos elementos que formam o adjetivo
franco- ou galo- / Reuniões franco- composto seja um substantivo adjetivado, todo o adjetivo
França composto ficará invariável. Por exemplo: a palavra “rosa”
italianas
é, originalmente, um substantivo, porém, se estiver

18
qualificando um elemento, funcionará como adjetivo. Sou menos alto (do) que você. = Comparativo de
Caso se ligue a outra palavra por hífen, formará um Inferioridade
adjetivo composto; como é um substantivo adjetivado, o Sou menos passivo (do) que tolerante.
adjetivo composto inteiro ficará invariável. Veja:
Camisas rosa-claro. B) Superlativo
Ternos rosa-claro. O superlativo expressa qualidades num grau muito
Olhos verde-claros. elevado ou em grau máximo. Pode ser absoluto ou
Calças azul-escuras e camisas verde-mar. relativo e apresenta as seguintes modalidades:
Telhados marrom-café e paredes verde-claras.
B.1 Superlativo Absoluto: ocorre quando a
Observação: qualidade de um ser é intensificada, sem relação com
Azul-marinho, azul-celeste, ultravioleta e qualquer outros seres. Apresenta-se nas formas:
• Analítica: a intensificação é feita com o auxílio de
adjetivo composto iniciado por “cor-de-...” são sempre
palavras que dão ideia de intensidade (advérbios).
invariáveis: roupas azul-marinho, tecidos azul-celeste,
Por exemplo: O concurseiro é muito esforçado.
vestidos cor-de-rosa.
• Sintética: nessa, há o acréscimo de sufixos. Por
O adjetivo composto surdo-mudo tem os dois
exemplo: O concurseiro é esforçadíssimo.
elementos flexionados: crianças surdas-mudas.
Observe alguns superlativos sintéticos:
Grau do Adjetivo

Os adjetivos se flexionam em grau para indicar a benéfico beneficentíssimo


intensidade da qualidade do ser. São dois os graus do bom boníssimo ou ótimo
adjetivo: o comparativo e o superlativo. comum comuníssimo
cruel crudelíssimo
A) Comparativo
Nesse grau, comparam-se a mesma característica difícil dificílimo
atribuída a dois ou mais seres ou duas ou mais doce dulcíssimo
características atribuídas ao mesmo ser. O comparativo
fácil facílimo
pode ser de igualdade, de superioridade ou de
inferioridade. fiel fidelíssimo

Sou tão alto como você. = Comparativo de Igualdade B.2 Superlativo Relativo: ocorre quando a qualidade
No comparativo de igualdade, o segundo termo da de um ser é intensificada em relação a um conjunto de
comparação é introduzido pelas palavras como, quanto seres. Essa relação pode ser:
ou quão. • De Superioridade: Essa matéria é a mais fácil de
todas.
• De Inferioridade: Essa matéria é a menos fácil de
Sou mais alto (do) que você. = Comparativo de
todas.
Superioridade
O superlativo absoluto analítico é expresso por meio
Sílvia é menos alta que Tiago. = Comparativo de dos advérbios muito, extremamente, excepcionalmente,
Inferioridade antepostos ao adjetivo.
O superlativo absoluto sintético se apresenta sob duas
Alguns adjetivos possuem, para o comparativo de formas: uma erudita - de origem latina – e outra popular
superioridade, formas sintéticas, herdadas do latim. - de origem vernácula. A forma erudita é constituída pelo
São eles: bom /melhor, pequeno/menor, mau/pior, alto/ radical do adjetivo latino + um dos sufixos -íssimo, -imo
superior, grande/maior, baixo/inferior. ou érrimo: fidelíssimo, facílimo, paupérrimo; a popular é
constituída do radical do adjetivo português + o sufixo
Observe que: -íssimo: pobríssimo, agilíssimo.
• As formas menor e pior são comparativos de supe- Os adjetivos terminados em –io fazem o superlativo
rioridade, pois equivalem a mais pequeno e mais com dois “ii”: frio – friíssimo, sério – seriíssimo; os
mau, respectivamente. terminados em –eio, com apenas um “i”: feio - feíssimo,
• Bom, mau, grande e pequeno têm formas sintéticas cheio – cheíssimo.
(melhor, pior, maior e menor), porém, em compa-
rações feitas entre duas qualidades de um mesmo REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LÍNGUA PORTUGUESA

elemento, deve-se usar as formas analíticas mais CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza
bom, mais mau,mais grande e mais pequeno. Por Cochar - Português linguagens: volume 2 – 7.ª ed. Reform.
exemplo: – São Paulo: Saraiva, 2010.
Pedro é maior do que Paulo - Comparação de dois SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
elementos. Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Pedro é mais grande que pequeno - comparação de Português: novas palavras: literatura, gramática,
duas qualidades de um mesmo elemento. redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

19
SITE Classificação dos Advérbios
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/
secoes/morf/morf32.php> De acordo com a circunstância que exprime, o
advérbio pode ser de:
2. ADVÉRBIO A) Lugar: aqui, antes, dentro, ali, adiante, fora, aco-
lá, atrás, além, lá, detrás, aquém, cá, acima, onde,
Compare estes exemplos: perto, aí, abaixo, aonde, longe, debaixo, algures, de-
O ônibus chegou. fronte, nenhures, adentro, afora, alhures, nenhures,
O ônibus chegou ontem. aquém, embaixo, externamente, a distância, à dis-
tância de, de longe, de perto, em cima, à direita, à
Advérbio é uma palavra invariável que modifica o esquerda, ao lado, em volta.
sentido do verbo (acrescentando-lhe circunstâncias de B) Tempo: hoje, logo, primeiro, ontem, tarde, outrora,
tempo, de modo, de lugar, de intensidade), do adjetivo e amanhã, cedo, dantes, depois, ainda, antigamente,
do próprio advérbio. antes, doravante, nunca, então, ora, jamais, agora,
Estudei bastante. = modificando o verbo estudei sempre, já, enfim, afinal, amiúde, breve, constante-
Ele canta muito bem! = intensificando outro advérbio mente, entrementes, imediatamente, primeiramente,
(bem) provisoriamente, sucessivamente, às vezes, à tarde, à
Ela tem os olhos muito claros. = relação com um noite, de manhã, de repente, de vez em quando, de
adjetivo (claros) quando em quando, a qualquer momento, de tem-
pos em tempos, em breve, hoje em dia.
Quando modifica um verbo, o advérbio pode C) Modo: bem, mal, assim, adrede, melhor, pior, de-
acrescentar ideia de: pressa, acinte, debalde, devagar, às pressas, às cla-
Tempo: Ela chegou tarde. ras, às cegas, à toa, à vontade, às escondidas, aos
Lugar: Ele mora aqui. poucos, desse jeito, desse modo, dessa maneira, em
Modo: Eles agiram mal. geral, frente a frente, lado a lado, a pé, de cor, em
Negação: Ela não saiu de casa. vão e a maior parte dos que terminam em “-men-
Dúvida: Talvez ele volte. te”: calmamente, tristemente, propositadamente,
pacientemente, amorosamente, docemente, escan-
Flexão do Advérbio dalosamente, bondosamente, generosamente.
D) Afirmação: sim, certamente, realmente, decerto,
Os advérbios são palavras invariáveis, isto é, não efetivamente, certo, decididamente, deveras, indu-
apresentam variação em gênero e número. Alguns bitavelmente.
advérbios, porém, admitem a variação em grau. Observe: E) Negação: não, nem, nunca, jamais, de modo algum,
de forma nenhuma, tampouco, de jeito nenhum.
A) Grau Comparativo F) Dúvida: acaso, porventura, possivelmente, pro-
Forma-se o comparativo do advérbio do mesmo vavelmente, quiçá, talvez, casualmente, por certo,
modo que o comparativo do adjetivo: quem sabe.
• de igualdade: tão + advérbio + quanto (como): Re- G) Intensidade: muito, demais, pouco, tão, em ex-
nato fala tão alto quanto João. cesso, bastante, mais, menos, demasiado, quanto,
• de inferioridade: menos + advérbio + que (do quão, tanto, assaz, que (equivale a quão), tudo,
que): Renato fala menos alto do que João. nada, todo, quase, de todo, de muito, por completo,
• de superioridade: extremamente, intensamente, grandemente, bem
(quando aplicado a propriedades graduáveis).
A.1 Analítico: mais + advérbio + que (do que): Renato H) Exclusão: apenas, exclusivamente, salvo, senão, so-
fala mais alto do que João. mente, simplesmente, só, unicamente. Por exemplo:
A.2 Sintético: melhor ou pior que (do que): Renato Brando, o vento apenas move a copa das árvores.
fala melhor que João. I) Inclusão: ainda, até, mesmo, inclusivamente, tam-
bém. Por exemplo: O indivíduo também amadurece
B) Grau Superlativo durante a adolescência.
O superlativo pode ser analítico ou sintético: J) Ordem: depois, primeiramente, ultimamente. Por
B.1 Analítico: acompanhado de outro advérbio: exemplo: Primeiramente, eu gostaria de agradecer
Renato fala muito alto. aos meus amigos por comparecerem à festa.
muito = advérbio de intensidade / alto = advérbio
de modo Saiba que:
B.2 Sintético: formado com sufixos: Renato fala Para se exprimir o limite de possibilidade, antepõe-se
LÍNGUA PORTUGUESA

altíssimo. ao advérbio “o mais” ou “o menos”. Por exemplo: Ficarei


o mais longe que puder daquele garoto. Voltarei o menos
Observação: tarde possível.
As formas diminutivas (cedinho, pertinho, etc.) são Quando ocorrem dois ou mais advérbios em -mente,
comuns na língua popular. em geral sufixamos apenas o último: O aluno respondeu
Maria mora pertinho daqui. (muito perto) calma e respeitosamente.
A criança levantou cedinho. (muito cedo)

20
Distinção entre Advérbio e Pronome Indefinido Usam-se, de preferência, as formas mais bem e mais
mal antes de adjetivos ou de verbos no particípio:
Há palavras como muito, bastante, que podem Essa matéria é mais bem interessante que aquela.
aparecer como advérbio e como pronome indefinido. Nosso aluno foi o mais bem colocado no concurso!
Advérbio: refere-se a um verbo, adjetivo, ou a outro O numeral “primeiro”, ao modificar o verbo, é
advérbio e não sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muito. advérbio: Cheguei primeiro.
Pronome Indefinido: relaciona-se a um substantivo
e sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muitos quilômetros. Quanto a sua função sintática: o advérbio e a
locução adverbial desempenham na oração a função
de adjunto adverbial, classificando-se de acordo com as
#FicaDica circunstâncias que acrescentam ao verbo, ao adjetivo ou
ao advérbio. Exemplo:
Como saber se a palavra bastante é Meio cansada, a candidata saiu da sala. = adjunto
advérbio (não varia, não se flexiona) ou adverbial de intensidade (ligado ao adjetivo “cansada”)
pronome indefinido (varia, sofre flexão)? Se Trovejou muito ontem. = adjunto adverbial de
der, na frase, para substituir o “bastante” por intensidade e de tempo, respectivamente.
“muito”, estamos diante de um advérbio; se
der para substituir por “muitos” (ou muitas), REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
é um pronome. Veja: CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza
1. Estudei bastante para o concurso. (estudei Cochar - Português linguagens: volume 2 – 7.ª ed. Reform.
muito, pois “muitos” não dá!) = advérbio – São Paulo: Saraiva, 2010.
2. Estudei bastantes capítulos para o concurso. AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras:
(estudei muitos capítulos) = pronome literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000.
indefinido SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.

Advérbios Interrogativos SITE


Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/
São as palavras: onde? aonde? donde? quando? como? secoes/morf/morf75.php>
por quê? nas interrogações diretas ou indiretas, referentes
às circunstâncias de lugar, tempo, modo e causa. Veja: 3. ARTIGO

Interrogação Direta Interrogação Indireta O artigo integra as dez classes gramaticais, definindo-
se como o termo variável que serve para individualizar ou
Como aprendeu? Perguntei como aprendeu generalizar o substantivo, indicando, também, o gênero
Onde mora? Indaguei onde morava (masculino/feminino) e o número (singular/plural).
Os artigos se subdividem em definidos (“o” e as
Por que choras? Não sei por que choras
variações “a”[as] e [os]) e indefinidos (“um” e as variações
Aonde vai? Perguntei aonde ia “uma”[s] e “uns]).
Donde vens? Pergunto donde vens
A) Artigos definidos – São usados para indicar seres
Quando voltas? Pergunto quando voltas
determinados, expressos de forma individual: O
concurseiro estuda muito. Os concurseiros estudam
Locução Adverbial
muito.
B) Artigos indefinidos – usados para indicar seres de
Quando há duas ou mais palavras que exercem
modo vago, impreciso: Uma candidata foi aprova-
função de advérbio, temos a locução adverbial, que
da! Umas candidatas foram aprovadas!
pode expressar as mesmas noções dos advérbios. Iniciam
ordinariamente por uma preposição. Veja:
Circunstâncias em que os artigos se manifestam:
A) lugar: à esquerda, à direita, de longe, de perto,
para dentro, por aqui, etc.
Considera-se obrigatório o uso do artigo depois
B) afirmação: por certo, sem dúvida, etc.
do numeral “ambos”: Ambos os concursos cobrarão tal
C) modo: às pressas, passo a passo, de cor, em vão,
conteúdo.
em geral, frente a frente, etc.
Nomes próprios indicativos de lugar (ou topônimos)
D) tempo: de noite, de dia, de vez em quando, à tarde,
LÍNGUA PORTUGUESA

admitem o uso do artigo, outros não: São Paulo, O Rio de


hoje em dia, nunca mais, etc.
Janeiro, Veneza, A Bahia...
Quando indicado no singular, o artigo definido pode
A locução adverbial e o advérbio modificam o verbo,
indicar toda uma espécie: O trabalho dignifica o homem.
o adjetivo e outro advérbio:
No caso de nomes próprios personativos, denotando
Chegou muito cedo. (advérbio)
a ideia de familiaridade ou afetividade, é facultativo o uso
Joana é muito bela. (adjetivo)
do artigo: Marcela é a mais extrovertida das irmãs. / O
De repente correram para a rua. (verbo)
Pedro é o xodó da família.

21
No caso de os nomes próprios personativos estarem Morfossintaxe da Conjunção
no plural, são determinados pelo uso do artigo: Os Maias,
os Incas, Os Astecas... As conjunções, a exemplo das preposições, não
exercem propriamente uma função sintática: são
Usa-se o artigo depois do pronome indefinido todo(a) conectivos.
para conferir uma ideia de totalidade. Sem o uso dele (do
artigo), o pronome assume a noção de “qualquer”. Classificação da Conjunção
Toda a classe parabenizou o professor. (a sala toda)
Toda classe possui alunos interessados e desinteressados. De acordo com o tipo de relação que estabelecem, as
(qualquer classe) conjunções podem ser classificadas em coordenativas e
subordinativas. No primeiro caso, os elementos ligados
Antes de pronomes possessivos, o uso do artigo é pela conjunção podem ser isolados um do outro. Esse
facultativo: Preparei o meu curso. Preparei meu curso. isolamento, no entanto, não acarreta perda da unidade
A utilização do artigo indefinido pode indicar uma de sentido que cada um dos elementos possui. Já no
ideia de aproximação numérica: O máximo que ele deve segundo caso, cada um dos elementos ligados pela
ter é uns vinte anos. conjunção depende da existência do outro. Veja:
O artigo também é usado para substantivar palavras Estudei muito, mas ainda não compreendi o conteúdo.
pertencentes a outras classes gramaticais: Não sei o Podemos separá-las por ponto:
porquê de tudo isso. / O bem vence o mal. Estudei muito. Ainda não compreendi o conteúdo.

Há casos em que o artigo definido não pode ser Temos acima um exemplo de conjunção (e,
usado: consequentemente, orações coordenadas) coordenativa
– “mas”. Já em:
Antes de nomes de cidade (topônimo) e de pessoas Espero que eu seja aprovada no concurso!
conhecidas: O professor visitará Roma.
Mas, se o nome apresentar um caracterizador, a Não conseguimos separar uma oração da outra, pois
presença do artigo será obrigatória: O professor visitará a segunda “completa” o sentido da primeira (da oração
a bela Roma. principal): Espero o quê? Ser aprovada. Nesse período
temos uma oração subordinada substantiva objetiva
Antes de pronomes de tratamento: Vossa Senhoria direta (ela exerce a função de objeto direto do verbo da
sairá agora? oração principal).
Exceção: O senhor vai à festa?
Conjunções Coordenativas
Após o pronome relativo “cujo” e suas variações:
Esse é o concurso cujas provas foram anuladas?/ Este é o São aquelas que ligam orações de sentido completo
candidato cuja nota foi a mais alta. e independente ou termos da oração que têm a mesma
função gramatical. Subdividem-se em:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza A) Aditivas: ligam orações ou palavras, expressando
Cochar - Português linguagens: volume 2 – 7.ª ed. Reform. ideia de acréscimo ou adição. São elas: e, nem (= e
– São Paulo: Saraiva, 2010. não), não só... mas também, não só... como também,
AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras: bem como, não só... mas ainda.
literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000. A sua pesquisa é clara e objetiva.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Não só dança, mas também canta.
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza B) Adversativas: ligam duas orações ou palavras,
Cochar - Português linguagens: volume 1– 7.ª ed. Reform. expressando ideia de contraste ou compensação.
– São Paulo: Saraiva, 2010. São elas: mas, porém, contudo, todavia, entretanto,
no entanto, não obstante.
SITE Tentei chegar mais cedo, porém não consegui.
Disponível em: <http://www.brasilescola.com/
gramatica/artigo.htm> C) Alternativas: ligam orações ou palavras,
expressando ideia de alternância ou escolha,
4. CONJUNÇÃO indicando fatos que se realizam separadamente.
São elas: ou, ou... ou, ora... ora, já... já, quer... quer,
LÍNGUA PORTUGUESA

Além da preposição, há outra palavra também seja... seja, talvez... talvez.


invariável que, na frase, é usada como elemento de Ou escolho agora, ou fico sem presente de aniversário.
ligação: a conjunção. Ela serve para ligar duas orações ou
duas palavras de mesma função em uma oração: D) Conclusivas: ligam a oração anterior a uma oração
O concurso será realizado nas cidades de Campinas e que expressa ideia de conclusão ou consequência.
São Paulo. São elas: logo, pois (depois do verbo), portanto, por
A prova não será fácil, por isso estou estudando muito. conseguinte, por isso, assim.

22
Marta estava bem preparada para o teste, portanto
não ficou nervosa. #FicaDica
Você nos ajudou muito; terá, pois, nossa gratidão.
Você deve ter percebido que a conjunção
E) Explicativas: ligam a oração anterior a uma oração condicional “se” também é conjunção
que a explica, que justifica a ideia nela contida. São integrante. A diferença é clara ao ler as
elas: que, porque, pois (antes do verbo), porquanto. orações que são introduzidas por ela. Acima,
Não demore, que o filme já vai começar. ela nos dá a ideia da condição para que
Falei muito, pois não gosto do silêncio! recebamos um telefonema (se for preciso
ajuda). Já na oração: Não sei se farei o
Conjunções Subordinativas concurso. = Não há ideia de condição
alguma, há? Outra coisa: o verbo da oração
São aquelas que ligam duas orações, sendo uma principal (sei) pede complemento (objeto
delas dependente da outra. A oração dependente, direto, já que “quem não sabe, não sabe
introduzida pelas conjunções subordinativas, recebe o algo”). Portanto, a oração em destaque
nome de oração subordinada. Veja o exemplo: O baile já exerce a função de objeto direto da oração
tinha começado quando ela chegou. principal, sendo classificada como oração
O baile já tinha começado: oração principal subordinada substantiva objetiva direta.
quando: conjunção subordinativa (adverbial temporal)
ela chegou: oração subordinada
D) Conformativas: introduzem uma oração que
As conjunções subordinativas subdividem-se em exprime a conformidade de um fato com outro.
integrantes e adverbiais: São elas: conforme, como (= conforme), segundo,
consoante, etc.
Integrantes - Indicam que a oração subordinada O passeio ocorreu como havíamos planejado.
por elas introduzida completa ou integra o sentido
da principal. Introduzem orações que equivalem E) Finais: introduzem uma oração que expressa
a substantivos, ou seja, as orações subordinadas a finalidade ou o objetivo com que se realiza a
substantivas. São elas: que, se. oração principal. São elas: para que, a fim de que,
Quero que você volte. (Quero sua volta) que, porque (= para que), que, etc.
Toque o sinal para que todos entrem no salão.
Adverbiais - Indicam que a oração subordinada
exerce a função de adjunto adverbial da principal. De F) Proporcionais: introduzem uma oração que
acordo com a circunstância que expressam, classificam- expressa um fato relacionado proporcionalmente
se em: à ocorrência do expresso na principal. São elas: à
medida que, à proporção que, ao passo que e as
A) Causais: introduzem uma oração que é causa da combinações quanto mais... (mais), quanto menos...
ocorrência da oração principal. São elas: porque, (menos), quanto menos... (mais), quanto menos...
que, como (= porque, no início da frase), pois que, (menos), etc.
visto que, uma vez que, porquanto, já que, desde O preço fica mais caro à medida que os produtos
que, etc. escasseiam.
Ele não fez a pesquisa porque não dispunha de meios.
Observação:
B) Concessivas: introduzem uma oração que expressa São incorretas as locuções proporcionais à medida
ideia contrária à da principal, sem, no entanto, em que, na medida que e na medida em que.
impedir sua realização. São elas: embora, ainda
que, apesar de que, se bem que, mesmo que, por G) Temporais: introduzem uma oração que
mais que, posto que, conquanto, etc. acrescenta uma circunstância de tempo ao fato
Embora fosse tarde, fomos visitá-lo. expresso na oração principal. São elas: quando,
enquanto, antes que, depois que, logo que, todas as
C) Condicionais: introduzem uma oração que indica vezes que, desde que, sempre que, assim que, agora
a hipótese ou a condição para ocorrência da que, mal (= assim que), etc.
principal. São elas: se, caso, contanto que, salvo se, A briga começou assim que saímos da festa.
a não ser que, desde que, a menos que, sem que, etc.
LÍNGUA PORTUGUESA

Se precisar de minha ajuda, telefone-me. H) Comparativas: introduzem uma oração que


expressa ideia de comparação com referência à
oração principal. São elas: como, assim como, tal
como, como se, (tão)... como, tanto como, tanto
quanto, do que, quanto, tal, qual, tal qual, que nem,
que (combinado com menos ou mais), etc.
O jogo de hoje será mais difícil que o de ontem.

23
I) Consecutivas: introduzem uma oração que expressa Puxa! Hoje não foi meu dia de sorte!
a consequência da principal. São elas: de sorte que, puxa: interjeição; tom da fala: decepção
de modo que, sem que (= que não), de forma que, de
jeito que, que (tendo como antecedente na oração As interjeições cumprem, normalmente, duas funções:
principal uma palavra como tal, tão, cada, tanto, A) Sintetizar uma frase exclamativa, exprimindo
tamanho), etc. alegria, tristeza, dor, etc.: Ah, deve ser muito
Estudou tanto durante a noite que dormiu na hora do interessante!
exame. B) Sintetizar uma frase apelativa: Cuidado! Saia da
minha frente.
FIQUE ATENTO!
As interjeições podem ser formadas por:
Muitas conjunções não têm classificação • simples sons vocálicos: Oh!, Ah!, Ó, Ô
única, imutável, devendo, portanto, ser • palavras: Oba! Olá! Claro!
classificadas de acordo com o sentido que • grupos de palavras (locuções interjetivas): Meu
apresentam no contexto (destaque da Zê!). Deus! Ora bolas!

Classificação das Interjeições


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Comumente, as interjeições expressam sentido de:
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. A) Advertência: Cuidado! Devagar! Calma! Sentido!
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Atenção! Olha! Alerta!
Cochar - Português linguagens: volume 2 – 7.ª ed. Reform. B) Afugentamento: Fora! Passa! Rua!
– São Paulo: Saraiva, 2010. C) Alegria ou Satisfação: Oh! Ah! Eh! Oba! Viva!
AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras: D) Alívio: Arre! Uf! Ufa! Ah!
literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000.
E) Animação ou Estímulo: Vamos! Força! Coragem!
Ânimo! Adiante!
SITE
F) Aplauso ou Aprovação: Bravo! Bis! Apoiado! Viva!
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/
G) Concordância: Claro! Sim! Pois não! Tá!
secoes/morf/morf84.php>
H) Repulsa ou Desaprovação: Credo! Ih! Francamen-
te! Essa não! Chega! Basta!
5. INTERJEIÇÃO
I) Desejo ou Intenção: Pudera! Tomara! Oxalá! Quei-
ra Deus!
Interjeição é a palavra invariável que exprime
emoções, sensações, estados de espírito. É um recurso da J) Desculpa: Perdão!
linguagem afetiva, em que não há uma ideia organizada K) Dor ou Tristeza: Ai! Ui! Ai de mim! Que pena!
de maneira lógica, como são as sentenças da língua, mas L) Dúvida ou Incredulidade: Que nada! Qual o quê!
sim a manifestação de um suspiro, um estado da alma M) Espanto ou Admiração: Oh! Ah! Uai! Puxa! Céus!
decorrente de uma situação particular, um momento ou Quê! Caramba! Opa! Nossa! Hein? Cruz! Putz!
um contexto específico. Exemplos: N) Impaciência ou Contrariedade: Hum! Raios!
Ah, como eu queria voltar a ser criança! Puxa! Pô! Ora!
ah: expressão de um estado emotivo = interjeição O) Pedido de Auxílio: Socorro! Aqui! Piedade!
Hum! Esse pudim estava maravilhoso! P) Saudação, Chamamento ou Invocação: Salve!
hum: expressão de um pensamento súbito = Viva! Olá! Alô! Tchau! Psiu! Socorro! Valha-me,
interjeição Deus!
Q) Silêncio: Psiu! Silêncio!
O significado das interjeições está vinculado à maneira R) Terror ou Medo: Credo! Cruzes! Minha nossa!
como elas são proferidas. O tom da fala é que dita o
sentido que a expressão vai adquirir em cada contexto Saiba que:
em que for utilizada. Exemplos: As interjeições são palavras invariáveis, isto é, não
sofrem variação em gênero, número e grau como os
Psiu! nomes, nem de número, pessoa, tempo, modo, aspecto
contexto: alguém pronunciando esta expressão e voz como os verbos. No entanto, em uso específico,
na rua ; significado da interjeição (sugestão): “Estou te algumas interjeições sofrem variação em grau. Não se
chamando! Ei, espere!” trata de um processo natural desta classe de palavra, mas
tão só uma variação que a linguagem afetiva permite.
LÍNGUA PORTUGUESA

Psiu! Exemplos: oizinho, bravíssimo, até loguinho.


contexto: alguém pronunciando em um hospital;
significado da interjeição (sugestão): “Por favor, faça Locução Interjetiva
silêncio!”
Ocorre quando duas ou mais palavras formam uma
Puxa! Ganhei o maior prêmio do sorteio! expressão com sentido de interjeição: Ora bolas!, Virgem
puxa: interjeição; tom da fala: euforia Maria!, Meu Deus!, Ó de casa!, Ai de mim!, Graças a Deus!

24
Toda frase mais ou menos breve dita em tom B) Ordinais: indicam a ordem, a posição que alguém
exclamativo torna-se uma locução interjetiva, ou alguma coisa ocupa numa determinada sequ-
dispensando análise dos termos que a compõem: ência: primeiro, segundo, centésimo, etc.
Macacos me mordam!, Valha-me Deus!, Quem me dera!
1. As interjeições são como frases resumidas, sinté- As palavras anterior, posterior, último, antepenúltimo,
ticas. Por exemplo: Ué! (= Eu não esperava por final e penúltimo também indicam posição dos seres,
essa!) / Perdão! (= Peço-lhe que me desculpe) mas são classificadas como adjetivos, não ordinais.
2. Além do contexto, o que caracteriza a interjeição é
o seu tom exclamativo; por isso, palavras de outras C) Fracionários: indicam parte de uma quantidade,
classes gramaticais podem aparecer como inter- ou seja, uma divisão dos seres: meio, terço, dois
jeições. Por exemplo: Viva! Basta! (Verbos) / Fora! quintos, etc.
Francamente! (Advérbios) D) Multiplicativos: expressam ideia de multiplicação
dos seres, indicando quantas vezes a quantidade
3. A interjeição pode ser considerada uma “palavra-
foi aumentada: dobro, triplo, quíntuplo, etc.
-frase” porque sozinha pode constituir uma men-
sagem. Por exemplo: Socorro! Ajudem-me! Silêncio!
Flexão dos numerais
Fique quieto!
4. Há, também, as interjeições onomatopaicas ou imi- Os numerais cardinais que variam em gênero são um/
tativas, que exprimem ruídos e vozes. Por exemplo: uma, dois/duas e os que indicam centenas de duzentos/
Miau! Bumba! Zás! Plaft! Pof! Catapimba! Tique- duzentas em diante: trezentos/trezentas, quatrocentos/
-taque! Quá-quá-quá!, etc. quatrocentas, etc. Cardinais como milhão, bilhão, trilhão,
5. Não se deve confundir a interjeição de apelo «ó» variam em número: milhões, bilhões, trilhões. Os demais
com a sua homônima «oh!», que exprime admira- cardinais são invariáveis.
ção, alegria, tristeza, etc. Faz-se uma pausa depois
do «oh!» exclamativo e não a fazemos depois do Os numerais ordinais variam em gênero e número:
«ó» vocativo. Por exemplo: “Ó natureza! ó mãe pie-
dosa e pura!” (Olavo Bilac)
primeiro segundo milésimo
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS primeira segunda milésima
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa primeiros segundos milésimos
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. primeiras segundas milésimas
CAMPEDELLI, Samira Yousseff, SOUZA, Jésus Barbosa
- Português – Literatura, Produção de Textos & Gramática Os numerais multiplicativos são invariáveis quando
– volume único – 3.ª Ed. – São Paulo: Saraiva, 2002. atuam em funções substantivas: Fizeram o dobro do
esforço e conseguiram o triplo de produção.
SITE Quando atuam em funções adjetivas, esses numerais
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/ flexionam-se em gênero e número: Teve de tomar doses
secoes/morf/morf89.php> triplas do medicamento.
Os numerais fracionários flexionam-se em gênero e
6. NUMERAL número. Observe: um terço/dois terços, uma terça parte/
duas terças partes.
Numeral é a palavra variável que indica quantidade Os numerais coletivos flexionam-se em número: uma
numérica ou ordem; expressa a quantidade exata de dúzia, um milheiro, duas dúzias, dois milheiros.
pessoas ou coisas ou o lugar que elas ocupam numa É comum na linguagem coloquial a indicação de grau
determinada sequência. nos numerais, traduzindo afetividade ou especialização
Os numerais traduzem, em palavras, o que os números de sentido. É o que ocorre em frases como:
indicam em relação aos seres. Assim, quando a expressão “Me empresta duzentinho...”
é colocada em números (1, 1.º, 1/3, etc.) não se trata de É artigo de primeiríssima qualidade!
numerais, mas sim de algarismos. O time está arriscado por ter caído na segundona. (=
Além dos numerais mais conhecidos, já que refletem segunda divisão de futebol)
a ideia expressa pelos números, existem mais algumas
palavras consideradas numerais porque denotam Emprego e Leitura dos Numerais
quantidade, proporção ou ordenação. São alguns
Os numerais são escritos em conjunto de três
exemplos: década, dúzia, par, ambos(as), novena.
LÍNGUA PORTUGUESA

algarismos, contados da direita para a esquerda, em


forma de centenas, dezenas e unidades, tendo cada
Classificação dos Numerais
conjunto uma separação através de ponto ou espaço
correspondente a um ponto: 8.234.456 ou 8 234 456.
A) Cardinais: indicam quantidade exata ou determi-
Em sentido figurado, usa-se o numeral para indicar
nada de seres: um, dois, cem mil, etc. Alguns car-
exagero intencional, constituindo a figura de linguagem
dinais têm sentido coletivo, como por exemplo:
conhecida como hipérbole: Já li esse texto mil vezes.
século, par, dúzia, década, bimestre.

25
No português contemporâneo, não se usa a conjunção “e” após “mil”, seguido de centena: Nasci em mil novecentos
e noventa e dois.
Seu salário será de mil quinhentos e cinquenta reais.

Mas, se a centena começa por “zero” ou termina por dois zeros, usa-se o “e”: Seu salário será de mil e quinhentos
reais. (R$1.500,00)
Gastamos mil e quarenta reais. (R$1.040,00)

Para designar papas, reis, imperadores, séculos e partes em que se divide uma obra, utilizam-se os ordinais até
décimo e, a partir daí, os cardinais, desde que o numeral venha depois do substantivo;

Ordinais Cardinais
João Paulo II (segundo) Tomo XV (quinze)
D. Pedro II (segundo) Luís XVI (dezesseis)
Ato II (segundo) Capítulo XX (vinte)
Século VIII (oitavo) Século XX (vinte)
Canto IX (nono) João XXIII ( vinte e três)

Se o numeral aparece antes do substantivo, será lido como ordinal: XXX Feira do Bordado. (trigésima)

#FicaDica
Ordinal lembra ordem. Memorize assim, por
associação. Ficará mais fácil!

Para designar leis, decretos e portarias, utiliza-se o ordinal até nono e o cardinal de dez em diante:
Artigo 1.° (primeiro) Artigo 10 (dez)
Artigo 9.° (nono) Artigo 21 (vinte e um)

Ambos/ambas = numeral dual, porque sempre se refere a dois seres. Significam “um e outro”, “os dois” (ou “uma
e outra”, “as duas”) e são largamente empregados para retomar pares de seres aos quais já se fez referência. Sua
utilização exige a presença do artigo posposto: Ambos os concursos realizarão suas provas no mesmo dia. O artigo só é
dispensado caso haja um pronome demonstrativo: Ambos esses ministros falarão à imprensa.
LÍNGUA PORTUGUESA

26
Quadro de alguns numerais

Cardinais Ordinais Multiplicativos Fracionários


Um Primeiro -
Dois Segundo Dobro, Duplo Meio
Três Terceiro Triplo, Tríplice Terço
Quatro Quarto Quádruplo Quarto
Cinco Quinto Quíntuplo Quinto
Seis Sexto Sêxtuplo Sexto
Sete Sétimo Sétuplo Sétimo
Oito Oitavo Óctuplo Oitavo
Nove Nono Nônuplo Nono
Dez Décimo Décuplo Décimo
Onze Décimo Primeiro - Onze Avos
Doze Décimo Segundo - Doze Avos
Treze Décimo Terceiro - Treze Avos
Catorze Décimo Quarto - Catorze Avos
Quinze Décimo Quinto - Quinze Avos
Dezesseis Décimo Sexto - Dezesseis Avos
Dezessete Décimo Sétimo - Dezessete Avos
Dezoito Décimo Oitavo - Dezoito Avos
Dezenove Décimo Nono - Dezenove Avos
Vinte Vigésimo - Vinte Avos
Trinta Trigésimo - Trinta Avos
Quarenta Quadragésimo - Quarenta Avos
Cinqüenta Quinquagésimo - Cinquenta Avos
Sessenta Sexagésimo - Sessenta Avos
Setenta Septuagésimo - Setenta Avos
Oitenta Octogésimo - Oitenta Avos
Noventa Nonagésimo - Noventa Avos
Cem Centésimo Cêntuplo Centésimo
Duzentos Ducentésimo - Ducentésimo
Trezentos Trecentésimo - Trecentésimo
Quatrocentos Quadringentésimo - Quadringentésimo
Quinhentos Quingentésimo - Quingentésimo
Seiscentos Sexcentésimo - Sexcentésimo
Setecentos Septingentésimo Septingentésimo
Oitocentos Octingentésimo Octingentésimo
Nongentésimo ou
Novecentos Nongentésimo
Noningentésimo
Mil Milésimo Milésimo
LÍNGUA PORTUGUESA

Milhão Milionésimo Milionésimo


Milhão Bilionésimo Bilionésimo

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Cochar - Português linguagens: volume 2 – 7.ª ed. Reform. – São
Paulo: Saraiva, 2010.

27
AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras: Quando é preposição, além de ser invariável, liga dois
literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000. termos e estabelece relação de subordinação entre eles.
Irei à festa sozinha.
SITE Entregamos a flor à professora! = o primeiro “a” é
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/ artigo; o segundo, preposição.
secoes/morf/morf40.php>
Se for pronome pessoal oblíquo estará ocupando o
7. PREPOSIÇÃO lugar e/ou a função de um substantivo: Nós trouxemos a
apostila. = Nós a trouxemos.
Preposição é uma palavra invariável que serve para
ligar termos ou orações. Quando esta ligação acontece, Relações semânticas (= de sentido) estabelecidas
normalmente há uma subordinação do segundo termo por meio das preposições:
em relação ao primeiro. As preposições são muito
importantes na estrutura da língua, pois estabelecem Destino = Irei a Salvador.
a coesão textual e possuem valores semânticos Modo = Saiu aos prantos.
indispensáveis para a compreensão do texto. Lugar = Sempre a seu lado.
Assunto = Falemos sobre futebol.
Tipos de Preposição Tempo = Chegarei em instantes.
Causa = Chorei de saudade.
A) Preposições essenciais: palavras que atuam ex- Fim ou finalidade = Vim para ficar.
clusivamente como preposições: a, ante, perante, Instrumento = Escreveu a lápis.
após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, Posse = Vi as roupas da mamãe.
por, sem, sob, sobre, trás, atrás de, dentro de, para Autoria = livro de Machado de Assis
com. Companhia = Estarei com ele amanhã.
Matéria = copo de cristal.
B) Preposições acidentais: palavras de outras classes
Meio = passeio de barco.
gramaticais que podem atuar como preposições,
Origem = Nós somos do Nordeste.
ou seja, formadas por uma derivação imprópria:
Conteúdo = frascos de perfume.
como, durante, exceto, fora, mediante, salvo, segun-
Oposição = Esse movimento é contra o que eu penso.
do, senão, visto.
Preço = Essa roupa sai por cinquenta reais.
C) Locuções prepositivas: duas ou mais palavras va-
lendo como uma preposição, sendo que a última
Quanto à preposição “trás”: não se usa senão nas
palavra é uma (preposição): abaixo de, acerca de, locuções adverbiais (para trás ou por trás) e na locução
acima de, ao lado de, a respeito de, de acordo com, prepositiva por trás de.
em cima de, embaixo de, em frente a, ao redor de,
graças a, junto a, com, perto de, por causa de, por REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
cima de, por trás de. SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
A preposição é invariável, no entanto pode unir-se CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza
a outras palavras e, assim, estabelecer concordância em Cochar - Português linguagens: volume 2 – 7.ª ed. Reform.
gênero ou em número. Exemplo: por + o = pelo / por + – São Paulo: Saraiva, 2010.
a = pela. AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras:
Essa concordância não é característica da preposição, literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000.
mas das palavras às quais ela se une.
Esse processo de junção de uma preposição com SITE
outra palavra pode se dar a partir dos processos de: Disponível em: <http://www.infoescola.com/
• Combinação: união da preposição “a” com o artigo portugues/preposicao/>
“o”(s), ou com o advérbio “onde”: ao, aonde, aos.
Os vocábulos não sofrem alteração. 8. PRONOME
• Contração: união de uma preposição com outra pa-
lavra, ocorrendo perda ou transformação de fone- Pronome é a palavra variável que substitui ou
ma: de + o = do, em + a = na, per + os = pelos, de acompanha um substantivo (nome), qualificando-o de
+ aquele = daquele, em + isso = nisso. alguma forma.
• Crase: é a fusão de vogais idênticas: à (“a” preposi- O homem julga que é superior à natureza, por isso o
ção + “a” artigo), àquilo (“a” preposição + 1.ª vogal homem destrói a natureza...
do pronome “aquilo”). Utilizando pronomes, teremos: O homem julga que é
LÍNGUA PORTUGUESA

superior à natureza, por isso ele a destrói...


O “a” pode funcionar como preposição, pronome Ficou melhor, sem a repetição desnecessária de
pessoal oblíquo e artigo. Como distingui-los? Caso o “a” termos (homem e natureza).
seja um artigo, virá precedendo um substantivo, servindo
para determiná-lo como um substantivo singular e Grande parte dos pronomes não possuem significados
feminino: A matéria que estudei é fácil! fixos, isto é, essas palavras só adquirem significação
dentro de um contexto, o qual nos permite recuperar

28
a referência exata daquilo que está sendo colocado Esses pronomes não costumam ser usados como
por meio dos pronomes no ato da comunicação. Com complementos verbais na língua-padrão. Frases como
exceção dos pronomes interrogativos e indefinidos, os “Vi ele na rua”, “Encontrei ela na praça”, “Trouxeram eu
demais pronomes têm por função principal apontar para até aqui”- comuns na língua oral cotidiana - devem
as pessoas do discurso ou a elas se relacionar, indicando- ser evitadas na língua formal escrita ou falada. Na
lhes sua situação no tempo ou no espaço. Em virtude língua formal, devem ser usados os pronomes oblíquos
dessa característica, os pronomes apresentam uma forma correspondentes: “Vi-o na rua”, “Encontrei-a na praça”,
específica para cada pessoa do discurso. “Trouxeram-me até aqui”.
Minha carteira estava vazia quando eu fui assaltada.
[minha/eu: pronomes de 1.ª pessoa = aquele que fala] Frequentemente observamos a omissão do pronome
Tua carteira estava vazia quando tu foste assaltada? reto em Língua Portuguesa. Isso se dá porque as próprias
[tua/tu: pronomes de 2.ª pessoa = aquele a quem se formas verbais marcam, através de suas desinências, as
fala] pessoas do verbo indicadas pelo pronome reto: Fizemos
A carteira dela estava vazia quando ela foi assaltada. boa viagem. (Nós)
[dela/ela: pronomes de 3.ª pessoa = aquele de quem
se fala] B) Pronome Oblíquo
Pronome pessoal do caso oblíquo é aquele que, na
Em termos morfológicos, os pronomes são palavras sentença, exerce a função de complemento verbal
variáveis em gênero (masculino ou feminino) e em (objeto direto ou indireto): Ofertaram-nos flores.
número (singular ou plural). Assim, espera-se que a (objeto indireto)
referência através do pronome seja coerente em termos
de gênero e número (fenômeno da concordância) com Observação:
o seu objeto, mesmo quando este se apresenta ausente O pronome oblíquo é uma forma variante do
no enunciado. pronome pessoal do caso reto. Essa variação indica
Fala-se de Roberta. Ele quer participar do desfile da
a função diversa que eles desempenham na oração:
nossa escola neste ano.
pronome reto marca o sujeito da oração; pronome
[nossa: pronome que qualifica “escola” = concordância
oblíquo marca o complemento da oração. Os pronomes
adequada]
oblíquos sofrem variação de acordo com a acentuação
[neste: pronome que determina “ano” = concordância
tônica que possuem, podendo ser átonos ou tônicos.
adequada]
[ele: pronome que faz referência à “Roberta” =
B.1 Pronome Oblíquo Átono
concordância inadequada]
São chamados átonos os pronomes oblíquos que
Existem seis tipos de pronomes: pessoais, possessivos, não são precedidos de preposição. Possuem acentuação
demonstrativos, indefinidos, relativos e interrogativos. tônica fraca: Ele me deu um presente.
Lista dos pronomes oblíquos átonos
Pronomes Pessoais 1.ª pessoa do singular (eu): me
2.ª pessoa do singular (tu): te
São aqueles que substituem os substantivos, 3.ª pessoa do singular (ele, ela): o, a, lhe
indicando diretamente as pessoas do discurso. Quem fala 1.ª pessoa do plural (nós): nos
ou escreve assume os pronomes “eu” ou “nós”; usa-se os 2.ª pessoa do plural (vós): vos
pronomes “tu”, “vós”, “você” ou “vocês” para designar a 3.ª pessoa do plural (eles, elas): os, as, lhes
quem se dirige, e “ele”, “ela”, “eles” ou “elas” para fazer
referência à pessoa ou às pessoas de quem se fala.
Os pronomes pessoais variam de acordo com as FIQUE ATENTO!
funções que exercem nas orações, podendo ser do caso Os pronomes o, os, a, as assumem formas es-
reto ou do caso oblíquo. peciais depois de certas terminações verbais:

A) Pronome Reto 1. Quando o verbo termina em -z, -s ou -r,


Pronome pessoal do caso reto é aquele que, na o pronome assume a forma lo, los, la ou las,
sentença, exerce a função de sujeito: Nós lhe ofertamos ao mesmo tempo que a terminação verbal é
flores. suprimida. Por exemplo:
Os pronomes retos apresentam flexão de número, fiz + o = fi-lo
gênero (apenas na 3.ª pessoa) e pessoa, sendo essa fazeis + o = fazei-lo
última a principal flexão, uma vez que marca a pessoa do dizer + a = dizê-la
LÍNGUA PORTUGUESA

discurso. Dessa forma, o quadro dos pronomes retos é


assim configurado: 2. Quando o verbo termina em som nasal, o
1.ª pessoa do singular: eu pronome assume as formas no, nos, na, nas.
2.ª pessoa do singular: tu Por exemplo:
3.ª pessoa do singular: ele, ela viram + o: viram-no
1.ª pessoa do plural: nós repõe + os = repõe-nos
2.ª pessoa do plural: vós retém + a: retém-na
3.ª pessoa do plural: eles, elas tem + as = tem-nas

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B.2 Pronome Oblíquo Tônico B.3 Pronome Reflexivo
Os pronomes oblíquos tônicos são sempre São pronomes pessoais oblíquos que, embora
precedidos por preposições, em geral as preposições a, funcionem como objetos direto ou indireto, referem-
para, de e com. Por esse motivo, os pronomes tônicos se ao sujeito da oração. Indicam que o sujeito pratica e
exercem a função de objeto indireto da oração. Possuem recebe a ação expressa pelo verbo.
acentuação tônica forte.
Lista dos pronomes oblíquos tônicos: Lista dos pronomes reflexivos:
1.ª pessoa do singular (eu): mim, comigo 1.ª pessoa do singular (eu): me, mim = Eu não me
2.ª pessoa do singular (tu): ti, contigo lembro disso.
3.ª pessoa do singular (ele, ela): si, consigo, ele, ela 2.ª pessoa do singular (tu): te, ti = Conhece a ti mesmo.
1.ª pessoa do plural (nós): nós, conosco 3.ª pessoa do singular (ele, ela): se, si, consigo =
2.ª pessoa do plural (vós): vós, convosco Guilherme já se preparou.
3.ª pessoa do plural (eles, elas): si, consigo, eles, elas Ela deu a si um presente.
Antônio conversou consigo mesmo.
Observe que as únicas formas próprias do pronome
tônico são a primeira pessoa (mim) e segunda pessoa 1.ª pessoa do plural (nós): nos = Lavamo-nos no rio.
(ti). As demais repetem a forma do pronome pessoal do 2.ª pessoa do plural (vós): vos = Vós vos beneficiastes
caso reto. com esta conquista.
As preposições essenciais introduzem sempre 3.ª pessoa do plural (eles, elas): se, si, consigo = Eles se
pronomes pessoais do caso oblíquo e nunca pronome conheceram. / Elas deram a si um dia de folga.
do caso reto. Nos contextos interlocutivos que exigem o
uso da língua formal, os pronomes costumam ser usados
desta forma: #FicaDica
Não há mais nada entre mim e ti.
Não se comprovou qualquer ligação entre ti e ela. O pronome é reflexivo quando se refere
Não há nenhuma acusação contra mim. à mesma pessoa do pronome subjetivo
Não vá sem mim. (sujeito): Eu me arrumei e saí.
É pronome recíproco quando indica
Há construções em que a preposição, apesar de reciprocidade de ação: Nós nos amamos. /
surgir anteposta a um pronome, serve para introduzir Olhamo-nos calados.
uma oração cujo verbo está no infinitivo. Nesses casos, O “se” pode ser usado como palavra
o verbo pode ter sujeito expresso; se esse sujeito for um expletiva ou partícula de realce, sem ser
pronome, deverá ser do caso reto. rigorosamente necessária e sem função
Trouxeram vários vestidos para eu experimentar. sintática: Os exploradores riam-se de suas
Não vá sem eu mandar. tentativas. / Será que eles se foram?

A frase: “Foi fácil para mim resolver aquela questão!”


está correta, já que “para mim” é complemento de “fácil”. C) Pronomes de Tratamento
A ordem direta seria: Resolver aquela questão foi fácil São pronomes utilizados no tratamento formal,
para mim! cerimonioso. Apesar de indicarem nosso interlocutor
(portanto, a segunda pessoa), utilizam o verbo na
A combinação da preposição “com” e alguns terceira pessoa. Alguns exemplos:
pronomes originou as formas especiais comigo, contigo, Vossa Alteza (V. A.) = príncipes, duques
consigo, conosco e convosco. Tais pronomes oblíquos Vossa Eminência (V. E.ma) = cardeais
tônicos frequentemente exercem a função de adjunto Vossa Reverendíssima (V. Ver.ma) = sacerdotes e
adverbial de companhia: Ele carregava o documento religiosos em geral
consigo. Vossa Excelência (V. Ex.ª) = oficiais de patente superior
à de coronel, senadores, deputados, embaixadores,
A preposição “até” exige as formas oblíquas tônicas: professores de curso superior, ministros de Estado
Ela veio até mim, mas nada falou. e de Tribunais, governadores, secretários de Estado,
Mas, se “até” for palavra denotativa (com o sentido de presidente da República (sempre por extenso)
inclusão), usaremos as formas retas: Todos foram bem na Vossa Magnificência (V. Mag.ª) = reitores de
prova, até eu! (= inclusive eu) universidades
Vossa Majestade (V. M.) = reis, rainhas e imperadores
As formas “conosco” e “convosco” são substituídas Vossa Senhoria (V. S.a) = comerciantes em geral, oficiais
LÍNGUA PORTUGUESA

por “com nós” e “com vós” quando os pronomes pessoais até a patente de coronel, chefes de seção e funcionários
são reforçados por palavras como outros, mesmos, de igual categoria
próprios, todos, ambos ou algum numeral. Vossa Meretíssima (sempre por extenso) = para juízes
Você terá de viajar com nós todos. de direito
Estávamos com vós outros quando chegaram as más Vossa Santidade (sempre por extenso) = tratamento
notícias. cerimonioso
Ele disse que iria com nós três. Vossa Onipotência (sempre por extenso) = Deus

30
Também são pronomes de tratamento o senhor, Este caderno é meu. (meu = possuidor: 1.ª pessoa do
a senhora e você, vocês. “O senhor” e “a senhora” singular)
são empregados no tratamento cerimonioso; “você”
e “vocês”, no tratamento familiar. Você e vocês são Número Pessoa Pronome
largamente empregados no português do Brasil; em
algumas regiões, a forma tu é de uso frequente; em Singular Primeira Meu(s), minha(s)
outras, pouco empregada. Já a forma vós tem uso restrito Singular Segunda Teu(s), tua(s)
à linguagem litúrgica, ultraformal ou literária.
Singular Terceira Seu(s), sua(s)
Observações: Plural Primeira Nosso(s), nossa(s)
Plural Segunda Vosso(s), vossa(s)
1. Vossa Excelência X Sua Excelência: os pronomes de
Plural Terceira Seu(s), sua(s)
tratamento que possuem “Vossa(s)” são emprega-
dos em relação à pessoa com quem falamos: Es-
pero que V. Ex.ª, Senhor Ministro, compareça a este Note que:
encontro. A forma do possessivo depende da pessoa gramatical
a que se refere; o gênero e o número concordam com o
2. Emprega-se “Sua (s)” quando se fala a respeito objeto possuído: Ele trouxe seu apoio e sua contribuição
da pessoa: Todos os membros da C.P.I. afirmaram naquele momento difícil.
que Sua Excelência, o Senhor Presidente da Repúbli-
ca, agiu com propriedade. Observações:

3. Os pronomes de tratamento representam uma for- 1. A forma “seu” não é um possessivo quando resul-
ma indireta de nos dirigirmos aos nossos interlo- tar da alteração fonética da palavra senhor: Muito
cutores. Ao tratarmos um deputado por Vossa Ex- obrigado, seu José.
celência, por exemplo, estamos nos endereçando à
excelência que esse deputado supostamente tem 2. Os pronomes possessivos nem sempre indicam
para poder ocupar o cargo que ocupa. posse. Podem ter outros empregos, como:
A) indicar afetividade: Não faça isso, minha filha.
4. Embora os pronomes de tratamento dirijam-se à B) indicar cálculo aproximado: Ele já deve ter seus 40
2.ª pessoa, toda a concordância deve ser feita anos.
com a 3.ª pessoa. Assim, os verbos, os pronomes C) atribuir valor indefinido ao substantivo: Marisa tem
possessivos e os pronomes oblíquos empregados lá seus defeitos, mas eu gosto muito dela.
em relação a eles devem ficar na 3.ª pessoa.
Basta que V. Ex.ª cumpra a terça parte das 3. Em frases onde se usam pronomes de tratamento,
suas promessas, para que seus eleitores lhe fiquem o pronome possessivo fica na 3.ª pessoa: Vossa Ex-
reconhecidos. celência trouxe sua mensagem?

5. Uniformidade de Tratamento: quando escrevemos 4. Referindo-se a mais de um substantivo, o possessi-


ou nos dirigimos a alguém, não é permitido mudar, vo concorda com o mais próximo: Trouxe-me seus
ao longo do texto, a pessoa do tratamento esco- livros e anotações.
lhida inicialmente. Assim, por exemplo, se começa-
mos a chamar alguém de “você”, não poderemos 5. Em algumas construções, os pronomes pessoais
usar “te” ou “teu”. O uso correto exigirá, ainda, ver- oblíquos átonos assumem valor de possessivo: Vou
bo na terceira pessoa. seguir-lhe os passos. (= Vou seguir seus passos)

Quando você vier, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos 6. O adjetivo “respectivo” equivale a “devido, seu, pró-
teus cabelos. (errado) prio”, por isso não se deve usar “seus” ao utilizá-lo,
para que não ocorra redundância: Coloque tudo
Quando você vier, eu a abraçarei e enrolar-me-ei nos nos respectivos lugares.
seus cabelos. (correto) = terceira pessoa do singular
Pronomes Demonstrativos
ou
São utilizados para explicitar a posição de certa
palavra em relação a outras ou ao contexto. Essa relação
LÍNGUA PORTUGUESA

Quando tu vieres, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos


teus cabelos. (correto) = segunda pessoa do singular pode ser de espaço, de tempo ou em relação ao discurso.

Pronomes Possessivos A) Em relação ao espaço:


Este(s), esta(s) e isto = indicam o que está perto da
São palavras que, ao indicarem a pessoa gramatical pessoa que fala:
(possuidor), acrescentam a ela a ideia de posse de algo Este material é meu.
(coisa possuída).

31
Esse(s), essa(s) e isso = indicam o que está perto da • o(s), a(s): quando estiverem antecedendo o “que” e
pessoa com quem se fala: puderem ser substituídos por aquele(s), aquela(s),
Esse material em sua carteira é seu? aquilo.
Não ouvi o que disseste. (Não ouvi aquilo que disseste.)
Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam o que está Essa rua não é a que te indiquei. (não é aquela que te
distante tanto da pessoa que fala como da pessoa com indiquei.)
quem se fala:
Aquele material não é nosso. • mesmo(s), mesma(s), próprio(s), própria(s):
Vejam aquele prédio! variam em gênero quando têm caráter reforçativo:
Estas são as mesmas pessoas que o procuraram ontem.
B) Em relação ao tempo: Eu mesma refiz os exercícios.
Este(s), esta(s) e isto = indicam o tempo presente em Elas mesmas fizeram isso.
relação à pessoa que fala: Eles próprios cozinharam.
Esta manhã farei a prova do concurso! Os próprios alunos resolveram o problema.

Esse(s), essa(s) e isso = indicam o tempo passado, • semelhante(s): Não tenha semelhante atitude.
porém relativamente próximo à época em que se situa
a pessoa que fala: • tal, tais: Tal absurdo eu não cometeria.
Essa noite dormi mal; só pensava no concurso!
1. Em frases como: O referido deputado e o Dr. Alcides
Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam um eram amigos íntimos; aquele casado, solteiro este.
afastamento no tempo, referido de modo vago ou como (ou então: este solteiro, aquele casado) - este se re-
tempo remoto: fere à pessoa mencionada em último lugar; aquele,
Naquele tempo, os professores eram valorizados. à mencionada em primeiro lugar.
2. O pronome demonstrativo tal pode ter conotação
C) Em relação ao falado ou escrito (ou ao que se falará irônica: A menina foi a tal que ameaçou o professor?
ou escreverá): 3. Pode ocorrer a contração das preposições a, de,
Este(s), esta(s) e isto = empregados quando se quer em com pronome demonstrativo: àquele, àquela,
fazer referência a alguma coisa sobre a qual ainda se deste, desta, disso, nisso, no, etc: Não acreditei no
falará: que estava vendo. (no = naquilo)
Serão estes os conteúdos da prova: análise sintática,
ortografia, concordância. Pronomes Indefinidos

Esse(s), essa(s) e isso = utilizados quando se pretende São palavras que se referem à 3.ª pessoa do discurso,
fazer referência a alguma coisa sobre a qual já se falou: dando-lhe sentido vago (impreciso) ou expressando
Sua aprovação no concurso, isso é o que mais quantidade indeterminada.
desejamos! Alguém entrou no jardim e destruiu as mudas recém-
plantadas.
Este e aquele são empregados quando se quer fazer
referência a termos já mencionados; aquele se refere ao Não é difícil perceber que “alguém” indica uma pessoa
termo referido em primeiro lugar e este para o referido de quem se fala (uma terceira pessoa, portanto) de forma
por último: imprecisa, vaga. É uma palavra capaz de indicar um ser
humano que seguramente existe, mas cuja identidade é
Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São desconhecida ou não se quer revelar. Classificam-se em:
Paulo; este está mais bem colocado que aquele. (= este
[São Paulo], aquele [Palmeiras]) A) Pronomes Indefinidos Substantivos: assumem o
ou lugar do ser ou da quantidade aproximada de seres
na frase. São eles: algo, alguém, fulano, sicrano,
Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São beltrano, nada, ninguém, outrem, quem, tudo.
Paulo; aquele está mais bem colocado que este. (= este Algo o incomoda?
[São Paulo], aquele [Palmeiras]) Quem avisa amigo é.

Os pronomes demonstrativos podem ser variáveis ou B) Pronomes Indefinidos Adjetivos: qualificam um


invariáveis, observe: ser expresso na frase, conferindo-lhe a noção de
Variáveis: este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s), quantidade aproximada. São eles: cada, certo(s),
LÍNGUA PORTUGUESA

aquela(s). certa(s).
Invariáveis: isto, isso, aquilo. Cada povo tem seus costumes.
Certas pessoas exercem várias profissões.
Também aparecem como pronomes demonstrativos:
Note que:
Ora são pronomes indefinidos substantivos, ora
pronomes indefinidos adjetivos:

32
algum, alguns, alguma(s), bastante(s) (= muito, Note que:
muitos), demais, mais, menos, muito(s), muita(s), nenhum, O pronome “que” é o relativo de mais largo emprego,
nenhuns, nenhuma(s), outro(s), outra(s), pouco(s), pouca(s), sendo por isso chamado relativo universal. Pode ser
qualquer, quaisquer, qual, que, quanto(s), quanta(s), tal, substituído por o qual, a qual, os quais, as quais, quando
tais, tanto(s), tanta(s), todo(s), toda(s), um, uns, uma(s), seu antecedente for um substantivo.
vários, várias. O trabalho que eu fiz refere-se à corrupção. (= o qual)
Menos palavras e mais ações. A cantora que acabou de se apresentar é péssima. (=
Alguns se contentam pouco. a qual)
Os trabalhos que eu fiz referem-se à corrupção. (= os
Os pronomes indefinidos podem ser divididos em quais)
variáveis e invariáveis. Observe: As cantoras que se apresentaram eram péssimas. (=
• Variáveis = algum, nenhum, todo, muito, pouco, vá- as quais)
rio, tanto, outro, quanto, alguma, nenhuma, toda,
muita, pouca, vária, tanta, outra, quanta, qualquer, O qual, os quais, a qual e as quais são exclusivamente
quaisquer*, alguns, nenhuns, todos, muitos, poucos, pronomes relativos, por isso são utilizados didaticamente
vários, tantos, outros, quantos, algumas, nenhumas, para verificar se palavras como “que”, “quem”, “onde”
todas, muitas, poucas, várias, tantas, outras, quantas. (que podem ter várias classificações) são pronomes
• Invariáveis = alguém, ninguém, outrem, tudo, nada, relativos. Todos eles são usados com referência à
algo, cada. pessoa ou coisa por motivo de clareza ou depois de
determinadas preposições: Regressando de São Paulo,
*Qualquer é composto de qual + quer (do verbo visitei o sítio de minha tia, o qual me deixou encantado.
querer), por isso seu plural é quaisquer (única palavra O uso de “que”, neste caso, geraria ambiguidade. Veja:
cujo plural é feito em seu interior). Regressando de São Paulo, visitei o sítio de minha tia, que
me deixou encantado (quem me deixou encantado: o
sítio ou minha tia?).
Todo e toda no singular e junto de artigo significa
Essas são as conclusões sobre as quais pairam muitas
inteiro; sem artigo, equivale a qualquer ou a todas as:
dúvidas? (com preposições de duas ou mais sílabas
Toda a cidade está enfeitada. (= a cidade inteira)
utiliza-se o qual / a qual)
Toda cidade está enfeitada. (= todas as cidades)
O relativo “que” às vezes equivale a o que, coisa que,
Trabalho todo o dia. (= o dia inteiro)
e se refere a uma oração: Não chegou a ser padre, mas
Trabalho todo dia. (= todos os dias)
deixou de ser poeta, que era a sua vocação natural.
O pronome “cujo”: exprime posse; não concorda
São locuções pronominais indefinidas: cada qual, com o seu antecedente (o ser possuidor), mas com o
cada um, qualquer um, quantos quer (que), quem quer consequente (o ser possuído, com o qual concorda
(que), seja quem for, seja qual for, todo aquele (que), tal em gênero e número); não se usa artigo depois deste
qual (= certo), tal e qual, tal ou qual, um ou outro, uma pronome; “cujo” equivale a do qual, da qual, dos quais,
ou outra, etc. das quais.
Cada um escolheu o vinho desejado.
Existem pessoas cujas ações são nobres.
Pronomes Relativos (antecedente) (consequente)
São aqueles que representam nomes já mencionados
anteriormente e com os quais se relacionam. Introduzem Se o verbo exigir preposição, esta virá antes do
as orações subordinadas adjetivas. pronome: O autor, a cujo livro você se referiu, está aqui!
O racismo é um sistema que afirma a superioridade de (referiu-se a)
um grupo racial sobre outros.
(afirma a superioridade de um grupo racial sobre “Quanto” é pronome relativo quando tem por
outros = oração subordinada adjetiva). antecedente um pronome indefinido: tanto (ou variações)
e tudo:
O pronome relativo “que” refere-se à palavra “sistema”
e introduz uma oração subordinada. Diz-se que a palavra Emprestei tantos quantos foram necessários.
“sistema” é antecedente do pronome relativo que. (antecedente)
O antecedente do pronome relativo pode ser o
pronome demonstrativo o, a, os, as. Ele fez tudo quanto havia falado.
Não sei o que você está querendo dizer. (antecedente)
Às vezes, o antecedente do pronome relativo não vem
LÍNGUA PORTUGUESA

expresso. O pronome “quem” se refere a pessoas e vem sempre


Quem casa, quer casa. precedido de preposição.
É um professor a quem muito devemos.
Observe: (preposição)
Pronomes relativos variáveis = o qual, cujo, quanto, os
quais, cujos, quantos, a qual, cuja, quanta, as quais, cujas, “Onde”, como pronome relativo, sempre possui
quantas. antecedente e só pode ser utilizado na indicação de
Pronomes relativos invariáveis = quem, que, onde. lugar: A casa onde morava foi assaltada.

33
Na indicação de tempo, deve-se empregar quando REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ou em que: Sinto saudades da época em que (quando) SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
morávamos no exterior. Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza
Podem ser utilizadas como pronomes relativos as Cochar - Português linguagens: volume 2 – 7.ª ed. Reform.
palavras: – São Paulo: Saraiva, 2010.
AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras:
• como (= pelo qual) – desde que precedida das literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000.
palavras modo, maneira ou forma: CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura,
Não me parece correto o modo como você agiu semana Produção de Texto & Gramática – Volume único / Samira
passada. Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição –
São Paulo: Saraiva, 2002.
• quando (= em que) – desde que tenha como
antecedente um nome que dê ideia de tempo: SITE
Bons eram os tempos quando podíamos jogar Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/
videogame. secoes/morf/morf42.php>

Os pronomes relativos permitem reunir duas orações Colocação Pronominal


numa só frase.
O futebol é um esporte. / O povo gosta muito deste Colocação Pronominal trata da correta colocação dos
esporte. pronomes oblíquos átonos na frase.
= O futebol é um esporte de que o povo gosta muito.

Numa série de orações adjetivas coordenadas, pode #FicaDica


ocorrer a elipse do relativo “que”: A sala estava cheia de Pronome Oblíquo é aquele que exerce a
gente que conversava, (que) ria, observava. função de complemento verbal (objeto). Por
isso, memorize:
Pronomes Interrogativos OBlíquo = OBjeto!
São usados na formulação de perguntas, sejam
elas diretas ou indiretas. Assim como os pronomes
indefinidos, referem-se à 3.ª pessoa do discurso de modo
Embora na linguagem falada a colocação dos
impreciso. São pronomes interrogativos: que, quem, qual pronomes não seja rigorosamente seguida, algumas
(e variações), quanto (e variações). normas devem ser observadas na linguagem escrita.
Com quem andas?
Qual seu nome? Próclise = É a colocação pronominal antes do verbo.
Diz-me com quem andas, que te direi quem és. A próclise é usada:
O pronome pessoal é do caso reto quando tem • Quando o verbo estiver precedido de palavras que
função de sujeito na frase. O pronome pessoal é do caso atraem o pronome para antes do verbo. São elas:
oblíquo quando desempenha função de complemento. A) Palavras de sentido negativo: não, nunca, ninguém,
1. Eu não sei essa matéria, mas ele irá me ajudar. jamais, etc.: Não se desespere!
2. Maria foi embora para casa, pois não sabia se devia B) Advérbios: Agora se negam a depor.
lhe ajudar. C) Conjunções subordinativas: Espero que me expli-
quem tudo!
Na primeira oração os pronomes pessoais “eu” e “ele” D) Pronomes relativos: Venceu o concurseiro que se
exercem função de sujeito, logo, são pertencentes ao esforçou.
caso reto. Já na segunda oração, o pronome “lhe” exerce E) Pronomes indefinidos: Poucos te deram a oportu-
função de complemento (objeto), ou seja, caso oblíquo. nidade.
Os pronomes pessoais indicam as pessoas do discurso. F) Pronomes demonstrativos: Isso me magoa muito.
O pronome oblíquo “lhe”, da segunda oração, aponta
para a segunda pessoa do singular (tu/você): Maria não • Orações iniciadas por palavras interrogativas: Quem
sabia se devia ajudar... Ajudar quem? Você (lhe). lhe disse isso?
• Orações iniciadas por palavras exclamativas: Quanto
Os pronomes pessoais oblíquos podem ser átonos ou se ofendem!
tônicos: os primeiros não são precedidos de preposição, • Orações que exprimem desejo (orações optativas):
LÍNGUA PORTUGUESA

diferentemente dos segundos, que são sempre Que Deus o ajude.


precedidos de preposição. • A próclise é obrigatória quando se utiliza o prono-
A) Pronome oblíquo átono: Joana me perguntou o me reto ou sujeito expresso: Eu lhe entregarei o
que eu estava fazendo. material amanhã. / Tu sabes cantar?
B) Pronome oblíquo tônico: Joana perguntou para
mim o que eu estava fazendo. Mesóclise = É a colocação pronominal no meio do
verbo. A mesóclise é usada:

34
Quando o verbo estiver no futuro do presente ou • Em verbos terminados em ditongos nasais (am, em,
futuro do pretérito, contanto que esses verbos não ão, õe), os pronomes o, a, os, as alteram-se para
estejam precedidos de palavras que exijam a próclise. no, na, nos, nas.
Exemplos: Realizar-se-á, na próxima semana, um grande Chamem-no agora.
evento em prol da paz no mundo. Põe-na sobre a mesa.
Repare que o pronome está “no meio” do verbo
“realizará”: realizar – SE – á. Se houvesse na oração
alguma palavra que justificasse o uso da próclise, esta
#FicaDica
prevaleceria. Veja: Não se realizará...
Não fossem os meus compromissos, acompanhar-te-ia Próclise – pró lembra pré; pré é prefixo que
nessa viagem. significa “antes”! Pronome antes do verbo!
(com presença de palavra que justifique o uso de Ênclise – “en” lembra, pelo “som”, /Ənd/
próclise: Não fossem os meus compromissos, EU te (end, em Inglês – que significa “fim, final!).
acompanharia nessa viagem). Pronome depois do verbo!
Mesóclise – pronome oblíquo no Meio do
Ênclise = É a colocação pronominal depois do verbo. verbo
A ênclise é usada quando a próclise e a mesóclise não
forem possíveis:
• Quando o verbo estiver no imperativo afirmativo: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Quando eu avisar, silenciem-se todos. SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
• Quando o verbo estiver no infinitivo impessoal: Não Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
era minha intenção machucá-la. CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza
• Quando o verbo iniciar a oração. (até porque não se Cochar - Português linguagens: volume 3 – 7.ª ed. Reform.
inicia período com pronome oblíquo). – São Paulo: Saraiva, 2010.
Vou-me embora agora mesmo.
Levanto-me às 6h.
SITE
Disponível em: <http://www.portugues.com.br/
• Quando houver pausa antes do verbo: Se eu passo
gramatica/colocacao-pronominal-.html>
no concurso, mudo-me hoje mesmo!
• Quando o verbo estiver no gerúndio: Recusou a
9. SUBSTANTIVO
proposta fazendo-se de desentendida.
Substantivo é a classe gramatical de palavras
Colocação pronominal nas locuções verbais
variáveis, as quais denominam todos os seres que existem,
• Após verbo no particípio = pronome depois do sejam reais ou imaginários. Além de objetos, pessoas e
verbo auxiliar (e não depois do particípio): fenômenos, os substantivos também nomeiam:
Tenho me deliciado com a leitura! • lugares: Alemanha, Portugal
Eu tenho me deliciado com a leitura! • sentimentos: amor, saudade
Eu me tenho deliciado com a leitura! • estados: alegria, tristeza
• qualidades: honestidade, sinceridade
• Não convém usar hífen nos tempos compostos e • ações: corrida, pescaria
nas locuções verbais:
Vamos nos unir! Morfossintaxe do substantivo
Iremos nos manifestar.
Nas orações, geralmente o substantivo exerce funções
• Quando há um fator para próclise nos tempos diretamente relacionadas com o verbo: atua como núcleo
compostos ou locuções verbais: opção pelo uso do sujeito, dos complementos verbais (objeto direto
do pronome oblíquo “solto” entre os verbos = ou indireto) e do agente da passiva, podendo, ainda,
Não vamos nos preocupar (e não: “não nos vamos funcionar como núcleo do complemento nominal ou do
preocupar”). aposto, como núcleo do predicativo do sujeito, do objeto
ou como núcleo do vocativo. Também encontramos
Emprego de o, a, os, as substantivos como núcleos de adjuntos adnominais
e de adjuntos adverbiais - quando essas funções são
• Em verbos terminados em vogal ou ditongo oral, os desempenhadas por grupos de palavras.
LÍNGUA PORTUGUESA

pronomes: o, a, os, as não se alteram.


Chame-o agora. Classificação dos Substantivos
Deixei-a mais tranquila.
A) Substantivos Comuns e Próprios
• Em verbos terminados em r, s ou z, estas consoantes
finais alteram-se para lo, la, los, las. Exemplos: Observe a definição:
(Encontrar) Encontrá-lo é o meu maior sonho.
(Fiz) Fi-lo porque não tinha alternativa.

35
Cidade: s.f. 1. Povoação maior que vila, com muitas Substantivo coletivo Conjunto de:
casas e edifícios, dispostos em ruas e avenidas (no Brasil,
toda a sede de município é cidade). 2. O centro de uma assembleia pessoas reunidas
cidade (em oposição aos bairros). alcateia lobos
acervo livros
Qualquer “povoação maior que vila, com muitas
casas e edifícios, dispostos em ruas e avenidas” será trechos literários
antologia
chamada cidade. Isso significa que a palavra cidade é um selecionados
substantivo comum. arquipélago ilhas
Substantivo Comum é aquele que designa os seres de banda músicos
uma mesma espécie de forma genérica: cidade, menino, desordeiros ou
homem, mulher, país, cachorro. bando
malfeitores
Estamos voando para Barcelona.
banca examinadores
O substantivo Barcelona designa apenas um ser da batalhão soldados
espécie cidade. Barcelona é um substantivo próprio – cardume peixes
aquele que designa os seres de uma mesma espécie de
forma particular: Londres, Paulinho, Pedro, Tietê, Brasil. caravana viajantes peregrinos
cacho frutas
B) Substantivos Concretos e Abstratos cancioneiro canções, poesias líricas
B.1 Substantivo Concreto: é aquele que designa
o ser que existe, independentemente de outros colmeia abelhas
seres. concílio bispos
congresso parlamentares, cientistas
Observação:
Os substantivos concretos designam seres do mundo atores de uma peça ou
elenco
real e do mundo imaginário. filme
Seres do mundo real: homem, mulher, cadeira, cobra, esquadra navios de guerra
Brasília.
Seres do mundo imaginário: saci, mãe-d’água, enxoval roupas
fantasma. falange soldados, anjos
fauna animais de uma região
B.2 Substantivo Abstrato: é aquele que designa seres
que dependem de outros para se manifestarem ou feixe lenha, capim
existirem. Por exemplo: a beleza não existe por si flora vegetais de uma região
só, não pode ser observada. Só podemos observar
a beleza numa pessoa ou coisa que seja bela. A frota navios mercantes, ônibus
beleza depende de outro ser para se manifestar. girândola fogos de artifício
Portanto, a palavra beleza é um substantivo horda bandidos, invasores
abstrato.
Os substantivos abstratos designam estados, médicos, bois, credores,
junta
qualidades, ações e sentimentos dos seres, dos quais examinadores
podem ser abstraídos, e sem os quais não podem existir: júri jurados
vida (estado), rapidez (qualidade), viagem (ação), saudade
legião soldados, anjos, demônios
(sentimento).
leva presos, recrutas
• Substantivos Coletivos malfeitores ou
Ele vinha pela estrada e foi picado por uma abelha, malta
desordeiros
outra abelha, mais outra abelha.
Ele vinha pela estrada e foi picado por várias abelhas. manada búfalos, bois, elefantes,
Ele vinha pela estrada e foi picado por um enxame. matilha cães de raça
molho chaves, verduras
Note que, no primeiro caso, para indicar plural, foi
necessário repetir o substantivo: uma abelha, outra multidão pessoas em geral
abelha, mais outra abelha. No segundo caso, utilizaram-
LÍNGUA PORTUGUESA

insetos (gafanhotos,
se duas palavras no plural. No terceiro, empregou-se nuvem
mosquitos, etc.)
um substantivo no singular (enxame) para designar um
conjunto de seres da mesma espécie (abelhas). penca bananas, chaves
O substantivo enxame é um substantivo coletivo. pinacoteca pinturas, quadros
Substantivo Coletivo: é o substantivo comum que, quadrilha ladrões, bandidos
mesmo estando no singular, designa um conjunto de
seres da mesma espécie. ramalhete flores

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rebanho ovelhas O velho e o mar
Um Natal inesquecível
peças teatrais, obras Os reis da praia
repertório
musicais
réstia alhos ou cebolas Pertencem ao gênero feminino os substantivos que
romanceiro poesias narrativas podem vir precedidos dos artigos a, as, uma, umas:
A história sem fim
revoada pássaros Uma cidade sem passado
sínodo párocos As tartarugas ninjas
talha lenha
Substantivos Biformes e Substantivos Uniformes
tropa muares, soldados
turma estudantes, trabalhadores 1. Substantivos Biformes (= duas formas):
vara porcos apresentam uma forma para cada gênero: gato –
gata, homem – mulher, poeta – poetisa, prefeito -
Formação dos Substantivos prefeita
2. Substantivos Uniformes: apresentam uma única
A) Substantivos Simples e Compostos forma, que serve tanto para o masculino quanto
Chuva - subst. Fem. 1 - água caindo em gotas sobre a para o feminino. Classificam-se em:
terra.
O substantivo chuva é formado por um único A) Epicenos: referentes a animais. A distinção de sexo
elemento ou radical. É um substantivo simples. se faz mediante a utilização das palavras “macho”
e “fêmea”: a cobra macho e a cobra fêmea, o jacaré
A.1 Substantivo Simples: é aquele formado por um macho e o jacaré fêmea.
único elemento. B) Sobrecomuns: substantivos uniformes referentes
Outros substantivos simples: tempo, sol, sofá, etc. a pessoas de ambos os sexos: a criança, a teste-
Veja agora: O substantivo guarda-chuva é formado por munha, a vítima, o cônjuge, o gênio, o ídolo, o in-
dois elementos (guarda + chuva). Esse substantivo é divíduo.
composto. C) Comuns de Dois ou Comum de Dois Gêneros:
indicam o sexo das pessoas por meio do artigo: o
A.2 Substantivo Composto: é aquele formado por colega e a colega, o doente e a doente, o artista e
dois ou mais elementos. Outros exemplos: beija- a artista.
flor, passatempo.
Substantivos de origem grega terminados em ema
B) Substantivos Primitivos e Derivados ou oma são masculinos: o fonema, o poema, o sistema, o
B.1 Substantivo Primitivo: é aquele que não deriva sintoma, o teorema.
de nenhuma outra palavra da própria língua
portuguesa. O substantivo limoeiro, por exemplo, é • Existem certos substantivos que, variando de gênero,
derivado, pois se originou a partir da palavra limão. variam em seu significado:
B.2 Substantivo Derivado: é aquele que se origina o águia (vigarista) e a águia (ave; perspicaz); o cabeça
de outra palavra. (líder) e a cabeça (parte do corpo); o capital (dinheiro)
e a capital (cidade); o coma (sono mórbido) e a coma
Flexão dos substantivos (cabeleira, juba); o lente (professor) e a lente (vidro de
aumento); o moral (estado de espírito) e a moral (ética;
O substantivo é uma classe variável. A palavra é conclusão); o praça (soldado raso) e a praça (área pública);
variável quando sofre flexão (variação). A palavra menino, o rádio (aparelho receptor) e a rádio (estação emissora).
por exemplo, pode sofrer variações para indicar:
Plural: meninos / Feminino: menina / Aumentativo: Formação do Feminino dos Substantivos Biformes
meninão / Diminutivo: menininho
Regra geral: troca-se a terminação -o por –a: aluno
A) Flexão de Gênero - aluna.
Gênero é um princípio puramente linguístico, não • Substantivos terminados em -ês: acrescenta-se -a
devendo ser confundido com “sexo”. O gênero diz ao masculino: freguês - freguesa
respeito a todos os substantivos de nossa língua, quer se • Substantivos terminados em -ão: fazem o feminino
LÍNGUA PORTUGUESA

refiram a seres animais providos de sexo, quer designem de três formas:


apenas “coisas”: o gato/a gata; o banco, a casa. 1. troca-se -ão por -oa. = patrão – patroa
Na língua portuguesa, há dois gêneros: masculino e 2. troca-se -ão por -ã. = campeão - campeã
feminino. Pertencem ao gênero masculino os substantivos 3. troca-se -ão por ona. = solteirão - solteirona
que podem vir precedidos dos artigos o, os, um, uns. Veja
Exceções: barão – baronesa, ladrão - ladra, sultão -
estes títulos de filmes:
sultana

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• Substantivos terminados em -or: A palavra personagem é usada indistintamente
acrescenta-se -a ao masculino = doutor – doutora nos dois gêneros. Entre os escritores modernos nota-
troca-se -or por -triz: = imperador – imperatriz se acentuada preferência pelo masculino: O menino
descobriu nas nuvens os personagens dos contos de
• Substantivos com feminino em -esa, -essa, -isa: carochinha.
cônsul - consulesa / abade - abadessa / poeta Com referência à mulher, deve-se preferir o feminino:
- poetisa / duque - duquesa / conde - condessa / O problema está nas mulheres de mais idade, que não
profeta - profetisa aceitam a personagem.
• Substantivos que formam o feminino trocando o -e
final por -a: elefante - elefanta Diz-se: o (ou a) manequim Marcela, o (ou a) modelo
• Substantivos que têm radicais diferentes no fotográfico Ana Belmonte.
masculino e no feminino: bode – cabra / boi - vaca
• Substantivos que formam o feminino de maneira Masculinos: o tapa, o eclipse, o lança-perfume, o dó
especial, isto é, não seguem nenhuma das regras (pena), o sanduíche, o clarinete, o champanha, o sósia, o
anteriores: czar – czarina, réu - ré maracajá, o clã, o herpes, o pijama, o suéter, o soprano, o
proclama, o pernoite, o púbis.
Formação do Feminino dos Substantivos
Uniformes Femininos: a dinamite, a derme, a hélice, a omoplata,
a cataplasma, a pane, a mascote, a gênese, a entorse, a
Epicenos: libido, a cal, a faringe, a cólera (doença), a ubá (canoa).
Novo jacaré escapa de policiais no rio Pinheiros.
São geralmente masculinos os substantivos de origem
Não é possível saber o sexo do jacaré em questão. grega terminados em -ma: o grama (peso), o quilograma,
Isso ocorre porque o substantivo jacaré tem apenas uma o plasma, o apostema, o diagrama, o epigrama, o
forma para indicar o masculino e o feminino.
telefonema, o estratagema, o dilema, o teorema, o trema,
Alguns nomes de animais apresentam uma só forma
o eczema, o edema, o magma, o estigma, o axioma, o
para designar os dois sexos. Esses substantivos são
tracoma, o hematoma.
chamados de epicenos. No caso dos epicenos, quando
Exceções: a cataplasma, a celeuma, a fleuma, etc.
houver a necessidade de especificar o sexo, utilizam-se
palavras macho e fêmea.
Gênero dos Nomes de Cidades - Com raras exceções,
A cobra macho picou o marinheiro.
nomes de cidades são femininos: A histórica Ouro Preto. /
A cobra fêmea escondeu-se na bananeira.
A dinâmica São Paulo. / A acolhedora Porto Alegre. / Uma
Sobrecomuns: Londres imensa e triste.
Entregue as crianças à natureza. Exceções: o Rio de Janeiro, o Cairo, o Porto, o Havre.

A palavra crianças se refere tanto a seres do sexo Gênero e Significação


masculino, quanto a seres do sexo feminino. Nesse
caso, nem o artigo nem um possível adjetivo permitem Muitos substantivos têm uma significação no
identificar o sexo dos seres a que se refere a palavra. Veja: masculino e outra no feminino. Observe:
A criança chorona chamava-se João. o baliza (soldado que, que à frente da tropa, indica os
A criança chorona chamava-se Maria. movimentos que se deve realizar em conjunto; o que vai à
frente de um bloco carnavalesco, manejando um bastão),
Outros substantivos sobrecomuns: a baliza (marco, estaca; sinal que marca um limite ou
a criatura = João é uma boa criatura. Maria é uma proibição de trânsito), o cabeça (chefe), a cabeça (parte do
boa criatura. corpo), o cisma (separação religiosa, dissidência), a cisma
o cônjuge = O cônjuge de João faleceu. O cônjuge de (ato de cismar, desconfiança), o cinza (a cor cinzenta),
Marcela faleceu a cinza (resíduos de combustão), o capital (dinheiro),
a capital (cidade), o coma (perda dos sentidos), a coma
Comuns de Dois Gêneros: (cabeleira), o coral (pólipo, a cor vermelha, canto em coro),
Motorista tem acidente idêntico 23 anos depois. a coral (cobra venenosa), o crisma (óleo sagrado, usado
na administração da crisma e de outros sacramentos),
Quem sofreu o acidente: um homem ou uma mulher? a crisma (sacramento da confirmação), o cura (pároco),
É impossível saber apenas pelo título da notícia, uma a cura (ato de curar), o estepe (pneu sobressalente), a
vez que a palavra motorista é um substantivo uniforme. estepe (vasta planície de vegetação), o guia (pessoa que
LÍNGUA PORTUGUESA

A distinção de gênero pode ser feita através da guia outras), a guia (documento, pena grande das asas
análise do artigo ou adjetivo, quando acompanharem o das aves), o grama (unidade de peso), a grama (relva),
substantivo: o colega - a colega; o imigrante - a imigrante; o caixa (funcionário da caixa), a caixa (recipiente, setor
um jovem - uma jovem; artista famoso - artista famosa; de pagamentos), o lente (professor), a lente (vidro de
repórter francês - repórter francesa aumento), o moral (ânimo), a moral (honestidade, bons
costumes, ética), o nascente (lado onde nasce o Sol), a
nascente (a fonte), o maria-fumaça (trem como locomotiva

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a vapor), maria-fumaça (locomotiva movida a vapor), o Os substantivos terminados em “x” ficam invariáveis:
pala (poncho), a pala (parte anterior do boné ou quepe, o látex - os látex.
anteparo), o rádio (aparelho receptor), a rádio (emissora),
o voga (remador), a voga (moda). Plural dos Substantivos Compostos

B) Flexão de Número do Substantivo A formação do plural dos substantivos compostos


Em português, há dois números gramaticais: o depende da forma como são grafados, do tipo de
singular, que indica um ser ou um grupo de seres, e o palavras que formam o composto e da relação que
plural, que indica mais de um ser ou grupo de seres. A estabelecem entre si. Aqueles que são grafados sem
característica do plural é o “s” final. hífen comportam-se como os substantivos simples:
aguardente/aguardentes, girassol/girassóis, pontapé/
Plural dos Substantivos Simples pontapés, malmequer/malmequeres.
O plural dos substantivos compostos cujos elementos
Os substantivos terminados em vogal, ditongo oral e são ligados por hífen costuma provocar muitas dúvidas
“n” fazem o plural pelo acréscimo de “s”: pai – pais; ímã – e discussões. Algumas orientações são dadas a seguir:
ímãs; hífen - hifens (sem acento, no plural).
Exceção: cânon - cânones. A) Flexionam-se os dois elementos, quando
formados de:
Os substantivos terminados em “m” fazem o plural substantivo + substantivo = couve-flor e couves-flores
em “ns”: homem - homens. substantivo + adjetivo = amor-perfeito e amores-
Os substantivos terminados em “r” e “z” fazem o plural perfeitos
pelo acréscimo de “es”: revólver – revólveres; raiz - raízes. adjetivo + substantivo = gentil-homem e gentis-
homens
Atenção: numeral + substantivo = quinta-feira e quintas-feiras
O plural de caráter é caracteres.
B) Flexiona-se somente o segundo elemento,
Os substantivos terminados em al, el, ol, ul flexionam- quando formados de:
se no plural, trocando o “l” por “is”: quintal - quintais; verbo + substantivo = guarda-roupa e guarda-roupas
caracol – caracóis; hotel - hotéis. Exceções: mal e males, palavra invariável + palavra variável = alto-falante e
cônsul e cônsules. alto-falantes
Os substantivos terminados em “il” fazem o plural de palavras repetidas ou imitativas = reco-reco e reco-
duas maneiras: recos
1. Quando oxítonos, em “is”: canil - canis
2. Quando paroxítonos, em “eis”: míssil - mísseis. C) Flexiona-se somente o primeiro elemento,
quando formados de:
Observação: substantivo + preposição clara + substantivo = água-
A palavra réptil pode formar seu plural de duas de-colônia e águas-de-colônia
maneiras: répteis ou reptis (pouco usada). substantivo + preposição oculta + substantivo =
cavalo-vapor e cavalos-vapor
Os substantivos terminados em “s” fazem o plural de substantivo + substantivo que funciona como
duas maneiras: determinante do primeiro, ou seja, especifica a função ou
1. Quando monossilábicos ou oxítonos, mediante o o tipo do termo anterior: palavra-chave - palavras-chave,
acréscimo de “es”: ás – ases / retrós - retroses bomba-relógio - bombas-relógio, homem-rã - homens-rã,
2. Quando paroxítonos ou proparoxítonos, ficam peixe-espada - peixes-espada.
invariáveis: o lápis - os lápis / o ônibus - os ônibus.
D) Permanecem invariáveis, quando formados de:
Os substantivos terminados em “ão” fazem o plural verbo + advérbio = o bota-fora e os bota-fora
de três maneiras. verbo + substantivo no plural = o saca-rolhas e os
1. substituindo o -ão por -ões: ação - ações saca-rolhas
2. substituindo o -ão por -ães: cão - cães
3. substituindo o -ão por -ãos: grão - grãos Casos Especiais

Observação: o louva-a-deus e os louva-a-deus


Muitos substantivos terminados em “ão” apresentam
o bem-te-vi e os bem-te-vis
LÍNGUA PORTUGUESA

dois – e até três – plurais:


aldeão – aldeões/aldeães/aldeãos ancião – o bem-me-quer e os bem-me-queres
anciões/anciães/anciãos
o joão-ninguém e os joões-ninguém.
charlatão – charlatões/charlatães corrimão –
corrimãos/corrimões
guardião – guardiões/guardiães vilão – vilãos/
vilões/vilães

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Plural das Palavras Substantivadas Plural com Mudança de Timbre

As palavras substantivadas, isto é, palavras de outras Certos substantivos formam o plural com mudança
classes gramaticais usadas como substantivo, apresentam, de timbre da vogal tônica (o fechado / o aberto). É um
no plural, as flexões próprias dos substantivos. fato fonético chamado metafonia (plural metafônico).
Pese bem os prós e os contras.
O aluno errou na prova dos noves. Singular Plural
Ouça com a mesma serenidade os sins e os nãos.
Corpo (ô) Corpos (ó)
Observação: Esforço Esforços
Numerais substantivados terminados em “s” ou “z”
Fogo Fogos
não variam no plural: Nas provas mensais consegui muitos
seis e alguns dez. Forno Fornos
Fosso Fossos
Plural dos Diminutivos
Imposto Impostos
Flexiona-se o substantivo no plural, retira-se o “s” Olho Olhos
final e acrescenta-se o sufixo diminutivo. Osso (ô) Ossos (ó)
Ovo Ovos
pãe(s) + zinhos = pãezinhos
Poço Poços
animai(s) + zinhos = animaizinhos
Porto Portos
botõe(s) + zinhos = botõezinhos
Posto Postos
chapéu(s) + zinhos = chapeuzinhos
Tijolo Tijolos
farói(s) + zinhos = faroizinhos
tren(s) + zinhos = trenzinhos Têm a vogal tônica fechada (ô): adornos, almoços,
bolsos, esposos, estojos, globos, gostos, polvos, rolos, soros,
colhere(s) + zinhas = colherezinhas
etc.
flore(s) + zinhas = florezinhas
mão(s) + zinhas = mãozinhas Observação:
Distinga-se molho (ô) = caldo (molho de carne), de
papéi(s) + zinhos = papeizinhos
molho (ó) = feixe (molho de lenha).
nuven(s) + zinhas = nuvenzinhas
funi(s) + zinhos = funizinhos Há substantivos que só se usam no singular: o sul, o
norte, o leste, o oeste, a fé, etc.
túnei(s) + zinhos = tuneizinhos Outros só no plural: as núpcias, os víveres, os pêsames,
pai(s) + zinhos = paizinhos as espadas/os paus (naipes de baralho), as fezes.
pé(s) + zinhos = pezinhos Outros, enfim, têm, no plural, sentido diferente do
singular: bem (virtude) e bens (riquezas), honra (probidade,
pé(s) + zitos = pezitos bom nome) e honras (homenagem, títulos).
Usamos, às vezes, os substantivos no singular, mas
Plural dos Nomes Próprios Personativos com sentido de plural: Aqui morreu muito negro.
Celebraram o sacrifício divino muitas vezes em capelas
Devem-se pluralizar os nomes próprios de pessoas improvisadas.
sempre que a terminação preste-se à flexão.
Os Napoleões também são derrotados. C) Flexão de Grau do Substantivo
As Raquéis e Esteres. Grau é a propriedade que as palavras têm de exprimir
as variações de tamanho dos seres.
Plural dos Substantivos Estrangeiros
Classifica-se em:
Substantivos ainda não aportuguesados devem ser 1. Grau Normal - Indica um ser de tamanho
escritos como na língua original, acrescentando-se “s” considerado normal. Por exemplo: casa
(exceto quando terminam em “s” ou “z”): os shows, os 2. Grau Aumentativo - Indica o aumento do tamanho
shorts, os jazz.
LÍNGUA PORTUGUESA

do ser. Classifica-se em:


Substantivos já aportuguesados flexionam-se de Analítico = o substantivo é acompanhado de um
acordo com as regras de nossa língua: os clubes, os adjetivo que indica grandeza. Por exemplo: casa grande.
chopes, os jipes, os esportes, as toaletes, os bibelôs, os Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo
garçons, os réquiens. indicador de aumento. Por exemplo: casarão.
Observe o exemplo: Este jogador faz gols toda vez que
joga. 3. Grau Diminutivo - Indica a diminuição do tamanho
O plural correto seria gois (ô), mas não se usa. do ser. Pode ser:

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Analítico = substantivo acompanhado de um adjetivo
que indica pequenez. Por exemplo: casa pequena. FIQUE ATENTO!
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo O verbo pôr, assim como seus derivados
indicador de diminuição. Por exemplo: casinha. (compor, repor, depor), pertencem à 2.ª con-
jugação, pois a forma arcaica do verbo pôr
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS era poer. A vogal “e”, apesar de haver de-
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa saparecido do infinitivo, revela-se em algu-
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. mas formas do verbo: põe, pões, põem, etc.
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza
Cochar. Português linguagens: volume 1 – 7.ª ed. Reform.
– São Paulo: Saraiva, 2010. Formas Rizotônicas e Arrizotônicas
CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura,
Produção de Texto & Gramática – Volume único / Samira Ao combinarmos os conhecimentos sobre a estrutura
Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição – dos verbos com o conceito de acentuação tônica,
São Paulo: Saraiva, 2002. percebemos com facilidade que nas formas rizotônicas o
acento tônico cai no radical do verbo: opino, aprendam,
SITE amo, por exemplo. Nas formas arrizotônicas, o acento
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/ tônico não cai no radical, mas sim na terminação verbal
secoes/morf/morf12.php> (fora do radical): opinei, aprenderão, amaríamos.

10. VERBO Classificação dos Verbos

Verbo é a palavra que se flexiona em pessoa, número, Classificam-se em:


tempo e modo. A estes tipos de flexão verbal dá-se o
nome de conjugação (por isso também se diz que verbo A) Regulares: são aqueles que apresentam o radical
é a palavra que pode ser conjugada). Pode indicar, entre inalterado durante a conjugação e desinências
outros processos: ação (amarrar), estado (sou), fenômeno idênticas às de todos os verbos regulares da
(choverá); ocorrência (nascer); desejo (querer). mesma conjugação. Por exemplo: comparemos os
verbos “cantar” e “falar”, conjugados no presente
Estrutura das Formas Verbais do Modo Indicativo:

Do ponto de vista estrutural, o verbo pode apresentar Canto Falo


os seguintes elementos:
Cantas Falas
A) Radical: é a parte invariável, que expressa o Canta Falas
significado essencial do verbo. Por exemplo: fal-ei;
Cantamos Falamos
fal-ava; fal-am. (radical fal-)
Cantais Falais
B) Tema: é o radical seguido da vogal temática que
indica a conjugação a que pertence o verbo. Por #FicaDica
exemplo: fala-r. São três as conjugações:
1.ª - Vogal Temática - A - (falar), 2.ª - Vogal Temática Observe que, retirando os radicais, as desi-
- E - (vender), 3.ª - Vogal Temática - I - (partir). nências modo-temporal e número-pessoal
mantiveram-se idênticas. Tente fazer com ou-
C) Desinência modo-temporal: é o elemento que tro verbo e perceberá que se repetirá o fato
designa o tempo e o modo do verbo. Por exemplo: (desde que o verbo seja da primeira conjuga-
falávamos ( indica o pretérito imperfeito do indicativo) ção e regular!). Faça com o verbo “andar”, por
/ falasse ( indica o pretérito imperfeito do subjuntivo) exemplo. Substitua o radical “cant” e coloque
o “and” (radical do verbo andar). Viu? Fácil!
D) Desinência número-pessoal: é o elemento que
designa a pessoa do discurso (1.ª, 2.ª ou 3.ª) e o
número (singular ou plural): B) Irregulares: são aqueles cuja flexão provoca
falamos (indica a 1.ª pessoa do plural.) / falavam alterações no radical ou nas desinências: faço, fiz,
(indica a 3.ª pessoa do plural.) farei, fizesse.
LÍNGUA PORTUGUESA

Observação:
Alguns verbos sofrem alteração no radical apenas
para que seja mantida a sonoridade. É o caso de: corrigir/
corrijo, fingir/finjo, tocar/toquei, por exemplo. Tais
alterações não caracterizam irregularidade, porque o
fonema permanece inalterado.

41
C) Defectivos: são aqueles que não apresentam Principais verbos unipessoais:
conjugação completa. Os principais são adequar,
precaver, computar, reaver, abolir, falir. • Cumprir, importar, convir, doer, aprazer, parecer,
D) Impessoais: são os verbos que não têm sujeito ser (preciso, necessário):
e, normalmente, são usados na terceira pessoa do Cumpre estudarmos bastante. (Sujeito: estudarmos
singular. Os principais verbos impessoais são: bastante)
Parece que vai chover. (Sujeito: que vai chover)
1. Haver, quando sinônimo de existir, acontecer, É preciso que chova. (Sujeito: que chova)
realizar-se ou fazer (em orações temporais).
Havia muitos candidatos no dia da prova. (Havia = • Fazer e ir, em orações que dão ideia de tempo,
Existiam) seguidos da conjunção que.
Houve duas guerras mundiais. (Houve = Aconteceram) Faz dez anos que viajei à Europa. (Sujeito: que viajei
Haverá debates hoje. (Haverá = Realizar-se-ão) à Europa)
Viajei a Madri há muitos anos. (há = faz) Vai para (ou Vai em ou Vai por) dez anos que não a
vejo. (Sujeito: que não a vejo)
2. Fazer, ser e estar (quando indicam tempo)
Faz invernos rigorosos na Europa. F) Abundantes: são aqueles que possuem duas ou
Era primavera quando o conheci. mais formas equivalentes, geralmente no particípio,
Estava frio naquele dia. em que, além das formas regulares terminadas em
-ado ou -ido, surgem as chamadas formas curtas
3. Todos os verbos que indicam fenômenos da natu- (particípio irregular).
reza são impessoais: chover, ventar, nevar, gear, tro- O particípio regular (terminado em “–do”) é utilizado
vejar, amanhecer, escurecer, etc. Quando, porém, na voz ativa, ou seja, com os verbos ter e haver; o irregular
se constrói, “Amanheci cansado”, usa-se o verbo é empregado na voz passiva, ou seja, com os verbos ser,
“amanhecer” em sentido figurado. Qualquer verbo
ficar e estar. Observe:
impessoal, empregado em sentido figurado, dei-
xa de ser impessoal para ser pessoal, ou seja, terá
conjugação completa. Particípio Particípio
Infinitivo
Amanheci cansado. (Sujeito desinencial: eu) Regular Irregular
Choveram candidatos ao cargo. (Sujeito: candidatos) Aceitar Aceitado Aceito
Fiz quinze anos ontem. (Sujeito desinencial: eu)
Acender Acendido Aceso
4. O verbo passar (seguido de preposição), indicando Anexar Anexado Anexo
tempo: Já passa das seis. Benzer Benzido Bento
5. Os verbos bastar e chegar, seguidos da preposição Corrigir Corrigido Correto
“de”, indicando suficiência: Dispersar Dispersado Disperso
Basta de tolices.
Eleger Elegido Eleito
Chega de promessas.
Envolver Envolvido Envolto
6. Os verbos estar e ficar em orações como “Está bem, Imprimir Imprimido Impresso
Está muito bem assim, Não fica bem, Fica mal”, sem
referência a sujeito expresso anteriormente (por Inserir Inserido Inserto
exemplo: “ele está mal”). Podemos, nesse caso, Limpar Limpado Limpo
classificar o sujeito como hipotético, tornando-se,
Matar Matado Morto
tais verbos, pessoais.
Misturar Misturado Misto
7. O verbo dar + para da língua popular, equivalente Morrer Morrido Morto
de “ser possível”. Por exemplo:
Não deu para chegar mais cedo. Murchar Murchado Murcho
Dá para me arrumar uma apostila? Pegar Pegado Pego
Romper Rompido Roto
E) Unipessoais: são aqueles que, tendo sujeito,
conjugam-se apenas nas terceiras pessoas, do Soltar Soltado Solto
singular e do plural. São unipessoais os verbos Suspender Suspendido Suspenso
constar, convir, ser (= preciso, necessário) e todos os
LÍNGUA PORTUGUESA

Tingir Tingido Tinto


que indicam vozes de animais (cacarejar, cricrilar,
miar, latir, piar). Vagar Vagado Vago

Os verbos unipessoais podem ser usados como Estes verbos e seus derivados possuem, apenas, o
verbos pessoais na linguagem figurada: particípio irregular: abrir/aberto, cobrir/coberto, dizer/
Teu irmão amadureceu bastante. dito, escrever/escrito, pôr/posto, ver/visto, vir/vindo.
O que é que aquela garota está cacarejando?

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G) Anômalos: são aqueles que incluem mais de um radical em sua conjugação. Existem apenas dois: ser (sou, sois,
fui) e ir (fui, ia, vades).

H) Auxiliares: São aqueles que entram na formação dos tempos compostos e das locuções verbais. O verbo
principal (aquele que exprime a ideia fundamental, mais importante), quando acompanhado de verbo auxiliar, é
expresso numa das formas nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio.

Vou espantar todos!


(verbo auxiliar) (verbo principal no infinitivo)

Está chegando a hora!


(verbo auxiliar) (verbo principal no gerúndio)

Observação:
Os verbos auxiliares mais usados são: ser, estar, ter e haver.

Conjugação dos Verbos Auxiliares

SER - Modo Indicativo

Pret. mais-que- Fut. do


Presente Pret. Perfeito Pret. Imp. Fut.do Pres.
perf. Pretérito
Sou Fui Era Fora Serei Seria
És Foste Eras Foras Serás Serias
É Foi Era Fora Será Seria
Somos Fomos Éramos Fôramos Seremos Seríamos
Sois Fostes Éreis Fôreis Sereis Seríeis
São Foram Eram Foram Serão Seriam

SER - Modo Subjuntivo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro


que eu seja se eu fosse quando eu for
que tu sejas se tu fosses quando tu fores
que ele seja se ele fosse quando ele for
que nós sejamos se nós fôssemos quando nós formos
que vós sejais se vós fôsseis quando vós fordes
que eles sejam se eles fossem quando eles forem

SER - Modo Imperativo

Afirmativo Negativo
sê tu não sejas tu
seja você não seja você
sejamos nós não sejamos nós
sede vós não sejais vós
sejam vocês não sejam vocês
LÍNGUA PORTUGUESA

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SER - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


ser ser eu sendo sido
seres tu
ser ele
sermos nós
serdes vós
serem eles

ESTAR - Modo Indicativo



Presente Pret. perf. Pret. Imp. Pret.mais-q-perf. Fut.doPres Fut.do Preté
estou estive estava estivera estarei estaria
estás estiveste estavas estiveras estarás estarias
está esteve estava estivera estará estaria
estamos estivemos estávamos estivéramos estaremos estaríamos
estais estivestes estáveis estivéreis estareis estaríeis
estão estiveram estavam estiveram estarão estariam

ESTAR Modo Subjuntivo – Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


esteja estivesse estiver
estejas estivesses estiveres está estejas
esteja estivesse estiver esteja esteja
estejamos estivéssemos estivermos estejamos estejamos
estejais estivésseis estiverdes estai estejais
estejam estivessem estiverem estejam estejam

ESTAR - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


estar estar estando estado
estares
estar
estarmos
estardes
estarem

HAVER - Modo Indicativo

Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Pret.Mais-Q-Perf. Fut.do Pres. Fut.doPreté.


hei houve havia houvera haverei haveria
LÍNGUA PORTUGUESA

hás houveste havias houveras haverás haverias


há houve havia houvera haverá haveria
havemos houvemos havíamos houvéramos haveremos haveríamos
haveis houvestes havíeis houvéreis havereis haveríeis
hão houveram haviam houveram haverão haveriam

44
HAVER - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


ja houvesse houver
hajas houvesses houveres há hajas
haja houvesse houver haja haja
hajamos houvéssemos houvermos hajamos hajamos
hajais houvésseis houverdes havei hajais
hajam houvessem houverem hajam hajam

HAVER - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


haver haver havendo havido
haveres
haver
havermos
haverdes
haverem

TER - Modo Indicativo

Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Pret.Mais-Q-Perf. Fut.do Pres. Fut.doPreté.


tenho tive tinha tivera terei teria
tens tiveste tinhas tiveras terás terias
tem teve tinha tivera terá teria
temos tivemos tínhamos tivéramos teremos teríamos
tendes tivestes tínheis tivéreis tereis teríeis
têm tiveram tinham tiveram terão teriam

TER - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


tenha tivesse tiver
tenhas tivesses tiveres tem tenhas
tenha tivesse tiver tenha tenha
tenhamos tivéssemos tivermos tenhamos tenhamos
tenhais tivésseis tiverdes tende tenhais
tenham tivessem tiverem tenham tenham

I) Pronominais: São aqueles verbos que se conjugam com os pronomes oblíquos átonos me, te, se, nos, vos, se, na
mesma pessoa do sujeito, expressando reflexibilidade (pronominais acidentais) ou apenas reforçando a ideia já
implícita no próprio sentido do verbo (pronominais essenciais). Veja:
LÍNGUA PORTUGUESA

• Essenciais: são aqueles que sempre se conjugam com os pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos, se. São poucos:
abster-se, ater-se, apiedar-se, atrever-se, dignar-se, arrepender-se, etc. Nos verbos pronominais essenciais a
reflexibilidade já está implícita no radical do verbo. Por exemplo: Arrependi-me de ter estado lá.
A ideia é de que a pessoa representada pelo sujeito (eu) tem um sentimento (arrependimento) que recai sobre ela
mesma, pois não recebe ação transitiva nenhuma vinda do verbo; o pronome oblíquo átono é apenas uma partícula
integrante do verbo, já que, pelo uso, sempre é conjugada com o verbo. Diz-se que o pronome apenas serve de
reforço da ideia reflexiva expressa pelo radical do próprio verbo. Veja uma conjugação pronominal essencial (verbo e
respectivos pronomes):

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Eu me arrependo, Tu te arrependes, Ele se arrepende, A.2 Infinitivo Pessoal: é o infinitivo relacionado às
Nós nos arrependemos, Vós vos arrependeis, Eles se três pessoas do discurso. Na 1.ª e 3.ª pessoas do
arrependem singular, não apresenta desinências, assumindo a
mesma forma do impessoal; nas demais, flexiona-
• Acidentais: são aqueles verbos transitivos diretos se da seguinte maneira:
em que a ação exercida pelo sujeito recai sobre 2.ª pessoa do singular: Radical + ES = teres (tu)
o objeto representado por pronome oblíquo da 1.ª pessoa do plural: Radical + MOS = termos (nós)
mesma pessoa do sujeito; assim, o sujeito faz uma 2.ª pessoa do plural: Radical + DES = terdes (vós)
ação que recai sobre ele mesmo. Em geral, os ver- 3.ª pessoa do plural: Radical + EM = terem (eles)
bos transitivos diretos ou transitivos diretos e in- Foste elogiado por teres alcançado uma boa colocação.
diretos podem ser conjugados com os pronomes
mencionados, formando o que se chama voz re- B) Gerúndio: o gerúndio pode funcionar como
flexiva. Por exemplo: A garota se penteava. adjetivo ou advérbio. Por exemplo:
A reflexibilidade é acidental, pois a ação reflexiva Saindo de casa, encontrei alguns amigos. (função de
pode ser exercida também sobre outra pessoa: A garota advérbio)
penteou-me. Água fervendo, pele ardendo. (função de adjetivo)

Por fazerem parte integrante do verbo, os pronomes Na forma simples (1), o gerúndio expressa uma ação
oblíquos átonos dos verbos pronominais não possuem em curso; na forma composta (2), uma ação concluída:
função sintática. Trabalhando (1), aprenderás o valor do dinheiro.
Há verbos que também são acompanhados Tendo trabalhado (2), aprendeu o valor do dinheiro.
de pronomes oblíquos átonos, mas que não são
essencialmente pronominais - são os verbos reflexivos. Quando o gerúndio é vício de linguagem
Nos verbos reflexivos, os pronomes, apesar de se (gerundismo), ou seja, uso exagerado e inadequado do
encontrarem na pessoa idêntica à do sujeito, exercem gerúndio:
funções sintáticas. Por exemplo: 1. Enquanto você vai ao mercado, vou estar jogando
Eu me feri. = Eu (sujeito) – 1.ª pessoa do singular; me futebol.
(objeto direto) – 1.ª pessoa do singular 2. – Sim, senhora! Vou estar verificando!

Modos Verbais Em 1, a locução “vou estar” + gerúndio é adequada,


pois transmite a ideia de uma ação que ocorre no
Dá-se o nome de modo às várias formas assumidas momento da outra; em 2, essa ideia não ocorre, já que
pelo verbo na expressão de um fato certo, real, verdadeiro. a locução verbal “vou estar verificando” refere-se a um
Existem três modos: futuro em andamento, exigindo, no caso, a construção
A) Indicativo - indica uma certeza, uma realidade: Eu “verificarei” ou “vou verificar”.
estudo para o concurso.
B) Subjuntivo - indica uma dúvida, uma possibilida- C) Particípio: quando não é empregado na formação
de: Talvez eu estude amanhã. dos tempos compostos, o particípio indica,
C) Imperativo - indica uma ordem, um pedido: Estu- geralmente, o resultado de uma ação terminada,
de, colega! flexionando-se em gênero, número e grau. Por
exemplo: Terminados os exames, os candidatos
Formas Nominais saíram.
Quando o particípio exprime somente estado, sem
Além desses três modos, o verbo apresenta ainda nenhuma relação temporal, assume verdadeiramente a
formas que podem exercer funções de nomes (substantivo, função de adjetivo. Por exemplo: Ela é a aluna escolhida
adjetivo, advérbio), sendo por isso denominadas formas pela turma.
nominais. Observe:

A) Infinitivo
A.1 Impessoal: exprime a significação do verbo de
modo vago e indefinido, podendo ter valor e
função de substantivo. Por exemplo:
Viver é lutar. (= vida é luta)
É indispensável combater a corrupção. (= combate à)
(Ziraldo)
LÍNGUA PORTUGUESA

O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presente


(forma simples) ou no passado (forma composta). Por Tempos Verbais
exemplo:
É preciso ler este livro. Tomando-se como referência o momento em que
Era preciso ter lido este livro. se fala, a ação expressa pelo verbo pode ocorrer em
diversos tempos.

46
A) Tempos do Modo Indicativo
Presente - Expressa um fato atual: Eu estudo neste colégio.
Pretérito Imperfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual, mas que não foi completamente
terminado: Ele estudava as lições quando foi interrompido.
Pretérito Perfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual e que foi totalmente terminado:
Ele estudou as lições ontem à noite.
Pretérito-mais-que-perfeito - Expressa um fato ocorrido antes de outro fato já terminado: Ele já estudara as lições
quando os amigos chegaram. (forma simples).
Futuro do Presente - Enuncia um fato que deve ocorrer num tempo vindouro com relação ao momento atual: Ele
estudará as lições amanhã.
Futuro do Pretérito - Enuncia um fato que pode ocorrer posteriormente a um determinado fato passado: Se ele
pudesse, estudaria um pouco mais.

B) Tempos do Modo Subjuntivo


Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer no momento atual: É conveniente que estudes para o exame.
Pretérito Imperfeito - Expressa um fato passado, mas posterior a outro já ocorrido: Eu esperava que ele vencesse
o jogo.
Futuro do Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer num momento futuro em relação ao atual: Quando ele vier
à loja, levará as encomendas.

FIQUE ATENTO!
Há casos em que formas verbais de um determinado tempo podem ser utilizadas para indicar outro.
Em 1500, Pedro Álvares Cabral descobre o Brasil.
descobre = forma do presente indicando passado ( = descobrira/descobriu)
No próximo final de semana, faço a prova!
faço = forma do presente indicando futuro ( = farei)

Tabelas das Conjugações Verbais

Modo Indicativo

Presente do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal


CANTAR VENDER PARTIR
cantO vendO partO O
cantaS vendeS parteS S
canta vende parte -
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaIS vendeIS partIS IS
cantaM vendeM parteM M

Pretérito Perfeito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal


CANTAR VENDER PARTIR
canteI vendI partI I
cantaSTE vendeSTE partISTE STE
LÍNGUA PORTUGUESA

cantoU vendeU partiU U


cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaSTES vendeSTES partISTES STES
cantaRAM vendeRAM partiRAM RAM

47
Pretérito mais-que-perfeito

3.ª conjugação
1.ª conjugação 2.ª conjugação Des. temporal Desinência pessoal
1.ª/2.ª e 3.ª conj
CANTAR VENDER PARTIR
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantaRAS vendeRAS partiRAS RA S
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantáRAMOS vendêRAMOS partíRAMOS RA MOS
cantáREIS vendêREIS partíREIS RE IS
cantaRAM vendeRAM partiRAM RA M

Pretérito Imperfeito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantAVA vendIA partIA
cantAVAS vendIAS partAS
CantAVA vendIA partIA
cantÁVAMOS vendÍAMOS partÍAMOS
cantÁVEIS vendÍEIS partÍEIS
cantAVAM vendIAM partIAM

Futuro do Presente do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar ei vender ei partir ei
cantar ás vender ás partir ás
cantar á vender á partir á
cantar emos vender emos partir emos
cantar eis vender eis partir eis
cantar ão vender ão partir ão

Futuro do Pretérito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantarIA venderIA partirIA
cantarIAS venderIAS partirIAS
cantarIA venderIA partirIA
cantarÍAMOS venderÍAMOS partirÍAMOS
LÍNGUA PORTUGUESA

cantarÍEIS venderÍEIS partirÍEIS


cantarIAM venderIAM partirIAM

48
Presente do Subjuntivo

Para se formar o presente do subjuntivo, substitui-se a desinência -o da primeira pessoa do singular do presente do
indicativo pela desinência -E (nos verbos de 1.ª conjugação) ou pela desinência -A (nos verbos de 2.ª e 3.ª conjugação).

Desinên. Pessoal Des. tem


1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des.temporal
1.ª conj. 2.ª/3.ª conj.poral
CANTAR VENDER PARTIR
cantE vendA partA E A Ø
cantES vendAS partAS E A S
cantE vendA partA E A Ø
cantEMOS vendAMOS partAMOS E A MOS
cantEIS vendAIS partAIS E A IS
cantEM vendAM partAM E A M

Pretérito Imperfeito do Subjuntivo

Para formar o imperfeito do subjuntivo, elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito,
obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -SSE mais a desinência de
número e pessoa correspondente.

Des.temporal
1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantaSSES vendeSSES partiSSES SSE S
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantáSSEMOS vendêSSEMOS partíSSEMOS SSE MOS
cantáSSEIS vendêSSEIS partíSSEIS SSE IS
cantaSSEM vendeSSEM partiSSEM SSE M

Futuro do Subjuntivo

Para formar o futuro do subjuntivo elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito,
obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -R mais a desinência de
número e pessoa correspondente.

Des.temporal
1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaR vendeR partiR Ø
cantaRES vendeRES partiRES R ES
cantaR vendeR partiR R Ø
cantaRMOS vendeRMOS partiRMOS R MOS
cantaRDES vendeRDES partiRDES R DES
cantaREM vendeREM partiREM R EM
LÍNGUA PORTUGUESA

49
C) Modo Imperativo Elas parece gostarem de você. (verbo com sujeito
oracional, correspondendo à construção: parece gostarem
Imperativo Afirmativo de você).

Para se formar o imperativo afirmativo, toma-se do • O verbo pegar possui dois particípios (regular e
presente do indicativo a 2.ª pessoa do singular (tu) e a irregular):
segunda pessoa do plural (vós) eliminando-se o “S” final. Elvis tinha pegado minhas apostilas.
As demais pessoas vêm, sem alteração, do presente do Minhas apostilas foram pegas.
subjuntivo. Veja:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Presente do Imperativo Presente do SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Indicativo Afirmativo Subjuntivo Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza
Eu canto - Que eu cante Cochar - Português linguagens: volume 2. – 7.ª ed. Reform.
Tu cantas CantA tu Que tu cantes – São Paulo: Saraiva, 2010.
Ele canta Cante você Que ele cante AMARAL, Emília... [et al.] - Português: novas palavras:
literatura, gramática, redação. – São Paulo: FTD, 2000.
Nós cantamos Cantemos nós Que nós cantemos
Vós cantais CantAI vós Que vós canteis SITE
Disponível em: http://www.soportugues.com.br/
Eles cantam Cantem vocês Que eles cantem
secoes/morf/morf54.php
Imperativo Negativo
Vozes do Verbo
Para se formar o imperativo negativo, basta antecipar
Dá-se o nome de voz à maneira como se apresenta a
a negação às formas do presente do subjuntivo.
ação expressa pelo verbo em relação ao sujeito, indicando
se este é paciente ou agente da ação. Importante lembrar
Presente do Subjuntivo Imperativo Negativo que voz verbal não é flexão, mas aspecto verbal. São três
Que eu cante - as vozes verbais:
Que tu cantes Não cantes tu A) Ativa = quando o sujeito é agente, isto é, pratica a
Que ele cante Não cante você ação expressa pelo verbo:
Ele fez o trabalho.
Que nós cantemos Não cantemos nós sujeito agente ação objeto (paciente)
Que vós canteis Não canteis vós
Que eles cantem Não cantem eles B) Passiva = quando o sujeito é paciente, recebendo
a ação expressa pelo verbo:
• No modo imperativo não faz sentido usar na 3.ª O trabalho foi feito por ele.
pessoa (singular e plural) as formas ele/eles, pois sujeito paciente ação agente da passiva
uma ordem, pedido ou conselho só se aplicam
diretamente à pessoa com quem se fala. Por essa C) Reflexiva = quando o sujeito é, ao mesmo tempo,
razão, utiliza-se você/vocês. agente e paciente, isto é, pratica e recebe a ação:
• O verbo SER, no imperativo, faz excepcionalmente: O menino feriu-se.
sê (tu), sede (vós).

Infinitivo Pessoal #FicaDica


Não confundir o emprego reflexivo do verbo
1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação com a noção de reciprocidade:
CANTAR VENDER PARTIR Os lutadores feriram-se. (um ao outro)
cantar vender partir Nós nos amamos. (um ama o outro)

cantarES venderES partirES


cantar vender partir Formação da Voz Passiva
LÍNGUA PORTUGUESA

cantarMOS venderMOS partirMOS


A voz passiva pode ser formada por dois processos:
cantarDES venderDES partirDES analítico e sintético.
cantarEM venderEM partirEM
A) Voz Passiva Analítica = Constrói-se da seguinte
• O verbo parecer admite duas construções: maneira:
Elas parecem gostar de você. (forma uma locução Verbo SER + particípio do verbo principal. Por
verbal) exemplo:

50
A escola será pintada pelos alunos. (na ativa teríamos: Observe que o objeto direto será o sujeito da passiva;
os alunos pintarão a escola) o sujeito da ativa passará a agente da passiva, e o verbo
O trabalho é feito por ele. (na ativa: ele faz o trabalho) ativo assumirá a forma passiva, conservando o mesmo
tempo.
Observações: Os mestres têm constantemente aconselhado os
alunos.
• O agente da passiva geralmente é acompanhado Os alunos têm sido constantemente aconselhados
da preposição por, mas pode ocorrer a construção pelos mestres.
com a preposição de. Por exemplo: A casa ficou cer- Eu o acompanharei.
cada de soldados. Ele será acompanhado por mim.

• Pode acontecer de o agente da passiva não estar Quando o sujeito da voz ativa for indeterminado, não
explícito na frase: A exposição será aberta amanhã. haverá complemento agente na passiva. Por exemplo:
Prejudicaram-me. / Fui prejudicado.
• A variação temporal é indicada pelo verbo auxi- Com os verbos neutros (nascer, viver, morrer, dormir,
liar (SER), pois o particípio é invariável. Observe a acordar, sonhar, etc.) não há voz ativa, passiva ou reflexiva,
transformação das frases seguintes: porque o sujeito não pode ser visto como agente,
paciente ou agente paciente.
Ele fez o trabalho. (pretérito perfeito do Indicativo)
O trabalho foi feito por ele. (verbo ser no pretérito REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
perfeito do Indicativo, assim como o verbo principal da SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
voz ativa) Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co-
Ele faz o trabalho. (presente do indicativo) char - Português linguagens: volume 2. – 7.ª ed. Reform.
O trabalho é feito por ele. (ser no presente do – São Paulo: Saraiva, 2010.
indicativo) AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras:
literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000.
Ele fará o trabalho. (futuro do presente)
O trabalho será feito por ele. (futuro do presente) SITE
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/
• Nas frases com locuções verbais, o verbo SER as- secoes/morf/morf54.php>
sume o mesmo tempo e modo do verbo principal
da voz ativa. Observe a transformação da frase se-
guinte:
O vento ia levando as folhas. (gerúndio) EXERCÍCIOS COMENTADOS
As folhas iam sendo levadas pelo vento. (gerúndio)
1. (LIQUIGÁS – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO –
B) Voz Passiva Sintética = A voz passiva sintética - CESGRANRIO-2018)
ou pronominal - constrói-se com o verbo na 3.ª
pessoa, seguido do pronome apassivador “se”. Por O ano da esperança
exemplo:
Abriram-se as inscrições para o concurso. O ano de 2017 foi difícil. Avalio pelo número de amigos
Destruiu-se o velho prédio da escola. desempregados. E pedidos de empréstimos. Um atrás
do outro. Nunca fui de botar dinheiro nas relações
Observação: de amizade. Como afirmou Shakespeare, perde-se o
O agente não costuma vir expresso na voz passiva dinheiro e o amigo. Nos primeiros pedidos, eu ajudava,
sintética. com a consciência de que era uma doação. A situação
foi piorando. Os argumentos também. No início era para
Conversão da Voz Ativa na Voz Passiva pagar a escola do filho. Depois vieram as mães e avós
doentes. Lamentavelmente, aprendi a não ser generoso.
Pode-se mudar a voz ativa na passiva sem alterar Ajudava um rapaz, que não conheço pessoalmente.
substancialmente o sentido da frase. Mas que sofreu um acidente e não tinha como pagar a
fisioterapia. Comecei pagando a físio. Vieram sucessivas
O concurseiro comprou a apostila. (Voz Ativa) internações, remédios. A situação piorando, eu já estava
LÍNGUA PORTUGUESA

Sujeito da Ativa objeto Direto encomendando missa de sétimo dia. Falei com um amigo
médico, no Rio de Janeiro. Ele aceitou tratar o caso
A apostila foi comprada pelo concurseiro. gratuitamente. Surpresa! O doente não aparecia para
(Voz Passiva) a consulta. Até que o coloquei contra a parede. Ou se
Sujeito da Passiva Agente da Passiva consultava ou eu não ajudava mais.
Cheio de saúde, ele foi ao consultório. Pediu uma receita
de suplementos para ficar com o corpo atlético. Nunca
conheci o sujeito, repito. Eu me senti um idiota por ter

51
caído na história. Só que esse rapaz havia perdido o e) Uma vultosa multa é, muitas vezes, o estímulo mais
emprego após o suposto acidente. Foi por isso que me eficaz para que adote-se a conduta correta em relação
deixei enganar. Mas, ao perder salário, muita gente perde à reputação das celebridades.
também a vergonha. Pior ainda. A violência aumenta. As
pessoas buscam vagas nos mercados em expansão. Se a Resposta: Letra C
indústria automobilística vai bem, é lá que vão trabalhar. Em “a”: Os jornais noticiaram que alguns países
Podemos esperar por um futuro melhor ou o que nos mobilizam-se = se mobilizam
aguarda é mais descrédito? Novos candidatos vão surgir. Em “b”: Para criar leis eficientes no combate aos
Serão novos? Ou os antigos? Ou novos com cabeça boatos, sempre deve-se = sempre se deve
de velhos? Todos pedem que a gente tenha uma nova Em “c”: Entre os numerosos usuários da internet,
consciência para votar. Como? Num mundo em que as constata-se um sentimento = correta
notícias são plantadas pela internet, em que muitos sites Em “d”: Uma nova lei contra as fake news promulgada
servem a qualquer mentira. Digo por mim. Já contaram na Alemanha não aplica-se = não se aplica
cada história a meu respeito que nem sei o que dizer. Em “e”: Uma vultosa multa é, muitas vezes, o estímulo
Já inventaram casos de amor, tramas nas novelas que mais eficaz para que adote-se = que se adote
escrevo. Pior. Depois todo mundo me pergunta por
que isso ou aquilo não aconteceu na novela. Se mudei 3. (ALERJ-RJ – ESPECIALISTA LEGISLATIVO –
a trama. Respondo: — Nunca foi para acontecer. Era ARQUITETURA – FGV-2017-ADAPTADA) Se
mentira da internet. substituíssemos os complementos dos verbos abaixo por
Duvidam. Acham que estou mentindo. pronomes pessoais oblíquos enclíticos, a única forma
CARRASCO, W. O ano da esperança. Época, 25 dez. 2017, p.97. INADEQUADA seria:
Adaptado.
a) impregna a vida cotidiana / impregna-a;
No trecho “perde-se o dinheiro e o amigo”, a colocação b) entender os debates / entendê-los;
do pronome átono em destaque está de acordo com a c) ganha destaque / ganha-o;
norma-padrão da língua portuguesa. O mesmo ocorre em: d) supõe um conhecimento / supõe-lo;
e) marcaram sua história / marcaram-na.
a) Não se perde nem o dinheiro nem o amigo.
b) Perderia-se o dinheiro e o amigo. Resposta: Letra D
c) O dinheiro e o amigo tinham perdido-se. Em “a”: impregna a vida cotidiana / impregna-a =
d) Se perdeu o dinheiro, mas não o amigo. correta
e) Se o amigo que perdeu-se voltasse, ficaria feliz. Em “b”: entender os debates / entendê-los = correta
Em “c”: ganha destaque / ganha-o = correta
Resposta: Letra A Em “d”: supõe um conhecimento / supõe-lo = supõe-no
Em “a”: Não se perde = correta (advérbio atrai o Em “e”: marcaram sua história / marcaram-na = correta
pronome = próclise)
Em “b”: Perderia-se = verbo no futuro do pretérito: 4. (PC-SP - ATENDENTE DE NECROTÉRIO POLICIAL –
perder-se-ia (mesóclise) VUNESP-2014) Considerando-se o uso do pronome e
Em “c”: O dinheiro e o amigo tinham perdido-se = a colocação pronominal, a expressão em destaque no
tinham se perdido trecho – ... que cercam o sentido da existência humana...
Em “d”: Se perdeu = não se inicia período com – está corretamente substituída pelo pronome, de
pronome oblíquo/partícula apassivadora (Perdeu-se) acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, na
Em “e”: Se o amigo que perdeu-se = o “que” atrai o alternativa:
pronome (próclise): que se perdeu
a) ... que cercam-lo...
2. (PETROBRAS – ADMINISTRADOR JÚNIOR – b) ... que cercam-no...
CESGRANRIO-2018) Segundo as exigências da norma- c)... que o cercam...
padrão da língua portuguesa, o pronome destacado foi d) ... que lhe cercam...
utilizado na posição correta em: e) ... que cercam-lhe...

a) Os jornais noticiaram que alguns países mobilizam-se Resposta: Letra C


para combater a disseminação de notícias falsas nas Correções à frente:
redes sociais. Em “a”: que cercam-lo = o “que” atrai o pronome (que
b) Para criar leis eficientes no combate aos boatos, sem- o cercam)
pre deve-se ter em mente que o problema de divulga- Em “b”: que cercam-no = que o cercam (“no” está
LÍNGUA PORTUGUESA

ção de notícias falsas é grave e muito atual. correta – caso não tivéssemos o “que”, pois, devido a
c) Entre os numerosos usuários da internet, constata-se sua presença, teremos próclise, não ênclise)
um sentimento generalizado de reprovação à prática Em “c”: que o cercam = correta
de divulgação de inverdades. Em “d”: que lhe cercam = a posição está correta, mas
d) Uma nova lei contra as fake news promulgada na Ale- o pronome está errado (“lhe” é para objeto indireto =
manha não aplica-se aos sites e redes sociais com me- a ele/ela)
nos de 2 milhões de membros. Em “e”: que cercam-lhe = que o cercam

52
5. (PC-SP - ESCRIVÃO DE POLÍCIA – VUNESP-2014) 8. (TRT 23.ª REGIÃO-MT - ANALISTA JUDICIÁRIO -
Considerando apenas as regras de regência e de colocação ÁREA ADMINISTRATIVA- FCC-2016)
pronominal da norma-padrão da língua portuguesa, a ... para quem Manoel de Barros era comparável a São
expressão destacada em – Ainda assim, 60% afirmam que Francisco de Assis...
raramente ou nunca têm informações sobre o impacto
ambiental do produto ou do comportamento da empresa. O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo que o da
– pode ser corretamente substituída por frase acima está em:
a) Dizia-se um “vedor de cinema”...
a) ... nunca informam-se sob o impacto... b) Porque não seria certo ficar pregando moscas no es-
b)... nunca se informam o impacto... paço...
c) ... nunca informam-se ao impacto... c) Na juventude, apaixonou-se por Arthur Rimbaud e
d) ... nunca se informam do impacto... Charles Baudelaire.
e)... nunca informam-se no impacto... d) Quase meio século separa a estreia de Manoel de Bar-
ros na literatura...
Resposta: Letra D e) ... para depois casá-las...
Por eliminação: o advérbio “nunca” atrai o pronome,
teremos próclise (nunca se). Ficamos com B e D. Agora Resposta: Letra A
vamos ao verbo: quem se informa, informa-se sobre “Era” = verbo “ser” no pretérito imperfeito do
algo = precisa de preposição. A alternativa que tem Indicativo. Procuremos nos itens:
preposição presente é a D (do = de+o). Teremos: Em “a”, Dizia-se = pretérito imperfeito do Indicativo
nunca se informam do impacto. Em “b”, Porque não seria = futuro do pretérito do
Indicativo
6. (PC-SP - ATENDENTE DE NECROTÉRIO POLICIAL Em “c”, Na juventude, apaixonou-se = pretérito perfeito
– VUNESP-2013) Considerando a substituição da do Indicativo
expressão em destaque por um pronome e as normas da Em “d”, Quase meio século separa = presente do
colocação pronominal, a oração – … que abrem a cabeça Indicativo
… – equivale, na norma-padrão da língua, a: Em “e”, para depois casá-las = Infinitivo pessoal (casar
a) que abrem-a. elas)
b) que abrem-na.
c) que a abrem. 9. (TRT 20.ª REGIÃO-SE - TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC-
d) que lhe abrem. 2016)
e) que abrem-lhe. Precisamos de um treinador que nos ajude a comer...
O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo que o
Resposta: Letra C sublinhado acima está também sublinhado em:
Primeiramente: o “que” atrai o pronome oblíquo,
então teremos que + pronome. Resta-nos identificar a) ... assim que conseguissem se virar sem as mães ou as
se o pronome é objeto direto (a) ou indireto (lhe). amas...
Voltemos ao verbo: abrir. Quem abre, abre algo... abre b) Não é por acaso que proliferaram os coaches.
o quê? Sem preposição! Portanto: objeto direto = que c) ... país que transformou a infância numa bilionária in-
a abrem. dústria de consumo...
d) E, mesmo que se esforcem muito...
7. (TST - ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA APOIO e) Hoje há algo novo nesse cenário.
ESPECIALIZADO - ESPECIALIDADE MEDICINA DO
TRABALHO – FCC/2012) Aos poucos, contudo, fui Resposta: Letra D
chegando à constatação de que todo perfil de rede que nos ajude = presente do Subjuntivo
social é um retrato ideal de nós mesmos. Em “a”, que conseguissem = pretérito do Subjuntivo
Mantendo-se a correção e a lógica, sem que outra Em “b”, que proliferaram = pretérito perfeito (e
alteração seja feita na frase, o elemento grifado pode ser também mais-que-perfeito) do Indicativo
substituído por: Em “c”, que transformou = pretérito perfeito do
Indicativo
a) ademais. Em “d”, que se esforcem = presente do Subjuntivo
b) conquanto. Em “e”, há algo novo nesse cenário = presente do
c) porquanto. Indicativo
d) entretanto.
LÍNGUA PORTUGUESA

e) apesar. 10. (TRT 23.ª REGIÃO-MT - Técnico Judiciário – FCC-


2016) Empregam-se todas as formas verbais de acordo
Resposta: Letra D com a norma culta na seguinte frase:
Contudo é uma conjunção adversativa (expressa
oposição). A substituição deve utilizar outra de mesma a) Para que se mantesse sua autenticidade, o documento
classificação, para que se mantenha a ideia do período. não poderia receber qualquer tipo de retificação.
A correta é entretanto. b) Os documentos com assinatura digital disporam de
algoritmos de criptografia que os protegeram.

53
c) Arquivados eletronicamente, os documentos poderam 12. (PC-SP - ATENDENTE DE NECROTÉRIO POLICIAL –
contar com a proteção de uma assinatura digital. VUNESP-2014) Assinale a alternativa em que a palavra
d) Quem se propor a alterar um documento criptografado em destaque na frase pertence à classe dos adjetivos
deve saber que comprometerá sua integridade. (palavra que qualifica um substantivo).
e) Não é possível fazer as alterações que convierem sem
comprometer a integridade dos documentos. a) Existe grande confusão entre os diversos tipos de
eutanásia...
Resposta: Letra E b)... o médico ou alguém causa ativamente a morte...
Em “a”, Para que se mantesse (mantivesse) sua c) prolonga o processo de morrer procurando distanciar
autenticidade, o documento não poderia receber a morte.
qualquer tipo de retificação. d) Ela é proibida por lei no Brasil,...
Em “b”, Os documentos com assinatura digital e) E como seria a verdadeira boa morte?
disporam (dispuseram) de algoritmos de criptografia
que os protegeram. Resposta: Letra E
Em “c”, Arquivados eletronicamente, os documentos Em “a”, Existe grande confusão = substantivo
poderam (puderam) contar com a proteção de uma Em “b”, o médico ou alguém causa ativamente a
assinatura digital. morte = pronome
Em “d”, Quem se propor (propuser) a alterar Em “c”, prolonga o processo de morrer procurando
um documento criptografado deve saber que distanciar a morte = substantivo
comprometerá sua integridade. Em “d”, Ela é proibida por lei no Brasil = substantivo
Em “e”, Não é possível fazer as alterações que Em “e”, E como seria a verdadeira boa morte? =
convierem sem comprometer a integridade dos adjetivo
documentos = correta
13. (PROCESSO SELETIVO INTERNO DA SECRETARIA
11. (POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO - DE DEFESA SOCIAL DO ESTADO DE PERNAMBUCO-PE
SOLDADO PM 2.ª CLASSE – VUNESP/2017) Considere – SARGENTO DA POLÍCIA MILITAR - FM-2010)
as seguintes frases:
Primeiro, associe suas memórias com objetos físicos.
Segundo, não memorize apenas por repetição.
Terceiro, rabisque!

Um verbo flexionado no mesmo modo que o dos verbos


empregados nessas frases está em destaque em:

a) ... o acesso rápido e a quantidade de textos fazem


com que o cérebro humano não considere útil gravar
esses dados...
b) Na internet, basta um clique para vasculhar um sem-
-número de informações.
c) ... após discar e fazer a ligação, não precisamos mais
dele...
d) Pense rápido: qual o número de telefone da casa em
que morou quando era criança?
e) É o que mostra também uma pesquisa recente con- Disponível em: http://www.acharge.com.br/index.htm (acesso:
duzida pela empresa de segurança digital Kaspersky... 03/03/2010)

Resposta: Letra D A palavra “oposição”, da charge, é classificada


Os verbos das frases citadas estão no Modo Imperativo morfologicamente como:
(expressam ordem). Vamos aos itens:
Em “a”, ... o acesso rápido e a quantidade de textos a) Substantivo concreto.
fazem = presente do Indicativo b) Substantivo abstrato.
Em “b”, Na internet, basta um clique = presente do c) Substantivo coletivo.
Indicativo d) Substantivo próprio.
Em “c”, ... após discar e fazer a ligação, não precisamos e) Adjetivo.
= presente do Indicativo
LÍNGUA PORTUGUESA

Em “d”, Pense rápido: = Imperativo Resposta: Letra B


Em “e”, É o que mostra também uma pesquisa = O termo “oposição” é classificado – morfologicamente
presente do Indicativo – como substantivo abstrato, pois não existe por si só
– depende de outro ser para “se concretizar”.

54
Mais de um atleta estabeleceu novo recorde nas
CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL. últimas Olimpíadas.

Observação:
Quando a expressão “mais de um” se associar a verbos
CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL que exprimem reciprocidade, o plural é obrigatório: Mais
de um colega se ofenderam na discussão. (ofenderam um
Os concurseiros estão apreensivos. ao outro)
Concurseiros apreensivos.
C) Quando se trata de nomes que só existem no
No primeiro exemplo, o verbo estar se encontra plural, a concordância deve ser feita levando-se
na terceira pessoa do plural, concordando com o seu em conta a ausência ou presença de artigo. Sem
sujeito, os concurseiros. No segundo exemplo, o adjetivo artigo, o verbo deve ficar no singular; com artigo
“apreensivos” está concordando em gênero (masculino) no plural, o verbo deve ficar o plural.
e número (plural) com o substantivo a que se refere: Os Estados Unidos possuem grandes universidades.
concurseiros. Nesses dois exemplos, as flexões de pessoa, Estados Unidos possui grandes universidades.
número e gênero se correspondem. A correspondência Alagoas impressiona pela beleza das praias.
de flexão entre dois termos é a concordância, que pode As Minas Gerais são inesquecíveis.
ser verbal ou nominal. Minas Gerais produz queijo e poesia de primeira.

Concordância Verbal D) Quando o sujeito é um pronome interrogativo ou


indefinido plural (quais, quantos, alguns, poucos,
É a flexão que se faz para que o verbo concorde com muitos, quaisquer, vários) seguido por “de nós” ou
seu sujeito. “de vós”, o verbo pode concordar com o primeiro
pronome (na terceira pessoa do plural) ou com o
Sujeito Simples - Regra Geral pronome pessoal.
Quais de nós são / somos capazes?
O sujeito, sendo simples, com ele concordará o verbo Alguns de vós sabiam / sabíeis do caso?
em número e pessoa. Veja os exemplos: Vários de nós propuseram / propusemos sugestões
inovadoras.
A prova para ambos os cargos será aplicada às 13h.
3.ª p. Singular 3.ª p. Singular Observação:
Veja que a opção por uma ou outra forma indica a
Os candidatos à vaga chegarão às 12h. inclusão ou a exclusão do emissor. Quando alguém
3.ª p. Plural 3.ª p. Plural diz ou escreve “Alguns de nós sabíamos de tudo e nada
fizemos”, ele está se incluindo no grupo dos omissos. Isso
Casos Particulares não ocorre ao dizer ou escrever “Alguns de nós sabiam de
tudo e nada fizeram”, frase que soa como uma denúncia.
A) Quando o sujeito é formado por uma expressão par- Nos casos em que o interrogativo ou indefinido
titiva (parte de, uma porção de, o grosso de, metade estiver no singular, o verbo ficará no singular.
de, a maioria de, a maior parte de, grande parte de...) Qual de nós é capaz?
seguida de um substantivo ou pronome no plural, o Algum de vós fez isso.
verbo pode ficar no singular ou no plural.
A maioria dos jornalistas aprovou / aprovaram a ideia. E) Quando o sujeito é formado por uma expressão
Metade dos candidatos não apresentou / apresentaram que indica porcentagem seguida de substantivo, o
proposta. verbo deve concordar com o substantivo.
25% do orçamento do país será destinado à Educação.
Esse mesmo procedimento pode se aplicar aos casos 85% dos entrevistados não aprovam a administração
dos coletivos, quando especificados: Um bando de do prefeito.
vândalos destruiu / destruíram o monumento. 1% do eleitorado aceita a mudança.
1% dos alunos faltaram à prova.
Observação:
Nesses casos, o uso do verbo no singular enfatiza a • Quando a expressão que indica porcentagem não
unidade do conjunto; já a forma plural confere destaque é seguida de substantivo, o verbo deve concordar
aos elementos que formam esse conjunto. com o número.
LÍNGUA PORTUGUESA

25% querem a mudança.


B) Quando o sujeito é formado por expressão que 1% conhece o assunto.
indica quantidade aproximada (cerca de, mais
de, menos de, perto de...) seguida de numeral e • Se o número percentual estiver determinado por
substantivo, o verbo concorda com o substantivo. artigo ou pronome adjetivo, a concordância far-
Cerca de mil pessoas participaram do concurso. se-á com eles:
Perto de quinhentos alunos compareceram à Os 30% da produção de soja serão exportados.
solenidade. Esses 2% da prova serão questionados.

55
F) O pronome “que” não interfere na concordância; Sujeito Composto
já o “quem” exige que o verbo fique na 3.ª pessoa
do singular. A) Quando o sujeito é composto e anteposto ao
Fui eu que paguei a conta. verbo, a concordância se faz no plural:
Fomos nós que pintamos o muro.
És tu que me fazes ver o sentido da vida. Pai e filho conversavam longamente.
Sou eu quem faz a prova. Sujeito
Não serão eles quem será aprovado.
Pais e filhos devem conversar com frequência.
G) Com a expressão “um dos que”, o verbo deve Sujeito
assumir a forma plural.
Ademir da Guia foi um dos jogadores que mais B) Nos sujeitos compostos formados por pessoas
encantaram os poetas. gramaticais diferentes, a concordância ocorre da
Este candidato é um dos que mais estudaram! seguinte maneira: a primeira pessoa do plural (nós)
prevalece sobre a segunda pessoa (vós) que, por
• Se a expressão for de sentido contrário – nenhum sua vez, prevalece sobre a terceira (eles). Veja:
dos que, nem um dos que -, não aceita o verbo no Teus irmãos, tu e eu tomaremos a decisão.
singular: Primeira Pessoa do Plural (Nós)
Nenhum dos que foram aprovados assumirá a vaga.
Nem uma das que me escreveram mora aqui. Tu e teus irmãos tomareis a decisão.
Segunda Pessoa do Plural (Vós)
• Quando “um dos que” vem entremeada de substan-
tivo, o verbo pode: Pais e filhos precisam respeitar-se.
1. ficar no singular – O Tietê é um dos rios que atraves- Terceira Pessoa do Plural (Eles)
sa o Estado de São Paulo. (já que não há outro rio
que faça o mesmo). Observação:
2. ir para o plural – O Tietê é um dos rios que estão po- Quando o sujeito é composto, formado por um
luídos (noção de que existem outros rios na mesma elemento da segunda pessoa (tu) e um da terceira (ele),
condição). é possível empregar o verbo na terceira pessoa do plural
(eles): “Tu e teus irmãos tomarão a decisão.” – no lugar
H) Quando o sujeito é um pronome de tratamento, o de “tomaríeis”.
verbo fica na 3ª pessoa do singular ou plural.
Vossa Excelência está cansado? C) No caso do sujeito composto posposto ao
Vossas Excelências renunciarão? verbo, passa a existir uma nova possibilidade de
concordância: em vez de concordar no plural com
I) A concordância dos verbos bater, dar e soar faz-se a totalidade do sujeito, o verbo pode estabelecer
de acordo com o numeral. concordância com o núcleo do sujeito mais
Deu uma hora no relógio da sala. próximo.
Deram cinco horas no relógio da sala. Faltaram coragem e competência.
Soam dezenove horas no relógio da praça. Faltou coragem e competência.
Baterão doze horas daqui a pouco. Compareceram todos os candidatos e o banca.
Compareceu o banca e todos os candidatos.
Observação:
Caso o sujeito da oração seja a palavra relógio, sino, D) Quando ocorre ideia de reciprocidade, a
torre, etc., o verbo concordará com esse sujeito. concordância é feita no plural. Observe:
O tradicional relógio da praça matriz dá nove horas. Abraçaram-se vencedor e vencido.
Soa quinze horas o relógio da matriz. Ofenderam-se o jogador e o árbitro.

J) Verbos Impessoais: por não se referirem a nenhum Casos Particulares


sujeito, são usados sempre na 3.ª pessoa do
singular. São verbos impessoais: Haver no sentido • Quando o sujeito composto é formado por núcleos
de existir; Fazer indicando tempo; Aqueles que sinônimos ou quase sinônimos, o verbo fica no
indicam fenômenos da natureza. Exemplos: singular.
Havia muitas garotas na festa. Descaso e desprezo marca seu comportamento.
Faz dois meses que não vejo meu pai. A coragem e o destemor fez dele um herói.
LÍNGUA PORTUGUESA

Chovia ontem à tarde.


• Quando o sujeito composto é formado por núcleos
dispostos em gradação, verbo no singular:
Com você, meu amor, uma hora, um minuto, um
segundo me satisfaz.

56
• Quando os núcleos do sujeito composto são unidos Não só a seca, mas também o pouco caso castigam o
por “ou” ou “nem”, o verbo deverá ficar no plural, Nordeste.
de acordo com o valor semântico das conjunções: Tanto a mãe quanto o filho ficaram surpresos com a
Drummond ou Bandeira representam a essência da notícia.
poesia brasileira.
Nem o professor nem o aluno acertaram a resposta. Quando os elementos de um sujeito composto são
resumidos por um aposto recapitulativo, a concordância
Em ambas as orações, as conjunções dão ideia de é feita com esse termo resumidor.
“adição”. Já em: Filmes, novelas, boas conversas, nada o tirava da
Juca ou Pedro será contratado. apatia.
Roma ou Buenos Aires será a sede da próxima Trabalho, diversão, descanso, tudo é muito importante
Olimpíada. na vida das pessoas.

Temos ideia de exclusão, por isso os verbos ficam Outros Casos


no singular.
O Verbo e a Palavra “SE”
• Com as expressões “um ou outro” e “nem um
nem outro”, a concordância costuma ser feita no Dentre as diversas funções exercidas pelo “se”, há
singular. duas de particular interesse para a concordância verbal:
Um ou outro compareceu à festa. A) quando é índice de indeterminação do sujeito;
Nem um nem outro saiu do colégio. B) quando é partícula apassivadora.

• Com “um e outro”, o verbo pode ficar no plural ou Quando índice de indeterminação do sujeito, o “se”
no singular: Um e outro farão/fará a prova. acompanha os verbos intransitivos, transitivos indiretos
e de ligação, que obrigatoriamente são conjugados na
terceira pessoa do singular:
• Quando os núcleos do sujeito são unidos por “com”,
Precisa-se de funcionários.
o verbo fica no plural. Nesse caso, os núcleos
Confia-se em teses absurdas.
recebem um mesmo grau de importância e a
palavra “com” tem sentido muito próximo ao de
Quando pronome apassivador, o “se” acompanha
“e”.
verbos transitivos diretos (VTD) e transitivos diretos e
O pai com o filho montaram o brinquedo.
indiretos (VTDI) na formação da voz passiva sintética.
O governador com o secretariado traçaram os planos
Nesse caso, o verbo deve concordar com o sujeito da
para o próximo semestre. oração. Exemplos:
O professor com o aluno questionaram as regras. Construiu-se um posto de saúde.
Construíram-se novos postos de saúde.
Nesse mesmo caso, o verbo pode ficar no singular, se Aqui não se cometem equívocos
a ideia é enfatizar o primeiro elemento. Alugam-se casas.
O pai com o filho montou o brinquedo.
O governador com o secretariado traçou os planos
para o próximo semestre.
#FicaDica
O professor com o aluno questionou as regras. Para saber se o “se” é partícula apassivadora
ou índice de indeterminação do sujeito, ten-
Com o verbo no singular, não se pode falar em te transformar a frase para a voz passiva. Se
sujeito composto. O sujeito é simples, uma vez que as a frase construída for “compreensível”, esta-
expressões “com o filho” e “com o secretariado” são remos diante de uma partícula apassivadora;
adjuntos adverbiais de companhia. Na verdade, é como se não, o “se” será índice de indeterminação.
se houvesse uma inversão da ordem. Veja: Veja:
“O pai montou o brinquedo com o filho.” Precisa-se de funcionários qualificados.
“O governador traçou os planos para o próximo Tentemos a voz passiva:
semestre com o secretariado.” Funcionários qualificados são precisados (ou
“O professor questionou as regras com o aluno.” precisos)? Não há lógica. Portanto, o “se”
destacado é índice de indeterminação do
Casos em que se usa o verbo no singular: sujeito.
LÍNGUA PORTUGUESA

Agora:
Café com leite é uma delícia! Vendem-se casas.
O frango com quiabo foi receita da vovó. Voz passiva: Casas são vendidas. Constru-
ção correta! Então, aqui, o “se” é partícula
Quando os núcleos do sujeito são unidos por apassivadora. (Dá para eu passar para a voz
expressões correlativas como: “não só... mas ainda”, “não passiva. Repare em meu destaque. Percebeu
somente”..., “não apenas... mas também”, “tanto...quanto”, semelhança? Agora é só memorizar!).
o verbo ficará no plural.

57
O Verbo “Ser” O Verbo “Parecer”
O verbo parecer, quando é auxiliar em uma
A concordância verbal dá-se sempre entre o verbo locução verbal (é seguido de infinitivo), admite duas
e o sujeito da oração. No caso do verbo ser, essa concordâncias:
concordância pode ocorrer também entre o verbo e o
predicativo do sujeito. • Ocorre variação do verbo PARECER e não se flexiona
o infinitivo: As crianças parecem gostar do desenho.
Quando o sujeito ou o predicativo for:
• A variação do verbo parecer não ocorre e o infinitivo
A) Nome de pessoa ou pronome pessoal – o verbo sofre flexão:
SER concorda com a pessoa gramatical: As crianças parece gostarem do desenho.
Ele é forte, mas não é dois. (essa frase equivale a: Parece gostarem do desenho
Fernando Pessoa era vários poetas. aas crianças)
A esperança dos pais são eles, os filhos.
Com orações desenvolvidas, o verbo PARECER fica no
B) nome de coisa e um estiver no singular e o outro no singular. Por exemplo: As paredes parece que têm ouvidos.
plural, o verbo SER concordará, preferencialmente, (Parece que as paredes têm ouvidos = oração subordinada
com o que estiver no plural: substantiva subjetiva).
Os livros são minha paixão!
Minha paixão são os livros! Concordância Nominal

Quando o verbo SER indicar A concordância nominal se baseia na relação entre


nomes (substantivo, pronome) e as palavras que a eles se
• horas e distâncias, concordará com a expressão ligam para caracterizá-los (artigos, adjetivos, pronomes
numérica: adjetivos, numerais adjetivos e particípios). Lembre-se:
normalmente, o substantivo funciona como núcleo de um
É uma hora.
termo da oração, e o adjetivo, como adjunto adnominal.
São quatro horas.
A concordância do adjetivo ocorre de acordo com as
Daqui até a escola é um quilômetro / são dois
seguintes regras gerais:
quilômetros.
A) O adjetivo concorda em gênero e número quando
se refere a um único substantivo: As mãos trêmulas
• datas, concordará com a palavra dia(s), que pode
denunciavam o que sentia.
estar expressa ou subentendida:
B) Quando o adjetivo refere-se a vários substantivos,
Hoje é dia 26 de agosto. a concordância pode variar. Podemos sistematizar
Hoje são 26 de agosto. essa flexão nos seguintes casos:
• Quando o sujeito indicar peso, medida, quantidade • Adjetivo anteposto aos substantivos:
e for seguido de palavras ou expressões como O adjetivo concorda em gênero e número com o
pouco, muito, menos de, mais de, etc., o verbo SER substantivo mais próximo.
fica no singular: Encontramos caídas as roupas e os prendedores.
Cinco quilos de açúcar é mais do que preciso. Encontramos caída a roupa e os prendedores.
Três metros de tecido é pouco para fazer seu vestido. Encontramos caído o prendedor e a roupa.
Duas semanas de férias é muito para mim.
Caso os substantivos sejam nomes próprios ou de
• Quando um dos elementos (sujeito ou predicativo) parentesco, o adjetivo deve sempre concordar no plural.
for pronome pessoal do caso reto, com este As adoráveis Fernanda e Cláudia vieram me visitar.
concordará o verbo. Encontrei os divertidos primos e primas na festa.
No meu setor, eu sou a única mulher.
Aqui os adultos somos nós. • Adjetivo posposto aos substantivos:
O adjetivo concorda com o substantivo mais próximo
Observação: ou com todos eles (assumindo a forma masculina plural
Sendo ambos os termos (sujeito e predicativo) se houver substantivo feminino e masculino).
representados por pronomes pessoais, o verbo concorda A indústria oferece localização e atendimento perfeito.
com o pronome sujeito. A indústria oferece atendimento e localização perfeita.
Eu não sou ela. A indústria oferece localização e atendimento perfeitos.
Ela não é eu.
LÍNGUA PORTUGUESA

A indústria oferece atendimento e localização perfeitos.

• Quando o sujeito for uma expressão de sentido Observação:


partitivo ou coletivo e o predicativo estiver no Os dois últimos exemplos apresentam maior clareza,
plural, o verbo SER concordará com o predicativo. pois indicam que o adjetivo efetivamente se refere aos
A grande maioria no protesto eram jovens. dois substantivos. Nesses casos, o adjetivo foi flexionado
O resto foram atitudes imaturas. no plural masculino, que é o gênero predominante
quando há substantivos de gêneros diferentes.

58
Se os substantivos possuírem o mesmo gênero, o Casos Particulares
adjetivo fica no singular ou plural.
A beleza e a inteligência feminina(s). É proibido - É necessário - É bom - É preciso - É
O carro e o iate novo(s). permitido

C) Expressões formadas pelo verbo SER + adjetivo: • Estas expressões, formadas por um verbo mais um
O adjetivo fica no masculino singular, se o substantivo adjetivo, ficam invariáveis se o substantivo a que se
não for acompanhado de nenhum modificador: Água é referem possuir sentido genérico (não vier prece-
bom para saúde. dido de artigo).
O adjetivo concorda com o substantivo, se este É proibido entrada de crianças.
for modificado por um artigo ou qualquer outro Em certos momentos, é necessário atenção.
determinativo: Esta água é boa para saúde. No verão, melancia é bom.
É preciso cidadania.
D) O adjetivo concorda em gênero e número com os Não é permitido saída pelas portas laterais.
pronomes pessoais a que se refere: Juliana encon-
trou-as muito felizes. • Quando o sujeito destas expressões estiver determi-
nado por artigos, pronomes ou adjetivos, tanto o
E) Nas expressões formadas por pronome indefinido verbo como o adjetivo concordam com ele.
neutro (nada, algo, muito, tanto, etc.) + preposição É proibida a entrada de crianças.
DE + adjetivo, este último geralmente é usado no Esta salada é ótima.
masculino singular: Os jovens tinham algo de mis- A educação é necessária.
terioso. São precisas várias medidas na educação.

F) A palavra “só”, quando equivale a “sozinho”, tem Anexo - Obrigado - Mesmo - Próprio - Incluso -
função adjetiva e concorda normalmente com o Quite
nome a que se refere: Estas palavras adjetivas concordam em gênero e
Cristina saiu só. número com o substantivo ou pronome a que se referem.
Cristina e Débora saíram sós. Seguem anexas as documentações requeridas.
A menina agradeceu: - Muito obrigada.
Observação: Muito obrigadas, disseram as senhoras.
Quando a palavra “só” equivale a “somente” ou Seguem inclusos os papéis solicitados.
“apenas”, tem função adverbial, ficando, portanto, Estamos quites com nossos credores.
invariável: Eles só desejam ganhar presentes.
Bastante - Caro - Barato - Longe
Estas palavras são invariáveis quando funcionam
#FicaDica como advérbios. Concordam com o nome a que se
referem quando funcionam como adjetivos, pronomes
Substitua o “só” por “apenas” ou “sozinho”. adjetivos, ou numerais.
Se a frase ficar coerente com o primeiro, As jogadoras estavam bastante cansadas. (advérbio)
trata-se de advérbio, portanto, invariável; se Há bastantes pessoas insatisfeitas com o trabalho.
houver coerência com o segundo, função de (pronome adjetivo)
adjetivo, então varia: Nunca pensei que o estudo fosse tão caro. (advérbio)
Ela está só. (ela está sozinha) – adjetivo As casas estão caras. (adjetivo)
Ele está só descansando. (apenas Achei barato este casaco. (advérbio)
descansando) - advérbio Hoje as frutas estão baratas. (adjetivo)

Meio - Meia
A palavra “meio”, quando empregada como adjetivo,
Mas cuidado! Se colocarmos uma vírgula depois de concorda normalmente com o nome a que se refere: Pedi
“só”, haverá, novamente, um adjetivo: meia porção de polentas.
Ele está só, descansando. (ele está sozinho e Quando empregada como advérbio permanece
descansando) invariável: A candidata está meio nervosa.

G) Quando um único substantivo é modificado por


LÍNGUA PORTUGUESA

dois ou mais adjetivos no singular, podem ser usa- #FicaDica


das as construções:
• O substantivo permanece no singular e coloca-se o Dá para eu substituir por “um pouco”, assim
artigo antes do último adjetivo: Admiro a cultura saberei que se trata de um advérbio, não
espanhola e a portuguesa. de adjetivo: “A candidata está um pouco
• O substantivo vai para o plural e omite-se o artigo nervosa”.
antes do adjetivo: Admiro as culturas espanhola e
portuguesa.

59
Alerta - Menos a) Alimentos saudáveis e prática constante de exercícios
Essas palavras são advérbios, portanto, permanecem são necessárias para uma vida longa e mais equili-
sempre invariáveis. brada.
Os concurseiros estão sempre alerta. b) Inexistência de esgoto em muitas regiões e falta de
Não queira menos matéria! tratamento adequado da água são causadores de do-
enças.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS c) Notícias falsas e boatos perigosos não deveriam ser
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza reproduzidas nas redes sociais da forma como acon-
Cochar. Português linguagens: volume 3 – 7.ª ed. Reform. tece hoje.
– São Paulo: Saraiva, 2010. d) Plantas da caatinga e frutos pouco conhecidos da Re-
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa gião Nordeste foram elogiados por suas proprieda-
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. des alimentares.
AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras: e) Profissionais dedicados e pesquisas constantes preci-
literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000. sam ser estimuladas para que se avance na cura de
algumas doenças.
SITE
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/ Resposta: Letra D
secoes/sint/sint49.php> Em “a”: Alimentos saudáveis e prática constante de
exercícios são necessárias (necessários) para uma vida
longa e mais equilibrada.
Em “b”: Inexistência de esgoto em muitas regiões e
EXERCÍCIOS COMENTADOS falta de tratamento adequado da água são causadores
(causadoras) de doenças.
1. (BANCO DA AMAZÔNIA – TÉCNICO BANCÁRIO – Em “c”: Notícias falsas e boatos perigosos não
deveriam ser reproduzidas (reproduzidos) nas redes
CESGRANRIO-2018) A forma verbal em destaque está
sociais da forma como acontece hoje.
empregada de acordo com a norma-padrão em:
Em “d”: Plantas da caatinga e frutos pouco conhecidos
da Região Nordeste foram elogiados por suas
a) Atualmente, comercializa-se diferentes criptomoedas
propriedades alimentares = correta
mas a bitcoin é a mais conhecida de todas as moedas
Em “e”: Profissionais dedicados e pesquisas constantes
virtuais.
precisam ser estimuladas (estimulados) para que se
b) A especulação e o comércio ilegal, de acordo com al-
avance na cura de algumas doenças.
guns analistas, pode tornar as bitcoins inviáveis.
c) As notícias informam que até hoje, em nenhuma par- 3. (PETROBRAS – ADMINISTRADOR JÚNIOR
te do mundo, se substituíram totalmente as moedas – CESGRANRIO-2018) A concordância do verbo
reais pelas virtuais. destacado foi realizada de acordo com as exigências da
d) De acordo com as regras do mercado financeiro, criou- norma-padrão da língua portuguesa em:
-se apenas 21 milhões de bitcoins nos últimos anos.
e) O valor dos produtos comercializados seriam determi- a) Com a corrida desenfreada pelas versões mais atuais
nados por uma moeda virtual se a real fosse abolida. dos smartphones, evidenciou-se atitudes agressivas e
violentas por parte dos usuários.
Resposta: Letra C b) Devido à utilização de estratégias de marketing, de-
Em “a”: Atualmente, comercializam-se diferentes senvolveu-se, entre os jovens, a ideia de que a posse
criptomoedas mas a bitcoin é a mais conhecida de de novos aparelhos eletrônicos é garantia de sucesso.
todas as moedas virtuais. c) É necessário que se envie a todas as escolas do país ví-
Em “b”: A especulação e o comércio ilegal, de deos educacionais que permitam esclarecer os jovens
acordo com alguns analistas, podem tornar as bitcoins sobre o vício da tecnologia.
inviáveis. d) É preciso educar as novas gerações para que se redu-
Em “c”: As notícias informam que até hoje, em nenhuma za os comportamentos compulsivos relacionados ao
parte do mundo, se substituíram totalmente as uso das novas tecnologias.
moedas reais pelas virtuais. = correta e) Nos países mais industrializados, comprovou-se os
Em “d”: De acordo com as regras do mercado danos psicológicos e o consumismo exagerado causa-
financeiro, criaram-se apenas 21 milhões de bitcoins dos pelo vício da tecnologia.
nos últimos anos.
Em “e”: O valor dos produtos comercializados seria Resposta: Letra B
determinado por uma moeda virtual se a real fosse Em “a”: Com a corrida desenfreada pelas versões mais
LÍNGUA PORTUGUESA

abolida. atuais dos smartphones, evidenciou-se (evidenciaram-


se) atitudes agressivas e violentas por parte dos
2. (LIQUIGÁS – MOTORISTA DE CAMINHÃO GRANEL usuários.
I – CESGRANRIO-2018) A concordância da palavra Em “b”: Devido à utilização de estratégias de
destacada atende às exigências da norma-padrão da marketing, desenvolveu-se, entre os jovens, a ideia de
língua portuguesa em: que a posse de novos aparelhos eletrônicos é garantia
de sucesso = correta

60
Em “c”: É necessário que se envie (enviem) a todas as 5. (MPU – ANALISTA DO MPU – CESPE-2015)
escolas do país vídeos educacionais que permitam
esclarecer os jovens sobre o vício da tecnologia. Texto I
Em “d”: É preciso educar as novas gerações para que
se reduza (reduzam) os comportamentos compulsivos Na organização do poder político no Estado moderno,
relacionados ao uso das novas tecnologias. à luz da tradição iluminista, o direito tem por função a
Em “e”: Nos países mais industrializados, comprovou- preservação da liberdade humana, de maneira a coibir a
se (comprovaram-se) os danos psicológicos e o desordem do estado de natureza, que, em virtude do risco
consumismo exagerado causados pelo vício da da dominação dos mais fracos pelos mais fortes, exige
tecnologia. a existência de um poder institucional. Mas a conquista
da liberdade humana também reclama a distribuição do
4. (IBGE – AGENTE CENSITÁRIO – ADMINISTRATIVO – poder em ramos diversos, com a disposição de meios
FGV-2017) Observe os seguintes casos de concordância que assegurem o controle recíproco entre eles para o
nominal retirados do texto 1: advento de um cenário de equilíbrio e harmonia nas
1. A democracia reclama um jornalismo vigoroso e in- sociedades estatais. A concentração do poder em um só
dependente. órgão ou pessoa viria sempre em detrimento do exercício
2. A agenda pública é determinada pela imprensa tra- da liberdade. É que, como observou Montesquieu, “todo
dicional. homem que tem poder tende a abusar dele; ele vai até
3. Mas o pontapé inicial é sempre das empresas de onde encontra limites. Para que não se possa abusar do
conteúdo independentes. poder, é preciso que, pela disposição das coisas, o poder
limite o poder”.
A afirmação correta sobre essas concordâncias é: Até Montesquieu, não eram identificadas com clareza
as esferas de abrangência dos poderes políticos: “só se
a) os dois adjetivos da frase (1) referem-se, respectiva- concebia sua união nas mãos de um só ou, então, sua
mente a ‘democracia’ e ‘jornalismo’;
separação; ninguém se arriscava a apresentar, sob a forma
b) os adjetivos da frase (1) deveriam estar no plural por
de sistema coerente, as consequências de conceitos
referirem-se a dois substantivos;
diversos”. Pensador francês do século XVIII, Montesquieu
c) na frase (2), a forma de particípio ‘determinada’ se re-
situa-se entre o racionalismo cartesiano e o empirismo
fere a ‘imprensa’;
de origem baconiana, não abandonando o rigor das
d) na frase (3), o adjetivo ‘independentes’ está correta-
certezas matemáticas em suas certezas morais. Porém,
mente no plural por referir-se a ‘empresas’;
refugindo às especulações metafísicas que, no plano da
e) na frase (3), o adjetivo ‘independentes’ deveria estar
idealidade, serviram aos filósofos do pacto social para a
no singular por referir-se ao substantivo ‘conteúdo’.
explicação dos fundamentos do Estado ou da sociedade
Resposta: Letra D civil, ele procurou ingressar no terreno dos fatos.
1. A democracia reclama um jornalismo vigoroso e Fernanda Leão de Almeida. A garantia institucional do
independente. Ministério Público em função da proteção dos direitos
2. A agenda pública é determinada pela imprensa humanos. Tese de doutorado. São Paulo: USP, 2010, p.
tradicional. 18-9. Internet: <www.teses.usp.br> (com adaptações).
3. Mas o pontapé inicial é sempre das empresas de
conteúdo independentes. A flexão plural em “eram identificadas” decorre da
Em “a”: os dois adjetivos da frase (1) referem-se, concordância com o sujeito dessa forma verbal: “as
respectivamente a ‘democracia’ e ‘jornalismo’; esferas de abrangência dos poderes políticos”.
A democracia reclama um jornalismo vigoroso e
independente = apenas a “jornalismo” ( ) CERTO ( ) ERRADO
Em “b”: os adjetivos da frase (1) deveriam estar no
plural por referirem-se a dois substantivos; Resposta: Certo
A democracia reclama um jornalismo vigoroso e (...) Até Montesquieu, não eram identificadas com
independente = a um substantivo (jornalismo) clareza as esferas de abrangência dos poderes
Em “c”: na frase (2), a forma de particípio ‘determinada’ políticos = passando o período para a ordem direta
se refere a ‘imprensa’; (sujeito + verbo), temos: Até Montesquieu, as esferas
A agenda pública é determinada pela imprensa de abrangência dos poderes políticos não eram
tradicional = refere-se ao termo “agenda pública” identificadas com clareza.
Em “d”: na frase (3), o adjetivo ‘independentes’ está
6. (PC-RS – ESCRIVÃO e Inspetor de Polícia –
LÍNGUA PORTUGUESA

corretamente no plural por referir-se a ‘empresas’;


Mas o pontapé inicial é sempre das empresas de Fundatec-2018 - adaptada) Sobre a frase “Esses alunos
conteúdo independentes = correta que são usuários constantes de redes sociais têm um risco
Em “e”: na frase (3), o adjetivo ‘independentes’ 27% maior de desenvolver depressão”, avalie as assertivas
deveria estar no singular por referir-se ao substantivo que seguem, assinalando V, se verdadeiras, ou F, se falsas.
‘conteúdo’ = incorreta (refere-se a “empresas”)

61
( ) Caso os termos ‘Esses alunos’ fosse passado para Conclui-se que “agradar alguém” é diferente de
o singular, outras quatro palavras deveriam sofrer “agradar a alguém”.
ajustes para fins de concordância.
( ) Mais da metade dos alunos que usam redes sociais O conhecimento do uso adequado das preposições
podem ficar deprimidos. é um dos aspectos fundamentais do estudo da regência
( ) O risco de alunos usuários de redes sociais desen- verbal (e também nominal). As preposições são capazes
volverem depressão constante extrapola o índice de modificar completamente o sentido daquilo que está
dos 27%. sendo dito.

A ordem correta de preenchimento dos parênteses, de Cheguei ao metrô.


cima para baixo, é: Cheguei no metrô.

a) V – V – V. No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no


b) F – V – F. segundo caso, é o meio de transporte por mim utilizado.
c) V – F – F.
d) F – F – V. A voluntária distribuía leite às crianças.
e) F – F – F. A voluntária distribuía leite com as crianças.

Resposta: Letra C Na primeira frase, o verbo “distribuir” foi empregado


Esses alunos que são usuários constantes de redes sociais como transitivo direto (objeto direto: leite) e indireto
têm um risco 27% maior de desenvolver depressão (objeto indireto: às crianças); na segunda, como transitivo
Em: ( ) Caso os termos ‘Esses alunos’ fosse passado direto (objeto direto: crianças; com as crianças: adjunto
para o singular, outras quatro palavras deveriam sofrer adverbial).
ajustes para fins de concordância. Para estudar a regência verbal, agruparemos os
Esse aluno que é usuário constante de redes sociais verbos de acordo com sua transitividade. Esta, porém,
tem um risco 27% maior de desenvolver depressão não é um fato absoluto: um mesmo verbo pode atuar de
= (verdadeira = haveria quatro alterações) diferentes formas em frases distintas.
Em: ( ) Mais da metade dos alunos que usam redes
sociais podem ficar deprimidos.
A) Verbos Intransitivos
= falsa (o período em análise não nos transmite tal
Os verbos intransitivos não possuem complemento. É
informação, apenas afirma que usuários constantes
importante, no entanto, destacar alguns detalhes relativos
têm um risco 27% maior que os demais)
aos adjuntos adverbiais que costumam acompanhá-los.
Em: ( ) O risco de alunos usuários de redes sociais
desenvolverem depressão constante extrapola o
Chegar, Ir
índice dos 27%.
= Falsa (“depressão constante” altera o sentido do Normalmente vêm acompanhados de adjuntos
período) adverbiais de lugar. Na língua culta, as preposições
usadas para indicar destino ou direção são: a, para.

Fui ao teatro.
REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL Adjunto Adverbial de Lugar

Ricardo foi para a Espanha.


REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL Adjunto Adverbial de Lugar

Dá-se o nome de regência à relação de subordinação Comparecer


que ocorre entre um verbo (regência verbal) ou um nome O adjunto adverbial de lugar pode ser introduzido
(regência nominal) e seus complementos. por em ou a.
Comparecemos ao estádio (ou no estádio) para ver o
Regência Verbal = Termo Regente: VERBO último jogo.

A regência verbal estuda a relação que se estabelece B) Verbos Transitivos Diretos


entre os verbos e os termos que os complementam Os verbos transitivos diretos são complementados por
(objetos diretos e objetos indiretos) ou caracterizam objetos diretos. Isso significa que não exigem preposição
(adjuntos adverbiais). Há verbos que admitem mais para o estabelecimento da relação de regência. Ao
empregar esses verbos, lembre-se de que os pronomes
LÍNGUA PORTUGUESA

de uma regência, o que corresponde à diversidade


de significados que estes verbos podem adquirir oblíquos o, a, os, as atuam como objetos diretos. Esses
dependendo do contexto em que forem empregados. pronomes podem assumir as formas lo, los, la, las (após
formas verbais terminadas em -r, -s ou -z) ou no, na, nos,
A mãe agrada o filho = agradar significa acariciar, nas (após formas verbais terminadas em sons nasais),
contentar. enquanto lhe e lhes são, quando complementos verbais,
A mãe agrada ao filho = agradar significa “causar objetos indiretos.
agrado ou prazer”, satisfazer.

62
São verbos transitivos diretos, dentre outros: Simpatizar e Antipatizar - Possuem seus
abandonar, abençoar, aborrecer, abraçar, acompanhar, complementos introduzidos pela preposição “com”.
acusar, admirar, adorar, alegrar, ameaçar, amolar, amparar, Antipatizo com aquela apresentadora.
auxiliar, castigar, condenar, conhecer, conservar, convidar, Simpatizo com os que condenam os políticos que
defender, eleger, estimar, humilhar, namorar, ouvir, governam para uma minoria privilegiada.
prejudicar, prezar, proteger, respeitar, socorrer, suportar,
ver, visitar. D) Verbos Transitivos Diretos e Indiretos
Na língua culta, esses verbos funcionam exatamente
como o verbo amar: Os verbos transitivos diretos e indiretos são
Amo aquele rapaz. / Amo-o. acompanhados de um objeto direto e um indireto.
Amo aquela moça. / Amo-a. Merecem destaque, nesse grupo: agradecer, perdoar
Amam aquele rapaz. / Amam-no. e pagar. São verbos que apresentam objeto direto
Ele deve amar aquela mulher. / Ele deve amá-la. relacionado a coisas e objeto indireto relacionado a
pessoas.
Observação:
Os pronomes lhe, lhes só acompanham esses verbos Agradeço aos ouvintes a audiência.
para indicar posse (caso em que atuam como adjuntos Objeto Indireto Objeto Direto
adnominais):
Quero beijar-lhe o rosto. (= beijar seu rosto) Paguei o débito ao cobrador.
Prejudicaram-lhe a carreira. (= prejudicaram sua Objeto Direto Objeto Indireto
carreira)
Conheço-lhe o mau humor! (= conheço seu mau O uso dos pronomes oblíquos átonos deve ser feito
humor) com particular cuidado:
Agradeci o presente. / Agradeci-o.
C) Verbos Transitivos Indiretos Agradeço a você. / Agradeço-lhe.
Os verbos transitivos indiretos são complementados Perdoei a ofensa. / Perdoei-a.
por objetos indiretos. Isso significa que esses verbos Perdoei ao agressor. / Perdoei-lhe.
exigem uma preposição para o estabelecimento da Paguei minhas contas. / Paguei-as.
relação de regência. Os pronomes pessoais do caso Paguei aos meus credores. / Paguei-lhes.
oblíquo de terceira pessoa que podem atuar como
objetos indiretos são o “lhe”, o “lhes”, para substituir Informar
pessoas. Não se utilizam os pronomes o, os, a, as como Apresenta objeto direto ao se referir a coisas e objeto
complementos de verbos transitivos indiretos. Com os indireto ao se referir a pessoas, ou vice-versa.
objetos indiretos que não representam pessoas, usam-se Informe os novos preços aos clientes.
pronomes oblíquos tônicos de terceira pessoa (ele, ela) Informe os clientes dos novos preços. (ou sobre os
em lugar dos pronomes átonos lhe, lhes. novos preços)

Os verbos transitivos indiretos são os seguintes: Na utilização de pronomes como complementos, veja
Consistir - Tem complemento introduzido pela as construções:
preposição “em”: A modernidade verdadeira consiste em Informei-os aos clientes. / Informei-lhes os novos
direitos iguais para todos. preços.
Informe-os dos novos preços. / Informe-os deles. (ou
Obedecer e Desobedecer - Possuem seus sobre eles)
complementos introduzidos pela preposição “a”:
Devemos obedecer aos nossos princípios e ideais. Observação:
Eles desobedeceram às leis do trânsito. A mesma regência do verbo informar é usada para os
seguintes: avisar, certificar, notificar, cientificar, prevenir.
Responder - Tem complemento introduzido pela
preposição “a”. Esse verbo pede objeto indireto para Comparar
indicar “a quem” ou “ao que” se responde. Quando seguido de dois objetos, esse verbo admite as
Respondi ao meu patrão. preposições “a” ou “com” para introduzir o complemento
Respondemos às perguntas. indireto: Comparei seu comportamento ao (ou com o) de
Respondeu-lhe à altura. uma criança.
LÍNGUA PORTUGUESA

Observação: Pedir
O verbo responder, apesar de transitivo indireto Esse verbo pede objeto direto de coisa (geralmente
quando exprime aquilo a que se responde, admite voz na forma de oração subordinada substantiva) e indireto
passiva analítica: de pessoa.
O questionário foi respondido corretamente.
Todas as perguntas foram respondidas Pedi-lhe favores.
satisfatoriamente. Objeto Indireto Objeto Direto

63
Pedi-lhe que se mantivesse em silêncio. Como o objeto direto do verbo “aspirar” não é pessoa,
Objeto Indireto Oração Subordinada as formas pronominais átonas “lhe” e “lhes” não são
Substantiva Objetiva Direta utilizadas, mas, sim, as formas tônicas “a ele(s)”, “a ela(s)”.
Veja o exemplo: Aspiravam a uma existência melhor. (=
A construção “pedir para”, muito comum na Aspiravam a ela)
linguagem cotidiana, deve ter emprego muito limitado
na língua culta. No entanto, é considerada correta Assistir
quando a palavra licença estiver subentendida. Assistir é transitivo direto no sentido de ajudar, prestar
Peço (licença) para ir entregar-lhe os catálogos em assistência a, auxiliar.
casa. As empresas de saúde negam-se a assistir os idosos.
As empresas de saúde negam-se a assisti-los.
Observe que, nesse caso, a preposição “para” introduz
uma oração subordinada adverbial final reduzida de Assistir é transitivo indireto no sentido de ver,
infinitivo (para ir entregar-lhe os catálogos em casa). presenciar, estar presente, caber, pertencer.
Assistimos ao documentário.
Preferir Não assisti às últimas sessões.
Na língua culta, esse verbo deve apresentar objeto Essa lei assiste ao inquilino.
indireto introduzido pela preposição “a”:
Prefiro qualquer coisa a abrir mão de meus ideais. No sentido de morar, residir, o verbo “assistir” é
Prefiro trem a ônibus. intransitivo, sendo acompanhado de adjunto adverbial
de lugar introduzido pela preposição “em”: Assistimos
Observação: numa conturbada cidade.
Na língua culta, o verbo “preferir” deve ser usado
sem termos intensificadores, tais como: muito, antes, mil Chamar
vezes, um milhão de vezes, mais. A ênfase já é dada pelo Chamar é transitivo direto no sentido de convocar,
solicitar a atenção ou a presença de.
prefixo existente no próprio verbo (pre).
Por gentileza, vá chamar a polícia. / Por favor, vá
chamá-la.
Mudança de Transitividade - Mudança de
Chamei você várias vezes. / Chamei-o várias vezes.
Significado
Há verbos que, de acordo com a mudança de
Chamar no sentido de denominar, apelidar pode
transitividade, apresentam mudança de significado. O
apresentar objeto direto e indireto, ao qual se refere
conhecimento das diferentes regências desses verbos é
predicativo preposicionado ou não.
um recurso linguístico muito importante, pois além de
A torcida chamou o jogador mercenário.
permitir a correta interpretação de passagens escritas, A torcida chamou ao jogador mercenário.
oferece possibilidades expressivas a quem fala ou A torcida chamou o jogador de mercenário.
escreve. Dentre os principais, estão: A torcida chamou ao jogador de mercenário.
Agradar Chamar com o sentido de ter por nome é pronominal:
Agradar é transitivo direto no sentido de fazer Como você se chama? Eu me chamo Zenaide.
carinhos, acariciar, fazer as vontades de.
Sempre agrada o filho quando. Custar
Aquele comerciante agrada os clientes. Custar é intransitivo no sentido de ter determinado
valor ou preço, sendo acompanhado de adjunto adverbial:
Agradar é transitivo indireto no sentido de causar Frutas e verduras não deveriam custar muito.
agrado a, satisfazer, ser agradável a. Rege complemento
introduzido pela preposição “a”. No sentido de ser difícil, penoso, pode ser intransitivo
O cantor não agradou aos presentes. ou transitivo indireto, tendo como sujeito uma oração
O cantor não lhes agradou. reduzida de infinitivo.

O antônimo “desagradar” é sempre transitivo indireto: Muito custa viver tão longe da família.
O cantor desagradou à plateia. Verbo Intransitivo Oração Subordinada
Substantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo
Aspirar
Aspirar é transitivo direto no sentido de sorver, inspirar
LÍNGUA PORTUGUESA

Custou-me (a mim) crer nisso.


(o ar), inalar: Aspirava o suave aroma. (Aspirava-o) Objeto Indireto Oração Subordinada
Substantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo
Aspirar é transitivo indireto no sentido de desejar,
ter como ambição: Aspirávamos a um emprego melhor. A Gramática Normativa condena as construções que
(Aspirávamos a ele) atribuem ao verbo “custar” um sujeito representado por
pessoa: Custei para entender o problema.
= Forma correta: Custou-me entender o problema.

64
Implicar Esquecer – Lembrar
Como transitivo direto, esse verbo tem dois sentidos: Lembrar algo – esquecer algo
A) dar a entender, fazer supor, pressupor: Suas atitudes Lembrar-se de algo – esquecer-se de algo
implicavam um firme propósito. (pronominal)
B) ter como consequência, trazer como consequência,
acarretar, provocar: Uma ação implica reação. No 1.º caso, os verbos são transitivos diretos, ou seja,
exigem complemento sem preposição: Ele esqueceu o
Como transitivo direto e indireto, significa livro.
comprometer, envolver: Implicaram aquele jornalista em No 2.º caso, os verbos são pronominais (-se, -me,
questões econômicas. etc) e exigem complemento com a preposição “de”. São,
portanto, transitivos indiretos:
No sentido de antipatizar, ter implicância, é transitivo Ele se esqueceu do caderno.
indireto e rege com preposição “com”: Implicava com Eu me esqueci da chave.
quem não trabalhasse arduamente. Eles se esqueceram da prova.
Nós nos lembramos de tudo o que aconteceu.
Namorar
Sempre tansitivo direto: Luísa namora Carlos há dois Há uma construção em que a coisa esquecida ou
anos. lembrada passa a funcionar como sujeito e o verbo sofre
leve alteração de sentido. É uma construção muito rara
Obedecer - Desobedecer na língua contemporânea, porém, é fácil encontrá-la
Sempre transitivo indireto: em textos clássicos tanto brasileiros como portugueses.
Todos obedeceram às regras. Machado de Assis, por exemplo, fez uso dessa construção
Ninguém desobedece às leis. várias vezes.
Esqueceu-me a tragédia. (cair no esquecimento)
Quando o objeto é “coisa”, não se utiliza “lhe” nem Lembrou-me a festa. (vir à lembrança)
“lhes”: As leis são essas, mas todos desobedecem a elas. Não lhe lembram os bons momentos da infância? (=
momentos é sujeito)
Proceder
Proceder é intransitivo no sentido de ser decisivo, ter
Simpatizar - Antipatizar
cabimento, ter fundamento ou comportar-se, agir. Nessa
São transitivos indiretos e exigem a preposição “com”:
segunda acepção, vem sempre acompanhado de adjunto
Não simpatizei com os jurados.
adverbial de modo.
Simpatizei com os alunos.
As afirmações da testemunha procediam, não havia
como refutá-las.
Você procede muito mal. Importante:
A norma culta exige que os verbos e expressões que
Nos sentidos de ter origem, derivar-se (rege a dão ideia de movimento sejam usados com a preposição
preposição “de”) e fazer, executar (rege complemento “a”:
introduzido pela preposição “a”) é transitivo indireto. Chegamos a São Paulo e fomos direto ao hotel.
O avião procede de Maceió. Cláudia desceu ao segundo andar.
Procedeu-se aos exames. Hoje, com esta chuva, ninguém sairá à rua.
O delegado procederá ao inquérito.
Regência Nominal
Querer
Querer é transitivo direto no sentido de desejar, ter É o nome da relação existente entre um nome
vontade de, cobiçar. (substantivo, adjetivo ou advérbio) e os termos regidos
Querem melhor atendimento. por esse nome. Essa relação é sempre intermediada por
Queremos um país melhor. uma preposição. No estudo da regência nominal, é preciso
levar em conta que vários nomes apresentam exatamente
Querer é transitivo indireto no sentido de ter afeição, o mesmo regime dos verbos de que derivam. Conhecer
estimar, amar: Quero muito aos meus amigos. o regime de um verbo significa, nesses casos, conhecer o
regime dos nomes cognatos. Observe o exemplo: Verbo
Visar obedecer e os nomes correspondentes: todos regem
Como transitivo direto, apresenta os sentidos de complementos introduzidos pela preposição a. Veja:
mirar, fazer pontaria e de pôr visto, rubricar. Obedecer a algo/ a alguém.
LÍNGUA PORTUGUESA

O homem visou o alvo. Obediente a algo/ a alguém.


O gerente não quis visar o cheque.
Se uma oração completar o sentido de um nome, ou
No sentido de ter em vista, ter como meta, ter como seja, exercer a função de complemento nominal, ela será
objetivo é transitivo indireto e rege a preposição “a”. completiva nominal (subordinada substantiva).
O ensino deve sempre visar ao progresso social.
Prometeram tomar medidas que visassem ao bem-
estar público.

65
Regência de Alguns Nomes

Substantivos
Admiração a, por Devoção a, para, com, por Medo a, de
Aversão a, para, por Doutor em Obediência a
Atentado a, contra Dúvida acerca de, em, sobre Ojeriza a, por
Bacharel em Horror a Proeminência sobre
Capacidade de, para Impaciência com Respeito a, com, para com, por

Adjetivos
Acessível a Diferente de Necessário a
Acostumado a, com Entendido em Nocivo a
Afável com, para com Equivalente a Paralelo a
Agradável a Escasso de Parco em, de
Alheio a, de Essencial a, para Passível de
Análogo a Fácil de Preferível a
Ansioso de, para, por Fanático por Prejudicial a
Apto a, para Favorável a Prestes a
Ávido de Generoso com Propício a
Benéfico a Grato a, por Próximo a
Capaz de, para Hábil em Relacionado com
Compatível com Habituado a Relativo a
Contemporâneo a, de Idêntico a Satisfeito com, de, em, por
Contíguo a Impróprio para Semelhante a
Contrário a Indeciso em Sensível a
Curioso de, por Insensível a Sito em
Descontente com Liberal com Suspeito de
Desejoso de Natural de Vazio de

Advérbios
Longe de Perto de

Observação:
Os advérbios terminados em -mente tendem a seguir o regime dos adjetivos de que são formados: paralela a;
paralelamente a; relativa a; relativamente a.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Cochar - Português linguagens: volume 3. – 7.ª ed. Reform. – São
Paulo: Saraiva, 2010.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras: literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000.

SITE
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint61.php>
LÍNGUA PORTUGUESA

66
Resposta: Letra C
Em “a”: Podemos esperar para um futuro melhor = po-
EXERCÍCIOS COMENTADOS demos esperar o quê?
Em “b”: Podemos esperar com um futuro melhor = po-
1. (LIQUIGÁS – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO – CES- demos esperar o quê?
GRANRIO-2018) Em “c”: Podemos esperar um futuro melhor = correta
Em “d”: Podemos esperar porquanto um futuro me-
O ano da esperança lhor = sentido de “porque”
Em “e”: Podemos esperar todavia um futuro melhor =
O ano de 2017 foi difícil. Avalio pelo número de amigos conjunção adversativa (ideia contrária à apresentada
desempregados. E pedidos de empréstimos. Um atrás anteriormente)
do outro. Nunca fui de botar dinheiro nas relações de A única frase correta – e coerente - é podemos esperar
amizade. Como afirmou Shakespeare, perde-se o dinhei- um futuro melhor.
ro e o amigo. Nos primeiros pedidos, eu ajudava, com a
consciência de que era uma doação. A situação foi pio- 2. (PETROBRAS – ADMINISTRADOR JÚNIOR – CES-
rando. Os argumentos também. No início era para pagar GRANRIO-2018) Considere a seguinte frase: “Os lança-
a escola do filho. Depois vieram as mães e avós doentes. mentos tecnológicos a que o autor se refere podem re-
Lamentavelmente, aprendi a não ser generoso. Ajudava sultar em comportamentos impulsivos nos consumidores
um rapaz, que não conheço pessoalmente. Mas que so- desses produtos”. A utilização da preposição destacada
freu um acidente e não tinha como pagar a fisioterapia. a é obrigatória para atender às exigências da regência
Comecei pagando a físio. Vieram sucessivas internações, do verbo “referir-se”, de acordo com a norma-padrão da
remédios. A situação piorando, eu já estava encomen- língua portuguesa. É também obrigatório o uso de uma
dando missa de sétimo dia. Falei com um amigo médico, preposição antecedendo o pronome que destacado em:
no Rio de Janeiro. Ele aceitou tratar o caso gratuitamen-
te. Surpresa! O doente não aparecia para a consulta. Até a) Os consumidores, ao adquirirem um produto que qua-
que o coloquei contra a parede. Ou se consultava ou eu se ninguém possui, recém-lançado no mercado, pas-
não ajudava mais. sam a ter uma sensação de superioridade.
Cheio de saúde, ele foi ao consultório. Pediu uma receita b) Muitos aparelhos difundidos no mercado nem sempre
de suplementos para ficar com o corpo atlético. Nunca co- trazem novidades que justifiquem seu preço elevado
nheci o sujeito, repito. Eu me senti um idiota por ter caído em relação ao modelo anterior.
na história. Só que esse rapaz havia perdido o emprego c) O estudo de mapeamento cerebral que o pesquisador
após o suposto acidente. Foi por isso que me deixei en- realizou foi importante para mostrar que o vício em
ganar. Mas, ao perder salário, muita gente perde também novidades tecnológicas cresce cada vez mais.
a vergonha. Pior ainda. A violência aumenta. As pessoas d) O hormônio chamado dopamina é responsável por
buscam vagas nos mercados em expansão. Se a indústria causar sensações de prazer que levam as pessoas a se
automobilística vai bem, é lá que vão trabalhar. sentirem recompensadas.
Podemos esperar por um futuro melhor ou o que nos e) As pessoas, na maioria das vezes, gastam muito mais
aguarda é mais descrédito? Novos candidatos vão surgir. do que o seu orçamento permite em aparelhos que
Serão novos? Ou os antigos? Ou novos com cabeça de elas não necessitam.
velhos? Todos pedem que a gente tenha uma nova cons-
ciência para votar. Como? Num mundo em que as notícias Resposta: Letra E
são plantadas pela internet, em que muitos sites servem Em “a”: Os consumidores, ao adquirirem um produto
a qualquer mentira. Digo por mim. Já contaram cada his- que (= o qual) quase ninguém possui, recém-lançado
tória a meu respeito que nem sei o que dizer. Já inventa- no mercado, passam a ter uma sensação de superio-
ram casos de amor, tramas nas novelas que escrevo. Pior. ridade.
Depois todo mundo me pergunta por que isso ou aquilo Em “b”: Muitos aparelhos difundidos no mercado nem
não aconteceu na novela. Se mudei a trama. Respondo: — sempre trazem novidades que (= as quais) justifiquem
Nunca foi para acontecer. Era mentira da internet. seu preço elevado em relação ao modelo anterior.
Duvidam. Acham que estou mentindo. Em “c”: O estudo de mapeamento cerebral que (= o
CARRASCO, W. O ano da esperança. Época, 25 dez. 2017, p.97. qual) o pesquisador realizou foi importante para mos-
Adaptado. trar que o vício em novidades tecnológicas cresce
cada vez mais.
Considere o trecho “Podemos esperar por um futuro me- Em “d”: O hormônio chamado dopamina é responsá-
lhor”. Respeitando-se as regras da norma-padrão e con- vel por causar sensações de prazer que (= as quais)
LÍNGUA PORTUGUESA

servando-se o conteúdo informacional, o trecho acima levam as pessoas a se sentirem recompensadas.


está corretamente reescrito em: Em “e”: As pessoas, na maioria das vezes, gastam mui-
to mais do que o seu orçamento permite em apare-
a) Podemos esperar para um futuro melhor lhos de que (= das quais) elas não necessitam.
b) Podemos esperar com um futuro melhor GABARITO OFICIAL: E
c) Podemos esperar um futuro melhor
d) Podemos esperar porquanto um futuro melhor
e) Podemos esperar todavia um futuro melhor

67
3. (MPU – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CESPE-2010) a) … e ausência de candidatos para concorrer a elas.
A pobreza é um dos fatores mais comumente responsá- b) … e ausência de candidatos para concorrer à elas.
veis pelo baixo nível de desenvolvimento humano e pela c) … e ausência de candidatos para concorrer-lhes.
origem de uma série de mazelas, algumas das quais proi- d) … e ausência de candidatos para concorrê-las.
bidas por lei ou consideradas crimes. É o caso do trabalho e) … e ausência de candidatos para lhes concorrer.
infantil. A chaga encontra terreno fértil nas sociedades
subdesenvolvidas, mas também viceja onde o capitalis- Resposta: Letra A
mo, em seu ambiente mais selvagem, obriga crianças e Vamos por exclusão: “à elas” está errada, já que não
adolescentes a participarem do processo de produção. Foi temos acento indicativo de crase antes de pronome
assim na Revolução Industrial de ontem e nas economias pessoal; quando temos um verbo no infinitivo, pode-
ditas avançadas. E ainda é, nos dias de hoje, nas manufa- mos usar a construção: verbo + preposição + prono-
turas da Ásia ou em diversas regiões do Brasil. Enquanto, me pessoal. Por exemplo: Dar a eles (ao invés de “dar-
entre as nações ricas, o trabalho infantil foi minimizado, já -lhes”).
que nunca se pode dizer erradicado, ele continua sendo
grave problema nos países mais pobres.
Jornal do Brasil, Editorial, 1.º/7/2010 (com adaptações).
COLOCAÇÃO PRONOMINAL
O emprego de preposição em “a participarem” é exigido
pela regência da forma verbal “obriga”.

( ) CERTO ( ) ERRADO “Prezado Candidato, o tópico acima foi abordado na


íntegra em: Classes de palavras: substantivo, adjetivo,
numeral, artigo, pronome, verbo, advérbio, preposição e
Resposta: Certo conjunção: emprego e sentido que imprimem às relações
(...) o capitalismo, em seu ambiente mais selvagem, que estabelecem.”
obriga crianças e adolescentes a participarem =
quem obriga, obriga alguém (crianças e adolescentes –
objeto direto) a algo (a participarem – objeto indireto:
com preposição – no caso, uma oração com a função CRASE
de objeto indireto).
CRASE
4. (PC-SP - ESCRIVÃO DE POLÍCIA – VUNESP-2013)
Considerando as regras de regência verbal, assinale a al- A crase se caracteriza como a fusão de duas vogais
ternativa correta. idênticas, relacionadas ao emprego da preposição “a”
com o artigo feminino a(s), com o “a” inicial referente
a) Ao ver a quantidade excessiva de prateleiras, o amigo aos pronomes demonstrativos – aquela(s), aquele(s),
comentou de que o livro estava acabando. aquilo e com o “a” pertencente ao pronome relativo a
b) Enquanto seu amigo continua encomendando livros qual (as quais). Casos estes em que tal fusão encontra-se
de papel, o autor aderiu o livro digital. demarcada pelo acento grave ( ` ): à(s), àquela, àquele,
c) Álvaro convenceu-se de que o melhor a fazer seria sair àquilo, à qual, às quais.
para jantar. O uso do acento indicativo de crase está condicionado
d) As estantes que o autor aludiu foram projetadas para aos nossos conhecimentos acerca da regência verbal e
armazenar livros e CDs. nominal, mais precisamente ao termo regente e termo
e) O único detalhe do apartamento que o amigo se ateve regido. Ou seja, o termo regente é o verbo - ou nome -
foi o número de estantes. que exige complemento regido pela preposição “a”, e o
termo regido é aquele que completa o sentido do termo
Resposta: Letra C regente, admitindo a anteposição do artigo a(s).
Em “a”: Ao ver a quantidade excessiva de prateleiras, o Refiro-me a (a) funcionária antiga, e não a (a)quela
amigo comentou de (X) que = comentou que contratada recentemente.
Em “b”: Enquanto seu amigo continua encomendando Após a junção da preposição com o artigo (destacados
livros de papel, o autor aderiu o = aderiu ao entre parênteses), temos:
Em “c”: Álvaro convenceu-se de que o melhor a fazer Refiro-me à funcionária antiga, e não àquela
seria sair para jantar = correta contratada recentemente.
Em “d”: As estantes que o autor aludiu = às quais/a
que
LÍNGUA PORTUGUESA

O verbo referir, de acordo com sua transitividade,


Em “e”: O único detalhe do apartamento que o amigo classifica-se como transitivo indireto, pois sempre
se ateve = ao qual/ a que nos referimos a alguém ou a algo. Houve a fusão da
preposição a + o artigo feminino (à) e com o artigo
5. (TJ-SP – ADVOGADO - VUNESP/2013 - ADAPTADA) feminino a + o pronome demonstrativo aquela (àquela).
Na passagem – ... e ausência de candidatos para preen-
chê-las. –, substituindo-se o verbo preencher por concor-
rer e atendendo-se à norma-padrão, obtém-se:

68
Observações importantes: Cuidado: quando as expressões acima não exercerem
Alguns recursos servem de ajuda para que possamos a função de locuções não ocorrerá crase. Repare:
confirmar a ocorrência ou não da crase. Eis alguns: Eu adoro a noite!
Adoro o quê? Adoro quem? O verbo “adoro” requer
• Substitui-se a palavra feminina por uma masculina objeto direto, no caso, a noite. Aqui, o “a” é artigo, não
equivalente. Caso ocorra a combinação a + o(s), a preposição.
crase está confirmada.
Os dados foram solicitados à diretora. Casos passíveis de nota:
Os dados foram solicitados ao diretor.
• A crase é facultativa diante de nomes próprios femi-
• No caso de nomes próprios geográficos, substitui-se ninos: Entreguei o caderno a (à) Eliza.
o verbo da frase pelo verbo voltar. Caso resulte na • Também é facultativa diante de pronomes posses-
expressão “voltar da”, há a confirmação da crase. sivos femininos: O diretor fez referência a (à) sua
Faremos uma visita à Bahia. empresa.
Faz dois dias que voltamos da Bahia. (crase confirmada) • Facultativa em locução prepositiva “até a”: A loja fi-
cará aberta até as (às) dezoito horas.
Não me esqueço da viagem a Roma. • Constata-se o uso da crase se as locuções prepo-
Ao voltar de Roma, relembrarei os belos momentos sitivas à moda de, à maneira de apresentarem-se
jamais vividos. implícitas, mesmo diante de nomes masculinos:
Tenho compulsão por comprar sapatos à Luis XV. (à
moda de Luís XV)
FIQUE ATENTO! • Não se efetiva o uso da crase diante da locução ad-
Nas situações em que o nome geográfico verbial “a distância”: Na praia de Copacabana, ob-
se apresentar modificado por um adjunto servamos a queima de fogos a distância.
adnominal, a crase está confirmada. Entretanto, se o termo vier determinado, teremos
Atendo-me à bela Fortaleza, senti saudades uma locução prepositiva, aí sim, ocorrerá crase: O
de suas praias. pedestre foi arremessado à distância de cem metros.
Use a regrinha “Vou A volto DA, crase HÁ;
vou A volto DE, crase PRA QUÊ?” Exemplo: • De modo a evitar o duplo sentido – a ambiguidade
Vou a Campinas. = Volto de Campinas. -, faz-se necessário o emprego da crase.
(crase pra quê?) Ensino à distância.
Vou à praia. = Volto da praia. (crase há!) Ensino a distância.

• Em locuções adverbiais formadas por palavras


Quando o nome de lugar estiver especificado, repetidas, não há ocorrência da crase.
ocorrerá crase. Veja: Ela ficou frente a frente com o agressor.
Retornarei à São Paulo dos bandeirantes. = mesmo Eu o seguirei passo a passo.
que, pela regrinha acima, seja a do “VOLTO DE”
Irei à Salvador de Jorge Amado. Casos em que não se admite o emprego da crase:

A letra “a” dos pronomes demonstrativos aquele(s), Antes de vocábulos masculinos.


aquela(s) e aquilo receberão o acento grave se o termo As produções escritas a lápis não serão corrigidas.
regente exigir complemento regido da preposição “a”. Esta caneta pertence a Pedro.
Entregamos a encomenda àquela menina.
(preposição + pronome demonstrativo) Antes de verbos no infinitivo.
Ele estava a cantar.
Iremos àquela reunião. Começou a chover.
(preposição + pronome demonstrativo)
Antes de numeral.
Sua história é semelhante às que eu ouvia quando O número de aprovados chegou a cem.
criança. (àquelas que eu ouvia quando criança) Faremos uma visita a dez países.
(preposição + pronome demonstrativo)
Observações:
A letra “a” que acompanha locuções femininas • Nos casos em que o numeral indicar horas – fun-
LÍNGUA PORTUGUESA

(adverbiais, prepositivas e conjuntivas) recebem o acento cionando como uma locução adverbial feminina –
grave: ocorrerá crase: Os passageiros partirão às dezenove
• locuções adverbiais: às vezes, à tarde, à noite, às horas.
pressas, à vontade... • Diante de numerais ordinais femininos a crase está
• locuções prepositivas: à frente, à espera de, à pro- confirmada, visto que estes não podem ser empre-
cura de... gados sem o artigo: As saudações foram direciona-
• locuções conjuntivas: à proporção que, à medida que. das à primeira aluna da classe.

69
• Não ocorrerá crase antes da palavra casa, quando Resposta: Letra E
essa não se apresentar determinada: Chegamos to- Aos itens:
dos exaustos a casa. Em “a”, evita considerar à internet = a internet (objeto
Entretanto, se vier acompanhada de um adjunto direto)
adnominal, a crase estará confirmada: Chegamos todos Em “b”, tinha uma propensão à jogar = a jogar (sem
exaustos à casa de Marcela. acento grave indicativo de crase antes de verbo no
infinitivo)
• Não há crase antes da palavra “terra”, quando Em “c”, tinha um comportamento indiferente à
essa indicar chão firme: Quando os navegantes qualquer influência = a qualquer (antes de pronome
regressaram a terra, já era noite. indefinido)
Contudo, se o termo estiver precedido por um Em “d”, refere-se à uma maneira = a uma (antes de
determinante ou referir-se ao planeta Terra, ocorrerá artigo indefinido)
crase. Em “e”, O personagem revelou à pessoa com quem
Paulo viajou rumo à sua terra natal. conversava que jogava o tempo fora = revelou o quê?
O astronauta voltou à Terra. que jogava o tempo fora; revelou a quem? à pessoa
(objeto indireto, com preposição) = correta.
• Não ocorre crase antes de pronomes que requerem
o uso do artigo. 2. (PM-SP - SOLDADO DE 2.ª CLASSE – VUNESP-2017)
Os livros foram entregues a mim. Assinale a alternativa que preenche, correta e
Dei a ela a merecida recompensa. respectivamente, as lacunas do texto a seguir.
Quase 30 anos depois de iniciar um trabalho de
• Pelo fato de os pronomes de tratamento relativos atendimento _____ presos da Casa de Detenção, em São
à senhora, senhorita e madame admitirem artigo, Paulo, o médico oncologista Drauzio Varella chega ao
o uso da crase está confirmado no “a” que os fim de uma trilogia com o livro “Prisioneiras”. Depois de
antecede, no caso de o termo regente exigir a “Estação Carandiru” (1999), que mostra ________ entranhas
preposição. daquela que foi ________maior prisão da América Latina,
Todos os méritos foram conferidos à senhorita Patrícia. e de “Carcereiros” (2012), sobre os funcionários que
trabalham no sistema prisional, Varella agora faz um
• Não ocorre crase antes de nome feminino utilizado retrato das detentas da Penitenciária Feminina da Capital,
em sentido genérico ou indeterminado: também na capital paulista, onde cumprem pena mais de
Estamos sujeitos a críticas. duas mil mulheres.
Refiro-me a conversas paralelas. (https://oglobo.globo.com. Adaptado)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS a) à … às … a
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa b) a … as … a
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. c) a … às … a
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza d) à … às … à
Cochar. Português linguagens: volume 3 – 7.ª ed. Reform. e) a … as … à
– São Paulo: Saraiva, 2010.
Resposta: Letra B
SITE Quase 30 anos depois de iniciar um trabalho de
Disponível em: <http://www.portugues.com.br/ atendimento a (preposição – regência nominal de
gramatica/o-uso-crase-.html> “atendimento”, mas sem acento grave por estar diante
de palavra masculina) presos da Casa de Detenção,
em São Paulo, o médico oncologista Drauzio Varella
chega ao fim de uma trilogia com o livro “Prisioneiras”.
EXERCÍCIOS COMENTADOS Depois de “Estação Carandiru” (1999), que mostra as
(objeto direto do verbo “mostrar”) entranhas daquela
1. (POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO - que foi a (artigo definido) maior prisão da América
SOLDADO PM 2.ª CLASSE – VUNESP/2017) O acento Latina, e de “Carcereiros” (2012), sobre os funcionários
indicativo de crase está empregado corretamente em: que trabalham no sistema prisional, Varella agora faz
um retrato das detentas da Penitenciária Feminina da
a) O personagem evita considerar à internet responsável Capital, também na capital paulista, onde cumprem
por suas atitudes. pena mais de duas mil mulheres.
b) O personagem reconheceu que já tinha uma propensão Teremos: a / as / a.
LÍNGUA PORTUGUESA

à jogar o tempo fora.


c) O personagem tinha um comportamento indiferente à 3. (CÂMARA MUNICIPAL DE DOIS CÓRREGOS-SP
qualquer influência da internet. - OFICIAL DE ATENDIMENTO E ADMINISTRAÇÃO –
d) O personagem refere-se à uma maneira de se portar VUNESP-2018) Assinale a alternativa em que o acento
com relação ao tempo. indicativo de crase está empregado corretamente.
e) O personagem revelou à pessoa com quem conversava
que jogava o tempo fora.

70
a) Algumas pessoas com supermemória chegam à sofrer obtendo um grande retorno, e passaram _________ ostentar
com dores de cabeça. sua riqueza. O período ficou conhecido como Era Dourada.
b) Há lembranças tão vivas que nos fazem voltar à episó- A desigualdade nunca foi tão grande – até agora. É o
dios de nosso passado. que mostra um relatório da UBS, companhia de serviços
c) Lembrar-se do passado pode ser uma tarefa muito di- financeiros, feito em parceria com a consultora PwC.
fícil à determinadas pessoas. Para os autores do documento, a primeira Era Dourada
d) Ela referiu-se à vontade de esquecer completamente aconteceu entre 1870 e 1910. Segundo eles, a atual
os momentos dolorosos. começou em 1980 e deve se estender pelos próximos 10
e) Ao nos atermos à uma experiência ruim, desconsidera- a 20 anos, prolongada pelo desempenho econômico da
mos o que ela traz de bom. Ásia e de negócios ligados ________ tecnologia.
(IstoÉ, 15.11.2017. Adaptado)
Resposta: Letra D
Aos itens: Em conformidade com a norma-padrão, as lacunas do
Em “a”, chegam à sofrer = a sofrer (antes de verbo no texto devem ser preenchidas, respectivamente, com:
infinitivo não se usa acento grave)
Em “b”, que nos fazem voltar à episódios = a episódios a) a … a … a
(palavra masculina e no plural) b) à … à … à
Em “c”, pode ser uma tarefa muito difícil à determinadas c) a … à … à
= a determinadas (palavra no plural e presença só da d) à … à … a
preposição) e) a … a … à
Em “d”, Ela referiu-se à vontade = correta (quem se
refere, refere-se a algo ou a alguém) Resposta: Letra E
Em “e”, Ao nos atermos à uma experiência = a uma Vamos aos trechos:
(antes de artigo indefinido) a rápida industrialização nos Estados Unidos deu
origem a algumas das maiores fortunas = antes de
4. (IPSM-SP - ASSISTENTE DE GESTÃO MUNICIPAL -
pronome indefinido
VUNESP-2018) De acordo com a norma- -padrão, o
e passaram a ostentar sua riqueza = antes de verbo
acento indicativo da crase está corretamente empregado
no infinitivo
em:
e de negócios ligados à tecnologia = regência nominal
de “ligados” pede preposição
a) O leitor aludiu à escrita como se ela fosse questão de
talento: quem não tem, não vai nunca aprender.
6. (CÂMARA MUNICIPAL DE COTIA-SP – CONTADOR -
b) A escrita deve levar o texto à uma riqueza, marcada
pela clareza e precisão, afastando o leitor da confusão VUNESP-2017) Assinale a alternativa correta quanto ao
ou tédio. emprego do acento indicativo da crase.
c) De parte à parte, o texto precisa organizar-se como um
tecido coeso e claro, instigando, assim, o leitor. a) A circulação instantânea das notícias falsas, as quais
d) Existem aquelas pessoas que chegam à conclusões se- chegam à um grande público devido à rapidez da in-
melhantes, no entanto elas seguem pelo lado oposto. ternet, é favorável à formação de ondas de credulidade.
e) Também não estamos falando só de correção gramati- b) A circulação instantânea das notícias falsas, às quais
cal e ortográfica. Estamos nos referindo à pensamento. chegam à muitas pessoas devido a rapidez da internet,
favorece que se formem ondas de credulidade.
Resposta: Letra A c) A circulação instantânea das notícias falsas, as quais
Em “a”, O leitor aludiu à escrita = correta (regência do chegam a muitas pessoas devido à rapidez da internet,
verbo “aludir” pede preposição) é favorável à formação de ondas de credulidade.
Em “b”, A escrita deve levar o texto à uma riqueza = a d) A circulação instantânea das notícias falsas, às quais
uma (antes de artigo indefinido) chegam a um grande número de pessoas devido à ra-
Em “c”, De parte à parte = parte a parte (entre palavras pidez da internet, é favorável as ondas de credulidade
repetidas) que se formam.
Em “d”, Existem aquelas pessoas que chegam à e) A circulação instantânea das notícias falsas, às quais
conclusões = a conclusões (antes de palavra no plural chegam a muitas pessoas devido a rapidez da internet,
e o “a” está “sozinho” = somente preposição) favorece à formação de ondas de credulidade.
Em “e”, Estamos nos referindo à pensamento = a
pensamento (palavra masculina) Resposta: Letra C
Acertos entre parênteses:
LÍNGUA PORTUGUESA

5. (PREFEITURA MUNICIPAL DE MOGI DAS CRUZES- Em “a”, as quais chegam à um (a um) grande público
SP - AUXILIAR DE APOIO ADMINISTRATIVO - devido à rapidez (ok) da internet, é favorável à
VUNESP-2018) formação (ok)
No começo do século 20, a rápida industrialização nos Em “b”, às quais (as quais) chegam à muitas (a muitas)
Estados Unidos deu origem _______ algumas das maiores pessoas devido a rapidez (à rapidez) da internet
fortunas que o mundo já viu. Famílias como os Vanderbilt Em “c”, as quais chegam a muitas pessoas devido à
e os Rockefeller investiram em ferrovias, petróleo e aço, rapidez da internet, é favorável à formação = correta

71
Em “d”, às quais (as quais) chegam a um (ok) grande
número de pessoas devido à rapidez (ok) da internet,
é favorável as ondas (às ondas) HORA DE PRATICAR!
Em “e”, às quais (as quais) chegam a muitas (ok)
pessoas devido a rapidez (à rapidez) da internet, 1. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – VU-
favorece à formação (a formação) NESP/2013) Assinale a alternativa com as palavras acen-
Observação: quanto à regência verbal de “favorecer” tuadas segundo as regras de acentuação, respectivamen-
= pede complemento verbal direto (favorece o quê? te, de intercâmbio e antropológico.
favorece quem?); já a regência nominal de “favorável” a) Distúrbio e acórdão.
pede preposição (favorável a quem? a quê?). b) Máquina e jiló.
c) Alvará e Vândalo.
d) Consciência e características.
e) Órgão e órfãs.

2. (PC-SP - AUXILIAR DE NECROPSIA – VUNESP-2014)


Considerando que o adjetivo é uma palavra que modifica
o substantivo, com ele concordando em gênero e núme-
ro, assinale a alternativa em que a palavra destacada é
um adjetivo.

a) ... um câncer de boca horroroso, ...


b) Ele tem dezesseis anos...
c) Eu queria que ele morresse logo, ...
d) ... com a crueldade adicional de dar esperança às fa-
mílias.
e) E o inferno não atinge só os terminais.

3. (PC-SP - INVESTIGADOR DE POLÍCIA – VU-


NESP-2014)

Compras de Natal

A cidade deseja ser diferente, escapar às suas fatalidades.


__________ de brilhos e cores; sinos que não tocam, balões
que não sobem, anjos e santos que não __________ , estre-
las que jamais estiveram no céu.
As lojas querem ser diferentes, fugir à realidade do ano
inteiro: enfeitam-se com fitas e flores, neve de algodão
de vidro, fios de ouro e prata, cetins, luzes, todas as coi-
sas que possam representar beleza e excelência.
Tudo isso para celebrar um Meninozinho envolto em po-
bres panos, deitado numas palhas, há cerca de dois mil
anos, num abrigo de animais, em Belém.
(Cecília Meireles, Quatro Vozes. Adaptado)

De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa,


as lacunas do texto devem ser preenchidas, correta e res-
pectivamente, com:
a) Se enche … movem-se
b) Se enchem … se movem
c) Enchem-se … se move
d) Enche-se … move-se
e) Enche-se … se movem
LÍNGUA PORTUGUESA

72
4. (PC-SP - AGENTE DE POLÍCIA – VUNESP-2013) Assi- 8. (PC-SP - INVESTIGADOR DE POLÍCIA – VU-
nale a alternativa correta quanto à colocação pronominal, NESP-2014) Assinale a alternativa correta quanto à con-
de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa. cordância.
a) O passageiro ao lado jamais imaginou-se na situação a) Como as pessoas não são obrigado a produzir provas
de ter de procurar a dona de uma bolsa perdida. contra si mesmo, aquelas que recusasse os procedi-
b) O homem se indignou quando propuseram-lhe que mentos dificilmente seria condenada.
abrisse a bolsa que encontrara. b) Como as pessoas não são obrigadas a produzir provas
c) Nos sentimos impotentes quando não conseguimos contra si mesmo, aquelas que recusasse os procedi-
restituir um objeto à pessoa que o perdeu. mentos dificilmente seriam condenadas.
d) Para que se evite perder objetos, recomenda-se que c) Como as pessoas não é obrigada a produzir provas
eles sejam sempre trazidos junto ao corpo. contra si mesmas, aquelas que recusasse os procedi-
e) Em tratando-se de objetos encontrados, há uma tendên- mentos dificilmente seria condenada.
cia natural das pessoas em devolvê-los a seus donos. d) Como as pessoas não são obrigadas a produzir provas
contra si mesmas, aquelas que recusassem os proce-
5. (PM-SP - SOLDADO DE 2.ª CLASSE – VUNESP-2017- dimentos dificilmente seriam condenadas.
ADAPTADA) Assinale a alternativa em que o trecho está e) Como as pessoas não são obrigada a produzir provas
reescrito conforme a norma-padrão da língua portugue- contra si mesma, aquelas que recusassem os procedi-
sa, com a expressão destacada substituída pelo pronome mentos dificilmente seriam condenada.
correspondente.
a) ... o prazer de contar aquelas histórias... → ... o pra- 9. (TJ-SP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – VU-
zer de contar-nas... NESP-2018) Assinale a alternativa em que, ao contrário
b) ... meio século sem escrever livros. → ... meio sécu- da construção “aquela rapaz”, segue-se a lei fundamental
lo sem escrevê-los. da concordância, de acordo com a norma-padrão.
c) ... puxo a mesinha... → ... puxo-lhe... a) Quando o despacho chegou, a primeira coisa que o
d) ... livro que reúne entrevistas e textos de Ernest advogado fez foi conferir os documentos anexos.
Hemingway... → ... livro que reúne-as... b) Era um dia ensolarado, e não se sabe como foi
e) O médico que atendia pacientes... → O médico que atropelado aquela mulher em uma avenida tranquila.
lhe atendia... c) Parece-me que este ano está chovendo muito, mas
ainda assim há menas chuvas do que em anos anteriores.
6. (PC-BA – DELEGADO DE POLÍCIA – VUNESP-2018) d) As crianças brincavam no jardim, colhendo flores
A concordância está em conformidade com a norma-pa- colorida e presenteando-se num gesto emocionante.
drão na seguinte frase: e) Quando entraram na casa abandonada, uma cobra
a) São comuns que a adaptação de livros para o cine- estava escondido ali. Assustaram-se, pois era um bicho
ma suscitem reações negativas nos fãs do texto escrito. perigoso.
b) Cabem aos leitores completar, com a imaginação,
as lacunas que fazem parte da estrutura significativa do 10. (PC-SP - INVESTIGADOR DE POLÍCIA – VU-
texto literário. NESP-2014)
c) Aos esforços envolvidos na leitura soma-se a imagi- A cada ano, ocorrem cerca de 40 mil mortes; segundo
nação, a que a linguagem literária apela constantemente. especialistas, quase metade delas está associada _____
d) Algumas pessoas mantém o hábito de só assisti- bebidas alcoólicas. Isso revela a necessidade de um com-
rem à adaptação de uma obra depois de as terem lido, bate efetivo _____ embriaguez ao volante.
para não ser influenciadas. As lacunas do trecho devem ser preenchidas, correta e
e) Há livros que dispõe de uma infinidade de respectivamente, com:
adaptações para o cinema, as quais tende a compor seu a) às … a
repertório de leituras. b) as … à
c) à … à
7. (PC-SP - ATENDENTE DE NECROTÉRIO POLICIAL – d) às … à
VUNESP-2014) Assinale a alternativa que preenche, cor- e) à … a
reta e respectivamente, as lacunas da frase, de acordo
com a norma-padrão da língua portuguesa. 11. (PC-SP - AGENTE DE POLÍCIA – VUNESP-2013) De
_________ situações _________ a batalha contra as doen- acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, o acen-
ças torna-se um fracasso. to indicativo de crase está corretamente empregado em:
a) Existe ... em que a) A população, de um modo geral, está à espera de que,
b) Existem ... em que com o novo texto, a lei seca possa coibir os acidentes.
LÍNGUA PORTUGUESA

c) Existem ... a qual b) A nova lei chega para obrigar os motoristas à repensa-
d) Existem ... em cuja rem a sua postura.
e) Existe ... as quais c) A partir de agora os motoristas estarão sujeitos à puni-
ções muito mais severas.
d) À ninguém é dado o direito de colocar em risco a vida
dos demais motoristas e de pedestres.
e) Cabe à todos na sociedade zelar pelo cumprimento da
nova lei para que ela possa funcionar.

73
12. (PM-SP - SOLDADO DE 2.ª CLASSE – VUNESP-2017) Há uma boa razão que explica por que todos adoram um
Assinale a alternativa que preenche, correta e respectiva- espaço com quatro paredes e uma porta: foco. A verdade
mente, as lacunas do texto a seguir. é que não conseguimos cumprir várias tarefas ao mesmo
tempo, e pequenas distrações podem desviar nosso foco
Quase 30 anos depois de iniciar um trabalho de atendi- por até 20 minutos.
mento _____ presos da Casa de Detenção, em São Paulo, Retemos mais informações quando nos sentamos em um
o médico oncologista Drauzio Varella chega ao fim de local fixo, afirma Sally Augustin, psicóloga ambiental e
uma trilogia com o livro “Prisioneiras”. Depois de “Es- design de interiores.
tação Carandiru” (1999), que mostra ________ entranhas (Bryan Borzykowski, “Por que escritórios abertos podem ser
daquela que foi ________maior prisão da América Latina, ruins para funcionários.” Disponível em:<www1.folha.uol.
e de “Carcereiros” (2012), sobre os funcionários que tra- com.br>. Acesso em: 04.04.2017. Adaptado)
balham no sistema prisional, Varella agora faz um retrato
14. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ-
das detentas da Penitenciária Feminina da Capital, tam-
DIO - VUNESP – 2017) Segundo o texto, são aspectos
bém na capital paulista, onde cumprem pena mais de
desfavoráveis ao trabalho em espaços abertos compar-
duas mil mulheres.
tilhados
(https://oglobo.globo.com. Adaptado)
a) a impossibilidade de cumprir várias tarefas e a restri-
ção à criatividade.
a) à … às … a b) a dificuldade de propor soluções tecnológicas e a
b) a … as … a transferência de atividades para o lar.
c) a … às … a c) a dispersão e a menor capacidade de conservar con-
d) à … às … à teúdos.
e) a … as … à d) a distração e a possibilidade de haver colaboração de
colegas e chefes.
13. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ- e) o isolamento na realização das tarefas e a vigilância
DIO - VUNESP – 2017 - ADAPTADA) Leia o texto, para constante dos chefes.
responder às questões a seguir:
15. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ-
Há quatro anos, Chris Nagele fez o que muitos executi- DIO - VUNESP – 2017) Assinale a alternativa em que a
vos no setor de tecnologia já tinham feito – ele transferiu nova redação dada ao seguinte trecho do primeiro pará-
sua equipe para um chamado escritório aberto, sem pa- grafo apresenta concordância de acordo com a norma-
redes e divisórias. -padrão: Há quatro anos, Chris Nagele fez o que muitos
Os funcionários, até então, trabalhavam de casa, mas ele executivos no setor de tecnologia já tinham feito.
queria que todos estivessem juntos, para se conectarem a) Muitos executivos já havia transferido suas equipes
e colaborarem mais facilmente. Mas em pouco tempo fi- para o chamado escritório aberto, como feito por
cou claro que Nagele tinha cometido um grande erro. Chris Nagele.
Todos estavam distraídos, a produtividade caiu, e os nove b) Mais de um executivo já tinham transferido suas equi-
empregados estavam insatisfeitos, sem falar do próprio pes para escritórios abertos, o que só aconteceu com
chefe. Chris Nagele fazem mais de quatro anos.
Em abril de 2015, quase três anos após a mudança para c) O que muitos executivos fizeram, transferindo suas
equipes para escritórios abertos, também foi feito por
o escritório aberto, Nagele transferiu a empresa para um
Chris Nagele, faz cerca de quatro anos.
espaço de 900 m² onde hoje todos têm seu próprio es-
d) Devem fazer uns quatro anos que Chris Nagele trans-
paço, com portas e tudo.
feriu sua equipe para escritórios abertos, tais como foi
Inúmeras empresas adotaram o conceito de escritório
transferido por muitos executivos.
aberto – cerca de 70% dos escritórios nos Estados Uni- e) Faz exatamente quatro anos que Chris Nagele fez o que
dos são assim – e até onde se sabe poucos retornaram já tinham sido feitos por outros executivos do setor.
ao modelo de espaços tradicionais com salas e portas.
Pesquisas, contudo, mostram que podemos perder até 16. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ-
15% da produtividade, desenvolver problemas graves DIO - VUNESP – 2017) É correto afirmar que a expressão
de concentração e até ter o dobro de chances de ficar – até então –, em destaque no início do segundo pará-
doentes em espaços de trabalho abertos – fatores que grafo, expressa um limite, com referência
estão contribuindo para uma reação contra esse tipo de a) temporal ao momento em que se deu a transferência
organização. da equipe de Nagele para o escritório aberto.
Desde que se mudou para o formato tradicional, Na- b) espacial aos escritórios fechados onde trabalhava a equi-
gele já ouviu colegas do setor de tecnologia dizerem pe de Nagele antes da mudança para locais abertos.
LÍNGUA PORTUGUESA

sentir falta do estilo de trabalho do escritório fechado. c) temporal ao dia em que Nagele decidiu seguir o exem-
“Muita gente concorda – simplesmente não aguentam o plo de outros executivos, e espacial ao tipo de escri-
escritório aberto. Nunca se consegue terminar as coisas e tório que adotou.
é preciso levar mais trabalho para casa”, diz ele. d) espacial ao caso de sucesso de outros executivos do
É improvável que o conceito de escritório aberto caia em setor de tecnologia que aboliram paredes e divisórias.
desuso, mas algumas firmas estão seguindo o exemplo e) espacial ao novo tipo de ambiente de trabalho, e tem-
de Nagele e voltando aos espaços privados. poral às mudanças favoráveis à integração.

74
17. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ- d) O aborto de fetos anencéfalos motivo de muita revol-
DIO - VUNESP – 2017) É correto afirmar que a expressão ta, foi bastante contestado.
– contudo –, destacada no quinto parágrafo, estabelece e) Iniciei assim que o velhinho teve uma parada cardíaca,
uma relação de sentido com o parágrafo os processos de reanimação.
a) anterior, confirmando com estatísticas o sucesso das em-
presas que adotaram o modelo de escritórios abertos. 22. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ-
b) posterior, expondo argumentos favoráveis à adoção DIO - VUNESP – 2017) Assinale a alternativa em que
do modelo de escritórios abertos. a substituição dos trechos destacados na passagem – O
c) anterior, atestando a eficiência do modelo aberto com paulistano, contudo, não é de jogar a toalha – prefere
base em resultados de pesquisas. estendê-la e se deitar em cima, caso lhe concedam dois
d) anterior, introduzindo informações que se contra- metros quadrados de chão. – está de acordo com a nor-
põem à visão positiva acerca dos escritórios abertos. ma-padrão de crase, regência e conjugação verbal.
e) posterior, contestando com dados estatísticos o for- a) prefere mais estendê-la do que desistir – põe à dis-
mato tradicional de escritório fechado. posição.
b) prefere estendê-la à desistir – ponham a disposição.
18. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ- c) prefere estendê-la a desistir – põe a disposição.
DIO - VUNESP – 2017) Assinale a frase do texto em que d) prefere estendê-la do que desistir – põem a disposição.
se identifica expressão do ponto de vista do próprio au- e) prefere estendê-la a desistir – ponham à disposição.
tor acerca do assunto de que trata.
a) “Nunca se consegue terminar as coisas e é preciso levar 23. (PREFEITURA DE SERTÃOZINHO - SP – FARMA-
mais trabalho para casa”, diz ele. (6.º parágrafo). CÊUTICO - SUPERIOR - VUNESP – 2017 - adaptada)
b) Inúmeras empresas adotaram o conceito de escritório Leia as frases.
aberto... (4.º parágrafo). As previsões alusivas ............. aumento da depressão são
c) Retemos mais informações quando nos sentamos em alarmantes.
Os sentimentos de tédio ou de tristeza são inadequada-
um local fixo, afirma Sally Augustin... (último parágrafo).
mente convertidos .......... estados depressivos.
d) Os funcionários, até então, trabalhavam de casa, mas
Qualquer situação que possa ser um obstáculo ............ feli-
ele queria que todos estivessem juntos... (2.º parágrafo).
cidade é considerada doença.
e) É improvável que o conceito de escritório aberto caia
em desuso... (7.º parágrafo).
Para que haja coerência com a regência nominal estabe-
lecida pela norma-padrão, as lacunas das frases devem
19. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ-
ser preenchidas, respectivamente, por:
DIO - VUNESP – 2017) Na frase – É improvável que o a) ao … com … na
conceito de escritório aberto caia em desuso... (7.º pará- b) ao … em … à
grafo) – a expressão em destaque tem o sentido de c) do … com … na
a) sofra censura. d) com o … em … para
b) torne-se obsoleto. e) com o … para … à
c) mostre-se alterado.
d) mereça sanção. 24 (ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR DO BARRO
e) seja substituído. BRANCO-SP – TECNÓLOGO DE ADMINISTRAÇÃO PO-
LICIAL MILITAR – VUNESP-2010) Analise a charge.
20. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ-
DIO - VUNESP – 2017) O trecho destacado na passagem
– Todos estavam distraídos, a produtividade caiu, e os nove
empregados estavam insatisfeitos, sem falar do próprio
chefe.– tem sentido de:
a) até mesmo o próprio chefe.
b) apesar do próprio chefe.
c) exceto o próprio chefe.
d) diante do próprio chefe.
e) portanto o próprio chefe.

21. (PC-SP - AUXILIAR DE NECROPSIA – VU-


LÍNGUA PORTUGUESA

NESP-2014) Assinale a alternativa cuja frase está correta (www.arionaurocartuns.com.br)


quanto à pontuação. A palavra só, presente na fala do personagem, tem o
a) O médico, solidário e comovido, apertou minha mão e mesmo sentido em:
entendeu o pedido de minha mãe. a) Só vence quem concorre.
b) A diferença entre parada cardíaca e morte, não é ensi- b) Mariana veio só, infelizmente.
nada, aos médicos nas faculdades. c) Pedro estava só, quando cheguei.
c) Prof. Alvariz, chefe da clínica sabia qual a diferença en- d) A mulher, por estar só, sentiu-se amedrontada.
tre, parada cardíaca e morte. e) O marujo, só, resolveu passear pela praia.

75
ANOTAÇÕES
GABARITO

1 D ________________________________________________
2 A _________________________________________________
3 E
_________________________________________________
4 D
_________________________________________________
5 B
6 C _________________________________________________
7 B _________________________________________________
8 D
_________________________________________________
9 A
10 D _________________________________________________

11 A _________________________________________________
12 B _________________________________________________
13 C
_________________________________________________
14 C
15 A _________________________________________________
16 D _________________________________________________
17 E
_________________________________________________
18 B
_________________________________________________
19 A
20 A _________________________________________________
21 E _________________________________________________
22 B
_________________________________________________
23 A
24 A _________________________________________________

_________________________________________________

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LÍNGUA PORTUGUESA

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76
ÍNDICE

MATEMÁTICA

Resolução de situações-problema, envolvendo: adição, subtração, multiplicação, divisão, potenciação ou radiciação


com números racionais, nas suas representações fracionária ou decimal;............................................................................................. 01
Mínimo múltiplo comum; Máximo divisor comum;.......................................................................................................................................... 07
Porcentagem;................................................................................................................................................................................................................... 19
Razão e proporção;........................................................................................................................................................................................................ 22
Regra de três simples ou composta;...................................................................................................................................................................... 25
Equações do 1.º ou do 2.º graus;............................................................................................................................................................................ 28
Sistema de equações do 1.º grau;........................................................................................................................................................................... 30
Grandezas e medidas – quantidade, tempo, comprimento, superfície, capacidade e massa; Relação entre grandezas –
tabela ou gráfico;............................................................................................................................................................................................................ 33
Tratamento da informação – média aritmética simples;................................................................................................................................. 39
Noções de Geometria – forma, ângulos, área, perímetro, volume, Teoremas de Pitágoras ou de Tales...................................... 44
como antecessor. Seja m um número natural qual-
RESOLUÇÃO DE SITUAÇÕES-PROBLEMA, quer, temos que seu antecessor será sempre de-
ENVOLVENDO: ADIÇÃO, SUBTRAÇÃO, finido como m-1. Para ficar claro, seguem alguns
MULTIPLICAÇÃO, DIVISÃO, POTENCIAÇÃO exemplos:
OU RADICIAÇÃO COM NÚMEROS
RACIONAIS, NAS SUAS REPRESENTAÇÕES Ex: O antecessor de 2 é 1.
FRACIONÁRIA OU DECIMAL; Ex: O antecessor de 56 é 55.
Ex: O antecessor de 10 é 9.

NÚMEROS NATURAIS E SUAS OPERAÇÕES FUNDA-


MENTAIS FIQUE ATENTO!
O único número natural que não possui
1. Definição de Números Naturais antecessor é o 0 (zero) !
Os números naturais como o próprio nome diz, são
os números que naturalmente aprendemos, quando es-
tamos iniciando nossa alfabetização. Nesta fase da vida, 1.1. Operações com Números Naturais
não estamos preocupados com o sinal de um número,
mas sim em encontrar um sistema de contagem para Agora que conhecemos os números naturais e temos
quantificarmos as coisas. Assim, os números naturais são um sistema numérico, vamos iniciar o aprendizado das
sempre positivos e começando por zero e acrescentando operações matemáticas que podemos fazer com eles.
sempre uma unidade, obtemos os seguintes elementos: Muito provavelmente, vocês devem ter ouvido falar das
quatro operações fundamentais da matemática: Adição,
ℕ = 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, … . Subtração, Multiplicação e Divisão. Vamos iniciar nossos
estudos com elas:
Sabendo como se constrói os números naturais, po- Adição: A primeira operação fundamental da Aritmé-
demos agora definir algumas relações importantes entre tica tem por finalidade reunir em um só número, todas
eles: as unidades de dois ou mais números. Antes de surgir
os algarismos indo-arábicos, as adições podiam ser rea-
a) Todo número natural dado tem um sucessor (nú- lizadas por meio de tábuas de calcular, com o auxílio de
mero que está imediatamente à frente do número pedras ou por meio de ábacos. Esse método é o mais
dado na sequência numérica). Seja m um núme- simples para se aprender o conceito de adição, veja a
ro natural qualquer, temos que seu sucessor será figura a seguir:
sempre definido como m+1. Para ficar claro, se-
guem alguns exemplos:

Ex: O sucessor de 0 é 1.
Ex: O sucessor de 1 é 2.
Ex: O sucessor de 19 é 20.

b) Se um número natural é sucessor de outro, então


os dois números que estão imediatamente ao lado
do outro são considerados como consecutivos. Ve- Observando a historinha, veja que as unidades (pe-
jam os exemplos: dras) foram reunidas após o passeio no quintal. Essa reu-
nião das pedras é definida como adição. Simbolicamen-
Ex: 1 e 2 são números consecutivos. te, a adição é representada pelo símbolo “+” e assim a
Ex: 5 e 6 são números consecutivos. historinha fica da seguinte forma:
Ex: 50 e 51 são números consecutivos. 3 2 5
+ =
𝑇𝑖𝑛ℎ𝑎 𝑒𝑚 𝑐𝑎𝑠𝑎 𝑃𝑒𝑔𝑢𝑒𝑖 𝑛𝑜 𝑞𝑢𝑖𝑛𝑡𝑎𝑙 𝑅𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑑𝑜
c) Vários números formam uma coleção de números
naturais consecutivos se o segundo for sucessor
do primeiro, o terceiro for sucessor do segundo, o Como toda operação matemática, a adição possui al-
quarto for sucessor do terceiro e assim sucessiva- gumas propriedades, que serão apresentadas a seguir:
mente. Observe os exemplos a seguir:
a) Fechamento: A adição no conjunto dos números
Ex: 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7 são consecutivos. naturais é fechada, pois a soma de dois números
Ex: 5, 6 e 7 são consecutivos. naturais será sempre um número natural.
MATEMÁTICA

Ex: 50, 51, 52 e 53 são consecutivos.


b) Associativa: A adição no conjunto dos números na-
d) Analogamente a definição de sucessor, podemos turais é associativa, pois na adição de três ou mais
definir o número que vem imediatamente antes parcelas de números naturais quaisquer é possível
ao número analisado. Este número será definido associar as parcelas de quaisquer modos, ou seja,

1
com três números naturais, somando o primeiro b) Não Associativa: A subtração de números naturais
com o segundo e ao resultado obtido somarmos também não é associativa, uma vez que a ordem
um terceiro, obteremos um resultado que é igual à de resolução é importante, devemos sempre sub-
soma do primeiro com a soma do segundo e o ter- trair o maior do menor. Quando isto não ocorrer, o
ceiro. Apresentando isso sob a forma de números, resultado não será um número natural.
sejam A,B e C, três números naturais, temos que: c) Elemento neutro: No caso do elemento neutro, a
propriedade irá funcionar se o zero for o termo a
𝐴 + 𝐵 + 𝐶 = 𝐴 + (𝐵 + 𝐶) ser subtraído do número. Se a operação for inver-
sa, o elemento neutro não vale para os números
c) Elemento neutro: Esta propriedade caracteriza-se naturais:
pela existência de número que ao participar da d) Não comutativa: Vale a mesma explicação para a
operação de adição, não altera o resultado final. subtração de números naturais não ser associativa.
Este número será o 0 (zero). Seja A, um número Como a ordem de resolução importa, não pode-
natural qualquer, temos que: mos trocar os números de posição

𝐴+0 = 𝐴 Multiplicação: É a operação que tem por finalidade


adicionar o primeiro número denominado multiplicando
d) Comutativa: No conjunto dos números naturais, ou parcela, tantas vezes quantas são as unidades do se-
a adição é comutativa, pois a ordem das parcelas gundo número denominadas multiplicador. Veja o exem-
não altera a soma, ou seja, somando a primeira plo:
parcela com a segunda parcela, teremos o mesmo
resultado que se somando a segunda parcela com Ex: Se eu economizar toda semana R$ 6,00, ao final de
a primeira parcela. Sejam dois números naturais A 5 semanas, quanto eu terei guardado?
e B, temos que:
𝐴+𝐵 =𝐵 +𝐴 Pensando primeiramente em soma, basta eu somar
todas as economias semanais:
Subtração: É a operação contrária da adição. Ao in-
vés de reunirmos as unidades de dois números naturais, 6 + 6 + 6 + 6 + 6 = 30
vamos retirar uma quantidade de um número. Voltando
novamente ao exemplo das pedras: Quando um mesmo número é somado por ele mes-
mo repetidas vezes, definimos essa operação como mul-
tiplicação. O símbolo que indica a multiplicação é o “x” e
assim a operação fica da seguinte forma:

6+6+6+6+6 6𝑥5
= = 30
𝑆𝑜𝑚𝑎𝑠 𝑟𝑒𝑝𝑒𝑡𝑖𝑑𝑎𝑠 𝑁ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑚𝑢𝑙𝑡𝑖𝑝𝑙𝑖𝑐𝑎𝑑𝑜 𝑝𝑒𝑙𝑎𝑠 𝑟𝑒𝑝𝑒𝑡𝑖çõ𝑒𝑠

A multiplicação também possui propriedades, que


são apresentadas a seguir:
Observando a historinha, veja que as unidades (pe-
dras) que eu tinha foram separadas. Essa separação das a) Fechamento: A multiplicação é fechada no conjun-
pedras é definida como subtração. Simbolicamente, a to dos números naturais, pois realizando o produ-
subtração é representada pelo símbolo “-” e assim a his- to de dois ou mais números naturais, o resultado
torinha fica da seguinte forma: será um número natural.
5 3 2
− = b) Associativa: Na multiplicação, podemos associar
𝑇𝑖𝑛ℎ𝑎 𝑒𝑚 𝑐𝑎𝑠𝑎 𝑃𝑟𝑒𝑠𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑜 𝑎𝑚𝑖𝑔𝑜 𝑅𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑑𝑜 três ou mais fatores de modos diferentes, pois se
A subtração de números naturais também possui multiplicarmos o primeiro fator com o segundo e
suas propriedades, definidas a seguir: depois multiplicarmos por um terceiro número na-
tural, teremos o mesmo resultado que multiplicar
a) Não fechada: A subtração de números naturais não o terceiro pelo produto do primeiro pelo segundo.
é fechada, pois há um caso onde a subtração de Sejam os números naturais m,n e p, temos que:
dois números naturais não resulta em um número 𝑚 𝑥 𝑛 𝑥 𝑝 = 𝑚 𝑥 (𝑛 𝑥 𝑝)
natural. Sejam dois números naturais A,B onde A <
B, temos que:
c) Elemento Neutro: No conjunto dos números na-
A−B< 0 turais também existe um elemento neutro para a
MATEMÁTICA

Como os números naturais são positivos, A-B não multiplicação mas ele não será o zero, pois se não
é um número natural, portanto a subtração não é repetirmos a multiplicação nenhuma vez, o resulta-
fechada. do será 0. Assim, o elemento neutro da multiplica-
ção será o número 1. Qualquer que seja o número
natural n, tem-se que:

2
𝑛𝑥1=𝑛

d) Comutativa: Quando multiplicamos dois números


naturais quaisquer, a ordem dos fatores não altera
o produto, ou seja, multiplicando o primeiro ele-
mento pelo segundo elemento teremos o mesmo
resultado que multiplicando o segundo elemento
pelo primeiro elemento. Sejam os números natu-
rais m e n, temos que: No caso em particular, conseguimos dividir as 8
pedras para 4 amigos, ficando cada um deles como 2
𝑚𝑥𝑛 = 𝑛𝑥𝑚 unidades e não restando pedras. Quando a divisão não
possui resto, ela é definida como divisão exata. Caso con-
e) Prioridade sobre a adição e subtração: Quando se trário, se ocorrer resto na divisão, como por exemplo, se
depararem com expressões onde temos diferentes ao invés de 4 fossem 3 amigos:
operações matemática, temos que observar a or-
dem de resolução das mesmas. Observe o exemplo
a seguir:

Ex: 2 + 4 𝑥 3

Se resolvermos a soma primeiro e depois a multi-


plicação, chegamos em 18.
Se resolvermos a multiplicação primeiro e depois a
soma, chegamos em 14. Qual a resposta certa?
Nessa divisão, cada amigo seguiu com suas duas pe-
A multiplicação tem prioridade sobre a adição, dras, porém restaram duas que não puderam ser distri-
portanto deve ser resolvida primeiro e assim a res- buídas, pois teríamos amigos com quantidades diferen-
posta correta é 14. tes de pedras. Nesse caso, tivermos a divisão de 8 pedras
por 3 amigos, resultando em um quociente de 2 e um
FIQUE ATENTO! resto também 2. Assim, definimos que essa divisão não
Caso haja parênteses na soma, ela tem prio- é exata.
ridade sobre a multiplicação. Utilizando o Devido a esse fato, a divisão de números naturais não
exemplo, temos que: . é fechada, uma vez que nem todas as divisões são exa-
(2 + 4)𝐱3 = 6 𝐱 3 = 18 Nesse caso, reali- tas. Também não será associativa e nem comutativa, já
que a ordem de resolução importa. As únicas proprieda-
za-se a soma primeiro, pois ela está dentro des válidas na divisão são o elemento neutro (que segue
dos parênteses sendo 1, desde que ele seja o divisor) e a propriedade
distributiva.
f) Propriedade Distributiva: Uma outra forma de re-
solver o exemplo anterior quando se a soma está
entre parênteses é com a propriedade distributiva. FIQUE ATENTO!
Multiplicando um número natural pela soma de
A divisão tem a mesma ordem de priorida-
dois números naturais, é o mesmo que multiplicar
de de resolução que a multiplicação, assim
o fator, por cada uma das parcelas e a seguir adi-
ambas podem ser resolvidas na ordem que
cionar os resultados obtidos. Veja o exemplo:
aparecem.
2 + 4 x 3 = 2x3 + 4x3 = 6 + 12 = 18

Veja que a multiplicação foi distribuída para os dois


números do parênteses e o resultado foi o mesmo que
EXERCÍCIO COMENTADO
do item anterior.
1. (Pref. De Bom Retiro – SC) A Loja Berlanda está com
Divisão: Dados dois números naturais, às vezes neces- promoção de televisores. Então resolvi comprar um tele-
sitamos saber quantas vezes o segundo está contido no visor por R$ 1.700,00. Dei R$ 500,00 de entrada e o res-
primeiro. O primeiro número é denominado dividendo tante vou pagar em 12 prestações de:
e o outro número é o divisor. O resultado da divisão é
a) R$ 170,00
MATEMÁTICA

chamado de quociente. Nem sempre teremos a quanti-


dade exata de vezes que o divisor caberá no dividendo, b) R$ 1.200,00
podendo sobrar algum valor. A esse valor, iremos dar o c) R$ 200,00
nome de resto. Vamos novamente ao exemplo das pe- d) R$ 100,00
dras:

3
Resposta: Letra D. Dado o preço inicial de R$ 1700,00, Números Opostos: Voltando a definição do inicio do
basta subtrair a entrada de R$ 500,00, assim: R$ capítulo, dois números inteiros são ditos opostos um do
1700,00-500,00 = R$ 1200,00. Dividindo esse resulta- outro quando apresentam soma zero; assim, os pontos
do em 12 prestações, chega-se a R$ 1200,00 : 12 = R$ que os representam distam igualmente da origem. Vejam
100,00 os exemplos:
Ex: O oposto do número 2 é -2, e o oposto de -2 é 2,
pois 2 + (-2) = (-2) + 2 = 0
NÚMEROS INTEIROS E SUAS OPERAÇÕES FUNDA- Ex: No geral, dizemos que o oposto, ou simétrico, de
MENTAIS a é – a, e vice-versa.
Ex: O oposto de zero é o próprio zero.
1.1 Definição de Números Inteiros
1.3 Operações com Números Inteiros
Definimos o conjunto dos números inteiros como a
união do conjunto dos números naturais (N = {0, 1, 2, 3, Adição: Diferentemente da adição de números natu-
4,..., n,...}, com o conjunto dos opostos dos números na- rais, a adição de números inteiros pode gerar um pouco
turais, que são definidos como números negativos. Este de confusão ao leito. Para melhor entendimento desta
conjunto é denotado pela letra Z e é escrito da seguinte operação, associaremos aos números inteiros positivos o
forma: conceito de “ganhar” e aos números inteiros negativos o
ℤ = {… , −4, −3, −2, −1, 0, 1, 2, 3, 4, … } conceito de “perder”. Vejam os exemplos:

Sabendo da definição dos números inteiros, agora é Ex: (+3) + (+5) = ?


possível indiciar alguns subconjuntos notáveis:
Obviamente, quem conhece a adição convencional,
a) O conjunto dos números inteiros não nulos: São sabe que este resultado será 8. Vamos ver agora pelo
todos os números inteiros, exceto o zero: conceito de “ganhar” e “perder”:
ℤ∗ = {… , −4, −3, −2, −1, 1, 2, 3, 4, … } +3 = Ganhar 3
+5 = Ganhar 5
b) O conjunto dos números inteiros não negativos:
São todos os inteiros que não são negativos, ou Logo: (Ganhar 3) + (Ganhar 5) = (Ganhar 8)
seja, os números naturais:
ℤ+ = 0, 1, 2, 3, 4, … = ℕ Ex: (−3) + (−5) = ?

c) O conjunto dos números inteiros positivos: São to- Agora é o caso em que temos dois números negati-
dos os inteiros não negativos, e neste caso, o zero vos, usando o conceito de “ganhar” ou “perder”:
não pertence ao subconjunto:
ℤ∗+ = 1, 2, 3, 4, … -3 = Perder 3
-5 = Perder 5
d) O conjunto dos números inteiros não positivos: Logo: (Perder 3) + (Perder 5) = (Perder 8)
São todos os inteiros não positivos:
ℤ_ = {… , −4, −3, −2, −1, 0, } Neste caso, estamos somando duas perdas ou dois
prejuízos, assim o resultado deverá ser uma perda maior.
e) O conjunto dos números inteiros negativos: São to-
dos os inteiros não positivos, e neste caso, o zero E se tivermos um número positivo e um negativo? Va-
não pertence ao subconjunto: mos ver os exemplos:
ℤ∗ _ = {… , −4, −3, −2, −1} Ex: (+8) + (−5) = ?

1.2 Definições Importantes dos Números inteiros Neste caso, temos um ganho de 8 e uma perda de 5,
que naturalmente sabemos que resultará em um ganho
Módulo: chama-se módulo de um número inteiro a de 3:
distância ou afastamento desse número até o zero, na
reta numérica inteira. Representa-se o módulo pelo sím- +8 = Ganhar 8
bolo | |. Vejam os exemplos: -5 = Perder 5

Ex: O módulo de 0 é 0 e indica-se |0| = 0 Logo: (Ganhar 8) + (Perder 5) = (Ganhar 3)


Ex: O módulo de +7 é 7 e indica-se |+7| = 7
Ex: O módulo de –9 é 9 e indica-se |–9| = 9 Se observarem essa operação, vocês irão perceber
MATEMÁTICA

que ela tem o mesmo resultado que 8 − 5 = 3. Basica-


a) O módulo de qualquer número inteiro, diferente de mente ambas são as mesmas operações, sem a presença
zero, é sempre positivo. dos parênteses e a explicação de como se chegar a essa
simplificação será apresentado nos itens seguintes deste
capítulo.

4
Agora, e se a perda for maior que o ganho? Veja o 2- Na terça-feira, a temperatura de Monte Sião, du-
exemplo: rante o dia, era de +6 graus. À Noite, a temperatura bai-
xou de 3 graus. Qual a temperatura registrada na noite
Ex: −8 + +5 = ? de terça-feira?
Esse fato pode ser representado pela adição: (+6) +
Usando a regra, temos que: (–3) = +3

-8 = Perder 8 Se compararmos as duas igualdades, verificamos que


+5 = Ganhar 5 (+6) – (+3) é o mesmo que (+5) + (–3).
Logo: (Perder 8) + (Ganhar 5) = (Perder 3) Temos:
(+6) – (+3) = (+6) + (–3) = +3
Após a definição de adição de números inteiros, va- (+3) – (+6) = (+3) + (–6) = –3
mos apresentar algumas de suas propriedades: (–6) – (–3) = (–6) + (+3) = –3

a) Fechamento: O conjunto Z é fechado para a adi- Daí podemos afirmar: Subtrair dois números inteiros
ção, isto é, a soma de dois números inteiros ainda é um é o mesmo que adicionar o primeiro com o oposto do
número inteiro. segundo.

b) Associativa: Para todos 𝑎, 𝑏, 𝑐 ∈ ℤ :


𝑎 + (𝑏 + 𝑐) = (𝑎 + 𝑏) + 𝑐 EXERCÍCIO COMENTADO

Ex: 2 + (3 + 7) = (2 + 3) + 7 1. Calcule:

Comutativa: Para todos a,b em Z: a) (+12) + (–40) ;


a+b=b+a b) (+12) – (–40)
3+7=7+3 c) (+5) + (–16) – (+9) – (–20)
d) (–3) – (–6) – (+4) + (–2) + (–15)
Elemento Neutro: Existe 0 em Z, que adicionado a
cada z em Z, proporciona o próprio z, isto é: Resposta: Aplicando as regras de soma e subtração de
z+0=z inteiros, tem-se que:
7+0=7 a) (+12) + (–40) = 12 – 40 = -28
b) (+12) – (–40) = 12 + 40 = 52
Elemento Oposto: Para todo z em Z, existe (-z) em Z, c) (+5) + (–16) – (+9) – (–20) = +5 -16 – 9 + 20 = 25
tal que – 25 = 0
z + (–z) = 0 d) (–3) – (–6) – (+4) + (–2) + (–15) = -3 + 6 – 4 – 2 – 15
9 + (–9) = 0 = 6 – 24 = -18
Subtração de Números Inteiros

A subtração é empregada quando: 1.4. Multiplicação de Números Inteiros


- Precisamos tirar uma quantidade de outra quanti-
dade; A multiplicação funciona como uma forma simplifica-
- Temos duas quantidades e queremos saber quanto da de uma adição quando os números são repetidos. Po-
uma delas tem a mais que a outra; deríamos analisar tal situação como o fato de estarmos
- Temos duas quantidades e queremos saber quanto ganhando repetidamente alguma quantidade, como por
falta a uma delas para atingir a outra. exemplo, ganhar 1 objeto por 30 vezes consecutivas, sig-
nifica ganhar 30 objetos e esta repetição pode ser indi-
Observe que: 9 – 5 = 4 cada por um x, isto é: 1 + 1 + 1 ... + 1 + 1 = 30 x 1 = 30
Se trocarmos o número 1 pelo número 2, obteremos:
diferença 2 + 2 + 2 + ... + 2 + 2 = 30 x 2 = 60
subtraendo Se trocarmos o número 2 pelo número -2, obteremos:
(–2) + (–2) + ... + (–2) = 30 x (-2) = –60
minuendo Observamos que a multiplicação é um caso particular
da adição onde os valores são repetidos.
Considere as seguintes situações: Na multiplicação o produto dos números a e b, pode
ser indicado por a x b, a . b ou ainda ab sem nenhum sinal
1- Na segunda-feira, a temperatura de Monte Sião entre as letras.
MATEMÁTICA

passou de +3 graus para +6 graus. Qual foi a variação da Para realizar a multiplicação de números inteiros, de-
temperatura? vemos obedecer à seguinte regra de sinais:
Esse fato pode ser representado pela subtração: (+6) (+1) x (+1) = (+1)
– (+3) = +3 (+1) x (-1) = (-1)
(-1) x (+1) = (-1)

5
(-1) x (-1) = (+1) - No conjunto Z, a divisão não é comutativa, não é
associativa e não tem a propriedade da existência
Com o uso das regras acima, podemos concluir que: do elemento neutro.
1- Não existe divisão por zero.
Sinais dos números Resultado do produto Exemplo: (–15) : 0 não tem significado, pois não
existe um número inteiro cujo produto por zero
Iguais Positivo seja igual a –15.
Diferentes Negativo 2- Zero dividido por qualquer número inteiro, dife-
rente de zero, é zero, pois o produto de qualquer
Propriedades da multiplicação de números inteiros: O número inteiro por zero é igual a zero.
conjunto Z é fechado para a multiplicação, isto é, a mul- Exemplos: a) 0 : (–10) = 0 /b) 0 : (+6) = 0 /c) 0 : (–1)
tiplicação de dois números inteiros ainda é um número =0
inteiro.
1.6. Potenciação de Números Inteiros
Associativa: Para todos a,b,c em Z:
a x (b x c) = (a x b) x c A potência an do número inteiro a, é definida como
2 x (3 x 7) = (2 x 3) x 7 um produto de n fatores iguais. O número a é denomi-
nado a base e o número n é o expoente.
Comutativa: Para todos a,b em Z: an = a x a x a x a x ... x a
axb=bxa a é multiplicado por a n vezes
3x7=7x3 Exemplos:
33 = (3) x (3) x (3) = 27
Elemento neutro: Existe 1 em Z, que multiplicado por (-5)5 = (-5) x (-5) x (-5) x (-5) x (-5) = -3125
todo z em Z, proporciona o próprio z, isto é: (-7)² = (-7) x (-7) = 49
zx1=z (+9)² = (+9) x (+9) = 81
7x1=7
- Toda potência de base positiva é um número intei-
Elemento inverso: Para todo inteiro z diferente de ro positivo.
zero, existe um inverso z–1=1/z em Z, tal que Exemplo: (+3)2 = (+3) . (+3) = +9
z x z–1 = z x (1/z) = 1
9 x 9–1 = 9 x (1/9) = 1 - Toda potência de base negativa e expoente par é
um número inteiro positivo.
Distributiva: Para todos a,b,c em Z: Exemplo: (– 8)2 = (–8) . (–8) = +64
a x (b + c) = (a x b) + (a x c)
3 x (4+5) = (3 x 4) + (3 x 5) - Toda potência de base negativa e expoente ímpar
é um número inteiro negativo.
1.5. Divisão de Números Inteiros Exemplo: (–5)3 = (–5) . (–5) . (–5) = –125

Sabemos que na divisão exata dos números naturais: Propriedades da Potenciação:

40 : 5 = 8, pois 5 . 8 = 40 Produtos de Potências com bases iguais: Conserva-se


36 : 9 = 4, pois 9 . 4 = 36 a base e somam-se os expoentes.
(–7)3 . (–7)6 = (–7)3+6 = (–7)9
Vamos aplicar esses conhecimentos para estudar a di-
visão exata de números inteiros. Veja o cálculo: Quocientes de Potências com bases iguais: Conserva-
-se a base e subtraem-se os expoentes.
(–20) : (+5) = q  (+5) . q = (–20)  q = (–4) (+13)8 : (+13)6 = (+13)8 – 6 = (+13)2
Logo: (–20) : (+5) = +4
Potência de Potência: Conserva-se a base e multipli-
Considerando os exemplos dados, concluímos que, cam-se os expoentes.
para efetuar a divisão exata de um número inteiro por [(+4)5]2 = (+4)5 . 2 = (+4)10
outro número inteiro, diferente de zero, dividimos o mó-
dulo do dividendo pelo módulo do divisor. Daí: Potência de expoente 1: É sempre igual à base.
- Quando o dividendo e o divisor têm o mesmo si- (+9)1 = +9
nal, o quociente é um número inteiro positivo. (–13)1 = –13
- Quando o dividendo e o divisor têm sinais diferen-
tes, o quociente é um número inteiro negativo. Potência de expoente zero e base diferente de zero:
MATEMÁTICA

- A divisão nem sempre pode ser realizada no con- É igual a 1.


junto Z. Por exemplo, (+7) : (–2) ou (–19) : (–5) são Exemplo: (+14)0 = 1
divisões que não podem ser realizadas em Z, pois (–35)0 = 1
o resultado não é um número inteiro.

6
1.7. Radiciação de Números Inteiros Voltando ao exemplo 30 ∶ 6 = 5 , conclui-se que: 30 é
múltiplo de 6, e 6 é divisor de 30.
A raiz nésima (de ordem n) de um número inteiro a
é a operação que resulta em outro número inteiro não Analisando outros exemplos:
negativo b que elevado à potência n fornece o número a.
O número n é o índice da raiz enquanto que o número a a) 20 : 5 = 4 → 20 é múltiplo de 5 (4×5=20), e 5 é
é o radicando (que fica sob o sinal do radical). divisor de 20
A raiz quadrada (de ordem 2) de um número inteiro b) 12 : 2 = 6 → 12 é múltiplo de 2 (6×2=12), e 2 é
a é a operação que resulta em outro número inteiro não divisor de 12
negativo que elevado ao quadrado coincide com o nú-
mero a. 1.1 Conjunto dos múltiplos de um número natural:

Observação: Não existe a raiz quadrada de um nú- É obtido multiplicando-se o número natural em ques-
mero inteiro negativo no conjunto dos números inteiros. tão pela sucessão dos números naturais: 0, 1, 2, 3, 4, 5,
6,...
A raiz cúbica (de ordem 3) de um número inteiro a
é a operação que resulta em outro número inteiro que Ex: Conjunto dos múltiplos de 7. Para encontrar esse
elevado ao cubo seja igual ao número a. Aqui não res- conjunto basta multiplicar por 7 cada um dos números
tringimos os nossos cálculos somente aos números não da sucessão dos naturais:
negativos.
7x0=0
Exemplos 7x1=7
7 x 2 = 14
(a)
3
8 = 2, pois 2³ = 8. 7 x 3 = 21
7 x 4 = 28
(b)
3
−8 = –2, pois (–2)³ = -8. 7 x 5 = 35

(c)
3
27 = 3, pois 3³ = 27. O conjunto formado pelos resultados encontrados
forma o conjunto dos múltiplos de 7: M(7) = {0, 7, 14,
(d)
3
− 27 = –3, pois (–3)³ = -27. 21, 28,...}.

Observação: Ao obedecer à regra dos sinais para o Observações:


produto de números inteiros, concluímos que:
(a) Se o índice da raiz for par, não existe raiz de núme- - Todo número natural é múltiplo de si mesmo.
ro inteiro negativo. - Todo número natural é múltiplo de 1.
- Todo número natural, diferente de zero, tem infini-
(b) Se o índice da raiz for ímpar, é possível extrair a tos múltiplos.
raiz de qualquer número inteiro. - O zero é múltiplo de qualquer número natural.
- Os múltiplos do número 2 são chamados de nú-
meros pares, e a fórmula geral desses números
MÍNIMO MÚLTIPLO COMUM; MÁXIMO é . Os demais são chamados de núme-
DIVISOR COMUM; ros ímpares, e a fórmula geral desses números é
.

MULTIPLICIDADE E DIVISIBILIDADE 1.2 Critérios de divisibilidade:

Um múltiplo de um número é o produto desse núme- São regras práticas que nos possibilitam dizer se um
ro por um número natural qualquer. Já um divisor de um número é ou não divisível por outro, sem efetuarmos a
número é um número cujo resto da divisão do número divisão.
pelo divisor é zero.
Divisibilidade por 2: Um número é divisível por 2
Ex: Sabe-se que 30 ∶ 6 = 5, porque 5× 6 = 30. quando ele é par, ou seja, quando ele termina em 0, 2,
4, 6 ou 8.
Pode-se dizer então que:
Exs:
“30 é divisível por 6 porque existe um numero natural a) 9656 é divisível por 2, pois termina em 6.
(5) que multiplicado por 6 dá como resultado 30.”
MATEMÁTICA

b) 4321 não é divisível por 2, pois termina em 1.


Um numero natural a é divisível por um numero na-
tural b, não-nulo, se existir um número natural c, tal que Divisibilidade por 3: Um número é divisível por 3
c.b=a. quando a soma dos valores absolutos de seus algarismos
é divisível por 3.

7
Exs: Ex:
a) 65385 é divisível por 3, pois 6 + 5 + 3 + 8 + 5 = 27, Analisando o número 1764
e 27 é divisível por 3. Procedimento:
b) 15443 não é divisível por 3, pois 1+ 5 + 4 + 4 + 3 = - Último algarismo: 4. Multiplica-se por 2: 4×2=8
17, e 17 não é divisível por 3. - Subtrai-se o resultado do número inicial sem o últi-
mo algarismo: 176-8=168
Divisibilidade por 4: Um número é divisível por 4 - O resultado é múltiplo de 7? Para isso precisa verifi-
quando termina em 00 ou quando o número formado car se 168 é divisível por 7.
pelos dois últimos algarismos for divisível por 4.
Aplica-se o procedimento novamente, agora para o
Exs: número 168.
a) 536400 é divisível por 4, pois termina em 00. - Último algarismo: 8. Multiplica-se por 2: 8×2=16
- Subtrai-se o resultado do número inicial sem o últi-
b) 653524 é divisível por 4, pois termina em 24, e 24 mo algarismo: 16-16=0
é divisível por 4. - O resultado é múltiplo de 7? Sim, pois zero (0) é
múltiplo de qualquer número natural.
c) 76315 não é divisível por 4, pois termina em 15, e
15 não é divisível por 4. Portanto, conclui-se que 168 é múltiplo de 7. Se 168 é
múltiplo de 7, então 1764 é divisível por 7.
Divisibilidade por 5: Um número é divisível por 5
quando termina em 0 ou 5. Divisibilidade por 8: Um número é divisível por 8
quando termina em 000 ou quando o número formado
Exs: pelos três últimos algarismos for divisível por 8.
a) 35040 é divisível por 5, pois termina em 0.
Exs:
b) 7235 é divisível por 5, pois termina em 5.
a) 57000 é divisível por 8, pois termina em 000.
c) 6324 não é divisível por 5, pois termina em 4.
b) 67024 é divisível por 8, pois seus três últimos alga-
rismos formam o número 24, que é divisível por 8.

EXERCÍCIO COMENTADO c) 34125 não é divisível por 8, pois seus três últimos
algarismos formam o número 125, que não é divi-
1. Escreva os elementos dos conjuntos dos múltiplos de sível por 8.
5 positivos menores que 30.

Resposta: Seguindo a tabuada do 5, temos que:


{5,10,15,20,25}. EXERCÍCIO COMENTADO

2. Escreva os elementos dos conjuntos dos múltiplos de


Divisibilidade por 6: Um número é divisível por 6 8 compreendidos entre 30 e 50.
quando é divisível por 2 e por 3.
Resposta: Seguindo a tabuada do 8, a partir do 30:
Exs: {32,40,48}.
a) 430254 é divisível por 6, pois é divisível por 2 (ter-
mina em 4) e por 3 (4 + 3 + 0 + 2 + 5 + 4 = 18).
b) 80530 não é divisível por 6, pois não é divisível por Divisibilidade por 9: Um número é divisível por 9
3 (8 + 0 + 5 + 3 + 0 = 16). quando a soma dos valores absolutos de seus algarismos
c) 531561 não é divisível por 6, pois não é divisível por formam um número divisível por 9.
2 (termina em 1).
Exs:
Divisibilidade por 7: Para verificar a divisibilidade a) 6253461 é divisível por 9, pois 6 + 2 + 5 + 3 + 4 +
por 7, deve-se fazer o seguinte procedimento. 6 + 1 = 27 é divisível por 9.

- Multiplicar o último algarismo por 2 b) 325103 não é divisível por 9, pois 3 + 2 + 5 + 1 + 0


- Subtrair o resultado do número inicial sem o último + 3 = 14 não é divisível por
algarismo
MATEMÁTICA

- Se o resultado for um múltiplo de 7, então o número Divisibilidade por 10: Um número é divisível por 10
inicial é divisível por 7. quando termina em zero.
É importante ressaltar que, em caso de números com
vários algarismos, será necessário fazer o procedimento
mais de uma vez.

8
Exs: c) 673225 não é divisível por 15, pois não é divisível
a) 563040 é divisível por 10, pois termina em zero. por 3 (6 + 7 + 3 + 2 + 2 + 5 = 25).
b) 246321 não é divisível por 10, pois não termina em
zero.
Divisibilidade por 11: Um número é divisível por POTENCIAÇÃO
11 quando a diferença entre a soma dos algarismos de
posição ímpar e a soma dos algarismos de posição par Define-se potenciação como o resultado da multi-
resulta em um número divisível por 11. plicação de fatores iguais, denominada base, sendo o
número de fatores igual a outro número, denominado
Exs: expoente. Diz-se “b elevado a c”, cuja notação é:
𝑏𝑐 = 𝑏 × 𝑏 × ⋯ × 𝑏
a) 43813 é divisível por 11. Vejamos o porquê
𝑐 𝑣𝑒𝑧𝑒𝑠

Os algarismos de posição ímpar são os algarismos Por exemplo: 4 =4×4×4=64, sendo a base igual a 4 e
3

nas posições 1, 3 e 5. Ou seja, 4,8 e 3. A soma desses o expoente igual a 3.


algarismos é 4 + 8 + 3 = 15 Esta operação não passa de uma multiplicação com
fatores iguais, como por exemplo: 23 = 2 × 2 × 2 = 8 →
Os algarismos de posição par são os algarismos nas 53 = 5 × 5 × 5 = 125
posições 2 e 4. Ou seja, 3 e 1. A soma desses algarismos
é 3+1 = 4 1. Propriedades da Potenciação

15 – 4 = 11→ A diferença divisível por 11. Logo 43813 Propriedade 1: potenciação com base 1
é divisível por 11. Uma potência cuja base é igual a 1 e o expoente na-
tural é n, denotada por 1n, será sempre igual a 1. Em re-
b) 83415721 não é divisível por 11. Vejamos o porquê sumo, 1n=1

Os algarismos de posição ímpar são os algarismos Exemplos:


nas posições 1, 3, 5 e 7. Ou seja, 8, 4, 5 e 2. A soma desses a) 13 = 1×1×1 = 1
algarismos é b) 17 = 1×1×1×1×1×1×1 = 1

Os algarismos de posição ímpar são os algarismos Propriedade 2: potenciação com expoente nulo
nas posições 1, 3, 5 e 7. Ou seja, 8, 4, 5 e 2. A soma desses Se n é um número natural não nulo, então temos que
algarismos é 8+4+5+2 = 19 nº=1.

Os algarismos de posição par são os algarismos nas Exemplos:


posições 2, 4 e 6. Ou seja, 3, 1 e 7. A soma desses algaris- a) 5º = 1
mos é 3+1+7 = 11 b) 9º = 1

19 – 11 = 8→ A diferença não é divisível por 11. Logo Propriedade 3: potenciação com expoente 1
83415721 não é divisível por 11.
Qualquer que seja a potência em que a base é o nú-
Divisibilidade por 12: Um número é divisível por 12 mero natural n e o expoente é igual a 1, denotada por n1
quando é divisível por 3 e por 4. , é igual ao próprio n. Em resumo, n1=n

Exs: Exemplos:
a) 78324 é divisível por 12, pois é divisível por 3 ( 7 + a) 5¹ = 5
8 + 3 + 2 + 4 = 24) e por 4 (termina em 24). b) 64¹ = 64

b) 652011 não é divisível por 12, pois não é divisível Propriedade 4: potenciação de base 10
por 4 (termina em 11). Toda potência 10n é o número formado pelo algaris-
mo 1 seguido de n zeros.
c) 863104 não é divisível por 12, pois não é divisível
por 3 (8 + 6 + 3 +1 + 0 + 4 = 22). Exemplos:
a) 103 = 1000
Divisibilidade por 15: Um número é divisível por 15 b) 108 = 100.000.000
quando é divisível por 3 e por 5. c) 104 = 10.000
MATEMÁTICA

Exs: Propriedade 5: multiplicação de potências de mes-


a) 650430 é divisível por 15, pois é divisível por 3 (6 + ma base
5 + 0 + 4 + 3 + 0 =18) e por 5 (termina em 0). Em uma multiplicação de duas potências de mesma
b) 723042 não é divisível por 15, pois não é divisível base, o resultado é obtido conservando-se a base e so-
por 5 (termina em 2). mando-se os expoentes.

9
Em resumo: xa × xb = x a+b
Exemplos:
a) 23×24 = 23+4 = 27 EXERCÍCIOS COMENTADOS
b) 34×36 = 34+6=310
c) 152×154 = 152+4=156 1. (MPE-RS – 2017) A metade de 440 é igual a:

Propriedade 6: divisão de potências de mesma a) 220


base b) 239
Em uma divisão de duas potências de mesma base, o c) 240
resultado é obtido conservando-se a base e subtraindo- d) 279
-se os expoentes. e) 280
Em resumo: xa : xb = xa-b
Resposta: Letra D. Para encontrar a metade de 440,
440
Exemplos: basta dividirmos esse número por 2, isto é, . Uma
a) 25 : 23 = 25-3=22 forma fácil de resolver essa fração é escrever
2 o nu-
b) 39 : 36 = 39-6=33 merador e denominador dessa fração na mesma base
c) 1512 : 154 = 1512-4 = 158 como mostrado a seguir:
440 22 40 280
= = = 280−1 = 279
FIQUE ATENTO! 2 2 2 .
Dada uma potência xa , onde o número real Note que para resolver esse exercício utilizamos as
A é negativo, o resultado dessa potência propriedades 6 e 7.
é igual ao inverso de x elevado a A, isto é, 2. (FAUEL-PR – Agente Administrativo – 2017) Qual é
1
𝑥𝑎 = se a<0. o resultado da expressão 2³-3² ?
𝑥𝑎 1 1
Por exemplo, 2−3 = , 5−1 = 1 .
23 5 a) 0
b) 5
c) 2
Propriedade 7: potência de potência d)-1
Quando uma potência está elevado a outro expoen- e) -2
te, o expoente resultante é obtido multiplicando-se os
expoentes Resposta: Letra D. Aplicando o conceito de potência,
Em resumo: (xa )b=xa×b tem-se:
23=2 ∙2∙2=8
Exemplos: 32=3 ∙3=9
a) (25 )3 = 25×3=215
b) (39 )2 = 39×2=318 Logo:32=9
c) (612 )4= 612×4=648 Logo: 23-32=8-9=-1

Propriedade 8: potência de produto


Quando um produto está elevado a uma potência, o NÚMEROS PRIMOS, MDC E MMC
resultado é um produto com cada um dos fatores eleva-
do ao expoente O máximo divisor comum e o mínimo múltiplo co-
Em resumo: (x×y)a=xa×ya mum são ferramentas extremamente importantes na
matemática. Através deles, podemos resolver alguns
Exemplos: problemas simples, além de utilizar seus conceitos em
a) (2×3)3 = 23×33 outros temas, como frações, simplicação de fatoriais, etc.
b) (3×4)2 = 32×42 Porém, antes de iniciarmos a apresentar esta teoria, é
c) (6×5)4= 64×54 importante conhecermos primeiramente uma classe de
números muito importante: Os números primos.

#FicaDica 1. Números primos


Em alguns casos podemos ter uma multi-
plicação ou divisão potência que não está Um número natural é definido como primo se ele tem
na mesma base (como nas propriedades 5 e exatamente dois divisores: o número um e ele mesmo.
6), mas pode ser simplificada. Por exemplo, Já nos inteiros, p ∈ ℤ é um primo se ele tem exatamente
MATEMÁTICA

43×25 =(22 )3×25= 26×25= 26+5=211 e 33:9 = 33 quatro divisores: ±1 e ±𝑝 .


: 32 = 31.

10
Um número natural b é divisor do número natural a,
FIQUE ATENTO! se a é múltiplo de b.
Por definição,  0,  1  e  − 1  não são números
primos. Ex. 3 é divisor de 15, pois 15 = 3 ∙5, logo 15 é múltiplo
de 3 e também é múltiplo de 5.

Existem infinitos números primos, como demonstra-


do por Euclides por volta de 300 a.C.. A propriedade de #FicaDica
ser um primo é chamada “primalidade”, e a palavra “pri-
Um número natural tem uma quantidade fi-
mo” também são utilizadas como substantivo ou adje-
nita de divisores. Por exemplo, o número 6
tivo. Como “dois” é o único número primo par, o termo
poderá ter no máximo 6 divisores, pois tra-
“primo ímpar” refere-se a todo primo maior do que dois.
balhando no conjunto dos números naturais
O conceito de número primo é muito importante
não podemos dividir 6 por um número maior
na teoria dos números. Um dos resultados da teoria dos
do que ele. Os divisores naturais de 6 são os
números é o Teorema Fundamental da Aritmética, que
números 1, 2, 3, 6, o que significa que o nú-
afirma que qualquer número natural diferente de 1 pode
mero 6 tem 4 divisores.
ser escrito de forma única (desconsiderando a ordem)
como um produto de números primos (chamados fato-
res primos): este processo se chama decomposição em
fatores primos (fatoração). É exatamente este conceito MDC
que utilizaremos no MDC e MMC. Para caráter de me-
morização, seguem os 100 primeiros números primos Agora que sabemos o que são números primos, múl-
positivos. Recomenda-se que memorizem ao menos os tiplos e divisores, vamos ao MDC. O máximo divisor co-
10 primeiros para MDC e MMC: mum de dois ou mais números é o maior número que é
2, 3, 5, 7, 11, 13, 17, 19, 23, 29, 31, 37, 41, 43, 47, 53,  divisor comum de todos os números dados.
59, 61, 67, 71, 73, 79, 83, 89, 97, 101, 103, 107, 109, 113,  Ex. Encontrar o MDC entre 18 e 24.
127, 131, 137, 139, 149, 151, 157, 163, 167, 173, 179, 181, Divisores naturais de 18: D(18) = {1,2,3,6,9,18}.
191, 193, 197, 199, 211, 223, 227, 229, 233, 239, 241, 251, Divisores naturais de 24: D(24) = {1,2,3,4,6,8,12,24}.
257, 263, 269, 271, 277, 281, 283, 293, 307, 311, 313, 317, Pode-se escrever, agora, os divisores comuns a 18 e
331, 337, 347, 349, 353, 359, 367, 373, 379, 383, 389, 397, 24: D(18)∩ D (24) = {1,2,3,6}.
401, 409, 419, 421, 431, 433, 439, 443, 449, 457, 461, 463, Observando os divisores comuns, podemos identifi-
467, 479, 487, 491, 499, 503, 509, 521, 523, 541 car o maior divisor comum dos números 18 e 24, ou seja:
MDC (18,24) = 6.
2. Múltiplos e Divisores Outra técnica para o cálculo do MDC:

Diz-se que um número natural a é múltiplo de outro Decomposição em fatores primos: Para obter o
natural b, se existe um número natural k tal que: MDC de dois ou mais números por esse processo, proce-
de-se da seguinte maneira:
𝑎 = 𝑘. 𝑏 Decompõe-se cada número dado em fatores primos.
O MDC é o produto dos fatores comuns obtidos, cada
Ex. 15 é múltiplo de 5, pois 15=3 . 5 um deles elevado ao seu menor expoente.

Quando a=k.b, segue que a é múltiplo de b, mas tam- Exemplo: Achar o MDC entre 300 e 504.
bém, a é múltiplo de k, como é o caso do número 35 que
é múltiplo de 5 e de 7, pois: 35 = 7 . 5.
Quando a = k.b, então a é múltiplo de b e se conhe-
cemos b e queremos obter todos os seus múltiplos, basta
fazer k assumir todos os números naturais possíveis.

Como conclusão às assertivas propostas acima, tem-


-se que:
- Um número b é sempre múltiplo dele mesmo  a
= 1 ∙ b ↔ a = b.
- Para obter os múltiplos de dois, isto é, os números Temos que:
da forma a = k ∙ 2, k seria substituído por todos os 300 = 22.3 .52
números naturais possíveis. 504 = 23.32 .7
mdc (300,504)= 22∙ 3 = 4 ∙ 3=12
MATEMÁTICA

A definição de divisor está relacionada com a de múl-


tiplo.

11
MMC 2. Quais dos números a seguir são primos? Justifique.

O mínimo múltiplo comum de dois ou mais números a) 88


é o menor número positivo que é múltiplo comum de b) 20
todos os números dados. Consideremos: c) 101
Ex. Encontrar o MMC entre 8 e 6
Múltiplos positivos de 6: M(6) = Resposta: Letra C. Para ser número primo, um núme-
{6,12,18,24,30,36,42,48,54,...} ro deve ser divisível apenas por 1 e por ele mesmo.
Múltiplos positivos de 8: M(8) = Em outras palavras, caso um número seja múltiplo de
{8,16,24,32,40,48,56,64,...} qualquer outro, ele não é primo.
a) 88 é divisível por 2, 4, 8, 11, 22, entre outros. Logo,
Podem-se escrever, agora, os múltiplos positivos co- como existem divisores diferentes de 1 e de 88, dize-
muns: M(6)∩M(8) = {24,48,72,...} mos que 88 não é primo.
Observando os múltiplos comuns, pode-se identificar b) 20 é divisível por 2, 4, 5 e 10. Logo, como existem
o mínimo múltiplo comum dos números 6 e 8, ou seja: divisores diferentes de 1 e de 20, dizemos que 20 não
Outra técnica para o cálculo do MMC: é primo.
c) 101 é primo porque não é divisível por nenhum nú-
Decomposição isolada em fatores primos: Para ob- mero primo menor que ele.
ter o MMC de dois ou mais números por esse processo,
procedemos da seguinte maneira:
- Decompomos cada número dado em fatores pri- NÚMEROS RACIONAIS: FRAÇÕES, NÚMEROS
mos. DECIMAIS E SUAS OPERAÇÕES
- O MMC é o produto dos fatores comuns e não-
-comuns, cada um deles elevado ao seu maior ex- 1. Números Racionais
poente.
Umm número racional é o que pode ser escrito na for-
Ex. Achar o MMC entre 18 e 120. ma n , onde m e n são números inteiros, sendo que n
deve ser diferente de zero. Frequentemente usamos m
para significar a divisão de m por n . n
Como podemos observar, números racionais podem
ser obtidos através da razão entre dois números inteiros,
razão pela qual, o conjunto de todos os números racio-
nais é denotado por Q. Assim, é comum encontrarmos na
literatura a notação:

18 = 2 .32
120 = 23.3 .5
Q= { m
n
: m e n em Z,n diferente de zero }
No conjunto Q destacamos os seguintes subconjun-
mmc (18, 120) = 23 � 32 � 5 = 8 � 9 � 5 = 360 tos:

• 𝑄 = conjunto dos racionais não nulos;
• 𝑄+ = conjunto dos racionais não negativos;
• 𝑄+∗
= conjunto dos racionais positivos;
EXERCÍCIOS COMENTADOS • 𝑄− = conjunto dos racionais não positivos;
• 𝑄−∗ = conjunto dos racionais negativos.
1. (FEPESE-2016) João trabalha 5 dias e folga 1, enquan-
to Maria trabalha 3 dias e folga 1. Se João e Maria folgam Módulo ou valor absoluto: É a distância do ponto
no mesmo dia, então quantos dias, no mínimo, passarão que representa esse número ao ponto de abscissa zero.
para que eles folguem no mesmo dia novamente? 3
3 3 3
Exemplo: Módulo de - 2 é 2 . Indica-se − =
2 2
a) 8
3 3 3 3
b) 10 Módulo de+ é . Indica-se =
2 2
c) 12 2 2
d) 15 3 3
e) 24 Números Opostos: Dizemos que− 2 e 2 são núme-
ros racionais opostos ou simétricos e cada um deles é
Resposta: Letra C. O período em que João trabalha o oposto do outro. As distâncias dos pontos− 3 e 3 ao
e folga corresponde a 6 dias enquanto o mesmo pe- ponto zero da reta são iguais. 2 2
MATEMÁTICA

ríodo, para Maria, corresponde a 4 dias. Assim, o pro-


blema consiste em encontrar o mmc entre 6 e 4. Logo,
eles folgarão no mesmo dia novamente após 12 dias
pois mmc (6,4)=12.

12
1.1. Soma (Adição) de Números Racionais 1.3.1. Propriedades da Multiplicação de Números
Racionais
Como todo número racional é uma fração ou pode
ser escrito na forma de uma fração, definimos a adição O conjunto Q é fechado para a multiplicação, isto é,
a c o produto de dois números racionais resulta em um nú-
entre os números racionais e , , da mesma forma que
b d mero racional.
a soma de frações, através de: - Associativa: Para todos a,b,c em Q: a ∙ ( b ∙ c ) = ( a
∙b)∙c
a c a�d+b�c
+ = - Comutativa: Para todos a,b em Q: a ∙ b = b ∙ a
b d b�d - Elemento neutro: Existe 1 em Q, que multiplicado
1.1.1. Propriedades da Adição de Números Racio- por todo q em Q, proporciona o próprio q, isto é:
nais q∙1=q a b
- Elemento inverso: Para todo q = b em Q, a di-
q−1 =

O conjunto Q é fechado para a operação de adição, ferente de zero, existe em Q: q � q−1 = 1, ou seja,
a b
isto é, a soma de dois números racionais resulta em um ×a =1
b
número racional.
- Associativa: Para todos em : a + ( b + c ) = ( a + b - Distributiva: Para todos a,b,c em Q: a ∙ ( b + c ) = ( a
)+c ∙ b ) + ( a∙ c )
- Comutativa: Para todos em : a + b = b + a
- Elemento neutro: Existe em , que adicionado a 1.4. Divisão de Números Racionais
todo em , proporciona o próprio , isto é: q + 0 = q
- Elemento oposto: Para todo q em Q, existe -q em A divisão de dois números racionais p e q é a própria
Q, tal que q + (–q) = 0 operação de multiplicação do número p pelo inverso de
q, isto é: p ÷ q = p × q-1
1.2. Subtração de Números Racionais De maneira prática costuma-se dizer que em uma di-
visão de duas frações, conserva-se a primeira fração e
A subtração de dois números racionais e é a própria multiplica-se pelo inverso da segunda:
operação de adição do número com o oposto de q, isto a c a d a�d
é: p – q = p + (–q) ∶ = � =
b d b c b�c
1.3. Multiplicação (Produto) de Números Racio-
nais Observação: É possível encontrar divisão de frações
a
Como todo número racional é uma fração ou pode
c.
da seguinte forma: b . O procedimento de cálculo é o
ser escrito na forma de umaa fração, definimos o produto mesmo.
de dois números racionais b e d , da mesma forma que o
c d
produto de frações, através de: 1.5. Potenciação de Números Racionais
𝐧
a c a�c A potência q do número racional é um produto
� = de fatores iguais. O número é denominado a base e o
b d b� d número é o expoente.
n
O produto dos números racionais a e b também pode q = q � q � q � q � . . .� q, (q aparece n vezes)
ser indicado por a × b, a.b ou ainda ab sem nenhum sinal
entre as letras. Exs:
Para realizar a multiplicação de números racionais,
devemos obedecer à mesma regra de sinais que vale em a)  2  =  2  .  2  .  2  =
3
8
toda a Matemática: 5 3 5     5 5 125
(+1)�(+1) = (+1) – Positivo � Positivo = Positivo b)  − 1  =  − 1  .  − 1  .  − 1  = 1
(+1)�(-1) = (-1) - Positivo � Negativo = Negativo   −
 2  2  2  2 8
(-1)�(+1) = (-1) - Negativo � Positivo = Negativo c) (– 5)² = (– 5) � ( – 5) = 25
(-1)� (-1) = (+1) – Negativo � Negativo = Positivo
d) (+5)² = (+5) � (+5) = 25
#FicaDica
O produto de dois números com o mesmo
MATEMÁTICA

sinal é positivo, mas o produto de dois


números com sinais diferentes é negativo.

13
1.5.1. Propriedades da Potenciação aplicadas a nú- - Potência de Potência. Para reduzir uma potência de
meros racionais potência a uma potência de um só expoente, conserva-
mos a base e multiplicamos os expoentes.
Toda potência com expoente 0 é igual a 1.
0
 2
+  = 1
 5
- Toda potência com expoente 1 é igual à própria 1.6. Radiciação de Números Racionais
base.
1
9 Se um número representa um produto de dois ou
 9
−  =− mais fatores iguais, então cada fator é chamado raiz do
 4 4 número. Vejamos alguns exemplos:

- Toda potência com expoente negativo de um núme- Ex:


ro racional diferente de zero é igual a outra potência que 4 Representa o produto 2. 2 ou 22. Logo, 2 é a raiz
tem a base igual ao inverso da base anterior e o expoente quadrada de 4. Indica-se 4 = 2.
igual ao oposto do expoente anterior.
Ex:
 3  5
−2
25 2
1 1 1 1
2

−  = −  = Representa o produto . ou   .
 5  3 9 9 1 3 31  3  1 1
Logo, é a raiz quadrada de .Indica-se =
- Toda potência com expoente ímpar tem o mesmo 3 9 9 3
sinal da base.
Ex:
3
8 0,216 Representa o produto 0,6 � 0,6 � 0,6 ou (0,6)3 .
2 2 2 2
  =   .  .   = Logo, 0,6 é a raiz cúbica de 0,216. Indica-se 0,216 = 0,6 .
3

 3   3   3   3  27 Assim, podemos construir o diagrama:

- Toda potência com expoente par é um número po-


sitivo.
2
 1  1  1 1
−  = −  .− =
 5  5  5 25
- Produto de potências de mesma base. Para redu-
zir um produto de potências de mesma base a uma só
potência, conservamos a base e somamos os expoentes.
2 3 2+3 5
 2  2  2 2 2 2 2  2 2
  .   =  . . . .  =   = 
 5  5 5 55 5 5 5 5 FIQUE ATENTO!
Um número racional, quando elevado ao
- Quociente de potências de mesma base. Para redu- quadrado, dá o número zero ou um número
zir um quociente de potências de mesma base a uma só racional positivo. Logo, os números racio-
potência, conservamos a base e subtraímos os expoen- nais negativos não têm raiz quadrada em Q.
tes.
100
3 3 3 3 3 O número − não tem raiz quadrada em Q, pois
5 . . . .
2 5− 2 3
tanto − 10 como +910 , quando elevados ao quadrado, dão
3 3 2 2 2 2 2 3 3 3
  :  = =  =  100 . 3

2 2 3 3 2 2 9


.
2 2 Um número racional positivo só tem raiz quadrada no
conjunto dos números racionais se ele for um quadrado
perfeito.
MATEMÁTICA

O número 2 não tem raiz quadrada em Q, pois não


3
existe número racional que elevado ao quadrado dê 2 .
3

14
2. Frações 2.2.2. Frações com denominadores diferentes:

Frações são representações de partes iguais de um Calcular o valor de 3 + 5 Inicialmente, devemos re-
todo. São expressas como um quociente de dois núme- 8 6
x duzir as frações ao mesmo denominador comum. Para
ros , sendo x o numerador e y o denominador da isso, encontramos o mínimo múltiplo comum (MMC) en-
y tre os dois (ou mais, se houver) denominadores e, em se-
fração, com y ≠ 0 . guida, encontramos as frações equivalentes com o novo
denominador:
2.1. Frações Equivalentes
3 5 9 20
mmc (8,6) = 24 = = =
São frações que, embora diferentes, representam a 8 6 24 24
mesma parte do mesmo todo. Uma fração é equivalente
a outra quando pode ser obtida multiplicando o nume- 24 ∶ 8 � 3 = 9
rador e o denominador da primeira fração pelo mesmo
número. 24 ∶ 6 � 5 = 20

Ex: 3 e 6 . Devemos proceder, agora, como no primeiro caso,


5 10
simplificando o resultado, quando possível:

A segunda fração pode ser obtida multiplicando o


numerador e denominador de 3 por 2:
9 20 29
5 + =
24 24 24
3�2 6
=
5 � 2 10
3 5 9 20 29
6 Portanto: + = + =
Assim, diz-se que é uma fração equivalente a 3 8 6 24 24 24
10 5
2.2. Operações com Frações Deste modo, é importante lembrar que na adição e
na subtração de duas ou mais frações que têm os deno-
2.2.1. Adição e Subtração minadores diferentes, reduzimos inicialmente as frações
ao menor denominador comum, após o que procedemos
Frações com denominadores iguais: como no primeiro caso.

Ex: 3 2.3. Multiplicação


5 Jorge comeu 8 de um tablete de chocolate e Miguel
8 desse mesmo tablete. Qual a fração do tablete de cho- Ex:
colate que Jorge e Miguel comeram juntos? De uma caixa de frutas, 4 são bananas. Do total de
2
5
A figura abaixo representa o tablete de chocolate. bananas, estão estragadas. Qual é a fração de frutas
Nela também estão representadas as frações do tablete 3
que Jorge e Miguel comeram: da caixa que estão estragadas?

Representa 4/5 do conteúdo da caixa


3 2 5
Observe que = =
8 8 8

Portanto, Jorge e Miguel comeram juntos 5


do table-
te de chocolate.
8

Na adição e subtração de duas ou mais frações que


têm denominadores iguais, conservamos o denominador Representa 2/3 de 4/5 do conteúdo da caixa.
comum e somamos ou subtraímos os numeradores.
Outro Exemplo: Repare que o problema proposto consiste em calcular
2
o valor de de 4 que, de acordo com a figura, equivale
MATEMÁTICA

3 5 7 3+5−7 1 3 5
+ − = = a 8 do total de frutas. De acordo com a tabela acima, 2
2 2 2 2 2 15 3
2 4
de 4 equivale a � . Assim sendo:
5 3 5

15
3 1
2 4 8 Observando que as frações e são frações inver-
� = 1 3
3 5 15 sas, podemos afirmar que:
Ou seja:
Para dividir uma fração por outra, multiplicamos a pri-
2 de 4 2 4 2�4 8 meira pelo inverso da segunda.
= �5 = =
3 5 3 3�5 15
4 4 3 4 1 4
O produto de duas ou mais frações é uma fração cujo Portanto 5 : 3 = 5 ∶ 1 = 5 � 3 = 15
numerador é o produto dos numeradores e cujo deno-
minador é o produto dos denominadores das frações Ou seja, o namorado de Lúcia recebeu 4
do total de
chocolates contidos na caixa.
15
dadas.
4 8 41 5 5
Outro exemplo:
2 4 7 2�4�7 56 Outro exemplo: : = . =
� � = = 3 5 3 82 6
3 5 9 3 � 5 � 9 135

Observação:
#FicaDica
Sempre que possível, antes de efetuar Note a expressão: . Ela é equivalente à expressão
a multiplicação, podemos simplificar as 3 1
frações entre si, dividindo os numeradores :
2 5
e os denominadores por um fator comum.
Esse processo de simplificação recebe o
nome de cancelamento. Portanto

3. Números Decimais

2.4. Divisão De maneira direta, números decimais são números


que possuem vírgula. Alguns exemplos: 1,47; 2,1; 4,9587;
Duas frações são inversas ou recíprocas quando o nu- 0,004; etc.
merador de uma é o denominador da outra e vice-versa.
Exemplo 3.1. Operações com Números Decimais

2 é a fração inversa de 3 3.1.1. Adição e Subtração


3 2
5 ou 5 é a fração inversa de 1 Vamos calcular o valor da seguinte soma:
1 5
5,32 + 12,5 + 0, 034
Considere a seguinte situação:

Lúcia recebeu de seu pai os 4 dos chocolates con- Transformaremos, inicialmente, os números decimais
tidos em uma caixa. Do total de5chocolates recebidos, em frações decimais:
Lúcia deu a terça parte para o seu namorado. Que fração
dos chocolates contidos na caixa recebeu o namorado 532 125 34 5320 12500
de Lúcia? 5,32 + 12,5 + 0,034 = 100 + 10
+ 1000 = 1000
+ 1000 +
A solução do problema consiste em dividir o total de
chocolates que Lúcia recebeu de seu pai por 3, ou seja,
532 125 34 5320 12500 34 17854
4 5,32 + 12,5 + 0,034 = + + = + + = = 17,854
:3 100 10 1000 1000 1000 1000 1000
5

Por outro lado, dividir algo por 3 significa calcular 1 Portanto: 5,32 + 12,5 + 0, 034 = 17, 854
desse algo. 3
Na prática, a adição e a subtração de números deci-
Portanto:
4
:3 =
1
de 4 mais são obtidas de acordo com a seguinte regra:
5 3 5
1 4 1 4 4 1
Como de 5= 3 � 5 = 5 � 3 , resulta que
3 - Igualamos o número de casas decimais, acrescen-
tando zeros.
MATEMÁTICA

4 4 3 4 1
:3 = : = � - Colocamos os números um abaixo do outro, deixan-
5 5 1 5 3 do vírgula embaixo de vírgula.
- Somamos ou subtraímos os números decimais
como se eles fossem números naturais.

16
- Na resposta colocamos a vírgula alinhada com a vír- 1.3. Divisão
gula dos números dados.

Exemplo

2,35 + 14,3 + 0, 0075 + 5

Disposição prática:
2,3500
14,3000
+ 0,0075 Vamos, por exemplo, efetuar a seguinte divisão:
24 ∶ 0,5
5,0000
21,6575 Inicialmente, multiplicaremos o dividendo e o divisor
da divisão dada por 10.
3.1.2. Multiplicação
24 ∶ 0,5 = (24 � 10) ∶ (0,5 � 10) = 240 ∶ 5
Vamos calcular o valor do seguinte produto:
2,58 � 3,4 .
Transformaremos, inicialmente, os números decimais A vantagem de tal procedimento foi a de transformar-
em frações decimais: mos em número natural o número decimal que aparecia
na divisão. Com isso, a divisão entre números decimais
258 34 8772 se transforma numa equivalente com números naturais.
2,58 � 3,4 = � = = 8,772 Portanto: 24 ∶ 0,5 = 240 ∶ 5 = 48
100 10 1000

Portanto 2,58 � 3,4 = 8,772 #FicaDica


Na prática, a divisão entre números deci-
#FicaDica mais é obtida de acordo com as seguintes
regras:
Na prática, a multiplicação de números - Igualamos o número de casas decimais do
decimais é obtida de acordo com as dividendo e do divisor.
seguintes regras: - Cortamos as vírgulas e efetuamos a divisão
- Multiplicamos os números decimais como como se os números fossem naturais.
se eles fossem números naturais.
- No resultado, colocamos tantas casas Ex: 24 ∶ 0,5 = 240 ∶ 5 = 48
decimais quantas forem as do primeiro fator
somadas às do segundo fator. Disposição prática:

Exemplo:

Disposição prática:
Nesse caso, o resto da divisão é igual à zero. Assim
652,2  1 casa decimal sendo, a divisão é chamada de divisão exata e o quocien-
 te é exato.
X 2,03 2 casas decimais
19 566 Ex: 9,775 ∶ 4,25

Disposição prática:
1 304 4

1 323,966  1 + 2 = 3 casas decimais

Nesse caso, o resto da divisão é diferente de zero.


MATEMÁTICA

Assim sendo, a divisão é chamada de divisão aproximada


e o quociente é aproximado.

17
Se quisermos continuar uma divisão aproximada, de-
vemos acrescentar zeros aos restos e prosseguir dividin- FIQUE ATENTO!
do cada número obtido pelo divisor. Ao mesmo tempo Se após as vírgulas os algarismos não são pe-
em que colocamos o primeiro zero no primeiro resto, riódicos, então esse número decimal não está
colocamos uma vírgula no quociente. contido no conjunto dos números racionais.

3.Representação Fracionária dos Números Deci-


mais

Trata-se do problema inverso: estando o número ra-


cional escrito na forma decimal, procuremos escrevê-lo
na forma de fração. Temos dois casos:
Ex: 0,14 ∶ 28
1º) Transformamos o número em uma fração cujo
numerador é o número decimal sem a vírgula e o deno-
minador é composto pelo numeral 1, seguido de tantos
zeros quantas forem as casas decimais do número deci-
mal dado:
Ex: 2 ∶ 16
9
0,9 =
10

57
5,7 =
10
2. Representação Decimal das Frações
p
Tomemos um número racional q tal que p não seja 76
0,76 =
múltiplo de q. Para escrevê-lo na forma decimal, basta 100
efetuar a divisão do numerador pelo denominador.
Nessa divisão podem ocorrer dois casos:
348
1º) O numeral decimal obtido possui, após a vírgula, 3,48 =
um número finito de algarismos. Decimais Exatos: 100

2
= 0,4 5 1
5 0,005 = =
1 1000 200
= 0,25
4
35 2º) Devemos achar a fração geratriz da dízima dada;
= 8,75 para tanto, vamos apresentar o procedimento através de
4
alguns exemplos:
153
= 3,06
50 Ex:
Seja a dízima 0,333...
2º) O numeral decimal obtido possui, após a vírgula,
Façamos e multipliquemos ambos os membros por
infinitos algarismos (nem todos nulos), repetindo-se pe-
10:
riodicamente. Decimais Periódicos ou Dízimas Periódicas:
10x = 0,333
1
3
= 0,333 … Subtraindo, membro a membro, a primeira igualdade
da segunda:
1 3
= 0,04545 … 10x – x = 3,333 … – 0,333. . . 9x = 3 x =
MATEMÁTICA

22 9
3
167 Assim, a geratriz de 0,333... é a fração .
= 2,53030 … 9
66

18
Ex: 1
Seja a dízima 5,1717... Portanto,  30 páginas.
Façamos x = 5,1717. . . e 100x = 517,1717. . . 15
Logo o livro todo (15/15) possui: 15∙30=450 páginas
Subtraindo membro a membro, temos:
2. Em uma caixa de ferramentas, 4/5 são chaves de fen-
99x = 512 x = 512⁄99 da. Do total das chaves, 2/3 estão enferrujadas. Qual é
a fração de chaves da caixa de ferramentas que estão
512 enferrujadas?
Assim, a geratriz de 5,1717... é a fração .
99
Ex: Resposta: 8/15
Seja a dízima 1,23434... O problema proposto consiste em calcular o valor de
2/3 de 4/5, que equivale a 8/15 do total das chaves.
Façamos
x = 1,23434 … ;10x = 12,3434 …; 1000x = 1234,34 …
PORCENTAGEM;
434 … ;10x = 12,3434 …; 1000x = 1234,34 …

Subtraindo membro a membro, temos: Porcentagem


1222
990x = 1234,34. . . – 12,34 … A definição
990x = 1222 de porcentagem passa pelo seu próprio
x =
nome, pois é uma fração
990 de denominador centesimal, ou
1222 seja, é uma fração de denominador 100. Representamos
4. . . – 12,34 … 990x = 1222 x = porcentagem pelo% e lê-se: “por cento”.
990 50
Deste modo, a fração 100 ou qualquer uma equivalente
611
Simplificando, obtemos x = , a fração geratriz a ela é uma porcentagem que podemos representar por
da dízima 1,23434... 495
50%.

A porcentagem nada mais é do que uma razão, que


Analisando todos os exemplos, nota-se que a idéia representa uma “parte” e um “todo” a qual referimos
consiste em deixar após a vírgula somente a parte pe- como 100%. Assim, de uma maneira geral, temos que:
riódica (que se repete) de cada igualdade para, após a
subtração membro a membro, ambas se cancelarem. 𝑝
𝐴= .𝑉
100
Onde A, é a parte, p é o valor da porcentagem e V é o
todo (100%). Assim, os problemas básicos de porcenta-
EXERCÍCIOS COMENTADOS gem se resumem a três tipos:

1. (EBSERH – Médico – IBFC/2016) Mara leu 1/5 das Cálculo da parte (Conheço p e V e quero achar A):
páginas de um livro numa semana. Na segunda semana, Para calcularmos uma porcentagem de um valor V, bas-
leu mais 2/3 de páginas. Se ainda faltam ler 60 (sessenta) 𝑝
páginas do livro, então o total de páginas do livro é de: ta multiplicarmos a fração correspondente, ou seja, 100
por V. Assim: 𝑝
a) 300 P% de V =A= 100 .V
b) 360
c) 400 Ex. 23% de 240 = 23 .240 = 55,2
d) 450 100
e) 480 Ex. Em uma pesquisa de mercado, constatou-se que
67% de uma amostra assistem a certo programa de TV.
Resposta: Letra D. Se a população é de 56.000 habitantes, quantas pessoas
assistem ao tal programa?
Mara leu 1 2 3+10 13 do livro.
Aqui, queremos saber a “parte” da população que as-
+3= = 15
5 15 siste ao programa de TV, como temos a porcentagem e
13 15−13 2 o total, basta realizarmos a multiplicação:
Logo, ainda falta 1 − 15 = = 15 para ser
15 67
67% de 56000=A= 56000=37520
lido. Essa fração que falta ser lida equivale a 60 pá-
MATEMÁTICA

100
ginas
Resp. 37 520 pessoas.
2
Assim:  60 páginas.
15

19
Cálculo da porcentagem (conheço A e V e quero Aumento Percentual: Consideremos um valor inicial
achar p): Utilizaremos a mesma relação para achar o va- V que deve sofrer um aumento de p% de seu valor. Cha-
lor de p e apenas precisamos rearranjar a mesma: memos de VA o valor após o aumento. Assim:
𝑝 𝐴 p
𝐴= . 𝑉 → 𝑝 = . 100 VA = V + .V
100 𝑉 100
Ex. Um time de basquete venceu 10 de seus 16 jogos. Fatorando:
Qual foi sua porcentagem de vitórias?
p
Neste caso, o exercício quer saber qual a porcenta- VA = ( 1 + ) .V
gem de vitórias que esse time obteve, assim: 100
Em que (1 + p ) será definido como fator de au-
𝐴 10 100
𝑝= . 100 = . 100 = 62,5% mento, que pode estar representado tanto na forma de
𝑉 16
fração ou decimal.
Resp: O time venceu 62,5% de seus jogos.
Ex. Em uma prova de concurso, o candidato acertou Desconto Percentual: Consideremos um valor inicial
48 de 80 questões. Se para ser aprovado é necessário V que deve sofrer um desconto de p% de seu valor. Cha-
acertar 55% das questões, o candidato foi ou não foi memos de VD o valor após o desconto.
aprovado? p
Para sabermos se o candidato passou, é necessário VD = V – .V
100
calcular sua porcentagem de acertos:
Fatorando:
𝐴 48
𝑝 = . 100 = . 100 = 60% > 55% p
𝑉 80 VD = (1 – ) .V
100
Logo, o candidato foi aprovado. p
Em que (1 – ) será definido como fator de des-
100
Calculo do todo (conheço p e A e quero achar V):
conto, que pode estar representado tanto na forma de
No terceiro caso, temos interesse em achar o total (Nosso
fração ou decimal.
100%) e para isso basta rearranjar a equação novamente:
𝑝 𝐴 𝐴 Ex. Uma empresa admite um funcionário no mês de
𝐴= . 𝑉 → 𝑝 = . 100 → 𝑉 = . 100
100 𝑉 𝑝 janeiro sabendo que, já em março, ele terá 40% de au-
mento. Se a empresa deseja que o salário desse funcio-
nário, a partir de março, seja R$ 3 500,00, com que salário
Ex. Um atirador tem taxa de acerto de 75% de seus
deve admiti-lo?
tiros ao alvo. Se em um treinamento ele acertou 15 tiros,
Neste caso, o problema deu o valor de e gostaria de
quantos tiros ele deu no total?
saber o valor de V, assim:
Neste caso, o problema gostaria de saber quanto vale
o “todo”, assim: p
VA = ( 1 + ).V
𝐴 15 100
𝑉= . 100 = . 100 = 0,2.100 = 20 𝑡𝑖𝑟𝑜𝑠 40
𝑝 75 3500 = ( 1 + ).V
100

3500 =(1+0,4).V
Forma Decimal: Outra forma de representação de porcen-
tagens é através de números decimais, pois todos eles perten-
3500 =1,4.V
cem à mesma classe de números, que são os números racio-
nais. Assim, para cada porcentagem, há um numero decimal 3500
V= =2500
equivalente. Por exemplo, 35% na forma decimal seriam repre- 1,4
sentados por 0,35. A conversão é muito simples: basta fazer a
Resp. R$ 2 500,00
divisão por 100 que está representada na forma de fração:
75 Ex. Uma loja entra em liquidação e pretende abaixar
75% = = 0,75
100 em 20% o valor de seus produtos. Se o preço de um de-
les é de R$ 250,00, qual será seu preço na liquidação?
Aumento e desconto percentual
Aqui, basta calcular o valor de VD :
Outra classe de problemas bem comuns sobre por- p
VD = (1 – ) .V
centagem está relacionada ao aumento e a redução per- 100
centual de um determinado valor. Usaremos as defini- 20
VD = (1 – ) .250,00
MATEMÁTICA

ções apresentadas anteriormente para mostrar a teoria 100


envolvida
VD = (1 –0,2) .250,00

VD = (0,8) .250,00

20
Além disso, essa formulação também funciona para
VD = 200,00 aumentos e descontos em sequência, bastando apenas
Resp. R$ 200,00 a identificação dos seus fatores multiplicativos. Sendo V
um valor inicial, vamos considerar que ele irá sofrer um
aumento de p1% e, sucessivamente, um desconto de p2%.
FIQUE ATENTO! Sendo V1 o valor após o aumento, temos:
Em alguns problemas de porcentagem são
𝑝1
necessários cálculos sucessivos de aumen- V1 = V .(1+ )
tos ou descontos percentuais. Nesses ca- 100
sos é necessário ter atenção ao problema, Sendo V2 o valor após o desconto, temos que:
pois erros costumeiros ocorrem quando se 𝑝2
calcula a porcentagens do valor inicial para V2 = V_1 .(1 – )
obter todos os valores finais com descon- 100
tos ou aumentos. Na verdade, esse cálculo Como temos uma expressão para , basta substituir:
só pode ser feito quando o problema diz 𝑝1 𝑝2
que TODOS os descontos ou aumentos V2 = V .(1+ ) .(1 – )
são dados a uma porcentagem do valor 100 100
inicial. Mas em geral, os cálculos são feitos Ex. Um produto sofreu um aumento de 20% e depois
como mostrado no texto a seguir. sofreu uma redução de 20%. Isso significa que ele voltará
ao seu valor original.

Aumentos e Descontos Sucessivos: Consideremos ( ) Certo ( ) Errado


um valor inicial V, e vamos considerar que ele irá sofrer
dois aumentos sucessivos de p1% e p2%. Sendo V1 o valor Este problema clássico tem como finalidade concei-
após o primeiro aumento, temos: tuar esta parte de aumento e redução percentual e evitar
𝑝1 o erro do leitor ao achar que aumentando p% e dimi-
V1 = V .(1 + ) nuindo p%, volta-se ao valor original. Se usarmos o que
100 aprendemos, temos que:
Sendo V2 o valor após o segundo aumento, ou seja, 𝑝1 𝑝2
após já ter aumentado uma vez, temos que: V2 = V . 1+ . 1–
100 100
𝑝2 𝐴𝑢𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑟𝑒𝑑𝑢çã𝑜
V2 = V1 .(1 + )
100
20 20
Como temos também uma expressão para V1, basta V2 = V .(1+ ) .(1 – )
100 100
substituir:
V2 = V .(1+0,2) .(1 – 0,2 )
𝑝1 𝑝2
V2 = V .(1 + ) .(1 + ) V2 = V .(1,2) .(0,8)
100 100
96
Assim, para cada aumento, temos um fator corres- V2 = 0,96.V= V=96% de V
pondente e basta ir multiplicando os fatores para chegar 100
ao resultado final. Ou seja, o valor final corresponde a 96% de V e não
100%, assim, eles não são iguais, portanto deve-se assi-
No caso de desconto, temos o mesmo caso, sendo V nalar a opção ERRADO
um valor inicial, vamos considerar que ele irá sofrer dois
descontos sucessivos de p1% e p2%.

Sendo V1 o valor após o primeiro desconto, temos: EXERCÍCIOS COMENTADOS


𝑝1
V1 = V.(1 – ) 1. (UNESP) Suponhamos que, para uma dada eleição,
100 uma cidade tivesse 18.500 eleitores inscritos. Suponha-
Sendo V2 o valor após o segundo desconto, ou seja, mos ainda que, para essa eleição, no caso de se verificar
após já ter descontado uma vez, temos que: um índice de abstenções de 6% entre os homens e de 9%
𝑝2 entre as mulheres, o número de votantes do sexo mas-
V2 = V_1 .(1 – ) culino será exatamente igual ao número de votantes do
100 sexo feminino. Determine o número de eleitores de cada
Como temos também uma expressão para V2, basta sexo.
MATEMÁTICA

substituir:
𝑝1 𝑝2 Resposta: Denotamos o número de eleitores do sexo
V2 = V .(1 – ) .(1 – ) femininos de F e de votantes masculinos de M. Pelo
100 100 enunciado do exercícios, F+M = 18500. Além disso, o
índice de abstenções entre os homens foi de 6% e

21
de 9% entre as mulheres, ou seja, 94% dos homens O número 3 é numerador
e 91% das mulheres compareceram a votação, onde
3
94%M = 91%F ou 0,94M = 0,91F. Assim, para deter- a) Na fração 5
minar o número de eleitores de cada sexo temos os
seguinte sistema para resolver: O número 5 é denominador
F + M = 18500
� O número 3 é antecedente
0,94M = 0,91F
0,91
Da segunda equação, temos que M = 0,94 F . Agora, b) Na razão
3
5
substituindo M na primeira equação do sistema en-
contra-se F =  9400 e por fim determina-se M = 9100 O número 5 é consequente

2. (UFMG 2017) Uma pessoa comprou, fora do Brasil, Ex. A razão entre 20 e 50 é = 5 já a razão entre 50
20 2
50
um produto por U$S 80,00 Sobre esse valor foi cobra- 50 5
e 20 é = . Ou seja, deve-se sempre indicar o antece-
da uma taxa de 45% (frete) para o envio da mercadoria. 20 2
Chegando ao Brasil, esse produto foi tarifado com 15% dente e o consequente para sabermos qual a ordem de
de imposto sobre importação que incidiu sobre o valor montarmos a razão.
do produto e do frete. Desta forma, o aumento percen-
tual do produto em relação ao preço de compra foi de, Ex. Numa classe de 36 alunos há 15 rapazes e 21 mo-
aproximadamente, ças. A razão entre o número de rapazes e o número de
moças é 15 , se simplificarmos, temos que a fração equi-
a) 12 5
21
b) 37 valente 7 , o que significa que para “cada 5 rapazes há 7
c) 60
moças”. Por outro lado, a razão entre o número de rapa-
d) 67
zes e o total de alunos é dada por 15
=
5
, o que equivale
36 12
a dizer que “de cada 12 alunos na classe, 5 são rapazes”.
Resposta: Letra D. Considerando o valor de U$S 80,00
para o produto, temos: Razão entre grandezas de mesma espécie: A razão
Valor com a taxa de 45%: 80+80∙0,45=80∙1,45 entre duas grandezas de mesma espécie é o quociente
Valor com a tarifa de 15% 80∙1,45+80∙1,45∙0,15=80∙1,67 dos números que expressam as medidas dessas grande-
Portanto, o aumento percentual será dado por: zas numa mesma unidade.
80∙1,67-80 ou seja 67% de 80. Ex. Um automóvel necessita percorrer uma estrada de
360 km. Se ele já percorreu 240 km, qual a razão entre a
distância percorrida em relação ao total?
RAZÃO E PROPORÇÃO;
Como os dois números são da mesma espécie (dis-
tância) e estão na mesma unidade (km), basta fazer a ra-
RAZÃO zão:
Quando se utiliza a matemática na resolução de pro- 𝑟=
240 𝑘𝑚 2
=
blemas, os números precisam ser relacionados para se 360 𝑘𝑚 3
obter uma resposta. Uma das maneiras de se relacionar No caso de mesma espécie, porém em unidades diferen-
os números é através da razão. Sejam dois números reais tes, deve-se escolher uma das unidades e converter a outra.
a e b, com b ≠ 0,define-se razão entre a e b (nessa or-
𝑎
dem) o quociente a ÷ b, ou . Ex. Uma maratona possui aproximadamente 42 km de
𝑏
extensão. Um corredor percorreu 36000 metros. Qual a
A razão basicamente é uma fração, e como sabem, razão entre o que falta para percorrer em relação à ex-
frações são números racionais. Entretanto, a leitura des- tensão da prova?
te número é diferente, justamente para diferenciarmos Veja que agora estamos tentando relacionar metros
quando estamos falando de fração ou de razão. com quilômetros. Para isso, deve-se converter uma das
3 unidades, vamos utilizar “km”:
a) Quando temos o número 5 e estamos tratando de
fração, lê-se: “três quintos”. 36000 m=36 km
3
b) Quando temos o número 5
e estamos tratando Como é pedida a razão entre o que falta em relação
de razão, lê-se: “3 para 5”. ao total, temos que:
MATEMÁTICA

42 𝑘𝑚 − 36 𝑘𝑚 6 𝑘𝑚 1
Além disso, a nomenclatura dos termos também é 𝑟= = =
42 𝑘𝑚 42 𝑘𝑚 7
diferente:

22
Ex. Uma sala tem 8 m de comprimento. Esse compri-
mento é representado num desenho por 20 cm. Qual é a #FicaDica
razão entre o comprimento representado no desenho e
o comprimento real? A razão entre o número de habitantes e a
Convertendo o comprimento real para cm, temos área deste local é denominada densidade
que: demográfica.
20 𝑐𝑚 1
𝑒= =
800 𝑐𝑚 40 Ex. Um carro percorreu, na cidade, 83,76 km com 8 L
de gasolina. Dividindo-se o número de quilômetros per-
corridos pelo número de litros de combustível consumi-
#FicaDica dos, teremos o número de quilômetros que esse carro
percorre com um litro de gasolina:
A razão entre um comprimento no desenho
e o correspondente comprimento real, cha- 83,76 𝑘𝑚 𝑘𝑚
ma-se escala 𝑐= = 10,47
8𝑙 𝑙

Razão entre grandezas de espécies diferentes: É #FicaDica


possível também relacionar espécies diferentes e isto
está normalmente relacionado a unidades utilizadas na A razão entre a distância percorrida em rela-
física: ção a uma quantidade de combustível é de-
finida como “consumo médio”
Ex. Considere um carro que às 9 horas passa pelo qui-
lômetro 30 de uma estrada e, às 11 horas, pelo quilô- Proporção
metro 170. Qual a razão entre a distância percorrida e o
tempo gasto no translado? A definição de proporção é muito simples, pois se tra-
Para montarmos a razão, precisamos obter as infor- ta apenas da igualdade de razões.
mações:
3 6
Na proporção = (lê-se: “3 está para 5 assim
Distância percorrida: 170 km – 30 km = 140 km 5 10
Tempo gasto: 11h – 9h = 2h como 6 está para 10”).
Calculamos a razão entre a distância percorrida e o Observemos que o produto 3 ∙ 10=30 é igual ao pro-
tempo gasto para isso: duto 5 x 6=30, o que caracteriza a propriedade funda-
mental das proporções
140 𝑘𝑚 70
𝑣= = = 70 𝑘 𝑚 ⁄ℎ
2ℎ 1 #FicaDica
Como são duas espécies diferentes, a razão entre elas Se multiplicarmos em cruz (ou em x), tere-
será uma espécie totalmente diferente das outras duas. mos que os produtos entre o numeradores
e os denominadores da outra razão serão
iguais.
#FicaDica
A razão entre uma distância e uma medida
de tempo é chamada de velocidade. 2 6
Ex. Na igualdade = , temos 2 x 9=3 x 6=18, logo,
3 9
temos uma proporção.
Ex. A Região Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais, Ex. Na bula de um remédio pediátrico recomenda-se
Rio de Janeiro e São Paulo) tem uma área aproximada de a seguinte dosagem: 7 gotas para cada 3 kg do “peso” da
927 286 km2 e uma população de 66 288 000 habitantes, criança. Se uma criança tem 15 kg, qual será a dosagem
aproximadamente, segundo estimativas projetadas pelo correta?
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o Como temos que seguir a receita, temos que atender
ano de 1995. Qual a razão entre o número de habitantes a proporção, assim, chamaremos de x a quantidade de
e a área total? gotas a serem ministradas:
Dividindo-se o número de habitantes pela área, obte- 7 𝑔𝑜𝑡𝑎𝑠 𝑥 𝑔𝑜𝑡𝑎𝑠
remos o número de habitantes por km2 (hab./km2): =
3 𝑘𝑔 15 𝑘𝑔
66288000 ℎ𝑎𝑏 ℎ𝑎𝑏
MATEMÁTICA

𝑑= = 71,5 Logo, para atendermos a proporção, precisaremos


927286 𝑘𝑚² 𝑘𝑚2
encontrar qual o número que atenderá a proporção.
Multiplicando em cruz, temos que:

23
3x=105 4 8 4−3 8−6 1 2
= → = → =
3 6 3 6 3 6
105
𝑥=
3 c) Soma dos antecedentes e consequentes: A soma
x=35 gotas dos antecedentes está para a soma dos conse-
quentes assim como cada antecedente está para o
Ou seja, para uma criança de 30 kg, deve-se ministrar seu consequente:
35 gotas do remédio, atendendo a proporção. 12 3 12 + 3 15 12 3
= → = = =
Outro jeito de ver a proporção: Já vimos que uma 8 2 8+2 10 8 2
proporção é verdadeira quando realizamos a multiplica-
ção em cruz e encontramos o mesmo valor nos dois pro- d) Diferença dos antecedentes e consequentes: A
dutos. Outra maneira de verificar a proporção é verificar soma dos antecedentes está para a soma dos con-
se a duas razões que estão sendo igualadas são frações sequentes assim como cada antecedente está para
equivalentes. Lembra deste conceito? o seu consequente:
12 3 12 − 3 9 12 3
FIQUE ATENTO!
= → = = =
8 2 8−2 6 8 2
Uma fração é equivalente a outra quando
podemos multiplicar (ou dividir) o nume-
rador e o denominador da fração por um
FIQUE ATENTO!
mesmo número, chegando ao numerador e
denominador da outra fração. Usamos razão para fazer comparação entre
duas grandezas. Assim, quando dividimos
uma grandeza pela outra estamos compa-
4 12 rando a primeira com a segunda. Enquanto
Ex. são frações equivalentes, pois:
e
3 9 proporção é a igualdade entre duas razões.
4x=12 →x=3
3x=9 →x=3

Ou seja, o numerador e o denominador de


4
quan- EXERCÍCIOS COMENTADOS
3
do multiplicados pelo mesmo número (3), chega ao nu-
1. O estado de Tocantins ocupa uma área aproximada de
merador e denominador da outra fração, logo, elas são
278.500 km². De acordo com o Censo/2000 o Tocantins
equivalentes e consequentemente, proporcionais.
tinha uma população de aproximadamente 1.156.000 ha-
Agora vamos apresentar algumas propriedades da
bitantes. Qual é a densidade demográfica do estado de
proporção:
Tocantins?
a) Soma dos termos: Quando duas razões são pro-
Resposta : A densidade demográfica é definida como
porcionais, podemos criar outra proporção soman-
a razão entre o número de habitantes e a área ocu-
do os numeradores com os denominadores e divi-
pada:
dindo pelos numeradores (ou denominadores) das
razões originais: 1 156 000 hab.
d= = 4,15 ha b⁄k m²
278 500 km²
5 10 5 + 2 10 + 4 7 14
= → = → =
2 4 5 10 5 10
2. Se a área de um retângulo (A1 ) mede 300 cm² e a
ou
área de um outro retângulo (A2 ) mede 100 cm², qual é o
5 10 5 + 2 10 + 4 7 14 valor da razão entre as áreas (A1 ) e (A2 ) ?
= → = → =
2 4 2 4 2 4
Resposta : Ao fazermos a razão das áreas, temos:
b) Diferença dos termos: Analogamente a soma, te- A1 300
= =3
mos também que se realizarmos a diferença entre A2 100
os termos, também chegaremos em outras pro-
porções:
Então, isso significa que a área do retângulo 1 é 3 ve-
MATEMÁTICA

4 8 4−3 8−6 1 2 zes maior que a área do retângulo 2.


= → = → =
3 6 4 8 4 8
ou

24
3.(CELESC – Assistente Administrativo – FEPESE/2016) Coloquemos as grandezas de mesma espécie em uma
Dois amigos decidem fazer um investimento conjunto mesma coluna e as grandezas de espécies diferentes que
por um prazo determinado. Um investe R$ 9.000 e o ou- se correspondem em uma mesma linha:
tro R$  16.000. Ao final do prazo estipulado obtêm um
lucro de R$ 2.222 e decidem dividir o lucro de maneira Distância (km) Litros de álcool
proporcional ao investimento inicial de cada um. Portan- 180 15
to o amigo que investiu a menor quantia obtém com o 210 x
investimento um lucro:
Na coluna em que aparece a variável x (“litros de ál-
a) Maior que R$ 810,00 cool”), vamos colocar uma flecha:
b) Maior que R$ 805,00 e menor que R$ 810,00
c) Maior que R$ 800,00 e menor que R$ 805,00
d) Maior que R$ 795,00 e menor que R$ 800,00
e) Menor que R$ 795,00

Resposta : Letra D. Ambos aplicaram R$ 9000,00+R$


16000,00=R$ 25000,00 e o lucro de R$ 2222,00 foi so- Observe que, se duplicarmos a distância, o consumo
bre este valor. Assim, constrói-se uma proporção en- de álcool também duplica. Então, as grandezas distância
tre o valor aplicado (neste caso, R$ 9000,00 , pois o e litros de álcool são diretamente proporcionais. No
exercício quer o lucro de quem aplicou menos) e seu esquema que estamos montando, indicamos esse fato
respectivo lucro: colocando uma flecha na coluna “distância” no mesmo
sentido da flecha da coluna “litros de álcool”:
9000 25000
= → 25x = 19998 → x = R$ 799,92
x 2222

4. Há, em virtude da demanda crescente de economia de


água, equipamentos e utensílios como, por exemplo, as
bacias sanitárias ecológicas, que utilizam 6 litros de água
por descarga em vez dos 15 litros utilizados por bacias
sanitárias não ecológicas, conforme dados da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Qual será a economia diária de água obtida por meio da Armando a proporção pela orientação das flechas,
substituição de uma bacia sanitária não ecológica, que temos:
gasta cerca de 60 litros por dia com a descarga, por uma
bacia sanitária ecológica?
180 15
= → 180x = 15 � 210
Resposta: Se x for o número de litros de água despe- 210 𝑥
jadas pela bacia ecológica, tem-se que:
15/60=6/x → 15x=6∙60 → 15x=360 → 180x = 3150 → x = 3150/180 → x = 17,5
Logo: x=360/15=24 litros.
Então, a economia de água foi de (60-24) = 36 litros.
Resposta: O carro gastaria 17,5 L de álcool.

REGRA DE TRÊS SIMPLES OU COMPOSTA;


#FicaDica

REGRA DE TRÊS SIMPLES Procure manter essa linha de raciocínio nos


diversos problemas que envolvem regra de
Os problemas que envolvem duas grandezas direta- três simples ! Identifique as variáveis, verifi-
mente ou inversamente proporcionais podem ser resol- que qual é a relação de proporcionalidade e
vidos através de um processo prático, chamado regra de siga este exemplo !
três simples.

Ex: Um carro faz 180 km com 15L de álcool. Quantos Ex: Viajando de automóvel, à velocidade de 60 km/h,
litros de álcool esse carro gastaria para percorrer 210 km? eu gastaria 4 h para fazer certo percurso. Aumentando
a velocidade para 80 km/h, em quanto tempo farei esse
Solução: percurso?
MATEMÁTICA

Solução: Indicando por x o número de horas e colo-


O problema envolve duas grandezas: distância e litros cando as grandezas de mesma espécie em uma mesma
de álcool. coluna e as grandezas de espécies diferentes que se cor-
Indiquemos por x o número de litros de álcool a ser respondem em uma mesma linha, temos:
consumido.

25
Velocidade (km/h) Tempo (h) Note que foi necessário passar 2 cm para metros, para
60 4 que as unidades de comprimento fiquei iguais. Assim,
80 x cada 2 cm custaram R$ 0,24 para o vendedor. Como
ele vendeu 4 m de tecido, esses 2 cm não foram con-
Na coluna em que aparece a variável x (“tempo”), va- siderados quatro vezes. Assim, ele deixou de ganhar
mos colocar uma flecha: 4∙0,24=R$ 0,96

2. Para se construir um muro de 17m² são necessários 3


trabalhadores. Quantos trabalhadores serão necessários
para construir um muro de 51m²?

Resposta: 9 trabalhadores.
Observe que, se duplicarmos a velocidade, o tempo As grandezas (área e trabalhadores) são diretamente
fica reduzido à metade. Isso significa que as grandezas proporcionais. Assim, a regra de três é direta:
velocidade e tempo são inversamente proporcionais.
No nosso esquema, esse fato é indicado colocando-se na Área N Trabalhadores
coluna “velocidade” uma flecha em sentido contrário ao
da flecha da coluna “tempo”: 17 3
51 x
17 � x = 51 � 3 → x = 9 trabalhadores

REGRA DE TRÊS COMPOSTA

O processo usado para resolver problemas que en-


volvem mais de duas grandezas, diretamente ou inver-
Na montagem da proporção devemos seguir o senti- samente proporcionais, é chamado regra de três com-
do das flechas. Assim, temos: posta.
4 80
= 60 → 80x = 4 � 60 Ex: Em 4 dias 8 máquinas produziram 160 peças. Em
𝑥
quanto tempo 6 máquinas iguais às primeiras produzi-
→ 80x = 240 → x = 240/80 → x = 3 riam 300 dessas peças?

Solução: Indiquemos o número de dias por x. Co-


Resposta: Farei esse percurso em 3 h. loquemos as grandezas de mesma espécie em uma só
coluna e as grandezas de espécies diferentes que se
correspondem em uma mesma linha. Na coluna em que
EXERCÍCIOS COMENTADOS aparece a variável x (“dias”), coloquemos uma flecha:

1. (CBTU – ASSISTENTE OPERACIONAL – FU-


MARC/2016) Dona Geralda comprou 4 m de tecido im-
portado a R$ 12,00 o metro linear. No entanto, o metro
linear do lojista media 2 cm a mais. A quantia que o lojis-
ta deixou de ganhar com a venda do tecido foi: Comparemos cada grandeza com aquela em que está
o x.
a) R$ 0,69
b) R$ 0,96 As grandezas peças e dias são diretamente propor-
c) R$ 1,08 cionais. No nosso esquema isso será indicado colocan-
d) R$ 1,20 do-se na coluna “peças” uma flecha no mesmo sentido
da flecha da coluna “dias”:
Resposta: Letra B. As grandezas (comprimento e pre-
ço) são diretamente proporcionais. Assim, a regra de
três é direta:

Metros Preço
MATEMÁTICA

1 12
0,02 x
1 � x = 0,02 � 12 → x = R$ 0,24

26
As grandezas máquinas e dias são inversamente pro- Comparando-se as grandezas duas a duas, nota-se
porcionais (duplicando o número de máquinas, o número que:
de dias fica reduzido à metade). No nosso esquema isso Digitadores e formulários são diretamente propor-
será indicado colocando-se na coluna (máquinas) uma cionais, pois se o número de digitadores aumenta, a
flecha no sentido contrário ao da flecha da coluna “dias”: quantidade de formulários que pode ser digitada tam-
bém aumenta.
Digitadores e linhas são diretamente proporcionais,
pois se a quantidade de digitadores aumenta, o núme-
ro de linhas que pode ser digitado também aumenta.
Digitadores e horas são inversamente proporcionais,
pois se o número de horas trabalhadas aumenta, en-
tão são necessários menos digitadores para o serviço
e, portanto, a quantidade de digitadores diminui.
Agora vamos montar a proporção, igualando a razão
que contém o x, que é 4 , com o produto das outras ra- A regra de três fica:
x
zões, obtidas segundo a orientação das flechas 6 160
� : 40 2400 12 3
8 300
= � �
x 5616 18 2,5
40 86400
→ =
x 252720
→ 86500x = 10108800
→ x = 117 digitadores

2. Em uma fábrica de brinquedos, 8 homens montam 20


Resposta: Em 10 dias carrinhos em 5 dias. Quantos carrinhos serão montados
por 4 homens em 16 dias?

FIQUE ATENTO! Resposta:


Repare que a regra de três composta, em-
bora tenha formulação próxima à regra de Homens Carrinhos Dias
três simples, é conceitualmente distinta de-
8 20 5
vido à presença de mais de duas grandezas
proporcionais. 4 x 16
Observe que, aumentando o número de homens, a
produção de carrinhos aumenta. Portanto a relação
é diretamente proporcional (não precisamos inverter
EXERCÍCIOS COMENTADOS a razão).
Aumentando o número de dias, a produção de carri-
nhos aumenta. Portanto a relação também é direta-
1. (SEDUC-SP - ANALISTA DE TECNOLOGIA DA IN-
mente proporcional (não precisamos inverter a razão).
FORMAÇÃO – VUNESP/2014) Quarenta digitadores
preenchem 2 400 formulários de 12 linhas, em 2,5 ho- Devemos igualar a razão que contém o termo x com o
ras. Para preencher 5 616 formulários de 18 linhas, em 3 produto das outras razões.
horas, e admitindo-se que o ritmo de trabalho dos digi- Montando a proporção e resolvendo a equação, te-
tadores seja o mesmo, o número de digitadores neces- mos:
sários será:
20 8 5
= �
a) 105 π 4 16
b) 117
c) 123 20 � 4 � 16
d) 131 x= = 32
e) 149 8�5
Logo, serão montados 32 carrinhos.
Resposta: Letra B. A tabela com os dados do enun-
ciado fica:
MATEMÁTICA

Digitadores Formulários Linhas Horas


40 2400 12 2,5
x 5616 18 3

27
Aplicando a regra 4, transfere-se o termo “-4” para o
EQUAÇÕES DO 1.º OU DO 2.º GRAUS; 2º membro. Para fazer isso, basta colocá-lo no 1º mem-
bro com o sinal trocado:

EQUAÇÃO DO 1º GRAU 5x − 2x = 8 + 4

Uma equação é uma igualdade na qual uma ou mais Aplicando a regra 5, simplifica-se as expressões em
variáveis, conhecidas por incógnitas, são desconhecidas. ambos os membros. Simplificar significa “juntar” todos
Resolver uma equação significa encontrar o valor das in- os termos com incógnitas em um único termo no 1º
cógnitas. Equações do primeiro grau são equações onde membro e fazer o mesmo com todos os temos que con-
há somente uma incógnita a ser encontrada e seu ex- tenham somente números no 2º membro:
poente é igual a 1. A forma geral de uma equação do
primeiro grau é: 3x = 12
ax + b = 0
Aplicando a regra 6, isola-se a incógnita no 1º mem-
bro. Para isso, divide-se ambos os lados da equação por
Onde a e b são números reais. 3, fazendo com que no 1º membro reste apenas :

O “lado esquerdo” da equação é denominado 1º 3x 12 12


membro enquanto o “lado direito” é denominado 2º = →x= → x = 4 → S = {4�
membro. 3 3 3

2x
Exemplo: Resolva a equação +2 x−4 = x+1
#FicaDica 3
Aplicando a regra 1, eliminam-se os parênteses. Para
Para resolver uma equação do primeiro grau, isso, aplica-se a distributiva no termo com parênteses:
costuma-se concentrar todos os termos que
contenham incógnitas no 1º membro e to- 2x
+ 2x − 8 = x + 1
dos os termos que contenham somente nú- 3
meros no 2º membro.
Aplicando a regra 2, igualam-se os denominadores
de todos os termos. Nessa equação, o denominador co-
mum é “3”:
FIQUE ATENTO!
2x 6x 24 3x 3
Há diversas formas de equações do primeiro + − = +
grau e a seguir serão apresentados alguns 3 3 3 3 3
deles. Antes, há uma lista de “regras” para a
solução de equações do primeiro grau: Como há o mesmo denominador em todos os ter-
mos, eles podem ser “cortados”:

Regra 1 – Eliminar os parênteses 2x + 6x − 24 = 3x + 3


Regra 2 – Igualar os denominadores de todos os
termos caso haja frações Aplicando a regra 3, transfere-se o termo “3x” para o
Regra 3 – Transferir todos os termos que conte- 1º membro:
nham incógnitas para o 1º membro
Regra 4 – Transferir todos os termos que conte- 2x + 6x − 3x − 24 = 3
nham somente números para o 2º membro
Regra 5 – Simplificar as expressões em ambos os Aplicando a regra 4, transfere-se o termo “-24” para
membros o 2º membro:
Regra 5 – Isolar a incógnita no 1º membro
2x + 6x − 3x = 24 + 3
Exemplo: Resolva a equação 5x − 4 = 2x + 8 Aplicando a regra 5, simplificam-se as expressões em
ambos os membros:
As regras 1 e 2 não se aplicam pois não há parênteses,
nem frações. Aplicando a regra 3, transfere-se o termo 5x = 27
“2x” para o 1º membro. Para fazer isso, basta colocá-lo
no 1º membro com o sinal trocado: Por fim, aplicando a regra 6, isola-se a incógnita no
MATEMÁTICA

5x − 4 − 2x = 8 1º membro:
27 27
x= →S=
5 5

28
Equação completa e incompleta
EXERCÍCIOS COMENTADOS - Quando b ≠ e c ≠ , a equação do 2º grau se diz
completa.
1. Calcule:
Exs:
a) −3x – 5 = 25 2
5x – 8x + 3 = 0 é uma equação completa (a = 5, b = – 8, c = 3).
2
y + 12y + 20 = 0 é uma equação completa (a = 1, b = 12, c = 20).
1
b) 2x − =3
2 Quando b=0 ou c=0 ou b=c=0, a equação do 2º grau
se diz incompleta.
Resposta:
Exs:
a) −3x – 5 = 25 2
x – 81 = 0 é uma equação incompleta (a = 1, b = 0 e c = – 81).
⟹ −3x − 5 + 5 = 25 + 5 2
10t + 2t = 0 é uma equação incompleta (a = 10, b = 2 e c = 0).
2
⟹ −3x = 30 5y = 0 é uma equação incompleta (a = 5, b = 0 e c = 0).

−3x 30
⟹ = ⟹ x = −10 Todas essas equações estão escritas na forma
−3 −3
ax 2 + bx + c = 0 , que é denominada forma
normal ou forma reduzida de uma equação do 2º grau
b) 1
2x –
=3 com uma incógnita.
2 Há, porém, algumas equações do 2º grau que não
1 1
⟹ 2x − + = 3 +
1 estão escritas na forma ax 2 + bx + c = 0 ; por meio
2 2 2 de transformações convenientes, em que aplicamos o
princípio aditivo para reduzi-las a essa forma.
7 2x 7
⟹ 2x = ⟹ =
2 2 4 Ex:
⟹x=
7 Dada a equação: 2x 2 – 7x + 4 = 1 – x 2 , vamos es-
4 crevê-la na forma normal ou reduzida.

2x 2 – 7x + 4 – 1 + x 2 = 0
2. Encontre o valor de x que satisfaz a equação
2x 2 + x 2 – 7x + 4 – 1 = 0
3x + 24 = −5x 3x 2 – 7x + 3 = 0

Resposta: Resolução de Equações do 2º Grau: Fórmula de


Bháskara
3x + 24 = −5x
⟹ 3x + 5x + 24 = 0 − 5x + 5x Para encontras as soluções de equações do segundo
⟹ 8x = −24 grau, é necessário conhecer seu discriminante, represen-
tado pela letra grega Δ (delta).
⟹ x = −3
Δ = b2 − 4 � a � c

EQUAÇÃO DO 2º GRAU

Equações do segundo grau são equações nas quais FIQUE ATENTO!


o maior expoente de X é igual a 2. Sua forma geral é O discriminante fornece importantes informa-
expressa por: ções de uma equação do 2ª grau:
ax 2 + bx + c = 0 Se Δ > 0 → A equação possui duas raízes reais e distintas
Se Δ = 0 → A equação possui duas raízes reais e idênticas
Se Δ < 0 → A equação não possui raízes reais
Onde a, b e c são números reais e a ≠ 0. Os números
a, b e c são chamados coeficientes da equação:
- a é sempre o coeficiente do termo em x².
MATEMÁTICA

- b é sempre o coeficiente do termo em x. A solução é dada pela Fórmula de Bháskara:


- c é sempre o coeficiente ou termo independente. −b ± Δ , válida para os casos onde Δ > 0 ou
x=
.2a
Δ=0

29
#FicaDica Exemplo: Resolva a equação x 2 − 4x + 4 = 0
Aplicando a regra 1, identifica-se: a=1, b=2 e c=3
Para utilizar a Fórmula de Bháskara a equa- Aplicando a regra 2, calcula-se o discriminante:
ção deve estar obrigatoriamente no formato
ax 2 + bx + c = 0 . Caso não esteja, é Δ = b2 − 4 � a � c = 2 2
− 4 � 1 � 3 = 4 − 12 = −8
necessário colocar a equação nesse formato Como o discriminante é negativo, a equação não pos-
para, em seguida, aplicar a fórmula! sui raízes reais.
Assim, S= ∅ (solução vazia).
Quando b=0 diz-se que as raízes das equações são
simétricas.

As regras para solução de uma equação do 2º grau EXERCÍCIOS COMENTADOS


são as seguintes:
Regra 1 – Identificar os números e 1. Determine os valores de x que satisfazem: 
Regra 2 – Calcular o discriminante 2

Regra 3 – Caso o discriminante não seja negativo, x − 2x − 5 = 0


utilizar a Fórmula de Bháskara
Resposta:
Exemplo: Resolva a equação
Aplicando a regra 1, identifica-se: , e x ′ = 1 − 6 e x′′ = 1 + 6.
Aplicando a regra 2, calcula-se o discriminante:
2
x − 2x − 5 = 0
Como o discriminante não é negativo, aplica-se a re-
gra 3, que consiste em utilizar a fórmula de Bháskara: Δ = −2 2 − 4 � −5 � 1 = 4 + 20 = 24
− −2 ± 24 2±2 6
x= = 2 =1± 6
Assim, 2�1
Assim, as raízes x′ e x′′ são:
Exemplo: Resolva a equação x − x − 6 = 0
2
x′ = 1 − 6 e x′′ = 1 + 6
Aplicando a regra 1, identifica-se: a=1, b=-1 e c=-6
Aplicando a regra 2, calcula-se o discriminante:
Δ = b2 − 4 � a � c = −1 2 − 4 � 1 � −6 = 1 + 24 = 25 2. Determine os valores de x que satisfazem: 

Como o discriminante não é negativo, aplica-se a regra 3, x 2 − 2x + 5 = 0


que consiste em utilizar a fórmula de Bháskara:
Resposta:
x2 - 2x -5 = 0
Δ=(-2)2-4∙(5)∙(1)=4-20=-16
Então, como não existe solução real para o cálculo da
raiz quadrada de 16,nenhum
valor de x satisfaz a equação.
Assim, S= {-2, 3} Não existe solução em R.

Exemplo: Resolva a equação x2-4x+4=0


Aplicando a regra 1, identifica-se: a=1, b=-4 e c=4 SISTEMA DE EQUAÇÕES DO 1.º GRAU;
Aplicando a regra 2, calcula-se o discriminante:
Δ = b2 − 4 � a � c = −4 2
− 4 � 1 � 4 = 16 − 16 = 0 Sistemas de Equações

Como o discriminante não é negativo, aplica-se a re- Um sistema de equações é constituído por um con-
gra 3, que consiste em utilizar a fórmula de Bháskara: junto de equações que apresentam mais de uma incóg-
nita. Para resolver um sistema é necessário encontrar os
valores que satisfaçam simultaneamente todas as equa-
−b ± Δ − −4 ± 0 4 ± 0 4
x= = = = =2 ções.
2a 2×1 2 2 Um sistema é chamado do 1º grau, quando o maior
expoente das incógnitas, que integram as equações, é
MATEMÁTICA

Assim, S={2} igual a 1 e não existe multiplicação entre essas incógni-


tas.
Note que, como o discriminante é nulo, a equação
possui duas raízes reais e idênticas iguais a 2.

30
Como resolver um sistema de equações do 1º Assim, a solução para o sistema dado é o par orde-
grau? nado (8, 4). Repare que esse resultado tornam ambas as
Podemos resolver um sistema de equações do 1º equações verdadeiras, pois 8 + 4 = 12 e 3.8 - 4 = 20.
grau, com duas incógnitas, usando o método da substi-
tuição ou o da soma. Método da Adição
No método da adição buscamos juntar as duas equa-
Método da substituição ções em uma única equação, eliminando uma das incóg-
Esse método consiste em escolher uma das equações nitas.
e isolarmos uma das incógnitas, para determinar o seu Para isso, é necessário que os coeficientes de uma das
valor em relação a outra incógnita. Depois, substituímos incógnitas sejam opostos, isto é, devem ter o mesmo va-
esse valor na outra equação. lor e sinais contrários.
Desta forma, a segunda equação ficará com uma úni-
ca incógnita e, assim, poderemos encontrar o seu valor Exemplo
final. Para finalizar, substituímos na primeira equação o Para exemplificar o método da adição, vamos resolver
valor encontrado e, assim, encontramos também o valor o mesmo sistema anterior:
da outra incógnita.

Exemplo
Resolva o seguinte sistema de equações:

Note que nesse sistema a incógnita y possui coefi-


cientes opostos, ou seja, 1 e - 1. Então, iremos começar
a calcular somando as duas equações, conforme indica-
mos abaixo:
Resolução
Vamos começar escolhendo a primeira equação do
sistema, que é a equação mais simples, para isolar o x.
Assim temos:

Ao anular o y, a equação ficou apenas com o x, por-


tanto agora, podemos resolver a equação:

Para encontrar o valor do y, basta substituir esse valor


em uma das duas equações. Vamos substituir na mais
Após substituir o valor de x, na segunda equação, po- simples:
demos resolvê-la, da seguinte maneira:

Note que o resultado é o mesmo que já havíamos


encontrado, usando o método da substituição.
Quando as equações de um sistema não apresentam
incógnitas com coeficientes opostos, podemos multipli-
car todos os termos por um determinado valor, a fim de
tornar possível utilizar esse método.

Por exemplo, no sistema abaixo, os coeficientes de x e


de y não são opostos:

Agora que encontramos o valor do y, podemos subs-


tituir esse valor da primeira equação, para encontrar o
valor do x:
MATEMÁTICA

Portanto, não podemos, inicialmente, anular nenhu-


ma das incógnitas. Neste caso, devemos multiplicar por
algum número que transforme o coeficiente em um nú-
mero oposto do coeficiente da outra equação.

31
Podemos, por exemplo, multiplicar a primeira equa- Já os sistemas impossíveis, não possuem nenhuma
ção por - 2. Contudo, devemos ter o cuidado de multipli- solução. Nesse tipo de sistema temos:
carmos todos os termos por - 2, para não modificarmos
a igualdade.

Assim, o sistema equivalente ao que queremos cal-


cular é:
Exemplo

Classifique o sistema abaixo:

Agora, é possível resolver o sistema por adição, con-


forme apresentado abaixo:

Para identificar o tipo de sistema, vamos calcular a


razão entre os coeficientes das equações:

Logo, x = - 12, não podemos esquecer de substituir


esse valor em uma das equações para encontrar o valor
do y. Substituindo na primeira equação, temos:

Como

Então, o sistema é impossível.

SITE
Assim, a solução para o sistema é o par ordenado (- https://www.todamateria.com.br/sistemas-de-equa-
12, 60) coes/

Classificação dos sistemas de equações

Um sistema do 1º grau, com duas incógnitas x e y, EXERCÍCIOS COMENTADOS


formado pelas equações a1x + b1y = c1 e a2x + b2y = c2,
terá a seguinte classificação: possível e determinado, 1. Cefet - RJ - 2016
possível e indeterminado e impossível. Uma garrafa PET (politereftalato de etileno) com sua
tampa custa sessenta centavos. Sabendo que a garrafa
O sistema será possível e determinado quando apre- custa cinquenta centavos a mais que a tampa, quanto
sentar uma única solução. Isso acontecerá quando: custa só a tampa?

a) R$ 0,05
b) R$ 0,15
c) R$ 0,25
d) R$ 0,35
Quando o sistema apresentar infinitas soluções, será
classificado como possível e indeterminado. A condição Resposta; Letra A. Considerando x o valor da garrafa
MATEMÁTICA

para que um sistema seja desse tipo é: e y o valor da tampa, temos o seguinte sistema:

32
Resolvendo o sistema por adição, temos:

x = 0,55 , que é o valor da garrafa. Logo só a tampa custa 0,55-0,50 = 0,05

2. Cefet - RJ - 2014
Se eu leio 5 páginas por dia de um livro, eu termino de ler 16 dias antes do que se eu estivesse lendo 3 páginas por dia.
Quantas páginas tem o livro?

a) 120
b) 125
c) 130
d) 135

Resposta; Letra A. Considerando x a quantidade de dias na 1ª situação; e y a quantidade de dias na 2ª situação, e


que em ambas situações o número de páginas lidas é o mesmo, podemos formar o seguinte sistema:

Resolvendo o sistema por substituição, temos:


5 (y-16) = 3y
5y - 80 = 3y
5y - 3y = 80
2y = 80
y = 80/2 = 40

O número de páginas do livro será dado por 3.y, logo o livro tem 120 páginas.

GRANDEZAS E MEDIDAS – QUANTIDADE, TEMPO, COMPRIMENTO, SUPERFÍCIE, CAPACIDADE


E MASSA; RELAÇÃO ENTRE GRANDEZAS – TABELA OU GRÁFICO;

SISTEMA DE UNIDADES DE MEDIDAS

O sistema de medidas e unidades existe para quantificar dimensões. Como a variação das mesmas pode ser gigan-
tesca, existem conversões entre unidades para melhor leitura.

Medidas de Comprimento

A unidade principal (utilizada no sistema internacional de medidas) de comprimento é o metro. Para medir dimen-
sões muito maiores ou muito menores que essa referência, surgiram seis unidades adicionais:

km hm dam m dm cm mm
(kilômetro) (hectômetro) (decâmetro) (metro) (decímetro) (centímetro) (milímetro)

A conversão de unidades de comprimento segue potências de 10. Para saber o quanto se deve multiplicar (ou di-
vidir), utiliza-se a regra do 10 c , onde c é o número de casas que se andou na tabela acima. Adicionalmente, se você
andou para a direita, o número deverá ser multiplicado, se andou para a esquerda, será dividido. As figuras a seguir
exemplificam as conversões:
MATEMÁTICA

33
Ex: Conversão de 2,3 metros para centímetros

km hm dam m dm cm mm
(kilômetro) (hectômetro) (decâmetro) (metro) (decímetro) (centímetro) (milímetro)
1o passo:
Inicia-se
da unidade
que você
vai converter.

2o passo: Conte a
quantidade de casas
que você anda de uma
unidade para a outra. De
metro para centímetro
foram 2 casas.
km hm dam m dm cm mm
(kilômetro) (hectômetro) (decâmetro) (metro) (decímetro) (centímetro) (milímetro)

Ex: Conversão de 125 000 mm para decâmetro:

km hm dam m dm cm mm
(kilômetro) (hectômetro) (decâmetro) (metro) (decímetro) (centímetro) (milímetro)
1º passo: Inicia-se
da unidade que
você vai converter.

2º passo: Conte a quan-


tidade de casas que você
anda de uma unidade para
a outra. De milímetro para
decâmetro são 4 casas.
km hm dam m dm cm mm
(kilômetro) (hectômetro) (decâmetro) (metro) (decímetro) (centímetro) (milímetro)

km hm dam m dm cm mm
(kilômetro) (hectômetro) (decâmetro) (metro) (decímetro) (centímetro) (milímetro)


MATEMÁTICA

34
Medidas de Área (Superfície)

As medidas de área seguem as mesmas referências que as medidas de comprimento. A unidade principal é o metro
quadrado e as outras seis unidades são apresentadas a seguir:

km² hm² dam² m² dm² cm² mm²


(kilômetro (hectômetro (decâmetro (metro (decímetro (centímetro (milímetro
quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado)

A conversão de unidades segue com potências de 10. A diferença agora é que ao invés da regra de 10c , utiliza-
-se a regra de 102c , ou seja, o número de casas que se andou deve ser multiplicado por 2. A definição se multiplica
ou divide segue a mesma regra: Andou para a direita, multiplica, andou para a esquerda, divide. Sigam os exemplos:

Ex: Conversão de 2 km² para m²

km² hm² dam² m² dm² cm² mm²


(kilômetro (hectômetro (decâmetro (metro (decímetro (centímetro (milímetro
quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado)
1o passo:
Inicia-se
da unidade
que você
vai converter.

2º passo: Conte a
quantidade de casas que
você andou. Neste caso,
de km2 para m2, andou-
se 3 casas.
km² hm² dam² m² dm² cm² mm²
(kilômetro (hectômetro (decâmetro (metro (decímetro (centímetro (milímetro
quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado)

Ex: Conversão de 20 mm² para cm²

km² hm² dam² m² dm² cm² mm²


(kilômetro (hectômetro (decâmetro (metro (decímetro (centímetro (milímetro
quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado)
1o passo:
Inicia-se
da unidade
que você vai
converter.
MATEMÁTICA

35
2o passo: Conte a quantidade
de casas que você andou.
Neste caso, de mm2 para
cm2, andou-se 1 casa.
km² hm² dam² m² dm² cm² mm²
(kilômetro (hectômetro (decâmetro (metro (decímetro (centímetro (milímetro
quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado)

Medidas de Volume (Capacidade)

As medidas de volume seguem as mesmas referências que as medidas de comprimento. A unidade principal é o
metro cúbico e as outras seis unidades são apresentadas a seguir:

km³ hm³ dam³ m³ dm³ cm³ mm³


(kilômetro (hectômetro- (decâmetro- (metro- (decímetro- (centímetro- (milímetro-
cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico)

c
A conversão de unidades segue com potências de 10. A diferença agora é que ao invés da regra de 10 , utiliza-se
a regra de 103c , ou seja, o número de casas que se andou deve ser multiplicado por 3. A definição se multiplica ou
divide segue a mesma regra: Andou para a direita, multiplica, andou para a esquerda, divide. Sigam os exemplos:

Ex: Conversão de 3,7 m³ para cm³

km³ hm³ dam³ m³ dm³ cm³ mm³


(kilômetro (hectômetro- (decâmetro- (metro- (decímetro- (centímetro- (milímetro-
cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico)
1o passo:
Inicia-se
da unidade
que você vai
converter.

km³ hm³ dam³ m³ dm³ cm³ mm³


(kilômetro (hectômetro- (decâmetro- (metro- (decímetro- (centímetro- (milímetro-
cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico)

2o passo: Conte a
quantidade de
casas que você andou.
Neste caso, de m3
para cm3, forma2 casas.
MATEMÁTICA

36
Ex: Conversão de 50000 dm³ para m³

km³ hm³ dam³ m³ dm³ cm³ mm³


(kilômetro (hectômetro- (decâmetro- (metro- (decímetro- (centímetro- (milímetro-
cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico)
1o passo:
Inicia-se
da unidade
que você vai
converter.

km³ hm³ dam³ m³ dm³ cm³ mm³


(kilômetro (hectômetro- (decâmetro- (metro- (decímetro- (centímetro- (milímetro-
cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico)

2o passo: Conte a
quantidade de ca-
sas que você an-
dou. Neste caso, de
m3 para dm3, an-
dou-se 1 casa.

kL hL dam³ m³ dm³ cm³ mm³


(quilolitro) (hectolitro) (decalitro) (litro) (decilitro) (centilitro) (mililitro)

Para essa tabela, o roteiro para converter unidades de medidas é o mesmo utilizado para as medidas anteriores. A
diferença é que para cada unidade à direita multiplica-se por 10 e para cada unidade à esquerda divide-se por 10 (igual
para unidades de comprimento).

Medidas de Massa

As medidas de massa segue a base 10, como as medidas de comprimento. A unidade principal é o grama (g) e suas
seis unidades complementares estão apresentadas a seguir:

kg hg dag g dg cg mg
(kilograma) (hectograma) (decagrama) (grama) (decígrama) (centígrama) (milígrama)

Os passos para conversão de unidades segue o mesmo das medidas de comprimento. Utiliza-se a regra do 10c ,
multiplicando se caminha para a direita e divide quando caminha para a esquerda.

FIQUE ATENTO!
Outras unidades importantes:
• Massa: A tonelada, sendo que 1 tonelada vale 1000 kg.
• Volume : O litro (l) que vale 1 decímetro cúbico (dm³) e o mililitro, que vale 1 cm³.
• Área: O hectare (ha) que vale 1 hectômetro quadrado (ou 10000 m²) e o alqueire, (varia de região para
região e normalmente a conversão desejada é dada na prova).
MATEMÁTICA

Medidas de Tempo

Desse grupo, o sistema hora – minuto – segundo, que mede intervalos de tempo, é o mais conhecido.

37
2h = 2 ∙ 60min = 120 min = 120 ∙ 60s = 7 200s

Para passar de uma unidade para a menor seguinte, multiplica-se por 60.
0,3h não indica 30 minutos nem 3 minutos; como 1 décimo de hora corresponde a 6 minutos, conclui-se que 0,3h
= 18min.

Para medir ângulos, também temos um sistema não decimal. Nesse caso, a unidade básica é o grau. Na astronomia,
na cartografia e na navegação são necessárias medidas inferiores a 1º. Temos, então:
1 grau equivale a 60 minutos (1º = 60’)
1 minuto equivale a 60 segundos (1’ = 60”)

Os minutos e os segundos dos ângulos não são, é claro, os mesmos do sistema hora – minuto – segundo. Há uma
coincidência de nomes, mas até os símbolos que os indicam são diferentes:
1h32min24s é um intervalo de tempo ou um instante do dia.
1º 32’ 24” é a medida de um ângulo.

#FicaDica
Por motivos óbvios, cálculos no sistema hora – minuto – segundo são similares a cálculos no sistema grau
– minuto – segundo, embora esses sistemas correspondam a grandezas distintas.

EXERCÍCIOS COMENTADOS

1. Raquel saiu de casa às 13h 45min, caminhando até o curso de inglês que fica a 15 minutos de sua casa, e chegou na
hora da aula cuja duração é de uma hora e meia. A que horas terminará a aula de inglês?

a) 14h
b) 14h 30min
c) 15h 15min
d) 15h 30min
e) 15h 45min

Resposta: Letra D. Basta somarmos todos os valores mencionados no enunciado do teste, ou seja:
13h 45min + 15 min + 1h 30 min = 15h 30min
Logo, a questão correta é a letra D.

2. 348 mm3 equivalem a quantos decilitros?

Resposta: “0, 00348 dl”.


Como 1 cm3 equivale a 1 ml, é melhor dividirmos 348 mm3 por mil, para obtermos o seu equivalente em centímetros
cúbicos: 0,348 cm3.
Logo 348 mm3 equivalem a 0, 348 ml, já que cm3 e ml se equivalem.
Neste ponto já convertemos de uma unidade de medida de volume, para uma unidade de medida de capacidade.
Falta-nos passarmos de mililitros para decilitros, quando então passaremos dois níveis à esquerda. Dividiremos en-
tão por 10 duas vezes:
0,348ml:10:100,00348dl
Logo, 348 mm³ equivalem a 0, 00348 dl.

3. Passe 50 dm2 para hectômetros quadrados.

Resposta: 0, 00005 hm².


Para passarmos de decímetros quadrados para hectômetros quadrados, passaremos três níveis à esquerda.
Dividiremos então por 100 três vezes:
50dm2:100:100:100 ⟹ 0,00005hm2
MATEMÁTICA

Isto equivale a passar a vírgula seis casas para a esquerda.


Portanto, 50 dm² é igual a 0, 00005 hm².

38
4. Passe 5.200 gramas para quilogramas.

Resposta: 5,2 kg.


Para passarmos 5.200 gramas para quilogramas, devemos dividir (porque na tabela grama está à direita de quilo-
grama) 5.200 por 10 três vezes, pois para passarmos de gramas para quilogramas saltamos três níveis à esquerda.
Primeiro passamos de grama para decagrama, depois de decagrama para hectograma e finalmente de hectograma
para quilograma:
5200g:10:10:10 ⟹ 5,2Kg
Isto equivale a passar a vírgula três casas para a esquerda.
Portanto, 5.200 g são iguais a 5,2 kg.

5. Converta 2,5 metros em centímetros.

Resposta: 250 cm.


Para convertermos 2,5 metros em centímetros, devemos multiplicar (porque na tabela metro está à esquerda de
centímetro) 2,5 por 10 duas vezes, pois para passarmos de metros para centímetros saltamos dois níveis à direita.
Primeiro passamos de metros para decímetros e depois de decímetros para centímetros:
2,5m∙10∙10 ⟹ 250cm
Isto equivale a passar a vírgula duas casas para a direita.
Logo, 2,5 m é igual a 250 cm.

TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO – MÉDIA ARITMÉTICA SIMPLES;

Estatística

Definições Básicas

Estatística: ciência que tem como objetivo auxiliar na tomada de decisões por meio da obtenção, análise, organi-
zação e interpretação de dados.

População: conjunto de entidades (pessoas, objetos, cidades, países, classes de trabalhadores, etc.) que apresen-
tem no mínimo uma característica em comum. Exemplos: pessoas de uma determinada cidade, preços de um produto,
médicos de um hospital, estudantes que prestam determinado concurso, etc.

Amostra: É uma parte da população que será objeto do estudo. Como em muitos casos não é possível estudar a
população inteira, estuda-se uma amostra de tamanho significativo (há métodos para determinar isso) que retrate o
comportamento da população. Exemplo: pesquisa de intenção de votos de uma eleição. Algumas pessoas são entre-
vistadas e a pesquisa retrata a intenção de votos da população.

Variável: é o dado a ser analisado. Aqui, será chamado de e cada valor desse dado será chamado de . Essa variável
pode ser quantitativa (assume valores) ou qualitativa (assume características ou propriedades).

Medidas de tendência central

São medidas que auxiliam na análise e interpretação de dados para a tomada de decisões. As três medidas de ten-
dência central são:

Média aritmética simples:∑xi razão entre a soma de todos os valores de uma mostra e o número de elementos da
amostra. Expressa por x
� .=
Calculada por:
n
∑xi
x� =
n
Média aritmética ponderada: muito parecida com média aritmética simples, porém aqui cada variável tem um
peso diferente pi que é levado em conta no cálculo da média.
MATEMÁTICA

∑xi pi
x� =
∑pi
Mediana: valor que divide a amostra na metade. Em caso de número para de elementos, a mediana é a média entre
os elementos intermediários

39
Moda: valor que aparece mais vezes dentro de uma amostra.
Ex: Dada a amostra {1,3,1,2,5,7,8,7,6,5,4,1,3,2} calcule a média, a mediana e a moda.
Solução
Média:
1 + 3 + 1 + 2 + 5 + 7 + 8 + 7 + 6 + 5 + 4 + 1 + 3 + 2 55
x� = = = 3,92
14 14
Mediana:
Inicialmente coloca-se os valores em ordem crescente:
{1,1,1,2,2,3,3,4,5,5,6,7,7,8}

Como a amostra tem 14 valores (número par), os elementos intermediários são os 7º e 8º elementos. Nesse exem-
3+4 7
plo, são os números 3 e 4. Portanto, a mediana é a média entre eles: = 2 = 3,5
2
Moda:
O número que aparece mais vezes é o número 1 e, portanto, é a moda da amostra nesse exemplo.
Ex: Dada a amostra {2,4,8,10,15,6,9,11,7,4,15,15,11,6,10} calcule a média, a mediana e a moda.
Solução:
Média:
2 + 4 + 8 + 10 + 15 + 6 + 9 + 11 + 7 + 4 + 15 + 15 + 11 + 6 + 10 133
x� = = = 8,867
15 14
Mediana:
Inicialmente coloca-se os valores em ordem crescente
{2,4,4,6,6,7,8,9,10,10,11,11,15,15,15}
Como a amostra tem 15 valores (número par), o elemento intermediário é o 8º elemento. Logo, a mediana é igual
a 9.

Moda:
O número que aparece mais vezes é o número 15 e, portanto, é a moda da amostra nesse exemplo.
Ex: A média de uma disciplina é calculada por meio da média ponderada de três provas. A primeira tem peso 3, a
segunda tem peso 4 e a terceira tem peso 5. Calcule a média de um aluno que obteve nota 8 na primeira prova, 5 na
segunda e 6 na terceira.

Solução:
Trata-se de um caso de média aritmética ponderada.
∑xi pi 3 ∙ 8 + 4 ∙ 5 + 5 ∙ 6 74
x� = = = = 6,167
∑pi 3+4+5 12

Tabelas e Gráficos

Tabelas

Tabelas podem ser utilizadas para expressar os mais diversos tipos de dados. O mais importante é saber interpretá-
-las e para isso é conveniente saber como uma tabela é estruturada. Toda tabela possui um título que indica sobre o
que se trata a tabela. Toda tabela é dividida em linhas e colunas onde, no começo de uma linha ou de uma coluna, está
indicado qual o tipo de dado que aquela linha/coluna exibe.

Ex:
Tabela 1 - Número de estudantes da Universidade ALFA divididos por curso

Curso Número de Estudantes


Administração 2000
Arquitetura 1450
MATEMÁTICA

Direito 2500
Economia 1800
Enfermagem 800
Engenharia 3500

40
Letras 750
Medicina 1500
Psicologia 1000
TOTAL 15300

Nesse caso, as colunas são: curso e número de estudantes e cada linha corresponde a um dos cursos da Universi-
dade com o respectivo número de alunos de cada curso.

Tabela 2 - Número de estudantes da Universidade ALFA divididos por curso e gênero

Curso Gênero Número de Estudantes


Homem 1200
Administração
Mulher 800
Homem 850
Arquitetura
Mulher 600
Homem 1600
Direito
Mulher 900
Homem 800
Economia
Mulher 1000
Homem 350
Enfermagem
Mulher 450
Homem 2500
Engenharia
Mulher 1000
Homem 200
Letras
Mulher 550
Homem 700
Medicina
Mulher 800
Homem 400
Psicologia
Mulher 600
TOTAL 15300

Nesse caso, as colunas são: curso, gênero e número de estudantes e cada linha corresponde a um dos cursos da
Universidade com o respectivo número de alunos de cada curso separados por gênero.

#FicaDica
Acima foram exibidas duas tabelas como exemplos. Há uma infinidade de tabelas cada uma com sua par-
ticularidade o que torna impossível exibir todos os tipos de tabelas aqui. Porém em todas será necessário
identificar linhas, colunas e o que cada valor exibido representa.

Gráficos

Para falar de gráficos em estatística é importante apresentar o conceito de frequência.

Frequência: Quantifica a repetição de valores de uma variável estatística.

Tipos de frequência

Absoluta: mede a quantidade de repetições.


MATEMÁTICA

Ex. Dos 30 alunos, seis tiraram nota 6,0. Essa nota possui freqüência absoluta:

fi = 4
Relativa: Relaciona a quantidade de repetições com o total (expresso em porcentagem)

41
Ex. Dos 30 alunos, seis tiraram nota 6,0. Essa nota pos- Ex: A Universidade ALFA tem 10 anos de existências
sui freqüência relativa: e seu reitor apresentou um gráfico mostrando o número
6 de alunos da Universidade ao longo desses 10 anos.
fr = ∙ 100 = 20%
30
Estudantes da Universidade ALFA ao longo de 10 anos
Tipos de Gráficos
2500
Gráficos de coluna: gráficos que têm como objetivo
atribuir quantidades a certos tipos de grupos. Na hori- 2000

zontal são apresentados os grupos (dados qualitativos) 1500


dos quais deseja-se apresentar dados enquanto na verti-
cal são apresentados os valores referentes a cada grupo 1000

(dados quantitativos ou frequências absolutas) 500

Ex: A Universidade ALFA recebe estudantes do mundo 0

todo. A seguir há um gráfico que mostra a quantidade de


2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

estudantes separados pelos seus continentes de origem:


Gráficos em pizzas: gráficos nos quais são expressas re-
lações entre grandezas em relação a um todo. Nesse gráfico
Estudantes da Universidade ALFA é possível visualizar a relação de proporcionalidade entre as
700 grandezas. Recebe esse nome pois lembram uma pizza pelo
600
formato redondo com seus pedaços (frequências relativas).
500
Ex: A Universidade ALFA recebe estudantes do mundo
400 todo. A seguir há um gráfico que mostra a distribuição de
300 estudantes de acordo com seus continentes de origem
200

100

0
Estudantes da Universidade ALFA
América do América do América Europa Ásia África Oceania 30
Norte Sul Central
150

Gráficos de barras: gráficos bastante similares aos


260 630

de colunas, porém, nesse tipo de gráfico, na horizontal


são apresentados os valores referentes a cada grupo (da- 440
dos quantitativos) enquanto na vertical são apresentados
os grupos (dados qualitativos) 520
150

Ex: A Universidade ALFA recebe estudantes do mundo


todo. A seguir há um gráfico que mostra a quantidade de América do Norte América do Sul América Central Europa Ásia África Oceania
estudantes separados pelos seus continentes de origem:
Ex: Foi feito um levantamento do idioma falado pelos
alunos de um curso da Universidade ALFA.
Estudantes da Universidade ALFA
Frequências absolutas:
Oceania

África

Ásia

Europa

América Central

América do Sul

América do Norte
MATEMÁTICA

0 100 200 300 400 500 600 700

Gráficos de linhas: gráficos nos quais são exibidas


séries históricas de dados e mostram a evolução dessas
séries ao longo do tempo.

42
Frequências relativas: 2. (UFC - 2016) A média aritmética das notas dos alunos
de uma turma formada por 25 meninas e 5 meninos é
igual a 7. Se a média aritmética das notas dos meninos
é igual a 6, a média aritmética das notas das meninas é
igual a:
a) 6,5
b) 7,2
c) 7,4
d) 7,8
e) 8,0

Resposta: Letra B. Primeiramente, será identificada a


soma das notas dos meninos por x e a da nota das
meninas por y. Se a turma tem 5 meninos e a média
aritmética de suas notas é igual a 6, então a soma das
notas dos meninos (x) dividida pela quantidade de
meninos (5) deve ser igual a 6, isto é:
x
EXERCÍCIOS COMENTADOS 5
= 6

x = 6 ∙ 5
1. (SEGEP-MA - Técnico da Receita Estadual –
FCC/2016) Três funcionários do Serviço de Atendimento x = 30
ao Cliente de uma loja foram avaliados pelos clientes que Do mesmo modo, se a turma tem 25 meninas
atribuíram uma nota (1; 2; 3; 4; 5) para o atendimento (Me é a média aritmética de suas notas), o quociente
recebido. A tabela mostra as notas recebidas por esses da soma das notas das meninas (y) e a quantidade de
funcionários em um determinado dia. meninas (25) deve ser igual a Me, isto é:
(x + y)/(25+5) = 7
y = 25∙Me
Para calcular a média da turma, devemos somar as no-
tas dos meninos (30) às notas das meninas (y) e dividir
pela quantidade de alunos (25 + 5 = 30). O resultado
deverá ser 7. Sendo assim, temos:

Considerando a totalidade das 95 avaliações desse dia, x + y


= 7
é correto afirmar que a média das notas dista da moda 25 + 5
dessas mesmas notas um valor absoluto, aproximada-
mente, igual a: 30 + 25 ∙ Me
= 7
30
a) 0,33 30 + 25 ∙ Me = 7 • 30
b) 0,83
c) 0,65 30 + 25 ∙ Me = 210
d) 0,16
e) 0,21 25 ∙ Me = 210 – 30

Resposta: Letra C Trata-se de um caso de média arit- 25 ∙ Me = 180


mética ponderada. Considerando as 95 avaliações, o
peso de cada uma das notas é igual ao total de pes-
Me = 7,2
soas que atribuiu a nota. Analisando a tabela Portanto, a média aritmética das notas das meninas
8 pessoas atribuíram nota 1 é 7,2.
18 pessoas atribuíram nota 2
21 pessoas atribuíram nota 3
29 pessoas atribuíram nota 4
19 pessoas atribuíram nota 5
Assim, a média das 95 avaliações é calculada por:
8 ∙ 1 + 18 ∙ 2 + 21 ∙ 3 + 29 ∙ 4 + 19 ∙ 5 318
x� = = = 3,34
8 + 18 + 21 + 29 + 19 95
MATEMÁTICA

43
NOÇÕES DE GEOMETRIA – FORMA,
ÂNGULOS, ÁREA, PERÍMETRO, VOLUME,
TEOREMAS DE PITÁGORAS OU DE TALES.

INTRODUÇÃO A GEOMETRIA PLANA

Ponto, Reta e Plano


- Três pontos determinam um único plano.
A definição dos entes primitivos ponto, reta e plano
é quase impossível, o que se sabe muito bem e aqui será
o mais importante é sua representação geométrica e es-
pacial.

Representação, (notação)

→ Pontos serão representados por letras latinas


maiúsculas; ex: A, B, C,…
→ Retas serão representados por letras latinas minús-
culas; ex: a, b, c,… - Se uma reta contém dois pontos de um plano, esta
→ Planos serão representados por letras gregas mi- reta está contida neste plano.
núsculas; ex: β,∞,α,...

Representação gráfica

- Duas retas são concorrentes se tiverem apenas um


ponto em comum.

Postulados primitivos da geometria, qualquer postu- Observe que r ∩ s = {H} . Sendo que H está contido
lado ou axioma é aceito sem que seja necessária a prova, na reta r e na reta s.
contanto que não exista a contraprova.
- Numa reta bem como fora dela há infinitos pontos Um plano é um subconjunto do espaço R3 de tal
distintos. modo que quaisquer dois pontos desse conjunto podem
- Dois pontos determinam uma única reta (uma e so- ser ligados por um segmento de reta inteiramente con-
mente uma reta). tida no conjunto.
Um plano no espaço pode ser determinado por qual-
quer uma das situações:
- Três pontos não colineares (não pertencentes à
mesma reta);
- Um ponto e uma reta que não contem o ponto;
- Um ponto e um segmento de reta que não contem
- Pontos colineares pertencem à mesma reta. o ponto;
- Duas retas paralelas que não se sobrepõe;
MATEMÁTICA

- Dois segmentos de reta paralelos que não se so-


brepõe;
- Duas retas concorrentes;
- Dois segmentos de reta concorrentes.

44
Duas retas (segmentos de reta) no espaço R3 podem Razão entre Segmentos de Reta
ser: paralelas, concorrentes ou reversas.
Duas retas são ditas reversas quando uma não tem Segmento de reta é o conjunto de todos os pontos
interseção com a outra e elas não são paralelas. Pode-se de uma reta que estão limitados por dois pontos que são
pensar de uma reta r desenhada no chão de uma casa e as extremidades do segmento, sendo um deles o ponto
uma reta s desenhada no teto dessa mesma casa. inicial e o outro o ponto final. Denotamos um segmento
por duas letras como, por exemplo, AB, sendo A o início
e B o final do segmento.
Ex: AB é um segmento de reta que denotamos por AB.

Uma reta é perpendicular a um plano no espaço R3, se Segmentos Proporcionais


ela intersecta o plano em um ponto P e todo segmento
de reta contido no plano que tem P como uma de suas Proporção é a igualdade entre duas razões equivalentes.
extremidades é perpendicular à reta. De forma semelhante aos que já estudamos com números
racionais, é possível estabelecer a proporcionalidade entre
segmentos de reta, através das medidas desse segmentos.
Vamos considerar primeiramente um caso particular
com quatro segmentos de reta com suas medidas apre-
sentadas na tabela a seguir:

m(AB) = 2cm m(PQ) =4 cm


Uma reta r é paralela a um plano no espaço R3, se m(CD) = 3cm m(RS) = 6cm
existe uma reta s inteiramente contida no plano que é
paralela à reta dada. A razão entre os segmentos AB e CD e a razão entre
Seja P um ponto localizado fora de um plano. A dis- os segmentos PQ e RS e , são dadas por frações equivalen-
tância do ponto ao plano é a medida do segmento de tes, isto é A B⁄C D = 2⁄3; PQ/RS = 4/6 e como 2/3 = 4/6,
reta perpendicular ao plano em que uma extremidade é segue a existência de uma proporção entre esses quatro
o ponto P e a outra extremidade é o ponto que é a inter- segmentos de reta. Isto nos conduz à definição de seg-
seção entre o plano e o segmento. mentos proporcionais.
Se o ponto P estiver no plano, a distância é nula. Diremos que quatro segmentos de reta, AB, BC, CD e DE
, nesta ordem, são proporcionais se: A B⁄B C = C D⁄D E .
Os segmentos AB e DE são os segmentos extremos e
os segmentos BC e CD e são os segmentos meios.
A proporcionalidade acima é garantida pelo fato que
existe uma proporção entre os números reais que repre-
sentam as medidas dos segmentos:
m (AB) m (CD)
Planos concorrentes no espaço são planos cuja inter- =
seção é uma reta. m (BC) m (DE)
Planos paralelos no espaço R3 são planos que não
tem interseção. Feixe de Retas Paralelas
Quando dois planos são concorrentes, dizemos que
tais planos formam um diedro e o ângulo formado en- Um conjunto de três ou mais retas paralelas num pla-
tre estes dois planos é denominado ângulo diedral. Para no é chamado feixe de retas paralelas. A reta que inter-
obter este ângulo diedral, basta tomar o ângulo forma- cepta as retas do feixe é chamada de reta transversal. As
do por quaisquer duas retas perpendiculares aos planos retas a, b, c e d que aparecem no desenho anexado, for-
concorrentes. mam um feixe de retas paralelas enquanto que as retas s
e t são retas transversais.
MATEMÁTICA

Planos normais são aqueles cujo ângulo diedral é um


ângulo reto (90°).

45
Teorema de Tales: Um feixe de retas paralelas de-
termina sobre duas transversais quaisquer, segmentos
proporcionais. A figura abaixo representa uma situação
onde aparece um feixe de três retas paralelas cortadas
por duas retas transversais.

Ângulo Agudo: É o ângulo, cuja medida é menor do


que 90º.

Identificamos na sequência algumas proporções:

A B⁄B C = DE⁄E F
B C⁄ A B = EF ⁄D E
A B⁄D E = B C⁄ E F
D E⁄ A B = E F ⁄B C

Ex: Consideremos a figura ao lado com um feixe de Ângulo Central


retas paralelas, sendo as medidas dos segmentos indica-
das em centímetros. a) Da circunferência: é o ângulo cujo vértice é o cen-
tro da circunferência;
b) Do polígono: é o ângulo, cujo vértice é o centro do
polígono regular e cujos lados passam por vértices
consecutivos do polígono.

Assim:
B C⁄A B = E F⁄D E Ângulo Circunscrito: É o ângulo, cujo vértice não per-
tence à circunferência e os lados são tangentes à ela.
A B⁄D E = B C⁄E F
D E⁄A B = E F⁄B C

#FicaDica
Uma proporção entre segmentos pode
ser formulada de várias maneiras. Se um
dos segmentos do feixe de paralelas for
desconhecido, a sua dimensão pode
ser determinada com o uso de razões
proporcionais. Ângulo Inscrito: É o ângulo cujo vértice pertence a
uma circunferência e seus lados são secantes a ela.
MATEMÁTICA

Ângulos

Ângulo: Do latim - angulu (canto, esquina), do grego


- gonas; reunião de duas semi-retas de mesma origem
não colineares.

46
Ângulos Opostos pelo Vértice: Dois ângulos são
Ângulo Obtuso: É o ângulo cuja medida é maior do opostos pelo vértice se os lados de um são as respectivas
que 90º. semi-retas opostas aos lados do outro.

Ângulo Raso: Ângulos Suplementares: Dois ângulos são ditos su-


plementares se a soma das suas medidas de dois ângulos
- É o ângulo cuja medida é 180º; é 180º.

- É aquele, cujos lados são semi-retas opostas.

Ângulo Reto:

- É o ângulo cuja medida é 90º;


- É aquele cujos lados se apóiam em retas perpendi- Grau: (º): Do latim - gradu; dividindo a circunferência
culares. em 360 partes iguais, cada arco unitário que corresponde
a 1/360 da circunferência denominamos de grau.

Ângulos formados por duas retas paralelas com


uma transversal

Lembre-se: Retas paralelas são retas que estão no


mesmo plano e não possuem ponto em comum.

Ângulos Complementares: Dois ângulos são comple- Vamos observar a figura abaixo:
mentares se a soma das suas medidas é 900.
MATEMÁTICA

Todos esses ângulos possuem relações entre si, e elas


estão descritas a seguir:
Ângulos Congruentes: São ângulos que possuem a
mesma medida.

47
Ângulos colaterais internos: O termo colateral signifi-
ca “mesmo lado” e sua propriedade é que a soma destes
ângulos será sempre 180°

Assim, o ângulo 4 é igual ao ângulo 6 e o ângulo 3 é


igual ao ângulo 5

Assim a soma dos ângulos 4 e 5 é 180° e a soma dos Ângulos alternos externos: O termo alterno significa
ângulos 3 e 6 também será 180° lados diferentes e sua propriedade é que eles sempre se-
rão congruentes
Ângulos colaterais externos: O termo colateral signifi-
ca “mesmo lado” e sua propriedade é que a soma destes
ângulos será sempre 180°

Assim, o ângulo 1 é igual ao ângulo 7 e o ângulo 2 é


igual ao ângulo 8

Assim a soma dos ângulos 2 e 7 é 180° e a soma dos Ângulos correspondentes: São ângulos que ocupam
ângulos 1 e 8 também será 180° uma mesma posição na reta transversal, um na região
interna e o outro na região externa.
Ângulos alternos internos: O termo alterno significa
MATEMÁTICA

lados diferentes e sua propriedade é que eles sempre se-


rão congruentes

48
2. Na imagem a seguir, as retas u, r e s são paralelas e
cortadas por uma reta transversal. Determine o valor dos
ângulos x e y.

Resposta: x = 50° e y = 130°


Assim, o ângulo 1 é igual ao ângulo 5, o ângulo 2 é Facilmente observamos que os ângu-
igual ao ângulo 6, o ângulo 3 é igual ao ângulo 7 e o los x e 50° são opostos pelo vértice, logo, x = 50°. Po-
ângulo 4 é igual ao ângulo 8. demos constatar também que y e 50° são suplemen-
tares, ou seja:

FIQUE ATENTO! 50° + y = 180°


Há cinco classificações distintas para os ân- y = 180° – 50°
gulos formados por duas retas paralelas que y = 130°
intersectam uma transversal. Então, procure Portanto,os ângulos procurados são y = 130° e x = 50°
visualizar bem as imagens para associá-las a
cada classificação existente.
POLÍGONOS

Um polígono é uma figura geométrica plana limitada


EXERCÍCIOS COMENTADOS por uma linha poligonal fechada. A palavra “polígono”
advém do grego e quer dizer muitos (poly) e ângulos
1. (CS-UFG-2016) Considere que a figura abaixo re- (gon).
presenta um relógio analógico cujos ponteiros das ho-
ras (menor) e dos minutos (maior) indicam 3 h e 40 min. Linhas poligonais e polígonos
Nestas condições, a medida do menor ângulo, em graus,
formado pelos ponteiros deste relógio, é: Linha poligonal é uma sucessão de segmentos conse-
cutivos e não-colineares, dois a dois. Classificam-se em:

Linha poligonal fechada


simples:

a) 120°
b) 126° Linha poligonal fechada
c) 130° não-simples:
d) 132°

Resposta: Letra C. Se o ponteiro das horas estivesse


no 4 daria 120 graus. Como ele está antes e se passou
MATEMÁTICA

40 minutos (2/3 de uma hora), então ele está 1/3 de Linha poligonal aberta
30° (10°) atrás. Se somarmos 120+ 10 = 130° simples:

49
Linha poligonal aberta
não-simples:

FIQUE ATENTO!
Polígono é uma linha fechada simples. Um polígono divide o plano em que se encontra em duas regiões (a
interior e a exterior), sem pontos comuns.

Elementos de um polígono

Um polígono possui os seguintes elementos:

Lados: Cada um dos segmentos de reta que une vértices consecutivos: AB, BC, CD, DE, EA.

Vértices: Ponto de encontro de dois lados consecutivos: A, B, C, D, E


Diagonais: Segmentos que unem dois vértices não consecutivos: AC, AD, BD, BE, CE
Ângulos internos: Ângulos formados por dois lados consecutivos: a� , b� , c� , d
� , e� .
Ângulos externos: Ângulos formados por um lado e pelo prolongamento do lado a ele consecutivo: a�1 , b1 , c1, d1 , e1

Classificação dos polígonos quanto ao número de lados

Nome Número de lados Nome Número de lados


triângulo 3 quadrilátero 4
pentágono 5 hexágono 6
heptágono 7 octógono 8
eneágono 9 decágono 10
hendecágono 11 dodecágono 12
tridecágono 13 tetradecágono 14
pentadecágono 15 hexadecágono 16
heptadecágono 17 octodecágono 18
eneadecágono 19 icoságono 20
MATEMÁTICA

A classificação dos polígonos pode ser ilustrada pela seguinte árvore:

50
n − 2 � 180°
ai =
n

A medida do ângulo externo de um polígono regular


de n lados (ae ) é dada por:
360°
ae =
n

A soma das medidas dos ângulos centrais de um po-


Um polígono é denominado simples se ele for des- lígono regular de n lados (Sc ) é igual a 360º.
crito por uma fronteira simples e que não se cruza (daí
divide o plano em uma região interna e externa), caso o A medida do ângulo central de um polígono regular
contrário é denominado complexo. de n lados () é dada por:
Um polígono simples é denominado convexo se não
tiver nenhum ângulo interno cuja medida é maior que ac =
360°
180°, caso o contrário é denominado côncavo. n
Um polígono convexo é denominado circunscrito a
uma circunferência ou polígono circunscrito se todos os Polígonos regulares
vértices pertencerem a uma mesma circunferência.
Um polígono inscritível é denominado regular se to- Os polígonos regulares são aqueles que possuem to-
dos os seus lados e todos os seus ângulos forem con- dos os lados congruentes e todos os ângulos congruen-
gruentes. tes. Todas as propriedades anteriores são válidas para os
polígonos regulares, a diferença é que todos os valores
Alguns polígonos regulares: são distribuídos uniformemente, ou seja, todos os ân-
gulos terão o mesmo valor e todas as medidas terão o
a) triângulo equilátero mesmo valor.
b) quadrado
c) pentágono regular
#FicaDica
d) hexágono regular
Polígonos regulares são formas de polígo-
Propriedades dos polígonos nos mais estudadas e cobradas em questões
de concursos.
De cada vértice de um polígono de n lados, saem
dv = n – 3
O número de diagonais (d) de um polígono é dado
por:
EXERCÍCIOS COMENTADOS
n n−3
d=
2 1. (PREF. DE POÁ-SP – ENGENHEIRO DE SEGURAN-
ÇA DE TRABALHO – VUNESP/2015) A figura ilustra
Onde n é o número de lados do polígono. um octógono regular de lado √2 cm.

A soma das medidas dos ângulos internos de um po-


lígono de n lados (Si) é dada por:
Si = n − 2 � 180°
A soma das medidas dos ângulos externos de um po-
lígono de n lados (Se) é igual a:

360°
Se =
n

Em um polígono convexo de n lados, o número de


triângulos formados por diagonais que saem de cada
MATEMÁTICA

vértice é dado por n - 2. Sendo a altura do trapézio ABCD igual a 1 cm, a área do
triângulo retângulo ADE vale, em cm²
A medida do ângulo interno de um polígono regular
de n lados (ai ) é dada por: a) 5
b) 4

51
c) 5
d) 2 + 1
e) 2

Resposta: Letra D.

COMENTÁRIO:

Como a altura do trapézio mede 1 cm, temos um trian-


gulo isósceles de hipotenusa AB, assim, o segmento
AD = 2 + 2 . Assim, a área de ADE é: A fórmula para calcular a soma dos ângulos internos
de um polígono é: S = (n – 2) · 180
2+2 2 2 2 2
A= = + =1+ 2 *n é o número de lados do polígono. No caso desse
2 2 2 exercício:

2. (UNIFESP - 2003) Pentágonos regulares congruentes S = (5 – 2) · 180


podem ser conectados lado a lado, formando uma es- S = 3 · 180
trela de cinco pontas, conforme destacado na figura a
S = 540
seguir
Dividindo a soma dos ângulos internos por 5, pois um
pentágono possui cinco ângulos internos, encontrare-
mos 108° como medida de cada ângulo interno.
Observe na imagem anterior que a soma de três ângu-
los internos do pentágono com o ângulo θ tem como
resultado 360°.

108 + 108 + 108 + θ = 360


324 + θ = 360
θ = 360 – 324
Nessas condições, o ângulo θ mede: θ = 36°

a) 108°.
b) 72°. QUADRILÁTEROS, CIRCUNFERÊNCIA E CÍRCULO
c) 54°.
d) 36°. Quadriláteros
e) 18°.
São figuras que possuem quatro lados dentre os
Resposta: Letra D. Na ponta da estrela onde está des- quais temos os seguintes subgrupos:
tacado o ângulo θ, temos o encontro de três ângu-
los internos de pentágonos regulares. Para descobrir Paralelogramo
a medida de cada um desses ângulos, basta calcular
a soma dos ângulos internos do pentágono e dividir
por 5.
MATEMÁTICA

52
Características: Características:
Possuem lados paralelos, dois a dois, ou seja:
Possuem lados paralelos, dois a dois, ou seja: AB // DC e AD // BC
AB // DC e AD // BC . Possuem os quatro lados com medidas iguais:
Além de paralelos, os lados paralelos possuem a mes- AB = DC = AD = BC
ma medida, ou seja: AB = DC e AD = BC No losango, definem-se diagonais como a distância
A altura é medida em relação a distância entre os seg- entre vértices opostos, assim:
mentos paralelos, ou seja: BG: altura = h BD: diagonal maior = D e AC: diagonal menor = d
A base é justamente a medida dos lados que se me- A área é Dcalculada
�d
a partir das diagonais e não dos
diu a altura: AD: base = b lados: Área = 2
A área é calculada como o produto da base pela al- O perímetro é calculado como a soma das medidas
tura: Área= b∙h de todos os quatro lados: AB + BC + CD + DA
O perímetro é calculado como a soma das medidas
de todos os quatro lados: AB + BC + CD + DA Quadrado

Retângulo

Características:
Características:
Possuem lados paralelos, dois a dois, ou seja: Possuem lados paralelos, dois a dois, ou seja:
AB // DC e AD // BC AB // DC e AD // BC
Além de paralelos, os lados paralelos possuem a mes- Possuem os quatro lados com medidas iguais:
ma medida, ou seja: AB = DC e AD = BC AB = DC = AD = BC
Diferentemente do paralelogramo, todos os ângulos Diferentemente do losango, todos os ângulos do
do retângulo medem 90°: A �=B � = C� = D
� = 90° quadrado medem 90°: A �=B � = C� = D
� = 90°
No retângulo, um par de lados paralelos Seguindo a lógica do retângulo, temos o valor da base
será a base e o outro será a altura, no desenho: e da altura iguais neste caso: BC: lado = L e AB: lado =
AB: altura = h e AD: base = b A área é calculada de maneira simples: Área = L2
A área é calculada como o produto da base pela al-
tura: Área= b∙h O perímetro é calculado como a soma
O perímetro é calculado como a soma das medidas das medidas de todos os quatro lados:
de todos os quatro lados: Perímetro = AB + BC + CD + DA = 4L
Trapézio
Perímetro = AB + BC + CD + DA = 2b + 2h

Losango
MATEMÁTICA

Características:
Possuirá apenas um par de lados paralelos que serão
chamados de bases maior e menor:
AD// BC, AB: base maior = B e CD: base menor = b

53
A altura será definida como a distância entre as bases:
BG: altura = h #FicaDica
A área é calculada em função das bases e da altura: Em termos práticos, um setor circular é um
B+b “pedaço” de um círculo.
Área = �h
2
O perímetro é calculado como a soma das medidas
de todos os quatro lados: AB + BC + CD + DA

Circunferência e Círculo

Uma circunferência é definida como o conjunto de


pontos cuja distância de um ponto, denominado de cen-
tro, O é igual a R, definido como raio.

Características:
O ângulo α é definido como ângulo central απR2
Área do Setor Circular (para α em graus): A =
360
αR2
Área do Setor Circular (para α em radianos): A =
2

Segmento Circular

Já um círculo é definido como um conjunto de pontos Um Segmento Circular é uma região de um círculo
cuja distância de O é menor ou igual a R. compreendida entre um segmento que liga os pontos de
cruzamento dos segmentos de reta com a circunferência,
ao qual definimos como corda AB e a circunferência.

Características: Características:
A medida relevante da circunferência é o raio (R) que A Área do Setor Circular (para α em radianos):
é a distância de qualquer ponto da circunferência em re- R2
lação ao centro C. A= α − sen α
2
A área é calculada em função do raio: Área = πR2
O perímetro, também chamado de comprimento da 3. Posições Relativas entre Retas e Circunferências
circunferência, é calculado em função do raio também:
Perímetro = 2πR Dado uma circunferência de raio R e uma reta ‘r’ cuja
distância ao centro da circunferência é ‘d’, temos as se-
Setor Circular guintes posições relativas:
MATEMÁTICA

Um Setor Circular é uma região de um círculo com- Reta Tangente: Reta e circunferência possuem apenas
preendida entre dois segmentos de reta que se iniciam um ponto em comum (dOP = R)
no centro e vão até a circunferência.

54
EXERCÍCIOS COMENTADOS

1.(SEEDUC-RJ – Professor – CEPERJ/2015) O quadrado


MNPQ abaixo tem lado igual a 12cm. Considere que as
curvas MQ e QP representem semicircunferências de diâ-
metros respectivamente iguais aos segmentos MQ e QP.

Reta Exterior: Reta e circunferência não possuem pon-


tos em comum (dOP > R)

A área sombreada, em cm2, corresponde a:

a) 30
b) 36
c) 3 46π − 2
d) 6(36π − 1)
e) 2(6π − 1)

Resposta: Letra B. Aplicando a fórmula do segmen-


to circular, encontra-se a área de intersecção dos dois
círculos. Subtraindo esse valor da área do semicírculo,
chega-se ao resultado.

2. A figura abaixo é um losango. Determine o valor


Reta Secante: Reta e circunferência possuem dois de x e y, a medida da diagonal   AC , da diagonal   BD e
pontos em comum (dOP < R) o perímetro do triângulo BMC.

Resposta: Aplicando as relações geométricas referen-


tes ao losango, tem-se:

x = 15
y = 20
AC = 20 + 20 = 40
BD = 15 + 15 = 30
BMC = 15 + 20 + 25 = 60
MATEMÁTICA

55
TRIÂNGULOS E TEOREMA DE PITÁGORAS Ângulo Externo: É formado por um dos lados do triân-
gulo e pelo prolongamento do lado adjacente (ao lado).
Definição

Triângulo é um polígono de três lados. É o polígono


que possui o menor número de lados. Talvez seja o polí-
gono mais importante que existe. Todo triângulo possui
alguns elementos e os principais são: vértices, lados, ân-
gulos, alturas, medianas e bissetrizes.
Apresentaremos agora alguns objetos com detalhes
sobre os mesmos.

Classificação dos triângulos quanto ao número de


lados

Triângulo Equilátero: Os três lados têm medidas


iguais. .
m(AB) = m(BC) = m(CA)

a) Vértices: A,B,C.
b) Lados: AB,BC e AC.
c) Ângulos internos: a, b e c.

Altura: É um segmento de reta traçada a partir de um


vértice de forma a encontrar o lado oposto ao vértice
formando um ângulo reto. BH é uma altura do triângulo. Triângulo Isósceles: Dois lados têm medidas iguais.
m(AB) = m(AC).

Mediana: É o segmento que une um vértice ao ponto Triângulo Escaleno: Todos os três lados têm medidas
médio do lado oposto. BM é uma mediana. diferentes.

Classificação dos triângulos quanto às medidas


dos ângulos
Bissetriz: É a semi-reta que divide um ângulo em duas
partes iguais. O ângulo B está dividido ao meio e neste Triângulo Acutângulo: Todos os ângulos internos são
caso Ê = Ô. agudos, isto é, as medidas dos ângulos são menores do
que 90º.
MATEMÁTICA

Ângulo Interno: É formado por dois lados do triângu- Triângulo Obtusângulo: Um ângulo interno é obtuso,
lo. Todo triângulo possui três ângulos internos. isto é, possui um ângulo com medida maior do que 90º.

56
Todo ângulo externo de um triângulo é igual à soma
dos dois ângulos internos não adjacentes a esse ângulo
Triângulo Retângulo: Possui um ângulo interno reto externo. Assim: A = b + c, B = a + c, C = a + b
(90 graus). Atenção a esse tipo de triângulo pois ele é
muito cobrado! Ex: No triângulo desenhado, podemos achar
a medida do ângulo externo x, escrevendo:
x = 50º + 80º = 130°.

Medidas dos Ângulos de um Triângulo

Ângulos Internos: Consideremos o triângulo ABC. Po-


deremos identificar com as letras a, b e c as medidas dos Congruência de Triângulos
ângulos internos desse triângulo.
Duas figuras planas são congruentes quando têm a
mesma forma e as mesmas dimensões, isto é, o mesmo
#FicaDica tamanho. Para escrever que dois triângulos ABC e DEF
são congruentes, usaremos a notação: ABC ~ DEF
Em alguns locais escrevemos as letras mai- Para os triângulos das figuras abaixo, existe a congruên-
úsculas, acompanhadas de acento () para cia entre os lados, tal que: AB ~ RS, BC ~ ST, CA ~ T e
representar os ângulos. entre os ângulos:

Seguindo a regra dos polígonos, a soma dos ângu-


los internos de qualquer triângulo é sempre igual a 180 Se o triângulo ABC é congruente ao triângulo RST,
graus, isto é: a + b + c = 180° escrevemos: A�~R � , B� ~ S� , C� ~ �T

Ex: Considerando
o triângulo abai-
xo, podemos achar o
valor de x, escrevendo: FIQUE ATENTO!
70º + 60º + x = 180º e dessa forma, obtemos Dois triângulos são congruentes, se os seus
x = 180º − 70º − 60º = 50º elementos correspondentes são ordenada-
mente congruentes, isto é, os três lados e
os três ângulos de cada triângulo têm res-
pectivamente as mesmas medidas. Deste
modo, para verificar se um triângulo é con-
gruente a outro, não é necessário saber a
medida de todos os seis elementos, basta
conhecerem três elementos, entre os quais
esteja presente pelo menos um lado. Para
Ângulos Externos: Consideremos o triângulo ABC. facilitar o estudo, indicaremos os lados cor-
Como observamos no desenho, as letras minúsculas respondentes congruentes marcados com
MATEMÁTICA

representam os ângulos internos e as respectivas letras símbolos gráficos iguais.


maiúsculas os ângulos externos.

57
Casos de Congruência de Triângulos

LLL (Lado, Lado, Lado): Os três lados são conhecidos.


Dois triângulos são congruentes quando têm, respecti-
vamente, os três lados congruentes. Observe que os ele-
mentos congruentes têm a mesma marca.

Os três ângulos são respectivamente congruentes,


isto é: A~R, B~S, C~T

Casos de Semelhança de Triângulos

Dois ângulos congruentes: Se dois triângulos tem


LAL (Lado, Ângulo, Lado): Dados dois lados e um ân- dois ângulos correspondentes congruentes, então os
gulo. Dois triângulos são congruentes quando têm dois triângulos são semelhantes.
lados congruentes e os ângulos formados por eles tam-
bém são congruentes.

ALA (Ângulo, Lado, Ângulo): Dados dois ângulos e um Se A~D e C~F então: ABC =
� DEF
lado. Dois triângulos são congruentes quando têm um
lado e dois ângulos adjacentes a esse lado, respectiva- Dois lados proporcionais: Se dois triângulos tem dois
mente, congruentes. lados correspondentes proporcionais e os ângulos for-
mados por esses lados também são congruentes, então
os triângulos são semelhantes.

LAAo (Lado, Ângulo, Ângulo oposto): Conhecido um


lado, um ângulo e um ângulo oposto ao lado. Dois triân-
gulos são congruentes quando têm um lado, um ângulo, Como m(AB) ⁄ m(EF) = m(BC) ⁄ m(FG) = 2 ,
um ângulo adjacente e um ângulo oposto a esse lado
respectivamente congruente. então ABC =
� EFG
Ex: Na figura abaixo, observamos que um triângulo
pode ser “rodado” sobre o outro para gerar dois triângu-
los semelhantes e o valor de x será igual a 8.

Semelhança de Triângulos

Duas figuras são semelhantes quando têm a mesma


forma, mas não necessariamente o mesmo tamanho. Se
MATEMÁTICA

duas figuras R e S são semelhantes, denotamos: . Três lados proporcionais: Se dois triângulos têm os
três lados correspondentes proporcionais, então os
Ex: As ampliações e as reduções fotográficas são figu- triângulos são semelhantes.
ras semelhantes. Para os triângulos:

58
Teorema de Pitágoras

Dizem que Pitágoras, filósofo e matemático grego que viveu na cidade de Samos no século VI a. C., teve a intuição
do seu famoso teorema observando um mosaico como o da ilustração a seguir.

Observando o quadro, podemos estabelecer a seguinte tabela:

Triângulo Triângulo Triângulo


ABC A`B`C` A``B``C``
Área do quadrado construído 4 8 16
sobre a hipotenusa
Área do quadrado construído 2 4 8
sobre um cateto
Área do quadrado construído 2 4 9
sobre o outro cateto

Como 4 = 2 + 2 � 8 = 4 + 4 � 16 = 8 + 8 , Pitágoras observou que a área do quadrado construído sobre


a hipotenusa é igual à soma das áreas dos quadrados construídos sobre os catetos.
A descoberta feita por Pitágoras estava restrita a um triângulo particular: o triângulo retângulo isósceles. Estudos
realizados posteriormente permitiram provar que a relação métrica descoberta por Pitágoras era válida para todos os
triângulos retângulos. Os lados do triângulo retângulo são identificados a partir a figura a seguir:
MATEMÁTICA

59
Onde os catetos são os segmentos que formam o
ângulo de 90° e a hipotenusa é o lado oposto a esse
ângulo. Chamando de “a” e “b” as medidas dos catetos e
“c” a medida da hipotenusa, define-se um dos teoremas
mais conhecidos da matemática, o Teorema de Pitágoras:
c 2 = a2 + b2 l= medida do lado
h= medida da altura
Onde a soma das medidas dos quadrados dos catetos
é igual ao quadrado da hipotenusa. No triângulo equilátero, a altura e a mediana coinci-
dem. Logo, H é ponto médio do lado BC. No triângulo re-
Teorema de Pitágoras no quadrado tângulo AHC, H � é ângulo reto. De acordo com o teorema
de Pitágoras, podemos escrever:
Aplicando o teorema de Pitágoras, podemos estabe-
lecer uma relação importante entre a medida d da diago-
nal e a medida l do lado de um quadrado.

3l2
h² =
4

l 3
d= medida da diagonal h=
l= medida do lado 2

Aplicando o teorema de Pitágoras no triângulo retân-


gulo ABC, temos: EXERCÍCIOS COMENTADOS
d² = l² + l²
1.(TJ-SP – ESCREVENTE JUDICIÁRIO – VU-
d = √2l²
NESP/2017) A figura seguinte, cujas dimensões estão
d=l 2 indicadas em metros, mostra as regiões   R e R , e ,
ambas com formato de triângulos retângulos, situadas
1 2

Teorema de Pitágoras no triângulo equilátero em uma praça e destinadas a atividades de recreação in-
fantil para faixas etárias distintas.
Aplicando o teorema de Pitágoras, podemos estabe-
lecer uma relação importante entre a medida h da altura
e a medida l do lado de um triângulo equilátero.
MATEMÁTICA

60
Se a área de R eé R
54 ,m², então o perímetro
R1de
e R 2 , é, em TRIGONOMETRIA NO TRIÂNGULO RETÂNGULO
1 2
metros, igual a: Razões Trigonométricas no Triângulo Retângulo
a) 54 Definiremos algumas relações e números obtidos
b) 48 a partir dos lados de triângulos retângulos. Antes, po-
c) 36 rém, precisamos revisar seus conceitos básicos. A figura
d) 40 abaixo apresenta um triângulo onde um de seus ângulos
e) 42 π
internos é reto (de medida 90º ou 2
rad), o que nos per-
Resposta: Letra B. Esse problema se resolve tanto por mite classificá-lo como um triângulo retângulo.
semelhança de triângulos, quanto pela área de . Em
ambos os casos, encontraremos x = 12 m. Após isso,
pelo teorema de Pitágoras, achamos a hipotenusa do
triângulo
R e R , , que será 20 m. Assim, o perímetro será
1 2
12+16+20 = 48 m.

2. (PM SP 2014 – VUNESP).  Duas estacas de madei-


ra, perpendiculares ao solo e de alturas diferentes, estão
distantes uma da outra, 1,5 m. Será colocada entre elas
uma outra estaca de 1,7 m de comprimento, que ficará
apoiada nos pontos A e B, conforme mostra a figura. Lembremo-nos de que, qualquer que seja o triângulo,
a soma dos seus três ângulos internos vale 180º. Logo,
a respeito do triângulo ABC apresentado, dizemos que:

α + β + 90° = 180° → α + β = 90°

Com isso, podemos concluir:

a) Que os ângulos α e β são complementares, isto é,


são ângulos cujas medidas somam 90º;
b) Uma vez que são complementares ambos terão
sempre medida inferior a 90º, ou seja, serão ân-
gulos agudos.

FIQUE ATENTO!
A diferença entre a altura da maior estaca e a altura da Dizemos que todo triângulo retângulo tem
menor estaca, nessa ordem, em cm, é: um ângulo interno reto e dois agudos, com-
plementares entre si.
a) 95.
b) 75.
c) 85.
d) 80. #FicaDica
e) 90.
Vale lembrar que a hipotenusa será sempre
Resposta: Letra D. Note que x é exatamente a dife- o lado oposto ao ângulo reto e, ainda, o
rença que queremos, e podemos calculá-lo através do lado maior do triângulo. Podemos relacio-
Teorema de Pitágoras: ná-los através do Teorema de Pitágoras, o
qual enuncia que o quadrado sobre a hipo-
1,72 = 1,52 + x 2 tenusa de um triângulo retângulo é igual à
soma dos quadrados sobre os catetos.
2,89 = 2,25 + x 2
x 2 = 2,89 – 2,25
x² = 0,64x = 0,8 m ou 80 cm
Seno, Co-seno e Tangente de um Ângulo Agudo
MATEMÁTICA

A figura abaixo ilustra um triângulo retângulo com


suas medidas de lados:

61
cateto oposto a α 3
sen α = = = 0,6
hipotenusa 5

cateto adjacente a α 4
cos α = = = 0,8
hipotenusa 5

cateto oposto a α 3
tg α = = = 0,75
cateto adjacente a α 4
De fato, as medidas de seus lados (3, 4 e 5 unidades
de comprimento) satisfazem a sentença do teorema de
Pitágoras: 52 = 32 + 42. Seno, Co-seno e Tangente dos Ângulos Notáveis
Agora, definiremos três importantes relações entre
os lados do triângulo, aos quais chamaremos de seno, Uma vez definidos os conceitos de seno, co-seno e
co-seno e tangente. Essas propriedades serão sempre tangente de ângulos agudos internos a um triângulo
relativas a um determinado ângulo, assim, precisaremos retângulo, passaremos a determinar seus valores para
especificar de qual ângulo estamos falando. A expressão ângulos de grande utilização em diversas atividades pro-
geral é apresentada abaixo, com as abreviações as pro- fissionais e encontrados facilmente em situações cotidia-
priedades: nas.
Observemos, nas figuras abaixo, que a diagonal de
cateto oposto ao ângulo um quadrado divide ângulos internos opostos, que são
sen Ângulo =
hipotenusa retos, em duas partes de 45 + o+, e que o segmento
que define a bissetriz (e altura) de um ângulo interno do
triângulo equilátero permite-nos reconhecer, em qual-
cos Ângulo =
cateto adjacente ao ângulo quer das metades em que este é dividido, ângulos de
hipotenusa medidas 30o e 60o.

cateto oposto ao ângulo


tg Ângulo =
cateto adjacente ao ângulo

A partir dessas definições, podemos calcular o seno,


co-seno e tangente do ângulo α, do triângulo da figura:

cateto oposto a α
sen α =
hipotenusa

cateto adjacente a α Primeiramente, vamos calcular os comprimentos da


cos α = diagonal do quadrado e a altura h, do triângulo equi-
hipotenusa
látero. Como já vimos as fórmulas na seção anterior de
triângulos, vamos apenas indicar os valores:
cateto oposto a α
tg α =
cateto adjacente a α d=a 2
l 3
No caso de α , o cateto oposto a ele será aquele que h=
não forma o ângulo, ou seja, o segmento AC. Já o cateto 2
adjacente será o cateto que junto com a hipotenusa, for-
ma o ângulo, assim, ele será AB. Substituindo os valores: Sabemos, agora, que o triângulo hachurado no inte-
rior do quadrado tem catetos de medida 𝐚 e2hipotenusa
𝐚 2 . Para o outro triângulo sombreado, teremos cate-
tos e medidas 1 e l 3 , enquanto sua hipotenusa tem
2 2
comprimento 1.

Passemos, agora, ao cálculo de seno, co-seno e tan-


MATEMÁTICA

gente dos ângulos de 30o, 45o e 60o.

62
Seno, Co-seno e Tangente de 30° e 60°. 30o 45o 60o
Tomando por base o triângulo equilátero da figura sen 3
1 2
acima, e conhecendo as medidas de seus lados, temos:
2 2 2
cateto oposto a 30° l/2 1 cos
sen 30° = = = 3 2 1
hipotenusa l 2
2 2 2
l 3
cateto adjacente a 30° 3
cos 30° = = 2
= tg
hipotenusa l 2 3 1 3
cateto oposto a 30° l/2 3 3 2
tg 30° = =l 3 =
cateto adjacente a 30° 3
2 O círculo trigonométrico
E
Definidas principais propriedades e o ângulos notá-
veis, podemos expandir essa análise para todos os ân-
gulos de um círculo, indo de 0 a 360° ou de 0 a 2π rad.
Para isso, usamos o circulo trigonométrico apresentado
a seguir:
l
cateto adjacente a 60° 1
cos 60° = = 2
=
hipotenusa l 2
l 3
cateto oposto a 60°
tg 60° = = 2
l = 3
cateto adjacente a 60°
2

Observação Importante: Observe que os ângulos de


30° e 60° são complementares, e isso provoca a troca dos
valores de seno e cosseno. Já a tangente, temos exata-
mente o valor inverso.

Seno, Co-seno e Tangente de 45°

A partir do quadrado representado na figura acima,


de lado a e diagonal 𝐚 2 , podemos calcular:

Nele, podemos ver a divisão do círculo em quadran-


tes e em cada quadrante, podemos ver as posições do
seno e cosseno dos ângulos. É importante memorizar os
sinais dos senos e cossenos, pois eles se alteram confor-
me mudamos de quadrante.
Também é importante notar os limites de valores
para o seno e cosseno. Para qualquer ângulo x, os va-
lores de seno e cosseno estarão sempre entre -1 e 1 e
cateto oposto a 45° a isto está representado nos valores para os ângulos de
tg 45° = = =1 π 3π
cateto adjacente a 45° a 0, , π, e 2π
2 2

Note que o ângulo de 45° tem valores iguais de seno Outras Razões Trigonométricas – Co-tangente, Se-
e cosseno, o que implica em uma tangente igual a 1. Isso cante e Co-secante
se deve pois o complementar deste ângulo é ele mesmo.
Os resultados que obtivemos nos permitem definir, a Além das razões com que trabalhamos até aqui, são
seguir, uma tabela de valores de seno, co-seno e tangen- definidas a co-tangente, secante e co-secante de um ân-
gulo agudo de triângulo retângulo através de relações
MATEMÁTICA

te dos ângulos notáveis, que nos será extremamente útil.


entre seus lados, como definimos a seguir, com suas res-
pectivas abreviações

63
cateto adjacente ao ângulo 2 2
cotg Ângulo = sen α + cos α = 1
cateto oposto ao ângulo
hipotenusa ou
sec Ângulo = cateto adjacente ao ângulo 2 2
cos β + sen β = 1
hipotenusa
cossec Ângulo =
cateto oposto ao ângulo
Logo, como sempre teremos a soma dos quadrados
de seno e co-seno de um ângulo. Essa identidade valerá
Por exemplo, para um triângulo retângulo de lados 3, para qualquer ângulo x:
4 e 5 unidades de comprimento que apresentamos ante-
riormente, temos para o ângulo α:
sen2x + cos 2 x = 1
cateto adjacente a α 4
cotg α = =
cateto oposto a α 3 Essa relação, é conhecida como relação fundamental
sec α =
hipotenusa
=
5 da trigonometria.
cateto adjacente a α 4
hipotenusa
cossec α = cateto oposto a α =
5
Façamos agora outro desenvolvimento. Tomemos
um dos ângulos agudos do triângulo ABC, da figura. Por
3

exemplo, α. Dividindo-se sen α por cos α, obtemos:


Identidades Trigonométricas
sen α b⁄a b
É comum a necessidade de obtermos uma razão tri- = = = tg α
cos α c⁄a c
gonométrica, para um ângulo, a partir de outra razão
cujo valor seja conhecido, ou mesmo simplificar expres- De forma análoga, o leitor obterá o mesmo resultado
sões extensas envolvendo várias relações trigonométri- se tomar o ângulo β. Dizemos, portanto, que, para um
cas para um mesmo ângulo. Nesses casos, as identidades ângulo x, cujo cosseno não será nulo:
trigonométricas que iremos deduzir neste tópico são fer-
ramentas de grande aplicabilidade. sen x
Identidade em uma ou mais variáveis é toda igualda- tg x =
de verdadeira para quaisquer valores a elas atribuídos, cos x
desde que verifiquem as condições de existência de ex-
pressão. Podemos observar, também, que a razão b , que re-
Vamos iniciar então, mostrando um triângulo retân- c
gulo qualquer: presenta tg α , se invertida (passando a c
), vem a consti-
b
tuir cotg α . Em virtude disso, e aproveitando a identidade
enunciada anteriormente, podemos dizer que, para todo
ângulo x de seno não-nulo:
1 cos x
cotg x = =
tg x sen x

Tais inversões ocorrem também e se tratando das re-


lações seno, co-seno, secante e co-secante. Vejamos que:
Aplicando as medidas de seus lados no teorema de
Pitágoras, obtemos a seguinte igualdade:

b2 + c 2 = a2

Dividindo os seus membros por , não alteraremos a


igualdade. Assim, teremos:
2
b2 c 2 a2 b c 2
e
2 + 2= 2→ + =1
a a a a a
Se utilizarmos as relações trigonométricas que defi-
nimos (seno, cosseno e tangente), podemos simplificar a
expressão de duas maneiras possíveis, em função de ou :
MATEMÁTICA

64
Teríamos encontrado inversões análogas se utilizás- d) 8,5 e 7,5
semos o ângulo β. Assim, essas relações também vale- e) 7,5 e 7,5
rão para qualquer ângulo x, desde que seja respeitada a
condição de os denominadores dos segundos membros Resposta: Letra B. Basta calcular o seno e o cosseno
dessas identidades não serem nulos. de 30° e igualar aos valores de ½ e 3⁄2 . Nem sempre
Aplicando essas relações no teorema de Pitágoras, os exercícios passarão os valores dos ângulos notá-
chegamos as outras duas importantes identidades trigo- veis, é importante memorizar.
nométricas:
2
2. Dado o triângulo a seguir, obtenha o valor da hipote-
tg x + 1 = sec 2 x
2 nusa. Utilize 2 = 1,4
cotg x + 1 = cosec2 x

Adição e Subtração de Arcos

Outras identidades trigonométricas estão relaciona-


das a operações com ângulos. As fórmulas a seguir foram
deduzidas para facilitar algumas operações matemáticas.
Sejam α e β ângulos quaisquer. Temos que:
Seno da Soma: sen α + β = sen α � cos β + sen β � cos α

Seno da Diferença: sen α − β = sen α � cos β − sen β � cos α a) 4,8


Cosseno da Soma: cos α + β = cos α � cos β − sen α � sen β
b) 5,0
c) 5,5
Cosseno da Diferença: cos α − β = cos α � cos β + sen α � sen β
d) 5,7
Tangente da Soma: tg α + β =
tg α+tg β
1−tgα � tgβ
e) 6,0

Resposta: Letra D. Usando o cosseno de 45°, chega-


tg α−tg β
Tangente da Diferença: tg α − β =
1+tgα.tg β
-se na resposta.
Dessas fórmulas, podemos deduzir uma variação im-
3. Assinale a alternativa que representa os valores de
portante, que são as fórmulas dos arcos duplos:
sen (75°) e cos (75°)

sen 2θ = 2 � sen θ � cos θ 6− 2 6+ 2


a) e
2 2
cos 2θ = cos2 θ − sen ²θ 6− 2 6+ 2
b) 4
e 4
6+ 2 6− 2
c) 4
e 4
6− 2 6+ 2
d) 4
e 4

Resposta: Letra C. Usando a fórmula de soma de ar-


EXERCÍCIOS COMENTADOS cos para seno e cosseno e considerando que 75° =
30° + 45°:
1. Dado o triângulo a seguir, obtenha os valores dos ca-
tetos. Utilize 3 = 1,7

LEI DOS SENOS E LEI DOS COSSENOS

Lei dos Senos

A Lei dos senos relaciona os senos dos ângulos de


MATEMÁTICA

um triângulo qualquer (não precisa necessariamente ser


retângulo) com os seus respectivos lados opostos. Além
a) 10 e 7,5
disso, há uma relação direta com o raio da circunferência
b) 5 e 8,5
circunscrita neste triângulo:
c) 5 e 5

65
EXERCÍCIOS COMENTADOS

1. Calcule a medida de x:

a b c
= = = 2R
� sen B
sen A � sen C� Resposta: Aplicando a lei dos senos, lembrando que
temos que aplicar ao ângulo oposto ao lado que ire-
Lei dos Cossenos mos usar. Assim, o lado de medida 100 possui o ângu-
lo A
� como oposto, e ele mede 30°, dado as medidas
A lei dos cossenos é considerada uma generalização dos outros ângulos, assim:
do teorema de Pitágoras, onde para qualquer triângulo,
conseguimos relacionar seus lados com a subtração de
x 100
=
um termo que possui o ângulo oposto do lado de refe- sen 45° sen 30°
rência.
x 100
=
2/2 1/2

x = 100 2

2.Calcule a medida de x:


a2 = b2 + c 2 − 2 � b � c � cos A
2 2 2
b = a + c − 2 � a � c � cos B �
c = a + b − 2 � a � b � cos C�
2 2 2

Resposta: Aplicando a lei dos senos, lembrando que


FIQUE ATENTO! ela se relaciona com a circunferência circunscrita ao
Há três formas distintas de utilizar a Lei dos triângulo:
Cossenos. Quando for utilizá-la, tenha cui-
dado ao expressar os termos conhecidos e x
= 2R
a incógnita em uma das três equações pro- sen 60°
postas. Note que o termo à esquerda do si-
nal de igual é o lado oposto ao ângulo que x
deve aparecer na equação. =2 3
3/2

x=3
MATEMÁTICA

66
5. (Pref. Guarulhos-SP – Auxiliar Administrativo –
VUNESP/2018) Um terreno retangular tem 35 m de
HORA DE PRATICAR! largura e 1750 m2 de área. A razão entre a largura e o
comprimento desse terreno é 
1. (VUNESP – Agente de Copa – 2013) Uma pessoa
deve distribuir 2L de água em copos com capacidade a) 0,8.
para 250 mL. Para distribuir todo o líquido, enchendo b) 0,7.
completamente os copos, ela precisará de c) 0,6.
d) 0,5.
a) 5 copos e) 0,4.
b) 7 copos
c) 8 copos 6. (VUNESP – Curso de Formação de Sargentos – 2014)
d) 9 copos Em uma marcenaria há 3 ripas de madeira de mesma lar-
gura e de comprimentos 2,20 m, 2,75 m e 3,30m, que fo-
2. (VUNESP – GCM – 2012) Das 10 questões de matemá- ram cortadas, no sentido do comprimento, em pedaços
tica de um concurso, um candidato demorou 8 minutos e iguais, de maior comprimento possível e todos com a lar-
40 segundos para resolver quatro questões fáceis, 9 mi- gura original, não ocorrendo nenhuma sobra. O número
nutos e 50 segundos para resolver três questões médias total de pedaços obtidos foi:
e 12 minutos e 30 segundos para resolver duas difíceis.
Sabendo-se que ele demorou na prova de matemática a) 12
44 minutos e 30 segundos, o tempo gasto, em minutos, b) 13
na última questão que era a mais difícil, foi: c) 14
d) 15
a) 11,5
b) 12 7. (VUNESP – Curso de Formação de Sargentos –
c) 12,5 2014) Uma pessoa precisa recortar uma folha retangular
d) 13 de papelão, com 1,26 m de comprimento por 91 cm de
e) 13,5 largura, em quadrados, todos do mesmo tamanho e de
maior lado possível, de modo que não ocorra sobra. O
3. (VUNESP – Agente de Copa – 2013) Três amigos fa- número de quadrados recortados será:
rão uma viagem de ida e volta entre Cascavel, no Paraná,
e Chapecó, em Santa Catarina. Irão no carro de um deles, a) 220
que faz 10 quilômetros com um litro de álcool. A distân- b) 234
cia entre essas cidades é de 290 quilômetros. O total de c) 256
litros gastos será de: d) 288

a) 55 8. (Pref. Suzano-SP – Guarda Civil Municipal – VU-


b) 58 NESP/2018) Para imprimir um lote de panfletos, uma
c) 62 gráfica utiliza apenas uma máquina, trabalhando 5 horas
d) 63 por dia durante 3 dias. O número de horas diárias que
essa máquina teria que trabalhar para imprimir esse mes-
4. (Pref. Guarulhos-SP – Agente Escolar – VU- mo lote em 2 dias seria 
NESP/2016) No ano de 2014, três em cada cinco es-
tudantes, na faixa etária dos 18 aos 24 anos, estavam a) 8,0.
cursando o ensino superior, segundo dados do Instituto b) 7,5.
Brasileiro de Geografia e Estatística. Supondo-se que na- c) 7,0.
quele ano 2,4 milhões de estudantes, naquela faixa etária, d) 6,5.
não estivesse cursando aquele nível de ensino, o número e) 6,0.
dos que cursariam o ensino superior, em milhões, seria:
9. (VUNESP – Câmara Municipal de São Carlos – Agen-
a) 3,0 te de Copa – 2013) Com uma lata de leite condensado,
b) 3,2 é possível se fazer 30 brigadeiros. Sabendo que o preço
c) 3,4 de cada lata é de 4 reais, e para uma comemoração serão
d) 3,6 necessários 450 brigadeiros, o total gasto, em reais, para
e) 4,0 fazer esses brigadeiros, será de

a) 45
MATEMÁTICA

b) 53
c) 60
d) 70.

67
10. (VUNESP – Câmara Municipal de São Carlos – Re- 15. (Pref. Guarulhos-SP –Assistente de gestão esco-
cepcionista – 2013) Num posto de gasolina, foi pedido lar – VUNESP/2016) Para iniciar uma visita monitorada
ao frentista que enchesse o tanque de combustível. Fo- a um museu, 96 alunos do 8º ano e 84 alunos do 9º ano
ram colocados 20,6 litros de gasolina, pelos quais custou de certa escola foram divididos em grupos, todos com o
R$ 44,29. Se fossem colocados 38 litros de gasolina, o mesmo número de alunos, sendo esse número o maior
valor a ser pago seria de possível, de modo que cada grupo tivesse somente alu-
nos de um único ano e que não restasse nenhum aluno
a) R$ 37,41. fora de um grupo. Nessas condições, é correto afirmar
b) R$ 79,80. que o número total de grupos formados foi
c) R$ 81,70.
d) R$ 85,30. a) 8
e) R$ 88,50. b) 12
c) 13
11. (VUNESP - Câmara Municipal de São Carlos – Re- d) 15
cepcionista – 2013) Lendo 30 páginas por dia de um li- e) 18
vro, gastarei 6 dias para ler esse livro. Se eu ler 20 páginas
por dia desse mesmo livro, gastarei 16. (VUNESP – Agente Administrativo – 2016) Para um
trabalho de campo, Agentes Recenseadores das regiões
a) 9 dias. A e B devem formar equipes. Todas as equipes devem
b) 8 dias. ter o mesmo número de agentes, sendo esse número o
c) 6 dias. maior possível, de modo que cada equipe tenha agentes
d) 5 dias. de uma só região e que não reste nenhum agente fora
e) 4 dias. de uma equipe. Sabe-se que, da região A, participarão 60
agentes, e da região B, 72. Nessas condições, o número
12. (VUNESP – PROCON – Auxiliar de Manutenção – total de equipes formadas será
2013) Um supermercado fez a seguinte oferta “3/4 de
quilograma de carne moída por apenas R$ 4,50 ‘’. Uma a) 8
pessoa aproveitou a oferta e comprou 3 quilogramas de b) 9
carne moída. Essa pessoa pagou pelos 3 quilogramas de
c) 11
carne
d) 12
e) 14
a) R$ 18,00.
b) R$ 18,50.
17. (VUNESP – Agente Administrativo – 2016) Um
c) R$ 19,00.
hipermercado recebe determinados produtos todos os
d) R$ 19,50.
dias da semana. Considerando que ele recebe o produto
e) R$ 20,00.
A de 4 em 4 dias, o produto B de 5 em 5 dias e o pro-
13. (VUNESP – TJM – SP – Agente de Segurança Ju- duto C de 6 em 6 dias, e, ainda, que, no último sábado,
diciária – 2013) Se certa máquina trabalhar seis horas ele recebeu esses três produtos, então é correto afirmar
por dia, de forma constante e sem parar, ela produzira que a vez imediatamente anterior que ele recebeu os três
n peças em seis dias. Para produzir quantidade igual das produtos no mesmo dia foi em uma:
mesmas peças em quatro dias, essa máquina deverá tra-
balhar diariamente, nas mesmas condições, um número a) sexta-feira
de horas igual a b) quinta-feira
c) quarta-feira
a) 12. d) terça-feira
b) 10. e) segunda-feira
c) 9.
d) 8.

14. (VUNESP – Auxiliar Agropecuário – 2014) O refei-


tório de uma fábrica prepara suco para servir no almoço.
Com 5 litros de suco é possível encher completamente
20 copos de 250 ml. Em um certo dia, foram servidas 90
refeições e acompanhando cada uma delas, 1 copo com
250 ml de suco. O número, mínimo, de litros de suco ne-
cessário para o almoço, desse dia, foi
MATEMÁTICA

a) 21,5.
b) 22.
c) 22,5.
d) 23.
e) 23,5.

68
18. (UNESP – Assistente Administrativo – VU- 20. (CRO-SP – Assistente Administrativo – VU-
NESP/2017) Utilize os dados do gráfico a seguir, que NESP/2015) Cinco máquinas, todas de igual eficiência,
mostra o número de rascunho vendas realizadas pelo funcionando 8 horas por dia, produzem 600 peças por
vendedor Carlos em seis dias de uma semana, para res- dia. O número de peças que serão produzidas por 12
ponder à questão. dessas máquinas, funcionando 10 horas por dia, durante
5 dias, será igual a

a) 1800.
b) 3600.
c) 5400.
d) 7200.
e) 9000.

21. (VUNESP – PMESP – Curso de Formação de Ofi-


ciais – 2014) A tabela, com dados relativos à cidade de
São Paulo, compara o número de veículos de frota, o nú-
mero de radares e o valor total, em reais, arrecadado com
multas de trânsito, relativos aos anos de 2004 e 2013:

Ano Frota Radares Arrecadação


A média diária de vendas de Carlos, nessa semana, é,
aproximadamente, igual a: 2004 5,8 milhões 260 328 milhões
2013 7,5 milhões 601 850 milhões
a) 12
b) 15 Se o número de radares e o valor da arrecadação ti-
c) 18 vessem crescido de forma diretamente proporcional ao
d) 20 crescimento da frota de veículos no período considera-
e) 21 do, então em 2013 a quantidade de radares e o valor
aproximado da arrecadação, em milhões de reais (des-
19. (TJM-SP – Escrevente Técnico Judiciário – UNVU- considerando-se correções monetárias), seriam, respec-
NESP/2017) Leia o enunciado a seguir para responder a tivamente,
questão.
A tabela apresenta o número de acertos dos 600 can- a) 336 e 424.
didatos que realizaram a prova da segunda fase de um b) 336 e 426.
concurso, que continha 5 questões de múltipla escolha. c) 334 e 428.
d) 334 e 430.
e) 330 e 432.

22.(VUNESP – UNIFESP – Assistente em Administra-


ção – 2014) Para produzir uma certa encomenda, uma
empresa com 7 funcionários trabalhando 6 horas por dia
durante 15 dias, mas para agilizar as entregas de final de
ano, foram contratados mais 3 funcionários. Consideran-
do-se todos os funcionários com a mesma capacidade de
trabalho, pode-se concluir que o número de dias neces-
sários para produzir a mesma encomenda, trabalhando
por 9 horas por dia, será
Analisando-se as informações apresentadas na tabela, é
correto afirmar que: a) 7
b) 8
a) mais da metade dos candidatos acertou menos de c) 9
50% da prova. d) 10
b) menos da metade dos candidatos acertou mais de e) 11.
50% da prova.
c) exatamente 168 candidatos acertaram, no mínimo, 2
questões.
d) 264 candidatos acertaram, no máximo, 3 questões.
MATEMÁTICA

e) 132 candidatos acertaram a questão de número 4.

69
23. (UNESP – Assistente Administrativo – VU- 27. (TJM-SP – Escrevente Técnico Judiciário – VU-
NESP/2017) O quadrado da altura de um triângulo equi- NESP/2017) Em um terreno retangular, a medida do
látero é exatamente 300. O perímetro desse triângulo, lado maior tem 1 metro a mais que a medida do lado
em uma determinada unidade de medida, é: menor. Se a área desse terreno é de 182 metros qua-
drados, então é correto afirmar que o seu perímetro, em
a) 60 metros, é igual a:
b) 50
c) 30 a) 54
d) 20 b) 55
e) 10 c) 56
d) 57
cos2 θ
24. (VUNESP/2013) A expressão , com sen θ≠1, e) 58
é igual a: 1 − senθ

a) sen θ
b) sen θ+1
c) tg θ.cosθ
d) 1 GABARITO
e) senθ
cos θ
1 D
25.(VUNESP - Guarda Portuário – 2011) A diferença 2 B
entre a hipotenusa e o maior cateto de um triângulo re- 3 D
tângulo é 2. Sendo o perímetro desse triângulo igual a
4 D
40 cm, e a diferença entre os catetos igual a 7 cm, a área
desse triângulo, em cm2 , vale 5 B
6 D
a) 60
7 B
b) 64
c) 72 8 B
d) 76 9 C
e) 78
10 C
26.(VUNESP – Agente Administrativo – 2016) O gráfi- 11 A
co de setores mostra a distribuição percentual do resul- 12 A
tado de uma pesquisa qualitativa feita para determinado
produto, na qual cada entrevistado deveria optar apenas 13 C
por um dos seguintes conceitos: Ótimo – Bom – Regular 14 C
– Ruim – Péssimo. 15 D
16 C
17 D
18 C
19 D
20 E
21 A
22 A
23 A
24 B
25 A
a) 90° 26 D
b) 108°
c) 120° 27 A
d) 126°
MATEMÁTICA

e) 130°

70
ÍNDICE

CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

A prática educativa do professor na educação infantil: A observação, registro e avaliação formativa; A organização
e planejamento do espaço na educação infantil; A pedagogia de projetos didáticos; As relações entre a escola e
a família; O comportamento infantil – o desenvolvimento dos afetos e das relações; O compartilhamento da ação
educativa; O cuidar e o educar.............................................................................................................................................................................. 01
Os ambientes de aprendizagem na educação infantil: A brincadeira e o desenvolvimento da imaginação e da criatividade;
A brincadeira na educação infantil nas perspectivas psicossociais, educacionais e lúdicas; Alfabetização; O currículo
e a pedagogia da brincadeira; O desenvolvimento da linguagem oral; O desenvolvimento das artes visuais e do
movimento. O trabalho com as múltiplas linguagens................................................................................................................................... 11
A formação pessoal e social da criança: A criança, a natureza e a sociedade; As interações criança/criança como recurso
de desenvolvimento: identidade e autonomia; O desenvolvimento humano em processo de construção – Piaget,
Vygostky e Wallom...................................................................................................................................................................................................... 38
O desenvolvimento da motricidade: A importância da psicomotricidade na educação infantil; A psicomotricidade no
desenvolvimento da criança; O lúdico e o desenvolvimento psicomotor. O papel da educação psicomotora na escola. 45
A matemática na educação infantil: Ensinar e aprender matemática na educação infantil; Espaço e forma; Grandezas e
medidas; Número e sistema de numeração...................................................................................................................................................... 50
Relação entre educação, escola e sociedade: concepções de Educação e Escola;.................................................................................. 53
Função social da escola;............................................................................................................................................................................................ 57
Educação inclusiva e compromisso ético e social do educador.................................................................................................................... 59
Gestão democrática: a participação como princípio...................................................................................................................................... 66
Organização da escola centrada no processo de desenvolvimento pleno do educando............................................................... 69
A integração entre educar e cuidar na educação básica..................................................................................................................................... 72
Projeto político-pedagógico: fundamentos para a orientação, o planejamento e a implementação das ações educativas
da escola.......................................................................................................................................................................................................................... 74
Currículo e cultura: visão interdisciplinar e transversal do conhecimento............................................................................................ 81
Currículo: a valorização das diferenças individuais, de gênero, étnicas e socioculturais e o combate à desigualdade...... 85
Currículo, conhecimento e processo de aprendizagem: as tendências pedagógicas na escola. 94
Currículo nas séries iniciais: a ênfase na competência leitora (alfabetização e letramento) e o desenvolvimento dos
saberes escolares da matemática e das diversas áreas de conhecimento............................................................................................ 100
Currículo em ação: planejamento, seleção, contextualização e organização dos conteúdos; o trabalho por projetos...... 105
A avaliação diagnóstica ou formadora e os processos de ensino e de aprendizagem....................................................................... 113
A mediação do professor, dialogal e problematizadora, no processo de aprendizagem e desenvolvimento do aluno;
a inerente formação continuada do educador................................................................................................................................................ 119

Bibliografia
ARÊAS, Celina Alves. A função social da escola. Conferência Nacional da Educação Básica.......................................................... 123
AUAD, Daniela. Educar meninas e meninos – relações de gênero na escola. São Paulo: Editora Contexto, 2016................. 124
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Margareth; REGATTIERI, Marilza. Interação escola-família: subsídios para práticas escolares. Brasília: UNESCO, MEC, 2009. 126
COLL, César. O construtivismo na sala de aula. São Paulo: Editora Ática, 1999. (Capítulos 4 e 5)............................................... 128
DELIZOICOV. Demétrio; ANGOTTI, José André. Metodologia do ensino de Ciências. São Paulo: Cortez, 1994. (Capítulo
II: unidades 2 e 3; Capítulo III: unidades 4 e 5)................................................................................................................................................. 132
ÍNDICE

CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

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das Letras, 2003............................................................................................................................................................................................................. 143
FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo: Cortez, 2010........................................................................................... 145
FONSECA, Lúcia Lima da. O universo na sala de aula: uma experiência em pedagogia de projetos. Porto Alegre:
Mediação, 2009............................................................................................................................................................................................................. 150
FONSECA, Vitor da. Desenvolvimento Psicomotor e Aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2008............................................. 153
FORMOSINHO, Julia Oliveira. Pedagogia da infância: dialogando com o passado: construindo o futuro. Porto Alegre:
Artmed, 2007................................................................................................................................................................................................................. 157
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LERNER, Delia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. 1ª Edição – Porto Alegre, Artmed, 2002. 174
LIBÂNEO, J.C.; OLIVEIRA, J. F.; TOSCHI, M. S. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo: Cortez,
2003, capítulo III, da 4ª Parte................................................................................................................................................................................... 180
MACHADO, Rosângela. Educação Especial na Escola Inclusiva: Políticas, Paradigmas e Práticas. 1 ed. São Paulo: Cortez,
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MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Abrindo as escolas às diferenças, capítulo 5, in: MANTOAN, Maria Teresa Eglér (org.)
Pensando e Fazendo Educação de Qualidade. São Paulo: Moderna, 2001........................................................................................... 187
MARTINS, Mirian Celeste Ferreira Dias. Didática do ensino de arte: a língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte.
São Paulo: FTD, 1998................................................................................................................................................................................................... 191
MEC – MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. v.1. 192
MEC – MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. v.2. 192
MEC – MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. v.3 192
MOYLES, Jane R. Só Brincar? O papel do brincar na educação infantil. Porto Alegre Artmed Editora, 2002............................ 192
OLIVEIRA, Zilma Ramos. Educação Infantil: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002.(capítulos: I, e do V ao XIX) 193
PANIZZA, Mabel e Colaboradores. Ensinar matemática na educação infantil e nas séries iniciais: análise e propostas.
Porto Alegre: Artmed, 2006...................................................................................................................................................................................... 197
PENTEADO, Heloísa Dupas. Metodologia de História e Geografia. São Paulo: Cortez, 2011. (Capítulos 1, 2 e 3)......................... 207
PIAGET, Jean. Desenvolvimento e aprendizagem. Trad. Paulo Francisco Slomp. UFRGS- PEAD 2009/1.................................... 208
PIMENTA, Selma, G.A. A Construção do Projeto Pedagógico na Escola de 1º Grau. Ideias nº 8. 1.990, p 17- 24................. 214
ROPOLI, Edilene Aparecida. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar: a escola comum inclusiva. Brasília:
Ministério da Educação. SEESP. Universidade Federal do Ceará. 2010................................................................................................... 219
SMOLE, Kátia Stocco; DINIZ, Maria Ignez; CÂNDIDO, Patrícia. Resolução de problemas: matemática de 0 a 6. Porto
Alegre: Artmed, 2003.................................................................................................................................................................................................. 232
VINHA, Telma Pileggi. O educador e a moralidade infantil numa perspectiva construtivista. Revista do Cogeime, nº
14, julho/99, pág. 15-38............................................................................................................................................................................................. 239
WEIZ, T. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. São Paulo: Ática................................................................................................. 251
As crianças que frequentam essas classes não ingressam
A PRÁTICA EDUCATIVA DO na primeira série do ensino fundamental, até que tenham
PROFESSOR NA EDUCAÇÃO INFANTIL: A atingido os padrões desejáveis de aprendizagem da lei-
OBSERVAÇÃO, REGISTRO E AVALIAÇÃO tura e escrita. A essas crianças têm sido vedado, assim, o
FORMATIVA; A ORGANIZAÇÃO E direito constitucional de serem matriculadas na primei-
PLANEJAMENTO DO ESPAÇO NA ra série do ensino fundamental aos sete anos de idade.
EDUCAÇÃO INFANTIL; A PEDAGOGIA Outras práticas de avaliação conferem às produções das
crianças: notas, conceitos, estrelas, carimbos com dese-
DE PROJETOS DIDÁTICOS; AS RELAÇÕES
nhos de caras tristes ou alegres conforme o julgamento
ENTRE A ESCOLA E A FAMÍLIA; O do professor. A avaliação nessa etapa deve ser proces-
COMPORTAMENTO INFANTIL – O sual e destinada a auxiliar o processo de aprendizagem,
DESENVOLVIMENTO DOS AFETOS E DAS fortalecendo a autoestima das crianças.
RELAÇÕES; O COMPARTILHAMENTO DA Neste documento, a avaliação é entendida, priorita-
AÇÃO EDUCATIVA; O CUIDAR riamente, como um conjunto de ações que auxiliam o
E O EDUCAR. professor a refletir sobre as condições de aprendizagem
oferecidas e ajustar sua prática às necessidades coloca-
das pelas crianças. É um elemento indissociável do pro-
O que se entende por avaliação formativa na edu- cesso educativo que possibilita ao professor definir cri-
cação infantil? térios para planejar as atividades e criar situações que
gerem avanços na aprendizagem das crianças. Tem como
função acompanhar, orientar, regular e redirecionar esse
FIQUE ATENTO! processo como um todo. No que se refere às crianças, a
A observação e o registro se constituem nos avaliação deve permitir que elas acompanhem suas con-
principais instrumentos de que o professor quistas, suas dificuldades e suas possibilidades ao longo
dispõe para apoiar sua prática. Por meio de seu processo de aprendizagem. Para que isso ocorra,
deles o professor pode registrar contextu- o professor deve compartilhar com elas aquelas observa-
almente, os processos de aprendizagem das ções que sinalizam seus avanços e suas possibilidades de
crianças; a qualidade das interações estabe- superação das dificuldades.
lecidas com outras crianças, funcionários e São várias as situações cotidianas nas quais isso já
com o professor e acompanhar os proces- ocorre, como, por exemplo, quando o professor diz:
sos de desenvolvimento obtendo informa- “Olhe que bom, você já está conseguindo se servir sozi-
ções sobre as experiências das crianças na nho”, ou quando torna observável para as crianças o que
instituição. elas sabiam fazer quando chegaram na instituição com
o que sabem até aquele momento. Nessas situações, o
retorno para as crianças se dá de forma contextualizada,
Esta observação e seu registro fornecem aos profes- o que fortalece a função formativa que deve ser atribuída
sores uma visão integral das crianças ao mesmo tempo à avaliação. Além dessas, existem outras situações que
em que revelam suas particularidades. São várias as ma- podem ser aproveitadas ou criadas com o objetivo de
neiras pelas quais a observação pode ser registrada pelos situar a criança frente ao seu processo de aprendizagem.
É importante que o professor tenha consciência disso,
professores.
para que possa atuar de forma cada vez mais intencional.
A escrita é, sem dúvida, a mais comum e acessível. O
Isso significa definir melhor a quem se dirige a avaliação
registro diário de suas observações, impressões, ideias
— se ao grupo todo ou às crianças em particular; qual o
etc. pode compor um rico material de reflexão e ajuda
melhor momento para explicitá-la e como deve ser feito.
para o planejamento educativo. Outras formas de regis-
Esses momentos de retorno da avaliação para a criança
tro também podem ser consideradas, como a gravação
devem incidir prioritariamente sobre as suas conquistas.
em áudio e vídeo; produções das crianças ao longo do
Apontar aquilo que a criança não consegue realizar ou
tempo; fotografias etc. não sabe, só faz sentido numa perspectiva de possível
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, sancionada superação, quando o professor detém conhecimento so-
em dezembro de 1996, estabelece, na Seção II, referente bre as reais possibilidades de avanço da criança e sobre
à educação infantil, artigo 31 que: “... a avaliação far-se-á as possibilidades que ele tem para ajudá-la. Do contrá-
mediante o acompanhamento e registro do seu desen-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

rio, ao invés de potencializar a ação das crianças e forta-


volvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o lecer a sua autoestima, a avaliação pode provocar-lhes
acesso ao ensino fundamental”. um sentimento de impotência e fracasso. Outro ponto
Existem ainda no Brasil práticas na educação infantil importante de se marcar refere-se à representação que
que possuem um entendimento equivocado da avaliação a criança constrói sobre a avaliação. O professor deve
nessa etapa da educação, o que vem gerando sérios pro- ter consciência de que a forma como a avaliação é com-
blemas, com consequências preocupantes, sobretudo, preendida, na instituição e por ele próprio, será de fun-
para as crianças de determinadas camadas da sociedade. damental importância para que a criança possa construir
A mais grave é a existência das chamadas “classes de alfa- uma representação positiva da mesma.
betização” que conferem à educação infantil o caráter de A avaliação também é um excelente instrumento para
terminalidade. São classes que atendem crianças a partir que a instituição possa estabelecer suas prioridades para
de seis anos, retendo-as até que estejam alfabetizadas. o trabalho educativo, identificar pontos que necessitam

1
de maior atenção e reorientar a prática, definindo o que conforme as escolhas da instituição ou do educador, se-
avaliar, como e quando em consonância com os princí- gundo o que ele julgue relevante para as crianças, ou
pios educativos que elege. conforme seja possível desdobrar em atividades para
Para que possa se constituir como um instrumento realizar com as crianças (OSTETTO, 1992).
voltado para reorientar a prática educativa, a avaliação
deve se dar de forma sistemática e contínua, tendo como O planejamento baseado no aspecto do desenvol-
objetivo principal a melhoria da ação educativa. O pro- vimento tem a preocupação com o desenvolvimento
fessor, ciente do que pretende que as crianças aprendam, infantil. Segundo Ostetto (p.118,1992), “nessa direção
pode selecionar determinadas produções das crianças ao várias são as áreas contempladas, sendo mais comum
longo de um período para obter com mais precisão infor- a indicação dos aspectos físico-motor, afetivo social e
mações sobre sua aprendizagem. Os pais, também, têm cognitivo. Nessa perspectiva nota-se a preocupação em
o direito de acompanhar o processo de aprendizagem caracterizar a criança pequena dentro dos parâmetros da
de suas crianças, se inteirando dos avanços e conquistas, psicologia do desenvolvimento, o que indica uma preo-
compreendendo os objetivos e as ações desenvolvidas cupação com as especificidades das crianças de zero a
pela instituição. seis anos”.

A ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO ESPAÇO Essa perspectiva de planejamento, se, por um lado,


NA EDUCAÇÃO INFANTIL; parece considerar particularidades do desenvolvimento
infantil, acaba por secundarizar ou mesmo desconsiderar
questões relacionadas à construção do conhecimento,
FIQUE ATENTO! à aprendizagem. Por outro lado, a delimitação de áreas
Como defendemos que o planejamento é de desenvolvimento para orientar o planejamento parte,
uma das práticas que fará com que se efe- geralmente, de uma referência geral e universal de de-
tive o processo de ensino e aprendizagem, senvolvimento, tomado como regra ou como padrão de
são várias as possibilidades de encaminhar normalidade para toda e qualquer (OSTETTO,1992).
essa ação. De acordo com Ostetto (1992), Outro modelo de planejamento que vem sendo tra-
podemos destacar modelos de planejamen- balhado nos Centros de Educação Infantil, segundo Os-
to na Educação Infantil baseados em lista- tetto, é o baseado em conteúdos por área do conheci-
gem de atividades, datas comemorativas, mento.
aspectos do desenvolvimento, conteúdos De um modo geral, o planejamento que segue essas
organizados por tema, planejamento basea- orientações segue apontando noções a serem trabalha-
do em conteúdos organizados por áreas do das na pré-escola, contemplando conteúdos básicos das
conhecimento ou por projetos. quatro grandes áreas de conhecimento: língua portu-
guesa, matemática, ciências sociais e ciências naturais.
A entrada em cena das “áreas de conhecimento” trouxe
No planejamento baseado em listagem de atividades, maior consistência para o trabalho com os temas, uma
os professores listam os conteúdos a serem trabalhados vez que as atividades previstas, partir da delimitação de
com as crianças, sem ter objetivo pedagógico, com a fi- qualquer tema, deveriam “pertencer” a tais áreas, articu-
nalidade de apenas passar o tempo, enquanto as crian- lando-as (OSTETTO,1992).
ças esperam a hora da refeição, do banho, entre outras Já no planejamento baseado em temas, segundo
atividades. Scmitt (2006), o tema é o eixo que conduzirá o traba-
E assim sucessivamente nos dias subsequentes e lho. Existe preocupação com o interesse da criança, sua
a cada semana, repete-se a dinâmica de atividades. A realidade, suas necessidades e questionamentos. Os te-
prática pedagógica resume-se, aqui, às chamadas ati- mas podem ser escolhidos pelo professor ou emergirem
vidades, ou a “hora da atividade”, uma vez que os ou- de algo significativo que o grupo vivenciou. Partindo do
tros momentos da rotina, mais ligados aos cuidados das tema, são previstas atividades relacionadas ao estudo do
crianças, não são planejados, sendo mesmo secundariza- conteúdo em questão. O grande questionamento sobre
dos (OSTETTO, 1992). esse tipo de planejamento é o “tema” servir como “pre-
No modelo de planejamento baseado em datas co- texto” para o professor fazer listagem de atividades, pois
memorativas podemos perceber que o educador segue estas devem estar articuladas entre si e serem significati-
o calendário para a elaboração do planejamento na Edu- vas. Outro aspecto é toda a instituição limitar-se ao tra-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

cação Infantil. balho fechado, impondo o mesmo tema para todas as


Nessa perspectiva, o planejamento da prática coti- idades.
diana é direcionado pelo calendário. A programação é Um dos modelos mais adequados de planejamento
organizada considerando algumas datas, tidas como im- para ser trabalhado no centro de Educação Infantil é o
portantes do ponto de vista do adulto. Também aqui são planejamento baseado por projetos. Segundo Scmitt
listadas várias atividades, só que as mesmas se referem a (2006), quanto ao planejamento por projetos, é possível
uma data específica, a uma comemoração escolhida pelo trazer a ideia de horizonte, de leitura de grupo, podendo
calendário. Assim, ao longo do ano seriam realizadas ati- incluir o trabalho com qualquer grupo de crianças, sendo
vidades referentes ao Carnaval, ao Dia de Tiradentes, ao que, para cada grupo, há um específico e único proje-
Descobrimento do Brasil, ao Dia do Índio, à Páscoa, ao to, articulando-se somente em princípios e itens gerais.
Dia do Trabalho, ao Dia das Mães, e assim por diante, Tanto para bebês quanto para crianças maiores, o pro-

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jeto seria viável, considerando-se, entretanto, conteúdos fazer algo vir à tona, fazer acontecer, concretizar, e para
diferenciados, conforme suas próprias características. O isto é necessário estabelecer as condições objetivas e
projeto deve ter como base a observação do grupo de subjetivas prevendo o desenvolvimento da ação no tem-
crianças e seus interesses. Estrutura-se, contemplando po (VASCONCELLOS, 2000).
alguns itens básicos. O educador delineia, a partir de Tanto na realização quanto na efetivação do planeja-
uma séria e intensa pesquisa, as possibilidades de traba- mento não podemos separar o educar do cuidar e permi-
lho, os assuntos a serem estudados, as situações a serem tir que a rotina sem reflexão e mudanças perpetue.
propostas e as atividades a serem realizadas. A atividade educativa da creche também inclui o que
Todas as instituições infantis, para realizarem a pro- passa de troca afetiva entre adultos e crianças, durante o
dução de um planejamento, precisam seguir o Projeto banho, as refeições no horário de entrada e com outras
Político Pedagógico (PPP) das suas instituições, pois nes- situações. O educador e o bebê interagindo enquanto
se documento estarão os objetivos a serem desenvolvi- está tomando banho ou as crianças conversando duran-
dos com os alunos de determinada série. Nesse sentido, te o almoço, estão trocando experiências e significado
este é obrigatório para ajudar o professor a elaborar o ampliando o seu repertório de ações (OLIVEIRA, 1992).
seu planejamento. Percebemos, com isso, que o planejamento não é um
simples papel a ser preenchido.
O planejamento é uma ferramenta que tem de ser Como um processo reflexivo, no processo de elabo-
realizada com muita reflexão, traçando objetivos e in- ração do planejamento o educador vai aprendendo e
cluindo meta. Segundo Ostetto (2000), “planejamen- exercitando sua capacidade de perceber as necessidades
to pedagógico nada mais é atitude crítica do educador do grupo de crianças, localizando manifestações de pro-
diante do seu trabalho docente”. blemas e indo em busca das causas. Vai aprendendo a
Para que o planejamento seja realizado, é importante caracterizar o problema para, aí sim, tomar decisões para
que o educador saiba qual é a proposta curricular da ins- superá-lo. O ato de planejar pressupõe o olhar atento à
tituição de ensino em que está atuando e como conciliar realidade (OSTETTO, 1992).
esse documento com a sua prática escolar. Além disso, Tendo como respaldo essas afirmações, podemos in-
tem de preparar atividades em que os alunos tenham re- ferir que o planejamento é uma reflexão do professor de
cursos para realizar essas tarefas. como trabalhar o conteúdo com a criança, subsidiando-o
no melhor modo de começar e de fazer ligações entre
O planejamento educativo deve ser assumido no um conteúdo transmitido e outro. É no momento em
cotidiano como um processo de reflexão, pois, mais do que o professor está elaborando o planejamento que ele
que ser um papel preenchido, é atitude e envolve todas pode mudar a sua maneira de ensinar, para que todos os
as ações e situações do educador no cotidiano do seu alunos compreendam o conteúdo, ou seja, rever as suas
trabalho pedagógico. Planejar é essa atitude de traçar, ações na transmissão do conteúdo.
projetar, programar, elaborar um roteiro para empreen- Por esse motivo, para fazer um planejamento, o pro-
der uma viagem de conhecimento, de interação, de ex- fessor precisa refletir. Essa reflexão é sobre como será rea-
periências múltiplas e significativas para com o grupo de
lizada a atividade, para quem se destina esse planejamen-
crianças. Planejamento pedagógico é atitude crítica do
to. A forma como o professor escreve o planejamento, às
educador diante de seu trabalho docente. Por isso não é
vezes, também, é diferente; alguns precisam detalhar as
uma fôrma! Ao contrário, é flexível e, como tal, permite
atividades desenvolvidas, outros professores apenas ela-
ao educador repensar, revisando, buscando novos sig-
boram o planejamento em tópicos e conseguem chegar
nificados para sua prática pedagógica. O planejamento
ao objetivo. Conforme o professor vai fazendo o planeja-
marca a intencionalidade do processo educativo, mas
mento, ele vai adquirindo certas práticas que o ajudam a
não pode ficar só na intenção, ou melhor, só na imagina-
refletir sobre a necessidade das crianças.
ção, na concepção (OSTETTO, 1994).
Assim, os professores devem planejar uma prática Muitos professores fazem o planejamento, mas não
pedagógica que possibilite às crianças ambientes com percebem o real valor desse documento, deixando-o sem
objetivos específicos a serem atingidos, para que ocorra aspecto pedagógico. Assim, o planejamento pode ser de-
uma troca de saberes entre elas. Além disso, o educador senvolvido e planejado de várias formas, mas nem todos
deve ficar atento em ralação ao desenvolvimento dessas chegam ao mesmo objetivo de torná-lo educativo.
crianças e sempre anotar o que se passa em sala, pois os Além disso, vale lembrar que o fato de um planeja-
registros são necessários para se apontar as experiências mento ser “maravilhoso” não significa que a aula do pro-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

das crianças como também as do próprio adulto. fessor também o será, pois, se ele não tiver domínio de
Nesse processo, o professor é um mediador que deve sala e compromisso, uma boa relação com seus alunos e
desenvolver todas as potencialidades das crianças. Se- seriedade, será quase impossível atingir o seu real obje-
gundo Angotti (1994, p.209), o professor exerce papel tivo.
importante para o desenvolvimento da criança, criando Não adianta um “planejamento bem planejado”, se o
situações pedagógicas. Os mesmos argumentos encon- educador não constrói uma relação de respeito e afetivi-
tramos em Vasconcellos: dade com as crianças; se ele toma as atividades previstas
O planejamento enquanto construção-transformação como momentos didáticos, formais, burocráticos; se ele
de representações é uma mediação teórica metodológi- apenas age e atua, mas não interage/partilha da aventura
ca para ação, que em função de tal mediação passa a que é a construção do conhecimento para o ser humano
ser consciente e intencional. Tem por finalidade procurar (OSTETTO,1994).

3
Nesse processo, vale destacar que os planejamentos medida que suas competências são desenvolvidas, suas
construídos pelos professores são influenciados pelas possibilidades de inclusão na sociedade da informação
concepções de mundo, de educação e infância, adqui- são ampliadas.
ridas durante a sua formação profissional, tanto inicial
quanto continuada. A Pedagogia de projetos
O planejamento precisa ter sentido para o professor,
pois aquele desenvolve a sua prática e dá seguimento aos
conteúdos. FIQUE ATENTO!
O planejamento não deve ser visto como uma peça Na visão de Perrenoud (1999) a escola de-
burocrática prevista para encher pastas e gavetas da insti- veria estar se contagiando com a noção de
tuição na ilusão de um trabalho realizado. Deve, antes, ser competência utilizada no mundo do traba-
espelho real do processo e produto organicamente cons- lho e das empresas. É pensamento comum,
truído para ser executado ao longo de um período de entre os autores pesquisados, que para isso
trabalho, em compasso com que veio anteriormente e o ocorrer é necessária a superação da visão
que virá depois. Deve, ainda, espelhar o empenho do pro- fragmentada do conhecimento fornecida
fessor na execução de um fazer objetivado, intencionado pela escola através das disciplinas. Fazen-
e que sistematicamente deverá ser revisto, analisando a da (2001) enfatiza que a escola, na medida
luz da proposta de formação infantil na qual se acredita e que organiza os currículos em disciplinas
na qual a instituição como um todo aposta. tradicionais, fornece ao aluno apenas um
Defendemos que é necessário levar para as crianças acúmulo de informações que de pouco ou
tudo o que é de mais bonito, elaborado e belo para de nada valerão na sua vida profissional, prin-
fato proporcionar o saber sistematizado, pois não se trata cipalmente por que o ritmo das mudanças
de qualquer tipo de ensino, mas daquele conhecimento tecnológicas não tem contrapartida com a
transmitido de forma sistemática. velocidade que a escola pode se adequar.

Fonte
SASSI, J. C. M. O Planejamento na Educação Infantil. Para Almeida, (1999), a utilização do projeto seria uma
Maringá, 2012 forma de envolver o aluno em interações com recursos
tecnológicos e sociais a fim de desenvolver sua autono-
A PEDAGOGIA DE PROJETOS DIDÁTICOS; mia e de construir conhecimentos de distintas áreas do
saber, por meio da busca de informações significativas
Segundo Fêo1, antigamente, quando o aluno ia à es- para a compreensão, apresentação e resolução de uma
cola, via um quadro negro e um giz na mão de um pro- situação-problema.
fessor que a tudo comandava. Hoje, ele vê um quadro Nogueira (2001) esclarece que a totalidade das pes-
branco, um pincel colorido e quase o mesmo professor, quisas a respeito do ensino-aprendizagem está sempre
exceto pelo fato dele já não saber tanta coisa. Muitas es- voltada ao aluno como centro do problema de aprendi-
colas e professores ainda insistem em realizar a prática zagem, todavia se podem localizar problemas também
de ensino do mesmo jeito que antes, mudou-se a forma, no sistema e no professor. Este autor afirma que em suas
mas a essência continua a mesma. pesquisas constatou que as práticas nas quais se realizam
O objetivo de antes era transmitir conteúdos e o experenciação, pesquisa de campo, construção de ma-
objetivo de hoje deveria ser propor tarefas aos alunos quetes, representações, dramatizações, etc. provaram ser
que os tornem capazes de identificar, avaliar, reconhecer eficiente tanto em termos de resultados de aprendizado
e questionar para que eles possam ser cidadãos deste como em motivação dos alunos. Assim, também se es-
novo mundo, (Perrenoud, 2000). O MEC sinaliza para a pera do trabalho com projetos. Segundo Antunes (2001)
necessidade de se promover formas de aprendizagem é possível viabilizar com intensidade invulgar o uso das
que desenvolvam no aluno sua criatividade, análise críti- múltiplas inteligências e, por consequência, os alunos,
ca, atitudes e valores orientados para a cidadania, aten- conhecendo melhor suas aptidões, podem se expres-
tas às dimensões éticas e humanísticas e que supere o sar através delas. Em resumo, a finalidade dos projetos
conteudismo do ensino reduzido à condição de meros é favorecer o ensino para a compreensão e compreen-
instrumentos de transmissão de conhecimento e infor- der é ser capaz de ir além da informação dada, é tam-
mações. Então, faz-se necessário repensar os objetivos bém de acordo com Perkins e Blythe (1994) apud Her-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

da educação de modo a permitir que o aluno compreen- nandez (1998), “ ... a capacidade de investigar um tema
da o mundo, que dele se aproprie e que o possa trans- mediante estratégias como explicar, encontrar evidências
formar. Sugere Castilho (2001) que o método de ensino é e exemplos, generalizar, aplicar, estabelecer analogias,
a variável que mais pesa nos resultados do desempenho e representar um tema por meio de uma nova forma”.
do aluno. Almeida (1999) argumenta que a forma de con- Perrenoud (2003) define a Pedagogia de Projeto como:
ceber a educação envolvendo o aluno, promovendo sua - Uma empreitada coletiva gerada pelo grupo-classe, na
autonomia e garantindo uma aprendizagem significativa qual o professor coordena, mas não decide tudo; Uma
deveria ser por meio do desenvolvimento de projetos. À orientação para uma produção concreta (textos, jornais,
espetáculos, exposições, maquetes, experiências científi-
1 FÊO, E. A. A prática pedagógica por meio do desenvolvimento de cas, festas, passeios, eventos esportivos, concurso, etc.);
projetos. Disponível em: http://www.drb-assessoria.com.br/1.Aprat
Um conjunto de tarefas nas quais todos os alunos pos-
icapedagogicapormeiododesenvolvimentodeprojetos.pdf

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sam participar e tenham uma função ativa, a qual pode- Projetos de Trabalho
rá variar em função de seus recursos e interesses; Um
aprendizado de saberes e conhecimentos no âmbito da Para Moura2, os Projetos de Trabalho traduzem, por-
gestão de projetos (decidir, planejar, coordenar, etc.); Um tanto, uma visão diferente do que seja conhecimento e
aprendizado identificável e que conste do programa de currículo e representam uma outra maneira de organi-
uma ou mais disciplinas; Uma atividade emblemática e zar o trabalho na escola. Caracterizam-se pela forma de
regular, colocada a serviço do programa. abordar um determinado tema ou conhecimento, permi-
No entanto, o processo de implantação dessa prática tindo uma aproximação da identidade e das experiências
em estabelecimentos que há muito tempo se limita ao dos alunos, e um vínculo dos conteúdos escolares entre
ensino tradicional não é uma tarefa fácil. Para sua utiliza- si e com os conhecimentos e saberes produzidos no con-
ção, a Pedagogia do Projeto exige o desenvolvimento de texto social e cultural, assim como com problemas que
competências do professor e que ele deseje as mudan- dele emergem. Dessa forma, eles ultrapassam os limites
ças, mas isto não basta. De acordo com Piconez (1998) das áreas e conteúdos curriculares tradicionalmente tra-
de nada adiantam modificações no planejamento do balhados pela escola, uma vez que implicam o desenvol-
professor se a escola não possuir um projeto político-pe- vimento de atividades práticas, de estratégias de pesqui-
dagógico que esboce o cidadão que se pretende ajudar sa, de busca e uso de diferentes fontes de informação, de
constituir pela educação escolar. sua ordenação, análise, interpretação e representação.
Contudo, com este trabalho procurou-se esclarecer Implicam igualmente atividades individuais, de grupos/
a prática do projeto e sua contribuição para a constru- quipes e de turma(s), da escola, tendo em vista os dife-
ção da aprendizagem significativa, alertando para alguns rentes conteúdos trabalhados (atitudinais, procedimen-
princípios que não devem ser esquecidos como: a au- tos, conceituais), as necessidades e interesses dos alunos.
tonomia do aluno, a avaliação constante e o necessário Ao estudá-los, as crianças e os jovens realizam conta-
treinamento do professor. to com o conhecimento não como algo pronto e acaba-
Entretanto, destacou-se que o professor não está do, mas como algo controverso. Um dos aspectos mais
preparado e está pouco à vontade com os jovens e as importantes, no trabalho como Projetos, é que ele per-
suas realidades por isso deverá refletir com seus pares mite que o aluno desenvolva uma atitude ativa e refle-
como promover a melhoria de sua profissão. A prática xiva diante de suas aprendizagens e do conhecimento,
de projetos pode envolver os alunos em um trabalho na medida em que percebe o sentido e o significado do
de equipe, no qual o aprendizado acontece no fazer, no conhecimento para a sua vida, para a sua compreensão
pesquisar, no levantar e organizar informações. Nesse do mundo.
modelo, o professor exerce o papel de tutor, de organi-
zador, aquele que reconhece e orienta adequadamente Pedagogia de projetos: método ou postura peda-
as competências dos diferentes alunos. gógica?

Referências: Não podemos entender a prática por projetos como


Almeida, M. E. B. de. Projeto: uma nova cultura de uma atividade meramente funcional, regular, metódica.
aprendizagem. PUC/SP, jul.1999.2f.(apostila mimeo). A Pedagogia de Projetos não é um método, pois a
Antunes, C. Um método para o ensino fundamental: o ideia de método é de trabalhar com objetivos e conteú-
projeto. 3.ed. Petrópolis: Vozes, 2001. 44p. Castilho, S. As dos pré-fixados, pré-determinados, apresentando uma
competências essenciais. Jornal Público, Lisboa, p.3, 20 sequência regular, prevista e segura, refere-se à aplica-
out. 2001. ção de fórmulas ou de uma série de regras.
Fazenda, I. C. A. (Coord.) Práticas interdisciplinares na Trabalhar por meio de Projetos é exatamente o opos-
escola. 8. Ed. São Paulo: Cortez, 2001. 147 p. Hernandez, to, pois nele, o ensino-aprendizagem se realiza mediante
F. Transgressão e mudança na educação: os projetos de um percurso que nunca é fixo, ordenado. O ato de proje-
trabalho. Porto Alegre: ArtMed, 1998, 150 p. tar requer abertura para o desconhecido, para o não-de-
Nogueira, N. R. Pedagogia dos Projetos: uma jornada terminado e flexibilidade para reformular as metas e os
interdisciplinar rumo ao desenvolvimento das múltiplas percursos à medida que as ações projetadas evidenciam
inteligências. São Paulo: Érica, 2001. 220 p. novos problemas e dúvidas.
Perrenoud, P. Construir as competências desde a es- Fernando Hernández (1998) vem discutindo o tema e
cola. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. 90p. define os projetos de trabalho não como uma metodolo-
________ Pedagogia diferenciada: das intenções à ação. gia, mas como uma concepção de ensino, uma maneira
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. 183 p. _________ A diferente de suscitar a compreensão dos alunos sobre os
pedagogia do projeto a serviço do desenvolvimento de conhecimentos que circulam fora da escola e de ajudá-
competências. In: 3º SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE -los a construir sua própria identidade.
EDUCAÇÃO. São Paulo: 2003. 40 p.
Piconez, S.C.B. A pedagogia de projeto como alterna- O trabalho por projetos requer mudanças na concep-
tiva para o ensino-aprendizagem na educação de jovens ção de ensino e aprendizagem e, consequentemente, na
e adultos. Cadernos Pedagógicos-Reflexões. São Paulo: postura do professor. Hernández (1988) enfatiza ainda
USP/FE/NEA, n.16, 1998, 12 p. que o trabalho por projeto não deve ser visto como uma
opção puramente metodológica, mas como uma manei-
2 MOURA, D. P. de. Pedagogia de Projetos: Contribuições para Uma
Educação Transformadora. 2010.

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ra de repensar a função da escola. Leite (1996) apresenta o que já está pronto, em vez de fazer agir, operar, criar,
os Projetos de Trabalho não como uma nova técnica, mas construir a partir da realidade vivida por alunos e profes-
como uma pedagogia que traduz uma concepção do co- sores, isto é, pela sociedade.
nhecimento escolar. Na Pedagogia de Projetos a relação ensino/aprendi-
Em se tratando dos conteúdos, a pedagogia de pro- zagem é voltada para a construção do conhecimento de
jetos é vista pelo seu caráter de potencializar a interdis- maneira dinâmica, contextualizada, compartilhada, que
ciplinaridade. Isto de fato pode ocorrer, pois o trabalho envolva efetivamente a participação dos educandos e
com projetos permite romper com as fronteiras discipli- educadores num processo mútuo de troca de experiên-
nares, favorecendo o estabelecimento de elos entre as cias. Nessa postura a aprendizagem se torna prazerosa,
diferentes áreas de conhecimento numa situação contex- pois ocorre a partir dos interesses dos envolvidos no pro-
tualizada da aprendizagem. cesso, da realidade em que estes estão inseridos, o que
A Pedagogia de Projetos é um meio de trabalho per- ocasiona motivação, satisfação em aprender.
tinente ao processo de ensino-aprendizagem que se O Construtivismo leva o educando a pensar, expan-
insere na Educação promovendo-a de maneira signifi- dindo seu intelecto através de uma aprendizagem signi-
cativa e compartilhada, auxiliando na formação integral ficativa, ou seja, que tenha sentido, e contextualizada. O
dos indivíduos permeado pelas diversas oportunidades conhecimento é construído a cada instante com a media-
de aprendizagem conceitual, atitudinal, procedimental ção do educador, respeitando o nível de desenvolvimen-
para os mesmos. Os projetos de trabalho não se inse- to mental de cada educando.
rem apenas numa proposta de renovação de atividades, “O diálogo do aluno é com o pensamento, com a cultu-
tornando-as criativas, e sim numa mudança de postura ra corporificada nas obras e nas práticas sociais e transmi-
que exige o repensar da prática pedagógica, quebrando tidas pela linguagem e pelos gestos do professor, simples
paradigmas já estabelecidos. mediador.”.
Possibilita que os alunos, ao decidirem, opinarem, de- Então, tanto no Construtivismo como na Pedagogia
baterem, construam sua autonomia e seu compromisso de Projetos, o educando é o próprio agente de seu de-
senvolvimento, o conhecimento é assimilado de maneira
com o social, formando-se como sujeitos culturais e ci-
própria, mas sempre com o auxílio da mediação do edu-
dadãos.
cador. Aprender deixa de ser um simples ato de memo-
Será necessário oportunizar situações em que os alu-
rização e ensinar não significa mais repassar conteúdos
nos participem cada vez mais intensamente na resolução
prontos. O aluno deixa de ser um sujeito passivo, sempre
das atividades e no processo de elaboração pessoal, em
à mercê das ordens do professor, lidando com um con-
vez de se limitar a copiar e reproduzir automaticamente
teúdo completamente alienado de sua realidade e em
as instruções ou explicações dos professores. Por isso,
situações artificiais de ensino-aprendizagem. Aprender
hoje o aluno é convidado a buscar, descobrir, construir, passa então a ser um processo global e complexo, onde
criticar, comparar, dialogar, analisar, vivenciar o próprio conhecer e intervir na realidade não se dissocia. O aluno
processo de construção do conhecimento. (ZABALLA, é visto como sujeito ativo que usa sua experiência e co-
1998) nhecimento para resolver problemas.
O fato de a pedagogia de projetos não ser um método
para ser aplicado no contexto da escola dá ao professor Aprende-se participando, vivenciando sentimentos,
uma liberdade de ação que habitualmente não acontece tomando atitudes diante dos fatos, escolhendo proce-
no seu cotidiano escolar. O compromisso educacional do dimentos para atingir determinados objetivos. Ensina-se
professor é justamente saber O QUÊ, COMO, QUANDO e não só pelas respostas dadas, mas principalmente pelas
POR QUE desenvolver determinadas ações pedagógicas. experiências proporcionadas, pelos problemas criados,
E para isto é fundamental conhecer o processo de apren- pela ação desencadeada.
dizagem do aluno e ter clareza da sua intencionalidade Suas concepções e conhecimentos prévios são levan-
pedagógica. tados e analisados para que o educador possa problema-
Mais do que uma técnica atraente para transmissão tizá-los e oferecer-lhes desafios que os façam avançar,
dos conteúdos, como muitos pensam, a proposta da atingindo o processo de equilibração/desequilibração
Pedagogia de Projetos é promover uma mudança na que é a base do Construtivismo e ao mesmo tempo da
maneira de pensar e repensar a escola e o currículo na Pedagogia de Projetos.
prática pedagógica. Com a reinterpretação atual da me- Então podemos dizer que a aprendizagem é o resul-
todologia, esse movimento tem fornecido subsídios para tado do esforço de atribuir e encontrar significados para
uma pedagogia dinâmica, centrada na criatividade e na o mundo, o que implica a construção e revisão de hipó-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

atividade discentes, numa perspectiva de construção do teses sobre o objeto do conhecimento, ela é resultado
conhecimento pelos alunos, mais do que na transmissão da atividade do sujeito, e o meio social tem fundamental
dos conhecimentos pelo professor. importância para que ela ocorra, pois necessitamos de
orientação para alcançá-la e aí surge a teoria do pensa-
Analogia entre construtivismo e pedagogia de dor russo Vygotsky sobre a Zona de Desenvolvimento
projetos Proximal que é a distância entre o nível de desenvolvi-
mento real (conhecimento prévio, o que o indivíduo já
O Construtivismo e a Pedagogia de Projetos tem em sabe) e o nível de desenvolvimento potencial (onde ele
comum a insatisfação com um sistema educacional que pode chegar com a ajuda do outro), isto é, a possibilida-
teima em continuar essa forma particular de transmissão de que o indivíduo (educando) tem de resolver proble-
que consiste em fazer repetir, recitar, aprender, ensinar mas sob a orientação de outrem (educador).

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A metodologia do trabalho por projetos mos para investigar o desenvolvimento dos alunos,
para decidir como podemos ajudá-los a avançar na
A Pedagogia de Projetos surge da necessidade de de- construção de conhecimentos, atitudes e valores e
senvolver uma metodologia de trabalho pedagógico que para verificar em que medida o processo está coe-
valorize a participação do educando e do educador no rente com as finalidades e os resultados obtidos.
processo ensino/aprendizagem, tornando-os responsá- Para o aluno, a avaliação é instrumento indispensá-
veis pela elaboração e desenvolvimento de cada projeto vel ao desenvolvimento da capacidade de apren-
de trabalho. der a aprender por meio do reconhecimento das
O trabalho por meio dos projetos vem contribuir para suas possibilidades e limites.
essa valorização do educando e tem-se mostrado um
dos caminhos mais promissores para a organização do O registro (a escrita, o desenho, os gráficos, mapas,
conhecimento escolar a partir de problemas que emer- relatórios, a reunião de materiais etc.) é uma prática fun-
gem das reais necessidades dos alunos. damental no trabalho com Projetos e deve ser desenvol-
Mas como se dá essa participação? Inicialmente, para vida ao longo de todo o processo.
se propor um projeto este deve ser subsidiado por um Durante o processo de levantamento e análise dos
tema. A escolha deste tema e dos conteúdos a serem tra- dados, a mediação do professor é essencial no sentido
balhados é de responsabilidade de todos e deve ser pen- de construir entre os alunos uma atitude de curiosidade
sada de forma a contemplar a realidade do educando. e de cooperação, de trabalho com fontes diversificadas,
O trabalho por Projetos pode ser dividido em 4 eta- de estabelecimento de conexões entre as informações,
pas: problematização, desenvolvimento, aplicação e ava- de escuta e respeito às diferentes opiniões e formas de
liação. aprender e elaborar o conhecimento, de fazê-los per-
a) problematização: é o início do projeto. Nessa ceber a importância do registro e as diversas formas de
etapa, os alunos irão expressar suas ideias e co- realizá-lo.
nhecimentos sobre o problema em questão. Essa Se os projetos de trabalho possibilitam um repensar
expressão pode emergir espontaneamente, pelo do significado de aprender e ensinar e do papel dos con-
interesse despertado por um acontecimento sig- teúdos curriculares, isto repercute também no sentido
nificativo dentro ou fora da escola ou mesmo pela que se dá à avaliação e nos instrumentos usados para
estimulação do professor. É fundamental detectar acompanhar o processo de formação ocorrido durante
o que os alunos já sabem o que querem saber e todo o percurso.
como poderão saber. Cabe ao educador incentivar Tradicionalmente, a avaliação do processo ensino-
a manifestação dos alunos e saber interpretá-las -aprendizagem tem sido feita no sentido de medir a
para perceber em que ponto estão, para aprender quantidade de conhecimentos aprendidos pelos edu-
suas concepções, seus valores, contradições, hi- candos. A avaliação na Pedagogia de Projetos é global,
póteses de interpretação e explicação de fatos da ou seja, considera o educando e sua aprendizagem de
realidade. forma integral, concilia o resultado da verificação do
b) desenvolvimento: é o momento em que se criam processo com a verificação do desempenho. Esse tipo
as estratégias para buscar respostas às questões e de avaliação considera, portanto, não só aspectos con-
ceituais: de assimilação dos conteúdos utilizados para a
hipóteses levantadas na problematização. Os alu-
problematização do tema, mas também aspectos atitudi-
nos e o professor definem juntos essas estratégias.
nais: comportamento, atitudes, capacidade de trabalhar
Para isso, é preciso que criem propostas de traba-
em grupo, espírito de liderança, iniciativa; atributos que
lho que exijam a saída do espaço escolar, a orga-
se referem ao modo de interação com os demais.
nização em pequenos ou grandes grupos para as
Essa metodologia de avaliação potencializa as dife-
pesquisas, a socialização do conhecimento através
renças, dá lugar a diversidade de opiniões, de singula-
de trocas de informações, vivências, debates, leitu-
ridade de cada sujeito, faz da heterogeneidade um ele-
ras, sessões de vídeos, entrevistas, visitas a espaços mento significativo para o processo de ampliação dos
ora da escola e convites a especialistas no tema conhecimentos.
em questão. Os alunos devem ser colocados em A diferença nos ajuda a compreender que somos su-
situações que os levem a contrapor pontos de vis- jeitos com particularidades, com experiências próprias,
ta, a defrontação com conflitos, inquietações que constituídas nos processos coletivos de que participamos
as levarão ao desequilíbrio de suas hipóteses ini- dentro e fora da escola; posta em diálogo, enriquece a
ciais, problematizando, refletindo e reelaborando ação pedagógica.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

explicações. Assim, a avaliação não trabalha a partir de uma res-


c) aplicação: estimular a circulação das ideias e a atua- posta esperada, mas indaga as muitas respostas encon-
ção no ambiente da escola ou da comunidade li- tradas com o sentido de ampliação permanente dos
gada à escola dá ao educando a oportunidade de conhecimentos existentes. Nesse caso, o erro deixa de
se colocar como sujeito ativo e transformador do representar a ausência de conhecimento, sendo apreen-
seu espaço de vivência e convivência, por meio da dido como pista que indica como os educandos estão
aplicação dos conhecimentos obtidos na execução articulando os conhecimentos que já possuem com os
do projeto na sua realidade. novos conhecimentos que vão sendo elaborados.
d) avaliação: numa concepção dinâmica e participati- Deste modo, a avaliação nos projetos de trabalho
va, a avaliação tem, para o educador, uma dimen- passa a fazer parte de todo o processo, sendo entendida
são diagnóstica, investigativa e processual. Avalia- como a possibilidade do aluno tomar consciência do seu

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processo de aprendizagem, descobrindo o que sabe, o portadoras de carências de toda ordem. No caso das fa-
que aprendeu, o que ainda não domina. Para isto, é pre- mílias de maior poder aquisitivo, a crítica incide na rela-
ciso que ao longo de todo o percurso do trabalho, haja ção afetiva estabelecida com as crianças. Esta concepção
um trabalho constante de avaliação. traduz um preconceito que gera ações discriminatórias,
Dentro da perspectiva dos projetos, o acompanha- impedindo o diálogo. Muitas instituições que agem em
mento e a avaliação do trabalho têm sido feitos, princi- função deste tipo de preconceito têm procurado implan-
palmente, a partir dos registros, sejam eles coletivos ou tar programas que visam a instruir as famílias, especial-
individuais. Estes registros fazem parte do cotidiano da mente as mães, sobre como educar e criar seus filhos
sala de aula e servem para organizar o trabalho, socializar dentro de um padrão preestabelecido e considerado
as descobertas, localizar dúvidas e inquietações, enfim, adequado. Essa ação, em geral moralizadora, tem por
explicitar o processo vivido. base o modelo de família idealizada e tem sido responsá-
O Portifólio é o instrumento mais apropriado para a vel muito mais por um afastamento das duas instituições
avaliação de um Projeto de Trabalho, na medida em que do que por um trabalho conjunto em prol da educação
ele representa a reconstrução do processo vivido e a re- das crianças.
flexão do aluno sobre a sua aprendizagem. Visões mais atualizadas sobre a instituição familiar
Hernandéz (1998), ao falar da importância do portfó- propõem que se rejeite a ideia de que exista um único
lio como instrumento de avaliação, afirma que: modelo. Enfoques teóricos mais recentes procuram en-
A avaliação do portfólio como recurso de avaliação é tender a família como uma criação humana mutável, su-
baseada na ideia da natureza evolutiva do processo de jeita a determinações culturais e históricas que se consti-
aprendizagem. O portfólio oferece aos alunos e profes- tui tanto em espaço de solidariedade, afeto e segurança
sores uma oportunidade de refletir sobre o progresso dos como em campo de conflitos, lutas e disputa.
educandos em sua compreensão da realidade, ao mesmo A valorização e o conhecimento das características ét-
tempo em que possibilita a introdução de mudanças du- nicas e culturais dos diferentes grupos sociais que com-
rante o desenvolvimento do programa de ensino. Além põem a nossa sociedade, e a crítica às relações sociais
disso, permite aos professores aproximar-se do trabalho discriminatórias e excludentes indicam que, novos cami-
dos alunos não de uma maneira pontual e isolada, como nhos devem ser trilhados na relação entre as instituições
acontece com as provas e exames, mas sim, no contexto de educação infantil e as famílias.
do ensino e como uma atividade complexa baseada em
elementos e momentos da aprendizagem que se encon- Respeito aos vários tipos de estruturas familiares
tram relacionados. Por sua vez, a realização do portfólio
permite ao alunado sentir a aprendizagem institucional Constate-se que as famílias independente da classe
como algo próprio, pois cada um decide que trabalhos social a qual pertencem se organizam das mais diversas
e momentos são representativos de sua trajetória, es- maneiras. Além da família nuclear que é constituída pelo
tabelece relações entre esses exemplos, numa tentativa pai, mãe e filhos, proliferam hoje as famílias mono paren-
de dotar de coerência as atividades de ensino, com as tais, nas quais apenas a mãe ou o pai está presente. Exis-
finalidades de aprendizagem que cada um e o grupo se tem, ainda, as famílias que se reconstituíram por meio de
tenham proposto. novos casamentos e possuem filhos advindos dessas re-
É interessante destacar que a criação do portfólio, por lações. Há, também, as famílias extensas, comuns na his-
si só, não garante um processo de avaliação significativo. tória brasileira, nas quais convivem na mesma casa várias
É preciso que se discutam seus usos e funções. gerações e/ou pessoas ligadas por parentescos diversos.
É possível ainda encontrar várias famílias coabitando em
Referência: uma mesma casa. Enfim, parece não haver limites para os
Texto disponível em: arranjos familiares na atualidade.
PERRENOUD, Philippe. Pedagogia diferenciada: das As crianças têm direito de ser criadas e educadas no
intenções à ação. Porto Alegre: ArtMed, 2000. seio de suas famílias. O Estatuto da Criança e do Adoles-
ZABALA, Antoni. A Prática educativa: como ensinar. cente reafirma, em seus termos, que a família é a primeira
Porto Alegre: ArtMed, 1998. instituição social responsável pela efetivação dos direitos
básicos das crianças. Cabe, portanto, às instituições es-
AS RELAÇÕES ENTRE A ESCOLA E A FAMÍLIA tabelecerem um diálogo aberto com as famílias, consi-
derando-as como parceiras e interlocutoras no processo
Parceria com as famílias educativo infantil.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

As características da faixa etária das crianças atendi- Acolhimento das diferentes culturas, valores e
das, bem como as necessidades atuais de construção de crenças sobre educação de crianças
uma sociedade mais democrática e pluralista apontam
para a importância de uma atenção especial com a rela- A pluralidade cultural, isto é, a diversidade de etnias,
ção entre as instituições e as famílias. crenças, costumes, valores etc. que caracterizam a popu-
Constata-se em muitas instituições que estas relações lação brasileira marca, também, as instituições de educa-
têm sido conflituosas, baseadas numa concepção equi- ção infantil.
vocada de que as famílias dificultam o processo de so- O trabalho com a diversidade e o convívio com a dife-
cialização e de aprendizagem das crianças. No caso das rença possibilitam a ampliação de horizontes tanto para
famílias de baixa renda, por serem consideradas como o professor quanto para a criança. Isto porque permite

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a conscientização de que a realidade de cada um é ape- ção expõe o trabalho que realiza tanto na parte pedagó-
nas parte de um universo maior que oferece múltiplas gica como na administrativa. Em um segundo momento
escolhas. Assumir um trabalho de acolhimento às dife- é realizada uma nova reunião onde é tratado exclusiva-
rentes expressões e manifestações das crianças e suas mente sobre a acolhida dos bebês e quais as conside-
famílias significa valorizar e respeitar a diversidade, não rações para este momento. A intenção dessa reunião é
implicando a adesão incondicional aos valores do outro. esclarecer as famílias como acontecerá o ingresso das
Cada família e suas crianças são portadoras de um vasto crianças e das famílias a creche e quais atitudes que
repertório que se constitui em material rico e farto para ambas as partes devem tomar, pois será um período de
o exercício do diálogo, aprendizagem com a diferença, “passagem”, abrindo portas para criar laços afetivos.
a não discriminação e as atitudes não preconceituosas. Em seguida é realizada uma entrevista com cada família,
Estas capacidades são necessárias para o desenvolvi- onde são coletados dados referentes à criança, como por
mento de uma postura ética nas relações humanas. Nesse exemplo: a rotina estabelecida na família, horário de sono,
sentido, as instituições de educação infantil, por intermé- alimentação, assuntos voltados à saúde, etc. Neste processo
dio de seus profissionais, devem desenvolver a capacidade é essencial que exista a comunicação entre a família e a es-
de ouvir, observar e aprender com as famílias. cola, onde toda expectativa é esclarecida para ambas as par-
Acolher as diferentes culturas não pode se limitar às tes, informações necessárias e ressaltantes para a chegada
comemorações festivas, a eventuais apresentações de da criança ao ambiente novo. É necessário também conhe-
danças típicas ou à experimentação de pratos regionais. cer a história dessa criança e de sua família, pois isto pode
Estas iniciativas são interessantes e desejáveis, mas não trazer informações cruciais e importantes que irão favorecer
são suficientes para lidar com a diversidade de valores e os professores e a escola ao receber o aluno.
crenças. É neste ambiente envolvente que famílias, crianças e
Compreender o que acontece com as famílias, en- professoras estabelecem relações, onde são acompanha-
tender seus valores ligados a procedimentos disciplina- das pelo adulto até que a separação da figura conheci-
res, a hábitos de higiene, a formas de se relacionar com da não seja tão difícil. Será um ambiente novo, pessoas
as pessoas etc. pode auxiliar a construção conjunta de diferentes, onde novas relações vão tomando conta do
ações. De maneira geral, as instituições de educação de- processo que dependerá do ritmo de cada criança. É nes-
vem servir de apoio real e efetivo às crianças e suas fa- se período que começa a criação de vínculos, através da
mílias, respondendo às suas demandas e necessidades. interação cotidiana e que continua sendo trabalhada du-
Evitar julgamentos moralistas, pessoais ou vinculados a rante todo o tempo de permanência na escola.
preconceitos é condição para o estabelecimento de uma Sobre as atividades a serem apresentadas pelas edu-
base para o diálogo. cadoras, as condições proporcionadas e a disposição dos
ambientes, a brincadeira assume um lugar exclusivo, onde
O COMPORTAMENTO INFANTIL – O DESENVOLVI- são oferecidos os brinquedos e as novas oportunidades de
MENTO DOS AFETOS E DAS RELAÇÕES; ações para as crianças, apresentando a elas um espaço de-
finido que lhes oportunizam várias experiências. Este será o
início dos contatos sociais fora do círculo familiar.
FIQUE ATENTO! É de grande importância e deve ser muito valorizado
Segundo Strenzel (2002) as professoras que nesse momento as ações simples como o afeto, o cari-
participam do processo de adaptação dos nho, o diálogo através de um diálogo. Durante as ativi-
bebês às creches caracterizam este momen- dades realizadas em um ambiente mais amplo da escola
to sendo único e individual de cada criança, as crianças podem exercitar mais livremente suas habili-
onde cada uma delas possui variáveis fun- dades motoras, sem auxílio direto dos professores. Tor-
damentais. Uma grande variável é o papel nando-se assim o adulto intermediador nas atividades,
das mães neste processo, interferindo ou organizando o espaço e circulando por ele, fazendo com
facilitando este momento. Acredita-se que que a rotina estabelecida não esteja centrada nele, e sim
esta fase de chegada dos bebês a creche é na relação entre as crianças, e entre crianças e professo-
destituída de inseguranças, medos ou mui- res. A organização deste espaço, dos objetos e brinque-
tas acontecem de maneira bem tranquila e dos favorece esta relação, tornando o ambiente afetivo
calma. Um fator muito importante neste mo- e acolhedor.
mento é o tempo, pois a família e a creches Conforme aborda Ortiz e Carvalho, 2012 o processo
passam a se conhecer melhor adquirindo de adaptação das crianças exige uma série de fatores que
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

cada vez mais confiança nesta relação. Uma contribuem neste momento delicado: é necessário que o
atitude que deve ser combatida são os pais aluno tenha tempo de conhecer aquilo que é novo, de
saírem escondidos das crianças para não decidir, de preparar e de vivenciar, podendo estabelecer
causar o choro, pois traz uma visão de que a novas relações cotidianamente. Esse processo nem sem-
criança é incapaz de estabelecer novas rela- pre é uma sequência e algo que se possa prever, pois
ções de aprendizagem. podem ocorrer oscilações dependendo muito de cada
aluno e de cada professor. Sendo assim aquela criança
que no início explorou todo o ambiente pode vir a estra-
Conforme a equipe de profissionais da creche, o pe- nhar assim que deixar de ser novidade para ela, e então
ríodo de entrada das crianças acontece primeiramente não querer mais ficar na creche, mesmo que tenha gos-
através de uma reunião com as famílias, onde a institui- tado do recinto.

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Quando a criança chega a um ambiente que para ela pedagógicas intencionais ou aprendizagens orientadas
é novo se for bem trabalhado pelos educadores pode pelos adultos. É importante ressaltar, porém, que essas
se tornar um momento de aprendizagem constante, de aprendizagens, de natureza diversa, ocorrem de maneira
criatividade, de descobertas, deixando de lado todos os integrada no processo de desenvolvimento infantil.
medos, traumas e limitações. Educar significa, portanto, propiciar situações de cui-
A separação entre mãe e bebê deve acontecer, pois é dados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de for-
uma possibilidade de crescimento, sendo necessário que ma integrada e que possam contribuir para o desenvol-
eles usem seus recursos próprios para interagir e cons- vimento das capacidades infantis de relação interpessoal,
truir sua autonomia. de ser e estar com os outros em uma atitude básica de
“O bebê precisa conquistar seu espaço, mas antes aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crian-
precisa ser conquistado por ele, conquistado por essas ças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social
novas situações. Não é à toa que dizemos que, diante do e cultural. Neste processo, a educação poderá auxiliar
novo, o bebê fica desconfiado afinal, “desconfiado” é es- o desenvolvimento das capacidades de apropriação e
tar sem confiança, é ter a impressão de que não se pode conhecimento das potencialidades corporais, afetivas,
ainda ficar à vontade, de algo ruim que pode acontecer. emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de contri-
Só experimentando o novo e percebendo que ele pode buir para a formação de crianças felizes e saudáveis.
ser bom, prazeroso, interessante e atraente é que a crian-
ça pode passar a aceitar a novidade e considerar tudo Cuidar
aquilo como seu também. Só com o tempo e essas boas
experiências o bebê poderá largar sua mãe, dizer tchau, Contemplar o cuidado na esfera da instituição da
interessar-se pelas novidades, largar o que é conhecido e educação infantil significa compreendê-lo como parte
seguro para lançar-se a novos aprendizados”. integrante da educação, embora possa exigir conheci-
mentos, habilidades e instrumentos que extrapolam a di-
Referência: mensão pedagógica. Ou seja, cuidar de uma criança em
CARVALHO, M.T.V.; ORTIZ, C. Interações: ser professor um contexto educativo demanda a integração de vários
de bebês – cuidar, educar e brincar, uma única ação. Co- campos de conhecimentos e a cooperação de profissio-
leção Interações. São Paulo: Editora Edgard Blucher. 2012. nais de diferentes áreas.
* Texto baseado em PROENCA, P. A. M., SOUZA, M. A base do cuidado humano é compreender como aju-
F. P. O papel do professor da primeira infância: sujeito dar o outro a se desenvolver como ser humano. Cuidar
potencial para o desenvolvimento infantil. Itapeva – São significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades. O
Paulo, 2014. cuidado é um ato em relação ao outro e a si próprio que
possui uma dimensão expressiva e implica em procedi-
O COMPARTILHAMENTO DA AÇÃO EDUCATIVA mentos específicos.
O CUIDAR E O EDUCAR. O desenvolvimento integral depende tanto dos cuida-
dos relacionais, que envolvem a dimensão afetiva e dos
Educar cuidados com os aspectos biológicos do corpo, como a
qualidade da alimentação e dos cuidados com a saúde,
Nas últimas décadas, os debates em nível nacional quanto da forma como esses cuidados são oferecidos e
e internacional apontam para a necessidade de que as das oportunidades de acesso a conhecimentos variados.
instituições de educação infantil incorporem de maneira As atitudes e procedimentos de cuidado são in-
integrada as funções de educar e cuidar, não mais dife- fluenciados por crenças e valores em torno da saúde,
renciando nem hierarquizando os profissionais e institui- da educação e do desenvolvimento infantil. Embora as
ções que atuam com as crianças pequenas e/ou aqueles necessidades humanas básicas sejam comuns, como ali-
que trabalham com as maiores. As novas funções para mentar-se, proteger-se etc. as formas de identifica-las,
a educação infantil devem estar associadas a padrões valorizá-las e atendê-las são construídas socialmente. As
de qualidade. Essa qualidade advém de concepções de necessidades básicas podem ser modificadas e acresci-
desenvolvimento que consideram as crianças nos seus das de outras de acordo com o contexto sociocultural.
contextos sociais, ambientais, culturais e, mais concreta- Pode-se dizer que além daquelas que preservam a vida
mente, nas interações e práticas sociais que lhes forne- orgânica, as necessidades afetivas são também base para
cem elementos relacionados às mais diversas linguagens o desenvolvimento infantil.
e ao contato com os mais variados conhecimentos para a A identificação dessas necessidades sentidas e ex-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

construção de uma identidade autônoma. pressas pelas crianças, depende também da compreen-
A instituição de educação infantil deve tornar aces- são que o adulto tem das várias formas de comunicação
sível a todas as crianças que a frequentam, indiscrimi- que elas, em cada faixa etária possuem e desenvolvem.
nadamente, elementos da cultura que enriquecem o seu Prestar atenção e valorizar o choro de um bebê e respon-
desenvolvimento e inserção social. Cumpre um papel so- der a ele com um cuidado ou outro depende de como é
cializador, propiciando o desenvolvimento da identidade interpretada a expressão de choro, e dos recursos exis-
das crianças, por meio de aprendizagens diversificadas, tentes para responder a ele. É possível que alguns adul-
realizadas em situações de interação. tos conversem com o bebê tentando acalmá-lo, ou que
Na instituição de educação infantil, pode-se oferecer peguem-no imediatamente no colo, embalando-o. Em
às crianças condições para as aprendizagens que ocor- determinados contextos socioculturais, é possível que o
rem nas brincadeiras e aquelas advindas de situações adulto que cuida da criança, tendo como base concep-

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ções de desenvolvimento e aprendizagem infantis, de e) ao convívio prazeroso entre as crianças, o que torna
educação e saúde, acredite que os bebês devem apren- a escola um espaço de atividades pedagógicas pro-
der a permanecer no berço, após serem alimentados e dutivas.
higienizados, e, portanto, não considerem o embalo
como um cuidado, mas como uma ação que pode “acos- Resposta: Letra D. Ao se referir à educação infantil
tumar mal” a criança. Em outras culturas, o embalo tem deve-se ter em mente o desenvolvimento integral da
uma grande importância no cuidado de bebês, tanto que criança que irá prepara-la para a educação posterior,
existem berços próprios para embalar. assim, o educador deve se utilizar de recursos como as
O cuidado precisa considerar, principalmente, as ne- brincadeiras, e cuidados de higiene que irá contribuir
cessidades das crianças, que quando observadas, ouvi- para seu desenvolvimento promovendo situações de
das e respeitadas, podem dar pistas importantes sobre relacionamento interpessoal, estabelecimento de re-
a qualidade do que estão recebendo. Os procedimen- gras e limites entre outros.
tos de cuidado também precisam seguir os princípios de De acordo com o RCNEI “Educar significa, portanto,
promoção à saúde. Para se atingir os objetivos dos cuida- propiciar situações de cuidados, brincadeiras e apren-
dos com a preservação da vida e com o desenvolvimento dizagens orientadas de forma integrada e que possam
das capacidades humanas, é necessário que as atitudes e contribuir para o desenvolvimento das capacidades
procedimentos estejam baseados em conhecimentos es- infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os
pecíficos sobre o desenvolvimento biológico, emocional, outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e
e intelectual das crianças, levando em consideração as confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimen-
diferentes realidades socioculturais. tos mais amplos da realidade social e cultural”.
Para cuidar é preciso antes de tudo estar comprome-
tido com o outro, com sua singularidade, ser solidário
com suas necessidades, confiando em suas capacidades.
Disso depende a construção de um vínculo entre quem OS AMBIENTES DE
cuida e quem é cuidado. APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO
Além da dimensão afetiva e relacional do cuidado, é INFANTIL: A BRINCADEIRA E O
preciso que o professor possa ajudar a criança a identi- DESENVOLVIMENTO DA IMAGINAÇÃO E
ficar suas necessidades e priorizá-las, assim como aten- DA CRIATIVIDADE; A BRINCADEIRA NA
dê-las de forma adequada. Assim, cuidar da criança é EDUCAÇÃO INFANTIL NAS PERSPECTIVAS
sobretudo dar atenção a ela como pessoa que está num PSICOSSOCIAIS, EDUCACIONAIS E
contínuo crescimento e desenvolvimento, compreen- LÚDICAS; ALFABETIZAÇÃO; O CURRÍCULO
dendo sua singularidade, identificando e respondendo E A PEDAGOGIA DA BRINCADEIRA; O
às suas necessidades. Isto inclui interessar-se sobre o que
DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
a criança sente, pensa, o que ela sabe sobre si e sobre o
mundo, visando à ampliação deste conhecimento e de
ORAL; O DESENVOLVIMENTO DAS ARTES
suas habilidades, que aos poucos a tornarão mais inde- VISUAIS E DO MOVIMENTO. O TRABALHO
pendente e mais autônoma. COM AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS.

Referência: A BRINCADEIRA E O DESENVOLVIMENTO DA IMA-


Brasil. Ministério da Educação e do Desporto. Secre- GINAÇÃO E DA CRIATIVIDADE
taria de Educação Fundamental. Referencial curricular
nacional para a educação infantil/Ministério da Educação A brincadeira na educação infantil nas perspecti-
e do Desporto, Vol. 1. Secretaria de Educação Fundamen- vas psicossociais, educacionais e lúdicas;
tal. — Brasília: MEC/SEF, 1998.
Para que as crianças possam exercer sua capacidade
de criar é imprescindível que haja riqueza e diversidade
nas experiências que lhes são oferecidas nas instituições,
EXERCÍCIO COMENTADO sejam elas mais voltadas às brincadeiras ou às aprendi-
zagens que ocorrem por meio de uma intervenção direta.
1. (Prefeitura de São José dos Campos/SP- Professor
I- VUNESP/2017) Entre outras concepções apresentadas
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

A brincadeira é uma linguagem infantil que mantém


no Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil, um vínculo essencial com aquilo que é o “não-brincar”.
educar a criança refere-se Se a brincadeira é uma ação que ocorre no plano da
imaginação isto implica que aquele que brinca tenha o
a) aos cuidados relativos às suas necessidades físicas. domínio da linguagem simbólica. Isto quer dizer que é
b) ao ensino centrado no desenvolvimento de sua capa- preciso haver consciência da diferença existente entre
cidade cognitiva. a brincadeira e a realidade imediata que lhe forneceu
c) ao ensino estruturado a partir das linguagens escrita, conteúdo para realizar-se. Nesse sentido, para brincar é
científica, artística e matemática. preciso apropriar-se de elementos da realidade imedia-
d) aos cuidados, brincadeiras e aprendizagens integra- ta de tal forma a atribuir-lhes novos significados. Essa
das, de modo a contribuir para o seu desenvolvimento peculiaridade da brincadeira ocorre por meio da articu-
integral. lação entre a imaginação e a imitação da realidade. Toda

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brincadeira é uma imitação transformada, no plano das dades físicas assim como a combinação e associação en-
emoções e das ideias, de uma realidade anteriormente tre eles; a linguagem oral e gestual que oferecem vários
vivenciada. níveis de organização a serem utilizados para brincar; os
conteúdos sociais, como papéis, situações, valores e ati-
Isso significa que uma criança que, por exemplo, bate tudes que se referem à forma como o universo social se
ritmicamente com os pés no chão e imagina-se caval- constrói; e, finalmente, os limites definidos pelas regras,
gando um cavalo, está orientando sua ação pelo signi- constituindo-se em um recurso fundamental para brin-
ficado da situação e por uma atitude mental e não so- car. Estas categorias de experiências podem ser agrupa-
mente pela percepção imediata dos objetos e situações. das em três modalidades básicas, quais sejam, brincar de
No ato de brincar, os sinais, os gestos, os objetos e os faz-de-conta ou com papéis, considerada como atividade
espaços valem e significam outra coisa daquilo que apa- fundamental da qual se originam todas as outras; brincar
rentam ser. Ao brincar as crianças recriam e repensam com materiais de construção e brincar com regras.
os acontecimentos que lhes deram origem, sabendo que As brincadeiras de faz-de-conta, os jogos de cons-
estão brincando. trução e aqueles que possuem regras, como os jogos de
O principal indicador da brincadeira, entre as crianças, sociedade (também chamados de jogos de tabuleiro),
é o papel que assumem enquanto brincam. Ao adotar jogos tradicionais, didáticos, corporais etc., propiciam a
outros papéis na brincadeira, as crianças agem frente à ampliação dos conhecimentos infantis por meio da ati-
realidade de maneira não-literal, transferindo e substi- vidade lúdica.
tuindo suas ações cotidianas pelas ações e características É o adulto, na figura do professor, portanto, que, na
do papel assumido, utilizando-se de objetos substitutos. instituição infantil, ajuda a estruturar o campo das brinca-
A brincadeira favorece a autoestima das crianças, au- deiras na vida das crianças. Consequentemente é ele que
xiliando-as a superar progressivamente suas aquisições organiza sua base estrutural, por meio da oferta de deter-
de forma criativa. Brincar contribui, assim, para a interio- minados objetos, fantasias, brinquedos ou jogos, da deli-
rização de determinados modelos de adulto, no âmbito mitação e arranjo dos espaços e do tempo para brincar.
Por meio das brincadeiras os professores podem ob-
de grupos sociais diversos.
servar e constituir uma visão dos processos de desen-
Essas significações atribuídas ao brincar transfor-
volvimento das crianças em conjunto e de cada uma em
mam-no em um espaço singular de constituição infantil.
particular, registrando suas capacidades de uso das lin-
Nas brincadeiras, as crianças transformam os conhe-
guagens, assim como de suas capacidades sociais e dos
cimentos que já possuíam anteriormente em conceitos
recursos afetivos e emocionais que dispõem.
gerais com os quais brinca. Por exemplo, para assumir
A intervenção intencional baseada na observação das
um determinado papel numa brincadeira, a criança deve
brincadeiras das crianças, oferecendo-lhes material ade-
conhecer alguma de suas características. quado, assim como um espaço estruturado para brincar
Seus conhecimentos provêm da imitação de alguém permite o enriquecimento das competências imaginati-
ou de algo conhecido, de uma experiência vivida na fa- vas, criativas e organizacionais infantis. Cabe ao profes-
mília ou em outros ambientes, do relato de um colega ou sor organizar situações para que as brincadeiras ocor-
de um adulto, de cenas assistidas na televisão, no cinema ram de maneira diversificada para propiciar às crianças a
ou narradas em livros etc. A fonte de seus conhecimen- possibilidade de escolherem os temas, papéis, objetos e
tos é múltipla, mas estes encontram-se, ainda, fragmen- companheiros com quem brincar ou os jogos de regras
tados. É no ato de brincar que a criança estabelece os e de construção, e assim elaborarem de forma pessoal e
diferentes vínculos entre as características do papel assu- independente suas emoções, sentimentos, conhecimen-
mido, suas competências e as relações que possuem com tos e regras sociais.
outros papéis, tomando consciência disto e generalizan- É preciso que o professor tenha consciência que na
do para outras situações. brincadeira as crianças recriam e estabilizam aquilo que
Para brincar é preciso que as crianças tenham certa sabem sobre as mais diversas esferas do conhecimen-
independência para escolher seus companheiros e os to, em uma atividade espontânea e imaginativa. Nessa
papéis que irão assumir no interior de um determinado perspectiva não se deve confundir situações nas quais
tema e enredo, cujos desenvolvimentos dependem uni- se objetiva determinadas aprendizagens relativas a con-
camente da vontade de quem brinca. ceitos, procedimentos ou atitudes explícitas com aquelas
Pela oportunidade de vivenciar brincadeiras imagi- nas quais os conhecimentos são experimentados de uma
nativas e criadas por elas mesmas, as crianças podem maneira espontânea e destituída de objetivos imediatos
acionar seus pensamentos para a resolução de proble- pelas crianças. Pode-se, entretanto, utilizar os jogos, espe-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

mas que lhe são importantes e significativos. Propician- cialmente aqueles que possuem regras, como atividades
do a brincadeira, portanto, cria-se um espaço no qual didáticas. É preciso, porém, que o professor tenha cons-
as crianças podem experimentar o mundo e internalizar ciência que as crianças não estarão brincando livremente
uma compreensão particular sobre as pessoas, os senti- nestas situações, pois há objetivos didáticos em questão.
mentos e os diversos conhecimentos.
O brincar apresenta-se por meio de várias categorias Referência:
de experiências que são diferenciadas pelo uso do mate- Brasil. Ministério da Educação e do Desporto. Secre-
rial ou dos recursos predominantemente implicados. Es- taria de Educação Fundamental. Referencial curricular
sas categorias incluem: o movimento e as mudanças da nacional para a educação infantil/Ministério da Educação
percepção resultantes essencialmente da mobilidade físi- e do Desporto, Vol. 1. Secretaria de Educação Fundamen-
ca das crianças; a relação com os objetos e suas proprie- tal. — Brasília: MEC/SEF, 1998.

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APRENDIZAGEM DURANTE O BRINCAR A diferenciação de papéis se faz presente, sobretudo
no faz-de-conta, quando as crianças brincam como se
A criança é um ser social que nasce com capacidades fossem o pai, a mãe, o filhinho, o médico, o paciente,
afetivas, emocionais e cognitivas. Tem desejo de estar heróis e vilões etc., imitando e recriando personagens
próxima às pessoas e é capaz de interagir e aprender com observados ou imaginados nas suas vivências.
elas de forma que possa compreender e influenciar seu A fantasia e a imaginação são elementos fundamen-
ambiente. Ampliando suas relações sociais, interações e tais para que a criança aprenda mais sobre a relação en-
formas de comunicação, as crianças sentem-se cada vez tre as pessoas, sobre o eu e sobre o outro.
mais seguras para se expressar, podendo aprender, nas No faz-de-conta, as crianças aprendem a agir em fun-
trocas sociais, com diferentes crianças e adultos cujas ção da imagem de uma pessoa, de uma personagem, de
percepções e compreensões da realidade também são um objeto e de situações que não estão imediatamente
diversas. presentes e perceptíveis para elas no momento e que
Para se desenvolver, portanto, as crianças precisam evocam emoções, sentimentos e significados vivencia-
aprender com os outros, por meio dos vínculos que es- dos em outras circunstâncias. Brincar funciona como um
tabelece. Se as aprendizagens acontecem na interação cenário no qual as crianças tornam-se capazes não só de
com as outras pessoas, sejam elas adultos ou crianças, imitar a vida como também de transformá-la. Os heróis,
elas também dependem dos recursos de cada criança. por exemplo, lutam contra seus inimigos, mas também
Dentre os recursos que as crianças utilizam, desta- podem ter filhos, cozinhar e ir ao circo.
cam-se a imitação, o faz-de-conta, a oposição, a lingua- Ao brincar de faz-de-conta, as crianças buscam imi-
gem e a apropriação da imagem corporal. tar, imaginar, representar e comunicar de uma forma es-
pecífica que uma coisa pode ser outra, que uma pessoa
Imitação pode ser uma personagem, que uma criança pode ser
um objeto ou um animal, que um lugar “faz-de-con-
A percepção e a compreensão da complementarida- ta” que é outro. Brincar é, assim, um espaço no qual se
de presente nos atos e papéis envolvidos nas interações pode observar a coordenação das experiências prévias
sociais é um aspecto importante do processo de diferen- das crianças e aquilo que os objetos manipulados suge-
ciação entre o eu e o outro. O exercício da complementa- rem ou provocam no momento presente. Pela repetição
ridade está presente, por exemplo, nos jogos de imitação daquilo que já conhecem, utilizando a ativação da me-
típico das crianças. mória, atualizam seus conhecimentos prévios, amplian-
É visível o esforço das crianças, desde muito peque- do-os e transformando-os por meio da criação de uma
nas, em reproduzir gestos, expressões faciais e sons pro- situação imaginária nova. Brincar constitui-se, dessa for-
duzidos pelas pessoas com as quais convivem. Imitam ma, em uma atividade interna das crianças, baseada no
também animais domésticos, objetos em movimento etc. desenvolvimento da imaginação e na interpretação da
Na fase dos dois aos três anos a imitação entre crianças realidade, sem ser ilusão ou mentira. Também se tornam
pode ser uma forma privilegiada de comunicação e para autoras de seus papéis, escolhendo, elaborando e colo-
brincar com outras crianças. A oferta de múltiplos brin- cando em prática suas fantasias e conhecimentos, sem a
quedos do mesmo tipo facilita essa interação. intervenção direta do adulto, podendo pensar e solucio-
A imitação é resultado da capacidade de a criança ob- nar problemas de forma livre das pressões situacionais
servar e aprender com os outros e de seu desejo de se da realidade imediata.
identificar com eles, ser aceita e de diferenciar-se. É en- Quando utilizam a linguagem do faz-de-conta, as
tendida aqui como reconstrução interna e não meramen-
crianças enriquecem sua identidade, porque podem ex-
te uma cópia ou repetição mecânica. As crianças tendem
perimentar outras formas de ser e pensar, ampliando
a observar, de início, as ações mais simples e mais pró-
suas concepções sobre as coisas e pessoas ao desempe-
ximas à sua compreensão, especialmente aquelas apre-
nhar vários papéis sociais ou personagens. Na brincadei-
sentadas por gestos ou cenas atrativas ou por pessoas de
ra, vivenciam concretamente a elaboração e negociação
seu círculo afetivo. A observação é uma das capacidades
de regras de convivência, assim como a elaboração de
humanas que auxiliam as crianças a construírem um pro-
um sistema de representação dos diversos sentimentos,
cesso de diferenciação dos outros e consequentemente
sua identidade. das emoções e das construções humanas. Isso ocorre
porque a motivação da brincadeira é sempre individual
Brincar e depende dos recursos emocionais de cada criança que
são compartilhados em situações de interação social.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Brincar é uma das atividades fundamentais para o Por meio da repetição de determinadas ações imagina-
desenvolvimento da identidade e da autonomia. O fato das que se baseiam nas polaridades presença/ausên-
de a criança, desde muito cedo, poder se comunicar por cia, bom/mau, prazer/desprazer, passividade/ atividade,
meio de gestos, sons e mais tarde representar determi- dentro/fora, grande/pequeno, feio/bonito etc., as crian-
nado papel na brincadeira faz com que ela desenvolva ças também podem internalizar e elaborar suas emoções
sua imaginação. Nas brincadeiras as crianças podem de- e sentimentos, desenvolvendo um sentido próprio de
senvolver algumas capacidades importantes, tais como a moral e de justiça.
atenção, a imitação, a memória, a imaginação.
Amadurecem também algumas capacidades de so-
cialização, por meio da interação e da utilização e experi-
mentação de regras e papéis sociais.

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Oposição Apropriação da imagem corporal

Além da imitação e do faz-de-conta, a oposição é Conforme já estudamos no tópico anterior, a aqui-


outro recurso fundamental no processo de construção sição da consciência dos limites do próprio corpo é um
do sujeito. Opor-se, significa, em certo sentido, diferen- aspecto importante do processo de diferenciação do eu
ciar-se do outro, afirmar o seu ponto de vista, os seus e do outro e da construção da identidade.
desejos. Por meio das explorações que faz, do contato físico
Vários são os contextos em que tal conduta pode com outras pessoas, da observação daqueles com quem
ocorrer, sua intensidade depende de vários fatores, tais convive, a criança aprende sobre o mundo, sobre si mes-
como características pessoais, grau de liberdade ofereci- ma e comunica-se pela linguagem corporal.
do pelo meio, momento específico do desenvolvimento
pessoal em que se encontra. Referências:
É comum haver fases em que a oposição é mais inten- Brasil. Ministério da Educação e do Desporto. Secre-
sa, ocorrendo de forma sistemática e concentrada. taria de Educação Fundamental. Referencial curricular
A observação das interações infantis sugere que são nacional para a educação infantil / Ministério da Educa-
diversos os temas de oposição, os quais tendem a mu- ção e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental.
dar com a idade — por exemplo, disputa por um mesmo — Brasília: MEC/SEF, 1998.
brinquedo, briga por causa de um lugar específico, de-
sentendimento por causa de uma ideia ou sugestão etc. ALFABETIZAÇÃO
Embora seja de difícil administração por parte do adulto,
é bom ter em vista que esses momentos desempenham O processo de alfabetização tem sido um grande de-
um papel importante na diferenciação e afirmação do eu. safio a ser enfrentado pelo professor-alfabetizador e pela
sociedade que almeja uma educação de qualidade em
Linguagem nossas escolas. Uma grande quantidade de nossos alu-
nos tem demonstrado muita deficiência na leitura, inter-
O uso que a criança faz da linguagem fornece vários pretação e redação de textos. Apesar da importância dos
indícios quanto ao processo de diferenciação entre o eu movimentos de renovação da educação, as avaliações
e o outro. Por exemplo, a estabilização no uso do prono- nacionais e regionais noticiadas para todos nós eviden-
me “eu” em substituição à forma usada pelos menores ciam um quadro não muito diferente do que já existia
que costumam referir-se a si mesmos pelo próprio nome, nas décadas passadas. Se antes a grande preocupação
conjugando o verbo na terceira pessoa — “fulano quer era a evasão escolar, hoje são as imensas dificuldades
isso ou aquilo” — sugere a identificação da sua pessoa de leitura e o baixo índice de competências nas séries
como uma perspectiva particular e única. Por outro lado, iniciais e até mesmo no ensino fundamental e médio. As
a própria linguagem favorece o processo de diferencia- crianças necessitam do professor-alfabetizador experien-
ção, ao possibilitar formas mais objetivas e diversas de te e competente, que venha contribuir para a prática de
compreender o real. um ensino interativo, contextualizado e muito bem pla-
Ao mesmo tempo que enriquece as possibilidades de nejado.’
comunicação e expressão, a linguagem representa um Assim, de posse dos conhecimentos e conteúdos ne-
potente veículo de socialização. cessários, ele incentiva a compreensão e produção de
É na interação social que as crianças são inseridas na novos conhecimentos, contribuindo na formação de se-
linguagem, partilhando significados e sendo significadas res humanos capazes de gerar a construção dos saberes,
pelo outro. Cada língua carrega, em sua estrutura, um a partir de suas reflexões e ações e da realidade que os
jeito próprio de ver e compreender o mundo, o qual se cerca. Diante dos problemas que se enfrenta no processo
relaciona a características de culturas e grupos sociais educacional, especialmente na alfabetização das séries
singulares. Ao aprender a língua materna, a criança toma iniciais, depara-se com a urgência de soluções que con-
contato com esses conteúdos e concepções, construindo tribuam na construção do saber. Competir e estar aber-
um sentido de pertinência social. to a todas as possibilidades que fazem parte do apren-
Por meio da linguagem, o ser humano pode ter aces- dizado para a vida é um direito de todos e dever dos
so a outras realidades sem passar, necessariamente, pela educadores na escola e na sociedade, pois uma criança
experiência concreta. Por exemplo, alguém que more no aprende por meio das relações que estabelece com seu
sul do Brasil pode saber coisas sobre a floresta ou povos ambiente. Assim acontece no processo de alfabetização
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

da Amazônia sem que nunca tenha ido ao Amazonas, e aquisição de novos conhecimentos. É tarefa primordial
simplesmente se baseando em relatos de viajantes, ou do professor como mediador do conhecimento refletir
em livros. Com esse recurso, a criança tem acesso a mun- sobre a metodologia ideal que leva as crianças a com-
dos distantes e imaginários. As histórias que compõem preenderem o funcionamento da língua e saber utilizá-la
o repertório infantil tradicional são inesgotável fonte de cada vez melhor.
informações culturais, as quais somam-se a sua vivência Para quem pretende assumir os riscos dessa perma-
concreta. O Saci Pererê pode ser, por exemplo, uma per- nente revisão sobre o processo de alfabetização, é funda-
sonagem cujas aventuras façam parte da vida da criança mental que não deixe de ser sensível, e também criativo e
sem que exista concretamente na realidade. crítico, pois há muitos aspectos específicos a considerar e
não se deve supor que todas as informações necessárias
à prática docente já estejam catalogadas e analisadas. É

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essencial que se continue a pesquisar e experimentar no- além da simples aquisição do código escrito e fazer uso
vos caminhos. O interesse despertado pelo tema da alfa- da leitura e da escrita no cotidiano apropriando-se da
betização vem produzindo um aumento significativo de função social dessas duas práticas.
pesquisas, seminários, livros, artigos e teses. Isso mostra Enfim, é preciso letrar-se, isto é, buscar por meio de
que é preciso renunciar à ideia de que já sabemos tudo pesquisas e cursos de formação, as ações pedagógicas
e podemos fazer tudo, ou não sabemos nada e nada po- de reorganização do ensino e reformulação dos modos
demos fazer. De acordo com as valiosas experiências de de ensinar e fazê-las acontecer na prática em sala de
educadores que fizeram diferença aula. Segundo a professora Magda Becker Soares, “letrar
Em nossa sociedade, entende-se que se faz neces- é mais que alfabetizar”. Portanto, competir e estar aberto
sário aceitar a frustração e deve-se perder o medo do a todas as possibilidades que fazem parte do aprendiza-
fracasso e do desconhecido. Conhecendo de perto os do para a vida são quesitos essenciais na formação esco-
métodos de alfabetização e suas respectivas característi- lar, pois uma criança aprende por meio das relações que
cas, comparando e avaliando o desempenho dos alunos estabelece com seu ambiente.
alfabetizados com métodos diferentes, e também ana- Assim acontece no processo de alfabetização e aqui-
lisando a maneira que se processa a alfabetização nas sição de novos conhecimentos. A cada momento, multi-
séries iniciais, pode-se definir com mais clareza porque plicam-se as demandas por práticas de leitura e de es-
acontece a defasagem na leitura, na escrita e na inter- crita, não só no papel, mas também através dos meios
pretação textual que estão presentes em muitos alunos. eletrônicos. Se uma criança sabe ler, mas não é capaz de
ler um livro, uma revista ou um jornal e se sabe escrever
Alfabetização em processo palavras e frases, mas não é capaz de escrever uma carta,
ela é alfabetizada, mas não é letrada. Desde os tempos
Muito se tem falado a respeito do fracasso da alfabe- do Brasil Colônia, e até muito recentemente, o proble-
tização em grande parte das nossas escolas. Verificando ma que enfrentávamos em relação à cultura escrita era
o resultado das avaliações nacionais podemos compro- o analfabetismo. Esse problema foi relativamente supe-
var os sérios problemas de aprendizagem existentes em rado nas últimas décadas, ou seja, foi vencido de forma
grande parte das escolas de nosso país. Segundo alguns pelo menos razoável. É necessário, portanto, não desme-
pesquisadores, muitas publicações importantes sobre recer a importância de ensinar a ler e a escrever, reco-
esse assunto não conseguiram uma entrada mais efe- nhecendo que isso não basta. Mas isso não quer dizer
tiva nas ações escolares, mas tiveram algumas de suas que os dois processos, alfabetização e letramento sejam
versões tomadas como referências fundamentais na processos distintos; na verdade, não se distinguem, de-
elaboração de programas nacionais e regionais, como ve-se alfabetizar letrando. Alfabetização e letramento se
o Programa Nacional do Livro Didático e os Parâmetros somam. Ou melhor, a alfabetização é um componente
Curriculares Nacionais. Necessitamos compreender o do letramento. Analisando as experiências de Eglê Pontes
que está acontecendo com o processo de alfabetização Franchi, professora e pesquisadora, autora recomenda-
de nossos alunos das séries iniciais. Sabe-se que eles ne- da pelo Professor Paulo Freire, conhecida por sua expe-
cessitam de mediadores do conhecimento que venham riência com a alfabetização de crianças e também com
contribuir para a prática de um ensino interativo, contex- a formação de professores, compreendemos melhor o
tualizado e muito bem planejado. Por isso, precisamos processo de alfabetizar. Como muitos educadores, ela
conhecer os métodos de alfabetização e suas respectivas verificou na prática, como age na sociedade acriança que
características, comparar e avaliar o desempenho dos é alfabetizada com a utilização de tudo o que ela já co-
alunos alfabetizados com métodos diferentes e analisar nhece e como isso se reflete na vida familiar e social na
a maneira que se processa a alfabetização no processo qual ela convive.
ensino-aprendizagem. Os alfabetizandos, enquanto operam sobre a desco-
Para Emília Ferreiro, “os saberes que o aluno traz berta das letras, das sílabas e das palavras iniciais de seu
para a escola e como eles devem ser trabalhados pelos vocabulário escrito, já dominam amplamente a lingua-
professores, fazem parte da linguagem no processo de gem rica e variada de que se servem na conversação e
alfabetização”. Diante disso, podemos observar que os no diálogo. Por isso é que a alfabetização deve anco-
processos de aquisição da leitura e da língua escrita no rar-se na linguagem que as crianças dominam e nascer
contexto escolar devem considerar o desenvolvimento com fortes marcas da oralidade. “Trata-se de considerar
das crianças, pois este começa muito antes da escolari- a prática oral das crianças como o contexto em que as
zação. É útil se perguntar através de que tipo de práticas primeiras palavras e as primeiras frases escritas ganham
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

a criança é introduzida na língua escrita, e como se apre- naturalidade”.


senta este objeto no contexto escolar. Há práticas que le-
vam a criança à convicção de que o conhecimento é algo Métodos e técnicas de alfabetização
que os outros possuem e que só se pode obter da boca
dos outros, sem nunca ser participante na construção do Nas últimas décadas assistiu-se a um abandono na
conhecimento. discussão sobre a eficácia de processos e métodos de
Nos dias de hoje, em que a sociedade do mundo alfabetização, que passaram a ser identificados como
inteiro está cada vez mais centrada na escrita, ser al- propostas tradicionais, e passou-se a discutir e analisar
fabetizado, isto é, saber ler e escrever tem se revelado uma abordagem construtivista de grande impacto con-
condição insuficiente para responder adequadamente ceitual nessa área. Assim, valorizar o diagnóstico dos co-
às demandas da sociedade contemporânea. É preciso ir nhecimentos prévios dos alunos e a análise de seus erros

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como indicadores construtivos do processo de aprendi- do início da escolarização. Se aceitarmos que a criança
zagem, como também inserir a criança em práticas so- não é uma tábua rasa onde se inscrevem as letras e as
ciais que envolvem a escrita e a leitura, é a realização efe- palavras segundo determinado método; se aceitarmos
tiva de práticas docentes que defendem uma educação que o “fácil” e o “difícil” não podem ser definidos a partir
de qualidade e que preparam o ser humano para a vida. da perspectiva do adulto, mas da de quem aprende; se
Para Sanz “método é a palavra grega para perseguição e aceitarmos que qualquer informação deve ser assimilada,
prosseguimento, com o sentido de esforço para alcançar e portanto transformada, para ser operante, então deve-
um fim, investigação. O que nos permite compreendê-lo ríamos também aceitar que os métodos (como conse-
como caminho para atingir um resultado”. Ele ainda diz quência de passos ordenados para chegar a um fim) não
que “o método, como estratégia, e a técnica, como tática, oferecem mais do que sugestões, incitações, quando não
formam um par nobre”. Desta forma, é essencial que se práticas rituais ou conjunto de proibições.
conheça um pouco mais sobre os métodos utilizados pe- O método não pode criar conhecimento. Tendo em
los alfabetizadores, como também as pesquisas e expe- conta a complexidade da realidade brasileira, pode-se
riências de quem já têm uma larga trajetória nessa área, observar que já aconteceram muitas coisas para viabili-
a fim de analisar com cuidado o que se deve buscar para zar melhorias em todos os setores do processo ensino-
alfabetizar nossas crianças. -aprendizagem, principalmente nas escolas públicas, que
- O Método Fônico enfatiza as relações símbolo-som, necessitam de maior atenção na alfabetização das séries
sendo que na linha sintética o aluno conhece os iniciais. Muitas mudanças em relação à escolarização
sons representados pelas letras e combina esses vêm ocorrendo e mais crianças em idade escolar estão
sons para pronunciar palavras e, na linha analíti- nas salas de aula. Esse é o primeiro passo. Em seguida
ca o aluno antes aprende uma série de palavras e vem o desafio da qualidade da aprendizagem. As mu-
depois parte para a associação entre o som e as danças têm se revelado muito lentas, pois convivemos
partes das palavras. Principalmente com sistemas educativos municipais
- O Método da Linguagem Total defende que os sis- e estaduais que tornam ainda mais difícil a ocorrência
temas linguísticos estão interligados e que a rela- de evoluções e transformações no processo educacional.
ção entre imagens e sons deve ser evitada. Neste, Dentre as várias mudanças que ocorreram estão o in-
são apresentados textos inteiros, porque acredi- centivo à formação continuada dos profissionais da edu-
ta-se que se aprende lendo. O professor lê textos cação e a implantação do Ensino Fundamental de nove
para os alunos que o acompanham, assim se fami- anos. Este, aprovado em fevereiro de 2006, com base na
liarizando com a linguagem escrita, para posterior- Lei 11.274/2006, que incentiva nove anos de escolarida-
mente aprender palavras, em seguida as sílabas e de obrigatória, com a inclusão das crianças de seis anos.
depois as letras. Ressalte-se que o ingresso da criança de seis anos no
- O Método Alfabético faz com que os alunos primei- ensino fundamental não pode constituir uma medida
ro identifiquem as letras pelos nomes, depois so- meramente administrativa.
letrem as sílabas e, em seguida, as palavras antes É preciso atenção ao processo de desenvolvimento e
de lerem sentenças curtas e, finalmente, histórias. aprendizagem das crianças, o que implica conhecimento
Quando os alunos encontram palavras desconhe- e respeito às suas características etárias, sociais, psico-
cidas, as soletram até decodificá-las. O Analítico lógicas e cognitivas. Não foi de um momento para ou-
parte de uma visão global para depois deter-se tro que essas transformações ocorreram, e nem foi pela
nos detalhes, e o Sintético começa a ensinar por vontade de um único legislador ou de um determinado
partes ou elementos das palavras, tais como letras, governo que as mudanças se processaram. Todo esse
sons ou sílabas, para depois combiná-los em pala- processo vem acontecendo com base em muita pesqui-
vras. A ênfase é a correspondência som-símbolo. A sa e dedicação de profissionais que convivem nessa so-
orientação dos Parâmetros Curriculares Nacionais ciedade tão carente de educação. Tanto as crianças das
enfatiza que é necessário se fazer um diagnóstico camadas favorecidas quanto as das camadas populares
prévio do aluno antes de optar por qualquer mé- convivem diariamente com práticas de leitura e escrita,
todo. Algumas crianças entram na primeira série ou seja, vivem em ambientes de letramento. A diferença
sabendo ler. O professor lê textos em voz alta e é é que as crianças das classes mais favorecidas têm um
acompanhado pela classe. Os alunos são estimu- convívio frequente e mais intenso com material escrito
lados a copiar textos com base em uma situação e com práticas de leitura e de escrita. Diante dessa rea-
social pré-existente. A leitura em voz alta por parte lidade é necessário propiciar igualmente, a todas elas, o
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

dos estudantes é substituída por encenações de si- acesso ao letramento num processo que prossiga por
tuações que foram lidas ou desenhos que ilustram toda a vida. A formação continuada do professor vai
os trechos lidos. muito além dos saberes teóricos em sala de aula. O co-
nhecimento das questões históricas, sociais e culturais
As crianças aprendem a escrever em letra de forma que envolvem a prática educacional, o desenvolvimento
e a consciência fônica é uma consequência. Com base dos alunos nos aspectos afetivo, cognitivo e social, bem
nas pesquisas e experiências de Emília Ferreiro, podemos como a reflexão crítica sobre o seu papel diante dos alu-
discutir e analisar que a prática alfabetizadora tem se nos e da sociedade, são elementos indispensáveis no
centrado na polêmica sobre os métodos utilizados. Po- processo de alfabetização.
rém, nenhuma dessas discussões levou em conta o co-
nhecimento que as crianças já apresentam antes mesmo

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A linguagem escrita no processo de alfabetização diversidade, é necessário livrar-se de preconceitos relativos
à fala das camadas populares e acolher as crianças com
Por tudo o que foi analisado e refletido até aqui deve toda a bagagem cultural que trazem para a escola.
ter ficado claro que o trabalho do professor-alfabeti-
zador no primeiro ano de escolaridade obrigatória não Fonte
deve significar a antecipação da aprendizagem da leitura FASSBINDER, I., FASSBINDER, P., LEITE, R. C. e LOVI-
e da escrita pelas crianças, e muito menos a aceleração SON, C. C..
desse processo. Mesmo sabendo que elas estão cons-
truindo a linguagem da escrita O CURRÍCULO E A PEDAGOGIA DA BRINCADEIRA;
Entre as suas múltiplas linguagens, essa não é a única
maneira de a criança partilhar significados e se inserir na De acordo com o documento Critérios para um Aten-
cultura e deve ser ensinada no contexto das demais lin- dimento em Creches que Respeite os Direitos Fundamen-
guagens. Muito antes de serem capazes de ler, no senti- tais das Crianças, a brincadeira consta como direito ga-
do convencional do termo, as crianças tentam interpretar rantido e, assim se coloca abaixo:
os diversos textos que encontram ao seu redor (livros,
embalagens comerciais, cartazes de rua), títulos (anún- Têm direito à brincadeira
cios de televisão, estórias em quadrinhos, etc.).
Letramento seria é o estado ou a condição de quem - O orçamento para creches prevê a compra e reposi-
não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva as práticas ção de brinquedos, material para expressão artísti-
sociais que usam a escrita. Seria, portanto, o uso compe- ca e livros em quantidade e qualidade satisfatórias
tente da tecnologia da escrita nas situações de leitura e para o número de crianças e as faixas etárias
produção de textos reais, com sentido e significado para - Os brinquedos, os materiais e os livros são conside-
quem lê e escreve. As crianças descobrem sobre a língua rados como instrumento do direito à brincadeira e
escrita antes de aprender a ler. Essa afirmativa se baseia não como um presente excepcional
em estudos nos quais estabelece comparação entre a - A construção das creches prevê a possibilidade de
aquisição da linguagem oral e da linguagem escrita. As- brincadeiras em espaço interno e externo
sim como as crianças adquirem a linguagem oral quando - As creches dispõem de número de educadores com-
envolvida sem contextos comunicativos em que essa lin- patível com a promoção de brincadeiras interativas
- Os prédios das creches dispõem de mobiliário que facili-
guagem é significativa para elas, da mesma forma o uso
te o uso, a organização e conservação dos brinquedos
constante e significativo da linguagem escrita possibilita
- A formação prévia e em serviço reconhece a impor-
e enriquece o seu processo de alfabetização.
tância da brincadeira e da literatura infantil para o
desenvolvimento da criança
A linguagem oral no processo de alfabetização
- A programação para as creches reconhece e incor-
pora o direito das crianças à brincadeira
A linguagem oral que abrange a fala, a escuta e a
compreensão acompanha todas as interações estabele- Critérios para um atendimento em creches que
cidas pelas crianças em suas práticas sociais. É assim que respeite os direitos fundamentais das crianças.
meninos e meninas se apropriam da cultura escolar, des-
de o ingresso na instituição. É também por meio da fala Para que as crianças possam exercer sua capacidade
que as crianças adentram na escola, levando consigo as de criar é imprescindível que haja riqueza e diversidade
marcas de sua classe social, de sua origem e identidade nas experiências que lhes são oferecidas nas instituições,
cultural, constituída por conhecimentos, crenças e valo- sejam elas mais voltadas às brincadeiras ou às aprendi-
res. Trazem, portanto, a variedade linguística do grupo zagens que ocorrem por meio de uma intervenção direta.
social a que pertencem. A brincadeira é uma linguagem infantil que mantém
Nesse sentido, é importante lembrar que a popula- um vínculo essencial com aquilo que é o “não-brincar”. Se
ção brasileira fala de diferentes formas, em função dos a brincadeira é uma ação que ocorre no plano da imagina-
espaços geográficos que ocupa, da classe social, da ida- ção isto implica que aquele que brinca tenha o domínio da
de e do gênero a que pertence. Analisadas do ponto de linguagem simbólica. Isto quer dizer que é preciso haver
vista linguístico, todas essas variedades são legítimas e consciência da diferença existente entre a brincadeira e a
corretas, já que não temos uma gramática normativa da realidade imediata que lhe forneceu conteúdo para reali-
linguagem oral como a que existe para a linguagem es- zar-se. Nesse sentido, para brincar é preciso apropriar-se
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

crita. A escola, incorporando esse comportamento pre- de elementos da realidade imediata de tal forma a atri-
conceituoso da sociedade em geral, também rotula seus buir-lhes novos significados. Essa peculiaridade da brinca-
alunos pelos modos diferentes de falar. (...) Em outras deira ocorre por meio da articulação entre a imaginação e
palavras, um se torna o aluno “certinho” porque é falan- a imitação da realidade. Toda brincadeira é uma imitação
te do dialeto de prestígio, o outro é um aluno carente transformada, no plano das emoções e das ideias, de uma
(“burro”) porque é falante de um dialeto estigmatizado realidade anteriormente vivenciada.
pela sociedade. Isso significa que uma criança que, por exemplo, bate
Para que a escola possa efetivamente contribuir para ritmicamente com os pés no chão e imagina-se caval-
a continuidade do processo de aprendizagem das crian- gando um cavalo, está orientando sua ação pelo signi-
ças e, ao mesmo tempo, considerar alguns paradigmas da ficado da situação e por uma atitude mental e não so-
educação brasileira, como a inclusão e o reconhecimento à mente pela percepção imediata dos objetos e situações.

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No ato de brincar, os sinais, os gestos, os objetos e os faz-de-conta ou com papéis, considerada como atividade
espaços valem e significam outra coisa daquilo que apa- fundamental da qual se originam todas as outras; brincar
rentam ser. Ao brincar as crianças recriam e repensam com materiais de construção e brincar com regras.
os acontecimentos que lhes deram origem, sabendo que As brincadeiras de faz-de-conta, os jogos de cons-
estão brincando. trução e aqueles que possuem regras, como os jogos de
O principal indicador da brincadeira, entre as crianças, sociedade (também chamados de jogos de tabuleiro),
é o papel que assumem enquanto brincam. Ao adotar jogos tradicionais, didáticos, corporais etc., propiciam a
outros papéis na brincadeira, as crianças agem frente à ampliação dos conhecimentos infantis por meio da ati-
realidade de maneira não-literal, transferindo e substi- vidade lúdica.
tuindo suas ações cotidianas pelas ações e características É o adulto, na figura do professor, portanto, que, na
do papel assumido, utilizando-se de objetos substitutos. instituição infantil, ajuda a estruturar o campo das brin-
A brincadeira favorece a autoestima das crianças, au- cadeiras na vida das crianças. Consequentemente é ele
xiliando-as a superar progressivamente suas aquisições que organiza sua base estrutural, por meio da oferta de
de forma criativa. Brincar contribui, assim, para a interio- determinados objetos, fantasias, brinquedos ou jogos,
rização de determinados modelos de adulto, no âmbito da delimitação e arranjo dos espaços e do tempo para
de grupos sociais diversos. brincar.
Essas significações atribuídas ao brincar transfor- Por meio das brincadeiras os professores podem ob-
mam-no em um espaço singular de constituição infantil. servar e constituir uma visão dos processos de desen-
Nas brincadeiras, as crianças transformam os conhe- volvimento das crianças em conjunto e de cada uma em
cimentos que já possuíam anteriormente em conceitos particular, registrando suas capacidades de uso das lin-
gerais com os quais brinca. Por exemplo, para assumir guagens, assim como de suas capacidades sociais e dos
um determinado papel numa brincadeira, a criança deve recursos afetivos e emocionais que dispõem.
conhecer alguma de suas características. A intervenção intencional baseada na observação das
Seus conhecimentos provêm da imitação de alguém brincadeiras das crianças, oferecendo-lhes material ade-
ou de algo conhecido, de uma experiência vivida na fa- quado, assim como um espaço estruturado para brincar
mília ou em outros ambientes, do relato de um colega ou permite o enriquecimento das competências imaginati-
de um adulto, de cenas assistidas na televisão, no cinema vas, criativas e organizacionais infantis. Cabe ao profes-
ou narradas em livros etc. A fonte de seus conhecimen- sor organizar situações para que as brincadeiras ocor-
tos é múltipla, mas estes encontram-se, ainda, fragmen- ram de maneira diversificada para propiciar às crianças a
tados. É no ato de brincar que a criança estabelece os possibilidade de escolherem os temas, papéis, objetos e
diferentes vínculos entre as características do papel assu- companheiros com quem brincar ou os jogos de regras
mido, suas competências e as relações que possuem com e de construção, e assim elaborarem de forma pessoal e
outros papéis, tomando consciência disto e generalizan- independente suas emoções, sentimentos, conhecimen-
do para outras situações. tos e regras sociais.
Para brincar é preciso que as crianças tenham certa É preciso que o professor tenha consciência que na
independência para escolher seus companheiros e os brincadeira as crianças recriam e estabilizam aquilo que
papéis que irão assumir no interior de um determinado sabem sobre as mais diversas esferas do conhecimen-
tema e enredo, cujos desenvolvimentos dependem uni- to, em uma atividade espontânea e imaginativa. Nessa
camente da vontade de quem brinca. perspectiva não se deve confundir situações nas quais
Pela oportunidade de vivenciar brincadeiras imagi- se objetiva determinadas aprendizagens relativas a con-
nativas e criadas por elas mesmas, as crianças podem ceitos, procedimentos ou atitudes explícitas com aquelas
acionar seus pensamentos para a resolução de proble- nas quais os conhecimentos são experimentados de uma
mas que lhe são importantes e significativos. Propician- maneira espontânea e destituída de objetivos imediatos
do a brincadeira, portanto, cria-se um espaço no qual pelas crianças. Pode-se, entretanto, utilizar os jogos, es-
as crianças podem experimentar o mundo e internalizar pecialmente aqueles que possuem regras, como ativida-
uma compreensão particular sobre as pessoas, os senti- des didáticas. É preciso, porém, que o professor tenha
mentos e os diversos conhecimentos. consciência que as crianças não estarão brincando livremen-
O brincar apresenta-se por meio de várias categorias te nestas situações, pois há objetivos didáticos em questão.
de experiências que são diferenciadas pelo uso do mate-
rial ou dos recursos predominantemente implicados. Es- Jogos e brincadeiras
sas categorias incluem: o movimento e as mudanças da
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

percepção resultantes essencialmente da mobilidade físi- Alguns jogos e brincadeiras de parque ou quintal, en-
ca das crianças; a relação com os objetos e suas proprie- volvendo o reconhecimento do próprio corpo, o do ou-
dades físicas assim como a combinação e associação en- tro e a imitação, podem se transformar em atividades da
tre eles; a linguagem oral e gestual que oferecem vários rotina. Bons exemplos são “Siga o Mestre” e “Seu Lobo”,
níveis de organização a serem utilizados para brincar; os porque propõem a percepção e identificação de partes
conteúdos sociais, como papéis, situações, valores e ati- do corpo e a imitação de movimentos.
tudes que se referem à forma como o universo social se Podem ser planejadas articulações com outros eixos
constrói; e, finalmente, os limites definidos pelas regras, de trabalho, como, por exemplo, pedir que as crianças
constituindo-se em um recurso fundamental para brin- modelem parte do corpo em massa ou argila, tendo o
car. Estas categorias de experiências podem ser agrupa- próprio corpo ou o do outro como modelo. Essa pos-
das em três modalidades básicas, quais sejam, brincar de sibilidade pode ser aprofundada, se forem pesquisadas

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também obras de arte em que partes do corpo foram existência do espaço, ao brincar, as crianças se espalham
retratadas ou esculpidas. É importante lembrar que neste e espalham brinquedos e objetos pela sala, usam mobi-
tipo de trabalho não há necessidade de se estabelecer liário e o espaço externo.
uma hierarquia prévia entre as partes do corpo que se- É recomendável que isso ocorra, e, na medida em que
rão trabalhadas. Pensar que para a criança “é mais fácil” crescem, as crianças poderão organizar de forma mais
começar a perceber o próprio corpo pela cabeça, depois independente seu espaço de brincar. Sempre auxiliadas
pelo tronco e por fim pelos membros, por exemplo, pode pelo professor e rearrumando o material depois de brin-
não corresponder à sua experiência real. Nesse sentido, car, as crianças podem transformar a sala e o significado
o professor precisa estar bastante atento aos conheci- dos objetos cotidianos enriquecendo sua imaginação.
mentos prévios das crianças acerca de si mesmas e de Nesse sentido, brincar deve se constituir em atividade
sua corporeidade. permanente e sua constância dependerá dos interesses
Outra orientação de atividades tem a ver com o re- que as crianças apresentam nas diferentes faixas etárias.
conhecimento dos sinais vitais e de sua alteração, como Ainda com relação ao faz-de-conta, o professor po-
a respiração, os batimentos cardíacos, como também de derá organizar situações nas quais as crianças conversem
sensações de prazer ou desprazer que qualquer ativida- sobre suas brincadeiras, lembrem-se dos papéis assumi-
de física pode proporcionar. Ouvir esses sinais, refletir, dos por si e pelos colegas, dos materiais e brinquedos
conversar sobre o que acontece quando se corre, ou se usados, assim como do enredo e da sequência de ações.
rola, ou se massageia um ao outro; pedir às crianças que Nesses momentos, lembrar-se sobre o que, com quem
registrem essas ideias utilizando desenhos ou outras lin- e com o que brincaram poderá ajudar as crianças a or-
guagens pode garantir que continuem a entender e se ganizarem seu pensamento e emoções, criando condi-
expressar pelo movimento de forma harmoniosa. ções para o enriquecimento do brincar. Nessas situações,
podem-se explicitar, também, as dificuldades que cada
Jogos e brincadeiras – Papel do professor criança tem com relação a brincar, caso desejem, e a ne-
cessidade que tem da ajuda do adulto.
Responder como e quando o professor deve inter-
vir nas brincadeiras de faz-de-conta é, aparentemente, Referências:
contraditório com o caráter imaginativo e de linguagem Critérios para um atendimento em creches que res-
independente que o brincar compreende. Porém, há al- peite os direitos fundamentais das crianças. Disponível
guns meios a que o professor pode recorrer para promo- em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/direitosfun-
ver e enriquecer as condições oferecidas para as crianças damentais.pdf
brincarem que podem ser observadas. REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDU-
Para que o faz-de-conta torne-se, de fato, uma práti- CAÇÃO INFANTIL /Ministério da Educação e do Des-
ca cotidiana entre as crianças é preciso que se organize porto, Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília:
na sala um espaço para essa atividade, separado por uma MEC/SEF, 1998.
cortina, biombo ou outro recurso qualquer, no qual as
crianças poderão se esconder, fantasiar-se, brincar, sozi-
O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM ORAL
nhas ou em grupos, de casinha, construir uma nave es-
O domínio da linguagem surge do seu uso em múl-
pacial ou um trem etc.
tiplas circunstâncias, nas quais as crianças podem perce-
Nesse espaço, pode-se deixar à disposição das crian-
ber a função social que ela exerce e assim desenvolver
ças panos coloridos, grandes e pequenos, grossos e fi-
diferentes capacidades.
nos, opacos e transparentes; cordas; caixas de papelão
Por muito tempo prevaleceu, nos meios educacionais,
para que as crianças modifiquem e atualizem suas brin-
a ideia de que o professor teria de planejar, diariamente,
cadeiras em função das necessidades de cada enredo.
novas atividades, não sendo necessário estabelecer uma
Nesse espaço pode ser afixado um espelho de corpo relação e continuidade entre elas. No entanto, a apren-
inteiro, de maneira a que as crianças possam reconhe- dizagem pressupõe uma combinação entre atividades
cer-se, imitar-se, olhar-se, admirar-se. Pode-se, ainda, inéditas e outras que se repetem. Dessa forma, a organi-
agregar um pequeno baú de objetos e brinquedos úteis zação dos conteúdos de Linguagem Oral e Escrita deve
para o faz-de-conta, que pode ser complementado por se subordinar a critérios que possibilitem, ao mesmo
um cabideiro contendo roupas velhas de adultos ou fan- tempo, a continuidade em relação às propostas didáticas
tasias. Fundamentais, também, são os materiais e aces-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

e ao trabalho desenvolvido nas diferentes faixas etárias,


sórios para a casinha, tais como uma pequena cama, um e a diversidade de situações didáticas em um nível cres-
fogão confeccionado com uma velha caixa de papelão, cente de desafios.
louças, utensílios variados etc. É importante, porém, que A oralidade, a leitura e a escrita devem ser trabalhadas
esses materiais estejam organizados segundo uma lógi- de forma integrada e complementar, potencializando-se
ca; por exemplo, que as maquiagens estejam perto do os diferentes aspectos que cada uma dessas linguagens
espelho e não dentro do fogão, de maneira a facilitar as solicita das crianças. Neste documento, os conteúdos
ações simbólicas das crianças. são apresentados em um único bloco para as crianças
No entanto, esse espaço poderá transformar-se em de zero a três anos, considerando-se a especificidade da
um “elefante branco” na sala, caso não seja utilizado, faixa etária. Para as crianças de quatro a seis anos, os
arrumado e mantido diariamente por crianças e pro- conteúdos são apresentados em três blocos: “Falar e es-
fessores. Não se pode esquecer, porém, que apesar da cutar”, “Práticas de leitura” e “Práticas de escrita”.

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Crianças de zero a três anos crianças, uma das tarefas da educação infantil é ampliar,
integrar e ser continente da fala das crianças em con-
Orientações didáticas textos comunicativos para que ela se torne competente
como falante. Isso significa que o professor deve ampliar
A aprendizagem da fala se dá de forma privilegiada as condições da criança de manter-se no próprio texto
por meio das interações que a criança estabelece desde falado. Para tanto, deve escutar a fala da criança, deixan-
que nasce. As diversas situações cotidianas nas quais os do-se envolver por ela, ressignificando-a e resgatando-a
adultos falam com a criança ou perto dela configuram sempre que necessário.
uma situação rica que permite à criança conhecer e apro- Em uma roda de conversa, por exemplo, a professora
priar-se do universo discursivo e dos diversos contextos pediu que uma criança relatasse o motivo de suas faltas,
nos quais a linguagem oral é produzida. As conversas explicitada pelo seguinte diálogo:
com o bebê nos momentos de banho, de alimentação, Criança: Porque sim.
de troca de fraldas são exemplos dessas situações. Nes- Professor: Porque sim não é resposta. (Ri.)
ses momentos, o significado que o adulto atribui ao seu Criança: Eu “tava” doente.
esforço de comunicação fornece elementos para que ele Professor: Você faltou então porque estava doente? E
possa, aos poucos, perceber a função comunicativa da que doença você teve? Você sabe?
fala e desenvolver sua capacidade de falar. (Criança faz que não com a cabeça.)
É importante que o professor converse com bebês e Professor: Não? Você não consegue falar pra gente
crianças, ajudando-os a se expressarem, apresentando- como era sua doença?
-lhes diversas formas de comunicar o que desejam, sen- Criança: Deu umas... era vermelho... que coçava.
tem, necessitam etc. Nessas interações, é importante que Professor: Você teve catapora, que dá umas bolinhas
o adulto utilize a sua fala de forma clara, sem infantiliza- que se coçar viram feridas, né? Alguém já ouviu falar des-
ções e sem imitar o jeito de a criança falar. sa doença? Cabe ao professor, atento e interessado, au-
A ampliação da capacidade das crianças de utilizar a xiliar na construção conjunta das falas das crianças para
fala de forma cada vez mais competente em diferentes torná-las mais completas e complexas. Ouvir atentamen-
contextos se dá na medida em que elas vivenciam ex- te o que a criança diz para ter certeza de que entendeu
periências diversificadas e ricas envolvendo os diversos o que ela falou, podendo checar com ela, por meio de
usos possíveis da linguagem oral. Portanto, eleger a lin- perguntas ou repetições, se entendeu mesmo o que ela
guagem oral como conteúdo exige o planejamento da quis dizer, ajudará a continuidade da conversa. Para as
ação pedagógica de forma a criar situações de fala, escu- crianças muito pequenas uma palavra, como “água”,
ta e compreensão da linguagem. pode ser significada pelo adulto, dependendo da situa-
Além da conversa constante, o canto, a música e a es- ção, como: “Ah! Você quer água?”, ou “Você derrubou
cuta de histórias também propiciam o desenvolvimento água no chão”. Os professores podem funcionar como
da oralidade. A leitura pelo professor de textos escritos, apoio ao desenvolvimento verbal das crianças, sempre
em voz alta, em situações que permitem a atenção e a buscando trabalhar com a interlocução e a comunicação
escuta das crianças, seja na sala, no parque debaixo de efetiva entre os participantes da conversa.
uma árvore, antes de dormir, numa atividade específica O professor tem, também, o importante papel de
para tal fim etc., fornece às crianças um repertório rico “evocador” de lembranças. Objetos e figuras podem ser
em oralidade e em sua relação com a escrita. desencadeadores das lembranças das crianças e seu uso
O ato de leitura é um ato cultural e social. Quando o pode ajudar a enriquecer a narrativa delas.
professor faz uma seleção prévia da história que irá con-
tar para as crianças, independentemente da idade delas, Crianças de quatro a cinco anos
dando atenção para a inteligibilidade e riqueza do tex-
to, para a nitidez e beleza das ilustrações, ele permite às Orientações didáticas
crianças construírem um sentimento de curiosidade pelo
livro (ou revista, gibi etc.) e pela escrita. A importância O trabalho com as crianças exige do professor uma
dos livros e demais portadores de textos é incorporada escuta e atenção real às suas falas, aos seus movimentos,
pelas crianças, também, quando o professor organiza o gestos e demais ações expressivas. A fala das crianças
ambiente de tal forma que haja um local especial para traduz seus modos próprios e particulares de pensar e
livros, gibis, revistas etc. que seja aconchegante e no não pode ser confundida com um falar aleatório. Ao con-
qual as crianças possam manipulá-los e “lê-los” seja em trário, cabe ao professor ajudar as crianças a explicita-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

momentos organizados ou espontaneamente. Deixar as rem, para si e para os demais, as relações e associações
crianças levarem um livro para casa, para ser lido junto contidas em suas falas, valorizando a intenção comunica-
com seus familiares, é um fato que deve ser considera- tiva para dar continuidade aos diálogos.
do. As crianças, desde muito pequenas, podem construir A criação de um clima de confiança, respeito e afeto
uma relação prazerosa com a leitura. Compartilhar essas em que as crianças experimentam o prazer e a neces-
descobertas com seus familiares é um fator positivo nas sidade de se comunicar apoiadas na parceria do adul-
aprendizagens das crianças, dando um sentido mais am- to, é fundamental. Nessa perspectiva, o professor deve
plo para a leitura. permitir e compreender que o frequente burburinho que
Considerando-se que o contato com o maior número impera entre as crianças, mais do que sinal de confusão,
possível de situações comunicativas e expressivas resul- é sinal de que estão se comunicando. Esse burburinho
ta no desenvolvimento das capacidades linguísticas das cotidiano é revelador de que dialogam, perguntam e res-

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pondem sobre assuntos relativos às atividades que estão ação no cotidiano visando a integrar todas as crianças no
desenvolvendo — um desenho, a leitura de um livro etc. grupo. As crianças com problemas auditivos criam recur-
— ou apenas de que têm intenção de se comunicar. sos variados para se fazerem entender. O professor deve
Ao organizar situações de participação nas quais as também buscar diferentes possibilidades para entender
crianças possam buscar materiais, pedir informações ou e falar com elas, valorizando várias formas de expressão.
fazer solicitações a outros professores ou crianças, elabo- Além da inclusão em creches e pré-escolas regulares, as
rar avisos, pedidos ou recados a outras classes ou setores crianças portadoras de necessidades especiais deverão
da instituição etc., o professor possibilita às crianças o ter paralelamente um atendimento especializado.
uso contextualizado dos pedidos, perguntas, expressões A narrativa pode e deve ser a porta de entrada de
de cortesia e formas de iniciar conversação. Deve-se cui- toda criança para os mundos criados pela literatura. A
dar que todos tenham oportunidades de participação. criança aprende a narrar por meio de jogos de contar e
É importante planejar situações de comunicação que de histórias. Como jogos de contar entendem-se as si-
exijam diferentes graus de formalidade, como conversas, tuações em parceria com o adulto, os jogos de pergun-
exposições orais, entrevistas e não só a reprodução de tar e responder, em que o adulto, inicialmente, assume
contextos comunicativos informais. a condução dos relatos sobre acontecimentos, fatos e
Uma das formas de ampliar o universo discursivo das experiências da vida pessoal da criança. Estimulando as
crianças é propiciar que conversem bastante, em situa- perguntas e respostas, o professor propicia o estabele-
ções organizadas para tal fim, como na roda de conversa cimento da alternância dos sujeitos falantes, ajudando
ou em brincadeiras de faz-de-conta. Podem-se organizar as crianças a detalharem suas narrativas. As histórias, di-
rodas de conversa nas quais alguns assuntos sejam dis- ferentemente dos relatos, são textos previamente cons-
cutidos intencionalmente, como um projeto de constru- truídos, estão completos. As histórias estão associadas a
ção de um cenário para brincar, um passeio, a ilustração convenções, como “Era uma vez”, frase de abertura for-
de um livro etc. Pode-se, também, conversar sobre as- mal, “e foram felizes para sempre”, fecho formal. Distin-
suntos diversos, como a discussão sobre um filme visto guem-se dos relatos por se configurarem como ficção e
na TV, sobre a leitura de um livro, um acontecimento re- não como fato, como realidade; relacionam-se, portanto,
cente com uma das crianças etc. com o construído e não com o real.
A roda de conversa é o momento privilegiado de diá- Uma atividade bastante interessante para se fazer
logo e intercâmbio de ideias. Por meio desse exercício com as crianças é a elaboração de entrevistas. A entrevis-
cotidiano as crianças podem ampliar suas capacidades ta, além de possibilitar que se ressalte a transmissão oral
comunicativas, como a fluência para falar, perguntar, ex- como uma fonte de informações, propicia às crianças
por suas ideias, dúvidas e descobertas, ampliar seu vo- pensarem no assunto que desejam conhecer, nas pes-
cabulário e aprender a valorizar o grupo como instância soas que podem ter as informações de que necessitam
de troca e aprendizagem. A participação na roda permite e nas perguntas que deverão fazer. Para tanto, deve-se
que as crianças aprendam a olhar e a ouvir os amigos, partir dos conhecimentos prévios das crianças sobre en-
trocando experiências. Pode-se, na roda, contar fatos às trevistas para preparar um roteiro de perguntas. É preci-
crianças, descrever ações e promover uma aproximação so, também, pensar sobre a melhor forma de registrar a
com aspectos mais formais da linguagem por meio de fala dos entrevistados. Pode-se incluir essa atividade em
situações como ler e contar histórias, cantar ou entoar projetos que envolvam, por exemplo, o levantamento de
canções, declamar poesias, dizer parlendas, textos de informações junto aos pais sobre a história do nome de
brincadeiras infantis etc. cada um, sobre as histórias da comunidade etc.

A ampliação do universo discursivo das crianças tam- Outra atividade a ser realizada refere-se às apresen-
bém se dá por meio do conhecimento da variedade de tações orais ao vivo, de textos memorizados, nas quais as
textos e de manifestações culturais que expressam mo- crianças reproduzem os mais diferentes gêneros, como
dos e formas próprias de ver o mundo, de viver e pen- histórias, poesias, parlendas etc., em situações que en-
sar. Músicas, poemas, histórias, bem como diferentes volvem público (seu grupo, outras crianças da instituição,
situações comunicativas, constituem-se num rico mate- os pais etc.), como sarau de poesias, recital de parlendas.
rial para isso. Além de propiciar a ampliação do universo Outra possibilidade é a preparação de fitas de áudio ou
cultural, o contato com a diversidade permite conhecer e vídeo para a gravação de poesias, músicas, histórias etc.
aprender a respeitar o diferente.
Algumas crianças, porém, por diversas razões, não Práticas de leitura
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

chegam a desenvolver habilidades comunicativas por


meio da fala, como, por exemplo, crianças com deficiên- Orientações didáticas
cia auditiva, algumas portadoras de paralisia cerebral,
autistas etc. Nesses casos, a inclusão das crianças nas ati- Práticas de leitura para as crianças têm um grande va-
vidades regulares favorece o desenvolvimento de várias lor em si mesmas, não sendo sempre necessárias ativida-
capacidades, como a sociabilidade, a comunicação, entre des subsequentes, como o desenho dos personagens, a
outras. Convém salientar que existem certos procedi- resposta de perguntas sobre a leitura, dramatização das
mentos que favorecem a aquisição de sistemas alternati- histórias etc. Tais atividades só devem se realizar quando
vos de linguagem, como a que é feita por meio de sinais, fizerem sentido e como parte de um projeto mais amplo.
por exemplo, mas que requerem um conhecimento es- Caso contrário, pode-se oferecer uma ideia distorcida do
pecializado. Cabe ao professor da educação infantil uma que é ler.

21
A criança que ainda não sabe ler convencionalmente Ter acesso à boa literatura é dispor de uma informa-
pode fazê-lo por meio da escuta da leitura do professor, ção cultural que alimenta a imaginação e desperta o pra-
ainda que não possa decifrar todas e cada uma das pala- zer pela leitura. A intenção de fazer com que as crianças,
vras. Ouvir um texto já é uma forma de leitura. desde cedo, apreciem o momento de sentar para ouvir
É de grande importância o acesso, por meio da leitu- histórias exige que o professor, como leitor, preocupe-se
ra pelo professor, a diversos tipos de materiais escritos, em lê-la com interesse, criando um ambiente agradável
uma vez que isso possibilita às crianças o contato com e convidativo à escuta atenta, mobilizando a expectativa
práticas culturais mediadas pela escrita. das crianças, permitindo que elas olhem o texto e as ilus-
Comunicar práticas de leitura permite colocar as trações enquanto a história é lida.
crianças no papel de “leitoras”, que podem relacionar a Quem convive com crianças sabe o quanto elas gos-
linguagem com os textos, os gêneros e os portadores so- tam de escutar a mesma história várias vezes, pelo prazer
bre os quais eles se apresentam: livros, bilhetes, revistas, de reconhecê-la, de apreendê-la em seus detalhes, de
cartas, jornais etc. cobrar a mesma sequência e de antecipar as emoções
As poesias, parlendas, trava-línguas, os jogos de pa- que teve da primeira vez. Isso evidencia que a criança
lavras, memorizados e repetidos, possibilitam às crianças que escuta muitas histórias pode construir um saber so-
atentarem não só aos conteúdos, mas também à forma, bre a linguagem escrita. Sabe que na escrita as coisas
aos aspectos sonoros da linguagem, como ritmo e rimas, permanecem, que se pode voltar a elas e encontrá-las tal
além das questões culturais e afetivas envolvidas. qual estavam da primeira vez.
Quando o professor realiza com frequência leituras Muitas vezes a leitura do professor tem a participa-
de um mesmo gênero está propiciando às crianças opor- ção das crianças, principalmente naqueles elementos da
tunidades para que conheçam as características próprias história que se repetem (estribilhos, discursos diretos, al-
de cada gênero, isto é, identificar se o texto lido é, por guns episódios etc.) e que por isso são facilmente memo-
exemplo, uma história, um anúncio etc. rizados por elas, que aguardam com expectativa a hora
São inúmeras as estratégias das quais o professor de adiantar-se à leitura do professor, dizendo determina-
pode lançar mão para enriquecer as atividades de leitu- das partes da história. Diferenciam também a leitura de
ra, como comentar previamente o assunto do qual trata uma história do relato oral. No primeiro caso, a criança
o texto; fazer com que as crianças levantem hipóteses espera que o leitor leia literalmente o que o texto diz.
sobre o tema a partir do título; oferecer informações que Recontar histórias é outra atividade que pode ser de-
situem a leitura; criar um certo suspense, quando for o senvolvida pelas crianças. Elas podem contar histórias
caso; lembrar de outros textos conhecidos a partir do conhecidas com a ajuda do professor, reconstruindo o
texto lido; favorecer a conversa entre as crianças para texto original à sua maneira. Para isso podem apoiar-se
que possam compartilhar o efeito que a leitura produziu, nas ilustrações e na versão lida. Nessas condições, cabe
trocar opiniões e comentários etc. ao professor promover situações para que as crianças
Nesses casos, os textos mais adequados são as emba- compreendam as relações entre o que se fala, o texto
lagens comerciais, os folhetos de propaganda, as histórias escrito e a imagem. O professor lê a história, as crianças
em quadrinhos e demais portadores que possibilitam às escutam, observam as gravuras e, frequentemente, de-
crianças deduzir o sentido a partir do conteúdo, da ima- pois de algumas leituras, já conseguem recontar a his-
gem ou foto, do conhecimento da marca ou do logotipo. tória, utilizando algumas expressões e palavras ouvidas
Os textos de histórias já conhecidos possibilitam ati- na voz do professor. Nesse sentido, é importante ler as
vidades de buscar “onde está escrito tal coisa”. As crian- histórias tal qual estão escritas, imprimindo ritmo à nar-
ças, levando em conta algumas pistas contidas no texto rativa e dando à criança a ideia de que ler significa atri-
escrito, podem localizar uma palavra ou um trecho que buir significado ao texto e compreendê-lo.
até o momento não sabem como se escreve convencio- Uma prática constante de leitura deve considerar a
nalmente. Podem procurar no livro a fala de alguma per- qualidade literária dos textos. A oferta de textos suposta-
sonagem. Para isso, devem recordar a história para situar mente mais fáceis e curtos, para crianças pequenas, pode
o momento no qual a personagem fala e consultar o tex- resultar em um empobrecimento de possibilidades de
to, procurando indícios que permitam localizar a palavra acesso à boa literatura.
ou trecho procurado. Ler não é decifrar palavras. A leitura é um processo
A leitura de histórias é um momento em que a criança em que o leitor realiza um trabalho ativo de constru-
pode conhecer a forma de viver, pensar, agir e o universo ção do significado do texto, apoiando-se em diferentes
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

estratégias, como seu conhecimento sobre o assunto,


de valores, costumes e comportamentos de outras cul-
sobre o autor e de tudo o que sabe sobre a linguagem
turas situadas em outros tempos e lugares que não o
escrita e o gênero em questão. O professor não precisa
seu. A partir daí ela pode estabelecer relações com a sua
omitir, simplificar ou substituir por um sinônimo familiar
forma de pensar e o modo de ser do grupo social ao qual
as palavras que considera difíceis, pois, se o fizer, correrá
pertence. As instituições de educação infantil podem res-
o risco de empobrecer o texto. A leitura de histórias é
gatar o repertório de histórias que as crianças ouvem em
uma rica fonte de aprendizagem de novos vocabulários.
casa e nos ambientes que frequentam, uma vez que essas
Um bom texto deve admitir várias interpretações, supe-
histórias se constituem em rica fonte de informação so-
rando-se, assim, o mito de que ler é somente extrair in-
bre as diversas formas culturais de lidar com as emoções formação da escrita.
e com as questões éticas, contribuindo na construção da
subjetividade e da sensibilidade das crianças.

22
Práticas de escrita Saber escrever o próprio nome é um valioso conhe-
cimento que fornece às crianças um repertório básico de
Orientações didáticas letras que lhes servirá de fonte de informação para pro-
duzir outras escritas. A instituição de educação infantil
Na instituição de educação infantil, as crianças po- deve preocupar-se em marcar os pertences, os objetos
dem aprender a escrever produzindo oralmente textos pessoais e as produções das crianças com seus nomes.
com destino escrito. Nessas situações o professor é o es- É importante realizar um trabalho intencional que leve
criba. A criança também aprende a escrever, fazendo-o ao reconhecimento e reprodução do próprio nome para
da forma como sabe, escrevendo de próprio punho. Em que elas se apropriem progressivamente da sua escrita
ambos os casos, é necessário ter acesso à diversidade convencional. A coleção dos nomes das crianças de um
de textos escritos, testemunhar a utilização que se faz mesmo grupo, registrados em pequenas tiras de papel,
da escrita em diferentes circunstâncias, considerando as pode estar afixada em lugar visível da sala. Os nomes po-
condições nas quais é produzida: para que, para quem, dem estar escritos em letra maiúscula, tipo de imprensa
onde e como. (conhecida também como letra de fôrma), pois, para a
criança, inicialmente, é mais fácil imitar esse tipo de le-
O trabalho com produção de textos deve se cons- tra. Trata-se de uma letra mais simples do ponto de vista
tituir em uma prática continuada, na qual se reproduz gráfico que possibilita perceber cada caractere, não dei-
contextos cotidianos em que escrever tem sentido. Deve- xando dúvidas sobre onde começa e onde termina cada
-se buscar a maior similaridade possível com as práticas letra.
de uso social, como escrever para não esquecer alguma As atividades de reescrita de textos diversos devem
informação, escrever para enviar uma mensagem a um se constituir em situações favoráveis à apropriação das
destinatário ausente, escrever para que a mensagem características da linguagem escrita, dos gêneros, con-
atinja um grande número de pessoas, escrever para iden- venções e formas. Essas situações são planejadas com
tificar um objeto ou uma produção etc. o objetivo de eliminar algumas dificuldades inerentes à
O tratamento que se dá à escrita na instituição de
produção de textos, pois consistem em recriar algo a par-
educação infantil pode ter como base a oralidade para
tir do que já existe.
ensinar a linguagem que se usa para escrever. Ditar um
Essas situações são aquelas nas quais as crianças
texto para o professor, para outra criança ou para ser
reescrevem um texto que já está escrito por alguém e
gravado em fita cassete é uma forma de viabilizar a pro-
que não é reprodução literal, mas uma versão própria de
dução de textos antes de as crianças saberem grafá-los.
um texto já existente.
É em atividades desse tipo que elas começam a participar
Podem reescrever textos já escritos e para tal pre-
de um processo de produção de texto escrito, construin-
cisam retirar ou acrescentar elementos com relação ao
do conhecimento sobre essa linguagem, antes mesmo
que saibam escrever autonomamente. texto original. Pode-se propor às crianças que reescre-
O professor pode chamar a atenção sobre a estrutura vam notícias da atualidade que saíram no jornal que lhes
do texto, negociar significados e propor a substituição interessou, ou uma lenda, uma história etc.
do uso excessivo de “e”, “aí”, “daí” por conectivos mais Nas atividades de escrita, parte-se do pressuposto que
adequados à linguagem escrita e de expressões que as crianças se apropriam dos conteúdos, transformando-
marcam temporalidade, causalidade etc., como “de re- -os em conhecimento próprio em situações de uso, quan-
pente”, “um dia”, “muitos anos depois” etc. A reelabora- do têm problemas a resolver e precisam colocar em jogo
ção dos textos produzidos, realizada coletivamente com tudo o que sabem para fazer o melhor que podem.
o apoio do professor, faz com que a criança aprenda a As crianças que não sabem escrever de forma con-
conceber a escrita como processo, começando a coorde- vencional, ao receberem um convite para fazê-lo, estão
nar os papéis de produtor e leitor a partir da intervenção diante de uma verdadeira situação-problema, na qual se
do professor ou da parceria com outra criança durante o pode observar o desenvolvimento do seu processo de
processo de produção. aprendizagem. Tal prática deve favorecer a construção de
As crianças e o professor podem tentar melhorar o escritas de acordo com as ideias construídas pelas crian-
texto, acrescentando, retirando, deslocando ou transfor- ças e promover a busca de informações específicas de
mando alguns trechos com o objetivo de torná-lo mais que necessitem, tanto nos textos disponíveis como re-
legível para o leitor, mais claro ou agradável de ler. correndo a informantes (outras crianças e o professor). O
No caso das crianças maiores, o ditado entre pares fato de as escritas não convencionais serem aceitas não
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

favorece muito a aprendizagem, pois elas se ajudam significa ausência de intervenção pedagógica. O conhe-
mutuamente. Quando uma criança dita e outra escreve, cimento sobre a natureza e o funcionamento do sistema
aquela que dita atua como revisora para a que escreve, de escrita precisa ser construído pelas crianças com a
por meio de diversas ações, como ler o que já foi escrito ajuda do professor. Para que isso aconteça é preciso que
para não correr o risco de escrever duas vezes a mesma ele considere as ideias das crianças ao planejar e orientar
palavra, diferenciar o que “já está escrito” do que “ainda as atividades didáticas com o objetivo de desencadear
não está escrito” quando a outra se perde, observar a e apoiar as suas ações, estabelecendo um diálogo com
conexão entre os enunciados, ajudar a pensar em quais elas e fazendo-as avançar nos seus conhecimentos. As
letras colocar e pesquisar, em caso de dúvida, buscando crianças podem saber de cor os textos que serão escritos,
palavras ou parte de palavras conhecidas em outro con- como, por exemplo, uma parlenda, uma poesia ou uma
texto etc. letra de música.

23
Nessas atividades, as crianças precisam pensar sobre Todas as tarefas que tradicionalmente o professor
quantas e quais letras colocar para escrever o texto, usar realizava fora da sala e na ausência das crianças, como
o conhecimento disponível sobre o sistema de escrita, preparar convites para as reuniões de pais, escrever uma
buscar material escrito que possa ajudar a decidir como carta para uma criança que está se ausentando, ler um
grafar etc. bilhete deixado pelo professor do outro período etc., po-
As crianças de um grupo encontram-se, em geral, dem ser partilhadas com as crianças ou integrarem ati-
em momentos diferentes no processo de construção vidades de exploração dos diversos usos da escrita e da
da escrita. Essa diversidade pode resultar em ganhos leitura.
no desenvolvimento do trabalho. Daí a importância de A participação ativa das crianças nesses eventos de
uma prática educativa que aceita e valoriza as diferenças letramento configura um ambiente alfabetizador na
individuais e fomenta a troca de experiências e conhe- instituição. Isso é especialmente importante quando as
cimentos entre as crianças. As atividades de escrita e de crianças provêm de comunidades pouco letradas, em
produção de textos são muito mais interessantes, por- que têm pouca oportunidade de presenciar atos de lei-
tanto, quando se realizam num contexto de interação. tura e escrita junto com parceiros mais experientes. Nes-
No processo de aprendizagem, o que num dado mo- se caso, o professor torna-se uma referência bastante
mento uma criança consegue realizar apenas com ajuda, importante. Se a educação infantil trouxer os diversos
posteriormente poderá ser feito com relativa autonomia. textos utilizados nas práticas sociais para dentro da ins-
A criação de um clima favorável para o trabalho tituição, estará ampliando o acesso ao mundo letrado,
em grupo possibilita ricos intercâmbios comunicativos cumprindo um papel importante na busca da igualdade
de enorme valor social e educativo. Para que a intera- de oportunidades.
ção grupal cumpra seu papel, é preciso que as crianças Algumas vezes, o termo “ambiente alfabetizador” tem
aprendam a trabalhar juntas. Para que desenvolvam essa sido confundido com a imagem de uma sala com pare-
capacidade, é necessário um trabalho intencional e sis- des cobertas de textos expostos e, às vezes, até com eti-
temático do professor para organizar as situações de quetas nomeando móveis e objetos, como se esta fosse
interação considerando a heterogeneidade dos conhe- uma forma eficiente de expor as crianças à escrita. É ne-
cimentos das crianças. Além disso, é importante que o cessário considerar que expor as crianças às práticas de
professor escolha as crianças que possam se informar leitura e escrita está relacionada com a oferta de oportu-
mutuamente, favoreça os intercâmbios, pontue as difi- nidades de participação em situações nas quais a escrita
culdades de entendimento, ajude a percepção de deta- e a leitura se façam necessárias, isto é, nas quais tenham
lhes do texto etc. Deixando de ser o único informante, o uma função real de expressão e comunicação.
professor pode organizar grupos, ou duplas de crianças A experiência com textos variados e de diferentes gê-
que possuam hipóteses diferentes (porém próximas) so- neros é fundamental para a constituição do ambiente de
bre a língua escrita, o que favorece intercâmbios mais fe- letramento. A seleção do material escrito, portanto, deve
cundos. As crianças podem utilizar a lousa ou letras mó- estar guiada pela necessidade de iniciar as crianças no
veis e, ao confrontar suas produções, podem comparar contato com os diversos textos e de facilitar a observa-
suas escritas, consultarem-se, corrigirem-se, socializarem ção de práticas sociais de leitura e escrita nas quais suas
ideias e informações etc. diferentes funções e características sejam consideradas.
Nesse sentido, os textos de literatura geral e infantil, jor-
Orientações gerais para o professor nais, revistas, textos publicitários etc. são os modelos que
se pode oferecer às crianças para que aprendam sobre a
Ambiente alfabetizador linguagem que se usa para escrever.
O professor, de acordo com seus projetos e objetivos,
Diz-se que um ambiente é alfabetizador quando pro- pode escolher com que gêneros vai trabalhar de forma
move um conjunto de situações de usos reais de leitura mais contínua e sistemática, para que as crianças os co-
e escrita nas quais as crianças têm a oportunidade de nheçam bem. Por exemplo, conhecer o que é uma receita
participar. Se os adultos com quem as crianças convivem culinária, seu aspecto gráfico, formato em lista, combi-
utilizam a escrita no seu cotidiano e oferecem a elas a nação de palavras e números que indicam a quantidade
oportunidade de presenciar e participar de diversos atos dos ingredientes etc., assim como as características de
de leitura e de escrita, elas podem, desde cedo, pensar uma poesia, histórias em quadrinhos, notícias de jornal
sobre a língua e seus usos, construindo ideias sobre etc.
como se lê e como se escreve. Alguns textos são adequados para o trabalho com a
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Na instituição de educação infantil, são variadas as linguagem escrita nessa faixa etária, como, por exemplo,
situações de comunicação que necessitam da media- receitas culinárias; regras de jogos; textos impressos em
ção pela escrita. Isso acontece, por exemplo, quando se embalagens, rótulos, anúncios, slogans, cartazes, folhe-
recorre a uma instrução escrita de uma regra de jogo, tos; cartas, bilhetes, postais, cartões (de aniversário, de
quando se lê uma notícia de jornal de interesse das crian- Natal etc.); convites; diários (pessoais, das crianças da sala
ças, quando se informa sobre o dia e o horário de uma etc.); histórias em quadrinhos, textos de jornais, revistas e
festa em um convite de aniversário, quando se anota suplementos infantis; parlendas, canções, poemas, qua-
uma idéia para não esquecê-la ou quando o professor drinhas, adivinhas e trava-línguas; contos (de fadas, de
envia um bilhete para os pais e tem a preocupação de assombração etc.); mitos, lendas, “causos” populares e
lê-lo para as crianças, permitindo que elas se informem fábulas; relatos históricos; textos de enciclopédia etc.
sobre o seu conteúdo e intenção.

24
Referências: professores e sua qualificação, enfraqueceu a qualidade
Referencial Curricular para Educação Infantil. Vl. 3. de ensino, ao invés de promover melhorias nas condi-
ções já existentes. (BEMVENUTI, 1997, p. 44). Em 1973,
O DESENVOLVIMENTO DAS ARTES VISUAIS E DO criaram os cursos superiores em Educação Artística, uma
MOVIMENTO formação com duas opções, a licenciatura curta em dois
anos e a licenciatura plena em quatro anos. Com cursos
A importância das artes visuais no ato educativo de curta duração e um currículo abrangente que propu-
nha conhecimentos de música, artes plásticas e teatro, os
Trajeto das artes visuais até a escola: Uma abor- professores conheciam superficialmente as linguagens e
dagem teórica conduziam o ensino sem uma concepção filosófica ade-
quada, sem a essência do ensino de arte. Com ausência
A arte, numa perspectiva histórica, pode ser identifi- de formação continuada consistente, conhecimentos bá-
cada como uma ciência que vem percorrendo um longo sicos de arte, os professores sentem-se despreparados,
caminho para ter seu reconhecimento institucional. inseguros e sem capacidade e disposição de tempo para
O ensino de Arte no Brasil, ao longo do tempo, passou aprofundar seus conhecimentos, nem para explicitar,
por diversos métodos, na maioria das vezes importados discutir e praticar um planejamento mais consistente de
sem a devida adaptação, desde a colonização com os je- educação e arte, e passam a apoiar-se nos livros didáti-
suítas, impondo a separação entre a retórica e a manufa- cos de Educação Artística produzidos desde o final da
tura e negando a cultura indígena, passando pelo século década de 70. Nas escolas, a arte ocupa apenas o lugar
XIX com a negação do barroco em favor do neoclássico. de relaxamento, lazer, sendo ignorada como área de co-
Já no século XX, havia uma grande preocupação com nhecimento. Com a nova LDB (lei nº 9.394/96), é extinta
o ensino de Arte que até então se resumia ao ensino do a Educação Artística e entra em campo a disciplina Arte,
desenho, este visto como um importante meio para for- reconhecida oficialmente como área de conhecimento.
mação técnica. A disciplina Desenho, apresentada sob a O artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na-
forma de Desenho Geométrico, Desenho do Natural e cional, em seu § 2º, dispõe que:
Desenho Pedagógico, era considerada mais por seu as- § 2º. O ensino da arte constituirá componente curri-
pecto funcional do que uma experiência em arte. (BRASIL, cular obrigatório, nos diversos níveis da educação bási-
2000, p. 25). Em meados da segunda metade do século ca, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos
XX, a pedagogia experimental sinalizava um novo lugar alunos.
para arte na educação. No momento em que a criança Essa mudança não foi apenas nominal, mas de toda
conquista seu lugar como sujeito, com características a estruturação que envolve o tratamento de uma área
próprias, deixando de ser apenas um projeto de adulto, de conhecimento. De atividades esporádicas de cunho
o desenho infantil passa ser objeto de estudo cognitivo. mais próprio de relaxamento e recreação, passa-se ao
Com a Semana da Arte Moderna em 1922, os mo- compromisso de construir conhecimentos significativos
delos de educação técnica voltada para o trabalho, com em arte.
forte identificação ao estudo do desenho clássico e do Artes visuais, como um conjunto de manifestações
desenho geométrico, começaram a ser contestados, pas- artísticas, compreendem todo o campo de linguagem e
sando a valorizar a expressão infantil. pensamento sobre olhar e sentido do ser humano. As Ar-
No início dos anos 30, também começaram a ganhar tes que normalmente lidam com a visão como seu meio
espaço no Brasil escolas especializadas em artes para principal de apreciação costumam ser chamadas de Artes
crianças e adolescentes. No final dos anos 40, o ensino Visuais. Porém as artes visuais não devem ficar restringi-
de arte conquista mais espaços fora dos muros da escola das apenas ao visual, pois, através dessas manifestações
com as “Escolinhas de Arte” implantadas em vários pon- artísticas (desenho, pintura, modelagem, recorte cola-
tos do país. Este movimento visava a um ensino de arte gem entre outros), há vários significados que o artista
pautado na livre expressão, como um rumo alternativo deseja passar.
na busca de uma identidade ainda desconhecida. Segun- Segundo Panofsky (1989), uma obra de arte deve ser
do Ana Mae Barbosa, a Escolinha de Arte, em parceria definida como um “objeto feito pelo homem que exige
com o governo, promoveu vários cursos de formação de ser esteticamente experenciado”.
professores, com “uma enorme influência multiplicado- As Artes Visuais são linguagens, por isso são uma for-
ra, chegando a haver 32 Escolinhas no país” (BARBOSA, ma muito importante de expressão e comunicação hu-
2003). Nos anos 70, a apresentação dos programas re- manas, isto justifica sua presença na educação infantil.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

flete influência da tendência tecnicista. O ensino de arte O ensino de Arte aborda uma série de significações, tais
é fortemente influenciado pelas ideias de Lowenfeld e como: o senso estético, a sensibilidade e a criatividade.
Herbert Read, o que levará ao espontaneismo, ao laisse- Atualmente, algumas ações estão interferindo quali-
z-faire, na maioria das escolas. tativamente no processo de melhoria do ensino e apren-
A Lei de Diretrizes e Bases nº 5.692/71 é tecnicista e dizagem de Arte. Os Parâmetros Curriculares Nacionais
incita à profissionalização; o trabalho pedagógico frag- de Arte destacam que:
mentou-se para tornar o sistema educacional efetivo e Dentre as várias propostas que estão sendo difundi-
produtivo. Através dessa lei, foi instituída no currículo a das no Brasil na transição para o século XXI, destacam-
Educação Artística, reunindo todos os tipos de lingua- -se aquelas que têm se afirmado pela abrangência e por
gem tornando o ensino de artes polivalente. A promul- envolver ações que, sem dúvida, estão interferindo na
gação da lei, sem prever anteriormente a formação dos melhoria do ensino e da aprendizagem de arte. Trata-se

25
de estudos sobre a educação estética, a estética do coti-
diano, complementando a formação artística dos alunos.
Ressalta-se ainda o encaminhamento pedagógico- artís-
tico que tem por premissa básica a integração do fazer
artístico, a apreciação da obra de arte e sua contextuali-
zação histórica. (PCN, 2000, p. 31).
Podemos destacar a “Proposta ou Metodologia Trian-
gular” difundida e orientada por Ana Mae Barbosa, que
vem se afirmando por sua maior abrangência cultural.
Essa proposta pedagógica integradora tem por base tra-
balhar três vertentes do conhecimento em arte: o fazer
artístico, a leitura da imagem e a contextualização his-
tórica. Figura 1
Outra ação que está interferindo na melhoria do en- Fonte: Simone Villani
sino e da aprendizagem de Arte se refere a estudos so-
bre a educação estética do cotidiano, complementando A criança, inicialmente, vê o desenho como simples-
a formação estético-artística dos alunos. mente uma ação sobre uma superfície, sentindo prazer
em “rabiscar”, explorar e descobrir as cores e novas su-
Caracterização das diferentes linguagens nas ar- perfícies. Essa é a chamada fase da garatuja.
tes visuais no processo de aprendizagem Com as novas experiências de mundo que a criança
adquire, as garatujas vão evoluindo, ganhando formas
A criança, desde bebê, se interessa pelo mundo de definidas com maior ordenação. O papel não é mais ape-
forma peculiar. Emitindo sons, movimentando o corpo, nas uma superfície para os rabiscos infantis. Ele passa a
“rabiscando” as paredes da casa e desenvolvendo ativi- ser uma superfície na qual a criança expressará o que
dades rítmicas, ela interage com o mundo sem precisar
vive diariamente, ou seja, expressará a alegria, a tristeza,
ser estimulada para tal.
os passeios que mais interessaram, a dinâmica familiar
Fazer arte reúne processos complexos em que a
(inclusive os conflitos vividos dentro de casa). Segundo
criança sintetiza diversos elementos de sua experiência.
Cunha, “devemos lembrar que os registros resultam de
No processo de selecionar, interpretar e reformar, mos-
olhares sobre o mundo. Se o olhar é desinteressado e
tra como pensa, como sente e como vê. A criança repre-
vago, as representações serão opacas e uniformes. (Refe-
senta na criação artística o que lhe interessa e o que ela
rencial Curricular Nacional)”.
domina, de acordo com seus estágios evolutivos. Uma
[...] a criança desde bebê mantém contato com as
obra de arte não é a representação de uma coisa, mas
a representação da relação do artista com aquela coisa. cores visando explorar os sentidos e a curiosidade dos
[...] Quanto mais se avança na arte, mais se conhece e bebês em relação ao mundo físico, tendo em vista que,
demonstra autoconfiança, independência, comunicação nesse período, descobrem o mundo através do conheci-
e adaptação social. (ALBINATI, 2009, p. 4). mento do seu próprio corpo e dos objetos com que eles
Assim sendo, a arte propicia à criança expressar seus têm possibilidade de interagir. (CUNHA).
sentimentos e ideias, colocar a criatividade em prática, Desenhar, além de ser algo prazeroso para a crian-
fazendo com que seu lado afetivo seja realçado. Tendo ça, é extremamente importante no cotidiano escolar. De
essa observação voltada para o âmbito escolar, vemos acordo com o Referencial Curricular Nacional de Educa-
claramente como as artes visuais são essenciais na in- ção Infantil:
teração social da criança e como os professores podem Por meio de diferentes gestos em um plano vertical
desfrutar desse recurso para isso. (ou pelo menos inclinado), a criança aprende a segurar
Além de utilizar as artes visuais para trabalhar o afe- corretamente o giz e o lápis. Para que a criança adquira
tivo e a interação social da criança, o professor pode uti- um traço regular, precisará trabalhar com certa rapidez,
lizá-las no auxílio da motricidade infantil que deve ser sobre uma grande superfície colocada a sua altura. A
bem trabalhada desde a infância para que, futuramente, criança que não domina bem seu gesto será solicitada
ela possa sentir a diferença desse recurso na sua vida a trabalhar, sobretudo, com o ombro e o cotovelo: fará
pessoal, escolar e profissional. então desenhos grandes. Somente mais tarde, quando
Sendo assim, o presente artigo destaca cinco tipos os movimentos altura do ombro e do cotovelo tornarem-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

de linguagens nas artes visuais que são utilizadas com as -se desenvolvidos, faremos diminuir as proporções dos
crianças no cotidiano escolar. São elas: desenho, pintura, desenhos, exigindo assim da criança um trabalho mais
modelagem, recorte/colagem e mídia ( informática ). específico do punho e dos dedos.” (1998, p. 106).
O professor pode explorar superfícies diferentes
Desenho como lixa, papelão, papel branco, madeira, chão, entre
outros, para ajudar no desenvolvimento motor da criança.
O desenho é uma das manifestações semióticas, isto No ato de desenhar, a criança expressa seu lado afe-
é, uma das formas através das quais a função de atribui- tivo com a manifestação orgânica da emoção, a criança
ção da significação se expressa e se constrói. Desenvol- usa o papel e o lápis para expressar os seus sentimentos
ve-se concomitantemente às outras manifestações, entre no desenho, a sua relação com a família, os amigos, a
as quais o brinquedo e a linguagem verbal (PIAGET). escola. Através dos traços feitos pela criança, até mesmo

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pelas cores usadas, o professor consegue perceber o que plesmente algo colorido, mas durante repetidas ações de
está acontecendo com ela, e que pode estar levando-a comparar, nomear, transformar, enfim, falar das relações
ao fracasso escolar. entre as cores que são apenas três básicas (azul, verme-
Com o avançar do desenho infantil, a criança também lho, amarelo), que formam todas as outras. Percebendo
desenvolve melhor o seu cognitivo, já que ela, primeiro, isso, o lado sensível e imaginário da criança pode ser
representa o que vê para depois representar o que está aguçado, ajudando-a a se formar como um ser completo,
gravado (fotografado) na memória, ou seja, ela aprende criativo, concentrado.
a sair do plano palpável para o plano abstrato. O que aju-
dará muito na iniciação matemática, futuramente, com Arte Tridimensional
as tão “temidas continhas” que são trabalhadas de forma
tátil para depois ser retratadas de forma abstrata. Des- Durante sua vida, a criança procura explorar aquilo
sa forma, o desenho passa a ter uma significação muito que a rodeia através do tato, da manipulação dos objetos
mais ampla na educação infantil e, assim, merece ser tra- aguçando sua curiosidade. Cabe ao professor explorar
tado como mais que simples rabiscos, sendo valorizado essa curiosidade, buscando desenvolver atividades que
como um auxiliador importante no desenvolvimento da instiguem essas caracteristicas. Um bom aliado são as
criança. atividades artísticas que envolvem a modelagem ou, na
atualidade, a arte tridimensional (por apresentar altura,
Pintura largura e profundidade). Segundo Cunha:
[...] ao invés do professor simplesmente disponibilizar
A pintura pode ser definida com a arte da cor. Se no materiais, as crianças devem ser desafiadas a explorar os
desenho o que mais se utiliza é o traço, na pintura o mais materiais em todas as suas possibilidades, como numa
importante é a mancha da cor. Ao pintar, vamos colo- atividade banal com o lápis de cor e papel. Podemos
cando sobre o papel, a tela ou a parede cores que re- transformar essas propostas simplistas e comuns em
presentam seres e objetos, ou que criam formas. (COLL; uma proposta instigadora e fonte de descobertas, além
TEBEROSKY, 2004, p. 30). de conhecermos as hipóteses das crianças sobre o que
A pintura trabalhada com as crianças tem objetivos vamos trabalhar.
que vão além do simples prazer em manipular mãos e A Arte tridimensional, ou modelagem, é uma ativida-
pincéis. Através do contato com diversos materiais dis- de basicamente sensorial. Podemos trabalhá-la usando
poníveis para a manipulação com as tintas, cola, álcool, massas de biscuit caseiras, argila em barro, jornal, terra,
entre outros, as crianças podem expressar sentimentos massinha, gesso e até mesmo massa comestível. Através
diversos na superfície trabalhada, além de desenvolver, da modelagem, a criança tem a possibilidade de melho-
assim como o desenho, sua habilidade motora que, futu- rar sua motricidade e ampliar sua capacidade de criati-
ramente, na sua alfabetização, será fundamental no de- vidade, pois a modelagem pode ser usada em vários as-
senvolver das letras. pectos da aula ou em qualquer outro ambiente em que
Pintar é, antes de tudo, uma arte que deve ser usada a criança esteja.
também na Educação Infantil como fator de desenvol- As diferentes formas de expressão permitem ainda
vimento motor, afetivo e social da criança. Interpretar à criança comunicar com os pares e os adultos as expe-
obras, recriar imagens, pintar por observação são ativida- riências vividas e os conhecimentos adquiridos. Elas têm
des que mostram possibilidades de transformações, de o privilégio de aprender através das suas comunicações
reconstrução, de reutilização e de construção de novos e experiências concretas. Promove-se o desenvolvimento
elementos, formas, texturas, etc. intelectual da criança através de uma focalização siste-
mática na representação simbólica. Arte significa ter mais
linguagens significativas, diferentes formas de ver e re-
presentar o mundo.
A modelagem propicia para a criança o ato de se ex-
pressar livremente, promovendo a habilidade na coorde-
nação motora.
As Artes Visuais, em geral, podem ser usadas também
como interdisciplinaridade, ou seja, com outros conteú-
dos de outras disciplinas como, por exemplo, o jornal
que, depois de lido, pode ser reciclado, transformado em
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

um novo papel que será reutilizado na escola.


Figura 2 Trabalha-se, então, a sustentabilidade.
Fonte: Simone Villani Pela modelagem também conseguimos perceber o
quanto é importante a criança expressar os seus senti-
A relação que a criança estabelece com os diferentes mentos, fazendo com que os educadores reflitam sobre
materiais se dá, no início, por meio da exploração sen- a utilização da modelagem para o desenvolvimento cog-
sorial e da utilização em diversas brincadeiras. Tudo isso nitivo, afetivo e motor da criança.
influenciará na sua criatividade e imaginação.
Uma característica essencial da pintura é o que se
pode ou não fazer com ela através do jogo de cores. A
criança não constitui um conceito de cor olhando sim-

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Mídia, arte e educação empregados muitos tipos de papel: lisos, rugosos, bri-
lhantes, grossos, finos... As fotografias das revistas são
Dizer que estamos no mundo da informação e na era muito úteis, porque têm uma grande quantidade de co-
da informática já virou clichê. Na verdade, o que vemos res diferentes. (COLL; TEBEROSKY).
é que os meios de comunicação garantiram uma forma Tendo uma folha de papel à sua frente, a criança pode
de que o acesso à informação fosse possível a todas as explorar vários aspectos dela. Surgem ideias sobre o que se
camadas sociais. Aqui não entraremos na discussão so- pode fazer com ela; experimentam-se sensações passando
bre a qualidade e veracidade da informação, o que nos a mão sobre ela. Toda exploração leva à aquisição de co-
interessa realmente é entender minimamente qual a in- nhecimentos sobre suas características: se a folha é lisa ou
fluência da mídia como veículo de divulgação e de pro- áspera; se pode ser dobrada ou amarrotada; como ela fica
dução artística. se submetida a amassos, rasgões e picagem; se ela pode
Com alguns cliques em um teclado, somos capazes ficar de um jeito que expresse alegria ou tristeza...
de ver por uma tela de computador obras de Da Vinci, Os trabalhos de recorte, colagem e aplicação propi-
Picasso, Monet. Sem sequer sairmos de casa, entramos ciam à criança dos primeiros anos escolares o aperfei-
em contato com séculos de história e culturas, desde as çoamento de conteúdos de coordenação motora, cria-
manifestações artísticas mais clássicas até as contempo- tividade e desenvolvimento da sensibilidade, noções de
râneas. Um universo de possibilidades se abre. A imagem espaços e superfície. O primeiro interesse da criança, ain-
na tela do computador ou da televisão, os impressos, os da pequena, é no recorte puro, sem a intenção de formar
jornais, as revistas e os catálogos são hoje os grandes figuras. À medida que ganha segurança no domínio da
divulgadores da arte. tesoura sobre o papel, surge a ideia de transformar pe-
As novas formas de produção artística que brotam daços de papel em figuras significativas e de utilizá-las a
das novas tecnologias impressionam com suas cores, fim de compor cenas. A partir daí, ela vai manifestando
formas e movimento. São editorações gráficas, web de- preferências dentro da atividade, distinguindo papéis e
signs, montagens de fotografias, vídeos. É a arte visual se possibilidades de recortes, colagens e aplicações. Revis-
atualizando e se modificando, sem, contudo, abandonar tas, jornais, papéis de diferentes texturas e pequenos ob-
a grande razão da existência da arte que é a expressão de jetos passam a ser vistos como fonte de pesquisa.
ideias e sentimentos.
A tecnologia não veio para nos afastar dos ideais ar-
tísticos, embora seja o que aconteça em alguns casos. É
possível e necessário ver nos avanços tecnológicos uma
forma segura de produção e resgate do fazer artístico
aliado às novas exigências sociais.
No processo de educação realizam-se, ainda, dois
movimentos: um primeiro, em que é feita a mediação
entre o social, a prática construída e o indivíduo, no qual
se forma a base dos pensamentos individual e coletivo e
é quem possibilita a continuidade do processo histórico
da cultura; e em segundo, que se caracteriza pela media-
ção que a palavra e a imagem fazem entre o pensamento
individual e o social e pela possibilidade que cada um
tem de ser sujeito, de reelaborar produzindo o novo, re- Figura 4
velando como a educação se envolve na tensão entre o Fonte: Simone Villani
individual e o social (MELO; TOSTA, 2008 , p. 55).
A justaposição e a sobreposição de figuras levam a
Como mediadora desse processo de interação, entra criança a aprimorar suas noções de orientação espacial,
a escola, local privilegiado da construção e reprodução a partir da percepção das partes em relação ao todo. O
cultural, cumprindo o papel de tecer as relações necessá- trabalho pode evoluir para a aplicação sobre objetos de
rias entre o conhecimento do clássico e do novo, como uso, como a intervenção em capas de caderno ou caixas,
uma ponte entre os sujeitos e o mundo artístico. e o trabalho final também pode ser posto em moldura,
valorizado como objeto de exposição.
Recorte e colagem A criança deve ter liberdade para exercer sua criati-
vidade, executando ideias criativas e o capricho com o
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

O recorte e a colagem são um processo usado há acabamento final das produções artísticas. Picando com
muitos anos para decorar igrejas, praças, casas, quadros, as mãos, com o auxílio de uma tesoura ou simplesmente
usando diferentes materiais como, por exemplo, ladri- da forma como encontra o material desejado para a co-
lhos, pedras, papéis e outros. A junção desses materiais lagem, a criança trabalha o seu cognitivo ao perceber o
formava uma figura, denominada mosaico. tamanho, a espessura e o modo como encaixar a matéria
Com as crianças, esse processo também é muito uti- no local desejado.
lizado: Como mediador do conhecimento, o professor é es-
Uma maneira interessante de trabalhar com colagem sencial para incentivar o aluno pelo caminho da arte ou
consiste em cortar ou rasgar formas de figuras de cores por outra área do conhecimento, oferecendo os melho-
e texturas variadas. Começa-se recolhendo papéis, pape- res suportes, de forma que venha a somar no seu cresci-
lões e tecidos de texturas e cores diferentes. Podem ser mento e na sua formação.

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Pode-se abordar na atividade de recorte e colagem É muito comum que, visando garantir uma atmosfe-
a manipulação e a exploração de diferentes materiais, in- ra de ordem e de harmonia, algumas práticas educativas
dependentemente de sua utilização na realização de um procurem simplesmente suprimir o movimento, impondo
produto final. A mistura de materiais propicia trabalhos às crianças de diferentes idades rígidas restrições postu-
muito interessantes, como a colagem de tecidos rústicos rais. Isso se traduz, por exemplo, na imposição de longos
com beiradas desfiadas sobre cartões cortados em papel momentos de espera — em fila ou sentada — em que a
reciclado. criança deve ficar quieta, sem se mover; ou na realização
de atividades mais sistematizadas, como de desenho, es-
Considerações Finais crita ou leitura, em que qualquer deslocamento, gesto
ou mudança de posição pode ser visto como desordem
As Artes Visuais são uma forma que a criança tem de ou indisciplina. Até junto aos bebês essa prática pode se
expressar-se com sua visão de mundo e com isso desenvol- fazer presente, quando, por exemplo, são mantidos no
ver-se nas dimensões afetiva, motora e cognitiva, utilizando berço ou em espaços cujas limitações os impedem de
as diferentes linguagens artísticas que compõem as artes expressar-se ou explorar seus recursos motores.
visuais, tendo a oportunidade de construir, criar, recriar e in- Além do objetivo disciplinar apontado, a permanente
ventar, tornando-se um sujeito ativo e crítico na sociedade. exigência de contenção motora pode estar baseada na
As Artes Visuais, em uma perspectiva histórica, per- ideia de que o movimento impede a concentração e a
correram um longo caminho para serem reconhecidas atenção da criança, ou seja, que as manifestações mo-
institucionalmente. Na medida em que a criança con- toras atrapalham a aprendizagem. Todavia, a julgar pelo
quistou seu lugar na sociedade como participante ativa papel que os gestos e as posturas desempenham junto
da construção do seu conhecimento, as diferentes lin- à percepção e à representação, conclui-se que, ao con-
guagens das Artes Visuais passaram a ser objeto de es- trário, é a impossibilidade de mover-se ou de gesticular
tudo por muitos teóricos, que perceberam a necessidade que pode dificultar o pensamento e a manutenção da
de elas serem trabalhadas principalmente na Educação atenção.
Infantil (crianças de zero a cinco anos), uma vez que são Em linhas gerais, as consequências dessa rigidez po-
o principal auxílio no desenvolvimento cognitivo, afetivo dem apontar tanto para o desenvolvimento de uma ati-
e motor. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da tude de passividade nas crianças como para a instalação
Educação Nacional, o ensino das artes passou a ser um de um clima de hostilidade, em que o professor tenta, a
componente curricular obrigatório, nos diversos níveis todo custo, conter e controlar as manifestações motoras
da educação básica, de forma a promover o desenvolvi- infantis. No caso em que as crianças, apesar das restri-
mento cultural dos alunos. ções, mantêm o vigor de sua gestualidade, podem ser
Além das Artes Visuais trabalharem o afetivo e a inte- frequentes situações em que elas percam completamen-
ração social da criança, elas contribuem para o desenvol-
te o controle sobre o corpo, devido ao cansaço provoca-
vimento da motricidade infantil e de outros conteúdos
do pelo esforço de contenção que lhes é exigido.
trabalhados em sala de aula que irão refletir, futuramen-
Outras práticas, apesar de também visarem ao si-
te, na vida pessoal, escolar e profissional do indivíduo.
lêncio e à contenção de que dependeriam a ordem e
Cada movimento, expressão ou recorte de papel
a disciplina, lançam mão de outros recursos didáticos,
constitui-se num direito que a criança tem de conhecer o
propondo, por exemplo, sequências de exercícios ou de
mundo, expressar seus sentimentos sem a fala.
deslocamentos em que a criança deve mexer seu corpo,
Muitas escolas utilizam esses recursos para a forma-
ção da criança como um ser completo, trabalhando-os mas desde que em estrita conformidade a determinadas
não como passatempo ou um recurso decorativo, mas orientações. Ou ainda reservando curtos intervalos em
sim como uma forma de aprendizagem lúdica, repleta que a criança é solicitada a se mexer, para dispender sua
de objetivos importantes no desenvolvimento da criança. energia física. Essas práticas, ao permitirem certa mobi-
Expressando-se no papel, com argila, na tela, fazen- lidade às crianças, podem até ser eficazes do ponto de
do colagem, a criança faz arte naturalmente. vista da manutenção da “ordem”, mas limitam as possi-
A arte proporciona um contato direto com nossos bilidades de expressão da criança e tolhem suas iniciati-
sentimentos, despertando no indivíduo maior atenção ao vas próprias, ao enquadrar os gestos e deslocamentos a
seu processo de sentir. modelos predeterminados ou a momentos específicos.
No berçário, um exemplo típico dessas práticas são
Fonte as sessões de estimulação individual de bebês, que com
Elizangela Aparecida da Silva, Fernanda Rodrigues frequência são precedidas por longos períodos de con-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Oliveira, Letícia Scarabelli, Maria Lorena de Oliveira Costa finamento ao berço. Nessas atividades, o professor ma-
e Sâmyla Barbosa Oliveira, disponível em http://periodi- nipula o corpo do bebê, esticando e encolhendo seus
cos.pucminas.br/ membros, fazendo-os descer ou subir de colchonetes
ou almofadas, ou fazendo-os sentar durante um tempo
O MOVIMENTO determinado. A forma mecânica pela qual são feitas as
manipulações, além de desperdiçarem o rico potencial
A diversidade de práticas pedagógicas que caracte- de troca afetiva que trazem esses momentos de intera-
rizam o universo da educação infantil reflete diferentes ção corporal, deixam a criança numa atitude de passivi-
concepções quanto ao sentido e funções atribuídas ao dade, desvalorizando as descobertas e os desafios que
movimento no cotidiano das creches, pré-escolas e ins- ela poderia encontrar de forma mais natural, em outras
tituições afins. situações.

29
O movimento para a criança pequena significa muito Os jogos, as brincadeiras, a dança e as práticas espor-
mais do que mexer partes do corpo ou deslocar-se no es- tivas revelam, por seu lado, a cultura corporal de cada
paço. A criança se expressa e se comunica por meio dos grupo social, constituindo-se em atividades privilegiadas
gestos e das mímicas faciais e interage utilizando forte- nas quais o movimento é aprendido e significado.
mente o apoio do corpo. A dimensão corporal integra-se Dado o alcance que a questão motora assume na
ao conjunto da atividade da criança. O ato motor faz-se atividade da criança, é muito importante que, ao lado
presente em suas funções expressiva, instrumental ou de das situações planejadas especialmente para trabalhar o
sustentação às posturas e aos gestos. Quanto menor a movimento em suas várias dimensões, a instituição re-
criança, mais ela precisa de adultos que interpretem o flita sobre o espaço dado ao movimento em todos os
significado de seus movimentos e expressões, auxilian- momentos da rotina diária, incorporando os diferentes
do-a na satisfação de suas necessidades. À medida que a significados que lhe são atribuídos pelos familiares e pela
criança cresce, o desenvolvimento de novas capacidades comunidade.
possibilita que ela atue de maneira cada vez mais inde- Nesse sentido, é importante que o trabalho incor-
pendente sobre o mundo à sua volta, ganhando maior pore a expressividade e a mobilidade próprias às crian-
autonomia em relação aos adultos. ças. Assim, um grupo disciplinado não é aquele em que
Pode-se dizer que no início do desenvolvimento pre- todos se mantêm quietos e calados, mas sim um grupo
domina a dimensão subjetiva da motricidade, que en- em que os vários elementos se encontram envolvidos e
contra sua eficácia e sentido principalmente na interação mobilizados pelas atividades propostas. Os deslocamen-
com o meio social, junto às pessoas com quem a criança tos, as conversas e as brincadeiras resultantes desse en-
interage diretamente. É somente aos poucos que se de- volvimento não podem ser entendidos como dispersão
senvolve a dimensão objetiva do movimento, que corres- ou desordem, e sim como uma manifestação natural das
ponde às competências instrumentais para agir sobre o crianças. Compreender o caráter lúdico e expressivo das
espaço e meio físico. manifestações da motricidade infantil poderá ajudar o
O bebê que se mexe descontroladamente ou que faz professor a organizar melhor a sua prática, levando em
caretas provocadas por desconfortos terá na mãe e nos conta as necessidades das crianças.
adultos responsáveis por seu cuidado e educação par-
ceiros fundamentais para a descoberta dos significados Referencias
desses movimentos. Aos poucos, esses adultos saberão Referencial Curricular Nacional para a Educação In-
que determinado torcer de corpo significa que o bebê fantil volume 3: Conhecimento de Mundo
está, por exemplo, com cólica, ou que determinado cho-
ro pode ser de fome. Assim, a primeira função do ato O TRABALHO COM AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS
motor está ligada à expressão, permitindo que desejos,
estados íntimos e necessidades se manifestem. Este texto tem como propósito refletir sobre as múl-
Mas é importante lembrar que a função expressiva tiplas linguagens e sua importância na educação infantil.
não é exclusiva do bebê. Ela continua presente mesmo Considera-se que a prática pedagógica nesta etapa da
com o desenvolvimento das possibilidades instrumentais educação deve ser significativa para as crianças de zero a
do ato motor. É frequente, por exemplo, a brincadeira de cinco anos e pautar-se na Perspectiva Histórico-Cultural.
luta entre crianças de cinco ou seis anos, situação em que Na atualidade a educação infantil está adquirindo
se pode constatar o papel expressivo dos movimentos, já uma crescente importância perante os teóricos e tam-
que essa brincadeira envolve intensa troca afetiva. bém profissionais dessa área, os mesmos buscam pos-
A externalização de sentimentos, emoções e estados sibilitar desenvolvimento integral das crianças, de forma
íntimos poderão encontrar na expressividade do corpo significativa e para isso levam em consideração as contri-
um recurso privilegiado. Mesmo entre adultos isso apa- buições e benefícios das múltiplas linguagens. De acordo
rece frequentemente em conversas, em que a expressão com Oliveira (2002) o conceito de múltiplas linguagens se
facial pode deixar transparecer sentimentos como des- refere às diferentes linguagens presentes nas atividades
confiança, medo ou ansiedade, indicando muitas vezes pedagógicas que “possibilitam às crianças trocar obser-
algo oposto ao que se está falando. Outro exemplo é vações, idéias e planos”. Ou seja, as múltiplas linguagens
como os gestos podem ser utilizados intensamente para representam “[...] sistemas de representação”, essas lin-
pontuar a fala, por meio de movimentos das mãos e do guagens estabelecem novos recursos de aprendizagem,
corpo. pois se integram às funções psicológicas superiores e as
Cada cultura possui seu jeito próprio de preservar es- transformam.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

ses recursos expressivos do movimento, havendo varia- Para compreender tal questão proposta neste texto,
ções na importância dada às expressões faciais, aos ges- faz-se necessário uma análise dos documentos relacio-
tos e às posturas corporais, bem como nos significados nados ao direito das crianças e seu atendimento na edu-
atribuídos a eles. cação infantil, que garantem a qualidade de atendimento
É muito grande a influência que a cultura tem sobre e educação para as crianças, por meio das múltiplas lin-
o desenvolvimento da motricidade infantil, não só pelos guagens, de forma que estes são sempre revistos e reno-
diferentes significados que cada grupo atribui a gestos e vados, de acordo com as necessidades sociais, que estão
expressões faciais, como também pelos diferentes movi- sempre em mudança e obtendo novos conhecimentos à
mentos aprendidos no manuseio de objetos específicos respeito das crianças, bem como seu desenvolvimento
presentes na atividade cotidiana, como pás, lápis, bolas da educação infantil e ainda as várias formas de expres-
de gude, corda, estilingue etc. sões dos mesmos.

30
Estes documentos são o Referencial Curricular Nacio- Nesse aspecto, é fundamental que ao promover es-
nal para a Educação Infantil (1998) que é um documento paços para o convívio social, o educador deve pensar em
oficial do MEC no qual propicia subsídios para a prática todos esses aspectos, bem como na privacidade do alu-
pedagógica desta etapa e estabelece metas que visam no. Isso implica ter como referencial as crianças institu-
a qualidade garantindo o desenvolvimento integral da cionalizadas o dia todo.
criança, além de ser o primeiro documento oficial que
serve de subsídios para o trabalho pedagógico com as Sabe-se que a rotina na educação infantil pode ser fa-
múltiplas linguagens. cilitadora, ou um processo que limite o desenvolvimento
Outro documento que deve ser analisado é o mais e aprendizagem da criança. De acordo com o RCNEI,
recente documento elaborado para a educação infan-
til, denominado de Parâmetros Nacionais de Qualidade [...] rotinas rígidas e inflexíveis desconsideram a crian-
para a Educação Infantil (2006). O intuito é perceber que ça, que precisa se adaptar a uma nova realidade, ou seja,
existem políticas estabelecidas em leis que priorizam um longe do convívio com seus familiares, de sua casa, de seus
atendimento educativo às crianças de zero a cinco anos, brinquedos. Como deve ser, a criança precisa sentir-se bem
com destaque às múltiplas linguagens da aprendizagem. na escola de educação infantil, pois, como já foi dito, lá é o
Os indivíduos, com seus atos e ações, modificam o local onde permanece o dia todo, com um adulto, que no
ambiente em que vivem e isso se dá a partir da intera- primeiro momento é um estranho para ela. Se não hou-
ção e convivência com outras pessoas, por meio da ca- ver mudanças na rotina, a mesma também desconsidera
pacidade que os mesmos adquirem no que diz respeito o adulto, tornando seu trabalho monótono, repetitivo e
a observar, manipular objetos, refletir sobre suas ações, pouco participativo.
entre outras.
O desenvolvimento humano ocorre a partir do con- O RCNEI relata que no ato de brincar, as crianças são
tato com outras pessoas e com o meio em que vive. A favorecidas nos diversos aspectos: afetivos, cognitivos e
escola, nesse sentido, pode ser um espaço privilegiado sociais. Dessa forma, ao brincar as crianças recriam e re-
para que tal interação aconteça. Por ser o Centro de Edu- pensam os acontecimentos que lhes deram origem, sa-
cação Infantil um espaço educativo e social, é fundamen- bendo que estão brincando. Para brincar é preciso apro-
tal que nele haja um espaço adequado e planejado para priar-se de elementos da realidade imediata, e para tal,
o desenvolvimento de atividades diversas, que promo- o educador deve organizar o tempo/espaço, que possi-
vam e favoreçam o desenvolvimento de crianças, que ali bilite esse ato, bem como, uma rotina que oriente suas
são educadas e cuidadas em período integral. ações e as das crianças.
A peculiaridade do brincar e da brincadeira ocorre
A sala de aula da educação infantil deve ser um espa- por meio da articulação entre a imaginação e imitação
ço visualmente limpo, claro, permitindo que as crianças da realidade e, para brincar é preciso que a criança tenha
sintam-se à vontade para desenvolver suas capacidades certa independência para escolher com quem e quais os
de criar e imaginar, bem como, interagir e serem capazes papéis que irão assumir no interior de um determinado
de exercer uma série de atividades. tema e enredo, cujo desenvolvimento depende somente
A idéia central na forma de organizar o espaço para da vontade de quem brinca (RCNEI, 1998).
a realização de atividades é que as mesmas sejam plane- Verifica-se no RCNEI (BRASIL, 1998) que o brincar
jadas de acordo com a faixa etária das crianças, envol- apresenta-se por meio de várias categorias de experiên-
vendo atividades lúdicas, que levem em conta as diver- cia que são diferenciadas pelo uso do material ou dos
sas formas de linguagem: música, faz-de-conta, teatro, recursos predominantemente implicados.
imitação, dança, desenhos, literatura, etc. Ao organizar Dentre essas categorias, o RCNEI (1998) destaca o
o espaço, o educador deve levar em consideração todas as movimento e as mudanças da percepção, resultantes da
dimensões humanas potencializadoras nas crianças: o imagi- mobilidade física das crianças, a relação com os objetos
nário, o artístico, o lúdico, o afetivo e o cognitivo. Este espaço e suas propriedades físicas, bem como a combinação e
não pode ser visto como um mero lugar da sala de aula. associação entre eles, os conteúdos sociais, os limites
A medida que o educador pensa em sua ação peda- definidos pelas regras, entre outros. Essas categorias de
gógica, há uma preocupação também com os materiais a experiências podem ser agrupadas em três modalidades
serem utilizados, bem como a realidade pela qual a ins- básicas, quais sejam, brincar de faz-de-conta ou com pa-
tituição está inserida. Faz-se necessário que ao definir o péis, considerada como atividade fundamental da qual
espaço a ser utilizado, o educador pense na estratégia se originam todas as outras, brincar com materiais de
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

de utilização, e nas atividades que irá desenvolver. Para construção e brincar com regras.
tanto, o espaço interno como o externo da educação in-
fantil, deve permitir o fortalecimento da independência Nesse sentido, o brincar deve se constituir em ativida-
da criança, favorecendo o autoconhecimento e desen- de permanente no cotidiano da educação infantil e a or-
volvimento de habilidades afetivas, cognitiva e social. ganização do espaço/tempo para o desenvolvimento das
atividades se faz necessário e fundamental para desper-
De acordo com o Referencial Curricular da Educação tar o interesse das crianças, nas diferentes faixas etárias.
Infantil (BRASIL, 1998), a estruturação do espaço, a forma Quando proporcionamos o brincar, criamos um espaço
como estão organizados os materiais, a qualidade e ade- para que as crianças experimentem e descubram o mundo,
quação dos mesmos são elementos essenciais para um de maneira alegre, divertida, dinâmica, criativa. Oportuniza-
projeto educativo. mos que a criança seja feliz, seja humanizada (RCNEI, 1998).

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De acordo com o RCNEI (1998) é válido lembrar que a proposta pedagógica, o tempo, os espaços, materiais,
esta organização do espaço deve ser feita em cooperação conforme o período que atendem as crianças, além do
com a criança que brinca, pois na organização dos brin- calendário não ser elaborado igual os das escolas de en-
quedos e espaços a criança já está imprimindo a sua per- sino fundamental (DCNEI, 1998).
sonalidade, seus desejos e sonhos, mas também recons-
truindo em pequena escala sua representação de mundo. Ao organizar os grupos ou turmas, essas instituições
De acordo com os Parâmetros Nacionais de Qua- têm autonomia para fazer essa ação da maneira que me-
lidade para a Educação Infantil (2006), a qualidade da lhor lhe convém, desde que a mesma esteja explícita em
educação infantil se dá pela definição de papéis e ações sua proposta pedagógica, o que pode ser por faixa etária
delimitadas, tanto na parte financeira, administrativa e (1, 2, 3 anos) ou envolvendo mais de uma faixa etária (0
pedagógica que respeitem a legislação. a 2, 1 a 3 anos, etc), considerando sempre o equilíbrio de
ambos os sexos, nunca ficando sozinhos, sendo sempre
Este documento ressalta o artigo 20 da LDB, que dis- observados pelo professor, visando que para cada pro-
põe que a finalidade da educação infantil é “[...] o de- fessor deve haver na idade de 0 a 2 anos, de 6 à no máxi-
senvolvimento integral da criança até 6 anos de idade mo 8 alunos, 3 anos, 1 professor para cada 15 crianças e,
em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, acima de 4 anos, 1 professor para cada 20 crianças, a sala
complementando a ação da família e da comunidade”. deve comportar esse número de alunos (DCNEI, 1998).
Os PNQEI (2006), são organizados em seções distin-
tas, na qual a primeira seção relaciona-se com as pro- Faz parte da gestão da educação infantil os profis-
postas pedagógicas das instituições de educação infantil, sionais que atuam na área de direção, administração,
visam os princípios éticos relacionados com responsabi- coordenação pedagógica ou geral, estes devem ter no
lidade, solidariedade, respeito, bem como ainda os prin- mínimo o diploma de nível médio, modalidade normal,
cípios políticos referentes a cidadania – direitos e deveres mas preferencialmente curso superior (Pedagogia).
-, criticidade e respeito à ordem democrática e, por fim, E ainda, devem garantir a realização de um trabalho
os princípios estéticos que colaboram com a criticidade, de qualidade com as crianças que frequentam a institui-
ludicidade e diversidade artística e cultural. ção, encaminhando casos de maus tratos e violências
aos órgãos específicos, organizam junto com os demais
As propostas pedagógicas da educação infantil de- profissionais da escola, família e comunidade o registro
vem organizar as atividades das crianças, sendo estas e avaliação da proposta pedagógica, divulgam normas e
estruturadas, espontâneas e livres, interagem com as di- regras da instituição, incentivam a formação continuada
versas áreas do conhecimento, tanto básicos e conheci- dos profissionais, respeitam os direitos e asseguram os
mentos e valores, e que os professores devem atender as deveres de todos os funcionários, respeitando as deci-
necessidades e características das crianças (PNQEI, 2006). sões coletivas, para que aconteça uma educação com
Esta ainda prevê que o trabalho da educação infantil qualidade realizam reuniões entre família e profissionais
deve ter complemento da ação familiar, havendo intera- da educação infantil (DCNEI, 1998).
ção entre as duas. A proposta deve ressaltar a importân- No que diz respeito aos professores da educação
cia de se trabalhar atividades relacionadas à diversidade infantil exige-se dos mesmos a habilitação em nível su-
contra a discriminação de gênero, religião, etnia, neces- perior, Pedagogia ou modalidade Normal, e a formação
sidades especiais, composição familiar e diversos estilos mínima em nível médio, valorizando sempre seu conhe-
de vida, bem como, o respeito e valores dos costumes, cimento no que diz respeito aos direitos e deveres, éti-
cultura local e regional. (PNQEI, 2006). ca profissional, aperfeiçoamento (profissional e pessoal)
Deve visar ainda a inclusão das crianças com necessi- (DCNEI, 1998).
dades especiais, sendo que a educação infantil deve ela- Esses professores devem ainda estar cientes de suas
borar estratégias, orientações e materiais que atendam funções relacionadas a garantir o bem-estar, assegurar o
às necessidades especificas da criança, evidenciando a crescimento e promover o desenvolvimento e habilida-
formação continuada da equipe para atender esses alu- des, visando suas necessidades de saúde (nutrição, hi-
nos, bem como, a adaptação do espaço e equipamentos. giene, descanso e movimentação), bem como proteção,
(PNQEI, 2006). a fim de possibilitar o desenvolvimento de autonomia
permitida ao seu estágio, auxílio nas atividades. Devem
As propostas pedagógicas de educação infantil são realizar atividades ao ar livre, em sala, individual e em
desenvolvidas baseadas nas leis; isso acontece na esco- grupo, sendo estas de escolhas das crianças e do pro-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

lha das concepções, metodologias e estratégias peda- fessor, visando desenvolver a imaginação, curiosidade,
gógicas, respeitando o que ressalta as Diretrizes Curri- capacidade de expressão em suas múltiplas linguagens
culares Nacionais para a Educação Infantil (Parecer CEB (gestos, corpo, plástica verbal, musical, escrita, virtual),
22/98), visando a postura adotada pelos profissionais da possibilitando que a criança expresse seus sentimentos e
educação infantil relacionado ao que foi dito na proposta pensamentos (DCNEI, 1998).
pedagógica. Segundo as DCNEI, 1998, o desenvolvimento de tais
No que diz respeito à gestão da educação infantil, habilidades visa ampliar o conhecimento a respeito do
estas instituições devem funcionar no período diurno mundo, natureza e cultura, criam condições favoráveis
(parcial 4 horas e integral 10 horas no máximo), sem de construção do autoconceito e identidade, valorizando
ultrapassar o tempo que a criança passa com a família. a diversidade estética e cultural brasileira, realização de
Essas instituições por sua vez organizam de sua maneira brincadeiras correspondentes as faixas etárias, valorizam

32
as atitudes de cooperação, respeito à diversidade, orien- Vygotsky (1998, p. 143) afirma que “A segunda esfera
tando a discriminação de gênero, etnia, religião e crian- de atividades que une os gestos e a linguagem escrita é a
ças com necessidades especiais. dos jogos das crianças”. Para o autor, os jogos fazem um
elo entre os gestos e a linguagem escrita. É através dos ob-
Existem outros profissionais que trabalham na equipe jetos que a criança consegue estabelecer símbolos e assim
da instituição de educação infantil, caracterizada como chegar aos signos. De fato, “O mais importante é a utiliza-
equipe de apoio (cozinha, limpeza, secretaria) e especia- ção de alguns objetos como brinquedos e a possibilidade
listas que auxiliam na formação continuada dos profes- de executar, com eles, um gesto representativo. Essa é a
sores. chave para a função simbólica do brinquedo das crianças”.

Os professores, gestores, profissionais de apoio e es- Para a criança qualquer objeto pode ser usado para
pecialistas das instituições de educação infantil devem brincar, até mesmo um pedaço de pau pode ser uma
ter atitudes de confiança, respeito, garantir condições de boneca, uma brincadeira simbólica como esta cheia de
trabalho necessárias ao desempenho de suas funções: significados, pois a criança usa de gestos para brincar.
tempo, espaço, equipamentos e materiais. (DCNEI, 1998). Logo, “[...] o brinquedo simbólico das crianças pode
A infraestrutura das instituições infantis, devem aten- ser entendido como um sistema muito complexo de ‘fala’
der às necessidades de saúde, proteção, alimentação, através de gestos que comunicam e indicam os significa-
descanso, interação, conforto, higiene, além de propiciar dos dos objetos usados para brincar”.
a interação das crianças com as crianças e crianças com Vygostky ressalta que não se pode negar o papel que
adultos, devem aguçar a imaginação e aprendizagem das a brincadeira possui para o desenvolvimento da criança,
crianças. (DCNEI, 1998). pois a mesma contribui para a expansão da linguagem
Nas paredes sugere-se que devem ser expostas as escrita “[...] consideramos a brincadeira de faz-de-conta
produções das crianças, as atividades realizadas, visan- como um dos grandes contribuidores para o desenvolvi-
do ampliar seus conhecimentos. As cores de paredes mento da linguagem escrita – que é um sistema simbo-
e mobílias têm a finalidade de deixar o ambiente mais lismo da segunda ordem”.
aconchegante. Os mobiliários, materiais e equipamentos
devem ser organizados deixando o ambiente confortá- H. Hetzer (apud VYGOSTKY, 1998), realizou vários es-
vel. Brinquedos, equipamentos e materiais pedagógicos tudos sobre a representação simbólica dos objetos, fator
devem ser escolhidos para não trazer problemas à saúde de extrema importância que a criança de três a seis anos
da criança (DCNEI, 1998). são capazes de desenvolver. Concluiu que,
Todos os espaços, materiais e equipamentos presen-
tes na instituição infantil, destinam-se não só às crianças, [...] mais importante desse estudo do desenvolvimen-
mas também à família e profissionais da mesma, aten- to é que, na atividade de brinquedo, a diferença entre
dendo também as necessidades de saúde, segurança, in- uma criança de três e outra de seis anos de idade não
teração, conforto dos profissionais e da família. Na mes- está na percepção do símbolo, mas sim, no modo pelo
ma deve conter um quadro de avisos visível na entrada e qual são usadas as várias formas de representação. Na
nas salas. Deve haver espaços diferentes para atividades nossa opinião, essa é uma conclusão extraordinariamen-
das crianças, dos profissionais, serviço de apoio e acolhi- te importante; ela indica que a representação simbólica
mento da família. no brinquedo é, essencialmente, uma forma particular de
linguagem num estágio precoce, atividade essa que leva,
Ao considerar a importância da organização do tem- diretamente, à linguagem escrita.
po e do espaço na educação infantil, destaca-se a im-
portância de uma ação educativa pautada nas múltiplas Por isso, devemos tomar cuidado ao inserir o brincar e
linguagens. Priorizamos refletir sobre: os gestos e o ato a brincadeira no projeto pedagógico, para não trabalhar-
de brincar; o desenho; a dança e a música; manipulação mos com estes de forma tradicional, que de certa forma
de objetos e materiais artísticos e, a escrita. desvalorizam o brincar (CARVALHO; GUIMARÃES, 2002).

Os gestos e o ato de brincar Sendo assim, os autores acrescentam que

Conforme Vygostky, a escrita tem início com os ges- [...] nas brincadeiras se aprendem e são incorporados
tos, é o signo visual inicial que contém a futura escrita da conceitos, preconceitos e valores. Nelas se expressam
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

criança. Para Vygostky (1988), “[...] os gestos são a escri- nossas múltiplas belezas, como também as mais sutis
ta no ar, e os signos escritos são, freqüentemente, simples e grotescas molezas humanas e sociais. Expressões hu-
gestos que formam fixados [...]”. manas como a competição, a cooperação, a violência,
a brutalidade, a delicadeza, o sentimento de exclusão e
Os gestos são uma representação visual, uma forma inclusão [...] os combinados coletivos, o respeito e o des-
de comunicação que a criança utiliza nos primeiros anos respeito, aparecem de forma contraditória.
de vida. Os rabiscos que as crianças costumam fazer
tendem a ser mais gestos do que desenhamos, pois “[...] Ao brincar a criança participa das construções de re-
Quando ela tem de desenhar o ato de pular, sua mão gras, sendo assim, “[...] as crianças constroem conheci-
começa a fazer os movimentos indicados do pular; o que mentos e vivem relações sociais específicas, repletas de
acaba aparecendo no papel [...]”. valores e significados”.

33
Vygostky “[...] apresenta a criança como sujeito mar- pessoas e com o mundo, incentivando a expressividade
cado pela história e pela sua cultura, que interage com dos indivíduos por meio de comunicação não verbal e
a realidade a partir das suas relações com o mundo e diálogos corporais.
revela uma singularidade própria de suas experiências
culturais e sociais [...]”. Portanto, para Vygotsky (1998), as Barreto (2005) identifica dentre os sentidos estimula-
brincadeiras são consideradas atividades importantes na dos pela dança a expressão artística, a expressão huma-
educação da criança, uma vez que permite o desenvolvi- na, possibilitando também a expressão dos sentimentos,
mento afetivo, motor, cognitivo, social e moral. Promove além de representar uma forma de conhecimento, co-
a aprendizagem de conceitos e a aproximação entre as municação e sensibilização na educação, promovendo o
crianças e delas com os adultos, além de colocá-las em desenvolvimento da criatividade e a liberação da imagi-
contato com si mesma e com o mundo. nação na criança.
A dança pode ser expressa por meio de atividades
Desenho lúdicas, tais como: “jogos, brincadeiras, mímicas, inter-
pretações de músicas”, ou atividades técnicas, como
Existe uma grande relação entre o ato de desenhar “exercícios técnicos de dança, improvisação, atividades
com a linguagem falada e escrita, que esta por sua vez é de conscientização corporal”. Outras formas são as ati-
uma etapa próxima da criança no processo de apropria- vidades inspiradas no cotidiano, como a exploração de
ção do conhecimento. De acordo com K. Buhler, a criança danças e movimentos cotidianos e temas geradores da
consegue desenhar quando a linguagem falada já está cultura brasileira.
bem formada. Seus desenhos são de memória e eles Marques (2005) considera que “[...] a escola, inicial-
não tem nada em comum com o objeto original. Existem mente, estaria mais engajada com as danças criadas com
também os “desenhos de raios-X”, expressão usada por finalidades e intenções artísticas, já que os outros tipos
Buhler na qual a criança desenha partes que na verdade de dança estão disponíveis e mais acessíveis aos alunos
não se pode ver, como por exemplo, o dinheiro dentro no meio em que vivem [...]”. Contudo, Marques (2005)
da carteira. E o desenho que exclui partes do corpo como considera que o professor engajado aos contextos dos
pernas e braços. alunos se torna um propositor e um articulador, entre
estes contextos e o conhecimento em dança a ser desen-
Segundo Sully, “[...] as crianças não se preocupam volvido na escola. Da mesma forma, cabe ao professor,
muito com a representação; elas são muito simbólicas do conectado ao universo sócio-político-cultural dos alunos,
que naturalistas e não estão, de maneira alguma, preocu- escolher e mediar relações entre a dança dos alunos “[...]
padas com a similaridade completa e exata, contentan- seus repertórios pessoais e culturais [...] suas escolhas
do-se com as indicações apenas superficiais”. pessoais de movimento [...]”, a dança dos artistas, tais
como a capoeira, o passista de escola de samba ou um
O desenho é uma simples identificação, sem se preocu- coreógrafo e, o conhecimento em sala de aula, com a
par com detalhes de uma representação. Desta forma, po- intenção de não tornar as experiências vazias, repetitivas
demos dizer que “[...] o desenho das crianças como um es- e enfadonhas.
tágio preliminar no desenvolvimento da linguagem escrita”.
Vygostky afirma ainda a dificuldade de transição, Com relação à música, esta representa uma energia
mas, esclarece que é através do desenho das coisas que que eleva e amplia a percepção infantil. Uma boa mú-
a criança desloca-se para o desenho das palavras. Ele fri- sica multiplica suas ações e auxilia no desenvolvimento
sa que esta transição deve ser feita de maneira natural e da flexibilidade, energia, fluência verbal, além de de-
após este entendimento aperfeiçoar o método da escrita. senvolvimento mental, emocional e espiritual. Além de
Ainda quanto ao desenhar, Vygostky explica que a motivante, a música é um referencial para o ajuste dos
criança tende a desenhar da mesma forma com que rea- movimentos e, portanto, é estimulante tornando-se este
liza o movimento a ser desenhado, pois, “[...] Quando ela um dos objetivos da utilização da mesma.
tem de desenhar o ato de pular, sua mão começa a fazer Por meio da música o professor trabalhará o esque-
movimentos indicativos do pular, que acaba aparecendo ma corporal, uma vez que a criança aponta as partes do
no papel, no entanto é a mesma coisa: traços e pontos corpo enquanto canta determinadas músicas. Passa a
[...]” ter noção de tamanho, além de outras experiências cor-
porais que a música lhe proporciona. Conforme Craidy;
A Dança e a Música Kaercher (2001) “[…] A criança precisa de vivências mais
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

ricas para construir uma imagem de si mesma e a partir


No indivíduo, a dança e a música estimulam áreas de sua identidade corporal, suas possibilidades físicas,
do cérebro que aguçam a percepção, desenvolvendo a suas singularidades”.
sensibilidade, o raciocínio, a concentração, memória e
coordenação motora. Também ajudam na expressão das Além do aspecto envolvendo o esquema corporal, a
emoções, facilitam as relações sociais, o enriquecimento música engloba noções básicas de orientação espacial,
cultural, e auxilia na construção da cidadania. tais como: em cima, embaixo, frente e atrás. Da mesma
No que tange a dança, quando inserida no âmbito da forma, a expressividade da criança se desenvolve, con-
educação infantil, propicia o autoconhecimento, estimu- tudo, as crianças não devem somente imitar os gestos
lando a corporeidade na escola, além de proporcionar de um modelo, no caso o professor, pois essa atitude
aos educandos relacionamentos estéticos com as outras limitaria a criatividade infantil.

34
Craidy; Kaercher (2001) evidenciam que, atualmente, Para elas, alguns objetos podem, de pronto, denotar
existe uma infinidade de produções musicais de qualidade outros, substituindo-os e tornando-se seus signos [...] O
para crianças, nas quais os autores se preocupam com a mais importante é a utilização de alguns objetos como
letra, os arranjos e o ritmo das músicas, além de contar com brinquedo e a possibilidade de executar, com eles, um ges-
intérpretes que expressam emoções diferentes nas canções. to representativo. Essa é a chave para toda a função sim-
O professor deve estimular as crianças a cantarem e bólica do brinquedo nas crianças [...].
se expressarem sem a preocupação com a afinação, pois
trata-se de uma área de conhecimento que muitas vezes Craidy; Kaercher (2001) apontam que as atividades
é negligenciada no processo formativo das crianças. artísticas realizadas pelas crianças devem ter a mediação
A criança que desafina não teve a sorte, ou não teve do professor:
a oportunidade, de conviver num ambiente em que a O professor deve apresentar os mais variados tipos de
confiança e as interações fossem incentivadas. Contudo, suportes planos para os trabalhos bidimensionais: papéis
ela não será uma pessoa desafinada para sempre, tudo e folhas de plástico, pedaços de lixas, tecidos, etc. Mesmo
vai depender do tipo de interação que vai realizar com a que o trabalho seja desenho ou pintura, podemos explo-
música, das oportunidades que terá para cantar e utilizar rar superfícies de objetos tridimensionais como: balões,
sua voz como forma de expressão. caixas de ovos, caixas diversas, objetos industriais [...].

A música permite a criança aprender a combinação Para uma utilização adequada por parte dos alunos,
de sons, bem como atribuir significado a estes sons. “[...] o professor deve fazer um bom uso dos materiais dispo-
É isso que fará dela um ser humano capaz de compreen- níveis, variando os objetos que serão utilizados para que
der os sons de sua cultura e de se fazer entender pelo suas atividades não se tornem cansativas, tanto para si
uso deliberado dessas aprendizagens nas trocas sociais”. próprio, quanto para os alunos. Deve começar a explorar
Além do aspecto cultural envolvendo a música, ela variações de todos os tipos, não apenas em relação ao
também se revela como instrumento de socialização e material, mas principalmente ao espaço.
A aprendizagem com significado para a criança, deve
criação de vínculos entre as crianças e professores. A
ser alicerçada na mediação pedagógica do professor.
música torna-se uma forma de desenvolvimento da lin-
Dessa forma, a criança desenvolve sua criatividade atra-
guagem oral, pois remete à interação do adulto com a
vés da mediação do educador que estimula o aluno a
criança, da interação entre as próprias crianças e também
realizar suas próprias produções artísticas. O professor
dos momentos em que as crianças somente ouvem ou
deve estar em constante aperfeiçoamento e realizando
quando cantam suas músicas.
escolha dos recursos didáticos de forma condizente com
Contudo, Craidy; Kaercher evidenciam que música
a faixa etária das crianças, bem como com os objetivos
não é somente o cantar, mas também a manipulação dos que pretende alcançar.
instrumentos musicais ou objetos sonoros que são ofer- A criança ao ser colocada em contato com materiais
tados às crianças. “As crianças precisam ter experiências diferentes tem a oportunidade de perceber sua verdadei-
concretas com objetos que emitem sons, instrumentos ra utilidade, ampliando seu conhecimento. Craidy; Kaer-
musicais ou outros e formar um vocabulário especifico cher evidenciam a importância da mediação pedagógica
para se referir a eventos sonoros [...]”. do professor para que a criança realize suas atividades:
“[...] é necessária a intervenção do professor para que os
Ainda de acordo com Craidy; Kaercher (2001), o tra- elementos fiquem onde a criança colocou na segunda ou
balho com a música não pode ser mera repetição das terceira vez, antes que rasguem o papel [...]”.
palavras e gestos do professor, sendo importante que
as crianças tenham em mãos objetos musicais para que O contato com diversos materiais provoca novas expe-
possam manipular e criar sons diversos. riências nas crianças. O uso de materiais é como um de-
safio que deve ser estabelecido com as crianças, aumen-
Manipulação de objetos e materiais artísticos tando o grau de dificuldade gradativamente. As crianças
devem ter a oportunidade de experimentar coisas novas,
Segundo Craidy; Kaercher (2001), a criança deve ma- novas texturas. O professor deve acompanhar, mas não
nipular os materiais, livremente, pois experimentar no- fazer pelo aluno, interferindo na sua criatividade.
vas sensações é importante para a criança. No entanto,
é preciso delimitar locais apropriados para desenvolver Ao fazer uso frequente das ferramentas, o aluno de-
suas pinturas. senvolve sua coordenação motora, a criatividade, a sen-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

É através da manipulação de diferentes objetos que a sibilidade. Esse é um trabalho que acontece de forma
criança consegue estabelecer símbolos e, assim, chegar gradual, de acordo com o nível de desenvolvimento da
aos signos, de fato os jogos fazem elo entre os gestos e a criança.
linguagem escrita. Sempre que observamos uma criança Muitos são os materiais que podem ser explorados
brincar podemos notar que em meio a sua brincadeira o pelas crianças, tais como: pedaços de estopa, chumaços
faz-de-conta está sempre presente, uma colher pode ser de algodão, pazinhas de sorvete, talheres, tesouras sem
uma boneca, a vassoura pode ser um avião. As brincadei- pontas, dentre outros. As tesouras servem para cortar e
ras ajudam no desenvolvimento da criança contribuin- também para a criança desenhar no papel e são indica-
do para sua vida e na construção da linguagem escrita. das para as crianças a partir dos três anos, pois é o mo-
Como afirma Vygotsky: mento em que conseguem manuseá-la com apenas uma
mão.

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As crianças, segundo Craidy; Kaercher (2001) tam- a porta para a alfabetização e para que isto aconteça é
bém podem brincar de esculturas com materiais diversos fundamental que a mesma perceba sua utilização no seu
como mistura de água com terra e as massinhas de mo- cotidiano. No entanto, o professor deve ser o mediador
delar, sendo que estas devem ser comestíveis, pois com desse processo.
frequência as crianças as levam à boca devido as suas Vygostky (1998) afirma que “A linguagem escrita
cores chamativas. Quanto aos pigmentos encontramos é constituída por um sistema de signos que designam
na natureza cores variadas e com um custo acessível, os sons e as palavras da linguagem falada, os quais, por
servindo de estímulo para que a criança busque a sua sua vez, são signos das relações e entidades reais [...]”.
volta cores diferentes em plantas, materiais como terra, Assim, o domínio de um complexo sistema de símbolo
sementes e outros. não pode ser alcançado de forma externa e mecânica. Ele
O espaço onde serão realizadas estas atividades deve ainda ressalta que esse domínio é o maior ponto do pro-
ser organizado e os materiais dispostos em locais de fácil cesso de desenvolvimento das funções comportamentais
acesso para as crianças, com exceção daqueles objetos complexas.
que as crianças não poderão manusear sozinhas. Ao tra-
balhar a organização espacial o professor também estará A apropriação da linguagem escrita não segue uma
trabalhando com temas como socialização, utilização co- linha contínua, pois ocorrem transformações. No que diz
letiva de materiais, respeito, cuidados com os materiais respeito a esse assunto, Vygostky afirma que,
escolares.
O RCNEI (2001) aponta como orientações didáticas [...] a história do desenvolvimento da linguagem escri-
que o professor oportunize às crianças momentos para ta nas crianças é plena dessas descontinuidades [...] Mas
que se familiarizem com os procedimentos ligados aos somente a visão ingênua de que o desenvolvimento é um
materiais utilizados, bem como possibilite aos alunos a processo puramente evolutivo, envolvendo nada mais do
reflexão com relação ao resultado obtido. que acúmulos graduais de pequenas mudanças e uma
conversão gradual de uma forma em outra, pode-se es-
Escrita condermos a verdadeira natureza desses processos. Esse
tipo revolucionário de desenvolvimento, no entanto, de
No item anterior, destacamos a importância do desen- maneira nenhuma é novo para a ciência em geral; é novo
volvimento intelectual na criança, porém neste, ressalta- somente para a psicologia da criança. Portanto, apesar
remos a forma com que a mesma se apropria da escrita.
de algumas tentativas ousadas, a psicologia infantil não
Luria (1929), fez várias pesquisas quanto ao processo de
possui uma visão convincente do desenvolvimento da lin-
simbolização na escrita, desenvolveu experiências com as
guagem da escrita como um processo histórico, como um
crianças e fez várias comparações. Baseado nos estudos
processo unificado de desenvolvimento.
de Luria, Vygostky acredita que, “[...] Gradualmente, as
crianças transformam esses traços indiferenciados. Sim-
Vygostky (1998) afirma ainda que o segredo está em
ples sinais indicativos e traços e rabiscos simbolizadores
a criança sentir a necessidade de ler e escrever, no dia-
são substituídos por pequenas figuras e desenhos, e es-
-a-dia, por isso não se deve ensinar a criança somente as
tes, por sua vez, são substituídos por signos”.
escritas das letras, mas, a linguagem da escrita.
Para Vygostky (1998, p. 153), Tendo em vista que o RCNEI (1998), DCNEI (1998) e os
PCNEI (2006) ressaltam a importância da organização do
[...] a criança precisa fazer uma descoberta básica – a tempo e espaço na educação infantil, destacou-se nes-
de que se pode desenhar, além de coisas também fala. Foi te capítulo algumas reflexões que priorizam uma prática
essa descoberta, e somente ela, que levou a humanidade pedagógica pautada nas múltiplas linguagens.
ao brilhante método da escrita por letras e frases; a mes-
ma descoberta conduz as crianças à escrita literal. Do pon- Evidenciou-se que os gestos e o brincar proporcio-
to de vista pedagógico, essa transição deve ser propiciada nam a criança o início do que será sua escrita futura-
pelo deslocamento da atividade da criança do desenhar mente, uma vez que trata-se de uma primeira forma de
coisas para o desenhar a fala. comunicação infantil. Quando a criança brinca ela está
socializando-se com as demais crianças e estimulando
O desenvolvimento da linguagem escrita, segundo sua comunicação. Com o desenho a criança se expressa
Vygotsky (1998) se dá pelo deslocamento do desenho e estimula o desenvolvimento da escrita que será uma
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

de coisas, para o desenho de palavras. Na verdade, o se- fase futura.


gredo do ensino da linguagem escrita é preparar para A dança e a música representam grande estímulo a
organizar adequadamente essa transição de maneira na- criança, aguçando sua sensibilidade, criatividade e de-
tural. Após ser alcançado esse processo, a criança passa a senvolvendo, ao mesmo tempo, a coordenação motora
dominar o princípio da linguagem escrita, desta forma, é e suas emoções. Por meio da manipulação de objetos e
necessário aperfeiçoá-la. materiais artísticos a criança também tem a possibilidade
Portanto, para ser alfabetizada, a criança precisa que- de desenvolver sua criatividade e sua expressividade. Da
rer aprender a ler e escrever, no entanto, é indispensável mesma forma, as brincadeiras de manipulação propiciam
ressaltar que é o professor quem deve mediar esse pro- a criança a construção da linguagem escrita, bem como
cesso, e não abrir mão disso, sendo preciso competência ampliar seu conhecimento.
e responsabilidade. Enfim, é a própria criança que abre

36
Enfim, a escrita é o resultado das diversas experiên- Quando a criança manipula objetos livremente a
cias que a criança realiza durante sua infância, ou seja por criança desenvolve a criatividade, pois a variação desses
meio dos gestos, brincadeiras, manipulações e pelo mo- objetos devem ser constantes, pois são muitos esses ma-
vimento do seu corpo, proporcionado pelas atividades teriais.
envolvendo a dança e a música. Dessa forma, compreen- O professor da educação infantil deve ter uma ação
demos que a escrita forma-se nas mais diversas relações pedagógica que articule as múltiplas linguagens ine-
estabelecidas pela criança no decorrer das atividades que rentes no processo de aquisição do conhecimento, co-
realiza. locando as mesmas em prática para atingir suas metas
Ao finalizar essas reflexões, ressaltamos que a criança educativas. Este professor deve estabelecer regras, desde
não aprende somente por meio da repetição, ou da lei- que estas deem condições para que ele possa realizar um
tura e escrita, mas pelas múltiplas linguagens inerentes excelente trabalho com os alunos. Todavia, se a criança
no processo de apropriação do conhecimento. A infância for reprimida e obrigada a seguir um caminho comum,
é uma fase onde ocorre o desenvolvimento intelectual, igual à de todos, ela não terá como desenvolver sua cria-
emocional, motor e social do ser humano. A criança vive tividade e a capacidade intelectual.
a infância como um momento próprio dela, tendo um
tempo que possibilite diversas linguagens, na qual desta- Fonte: NUNES, C. D. O.; SILVA, J. A. da. As Múltiplas
camos o gesto e o ato de brincar, que a criança ao brincar Linguagens e a Apropriação do Conhecimento pela
utiliza um objeto e o transforma em outro objeto, o que Criança na Educação Infantil.
acaba sendo uma brincadeira simbólica cheia de signifi-
cados, onde a criança usa os gestos para brincar.
Os gestos, neste aspecto, são a primeira forma de co-
municação utilizada pela criança. E, as brincadeiras, por EXERCÍCIO COMENTADO
sua vez determinam regras e desenvolvem nas crianças
os aspectos afetivos, motor, social, moral e cognitivo. 1. (Prefeitura de Piraquara/PR- Professor- CEC/2017)
O Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil
A criança desenha quando sua linguagem falada está é um documento que “se constitui em um conjunto de
bem formada. O desenho é considerado por Vygotsky referências e orientações pedagógicas que visam a con-
como uma fase que antecede à escrita, pois é pelo dese- tribuir com a implantação ou implementação de práticas
nho das coisas que a criança transita para o desenho das educativas de qualidade que possam promover e ampliar
palavras, essa transição deve se dar naturalmente para só as condições necessárias para o exercício da cidadania
então depois haver o aperfeiçoamento da escrita. das crianças brasileiras”. Considerando as especificidades
A dança no ambiente da educação infantil contribui cognitivas, afetivas, emocionais e sociais das crianças de
para que a criança expresse suas emoções, tenham mais zero a cinco anos, o RCNEI (p. 13, 1998) descreve 5 (cin-
facilidade de relacionamento, enriquecendo-a cultural- co) princípios norteadores para a prática educativa, que
mente, bem como auxiliando-a na construção da cida- visam promover o exercício da cidadania. De acordo com
dania e a mesma vivenciar cada momento em seu sig- esses princípios, selecione a alternativa que contempla
nificado. de forma correta as expressões que designam essas ca-
Portanto, a aprendizagem na educação infantil ocorre tegorias, na sequência em que estão colocadas a seguir.
quando existe a participação da criança, pois desde o seu
nascimento ela interage com o meio e com as próprias I. O respeito à dignidade e aos ________das crianças, con-
pessoas destes, o que acaba assim resultando no seu sideradas nas suas diferenças individuais, sociais, econô-
próprio desenvolvimento. micas, culturais, étnicas, religiosas etc.;
Quando dizemos que a criança da educação infan- II. O direito das crianças a ______, como forma particular de
til tem direitos como ser humano, não podemos deixar expressão, pensamento, interação e comunicação infantil;
de ressaltar os documentos que estão relacionados ao III. O acesso das crianças aos __________ disponíveis, am-
direito da criança e ao seu atendimento na educação in- pliando o desenvolvimento das capacidades relativas à
fantil que é o RCNEI, DCNEI e os PNQEI, que demonstram expressão, à comunicação, à interação social, ao pensa-
as políticas estabelecidas em leis que dão prioridade ao mento, à ética e à estética;
atendimento educativo, na qual garantem o desenvolvi-
IV. A socialização das crianças por meio de sua partici-
mento integral da criança, servindo como base para de-
pação e inserção nas mais diversificadas __________, sem
senvolver um trabalho com as múltiplas linguagens nesta
discriminação de espécie alguma;
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

etapa da educação básica.


V. O atendimento aos cuidados essenciais associados à
sobrevivência e ao desenvolvimento de sua __________.
Cabe ressaltar ainda que dentre essas a dança por sua
vez pode ser expressa em várias atividades lúdicas, por
a) direitos, brincar, bens socioculturais, atividades cultu-
meio dos jogos, brincadeiras, interpretações de músicas,
mímica. A música quando bem trabalhada na educação rais, cidadania.
infantil auxilia no desenvolvimento de flexibilidade, ener- b) deveres, estudar, livros, atividades culturais, identida-
gia, no desenvolvimento mental, emocional e espiritual. de.
Assim, o trabalho com a música não deve ser apenas c) cuidados, interagir, livros, práticas sociais, cidadania.
repetitivo, mas sim que as crianças devem cantar e se d) direitos, brincar, bens socioculturais, práticas sociais,
expressar, além de manipular objetos musicais e criar di- identidade.
versos sons. e) deveres, brincar, livros, atividades culturais, cidadania.

37
Resposta: Letra D. De acordo com o RCNEI os direitos Movidas pelo interesse e pela curiosidade e confron-
da criança sempre devem ser preservados nas institui- tadas com as diversas respostas oferecidas por adultos,
ções de ensino considerando a pluralidade social em outras crianças e/ou por fontes de informação, como li-
que vivemos, além disse o direto de brincar e expres- vros, notícias e reportagens de rádio e TV etc., as crianças
sar seus pensamentos e comunicar-se através dessas podem conhecer o mundo por meio da atividade física,
brincadeiras, bem como o acesso dessas crianças aos afetiva e mental, construindo explicações subjetivas e in-
bens socioculturais no contexto em que está inserido dividuais para os diferentes fenômenos e acontecimen-
e a inserção das crianças às práticas sociais mais diver- tos.
sas além de promover cuidados de higiene e alimenta- Quanto menores forem as crianças, mais suas repre-
ção e sobrevivência essências para o desenvolvimento sentações e noções sobre o mundo estão associadas di-
da identidade. retamente aos objetos concretos da realidade conhecida,
observada, sentida e vivenciada. O crescente domínio e
uso da linguagem, assim como a capacidade de intera-
ção, possibilitam, todavia, que seu contato com o mundo
A FORMAÇÃO PESSOAL E SOCIAL DA se amplie, sendo cada vez mais mediado por representa-
CRIANÇA: A CRIANÇA, A NATUREZA ções e por significados construídos culturalmente.
E A SOCIEDADE; AS INTERAÇÕES Na medida em que as experiências cotidianas são
CRIANÇA/CRIANÇA COMO RECURSO mais variadas e os seus critérios de agrupamento não
DE DESENVOLVIMENTO: IDENTIDADE dão mais conta de explicar as relações, as associações
E AUTONOMIA; O DESENVOLVIMENTO passam a serem revistas e reconstruídas. Nesse processo
HUMANO EM PROCESSO DE CONSTRUÇÃO constante de reconstrução, as estruturas de pensamen-
– PIAGET, VYGOSTKY E WALLOM. to das crianças sofrem mudanças significativas que re-
percutem na possibilidade de elas compreenderem de
modo diferenciado tanto os objetos quanto a linguagem
usada para representá-los.
O brincar de faz-de-conta, por sua vez, possibilita
A CRIANÇA, A NATUREZA E A SOCIEDADE
que as crianças reflitam sobre o mundo. Ao brincar, as
crianças podem reconstruir elementos do mundo que as
As crianças refletem e gradativamente tomam cons-
cerca com novos significados, tecer novas relações, des-
ciência do mundo de diferentes maneiras em cada etapa
vincular-se dos significados imediatamente perceptíveis
do seu desenvolvimento. As transformações que ocor-
e materiais para atribuir-lhes novas significações, impri-
rem em seu pensamento se dão simultaneamente ao de-
mir-lhes suas ideias e os conhecimentos que têm sobre si
senvolvimento da linguagem e de suas capacidades de
mesma, sobre as outras pessoas, sobre o mundo adulto,
expressão. À medida que crescem se deparam com fenô- sobre lugares distantes e/ou conhecidos.
menos, fatos e objetos do mundo; perguntam, reúnem Na medida em que se desenvolve e sistematiza co-
informações, organizam explicações e arriscam respos- nhecimentos relativos à cultura, a criança constrói e re-
tas; ocorrem mudanças fundamentais no seu modo de constrói noções que favorecem mudanças no seu modo
conceber a natureza e a cultura. de compreender o mundo, permitindo que ocorra um
Nos primeiros anos de vida, o contato com o mundo processo de confrontação entre suas hipóteses e expli-
permite à criança construir conhecimentos práticos sobre cações com os conhecimentos culturalmente difundidos
seu entorno, relacionados à sua capacidade de perceber nas interações com os outros, com os objetos e fenôme-
a existência de objetos, seres, formas, cores, sons, odo- nos e por intermédio da atividade interna e individual.
res, de movimentar-se nos espaços e de manipular os Nesse processo, as crianças vão gradativamente per-
objetos. Experimenta expressar e comunicar seus desejos cebendo relações, desenvolvendo capacidades ligadas
e emoções, atribuindo as primeiras significações para os à identificação de atributos dos objetos e seres, à per-
elementos do mundo e realizando ações cada vez mais cepção de processos de transformação, como nas expe-
coordenadas e intencionais, em constante interação com riências com plantas, animais ou materiais. Valendo-se
outras pessoas com quem compartilha novos conheci- das diferentes linguagens (oral, desenho, canto etc.), no-
mentos. meiam e representam o mundo, comunicando ao outro
Ao lado de diversas conquistas, as crianças iniciam o seus sentimentos, desejos e conhecimentos sobre o meio
reconhecimento de certas regularidades dos fenômenos que observam e vivem.
sociais e naturais e identificam contextos nos quais ocor- No que se refere ao pensamento, uma das caracte-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

rem. rísticas principais nesta fase é a tendência que a criança


Costumam repetir uma ação várias vezes para cons- apresenta para eleger alguns aspectos de cada situação,
tatar se dela deriva sempre a mesma consequência. Inú- construindo uma lógica própria de interpretação. As
meras vezes colocam e retiram objetos de diferentes hipóteses que as crianças se colocam e a forma como
tamanhos e formas em baldes cheios d’água, consta- resolvem os problemas demonstram uma organização
tando intrigadas, por exemplo, que existem aqueles que peculiar em que as associações e as relações são esta-
afundam e aqueles que flutuam. Observam, em outros belecidas de forma pouco objetiva, regidos por critérios
momentos, a presença da lua em noites de tempo bom subjetivos e afetivamente determinados.
e fazem perguntas interessantes quando a localizam no A forma peculiar de elaboração das regularidades
céu durante o dia. dos objetos e fenômenos, porém, não significa que a for-
mação de conceitos, pela criança, comece forçosamente

38
do concreto, do particular ou da observação direta de Contudo, o professor precisa ter claro que esses do-
objetos e fenômenos da realidade. A formação de con- mínios e conhecimentos não se consolidam nesta etapa
ceitos pelas crianças, ao contrário, se apoia em concep- educacional. São construídos, gradativamente, na medi-
ções mais gerais acerca dos fenômenos, seres, e objetos da em que as crianças desenvolvem atitudes de curiosi-
e, à medida que elas crescem, dirige-se à particulariza- dade, de crítica, de refutação e de reformulação de expli-
ção. Nesse processo, as crianças procuram mencionar os cações para a pluralidade e diversidade de fenômenos e
conceitos e modelos explicativos que estão construindo acontecimentos do mundo social e natural.
em diferentes situações de convivência, utilizando-os em
momentos que lhes parecem convenientes e fazendo AS INTERAÇÕES CRIANÇA/CRIANÇA COMO RE-
uso deles em contextos significativos, formulando-os e CURSO DE DESENVOLVIMENTO: IDENTIDADE E AU-
reformulando-os em função das respostas que recebem TONOMIA;
às indagações e problemas que são colocados por elas
e para elas. Isso significa dizer que a aprendizagem de O desenvolvimento da identidade e da autonomia es-
fatos, conceitos, procedimentos, atitudes e valores não tão intimamente relacionados com os processos de so-
se dá de forma descontextualizada. O acesso das crianças cialização. Nas interações sociais se dá a ampliação dos
ao conhecimento elaborado pelas ciências é mediado laços afetivos que as crianças podem estabelecer com as
pelo mundo social e cultural. outras crianças e com os adultos, contribuindo para que
Assim, as questões presentes no cotidiano e os pro- o reconhecimento do outro e a constatação das diferen-
blemas relacionados à realidade, observáveis pela expe- ças entre as pessoas sejam valorizadas e aproveitadas
riência imediata ou conhecidos pela mediação de relatos para o enriquecimento de si próprias.
orais, livros, jornais, revistas, televisão, rádio, fotografias, Isso pode ocorrer nas instituições de educação infan-
filmes etc., são excelentes oportunidades para a constru- til que se constituem, por excelência, em espaços de so-
ção desse conhecimento. É também por meio da pos- cialização, pois propiciam o contato e o confronto com
sibilidade de formular suas próprias questões, buscar adultos e crianças de várias origens socioculturais, de
respostas, imaginar soluções, formular explicações, ex- diferentes religiões, etnias, costumes, hábitos e valores,
pressar suas opiniões, interpretações e concepções de fazendo dessa diversidade um campo privilegiado da ex-
mundo, confrontar seu modo de pensar com os de ou- periência educativa.
tras crianças e adultos, e de relacionar seus conhecimen- O trabalho educativo pode, assim, criar condições
tos e ideias a contextos mais amplos, que a criança po- para as crianças conhecerem, descobrirem e ressigni-
derá construir conhecimentos cada vez mais elaborados. ficarem novos sentimentos, valores, ideias, costumes e
papéis sociais.
Esses conhecimentos não são, porém, proporcionados
A instituição de educação infantil é um dos espaços
diretamente às crianças. Resultam de um processo de
de inserção das crianças nas relações éticas e morais que
construção interna compartilhada com os outros, no qual
permeiam a sociedade na qual estão inseridas.
elas pensam e refletem sobre o que desejam conhecer.
É preciso reconhecer a multiplicidade de relações que Concepção
se estabelecem e dimensiona-las, sem reduzi-las ou sim-
plificá-las, de forma a promover o avanço na aprendi- A construção da identidade e da autonomia diz res-
zagem das crianças. É preciso também considerar que a peito ao conhecimento, desenvolvimento e uso dos re-
complexidade dos diversos fenômenos do mundo social cursos pessoais para fazer frente às diferentes situações
e natural nem sempre pode ser captada de forma ime- da vida.
diata. Muitas relações só se tornam evidentes na medida A identidade é um conceito do qual faz parte a ideia
em que novos fatos são conhecidos, permitindo que no- de distinção, de uma marca de diferença entre as pes-
vas ideias surjam. Por meio de algumas perguntas e da soas, a começar pelo nome, seguido de todas as caracte-
colocação de algumas dúvidas pelo professor, as crianças rísticas físicas, de modos de agir e de pensar e da história
poderão aprender a observar seu entorno de forma mais pessoal. Sua construção é gradativa e se dá por meio de
intencional e a descrever os elementos que o caracteri- interações sociais estabelecidas pela criança, nas quais
zam, percebendo múltiplas relações que se estabelecem ela, alternadamente, imita e se funde com o outro para
e que podem, igualmente, ser estabelecidas com outros diferenciar-se dele em seguida, muitas vezes utilizando-
lugares e tempos. -se da oposição.
Dada a grande diversidade de temas que este eixo A fonte original da identidade está naquele círculo de
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

oferece, é preciso estruturar o trabalho de forma a es- pessoas com quem a criança interage no início da vida.
colher os assuntos mais relevantes para as crianças e o Em geral a família é a primeira matriz de socialização. Ali,
seu grupo social. As crianças devem, desde pequenas, ser cada um possui traços que o distingue dos demais ele-
instigadas a observar fenômenos, relatar acontecimentos, mentos, ligados à posição que ocupa (filho mais velho,
formular hipóteses, prever resultados para experimentos, caçula etc.), ao papel que desempenha, às suas caracte-
conhecer diferentes contextos históricos e sociais, ten- rísticas físicas, ao seu temperamento, às relações especí-
tar localizá-los no espaço e no tempo. Podem também ficas com pai, mãe e outros membros etc.
trocar ideias e informações, debatê-las, confrontá-las, A criança participa, também, de outros universos
sociais, como festas populares de sua cidade ou bairro,
distingui-las e representa-las, aprendendo, aos poucos,
igreja, feira ou clube, ou seja, pode ter as mais diversas
como se produz um conhecimento novo ou por que as
vivências, das quais resultam um repertório de valores,
ideias mudam ou permanecem.
crenças e conhecimentos.

39
Uma das particularidades da sociedade brasileira é a A passagem da heteronomia para a autonomia supõe
diversidade étnica e cultural. recursos internos (afetivos e cognitivos) e externos (so-
Essa diversidade apresenta-se com características ciais e culturais). Para que as crianças possam aprender
próprias segundo a região e a localidade; faz-se presente a gerenciar suas ações e julgamentos conforme princí-
nas crianças que frequentam as instituições de educação pios outros que não o da simples obediência, e para que
infantil, e também em seus professores. possam ter noção da importância da reciprocidade e da
O ingresso na instituição de educação infantil pode cooperação numa sociedade que se propõe a atender
alargar o universo inicial das crianças, em vista da possi- o bem comum, é preciso que exercitem o autogoverno,
bilidade de conviverem com outras crianças e com adul- usufruindo de gradativa independência para agir, tendo
tos de origens e hábitos culturais diversos, de aprender condições de escolher e tomar decisões, participando do
novas brincadeiras, de adquirir conhecimentos sobre estabelecimento de regras e sanções.
realidades distantes. Assim, é preciso planejar oportunidades em que as
Dependendo da maneira como é tratada a questão crianças dirijam suas próprias ações, tendo em vista seus
da diversidade, a instituição pode auxiliar as crianças a recursos individuais e os limites inerentes ao ambiente.
valorizarem suas características étnicas e culturais, ou Um projeto de educação que almeja cidadãos soli-
pelo contrário, favorecer a discriminação quando é coni- dários e cooperativos deve cultivar a preocupação com
vente com preconceitos. a dimensão ética, traduzindo-a em elementos concretos
A maneira como cada um vê a si próprio depende do cotidiano na instituição.
também do modo como é visto pelos outros. O modo O complexo processo de construção da identidade e
como os traços particulares de cada criança são recebi- da autonomia depende tanto das interações sociocultu-
dos pelo professor, e pelo grupo em que se insere tem rais como da vivência de algumas experiências conside-
um grande impacto na formação de sua personalidade e radas essenciais associadas à fusão e diferenciação, cons-
de sua autoestima, já que sua identidade está em cons- trução de vínculos e expressão da sexualidade.
trução. Um exemplo particular é o caso das crianças com
necessidades especiais. Quando o grupo a aceita em sua Fonte
Referencial Curricular Nacional para a Educação In-
diferença está aceitando-a também em sua semelhança,
fantil volume 2: Formação Pessoal e Social
pois, embora com recursos diferenciados, possui, como
qualquer criança, competências próprias para interagir
O DESENVOLVIMENTO HUMANO EM PROCESSO
com o meio. Vale destacar que, nesse caso, a atitude de
DE CONSTRUÇÃO – PIAGET, VYGOSTKY E WALLON.
aceitação é positiva para todas as crianças, pois muito es-
tarão aprendendo sobre a diferença e a diversidade que
Segundo Silva, as principais interpretações das questões
constituem o ser humano e a sociedade.
relativas à natureza da aprendizagem remetem a um passa-
As crianças vão, gradualmente, percebendo-se e do histórico da filosofia e da psicologia. Diversas correntes
percebendo os outros como diferentes, permitindo que de pensamento se desenvolveram, definindo paradigmas
possam acionar seus próprios recursos, o que representa educacionais como o empirismo, o inatismo ou nativismo,
uma condição essencial para o desenvolvimento da au- os associacionistas, os teóricos de campo e os teóricos do
tonomia. processamento da informação ou psicologia cognitiva.
A autonomia, definida como a capacidade de se con- A corrente do empirismo tem como princípio funda-
duzir e tomar decisões por si próprio, levando em con- mental considerar que o ser humano, ao nascer, é como
ta regras, valores, sua perspectiva pessoal, bem como a uma “tábula rasa” e tudo deve aprender, desde as ca-
perspectiva do outro, é, nessa faixa etária, mais do que pacidades sensoriais mais elementares aos comporta-
um objetivo a ser alcançado com as crianças, um prin- mentos adaptativos mas complexos. A mente é conside-
cípio das ações educativas. Conceber uma educação rada inerte, e as ideias vão sendo gravadas a partir das
em direção à autonomia significa considerar as crianças percepções. Baseado neste pressuposto, a inteligência é
como seres com vontade própria, capazes e competen- concebida como uma faculdade capaz de armazenar e
tes para construir conhecimentos, e, dentro de suas pos- acumular conhecimento.
sibilidades, interferir no meio em que vivem. O inatismo ou nativismo argumenta que a maioria
Exercitando o autogoverno em questões situadas no dos traços característicos de um indivíduo é fixado desde
plano das ações concretas, poderão gradualmente fazê- o nascimento e que a hereditariedade permite explicar
-lo no plano das ideias e dos valores. uma grande parte das diferenças individuais físicas e psi-
Do ponto de vista do juízo moral, nessa faixa etária, cológicas. As formas de conhecimento estão pré-deter-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

a criança encontra-se numa fase denominada de hetero- minadas no sujeito que aprende.
nomia, em que dá legitimidade a regras e valores porque Para os associacionistas, o principal pressuposto con-
provêm de fora, em geral de um adulto a quem ela atri- siste em explicar que o comportamento complexo é a
bui força e prestígio. Na moral autônoma, ao contrário, a combinação de uma série de condutas simples. Como
maturidade da criança lhe permite compreender que as precursores desta corrente são de pensamento pode-se
regras são passíveis de discussão e reformulação, des- citar Edward L. Thorndike e B.F. Skinner e suas respectivas
de que haja acordo entre os elementos do grupo. Além teorias do comportamento reflexo ou estímulo-resposta.
disso, vê a igualdade e reciprocidade como componen- Para Thorndike apud Pettenger e Gooding, o padrão
tes necessários da justiça e torna-se capaz de coordenar básico da aprendizagem é uma resposta mecanicista às
seus pontos de vista e ações com os de outros, em inte- forças externas. Um estímulo provoca uma resposta. Se a
rações de cooperação. resposta é recompensada, é aprendida.

40
Já para Skinner, a ênfase é dada à questão do contro- lizadas na construção de modelos explícitos em formas
le do comportamento pelos reforços que ocorrem com de programas de computador (softwares), gráficos, ar-
a resposta ou após a mesma com o propósito de atingir quiteturas ou outras esquematizações do processamento
metas específicas ou definir comportamentos manifestos. mental, em especial nos sistemas de Inteligência Artificial.
As grandes escolas da corrente dos Teóricos de Cam- Como afirma Sternberg, os psicólogos do processa-
po, são representadas, na Gestalt pelos alemães Werthei- mento da informação estudam as capacidades intelec-
mer, Koffka e Köhler, e na Fenomenologia, por Combs e tuais humanas, analisando a maneira como as pessoas
Snygg (Pettenger e Gooding). Nestas escolas prevalece solucionam as difíceis tarefas mentais para construir
a concepção de que as pessoas são capazes de pensar, modelos artificiais onde estes modelos tem por objetivo
perceber e de responder a uma dada situação, de acordo compreender os processos, estratégias e representações
com as suas percepções e interpretações desta situação. mentais utilizadas pelas pessoas no desempenho destas
Diferentemente das primeiras, em que o comportamento tarefas.
é sequencial, do mais simples ao mais complexo, nesta Complementando esta classificação, Fialho destaca
corrente, o todo ou total é mais que a soma das partes. que os psicólogos cognitivistas procuram compreender
Na Gestalt, o paradigma de aprendizagem é a solu- a “mente” e sua capacidade (realização) na percepção, na
ção de problemas e ocorre do total para as partes. Con- aprendizagem, no pensamento e no uso da linguagem.
siste também na organização dos padrões de percepção. Assim, a organização do conhecimento, o processamen-
Segundo Fialho, na Gestalt há duas maneiras de se to de informações, a aquisição de conceitos, os estilos de
aprender a resolver problemas: pelo aprendizado condu- pensamento, os comportamentos relativos à tomada de
zido ou pelo aprendizado pelo entendimento. Isto signi- decisões e resolução de problemas são alguns dos “pro-
fica que conforme a organização da situação de aprendi- cessos centrais” dos indivíduos dificilmente observáveis e
zagem, dirigida (instrucionista) ou autodirigida (ativa), o que são investigados.
indivíduo aprende, entretanto, deve-se promover situa-
ções de aprendizagem que sejam suficientemente ricas As abordagens cognitivistas clássicas: o construti-
para que o aprendiz possa fazer escolhas e estabelecer vismo de Piaget, o sóciointeracionismo de Vygotsky e
relações entre os elementos de uma situação. Escolher Wallon
entre as quais para ele, aprendiz, conduza a uma estrutu-
ração eficaz de suas percepções e significados. Dentre as teorias mais contemporâneas de aprendi-
Na Fenomenologia, o todo é compreendido de modo zagem, em especial as cognitivistas, destacamos a teoria
mais detalhado, sem realmente fragmentar as partes. construtivista de Jean Piaget e as teorias sociointeracio-
Considera, ainda, entre outras premissas, que a procura nistas de Lev Vygotsky e Henri Wallon devido à perti-
de adequação ou auto atualização do indivíduo é a for- nência com que suas preocupações epistemológicas, cul-
ça que motiva todo o comportamento. A aprendizagem, turais, linguísticas, biológicas e lógico-matemáticas têm
como processo de diferenciação, move-se do grosseiro sido difundidas e aplicadas para o ambiente educacional,
para o refinado. em especial na didática e em alguns dos programas de
Os teóricos do Processamento da Informação ou Psi- ensino auxiliado por computador, bem como sua in-
cologia Cognitiva, de origem mais recente, reúnem di- fluencia no desenvolvimento de novas pesquisas na área
versas abordagens. Estes teóricos estudam a mente e a da cognição e educação.
inteligência em termos de representações mentais e pro-
cessos subjacentes ao comportamento observável. Con- A abordagem construtivista de Jean Piaget
sideram o conhecimento como sistema de tratamento da
informação. As respostas às questões sobre a natureza da apren-
Segundo Misukami, uma abordagem cognitivista impli- dizagem de Piaget são dadas à luz de sua epistemologia
ca em estudar cientificamente a aprendizagem como um genética, na qual o conhecimento se constrói pouco a
produto resultante do ambiente, das pessoas ou de fatores pouco, à medida em que as estruturas mentais e cogniti-
externos a ela. Como as pessoas lidam com estímulos am- vas se organizam, de acordo com os estágios de desen-
bientais, organizam dados, sentem e resolvem problemas, volvimento da inteligência.
adquirem conceitos e empregam símbolos constituem, pois, A inteligência é antes de tudo adaptação. Esta ca-
o centro da investigação. racterística se refere ao equilíbrio entre o organismo e o
meio ambiente, que resulta de uma interação entre assi-
Em essência, na psicologia cognitiva, as atividades milação e acomodação.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

mentais são o motor dos comportamentos. A assimilação e a acomodação são, pois, os motores
Opondo-se à concepção behavorista, os teóricos da aprendizagem. A adaptação intelectual ocorre quan-
cognitivos preocupam-se em desvendar a “caixa preta” do há o equilíbrio de ambas.
da mente humana. A noção de representação é central Segundo discorre Ulbritch, a aquisição do conhe-
nestas pesquisas. A representação é definida como toda cimento cognitivo ocorre sempre que um novo dado é
e qualquer construção mental efetuada a um dado mo- assimilado à estrutura mental existente que, ao fazer esta
mento e em um certo contexto. acomodação modifica-se, permitindo um processo con-
Portanto, memória, percepção, aprendizagem, resolu- tínuo de renovação interna. Na organização cognitiva,
ção de problemas, raciocínio e compreensão, esquemas são assimiladas o que as assimilações passadas prepa-
e arquiteturas mentais são alguns dos principais objetos ram, para assimilar, sem que haja ruptura entre o novo
de investigação da área, cujas aplicações vêm sendo uti- e o velho.

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Pela assimilação, justificam-se as mudanças quantitativas do indivíduo, seu crescimento intelectual mediante a in-
corporação de elementos do meio a si próprio.
Pela acomodação, as mudanças qualitativas de desenvolvimento modificam os esquemas existentes em função das
características da nova situação; juntas justificam a adaptação intelectual e o desenvolvimento das estruturas cognitivas.
As estruturas de conhecimento, designadas por Piaget (Gaonach’h e Golder) como esquemas, se complexificam sobre o
efeito combinado dos mecanismos de assimilação e acomodação. Ao nascer, o indivíduo ainda não possui estas estruturas, mas
reflexos (sucção, por exemplo) e um modo de emprego destes reflexos para elaboração dos esquemas que irão se desenvolver.
As obras de Piaget e de seus interpretantes discorrem sobre os estágios de desenvolvimento da inteligência, que se
efetua de modo sucessivo, segundo a lógica das construções mentais - da inteligência sensório-motora à inteligência
operatório formal, conforme se ilustra sinteticamente no quadro:

Quadro – Estágios do desenvolvimento da inteligência segundo Piaget

ESTÁGIO EQUILÍBRIO LÓGICA ORGANIZADORA


Sensório-motor 18 meses até 2 anos Não há lógica
Operatório concreto - Preparação: entre 2 e 7 anos Lógica das relaçãoes e das transformações sobre
- Equilíbrio: entre 7 e 11 anos o material visível (objetos presentes)
Operatório formal Cerca de 16 anos Lógica desarticulada do concreto

A primeira forma de inteligência é uma estrutura sensório motora, que permite a coordenação das informações
sensoriais e motoras. Surge aos cerca de 18 meses. Consuma-se e equilibra-se entre os 18 meses e 2 anos.
No estágio das operações concretas, esta estrutura (equilibrada) se acha aperfeiçoada: o que a criança teria adqui-
rido no nível da ação, ela vai aprender a fazer em pensamento. Precede de uma fase de preparação entre 2 e 7 anos e
se equilibra entre 7 e 11 anos.
No estágio das operações formais, operam-se novas modificações e deve se equilibrar para poder se aplicar, não
mais aos objetos presentes, mas aos objetos ausentes, hipotéticos.
O desenvolvimento das estruturas mentais segue uma lógica de construção semelhante aos estudos da lógica, ou
seja, que o desenvolvimento da inteligência em seus sucessivos estágios segue uma lógica coerente, tal que pode ser
descrita em suas estruturas.
Segundo levantou Ulbritch, a equilibração, enfatizada no quadro 2.1, é um mecanismo autorregulador, necessário
para garantir uma eficiente integração com o meio. Quando um indivíduo sofre um desequilíbrio, de qualquer natureza,
o organismo vai buscar o equilíbrio, assimilando ou acomodando um novo esquema.

A autora relaciona quatro fatores determinantes do desenvolvimento cognitivo: A equilibração é o primeiro e cons-
titui-se no nível de processamento das reestruturações internas, ao longo da construção sequencial dos estágios.
O segundo é a maturação, relacionado à complexificação biológica da maturação do sistema nervoso.
Já o terceiro fator é a interação social, relacionado com a imposição do nível operatório das regras, valores e signos
da sociedade em que o indivíduo se desenvolve e com as interações que compõem o grupo social.
O quarto é referente à experiência ativa do indivíduo. Sobre este fator Misukami afirma que podem ocorrer de três
formas:
- devido ao exercício, resultando na consolidação e coordenação de reflexos hereditários e exercício de operações
intelectuais aplicadas ao objeto;
- devido à experiência física, referente à ação sobre o objeto para descobrir as propriedades que são abstraídas
destes, sendo que o resultado da ação está vinculado ao objeto;
- devido à experiência lógico - matemática, resultantes da ação sobre os objetos, de forma a descobrir propriedades
que são abstraídas destas pelo sujeito. Consistem em conhecimentos retirados das ações sobre os objetos, típi-
cas do estágio operatório formal, que é resultado da equilibração. A condição para que seja obtida é a interação
do sujeito com o meio.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Piaget não desenvolveu uma teoria da aprendizagem, mas sua teoria epistemológica de como, quando e por que
o conhecimento se constrói obteve grande repercussão na área educacional. Predominantemente interacionistas, seus
postulados sobre desenvolvimento da autonomia, cooperação, criatividade e atividade centrados no sujeito influen-
ciaram práticas pedagógicas ativas, centradas nas tarefas individuais, na solução de problemas, na valorização do erro
e demais orientações pedagógicas.
No plano da informática, o trabalho de Piaget tem contribuído para modelagens computacionais na área de IA em
educação, desenvolvimento de linguagens de programação e outras modalidades de ensino auxiliado por computador
com orientação construtivista.
Dentre os vários programas existentes, o mais popular é o LOGO, caracterizado como ambiente informático emba-
sado no construtivismo. Neste ambiente o indivíduo constrói, ele próprio, os mecanismos do pensamento e os conhe-
cimentos a partir das interações que tem com seu ambiente psíquico e social.

42
A abordagem sociointeracionista do desenvolvi- Conflitos se instalam nesse processo e são de origem
mento cognitivo de Lev Vygotsky exógena quando resultantes dos desencontros entre as
ações da criança e o ambiente exterior, estruturado pelos
Os trabalhos de Vygotsky centram-se principalmente adultos e pela cultura e endógenos e quando gerados
na origem social da inteligência e no estudo dos proces- pelos efeitos da maturação nervosa. Esses conflitos são
sos sóciocognitivo. propulsores do desenvolvimento.
Segundo Gilli e Gaonach’h, Vygotsky distingue duas Os cinco estágios de desenvolvimento do ser huma-
formas de funcionamento mental: os processos mentais no apresentados por Galvão sucedem-se em fases com
elementares e os superiores. predominância afetiva e cognitiva:
Os processos mentais elementares correspondem ao Impulsivo-emocional, que ocorre no primeiro ano de
estágio de inteligência sensório-motora de Piaget e são vida. A predominância da afetividade orienta as primeiras
resultantes do capital genético da espécie, da maturação reações do bebê às pessoas, às quais intermediam sua
biológica e da experiência da criança com seu ambiente relação com o mundo físico;
físico. Sensório-motor e projetivo, que vai até os três anos.
Já as funções psicológicas superiores, ressalta Olivei- A aquisição da marcha e da prensão, dão à criança maior
ra, são construídas ao longo da história social do homem. autonomia na manipulação de objetos e na exploração
Como? Na sua relação com o mundo, mediada pelos ins- dos espaços. Também, nesse estágio, ocorre o desenvol-
trumentos e símbolos desenvolvidos culturalmente, fa- vimento da função simbólica e da linguagem. O termo
zendo com que o homem se distinga dos outros animais projetivo refere-se ao fato da ação do pensamento pre-
nas suas formas de agir no e com o mundo. cisar dos gestos para se exteriorizar. O ato mental “proje-
ta-se” em atos motores. Como diz Dantas, para Wallon, o
Fialho destaca que, para Vygotsky, o desenvolvimento ato mental se desenvolve a partir do ato motor;
humano compreende um processo dialético, caracteriza- - Personalismo, ocorre dos três aos seis anos. Nesse
do pela periodicidade, irregularidade no desenvolvimen- estágio desenvolve-se a construção da consciência
to das diferentes funções, metamorfose ou transforma- de si mediante as interações sociais, reorientando
ção qualitativa de uma forma em outra, entrelaçando o interesse das crianças pelas pessoas;
fatores internos e externos e processos adaptativos. - Categorial. Os progressos intelectuais dirigem o in-
A maturação biológica e o desenvolvimento das fun- teresse da criança para as coisas, para o conheci-
ções psicológicas superiores dependem, conforme Fialho, mento e conquista do mundo exterior;
do meio social, que é essencialmente semiótico. Apren- - Predominância funcional. Ocorre nova definição dos
dizado e desenvolvimento interagem entrelaçados nessa contornos da personalidade, desestruturados de-
dialética de forma que um acelere ou complete o outro. vido às modificações corporais resultantes da ação
Gilli diz que a relação entre educação, aprendizagem hormonal. Questões pessoais, morais e existenciais
e desenvolvimento vem em primeiro lugar. Já o papel são trazidas à tona.
da mediação social nas relações entre o indivíduo e seu
ambiente (mediado pelas ferramentas) e nas atividades O referido autor ressalta ainda que na sucessão de es-
psíquicas intraindividuais (mediadas pelos signos) em
tágios há uma alternância entre as formas de atividades
segundo lugar, e, a passagem entre o interpsíquico e o
e de interesses da criança, denominada de “alternância
intrapsíquico nas situações de comunicação social, em
funcional”, onde cada fase predominante (de dominân-
terceiro lugar. Estes são os três princípios fundamentais,
cia, afetividade, cognição), incorpora as conquistas rea-
totalmente interdependentes nos quais Vygotsky susten-
lizadas pela outra fase, construindo-se reciprocamente,
ta a teoria do desenvolvimento dos processos mentais
num permanente processo de integração e diferenciação.
superiores.

A abordagem de Henri Wallon Outras abordagens sobre aprendizagem

A gênese da inteligência para Wallon é genética e or- Outras correntes teóricas buscaram aprofundar e/ou
ganicamente social, ou seja, “o ser humano é organica- explicar as teorias mais representativas, propondo inclu-
mente social e sua estrutura orgânica supõe a interven- sive novas abordagens para compreensão dos processos
ção da cultura para se atualizar”. de desenvolvimento cognitivo e aprendizagem. Dentre
Nesse sentido, a teoria do desenvolvimento cognitivo elas destacam-se:
de Wallon é centrada na psicogênese da pessoa com- - Albert Bandura, que levanta uma abordagem de
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

pleta. aprendizagem social e o papel das influências so-


Para Galvão, o estudo de Wallon é centrado na crian- ciais na aprendizagem.
ça contextualizada, onde o ritmo no qual se sucedem as - J. S. Bruner e a teoria de que o desenvolvimento
etapas do desenvolvimento é descontínuo, marcado por cognitivo se dá numa perspectiva de tratamento
rupturas, retrocessos e reviravoltas, provocando em cada da informação, que ocorre de três modos: inativo,
etapa profundas mudanças nas anteriores. onde a informação é representada em termos de
Nesse sentido, a passagem dos estágios de desenvol- ações especificadas e habituais (caminhar, andar
vimento não se dá linearmente, por ampliação, mas por de bicicleta); o modo icônico, onde a informação é
reformulação, instalando-se no momento da passagem representada em termos de imagens, e, simbólica,
de uma etapa a outra, crises que afetam a conduta da onde a informação é apresentada sobre a forma de
criança. um esquema arbitrário e abstrato.

43
- Maturana e Varela, que não desenvolveram um es- Na prática escolar convencional, a concretização das
tudo sobre a cognição especificamente, mas sua condições de aprendizagem que asseguram a realização
teoria sobre o homem como um sistema auto- do trabalho docente, estão pautadas nas teorias deter-
poiético tem influenciado bastante a construção minando as tendências pedagógicas. Estas práticas pos-
de modelos computadorizados. Os autores enten- suem condicionantes psico sociopolíticos que configu-
dem que os seres vivos são um tipo particular de ram concepções inteligência e conhecimento, de homem
máquinas homeostáticas. A ideia de autopoiesis é e de sociedade. Com base nesses condicionantes, dife-
uma expansão da ideia de homeostase, no sentido rentes pressupostos sobre o papel da escola, a aprendi-
em que ela transforma todas as referências da ho- zagem, a relações professor-aluno, a recursos de ensino
meostase em internas ao sistema e, afirma ou pro- e o método pedagógico .... Influenciam e orientam a di-
duz a identidade do sistema. O sistema autopoié- dática utilizada.
tico é organizado como uma rede de processos de Os programas educacionais informatizados, dos di-
produção de componentes que se regeneram con- versos tipos, igualmente contém implícito ou explicita-
tinuamente, pela sua transformação e interação, a mente (ou no uso educacional que se faz deles) os pres-
rede que os produziu e que constituem o sistema supostos teórico metodológicos desses condicionantes).
enquanto uma unidade concreta no espaço onde
ele existe, especificando o domínio topológico Fonte
onde ele se realiza como rede. SILVA, C. R. O.
- Robert M. Gagné, que compartilha dos enfoques
behavioristas e cognitivistas em sua teoria. Para ele,
as fases da aprendizagem se apresentam associadas
aos processos internos que, por sua vez, podem ser EXERCÍCIO COMENTADO
influenciados por processos externos. Para Gagné, a
aprendizagem é um processo de mudança nas ca- 1. (Prefeitura de Maria Helena/PR- Professor Educa-
pacidades do indivíduo, no qual se produz estados ção Infantil- FAFIPA/2017) No volume “Formação Pes-
persistentes e é diferente da maturação ou desen- soal e Social” do Referencial Curricular Nacional para a
volvimento orgânico. A aprendizagem se produz Educação Infantil, há orientações sobre os cuidados que
usualmente mediante interação do indivíduo com o professor deve ter com as crianças das creches e pré-
seu meio (físico, social, psicológico). As oito fases que -escolas. Sobre esse aspecto, é CORRETO afirmar:
constituem o ato de aprendizagem de Gagné.
- Paulo Freire não desenvolveu uma teoria da apren- a) Recomenda-se que seja sempre o mesmo adulto que
dizagem, mas seus postulados sobre a pedagogia alimente e cuide dos bebês com menos de seis meses,
problematizadora e transformadora enfatizam pois nesta fase o vínculo é fundamental.
uma visão de mundo e de homem não neutro. As- b) As aquisições de aprender a usar talheres, tomar líqui-
sim. o homem é um ser no mundo e com o mundo. dos na caneca, diminuir o uso da mamadeira, partilhar
A inspiração de seu trabalho nasce de dois con- das refeições à mesa com os companheiros, não são
ceitos básicos: a noção de consciência dominada tarefas para serem aprendidas na escola.
mais dois elementos subjetivos que a compõem c) É importante que o horário de sono e repouso seja
e a ideia de que há determinadas estruturas que padronizado para todas as crianças, permitindo que
conformam o modo de pensar e agir das pessoas. todas tenham o mesmo ritmo em todas as atividades.
Essas estruturas impregnam o comportamento d) Os professores não necessitam saber os procedimen-
subjetivo à percepção e à consciência que cada in- tos diante de crianças com sinais de mal-estar, como
divíduo ou grupo tem dos fenômenos sociais. febre, vômito, convulsão ou sangramento nasal, pois
- Howard Gardner muito tem contribuído para o pro- sua tarefa é exclusivamente educacional.
cesso educacional. Ele defende que o ser huma-
no possui múltiplas inteligências, ou um espectro Resposta: Letra A. Quanto menor a criança, mais as
de competências manifestadas pela inteligência. atitudes e procedimentos de cuidados do adulto tem
Todas essas competências estão presentes no in- importância fundamental para o trabalho educativo
divíduo, sendo `que se manifestam com maior ou que realiza com ela. Na faixa de zero a seis anos os
menor intensidade, tornando o indivíduo mais ou cuidados essenciais assumem um caráter prioritário na
menos deficiente, mais ou menos competente educação institucional das crianças.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

dentro de uma ou várias dessas competências. Em Sendo assim, no ato de alimentar ou trocar uma crian-
sua teoria, defende que os indivíduos aprendem de ça pequena não é só o cuidado com a alimentação
maneiras diferentes e apresentam diferentes confi- e higiene que estão em jogo, mas a interação afetiva
gurações e inclinações intelectuais. Destaca, ainda, que envolve a situação. Ser carregado ao colo e, ao
veementemente, o papel da educação no desen- mesmo tempo, ter o seio ou mamadeira para mamar
volvimento global e aplicação das inteligências. é uma experiência fundamental para o ser humano.
As inteligências múltiplas a que se refere Garder Na relação estabelecida, por exemplo, no momento
são: a lógico-matemática, a linguística, a espacial, de tomar a mamadeira, seja com a mãe ou com o pro-
a musical, a corporal- sinestésica, a interpessoal e fessor de educação infantil, o binômio dar e receber
a intrapessoal. possibilita às crianças aprenderem sobre si mesmas e
estabelecerem uma confiança básica no outro e em

44
suas próprias competências. Elas começam a perce- cem elementos relacionados às mais diversas linguagens
ber que sabem lidar com a realidade, que conseguem e ao contato com os mais variados conhecimentos para a
respostas positivas, fato que lhes dá segurança e que construção de uma identidade autônoma.
contribui para a construção de sua identidade. Desta Sendo assim, há necessidade de discussões sobre te-
forma, é importante que no início a criança seja ali- máticas que estejam presentes no cotidiano das práticas
mentada sempre pelo mesmo adulto pois essa situa- dos professores, pois estas se tornam cada vez mais im-
ção irá possibilitar o desenvolvimento da segurança portantes, visto a real necessidade sobre o conhecimento
de modo que ela irá aos poucos se sentir acolhida e do desenvolvimento infantil.
atendida no novo ambiente. Percebe-se ainda há uma grande preocupação com
o desenvolvimento cognitivo na Educação Infantil, preva-
lecendo à ideia, muitas vezes, de que este nível da edu-
cação básica é uma etapa preparatória para o ingresso
O DESENVOLVIMENTO DA da criança no ensino fundamental. Desta forma algumas
MOTRICIDADE: A IMPORTÂNCIA DA práticas pedagógicas de aprendizagem têm maior des-
PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO taque e são mais desenvolvidas, assim muitas vezes são
INFANTIL; A PSICOMOTRICIDADE NO deixados de lado aspectos primordiais no desenvolvi-
DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA; mento da criança como o movimento e a expressividade,
O LÚDICO E O DESENVOLVIMENTO aspectos estes que envolvem o corpo que se move se ex-
PSICOMOTOR. O PAPEL DA EDUCAÇÃO pressa e se relaciona. Segundo Garanhani (2008, p. 128):
PSICOMOTORA NA ESCOLA. A escola da pequena infância, ao proporcionar um
meio favorável ao desenvolvimento infantil nos seus di-
versos domínios - a afetividade, a cognição e o movimen-
Pontuam Santa Clara e Finck, que segundo o Referen- to, realiza a mediação entre a criança e o conhecimento
cial Curricular Nacional para a Educação Infantil – RCNEI culturalmente construído e traduzido em diferentes lin-
(BRASIL, 1998), a expansão da educação infantil no Brasil guagens: oral, corporal, musical, gráfico-pictórica e plás-
e no mundo tem ocorrido de forma crescente nas últimas tica. Ao mesmo tempo, desenvolve na criança habilida-
décadas, acompanhando a intensificação da urbanização, a des para a expressão e comunicação.
participação da mulher no mercado de trabalho e as mu- Ainda dentro desse contexto, Garanhani (2008, p. 129)
danças na organização e estrutura das famílias. Por outro afirma que: Para que o conhecimento e o desenvolvimento
de diferentes linguagens estejam presentes na educação da
lado, a sociedade está mais consciente da importância das
pequena infância, é necessário estar atento ao fazer peda-
experiências na primeira infância, o que motiva demandas
gógico da Educação Infantil, que deverá contemplar ações
por uma educação institucional para educação infantil.
pedagógicas que privilegiem diversas formas de interação e
Desta forma a Educação Infantil tem obtido certa va-
comunicação da criança com o meio e com seu grupo. Essa
lorização, sendo objeto de discussões realizadas pelos
condição está diretamente atrelada à formação da educado-
professores e demais profissionais interessados no de-
ra responsável pela escolarização dessa idade.
senvolvimento infantil. Nesse sentido o RCNEI (BRASIL,
A psicomotricidade como ciência que estuda o movi-
1998) se manifesta dizendo: mento humano, considerando o ser em sua totalidade é
A conjunção desses fatores ensejou um movimento um meio que auxilia para um melhor desenvolvimento.
da sociedade civil e de órgãos governamentais para que Wallon (2005) pioneiro nos estudos da psicomotricida-
o atendimento às crianças – na idade da educação infan- de ressalta sua importância e relaciona o movimento ao
til - fosse reconhecido na Constituição Federal de 1988. A afeto e a emoção. Segundo Fonseca (2008), para Wallon,
partir de então, a educação infantil em creches e pré-es- a evolução da criança processa-se em uma dialética de
colas passou a ser, ao menos do ponto de vista legal, um desenvolvimento na qual entram em jogo inúmeros fato-
dever do Estado e um direito da criança (artigo 208, inci- res: metabólicos, morfológicos, psicotônicos, psicoemo-
so IV). O Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990, cionais, psicomotores e psicossociais.
destaca também o direito da criança a este atendimento. A falta do desenvolvimento dos esquemas psico-
A Educação Infantil tem obtido certa valorização e motores vem se destacando de forma recorrente como
aparece com discussões e nova identidade com uma uma das causas das dificuldades de aprendizagem das
preocupação de qualidade. Segundo o RCNEI (BRASIL, crianças. Estudos de vários pesquisadores, indicam que
1998), afirma: os aspectos psicomotores interferem na aprendizagem
Nas últimas décadas, os debates em nível nacional escolar dos alunos, embora poucos professores saibam
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

e internacional apontam para a necessidade de que as realmente a verdadeira importância sobre o desenvolvi-
instituições de educação infantil incorporem de maneira mento desses pressupostos psicomotores, principalmen-
integrada as funções de educar e cuidar, não mais dife- te na Educação Infantil.
renciando nem hierarquizando os profissionais e institui- Uma proposta de educação psicomotora na Educa-
ções que atuam com as crianças pequenas e/ou aqueles ção Infantil desenvolve uma postura adequada para a
que trabalham com as maiores. As novas funções para aprendizagem da criança com caráter preventivo em re-
a educação infantil devem estar associadas a padrões lação ao seu desenvolvimento integral nas várias etapas
de qualidade. Essa qualidade advém de concepções de de crescimento.
desenvolvimento que consideram as crianças nos seus Assim, surge a necessidade de que os professores
contextos sociais, ambientais, culturais e, mais concreta- que atuam na Educação Infantil tenham a formação e o
mente, nas interações e práticas sociais que lhes forne- conhecimento sobre as práticas psicomotoras na escola.

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O educador deve estar atento a qualquer alteração no acontece multiplicando as possibilidades de exploração
desenvolvimento motor da criança, para que assim ocor- no ambiente, sobretudo em relação ao objeto novo. Se-
ra um bom desenvolvimento cognitivo e integral. Dar iní- gundo Le Boulch (1988): [...] no fim do período sensório
cio nos primeiros anos de vida às práticas psicomotoras é motor, que Piaget situa entre 15 a 18 meses, é adquirida
fundamental para o desenvolvimento infantil. a permanência do objeto. Depois da experiência tônica
Para Garanhani (2008): Wallon (1979) ressalta que, na emocional frente às pessoas, vai desenvolver-se a expe-
pequena infância, o ato mental se desenvolve no ato mo- riência motora intencional frente ao objeto. É através da
tor, ou seja, a criança pensa quando está realizando a ação atividade práxica que a criança vai descobrir sua existên-
e isso faz com que o movimento do corpo ganhe um papel cia e como pessoa ela vai conquistar a sua unidade atra-
de destaque nas fases iniciais do desenvolvimento infantil. vés da experiência vivenciada com o corpo eficazmente.
A criança ao ingressar na escola, independentemente Dessa forma a criança descobre e conquista o seu
da idade em que se encontra, traz consigo saberes sobre meio a cada dia. Estímulos externos organizam o com-
os movimentos que realiza com o seu corpo, os quais portamento, principalmente na relação mãe e filho. Nesta
são apropriados e construídos nos diferentes espaços e fase a criança faz descobertas através de suas experiên-
relações em que vive (GARANHANI, 2008). Desse modo, cias da diversidade de pessoas que vivem em seu meio.
a escola poderá sistematizar e ampliar o conhecimento A etapa do corpo vivido termina na primeira imagem do
da criança sobre o seu movimentar. corpo identificado pela criança como seu próprio EU.
Segundo Costa (2007): [...] até o fim do século XVIII o Na segunda etapa que engloba a idade entre os três
corpo foi visto sob a ótica filosófica. Só a partir do século aos sete anos, inicia-se a etapa do corpo percebido ou
XIX passou a ser considerado como objeto, sujeito a estu- descoberto. Segundo Le Bouch, (1988): A emergência
dos sistemáticos e profundos no âmbito da experimenta- da função de interiorização, contemporânea do reconhe-
ção. Como objeto de estudo, o corpo despertava interesse cimento de seu próprio Eu, vai permitir-lhe deslocar sua
nos diversos seguimentos da ciência. A neuropsicologia e atenção sobre seu “próprio corpo” e descobrir suas pró-
a neurologia foram as primeiras a estudá-lo de forma sis- prias características corporais. Começa o período de estru-
temática e experimental, na tentativa de compreender a
turação do esquema corporal, etapa importante na evo-
estrutura e funcionamento cerebral, bem como suas pa-
lução da imagem do corpo, sendo este o instrumento de
tologias. Mais tarde, o corpo passou a ser estudado pela
inserção na realidade.
Psicologia e pela Psicanálise a fim de compreender a evo-
Nesta fase a criança passa a ter uma maior coordena-
lução da inteligência e suas perturbações.
ção, desta forma obtém consciência do seu corpo como
Os aspectos do movimento começam ainda no útero,
referência e inicia o conhecimento de conceitos relacio-
mesmo antes de qualquer outra forma de comunicação,
nados a espaço e tempo tais como em cima, em baixo,
logo após o nascimento e mesmo antes da criança ad-
adiante e atrás. Segundo Oliveira (2008) a criança: [...]
quirir a linguagem propriamente dita, ela já se comunica
tendo o movimento como uma resposta às suas neces- percebe as tomadas de posições e associa seu corpo aos
sidades diárias, pois através destes consegue manifestar objetos da vida quotidiana. Ela chega à representação
sentimentos e anseios, e se relacionar com o meio em mental dos elementos do espaço e isto é possível graças
que vive. à primeira fase de descoberta e experiências vividas pela
Na concepção de Le Boulch (1988), a evolução psi- criança. Ela descobre sua dominância e com ela seu eixo
comotora se divide em três estágios: corpo vivido, corpo corporal. Passa a ver seu corpo como um ponto de refe-
percebido ou descoberto e corpo representado. rência para se situar e situar os objetos em seu espaço e
A primeira etapa é a do corpo vivido que compreende tempo. Este é o primeiro passo para que ela possa, mais
ao período sensório motor descrito por Piaget, seria a tarde, chegar à estruturação espaciotemporal.
fase dos primeiros anos de vida (0 a 3 anos), nela a criança Segundo Le Boulch, (1988), o período de três a sete
não tem consciência do eu confundindo-se com o espa- anos corresponde ao estágio da “estruturação percep-
ço que vive. Com seu amadurecimento e suas experiên- tiva”, o qual deve responder a dois grandes objetivos:
cias do cotidiano a criança passa aos poucos diferenciar- [...] permitir a criança alcançar seu desabrochamento no
-se de seu ambiente. Segundo Fonseca (2008): A relação plano da vivência corporal alcançando com bem estar o
sujeito-objeto assume um papel oriundo no pensamento exercício da motricidade espontânea, prolongada pela
Walloniano, exatamente porque ambos se tornam dialeti- expressão verbal e gráfica; assegurar a passagem à esco-
camente necessários e complementares ao surgimento de la elementar tendo o papel de prevenção, a fim de evitar
sistemas funcionais fundamentais para o desenvolvimento que a criança se depare, nessa época, com dificuldades
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

psicomotor. Ao manipular objetos, a criança atinge efeitos na aquisição das primeiras tarefas escolares.
que a excitam emocionalmente e a encantam como au- A terceira etapa refere-se a do corpo representado, a
todescoberta, fazendo com que os mesmos gestos se repi- qual engloba a idade da criança entre sete a doze anos,
tam e se automatizem, porque geram sensações viscerais Oliveira, G. (2008) menciona que: Nesta etapa observa-se
e musculares agradáveis e arrebatadoras. Explora objetos a estruturação do esquema corporal, até este momento, a
ao mesmo tempo em que se explora corporalmente a si criança já adquiriu as noções do todo e das partes do seu
própria, autoconhecendo-se. corpo (que é percebido através da verbalização e do dese-
Nesta etapa a criança descobre o mundo de objetos, nho da figura humana), já conhece as posições e consegue
evoluindo a preensão e começa a manipulá-los, adquirin- movimentar-se corretamente no meio ambiente com um
do a posição de sentada, onde passa um objeto de uma controle e domínio corporal maior. A partir daí, ela amplia
mão para a outra. A evolução da locomoção também e organiza seu esquema corporal.

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Nesta fase de desenvolvimento da criança seus pon- O corpo é uma forma de expressão da individualida-
tos de referências não ficam mais centrados no corpo de. A criança percebe-se e percebe as coisas que a cer-
próprio, desta forma ela cria os pontos que podem orien- cam em função de seu próprio corpo. Isto significa que,
tá-las. Neste momento a criança realiza por si as suas conhecendo-o, terá maior habilidade para se diferenciar,
ações, com aperfeiçoamento dos seus movimentos e para sentir diferenças. Ela passa a distingui-lo em relação
coordenação. aos objetos circundantes, observando-os, manejando-os.
Desta forma o conhecimento por parte dos profes- Ainda segundo Oliveira, “O esquema corporal não é
sores sobre o desenvolvimento psicomotor se torna pri- um conceito aprendido, que se possa ensinar, pois não
mordial no desenvolvimento das práticas pedagógicas depende de treinamento. Ele se organiza pela experien-
cotidianas dentro da escola. ciação do corpo da criança.” A autora diz ainda que essa
Segundo Garanhani (2008): Assim, ao ingressar na es- constituição do esquema corporal é feita pela criança aos
cola, independentemente da idade em que se encontra, poucos, quando ela nasce tem diversas sensações e per-
a criança traz consigo saberes sobre os movimentos que cepções proprioceptivas, mas ainda não consegue orga-
realiza com seu corpo, apropriados e construídos nos di- nizá-las, logo que ela vai crescendo, vai se reconhecendo
ferentes espaços e relações em que vive. Desse modo, a e se adaptando a elas, essas sensações e percepções vão
escola poderá sistematizar e ampliar o conhecimento da ganhando significações a partir da influência mútua da
criança sobre o seu movimentar. criança com o mundo cultural que a cerca, por meio das
Assim é fundamental e necessário que o professor intermediações dos adultos que vão nomeando para a
tenha conhecimentos sobre psicomotricidade e desen- criança todas essas percepções e sensações que ocorrem
volvimento infantil, bem como da importância do desen- com a mesma.
volvimento de uma educação psicomotora na Educação Na educação das crianças, é preciso associar os movi-
Infantil. mentos aos objetivos educacionais, criando relações e si-
tuações apropriadas ao favorecimento da aprendizagem,
Referências: salientando a importância do profissional da educação
SANTA CLARA, C. A. W.; FINCK, S. C. M. A educação em trabalhar essa ciência em sala de aula.
psicomotora e a prática pedagógica dos professores da A Psicomotricidade pode auxiliar de forma eficaz no
educação infantil: interlocuções e discussões necessárias. rendimento da criança, levando em conta a personali-
UEPG, 2012. dade e a vontade da mesma, favorecendo o desenvolvi-
BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Se- mento dos gestos e movimentos, desenvolvendo o equi-
cretaria de Educação e do desporto. Secretaria de Edu- líbrio e a capacidade da percepção. Todo conhecimento e
cação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para toda relação estão baseados nas vivências, a construção
a Educação Infantil. Vol 1. Ministério da Educação e do do esquema corporal, por exemplo, junto à consciência
Desporto. Secretaria de Educação fundamental. Brasília: e o conhecimento, a organização dinâmica, e o uso do
MEC-SEF, 1998. próprio corpo, devem ser a chave de toda a educação
FONSECA, V. Desenvolvimento psicomotor e aprendi- da criança.
zagem. Porto Alegre: Artmed, 2008. Tônus e Equilíbrio: A tonicidade, que indica o tônus
muscular é a tensão fisiológica dos músculos que garante
A PSICOMOTRICIDADE NO DESENVOLVIMENTO equilíbrio estático e dinâmico, coordenação e postura em
INTEGRAL DA CRIANÇA qualquer posição adotada pelo corpo, esteja ele parado
ou em movimento e tem um papel primordial no desen-
O procedimento de aprendizagem é um processo volvimento psicomotor é ela que garante as atitudes e as
complexo que abrange preceitos e capacidades diver- emoções através das quais emergem todas as atividades
sas, inclusive as motoras. É de suma importância que a motoras humanas. Para Le Boulch, “O tônus muscular é
criança adquira determinadas habilidades durante a fase o alicerce das atividades práticas”. Através desses emba-
pré-escolar, permitindo e facilitando sua aprendizagem. samentos teóricos podemos compreender que o tônus
Essas habilidades são condições básicas e necessárias muscular está presente em todas as funções motrizes,
para uma boa aprendizagem, e constituem a estrutura da como o movimento, o equilibro e a coordenação.
educação psicomotora. O desenvolvimento psicomotor Lateralidade: Para Oliveira, “A lateralidade é a propen-
demanda subsídio constante do docente pelo meio da
são que o ser humano possui de utilizar preferencialmente
estimulação, assim sendo não é uma tarefa específica do
mais um lado do corpo do que o outro em três níveis: mão,
professor de Educação Física, e sim de todos profissio-
olho e pé, significando que o indivíduo utiliza um lado do
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

nais envolvidos no processo ensino-aprendizagem.


corpo com maior predominância, com mais precisão, é ele
Fonseca (1995) define que a psicomotricidade pode
quem executa a ação principal, ficando para o outro lado a
ser estudada através de sete fatores como necessidades
função de auxiliar nessa ação, entretanto, os dois não fun-
psicomotoras, são elas: tonicidade, equilíbrio, lateralida-
cionam isoladamente, mas de forma complementar.
de, noção corporal, estruturação espaço-temporal, coor-
denação global e fina e óculo manual. Estruturação espaço-temporal: É de fundamental
Conhecimento corporal: O corpo é considerado a pri- importância para que se viva em sociedade. É por meio
meira forma de linguagem para a criança, já que com do espaço e das relações espaciais que se situa no meio
ele, a mesma introduz sua comunicação com o meio. O em que vive, em que se instituem semelhanças entre as
conhecimento corporal é um componente fundamental coisas, em que se fazem observações, comparando-as,
e imprescindível para a formação da personalidade da combinando-as, vendo as semelhanças e diferenças en-
criança. tre elas.

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Coordenação motora global: Diz respeito à ativida- as representações do indivíduo possam se expressar de
de dos grandes músculos. Depende da capacidade de forma cada vez mais compreensível no universo social.
equilíbrio postural do indivíduo A coordenação global A prática social não interrompe, contudo, esse jogo de
leva a criança a adquirir a dissociação de movimentos. idas e vindas da ação e da representação, pelo contrário,
Isto significa que ela terá condições de realizar diversos sofistica cada vez mais as representações que o sujeito
movimentos ao mesmo tempo, cada membro realizando faz do mundo.
uma atividade diferente, havendo uma conservação de
unidade do gesto. Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Educação
Coordenação motora fina e óculo-manual: diz res- Física (1998) enfatizam a importância de respeitar o uni-
peito à habilidade e o exercício manual e institui uma verso cultural dos alunos e de se explorar a gama múltipla
aparência particular da coordenação global. É necessário de possibilidades educativas de sua atividade lúdica e, gra-
ter condições de desenvolver formas diversas de pegar dativamente, desafiá-los através de tarefas cada vez mais
os diferentes objetos. Não é suficiente possuir somente complexas com vista à construção do conhecimento.
a coordenação fina, é imprescindível que haja também Quando a criança transforma as regras do jogo ou cria
controle ocular, isto é, a visão acompanhando os gestos uma brincadeira na escola, sai daquele espaço tradicio-
da mão. Chama-se a isto de coordenação óculo-manual nal de ensino, coloca-se como autor de um jogo, criando
A coordenação óculo-manual se efetua com precisão so- uma experiência lúdica que proporciona momentos de
bre a base de um domínio visual previamente estabele- alegria, criatividade, prazer, enfim, fruição corporal. Esse
cido, ligados aos gestos executados, facilitando, assim, jogo, segundo Callois“ é uma atividade livre em que o
uma maior harmonia do movimento. homem se encontra liberto de qualquer apreensão a res-
peito de seus gestos. Ele define o alcance. Define igual-
Fonte mente as condições e as finalidades”.
SOUSA, J. M. de.; SILVA, J. B. L. da. A Psicomotricidade De acordo com o Coletivo de Autores (1992), quan-
na Educação Infantil. v.4, n.2, p. 128 - 135, ago. – dez. do a criança joga, ela opera com o significado das suas
2013 ações, o que a faz desenvolver sua vontade e ao mesmo
tempo tornar-se consciente das suas escolhas e decisões.
O LÚDICO Por isso, o jogo apresenta-se como elemento básico para
a mudança das necessidades e da consciência. Nesse
A ludicidade na educação possibilita situações de contexto de jogos e brincadeiras, é importante refletir-
aprendizagem que contribuem para o desenvolvimento mos sobre duas possibilidades de entendimento do fe-
integral da criança, mas deve haver uma dosagem entre nômeno lúdico: o instrumental e o essencial.
a utilização do lúdico instrumental, isto é, a brincadeira Edmir Perroti (1995) apud Leão (2000) explica a di-
com a finalidade de atingir objetivos escolares, e também ferença entre o que chama de lúdico instrumental e o
a forma de brincar espontaneamente, envolvendo o pra- essencial. No primeiro, o jogo é compreendido enquanto
zer e o entretenimento, neste último, o lúdico essencial. um recurso motivador, simples instrumento para a reali-
Santin (1996) apud Júnior (2005) nos diz que o signifi- zação de objetivos que podem ser educativos, publicitá-
cado de ludicidade surge da própria palavra relacionada à rios ou de inúmeras naturezas. No segundo, por sua vez,
liberdade, criatividade, imaginação, participação, interação, o jogo é visto como uma atitude essencial, como uma
autonomia além de outras qualificações que podem ser categoria que não necessita de uma justificativa exter-
atribuídas a uma infinita riqueza que há nela mesma. na, alheia a ela mesma para se validar. No primeiro caso,
Na fantasia lúdica, a criança faz uso da imaginação, o jogo está centralizado na produtividade, tem caráter
redimensionando significados e sentidos presentes no utilitário; no segundo, a produtividade é o próprio pro-
seu mundo real, como afirma Castoriadis (1992): cesso de brincar, uma vez que nessa concepção, jogar é
A imaginação não é apenas a capacidade de combi- intrinsecamente educativo, é essencial enquanto forma
nar elementos já dados para produzir um outro. A ima- de humanização.
ginação é o que nos permite criar um mundo, ou seja, Fonseca; Muniz (2000) apud Júnior (2005) acreditam
apresentamos uma coisa, da qual sem imaginação não que é possível encontrarmos escolas que têm o processo
poderíamos nada dizer e, sem a qual não poderíamos pedagógico de ensino emancipatório onde o lúdico es-
nada saber. sencial é um fundamento. Em sua essência, é tido como
O desenvolvimento da imaginação é fundamental sério e indispensável na formação do aluno, possibilitan-
para a criatividade, é resultado da observação, de vivên- do-o transitar dentro e fora do seu eu, trocando papéis e
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

cias e experiências. Freire (1997) explica que: até vivenciá-los como próprio de sua pessoa, estimulan-
do o afloramento de sua cultura, espontaneidade, intera-
A criança faz uso da imaginação, vive e encarna um ção, imaginação, criatividade, prazer.
sem número de relações. Saltar um rio largo, atravessar
uma ponte estreita, repartir a comida feita, são atividades Embora promovam a interação social, as situações lú-
que materializam, na prática, a fantasia imaginada, e que dicas podem gerar momentos de competitividade entre
retornarão depois da prática em forma de ação interio- os educandos. Entretanto, nas palavras de Leão (1995)
rizada, produzindo e modificando conceitos, incorporan- apud Brancher; Chenet; Oliveira (2005):
do-se às estruturas de pensamento. Ou seja, no brinque- Somos o produto de uma interação permanente com
do simbólico a ação vai e vem incessantemente, da ação o meio. A pulsão rebate sempre no meio e retorna à fon-
ao pensamento, modificando-se em cada trajeto, até que te. É nessa dinâmica que o sujeito do inconsciente é re-

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levado. O jogo implica sempre numa parceria. O outro O educando recebe passivamente os conhecimentos,
está sempre implícito no brincar. O outro é cena básica tornando-se um depósito do educador. Educa-se para
da fantasia. arquivar o que se deposita. Mas o curioso é que o arqui-
Nesse sentido, conforme apresentam os PCN´s (1997), vado é o próprio homem, que perde assim seu poder de
os jogos e as brincadeiras, competitivas ou não, são con- criar, se faz menos homem, é uma peça.
textos de socialização significativa em que o aluno preci- O educador consciente de seu compromisso social
sa respeitar o outro enquanto parceiro e não adversário. e que trabalha numa escola cuja concepção de ensino
É a oportunidade de ter diferentes problemas para resol- priorizada é a emancipatória, planejará situações lúdicas
ver no coletivo por meio da comunicação e cooperação, em que a criança vivenciará experiências de construção
aprendendo a respeitar a diversidade de opiniões surgi- e reconstrução de saberes existentes no seu mundo real,
das num momento lúdico. além de significativas interações sociais. Desse modo, a
Nos últimos anos, a área da medicina que estuda o criança aprende brincando, de forma prazerosa. Pode-se
sistema nervoso, chamada de neurociência, tem contri- dizer que o lúdico, na sua essência, faz toda diferença
buído no que se referem às pesquisas científicas sobre no planejamento de ensino, possibilitando momentos de
o que acontece quando o cérebro está em contato com problematização e reflexão crítica do conhecimento.
novas informações. Segundo Gentile (2005):
Situações emocionantes, como jogos e brincadeiras, Referência:
ativam o sistema límbico, parte do cérebro responsável MORAES, V.; ALMEIDA, M. S.; SILVA, A. X. da; ALMEI-
pelas emoções. Ocorre então a liberação de neurotrans- DA, B. C. de; FURTADO, J. L.; BARBOSA, R. V. C. A ludicida-
missores. Com isso, os circuitos cerebrais ficam mais de no processo ensino-aprendizagem. Corpus et Scien-
rápidos, facilitando a armazenagem de informações e o tia, vol. 5, n. 2, p.5-17, setembro 2009.
resgate das que estão guardadas.
Nesse processo, essas atividades facilitam a aquisição
do conhecimento formal, pois de acordo com Jean Piaget
(1978) apud Spigolon (2006), os jogos não são apenas EXERCÍCIO COMENTADO
uma forma de entretenimento para gastar as energias
das crianças, mas meios que enriquecem e contribuem 1. (SESC/PE- Professor I- Educação Infantil- UPE-
para o desenvolvimento intelectual. Enfocar a brincadeira NET/2017) No Referencial Curricular Nacional para a
é permitir esse desenvolvimento, e o jogo é um método Educação Infantil (1998) - Formação Pessoal e Social,
lúdico que favorece a assimilação de realidades intelec- além da imitação e do faz-de-conta, qual é o outro recur-
tuais exteriores à inteligência infantil. so fundamental no processo de construção do sujeito?
Piaget apud Freire (1997) analisando o jogo a partir
de suas estruturas classificou-o em: de exercício, de sím-
a) A oposição.
bolo, de construção e de regra. O de exercício é caracte-
b) A obediência.
rístico das crianças do período sensoriomotor, isto é, as
c) A sujeição.
que ainda não estruturaram as representações mentais
d) A heteronomia.
que caracterizam o pensamento. A atividade lúdica re-
e) A dedicação.
fere-se ao movimento corporal sem verbalização e não
tem outra finalidade que não o próprio prazer do fun-
cionamento; o de símbolo exerce papel semelhante ao Resposta: Letra A. Opor-se, significa, em certo sen-
do jogo de exercício, acrescentando um espaço onde tido, diferenciar-se do outro, afirmar o seu ponto de
se podem resolver conflitos e realizar desejos que não vista, os seus desejos. Vários são os contextos em que
foram possíveis em situações não-lúdicas. Ou seja, é o tal conduta pode ocorrer, sua intensidade depende de
faz-de-conta, a fantasia; o jogo de construção estabelece vários fatores, tais como características pessoais, grau
uma espécie de transição entre o jogo simbólico e o jogo de liberdade oferecido pelo meio, momento específi-
social. Por fim, o jogo social é marcado pela atividade co- co do desenvolvimento pessoal em que se encontra.
letiva de intensificar trocas e a consideração pelas regras. É comum haver fases em que a oposição é mais in-
A ação educativa numa abordagem lúdica pode tra- tensa, ocorrendo de forma sistemática e concentrada.
balhar a busca do êxito em múltiplas tentativas-erro, a A observação das interações infantis sugere que são
persistência e a segurança de que o erro faz parte do diversos os temas de oposição, os quais tendem a mu-
processo de aprendizagem. Nessa perspectiva, é funda- dar com a idade — por exemplo, disputa por um mesmo
mental que o professor crie situações de aprendizagem brinquedo, briga por causa de um lugar específico, de-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

significativas, pois estas farão com que o educando asso- sentendimento por causa de uma ideia ou sugestão etc.
cie o aprendizado ao prazer. Embora seja de difícil administração por parte do adulto,
Infelizmente ainda há muitas escolas que tratam a é bom ter em vista que esses momentos desempenham
criança como adulto em miniatura. Não valorizam a fan- um papel importante na diferenciação e afirmação do eu.
tasia e as atividades motoras próprias dessa etapa da
vida que é a infância. A ideia de ludicidade nessas esco-
las está intimamente ligada à instrumentalização apenas,
pois o processo ensino e aprendizagem baseado numa
metodologia tradicional contribui para o desenvolvimen-
to da “consciência bancária”, assim denominada por Pau-
lo Freire (1983) que consiste em:

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fessor conheça os sete processos mentais básicos para
A MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: aprendizagem da matemática: correspondência, compa-
ENSINAR E APRENDER MATEMÁTICA NA ração, classificação, sequenciação, seriação, inclusão e
EDUCAÇÃO INFANTIL; ESPAÇO E FORMA; conservação.
GRANDEZAS E MEDIDAS; NÚMERO E Sem o domínio desses processos, ainda de acordo
SISTEMA DE NUMERAÇÃO. com o autor, as crianças poderão até dar respostas cor-
retas, segundo a expectativa e a lógica dos adultos. To-
davia, provavelmente sem significado ou compreensão
Linguagem Matemática para elas. É importante entender o que significa cada um
desses processos que podem referir-se a objetos, situa-
Desde que nascem, as crianças vivem uma cultura em ções ou ideias. Lorenzato:
que as pessoas lidam constantemente com noções mate- 1 - CORRESPONDÊNCIA: é o ato de estabelecer a
máticas. Situações como pagamentos e trocos, cálculos de relação, por exemplo, de “um a um”.
tamanhos, contagem do número de pessoas que estão em Exemplos: um prato para cada pessoa; cada pé com
um ambiente, indagações a respeito da quantidade de dias seu sapato; a cada aluno, uma carteira. Mais tarde,
que faltam para uma data determinada, entre outras, estão a correspondência será exigida em situações do
sempre presentes no cotidiano das crianças. tipo: a cada quantidade, um número (cardinal); a
cada número, um numeral; a cada posição (numa
Ainda pequeninas, as crianças recorrem a certos co-
sequência ordenada), um número ordinal. Pode
nhecimentos para resolver situações-problema, como
haver também a correspondência “um para mui-
apontar com os dedos a idade que têm, escolher o canal
tos”, por exemplo, Maria é um nome que se refere
de TV, marcar o resultado de um jogo, brincar com o te-
a várias pessoas.
lefone, verbalizar a sucessão numérica, repartir figurinhas
2 - COMPARAÇÃO: é o ato de reconhecer diferenças
entre os colegas, contar quantas vezes o companheiro
ou semelhanças.
pulou corda. São conhecimentos que compõem o que
Exemplos: esta bola é maior que aquela; moro mais
se entende por conhecimentos matemáticos, que lidam
longe que ela; somos do mesmo tamanho? Mais
com a noção de número.
tarde, virá: Quais destas figuras são retangulares?
As noções matemáticas que as crianças possuem,
3 - CLASSIFICAÇÃO: é o ato de separar em catego-
mesmo antes de ingressarem na escola, evidenciam um
rias, de acordo com semelhanças ou diferenças;
vocabulário matemático, basicamente oral, ainda que
para tanto, escolhe-se uma qualidade que servirá
marcado por tentativas de escrita e reconhecimento de
para estabelecer a classificação.
símbolos. As crianças, nas situações lúdicas do brincar,
Exemplos: na escola, a distribuição dos alunos por sé-
aprendem a estrutura lógica da realidade e, por conse-
ries; arrumação de mochila ou gaveta; dadas várias
guinte, aprendem a estrutura matemática.
peças triangulares e quadriláteras, separá-las con-
A matemática é composta por um sistema de códigos
forme o total de lados que possuem.
e conceitos de modo que as pessoas possam controlar
4 - SEQUENCIAÇÃO: é o ato de fazer suceder a cada
quantidades, espaço e grandezas. Por isso, pode ser en-
elemento um outro, sem considerar a ordem entre
tendida como uma linguagem.
eles; portanto, é ordenação sem critério preexistente.
Ao assegurar às novas gerações a apropriação dos
Exemplos: chegada dos alunos à escola; entrada de
conhecimentos matemáticos produzidos historicamente,
jogadores de futebol em campo; compra em su-
ou seja, o ensino da linguagem matemática possibilita-se
permercado; escolha ou apresentação dos núme-
a inserção da criança na sociedade das letras e dos nú-
ros nos jogos loto, sena e bingo.
meros à qual pertence, indo ao encontro de suas neces-
5 - SERIAÇÃO: é o ato de ordenar uma sequência
sidades de interação social.
segundo um critério.
Seja qual for a noção e o campo matemático (espaço
Exemplos: fila de alunos, do mais baixo ao mais alto;
e forma, número e operações, grandezas e medidas, tra-
lista de chamada de alunos em ordem alfabética;
tamento da informação) a ser trabalhado, sempre haverá
numeração das casas nas ruas; calendário.
uma relação com um dos conceitos seguintes:
6 - INCLUSÃO: é o ato de fazer abranger um conjun-
- Tamanho - lugar - distância – forma, bidimensiona-
to por outro, ou seja, considerar que um conjunto
lidade e tridimensionalidade;
de coisas distintas pode ter uma qualidade que as
- Quantidade – contagem oral – notação numérica e
inclua num conjunto maior.
ou registros não convencionais – ideias de juntar,
Exemplos: incluir as ideias de laranjas e de bananas,
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

tirar, colocar, comparar, repartir e distribuir - agru-


em frutas; meninos e meninas, em crianças; var-
pamento – relação entre quantidades - capacidade
redor, professor e porteiro, em trabalhadores na
– tempo;
escola; losangos, retângulos e trapézios, em qua-
- Posição - medição - direção;
driláteros.
- Volume - comprimento – massa – peso – utilização
7 - CONSERVAÇÃO: é o ato de perceber que a quan-
de unidades convencionais e não convencionais;
tidade não depende da arrumação, da forma ou
- Tratamento da informação: gráficos e tabelas, gráfi-
da posição.
cos pictóricos.
Exemplos: uma roda grande e outra pequena, ambas
formadas com a mesma quantidade de crianças;
Segundo Lorenzato (2009), para o sucesso na orga-
um copo largo e outro estreito, ambos com a mes-
nização de situações que propiciem a exploração mate-
ma quantidade de água.
mática pelas crianças, é também fundamental que o pro-

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Os exemplos apresentados são sugestões para abor- Ensino da Matemática acompanhado da Ludicidade
dagem dos processos mentais no âmbito escolar, e não
como conteúdos a serem ensinados. É importante lem- Neste texto de autoria de Mundim e Oliveira3, verifi-
brar que crianças de uma mesma idade podem apre- camos que o ensino da matemática na Educação Infantil
sentar igual desempenho diante desses processos. Essas pode ser trabalhado de várias formas, sendo importante
defasagens momentâneas são superadas por meio de trazer atividades diferentes para que as crianças possam
atividades diversificadas, intencionalmente planejadas. associá-las mais facilmente e a ludicidade é um cami-
Lorenzato (2009) reitera que esses processos mentais nho pertinente nesse ensino, trazendo para os infantes
não estão restritos ao campo matemático. Na verdade, desafios, soluções, formação de atitudes, intuição e es-
são abrangentes e estão presentes em situações do coti- tratégias a partir de jogos, brincadeiras e construção de
diano, constituindo-se em um alicerce que será utilizado materiais para esse fim.
para sempre pelo raciocínio humano, independentemen- Segundo Piaget (1967) “o jogo não pode ser visto
te de idade, profissão, assunto ou tipo de problema a ser apenas como divertimento ou brincadeira para desgastar
encarado. energia, pois ele favorece o desenvolvimento físico, cog-
O aguçamento da curiosidade pelos conhecimentos nitivo, afetivo e moral”.
matemáticos e sua apropriação acontecem na instituição A relação professor-aluno deve ser uma característica
educativa, a partir da organização de experiências de re- efetiva, no que diz respeito à ludicidade, pois é na sala de
lacionar quantidades, usar grandezas, realizar medidas e aula que o educador atuará como motivador, trazendo
construir a noção de número. A curiosidade para compa- jogos relacionados à matemática que estimulam a me-
rar elementos, para perceber o valor relativo das coisas mória, o raciocínio, o compartilhamento e a socialização
pode ser estimulada desde cedo. de conhecimento. Assim o processo de aprendizagem da
As demandas sociais contemporâneas impulsionam a matemática, a partir do lúdico visa o jogo livre, o jogo
necessidade de compreender as estatísticas e elaborar planejado, o jogo comparativo, o jogo envolvendo me-
procedimentos para entender os dados por meio do tra- mória e raciocínio lógico, os jogos demonstrativos, e até
tamento das informações que, frequentemente, apare- mesmo, a estimulação para que as crianças construam
cem no dia a dia, inclusive das crianças. seus próprios jogos através dos que já brincaram.
A orientação espaço-temporal deve ser alvo de aten- Para Dohme (1998), a primeira relação da criança com
ção na Educação Infantil. A orientação espacial agrega a aprendizagem é justamente o fato de a criança apren-
a noção de direção, de distância e de organização pe- der a brincar, o fato da brincadeira estar intimamente li-
rante o que nos cerca e as coisas entre si. Já a orienta- gada à comunicação com outros indivíduos e ao contato
ção temporal é a capacidade de situar-se em função da com suas próprias emoções, o que favorece à criança,
sucessão dos fatos (antes, durante e após), da duração o desenvolvimento de sua autoestima e a formação de
dos intervalos (hora, minuto, rápido, lento), da renovação vínculos.
cíclica de determinados períodos (dias da semana, meses Com isso, fazer com que a criança conviva em um
e estações) e do caráter irreversível do tempo (noção de ambiente cheio de materiais e situações diferentes fazem
envelhecimento, por exemplo). com que ela construa e elabore seus próprios conheci-
As atividades pedagógicas desenvolvidas pela escola mentos, sendo aprimorados com o tempo e na medida
devem possibilitar a observação, a exploração e a discus- em que a professora for trabalhando os assuntos. Desse
são sobre os fenômenos socioambientais que envolvam modo, manter presente os jogos no planejamento é uma
o uso de estratégias de quantidade, de agrupamento, de iniciativa que abre novos caminhos e práticas para apre-
deslocamento etc. Essas estratégias contribuem para a sentar e ensinar a matemática na Educação Infantil, além
construção dos conhecimentos matemáticos, base para de motivar os alunos, pode desenvolver o senso crítico
a compreensão de conceitos e formulação de hipóteses e criativo instigando na descoberta de novos conceitos.
na resolução de problemas. Segundo Moyles “Os jogos são tipos de atividades que
Os conhecimentos matemáticos precisam ser apre- podem ser praticadas de diversas maneiras, facilitando a
sentados e explorados de forma significativa e prazerosa aprendizagem, desenvolvendo a criatividade dos alunos,
por meio de situações concretas, histórias, músicas, jogos enriquecendo a vivência de fatos.”
e brincadeiras. Para tanto, as mediações dos profissionais A educação lúdica está distante da concepção in-
pela palavra e as interações entre as próprias crianças são gênua de passatempo, brincadeira vulgar e diversão su-
fundamentais, inclusive porque a mais desenvolvida au- perficial. Ela é uma ação intrínseca da criança e aparece
xilia nas aprendizagens das outras, beneficiando a todas. sempre como forma de relação em direção a algum co-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

As crianças podem, assim, ter as condições para o de- nhecimento, que se redefine na elaboração constante do
senvolvimento do pensamento e a tomada de decisões. pensamento individual e em trocas com o pensamento
Fundamental é permitir que elas ajam como produtoras coletivo. Educar ludicamente tem um significado relevan-
de conhecimento e não apenas executoras de instruções, te e está presente em todas as situações do dia-a-dia.
ampliando as questões tanto para alcançar as respostas Assim, conduzir à criança na busca, no domínio de co-
desejadas como para formular novas perguntas. nhecimentos mais abstrato combinando com habilida-
des, esforços e juntamente com a brincadeira pode-se
transformar o aprendizado, num jogo bem-sucedido,
3 MUNDIM, J. S. M.; Guilherme Saramago de OLIVEIRA, G. S. de. O
Trabalho com a Matemática na Educação Infantil. Revista Encontro
de Pesquisa em Educação Uberaba, v. 1, n.1, p. 202-213, 2013.

51
momento este em que a criança pode mergulhar intei- de aula com as ferramentas básicas para, por exemplo,
ramente nas brincadeiras e ter um aprendizado signifi- classificar, ordenar, quantificar e medir. E, além disso,
cativo. aprendem a atuar de acordo com os recursos, depen-
Para Antunes, “O jogo ajuda o educando a construir dências e as restrições de seu meio. Sendo assim, cabe
suas descobertas, desenvolve e enriquece sua personali- ao educador construir uma estruturação da ação peda-
dade e simboliza um instrumento pedagógico que leva gógica que respeite e propicie o desenvolvimento inte-
ao professor a condição de condutor, estimulador e ava- gral das crianças. As contribuições são muitas quando o
liador da aprendizagem. ” professor leva o jogo para a sala de aula, quando os alu-
Além de todos os assuntos matemáticos que envol- nos confeccionam seus jogos e quando a professora se
vem a Educação Infantil é importante visar na apresen- envolve nas atividades.
tação dos números para as crianças, em que estes são De acordo com Antunes (2000): a criança não é atraí-
usados por elas em todas as situações do dia-a-dia e da por algum jogo por forças externas inerentes ao jogo
para isso, pode ser usada a ludicidade, considerando que e sim por uma força interna, pela chama acesa de sua
aprender números vai além de quantificar objetos. evolução. É por esta chama que busca no meio exterior
Reis afirma que: as noções básicas em matemática, os jogos que lhe permitem satisfazer a necessidade im-
lógica e geometria começam a ser elaboradas a partir periosa posta pelo seu crescimento.
dos 4,5 anos de idade, portanto é vital que a base seja As brincadeiras sugeridas não são as únicas para con-
sólida, bem construída e bem trabalhada, para que nela seguir que as crianças construam seus conhecimentos
se assentem os conhecimentos matemáticos futuros. Os matemáticos, mas com certeza, a partir delas, o educador
jogos que envolvem números, quantidades e significados tem a oportunidade de preparar inúmeras possibilidades
estimulam as crianças a usar a memória e o raciocínio lo- de atividades lúdicas, que exploram um trabalho com a
gico, em que elas simulam as situações em momentos do matemática. É indispensável que o professor pondere
cotidiano que acontecem em casa, nas ruas, nas lojas e se o trabalho desenvolvido está atingindo os objetivos
nos locais de passeio. No processo de desenvolvimento preestabelecidos, para assim poder direcionar sua práti-
da criança, há uma realidade externa, que faz com que a ca pedagógica, com o intuito de promover uma aprendi-
mesma normalmente crie suas próprias soluções, cons- zagem de matemática para as crianças.
truindo o conhecimento de formas variadas, se adaptan- Para Antunes (2000), o jogo jamais pode surgir como
do ao ambiente em que vive e esta adaptação só se dá, um trabalho ou estar associado a alguma forma de san-
se houver uma troca recíproca de experiências. O jogo é ção. Ao contrário, é essencial que o professor dele se
um processo que auxilia a evolução da criança, utiliza a utilize como ferramenta de combate à apatia e como ins-
análise, a observação, a atenção, a imaginação, o voca- trumento de inserção e desafios grupais. O entusiasmo do
bulário, a linguagem e outras capacidades próprias do professor e o preparo dos alunos para um momento espe-
ser humano. E os jogos são uma maneira de fazer que as cial a ser propiciado pelo jogo constitui um recurso insubs-
crianças compreendam e a utilizem regras que serão em- tituível no estímulo para que o aluno queira jogar.
pregadas no processo de ensino-aprendizagem ao longo Portanto, o uso de jogos e curiosidades no ensino da
da caminhada escolar. matemática tem o objetivo de fazer com que as crianças
Para Piaget (1989), “Os jogos não são apenas uma se interessem, mudando a rotina da classe e despertan-
forma de divertimento, mas são meios que contribuem e do o empenho do aluno envolvido. A aprendizagem, a
enriquecem o desenvolvimento intelectual. Para manter partir de jogos permite que o aluno faça do ensino um
seu equilíbrio com o mundo, a criança necessita brincar, processo interessante e divertido, e, além disso, tenha
criar, jogar e inventa”. vontade de criar e aprender associando sempre às suas
Utilizar sucatas, palitos, materiais tragos pelos alu- experiências.
nos, confeccionados em conjunto com os pais, colegas
e professores pode-se organizar um estoque precioso na Referências:
disposição do uso de material didático na aula. O im- Currículo em Movimento da Educação Básica Educa-
portante não é ter um material aparentemente bonito, ção Infantil. Distrito Federal, 2013.
apenas, mas que permita problematizações. As junções REIS, Silvia Marina Guedes dos. A Matemática no co-
de materiais podem trazer a criação de jogos que irão tidiano Infantil: jogos, atividades com crianças de 3 a 6
beneficiar no processo de desenvolvimento e conheci- anos. Campinas: Papirus.
mento da matemática, sendo que o manuseio e a conta- REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDU-
gem dos materiais vão se valorizando na aprendizagem CAÇÃO INFANTIL /Ministério da Educação e do Des-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

das crianças. porto, Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília:


Esse processo de uso de materiais concretos pode MEC/SEF, 1998.
auxiliar a criança a desenvolver noções significativas, em
que o professor irá auxiliar se atentando para não perder
as oportunidades que se apresentam no dia-a-dia de- FIQUE ATENTO!
safiando os infantes a buscarem novas informações ou Para saber mais sobre conteúdo, leia “ Refe-
mesmo empregarem em situações novas, conhecimen- rencial Curricular Nacional para a Educação
tos obtidos anteriormente. Infantil volume 3” na parte bibliográfica des-
As crianças já trazem para a escola conhecimentos, te material.
ideias e discernimentos construídos através das expe-
riências que vivem em seu cotidiano. Elas chegam à sala

52
e métodos de ensino renovados — fato que desenca-
deou a preocupação com a Didática da Matemática,
EXERCÍCIO COMENTADO intensificando a pesquisa nessa área.
1. Nas décadas de 1960/1970, o ensino de Matemática
no Brasil foi influenciado pelo Movimento Matemática
Moderna. Este movimento nasceu como um movimento RELAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO, ESCOLA E
educacional relacionado a uma política de modernização SOCIEDADE: CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO
econômica e foi inserido na linha de frente do ensino E ESCOLA;
do país por se considerar que, juntamente com a área
de Ciências, ele constituía uma via de acesso privilegiada
para o pensamento científico e tecnológico. Para tanto, Educação e sociedade
procurou-se aproximar a Matemática desenvolvida na
escola de Nível Básico da Matemática como trabalhada A autora deste texto, Galvão, pontua que de acordo
e inventada pelos estudiosos e pesquisadores de Insti- com Silva (2001), a educação tem como finalidade for-
tutos de Pesquisas e Universidades. O ensino proposto mar o ser humano desejável para um determinado tipo
fundamentava-se em grandes estruturas que organizam de sociedade. Dessa forma, ela visa promover mudanças
o conhecimento matemático e, por causa disso, enfati- relativamente permanentes nos indivíduos, de modo a
zou, principalmente, a teoria dos conjuntos, as estruturas favorecer o desenvolvimento integral do homem na so-
algébricas, a topologia. ciedade. Portanto, é fundamental que a educação atinja a
(Adaptado dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática – vida das pessoas e da coletividade em todos os âmbitos,
PCN‟s) visando à expansão dos horizontes pessoais e, conse-
quentemente, sociais. Além disso, ela pode favorecer o
Com base na discussão apresentada, é correto afirmar desenvolvimento de uma visão mais participativa, críti-
que, em linhas gerais, ca e reflexiva dos grupos nas decisões dos assuntos que
lhes dizem respeito, se essa for a sua finalidade.
a) este movimento ainda é defendido pelos autores para A concepção de educação está diretamente relacio-
ampla implementação no ensino atual de Matemática, nada à concepção de sociedade. Assim, cada época irá
uma vez que o ensino de geometria passou a ser valo- enunciar as suas finalidades, adotando determinada ten-
rizado e, portanto, acabou sendo expandido nos livros dência pedagógica.
didáticos até a década de 1990. Na história da educação brasileira, podem-se identificar
b) este movimento ainda é defendido pelos autores para várias concepções, tendo em vista os ideais da formação do
ampla implementação no ensino atual de Matemáti- homem para a sociedade de cada época. Silva (ibidem) afir-
ca, uma vez que os professores foram orientados a ter ma que as principais correntes pedagógicas identificadas
intensas preocupações com as formalizações algébri- no Brasil são: a tradicional, a crítica e a pós-crítica.
cas e, portanto, o que se propunha está ao alcance da A concepção tradicional enfatiza o ensino e a apren-
maioria dos estudantes do país. dizagem de conteúdos a partir de uma metodologia ri-
c) este movimento ainda é defendido pelos autores para gorosamente planejada, com foco na eficiência.
ampla implementação no ensino atual de Matemática, A concepção crítica aborda questões ideológicas, co-
uma vez que não influenciou as práticas pedagógicas locando em pauta temas relacionados ao poder, a rela-
dos professores, apenas a modificação do nome prova ções e classes sociais, ao capitalismo, à participação etc.,
para teste em concursos e avaliações escritas. de forma a conscientizar o educando acerca das desi-
d) este movimento não é defendido pelos autores para gualdades e injustiças sociais.
ampla implementação no ensino atual de Matemática, A partir do desenvolvimento da consciência crítica e
uma vez que, dentre outros motivos, o que se pro- participativa, o educando será capaz de emancipar-se,
punha em sala de aula não estava ao alcance de boa libertar-se das opressões sociais e culturais e atuar no
parte dos alunos do país; e o ensino de geometria fi- desenvolvimento de uma sociedade justa e igualitária.
cou comprometido devido à busca de se atrelar todos A concepção pós-crítica foca temas relacionados à
os conceitos a uma linguagem simbólica e complexa. identidade, diferenças, alteridade, subjetividade, cultura,
e) este movimento não é defendido pelos autores para gênero, raça, etnia, multiculturalismo, saber e poder, de
ampla implementação no ensino atual de Matemáti- forma a acolher a diversidade do mundo contemporâ-
ca, uma vez que, dentre outros motivos o que se pro- neo, visando respeito, tolerância e convivência pacífica
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

punha em sala de aula era uma contextualização dos entre as diferentes culturas. A ideia central é a de que
conceitos matemáticos, bem como a interdisciplinari- por meio da educação o indivíduo acolha e respeite as
dade como metodologia por excelência nas salas de diferenças, pois “sob a aparente diferença há uma mes-
aula das escolas do país. ma humanidade”
Assim, por meio de um conjunto de relações esta-
Resposta: Letra D. A Matemática a ser ensinada era belecidas nas diferentes formas de se adquirir, transmi-
aquela concebida como lógica, compreendida a partir tir e produzir conhecimentos busca-se a construção de
das estruturas, conferia um papel fundamental à lin- uma sociedade. Isso envolve questões filosóficas como
guagem matemática. Os formuladores dos currículos valores, questões histórico-sociais, questões econômicas,
dessa época insistiam na necessidade de uma reforma teóricas e pedagógicas que estão na base do processo
pedagógica, incluindo a pesquisa de materiais novos educativo.

53
Vejamos como exemplo o Inciso III do art. 1º da Cons- preocupação com o outro indivíduo, fato que marca a
tituição Federal de 1988 que, ao tratar de seus funda- comunidade. Por isso, é fundamental haver um aparato
mentos essenciais, privilegia a educação, apontando-a de leis e normas para regular a conduta dos indivíduos
como uma das alternativas para a formação da dignidade que vivem em sociedade, tendo no Estado, um forte apa-
da pessoa humana. Outro texto jurídico que analisa as rato burocrático, decisivo e central nesse sentido. Comu-
finalidades da educação, no Brasil, é a Lei nº 9.394, de 20 nidade e sociedade são as uniões de grupos sociais mais
de dezembro de 1996, que trata das Diretrizes e Bases comuns dentro da Sociologia. Sabemos que ninguém
da Educação Nacional, mais conhecida como LDB. Em consegue viver sozinho e que todas as pessoas precisam
seus primeiros artigos há a seguinte notação: “a educa- umas das outras para viver. Essa convivência caracteriza
ção, direito de todos e dever do Estado e da família, será os grupos sociais, e dependendo do tipo de relações es-
promovida e incentivada com a colaboração da socieda- tabelecidas entre as pessoas, esses grupos poderão se
de, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, de seu distinguir. Comunidade e Escola, a parceria entre escola e
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação comunidade é indispensável para uma Educação de qua-
para o trabalho” (Lei nº 9.394/96). lidade e dependem de uma boa relação entre familiares,
Como vimos, qualquer que seja o ângulo pelo qual gestores, professores, funcionários e estudantes.
observamos a educação, encontrar-se-ão fundamentos Pensar em educação hoje de qualidade é preciso ter
para o desenvolvimento do ser humano, de acordo com em mente que a família esteja presente na vida escolar
a concepção de vida e com a estrutura da sociedade. de todos os alunos e em todos os sentidos. Ou seja, é
As concepções atuais da educação apontam para o preciso uma interação entre escola e família. Nesse sen-
desenvolvimento do ser humano como um todo, reafir- tido, escola e família possuem uma grande tarefa, pois
mando seu papel nas transformações pelas quais vêm nelas é que se formam os primeiros grupos sociais de
passando as sociedades contemporâneas e assumindo uma criança. Envolver os familiares na elaboração da pro-
um compromisso cada vez maior com a formação para posta pedagógica pode ser meta da escola que pretende
a cidadania. ter um equilíbrio no que diz respeito à disciplina de seus
Torna-se imprescindível, portanto, que façamos uma educandos. A sociedade moderna vive uma crise nos va-
conexão entre educação e desenvolvimento, pensando lores éticos e morais sem precedentes. Essa escola deve
no desenvolvimento que educa e em educação que de- utilizar todas as oportunidades de contatos com os pais,
senvolve, a fim de vislumbrarmos uma sociedade mais para passar informações relevantes sobre seus objetivos,
democrática e justa. Uma educação que carrega, em seu recursos, problemas e também sobre as questões peda-
bojo, a utopia de construir essa sociedade como forma gógicas. Só assim a família irá se sentir comprometida
de vida tem como tema constitutivo o desenvolvimento com a melhoria da qualidade escolar e com o desenvol-
integral do ser humano. vimento escolar e com o desenvolvimento como ser hu-
mano do seu filho.
Pesquisa e Prática Profissional-Relação Escola-Co- Quando se fala em vida escolar e sociedade, não há
munidade como não falar em Paulo Freire (1999), quando diz que “
a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela
Conforme Berg, a comunidade é a forma de viver tampouco a sociedade muda.
junto, de modo íntimo, privado e exclusivo. É a forma Se opção é progressista, se não está a favor da vida e
de se estabelecer relações de troca, necessárias para o não da morte, da equidade e não da injustiça, do direito
ser humano, de uma maneira mais íntima e marcada por e não do arbítrio, da convivência como diferente e não
contatos primários. Sociedade é uma grande união de de sua negação, não se tem outro caminho se não viver
grupos sociais marcadas pelas relações de troca, porém a opção que se escolheu. “Encarná-la, diminuindo, assim,
de forma não pessoal, racional e com contatos sociais a distância entre o que diz e o que faz.”
secundários e impessoais. Essa visão certamente, contribui para que tenha uma
As comunidades geralmente são grupos formados maior clareza do que se pode fazer no enfrentamento
por familiares, amigos e vizinhos que possuem um ele- das questões sócio educativas no conjunto do movimen-
vado grau de proximidade uns com os outros. Na socie- to social.
dade esse contato não existe, prevalecendo os acordos Nesse sentido importante que o projeto inicial se faça
racionais de interesses. Uma diferenciação clara entre levando em conta os grandes e sérios problemas sociais
comunidade e sociedade é quando uma pessoa nego- tanto da escola como da família.
cia a venda de uma casa, por exemplo, com um familiar No parágrafo IV do Eca (BRASIL,1990), encontramos
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

(comunidade) e com um desconhecido (sociedade). Lo- que é direito dos pais ou responsáveis ter ciência do pro-
gicamente, as relações irão ser bastante distintas entre os cesso pedagógico, bem como participar das definições
dois negócios: no negócio com um familiar irão preva- das propostas educacionais, ou seja trazer as famílias
lecer as relações emotivas e de exclusividade; enquanto para o ambiente escolar.
que na negociação com um desconhecido, que irá valer Promover a família nas ações dos projetos pedagógi-
é o uso da razão. cos significa enfatizar ações em seu favor e lutar para que
Nas comunidades, as normas de convivência e de possa dar vida as leis.
conduta de seus membros estão interligadas à tradição,
religião, consenso e respeito mútuo. Na sociedade, é to-
talmente diferente. Não há o estabelecimento de rela-
ções pessoais e na maioria das vezes, não há tamanha

54
EDUCAÇÃO E ESCOLA No sexto aspecto Gadotti afirma que uma escola ci-
dadã “É uma escola disciplinar”. Neste aspecto mostra a
necessidade da disciplina para que haja andamento pro-
FIQUE ATENTO! gressivo no contexto escolar.
No sétimo aspecto “A escola não é mais um espaço
Segundo Gadotti, a escola não é um simples
fechado. Sua ligação com o mundo se dá com trabalho”.
lugar pelo qual o indivíduo é convidado, mas Neste aspecto a visão da escola cidadã está envolvida
a mesma faz parte da vida do homem e por com a classe trabalhadora, possibilitando ao educando
mais que o tempo passe não será esquecida, adquirir experiências com o mundo exterior.
pelo contrário verá o quanto foi importante No oitavo aspecto “A transformação da escola não se
estar nela. Como afirma Gadotti: dá sem conflitos”. O termo conflito é usado por Gadotti
para demonstrar que a transformação da escola se dá
Mas é na escola que passamos os melhores anos de com ato político e democrático.
nossas vidas, quando crianças e jovens. A escola é um No nono aspecto “Não há duas escolas iguais”. Isto
lugar bonito, um lugar cheio de vida, seja ela uma escola quer dizer que cada instituição tem as identidade e plu-
com todas as condições de trabalho, seja ela uma escola ralidade de saberes, ou seja, as escolas são diferentes.
onde falta tudo. Mesmo faltando tudo nela existe o es- No décimo aspecto Gadotti destaca que “Cada es-
sencial: gente, professores e alunos, funcionários, direto- cola deveria ser suficientemente autônoma para poder
res. Todos tentando fazer o que lhes parece melhor. Nem organizar o seu trabalho de forma que quisesse, inclusive
sempre eles têm êxito, mas estão sempre tentando. Por controlando e exonerando a critério do conselho da es-
isso, precisamos falar mais e melhor das nossas escolas, cola”. Nesse aspecto demonstra que a escola tem que
de nossa educação. (GADOTTI, 2008) ter autonomia e democracia, a fim de buscar a origem
Sendo que cada escola tem sua própria história, uma do problema para conduzir a solução capaz de manter a
não é igual à outra, devido à comunidade a qual está organização do âmbito escolar.
inserida e a cultura que cada uma vivencia. Para Gadotti a escola do século 21 precisa proporcionar
A interação não está somente dentro da escola, está aos educandos, professores não só preparados, mas moti-
vados com formação continuada devendo ser concebida
ligada também a relação que mantém com outras es-
pelos mesmos como: reflexão, pesquisa, ação, descoberta,
colas, sociedade e família, sendo essa o primeiro grupo
organização, fundamentação, revisão e construção teórica
social no qual a criança faz parte.
e não como mera aprendizagem de novas técnicas, atua-
Tendo cada particularidade diferente em relação aos
lização em novas receitas pedagógicas ou aprendizagem
projetos e agentes conduzindo na produção da identidade
das últimas inovações tecnológicas recursos necessários
individual e social dos educandos, para se tornarem críti-
para realização dos trabalhos e uma boa remuneração. A
cos e criativos prontos a exercerem a cidadania consciente
instituição deve também dar subsídios para que os edu-
de seus direitos e deveres. Desta forma a escola forma o cadores possam refletir sobre sua metodologia de ensino,
sujeito cidadão para viver na comunidade de maneira de- seus projetos de vida, e sobre tudo desenvolver os projetos
mocrática e política, sendo uma escola cidadã. No livro Pe- políticos pedagógicos, sendo essencial no processo ensi-
dagogia da práxis Gadotti (2001) esclarece o seu conceito no-aprendizagem.
sobre “Decálogo da Escola Cidadã” no qual apresenta dez
aspectos indispensáveis para o desenho dessa escola. Para que ocorra uma boa aprendizagem, o professor
O primeiro aspecto apresentado por Gadotti a escola precisa ensinar com alegria, sem esquecer o que ele é,
acima de tudo tem que ser democrática, ou seja, a de- ainda que seu trabalho não seja reconhecido como de-
mocracia permite que o estudante tenha acesso e per- veria, precisa se empenhar, estar sempre pesquisando,
manência no contexto escolar. Desta forma oportuniza a buscando melhoras para auxiliar seus educandos em prol
elaboração de cultura no processo educativo. do conhecimento. Como declara Gadotti:
O segundo aspecto a escola tem que ser autônoma. Espera-se do professor do século XXI que tenha pai-
“Para ser autônoma, não pode ser dependente de órgãos xão de ensinar, que esteja aberto para sempre aprender,
intermediários que elaboram políticos dos quais ela é aberto ao novo, que tenha domínio técnico-pedagógico,
mera executora”. que saiba contar estórias, isto é, que construa narrativas
O terceiro aspecto “A escola cidadã deve valorizar o sedutoras para seus alunos. Espera-se que saiba pes-
contrato de dedicação exclusivo do professor”. Segun- quisar, que saiba gerenciar uma sala de aula, significar a
do Gadotti a escola deve oferecer condições de trabalho aprendizagem dele e de seus alunos. Espera-se que saiba
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

de forma adequada para o docente e não permitir que o trabalhar em equipe, que seja solidário. (GADOTTI, 2008)
mesmo leve para casa atividades extraclasse, se isso ocor- Outro fator importante é a conscientização pela bus-
rer deve-se considerar com carga horária de trabalho. ca de métodos tecnológicos para se tornar uma institui-
O quarto aspecto é chamado de “Ação direta”, pois ção de qualidade na sociedade atual, fazendo uso da TIC
visa à valorização dos projetos escolares e propostas dos (Tecnologia de Informação e Comunicação).
responsáveis que compõem o contexto escolar. No entanto para que o ensino se torne de qualida-
Gadotti afirma no quinto aspecto “A escola autônoma de é preciso à interação e maior participação de pais ou
cultiva a curiosidade, a paixão pelo estudo, o gosto pela responsável no processo ensino-aprendizagem, favore-
leitura e pela produção de textos escritos ou não”. Esta cendo assim ambas as partes envolvidas nesse processo.
escola em foca princípios de cidadania, possibilitando Caso não haja essa interação e, sobretudo a participação
um aprendizado criativo e questionador. dos alunos poderá ocorrer o fracasso educacional.

55
Segundo Gadotti (2000) “O educador é um medidor de “sociedade aprendente”, aprender a desenvolver au-
do conhecimento, diante do aluno que é o sujeito da sua tonomia, ser bom pesquisador, compartilhar e desenvol-
própria formação”. Ele precisa construir conhecimento ver o raciocínio lógico, ser disciplinado, organizado, sa-
de sua experiência para isso, também precisa ser curioso, ber articular o conhecimento com a prática e com uso de
buscar sentido para o que faz e apontar novos sentido saberes, conhecer as fontes de informação, com outros e
para o que fazer dos alunos. através da socialização construir saberes se posicionando
O ensino e a pesquisa são fatos indissociáveis, um como aprendiz permanente.
não acontece sem o outro o aluno aprende quando o
professor aprende, no entanto tal ensino o acompanha- Impregnados de informações o professor deve ser
rá não só na sua formação como cidadão, mas também curioso, buscar sentido para o que faz e apontar novos
profissionalmente. sentidos para o que fazer dos seus alunos dando-lhes
Na trajetória escolar o aluno se depara com diferen- condições de construir e reconstruir seus conhecimentos
tes conteúdos sem entender o porquê e pra que, sobre a partir do que faz.
isso a escola precisa conscientizar os alunos de sua fun- A escola do século 21 só vai sobreviver se conseguir
damental importância que será utilizada na construção unir o ensino adaptado a sociedade em rede que se en-
do seu projeto de vida, tanto individual quanto coletiva contra em movimento constante.
para viver bem numa sociedade. “A beleza existe em todo lugar. Dependendo do nos-
Sendo uma escola de maior autonomia ela será tam- so olhar, da nossa sensibilidade; depende da nossa cons-
bém, de maior capacidade para chegar a um padrão na- ciência, do nosso trabalho e do nosso cuidado. A beleza
cional de qualidade de ensino. existe porque o ser humano é capaz de sonhar.”
Normalmente o professor tem que saber de muitas
coisas para ensinar, mas isso não é o mais importante, Fonte
sobretudo é preciso ter sua própria identidade, não es- Disponível em
quecendo que um dia foram crianças, e que por isso de- http://pesquisaepraticapedagogicas.blogspot.com.
vem se colocar no lugar dos seus alunos, compreenden- br/2012/06/moacir-gadotti.html
do-os, pesquisando e valorizando seus sonhos para que
tenham um projeto de vida.
Educar é sempre impregnar de sentidos, ou seja, atra-
vés das experiências vivenciadas no âmbito escolar como EXERCÍCIO COMENTADO
na vida cotidiana o indivíduo passa a entender e trans- 1. (SEE-DF – Professor de Educação Básica – Superior
formar o mundo e a si mesmo. Educar é não se omitir – CESPE/2017) Devido ao fato de a escola ser uma ins-
e mostrar a realidade, é conduzir o educando a tomar
tituição social, são os princípios e valores da sociedade
decisões, a lutar, duvidar, desequilibrar enfim educar é
que determinam seu projeto político-pedagógico
buscar melhorias para auxiliar seus alunos em prol do co-
nhecimento. Como declara Gadotti: “Para que ocorra um
( ) CERTO ( ) ERRADO
bom desenvolvimento no processo de ensino aprendiza-
gem requer que o educador se empenhe e esteja sempre
Resposta: Errado. A escola é considerada uma institui-
pesquisando, buscando melhorias e ideias inovadoras.”
ção social e deve ter um projeto político-pedagógico
Quanto à aprendizagem o professor tem uma res-
ponsabilidade muito grande, pois no âmbito escolar ele determinado pelos princípios e valores da sociedade.
é um aprendiz permanente, construindo sentidos, coo- A informação pode ser ratificada nos escritos de José
perando e tornando-se um organizador da aprendiza- Carlos Libâneo, como Organização e gestão Escolar,
gem que usará de estratégias para que o aluno adquira o em que explica “As instituições escolares vêm sendo
conhecimento, sem esquecer que tanto um como outro pressionadas a repensar seu papel diante das trans-
serão sempre aprendizes. formações que caracterizam o acelerado processo de
A todo o momento o ser humano está aprendendo integração e reestruturação capitalista mundial. De
algo, e melhor ainda quando entende-se o porquê e fato, o novo paradigma econômico, os avanços cien-
para que aprender, como é o caso dos conteúdos que tíficos e tecnológicos, a reestruturação do sistema de
são ensinados na escola. Aprender não é acumular co- produção e as mudanças no mundo do conhecimento
nhecimento. Aprendemos história não para acumular co- afetam a organização do trabalho e o perfil dos tra-
nhecimento, datas, informações, mas para saber como os balhadores, repercutindo na qualificação profissional
seres humanos fizeram a história para fazermos história. e, por consequência, nos sistemas de ensino e nas es-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

O importante é aprender a pensar (a realidade, não pen- colas”. O mesmo entendimento pode ser confirmado,
samentos), aprender a aprender. (GADOTTI, 2008) na obra de Ilma Passos Alencastro Veiga, em Projeto
O projeto social e político é um forte aliado neste as- Político-Pedagógico: uma construção coletiva, quando
pecto através dele podemos construir ideias favoráveis ressalta que “A escola nessa perspectiva é vista como
para um aprendizado que transforme o ambiente escolar uma instituição social, inserida na sociedade capita-
num local que envolva gestão escolar, o corpo docente, e lista, que reflete no seu interior as determinações e
a comunidade a comprometerem-se como agentes par- contradições dessa sociedade.”.
ticipativos nesse processo.
Dessa forma, a educação se depara com grandes de-
safios com isso vivemos numa sociedade de múltiplas
oportunidades que envolvem aprendizagem chamada

56
Referência: O país tem passado por mudanças significativas no
BERG, G. D. A. O Estudo dos Fundamentos da Educa- que se refere ao funcionamento e acesso da população
ção e sua Influência na Relação entre Comunidade e brasileira ao ensino público, quando em um passado re-
Escola. cente era privilégio das camadas sociais abastadas (elite)
GALVÃO, A. S. C. Fundamentos da Educação. In: Con- e de preferência para os homens, as mulheres mal apare-
cepções da Educação no Mundo Contemporâneo. ciam na cena social, quando muito as únicas que tinham
Cap. I, 2010. acesso à instrução formal recebiam alguma iniciação em
desenho e música.

FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA; Atuação da equipe pedagógica – coordenação

A política de atuação da equipe pedagógica é de


A FUNÇÃO DA EDUCAÇÃO suma importância para a elevação da qualidade de en-
sino na escola, existe a necessidade urgente de que os
A função da Educação é possibilitar condições para coordenadores pedagógicos não restrinjam suas atri-
a atualização e uso pleno das potencialidades pessoais buições somente à parte técnica, burocrática, elaborar
em direção ao autoconhecimento e autorrealização pes- horários de aulas e ainda ficarem nos corredores da
soal. A Educação não deve destruir o homem concreto escola procurando conter a indisciplina dos alunos que
e sim apoiar-se neste ser concreto. Não deve ir contra o saem das salas durante as aulas, enquanto os professo-
homem para formar o homem. A Educação deve realizar- res ficam necessitados de acompanhamento. A equipe
-se a partir da própria vida e experiência do educando, de suporte pedagógico tem papel determinante no de-
apoiar-se nas necessidades e interesses naturais, expec- sempenho dos professores, pois dependendo de como
tativas do educando, e contribuir para seu desenvolvi- for a política de trabalho do coordenador o professor se
mento pessoal. Os três princípios básicos da Educação sentirá apoiado, incentivado. Esse deve ser o trabalho do
liberalista: liberdade, subjetividade, atividade. coordenador: incentivar, reconhecer, e elogiar os avan-
ços e conquistas, em fim o sucesso alcançado no dia a
FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA E COMPROMISSO dia da escola e consequentemente o desenvolvimento
SOCIAL DO EDUCADOR. do aluno em todos os âmbitos.

O papel da escola / função social da escola Compromisso social do educador

A sociedade tem avançado em vários aspectos, e mais Ao educador compete a promoção de condições que
do que nunca é imprescindível que a escola acompanhe favoreçam o aprendizado do aluno, no sentido do mes-
essas evoluções, que ela esteja conectada a essas trans- mo compreender o que está sendo ministrado, quando o
formações, falando a mesma língua, favorecendo o aces- professor adota o método dialético; isso se torna mais fá-
so ao conhecimento que é o assunto crucial a ser tratado cil, e essa precisa ser a preocupação do mesmo: facilitar a
neste trabalho. aprendizagem do aluno, aguçar seu poder de argumen-
É importante refletirmos sobre que tipo de trabalho tação, conduzir ás aulas de modo questionador, onde o
temos desenvolvido em nossas escolas e qual o efeito, aluno- sujeito ativo estará também exercendo seu papel
que resultados temos alcançado. Qual é na verdade a de sujeito pensante; que dá ótica construtivista constrói
função social da escola? A escola está realmente cum- seu aprendizado, através de hipóteses que vão sendo
prindo ou procurando cumprir sua função, como agente testadas, interagindo com o professor, argumentando,
de intervenção na sociedade? Eis alguns pressupostos a questionando em fim trocando ideias que produzem in-
serem explicitados nesse texto. Para se conquistar o su- ferências.
cesso se faz necessário que se entenda ou e que tenha O planejamento é imprescindível para o sucesso cog-
clareza do que se quer alcançar, a escola precisa ter ob- nitivo do aluno e êxito no desenvolvimento do trabalho
jetivos bem definidos, para que possa desempenhar bem do professor, é como uma bússola que orienta a direção
o seu papel social, onde a maior preocupação – o alvo a ser seguida, pois quando o professor não planeja o alu-
deve ser o crescimento intelectual, emocional, espiritual no é o primeiro a perceber que algo ficou a desejar, por
do aluno, e para que esse avanço venha fluir é necessário mais experiente que seja o docente, e esse é um dos fa-
que o canal (escola) esteja desobstruído. tores que contribuem para a indisciplina e o desinteresse
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

na sala de aula. É importante que o planejar aconteça de


A Escola no Passado forma sistematizada e contextualizado com o cotidiano
do aluno – fator que desperta seu interesse e participa-
A escola é um lugar que oportuniza, ou deveria pos- ção ativa.
sibilitar as pessoas à convivência com seus semelhantes Um planejamento contextualizado com as especifici-
(socialização). As melhores e mais conceituadas escolas dades e vivências do educando, o resultado será aulas
pertenciam à rede particular, atendendo um grupo eli- dinâmicas e prazerosas, ao contrário de uma prática em
tizado, enquanto a grande maioria teria que lutar para que o professor cita somente o número da página e alu-
conseguir uma vaga em escolas públicas com estrutura nos abrem seus livros é feito uma explicação superficial
física e pedagógicas deficientes. e dá-se por cumprido a tarefa da aula do dia, não houve
conversa, dialética, interação.

57
Ação do gestor escolar foram lá. A escola é na verdade um local onde se encon-
tram, conversam e até namoram. Há ainda, a questão de
A cultura organizacional do gestor é decisiva para o a família estar raramente na escola, não existe parceria
sucesso ou fracasso da qualidade de ensino da escola, a entre a escola e família, comunidade a escola ainda tem
maneira como ele conduz o gestionamento das ações é dificuldades em promover ações que tragam a família
o foco que determinará o sucesso ou fracasso da escola. para ser aliadas e não rivais, a família por sua vez ainda
De acordo com Libâneo (2005), características organiza- não concebeu a ideia de que precisa estar incluída no
cionais positivas eficazes para o bom funcionamento de processo de ensino e aprendizagem independente de
uma escola: professores preparados, com clareza de seus seu nível de escolaridade, de acordo com Libâneo (2005),
objetivos e conteúdos, que planejem as aulas, cativem “o grande desafio é o de incluir, nos padrões de vida dig-
os alunos. na, os milhões de indivíduos excluídos e sem condições
Um bom clima de trabalho, em que a direção con- básicas para se constituírem cidadãos participantes de
tribua para conseguir o empenho de todos, em que os uma sociedade em permanente mutação”.
professores aceitem aprender com a experiência dos co- Políticas que fortaleçam laços entre comunidade e
legas. escola é uma medida, um caminho que necessita ser tri-
Clareza no plano de trabalho do Projeto pedagógi- lhado, para assim alcançar melhores resultados. O aluno
co-curricular que vá de encontro às reais necessidades é parte da escola, é sujeito que aprende que constrói seu
da escola, primando por sanar problemas como: falta de saber, que direciona seu projeto de vida, assim sendo a
professores, cumprimento de horário e atitudes que as- escola lida com pessoas, valores, tradições, crenças, op-
segurem a seriedade, o compromisso com o trabalho de ções e precisa estar preparada para enfrentar tudo isso.
ensino e aprendizagem, com relação a alunos e funcio- Informar e formar precisa estar entre os objetivos
nários. explícitos da escola; desenvolver as potencialidades fí-
Quando o gestor, com seu profissionalismo conquista sicas, cognitivas e afetivas dos alunos, e isso por meio
o respeito e admiração da maioria de seus funcionários e da aprendizagem dos conteúdos (conhecimentos, habili-
alunos, há um clima de harmonia que predispõe a reali- dades, procedimentos, atitudes e valores), fará com que
zação de um trabalho, onde, apesar das dificuldades, os se tornem cidadãos participantes na sociedade em que
professores terão prazer em ensinar e alunos prazer em vivem.
aprender. Uma escola voltada para o pleno desenvolvimento do
educando valoriza a transmissão de conhecimento, mas
Função Social da Escola também enfatiza outros aspectos: as formas de convi-
vência entre as pessoas, o respeito às diferenças, a cultu-
A escola é uma instituição social com objetivo explí- ra escolar. (Progestão 2001).
cito: o desenvolvimento das potencialidades físicas, cog- Ao ouvir depoimentos de alunos que afirmaram que
nitivas e afetivas dos alunos, por meio da aprendizagem a maioria das aulas são totalmente sem atrativos, pro-
dos conteúdos (conhecimentos, habilidades, procedi- fessores chegam à sala cansados, desmotivados, não há
mentos, atitudes, e valores) que, aliás, deve acontecer de nada que os atraem a participarem, que os desafiem a
maneira contextualiazada desenvolvendo nos discentes querer aprender. É importante ressaltar a importância da
a capacidade de tornarem-se cidadãos participativos na unidade de propostas e objetivos entre os coordenado-
sociedade em que vivem. res e o gestor, pois as duas partes falando a mesma lin-
Eis o grande desafio da escola, fazer do ambiente es- guagem o resultado será muito positivo que terá como
colar um meio que favoreça o aprendizado, onde a esco- fruto a elevação da qualidade de ensino.
la deixe de ser apenas um ponto de encontro e passe a Contudo, partindo do pressuposto de que a escola
ser, além disso, encontro com o saber com descobertas visa explicitamente à socialização do sujeito é necessário
de forma prazerosa e funcional, conforme Libâneo (2005) que se adote uma prática docente lúdica, uma vez que
devemos inferir, portanto, que a educação de qualidade ela precisa estar em sintonia com o mundo, a mídia que
é aquela mediante a qual a escola promove, para todos, oferece: informatização e dinamismo.
o domínio dos conhecimentos e o desenvolvimento de Considerando a leitura, a pesquisa e o planejamento
capacidades cognitivas e afetivas indispensáveis ao aten- ferramentas básicas para o desenvolvimento de um tra-
dimento de necessidades individuais e sociais dos alunos. balho eficaz, e ainda fazendo uso do método dialético, o
A escola deve oferecer situações que favoreçam o professor valoriza as teses dos alunos, cultivando neles
aprendizado, onde haja sede em aprender e também ra- a autonomia e autoestima o que consequentemente os
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

zão, entendimento da importância desse aprendizado no fará ter interesse pelas aulas e o espaço escolar então
futuro do aluno. Se ele compreender que, muito mais im- deixará de ser apenas ponto de encontro para ser tam-
portante do que possuir bens materiais, é ter uma fonte bém lugar de crescimento intelectual e pessoal.
de segurança que garanta seu espaço no mercado com- Para que a escola exerça sua função como local de
petitivo, ele buscará conhecer e aprender sempre mais. oportunidades, interação e encontro com o outro e o
Analisando os resultados da pesquisa de campo saber, para que haja esse paralelo tão importante para
(questionário) observamos que os jovens da turma ana- o sucesso do aluno o bom desenvolvimento das atribui-
lisada não possuem perspectivas definidas quanto à se- ções do coordenador pedagógico tem grande relevância,
riedade e importância dos estudos para suas vidas pro- pois a ele cabe organizar o tempo na escola para que os
fissional, emocional, afetiva. A maioria não tem hábito de professores façam seus planejamentos e ainda que atue
leitura, frequenta pouquíssimo a biblioteca, outros nunca como formador de fato; sugerindo, orientando, avalian-

58
do juntamente os pontos positivos e negativos e nunca No caso da alfabetização para cegos, por exemplo,
se esquecendo de reconhecer, elogiar, estimular o do- o aluno tem direito a usar materiais adaptados ao le-
cente a ir em frente e querer sempre melhorar, ir além. tramento especial, como livros didáticos transcritos em
O fato de a escola ser um elemento de grande im- braille para escrever durante as aulas. De acordo com o
portância na formação das comunidades torna o desen- decreto 6.571, de 17 de setembro de 2008, o Estado deve
volvimento das atribuições do gestor um componente oferecer apoio técnico e financeiro para que o atendi-
crucial, é necessário que possua tendência crítico-social, mento especializado esteja presente em toda a rede pú-
com visão de empreendimento, para que a escola esteja blica de ensino. Mas o gestor da escola e as Secretarias
acompanhando as inovações, conciliando o conhecimen- de Educação e administração é que precisam requerer os
to técnico à arte de disseminar ideias, de bons relacio- recursos para isso.
namentos interpessoais, sobretudo sendo ético e demo- Às vezes o atendimento escolar especial (AEE) deve
crático. Os coordenadores por sua vez precisam assumir ser feito com um profissional auxiliar, em caso de pa-
sua responsabilidade pela qualidade do ensino, atuan- ralisia cerebral, por exemplo. Esse profissional auxilia na
do como formadores do corpo docente, promovendo execução das atividades, na alimentação e na higiene
momentos de trocas de experiências e reflexão sobre a pessoal. O professor e o responsável pelo AEE devem
prática pedagógica, o que trará bons resultados na reso- coordenar o trabalho e planejar as atividades. O auxiliar
lução de problemas cotidianos, e ainda fortalece a qua- não foge do tema da aula, que é comum a todos os alu-
lidade de ensino, contribui para o resgate da autoestima nos, mas o adapta da melhor forma possível para que o
do professor, pois o mesmo precisa se libertar de práticas aluno consiga acompanhar o resto da classe.
não funcionais, e para isso a contribuição do coordena- Mas a preparação da escola não deve ser apenas
dor será imprescindível, o que resultará no crescimento dentro da sala de aula: alunos com deficiência física ne-
intelectual dos alunos. cessitam de espaços modificados, como rampas, eleva-
dores (se necessário), corrimões e banheiros adaptados.
Referência: Engrossadores de lápis, apoio para braços, tesouras es-
ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. peciais e quadros magnéticos são algumas tecnologias
Editora: Artmed. 1998. assistivas que podem ajudar o desempenho das crianças
e jovens com dificuldades motoras.

EDUCAÇÃO INCLUSIVA E COMPROMISSO Educação Inclusiva – pessoa com deficiência


ÉTICO E SOCIAL DO EDUCADOR.
A inclusão é uma inovação, cujo sentido tem sido
muito distorcido e um movimento muito polemizado pe-
O que é inclusão social escolar? los mais diferentes segmentos educacionais e sociais. No
entanto, inserir alunos com déficits de toda ordem, per-
Inclusão escolar é acolher todas as pessoas, sem ex- manentes ou temporários, mais graves ou menos severos
ceção, no sistema de ensino, independentemente de cor, no ensino regular nada mais é do que garantir o direito
classe social e condições físicas e psicológicas. O termo de todos à educação - e assim diz a Constituição!
é associado mais comumente à inclusão educacional de Inovar não tem necessariamente o sentido do inusita-
pessoas com deficiência física e mental. do. As grandes inovações estão, muitas vezes na concre-
Recusar-se a ensinar crianças e jovens com neces- tização do óbvio, do simples, do que é possível fazer, mas
sidades educacionais especiais (NEE) é crime: todas as que precisa ser desvelado, para que possa ser compreen-
instituições devem oferecer atendimento especializado, dido por todos e aceito sem outras resistências, senão
chamado de Educação Especial. No entanto, o termo não aquelas que dão brilho e vigor ao debate das novidades.
deve ser confundido com escolarização especial, que O objetivo de nossa participação neste evento é cla-
atende os portadores de deficiência em uma sala de aula rear o sentido da inclusão, como inovação, tornando-o
ou escola separada, apenas formadas de crianças com compreensível, aos que se interessam pela educação
NEE. Isso também é ilegal. como um direito de todos, que precisa ser respeitado.
O artigo 208 da Constituição brasileira especifica que Pretendemos, também demonstrar a viabilidade da in-
é dever do Estado garantir “atendimento educacional es- clusão pela transformação geral das escolas, visando a
pecializado aos portadores de deficiência, preferencial- atender aos princípios deste novo paradigma educacio-
mente na rede regular de ensino”, condição que também nal.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

consta no artigo 54 do ECA (Estatuto da Criança e do Para descrever o nosso caminho na direção das es-
Adolescente). colas inclusivas vamos focalizar nossas experiências, no
A legislação também obriga as escolas a terem pro- cenário educacional brasileiro sob três ângulos: o dos
fessores de ensino regular preparados para ajudar alunos desafios provocados por essa inovação, o das ações no
com necessidades especiais a se integrarem nas classes sentido de efetivá-la nas turmas escolares, incluindo o
comuns. Ou seja, uma criança portadora de deficiência trabalho de formação de professores e, finalmente o das
não deve ter de procurar uma escola especializada. Ela perspectivas que se abrem à educação escolar, a partir de
tem direito a cursar instituições comuns, e é dever dos sua implementação.
professores elaborar e aplicar atividades que levem em
conta as necessidades específicas dela.

59
Uma educação para todos ção básica é um dos fatores do desenvolvimento eco-
nômico e social. Trata-se de uma tarefa possível de ser
O princípio democrático da educação para todos só realizada, mas é impossível de se efetivar por meio dos
se evidencia nos sistemas educacionais que se especiali- modelos tradicionais de organização do sistema escolar.
zam em todos os alunos, não apenas em alguns deles, os Se hoje já podemos contar com uma Lei Educacional
alunos com deficiência. A inclusão, como consequência que propõe e viabiliza novas alternativas para melhoria
de um ensino de qualidade para todos os alunos provo- do ensino nas escolas, estas ainda estão longe, na maio-
ca e exige da escola brasileira novos posicionamentos e ria dos casos, de se tornarem inclusivas, isto é, abertas a
é um motivo a mais para que o ensino se modernize e todos os alunos, indistinta e incondicionalmente. O que
para que os professores aperfeiçoem as suas práticas. É existe em geral são projetos de inclusão parcial, que não
uma inovação que implica num esforço de atualização e estão associados a mudanças de base nas escolas e que
reestruturação das condições atuais da maioria de nossas continuam a atender aos alunos com deficiência em es-
escolas de nível básico. paços escolares semi ou totalmente segregados (classes
O motivo que sustenta a luta pela inclusão como uma especiais, salas de recurso, turmas de aceleração, escolas
nova perspectiva para as pessoas com deficiência é, sem especiais, os serviços de itinerância).
dúvida, a qualidade de ensino nas escolas públicas e pri- As escolas que não estão atendendo alunos com
vadas, de modo que se tornem aptas para responder às deficiência em suas turmas regulares se justificam, na
necessidades de cada um de seus alunos, de acordo com maioria das vezes pelo despreparo dos seus professores
suas especificidades, sem cair nas teias da educação es- para esse fim. Existem também as que não acreditam nos
pecial e suas modalidades de exclusão. benefícios que esses alunos poderão tirar da nova situa-
ção, especialmente os casos mais graves, pois não teriam
O sucesso da inclusão de alunos com deficiência na condições de acompanhar os avanços dos demais cole-
escola regular decorre, portanto, das possibilidades de gas e seriam ainda mais marginalizados e discriminados
se conseguir progressos significativos desses alunos na do que nas classes e escolas especiais.
escolaridade, por meio da adequação das práticas peda- Em ambas as circunstâncias, o que fica evidenciado é
gógicas à diversidade dos aprendizes. E só se consegue a necessidade de se redefinir e de se colocar em ação no-
atingir esse sucesso, quando a escola regular assume que vas alternativas e práticas pedagógicas, que favoreçam a
as dificuldades de alguns alunos não são apenas deles, todos os alunos, o que, implica na atualização e desen-
mas resultam em grande parte do modo como o ensi- volvimento de conceitos e em aplicações educacionais
no é ministrado, a aprendizagem é concebida e avaliada. compatíveis com esse grande desafio.
Pois não apenas as deficientes são excluídas, mas tam- Muda então a escola ou mudam os alunos, para se
bém as que são pobres, as que não vão às aulas porque ajustarem às suas velhas exigências? Ensino especiali-
trabalham, as que pertencem a grupos discriminados, as zado em todas as crianças ou ensino especial para de-
que de tanto repetir desistiram de estudar. ficientes? Professores que se aperfeiçoam para exercer
suas funções, atendendo às peculiaridades de todos os
Os desafios alunos, ou professores especializados para ensinar aos
que não aprendem e aos que não sabem ensinar?
Toda criança precisa da escola para aprender e não
para marcar passo ou ser segregada em classes especiais As ações
e atendimentos à parte. A trajetória escolar não pode
ser comparada a um rio perigoso e ameaçador, em cujas Visando os aspectos organizacionais, ao nosso ver
águas os alunos podem afundar. Mas há sistemas orga- é preciso mudar a escola e mais precisamente o ensino
nizacionais de ensino que tornam esse percurso muito nelas ministrado. A escola aberta para todos é a grande
difícil de ser vencido, uma verdadeira competição entre a meta e, ao mesmo tempo, o grande problema da educa-
correnteza do rio e a força dos que querem se manter no ção na virada do século.
seu curso principal. Mudar a escola é enfrentar uma tarefa que exige
Um desses sistemas, que muito apropriadamente se trabalho em muitas frentes. Destacaremos as que con-
denomina “de cascata”, prevê a exclusão de algumas sideramos primordiais, para que se possa transformar a
crianças, que têm déficits temporários ou permanentes escola, em direção de um ensino de qualidade e, em con-
e em função dos quais apresentam dificuldades para sequência, inclusivo.
aprender. Esse sistema contrapõe-se à melhoria do en- Temos de agir urgentemente:
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

sino nas escolas, pois mantém ativo, o ensino especial, - Colocando a aprendizagem como o eixo das esco-
que atende aos alunos que caíram na cascata, por não las, porque escola foi feita para fazer com que to-
conseguirem corresponder às exigências e expectativas dos os alunos aprendam;
da escola regular. Para se evitar a queda na cascata, na - Garantindo tempo para que todos possam aprender
maioria das vezes sem volta, é preciso remar contra a e reprovando a repetência;
correnteza, ou seja, enfrentar os desafios da inclusão: o - Abrindo espaço para que a cooperação, o diálogo,
ensino de baixa qualidade e o subsistema de ensino es- a solidariedade, a criatividade e o espírito crítico
pecial, desvinculada e justaposto ao regular. sejam exercitados nas escolas, por professores, ad-
Priorizar a qualidade do ensino regular é, pois, um de- ministradores, funcionários e alunos, pois são ha-
safio que precisa ser assumido por todos os educadores. bilidades mínimas para o exercício da verdadeira
É um compromisso inadiável das escolas, pois a educa- cidadania;

60
- Estimulando, formando continuamente e valorizan- os alunos. Essa medida já diminuiria substancialmente
do o professor que é o responsável pela tarefa fun- o número de alunos que são indevidamente avaliados
damental da escola - a aprendizagem dos alunos; e categorizados como deficientes, nas escolas regulares.
- Elaborando planos de cargos e aumentando salá- A aprendizagem como o centro das atividades esco-
rios, realizando concursos públicos de ingresso, lares e o sucesso dos alunos, como a meta da escola,
acesso e remoção de professores. independentemente do nível de desempenho a que cada
um seja capaz de chegar são condições de base para que
Que ações implementar para que a escola mude? se caminha na direção de escolas acolhedoras. O senti-
do desse acolhimento não é o da aceitação passiva das
Para melhorar as condições pelas quais o ensino é mi- possibilidades de cada um, mas o de serem receptivas a
nistrado nas escolas, visando, universalizar o acesso, ou todas as crianças, pois as escolas existem, para formar
seja, a inclusão de todos, incondicionalmente, nas turmas as novas gerações, e não apenas alguns de seus futuros
escolares e democratizar a educação, sugerimos o que, membros, os mais privilegiados.
felizmente, já está ocorrendo em muitas redes de ensino, A inclusão não prevê a utilização de métodos e téc-
verdadeiras vitrines que expõem o sucesso da inclusão. nicas de ensino específicas para esta ou aquela deficiên-
A primeira sugestão para que se caminhe para uma cia. Os alunos aprendem até o limite em que conseguem
educação de qualidade é estimular as escolas para que chegar, se o ensino for de qualidade, isto é, se o pro-
elaborem com autonomia e de forma participativa o seu fessor considera o nível de possibilidades de desenvol-
Projeto Político Pedagógico, diagnosticando a demanda, vimento de cada um e explora essas possibilidades, por
ou seja, verificando quantos são os alunos, onde estão e meio de atividades abertas, nas quais cada aluno se en-
porque alguns estão fora da escola. quadra por si mesmo, na medida de seus interesses e
Sem que a escola conheça os seus alunos e os que necessidades, seja para construir uma ideia, ou resolver
estão à margem dela, não será possível elaborar um cur- um problema, realizar uma tarefa. Eis aí um grande desa-
rículo escolar que reflita o meio social e cultural em que fio a ser enfrentado pelas escolas regulares tradicionais,
se insere. A integração entre as áreas do conhecimento cujo paradigma é condutista, e baseado na transmissão
e a concepção transversal das novas propostas de orga- dos conhecimentos.
nização curricular consideram as disciplinas acadêmicas O trabalho coletivo e diversificado nas turmas e na
como meios e não fins em si mesmas e partem do res- escola como um todo é compatível com a vocação da
peito à realidade do aluno, de suas experiências de vida escola de formar as gerações. É nos bancos escolares que
cotidiana, para chegar à sistematização do saber. aprendemos a viver entre os nossos pares, a dividir as
Como essa experiência varia entre os alunos, mesmo responsabilidades, repartir as tarefas. O exercício dessas
sendo membros de uma mesma comunidade, a implan- ações desenvolve a cooperação, o sentido de se traba-
tação dos ciclos de formação é uma solução justa, em- lhar e produzir em grupo, o reconhecimento da diversi-
bora ainda muito incompreendida pelos professores e dade dos talentos humanos e a valorização do trabalho
pais, por ser uma novidade e por estar sendo ainda pou- de cada pessoa para a consecução de metas comuns de
co difundida e aplicada pelas redes de ensino. De fato, um mesmo grupo.
se dermos mais tempo para que os alunos aprendam, O tutoramento nas salas de aula tem sido uma solu-
eliminando a seriação, a reprovação, nas passagens de ção natural, que pode ajudar muito os alunos, desenvol-
um ano para outro, estaremos adequando o processo de vendo neles o hábito de compartilhar o saber. O apoio ao
aprendizagem ao ritmo e condições de desenvolvimento colega com dificuldade é uma atitude extremamente útil
dos aprendizes - um dos princípios das escolas de quali- e humana e que tem sido muito pouco desenvolvida nas
dade para todos escolas, sempre tão competitivas e despreocupadas com
Por outro lado, a inclusão não implica em que se de- a construção de valores e de atitudes morais.
senvolva um ensino individualizado para os alunos que Além dessas sugestões, referentes ao ensino nas es-
apresentam déficits intelectuais, problemas de aprendi- colas, a educação de qualidade para todos e a inclusão
zagem e outros, relacionados ao desempenho escolar. implicam em mudanças de outras condições relativas à
Na visão inclusiva, não se segregam os atendimentos, administração e aos papéis desempenhados pelos mem-
seja dentro ou fora das salas de aula e, portanto, nenhum bros da organização escolar.
aluno é encaminhado às salas de reforço ou aprende, a Nesse sentido é primordial que sejam revistos os pa-
partir de currículos adaptados. O professor não predeter- péis desempenhados pelos diretores e coordenadores,
mina a extensão e a profundidade dos conteúdos a se- no sentido de que ultrapassem o teor controlador, fis-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

rem construídos pelos alunos, nem facilita as atividades calizador e burocrático de suas funções pelo trabalho de
para alguns, porque, de antemão já prevê q dificuldade apoio, orientação do professor e de toda a comunidade
que possam encontrar para realizá-las. Porque é o aluno escolar.
que se adapta ao novo conhecimento e só ele é capaz de A descentralização da gestão administrativa, por sua
regular o seu processo de construção intelectual. vez, promove uma maior autonomia pedagógica, admi-
A avaliação constitui um outro entrave à implementa- nistrativa e financeira de recursos materiais e humanos
ção da inclusão. É urgente suprimir o caráter classificató- das escolas, por meio dos conselhos, colegiados, assem-
rio da avaliação escolar, através de notas, provas, pela vi- bleias de pais e de alunos. Mudam-se os rumos da admi-
são diagnóstica desse processo que deverá ser contínuo nistração escolar e com isso o aspecto pedagógico das
e qualitativo, visando depurar o ensino e torná-lo cada funções do diretor e dos coordenadores e supervisores
vez mais adequado e eficiente à aprendizagem de todos emerge. Deixam de existir os motivos pelos quais que

61
esses profissionais ficam confinados aos gabinetes, às A metodologia
questões burocráticas, sem tempo para conhecer e parti-
cipar do que acontece nas salas de aula. Diante dessas circunstâncias e para que possamos
atingir nossos propósitos de formar professores para
Visando à formação continuada dos professores uma escola de qualidade para todos, idealizamos um
projeto de formação que tem sido adotado por redes de
Sabemos que, no geral, os professores são bastante ensino públicas e escolas particulares brasileiras, desde
resistentes às inovações educacionais, como a inclusão. 1991.
A tendência é se refugiarem no impossível, considerando Nossa proposta de formação se baseia em princípios
que a proposta de uma educação para todos é válida, educacionais construtivistas, pois reconhecemos que a
porém utópica, impossível de ser concretizada com mui- cooperação, a autonomia intelectual e social, a aprendi-
tos alunos e nas circunstâncias em que se trabalha, hoje, zagem ativa e a cooperação são condições que propi-
nas escolas, principalmente nas redes públicas de ensino. ciam o desenvolvimento global de todos os alunos, assim
A maioria dos professores têm uma visão funcional do como a capacitação e o aprimoramento profissional dos
ensino e tudo o que ameaça romper o esquema de tra- professores.
balho prático que aprenderam a aplicar em suas salas de Nesse contexto, o professor é uma referência para o
aula é rejeitado. Também reconhecemos que as inovações aluno e não apenas um mero instrutor, pois enfatizamos
educacionais abalam a identidade profissional, e o lugar a importância de seu papel tanto na construção do co-
conquistado pelos professores em uma dada estrutura ou nhecimento, como na formação de atitudes e valores do
sistema de ensino, atentando contra a experiência, os co- futuro cidadão. Assim sendo, a formação continuada vai
nhecimentos e o esforço que fizeram para adquiri-los. além dos aspectos instrumentais de ensino.
Os professores, como qualquer ser humano, tendem A metodologia que adotamos reconhece que o pro-
a adaptar uma situação nova às anteriores. E o que é ha- fessor, assim como o seu aluno, não aprende no vazio.
bitual, no caso dos cursos de formação inicial e na educa- Assim sendo, partimos do “saber fazer” desses profissio-
ção continuada, é a separação entre teoria e prática. Essa nais, que já possuem conhecimentos, experiências, cren-
visão dicotômica do ensino dificulta a nossa atuação, ças, esquemas de trabalho, ao entrar em contato com a
como formadores. Os professores reagem inicialmente à inclusão ou qualquer outra inovação.
nossa metodologia, porque estão habituados a aprender Em nossos projetos de aprimoramento e atualiza-
de maneira incompleta, fragmentada e essencialmente ção do professor consideramos fundamental o exercício
instrucional. Eles esperam aprender uma prática inclusi- constante de reflexão e o compartilhamento de ideias,
va, ou melhor, uma formação que lhes permita aplicar es- sentimentos, ações entre os professores, diretores, coor-
quemas de trabalho pré-definidos às suas salas de aulas, denadores da escola. Interessam-nos as experiências
garantindo-lhes a solução dos problemas que presumem concretas, os problemas reais, as situações do dia-a-dia
encontrar nas escolas inclusivas. que desequilibram o trabalho, nas salas de aula. Eles são
Em uma palavra, os professores acreditam que a for- a matéria-prima das mudanças. O questionamento da
mação em serviço lhes assegurará o preparo de que ne- própria prática, as comparações, a análise das circuns-
cessitam para se especializarem em todos os alunos, mas tâncias e dos fatos que provocam perturbações e/ou res-
concebem essa formação como sendo mais um curso de pondem pelo sucesso vão definindo, pouco a pouco, aos
extensão, de especialização com uma terminalidade e professores as suas “teorias pedagógicas”. Pretendemos
com um certificado que lhes convalida a capacidade de que os professores sejam capazes de explicar o que ou-
efetivar a inclusão escolar. Eles introjetaram o papel de trora só sabiam reproduzir, a partir do que aprendiam em
praticantes e esperam que os formadores lhes ensinem o cursos, oficinas, palestras, exclusivamente. Incentivamos
que é preciso fazer, para trabalhar com níveis diferentes os professores para que interajam com seus colegas com
de desempenho escolar, transmitindo-lhes os novos co- regularidade, estudem juntos, com e sem o nosso apoio
nhecimentos, conduzindo-lhes da mesma maneira como técnico e que estejam abertos para colaborar com seus
geralmente trabalham com seus próprios alunos. Acredi- pares, na busca dos caminhos pedagógicos da inclusão.
tam que os conhecimentos que lhes faltam para ensinar O fato de os professores fundamentarem suas práti-
as crianças com deficiência ou dificuldade de aprender cas e argumentos pedagógicos no senso comum dificul-
por outras incontáveis causas referem-se primordialmen- ta a explicitação dos problemas de aprendizagem. Essa
te à conceituação, etiologia, prognósticos das deficiên- dificuldade pode mudar o rumo da trajetória escolar de
cias e que precisam conhecer e saber aplicar métodos e alunos que muitas vezes são encaminhados indevida-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

técnicas específicas para a aprendizagem escolar desses mente para as modalidades do ensino especial e outras
alunos. Os dirigentes das redes de ensino e das escolas opções segregativas de atendimento educacional.
particulares também pretendem o mesmo, num primeiro Daí a necessidade de se formarem grupos de estudos
momento, em que solicitam a nossa colaboração. nas escolas, para a discussão e a compreensão dos pro-
Se de um lado é preciso continuar investindo maciça- blemas educacionais, à luz do conhecimento científico e
mente na direção da formação de profissionais qualifica- interdisciplinarmente, se possível. Os grupos são organi-
dos, não se pode descuidar da realização dessa formação zados espontaneamente pelos próprios professores, no
e estar atento ao modo pelo qual os professores apren- horário em que estão nas escolas e são acompanhados,
dem para se profissionalizar e para aperfeiçoar seus co- inicialmente, pela equipe da rede de ensino, encarregada
nhecimentos pedagógicos, assim como reagem às novi- da coordenação das ações de formação. As reuniões têm
dades, aos novos possíveis educacionais. como ponto de partida, as necessidades e interesse co-

62
muns de alguns professores de esclarecer situações e de der com a turma toda. Porque se um aluno não vai bem,
aperfeiçoar o modo como trabalham nas salas de aula. seja ele uma pessoa com ou sem deficiência, o problema
O foco dos estudos está na resolução dos problemas de precisa ser analisado não apenas com relação às reações
aprendizagem, o que remete à análise de como o ensino dessa ou de outra criança, mas ao grupo como um todo,
está sendo ministrado, pois o processo de construção do ao ensino que está sendo ministrado, para que os alunos
conhecimento é interativo e os seus dois lados devem ser possam aprender, naquele grupo.
analisados, quando se quer esclarecê-lo. A itinerância não faz evoluir as práticas, o conhecimen-
Participam dos grupos, além dos professores, o di- to pedagógico dos professores. Ë, na nossa opinião, mais
retor da escola, coordenadores, mas há grupos que se uma modalidade da educação especial que acomoda o
formam entre membros de diversas escolas, que este- professor do ensino regular, tirando-lhe a oportunidade
jam voltados para um mesmo tema de estudo, como por de crescer, de sentir a necessidade de buscar soluções e
exemplo a indisciplina, a sexualidade, a ética e a violên- não aguardar que alguém de fora venha, regularmente,
cia, a avaliação e outros assuntos pertinentes. para resolver seus problemas. Esse serviço igualmente
A equipe responsável pela coordenação da forma- reforça a ideia de que os problemas de aprendizagem
ção é constituída por professores, coordenadores, que são sempre do aluno e que só o especialista poderá se
são da própria rede de ensino, e por parceiros de outras incumbir de removê-los, com adequação e eficiência.
Secretarias afins: Saúde, Esportes, Cultura. Nós trabalha- O tipo de formação que estamos implementando
mos diretamente com esses profissionais, mas também para tornar possível a inclusão implica no estabelecimen-
participamos do trabalho nas escolas, acompanhando- to de parcerias entre professores, alunos, escolas, pro-
-as esporadicamente, quando somos solicitados - minha fissionais de outras áreas afins, Universidades, para que
equipe de alunos e eu. possa se manter ativa e capaz de fazer frente às inúmeras
solicitações que essa modalidade de trabalho provoca
Os Centros de Desenvolvimento do Professor nos interessados. Por outro lado, essas parcerias ense-
jam o desenvolvimento de outras ações, entre as quais a
Algumas redes de ensino criaram o que chamamos investigação educacional e em outros ramos do conhe-
de Centros de Desenvolvimento do Professor, os quais cimento. São nessas redes e a partir dessa formação que
representam um avanço nessa nova direção de formação estamos pesquisando e orientando trabalhos de nossos
continuada, que estamos propondo, pois sediam a maio- alunos de graduação e pós-graduação da Faculdade de
ria das ações de aprimoramento da rede, promovendo Educação / Unicamp e onde estamos observando os efei-
eventos de pequeno, médio e grande porte, como wor- tos desse trabalho, nas redes.
kshops, seminários, entrevistas, com especialistas, fóruns Não dispensamos os cursos, oficinas e outros eventos
e outras atividades. Sejam atendendo individualmente, de atualização e de aperfeiçoamento, quando estes são
como em pequenos e grandes grupos os professores, reivindicados pelo professor e nesse sentido a parceria
pais, comunidade. Os referidos Centros também se de- com outros grupos de pesquisa da Unicamp e colegas
dicam ao encaminhamento e atendimento de alunos que de outras Universidades têm sido muito eficiente. Mas
necessitam de tratamento clínico, em áreas que não se- há cursos que oferecemos aos professores, que são mi-
jam a escolar, propriamente dita. nistrados por seus colegas da própria rede, quando estes
se dispõem a oferecê-los ou são convidados por nós, ao
Temos estimulado em todas as redes em que atuamos conhecermos o valor de sua contribuição para os demais.
a criação dos centros, pois ao nosso ver, eles resumem As escolas e professores com os quais estamos tra-
o que pretendemos, quando nos referimos à formação balhando já apresentam sintomas pelos quais podemos
continuada - um local em que o professor e toda comu- perceber que estão evoluindo dia -a- dia para uma Edu-
nidade escolar vem para realimentar o conhecimento pe- cação de qualidade para Todos. Esses sintomas podem
dagógico, além de servir igualmente aos alunos e a todos ser resumidos no que segue:
os interessados pela educação, no município. - reconhecimento E valorização da diversidade, como
Ao nosso ver, os cursos e demais atividades de for- elemento enriquecedor do processo de ensino e
mação em serviço, habitualmente oferecidos aos profes- aprendizagem;
sores não estão obtendo o retorno que o investimento - Professores conscientes do modo como atuam, para
propõe. Temos insistido na criação desses Centros, por- promover a aprendizagem de todos os alunos;
que a existência de seus serviços redireciona o que já é - Cooperação entre os implicados no processo edu-
usual nas redes de ensino, ou seja, o apoio ao professor, cativo - dentro e fora da escola;
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

pelos itinerantes. Não concordamos com esse suporte a - Valorização do processo sobre o produto da apren-
alunos e professores com dificuldades, porque “apagam dizagem;
incêndio”, agem sobre os sintomas, oferecem soluções - Enfoques curriculares, metodológicos e estratégias
particularizadas, locais, mas não vão à fundo no proble- pedagógicas que possibilita, a construção coletiva
ma e suas causas. Os serviços itinerantes de apoio não do conhecimento.
solicitam o professor, no sentido de que se mobilize, de
que reveja sua prática. Sua existência não obriga o pro- É preciso, contudo, considerar que a avaliação dos
fessor a assumir a responsabilidade pela aprendizagem efeitos de nossos projetos não se centra no aproveita-
de todos os alunos, pois já existe um especialista para mento de alguns alunos, os deficientes, nas classes regu-
atender aos casos mais difíceis, que são os que justa- lares. Embora estes casos sejam objeto de nossa atenção,
mente fazem o professor evoluir, na maneira de proce- queremos acima de tudo saber se os professores evoluí-

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ram na sua maneira de fazer acontecer a aprendizagem A inclusão está denunciando o abismo existente entre
nas suas salas de aula; se as escolas se transformaram, o velho e o novo na instituição escolar brasileira. A inclu-
se as crianças estão sendo respeitadas nas suas possibi- são é reveladora dessa distância que precisa ser preen-
lidades de avançar, autonomamente, na construção dos chida com as ações que relacionamos anteriormente.
conhecimentos acadêmicos; se estes estão sendo cons- Assim sendo, o futuro da escola inclusiva está, ao
truídos no coletivo escolar, em clima de solidariedade; se nosso ver, dependendo de uma expansão rápida dos
a as relações entre as crianças, pais, professores e toda a projetos verdadeiramente imbuídos do compromisso de
comunidade escolar se estreitaram, nos laços da coope- transformar a escola, para se adequar aos novos tempos.
ração, do diálogo, fruto de um exercício diário de com- Se hoje ainda são experiências locais, as que estão
partilhamento de seus deveres, problemas, sucessos. demonstrando a viabilidade da inclusão, em escolas e re-
des de ensino brasileiras, estas experiências têm a força
Outras alternativas de formação do óbvio e a clareza da simplicidade e só essas virtudes
são suficientes para se antever o crescimento desse novo
Para ampliar essas parcerias estamos utilizando tam- paradigma no sistema educacional.
bém as redes de comunicação à distância para inter- Não se muda a escola com um passe de mágica. A
câmbios de experiências entre alunos e profissionais da implementação da escola de qualidade, que é igualitária,
educação, pais e comunidade. Embora ainda incipiente, justa e acolhedora para todos, é um sonho possível.
o Caleidoscópio - Um Projeto de Educação Para Todos A aparente fragilidade das pequenas iniciativas, ou
é o nosso site na Internet e por meio deste hipertexto seja, essas experiências locais que têm sido suficientes
estamos trabalhando no sentido de provocar a intera- para enfrentar o poder da máquina educacional, velha e
tividade presencial e virtual entre as escolas, como mais enferrujada, com segurança e tranquilidade. Essas inicia-
uma alternativa de formação continuada, que envolve os tivas têm mostrado a viabilidade da inclusão escolar nas
alunos, as escolas e a rede como um todo. O Caleidos- escolas brasileiras.
cópio tem sido objeto de estudos de nossos alunos e de As perspectivas do ensino inclusivo são, pois, anima-
outras unidades da Unicamp, relacionadas à ciência da doras e alentadoras para a nossa educação. A escola é do
computação e está crescendo como proposta e abrindo povo, de todas as crianças, de suas famílias, das comuni-
canais de participação com a comunidade e com outras dades, em que se inserem.
instituições que se propõe a participar do movimento in- Crianças, bem-vindas à uma nova escola!
clusivo, dentro e fora das escolas.
Se pretendemos mudanças nas práticas de sala de O PAPEL DO PROFESSOR NO ENSINO E APRENDI-
aula, não podemos continuar formando e aperfeiçoando ZAGEM
os professores como se as inovações só se referissem à
aprendizagem dos alunos da educação infantil, da escola Nessa análise, será discutido o papel desempenhado
fundamental e do ensino médio... pelo professor e pelos alunos em sala de aula, de modo
a destacar, a atuação do professor na interação do aluno
As perspectivas com o conhecimento.
Saviani (2003), ao defender uma pedagogia crítico-
A escola para a maioria das crianças brasileiras é o -social dos conteúdos na qual professor e alunos se en-
único espaço de acesso aos conhecimentos universais e contram numa relação social específica – que é a relação
sistematizados, ou seja, é o lugar que vai lhes propor- de ensino - com o objetivo de estudar os conhecimentos
cionar condições de se desenvolver e de se tornar um
acumulados historicamente, a fim de construir e aprimo-
cidadão, alguém com identidade social e cultural
rar novas elaborações do conhecimento, aponta que o
Melhorar as condições da escola é formar gerações
ponto de partida da ação pedagógica não seria a pre-
mais preparadas para viver a vida na sua plenitude, livre-
paração dos alunos, cuja iniciativa é do professor (Peda-
mente, sem preconceitos, sem barreiras. Não podemos
gogia Tradicional ) nem a atividade, que é de iniciativa
nos contradizer nem mesmo contemporizar soluções,
dos alunos (Pedagogia Nova ), mas seria a prática social
mesmo que o preço que tenhamos de pagar seja bem
comum a professor e alunos, considerando que do ponto
alto, pois nunca será tão alto quanto o resgate de uma
vida escolar marginalizada, uma evasão, uma criança es- de vista pedagógico há uma diferença essencial em que
tigmatizada, sem motivos. professor, de um lado, e os alunos de outro, encontram-
A escola prepara o futuro e de certo que se as crianças -se em níveis diferentes de compreensão (conhecimento
conviverem e aprenderem a valorizar a diversidade nas suas e experiências) da prática social.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

salas de aula, serão adultos bem diferentes de nós, que te- Assim sendo, Fontana (2000) afirma que é preciso
mos de nos empenhar tanto para defender o indefensável. que o adulto assuma o seu papel com o objetivo claro
A inclusão escolar remete a escola a questões de es- da relação de ensino (que é o de ensinar), levando em
trutura e de funcionamento que subvertem seus paradig- consideração a condição de ambos os lados dessa práti-
mas e que implicam em um redimensionamento de seu ca, como parceiros intelectuais, desiguais em termos de
papel, para um mundo que evolui a “bytes”. desenvolvimento psicológico e dos lugares sociais ocu-
O movimento inclusivo, nas escolas, por mais que seja pados no processo histórico, mas por isso mesmo, par-
ainda muito contestado, pelo caráter ameaçador de toda ceiros na relação contraditória do conhecimento.
e qualquer mudança, especialmente no meio educacio- É justamente, pensando nessa “prática social” que o
nal, é irreversível e convence a todos pela sua lógica, pela professor deve estar ciente de que não basta tratar so-
ética de seu posicionamento social. mente de conteúdos atuais em sala de aula, mas sim,

64
também, resgatar conhecimentos mais amplos e histó- O ensino tem, portanto, de acordo com Libâneo
ricos, para que os alunos possam interpretar suas expe- (1994), como função principal garantir o processo de
riências e suas aprendizagens na vida social. transmissão e assimilação dos conteúdos do saber es-
colar e, através desse processo, o desenvolvimento das
Por isso, como afirma Kramer (1989), para que essa capacidades cognoscitivas dos alunos, de maneira que, o
função se efetive na prática: [...] o trabalho pedagógico professor planeje, dirija e comande o processo de ensino,
precisa se orientar por uma visão das crianças como se- tendo em vista estimular e suscitar a atividade própria
res sociais, indivíduos que vivem em sociedade, cidadãs dos alunos para a aprendizagem.
e cidadãos. Isso exige que levemos em consideração suas É justamente o que defende Saviani (2003) como
diferentes características, não só em termos de histórias terceiro passo no processo de ensino, que não coincide
de vida ou de região geográfica, mas também de classe com assimilação de conteúdos transmitidos pelo profes-
social, etnia e sexo. Reconhecer as crianças como seres sor por comparação com conhecimentos anteriores (Pe-
sociais que são implica em não ignorar as diferenças. dagogia Tradicional) nem com a coleta de dados (Peda-
É exatamente nesse sentido que devemos considerar gogia Nova), ainda que por certo envolva transmissão e
as experiências sociais acumuladas de cada aluno e seu assimilação de conhecimentos podendo, eventualmente,
contexto social, de modo a construir a partir daí um am- envolver levantamento de dados. Trata-se de uma instru-
biente escolar acolhedor em que o aluno se sinta parte mentalização, da apropriação pelas camadas populares
do todo e esteja totalmente aberto a novas aprendiza- das ferramentas culturais produzidas socialmente e pre-
gens. servados historicamente de modo que a sua apropriação
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais pelos alunos está na dependência de sua transmissão di-
(2001), o enfoque social oferecido aos processos de ensi- reta ou indireta pelo professor.
no e aprendizagem traz para a discussão pedagógica as- Essencialmente, é o que nos coloca Fontana e Cruz
pectos de excepcional importância, em particular no que ao afirmarem que “deixa-se de esperar das crianças a
se refere ao modo como se devem entender as relações postura de ouvinte valorizando-se sua ação e sua ex-
entre desenvolvimento e aprendizagem, à relevância da
pressão. Possibilitar à criança situações em que ela possa
relação interpessoal nesse processo, à relação entre edu-
agir e ouvi-la expressar suas elaborações passam a ser
cação e cultura e ao papel da ação educativa ajustada às
princípios básicos da atuação do professor”.
situações de aprendizagem e às características da ativi-
De fato, a criança precisa ser ouvida para que através
dade mental construtiva do aluno em cada momento de
de suas palavras e da problematização feita a partir delas,
sua escolaridade. Nesse sentido, o segundo passo ao se
ocorra uma aprendizagem ativa e crítica.
discutir uma pedagogia crítico-social dos conteúdos, de
Desse modo, segundo Fontana e Cruz (1997), pensar
acordo com Saviani (2003), não seria a apresentação de
sobre o modo como a criança utiliza a palavra, é pensar
novos conhecimentos pelo professor (Pedagogia Tradi-
em uma atividade intelectual nova e complexa. Assim, o
cional) nem o problema como um obstáculo que inter-
que a professora faz é levar as crianças a desenvolverem
rompe a atividade dos alunos (Pedagogia Nova). Caberia,
um tipo de atividade intelectual que elas ainda não reali-
neste momento, a identificação dos principais problemas
zam por si mesmas.
postos pela prática social. E a este segundo passo, Savia-
É neste sentido que consiste a intervenção e o papel
ni (2003) chama de problematização, através da qual se
do professor na prática educativa.
detectam questões que precisam ser resolvidas no âm-
Sem dúvida, através de suas orientações, interven-
bito da prática social e, em consequência, que conheci-
ções e mediações, o professor deve provocar e instigar
mento é necessário dominar. os alunos a pensarem criticamente e a se colocarem
Percebe-se então, a importância do enfoque social como sujeitos de sua própria aprendizagem.
na aprendizagem da criança. É através da problemati- Portanto, como afirmam Fontana e Cruz (1997), o
zação desse “social” que o conhecimento começa a ser professor através de suas perguntas, não nega nem ex-
construído individualmente e socializado através da me- clui as definições iniciais das crianças, ao contrário, ele as
diação do professor. problematiza e as “empurra” para outro patamar de ge-
A aprendizagem escolar tem um vínculo direto com o neralização, levando as crianças a considerarem relações
meio social que circunscreve não só as condições de vida que não foram incluídas nas suas primeiras definições,
das crianças, mas também a sua relação com a escola e provocando reelaborações na argumentação desenvol-
estudo, sua percepção e compreensão das matérias. A vida por elas.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

consolidação dos conhecimentos depende do significa- Efetivamente, neste momento chegamos ao quarto
do que eles carregam em relação à experiência social das passo defendido por Saviani (2003), que não é a gene-
crianças e jovens na família, no meio social, no trabalho. ralização (Pedagogia Tradicional) nem a hipótese (Pe-
Dessa forma, segundo os Parâmetros Curriculares dagogia Nova), trata-se de “catarse”, entendida como:
Nacionais (2001), se potencialmente não podemos mais Elaboração superior da estrutura em superestrutura na
deixar de ter inquietações com o domínio de conheci- consciência dos homens, em que ocorre a efetiva incor-
mentos formais para a participação crítica na sociedade, poração dos instrumentos culturais, transformados ago-
considera-se também que é indispensável uma adequa- ra em elementos ativos de transformação social.
ção pedagógica às características de um aluno que pen- Nesse processo de entrecruzamento e incorporação
sa, de um professor que sabe e de conteúdos com valor se fazem presentes e atuantes, como afirmam Fontana e
social e formativo. Cruz (1997), as maneiras de dizer e pensar da criança e

65
o papel do professor como parceiro social de sua apren- historicamente acumulados bem como os conhecimen-
dizagem, que considera os saberes trazidos em sala de tos atuais, possibilitando, ao fim de todo o processo, que
aula, provocando outros significados e sentidos além do o educando tenha a capacidade de reelaborar o conhe-
que os alunos já conhecem, buscando articular conheci- cimento e de expressar uma compreensão da prática em
mentos e chegar ao conhecimento sistematizado. termos tão elaborados quanto era possível ao educador.
Percebe-se então, que tal prática social só pôde ser
Segundo Libâneo): alcançada através de uma ação pedagógica mediadora
O trabalho docente é atividade que dá unidade ao e problematizadora dos conteúdos sistematizados, das
binômio ensino-aprendizagem, pelo processo de trans- vivências dos alunos e dos acontecimentos da sociedade
missão-assimilação ativa de conhecimentos, realizando a atual.
tarefa de mediação na relação cognitiva entre o aluno e Assim sendo, na relação de ensino estabelecida na
as matérias de estudo. sala de aula, o professor precisa ter o entendimento de
Desse modo, percebemos uma interrelação entre dois que ensinar não é simplesmente transferir conhecimento,
momentos do processo de ensino – transmissão e assimi- mas, ao contrário, é possibilitar ao aluno momentos de
lação ativa – que supõe o confronto entre os conteúdos reelaboração do saber dividido, permitindo o seu acesso
sistematizados, trazidos pelo professor, e a experiência critico a esses saberes e contribuindo para sua atuação
sociocultural do aluno e por suas forças cognoscitivas, como ser ativo e crítico no processo históricocultural da
enfrentando as situações escolares de aprendizagem por sociedade.
meio da orientação do professor. De fato, este é o verdadeiro papel do professor me-
Finalmente então, chega-se ao quinto passo, no qual diador que almeja através da sua ação pedagógica en-
Saviani (2003) nos coloca que não será a aplicação (Pe- sinar os conhecimentos construídos e elaborados pela
dagogia Tradicional) nem a experimentação (Pedago- humanidade ao longo da história e assim contribuir na
gia Nova), mas o ponto de chegada que será a própria formação de uma sociedade pensante.
prática social, compreendida agora não mais em termos
sincréticos pelos alunos. Neste momento, ocorre uma
elevação dos alunos ao nível do professor, posto que em Referências:
consequência de todo o processo, manifesta-se nos alu- MANTOAN: M T. E. Todas as crianças são bem-vindas
nos a competência de expressarem um entendimento da à escola. Universidade Estadual de Campinas/ Unicamp.
prática em termos tão elaborados quanto era possível ao BULGRAEN, V. C. O papel do professor e sua media-
professor. ção nos processos de elaboração do conhecimento. Re-
Dessa forma, observa-se uma desigualdade no ponto vista Conteúdo, Capivari, v.1, n.4, ago./dez. 2010.
de partida (primeiro passo) e uma igualdade no ponto de
chegada. Através da ação pedagógica é possível formar
sujeitos sociais críticos e ativos numa sociedade pensante.
GESTÃO DEMOCRÁTICA: A PARTICIPAÇÃO
A teoria em si [...] não transforma o mundo. Pode con-
tribuir para sua transformação, mas para isso tem que COMO PRINCÍPIO.
sair de si mesma, e, em primeiro lugar tem que ser assi-
milada pelos que vão ocasionar, com seus atos reais, efe-
COLEGIADOS ESCOLARES E A PARTICIPAÇÃO DA
tivos, tal transformação. Entre a teoria e a atividade prá-
COMUNIDADE NA VIDA ESCOLAR.
tica transformadora se insere um trabalho de educação
das consciências, de organização dos meios materiais e
1. A gestão democrática
planos concretos de ação; tudo isso como passagem in-
dispensável para desenvolver ações reais, efetivas. Nesse
As evidentes mudanças científicas-tecnológicas, eco-
sentido, uma teoria é prática na medida em que materia-
nômicas, sociais, políticas e cultural, ocorridas no mundo
liza, através de uma série de mediações, o que antes só
existia idealmente, como conhecimento da realidade ou contemporâneo têm influenciado direta e indiretamente
antecipação ideal de sua transformação. a organização da sociedade que concretamente reflete
É justamente, pela formação de sujeitos autônomos em seus processos educacionais.
e produtivos que a educação deve se destacar, pois por Em sincronia com essas mudanças, que já vem de
meio dela, professores e alunos, reciprocamente apren- outrora, a organização da sociedade mediada por es-
dem, de modo que assim ambos possam inserir-se criti- sas relações refletiu, em diferentes contextos históricos
camente em seu processo histórico e na sociedade. e formas de desenvolvimento de gestão pedagógica e
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Contudo, consideramos, neste trabalho, que cabe ao administrativa, buscando referências nos mais variados
professor, mediar o chamado “saber elaborado” acumu- espaços de composição social.
lado historicamente pela sociedade com as vivências do Para cumprir sua função social, a escola precisa con-
aluno possibilitando uma aprendizagem crítica para sua siderar as práticas da sociedade, seja ela de natureza so-
atuação como sujeito na sociedade, enfocando o ensino cial, política, econômica ou cultural.
dos conhecimentos do passado, da tradição, para o en- Neste sentido é essencial conhecer as expectativas
tendimento das situações presentes e formas de se rede- dessa comunidade, seus anseios, sua forma de organi-
finir as ações futuras. zação, sobrevivência seus costumes e valores. A partir
Portanto, a ação pedagógica no processo de ensino daí poder auxiliá-la a ampliar seu instrumental de com-
consiste, basicamente, na “prática social”. De modo que, preensão e transformação social. Para tanto é preciso ter
inicialmente cabe ao educador, mediar conhecimentos clareza do homem e de sociedade que pretende formar,

66
para realizar práticas pedagógicas, comprometidas, par- pal, vários seminários, palestras e encontros, debates e
ticularmente num país de contrastes como o nosso, onde congressos a fim de se buscar coletivizar as propostas de
convivem grandes desigualdades. cada entidade representativa.
O presente texto, ainda que não tenha a pretensão de De acordo com Pino a estes “atores coletivos cabe
esgotar a discussão pretende buscar ao debate o papel o papel de assegurar as políticas globais e articuladas
do diretor e do pedagogo unitário, na gestão democrá- como moderadoras das desigualdades econômicas e so-
tica, apontando brevemente a gestão democrática como ciais e de responderem ao aumento das demandas no
possibilidades de organização do trabalho da escola pú- contexto de uma maior divisão do trabalho e expansão
blica pela via do Projeto Político Pedagógico e da Orga- do mercado na sociedade de massas”.
nização Curricular. É importante registrarmos a necessidade de a socie-
dade civil ocupar seu assento na condução das Políticas
2. Fundamentação teórica Públicas em nosso país, se de fato queremos a democra-
tização das mesmas bem como das relações sociais. Não
A prática educativa é um fenômeno social, sendo uma podemos permitir a acomodação e a manutenção das
atividade humana necessária à existência e ao funciona- linhas conservadoras nas questões educacionais. É um
mento de toda a sociedade. trabalho lento que precisa de todos nós. As modificações
Através das Políticas Públicas em Educação tem-se nos indicam profundas reformas na Educação Brasileira e
oportunidades de refletir e construir novos paradigmas que não podem deixar de ser acompanhadas atentamen-
que possibilitem uma educação voltada para a classe te por nós educadores.
trabalhadora. Precisa-se lançar um olhar político sobre Considerando a especificidade do trabalho pedagógico
o final do século XX que possibilite a reflexão sobre as no âmbito da escola pública e as demandas cotidianas ine-
discussões contemporâneas da ciência política e, por rentes a sua organização, é preciso estar discutindo as rela-
conseguinte, a urgência de um novo enfoque das ciên- ções sociais entre sociedade, educação e trabalho, fazendo
cias sociais, com óbvias consequências sobre as políticas uma análise reflexiva, fortalecendo as ações articuladoras
educacionais. deste processo, considerando ainda, a perspectiva do papel
A partir deste enfoque, podem-se demandar novos do diretor e do pedagogo unitário dentro das escolas pú-
conceitos de Estado, Nação, Democracia, Cidadania e um blicas. Repensadas sob a luz da gestão democrática.
repensar sobre a formação política e pedagógica do pro- Compreender de que forma a sociedade mundiali-
fessor. zada, o neoliberalismo e as ideologias conservadoras
A Pedagogia é um campo do conhecimento sobre a tratam de orientar os sistemas educativos para, sobre a
base de um pensamento único, reafirmar seus projetos
problemática educativa na sua totalidade e historicidade
como os exclusivamente possíveis e válidos.
e, ao mesmo tempo uma diretriz orientadora de sua ação
Preparar os profissionais da educação em todos os
educativa. O pedagógico refere-se à finalidade da ação
níveis e modalidades, no empenho e na busca de novas
educativa, implicando objetivos sócio-políticos a partir dos
alternativas, capazes de contribuir com a melhoria e no
quais se estabelecem formas organizativas e metodológi- desempenho de nossas práticas pedagógicas numa con-
cas da ação educativa. Entra em cena o papel do pedago- dição de aprendiz e de pesquisadores deste novo tempo
go e do diretor, na construção do Projeto Político Pedagó- da história da educação.
gico da escola, que é um instrumento que descreve e revela Para Ferreira: “gestão significa tomar decisões, orga-
o espaço escolar para além de suas intenções, que supere nizar, dirigir as políticas educacionais que se desenvolvem
os conflitos, elimine as competitividades corporativas e au- na escola comprometida com a formação da cidadania. E,
toritárias, rompendo com a rotina do mundo impessoal e pensar na gestão democrática da escola pública nos re-
racionalizado da burocracia que permeia as relações no mete obrigatoriamente, pensar a possibilidade de organi-
interior da escola. camente constituir a escola como espaço de contradição,
Para Pino “encontramo-nos em período de transição, delimitando os processos de organização dos segmentos
onde resoluções têm sido elaboradas com o intuito de escolares diante de seu papel enquanto escola pública”.
normalizar ou legalizar, as Legislações e as Políticas Pú- Saviani afirma que neste contexto: “a gestão do mun-
blicas que regem a educação em nosso país”. do globalizado e a gestão educacional devem se alicer-
Cidadãos e educadores devem conhecer bem a lei que çar em ideais que necessitam ser firmado, explicitados,
nos rege e acompanhar permanentemente os andamen- compreendidos e partilhados nas tomadas de decisões
tos das discussões e as novas resoluções que estão sen- sobre a formação dos cidadãos, que estejam atuantes a
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

do apresentadas pelo Conselho Nacional de Educação. É dirigir o mundo e as instituições. Compreendendo a edu-
importante, portanto, que cada profissional da educação, cação como uma mediação que se realiza num contexto
esteja participando através de organizações, conselhos e social que se faz a partir das determinações da contem-
sindicatos, destas discussões a fim de poder contribuir na poraneidade e a partir do ser que aprende, necessário se
elaboração de Leis que favoreçam o desenvolvimento de faz a estes dois “mundos” para cumprir com a respon-
nosso próprio trabalho e consequentemente o desenvol- sabilidade de educador em formar mentes e corações”.
vimento de nosso alunado. Se a pedagogia estuda as práticas educativas tendo
Pensando nas Políticas Públicas, não podemos negar em vista explicitar finalidades, objetivos sociopolíticos e
a importância do Fórum Nacional em Defesa da Escola formas de intervenção pedagógica para a educação, o
pedagógico se expressa, justamente, na intencionalidade
Pública que mobilizou educadores de todo canto deste
e no direcionamento dessa ação.
país, promovendo em nível nacional, estadual e munici-

67
Para Gadotti: “fazer pedagogia é fazer prática teó- te pensar a escola como espaço de contradição, e que
rica por excelência. É descobrir e elaborar instrumen- se organiza coletivamente numa relação intrínseca entre
tos de ação social. Assim sendo, o pedagogo e o dire- teoria e prática.
tor, à luz de uma concepção progressista de educação, Numa gestão democrática é necessário que haja par-
têm sua função de mediador do trabalho pedagógico, ticipação de fato, através da participação de toda a co-
agindo em todos os espaços de contradição para a munidade escolar e das instâncias colegiadas. Isso exige
transformação da prática de uma educação pública mudança no papel do diretor quanto à fragmentação dos
e de qualidade, visando à emancipação das classes trabalhos, mudança de postura, centralização das toma-
populares.” das de decisões, e corporativismo. Ao considerar a análise
Neste sentido a gestão democrática passa a ser vista feita a respeito da gestão escolar, não se pode falar em
sob o ponto da organização coletiva da escola em função resultados, no processo ensino aprendizagem, sem pri-
de seus sujeitos, pois é uma tarefa que exige rigor teó- meiro analisar o contexto social, político e econômico em
rico prático de quem organiza, decide debate, discute o que esta aprendizagem acontece, e para que isso aconte-
trabalho escolar. Significa permitir o trabalho específico ça é preciso reportar à questão social, pois ela pode nos
e ao mesmo tempo, orgânico dos sujeitos em função das indicar o ingresso de um novo sujeito histórico, numa
necessidades histórico-sociais dos seus alunos. Tomando sociedade em constante transformação.
aqui a especificidade do trabalho do pedagogo, na ten- Coutinho diz que “a gestão democrática da educa-
tativa de entender seu papel como mediador da inten- ção compreende noção de cidadania como capacidade
cionalidade educativa da escola, pela via dos diferentes conquistada por todos os indivíduos, de se apropriarem
segmentos que a compõe. dos bens socialmente criados, de atualizarem todas as
A sociedade precisa cuidar da formação dos indiví- potencialidades de realização humana abertas pela via
duos, auxiliarem no desenvolvimento de suas capaci- social em cada contexto histórico determinado”.
dades, prepará-los para a participação ativa e transfor- Neste sentido é preciso compreender a gestão, como
madora nas várias instâncias da vida social, pois não há tomadas de decisões, como organização e direciona-
mento das políticas educacionais que se desenvolvem
sociedade sem prática educativa e nem prática educativa
na escola, comprometida com a formação do cidadão.
sem sociedade.
É um compromisso de quem toma decisões, de quem
Para Gadotti “a prática educativa não é apenas exi-
tem consciência do coletivo democrático, de quem tem
gência da vida em sociedade, mas também o processo
responsabilidade de formar seres humanos por meio da
de prover os indivíduos de conhecimentos e experiências
educação.
culturais que os tornam preparados para atuar no meio
Segundo Prais “isto significa entender o conhecimen-
social e transformá-lo em função de suas necessidades
to como fonte para efetivação de um processo de emanci-
sejam elas, econômicas, sociais ou políticas”. pação humana e de transformação social. Garantindo dessa
Pela ação educativa, o meio exerce influência sobre forma o processo ensino aprendizagem como um caminho
os indivíduos e estes, ao assimilarem e recriarem essas para a ruptura e a serviço das mudanças necessárias”.
influências torna-se capazes de estabelecer uma relação Os momentos coletivos que permitem a discussão,
ativa e transformadora em relação ao meio social. as análises e os avanços, no sentido de articulação en-
Tais influências se manifestam por meio desconhecido tre teoria e prática, são o momento, segundo Kunzer de
de experiências, valores, crenças, modos de agir, técnicas apropriação do saber coletivo que passa a garantir uma
e costumes acumulados por muitas gerações de indiví- “pedagogia emancipatória” uma luta pela superação in-
duos e grupos, transmitidos, assimilados e recriados pelas telectual entre pensamento e ação, teoria e prática.
novas gerações.
A escola, como instituição social, tem como função a 3. Conselhos de classe versus “conselhos de classe”
democratização dos conhecimentos produzidos historica-
mente pela humanidade, é um espaço de mediação entre Os conselhos de classe vêm sendo realizados, em
sujeito e sociedade, para isso o conhecimento é a fonte grande parte das escolas, orientados por modelos avalia-
para efetivação de um processo de emancipação humana tivos classificatórios e com caráter sentencitivo - se pro-
e de transformação social. E assim, o papel político da pondo a deferir uma sentença ao aluno. Nestas sessões,
escola deve estar atrelado ao seu papel pedagógico. o privilégio ao passado é evidente. Hoffman defende que
Durante décadas a escola aconteceu de forma mui- esta deve ser uma ação voltada para o futuro, de caráter
to semelhante à da Administração de Empresas, o que interativo e reflexivo, deliberadora de novas ações que
não contribuiu para que a escola cumprisse com sua real garantam a aquisição de competências necessárias à
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

função e muito menos atendesse as necessidades da co- aprendizagem dos alunos.


munidade escolar, sendo vista como uma educação que Os momentos do conselho de classe precisam ser
reforçava a prática da divisão do trabalho, a formação de repensados pelas escolas e serem utilizados para a am-
sujeitos em massa, possíveis reprodutores da lógica vi- pliação das perspectivas acerca dos diferentes jeitos de
gente. ser e de aprender do educando que interage com outros
As mudanças ocorridas nos últimos anos nas áreas da educadores e com outros conhecimentos. As questões
ciência, tecnologia, economia e na cultura, influenciou a atitudinais não devem ocupar um tempo enorme em de-
organização da sociedade, e isso reflete na área educa- trimento das questões do ensino-aprendizagem.
cional. Ao longo dos anos houveram avanços e retroces- Para Hoffman, projetar a avaliação no futuro dos alu-
sos, porém, deve-se lembrar que para pensar em gestão nos significa reforçar as setas dos seus caminhos: confiar,
democrática da escola pública necessita obrigatoriamen- apoiar, sugerir e, principalmente, desafiá-los a prosseguir

68
por meio de provocações significativas. Uma atividade tunidade máxima de aprendizagem e de inserção social,
ética Não basta desenvolver a avaliação educacional a em condições de igualdade educativa, isto é, oferece ao
serviço de uma ação com perspectiva par o futuro, mas aluno condições adequadas de aprendizagem de acordo
torná-la referência para decisões educativas pautadas com suas características, suas possibilidades. Isso signifi-
por valores, por posturas políticas, fundamentos filosó- ca encontrar meios para favorecer aprendizagem de to-
ficos e considerações sociais. dos os alunos. Assim, são professores e escolas que pre-
Os protagonistas da avaliação precisam ser levados a cisam adequar-se aos alunos e não os alunos que devem
refletir sobre o que fazem e por que fazem. As práticas adequar-se às escolas e aos professores. A, dimensão da
educacionais exigem, além de conhecimento, metodolo- exclusão de muitos alunos da escola pode ser medida:
gia, trabalho científico, a inclusão da dimensão ética e - pela constatação das práticas reprovativas baseadas
sensível. Nesse sentido programas e projetos desenvol- em parâmetros de maturidade e de normalidade;
vidos para dar conta de problemas apresentados para o - pela ocorrência dos encaminhamentos de alunos
estudo de uma área de conhecimento ou para resolver para classes e escolas especiais por erros na ava-
questões de determinadas escolas, estariam responden- liação pedagógica. A inclusão nas classes regulares
do às dimensões ético-políticas neste contexto avaliativo. de alunos que necessitam de atendimento espe-
As reformas educacionais Oriundas de posturas po- cializado, sem que haja a preparação do professor
líticas que não devem se sobrepujar aos atos educati- no desempenho de seu papel, priva os alunos com
vos, as novas medidas em avaliação educacional afetam necessidades especiais de uma escolaridade digna.
os sentimentos dos atores envolvidos, por se tratar de Para Hoffman, um sério compromisso irá mobilizar
uma atividade prática, ética em seu sentido mais original, a escola brasileira deste século: formar e qualificar
porque está embasada em juízo de valor. Não concorda- profissionais conscientes de sua responsabilidade
mos que deva haver regra única em avaliação, ainda que ética frente à inclusão. Se incluir é fundamental e
elencada no bojo de diretrizes unificadoras das reformas singular, como no caminho de Santiago, é neces-
educacionais, porque cada situação envolve a singulari- sário valorizar cada passo do processo, sem pressa,
dade dos participantes do processo educativo. Não en- vivendo cada dia o inusitado.
contramos mecanismos únicos, classificatórios que deem
conta da complexidade do ato avaliativo. É preciso con- Fonte
siderar, como alerta Morim, a complexidade inerente a OST, N. M.
tal finalidade.

4. A participação dos pais da comunidade ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA CENTRADA


NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO
Os pais devem participar da escolaridade de seus PLENO DO EDUCANDO.
filhos, considerando, entretanto, a natureza do envolvi-
mento; a realidade social destes pais; a constituição de
suas famílias; a luta pela sobrevivência, etc., nos faz pon- METODOLOGIAS - PEDAGOGIA NA INFÂNCIA, JU-
derar que as dificuldades de aprendizagem dos alunos VENTUDE E VIDA ADULTA, TRABALHO COLETIVO E
não podem ser atribuídas às famílias, muito menos o tra- FOCO NOS EDUCANDOS
balho de superação destas dificuldades não pode recair
sob a responsabilidade destes, mas dos profissionais que No Brasil, atualmente, existem diversas abordagens
atuam nas escolas, bem como são de sua responsabilida- pedagógicas, mas, no entanto, muitas são parecidas em
de a aquisição de atitudes e habilidades que favoreçam o vários aspectos e é comum que apareçam de forma mes-
enriquecimento das relações interpessoais no ambiente clada nas escolas.  
escolar. Tradicional: é a abordagem predominante no país e
É compromisso dos pais acompanhar o processo vivi- por isso mesmo a mais conhecida dos pais. Nas escolas
do pelos filhos, dialogar com a escola, assumir o que lhes tradicionais, o foco está no professor, que detém conhe-
é de responsabilidade. Promover o diálogo entre os pais cimentos e repassa ao aluno. O estudante tem metas a
e os professores é função da escola, que não significa cumprir dentro de determinados prazos, que são verifi-
atribuir a eles a tarefa da escola. A educação inclusiva cadas por meio de avaliações periódicas. 
Num processo de avaliação mediadora, a promoção se Quem não atinge a nota mínima necessária no con-
baseia na evolução alcançada pelo aluno, na sua singu- junto de avaliações ao longo do ano que está cursando é
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

laridade e de acordo com suas possibilidades, desde que reprovado e tem de refazê-lo. 
se tenha garantido as melhores oportunidades possíveis É comum que essas escolas usem apostilas e cartilhas,
à aprendizagem e ao desenvolvimento de todos e de que estabelecem o quanto a criança deve aprender em
cada um. Nesse contexto, a responsabilidade pelo fracas- cada ano. É uma filosofia que valoriza a quantidade de
so não pode ser atribuída ao aluno, às suas dificuldades conteúdo ensinada.
ou à sua incapacidade.  Essas instituições são voltadas para o sucesso do alu-
no em provas como o Enem (Exame Nacional do Ensino
A responsabilidade pelo desenvolvimento da apren- Médio) e o vestibular.
dizagem contínua do aluno recai sobre os educadores Construtivista: nas instituições que seguem os prin-
e sobre a comunidade. Dessa compreensão decorre o cípios construtivistas, o conhecimento é ativamente
princípio da educação inclusiva: oferecer ao aluno opor- construído pelo sujeito e não passivamente recebido do

69
professor ou do ambiente. Cada estudante é visto como No ensino médio, há currículos integrados de huma-
alguém com um tempo único de aprendizado e o tra- nidades (história, geografia, literatura), de ciências (física,
balho em grupo é valorizado, os conhecimentos que os biologia, química, geologia, matemática), de artes e ofícios
sujeitos já possuem antes de se exporem a uma nova si- (com modalidades como tecelagem e encadernação), ar-
tuação de aprendizagem devem ser considerados, pois tes dramáticas, educação física e línguas estrangeiras. 
estão presentes na estrutura mental e é a partir deles que Freinet: outro pensador que costuma nortear o tra-
os indivíduos interpretam o mundo. balho de algumas escolas é o pedagogo francês Céles-
Nas escolas construtivistas, são criadas situações em tin Freinet (1896-1966), mas sem dar nome exatamente
que o estudante é estimulado a pensar e a solucionar a uma linha pedagógica. Nas instituições que colocam
problemas propostos. Também há provas e reprovação em prática conceitos de Freinet, o aprendizado acontece
nessas instituições. por meio do trabalho e da cooperação.
As ideias do biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980)
norteiam as escolas que se denominam construtivistas e Nesse tipo de escola, a criança é incentivada a com-
por isso é comum que elas se apresentem também como partilhar suas produções com os colegas, sejam eles de
escolas piagetianas. sua classe, de outras ou de escolas diferentes. 
Uma variação do construtivismo é o sociointeracio- As avaliações levam em conta o progresso do aluno
nismo, originário do trabalho do psicólogo bielo-russo em comparação ao seu desempenho anterior e não em
Lev Vygotsky (1896-1934). O especialista atribuía um pa- relação com os demais.
pel preponderante às relações sociais na aprendizagem, Estudos de campo (aulas em que os estudantes são
enquanto Piaget dava mais importância aos processos levados em algum lugar específico para aprender deter-
internos de cada aluno. minada matéria, como um parque, por exemplo), elabo-
Montessoriano: na escola montessoriana, baseada ração de jornais em grupo e debates são atividades co-
na filosofia da pesquisadora italiana Maria Montessori muns em escolas que se identificam com o pensamento
(1870-1952), a criança deve buscar sua auto formação e de Freinet, que valoriza o desenvolvimento da capacida-
construção e os adultos têm de ajudá-la nesse processo, de de análise pelos estudantes.
favorecendo o desenvolvimento de indivíduos criativos, Educador brasileiro reconhecido por sua contribui-
independentes, confiantes e com iniciativa. ção para a história das ideias pedagógicas no Brasil e
Segundo o método montessori, é agindo que o aluno América Latina, especialmente no que diz respeito aos
adquire conhecimentos. As crianças escolhem as ativida- processos de alfabetização e Educação de Jovens e Adul-
des que querem fazer. Ao adulto cabe ordenar o traba- tos, Paulo Freire (1921-1997) defendia uma educação
lho com gradação de dificuldade crescente, respeitando preocupada com os problemas de nosso tempo e com
o ritmo de cada aprendiz e sem intervenções indevidas. o desenvolvimento da consciência crítica. Seu método,
As classes têm crianças de idades diferentes. desenvolvido na década de 1960 como estratégia para
Incentiva-se o trabalho em grupo e todos os estu- a alfabetização de adultos e popularmente conhecido
dantes são estimulados da mesma maneira. como “Método Paulo Freire”, possui fundamentação
Para auxiliar na aprendizagem, Maria Montessori humanista ao vislumbrar na educação um ato criador,
criou vários materiais. Um dos mais famosos é o Mate- a medida em que proporciona ao indivíduo autonomia,
rial Dourado, composto por cubos, placas, barras e cubi- consciência crítica e capacidade de decisão.
nhos, que têm o objetivo de facilitar o entendimento das O próprio Paulo Freire considerava sua metodologia
operações matemáticas. um método de aprender e não propriamente de ensinar,
Waldorf: na metodologia de ensino waldorf –desen- portanto muito mais próxima a uma Teoria do Conhe-
volvida pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner (1861-1925), cimento do que uma metodologia de ensino propria-
procura-se equilibrar os aspectos cognitivos (capacidade mente dita. Como tal, os princípios ético-metodológicos
de aquisição de conhecimento) com o desenvolvimento de de sua teoria eram constituídos com base no respeito
habilidades artísticas, musicais, de movimentação e de dra- pelo educando e na conquista da autonomia, tendo o
matização. Considera-se cada aluno como um ser único, dialogicidade como fio condutor do processo de ensi-
que é acompanhado de forma próxima. no-aprendizagem.
São aplicados testes e provas em algumas matérias, O ensino voltado para a Educação Infantil até o ano
especialmente no ensino médio, e, em alguns casos, nas de 1889, há pouco registros em termos de atendimento
últimas séries do ensino fundamental. Mas a avaliação à criança pré-escolar.
do aluno também engloba a execução de trabalhos, o Somente em 1932 iniciou-se um movimento com in-
grau de dificuldade que o estudante tem com o assunto, tenções declaradas de mudanças na tendência do ensi-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

o empenho em aprender e o comportamento. Os pais no no Brasil.


recebem avaliações trimestrais com a descrição da ati- Não é novo falar de uma didática pré-escolar; o pró-
tude de seus filhos diante das tarefas solicitadas no pe- prio aparecimento da pré-escola no Brasil se deu sob as
ríodo. O professor permanece com a mesma turma por bases da herança dos precursores europeus que inau-
toda uma etapa (por exemplo, os nove anos do ensino guraram uma tradição na forma de pensar e apresentar
fundamental). proposições para a educação da criança nos [jardins de
No ensino fundamental, o currículo inclui astrono- infância], diferenciadas das proposições dos modelos
mia, meteorologia, jardinagem, artes e trabalhos ma- escolares.
nuais, como tricô e crochê, além das disciplinas exigidas O modelo minuciosamente proposto por Froebel
pela Lei de Diretrizes e Bases (legislação que regulamen- (1782-1852), orientou muitas das experiências pioneiras
ta o sistema  educacional do Brasil). no Brasil.

70
Sendo ele considerado o Pedagogo da Infância, pelo Com e Estado Novo (1937 a 1945), a Escola Nova per-
seu grande interesse em conhecer a realidade da crian- de sua força, e somente na década de 50 retorna pregan-
ça, seus interesses, suas condições e necessidades a fim do uma educação universal, gratuita e democrática, mas
de adequar a educação as instituições educativas na ga- com objetivo maior de ampliar os ideais do liberalismo
rantia do que ele chamava de afloramento desses seres. brasileiro.
Segundo Froebel (1782-1852), a criança, ao nascer já Reproduz assim, a diferença na educação dos filhos
traz consigo um potencial a ser desenvolvido, como uma de operários e na dos filhos da elite. Com a etilização do
planta que em sua semente traz dentro de si tudo aquilo ensino e a ênfase à alta qualificação dos professores e
que poderá vir a ser.  as exigências das escolas particulares, acabou desquali-
Modelos como o de Montessori e Decroly (século ficando as escolas públicas, que era impossibilitada de
XX), também integram grande parte das práticas que introduzir as novidades didáticas, por falta de estrutura
proliferaram entre nós com o aparecimento das pré-es- e dinheiro.
colas nos âmbitos públicos e privados, mesmo já na dé- A partir da LDB 9394/96, principalmente com as di-
cada de sessenta. Porém, como já citado anteriormente, fusões das ideias de Piaget (1896-1980) Vygotsky (1896-
estes modelos, influenciados por uma Psicologia do De- 1934) e Wallon (1889-1962), numa perspectiva sócio in-
senvolvimento, marcaram uma intervenção pautada na teracionista e de abordagem cognitivista, essas teorias
padronização. Neste sentido, não se diferenciaram da es- buscam uma aproximação com modernas correntes do
cola tradicional ao constituírem práticas de homogenei- ensino da língua que consideram a linguagem como for-
zação. Apesar de suscitarem a busca de uma pedagogia ma de atuação sobre o homem e o mundo, ou seja, como
para a criança pré-escolar, mantiveram as mesmas inten- processo de interação verbal que constitui a sua realida-
ções disciplinadoras, com vistas a enquadramento social de fundamental.
através de práticas e atividades que se propunham mais Uma abordagem cognitivista implica, dentre outros
adequadas à pouca idade das crianças. aspectos, se estudar cientificamente a aprendizagem
O novo, em relação a esta tradição, apresenta-se por como sendo mais que um produto do ambiente, das pes-
meio de uma produção recente que resulta de influências soas ou de fatores que são externos ao aluno.
teóricas e contextuais antes não colocadas.
Por sua vez, a tendência pedagógica cognitiva pri-
vilegia o aspecto cognitivo do desenvolvimento infantil
Mudam as formas de fazer e de pensar a educação da
e concentra seus principais fundamentos nas ideias do
criança de 0 a 6 anos, que passa a se dar em instituições
epistemólogo suíço Jean Piaget (1896-1980) e de seus
educativas, estabelecendo-se como um novo objeto das
discípulos, que tem como pressuposto básico o intera-
Ciências Humanas e Sociais. A identificação da construção
cionismo e seus principais objetivos que consistem na
de uma Pedagogia da Educação Infantil como um campo
formação de sujeitos críticos, ativos e autônomos.
particular do conhecimento pedagógico, revelada pela
trajetória das pesquisas recentes analisadas, situa-se ini- Na tendência cognitivista, o trabalho na educação in-
cialmente também no âmbito da Pedagogia. fantil é voltado para a criança a fim de que essa seja res-
A escola nova é implementada no Brasil no século XX, ponsável pela construção do seu conhecimento apren-
a partir da década de 20, mas deparamos com seus pró- dendo a partir da interação que estabelece com o meio
prios princípios claramente expostos no Manifesto dos físico e social desde o seu nascimento, passando por di-
Pioneiros da Educação publicado em 1932. Nesta época, ferentes estágios de desenvolvimento. Ou seja, o conhe-
a Escola Nova é fortemente criticada pelos católicos con- cimento resulta da interação do sujeito com o ambiente
servadores os quais detinham o monopólio da educação e do controle da própria criança sobre a obtenção e or-
etilista e tradicional no país. ganização de suas experiências com o mundo exterior,
O movimento educacional conhecido como Escola quando acompanha com os olhos os objetos, observa
Nova, surge justamente para propor novos caminhos à tudo ao seu redor, agarra, solta, empurra, cheira, leva à
educação, representa o esforço de superação da pedago- boca e prova, etc.
gia da essência pela pedagogia da existência que se vol- A educação, bem como o processo educativo, deve
ta para a problemática do indivíduo único, diferenciado, ser orientada por metodologias que permitam atender
que vive e interage em um mundo dinâmico. Destaca-se aos objetivos propostos pelos docentes. A metodologia
também a importância da satisfação das necessidades in- do ensino pode ser compreendida como um “conjun-
fantis, bem como a estimulação de sua própria atividade, to de procedimentos didáticos, representados por seus
sendo assim a criança não é mais considerada “inacaba- métodos e técnicas de ensino”, esse conjunto de méto-
da”, necessitando ser atendida segundo as especificida- dos são utilizados com o intuito de alcançar objetivos
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

des de sua natureza. Ou seja, a criança aprende fazendo, do ensino e de aprendizagem, com a máxima eficácia e,
o objeto da educação é o homem integral, constituído por sua vez, obter o máximo de rendimento. As mudan-
não só da razão, mas de sentimentos, emoções e ações. ças que ocorreram na forma de ensino com o uso das
Seu principal precursor foi sem dúvidas Rousseau no tecnologias, os desafios impostos aos professores e as
século XVIII, que realizou uma verdadeira revolução na oportunidades com a inserção de novas formas e meios,
educação, colocando categoricamente a criança como exige dos professores novos métodos de ensino. Volta-
centro do processo pedagógico. -se a atenção para as transformações da sociedade e a
Dentre os principais representantes da escola nova, po- necessidade de modificar as tradicionais formas de ensi-
demos destacar Dewey, Decroly, Montessori e Freinet (sé- nar, de aprimorar constantemente as práticas e os sabe-
culoXX), que compreendiam essa proposta como garantia e res docente. As discussões acerca dos saberes docentes
fortalecimento dos ideais liberais na formação do indivíduo. têm se intensificado nas últimas décadas, e tornou-se

71
objeto de pesquisas em todo o mundo. Tais estudos sur- nova situação de aprendizagem devem ser conside-
giram como consequência à profissionalização do ensino rados, pois estão presentes na estrutura mental e é a
e dos docentes, e remetem ao fato destes saberes não partir deles que os indivíduos interpretam o mundo.
se limitarem à transmissão de conhecimento aos alunos,
mas sim a um conjunto de fatores que são construídos
e adquiridos com a formação e a experiência, vivências A INTEGRAÇÃO ENTRE EDUCAR E CUIDAR
e habilidades específicas adquiridas com o tempo. Os NA EDUCAÇÃO BÁSICA.
saberes docentes são adquiridos e construídos em um
processo contínuo de aprendizagem, em que o professor
aprende de forma progressiva e, com isso, se insere e 1. Educar
domina seu ambiente de trabalho. Assim, não se pode
dizer que os saberes docentes são constituídos por um Nas últimas décadas, os debates em nível nacional
conjunto de conteúdo definidos e imutáveis. Os estudos e internacional apontam para a necessidade de que as
relacionados à formação e profissão docente, orientam instituições de educação infantil incorporem de maneira
para a necessidade de uma revisão da compreensão das integrada as funções de educar e cuidar, não mais dife-
renciando nem hierarquizando os profissionais e institui-
práticas pedagógicas dos professores. Com isso, con-
ções que atuam com as crianças pequenas e/ou aqueles
sidera-se que o docente em sua trajetória profissional,
que trabalham com as maiores. As novas funções para
constrói e reafirma seus conhecimentos, levando em
a educação infantil devem estar associadas a padrões
conta a necessidade de sua utilização, suas experiências, de qualidade. Essa qualidade advém de concepções de
e seu percurso na formação desenvolvimento que consideram as crianças nos seus
O professor não pode mais ser aquele que tem uma contextos sociais, ambientais, culturais e, mais concreta-
didática definida com papel de apenas ensinar o conteú- mente, nas interações e práticas sociais que lhes forne-
do, ele deve assumir seu papel de mentor e facilitador, cem elementos relacionados às mais diversas linguagens
deve priorizar e intermediar o acesso do aluno à infor- e ao contato com os mais variados conhecimentos para a
mação. Com isso, suas técnicas devem ser aprimoradas construção de uma identidade autônoma.
constantemente e seus métodos e metodologias de ensi- A instituição de educação infantil deve tornar aces-
no, consequentemente, atender às necessidades que vão sível a todas as crianças que a frequentam, indiscrimi-
surgindo. nadamente, elementos da cultura que enriquecem o seu
desenvolvimento e inserção social. Cumpre um papel so-
cializador, propiciando o desenvolvimento da identidade
das crianças, por meio de aprendizagens diversificadas,
EXERCÍCIO COMENTADO realizadas em situações de interação.
Na instituição de educação infantil, pode-se oferecer
1. TSE (TRIBUNAL ELEITORAL SUPERIOR) – ANA- às crianças condições para as aprendizagens que ocor-
LISTA JUDICIÁRIO – SUPERIOR – CONSULPLAN - rem nas brincadeiras e aquelas advindas de situações
2012 pedagógicas intencionais ou aprendizagens orientadas
Considerando a concepção construtivista de ensino e pelos adultos. É importante ressaltar, porém, que essas
aprendizagem, é correto afirmar que os conhecimentos aprendizagens, de natureza diversa, ocorrem de maneira
que os sujeitos já possuem antes de se exporem a uma integrada no processo de desenvolvimento infantil.
nova situação de aprendizagem devem ser Educar significa, portanto, propiciar situações de cui-
dados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de for-
a) desconsiderados, pois fazem parte do senso-comum ma integrada e que possam contribuir para o desenvol-
vimento das capacidades infantis de relação interpessoal,
e contrariam as explicações teóricas mais adequadas
de ser e estar com os outros em uma atitude básica de
sobre a realidade.
aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crian-
b) mobilizados, pois será através da transmissão objetiva
ças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social
do conhecimento pelo professor que a memorização e cultural. Neste processo, a educação poderá auxiliar
acontecerá. o desenvolvimento das capacidades de apropriação e
c) transformados, pois não influenciam em nada o pro- conhecimento das potencialidades corporais, afetivas,
cesso de ensino-aprendizagem de novos conheci- emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de contri-
mentos. buir para a formação de crianças felizes e saudáveis.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

d) considerados, pois estão presentes na estrutura men-


tal e é a partir deles que os indivíduos interpretam o 2. Cuidar
mundo.
Contemplar o cuidado na esfera da instituição da
Resposta: Letra D. Nas instituições que seguem os educação infantil significa compreendê-lo como parte
princípios construtivistas, o conhecimento é ativamen- integrante da educação, embora possa exigir conheci-
te construído pelo sujeito e não passivamente recebido mentos, habilidades e instrumentos que extrapolam a di-
do professor ou do ambiente. Cada estudante é visto mensão pedagógica. Ou seja, cuidar de uma criança em
como alguém com um tempo único de aprendizado e um contexto educativo demanda a integração de vários
o trabalho em grupo é valorizado, os conhecimentos campos de conhecimentos e a cooperação de profissio-
que os sujeitos já possuem antes de se exporem a uma nais de diferentes áreas.

72
A base do cuidado humano é compreender como aju- dê-las de forma adequada. Assim, cuidar da criança é
dar o outro a se desenvolver como ser humano. Cuidar sobretudo dar atenção a ela como pessoa que está num
significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades. O contínuo crescimento e desenvolvimento, compreen-
cuidado é um ato em relação ao outro e a si próprio que dendo sua singularidade, identificando e respondendo
possui uma dimensão expressiva e implica em procedi- às suas necessidades. Isto inclui interessar-se sobre o que
mentos específicos. a criança sente, pensa, o que ela sabe sobre si e sobre o
O desenvolvimento integral depende tanto dos cuida- mundo, visando à ampliação deste conhecimento e de
dos relacionais, que envolvem a dimensão afetiva e dos suas habilidades, que aos poucos a tornarão mais inde-
cuidados com os aspectos biológicos do corpo, como a pendente e mais autônoma.
qualidade da alimentação e dos cuidados com a saúde,
quanto da forma como esses cuidados são oferecidos e 3. Brincar
das oportunidades de acesso a conhecimentos variados.
As atitudes e procedimentos de cuidado são in- Para que as crianças possam exercer sua capacidade
fluenciados por crenças e valores em torno da saúde, de criar é imprescindível que haja riqueza e diversidade
da educação e do desenvolvimento infantil. Embora as nas experiências que lhes são oferecidas nas instituições,
necessidades humanas básicas sejam comuns, como ali- sejam elas mais voltadas às brincadeiras ou às aprendi-
mentar-se, proteger-se etc. as formas de identificá-las, zagens que ocorrem por meio de uma intervenção direta.
valorizá-las e atendê-las são construídas socialmente. As A brincadeira é uma linguagem infantil que mantém
necessidades básicas podem ser modificadas e acresci- um vínculo essencial com aquilo que é o “não-brincar”.
das de outras de acordo com o contexto sociocultural. Se a brincadeira é uma ação que ocorre no plano da
Pode-se dizer que além daquelas que preservam a vida imaginação isto implica que aquele que brinca tenha o
orgânica, as necessidades afetivas são também base para domínio da linguagem simbólica. Isto quer dizer que é
o desenvolvimento infantil. preciso haver consciência da diferença existente entre
A identificação dessas necessidades sentidas e ex- a brincadeira e a realidade imediata que lhe forneceu
pressas pelas crianças, depende também da compreen- conteúdo para realizar-se. Nesse sentido, para brincar é
são que o adulto tem das várias formas de comunicação preciso apropriar-se de elementos da realidade imedia-
que elas, em cada faixa etária possuem e desenvolvem. ta de tal forma a atribuir-lhes novos significados. Essa
Prestar atenção e valorizar o choro de um bebê e respon- peculiaridade da brincadeira ocorre por meio da articu-
der a ele com um cuidado ou outro depende de como é lação entre a imaginação e a imitação da realidade. Toda
interpretada a expressão de choro, e dos recursos exis- brincadeira é uma imitação transformada, no plano das
tentes para responder a ele. É possível que alguns adul- emoções e das ideias, de uma realidade anteriormente
tos conversem com o bebê tentando acalmá-lo, ou que vivenciada.
peguem-no imediatamente no colo, embalando-o. Em Isso significa que uma criança que, por exemplo, bate
determinados contextos socioculturais, é possível que o ritmicamente com os pés no chão e imagina-se caval-
adulto que cuida da criança, tendo como base concep- gando um cavalo, está orientando sua ação pelo signi-
ções de desenvolvimento e aprendizagem infantis, de ficado da situação e por uma atitude mental e não so-
educação e saúde, acredite que os bebês devem apren- mente pela percepção imediata dos objetos e situações.
der a permanecer no berço, após serem alimentados e No ato de brincar, os sinais, os gestos, os objetos e os
higienizados, e, portanto, não considerem o embalo espaços valem e significam outra coisa daquilo que apa-
como um cuidado, mas como uma ação que pode “acos- rentam ser. Ao brincar as crianças recriam e repensam
tumar mal” a criança. Em outras culturas, o embalo tem os acontecimentos que lhes deram origem, sabendo que
uma grande importância no cuidado de bebês, tanto que estão brincando.
existem berços próprios para embalar. O principal indicador da brincadeira, entre as crianças,
O cuidado precisa considerar, principalmente, as ne- é o papel que assumem enquanto brincam. Ao adotar
cessidades das crianças, que quando observadas, ouvi- outros papéis na brincadeira, as crianças agem frente à
das e respeitadas, podem dar pistas importantes sobre realidade de maneira não-literal, transferindo e substi-
a qualidade do que estão recebendo. Os procedimen- tuindo suas ações cotidianas pelas ações e características
tos de cuidado também precisam seguir os princípios de do papel assumido, utilizando-se de objetos substitutos.
promoção à saúde. Para se atingir os objetivos dos cuida- A brincadeira favorece a autoestima das crianças, au-
dos com a preservação da vida e com o desenvolvimento xiliando-as a superar progressivamente suas aquisições
das capacidades humanas, é necessário que as atitudes e de forma criativa. Brincar contribui, assim, para a interio-
procedimentos estejam baseados em conhecimentos es- rização de determinados modelos de adulto, no âmbito
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

pecíficos sobre o desenvolvimento biológico, emocional, de grupos sociais diversos.


e intelectual das crianças, levando em consideração as Essas significações atribuídas ao brincar transfor-
diferentes realidades socioculturais. mam-no em um espaço singular de constituição infantil.
Para cuidar é preciso antes de tudo estar comprome- Nas brincadeiras, as crianças transformam os conhe-
tido com o outro, com sua singularidade, ser solidário cimentos que já possuíam anteriormente em conceitos
com suas necessidades, confiando em suas capacidades. gerais com os quais brinca. Por exemplo, para assumir
Disso depende a construção de um vínculo entre quem um determinado papel numa brincadeira, a criança deve
cuida e quem é cuidado. conhecer alguma de suas características.
Além da dimensão afetiva e relacional do cuidado, é Seus conhecimentos provêm da imitação de alguém
preciso que o professor possa ajudar a criança a identi- ou de algo conhecido, de uma experiência vivida na fa-
ficar suas necessidades e priorizá-las, assim como aten- mília ou em outros ambientes, do relato de um colega ou

73
de um adulto, de cenas assistidas na televisão, no cinema sor organizar situações para que as brincadeiras ocor-
ou narradas em livros etc. A fonte de seus conhecimen- ram de maneira diversificada para propiciar às crianças a
tos é múltipla, mas estes encontram-se, ainda, fragmen- possibilidade de escolherem os temas, papéis, objetos e
tados. É no ato de brincar que a criança estabelece os companheiros com quem brincar ou os jogos de regras
diferentes vínculos entre as características do papel assu- e de construção, e assim elaborarem de forma pessoal e
mido, suas competências e as relações que possuem com independente suas emoções, sentimentos, conhecimen-
outros papéis, tomando consciência disto e generalizan- tos e regras sociais.
do para outras situações. É preciso que o professor tenha consciência que na
Para brincar é preciso que as crianças tenham certa brincadeira as crianças recriam e estabilizam aquilo que
independência para escolher seus companheiros e os sabem sobre as mais diversas esferas do conhecimen-
papéis que irão assumir no interior de um determinado to, em uma atividade espontânea e imaginativa. Nessa
tema e enredo, cujos desenvolvimentos dependem uni- perspectiva não se deve confundir situações nas quais
camente da vontade de quem brinca. se objetiva determinadas aprendizagens relativas a con-
Pela oportunidade de vivenciar brincadeiras imagi- ceitos, procedimentos ou atitudes explícitas com aquelas
nativas e criadas por elas mesmas, as crianças podem nas quais os conhecimentos são experimentados de uma
acionar seus pensamentos para a resolução de proble- maneira espontânea e destituída de objetivos imediatos
mas que lhe são importantes e significativos. Propician- pelas crianças. Pode-se, entretanto, utilizar os jogos, es-
do a brincadeira, portanto, cria-se um espaço no qual as pecialmente aqueles que possuem regras, como ativida-
crianças podem experimentar o mundo e internalizar uma des didáticas. É preciso, porém, que o professor tenha
compreensão particular sobre as pessoas, os sentimentos consciência que as crianças não estarão brincando livre-
e os diversos conhecimentos. mente nestas situações, pois há objetivos didáticos em
O brincar apresenta-se por meio de várias categorias questão.
de experiências que são diferenciadas pelo uso do ma-
terial ou dos recursos predominantemente implicados. Referência:
Essas categorias incluem: o movimento e as mudanças Brasil. Ministério da Educação e do Desporto. Secre-
da percepção resultantes essencialmente da mobilidade taria de Educação Fundamental. Referencial curricular
física das crianças; a relação com os objetos e suas pro- nacional para a educação infantil/Ministério da Educação
priedades físicas assim como a combinação e associação e do Desporto, Vol. 1. Secretaria de Educação Fundamen-
entre eles; a linguagem oral e gestual que oferecem vá- tal. — Brasília: MEC/SEF, 1998.
rios níveis de organização a serem utilizados para brincar;
os conteúdos sociais, como papéis, situações, valores e
atitudes que se referem à forma como o universo social se PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO:
constrói; e, finalmente, os limites definidos pelas regras, FUNDAMENTOS PARA A ORIENTAÇÃO, O
constituindo-se em um recurso fundamental para brincar. PLANEJAMENTO E A IMPLEMENTAÇÃO
Estas categorias de experiências podem ser agrupadas DAS AÇÕES EDUCATIVAS DA ESCOLA.
em três modalidades básicas, quais sejam, brincar de fa-
z-de-conta ou com papéis, considerada como atividade
fundamental da qual se originam todas as outras; brincar Para Veiga e colegas, o projeto político-pedagógico tem
com materiais de construção e brincar com regras. sido objeto de estudos para professores, pesquisadores e
As brincadeiras de faz-de-conta, os jogos de cons- instituições educacionais em níveis nacional, estadual e mu-
trução e aqueles que possuem regras, como os jogos de nicipal, em busca da melhoria da qualidade do ensino.
sociedade (também chamados de jogos de tabuleiro), O presente estudo tem a intenção de refletir acerca
jogos tradicionais, didáticos, corporais etc., propiciam a da construção do projeto político-pedagógico, entendi-
ampliação dos conhecimentos infantis por meio da ativi- do como a própria organização do trabalho pedagógico
dade lúdica. de toda a escola.
É o adulto, na figura do professor, portanto, que, na
instituição infantil, ajuda a estruturar o campo das brinca-
deiras na vida das crianças. Consequentemente é ele que #FicaDica
organiza sua base estrutural, por meio da oferta de deter-
minados objetos, fantasias, brinquedos ou jogos, da de- A escola é o lugar de concepção, realização
limitação e arranjo dos espaços e do tempo para brincar. e avaliação de seu projeto educativo, uma
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Por meio das brincadeiras os professores podem ob- vez que necessita organizar seu trabalho pe-
servar e constituir uma visão dos processos de desen- dagógico com base em seus alunos. Nessa
volvimento das crianças em conjunto e de cada uma em perspectiva, é fundamental que ela assuma
particular, registrando suas capacidades de uso das lin- suas responsabilidades, sem esperar que as
guagens, assim como de suas capacidades sociais e dos esferas administrativas superiores tomem
recursos afetivos e emocionais que dispõem. essa iniciativa, mas que lhe deem as condi-
A intervenção intencional baseada na observação das ções necessárias para levá-la adiante. Para
brincadeiras das crianças, oferecendo-lhes material ade- tanto, é importante que se fortaleçam as re-
quado, assim como um espaço estruturado para brincar lações entre escola e sistema de ensino.
permite o enriquecimento das competências imaginati-
vas, criativas e organizacionais infantis. Cabe ao profes-

74
Para isso, começaremos conceituando projeto políti- O projeto político-pedagógico, ao se constituir em
co-pedagógico. Em seguida, trataremos de trazer nossas processo democrático de decisões, preocupa-se em ins-
reflexões para a análise dos princípios norteadores. Fi- taurar uma forma de organização do trabalho pedagógi-
nalizaremos discutindo os elementos básicos da organi- co que supere os conflitos, buscando eliminar as relações
zação do trabalho pedagógico, necessários à construção competitivas, corporativas e autoritárias, rompendo com
do projeto político-pedagógico. a rotina do mando impessoal e racionalizado da burocra-
cia que permeia as relações no interior da escola, dimi-
O QUE É PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO? nuindo os efeitos fragmentários da divisão do trabalho
que reforça as diferenças e hierarquiza os poderes de
No sentido etimológico, o termo projeto vem do la- decisão.
tim projectu, participio passado do verbo projicere, que Desse modo, o projeto político-pedagógico tem a
significa lançar para diante. Plano, intento, designio. Em- ver com a organização do trabalho pedagógico em dois
presa, empreendimento. Redação provisoria de lei. Plano níveis: como organização de toda a escola e como or-
geral de edificação. ganização da sala de aula, incluindo sua relação com o
Ao construirmos os projetos de nossas escolas, plane- contexto social imediato, procurando preservar a visão
jamos o que temos intenção de fazer, de realizar. Lança- de totalidade. Nesta caminhada será importante ressaltar
mo-nos para diante, com base no que temos, buscando que o projeto político-pedagógico busca a organização
o possível. É antever um futuro diferente do presente. do trabalho pedagógico da escola na sua globalidade.
Nas palavras de Gadotti: Todo projeto supõe rupturas com A principal possibilidade de construção do proje-
o presente e promessas para o futuro. Projetar significa to político-pedagógico passa pela relativa autonomia
tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se, da escola, de sua capacidade de delinear sua própria
atravessar um período de instabilidade e buscar uma nova identidade. Isso significa resgatar a escola como espa-
estabilidade em função da promessa que cada projeto con- ço público, como lugar de debate, do diálogo fundado
tém de estado melhor do que o presente. Um projeto educa- na reflexão coletiva. Portanto, é preciso entender que o
tivo pode ser tomado como promessa frente a determinadas projeto político-pedagógico da escola dará indicações
rupturas. As promessas tornam visíveis os campos de ação necessárias à organização do trabalho pedagógico que
possível, comprometendo seus atores e autores. inclui o trabalho do professor na dinâmica interna da sala
Nessa perspectiva, o projeto político-pedagógico vai de aula, ressaltado anteriormente.
além de um simples agrupamento de planos de ensi- Buscar uma nova organização para a escola constitui
no e de atividades diversas. O projeto não é algo que é uma ousadia para educadores, pais, alunos e funcioná-
construído e em seguida arquivado ou encaminhado às rios. Para enfrentarmos essa ousadia, necessitamos de
autoridades educacionais como prova do cumprimento um referencial que fundamente a construção do projeto
de tarefas burocráticas. Ele é construído e vivenciado em político-pedagógico. A questão é, pois, saber a qual refe-
todos os momentos, por todos os envolvidos com o pro- rencial temos que recorrer para a compreensão de nossa
cesso educativo da escola. prática pedagógica. Nesse sentido, temos que nos alicer-
O projeto busca um rumo, uma direção. É uma ação çar nos pressupostos de uma teoria pedagógica crítica
intencional, com um sentido explícito, com um compro- viável, que parta da prática social e esteja compromissa-
misso definido coletivamente. Por isso, todo projeto pe- da em solucionar os problemas da educação e do ensino
dagógico da escola é, também, um projeto político por de nossa escola; uma teoria que subsidie o projeto políti-
estar intimamente articulado ao compromisso sociopo- co-pedagógico. Por sua vez, a prática pedagógica que ali
lítico com os interesses reais e coletivos da população se processa deve estar ligada aos interesses da maioria
majoritária. E político no sentido de compromisso com da população. Faz-se necessário, também, o domínio das
a formação do cidadão para um tipo de sociedade. “A bases teóricometodológicas indispensáveis à concretiza-
dimensão política se cumpre na medida em que ela se ção das concepções assumidas coletivamente. Mais do
realiza enquanto prática especificamente pedagógica”. que isso, afirma Freitas, (...) as novas formas têm que ser
Na dimensão pedagógica reside a possibilidade da efe- pensadas em um contexto de luta, de correlações de for-
tivação da intencionalidade da escola, que é a formação ça - às vezes favoráveis, às vezes desfavoráveis. Terão que
do cidadão participativo, responsável, compromissado, nascer no próprio “chão da escola”, com apoio dos pro-
crítico e criativo. É pedagógico no sentido de definir as fessores e pesquisadores. Não poderão ser inventadas
ações educativas e as características necessárias às esco- por alguém, longe da escola e da luta da escola.
las para cumprir seus propósitos e sua intencionalidade. Isso significa uma enorme mudança na concepção
Político e pedagógico têm, assim, uma significação do projeto político-pedagógico e na própria postura da
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

indissociável. Nesse sentido é que se deve considerar o administração central. Se a escola se nutre da vivência
projeto político-pedagógico como um processo perma- cotidiana de cada um de seus membros, coparticipantes
nente de reflexão e discussão dos problemas da esco- de sua organização do trabalho pedagógico à adminis-
la, na busca de alternativas viáveis à efetivação de sua tração central, seja o Ministério da Educação, a Secretaria
intencionalidade, que “não é descritiva ou constatativa, de Educação Estadual ou Municipal, não compete a eles
mas é constitutiva”. Por outro lado, propicia a vivência definir um modelo pronto e acabado, mas sim estimular
democrática necessária para a participação de todos os inovações e coordenar as ações pedagógicas planejadas
membros da comunidade escolar e o exercício da cida- e organizadas pela própria escola. Em outras palavras, as
dania. Pode parecer complicado, mas se trata de uma re- escolas necessitam receber assistência técnica e financei-
lação recíproca entre a dimensão política e a dimensão ra decidida em conjunto com as instâncias superiores do
pedagógica da escola. sistema de ensino.

75
Isso pode exigir, também, mudanças na própria lógi- A qualidade política é condição imprescindível da
ca de organização das instâncias superiores, implicando participação. Está voltada para os fins, valores e conteú-
uma mudança substancial na sua prática. dos. Quer dizer “a competência humana do sujeito em
Para que a construção do projeto político-pedagógi- termos de se fazer e de fazer história, diante dos fins his-
co seja possível não é necessário convencer os professo- tóricos da sociedade humana”.
res, a equipe escolar e os funcionários a trabalhar mais, Nessa perspectiva, o autor chama atenção para o fato
ou mobilizá-los de forma espontânea, mas propiciar si- de que a qualidade se centra no desafio de manejar os
tuações que lhes permitam aprender a pensar e a realizar instrumentos adequados para fazer a história humana. A
o fazer pedagógico de forma coerente. qualidade formal está relacionada com a qualidade polí-
O ponto que nos interessa reforçar é que a escola não tica e esta depende da competência dos meios.
tem mais possibilidade de ser dirigida de cima para baixo A escola de qualidade tem obrigação de evitar de to-
e na ótica do poder centralizador que dita as normas e das as maneiras possíveis a repetência e a evasão. Tem que
exerce o controle técnico burocrático. A luta da escola é garantir a meta qualitativa do desempenho satisfatório de
para a descentralização em busca de sua autonomia e todos. Qualidade para todos, portanto, vai além da meta
qualidade. quantitativa de acesso global, no sentido de que as crian-
Do exposto, o projeto político-pedagógico não visa ças em idade escolar entrem na escola. É preciso garantir
simplesmente a um rearranjo formal da escola, mas a a permanência dos que nela ingressarem. Em síntese, qua-
uma qualidade em todo o processo vivido. Vale acres- lidade “implica consciência crítica e capacidade de ação,
centar, ainda, que a organização do trabalho pedagógi- saber e mudar”.
co da escola tem a ver com a organização da sociedade. O projeto político-pedagógico, ao mesmo tempo em
A escola nessa perspectiva é vista como uma instituição que exige de educadores, funcionários, alunos e pais a
social, inserida na sociedade capitalista, que reflete no definição clara do tipo de escola que intentam, requer a
seu interior as determinações e contradições dessa so- definição de fins. Assim, todos deverão definir o tipo de
ciedade. sociedade e o tipo de cidadão que pretendem formar. As
ações específicas para a obtenção desses fins são meios.
1. Princípios norteadores do projeto político-pe- Essa distinção clara entre fins e meios é essencial para a
dagógico construção do projeto político-pedagógico.
c) Gestão democrática é um princípio consagrado pela
A abordagem do projeto político-pedagógico, como Constituição vigente e abrange as dimensões peda-
organização do trabalho de toda a escola, está fundada gógica, administrativa e financeira. Ela exige uma
nos princípios que deverão nortear a escola democrática, ruptura histórica na prática administrativa da esco-
pública e gratuita: la, com o enfrentamento das questões de exclusão
a) Igualdade de condições para acesso e permanên- e reprovação e da não-permanência do aluno na
cia na escola. Saviani alerta-nos para o fato de que sala de aula, o que vem provocando a margina-
há uma desigualdade no ponto de partida, mas a lização das classes populares. Esse compromisso
igualdade no ponto de chegada deve ser garantida implica a construção coletiva de um projeto po-
pela mediação da escola. O autor destaca que “só lítico-pedagógico ligado à educação das classes
é possível considerar o processo educativo em seu populares.
A gestão democrática exige a compreensão em pro-
conjunto sob a condição de se distinguir a demo-
fundidade dos problemas postos pela prática pedagógi-
cracia como possibilidade no ponto de partida e
ca. Ela visa romper com a separação entre concepção e
democracia como realidade no ponto de chegada”.
execução, entre o pensar e o fazer, entre teoria e prática.
Igualdade de oportunidades requer, portanto, mais
Busca resgatar o controle do processo e do produto do
que a expansão quantitativa de ofertas; requer ampliação
trabalho pelos educadores.
do atendimento com simultânea manutenção de quali-
A gestão democrática implica principalmente o re-
dade.
pensar da estrutura de poder da escola, tendo em vista
sua socialização. A socialização do poder propicia a práti-
b) Qualidade que não pode ser privilégio de minorias ca da participação coletiva, que atenua o individualismo;
econômicas e sociais. O desafio que se coloca ao da reciprocidade, que elimina a exploração; da solidarie-
projeto político-pedagógico da escola é o de pro- dade, que supera a opressão; da autonomia, que anula a
piciar uma qualidade para todos.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

dependência de órgãos intermediários que elaboram po-


A qualidade que se busca implica duas dimensões in- líticas educacionais das quais a escola é mera executora.
dissociáveis: a formal ou técnica e a política. Uma não A busca da gestão democrática inclui, necessariamen-
está subordinada à outra; cada uma delas tem perspec- te, a ampla participação dos representantes dos diferen-
tivas próprias. tes segmentos da escola nas decisões/ações adminis-
A primeira enfatiza os instrumentos e os métodos, trativo-pedagógicas ali desenvolvidas. Nas palavras de
a técnica. A qualidade formal não está afeita, necessa- Marques: “A participação ampla assegura a transparência
riamente, a conteúdos determinados. Demo afirma que das decisões, fortalece as pressões para que sejam elas
a qualidade formal “significa a habilidade de manejar legítimas, garante o controle sobre os acordos estabe-
meios, instrumentos, formas, técnicas, procedimentos lecidos e, sobretudo, contribui para que sejam contem-
diante dos desafios do desenvolvimento”. pladas questões que de outra forma não entrariam em
cogitação”.

76
Nesse sentido, fica claro entender que a gestão demo- A formação continuada é um direito de todos os pro-
crática, no interior da escola, não é um princípio fácil de ser fissionais que trabalham na escola, uma vez que ela não
consolidado, pois se trata da participação crítica na constru- só possibilita a progressão funcional baseada na titula-
ção do projeto político-pedagógico e na sua gestão. ção, na qualificação e na competência dos profissionais,
d) Liberdade é outro princípio constitucional. O prin- mas também propicia, fundamentalmente, o desenvol-
cípio da liberdade está sempre associado à ideia vimento profissional dos professores articulado com as
de autonomia. O que é necessário, portanto, como escolas e seus projetos.
ponto de partida, é o resgate do sentido dos con- A formação continuada deve estar centrada na esco-
ceitos de autonomia e liberdade. A autonomia e a la e fazer parte do projeto político-pedagógico. Assim,
liberdade fazem parte da própria natureza do ato compete à escola: a) proceder ao levantamento de ne-
pedagógico. O significado de autonomia remete- cessidades de formação continuada de seus profissionais;
-nos para regras e orientações criadas pelos pró- b) elaborar seu programa de formação, contando com a
prios sujeitos da ação educativa, sem imposições participação e o apoio dos órgãos centrais, no sentido
externas. de fortalecer seu papel na concepção, na execução e na
Para Rios, a escola tem uma autonomia relativa e a avaliação do referido programa.
liberdade é algo que se experimenta em situação e esta é Assim, a formação continuada dos profissionais da
uma articulação de limites e possibilidades. Para a autora, escola compromissada com a construção do projeto
a liberdade é uma experiência de educadores e constrói- político-pedagógico não deve se limitar aos conteúdos
-se na vivência coletiva, interpessoal. Portanto, “somos curriculares, mas se estender à discussão da escola de
livres com os outros, não apesar dos outros”. Se pen- maneira geral e de suas relações com a sociedade. Daí,
samos na liberdade na escola, devemos pensá-la na re- passarem a fazer parte dos programas de formação con-
lação entre administradores, professores, funcionários e tinuada questões como cidadania, gestão democrática,
alunos que aí assumem sua parte de responsabilidade na avaliação, metodologia de pesquisa e ensino, novas tec-
construção do projeto político-pedagógico e na relação nologias de ensino, entre outras.
destes com o contexto social mais amplo. Veiga e Carvalho afirmam que “o grande desafio da
Heller afirma que: escola, ao construir sua autonomia, deixando de lado seu
papel de mera ‘repetidora’ de programas de ‘treinamen-
A liberdade é sempre liberdade para algo e não apenas to’, é ousar assumir o papel predominante na formação
liberdade de algo. Se interpretarmos a liberdade apenas dos profissionais”.
como o fato de sermos livres de alguma coisa, encontra- Inicialmente, convém alertar para o fato de que essa
mo-nos no estado de arbítrio, definimo-nos de modo ne- tomada de consciência dos princípios norteadores do
gativo. A liberdade é uma relação e, como tal, deve ser projeto político-pedagógico não pode ter o sentido es-
continuamente ampliada. O próprio conceito de liberdade pontaneísta de cruzar os braços diante da atual organiza-
contém o conceito de regra, de reconhecimento, de inter- ção da escola, inibidora da participação de educadores,
venção recíproca. Com efeito, ninguém pode ser livre se, funcionários e alunos no processo de gestão.
em volta dele, há outros que não o são! É preciso ter consciência de que a dominação no
Por isso, a liberdade deve ser considerada, também, interior da escola efetiva-se por meio das relações de
como liberdade para aprender, ensinar, pesquisar e di- poder que se expressam nas práticas autoritárias e con-
vulgar a arte e o saber direcionados para uma intencio-
servadoras dos diferentes profissionais, distribuídos
nalidade definida coletivamente.
hierarquicamente, bem como por meio das formas de
e) Valorização do magistério é um princípio central na
controle existentes no interior da organização escolar.
discussão do projeto político-pedagógico.
Como resultante dessa organização, a escola pode ser
A qualidade do ensino ministrado na escola e seu su-
descaracterizada como instituição histórica e socialmen-
cesso na tarefa de formar cidadãos capazes de participar
te determinada, instância privilegiada da produção e da
da vida socioeconómica, política e cultural do país rela-
apropriação do saber. As instituições escolares represen-
cionam-se estreitamente a formação (inicial e continua-
da), condições de trabalho (recursos didáticos, recursos tam «armas de contestação e luta entre grupos culturais
físicos e materiais, dedicação integral à escola, redução e econômicos que têm diferentes graus de poder». Por
do número de alunos na sala de aula etc), remuneração, outro lado, a escola é local de desenvolvimento da cons-
elementos esses indispensáveis à profissionalização do ciência crítica da realidade.
magistério. Acreditamos que os princípios analisados e o apro-
A melhoria da qualidade da formação profissional e a fundamento dos estudos sobre a organização do traba-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

valorização do trabalho pedagógico requerem a articu- lho pedagógico trarão contribuições relevantes para a
lação entre instituições formadoras, no caso as institui- compreensão dos limites e das possibilidades dos proje-
ções de ensino superior e a Escola Normal, e as agências tos político-pedagógicos voltados para os interesses das
empregadoras, ou seja, a própria rede de ensino. A for- camadas menos favorecidas.
mação profissional implica, também, a indissociabilidade Veiga acrescenta, ainda, que “a importância desses
entre a formação inicial e a formação continuada. princípios está em garantir sua operacionalização nas
O reforço à valorização dos profissionais da educa- estruturas escolares, pois uma coisa é estar no papel, na
ção, garantindo-lhes o direito ao aperfeiçoamento pro- legislação, na proposta, no currículo, e outra é estar ocor-
fissional permanente, significa “valorizar a experiência e rendo na dinâmica interna da escola, no real, no concreto”.
o conhecimento que os professores têm a partir de sua
prática pedagógica”.

77
2. Construindo o projeto político-pedagógico As questões levantadas geram respostas e novas in-
dagações por parte da direção, de professores, funcio-
O projeto político-pedagógico é entendido, neste nários, alunos e pais. O esforço analítico de todos pos-
estudo, como a própria organização do trabalho peda- sibilitará a identificação de quais finalidades precisam
gógico da escola. A construção do projeto político-pe- ser reforçadas, quais as que estão relegadas e como elas
dagógico parte dos princípios de igualdade, qualidade, poderão ser detalhadas de acordo com as áreas do co-
liberdade, gestão democrática e valorização do magis- nhecimento, das diferentes disciplinas curriculares, do
tério. A escola é concebida como espaço social marcado conteúdo programático.
pela manifestação de práticas contraditórias, que apon- É necessário decidir, coletivamente, o que se quer re-
tam para a luta e/ou acomodação de todos os envolvidos forçar dentro da escola e como detalhar as finalidades
na organização do trabalho pedagógico. para atingir a almejada cidadania.
O que pretendemos enfatizar é que devemos analisar Alves afirma que é preciso saber se a escola dispõe
e compreender a organização do trabalho pedagógico, de alguma autonomia na determinação das finalidades
no sentido de gestar uma nova organização que reduza e dos objetivos específicos. O autor enfatiza: “Interessará
os efeitos de sua divisão do trabalho, de sua fragmenta- reter se as finalidades são impostas por entidades exte-
ção e do controle hierárquico. Nessa perspectiva, a cons- riores ou se são definidas no interior do ‘território social’
trução do projeto político-pedagógico é um instrumento e se são definidas por consenso ou por conflito ou até
de luta, é uma forma de contrapor-se à fragmentação do se são matéria ambígua, imprecisa ou marginal” (p. 19).
trabalho pedagógico e sua rotinização, à dependência e Essa colocação está sustentada na ideia de que a es-
aos efeitos negativos do poder autoritário e centraliza- cola deve assumir, como uma de suas principais tarefas,
dor dos órgãos da administração central. o trabalho de refletir sobre sua intencionalidade educati-
A construção do projeto político-pedagógico, para va. Nesse sentido, ela procura alicerçar o conceito de au-
gestar uma nova organização do trabalho pedagógico, tonomia, enfatizando a responsabilidade de todos, sem
passa pela reflexão anteriormente feita sobre os princí- deixar de lado os outros níveis da esfera administrativa
pios. Acreditamos que a análise dos elementos constitu- educacional. Nóvoa nos diz que a autonomia é impor-
tivos da organização trará contribuições relevantes para tante para “a criação de uma identidade da escola, de um
a construção do projeto político-pedagógico. ethos científico e diferenciador, que facilite a adesão dos
Pelo menos sete elementos básicos podem ser apon- diversos atores e a elaboração de um projeto próprio”
tados: (1992, p. 26).
a) as finalidades da escola; A ideia de autonomia está ligada à concepção eman-
b) a estrutura organizacional; cipadora da educação. Para ser autônoma, a escola não
c) o currículo; pode depender dos órgãos centrais e intermediários que
d) o tempo escolar; definem a política da qual ela não passa de executora.
e) o processo de decisão; Ela concebe seu projeto político-pedagógico e tem au-
f) as relações de trabalho; tonomia para executá-lo e avaliá-lo ao assumir uma nova
g) a avaliação. atitude de liderança, no sentido de refletir sobre suas fi-
nalidades sociopolíticas e culturais.
a) As finalidades da escola
A escola persegue finalidades. É importante ressaltar b) A estrutura organizacional
que os educadores precisam ter clareza das finalidades A escola, de forma geral, dispõe basicamente de duas
de sua escola. Para tanto, há necessidade de refletir sobre estruturas: as administrativas e as pedagógicas. As pri-
a ação educativa que a escola desenvolve com base nas meiras asseguram, praticamente, a locação e a gestão
finalidades e nos objetivos que ela define. As finalidades de recursos humanos, físicos e financeiros. Fazem parte,
da escola referem-se aos efeitos intencionalmente pre- ainda, das estruturas administrativas todos os elemen-
tendidos e almejados. tos que têm uma forma material, como, por exemplo,
- Das finalidades estabelecidas na legislação em vi- a arquitetura do edifício escolar e a maneira como ele
gor, o que a escola persegue, com maior ou menor se apresenta do ponto de vista de sua imagem: equipa-
ênfase? mentos e materiais didáticos, mobiliário, distribuição das
- Como é perseguida sua finalidade cultural, ou seja, a dependências escolares e espaços livres, cores, limpeza e
de preparar culturalmente os indivíduos para uma saneamento básico (água, esgoto, lixo e energia elétrica).
melhor compreensão da sociedade em que vivem? As pedagógicas, que, teoricamente, determinam a
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

- Como a escola procura atingir sua finalidade política ação das administrativas, “organizam as funções educa-
e social, ao formar o indivíduo para a participação tivas para que a escola atinja de forma eficiente e eficaz
política que implica direitos e deveres da cidada- as suas finalidades”.
nia? As estruturas pedagógicas referem-se, fundamental-
- Como a escola atinge sua finalidade de formação mente, às interações políticas, às questões de ensino e
profissional, ou melhor, como ela possibilita a aprendizagem e às de currículo. Nas estruturas pedagó-
compreensão do papel do trabalho na formação gicas incluem-se todos os setores necessários ao desen-
profissional do aluno? volvimento do trabalho pedagógico.
- Como a escola analisa sua finalidade humanística, A análise da estrutura organizacional da escola visa
ao procurar promover o desenvolvimento integral identificar quais estruturas são valorizadas e por quem,
da pessoa? verificando as relações funcionais entre elas. É preciso fi-

78
car claro que a escola é uma organização orientada por escolar, uma vez que ele é, ao mesmo tempo, processo e
finalidades, controlada e permeada pelas questões do produto. A análise e a compreensão do processo de pro-
poder. dução do conhecimento escolar ampliam a compreensão
A análise e a compreensão da estrutura organizacio- sobre as questões curriculares.
nal da escola significam indagar sobre suas característi- Na organização curricular é preciso considerar alguns
cas, seus polos de poder, seus conflitos - O que sabemos pontos básicos. O primeiro é o de que o currículo não
da estrutura pedagógica? Que tipo de gestão está sen- é um instrumento neutro. O currículo passa ideologia, e
do praticada? O que queremos e precisamos mudar na a escola precisa identificar e desvelar os componentes
nossa escola? Qual é o organograma previsto? Quem o ideológicos do conhecimento escolar que a classe do-
constitui e qual é a lógica interna? Quais as funções edu- minante utiliza para a manutenção de privilégios. A de-
cativas predominantes? Como são vistas a constituição e terminação do conhecimento escolar, portanto, implica
a distribuição do poder? Quais os fundamentos regimen- uma análise interpretativa e crítica, tanto da cultura do-
tais? -, enfim, caracterizar do modo mais preciso possível minante, quanto da cultura popular. O currículo expressa
a estrutura organizacional da escola e os problemas que uma cultura.
afetam o processo de ensino e aprendizagem, de modo
a favorecer a tomada de decisões realistas e exequíveis. O segundo ponto é o de que o currículo não pode ser
Avaliar a estrutura organizacional significa questionar separado do contexto social, uma vez que ele é historica-
os pressupostos que embasam a estrutura burocrática mente situado e culturalmente determinado.
da escola que inviabiliza a formação de cidadãos aptos O terceiro ponto diz respeito ao tipo de organização
a criar ou a modificar a realidade social. Para poderem curricular que a escola deve adotar. Em geral, nossas
realizar um ensino de qualidade e cumprir suas finalida- instituições têm sido orientadas para a organização hie-
des, as escolas têm que romper com a atual forma de rárquica e fragmentada do conhecimento escolar. Com
organização burocrática que regula o trabalho pedagó- base em Bernstein (1989), chamo a atenção para o fato
gico - pela conformidade às regras fixadas, pela obediên- de que a escola deve buscar novas formas de organiza-
cia a leis e diretrizes emanadas do poder central e pela ção curricular, em que o conhecimento escolar (conteú-
cisão entre os que pensam e executam -, que conduz à do) estabeleça uma relação aberta e inter-relacione-se
fragmentação e ao consequente controle hierárquico em torno de uma ideia integradora. Esse tipo de orga-
que enfatiza três aspectos inter-relacionados: o tempo, a nização curricular, o autor denomina de currículo-inte-
ordem e a disciplina. gração. O currículo integração, portanto, visa reduzir o
Nessa trajetória, ao analisar a estrutura organizacio- isolamento entre as diferentes disciplinas curriculares,
nal, ao avaliar os pressupostos teóricos, ao situar os obs- procurando agrupá-las num todo mais amplo.
táculos e vislumbrar as possibilidades, os educadores vão Como alertaram Domingos et al., “cada conteúdo dei-
desvelando a realidade escolar, estabelecendo relações, xa de ter significado por si só, para assumir uma impor-
definindo finalidades comuns e configurando novas for- tância relativa e passar a ter uma função bem determina-
mas de organizar as estruturas administrativas e peda- da e explícita dentro do todo de que faz parte”.
gógicas para a melhoria do trabalho de toda a escola na O quarto ponto refere-se à questão do controle so-
direção do que se pretende. Assim, considerando o con- cial, já que o currículo formal (conteúdos curriculares,
texto, os limites, os recursos disponíveis (humanos, mate- metodologia e recursos de ensino, avaliação e relação
riais e financeiros) e a realidade escolar, cada instituição pedagógica) implica controle. Por outro lado, o controle
educativa assume sua marca, tecendo, no coletivo, seu social é instrumentalizado pelo currículo oculto, enten-
projeto político-pedagógico, propiciando consequente-
dido este como as “mensagens transmitidas pela sala de
mente a construção de uma nova forma de organização.
aula e pelo ambiente escolar”. Assim, toda a gama de
visões do mundo, as normas e os valores dominantes são
c) O currículo
passados aos alunos no ambiente escolar, no material di-
Currículo é um importante elemento constitutivo da
dático e mais especificamente por intermédio dos livros
organização escolar. Currículo implica, necessariamente,
didáticos, na relação pedagógica, nas rotinas escolares.
a interação entre sujeitos que têm um mesmo objetivo e
Os resultados do currículo oculto “estimulam a conformi-
a opção por um referencial teórico que o sustente.
dade a ideais nacionais e convenções sociais ao mesmo
Currículo é uma construção social do conhecimento,
pressupondo a sistematização dos meios para que essa tempo que mantêm desigualdades socioeconómicas e
construção se efetive; é a transmissão dos conhecimen- culturais”.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

tos historicamente produzidos e as formas de assimilá- Moreira (1992), ao examinar as teorias de controle so-
-los; portanto, produção, transmissão e assimilação são cial que têm permeado as principais tendências do pen-
processos que compõem uma metodologia de constru- samento curricular, procurou defender o ponto de vista
ção coletiva do conhecimento escolar, ou seja, o currícu- de que controle social não envolve, necessariamente,
lo propriamente dito. Nesse sentido, o currículo refere-se orientações conservadoras, coercitivas e de conformida-
à organização do conhecimento escolar. de comportamental. De acordo com o autor, subjacente
O conhecimento escolar é dinâmico e não uma mera ao discurso curricular crítico, encontra-se uma noção de
simplificação do conhecimento científico, que se ade- controle social orientada para a emancipação. Faz senti-
quaria à faixa etária e aos interesses dos alunos. Daí a ne- do, então, falar em controle social comprometido com
cessidade de promover, na escola, uma reflexão aprofun- fins de liberdade que deem ao estudante uma voz ativa
dada sobre o processo de produção do conhecimento e crítica.

79
Com base em Aronowitz e Giroux (1985), o autor Para alterar a qualidade do trabalho pedagógico tor-
chama a atenção para o fato de que a noção crítica de na-se necessário que a escola reformule seu tempo, es-
controle social não pode deixar de discutir “o contexto tabelecendo períodos de estudo e reflexão de equipes
apropriado ao desenvolvimento de práticas curriculares de educadores, fortalecendo a escola como instância de
que favoreçam o bom rendimento e a autonomia dos educação continuada.
estudantes e, em particular, que reduzam os elevados ín- É preciso tempo para que os educadores aprofundem
dices de evasão e repetência de nossa escola de primeiro seu conhecimento sobre os alunos e sobre o que estão
grau”. aprendendo. E preciso tempo para acompanhar e avaliar
A noção de controle social na teoria curricular críti- o projeto político-pedagógico em ação. É preciso tempo
ca é mais um instrumento de contestação e resistência à para os estudantes se organizarem e criarem seus espa-
ideologia veiculada por intermédio dos currículos, tanto ços para além da sala de aula.
do formal quanto do oculto.
Orientar a organização curricular para fins emancipa- e) O processo de decisão
tórios implica, inicialmente, desvelar as visões simplifica- Na organização formal de nossa escola, o fluxo das
das de sociedade, concebida como um todo homogê- tarefas, das ações e principalmente das decisões é orien-
neo, e de ser humano, como alguém que tende a aceitar tado por procedimentos formalizados, prevalecendo as
papéis necessários à sua adaptação ao contexto em que relações hierárquicas de mando e submissão, de poder
vive. Controle social, na visão crítica, é uma contribuição autoritário e centralizador.
e uma ajuda para a contestação e a resistência à ideo- Uma estrutura administrativa da escola, adequada à
realização de objetivos educacionais, de acordo com os
logia veiculada por intermédio dos currículos escolares.
interesses da população, deve prever mecanismos que
estimulem a participação de todos no processo de de-
d) O tempo escolar
cisão. Isso requer uma revisão das atribuições específi-
O tempo é um dos elementos constitutivos da organi- cas e gerais, bem como da distribuição do poder e da
zação do trabalho pedagógico. O calendário escolar ordena descentralização do processo de decisão. Para que isso
o tempo: determina o início e o fim do ano, prevendo os seja possível é necessário que se instalem mecanismos
dias letivos, as férias, os períodos escolares em que o ano se institucionais visando à participação política de todos
divide, os feriados cívicos e religiosos, as datas reservadas os envolvidos com o processo educativo da escola. Paro
à avaliação, os períodos para reuniões técnicas, cursos etc. (1993, p. 34) sugere a instalação de processos eletivos
O horário escolar, que fixa o número de horas por se- de escolha de dirigentes, colegiados com representação
mana e que varia em razão das disciplinas constantes na de alunos, pais, associação de pais e professores, grêmio
grade curricular, estipula também o número de aulas por estudantil, processos coletivos de avaliação continuada
professor. Tal como afirma Enguita: “Às matérias tornam- dos serviços escolares etc.
-se equivalentes porque ocupam o mesmo número de
horas por semana, e são vistas como tendo menor prestí- f) As relações de trabalho
gio se ocupam menos tempo que as demais”. E importante reiterar que, quando se busca uma nova
A organização do tempo do conhecimento escolar é organização do trabalho pedagógico, está se conside-
marcada pela segmentação do dia letivo, e o currículo é, rando que as relações de trabalho, no interior da escola,
consequentemente, organizado em períodos fixos de tem- deverão estar calcadas nas atitudes de solidariedade, de
po para disciplinas supostamente separadas. O controle reciprocidade e de participação coletiva, em contraposi-
hierárquico utiliza o tempo que muitas vezes é desper- ção à organização regida pelos princípios da divisão do
diçado e controlado pela administração e pelo professor. trabalho, da fragmentação e do controle hierárquico. É
Em resumo, quanto mais compartimentado for o nesse movimento que se verifica o confronto de interes-
tempo, mais hierarquizadas e ritualizadas serão as rela- ses no interior da escola. Por isso, todo esforço de gestar
ções sociais, reduzindo, também, as possibilidades de se uma nova organização deve levar em conta as condições
institucionalizar o currículo-integração que conduz a um concretas presentes na escola. Há uma correlação de for-
ensino em extensão. ças e é nesse embate que se originam os conflitos, as
tensões, as rupturas, propiciando a construção de novas
Enguita, ao discutir a questão de como a escola con-
formas de relações de trabalho, com espaços abertos à
tribui para a inculcação da precisão temporal nas ativida-
reflexão coletiva que favoreçam o diálogo, a comunica-
des escolares, assim se expressa:
ção horizontal entre os diferentes segmentos envolvidos
A sucessão de períodos muito breves - sempre de
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

com o processo educativo, a descentralização do poder.


menos de uma hora -dedicados a matérias muito dife- A esse respeito, Machado assume a seguinte posição: “O
rentes entre si, sem necessidade de sequência lógica en- processo de luta é visto como uma forma de contrapor-
tre elas, sem atender à melhor ou à pior adequação de -se à dominação, o que pode contribuir para a articula-
seu conteúdo a períodos mais longos ou mais curtos e ção de práticas emancipatórias”.
sem prestar nenhuma atenção à cadência do interesse A partir disso, novas relações de poder poderão ser
e do trabalho dos estudantes; em suma, a organização construídas na dinâmica interna da sala de aula e da escola.
habitual do horário escolar ensina ao estudante que o
importante não é a qualidade precisa de seu trabalho, g) A avaliação
a que o dedica, mas sua duração. A escola é o primeiro Acompanhar e avaliar as atividades leva-nos à refle-
cenário em que a criança e o jovem presenciam, aceitam xão, com base em dados concretos sobre como a escola
e sofrem a redução de seu trabalho a trabalho abstrato. se organiza para colocar em ação seu projeto político-

80
-pedagógico. A avaliação do projeto político-pedagógi- Referência:
co, numa visão crítica, parte da necessidade de conhecer VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (Org.) Projeto políti-
a realidade escolar, busca explicar e compreender critica- co-pedagógico da escola: uma construção possível. Pa-
mente as causas da existência de problemas, bem como pirus, 2002.
suas relações, suas mudanças e se esforça para propor
ações alternativas (criação coletiva). Esse caráter criador
é conferido pela autocrítica.
Avaliadores que conjugam as ideias de uma visão EXERCÍCIO COMENTADO
global analisam o projeto político-pedagógico não
como algo estanque, desvinculado dos aspectos políti- 1. (Pref. Gramado/RS - Supervisor Pedagógico – Su-
cos e sociais; não rejeitam as contradições e os conflitos. perior – FUNDATEC/2015) Sobre o Projeto Político
A avaliação tem um compromisso mais amplo do que a Pedagógico, de acordo com Veiga, analise as seguintes
mera eficiência e eficácia das propostas conservadoras. assertivas:
Portanto, acompanhar e avaliar o projeto político-peda-
gógico é avaliar os resultados da própria organização do I. É preciso entendê-lo como uma reflexão sobre o coti-
trabalho pedagógico. diano da escola.
Considerando a avaliação dessa forma, é possível II. O que ele visa é simplesmente um rearranjo da escola.
salientar dois pontos importantes. Primeiro, a avaliação III. A sua construção, entre outras coisas, requer continui-
é um ato dinâmico que qualifica e oferece subsídios ao dade das ações, descentralização e democratização do
projeto político-pedagógico. Segundo, ela imprime uma processo de tomada de decisões. Quais estão corretas?
direção às ações dos educadores e dos educandos.
O processo de avaliação envolve três momentos: a a) Apenas I.
descrição e a problematização da realidade escolar, a b) Apenas I e II.
compreensão crítica da realidade descrita e problema- c) Apenas I e III.
tizada e a proposição de alternativas de ação, momento d) Apenas II e III.
de criação coletiva. e) I, II e III.
A avaliação, do ponto de vista crítico, não pode ser
instrumento de exclusão dos alunos provenientes das Resposta: Letra C. Em “c”: Certo – Na Assertiva I con-
classes trabalhadoras. Portanto, deve ser democrática, forme Veiga “não é possível que o projeto político pe-
deve favorecer o desenvolvimento da capacidade do alu- dagógico seja aceito pela comunidade escolar como
no de apropriar-se de conhecimentos científicos, sociais um simples documento, como ampliação da burocra-
e tecnológicos produzidos historicamente e deve ser re- cia escolar ou como se estivesse desligado do cotidia-
sultante de um processo coletivo de avaliação diagnos- no escolar e tampouco é aceitável que os gestores ig-
tica. norem a importância e a relevância do projeto político
pedagógico para a organização e democratização da
3. Gestão educacional decorrente da concepção escola.” Na assertiva III - conforme afirma Veiga (2003,
do projeto político-pedagógico p. 277), “a legitimidade de um projeto político-peda-
gógico está estreitamente ligada ao grau e ao tipo de
A escola, para se desvencilhar da divisão do trabalho, participação de todos os envolvidos com o processo
de sua fragmentação e do controle hierárquico, precisa educativo, o que requer continuidade de ações”.
criar condições para gerar uma outra forma de organiza-
ção do trabalho pedagógico.
A reorganização da escola deverá ser buscada de CURRÍCULO E CULTURA: VISÃO
dentro para fora. O fulcro para a realização dessa tarefa INTERDISCIPLINAR E TRANSVERSAL DO
será o empenho coletivo na construção de um projeto CONHECIMENTO.
político-pedagógico, e isso implica fazer rupturas com o
existente para avançar.
É preciso entender o projeto político-pedagógico da Temas transversais.
escola como uma reflexão de seu cotidiano. Para tanto,
ela precisa de um tempo razoável de reflexão e ação ne- A educação para a cidadania requer, portanto, que
cessário à consolidação de sua proposta. questões sociais sejam apresentadas para a aprendiza-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

A construção do projeto político-pedagógico requer gem e a reflexão dos alunos.


continuidade das ações, descentralização, democratiza- A inclusão de questões sociais no currículo escolar
ção do processo de tomada de decisões e instalação de não é uma preocupação inédita. Essas temáticas já têm
um processo coletivo de avaliação de cunho emancipa- sido discutidas e incorporadas às áreas ligadas às Ciên-
tório. cias Sociais e Ciências Naturais, chegando mesmo, em al-
Finalmente, é importante destacar que o movimento gumas propostas, a constituir novas áreas, como no caso
de luta e resistência dos educadores é indispensável para dos temas Meio Ambiente e Saúde.
ampliar as possibilidades e apressar as mudanças que se Os Parâmetros Curriculares Nacionais incorpo-
fazem necessárias dentro e fora dos muros da escola. ram essa tendência e a incluem no currículo de forma
a compor um conjunto articulado e aberto a novos te-
mas, buscando um tratamento didático que contemple

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sua complexidade e sua dinâmica, dando-lhes a mesma - Favorecer a compreensão da realidade e a parti-
importância das áreas convencionais. O currículo ganha cipação social
em flexibilidade e abertura, uma vez que os temas po- A finalidade última dos Temas Transversais se expres-
dem ser priorizados e contextualizados de acordo com sa neste critério: que os alunos possam desenvolver a ca-
as diferentes realidades locais e regionais e outros temas pacidade de posicionar-se diante das questões que inter-
podem ser incluídos. ferem na vida coletiva, superar a indiferença, intervir de
O conjunto de temas aqui proposto (Ética, Meio Am- forma responsável. Assim, os temas eleitos, em seu con-
biente, Pluralidade Cultural, Saúde e Orientação Sexual) junto, devem possibilitar uma visão ampla e consistente
recebeu o título geral de Temas Transversais, indicando da realidade brasileira e sua inserção no mundo, além de
a metodologia proposta para sua inclusão no currículo e desenvolver um trabalho educativo que possibilite uma
seu tratamento didático. participação social dos alunos.
Esse trabalho requer uma reflexão ética como eixo A seguir, serão descritos em linhas gerais os temas
norteador, por envolver posicionamentos e concepções escolhidos. Para cada um deles existe um documento es-
a respeito de suas causas e efeitos, de sua dimensão his- pecífico no qual são aprofundados e apresentados seus
tórica e política. objetivos, conteúdos e orientações didáticas.
A ética é um dos temas mais trabalhados do pen-
samento filosófico contemporâneo, mas é também um Ética
tema presente no cotidiano de cada um, que faz parte do
vocabulário conhecido por quase todos. A Ética diz respeito às reflexões sobre as condutas
A reflexão ética traz à luz a discussão sobre a liber- humanas. A pergunta ética por excelência é: “Como agir
dade de escolha. A ética interroga sobre a legitimidade perante os outros?”. Verifica-se que tal pergunta é am-
de práticas e valores consagrados pela tradição e pelo pla, complexa e sua resposta implica tomadas de posição
costume. Abrange tanto a crítica das relações entre os valorativas. A questão central das preocupações éticas é
grupos, dos grupos nas instituições e perante elas, quan- a da justiça entendida como inspirada pelos valores de
to a dimensão das ações pessoais. Trata-se portanto de igualdade e equidade. Na escola, o tema Ética encon-
discutir o sentido ético da convivência humana nas suas tra-se, em primeiro lugar, nas próprias relações entre os
relações com várias dimensões da vida social: o ambien- agentes que constituem essa instituição: alunos, profes-
te, a cultura, a sexualidade e a saúde. sores, funcionários e pais. Em segundo lugar, o tema Ética
encontra-se nas disciplinas do currículo, uma vez que, sa-
Critérios a dota dos para a eleição dos Temas be-se, o conhecimento não é neutro, nem impermeável a
Transversais valores de todo tipo. Finalmente, encontra-se nos demais
Temas Transversais, já que, de uma forma ou de outra,
Muitas questões sociais poderiam ser eleitas como tratam de valores e normas. Em suma, a reflexão sobre
temas transversais para o trabalho escolar, uma vez que as diversas faces das condutas humanas deve fazer parte
o que os norteia, a construção da cidadania e a democra- dos objetivos maiores da escola comprometida com a
cia, são questões que envolvem múltiplos aspectos e di- formação para a cidadania. Partindo dessa perspectiva,
ferentes dimensões da vida social. Foram então estabele- o tema Ética traz a proposta de que a escola realize um
cidos os seguintes critérios para defini-los e escolhê-los: trabalho que possibilite o desenvolvimento da autono-
mia moral, condição para a reflexão ética. Para isso foram
- Urgência social eleitos como eixos do trabalho quatro blocos de con-
Esse critério indica a preocupação de eleger como teúdo: Respeito Mútuo, Justiça, Diálogo e Solidariedade,
Temas Transversais questões graves, que se apresentam valores referenciados no princípio da dignidade do ser
como obstáculos para a concretização da plenitude da humano, um dos fundamentos da Constituição brasileira.
cidadania, afrontando a dignidade das pessoas e dete-
riorando sua qualidade de vida. Pluralidade cultural

- A abrangência nacional Para viver democraticamente em uma sociedade plu-


Por ser um parâmetro nacional, a eleição dos temas ral é preciso respeitar os diferentes grupos e culturas que
buscou contemplar questões que, em maior ou menor a constituem. A sociedade brasileira é formada não só
medida e mesmo de formas diversas, fossem pertinentes por diferentes etnias, como por imigrantes de diferen-
a todo o País. Isso não exclui a possibilidade e a neces- tes países. Além disso, as migrações colocam em contato
sidade de que as redes estaduais e municipais, e mesmo grupos diferenciados. Sabe-se que as regiões brasileiras
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

as escolas, acrescentem outros temas relevantes à sua têm características culturais bastante diversas e a con-
realidade. vivência entre grupos diferenciados nos planos social e
cultural muitas vezes é marcada pelo preconceito e pela
- Possibilidade de ensino e aprendiz agem no en- discriminação. O grande desafio da escola é investir na
sino fundamental superação da discriminação e dar a conhecer a riqueza
Esse critério norteou a escolha de temas ao alcance representada pela diversidade etnocultural que com-
da aprendizagem nessa etapa da escolaridade. A expe- põe o patrimônio sociocultural brasileiro, valorizando a
riência pedagógica brasileira, ainda que de modo não trajetória particular dos grupos que compõem a socie-
uniforme, indica essa possibilidade, em especial no que dade. Nesse sentido, a escola deve ser local de diálogo,
se refere à Educação para a Saúde, Educação Ambiental de aprender a conviver, vivenciando a própria cultura e
e Orientação Sexual, já desenvolvidas em muitas escolas. respeitando as diferentes formas de expressão cultural.

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Meio ambiente crenças, tabus e valores a ela associados. Tal intervenção
ocorre em âmbito coletivo, diferenciando-se de um tra-
A vida cresceu e se desenvolveu na Terra como uma balho individual, de cunho psicoterapêutico e enfocando
trama, uma grande rede de seres interligados, interde- as dimensões sociológica, psicológica e fisiológica da se-
pendentes. Essa rede entrelaça de modo intenso e en- xualidade. Diferencia-se também da educação realizada
volve conjuntos de seres vivos e elementos físicos. Para pela família, pois possibilita a discussão de diferentes
cada ser vivo que habita o planeta existe um espaço ao pontos de vista associados à sexualidade, sem a imposi-
seu redor com todos os outros elementos e seres vivos ção de determinados valores sobre outros.
que com ele interagem, por meio de relações de troca O trabalho de Orientação Sexual visa propiciar aos
de energia: esse conjunto de elementos, seres e relações jovens a possibilidade do exercício de sua sexualidade
constitui o seu meio ambiente. Explicado dessa forma, de forma responsável e prazerosa. Seu desenvolvimen-
pode parecer que, ao se tratar de meio ambiente, se está to deve oferecer critérios para o discernimento de com-
falando somente de aspectos físicos e biológicos. Ao portamentos ligados à sexualidade que demandam pri-
contrário, o ser humano faz parte do meio ambiente e vacidade e intimidade, assim como reconhecimento das
as relações que são estabelecidas - relações sociais, eco- manifestações de sexualidade passíveis de serem expres-
nômicas e culturais - também fazem parte desse meio sas na escola. Propõem-se três eixos fundamentais para
e, portanto, são objetos da área ambiental. Ao longo nortear a intervenção do professor: Corpo Humano, Re-
da história, o homem transformou-se pela modificação lações de Gênero e Prevenção às Doenças Sexualmente
do meio ambiente, criou cultura, estabeleceu relações Transmissíveis/AIDS.
econômicas, modos de comunicação com a natureza e A abordagem do corpo como matriz da sexualidade
com os outros. Mas é preciso refletir sobre como devem tem como objetivo propiciar aos alunos conhecimento
ser essas relações socioeconômicas e ambientais, para e respeito ao próprio corpo e noções sobre os cuidados
se tomar decisões adequadas a cada passo, na direção que necessitam dos serviços de saúde. A discussão sobre
das metas desejadas por todos: o crescimento cultural, a gênero propicia o questionamento de papéis rigidamen-
qualidade de vida e o equilíbrio ambiental. te estabelecidos a homens e mulheres na sociedade, a
valorização de cada um e a flexibilização desses papéis.
Saúde O trabalho de prevenção às doenças sexualmente trans-
missíveis/AIDS possibilita oferecer informações cien-
O nível de saúde das pessoas reflete a maneira como tíficas e atualizadas sobre as formas de prevenção das
vivem, numa interação dinâmica entre potencialidades doenças. Deve também combater a discriminação que
individuais e condições de vida. Não se pode compreen- atinge portadores do HIV e doentes de AIDS de forma
der ou transformar a situação de um indivíduo ou de a contribuir para a adoção de condutas preventivas por
uma comunidade sem levar em conta que ela é produzi- parte dos jovens.
da nas relações com o meio físico, social e cultural. Falar
de saúde implica levar em conta, por exemplo, a qualida- Temas locais
de do ar que se respira, o consumismo desenfreado e a
miséria, a degradação social e a desnutrição, formas de O trabalho com temas sociais na escola, por tratar de
inserção das diferentes parcelas da população no mundo conhecimentos diretamente vinculados à realidade, deve
do trabalho, estilos de vida pessoal. estar aberto à assimilação de mudanças apresentadas
Atitudes favoráveis ou desfavoráveis à saúde são por essa realidade. As mudanças sociais e os problemas
construídas desde a infância pela identificação com va- que surgem pedem uma atenção especial para se estar
lores observados em modelos externos ou grupos de re- sempre interagindo com eles, sem ocultá-los. Assim, em-
ferência. A escola cumpre papel destacado na formação bora os temas tenham sido escolhidos em função das
dos cidadãos para uma vida saudável, na medida em que urgências que a sociedade brasileira apresenta, dadas
o grau de escolaridade em si tem associação comprova- as grandes dimensões do Brasil e as diversas realidades
da com o nível de saúde dos indivíduos e grupos popu- que o compõem, é inevitável que determinadas questões
lacionais. Mas a explicitação da educação para a Saúde ganhem importância maior em uma região. Sob a de-
como tema do currículo eleva a escola ao papel de for- nominação de Temas Locais, os Parâmetros Curriculares
madora de protagonistas - e não pacientes - capazes de Nacionais pretendem contemplar os temas de interesse
valorizar a saúde, discernir e participar de decisões relati- específico de uma determinada realidade a serem defi-
vas à saúde individual e coletiva. Portanto, a formação do nidos no âmbito do Estado, da cidade e/ou da escola.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

aluno para o exercício da cidadania compreende a moti- Uma vez reconhecida a urgência social de um problema
vação e a capacitação para o autocuidado, assim como a local, este poderá receber o mesmo tratamento dado aos
compreensão da saúde como direito e responsabilidade outros Temas Transversais. Tomando-se como exemplo
pessoal e social. o caso do trânsito, vê-se que, embora esse seja um pro-
blema que atinge uma parcela significativa da popula-
Orientação sexual ção, é um tema que ganha significação principalmente
nos grandes centros urbanos, onde o trânsito tem sido
A Orientação Sexual na escola deve ser entendida fonte de intrincadas questões de natureza extremamente
como um processo de intervenção pedagógica que tem diversa. Pense-se, por exemplo, no direito ao transpor-
como objetivo transmitir informações e problematizar te associado à qualidade de vida e à qualidade do meio
questões relacionadas à sexualidade, incluindo posturas, ambiente; ou o desrespeito às regras de trânsito e a se-

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gurança de motoristas e pedestres (o trânsito brasileiro é é saúde e como esta se preserva, é preciso ter alguns
um dos que, no mundo, causa maior número de mortes). conhecimentos sobre o corpo humano, matéria da área
Assim, visto de forma ampla, o tema trânsito remete à de Ciências. É também preciso ter conhecimentos so-
reflexão sobre as características de modos de vida e re- bre Meio Ambiente, uma vez que a saúde das pessoas
lações sociais. depende da qualidade do meio em que vivem. Conhe-
cimentos de Língua Portuguesa e Matemática também
A transversalidade comparecem: questões de saúde são temas de debates
na imprensa, informações importantes são veiculadas
Por tratarem de questões sociais, os Temas Transver- por meio de folhetos; a leitura e a compreensão de ta-
sais têm natureza diferente das áreas convencionais. Sua belas e dados estatísticos são essenciais na percepção da
complexidade faz com que nenhuma das áreas, isolada- situação da saúde pública. Portanto, o tema Saúde tem
mente, seja suficiente para abordá-los. Ao contrário, a como especificidade o fato de, além de conhecimentos
problemática dos Temas Transversais atravessa os dife- inerentes a ele, nele convergirem conhecimentos de
rentes campos do conhecimento. Por exemplo, a ques- áreas distintas. Ao invés de se isolar ou de compartimen-
tão ambiental não é compreensível apenas a partir das tar o ensino e a aprendizagem, a relação entre os Temas
contribuições da Geografia. Necessita de conhecimen- Transversais e as áreas deve se dar de forma que:
tos históricos, das Ciências Naturais, da Sociologia, da - As diferentes áreas contemplem os objetivos e os
Demografia, da Economia, entre outros. Por outro lado, conteúdos (fatos, conceitos e princípios; procedi-
nas várias áreas do currículo escolar existem, implícita mentos e valores; normas e atitudes) que os temas
ou explicitamente, ensinamentos a respeito dos temas da convivência social propõem;
transversais, isto é, todas educam em relação a questões - Haja momentos em que as questões relativas aos
sociais por meio de suas concepções e dos valores que temas sejam explicitamente trabalhadas e conteú-
veiculam. No mesmo exemplo, ainda que a programa- dos de campos e origens diferentes sejam coloca-
ção desenvolvida não se refira diretamente à questão dos na perspectiva de respondê-las.
ambiental e a escola não tenha nenhum trabalho nesse
sentido, Geografia, História e Ciências Naturais sempre Caberá ao professor mobilizar tais conteúdos em
veiculam alguma concepção de ambiente e, nesse senti- torno de temáticas escolhidas, de forma que as diversas
do, efetivam uma certa educação ambiental. áreas não representem continentes isolados, mas digam
Considerando esses fatos, experiências pedagógicas respeito aos diversos aspectos que compõem o exercício
brasileiras e internacionais de trabalho com educação da cidadania.
ambiental, orientação sexual e saúde têm apontado a Indo além do que se refere à organização dos con-
necessidade de que tais questões sejam trabalhadas de teúdos, o trabalho com a proposta da transversalidade
forma contínua e integrada, uma vez que seu estudo re- se define em torno de quatro pontos:
mete à necessidade de se recorrer a conjuntos de conhe- - os temas não constituem novas áreas, pressupondo
cimentos relativos a diferentes áreas do saber. um tratamento integrado nas diferentes áreas;
Diante disso optou-se por integrá-las no currículo - a proposta de transversalidade traz a necessidade
por meio do que se chama de transversalidade: pre- de a escola refletir e atuar conscientemente na
tende-se que esses temas integrem as áreas conven- educação de valores e atitudes em todas as áreas,
cionais de forma a estarem presentes em todas elas, garantindo que a perspectiva político-social se ex-
relacionando-as às questões da atualidade. presse no direcionamento do trabalho pedagógi-
As áreas convencionais devem acolher as questões co; influencia a definição de objetivos educacionais
dos Temas Transversais de forma que seus conteúdos e orienta eticamente as questões epistemológicas
as explicitem e seus objetivos sejam contemplados. Por mais gerais das áreas, seus conteúdos e, mesmo, as
exemplo, na área de Ciências Naturais, ao ensinar sobre orientações didáticas;
o corpo humano, incluem-se os principais órgãos e fun- - a perspectiva transversal aponta uma transforma-
ções do aparelho reprodutor masculino e do feminino, ção da prática pedagógica, pois rompe a limitação
relacionando seu amadurecimento às mudanças no cor- da atuação dos professores às atividades formais e
po e no comportamento de meninos e meninas durante amplia a sua responsabilidade com a sua formação
a puberdade e respeitando as diferenças individuais. dos alunos. Os Temas Transversais permeiam ne-
Dessa forma o estudo do corpo humano não se res- cessariamente toda a prática educativa que abarca
tringe à dimensão biológica, mas coloca esse conheci- relações entre os alunos, entre professores e alu-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

mento a serviço da compreensão da diferença de gênero nos e entre diferentes membros da comunidade
(conteúdo de Orientação Sexual) e do respeito à diferen- escolar;
ça (conteúdo de Ética). - a inclusão dos temas implica a necessidade de um
A integração, a extensão e a profundidade do traba- trabalho sistemático e contínuo no decorrer de
lho podem se dar em diferentes níveis, segundo o domí- toda a escolaridade, o que possibilitará um trata-
nio do tema e/ou a prioridade que se eleja nas diferentes mento cada vez mais aprofundado das questões
realidades locais. Isso se efetiva mediante a organização eleitas. Por exemplo, se é desejável que os alunos
didática eleita pela escola. É possível e desejável que co- desenvolvam uma postura de respeito às diferen-
nhecimentos apreendidos em vários momentos sejam ças, é fundamental que isso seja tratado desde o
articulados em torno de um tema em questão de modo início da escolaridade e continue sendo tratado
a explicitá-lo e dar-lhe relevância. Para se saber o que cada vez com maiores possibilidades de reflexão,

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compreensão e autonomia. Muitas vezes essas Os Temas Transversais, portanto, dão sentido social a
questões são vistas como sendo da “natureza” dos procedimentos e conceitos próprios das áreas conven-
alunos (eles são ou não são respeitosos), ou atri- cionais, superando assim o aprender apenas pela neces-
buídas ao fato de terem tido ou não essa educação sidade escolar.
em casa. Outras vezes são vistas como aprendiza-
dos possíveis somente quando jovens (maiores) Como a transversalidade se apresenta nos parâ-
ou quando adultos. Sabe-se, entretanto, que é um metros curriculares
processo de aprendizagem que precisa de atenção
durante toda a escolaridade e a contribuição da A problemática trazida pelos temas transversais está
educação escolar é de natureza complementar à contemplada nas diferentes áreas curriculares. Está pre-
familiar: não se excluem nem se dispensam mu- sente em seus fundamentos, nos objetivos gerais, nos
tuamente. objetivos de ciclo, nos conteúdos e nos critérios de ava-
liação das áreas. Dessa forma, em todos os elementos do
Transversalidade e interdisciplinaridade currículo há itens selecionados a partir de um ou mais
temas. Com a transversalidade, os temas passam a ser
A proposta de transversalidade pode acarretar algu- partes integrantes das áreas e não externos e/ou aco-
mas discussões do ponto de vista conceitual, como, por plados a elas, definindo uma perspectiva para o trabalho
exemplo, a da sua relação com a concepção de interdisci- educativo que se faz a partir delas.
plinaridade, bastante difundida no campo da pedagogia. É preciso atentar para o fato de que a possibilidade
Essa discussão é pertinente e cabe analisar como estão de inserção dos Temas Transversais nas diferentes áreas
sendo consideradas nos Parâmetros Curriculares Nacio- (Língua Portuguesa, Matemática, Ciências Naturais, His-
nais as diferenças entre os dois conceitos, bem como tória, Geografia, Arte e Educação Física) não é uniforme,
suas implicações mútuas. uma vez que é preciso respeitar as singularidades tanto
Ambas - transversalidade e interdisciplinaridade - se dos diferentes temas quanto das áreas.
fundamentam na crítica de uma concepção de conhe- Existem afinidades maiores entre determinadas áreas
cimento que toma a realidade como um conjunto de e determinados temas, como é o caso de Ciências Na-
dados estáveis, sujeitos a um ato de conhecer isento e turais e Saúde ou entre História, Geografia e Pluralidade
distanciado. Ambas apontam a complexidade do real e a Cultural, em que a transversalidade é fácil e claramente
necessidade de se considerar a teia de relações entre os identificável. Não considerar essas especificidades seria
seus diferentes e contraditórios aspectos. Mas diferem cair num formalismo mecânico. 
uma da outra, uma vez que a interdisciplinaridade refe-
re-se a uma abordagem epistemológica dos objetos de Referência:
conhecimento, enquanto a transversalidade diz respeito PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS (1ª. A 4ª. SÉRIE) Se-
cretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF. 1997.
principalmente à dimensão da didática.

A interdisciplinaridade questiona a segmentação en-


tre os diferentes campos de conhecimento produzida por
CURRÍCULO: A VALORIZAÇÃO DAS
uma abordagem que não leva em conta a inter-relação e DIFERENÇAS INDIVIDUAIS, DE GÊNERO,
a influência entre eles - questiona a visão compartimen- ÉTNICAS E SOCIOCULTURAIS E O
tada (disciplinar) da realidade sobre a qual a escola, tal COMBATE À DESIGUALDADE.
como é conhecida, historicamente se constituiu. Refere-
-se, portanto, a uma relação entre disciplinas.
Considerar que o mundo passou e passa por diver-
A transversalidade diz respeito à possibilidade de
sas transformações é uma afirmativa muito presente em
se estabelecer, na prática educativa, uma relação entre nossos dias, essas transformações acontecem a cada dia.
aprender na realidade e da realidade de conhecimentos Quando se descobre mais uma inovação tecnológica ou
teoricamente sistematizados (aprender sobre a realida- quando pesquisas em saúde, educação e outras áreas
de) e as questões da vida real (aprender na realidade e são feitas e com isso mudam o nosso modo de vida e
da realidade). de pensar. É fundamental que a escola compreenda e
Na prática pedagógica, interdisciplinaridade e trans- acompanhe essas transformações e para isso se adequar
versalidade alimentam-se mutuamente, pois o tratamen- e descobrir estratégias que siga essas mudanças.
to das questões trazidas pelos Temas Transversais expõe
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Para isso a forma como se faz e se pensa a educação


as inter-relações entre os objetos de conhecimento, de deve passar por uma reformulação. A educação em nossa
forma que não é possível fazer um trabalho pautado na contemporaneidade deve ser aquela que prepare a criança
transversalidade tomando-se uma perspectiva discipli- e o jovem tanto para o mercado de trabalho tanto para o
nar rígida. A transversalidade promove uma compreen- mundo acadêmico. Mas como isso acontece? Quais são os
são abrangente dos diferentes objetos de conhecimen- meios que se pode pensar para que a educação consiga al-
to, bem como a percepção da implicação do sujeito de cançar esses objetivos com seus educandos? As respostas
conhecimento na sua produção, superando a dicotomia para essas perguntas não são prontas, são respostas que
entre ambos. Por essa mesma via, a transversalidade abre devem ser pensadas conjuntamente com as esferas gover-
espaço para a inclusão de saberes extraescolares, possi- namentais (poder público), comunidade escolar (gestores,
bilitando a referência a sistemas de significado construí- diretores, supervisores, professores, auxiliares), alunos e a
dos na realidade dos alunos. comunidade na qual a escola está inserida.

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Entretanto, um primeiro passo para se pensar essa O conteúdo não deve ser visto mais como isolado da rea-
mudança se dá através da reformulação do currículo, lidade do aluno e a sua realidade passa a ser valorizada
já é sabido que o currículo se constitui como um docu- e integrada no estudo de tais conteúdo. O conceito de
mento importante que estabelece as propostas a serem transversalidade surgiu a partir das demandas levanta-
alcançadas pelas escolas com seus alunos, o currículo é das ao longo do século XX por teóricos da educação que
também um espelho da sociedade a qual o governo tem já naquele tempo já pensavam em uma nova forma de
interesse em formar, por isso também é revestido de in- pensar a educação e está atrelada a didática de ensino.
teresses políticos e nacionais pensados de uma maneira Já o conceito de interdisciplinaridade pode ser com-
ampla para todo o país. É importante salientar que com preendido basicamente como sendo o estudo de um
as mudanças apresentadas logo no início do texto o cur- tema não somente em uma área, mas em outras áreas
rículo que se é pensado para os dias atuais deve garantir diferentes.
ao aluno a formação de um cidadão crítico e que seja Como exemplo da interdisciplinaridade pode dar o
capaz de compreender o mundo ao seu redor. caso de uma receita de bolo de Mandioca, dentro recei-
No caso da educação brasileira temos documentos ta de bolo de Mandioca podemos trabalhar em muitas
que são norteadores para a comunidade escolar pensar áreas do ensino. A primeira seria o ensino da Matemáti-
a reformulação de seus currículos, esses documentos fo- ca, quais são as medidas que utilizo para se ter o prepa-
ram criados no mesmo momento em que surge a LDB/96 ro do bolo? Quanto tempo gasta para ele ficar pronto?
que marca uma nova configuração sobre a educação Além da Matemática dá para se trabalhar Geografia e
brasileira pensada anteriormente, são chamados de Pa- Português pois, em determinadas regiões do Brasil não
râmetros Curriculares Nacionais. se usa o termo mandioca, mas sim macaxeira e além de
A discussão acerca da elaboração dos parâmetros trabalhar essas três matérias pode se trabalhar História
surgiu no início da década de 1990 e sobre ela tinha-se a partir do questionamento quando se deu o apareci-
os pensamentos neoliberais que circulavam no mundo mento dessa receita? Ela é uma receita que incorpora a
e que no Brasil foi colocado em prática a partir dos go- culinária de festas juninas, qual a sua importância para
vernos eleitos após o fim da ditadura. Juntamente com o essa tradição e assim o levantamento de vários ques-
tionamentos a partir de um único tema, esse o conceito
pensamento neoliberal havia uma pressão internacional
central da interdisciplinaridade.
para que os países que se encontravam em desigualdade
O que ocorre com a aplicação dos Parâmetros Cur-
pudessem se alinhar com a ordem econômica vigente,
riculares Nacionais dentro da sala de aula é que haja
no caso, o capitalismo, além disto durante o processo de
a junção destes dois conceitos para que com isso seja
elaboração dos parâmetros percebemos a pressão inter-
trabalhado conceitos que até então não poderiam ser
nacional, mas a pressão interna que valorizava e alme-
trabalhados, entre esses conceitos podemos apresentar
java uma educação de qualidade e o acesso a todos ao
os conceitos de: Ética, saúde, meio ambiente, pluralida-
ensino. Dessa forma o Parâmetros Curriculares Nacionais de cultural e orientação sexual que são temas presentes
foram tomando forma e surgindo no fim da década de no cotidiano de jovens e crianças e serem questões que
1990 e hoje são referências para estados e munícipios. atualmente precisam ser discutidas cada dia mais, essas
Encontram-se divididos em: Ensino Fundamental 1 propostas do governo para melhorar o sistema de ensino
que abrange as séries que vão desde o primeiro ao quin- deve estar implantada no currículo escolar.
to ano e depois em Ensino Fundamental II, abrangendo O desenvolvimento de projetos que abrangem es-
as séries do sexto ano ao nono ano. ses dois conceitos deve ser bem elaborados e discutidos
No primeiro volume direcionado ao Ensino Fun- com os responsáveis pela sua aplicação, tais como super-
damental I as temáticas estão distribuídas da seguinte visores, coordenadores pedagógicos e professores.
forma: Volume 01 - Introdução aos PCNs, Volume 02 - A sua elaboração deve ser planejada e isso causa as
Língua Portuguesa ;Volume 03 – Matemática; Volume vezes um desafio, pois em grande parte depende da boa
04 - Ciências Naturais; Volume 05 - História e Geografia vontade e motivação dos professores para sua realiza-
;Volume 05.2 - História e Geografia; Volume 06 - Arte Vo- ção, pelo fato de que o professor deve sair da sua área
lume ;07 - Educação Física; Volume 08.1 - Temas Trans- de conforto e desenvolver um projeto com outro profes-
versais – Apresentação; Volume 08.2 - Temas Transver- sor. Descobrir e pesquisar são palavras importantes para
sais – Ética; Volume 09.1 - Meio Ambiente; Volume 09.2 se trabalhar esses dois conceitos, pois, se trabalhado de
- Saúde ;Volume 10.1 - Pluralidade Cultural; Volume 10.2 modo errado pode tornar-se desconexo com a realidade
- Orientação Sexual. Os temas e volumes para o Ensino em que o aluno se encontra, preservando e respeitando
Fundamental II também são os mesmos que o do Funda- o currículo de cada escola.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

mental I somente são acrescentados outros conteúdos. A aplicação destes conceitos bem trabalhados faz
Sobre os Temas Transversais que são responsáveis com que tantos professores quanto os alunos tenham
por projetos escolares deve se compreender o que signi- ganham positivos. Os professores com uma boa coorde-
fica: a transversalidade pode ser definida como sendo a nação e tutoria saberem aproveitar cada vez mais aquilo
possibilidade do estabelecimento na prática da educação que uma disciplina tem a oferecer, aprenderão também
de se estabelecer uma relação entre a realidade a qual o a conviver em equipe. Os alunos também saberão traba-
indivíduo está inserido juntamente com a realidade que lhar em equipe, desenvolver o espírito de cooperação e
naquele momento ele está aprendendo. Sendo assim se de trabalho em equipe.
aprende a realidade na realidade, para que isso ocorra A utilização destes dois conceitos em sala de aula é
deve se ter uma mudança de pensamento em vista como nova para os professores que muitas vezes estão a bas-
certos conteúdos são trabalhados dentro da sala de aula. tante tempo em sala e também para os alunos, dessa

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forma, medidas que podem ser tomadas já durante os ria ser diferente? Como? Um terceiro sentido da palavra
cursos de licenciatura que promovam a discussão com cultura, originado no Iluminismo, a associa a um proces-
os estudantes e trabalhos com eles permitem que estes so secular geral de desenvolvimento social. Esse signifi-
quando chegarem nas salas de aula saibam como utilizá- cado é comum nas ciências sociais, sugerindo a crença
-los na sala de aula produzindo e desenvolvendo o pro- em um processo harmônico de desenvolvimento da hu-
cesso de ensino aprendizagem instigante e envolvente manidade, constituído por etapas claramente definidas,
para seus alunos. pelo qual todas as sociedades inevitavelmente passam.
Esses parâmetros deixam claro que a luta por uma Tal processo acaba equivalendo, por “coincidência”, aos
educação de qualidade que valorize o indivíduo e que rumos seguidos pelas sociedades europeias, as únicas
acima tenha como objetivo maior a diminuição da desi- a atingirem o grau mais elevado de desenvolvimento.
gualdade faz com que ações, cursos, tutorias para pro- Há ainda reflexos dessa visão no currículo? Parece-nos
fessores sejam desenvolvidas a cada dia mais, promo- que sim. Em alguns cursos de História, por exemplo, as
vendo assim uma educação de qualidade e igualitária. referências se fazem, dominantemente, às histórias dos
povos “desenvolvidos”, o que nos aliena dos esforços e
1. Cultura, diversidade cultural e currículo dos rumos seguidos na maioria dos países que formam
o chamado Terceiro Mundo Em um quarto sentido, a
Que entendemos pela palavra cultura? Talvez seja palavra “culturas” (no plural) corresponde aos diversos
útil esclarecermos, inicialmente, como a estamos conce- modos de vida, valores e significados compartilhados
bendo, já que seus sentidos têm variado ao longo dos por diferentes grupos (nações, classes sociais, grupos
tempos, particularmente no período da transição de for- étnicos, culturas regionais, geracionais, de gênero etc) e
mações sociais tradicionais para a modernidade (Bocock, períodos históricos. Trata-se de uma visão antropológica
1995; Canen e Moreira, 2001). Acreditamos que tal escla- de cultura, em que se enfatizam os significados que os
recimento pode subsidiar a discussão das relações entre grupos compartilham, ou seja, os conteúdos culturais.
currículo e cultura. O primeiro e mais antigo significado Cultura identifica-se, assim, com a forma geral de vida
de cultura encontra-se na literatura do século XV, em que de um dado grupo social, com as representações da rea-
a palavra se refere a cultivo da terra, de plantações e de lidade e as visões de mundo adotadas por esse grupo. A
animais. É nesse sentido que entendemos palavras como expressão dessa concepção, no currículo, poderá eviden-
agricultura, floricultura, suinocultura. O segundo signifi- ciar-se no respeito e no acolhimento das manifestações
cado emerge no início do século XVI, ampliando a ideia culturais dos(as) estudantes, por mais desprestigiadas
de cultivo da terra e de animais para a mente humana. que sejam. Finalmente, um quinto significado tem tido
Ou seja, passa-se a falar em mente humana cultivada, considerável impacto nas ciências sociais e nas humani-
afirmando-se mesmo que somente alguns indivíduos, dades em geral. Deriva da antropologia social e também
grupos ou classes sociais apresentam mentes e maneiras
se refere a significados compartilhados. Diferentemente
cultivadas e que somente algumas nações apresentam
da concepção anterior, porém, ressalta a dimensão sim-
elevado padrão de cultura ou civilização. No século XVIII,
bólica, o que a cultura faz, em vez de acentuar o que
consolida-se o caráter classista da ideia de cultura, evi-
a cultura é. Nessa mudança, efetua- se um movimento
dente na ideia de que somente as classes privilegiadas
do que para o como. Concebe-se, assim, a cultura como
da sociedade europeia atingiriam o nível de refinamento
prática social, não como coisa (artes) ou estado de ser
que as caracterizaria como cultas. O sentido de cultura,
(civilização). Nesse enfoque, coisas e eventos do mundo
que ainda hoje a associa às artes, tem suas origens nes-
natural existem, mas não apresentam sentidos intrínse-
sa segunda concepção: cultura, tal como as elites a con-
cebem, corresponde ao bem apreciar música, literatura, cos: os significados são atribuídos a partir da linguagem.
cinema, teatro, pintura, escultura, filosofia. Será que não Quando um grupo compartilha uma cultura, comparti-
encontramos vestígios dessa concepção tanto em alguns lha um conjunto de significados, construídos, ensinados
de nossos atuais currículos como em textos que se es- e aprendidos nas práticas de utilização da linguagem. A
crevem sobre currículo? Para alguns docentes, o estudo palavra cultura implica, portanto, o conjunto de práticas
da literatura, por exemplo, ainda tende a se restringir a por meio das quais significados são produzidos e com-
escritores e livros vistos como clássicos. partilhados em um grupo. São os arranjos e as relações
Para alguns estudiosos da cultura e da educação, os envolvidas em um evento que passam, dominantemente,
grandes autores, as grandes obras e as grandes ideias a despertar a atenção dos que analisam a cultura com
deveriam constituir o núcleo central dos currículos de base nessa quinta perspectiva, passível de ser resumida
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

nossas escolas. Já no século XX, a noção de cultura passa na ideia de que cultura representa um conjunto de prá-
a incluir a cultura popular, hoje penetrada pelos conteú- ticas significantes. Não será pertinente considerarmos
dos dos meios de comunicação de massa. Diferenças e também o currículo como um conjunto de práticas em
tensões entre os significados de cultura elevada e de cul- que significados são construídos, disputados, rejeitados,
tura popular acentuam-se, levando a um uso do termo compartilhados? Como entender, então, as relações en-
cultura que se marca por valorizações e avaliações. Será tre currículo e cultura? Quando um grupo compartilha
que algumas de nossas escolas não continuam a fechar uma cultura, compartilha um conjunto de significados,
suas portas para as manifestações culturais associadas à construídos, ensinados e aprendidos nas práticas de uti-
cultura popular, contribuindo, assim, para que saberes e lização da linguagem. A palavra cultura implica, portanto,
valores familiares a muitos(as) estudantes sejam desvalo- o conjunto de práticas por meio das quais significados
rizados e abandonados na entrada da sala de aula? Pode- são produzidos e compartilhados em um grupo.

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Se entendermos o currículo, como propõe Williams, ppings, clubes, associações, igrejas, meios de comuni-
como escolhas que se fazem em vasto leque de possibi- cação, grupos informais de convivência etc), nos quais
lidades, ou seja, como uma seleção da cultura, podemos se fazem sentir com intensidade muitos dos complexos
concebê-lo, também, como conjunto de práticas que fenômenos associáveis ao processo de globalização que
produzem significados. Nesse sentido, considerações hoje vivenciamos. Nesses outros espaços extraescolares,
de Silva podem ser úteis. Segundo o autor, o currículo os currículos tendem a se organizar com objetivos distin-
é o espaço em que se concentram e se desdobram as tos dos currículos escolares, o que faz com que valores
lutas em torno dos diferentes significados sobre o social como padronização, consumismo, individualismo, sexis-
e sobre o político. É por meio do currículo que certos mo e etnocentrismo possam entrar em acirrada compe-
grupos sociais, especialmente os dominantes, expressam tição com outras metas, visadas por escolas e famílias.
sua visão de mundo, seu projeto social, sua “verdade”. Vale perguntar: como temos, nas salas de aula, reagido
O currículo representa, assim, um conjunto de práticas a esse “confuso” panorama em que a diversidade se faz
que propiciam a produção, a circulação e o consumo de tão presente? Como temos nos esforçado para deses-
significados no espaço social e que contribuem, intensa- tabilizar privilégios e discriminações? Como temos bus-
mente, para a construção de identidades sociais e cultu- cado neutralizar influências “indesejáveis”? Como temos,
rais. O currículo é, por consequência, um dispositivo de na escola, dialogado com os “currículos” desses outros
grande efeito no processo de construção da identidade espaços? Em resumo, o complexo, variado e conflituo-
do(a) estudante. Não se mostra, então, evidente a íntima so cenário cultural em que estamos imersos se reflete
relação entre currículo e cultura? Se, em uma sociedade no que ocorre em nossas salas de aula, afetando sen-
cindida, a cultura é um terreno no qual se processam dis- sivelmente o trabalho pedagógico que nelas se proces-
putas pela preservação ou pela superação das divisões sa. Voltamos a perguntar: como as diferenças derivadas
sociais, o currículo é um espaço em que esse mesmo de dinâmicas sociais como classe social, gênero, etnia,
conflito se manifesta. O currículo é um campo em que se sexualidade, cultura e religião têm “contaminado” nos-
tenta impor tanto a definição particular de cultura de um so currículo, tanto o currículo formal quanto o currículo
dado grupo quanto o conteúdo dessa cultura. O currícu- oculto? Como temos considerado, no currículo, essa plu-
lo é um território em que se travam ferozes competições ralidade, esse caráter multicultural de nossa sociedade?
em torno dos significados. O currículo não é um veículo Como articular currículo e multiculturalismo? Que es-
que transporta algo a ser transmitido e absorvido, mas tratégias pedagógicas podem ser selecionadas? Temos,
sim um lugar em que, ativamente, em meio a tensões, professores e gestores, reservado tempo e espaço su-
se produz e se reproduz a cultura. Currículo refere-se, ficientes para que essas discussões aconteçam nas es-
portanto, a criação, recriação, contestação e transgres- colas? Como nossos projetos político-pedagógicos têm
são. Como todos esses processos se “concretizam” no incorporado tais preocupações? Como temos atendido
currículo? Pode-se dizer que no currículo se evidenciam ao que determina a Lei nº 10639/2003, que torna obri-
esforços tanto por consolidar as situações de opressão e gatório, nos estabelecimentos de ensino fundamental e
discriminação a que certos grupos sociais têm sido sub- médio, o ensino sobre História e Cultura afro-brasileira?
metidos, quanto por questionar os arranjos sociais em De que modo os professores se têm inteirado das lutas
que essas situações se sustentam. Isso se torna claro ao e conquistas dos negros, das mulheres, dos homosse-
nos lembrarmos dos inúmeros e expressivos relatos de xuais e de outros grupos minoritários oprimidos? Sem
práticas, em salas de aulas, que contribuem para crista- pretender oferecer respostas prontas a serem aplicadas
lizar preconceitos e discriminações, representações este- em quaisquer situações, move-nos a intenção de apre-
reotipadas e desrespeitosas de certos comportamentos, sentar alguns princípios que possam nortear a constru-
certos estudantes e certos grupos sociais. Em Conselhos ção coletiva, em cada escola, de currículos que visem a
de Classe, algumas dessas visões, lamentavelmente, se enfrentar alguns dos desafios que a diversidade cultural
refletem em frases como: “vindo de onde vem, ele não nos tem trazido. Fundamentamo-nos, nesse propósito,
podia mesmo dar certo na escola!”. Ao mesmo tempo, em estudos, pesquisas, práticas e depoimentos de do-
há inúmeros e expressivos relatos de práticas alternativas centes comprometidos com uma escola cada vez mais
em que professores(as) desafiam as relações de poder democrática. Nossa intenção é convidar o profissional da
que têm justificado e preservado privilégios e margina- educação a engajar- se no instigante processo de pensar
lizações, procurando contribuir para elevar a autoestima e desenvolver currículos para essa escola.
de estudantes associados a grupos subalternizados. O Desejamos, com os princípios que vamos sugerir, in-
currículo é um campo em que se tenta impor tanto a tensificar a sensibilidade do(a) docente e do gestor para
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

definição particular de cultura de um dado grupo quanto a pluralidade de valores e universos culturais, para a ne-
o conteúdo dessa cultura. O currículo é um território em cessidade de um maior intercâmbio cultural no interior
que se travam ferozes competições em torno dos signi- de cada sociedade e entre diferentes sociedades, para
ficados. a conveniência de resgatar manifestações culturais de
Ou seja, no processo curricular, distintas e complexas determinados grupos cujas identidades se encontram
têm sido as respostas dadas à diversidade e à pluralidade ameaçadas, para a importância da participação de todos
que marcam de modo tão agudo o panorama cultural no esforço por tornar o mundo menos opressivo e in-
contemporâneo. Cabe também ressaltar a significativa justo, para a urgência de se reduzirem discriminações e
influência exercida, junto às crianças e aos adolescentes preconceitos. O objetivo maior concentra-se, cabe desta-
que povoam nossas salas de aula, pelos “currículos” por car, na contextualização e na compreensão do processo
eles “vividos” em outros espaços socioeducativos (sho- de construção das diferenças e das desigualdades. Nosso

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propósito é que os currículos desenvolvidos tornem evi- gras ainda têm sido, fossem impedidos(as) de entrar pela
dente que elas não são naturais; são, ao contrário, “in- “porta da frente” em um edifício residencial ou em um
venções/construções” históricas de homens e mulheres, hotel de luxo?
sendo, portanto, passíveis de serem desestabilizadas e Outra estratégia possível diz respeito ao resgate
mesmo transformadas. Ou seja, o existente nem pode ser de histórias de vida e análise de estudos de caso reais,
aceito sem questionamento nem é imutável; constitui-se, trazidos pelos próprios educadores ou registrados em
sim, em estímulo para resistências, para críticas e para a pesquisas realizadas sobre tal temática. Talvez alguns
formulação e a promoção de novas situações pedagógi- docentes se estimulem a apresentar e a discutir situa-
cas e novas relações sociais. ções em que se viram, eles próprios, discriminados, ou
em que presenciaram pessoas sendo depreciadas e des-
2. Princípios para a construção de currículos mul- respeitadas. Como se comportaram nesses momentos?
ticulturalmente orientados Em resumo, a ruptura do daltonismo cultural e da visão
monocultural da dinâmica escolar é um processo pes-
Passemos aos nossos princípios. Insistimos, inicial- soal e coletivo que exige desconstruir e desnaturalizar
mente, na necessidade de uma nova postura, por parte estereótipos e “verdades” que impregnam e configuram
do professorado e dos gestores, no esforço por construir a cultura escolar e a cultura da escola. Após a adoção de
currículos culturalmente orientados. Propomos, a seguir, uma nova postura frente à pluralidade, outros princípios
que se reescrevam os conhecimentos escolares, que se e propósitos podem mostrar-se úteis na formulação dos
evidencie a ancoragem social desses conhecimentos, currículos. Vejamos alguns deles.
bem como que se transforme a escola e o currículo em
espaços de crítica cultural, de diálogo e de desenvolvi- 4. O currículo com um espaço em que se reescreve
mento de pesquisas. Esperamos que nossos princípios o conhecimento escolar
possam nortear a escolha de novos conteúdos, a adoção
de novos procedimentos e o estabelecimento de novas Sugerimos que se procure, no currículo, reescrever o
relações na escola e na sala de aula. conhecimento escolar usual, tendo-se em mente as dife-
rentes raízes étnicas e os diferentes pontos de vista en-
3. A necessidade de uma nova postura volvidos em sua produção. No processo de construção
do conhecimento escolar, que já abordamos, se “retiram”
Elaborar currículos culturalmente orientados deman- os interesses e os objetivos usualmente envolvidos na
da uma nova postura, por parte da comunidade escolar, pesquisa e na produção do conhecimento de origem.
de abertura às distintas manifestações culturais. Faz-se O conhecimento escolar tende a ficar, em decorrência
indispensável superar o “daltonismo cultural”, ainda bas- desse processo, “asséptico”, “neutro”, despido de qual-
quer “cor” ou “sabor”. O que estamos desejando, em vez
tante presente nas escolas. O professor “daltônico cul-
disso, é que os interesses ocultados sejam identificados,
tural” é aquele que não valoriza o “arco-íris de culturas”
evidenciados e subvertidos, para que possamos, então,
que encontra nas salas de aulas e com que precisa traba-
reescrever os conhecimentos. Desejamos que o aluno
lhar, não tirando, portanto, proveito da riqueza que mar-
perceba o quanto, em Geografia, os conhecimentos re-
ca esse panorama. É aquele que vê todos os estudantes
ferentes aos diversos continentes foram construídos em
como idênticos, não levando em conta a necessidade de
íntima associação com o interesse, de certos países, em
estabelecer diferenças nas atividades pedagógicas que
aumentar suas riquezas pela conquista e colonização de
promove. O daltonismo cultural a que nos referimos ex-
outros povos. Em conformidade com essa proposta, en-
pressa-se, por exemplo, na visão da professora de uma contram-se já numerosos(as) professores(as) de História
escola normal que desencoraja uma pesquisadora inte- que não mais se contentam em ensinar aos(às) estudan-
ressada em compreender o tratamento dado, na escola, tes apenas a visão do dominante, do vencedor. Já se fa-
a questões referentes a racismo na formação docente. zem frequentes, em suas aulas na escola fundamental,
“Lamento, mas aqui você não terá material para seu es- discussões como: o Brasil foi descoberto ou invadido
tudo. Não temos problema nenhum de racismo aqui. pelos portugueses? A Lei Áurea, assinada pela Princesa
Eu, por exemplo, ao entrar em sala, trato todos os meus Isabel, pretendeu de fato beneficiar os escravos? Domin-
alunos como se fossem brancos”. O daltonismo é tão in- gos Fernandes Calabar deve ser mesmo considerado um
tenso que chega a impedir que a professora reconheça a traidor? Em 1964 houve uma revolução ou um golpe?
presença da diversidade (e de suas consequências) na es- Esses e outros inúmeros pontos controversos de nossa
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

cola. Em casos como esse, pode ser útil, em um primeiro História são discutidos por docentes e alunos(as), o que
momento, buscarmos sensibilizar o corpo docente para faz brotar uma análise bem mais lúcida dos diferentes e
a pluralidade e para a diversidade. Como fazê-lo? Que conflitantes motivos implicados nos fatos históricos, an-
estratégias empregar nessa tarefa, para que se possa tes vistos como “objetivos” e tratados com base em uma
ter a maior adesão possível dos que ainda não percebe- única versão, aceita sem questionamento.
ram a importância de tais aspectos? Nessa perspectiva, A consequência é que a análise se amplia e se en-
é importante articular o aprofundamento teórico com riquece pelo confronto de pontos de vista. Além dessa
vivências de experiências em que os/as profissionais da ampliação da análise, muitos docentes têm também pro-
educação são convidados/as a se colocar “em situação” curado incluir no currículo outras Histórias: a das mulhe-
e analisar as suas próprias reações. Como se sentiriam e res, a dos povos indígenas, a dos negros, por exemplo.
reagiriam, por exemplo, se, como algumas pessoas ne- Tais inclusões preenchem algumas das lacunas mais en-

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contradas nas propostas curriculares oficiais, trazendo à xenofobia, do fundamentalismo. Não será indispensável
cena vozes e culturas negadas e silenciadas no currículo. que a escola procure denunciar e colocar em xeque essa
Segundo Torres Santomé, as culturas ou vozes dos gru- persistência? Professores dos primeiros anos do ensino
pos sociais minoritários e/ ou marginalizados que não fundamental podem também estimular o(a) aluno(a) a
dispõem de estruturas de poder costumam ser excluídas reescrever conhecimentos, saberes, mitos, costumes, len-
das salas de aula, chegando mesmo a ser deformadas ou das, contos. Inúmeras histórias infantis, por exemplo, têm
estereotipadas, para que se dificultem (ou de fato se anu- sido reescritas com base no emprego de pontos de vista
lem) suas possibilidades de reação, de luta e de afirmação distintos dos usuais. O caso dos Três Porquinhos pode
de direitos. Cabe evitar atribuir qualquer caráter exótico surpreender se a figura do Lobo representar o especula-
às manifestações culturais de grupos minoritários. Ade- dor imobiliário que tão bem conhecemos.
mais, sua presença no currículo não deve assumir o tom As atitudes da Cigarra e da Formiga podem ser rea-
fortuito, “turístico”, tão criticado por Torres Santomé. É valiadas, tendo-se em mente a forma como se concebem
preciso que os estudos desenvolvidos venham a catalisar, e se organizam trabalho e lazer na sociedade contempo-
junto aos membros das culturas negadas e silenciadas, a rânea. O desfecho do passeio de Chapeuzinho Vermelho
formação de uma auto-imagem positiva. Para esse mes- à casa da avó pode ser outro, caso imaginemos novos
mo propósito, pode ser útil a discussão, em diferentes perfis e novas relações para os personagens da história.
disciplinas, dos rumos de diferentes movimentos sociais Ou seja, de novos patamares podemos perceber novos
(negros, mulheres, indígenas, homossexuais), para que horizontes, novas trajetórias, novas possibilidades. O que
se compreendam e se acentuem avanços, dificuldades estamos sugerindo é que nos situemos, na prática peda-
e desafios. Líderes desses grupos podem ser convida- gógica culturalmente orientada, além da visão das cultu-
dos a participar das atividades. Exposições e cartazes ras como inter-relacionadas, como mutuamente geradas
podem ilustrar trajetórias e conquistas. Cabe esclarecer e influenciadas, e procuremos facilitar a compreensão do
que não estamos argumentando a favor do efeito Robin mundo pelo olhar do subalternizado. No currículo, trata-
Hood, segundo o qual se tira de um para dar ao outro, -se de desestabilizar o modo como o outro é mobilizado
ou seja, não estamos recomendando que simplesmente e representado. “O olhar do poder, suas normas e pres-
se substitua um conhecimento por outro. O que estamos supostos, precisa ser desconstruído”. Ou seja, trata-se de
sugerindo é que se explorem e se confrontem perspec- desafiar a ótica do dominante e de promover o atrito de
tivas, enfoques e intenções, para que possam vir à tona diferentes abordagens, diferentes obras literárias, dife-
propósitos, escolhas, disputas, relações de poder, repres- rentes interpretações de eventos históricos, para que se
sões, silenciamentos, exclusões. O trabalho com notícias favoreça ao(à) aluno(a) entender como o conhecimen-
difundidas pela mídia, frequentemente derivadas de to socialmente valorizado tem sido escrito de uma dada
leituras distintas e até mesmo contraditórias dos fatos, forma e como pode, então, ser reescrito. Não se espe-
assim como com músicas, vídeos e outras produções ra, cabe reiterar, substituir um conhecimento por outro,
culturais, permite ilustrar com clareza os confrontos que mas sim propiciar aos(às) estudantes a compreensão
pretendemos ver explicitados. Examinando diferentes in- das relações de poder envolvidas na hierarquização das
terpretações, os(as) alunos(as) poderão melhor perceber, manifestações culturais e dos saberes, assim como nas
por exemplo, os objetivos e os jogos, por vezes escusos, diversas imagens e leituras que resultam quando certos
implicados em muitas medidas de nossos políticos e go- olhares são privilegiados em detrimento de outros. Nes-
vernantes. Certamente a análise atenta e a discussão crí- sa perspectiva, é importante que consideremos a escola
tica de notícias referentes à decisão de invadir o Iraque, como um espaço de cruzamento de culturas e saberes.
tomada pelo presidente George Bush, após os ataques A escola deve ser concebida como um espaço ecológico
terroristas de 11 de setembro de 2001, poderão ajudar de cruzamento de culturas. A responsabilidade específica
o(a) aluno(a) a contrapor à versão oficial norte-america- que a distingue de outros espaços de socialização e lhe
na uma outra versão dos acontecimentos em pauta. confere identidade e relativa autonomia é exatamente a
A leitura crítica de jornais permite também verificar possibilidade de promover análises e interações das in-
como, na França, se tenta impedir que meninas muçul- fluências plurais que as diferentes culturas exercem, de
manas frequentem as salas de aula usando seus véus. forma permanente, sobre as novas gerações.
A justificativa é que as escolas francesas são seculares O responsável definitivo da natureza, do sentido e
e que os símbolos religiosos, portanto, devem ser bani- da consistência do que os alunos e as alunas aprendem
dos de suas práticas. Proibições similares têm ocorrido em sua vida escolar é este vivo, fluido e complexo cru-
também na Alemanha, vetando-se às professoras o uso zamento de culturas que se produz na escola, entre as
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

do véu. O que não se divulga é como tal medida acaba propostas da cultura crítica, alojada nas disciplinas cien-
por solapar importante elemento da identidade dessas tíficas, artísticas e filosóficas; as determinações da cultura
jovens, desrespeitando o direito à diferença que deve acadêmica, refletidas nas definições que constituem o
pautar toda sociedade que se quer democrática, plural e currículo; os influxos da cultura social, constituída pelos
inclusiva. Ou seja, a compreensão dos diferentes pontos valores hegemônicos do cenário social; as pressões do
de vista envolvidos na contenda permite que o(a) alu- cotidiano da cultura institucional, presente nos papéis,
no(a) desconstrua o olhar do poder hegemônico e infira nas normas, nas rotinas e nos ritos próprios da escola
que outros olhares descortinam outros ângulos, outras como instituição específica; e as características da cultura
razões, outros interesses. Leva-o(a) a compreender me- experiencial, adquirida individualmente pelo aluno atra-
lhor alguns dos elementos que promovem a persistência, vés da experiência nos intercâmbios espontâneos com
no mundo de hoje, do ódio, da violência, do racismo, da seu meio.

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Conceber a dinâmica escolar nesse enfoque supõe (c) existem ou podem vir a existir ciências, elaboradas
repensar seus diferentes componentes e romper com a em outras culturas, que também “funcionem”, que
tendência homogeneizadora e padronizadora que im- também expliquem a realidade?
pregna suas práticas. Para Moreira e Candau, a escola (d) por que a escola insiste em apresentar a ciência
sempre teve dificuldade em lidar com a pluralidade e a ocidental como a única possibilidade?
diferença. Tende a silenciá-las e neutralizá-las. Sente-se (e) que conflitos se encontram subjacentes aos pro-
mais confortável com a homogeneização e a padroniza- cessos de construção e de difusão do conhecimen-
ção. No entanto, abrir espaços para a diversidade, a dife- to científico?
rença e para o cruzamento de culturas constitui o grande (f) que debates têm sido gerados pela introdução, na
desafio que está chamada a enfrentar. comunidade científica, de novas teorias?
A escola precisa, assim, acolher, criticar e colocar em (g) por que a escola insiste em apresentar uma teoria
contato diferentes saberes, diferentes manifestações cultu- consensual da ciência, subestimando as divergên-
rais e diferentes óticas. A contemporaneidade requer cul- cias referentes a temáticas priorizadas, metodolo-
turas que se misturem e ressoem mutuamente, que con- gias, fundamentos teóricos, objetivos?
vivam e se modifiquem. Que se modifiquem modificando
outras culturas pela convivência ressonante. Ou seja, um Acreditamos que a exploração de questões como es-
processo contínuo, que não pare nunca, por não se limitar sas, em um curso de Ciências Naturais, tanto ajuda a de-
a um dar ou receber, mas por ser contaminação, resso- safiar a suposta neutralidade cultural da ciência quanto a
nância. iluminar perspectivas e possibilidades insuspeitadas de
desenvolvimento científico.
5. O currículo como um espaço em que se explicita O princípio que estamos defendendo nos instiga
a ancoragem social dos conteúdos também a relacionar os conteúdos curriculares às expe-
riências culturais dos(as) estudantes e ao mundo concre-
Sugerimos, como outra estratégia (intimamente rela- to, o que permite analisar quem lucra e quem perde com
cionada à anterior), que se desenvolva nos(as) estudan- as formas de emprego desses conhecimentos. Experiên-
tes a capacidade de perceber o que tem sido denomi- cia desenvolvida por um pesquisador canadense, John
nado de ancoragem social dos conteúdos. Pretendemos Willinsky, pode ser associada a esse enfoque. Bastante
que se propicie uma maior compreensão de como e em crítico da forma como habitualmente se analisam obras
que contexto social um dado conhecimento surge e se poéticas nas salas de aula, despindo-as de seus propósi-
difunde. Nesse sentido, vale examinar como um deter- tos culturais e estéticos, o autor, ao ser desafiado por um
minado conceito foi proposto historicamente, por que se estudante para dar uma unidade de Literatura em uma
tornou ou não aceito, por que permaneceu ou foi subs- turma de ensino médio, abandonou a antologia tradicio-
tituído, que tipos de discussões provocou, de que forma nalmente empregada. Optou, então, por formular, com
promoveu o avanço do conhecimento na área em pauta os(as) alunos(as), uma antologia alternativa que abrigasse
e, ainda, como esse avanço propiciou benefícios (ou não) as diferentes vozes e identidades que hoje povoam o Ca-
à humanidade (ou a certos grupos da humanidade). Não nadá e que pudesse trazer à cena cultura, vida, dor, san-
seria estimulante envolvermos nossos(as) estudantes gue, paixão, sensibilidade, assim como desafiar relações
nas lutas travadas em torno da aceitação do modelo he- de poder que garantem a continuidade de diferenças e
liocêntrico do universo? Não seria enriquecedor acom- desigualdades no mundo contemporâneo. O que os(as)
panharmos e situarmos na história o surgimento e as estudantes escolheram para compor a nova antologia
transformações dos modelos de átomo, discutindo suas abriu as portas da sala de aula para suas posições histó-
contribuições para o avanço da ciência e da tecnologia? ricas, experiências, visões de mundo. Ainda: denunciou
O que estamos propondo é que se evidenciem, no cur- a persistente hegemonia da cultura de origem europeia,
rículo, a construção social e os rumos subsequentes dos claramente expressa na herança colonial que continua a
conhecimentos, cujas raízes históricas e culturais tendem se infiltrar no currículo. Não se está diante de uma con-
a ser usualmente “esquecidas”, o que faz com que cos- firmação de que visões da cultura como mente cultivada
tumem ser vistos como indiscutíveis, neutros, universais, ou como desenvolvimento social atrelado aos padrões
intemporais. europeus continuam presentes nos currículos escolares?
Trata- se de questionar a pretensa estabilidade e o O mesmo autor nos oferece outro exemplo que também
caráter aistórico do conhecimento produzido no mun- se harmoniza com o princípio que estamos defendendo.
do ocidental, cuja hegemonia tem sido incontestável. Pergunta- nos se é possível dividirmos a realidade hu-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Trata- se, mais uma vez, de caminhar na contramão do mana em culturas, raças, histórias, tradições e socieda-
processo de transposição didática, durante o qual usual- des claramente diferentes e conseguirmos suportar, com
mente se costumam eliminar os vestígios da construção dignidade, as consequências dessas classificações. Insis-
histórica dos saberes. Procurando ilustrar nosso ponto de te, então, no questionamento do caráter aparentemen-
vista com outros exemplos, sugerimos perguntas que, no te natural, científico mesmo, dessas divisões. Para isso,
ensino das Ciências Naturais, podem se revelar bastante acrescenta, há que se compreender a dinâmica histórica
pertinentes. Eis algumas delas: das categorias por meio das quais temos sido rotulados,
(a) onde situar as origens da ciência: em culturas eu- identificados, definidos e situados na estrutura social.
ropeias ou culturas não europeias? Para isso, há que se focalizar, no currículo, a construção
(b) em que medida a ciência moderna pode ser con- dessas categorias. Somente assim iremos desafiar seus
siderada ocidental? significados e abrir espaço, na escola e na sala de aula,

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para a diversidade. Ou seja, Willinsky rejeita a ideia de mule a falar sobre como percebe a construção de sua
que existe uma verdade, uma essência ou um núcleo em identidade. Como vêm sendo criadas nossas identidades
qualquer categoria. Incentiva-nos, nas diferentes disci- de gênero, raça, sexualidade, classe social, idade, profis-
plinas curriculares, a tornar evidente e a desestabilizar a são? Como temos aprendido a ser quem somos, como
construção histórica de categorias que nos têm marcado, profissionais da educação, brasileiros(as), homens, mu-
tais como raça, nação, sexualidade, masculinidade, femi- lheres, casados(as), solteiros(as), negros(as), brancos(as),
nilidade, idade, religião etc. Com essa estratégia, preten- jovens ou idosos(as)? Nesses momentos, tem sido bas-
de explicitar como o mundo tem sido dividido. tante frequente a afirmação “nunca pensei na formação
Aceitando e seguindo a orientação de Willinsky, po- da minha identidade cultural”, ou então “me considero
deríamos planejar coletivamente, na escola, nas distintas uma órfã do ponto de vista cultural”, expressão usada
disciplinas, a análise, durante determinado período de por uma professora jovem, querendo se referir à dificul-
tempo, de como a ideia de raça, por exemplo, vem sen- dade de nomear os referentes culturais configuradores
do empregada para garantir privilégios e legitimar atos de sua trajetória de vida. A socialização em pequenos
de opressão. Exemplifiquemos. Em Ciências, poderíamos grupos, entre os(as) educadores(as), dos relatos sobre a
problematizar o caráter supostamente científico da ca- construção de suas identidades culturais pode se reve-
tegoria, até hoje evocado em muitos textos. Em História, lar uma experiência profundamente vivida, muitas vezes
poderíamos examinar como a categoria tem justificado carregada de emoção, que dilata tanto a consciência dos
processos de colonização, de rotulação, de hierarquiza- próprios processos de formação identitária do ponto de
ção de grupos e culturas, de escravidão, de restrição a vista cultural, quanto a sensibilidade para favorecer esse
migrações. Em Geografia, poderíamos explicitar como a mesmo dinamismo nas práticas educativas que organiza-
categoria raça se tem acrescentado, de modo harmônico, mos. Nesses processos, podemos nos dar conta da com-
às razões apresentadas para conquistas, novas distribui- plexidade envolvida na configuração dos distintos traços
ções de espaços, novos mapas. Em Literatura, a discussão identitários que coexistem, por vezes contraditoriamen-
de representações das raças em diferentes textos literá- te, na construção das diferenças de que somos feitos.
rios propiciaria verificar o que essas representações têm
valorizado, distinguido, incluído e excluído. Em Educa- 7. O currículo como espaço de questionamento de
ção Física, poderíamos desmistificar a imagem do negro nossas representações sobre os “outros”
como o “atleta perfeito”, como o corpo que melhor se
presta para o salto, a corrida, o jogo, a dança, o movi- Junto ao reconhecimento da própria identidade cul-
mento. tural, outro elemento a ser ressaltado relaciona-se às
representações que construímos dos outros, daqueles
6. O currículo como espaço de reconhecimento de que consideramos diferentes. As relações entre nós e os
nossas identidades culturais outros estão carregadas de dramaticidade e ambiguida-
de. Em sociedades nas quais a consciência das diferenças
Um aspecto a ser trabalhado, que consideramos de se faz cada vez mais forte, reveste-se de especial impor-
especial relevância, diz respeito a se procurar, na escola, tância aprofundarmos questões como: quem incluímos
promover ocasiões que favoreçam a tomada de cons- na categoria nós? Quem são os outros? Quais as impli-
ciência da construção da identidade cultural de cada um cações dessas questões para o currículo? Como nossas
de nós, docentes e gestores, relacionando-a aos proces- representações dos outros se refletem nos currículos?
sos socioculturais do contexto em que vivemos e à his-
Esses são temas fundamentais que estamos desafiados a
tória de nosso país. O que temos constatado é a pouca
trabalhar nas relações sociais e, particularmente, na edu-
consciência que, em geral, temos desses processos e do
cação. Nossa maneira de nos situarmos em relação aos
cruzamento de culturas neles presente. Tendemos a uma
outros tende a construir-se em uma perspectiva etno-
visão homogeneizadora e estereotipada de nós mesmos
cêntrica. Quem são os nós? Tendemos a incluir na cate-
e de nossos alunos e alunas, em que a identidade cultural
goria nós todas aquelas pessoas e aqueles grupos sociais
é muitas vezes vista como um dado, como algo que nos
que têm referenciais semelhantes aos nossos, que têm
é impresso e que perdura ao longo de toda nossa vida.
Desvelar essa realidade e favorecer uma visão dinâmica, hábitos de vida, valores, estilos e visões de mundo que se
contextualizada e plural das identidades culturais é fun- aproximam dos nossos e os reforçam. Quem são os ou-
damental, articulando- se as dimensões pessoal e coleti- tros? Tendem a ser os que entram em choque com nos-
va desses processos. Constitui um exercício fundamental sas maneiras de nos situarmos no mundo, por sua classe
tornarmo-nos conscientes de nossos enraizamentos cul- social, etnia, religião, valores, tradições, sexualidade etc.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

turais, dos processos em que misturam ou se silenciam Como temos entendido esse outro? Para Skliar e Dus-
determinados pertencimentos culturais, bem como ser- chatzky, principalmente de três formas distintas: o outro
mos capazes de reconhecê-los, nomeá-los e trabalhá- como fonte de todo mal, o outro como sujeito pleno de
-los. Constitui um exercício fundamental tornarmo-nos um grupo cultural, o outro como alguém a tolerar. A pri-
conscientes de nossos enraizamentos culturais, dos pro- meira perspectiva, segundo os autores, marcou predo-
cessos em que misturam ou se silenciam determinados minantemente as relações sociais durante o século XX
pertencimentos culturais, bem como sermos capazes de e pode se revestir de diferentes formas, desde a elimi-
reconhecê-los, nomeá-los e trabalhá-los. nação física do outro, até a coação interna, mediante a
Como favorecer essa tomada de consciência? Alguns regulação de costumes e moralidades. Nesse modo de
exercícios podem ser propostos, buscando-se criar opor- nos situarmos diante do outro, assumimos uma visão
tunidades em que o profissional da educação se esti- binária e dicotômica. Em um lado separamos os bons,

92
os verdadeiros, os autênticos, os civilizados, cultos, de- 8. O currículo como um espaço de crítica cultural
fensores da liberdade e da paz. Em outro, deixamos os
outros: os maus, os falsos, os bárbaros, os ignorantes e Apresentamos agora outro princípio, fortemente re-
os terroristas. Se nos identificamos com os primeiros, lacionado aos anteriores: sugerimos que se expandam os
o que temos a fazer é eliminar, neutralizar, dominar ou conteúdos curriculares usuais, de modo a neles incluir al-
subjugar os outros. Caso nos sintamos representados guns dos artefatos culturais que circundam o(a) aluno(a).
como integrantes do pólo oposto, ou internalizamos a A ideia é tornar o currículo um espaço de crítica cultural.
nossa maldade e nos deixamos salvar, passando para o Como fazê-lo? Um dos caminhos é abrir as portas, na es-
lado dos bons, ou nos confrontamos violentamente com cola, a diferentes manifestações da cultura popular, além
eles. Como essa primeira perspectiva se traduz na esco- das que compõem a chamada cultura erudita. Músicas
la? Mostra-se presente quando: (a) atribuímos o fracasso populares, danças, filmes, programas de televisão, festas
escolar dos(as) alunos(as) às suas características sociais populares, anúncios, brincadeiras, jogos, peças de teatro,
ou étnicas; (b) diferenciamos os tipos de escolas segun- poemas, revistas e romances precisam fazer-se presentes
do a origem social dos(as) estudantes, considerando que nas salas de aula. Da mesma forma, levando-se em conta
alguns têm maior potencial que outros e, para desen- a importância de ampliar os horizontes culturais dos(as)
volvermos uma educação de qualidade, não podemos estudantes, bem como de promover interações entre di-
misturar estudantes de diferentes potenciais; (c) nos si- ferentes culturas, outras manifestações, mais associadas
tuamos, como professores(as), diante dos(as) alunos(as), aos grupos dominantes, precisam ser incluídas no cur-
com base em estereótipos e expectativas diferenciadas rículo. A intenção é que a cultura dos estudantes e da
segundo a origem social e as características culturais dos comunidade possa interagir com outras manifestações e
grupos de referência; (d) valorizamos exclusivamente o outros espaços culturais como museus, exposições, cen-
racional e desvalorizamos os aspectos afetivos presentes tros culturais, música erudita, clássicos da literatura. Se
nos processos educacionais; (e) privilegiamos somente a aceitarmos a inexistência, no mundo contemporâneo, de
comunicação verbal, desconsiderando outras formas de qualquer “pureza cultural”, se pretendermos abrir espaço
comunicação humana, como a corporal, a artística etc. na escola para a complexa interpenetração das culturas
Ao considerarmos o outro como sujeito pleno de e para a pluralidade cultural, tanto as manifestações cul-
uma marca cultural, estamos concebendo-o como mem- turais hegemônicas como as subalternizadas precisam
bro de uma dada cultura, vista como uma comunidade integrar o currículo e ser objeto de apreciação e crítica.
homogênea de crenças e estilos de vida. O outro, ainda Talvez fosse útil, para o desenvolvimento do que sugeri-
que não seja a fonte de todo mal, é diferente de nós, tem mos, que discutíssemos, na escola, com que recursos po-
uma essência claramente definida, distinta da que nos demos contar em nossa comunidade e como fazer para
caracteriza. Na área da educação, essa visão se expressa, que outros recursos venham, de alguma forma, a tornar-
por exemplo, quando nos limitamos a abordar o outro -se familiares a nossos(as) alunos(as). ... Abrir as portas,
de forma genérica e “folclórica”, apenas em dias espe- na escola, a diferentes manifestações da cultura popular,
ciais, usualmente incluídos na lista dos festejos escolares, além das que compõem a chamada cultura erudita.
tais como o Dia do Índio ou Dia da Consciência Negra. Nessa perspectiva, há um ponto que desejamos des-
Já a expressão o outro como alguém a tolerar convida tacar. Ao intentarmos transformar a escola em um espa-
tanto a admitir a existência de diferenças quanto a acei- ço cultural, estamos convidando cada professor(a), como
tá-las. Nessa admissão, contudo, reside um paradoxo. Se intelectual que é, a desempenhar o papel de crítico(a)
aceitamos, por princípio, todo e qualquer diferente, de- cultural. Estamos considerando que a atividade intelec-
veríamos aceitar os grupos cujas marcas são comporta- tual implica o questionamento do que parece inscrito na
mentos anti-sociais ou opressivos, como os racistas. Que natureza das coisas, do que nos é apresentado como na-
consequências a adoção dessa perspectiva pode ter para tural, questionamento esse que visa, fundamentalmente,
a prática pedagógica? Julgamos que a simples tolerância a mostrar que as coisas não são inevitáveis. A atividade
pode nos situar em uma posição débil, evitando que to- intelectual centra-se, assim, na crítica da cultura em que
memos posição em relação aos valores que dominam a estamos imersos. Como se expressa essa atividade na
cultura contemporânea. Pode impedir que polemizemos, prática curricular? Julgamos que cabe à escola, por meio
levando-nos a assumir a conciliação como valor último. de suas atividades pedagógicas, mostrar ao aluno que as
Pode incentivar-nos a não questionar a “ordem”, vendo-a coisas não são inevitáveis e que tudo que passa por natu-
como comportamentos a serem inevitavelmente cultiva- ral precisa ser questionado e pode, consequentemente,
dos. Poderíamos acrescentar outras formas de nos situar ser modificado. Cabe à escola levá-lo a compreender que
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

diante dos outros. No entanto, acreditamos que a tipolo- a ordem social em que está inserido define-se por ações
gia proposta por Skliar e Duschatzky expressa as posições sociais cujo poder não é absoluto. O que existe precisa
mais presentes na nossa sociedade hoje, evidenciando a ser visto como a condição de uma ação futura, não como
complexidade das questões relacionadas à alteridade e seu limite. Nossos questionamentos devem, então, pro-
à diferença. O que desejamos destacar é que o modo vocar tensões e desafiar o existente. Podem não mudar o
como concebemos a condição humana pode bloquear mundo, mas podem permitir que o aluno o compreenda
nossa compreensão dos outros. Portanto, é importante melhor. Como nos diz Bauman, “para operar no mundo
promovermos processos educacionais nos quais identi- (por contraste a ser ‘operado’ por ele) é preciso entender
fiquemos e desconstruamos nossas suposições, em ge- como o mundo opera”. A crítica de diferentes artefatos
ral implícitas, que não nos permitem uma aproximação culturais na escola pode, por exemplo, levar-nos a identi-
aberta e empática à realidade dos outros. ficar e a desafiar visões estereotipadas da mulher propa-

93
gadas em anúncios; imagens desrespeitosas de homos- paço de pesquisa. A pesquisa, concebida em um sentido
sexuais difundidas em programas cômicos de televisão; mais amplo, reiteramos, não está restrita à universidade.
preconceitos contra povos não ocidentais evidentes em Como professores(as)/ intelectuais que atuamos na esco-
desenhos animados; mensagens encontradas em revistas la, precisamos enfrentar esse desafio, tornando-nos pes-
para adolescentes do sexo feminino (e da classe média) quisadores(as) dos saberes, valores e práticas que ensi-
que incentivam o uso de drogas, o consumismo e o indi- namos e/ou desenvolvemos, centrando nosso ensino na
vidualismo; estímulos à erotização precoce das meninas, pesquisa. Nesse processo, poderemos aperfeiçoar nosso
visíveis em brinquedos e programas infantis; presença desempenho profissional, poderemos nos situar melhor
e aceitação da violência em filmes, jogos e brinquedos. no mundo, poderemos, ainda, nos engajar na luta por
Outros exemplos poderiam ser citados, reforçando-nos o melhorá-lo. Nesse processo, poderemos despertar nos
ponto de vista de que os produtos culturais à nossa volta alunos e nas alunas o espírito de pesquisa, de busca, de
nada têm de ingênuos ou puros; ao contrário, incorpo- ter prazer no aprender, no conhecer coisas novas. Não
ram intenções de apoiar, preservar ou produzir situações deveríamos, então, começar, já na próxima reunião de
que favorecem certos grupos e outros não. Tais artefatos, professores(as) de nossa escola, a refletir sobre como
como se tem insistentemente acentuado, desempenham, tornar o currículo um espaço de estudos e de pesquisas?
junto com o currículo escolar, importante papel no pro- Estamos certos de que essa discussão pode ser extrema-
cesso de formação das identidades de nossas crianças mente estimulante e proveitosa.
e nossos adolescentes, devendo constituir- se, portanto,
em elementos centrais de crítica em processos curricula- Referência:
res culturalmente orientados. BRASIL: Ministério da Educação. Indagações sobre
currículo: currículo, conhecimento e cultura / [Antônio
9. O currículo como um espaço de desenvolvimen- Flávio Barbosa Moreira, Vera Maria Candau; organização
to de pesquisas do documento Jeanete Beauchamp, Sandra Denise Pa-
gel, Aricélia Ribeiro do Nascimento. – Brasília, 2007.
Como intelectual que é, todo(a) profissional da edu-
cação precisa comprometer-se com o estudo e com a
pesquisa, bem como posicionar-se politicamente. Pre- CURRÍCULO, CONHECIMENTO E PROCESSO
cisa, assim, situar-se frente aos problemas econômicos, DE APRENDIZAGEM: AS TENDÊNCIAS
sócio-políticos, culturais e ambientais que hoje nos de- PEDAGÓGICAS NA ESCOLA.
safiam e que desconhecem as fronteiras entre as nações
ou entre as classes sociais. Sem esse esforço, será impos-
Tendências pedagógicas e o pensamento peda-
sível propiciar ao(à) aluno(a) uma compreensão maior gógico brasileiro
do mundo em que vive, para que nele possa atuar auto-
nomamente. Sem esse esforço, será impossível a propo- O ofício de professor deve consagrar temas como a
sição de alternativas viáveis, decorrentes de reflexões e prática educativa, a profissionalização docente, o traba-
investigações cuidadosas e rigorosas. Daí a necessidade lho em equipe, projetos, autonomia e responsabilidades
de um posicionamento claro e de um comprometimento crescentes, pedagogias diferenciadas, e propostas con-
com a pesquisa. Será possível e desejável que nós, pro- cretas. O autor toma como referencial de competência
fissionais da educação infantil e do ensino fundamental, adotado em Genebra, 1996, para uma formação contí-
venhamos a nos envolver com pesquisa? Julgamos que nua. O professor deve dominar saberes a serem ensina-
sim. Propomos que todo(a) profissional da educação ve- dos, ser capaz de dar aulas, de administrar uma turma e
nha, de algum modo, a participar de pesquisas sobre sua de avaliar. Ressalta a urgência de novas competências,
prática pedagógica ou administrativa, sobre a disciplina devido às transformações sociais existentes. As tecnolo-
que ensina, sobre os saberes docentes, sobre o currículo, gias mudam o trabalho, a comunicação, a vida cotidiana
sobre a avaliação, sobre a educação em geral, sobre a e mesmo o pensamento. A prática docência tem que re-
sociedade em que vivemos ou sobre temas diversificados fletir sobre o mundo. Os professores são os intelectuais
(não incluídos no currículo). Consideramos que gestores e mediadores, intérpretes ativos da cultura, dos valores e
e docentes precisam organizar os tempos e os espaços do saber em transformação. Se não se perceberem como
escolares para abranger as atividades de pesquisa aqui depositários da tradição ou percursos do futuro, não se-
propostas. É fundamental que, nesse esforço, se veri- rão desempenhar esse papel por si mesmos. O currículo
fiquem os recursos necessários e os recursos com que deve ser orientado para se designar competências, a capa-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

se pode contar. A comunidade em que a escola se situa cidade de mobilizar diversos recursos cognitivos (saberes,
pode e deve participar tanto do planejamento como da capacidades, informações, etc.) para enfrentar, solucionar
implementação dos estudos. uma série de situações. Dez domínios de competências
A Secretaria de Educação deve ser chamada a colabo- reconhecidas como prioritárias na formação contínua das
rar. A pesquisa do(a) professor(a) da escola básica certa- professoras e dos professores do ensino fundamental.
mente difere da pesquisa levada a cabo na universidade
e nos centros de pesquisa, o que, entretanto, não a torna 1. Organizar e dirigir situações de aprendizagem.
inferior. A participação em pesquisa pode mesmo con- - Conhecer, para determinada disciplina, os conteú-
tribuir para que o trabalho do profissional da educação dos a serem ensinados e sua tradução em obje-
venha a ser mais valorizado. Estamos defendendo, em tivos de aprendizagem: nos estágios de planeja-
resumo, que se torne o currículo, em cada escola, um es- mento didático, da análise posterior e da avaliação.

94
- Trabalhar a partir das representações dos alunos: - Oferecer atividades opcionais de formação, à la carte;
considerando o conhecimento do aluno, colocan- - Favorecer a definição de um projeto pessoal do alu-
do-se no lugar do aprendiz, utilizando se de uma no, valorizando-os e reforçando-os a incitar o alu-
competência didática para dialogar com ele e fazer no a realizar projetos pessoais, sem retornar isso
com que suas concepções se aproxime dos conhe- um pré-requisito.
cimentos científicos;
- Trabalhar a partir dos erros e dos obstáculos à 5. Trabalhar em equipe.
aprendizagem: usando de uma situação-proble- - Elaborar um projeto de equipe, representações co-
ma ara transposição didática, considerando o erro, muns;
como ferramenta para o ensino. - Dirigir um grupo de trabalho, conduzir reuniões;
- Construir e planejar dispositivos e sequências didá- - Formar e renovar uma equipe pedagógica;
ticas; - Enfrentar e analisar em conjunto situações comple-
- Envolver os alunos em atividades de pesquisa, em xas, práticas e problemas profissionais.
projetos de conhecimento. - Administrar crises ou conflitos interpessoais.
2. Administrar a progressão das aprendizagens. 6. Participar da administração da escola.
- Conceber e administrar situações-problema ajus- - Elaborar, negociar um projeto da instituição;
tadas ao nível e as possibilidades dos alunos: em - Administrar os recursos da escola;
torno da resolução de um obstáculo pela classe, - Coordenar, dirigir uma escola com todos os seus
propiciando reflexões, desafios, intelectuais, confli- parceiros (serviços para escolares, bairro, associa-
tos sociocognitivos; ções de pais, professores de línguas e cultura de
- Adquirir uma visão longitudinal dos objetivos do
origem);
ensino: dominar a formação do ciclo de aprendi-
- Organizar e fazer evoluir, no âmbito da escola, a
zagem, as fases do conhecimento e do desenvol-
participação dos alunos.
vimento intelectual da criança e do adolescente,
além do sentimento de responsabilidade do pro-
7. Informar e envolver os pais.
fessor pleno conjunto da formação do ensino fun-
- Dirigir reuniões de informação e de debate;
damental;
- Fazer entrevistas;
- Estabelecer laços com as teorias subjacentes às ati-
vidades de aprendizagens; - Envolver os pais na construção dos saberes.
- Observar e avaliar os alunos em situações de apren-
dizagens; 8. Utilizar novas tecnologias.
- Fazer balanços periódicos de competências e tomar As novas tecnologias da informação e da comunica-
decisões de progressão; ção transformam as maneiras de se comunicar, de tra-
- Rumar a ciclos de aprendizagem: interagir grupos balhar, de decidir e de pensar. O professor predica usar
de alunos e dispositivos de ensino-aprendizagem. editores de textos, explorando didáticas e programas
com objetivos educacionais.
3. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de dife- - Discutir a questão da informática na escola;
renciação. - Utilizar editores de texto;
- Administrar a heterogeneidade no âmbito de uma - Explorar as potencialidades didáticas dos progra-
turma, com o propósito de grupos de necessida- mas em relação aos objetivos do ensino;
des, de projetos e não de homogeneidade; - Comunicar-se à distância por meio da telemática;
- Abrir, ampliar a gestão de classe para um espaço - Utilizar as ferramentas multimídia no ensino.
mais vasto, organizar para facilitar a cooperação e
a geração de grupos utilidades; Assim, quanto à oitava competência de Perrenoud,
- Fornecer apoio integrado, trabalhar com alunos que trabalho nessa pesquisa, a Informática na Educa-
portadores de grandes dificuldades, sem todavia ção, nos fez perceber que cada vez mais precisamos do
transforma-se num psicoterapeuta; computador, porque estamos na era da informatização
- Desenvolver a cooperação entre os alunos e cer- e por isso é primordial que nós profissionais da edu-
tas formas simples de ensino mútuo, provocando cação estejamos modernizados e acompanhando essa
aprendizagens através de ações coletivas, criando tendência, visto que assim como um simples pagamento
uma cultura de cooperação através de atitudes e no banco, utilizamos o computador, para estarmos atua-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

da reflexão sobre a experiência. lizados necessitamos obter mais esta competência para
se fazer uma docência de qualidade.
4. Envolver os alunos em sua aprendizagem e em
seu trabalho. 9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da pro-
- Suscitar o desejo de aprender, explicitar a relação fissão.
com o saber, o sentido do trabalho escolar e de- - Prevenir a violência na escola e fora dela;
senvolver na criança a capacidade de auto avalia- - Lutar contra os preconceitos e as discriminações se-
ção. O professor deve ter em mente o que é en- xuais, étnicas e sociais;
sinar, reforçar a decisão de aprender, estimular o - Participar da criação de regras de vida comum re-
desejo de saber, instituindo um conselho de alu- ferente á disciplina na escola, às sanções e à apre-
nos e negociar regras e contratos; ciação da conduta;

95
- Analisar a relação pedagógica, a autoridade, a co- o aluno é educado para atingir sua plena realização atra-
municação em aula; vés de seu próprio esforço. Sendo assim, as diferenças de
- Desenvolver o senso de responsabilidade, a solida- classe social não são consideradas e toda a prática esco-
riedade e o sentimento de justiça. lar não tem nenhuma relação com o cotidiano do aluno.
Quanto aos pressupostos de aprendizagem, a ideia
10. Administrar sua própria formação contínua. de que o ensino consiste em repassar os conhecimentos
- Saber explicitar as próprias práticas; para o espírito da criança é acompanhada de outra: a de
- Estabelecer seu próprio balanço de competência e que a capacidade de assimilação da criança é idêntica à do
seu programa pessoa de formação contínua; adulto, sem levar em conta as características próprias de
- Negociar um projeto de formação comum com os cada idade. A criança é vista, assim, como um adulto em
colegas (equipe, escola, rede); miniatura, apenas menos desenvolvida.
- Envolver-se em tarefas em escala de uma ordem de No ensino da língua portuguesa, parte-se da concep-
ensino ou do sistema educativo; ção que considera a linguagem como expressão do pen-
- Acolher a formação dos colegas e participar dela. samento. Os seguidores dessa corrente linguística, em
razão disso, preocupam-se com a organização lógica do
Conclusão: Contribuir para o debate sobe a sua pro- pensamento, o que presume a necessidade de regras do
fissionalização, com responsabilidade numa formação bem falar e do bem escrever. Segundo essa concepção de
contínua.4 linguagem, a Gramática Tradicional ou Normativa se consti-
tui no núcleo dessa visão do ensino da língua, pois vê nes-
Sabe-se que a prática escolar está sujeita a condicio- sa gramática uma perspectiva de normatização linguística,
nantes de ordem sociopolítica que implicam diferentes tomando como modelo de norma culta as obras dos nos-
concepções de homem e de sociedade e, consequente- sos grandes escritores clássicos. Portanto, saber gramática,
mente, diferentes pressupostos sobre o papel da escola e teoria gramatical, é a garantia de se chegar ao domínio da
da aprendizagem, inter alia. Assim, justifica-se o presente língua oral ou escrita.
estudo, tendo em vista que o modo como os professores Assim, predomina, nessa tendência tradicional, o ensino
realizam o seu trabalho na escola tem a ver com esses da gramática pela gramática, com ênfase nos exercícios re-
pressupostos teóricos, explícita ou implicitamente. petitivos e de recapitulação da matéria, exigindo uma atitu-
de receptiva e mecânica do aluno. Os conteúdos são orga-
O objetivo deste artigo é verificar os pressupostos de nizados pelo professor, numa sequência lógica, e a avaliação
aprendizagem empregados pelas diferentes tendências é realizada através de provas escritas e exercícios de casa.
pedagógicas na prática escolar brasileira, numa tentativa
de contribuir, teoricamente, para a formação continuada Tendência Liberal Renovada Progressivista
de professores.
Sabe-se que a prática escolar está sujeita a condicio- Segundo essa perspectiva teórica de Libâneo, a ten-
nantes de ordem sociopolítica que implicam diferentes dência liberal renovada (ou pragmatista) acentua o sentido
concepções de homem e de sociedade e, consequente-
da cultura como desenvolvimento das aptidões individuais.
mente, diferentes pressupostos sobre o papel da escola e
A escola continua, dessa forma, a preparar o aluno
da aprendizagem, inter alia. Assim, justifica-se o presente
para assumir seu papel na sociedade, adaptando as ne-
estudo, tendo em vista que o modo como os professores
cessidades do educando ao meio social, por isso ela deve
realizam o seu trabalho na escola tem a ver com esses
imitar a vida. Se, na tendência liberal tradicional, a ativi-
pressupostos teóricos, explícita ou implicitamente.
dade pedagógica estava centrada no professor, na escola
renovada progressivista, defende-se a ideia de “apren-
Tendências Pedagógicas Liberais
der fazendo”, portanto centrada no aluno, valorizando
Segundo LIBÂNEO (1990), a pedagogia liberal sus- as tentativas experimentais, a pesquisa, a descoberta, o
tenta a ideia de que a escola tem por função preparar estudo do meio natural e social, etc, levando em conta
os indivíduos para o desempenho de papéis sociais, de os interesses do aluno.
acordo com as aptidões individuais. Isso pressupõe que o Como pressupostos de aprendizagem, aprender se
indivíduo precisa adaptar-se aos valores e normas vigen- torna uma atividade de descoberta, é uma autoaprendi-
tes na sociedade de classe, através do desenvolvimento zagem, sendo o ambiente apenas um meio estimulador.
da cultura individual. Devido a essa ênfase no aspecto Só é retido aquilo que se incorpora à atividade do aluno,
cultural, as diferenças entre as classes sociais não são através da descoberta pessoal; o que é incorporado passa
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

consideradas, pois, embora a escola passe a difundir a a compor a estrutura cognitiva para ser empregado em no-
ideia de igualdade de oportunidades, não leva em conta vas situações. É a tomada de consciência, segundo Piaget.
a desigualdade de condições. No ensino da língua, essas ideias escolanovistas não
trouxeram maiores consequências, pois esbarraram na
Tendência Liberal Tradicional prática da tendência liberal tradicional.

Segundo esse quadro teórico, a tendência liberal tra- Tendência Liberal Renovada Não-Diretiva
dicional se caracteriza por acentuar o ensino humanístico,
de cultura geral. De acordo com essa escola tradicional, Acentua-se, nessa tendência, o papel da escola na for-
mação de atitudes, razão pela qual deve estar mais preo-
4 Fonte: Perrenoud, Philippe. 10 Novas Competências para Ensinar. cupada com os problemas psicológicos do que com os
Porto Alegre: ARTMED, 2000. Reimpressão 2008

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pedagógicos ou sociais. Todo o esforço deve visar a uma Tendências Pedagógicas Progressistas
mudança dentro do indivíduo, ou seja, a uma adequação
pessoal às solicitações do ambiente. Segundo Libâneo, a pedagogia progressista designa
as tendências que, partindo de uma análise crítica das
Aprender é modificar suas próprias percepções. Ape- realidades sociais, sustentam implicitamente as finalida-
nas se aprende o que estiver significativamente relacio- des sociopolíticas da educação.
nado com essas percepções. A retenção se dá pela rele-
vância do aprendido em relação ao “eu”, o que torna a Tendência Progressista Libertadora
avaliação escolar sem sentido, privilegiando-se a auto-a-
valiação. Trata-se de um ensino centrado no aluno, sendo As tendências progressistas libertadoras e libertárias
o professor apenas um facilitador. No ensino da língua, têm, em comum, a defesa da autogestão pedagógica e o
tal como ocorreu com a corrente pragmatista, as ideias da antiautoritarismo. A escola libertadora, também conheci-
escola renovada não-diretiva, embora muito difundidas, da como a pedagogia de Paulo Freire, vincula a educação
encontraram, também, uma barreira na prática da ten- à luta e organização de classe do oprimido. Segundo GA-
dência liberal tradicional. DOTTI (1988), Paulo Freire não considera o papel infor-
mativo, o ato de conhecimento na relação educativa, mas
Tendência Liberal Tecnicista insiste que o conhecimento não é suficiente se, ao lado e
junto deste, não se elabora uma nova teoria do conheci-
A escola liberal tecnicista atua no aperfeiçoamento mento e se os oprimidos não podem adquirir uma nova
da ordem social vigente (o sistema capitalista), articulan- estrutura do conhecimento que lhes permita reelaborar
do-se diretamente com o sistema produtivo; para tanto, e reordenar seus próprios conhecimentos e apropriar-se
emprega a ciência da mudança de comportamento, ou de outros.
seja, a tecnologia comportamental. Seu interesse princi- Assim, para Paulo Freire, no contexto da luta de clas-
pal é, portanto, produzir indivíduos “competentes” para ses, o saber mais importante para o oprimido é a desco-
o mercado de trabalho, não se preocupando com as mu- berta da sua situação de oprimido, a condição para se
danças sociais. libertar da exploração política e econômica, através da
Conforme MATUI (1988), a escola tecnicista, baseada elaboração da consciência crítica passo a passo com sua
na teoria de aprendizagem S-R, vê o aluno como depo- organização de classe. Por isso, a pedagogia libertadora
sitário passivo dos conhecimentos, que devem ser acu- ultrapassa os limites da pedagogia, situando-se também
mulados na mente através de associações. Skinner foi o no campo da economia, da política e das ciências sociais,
expoente principal dessa corrente psicológica, também conforme Gadotti.
conhecida como behaviorista. Segundo RICHTER (2000), Como pressuposto de aprendizagem, a força moti-
a visão behaviorista acredita que adquirimos uma língua vadora deve decorrer da codificação de uma situação-
por meio de imitação e formação de hábitos, por isso a -problema que será analisada criticamente, envolvendo o
ênfase na repetição, nos drills, na instrução programada, exercício da abstração, pelo qual se procura alcançar, por
para que o aluno forme “hábitos” do uso correto da lin- meio de representações da realidade concreta, a razão
guagem. de ser dos fatos. Assim, como afirma Libâneo, aprender
A partir da Reforma do Ensino, com a Lei 5.692/71, é um ato de conhecimento da realidade concreta, isto é,
que implantou a escola tecnicista no Brasil, preponde- da situação real vivida pelo educando, e só tem sentido
raram as influências do estruturalismo linguístico e a se resulta de uma aproximação crítica dessa realidade.
concepção de linguagem como instrumento de comu- Portanto o conhecimento que o educando transfere re-
nicação. A língua – como diz TRAVAGLIA (1998) – é vista presenta uma resposta à situação de opressão a que se
como um código, ou seja, um conjunto de signos que se chega pelo processo de compreensão, reflexão e crítica.
combinam segundo regras e que é capaz de transmitir No ensino da Leitura, Paulo Freire, numa entrevista,
uma mensagem, informações de um emissor a um re- sintetiza sua ideia de dialogismo: “Eu vou ao texto cari-
ceptor. Portanto, para os estruturalistas, saber a língua é, nhosamente. De modo geral, simbolicamente, eu puxo
sobretudo, dominar o código. uma cadeira e convido o autor, não importa qual, a travar
No ensino da Língua Portuguesa, segundo essa con- um diálogo comigo”.
cepção de linguagem, o trabalho com as estruturas lin-
guísticas, separadas do homem no seu contexto social, Tendência Progressista Libertária
é visto como possibilidade de desenvolver a expressão
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

oral e escrita. A tendência tecnicista é, de certa forma, A escola progressista libertária parte do pressuposto
uma modernização da escola tradicional e, apesar das de que somente o vivido pelo educando é incorporado e
contribuições teóricas do estruturalismo, não conseguiu utilizado em situações novas, por isso o saber sistemati-
superar os equívocos apresentados pelo ensino da lín- zado só terá relevância se for possível seu uso prático. A
gua centrado na gramática normativa. Em parte, esses ênfase na aprendizagem informal via grupo, e a negação
problemas ocorreram devido às dificuldades de o pro- de toda forma de repressão, visam a favorecer o desen-
fessor assimilar as novas teorias sobre o ensino da língua volvimento de pessoas mais livres. No ensino da língua,
materna. procura valorizar o texto produzido pelo aluno, além da
negociação de sentidos na leitura.

97
Tendência Progressista Crítico-Social Dos Conteúdos essas tendências, no ensino da língua, valorizam o texto
produzido pelo aluno, a partir do seu conhecimento de
Conforme Libâneo, a tendência progressista crítico- mundo, assim como a possibilidade de negociação de
-social dos conteúdos, diferentemente da libertadora e sentido na leitura.
libertária, acentua a primazia dos conteúdos no seu con-
fronto com as realidades sociais. A atuação da escola A partir da LDB 9.394/96, principalmente com as difu-
consiste na preparação do aluno para o mundo adulto e sões das ideias de Piaget, Vygotsky e Wallon, numa pers-
suas contradições, fornecendo-lhe um instrumental, por pectiva sócio-histórica, essas teorias buscam uma aproxi-
meio da aquisição de conteúdos e da socialização, para mação com modernas correntes do ensino da língua que
uma participação organizada e ativa na democratização consideram a linguagem como forma de atuação sobre o
da sociedade. homem e o mundo, ou seja, como processo de interação
Na visão da pedagogia dos conteúdos, admite-se o verbal, que constitui a sua realidade fundamental.
princípio da aprendizagem significativa, partindo do que
o aluno já sabe. A transferência da aprendizagem só se Tendências Pedagógicas Brasileiras
realiza no momento da síntese, isto é, quando o aluno
supera sua visão parcial e confusa e adquire uma visão As tendências pedagógicas brasileiras foram muito in-
mais clara e unificadora. fluenciadas pelo momento cultural e político da socieda-
de, pois foram levadas à luz graças aos movimentos sociais
Tendências Pedagógicas Pós-LDB 9.394/96 e filosóficos. Essas formaram a prática pedagógica do país.
Os professores Saviani (1997) e Libâneo (1990) pro-
Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional põem a reflexão sobre as tendências pedagógicas. Mos-
de n.º 9.394/96, revalorizam-se as ideias de Piaget, Vy- trando que as principais tendências pedagógicas usadas
gotsky e Wallon. Um dos pontos em comum entre esses na educação brasileira se dividem em duas grandes linhas
psicólogos é o fato de serem interacionistas, porque con- de pensamento pedagógico. Elas são: Tendências Liberais
e Tendências Progressistas.
cebem o conhecimento como resultado da ação que se
Os professores devem estudar e se apropriar dessas
passa entre o sujeito e um objeto. De acordo com Aranha
tendências, que servem de apoio para a sua prática peda-
(1998), o conhecimento não está, então, no sujeito, como
gógica. Não se deve usar uma delas de forma isolada em
queriam os inatistas, nem no objeto, como diziam os em-
toda a sua docência. Mas, deve-se procurar analisar cada
piristas, mas resulta da interação entre ambos.
uma e ver a que melhor convém ao seu desempenho aca-
Para citar um exemplo no ensino da língua, segundo
dêmico, com maior eficiência e qualidade de atuação. De
essa perspectiva interacionista, a leitura como processo
acordo com cada nova situação que surge, usa-se a ten-
permite a possibilidade de negociação de sentidos em sala dência mais adequada. E observa-se que hoje, na prática
de aula. O processo de leitura, portanto, não é centrado no docente, há uma mistura dessas tendências.
texto, ascendente, bottom-up, como queriam os empiris- Deste modo, seguem as explicações das características
tas, nem no receptor, descendente, top-down, segundo os de cada uma dessas formas de ensino. Porém, ao analisá-
inatistas, mas ascendente/descendente, ou seja, a partir de -las, deve-se ter em mente que uma tendência não substi-
uma negociação de sentido entre enunciador e receptor. tui totalmente a anterior, mas ambas conviveram e convi-
Assim, nessa abordagem interacionista, o receptor é retira- vem com a prática escolar.
do da sua condição de mero objeto do sentido do texto, de
alguém que estava ali para decifrá-lo, decodificá-lo, como Tendências Liberais - Liberal não tem a ver com algo
ocorria, tradicionalmente, no ensino da leitura. aberto ou democrático, mas com uma instigação da so-
As ideias desses psicólogos interacionistas vêm ao ciedade capitalista ou sociedade de classes, que sustenta
encontro da concepção que considera a linguagem a ideia de que o aluno deve ser preparado para papéis
como forma de atuação sobre o homem e o mundo e sociais de acordo com as suas aptidões, aprendendo a vi-
das modernas teorias sobre os estudos do texto, como ver em harmonia com as normas desse tipo de sociedade,
a Linguística Textual, a Análise do Discurso, a Semântica tendo uma cultura individual.
Argumentativa e a Pragmática, entre outros.
De acordo com esse quadro teórico de José Carlos Li- Tradicional - Foi a primeira a ser instituída no Brasil
bâneo, deduz-se que as tendências pedagógicas liberais, por motivos históricos. Nesta tendência o professor é a
ou seja, a tradicional, a renovada e a tecnicista, por se figura central e o aluno é um receptor passivo dos conhe-
declararem neutras, nunca assumiram compromisso com cimentos considerados como verdades absolutas. Há re-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

as transformações da sociedade, embora, na prática, pro- petição de exercícios com exigência de memorização.
curassem legitimar a ordem econômica e social do sis-
tema capitalista. No ensino da língua, predominaram os Renovadora Progressiva - Por razões de recomposi-
métodos de base ora empirista, ora inatista, com ensino ção da hegemonia da burguesia, esta foi a próxima ten-
da gramática tradicional, ou sob algumas as influências dência a aparecer no cenário da educação brasileira. Ca-
teóricas do estruturalismo e do gerativismo, a partir da racteriza-se por centralizar no aluno, considerado como
Lei 5.692/71, da Reforma do Ensino. ser ativo e curioso. Dispõe da ideia que ele “só irá apren-
Já as tendências pedagógicas progressistas, em opo- der fazendo”, valorizam-se as tentativas experimentais, a
sição às liberais, têm em comum a análise crítica do sis- pesquisa, a descoberta, o estudo do meio natural e social.
tema capitalista. De base empirista (Paulo Freire se pro- Aprender se torna uma atividade de descoberta, é uma
clamava um deles) e marxista (com as ideias de Gramsci), autoaprendizagem. O professor é um facilitador.

98
Renovadora não diretiva (Escola Nova) – Anísio Tei- va sócio-histórica e são interacionistas, isto é, acredi-
xeira foi o grande pioneiro da Escola Nova no Brasil. É um tam que o conhecimento se dá pela interação entre o
método centrado no aluno. A escola tem o papel de for- sujeito e um objeto.
madora de atitudes, preocupando-se mais com a parte Alguns dos principais expoentes da história educacio-
psicológica do que com a social ou pedagógica. E para nal nacional e internacional debruçaram-se sobre a questão
aprender tem que estar significativamente ligado com das tendências pedagógicas. Autores como Paulo Freire,
suas percepções, modificando-as.
Tecnicista – Skinner foi Luckesi, Libâneo, Saviani e Gadotti, entre outros não me-
o expoente principal dessa corrente psicológica, também nos importantes, dedicaram grande parte de suas vidas a
conhecida como behaviorista. Neste método de ensino o estudos que pudessem contribuir para o avanço da Educa-
aluno é visto como depositário passivo dos conhecimen- ção, desenvolvendo teorias para nortear as práticas peda-
tos, que devem ser acumulados na mente através de as- gógicas, objetivando melhorar a qualidade do ensino que é
sociações. O professor é quem deposita os conhecimen- aplicado nas escolas. Essa é a função das tendências peda-
tos, pois ele é visto como um especialista na aplicação gógicas no universo educacional. O que se pretende neste
de manuais; sendo sua prática extremamente controlada. trabalho é justamente trazer à tona essa questão, erguendo
Articula-se diretamente com o sistema produtivo, com o a bandeira das tendências pedagógicas contemporâneas,
objetivo de aperfeiçoar a ordem social vigente, que é o buscando, assim, contribuir para uma melhor assimilação
capitalismo, formando mão de obra especializada para delas por parte de alguns professores de escolas públicas.
o mercado de trabalho.
A relação entre as tendências pedagógicas e a prá-
Tendências Progressistas - Partem de uma análise tica docente
crítica das realidades sociais, sustentam implicitamen-
te as finalidades sociopolíticas da educação e é uma As tendências pedagógicas são de extrema relevân-
tendência que condiz com as ideias implantadas pelo cia para a Educação, principalmente as mais recentes,
capitalismo. O desenvolvimento e popularização da pois contribuem para a condução de um trabalho do-
análise marxista da sociedade possibilitou o desenvol- cente mais consciente, baseado nas demandas atuais da
vimento da tendência progressista, que se ramifica em clientela em questão. O conhecimento dessas tendências
três correntes: e perspectivas de ensino por parte dos professores é
fundamental para a realização de uma prática docente
Libertadora – Também conhecida como a pedagogia realmente significativa, que tenha algum sentido para o
de Paulo Freire, essa tendência vincula a educação à luta aluno, pois tais tendências objetivam nortear o trabalho
e organização de classe do oprimido. Onde, para esse, o do educador, ajudando-o a responder a questões sobre
saber mais importante é a de que ele é oprimido, ou seja, as quais deve se estruturar todo o processo de ensino,
ter uma consciência da realidade em que vive. Além da tais como: o que ensinar? Para quem? Como? Para quê?
busca pela transformação social, a condição de se libertar Por quê?
através da elaboração da consciência crítica passo a pas- E para que a prática pedagógica em sala de aula alcance
so com sua organização de classe. Centraliza-se na dis- seus objetivos, o professor deve ter as respostas para essas
cussão de temas sociais e políticos; o professor coordena questões, pois, como defende Luckesi (1994), “a Pedagogia
atividades e atua juntamente com os alunos. não pode ser bem entendida e praticada na escola sem que
se tenha alguma clareza do seu significado. Isso nada mais
Libertária – Procura a transformação da personali- é do que buscar o sentido da prática docente”.
dade num sentido libertário e autogestionário. Parte do Essas tendências pedagógicas, formuladas ao longo
pressuposto de que somente o vivido pelo educando é dos tempos por diversos teóricos que se debruçaram
incorporado e utilizado em situações novas, por isso o sobre o tema, foram concebidas com base nas visões
saber sistematizado só terá relevância se for possível seu desses pensadores em relação ao contexto histórico das
uso prático. Enfoca a livre expressão, o contexto cultural, sociedades em que estavam inseridos, além de suas con-
a educação estética. Os conteúdos, apesar de disponibili- cepções de homem e de mundo, tendo como principal
zados, não são exigidos pelos alunos e o professor é tido objetivo nortear o trabalho docente, modelando-o a
como um conselheiro à disposição do aluno. partir das necessidades de ensino observadas no âmbito
social em que viviam.
“Crítico-social dos conteúdos” ou “Histórico- Sendo assim, o conhecimento dessas correntes pe-
-Crítica” - Tendência que apareceu no Brasil nos fins dagógicas por parte dos professores, principalmente as
dos anos 70, acentua a prioridade de focar os conteú-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

mais recentes, torna-se de extrema relevância, visto que


dos no seu confronto com as realidades sociais, é ne- possibilitam ao educador um aprofundamento maior
cessário enfatizar o conhecimento histórico. Prepara o sobre os pressupostos e variáveis do processo de ensi-
aluno para o mundo adulto, com participação orga- no-aprendizagem, abrindo-lhe um leque de possibilida-
nizada e ativa na democratização da sociedade; por des de direcionamento do seu trabalho a partir de suas
meio da aquisição de conteúdos e da socialização. É o convicções pessoais, profissionais, políticas e sociais,
mediador entre conteúdos e alunos. O ensino/apren- contribuindo para a produção de uma prática docente
dizagem tem como centro o aluno. Os conhecimentos estruturada, significativa, esclarecedora e, principalmen-
são construídos pela experiência pessoal e subjetiva. te, interessante para os educandos.
Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio- A escola precisa ser reencantada, precisa encontrar
nal (LDB 9.394/96), ideias como de Piaget, Vygotsky e motivos para que o aluno vá para os bancos escolares
Wallon foram muito difundidas, tendo uma perspecti- com satisfação, alegria. Existem escolas esperançosas,

99
com gente animada, mas existe um mal-estar geral na
maioria delas. Não acredito que isso seja trágico. Essa CURRÍCULO NAS SÉRIES INICIAIS: A
insatisfação deve ser aproveitada para dar um salto. Se ÊNFASE NA COMPETÊNCIA LEITORA
o mal-estar for trabalhado, ele permite avanços. Se for (ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO) E
aceito como fatalidade, ele torna a escola um peso morto O DESENVOLVIMENTO DOS SABERES
na história, que arrasta as pessoas e as impede de so- ESCOLARES DA MATEMÁTICA E DAS
nhar, pensar e criar (Moacir Gadotti, em entrevista para a DIVERSAS ÁREAS DE CONHECIMENTO.
revista Nova Escola, edição de novembro/2000).
Desse modo, creio que seja essencial que todos os
professores tenham um conhecimento mais aprofunda- A ALFABETIZAÇÃO NA CONCEPÇÃO INTERACIO-
do das tendências pedagógicas, pois elas foram conce- NISTA DE LINGUAGEM OU SOB A PERSPECTIVA DO
bidas para nortear as práticas pedagógicas. O educador LETRAMENTO
deve conhecê-las, principalmente as mais recentes, ainda
que seja para negá-las, mas de forma crítica e consciente, O processo de construção da língua escrita, pela sua
ou, quem sabe, para utilizar os pontos positivos observa- complexidade, exige muito mais do que algumas técni-
dos em cada uma delas para construir uma base pedagó- cas e/ou treinos mecânicos, e que a capacidade de ler e
gica própria, mas com coerência e propriedade. escrever depende da compreensão de como funciona a
Afinal, como já defendia Snyders (1974), é possível estrutura da língua e do modo como ela é usada no meio
“pensar que se pode abrir um caminho a uma pedago- social. Dentre outras, as teorias construtivista e históri-
gia atual; que venha fazer a síntese do tradicional e do co-cultural (também conhecida, no Brasil, como socioin-
moderno: síntese e não confusão”. O importante é que teracionista), elaboradas, respectivamente, por Piaget
se busque tirar a venda dos olhos para enxergar, literal- (1987) e Vygotsky (1988), iluminam a reflexão sobre o
mente, o alunado e assim poder dar um sentido político processo de alfabetização, na perspectiva a que estamos
e social ao trabalho que está sendo realizado, pois, como nos referindo. Não desconhecemos as diferenças nas
afirma Libâneo, aprender é um ato de conhecimento da posturas teóricas de ambos os teóricos e dos seus res-
realidade concreta, isto é, da situação real vivida pelo pectivos contextos sócio-históricos em que produziram
educando, e só tem sentido se resulta de uma aproxima- suas teorias. Pretendemos indicar os pontos de concor-
ção crítica dessa realidade, o que está em consonância dância mais gerais dessas duas teorias que contribuem
com o que diz Saviani (1991): a Pedagogia Crítica implica para a compreensão do processo de aprendizagem, nes-
a clareza dos determinantes sociais da educação, a com- te caso, da escrita e da leitura.
preensão do grau em que as contradições da socieda- Para Piaget (1987), a criança é vista como sujeito ati-
de marcam a educação e, consequentemente, como é vo no processo de aprendizagem, que interage com os
preciso se posicionar diante dessas contradições e de- outros e com os objetos de conhecimento, num processo
senredar a educação das visões ambíguas para perceber permanente de estruturação/reestruturação de esque-
claramente qual é a direção que cabe imprimir à questão mas mentais.
educacional. Para Vygotsky (1988), o homem constitui-se na sua
Para Luckesi (1994), a “Pedagogia se delineia a partir relação com os outros, o que implica entender que ele
de uma posição filosófica definida”. Em seu livro Filosofia (o homem) não possui nada pronto. Nesse sentido, o co-
da Educação, o autor discorre sobre a relação existen- nhecimento se dá pelas relações entre o indivíduo e o
te entre a Pedagogia e a Filosofia e busca clarificar as mundo exterior e desenvolve-se num processo histórico,
perspectivas das relações entre educação e sociedade. sendo que a aprendizagem ocorre por uma mediação
No seu trabalho, Luckesi apresenta três tendências fi- social, em que a linguagem assume papel predominante.
losóficas responsáveis por interpretar a função da edu- Segundo Benveniste (1982), pela linguagem, ocorre
cação na sociedade: a Educação Redentora, a Educação a ação de um indivíduo sobre o outro, o que promove a
Reprodutora e a Educação Transformadora da socieda- interação. Daí, a importância da fala nesse processo. Na
de. A primeira é otimista, acredita que a educação pode visão interacionista, a aquisição da linguagem resulta da
exercer domínio sobre a sociedade (pedagogias liberais). interação entre o programa mental inato do aprendiz e a
A segunda é pessimista, percebe a educação como sen- linguagem produzida por ele em conjunto com um inter-
do apenas reprodutora de um modelo social vigente, en- locutor que possui o domínio da língua. Nesse processo,
quanto a terceira tendência assume uma postura crítica a criança vai testando suas “iniciativas verbais” através
com relação às duas anteriores, indo de encontro tanto do seu relacionamento com os outros. Podemos dizer,
ao “otimismo ilusório” quanto ao “pessimismo imobiliza-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

então, que as crianças elaboram hipóteses a respeito da


dor” (Pedagogias Progressivistas). linguagem e, na medida do seu uso, vão conferindo as
Em consonância com estas leituras filosóficas sobre representações que vão “dando certo” e construindo a
as relações entre educação e sociedade, Libâneo (1985), própria competência interlocutiva.
ao realizar uma abordagem das tendências pedagógicas, No caso da educação formal, é fundamental a ação
organiza as diferentes pedagogias em dois grupos: Pe- intencional do professor, planejada para interferir nesse
dagogia Liberal e Pedagogia Progressivista. A Pedagogia processo com a finalidade de levar o aluno a aprender
Liberal é apresentada nas formas Tradicional; Renovada usar adequadamente a linguagem nas suas diversas mo-
Progressivista; Renovada Não diretiva; e Tecnicista. A Pe- dalidades.
dagogia Progressivista é subdividida em Libertadora; Li- A opção por um ensino baseado na gramática tra-
bertária; e Crítico-social dos Conteúdos.5 dicional, por exemplo, só daria conta da primeira dessas
5 Por Délcio Barros da Silva
dimensões e não serviria para levar o aluno à competên-

100
cia no uso da língua. Ora, o uso da língua começa muito Lev Semenovich Vygotsky estudou sistematicamente
antes da vida escolar, e vale considerar que a maneira a psicologia e seu projeto principal foram os processos
como a criança capta a linguagem, no seu convívio, in- de transformação do desenvolvimento na dimensão filo-
fluencia fortemente a aprendizagem. genética, histórico social e ontogenético.
Nesse entendimento, afirma Richter (2000), a lingua- As diferenças entre os dois autores parecem ser mui-
gem se desdobra em três dimensões indissociáveis: for- tas, mas eles partilham de pontos de vista semelhantes.
ma, função e estratégia. A opção por um ensino baseado Ambos entenderam o conhecimento como adaptação e
na gramática tradicional, por exemplo, só daria conta como construção individual e compreenderam a apren-
da primeira dessas dimensões e não serviria para levar dizagem e o desenvolvimento como autorregulados.
o aluno à competência no uso da língua. Ora, o uso da Discordaram quanto ao processo de construção des-
língua começa muito antes da vida escolar, e vale consi- se conhecimento, ambos viram o desenvolvimento e a
derar que a maneira como a criança capta a linguagem, aprendizagem da criança como participativa, não ocor-
no seu convívio, influencia fortemente a aprendizagem. rendo de maneira automática.
A criança transforma aquilo que aprende de acordo
Fonte com sua capacidade interna e nata, tornando-se trans-
JOSEFI, A. H. B. Alfabetização: concepções e contex- formadora da aprendizagem, criadora, se essa capacida-
tos de ensino. Revista Eletrônica Acolhendo a Alfabetiza- de de aprendizagem e oportunidade lhe for oferecida.
ção nos Países de Língua Portuguesa. Vygotsky e Piaget estavam preocupados com o de-
senvolvimento intelectual, porém cada um começou e
SOCIOINTERACIONISMO perseguiu por diferentes questões e problemas. Piaget
estava interessado em como o conhecimento é adqui-
O sociointeracionismo é uma teoria de aprendiza- rido ou construído, onde a teoria é um acontecimen-
gem com o foco na interação. Segundo ela, a aprendiza- to da invenção ou construção que ocorre na mente do
gem acontece em contextos históricos, sociais e culturais. indivíduo, Vygotsky estava preocupado com a questão
Assim, o conhecimento real da criança é o ponto de par- de como os fatores sociais e culturais influenciam o de-
tida para o conhecimento potencial. senvolvimento intelectual. A teoria de Vygotsky é uma
No início do século XX, um psicólogo russo chamado teoria de transmissão do conhecimento da cultura para
Lev Vygotsky, buscava reformular a psicologia por meio a criança, os indivíduos interagem com agentes sociais
de uma abordagem que permitisse entender as relações mais lecionados, como professores e colegas. As crianças
entre os indivíduos, as suas funções psicológicas e seu constroem e internalizam o conhecimento que esses se-
contexto social. Suas pesquisas revolucionárias, propõem res instruídos possuem. Enquanto que Piaget, não acre-
uma situação de ensino/aprendizagem em que o apren- ditava que a transmissão direta desse tipo fosse viável.
diz, por meio do seu convívio social e da interação com Para ele as crianças adquirem uma forma própria de se
outras pessoas é capaz de construir o seu conhecimento. desenvolver no social, mediante a construção pessoal
A metodologia sociointeracionista acredita que a vi- desse conhecimento. Piaget aprovou a construção in-
vência em sociedade é essencial para a transformação da dividual como singular e diferente, embora comumente
criança. Assim, o conhecimento é construído e concre- ligada e próxima daquela da cultura, com isso a criança
tizado progressivamente. Nessa esfera o professor age tem a chance de errar e construir. Vai ocorrendo períodos
como alguém que conduz a criança ao aprendizado. Seu de desequilibração para uma nova sustentação de bases.
papel é ativo em sala de aula – não como o detentor e Sabemos que muitos indivíduos estão estacionados em
o transmissor de conhecimentos, mas como mediador e algumas etapas de desenvolvimento e isso é refletido no
estimulador da aprendizagem. Incentivar a curiosidade e dia-a-dia, com um jeito particular de pensar.
a vontade de aprender são os principais desafios de uma
escola sociointeracionista. Em relação à aprendizagem e desenvolvimento, as-
Portanto, a criança aprende identificando-se, imitan- sunto deste estudo, tanto Vygotsky como Piaget, acre-
do, brincando, fazendo analogias, opondo-se, codifican- ditavam no desenvolvimento e aprendizagem, embora,
do e decodificando símbolos e seus significados, sempre seus pontos de vista sobre o relacionamento sejam di-
num ambiente social que preza a construção do conheci- ferentes. Vygotsky tinha a ideia de que a aprendizagem
mento e que valoriza o seu próprio saber. é a força propulsora do desenvolvimento intelectual, en-
quanto que para Piaget o próprio desenvolvimento é a
DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM. força propulsora. Piaget tinha a concepção de que o nível
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

de desenvolvimento colocava limites sobre o que podia


Concepção sobre os processos de desenvolvimen- ser aprendido e sobre o nível da compreensão possível
to e aprendizagem daquela aprendizagem, onde cada pessoa tem um ritmo,
não podendo ir além daquele estádio adquirido.
Piaget escreveu sobre a interação entre indivíduo e Vygotsky chamou de zona de desenvolvimento po-
meio constituída através de dois processos: organização tencial e zona de desenvolvimento proximal. A zona de
interna das experiências e adaptação ao meio. Piaget não desenvolvimento potencial é o nível de desenvolvimento
deu ênfase aos valores sociais e culturais no desenvolvi- em que os estudantes são capazes de solucionar pro-
mento da inteligência, pressupostos escritos por Vygot- blemas de forma independente, enquanto que a zona
sky de desenvolvimento proximal é o nível em que os estu-
dantes podem resolver problemas com “apoio” (Lester

101
1994), ou seja, com a modelação do conhecimento e a As implicações do desenvolvimento para Piaget
interação social, os estudantes podem aprender coisas e Vygotsky
que não aprendiam sozinhos. Piaget coloca que a nova
construção é sempre realizada sobre uma construção Tomando o ponto de vista educacional, as duas teo-
anterior e que, com a desiquilibração, é sempre possível rias divertem. Embora Vygotsky e Piaget considerassem
o avanço das construções anteriores. Os fatores sociais, o conhecimento como uma construção individual, para
para Vygotsky desempenham um papel fundamental no Vygotsky toda construção era mediada pelos fatores ex-
desenvolvimento intelectual. A cultura estabelece um co- ternos sociais. Isto é, o professor e o programa institucio-
nhecimento que é internalizado e construído pelas crian- nal devem modelar ou explicar o conhecimento. Dessa
ças. As crianças por sua vez vão tornando-se indivíduos forma, a criança constrói o seu próprio conhecimento
com funções e habilidades intelectuais. Piaget, por sua interno a partir do que é oferecido. A criança não inven-
vez, reconheceu infinitamente o papel dos fatores sociais ta, mas rememora, copia o que está socialmente exposto
no desenvolvimento intelectual. As interações sociais fo- e a disposição. A sociedade atribui a isto, um processo
ram consideradas como uma fonte do conflito cogniti- de transmissão de cultura, e com isso o facilitador ou
vo, portanto, de desequilibração e, consequentemente, professor é o instrutor da criança. Assim, o trabalho do
de desenvolvimento. Ou seja, também desta forma, são agente é, entre outras coisas, modelar cuidadosamente o
consideradas para a construção do conhecimento social. conhecimento.
Piaget considerou a construção do conhecimento
O papel da linguagem no desenvolvimento inte- como um ato individual da criança. Os fatores sociais in-
lectual para Vygotsky e Piaget fluenciam a desequilibração individual através do confli-
to cognitivo e apontam que há construção a ser feita. A
A diferença mais nítida entre os dois teóricos, é refe- verdadeira construção do conhecimento não é medida,
rente ao papel da linguagem no desenvolvimento inte- no sentido vygotskiano, pelo fator social e ambiente; ele
lectual. Vygotsky trata a aquisição da linguagem do meio não é copiado de um referencial e modelo. O conheci-
social como o resultado entre raciocínio e pensamento mento anterior é reconstruído diante da desiquilibração
em nível intelectual. Piaget considerou a linguagem fa- socialmente provocada e estimulada. O papel do profes-
lada como manifestação da função simbólica, quando o sor é visto basicamente como o de encorajar, estimular e
indivíduo emprega a capacidade de empregar símbolos apoiar a exploração, a construção e invenção.
para representar, o que reflete o desenvolvimento in-
“É óbvio que o professor enquanto organizador per-
telectual, mas não o produz (Fowler 1994). Piaget con-
manece indispensável no sentido de criar as situações
siderou a linguagem como facilitadora, mas não como
e de arquitetar os projetos iniciais que introduzam os
necessária ao desenvolvimento intelectual. Para Piaget,
problemas significativos à criança. Em segundo lugar,
a linguagem reflete, mas não produz inteligência. A úni-
ele é necessário para proporcionar contraexemplos que
ca maneira de avançar a um nível intelectual mais eleva-
forcem a reflexão e a reconsideração das soluções rápi-
do não é na linguagem com suas representações, e sim,
das. O que é desejado é que o professor deixe de ser um
através da ação. (Fowler 1994).
expositor satisfeito em transmitir soluções prontas; o seu
Vygotsky (1987), faz uma diferenciação entre proces-
sos psicológicos, superiores rudimentares e processos papel deveria ser aquele de um mentor, estimulando a
psicológicos avançados. Nos primeiros, ele colocaria a iniciativa e a pesquisa”. Piaget. (1973).
linguagem oral, como processo psicológico superior ad- Nas obras de Piaget, a criança pode utilizar as fontes e
quirido na vida social mais extensa e por toda a espécie, formas de informação no processo de construção. A crian-
e sendo produzido pela internalização de atividades so- ça pode ativamente ouvir uma exposição ou ler um livro e
ciais, através da fala. A interação e a linguagem têm um empregar a informação recebida na construção. O proces-
importante destaque no pensamento de Vygotsky, uma so não é o de recriar um modelo, mas o de inventá-lo.
vez que irão contribuir no desenvolvimento dos proces-
sos psicológicos, através da ação. Vygotsky substituiu os A interação social no desenvolvimento e aprendi-
instrumentos de trabalho por instrumentos psicológicos, zagem escolar para Piaget e Vygotsky
explicando desta forma, a evolução dos processos na-
turais até alcançar os processos mentais superiores, por Para Vygotsky (1998), a aprendizagem não começa
isso, a linguagem, instrumento de imenso poder, assegu- na escola, que toda situação de aprendizagem escolar se
ra que significados linguisticamente criados sejam signi- depara sempre com uma história de aprendizagem pré-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

ficados sociais e compartilhados. via. Vygotsky retoma o tema da zona de desenvolvimen-


Vygotsky atribui importância a linguagem, pois além to proximal e sua relação com a aprendizagem.
da função comunicativa, ela é essencial no processo de Tanto para Piaget como para Vygotsky, o ambiente
transição do interpessoal em intramental; na formação da sala de aula requer interação social, embora por cir-
do pensamento e da consciência; na organização e pla- cunstâncias distintas. Para Vygotsky, o ambiente social é
nejamento da ação; na regulação do comportamento e, a fonte de modelos dos quais as construções devem se
em todas as demais funções psíquicas superiores do su- aproximar. É a fonte do conhecimento socialmente cons-
jeito, como vontade, memória e atenção. truído que serve de modelo e media as construções do
indivíduo. A aprendizagem, e o desenvolvimento são ad-
quiridos por modelos e, claro, pela motivação da criança.
Para Piaget, a interação com os colegas e adultos.

102
Vygotsky coloca que no cotidiano das crianças, elas meio ambiente e com outras pessoas. O autor res-
observam o que os outros dizem, porque dizem, o que salta a importância de que esses processos sejam
falam, porque falam, internalizando tudo o que é ob- internalizados pela criança.
servado e se apropriando do que viu e ouviu. Recriam
e conservam o que se passa ao redor. Em função des- Vygotsky colocou que “as funções mentais superio-
ta constatação, Vygotky afirma que a aprendizagem da res são produto do desenvolvimento sócio histórico da
criança se dá pelas interações com outras crianças de seu espécie, sendo que a linguagem funciona como media-
ambiente, que determina o que por ela é internalizado. A dor. Lima (1990), por isso que a sua teoria ficou conheci-
criança vai adquirindo estruturas linguísticas e cognitivas, da como sociointeracionista.
mediado pelo grupo. Não se pode ignorar o papel desempenhado pelas
crianças ao se relacionarem e interagirem com outras pes-
O desenvolvimento cognitivo para Vygotsky e soas, que sejam professores, pais e outras crianças mais
Piaget velhas e mais experientes. A mediação é a forma de con-
ceber o percurso transcorrido pela pessoa no seu processo
de aprender. Quando o professor, se utilizando a mediação,
Segundo Piaget (1987), a origem do desenvolvimen-
consegue chegar a zona de desenvolvimento proximal, atra-
to cognitivo dá-se do interior para o exterior, ocorrendo vés dos “porquês” e dos “como”, ele pode atingir maneiras
em função da maturidade da pessoa. O autor considera através das quais a instrução será mais útil para a criança.
que o ambiente poderá influenciar no desenvolvimento Desta forma, o professor terá condições de não só utilizar
cognitivo, porém sua ênfase recai no papel do ambiente meios concretos, visuais e reais, mas, com maior proprieda-
para o desenvolvimento biológico, ressaltando a maturi- de, fazer uso de recursos que se reportem ao pensamento
dade do desenvolvimento. abstrato, ajudando à criança a superar suas capacidades.
A abordagem de Vygotsky se contrapõe a de Piaget,
o desenvolvimento é de fora para dentro, através da in- Desenvolvimento e aprendizagem para Piaget
ternalização. Vygotsky afirma que o conhecimento se dá
dentro de um contexto, afirmando serem as influências Ao elaborar a teoria psicogenética, Piaget procurou
sociais mais importantes que o contexto biológico. mostrar quais as mudanças qualitativas por que passa a
Resumindo, para a teoria vygotskiana, o desenvolvi- criança, desde o estágio inicial de uma inteligência prá-
mento ocorre em função da aprendizagem, ao contrário tica (período sensóriomotor), até o pensamento formal,
do pensamento de Piaget que assegura ser a aprendi- lógico-dedutivo, a partir da adolescência. A adaptação
zagem uma consequência do desenvolvimento. Ex: in- do sujeito vai ocorrendo, de maneira que é necessário
teração e troca com outras crianças e do adulto como investigar. Para que esta adaptação se torne abrangente,
modelo. é necessário investigar como esses conhecimentos são
O desenvolvimento cognitivo para Piaget, é o de adquiridos. Este questionamento é o interesse principal
equilibração, existiria uma interação entre o indivíduo e da epistemologia genética. Dolle (1993).
o meio, ligados com outros fatores como experiências, Segundo Piaget, o conhecimento não pode ser acei-
genética, maturação biológica, formando os esquemas, a to como algo predeterminado desde o nascimento ou de
acordo com a teoria inatista, nem resultado do simples
assimilação, a acomodação, a adaptação e a assimilação.
registro de percepções e informações como comenta o
empirismo. Resulta das ações e interações do sujeito com
Desenvolvimento proximal e desenvolvimento
o ambiente onde vive. Todo o conhecimento é uma cons-
real para Vygotsky trução que vai sendo elaborada desde a infância, através
da interação sujeito com os objetos que procura conhe-
Para Vygotsky (1987), a zona de desenvolvimento cer, sejam eles do mundo físico ou cultural.
proximal representa o espaço entre o nível de desenvol- Os objetos do conhecimento têm propriedades e
vimento real, ou seja, aquele momento, onde a criança particularidades que nem sempre são assimiladas pela
era apta a resolver um problema sozinha, e o nível de pessoa. Por isso, uma criança que já construiu o esquema
desenvolvimento potencial, a criança o fazia com cola- de sugar, com maior facilidade utiliza a mamadeira, mas
boração de um adulto ou um companheiro. A referência terá que modificar o esquema para chupeta, comer com
da zona de desenvolvimento proximal implica na com- colher, etc. Também será mais fácil para essa criança, ela
preensão de outras ideias que completa a ideia central, já tem esquemas assimilados.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

tais como: A este processo de ampliação ou modificação de


a) O que a criança consegue hoje com a colaboração um esquema de assimilação. Piaget chamou de acomo-
de uma pessoa mais especializada, mais tarde po- dação, embora seja estimulado pelo objeto, é também
derá realizar sozinha. possível graças à atividade do sujeito, pois é este que se
b) A criança consegue autonomia na resolução do transforma para a elaboração de novos conhecimentos.
problema, através da assistência e auxílio do adul- Com sucessivas aproximações, construindo acomo-
to, ou por outra criança mais velha, formando des- dações e assimilações, completa-se o processo a que
ta forma uma construção dinâmica entre aprendi- Piaget chamou de adaptação. A cada adaptação consti-
zagem e desenvolvimento. tuída e realizada, o esquema assimilador se torna solidi-
c) Segundo Vygotsky (1987), a aprendizagem acelera ficado e disponível para que a pessoa realize novas aco-
processos superiores internos que são capazes de modações. O que promove este movimento é o processo
atuar quando a criança encontra interagida com o de equilibração, conceito central na teoria construtivista.

103
Diante de um estímulo, o indivíduo pode olhar como constituição do próprio sujeito, e nem contar com meios
desafio, uma suposta falta no conhecimento, faz com que externos. Deve haver senso de percepção para perceber
a pessoa se “desequilibra” intelectualmente, fica curioso, o que a criança necessita no momento, a utilização ine-
instigado, motivado e, através de assimilações e acomo- rente de construção ou uma espera do meio, por isso a
dações, procura restabelecer o equilíbrio que é sempre utilização dos dois processos deve ser considerada.
dinâmico, pois é alcançado por meio de ações físicas e Para Piaget o nível de desenvolvimento colocava li-
também mentais. mites sobre o que podia ser aprendido e sobre o nível
O pensamento vai se tornando cada vez mais com- de compreensão possível daquela aprendizagem, não
plexo e abrangente, interagindo com objetos do conhe- podendo, a pessoa ir além do seu ritmo. Não adiantaria
cimento cada vez mais diferentes e abstratos. irem além do ritmo da criança, de maneira tradicional ou
A educação é um processo necessário, é importante simplista. O que resultaria num bloqueio na aprendiza-
considerar o principal objetivo da educação que é auto- gem. Se a criança não consegue ir além do que lhe é
nomia, tanto intelectual como moral. permitido mentalmente, cabe observar e usar técnicas
A criança vai usando o sistema, pela sua própria es- para que esse desenvolvimento ocorra, com ajuda exter-
trutura mental, que Piaget destaca, a lógica, a moral, a na, e colocações de questões para a própria criança per-
linguagem e a compreensão de regras sociais que não ceber onde está, dentro do que lhe é cobrado, exigido.
são inatas, que não são impostas de dentro para fora e Seria uma troca de meios para que esse desenvolvimento
sim construídas pelo sujeito ao longo do desenvolvimen- ocorra, fatores internos e externos intercalando-se. Po-
to, através de estágios diferentes um do outro. rém, dependendo do nível intelectual da constituição
A afetividade está correlacionada a esta inteligência mental, pode não haver um potencial para as novas aco-
e desempenha papel de uma fonte energética da qual modações.
dependeria o funcionamento da inteligência. “A afetivi-
dade pode ser a causa de acelerações ou retardos no de- Vygotsky chamou de zona de desenvolvimento po-
senvolvimento intelectual e que ela própria não engen- tencial e zona de desenvolvimento proximal, uma forma
seria sem apoio na resolução de problemas e a outra
dra estruturas cognitivas, nem modifica as estruturas do
forma, é a forma em que os indivíduos podem resolver
funcionamento nas quais intervém” Dolle (1993),
os problemas com apoio, ou seja, com a modelação de
Tanto Piaget como Vygotsky estavam preocupados
conhecimento e a interação do meio social, os indivíduos
com a questão do desenvolvimento e cada um buscou
podem adquirir conhecimentos que antes não podiam.
formas diferentes e complementares para elaboração
A desequilibração é sempre possível para as construções
das estruturas mentais e formação de esquemas.
anteriores. É necessário errar, para ocorrer o conheci-
Para Piaget o conhecimento é construído, como for-
mento.
ma de constituição individual, enquanto que Vygotsky Não são somente as desequilibrações anteriores que
comentou os fatores sociais, históricos e culturais in- podem ser desenvolvidas, mas as “superiores”, se exis-
fluenciáveis no desenvolvimento. te a pessoa que oferece orientação para o indivíduo, ele
A teoria de Vygotsky trata o indivíduo como um acaba por superar, para poder ir aonde quer chegar. Na
agente e o meio, é externo, com isso, os indivíduos inte- medida em que o indivíduo recebe uma orientação, ele
ragem com o social, com colegas e mediadores. Através começa a formular hipóteses, antes desconhecidas por
disso, as crianças internalizam e constroem o conheci- ele mesmo.
mento, sob influência desse meio e como são passados Os fatores sociais para Vygotsky desempenham um
os conhecimentos. papel fundamental no desenvolvimento intelectual. A
Piaget não desconsiderava que o conhecimento é cultura estabelece um conhecimento que é internalizado
influenciado pelo externo, como muitos pensam, apenas e construído pelas crianças. Piaget reconheceu os fatores
acreditava que a criança adquire esses modelos externos, sociais no desenvolvimento intelectual que provoca desi-
através da cultura, história e modelo social, mas ao mes- quilibração e construção desse conhecimento.
mo tempo tem uma influência constitucional única que a É necessário um modelo para orientar e fazer a crian-
ajuda ou dificulta a construir seu conhecimento. ça pensar sobre como está para desenvolver-se. Nas tro-
cas de valores entre o meio, o indivíduo vai aprendendo
Para Piaget a construção do conhecimento individual a pensar por si mesmo.
é única, a criança tem chance de errar e construir, para Enquanto no referencial construtivista o conheci-
haver desequilíbrio necessário para novas aquisições. mento se dá a partir da ação do sujeito sobre a realidade,
O facilitador deve investigar, reforçando, para que onde o ser é visto como ativo, para Vygotsky o sujeito
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

não ocorra falhas no processo de conhecimento e tam- não é apenas ativo, mas interativo, porque constitui co-
bém pra que não ocorra desgaste demasiado, sem me- nhecimento através de relações intra e interpessoais. É
dição. Quando a criança estiver “congelada” no desen- na troca com outros sujeitos e consigo próprio que há
volvimento, cabe ao facilitador, mostrar o caminho para internalização de conhecimentos, papéis e funções so-
a aprendizagem. Muitas vezes, a criança sozinha “não dá ciais, o que permite a constituição de conhecimentos e
conta” de suas próprias experimentações. da consciência.
Para Vygotsky, a aprendizagem é a força propulsora
do desenvolvimento intelectual, enquanto que para Pia- Enquanto para Piaget a aprendizagem depende do
get, o próprio desenvolvimento é a força propulsora. estágio de desenvolvimento atingido pelo sujeito, para
As duas concepções sobre aprendizagem devem ser Vygotsky, a aprendizagem favorece o desenvolvimento
complementares, não adianta acreditar unicamente na das funções mentais.

104
Os estágios de desenvolvimento são importantes na O documento curricular é apenas uma dessas dimen-
a avaliação profissional, para saber onde o indivíduo se sões, uma “carta de intenções” que, por sua vez, apresen-
encontra para fornecer subsídios para novas aquisições. ta escolhas marcadas por relações de poder e que visam
Os educadores não devem deixar de perceber o sujeito à formação de um determinado sujeito.
em relação ao tempo e a cultura. A criança transforma
aquilo que aprende de acordo com sua capacidade in- Essas dimensões do currículo, que não esgotam
terna, tornando-se transformadora da aprendizagem, todas as possibilidades, são:
criadora, se essa capacidade de aprendizagem e oportu-
nidade lhe for oferecida. Currículo prescrito: é o documento com a proposta
curricular em si. O currículo prescrito tem um significado
prático, uma vez que vai pautar a alocação de recursos e
CURRÍCULO EM AÇÃO: PLANEJAMENTO, a produção de materiais, criar uma base para o trabalho
SELEÇÃO, CONTEXTUALIZAÇÃO E do professor ou educador e, assim, influenciar as demais
ORGANIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS; O dimensões. Ele também tem um significado simbólico,
TRABALHO POR PROJETOS. porque resulta de discussões, embates e interesses di-
versos – e, assim, vai evidenciar aqueles que tiveram mais
força para se expressar na sua formulação;
No cotidiano, se trabalha com várias concepções de
currículo: das puramente técnicas, que consideram cur- Currículo planejado: é a própria produção dos ma-
rículo apenas como um documento que define os con- teriais pedagógicos com base no currículo prescrito e
teúdos a serem ensinados, às que englobam a prática do que também vai atender a outros interesses e interpreta-
professor em contato com o aluno e o conhecimento, ou ções, notadamente mercadológicos e das editoras: livros
mesmo todas as práticas que acontecem na escola. didáticos, guias curriculares etc.;
Currículo deve apresentar quais conhecimentos de-
vem ser ensinados, o que deve ser ensinado e por que Currículo organizado: compreende o conjunto de
ensinar este ou aquele conhecimento, mais do que ensi- escolhas que a escola faz a partir da interpretação do
nados, o que deve ser aprendido e por que aprendê-lo. documento curricular e do currículo planejado. Como di-
Falar de currículo é falar de uma seleção cultural de vidir o tempo? Como utilizar espaços? Como localizar e
conhecimentos, saberes e práticas de ensino-aprendiza- trazer para a escola saberes da comunidade?
gem que, produzidos em contextos históricos determina-
dos, precisam ser ensinados pela escola a fim de garantir Currículo em ação: compreende o que acontece, na
aos educandos o direito aos conhecimentos, produzidos prática, entre o professor e os alunos. É o conjunto de
socialmente, aos quais não teriam acesso por outras vias. escolhas que o professor ou educador faz para desen-
As diferentes teorias do currículo decidem quais co- volver suas práticas de ensino e que está marcado pelas
nhecimentos precisam ser selecionados e buscam justi- dimensões anteriores;
ficar por que “estes” e não “aqueles” devem estar na se-
leção. Para isso, recorrem a discussões sobre a natureza Currículo avaliado: o conjunto dos conhecimentos
humana, a natureza da aprendizagem ou sobre a nature- que se determina que garanta a aprendizagem. Com-
za do próprio conhecimento, da cultura e da sociedade, preende a avaliação realizada pela escola e as avaliações
inclusive diferenciando-se entre si na ênfase que dão a externas. Nesta dimensão, ocorre uma revisão de todo o
esses elementos. processo: verifica-se se o currículo prescrito funcionou.
É importante haver uma distinção entre currículo e Assim, o currículo avaliado tende a influenciar o currículo
pedagogia. O currículo encerra o conhecimento pode- prescrito.
roso, que é aquele que dota o aluno da capacidade de O currículo pode comportar uma dimensão filosófica
compreender o mundo de forma mais plena; já a peda- que reflete sobre o sujeito que se quer formar e sobre
gogia inclui, entre outros aspectos, a didática. qual é o papel da escola para que isso aconteça.
Não cabe, no documento curricular, informar como Na perspectiva da educação integral, busca-se garan-
o professor deve ensinar, pois esse aspecto refere-se ao tir o pleno desenvolvimento de crianças, adolescentes e
âmbito do conhecimento profissional do docente. Ainda jovens e se reconhece que isso só é possível quando se
que, para o professor, não haja essa divisão na prática observam diferentes dimensões: física, afetiva, cognitiva,
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

cotidiana, ela precisa estar clara para quem elabora o do- ética, estética e política, em uma proposta multidimen-
cumento curricular. sional e integrada.
Ora, o fato de existirem diferentes teorias indica que Essa opção pelo pleno desenvolvimento e por uma
há diferentes posições na discussão sobre o currículo, não ampliação de repertórios não é neutra: reconhece crian-
somente conceituais, mas também político-sociais e ideo- ças, adolescentes e jovens como sujeitos de direitos e
lógicas, o que lhe confere um caráter dinâmico e temporá- opta pela cidadania, um conceito que se traduz pelo
rio. O currículo, por definição, nunca será definitivo. Nunca exercício de direitos civis, políticos e sociais, direito à
se chegará a um currículo que seja o ponto final. vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a
O currículo é um processo muito complexo, que en- lei; direito a participar no destino da sociedade; direito
volve múltiplas dimensões e só pode ser compreendido à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, a uma
quando se observa a articulação entre elas. velhice tranquila, entre outros.

105
Para a educação integral, o sujeito precisa ser res- cação, diálogo e troca, além de evitarem hierarquizar as
peitado e considerado em sua integralidade, inserido na áreas do saber e reconhecerem a importância de todas
sociedade sob uma perspectiva cidadã e autônoma, de as ações desenvolvidas com crianças, adolescentes e jo-
exercício de plenos direitos. Uma discussão que antece- vens em seu cotidiano. Na verdade, o ideal é mesmo
de a proposta curricular. Dessa forma, uma primeira rela- trazer essas crianças, adolescentes e jovens, bem como
ção que se estabelece entre educação integral e currículo a comunidade e as famílias, para a discussão sobre o
está no âmbito da questão: que sujeito se quer formar? currículo.
Feita a opção por uma educação integral para for- Ampliação e integração de saberes; território; am-
mar um sujeito de direitos, cidadão e autônomo, cabe pliação e qualificação dos tempos e espaços; e gestão
indagar quais conteúdos, saberes e práticas precisam ser democrática constituem, portanto, aspectos que devem
contemplados em uma proposta curricular que objetiva ser considerados em propostas curriculares na perspec-
o desenvolvimento desse sujeito. tiva da educação integral.
A educação integral seria, em si mesma, um concei- Não existe um consenso sobre o que cabe ou não
to, uma nova abordagem curricular. Essa abordagem cabe no currículo. Para alguns, o currículo é apenas um
sintetiza o que se quer para uma sociedade. Nesse sen- documento, uma listagem. Para outros, em oposição, en-
tido, não cabe falar de currículo na educação integral globa todas as práticas que acontecem, dentro da escola,
ou para a educação integral, mas falar de currículo e ou, se o foco for a educação integral e sua perspectiva de
educação integral. ampliação de espaços, também o que acontece fora da
No currículo considerado sob a perspectiva da edu- escola, em outros espaços educativos.
cação integral, podem caber tanto os conteúdos ex- O currículo responde a uma seleção de conhecimen-
pressos em propostas de currículo prescrito quanto o tos e à tomada de uma postura, que pode ser tanto no
currículo oculto: aquele que está presente no cotidiano sentido de restringir o acesso a esses conhecimentos
escolar sob a forma de aprendizagens não planejadas como, de acordo com o que defende a educação inte-
e que resulta das relações interpessoais desenvolvidas gral, democratizá-los.
na escola, da hierarquização entre administradores, di- Finalmente, há, na discussão sobre o currículo, aquilo
reção, professores e alunos e da forma como os alunos que se ensina que está expresso e aquilo que está oculto,
são levados a se relacionar com o conhecimento. assim como temas que respondem ao mundo contem-
Podem caber ainda as atividades oferecidas, tempo porâneo e que ora entram nas propostas curriculares, ora
e frequência com que são ofertadas, as instituições en- delas são retirados, como as questões de gênero, raça e
volvidas, os espaços utilizados na aprendizagem e os etnia, sexualidade etc.
espaços de discussão e de gestão em uma arquitetura A discussão sobre currículo e educação integral não
contextualizada, singular e pertinente quando as esco- pode ser dissociada das condições objetivas que se en-
lhas curriculares são coerentes com as demandas e ne- contram no território, tampouco daquelas que estão no
cessidades das crianças e dos adolescentes do território interior da unidade escolar.
e não foram determinadas apenas pela disponibilidade Embora, seja necessário observar o potencial edu-
de recursos existentes. cativo do território, por vezes, essas mesmas condições
Podem caber a abertura da escola a novos conheci- também se traduzem em dificuldades e desafios: falta de
mentos e sua integração em uma proposta de democra- acesso a bens culturais, problemas de infraestrutura da
tização dos conhecimentos. escola, formação insuficiente de professores etc. – e, no
Não existe uma fórmula única de ofertar educação contexto político atual, corte de verbas.
integral. Portanto, também não existe uma proposta O currículo é monopólio dos especialistas, e a peda-
curricular integral única, fechada. Assim como o concei- gogia é monopólio dos pedagogos. A alienação começa
to de currículo em si, o currículo na perspectiva da edu- com os professores: se você pergunta para o professor
cação integral é, também, uma proposta em construção. por que ele ensina o que ele ensina, ele não faz a menor
O currículo na perspectiva da educação integral está ideia.
em construção – mas isso não significa ausência de É preciso considerar que a educação integral pode
pressupostos. ser uma oportunidade estratégica para promover a equi-
Na educação integral, os diversos campos de apren- dade no contexto da educação brasileira. A escola, em
dizagem se complementam, uma vez que, na vida co- particular, tem um papel na redução das desigualdades,
tidiana, se mesclam educação intencional e não inten- ainda que não se possa cobrar dela a resolução de todas,
cional. uma vez que já está inserida numa sociedade desigual,
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Para que essa complementação ocorra, é necessá- que em muito extrapola seus muros e seu alcance.
rio tanto ampliar tempos e espaços de aprendizagens Mesmo assim, a instituição escolar pode atuar na re-
quanto integrar os diferentes campos. dução das desigualdades por meio do currículo.
O Guia Politicas de Educação Integral, defende que a Considerar, numa proposta curricular, que os alunos
chamada parte diversificada do currículo, que constitui vêm de contextos muitos diversos rompe ainda com uma
a oferta de conteúdos condizentes com as necessidades noção errônea de meritocracia: a de que, bastando ape-
dos diferentes territórios, se integre às aprendizagens já nas o aluno se esforçar, ele tudo pode.
oferecidas, constituindo um currículo uno e organizado. Uma proposta de currículo e educação integral pode ser
Ora, isso somente é possível em um contexto de pensada para reduzir desigualdades não apenas socioeco-
gestão democrática, porque é necessário que os pro- nômicas, mas também cognitivas, que subsistem entre os
fissionais envolvidos tenham alguma forma de comuni- alunos e refletem o contexto social de onde eles vêm.

106
A Escola em Tempo Integral, acompanhando o Proje- a diversidade em seus aspectos sociais, culturais,
to Político Pedagógico apresentado como marco para a políticos, econômicos, éticos, estéticos, gênero e
Rede Estadual de Ensino, considera o estudante em seus étnico.
aspectos biológico e emocional, o qual passa por trans-
formações que dialogam com seu processo de aprendi- O currículo da Escola em Tempo Integral contempla
zagem, sendo considerado seu ritmo e especificidades os processos que se relacionam ao lugar e ao desen-
no qual o conhecimento e o currículo se integram e volvimento sustentável, valorizando os saberes locais e
constituem estabelecendo uma ampla rede de significa- os novos conhecimentos e, dessa maneira, resgatando
ções, reafirmando a escola como lugar de construções e a importância da escola para a comunidade onde está
ações coletivas, que passa, necessariamente, pela inter- inserida pode contribuir para a superação das desigual-
locução, pela escuta de todos os segmentos da Comu- dades escolares e sociais. Constitui-se favorecendo a es-
nidade Escolar. colarização dos estudantes com deficiências nas turmas
O currículo é interdisciplinar, resgatando o ser em sua comuns e atendendo as diferentes necessidades dos es-
unidade e diversidade, no qual a construção do conhe- tudantes, sem fragmentação e rupturas na construção do
cimento perpassa pelo trabalho coletivo, pela cultura de conhecimento e garantindo a interdisciplinaridade.
paz e pelo reconhecimento e acolhimento das diferen- Para além de considerar a criança e o adolescente em
ças dos estudantes. Explicitado na Proposta Político-Pe- suas especificidades, próprias de sua fase de desenvolvi-
dagógica da escola materializa e revela a sociedade e o mento e das relações que estabelece com o entorno, a
homem social que se busca, bem como o compromisso Escola em Tempo Integral tem como princípio orientador
com a cidadania e com a justiça social. do trabalho pedagógico: a politecnia, a pesquisa, a rela-
ção parte-totalidade, a relação teoria-prática, o reconhe-
As fontes do currículo estruturam-se consideran- cimento dos saberes, a interdisciplinaridade e a avaliação
do as dimensões epistemológica, filosófica, socioan- emancipatória.
tropológica e sociopsicopedagógica. A Politecnia é o conceito estruturante do pensar e
do fazer pedagógico, que busca a formação integral do
• A base epistemológica: refere-se à compreensão do sujeito e materializa-se na indissociabilidade entre a for-
modo de produção do conhecimento, que se dá mação intelectual, física e tecnológica visando superar a
pela relação entre sujeito e objeto em circunstân- fragmentação do conhecimento humano. Desenvolve-se,
cias históricas determinadas; em decorrência desta tendo o trabalho como princípio educativo, uma vez que
relação, o homem é produto das circunstâncias, é o trabalho o substrato pelo qual o ser humano produz
ao mesmo tempo em que as transforma. Não há cultura e transforma a natureza. A noção de politecnia
aprendizagem sem protagonismo do estudante, busca superar a dicotomia entre trabalho manual e tra-
que constrói significados pela ação. balho intelectual, religando os elementos constitutivos do
• A base filosófica: a escola será compreendida e trabalho, os conhecimentos teóricos aos conhecimentos
respeitada em suas especificidades temporais e práticos, desvelando os processos pelos quais a vida ma-
espaciais, ou seja, históricas; o currículo será orga- terial é produzida com vistas à transformação do indivíduo
nizado para atender as características das fases do e a sua emancipação. Prepara o estudante para entender
desenvolvimento humano, os aspectos cognitivos, os fundamentos científicos das diferentes técnicas que se-
afetivos e psicomotores do estudante e o trabalho rão encontradas por ele no seu percurso escolar, aproxi-
pedagógico será flexível para assegurar o sucesso mando os diferentes campos do conhecimento por meio
escolar. da ação-reflexão-ação.
• A base socioantropológica: fundamenta um currícu- O primeiro passo rumo à proposta do currículo inter-
lo que considera os significados socioculturais da disciplinar é a mudança do paradigma de escola e da pos-
cada prática, no conjunto das condições de exis- tura dos professores. A função da escola é de construir,
tência em que ocorrem, que envolvem o estudante pela práxis, uma nova relação humana, revendo critica-
e sua comunidade; esta dimensão fornece os siste- mente o acervo de conhecimentos acumulados e toman-
mas simbólicos que articulam as relações entre o do consciência da participação pessoal na definição de
sujeito que aprende e os objetos de aprendizagem. papéis sociais, quanto a conteúdos, metodologias e ati-
• A base sociopsicopedagógica: firma um currículo vidades. E também no que se refere à maneira de tratar o
que considera a relação entre desenvolvimento e estudante e os componentes que devem ser estimulados,
aprendizagem; promove o desenvolvimento in- tais como: a auto expressão (livre, crítica, criativa e cons-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

telectual na relação com o mundo; compreende ciente); a autovalorização (reconhecimento da própria


a escola como espaço de trabalho cooperativo e dignidade); a corresponsabilidade (iniciativa, participação
coletivo. Essas dimensões têm por base a relação e colaboração); a curiosidade e a autonomia na constru-
da escola, de seus diferentes interlocutores com ção do conhecimento, estabelecendo uma rede de signifi-
o local onde se encontra, assim, a Proposta Peda- cação interdisciplinar. A qualidade da educação necessita
gógica da Escola é construída a partir da pesquisa de um currículo interdisciplinar e é alcançada via gestão
socioantropológica, da articulação com as insti- participativa, trabalho em equipe, parceria e cooperação.
tuições e atores sociais locais que tenham víncu- Todos estes mecanismos visam superar o modelo indivi-
los com as comunidades do entorno da escola e dualista, fragmentado e centralizador de administração e
das discussões feitas nos quatro segmentos que de produção do saber. Uma prática escolar interdiscipli-
compõem a comunidade escolar, para contemplar nar tem algumas características que podem ser aponta-

107
das como fundamentos para a transformação curricular, e estabelecer limites e amplitudes de problemas e busca
que exigem mudança de atitudes, de procedimentos e de de alternativas de solução, bem como da compreensão
posturas por parte dos professores e de todos os sujeitos de fenômenos. Constitui-se como processo e exercício
envolvidos no processo educacional, tais como: de transitar pelos conhecimentos científicos e dados de
• Perceber-se interdisciplinar, sentir-se parte do uni- realidade, viabilizando a construção de novos conheci-
verso e um universo à parte (resgatar sua própria mentos.
inteireza, sua unidade);
• Historicizar e contextualizar os conteúdos (resgatar a Relação teoria-prática: é, genericamente, uma im-
memória dos acontecimentos, interessando-se por posição da vida em sociedade. Não há intervenção hu-
suas origens, causas, consequências e significações; mana na realidade com vistas a transformá-la sem uma
aprender a ler jornais e a discutir as notícias); prévia organização planejada com método e intenciona-
• Valorizar o trabalho em parceria, em equipe interdis- lidade. Isso pressupõe uma íntima aproximação do pen-
ciplinar, integrada (tanto o corpo docente como o samento e da ação, para resultar em transformação. A
discente), estabelecendo pontos de contato entre relação teoria-prática torna-se um processo contínuo de
as diversas áreas do conhecimento, componentes fazer, teorizar e refazer. Por um lado, a teoria constituída
curriculares e as atividades do currículo; por ideias, hipóteses que levam a representações abstra-
• Desenvolver atitude de busca, de pesquisa, de tas, constrói os conceitos que somente serão consubs-
transformação, de construção, de investigação e tanciados na prática. Quando submetida à realidade, a
de descoberta; teoria apartada da prática social vira palavra vazia e sem
• Definir uma base teórica como eixo norteador de significado. Já a prática, se exclusivamente considerada,
todo o trabalho escolar, seja humanista (que tipo se transforma em mera atividade para execução de tare-
de ser humano se quer formar), psicopedagógico fas, reduzida a um fazer repetitivo que pode se traduzir
(que teoria de aprendizagem fundamenta o proje- em automação, ou seja, em ação destituída de reflexão.
to escolar) ou relacional (assim como as relações Em um mundo caracterizado pela dinamicidade, em que
interpessoais, a questão do poder, da autonomia e as condições materiais renovam cotidianamente as rela-
da centralização decisória na escola); ções sociais e produtivas, a prática que não se sustenta
• Dinamizar as coordenações dos diversos coletivos no conhecimento torna-se imobilista e conservadora. O
(trabalho integrado com conteúdos afins), enri- diálogo permanente entre teoria e prática se constitui
quecendo e atualizando planejamentos e plano de como fundamento da transformação da realidade, desde
estudos dos diversos componentes curriculares/ que consciente de sua condição sócio-histórica, e conse-
áreas do conhecimento; quentemente, de suas determinações sociais.
• Resgatar o sentido humano, o mais profundo e
significativo eixo da interdisciplinaridade, pergun- Reconhecimento dos saberes: a concepção pe-
tando-se a todo o momento: o que há de profun- dagógica que orienta a construção curricular, afirma a
damente humano neste novo conteúdo? Em que centralidade das práticas sociais como origem e foco do
este conteúdo contribui para que os estudantes se processo de conhecimento da realidade, o diálogo como
tornem mais humanizados? mediação de saberes e de contradições entende que a
• Trabalhar o conteúdo contextualizado, organizan- transformação da realidade se dá pela ação dos próprios
do-o por meio de conceitos, temas geradores, pe- sujeitos. Em decorrência, assume a complementaridade
dagogia de projetos, unidades de trabalho. Estas entre todas as formas de conhecimento, reconhecendo
possibilidades contribuem para superar a artificia- que o saber popular se constitui no ponto de partida para
lidade da escola, aproximando-a da vida real e es- a produção do conhecimento científico. Embora todas as
timulam a iniciativa, a criatividade, a cooperação e pessoas exerçam atividades intelectuais ao pensar a rea-
a corresponsabilidade; lidade e organizar suas concepções a partir dos determi-
• Desenvolver projetos coletivos na escola, garantin- nantes socioculturais que lhes conferem organicidade, é
do a integração de conteúdos por meio do pla- preciso reconhecer que a compreensão mais complexa
nejamento coletivo tendo as características das fa- da realidade supõe a superação do senso comum me-
ses do desenvolvimento humano, das áreas e dos diante a democratização do acesso ao conhecimento sis-
componentes curriculares como referência. Um tematizado. Assim, o saber popular será também o ponto
projeto surge de uma situação, de uma necessi- de chegada do conhecimento científico. Por outro lado,
dade sentida pela própria escola e consta de um se o conhecimento científico universalmente sistematiza-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

conjunto de atividades planejadas e empreendidas do não conseguir estabelecer o diálogo com indivíduos,
por iniciativa da escola e do seu coletivo em torno grupos e suas realidades, levando-os a superar o senso
de um objetivo comum. comum, dificilmente será reconhecido e, portanto, cor-
re o risco de não constituir significado que motive sua
Relação parte-totalidade: o desafio de compreen- apropriação.
der fatos e realidades amplas e complexas, a partir da A escola é o espaço de promoção do diálogo dos di-
escolha de conteúdos curriculares, demanda uma relação ferentes saberes, reconhecendo seu poder de transfor-
constante entre a parte e a totalidade. A contemporanei- mar a realidade, mas também os seus limites, oriundos
dade exige compreender a realidade e o conhecimento de seu modo de produção, que reflete as desigualdades
no seu movimento constante de ir e vir, da parte para de acesso ao conhecimento e à cultura. Na perspectiva
o todo e do todo para a parte, como um processo de da correção das distorções historicamente dadas e res-

108
ponsáveis pelas dificuldades de acesso e permanência Pareceres Descritivos, os quais são elaborados pelo cole-
na escola, uma prática pedagógica comprometida com tivo de professores que tem interface com o estudante,
o enfrentamento das desigualdades define o caráter po- seu auto avaliação e a auto avaliação do professor.
lítico da educação. Essa atitude significa colocar a práxis O Parecer Descritivo detalha “descritivamente”, os
pedagógica no espaço mais permanente da sociedade: conhecimentos. Deve incorporar as avaliações das Ati-
o espaço das lutas sociais pela emancipação do ser hu- vidades Curriculares Obrigatórias e Eletivas nas áreas do
mano. conhecimento;
• Ao final de cada ano: é elaborado Parecer Descritivo
Avaliação emancipatória: é fundante do processo (Final) o qual indicará de forma global os diferen-
pedagógico desenvolvido na escola. Caracteriza-se por tes elementos do percurso escolar do estudante,
ser processual, diagnóstica, prognóstica, formativa e se detalhando seus avanços e dificuldades a serem
pauta pela premissa de que todos são capazes de apren- trabalhadas na sua construção do conhecimento;
der. A concepção da avaliação emancipatória explicita- • Plano Pedagógico: deve ser elaborado Plano Peda-
da na Escola em Tempo Integral incorpora os preceitos gógico específico para cada estudante que detalhe
contidos na LDB e nas Diretrizes Curriculares Nacionais, o acompanhamento do seu percurso escolar e as
salientando-se a interdisciplinaridade e a ênfase no tra- ações necessárias para que os professores planejem
balho pelas áreas de conhecimento, cujas informações o trabalho pedagógico para a superação das difi-
devem pautar o redimensionamento das ações peda- culdades apresentadas pelo estudante. Constitui-se
gógicas, do coletivo de professores, para avançar no em um conjunto de atividades pedagógicas especí-
processo de construção da aprendizagem. A avaliação ficas, planejadas, executadas e acompanhadas pelos
como processo obriga-nos a observar o estudante em professores, durante o processo de aprendizagem
diferentes situações, que expressam sua construção do tendo por objetivo a superação das dificuldades
conhecimento, considerando não só as suas produções constatadas e registradas no Parecer Descritivo.
em si, mas também as circunstâncias e condições de sua • Conselhos de Classe Participativos são espaços de
elaboração, que podem interferir favorecendo ou dificul- diálogo sistemáticos, bimestrais/ trimestrais, os
tando as aprendizagens. quais têm a finalidade de acompanhar o desenvol-
A investigação contínua sobre os processos da cons- vimento e a aprendizagem individual e coletiva dos
trução da aprendizagem demanda rigor metodológico, educandos. Conta com a participação da equipe di-
por meio de registros significativos que sinalizem as pos- retiva, de professores das áreas do conhecimento e
sibilidades de transformação. Investiga as construções já das Atividades Curriculares Obrigatórias e Eletivas,
realizadas pelos educandos, investindo na autonomia, na de estudantes, de pais e de funcionários. Constitui-
autoria, no protagonismo e na emancipação dos sujei- -se em mais um momento da reflexão de todas as
tos. Ainda, subjacente à concepção de Avaliação Eman- áreas do conhecimento sobre o processo de apren-
cipatória encontra-se o protagonismo do estudante, dizagem das turmas e dos estudantes, com a res-
voltando-se todas as ações da escola para firmar sua au- pectiva ação propositiva para redefinição do traba-
toconfiança e autonomia com participação ativa na vida lho docente junto aos estudantes;
da escola, de sua comunidade, ampliando estas posturas
para o todo social. O Projeto Político Pedagógico da Escola em Tempo In-
Na dinâmica educativa, a Avaliação é diagnóstica, tegral é construído a partir da pesquisa sócio antropológi-
constitui-se em um instrumento de suporte do planeja- ca, da articulação com as instituições e atores sociais locais
mento e da execução das atividades, que envolve pro- que tenham vínculos com as comunidades do entorno da
fessor e educando. É preciso avaliar permanentemente e escola e das discussões feitas nos quatro segmentos que
processualmente. compõe a comunidade escolar, para contemplar a diversi-
A Avaliação é uma atividade que não existe nem so- dade em seus aspectos sociais, culturais, políticos, econô-
brevive por si mesma, devendo estar sempre articulada micos, éticos, estéticos, étnico e de gênero.
com o processo de ensino e o Projeto Político Pedagó-
gico. Assim, a avaliação diagnóstica tem caráter forma- O Projeto Político Pedagógico da Escola em Tempo
tivo, por considerar o processo educativo, com vistas a Integral deve:
reorientá-lo.
Considerando que o estudante é também sujeito • promover a permanência do(a) estudante na escola,
responsável pelo seu ato de aprender, a autoavaliação, criando as condições de melhor aprendizado;
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

associada à avaliação do professor, é uma estratégia fun- • proporcionar aos(às) estudantes ações e exercícios
damental para a consistência do processo avaliativo. O no campo social, cultural, esportivo e tecnológico
sujeito constrói o seu conhecimento, consequentemen- dentro da escola e em ambientes coletivos diver-
te, constrói também sua avaliação e avalia a sua apren- sificados;
dizagem. Dessa forma, o próprio estudante está apto a • favorecer a interdisciplinaridade e a transdisciplina-
dizer sobre o que está ou não aprendendo. O registro do riedade, fazendo com que ocorra a articulação entre
processo de construção do conhecimento de cada es- o núcleo comum curricular e as demais atividades
tudante considera seu estágio de desenvolvimento, suas desenvolvidas na escola;
relações com o grupo onde se encontra, entendendo a • incentivar a participação da comunidade no processo
construção do conhecimento enquanto síntese indivi- educacional, promovendo a construção da cidada-
dual e coletiva, provisória. Neste sentido, é registrada em nia;

109
• adequar as atividades educacionais à realidade local; para que as crianças e jovens reconheçam este lugar como
• proporcionar ao(à) estudante experiência educativa lugar de encontro, para exercer direitos e deveres de ci-
que possibilite o desenvolvimento integral, conside- dadão.
rando os aspectos cognitivos, motor, social, emo- É nesta perspectiva que o Gestor e a Equipe Diretiva,
cional e cultural; juntamente com o Conselho Escolar, abrem espaços para
• conceber a escola enquanto espaço de socialização, uma gestão participativa, que tenha por centralidade a
onde o(a) estudante possa experimentar uma vivên- construção do conhecimento dos estudantes a qual pas-
cia coletiva e formular uma concepção de mundo, sa por fomentar as condições físicas necessárias para este
de sociedade e de cidadania; atendimento, a permanente formação dos professores, o
• possibilitar o acesso à tecnologia da informação e in- cuidado com as relações entre os diferentes segmentos,
cluir a educação alimentar e nutricional no proces- firmando a solidariedade e o compromisso de todos que
so de ensino e aprendizagem. estão envolvidos no processo educacional. Revisitar coti-
dianamente os Princípios e Fundamentos da escola, reor-
A educação inclusiva nas Escolas em Tempo Integral denar os planejamentos, avaliar quais as prioridades os
deve contemplar as características da fase de desenvolvi- pontos de estrangulamento, superar os entraves à apren-
mento das crianças e adolescentes, promovendo e possi- dizagem são algumas das importantes responsabilidades
bilitando seu acesso à aprendizagem e ao convívio com do Gestor e sua Equipe, que se somam para estabelecer as
seus pares. condições coletivas para o atendimento das necessidades
A concepção de formação continuada do coletivo de dos estudantes.
professores e gestores que atuam na Escola em Tempo In- Neste sentido, o Sistema de Avaliação Institucional
tegral considera ações de estudo, reflexão, discussão, aná- é importante instrumento para visualizar cada parte e o
lise do contexto onde se encontra a comunidade escolar, a todo da escola. Importante instrumento para desencadear
compreensão de que cada estudante tem seu próprio rit- o planejamento e as ações para o sucesso do processo de
mo e necessidades quanto à construção da aprendizagem aprendizagem dos(as) estudantes.
e o ensino e a aprendizagem em jornada ampliada na qual O Gestor e a Equipe Pedagógica devem realizar as in-
o trabalho pedagógico nos turnos deve estar integrado. A tervenções necessárias para que a escola desenvolva, de
formação é premissa constante do trabalho do professor fato, uma Proposta Político Pedagógica na qual o currí-
e do gestor. Deve centrar-se na valorização dos saberes e culo ofereça aprendizagens significativas aos estudantes,
da prática docente com permanente reflexão sobre o coti- na qual o currículo assuma papel articulador entre a cul-
diano escolar e sobre as transformações do conhecimen- tura local e a diversidade planetária. Reafirma, assim, a im-
to. Em uma perspectiva emancipatória, deve contemplar, portância da dimensão cultural no processo educacional,
simultaneamente, os aspectos pedagógicos, as diferentes pensando a escola como dinamizadora da cultura, de sua
áreas do conhecimento, a identificação do que motiva e expressão e a elaboração e apropriação dos saberes pe-
interessa ao estudante, as metodologias mais adequadas los(as) estudantes, com diálogo permanente com todos os
para o sucesso escolar e a utilização dos recursos. segmentos da comunidade escolar de forma correspon-
Como o processo de aprendizagem e construção do sável.
conhecimento é mutável, provisório e está em constante O Coordenador Pedagógico é sempre um articulador
aperfeiçoamento, a formação continuada enfatiza-se no do trabalho pedagógico, deve privilegiar o planejamento
estudo das teorias educacionais, das novas metodologias coletivo entre os professores de diversas áreas do conhe-
de ensino e informações atualizadas sobre as áreas do cimento, oportunizando a socialização de experiências, o
enriquecimento das ideias, a criatividade e múltiplos olha-
conhecimento acompanhada da experimentação, sendo
res da/para a realidade.
processo ininterrupto e intencional para o aperfeiçoamen-
Nesta perspectiva o planejamento é ato coletivo, in-
to da prática pedagógica junto aos estudantes.
terativo, com a articulação e o envolvimento de todos os
A Escola em Tempo Integral apresenta espaços/tem-
profissionais por um objetivo comum: as aprendizagens.
po que possibilitam a ressignificação da prática docente,
Os professores realizam planejamento coletivo, dialogan-
a qual permite a produção coletiva de conhecimento, e
do com as diversas áreas do conhecimento, estabelecendo
um ensino voltado para a formação integral do cidadão.
condições para a socialização de experiências, o enrique-
Estabelecer criteriosamente quais as formações a serem
cimento das ideias, análise das dificuldades encontradas
planejadas para o ano letivo implica no conhecimento das pelos estudantes e caminhos para sua superação. O traba-
necessidades dos estudantes, dos temas que devem ser
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

lho coletivo é promotor da socialização dos saberes e das


abordados ou aprofundados pelos professores, de uma condições para o sucesso dos estudantes, estimulando os
postura problematizadora para que a ampliação do tem- professores ao estudo, buscando as estratégias e metodo-
po escolar se constitua de fato como possibilidade de for- logias mais adequadas para o trabalho escolar. Conforme
mação integral dos sujeitos envolvidos nos processos de as características de cada escola, o Coordenador Pedagó-
ensino e de aprendizagem. gico deve estabelecer, junto aos professores da classe co-
A concepção de Escola em Tempo Integral reconhece mum e dos profissionais que atuam nas Salas de Recursos,
o estudante enquanto ser uno, não fragmentado, e enten- a necessária articulação para que os estudantes possam
de que todos os seus aspectos (afetivo, cognitivo, físico, desenvolver suas aprendizagens tendo pleno acolhimento
social dentre outros) devem estar presentes no planeja- na classe comum. Assim (re)afirmar a escola enquanto es-
mento das atividades da escola. O espaço escolar deve ser paço prazeroso de construção do conhecimento espelha a
acolhedor, prazeroso, um permanente convite desafiador responsabilidade com uma educação de qualidade social,

110
voltada para a inclusão que não pode prescindir de instru- • A alfabetização e o letramento;
mentos para análise da realidade, das necessidades dos • O desenvolvimento das diversas formas de expres-
estudantes, dos professores, dos funcionários e da ação são, que incluem o aprendizado global e interdis-
responsável e comprometida dos Gestores, das Equipes ciplinar;
Diretivas, do coletivo de professores, dos estudantes, dos • O espaço de apropriação e produção de conheci-
pais e responsáveis. mento, onde o afeto, cognição e ludicidade cami-
nhem juntos e integrados;
A Escola em Tempo Integral firma: • Mobilidade nas salas de aula e atividades que le-
• Metodologia que considera as diferenças individuais vem os estudantes a explorar mais intensamente
e as características e necessidades de cada fase de as diversas linguagens; da literatura, das artes e a
desenvolvimento do estudante; utilizar materiais que ofereçam condições de ra-
• Matriz curricular flexível, que estabelece interface en- ciocinar e criar manuseando e explorando as suas
tre a Formação Geral e as Atividades Curriculares características e propriedades.
Obrigatórias e Eletivas;
• Duração do tempo escolar de 8 horas diárias, para Na Segunda Infância - dos 9 e 11 anos de idade:
todo o ensino fundamental, acompanhada de ali- • O planejamento pedagógico deve levar em consi-
mentação escolar adequada à ampliação do tem- deração as diferentes áreas do conhecimento na
po do estudante na escola; perspectiva interdisciplinar;
• Organização do espaço, preferencialmente, em sa- • O desenvolvimento das diversas formas de expres-
las ambientes; são inclui o aprendizado global e interdisciplinar
• Participação permanente de professores, estudantes da língua portuguesa, da literatura, da música e
e gestores nas diferentes atividades propostas no das demais artes, da educação física, da matemáti-
Projeto Político Pedagógico; ca, das ciências da natureza, da história e da geo-
• Integração permanente com a cultura e comunida- grafia;
de local; • Na execução do planejamento pedagógico devem
• A construção de espaço/tempo escolar que pos- ser adotadas estratégias de trabalho que favore-
sibilite ao estudante compreender se enquanto çam a constituição de grupos, onde se desenvol-
construtor de sua existência e da sociedade, asse- vam a cooperação, a participação, a formação de
gurando as condições para construção e realização opiniões próprias e a solidariedade;
de seu(s) Projeto(s) de Vida firmando os valores, o
mundo do trabalho, a cidadania; 2 Na Adolescência- entre os 12 e 14 anos de idade:
• Compromisso com a aprendizagem de todos os(as) • O planejamento pedagógico deve considerar as vá-
estudantes e com a redução dos índices de evasão rias formas de expressão que estão associadas ao
e repetência. aprendizado interdisciplinar das áreas do conheci-
mento conforme a Base Nacional Comum;
O planejamento e a organização da Escola em Tempo • Os professores devem elaborar o planejamento pe-
Integral considera as faixas etárias dos estudantes e con- dagógico e adotar estratégias interdisciplinares
templa suas necessidades, numa organização espaço/ para que os estudantes possam construir sistemas
tempo que atenda suas peculiaridades: e teorias, efetuar operações, pensar em termos
abstratos, formular hipóteses e testá-las sistema-
Infância de 6 a 8 anos de idade com o primeiro ticamente;
contato com a escola, o grupo de colegas, os professo- • O atendimento pedagógico se dá por meio de áreas
res onde inicia o processo de ampliação da socialização. do conhecimento e seus componentes curricula-
Neste momento a alfabetização e o letramento exigem res.
prática pedagógica centrada no lúdico;
O Currículo da Escola em Tempo Integral apresenta a
Segunda Infância situada entre os 9 e 11 anos de Formação Geral articulada e integrada às Atividades Cur-
idade ocorre a consolidação das relações estabelecidas riculares Obrigatórias e Eletivas.
na primeira fase e inicia-se a fase das operações concre-
tas, da aquisição intelectual e da introspecção, das dúvi- Formação Geral: Linguagens: Língua Portuguesa;
das, das perguntas e de um certo grau de reflexão; Língua Estrangeira Moderna; Arte; Educação Física;
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Adolescência- entre os 12 e 14 anos de idade fase


conhecida como fase de transição entre adolescência e Ciências Humanas: Geografia; História; Ensino Reli-
jovem, onde seus processos de pensamento asseme- gioso;
lham-se aos dos adultos é a fase da abstração e da cons-
trução de hipóteses. Ciências da Natureza e Matemática.

5. As aprendizagens devem contemplar: Pedagogia de projetos

Na Infância de 6 a 8 anos de idade, nos três primei- Segundo Fêo , antigamente, quando o aluno ia à es-
ros anos do Ensino Fundamental, devem possibilitar ao cola, via um quadro negro e um giz na mão de um pro-
estudante: fessor que a tudo comandava. Hoje, ele vê um quadro

111
branco, um pincel colorido e quase o mesmo professor, é possível viabilizar com intensidade invulgar o uso das
exceto pelo fato dele já não saber tanta coisa. Muitas es- múltiplas inteligências e, por consequência, os alunos,
colas e professores ainda insistem em realizar a prática conhecendo melhor suas aptidões, podem se expres-
de ensino do mesmo jeito que antes, mudou-se a forma, sar através delas. Em resumo, a finalidade dos projetos
mas a essência continua a mesma. é favorecer o ensino para a compreensão e compreen-
O objetivo de antes era transmitir conteúdos e o der é ser capaz de ir além da informação dada, é tam-
objetivo de hoje deveria ser propor tarefas aos alunos bém de acordo com Perkins e Blythe (1994) apud Her-
que os tornem capazes de identificar, avaliar, reconhecer nandez (1998), “ ... a capacidade de investigar um tema
e questionar para que eles possam ser cidadãos deste mediante estratégias como explicar, encontrar evidências
novo mundo, (Perrenoud, 2000). O MEC sinaliza para a e exemplos, generalizar, aplicar, estabelecer analogias,
necessidade de se promover formas de aprendizagem e representar um tema por meio de uma nova forma”.
que desenvolvam no aluno sua criatividade, análise críti- Perrenoud (2003) define a Pedagogia de Projeto como:
ca, atitudes e valores orientados para a cidadania, aten- - Uma empreitada coletiva gerada pelo grupo-classe, na
tas às dimensões éticas e humanísticas e que supere o qual o professor coordena, mas não decide tudo; Uma
conteudismo do ensino reduzido à condição de meros orientação para uma produção concreta (textos, jornais,
instrumentos de transmissão de conhecimento e infor- espetáculos, exposições, maquetes, experiências científi-
mações. Então, faz-se necessário repensar os objetivos cas, festas, passeios, eventos esportivos, concurso, etc.);
da educação de modo a permitir que o aluno compreen- Um conjunto de tarefas nas quais todos os alunos pos-
da o mundo, que dele se aproprie e que o possa trans- sam participar e tenham uma função ativa, a qual pode-
formar. Sugere Castilho (2001) que o método de ensino é rá variar em função de seus recursos e interesses; Um
a variável que mais pesa nos resultados do desempenho aprendizado de saberes e conhecimentos no âmbito da
do aluno. Almeida (1999) argumenta que a forma de con- gestão de projetos (decidir, planejar, coordenar, etc.); Um
ceber a educação envolvendo o aluno, promovendo sua aprendizado identificável e que conste do programa de
autonomia e garantindo uma aprendizagem significativa uma ou mais disciplinas; Uma atividade emblemática e
regular, colocada a serviço do programa.
deveria ser por meio do desenvolvimento de projetos. À
No entanto, o processo de implantação dessa prática
medida que suas competências são desenvolvidas, suas
em estabelecimentos que há muito tempo se limita ao
possibilidades de inclusão na sociedade da informação
ensino tradicional não é uma tarefa fácil. Para sua utiliza-
são ampliadas.
ção, a Pedagogia do Projeto exige o desenvolvimento de
competências do professor e que ele deseje as mudan-
A Pedagogia de projetos
ças, mas isto não basta. De acordo com Piconez (1998) de
nada adiantam modificações no planejamento do pro-
Na visão de Perrenoud (1999) a escola deveria estar fessor se a escola não possuir um projeto político - pe-
se contagiando com a noção de competência utilizada dagógico que esboce o cidadão que se pretende ajudar
no mundo do trabalho e das empresas. É pensamento constituir pela educação escolar.
comum, entre os autores pesquisados, que para isso Contudo, com este trabalho procurou-se esclarecer
ocorrer é necessária a superação da visão fragmentada a prática do projeto e sua contribuição para a constru-
do conhecimento fornecida pela escola através das dis- ção da aprendizagem significativa, alertando para alguns
ciplinas. Fazenda (2001) enfatiza que a escola, na medi- princípios que não devem ser esquecidos como: a au-
da que organiza os currículos em disciplinas tradicionais, tonomia do aluno, a avaliação constante e o necessário
fornece ao aluno apenas um acúmulo de informações treinamento do professor.
que de pouco ou nada valerão na sua vida profissional, Entretanto, destacou-se que o professor não está
principalmente por que o ritmo das mudanças tecnológi- preparado e está pouco à vontade com os jovens e as
cas não tem contrapartida com a velocidade que a escola suas realidades por isso deverá refletir com seus pares
pode se adequar. como promover a melhoria de sua profissão. A prática
Para Almeida, (1999), a utilização do projeto seria uma de projetos pode envolver os alunos em um trabalho
forma de envolver o aluno em interações com recursos de equipe, no qual o aprendizado acontece no fazer, no
tecnológicos e sociais a fim de desenvolver sua autono- pesquisar, no levantar e organizar informações. Nesse
mia e de construir conhecimentos de distintas áreas do modelo, o professor exerce o papel de tutor, de organi-
saber, por meio da busca de informações significativas zador, aquele que reconhece e orienta adequadamente
para a compreensão, apresentação e resolução de uma as competências dos diferentes alunos.
situação-problema.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Nogueira (2001) esclarece que a totalidade das pes- Referências:


quisas a respeito do ensino-aprendizagem está sempre Almeida, M. E. B. de. Projeto: uma nova cultura de
voltada ao aluno como centro do problema de aprendi- aprendizagem. PUC/SP, jul.1999.2f.(apostila mimeo).
zagem, todavia se podem localizar problemas também Antunes, C. Um método para o ensino fundamental: o
no sistema e no professor. Este autor afirma que em suas projeto. 3.ed. Petrópolis: Vozes, 2001. 44p. Castilho, S. As
pesquisas constatou que as práticas nas quais se realizam competências essenciais. Jornal Público, Lisboa, p.3, 20
experenciação, pesquisa de campo, construção de ma- out. 2001.
quetes, representações, dramatizações, etc. provaram ser Fazenda, I. C. A. (Coord.) Práticas interdisciplinares na
eficiente tanto em termos de resultados de aprendizado escola. 8. Ed. São Paulo: Cortez, 2001. 147 p. Hernandez,
como em motivação dos alunos. Assim, também se es- F. Transgressão e mudança na educação: os projetos de
pera do trabalho com projetos. Segundo Antunes (2001) trabalho. Porto Alegre: ArtMed, 1998,

112
150 p. Nogueira, N. R. Pedagogia dos Projetos: uma que o professor tenha mobilidade em suas aulas, pois
jornada interdisciplinar rumo ao desenvolvimento das pode alterar suas práticas pedagógicas em relação à ava-
múltiplas inteligências. São Paulo: Érica, 2001. 220 p. liação e ao ensino, de acordo com as necessidades dos
Perrenoud, P. Construir as competências desde a es- alunos.
cola. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. 90p. A avaliação formativa é uma estratégia pedagógica
________ Pedagogia diferenciada: das intenções à ação. de luta contra fracassos educacionais e diferenças de
Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. 183 p. _________ A aprendizagem. Para isso, é importante o docente, de-
pedagogia do projeto a serviço do desenvolvimento de tectar o caminho já percorrido pelo aluno em relação à
competências. In: 3º SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE aprendizagem e ao gênero e o que ele ainda falta percor-
EDUCAÇÃO. São Paulo: 2003. 40 p. rer, para fazer intervenções didáticas acertadas.
Piconez, S.C.B. A pedagogia de projeto como alterna- Podemos concluir então que a avaliação formativa
tiva para o ensino-aprendizagem na educação de jovens é um excelente instrumento para que tanto os alunos
e adultos. Cadernos Pedagógicos-Reflexões. São Paulo: como os professores, possam superar os obstáculos en-
USP/FE/NEA, n.16, 1998, 12 p. contrados ao longo da trajetória escolar, ou seja, estabe-
lece uma relação de cooperação.
Outro importante tipo de avaliação intitula-se soma-
A AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA OU tiva. No dizer de (2007), esta se refere a um juízo global e
FORMADORA E OS PROCESSOS DE ENSINO de síntese, permitindo decidir a progressão ou retenção
E DE APRENDIZAGEM. do estudante, baseado em resultados globais, possibili-
tando assim constatar a progressão do aluno de acordo
com objetivos definidos.
AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA, FORMATIVA E SOMA- A avaliação somativa, pode ser facilmente utilizada
TIVA: DISCUTINDO CONCEITOS como um instrumento de certificação social na medida
em que permite seriar os alunos de acordo com seu mé-
Alguns estudos como os realizados por Fernan- rito social, constituindo a função social da avaliação.
des (2006), Leite (2009), Mendes (2005), Santos e Varela Acreditamos que a prática de avaliação que predo-
(2007), classificam a avaliação em três tipos: diagnóstica, mina nas instituições escolares é a somativa, na qual o
formativa e somativa. sistema escolar estabelece uma “média” que os alunos
Segundo Santo e Varela (2007) a avaliação diagnóstica devem atingir.
fornece dados que permitem diagnosticar os conteúdos Para Horta Neto (2010), as avaliações somativas não
aprendidos ou não pelos alunos, que se forma-se atra- avaliam os processos utilizados para que a aprendizagem
vés da soldagem, projeção e retrospecção do desenvol- ocorra, apenas analisam os resultados desta. Portanto
vimento dos alunos. Esta avaliação almeja verificar as este tipo de avaliação tem como princípio que todos os
aprendizagens anteriores, para posterior planejamento e estudantes possuem o mesmo nível de aprendizagem,
superação dos obstáculos encontrados. ou seja, todos aprendem o mesmo conteúdo ao mesmo
Segundo Leite (2009), a concepção da avaliação diag- tempo.
nóstica sugere atitudes a favor do aluno, proporcionando De acordo com Tavares (2008), para que se ocorra
momentos de reflexões, o que possibilita a aprendizagem uma aprendizagem significativa, é necessário que o alu-
das crianças. no utilize o conhecimento aprendido em situações con-
De acordo com Santos e Varela (2007) os planos de cretas do seu dia-a-dia.
ação dos professores e alunos são reajustados, a partir da Segundo Mendes (2005) para que a avaliação forma-
avaliação diagnóstica. Esta concepção de avaliação deve tiva possa acontecer é necessário que ela ocorra duran-
realizar-se no início de cada ciclo de estudo, para que te todo o processo ensino-aprendizagem, e não apenas
ocorra uma reflexão constante, crítica e participativa. como uma verificação no final de um conteúdo.
A referida função diagnóstica da avaliação obriga a Para Fernandes (2006), a avaliação formativa se trata
de uma avaliação que tem como objetivo regular e me-
uma tomada de decisão posterior em favor do ensino,
lhorar as aprendizagens. O autor afirma que, a avaliação
estando a serviço de uma pedagogia que visa à trans-
formativa, deve estabelecer um paralelo entre suas fun-
formação social. A avaliação deve estar comprometida,
ções, pois ao mesmo tempo que deve permitir ao pro-
assim com uma proposta histórico-crítica.
fessor informações sobre seus alunos, tais como estágio
Muitas vezes verificamos que a avaliação diagnóstica
de desenvolvimento, capacidades desenvolvidas ou não,
é aplicada apenas no início do ano. Percebemos também
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

também devem indicar caminhos que professor deve se-


que a avaliação diagnóstica não acontece realmente,
guir para alcançar os objetivos. Desta forma os educa-
muitos a utilizam como forma de “conhecer” e “repensar” dores e alunos precisam compartilhar as experiências e
o trabalho desenvolvido na escola. ideias para que o objetivo seja realmente concretizado,
Outro tipo de avaliação é a formativa. De acordo com ou seja, deve ocorrer a aprendizagem dos alunos.
Fernandes (2006), este tipo de avaliação deve realizar-se A partir dessas discussões sobre os diferentes tipos de
ao término de um tópico do currículo proposto, antece- avaliação, podemos afirmar que também encontramos
dendo a avaliação somativa. diversos instrumentos que, ser utilizados para avaliar os
De acordo com Gonçalves (2010) a avaliação forma- alunos, entre eles podemos citar o portfólio, conselho de
tiva tem como princípio contemplar a diversidade dos classe, trabalhos, autoavaliação, provas entre outros. Po-
estudantes. Ela admite que os recursos da aprendizagem rém percebemos que o instrumento mais utilizado ainda
tenham extensão, diversificação e pluralização. Permite são as provas com suas tradicionais rotinas e calendários.

113
No dizer de Mendes (2005), os alunos podem ser ava- No dizer de Leite (2009), da mesma maneira que a
liados em diversos momentos na sala de aula, entre eles, avaliação é utilizada na escola como um instrumento de
na solicitação deste para resolver uma questão; correção poder, ameaça e controle, o aluno cria táticas para sua
de exercícios; dúvidas que surgiram em atividades reali- sobrevivência. Ou seja, o aluno quer a nota independente
zadas em ambientes diferentes da sala de aula; desenvol- da maneira que utiliza para conseguir, estando correta
vimento de experiências; organização e apresentação de ou não, sendo que na maioria das vezes o “instrumen-
trabalhos; comportamento; e por fim com aplicação de to” utilizado é a cola, ou então a memorização mecânica
provas com questões discursivas ou objetivas. sem aprendizagem. Por tanto pode-se concluir que nota
Segundo Leal (2006), a variação dos instrumentos ava- não significa aprendizagem, o estudante deduz o jogo da
liativos permite que se obtenham informações importantes escola e se adapta através de várias atitudes, sendo elas
sobre a prática do professor e também os níveis de apren- positivas ou não.
dizagem dos alunos, além de permitir que se faça uma re- Um instrumento que tem sido bastante discutido no
flexão sobre o processo de ensino e aprendizagem. meio educacional são os portfólios. De acordo com Boas
Ainda segundo Leal (2006), podemos avaliar de diver- (2005), por meio do portfólio todas as atividades que fo-
sas formas, porém todos os instrumentos devem diag- ram realizadas em um determinado período de tempo,
nosticar e também contribuir para que o educador reveja são avaliadas tanto pelo professor como pelo aluno. Suas
suas práticas. Para que o professor consiga diagnosticar características não são classificatórias nem punitivas. Po-
se os alunos realmente aprenderam de forma significati- demos ao final do trabalho fazer uma comparação das
va determinados conteúdos, pode-se utilizar produções atividades iniciais e finais, para acompanhar a progressão
diárias dos estudantes sejam elas escritas ou orais como, ou dificuldades dos alunos.
textos que escrevem, comentários e participação durante Segundo Silva (2009), o portfólio permite que os pro-
as aulas, ou então instrumentos específicos entre eles, fessores e alunos possam avaliar, autoavaliar, ler e reler
tarefas, provas, trabalhos, que fornecem resultados mais todo o seu aprendizado sobre determinado conteúdo.
concretos sobre os conhecimentos aprendidos. Diante disto o professor poderia relembrar ou reforçar
Sabemos que muitos professores ainda encontram-se alguns conteúdos com os alunos para aumentar o desen-
resistentes a aplicar outros tipos de instrumentos para volvimento dos estudantes.
avaliar a aprendizagem dos alunos. Muitos profissionais Para Leal (2006), os portfólios permitem que outras
ainda consideram que a prova é o melhor instrumento. pessoas inseridas no contexto escolar como, pais, alu-
De acordo Leal (2006), para que o educador alcance nos, outros professores, diretores e supervisores, avaliem
cada vez mais conquistas é necessário repensar se os ins- o processo de ensino-aprendizagem. Ou seja, este ins-
trumentos utilizados estão corretos, se as decisões toma- trumento não é utilizado em uma escola com a prática
das tanto no planejamento quanto em relação as ações tradicional, onde o objetivo da avaliação é única e ex-
tomadas em sala estão adequadas. É importante também clusivamente classificar e selecionar os alunos entre os
que o professor sempre se autoavalie e repense em suas “bons” e os “ruins”, pois neste caso apenas o professor
estratégias e recursos utilizados.
avalia e é tido como o “dono da razão”.
Vasconcellos (2000) destaca que as provas da forma
Leal (2006) afirma ainda que de nada adianta sele-
como são muitas vezes aplicadas prejudicam o processo
cionar, ordenar e colocar em uma pasta confirmações
de aprendizagem, pois colocam a nota como principal
do processo ensino-aprendizagem, mas é necessário a
objetivo de todo processo, funcionando como um instru-
partir da análise organizar momentos de reflexão sobre o
mento classificatório.
que realmente se aprendeu e quais foram as dúvidas que
Vale destacar que para Vasconcellos (2000), quando
a apreensão com a avaliação durante as aulas torna-se surgiram, além de refletir as estratégias que precisam de
maior que o interesse pela aprendizagem, os alunos co- alteração e as que devem permanecer.
meçam a sofrer pressões que desencadeiam distúrbios Outra função do portfólio, segundo Mendes (2005)
como: mal-estar, medo, angústia, perda do sono, ver- é proporcionar ao aluno um registro de seus conheci-
gonha, enjoo, ansiedade, diurese, nervoso, o famoso mentos durante o semestre, mostrando todo seu desen-
“branco”, esquecimento, decepção com sua nota, criação volvimento, além de permitir que este reflita sobre suas
de imagem negativa de si mesmo. Para o autor muitas práticas e acompanhe toda sua evolução ao longo do
escolas afirmam que, todo este clima é necessário para processo ensino-aprendizagem.
que os alunos se preparem para o vestibular, por tanto Outro instrumento avaliativo é o conselho de classe.
eles devem habituarem-se as tensões, “frios na barriga”, De acordo com Mendes (2005), este tipo de avaliação
esquecendo-se que a melhor preparação para o vesti- ocorre de forma coletiva, onde professores e alunos dis-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

bular que a escola poderia oferecer seria uma excelente cutem as dificuldades que foram percebidas no processo
aprendizagem dos conteúdos ao estudante, de forma ensino-aprendizagem, e em seguida sugerem alterna-
qualitativa e não quantitativa. tivas para tentar solucioná-las. Ressalta que o conselho
Diante desta situação, pode-se dizer que esses “ri- deve reunir-se não apenas no final do semestre, mas ao
tuais” do dia de prova, muitas vezes conduz os alunos a longo do desenvolvimento de todo o semestre.
colarem por não terem confiança em si mesmo, pois sua Concluímos que este instrumento é de grande impor-
única preocupação é atingir a média ou tirar uma boa tância, pois permite também que os professores compar-
nota. Percebe-se então que a escola deve estar atenta e tilhem experiências como, por exemplo, dificuldades en-
tentar acabar com este “instrumento maléfico” que po- frentadas com alguns alunos, com determinadas classes
dem impedir que o processo ensino aprendizagem seja entre outros problemas. Desta forma as conversas seriam
concretizado. construtivas e positivas.

114
Para Mendes (2005) a aplicação deste instrumento pe- b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos
los professores deve permitir que o professor discuta sua com atraso escolar;
prática na preparação das aulas e seu desenvolvimento, c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries
relação professor-aluno, elaboração das avaliações. mediante verificação do aprendizado.
No dizer de Vasconcellos (2000), os conselhos de clas-
se não deveriam ocorrer apenas no final do ano quando A avaliação é uma questão política inserida no pro-
já não se pode tomar muitas atitudes com os alunos, mas cesso educacional e neste percurso também está o pla-
sim de uma forma contínua; é necessário a participação nejar, ensinar e aprender, intimamente ligados ao pro-
de vários membros da comunidade como professores, cesso avaliativo que devem ser considerados, levando
auxiliares da escola, direção, pais, alunos ou ao menos em conta os estudantes que se deseja formar.
os representantes de cada sala para que assim diferentes A escola, por si só, não é capaz de superar práticas
opiniões sejam expressas e o enfoque principal deve ser que advêm de um projeto hegemônico de estado. Certas
o processo ensino aprendizagem. práticas alfabetizadoras permanecem ainda arraigadas
A aplicação de trabalhos também pode ser com- em práticas tradicionais do ensino, que, por vezes são
preendida como um instrumento avaliativo, porém estes expressas nos processos avaliativos. A avaliação no pro-
na maioria das vezes não produzem resultados positivos, cesso da alfabetização chama a atenção para a necessi-
pois o seu único objetivo para muitos professores é a dade de articular teoria à prática, superando estratégias
nota. De acordo com Vasconcellos (2000), o professor em que o professor é o centro do processo educativo;
aplica um trabalho extra quando a maioria dos alunos analisando o quanto estamos, por vezes, presos às práti-
não atingiram as notas esperadas na avaliação. No en- cas demasiadamente verbais
tanto esta não deveria ser atitude do professor, mas sim A educação não é teórica, porque lhe falta esse gosto
refletir qual é o problema, se a avaliação não foi bem da comprovação, da invenção e da pesquisa. Não comu-
elaborada ou se os alunos não aprenderam determinado nica, seria uma educação desvinculada da vida e cen-
conteúdo e precisam passar por uma recuperação. trada na palavra. Nada ou quase nada existe em nossa
Outro instrumento avaliativo é a autoavaliação que educação que desenvolva em nosso estudante o gosto
não ocorre com grande frequência nas escolas, na maio- da pesquisa, da constatação, da revisão dos “achados”.
ria das vezes pelo fato dos professores não “acreditarem” Os conceitos apropriados por meio da leitura e da
na veracidade das palavras dos alunos. Segundo Vascon- escrita geram formas de analisar o mundo, criando pers-
cellos (2000) esta prática não deve produzir nota, pois pectivas de ações. De tal forma, tomando como ponto de
caso contrário acaba com seu caráter formativo, pois so- partida a oralidade, pois da competência e do traquejo
frerá alteração com a correção do professor. com a língua falada é que resultará maior desenvoltura e
No dizer de Mendes (2005), a autoavaliação tem intimidade com a escrita. A criança que fala pouco apre-
como objetivo desenvolver intelectualmente nos alunos senta mais dificuldades em organizar seus pensamentos
através da autocrítica e corresponsabilidade, além de e, para aprender a ler e a escrever, é necessário o uso
promover o amadurecimento e socialização destes. Ne- da palavra enquanto ação. Portanto, na busca da ava-
cessita de ser aplicada por meio de roteiros que avaliem liação formativa, diagnóstica e processual, destacamos o
diferentes aspectos.
valor do planejamento, como alicerce para esta constru-
Em linhas gerais percebemos que muitos professores
ção. Urge um planejamento que valorize a oralidade das
não se preocupam com o que fazer perante os resultados
crianças e que leve em consideração que também é pre-
das avaliações, com o intuito de garantir a aprendizagem
ciso ler para aprender, pois a leitura promove o enrique-
dos alunos, mas preocupam-se apenas em entregar as
cimento dos estudantes nas mais diferentes dimensões.
notas para a secretaria, estudantes e pais.
A compreensão do valor da oralidade e a sua incor-
Concordamos assim com Mendes (2005) quando
poração à leitura e à escrita, sem investir mais em um
afirma que, alguns professores podem até modificar os
instrumentos para avaliação, porém a atitude diante dos destes elementos em detrimento do outro, certamente
resultados obtidos sempre são as mesmas. Os professo- permitirão aprimorar a prática alfabetizadora e avaliativa,
res cumprem o conteúdo proposto, em seguida aplicam de tal forma que se estabeleçam relações mais consisten-
seminários, trabalhos, pesquisas e exercícios, mas não tes com as teorias que norteiam o processo do ensino da
diversificam suas atitudes diante dos resultados, apenas língua escrita
corrigem as atividades e entregam as notas. Esse é nosso No Brasil, desde a implantação da última lei de dire-
desafio. trizes e bases da educação nacional, foram promovidas
políticas para avaliação dos sistemas de ensino, entre
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

AVALIAÇÃO NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E elas destacam-se políticas avaliativas como Prova Bra-
LETRAMENTO sil, Provinha Brasil, Avaliação Nacional da Alfabetização
(ANA), entre outras. Para
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº O INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
9394 de 1996, descreve no artigo 23, inciso V: a verifica- Educacionais Anísio Teixeira), autarquia vinculada ao Mi-
ção do rendimento escolar observará os seguintes crité- nistério da Educação, realizou uma avaliação específica
rios: no terceiro ano do ensino fundamental. Essa avaliação
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho denomina-se ANA (Avaliação Nacional de Alfabetização)
do aluno, com prevalência dos aspectos qualitati- e tem como objetivo levantar os níveis de alfabetização
vos sobre os quantitativos e dos resultados ao lon- e letramento, tanto na língua portuguesa, como na ma-
go do período sobre os de eventuais provas finais; temática. Para tanto, o Instituto lança mão de provas que

115
denomina como testes cognitivos. Além dos testes, o encontra nos periódicos científicos de maior circulação
INEP aplica questionários, que tem como objetivo a aná- internacional. A referência usual no Brasil são os PCNs2 -
lise do contexto em que a escola trabalha. Parâmetros e Referenciais Curriculares Nacionais. Na ver-
Os testes são pautados em uma escala de proficiên- dade, os PCNs evitam definir alfabetização, mas quando
cia, que, segundo o INEP (2014), “é a capacidade para o tentam fazer, confundem leitura com compreensão, es-
realizar algo, dominar certo assunto e ter aptidão em de- crita com produção de textos. Em consequência, os tes-
terminada área do conhecimento”. Aos municípios é apre- tes baseados nessa concepção refletem esse erro concei-
sentada uma escala de proficiência composta por cinco ní- tual e consequentemente não medem nem leitura nem
veis progressivos. Vale ressaltar que quando um percentual compreensão.
de estudantes está “posicionado em determinado nível de Trata-se de um problema elementar de lógica: um
escala, pressupõe que, além de terem desenvolvido as habi- aluno que não sabe ler pode não responder a uma
lidades referentes a este nível, provavelmente também de- pergunta de compreensão porque não sabe ler, e não
senvolveram as habilidades referentes aos níveis anteriores”. porque não a compreenda. Da mesma forma, um aluno
O professor, articulador da alfabetização, na perspec- pode não produzir um texto simplesmente porque não
tiva do letramento, é aquele que constrói sua prática pe- consegue escrever as palavras de forma legível ou orto-
dagógica na relação dialética entre conhecimento e ação, gráfica, e não porque não possua as competências inte-
entre o saber fazer e o saber sobre o fazer, com o obje- lectuais para produzir um texto.
tivo de conseguir um fim, buscando uma transformação Avaliar compreensão e produção de texto sem saber
cuja capacidade de mudar o mundo reside na possibili- se o aluno domina as competências que lhes precedem
dade de transformar os outros. resulta em testes que nem medem se o aluno está alfa-
A construção da língua escrita exige do professor cla- betizado nem se é capaz de compreender ou produzir
reza quanto aos métodos de ensino, assim como a aná- textos. Obviamente essa afirmação decorre da definição
lise do ponto de partida e de onde se pretende chegar. de alfabetização corrente na literatura científica – e não
Imprescindível é ter-se presente a constante e funda- da definição de alfabetização baseada nos ambíguos
mental avaliação da evolução das crianças na aquisição conceitos de alfabetização apresentados nos PCNs.
do sistema da escrita. Para tanto, pesquisas, preparo, es- Ler significa, basicamente, a capacidade de identificar
tudos são fundamentais. automaticamente as palavras. Escrever consiste em trans-
Não devemos perder de vista que o processo é, sim, crever os sons da fala. Ambos envolvem a capacidade de
mais importante que o produto. É necessário que os do- decodificar fonemas em grafemas e vice-versa. Dado que
centes estajam cada vez mais preparados e subsidiados o objetivo de ler é compreender, e o objetivo de escrever
teoricamente quanto às suas ações. Ainda, construirão, é comunicar, aprender a ler e escrever envolvem três ní-
efetivamente uma concepção de alfabetização, e, mu- veis de competência: Ensinar essas competências em ní-
nidos de planejamentos rigorosos, acreditarão que não veis progressivamente mais elaborados constitui o cerne
há nenhuma dúvida sobre a natureza, quase perfeita, do do programa de ensino e do “processo” de alfabetização
sistema de aprendizagem infantil, pois a criança pode ser de praticamente todos os países do mundo que possuem
considerada um ser nascido para a aprendizagem. um sistema alfabético de escrita. O processo de alfabeti-
A magia do avaliar está na descoberta da complexi- zação, como definido ao final do parágrafo anterior, não
dade do ato de aprender. Portanto, avaliar é um aprendi- se confunde com letramento, educação permanente ou
zado, e, assim como a alfabetização, exige o olhar curioso outros objetivos meritórios da educação: ele tem princí-
e constante do professor. Esse olhar sobre a avaliação pio, meio e fim, e seu fim ocorre quando o aluno adquire
deve fortalecer a percepção que a escola é uma orga- o nível de fluência necessário para ter um mínimo de
nização de ensino, que contribui para a formação da autonomia na leitura e escrita.
cidadania, trazendo para dentro de si a vida, saberes e O ensino antecede, acompanha e sucede o processo
fazeres, como oportunizando aos estudantes experiên- de alfabetização, mas é independente delas. As pessoas
cias significativas. Também nos alerta para o fato de que compreendem antes de saber ler e são capazes de con-
a avaliação da aprendizagem não é um ato pedagógico tar histórias, fazer descrições ou relatar notícias antes
isolado, mas sim, integrado a todas as outras atividades de saber escrever. Tanto do ponto de vista conceitual
da escola. quanto metodológico são independentes do processo
O Brasil não possui testes padronizados para avaliar a da alfabetização. Embora sejam ensinadas durante a al-
alfabetização. Isso se aplica tanto às etapas mais básicas fabetização (e em pré-escolas, onde existem), elas não
quanto mais avançadas da aquisição da leitura e escrita. se constituem no objeto próprio da alfabetização, e sim,
Diversas Secretarias Municipais de Educação utilizam tes- no seu objetivo de longo prazo.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

tes para avaliar competências de alfabetização em suas A confusão entre o objetivo e o processo de alfabe-
redes de ensino. tização precisa ser superada para que o conceito possa
Geralmente os testes não respeitam os princípios emergir.
psicométricos mais elementares, portanto geram pouco O grau de correção ortográfica deve ser graduado
conhecimento útil ou generalizável. A elaboração de um ao longo dos primeiros anos da escolaridade. Na lín-
teste adequado depende da definição de alfabetização. gua portuguesa a maioria das convenções ortográficas
Diferentes definições levam a diferentes indicadores, di- são muito regulares e podem ser aprendidas ao final do
ferentes matrizes e, consequentemente, diferentes itens. processo de alfabetização.
O primeiro problema a ser abordado, portanto, é o Da mesma forma a fluência na escrita e leitura de-
da definição do que seja alfabetizar. As definições de al- vem ser graduadas ao longo do ensino fundamental.
fabetização mais correntes no Brasil diferem do que se No caso da leitura, é necessária uma fluência mínima de

116
60 a 80 palavras para que haja compreensão. No caso Definida a alfabetização e as competências que a pos-
da escrita, a fluência mínima para o aluno enfrentar os sibilitam, cabe identificar os instrumentos mais adequa-
desafios da 2a. série é próxima ao ritmo da fala pausada dos para avaliar se o aluno está alfabetizado. Nas escolas
do professor que dita, por exemplo, uma tarefa de casa. tradicionais a avaliação se dá quando o diretor toma a
Ou ao tempo considerado razoável para copiar um tex- leitura dos alunos para verificar se estão alfabetizados.
to ou tarefa. O ditado continua sendo um instrumento prático efi-
O aluno que não possui essa fluência na 2a. série caz para verificar a capacidade de transcrição escrita do
pode ser considerado um analfabeto funcional, pois seu código alfabético. Professores da série seguinte à alfa-
nível de alfabetização não lhe permite funcionar ade- betização são os melhores juízes para avaliar se o aluno
quadamente nesse série. Testes adequados de alfabeti- está ou não alfabetizado: o aluno que não lê o texto do
zação devem levar em conta a mensuração da fluência livro, não copia o que precisa copiar no tempo adequado
de leitura e escrita de textos, e não apenas de palavras. e se não toma notas de forma defina, não tem funciona-
Definida a natureza da alfabetização, cabe especifi- lidade. Portanto, é um analfabeto funcional escolarizado.
car as competências que permitem ao aluno tornar-se Embora não sejam tecnicamente robustas, essas prá-
alfabetizado. ticas contém os elementos essenciais de uma boa avalia-
Os avanços da Psicologia Cognitiva da Leitura vêm ção das competências centrais da avaliação.
permitindo um mapeamento bastante detalhado das
competências que precedem, acompanham e se tornam 4. Para avaliar a fluência de leitura, instrumentos
possíveis com a alfabetização. mais robustos e sofisticados devem incluir:
• um texto que o aluno não tenha lido, de estrutura
1. Competências que viabilizam, e portanto ante- morfo-sintática compatível com a idade e nível de
cedem a alfabetização: desenvolvimento do aluno;
• uma leitura cronometrada;
- a capacidade de lidar com livros e textos impres- • contagem de erros (gaguejar, parar, silabar, deco-
sos; dificar).
- a consciência fonológica, isto é a capacidade de
discriminar sons; 5. Para avaliar a capacidade de escrita o ditado é
- a familiaridade com a metalinguagem da aprendi- um instrumento que apresenta um elevado grau de
zagem e da escola, incluindo capacidades relati- validade de face, e normalmente é avaliado levando
vas ao entendimento de comandos e instruções em conta:
usuais no ambiente escolar. • a fluência, ou seja, o tempo necessário para escrever;
• a legibilidade;
2. Competências centrais ao processo de alfabe- • o nível de correção ortográfica;
tização: • o atendimento a regras básicas de pontuação e uso
de maiúsculas;
2.1. Na leitura - a consciência fonológica - a ideia • a disposição da escrita no papel de acordo com a
de que diferentes letras produzem diferentes natureza da mensagem.
sons;
- o princípio alfabético - a ideia de que há uma rela- Um aluno pode ser considerado alfabetizado quando
ção entre a presença e posição de um grafema e o domina essas competências. Nas séries seguintes a ênfase
som que ela tem na palavra; do ensino da língua passa para outros aspectos, tais como
- a decodificação – a capacidade de pronunciar o som o desenvolvimento do léxico, a correção ortográfica, o do-
de uma palavra escrita ou transformar em escrita mínio da sintaxe e a compreensão e produção de textos.
uma palavra ouvida; Nada impede que essas habilidades sejam ensinadas e
avaliadas antes e durante o processo de alfabetização. No
- a fluência – que inclui a correção e ritmo de leitura
entanto são necessários cuidados especiais para que essas
de textos.
competências sejam avaliadas de forma independente da
avaliação das competências específicas da alfabetização.
3. Na escrita - capacidade de escrever de forma
Os termos transparente e opaco são usados na litera-
legível e com fluência (caligrafia);
tura especializada para indicar o grau de maior ou menor
proximidade entre os sons da fala e sua representação
- capacidade de escrever de forma ortográfica;
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

gráfica. Essa propriedade da língua faz com que a alfabe-


- capacidade de escrever frases sintática e semantica- tização se realize em 1 ano em países como a Finlândia
mente corretas. ou Itália, mas leve cerca de dois anos em países francó-
fonos e cerca de 3 nos países de língua inglesa. Trata se
Competências que precedem, acompanham e suce- de mais uma evidência de que alfabetizar, no seu sentido
dem o processo de alfabetização – mas são Avaliação em próprio, nada tem a ver com compreensão de textos.
Alfabetização. Esse mero fato demonstra que o proces- O Programa Alfa e Beto de Alfabetização, utiliza ins-
so de alfabetizar é independente do processo de com- trumentos dessa natureza para acompanhar o aluno ao
preensão. E, naturalmente, são essas as competências longo e avaliá-lo ao término do processo de alfabetiza-
que constituem a matriz de referência para o desenvolvi- ção. Um aluno alfabetizado deve ser capaz de ler pelo
mento de instrumentos de avaliação. menos 60 a 80 palavras por minuto, com um máximo de
5% de erros, compreendendo o que leu de primeira vez.

117
O aluno, mesmo depois de ser considerado alfabetiza- usar testes com textos complexos e exigir produção de
do, ainda precisa e pode desenvolver fluência de leitura e textos também complexos não permite saber nem se a
escrita. Também precisará desenvolver sua capacidade or- criança está alfabetizada nem se consegue compreender
tográfica, que são competências próprias da alfabetização. ou produzir textos.
Mas já alcançou um nível básico que lhe permite funcionar A qualidade de um teste depende, entre outros fatores, da
numa segunda série, ou seja, usar a leitura e escrita para consistência entre a definição, os indicadores, os instrumentos
aprender, ao invés de aprender a ler e escrever. e os itens utilizados, e sua pertinência à clientela avaliada.
O processo da alfabetização, como tal tem princípio, As concepções equivocadas de alfabetização preva-
meio e fim: não é um processo permanente. E, portanto, lentes no Brasil impossibilitam não apenas a alfabetiza-
pode ser avaliado de forma precisa. Já a compreensão e a ção adequada das crianças, mas a elaboração de testes
capacidade de produção de texto são competências que adequados de alfabetização.
nem começam nem terminam na escola.
Antes da escola e ao longo da vida aumentamos
nossa capacidade de compreender e escrever em fun-
ção do desenvolvimento de nossa capacidade mental e EXERCÍCIO COMENTADO
dos conhecimentos que adquirimos sobre os vários as-
suntos sobre os quais lemos ou escrevemos. A criança 1. Universidade Federal de Goiás – GO – Técnico em
compreende textos bastante complexos antes de ser al- Assunto Educacionais – Superior – UFG (Centro de Se-
fabetizada, e também é capaz de produzir textos orais. leção – Universidade Federal de Goiás) 2018
Mas a mesma criança recém-alfabetizada carece de com- Leia o texto.
petências que lhe permitam compreender esses mesmos
textos se ela própria tiver de lê-los. Os critérios de avaliação do saber dos meninos e meni-
A razão é que ela não possui a fluência adequada: ela nas que a escola usa, intelectualistas, formais, livrescos,
tem uma dificuldade de leitura que, por sua vez, impede necessariamente ajudam as crianças das classes sociais
a compreensão. Mas isso não significa que essa criança chamadas favorecidas, enquanto desajudam os meninos
tenha uma dificuldade de compreensão. Daí a necessida- e meninas populares. E na avaliação do saber das crian-
de de cuidados e técnicas próprias que permitam avaliar ças, quer quando recém chegam a escola, quer durante
a capacidade de leitura e escrita de forma independente o tempo em que nela estão, a escola, de modo geral,
da mensuração das capacidades de compreensão e pro- não considera o saber de experiência feito que as crian-
dução de textos, no caso de alunos recém-alfabetizados. ças trazem consigo. Mais uma vez, a desvantagem é das
De outra forma a medida fica contaminada, e ficamos crianças populares.
sem saber se o aluno não compreendeu porque não sabe FREIRE, P. A educação na cidade, 7, Ed, São Paulo: Cor-
ler ou porque apenas não soube compreender. Os testes tez, 2006
mencionados no primeiro parágrafo deste artigo come-
tem essa confusão. O mesmo ocorre na escrita. O aluno Nessa reflexão sobre a avaliação escolar, Freire deixa im-
pode ser capaz de pensar e ditar um texto razoavelmen- plícita em sua análise
te estruturado e elaborado. Mas se não souber escrever
com legibilidade e fluência, pode não produzir um texto, a) a compreensão de que as crianças que carecem de
muito menos dentro de um tempo funcionalmente ade- contato com o mundo letrado têm uma natureza dife-
quado. Portanto, se o avaliador não se assegurar, de for- rente das demais.
ma independente, que o aluno possui competências de b) a ideia de que o saber de experiência feito das crianças é mais
caligrafia e ortografia, não tem como avaliar se o aluno importante, por exemplo, que a competência linguística.
deixou de produzir um texto porque não possui as com- c) o entendimento de que a avaliação escolar deve justa-
petências de produção de texto, embora saiba escrever mente apontar as lacunas de conhecimento das crianças.
no sentido próprio da palavra, ou porque não possui as d) a defesa pela democratização dos critérios de avalia-
competências básicas da escrita. ção do saber que a escola deveria implementar.
Nesse caso o teste foi inútil, pois não avaliou nem
uma coisa nem outra. Resposta: Letra D. A escola, por si só, não é capaz
É provável que se fossem submetidos a um teste oral, de superar práticas que advêm de um projeto hege-
esses alunos tivessem um resultado muito melhor em mônico de estado. Certas práticas alfabetizadoras per-
compreensão. Eles não compreendem porque não sa- manecem ainda arraigadas em práticas tradicionais do
bem ler, não porque não sabem compreender. ensino, que, por vezes são expressas nos processos ava-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Diante de um texto, ou de um teste, seu esforço cog- liativos. A avaliação no processo da alfabetização chama
nitivo concentra-se no nível mais elementar porque não a atenção para a necessidade de articular teoria à prática,
foram devidamente alfabetizados, e não aprenderam superando estratégias em que o professor é o centro do
a identificar automaticamente palavras nem a ler com processo educativo; analisando o quanto estamos, por
fluência. Cabe deixar claro que um aluno devidamente vezes, presos às práticas demasiadamente verbais.
alfabetizado, ainda que com fluência limitada de leitura e
escrita, deve ser capaz de compreender textos simples e
compatíveis com seu nível de leitura. Referência:
Bem como deve ser capaz de redigir frases com uma FUZARO, K.; SILVA, F. D. A. Algumas reflexões sobre
estrutura sintática simples. Esta não é a questão em pau- tipos de avaliação e instrumentos avaliativos. Revista Par-
ta. A questão é que quando a criança não adquiriu a base, tes, 2013.

118
sionais da educação não sabiam como resolver, lidar com
A MEDIAÇÃO DO PROFESSOR, DIALOGAL determinados problemas enfrentados na prática pedagó-
E PROBLEMATIZADORA, NO PROCESSO gica.
DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO E é percebível que muitos tem procurado por em prá-
DO ALUNO; A INERENTE FORMAÇÃO tica teorias e tem obtido resultado satisfatórios pois sa-
CONTINUADA DO EDUCADOR. bemos que por trás de cada professor, em qualquer sala
do mundo, estão séculos de reflexões sobre o ofício de
educar e o trabalho desses profissionais vem sendo de-
Prezado candidato, o papel do professor na edu- senvolvidos através das ideias desses teóricos que passa-
cação no processo de aprendizagem pode ser encon- ram a ser incorporadas a prática pedagógica desses pro-
trado em tópicos anteriores no que diz respeito a fun- fissionais. Quem não conhece Vygotsky? O teórico que
ção social da educação. aos educadores interessa em particular os estudos sobre
o desenvolvimento intelectual?
Formação continuada do educador Na teoria de desenvolvimento intelectual de Vygot-
sky, sustenta que todo conhecimento é construído so-
A formação e o trabalho docente são uma questão cialmente, no âmbito das relações humanas. Essa teoria
importante uma vez que o mesmo deve estar consciente tem por base o desenvolvimento do indivíduo como
que sua formação deve ser contínua e está relacionada ao resultado de um processo sócio histórico enfatizando o
seu dia-a-dia, o aprender contínuo é essencial e se concen- papel da linguagem e da aprendizagem nesse desenvol-
tra em dois pilares: a própria pessoa, como agente, e a es- vimento, sendo essa teoria considerada, histórico social.
cola como lugar de crescimento profissional permanente. A O conhecimento que permite o desenvolvimento mental
formação continuada se dá de maneira coletiva e depende se dá na relação com os outros.
de experiência, reflexões como instrumentos de análise. Nessa perspectiva o professor constrói sua formação,
O docente não pode se privar de estudar, grande são fortalece e enriquece seu aprendizado. Portanto é impor-
os desafios que o profissional enfrenta, mas manter-se tante ver a pessoa do professor e valorizar o saber de sua
atualizado e desenvolver prática pedagógica é indispen- experiência.
sável para que haja maior mobilização na formação de A troca de experiências e a partilha de saberes con-
professores, é necessário criar condições favoráveis tanto solidam espaços de formação mútua, nos quais cada
na formação continuada quanto na valorização do mes- professor é chamado a desempenhar simultaneamente,
mo. o papel de formador e de formando.
A formação continuada é uma exigência para os tem- Estudos indicam que existe necessidade de que o
pos atuais. Desse modo, pode-se afirmar que a formação professor seja capaz de refletir sobre a sua prática e di-
docente é iniciada com a escolarização básica e depois recioná-la segundo a realidade em que atua, voltada aos
se complementa nos cursos de formação inicial, com ins- interesses e das necessidades dos alunos.
trumentalização do professor para agir na prática social, Há uma necessidade de o educador adequar o con-
para atuar no mundo e no mercado de trabalho. teúdo ao nível cognitivo e a experiência das crianças para
As universidades vêm ocupando um papel essencial, que os mesmos possam ser compreendidos por qual-
mas não é o único, para a formação de professores. O de- quer aluno.
senvolvimento profissional não corresponde só a cursos Para maior mobilização de conceito de reflexão na
de formação de professores mas soma ao conhecimento formação de professores é necessário criar condições
adquiridos ao longo da vida. A formação não conduz só de trabalho em equipe entre discente. Sendo assim isso
no saber na sala de aula é preciso garantir uma gestão sugere que a escola deve criar espaço para seu cresci-
escolar de qualidade e diversas práticas pedagógicas e na mento. Além de bons salários e de formação adequada
perspectiva histórico, sociocultural. é preciso garantir uma gestão escolar competente, onde
Os docentes precisam de qualificação tanto na área acabe com o isolamento da sala de aula.
pedagógica como nos campos específicos do conheci- O desenvolvimento de uma prática reflexiva eficaz
mento. A formação inicial deve passar por reformulação tem que integrar o contexto institucional. O professor
profundas. Isso implica em garantir ao profissional um tem que se tornar um navegador atento a burocracia.
conhecimento básico para a sua atuação no âmbito es- E os responsáveis escolares que queiram encorajar os
colar, pois a aprendizagem ocorre quando por meio de professores a tornarem-se profissionais reflexivos devem
uma experiência mudamos nosso conhecimento anterior criar espaços de liberdade tranquila onde a reflexão seja
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

sobre uma ideia, comportamento ou conceito. possível. Estes são os dois lados da questão, aprender
É essencial adquirir conhecimentos seja através de uma a ouvir os alunos e aprender a fazer da escola um lugar
graduação, pós-graduação, seminários, palestras, encon- no qual seja possível ouvir alunos e devem ser olhados
tros pedagógicos em fim todos os cursos que venham con- como inseparáveis.
tribuir para a nossa formação pessoal e profissional. Além A formação de professores socialmente legitimada é
disso, colocamos em prática o que aprendemos no exercí- feita em espaços destinados especialmente para esses
cio da profissão com o desejo de contribuir para um melhor fins. Trata-se de espaços externos da escola, em tempos
desempenho, uma melhor aprendizagem dos alunos. que divergem do efetivo trabalho do professor. A forma-
Os grandes pensadores têm contribuído muito no ção dos professores é questionada e colocada em xeque
processo educacional, sabemos que muitos tem procu- sempre que surge um novo método ou uma nova políti-
rado desvendar problemas que ora para muitos profis- ca imposta pelo Estado.

119
A consequência mais imediata que o professor é cação de boa qualidade não depende só do educador,
constantemente submetido a cursos de capacitação para só da formação continuada dos mesmos, mas de todo o
aprimorar e reavaliar seus saberes. sistema social.
Os professores são agentes ativos na construção de Atualmente inúmeros estudos têm focalizado aspec-
sua própria prática (sem esquecer que estão em intera- tos relacionados ao comportamento de alguns profes-
ção com os demais e imersos nas limitações da escola) e sores e a formação dos alunos estabelecida através de
que adquirem e utilizam um corpo de conhecimento, as uma ligação contínua, estreita e extensa em sala de aula.
vezes chamado profissional ou destreza, em suas ativida- Uma vez que nós os docentes temos o poder de tomar
des docentes. decisões e influenciar os alunos diretamente e indireta-
O conhecimento profissional docente tem sido ca- mente. E muitas vezes somos vistos como emissor da in-
racterizado como complexo dinâmico e multifacetado. O formação, organizador de atividade e realimentador por
conhecimento de si mesmo e de seu processo pessoal excelência do sistema educacional.
de aprendizagem profissional da docência também tem Nesse sentido, a interação estabelecida caracteriza-se
sido identificado como componente do conhecimento pela seleção de conteúdos, organização, sistematização
profissional do professor. didática para facilitar o aprendizado dos nossos alunos.
De certa forma, o repensar a concepção da forma- Logo, a relação que traçamos entre nós e os discentes
ção dos professores, que até pouco tempo objetivava a depende fundamentalmente da afetividade, confiança,
capacitação, através da transmissão do conhecimento, a empatia e respeito entre ambas partes para que se de-
fim de que aprendessem a atuar eficazmente na sala de senvolva a leitura, a escrita, a reflexão, a aprendizagem.
aula vem sendo substituído pela abordagem de analisar Os educadores não podem permitir que tais senti-
a prática que este professor vem desenvolvendo, enfa- mentos interfiram no cumprimento ético de seu dever
tizando a temática do saber docente e a busca de uma de professor.
base de conhecimentos para os professores, consideran- Assim situações diferenciadas que formamos comum
do os saberes da experiência. determinado aluno, como por exemplo melhorar a nota
Considerando que a tarefa do professor tem como deste, para que ele não fique de recuperação, norteadas
característica ser um trabalho interativo, a dificuldade as vezes pelo fator amizade ou empatia, não deveria exis-
de trabalhar com os saberes formalizados sugere assim tir nas atitudes de um formador de opiniões.
contribuir para o aperfeiçoamento da prática docente e O bom professor é o que consegue, enquanto falar,
formação de professores. trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu
A a reorganização dos cursos de formação deve ser pensamento. Sua aula se torna um desafio para manter
pensada num contexto de transformação de todo o sis- aluno em sintonia com o que está mediando na sala de
tema escolar, para que tais cursos não tenham que se aula. Logo não podemos pensar que a construção do
converter, simplesmente em um espaço de compensação conhecimento é individual e sim uma via dupla, onde o
de déficit deixados por uma diferente educação. professor em sala de aula é um intermediário entre con-
Assim como a reforma escolar não é possível sem teúdos da aprendizagem e discente.
mudança da formação docente, esta é impossível desa- A escola é a instituição que tem por finalidade pro-
companhada de uma reforma escolar. Ambas são inter- ver atividades para desenvolver esses aspectos. Sendo
dependentes. Somente a partir da compreensão desses a educação um fator social, ela deve refletir a realidade
processos será possível repensar os cursos de formação, concreta na qual esse ser social vive, atua e, muitas ve-
de modo que possam promovê-los. zes procura modificar. A função da educação é integrar
Diante disso, se fala muito em educação de qualida- a formação da pessoa e a sua inserção na sociedade e,
de, e que para isso acontecer precisa-se do compromis- assim, assegurar sua plena realização. Cabe à educação,
so de todos para que essas mudanças venham ocorrer dessa forma, formar indivíduos autônomos, pensantes,
de fato. ativos, capazes de participar da construção de uma so-
Somente a formação do professor não é o suficiente ciedade contextualizada. Os métodos pedagógicos não
para a melhoria do ensino, é necessário o desenvolvi- podem ser dissociados desses enfoques, eles devem ser
mento de políticas públicas que visem melhorar todo o apoiados no conhecimento do aluno e no seu meio, pois
sistema educacional, desde: servidores, recursos didáti- todas as crianças, sejam quais forem suas origens familia-
cos infraestrutura, enfim ,tudo que contribui para melho- res, sociais, étnicas, têm direito igual ao desenvolvimento
rar o interesse e o desempenho do aluno na escola. Além máximo que sua personalidade comporta. Elas não de-
disso, é necessário o envolvimento da família, escola e vem ter outra limitação além de suas aptidões.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

comunidade pois isso também interferem no processo A escola representa um lugar em constante movi-
de aprendizagem escolar. mentação e transformação, em que os atores sociais en-
Todos esses fatores, o modo como a família vê a esco- volvidos no processo educativo são agentes da dinâmica
la e fala dela é um dos principais fatores no processo. O social que ocorre no interior do espaço escolar, em um
valor que a família dá à unidade de ensino, a forma como processo de saberes. Considerando isso é necessário que
os pais vivenciaram a própria escolarização e as expec- os mesmos envolvidos procurem buscar alternativas que
tativas em relação aos filhos influem muito no sucesso venham a mudar o processo educacional.
das crianças. O processo de formação continuada, trata-se efeti-
É necessário um trabalho em equipe onde a escola vamente de um processo continuo que toma como par-
possa desenvolver projetos que venham envolver família, tido o saber experiencial dos professores, os problemas
escola e comunidade. Pois sabemos que para uma edu- e desafios da prática escolar. Nesse contexto a pratica

120
pedagógica estará sempre nesse processo continuo em apoio na nossa capacidade de aprender e mudar. Ajudar
busca da construção do saber, o que significa a consti- o aluno a que acredite em si, que se sinta seguro, que
tuição de uma conduta de vida profissional. Se torna es- se valorize como pessoa, que se aceite plenamente em
sencial a implementação de formações continuada para todas as dimensões da sua vida. Se o aluno acredita em
educadores nas unidades escolares, nas quais os docen- si, será mais fácil trabalhar os limites, a disciplina, o equi-
tes poderão refletir sobre sua prática e trocar informa- líbrio entre direitos e deveres, a dimensão grupal e social.
ções junto a seus pares. A importância dessa mudança Tem a ver com o prazer de aprender, de entender,
na prática pedagógica implica a releitura da função do de buscar, de saber fazer, de construir, de conseguir dar
professor como profissional reflexivo e da escola como conta de alguma coisa que nos desafia ou que desafia
organização promotora do desenvolvimento do proces- nossos educandos.
so educativo. Educadores e educadoras que rompem com a forma-
A valorização e melhor remuneração que o profis- lidade na prática pedagógica são aqueles que colocam
sional docente almeja em boa parte de sua formação e coração no caminho pedagógico e insistem, inventam e
atuação inicial como ainda de sua formação continuada reinventam possibilidades para que os seus educandos
além de boas condições de trabalho, salário e carreira. aprendam, porque, para desenvolver-se, importa que
Sabemos que a escola na atualidade sofre com o de- aprendam significativamente sobre tudo que se passa
senvolvimento acelerado que ocorre a sua volta, onde diante de seus olhos. Muitas vezes, isso parece ser difícil,
as informações são atualizadas em função de segundos, mas se o coração estiver lá tudo se torna fácil, inventa-se
ocasionando de certa forma, o desgaste e o compro- e flui.
metimento das ações voltadas para o aprimoramento Mesmo, porque, os modernos conceitos definem o
do ensino, fazendo com que a sala de aula se torne um professor eficiente como aquele que instrumentaliza o
ambiente de pouca relevância para a consolidação do aluno, permitindo-lhe dominar o mecanismo do aprender
conhecimento. Sabemos, também, que a mudança ace- e tornando-o independente para, a qualquer momento,
lerada do contexto social influi fortemente no papel a estando ou não no âmbito escolar, continuar aprenden-
desempenhar pelo professor no processo de ensino. O do.
professor deve apresentar uma postura norteadora do Como a função do educador se efetiva na prática, para
processo ensino-aprendizagem, levando em conside- que a ação tenha êxito é imprescindível um aprendiza-
ração que sua prática pedagógica em sala de aula tem do contínuo na busca de novas estratégias e caminhos,
papel fundamental no desenvolvimento intelectual de ou seja, da renovação e inovação constantes, com muita
seu aluno, podendo ele ser o foco de crescimento ou de reflexão, tolerância, diálogo, parceria e participação co-
introspecção do mesmo quando da sua aplicação meto- letiva, fortalecendo, assim, a autonomia e incentivando a
dológica na condução da aprendizagem. criatividade nas instituições educacionais sob nossa res-
O exercício de pensar o tempo, de pensar a técni- ponsabilidade.
ca, de pensar o conhecimento enquanto se conhece, de Nas palavras do Governador Roberto Requião, em sua
pensar o quê das coisas, o para quê, o como, o em favor palestra de abertura do curso PDE “se não tivermos na
de quê, de quem, o contra quê, o contra quem são exi- sala de aula um professor altamente capacitado para a
gências fundamentais de uma educação democrática à formação de nossos estudantes, de nada adianta desti-
altura dos desafios do nosso tempo. nar, como estamos destinando, 30% do orçamento para
Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibi- a educação”. Disse ainda: “Queremos escolas vivas, criati-
lidade espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos vas, agitadas, professores que mobilizem as salas de aula,
conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa que abram horizontes, que descortinem a vida e as mara-
e de comunicação. Uma das dificuldades atuais é con- vilhas do conhecimento. Queremos professores e alunos
ciliar a extensão da informação, a variedade das fontes esclarecidos que não se submetam ao controle da opinião
de acesso, com o aprofundamento da sua compreensão, pública, a verdadeira ditadura do pensamento dominante
em espaços menos rígidos, menos engessados. Temos hoje imposta pela grande mídia”.
informações demais e dificuldade em escolher quais são Todo professor pode ser mais que um mero transmis-
significativas para nós e conseguir integrá-las dentro da sor de informações, desde que se sinta realmente inco-
nossa mente e da nossa vida. modado a ponto de buscar novos rumos para sua prática
A aquisição da informação, dos dados dependerá profissional, espero contar com o interesse dos profissio-
cada vez menos do professor. As tecnologias podem nais do município para enfrentar mais esse desafio.
trazer hoje dados, imagens, resumos de forma rápida e Não existe uma, mas várias fórmulas mágicas, são di-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

atraente. O papel do professor, o papel principal, é aju- ferentes para cada situação, por isso precisamos experi-
dar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a mentar muitas delas para ver qual funcionará melhor em
contextualizá-los. O papel do educador é mobilizar o de- cada uma das nossas salas de aula. É preciso também
sejo de que o aluno aprenda, que se sinta sempre com repensar a prática, a fim de verificar se estamos fazen-
vontade de aprender. Só podemos ensinar até onde con- do alguma coisa de errado que esteja impedindo que os
seguimos aprender. E se temos tantas dificuldades em resultados sejam melhores. Não se pode ensinar ao pro-
ensinar, entre outras coisas, é porque aprendemos pouco fessor o que ele precisa aprender. As aprendizagens signi-
até agora. ficativas são construções próprias do sujeito. Ele pode até
É importante não começar pelos problemas, pelos er- sentir a necessidade de mudanças, mas se não entender o
ros, não começar pelo negativo, pelos limites. E sim co- significado essencial de uma proposta pedagógica numa
meçar pelo positivo, pelo incentivo, pela esperança, pelo direção, não saberá como construí-la.

121
Não basta alguém dizer-lhe que deve fazer diferen-
te se ele não pensar diferente sobre o que faz. Para que
não continuemos repetindo as estratégias e técnicas do EXERCÍCIO COMENTADO
passado, precisamos saber que outras possibilidades são
possíveis e por isso se faz necessário estar aberto para 1. TJ – PE (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE PERNAMBU-
aprender com os próprios alunos e também com os ou- CO) – ANALISTA JUDICIÁRIO – SUPERIOR – FCC
tros professores, refletindo sempre sobre o que a prática, (FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS) 2011
para que e como podemos melhorar. A formação continuada dos professores é uma impor-
O desafio está em encontrar tempo para conhecer as tante ação para o aperfeiçoamento e atualização das
novas tecnologias, ler sobre elas, atualizar-se e planejar práticas docentes. Uma estratégia privilegiada para o
o seu uso, prevendo com os alunos objetivos, caminhos desenvolvimento de uma formação voltada a garantir o
e atividades para desenvolver a pesquisa, organizando compromisso com a qualidade da ação educativa é
e participando de momentos coletivos e individuais e
avaliando o processo de cada sujeito na busca de novas a) o fornecimento gratuito de curso pelas redes educa-
propostas para as transformações necessárias à escola. cionais municipais e estaduais, visto que é um dever
Muitos professores resistem às mudanças, preocupa- do estado proporcionar o desenvolvimento do profis-
dos em não dominar as novas propostas. Contudo, há sional docente.
necessidade de uma parceria professores-coordenado- b) o desenvolvimento de cursos de pós-graduação, nos
res pedagógicos, para juntos, vencerem o medo, as inse- quais os docentes poderão aperfeiçoar seus conheci-
guranças e aos poucos conquistarem seus espaços. Para mentos teóricos a respeito de temas de seu interesse.
isso, é necessário criar mecanismos visando sensibilizar o c) a implementação de formações nas unidades escola-
professor da importância de se discutir a prática pedagó- res, nas quais os docentes poderão refletir sobre sua
gica, pois, a falta de uma maior reflexão sobre essa ques- prática e trocar informações junto a seus pares.
tão, como já foi mencionado, faz o professor permanecer d) o estabelecimento de quantidade e periodicidade mí-
na sua postura tradicional com uma atuação totalmente nima para o desenvolvimento de cursos para recicla-
acrítica e reprodutiva. Na escola temos pessoas que de- gem dos docentes.
sempenham diferentes funções, todas de suma impor- e) a exigência de que cada professor, após sua formação
tância para o desenvolvimento do trabalho pedagógico. inicial, continue a se aperfeiçoar por meio de curso de
pós-graduação stricto-sensu.
Precisa-se exercitar o difícil aprendizado de que é na
diferença que se faz o todo, onde não há superiores e Respsta: Letra C. O processo de formação continua-
inferiores, mas trabalhadores e trabalhadoras da edu- da, trata-se efetivamente de um processo continuo
cação construindo uma escola pública a cada dia mais que toma como partido o saber experiencial dos pro-
humana, democrática e de qualidade Trata-se, de uma fessores, o qualificando para atuar na sala de aula e
escola onde se ensine bem aquilo que os alunos preci- enfrentar os problemas e desafios da prática escolar.
sam aprender, pois, sem o domínio do saber, eles não A pratica pedagógica estará sempre nesse processo
alcançarão a liberdade e muito menos a possibilidade de continuo em busca da construção do saber, o que sig-
agir e de transformar a sua realidade. nifica a constituição de uma conduta de vida profissio-
Há que se contar com profissionais competentes, isto nal. Se torna essencial a implementação de formações
é, que tenham uma visão ampla e profunda dos proces- continuada para educadores nas unidades escolares,
sos pedagógicos, das necessidades e interesses dos alu- nas quais os docentes poderão refletir sobre sua prá-
nos, das condições reais do trabalho docente, das rela- tica e trocar informações junto a seus pares. A impor-
ções que se dão no processo ensino-aprendizagem e na tância dessa mudança na prática pedagógica implica
sociedade. a releitura da função do professor como profissional
Compreende-se que para isso o pedagogo terá que reflexivo e da escola como organização promotora do
buscar embasamentos teóricos para aperfeiçoar-se e desenvolvimento do processo educativo.
assim contribuir com os demais profissionais para uma
melhor compreensão de trabalhar no coletivo em to-
dos os aspectos. Cabe ao pedagogo, como coordenador
pedagógico, vencer os desafios com que se depara no
cotidiano da escola, superando o conflito entre o real e
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

o possível e integrando a comunidade escolar em be-


nefício do processo ensino-aprendizagem. Desse modo,
faz-se necessário construir caminhos de aproximação,
negociação, diálogo e troca, avaliando situações do coti-
diano escolar e dando encaminhamentos necessários no
sentido de coordenar um trabalho voltado para a trans-
formação do ensinar e aprender.

122
Constituição Federal 1988
ARÊAS, CELINA ALVES. A FUNÇÃO SOCIAL • Artigo 205
DA ESCOLA. CONFERÊNCIA NACIONAL DA “A educação, direito de todos e dever do Estado e da
EDUCAÇÃO BÁSICA. família, será promovida e incentivada com a cola-
boração da sociedade, visando ao pleno desenvol-
vimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

FIQUE ATENTO! TÍTULO I


Da Educação
A função social da escola consiste em promo-
ver mudanças nos sujeitos e na realidade. A Art. 1º A educação abrange os processos formativos
instituição escolar servirá tanto para manter
que se desenvolvem na vida familiar, na convivência
relações sociais injustas quanto para a trans-
humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pes-
formação destas relações.
quisa, nos movimentos sociais e organizações da so-
ciedade civil e nas manifestações culturais.
§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo
Princípios
do trabalho e à prática social.
1. Defesa da escola pública, gratuita e laica em todos
os níveis;
TÍTULO II
2. Educação como direito de todos e dever do Estado;
3. Regulamentação do ensino privado sob o controle Dos Princípios e Fins da Educação Nacional
do Estado;
4. Não inclusão do setor na Educação na OMC; Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, ins-
5. Não intromissão dos organismos internacionais pirada nos princípios de liberdade e nos ideais de soli-
nos rumos da educação nacional; dariedade humana, tem por finalidade o pleno desen-
6. Defesa de um Sistema Nacional de Educação (rede volvimento do educando, seu preparo para o exercício
pública e setor privado). da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Texto referência da CONEB - Outras Concepções


• Educação é: • Paulo Freire:
a) Processo e prática social constituída e constituinte a) A formação do sujeito deve contemplar o desen-
das relações sociais mais amplas; b) Processo con- volvimento do seu papel dirigente na definição do
tínuo de formação; seu destino, dos destinos de sua educação e da sua
c) Direito inalienável do cidadão. sociedade;
• A prática social da Educação deve ocorrer em espa- b) Formar o cidadão, construir conhecimentos, ati-
ços e tempos pedagógicos diferentes, para aten- tudes e valores que tornem o estudante solidário,
der às diferenciadas demandas crítico, ético e participativo;
• Como prática social, a educação tem como lócus
privilegiado a escola, entendida como espaço de • José Geraldo Bueno (PUC SP)
garantia de direitos; a) construção de um sistema de ensino que possa se
• Devemos trabalhar em defesa da educação pública, constituir em fator de mudança social
gratuita, democrática, inclusiva e de qualidade so- b) responsável pela formação das novas gerações em
cial para todos; termos de acesso à cultura, de formação do cida-
• É fundamental a universalização do acesso, a am- dão e de constituição do sujeito social.
pliação da jornada escolar e a garantia da per- c) distinção entre a função da escola em relação à
manência bem-sucedida para crianças, jovens origem social dos alunos trouxe importantes con-
e adultos, em todas as etapas e modalidades de tribuições para uma melhor compreensão da com-
educação básica. plexidade dessa instituição, por outro, parece ter
desembocado, novamente, numa concepção abs-
É indispensável à escola, portanto: trata de escola, em particular em relação à escola
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

• Socializar o saber sistematizado; pública, como sendo aquela que, voltada funda-
• Fazer com que o saber seja criticamente apropriado mentalmente para a educação das crianças das ca-
pelos alunos; madas populares, cumpre o papel de reprodutora
• Aliar o saber científico ao saber prévio dos alunos das relações sociais e de apoio à manutenção do
(saber popular); status quo.
• Adotar uma gestão participativa no seu interior; • “Parece que, como sempre, os responsáveis pelas
• Contribuir na construção de um Brasil como um políticas sociais (entre elas a da educação), em
país de todos, com igualdade, humanidade e jus- nosso país, encontraram um novo ‘bode expiató-
tiça social. rio’: as unidades escolares. No passado, foram ou
os alunos (por suas carências e/ou dificuldades) ou
os professores e a sua falta de formação (como se

123
essa falta de formação não fosse produto das polí-
ticas educacionais). Agora, parece que se transfere AUAD, DANIELA. EDUCAR MENINAS E
essa função social à escola”. MENINOS – RELAÇÕES DE GÊNERO NA
• Pablo Gentili: ESCOLA. SÃO PAULO: EDITORA CONTEXTO,
a) Visão neoliberal da função social da escola: “Na 2016.
perspectiva dos homens de negócios, nesse novo
modelo de sociedade, a escola deve ter por função
a transmissão de certas competências e habilida- FIQUE ATENTO!
des necessárias para que as pessoas atuem com-
petitivamente num mercado de trabalho altamen- Em Educar meninas e meninos: relações de gê-
te seletivo e cada vez mais restrito. nero na escola, Daniela Auad discute a questão
b) A educação escolar deve garantir as funções de da escola mista relacionando-a com a ideia de
classificação e hierarquização dos postulantes aos coeducação com base na análise de práticas
futuros empregos (ou aos empregos do futuro). escolares e no debate contemporâneo sobre
Para os neoliberais, nisso reside a ‘função social da o tema, dialogando com estudiosas feministas
escola’. Semelhante ‘desafio’ só pode ter êxito num que teorizam sobre a questão. Seu argumento
mercado educacional que seja, ele próprio, uma central é o de que a escola mista pressupõe a
instância de seleção meritocrática, em suma, um coeducação, mas não é suficiente para a efeti-
espaço altamente competitivo”. vação da mesma. Ao longo da obra, a militan-
te feminista Daniela Auad defende a igualdade
Conclusão com respeito às diferenças e mostra como isso
• Função social da escola: pode ocorrer na prática escolar, numa lingua-
Compromisso com a formação do cidadão e da ci- gem acessível a qualquer pessoa que se inte-
dadã com fortalecimento dos valores de solidarie- resse pela questão.
dade, compromisso com a transformação dessa
sociedade.
O livro é dividido em dez capítulos, sendo que no
primeiro destes a autora faz uma apresentação dos te-
mas trabalhados nos capítulos subsequentes, destacan-
EXERCÍCIO COMENTADO do que o objetivo do livro é revelar que a escola, atra-
vés das práticas escolares, pode se constituir como um
1. (EBSERH – Pedagogo – Superior – CESPE/2018) A espaço privilegiado para o “aprendizado da separação”
discussão sobre a função social e política da escola passa que discrimina meninos e meninas de forma a justificar
pela compreensão de quais são as atribuições próprias desigualdades ou pode, ao contrário, promover transfor-
dessa instituição. A respeito da função social da escola, mações no sentido da igualdade a partir do respeito às
julgue o item seguinte. diferenças. Assim a autora se propõe a discutir a relação
As dimensões social e política da escola mantêm rela- entre igualdade e desigualdade entre meninas e meni-
ções distintas, cujas ações são marcadas por inúmeras nos, homens e mulheres no espaço escolar, chamando
especificidades; por isso elas não se confundem nem se a atenção para a função privilegiada que a escola possui
complementam. no que diz respeito à aprendizagem de papéis sociais e
sexuais por parte dos alunos.
( ) CERTO ( ) ERRADO No segundo capítulo, temos uma breve síntese da
história que perpassa a construção da categoria gênero
Resposta: Errado. As dimensões são complementares enquanto instrumento de análise. A autora demonstra
e indissociáveis. como a apropriação do conceito de gênero na área de
ciências humanas foi importantíssima para o questiona-
mento das supostas desigualdades “naturais” entre os
sexos, tão veiculadas pelos discursos positivistas. Destaca
que a categoria gênero ao revelar que muitas diferenças
entre homens e mulheres são socialmente construídas
pode ser utilizada para desvendar relações de poder de-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

siguais dentro da escola. O texto chama a atenção para


o aspecto relacional, constitutivo das masculinidades ou
feminilidades, num determinado contexto social e cul-
tural, expressando-se nos discursos e práticas sociais.
Conduz assim ao questionamento de compreensões ge-
neralizadas de relações pretensamente naturais sobre o
masculino e o feminino para se pensar o gênero como
dispositivo privilegiado na análise das significações das
relações de gênero e de poder que constituem processos
políticos e se constroem reciprocamente.

124
Os quatro capítulos seguintes tratam dos resultados professorado, os livros didáticos e a interação entre pro-
encontrados por Daniela Auad em sua pesquisa de dou- fessoras, professores, alunos e alunas. Delineia assim um
torado, que objetivou o estudo das relações de gênero possível caminho para uma política pública de igualdade
nas práticas escolares. As observações nos pátios e salas de gênero a partir da escola.
de aula das séries ou ciclos iniciais de uma escola pública Diante do que foi dito, pode-se dizer que Educar me-
de Ensino Fundamental da cidade de São Paulo, realiza- ninas e meninos: relações de gênero na escola nos adverte
das durante quatro anos, juntamente com o trabalho de para a importância de uma ampla reflexão sobre as rela-
revisão bibliográfica acerca dos temas “Educação Escolar ções de gênero na escola. A autora estabelece um diálo-
e Relações de Gênero”, “Coeducação” e “Mixité”2, evi- go profícuo com estudiosos no campo do gênero, sendo
denciaram certos modos em que as relações de gênero importante destacar a contribuição de Louro (2003) que
são elementos significativos nas vivências de meninas e argumenta que a escola por meio de símbolos e códigos,
meninos. Ao longo dos referidos capítulos, a autora de- delimita espaços, institui modos de ação e produz identi-
monstra como uma análise do cotidiano escolar pode re- dades de gênero ao informar o lugar dos meninos e das
velar a existência de diferenças, polaridades e assimetrias meninas. Nessa perspectiva, as práticas escolares encerram
de gênero, presentes em atividades que definem para as múltiplos e discretos mecanismos que escolarizam e distin-
crianças o que é masculino e o que é feminino, gerando guem os corpos e as mentes de alunos e alunas, que vão
assim o “aprendizado da separação”. construindo seus padrões diferenciais de comportamento
A temática que envolve escola mista e coeducação e assimilando o modelo com o qual se devem identificar
é focalizada nos próximos capítulos, onde fica demons- para serem mais homens ou mais mulheres.
trado que embora as escolas brasileiras sejam mistas, e Entendendo que as identidades de gênero são cons-
isso seja uma das premissas da existência da coeduca- truídas pelos sujeitos ao se identificarem, social e his-
ção, a mistura dos sexos não determina a ocorrência de toricamente, como femininos ou masculinos, o texto
práticas e políticas públicas coeducativas. Ao longo de de Daniela Auad nos instiga ao questionamento e à re-
sua argumentação, a autora aponta questões que geram construção de ideias sobre a constituição de femininos e
masculinos, sendo que devem ser vistos como elementos
reflexões acerca da escola mista e sua relação com uma
não necessariamente opostos ou essenciais, uma vez que
proposta de coeducação.
a oposição não é inerente, mas sim, construída, e pode
Analisando a história da implantação da escola mista
ser subvertida. Chama a atenção para a importância que
no Brasil, Daniela Auad verifica que conteúdos de ensino,
as práticas escolares adquirem nesse cenário, pois são
normas, uso do espaço físico, técnicas e modos permiti-
práticas políticas, historicamente contingentes e podem
dos de pensar, sentir e agir se constituíram como meca-
ser transformadas pelos sujeitos que as constroem.
nismos que perpetuam a separação e a hierarquização
Dessa maneira, o livro faz parte de um conjunto de
entre homens e mulheres. Conforme a autora, as supos- esforços acadêmicos de feministas e pesquisadoras dos
tas diferenças sexuais naturais entre meninos e meninas estudos de gênero que assumem a igual valorização de
são utilizadas pelo professor para conduzir a classe e homens e mulheres como prática, bandeira de luta e
manter a disciplina, o que pode ser exemplificado com tema de estudo, buscando aporte teórico na perspecti-
as diferentes maneiras de se distribuírem meninos e me- va pós-estruturalista. Esse campo de estudos destaca-se
ninas no espaço da sala de aula. Confrontando suas pró- por seu caráter político e contemporâneo, estando em
prias pesquisas no Brasil com estudos que descrevem a constante construção, uma vez que propõe o autoques-
realidades escolares em outros países da América Latina tionamento e a subversão de paradigmas científicos.
e da Europa, demonstra que os meninos, diferentemen- Nesse sentido, os estudos de gênero têm se mostrado
te das meninas, tendem a ocupar grandes espaços e se fundamentais para a elaboração de teorias férteis e de
envolvem mais do que elas em atividades dinâmicas que diversas formas de intervenção social, com destaque
requerem uma expressão corporal mais ampla. Assim, as para o campo educacional.
relações de gênero influenciam o modo como meninos
e meninas se expressam corporalmente e aproveitam di- Fonte: LIMA, A. G. Baseado em AUAD, Daniela. Educar
ferentemente as possibilidades de movimentos, jogos e meninas e meninos: relações de gênero na escola. São
brincadeiras. Paulo: Contexto, 2006.
Assim, o tradicional sistema educacional brasileiro
coloca o desafio de se combater a promoção das desi-
gualdades de gênero, uma vez que tais desigualdades
não são condizentes com uma sociedade democrática. EXERCÍCIO COMENTADO
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

A autora constata que alunas, alunos, professoras, agen-


tes escolares, diretoras, coordenadoras e pesquisadoras 1. (Prefeitura de Garça-SP -Professor de Educação
podem estar na fronteira entre, de um lado, as práticas Básica I – VUNESP/2018) É correto afirmar que Auad
escolares nas quais as relações de gênero ainda são de- (2016) defende, em sua obra Educar meninas e meninos
siguais e, de outro, a possibilidade de construção de um - relações de gênero na escola, que
projeto de coeducação. Para a efetiva concretização des-
se projeto de política educacional, Daniela Auad propõe a) sexo e gênero são sinônimos, portanto designam pes-
uma transformação de diversos níveis da educação, en- soas do mesmo sexo ou do mesmo gênero.
globando não apenas a legislação, o sistema educativo, b) o gênero humano é relevante, pois se trata de uma
as unidades escolares e os currículos, como também a diferença anatômica, responsável pela continuidade
capacitação e formação do profissional, a paridade do da espécie humana.

125
c) gênero e sexo são sinônimos, porque ambos dizem Ação integral das escolas com as famílias prevista
respeito às características físicas de homens e mulhe- na LDB
res.
d) as diferenças entre homens e mulheres são naturais, “Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas
pois cada um desses grupos possuem atributos dife- as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão
rentes. a incumbência de: (...) VI – articular-se com as famílias e
e) sexo é percebido como uma questão relativa à biolo- a comunidade, criando processos de integração da so-
gia, enquanto o gênero é uma construção histórica a ciedade com a escola; (...) Art. 13. Os docentes incum-
partir de fatos genéticos. bir-se-ão de: (...) VI – colaborar com as atividades de ar-
ticulação da escola com as famílias e a comunidade. Art.
Resposta: Letra E 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão
Profª Auad apresenta o modelo do conceito de gê- democrática do ensino público na educação básica, de
nero apropriado pela área de ciências humanas foi acordo com as suas peculiaridades e conforme os se-
importantíssima para o questionamento das supostas guintes princípios: (...) II – participação das comunidades
desigualdades naturais entre os sexos. escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes”.
Sexo (biológico, genitais) ≠ Gênero (papel que a pes- Como a educação básica é dirigida, em princípio, a
soa assume socialmente). alunos de zero a 17 anos, o ECA se aplica às escolas e
diz explicitamente:

CASTRO, JANE MARGARETH; REGATTIERI, Capítulo IV –


MARILZA. RELAÇÕES CONTEMPORÂNEAS Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer.
ESCOLA-FAMÍLIA. P. 28-32. IN: CASTRO,
“Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educa-
JANE MARGARETH; REGATTIERI,
ção, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa,
MARILZA. INTERAÇÃO ESCOLA-FAMÍLIA:
preparo para o exercício da cidadania e qualificação
SUBSÍDIOS PARA PRÁTICAS ESCOLARES. para o trabalho, assegurando-se-lhes:
BRASÍLIA: UNESCO, MEC, 2009. I – igualdade de condições para o acesso e permanên-
cia na escola;
II – direito de ser respeitado por seus educadores;
RELAÇÕES CONTEMPORÂNEAS ESCOLA-FAMÍLIA III – direito de contestar critérios avaliativos, podendo
recorrer às instâncias escolares superiores;
Ao longo das últimas décadas, a criança foi sendo IV – direito de organização e participação em entida-
deslocada da periferia para o centro da família. Do mes- des estudantis;
mo modo, ela passou a ser o foco principal do sistema V – acesso à escola pública e gratuita próxima de sua
educativo. O deslocamento é fruto de uma longa história residência. Parágrafo único. É direito dos pais ou res-
de emancipação, na qual as propostas educacionais têm ponsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem
peso importante. Esse movimento alinha-se ao dos direi- como participar da definição das propostas educacio-
tos humanos e consolida-se na Carta Internacional dos nais. (...)
Direitos da Criança, de 1987, que registra o acesso da Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de
criança ao estatuto de sujeito de direitos e à dignidade matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de
da pessoa. Tais conquistas invertem a concepção de alu- ensino.
no como página em branco, encerrada no projeto inicial Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino
da escola de massa e que organizava a hierarquia das fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os ca-
posições no sistema escolar. Estas mudanças incidem di- sos de:
retamente nas transformações das relações entre as ge- I – maus-tratos envolvendo seus alunos;
rações, tanto de pais e filhos quanto entre professores e II – reiteração de faltas injustificadas e de evasão esco-
alunos. Com relações mais horizontais, o exercício da au- lar, esgotados os recursos escolares;
toridade na família e na escola como estava configurado III – elevados níveis de repetência”.
até então – adultos mandavam e crianças/adolescentes
obedeciam – tende a entrar em crise. Na consolidação Tanto no ECA quanto na LDB, a efetividade do direito
dos direitos das crianças, as responsabilidades específi- à educação das crianças e dos adolescentes deve contar
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

cas dos adultos que as cercam vão sendo modificadas com a ação integrada dos agentes escolares e pais ou
e a relação escola-família passa a ser regida por novas responsáveis. Esse novo ambiente jurídico-institucional
normas e leis. No Brasil, em termos legais, os direitos in- inaugura um período sem precedentes de consolidação
fanto-juvenis estão amparados pela Constituição e des- de direitos sociais e individuais dos alunos e suas famí-
dobrados no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), lias. De todos os equipamentos do Estado, a escola é o
Lei nº 8.069, de 1990, e na nova Lei de Diretrizes e Bases que tem o mais amplo contato contínuo e frequente com
da Educação Nacional (LDB), promulgada em 1996. Se- os sujeitos destes direitos, daí sua responsabilidade de
gundo a LDB, os profissionais da educação devem ser os atuar junto a outros atores da rede de proteção social.
responsáveis pelos processos de aprendizagem, mas não Isso não significa mudar o papel da escola e transformá-
estão sozinhos nesta tarefa. A lei prevê a ação integrada -la em instituição assistencialista, mas sim dar relevo a
das escolas com as famílias: seu papel de ator fundamental – embora não exclusivo

126
– na realização do direito da criança e do adolescente à NOVAS FRONTEIRAS ESCOLA-FAMÍLIA
educação. É comum se ouvir discussões acaloradas entre
professores sobre o ECA, principalmente quando ocorre No movimento histórico apresentado anteriormen-
alguma infração envolvendo adolescentes que recebem te, vimos que houve transferência de parte das funções
a proteção indicada pelo Estatuto. De fato, o respeito educativas da esfera familiar para a estatal. Nesse deslo-
deve ser exercido em “mão dupla”, ou seja, não apenas camento, ao mesmo tempo em que o saber familiar, so-
crianças e adolescentes têm direitos a serem respeitados, bretudo das famílias pobres, foi desqualificado, ocorreu a
mas também seus educadores e demais profissionais. As profissionalização das funções educativas, reorganizando
discussões em torno do tema devem ocorrer a partir de a interseção de funções e responsabilidades entre as fa-
uma compreensão acurada da doutrina da proteção in- mílias e as escolas. É importante ressaltar que ainda hoje
tegral, que precisa estar incorporada à formação inicial e mães, pais e os demais agentes escolares se encontram
continuada de professores, gestores escolares e educa- em condições bastante distintas dentro do processo edu-
cionais. Com o envolvimento consciente desses profis- cativo. Como instituição do Estado encarregada legalmen-
sionais, a realização do direito à educação da criança e te de conduzir a educação formal, a escola, por meio de
do adolescente certamente será mais facilmente alcan- seus profissionais, tem a prerrogativa de distribuir os di-
çada. Outra questão é que, para a efetivação do Estatuto, plomas que certificam o domínio de conteúdos conside-
novos atores, como o Conselho Tutelar – órgão perma- rados socialmente relevantes. Esses certificados são pré-
nente e autônomo, não jurisdicional – e o Ministério Pú- -requisitos para estudos futuros e credenciais importantes
blico, passam a ser interlocutores dos agentes educacio- no acesso das pessoas às diferentes posições de traba-
nais e das famílias. Essas mediações afetam o equilíbrio lho na sociedade. Essas duas instituições, que deveriam
das relações de poder dentro das escolas, das famílias e manter um espaço de interseção por estarem incumbidas
entre escolas e famílias. Conflitos antes tratados na es- da formação de um mesmo sujeito, podem, dependendo
fera privada ganham os holofotes e os rigores da esfe- das circunstâncias, se distanciar até chegar a uma cisão.
ra pública. Atualizando os marcos existentes, o Plano de Normalmente, quando o aluno aprende, tira boas notas e
Metas Compromisso Todos pela Educação, do Plano de se comporta adequadamente, mães, pais e professores se
Desenvolvimento da Educação (PDE), formalizado pelo sentem como agentes complementares, corresponsáveis
Decreto nº 6.094, de 24/4/2007, reforça a importância da pelo sucesso.
participação das famílias e da comunidade na busca da Todos compartilham os louros daquela vitória. Mas,
melhoria da qualidade da educação básica. O Plano de quando os alunos ficam indisciplinados ou têm baixo ren-
Metas estabelece as seguintes diretrizes para gestores e dimento escolar, começam as disputas em torno da di-
profissionais da Educação: visão de responsabilidades pelo insucesso. O insucesso
escolar deveria suscitar a análise de causas dos problemas
Diretrizes do Plano de Metas que interferiram na aprendizagem, avaliando o peso das
condições escolares, familiares e individuais do aluno. O
“XIX – divulgar na escola e na comunidade os dados que se constata é que, em vez disso, o comportamento
relativos à área da educação, com ênfase no Índice de mais comum diante do fracasso escolar é a atribuição de
Desenvolvimento da Educação Básica – Ideb, referido culpas, que geralmente provoca o afastamento mútuo.
no art. 3º; Para ilustrar essa questão, colocamos lado a lado duas fa-
XX – acompanhar e avaliar, com participação da comu- las recorrentes nas entrevistas realizadas para este estudo:
nidade e do Conselho de Educação, as políticas públi- – Dos professores, ouvíamos: “os pais dos alunos que mais
cas na área de educação e garantir condições, sobre- precisam de ajuda são sempre os mais difíceis de trazer
tudo institucionais, de continuidade das ações efetivas, até a escola”. – Dos pais desses alunos que mais precisam,
preservando a memória daquelas realizadas; ouvíamos: “nós, que mais precisamos de ajuda, somos
XXI – zelar pela transparência da gestão pública na área os mais cobrados pelas escolas”. E uns não escutam os
da educação, garantindo o funcionamento efetivo, au- outros. Neste jogo de busca de culpados, a assimetria de
tônomo e articulado dos conselhos de controle social; poder entre profissionais da educação e familiares costu-
(...) ma pesar a favor dos educadores, principalmente quando
XXIV – integrar os programas da área da educação com temos, de um lado, os detentores de um saber técnico e,
os de outras áreas como saúde, esporte, assistência so- de outro, sujeitos de uma cultura iletrada. Novamente, se
cial, cultura, dentre outras, com vista ao fortalecimento essas diferenças são convertidas em desigualdade, a dis-
da identidade do educando com sua escola; tância entre alguns tipos de famílias e as escolas que seus
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

XXV – fomentar e apoiar os conselhos escolares, envol- filhos frequentam se amplia. Podemos dizer que usar a as-
vendo as famílias dos educandos, com as atribuições, simetria de poder para transferir da escola para o aluno
dentre outras, de zelar pela manutenção da escola e e sua família o peso do fracasso transforma pais, mães,
pelo monitoramento das ações e consecução das me- professores, diretores e alunos em antagonistas, afastan-
tas do compromisso; do estes últimos da garantia de seus direitos educacionais.
XXVI – transformar a escola num espaço comunitário e É uma armadilha completa. Mas seria possível, ou dese-
manter ou recuperar aqueles espaços e equipamentos jável, anular a assimetria entre os familiares dos alunos e
públicos da cidade que possam ser utilizados pela co- os profissionais da educação? Entendemos que por trás
munidade escolar”. da assimetria há diferenças reais. Os educadores escolares
são profissionais especializados que têm autorização for-
mal para ensinar e, conforme já mencionado, para emitir

127
certificações escolares. Eles formam um coletivo com in- d) II e III.
teresses profissionais e institucionais a zelar, enquanto os e) I, II e III.
familiares, geralmente pouco organizados, são movidos
por interesses individuais centrados na defesa do próprio Resposta: Letra C
filho. Em questões que expõem o texto legal devemos ficar
Mais recentemente, além de representantes dos filhos, atentos para a redação do mesmo.
os familiares têm sido estimulados – inclusive pela legis- O item: I está correto, pois a LDB diz em seu Art.2º.
lação educacional – a interagir com os profissionais da Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspi-
educação também como cidadãos que compõem a esfera rada nos princípios de liberdade e nos ideais de solida-
pública da instituição escolar. A participação em conselhos riedade humana, tem por finalidade o pleno desenvol-
escolares (ou associações de pais e mestres), em conse- vimento do educando, seu preparo para o exercício da
lhos do Fundeb, conselhos de merenda etc. é parte desta cidadania e sua qualificação para o trabalho.
tarefa de representação da sociedade civil e de controle Os demais itens não se perfazem o escopo da lei.
social. Essa dupla função – representante do filho e repre-
sentante da comunidade – torna mais complexa a delimi-
tação dos lugares reservados aos pais e mães na escola, COLL, CÉSAR. O CONSTRUTIVISMO NA
mas abre possibilidades importantes de exercício demo- SALA DE AULA. SÃO PAULO: EDITORA
crático de participação que podem beneficiar todos. ÁTICA, 1999. (CAPÍTULOS 4 E 5).
Quando falamos em interação, pensamos em ato-
res distintos que têm algum grau de reciprocidade e de
abertura para o diálogo. Nessa perspectiva, é importante 1. Os professores e a concepção construtivista
identificar e negociar, em cada contexto, os papéis que
vão ser desempenhados e as responsabilidades especí-
ficas entre escolas e famílias. Por exemplo, considera-se FIQUE ATENTO!
que o ensino é uma atribuição prioritariamente da escola.
Esta, porém, divide essa responsabilidade com as famílias, O construtivismo não é uma teoria, e sim uma
quando prescreve tarefas para casa e espera que os pais referência explicativa, composta por diversas
as acompanhem. Em um contexto de pais pouco escola- contribuições teóricas, que auxilia os profes-
rizados, com jornadas de trabalho extensas e com pouco sores nas tomadas de decisões durante o pla-
tempo para acompanhar a vida escolar dos filhos, essa di- nejamento, aplicação e a avaliação do ensino.
visão pode mostrar-se ineficaz. Por isso, da mesma forma Ou seja, o construtivismo não é uma receita,
como procura diagnosticar as dificuldades pedagógicas um manual que deve ser seguido à risca sem
dos alunos para atendê-los de acordo com suas neces- se levar em conta as necessidades de cada si-
sidades individuais, a escola deve identificar as condições tuação particular.
de cada família, para então negociar, de acordo com seus
limites e possibilidades, a melhor forma de ação conjun- Ao contrário, os profissionais da educação devem utili-
ta. Assim como não é produtivo exigir que um aluno com zá-lo como auxílio na reflexão sobre a prática pedagógica;
dificuldades de aprendizagem cumpra o mesmo plano sobre o como se aprende e se ensina, considerando-se o
de trabalho escolar dos que não têm dificuldades, não se contexto em que os agentes educativos estão inseridos.
deve exigir das famílias mais vulneráveis aquilo que elas Essas afirmações demonstram a necessidade de se com-
não têm para dar. preender os conteúdos da aprendizagem como produtos
sociais e culturais, o professor como agente mediador en-
tre indivíduo e sociedade, e o aluno como aprendiz social.
Tendo em vista uma educação de qualidade, entendida
EXERCÍCIO COMENTADO como aquela que atende a diversidade, o processo educa-
tivo não é responsabilidade do professor somente. Desse
1. (TCE-PI - Pedagogo – FCC/2014) Segundo a Lei de modo, o trabalho coletivo dos professores, normas e finali-
Diretrizes e Bases (LDB nº 9394/96), a educação, dever da dades compartilhadas, uma direção que tome decisões de
família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade forma colegiada, materiais didáticos preparados em con-
e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade junto, a formação continuada e a participação dos pais são
I. o pleno desenvolvimento do educando; seu preparo para pontos essenciais para a construção da escola de qualidade.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. A instituição escolar é identificada pelo seu caráter
II. o desenvolvimento integral das habilidades do educan- social e socializador. É por meio da escola que os se-
do: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a vi- res humanos entram em contato com uma cultura de-
ver e aprender a ser. terminada. Nesse sentido, a concepção construtivista
III. o desenvolvimento intelectual do educando e a matu- compreende um espaço importante à construção do
ração gradativa de suas etapas emocionais. conhecimento individual e interação social, não con-
Está correto o que se afirma APENAS em: trapondo aprendizagem e desenvolvimento. Aprender
não é copiar ou reproduzir, mas elaborar uma repre-
a) III. sentação pessoal da realidade a partir de experimen-
b) I e II. tações e conhecimentos prévios. É preciso aprender
c) I significativamente, ou seja, não apenas acumular co-

128
nhecimentos, mas construir significados próprios a par- autoconceito e a autoestima, ligados às representações
tir do relacionamento entre a experiência pessoal e a e expectativas sobre o processo educativo, possuem um
realidade. A pré-existência de conteúdos confere certa papel mediador na aprendizagem escolar.
peculiaridade à construção do conhecimento, que deve As interações, no processo de construção de conhe-
ser entendida como a atribuição de significado pessoal cimento, devem ser caracterizadas pelo respeito mútuo e
aos conteúdos concretos, produzidos culturalmente. o sentimento de confiança. É a partir dessas interações,
Pensando especificamente o trabalho do professor, o das relações que se estabelecem no contexto escolar,
construtivismo é uma concepção útil à tomada de de- que as pessoas se educam. Levar isto em consideração é
cisões compartilhadas, que pressupõe o trabalho em compreender o papel essencial dos aspectos afetivo-re-
equipe na construção de projetos didáticos e rotinas de lacionais no processo de construção pessoal do conheci-
trabalho. Por fim, é importante ressaltar que o constru- mento sobre a realidade.
tivismo não é um referencial acabado, fechado a novas
contribuições; sua construção acontece no âmbito da si- 3. Um ponto de partida para a aprendizagem de
tuação de ensino/aprendizagem e a ela deve servir. novos conteúdos: os conhecimentos prévios

2. Disponibilidade para a aprendizagem e sentido Quando se inicia um processo educativo, as mentes


da aprendizagem dos alunos não estão vazias de conteúdo como lousas
em branco. Ao contrário, quando chegam à sala de aula
A aprendizagem é motivada por um interesse, uma os alunos já possuem conhecimentos prévios advindos
necessidade de saber. Mas o que determina esse interes- da experiência pessoal. Na concepção construtivista é a
se, essa necessidade? Não é possível elaborar uma única partir desses conhecimentos que o aluno constrói e re-
resposta a essa questão. No entanto, um bom caminho a constrói novos significados. Identificam-se alguns aspec-
seguir é compreender que além dos aspectos cognitivos, tos globais como elementos básicos que auxiliam na de-
a aprendizagem envolve aspectos afetivo-relacionais. terminação do estado inicial dos alunos: a disposição do
Ao construir os significados pessoais sobre a realidade, aluno para realizar a tarefa proposta, que conta com ele-
constrói-se também o conceito que se tem de você mes- mentos pessoais e interpessoais com sua autoimagem,
mo (autoconceito) e a estima que se professa (autoesti- autoestima, a representação e expectativas em relação
ma), características relacionadas ao equilíbrio pessoal. O à tarefa a ser realizada, seus professores e colegas; ca-
autoconceito e a autoestima influenciam a forma como o pacidades, instrumentos, estratégias e habilidades com-
aluno constrói sua relação com os outros e com o conhe- preendidas em certos níveis de inteligência, raciocínio e
cimento; reconhecer essa dimensão afetivo-relacional é memória que possibilitam a realização da tarefa.
imprescindível ao processo educativo. Os conhecimentos prévios podem ser compreen-
Em relação à motivação para conhecer, é necessário didos como esquemas de conhecimento, ou seja, a re-
compreender a maneira como alunos encaram a tarefa de presentação que cada pessoa possui sobre a realidade.
estudar, que pode ser dividida em dois enfoques: o enfo- É importante ressaltar que esses esquemas de conheci-
que profundo e o enfoque superficial. No enfoque profun- mento são sempre visões parciais e particulares da reali-
do, o aluno se interessa por compreender o significado do dade, determinadas pelo contexto e experiências de cada
que estuda e relaciona os conteúdos aos conhecimentos pessoa. Os esquemas de conhecimento contêm, ainda,
prévios e experiências. Já no enfoque superficial, a intenção diferentes tipos de conhecimentos, que podem ser, por
do aluno limita-se a realizar atarefas de forma satisfatória, exemplo, de ordem conceitual (saber que o coletivo de
limitando-se ao que o professor considera como relevan-
lobos é alcateia), normativa (saber que não se deve rou-
te, uma resposta desejável e não a real compreensão do
bar), procedimental (saber como se planta uma árvore).
conteúdo. Importante ressaltar que o enfoque com que o
Esses conhecimentos são diferentes, porém não devem
aluno aborda a tarefa pode variar; dessa forma, o enfoque
ser considerados melhores ou piores que outros. Para o
profundo pode ser a abordagem de uma relação a uma
ensino coerente, é preciso considerar o estado inicial dos
tarefa e o enforque superficial em relação a outras pelo
alunos, seus conhecimentos prévios e esquemas de co-
mesmo aluno. A inclinação dos alunos para um enfoque ou
nhecimentos construídos. Esse deve ser o início do pro-
outro vai depender, dentre outros fatores, da situação de
cesso educativo: conhecer o que se tem para que se pos-
ensino da qual esse aluno participa.
Entretanto, o enfoque profundo pode ser trabalhado sa, sobre essa base, construir o novo.
com os alunos de maneira intencional. Para isso, é preci-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

so conhecer as características da tarefa trabalhada, o que 4. O que faz com que o aluno e a aluna aprendam
se pretende com determinado conteúdo e a sua necessi- os conteúdos escolares? A natureza ativa e construtiva
dade. Tudo isso demanda tempo, esforço e envolvimento do conhecimento.
pessoal. Outro ponto importante a ser ressaltado é que
o professor, ao entrar numa sala de aula, carrega consigo Entre as concepções de ensino e aprendizagem sus-
certa visão de mundo e imagem de si mesmo, que in- tentadas pelos professores, destacam-se três, cada uma
fluenciam seu trabalho e sua relação com os alunos. Da considerando que aprender é:
mesma forma, os alunos constroem representações so- 1) Conhecer as respostas corretas: Nessa concepção
bre seus professores. Reconhecer esses aspectos afetivos entende-se que aprender significa responder satis-
e relacionais é fundamental para motivação e interesse fatoriamente as perguntas formuladas pelos pro-
pela construção de conhecimento, tendo em vista que o fessores. Reforçam-se positivamente as respostas

129
corretas, sancionando-as. Os alunos são considera- eles não conhecem, não realizam ou não dominam
dos receptores passivos dos reforços dispensados suficientemente, incrementando a capacidade de
pelos professores. compreensão e atuação autônoma dos alunos.
2) Adquirir os conhecimentos relevantes: Nessa con-
cepção, entende-se que o aluno aprende quando O conceito de zona de desenvolvimento proximal (ZDP)
apreende informações necessárias. A principal ati- foi proposto pelo psicólogo soviético L. S. Vygotsky, partin-
vidade do professor é possuir essas informações e do do entendimento de que as interações e relações com
oferecer múltiplas situações (explicações, leituras, outras pessoas são a origem dos processos de aprendi-
vídeos, conferências, visitas a museus) nas quais os zagem e desenvolvimento humano. Nesse sentido, a ZDP
alunos possam processar essas informações. O co- pode ser identificada como o espaço no qual, com a ajuda
nhecimento é produto da cópia e não processo de dos outros, uma pessoa realiza tarefas que não seria capaz
significação pessoal. de realizar individualmente. A contribuição do conceito de
3) Construir conhecimentos: Os conteúdos escolares ZDP está relacionada à possibilidade de se especificar as
são aprendidos a partir do processo de construção formas em aula, ajudando os alunos no processo de signi-
pessoal do mesmo. O centro do processo educativo ficação pessoal e social da realidade.
é o aluno, considerado como ser ativo que aprende
a aprender. Auxiliar a construção dessa competên- Para o trabalho com os conceitos acima arrolados, in-
cia é o papel do professor. dicam-se os seguintes pontos:
1) Inserir atividades significativas na aula;
A primeira concepção está ligada às concepções tradi- 2) Possibilitar a participação de todos os alunos nas
cionais, diferenciada em relação às duas restantes por en- diferentes atividades, mesmo que os níveis de
fatizar o papel supremo do professor na elaboração das competência, conhecimento e interesses forem di-
perguntas. As outras duas concepções, pelo contrário, ferenciados;
ocupam-se de como os alunos adquirem conhecimentos; 3) Trabalhar com as relações afetivas e emocionais;
no entanto, entendem de formas diferentes esse proces- 4) Introduzir modificações e ajustes ao logo da reali-
so. Compreendendo-se que aprender é construir conhe- zação das atividades;
cimentos, identifica-se a natureza ativa dessa construção 5) Promover a utilização e o aprofundamento au-
e a necessidade de conteúdos ligados ao ato de aprender tônomo dos conhecimentos que os alunos estão
conceitos, procedimentos e atitudes. aprendendo;
Nesse sentido, é preciso organizar e planejar intencio- 6) Estabelecer relações entre os novos conteúdos e os
nalmente as atividades didáticas tendo em vista os con- conhecimentos prévios dos alunos;
teúdos das diferentes dimensões do saber: procedimental 7) Utilizar linguagem clara e objetiva evitando mal-
(como a observação de plantas); conceitual (tipos e parte -entendidos ou incompreensões;
das plantas); e atitudinal (de curiosidade, rigor, forma- 8) Recontextualizar e reconceitualizar a experiência.
lidade, entre outras). O trabalho com esses conteúdos
demonstra a atividade complexa que caracteriza o pro- Trabalhar a partir dessas concepções caracteriza de-
cesso educativo, trabalho que demanda o envolvimento safios à prática educativa que não está isenta de pro-
coletivo na escola. blemas e limitações. No entanto, entende-se que esse
esforço, mesmo que acompanhado de lentos avanços, é
5. Ensinar: criar zonas de desenvolvimento proxi- decisivo para a aprendizagem e o desenvolvimento das
escolas e das aulas.
mal e nelas intervir.
6. Os enfoques didáticos
O ensino na concepção construtivista deve ser enten-
dido como uma ajuda ao processo de ensino-aprendi-
A concepção construtivista considera a complexidade
zagem, sem a qual o aluno não poderá compreender a
e as distintas variáveis que intervêm nos processos de en-
realidade e atuar nela. Porém, deve ser apenas ajuda por-
sino na escola. Por isso, não receita formas determinadas
que não pode substituir a atividade construtiva do co-
de ensino, mas oferece elementos para a análise e reflexão
nhecimento pelo aluno. A análise aprofundada do ensino
sobre a prática educativa, possibilitando a compreensão
enquanto ajuda leva ao conceito de “ajuda ajustada” e de de seus processos, seu planejamento e avaliação. Um mé-
zona de desenvolvimento proximal (ZDP). No conceito
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

todo educacional sustenta-se a partir da função social que


de “ajuda ajustada” observa-se que o ensino, enquanto atribui ao ensino e em determinadas ideias sobre como as
ajuda o processo de construção do conhecimento, deve aprendizagens se produzem. Nesse sentido, a análise das
ajustar-se a esse processo de construção. Para tanto, tarefas que propõem e conteúdos trabalhados, explícita
conjuga duas grandes características: ou implicitamente (currículo oculto), requer a compreen-
1) a de levar em conta os esquemas de conhecimento são do determinante ideológico que embasam as práticas
dos alunos, seus conhecimentos prévios em rela- dos professores. A discriminação tipológica dos conteú-
ção aos conteúdos a serem trabalhados; dos, ou seja, a análise dos conteúdos trabalhados segundo
2) e, ao mesmo tempo, propor desafios que levem a natureza conceitual, procedimental ou atitudinal, mos-
os alunos a questionarem esses conhecimentos tra-se como importante instrumento de entendimento do
prévios. Ou seja, não se ignora aquilo que os alu- que acontece na sala de aula.
nos já sabem, porém aponta-se para aquilo que

130
Outro instrumento importante para a compreensão Partindo da consideração que é na prática que se uti-
do processo educativo é a concepção construtivista da liza o que se aprende, um dos critérios, que devem ser
aprendizagem, que estabelece a aprendizagem como levantados nas atividades avaliativas, é o menor ou maior
uma construção pessoal que o aluno realiza com a ajuda valor instrumental das aprendizagens realizadas, ou seja,
de outras pessoas; processo que necessita da contribui- em que grau pode-se utilizar o que se aprendeu, o que
ção da pessoa que aprende, implicando o interesse, dis- se construiu na significação dos saberes. Na medida em
ponibilidade, conhecimentos prévios e experiência; im- que aprender a aprender significa a capacidade para ad-
plica também a figura do outro que auxilia na resolução quirir, de forma autônoma, novos conhecimentos, avaliar
do conflito entre os novos saberes e o que já se sabia, os aspectos instrumentais, é de suma importância a qua-
tendo em vista a realização autônoma da atividade de lidade da educação. Por fim, ressalta-se a necessidade
aprender a aprender. da abordagem da avaliação em estreita ligação com o
O problema metodológico para o fazer educativo não planejamento didático e o currículo escolar. Dessa forma,
se encontra no âmbito do “como fazemos”, mas antes na “o quê”, “como” e “quando” ensinar e avaliar se unem
compreensão do “que fazemos” e “por que”. Na elabora- configurando uma prática educativa global, na qual as
ção das sequências didáticas que devem auxiliar a prática atividades avaliativas não estão separadas das demais
educativa deve-se levar em consideração os objetivos e atividades de construção de conhecimento pelos alunos.
os meios que se tem para facilitar o alcance desses ob-
jetivos. Fonte
COLL, César. O construtivismo na sala de aula. São
7. A avaliação da aprendizagem no currículo esco- Paulo. Editora Ática, 1999
la: uma perspectiva construtivista.

A questão da avaliação do processo educativo tem


sido muito discutida. Com o desenvolvimento de pro- EXERCÍCIO COMENTADO
postas teóricas, metodológicas e instrumentais, expres-
sões e conceitos como o de avaliação inicial, formativa 1. (Pref. Pontal/SP - Professor de Educação Básica I –
e somatória povoam o vocabulário educacional. Junto a Superior - Instituto Excelência/2018) O ______________
isso, construiu-se o consenso de que não se deve avaliar é uma teoria sobre a origem do conhecimento que con-
somente o aluno, mas também a atuação do professor, sidera que a criança passa por estágios para adquirir e
o planejamento de atividades e também sua aplicação. construir o conhecimento. Tem como objeto de estudo
No entanto, muitas questões ainda se encontram sem da alfabetização a língua escrita.
respostas e se configuram como desafios aos envolvidos
com o tema. a) Positivismo
Uma primeira questão a ser levantada é a relação en- b) Construtivismo
tre a avaliação e uma série de decisões relacionadas a c) Behaviorismo
ela, como promoção, atribuição de crédito e formatura d) Nenhuma das alternativas.
de alunos. Essas decisões não fazem parte, em sentido
estrito, do processo de avaliação, porém essas decisões Reposta: Letra B
devem ser coerentes com as avaliações realizadas. O de- Em “b”: Certo - a alternativa está correta como de-
safio é alcançar a máxima coerência entre os processos monstrado em:
avaliativos e as decisões a serem tomadas. Todo proces- O Construtivismo pode ser caracterizado como uma
so avaliativo deve levar em conta os elementos afetivos corrente de pensamento que ganhou espaço, espe-
e relacionais da avaliação. Desse modo, o planejamento cialmente no campo das teorias pedagógicas, inspira-
das atividades avaliativas parte do entendimento de que da na obra de Jean Piaget (1896-1930), biólogo suíço
o aluno atribui certo sentido a essa atividade, sentido que reconhecido por dedicar sua obra ao entendimento
depende da forma como a avaliação lhe é apresentada e dos processos de aquisição do conhecimento huma-
também de suas experiências e significações pessoais e no. Os conceitos piagetianos mais fundamentais fa-
sociais da realidade. É preciso levar em conta também o zem referência aos mecanismos de funcionamento da
caráter sempre parcial dos resultados obtidos por meio inteligência e a constituição/construção do sujeito a
das avaliações, devido à complexidade e diversificação partir de sua interação com o meio. Nessa perspec-
das situações de aprendizagem vivenciadas pelos alu- tiva as estruturas cognitivas do sujeito não nascem
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

nos. Assim, as práticas avaliativas privilegiadas devem prontas, motivo pelo qual o conhecimento repousa
ser aquelas que consideram a dinâmica dos processos de em todos os níveis onde ocorre a interação entre os
construção de conhecimentos. sujeitos e os objetos durante o seu processo de de-
Ao contrário das concepções que buscam neutrali- senvolvimento. Apesar de não ser um educador Piaget
zar as influências do contexto nos resultados das avalia- elaborou uma teoria do conhecimento acerca do de-
ções, a concepção construtivista ressalta a necessidade senvolvimento da inteligência, deixando valiosas con-
de considerar as variáveis proporcionadas pelos diversos tribuições quando interpretamos sua obra com vistas
contextos particulares. Para isso, recomenda-se a utiliza- à prática pedagógica e das quais a teoria construtivista
ção de uma gama maior possível de atividades de avalia- se apropriou. A principal delas é a de que a educação
ção ao longo do processo educativo. deve possibilitar à criança seu pleno desenvolvimento
durante todos os estágios de maturação da inteligên-

131
cia – que se inicia no nascimento, com reflexos neu- ciência do educando a respeito da realidade que o cerca,
rológicos básicos (estágio sensório-motor) e caminha a fim de torná-lo capaz para atuar no sentido de buscar
até o início da adolescência, com o desenvolvimento sua emancipação econômica, política, social e cultural.
do raciocínio lógico (estágio operatório formal). No Delizoicov e Angotti (1994) explicitam que o objeti-
campo educacional isto significa levar em conside- vo da obra é colocar nas mãos dos futuros educadores
ração os esquemas de assimilação e acomodação da um “instrumento” que os ajude a “agilizar” práticas es-
criança, promovendo situações didáticas desafiadoras colares que levem a mudanças na escola básica, as quais
que provoquem os conflitos cognitivos responsáveis “somente serão concretizadas pelos próprios docentes”.
pela construção do conhecimento através da partici- Na apresentação da obra fica claro para quem o livro é
pação ativa do sujeito cognoscente. dirigido, pois não se restringe somente aos futuros pro-
fessores que cursam Magistério (atual curso Normal Su-
https://www.infoescola.com/educacao/construtivismo/ perior). Desta forma, o livro também pode ser útil para
as disciplinas: Metodologia de Ensino, Prática de Ensino
e Instrumentação para o Ensino de Ciências das licencia-
DELIZOICOV. DEMÉTRIO; ANGOTTI, JOSÉ turas em Física, Química e Biologia, assim como do curso
ANDRÉ. METODOLOGIA DO ENSINO DE de Pedagogia.
CIÊNCIAS. SÃO PAULO: CORTEZ, 1994. Os momentos pedagógicos são explorados no 2° ca-
(CAPÍTULO II: UNIDADES 2 E 3; CAPÍTULO pítulo da obra, na unidade que trata do ensino de Ciên-
III: UNIDADES 4 E 5). cias, mais precisamente no tópico intitulado “Uma meto-
dologia para o ensino de Ciências”.
Inicialmente os momentos pedagógicos são trazidos
OS TRÊS MOMENTOS PEDAGÓGICOS NO LIVRO pelos autores como uma proposta de “abordagem me-
todológica” (1994: 52) que, na época, vinha sendo desen-
METODOLOGIA DO ENSINO DE CIÊNCIAS volvida e aplicada no projeto “Ensino de Ciências a partir
de Problemas da Comunidade”, na Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, junto a professores em serviço
FIQUE ATENTO! e seus alunos.
Metodologia do Ensino de Ciências é um li- Os autores apresentam algumas contraposições que
vro com foco nas séries iniciais do 1º grau, se relacionam com premissas epistemológicas e pedagó-
atualmente séries iniciais do Ensino Funda- gicas defendidas no decorrer do livro.
mental. Foi escrito para uso nos cursos de
Magistério de 2º grau, hoje Ensino Médio, Algumas premissas subjacentes à metodologia
tendo em vista oferecer uma proposta de re- proposta
novação no ensino de Ciências naturais (DE-
LIZOICOV e ANGOTTI, 1994). Cotidiano X Distante: Os autores sinalizam a necessi-
dade do professor de Ciências considerar com seriedade
os fenômenos e as situações que constituem o universo
É organizado em quatro capítulos. No 1° capítulo dos educandos, ao enfatizar que: “esforços recentes de
apresenta-se a proposta da relação da disciplina “Meto- se trabalhar os mesmos conteúdos de ensino mais vin-
dologia do Ensino de Ciências” com outras e suas especi- culados àquele universo mostram que é possível, neste
ficidades, finalizando com o histórico do Ensino de Ciên- nível de ensino, uma efetiva aproximação dos modelos
cias no Brasil. No 2° capítulo são abordados aspectos e das abstrações contidas no conhecimento científico e
de natureza epistemológica relevantes para o ensino de sua aplicação em situações reais e concretas” (53).
Ciências. O 3° capítulo traz a relação Ciências, professo- Senso comum X Conhecimento universal sistema-
randos e crianças com o intuito de subsidiar a formulação tizado: é proposto que o educador considere os conhe-
de um programa para as séries iniciais do 1º grau. O últi- cimentos que os alunos possuem, pois podem “interferir
mo capítulo destaca os projetos de ensino desenvolvidos na efetiva apreensão do conteúdo veiculado na escola.
de acordo com o subprograma “Educação para a Ciên- [...] no estudo das Ciências, situações conflitivas emer-
cia”, do concreto, econômico, social e ideologicamente gem, oportunizando a “convivência” de duas estruturas
determinado. Sendo assim, resta-lhe transformar essa de conhecimento paralelas, que para o mesmo fenôme-
situação. A busca do conhecimento é imprescindível, é no estudado não fornecem a mesma interpretação” (53).
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

uma atividade inseparável da prática social, e não deve se Diálogo X Monólogo: a postura problematizadora
basear no acúmulo de informações, mas sim numa reela- do educador é enfatizada como forma de superar o mo-
boração mental que deve surgir em forma de ação, sobre nólogo. A participação tanto do aluno quanto do educa-
o mundo social. Assim, a escola deve ser valorizada como dor significa “uma interação mediatizada pelo problema,
instrumento de luta das camadas populares, propiciando o que implica um diálogo” (53). Os autores enfatizam a
o acesso ao saber historicamente acumulado pela huma- necessidade de um equilíbrio entre a postura problema-
nidade, porém reavaliando a realidade social na qual o tizadora e a postura centrada num “excessivo discurso
aluno está inserido. A educação se relaciona dialetica- centralizador” (54) cujo pressuposto é, exclusivamen-
mente com a sociedade, podendo constituir-se em um te, a transmissão de conhecimento. Desafio X Verdade:
importante instrumento no processo de transformação na perspectiva do livro, encarar “a questão, a resposta,
da mesma. Sua principal função é elevar o nível de cons- o lúdico, a imaginação, a construção mental apresenta-

132
da pelo aluno” (54) como um desafio constante, poderá as situações e fenômenos problematizados, e, de outro,
contribuir para o estabelecimento de um clima propício a comparar esse conhecimento com o seu, para usá-lo
para a troca de saber e de aprendizagem das Ciências, para melhor interpretar aqueles fenômenos e situações
tanto para educadores quanto para educandos. (55).
Após essas contraposições, Delizoicov e Angotti Conforme destacado, nota-se a presença do termo
(1994) apresentam ao educador os 3MP, explicitando as “tema”. Ou seja, introduz-se a ideia de que a intenção é
características essenciais de cada um deles. Assim: que o conhecimento científico está colocado na perspec-
tiva de compreensão da problematização e do tema, e
Primeiro Momento: a problematização inicial não como um fim em si mesmo.
Para desenvolver esse momento, o professor é acon-
São apresentadas questões e/ou situações para dis- selhado a utilizar como recurso diversas técnicas de en-
cussão com os alunos. Sua função, mais do que simples sino, tais como: estudo em grupo, seminários, visitas e
motivação para se introduzir um conteúdo específico, é excursões.
fazer a ligação desse conteúdo com situações reais que
os alunos conhecem e presenciam, para as quais prova- Terceiro Momento: a aplicação do conhecimento
velmente eles não dispõem de conhecimentos suficien-
tes para interpretar total ou corretamente (54). Ao apresentarem esse momento pedagógico, os au-
Delizoicov e Angotti recomendam que a postura do tores afirmam que:
educador “seja mais de questionar e lançar dúvidas do Destina-se, sobretudo, a abordar sistematicamente o
que de responder e fornecer explicações” (55). Enfati- conhecimento que vem sendo incorporado pelo aluno,
zam que a problematização pode ocorrer, pelo menos, para analisar e interpretar tanto as situações iniciais que
em dois sentidos. De um lado, as concepções alternati- determinaram o seu estudo, como outras situações que
vas dos alunos, aquilo que o aluno já tem noções, fruto não estejam diretamente ligadas ao motivo inicial, mas
de aprendizagens anteriores, que pode emergir com a que são explicadas pelo mesmo conhecimento (55).
discussão problematizada. De outro, um problema a ser Com isso, pretende-se que “dinâmica e evolutiva-
resolvido, quando o aluno deve sentir a necessidade de mente” se perceba que o conhecimento está disponível
conhecimentos que ainda não possui. para qualquer cidadão e por isso deve ser apreendido,
Explicam ainda que o critério para a escolha das ques- não sendo apenas uma construção historicamente de-
tões “é o seu vínculo com o conteúdo a ser desenvolvido, terminada.
ou seja, necessariamente relacionadas com o conteúdo Com os três momentos, assim descritos, os autores,
de Ciências a ser estudado” (55). conforme anunciado, apresentam uma atividade que é
Comparando-se à função do Primeiro Momento, as- estruturada com base nessa dinâmica, na unidade 3 –
sim explicitada no livro, com a que teve nos três projetos Conteúdo e Metodologia indissociáveis (57) da obra Me-
anteriores, destaca-se que não se explicita a relação que todologia do Ensino de Ciências.
esse momento possui com situações significativas envol-
vidas nos temas geradores. Apesar de enfatizar a necessi- Radiação Solar, uma abordagem metodológica
dade de um tratamento didático-pedagógico do conhe- (Tópico 1)
cimento do aluno sobre “situações reais que os alunos
conhecem e presenciam”, não estabelece critérios que Nesse tópico, os autores exemplificam como os mo-
possam contribuir para a seleção do que seriam e quais mentos pedagógicos podem ser utilizados para o desen-
seriam as situações a que se refere. De fato, essa mudan- volvimento de uma atividade. Segundo eles, uma forma
ça na proposta de uso do primeiro momento está rela- de “enriquecer e amadurecer este tópico é a reflexão e a
cionada às diferentes perspectivas didático-pedagógicas discussão conjunta com colegas professores” (56).
que embasam as proposições oriundas dos três projetos Assim, no primeiro momento, são sugeridas algumas
anteriores e a do projeto do qual o livro é parte consti- questões e situações que servem para a apreensão da
tuinte (Coleção Magistério). Como se verá no decorrer visão dos alunos sobre o assunto, conforme afirmam os
da análise, as alterações dizem respeito, sobretudo, às autores. Algumas das questões sugeridas são:
diferenças existentes entre uma abordagem conceitual e 1) Explique a forma adquirida pelos rochedos da orla
uma abordagem temática (DELIZOICOV, ANGOTTI e PER- marítima;
NAMBUCO, 2002). 2) Por que as pessoas expostas ao sol ficam bronzea-
das?
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Segundo Momento: a organização do conheci- 3) Por que primeiro vemos o relâmpago e só depois
mento ouvimos o trovão?

Os autores explicam que, no segundo momento: o Essas questões exploram claramente manifestações
conhecimento em Ciências Naturais necessário para a empíricas de processos naturais que precisam do con-
compreensão do tema e da problematização inicial será ceito físico de onda para ser compreendidas. Trata-se,
sistematicamente estudado sob orientação do professor. portanto, de um conceito eleito para estruturar a ativi-
Serão desenvolvidas definições, conceitos, relações. O dade exemplar para o uso dos 3MP, em sintonia com a
conteúdo programado é preparado em termos instrucio- perspectiva da abordagem conceitual para a estrutura-
nais para que o aluno o aprenda de forma a, de um lado ção de conteúdos programáticos escolares, uma vez que
perceber a existência de outras visões e explicações para não se trata de um tema, como, por exemplo, as “Ondas

133
do mar”, que também propiciaria o desenvolvimento do gadores no EC. Nessas orientações, é possível verificar
conceito físico de ondas, no caso as mecânicas, ou “As que um dos objetivos da atividade (Radiação Solar) era
cores do arco-íris”, que propiciaria o desenvolvimen- “aplicar para um conteúdo específico a metodologia de
to do conceito de ondas eletromagnéticas. Esses dois ensino proposta” (72).
exemplos de temas, mesmo não possuindo a caracterís- Com o objetivo de problematizar a atividade desen-
tica dos temas geradores, exigiriam uma organização do volvida, os autores sugerem:
conteúdo programático que possibilitaria exemplificar Discussão da metodologia: Somente após ter aplica-
como uma abordagem temática tornaria possível intro- do e praticado a metodologia durante as aulas através
duzir e desenvolver os conceitos científicos abordados do conteúdo específico, explicite-a, promovendo uma
no segundo momento. discussão crítica. Questões propostas para discussão: 1.
Que características básicas cada momento pedagógico
De fato, no segundo momento, para a organização apresenta? 2. As questões e/ou situações da problema-
dos conhecimentos, são apresentados alguns conceitos tização inicial têm que finalidade? 3. As conclusões da
e propriedades das ondas, introduzindo atividades com problematização inicial são suficientes para esgotar o
uma corda para em seguida utilizar aspectos dessa uni- conhecimento em Ciências? 4. Que adaptações devem
dade para analisar alguns parâmetros fundamentais da ser feitas caso esta metodologia seja usada nas aulas de
onda como: comprimento, frequência, período, velocida- 1ª a 4ª séries? 5. Baseando-se no texto, ressalte a função
de de propagação e unidades de medidas. Nesse mo- e os pontos importantes de cada momento pedagógico.
mento também são lançados problemas e questões. 6. Relacione os aspectos metodológicos com as contra-
Finalmente, no terceiro momento, que se refere à posições (73).
aplicação do conhecimento, são retomadas as questões Apesar da abordagem e uso dos 3MP estar mais fo-
e situação da problematização inicial. De acordo com os cada em uma abordagem conceitual, percebe-se que os
autores, para “rediscuti-las e verificar se houve mudan- autores, a nível do discurso explícito no texto, procuram
ças nas respostas ou se é possível responder a algumas trabalhar as unidades de ensino, estruturando-as por pa-
râmetros encadeados às categorias dialogicidade e pro-
que eventualmente não puderam ser enfrentadas na-
blematização.
quele momento” (68). Na explicitação desse momento,
os autores fazem uma importante observação, quando
Para complementar essa unidade, são apresentadas
afirmam que:
as atividades dos tópicos 2 – Fotossíntese, uma aborda-
Não é obrigatória a resposta precisa a todas as ques-
gem metodológica e 3 – Combustão, uma abordagem
tões, nem se pode garantir todas as respostas somente
metodológica. Essas atividades foram propostas por
com o conhecimento adquirido até aqui (68).
componentes do projeto Coleção Magistério e autores
Nesse momento, novas questões também são suge- de outros livros da coleção, como os de Biologia (Soncini
ridas, como por exemplo, pede-se para determinar a fre- e Castilho, 1992) e de Química (Beltran e Ciscato, 1991).
quência da onda do rádio com diversos comprimentos Esses autores não pertenciam ao grupo de investigação
de onda, para explicar o efeito estufa, entre outras. em EC do qual Delizoicov e Angotti eram originários. No
entanto, o processo mediado pelas interações que tive-
Fica evidente a importância da reflexão sobre as ram ― a circulação intercoletiva ― para conceber aspec-
questões e da tentativa de aproximar o conhecimento tos fundamentais e estruturantes de livros da coleção,
novo da interpretação de fenômenos de nosso convívio, particularmente do livro Metodologia de Ensino, parece
embora a proposição 1 do primeiro momento “Explique ter tido alguma influência mútua, quer no sentido das
a forma adquirida pelos rochedos da orla marítima”, modificações nos 3MP quer ao se incorporar a dimensão
refira-se a um fenômeno convivido apenas por alunos da problematização dos conteúdos.
que vivem na faixa litorânea. Os que habitam as regiões O tópico 2 é proposto por Maria Isabel Soncini e Mi-
brasileiras centrais, distantes do mar, precisam abstrair guel Castilho Júnior, no qual a dinâmica utilizada é a da
a forma adquirida pelos rochedos através de dados dis- problematização, “na qual o conceito é construído pelos
poníveis em outras circunstâncias. Neste sentido, uma alunos” (74). Já a atividade do tópico 3, proposta pelo
das consequências das alterações nos 3MP, decorrentes professor Nelson Orlando Beltran, é desenvolvida com
das interações na produção do livro, foi o vínculo estri- base na experimentação. É importante ressaltar, de acor-
to das questões do primeiro momento com a concei- do com os autores, que:
tuação científica desenvolvida no segundo momento, Na aula, o professor não usou o experimento para
e não propriamente questões que seriam significativas mostrar que os resultados confirmavam as explicações
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

para a compreensão de um tema, como aquelas que se dadas. Ao contrário, problematizou uma situação fazen-
propunham nos três projetos anteriores e com as quais do com que os alunos fossem obrigados a levantar hipó-
se problematizaria a necessidade de se incluir e abordar teses sobre o que estava ocorrendo.
a conceituação científica necessária para a compreensão
do tema, como é a proposta da abordagem temática. Fonte
Nas “orientações ao professor” desse tópico (72-74), MUENCHEN, C. A disseminação dos três momentos
os autores apresentam sugestões que pretendem auxiliar pedagógicos: um estudo sobre práticas docentes na re-
os professores no desenvolvimento da atividade propos- gião de SANTA MARIA/RS.
ta e estruturada pelos 3MP, além das leituras recomen- Referência
dadas para o aprofundamento de aspectos relativos à DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J.A. Metodologia do ensi-
perspectiva educacional que baliza o grupo de investi- no de ciências. São Paulo: Cortez, 1994.

134
A iniciativa partiu de uma prefeita eleita por uma
rede de organizações sociais, portanto diretamente vin-
EXERCÍCIO COMENTADO culada às necessidades das comunidades. Em retribui-
ção, o governador mandou fechar a única agência ban-
1. (SEDUC-AL - Professor - Ciências – CESPE/2018) A cária da cidade. A resposta da comunidade foi reativar
abordagem cognitiva para o ensino de ciências se apoia uma cooperativa de crédito local, passando a financiar
nas teorias cognitivistas que influenciaram a pesquisa e localmente grande parte das iniciativas. E a educação nis-
a prática de ensino e aprendizagem de ciências, espe- so? Os promotores dessas iniciativas deram-se conta de
cialmente a partir da década de 70 do século passado. que Pintadas fica no semiárido, e que as crianças nunca
As teorias cognitivas de Jean Piaget e Lev Vygotsky são tinham tido uma aula sobre o semiárido, sobre as limita-
a base que sustenta os pressupostos dessa abordagem ções e potencialidades da sua própria realidade. Hoje se
que, em linhas gerais, propõe que o conhecimento seja ensina o semiárido nas escolas de Pintadas. É natural que
construído individualmente e socialmente na relação esse ensino, que permite às crianças a compreensão da
dos sujeitos com o mundo e com os demais sujeitos e sua região, das dificuldades dos seus próprios pais nas
dentro de contextos sociais e culturais determinados. diversas esferas profissionais, estimule as crianças e pre-
Internet: <https://edisciplinas.usp.br> (com adapta- pare cidadãos que verão a educação como instrumento
ções). de transformação da própria realidade.
Em Santa Catarina, sob orientação do falecido Jacó
Considerando as informações do texto apresentado e os Anderle, foi desenvolvido o programa “Minha Esco-
múltiplos aspectos a elas relacionados, julgue o próximo la, Meu Lugar”. Trata-se de uma orientação sistemática
item, relativo à metodologia de ensino de ciências. de inclusão da realidade local nos currículos escolares,
As propostas de ensino de ciências que valorizem a envolvendo a formação de professores – que, em geral,
experimentação devem proporcionar aos estudantes a pela própria formação, também desconhecem as suas
chance de fazer observações de determinado fenômeno regiões –, a elaboração de material didático, articulação
e formular e testar hipóteses. dos currículos de diversas disciplinas, e assim por diante.
A região de São Joaquim, no sul do Estado de Santa
( ) CERTO ( ) ERRADO Catarina, era um local pobre, de pequenos produtores
sem perspectiva, e com os indicadores de desenvol-
Resposta: Certo. Segundo o autor, para que a orga- vimento humano mais baixos do Estado. Como outras
nização didática pedagógica ocorra da melhor manei- regiões do país, São Joaquim e os municípios vizinhos
ra possível é necessário que a estrutura da aula seja esperavam que o desenvolvimento “chegasse” de fora,
organizada de forma que o aluno obtenha métodos sob forma de investimento de uma grande empresa, ou
de estudo ativo e autônomo. de um projeto do governo. Há poucos anos, vários re-
sidentes da região decidiram que não iriam mais espe-
rar, e optaram por uma outra visão de solução dos seus
DOWBOR, LADISLAU. EDUCAÇÃO E
problemas: enfrentá-los eles mesmos. Identificaram carac-
APROPRIAÇÃO DA REALIDADE LOCAL.
terísticas diferenciadas do clima local, que constataram ser
ESTUD. AV. [ONLINE].2007, VOL.21, Nº 60, excepcionalmente favorável à fruticultura. Organizaram-se,
PP. 75-90. e com os meios de que dispunham fizeram parcerias com
instituições de pesquisa, formaram cooperativas, abriram
canais conjuntos de comercialização para não depender
EDUCAÇÃO E APROPRIAÇÃO DA REALIDADE LO- de atravessadores, e hoje constituem uma das regiões que
CAL mais rapidamente se desenvolvem no país. E não estão de-
pendendo de uma grande corporação que de um dia para
Ladislau Dowbor
outro pode mudar de região: dependem de si mesmos.
É importante pensar a dimensão educativa desses
No município de Pintadas, na Bahia, pequeno mu-
processos. Há tempos, com a recomendação do Banco
nicípio distante da modernidade do asfalto, todo ano
Mundial, promoveu-se o que se chamava na época de
quase a metade dos homens viajava para o Sudeste para
o corte de cana. A parceria de uma prefeita dinâmica, de «educação para o desenvolvimento». A visão restringia
alguns produtores e de pessoas com visão das neces- os currículos, centrando-os na formação de pessoas úteis
sidades locais permitiu que os que buscavam emprego para as empresas, em conhecimentos tidos como mais
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

em lugares distantes se voltassem para a construção do «práticos». Hoje essa tendência se manifesta em gran-
próprio município. Começaram com uma parceria da Se- des instituições privadas, como a Phoenix, nos Estados
cretaria da Educação local com uma universidade de Sal- Unidos, universidade de fins lucrativos, cotada em bolsa,
vador, para elaborar um plano de saneamento básico da que eliminou visões humanistas e ensina o que caracteri-
cidade, o que reduziu os custos de saúde, liberou terras za como marketable skills, ou seja, habilidades comercia-
e verbas para a produção, e assim por diante. A geração lizáveis. É ir contra a corrente, na linha da velha dicotomia
de conhecimentos sobre a realidade local e a promoção entre teoria e prática.
de uma atitude proativa para o desenvolvimento fazem Essa visão de que podemos ser donos da nossa pró-
parte evidente de uma educação que pode se tornar no pria transformação econômica e social, de que o desen-
instrumento científico e pedagógico da transformação volvimento não se espera, mas se faz, constitui uma das
local. mudanças mais profundas que estão ocorrendo no país.

135
Tira-nos da atitude de espectadores críticos de um go- der econômico. Mas nem tudo foi globalizado. Quando
verno sempre insuficiente, ou do pessimismo passivo. olhamos dinâmicas simples, mas essenciais para a nossa
Devolve ao cidadão a compreensão de que pode tomar vida, encontramos o espaço local. Assim, a qualidade de
o seu destino em suas mãos, conquanto haja uma dinâ- vida no nosso bairro é um problema local, envolvendo o
mica social local que facilite o processo, gerando sinergia asfaltamento, o sistema de drenagem, as infraestruturas
entre diversos esforços. do bairro.
Esse raciocínio pode ser estendido a inúmeras inicia-
A ideia da educação para o desenvolvimento local tivas, como a de São Joaquim aqui citada, mas também a
está diretamente vinculada a essa compreensão e à ne- soluções práticas, como a decisão de Belo Horizonte de
cessidade de se formarem pessoas que amanhã possam tirar os contratos da merenda escolar da mão de grandes
participar de forma ativa das iniciativas capazes de trans- intermediários, contratando grupos locais de agricultu-
formar o seu entorno, de gerar dinâmicas construtivas. ra familiar para abastecer as escolas, o que dinamizou o
Hoje, quando se tenta promover iniciativas desse tipo, emprego e o fluxo econômico da cidade, além de me-
constata-se que não só as crianças, mas mesmo os adul- lhorar sensivelmente a qualidade da comida – foram in-
tos desconhecem desde a origem do nome da sua pró- cluídas cláusulas sobre agrotóxicos – e de promover a
pria rua até os potenciais do subsolo da região onde se construção da capital social. Dependem essencialmen-
criaram. Para termos cidadania ativa, temos de ter uma te da iniciativa local a qualidade da água, da saúde, do
cidadania informada, e isso começa cedo. A educação transporte coletivo, bem como a riqueza ou pobreza da
não deve servir apenas como trampolim para uma pes- vida cultural. Enfim, grande parte do que constitui o que
soa escapar da sua região: deve dar-lhe os conhecimen- hoje chamamos de qualidade de vida não depende mui-
tos necessários para ajudar a transformá-la. to – ainda que possa sofrer os seus impactos – da globa-
Numa região da Itália, visitamos uma cidade onde lização: depende da iniciativa local.
o chão da praça central era um grande baixo-relevo da A importância crescente do desenvolvimento local
própria cidade e das regiões vizinhas, permitindo às pes- encontra-se hoje em inúmeros estudos, do Banco Mun-
soas visualizar os prédios, as grandes vias de comunica- dial, das Nações Unidas, de pesquisadores universitários.
ção, o desenho da bacia hidrográfica, e assim por diante. Iniciativas como a que mencionamos antes vêm sendo
Entre outros usos, a praça é utilizada pelos professores estudadas regularmente. O Programa Gestão Pública e
para discutir com as crianças a distribuição territorial das Cidadania, por exemplo, desenvolvido pela Fundação
principais áreas econômicas, mostrar-lhes como a polui- Getúlio Vargas de São Paulo, tem cerca de 7.500 expe-
ção num ponto se espalha para o conjunto da cidade, e riências desse tipo cadastradas e estudadas. O Cepam,
assim por diante. Há cidades que elaboraram um Atlas que estuda a administração local no Estado de São Paulo,
local para que as crianças pudessem entender o seu acompanha centenas de experiências. O Instituto Brasi-
espaço, outras estão dinamizando a produção de indi- leiro de Administração Municipal (Ibam) do Rio de Ja-
cadores para que os problemas locais se tornem mais neiro acompanha experiências no Brasil inteiro, como é
compreensíveis, e mais fáceis de ser incorporados ao cur- o caso de Instituto Pólis, da Fundação Banco do Brasil,
rículo escolar. Os meios são numerosos e variados, e os que promoveu a Rede de Tecnologias Sociais, e assim por
detalharemos no presente texto, mas o essencial é essa diante.
atitude de considerar que as crianças podem e devem
se apropriar, por meio de conhecimento organizado, do É interessante constatar que quanto mais se desen-
território onde são chamadas a viver, e que a educação volve a globalização, mais as pessoas estão resgatando o
tem um papel central a desempenhar nesse plano. espaço local e buscando melhorar as condições de vida
Há uma dimensão pedagógica importante nesse en- no seu entorno imediato. Naisbitt, um pesquisador ame-
foque. Ao estudarem de forma científica e organizada a ricano, chegou a chamar esse processo de duas vias, de
realidade que conhecem por vivência, mas de forma frag- globalização e de localização, de «paradoxo global». Na
mentada, as crianças tendem a assimilar melhor os pró- realidade, a nossa cidadania se exerce em diversos níveis,
prios conceitos científicos, pois é a realidade delas que mas é no plano local que a participação pode se expres-
passa a adquirir sentido. Ao estudarem, por exemplo, as sar de forma mais concreta.
dinâmicas migratórias que constituíram a própria cidade A grande diferença, para municípios que tomaram as
onde vivem, as crianças tendem a encontrar cada uma a rédeas do próprio desenvolvimento, é que, em vez de
sua origem, segmentos de sua identidade, e passam a serem objetos passivos do processo de globalização,
ver a ciência como instrumento de compreensão da sua passaram a direcionar a sua inserção segundo os seus in-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

própria vida, da vida da sua família. A ciência passa a ser teresses. Promover o desenvolvimento local não significa
apropriada, e não mais apenas uma obrigação escolar. voltar as costas para os processos mais amplos, incluin-
do os planetários: significa utilizar as diversas dimensões
1, Globalização e desenvolvimento local territoriais segundo os interesses da comunidade.
Há municípios turísticos, por exemplo, onde um gi-
Quando consultamos a imprensa, ou até revistas téc- gante do turismo industrial ocupa uma imensa parte da
nicas, parece-nos que tudo está globalizado, só se fala orla marítima, joga a população ribeirinha para o interior
em globalização, no cassino financeiro mundial, nas e obtém lucros a partir da beleza natural da região, na
corporações transnacionais. A globalização é um fato mesma proporção em que dela priva os seus habitantes.
indiscutível, diretamente ligado a transformações tecno- Outros municípios desenvolveram o turismo sustentável
lógicas da atualidade e à concentração mundial do po- e aproveitam a tendência crescente da busca de lugares

136
mais sossegados, com pousadas simples, mas em am- de complementaridades entre o campo e a cidade. Onde
biente agradável, ajudando, e não desarticulando, as ati- antes havia a divisão nítida entre o “rural” e o “urbano”
vidades preexistentes, como a pesca artesanal, que aliás aparece o que tem sido chamado de “urbano”.
se torna um atrativo. Tanto o turismo de resorts como o No território assim constituído, as pessoas passam a
turismo sustentável participam do processo de globaliza- se identificar como comunidade, a administrar conjunta-
ção, mas na segunda opção há um enriquecimento das mente problemas que são comuns. Esse “aprender a co-
comunidades, que continuam a ser donas do seu desen- laborar” se tornou suficientemente importante para ser
volvimento. classificado como um capital, uma riqueza de cada co-
Com o peso crescente das iniciativas locais, é natu- munidade, sob forma de capital social. Em outros termos,
ral que da educação se esperem não só conhecimentos se antigamente o enriquecimento e a qualidade de vida
gerais, mas a compreensão de como os conhecimentos dependiam diretamente, por exemplo, numa proprieda-
gerais se materializam em possibilidades de ação no pla- de rural, do esforço da família, na cidade a qualidade de
no local. vida e o desenvolvimento vão depender cada vez mais da
capacidade inteligente de organização das complemen-
2. Urbanização e iniciativas sociais taridades, das sinergias no interesse comum.

Boa parte da atitude passiva de “espera” do desen- É nesse plano que desponta a imensa riqueza da ini-
volvimento se deve ao fato de a nossa urbanização ainda ciativa local: como cada localidade é diferenciada, se-
ser muito recente. Nos anos 1950, éramos, como ordem gundo o seu grau de desenvolvimento, a região onde
de grandeza, dois terços de população rural; hoje somos se situa, a cultura herdada, as atividades predominantes
82% de população urbana. A urbanização muda profun- na região, a disponibilidade de determinados recursos
naturais, as soluções terão de ser diferentes para cada
damente a forma de organização da sociedade em tor-
uma. E só as pessoas que vivem na localidade, que a co-
no às suas necessidades. Uma família no campo resolve
nhecem efetivamente, é que sabem realmente quais são
individualmente os seus próprios problemas de abaste-
as necessidades mais prementes, os principais recursos
cimento de água, de lixo, de produção de hortifrutigran-
subutilizados, e assim por diante. Se elas não tomarem
jeiros, de transporte. iniciativas, dificilmente alguém o fará para elas.
Na cidade, não é viável cada um ter o seu poço, O Brasil possui quase 5.600 municípios. Não é viável o
mesmo porque o adensamento da população provoca governo federal, ou mesmo o governo estadual, conhe-
a poluição dos lençóis freáticos pelas águas negras. O cer todos os problemas de tantos lugares diferentes. E
transporte é em grande parte coletivo, o abastecimento tampouco está na mão de algumas grandes corporações
depende de uma rua comercial, as casas têm de estar in- resolver tantos assuntos, ainda que tivessem interesse.
terligadas com redes de água, esgotos, telefonia, eletrici- De certa forma, os municípios formam os “blocos” com
dade, frequentemente com cabos de fibras ópticas, sem os quais se constrói o país, e cada bloco ou componente
falar da rede de ruas e calçadas, de serviços coletivos de tem de se organizar de forma adequada segundo as suas
limpeza pública e de remoção de lixo, e assim por diante. necessidades, para que o conjunto – o país – funcione.
A cidade é um espaço no qual predomina o sistema de Assim passamos de uma visão tradicional dicotômica,
consumo coletivo em rede. na qual ficava de um lado a iniciativa individual e de ou-
tro a grande organização, estatal ou privada, para uma
visão de iniciativas colaborativas no território. As inúme-
FIQUE ATENTO! ras organizações da sociedade civil organizada, as ONG,
No espaço adensado urbano, as dinâmicas as organizações comunitárias, os grupos de interesse,
de colaboração passam a predominar. Não fazem parte dessa construção de uma sociedade que
adianta uma residência combater o mosqui- gradualmente aprende a articular interesses que são di-
to da dengue se o vizinho não colabora. A ferenciados, mas nem por isso deixam de ter dimensões
poluição de um córrego vai afetar toda a po- complementares.
pulação que vive rio abaixo. Assim, enquan- A educação não pode se limitar a constituir para cada
to a qualidade de vida da era rural dependia aluno um tipo de estoque básico de conhecimentos. As
pessoas que convivem num território têm de passar a
em grande parte da iniciativa individual, na
conhecer os problemas comuns, as alternativas, os po-
cidade passa a ser essencial a iniciativa so-
tenciais. A escola passa, assim, a ser uma articuladora
cial, que envolve muitas pessoas e a partici-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

entre as necessidades do desenvolvimento local e os


pação informada de todos.
conhecimentos correspondentes. Não se trata de uma
diferenciação discriminadora, do tipo “escola pobre para
pobres”: trata-se de uma educação mais emancipadora
O próprio entorno rural passa cada vez mais a se ar- na medida em que assegura à nova geração os instru-
ticular com a área urbana, tanto por meio do movimento mentos de intervenção sobre a realidade que é a sua.
de chácaras e lazer rural da população urbana como pe-
las atividades rurais que se complementam com a cidade, 3. Informação, educação e cidadania
como é o caso do abastecimento alimentar, das famílias
rurais que complementam a renda com trabalho urba- A pesquisadora americana Hazel Henderson traz
no, ou da necessidade de serviços descentralizados de uma imagem interessante. Imaginemos um trânsito
educação e saúde. Gera-se assim um espaço articulado atravancado numa região da cidade. Uma das soluções

137
é deixar cada um se virar como pode, um tipo de libera- e saibam cobrar dos seus legisladores e do poder público
lismo exacerbado. O resultado será, provavelmente, que em geral, a transparência, a decomposição dos números
todos buscarão maximizar as suas vantagens individuais, que não entendem. Apesar disso, e embora não haja uma
gerando um engarrafamento-monstro, pois a tendência cultura disseminada do controle social na população,
é ocupar todos os espaços vazios, e a maioria vai ter um muitos cidadãos exercem o controle social com extrema
comportamento semelhante. Outra solução é colocar eficácia porque têm noção de prioridade e fazem com-
guardas que irão direcionar todo o fluxo de trânsito, de parações, em termos de resultados das políticas, mesmo
forma imperativa, a fim de desobstruir a região. A solu- sem saber ler, e mesmo quando o próprio poder público
ção pode ser mais interessante, mas não respeita as dife- tenta desqualificá-los, principalmente quando se apon-
renças de opção ou mesmo de destino dos diversos mo- tam irregularidades nos Conselhos. Quanto mais as infor-
toristas. Uma terceira saída é deixar a opção ao cidadão, mações são monopólio, ou herméticas e confusas, menor
mas assegurar, por meio de rádio ou de painéis, ampla é a capacidade de a sociedade participar e de influenciar
informação sobre o local onde ocorre o engarrafamento, o Estado, o que acaba enfraquecendo a noção de demo-
os tempos previstos de demora e as opções. Esse tipo de cracia, que pode ser medida pelo fluxo, pela qualidade e
decisão, democrática, mas informada, permite o com- quantidade das informações que circulam na sociedade.
portamento inteligente de cada indivíduo, segundo os O grande desafio é a transparência no sentido do em-
seus interesses e situação particular, e ao mesmo tempo poderamento, que significa encontrar instrumentos para
o interesse comum. que a população entenda o orçamento e fiscalize o po-
Sempre haverá, naturalmente, um pouco de cada op- der público.
ção nas diversas formas de organizar o desenvolvimen- O objetivo da educação não é desenvolver concei-
to, mas o que nos interessa particularmente é a terceira tos tradicionais de “educação cívica” com moralismos
opção, pois mostra que além do “vale tudo” individual, que cheiram a mofo, mas permitir que os jovens tenham
ou da disciplina da “ordem”, pode haver formas organi- acesso aos dados básicos do contexto que regerá as suas
zadas e inteligentes de ação sem que seja preciso man- vidas. Entender o que acontece com o dinheiro público,
quais são os indicadores de mortalidade infantil, quem são
dar nas pessoas, respeitando a sua liberdade. Em outros
os maiores poluidores da sua região, quais são os maiores
termos, um bom conhecimento da realidade, sólidos
potenciais de desenvolvimento – tudo isso é uma questão
sistemas de informação, transparência na sua divulga-
de elementar transparência social. Não se trata de privile-
ção podem permitir iniciativas inteligentes por parte de
giar o “prático” relativamente ao teórico, trata-se de dar
todos.
um embasamento concreto à própria teoria.
Há algum tempo, a cidade de Porto Alegre colocou
em mapas digitalizados todas as informações sobre uni-
5. Os parceiros do desenvolvimento local
dades econômicas da cidade, que estão registradas na
Secretaria da Fazenda para obter o alvará de funciona- Uma educação que insira nas suas formas de edu-
mento. Quando, por exemplo, um comerciante quer abrir car uma maior compreensão da realidade local terá de
uma farmácia, mostram-lhe o mapa de distribuição das organizar parcerias com os diversos atores sociais que
farmácias na cidade. Com isso, o comerciante localiza as constroem a dinâmica local. Em particular, as escolas,
áreas onde já há várias farmácias, e onde há falta delas. As- ou o sistema educacional local de forma geral, terão de
sim, com boa informação, o comerciante irá localizar a sua articular-se com universidades locais ou regionais para
farmácia onde há clientela que esteja precisando, servindo elaborar o material correspondente, organizar parcerias
melhor os seus próprios interesses e prestando um serviço com ONG que trabalham com dados locais, conhecer as
socialmente mais útil. diferentes organizações comunitárias, interagir com di-
Em outros termos, a coerência sistêmica de numero- versos setores de atividades públicas, buscar o apoio de
sas iniciativas de uma cidade, de um território depende instituições do sistema S como Sebrae ou Senac, e assim
fortemente de uma cidadania informada. A tendência por diante.
que temos hoje é que só alguns políticos ou chefes eco- O processo é de duplo sentido, pois, por um lado,
nômicos locais dispõem da informação, e ditam o seu leva a escola a formar pessoas com maior compreensão
programa à cidade. Assim, a democratização do conhe- das dinâmicas realmente existentes para os futuros pro-
cimento do território, das suas dinâmicas mais variadas fissionais, e, por outro, leva a que essas dinâmicas pe-
é uma condição central do desenvolvimento. E onde o netrem o próprio sistema educacional, enriquecendo-o.
cidadão vai colher conhecimento sobre a sua região se Assim, os professores terão maior contato com as diver-
discussões sobre a cidade só aparecem uma vez a cada sas esferas de atividades, tornar-se-ão de certa maneira
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

quatro anos nos discursos eleitorais? mediadores científicos e pedagógicos de um território,


de uma comunidade. A requalificação dos professores
4. Um relatório recente do Instituto de Estudos Só- que isso implica poderá ser muito rica, pois esses serão
cio-Econômicos (Inesc), uma ONG que trabalha sobre naturalmente levados a confrontar o que ensinam com
o controle do dinheiro público, é nesse sentido inte- as realidades vividas, sendo de certa maneira colocados
ressante: na mesma situação que os alunos, que escutam as aulas
e enfrentam a dificuldade em fazer a ponte entre o que é
O fato de termos uma sociedade com baixo nível de ensinado e a realidade concreta do seu cotidiano.
escolaridade, constitui um desafio a mais, não só para O impacto em relação à motivação, para uns e outros,
melhorar a escolaridade, mas para educar para a cidada- poderá ser grande, sobretudo para os alunos a quem
nia, para que os cidadãos saibam suas responsabilidades sempre se explica que “um dia” entenderão por que o

138
que estudam é importante. O aluno que tiver aprendido 6. O impacto das tecnologias
em termos históricos e geográficos como se desenvolveu
a sua cidade, o seu bairro, terá maior capacidade e inte- É impressionante a solidão do professor ante a sua
resse em contrastar esse desenvolvimento com o proces- turma, com os seus cinquenta minutos e uma fatia de
so de urbanização de outras regiões, de outros países, e conhecimento predefinida a transmitir. Alguns serão me-
compreenderá melhor os conceitos teóricos das dinâmi- lhores, outros piores, para enfrentar esse processo, mas
cas demográficas em geral. no conjunto esse universo fatiado corresponde pouco à
Envolve ainda mudanças dos procedimentos pedagó- motivação dos alunos, e tornou-se muito difícil para o
gicos, pois é diferente fazer os alunos anotarem o que o professor, individualmente, modificar os procedimentos.
professor diz sobre D. Carlota Joaquina, e organizar de Isso levou a uma situação interessante, de um grande
maneira científica o conhecimento prático, mas fragmen- número de pessoas na área educacional querendo intro-
tado que existe na cabeça dos alunos. Em particular, seria duzir modificações, ao mesmo tempo que pouco muda.
natural organizar de forma regular e não esporádica dis- É um tipo de impotência institucional, em que uma en-
cussões que envolvam alunos, professores e profissionais grenagem tem dificuldade de alterar algo, na medida em
de diversas áreas de atividades, desde líderes comuni- que depende de outras engrenagens. A mudança sistê-
tários a gerentes de banco, de sindicalistas a empresá- mica é sempre difícil. E sobretudo, as soluções individuais
rios, de profissionais liberais e desempregados, apoian- não bastam.
do esses contatos sistemáticos com material científico de Um dos paradoxos que enfrentamos é o contraste
apoio. entre a profundidade das mudanças das tecnologias do
Na sociedade do conhecimento para a qual evoluí- conhecimento e o pouco que mudaram os procedimen-
mos rapidamente, todos – e não só as instituições de tos pedagógicos. A maleabilidade dos conhecimentos foi
ensino – se defrontam com as dificuldades de se lidar e está sendo profundamente revolucionada. Pondo de
com muito mais conhecimento e informação. As empre- lado os diversos tipos de exageros sobre a “inteligência
sas realizam regularmente programas de requalificação artificial”, ou as desconfianças naturais dos desinforma-
dos trabalhadores, e hoje trabalham com o conceito de dos, a realidade é que a informática, associada às teleco-
knowledge organization, ou de learning organizations, municações, permite:
na linha da aprendizagem permanente. - estocar de forma prática, em disquetes, em discos
Acabou o tempo em que as pessoas primeiro estu- rígidos e em discos laser, ou simplesmente em al-
dam, depois trabalham, e depois se aposentam. A re- gum endereço da rede, gigantescos volumes de
lação com a informação e o conhecimento acompanha informação. Estamos falando de centenas de mi-
cada vez mais as pessoas durante toda a sua vida. É um lhões de unidades de informação que cabem no
deslocamento profundo entre a cronologia da educação bolso, e do acesso universal a qualquer informação
formal e a cronologia da vida profissional. digitalizada;
Nesse sentido, todas as organizações, e não só as es- - trabalhar essa informação de forma inteligente, per-
colas, se tornaram instituições onde se aprende, recon- mitindo a formação de bancos de dados sociais e
sideram-se os dados da realidade. A escola precisa estar individuais de uso simples e prático, e eliminando
articulada com esses diversos espaços de aprendizagem as rotinas burocráticas que tanto paralisam o tra-
para ser uma parceira das transformações necessárias. balho científico. Pesquisar dezenas de obras para
Um exemplo interessante nos vem de Jacksonville, saber quem disse o quê sobre um assunto parti-
nos Estados Unidos. A cidade produz anualmente um cular, “navegando” entre as mais diversas opiniões,
balanço de evolução da sua qualidade de vida, avaliando torna-se uma tarefa extremamente simples;
a saúde, a educação, a segurança, o emprego, as ativida- - transmitir de forma muito flexível a informação por
des econômicas, e assim por diante. Esse relatório anual meio da internet, de forma barata e precisa, inau-
é produzido com a participação dos mais variados par- gurando uma nova era de comunicação de conhe-
ceiros e permite inserir o conhecimento científico da rea- cimentos. Isso implica que, de qualquer sala de
lidade no cotidiano dos cidadãos. O mundo da educação aula ou residência, podem ser acessados dados de
tem por vocação ensinar a trabalhar de forma organizada qualquer biblioteca do mundo, ou ainda, que um
o conhecimento. Pode ficar fora de esforços desse tipo? conjunto de escolas pode transmitir informações
Aparecem como parceiros necessários as universida- científicas de uma para outra, ou de um conjun-
des regionais, as empresas, o sistema S, diversos órgãos to de instituições regionais em redes educacionais
da prefeitura, as ONG ambientais, as organizações comu- articuladas;
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

nitárias, a mídia local, as representações locais do IBGE, - integrar a imagem fixa ou animada, o som e o texto
da Embrapa e de outros organismos de pesquisa e de- de maneira muito simples, ultrapassando a tradi-
senvolvimento. Enfim, há um mundo de conhecimentos cional divisão entre a mensagem lida no livro, ou-
dispersos e subutilizados, que podem se tornar matéria- vida no rádio ou vista numa tela, envolvendo aliás
-prima de um ensino diferenciado. a possibilidade hoje de qualquer escola ter uma rá-
O que visamos é uma escola um pouco menos lecio- dio comunitária, tornando-se um articulador local
nadora, e um pouco mais articuladora dos diversos espa- poderoso no plano do conhecimento;
ços do conhecimento que existem em cada localidade, - manejar os sistemas sem ser especialista: acabou-se
em cada região; e educar os alunos de forma a que se o tempo em que o usuário tinha de aprender uma
sintam familiarizados e inseridos nessa realidade. “linguagem”, ou simplesmente tinha que parar de
pensar no problema do seu interesse científico para

139
pensar no como manejar o computador. A geração vemos escolas que trancam computadores numa sala, o
dos programas user-friendly, ou seja, “amigos” do “laboratório”, em vez de inserir o seu uso em dinâmicas
usuário, torna o processo pouco mais complicado pedagógicas repensadas.
que o da aprendizagem do uso da máquina de es-
crever, mas exige também uma mudança de atitu- 7. Educação e gestão do conhecimento
des ante o conhecimento de forma geral, mudança
cultural que, essa sim, é frequentemente complexa. Com o risco de dizer o óbvio, mas visando à siste-
matização, podemos considerar que, em relação à ges-
Trata-se aqui de dados muito conhecidos, e o que tão do conhecimento, os novos pontos de referência, ou
queremos notar, ao lembrá-los brevemente, é que esta- transformações mais significativas, seriam os seguintes:
mos perante um universo que se descortina com rapidez - é necessário repensar de forma mais dinâmica e com
vertiginosa, e que será o universo do cotidiano das pes- novos enfoques a questão do universo de conheci-
soas que hoje formamos. mentos a trabalhar: ninguém mais pode aprender
tudo, mesmo de uma área especializada; a opção
Somente agora, contudo, as pessoas começam a se entre “cabeça bem cheia” ou “cabeça bem-feita”
dar conta de que o custo total de um equipamento de nos deixa poucas opções;
primeira linha, com enorme capacidade de estocagem - nesse universo de conhecimentos, assumem maior
de dados, impressora, modem, escâner para transporte importância relativa as metodologias, o aprender
direto de textos ou imagens do papel para a forma mag- a “navegar”, reduzindo-se ainda mais a concepção
nética, continua caindo regularmente. de “estoque” de conhecimentos a transmitir;
Há um potencial de democratização radical do apoio - torna-se cada vez mais fluida a noção de área es-
aos professores, e de nivelamento por cima do conjunto pecializada de conhecimentos, ou de “carreira”,
do mundo educacional no país, que as tecnologias hoje quando do engenheiro se exige cada vez mais uma
permitem, e a luta por essa democratização tornou-se compreensão da administração, quando qualquer
essencial na mudança sistêmica, que ultrapassa o nível cientista social precisa de uma visão dos problemas
de iniciativa do educador individual ou da escola isolada- econômicos, e assim por diante, devendo-se, aliás,
mente. Não há dúvida de que o educador frequentemen- colocar em questão os corporativismos científicos;
te ainda se debate com os problemas mais dramáticos e - aprofunda-se a transformação da cronologia do co-
elementares. Mas a implicação prática que vemos, ante nhecimento: a visão do homem que primeiro estu-
a existência paralela desse atraso e da modernização, é da, depois trabalha, e depois se aposenta torna-se
que temos que trabalhar em “dois tempos”, fazendo o cada vez mais anacrônica, e a complexidade das
melhor possível no universo preterido que constitui a diversas cronologias aumenta;
nossa educação, mas criando rapidamente as condições - modifica-se profundamente a função do educando,
para uma utilização “nossa” dos novos potenciais que em particular do adulto, que deve se tornar sujeito
surgem. da própria formação, ante a diferenciação e rique-
No plano da implantação local de tecnologias a ser- za dos espaços de conhecimento nos quais deverá
viço da educação, o exemplo de Piraí, pequena cidade participar;
do Estado do Rio, é importante. O projeto, de iniciativa - a luta pelo acesso aos espaços de conhecimento
municipal, envolveu convênios com as empresas que ad- vincula-se ainda mais profundamente ao resgate
ministram torres de retransmissão de sinal de TV e de da cidadania, em particular para a maioria pobre
telefonia celular, para instalação de equipamento de re- da população, como parte integrante das condi-
transmissão de sinal de internet por rádio. Assim se asse- ções de vida e de trabalho;
gura a cobertura de todo o território municipal. A partir - finalmente, longe de tentar ignorar as transforma-
de alguns pontos de recepção, fez-se uma distribuição ções, ou de atuar de forma defensiva ante as no-
do sinal banda larga por cabo, dando acesso a todas as vas tecnologias, precisamos penetrar as dinâmicas
escolas, instituições públicas, empresas. Como a gestão para entender sob que forma os seus efeitos po-
do sistema é pública, utilizou-se a diferenciação de ta- dem ser invertidos, levando a um processo ree-
rifas para que o lucro maior das empresas cobrisse uma quilibrador da sociedade, quando hoje tendem a
subvenção ao acesso domiciliar, e hoje qualquer famí- reforçar as polarizações e a desigualdade.
lia humilde pode ter acesso banda larga em casa por R$
35 por mês. Convênios de crédito com bancos oficiais De forma geral, todas essas transformações tendem
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

permitem a compra de equipamentos particulares com a nos atropelar, gerando frequentemente resistências
juros baixos. O resultado prático é que o conjunto do fortes, sentimentos de impotência, reações pouco arti-
município “banha” no espaço da internet, gerando uma culadas. No conjunto, no entanto, há o fato essencial de
produtividade sistêmica maior do esforço de todos, além as novas tecnologias representarem uma oportunidade
de mudança de atitudes de jovens, de maior facilidade radical de democratização do acesso ao conhecimento.
de trabalho dos professores que têm possibilidade de
acesso em casa, e assim por diante. A palavra-chave é a conectividade. Uma vez feito o in-
O que temos hoje é uma rápida penetração das tec- vestimento inicial de acesso banda larga de uma escola,
nologias, e uma lenta assimilação das implicações que ou de uma família, é a totalidade do conhecimento digi-
essas tecnologias trazem para a educação. Convivem, as- talizado do planeta que se torna acessível, representan-
sim, dois sistemas pouco articulados, e frequentemente do uma mudança radical, particularmente para pequenos

140
municípios, para regiões isoladas, e na realidade qual- controle e avaliação propositiva. Nesse caso, espera-se a
quer segmento relativamente pouco equipado, mesmo afirmação do seu caráter deliberativo de modo a avançar
das metrópoles. Quando se olha o que existe em geral cada vez mais em relação à sua função consultiva”. Isso
nas bibliotecas escolares, e a pobreza das livrarias – cen- envolve “a organização do espaço e do tempo escolar e
tradas em livros de autoajuda, volumes traduzidos sobre do tempo curricular com ênfase na sua distribuição, or-
como ganhar dinheiro e fazer amigos, além de algumas ganização e uso, e os resultados de aprendizagens com
bobagens mais –, compreende-se a que ponto o apro- ênfase no conhecimento de experiências inovadoras”.
veitamento adequado da conectividade pode tornar-se No quadro do Ministério do Meio Ambiente, junto com
uma forma radical de democratização do acesso ao co- o Ministério das Cidades, gerou-se o programa “Municípios
nhecimento mais significativo. Educadores Sustentáveis”, que também permite inserir nas
Ao mesmo tempo, essa conectividade permite que escolas uma nova visão tanto do estudo da problemática
mesmo pequenas organizações comunitárias, ONG, pe- local como da responsabilização e do protagonismo infan-
quenas empresas, núcleos de pesquisa relativamente iso- til e juvenil relativamente ao seu meio. Assim, por exemplo,
lados, podem articular-se em rede. O problema de “ser as escolas podem contribuir para elaborar indicadores re-
grande” já está deixando de ser essencial, quando se é gionais e sistemas de avaliação para o monitoramento e a
bem conectado, quando se pertence a uma rede inte- avaliação da situação ambiental.
rativa. O Programa Municípios Educadores Sustentáveis
Em outros termos, a era do conhecimento exige mui- propõe promover o diálogo entre os diversos setores
to mais conhecimento atualizado e inserido nos signifi- organizados, colegiados, com os projetos e ações desen-
cados locais e regionais, e ao mesmo tempo as tecno- volvidos nos municípios, bacias hidrográficas e regiões
logias da informação e comunicação tornam o acesso a administrativas. Ao mesmo tempo, propõe dar-lhes um
esse conhecimento muito mais viável. A educação preci- enfoque educativo, no qual cidadãs e cidadãos passam
sa, de certa forma, organizar essa transição, e preparar as a ser editores/educadores de conhecimento socioam-
crianças para o mundo realmente existente. biental, formando outros editores/educadores, e multi-
plicando-se sucessivamente, de modo que o município
8. O desafio educacional local e os conselhos mu- se transforme em educador para a sustentabilidade.
nicipais A responsabilidade escolar nesse processo é essen-
cial, pois precisamos construir uma geração de pessoas
Um diretor de escola anda em geral assoberbado por que entendam efetivamente o meio onde estão inseri-
problemas do cotidiano, com muita visão do imediato, e das: o mesmo documento ressalta que todos somos res-
pouco tempo para a visão mais ampla. O professor en- ponsáveis pela construção de sociedades sustentáveis.
frenta a gestão da sala de aula, e frequentemente está Isso significa promover a valorização do território e dos
muito centrado na disciplina que ministra. Nesse sentido, recursos locais (naturais, econômicos, humanos, institu-
o Conselho Municipal de Educação, reunindo pessoas cionais e culturais), que constituem o potencial local de
que ao mesmo tempo conhecem o seu município, o seu melhoria da qualidade de vida para todos. É preciso co-
bairro e os problemas mais amplos do desenvolvimento nhecer melhor este potencial, para chegar à modalidade
local, e a rede escolar da região, pode se tornar o núcleo de desenvolvimento sustentável adequada à situação lo-
irradiador da construção do enriquecimento científico cal, regional e planetária.
mais amplo do local e da região. No município de Vicência, em Pernambuco, encontra-
mos o seguinte relato: “Educação é a principal condição
Essas visões implicam, sem dúvida, uma atitude cria- para o desenvolvimento local sustentável. Nessa dimen-
tiva por parte dos conselheiros de educação. Um docu- são, a Secretaria de Educação do Município implantou
mento endereçado ao Pró-Conselho ressalta o respaldo o projeto ‘Escolas rurais, construindo o desenvolvimento
formal que essas iniciativas podem encontrar: local’, com a perspectiva de melhoria da qualidade do
Importa dizer que o Conselho desempenha impor- ensino e, consequentemente, a melhoria da qualidade de
tante papel na busca de uma inovação pedagógica que vida das comunidades rurais”. O projeto permitiu “uma
valorize a profissão docente e incentive a criatividade. metodologia diferenciada que leva a uma contribuição
Por outro lado, ele pode ser um pólo de audiências, aná- para uma melhor compreensão de um verdadeiro exer-
lises e estudos de políticas educacionais do seu sistema cício de cidadania. O projeto tem como objetivo tornar
de ensino. Finalmente, importa não se esquecer da fun- a escola o centro de produção de conhecimento, contri-
damentação ética, legal de suas atribuições para se ga- buindo para o desenvolvimento local”
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

nhar em legitimidade perante a sociedade e os poderes São visões que vão se concretizando gradualmente,
públicos... Sob esses aspectos, o conselheiro será visto com experiências que buscam de forma diferenciada, se-
como um gestor cuja natureza remete ao verbo gerar e gundo as realidades locais e regionais, caminhos práticos
gerar é produzir o novo: um novo desenho para a educa- que permitam dar à educação um papel mais amplo de
ção municipal consoante os mais lídimos princípios de- irradiador de conhecimentos para o desenvolvimento lo-
mocráticos e republicanos. cal, formando uma nova geração de pessoas conhecedo-
Outro documento, de Eliete Santiago, insiste no pa- ras dos desafios que terão de enfrentar.
pel dos Conselhos Municipais de Educação como “for- Não há “cartilha” para esse tipo de procedimentos.
ma de participação da sociedade no controle social do Em alguns municípios, o problema central é de água; em
Estado. Configura-se como um espaço para a discussão outros, é de infraestruturas; em outros, ainda, é de segu-
efetiva da política educacional e consequentemente seu rança ou de desemprego. Alguns podem se apoiar numa

141
empresa de visão aberta, outras se ligarão com univer- A diversidade de soluções aqui é imensa, pois temos
sidades regionais. Há cidades com prefeitos dispostos a desde poderosos centros metropolitanos até pequenos
ajudar no desenvolvimento integrado e sustentável; há municípios rurais. O essencial é ter em conta que todos
outras em que a compreensão do valor do conhecimen- os atores sociais locais produzem informação de alguma
to ainda é incipiente, e onde as autoridades acham que forma, e que essa informação organizada e disponibili-
desenvolver um município consiste em inaugurar obras. zada torna-se valiosa para todos. E para o sistema edu-
Cada realidade é diferente, e não há como escapar ao cacional local, em particular, torna-se fonte de estudo e
trabalho criativo que cada conselho municipal deverá de- aprendizagem.
senvolver. Os municípios particularmente desprovidos de in-
fraestruturas adequadas poderão fazer parcerias com
Isso dito, apresentamos a seguir algumas sugestões, instituições científicas regionais e apresentar projetos de
para servir de pontos de referência, baseadas que estão apoio a instâncias de nível mais elevado. Há municípios
no conhecimento de coisas que deram certo, e de outras que recorrem também a articulações intermunicipais,
que deram errado, visando não servir de cartilha, mas de como é o caso dos consórcios, podendo assim racionali-
inspiração. Em termos bem práticos, a sugestão é que um zar os seus esforços.
Conselho Municipal de Educação organize essas ativida- Organizar o conhecimento local normalmente não
des em quatro linhas: envolve produzir informações novas. As diversas secre-
- Montar um núcleo de apoio e desenvolvimento da tarias produzem informação, bem como as empresas e
iniciativa de inserção da realidade local nas ativi- outras entidades mencionadas. Temos hoje também in-
dades escolares. formação básica organizada por municípios no IBGE, no
- Organizar parcerias com os diversos atores locais projeto correspondente do Ipea/Pnud e outras institui-
passíveis de contribuir com o processo. ções, com diversas metodologias, e pouco articuladas,
- Organizar ou desenvolver o conhecimento da reali- mas que podem servir de base. Essas informações hoje
dade local, aproveitando a contribuição dos atores dispersas e fragmentadas deverão ser organizadas, e ser-
sociais do local e da região. vir de ponto de partida para uma série de estudos do
- Organizar a inserção desse conhecimento no cur- município ou da região.
rículo e nas diversas atividades da escola e da co- Há igualmente, mesmo para as regiões pouco estu-
munidade. dadas, relatórios antigos de consultoria, monografias
- Montar um núcleo de apoio é essencial, pois, sem nas universidades da região, relatos de viagem, estudos
um grupo de pessoas dispostas a assegurar que antropológicos e outros documentos acumulados, hoje
a iniciativa chegue aos resultados práticos, dificil- subaproveitados, mas que podem se tornar preciosos na
mente haverá progresso. O Conselho poderá no- visão de se gerar uma compreensão, por parte da nova
mear um grupo de conselheiros mais interessados, geração, da realidade em que vivem.
traçar uma primeira proposta, ou visão, e associar Sem recorrer a consultorias caras, é hoje bastante viá-
à iniciativa alguns professores ou diretores de es- vel contratar o apoio metodológico para a organização e
cola que queiram colocá-la em prática. É impor- sistematização dessas informações, a elaboração de ma-
tante que haja um coordenador e um cronograma terial de ensino, de textos de apoio para leitura, e assim
mínimo. por diante.
A inserção do conhecimento local no currículo e nas
Quanto aos atores locais, a visão a se trabalhar é atividades escolares implica uma inflexão significativa re-
de uma rede permanente de apoio. Muitas instituições lativamente à rotina escolar, mais afeita a cartilhas gerais
hoje têm na produção de conhecimento uma dimensão rodadas no tempo. A dificuldade central é de inserir na
importante das suas atividades. Trata-se, evidentemen- escola um conhecimento local que os professores ainda
te, das faculdades ou universidades locais ou regionais, não têm. Nesse sentido, parece razoável, enquanto se or-
das empresas, das repartições regionais do IBGE, de ins- ganiza a produção de material de apoio para os profes-
tituições como Embrapa, Emater e outras, de ONG que sores e alunos – as diversas informações e estudos sobre
a realidade local e regional –, ir gradualmente inserindo
trabalham com dimensões particulares da realidade, de
o estudo da realidade local mediante um contato maior
organizações comunitárias.
com a comunidade profissional local.
O objetivo da rede não é de simplesmente recolher
informação, na visão de um grande banco de dados,
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Há escolas hoje que realizam “trabalhos de campo”


mas de assegurar que seja disponibilizada, que circule
em que alunos de prancheta vão visitar uma cidade ou
entre os diversos atores sociais da região, e sobretudo
um bairro. São atividades úteis, mas formais e pouco
que permeie o ambiente escolar. Na cidade de Santos,
produtivas, quando não são acompanhadas da constru-
por exemplo, foi criado um centro de documentação da
ção sistemática do conhecimento da realidade regional.
cidade, com dotação da prefeitura, mas dirigido por um Qualquer cidade tem hoje líderes comunitários que po-
colegiado que envolveu quatro reitores, quatro repre- dem trazer a história oral do seu bairro ou da sua região
sentantes de organizações da sociedade civil e quatro de origem, empresários ou técnicos de diversas áreas,
representantes da prefeitura. O objetivo era evitar que as gerentes de saúde ou mesmo de escolas que podem
informações sobre o município fossem “apropriadas” e explicitar como se dão na realidade as dificuldades de
transformadas em informação “chapa branca”, e garantir administrar as áreas sociais, agricultores ou agrônomos
acesso e circulação. que conhecem muito do solo local e das suas potenciali-

142
dades, e assim por diante, artesãos que podem até atrair
os jovens para a aprendizagem, e assim por diante. FERREIRA, GLÁUCIA DE MELO (ORG.).
Uma dimensão importante da proposta é a possibili- PALAVRA DE PROFESSOR(A): TATEIOS
dade de mobilizar os alunos e professores nas pesquisas E REFLEXÕES NA PRÁTICA FREINET.
do local e da região. Esse tipo de atividade assegura tan- CAMPINAS, SP: MERCADO DAS LETRAS,
to a assimilação de conceitos como o cruzamento de co- 2003.
nhecimentos entre as diversas áreas, rearticulando infor-
mações que nas escolas são segmentadas em disciplinas.
Em outros termos, é preciso “redescobrir” o manan-
cial de conhecimentos que existe em cada região, valo-
FIQUE ATENTO!
rizá-lo e transmiti-lo de forma organizada para as gera-
ções futuras. Conhecimentos técnicos são importantes, A proposta desse livro é trazer ao leitor e à
mas têm de ser ancorados na realidade que as pessoas leitora as situações de dia-a-dia de uma es-
vivem, de maneira a serem apreendidos na sua dimensão cola, fazendo isso a partir dos pontos de vista
mais ampla. e das palavras das professoras e professores.
Nosso desejo é dialogar, contar “causos” do
Fonte nosso cotidiano e compartilhar algumas de
DOWBOR, Ladislau. Educação e apropriação da reali- nossas reflexões, um pouco dos tateios que
dade local. Estudos Avançados 21 (60), 2007 fazemos ao praticar a Pedagogia Freinet. Para
Disponível em https://www.revistas.usp.br/eav/arti- esse diálogo escolhemos um fio condutor,
cle/view/10238/11857 um eixo central: relatar nossas vivências com
as crianças e os adolescentes, enfocando os
instrumentos da Pedagogia Freinet.

EXERCÍCIO COMENTADO
A escolha desse fio condutor aumenta a responsabili-
dade de explicitar nossa compreensão de que a Pedagogia
1. (Prefeitura de Suzano – SP – Professor de Ed. Bá-
Freinet não é um conjunto de técnicas, um receituário a ser
sica – VUNESP/2016) Ladislau Dowbor (2007) aponta
seguido. Ao adotarmos esses instrumentos, as concepções
como necessário(a), para uma educação que insira nas
de educação que os criaram se revelam, remetendo-nos a
suas formas de educar uma maior compreensão da rea-
novas reflexões. Por outro lado, ao falarmos desses instru-
lidade local,
mentos, a prática se desvela com mais clareza, favorecendo
um diálogo mais vivo com aqueles que nos lerão.
a) a motivação dos alunos, assentada em explicações de
Uma outra proposta da obra é a de dar visibilidade à
que futuramente entenderão a importância do que
palavra de professoras e professores, que na sua prática
estudam.
cotidiana produzem saberes. Acreditamos que este seja
b) uma escola em pouco mais lecionadora, dadas as difi-
um passo na direção de realizar uma tarefa essencial: res-
culdades de se lidar com muito mais conhecimento e
gatar o valor da nossa profissão diante da sociedade. Ao
informação hoje em dia.
assumirmos a responsabilidade pelo ato de educar, sem
c) o reconhecimento de que educação e vida profissional
nos perdermos em sentimentos de culpa pelos males da
estão separadas cronologicamente e assim devem ser
educação, construímos respostas possíveis. Sem ficarmos
tratadas.
somente esperando as respostas e prescrições de outros
d) privilegiar o “prático” relativamente ao “teórico”.
especialistas, queremos propor o diálogo, mostrando
e) a requalificação dos professores, pois estes serão, de
nossos tateios e reflexões. Com esse passo esperamos
certa maneira, colocados na mesma situação que os
mostrar o que há, talvez, de mais bonito na educação:
alunos.
seu estado constante de vir a ser, sua incompletude,
como nos diria o querido mestre Paulo Freire.
Resposta: Letra E. O processo é de duplo sentido,
pois, por um lado, leva a escola a formar pessoas com
PEDAGOGIA FREINET
maior compreensão das dinâmicas realmente existen-
tes para os futuros profissionais, e, por outro, leva a
Segundo o Invariante nº 8 de Freinet, “Ninguém gosta
que essas dinâmicas penetrem o próprio sistema edu-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

de trabalhar sem objetivo, atuar como máquina, sujeitando-


cacional, enriquecendo-o. Assim, os professores terão
-se a rotinas nas quais não participa.” Freinet andou na con-
maior contato com as diversas esferas de atividades,
tramão ao propor uma revolução pedagógica na Educação,
tornar-se-ão de certa maneira mediadores científicos
questionando a exacerbada importância que tem sido des-
e pedagógicos de um território, de uma comunida-
tinada ao progresso científico. Seu objetivo era melhorar as
de. A requalificação dos professores que isso implica
condições de trabalho na escola, propondo uma educação
poderá ser muito rica, pois esses serão naturalmente
democrática, pautada em 4 eixos essenciais que são a Livre
levados a confrontar o que ensinam com as realidades
Expressão, a Cooperação, a Autonomia e o Trabalho.
vividas, sendo de certa maneira colocados na mesma
Para Freinet, a criança é da mesma natureza do adulto
situação que os alunos, que escutam as aulas e en-
e, portanto, tem direito de se expressar livremente, ser
frentam a dificuldade em fazer a ponte entre o que é
ativa, experimentar e ser autônoma. Para isso, Freinet
ensinado e a realidade concreta do seu cotidiano.

143
propõe que os professores repensem suas práticas pe- ceria foi considerada pelos entrevistados como o maior
dagógicas afim de não apenas instruir, mas sim educar. desafio encontrado por eles. Esse fator dificulta o traba-
Para Freinet, a realidade da educação não pode ser dis- lho pois, sem parceria não há troca e gera a sensação de
sociada da realidade da sociedade em que está inserida trabalho solitário, isolado. Os grupos e encontro entre
e a compreensão dessa realidade possibilita condições professores Freinet têm diminuído essa sensação de so-
necessárias para a transformação da sociedade. Porém, lidão entre esses professores e aumentado o desejo e a
as escolas públicas atuais são inadequadas à realidade força para seguir em frente.
das crianças que as frequentam.
Além disso, para a manutenção do sistema capitalista, DICAS DE TRABALHO
a classe dominante tira dos indivíduos o direito e a possi-
bilidade de reflexão sobre seu papel na sociedade, sobre Roda da Conversa
sua atuação no mundo em que vive. Assim, Freinet bus-
cou uma pedagogia capaz de atender a todas as crianças, A Roda da Conversa é um momento muito interes-
independente de classe social, envolvendo as crianças no sante do dia, no qual é feita a organização dos trabalhos,
processo de aprendizagem e formando cidadãos críticos, discussões de atividades, distribuição de tarefas e res-
capazes de lutar e fazer mudanças. ponsabilidades, entre outras discussões.
Freinet afirmara que a escola só é eficaz se atende A Roda da Conversa é “um momento de incentivo ao
às necessidades dos indivíduos e do coletivo. “[...] Moti- exercício da cidadania, da democracia (...) do ouvir o ou-
vados por atividades que possuem sentido e finalidade tro e ser ouvido por ele também.” (SISTE, 2003, p. 91)
(porque inseridas num contexto mais amplo de constru- É um dos momentos onde a livre expressão e a par-
ção da própria vida), os educandos aprenderão através ticipação ativa das crianças ficam mais vivas e aparentes.
das suas experiências, como também através de aulas Também é na Roda da Conversa onde surgem os proje-
sistematizadas, onde ambos contribuem para a solução tos da turma.
de problemas baseados na realidade social. Aprenderão
a partir das suas reais necessidades como alunos concre- O Jornal de Parede
tos, inseridos numa comunidade concreta, com objetivos
concretos (sempre com a orientação e participação ativa O Jornal de Parede “constrói uma relação mais verda-
do professor).” deira, estimula a conversa, abre caminhos para solução
Felizmente, muitos professores vêm buscando dife- dos problemas e as modifica, enfim, abre um caminho
rentes alternativas no trabalho em escolas públicas, in- para que as crianças se fortaleçam sem medo, mostrando
clusive com a Pedagogia Freinet. Alguns professores que e expondo sua cara, sendo elas mesmas e confrontando
escolheram a Pedagogia Freinet em escolas da rede pú- suas idéias com as idéias dos outros membros do grupo.”
blica foram entrevistados e afirmaram enfrentar muitos (ZAGO & LAUDANI, 2003, p.99)
desafios decorrentes da escolha de andar na contramão Como já afirmado anteriormente, trata-se de um
em escolas que se apoiam em valores do sistema capita- instrumento que favorece a expressão e permite que as
lista. Esses professores destacaram a falta de parcerias e crianças sintam-se mais à vontade para expor seus con-
o número de alunos por sala como os maiores desafios flitos e sentimentos. É um momento garantido para a re-
enfrentados por eles. Porém, afirmaram e demonstraram solução dos problemas, para discussão sobre as críticas,
que, apesar das grandes dificuldades, trata-se de um propostas, perguntas e felicitações que aparecem nos
trabalho possível. Em depoimentos, alguns dos entre- bilhetes.
vistados afirmaram que as crianças muitas vezes estão
carregadas com a cultura tradicional de educação e, as- Fonte
sim, se espantam quando descobrem que podem falar, MOTA, A. P. S. DA. Pedagogia Freinet em escolas da
expressar-se, questionar. Também em depoimento, um rede pública: os desafios de andar na contramão. Cam-
professor relatou que ao propor o trabalho em ateliês, pinas, 2012.
inicialmente a sala vira um caos pois os alunos não estão
acostumados a ter a liberdade e a possibilidade de tra- Referências
balhar em grupo, de discutir e trocar informações com FERREIRA, Gláucia de Melo. (org) Palavra de Profes-
os colegas. sor(a): tateios e reflexões na prática da Pedagogia Frei-
Uma professora, também em depoimento, destacou net. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2003.
que sua turma é considerada pelos outros professores SISTE, Andrea F. Roda de conversa. In: FERREIRA,
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

como a turma mais “bagunceira” e falante da escola e Gláucia de Melo. (org) Palavra de Professor (a): tateios e
ela afirmou que sua sala é viva, que as crianças debatem reflexões na prática da Pedagogia Freinet. Campinas, SP:
e discutem os assuntos, que trabalham em grupos, que Mercado de Letras, 2003.
dividem e compartilham ideias. 41 “Na minha opinião os ZAGO, Heloísa F. & LAUDANI, Tânia. O jornal de pa-
alunos reagem muito bem às práticas e teorias da Peda- rede e o exercício da cidadania. In: FERREIRA, Gláucia de
gogia Freinet, mas como todo trabalho, requer paciência Melo. (org) Palavra de Professor(a): tateios e reflexões na
e construção. prática da Pedagogia Freinet. Campinas, SP: Mercado de
Não se constrói este trabalho da noite para o dia, é Letras, 2003.
preciso experimentar e encontrar o seu jeito de trabalho
dentro da pedagogia Freinet no contexto da escola pú-
blica.” (Professora de Educação Infantil) A falta de par-

144
da criança. Os dois polos do processo de aprendizagem
- quem ensina e quem aprende - tem sido considerados
EXERCÍCIO COMENTADO sem levar em consideração o terceiro elemento da rela-
ção que é a natureza do objeto de conhecimento envol-
1. (Prefeitura de Várzea Paulista-Agente de Políticas vendo esta aprendizagem.
Sociais-Educador Infantil-BioRio Concursos/2017) O A partir desta constatação, a autora aborda de que
trabalho direto com crianças pequenas exige que o pro- maneira este objeto de conhecimento intervém no pro-
fessor tenha uma competência polivalente. Ser professor cesso utilizando uma relação tríade: de um lado, o siste-
polivalente significa: ma de representação alfabética da linguagem com suas
características específicas: por outro lado as concepções
a) saber lidar com as ciências do comportamento somen- de quem aprende (crianças) e as concepções dos que en-
te, de modo a mostrar-se atualizado junto às famílias e sinam (professores), sobre este objeto de conhecimento.
à direção da escola;
b) trabalhar com conteúdos que abranjam desde cuida- 1. A Escrita como Sistema de Representação.
dos básicos essenciais até conhecimentos específicos
das diversas áreas do conhecimento; A escrita pode ser considerada como uma represen-
c) ter conhecimento de psicologia e pedagogia e forma- tação da linguagem ou como um código de transcrição
ção específica em relações humanas; gráfica das unidades sonoras. A autora destaca que a in-
d) conhecer as normas da instituição e saber trabalhar venção da escrita foi um processo histórico de constru-
em grupo de forma democrática e participativa; (E) ter ção de um sistema de representação e não um sistema
contato com a família dos alunos e saber cativar, com de codificação.
seu carisma, todos os pais/ responsáveis das crianças. Dessa forma, se considerarmos o sistema de repre-
sentação do número e o sistema de representação da
Resposta: Letra B. O trabalho direto com crianças pe- linguagem, no início da escolarização, as dificuldades
quenas exige que o professor tenha uma competência que as crianças enfrentam são dificuldades conceituais
polivalente. Ser polivalente significa que ao professor semelhantes às da construção do sistema e por isso po-
cabe trabalhar com conteúdo de naturezas diversas de-se afirmar que, em ambos os casos, a criança reinven-
que abrangem desde cuidados básicos essenciais até ta esses sistemas, ou seja, para poderem se servir desses
conhecimentos específicos provenientes das diversas elementos como elementos de um sistema, as crianças
áreas do conhecimento. Este caráter polivalente de- devem compreender seu processo de construção e suas
manda, por sua vez, uma formação bastante ampla regras de produção, o que coloca o problema epistemo-
do profissional que deve tornar-se, ele também, um lógico fundamental: qual é a natureza da relação entre o
aprendiz, refletindo constantemente sobre sua prática, real e a sua representação.
debatendo com seus pares, dialogando com as famí- A partir dos trabalhos de Saussure já concebemos o
lias e a comunidade e buscando informações necessá- signo linguístico como a união indissolúvel de um signi-
rias para o trabalho que desenvolve. ficante com um significado. É o caráter bifásico do signo
linguístico, a natureza complexa que ele tem e a relação
de referência o que está em jogo.
FERREIRO, EMÍLIA. REFLEXÕES SOBRE As escritas do tipo alfabético, e mesmo as silábicas,
ALFABETIZAÇÃO. SÃO PAULO: CORTEZ, poderiam ser caracterizadas como sistemas de represen-
2010. tação cujo intuito é representar as diferenças entre os
significantes; enquanto que as escritas do tipo ideográfi-
co poderiam representar diferenças nos significados.
Ferreiro afirma que o livro apresenta quatro trabalhos Se concebermos a escrita como um código de trans-
produzidos em momentos diferentes, porém dentro da crição do sonoro para o gráfico privilegiando-se o signi-
mesma linha de preocupação que é o de contribuir para ficante (grafia) dissociado do significado, destruímos o
uma reflexão sobre a intervenção educativa alfabetiza- signo linguístico por privilegiamos a técnica e a mecani-
dora, a partir de novos dados oriundos das investigações zação. Se concebermos aprender a língua escrita como
sobre a psicogênese da escrita na criança. Suas inves- a compreensão da construção de um sistema de repre-
tigações evidenciam que o processo de alfabetização sentação em que a grafia das palavras e seu significado
nada tem de mecânico, do ponto de vista da criança que estão associados, (apropriação de um novo objeto de
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

aprende. conhecimento) estaremos realizando uma aprendizagem


Destaca que a criança desempenha um papel ativo conceitual.
na busca da compreensão desse objeto social, complexo,
que é a escrita. 2 - As concepções das crianças a respeito do siste-
ma de escrita.
A representação da linguagem e o processo de al-
fabetização. A criança realiza explorações para compreender a
natureza da escrita e isto pode ser observado através
Ferreiro destaca que, tradicionalmente, a alfabetiza- das suas produções espontâneas, que são valiosos do-
ção é considerada em função da relação entre o método cumentos que precisam ser interpretados para poder ser
utilizado e o estado de ‘maturidade’ ou de ‘prontidão’ avaliados.

145
As escritas infantis têm sido consideradas como ga-
ratujas e ‘puro jogo’. Aprender a lê-las, ou seja, interpre-
tá-las é um aprendizado que requer uma atitude teórica
definida. Nas práticas escolares tradicionais, há uma con-
cepção de que a criança só aprende quando submetida
a um ensino repetitivo. No entanto, elas ignoram que
devem pedir permissão para começar a aprender. Saber
algo a respeito de certo objeto não significa saber algo
socialmente aceito como ‘conhecimento’. ‘Saber’ signi-
fica ter construído alguma concepção que explica certo
conjunto de fenômenos ou de objetos da realidade.

Ferreiro, analisando as produções espontâneas das


crianças, através de suas pesquisas confirmou que as
mesmas possuem hipótese / ideias / teorias sobre a es-
crita, apresentando uma evolução psicogenética.
As primeiras escritas infantis aparecem, do ponto de
vista gráfico, como linhas onduladas ou quebradas, con-
tínuas ou fragmentadas, ou como uma série de elemen- 1. O que você desenhou? Um boneco.
tos discretos repetidos. A aparência gráfica não é garan- 2. Ponha o nome. (Rabisco.) (a)
tia de escrita, a menos que se conheçam as condições de 3. O que você colocou? Ale (-seu irmão).
produção. 4. Desenhe uma casinha. (Desenha)
No referencial tradicional, as professoras prestam 5. O que é isso? uma casinha.
atenção nos aspectos gráficos das produções das crian- 6. Ponha o nome. (Rabisco) (b).
ças, ignorando os aspectos construtivos. Do ponto de 7. O que você escreveu? Casinha
vista construtivo, a escrita infantil segue uma linha de 8. Você sabe colocar o seu nome? (Quatro rabiscos
evolução surpreendentemente regular e podem ser dis- separados) (c).
tinguidos três grandes períodos no interior dos quais ca- 9. O que é isso? Adriana.
bem múltiplas subdivisões. 10. Onde diz Adriana? (Assinala globalmente)
Para executar suas ideias (em seus escritos) a criança: 11. Por que leem quatro pedacinhos?... porque sim.
a) faz distinção entre a modo de representação icôni- 12. O que diz aqui? (1°) Adriana.
co (figurativo) e não icônico (não-figurativo). 13.E aqui (2°) Alberto (- seu pai).
b) constrói formas de diferenciação; faz diferenciação 14.E aqui? (3°). Ale (-seu irmão).
intrafigural que consistem no estabelecimento de 15.E aqui? (4°) Tia Picha.
propriedades que um texto deve possuir para po-
der ser interpretável. Os critérios intrafigurais se
expressam sobre o eixo quantitativo (mínimo de
três letras) e sobre o eixo qualitativo (variação de
caracteres); faz a diferenciação interfigurais que é
a criação de modos sistemáticos de diferenciação
entre uma escrita e a seguinte, para garantir a dife-
rença de interpretação que será atribuída,
c) desvela a fonetização da escrita (descobre a relação
som / grafia), começa com o período silábico e cul-
mina no período alfabético.

Ferreiro, analisando a evolução da escrita infantil re-


conhece quatro períodos, que denomina como: período
pré-silábico, período silábico, período silábico alfabético
e período alfabético. a) Período Pré-Silábico
As crianças escrevem sem estabelecer qualquer cor-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

respondência entre a pauta sonora da palavra e a re- (1) peixe; (2) o gato bebe leite; (3) galinha; (4) fran-
presentação escrita. Escreve coisas diferentes apesar da guinho; (5) pato; (6) patos
identidade objetiva das escritas e relaciona a escrita com
o objetivo referente (Ex. coloca mais letras na palavra l LUSTRAÇÃO 2
“elefante’ do que na palavra borboleta - Realismo Nomi- Escrita com diferenciação interfigurais (Carmelo 6,2
nal). Exemplos de escrita pré-silábica: anos).

ILUSTRAÇÃO l a.
Escrita sem diferenciações interfigurais (Adriana - 4,5
anos).

146
(6) el-ga-to-be-be-le-che
‘(o gato bebe leite)
(As palavras foram mantidas no original espanhol
para que o processo aqui ilustrado faça sentido).

ILUSTRAÇÃO 3b.
Escrita silábica (vagais com valor sonoro convencio-
nal): cada letra vale por uma sílaba (Francisco, 6 anos). 1.
FRAN-CIS-CO (Francisco)
2. MA-RI-PO-SA (borboleta)
3. PALOMA (pomba)
4. PA-JA-RO (pássaro)
5. GA-TO (gato)
6. PA- TO (pato)
7. PEZ (peixe)
8. PEZ (2ª tentativa) (peixe – 2ª tentativa)
(1) Carmelo Enrique Castilho Avellano (uma letra C) Período Silábico-Alfabético
para cada nome).
(2) vaca. O período silábico-alfabético marca a transição entre
(3) mosca os esquemas prévios em via de serem abandonados e
(4) borboleta os esquemas futuros em vias de serem construídos. Os
(5) cavalo conflitos provenientes do meio social desestabilizam a
(6) mamãe como tacos (comida típica mexicana) hipótese silábica e a criança leem coragem de se com-
prometer em um novo processo de construção.
b) Período Silábico
A escrita silábica é o resultado de um dos esquemas ILUSTRAÇÃO 4
mais importantes e complexos que se constroem duran- Escrito silábico-alfabética (Júlio César, 6 anos)
te o desenvolvimento da leitura escrita. É quando se dá
a descoberta de que as representações escritas têm um
vínculo com a pauta sonora da palavra: uma letra para
cada sílaba; tantas letras quantas sílabas. No mesmo pe-
ríodo - embora não necessariamente ao mesmo tempo
- as letras podem começar a adquirir valores sonoros si-
lábicos relativamente estáveis as partes sonoras seme-
lhantes entre as palavras.

ILUSTRAÇÃO 3a.
Escrita silábica (letras de forma convencional, mas
utilizadas sem seu valor sonoro convencional) cada letra
vale por uma sílaba (Jorge, 6 anos).
(1) gato (gato)
(2) mariposa (borboleta)
(3) cabaIlo (cavalo)
(4) pez (peixe)
(5) mar (mar)
(6) el gato bebe leche (o gato bebe leite)

(As palavras foram mantidas no original espanhol


para que o processo aqui ilustrado faça sentido).

c) Período Alfabético
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Consiste no período que a criança descobre que a sí-


laba não pode ser considerada como unidade, mas que
ela é por sua vez, reanalisável em elementos menores.

Neste momento, deve haver uma estruturação dos


vários elementos que compõem o sistema de escrita. Tra-
(1) ga - to (gato) ta-se de conhecer o valor sonoro convencional.
(2) ma-ri-po-sa (borboleta) a) pelo lado quantitativo não pode estabelecer re-
(3) ca-ba-Ilo (cavalo) gularidade duplicando a quantidade de letras por
(4) pez (peixe) sílaba (já que há sílabas com 1,2,3, ou mais letras).
(5) mar (mar)

147
b) pelo lado qualitativo, problemas ortográficos (a b) O professor não é mais o único que sabe ler e es-
identidade de som não garante identidade de le- crever na sala de aula; todos podem ler e escrever,
tras nem a identidade de letras a de sons). cada um ao seu nível;
c) As crianças não alfabetizadas contribuem na pró-
2 - As concepções sobre a língua subjacente à prá- pria alfabetização e na dos companheiros quando
tica docente a discussão a respeito da representação escrita de
linguagem se torna prática escolar.
As discussões sobre a prática alfabetizadora têm se
centrado sobre os métodos utilizados: analíticos versus Conclusões
sintéticos; fonético versus global, etc.
Nenhuma dessas discussões levou em conta as con- É importante ter claro que as mudanças necessárias
cepções das crianças sobre o sistema de escrita. para enfrentar sobre bases novas a alfabetização integral
A nossa compreensão dos problemas, tal como as não se resolvem com um novo método de ensino; nem
crianças os colocam e da sequência de soluções que elas com novos testes de prontidão; nem com novos mate-
consideram aceitáveis, é, sem dúvida, essencial para um riais didáticos.
tipo de intervenção adequada à natureza do processo Segundo Ferreiro, é preciso mudar os pontos por
real da aprendizagem. Reduzir esta intervenção ao mé- onde nós fazemos passar o eixo central das nossas dis-
todo utilizado é limitar nossa indagação. cussões. Para ela, temos uma imagem empobrecida da
É útil se perguntar por meio de que tipos de práticas língua escrita e uma imagem empobrecida de criança
a criança é introduzida na linguagem escrita e como se que aprende, um novo método não resolve os proble-
apresenta este objetivo no contexto escolar? mas. É preciso reanalisar as práticas de introdução da
Há práticas que levam as crianças a supor que o co- língua escrita.
nhecimento é algo que os outros possuem e que só pode Ferreiro acredita ter chegado a um momento de se
obter da boca dos outros, sem participar dessa constru- fazer uma revolução conceitual a respeito da alfabeti-
ção; há práticas que levam a pensar que “o que existe zação.
para se conhecer” é um conjunto, estabelecido de coisas,
fechado, sagrado, imutável e não modificável. Há práti- A COMPREENSÃO DO SISTEMA DE ESCRITA:
cas que levam a criança a ficar de “fora” do conhecimen- CONSTRUÇÕES ORIGINAIS DA CRIANÇA E IN-
to, como espectador ou receptor mecânico, sem nunca FORMAÇÃO ESPECÍFICA DOS ADULTOS
encontrar respostas aos porquês.
Nenhuma prática pedagógica é neutra e estão apoia- Escrito por Emília Ferreiro e Ana Teberosky.
das nas concepções do processo ensino e aprendizagem,
bem como o objeto dessa aprendizagem. São essas prá- A leitura e a escrita, há muito são consideradas como
ticas e não os métodos, que tem efeitos no domínio da objeto de uma instrução sistemática e cuja aprendiza-
língua escrita ou em outros conhecimentos. A reflexão gem, suporia o exercício de uma série de habilidades es-
psicopedagógica necessita se apoiar em uma reflexão pecíficas. Muitos trabalhos de psicólogos e educadores
epistemológica. tem se orientado neste sentido.
As autoras realizaram pesquisas sobre os processos
A autora destaca que das suas diferentes experiências de compreensão da linguagem escrita e abandonaram
com profissionais de ensino aparecem três dificuldades estas ideias, pois, para elas, as atividades de interpreta-
conceituais iniciais que necessitam ser esclarecidas: ção e de produção da escrita começam antes da esco-
a) a visão adultocêntrica (adulto já alfabetizado); larização como parte da atividade da idade pré-escolar.
b) confusão entre escrever e desenhar letras; Essa aprendizagem se insere em um sistema de concep-
c) e a redução do conhecimento do leitor ao conheci- ções previamente elaboradas e não pode ser reduzida a
mento das letras e seu valor convencional. um conjunto de técnicas perceptivo-motoras.
A escrita não é um produto escolar, mas sim um ob-
Esclarecendo essas dificuldades iniciais, é possível jeto cultural que cumpre diversas funções e tem meios
realizar a análise das concepções sobre a língua escrita concretos de existência especialmente nas concentra-
subjacentes a algumas dessas práticas: ções urbanas.
a) As polêmicas sobre a ordem em que devam ser
introduzidas as atividades de leitura e as de escrita. 1. Construções Originais das Crianças
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

b) Decisões metodológicas: a forma de se apresentar


as letras individuais bem como a ordem de apre- Por meio de diferentes situações experimentais, as
sentação de letras e de palavras, o que implica uma autoras obtiveram dentre os resultados o seguinte:
sequência do “fácil” ou “difícil”. - aproximadamente aos quatro anos, as crianças pos-
suem sólidos critérios para admitir que uma marca
A autora descreve as experiências pedagógicas reali- gráfica possa ou não ser lida;
zadas por Ana Teberosky, em Barcelona, baseada em três - o primeiro critério é a de fazer uma dicotomia entre
ideias simples, porém fundamentais: o “figurativo”, por um lado, e o “não-figurativo”,
a) Deixar entrar e sair para buscar informação extraes- pelo outro (icônico e não-icônico). Surge o critério
colar disponível, com todas as consequências dis- de “quantidade” mínima de caracteres: ambos são
so; construções próprias da criança.

148
2. Informações Específicas 4. Processos de Aquisição da Língua Escrita no
Contexto Escolar
No desenvolvimento da linguagem existe uma sé-
rie de concepções que não podem ser atribuídas a uma Estamos acostumados a considerar a aprendizagem
influência direta do meio, (a escrita em sua existência da leitura e da escrita como um processo de aprendiza-
material). São concepções acerca das propriedades es- gem escolar (controle sistemático), que há grande difi-
truturais e do modo de funcionamento de certo objeto. culdade em considerar que o desenvolvimento da leitura
Ao contrário, existem conhecimentos específicos so- / escrita acontece antes da escolarização.
bre a linguagem escrita que só podem ser adquiridos por As crianças ignoram este controle e desde que nas-
meio de outros (leitores adultos ou crianças maiores). cem estão construindo objetos complexos de conheci-
A criança que cresce em meio “letrado” está expos- mento e o sistema de escrita é um deles. A construção
ta a interações, se vê continuamente envolvida, como de um objeto de conhecimento é muito mais que uma
agente e observador no mundo “letrado”. Os adultos coleção de informações. Implica a construção de um es-
lhes dão a possibilidade de comportar-se como leitor, quema conceitual, que permite interpretar dados prévios
antes de sê-lo, aprendendo precocemente o essencial e novos dados, isto é, que possa receber informação e
das práticas sociais ligadas à escrita. transformá-la em conhecimentos; um esquema concei-
tual que permita processos de interferência acerca das
3. Algumas Implicações Pedagógicas propriedades não-observáveis de um determinado obje-
to e a construção de novos observáveis, na base do que
A dimensão das questões pode suscitar de imedia- se antecipou e do que foi verificado.
to uma pergunta: se a compreensão da escrita começa O propósito de controlar o processo de aprendiza-
a se desenvolver antes de ser ensinada, qual é o papel, gem supõe que os procedimentos de ensino determinam
principalmente dos professores no que tange à aprendi- os passos na progressão da aprendizagem.
zagem? E a escola? Ferreiro adverte que os estudos de Piaget nos obriga-
A transformação desta prática é difícil, mas a Escola
ram a reconhecer a importância de considerar os proces-
pode cumprir um papel importante e insubstituível, aju-
sos da criança no desenvolvimento cognitivo, obrigando-
dando as crianças, especialmente as filhas de pais anal-
-nos a abandonar o ponto de vista do adultocentrismo.
fabetos ou semianalfabetos. O professor é quem pode
A pesquisa de Ferreiro, além da análise qualitativa,
minorar esta carência, adaptando o seu ponto de vista
apresenta dados quantitativos procurando evidenciar
ao da criança.
que não se está referindo a uma minoria de crianças.
Alguns aspectos sobre os quais os professores deve-
Projeto de Pesquisa na Diretoria Geral de Educação
riam estar atentos:
Espacial-Ministério de Educação do México - 1980-1982.
a) Se a escrita remete de maneira óbvia e natural à
linguagem, estaremos supervalorizando as capaci- Objetivo Principal Prático - conhecer e descrever o
dades da criança que pode estar longe de ter des- processo de aprendizagem que ocorre nas crianças antes
coberta sua natureza fonética. de serem rotuladas como “crianças que fracassam”.
b) Em contrapartida, poderíamos menosprezar seus Objetivo Teórico - saber se as crianças que ingressam
conhecimentos ao trabalhar exclusivamente com no 1°. Grau em níveis pré-alfabéticos de concepção lei-
base na escrita, como cópia e sonorização dos gra- tura/escrita, seguirão com a mesma progressão eviden-
femas. ciada por outras crianças antes de entrarem para a esco-
c) Não desvalorizar seus esforços para compreender la, a despeito do fato dos métodos e procedimentos de
as leis do sistema tratando suas produções como ensino procurarem conduzi-los diretamente ao sistema
rabiscos. alfabético da escrita.
d) Avaliar tendo em vista os processos e intenções População Alvo - (crianças repetentes ou evadidas)
e não apenas como certo ou errado, do ponto de de três cidades (México - centro, Monterrey – norte e
vista ortográfico. Mérida - sul) -71 escolas - índice maior de “fracassos” e
e) Ênfase na produção de traçado reduz a escrita a um 159 classes de 1ª série que entravam pela primeira vez
objeto ‘em si’, de natureza exclusivamente gráfica. na escola.
f) Os problemas que a criança enfrenta em sua evo- Amostra - 959 crianças, entrevistadas a cada dois me-
lução não estão sujeitos a qualificativos em termos ses e meio; finalizou-se o trabalho com 886 dessas mes-
de “simples” ou “complexos”. São os problemas mas crianças.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

que ela pode resolver de forma coerente e não Testagem - foram propostas quatro palavras dentro
aleatória. de um dado campo semântico (nome de animais ou de
g) Finalmente, se só nos dirigirmos às crianças que alimentos) com variação sistemática no número de síla-
compartilhem alguns de nossos conhecimentos bas (de 1 a 4 sílabas).
deixaremos de lado uma grande parte da popula- Eventos - 80% de crianças começaram o ano pré -
ção infantil estacionada em níveis anteriores a esta silábicas; 13 crianças nível alfabético e 11 crianças não
evolução condenando-a ao fracasso. terminaram a testagem. Os totais finais - de 862 crianças
e 3.448 entrevistas.
Padrões Evolutivos - Ao longo do ano escolar:
- 33% passam de um nível de conceitualização sem
omitir passo.

149
- 38% seguiram passos semelhantes, porém omitindo
o nível silábico alfabético. FONSECA, LÚCIA LIMA DA. O UNIVERSO
- 13% não mostraram qualquer progressão de um ní- NA SALA DE AULA: UMA EXPERIÊNCIA
vel ao seguinte e nenhuma permaneceu no silábi- EM PEDAGOGIA DE PROJETOS. PORTO
co-alfabético. ALEGRE: MEDIAÇÃO, 2009.
- (25) crianças que entraram no nível silábico-alfabé-
tico não tiveram problemas.
- 16% passaram do pré-silábico ao alfabético (cum- O UNIVERSO DA SALA DE AULA:
prem as expectativas da escola).
- 71% passaram por outros tipos de escrita. Uma experiência em pedagogia de projetos
- 52% passaram pelo silábico (451 crianças).
- 87% ingressaram ao nível silábico e chegaram ao
alfabético. FIQUE ATENTO!
Relatando em detalhes o dia a dia de uma
De outra parte, as crianças que ingressaram no pré- sala de aula com uma turma de crianças de
-silábico (708) não chegaram ao alfabético na mesma quatro a seis anos, a autora mostra como
proporção. podem se articular vários projetos pedagó-
- 55,5% (das 393) chegaram ao alfabético. gicos, ao longo de um semestre, apresen-
- 14,5% (103) chegaram ao silábico-alfabético. • 15% tando também suas reflexões teóricas. Sua
(107) chegaram ao nível silábico. • 14,8% (105) per- proposta pedagógica parte do Projeto Uni-
maneceram ao longo do processo sem compreen- verso, cuja continuidade articula-se a partir
der a relação escrita na pauta sonora das emissões. dos interesses ou necessidades das crianças
e da professora, envolvendo novas descober-
Conclusão tas, conflitos afetivos e cognitivos. Indicado a
estudantes e professores que se interessam
A partir dos dados, observa-se que só as crianças de pela escrita de diários de classe, relatórios de
nível silábico ou silábico alfabético se apresentam “ma- avaliação, relatórios de estágio e outros.
duras” para ingressar no 1° grau. Isto significaria deixar
80% das crianças fora da escola sendo que são as que
mais necessitam de escolarização. A pedagogia de projetos

5 - Deve-se ou não se deve ensinar a ler e escrever A pedagogia de projetos está diretamente relaciona-
na pré-escola? Um problema mal colocado. da ao conhecimento dos alunos pelo professor e, tam-
bém, ao conhecimento do professor pelos alunos, num
A polêmica sobre a idade ótima para o acesso à lín- constante apresentar-se e reapresentar-se, de uns e de
gua escrita ocupou milhares de páginas escritas por vá- outros, que faz parte da dinamicidade da convivência, da
rios pesquisadores. vida em comum.
O problema sempre foi colocado tendo por pressu- E quando realmente se olha e se escuta atentamente
posto serem os adultos que decidem quando essa apren- o outro e a si mesmo, temos oportunidade de explorar
dizagem deverá ou não ser iniciada. (também!) a diversidade de pessoas que se encontram
Para Ferreiro, a função da pré-escola deveria ser de e com as quais convivemos todos os dias na escola. A
permitir às crianças que não tiveram convivência com a pedagogia de projetos6 é tratada com muita ênfase nos
escrita, informações básicas sobre ela, em situações de 6 É a pedagogia que a escola se propõe a realizar. É atualmente
uso social (não meramente escolar). reconhecida, no meio acadêmico, a diferença entre Pedagogia de
Para tanto é necessária imaginação pedagógica para Projetos e Projetos de Trabalho, proposta por Hernández (1998).
dar às crianças oportunidades ricas e variadas de intera- O próprio autor, em entrevista, refere: “A diferença fundamental é,
gir com a linguagem escrita: em primeiro lugar, o contexto histórico. A pedagogia de projetos
- Formação psicológica para compreender as respos- surge nos anos 1920 e projetos de trabalho surge nos anos 1980.
Além disso, os princípios são diferentes. A pedagogia de projetos
tas e as perguntas das crianças. trabalhava um modelo fordista, que preparava as crianças apenas
- Entender que a aprendizagem da linguagem escrita para o trabalho em uma fábrica, sem incorporar aspectos da
é muito mais que a aprendizagem de um código
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

realidade cotidiana dentro da escola. Os projetos de trabalho


de transcrição e sim a construção de sistema de tentam uma aproximação da escola com o aluno e se vinculam
representação. muito à pesquisa sobre algo emergente. Eu não digo que uma coisa
é melhor que outra e sim que são diferentes. É importante que isso
fique claro”. Porém, em diversos outros livros e artigos, a Pedagogia
Fonte: FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetiza-
de Projetos e os Projetos de Trabalho são vistos como similares.
ção. São Paulo: Editora Cortez,1996. Xavier (2000) em artigo denominado Introduzindo a questão do
www.apeoesp.org.br/d/sistema/publicacoes/158/ar- planejamento: globalização, interdisciplinariedade e integração
quivo/revista-peb1.pdf curricular, no subtítulo A Pedagogia de Projetos Hoje refere:
“Santomé e Hernández na Espanha, Jolibert na França, Delia Lerner
e Ana Maria Kaufman na Argentina, Monique Deheinzelin e Miguel
Arroyo entre outros aqui no Brasil, vêm defendendo uma organização
curricular dentro desta perspectiva, visando transformar a escola de
um „auditório‟ num „laboratório‟, desartificializando as atividades

150
documentos analisados. É possível perceber – por essa Isto significa que o projeto do professor pode ser
ênfase – que a escola procura explicitar como acontecem constituído pela própria prática pedagógica, a qual será
os processos que envolvem a escolha do que e de como antecipada (relacionando as referências das experiências
trabalhar em sala de aula. anteriores e as novas possibilidades do momento), colo-
Segundo o Site da escola (2010), a pedagogia de Proje- cada em ação, analisada e reformulada. De certa forma
tos é uma importante ferramenta neste processo, pois per- esta situação permite ao professor assumir uma postura
mite a cada um dos sujeitos envolvidos engajar-se dando reflexiva e investigativa da sua ação pedagógica e, por-
um valor especial para as descobertas escolares. Cada pro- tanto, caminhar para reconstruí-la com objetivo de inte-
jeto é único e cabe ao professor organizá-lo contemplan- grar o uso das mídias numa abordagem interdisciplinar.
do interesses e necessidades do grupo de alunos. E outra Para isto é necessário compreender que no trabalho
justificativa para essa escolha é a relação entre a proposta por projetos, as pessoas se envolvem para descobrir ou
pedagógica contemplando a Pedagogia de Projetos. produzir algo novo, procurando respostas para questões
O PPP da instituição salienta que a escolha pela Pe- ou problemas reais. “Não se faz projeto quando se têm
dagogia de Projetos permite que [...] qualquer aluno, certezas, ou quando se está imobilizado por dúvidas”.
mesmo os com necessidades educacionais especiais, viva Isto significa que o projeto parte de uma problemática
com autonomia suas estratégias de aprendizagem num e, portanto, quando se conhece, a priori, todos os passos
grupo com estruturas envolventes, conflitivas, criativas, para solucionar o problema. Esse processo se constitui
responsabilizantes. (PPP, 2008, p. 6). num exercício e aplicação do que já se sabe. Projeto não
pode ser confundido com um conjunto de atividades em
Conceito de projeto que o professor propõe para que os alunos realizem a
partir de um tema dado, resultando numa apresentação
A ideia de projeto envolve a antecipação de algo de- de trabalho.
sejável que ainda não foi realizado, traz a ideia de pen-
sar uma realidade que ainda não aconteceu. O processo Na pedagogia de projetos é necessário “ter cora-
de projetar implica analisar o presente como fonte de gem de romper com as limitações do cotidiano, muitas
possibilidades futuras. Tal como vários autores colocam, vezes auto impostas” e “delinear um percurso possível
a origem da palavra “projeto” deriva do latim projectus, que pode levar a outros, não imaginados a priori”. Mas,
que significa algo lançado para frente. A ideia de projeto para isto, é fundamental repensar as potencialidades de
é própria da atividade humana, da sua forma de pensar aprendizagem dos alunos para a investigação de proble-
em algo que deseja tornar real, portanto, o projeto é in- máticas que possam ser significativas para eles e repen-
separável do sentido da ação. Neste sentido Barbier sa- sar o papel do professor nesta perspectiva pedagógica,
lienta: “(...) o projeto não é uma simples representação do inclusive integrando as diferentes mídias e outros recur-
futuro, do amanhã, do possível, de uma ideia; é o futuro sos existentes no contexto da escola.
a fazer, um amanhã a concretizar, um possível a transfor-
mar em real, uma ideia a transformar em ato”.
Aprendendo e “Ensinando” com Projetos
No entanto, o ato de projetar requer abertura para
o desconhecido, para o não-determinado e flexibilidade
A pedagogia de projetos deve permitir que o aluno
para reformular as metas à medida que as ações projeta-
aprenda-fazendo e reconheça a própria autoria naquilo
das evidenciam novos problemas e dúvidas.
que produz por meio de questões de investigação que
lhe impulsionam a contextualizar conceitos já conheci-
Um dos pressupostos básicos do projeto é a auto-
dos e DESCOBRIR outros que emergem durante o desen-
ria – seja individual, em grupo ou coletivamente. A esse
respeito Machado destaca que não se pode ter proje- volvimento do projeto. Nesta situação de aprendizagem,
to pelos outros. É por esta razão que enfatizamos que o aluno precisa selecionar informações significativas, to-
a possibilidade de o professor ter o seu projeto de sala mar decisões, trabalhar em grupo, gerenciar confronto
de aula não significa que este deverá ser executado pelo de ideias, enfim desenvolver competências interpessoais
aluno. Cabe ao professor elaborar projetos para viabilizar para aprender de forma colaborativa com seus pares.
a criação de situações que propiciem aos alunos desen- A mediação do professor é fundamental, pois ao
volverem seus próprios projetos. São níveis de projetos mesmo tempo em que o aluno precisa reconhecer a sua
distintos que se articulam nas interações em sala de aula. própria autoria no projeto, ele também precisa sentir a
Por exemplo, o projeto do professor pode descobrir es- presença do professor que ouve, questiona e orienta, vi-
tratégias para que os alunos construam seus projetos sando propiciar a construção de conhecimento do aluno.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

tendo em vista discutir sobre uma problemática de seu A mediação implica a criação de situações de aprendiza-
cotidiano ou de um assunto relacionado com os estudos gem que permitam ao aluno fazer regulações, uma vez
de certa disciplina, envolvendo o uso de diferentes mí- que os conteúdos envolvidos no projeto precisam ser
dias disponíveis no espaço escolar. sistematizados para que os alunos possam formalizar os
conhecimentos colocados em ação. O trabalho por pro-
escolares” (p.22). Levando em consideração esse contexto, apesar
de não estar explicitado por escrito, como participei da elaboração
jeto potencializa a integração de diferentes áreas de co-
deste PPP, posso esclarecer que a escola optou por utilizar o termo nhecimento, assim como a integração de várias mídias e
Pedagogia de Projetos e não Projetos de Trabalho, mesmo tendo recursos, os quais permitem ao aluno expressar seu pen-
como referência os estudos de Hernández (1998), pois considerou samento por meio de diferentes linguagens e formas de
que a nomenclatura Pedagogia permitiria um maior entendimento representação. Do ponto de vista de aprendizagem no
dos leigos, especialmente os familiares dos alunos, sobre o processo trabalho por projeto, Prado destaca a possibilidade de o
pedagógico.

151
aluno recontextualizar aquilo que aprendeu, bem como sua subutilização. Isto nos faz reportar a uma situação já
estabelecer relações significativas entre conhecimentos. conhecida de muitos professores que atuam com a in-
Nesse processo, o aluno pode ressignificar os conceitos formática na educação. Um especialista em informática
e as estratégias utilizadas na solução do problema de in- que não compreende as questões relacionadas ao pro-
vestigação que originou o projeto e, com isso, ampliar o cesso de ensino e aprendizagem terá muita dificuldade
seu universo de aprendizagem. para fazer a integração das duas áreas de conhecimen-
Em se tratando dos conteúdos, a pedagogia de pro- to – informática e educação. Isto também acontece no
jetos é vista pelo seu caráter de potencializar a interdis- caso de um especialista da educação que não conhece as
ciplinaridade. Isto de fato pode ocorrer, pois o trabalho funcionalidades, implicações e possibilidades interativas
com projetos permite romper com as fronteiras discipli- envolvidas nos diferentes recursos computacionais. Claro
nares, favorecendo o estabelecimento de elos entre as que não se espera a mesma “expertise” nas duas áreas
diferentes áreas de conhecimento numa situação contex- de conhecimento, para poder atuar com a informática
tualizada da aprendizagem. No entanto, muitas vezes o na educação, mas o desconhecimento de uma das áreas
professor atribui valor para as práticas interdisciplinares pode desvirtuar uma proposta integradora da informáti-
e com isso passa a negar qualquer atividade disciplinar. ca na educação. Para integrá-las, é preciso compreender
Essa visão é equivocada, pois Fazenda enfatiza que a in- as características inerentes às duas áreas e às práticas pe-
terdisciplinaridade se dá sem que haja perda da identi- dagógicas nas quais essa integração se concretiza.
dade das disciplinas. Esta visão atualmente se apresenta de forma mais am-
pla, uma vez que o desenvolvimento da tecnologia avan-
Nesse sentido, Almeida corrobora com estas ideias ça vertiginosamente e a sua presença na escola torna-se
destacando: “(...) que o projeto rompe com as fronteiras mais frequente a cada dia. Uma preocupação com isso
disciplinares, tornando-as permeáveis na ação de arti- é que o professor não foi preparado para desenvolver o
cular diferentes áreas de conhecimento, mobilizadas na uso pedagógico das mídias. E para isto não basta que ele
investigação de problemáticas e situações da realidade. aprenda a operacionalizar os recursos tecnológicos, a exi-
Isso não significa abandonar as disciplinas, mas integrá- gência em termos de desenvolver novas formas de ensinar
-las no desenvolvimento das investigações, aprofun- e de aprender é muito maior. Esta questão, no entanto, diz
dando-as verticalmente em sua própria identidade, ao respeito à formação do professor – aquela que poderá ser
mesmo tempo, que estabelecem articulações horizontais desenvolvida na sua própria ação e de forma continuada,
numa relação de reciprocidade entre elas, a qual tem pois hoje com a tecnologia basta ter o apoio institucional
como pano de fundo a unicidade do conhecimento em que prioriza a qualidade do trabalho educacional.
construção”.
O conhecimento específico – disciplinar – oferece ao Fontes
aluno a possibilidade de reconhecer e compreender as FONSECA, Lúcia Lima da. O universo na sala de aula:
particularidades de um determinado conteúdo, e o co- uma experiência em pedagogia de projetos. Porto Ale-
nhecimento integrado – interdisciplinar – lhe dá a pos- gre: Mediação, 2009.
sibilidade de estabelecer relações significativas entre FONSECA, Lúcia Lima da A Escuta em Equipe na Esco-
conhecimentos. Ambos se realimentam e um não existe la: um estudo sobre linguagem e produção de professo-
sem o outro. ralidades. Porto Alegre, 2011.
Este mesmo pensamento serve para orientar a inte- PRADO, M. E. B. B. Pedagogia de Projetos
gração das mídias, no desenvolvimento de projetos. Co-
nhecer as especificidades e as implicações do uso peda-
gógico de cada mídia disponível no contexto da escola
favorece ao professor criar situações para que o aluno EXERCÍCIO COMENTADO
possa integrá-las de forma significativa e adequada ao
desenvolvimento do seu projeto. Por exemplo, quando o 1. (EMSERH – Psicopedagogo – Superior – FUN-
aluno utiliza o computador para digitar um texto, é im- CAB/2017) Identifique um dos princípios metodológicos
portante que o professor conheça o que envolve o uso da pedagogia de projetos
deste recurso em termos de ser um meio pedagógico,
mas um meio que pode interferir no processo de o aluno a) Tomar a realidade escolar como ponto de chegada.
reorganizar as suas ideias e a maneira de expressá-las. b) Observar ações e interações infantis ao longo do ano.
Da mesma forma em relação a outras mídias que estão c) Propor atividades com sentido, reais e desafiadoras
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

ao alcance do trabalho pedagógico. Estar atento e bus- para os alunos.


cando a compreensão do uso das mídias no processo de d) Autorizar a participação e o desempenho individual,
ensino e aprendizagem é fundamental para a sua inte- numa perspectiva técnica
gração no trabalho por projetos. e) Favorecer a construção do processo de memorização
do cliente.
De fato, a integração efetiva poderá ser desenvolvida
à medida que sejam compreendidas as especificidades Resposta: Letra C. A aprendizagem passa a ser vista
de cada universo envolvido, de modo que as diferentes como um processo complexo e global, onde teoria e
mídias possam ser integradas ao projeto, conforme suas prática não estão dissociados, onde o conhecimento
potencialidades e características, caso contrário, cor- da realidade e a intervenção nela tornam-se faces de
re-se o risco da simples justaposição de mídias ou de uma mesma moeda. A aprendizagem é desencadeada

152
a partir de um problema que surge e que conduz à A motricidade nesta dimensão é entendida como o
investigação, à busca de informações, à construção de conjunto de expressões mentais e corporais, envolven-
novos conceitos, à seleção de procedimentos adequa- do funções tónicas, posturais, somatognósicas e práxicas
dos. que suportam e sustentam as funções psíquicas. Com
base neste pressuposto, a motricidade não pode ser
compreendida apenas nos seus efeitos extrassomáticos,
FONSECA, VITOR DA. DESENVOLVIMENTO aliás como a linguagem, uma vez que ela depende de
PSICOMOTOR E APRENDIZAGEM. PORTO motivações, significações internas e fins que a justificam,
ALEGRE: ARTMED, 2008. não sendo possível portanto, separá-la dos processos
psicológicos que a integram, representam, elaboram e
executam, na medida em que ela se encontra sempre em
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR E APRENDIZA- coesão e coibição com a fenomenologia das necessida-
GEM des, com a contextualização das situações e com a diver-
sidade das circunstâncias, a partir das quais é desenca-
Vitor da Fonseca deada como ato significativo e intencional único entre
os seres vivos.
FIQUE ATENTO!
Ao abordar a temática “Desenvolvimento Ao longo da evolução da espécie (filogênese e so-
Psicomotor e Aprendizagem”, numa pers- ciogênese) e do desenvolvimento da criança e do jovem
pectiva intercultural, uma vez que nos vamos (ontogénese), a motricidade permitiu, permite e permiti-
servir de contributos de pioneiros europeus, rá, a sobrevivência e afiliação, a manutenção de estilos de
norte-americanos e russos, temos que prio- vida (caça, recolecção, etc.) e a fabricação de utensílios e
ritariamente reformular, ou refundar, episte- tecnologias, a domesticação de animais e a produção de
mologicamente o que entendemos por Psi- obras de arte, a invenção e expressão da fala e da escrita,
comotricidade. ou seja, foi, é e será a plataforma a partir da qual o pen-
samento reflexivo, a cultura e a civilização se perpetua-
ram, se conservam e se co-construirão.
Serve, portanto, este resumo, para explicar as nossas
Neste pressuposto, a psicomotricidade tem como
fontes de estudo e de inspiração e as nossas raízes refle-
finalidade principal o estudo da unidade e da comple-
xivas, pretéritas e prospectivas, sobre um tema tão inte-
xidade humanas através das relações funcionais, ou dis-
ressante e abrangente. Nesta conferência abordaremos
funcionais, entre o psiquismo e a motricidade, nas suas
preferencialmente as relações entre o desenvolvimento
múltiplas manifestações biopsicossociais e nas suas mais
psicomotor e a aprendizagem, mais a psicomotricidade
do que efetivamente a aprendizagem, e mais a aprendi- diversificadas expressões, envolvendo concomitante-
zagem não simbólica e não verbal, do que a aprendiza- mente, a investigação, a observação e a intervenção ao
gem simbólica e verbal, que já foi tema doutro livro que nível das suas dissociações, desconexões, perturbações ou
escrevemos (Fonseca, 1984, 1999). transtornos ao longo do processo do desenvolvimento.
A Psicomotricidade pode ser definida, em termos ne-
cessariamente reduzidos, como o campo transdisciplinar Partindo duma matriz teórica original, multi e trans-
que estuda e investiga as relações e as influências, recí- disciplinar, a psicomotricidade estuda e pesquisa as com-
procas e sistémicas, entre o psiquismo e a motricidade. plexas relações recíprocas e sistémicas da motricidade
O psiquismo nesta perspectiva é entendido como com o todo da personalidade que caracteriza o indiví-
sendo constituído pelo conjunto do funcionamento duo, especificamente nas suas expressões afetivo-emo-
mental, ou seja, integra as sensações, as percepções, as cionais e psico-sócio-cognitivas.
imagens, as emoções, os afetos, os fantasmas, os medos, O objectivo principal da psicomotricidade visa, con-
as projeções, as aspirações, as representações, as simbo- sequentemente, aprofundar a influência das interações
lizações, as conceptualizações, as ideias, as construções recíprocas entre a motricidade e o psiquismo humanos,
mentais, etc., assim como a complexidade dos processos assumindo a unidade, a diversidade e a complexidade
relacionais e sociais. transcendente da condição humana como componentes
O psiquismo, nesta dimensão integra a totalidade estruturantes do seu conhecimento.
dos processos cognitivos, compreendendo as funções de Neste parâmetro de enquadramento conceptual, a
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

atenção, de processamento e integração multissensorial motricidade é entendida como o conjunto de expressões


(inteiro, próprio e exteroceptiva), de planificação, regula- corporais não verbais e verbais (a linguagem não dei-
ção, controlo e de execução motora. xa de ser uma oromotricidade onde participam cerca de
A ativação de tais funções psíquicas corresponde a cem músculos), que sustentam e suportam as manifes-
vários substratos neurológicos de origem filogenética e tações do psiquismo, sendo este entendido como sendo
emergidos num contexto sociogenético, subentendendo composto pelo funcionamento mental total.
uma plasticidade neuronal, uma hierarquização funcional Cabem nesta concepção dinâmica, holística, sistémica
e uma autoatualização internalizada que se desenvolvem e atuante do psiquismo, todos os processos cognitivos
ao longo da ontogénese, mas que tendem a delapidar-se que integram, planificam, regulam, controlam, monito-
no processo inevitável da retrogénese. rizam e executam a motricidade, como uma resposta
adaptativa intencional, auto engendrada e inteligível que

153
ilustra a evolução da espécie e a evolução da criança, A sua matriz científica e prática clínica encerra uma
sendo este preferencialmente, o objeto nuclear da con- concepção de educação, de reabilitação e de terapia psi-
ferência. comotora, em cujo campo se integra a psicomotricidade
A motricidade humana, a única que se pode designar como um subsistema de conhecimento e de intervenção
como psicomotricidade, estudada em pressupostos cla- específica, para além doutros, que tem a finalidade de
ramente diferenciados da sensoriomotricidade animal, é, estudar as condições predisponentes à maximização,
portanto, compreendida como suporte das funções men- optimização e modificabilidade máximas do potencial
tais próprias e exclusivas do ser humano, donde emana de adaptabilidade e de aprendizibilidade, do indivíduo
a sua identidade singular e plural em muitos aspectos normal ou excepcional, tendo em vista a sua acessibili-
do seu desenvolvimento, da sua adaptabilidade, da sua dade eficaz aos vários ecossistemas, quer sejam naturais,
aprendizagem e da sua socialização. culturais, quer arquitetônicos ou tecnológicos.
A concepção triárquica da psicomotricidade que tem A visão de uma educação ou terapia ancorada à no-
sido estudada e investigada, ao longo de mais de cem ção de psicomotricidade, toma em consideração, não só
anos pode apontar na nossa óptica, tendo por analogia o indivíduo normal, como o indivíduo portador de de-
a concepção de sistemas complexos de conhecimento, ficiências, de dificuldades e de desvantagens de vária
para três vectores paradigmáticos a saber: o multicom- ordem, como uma subjetividade transcendente como
ponencial, o multiexperiencial e o multicontextual. um todo único, original e evolutivo, onde as funções da
- Multicomponencial, porque procura integrar de motricidade e da corporeidade são consideradas indis-
forma coerente e sistémica os contributos não sociáveis das funções afetivas, relacionais, linguísticas e
só das ciências biológicas, mas também das ciên- cognitivas.
cias humanas e doutros domínios que abrangem O corpo e a motricidade, são concebidos em psico-
secâncias transdisciplinares que integram outros motricidade como uma imanência absoluta onde habita
paradigmas nomeadamente: da filosofia, da feno- a subjetividade e a autoconsciência, donde emana um
menologia, da biosemiótica, da antropologia, da ser vivo e original situado no mundo e em perfeita in-
epistemologia genética, da psicologia evolutiva e teração com ele. Como entidades vivas, o corpo huma-
diferencial, da psicossomática, da psicofisiologia, no e a motricidade humana não se reduzem a uma pura
da neuropsiquiatria, da psicanálise, da psiquiatria, realidade biológica, na medida em que agregam uma
da neuropsicologia, da defectologia, da patologia, dimensão metafísica. Como organismo complexo que
da psicopedagogia, da ecologia humana, da socio- é, o ser humano é portador de uma experiência inter-
logia, etc. A construção do saber em psicomotri- na transcendente, ascende a uma dimensão ontológica
cidade estabelece inevitavelmente relações com onde emerge o sentimento íntimo e o conhecimento in-
outros domínios conexos e apropria-se doutros terno imediato do Outro e do seu Eu, da sua consciência,
fundamentos conceptuais exteriores a ela pró- atributos inseparáveis da sua natureza.
pria, sendo esta estratégia uma virtualidade da sua
orientação epistemológica. A psicomotricidade considera ainda preponderante em
- Multiexperiencial, dado que procura estudar e pes- termos ontológicos, o contexto sócio-histórico e cultural,
quisar a implicação da psicomotricidade no pro- onde o ser humano está inserido, com a finalidade de gerar
cesso do desenvolvimento e de desenvolvimento novos processos de facilitação e de interação com os ecos-
humano consubstanciando a diversidade da ex- sistemas, no sentido dele se poder adaptar a uma sociedade
periência e da vivência, desde o recém-nascido ao em mudança acelerada. Desta concepção de educação, de
idoso (sénior), desde o indivíduo inexperiente ou reabilitação e de terapia psicomotora, decorrerá obviamente
imaturo ao experiente ou sobre dotado, desde o a relevância da sua inovação e da sua investigação.
indivíduo normal ao indivíduo com deficiências, A psicomotricidade tal e qual a concebemos hoje, tem
dificuldades e ou desvantagens (ou com necessi- uma história de cerca de 100 anos, mas apresenta uma es-
dades especiais), em qualquer atividade ou mani- trutura de conhecimento já enraizada num longo passado
festação da sua conduta e cultura, etc. de mais de 5 milhões de anos, onde decorreu a maravilho-
- Multicontextual, na medida em que visa projetar o sa história da Hominização. Como concepção dinâmica e
nível de aplicação do seu conhecimento e inter- evolutiva do ser humano, ela é extremamente atual.
venção nos vários contextos onde se integra e A psicomotricidade, com base em vários autores e
observa a atividade humana nos seus múltiplos várias escolas de pensamento, onde a compatibilidade
envolvimentos, desde a família, aos centros mater- e coibição das suas disciplinas estruturantes, ainda peca
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

no-infantis, desde o hospital aos centros de saúde, por falta de fecundidade e de alguma fragmentação
desde a educação pré-escolar à escola primária, da teórica, porque emergida duma matriz biológica, não
escola secundária à universidade, desde os cen- conseguiu, todavia, envolver, e integrar dialeticamente,
tros de lazer e recreação aos clubes desportivos, uma matriz cultural mais complexa, específica, coerente
desde os centros de emprego à total inclusão do e abrangente da evolução da espécie humana, e conse-
indivíduo na sociedade em geral, isto é, envolven- quentemente, do desenvolvimento da criança e do jovem.
do todos os ecossistemas (micro, meso, exo e ma- A psicomotricidade parte de uma evidência onto-
crossistemas) e contextos onde o ser humano se lógica inquestionável: somos seres vivos, antes de ser-
desenvolve, interage e integra como ser sócio-his- mos seres humanos e seres culturais, por essa imanência
tórico. transcendente, só a podemos formular numa vocação
epistemológica biopsicossocial.

154
Os seus paradigmas de desenvolvimento, de apren- axiomas, postulados, constructos hipotéticos, princípios,
dizagem e de adaptação, não sendo ainda cabal e siste- etc., ela possui potencial suficiente para se afirmar, em
micamente entendidos como uma relação transcendente pelo menos, quatro campos profissionais: o da saúde, o
entre a situação externa e a acção internamente elabo- da segurança social, o da justiça e o da educação, para
rada, caminham no futuro, à luz das novas disciplinas além de apresentar um percurso histórico com coerência
emergentes, para uma reflexão epistemológica mais in- e com representatividade profissional em muitos países.
tegrada, alargada e atualizada. Com a presente conferên- Na Saúde, na Segurança Social e na Justiça, as refe-
cia, tentamos lançar, de forma introdutória, alguns dos rências à Reeducação e Terapia Psicomotora têm a sua
seus novos fundamentos. base nas obras de grandes pioneiros como Dupré, Wal-
Como qualquer conhecimento, o conceito da psico- lon, Ajuriaguerra, Michaux, Duché, Cruickshank, J. Ayres,
motricidade, a sua função, o seu papel e a sua importân- etc., advindas das contribuições mais globalizantes de
cia, não escapam ao risco do erro em qualquer pioneiro Freud, Schultz, Piaget, Winnicott, Vygotsky, Luria, etc. Ela
ou novo messias que a conceba e perspective. poderia intervir assim, em: Hospitais, Centros de Saúde,
Centros Materno-Infantis, Instituições de Solidariedade
A articulação da psicomotricidade com os outros sa- Social e Centros Especializados de Reinserção Social, e
beres tem sido proveitosa e positiva ao longo dos tem- igualmente no contexto das profissões liberais, com mo-
pos, independentemente da atitude de co-construção de dalidades de intervenção profilácticas e terapêuticas.
conhecimento, da superação das contradições, da redu-
ção da incerteza e da ampliação da comunicação entre Na Educação, ela tem a sua base nas obras de Guil-
os vários conhecimentos e as várias culturas, ser ainda main, Picq, Vayer, Lapierre, Aucouturier, Soubiran, Ke-
diminuta e episódica. phart, Cratty, Frostig, Barsch, Zaporozhets, Elkonin, etc.,
O saber acumulado em inúmeras obras de psicomo- advindas de contribuições mais distantes, como as de
tricidade, a experiência clínica positiva e a memória viva Demeny, Hebert, Tissié, etc. Ela poderia perspectivar
dos vários pesquisadores oriundos de várias culturas modalidades de intervenção para: a Educação Infantil, a
(europeias, norte-americanas e russas), que vamos tratar Educação Básica, a Educação Especial, a Educação Inclu-
nesta conferência, não encontrou ainda no seio das ciên- siva, os Centros Médico-Psicopedagógicos, os Centros
cias humanas uma plataforma de debate e de reflexão Pedagógicos Especializados, as Escolas e Centros Espe-
prospectiva, construtiva e não defensiva, que valorize a ciais, os Serviços de Apoio Pedagógico, etc., abrangendo
interdependência das suas várias disciplinas estruturan- por especificidade própria as modalidades de interven-
tes e das suas várias sub-matrizes. A psicomotricidade ção preventiva e reeducativa.
como disciplina emergente, decorre efetivamente duma Como vimos, a identidade forjada pela psicomotrici-
interdisciplinaridade e duma transdisciplinaridade origi- dade ao longo de cerca de cem anos, enraizou-se quer
nais. nos paradigmas da educação e da reeducação, quer nos
Os incentivos para uma discussão mediatizada e para paradigmas da terapia propriamente dita.
uma transferência de conhecimento entre os vários sa- É dentro deste quadro conceptual, que podemos de-
beres não tem sido tentada de forma sistemática, apesar
limitar o seu campo de intervenção e afirmar a sua espe-
dalgumas tentativas dispersas.
cificidade própria.
O pensamento estratégico e a engenharia do saber
da psicomotricidade no seu todo, peca ainda por não
Perspectivada num complexo cruzamento e interação
adoptar modalidades de inovação, de flexibilização e de
de saberes, a psicomotricidade revela-nos que o corpo e
qualidade, que no seu conjunto impedem que o seu de-
a motricidade são meios de expressão privilegiados na
senvolvimento conceptual assuma dimensões mais cria-
relação com o outro e meios extraordinários de apreen-
tivas, reflexivas, sustentadas, críticas e úteis para todos
são dos ecossistemas, do espaço, do tempo, do mundo
os saberes.
No ponto de reflexão em que nos encontramos, não é dos objetos e da cultura.
possível hoje conceber a semiologia psicomotora sem os A modulação tónica, o controlo postural estático e di-
contributos da fenomenologia, da psicanálise, da psicos- nâmico, a auto e eco organização espacial, a sequenciali-
somática, da psicofisiologia, das neurociências, da psico- zação temporal, a coordenação e a dissociação das práxi-
pedagogia, etc. cas, constituem os componentes do sistema psicomotor
Com a presente palestra, pretendemos fazer um le- do ser humano (SPMH) que testemunham o seu autoco-
vantamento das principais linhas de elaboração concep- nhecimento, a sua plasticidade psíquica, a sua adaptabili-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

tual do desenvolvimento psicomotor, criando um pa- dade e a sua capacidade de aprender a aprender.
radigma consensual de pressupostos para o seu futuro Com tais fatores psicomotores integrados que ilus-
estudo, algo que não é fácil, na medida em que unificar tram a disponibilidade do sujeito (da criança, do jovem,
concepções de várias disciplinas distintas e de vários au- do adulto, etc.), é possível mobilizar as suas funções de
tores oriundos de diferentes culturas, para compreender atenção, de processamento, de memorização, de planifi-
melhor o modo como funciona a psicomotricidade en- cação, de expressão, de mentalização, de simbolização,
quanto sistema complexo, é um tremendo desafio. de inibição, de regulação e passar do registo do real ao
registo do imaginário.
Em resumo, a psicomotricidade, apesar de não ter Nesta ordem de ideias, a psicomotricidade assume o
atingido ainda um estádio completo e formal de conhe- papel duma psicoterapia mediada pelo corpo e pela mo-
cimento, ela subentende um conjunto de definições, tricidade do indivíduo, com base nela, procura reduzir os

155
sintomas de perturbação da sua personalidade evolutiva, reforça os seus poderes relacionais e interacionais e promove
a sua modificabilidade instrumental e operativa no sentido da maximização do seu potencial psicomotor, isto é, motor,
afetivo e cognitivo.
Em síntese, a psicomotricidade tem por objeto de estudo a globalidade do ser humano, no plano teórico e prático, a
ela combate a dicotomia da soma e do psíquico, ensaiando pelo contrário à sua fusão e unificação complexa e dialética.
Tendo por finalidade abordar nesta palestra as implicações recíprocas entre o desenvolvimento psicomotor e a
aprendizagem na criança e no jovem, com base no contributo de vários autores oriundos de várias culturas, não quise-
mos deixar de colocar nesta introdução abrangente, os paradigmas que hoje, na nossa perspectiva, desenham a matriz
teórica da psicomotricidade.

Pensamos que desta forma os leitores podem apreciar de forma mais contextualizada as diferentes abordagens
sobre o desenvolvimento psicomotor e a aprendizagem, propostas por especialistas europeus, norte-americanos e
russos.
Apesar da origem da psicomotricidade ter sido em França e dela se ter expandido preferencialmente para os países
mediterrânicos e latino-americanos, na nossa linha de pensamento os contributos dos autores norte-americanos e dos
autores russos, apresentam contribuições muito relevantes para o desenvolvimento conceptual da psicomotricidade.
Pretendemos com este livro, contribuir para uma perspectiva intercultural mais alargada da psicomotricidade, mes-
mo tendo consciência do muito que há a explorar noutras culturas para que ela se liberte de amarras conceptuais que
a limitam na sua universalidade.
A estrutura da palestra encontra-se dividida em três grandes secções:
- Desenvolvimento Psicomotor (autores europeus: Wallon, Piaget e Ajuriaguerra);
- Desenvolvimento Perceptivo-Motor (autores norte-americanos: Kephart, Cratty, Getman, Frostig, Brash, Cruickshank
e J. Ayres);
- Desenvolvimento Sócio-Motor (autores russos: Vygotsky, Luria, Bernstein, Zaporozhets e Elkonin).

Em termos de esquema global, a palestra encontra-se estruturado nos seguintes módulos:


CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Fonte
Congreso Internacional “EDUCACIÓN INFANTIL Y DESARROLLO DE COMPETENCIAS”. Organizado por la Asociación
Mundial de Educadores Infantiles (AMEI-WAECE) en Madrid los dias 28, 29 y 30 de Noviembre de 2008

156
FORMOSINHO, JULIA OLIVEIRA.
EXERCÍCIO COMENTADO PEDAGOGIA DA INFÂNCIA: DIALOGANDO
1. (Pref. Alagoinha – Professor de Ed. Básica - Pref. COM O PASSADO: CONSTRUINDO O
Alagoinha/2016) Julgue os itens abaixo como verda- FUTURO. PORTO ALEGRE: ARTMED, 2007.
deiro ou falso segundo a classificação dos objetivos de
ensino no que se refere aos domínios.
A UTILIZAÇÃO DA HERANÇA HISTÓRICA NA RE-
I ( ) O professor deve dar mais importância ao desenvol- CONSTRUÇÃO DE UMA PRÁXIS DE PARTICIPAÇÃO
vimento intelectual do que aos aspectos afetivos e psi-
comotores.
II ( ) Dependendo do contexto e das pessoas que parti- FIQUE ATENTO!
lham uma relação social, o significado e a manifestação
“As crianças devem ser vistas, mas não ou-
das emoções mudam.
vidas” é uma máxima do código educativo
III ( ) Na sala de aula, deve-se planejar o desenvolvimento
tradicional das altas classes sociais inglesas.
da inteligência e deixar que o da afetividade e o psico-
Esse princípio emigrou da esfera da edu-
motor aconteçam espontaneamente.
cação familiar inglesa para a esfera pública
IV ( ) Na aprendizagem devem ser considerados os domí-
dos sistemas educativos ocidentais, tendo
nios cognitivo, afetivo e psicomotor.
ressonância na política educativa e na vida
A sequência correta é:
escolar – também as vozes dos pedago-
gos permanecem vistas na retórica das leis
a) F-F-F-V
e dos documentos oficiais, na retórica dos
b) F-V-V-F
documentos das escolas (projeto educativo,
c) V-F-F-V
projeto político-pedagógico), mas não real-
d) F-V-F-V
mente ouvidas, isto é, não praticadas, não
e) V-V-V-F
constituídas em uma práxis.
Resposta: Letra D. As alternativas verdadeiras são a
II e a IV. A II confirma que as circunstâncias em que As propostas construtivistas que retomam, em muito,
ocorrem as relações sociais numa sala de aula alteram os textos dos pedagogos do final do século XIX e prin-
as emoções predominantes. A IV traduz o princípio da cípio do século XX, se criam alguma ressonância ao ní-
integração da vida psíquica proposto por Wallon. A III vel da retórica da política educativa, nunca conseguiram
está errada, pois, ao planejar o conteúdo e desenvol- penetrar a carapaça burocrática que protege a pedago-
vê-lo, interferimos no afetivo e no motor. Já a I, apesar gia transmissiva tradicional, ou seja, nunca conseguiram
de o concurso considerar errada, pode ser aceita se transformar a esfera praxiológica. É, assim, que hoje as-
entendermos que a principal função docente é pro- sistimos a uma quase esquizofrenia educativa em que se
mover o aprendizado do conteúdo (cognição). naturalizou a distância entre as propostas e a realidade
pedagógica experienciada por adultos e crianças.
Então, a persistência de um modo de fazer pedagógico
que ignora os direitos da criança a ser vista como compe-
tente e a ter espaço de participação (o modo pedagógico
transmissivo ou a pedagogia transmissiva) persiste, não por
falta de pensamento e propostas alternativas. De fato, a pe-
dagogia da infância pode reclamar que tem uma herança
rica e diversificada de pensar a criança como ser participan-
te, e não como um ser em espera de participação. A per-
sistência deve-se à regulação burocrática da escola que o
autor anônimo do século XX, para usar a expressão de João
Formosinho e Joaquim Machado, lentamente construiu.
Mas aceitar, ao nível dos valores e das teorias, outras
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

imagens da criança que falam da competência participa-


tiva e dos direitos a essa participação traz consigo uma
obrigação cívica de incorporá-las em cotidianos que as
respeitam, de transformar a práxis. A pedagogia da in-
fância dispõe da memória e da história para essa trans-
formação, para se recentrar na reinstituição dos seus
saberes, pois é o produto de uma construção sócio-his-
tórica cultural que em si mesma já transporta as semen-
tes de uma nova construção.

157
O propósito deste livro é que escutemos as vozes de pedagogos dos dois últimos séculos, porque transportam a
sabedoria de que precisamos para desenvolver uma outra pedagogia – uma pedagogia transformativa, que credita a
criança com direitos, compreende a sua competência, escuta a sua voz para transformar a ação pedagógica em uma
atividade compartilhada.

A PRÁXIS COMO O LÓCUS DA PEDAGOGIA

A pedagogia organiza-se em torno dos saberes que se constroem na ação situada em articulação com as concep-
ções teóricas e com as crenças e os valores. A pedagogia é, portanto, um “espaço ambíguo” já não de um-entre-dois,
a teoria e a prática, como alguns disseram (Houssaye et al., 2002), mas antes de um-entre-três, as ações, as teorias e as
crenças, em uma triangulação interativa e constantemente renovada.
Convocar crenças e valores, analisar práticas e usar saberes teóricos constitui um movimento triangular de criação
de um “espaço ambíguo” – o espaço da pedagogia – que nos reenvia para uma triangulação praxiológica. Ser profis-
sional reflexivo é fecundar, antes, durante e depois da ação, as práticas nas teorias e nos valores, interrogar para ressig-
nificar o já feito em nome da reflexão que constantemente o reinstitui.
A pedagogia como construção de saberes praxiológicos na ação situada recusa os reducionismos – o academicismo
em que a lógica dos saberes constitui-se em critério único, o empiricismo em que a experiência primária do cotidiano,
não “ampliada”, traduz-se em referência central (Formosinho, 2002). Diferentemente de outros saberes que se cons-
troem pela definição de domínios com fronteiras bem definidas, os saberes pedagógicos criam-se na ambiguidade de
um espaço que conhece as fronteiras, mas não as delimita, porque a sua essência está na integração.

Este capítulo visa a contribuir para a reconstrução de uma pedagogia da infância baseada em uma práxis de parti-
cipação. Partindo do princípio de que a práxis é o lócus da pedagogia, concluímos que, por isso, é mais complexa do
que as crenças, as teorias e as práticas consideradas isoladamente. Uma pedagogia centrada na práxis de participação
procura responder à complexidade da sociedade e das comunidades, do conhecimento, das crianças e de suas famílias,
com um processo interativo de diálogo e confronto entre crenças e saberes, entre saberes e práticas, entre práticas e
crenças, entre esses polos em interação e os contextos envolventes. Por essa razão, é um modo de fazer pedagogia
mais complexo do que o modo transmissivo. É o que veremos a seguir.

PEDAGOGIA DA TRANSMISSÃO E PEDAGOGIA DA PARTICIPAÇÃO: DOIS MODOS DE FAZER PEDAGOGIA

Um exercício que a herança pedagógica dos dois últimos séculos permite-nos é o de contrastar os modos de fa-
zer pedagogia: o modo da transmissão e o modo da participação (Oliveira-Formosinho, 2002a). Dewey, nos Estados
Unidos, Freinet, na França, Malaguzzi, na Itália, Paulo Freire, no Brasil, Sérgio Niza, em Portugal, são somente alguns
exemplos de pedagogos que procuraram modos alternativos de fazer pedagogia e, para tal, necessitaram desconstruir
o modo tradicional.
O mesmo debate ocorre na sociedade entre a concepção de cultura como reprodução e a concepção de cultura
como recriação. Assim, no desenvolver desse exercício encontramos a cultura, como realidade dinâmica, a confrontar-
-se com essa definição do que é conhecimento e o processo de construí-lo. Esse debate cultural recebe contribuições
da pedagogia; esta, por sua vez, recebe contribuições desse processo cultural mais amplo. É um jogo de espelhos em
que o campo da pedagogia, ao ver o debate na sociedade e na cultura, revê-se no espelho, porque vê os seus debates
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

internos ocorrendo em outros espaços de cultura, encontra-se refletido nesses debates e alimenta-se desse diálogo
cultural (Readings, 1996; Naughton, 2005).
No Quadro 1.1, comparam-se os modos pedagógicos ao nível dos objetivos, dos conteúdos, dos métodos e mate-
riais, do processo de ensino-aprendizagem. No Quadro 1.2, comparam-se os modos pedagógicos ao nível da relação
pedagógica e do papel dos diversos atores educativos. No Quadro 1.3, apresentam-se as fontes teóricas e os autores,
bem como os modelos pedagógicos concretos filiados em cada um desses modos.
Todos os pedagogos que propuseram alternativas significativas para uma pedagogia – em que a criança ativa e
competente é respeitada nos seus direitos de participação – tomaram posição nesses níveis constitutivos dos modos
diferenciados de fazer pedagogia.

158
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

159
A pedagogia da transmissão que se centra na lógica dos saberes, no conhecimento que quer veicular, resolve a
complexidade através da escolha unidirecional dos saberes a serem transmitidos e da delimitação do modo e dos tem-
pos para fazer essa transmissão, tornando neutras as dimensões que contextualizam esse ato de transmitir. A persistên-
cia e a resistência desse modo tem a ver com a simplicidade, a previsibilidade e a segurança da sua concretização, pois
ele representa um processo de simplificação centrado na regulação e no controle de práticas desligadas da interação
com outros polos, de uma resposta à ambiguidade através da definição artificial de fronteiras e de respostas tipificadas.
Por isso, é o modo pedagógico congruente com o modo organizacional baseado na burocracia, pois esta é baseada
na simplificação do juízo que fundamenta a ação, na pré-decisão no centro da ação a ser desenvolvida pela periferia.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Nosso principal objetivo aqui é contribuir para nos libertarmos da opressão da pedagogia da transmissão. Porém,
como nos ensina Paulo Freire, em pedagogia a ruptura não é um mero exercício de desocultação, mas sim um com-
promisso com a reconstrução e com a esperança. A partir dessa desconstrução, pretendemos facilitar a reconstrução
de uma pedagogia da participação.

160
A pedagogia da participação cumpre a essência da PEDAGOGIA DA TRANSMISSÃO E PEDAGOGIA DA
pedagogia na sua expressão por nós considerada mais PARTICIPAÇÃO: UMA LEITURA A PARTIR DE DE-
nobre, que reside na integração das crenças e dos sabe- WEY
res, da teoria e da prática, da ação e dos valores. Ela o faz
em combinações múltiplas, fugindo da “realidade atual Fazer uma leitura do contraste entre o modo trans-
e criando mundos possíveis” (Bruner, 1986). Parte dessa missivo e o modo participativo a partir de Dewey tem o
complexidade resulta da integração de saberes, práticas intuito de afastar qualquer incompreensão acerca do que
e crenças quer no espaço da ação e reflexão, quer no é uma educação não-tradicional.5
espaço da produção de narrativas sobre o fazer e para No século passado, foram múltiplas as alternativas
o fazer. que se criaram para a rejeição da transmissão. Em um ar-
A pedagogia da participação centra-se nos atores tigo notável sobre a criança e o currículo, Dewey escreve,
que constroem o conhecimento para que participem em 1902, que há quem não veja alternativa entre forçar
progressivamente, através do processo educativo, da(s) a criança do exterior ou deixá-la entregue a si própria. O
cultura(s) que os constituem como seres sócio-histórico- diálogo com Dewey6 constitui uma via muito rica para
-culturais. A pedagogia da participação realiza uma dia- significar que esse debate entre a criança e o currículo
logia constante entre a intencionalidade conhecida para não deve levar à exclusão nem da criança, dos seus inte-
o ato educativo e a sua prossecução no contexto com os resses e motivações, nem do currículo no que representa
atores, porque estes são pensados como ativos, compe- de significados, objetivos e valores sociais.
tentes e com direito a co-definir o itinerário do projeto
Segundo Dewey, as diferenças teóricas profundas em
de apropriação da cultura que chamamos educação.3
torno do que é ensinar e aprender nascem de elementos
A interatividade entre saberes, práticas e crenças é
em conflito e em contradição. Na ausência de reflexão e
construída pelos atores; na construção do seu itinerário
de criação de pontos de vista alternativos que permitam
de aprendizagem, mas em interação com os seus con-
ver à outra luz os elementos em conflito, a via é a do en-
textos de vida e com os contextos de ação pedagógica.
clausuramento em torno de um dos elementos. Na opi-
Assim, a interdependência entre os atores e os ambien-
nião de Dewey, assim se criam as escolas de opinião que,
tes, faz da pedagogia da participação um espaço com-
quando selecionam certas condições por oposição às
plexo, no qual lidar com a ambiguidade, a emergência
e o imprevisto torna-se critério do fazer e do pensar. A condições contraditórias e as edificam em verdade única,
participação implica a escuta, o diálogo e a negociação, sem espaço para reflexão, comportam-se como seitas.
o que representa um importante elemento de complexi- Para ele, os elementos fundamentais do processo
dade desse modo pedagógico. educativo são, ao mesmo tempo, as crianças (com os
Em síntese, a interatividade entre saberes, práticas e seus interesses e opiniões) e os objetivos (os significados
crenças, a centração nos atores como co-construtores da e valores sociais incorporados na experiência da socie-
sua jornada de aprendizagem em um contexto de vida e dade e da cultura). O processo educativo não se situa de
de ação pedagógica determinado, através da escuta, do um dos lados contra o outro, pois a sua essência é a inte-
diálogo e da negociação, conduzem a um modo de fazer ração desses elementos fundamentais. A teoria educati-
pedagógico caleidoscópico, centrado em mundos com- va precisa constantemente refletir os dois elementos e a
plexos de interações e interdependências, promovendo sua interatividade, em vez de se entrincheirar de um dos
interfaces e interações. Esse modo de fazer pedagógi- lados. A não ser assim, quem perde é a epistemologia da
co configura a ambiguidade, a emergência, o imprevisto prática, empobrecida pelo déficit reflexivo.
como critério do fazer e do pensar, produzindo possi- Contudo, Dewey chama a atenção para o fato de a via
bilidades múltiplas que definem uma pedagogia trans- mais fácil ser o antagonismo que se traduz em considerar
formativa. Estas são características que fogem à possi- os elementos apenas naquilo que os separa e optar por
bilidade de uma definição prévia total do ato de ensinar um que se edifica em verdade absoluta. Então, a chave
e aprender, exigindo a sua contextualização cotidiana.4 para ensinar extrema-se: ou a natureza da criança ou a
Esta síntese permite-nos enunciar as tarefas centrais natureza do currículo. O processo educativo deixa de ser
de um modo participativo de fazer pedagogia. A primeira problematizado como holístico, e de natureza interativa,
tarefa é a de construção de contextos educativos comple- e passa a ser equacionado de modo simplista através de
xos que permitam a emergência das possibilidades múl- um dos elementos em conflito: a criança ou o currículo, o
tiplas e que participem no processo de construir partici- indivíduo ou a cultura social.
pativamente conhecimento. A segunda tarefa situa-se no No que se refere às finalidades da educação, uns en-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

coração relacional desse modo pedagógico, que o define clausuram-se do lado da finalidade personalizadora, en-
como espaço de interação e escuta, a serviço da diferen- quanto outros do lado da finalidade socializadora e cer-
ciação pedagógica. A terceira tarefa é a de, dialogando ram trincheiras que permitem esgrimir debates e captar
com a história, escolher reflexivamente uma gramática adeptos.
pedagógica que permita pertencer a uma comunidade Uma corrente de pensamento pedagógico fixa a sua
aprendente que partilhe um modo de fazer pedagógico, atenção, de forma exclusiva, sobre a importância do con-
contribuindo para a construção do conhecimento sobre teúdo do currículo em oposição ao conteúdo da própria
esse modo de fazer. experiência da criança, pois se receia que esta possa ser
Essas tarefas serão analisadas a seguir, após uma re- estreita, imperfeita, egoísta, egocêntrica, impulsiva. Defi-
leitura do confronto entre os dois modos de fazer peda- ne-se que é necessário inscrever, na natureza volátil da
gogia a partir de Dewey. criança, a lei e a ordem. O currículo traz um mundo or-

161
ganizado com base na certeza do conhecimento, em que para a experiência educativa que se estrutura e complexi-
tudo é medido e definido, fugindo à experiência confusa, fica, promove-se a compreensão desses interesses como
vaga, incerta da criança. base para a experiência e sua estruturação. No modo
O papel do educador é o de substituir uma natureza participativo, o bom aluno é o que se envolve, pois, o seu
superficial, casual, peculiar, por uma natureza estável e envolvimento nas atividades e nos projetos é conside-
ordenada através de lições. Ele o faz dividindo cada tó- rado indispensável para que dê significado às experiên-
pico em disciplinas, cada disciplina em lições, cada lição cias, sendo essencial para que construa conhecimento e
em fatos e fórmulas para a criança seguir, passo a passo, aprenda a aprender.
degrau a degrau, para, através do domínio progressivo No entanto, Dewey adverte que as posições extremas
de cada uma dessas partes, chegar ao todo. Desse modo, são, geralmente, deixadas aos teóricos e que os profis-
a aquisição da informação constitui-se na questão peda- sionais, usando o bom senso, “oscilam em um labirin-
gógica central – a discussão sobre a divisão em discipli- to de compromissos”, compreendendo a necessidade
nas substitui uma reflexão sobre as finalidades; a suces- de aproximar a teoria e o bom senso. Isso se traduz na
são dos assuntos e das matérias determina o método. necessidade de regressar à teorização da interação dos
Para a outra corrente de pensamento pedagógico, a elementos constitutivos do processo educativo, recusan-
personalidade, o caráter da criança é o ponto de gravita- do a noção prejudicial de “hiato de qualidade” entre a
ção e o desenvolvimento da criança é a grande finalidade experiência da criança e os conteúdos que formam a se-
da educação. O valor da escola reside em servir essa fi- quência do currículo.
nalidade, porque a personalidade é mais importante que Fazer isso significa um movimento duplo de reflexão: por
a matéria, a realização pessoal subordina a aquisição de um lado, sobre a experiência da criança no que contém de
informação. Apenas a criança determina a finalidade e a elementos e fatos, do mesmo tipo dos conteúdos que com-
quantidade do assunto matéria, pois este não é mais do põem a sequência de estudos; por outro lado, sobre analisar
que o alimento para a sua realização pessoal. se a experiência das crianças contém os interesses que diri-
Dewey continua com a sua teorização, analisando as gem a organização do conteúdo. É que adotar uma posição
teórica de reflexão crítica que foge aos simplismos estéreis
implicações dessa oposição fundamental entre o currícu-
não é criar um espaço onde tudo se confunde.
lo e a criança. Explica que do lado dos “curricularistas”,
As pedagogias propostas por aqueles que, nas últi-
isto é, dos que defendem a supremacia do curso de es-
mas três décadas do século XIX e no século XX, iniciaram
tudos, a “disciplina” é a palavra-chave. Do outro lado, a
movimentos de renovação pedagógica são férteis em
palavra-chave é o interesse da criança. A primeira posi-
modelos para uma pedagogia da participação. Dentre
ção sustenta-se na lógica dos conteúdos, na erudição do
eles, convocamos Dewey, fonte inspiracional constante,
professor e no treino da criança. A segunda posição sus-
para nos explicar mais esse fator de complexidade de
tenta-se na psicologia da criança, requer o conhecimento uma pedagogia da participação. Ele nos faz compreen-
da sua estrutura psicológica e uma posição de empatia der que os dois elementos do ato de ensino-aprendiza-
e subordinação perante essa estrutura. A primeira pers- gem – as crianças e o currículo – têm identidade própria.
pectiva requer a definição de instâncias de orientação e Uma proposta reflexiva para a construção de uma práxis
de controle, enquanto a segunda possibilita a criação de participativa reconhece que o ato educativo integra es-
espaços de liberdade e iniciativa. ses dois elementos, porque a agência do aprendente, em
Na questão do ensinar-aprender, as posições teóricas liberdade e cooperação, recebe o conhecimento e trans-
diferenciam-se sobretudo em torno de um núcleo central forma-o, isto é, participa da sua reconstrução.
de imagens: a de criança e a de professor, a de processo Nesse sentido, procuramos explicar a necessidade
de ensino-aprendizagem e respectiva avaliação. Essas di- de que uma pedagogia da participação se inicie pela
ferenças têm consequências nos níveis de definição dos construção (ou reconstrução) do contexto educativo dos
modos de fazer pedagogia. aprendentes, conceitualizando-o como contexto educa-
Os objetivos educacionais diferenciam-se, no modo tivo complexo que permita a emergência de possibilida-
transmissivo e no modo participativo, porque esse nú- des múltiplas, como contexto que participe no processo
cleo de imagens oferece grande variabilidade entre os de construir participativamente o conhecimento.
dois modos. A imagem da criança como construtora de
conhecimento, com competência para ter voz no proces- O CONTEXTO QUE PARTICIPA: A PEDAGOGICIDA-
so de ensino-aprendizagem gera, em congruência, um DE DO ESPAÇO E DOS MATERIAIS
determinado conjunto de objetivos. Quando a criança é
considerada uma “tábua rasa”, uma “folha em branco” na Construir um contexto7 que participe na participação
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

qual o ensino vem inscrever os conhecimentos, essa ins- colocou-se ao longo do século XX como um dos maio-
crição passa a ser a tarefa central do professor e o polo res desafios a que a pedagogia da infância procurou res-
de gravitação da definição de objetivos educacionais. ponder. De Maria Montessori a Malaguzzi encontramos
Também existem as diferentes definições de bom alu- respostas muito diferenciadas que, contudo, defendem
no para cada modo pedagógico. No modo transmissivo, uma idéia em comum: a aprendizagem é situada. Um dos
o bom aluno é o que consegue acelerar essa inscrição maiores desafios perante os quais nos colocou a peda-
de conhecimentos. Compensar os déficits é tarefa do gogia da infância provém de ter mostrado que a constru-
professor perante os alunos que apresentam dificulda- ção do conhecimento pela criança necessita de um con-
des de aprendizagem. No modo participativo, em que texto social e pedagógico que sustente, promova, facilite,
a criança é percebida como competente e como sujeito celebre a participação, de um contexto que participe na
de direitos, parte-se dos seus interesses como motivação construção da participação.

162
Comecemos pelo contexto físico – o espaço, a arquite- contexto comunitário. Falamos muito na importância
tura, os materiais. Há uma pedagogicidade indiscutível na do contexto na aprendizagem da criança, na interação
materialidade do espaço, disse Paulo Freire (1997) quan- entre contextos. Esse conceito é tão importante para a
do, como secretário da educação do Estado de São Paulo, pedagogia que convém aprofundá-lo na literatura para
visitou escolas da rede escolar e constatou o desprezo a então ressignificar a noção de contexto na pedagogia da
que estavam votados os espaços educativos. Horrorizado, infância.
perguntava ainda como cobrar das crianças um mínimo de Mais uma vez, o olhar histórico pode ser convocado
respeito pelas carteiras, mesas e paredes se o poder público para apoiar uma compreensão aprofundada do concei-
revelava absoluta desconsideração pela coisa pública. to de contexto educativo. No século passado, correntes
Em 1902, ao percorrer as lojas de material escolar, de teóricas provindas da filosofia (especificamente da epis-
Chicago, tentando encontrar mesas e cadeiras que satis- temologia), da psicologia e da pedagogia, chamaram a
fizessem as necessidades das crianças, sob os pontos de atenção para o fato de que cada ser humano é o homem
vista artístico, higiênico e educativo, Dewey teve gran- e a sua circunstância, é um sujeito em contexto (e não um
de dificuldade em encontrar aquilo que procurava. Um sujeito abstrato), é um aprendiz situado no aqui e agora.
comerciante respondeu-lhe: “Receio bem não ter o que Seria empobrecedor ignorar toda a teorização disponível
vocês desejam. Vocês querem carteiras onde as crianças em torno do homem encarnado, sobretudo aquela que
possam trabalhar, todas estas são para ouvir”. Dewey co- tem mais relevância para a questão que aqui queremos
menta que isso resume toda a história da educação tra- tratar: a do ambiente educativo. Dentre essa teorização,
dicional, uma educação na qual tudo foi concebido para convocaremos Kurt Lewin (1943/1951), Cole (1992) Sie-
pôr as crianças a ouvir. Medeia quase um século entre gel e Cohen (1991) para nos elucidarem sobre o conceito
esse episódio da vida de Dewey e o episódio da vida de de contexto e a sua importância.
Paulo Freire, mas ambos reconhecem a importância do Kurt Lewin (1943/1951), em meados do século pas-
contexto físico na pedagogia adotada. sado, estudou a importante realidade que se refere ao
Vários modelos pedagógicos preocuparam-se com a crescimento e à aprendizagem dos indivíduos como to-
arquitetura do espaço educacional. Este ambiente, pro- talidade com o contexto, os processos psicológicos ou
posto por Maria Montessori, os modelos arquitetônicos sociais como constituintes de uma totalidade, de uma
froeblianos, a integração dos espaços educativos interio- estrutura, com o contexto. Para Lewin, a análise do cam-
res e exteriores de Margaret Macmillan, a pedagogia da po (o contexto) como um todo inclui tanto os aspectos
escuta de Reggio Emilia são somente alguns exemplos psicológicos quanto os nãopsicológicos.9 Os hábitos de
que falam da importância do contexto físico, do espaço grupo e os hábitos individuais só podem ser compreen-
e da arquitetura da sala de atividades, do espaço de re- didos como resultados do organismo e do seu espaço
creio, da escola e do espaço envolvente. Esses elementos vital, do grupo e do seu contexto. Refere ainda que a es-
são importantes para criar outra visão da criança e do trutura do organismo individual, do grupo e do contexto
professor, do ensinar e do aprender. deve ser analisada como um todo.
No âmbito da psicologia sociocultural, Cole (1992)
O CONTEXTO QUE PARTICIPA: DO CONTEXTO FÍ- afirma que o essencial é que o contexto e o objeto en-
SICO AO CONTEXTO SOCIAL trelaçam-se em uma corrente de atividade. Não estamos
perante duas variáveis que podem analisar-se indepen-
Embora o espaço físico tenha uma pedagogicidade dentemente, mas perante duas variáveis que constituem
indiscutível, ele não é suficiente para caracterizar um uma unidade de análise. A cultura é inseparável do con-
contexto. Um conjunto de salas de aula não é necessaria- texto de que emana em uma tripla direção: porque o
mente uma escola. Siegel e Cohen (1991) analisam essa contexto não pode separar-se da dimensão temporal
questão perguntando: “por que uma casa não é (neces- que o configura (a história na realidade humana); porque
sariamente) um lar?”. É que um lar articula atores que no contexto estão presentes, de igual modo, instrumen-
mantêm entre si relações, recordações, tradições, metas, tos materiais e simbólicos; porque um contexto envol-
organizações idiossincráticas das presenças no espaço. vente é necessariamente um contexto social.
Na sua esteira, perguntamos: por que um conjunto de
salas de aula não é (necessariamente) uma escola? Por O CONTEXTO QUE PARTICIPA: A INTERDEPEN-
que uma sala não é (necessariamente) um ambiente? Por DÊNCIA ENTRE O CONTEXTO E OS PROCESSOS DE
que uma escola não é (necessariamente) um contexto APRENDIZAGEM
educativo? É que uma escola articula atores que mantêm
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

O papel do conceito de contexto no estudo dos proces-


relações com outros atores, desenvolvendo atividade
sos psicológicos varia conforme as diversas teorias psicoló-
intencional, criando memória da presença no contexto.
gicas, mesmo entre aquelas que se consideram ecológicas.
Um contexto físico, por si só, não faz uma escola; para
Valsiner e Winegar (1992) apresentam uma análise da utili-
que um edifício escolar seja uma escola, são necessárias
zação desse conceito nas teorias psicológicas que nos aju-
diversas condições. Uma escola é um contexto social
dará a compreender o que entendemos por contexto em
constituído por atores que partilham metas e memórias,
uma pedagogia da participação. Aplicaremos essa análise
por indivíduos em interdependência com o contexto que ao processo psicológico mais presente no ato pedagógico
constroem intencionalidade educativa. – a aprendizagem.
Em pedagogia, particularmente na pedagogia da As teorias contextualizadoras, como as que evoluíram
infância, falamos muito de contexto: o contexto sala a partir do comportamentalismo – social learning, por
de atividades, o contexto escola, o contexto familiar, o exemplo –, explicam os fatores que influem nos processos

163
psicológicos de aprendizagem e desenvolvimento como aprendizagem. É por isso que, por exemplo, a manipu-
estruturalmente independentes. Isto é, as relações entre o lação do número de alunos por turma não é, por si só,
indivíduo e o contexto são unidirecionais e aditivas, não são garantia da melhoria dos resultados escolares.
interativas. Identificar os fatores que influenciam os resultados e
Logo, o contexto surge como uma constante, como a prática e melhorá-los isoladamente não é o mesmo que
um conjunto de fatores estruturalmente imodificáveis ter a convicção da relação intersistêmicas de todas as di-
pelo indivíduo, que influenciam o seu comportamento, mensões da pedagogia, assim como não é o mesmo que
mas estão para além das possibilidades de ação sobre construir um espaço educativo de natureza interativa e
ele. O modo transmissivo de fazer pedagogia, nas suas multidirecional que, na linguagem de Reggio Emilia, seja
versões mais “modernas”, está preocupado em identifi- definido pela criação de possibilidades múltiplas.
car os fatores que afetam os resultados de aprendizagem Uma pedagogia participativa tem grande clareza
para isoladamente os manipular, cada um por si, como acerca da relação inextrincável entre os processos de
variáveis independentes entre si, e com isso conseguir aprendizagem e os contextos em que se desenrolam, o
melhores resultados. Estamos diante de uma perspec- que, em outras palavras, é dizer que reconhece a bidire-
tiva que, na linguagem de Valsiner e Winegar (1992), cionalidade e interatividade entre os atores do processo
chama-se de contextualizadora. Por exemplo, isolam-se educativo e os seus contextos. A partir dessa consciência
fatores como o número de disciplinas no plano de es- reflexiva e crítica em torno das relações aluno-contex-
tudos, o número de alunos por turma, o tempo da aula to, nasce a necessidade de que se situe a intervenção
ou a qualificação dos professores, modifica-se cada um pedagógica, primeiramente, na construção do contexto
isoladamente e mede-se o efeito dessa modificação nos educativo (Oliveira-Formosinho, 1996, 1998). A unidade
resultados de aprendizagem. de análise para intervenção (e também para a investiga-
ção) é a da compreensão do fenômeno em contexto, do
sujeito em contexto. O contexto e os fenômenos educa-
tivos são interdependentes no sentido de desenvolverem
relações interativas e bidirecionais.
A práxis pedagógica tem de se construir nessa ligação
indissociável pessoas contextos. A pedagogia da infân-
cia constitui-se em um mundo de interações orientadas
para projetos colaborativos em um contexto que promo-
ve a participação. Desse modo, recontextualizar a peda-
gogia não é nem meramente renovar o contexto nem
meramente renovar os professores, mas sim reconstruir
a atividade-em contexto. Sujeito e contexto unificam-se
no âmbito da cultura. A mediação de atividade nas ins-
tituições de educação de infância torna-se, então, uma
questão urgente. É isso que torna uma pedagogia da
participação mais complexa e imprevisível, pois a criação
de possibilidades múltiplas implica que há uma interde-
pendência real entre o contexto e os processos psicoló-
gicos e educativos de aprendizagem e desenvolvimento,
mas não uma subordinação previsível desses processos
aos vários tipos de contextos.11
As teorias contextuais, como, por exemplo, são al-
OS PROCESSOS DA PARTICIPAÇÃO: DA OBSERVA-
gumas teorias ecológicas, a teoria sociocultural (Bruner, ÇÃO E DA ESCUTA À DIFERENCIAÇÃO PEDAGÓGI-
Cole, Rogoff, Valsiner, entre outros), constatam que há CA
um espaço de interdependência na ação, no pensamen-
to e na realização que estimula “a realidade mental da A história da pedagogia revela-nos que no coração
criança em direção a mundos possíveis” (Bruner, da educação tradicional estão os saberes considerados
1986). Há interdependência e interatividade entre essenciais e imutáveis, ou seja, indispensáveis para que
as pessoas e os seus contextos de vida. Aplicando es-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

alguém seja educado (instruído, culto, ilustrado). Assim,


sas ideias à educação, constatamos que realmente existe o professor é visto como o transmissor daquilo que on-
interdependência e interatividade entre as crianças e os tem lhe foi transmitido – o executor dessa transmissão.12
seus contextos educativos. Assim, a primeira tarefa do No âmbito de uma pedagogia da infância transfor-
educador é a de pensar o contexto educativo e organi- mativa, preconiza-se a instituição de um cotidiano edu-
zá-lo para que se torne um “segundo educador”.10 Ao cativo que conceitualiza a criança como uma pessoa com
educador pedimos que crie espaço de participação para agência, não à espera de ser pessoa, que lê o mundo e o
as crianças, o que começa por criar um contexto que par- interpreta, que constrói saberes e cultura, que participa
ticipe. Em um contexto que participa, a estrutura, a orga- como pessoa e como cidadão na vida da família, da es-
nização, os recursos e as interações são pensados para cola, da sociedade. No centro da construção dos saberes
criar possibilidades múltiplas a fim de que a escuta ativa estão as pessoas: as crianças e os adultos, os alunos e os
da criança tenha reais consequências nos resultados de professores. Assim, os “ofícios” de aluno e professor são

164
reconstruídos com base na reconceitualização da pessoa tas. A colaboração dos atores e a intencionalidade das
como detentora de agência: a pessoa do aluno e a pes- metas (instituir na escola a democracia, reconstruir a
soa do professor. cultura, aprender a cidadania moral) desenvolve-se em
Segundo Barnes (2000), dispor de agência significa projetos e atividades cultural e pedagogicamente valio-
ter poder e capacidades que, através de seu exercício, sos. A participação guiada é um processo de colaboração
tornam o indivíduo uma entidade ativa que constante- (Oliveira-Formosinho, 2002a).
mente intervém no curso dos acontecimentos à sua vol- Tomando o caso específico da observação, assistimos
ta. A liberdade é essencial para o exercício da agência, a alguns casos em que se pensa a observação da criança
tal como o é para o exercício da escolha. Se os pode- como importante para o processo educativo. Contudo,
res internos só pudessem ser ativados através de deter- como fazê-lo torna-se mais importante do que o porquê
minações externas, não poderíamos falar de agência. É e para quê (Oliveira Formosinho, 2002). A observação é
constitutivo do conceito de agência que a pessoa possa um processo contínuo, pois requer o conhecimento de
escolher cursos diferentes de ação, logo, tenha liberdade. cada criança individual,13 no seu processo de aprendiza-
O poder da escolha real requer o direito da liberdade. gem e desenvolvimento, a partir da sua forma de criação
Uma pedagogia de infância construtivista baseia-se de significado para a experiência, necessariamente dife-
tanto na crença de que todas as pessoas têm agência rente da forma de atribuição de significado à experiência
quanto nos saberes teóricos que descrevem, compreen- dessa outra criança individual que, embora da mesma
dem e explicam o exercício dessa agência (saberes psico- idade, tem já outra história de vida, outra experiência,
lógicos, sociológicos, antropológicos, organizacionais). outra família, em outra cultura.
Uma pedagogia de infância construtivista conduz, assim, Isso requer uma simbiose entre teoria e prática, ex-
a uma pedagogia de participação. pressa pela observação da “criança-em-ação, não a ob-
O significado de participação é, por vezes, apresen- servação do indivíduo solitário, mas um indivíduo que se
tado em perspectivas simplistas e em oposição. Há uma situa em vários contextos – familiar, profissional, comuni-
perspectiva individualista que diz ser preciso permitir a tário e social. Assim, em uma pedagogia da participação,
cada criança ter influência no processo de tomada de de- a observação é contextual, pois não se observa a crian-
cisão. Desse modo, a proposta pedagógica constitui-se ça, e sim as suas aprendizagens no contexto educacio-
em treinar as crianças para, baseadas na afirmação do nal que se criou, o que requer que, antes de observar a
conhecimento dos seus direitos, desenvolverem a asser- criança, observe-se o contexto que se criou (Oliveira-For-
tividade, inclusive o direito de ser parte no processo de mosinho, 2002b).
tomada de decisão sobre o que lhe diz respeito. O objeti- A escuta é um processo de ouvir a criança sobre a sua
vo principal é o domínio do poder de influenciar proces- colaboração no processo de co-construção do conheci-
sos e pessoas, sendo desejável treinar a criança para ser mento, isto é, sobre a sua colaboração na co-definição
assertiva nesse processo. As perspectivas comunitárias, da sua jornada de aprendizagem. Para além da discussão
por sua vez, sublinham a idéia do grupo-turma ou da sobre os formatos de documentação da escuta, é im-
classe e da escola como comunidade educativa onde as portante aceder à compreensão holística e integrada da
interações e relações são centrais (Oliveira-Formosinho, escuta. A escuta, tal como a observação, devem ser um
2005), onde o sentimento de pertencimento e participa- processo contínuo no cotidiano educativo, um processo
ção é cultivado como forma de realizar a comunidade. O de procura de conhecimento sobre as crianças (apren-
conceito de togtherness de Dewey é aqui muito útil. dentes), seus interesses, suas motivações, suas relações,
No nosso entendimento, a busca da assertividade in- seus saberes, suas intenções, seus desejos, seus modos
dividual não se deve procurar sem o sentido de perten- de vida, realizado no contexto da comunidade educa-
cimento comunitário, e este não se cumprirá integrada- cional, que procura uma ética de reciprocidade. Assim,
mente sem que os indivíduos da comunidade possam ser a escuta e a observação devem se um porto seguro para
assertivos. Uma pedagogia da participação transforma- contextualizar a ação educativa.
tiva deve certificar-se de que, simultaneamente, realiza A negociação é um processo de debater e consensua-
o ator social em contexto, com formas de participação lizar com a classe os processos e os conteúdos curricu-
recíproca, e o ator pessoal em crescimento, que é um su- lares, bem como o ritmo e os modos da aprendizagem.
jeito autônomo, com expressão e iniciativa próprias. Mais Trata-se da participação guiada da classe na co-definição
uma vez a pedagogia revela-se na sua complexidade, in- do planeamento curricular. É um instrumento de partici-
tegrando a autonomia individual de exercício do poder e pação que afasta ainda mais a perspectiva construtivista
a influência com o exercício social, recíproco e relacional da perspectiva tradicional, pois leva os alunos a entrar no
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

da participação coletiva. Podemos perceber a importân- cerne da pedagogia transmissiva – o currículo.


cia de Dewey nesse exercício integrador. A diferenciação pedagógica é o fim último dessa par-
Os processos principais de uma pedagogia da par- ticipação guiada através da observação, da escuta e da
ticipação são a observação, a escuta e a negociação. As negociação. Trata-se de encontrar uma base para de-
práticas desejáveis de observar, ouvir, escutar e negociar senvolver um fazer e um pensar pedagógico que fogem
precisam estar situadas em um pensamento reflexivo e à “fatalidade” de educar todos como se fossem um só,
crítico sobre o porquê e o para quê dessa observação, es- que conseguem superar o modo simultâneo. O objetivo
cuta e negociação. Segundo Barbara Rogoff (1990), nos é encontrar uma forma de diferenciação pedagógica que
processos de participação guiada, os adultos e as crian- assume a heterogeneidade e a diversidade como riqueza
ças colaboram em processos de organização e interações para a aprendizagem situada e oferece modos alternati-
para que a participação da criança seja guiada para me- vos de organizar a classe e a escola.

165
Para bem compreender a diferenciação pedagógica, é essencial retomar o contraste inicial entre a perspectiva indi-
vidualista e a perspectiva comunitária. Diferenciar não é individualizar o ensino, a serviço de uma visão individualista da
vida e da sociedade; é assumir a heterogeneidade e a diversidade como riqueza e conseguir a integração da autonomia
individual de exercício do poder e influência com o exercício social, recíproco e relacional, da participação coletiva.
Pode surgir, então, a seguinte questão: dada a interdependência entre o contexto e os processos de aprendizagem
e desenvolvimento, dada a complexidade inerente a todos esses processos de participação, como operacionalizar uma
práxis participativa?

AS GRAMÁTICAS PEDAGÓGICAS: DA NECESSIDADE DE UTILIZAR MODELOS PEDAGÓGICOS

Uma das grandes conquistas da história da pedagogia foi a construção de gramáticas pedagógicas A gramática
pedagógica operacionaliza-se por meio de uma perspectiva ou modelo pedagógico. O modelo pedagógico baseia-se
em um referencial teórico para conceitualizar a criança e o seu processo educativo e constitui um referencial prático
para pensar antes-da-ação, na-ação e sobre-a-ação. Ou seja, o modelo pedagógico permite concretizar no cotidiano
do terreno uma práxis pedagógica.
O conceito de modelo pedagógico refere-se a um sistema educacional compreensivo, que se caracteriza por com-
binar um quadro de valores, uma teoria e uma prática. A gramática pedagógica dispõe, portanto, de teoria e de uma
base de conhecimentos explícita, desde o nível fundamentador da filosofia educacional, passando pelos níveis de uma
teoria de ensino-aprendizagem até o nível da consequente teoria de avaliação educacional. No âmbito mais geral do
modelo pedagógico, definem-se as grandes finalidades educacionais e seus consequentes objetivos. No âmbito mais
específico do modelo curricular, elaboram-se orientações, umas mais gerais outras mais específicas, no que se refere
à prática educacional.
O modelo curricular situa-se ao nível do processo de ensino-aprendizagem e explicita orientações para a práxis pe-
dagógica cotidiana nas suas várias dimensões curriculares. Aplicando à gramática construtivista, os modelos pedagógi-
cos definem: o tempo como dimensão pedagógica; o espaço como dimensão pedagógica; os materiais como “livro de
texto”; a escuta e a interação como promoção da participação guiada; a observação e documentação como garantia da
presença da(s) cultura(s) da(s) criança(s) no ato educativo; o planejamento como criação da intencionalidade educativa;
a avaliação da aprendizagem como regulação do processo de ensinoaprendizagem; a avaliação do contexto educativo
como requisito para a avaliação da criança e como autorregulação por parte do educador; os projetos como experiên-
cia da pesquisa colaborativa da criança; as atividades como jogo educativo; a organização e a gestão dos grupos como
garantia da pedagogia diferenciada.
O modelo curricular orienta e organiza ainda a compreensão das inter-relações entre todas essas dimensões; a
compreensão das interfaces entre essas dimensões e as áreas curriculares integradas; as interfaces de escola com a
comunidade educativa (as famílias, os pais); as interfaces da educação infantil com a creche e o ensino fundamental. O
modelo curricular é um importante andaime para apoiar o professor na procura de um cotidiano com intencionalidade
educacional, em que as crianças se envolvam, persistam, aprendam e desenvolvam um habitus para aprender. A Figura
1.2 mostra a complexidade das dimensões da pedagogia.
O que realmente apoia o educador, a criança e o grupo é essa prática e essa epistemologia. É a ação do educador, reflexiva
sobre si próprio, comunicativa com o modelo curricular que co-construiu, partilhada com os seus pares. Disso se conclui que o
modelo curricular é uma condição necessária, mas não suficiente para a construção de um modelo pedagógico.
Uma gramática pedagógica pressupõe ainda um modelo formativo para pensar a formação dos profissionais que
optam por trabalhar nessa perspectiva. Ela dispõe, assim, de uma perspectiva pedagógica para ensinar as crianças e
de um modelo de formação contínua e desenvolvimento profissional. A base epistemológica pedagógica e, portanto,
articulável com o modelo curricular.
Na gramática pedagógica construtivista, o instrumento para pensar a formação dos profissionais que optam por
trabalhar nessa perspectiva implica um modelo de formação continuada em contexto, baseado em comunidades de
prática, que permita recriar uma cultura profissional e uma epistemologia da prática congruentes (Niza, 1997; Oliveira-
-Formosinho, 1998).
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

166
AS GRAMÁTICAS PEDAGÓGICAS: OS MODELOS AS GRAMÁTICAS PEDAGÓGICAS: DOS MODELOS
PEDAGÓGICOS COMO JANELAS E COMO MUROS PEDAGÓGICOS CONSTITUÍDOS EM COMUNIDA-
DES DE APRENDIZAGEM ÀS REDES EDUCATIVAS
Uma idéia, uma teoria, uma pedagogia não existe, no
âmbito educativo, por si, qual essência platônica. Existe Um modelo pedagógico não existe, por si, nos es-
na práxis, pois a práxis é a casa da pedagogia. Assim sen- critos dos seus teóricos; existe na práxis, que é a casa
do, qualquer modelo pedagógico pode ser usado, por da pedagogia. Assim, o modelo global, como gramática
um profissional ou por um grupo de profissionais, de di- pedagógica, pressupõe ainda um modelo formativo para
ferentes modos. Pode ser usado como janela ou como pensar a formação dos profissionais que optam por tra-
muro, para tomar emprestada a metáfora de Tracy (2002). balhar nessa perspectiva.
O modelo pedagógico pode ser um muro ou uma Na gramática pedagógica construtivista, o instrumen-
janela que facilita ou dificulta a jornada de aprendiza- to para pensar a formação dos profissionais implica um
gem do professor no seu percurso de desenvolvimento, modelo de formação continuada em contexto, baseado
obstaculizando ou facilitando a compreensão “ampliada” em comunidades de prática, que permita recriar uma
das dimensões da pedagogia já referidas e uma ação cultura profissional e uma epistemologia da prática con-
consistente dos modelos pedagógicos já referidos. As- gruentes (Niza, 1997; Oliveira-Formosinho, 1998).
sim, por via indireta, pode facilitar ou dificultar as jorna- Em uma perspectiva construtivista, a criação de co-
das de aprendizagem das crianças. munidades de aprendizagem é condição essencial para
Pedindo emprestada a interpretação de Formosinho a construção e a evolução dos modelos pedagógicos,
(2007), podemos identificar várias situações em que o pois permite uma reflexão constante sobre a práxis pe-
modelo pedagógico transforma-se em muro. O militan- dagógica do modelo. Naturalmente, essas comunidades
tismo que concebe a apropriação do modelo como a ta- de aprendizagem conectam-se com outras similares em
refa de ser missionário ou apóstolo do modelo no meio redes de afinidade, ou organizam-se em movimentos pe-
profissional; o clubismo que concebe a apropriação do dagógicos, ou criam associações pedagógicas com o fim
modelo como ser membro da associação ou movimento de construir e promover a difusão do modelo. Há exem-
que o leva a participar de reuniões e rituais. Nos dois plos históricos e atuais de todas essas possibilidades.
casos, estamos diante da hipervalorização das crenças e Vejamos com um exemplo concreto: como reage
das pertenças. um educador infantil a propostas de avaliação somativa
Podemos encontrar outras situações em que o mo- (avaliação precoce) na educação dessa etapa? Esta é uma
delo pedagógico transforma-se em muro. A situação importante questão da prática cotidiana de muitos edu-
do discursivismo que concebe a apropriação do mode- cadores infantis. Um educador isolado procurará recorrer
lo como a capacidade de reproduzir o seu discurso, a aos conhecimentos e técnicas disponíveis no âmbito da
sua retórica; o teoricismo que concebe a apropriação do formação inicial, no âmbito das ciências da educação.
modelo como o estudo e a pesquisa das teorias que o Um profissional que se insira em uma rede, em um
fundamentam. Assistimos, nesse caso, a uma hipervalo- movimento ou em uma associação, isto é, em uma co-
rização das teorias. munidade de pedagogia de infância instituída em co-
Todavia, podemos deparar-nos com situações de ca- munidade de prática reflexiva, pergunta quais os modos
riz diferente. A do didatismo que concebe a apropriação para avaliar a aprendizagem das crianças pequenas que,
do modelo como a capacidade de usar as receitas didá- por fazerem jus aos seus princípios e crenças, pode ado-
ticas geradas no seu seio e praticadas pela maioria dos tar e quais os que não deve adotar. Quais os que res-
seus membros; o ritualismo que concebe a apropriação peitam a diversidade da criança e os seus direitos a uma
como a prática fervorosa dos seus rituais didáticos, asso- pedagogia diferenciada14 e quais os que, por utilizarem
ciativos e formativos. Estamos perante a hipervalorização estratégias prescritivas e normalizadoras, terá de recu-
das práticas. sar porque faz outra recusa prévia: a recusa da avaliação
Temos, contudo, outros usos da pedagogia explícita. como seleção precoce (Oliveira-Formosinho, 2002b).
O modelo pedagógico como janela é uma gramática que
cria linguagem, significados, uma estrutura conceitual e CONSIDERAÇÕES FINAIS
prática, um contexto de experiência e comunicação com
a experiência; um contexto de ação e reflexão-sobre-a-a- Como dizia João Formosinho, em 1996, a adoção de
ção. Esse modelo implica uma gramática curricular aber- um modelo pedagógico pelos educadores de infância
ta à reconstrução individual e coletiva, com uma didática é um fator de sustentação da sua práxis. A necessidade
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

flexível em permanente construção. de o Estado definir linhas curriculares não é contraditó-


O modelo pedagógico como janela constitui-se em ria com essa adoção, pois tal definição diz respeito às
uma ponte entre as aprendizagens dos professores e aprendizagens mínimas obrigatórias, não às dimensões
as aprendizagens das crianças, entre os percursos de curriculares nem aos dispositivos pedagógicos, uma vez
co-construção do conhecimento e da ética. Ele tem na que não compete aos Estados arbitrar questões científi-
experiência refletida e comunicada, a partir da ação siste- cas nem dirimir entre propostas pedagógicas.
mática e ampliada, um desafio cotidiano de recontextua- A adoção (ou colaboração com) um modelo pedagó-
lização e integração, um recurso para resolver os dilemas gico, a partilha cotidiana no seio de uma comunidade de
que a ação diária coloca à profissão. Tal como a gramáti- prática, o pertencimento a uma rede, o movimento ou
ca, ele permite a prosa, a poesia e, mais que isso, permite a associação pedagógica são as melhores garantias que
várias prosas e poesias. um grupo profissional docente tem para sustentar uma

167
autonomia docente, seja ao nível individual ou ao nível foi a frente de batalha atuando como médico na guerra,
coletivo. Geralmente, a recusa de uma gramática peda- mas ao voltar a Paris começou a cuidar dos feridos de
gógica com nome é uma porta aberta para a adoção, guerra e a fazer comparações entre os feridos com lesões
por defeito, da pedagogia sem nome nem rosto do autor cerebrais e as crianças portadoras de deficiência mental.
anônimo do século XX. Ainda neste capítulo a autora ressalta que Wallon
participou de vários debates educacionais de sua épo-
Fonte ca incluindo o da Escola Nova, criticando o excesso de
OLIVEIRA FORMOSINHO, J.; KISHIMOTO, T. M.; PINAZZA, espontaneísmo que essa escola oferecia. Wallon ocupou
M. A. (Org.).Pedagogia(s) da Infância - Dialogando com o pas- vários cargos educacionais como presidente da comissão
sado, construindo o futuro. Porto Alegre: Artmed, 2007. Cap. I para a reformulação do sistema de ensino francês, ocu-
pando esse cargo após a morte do físico Paul Langevin,
o que resultou no projeto de ensino Langevin – Wallon.
GALVÃO, IZABEL. HENRI WALLON: No segundo capítulo a autora fala sobre as críticas
UMA CONCEPÇÃO DIALÉTICA DO feitas por Wallon a psicologia introspectiva (acreditam
DESENVOLVIMENTO INFANTIL. SÃO que o psiquismo é interior) e a materialista mecanicis-
PAULO, VOZES, 1986. ta (acreditam que o pensamento é apenas produto do
cérebro), pois Wallon ressalta que o homem é um ser
psíquico social, ou seja, precisa tanto do interno quanto
CREDENCIAIS DA AUTORA do externo para que haja o desenvolvimento, adotando
assim como método de sua teoria o materialismo dialéti-
co, pois este é um método vulnerável, adaptando – se as
FIQUE ATENTO! mudanças da realidade.
Izabel Galvão é pedagoga formada pela Uni- Para Wallon o homem é um ser geneticamente social,
versidade de São Paulo, onde também cur- se dedicando assim ao estudo do comportamento infan-
sou mestrado apresentando a dissertação: til, mas ressaltando que para estudarmos a realidade da
“O espaço do movimento: investigação no criança, devemos estudá-la como um todo, ou seja, estu-
cotidiano de uma pré-escola à luz da teoria dar a sua realidade.
de Henri Wallon”. Atuou como professora de Segundo a autora Wallon fez vários estudos de ori-
1º grau, técnica de programas educacionais, gem patológicos, neurológicos, psicologia animal, mas
voltados para a infância e atualmente traba- baseando principalmente na antropologia, estudando as
lha na área de formação de professores. Está sociedades primitivas com o intuito de fazer compara-
cursando doutorado na FEUSP, prosseguin- ção entre as sociedades primitivas e o desenvolvimento
do as pesquisas no campo de interseção en- infantil.
tre a educação infantil e a psicologia do de- Aderiu muito as ideias de Piaget e Freud, estabele-
senvolvimento. Recebeu o Prêmio Gottfries cendo um diálogo mais amplo com o primeiro em rela-
Hausmann oferecido pela UNESCO, pelo ar- ção ao campo da genética, mas os dois tinham as suas
tigo “ O espaço do movimento: uma análise diferenças sendo que Piaget procura completar a sua
dos conflitos nas interações entre professor e obra na obra do colega e Wallon procura as diferenças
alunos de uma escola maternal” existentes entre a sua obra e a do colega, sendo assim
Wallon em sua obra tinha o intuito de realizar a psicogê-
nese da pessoa e Piaget a psicogênese da inteligência.
EXPOSIÇÃO DO CONTEÚDO DA OBRA
Mas a autora ressalta que para Wallon para entender-
No primeiro capítulo a autora falou um pouco sobre a mos as atitudes das crianças devemos entender o meio
intensa vida de Wallon, sendo ele médico filósofo se inte- onde ela está inserida, tomando a criança como ponto
ressando pela psicologia quando estava finalizando seus de partida.
estudos secundários. Wallon ressaltava que a pedagogia
e a psicologia deveriam sempre andar juntas, pois uma Neste terceiro capítulo a autora fala sobre os estudos
oferecia o campo de estudo para a outra. de Wallon sobre as etapas do desenvolvimento infantil,
Segundo a autora Wallon viveu em um período muito pois no início da vida do indivíduo o orgânico predomina
turbulento da história, entre as duas guerras mundiais, o que sobre o social, mas com o passar o orgânico vai dando
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

incentivou a clareza de sua teoria. Interessou-se desde mui- espaço para o social e para a construção das condutas
to cedo as causas sociais, pois tinha em casa uma atmosfera psicológicas superiores, como a inteligência.
muito democrática, aliando – se ao socialismo partido onde A autora ressalta os conflitos que as crianças passam
não permaneceu muito tempo pois se desencantou com a at- nessa fase, que são de origem exógena e endógena sen-
mosfera política que lá havia, mas continuou no meio político do o primeiro de origem social e o segundo de origem
sendo deportado, lutando contra os fascistas e se aliando ao maturacional nervosa.
comunismo partido onde atuou até a sua morte. Wallon define os estágios do desenvolvimento infan-
Segundo a autora Wallon concluiu seus estudos til sendo que o primeiro há a predominância da emoção,
como médico, pois em sua época não havia a disciplina pois a criança utiliza sua afetividade para recompensar
de psicologia, mas ao se formar se dedicou ao estudo de sua inaptidão exercida sobre o meio, a segunda etapa há
crianças com deficiências mentais, sendo que em 1914 a predominância do cognitivo sendo este o estágio sen-

168
sório – motor e projetivo há vendo o desenvolvimento No sétimo capítulo a autora fala sobre o desenvolvi-
do simbolismo e da linguagem, havendo também maior mento da linguagem, tendo Wallon tomado como base o
autonomia em relação aos objetos, a terceira etapa é o pensamento discursivo. Wallon fez entrevistas com crian-
do personalismo onde há a formação da personalidade, ça de 5 a 9 anos e percebeu que o pensamento infantil
havendo também a personalidade e da consciência de si. atua em pares, sendo estes determinados por uma sono-
O quarto é o estágio categorial onde há a diferenciação ridade parecida.
da personalidade, e o ultimo o estágio da adolescência A autora ressalta sobre o pensamento sincrético que
sendo o mais turbulento, onde a ação hormonal é muito para Wallon designa o caráter confuso do pensamento
intensa resultando em uma nova formação da personali- infantil. Segundo a autora o pensamento categorial con-
dade, voltando a predominância da afetividade. tribui para a separação entre qualidade e coisa e símbo-
A autora finaliza este capítulo falando sobre o jogo los, causando conflitos mentais que são essenciais para o
funcional, que é a fase onde a criança aprende alguma progresso do pensamento. A autora finaliza este capítu-
coisa e fica repetindo em uma sequência, como por lo ressaltando que podemos analisar aspectos positivos
exemplo, se ela aprende uma palavra nova ela fica repe- para o sincretismo no pensamento infantil, mas que ele
tindo essa palavra a todo o momento, e esta fase pode só pode ser resgatado em caso de criação artística.
seguir a pessoa pelo resto da vida.
No quarto capítulo a autora fala sobre os conflitos eu No oitavo capítulo a autora fala sobre as críticas feitas
– outro, pois quando a criança nasce ela não se admite por Wallon a Escola Tradicional e a Escola Nova, pois a
como um ser independente, sendo que no primeiro ano primeira havia o excesso de autoritarismo, mas o conhe-
de vida ela se indica em terceira pessoa e no terceiro ela cimento sistematizado era valorizado, já na segunda ha-
já se indica como eu, nesta fase ela sente a necessidade via o excesso de espontaneísmo, mas não davam muita
de negar o outro para se afirmar como eu, a próxima fase importância ao conhecimento sistematizado.
é a da graça, ou seja, a fase da sedução onde a criança Ainda neste capítulo a autora ressalta que mesmo que
sente a necessidade de admirar a ela mesma e aos ou- a escola não queira ela tem um envolvimento político,
tros, logo após essa fase há a fase da predominância da ressaltando sobre o projeto educacional Langevin – Wal-
imitação, onde a criança tenta a reaproximação do outro lon que priorizava entre outras coisas o remuneramento
que foi negado através da imitação. Na adolescência a dos estudantes, para que estes se dedicassem apenas ao
diferenciação do outro é feita através da diferenciação estudo, trazendo também uma utopia educacional.
de opinião. No nono capítulo a autora fala que Wallon vê o ser
No quinto capítulo a autora ressalta a questão das humano como um ser completo, ressaltando que para
emoções que para Wallon nos primeiros meses de vida Wallon nas escolas além de serem trabalhados conheci-
são essenciais para a sobrevivência humana, mas com o mentos sistematizados devem ser trabalhadas as intera-
passar do tempo às emoções vão se tornando exterio- ções sociais.
rizadas. Wallon liga também as emoções com algumas Neste décimo capítulo a autora fala sobre os confli-
mudanças neurológicas como, por exemplo, a cólera e tos, pois para Wallon os conflitos têm papel essencial na
essas mudanças são encontradas principalmente nos re- formação da personalidade e que o alvo principal desses
cém-nascidos. conflitos são os pais e os professore e que esses não de-
Wallon faz um paralelo entre razão e emoção, pois vem levar como ofensa pessoal, mas devem encontrar
muitas vezes a emoção nos impede de pensar de forma uma maneira para amenizar esses conflitos.
objetiva, mas se em alguma situação a emoção for muito A autora ressalta que a sala de aula deve ser um lu-
grande e tentarmos parar e refletir sobre as causas da- gar agradável, sendo assim a escola e os professores não
quele conflito as repercussões serão muito menores. deveriam cobrar dos alunos atitudes que ainda não estão
No sexto capítulo a autora fala sobre o movimento e completamente formadas nele como as disciplinas men-
o equilíbrio, e que ele varia conforme o desenvolvimento tais, pois enquanto elas não estão formadas a criança
da criança, mas nas crianças pequenas as sensações pre- não é capaz de se concentrar em uma mesma coisa nem
dominam sobre as ações motores, sendo essas responsá- ficar parado em um lugar por muito tempo, sendo assim
veis pelas crianças serem capazes de reproduzir alguma a sala de aula deve ser um lugar onde haja liberdade.
cena presenciada. No décimo primeiro e último capítulo a autora faz um
A autora ressalta que para Wallon o desenvolvimento resumo do que ela trabalhou o livro todo, ressaltando
cognitivo aumenta a capacidade de independência in- a questão da função social da escola, e a influência dos
fantil, mas mesmo assim a criança ainda utiliza objetos conflitos na formação da personalidade do aluno, a au-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

como um garfo ou uma colher com finalidades lúdicas. tora finaliza falando sobre a contribuição feita por Henri
Mas isso não se restringe as crianças, pois os Adultos Wallon na área educacional.
também utilizam de objetos para se expressar, depen- A autora finaliza este livro com um artigo feito pelo
dendo do contexto cultural onde está inserido. próprio Wallon onde ele fala sobre todo o desenvolvi-
Wallon chama de disciplinas mentais a capacidade de mento infantil explicando etapa por etapa, desde a in-
controlar nossos movimentos, mas que só se estabele- fluência do orgânico no recém-nascido, passando pelos
cem por volta dos seis aos sete anos, sendo um processo conflitos infantis até os conflitos da adolescência, onde o
lento, pois as crianças não conseguem se concentrar em que prioriza é a diferença de opinião.
uma mesma coisa por muito tempo, sendo assim a esco-
la exerce um importante papel para a consolidação das Fonte
disciplinas mentais. PEREIRA, P. M.

169
Disponível em: e 2° Graus. Muito mais forte do que qualquer influência
https://www.webartigos.com/artigos/resenha-sobre- teórica que o aluno desses cursos possa sofrer, a prática
-o-livro-henri-wallon/24111#ixzz51nfRyS4v vivida por ele enquanto estudante passa a ser modelo
seguido quando professor. O que tal fenômeno provoca
é, muitas vazes, a reprodução de práticas avaliativas ora
HOFFMAN, JUSSARA. AVALIAÇÃO permissivas (a partir de cursos de formação que rara-
MEDIADORA: UMA RELAÇÃO DIALÓGICA mente reprovam os estudantes), ora reprovativas (a par-
NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO IN: tir de cursos, como os de Matemática, que apresentam
SE/SP/FDE. REVISTA IDEIAS Nº 22, PÁG. 51 abusivos índices de reprovação nas disciplinas).
A 59. Muitos professores nem mesmo são conscientes da
reprodução de um modelo, agindo sem questionamen-
to, sem reflexão, a respeito do significado da avaliação
O paradigma de avaliação que se opõe ao paradigma na Escola.
sentencioso, classificatório é o que denomino de “avalia- Aponto, então, algumas perguntas relacionadas à
ção mediadora”. complexidade dessa questão:
• Como superar o descrédito de muitos professores
relativo a sua perspectiva de avaliação enquanto
FIQUE ATENTO! ação mediadora?
”O que pretendo introduzir neste texto é a • Quais serão as questões emergências na discussão
perspectiva da ação avaliativa como uma das dessa perspectiva, levando-se em conta a superfi-
mediações pela qual se encorajaria a reorgani- cialidade da formação dos professores nessa área?
zação do saber. Ação, movimento, provocação, • Em que medida prevalece uma visão de conheci-
na tentativa de reciprocidade intelectual entre mento positivista fortalecedora da concepção
os elementos da ação educativa. Professor e classificatória da avaliação?
aluno buscando coordenar seus pontos de vis-
ta, trocando ideias, reorganizando-as. “(HOF- O que se pretende é refletir sobre as origens desse
FMANN, 1991, p. 67) descrédito e sobre o impacto que tal postura pode cau-
sar nas relações que se estabelecem entre professor e
aluno e em todas as estruturas do ensino.
Tal paradigma pretende opor-se ao modelo do “Uma vez estabelecidos os procedimentos de avalia-
“transmitir-verificar-registrar” e evoluir no sentido de ção, os instrumentos e as medidas, a atribuição de con-
uma ação avaliativa reflexiva e desafiadora do educador ceitos e sua aplicação, ou seja, as classificações segundo
em termos de contribuir, elucidar, favorecer a troca de determinados padrões, passam (esses procedimentos) a
ideias entre e com seus alunos, num movimento de su- ser vistos como atividades técnicas e neutras ao invés de
peração do saber transmitido a uma produção de saber formas interpretativas e expressivas das relações sociais
enriquecido, construído a partir da compreensão dos fe- que estão incorporadas dentro da própria idéia de ava-
nômenos estudados. liação.” (BARBOSA et alii, p. 2)
E, de fato, o que se observa na investigação da prática
avaliativa dos três graus de ensino é, ao contrário de uma Considero reveladoras de tal postura de resistência
evolução, um fortalecimento da prática de julgamento dos professores algumas perguntas formuladas por eles
de resultados alcançados pelo aluno e definidos como em seminários e encontros para discussão do tema Ava-
ideais pelo professor. liação.
Alguns fatores parecem contribuir para a manuten- Algumas questões, repetidamente formuladas, serão
ção de tal concepção: a autonomia didática dos profes- ponto de partida dessa análise:
sores, decorrente de suas especializações em determi- • Não estaremos nós, professores, sendo responsa-
nadas disciplinas e/ou áreas de pesquisa, que dificulta bilizados pelo fracasso de alunos desinteressados
a articulação necessária entre os docentes, a ponto de e desatentos?
suscitar uma reflexão conjunta sobre essa questão; a es- • Como é possível alterar nossa prática, consideran-
trutura curricular, por exemplo, do 39 Grau, com o re- do o número de alunos com que trabalhamos e o
gimento de matrícula por disciplinas que, desobrigando reduzido tempo em que permanecemos com as
à seriação conjunta dos alunos, impede os professores turmas?
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

de avaliarem a trajetória do estudante em seu curso su- • Não é necessário, nessa proposta, uma enorme dis-
perior, em termos do acompanhamento efetivo de seus ponibilidade do professor para atendimento aos
avanços e de suas dificuldades; além desses, a natureza alunos?
da formação didática dos professores, que se revela, na • Em que medida formaremos um profissional com-
maioria das vezes, por um quadro de ausência absoluta petente sem uma prática avaliativa exigente e
de aprofundamento teórico em avaliação educacional. classificatória (competitiva)?
Tomando ainda mais grave a postura conservadora • Será possível alterar o paradigma da avaliação dian-
dos professores, observamos que a avaliação é um fe- te das exigências burocráticas do sistema? Não se
nômeno com características seriamente reprodutivistas, deveria começar por alterá-las?
ou seja, a prática que se instala nos cursos de Magistério
e Licenciatura é o modelo que vem a ser seguido no 1°

170
Pretendo, inicialmente, analisar o conteúdo das perguntas que vêm sendo formuladas pelos professores e refletir
sobre suas concepções. É preciso dizer que serão apontadas algumas hipóteses sobre concepções implícitas às per-
guntas formuladas como tentativa preliminar de análise do seu significado. Outras hipóteses, sem dúvida, poderão ser
sugeridas, ampliando-se essa discussão.

A primeira pergunta e a hipótese apontada poderiam introduzir a análise da relação entre a concepção de avaliação
e a visão de conhecimento do professor. Ou seja: em que medida o repensar sobre a avaliação exigiria investigar como
o professor concebe a relação sujeito-objeto na produção de conhecimento?
Se concebe a aprendizagem do ponto de vista comportamentalista, o professor defines como uma modificação
de comportamento produzida por alguém que ensina em alguém que aprende. O conhecimento do aluno vem dos
objetos e cabe ao professor organizar os estímulos com os quais o aluno entrará em contato para aprender. A prática
pedagógica consistirá, então, na transmissão clara e explícita dos conteúdos pelo professor, apresentando exemplos
preferentemente concretos (organização de estímulos). Essa situação, por si só, promoverá a aprendizagem, desde que
o aluno entre em contato com tais estímulos, esteja atento às situações. Assim, se o professor oferecer explicações
claras, textos explicativos consistentes e organizar o ambiente pedagógico, o aluno aprenderá, exceto se não estiver
presente, ou não estiver atento às explicações, ou não memorizar os dados transmitidos pelo professor, ou não cumprir
as tarefas de leitura solicitadas.

A hipótese que anuncio é que uma tal visão de conhecimento positivista vincula-se a uma prática avaliativa de ob-
servação e registro de dados.
Assim como supervaloriza as informações que transmite ao aluno e exige que ele permaneça alerta a tais informa-
ções, o professor também o toma como seu objeto de conhecimento, ou seja, permanece atento aos “fatos objetivos”:
o aluno passa a ser um objeto de estudo do professor, que o capta apenas em seus atributos palpáveis, mensuráveis,
observáveis. Sua prática avaliativa revela intenções de coleta de dados em relação ao aluno, dele registrando dados
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

precisos e fidedignos.
Dessa forma, o professor não assume absolutamente a responsabilidade em relação ao fracasso do aluno. Em
primeiro lugar, porque representaria assumir sua incompetência na organização do trabalho pedagógico, uma apre-
sentação inadequada de estímulos à aprendizagem. Em segundo lugar, porque aquilo que faz geralmente se traduz
em resultados positivos. Ou seja, alguns alunos, ou a maioria, aprendem. Se a ação produz modificação de compor-
tamentos em alguns alunos, então o problema está nos alunos e não na ação do professor. Sem ultrapassar a visão
comportamentalista de conhecimento, nenhuma outra hipótese é levantada pelo professor sobre as dificuldades que
os alunos apresentam, senão a sua desatenção e desinteresse. Em terceiro lugar, porque, coerente com tal visão de
conhecimento, o avaliar reduz-se, para ele, à observação e ao registro dos resultados alcançados pelos alunos ao final
de um período. Tal visão não absorve uma perspectiva reflexiva e mediadora da avaliação.

171
O que pretendo argumentar é que a visão compor- O que significa que tanto o acompanhamento quanto
tamentalista dos professores parece manifestar-se de o diálogo, assim concebidos, não conduziriam o profes-
forma radical em sua prática avaliativa, e é muito grave sor, obrigatoriamente, a uma prática avaliativa mediado-
a sua resistência em perceber o autoritarismo inerente a ra.
tal concepção. Sem considerarem possíveis outras expli- Em uma investigação sobre o significado do termo
cações para o fracasso dos estudantes que não o com- acompanhar, 29 professores de 1o. Grau, dentre 32 res-
prometimento deles (o que também é importante, mas pondentes, disseram que acompanhavam os alunos to-
não razão absoluta), não podem evoluir no sentido de dos os dias, continuamente, em todas as situações de
dois princípios presentes a uma avaliação enquanto me- sala de aula. Entretanto, todos os 32 professores defini-
diação: o do acompanhamento reflexivo e o do diálogo. ram avaliação por verificação de resultados alcançados
Introduzindo esses princípios, estaríamos, assim, ana- (através de enunciados diversos). Quero dizer que se os
lisando as concepções implícitas às seguintes perguntas professores disseram acompanhar os alunos, o sentido
dos professores: do seu acompanhar pode ter sido o de observar e regis-
• Como é possível alterar nossa prática, consideran- trar todo o tempo o que o aluno é capaz de demonstrar.
do o número de alunos com que trabalhamos e Meus estudos buscam contrapor-se a essa percep-
o reduzido tempo em que permanecemos com as tível resistência de muitos professores, hipoteticamente
turmas? justificada por uma compreensão reducionista e posi-
• Não é necessário, nessa proposta, uma enorme dis- tivista de alguns princípios essenciais da avaliação me-
ponibilidade do professor para atendimento aos diadora.
alunos? A avaliação, enquanto relação dialógica, vai conce-
ber o conhecimento como apropriação do saber pelo
As hipóteses que aponto dizem respeito a uma per- aluno e também pelo professor, como ação-reflexão-a-
cepção de que os professores estariam considerando a ção que se passa na sala de aula em direção a um saber
perspectiva de avaliação mediadora uma prática impos- aprimorado, enriquecido, carregado de significados, de
sível, ou difícil, porque tal perspectiva exigiria deles uma compreensão. Dessa forma, a avaliação passa a exigir
relação intensa em tempo com seus alunos e direta, a do professor uma relação epistemológica com o aluno
partir de um atendimento que se processaria individual- - uma conexão entendida como reflexão aprofundada
mente e através de uma comunicação verbal por meio de a respeito das formas como se dá a compreensão do
explicações, orientações e encaminhamentos. Tal prática educando sobre o objeto do conhecimento.
seria dificultada, assim, pelo panorama da Escola atual: “O confronto que se passa na sala de aula não se
número de alunos por turma, carga horária das discipli- passa entre alguém que sabe um conteúdo (o profes-
nas, tempo disponível do professor para atendimento sor) e alguém que não sabe (o aluno) mas entre pessoas
individual aos alunos etc. e o próprio conteúdo, na busca de sua apropriação.”
É preciso investigar, então, a compreensão pelos pro- (CHAUÍ, 1980, in: WACHOWICZ, 1991, p. 42)
fessores dos termos acompanhamento e diálogo. Enten- O diálogo, entendido a partir dessa relação episte-
do que ambos podem receber definições diferenciadas,
mológica, não se processa obrigatoriamente através de
conforme estiverem atrelados a uma ou a outra matriz
conversa enquanto comunicação verbal com o estudan-
epistemológica.
te. É mais amplo e complexo e, até mesmo, dispensa a
O termo diálogo, por exemplo, pode significar sim-
conversa.
plesmente conversa, não querendo, contudo, dizer que
“Antes de mais nada, Ire, penso que deveríamos en-
haja entendimento entre as pessoas que conversam.
tender o diálogo’ não como uma técnica apenas que po-
Ora, se compreendido dessa forma, o princípio do diálo-
demos usar pare conseguir bons resultados. Também não
go como linha norteadora de uma avaliação mediadora
pode provocar um sentimento de impossibilidade nos podemos, não devemos entender o diálogo como uma
professores, principalmente nos de 2o. e 3o. Graus. Isto tática que usamos pare fazer dos alunos nossos amigos.
porque é impossível haver tempo para conversar com Isso faria do diálogo uma técnica pare a manipulação,
todos os alunos de todas as turmas, sobre todas as ques- em vez de iluminação. Ao contrário, o diálogo deve ser
tões que levantam. Suspeito daí que alguns professores entendido como algo que faz parte da própria natureza
considerariam possível tal prática apenas no 1° Grau, nas histórica dos seres humanos. É parte de nosso progresso
séries iniciais por exemplo, pelo contato permanente dos histórico, do caminho pare nos tomarmos seres humanos.
professores com suas crianças. (...) o diálogo é o momento em que os humanos se encon-
Da mesma forma, o significado do termo acompa- trem pare refletir sobre sua realidade tal como a fazem e
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

nhar também pode ser o de estar junto a, caminhar junto re-fazem”. (SHOR, FREIRE, 1986, p. 122-123)
de. E isto exigiria igualmente do professor maior tempo Em que medida o professor reflete sobre as tarefas
com seus alunos. dos seus alunos? Como se dá tal reflexão? Percebe-se
Estes dois termos, atrelados a uma visão de conhe- que as tarefas produzidas pelos alunos são solicitadas
cimento positivista, podem estar sendo utilizados de apenas ao final dos períodos letivos. Qual o significado
forma reducionista. Através do diálogo, entendido como desse procedimento? É possível encaminhar o aluno a
momento de conversa com os alunos, o professor des- uma reflexão crítica sobre seus posicionamentos, após
pertaria o interesse e a atenção pelo conteúdo a ser concluídos os períodos? Justificam-se trabalhos, provas
transmitido. O acompanhamento significaria estar junto e relatórios que jamais serão discutidos ou analisados
aos alunos, em todos os momentos possíveis, para ob- em conjunto pelo educador e educando?
servar passo a passo seus resultados individuais.

172
“Como bem o expressa P. Meirieu, a aprendizagem supõe duas exigências complementares: é preciso que o mestre se
adapte ao aluno, se faça epistemólogo de sua inteligência, estando atento ás eventualidades de sua história pessoal, e é
precisamente porque o mestra terá gasto tempo para isso que ele estará à altura de confrontar o aluno com a alteridade,
de ajudá-lo a se superar.” (ASTOLFI, 1990, p. 87-88)
Se o aluno é considerado um receptor passivo dos conteúdos que o docente sistematiza, suas falhas, seus argu-
mentos incompletos e inconsistentes não são considerados senão algo indesejável e digno de um dado de reprovação.
Contrariamente, se introduzimos a problemática do erro numa perspectiva dialógica e construtivista, então o erro é
fecundo e positivo, um elemento fundamental à produção de conhecimento pelo ser humano. A opção epistemológica
está em corrigir ou refletir sobre a tarefa do aluno. Corrigir para ver se aprendeu reflete o paradigma positivista da ava-
liação. Refletir a respeito da produção de conhecimento do aluno para encaminha-lo à superação, ao enriquecimento
do saber significa desenvolver uma ação avaliativa mediadora.
O termo acompanhamento, conforme o entendermos, complementa ou não esse significado. Acompanhar pode ser
definido por favorecer, e não simplesmente por estar junto a. Ou seja, o acompanhamento do processo de construção
de conhecimento implica favorecer o desenvolvimento do aluno, orientá-lo nas tarefas, oferecer-lhe novas leituras ou
explicações, sugerir-lhe investigações, proporcionar-lhe vivências enriquecedoras e favorecedoras à sua ampliação
do saber. Não significa acompanhar todas as suas ações e tarefas para dizer que está ou não apto em determinada
matéria. Significa, sim, responsabilizar-se pelo seu aprimoramento, pelo seu “ir além”. De forma alguma é uma relação
puramente afetiva ou emotiva; significa uma reflexão teórica sobre as possibilidades de abertura do aluno a novas con-
dutas, de elaboração de esquemas de argumentação, contra-argumentação, para o enfrentamento de novas tarefas.
O esquema a seguir delineie as possíveis relações de investigação entre as diferentes concepções sobre o aprender
e o avaliar, bem como o entendimento dos termos acompanhamento e diálogo a partir dessas concepções.

CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Complementando a análise das falas dos professores, restam-nos duas últimas perguntas apontadas no início deste
estudo:
• Em que medida formaremos um profissional competente sem uma prática avaliativa exigente e classificatória?
• Será possível alterar a prática avaliativa diante das exigências burocráticas do sistema? Não se deveria começar
por alterá-las?

Parece-me que a concepção positivista de Educação, aliada a uma função capitalista e liberal da sociedade, reforça a
prática avaliativa em sua feição de “competência”, através das armas da classificação e da competição.
Os professores dizem perseguir uma “Escola de qualidade”, sendo exigentes na avaliação; no entanto, contribuem
sobremaneira para o afastamento de milhares de crianças e jovens da Escola e da Universidade através do fator de repro-
vação continuada. Escolas públicas de 1a. Grau iniciam seu ano letivo com dez turmas de 1a. série e, concomitantemente,

173
com turmas únicas de 8a. série (com poucos alunos). Há Resposta: Letra D. Para Jussara-Hoffmann a avalição
uma discrepância enorme entre o número de escolas pú- mediadora é: “A ação mediadora é uma postura cons-
blicas de 1a. Grau e a oferta de vagas no 2°- Grau. A repro- trutivista em educação, onde a relação dialógica, de
vação no vestibular, por sua vez, é maciça, além de ocorrer troca discussões, provocações dos alunos, possibilita
um alto índice de evasão nos cursos universitários. Esse entendimento progressivo entre professor/aluno”. A
panorama é representativo de um “ensino de qualidade”? autora acredita que o diálogo entre professor-aluno é
As exigências avaliativas, desprovidas muitas vezes de sig- produtivo e consiste na melhor solução possível, dese-
nificado quanto ao desenvolvimento efetivo das crianças jada, em relação a avaliação mediadora ou mediação
e dos jovens, favorecem a manutenção de uma Escola eli- avaliativa.
tista e autoritária. Os pronunciamentos dos professores
formam um todo vinculado e consistente em torno de um 2. (Prefeitura de Poá - SP - Professor de Educação
mesmo significado liberal. Infantil - VUNESP/2016) Segundo Jussara Hoffmann a
No aprofundamento desse fenômeno, proponho a toma- avaliação mediadora consiste na ação educativa decor-
da de consciência dós educadores quanto ao sentido da ava- rente da análise dos seus entendimentos, de modo a fa-
liação na Escola. Hoje é difícil até mesmo iniciar essa discussão. vorecer ao aluno:
Muitos professores nem chegam a participar dessas
discussões, porque não se sentem sequer incomodados a) O senso comum, fundamental na escola pública.
diante desse panorama. b) Informações generalistas sobre o rendimento de cada
As questões e considerações deste estudo pretendem, aluno.
justamente, delinear uma investigação que julgo necessária. c) A uniformidade na aprendizagem da turma.
Ou seja, sobre a força da relação entre concepções do apren- d) A classificação e distribuição dos alunos, critério que
der e do avaliar nos três graus de ensino; uma relação que contribui para a evolução dos mais capacitados.
ainda não percebo em sua total complexidade, mas que se e) O alcance de um saber competente e a aproximação
refere essencialmente ao descrédito que se estabelece quan- com os conceitos científicos.
to a uma perspectiva de avaliação mediadora devido à pos-
tura comportamentalista e conservadora dos educadores. Resposta: Letra E. Na avaliação mediadora o profes-
O que busco enunciar é uma necessária investigação sor deve interpretar a prova não para saber o que o
no que diz respeito ao significado da avaliação enquanto aluno não sabe, mas para pensar nas estratégias peda-
relação dialógica na construção do conhecimento, privi- gógicas que ele deverá utilizar para interagir com esse
legiando a feição de mediação sobre a de informação na discente. Para que isso aconteça, o desenvolvimento
avaliação do aluno e buscando a compreensão da prática dessa prática avaliativa deverá decodificar a trajetória
avaliativa dos professores. de vida do aluno durante a qual ocorrem mudanças
em múltiplas dimensões, e isso é muito mais que co-
Fonte nhecer o educando. Em um processo de aprendiza-
HOFFMAN, Jussara. Avaliação mediadora: uma relação gem toda resposta do aluno é ponto de partida para
dialógica na construção do conhecimento In: SE/SP/FDE. novas interrogações ou desafios do professor. Devem-
Revista IDEIAS nº 22, pág. 51 a 59. -se ofertar aos alunos muitas oportunidades de emitir
ideias sobre um assunto, para ressaltar as hipóteses
em construção, ou as que já foram elaboradas sem tais
atitudes, não se idealiza, de fato, um processo de ava-
EXERCÍCIOS COMENTADOS liação contínua e mediadora

1. (Prefeitura de Poá - SP - Professor de Educação In-


fantil - VUNESP/2016) Numa concepção mediadora de LERNER, DELIA. LER E ESCREVER NA
avaliação, de acordo com Hoffmann, a(s) ESCOLA: O REAL, O POSSÍVEL E O
NECESSÁRIO. 1ª EDIÇÃO – PORTO ALEGRE,
a) subjetividade tanto na elaboração quanto na correção ARTMED, 2002.
de tarefas avaliativas constitui um problema que tem
de ser solucionado urgentemente.
b) tarefas avaliativas cumprem seu papel quando os erros FIQUE ATENTO!
do aluno e as dúvidas do professor são eliminados de-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

finitivamente da sala de aula. Embora seja difícil e demande tempo, a es-


c) avaliação na escola, em função de seu caráter seletivo cola necessita de transformações profundas
e constatativo, precisa ser aplicada em um momento no que concerne ao aprendizado da leitura
terminal. e da escrita, que só serão alcançadas atra-
d) tarefas avaliativas deveriam ter o caráter problemati- vés da compreensão profunda de seus pro-
zador e dialógico, proporcionando momentos de tro- blemas e necessidades, para que então seja
ca de ideias. possível falar de suas possibilidades.
e) atividade avaliativa, quando bem elaborada, permite
ao professor atribuir pontos às tarefas realizadas pelos
alunos, a partir do número de acertos.

174
Capítulo 1 - Ler e Escrever na Escola: O Real, o Pos- implícitos nas práticas educativas que estão acessíveis
sível e o Necessário graças aos estudos sociolinguísticos, psicolinguísticos,
antropológicos e históricos, ou seja, aqueles que nos
Aprender a ler e escrever na escola deve transcender mostram como a criança aprende a ser leitora e escritora;
a decodificação do código escrito, deve fazer sentido e o que facilita ou quais são as prerrogativas essenciais a
estar vinculado à vida do sujeito, deve possibilitar a sua esse aprendizado. Em segundo lugar, é preciso que se
inserção no meio cultural a qual pertence, tornando-o trabalhe com projetos como ferramenta capaz de arti-
capaz de produzir e interpretar textos que fazem parte cular os propósitos didáticos com os comunicativos, já
de seu entorno. Torna-se então necessário reconceitua- que permitem uma articulação dos saberes sociais e os
lizar o objeto de ensino tomando por base as práticas escolares. Além disso, o trabalho com projetos estimula
sociais de leitura e escrita, ressignificando seu aprendiza- a aprendizagem, favorece a autonomia, já que envolve
do para que os alunos se apropriem dele ‘como práticas toda a classe, e evita o parcelamento do tempo e do sa-
vivas e vitais, onde ler e escrever sejam instrumentos po- ber, já que tem uma abordagem multidisciplinar. “É assim
derosos que permitem repensar o mundo e reorganizar o que se torna possível evitar a justaposição de atividades
próprio pensamento, onde interpretar e produzir textos sem conexão - que abordam aspectos também sem co-
sejam direitos que é legítimo exercer e responsabilidades nexão com os conteúdos -, e as crianças tem oportuni-
que é necessário assumir’. Para tornar real o que com- dade de ter acesso a um trabalho suficientemente dura-
preendemos ser necessário é preciso conhecer as dificul- douro para resolver problemas desafiantes, construindo
dades que a escola apresenta, distinguindo as legítimas os conhecimentos necessários para isso, para estabelecer
das que fazem parte de ‘resistências sociais’ para que en- relações entre diferentes situações e saberes, para con-
tão se possa propor soluções e possibilidades. A tarefa é solidar o aprendido e reutilizá-lo...”.
difícil porque, a própria especificidade do aprendizado Finalmente, é possível repensar a avaliação, saben-
da leitura e da escrita que se constituem em construções do que esta é necessária, mas que não pode prevalecer
individuais dos sujeitos agindo sobre o objeto (leitura e sobre a aprendizagem. Segundo a autora, ‘ao diminuir
escrita) torna a sua escolarização difícil, já que não são a pressão do controle, toma-se possível avaliar aprendi-
passíveis de se submeterem a uma programação se- zagens que antes não ocorriam [...]’ já que no trabalho
quencial. Por outro lado, trata-se de práticas sociais que com projetos os alunos discutem suas opiniões, buscam
historicamente foram, e de certo modo continuam sen- informações que possam auxiliá-los e procuram diferen-
do, patrimônio de certos grupos, mais que de outros, o tes soluções, fatores importantíssimos a formação de ci-
que nos leva a enfrentar e tentar buscar caminhos para dadãos praticantes da cultura escrita.
resolver as tensões existentes na instituição escolar entre
a tendência à mudança (democratização do ensino) e a Capítulo 2 - Para Transformar o Ensino da Leitura
tendência à conservação (reprodução da ordem social e da Escrita
estabelecida). É difícil ainda, porque o ato de ensinar a ler
e escrever na escola tem finalidade puramente didática: a “O desafio [...] é formar seres humanos críticos, capa-
de possibilitar a transmissão de saberes e comportamen- zes de ler entrelinhas e de assumir uma posição própria
tos culturais, ou seja, a de preservar a ordem pré-estabe- frente à mantida, explicita ou implicitamente, pelos auto-
lecida, o que o distancia da função social que pressupõe res dos textos com os quais interagem em vez de persis-
ler para se comunicar com o mundo, para conhecer ou- tir em formar indivíduos dependentes da letra do texto e
tras possibilidades e refletir sobre uma nova perspectiva. da autoridade dos outros”.
É difícil também, porque a estruturação do ensino Para que haja uma transformação verdadeira do en-
conforme um eixo temporal único, segundo uma pro- sino da leitura e da escrita, a escola precisa favorecer a
gressão linear acumulativa e irreversível entra em contra- aprendizagem significativa, abandonando as atividades
dição com a própria natureza da aprendizagem da leitura mecânicas e sem sentido que levam o aluno a compreen-
e da escrita, que como vimos ocorre por meio de aproxi- der a escrita como uma atividade pura e unicamente es-
mações do sujeito com o objeto, provocando coordena- colar. Para isso, a escola necessita propiciar a formação
ções e reorganizações cognitivas que lhe permite atribuir de pessoas capazes de apreciar a literatura e de mergu-
um novo significado aos conteúdos aprendidos. E, final- lhar em seu mundo de significados, formando escritores
mente, a necessidade da escola em controlar a aprendi- e não meros copistas, formando produtores de escrita
zagem da leitura faz com que se privilegie mais o aspecto conscientes de sua função e poder social. Precisa tam-
ortográfico do que os interpretativos do ato de ler, e o
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

bém, preparar as crianças para a interpretação e produ-


sistema de avaliação, onde cabe somente ao docente o
ção dos diversos tipos de texto existentes na socieda-
direito e o poder de avaliar, não propiciam ao aluno a
de, conseguindo que a escrita deixe de ser apenas um
oportunidade de autocorreção e reflexão sobre o seu tra-
objeto de avaliação e passe a ser um objeto de ensino,
balho escrito, e consequentemente não contribui para a
capaz não apenas de reproduzir pensamentos alheios,
construção da sua autonomia intelectual.
mas de refletir sobre o seu próprio pensamento, enfim,
Diante desses fatos, o que é possível fazer para que
promovendo a descoberta da escrita como instrumento
se possam conciliar as necessidades inerentes a institui-
de criação e não apenas de reprodução. Para realmente
ção escolar e, ao mesmo tempo, atender as necessidades
de formar leitores e escritores competentes ao exercício transformar o ensino da leitura e da escrita na escola, é
pleno da cidadania? Em primeiro lugar devem se tor- preciso, ainda, acabar com a discriminação que produz
nar explícitos aos profissionais da educação os aspectos fracasso e abandono na escola, assegurando a todos o

175
direito de ‘se apropriar da leitura e da escrita como ferra- ber ou descobrir o que o professor deseja que ele ‘saiba’
mentas essenciais de progresso cognoscitivo e de cres- sobre aquele texto que o professor escolheu para que ele
cimento pessoal’. leia e não em suas próprias interpretações: “A ‘cláusula’
É possível a mudança na escola? Ensinar e ler e es- referente à interpretação de textos parece estabelecer
crever faz parte do núcleo fundamental da instituição [...] que o direito de decidir sobre a validade da interpre-
escolar, está nas suas raízes, constitui a sua missão al- tação é privativo do professor...”.
fabetizadora e sua função social, portanto, é a que mais Se o objetivo da escola é formar cidadãos praticantes
apresenta resistência a mudanças. Além disso, nos últi- da leitura e da escrita, capazes de realizar escolhas e de
mos anos, foi a área de que mais sofreu com a invasão de opinar sobre o que leem e veem em seu entorno social,
inovações baseadas apenas em modismos. é preciso que seja revisto o Contrato Didático, principal-
mente no âmbito da leitura e da escrita, e essa revisão é
“...O sistema de ensino continua sendo o terreno pri- encargo dos pesquisadores de didática - divulgando os
vilegiado de todos os voluntarismos - dos quais talvez resultados obtidos bem como os elementos que podem
seja o último refúgio. Hoje, mais de que ontem, deve su- contribuir para as mudanças necessárias -, é responsa-
portar o peso de todas as expectativas, dos fantasmas, bilidade dos organismos que regem a educação - que
das exigências de toda uma sociedade para a qual a edu- devem levar em conta esses resultados -, é encargo dos
cação é o ultime portador de ilusões”. formadores de professores e de todas as instituições ca-
pazes de comunicar à comunidade e particularmente aos
Sendo assim, para que seja possível uma mudança pais, da importância que tem a análise, escolha e exer-
profunda da prática didática vigente hoje nas instituições cício de opinião de seus filhos quando do exercício da
de ensino, capaz de tornar possível a leitura na escola, é leitura e da escrita.
preciso que esta esteja fundamentada na evolução histó-
rica do pensamento pedagógico, sabendo que muito do Ferramentas para transformar o ensino
que se propõe pode ser encontrado nas ideias de Frei-
net, Dewey, Decroly e outros pensadores e educadores, Vimos que transformar o ensino vai além da capacita-
o que significa estarem baseadas no avanço do conheci- ção dos professores, passa pela sua revalorização pessoal
mento científico dessa área, que como em outras áreas e profissional; requer uma mudança de concepção da re-
do conhecimento científico, teve suas hipóteses testadas lação ensino-aprendizagem para que se possa conceber
com o objetivo de desvendar a gênese do conhecimento o estabelecimento de objetivos por ciclos que abrangem
humano - como os estudos realizados por Jean Piaget. os conhecimentos - objeto de ensino -de forma interdis-
É preciso compreender também, que essas mudanças ciplinar, visando diminuir a pressão do tempo didático e
não dependem apenas da capacitação adequada de seus da fragmentação do conhecimento. Requer que não se
profissionais, já que esta é condição necessária, mas não perca de vista os objetivos gerais e de prioridade absolu-
suficiente, é preciso conhecer o cotidiano escolar em sua ta, aqueles que são essenciais à educação e lhe conferem
essência, buscando descobrir os mecanismos ou fenô- significado. Requer ainda, que se compreenda a alfabeti-
menos que permitem ou atravancam a apropriação da zação como um processo de desenvolvimento da leitura
leitura e da escrita por todas as crianças que ali estão e da escrita, e que, portanto, não pode ser desprovido de
inseridas. significado.
O que vimos até hoje, por meio dos trabalhos e pes- Essa compreensão só será alcançada na medida em
quisas que temos realizado no campo da leitura e da es- que forem conhecidos e compreendidos os estudos cien-
crita, é que existe um abismo que separa a prática escolar tíficos realizados na área, e que nos levaram a descobrir
da prática social da leitura e da escrita - lê-se na escola a importância da atividade mental construtiva do sujeito
trechos sem sentido de uma realidade desconhecida para no processo de construção de sua aprendizagem, ressig-
a criança, já que foi produzido sistematicamente para ser nificando o papel da escola. Colocando em destaque o
usado no espaço escolar - a fragmentação do ensino da aprendizado da leitura e da escrita, consideramos funda-
língua (primeiro sílabas simples, depois complexas, pala- mental que sejam divulgados os resultados apresenta-
vras, frases...) não permite um espaço para que o aluno dos pelos estudos psicogenéticos e psicolinguísticos, não
possa pensar no que aprendeu dentro de um contexto apenas a professores ou profissionais ligados à educa-
que lhe faça sentido, e ainda, fazem com que esta perca ção, mas a toda sociedade, objetivando conscientizá-los
a sua identidade. da sua validade e importância, levando-os a perceber as
“Como o objetivo final do ensino é que o aluno possa vantagens das estratégias didáticas baseadas nesses es-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

fazer funcionar o aprendido fora da escola, em situações tudos, e, sobretudo, conscientizando-os de que educa-
que já não serão didáticas, será necessário manter uma ção também é objeto da ciência.
vigilância epistemológica que garanta uma semelhança Voltando a capacitação, enfatizando sua necessidade,
fundamental entre o que se ensina e o objeto ou prá- é preciso que se criem espaços de discussão e troca de
tica social que se pretende que os alunos aprendam. A experiências e informações, que dentre outros aspectos
versão escolar da leitura e da escrita não deve afastar-se servirão para levar o professor a perceber que a diversi-
demasiado da versão social não-escolar”. O “Contrato Di- dade cultural não acontece apenas em sua sala de aula,
dático” aqui é considerado como as relações implícitas que ela faz parte da realidade social na qual estamos in-
estabelecidas entre professor e aluno, sobretudo porque seridos, e que sendo assim, não poderia estar fora da es-
estas exercem influência sobre o aprendizado da leitura cola, e ainda, que esta diversidade tem muito a contribuir
e da escrita, já que o aluno deve concentrar-se em perce- se o nosso objetivo educacional consistir em preparar

176
nossos alunos para a vida em sociedade. No que con- tenham contato com todos os tipos de texto que veicu-
cerne a leitura e escrita, parece-nos essencial ter corno lam na sociedade, que eles tenham acesso a eles, que
prioritária a formação dos professores como leitores e esses materiais deixem de ser privilégio de alguns, pas-
produtores de texto, capazes de aprofundar e atualizar sando a ser patrimônio de todos. Didaticamente, isto sig-
seus saberes de forma permanente’. nifica que os alunos precisam se apropriar destes textos
Nossa experiência nos levou a considerar que a ca- através de práticas de leitura significativas que propiciem
pacitação dos professores em serviço apresenta melho- reflexões individuais e grupais, que embora demandem
res resultados quando é realizada por meio de oficinas, tempo, são essenciais para que o sujeito possa, no futu-
sustentadas por bibliografias capazes de dar conta das ro, ser um praticante da leitura e da escrita.
interrogações a respeito da prática que forem surgindo
durante os encontros, que devem se estender durante “...É preciso assinalar que, ao exercer comportamentos
todo o ano letivo, e que contam com a participação dos de leitor e de escritor, os alunos têm também a oportuni-
coordenadores também em sala de aula, mas que, à lon- dade de entrar no mundo dos textos, de se apropriar dos
go prazo, capacitem o professor a seguir autonomamen- traços distintivos[...] de certos gêneros, de ir detectando
te, sem que seja necessário o acompanhamento em sala matizes que distinguem a ‘linguagem que se escreve’ e
de aula. a diferenciam da oralidade coloquial, de pôr em ação [...]
recursos linguísticos aos quais é necessário apelar para
Capítulo 3 – Apontamentos a partir da Perspectiva resolver os diversos problemas que se apresentam ao
Curricular produzir ou interpretar textos [...[é assim que as práticas
de leitura e escrita, progressivamente, se transformam
É importante que, ao propor uma transformação di-
em fonte de reflexão metalinguística”. (P. 64).
dática a uma instituição de ensino, seja considerada a sua
particularidade, o que se dá através do conhecimento de
suas necessidades e obstáculos, implícitos ou explícitos, Capítulo 4 - É possível ler na escola?
que caberá a proposta suprir ou superar. É imperativo
que a elaboração de documentos curriculares esteja “Ler é entrar em outros mundos possíveis. É indagar
fortemente amparada na pesquisa didática, já que será a realidade para compreendê-la melhor, é se distanciar
necessário selecionar os conteúdos que serão ensinados do texto e assumir uma postura crítica frente ao que se
o que pressupõe uma hierarquização, já que privilegiará diz e ao que se quer dizer, é tirar carta de cidadania no
alguns em detrimento de outros. mundo da cultura escrita...”.(p.73). Ensinar a ler e escrever
“Prescrever é possível quando se está certo daquilo que foi, e ainda é, a principal missão da escola, no entanto,
se prescreve, e se está tanto mais seguro quanto mais in- dois fatores parecem contribuir para que a escola não
vestigada está a questão do ponto de vista didático”.(p. 55). obtenha sucesso:
As escolhas de conteúdos devem ter como fundamento 1. A tendência de supor que existe uma única inter-
os propósitos educativos’, ou seja, se o propósito edu- pretação possível a cada texto;
cativo do ensino da leitura e da escrita é o de formar os 2. A crença - como diria Piaget - de que a maneira
alunos como cidadãos da cultura escrita, então o obje- como as crianças aprendem difere da dos adultos,
to de ensino a ser selecionado deve ter como referência e que, portanto, basta ensinar-lhes o que julgarem
fundamental às práticas sociais de leitura e escrita utiliza- pertinente, sem que haja preocupação com o sen-
das pela comunidade, o que supõe enfatizar as funções tido ou significado que tais conteúdos têm para as
da leitura e da escrita nas diversas situações e razões que crianças, o que, além de tudo, facilita o controle
levam as pessoas a ler e escrever, favorecendo seu in- da aprendizagem, já que essa concepção permite
gresso na escola como objeto de ensino. uma padronização do ensino.
Os estudos em torno das práticas de leitura existentes
ou preponderantes no decorrer da história da humani- Para que seja possível ler na escola, é necessário que
dade mostraram que em determinados momentos his- ocorra uma mudança nessas crenças, é preciso, como já
tóricos privilegiavam-se leituras intensas e profundas de vimos, que sejam considerados os resultados dos traba-
poucos textos, como por exemplo, os pensadores clássi-
lhos científicos em torno de como ocorre o processo de
cos, seguidos de profundas reflexões realizadas por meio
aprendizagem nas crianças: que ele se dá através da ação
de debates ou conversas entre pequenos grupos de pes-
da criança sobre os objetos (físicos e sociais), sendo a
soas ou comunidades, se tomarmos como exemplo a lei-
tura da Bíblia. Com o avanço das ciências e o aumento partir dessa ação que ela (a criança) lhe atribuirá um valor
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

da diversidade literária disponível - nas sociedades mais e um significado.


abastadas - as práticas de leitura passaram a se alternar Sabendo que a leitura é antes de tudo um objeto de
entre intensivas ou extensivas (leitura de vários textos ensino que na escola deverá se transformar em um ob-
com menor profundidade), mas sempre mantendo um jeto de aprendizagem, é importante não perder de vista
fator comum: elas, leitura e escrita, sempre estiveram in- que sua apropriação só será possível se houver sentido e
seridas nas relações com as outras pessoas, discutindo significado para o sujeito que aprende, que esse sentido
hipóteses, ideias, pontos de vista ou apertas indicando a varia de acordo com as experiências prévias do sujeito e
leitura de algum título ou autor. que, portanto, não são suscetíveis a uma única interpre-
O aspecto mais importante que podemos tirar acerca tação ou significado e que o caminho para a manutenção
dos estudos históricos é que se aprende a ler, lendo (ou a desse sentido na escola está em não dissociar o objeto
escrever, escrevendo), portanto, é preciso que os alunos de ensino de sua função social.

177
O trabalho com projetos de leitura e escrita cujos te- Ainda, o trabalho com projetos, por envolver grupos
mas são dirigidos à realização de algum propósito social de trabalho e, abrir espaço para discussão e troca de
vem apresentando resultados positivos. Os temas pro- opiniões, permite o estabelecimento de um novo con-
postos visam atender alguma necessidade da comuni- trato didático, ou seja, um novo olhar sobre a avaliação,
dade em questão e são estruturados da seguinte forma: porque admite novas formas de controle sobre a apren-
a) Proposta do projeto às crianças e discussão do pla- dizagem, nas quais todos os sujeitos envolvidos tomam
no do trabalho; parte, o que contribui para a formação de leitores au-
b) Curso de capacitação para as crianças visando pre- tônomos, já que estes devem justificar perante o grupo
pará-las para a busca e consulta autônoma dos as conclusões ou opiniões que defendem. É importante
materiais a serem utilizados quando da realização ressaltar, que essa modalidade de trabalho torna ainda
das etapas do projeto; mais importante o papel das intervenções do professor -
c) Pesquisa e seleção do material a ser utilizado e/ou fazendo perguntas que levem a ser considerados outros
lugares a serem visitados; aspectos que ainda não tenham sido levantados pelo
d) Divisão das tarefas em pequenos grupos; grupo, ou a outras interpretações possíveis do assunto
e) Participação dos pais e da comunidade; em questão. Em suma, é importante que a necessidade
f) Discussão dos resultados encontrados pelos gru- de controle, inerente a instituição escolar, não sufoque
pos; ou descaracterize a sua missão principal que são os pro-
g) Elaboração escrita dos resultados encontrados pe- pósitos referentes à aprendizagem.
los grupos (que passará pela revisão de outro gru-
po e depois pelo professor); O professor: um ator no papel de leitor
h) Redação coletiva do trabalho final;
i) Apresentação do projeto à comunidade interessa- É muito importante que o professor assuma o papel
da. de leitor dentro da sala de aula. Com esta atitude ele
j) Avaliação dos resultados. estará propiciando a criança a oportunidade participar
de atos de leitura. Assumir o papel de leitor consiste em
Nesses projetos tem-se a oportunidade de levar a ler para os alunos sem a preocupação de interrogá-los
criança a extrair informações de diversas fontes, inclu- sobre o lido, mas de conseguir com que eles vivenciem o
sive de textos que não foram escritos exclusivamente prazer da leitura, a experiência de seguir a trama criada
para elas, e que, portanto, apresentam um grau maior pelo autor exatamente para este fim, e ao terminar, que
de dificuldade. A discussão coletiva das informações que o professor comente as suas impressões a respeito do
vão sendo coletadas propicia a troca de ideias e a veri- lido, abrindo espaço para o debate sobre o texto - seus
ficação de diferentes pontos de vista, como acontece na personagens, suas atitudes. Assumir o papel de leitor é
vida real, e, ainda, durante a realização desses projetos as fator necessário, mas não suficiente, cabe ao professor
crianças não leem e escrevem só para ‘aprender’, a leitura
ainda mais, cabe-lhe propor estratégias de leitura que
assume um propósito, um significado, que atende tam-
aproximem cada vez mais os alunos dos textos.
bém aos propósitos do docente - de inseri-las no mundo
de leitores e escritores. Os projetos permitem ainda, uma
A Instituição e o sentido da leitura
administração mais flexível do tempo, porque propiciam
o rompimento com a organização linear dos conteúdos
Quando os projetos de leitura atingem toda a ins-
já que costumam trabalhar com os temas selecionados
de forma interdisciplinar, o que possibilita a retomada tituição educacional, cria-se um clima leitor que atinge
dos próprios conteúdos em outras situações e ainda, a também os pais, e que envolvem os professores numa
análise destes a partir de um referencial diferente. situação de trabalho conjunta que tem um novo valor: o
Acontecem concomitantemente e em articulação com de possibilitar uma reflexão entre os docentes a respeito
a realização dos projetos, atividades habituais, como ‘a das ferramentas de análise que podem contribuir para a
hora do conto’ semanal ou momentos de leitura de ou- resolução dos problemas didáticos que por ventura eles
tros gêneros, como o de curiosidades científicas e ativi- possam estar vivendo.
dades independentes que podem ter caráter ocasional, As propostas de trabalho e as reflexões aqui apre-
como a leitura de um texto que tenha relevância pontual sentadas mostram que é possível sim! Ler e escrever na
ou fazer parte de situações de sistematização: passar a escola, desde que se promova uma mudança qualitativa
limpo uma reflexão sobre uma leitura realizada durante na gestão do tempo didático, reconsiderando as formas
uma atividade habitual ou pontual. Todas essas ativida- de avaliação, não deixando que estas interfiram ou atra-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

des contribuem com o objetivo primordial de ‘criar con- palhem o propósito essencial do ensino e da aprendiza-
dições que favoreçam a formação de leitores autônomos gem. Desde que se elaborem projetos onde a leitura te-
e críticos e de produtores de textos adequados à situa- nha sentido e finalidade social imediata, transformando
ção comunicativa que os torna necessário’ já que em to- a escola em uma ‘micros-sociedade de leitores e escri-
dos eles observam-se os esforços por produzir na escola tores em que participem crianças, pais e professores...”.
as condições sociais da leitura e da escrita. (P. 101).
“É assim que a organização baseada em projetos per-
mite coordenar os propósitos do docente com os dos
alunos e contribui tanto para preservar o sentido social
da leitura como para dotá-la de um sentido pessoal para
as crianças”. (p.87).

178
Capítulo 5 - O Papel do Conhecimento Didático na se dá o processo de ensino e aprendizagem da leitura e
Formação do Professor escrita na escola, mais estarão em condições de ajudar o
professor em sua prática docente.
“O saber didático é construído para resolver proble-
mas próprios da comunicação do conhecimento, é o A educadora argentina fala sobre o processo de ela-
resultado do estudo sistemático das interações que se boração de Ler e Escrever na Escola e os reflexos que a
produzem entre o professor, os alunos e o objeto de en- obra promoveu na Educação.
sino; é produto da análise das relações entre o ensino e a
aprendizagem de cada conteúdo específico; é elaborado Qual foi a motivação para escrever este livro? A
através da investigação rigorosa do funcionamento das consciência de que era preciso colocar em primeiro pla-
situações didáticas”. (P. 105). no a análise das possibilidades e das dificuldades da es-
É importante considerar que o saber didático, como cola em assimilar projetos de ensino de leitura e escrita.
qualquer outro objeto de conhecimento, é construído
através da interação do sujeito com o objeto, ele se en- Surgiram dúvidas enquanto trabalhava o texto?
contra, portanto, dentro da sala de aula, e não é exclusi- Como elas poderiam não surgir? Escrever é compro-
vidade dos professores que trabalham com crianças, ele meter-se com o que é dito. Porém, o mais importan-
está presente também em nossas oficinas de capacita- te durante a elaboração do livro foi analisar o real - as
ção. Então, para apropriar-se desse saber é preciso estar condições em que se trabalha na escola, a função social
em sala de aula, buscando conhecer a sua realidade e as e as características da instituição - e ao mesmo tempo
suas especificidades. priorizar o possível, com a missão de transformar o ensi-
no para favorecer a formação de todos os alunos como
A atividade na aula como objeto de análise leitores e escritores plenos.

O registro de classe apresenta-se como principal É possível ver avanços nessa área depois que o li-
instrumento de análise do que ocorre em sala de aula. vro foi publicado? Não creio que ele tenha produzido
Esses registros podem ser utilizados durante a capacita- efeitos mágicos. Lamentavelmente, acho que nenhum
ção objetivando um aprofundamento do conhecimento consegue tal feito. Mas espero que já tenha esclarecido
didático, já que as situações nele apresentadas permitem alguns problemas e ajudado educadores a encontrar ca-
uma reflexão conjunta a respeito das situações didáticas minhos para avançar na difícil tarefa de ensinar.
requeridas para o ensino da leitura e escrita.
Optamos por utilizar, a princípio, os registros das ‘si-
tuações boas’ ocorridas em sala de aula, porque perce-
bemos, através da experiência, que a ênfase nas ‘situa- EXERCÍCIO COMENTADO
ções más’ distanciava capacitadores e educadores, e para
além, criavam um clima de incerteza, por enfatizar o que 1. (Prefeitura de Barretos - SP – Professor I – Superior
não se deve fazer, sem apresentar direções do que po- – VUNESP/2018) Lerner afirma que mudanças profundas
deria ser feito, em suma, quando enfatizamos ‘situações são necessárias para transformar o ensino, entre elas, in-
boas estamos mostrando o que é possível realizar em troduzir modificações no currículo. Para que isso ocorra,
sala de aula, o que por si só, já é motivador. há que se considerar as seguintes questões, EXCETO:
É importante destacar que as ‹situações boas› não se
constituem em situações perfeitas, elas apresentam erros a) a necessidade de estabelecer objetivos por ciclo, em
que, ao serem analisados, enriquecem a prática docente, vez de estabelecê-los por graus, não só porque isto
pois são: considerados como importantes instrumentos diminui o risco de fracasso explícito na aprendizagem
de análise da prática didática - ponto de partida de uma da leitura e da escrita, como também porque permite
nova reflexão - sendo vistos como parte integrante do elevar a qualidade da alfabetização.
processo de construção do conhecimento. b) a importância de atribuir aos objetivos gerais priori-
dade absoluta sobre os objetivos específicos;
“... a análise de registros de classe opera como coluna c) a necessidade de evitar o estabelecimento de uma cor-
vertebral no processo de capacitação, porque é um re- respondência termo a termo entre objetivos e ativida-
curso insubstituível para a comunicação do conhecimen- des, correspondência que leva certamente ao parcela-
to didático e porque é a partir da análise dos problemas, mento da língua escrita e à fragmentação indevida de
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

propostas e intervenções didáticas que adquire sentido atos tão complexos como a leitura e a escrita.
para os docentes se aprofundarem no conhecimento do d) a necessidade de superar a tradicional separação entre
objeto de ensino e de s processos de aprendizagem des- ‘alfabetização em sentido estrito’ e ‘alfabetização em
se objeto por parte das crianças”, (p. 116). sentido amplo’ ou, para dizê-lo com nossas palavras,
entre ‘apropriação do sistema de escrita’ e ‘desenvol-
Palavras Finais vimento da leitura e da escrita’.
e) a necessidade de o manejo do sistema alfabético ser
Quanto mais os profissionais capacitadores conhece- um requisito prévio para a utilização da linguagem es-
rem a prática pedagógica e os que exercitam essa prá- crita como tal, para a interpretação e produção de tex-
tica no dia-a-dia: as crenças que os sustentam e os me- tos escritos correspondentes aos diferentes gêneros
canismos que utilizam; quanto mais conhecerem como que circulam na sociedade.

179
Resposta: Letra E. Devem ser levadas em conta entre mudanças no processo de produção (avanços científicos
outras as seguintes questões como: introduzir modifi- e tecnológicos), superioridade do livre funcionamento do
cações no currículo, na organização institucional, criar mercado e redução do papel do Estado que por sua vez,
consciência em relação à opinião pública, desenvolver afetam diretamente a educação tendo em vista que para
a pesquisa no campo da didática da leitura e da escri- o neoliberalismo, o desenvolvimento econômico fomen-
ta, além de traçar novamente as bases de formação tado pelo desenvolvimento técnico-científico garante,
dos professores e promover a hierarquização social de por si só, o desenvolvimento social.
sua função. Dessa forma, somente o abordado na letra Essa falta de consideração com as implicações so-
D não corresponde ao que foi proposto pela autora. ciais e humanas geram vários problemas sociais como
desemprego, fome e desigualdade entre países, classes
e grupos sociais. E também, problemas globais como a
LIBÂNEO, J.C.; OLIVEIRA, J. F.; TOSCHI, devastação ambiental, o desequilíbrio ecológico, o esgo-
M. S. EDUCAÇÃO ESCOLAR: POLÍTICAS, tamento dos recursos naturais e problemas atmosféricos.
ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO. SÃO Progredindo na mesma proporção, mudanças signifi-
PAULO: CORTEZ, 2003, CAPÍTULO III, DA 4ª cativas nos processos de produção e transformações nas
condições de vida e de trabalho devido à associação entre
PARTE.
ciência e técnica, proporcionou uma necessidade de se ter
conhecimento e informação a tal ponto que influenciaram
EDUCAÇÃO ESCOLAR: POLÍTICAS, ESTRUTURAS E a economia e seu desenvolvimento. Os países industriali-
ORGANIZAÇÃO zados então viram a necessidade de se rever o lugar das
instituições encarregadas de produzir conhecimento e in-
formação, tornando-se prioridade, a reforma dos sistemas
FIQUE ATENTO! educacionais os quais giram em quatro pontos: o currícu-
lo nacional, a profissionalização dos professores, a gestão
O sistema educativo e as escolas estabelecem educacional e a avaliação institucional.
relações entre si e existem duas importantes No Brasil, também houve algumas transformações,
razões para conhecer e analisá-las. A primeira no que diz respeito ao sistema educacional. Que ocorreu
faz referência às políticas educacionais e as a partir do ano de 1990, início do governo Collor, e tam-
diretrizes organizacionais e curriculares que bém ano em que se realizou a Conferência Mundial sobre
são as ideias, valores, atitudes e práticas Educação para Todos, ocasião em que se estabeleceram
capazes de influenciar as escolas e seus prioridades para a educação, entre elas, a universalização
profissionais no que diz respeito às práticas do ensino fundamental. Em 1993, no governo de Itamar
formativas dos alunos. A segunda está pautada Franco, cria-se o Plano Decenal de Educação para Todos
aos profissionais das escolas os quais podem e em 1995, no governo de Fernando Henrique Cardoso,
aceitar ou rejeitar essas políticas e diretrizes estabeleceram-se metas pontuais, que são: descentrali-
educacionais, ou até mesmo, dialogar com elas zação da administração das verbas federais, elaboração
e então formular, de modo coletivo, práticas do currículo nacional, educação à distância, avaliação na-
formativas e inovadoras. cional das escolas, incentivo a formação de professores,
parâmetros de qualidade para o livro didático, entre ou-
tras. Já essas, acompanham as tendências internacionais
Para tanto, é preciso conhecer e analisar como se in- se alinhando à política neoliberal e às orientações dos
ter-relacionam as políticas educacionais, a organização organismos financeiros como o Banco Mundial e o FMI.
e gestão das escolas e as práticas pedagógicas na sala Nesse mesmo âmbito, se deu a elaboração e promul-
de aula. O professor não pode se contentar apenas em gação da LDB, do PNE, das diretrizes curriculares, normas
desenvolver saberes e competências para ter uma boa e resoluções do Conselho Nacional de Educação.
atuação em sala de aula, é preciso tomar consciência do No entanto, essas políticas e diretrizes demonstram
sistema escolar e enxergar além. ser, salvo raras exceções, intenções declaradas ao invés
Outra razão torna esses estudos importantes que é de medidas efetivas. Ocorre então um impasse, de um
o fato de que as normas, leis e diretrizes da educação, lado, políticas educativas que expressam intenções de se
estão sujeitas a decisões políticas. Cabe ao sistema de aumentar a autonomia e a participação das escolas e dos
ensino e as escolas contribuírem de maneira significa- professores, do outro, há a questão da crise de legitimi-
tiva para a construção de um projeto de nação e, para dade dos estados que dificulta a efetivação de investi-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

a formação de sujeitos capazes de participar ativamente mentos em salários, carreira e formação do professora-
desse processo. do, com o pretexto de que o Estado requer redução de
As políticas educacionais e organizacionais que ve- despesas, transmitindo uma lógica contábil e economista
mos hoje estão diretamente relacionadas às transforma- ao sistema educacional.
ções econômicas, políticas, culturais e geográficas que Desde a estruturação do curso de Pedagogia, em
qualificam o mundo atual. A exemplo disso nós temos as 1939, sempre houve a preocupação com os aspectos
várias reformas educativas realizadas nos países da Euro- legais e administrativos da escola, geralmente vistos na
pa e América durante os últimos 20 anos. disciplina Administração Escolar.
Tais reformas se justapõem com a recomposição do Está mencionado, no Parecer 292/62 – do Conselho
sistema capitalista mundial que trouxe consigo a doutri- Federal de Educação – a disciplina Elementos de Admi-
na neoliberal, caracterizada por três traços particulares: nistração Escolar a qual tinha como finalidade proporcio-

180
nar o conhecimento, por parte do licenciado, da escola Abordagem legalista e formal: Os textos legais e os
em que iria atuar (seus objetivos, estrutura e seus aspec- documentos são apresentados e analisados sistêmica e
tos de seu funcionamento), além de proporcionar uma funcionalmente. Essa abordagem acosta-se à letra, linhas
visão única do aspecto escola-sociedade. e ao texto legal. O estudo aí acaba por se tornar árido,
Em 1968, houve a homologação dos Pareceres 252/69 insípido e aversivo. Abordagem político-ideológica: Dá
e 672/69 como forma de se adequar os currículos de Pe- ênfase aos textos críticos, procura-se mostrar o real com
dagogia e das licenciaturas à Lei 5.540/68. Esses parece- base em uma postura e visão político-ideológica. Essa
res incluíram a disciplina Estrutura e Funcionamento do abordagem aproxima-se mais ao contexto, ao espírito e
Ensino de 2º Grau, substituindo a disciplina Administra- às entrelinhas dos textos legais. O estudo aí acaba por se
ção Escolar. O motivo pelo qual se deu essa substitui- tornar parcial e partidário.
ção foi o fato de que com a denominação Administração Abordagem histórico-crítica: Os textos legais são
Escolar, se fazia ressaltar o aspecto administrativo, não usados como referencial para a análise crítica da orga-
levando em conta aspectos referente à estrutura e ao nização escolar e como forma de confrontar a situação
funcionamento do ensino. proclamada (ideal) com a situação real. O estudo aí acaba
Já nos anos 80, propostas curriculares alternativas por se tornar mais fértil, dinâmico, investigativo e crítico-
surgiram com conteúdos semelhantes à Administração -reflexivo.
Escolar e à Estrutura e Funcionamento do Ensino do 2º O desenvolvimento dos conteúdos, por uma óti-
Grau, mas como denominações diferentes: Educação ca metodológica, deve estar alinhado à articulação de
Brasileira, Políticas Educacionais, Organização do Traba- três elementos, segundo Monteiro (1995): visão oficial
lho Pedagógico (ou Escolar). (conhecimento da legislação educacional, programas e
As Resoluções 2/69 e 9/69 foram as primeiras a apre- planos de governo); visão da realidade (comparação da
sentarem a denominação Estrutura e Funcionamento do visão oficial com o que realmente acontece no funciona-
Ensino. Está fixava os mínimos de conteúdos das discipli- mento do ensino) e visão crítica (após o conhecimento
nas e a duração do curso de Pedagogia, aquela, estabele- das anteriores, pratica-se a leitura fundamentada, para
cia os mínimos de conteúdos e a duração dos cursos para geração de novos conhecimentos.
a formação pedagógica em nível de licenciatura. Para Saviani (1987), há três etapas no exame crítico da
Segundo a Resolução 9/69, os currículos de licencia- legislação de ensinos: contato com a lei (análise textual,
tura deveriam abranger as seguintes matérias: Psicolo- para captar a estrutura do texto); exame das razões ma-
gia da Educação, Didática, Estrutura e Funcionamento nifestas (leitura da exposição de motivos, dos pareceres,
do Ensino de 2º Grau e Prática de Ensino, sob forma de dos relatórios, etc.) e busca das razões reais (exame do
estágio supervisionado, mas em conformidade com a contexto – processo histórico socioeconômico e político
Lei 5.692/71, na qual instituiu o ensino de primeiro e se- – exame da gênese da lei – processo de elaboração da lei,
gundo graus, a denominação alterou-se para Estrutura e os autores e seus papéis).
Funcionamento do Ensino de 1º e 2º graus. Textos legais, documentos e textos críticos, também
De acordo com a legislação, há dois elementos bá- podem ser usados como auxilio ao estudo de alguns
sicos na disciplina: a escola e o ensino, onde, primeira- temas da disciplina (municipalização do ensino, orga-
mente, apresenta-se a organização e o funcionamento nização formal e informal da escola, financiamento do
da escola e em seguida, o ensino. ensino, etc.), servindo de fundamento para elucidar uma
Contudo, essas abordagens mostram a escola e o en- situação/questão norteadora de investigação, aliando
sino como elementos prontos e acabados no interior de assim, ensino e pesquisa, tornando o método de ensino e
um sistema educacional racionalmente organizado e de aprendizagem mais dinâmico e reflexivo, desenvolvendo
uma sociedade organicamente constituída e funcional também, a habilidade de investigação, proporcionando,
fazendo com que se torna evidente a importância da le- assim, que o trabalho acadêmico seja um momento em
gislação como eixo básico da disciplina. Obrigatória em que o aluno possa procurar, investigar e produzir conhe-
algumas habilitações do curso de Pedagogia, a disciplina cimento, orientado pelo professor.
Legislação do Ensino de 1º e 2º Graus tornou-se base da As abordagens identificadas e os aspectos metodo-
Estrutura e Funcionamento do Ensino. Já na organização lógicos de tratamento dos conteúdos se relacionam ao
do ensino escolar, se tem a descrição dos órgãos e seu conhecimento do objeto de estudo, tendo em vista que
funcionamento e, a análise de seus componentes admi- refletem a trajetória da disciplina. Contudo, percebe-se
nistrativos e curriculares, através de textos legais. que houve uma significativa evolução na abordagem da
Os currículos de Pedagogia e das licenciaturas, atual- disciplina, em sua ampliação e diversificação, o mesmo
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

mente, apresentam várias denominações, entre elas, as não ocorreu com objeto de estudo, não com clareza.
mais corriqueiras são: Estrutura e Funcionamento do En- Qual é e qual era ele?
sino Fundamental e Médio – oferecida no segundo ou Vemos que houve uma mudança na ênfase da disci-
no terceiro ano do curso de Pedagogia, com carga anual plina, de aspectos estruturais e formais do ensino para as
que varia entre 60 128 horas e ministrada em um ano ou questões de funcionamento onde o foco saiu do ensino
seis meses – e, Didática e Prática de Ensino de Estrutura de primeiro e segundo graus para a concreta escola de
e Funcionamento do Ensino Fundamental e Médio – dis- primeiro e segundo graus. Proporcionando assim que a
ciplina em forma de estágio supervisionado, geralmente perspectiva legalista, descontextualizada e limitada fosse
com carga anual de 128 horas, no último ano do curso modificada com a finalidade de se privilegiar a discussão
de Pedagogia. Em geral, os conteúdos e objetivos dessa de alternativas para a reconstrução da escola e do siste-
disciplina, assumem três abordagens distintas: ma educacional brasileiro.

181
Houve assim uma transformação democrática de um b) necessário que aqueles docentes e os professores
ensino genérico para uma abordagem de uma escola e coordenadores desenvolvam competências possibi-
ensino concretos, todavia, cabe-se questionar se a mu- litadoras de uma abordagem político-ideológica que
dança ocorreu somente na abordagem/compreensão do enfatize a aplicação de textos críticos, mesmo que su-
objeto; se o objeto de estudo da disciplina continuou a bestimem o conteúdo dos documentos legais.
ser a escola e a organização do ensino e até mesmo se a c) suficiente que aqueles professores apliquem o que as
legislação e os documentos constituem o eixo básico da políticas educacionais determinam, mesmo que delas
apreensão da escola e do ensino. discordem. Devem optar por uma abordagem formal
A escola e o ensino ainda continuam como foco da e acrítica, realizando de modo eficiente seu trabalho
disciplina, mas agora contextualizados de maneira con- como educadores, com o objetivo de atingir a quali-
creta, crítica e histórica. Dá ótica sistêmica/tecnicista para dade do ensino anunciada.
a ótica histórico-crítica, onde as políticas de educação d) necessário que aqueles professores conheçam e anali-
são tratadas com maior intensidade, uma vez em que são sem as formas pelas quais se interrelacionam as políti-
elas as responsáveis por definirem, em grande parte, a cas educacionais, a organização e a gestão das escolas
legislação educacional, a escola e o ensino. com as práticas pedagógicas na sala de aula, situando
É apropriado adotar então a denominação Estrutura e sua atuação no contexto das transformações sociais.
Organização da Educação Escolar – Políticas Educacionais e) necessário que os docentes realizem com empenho
e Funcionamento da Escola, tendo como ideia principal a seu trabalho pedagógico e participem, ainda, das ati-
possibilidade em aprender as imbricações entre decisões vidades de gestão escolar, seja no Conselho de Esco-
centrais e decisões locais, a fim de articular, em torno da la, nas APMs, nos Conselhos de Classe e Série
escola, as abordagens mais gerais de cunho sociológico, (Ano), deixando para os gestores as análises críticas so-
político e econômico e os processos escolares internos bre as políticas educacionais.
de cunho pedagógico, curricular, psicológico e didático.
A partir da leitura da obra, é possível fazer uma refle- Resposta: Letra D
xão a respeito da educação escolar como um todo, bem Para tanto, é preciso conhecer e analisar como se in-
como as suas políticas educacionais e educativas. No de- ter-relacionam as políticas educacionais, a organiza-
correr da leitura do livro os autores trazem informações ção e gestão das escolas e as práticas pedagógicas
importantes relacionadas à história das políticas educa- na sala de aula. O professor não pode se contentar
cionais, como surgiram, porque surgiram e como foram apenas em desenvolver saberes e competências para
transformadas para atenderem as necessidades que se ter uma boa atuação em sala de aula, é preciso tomar
apresentaram. consciência do sistema escolar e enxergar além.
Percebe-se a dedicação dos autores em levar ao co- Outra razão torna esses estudos importantes que é o
nhecimento do leitor os processos pelos quais ocorre a fato de que as normas, leis e diretrizes da educação,
formação de professores, as disciplinas que são ofere- estão sujeitas a decisões políticas. Cabe ao sistema
cidas, as leis que regulam essa formação e também as de ensino e as escolas contribuírem de maneira sig-
mudanças que essas leis trouxeram ao longo do tempo. nificativa para a construção de um projeto de nação
Recomenda-se a leitura e a apreciação dessa obra a e, para a formação de sujeitos capazes de participar
estudantes de pedagogia e das licenciaturas, para que ativamente desse processo.
possam entender melhor o seu futuro ambiente de tra- As políticas educacionais e organizacionais que ve-
balho, a escola – seus objetivos e estruturas e professo- mos hoje estão diretamente relacionadas às transfor-
res, para que possam conhecer ainda mais o seu local de mações econômicas, políticas, culturais e geográficas
trabalho e assim, se tornar um agente ativo no processo que qualificam o mundo atual. A exemplo disso nós
de construção da educação e das políticas educacionais. temos as várias reformas educativas realizadas nos
países da Europa e América durante os últimos 20
Fonte anos.
Disponível em http://simboraestudar.blogspot.com.br/

EXERCÍCIO COMENTADO
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

1. (VUNESP/2014) No mundo atual, para que os profes-


sores se saiam bem em suas aulas e possibilitem a cons-
trução de um projeto educacional emancipatório que
assegure educação e ensino de qualidade para todos,
Libâneo, Oliveira e Toschi explicitam ser

a) suficiente que aqueles professores conheçam os au-


tores da área didático-pedagógica e as teorias que
tratam dos métodos e técnicas relativos ao ensino e à
aprendizagem, desenvolvendo competências e habi-
lidades que lhes permitam obter o sucesso proposto.

182
de nacional, de etnia e de raça. Metáforas como hibridi-
MACHADO, ROSÂNGELA. EDUCAÇÃO zação, miscigenação, sincretismo aludem à questão do
ESPECIAL NA ESCOLA INCLUSIVA: movimento. São metáforas que se contrapõem ao pro-
POLÍTICAS, PARADIGMAS E PRÁTICAS. 1 cesso que fixa as identidades e as essencializa.
ED. SÃO PAULO: CORTEZ, 2009. O hibridismo, segundo o mesmo autor,
Tem sido analisado, sobretudo, em relação com o
processo de produção das identidades nacionais, raciais
e étnicas. Hibridismo significa mistura, conjunção, in-
FIQUE ATENTO! tercurso entre as diferentes nacionalidades e diferentes
etnias e raças. A identidade que se forma por meio do
O livro narra a desconstrução/reconstrução hibridismo não é mais integralmente nenhuma das iden-
dos serviços de educação especial da Rede tidades originais, embora guarde o traço delas. (Ibid., p.
Municipal de Ensino de Florianópolis, tendo 86-87)
por base os fundamentos e princípios da in- Tendo a multiplicidade como própria de sua natureza,
clusão escolar. É uma prova de que é possível a diferença se distancia da identidade, da representação
inovar as práticas de educação especial e dar e da bipolarização, da fixação da diferença universal e
novos rumos para a inclusão de alunos com visível dada aos grupos ou às pessoas. A diferença é con-
deficiência no ensino regular. Apresenta o de- siderada a partir dela mesma, do seu próprio movimen-
safio, a necessidade de se abrir a novas ideias, to, do seu próprio devir. Ela é imprevisível e vai criando
à reorganização dos serviços de educação es- conexões em seu constante movimento de diferir, pró-
pecial de forma que seja complementar ao en- prio de cada ser humano. As diferenças não podem ser
sino regular e não um substitutivo. descritas, são indeterminadas, instáveis e inesgotáveis. O
múltiplo não reduz a diferença ao idêntico, ao uno e às
O SENTIDO DA DIFERENÇA QUE FUNDAMENTA categorias.
Em sua gramática da diferença, Burbules explicita a
A INCLUSÃO ESCOLAR diferença além, a diferença no interior e a diferença con-
tra, que se contrapõem à diferença entre como forma de
Se de um lado existe a possibilidade de fixação da categorizar indivíduos e grupos.
identidade e da diferença, dadas pelos essencialismos A diferença além faz um questionamento ao quadro
biológico e cultural, pelas relações de poder que a de- de categorias, por ir além de uma determinada maneira
terminam e pela invenção de categorias, por outro, há de pensar ou de falar sobre o “outro”. O aluno com defi-
um sentido não essencialista e não conservador, em que ciência é um exemplo para se entender a diferença além.
a identidade e a diferença são desestabilizadas e subver- Ela questiona o próprio conceito de deficiência, que vai
tidas, híbridas, móveis e se contrapõem ao processo que além da deficiência. Cada aluno com deficiência sempre
tenta fixá-las. Não há norma a ser seguida. A diferença contém algo além de nossa compreensão, por isso, é im-
vem em primeiro lugar como condição de ser um devir. possível de ser colocado em frases, em definições, em
Logo, “as identidades flutuam no ar, algumas de nossa categorias.
própria escolha, mas outras infladas e lançadas pelas Muitos gestores e professores apresentam insegu-
pessoas em nossa volta, e é preciso estar em alerta cons- rança para se relacionarem com os alunos com deficiên-
tante para defender as primeiras em relação às últimas” cia, dado ao fato de pensarem que necessitam de um
(BAUMAN, 2005, p. 19). estudo sobre a categoria deficiência para conhecerem
Ao assumir o sentido da diferença como um devir, o aluno. A dificuldade de relação concreta com o alu-
há que se abandonar o que é chamado de diversidade no com deficiência se intensifica, porque não encontram
para defini-la. Ao se questionar a diferença como estável, uma similaridade entre esse aluno e o modelo de aluno
fixa e definida pelas relações de poder, assume-se a sua ideal, presente no imaginário desses profissionais.
multiplicidade. A diferença no interior também deflagra a instabili-
Quando o sentido da diferença vem da multiplicida- dade das categorias, contrapondo-se à identidade fi-
de, da ideia de múltiplo, ela não é marcada por um único xada de um grupo e à singularidade de cada indivíduo
atributo de um grupo ou de uma pessoa, mas uma opo- dentro de seus grupos. Tal diferença cria “espaço para
sição aos valores e discursos dominantes e resiste à visão compreender as formas pelas quais a diferença é vivida;
que divide o mundo em categorias isoladas. Ela muda como as pessoas expressam as diferenças, brincam com
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

com o tempo, sendo impossível classificá-la. A diferença elas, transgridem-nas, cruzam as fronteiras entre elas”
é de todos, tudo é diferença [...] “e não há, deste modo, Há, no movimento de certos grupos e minorias excluí-
alguma coisa que não seja diferença, alguma coisa que das, a ideia de que aqueles que os compõem vivem a sua
possa deixar de ser diferença, alguma coisa que possa diferença da mesma forma; defendem, assim, uma identi-
ser o contrário, o oposto das diferenças” (SKLIAR, 2006, dade e uma cultura que lhes são próprias. Na visão da dife-
p. 31). rença no interior, uma pessoa nunca é idêntica à outra, cada
Para além de uma simples divisão e classificação de sujeito é único, rompendo com os limites circunscritos em
raça, etnia ou nacionalidade, Silva (2000) discute os mo- um grupo que se define por um único atributo qualquer.
vimentos que conspiram para subverter e complicar as A diferença contra refere-se aos grupos que buscam
identidades fixadas. Ele utiliza a ideia de movimento, de se diferenciar ou questionar as normas e crenças domi-
viagem, de deslocamentos e traz o exemplo da identida- nantes. A inclusão escolar de crianças com deficiência é

183
um exemplo de diferença contra, no sentido de enfrentar Defendem formas híbridas e plurais das relações huma-
os discursos dominantes sobre quem deve estar na es- nas nas escolas e na sociedade e não vivem o autoritaris-
cola regular e de reafirmar o direito à educação de to- mo do padrão e da norma.
dos. As crianças com deficiência têm uma diferença que
se distingue das normas e das crenças dominantes. Com O movimento de educação inclusiva: questões so-
a inclusão escolar e o reconhecimento da singularidade bre a educação escolar e a diferença
de cada criança, a sua diferença é recriada e ampliada nos
espaços escolares. Portanto, o objetivo da inclusão escolar A educação inclusiva é um campo e um movimento
de crianças com deficiência é suscitar o questionamento que discute como a diferença é tratada e compreendida
da deficiência, tida como atributo próprio de crianças, jo- pela escola. O direito de todos à educação e o direito à
vens, pessoas que pertencem a grupos isolados para es- diferença são pontos de partida e [...] “a diferença come-
tudarem, viverem. O objetivo do questionamento da de- ça a ser vista como uma característica profunda da vida
ficiência reside em processos e sistemas de significação interior e não apenas uma questão de embates entre di-
mais amplos, que não requerem um discurso harmonioso, versos grupos” (BURBULES, 2006, p. 160).
inócuo e de aceitação da deficiência como uma atitude O direito à diferença não pode ser entendido como
de seres tolerantes que “compreendem que crianças com o reconhecimento de algumas diferenças ou aquele que
deficiência não têm condições para aprender”. aponta para alguns alunos como sendo os diferentes por
Esses três discursos sobre a diferença propõem um não corresponderem à identidade dominante e conven-
questionamento sobre a diversidade e seu sistema de cional de aluno ideal. O direito à diferença vai além de
significação. Em todos eles, se reconhece que a diferença abrir as portas das escolas, vai além do acesso ao seu
muda o tempo todo em cada indivíduo, em cada grupo. ambiente educacional. Esse direito requer o questiona-
As diferenças coletivas ou individuais múltiplas e mutá- mento de práticas que responsabilizam os alunos pelo
veis vão tomando o espaço das diferenças coletivas e indivi- déficit e pelas dificuldades de aprendizagem, justificando
duais universais e homogeneizadas, formando o que Bhabba a origem do fracasso escolar como sendo do aluno.
(2005) chama de [...] “o ‘terceiro espaço’ que resulta da hi- Por essa razão, a educação inclusiva não é um pro-
bridização que não é determinado, nunca, unilateralmente,
pósito único da Educação Especial, tampouco da defi-
pela identidade hegemônica: ele introduz uma diferença que
ciência em si ou dos grupos considerados minoritários. É
constitui a possibilidade de seu questionamento” (p. 70).
um campo que visa debater e ampliar a compreensão da
É nesses sentidos de diferença além, de diferença no
interior e de diferença contra que a educação inclusiva se comunidade escolar sobre a complexidade da diferença
apoia para se impor como inovação educacional. A inclu- humana para, então, provocar outros modos de pensar e
são é concebida com base na diferença, em seu sentido de fazer a escola.
multiplicativo que desestabiliza as identidades e conhe- Mantoan (2006) expõe que a exclusão do aluno se
cimentos hegemônicos, questionando concepções con- dá em função dos padrões escolares conservadores e da
servadoras de ensino e de aprendizagem e as oposições dificuldade de se abrir a novos conhecimentos:
binárias que colocam aluno com deficiência de um lado e A exclusão escolar manifesta-se das mais diversas e
aluno ideal de outro. perversas maneiras, e quase sempre o que está em jogo
A escola que busca resultados homogêneos, que ins- é a ignorância do aluno, diante dos padrões de cientifi-
titui a média escolar, as avaliações classificatórias fazem cidade do saber escolar. Ocorre que a escola se demo-
com que todos os alunos se igualem. As diferenças de in- cratizou abrindo-se a novos grupos sociais, mas não aos
teresses, de desejos, de capacidades, de potencialidades novos conhecimentos. Exclui, assim, os que ignoram o
e tantas outras manifestações só são possíveis de ser ma- conhecimento que ela valoriza e, assim, entende que a
nifestadas quando o espaço escolar se abre para as múl- democratização é a massificação de ensino e não cria a
tiplas dimensões humanas que nele habitam. Os alunos e possibilidade de diálogo entre diferentes lugares episte-
os professores não são os mesmos, as aprendizagens não mológicos, não se abre a novos conhecimentos que não
são uniformes, a escola é o espaço da diferença. couberam, até, então, dentro dela. (p. 190)
Silva (2000) faz uma síntese do que é o múltiplo e do De fato, na educação escolar atual, prevalece, ainda, o
que é o diverso: paradigma da Modernidade, o que ocasiona uma tensão
A diferença vem do múltiplo e não do diverso. Tal como entre a diferença, o diferente e a homogeneidade. A es-
ocorre com a aritmética, o múltiplo é sempre um proces- cola tem por finalidade tornar os alunos os “mesmos” por
so, uma operação, uma ação. A diversidade é estática, é meio de objetivos, atividades e avaliações educacionais
um estado, é estéril. A multiplicidade é ativa, é um fluxo,
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

padronizados que buscam uma identidade representada


é produtiva. A multiplicidade é uma máquina de produzir pelo conceito de aluno ideal, abstraída de um padrão ho-
diferenças – diferenças que são irredutíveis à identidade. A
mogêneo e universal e por um currículo.
diversidade limita-se ao existente. A multiplicidade esten-
A adoção de um conceito e de uma perspectiva de
de e multiplica, prolifera, dissemina. A diversidade é um
aluno ideal e de um currículo como prática hegemônica
dado – da natureza ou da cultura. A multiplicidade é um
movimento. A diversidade reafirma o idêntico. A multipli- estabelece uma cultura escolar que transforma em “di-
cidade estimula a diferença que se recusa a se confundir ferentes” os alunos que não se adaptam a esse conceito
com o idêntico. (p. 100-101) e a essa prática. Os “diferentes” passam a ser os alunos
A educação inclusiva e o AEE contestam as identida- que não se encaixam em uma identidade hegemônica.
des essencializadas, indo de encontro à política do “mes- São aqueles que não estão de acordo com os ideais da
mo”, do idêntico, dos processos categoriais e do diverso. escola. São os alunos com deficiência, os que não apren-

184
dem matemática, os que não se alfabetizam; são os ca- O desejo de atender à diferença deve estar atrelado a
tegorizados, classificados e inferiorizados em relação ao todos os alunos. A diferença na escola ainda convive, para-
conjunto de diferença humana. doxalmente, com práticas escolares homogeneizadoras; as
A partir dessa compreensão, o que precisa ser muda- práticas de diferenciação em que os alunos são identifica-
do é a cultura escolar que faz do “outro” alguém diferen- dos por meio de verdades biológicas expressas em laudos,
te, como argumenta Moreira (2002): pareceres e diagnósticos.
Em termos espaciais, o currículo funcionou – e certa- Um exemplo de atividade curricular centrada no alu-
mente ainda funciona – como o grande dispositivo peda- no tido como diferente são as festividades comemorativas,
gógico que recolocou, em termos modernos, a invenção que assumem um viés folclórico de cultura fixada, natu-
grega da fronteira como o limite a partir do qual come- ralizada, presa a um passado histórico. O Dia do Índio, no
çam os outros; não propriamente o limite a partir do qual geral, é comemorado de maneira descontextualizada. As
nos perdemos, mas o limite a partir do qual os outros diferenças culturais são tratadas pelo estudo de textos que
passam a existir para nós, o limite a partir do qual a di- informam como é a cultura indígena. Não há questiona-
ferença começa a se fazer problema para nós. Em suma, mento, estabelecimento de interações, mudança, cons-
o currículo contribuiu – e ainda contribui – para fazer do ciência das relações de poder, contidas nesses textos.
outro um diferente e, por isso, um problema ou um peri- Bhabha (2005) denuncia o problema da representação
go para nós. (p. 165) cultural presa a um passado considerado verdadeiro e de-
O currículo formal é composto dos conteúdos pro- finidor de identidade:
A enunciação da diferença cultural problematiza a divi-
gramáticos que são selecionados, organizados e norma-
são binária de passado e presente, tradição e modernida-
tizados dentro de uma hierarquia de superioridade de
de, no nível da representação cultural e de sua interpreta-
conhecimentos. O ensino é organizado em uma perspec-
ção legítima. Trata-se do problema de como, ao significar o
tiva científica e metodológica que tem como função a
presente, algo vem a ser repetido, relocalizado e traduzido
reprodução do conteúdo por uma população de alunos
em nome da tradição, sob a aparência de um passado que
concebida como sendo a que é constituída pelos alunos
não é necessariamente um signo fiel da memória histórica,
“normais”. Estes, como é óbvio, são os alunos que se
mas uma estratégia de representação de autoridade em
aproximam da “normalidade”, “estabelecida pelo grupo termos do artifício do arcaico. (p. 64-65) Culturas sendo
socialmente dominante para o grupo etário que também entendidas como comunidades homogêneas de valores e
‘normalmente’ se encontrará no ano para o qual o currí- de estilos de vida incentivam movimentos separatistas que
culo foi concebido” (CORTESÃO e STOER, 2006, p. 200). defendem, por exemplo, uma escola só de surdos. Grupos
A aprendizagem está atrelada à concepção de currí- de pessoas surdas acreditam em uma cultura surda, que
culo que determina que o aluno que aprende é aquele supõe que todos os surdos vivem sua surdez do mesmo
que assimila o conteúdo transmitido em uma determi- modo. A diferença que vem do múltiplo não é marcada por
nada série. O tempo de aprender está estruturado de um único atributo ou especificidade de um grupo.
acordo com as convenções da escola e não com o tem- Skliar (2006) alerta para o processo de diferenciação e o
po dos alunos. Sob essa lógica, o aluno ideal é aquele que isso acarreta em termos de exclusão:
que responde bem às expectativas de aprendizagem dos Estabelece-se assim um processo de “diferencialismo”
conteúdos ensinados, e o aluno que não responde bem é que consiste em separar, em distinguir da diferença algu-
tido como o “diferente” e encaminhado a serviços que vi- mas marcas “diferentes” e em fazê-lo sempre a partir de
sam apoiar, acelerar, recuperar esse aluno que precisa se uma conotação pejorativa. E é esse diferencialismo o que
adequar ao perfil do aluno ideal. Quanto mais a escola ou faz, por exemplo, que a mulher seja considerada o proble-
reformas educacionais insistem em implementar ações ma na diferença de gênero, que o negro seja considerado
paliativas como o reforço de aprendizagem, em que se o problema na diferença racial, que a criança ou o velho
separam os alunos “diferentes” para esse fim, menos ela sejam considerados o problema da diferença etária, que
compreendeu a questão da diferença dos seres humanos o jovem seja o problema na diferença de geração, que os
e, em consequência, a inclusão. surdos sejam o problema na diferença de língua etc. (p. 23)
O diferente é aquele aluno específico, que tem uma de-
Burbules (2006) expõe sobre os dois lados da edu- ficiência; aluno negro; o aluno com distúrbio de comporta-
cação: mento, o que tem dificuldade de aprendizagem. “Caberia
[...] por um lado, o desejo de usar a educação para a pergunta, então, se a escola tem tentado discutir sobre
tornar as pessoas mais parecidas (quer seja: no sentido a questão do outro, ou bem o que lhe preocupa é a sua
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

de uma mistura de crenças e valores em relação à cida- obsessão pelo outro” (Skliar, 2006, p. 22). O “outro”, que a
dania; no sentido de textos essenciais da “alfabetização escola busca, obcecadamente, tornar o “mesmo”.
cultural”; no sentido de conhecimentos factuais e habili- Na perspectiva da identificação do aluno diferente,
dades que podem ser medidas por testes padronizados; busca-se conhecer o seu diagnóstico clínico, o que um es-
pecialista tem a dizer sobre ele. A diferença é considerada
pelo estabelecimento de critérios nacionais uniformes ao
entidade já constituída e, assim sendo, só nos resta estu-
longo do currículo) – e, por outro, o desejo de atender às
dá-la. Por que essa necessidade de identificação? Porque a
diferentes necessidades e formas de aprender, às dife-
escola vive a cultura do uno, do mesmo, da busca pelo alu-
rentes orientações culturais e às diferentes aspirações a
no com a identidade definida por padrões hegemônicos.
respeito de trabalho e modo de vida, representadas pela
É preciso estabelecer questionamentos sobre os alu-
diversificada população de alunos das escolas públicas. nos, compreendendo-os como seres humanos e não
(p. 160) como um tema a ser estudado ou alguém diferente, exó-

185
tico. A escola é o espaço de acolhimento da diferença e continuarão a reproduzir uma visão técnica e reducionista
se constitui em um contexto relacional que permite que da diferença e continuarão a exigir formação, preparação
os alunos interajam, se conheçam e se sintam acolhidos para atuarem com os alunos definidos como diferentes.
em sua diferença. Outra questão que revela o caráter mo- Por isso, é tão reivindicada a formação continuada dedi-
nocultural e hegemônico da escola tem a ver com o fato cada exclusivamente a práticas para ensinar os conteúdos
corrente de se atribuir à escola a função de oportunizar curriculares a alunos com deficiências, dificuldades de
aos alunos, principalmente os alunos com deficiência e os aprendizagem, distúrbios de comportamento, disléxicos,
de classes populares, o acesso e a apropriação do conhe- entre tantas outras diferenças, que tornam o aluno um
cimento da cultura dominante. Segundo Azibeiro (2003, p. objeto a ser conhecido, listado e fechado em um concei-
85), [...] “isso termina por negar a diferença, já que a escola, to. Skliar (2006) defende uma formação que vai além de
tendo como referência um padrão cultural único, universal, conhecer textualmente, teoricamente, o outro:
deveria restituir a igualdade negada pela origem – de etnia, É por isso que entendo que haveria algumas dimen-
de classe, de gênero...”. sões inéditas no processo de formação, para além de
Gallo e Souza (2002) dizem que: conhecer “textualmente” o outro, independentemente
Um outro elemento importante para o racismo é que do saber “científico” acerca do outro, dos outros, com a
o impuro, aquele que deve morrer, não se encontra ne- vibração em relação ao outro, com a ética prévia a todo
cessariamente “fora” do conjunto, fora do Estado, isto é, o outro específico, com a responsabilidade para com outro,
impuro não é o estrangeiro por excelência, mas pode estar com a ideia de que toda a relação é, como dizia Levinas
aqui mesmo, entre nós. A guerra de extermínio dos nazis- (2000), uma relação com o mistério. Se continuarmos a
tas contra os judeus – provavelmente o melhor exemplo formar professores que possuam somente um discurso ra-
deste racismo de Estado – não era uma guerra contra os cional acerca do outro, mas sem a experiência que é do/s
que se encontravam fora, mas contra os judeus alemães, outro/s, o panorama continuará obscuro e esses outros
depois contra os judeus de todos os territórios domina- seguirão sendo pensados como “anormais”, que devem
dos pela Alemanha. Exterminar os judeus – que podiam ser controlados por aquilo que “parecem ser” e, assim,
ser os vizinhos do lado – significava não apenas eliminar a corrigidos eternamente. (p. 32)
impureza racial, mas, mais do que isso, implicava também A formação de professores e gestores precisa ser um
purificar a raça ariana. (p. 48) trabalho com foco na diferença, como princípio funda-
Se a escola não questiona e não desconstrói seu mode- mental para a educação escolar. Um trabalho de formação
lo unívoco de ensino e de aprendizagem com base em uma em que se crie um espaço para que os professores se de-
prática homogeneizante e binária de se relacionar com os senvolvam intelectualmente e que os despertem para uma
seus alunos, seu espaço torna-se racista, excludente. consciência de que a diferença está em tudo e em todos.
A educação inclusiva promove o encontro com as múl- Uma formação voltada para a superação de mecanismos
tiplas manifestações dos alunos e dos significados que eles de exclusão, da perspectiva essencialista e da cultura es-
tecem. A escola inclusiva é espaço de formação humana e colar excludente. “Isso implica a necessidade de desenvol-
não pode continuar sendo um local de dominação. ver instrumentos de formação de educadores(as), teóricos
Repensar a diferença é crucial para que a escola tenha a e práticos, que abordem outras modalidades de pensar,
possibilidade de ser um espaço de mudança, de criação de propor, produzir e dialogar com o processo de aprendi-
novos conceitos, valores, modos de perceber a realidade. zagem”.
O reconhecimento e a valorização da diferença fazem com Professores e gestores capazes de se envolverem em
que se inicie um processo de desconstrução de modelos uma visão crítica do mundo e das pessoas que nele vi-
educacionais que caminham na direção de orientações vem, rompendo com visões presas à deficiência, ao aluno
educacionais inclusivas, em que o desconhecido vai sendo normal ou com dificuldades de aprendizagem, todas elas
conhecido na sua especificidade diferenciadora. Para Sou- abstraídas de padrões universalizantes, que retiram dos
za e Fleuri (2003), “não se trata de reduzir o outro ao que alunos suas particularidades.
pensamos ou queremos dele. Não se trata de assimilá-lo a
É urgente que se reconheça a diferença de todos os
nós mesmos, excluindo sua diferença” (p. 68-69).
alunos e que os professores e gestores vivenciem uma es-
Por tudo isso, a diferença deveria ser um tema central
cola marcada pelo hibridismo. É premente que a entrada
na formação de professores e gestores – contexto da in-
de alunos com deficiência à escola comum seja um movi-
fluência, nas políticas educacionais e leis – contexto da pro-
mento que desestabilize o pensamento e as práticas esco-
dução de texto, e nos projetos político-pedagógicos das
lares conservadoras.
escolas – contexto da prática. A questão é saber se, quando
se fala em diferença na escola, nos documentos políticos
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

e nos dispositivos legais, está se percebendo a possibili- A educação escolar, ao longo dos tempos, tem sido
dade de encontros com multiplicidades e subjetividades, envolvida em um constante processo de mudanças nas
ou se está reforçando a ideia do “mesmo”, do padrão e da leis, nas políticas educacionais nacionais e locais e nas
adaptação dos alunos tidos como diferentes a uma norma concepções. Resta saber se essas mudanças estão alinha-
identificadora do aluno normal, exemplar, padrão, pensan- das à compreensão da diferença, em sua natureza multi-
do nas soluções para adaptar os diferentes à norma escolar plicativa, e se os agentes de mudança estão conscientes
do mesmo, sem qualquer possibilidade de encontro com dessa natureza da diferença.
a diferença. A educação inclusiva ultrapassa a ideia de inclusão
Se o que está em jogo na formação de professores e como sinônimo de respeito, tolerância e aceitação do
nas propostas educacionais do poder central é a diferen- outro, do outro que não é o “mesmo”. É um movimen-
ça, no sentido de diversidade, os professores e gestores to que possibilita ao aluno perceber-se como pessoa que

186
tem potencial para aprender, para participar do meio em
que vive, de acordo com suas capacidades. Essa percep- MANTOAN, MARIA TERESA EGLÉR.
ção tem efeito positivo na aprendizagem escolar e em sua ABRINDO AS ESCOLAS ÀS DIFERENÇAS,
vida pessoal e social. CAPÍTULO 5, IN: MANTOAN, MARIA
TERESA EGLÉR (ORG.) PENSANDO E
Fonte FAZENDO EDUCAÇÃO DE QUALIDADE.
MACHADO, Rosangela. Educação especial na escola SÃO PAULO: MODERNA, 2001.
inclusiva: políticas, paradigmas e práticas. São Paulo: Cor-
tez, 2009.
MACHADO, Rosangela. O atendimento educacional
Este livro focaliza concepções, ideias e práticas edu-
especializado (AEE) e sua repercussão na mudança das
cativas para analisar o que existe hoje, apontando as
práticas pedagógicas, na perspectiva da educação inclu-
questões a serem tratadas com urgência nas escolas, e
siva. Campinas 2013
mostrar possibilidades de mudança, adequando-as aos
seus novos donos - os alunos de nosso tempo. O que se
almeja é reformar a escola, ou seja, refazer o seu design,
EXERCÍCIO COMENTADO através da participação dos educadores.

1. (UNIFESP - Técnico em Assuntos Educacionais - Su- ESCOLAS ABERTAS À DIVERSIDADE


perior - VUNESP/2016)
Na perspectiva da educação inclusiva, a educação especial Pensando e fazendo educação de qualidade
considera que as pessoas se modificam continuamente, Maria Teresa Eglér Mantoan
transformando o contexto no qual se inserem. Esse dina-
mismo exige uma atuação pedagógica voltada para alte- Universidade Estadual de Campinas- Faculdade de
rar a situação de exclusão, reforçando a importância dos Educação
ambientes heterogêneos para a promoção da aprendiza-
gem de todos os alunos. Acerca da educação especial, é As diferenças de classe social, idade, gênero, capaci-
correto afirmar que esta: dade intelectual, raça, interesses entre os alunos como
chave do aprimoramento do ensino e do sucesso na
a) é uma modalidade de ensino que perpassa todos os aprendizagem acadêmica são ainda parcialmente aceitas
níveis, etapas e modalidades do sistema educacional. e constituem um forte impacto no conservadorismo dos
b) está restrita à educação básica, na qual os alunos são sistemas educacionais, que insistem na eliminação des-
mantidos em salas especiais, de acordo com suas de- sas diferenças como meio para melhorar a qualidade do
ficiências. ensino em suas escolas. Questionam-se os limites da di-
c) deve ser ministrada apenas em escolas especiais dota- versidade, além dos quais os alunos são inelegíveis para
das de estrutura física e equipamentos adequados às os programas escolares. A tendência é de se encorajar os
pessoas com deficiência. alunos a ignorar suas próprias diferenças e as dos outros.
d) considera os alunos com deficiência iguais aos demais Não lidar com as diferenças é não perceber a diversi-
da classe, e, assim, devem-se utilizar, com eles, os mes- dade que nos cerca, os muitos aspectos em que somos
mos instrumentos de avaliação. diferentes uns dos outros e transmitir, implícita ou expli-
e) estabelece que o aluno deve se adaptar à escola, e não citamente, que as diferenças devem ser ocultadas, tra-
há, necessariamente, uma perspectiva de que a escola tadas à parte. Essa maneira de agir remete, entre outras
precise mudar. formas de discriminação, à necessidade de se separar
alunos com dificuldades em escolas e classes especiais,
Resposta: Letra A. à busca da “pseudo” homogeneidade nas salas de aula,
Em “a”: Certo- A Educação Especial é uma modalidade para o ensino ser bem-sucedido, enfim, à dificuldade
de ensino que perpassa todos os níveis, etapas e mo- que temos de conviver com pessoas que se desviam um
dalidades, realiza o atendimento educacional especiali- pouco mais da média das diferenças, conduzindo-as ao
zado, disponibiliza os serviços e recursos próprios des- isolamento, à exclusão, dentro e fora das escolas.
se atendimento e orienta os alunos e seus professores As escolas abertas à diversidade são aquelas em que
quanto a sua utilização nas turmas comuns do ensino
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

todos os alunos se sentem respeitados e reconhecidos


regular (BRASIL, 2008, p.16). nas suas diferenças, ou melhor, são escolas que não são
Em “b”: Errado – Os alunos são mantidos nas turmas indiferentes às diferenças. Ao nos referirmos a essas es-
comuns do ensino regular. colas, estamos tratando de ambientes educacionais que
Em “c”: Errado – deverá haver a oferta de serviços de se caracterizam por um ensino de qualidade, que não ex-
apoio complementar e suplementar especializados, nas clui, não categoriza os alunos em grupos arbitrariamen-
escolas da rede pública de ensino. te definidos por perfis de aproveitamento escolar e por
Em “d”: Errado – A avaliação é diferenciada para os alu- avaliações padronizadas e que não admitem a dicotomia
nos da educação especial. entre educação regular e especial. As escolas para todos
Em “e” : Errado – A escola deve assegurar atendimento são escolas inclusivas, em que todos os alunos estudam
educacional especializado. juntos, em salas de aulas do ensino regular. Esses am-
bientes educativos desafiam as possibilidades de apren-

187
dizagem de todos os alunos e as estratégias de trabalho e ao sujeito que aprende. Trata-se de mais um desafio
pedagógico são adequadas às habilidades e necessida- que implica na consideração da especificidade dos con-
des de todos. teúdos acadêmicos e da subjetividade do aprendiz, ou
Todos os alunos experimentam em momentos de sua seja, em um sistema duplo de interpretação do ato de
trajetória escolar um ou outro problema, obstáculo, difi- educar, referendado por pressupostos de natureza epis-
culdade nas aprendizagens acadêmicas. As razões pelas temológica e psicológica e na concretização de propos-
quais os alunos fracassam em algumas situações esco- tas inovadoras, que revertem o que tradicionalmente se
lares são complexas e não devem recair única e inteira- pratica nas salas de aula.
mente no que é inerente ao aprendiz. Grande parte des- Há ainda a considerar que o ato de educar supõe in-
sas dificuldades e incapacidades são devidas à própria tenções, representações que temos do papel da escola,
escola. Nesse sentido, podemos afirmar que o número do professor, das noções , do modo de aprender, do alu-
de pessoas com problemas de aprendizagem em uma no e de sua aprendizagem e essas concepções variam,
escola está relacionado com a qualidade da educação conforme os paradigmas, as ideologias, os fundamen-
nela oferecida. tos científicos que as sustentam Toda ação pedagógica
Da mesma forma, todos os alunos devem se bene- ocorre em uma época, em um dado ambiente e estes
ficiar do apoio escolar e de suportes individualizados, influem sobre o que fazemos e compreendemos, definin-
quando estão passando por situações que os impedem do os contornos de nossos atos pedagógicos, dos mais
de conseguir sucesso nas atividades escolares. elementares, aos mais expressivos e complexos. Nem
Nas escolas inclusivas todos se apoiam mutuamen- sempre os fins gerais da educação e os fins que cada
te e são atendidos em suas necessidades específicas educando estabelece para a sua educação se integram,
por seus pares, sejam colegas de classe, escola ou pro- provocando quebras no movimento das ações educati-
fissionais de áreas afins. A pretensão dessas escolas é a vas e na condução que os fins exercem sobre os meios
superação de todos os obstáculos que as impedem de pelos quais o ensino se efetiva.
avançar no sentido de garantir um ensino de qualidade, A mediação do professor é outro ponto básico, que
preocupado em desenvolver os talentos, as tendências enfeixa os tópicos que ora destacamos neste preâmbulo
naturais, as habilidades de cada aluno para esta ou aque- de discussões. Sabemos que reduzido às suas próprias
la especialidade. Em cada turma os talentos se misturam descobertas, ou seja, à mercê de seus recursos indivi-
às histórias de vida dos alunos, às suas experiências indi- duais, o aluno avança pouco, evolui lentamente e não
viduais e coletivas. Nesse ambiente é que os conteúdos consegue atualizar e explorar todas as suas possibilida-
acadêmicos ganham nuances de entendimento, versões, des cognoscitivas.
confrontos necessários à elaboração interdisciplinar das Só combateremos a exclusão escolar, na medida em
ideias, à compreensão do mundo. A intenção é de fazer que as escolas se tornarem aptas para incluir, incondi-
com que os alunos percebam a importância de somar es- cionalmente, todos os seus alunos, em um único sistema
ses talentos e reconheçam a complementaridade de suas de ensino.
habilidades e vivências, para explorar temas de estudo, Muitos sistemas têm se tornado inclusivos, por bus-
para compreender melhor as noções acadêmicas. carem o aprimoramento constante da formação de seus
Temos de recusar e de acusar todos os desvios dos professores e o sucesso na aprendizagem de seus alu-
propósitos da educação para todos de seus verdadeiros nos. Essa busca exige esforços contínuos, como veremos
fins. A retórica dos discursos públicos é envolvente e en- adiante. A luta pela inclusão de todos os alunos nas sa-
ganosa e esconde interesses que não são os das práticas las de aulas regulares está disseminada nos países, nas
inclusivas nas escolas. Aumentar o número de matrículas redes de ensino público, nas escolas particulares. Nossa
das crianças com deficiência no ensino regular não signi- experiência se circunscreve em sistemas municipais de
fica caminhar em direção da inclusão e muito menos de ensino e é o trabalho em suas escolas, com seus alunos,
uma escola de qualidade para todos. O mesmo se pode pais e professores que iremos mesclar com as considera-
dizer da diminuição dos percentuais de reprovação e dos ções que faremos, no desenrolar deste texto.
casos que milagrosamente se “reabilitam” nas classes de
aceleração e em programas de reforço da aprendizagem Valores, princípios e atitudes
tão comuns nas nossas escolas.
Os obstáculos ao acesso de todos a uma educação A identificação de escolas que caminham no sentido
de qualidade variam de uma escola para outra, conforme de eliminar os obstáculos ao acesso de todos à educa-
o tipo e grau das deficiências escolares; os projetos de ção é possível e observável, desde que não se busque
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

remoção dessas barreiras são sempre pontuais e locali- em suas características um modelo pré-definido e fecha-
zados. do que possa ser adotado universalmente.
As propostas de ensino de qualidade para todos os Existem, contudo, tendências e princípios básicos
alunos precisam ser explicitadas a partir de um verdadei- dessas escolas que estão na base de todos os processos
ro repasse de conceitos e de posicionamentos teóricos pelos quais elas caminham para alcançar seus objetivos.
e práticos que fundamentam o ensino tradicionalmente Podemos identificar entre esses princípios e tendên-
ministrado nas escolas. cias aspectos que dizem respeito à organização escolar,
Reconstruir os fundamentos e a estrutura organiza- aos programas de ensino, processos de ensino e apren-
cional das escolas, na direção de uma educação de quali- dizagem, serviços de suporte, formação inicial e conti-
dade para todos, remete, igualmente, a questões especí- nuada de professores, mudança de atitudes, valores, de-
ficas, relacionadas ao conhecimento do objeto ensinado senvolvimento de comunidade.

188
Uma característica marcante dessas escolas é o es- segregacionista de nossas escolas, influenciando todos os
forço que despendem no sentido de mudar atitudes procedimentos e o discurso de seus membros, chegando
com relação às diferenças entre os alunos. Essas atitudes mesmo a atingir os alunos e seus pais. Em uma palavra,
se circunscrevem ao âmbito escolar e fora dele, esten- a igualdade entre as pessoas é um valor esquecido nos
dendo-se às famílias e à comunidade. padrões e concepções da escola tradicional.
Os obstáculos a serem vencidos nesse sentido são de Muitos diretores escolares, professores e pais ainda
natureza subjetiva e, ao nosso ver, os mais fortes, pois relutam em aceitar que o perfil dos alunos mudou, que
dizem respeito a questões que estão arraigadas à nos- as crianças e jovens de hoje não são mais os mesmos que
sa formação e experiências pessoais em uma sociedade tinham acesso às escolas anteriormente, reclamando da
que não está habituada a reconhecer e a valorizar as di- origem social destes e alegando a influência da origem
ferenças. no sucesso e no fracasso escolar. O preconceito é cons-
A igualdade entre as pessoas é o valor fundamental, tatado, quando se trata de alunos que têm dificuldades
quando tratamos de escolas para todos. Podemos en- para aprender por serem ou por estarem deficientes, do
cará-lo de vários ângulos, mas em todos eles o sentido ponto de vista intelectual, social, afetivo, emocional, físico,
da igualdade não se esgota no indivíduo, expandindo as cultural e outros. Existe também quando se trata de alu-
considerações para aspectos de natureza política, social, nos de raça negra, de famílias de religiões populares, os
econômica, chamados “crentes”, de filhos de famílias desestruturadas,
A igualdade não se contradiz com o respeito às di- de mães solteiras e pais omissos, drogados, marginais.
ferenças entre as pessoas, mas as reforça, na medida em Nossa experiência em escolas particulares demons-
que esse valor se desdobra em três princípios particu- trou que é difícil trabalhar com as atitudes de professo-
lares. Esses autores referem-se inicialmente ao respeito res, pais, coordenadores, diretores e/ou proprietários e
pelas pessoas, no sentido de que “cada ser humano tem até mesmo com alguns alunos para fazê-los perceber o
direito à dignidade, independentemente de suas capaci- quanto ainda estão marcados por ideias e sentimentos
dades ou de suas realizações”...(p.”13). Apontam também que lhes impedem de admitir que um aluno possa ser
o direito à satisfação das necessidades básicas e o prin- diferente daquele que acreditam ser os representativos
cípio da igualdade de oportunidades e estabelecem uma de uma determinada classe social, de um dado grupo de
distinção entre oportunidade igual e justa para todos e pessoas que é bem-dotada social, cultural e intelectual-
oportunidade igual e igualitária para todos. A primeira mente. Os próprios pais de crianças com deficiência são
formulação prescreve que os avanços sociais ...”devem se os primeiros a admitir o preconceito e a discriminação,
basear unicamente no talento do indivíduo: assim, nenhu- pois não matriculam nas mesmas escolas os seus outros
ma pessoa está em desvantagem em razão de seu sexo, filhos! Eles entendem que as escolas que acolhem a to-
de sua raça, de sua religião, de seus antecedentes sociais das as crianças só o fazem porque estão menos com-
ou de toda outra consideração”(p.13). A segunda supõe prometidas com a qualidade do ensino e a aprendiza-
que ...”cada pessoa deve ter uma oportunidade real de gem dos alunos e que os alunos sem deficiência serão
desenvolver suas capacidades específicas de modo satis- prejudicados pela presença de colegas com déficits de
fatório e “uma medida substancial de realização pessoal compreensão e de desempenho, que comprometem a
deve ser disponível para cada indivíduo, independente- expectativa escolar, rebaixando-a para todos.
mente de suas habilidades (idem, p.14). Doré (1996) des- Para inúmeros outros autores que estão envolvidos
taca que este princípio é invocado nos meios escolares, em projetos de inclusão, na concepção de uma educa-
quando a discussão recai sobre a escolha de uma sala de ção de qualidade para todos, (Forest, 1984, 1985, 1987;
aula regular ou especial para responder às necessidades Richler, 1993; Stainback e Stainback,1990; Forest e Pear-
particulares dos alunos. Acrescenta aos princípios citados point, 1992; Kunc, 1992), o desenvolvimento do espírito
a “discriminação positiva”, que garante aos alunos e às comunitário é uma condição para que o valor e os prin-
pessoas em geral os recursos humanos e materiais de que cípios da igualdade se efetivem. De certo que o alto nível
necessitam para o seu desenvolvimento e adaptação so- do espírito de coletividade, cultivado por sociedades di-
cial. No meio escolar este princípio não desaparece com a ferenciadas, é a base do igualitarismo. Pertencer à comu-
inclusão, mas deve estar disponível a todos os alunos que nidade é uma necessidade fundamental de toda pessoa,
estiverem vivendo situações de desvantagem, frente aos e um direito que deve ser garantido a todos.
demais, no desempenho de suas atividades. Nos dois últimos séculos, a educação formal se carac-
Quando se trata de propiciar oportunidades iguais e terizou por ter excluído os alunos com deficiência, mais
justas para todos, temos muito ainda a fazer nas nossas do que por tê-los incluído nas escolas. No começo do
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

escolas, para corresponder ao princípio pelo qual os seres século vinte estendeu-se a educação pública para todas
humanos têm direito à dignidade, sejam quais forem as as crianças e foi nessa mesma época que, em paralelo,
suas capacidades ou realizações. se criaram as estruturas da educação especial. O cresci-
Barreiras atitudinais são predisposições que levam as mento desse sistema segregado de educação refletiu a
pessoas a responderem a situações ou a outras pessoas centralização, as especializações de funções, a hierarquia
de modo desfavorável, tendo em vista um dado valor. administrativa do modelo organizacional das corpora-
No caso da igualdade entre as pessoas, as barreiras se ções industriais. Esse momento influiu no incremento do
materializam na recusa das pessoas em reconhecer e de- ensino especial, como um sistema à parte. Mais e mais
fender esse valor, através de comportamentos, reações, pessoas foram matriculadas nas escolas e classes espe-
emoções e palavras. A existência dessas barreiras com- ciais e “incluídas pela deficiência” (Bunch,1994). A educa-
prova a cultura marcadamente discriminatória, elitista e ção especial, infelizmente, não cumpriu com a promessa

189
que muitos tinham depositado nela. A sociedade jamais vida laboral, dos serviços comunitários. Todos são unâni-
poderia pensar que as classes especiais falhariam em mes em destacar a importância da educação no processo
seus propósitos de superar as classes regulares no aten- global que conduz à participação plena das pessoas com
dimento escolar aos deficientes, a despeito da especiali- deficiência. No Brasil, essas ideias apontaram a partir do
zação dos professores e do número reduzido de alunos documento de Salamanca e desde então muita polêmica
(MacMillan and Hendrick, 1993). e discussão têm sido criadas em torno do assunto, espe-
Em toda parte, a maioria das crianças que entram cialmente entre os dirigentes de instituições para defi-
nessas classes especiais nunca mais as deixam. A porta cientes, pais, profissionais da educação especial e áreas
de saída é bem mais estreita do que a da entrada e for- médica e paramédica está fervilhando e bem pouco as-
ma-se o conhecido “buraco da agulha” dos sistemas de similado pela comunidade escolar e pela sociedade em
ensino especial. geral. O ensino especial lidera a discussão da inclusão
A partir de 1990, o movimento em favor da Educação nas escolas, o que tem contribuído decisivamente para
para Todos, defendido na conferência organizada pelas restringir e esvaziar o seu sentido lato da educação inclu-
Nações Unidas em Jomtien, na Tailândia, começou a ser siva de não excluir ninguém das escolas, não apenas os
discutido e a influir na transformação das escolas e das deficientes e de lutar por aperfeiçoar o sistema educati-
comunidades mais sensíveis a esta inovação. Em 1993 vo, de modo que possa oferecer educação de qualidade
foram adotadas as Normas Uniformes para as Pessoas para todas as crianças, como já nos referimos anterior-
com Incapacidade. Elas foram promulgadas pela As-
mente.
sembleia Geral das Nações Unidas e nos seus princípios
A liderança do ensino especial nessa discussão está,
fundamentais estabelecem que o termo “igualdade de
ao nosso ver, prejudicando significativamente o mo-
oportunidades” alude ao processo mediante o qual os
diversos sistemas da sociedade, o entorno físico, os ser- vimento em favor das escolas abertas à diversidade e
viços, as atividades, a informação e a documentação se- ainda é resistente à inclusão, quando se trata de casos
jam colocadas à disposição de todos, especialmente das mais graves, ou seja, de alunos com maiores prejuízos
pessoas com incapacidades. O mesmo documento espe- sendo atendidos seja nas classes especiais como nas de
cifica que as pessoas com deficiência deveriam receber ensino regular. O esclarecimento público a esse respeito
o apoio necessário nas estruturas comuns de educação, está sendo enviesado por outros interesses, inclusive os
saúde, emprego e serviços. A educação foi considerada de caráter corporativista, envolvendo classes de profis-
uma área crítica e estava vinculada ao princípio de inclu- sionais, que se sentem ameaçados pelas possíveis inter-
são. Aos países caberia o reconhecimento do princípio ferências do movimento no trabalho que estão presente-
de igualdade de oportunidades de educação nos níveis mente desenvolvendo nas suas especialidades. O debate
fundamental, médio e superior para as crianças, jovens e comunitário do tema prima por desviar a atenção dos
adultos com deficiência e deveriam cuidar para que cons- interessados, inclusive a mídia, para questões que não
tituíssem uma parte integrante do sistema de ensino. são centrais ao debate da inclusão escolar - as escolas
Foi a partir do final dos anos 80 que o movimento de qualidade para todos. Em outras palavras, o debate
em favor da inclusão de alunos com deficiência nas sa- se concentra prioritariamente na deficiência nas escolas.,
las de aulas regulares começou a se expandir em todo o quando deveria se centrar na eficiência das escolas, para
mundo. Em 1994 em Salamanca, na Espanha, foi assinada corresponder às necessidades e interesses e peculiarida-
a Declaração que convocou todos os governos a adotar des de todos os seus alunos. São bem poucas as vozes
com urgência, como questão legal ou de política, o prin- que se manifestam, atualmente, no sentido de desviar
cípio da educação inclusiva. No seu item 2, o referido o rumo das discussões e de relacionar o movimento in-
documento da Unesco afirma que “as escolas regulares clusivo com as reformas do ensino regular e com isso a
com orientação inclusiva são o meio mais efetivo para ideia da inclusão escolar vai se deformando e tomando
combater as atitudes discriminatórias, criar comunidades rumos fora de sua rota principal. Sejam quais forem as
abertas, construir uma sociedade integrada e se obter intenções dos representantes da educação especial, na
uma educação para todos”.
área da pesquisa, da administração e operacionalização
Outras manifestações ocorreram a partir da Decla-
de serviços educacionais e terapêuticos neste momento,
ração de Salamanca; em 1995, em Copenhague, no En-
o certo é que a reação dos que estão lutando pela inclu-
contro Mundial sobre o Desenvolvimento Humano, o
compromisso 6 do documento final dessa reunião reafir- são de todos nas escolas regulares terá de se intensificar.
mou a necessidade de serem asseguradas oportunidades As comunidades escolares e a sociedade como um
educacionais igualitárias em todos os níveis de educan- todo devem ser esclarecidas, pelo rebate das ideias
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

dos, em ambientes integrados. Nesse mesmo ano o Pro- equivocadas que estão sendo veiculadas, sem o que a
grama de Desenvolvimento das Nações Unidas (UNDP) questão será diluída no pessimismo, nas incertezas, na
edita um guia sobre a participação de pessoas com defi- descrença de um grupo que, certamente, não se afina
ciência no desenvolvimento humano sustentável no qual com os objetivos dessa inovação, não importam os seus
assegura que “as pessoas com deficiência não devem ser motivos.
excluídas(...). São necessários mudanças e esforços con- Não queremos negar que a inclusão na educação foi
sideráveis para que sejam integradas e com sucesso nos deflagrada pelos diretamente interessados na promoção
programas regulares...”. e garantia dos direitos à participação plena e igualdade
Como se pode perceber, o movimento em favor de de oportunidades para pessoas com deficiência, mas não
uma escola aberta à diversidade partiu da exclusão das somente essas pessoas têm seus direitos negados ou es-
pessoas com deficiência da sociedade, das escolas, da quecidos, dentro ou fora das escolas.

190
A inclusão escolar de pessoas com deficiência é com- de escola foi adotado: a regular, que acolhe todos
preendida como parte de um contexto mais amplo de os alunos, apresenta meios e recursos adequados e
reivindicações sociais, que englobam a exclusão de todos oferece apoio àqueles que encontram barreiras para
as minorias. Nas escolas, a educação para todos constitui a aprendizagem.
esse contexto, que uma vez apto a oferecer um ensino de http://acervo.novaescola.org.br/formacao/palavra-es-
qualidade para todos os seus alunos englobará também pecialista-desafios-educacao-inclusiva-foco-redes-
os deficientes. A maneira pela qual devemos avaliar as -apoio-734436.shtml
necessidades e buscar respostas educativas para solucio-
nar problemas de desempenho escolar dos alunos e de
aperfeiçoamento da formação dos profissionais de edu- MARTINS, MIRIAN CELESTE FERREIRA
cação é mais do que uma revisão dos limites que sepa- DIAS. DIDÁTICA DO ENSINO DE ARTE: A
ram as modalidades regular e especial de ensino escolar. LÍNGUA DO MUNDO: POETIZAR, FRUIR E
Envolve novos valores e atitudes pessoais e profissionais, CONHECER ARTE. SÃO PAULO: FTD, 1998.
que se chocam com a cultura tradicional das escolas, in-
clusive com a nossa maneira de conceber as pessoas ex-
cluídas. Quando um sistema de ensino regular não está
em condições de atender às necessidades de todos os FIQUE ATENTO!
seus alunos não pode se propor, ingenuamente, a incluir As arte-educadoras Mirian Celeste Martins,
os excluídos, pois estes são exatamente os alunos que ela Gisa Picosque e Maria Terezinha Telles Guer-
não dá ou não deu conta de educar ! ra são autoras do livro Didática do ensino
A inclusão na educação é um desafio que não atinge de Arte - a língua do Mundo. Poetizar, fruir
somente as escolas, porque a escola é parte da comuni- e conhecer a Arte. A obra integra a coleção
dade e tem sua vida afetada pelos avanços e limites de Conteúdo & Metodologia, destinada a alu-
ordem física, intelectual, cultural, social do meio em que nos de Magistérios e Licenciatura, os futuros
se insere. A garantia do direito da educação em escolas professores do Ensino Fundamental e Médio.
que não excluem as pessoas sob nenhum pretexto é um
sinal de desenvolvimento comunitário e de elevação de
seus valores e atitudes, princípios e ideais. Cada volume é dedicado a uma disciplina. Para tratar
do ensino de Arte do Ensino de Arte, a editora reuniu três
Disponível em: professoras há muito conhecidas no país por suas im-
http://www.lite.fe.unicamp.br/cursos/ep403/txt2.htm portantes contribuições na área. O resultado é uma obra
construída com extrema sensibilidade, ricamente ilustra-
Referência da, que aponta caminhos para o trabalho do professor -
MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Abrindo as escolas às o que e como ensinar - de forma que ele possa criar seu
diferenças, capítulo 5, in: MANTOAN, Maria Teresa Eglér próprio percurso.
(org.) Pensando e Fazendo Educação de Qualidade. São “As autoras são artistas em seu métier de ensinar,
Paulo: Moderna, 2001. como são no cotidiano de sua produção em Arte, aliando
a sensibilidade do artista ao amor do educador, transfor-
mando o ensino em Arte e a Arte em ensino de viver, de
conviver e de desvendar o mundo”.
EXERCÍCIO COMENTADO A obra vem suprir uma lacuna sobre conteúdo e me-
todologia voltados para a formação do professor de Arte
1. (VUNESP/2018) Para Teresa Mantoan, o quê precisa e enfoca as linguagens específicas das Artes Visuais, Mú-
ser mudado na escola para que esta torne-se inclusiva? sica, Teatro e Dança, no contexto mais amplo da Arte. O
problema de ‘o que é ensinar’ é abordado de maneira
a) Recriar o modelo educacional, transformar uma escola, muito clara e original. A apresentação dos conhecimen-
inclusiva, num ambiente cooperativo. tos se dá de forma poética, construindo uma estrutura de
b) Valorizar um ensino competitivo e crítico. aprendizagem que vai se organizando, possibilitando a
c) Facilitação das atividades e programas para reforçar e elaboração individual e coletiva do conhecimento.
acelerar aprendizagem. O livro apresenta uma visão contemporânea do ensi-
d) Manter o sistema de avaliação, com a reprovação. no da arte como área do conhecimento, sem, no entanto,
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

descuidar de tudo aquilo que faz a verdadeira essência


Resposta: Letra A do fazer artístico, do que a Arte tem de mais essencial,
O esforço pela inclusão social e escolar de pessoas qual seja, seu potencial expressivo e simbólico. Desta
com necessidades especiais no Brasil é a resposta para forma, o conhecimento é sempre tratado como ‘conhe-
uma situação que perpetuava a segregação dessas cimento expressivo’. Buscando exemplos nas diferentes
pessoas e cerceava o seu pleno desenvolvimento. Até linguagens artísticas, tanto na arte erudita quanto na arte
o início do século 21, o sistema educacional brasileiro oriunda da cultura popular, as autoras discorrem sobre o
abrigava dois tipos de serviços: a escola regular e a fazer artístico, a fruição estética, a apreciação e a leitura
escola especial - ou o aluno frequentava uma, ou a da obra e sua contextualização através da história e da
outra. Na última década, nosso sistema escolar mo- cultura.
dificou-se com a proposta inclusiva e um único tipo

191
O trabalho está organizado em uma sequência muito
lógica, que inicia com uma discussão sobre a linguagem MEC – MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO.
da Arte através do homem ser-no-mundo, de seu reper- REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL
tório cultural artístico, até a sua presença como ser sim- PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL. BRASÍLIA:
bólico, ser-de-linguagem. MEC/SEF, 1998. V.1.
O livro nos conduz, passo a passo, pelos caminhos de MEC – MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO.
fruição e da leitura da Arte, alicerçados em textos teóri- REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL
cos básicos da maior importância e pertinência, e onde PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL. BRASÍLIA:
autores consagrados que trabalharam sobre o conteúdo
MEC/SEF, 1998. V.2.
da Arte são introduzidos de forma didática. Leituras são
então sugeridas, com complementação para o entendi- MEC – MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO.
mento, oferecendo múltiplos caminhos de abordagem REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL
para a Arte. As autoras vão, desta forma, abrindo janelas PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL. BRASÍLIA:
para o mundo teórico da arte e do seu ensino, ampliando MEC/SEF, 1998. V.3
uma compreensão só possível neste mergulhar sensível
realizado através do fruir e do pensar.
Consideramos que esta obra pode se constituir em Prezado candidato, devido à complexibilidade e
um importante auxilio aos professores na implementa- ao formato dos conteúdos em questão, disponibiliza-
ção dos Parâmetros Curriculares Nacionais nas escolas remos o PDF em nosso site www.novaconcursos.com.
brasileiras, pois aborda e esclarece questões relevantes br/retificacoes.
presentes no PCNs, bem como introduz o leitor aos au-
tores mais influentes nos referenciais teóricos dos Parâ-
metros.” MOYLES, JANE R. SÓ BRINCAR? O PAPEL
DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL.
Fonte PORTO ALEGRE ARTMED EDITORA, 2002.
MARTINS, Mirian Celeste; PISCOSQUE, Gisa; TELLES,
Maria Therezinha. Didática do ensino da arte: a língua do
mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD,
#FicaDica
1988.
O ser humano nasce e cresce possuindo vá-
rias necessidades, entre elas o brincar. Bia-
zotto (2014) relata que o brincar é funda-
EXERCÍCIO COMENTADO mental para o nosso desenvolvimento, que
é a principal atividade das crianças quando
1. (Prefeitura de Nova Candelária - RS - Professor - não estão dedicadas às suas necessidades
Educação Infantil – Médio- URI/2018) Com base nas de sobrevivência.
propostas curriculares contemporâneas para o ensino de
artes visuais na educação infantil, o exercício docente em
arte tem como objetivo Por meio das brincadeiras, sabe-se que a criança tra-
balha suas potencialidades, limitações, habilidades so-
a) formar futuros artistas. ciais, afetivas, cognitivas e físicas. Ao brincar, a criança
b) ensinar técnicas de desenho. expressa e comunica suas experiências, mas também
c) mediar cognição e criticidade. reelabora seus conceitos, reconhecendo-se como sujeito
d) aplicar atividades para entretenimento. pertencente a um grupo social e a um contexto cultu-
ral, aprendendo sobre si mesma, sobre os homens e suas
Resposta: Letra C. Os paradigmas para o ensino e relações no mundo e sobre os significados culturais do
aprendizagem em Arte consideram os aspectos cogni- meio em que está inserida. (BIAZOTTO, 2014)
tivos, de reflexão, crítica, compreensão histórica, social É uma atividade que faz parte do seu cotidiano, é co-
e cultural da arte e de seu ensino e aprendizagem. municação e expressão, associando o pensamento e a
ação, um ato instintivo voluntário, uma atividade explo-
ratória, que auxilia as crianças no seu desenvolvimento
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

físico, mental, emocional e social, um meio de aprender


a viver, e não um mero passatempo. É durante uma brin-
cadeira e através delas, que as crianças aprendem novos
conceitos e se preparam para o mundo. A característica
principal de poder brincar é a liberdade dada ao indiví-
duo. Diferentemente de jogar, brincar não exige da crian-
ça além de sua capacidade.
A autora Janet Moyles descrever em uma entrevis-
ta, em 2002, que brincar é uma parte fundamental da
aprendizagem e do desenvolvimento nos primeiros anos
de vida. As crianças brincam instintivamente e, portando,

192
os adultos deveriam aproveitar essa inclinação “natural”.
O brincar para Moyles (2002) tem o devido valor pois, OLIVEIRA, ZILMA RAMOS. EDUCAÇÃO
crianças que brincam confiantes, tornam-se aprendizes INFANTIL: FUNDAMENTOS E MÉTODOS.
vitalícios capazes de pensar de forma abstrata e inde- SÃO PAULO: CORTEZ, 2002.(CAPÍTULOS: I,
pendente, passando pela possibilidade de correr riscos e E DO V AO XIX)
solucionar problemas, aperfeiçoando sua compreensão.
Os programas de educação infantil devem estar ba-
seados em atividades lúdicas como princípio central das EDUCAÇÃO INFANTIL: FUNDAMENTOS E MÉTO-
experiências de aprendizagem. (MOYLES, 2002) Crianças DOS
alcançam a compreensão através de experiências que fa-
zem sentido para elas e nas quais podem usar seus co- Zilma de Moraes Ramos de Oliveira
nhecimentos prévios, sendo assim, o brincar proporciona Cortez, São Paulo, 2011
essa base essencial. (MOYLES 2002)
Possui uma grande importância que as crianças Uma introdução ao tema
aprendam a valorizar suas brincadeiras, o que só ocor-
re se as brincadeiras forem igualmente valorizadas por Em nosso país, as instituições mantidas pelo poder
aqueles que a cercam, brincar mantém as crianças física público têm dado prioridade de matrícula aos filhos de
e mentalmente ativas. (MOYLES, 2002). trabalhadores de baixa renda, invocando a noção de “ris-
co social”. Por vezes, o argumento é que a educação das
Considerações finais crianças em idade anterior à do ingresso no ensino fun-
damental deve ser um serviço de assistência às famílias,
Até aqui, por meio da pesquisa já realizada, foi pos- para que pais e mães possam trabalhar despreocupadas
sível observar que o brincar das crianças é diferente do com os cuidados básicos a serem ministrados a seus fi-
brincar dos adultos: as crianças brincam para encontrar a lhos pequenos. Em outras ocasiões, sustenta-se, particu-
realidade e os adultos para evitá-la. larmente por parte dos grupos sociais privilegiados, que
É importante que crianças e adultos brinquem juntos, a creche e pré-escola devem ser organizações preocu-
para que haja um maior entendimento dos sentimentos, padas em garantir a aprendizagem e o desenvolvimento
atitudes, pensamentos e diferenças mútuas. Na escola, o global das crianças desde o nascimento. P.37
essencial é que o brincar faça a criança avançar do ponto
em que está no momento em sua aprendizagem, criando
condições para ampliação e revisão de seus conhecimen- FIQUE ATENTO!
tos. O brincar, como tal, precisa ser aceito por seu valor. (...) não é possível ter guarda das crianças
sem as educar, e educá-las envolve também
Fonte tomar conta delas. A existência desse tipo de
SAID, C. S.; BIDA, G. L. O brincar na visão de Janet Moyles argumentação só se explica por razões histó-
MOYLES, Janet R. Só brincar? O papel do brincar na edu- ricas, como uma das formas que a sociedade
cação infantil. Artmed. brasileira, com suas marcantes desigualda-
des sociais para regular as oportunidades de
acesso aos bens culturais de que dispõem as
diferentes camadas da população. P.38
EXERCÍCIO COMENTADO

1. (URI - 2018 - Prefeitura de Nova Candelária - RS -


Pode-se falar em uma escola da infância?
Professor - Educação Infantil – Médio)
O brincar livre e o brincar dirigido são aspectos essenciais
da interação professor/criança. Nessa perspectiva o pro- Na educação grega do período clássico, “infância”
fessor é considerado conforme a descrição da alternativa: referia-se a seres com tendências selvagens a serem do-
minadas pela razão e pelo bem ético e político. Já o pen-
a ) Instrutor ou doador de conhecimentos. samento medieval entendia a infância como evidência da
b ) Socializador e instrutor. natureza pecadora do homem, pois nela a razão, reflexo
c ) Mediador e socializador. da luz divina, não se manifestaria. P.44
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

d ) Mediador e iniciador de aprendizagem. (...) propomos que creches e pré-escolas busquem


aproximar cultura, linguagem, cognição e afetividade
Resposta: Letra D. como elementos constituintes do desenvolvimento hu-
Em “d”: Certo - Muito oportunamente, observa a exis- mano e voltados para a construção da imaginação e da
tência de três tipos de professoras: (...)por fim, encon- lógica, considerando que estas, assim como a sociabi-
tro ainda as que entram no jogo, vendo o lúdico como lidade, afetividade e a criatividade, têm muitas raízes e
mediador do ensino e da aprendizagem e também gêneses. P.45
como oportunidade para aproximar-se, interagir, es- A forte influência, na área da educação infantil, de
cutar, conhecer melhor seus alunos. uma história higienista, de priorização de cuidados de
saúde, e assistencialista, que ressalta o auxílio a popu-
lação de risco social, tem feito com que as propostas de

193
creches e pré-escolas oscilem entre uma ênfase maior ou Autores como Comênio, Rousseau, Pestalozzi, De-
no cuidar ou no educar, apresentando dificuldades para croly, Froebel e Montessori, entre outros, estabeleceram
integrar as duas tarefas. P.47 as bases para um sistema de ensino mais centrado.

Metas almejadas Um olhar sobre as novas propostas educacionais

“A Educação Infantil, primeira etapa da educação básica, Educar crianças menores de 6 anos de diferentes con-
tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança dições sociais já era uma questão tratada por COMÊNIO
até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, (1592 – 1670), educador e bispo protestante checo.
intelectual e social, complementando a ação da família e da (...) Em 1637 elaborou um plano de escola maternal
comunidade” (Lei 9394/ 96, artigo 29). P.49 em que recomendava o uso de materiais audiovisuais,
Na educação infantil, hoje, busca-se ampliar certos como livros de imagens, para educar crianças pequenas.
requisitos necessários para adequada inserção da criança Afiançava ele que o cultivo dos sentidos e da imagi-
no mundo atual: sensibilidade (estética e interpessoal), nação precedia o desenvolvimento do lado racional da
solidariedade (intelectual e comportamental) e senso crí- criança. Impressões sensoriais advindas da experiência
tico (autonomia, pensamento divergente). P.50 com manuseio de objetos seriam internalizadas e futu-
ramente interpretadas pela razão. Também a exploração
Educação para a cidadania e para o convívio com do mundo no brincar era vista como uma forma de edu-
diferenças cação pelos sentidos. P.64
(...) o filósofo genebrino Jean Jacques ROUSSEAU
Ser cidadão significa ser tratado com urbanidade e (1712 – 1778) criou uma proposta educacional em que
aprender a fazer o mesmo em relação às demais pes- combatia preconceitos, autoritarismos e todas as institui-
soas, ter acesso a formas mais interessantes de conhecer ções sociais que violentassem a liberdade característica
e aprender a enriquecer-se com a troca de experiências da natureza. Ele se opunha à prática familiar vigente de
com outros indivíduos. delegar a educação dos filhos a preceptores, para que
Isso implica tomar consciência de problemas coleti- estes os tratassem com severidade, e destacava o papel
vos e relacionar experiências da própria comunidade da mãe como educadora natural das crianças.
com o que ocorre em outros contextos. A educação As ideias de Rousseau abriram caminho para as
para a cidadania inclui aprender a tomar a perspectiva concepções educacionais do suíço PESTALOZZI (1746 –
do outro (...) e ter consciência dos direitos e deveres 1827), que também reagiu contra o intelectualismo ex-
próprios e alheios. P.52 cessivo da educação tradicional. P.65

Os primeiros passos na construção das ideias e Pestalozzi destacou ainda valor educativo do trabalho
práticas de educação infantil manual e a importância de a criança desenvolver destre-
za prática.
No que se refere à educação da criança pequena
em creches e pré-escolas, práticas educativas e con- Levou adiante a ideia de prontidão, já presente em
ceitos básicos foram sendo constituídos com base em Rousseau, e de organização graduada do conhecimento,
situações sociais concretas que, por sua vez, geraram do mais simples ao mais complexo, que já aparecia em
regulamentações e leis como parte de políticas públicas Comênio. Sua pedagogia enfatizava ainda a necessidade
historicamente elaboradas. Concepções, muitas vezes, de a escola treinar à vontade e desenvolver as atitudes
antagônicas, defendidas na educação infantil têm raízes morais dos alunos.
em momentos históricos diversos e são postas em práti- As ideias de Pestalozzi foram levadas adiante por
ca hoje sem considerar o contexto de sua produção. P.57 FROEBEL (1782 – 1852), educador alemão (...) criou em
1857 o kindergarten (‘jardim de infância”), onde crianças
A construção de concepções teóricas sobre a edu- e adolescentes (...) estariam livres para aprender sobre si
cação da infância mesmos e sobre o mundo. P.67
O manuseio de objetos e a participação em ativida-
A discussão sobre a escolaridade obrigatória, que se des diversas de livre expressão por meio da música, de
intensificou em vários países europeus nos séculos XVIII gestos, de construções com papel, argila e blocos ou
e XIX, enfatizou a importância da educação para o de- da linguagem possibilitariam que o mundo interno da
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

senvolvimento social. Nesse momento, a criança passou criança se exteriorizasse, a fim de que ela pudesse, então,
a ser o centro do interesse educativo dos adultos, o que ver-se objetivamente e modificar-se, observando, desco-
tornava a escola (pelo menos para os que podiam fre- brindo e encontrando soluções. P.68
quentá-la) um instrumento fundamental. P.62
Alguns setores das elites políticas dos países euro- A educação infantil europeia no século XX
peus sustentavam que não seria correto para a socieda-
de como um todo que se educassem as crianças pobres, No período que se seguiu a Primeira Guerra Mundial,
para as quais era proposto apenas o aprendizado de uma por exemplo, com o aumento do número de órfãos e
ocupação e da piedade. Opondo-se, alguns reformado- a deterioração ambiental, as funções de hospitalidade e
res protestantes defendiam a educação como um direito de higiene exercidas pelas instituições que cuidavam da
universal. educação infantil se destacaram.

194
A sistematização de atividades para crianças peque- Os primeiros passos da história da Educação In-
nas com o uso de materiais especialmente confeccio- fantil
nados foi realizada por dois médicos interessados pela
educação: Ovídeio Decroly e Maria Monterossi. DECROLY Ademais, a abolição da escravatura no Brasil (...) con-
(1871 – 1932), médico belga, trabalhando com crianças correu para o aumento do abandono de crianças e para
excepcionais, elaborou, em 1901, uma metodologia de a busca de novas soluções para o problema da infância,
ensino que propunha atividades didáticas baseadas na as quais, na verdade, representavam apenas uma “arte
ideia de totalidade do funcionamento psicológico e no de varrer o problema para debaixo do tapete”: criação de
interesse da criança, adequadas ao sincretismo que ele creches, asilos e internatos, vistos na época como insti-
julgava ser próprio do pensamento infantil. tuições assemelhadas e destinadas a cuidar de crianças
(...) psiquiatra italiana Maria MONTESSORI (1879 – pobres.
1952) inclui-se também na lista dos principais construto-
res de propostas sistematizadas para a educação infantil O Brasil República
no século XX. Tendo sido encarregada da seção de crian-
ças com deficiência mental em uma clínica psiquiátrica Particulares fundaram em 1899 o Instituto de Prote-
de Roma, produziu uma metodologia de ensino com ção e Assistência a Infância, que precedeu a criação, em
base nos estudos dos médicos Itard e Segun, que haviam 1919, do Departamento da Criança, iniciativa governa-
proposto o uso de materiais apropriados como recursos mental decorrente de uma preocupação com a saúde
educacionais. pública que acabou por suscitar a ideia de assistência
Ao contrário de Rousseau, que defendia a autoeduca- científica à infância (...) surgiu uma série de escolas infan-
ção, Montessori não aceitava a natureza como o ambien- tis e jardins de infância, alguns deles criados por imigran-
te apropriado para o desenvolvimento infantil. tes europeus para o atendimento de seus filhos.
Montessori criou instrumentos especialmente ela- Enquanto isso, a urbanização e a industrialização nos
borados para a educação motora (...) e para a educação centros urbanos maiores, intensificadas no início do sé-
dos sentidos e da inteligência – por exemplo, letras mó- culo XX, produziram um conjunto de efeito que modifi-
veis, letras recortadas em cartões-lixa para aprendizado caram a estrutura familiar tradicional no que se refere ao
de operações com números. Foi ainda quem valorizou a cuidado com os filhos.
diminuição do tamanho do mobiliário usado pelas crian- Como a maioria da mão de obra masculina estava na
ças nas pré-escolas e a exigência de diminuir os objetos lavoura, as fábricas criadas na época tiveram de admitir
domésticos cotidianos a serem utilizados para brincar na grande número de mulheres no trabalho. O problema
casinha de bonecas. do cuidado de seus filhos enquanto trabalhavam não
Destacaram-se, na pedagogia e na psicologia, no pe- foi, todavia, considerado pelas indústrias que se estabe-
ríodo seguinte à Primeira Guerra Mundial (quando era leciam, levando as mães operárias a encontrar soluções
proposta a salvação social pela educação), as ideias a emergenciais em seus próprios núcleos familiares ou em
respeito da infância como fase de valor positivo e de res- outras mulheres.
peito à natureza. Tais ideias impulsionara um espírito de (...) a vida da população das cidades, conturbadas
renovação escolar que culminou com o Movimento das pelo projeto de industrialização e urbanização do capi-
Escolas Novas. Esse movimento se posicionava contra a talismo monopolista e excludente em expansão, exigia
concepção de que a escola deveria preparar para a vida paliativos aos seus efeitos nocivos nos centros urbanos,
com uma visão centrada no adulto, desconhecendo as que se industrializavam rapidamente e não dispunham
características do pensamento infantil e os interesses e de infraestrutura urbana em termos de saneamento bá-
necessidades próprias da infância. sico, moradias, etc., trazendo o perigo de constantes
epidemias. A creche seria um desses paliativos, na visão
Celestin FREINET (1896 – 1966) (...) para ele, a educa- de sanitaristas preocupados com as condições de vida
ção que a escola dava ás crianças deveria extrapolar os da população operária, ou seja, com a preservação e re-
limites da sala de aula e integrar-se às experiências por produção da mão de obra, que geralmente habitava am-
elas vividas em seu meio social. bientes insalubres.

A pedagogia de Freinet organiza-se ao redor de uma Entendidas como “mal necessário”, as creches eram
série de técnicas e atividades, entre elas as aulas-passeio, planejadas como instituições de saúde, com rotinas de
o desenho livre, o texto livre, o jornal escolar, a corres- triagem, lactário, preocupação com a higiene do ambien-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

pondência interescolar, o livro da vida. Inclui ainda ofi- te físico. Por trás disso, buscava-se regular todos os atos
cinas de trabalhos manuais e intelectuais, o ensino por da vida, particularmente dos membros das camadas po-
contratos de trabalho, a organização de cooperativas pulares.
na escola. Apesar de ele não ter trabalhado diretamente No imaginário da época, a mãe continuava sendo a
com crianças pequenas, sua experiência teve lento, mas dona do lar devendo limitar-se a ele (...). O trabalho com
marcante impacto sobre as práticas didáticas em creches as crianças nas creches tinham assim um caráter assis-
e pré-escolas em vários países. tencial-protetoral. A preocupação era alimentar, cuidar
da higiene e da segurança física, sendo pouco valorizado
um trabalho orientado à educação e ao desenvolvimento
intelectual e afetivo das crianças.

195
Novos tópicos na história da educação infantil no baste ter um bom planejamento criatividade e ser um
Brasil bom educador. Deve ser feito algo que facilite a vida da
criança como rotina.
(...) debates nacionais sobre os problemas das crian- Concluímos que o Cantinho deve ser bem planejado,
ças provenientes dos extratos sociais desfavorecidos o espaço de toda aprendizagem também, pois ele é im-
afiançavam que o atendimento pré-escolar público seria portante na formação da criança, ela tem que se sentir
elemento fundamental para remediar as carências de sua acolhida, estimulada e bem tratada.
clientela, geralmente mais pobre. Segundo essa perspec-
tiva compensatória, o atendimento às crianças dessas
camadas em instituições como creches, parques infantis
e pré-escolas possibilitaria a superação das condições EXERCÍCIO COMENTADO
sociais a que estavam sujeitas, mesmo sem alteração das 1. (Prefeitura Municipal de Três Fronteiras - SP - Pro-
estruturas sociais geradores daqueles problemas. P.109 fessor de Educação Básica I- Educação Infantil – Ins-
tituto Excelência/2017) As propostas pedagógicas de
CAPÍTULO XIV P.193: Educação Infantil devem respeitar os seguintes princí-
“OS AMBIENTES DE APRENDIZAGEM COMO RE- pios:
CURSOS PEDAGÓGICOS”
I-Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solidarie-
O capitulo “Os ambientes de Aprendizagem como dade e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente e
recursos pedagógicos”, aborda a seguinte questão, es- às diferentes culturas, identidades e singularidades.
paço físico para a criança principalmente educação in- II-Políticos: dos direitos de cidadania, do exercício da cri-
fantil. Entre os séculos XIX e XX houve a preocupação, ticidade e do respeito à ordem democrática.
porém ela acaba ao longo de políticos e etc. Sabemos III-Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da ludici-
que não é nada fácil ter um ambiente perfeito para nos- dade e da liberdade de expressão nas diferentes mani-
sas crianças, pois há lugares que não há condições fi- festações artísticas e culturais.
nanceiras para isso, há lugares que responsável não se
interessa e a lugares que até tem, mas não condiz com a Identifique a alternativa que está CORRETA, quanto ao
proposta pedagógica. Esse espaço é o que mais precisa exposto:
de planejamento, pois pode trazer para a criança medo,
curiosidade, calma, apatia, conforto entre outros, como: a) Somente I é verdadeira
características psicofísicas e higiênicas, precisa também b) São verdadeiras II e III apenas.
c) São verdadeiras I, II e III apenas.
ter um numero de criança estipulado.
d) Nenhuma das alternativas.
Oliveira (2011, p. 196) observa que “todo ambiente
sem exceção é um espaço organizado”, existem tipos de
Resposta: Letra C Em “c”: Certo – A afirmativa está
salas com poucos brinquedos e muitos berços ou mesas
correta. As propostas pedagógicas de Educação Infan-
e cadeiras. A pergunta feita é: esta dentro da proposta
til devem respeitar os seguintes princípios:
pedagógica? Pois não adianta ter cantinhos em sala de
Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solida-
aula e não haver uma proposta pedagógica, onde im-
riedade e do respeito ao bem comum, ao meio am-
pede a criança de brincar ou interagir com os colegas biente e às diferentes culturas, identidades e singula-
enfim, a sala deve ser considerada como um campo de ridades.
convivência e exploração, e deve ser muito planejado. Políticos: dos direitos de cidadania, do exercício da cri-
Sabemos que a criança reconhece o espaço físico desde ticidade e do respeito à ordem democrática.
cedo por isso à importância de um planejamento. Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da ludicida-
O planejamento além de tudo define algumas coisas de e da liberdade de expressão nas diferentes mani-
como praticas social, contudo devem-se haver preocu- festações artísticas e culturais.
pações com a funcionalidade a estética dos ambientes, Em “d”: Errado – Todas as alternativas são corretas.
a organização e planejamento criam estruturas com to-
dos que convive naquele espaço. São muito importantes
também outros espaços tipo parques, quadras, pátios,
sala de musica e informática, nesses espaços é onde a
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

criança constroem significados.


Notamos que cantinho é muito falado nesse capitulo.
Pois tem valorizada a organização de áreas como: casi-
nhas, polícia, supermercados, lojas, médicos etc. Onde
permite as crianças brincarem na quantidade que elas
querem e a imaginação; também é bom porque da para
o educador dar atenção observar cada criança. Com o
Cantinho da para fazer varias atividades diferentes de
roda de conversa, musica, brincadeira, hora da fruta, tea-
tro e muitos outros. Da para fazer muitas coisas com o
espaço e material proposto pela escola para o “cantinho”

196
sou-se preferentemente no sentido de diferentes coisas
PANIZZA, MABEL E COLABORADORES. e se dedicou a diversos aspectos do sentido. Sierpinska,
ENSINAR MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO 1995.
INFANTIL E NAS SÉRIES INICIAIS: ANÁLISE A palavra “sentido” parece estar cada vez mais pre-
E PROPOSTAS. PORTO ALEGRE: ARTMED, sente nas preocupações dos professores sobre o ensino
2006. da matemática. “Como conseguir que os alunos encon-
trem o sentido da atividade matemática?”, “Os alunos
agem mecanicamente sem dar sentido ao que fazem”,
entre outras, são expressões habituais dos professores. A
FIQUE ATENTO! palavra “sentido” parece explicar intenções, conquistas e
Reunindo textos de especialistas no ensi- frustrações. No entanto, questões como qual significado
no da Matemática, o livro pretende integrar se atribui à palavra, onde se encontra o sentido, se é algo
conceitos teóricos com a prática educacio- que o docente dá ou o aluno constrói e em que condi-
nal, utilizando propostas surgidas nas salas ções, longe de serem claras e compartilhadas, compor-
de aula da cidade de Buenos Aires. Com lin- tam profundas diferenças e contradições.
guagem acessível, a intenção é pensar o co- Se com a palavra “sentido” se tenta iluminar fenôme-
tidiano escolar dos alunos para observar fa- nos e processos de aprendizagem e de ensino e incorpo-
lhas e lacunas, atitude que instiga ao debate rar o termo coerentemente à linguagem dos educadores,
e estimula novas maneiras de ver, aprender e é importante reconhecer a necessidade de ultrapassar o
ensinar a Matemática. significado comum do termo em castelhano. A questão
não é simples. Talvez uma boa forma de começar seja – à
maneira dos filósofos – deixar de considerar o sentido
REFLEXÕES GERAIS SOBRE O ENSINO DA MATE- em geral e perguntar-se por seus diferentes aspectos.
MÁTICA Como observa Drouhard (1995) ao analisar as dife-
rentes acepções da palavra “sentido” utilizadas pelos di-
As pesquisas didáticas e as preocupações atuais dos datas da escola francesa:
professores expressam claramente uma problemática [...] os diversos autores utilizam a palavra [“sentido”]
central: não é possível tratar o tema da aprendizagem com acepções extremamente diferentes. Para caracte-
e o ensino da matemática sem se referir seriamente à rizá-las, deve-se notar que a palavra “sentido” não in-
questão do sentido. Os capítulos deste livro abordam di- tervém isoladamente, mas, em geral, acompanhada por
versas dimensões deste problema complexo: as análises outra palavra: “conceito”, “atividade”, “conhecimento”,
das situações didáticas que se apresentam, das formas “saber”, “escrita”, etc. Devemos, então, fazer-nos cada
de organização da sala de aula, das intervenções docen- vez a pergunta: “sentido de quê?”.
tes, etc., fazendo referência a diversas acepções da noção Efetivamente, Brousseau (1983) define o sentido de
de sentido, às condições adequadas para sua aquisição um conhecimento. Vergnaud (1991), o sentido de um
e aos seus aspectos constitutivos. Neste capítulo intro- conceito; Duval (1995) define os diferentes componen-
dutório, apresento uma visão de questões gerais abran- tes do sentido de uma proposição – dentro do arco
gentes dessas dimensões através do desenvolvimento de mais amplo das representações semióticas, discursivas
um eixo fundamental do ensino da matemática: o eixo e não-discursivas –; Laborde (1991) identifica elementos
das relações entre objetos de conhecimento e represen- constitutivos do sentido de um problema; etc. Neste li-
tações, articulado com o eixo da aquisição do sentido vro, consideraremos algumas dessas definições e as de
na matemática. Trata-se de dois aspectos importantes outros autores, e as iremos introduzindo nos parágrafos
para uma didática que leve em conta tanto a especifici- seguintes e em outros capítulos, em momentos oportu-
dade do nível em que se desenvolve o ensino como as nos relacionados a diversas dimensões da aquisição do
aprendizagens que devem ser atingidas a longo prazo sentido na matemática. A intenção deste parágrafo não é
por meio dos diferentes níveis de escolaridade. a de tratar o problema do sentido em profundidade, mas
a de abrir a problemática e convidar a reter duas ideias
SOBRE A NOÇÃO DE SENTIDO principais: ao falar do sentido, procuraremos precisar
cada vez o “sentido de quê” e identificar seus aspectos
Reflexões gerais sobre o ensino da matemática constitutivos. É importante que também o leitor centre
sua atenção nesses aspectos cada vez que se encontre
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Mabel Panizza com a palavra “sentido” nesta obra.

Poucos conceitos deram tantos problemas aos filó- OBJETOS DE CONHECIMENTO E REPRESENTA-
sofos como o conceito de sentido. Apesar de numerosas ÇÕES:
tentativas para enquadrá-lo dentro de teorias, essa no-
ção parece, afinal, sempre lhes escapar. Isso proviria de PRIMEIRA ABORDAGEM
que toda teoria propondo-se tratar o sentido em geral se
refere, necessariamente, a ela mesma: qualquer definição Diante da pergunta “O número 18/3 é inteiro?”, João
da noção de “sentido” tem ela mesma um sentido. Con- (17 anos) responde: “Não! É um número racional, porque
sequentemente, poucos filósofos trataram de considerar é um quociente de dois inteiros”.
o sentido em toda sua generalidade; a maioria interes-

197
João sabe reconhecer um número racional em sua O cumprimento dessas duas condições por parte dos
expressão fracionária. A escrita, no entanto, parece ini- alunos é uma das primeiras questões a serem propos-
bir-lhe a capacidade de ver que 18/3 não somente é um tas como objetivo a longo prazo, e requer atividades
número racional, mas que, além disso, é um número in- específicas de ensino. Para trabalhar nessa perspecti-
teiro (porque 18/3 é igual a 6). O caso de João – que con- va, é fundamental, em primeiro lugar, que o professor
funde o número com sua representação (fracionária), que se aprofunde em sua própria capacidade de diferenciar
atribui ao número uma propriedade da notação utilizada os objetos matemáticos de suas representações e que
para descrevê-lo – é representativo do que acontece com compreenda as condições sob as quais uma representa-
a maioria dos alunos que terminam o ensino médio. Em ção funciona como tal. Assim mesmo, é importante que
termos mais gerais, trata-se de uma primazia da forma identifique nos procedimentos e representações que os
sobre o conteúdo que produz uma identificação do ob- alunos utilizam diversas maneiras de tratamento e de co-
jeto de conhecimento com sua representação. nhecimento dos objetos e suas representações.
Em 1891, Frege dizia: A inclinação bastante difundida
atualmente de não reconhecer como objeto o que não Objetos matemáticos de representações usadas
pode ser perceptível com os sentidos induz a tomar os pelos alunos
sinais numéricos pelos números [...] (Frege, 1974).
A ideia expressa com tanta clareza é fecunda em re- Em primeiro lugar, é importante reconhecer que mui-
lação à matemática em geral, uma vez que os objetos tos procedimentos das crianças indicam que elas – im-
matemáticos, por sua natureza, não são perceptíveis plicitamente – são capazes de reconhecer muito cedo os
mediante os sentidos: o numeral “2” não é número, mas objetos matemáticos em algumas de suas diversas repre-
a representação deste; um desenho de um quadrado é sentações. Para isso, nos basearemos em uma primeira
uma das infinitas representações do quadrado como ob- acepção da palavra “sentido”, que devemos a Frege (sen-
jeto geométrico ideal, etc. Trata-se de um problema sem tido de uma expressão), a qual serve para interpretar os
dúvida importante na hora de ensinar matemática. De- procedimentos dos alunos.
ve-se ter presente que, de um lado, estão os conceitos, Frege, em 1892, para perceber que diversas expres-
as propriedades dos objetos matemáticos, e, do outro sões (em nosso exemplo: “18/3”, “4 + 2”, “5 + 1” ou 2 x 3”)
lado, as representações que são utilizadas em matemá- correspondem a diversas interpretações e perspectivas
tica. Tendo presente esta particularidade, observada por do mesmo objeto (6), introduz uma diferença fundamen-
Frege, quais questões deveriam ser apresentadas sobre
tal ao postular que as expressões têm uma referência (em
esses aspectos e suas relações?
alemão: Bedeutung, traduzido também por “significado”,
Em primeiro lugar, para tratar deste problema de re-
ou “denotação”) e, além disso, um sentido (em alemão:
lações entre objetos e representações é preciso questio-
sinn) (Frege, 1974).
nar a noção mesma de representação. Trata-se de uma
A “referência” (ou significado, ou denotação) de uma
noção que costuma estar presente, mas, em geral, de
expressão é o objeto que a expressão designa, enquan-
maneira confusa nas reflexões sobre o tema, e, eviden-
to o “sentido” leva em conta a maneira pela qual a ex-
temente, é fundamental. A propósito, Duval (1993) se
pergunta em quais condições um numeral ou um dese- pressão designa o objeto. De acordo com esta distinção,
nho, por exemplo, funcionam como representações dos “18/3”, “4 + 2”, “5 + 1” ou 2 x 3” significam (ou denotam,
objetos matemáticos correspondentes (número e figura, ou designam) o mesmo número, o 6, mas têm sentidos
respectivamente) e afirma: diferentes, uma vez que são maneiras diferentes de obter
[...] é necessário que o objeto não seja confundido esse número.
com suas representações e que seja reconhecido em cada Da mesma maneira, “3 + 42”, “42 + 3”, “10 + 10 + 10
uma delas. É nestas duas condições que uma representa- + 10 + 3 + 2” significam (ou denotam, ou designam) o
ção funciona verdadeiramente como representação, isto mesmo número, o 45, mas têm sentidos diferentes.
é, que ela proporciona o acesso ao objeto representado. Por que dizemos que esta distinção entre “sentido”
A dificuldade de conseguir a primeira das condições e “significado” permite interpretar trabalhos dos alunos
estabelecidas por Duval, “que o objeto não seja confun- que os professores observam em sua prática diária? Ve-
dido com suas representações”, é aquilo a que Frege já jamos um primeiro exemplo. Todos sabemos do proce-
havia feito referência – no domínio numérico – ao falar dimento das crianças, quando, para calcular “3 + 42” di-
da tendência de tomar os sinais numéricos pelos núme- zem: “43, 44, 45”. Elas – nesse caso –, fazem um cálculo,
ros. Trata-se de uma condição especialmente difícil de se “deixando o 42 na cabeça”. Esse procedimento leva im-
verificar quando se trabalha na matemática, em virtude plícitas duas questões fundamentais:
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

de que, como já observamos, os objetos matemáticos • O reconhecimento de que “3 + 42” e “42 + 3” são
não são perceptíveis através dos sentidos. duas formas diferentes de reconhecer o resultado;
A segunda condição – não menos difícil de se verifi- segundo Frege, “3 + 42” e “42 + 3” designam o
car – estabelece que o objeto deve ser “reconhecido em mesmo número (o 45);
cada uma de suas representações”. Assim, por exemplo, • A escolha de uma das duas formas para efetuar a
é necessário que, ao terminar a escolaridade, um aluno operação (mudança de “sentido”, segundo Frege).
possa reconhecer o número 6, não somente no numeral
“6”, mas também nas expressões “18/3”, “4 + 2”, “5 + 1” Naturalmente, para algumas crianças, as que domi-
ou “2 x 3”. João, por exemplo, não reconhece o número nam os algoritmos convencionais ou outros intermediá-
6 na expressão “18/ 3”, tanto que afirma que “18/3” não rios, os cálculos “3 + 42” e “42 + 3” têm a mesma comple-
é um número inteiro. xidade. Mas, para o caso que analisamos, na capacidade

198
para “escolher mudar de sentido” (isto é, a maneira de Interpretação dos trabalhos dos alunos em termos
calcular) reside a possibilidade de realizar a operação. De de conhecimentos
fato, “pôr o 3 na cabeça” e efetuar cálculo, sabemos que
é muito difícil ou até impraticável para os menores. A tradição escolar não reconhece as representações
Vemos, então, que, embora a expressão “3 + 42” su- utilizadas pelos alunos desde o início da escolaridade
gira um “sentido”, uma maneira de calcular a soma, essas como indicativas de uma maneira de conhecer os objetos
crianças escolhem mudar de expressão até chegar a al- e as representações formais (em relação com o exem-
guma coisa cujo “sentido” (segundo Frege) lhes sugere plo que vimos desenvolvendo, maneira de conhecer os
uma maneira fácil (ou possível) de realizar a operação. números [objeto] e o sistema de numeração [represen-
Essa mudança de expressão é significativa, enquanto lhes tação]). Consequentemente, as propostas didáticas – em-
permite resolver o problema com os recursos dos quais bora reconhecendo a importância de “partir daquilo que
podem dispor. as crianças já sabem” – não acertam orientar uma evolu-
Notemos também que essa inversão se baseia em ção desses conhecimentos.
uma propriedade das operações (a comutatividade da Acontece que este princípio geral de enunciado fácil
soma) e não depende do sistema de numeração utiliza- (“partir do que as crianças já sabem”) exige, naturalmen-
do (sistema decimal, romano ou outro). Quer dizer que te, ter conhecimento sobre o que elas sabem, e isso não
esta primeira forma que analisamos de calcular a soma é tão fácil como parece.
utiliza uma propriedade do objeto de conhecimento e Ao analisar, por exemplo, os procedimentos dos
independente de sua representação. alunos apresentados no item anterior, o leitor poderia
Vejamos outro exemplo. Quando, para calcular esta se perguntar: “Mas, então, as crianças já sabem as pro-
mesma soma “3 + 42”, as crianças fazem: priedades associativa e comutativa da soma?”. E, natu-
ralmente, se responderia que não é possível pensar que
as crianças dessas idades conhecem as propriedades de
modo a poder enunciá-las, nem que isso seja objeto de
ensino nesses primeiros níveis de escolaridade. No en-
tanto, como vimos, essas propriedades dos números
funcionam de maneira implícita nos procedimentos ana-
lisados, o que se manifesta pelo uso de expressões dife-
rentes do mesmo número. Isto significa um conhecimen-
to por parte dos alunos?
Também estão utilizando diferentes maneiras de de- Para responder a esta pergunta, é especialmente útil
signar o número 45. Desta vez, o procedimento utilizado a noção de “teorema em ato” de Vergnaud (1996), que
– seja ou não por escrito – baseia-se em propriedades percebe alguns conhecimentos matemáticos implícitos
dos números e das operações e também na decompo- que os alunos utilizam na ação:
sição aditiva, propriedade do sistema de numeração de- Um teorema em ato é uma proposição que é conside-
cimal. Quer dizer que essa segunda forma de calcular a rada como verdadeira por um sujeito individual para uma
soma utiliza propriedades do objeto de conhecimento e certa categoria de situações variáveis.
De acordo com essa definição, os procedimentos
propriedades específicas de sua representação.
analisados anteriormente são indicativos de que os alu-
Quando comparamos ambos os procedimentos, ve-
nos conhecem “em ato” as propriedades comutativa e
mos que, embora o modo de produção do cálculo seja
associativa da soma para as quantidades utilizadas. Em
diferente, conforme o tratamento dos símbolos se reali-
outras palavras, para esses alunos, o cálculo da soma
za por escrito ou internamente (“mentalmente”), ambos
com as quantidades consideradas está dentro da “ca-
os mecanismos se baseiam em uma “escolha”: mudar de
tegoria de situações variáveis” em que essas proprieda-
“sentido” (segundo Frege) para poder fazer a operação.
des são concebidas como verdadeiras por eles. Quando
O que é importante ver nesses procedimentos é que, de o professor pode reconhecer esses conhecimentos em
maneira implícita ou explícita, sem suporte exterior ou ato nos alunos, ele começa a visualizar o papel funda-
com suporte nos dedos ou por escrito, desde as primei- mental que possuem no processo de aprendizagem dos
ras aprendizagens as crianças utilizam diversas represen- conceitos, dos algoritmos e das representações conven-
tações de um mesmo objeto para fazer operações numé- cionais. Consequentemente, começa também a estar em
ricas e “o reconhecem (pelo menos implicitamente) em condições de “partir desses conhecimentos” e de plane-
cada uma delas”. Por que razão, mais adiante, perdem
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

jar intencionalmente oportunidades para que os alunos


essa capacidade e – como João – identificam o objeto mostrem representações e procedimentos não-conven-
com a representação, o conteúdo com a forma? cionais, estabeleçam a validade dos mesmos, analisem os
A resposta para essa pergunta necessariamente con- que são pertinentes, abandonem uns, escolham outros.
tém considerações sobre múltiplos aspectos do ensino e Isso nos leva a retomar o problema do sentido em
da aprendizagem, algumas das quais abordaremos nes- relação com o lugar que ocupam esses processos na
te capítulo. Um desses aspectos, que desenvolveremos aprendizagem de conceitos e representações formais em
a seguir, consiste em compreender que esses trabalhos uma perspectiva construtivista da aprendizagem. É o mo-
que analisamos são manifestações de uma maneira de mento oportuno para reconhecer, no valor que damos a
conhecer dos alunos e, consequentemente, compete à este tipo de processos, o marco orientador que devemos
responsabilidade didática fazê-las evoluir. a Brousseau (1983), para quem o sentido de um conhe-
cimento se define

199
[...] não somente pelo conjunto de situações em que representações não-convencionais na aquisição do co-
este conhecimento é realizado como teoria matemática, nhecimento matemático. Para isso, é necessário começar
não somente pelo conjunto de situações em que o su- a identificar os aspectos específicos da aprendizagem e
jeito o encontrou como meio de solução, mas também do ensino que um olhar sobre as representações pode
pelo conjunto de concepções que rejeita, de erros que ajudar a iluminar. Até aqui, tocamos em três questões
evita, de economias que procura fazer, de formulações fundamentais sobre este ponto que sintetizamos em ter-
que retoma, etc. (citado por Charnay, 1994). mos de saberes necessários por parte do professor:
Os processos antes mencionados são – de acordo • distinguir conceitualmente os objetos de conheci-
com essa definição – parte constitutiva do sentido dos mento e suas representações;
conhecimentos. Um ensino da matemática que se situe • compreender as condições sob as quais uma repre-
em uma perspectiva construtivista deve favorecer es- sentação funciona como tal;
paços para esses processos. Uma condição necessária, • reconhecer as diversas representações que os alu-
embora não suficiente, para uma tal perspectiva didáti- nos utilizam como uma maneira de conhecer,
ca é a possibilidade de reconhecer nos alunos diversas constitutiva dos conhecimentos que constroem.
maneiras de conhecer (implícitas, conscientes, explícitas)
relacionadas com um saber matemático, e considerá-las Analisaremos, nos itens a seguir, outros quatro aspec-
constitutivas do sentido dos conhecimentos que cons- tos relevantes: as diversas funções que as representações
troem. desempenham para os alunos, a existência de conheci-
mentos matemáticos que não estão implicados nas ope-
Primeiras conclusões para o ensino da matemática rações sobre os símbolos, a complexidade cognitiva que
supõe a interpretação de representações e a necessidade
A análise feita até aqui contém elementos de três as- de rever as concepções de aprendizagem e de ensino
pectos que a pesquisa cognitiva e didática identificou de que estão por trás das práticas atuais com relação aos
maneira quase simultânea e em paralelo, fundamentais sistemas simbólicos. Embora a análise desses aspectos
para abordar o problema da aquisição do sentido na ma- não esgote o tratamento do tema, é, ao menos, um bom
temática: a existência de diversas maneiras de conhecer começo que permitirá agregar novas conclusões às tira-
(implícitas, conscientes, explícitas), o reconhecimento – das até o momento. O capítulo é concluído com um con-
em termos de hipótese – sobre o que e como os alunos junto de saberes necessários para o professor que deve
conhecem a partir dos procedimentos e representações conduzir um ensino que se proponha à construção do
que utilizam, a identificação do uso de procedimentos e sentido dos conhecimentos por parte dos alunos.
representações não-convencionais e de sua evolução na
construção do conhecimento.2 Na escola, os resultados DIVERSAS FUNÇÕES DAS REPRESENTAÇÕES PARA
dessas pesquisas começaram a se manifestar, mas com OS ALUNOS
graus diferentes de importância.
Nos últimos anos, por exemplo, a escola está reco- O famoso “planejamento” foi sempre considerado
nhecendo a importância de permitir que os alunos apre- necessário para resolver os problemas; mais ainda, o pla-
sentem procedimentos não-convencionais em contra- nejamento escrito no caderno funciona como indicador
posição com a postura mais tradicional, que pretendia de que o aluno pensou e raciocinou, e sua falta, como
ensinar diretamente os procedimentos formais. Ao consi- indicador do contrário. O exemplo de Aníbal mostra que
derá-los como constitutivos do saber formal, promovem- nenhuma dessas coisas funciona necessariamente assim
-se práticas para que aqueles procedimentos aconteçam para os alunos. Por um lado, para ele, o planejamento
na sala de aula, para que apareçam, sejam analisados, (convencional) é algo que alguém deve colocar, antes ou
etc., antes de ensinar os algoritmos convencionais, os depois de resolver o problema, embora não tenha sido
que contêm – sem dúvida – todo o saber, mas que não o um instrumento de raciocínio para guiar a resolução (os
“mostram” a quem está construindo essas noções. Mes- problemas de divisão precisam de planejamento?). Por
mo assim, não se considera esta exibição de procedimen- outro lado, possivelmente ele utilizou alguma outra or-
tos não convencionais somente por seu caráter de an- ganização escrita dos dados (uma espécie de “planeja-
terioridade em relação aos procedimentos formais, mas mento pessoal”) para resolver o problema, que talvez
pela coexistência de ambos os tipos de procedimentos tenha ficado em uma folha de rascunho, porque a prática
suscitar interesse, por exemplo, pelo valor que possuem escolar não lhe “ensinou” que seria importante comuni-
os primeiros como meios de controle dos segundos. cá-lo.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Não acontece a mesma coisa com o lugar atribuí- Como vimos sobre outras tarefas, as crianças utilizam
do às representações não-convencionais. Efetivamente, representações durante o mesmo processo de resolução
embora os procedimentos dos alunos comportem natu- de um problema, representações que as ajudam a pen-
ralmente representações (particularmente, não se deve sar, a lembrar, a guardar informação, a calcular, etc. Nes-
esquecer de que a expressão verbal é uma forma de re- ses casos, as representações são um meio para a reso-
presentação), e embora seja bem-reconhecida a impor- lução do problema e desempenham funções diferentes
tância da representação na matemática, a tradição esco- da função de comunicação para outros de algo pensado
lar veio retardando a reflexão sobre este ponto. Assim anteriormente.
como se veio reconsiderando o lugar dos procedimentos As diversas funções da linguagem e das representa-
não-convencionais em relação com os formais, deve-se ções simbólicas na atividade matemática (para comuni-
rever a postura tradicional que ignora o valor do uso de car aos outros ou a si mesmo, como ajuda para o pensa-

200
mento, como apoio para o cálculo, para o planejamento representações que lhes sejam significativas para cada
e para o controle, etc.) foram teorizadas por Vergnaud problema e, por conseguinte, importantes para pensar
(1991) e por Duval (1995). Vergnaud (1996), particular- e resolver.
mente, incorpora algumas delas explicitamente em sua Não estamos, de forma alguma, sugerindo eliminar o
teoria dos campos conceituais, pelo valor que lhes con- planejamento na resolução de problemas. Ao contrário,
fere na atividade matemática. trata-se de restituir a função para a qual foi criado, favo-
Para Duval (1993, 1995), um ponto crucial para a recendo que os alunos exibam e registrem em seus ca-
aprendizagem da matemática diz respeito ao trabalho dernos seus “planejamentos pessoais”, esses que, como
com diversos sistemas de representação, pois é assim no caso de Aníbal que analisamos, são os que efetiva-
que se consegue que uma representação funcione como mente os ajudam no processo de resolução.
tal, de acordo com a condição que o autor estabeleceu e É importante destacar que os processos exibidos me-
que analisamos anteriormente (que o aluno não confun- diante o uso das diversas funções das representações
da o objeto com nenhuma de suas representações e que constituem tanto o sentido dos conhecimentos que os
o reconheça em cada uma delas). alunos constroem dos objetos matemáticos como o dos
Essas considerações trazem ainda mais argumentos a conhecimentos que constroem dos sistemas de repre-
favor da necessidade de facilitar espaços de emergência sentação.
das representações não-convencionais dos alunos, en-
quanto sustentam a hipótese de que as representações PROBLEMAS E CONTAS: UMA FALSA DIFERENÇA?
externas têm um valor produtivo na aprendizagem. Su-
gerem também a necessidade de rever algumas tradi- Por que tratar esta questão? Porque, a uma longa tra-
ções escolares, em virtude das consequências que com- dição escolar que propunha aos alunos grandes quanti-
portam para a aprendizagem ao estarem ancoradas em dades de contas, seguiu-se uma nova corrente baseada
visões mais restritas sobre as funções da linguagem e das na resolução de problemas. Em que sentido essa nova
representações simbólicas. corrente deveria significar uma evolução na didática?
A primeira revisão deveria ser sobre o critério segun- Neste item responderemos a essa pergunta em termos
do o qual – especialmente na educação infantil e nas dos conhecimentos necessários para se resolver um pro-
séries iniciais – as atividades dos alunos devem passar blema ou uma conta. Particularmente, veremos que há
necessariamente e de maneira ordenada por etapas de conhecimentos que não são necessários para efetuar
ação efetiva, representação gráfica e representação sim- uma operação, mas são necessários para a escolha da
bólica.5 Essa sequência deixa lugar a um só aspecto – operação que permitirá resolver o problema.
certamente importantíssimo – das representações exter- Esta análise é fundamental para que uma prática ba-
nas relacionadas com a atividade matemática: a função seada na resolução de problemas signifique uma ver-
de representação como comunicação (para os outros), dadeira evolução em relação às práticas baseadas em
como maneira de tornar público e deixar expresso o que contas: trata-se de identificar os diversos conhecimentos
já se fez anteriormente. Contudo, esta subordinação do matemáticos que os alunos poderão construir em cada
simbólico à ação não dá lugar ao uso das representações caso. Analisaremos essa questão mediante o seguinte
simbólicas encerradas no mesmo processo de resolu- problema de adição:
ção de problemas – que começa com a representação Nesta caixa tenho 3 bolinhas e nesta outra, 42. Quan-
do problema em si mesmo (organização dos dados e da tas bolinhas tenho ao todo?
meta, etc.) – e que, como vimos, desempenham diversas Que conhecimentos são necessários para resolvê-lo?
funções importantes na atividade matemática. Em primeiro lugar, é necessário ter presente dois aspec-
Rever esta tradição não significa interpretar que es- tos distintos comprometidos na resolução. Trata-se de:
tamos sugerindo inverter a ordem, isto é, começar pelo 1. Encontrar que “3 + 42” é a operação numérica ade-
simbólico para continuar com o concreto. Na realidade, quada para resolver o problema.
trata-se justamente de compreender que não se deve es- 2. Calcular a soma.
tabelecer um critério único e independente da situação
particular de ensino. Por exemplo, ao trabalhar com con- O fato de que se trata de aspectos distintos é bem
juntos na educação infantil e na 1a série, em alguns casos, expresso por Vergnaud (1991). Efetivamente, conforme
será oportuno começar com conjuntos reais; em outros, expõe, como exemplo, em sua definição de sentido de
com conjuntos desenhadas. O professor deve analisar a um conceito – que apresentamos em seguida –, ambos
conveniência de uma ou de outra modalidade em cada os aspectos são constitutivos do sentido da adição.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

caso, devendo, entre outros saberes, ter identificadas as São as situações que dão sentido aos conceitos ma-
diversas funções que as representações podem desem- temáticos, mas o sentido não está nas situações mesmas.
penhar para os alunos quando trabalham na matemática. Também não está nas palavras ou nos símbolos matemá-
Outra questão que deve ser revista – especialmen- ticos. Diz-se, no entanto, que uma representação simbó-
te em relação com os primeiros anos do ensino funda- lica, que uma palavra ou um enunciado matemático têm
mental – é a tradição segundo a qual o planejamento é sentido, ou vários sentidos, ou não têm sentido para tais
ensinado pelo professor como a maneira de pensar um ou quais indivíduos; diz-se também que uma situação
problema. Embora o planejamento convencional tenha tem sentido ou não tem sentido. Então, o que é o senti-
sido criado com a intenção de oferecer um meio para do? O sentido é uma relação do sujeito com as situações
a resolução dos problemas, mediante este tipo de prá- e os significantes. Mais precisamente, são os esquemas
tica os alunos não encontram espaços para usar outras evocados no sujeito individual por uma relação ou por

201
um significante que constituem o sentido desta situação conhecida pelo professor: o fato de que, por exemplo,
ou deste significante para este indivíduo. São os esque- para pequenos conjuntos, as crianças somam os dois car-
mas, isto é, os comportamentos e sua organização. O dinais, mas, para grandes conjuntos, precisam reuni-los e
sentido da adição para um sujeito individual é o conjun- contar o total. O alcance do teorema em ato enunciado
to de esquemas que pode ser colocado em prática para é, então, para esses pequenos conjuntos para os quais as
tratar as situações que são enfrentadas e que implicam crianças somam os cardinais.
a ideia de adição, é também o conjunto de esquemas Em síntese, toda essa discussão pode situar-se no-
que pode ser colocado em prática para operar sobre os vamente dentro da análise que vínhamos fazendo – em
símbolos numéricos, algébricos, gráficos e da linguagem termos de objetos e representações. O conhecimento
que representam a adição. identificado por Vergnaud nos alunos nessas situações
Quando a professora intervém na escolha da opera- expressa uma propriedade do número (objeto) e não de-
ção adequada, respondendo afirmativamente à pergunta pende do sistema de representação (sistema de nume-
tão conhecida: “O sinal, é de mais?”, podemos dizer que ração decimal, romano ou outro) utilizado para efetuar
as crianças resolvem a conta, mas não o problema. Em- o cálculo.
bora para eles o cálculo em si mesmo represente tam- O cálculo da soma, por si só, não põe em prática esse
bém um problema, podemos dizer que, nesse caso, o conhecimento (relativo ao aspecto cardinal do número),
problema enunciado pela professora não é aquele que embora aí intervenham no mesmo – como vimos – outros
resolveram. Algo semelhante acontece quando o enun- conhecimentos do objeto (propriedades das operações).
ciado sugere que se trata de uma soma. Em ambos os Naturalmente, isto não é alguma coisa que o profes-
casos, “mataram” o problema, o problema foi reduzido à sor deve dizer aos alunos. Trata-se, sim, de algo que ele
resolução da conta. Os alunos não precisaram colocar em deve saber para abordar no trabalho didático. É funda-
prática todos os conhecimentos necessários para tratar a mental avaliar a distância entre os aspectos assinalados
situação. em relação com o problema – a operação como recurso
Trata-se, certamente, de coisas distintas. Contudo, para resolvê-lo, e fazer a conta – do ponto de vista do
quais são os conhecimentos necessários para abordar saber matemático e, consequentemente, dos conheci-
cada um desses aspectos? mentos que devem ser construídos pelos alunos ao re-
Já nos referimos aos conhecimentos envolvidos em solver o problema. Somente essa compreensão coloca o
alguns procedimentos dos alunos para efetuar a opera- professor na possibilidade de escolher, e não somente
ção de soma. Analisamos os conhecimentos em termos de abandonar velhas práticas pelo simples fato de que
das propriedades das operações (associativa e comutati- as novas correntes sugerem outra coisa. Aceitar como lei
va da soma) e em termos de propriedades específicas do formulações do tipo “Agora não há mais exercícios na
sistema de numeração (decomposição aditiva) colocadas sala de aula, deve-se formular situações problema” que
em prática nos procedimentos. Quanto ao conhecimento pode levar, sem uma compreensão adequada, a práticas
envolvido na escolha da operação, trata-se do aspecto educativas que signifiquem por parte dos alunos a reso-
cardinal do número, em relação com a adição de quan- lução de “exercícios disfarçados de problemas”.
tidades. Novamente, Vergnaud (1991) nos ajuda a com-
preender, do lado do sujeito que resolve o problema, o USOS (E ABUSOS) DAS REPRESENTAÇÕES SIMBÓ-
conhecimento – seguramente implícito – necessário para LICAS
fazer essa escolha. Vergnaud descreve – em termos do
teorema em ato – o conhecimento dos alunos em uma Abordaremos, agora, um conjunto de fenômenos
situação na qual poderiam contar o total dos elementos complementares aos analisados nos itens anteriores,
do conjunto (porque se trata de conjuntos disponíveis) e, desta vez em relação com a complexidade cognitiva en-
no entanto, fazem o cálculo: volvida no uso de representações.
[...] entre os 5 e os 7 anos, as crianças descobrem que Quando o professor apresenta um problema, o modo
não é necessário contar o total para encontrar o cardinal de interpretar – por parte dos alunos – a representação
de A ∪ B se já se contou o cardinal de A e o de B. alguém utilizada na formulação deste é parte da tarefa e condi-
pode expressar este conhecimento por um teorema em ciona a resolução. O professor, seguramente, está cons-
ato: card (A ∪ B) = card A + card B (se A e B são distin- ciente disso. No entanto, a apresentação de atividades
tos). frequentemente parece objeto (propriedades das opera-
ções).
A ausência de quantificador deixa entender que este Naturalmente, isto não é alguma coisa que o profes-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

teorema não tem uma validade universal para as crian- sor deve dizer aos alunos. Trata-se, sim, de algo que ele
ças, mas um alcance local, para pequenos conjuntos, por deve saber para abordar no trabalho didático. É funda-
exemplo. mental avaliar a distância entre os aspectos assinalados
É importante notar que esse teorema em ato é tam- em relação com o problema – a operação como recurso
bém pertinente para descrever o conhecimento envol- para resolvê-lo, e fazer a conta – do ponto de vista do
vido na escolha da operação no caso do problema que saber matemático e, consequentemente, dos conheci-
estamos analisando, em que os conjuntos não estão dis- mentos que devem ser construídos pelos alunos ao re-
poníveis. solver o problema. Somente essa compreensão coloca o
Talvez valha a pena reformular o que Vergnaud des- professor na possibilidade de escolher, e não somente
taca sobre “a ausência de quantificador universal”. Em de abandonar velhas práticas pelo simples fato de que
outras palavras, ele se refere a alguma coisa que é bem as novas correntes sugerem outra coisa. Aceitar como lei

202
formulações do tipo “Agora não há mais exercícios na sala de aula, deve-se formular situações problema” que pode
levar, sem uma compreensão adequada, a práticas educativas que signifiquem por parte dos alunos a resolução de
“exercícios disfarçados de problemas”.
Um bom exemplo disso é analisado por Moreno, em relação a uma adição de quantidades representada mediante
o seguinte esquema:

Moreno discute vários dos problemas que comportam este tipo de representações ao serem interpretadas pelos
alunos. É importante acrescentar que os sinais “+” e “=”, que são pertinentes para as operações de numerais, não o
são neste contexto. A esta falta de pertinência se acrescenta o fato da fraca relação dos alunos – nos primeiros anos de
escolaridade – com o sistema simbólico no qual a representação pretende se apoiar. É importante ter presente este tipo
de dificuldades na hora de escolher uma forma não-convencional de representação na formulação de um problema.
Mesmo assim, convém destacar os problemas de interpretação dos textos verbais. Frequentemente se costuma atri-
buir a dificuldade dos alunos na interpretação de enunciados a problemas de “leitura compreensiva”, como se a com-
preensão de textos matemáticos fosse uma “aplicação” de uma capacidade geral de leitura. Nesta hipótese, diminui-se
a importância de um trabalho específico na aula de matemática destinado à interpretação das relações matemáticas
implicadas nos enunciados.
Por outro lado, alguns sistemas convencionais de representação – por suas características intrínsecas – favorecem o
aprofundamento da ilusão de transparência de que falávamos antes. Duval (2002), por exemplo, destaca uma particu-
laridade das representações geométricas que ilumina especialmente esse fenômeno.
As figuras geométricas apresentam necessariamente características topológicas, afins e métricas, o que leva a con-
siderá-las como sendo da mesma natureza do que aquilo que elas representam [...].
Quer dizer que as particularidades das representações geométricas aprofundam a dificuldade de conseguir que “o
objeto não seja confundido com sua representação”, uma das condições estabelecidas por Duval para que a represen-
tação funcione como tal.
De qualquer maneira, o problema da representação não é patrimônio da geometria e começa no domínio numérico
com a entrada dos “x” na aula de matemática: tanto o numeral “2” como o desenho de um losango são representações
e – uma vez que os objetos que representam não são perceptíveis pelos sentidos – existe uma tendência natural a
identificar os objetos com suas representações, como já observava Frege, em 1891.
Voltamos assim para o problema apresentado no início deste capítulo sobre a representação na matemática, visto
agora na complexidade de interpretação do funcionamento de um sistema simbólico. Destacamos, assim, a impor-
tância de interpretar as representações utilizadas pelos alunos como uma maneira de conhecer, constitutiva dos co-
nhecimentos matemáticos que os alunos constroem. A análise deste item quer mostrar um aspecto complementar no
processo de ensino: trata-se da necessidade de escolha de sistemas de representação adequados e de considerar como
objeto de ensino o funcionamento dos sistemas simbólicos. Contudo, insistimos na necessidade de distinguir concei-
tualmente o objeto matemático de sua representação a fim de conduzir um ensino satisfatório, o que não significa que
alguém deva considerar separadamente o ensino dos objetos matemáticos e o ensino dos sistemas simbólicos. Não se
trata de ensinar os sistemas simbólicos à margem da atividade matemática, como se se tratasse de um capítulo à parte
do ensino da matemática, mas de compreender que, embora um sistema de representação não se confunda com o
objeto matemático, constitui um objeto de conhecimento e de ter presente toda a complexidade que isso supõe para
o sujeito que tenta se apropriar dele. Esta apropriação está relacionada com a do objeto matemático, mas não se reduz
a ela, enquanto o sistema de representação tem uma especificidade.
O trabalho didático necessário é a longo prazo e compromete todos os níveis de escolaridade, devendo começar
nos primeiros anos. O critério geral deveria ter presente tanto as questões específicas relativas à apropriação dos di-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

versos sistemas de representação como as relações que devem ser estabelecidas com os objetos que representam,
cuidando especialmente de favorecer uma atividade matemática tendente a que as diversas representações funcionem
como tais. Particularmente, se deveria proporcionar aos alunos, desde o começo da escolaridade, atividades com di-
ferentes formas de representação (representações verbais, simbólicas, icônicas, etc.) (Duval, 1993, 1995), a fim de que
estejam em contato com experiências que lhes permitam conhecer tanto o funcionamento dos sistemas simbólicos
como os diversos aspectos dos objetos matemáticos que estes permitem representar. Para isso, o professor precisa
identificar as características dos diversos sistemas simbólicos, as relações que têm com os objetos que representam, a
complexidade que sua apropriação supõe em cada caso, a diversa pertinência de uns e outros em função dos conheci-
mentos que se pretende abordar, bem como ter acesso às pesquisas didáticas sobre seu ensino.

203
ENSINO DOS SISTEMAS SIMBÓLICOS: UM REGRES- das operações. E isso tem consequências sobre o ensi-
SO AO EMPIRISMO? no, porque leva a não perceber que este conhecimento é
motivo de construção.
É necessário considerar como objeto de ensino o fun- Realmente, o risco é considerar que os conceitos são
cionamento dos sistemas simbólicos? Sim, é claro; na- motivo de construção, que estão ligados ao sentido, à
turalmente, não só se deve ensinar conceitos, como se compreensão, enquanto os mecanismos estão desprovi-
deve ensinar a representar os números, o funcionamento dos de sentido e se pode ter acesso a eles pela observa-
do sistema... Deve-se ensinar a fazer contas! O proble- ção sensorial.
ma é como. Para aprofundar este aspecto importante da É assim que, em algumas correntes de ensino, coexis-
educação matemática, vamos analisar agora uma oposição tem uma concepção construtivista do ensino de concei-
entre conceitual e mecânico que acontece com frequência tos matemáticos e uma concepção empirista em relação
ao expressar frustrações sobre as conquistas dos alunos. aos sistemas simbólicos. Cabe perguntar-se, então, se
Talvez o leitor tenha escutado ou formulado alguma essa coexistência está baseada em concepções de apren-
vez expressões que opõem o “resolver um problema com- dizagem que a justifiquem. Em nossa opinião, o fenôme-
preensivelmente, raciocinando e utilizando conceitos” e no não parece dever-se a uma decisão consciente basea-
“resolvê-lo mecanicamente, operando sobre os símbolos”. da em uma concepção empirista da aprendizagem dos
Esta oposição é falsa, porque se apresenta em duas dimen- sistemas simbólicos, mas ao fato de que as pesquisas so-
sões diferentes de análise: a de dispor de um conhecimen- bre o tema dessas aprendizagens penetraram o sistema
to e a de sua aprendizagem. Vejamos porquê. educacional em menor grau que as pesquisas feitas em
O fato de os mecanismos de cálculo poderem ser uti- relação com a aprendizagem de conceitos matemáticos.
lizados “automaticamente” é, sem dúvida, um objetivo da Particularmente, falta integrar à sala de aula os resulta-
educação matemática. Todavia também se espera que os dos de pesquisas que mostram propostas didáticas e que
conceitos matemáticos – embora não sejam mecanismos apresentam uma hipótese construtivista em relação com
– estejam disponíveis, que se possa ter acesso a eles “au- ambos os aspectos da educação matemática, uma vez
tomaticamente”, uma vez adquiridos. É o que acontece que identificam processos de aprendizagem mediante os
quando conceitos e algoritmos são do domínio do sujei- quais ambos os aspectos participam dialeticamente um
to. O professor, por exemplo, automaticamente conta a do outro.
quantidade de seus alunos quando se propõe ir ao teatro Para trabalhar em uma hipótese construtivista, deve-
e comprar ingressos para levá-los todos juntos e identi- mos agregar ao conjunto de saberes necessários iden-
fica também imediatamente se um problema é “de mais” tificados anteriormente a capacidade do professor de
ou “é de vezes”. Mesmo assim, resolve facilmente uma dispor explicitamente dos conhecimentos que devem
conta, porque domina os mecanismos de cálculo. Dize- ser ensinados. Esta afirmação merece uma explicação,
mos que, para o professor, nenhuma dessas coisas é um embora possa parecer óbvia ao leitor, que sempre – em
“problema”. A possibilidade de ter acesso automatica- sua atividade docente – considerou explicitamente os co-
mente a um conhecimento não depende de sua natureza nhecimentos que se dispôs a ensinar. O professor, por
(conceitual ou simbólica), mas do nível de conhecimento exemplo, conhece explicitamente o algoritmo da multi-
no qual a pessoa se situa quando enfrenta uma situação. plicação, mas pode ter “esquecido” a maneira como este
No entanto, enquanto se está aprendendo, nem os mecanismo de cálculo incorporou as propriedades das
mecanismos, nem os conceitos estão disponíveis para a operações que o justificam; consequentemente, as in-
mente dessa maneira. Cabe, então, perguntar-se pelas dicações sobre como multiplicar podem ser “mágicas”,
condições de sua aprendizagem. Nesse sentido, é impor- isto é, sem fundamento. Um bom exemplo dessa “magia”
tante notar que a tradição escolar deu sempre um lugar acontece quando, para efetuar a seguinte multiplicação
de importância à aprendizagem de conceitos. As diver-
sas correntes de ensino – com maior ou menor sucesso
– sempre consideraram como problema didático conse-
guir que os alunos tivessem acesso a uma aprendizagem
conceitual dos objetos matemáticos.
Em relação aos mecanismos de cálculo, seguiu-se um
caminho diferente. Sem dar importância às dificuldades
dos alunos para efetuar operações e considerando os al-
goritmos de cálculo convencionais como conteúdos – e
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

dos difíceis – a serem ensinados, a tradição escolar man- São feitas observações deste tipo: “Zero vezes toda a
teve-se em uma postura didática diferente, como se não quantidade, zero”; e, em seguida: “Não se esqueçam de
tivesse nada para ser compreendido, mas somente para que, depois de multiplicar por quatro, deve-se deixar os
ser observado e recordado como se faz para multiplicar, espaços”.
dividir, etc. Talvez isso tenha origem no alto grau de au- O conhecimento do fundamento dessas regras é tão
tomatização que o adulto – particularmente o professor importante como o conhecimento das regras em si mes-
– apresenta do sistema numérico, em que reside uma for- mas. Trata-se de conhecer o funcionamento do sistema
ça e uma fraqueza: a força de poder fazer cálculos “sem de numeração decimal e sua relação com o objeto que
pensar” – graças à economia do sistema – e a fraqueza representa (o número). Para fazer o aluno compreender
de não ter acesso conscientemente à maneira como os um algoritmo de cálculo, uma condição necessária é que
algoritmos de cálculo têm incorporadas as propriedades o professor tenha acesso conscientemente às proprieda-

204
des que estão por trás do mesmo. Se para o professor Saberes relativos à aprendizagem
se transformaram em conhecimentos implícitos por au-
tomatização, é importante saber que podem tornar-se • Interpretar os procedimentos e representações em
novamente conscientes quando a situação assim o exija termos de conhecimentos que os alunos põem em
(Duval, 2002), como acontece quando se pretende con- prática ao executá-los.
duzir um ensino que esteja de acordo com este enfoque. • Distinguir nos conhecimentos dos alunos os que são
atribuíveis aos objetos de conhecimento daqueles
SÍNTESE EM TERMOS DE SABERES NECESSÁRIOS que comprometem fundamentalmente particulari-
dades dos sistemas simbólicos.
Fizemos uma análise em relação ao numérico, com a • Considerar as diversas maneiras de conhecer (im-
intenção de apresentar – como anunciamos na introdução plícitas, conscientes, explícitas) como constitutivas
– diversas dimensões relevantes para abordar a complexi- dos conhecimentos.
dade da aquisição do “sentido” na matemática. Vimos que
existe um sentido dos conceitos, um sentido dos símbolos, Saberes didáticos
um sentido das expressões, um sentido dos conhecimentos,
bem como diversos aspectos constitutivos do sentido em • Identificar diversas dimensões da construção do
cada caso e condições adequadas para sua aquisição. Iden- “sentido” na aprendizagem da matemática.
tificar esses diversos aspectos é a etapa inicial para abordar • Identificar relações entre as práticas áulicas e os co-
um ensino da matemática que se proponha seriamente à nhecimentos que os alunos constroem (ausência
conquista da aquisição do “sentido” nesta disciplina. ou presença de “sentido” em seus conhecimentos).
Por outro lado, por meio da análise anterior, identi- • Reconhecer a importância de permitir os procedi-
ficamos diversos saberes necessários para conduzir um mentos e representações espontâneos dos alunos
ensino que contemple as diversas dimensões do sentido na evolução do conhecimento.
que apresentamos: saberes relativos ao edifício matemá- • Reconhecer a complexidade do funcionamento dos
tico; saberes relativos à aprendizagem; saberes didáticos. sistemas simbólicos utilizados no ensino da mate-
Essa distinção – justificada por razões teóricas – é man- mática.
tida aqui com finalidade expositiva e não deve ser con- • Reconhecer, nas diversas concepções de ensino, as
siderada como uma divisão. Como se verá ao longo dos concepções didáticas subjacentes.
diversos capítulos do livro, tanto o desenvolvimento da
didática da matemática como o trabalho docente realiza- As pesquisas cognitivas e didáticas oferecem ele-
do dentro deste marco teórico exigem a capacidade de mentos para orientar uma gestão da aprendizagem e
integração desses diversos saberes. do ensino em uma perspectiva que leve em conta tanto
a especificidade do nível no qual se desenvolve o en-
Saberes relativos ao edifício matemático sino como as aprendizagens que devem ser realizadas
a longo prazo por meio da escolaridade. Assim mesmo,
Encontramos, nas diversas perspectivas de análise, a abordam problemas gerais da construção do sentido na
necessidade de distinguir conceitualmente os aspectos matemática, assim como problemas particulares de do-
atribuíveis ao objeto e os atribuíveis à sua representação, mínios específicos (aritmética, geometria, etc.). Este livro
bem como a compreensão de suas relações. contém análises e situações didáticas que explicam pes-
Com relação ao numérico, trata-se de compreender quisas internacionais e nacionais, particularmente dos
os aspectos relativos a ele e às operações numéricas (ob- próprios autores. Esses trabalhos, junto com os saberes
jeto) e os relativos ao sistema de numeração (represen- necessários que acabamos de sintetizar e a sustentação
tação), bem como suas diferenças e suas relações. Mais teórica proposta pela teoria de situações didáticas, são
detalhadamente, trata-se de compreender: recursos para escolher as situações adequadas ao saber
• As funções dos diferentes tipos de números para matemático para o qual se aponte em um dado momen-
quantificar aspectos da realidade (contar, medir, to do ensino e para fazer uma gestão de classe que facili-
etc.). te a construção do sentido dos conhecimentos por parte
• O caráter de necessidade das operações e suas pro- dos alunos.
priedades em relação com as funções dos núme-
ros. O ensino do número e do sistema de numeração
• A independência das propriedades dos diversos ti- na educação infantil e na 1a série (Capítulo 3)
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

pos de números e operações das características de


notação do sistema de numeração. Para explicar sobre o conhecimento das crianças dian-
• A forma de funcionamento dos diferentes sistemas te o sistema de numeração Moreno (2006), destaca uma
simbólicos e as possibilidades de representação e pesquisa realizada por Delia Lerner e Patrícia Sadovsky
de cálculo que oferecem – particularmente, com- (1996), na Argentina, na qual as mesmas afirmam que:
preender de que maneira os algoritmos conven- “as crianças constroem muito cedo hipóteses, ideias par-
cionais de cálculo incorporam as propriedades das ticulares para produzir e interpretar representações nu-
operações. méricas” (MORENO, 2006, p.57); e que “as crianças não
• O sistema misto de regras utilizado no cálculo: re- constroem a escrita convencional dos números tal qual a
gras próprias do objeto e regras do sistema de re- ordem da série numérica” (MORENO, 2006, p.58).
presentação utilizado, etc.

205
As crianças detêm primeiramente os “nós” dos núme- Fonte
ros que corresponderiam às dezenas, centenas e unida- PANIZZA, Mabel. Ensinar matemática na Educação In-
des de milhar exatas. Elas esclarecem que a fantil e nas séries iniciais: Análise e propostas. Porto Ale-
[...] apropriação da escrita convencional dos números gre: Artmed, 2006
não segue a ordem da série numérica: as crianças mani- ARRUDA, T. C.; AZERÊDO, M. A. de. O sistema de nu-
pulam em primeiro lugar a escrita dos “nós” – quer dizer, meração no ciclo de alfabetização – discutindo a escrita
das dezenas, centenas, unidades de mil..., exatas – e só numérica
depois elaboram a escrita dos números que se posicio- MORENO, Beatriz Ressia de. O Ensino do número e
nam nos intervalos entre estes nós (LERNER; SADOVSKY, do sistema de numeração na educação infantil e na 1ª
1996, apud MORENO, 2006). série. In: PANIZZA, Mabel. Ensinar matemática na educa-
Isso confirma que “[F]alar e escrever não são somen- ção infantil e nas séries iniciais: análise e propostas. Porto
te maneiras diferentes de se comunicar com os outros; Alegre: Artmed, 2006.
significam também diferentes formas de representação
mental de uma mesma realidade” (MORENO, 2006, p.64).
Mesmo que as crianças participem de atividades escola-
res que promovam a escrita e leitura numérica, não quer
dizer que o entendimento seja o convencional de todos. EXERCÍCIO COMENTADO
Segundo Hormaza (2005) durante a ação de interpre- 1. (Prefeitura Municipal de Três Fronteiras - SP - Pro-
tar a grafia arábica vai exigir a realização de três com- fessor de Educação Básica I- Educação Infantil – Ins-
posições: “composição aditiva fundamenta a composição tituto Excelência/2017) A função social da escola tem
dos numerais em diversas ordens e a inclusão dos nú- sido cada vez mais diversificada. Ela se funda na pre-
meros de um período inferior no seguinte” (HORMAZA, mente necessidade do acompanhamento, por parte das
2005, p.81); “composição multiplicativa permite entender instituições educativas, das mudanças que se processam
porque somente são escritos os operadores das potên- aceleradamente em função dos avanços da ciência e da
cias” (BEDOYA e OROZCO, 1991 apud HORMAZA, 2005, tecnologia e o mundo do trabalho. Nesse sentido, é cor-
p.8) e de potenciações. reto afirmar que
Viana (2014) discute que provavelmente a maior di-
ficuldade no processo de letramento matemático esteja a) a cultura escolar deve priorizar o ensino interdiscipli-
na compreensão efetiva do nosso sistema de numeração, nar.
principalmente no que se refere à escrita numérica po- b) a função do currículo escolar é reforçar o ensino de
sicional. Para melhor entendimento, o autor destaca as linguagem e da matemática para atender ao mundo
principais características de nosso sistema: do trabalho.
O SND tem apenas dez símbolos – 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, c) os conteúdos curriculares devem priorizar o ensino de
8 e 9 – a partir dos quais são construídos todos os núme- ciências e suas conexões com a vida prática do aluno.
ros; o zero representa a ausência de quantidade; o valor d) os conteúdos curriculares devem reforçar o ensino de
do símbolo é alterado de acordo com sua posição no conteúdos da prática e minimizar os conteúdos teó-
número; todo número pode ser representado usando-se ricos.
o Princípio Aditivo (adição dos valores posicionais dos e) a cultura escolar deve desenvolver um ensino que crie
símbolos. Exemplo: 12 = 10 + 2); todo número pode ser conexões entre o que o aluno aprende e as experiên-
representado usando-se o Princípio Multiplicativo (multi- cias de vida.
plicação do número pela potência de 10 correspondente
à sua posição). Exemplo: 7 = 7 x 1 = 7 x 100; 70 = 7 x 10 = Resposta: Letra E. O trabalho didático necessário é
7 x 101; 700 = 7 x 100 =7 x 102 (VIANA, 2014, p. 9). a longo prazo e compromete todos os níveis de es-
colaridade, devendo começar nos primeiros anos. O
Devido às especificidades do sistema de numeração, critério geral deveria ter presente tanto as questões
é importante que sejam propostas às crianças, situações específicas relativas à apropriação dos diversos siste-
nas quais ela reflita sobre a escrita numérica, sendo con- mas de representação como as relações que devem
vidada a comparar, ler e escrever números no início de ser estabelecidas com os objetos que representam,
seu processo de escolarização. Importante salientar que cuidando especialmente de favorecer uma atividade
somente “a imersão em um ambiente com jogos e ma- matemática tendente a que as diversas representa-
teriais de contagem não garantirá a apropriação do Sis- ções funcionem como tais. Particularmente, se deveria
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

tema de Numeração Decimal” (VIANA, 2014, p.7), é ne- proporcionar aos alunos, desde o começo da escolari-
cessário um trabalho efetivo de análise e reflexão sobre dade, atividades com diferentes formas de representa-
a escrita numérica. ção (representações verbais, simbólicas, icônicas, etc.)
Essa compreensão sobre o sistema de numeração (Duval, 1993, 1995), a fim de que estejam em contato
“possibilita a ampliação das potencialidades de lidar com com experiências que lhes permitam conhecer tanto o
algoritmos e procedimentos operatórios e a ampliação funcionamento dos sistemas simbólicos como os di-
do campo numérico, passando do universo dos números versos aspectos dos objetos matemáticos que estes
resultados da contagem para os números resultados das permitem representar. Para isso, o professor precisa
medições, dos números ‘inteiros’ aos números ‘quebra- identificar as características dos diversos sistemas
dos’” (VIANA, 2014, p. 9). simbólicos, as relações que têm com os objetos que
representam, a complexidade que sua apropriação

206
supõe em cada caso, a diversa pertinência de uns e - conteúdos e procedimentos correspondentes à área
outros em função dos conhecimentos que se pretende de Ciências Humanas apreendidos durante o curso
abordar, bem como ter acesso às pesquisas didáticas de formação do docente em história e geografia;
sobre seu ensino. - conhecimento dos conceitos básicos de história,
geografia e das ciências humanas de modo geral;
- apresentação da estrutura conceitual básica de his-
PENTEADO, HELOÍSA DUPAS. tória e geografia.
METODOLOGIA DE HISTÓRIA E
GEOGRAFIA. SÃO PAULO: CORTEZ, 2011. Tendo em vista o exposto, será apresentado a se-
(CAPÍTULOS 1, 2 E 3). guir aspectos relativos à formação do aluno-mestre que
atuará nos anos iniciais do ensino fundamental. O de-
senvolvimento desse tema passa necessariamente pela
METODOLOGIA DO ENSINO DE HISTÓRIA E GEO- experiência individual, tanto de alunos-mestre quanto de
GRAFIA professor-orientador.
Portanto, a primeira fonte a recorrer é um registro
PENTEADO, Heloísa Dupas. particular dos alunos-mestre. Nesse sentido, é pruden-
te solicitar: período inicial e final em que os conteúdos
FIQUE ATENTO! foram estudados; lista dos conteúdos lembrados; pro-
cedimentos ou formas pelas quais os conteúdos foram
O presente texto tem por finalidade apresen-
estudados.
tar os seguintes assuntos: (I) a formação do
Num segundo momento, os alunos poderão trocar
professor das séries iniciais do Ensino Fun- seus dados, o que ajudará a completar lacunas e cons-
damental; (II) a recuperação da experiência tatar semelhanças.
do aluno-mestre com a História e Geografia Num terceiro momento, cada um poderá escrever
ao longo de sua formação; e (III) o ensino de uma redação sobre o que se apreendeu dos estudos e
Geografia e História que está se processan- das atividades propostas. É necessário que nesse mo-
do nas séries iniciais do Ensino Fundamental mento o professor de Metodologia faça sua redação so-
atualmente. bre a sua experiência como estudante.
Num quarto momento, os alunos poderão ler suas
redações uns para os outros, registrando no caderno as
A disciplina Metodologia do Ensino de História e conclusões. Perguntas e duvidas permitirão ao professor
Geografia no curso de formação de professores, segue de Metodologia perceber o raciocínio e aprendizado dos
um caminho bastante semelhante do Ensino Fundamen- alunos.
tal. Trata-se da construção do conhecimento em torno O último item poderá ser desenvolvido através de
da concepção e prática educativa em contextos formais exercícios de reflexão e de levantamento de situações
de ensino. realizadas pelos alunos com a orientação do professor.
O processo de ensino e aprendizagem tem por finalidade: O professor tem sua posição sobre variados assun-
- favorecer a formação de um sujeito participativo em tos e não há porque ocultá-la. Apresentá-los aos alu-
sala de aula, isto é, fazer com que o aluno pergun- nos-mestre significa expô-la a análise que os alunos
te e coloque as suas opniões sobre determinado eventualmente poderão fazer, da mesma forma que o
assunto; professor faz sua análise das posições manifestadas pe-
- estimular a práxis em sala de aula, ou seja, um los alunos. Se isto ocorrer terá atingido uma real situação
processo reflexivo diante do conhecimento a ser de ensino-aprendizagem significativa, além de uma rela-
apreendido e construído; ção professor-aluno de “igualdade”.
- a coerência entre teoria e prática educativo. Para que É de fundamental importância que o aluno com-
isso ocorra é preciso de uma efetiva compreensão
preenda os mecanismos ou “instrumentos intelectuais”
dos fundamentos da prática educativa.
que lhe permitam refletir e analisar suas próprias posi-
ções e ações, ao longo de sua vida profissional, sobre-
A efetiva concepção de ensino e prática educativa as-
tudo, diante de eventuais processos de ensino que será
sumida pelo aluno-mestre, em muitos casos, é direciona-
vivenciado na educação escolar. Uma última considera-
da pelo professor. A escolha por parte do aluno-mestre
ção muito importante para o professor de Metodologia é
da teoria de ensino-aprendizagem que é mais adequada
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

que existe um determinado tempo de duração dos traba-


e/ou coerente para a prática educativa dele será pautada:
pelas análises das leituras e atividades práticas desenvol- lhos, além do que se corre o risco de se fazer um trabalho
vidas no curso de graduação, bem como da maturidade superficial e desorientado, fazendo com que os alunos
da conclusão feita diante das análises. tenham a sensação de que os processos de conhecimen-
É um momento oportuno destacar que o estudo da to sobre a metodologia de ensino não são importantes
história e da geografia por graduandos, trata-se por na formação. O “tempo adequado” é definido por uma
apreender uma metodologia de ensino de história e geo- série de fatores e circunstâncias sociopedagógicas, tais
grafia direcionada para crianças. como: a natureza dos processos de comunicação social
Segue alguns conteúdos programáticos de ensino de predominantes, a carga horária disponível para trabalhar
história e geografia direcionados para professores que com a disciplina, as formas de comunicação e o dina-
atuam nos anos iniciais do ensino fundamental: mismo desenvolvido em sala de aula. É preciso que os

207
professores de Metodologia estejam cientes de que o dades práticas desenvolvidas no curso de graduação,
processo de conhecimentos sobre o tema não esgota na bem como da maturidade da conclusão feita diante
escola. O importante mesmo é que essa introdução seja das análises.
marcante, cheia de sentido e que se isto acontecer de
fato, os alunos formularão outras questões sobre o as-
sunto, além incentivar a curiosidade, a pergunta e a cons- PIAGET, JEAN. DESENVOLVIMENTO
tante reflexão. Pode-se dizer que o papel do professor e E APRENDIZAGEM. TRAD. PAULO
da escola é o de alimentar essa curiosidade, produzindo FRANCISCO SLOMP. UFRGS- PEAD 2009/1.
mecanismos que possibilitem o ensino e aprendizagem
mais significativo e coerente para aluno e professor.

Fonte FIQUE ATENTO!


CASTILHO, A.; BAPTISTA, J.A.; FRANCISCO, J.J. C., LEI-
Primeiramente gostaria de tornar claro a di-
TE, M. L.P
ferença entre dois problemas: o problema do
desenvolvimento em geral, e o problema da
aprendizagem. Penso que estes problemas
EXERCÍCIO COMENTADO são muito diferentes, ainda que algumas
pessoas não façam esta distinção.
1. (IF-SP – Professor – Pedagogia - IF-SP/2015)Conhe-
cer e dominar a metodologia de ensino da Matemática, O desenvolvimento do conhecimento é um proces-
Ciências, História e Geografia entre outros conteúdos so espontâneo, ligado ao processo global da embriogê-
que integram o currículo dos anos iniciais do Ensino Fun- nese. A embriogênese diz respeito ao desenvolvimento
damental é fundamental para o ensino. Assinale a alter- do corpo, mas também ao desenvolvimento do sistema
nativa correta que comprova essa afirmação: nervoso e ao desenvolvimento das funções mentais. No
caso do desenvolvimento do conhecimento nas crianças,
a) A utilização da metodologia adequada e o domínio a embriogênese só termina na vida adulta. É um processo
dos conteúdos promovem o ensino nos anos iniciais de desenvolvimento total que devemos re-situar no con-
do Ensino Fundamental. texto geral biológico e psicológico. Em outras palavras, o
b) A melhoria da qualidade de aprendizagem está asso- desenvolvimento é um processo que se relaciona com a
ciada a aprendizagem da leitura/escrita e matemática totalidade de estruturas do conhecimento.
nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
c) A participação dos professores na elaboração do ma- A aprendizagem apresenta o caso oposto. Em geral,
terial impresso oferece suporte à ação pedagógica nos a aprendizagem é provocada por situações -- provocada
anos iniciais do Ensino Fundamental por um experimentador psicológico; ou por um profes-
d) A elaboração das diretrizes e dos critérios avaliativos sor, com referência a algum ponto didático; ou por uma
na organização do currículo pelo professor facilitam o situação externa. Ela é provocada, em geral, como oposta
ensino nos anos iniciais do Ensino Fundamental. ao que é espontâneo. Além disso, é um processo limi-
tado a um problema simples ou uma estrutura simples.
Resposta: Letra A. A disciplina Metodologia do En- Assim, considero que o desenvolvimento explica a
sino de História e Geografia no curso de formação de aprendizagem, e esta opinião é contrária a opinião ampla-
professores, segue um caminho bastante semelhante mente sustentada de que o desenvolvimento é uma soma
do Ensino Fundamental. Trata-se da construção do co- de unidades de experiências de aprendizagem. Para alguns
nhecimento em torno da concepção e prática educati- psicólogos o desenvolvimento é reduzido a uma série de
va em contextos formais de ensino. itens específicos aprendidos, e então o desenvolvimento
O processo de ensino e aprendizagem tem por fina- seria a soma, a acumulação dessa série de itens específicos.
lidade: Penso que essa é uma visão atomísta que deforma o estado
- favorecer a formação de um sujeito participativo em real das coisas. Na realidade, o desenvolvimento é o pro-
sala de aula, isto é, fazer com que o aluno pergunte e cesso essencial e cada elemento da aprendizagem ocorre
coloque as suas opiniões sobre determinado assunto; como uma função do desenvolvimento total, em lugar de
- estimular a práxis em sala de aula, ou seja, um pro- ser um elemento que explica o desenvolvimento. Começa-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

cesso reflexivo diante do conhecimento a ser apreen- rei, então, com uma primeira parte tratando com o desen-
dido e construído; volvimento e falarei sobre aprendizagem na segunda parte.
- a coerência entre teoria e prática educativo. Para que Para compreender o desenvolvimento do conhecimen-
isso ocorra é preciso de uma efetiva compreensão dos to, devemos começar com uma ideia que parece central
fundamentos da prática educativa. para mim -- a ideia de uma operação. O conhecimento não
A efetiva concepção de ensino e prática educativa é uma cópia da realidade. Para conhecer um objeto, para
assumida pelo aluno-mestre, em muitos casos, é di- conhecer um acontecimento não é simplesmente olhar e
recionada pelo professor. A escolha por parte do alu- fazer uma cópia mental, ou imagem, do mesmo. Para co-
no-mestre da teoria de ensino-aprendizagem que é nhecer um objeto é necessário agir sobre ele. Conhecer é
mais adequada e/ou coerente para a prática educativa modificar, transformar o objeto, e compreender o processo
dele será pautada: pelas análises das leituras e ativi- dessa transformação e, consequentemente, compreender

208
o modo como o objeto é construído. Uma operação é, as- e métodos próprios. Ambos mantêm entre si uma rela-
sim, a essência do conhecimento. É uma ação interioriza- ção de reciprocidade garantida pela duplicidade funcio-
da que modifica o objeto do conhecimento. Por exemplo, nal que caracteriza esse procedimento metodológico: o
uma operação consistiria na reunião de objetos em uma método clínico-experimental funciona ao mesmo tempo
classe, para construir uma classificação. Ou uma operação como um instrumento de diagnóstico e de descoberta.
consistiria na ordenação ou colocação de coisas em uma Piaget introduz o método clinico – até então usado
série. Ou uma operação consistiria em contagem ou men- nas clinicas psiquiátricas – na pesquisa psicológica com
suração. Em outras palavras, é um grupo de ações modi- o objetivo de obter informações mais precisas sobre o
ficando o objeto, e possibilitando ao sujeito do conheci- raciocínio na criança ou, em outras palavras, visando es-
mento alcançar as estruturas da transformação. (...) tudar como se estrutura o conhecimento humano. Uma
das peculiaridades desde método é o diálogo não pa-
CONCEPÇÃO DE JEAN PIAGET dronizado, mantido entre o pesquisador e a criança, que
permite obter quadros mais reais do pensamento infantil
1. Proposta teórica bem como fugir ao modo tradicional de entrevistas com-
postas de perguntas elaboradas previamente.
Jean Piaget nasceu em Neuchâtel, Suécia, 1896 –
1980. Sempre mostrou interesse pelas ciências naturais. Apesar de, em seus últimos trabalhos, Piaget ter mi-
Seus estudos epistemológicos demonstravam que nimizado o papel da linguagem na estrutura do pensa-
tanto as ações externas como os processos de pensa- mento, ela permanece como fator de extrema importân-
mento implicam na organização lógica. Ele buscava con- cia enquanto via de acesso à reflexão infantil. É por meio
jugar duas variáveis - o lógico e o biológico – numa única da linguagem que a criança justifica suas ações, afirma-
teoria e, com isso, apresentar uma solução ao problema ções e negociações e, ainda, é através dela que se pode
do conhecimento humano. verificar a existência ou não de reciprocidade entre ação
Piaget logo percebeu que a lógica não é inata; ao e pensamento e, consequentemente, o estágio de desen-
contrário, trata-se de um fenômeno que se desenvolve volvimento cognitivo da criança.
gradativamente. Assim, acreditar no procedimento expe- A postura teórico-metodológica de Jean Piaget e
rimental como um meio capaz de permitir a descoberta suas explicações acerta do desenvolvimento mental po-
de uma espécie de embriologia ou gênese do conhe- dem ser melhor compreendidas quando se considera a
cimento. A obra piagitiana, comprometida fundamen- influência de sua formação (em biologia) na elaboração
talmente com a explicação do processo de desenvolvi- dos princípios básico que orientam sua teoria. Dentre os
mento do pensamento, compreende dois momentos: os aspectos que a Piaget transfere da biologia para a con-
trabalhos iniciais atribuem uma importância capital, na cepção psicogenética, podem ser destacados: o ajusta-
estrutura do pensamento, à linguagem e à interação en- mento de antigas estruturas a novas funções e o desen-
tre as pessoas, revelando, dessa forma, um modelo mais volvimento de novas estruturas para preencher funções
comprometido com o social. antigas, o que pressupões, no desenvolvimento, uma
O modelo psicogenético mais difundido hoje é a obra corrente contínua onde cada função se liga a uma base
de Piaget que se concentra na ação e manipulação de pré-existente e, ao mesmo tempo, se transforma para
objetos que passam a construir, juntamente com a ma- ajustar-se a novas exigências do meio, ocorrendo, então,
turação biológica, os fatores essenciais na estrutura do o que Piaget denomina de adaptação. Dos dois princí-
pensamento. pios básicos e universais da biologia – estrutura e adap-
Uma segunda frente teórica, em psicologia, com a tação – encontram-se também presentes na atividade
qual Piaget se depara e que vinha ocupando cada vez mental, já que para ele a inteligência é uma característica
mais espaço nas pesquisas desta área no início do sécu- biológica do ser humano.
lo, é representada pelos psicólogos da Gestalt. A teoria De acordo com Chiarottino, as observações piagetia-
da forma ou procurar mostrar que alguns fenômenos nas sobre o comportamento infantil trazem implícitas as
perceptivos e intelectuais não podem ser explicados por hipóteses que, assim como existem estruturas específicas
meio de descrições dos elementos da consciência nem para cada função no organismo, da mesma forma existi-
tampouco pelas analises comportamentais baseadas na rão estruturas específicas para o ato de conhecer, capa-
associação de estímulo/ resposta. Piaget encontra ainda zes de produzir o conhecimento necessário e universal
uma psicologia fortemente influenciada pelas ideias de tão perseguido pela filosofia. Piaget acredita, ainda, que
Freud que questiona a ênfase dada aos processos cons- essas estruturas não aparecem prontas no organismo,
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

cientes, afirmando o papel fundamental do inconsciente antes sim, possuem uma gênese que justificaria o con-
para a compreensão do desenvolvimento da personali- traste entre lógica infantil e a lógica adulta. A partir do
dade humana. exercício dos reflexos biológicos, que se transformam em
Piaget realiza duas primeiras pesquisas em psicolo- esquemas motores e através da ação a criança constrói,
gia, a ciência psicológica mantém como objeto de estudo gradativamente, suas estruturas cognitivas que se mani-
um sujeito cindido em matéria e espiritual, o que, con- festam numa organização sequencial chamado por Pia-
sequentemente, determina uma divisão na comunidade get de estágio de desenvolvimento cognitivo.
científica.
Sem perder de ponto de vista o propósito de estudar O conjunto de comportamentos reflexos de recém-
a gênese do conhecimento humano, Piaget, no início de -nascido, por exemplo, transforma-se através de seu
seu trabalho, vai elaborando, ao mesmo tempo, teoria exercício nos primeiros esquemas de ação ou estruturas

209
cognitivas identificáveis. Piaget afirma que o importante dos, nessa fase ela ainda não dispõe de um fator essencial
para o desenvolvimento cognitivo não é a sequência de ao desenvolvimento cognitivo, que é a reversibilidade no
ação empreendidas pelas crianças, consideradas isola- pensamento: não consegue assim, desfazer o raciocínio, no
damente, mas sim o esquema dessas ações, isto é, que sentido de retornar do resultado ao ponto inicial.
nelas em geral e pode ser transposto de uma situação As principais tarefas a serem cumpridas no pré-ope-
para outra. racional é a descentração, o que significa sair da pers-
A compreensão do conceito de esquema na teoria pectiva do “eu” como único sistema e referência. Ela fixa
piagetiana implica em se considerar os aspectos endóge- apenas em um aspecto particular da realidade, o que de-
nos e exógenos envolvidos na constituição deste meca- termina, dentre outras limitações, um desequilíbrio em
nismo. A troca permanente que o organismo estabelece seu pensamento conceitual. Por exemplo, num jogo sim-
com o meio possibilita tanto as transformações observá- bólico quando a criança assimila o modelo ao seu “eu”,
veis, que ocorrem no nível exógeno (as quais identificam predomina a assimilação, enquanto na imitação, onde a
a formação do sistema de esquemas), como as transfor- criança ajusta sua ação a modelos externos, predomina
mações internas ou endógenas (por meio das quais se a acomodação. Existem ainda outras estruturas típicas
constituem as estruturas mentais). É somente na troca do dessa fase que podem ser citadas, tais como: o raciocí-
organismo com o meio que se dá a construção orgânica nio transdutivo ou intuitivo, de caráter pré-lógico, que se
das referidas estruturas. fundamenta exclusivamente na percepção.
A função adaptativa compreende dois processos dis- No estágio das operações concretas, Piaget observa
tintos e complementares: assimilação e acomodação. O que as operações, ao contrário das ações, sempre impli-
primeiro refere-se à incorporação a novas experiências cam em relação de troca. A tendência para a socialização
ou informações a estrutura mental, sem, contudo, alte- da forma de pensar o mundo acentua-se ainda mais nes-
rá-la. Para Piaget, “... em seu início, a assimilação é, es- te período, evoluindo de uma configuração individuali-
sencialmente a utilização do meio externo, pelo sujeito, zada (egocêntrica), para outra mais socializada, onde as
tendo em vista alimentar seus esquemas hereditários ou regras ou leis de raciocínios (quais sejam, as ditadas pela
adquiridos”. (1975, p. 326). Por outro lado, a acomodação lógica) são usadas, em comum por todas as pessoas.
se define pelo processo de reorganização dessas estru- O último estágio de desenvolvimento mental é o ope-
turas, de tal forma que elas possam incorporar os novos ratório-formal e apresenta como principal característica a
conhecimentos, transformando-os para se ajustarem as distinção entre o real e o possível. O adolescente é capaz
novas exigências meio. de pensar em termos abstratos, de formular hipóteses
De acordo com a concepção piagetiana, o desenvol- e testá-las sistematicamente, independente da verdade.
vimento cognitivo compreende quatro estágios ou pe- Nesse período, os esquemas de raciocínio, antes induti-
ríodos: o sensório-motor (do nascimento aos 2 anos); o vos, sofrem importante evolução manifestada na incor-
pré-operacional (2 a 7 anos); o estágio das operações poração do modelo hipotético-dedutivo.
concretas (7 a 12 anos) e, por último, o estágio das ope-
rações formais, que corresponde período da adolescên- 2. Pressupostos Filosóficos e Epistemológicos
cia (dos 12 anos em diante). Cada período define um
momento do desenvolvimento como um todo, ao longo A filosofia kantiana, bem como algumas epistemoló-
do qual a criança constrói determinadas estruturas cog- gicas contemporâneas, especialmente a Fenomologia, o
nitivas. Um novo estágio se diferencia dos precedentes Evolucionismo bergsoniano e o Estruturalismo, exerce-
pelas evidencias, no comportamento, o de que a crian- ram uma influência decisiva na elaboração dos princípios
ça dispõe de novos esquemas, contendo propriedades que compõem a teoria psicogenética.
funcionais diferentes daquelas observadas nos esquemas Com a preocupação de selecionar dentre os mode-
anteriormente. O aparecimento de determinadas mu- los epistemológicos aqueles de maior peso na teoria de
danças qualitativas indica o início de um outro estágio Piaget, optou-se por deter-se nas ligações que o mesmo
ou período de desenvolvimento intelectual. mantém com o pensamento de Kant, Husserl, Bergson e,
O primeiro estágio denomina-se sensório-motor fundamentalmente, com o Estruturalismo.
porque “... à falta de função simbólica, o bebê ainda não
apresenta pensamento nem afetividade ligados a repre- 3. A influência Kantiana
sentações, que permitam evocar pessoas ou objetos na
ausência deles”. (Piaget e Inhleder, 1986, p. 11). Kant desenvolveu seu pensamento no contexto do
Piaget define o segundo estágio de desenvolvimento iluminismo (séculos XVIII e XIX), objetivando resgatar,
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

cognitivo como pré-operatório, e o principal progresso criticar e superar duas vertentes que o precederam: o ra-
desse período em relação ao seu antecedente é o de- cionalismo idealista (Descartes) e o empirismo (Hume). O
senvolvimento da capacidade simbólica instalada em confronto entre Kant e essas duas tendências epistemo-
suas diferentes formas: a linguagem, o jogo simbólico, lógicas se expressa, basicamente, na discussão de como
a imitação postergada, etc. a criança não depende mais se constrói o conhecimento, buscando explicar como se
unicamente das sensações e de seus movimentos. Ela dis- dá a relação entre os elementos do universo.
põe de esquemas de ação interiorizados, também chama- É, pois, a atividade do “eu”, do sujeito formal a priori,
dos de esquemas representativos, podendo desta forma, somada às intuições empíricas, que possibilita a constru-
distinguir um significante (imagem, palavra ou símbolo) ção do fenômeno. A conjunção de ambas as perspectivas
daquilo que ele significa (o objeto ausente), o significado. – razão e experiência – é a grande síntese que Kant faz,
Mas, mesmo a criança dispondo de esquemas internaliza- validando a ciência e negando a metafisica.

210
Segundo Kant, o homem não chega a conhecer a es- juízo não diz respeito ao conteúdo do mesmo, mas sim
sência das coisas. A construção do fenômeno é o limite à estruturação do nosso conhecimento. Logo, ele está
máximo ao qual o sujeito pode ascender. Admitindo a pressupondo a existência e a validade dessa estrutura a
hipótese de que a conexão entre causa e efeito surge toda inteligência humana.
a repetição da experiência, ele concluiu que a razão se Com o intuito de determinar as condições de todo
engana ao considerar estas ligações como criação sua. conhecimento possível, Piaget retoma a problemática
Se a razão tivesse a faculdade de conceber tais conexões, kantiana buscando explicar as relações entre lógica, lin-
estas não passariam de simples ficções, assim como seus guagem e pensamento à luz da biologia e da concepção
pretensos conhecimentos a priori não passariam de ex- do ser humano como um animal simbólico.
periências mal rotuladas.
Kant se opõe também aos pensadores racionalistas 4. A Contribuição da Fenomenologia Husserliana
que atribuem a causa dos fenômenos a uma inteligên-
cia divina. Para ele, o processo de conhecimento implica, A influência de Husserl sobre as ideias de Jean Piaget
de um lado a existência de um objeto a ser conhecido, não é, absolutamente, determinante como foi o pensa-
que suscita a ação do pensamento humano e, de outro, a mento de Kant. A fenomenologia, originárias dos postu-
participação de um sujeito ativo capaz de pensar, de es- lados de Edmund Husserl, nasce no século passado como
tabelecer relações entre conteúdos captado e pelas im- uma contestação ao método experimental, especialmen-
pressões sensíveis, a partir das suas próprias condições te enquanto instrumento a serviço das ciências do ho-
para conhecer, ou seja, a partir da razão. mem e, entre estas, em particular a psicologia.

Nessa perspectiva kantiana, o processo de conheci- A fenomenologia ocupa-se, fundamentalmente, com


mento tem início na experiência. E através dela que os a descrição pura da realidade, ou seja, do fenômeno
objetivos tocam os sentidos humanos produzindo repre- entendido como sendo aquilo que se oferece ao olhar
sentações que põem em movimento a faculdade ou ativi- intelectual, em outras palavras, significa estudar a cons-
dade do entendimento. Entretanto, isso não significa que tituição do mundo na consciência. Daí que, se a análise
o conhecimento se origina da experiência. A atividade do fenomenológica consiste em desvelar o ser absoluto das
entendimento é, apenas, provocada por impressões sen- coisas, isto é, a essência, ela deve ocupar-se da realidade
síveis, pois a verdadeira fonte do conhecimento consiste pura (fenomênica), dos significados intuídos pela razão.
nos juízos a priori que se encontram na própria faculdade Para Husserl, a relação entre sujeito e objeto, entre o
do conhecimento, na razão. Kant identifica e propõe a con- pensamento e o ser, se estabelece pela intencionalidade,
jugação de duas formas para se conhecer o real: a empírica, sendo, portanto, uma ligação indissociável da qual todo
proveniente da experiência pratica, e a intuição logica, pensa- pesquisador deve partir quando pretende atingir o real.
da pela razão pura. Kant acredita ainda que o conhecimento Em outras palavras, o mundo se apresenta à consciência
sensível não representa as coisas como elas são, mas somente e esta, por sua vez, lhe dá sentido.
o modo como afetam o sentido. As intuições sensíveis forne- Em última análise Piaget e Husserl, os dois episte-
cem ao entendimento, para reflexão, representações de fenô- mólogos em questão, empenharam-se em construir um
menos (ou da realidade) e não as próprias coisas. conhecimento cuja validade fosse considerada universal.
O objeto equivalente ao esquema intuído só se en- Salvo as especificidades de cada teoria, pode-se observar
contra na experiência: aos sentidos compete intuir e ao que, assim como Husserl empreende esforços no sentido
entendimento representar, entendendo por representa- de desvendar as essências nos fenômenos (por acredi-
ções sensíveis numa consciência. Para Kant, a natureza tar serem estas expressões de um conhecimento “puro” e
em geral (no sentido material) é acessível ao homem pela atemporal, portanto válido impendentemente da época e
sua própria condição enquanto ser sensível, e a nature- contexto), Piaget também pretende, com sua teoria psico-
za no sentido formal (como complexo de regras) lhe é
genética, oferecer uma explicação universal para o processo
possível pela capacidade de entendimento; pela sua ra-
por meio do qual o homem constrói seu conhecimento.
zão, através da qual as representações sensíveis devem,
necessariamente, ser relacionadas em uma consciência.
5. A Contribuição do Evolucionismo Bergsoniano
No processo de conhecimento há um ponto que deve
ser destacado: a filosofia kantiana traz implícita uma nova
Essa metodologia tem três princípios fundamentais:
compreensão da relação entre o sujeito e o objeto. Os
o primeiro pauta-se na ideia de que sociedade e nature-
racionalistas acreditam na existência de um acordo entre
a ordem das ideias e as coisas, sendo Deus o princípio za põem ser, epistemologicamente, tratadas da mesma
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

desta harmonia. forma. Em seguida, admite-se que na vida social, assim


O entendimento que Piaget tem dessa mesma ques- como na natureza, reina uma harmonia natural, sem
tão guarda estreitas semelhanças com o raciocínio de ambiguidades. Consequentemente, toda ruptura desse
Kant, onde o próprio Piaget admite estar envolvido em estado de harmonia é visto como sinônimo de desequi-
questões originárias da filosofia kantiana. Assim como líbrio e desadaptação. O terceiro princípio caracteriza-se
Kant, ele também se preocupa com as condições prévias pela crença de que a sociedade é regida por leis naturais,
as quais o ser humano deve dispor para construir seu invariáveis, e, portanto, independentes da vontade e da
conhecimento. ação humana.
Há muito de Kant em Piaget quando se trata da ques- Esse sistema teórico coloca-se como uma continuidade
tão da linguagem (o conceito de Kant sobre a faculda- ao “positivismo espiritualista”, que insiste na impossibilidade
de de julgar). No pensamento de Kant, a modalidade do de se fazer da psicologia uma ciência da natureza, uma vez

211
que para atingir a essência do objeto ao qual se volta não tamente pela diversificação. O que une e dá convergên-
pode abrir mão da introspecção, da análise da experiência cia às diferentes formas de pensamento estruturalista é a
interna. noção primordial de estrutura.
Bergson acredita que a experiência interna, uma vez Contudo, a ideia de que uma estrutura consiste em
desvencilhada dos conceitos e construções por meio dos um conjunto de elementos relacionados, onde toda mo-
quais se exprime, mostra-se em sua autenticidade como dificação ocorrida num elemento ou relação, modifica os
aquilo que verdadeiramente é, ou seja, como pura qua- outros elementos ou relações, não garante ao estrutura-
lidade e não como quantidade. Bergson prega ainda o lismo uma escola única. Inúmeros teóricos têm invocado
retorno à ação cociente, ao “imediato”. Para ele, a dificul- o método estruturalista para fins e em campos científicos
dade em apreender consciência, no seu momento atual, diferentes. No campo específico desta epistemologia é
enquanto fenômeno qualitativo em constante transfor- a área das ciências humanas, onde as pesquisas estão
mação, se deve à própria natureza da inteligência. A psi- voltadas para o estudo do indivíduo em sociedade e para
cologia positivista, eliminando este aspecto qualitativo sua cultura. Dentro deste enfoque, a linguagem adquire
dos processos psicológicos, concebe uma inteligência fundamental importância por ser ela veículo de comuni-
composta, de unidades homogêneas e comparáveis, pois cação e de ligação entre o homem e o mundo.
só assim a igualdade, a adição e a medida desses fenô- O estruturalismo morou nas ciências contemporâ-
menos tornam-se possíveis. neas, pode-se destacar: na área da linguística, o pensa-
Para Bergson a intuição (valendo-se da introspecção) mento de Saussure que, pretendendo estabelecer leis
coloca-se como o único método através do qual se pode gerais de fundamento de uma língua e terminou transfe-
conhecer e explicar, de forma satisfatória, os proces- rido para campo das ciências humanas. Na antropologia,
sos psicológicos. O modelo filosófico sistematizado por o estruturalismo etnológico nasce com Claude Lévi-S-
Bergson é marcado por uma forte tendência metafísica: trauss, que tinha por objetivo atingir leis gerais de funcio-
é através da intuição que o homem conhece a realida- namento de certas estruturas culturais, mais especifica-
de. Defendendo uma nova concepção de metafísica, ele mente aquelas que regem os sistemas de parentesco e a
produção dos mitos culturas primitivas. Michel Foucault,
consegue conjugar – no método introspectivo – intuição
tomando como ponto de partida as teses estruturalistas
e ação, destacando esta última no plano da consciência.
defendidas por Lévi-Strauss, ocupou-se com o estudo da
Assim, o “eu” profundo, que consegue captar a essência
mentalidade (das representações humanas, da “epister-
do objeto, não é um a priori transcendental, configurado
me”), construindo sistemas que lhe permitissem explicar
de forma única, pronta e acabada desde o início. O “eu”
as relações, isto é a estrutura dessas representações nas
metafísico, tal como ele o descreve, refere-se exclusiva-
áreas de linguística, biologia, história e, sobretudo, na
mente à consciência do sujeito. Ocorre que a consciência
área de economia política. A psicanalise tem em Lacan
imediata (aquela que o sujeito tem ao agir sobre o am- seu principal representante do pensamento estruturalis-
biente) não é a mesma para todos os objetos ou fenô- ta. Ele se utiliza da estrutura da linguagem para decifrar
menos. Cada fenômeno suscita uma percepção e uma o inconsciente, por acreditar que a parte consciente da
construção particular. personalidade humana é largamente comandada pelo
Como Bergson, Piaget também acredita que a essên- inconsciente.
cia do fenômeno (no caso, o pensamento, a consciên-
cia) não é algo estalico. Ao contrário, trata-se de uma Nesta perspectiva, o sujeito do conhecimento adqui-
estrutura dinâmica, cujo movimento se caracteriza justa- re primazia sobre o objeto de estudo, pois ele é o que
mente por uma construção sucessiva e continua de fases pensa, e ele que elabora o sistema ou modelo teórico
que, mesmo tendo duas origens calcadas na experiência por meio do qual irá explicar a realidade. Três são os
empírica, na ação, encaminham-se no sentido de atin- principais elementos que constituem essa capacidade:
gir formas de pensamento cada vez mais independentes os ritmos, as regulações, ambos próprios de mecanis-
desde referencial prático. Assim, fica claro que Piaget, à mos estruturais, presentes em toas as escalas biológicas
semelhança de Bergson, pretende conjugar introspecção e as operações que, em outras palavras, referem-se às
e experimentação na tentativa de explicar como se pro- leis que orientam a totalidade. Em sendo o organismo
duz o conhecimento. a fonte do sujeito, ele é também fonte das totalidades e
De maneira geral, é possível inferir que Piaget, não auto regulações. O conceito de transformação implica o
podendo fugir a sua sólida formação de biólogo e, ao de formação e o de auto regulação sugere capacidade de
mesmo tempo, não querendo curvar-se diante das teses autoconstrução.
o empirismo determinista, encontra em Bergson o apoio O processo de constituição das estruturas (que per-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

e o espaço dos quais necessitava para validar o conhe- manece constante até que sejam elaborados os esque-
cimento objetivo, sem destituí-lo de sua subjetividade. mas do pensamento lógico-formal, quando então, já
adolescente, o sujeito terá completado o desenvolvi-
6. A Influência Estruturalista mento dos mecanismos cognitivos ou formas de operar)
ocorre da seguinte maneira: uma estrutura é composta
A maior influência exercida sobre o grande teórico de um conjunto de elementos que se relacionam entre
da psicologia cognitiva deve-se à corrente estruturalista, si. Toda vez que estas relações produzem novas combi-
cuja ideia fundamental de que o conhecimento se orga- nações (dadas as novas condições maturacionais do or-
niza em estruturas cognitivas hierarquicamente construí- ganismo e os diferentes estímulos provenientes do meio
das. O estruturalismo não é representado por uma única ambiente), a estrutura se reequilibra, se reorganizando
linha de pensamento. Ao contrário, ele se caracteriza jus- internamente, ultrapassando a estrutura precedente.

212
A teoria da forma, ou Gestalt, teve origem na Alema- (formas) que permitem a reflexão sobre ações ou ope-
nha, durante a primeira metade do século XX, e desen- rações de nível superior. O conhecimento provém das
volveu-se nos EUA, em oposição à psicologia positivista. ações que o sujeito exerce sobre os objetos.
Essa teoria exerceu forte influência sobre o conhecimen-
to produzido em psicologia, aliados à formação de físico Para Piaget, o conhecimento compreende duas gran-
que Köhler havia recebido, ele acreditava que determi- des fases da constatação, da abstração empírica, da
nados fenômenos psíquicos (como o desenvolvimento compreensão, das explicações, da abstração reflexiva. As
da inteligência) poderiam ser explicados transpondo-se estruturas do conhecimento precedem todas as ações,
conceitos da física para a psicologia. Nas teorias de cam- estruturas que se encaminham para formas de pensa-
po, trata-se de uma totalidade previamente estruturada, mento cada vez mais ricas. O processo de construção do
desprovida de sua função estruturante. conhecimento obedece, pois, uma linha evolutiva que
Piaget adota outra conduta. Ele acredita que num su- parte da ação consciente e conduz ao pensamento for-
jeito ativo, que constrói e regula suas estruturas cogniti- mal, ou seja, ao conhecimento lógico-matemático.
vas na proporção de seus desenvolvimentos, através de Na concepção de Piaget, o problema está estreita-
um processo contínuo de abstrações reflexivas e equi- mente vinculado ao problema da aprendizagem: apren-
librações no sentido de auto regulação, tendo em vis- der é saber, fazer (realizar) e conhecer é compreender a
ta suas necessidades e os estímulos do meio. Para ele, situação distinguindo as relações necessárias das contin-
conhecimento é consequência da ação como um todo, gentes. É atribuir significado às coisas, considerando não
onde a percepção constitui apenas, função de sinalização apenas os aspectos explícitos do fenômeno, mas princi-
onde o sujeito só conhece um objeto na medida em que palmente o implícito, o possível.
age sobre ele, transformando-o. Piaget distingue aprendizagem de maturação que é
Piaget não acredita que o estruturalismo consista em baseada em processos fisiológicos e distingue aprendi-
uma crença ou filosofia e justifica: se assim o fosse, já zagem de conhecimento, pois o conhecimento é a soma
teria sido ultrapassado. Segundo ele, trata-se de um mé- de coordenações. Já o conceito de aprendizagem são as
todo, e a tarefa que se apresenta ao pesquisador é recuar contribuições provenientes do meio externo. Desta for-
para então poder analisar, à luz do estruturalismo “au- ma, Piaget diferencia a aprendizagem do processo de
tentico”, “metódico” (estruturalismo psicogenético), tudo equilibração que regula o desenvolvimento dos esque-
o que foi produzido até agora, sob a orientação desta mas operativos de acordo com as contribuições internas
matriz epistemológica. ao organismo. Toda aprendizagem pressupõe a utiliza-
ção de um sistema lógico (ou pré-lógico) capaz de orga-
7. A Relação entre Desenvolvimento e Aprendiza- nizar as novas informações.
gem O sistema de equilibração coloca-se como elo de li-
gação entre o desenvolvimento e a aprendizagem, com-
A relação entre desenvolvimento e aprendizagem binando os fatores de ação externa com os fatores de
está presente, ainda que de forma implícita, nas dife- organização interna, inerente à estrutura cognitiva. Pia-
rentes teorias psicológicas que se ocupam em estudar o get identifica dois tipos de aprendizagem: num sentido
comportamento, o pensamento ou o psiquismo huma- estrito e num sentido amplo. No sentido estrito, aprendi-
no. É sabido que todo conhecimento implica, necessa- zagem refere-se aos conteúdos adquiridos em função da
riamente, uma relação entre dois polos, isto é, entre o experiência. Já a aprendizagem em sentido amplo com-
preende as aquisições que não são devidas diretamente
sujeito que busca conhecer e o objeto de ser conhecido
à experiência, mas construídas por processos dedutivos.
desenvolvimento da aprendizagem privilegia o sujeito, o
Na verdade, aprendizagem propriamente dita equi-
endógeno, a organização interna, diminuindo o papel do
vale tão somente à aquisição de novos conteúdos. Como
objeto, do meio físico e social, do exógeno, da experiên-
todo conteúdo só pode ser atingido pela mediação de
cia. Esta situação se inverte quando o polo passa a ser a
uma forma, não é difícil perceber que, na concepção de
aprendizagem.
Piaget, o processo de aprendizagem é subjugado ao pro-
Inicialmente, Piaget se propôs a estudar o processo
cesso de desenvolvimento, sendo por este condicionado.
de desenvolvimento do pensamento e não a aprendiza-
gem em si. Na perspectiva piagitiana, o outro polo desta Segundo Piaget, quanto mais uma teoria de aprendi-
relação, ou seja, o objeto do conhecimento refere-se a zagem se distancia das necessidades do sujeito, mais ela
um meio genérico, que engloba tanto os aspectos físicos terá de apelar para fatores motivacionais (externo), a fim
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

como os sociais. As estruturas mentais funcionam classi- de explicar o desencadeamento do processo de aprendi-
ficando e ordenando a experiência, este funcionamento zagem. Ele lembra que a grande maioria das situações de
é condição de extrema importância para o ato de conhe- aprendizagem (especialmente com as crianças que já de-
cer, aprender ou atribuir significados. A construção do senvolveram o pensamento operatório) repousam numa
conhecimento (do real) é uma conquista do homem que estrutura logico matemática e, por isso, comporta uma
se realiza através da ação. razão necessária.
Quando a criança descobre que a soma de um con- Ao proferir uma conferência no Centro Internacio-
junto é independente da ordem espacial dos elementos, nal de Epistemologia Genética sobre desenvolvimento e
ela está abstraindo o conhecimento de sua própria ação aprendizagem, Piaget faz uma distinção entre esses dois
e não dos objetos. De um sistema de ações ou operações fenômenos. A aprendizagem é provocada por situações
de nível inferior o sujeito abstrai certas características externas, enquanto o desenvolvimento é um processo

213
espontâneo, ligado à embriogênese e que se refere à to- é o resultado de uma organização dos esquemas que
talidade das estruturas de conhecimento é comparável o sujeito adquiriu na aprendizagem no sentido amplo,
ao crescimento orgânico: como este, o desenvolvimento ou seja, no seu desenvolvimento.”
do pensamento orienta-se sempre para um estado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pi-
equilíbrio. Da mesma maneira que um corpo evolui até d=S0103-84862008000300009&script=sci_arttext
alcançar um nível relativamente estável (onde a maturi-
dade e o crescimento dos órgãos se encontram concluí-
dos), também a vida mental pode ser concebida como PIMENTA, SELMA, G.A. A CONSTRUÇÃO
uma dinâmica que evolui rumo a uma forma de equilí- DO PROJETO PEDAGÓGICO NA ESCOLA DE
brio final, representada pelo pensamento adulto. Assim 1º GRAU. IDEIAS Nº 8. 1.990, P 17- 24.
sendo, o desenvolvimento pode ser entendido como um
processo de equilibração progressiva; uma passagem
continua de um estado de menor equilíbrio para um es- A CONSTRUÇÃO DO PROJETO PEDAGÓGICO NA
tado de equilíbrio superior. Quanto mais desenvolvidas ESCOLA DE 1 ° GRAU
forem as formas de pensamento, maior será sua estabili-
dade e plasticidade.
FIQUE ATENTO!
Fonte A construção do projeto pedagógico na es-
Andreia STONA, S. A. cola, a meu ver, é um trabalho coletivo de
professores e pedagogos empenhados em
Referência colocar sua profissão a serviço da democra-
PIAGET, Jean. Desenvolvimento e aprendizagem. Trad. tização do ensino em nosso país. Organizei
esta exposição em três eixos, iniciando por
Paulo Francisco Slomp. UFRGS- PEAD 2009/1
explicitar o que entendo por democratiza-
ção do ensino e o que entendo por Peda-
gogia, na tentativa de chegarmos a uma sín-
EXERCÍCIO COMENTADO tese sobre o trabalho pedagógico coletivo
enquanto caminho para a efetiva democra-
tização.
1. (SEDUC-AM – Professor – Superior – CESPE/2017)
A respeito da epistemologia genética de Jean Piaget, jul-
gue os itens a seguir.
1. Democratização do Ensino - Conceito superado?
De acordo com a teoria do desenvolvimento cognitivo
de Piaget, os estágios de desenvolvimento cognitivo
Quando iniciamos um tema com o nome “Democrati-
são interdependentes e contribuem para a qualidade da
zação do Ensino”, corremos o risco de provocar observa-
aprendizagem humana.
ções do tipo: “este é um conceito superado”, ‘Já ouvimos
falar dele tantas vezes”, como se democracia fosse uma
( ) CERTO ( ) ERRADO moda passageira. Entendo que não. A democracia é ab-
solutamente necessária para que possamos ter condições
Resposta: Errado. A aprendizagem se dá no desen- sociais justas. Falo, pois, da necessidade de batalharmos
volvimento em estágios, não sendo eles apenas um por uma democracia política e social. Como entender aí a
dos pontos de contribuição. democratização do ensino? Existem muitas formas.
“Sobre o desenvolvimento intelectual da criança, Pia- Sem entrar em detalhes, abordarei a concepção liberal
get afirma que este provém de “uma equilibração pro- de democratização do ensino, uma vez que a evolução e os
gressiva, uma passagem contínua de um estado de ecos que nos chegam hoje sobre o tema vêm no bojo da
menos equilíbrio para um estado de equilíbrio supe- ideologia do liberalismo, para a qual democratização deve
rior”. Cada estágio de desenvolvimento constitui, por- ser entendida como ampliação da escola para todos. (A es-
tanto, uma forma particular de equilíbrio e a sequên- cola para todos foi desenvolvida em alguns países, adjetivada
cia da evolução mental caracteriza uma equilibração como pública - o que não ocorreu em outros, como o nosso,
sempre completa. onde a escola que se expandiu até a metade do século XX
Piaget e Grécco apresentam uma distinção entre foi a particular.)
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

aprendizagem no sentido estrito e aprendizagem Esta concepção liberal tem sua formulação no bojo
no sentido amplo. No primeiro caso, aprendizagem das conquistas da humanidade – em consequência da
compreende o conhecimento adquirido por meio Revolução Francesa, da Revolução Industrial -, bem como
da experiência, enquanto que, no sentido amplo, a no início da constituição do capitalismo.
aprendizagem é um processo adaptativo que vai se Este reclamo de expansão da escolaridade afirma
desenvolvendo no tempo e que se confunde com o como pressuposto que a escola é um direito de todos os
próprio desenvolvimento. Ocorre pela ação da expe- cidadãos, e que o Estado deveria oferecê-la e colocá-la ã
riência do sujeito e do processo de equilibração. disposição de todos. No Brasil, a relatividade da demo-
Nesta última concepção, a aprendizagem não parte do cracia está exatamente na maneira de se compreender
zero, mas de esquemas anteriores. Assim, o conheci- este todo e na forma como a evolução da escolaridade
mento adquirido por aprendizagem no sentido estrito se deu no bojo desta concepção liberal. Se é fato que a

214
escola está ã disposição de todos, isto não significa que que todos os alunos tenham acesso e possibilidade efeti-
efetivamente é de direito de todos. A escola que se ofe- va de ter o domínio do conhecimento - o conhecimento
rece para todas não está desenraizada das condições so- que dê condições de entender, compreender, fazer a lei-
ciais. Muito ao contrário, é uma escola que está imbrica- tura das condições de dominação existentes no mundo
da na própria forma como a sociedade está organizada. historicamente situado, na sociedade brasileira historica-
Na medida em que a sociedade capitalista baseia-se mente situada, de tal maneira que os alunos consigam
na divisão de classes sociais, em que as diferenças são compreender o quanto e cano a apropriação do conhe-
justificadas por uma pseudodesigualdade natural, temos cimento científico tem-se dado contra os interesses da
aí uma forma ideológica de explicar a desigualdade so- humanidade como um todo e o quanto o conhecimento
cial. tem sido apropriado como condição dos privilégios do-
Então, desta forma, a escola “está” oferecida para to- minantes.
dos. No entanto, se as pessoas não têm condições de ter O que deixa isto saltar aos nossos olhos é um exem-
acesso a ela e de nela permanecer, isto é interpretado plo bastante simples. O avanço que podemos identificar
como um problema delas. Ou seja, por esta ótica liberal, hoje na Medicina é um avanço de conhecimento gigan-
as pessoas não conseguem galgar os degraus que a es- tesco, fabuloso, a ponto de realizar um transplante de
cola oferece, porque nasceram com incapacidade para órgãos, por exemplo. Isto requer um conhecimento alta-
tal. mente sofisticado e elaborado. No entanto, ao lado deste
avanço do conhecimento científico na área da Medicina,
Em verdade, esta é uma falsa justificativa da desigual- temos a maioria das crianças e da população brasileira
dade social. A democratização do ensino na ideologia morrendo de doenças para as quais essa Ciência já en-
liberal vai trazer como consequência a organização do controu remédio há muito tempo. Este exemplo mostra
aparelho escolar e da estrutura do ensino, subdividida claramente o uso do conhecimento em favor de interes-
conforme a divisão das classes sociais: a escola profis- ses dominantes.
sionalizante para os filhos das trabalhadores e a escola Entendo que a democratização do ensino é a reivin-
regular para os da elite, instituindo-se um sistema dual dicação pela expansão da educação escolar pública. Por-
de ensino. A finalidade explícita do ensino profissiona- tanto, não admitindo a privatização nem a diferenciação
lizante é a preparação da mão-de-obra para o mercado de escola conforme interesses dominantes, e julgando
de trabalho, ou seja, para a manutenção do método de que a finalidade precípua da escola é desenvolver for-
produção capitalista. mação geral nos alunos, colocando-os em condições de
Podemos concluir daí que a democracia liberal ex- compreender este mundo no qual se situam e de perce-
pande efetivamente a escolaridade; no entanto, não lhe ber, pelos conhecimentos científicos, os mecanismos de
interessa equacionar o problema da impossibilidade do dominação existentes no mundo, estando, com isto, de
acesso e da permanência, na medida em que sustenta posse de um instrumento que lhes dê meios de interferir
um modelo de escola incapaz disto e expande um siste- na sociedade.
ma dual de ensino, calcado na desigualdade social, por- Entendida a democratização do ensino nesta pers-
tanto incapaz de ultrapassar essa mesma desigualdade. pectiva crítica, é importante que situemos, ainda que em
Neste ponto, indagamos: como entender a questão breves pinceladas, como esta questão tem-se apresenta-
da reivindicação da escola para todos, isto é, como en- do na escolarização brasileira.
tendera democratização do ensino?
A reivindicação da escola para todos permanece Inquestionavelmente, o sistema de escolas no Brasil
como princípio necessário, como princípio válido. No en- foi ampliado de algumas décadas para cá. Todavia, esta
tanto, precisamos ter o cuidado de, no momento que de- ampliação, sobretudo da escola de 1° Grau, foi calcada
fendermos esta tese, qualificar o que significa este para no conceito liberal de democracia, o que nos permite
todos, porque se permanecermos numa leitura liberal encontrar uma explicação para o que ocorre hoje nas
teremos esta deturpação, que explica de alguma forma nossas escolas. De um lado esta ampliação não foi ain-
a degeneração da escola no Brasil, hoje. da generalizada na sua totalidade. Mais do que isto, de
Numa perspectiva crítica, a escola para todos requer outro lado a generalização que ocorreu provocou ou foi
que a definamos como pública, gratuita, de boa quali- trabalhada na perspectiva de manter a escola no limite
dade e única - ou seja, uma escola mantida pelo Estado da sobrevivência, em precárias condições.
enquanto equalizador das contribuições dos cidadãos, A escola brasileira é uma escola que até existe. Con-
portanto gratuita, organizada e funcionando de forma a tudo, está muito distante de responder aos anseios da
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

assegurar que todos tenham acesso a ela, que nela per- população que a frequenta, muito distante de responder
maneçam, aprendam; por fim uma escola de formação às mínimas condições de trabalho dos profissionais que
geral, sem a dualidade de classes. nela exercem a sua profissão, muito distante de ser con-
Há que se repensar, portanto, a própria organização, siderada, efetivamente, um serviço público.
expansão e funcionamento da Escola Pública. Uma es- Neste ponto, abrimos espaço para entender como,
cola que trabalhe o conhecimento de forma a superar a nesta reflexão, é possível e necessário imbricamos na
divisão da sociedade em classes, bem como a dualidade questão pedagógica.
escola acadêmica para a elite/escola profissionalizante
para o pobre. Entretanto, deve ser uma escola de 1o. e
2o. Graus com a finalidade precípua de trabalhar o co-
nhecimento, na perspectiva de socializá-lo, ou seja, de

215
2. A Pedagogia é Necessária? que, para ultrapassarmos a constatação do fato, a teoria
pedagógica deve ser dialética, isto é, ela deve encarar a
Para situarmos a importância da construção do pro- sua tarefa conscientemente como a de ser ciência prática
jeto pedagógico na democratização do ensino, é neces- - ciência prática da e para a práxis educacional, ou seja,
sário explicitarmos o entendimento que temos da Peda- temos aqui um movimento da teoria à prática e desta à
gogia. teoria. Nesta perspectiva, e assumindo o quanto de ri-
O que é Pedagogia no Brasil? O que tem sido? Para queza isto traz para o avanço do conhecimento da teoria
que serve? pedagógica entre nós, podemos identificar um segundo
Com a ampliação desregrada dos cursos de Pedago- aspecto positivo na Educação brasileira. É o fato de que
gia no Brasil, na década de 70, bem como com a im- desde 1980 temos tido possibilidade de nos debruçar
plantação da Lei n° 5.692/71, grande parte das Escolas sobre os fatos da Educação brasileira, orientados por vi-
Públicas passou a contar com o pedagogo -supervisor sões teóricas, refletindo sobre eles e construindo novas
de ensino e orientador educacional - nos seus quadros. teorias. Podemos situar em vários locais do Brasil profis-
Naquela época, uma reforma nos cursos de Pedago- sionais que se debruçam sobre os fatos e a prática, e que
gia incorporou a visão tecnicista da Educação, enfatizan- estão fazendo teoria, publicando as conclusões dos últi-
do o fazer pedagógico fragmentado e destituído de uma mos anos. Esta produção acadêmica é resultante da rela-
compreensão teórica dos problemas da Educação e, em ção entre as universidades, as secretarias da Educação e
especial, da educação escolar brasileira, uma vez que es- os sistemas públicos, e está-nos possibilitando enxergar
tava calcada em modelos estrangeiros e numa formação com mais clareza os fatos educacionais.
aligeirada.
Assim, os pedagogos, incorporando as mazelas de Nesta diretriz, um caminho que tem sido apontado é
sua formação, via de regra, passaram a atuar como bu- o de examinarmos o que ocorreu e ocorre na escola de 1°
rocratas do sistema, vigilantes da ordem estabelecida. Se Grau e no sistema de ensino como um todo.
lembrarmos que a ordem vigente era o autoritarismo do Particularmente, tenho-me debruçado sobre o fazer
pedagógico intrínseco à educação escolar de 1° e 2°
regime militar, que no avanço do capitalismo brasileiro
Graus, entendendo-o como campo de estudos dos es-
manteve e acentuou a escola nos limites da precária so-
pecialistas. Nestes estudos temos destacado a complexi-
brevivência, então concluiremos que a reformulação dos
dade dos fenômenos da aprendizagem, dos sistemas de
cursos de Pedagogia, bem como das licenciaturas que
organização administrativa do complexo chamado esco-
formam professores, associada ao descaso dos governos
la e das diferentes e múltiplas formas de organização que
pela Educação, veio consolidar o empobrecimento da Es-
apontam para a direção de uma escola na democratiza-
cola Pública.
ção do ensino. Nesta perspectiva, entendo que a teoria
Por isso é que fomos tentados a imputar “a culpa” da Educação, como reflexão sobre a prática, aponta para
pelo fracasso da escola aos pedagogos, colocando-os a importância de os profissionais denominados pedago-
como tradutores do modelo fabril e fragmentadores do gos atuarem neste complexo chamado escola. Assim, a
processo educativo escolar, responsabilizando-os como formação destes profissionais precisa estar voltada na
expropriadores dos conhecimentos dos professores. Em direção de responder aos reclamos da realidade escolar.
que pese a importância da denúncia contida nestas afir- Neste sentido, o trabalho dos pedagogos circunda a
mações, parece-me que tais teses estão a merecer análi- atividade mais importante da escola - que é a sala de
ses aprofundadas, que examinem a Pedagogia na totali- aula. Mas o trabalho que determina o fazer pedagógico
dade da educação escolar brasileira. não se limita à sala de aula; ele a extrapola
A Pedagogia entre nós é recente. O primeiro curso Assim, todas as questões ligadas à administração da
foi instituído legalmente em 1939. Nestes 50 anos ocor- organização escolar, todas as questões ligadas à interdis-
reram muitas idas e vindas. Tivemos uma Pedagogia im- ciplinaridade, todas as questões relacionadas ao trabalho
portada, mal-importada, modelada ora na França, ora coletivo, às formas de organização escolar que melhor
nos Estados Unidos, ora na Espanha, e acabamos incor- propiciam o trabalho coletivo, todas as questões vincu-
porando-a, sem nos perguntarmos sobre sua validade. ladas à articulação da escola com a sua realidade ime-
O que é uma Pedagogia brasileira? O que deve ser’? Em diata, ligadas, portanto, a horário, grade, organização do
que a Pedagogia, na sua história, na sua vasta história, funcionamento didático-pedagógico, todas as questões
pode contribuir para a criação de um pensamento peda- ligadas à discussão do que é necessário na perspectiva
gógico brasileiro? de democratização, à insuficiência existente na formação
Estamos engatinhando nestas questões, podendo, dos professores, à questão salarial, à administração da
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

no entanto, constatar avanços. O primeiro refere-se à educação mais ampla, enfim, são questões pedagógicas;
conceituação de Pedagogia; o segundo, à já significativa são questões que se traduzem no fazer pedagógico e
produção pedagógica brasileira. que requerem profissionais competentes para isto.
Hoje podemos dizer que temos alguma compreensão É evidente que, ao acentuar esta competência, penso
do que possa vir a ser a Pedagogia. É possível afirmá-la que tenha ficado bem claro que esta é necessariamente
como uma teoria, uma teoria da Educação. Entendemos uma competência política, uma competência que aponta
por teoria a constituição de um pensamento refletido so- para a formação e o exercício da profissão em determi-
bre uma prática que se volta para a prática. Podemos, nadas condições histórico-sociais da educação escolar.
portanto, assumir com Francisco LARROYO (1944) que Por isso é que me parece extremamente importante que
o fato pedagógico é anterior à teoria, como o é, aliás, se tenha muita clareza quando falamos em democratiza-
em toda ciência. E ainda assumir com KOWARZICK (1974) ção do ensino.

216
3. Construção do Projeto Pedagógico - Um fazer não a única. As relações democráticas na escola, a parti-
coletivo cipação nas decisões, o envolvimento da equipe de pro-
fessores no trabalho são mediações básicas do objetivo
Admitir um projeto significa ter consciência do que do trabalho docente - ensinar de modo a que os alunos
se quer, ou seja, se falo em projeto pedagógico tenho aprendam -, mas não são suficientes nem exclusivas.
de ter, previamente, clareza de que me estou pautando Portanto, opor a democratização do saber à demo-
em determinadas concepções de Educação e de ensino. cratização das relações internas, como se fossem polos
Acredito que o ponto de partida para o projeto real é a excludentes, é um falso problema. Cumpre reafirmar que
explicitação de que queremos uma Escola Pública demo- o núcleo de trabalho docente é o ensino-aprendizagem,
crática - daí a importância de firmarmos o que entende- enquanto mediação entre os indivíduos que compõem
mos por democracia. uma sociedade e os modelos sociais vigentes nessa so-
A escola que se quer democrática precisa definir, a ciedade - o que se faz pelo ensino crítico dos conteú-
priori, uma nova qualidade, que passa, dentre outras, pe- dos. As relações democráticas de trabalho na escola fa-
las questões de organização escolar - uma organização vorecem a consecução deste núcleo. A participação dos
escolar que modifique a realidade que aí está, a partir professores na organização da escola, nos conteúdos a
dessa realidade encontrada. serem ensinados, nas suas formas de administração, será
Um dos requisitos de uma nova qualidade pode ser tão mais efetivamente democrática na medida em que
definido por professores capacitados, com formação es- estes dominarem os conteúdos e as metodologias dos
pecífica e experiência, selecionados por critérios de com- seus campos específicos, bem como o seu significado so-
petência, conforme um quadro de carreira que impeça cial, pois só quem domina as suas especificidades numa
influências clientelísticas. A organização administrativa perspectiva de totalidade (significado social da prática de
da escola precisa colocar-se a serviço do pedagógico, o cada um) é capaz de exercer a autonomia na reorganiza-
que significa: ção da escola, a fim de melhor propiciar a sua finalidade:
• compor turmas, turnos e horários adequados a crité- democratização da sociedade pela democratização do
rios pedagógicos que favoreçam a aprendizagem; saber.
• prever capacitação em serviço e assistência didático- Que organização escolar favorece a consecução do
-pedagógica constante aos professores, de forma objetivo de torná-la um instrumento de emancipação
a assegurar o retomo dos benefícios para a escola; das camadas populares?
• definir equipes didático-pedagógicas (orientação
pedagógica e educacional) de assessoria à ativida- A esta indagação a resposta imediata é que certamen-
de docente na escola; te não é a escola que aí está, pois esta há anos cumpre a
• assegurar horários para reuniões pedagógicas, função de expulsar os alunos provenientes das camadas
abrindo espaço para a discussão sobre questões médias e baixas que têm tido acesso a ela, pela amplia-
do ensino, para a troca de experiências, para o es- ção quantitativa de vagas. Tal escola está organizada a
tudo sobre temas de Educação que favoreçam a partir do aluno “ideal”. Calcada no modelo da classe do-
melhoria da qualidade do trabalho docente; minante, ela se estrutura segundo o princípio da homo-
• articular as disciplinas do currículo de modo a asse- geneidade, que, partindo de uma suposta uniformidade
gurar conteúdos orgânicos; das características de ingresso da população, tem de se
• acompanhar o rendimento dos alunos e prever for- conformar com um critério de prioridade estatística, com
mas de suprir possíveis requisitos, sem rebaixar o base na qual se definiu o aluno médio, isto é, dotado su-
nível do ensino. ficientemente das qualidades necessárias para aprender
e só ter de reproduzir na salda a mesma variabilidade
A organização escolar que se faz necessária é uma real das condições de entrada. Este aluno sempre teve
organização competente pedagogicamente, de forma a o acesso e a permanência na escola garantidos. Assim,
alterar o atual quadro da escola que aí está. do ponto de vista dos conteúdos de ensino, dosagem,
A organização escolar é, por assim dizer, o conteú- ritmo etc.; das metodologias de ensino; do tipo de re-
do do trabalho coletivo de professores e pedagogos na lação entre professor e aluno, aluno e escola, escola e
construção do projeto pedagógico - projeto este com pais, professores e técnicos, professores entre si; da gra-
clareza de seus fins, que se efetive no cotidiano; por isso de horária, distribuição das aulas na semana, horários; da
é construção, não está pronto, acabado, mas se faz com sistemática de avaliação, aprovação, reforço etc., a Escola
profissionais competentes/comprometidos. Pública que aí está tem cumprido a função seletiva e de
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

A construção do projeto pedagógico pelo coletivo evasão que privilegia os já privilegiados.


dos educadores escolares objetiva a democratização do No entanto, à indagação feita - que organização es-
ensino, cujo núcleo é a democratização do saber, que colar favorece a consecução do objetivo de torná-la um
passa agora a se diferenciar da democratização das rela- instrumento de emancipação das camadas populares? -
ções internas, sem, no entanto, se desvincular delas. é preciso responder que é a partir da escola que está aí
A democratização das relações internas da escola que se deve construir a “nova”. Ou seja, a organização
constitui mediação para a democratização da Educação, escolar que possibilitará a consecução do objetivo de
o que não significa diminuir sua importância; pelo con- emancipação das camadas populares será engendrada a
trário, admitir a democratização das relações internas partir das condições existentes, porque, dentre outras ra-
como mediação para a democratização da educação sig- zões, é na escola que aí está que encontramos elementos
nifica considerá-la condição sine qua non desta, porém válidos que mostram possibilidades para o que deve ser

217
a nova organização escolar. Em outras palavras, não se ríodos escolares - quantos, como organizá-los, número
trata de conceber previamente um tipo de organização de alunos em sala, distribuição das matérias na semana,
escolar ideal, mas de garimpar no já existente os elemen- combinação dos horários de estudo e de trabalho em
tos que, fortalecidos, apontam para novas práticas, o que aula e os horários de merenda e recreação de tal for-
requer pesquisas, análises, observações e experimenta- ma a possibilitar o aproveitamento máximo dos traba-
ção, conduzidas a partir da finalidade de colocar a escola lhos escolares; os dias letivos -, sua utilização favorável
como instância socializadora do saber para as camadas para ampliar as possibilidades de estudo e trabalho es-
populares. colar, a atribuição de aulas e distribuição dos professores
A organização da escola é competência tanto dos nas turmas de forma a propiciar a melhoria qualitativa
profissionais docentes como dos não-docentes. Seria in- do trabalho em aulas são questões administrativas que
gênuo advogar que o professor de sala de aula deve su- requerem a competência, não exclusiva, do pedagogo,
prir todas as funções que estão fora da sala de aula, mas especialista da Educação.
que nela interferem, quer dizer, interferem no trabalho Enfim, trata-se de os educadores propiciarem, no in-
docente, o que não significa que este só atue na sala de terior da escola, condições as mais favoráveis possíveis
aula. Assim, as tarefas que são objeto do trabalho social para a democratização do ensino, lembrando com B.
coletivo dos profissionais da escola podem ser listadas CHARLOT (A mistificação pedagógica p. 293) que: “Ela-
como segue: borar um sistema pedagógico é definir um projeto de
• Seleção, distribuição e organização dos conteúdos a sociedade e tirar dele as consequências pedagógicas”.
serem ensinados, considerados relevantes na prática so-
cial. Os conteúdos têm objetivos sociopolíticos- por isso Fonte
devem ser selecionados a partir da prática social existen- PIMENTA, Selma, G.A. A Construção do Projeto Peda-
te, a qual deve passar pelo crivo da crítica, a fim de que se gógico na Escola de 1º Grau. Ideias nº 8. 1.990, p 17-24.
construa uma prática social transformadora. Desta forma,
as fontes para a seleção dos conteúdos são a natureza
primária enquanto objeto de conhecimentos; a natureza
transformada pela ação dos homens (natureza secundá- EXERCÍCIO COMENTADO
ria); as relações sociais; o conhecimento em si. Impõe-se
como tarefa necessária, pois, a revisão dos conteúdos, 1. Segunda Pimenta, a construção o Projeto Político Pe-
cujos princípios norteadores devem ser a visão política dagógico de uma escola se caracteriza pelas seguintes
da educação escolar como prática social situada numa funções:
sociedade de classes; o domínio dos conteúdos especí-
ficos pelos diferentes professores; o conhecimento e a a) Determinar a estrutura hierárquica da escola e a fun-
constante identificação das possibilidades socioculturais ção de cada um de seus membros.
individuais dos alunos; a articulação das matérias (con- b) Organizar os conhecimentos e metodologias a serem
teúdos) do ensino. A revisão dos conteúdos se dá a partir desenvolvidos na escola.
do que é historicamente necessário (a transformação da c) Prever as demandas da escola para os próximos cinco
situação de desigualdades sociais), articulado com o que anos.
é historicamente possível (a situação de desigualdades d) Trabalhar pelo coletivo de professores e pedagogos
sociais). empenhados em colocar sua profissão a serviço da
O trabalho de revisão dos conteúdos requer o con- democratização do ensino em nosso país.
curso de todos os profissionais da escola. Para cada prin- e) Estabelecer os padrões e índices a serem alcançados
cípio de seleção e organização dos conteúdos ora expos- nas avaliações nacionais, cumprindo os objetivos tra-
tos é preciso que os profissionais da educação escolar, çados nas políticas educacionais vigentes.
partindo das condições existentes, tomem decisões e
estabeleçam formas de suprir aquilo que inexiste: as Resposta: Letra D. A construção do projeto pedagó-
condições de trabalho para a consecução do núcleo do gico na escola, a meu ver, é um trabalho coletivo de
trabalho docente que é o ensino-aprendizagem. professores e pedagogos empenhados em colocar sua
A complexidade da organização escolar requer o profissão a serviço da democratização do ensino em
concurso de profissionais não-docentes que, tendo de- nosso país. A autora organizou esta exposição em três
terminadas competências, devem cuidar de tarefas re- eixos, iniciando por explicitar o que entendo por de-
lativas ã articulação dos conteúdos; à composição de mocratização do ensino e o que entendo por Pedago-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

turmas homogêneas, heterogêneas, bem como ao que gia, na tentativa de chegarmos a uma síntese sobre o
fazer com cada uma delas; ao acompanhamento didá- trabalho pedagógico coletivo enquanto caminho para
tico-pedagógico aos professores, em virtude de novos a efetiva democratização.
tipos de organização curricular - por exemplo, a do Ciclo
Básico -, em face das questões metodológicas e de arti-
culação de conteúdos-métodos, em virtude da avaliação
que deve ser constantemente diagnosticada, requerendo
conhecimentos técnicos específicos, bem como das difi-
culdades de aprendizagem que os alunos apresentam. É
importante ressaltar, ainda, que as decisões quanto a ho-
rários adequados às possibilidades dos alunos, dos pe-

218
inclusão escolar, as identidades são transitórias, instáveis,
ROPOLI, EDILENE APARECIDA. A inacabadas e, portanto, os alunos não são categorizáveis,
EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA não podem ser reunidos e fixados em categorias, grupos,
INCLUSÃO ESCOLAR: A ESCOLA COMUM conjuntos, que se definem por certas características arbi-
INCLUSIVA. BRASÍLIA: MINISTÉRIO trariamente escolhidas.
DA EDUCAÇÃO. SEESP. UNIVERSIDADE É incorreto, portanto, atribuir a certos alunos identida-
FEDERAL DO CEARÁ. 2010. des que os mantêm nos grupos de excluídos, ou seja, nos
grupos dos alunos especiais, com necessidades educacio-
nais especiais, portadores de deficiências, com problemas
A EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA IN- de aprendizagem e outros tais. É incabível fixar no outro
CLUSÃO ESCOLAR uma identidade normal, que não só justifica a exclusão dos
A ESCOLA COMUM INCLUSIVA demais, como igualmente determina alguns privilegiados.
A educação inclusiva questiona a artificialidade das
PARTE I identidades normais e entende as diferenças como re-
sultantes da multiplicidade, e não da diversidade, como
comumente se proclama. Trata-se de uma educação que
1. SOBRE IDENTIDADE E DIFERENÇAS NA ESCOLA
garante o direito à diferença e não à diversidade, pois
assegurar o direito à diversidade é continuar na mesma,
A inclusão rompe com os paradigmas que sustentam
ou seja, é seguir reafirmando o idêntico.
o conservadorismo das escolas, contestando os sistemas
A diferença (vem) do múltiplo e não do diverso. Tal
educacionais em seus fundamentos. Ela questiona a fixa-
como ocorre na aritmética, o múltiplo é sempre um pro-
ção de modelos ideais, a normalização de perfis especí-
cesso, uma operação, uma ação. A diversidade é estática,
ficos de alunos e a seleção dos eleitos para frequentar as
é um estado, é estéril. A multiplicidade é ativa, é fluxo, é
escolas, produzindo, com isso, identidades e diferenças, produtiva. A multiplicidade é uma máquina de produzir
inserção e/ou exclusão. diferenças - diferenças que são irredutíveis à identidade.
O poder institucional que preside a produção das A diversidade limita-se ao existente. A multiplicidade es-
identidades e das diferenças define como normais e es- tende e multiplica, prolifera, dissemina. A diversidade é
peciais não apenas os alunos, como também as suas es- um dado - da natureza ou da cultura. A multiplicidade é
colas. Os alunos das escolas comuns são normais e posi- um movimento. A diversidade reafirma o idêntico. A mul-
tivamente valorados. Os alunos das escolas especiais são tiplicidade estimula a diferença que se recusa a se fundir
os negativamente concebidos e diferenciados. com o idêntico (SILVA, 2000, p.100-101).
Os sistemas educacionais constituídos a partir da De fato, a diversidade na escola comporta a criação de
oposição - alunos normais e alunos especiais - sentem-se grupos de idênticos, formados por alunos que têm uma
abalados com a proposta inclusiva de educação, pois não mesma característica, selecionada para reuni-los e separá-
só criaram espaços educacionais distintos para seus alu- -los. Ao nos referirmos a uma escola inclusiva como aberta à
nos, a partir de uma identidade específica, como também diversidade, ratificamos o que queremos extinguir com a in-
esses espaços estão organizados pedagogicamente para clusão escolar, ou seja, eliminamos a possibilidade de agru-
manter tal separação, definindo as atribuições de seus par alunos e de identificá-los por uma de suas características
professores, currículos, programas, avaliações e promo- (por exemplo, a deficiência), valorizando alguns em detri-
ções dos que fazem parte de cada um desses espaços. mento de outros e mantendo escolas comuns e especiais.
Os que têm o poder de dividir são os que classificam,
formam conjuntos, escolhem os atributos que definem
os alunos e demarcam os espaços, decidem quem fica e FIQUE ATENTO!
quem sai destes, quem é incluído ou excluído dos agru- Atenção, pois ao denominarmos as propos-
pamentos escolares. tas, programas e iniciativas de toda ordem
Ambientes escolares inclusivos são fundamentados direcionadas à inclusão, insistimos nesse as-
em uma concepção de identidade e diferenças, em que as pecto, dado que somos nós mesmos quem
relações entre ambas não se ordenam em torno de oposi- atribuímos significado, pela escolha das pa-
ções binárias (normal/especial, branco/negro, masculino/ lavras que utilizamos para expressá-lo. É por
feminino, pobre/rico). Neles não se elege uma identidade meio da representação que a diferença e a
como norma privilegiada em relação às demais. identidade passam a existir e temos, dessa
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Em ambientes escolares excludentes, a identidade forma, ao representar o poder de definir


normal é tida sempre como natural, generalizada e po- identidades, currículos e práticas escolares.
sitiva em relação às demais, e sua definição provém do
processo pelo qual o poder se manifesta na escola, ele-
gendo uma identidade específica através da qual as ou- 2. ESCOLA DOS DIFERENTES OU ESCOLA DAS DI-
tras identidades são avaliadas e hierarquizadas. FERENÇAS?
Esse poder que define a identidade normal, detido
por professores e gestores mais próximos ou mais dis- A educação inclusiva concebe a escola como um es-
tantes das escolas, perde a sua força diante dos princí- paço de todos, no qual os alunos constroem o conheci-
pios educacionais inclusivos, nos quais a identidade não mento segundo suas capacidades, expressam suas ideias
é entendida como natural, estável, permanente, acabada, livremente, participam ativamente das tarefas de ensino
homogênea, generalizada, universal. Na perspectiva da e se desenvolvem como cidadãos, nas suas diferenças.

219
Nas escolas inclusivas, ninguém se conforma a pa- ção dessas novas práticas, pois ela depende de mudan-
drões que identificam os alunos como especiais e nor- ças que vão além da escola e da sala de aula. Para que
mais, comuns. Todos se igualam pelas suas diferenças! essa escola possa se concretizar, é patente a necessidade
A inclusão escolar impõe uma escola em que todos de atualização e desenvolvimento de novos conceitos,
os alunos estão inseridos sem quaisquer condições pelas assim como a redefinição e a aplicação de alternativas e
quais possam ser limitados em seu direito de participar práticas pedagógicas e educacionais compatíveis com a
ativamente do processo escolar, segundo suas capacida- inclusão.
des, e sem que nenhuma delas possa ser motivo para Um ensino para todos os alunos há que se distinguir
uma diferenciação que os excluirá das suas turmas. pela sua qualidade. O desafio de fazê-lo acontecer nas
Como garantir o direito à diferença nas escolas que salas de aulas é uma tarefa a ser assumida por todos os
ainda entendem que as diferenças estão apenas em que compõem um sistema educacional. Um ensino de
alguns alunos, naqueles que são negativamente com- qualidade provém de iniciativas que envolvem professo-
preendidos e diagnosticados como problemas, doentes, res, gestores, especialistas, pais e alunos e outros profis-
indesejáveis e a maioria sem volta? sionais que compõem uma rede educacional em torno
O questionamento constante dos processos de dife- de uma proposta que é comum a todas as escolas e que,
renciação entre escolas e alunos, que decorre da oposi- ao mesmo tempo, é construída por cada uma delas, se-
ção entre a identidade normal de alguns e especial de gundo as suas peculiaridades.
outros, é uma das garantias permanentes do direito à O Projeto Político Pedagógico é o instrumento por
diferença. Os alvos desse questionamento devem recair excelência para melhor desenvolver o plano de trabalho
diretamente sobre as práticas de ensino que as escolas eleito e definido por um coletivo escolar; ele reflete a
adotam e que servem para excluir. singularidade do grupo que o produziu, suas escolhas e
Os encaminhamentos dos alunos às classes e escolas especificidades.
especiais, os currículos adaptados, o ensino diferencia- Nas escolas inclusivas, a qualidade do ensino não se
do, a terminalidade específica dos níveis de ensino e ou- confunde com o que é ministrado nas escolas-padrão,
tras soluções precisam ser indagados em suas razões de consideradas como as que melhor conseguem expres-
adoção, interrogados em seus benefícios, discutidos em sar um ideal pedagógico inquestionável, medido e defi-
seus fins, e eliminados por completo e com urgência. São nido objetivamente e que se apresentam como modelo
essas medidas excludentes que criam a necessidade de a ser seguido e aplicado em qualquer contexto escolar.
existirem escolas para atender aos alunos que se igualam As escolas-padrão cabem na mesma lógica que define
por uma falsa normalidade - as escolas comuns - e que as escolas dos diferentes, em que as iniciativas para me-
instituem as escolas para os alunos que não cabem nes- lhorar o ensino continuam elegendo algumas escolas e
se grupo - as escolas especiais. Ambas são escolas dos valorando-as positivamente, em detrimento de outras.
diferentes, que não se alinham aos propósitos de uma Cada escola é única e precisa ser, como os seus alunos,
escola para todos. reconhecida e valorizada nas suas diferenças.
Quando entendemos esses processos de diferencia-
ção pela deficiência ou por outras características que 3.1. MUDANÇAS NA ESCOLA
elegemos para excluir, percebemos as discrepâncias que
nos faziam defender as escolas dos diferentes como so- Para atender a todos e atender melhor, a escola atual
lução privilegiada para atender às necessidades dos alu- tem de mudar, e a tarefa de mudar a escola exige traba-
nos. Acordamos, então, para o sentido includente das lho em muitas frentes. Cada escola, ao abraçar esse tra-
escolas das diferenças. Essas escolas reúnem, em seus es- balho, terá de encontrar soluções próprias para os seus
paços educacionais, os alunos tais quais eles são: únicos, problemas. As mudanças necessárias não acontecem por
singulares, mutantes, compreendendo-os como pessoas acaso e nem por Decreto, mas fazem parte da vontade
que diferem umas das outras, que não conseguimos con- política do coletivo da escola, explicitadas no seu Projeto
ter em conjuntos definidos por um único atributo, o qual Político Pedagógico - PPP e vividas a partir de uma ges-
elegemos para diferenciá-las. tão escolar democrática.
É ingenuidade pensar que situações isoladas são su-
3. A ESCOLA COMUM NA PERSPECTIVA INCLUSIVA ficientes para definir a inclusão como opção de todos os
membros da escola e configurar o perfil da instituição.
A escola das diferenças é a escola na perspectiva in- Não se desconsideram aqui os esforços de pessoas bem-
clusiva, e sua pedagogia tem como mote questionar, co- -intencionadas, mas é preciso ficar claro que os desafios
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

locar em dúvida, contrapor-se, discutir e reconstruir as das mudanças devem ser assumidos e decididos pelo co-
práticas que, até então, têm mantido a exclusão por ins- letivo escolar.
tituírem uma organização dos processos de ensino e de A organização de uma sala de aula é atravessada por
aprendizagem incontestáveis, impostos e firmados sobre decisões da escola que afetam os processos de ensino
a possibilidade de exclusão dos diferentes, à medida que e de aprendizagem. Os horários e rotinas escolares não
estes são direcionados para ambientes educacionais à dependem apenas de uma única sala de aula; o uso dos
parte. espaços da escola para atividades a serem realizadas fora
A escola comum se torna inclusiva quando reconhece da classe precisa ser combinado e sistematizado para o
as diferenças dos alunos diante do processo educativo e bom aproveitamento de todos; as horas de estudo dos
busca a participação e o progresso de todos, adotando professores devem coincidir para que a formação con-
novas práticas pedagógicas. Não é fácil e imediata a ado- tinuada seja uma aprendizagem colaborativa; a organi-

220
zação do Atendimento Educacional Especializado - AEE Para Gadotti e Romão (1997), o Projeto Político Pe-
não pode ser um mero apêndice na vida escolar ou da dagógico deve ser entendido como um horizonte de
competência do professor que nele atua. possibilidades para a escola. O Projeto imprime uma di-
Um conjunto de normas, regras, atividades, rituais, reção nos caminhos a serem percorridos pela escola. Ele
funções, diretrizes, orientações curriculares e metodoló- se propõe a responder a um feixe de indagações de seus
gicas, oriundo das diversas instâncias burocrático-legais membros, tais como: qual educação se quer e qual tipo
do sistema educacional, constitui o arcabouço pedagó- de cidadão se deseja, para qual projeto de sociedade? O
gico e administrativo das escolas de uma rede de ensi- PPP propõe uma organização que se funda no entendi-
no. Trata-se do que está INSTITUÍDO e do que Libâneo e mento compartilhado dos professores, alunos e demais
outros autores (2003) analisaram pormenorizadamente. interessados em educação.
Nesse INSTITUÍDO, estão os parâmetros e diretrizes Todas as intenções da escola, reunidas no Projeto Po-
curriculares, as leis, os documentos das políticas, os regi- lítico Pedagógico, conferem-lhe o caráter POLÍTICO, por-
mentos e demais normas do sistema. que ele representa a escolha de prioridades de cidadania
Em contrapartida, existe um espaço e um tempo a se- em função das demandas sociais. O PPP ganha status
rem construídos por todas as pessoas que fazem parte PEDAGÓGICO ao organizar e sistematizar essas inten-
de uma instituição escolar, porque a escola não é uma ções em ações educativas alinhadas com as prioridades
estrutura pronta e acabada a ser perpetuada e reprodu- estabelecidas.
zida de geração em geração. Trata-se do INSTITUINTE. O caráter coletivo e a necessidade de participação
A escola cria, nas possibilidades abertas pelo INSTI- de todos é inerente ao PPP, pois ele não se resume a
TUINTE, um espaço de realização pessoal e profissional um mero plano ou projeto burocrático, que cumpre as
que confere à equipe escolar a possibilidade de definir o exigências da lei ou do sistema de ensino. Trata-se de
seu horário escolar, organizar projetos, módulos de estu- um documento norteador das ações da escola que, ao
do e outros, conforme decisão colegiada. Assim, confere mesmo tempo, oportuniza um exercício reflexivo do pro-
autonomia a toda equipe escolar, acreditando no poder cesso para tomada de decisões no seu âmbito.
criativo e inovador dos que fazem e pensam a educação. O professor, portanto, ao contribuir para a elabora-
ção do PPP, bem como ao participar de sua execução
3.2. O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, AUTO- no cotidiano da escola, tem a oportunidade de exercitar
NOMIA E GESTÃO DEMOCRÁTICA um ensino democrático, necessário para garantir acesso
e permanência dos alunos nas escolas e para assegurar
Autora a inclusão, o ensino de qualidade e a consideração das
Maria Terezinha da Consolação Teixeira dos Santos diferenças dos alunos nas salas de aula. Exercer esse pa-
pel como um dos mentores do PPP não é uma obrigação
A constatação de que a realidade escolar é dinâmica e formal, mas o resultado de um envolvimento pessoal do
depende de todos dá força e sentido à elaboração do PPP, professor. Nesse sentido, vem antes a sua disposição de
entendido não apenas como um mero documento exigido participar, porque contribuir é reconhecer a importância
pela burocracia e administração escolar, mas como registro de sua colaboração para que o projeto se execute.
de significados a serem outorgados ao processo de ensino A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 206,
e de aprendizagem, que demanda tomada de decisões e explicita, como um dos princípios para a educação no
acompanhamento de ações consequentes. Brasil, “[...] a gestão democrática do ensino público”. Essa
O PPP não pode ser um documento paralelo que não preocupação é reiterada na LDBEN (Lei nº 9394/96), no
diz respeito, que não atravessa o cotidiano escolar e fica artigo 3º, ao assinalar que a gestão democrática, além de
restrito à categoria de um arquivo ou de uma alegoria, de estar em conformidade com a Lei, deve estar consoante
caráter residual. Ele altera a estrutura escolar e escrevê-lo e à legislação dos sistemas de ensino, pois como Lei que
arquivá-lo nos registros da escola só serve para acomodar a detalha a educação nacional, acrescenta a característica
consciência dos que não têm um verdadeiro compromisso das variações dos sistemas nas esferas federal, estadual
com uma escola de todos, por todos e para todos. e municipal. Ainda nesse detalhamento, a LDBEN avança,
Nossa legislação educacional é clara no que toca à no seu artigo 14, afirmando que:
exigência de a escola ter o seu PPP; ela não pode se fur-
tar ao compromisso assumido com a sociedade de for- [...] Os sistemas de ensino definirão as normas da
mação e de desenvolvimento do processo de educação, gestão democrática do ensino público na educação bá-
devidamente planejado. sica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme
A exigência legal do PPP está expressa na LDBEN - os seguintes princípios: participação dos profissionais da
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Lei Nº. 9.394/96 que, em seu artigo 12, define, entre as educação na elaboração do projeto pedagógico da es-
atribuições de uma escola, a tarefa de “[...] elaborar e exe- cola; participação das comunidades escolar e local em
cutar sua proposta pedagógica”, deixando claro que ela conselhos escolares ou equivalentes.
precisa fundamentalmente saber o que quer e colocar
em execução esse querer, não ficando apenas nas pro- Nos textos legais, fica clara a ênfase dada ao Projeto
messas ou nas intenções expostas no papel. Político Pedagógico de cada escola, bem como a reitera-
Ao sistematizar estas escolhas e decisões, o PPP, a ção de que a proposta seja construída e administrada à
partir de um estudo da demanda da realidade escolar cria luz de uma gestão democrática.
as condições necessárias para a elaboração do planeja- Outra legislação que vem corroborar nesse sentido
mento e o desenvolvimento do trabalho da sua equipe é o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (Lei Nº.
e da avaliação processual das etapas e metas propostas. 8.069/90), que, no seu artigo 53, enfatiza os objetivos da

221
educação nacional, repetindo os princípios constitucio- são habilidades mínimas para o exercício da verdadeira
nais e os da LDBEN, mas deixando claro em seu parágra- cidadania; valorizar e formar continuamente o professor,
fo único que “[...] é direito dos pais ou responsáveis ter para que ele possa atualizar-se e ministrar um ensino de
ciência do processo pedagógico, bem como participar da qualidade.
definição das propostas educacionais”. Evidencia-se na É freqüente a escola seguir outros caminhos, ado-
legislação o caráter da comunidade escolar participativa tando práticas excludentes e paliativas, que as impedem
e ampliada para além dos muros escolares, com compro- de dar o salto qualitativo que a inclusão demanda. Elas
misso conjunto nos rumos da educação dos cidadãos. A se apropriam de soluções utilitárias, prontas para o uso,
gestão democrática ampliada nos contornos da comu- alheias à realidade de cada instituição educacional. Essas
nidade ganha, por meio do texto legal, condições de ser práticas admitem: ensino individualizado para os alunos
exercida com autonomia. com deficiência e/ou problemas de aprendizagem; currí-
Embora a escola não seja independente de seu sis- culos adaptados; terminalidade específica; métodos es-
tema de ensino, ela pode se articular e interagir com peciais para ensino de pessoas com deficiência; avaliação
autonomia como parte desse sistema que a sustenta, diferenciada; categorização e diferenciação dos alunos;
tomando decisões próprias relativas às particularidades formação de turmas escolares buscando a homogenei-
de seu estabelecimento de ensino e da sua comunidade. zação dos alunos.
Entretanto, mesmo outorgada por lei, a autonomia esco- No nível da sala de aula e das práticas de ensino, a
lar é construída aos poucos e cotidianamente. Do ponto mobilização do professor e/ou de uma equipe escolar
de vista cultural e educacional, encontram-se poucas ex- em torno de uma mudança educacional como a inclu-
periências de construção da autonomia e do cultivo de são não acontece de modo semelhante em todas as es-
hábitos democráticos. colas. Mesmo havendo um Projeto Político Pedagógico
A democracia, frequentemente proclamada, mas nem que oriente as ações educativas da escola, há que existir
sempre vivenciada nas redes de ensino, tem no PPP a uma entrega, uma disposição individual ou grupal de sua
oportunidade de ser exercida, e essa oportunidade não equipe de se expor a uma experiência educacional dife-
pode ser perdida, para que consiga espalhar-se por toda rente das que estão habituados a viver. Para que, qual-
a instituição. Gadotti e Romão (1997) manifestam suas quer transformação ou mudança seja, verdadeira, as pes-
posições sobre a construção da democracia na escola e soas têm de ser tocadas pela experiência. Precisam ser
afirmam que esse tipo de gestão constitui um passo rele- receptivas, disponíveis e abertas a vivê-la, baixando suas
vante no aprendizado da democracia. guardas, submetendo-se, entregando-se à experiência
Os professores constroem a democracia no cotidiano [...] sem resistências, sem segurança, poder, firmeza, ga-
escolar por meio de pequenos detalhes da organização rantias (BONDÍA, 2002).
da prática pedagógica. Nesse sentido, fazem a diferença: As mudanças não ocorrem pela mera adoção de prá-
o modo de trabalhar os conteúdos com os alunos; a for- ticas diferentes de ensinar. Elas dependem da elaboração
ma de sugerir a realização de atividades na sala de aula; dos professores sobre o que lhes acontece no decorrer
o controle disciplinar; a interação dos alunos nas tarefas da experiência educacional inclusiva que eles se propu-
escolares; a sistematização do AEE no contraturno; a di- seram a viver. O que vem dos livros e o que é transmitido
visão do horário; a forma de planejar com os alunos; a aos professores nem sempre penetram em suas práticas.
avaliação da execução das atividades de forma interativa. A experiência a que nos referimos não está relacionada
Embora já tenhamos uma Constituição, estatutos, le- com o tempo dedicado ao magistério, ao saber acumu-
gislação, políticas educacionais e decretos que propõem lado pela repetição de uma mesma atividade utilitária,
e viabilizam novas alternativas para a melhoria do ensi- instrumental. Estamos nos referindo ao saber da expe-
no nas escolas, ainda atendemos a alunos em espaços riência, que é subjetivo, pessoal, relativo, adquirido nas
escolares semi ou totalmente segregados, tais como as ocasiões em que entendemos e atribuímos sentidos ao
classes especiais, as turmas de aceleração, as escolas es- que nos acontece, ao que nos passa, ao que nos sucede
peciais, as aulas de reforço, entre outros. ao viver a experiência (BONDÍA, 2002).
O salto da escola dos diferentes para a escola das O reconhecimento de que os alunos aprendem se-
diferenças demanda conhecimento, determinação, deci- gundo suas capacidades não surge de uma hora para a
são. As propostas de mudança variam e dependerão de outra, só porque as teorias assim afirmam. Acolher as di-
disposição, discussões, estudos, levantamento de dados ferenças terá sentido para o professor e fará com que ele
e iniciativas a serem compartilhadas pelos seus mem- rompa com seus posicionamentos sobre o desempenho
bros, enfim, de gestões democráticas das escolas, que escolar padronizado e homogêneo dos alunos, se ele ti-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

favoreçam essa mudança. ver percebido e compreendido por si mesmo essas varia-
Muitas decisões precisam ser tomadas pelas escolas ções, ao se submeter a uma experiência que lhe perpassa
ao elaborarem seus Projetos Político Pedagógicos, entre a existência. O professor, então, desempenhará o seu
as quais destacamos algumas, que estão diretamente re- papel formador, que não se restringe a ensinar somente
lacionadas com as mudanças que se alinham aos pro- a uma parcela dos alunos que conseguem atingir o de-
pósitos da inclusão: fazer da aprendizagem o eixo das sempenho exemplar esperado pela escola. Ele ensina a
escolas, garantindo o tempo necessário para que todos todos, indistintamente.
possam aprender; reprovar a repetência; abrir espaço O caráter de imprevisibilidade da aprendizagem é
para que a cooperação, o diálogo, a solidariedade, a constatado por professores que aproveitam as ocasiões
criatividade e o espírito crítico sejam praticados por seus para observar, abertamente e sem ideias pré-concebidas,
professores, gestores, funcionários e alunos, pois essas a curiosidade do aluno que vai atrás do que quer conhe-

222
cer, que questiona, duvida, que se detém diante do que todos, em que os alunos tenham condições de aprender,
leu, do que lhe respondemos, procurando resolver e en- segundo suas próprias capacidades, sem discriminações
contrar a solução para o que lhe perturba e desafia com e adaptações.
avidez, possuído pelo desejo de chegar ao que pretende. A idéia do currículo adaptado está associada à exclu-
Ao se deixar levar por uma experiência de ensinar são na inclusão dos alunos que não conseguem acompa-
dessa natureza, querendo entender o que ela revela e nhar o progresso dos demais colegas na aprendizagem.
compartilhando-a com seus colegas, o professor pode- Currículos adaptados e ensino adaptado negam a apren-
rá deduzir que certas práticas e aparatos pedagógicos, dizagem diferenciada e individualizada. O ensino escolar
como os métodos especiais e o ensino adaptado para al- é coletivo e deve ser o mesmo para todos, a partir de
guns alunos, não correspondem ao que se espera deles. um único currículo. É o aluno que se adapta ao currículo,
Ambos provêm do controle externo da aprendizagem, quando se admitem e se valorizam as diversas formas e
de opiniões que circulam e se firmam entre os profes- os diferentes níveis de conhecimento de cada um.
sores, que são creditadas pelo conhecimento livresco e A aprovação e a certificação por terminalidade es-
generalizado e pelas informações equivocadas que se pecífica, como propõe a LDBEN/1996, não faz sentido,
naturalizam nas escolas e fora delas. quando se entende que a aprendizagem é diferenciada
Opor-se a inovações educacionais, resguardando-se de aluno para aluno, constituindo-se em um processo
no despreparo para adotá-las, resistir e refutá-las sim- que não pode obedecer a uma terminalidade prefixada
plesmente, distancia o professor da possibilidade de se com base na condição intelectual de alguns.
formar e de se transformar pela experiência. Oposições Outra prática usual nas escolas é o ensino dos con-
e contraposições à inclusão incondicional são freqüentes teúdos das áreas disciplinares (Matemática, Língua Por-
entre os professores e adiam projetos do ensino comum tuguesa, Geografia, Ciências, etc.) como fins em si mes-
e especial focados na inserção das diferenças nas escolas. mos e tratados de modo fragmentado nas salas de aulas.
É nos bancos escolares que se aprende a viver entre A afirmação da interdisciplinaridade é a afirmação,
os nossos pares, a dividir as responsabilidades, a repar- em última instância, da disciplinarização: só poderemos
tir tarefas. Nesses ambientes, desenvolvem-se a coope- desenvolver um trabalho interdisciplinar se fizermos uso
ração e a produção em grupo com base nas diferenças de várias disciplinas. [...] A interdisciplinaridade contribui
e talentos de cada um e na valorização da contribuição para minimizar os efeitos perniciosos da compartimenta-
individual para a consecução de objetivos comuns de um lização, mas não significaria, de forma alguma, o avanço
mesmo grupo. para um currículo não disciplinar (GALLO, 2002, p. 28-29).
A interação entre colegas de turma, a aprendizagem Um currículo não disciplinar implica um ensino sem
colaborativa, a solidariedade entre alunos e entre estes as gavetas das disciplinas, em que se reconhece a mul-
e o professor devem ser estimuladas. Os professores, tiplicidade das áreas do conhecimento e o trânsito livre
quando buscam obter o apoio dos alunos e propõem entre elas. O ensino não disciplinar não deve ser confun-
trabalhos diversificados e em grupo, desenvolvem for- dido com os Temas Transversais dos Parâmetros Curricu-
mas de compartilhamento e difusão dos conhecimentos lares Nacionais, os quais não superam a disciplinarização,
nas salas de aula. continuando a organizar o currículo em disciplinas, pelas
A formação de turmas tidas como homogêneas é um quais perpassam assuntos de interesse social, como o
dos argumentos de defesa dos professores, gestores e meio ambiente, sexualidade, ética e outros.
especialistas em favor da qualidade do ensino, que pre- Segundo Gallo (2002), transversalidade em educação
cisa ser refutado, porque se trata de uma ilusão que com- e currículo não disciplinar tem a ver com processos de
promete o ensino e exclui alunos. ensino e de aprendizagem em que o aluno transita pelos
A avaliação de caráter classificatório, por meio de saberes escolares, integrando-os e construindo pontes
notas, provas e outros instrumentos similares, mantém entre eles, que podem parecer caóticas, mas que refletem
a repetência e a exclusão nas escolas. A avaliação con- o modo como aprendemos e damos sentido ao novo.
tínua e qualitativa da aprendizagem, com a participação
do aluno, tendo, inclusive, a intenção de avaliar o ensino As propostas curriculares, quando contextualizadas,
oferecido e torná-lo cada vez mais adequado à aprendi- reconhecem e valorizam os alunos em suas peculiarida-
zagem de todos os alunos conduz a outros resultados. A des de etnia, de gênero, de cultura. Elas partem das vi-
adoção desse modo de avaliar com base na qualidade do das e experiências dos alunos e vão sendo tramadas em
ensino e da aprendizagem já diminuiria substancialmen- redes de conhecimento, que superam a tão decantada
te o número de alunos que são indevidamente avaliados sistematização do saber. O questionamento dessas pe-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

e categorizados como deficientes nas escolas comuns. culiaridades e a visão crítica do multiculturalismo trazem
Os professores em geral concordam com novas alter- uma perspectiva para o entendimento das diferenças, a
nativas de se avaliar os processos de ensino e de apren- qual foge da tolerância e da aceitação, atitudes estas tão
dizagem e admitem que as turmas são naturalmente carregadas de preconceito e desigualdade.
heterogêneas. Sentem-se, contudo, inseguros diante da O multiculturalismo crítico, segundo Hall (2003), um
possibilidade de fazer uso dessas alternativas em sala de estudioso das questões da pós-modernidade e das dife-
aula e inovar as rotinas de trabalho, rompendo com a renças na atualidade, é uma das concepções do multicul-
organização pedagógica pré-estabelecida. turalismo. Essa concepção questiona a exclusão social e
Ao contrário do que se pensa e se faz, as práticas demais formas de privilégios e de hierarquias das socie-
escolares inclusivas não implicam um ensino adaptado dades contemporâneas, indagando sobre as diferenças
para alguns alunos, mas sim um ensino diferente para e apoiando movimentos de resistência dos dominados.

223
O multiculturalismo crítico toma como referência a A matrícula no AEE é condicionada à matrícula no
liberdade e a emancipação e defende que a justiça, a de- ensino regular. Esse atendimento pode ser oferecido em
mocracia e a equidade não são dadas, mas conquistadas. Centros de Atendimento Educacional Especializado da
Difere do multiculturalismo conservador, em que os do- rede pública ou privada, sem fins lucrativos. Tais centros,
minantes buscam assimilar as minorias aos costumes e contudo, devem estar de acordo com as orientações da
tradições da maioria. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
Outras práticas educacionais inclusivas que derivam Educação Inclusiva (2008) e com as Diretrizes Operacio-
dos propósitos de se ensinar à turma toda, sem discri- nais da Educação Especial para o Atendimento Educacio-
minações, por vezes são refutadas pelos professores ou nal Especializado na Educação Básica (MEC/SEESP, 2009).
aceitas com parcimônia, desconfiança e sob condições. Na perspectiva da educação inclusiva, o processo de
Motivos não faltam para que eles se comportem desse reorientação de escolas especiais e centros especializa-
modo. Muitos receberam sua própria formação dentro dos requer a construção de uma proposta pedagógica
do modelo conservador, que foi sendo reforçado dentro que institua nestes espaços, principalmente, serviços de
das escolas. apoio às escolas para a organização das salas de recur-
sos multifuncionais e para a formação continuada dos
PARTE II professores do AEE.
Os conselhos de educação têm atuação primordial
1. O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZA- no credenciamento, autorização de funcionamento e
DO - AEE organização destes centros de AEE, zelando para que
atuem dentro do que a legislação, a Política e as Dire-
Uma das inovações trazidas pela Política Nacional de trizes orientam. No entanto, a preferência pela escola
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva comum como o local do serviço de AEE, já definida no
(2008) é o Atendimento Educacional Especializado - AEE, texto constitucional de 1988, foi reafirmada pela Política,
um serviço da educação especial que “[...] identifica, ela- e existem razões para que esse atendimento ocorra na
bora e organiza recursos pedagógicos e de acessibilida- escola comum.
de, que eliminem as barreiras para a plena participação O motivo principal de o AEE ser realizado na própria
dos alunos, considerando suas necessidades específicas” escola do aluno está na possibilidade de que suas neces-
(SEESP/MEC, 2008). sidades educacionais específicas possam ser atendidas e
discutidas no dia a dia escolar e com todos os que atuam
O AEE complementa e/ou suplementa a formação do
no ensino regular e/ou na educação especial, aproximan-
aluno, visando a sua autonomia na escola e fora dela,
do esses alunos dos ambientes de formação comum a
constituindo oferta obrigatória pelos sistemas de ensino.
todos. Para os pais, quando o AEE ocorre nessas circuns-
É realizado, de preferência, nas escolas comuns, em um
tâncias, propicia-lhes viver uma experiência inclusiva de
espaço físico denominado Sala de Recursos Multifuncio-
desenvolvimento e de escolarização de seus filhos, sem
nais. Portanto, é parte integrante do projeto político pe-
ter de recorrer a atendimentos exteriores à escola.
dagógico da escola.
São atendidos, nas Salas de Recursos Multifuncio- 2. ARTICULAÇÃO ENTRE ESCOLA COMUM E EDU-
nais, alunos público-alvo da educação especial, confor- CAÇÃO ESPECIAL: AÇÕES E RESPONSABILIDADES
me estabelecido na Política Nacional de Educação Espe- COMPARTILHADAS
cial na Perspectiva da Educação Inclusiva e no Decreto
N.6.571/2008. Ao se articular com a escola comum, na perspectiva
- Alunos com deficiência: aqueles [...] que têm impe- da inclusão, a Educação Especial muda seu rumo, refa-
dimentos de longo prazo de natureza física, men- zendo caminhos que foram abertos tempos atrás, quan-
tal, intelectual ou sensorial, os quais em interação do se propunha a substituir a escola comum para alguns
com diversas barreiras, podem obstruir sua partici- alunos que não correspondiam às exigências do ensino
pação plena e efetiva na sociedade em igualdade regular.
de condições com as demais pessoas (ONU, 2006). A mudança de rumos implica uma articulação de pro-
- Alunos com transtornos globais do desenvolvimen- pósitos entre a escola comum e a Educação Especial, ao
to: aqueles que apresentam alterações qualitativas contrário do que acontece quando tanto a escola comum
das interações sociais recíprocas e na comunica- como a especial constituem escolas dos diferentes, divi-
ção, um repertório de interesses e atividades res- dindo os alunos em normais e especiais e estabelecendo
trito, estereotipado e repetitivo. Incluem-se nesse uma cisão entre esses grupos, que se isolam em ambien-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

grupo alunos com autismo, síndromes do espectro tes educacionais excludentes.


do autismo e psicose infantil. (MEC/SEESP, 2008). A escola das diferenças aproxima a escola comum
- Alunos com altas habilidades/superdotação: aqueles da Educação Especial, porque, na concepção inclusiva,
que demonstram potencial elevado em qualquer os alunos estão juntos, em uma mesma sala de aula. A
uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: articulação entre Educação Especial e escola comum, na
intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade perspectiva da inclusão, ocorre em todos os níveis e eta-
e artes, além de apresentar grande criatividade, pas do ensino básico e do superior. Sem substituir ne-
envolvimento na aprendizagem e realização de ta- nhum desses níveis, a integração entre ambas não deverá
refas em áreas de seu interesse (MEC/SEESP, 2008). descaracterizar o que é próprio de cada uma delas, esta-
belecendo um espaço de intersecção de competências
resguardado pelos limites de atuação que as especificam.

224
Para oferecer as melhores condições possíveis de in- Do ponto de vista intraescolar, essas articulações
serção no processo educativo formal, o AEE é ofertado mostram o impacto, os efeitos, a pertinência, os limites e
preferencialmente na mesma escola comum em que o mesmo as distorções dos atendimentos que estão sendo
aluno estuda. Uma aproximação do ensino comum com oferecidos aos alunos nas turmas comuns de ensino re-
a educação especial vai se constituindo à medida que as gular e nos serviços de Educação Especial, entre os quais
necessidades de alguns alunos provocam o encontro, a o atendimento educacional especializado - AEE.
troca de experiências e a busca de condições favoráveis No plano extra-escolar, quando a escola se articula
ao desempenho escolar desses alunos. a outros serviços da comunidade, os efeitos dessas ar-
Os professores comuns e os da Educação Especial ticulações se irradiam e se fazem sentir junto às famílias
precisam se envolver para que seus objetivos específicos e demais profissionais que atendem aos alunos, dando
de ensino sejam alcançados, compartilhando um traba- destaque à escola no seu entorno e na rede de ensino,
lho interdisciplinar e colaborativo. As frentes de trabalho pois fortalece a sua posição e representatividade no con-
de cada professor são distintas. Ao professor da sala de junto das demais unidades e instituições filiadas à edu-
aula comum é atribuído o ensino das áreas do conheci- cação.
mento, e ao professor do AEE cabe complementar/su- Há ainda certa dificuldade de se articular serviços
plementar a formação do aluno com conhecimentos e dentro da escola. O que se entende equivocadamente
recursos específicos que eliminam as barreiras as quais por articulação entre a Educação Especial e a escola co-
impedem ou limitam sua participação com autonomia e mum tem descaracterizado a interlocução entre ambas.
independência nas turmas comuns do ensino regular. Na perspectiva da educação inclusiva, os professores
As funções do professor de Educação Especial são itinerantes, o reforço escolar e outras ações não cons-
abertas à articulação com as atividades desenvolvidas tituem formas de articulação, mas uma justaposição de
por professores, coordenadores pedagógicos, superviso- serviços, que continua incidindo sobre a fragmentação
res e gestores das escolas comuns, tendo em vista o be- entre a Educação Especial e o ensino comum.
nefício dos alunos e a melhoria da qualidade de ensino. A efetivação dessa articulação é ensejada pela inser-
São eixos privilegiados de articulação: ção do AEE no Projeto Político Pedagógico das escolas.
- a elaboração conjunta de planos de trabalho du- Uma vez considerado esse serviço da Educação Especial
rante a construção do Projeto Pedagógico, em que como parte constituinte do Projeto, os demais eixos de
a Educação Especial não é um tópico à parte da articulação entre ensino comum e especial serão envolvi-
programação escolar; dos e contemplados, e o ensino comum e especial terão
- o estudo e a identificação do problema pelo qual seus propósitos fundidos em uma visão inclusiva de edu-
um aluno é encaminhado à Educação Especial; cação. O PPP já contém em si as premissas dessa articula-
- a discussão dos planos de AEE com todos os mem- ção, que podemos apreciar no que ocorre quando o AEE
bros da equipe escolar; l o desenvolvimento em se torna um de seus tópicos.
parceria de recursos e materiais didáticos para o
atendimento do aluno em sala de aula e o acom- 2.1. O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO E O AEE
panhamento conjunto da utilização dos recursos
e do progresso do aluno no processo de aprendi- De acordo com as Diretrizes Operacionais da Edu-
zagem; cação Especial para o Atendimento Educacional Espe-
- a formação continuada dos professores e demais cializado na Educação Básica, publicada pela Secretaria
membros da equipe escolar, entremeando tópicos de Educação Especial SEESP/MEC, em abril de 2009, o
do ensino especial e comum, como condição da Projeto Político Pedagógico da Escola deve contemplar
melhoria do atendimento aos alunos em geral e o AEE como uma das dimensões da escola das diferen-
do conhecimento mais detalhado de alguns alu- ças. Nesse sentido, é preciso planejar, organizar, executar
nos em especial, por meio do questionamento das e acompanhar os objetivos, metas e ações traçadas, em
diferenças e do que pode promover a exclusão es- articulação com as demais propostas da escola comum.
colar. A democracia se exercita e toma forma nas decisões
conjuntas do coletivo da escola e se reflete nas iniciati-
No caso do atendimento educacional especializado - vas da equipe escolar. Nessa perspectiva, o AEE integra a
AEE, por exemplo, as dimensões do INSTITUÍDO podem gestão democrática da escola. No PPP, devem ser previs-
ser identificadas na existência de leis, políticas, decretos, tos a organização e recursos para o AEE: sala de recursos
diretrizes curriculares que chegam à escola definidas nos multifuncionais; matrícula do aluno no AEE; aquisição de
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

documentos oficiais, dando contornos à sistematização equipamentos; indicação de professor para o AEE; articu-
da oferta desse serviço na escola comum. Na dimensão lação entre professores do AEE e os do ensino comum e
do INSTITUINTE, muito pode ser criado nesse sentido: redes de apoio internos e externos à escola.
parcerias com setores da comunidade para a implemen-
tação de Planos de AEE; organização dos horários de No caso da inexistência de uma sala de recursos multi-
oferta do AEE no horário oposto ao período escolar do funcionais na escola, os alunos não podem ficar sem este
aluno; projetos escolares interdisciplinares que incluam serviço, e o PPP deve prever o atendimento dos alunos
a necessidade da tecnologia assistiva - TA; planejamento em outra escola mais próxima ou centro de atendimento
para alterações na acessibilidade física da escola e assim educacional especializado, no contraturno do horário es-
por diante. colar. O AEE, quando realizado em outra instituição, deve
ser acordado com a família do aluno, e o transporte, se

225
necessário, providenciado. Em tal situação, destaca-se, a entre outras ações previstas na manutenção e desenvol-
articulação com os professores e especialistas de ambas vimento do ensino para a organização e oferta do AEE,
as escolas, para assegurar uma efetiva parceria no pro- nas salas de recursos multifuncionais.
cesso de desenvolvimento dos alunos. As Diretrizes Operacionais para o Atendimento Edu-
O PPP prevê ações de acompanhamento e articulação cacional Especializado (2009) reiteram que, no caso de
entre o trabalho do professor do AEE e os professores a oferta do AEE ser realizada fora da escola comum, em
das salas comuns, ações de monitoramento da produção centro de atendimento educacional especializado públi-
de materiais didáticos especializados, bem como recur- co ou privado sem fins lucrativos, conveniado para essa
sos necessários para a confecção destes. Além das condi- finalidade, a oferta conste também do PPP do referido
ções para manter, melhorar e ampliar o espaço das salas centro. Eles devem seguir as normativas estabelecidas
de recursos multifuncionais, inclui-se no PPP a previsão pelo Conselho de Educação do respectivo sistema de
de outros tipos de recursos, equipamentos e suportes ensino para autorização de funcionamento e seguir as
que forem indicados pelo professor do AEE ao aluno. orientações preconizadas nestas Diretrizes, como ocorre
O PPP de uma escola considera, no conjunto dos seus com o AEE nas escolas comuns.
alunos, professores, especialistas, funcionários e gesto- Conforme as Diretrizes, para o financiamento do AEE
res, as necessidades existentes, buscando meios para o são exigidas as seguintes condições:
atendimento dessa demanda, a partir dos objetivos e a) matrícula na classe comum e na sala de recursos
metas a serem atingidas. Ao delimitar os tempos esco- multifuncional da mesma escola pública;
lares, o PPP insere os calendários, os horários de turnos b) matrícula na classe comum e na sala de recursos
e contraturnos na organização pedagógica escolar, aten- multifuncional de outra escola pública;
dendo às diferentes demandas, de acordo com os espa- c) matrícula na classe comum e em centro de atendi-
ços e os recursos físicos, humanos e financeiros de que mento educacional especializado público;
a escola dispõe. d) matrícula na classe comum e no centro de atendi-
No caso do AEE, por fazer parte desta organização, o mento educacional especializado privado sem fins
PPP estipulará o horário dos alunos, oposto ao que fre- lucrativos.
quentam a escola comum e proporcional às necessida-
des indicadas no plano de AEE; e o horário do professor, A organização do Atendimento Educacional Especia-
previsto para que possa realizar o atendimento dos alu- lizado considera as peculiaridades de cada aluno. Alunos
nos, preparar material didático, receber as famílias dos com a mesma deficiência podem necessitar de atendi-
alunos, os professores da sala comum e os demais pro- mentos diferenciados. Por isso, o primeiro passo para se
fissionais que estejam envolvidos. planejar o Atendimento não é saber as causas, diagnós-
Enquanto serviço oferecido pela escola ou em par- ticos, prognóstico da suposta deficiência do aluno. Antes
ceria com outra escola ou centro de atendimento espe- da deficiência, vem a pessoa, o aluno, com sua história de
cializado, o PPP estabelece formas de avaliar o AEE, de vida, sua individualidade, seus desejos e diferenças.
alterar práticas, de inserir novos objetivos e de definir Há alunos que frequentarão o AEE mais vezes na se-
novas metas visando ao aprimoramento desse serviço. mana e outros, menos. Não existe um roteiro, um guia,
Na operacionalização do processo de avaliação institu- uma fórmula de atendimento previamente indicada e,
cional, caberá à gestão zelar para que o AEE não seja assim sendo, cada aluno terá um tipo de recurso a ser
descaracterizado das suas funções e para que os alunos utilizado, uma duração de atendimento, um plano de
não sejam categorizados, discriminados e excluídos do ação que garanta sua participação e aprendizagem nas
processo avaliativo utilizado pela escola. atividades escolares.
O PPP define os fundamentos da estrutura escolar Na organização do AEE, é possível atender aos alu-
e deve ser coerente com os propósitos de uma educa- nos em pequenos grupos, se suas necessidades forem
ção que acolhe as diferenças e, sendo assim, não poderá comuns a todos. É possível, por exemplo, atender a um
manter seu caráter excludente e próprio das escolas dos grupo de alunos com surdez para ensinar-lhes LIBRAS ou
diferentes. para o ensino da Língua Portuguesa escrita.

2.1.1. A ORGANIZAÇÃO E A OFERTA DO AEE

O Decreto Nº. 6.571, de 17 de setembro de 2008, que


dispõe sobre o Atendimento Educacional Especializado,
destina recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

da Educação Básica - FUNDEB ao AEE de alunos com de-


ficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação, matriculados na rede pública
de ensino regular, admitindo o cômputo duplo da matrí-
cula desses alunos em classes comuns de ensino regular
público e no AEE, concomitantemente, conforme registro
no Censo Escolar.
Esse Decreto possibilita às redes de ensino o inves- Foto 1 - Mostra uma sala de recursos multifuncional
timento na formação continuada de professores, na e a professora ensinando Língua Portuguesa escrita para
acessibilidade do espaço físico e do mobiliário escolar, crianças com surdez. Esse ambiente apresenta recursos
na aquisição de novos recursos de tecnologia assistiva, visuais fixados na parede.

226
Os planos de AEE resultam das escolhas do profes- do aluno ao atendimento, entre outros elementos consti-
sor quanto aos recursos, equipamentos, apoios mais tuintes desse plano. Outros dados poderão ser coletados
adequados para que possam eliminar as barreiras que pelo professor em articulação com o professor da sala de
impedem o aluno de ter acesso ao que lhe é ensinado aula e demais colegas da escola.
na sua turma da escola comum, garantindo-lhe a partici-
pação no processo escolar e na vida social em geral, se-
gundo suas capacidades. Esse atendimento tem funções
próprias do ensino especial, as quais não se destinam a
substituir o ensino comum e nem mesmo a fazer adap-
tações aos currículos, às avaliações de desempenho e a
outros. É importante salientar que o AEE não se confunde
com reforço escolar.
O professor de AEE acompanha a trajetória acadê-
mica de seus alunos, no ensino regular, para atuar com
autonomia na escola e em outros espaços de sua vida
social. Para tanto, é imprescindível uma articulação entre
o professor de AEE e os do ensino comum. Foto 3 - Mostra um aluno com deficiência visual, utili-
Na perspectiva da inclusão escolar, o professor da zando os recursos da informática acessível.
Educação Especial não é mais um especialista em uma
área específica, suas atividades desenvolvem-se, pre- c) Produzir materiais tais como textos transcritos,
ferencialmente, nas escolas comuns, cabendo-lhes, no materiais didático-pedagógicos adequados, tex-
atendimento educacional especializado aos alunos, pú- tos ampliados, gravados, como, também, poderá
blico-alvo da educação especial, as seguintes atribuições: indicar a utilização de softwares e outros recursos
a) identificar, elaborar, produzir e organizar serviços, tecnológicos disponíveis.
recursos pedagógicos, de acessibilidade e estraté-
gias, considerando as necessidades específicas dos
alunos de forma a construir um plano de atuação
para eliminá-las (MEC/SEESP, 2009).

Foto 4 - Mostra uma aluna com paralisia cerebral em


sala de aula comum, fazendo uso da prancha de comu-
nicação alternativa.

Foto 2 - Mostra equipamentos e materiais pedagógi-


cos para alunos com deficiência visual.

b) Reconhecer as necessidades e habilidades do alu-


no. Ao identificar certas necessidades do aluno, o
professor de AEE reconhece também as suas habi-
lidades e, a partir de ambas, traça o seu plano de
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

atendimento. Se ele identifica necessidade de co-


municação alternativa para o aluno, indica recursos
como a prancha de comunicação, por exemplo; se
observa que o aluno movimenta a cabeça, conse-
gue apontar com o dedo, pisca, essas habilidades
são consideradas por ele para a seleção e organi-
zação de recursos educacionais e de acessibilidade. Foto 5 - Exibe materiais produzidos com papel cartão
para o ensino de LIBRAS. Cada imagem é acompanhada
Com base nesses dados, o professor elaborará o pla- do sinal de Libras e da palavra em Língua Portuguesa.
no de AEE, definindo o tipo de atendimento para o aluno,
os materiais que deverão ser produzidos, a frequência

227
d) Elaborar e executar o plano de AEE, avaliando a h) Promover atividades e espaços de participação
funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos da família e a interface com os serviços de saúde,
educacionais e de acessibilidade (MEC/SEESP, assistência social e outros (MEC/SEESP, 2009). O
2009). Na execução do plano de AEE, o professor papel do professor do AEE não deve ser confundi-
terá condições de saber se o recurso de acessibili- do com o papel dos profissionais do atendimento
dade proposto promove participação do aluno nas clínico, embora suas atribuições possam ter arti-
atividades escolares. O plano, portanto, deverá ser culações com profissionais das áreas da Medicina,
constantemente revisado e atualizado, buscando- Psicologia, Fisioterapia, Fonoaudiologia e outras
-se sempre o melhor para o aluno e considerando afins. Também estabelece interlocuções com os
que cada um deve ser atendido em suas particu- profissionais da arquitetura, engenharia, informá-
laridades. tica.
e) Organizar o tipo e o número de atendimentos
(MEC/SEESP, 2009). O professor seleciona o tipo No decorrer da elaboração e desenvolvimento dos
do atendimento, organizando, quando necessá- planos de atendimento para cada aluno, o professor de
rios, materiais e recursos de modo que o aluno AEE se apropria de novos conteúdos e recursos que am-
possa aprender a utilizá-los segundo suas habili- pliam seu conhecimento para a atuação na Sala de Re-
dades e funcionalidades. O número de atendimen- cursos Multifuncional.
tos semanais/mensais varia de caso para caso. O São conteúdos do AEE: Língua Brasileira de Sinais - LI-
professor vai prolongar o tempo ou antecipar o BRAS e LIBRAS tátil; Alfabeto digital; Tadoma; Língua Por-
desligamento do aluno do AEE, conforme a evo- tuguesa na modalidade escrita; Sistema Braille; Orienta-
lução do aluno. ção e mobilidade; Informática acessível; Sorobã (ábaco);
f) Acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade dos Estimulação visual; Comunicação alternativa e aumen-
recursos pedagógicos e de acessibilidade na sala tativa - CAA; Desenvolvimento de processos educativos
de aula comum do ensino regular, bem como em que favoreçam a atividade cognitiva.
outros ambientes da escola (MEC/SEESP, 2009). O São recursos do AEE: Materiais didáticos e pedagógi-
professor do AEE observa a funcionalidade e apli- cos acessíveis (livros, desenhos, mapas, gráficos e jogos
cabilidade dos recursos na sala de aula, as distor- táteis, em LIBRAS, em Braille, em caracter ampliado, com
ções, a pertinência, os limites desses recursos nes- contraste visual, imagéticos, digitais, entre outros); Tec-
se e em outros ambientes escolares, orientando,
nologias de informação e de comunicação (TICS) aces-
também, as famílias e os colegas de turma quanto
síveis (mouses e acionadores, teclados com colmeias,
ao uso dos recursos.
sintetizadores de voz, linha Braille, entre outros); e Re-
cursos ópticos; pranchas de CAA, engrossadores de lápis,
O professor de sala de aula informa e avalia junta-
ponteira de cabeça, plano inclinado, tesouras acessíveis,
mente com o professor do AEE se os serviços e recursos
quadro magnético com letras imantadas, entre outros.
do Atendimento estão garantindo participação do aluno
O desenvolvimento dos processos de ensino e de
nas atividades escolares. Com base nessas informações,
são reformuladas as ações e estabelecidas novas estraté- aprendizagem é favorecido pela participação da família
gias e recursos, bem como refeito o plano de AEE para dos alunos. Para elaborar e realizar os Planos de AEE, o
o aluno. professor necessita dessa parceria em todos os momen-
tos. Reuniões, visitas e entrevistas fazem parte das etapas
pelas quais os professores de AEE estabelecem contatos
com as famílias de seus alunos, colhendo informações,
repassando outras e estabelecendo laços de cooperação
e de compromissos.
As parcerias intersetoriais e com a comunidade onde
a escola está inserida estão entre as prioridades do Pro-
jeto Político Pedagógico, pois a educação não é apenas
uma área restrita aos órgãos do sistema educacional. Elas
aparecem nas ações integradas da escola com todos os
segmentos da sociedade civil e da sociedade política dos
Municípios e Estados com as escolas.
Indicadores importantes das parcerias intersetoriais
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

são as ações desenvolvidas entre as escolas e as Secre-


Foto 6 - Mostra aluno no AEE aprendendo o uso do tarias de Educação, de Saúde, Poder Executivo, Poder Le-
leitor de tela. gislativo, Poder Judiciário, Ministério Público, instituições,
empresas e demais segmentos sociais. O PPP, ao propor
g) Ensinar e usar recursos de Tecnologia Assistiva, tais essas parcerias, está consubstanciado em uma visão de
como: as tecnologias da informação e comunica- complementação e de alinhamento da educação escolar
ção, a comunicação alternativa e aumentativa, a in- com outras instituições sociais.
formática acessível, o soroban, os recursos ópticos No caso do AEE, faz parte do seu Plano a previsão,
e não ópticos, os softwares específicos, os códigos desenvolvimento e avaliação de ações sincronizadas com
e linguagens, as atividades de orientação e mobili- a Saúde, Assistência Social, Esporte, Cultura e demais
dade (MEC/SEESP, 2009). segmentos. As parcerias fortalecem esse Plano, sem cor-

228
rer o risco de perder o foco no AEE, na medida em que a a surgir com a finalidade de romper com esta organiza-
participação de outros atores amplia o caráter interdisci- ção e determinismo. Tais metodologias rompem com o
plinar do serviço. modelo determinista de formação, considerando as di-
ferenças entre os estudantes e apresentando uma nova
2.1.2. A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA O perspectiva de organização curricular.
AEE Zabala (1995) defende uma perspectiva de organi-
zação curricular globalizadora, na qual os conteúdos de
Para atuar no AEE, os professores devem ter forma- aprendizagem e as unidades temáticas do currículo são
ção específica para este exercício, que atenda aos obje- relevantes em função de sua capacidade de compreen-
tivos da educação especial na perspectiva da educação der uma realidade global. Para Hernandez (1998), o con-
inclusiva. Nos cursos de formação continuada, de aper- ceito de conhecimento global e relacional permite supe-
feiçoamento ou de especialização, indicados para essa rar o sentido da mera acumulação de saberes em torno
formação, os professores atualizarão e ampliarão seus de um tema. Ele propõe estabelecer um processo no qual
conhecimentos em conteúdos específicos do AEE, para o tema ou problema abordado seja o ponto de referência
melhor atender a seus alunos. para onde confluem os conhecimentos.
A formação de professores consiste em um dos ob- É neste contexto que surgem as metodologias ati-
jetivos do PPP. Um dos seus aspectos fundamentais é a vas de aprendizagem. Elas requerem uma mudança de
preocupação com a aprendizagem permanente de pro- atitude do docente. Uma delas refere-se à flexibilidade
fessores, demais profissionais que atuam na escola e tam- diante das questões que surgirão e dos conhecimen-
bém dos pais e da comunidade onde a escola se insere. tos que se construirão durante o desenvolvimento dos
Neste documento, apresentam-se as ações de formação, trabalhos. Este processo permite aos professores e aos
incluindo os aspectos ligados ao estudo das necessida- alunos aprenderem a explicar as relações estabelecidas a
des específicas dos alunos com deficiência, transtornos partir de informações obtidas sobre determinado assun-
globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdo- to e demonstra respeito às diferentes formas e procedi-
tação. Este estudo perpassa o cotidiano da escola e não é mentos de organização do conhecimento.
exclusivo dos professores que atuam no AEE. Essas propostas colocam o aprendiz como protago-
À gestão escolar compete implementar ações que nista do processo de ensino e aprendizagem e agrega
garantam a formação das pessoas envolvidas, direta ou valor educativo aos conteúdos da formação. Os conteú-
indiretamente, nas unidades de ensino. Ela pode se dar dos não se tornam à finalidade, mas os meios de ensi-
por meio de palestras informativas e formações em nível no. As metodologias ativas de aprendizagem têm como
de aperfeiçoamento e especialização para os professores característica o fato de se desenvolverem em pequenos
que atuam ou atuarão no AEE. grupos e de apresentarem problemas contextualizados.
As palestras informativas devem envolver o maior nú- Trata-se de um processo ativo, cooperativo, integrado
mero de pessoas possível: professores do ensino comum e interdisciplinar. Estimula o aprendiz a desenvolver os
e do AEE, pais, autoridades educacionais. De caráter mais trabalhos em equipe, ouvir outras opiniões, a considerar
amplo, essas palestras têm por objetivo esclarecer o que o contexto ao elaborar as propostas das soluções, tor-
é o AEE, como ele está sendo realizado e qual a política nando-o consciente do que ele sabe e do que precisa
que o fundamenta, além de tirar dúvidas sobre este ser- aprender. Motiva-o a buscar as informações relevantes,
viço e promover ações conjuntas para fazer encaminha- considerando que cada problema é um problema e que
mentos, quando necessários. não existem receitas para solucioná-los.
Para a formação em nível de aperfeiçoamento e es-
pecialização, a proposta é que sejam realizadas ações Entre as diversas metodologias, a Aprendizagem Co-
de formação fundamentadas em metodologias ativas laborativa em Redes - ACR, construída a partir da me-
de aprendizagem, tais como Estudos de Casos, Aprendi- todologia de Aprendizagem Baseada em Problemas, foi
zagem Baseada em Problemas (ABP) ou Problem Based desenvolvida para um programa de formação continua-
Learning (PBL), Aprendizagem Baseada em Casos (ABC), da a distância de professores de AEE. Seu foco é a apren-
Trabalhos com Projetos, Aprendizagem Colaborativa em dizagem colaborativa, o trabalho em equipe, contextua-
Rede (ACR), entre outras. lizado na realidade do aprendiz.
Essas metodologias trazem novas formas de produ- A ACR é composta de etapas que incluem trabalhos
ção e organização do conhecimento e colocam o apren- individuais e coletivos. As etapas compreendem a apre-
diz no centro do processo educativo, dando-lhe autono- sentação, a descrição e a discussão do problema; pes-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

mia e responsabilidade pela sua aprendizagem por meio quisas em fontes bibliográficas para favorecer a com-
da identificação e análise dos problemas e da capacidade preensão do problema; apresentação de propostas de
para formular questões e buscar informações para res- soluções para o problema em foco; elaboração do plano
ponder a estas questões, ampliando conhecimentos. de atendimento; socialização; reelaboração da solução
Tradicionalmente os cursos de formação continuada do problema e do plano de atendimento; avaliação.
são centrados nos conteúdos, classificados de acordo A proposta de formação ACR prepara o professor
com o critério de pertencimento a uma especificidade, para perceber a singularidade de cada caso e atuar fren-
tendo sua organização curricular pautada num perfil te a eles. Nesse sentido, a formação não termina com
“ideal” de aluno que se deseja formar. Estes modelos de o curso, visto que a atuação do professor requer estu-
formação estão sendo cada vez mais questionados no do e reflexões diante de cada novo desafio. Finalizada a
contexto educacional e algumas metodologias começam formação, é importante que os professores constituam

229
redes sociais para dar continuidade aos estudos, estudar
casos, dirimir dúvidas e socializar os conhecimentos ad-
quiridos a partir da prática cotidiana. Para contribuir com
estas ações, a internet disponibiliza várias ferramentas de
livre acesso que podem ser utilizadas pelos professores.
As tecnologias de informação e comunicação - TICs,
em especial as tecnologias Web 2.0, possibilitam aos
usuários o acesso às informações de forma rápida e
constante. Elas permitem a participação ativa do usuário
na grande rede de computadores e invertem o papel de
usuário consumidor para usuário produtor de conheci-
mento, de agente passivo para agente ativo, o que pode
ampliar as possibilidades dos programas de formação
pautados em metodologias ativas de aprendizagem. Foto 7 - Mostra um aluno com deficiência física utili-
Estas e outras ferramentas possibilitam viabilizar a zando vocalizador em sala de aula comum.
construção coletiva do conhecimento em torno das prá-
ticas de inclusão e, o mais importante, socializar estas As Salas de Recursos Multifuncionais Tipo II são cons-
práticas e fazer delas um objeto de pesquisa. tituídas dos recursos da sala Tipo I, acrescidos de outros
recursos específicos para o atendimento de alunos com
PARTE III cegueira, tais como impressora Braille, máquina de dati-
lografia Braille, reglete de mesa, punção, soroban, guia
1. SALAS DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS de assinatura, globo terrestre acessível, kit de desenho
geométrico acessível, calculadora sonora, software para
As Salas de Recursos Multifuncionais são espaços lo- produção de desenhos gráficos e táteis.
calizados nas escolas de educação básica, onde se realiza
o Atendimento Educacional Especializado - AEE. Essas sa-
las são organizadas com mobiliários, materiais didáticos
e pedagógicos, recursos de acessibilidade e equipamen-
tos específicos para o atendimento aos alunos público
alvo da educação especial, em turno contrário à escola-
rização.
O Ministério da Educação, com o objetivo de apoiar
as redes públicas de ensino na organização e na oferta
do AEE e contribuir com o fortalecimento do processo
de inclusão educacional nas classes comuns de ensino,
instituiu o Programa de Implantação de Salas de Recur-
sos Multifuncionais, por meio da Portaria Nº. 13, de 24
de abril de 2007.
Nesse processo, o Programa atende a demanda das Foto 8 - Mostra materiais didático-pedagógicos inte-
escolas públicas que possuem matrículas de alunos com grantes das salas de recursos multifuncionais.
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou
superdotados/altas habilidades, disponibilizando as salas 1.1. CONHECENDO ALGUNS RECURSOS ACESSÍ-
de recursos multifuncionais, Tipo I e Tipo II. Para tanto, é VEIS
necessário que o gestor do município, do estado ou do
Distrito Federal garanta professor para o AEE, bem como a) Jogo Cara a Cara: O objetivo do jogo é encontrar
o espaço para a sua implantação. a outra cara igual a que o outro participante tem
As Salas de Recursos Multifuncionais Tipo I são cons- em mãos. Crianças com cegueira têm a possibilida-
tituídas de microcomputadores, monitores, fones de ou- de de encontrar os pares em função das texturas,
vido e microfones, scanner, impressora laser, teclado e e crianças com baixa visão, em função das cores
colmeia, mouse e acionador de pressão, laptop, materiais contrastantes. O jogo foi feito em borracha e com
e jogos pedagógicos acessíveis, software para comuni- retângulos em tamanho grande para permitir que
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

cação alternativa, lupas manuais e lupa eletrônica, plano crianças com dificuldades motoras possam jogar.
inclinado, mesas, cadeiras, armário, quadro melanínico. Dessa forma, o jogo permite a participação de to-
dos.

230
Foto 9 - Mostra o jogo acessível cara a cara, feito de
borracha recortada em retângulos. Foto 12 - Mostra o jogo da velha e de dominó feito de
madeira, em cores contrastantes.
b) Maquete da planta baixa: Uma maquete de plan-
ta baixa pode ser confeccionada com diferentes e) Teclado com colmeia: A colmeia é um recurso da
materiais, como o papel cartão, o papel camurça e tecnologia assistiva feita em acrílico transparente
outros. Esse material proporciona a percepção do com furos coincidentes às teclas do teclado co-
ambiente, a orientação espacial e a mobilidade. mum. A colmeia facilita a digitação do aluno com
dificuldade motora.

Foto 10 - Mostra maquete da planta baixa de uma es-


cola da rede pública de ensino. A maquete foi feita com
material simples, como o papel cartão e o papel camurça. Foto 13 - Mostra um teclado com colmeia para uso
Ela está sobre uma mesa. Três pessoas estão sentadas e do aluno com dificuldades motoras.
uma delas tateia a maquete.
f) Mouse e acionador de pressão: O acionador de
c) Máquina Braille pressão, conectado ao mouse, é utilizado por alu-
nos com deficiência física. Por exemplo, em casos
em que os alunos apresentam amputação de bra-
ços, o acionador poderá ser ativado com o queixo
ou, se o aluno apresenta dificuldades motoras nas
mãos, o acionador poderá ser ativado com o movi-
mento do cotovelo.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Foto 11 - Mostra a professora do AEE ensinando o


aluno com cegueira a usar a máquina de datilografia
Braille.

d) Jogo da velha e dominó: Estes jogos são constitu-


ídos de peças e tabuleiro em diferentes materiais,
texturas, cores e formas geométricas que permi-
tem acessibilidade para alunos com cegueira ou Foto 14 - Mostra um mouse com o acionador de
com baixa visão. pressão conectado.

231
g) Aranha-mola: O recurso da tecnologia assistiva qualidade da educação brasileira que está subjacente a
denominado Aranha-mola é produzido com um todas essas mudanças que estão propostas pela Política
arame revestido, onde os dedos e a caneta são atual da Educação Especial.
encaixados. O objetivo deste recurso é estabilizar
ou auxiliar nos movimentos de pessoas com defi-
ciência física nas atividades em que utilizam lápis,
caneta ou pincel. EXERCÍCIO COMENTADO

1. (Prefeitura de Brusque/SC – Professor Educação Es-


pecial – FEPESE/2014/Superior) Na Política Nacional de
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva
(MEC, 2008), são considerados alunos com deficiência
aqueles que:

a) apresentam acentuadas dificuldades de aprendiza-


gem.
b) apresentam transtornos funcionais específicos tais
como dislexia, disortografia, disgrafia, discalculia,
transtorno de atenção e hiperatividade, entre outros.
c) apresentam alterações qualitativas das interações so-
ciais recíprocas e na comunicação, além de um reper-
tório de interesses e atividades restrito, estereotipado
Foto 15 - Mostra um aluno escrevendo com caneta e repetitivo.
encaixada na aranha-mola. d) têm impedimentos de longo prazo, de natureza física,
mental, intelectual ou sensorial, que em interação com
Considerações Finais diversas barreiras podem ter restringida sua participa-
ção plena e efetiva na escola e na sociedade.
A garantia de acesso, participação e aprendizagem de e) demonstram potencial elevado em qualquer uma das
todos os alunos nas escolas contribui para a construção seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual,
de uma nova cultura de valorização das diferenças. Este acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes.
fascículo destacou em seus tópicos a importância de se
rever a organização pedagógica e administrativa das es- Resposta: Letra D
colas para que estas possam tornar-se espaços inclusi- Em “a”: Errado – Não é considerado aluno com defi-
vos. ciência.
Do ponto de vista da escola comum, ressaltou-se o Em “b”: Errado – Não são considerados corretos os
papel do Projeto Político Pedagógico como instrumento transtornos funcionais.
orientador desses espaços e a participação e compro- Em “c”: Errado – Não contempla a legislação.
metimento dos professores na elaboração e execução Em “d”: Certo – Está correto: Alunos com deficiência:
desse Projeto. Quanto à Educação Especial, reiteramos aqueles que têm impedimentos de longo prazo de na-
a necessidade de esta modalidade de ensino ser parte tureza física, intelectual, mental ou sensorial, os quais,
integrante do PPP, para que seus serviços possam ser im- em interação com diversas barreiras, podem obstruir
plementados na perspectiva da educação inclusiva, como sua participação plena e efetiva na sociedade em
prevê a Política Nacional da Educação Especial. igualdade de condições com as demais pessoas.
O entrelaçamento dos serviços de Educação Especial, Em “d”: Errado – Não está correta a alternativa.
entre os quais o Atendimento Educacional Especializado,
conjuga igualdade e diferenças como valores indissociá-
veis e como condição de acolher a todos nas escolas. As SMOLE, KÁTIA STOCCO; DINIZ, MARIA
ações para consolidação do AEE exigem firmeza e envol- IGNEZ; CÂNDIDO, PATRÍCIA. RESOLUÇÃO
vimento de todos os que estão se empenhando para que DE PROBLEMAS: MATEMÁTICA DE 0 A 6.
as escolas se tornem ambientes educacionais plenamen- PORTO ALEGRE: ARTMED, 2003.
te inclusivos.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Nessa caminhada em favor de uma escola para to-


dos, a educação especial brasileira tem tomado decisões Capítulo 1 – Uma primeira conversa: uma propos-
e iniciativas que surpreendem pela ousadia de suas pro- ta de matemática para a Educação Infantil
postas e coerência de seus posicionamentos com o que
nossa Constituição de 1988 prescreve como direito à O conhecimento matemático não se constitui em um
educação. conjunto de fatos a serem memorizados; que aprender
A possibilidade de inventar o cotidiano (CERTEAU, números é mais que contar. Uma proposta de trabalho
1994) tem sido a saída adotada pelos que colocam sua de matemática para a Educação Infantil deve encorajar
capacidade criadora para inovar, romper velhos acordos, a exploração de uma grande variedade de ideias não
resistências e lugares eternizados na educação. É a de- apenas numéricas, mas também aquelas relativas à geo-
terminação e um forte compromisso com a melhoria da metria, às medidas e às noções de estatística. Por esse

232
motivo, nossa proposta didática está fundamentada, entre outros aspectos, na crença de que, para além das habilida-
des linguísticas e lógico-matemáticas, é necessário que os alunos da Educação Infantil tenham chance de ampliar suas
competências espaciais, pictóricas, corporais, musicais, interpessoais e intrapessoais.
Fatores para aprendizagem significativa
Destacamos também que, em nossa concepção de trabalho, para que a aprendizagem ocorra de forma significativa:
• seja vista como a compreensão de significados;
• relaciona-se com experiências anteriores, vivências pessoais e outros conhecimentos;
• permita a formulação de problemas de algum modo desafiantes, que incentivem aprender mais;
• permita o estabelecimento de diferentes tipos de relações entre fatos, objetos, acontecimentos, noções, conceitos,
etc;
• permita modificações de comportamentos; • permita a utilização do que é aprendido em diferentes situações.
• relaciona-se com experiências anteriores, vivências pessoais e outros conhecimentos;

Concepção de Ensino para as autoras

Nessa concepção, o ensino é um conjunto de atividades sistemáticas cuidadosamente planejadas, nas quais o pro-
fessor e o aluno partilham parcelas cada vez maiores de significados com relação aos conteúdos do currículo escolar,
ou seja, o professor guia suas ações para que o aluno participe em tarefas e atividades que o façam aproximar-se cada
vez mais dos conteúdos que a escola tem para lhe ensinar.

A organização do espaço e o ambiente da aula

O ambiente da sala de aula pode ser visto como uma oficina de trabalho de professores e alunos. O espaço da classe
deve ser marcado por um ambiente cooperativo e estimulante para o desenvolvimento dos alunos. Nesse sentido, os
grupos de trabalho tornam-se indispensáveis, assim como diferentes recursos didáticos. O ambiente proposto é po-
sitivo, que encoraja os alunos a proporem soluções, explorarem possibilidades, levantarem hipóteses, justificarem seu
raciocínio e validarem suas próprias conclusões. Nesse ambiente, os erros fazem parte do processo de aprendizagem,
devendo ser explorados e utilizados de maneira a gerar novos conhecimentos.

O trabalho do professor e o papel do aluno

O trabalho do professor, nessa perspectiva, não consiste em resolver problemas e tomar decisões sozinhos (...) Ele
tenta discernir, durante as atividades, as novas possibilidades que poderiam abrir-se à classe.
A natureza das atividades previstas neste trabalho procura propor atividades nas quais os alunos possam ter inicia-
tiva de começar a desenvolvê-las de modo independente e sintam-se capazes de vencer dificuldades com as quais se
defrontarem.
Estimular a criança a controlar seus erros, seus avanços, rever suas respostas possibilita a ela descobrir onde falhou
ou teve sucesso e porque isso ocorreu.
A consciência dos acertos, dos erros e das lacunas permite ao aluno compreender seu próprio processo de apren-
dizagem e desenvolver sua autonomia para continuar a aprender.
Conclusão do primeiro capítulo “As crianças devem perceber que é bom ser capaz de explicar e justificar seu racio-
cínio e que saber resolver um problema é tão importante quanto obter sua solução.” (SMOLE et al., 2003, p. 12)

Capítulo 2 – Resolução de problemas de matemática na Educação Infantil


CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Algumas considerações importantes sobre Resolução de Problemas


1) Um dos motivos para o estudo da matemática na escola atual é desenvolver a habilidade de resolver problemas.
2) Um problema é toda situação que ela [a criança] enfrenta e não encontra uma solução imediata que lhe permita
ligar os dados de partida ao objetivo a atingir.
3) Essa situações-problemas podem ser atividades planejadas, jogos, busca e seleção de informações, resolução de
problemas não convencionais e, até mesmo, convencionais.

233
4) (...) essa perspectiva de resolução de problemas tem como característica ampliar o conceito de problema e, como
consequência, saber problematizar.
5) É comum encontrarmos a concepção de que problematizar significa submeter as crianças a uma lista de pergun-
tas formuladas pelo professor.
6) Outro aspecto que merece nossa atenção é que a problematização inclui o que chamamos de processo metacog-
nitivo, isto é, quando se pensa o que se pensou ou fez.

Algumas crenças que os professores têm sobre resolução de problemas

Quando ampliamos nossa concepção de problema para situação-problema (...) caem por terra algumas crenças
existentes entre os professores:
a) a primeira dessas crenças é que para resolver problemas é preciso que as crianças sejam leitoras. Esse argumen-
to é facilmente refutado, pois não saber ler ou escrever não é incapacidade para ouvir, falar, compreender ou
pensar.
b) uma segunda crença bastante difundida é que para resolver problemas adequadamente a criança precisa ter
conceitos numéricos. Essa crença é ainda mais infundada que a anterior, pois frequentemente podemos proble-
matizar situações não–numéricas como jogos, brincadeiras e situações da sala de aula.
c) um terceiro motivo (...) subjaz ao argumento de que para resolver problemas as crianças precisam ter algum co-
nhecimento sobre operações e sinais matemáticos (...) em vez de pensarmos sobre problemas como sendo desta
ou daquela operação, deveríamos considera-los como perguntas que as crianças tentam responder pensando
por si mesmas.

Capítulo 3 – Planejando o trabalho com resolução de problemas

Algumas recomendações são de natureza genérica [entre eles];


Podemos escolher as situações-problemas tanto entre aquelas que envolvem números, contagens e noções das
operações quanto entre as situações não-numéricas.
O desenvolvimento da compreensão e do uso das diferentes linguagens – oral, gestual, pictórica e textual – ganha
espaço neste trabalho.
O trabalho coletivo alternado com a organização em pequenos grupos, duplas e até individualmente, gera diferen-
tes formas de relacionamento entre os alunos e entre eles e o professor.
Se o aluno não lê, o professor pode ler o problema para ele e propor que, em uma folha, encontre um meio para
expressar a solução.

Alguns cuidados ao trabalhar resolução de problemas

ALERTA! Ao ler para a classe um problema, convencional ou não, o professor deve ter o cuidado de fazer a leitura
sem enfatizar determinadas palavras.

(...) Ao ler ou ouvir um problema, o aluno encontra dificuldades porque não conhece os termos, ou palavras, que
nele aparecem. As dúvidas referentes a isso podem ser superadas com (...) levantar com o aluno palavras desconhecidas
(...) dramatizar o problema (...) levar a classe a fazer uma leitura mais lenta do problema. O ideal é que as problema-
tizações sejam uma constante nas aulas e que, no planejamento de toda semana haja uma situação–problema a ser
discutida e resolvida.

Capítulo 4 – Resolvendo problemas e registrando soluções

• (...) É importante que elas [as crianças] percebam, em algum momento, a necessidade de registrar suas soluções
para comunicar suas ideias, garantir suas autorias e pensar sobre o caminho utilizado na resolução.
• O modo mais natural para a maioria dos alunos de Educação Infantil registrarem o que fizeram ou pensaram é
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

através da oralidade, porque quase todos chegam à escola com capacidade de se expressar oralmente.
• Podemos estimular a oralidade na resolução de problemas de dois modos diferentes: na resolução coletiva de uma
dada situação e na discussão das diferentes formas de resolver um problema.
• Apesar da relevância da oralidade para a resolução de problemas, é importante que os alunos sejam estimulados
a desenvolver outros tipos de registros em situações-problema para que possam ampliar sua capacidade de
comunicação.
• Por isso, além da oralidade, sugerimos o registro através de desenho, da escrita e da linguagem matemática.

234
O desenho e a resolução de problemas para crianças não-leitoras

O registro escrito

Esse recurso em resolução de problemas aparece (...) quando, com aluno de cinco ou seis anos, começam a cami-
nhar para registros mais sistemáticos da resolução. O texto pode ser feito coletivamente, com o professor assumindo
o papel de escriba, ou individualmente, se os alunos já escrevem.
Temos proposto o registro em forma de texto durante ou após a discussão das soluções e, em ambos os casos, ele
serve para formalizar as respostas validadas pela classe.
Com o passar do tempo, podemos observar algumas crianças utilizando diferentes representações – escrita, pictó-
rica e até numérica – na solução de problemas.

Registrando as soluções aritmeticamente

Conclusão do quarto capítulo


CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

“O que se espera é que, desde a Educação Infantil, os alunos percebam que aprender uma linguagem, inclusive a
matemática, não é aprender uma série de regras sem sentido, e sim adquirir um grau de competência comunicativa que
permita utilizar essa linguagem adequadamente nas mais variadas situações.” (SMOLE et al., 2014, p. 36).

Capítulo 5 – Como Observar, Interferir e Registrar

No trabalho com resolução de problemas, uma das funções do professor é observar as ações das crianças e inter-
ferir para que elas avancem e superem obstáculos. Parece importante que, enquanto os alunos resolvem problemas, o
professor dê a eles o tempo que for necessário. Muitas crianças identificam-se com problemas orais, gostam de falar,
questionar, enfim, expor suas dúvidas e conclusões.

235
Algumas falam apenas quando são solicitadas e outras preferem não falar. Propor discussões orais para crianças em
idade de Educação Infantil não é algo tão simples. Isto pode gerar um certo alvoroço na classe, o qual vai amenizando-
-se com o tempo a partir das intervenções do professor.
Alguns cuidados para o professor ao aplicar as atividades

Registrar o caminhar do ensino e da aprendizagem

• Durante qualquer atividade, o olhar observador do professor permitirá que ele possa refletir o que foi bom, o que
não foi, o que precisa ser repetido, que assunto trouxe maior envolvimento da sala, quais crianças participaram,
quais não.
• Essas observações podem ser registradas pelo professor para garantir a continuidade de seu trabalho e o plane-
jamento de suas interferências.
• (...) O professor pode propor algum tipo de problema em sala de aula e também sugerir que as crianças registrem
graficamente suas respostas. (...). No entanto, isso não significa que a partir de agora todas as soluções deverão
ser apresentadas através do registro pictórico.
• (...) Um outro aspecto que queremos ressaltar é que não é aconselhável fazer anotações nos registros das crianças
(...) Aconselhamos os professores que desejarem fazer alguma anotação que a façam atrás do desenho ou em
uma folha separada.
• Após as crianças terem tido a oportunidade de lidar muitas vezes com diferentes tipos de problemas, buscando e
expressando soluções através da oralidade e do desenho, o professor pode propor o texto escrito como maneira
de registrar a solução.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Capítulo 6 –
Propostas de Resolução de Problemas

236
Mais propostas de Resolução de Problemas

Capítulo 7 – As Crianças Elaboram seus Próprios Problemas

Uma das melhores estratégias que podemos utilizar desde a Educação Infantil para ampliar a compreensão dos
alunos sobre a resolução de problemas é propiciar situações nas quais eles possam criar seus próprios problemas nas
aulas de matemática.

Mais sugestões para autoria de problemas


CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

O que fazer com os problemas que os alunos formulam? Os problemas formulados pelos alunos devem ser resol-
vidos pela classe, colocados em cartaz e expostos ou mesmo formar um pequeno livro de problemas. JOÃO ESTAVA
PASSEANDO DE BARCO PELO RIO. O BARCO FUROU E ENTROU MUITA ÁGUA NELE. COMO O JOÃO FEZ PARA SE SAL-
VAR? “Eu pedia socorro pelo celular”.

Capítulo 8 – Fazendo uma Síntese: Planejar e Avaliar

Restam ainda duas questões importantes para completar o trabalho com a resolução de problemas: o planejamento
das ações e a avaliação.

237
Processofólio X Portfólio

(...) Outro cuidado referente à avaliação é o acompanhamento do desenvolvimento dos alunos através do arquiva-
mento de suas produções. Não se trata apenas de fazer uma pasta na qual são colocados todos os trabalhos do aluno
(...)
• No processofólio, são arquivados os registros produzidos pelo aluno ao longo de um período de tempo, a saber:
textos, desenhos e atividades diversas;
• Os processofólios permitem ao professor refletir sobre que tarefas fizeram mais sentido, quais deram resultados
mais efetivos, quais ficaram mais confusas, etc.
• Por outro lado, ao final de um período de trabalho, pode-se propor a elaboração de um portfólio, isto é, coletar
dentre os registros feitos no processofólio as melhores produções;
• (...) O portfólio mostra a visão de cada criança sobre seu próprio trabalho, confirmando ou não as observações do
professor sobre ela.

Fonte
SMOLE, Kátia Stocco, DINIZ, Maria Ignez e CÂNDIDO, Patrícia. Resolução de problemas: matemática de 0 a 6. Porto
Alegre: Artmed, 2003.

EXERCÍCIO COMENTADO

1. (VUNESP/2017) observe o poema cinético elaborado por um aluno, quando estudava medidas de tempo.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

238
De acordo com Smole (2000), pode-se afirmar que Eu também não sabia o que fazer. Sabíamos que não
a) para utilizarmos poemas nas aulas de matemática, é podia gritar, não podia estrangular, mesmo sendo nossa
preciso que tenhamos o hábito de fazê-lo antes em vontade, não podia colocar de castigo, não podia bater. Nós
língua materna, a fim de que haja referenciais sobre sabíamos o que não fazer, mas não sabíamos quais proce-
poemas, para que depois os alunos possam expressar- dimentos eram adequados para lidar com essa questão do
-se em matemática. desenvolvimento da moralidade, da autonomia, da disciplina.
b) a implementação de um projeto de letramento na Estudamos um pouco de psicologia, lemos textos, le-
área de matemática depende de um professor que, mos artigos e não queremos educar como educávamos
mais do que saber conteúdos, precisa saber como algumas décadas atrás. Não queremos repetir um mo-
identificar os interesses dos alunos. delo de educação autoritária, como a que nós tivemos.
c) trabalhar com o gênero poema nas aulas de matemá- Mas, ao mesmo tempo, nos sentimos inseguros de como
tica é inócuo, pois não garante que o aluno aprenda agir diante de um mal comportamento de uma criança.
sobre as características próprias do referido gênero. Por vezes, os professores sentiam-se muito permissivos.
d) o professor deverá selecionar vários poemas que tra- Diziam: “Eu converso, converso, converso e não adianta.
gam temas da área de matemática para que o aluno Não acontece nada. Ele continua da mesma maneira.”
fique centrado nos conteúdos da disciplina, respeitan- Em outros momentos, o professor não se continha
do as restrições próprias deste gênero. e acabava estourando e sentia-se autoritário demais. A
e) é importante que o professor, ao trabalhar com poe- nossa preocupação era encontrar o limite da intervenção,
mas atrelados ao conteúdo de matemática, leve em de qual o procedimento que está mais coerente com o
consideração os elementos de produção do gênero e ser humano que eu quero formar. Que ser humano vo-
sua relação com a área das ciências exatas. cês querem formar? Autônomo, crítico, criativo, humano,
responsável, que saiba conviver com o outro, cidadão,
Resposta: Letra A. Smole e Diniz destacam que é feliz, inteligente.
possível ajudar o aluno a superar a dificuldade encon- Humano, no sentido de pessoa humanizada, merece
trada com a interpretação de problemas, aproximan- reflexão. Será que os nossos procedimentos pedagógi-
do a língua materna à Matemática. Assim, acredita-se cos, aqueles que utilizamos em sala de aula, são coeren-
que, ao utilizar práticas de leitura e de escrita durante tes com esse homem que queremos construir?
as aulas, pode-se atingir os objetivos de estimular e Na escola tradicional, o professor também tem esses
ajudar o aluno a superar os obstáculos relacionados objetivos belos e nobres, e realmente gostaria de estar tra-
à compreensão e à interpretação, auxiliando na re- balhando para formar esse homem. Só que, na sala de aula,
solução de problemas matemáticos. Acredita-se que uma carteira está atrás da outra e as crianças não podem se
a abordagem da leitura e escrita durante as aulas de comunicar, conversar. Cada um tem que ter o seu próprio
Matemática pode auxiliar os alunos no processo de material, não pode emprestar para o amigo. A professora é
construção do conhecimento, porém, é preciso que quem diz o que fazer, quando fazer, como começar, quan-
tenhamos o hábito de fazê-lo antes em língua mater- do começar, a que horas terminar. Ela é quem determina,
na, a fim de que haja referenciais sobre poemas, para inclusive, a ida ao banheiro. É a própria professora que diz
que depois os alunos possam expressar-se em mate- para as crianças quando está certo e quando está errado.
mática. Como é que queremos formar pessoas cooperativas,
se um não pode ajudar o outro, porque isso é visto como
‘cola’, como uma coisa negativa? Quando escrevem, eles
VINHA, TELMA PILEGGI. O EDUCADOR colocam o braço sobre o trabalho para o outro não ver.
E A MORALIDADE INFANTIL NUMA Como é que eu posso formar pessoas solidárias, se cada
PERSPECTIVA CONSTRUTIVISTA. REVISTA um tem que ter o seu, se eu não posso compartilhar os
DO COGEIME, Nº 14, JULHO/99, PÁG. 15- meus materiais, se eu não posso compartilhar minhas ati-
38. vidades com o meu colega? Como é que eu quero formar
pessoas que saibam decidir, se o professor decide até a
hora das crianças irem ao banheiro, decide que atividade
vai ser dada, como vai ser feita? Como é que eu quero
FIQUE ATENTO! crianças que saibam viver em uma democracia, conviver
O que me levou a pesquisar a área da mora- com os iguais, se eles não podem conversar?
lidade, a questão da autonomia, foi a minha
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

experiência como coordenadora pedagógi- Há muita incoerência entre o objetivo e os instrumentos


ca. Quando eu trabalhava em Itatiba, cidade utilizados para atingir esse objetivo. Se o objetivo é formar
próxima a Campinas, como coordenadora, um ser humano autônomo, criativo etc, a sala tem que ter
os professores costumavam me perguntar: um ambiente em que tudo isso seja possível de acontecer.
“O que eu faço com aquele aluno que bate Essa é apenas uma reflexão inicial. O tema central é a cons-
nos outros? O que eu faço com aquele que trução da autonomia, o desenvolvimento moral.
fala palavrão o tempo inteiro? E com aque- O que se entende por moralidade? Qual é a ideia de
le que não pára um minuto quieto, que fica moralidade? O que é certo? O que é íntegro, integridade,
correndo pela classe? Eu ponho para pensar respeito, o bem, o caráter? Como isso é construído na
e não adianta.” criança, como a criança aprende isso no dia-a-dia? Ela
segue exemplos, modelos?

239
Primeiramente, o desenvolvimento moral refere-se soas e situações. Não existe moral sem o outro. A moral,
ao desenvolvimento das crenças, dos valores, das ideias necessariamente, envolve o outro, porque se refere a re-
dos sujeitos sobre a noção do certo, do errado, dos juí- gras, a normas, como as pessoas devem agir perante o
zos. Quando me sinto culpado por uma atitude, estou outro. A construção dos valores se dá a partir das expe-
emitindo um juízo. Esse julgamento reflete as minhas riências com o outro.
crenças, os meus valores, a noção do que é certo e do Será que a moralidade é ensinada diretamente? É
que é errado. Da mesma forma quando julgo a ação do muito comum usarmos histórias infantis – contar que
outro e a maneira como eu acredito que o outro me vê. o Pinocchio mentiu e o nariz dele cresceu. Quando as
Esse é o desenvolvimento moral. A moral se refere crianças brigam, contamos uma história de briga entre
ao que eu devo ser, como eu devo agir perante o outro. os personagens, que tiveram um final trágico. Com a his-
Como eu devo e não como eu ajo. O estudo da moral, tória da cigarra e da formiga, ensinamos a questão da
da ética, é como eu devo agir. O mais importante, para solidariedade, da cooperação, e assim por diante, sempre
Piaget, não são os valores pessoais. O que mais importa utilizando a moral da história.
para ele é por que eu sigo esses valores. Por exemplo,
por que eu tenho que ser honesto numa relação com Na realidade, a moralidade não se aprende assim. A
outra pessoa? Por que a sociedade me ensinou e todos moralidade não é ensinada por sermões. A moralidade
cobram esse padrão social? Se eu viver em uma socie- vai se dando a partir das pequenas experiências diárias
dade que me ensine que a mentira, às vezes, é o melhor que a criança tem ao se relacionar com o outro.
caminho, então eu posso mentir e tudo bem? Eu tenho O pai ensina a não mentir, mas quando, por exem-
que ser verdadeiro sempre? Por que isso é importante? plo, encontra uma morena na padaria, diz para o filho:
“não fala para tua mãe que eu encontrei com a fulana”.
Piaget mostra o que vai fazer diferença entre uma Ou a mãe bate o carro e diz: “não conta para o teu pai
moral autônoma – quando uma pessoa governa a si que fui eu!”. Ou ainda quando a criança fala a verdade, é
mesma, é responsável pelos seus atos, leva em conta o punida, mais pelo que ela contou do que por ter falado
outro antes de tomar uma decisão – e uma moral hete- a verdade. No entanto, para a criança, o sentimento é
rônoma – quando a pessoa é governada pelos outros. É de que falou a verdade e foi castigada. O que ela está
aprendendo?
uma pessoa que justifica o que ela faz, justifica o que ela
A criança vai percebendo que, às vezes, ela mente e
sente em nome do outro, do terceiro. “Eu penso assim
não é descoberta e que a mentira é necessária para esca-
porque a vida inteira me ensinaram a agir assim.”
par de um castigo. Essas são as experiências que ela está
O que faz diferença entre uma moral heterônoma, em
tendo com as pessoas, mostrando que nem sempre ser
que a moral é externa, e a autônoma, em que o centro, a
honesto é um bom negócio.
ética, os meus valores, são interiorizados, são internos é
Para falar da moralidade infantil é preciso considerar
justamente a razão de eu seguir os meus valores. Por que
que a criança tem uma concepção do que é certo, do
os professores querem que as crianças cumpram as re- que é errado, do valor de verdade, do valor de mentira,
gras da classe? Porque as regras são necessárias para or- completamente diferente do adulto. Para uma criança
ganizar os trabalhos, para formar os cidadãos do futuro e pequena, uma mentira que é considerada grave é uma
não por medo da criança de ficar sem recreio ou receber mentira em que você não pode acreditar. É, por exem-
uma punição ou uma recompensa do professor depois. plo, você dizer que encontrou um homem do tamanho
O fundamental para Piaget é que as pessoas autô- de um prédio. Para ela, essa é uma mentira muito grave,
nomas seguem determinadas normas porque elas acre- porque não existe um homem do tamanho de um prédio.
ditam que isso é o melhor para elas. Elas não seguem Assim, o exagero para a criança é mentira. Por outro lado,
essas normas para receber uma recompensa, por medo ela falar que tirou uma nota alta na prova, sendo que
do olhar externo, por medo de uma punição, de uma não tirou, não é uma mentira assim tão séria, porque ela
censura. O importante não é ser leal ou não, mas por que poderia ter tirado mesmo! Como ela poderia ter tirado, é
eu estou sendo leal. uma mentirinha boba.
É preciso saber que numa relação entre pessoas, se Um adulto que disser que trocou de carro e não tro-
uma começar a falar mentiras, o elo de confiança é rom- cou cometeu uma mentira séria, porque está querendo
pido, desestabilizando a relação. O importante é refletir aparecer, teve a intenção de mentir e enganar. Mas se
a respeito de por que seguimos as normas, os nossos alguém disser: “eu vi um caminhão que parecia um na-
valores. É por medo ou para agradar os pais, o diretor, vio de tão grande”, as pessoas vão perceber que é um
as crianças? exagero, não é uma mentira tão séria. Para a criança é o
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Para serem coerentes com isso, os educadores devem contrário.


estar pensando por que estão transformando a sala de
aula, aderindo ao construtivismo. Se é porque eu sigo A criança também considera o engano e a mentira
os meus valores e estou me transformando ou se é por a mesma coisa. A partir daí, como podemos lidar com a
uma recompensa ou uma punição. É isso que vai fazer mentira na criança? Constance Camille deixa claro que,
diferença entre uma moral autônoma e uma moral he- primeiramente, devemos perceber que a própria inteli-
terônoma. gência da criança – de educação infantil, com dois a sete
Para a criança, a construção da inteligência se dá a anos – é pré-operatória, é intuitiva.
partir da interação com o meio. O mesmo vale para a Muitas vezes acontece que o adulto é capaz, a partir
moralidade. A construção dos valores, o desenvolvimen- de indícios, deduzir que a criança comeu biscoitos – a
to moral, se dá a partir da interação da criança com pes- lata de biscoito está diminuindo, a boquinha da criança

240
está suja. Em vez de afirmar: “você comeu biscoito”, diz: As crianças estão convivendo e, de repente acontece
“o seu coração está me dizendo que você comeu bis- uma briga. Se o professor finge que não vê, ele está pas-
coito.” Ou: “deixa eu olhar nos seus olhos. Você comeu sando uma mensagem de que, nessa escola, a agressão
biscoito e está mentindo” Isso é um abuso da autoridade é permitida. Ao contrário, se a briga é encerrada por um
do adulto que trata a criança como se fosse transparente. adulto e os dois são colocados de castigo, a mensagem
Isso só é possível porque essa criança ainda é pré-opera- é de que os adultos têm mais autoridade, e quando vo-
tória, incapaz de tirar a conclusão como o adulto. cês tiverem um problema têm de procurar um adulto. O
Eles realmente acreditam que são transparentes e que melhor seria interferir para revalidar a regra e deixar cla-
os adultos são mágicos, têm o poder de, olhando dentro ro: “aqui nesta escola, as pessoas não devem se agredir.
dos olhos, ouvindo o coração, adivinhar. É diferente se o Vamos ver o que está acontecendo e uma maneira de
adulto falar “eu não posso acreditar no que você está me resolver isso sem agressão.”
dizendo por causa disso”. Diante do mesmo conflito, o adulto pode ter respos-
A primeira atitude do adulto é não abusar da autori- tas diferentes e, de qualquer maneira, ele está ensinando
dade de adulto, porque a criança constrói a privacidade a moralidade nesse dia-a-dia. Com cada resposta que ele
com muito custo. É preciso dizer para a criança o porquê dá, ou com as que ele não dá, a moralidade e a ética são
de você não acreditar no que ela está dizendo e mostrar abordadas. Por isso é um tema transversal. A moralidade
onde está a mentira no que ela falou. Explicar quais são vai se dando a partir daquelas situações do cotidiano do
as consequências da mentira na relação entre duas pes- professor, do pai, das crianças com as crianças. Nesses
soas. momentos é que estão sendo trabalhadas a ética e a mo-
Quando queremos crianças e pessoas sinceras, deve- ralidade.
mos estar preparados para ouvir verdades agradáveis e Cada ato do relacionamento com o aluno serve para
desagradáveis. Valorizar o fato de a criança ter contado algo e faz parte da construção da personalidade que a
a verdade, mas não deixar de conversar sobre o que ela criança está formando. Em cada ato, o educador tem que
fez. Deixar claro que contar a verdade é algo saudável, e perceber que está trabalhando a moralidade, por isso
refletir sobre o ato em si. que é um tema transversal. Vamos supor que duas crianças
estejam brigando por causa de um balanço. O professor
Moralidade envolve uma série de regras e essas re- pode fingir que não está vendo. Ou pode ir lá e dizer: “Cada
gras só existem porque na convivência entre as pessoas um balança dois minutos e eu vou ficar marcando.” Ou ele
são necessárias. Com o tempo, a criança vai percebendo pode chegar e falar: “Temos um balanço e duas crianças
as consequências do não cumprimento da regra ou da querendo balançar. Como vamos resolver isso? Como va-
necessidade dessa regra existir. Na educação, é isso que mos fazer para que todos usem o balanço?”
tem de ser mostrado para as crianças.
É muito comum as regras serem associadas ao medo Nos três casos, o professor está passando uma men-
da criança ser punida, ao medo dela ser castigada por sagem. Podem se pagar porque o problema é de vocês.
Deus, ou por um anjinho que está vendo tudo. Ou ain- Ou o adulto resolve o problema. Ou vamos resolver o
da a uma recompensa. Se ela for boazinha, vai ganhar problema sem agressão.
um sorvete. Na realidade, se a criança só deixa de mentir Quando as crianças começam a resolver os proble-
porque tem medo de o nariz crescer, ou deixa de mentir mas, as soluções não são as mais adequadas. Mas elas só
porque a mamãe não gosta que mente, ou porque a ma- vão chegar a resolver os problemas de forma adequada,
mãe acha feio, ela cresce com medo de descobrirem. O quando começarem a resolvê-los, percebendo as conse-
que fazia essa criança legitimar a norma de falar a verda- quências.
de eram coisas que, provavelmente, quando ela crescer Em nenhum momento afirma-se que o professor
já não vai acreditar mais. Haverá situações em que ela vai não deve intervir. Mas a intervenção deve ser adequa-
da, construtiva. Atuar como interlocutor ou mediador
mentir e ninguém vai descobrir, o nariz não vai crescer.
do problema, da discussão para que as crianças possam
Ela vai experimentar situações em que a opinião da mãe
chegar a uma conclusão.
dela não pesa tanto quanto a dos amigos.
O que as crianças podem fazer na sala, com relação
O que fazia a criança legitimar a norma já não existe
aos limites, às normas, é justamente elaborar as regras.
mais. Ela não tem mais porque cumprir. Por isso é im-
Há normas que são necessárias, não são negociadas. Por
portante associar uma regra a um bem-estar e às conse-
exemplo, não é permitido bater. É uma regra que não
quências do não cumprimento dessa regra. Tem de haver
pode ser flexível – bater só de vez em quando ou de leve.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

sentido na existência da regra, para um bom convívio


Outro exemplo é escovar os dentes, também é uma regra
social. que não tem negociação.
Nas salas de aula existem dois tipos de regras. As
1. Temas transversais regras necessárias são as regras de boa saúde, de boa
educação. São regras que não se negocia. A criança não
Atualmente, é comum os professores alegarem que, pode escolher se ela quer ir na escola ou não. Este tipo
nas classes em que trabalham em grupos, as crianças de escolha não tem negociação.
têm mais conflitos. É claro, elas convivem mais, antes elas Existem outras normas que são as que organizam
conviviam menos, então os conflitos não apareciam. A o trabalho da sala e garantem a justiça. Da formulação
moralidade é justamente um tema transversal à ética por dessas regras as crianças podem participar. Por exemplo,
causa disso. combinar algum sinal para avisar quando o barulho es-

241
tiver muito alto. Há salas em que a criança incomodada É preciso que eles comparem diferentes autores sobre
com o barulho apaga a luz para avisar os colegas que história e discutam. Para ensinar o lógico-matemático, é
abaixem o tom de voz. Diminuiu, ela acende a luz. Assim, preciso dar oportunidade para a criança reinventar, assim
até a cobrança da regra não fica só com o professor, mas como no conhecimento físico, com as propriedades dos
também com quem estiver incomodado. objetos, cor, sabor, odor.
É muito comum acontecer uma visão reducionista da Ensinar sem permitir que eles descubram, passando
teoria de Piaget, quando as escolas acham que a criança os conceitos como se fossem verdades prontas, ensinan-
pequena pode escolher qual a sanção ou castigo que vai do a técnica para resolver sem deixá-los resolver por si
ser dado à criança que está aprontando alguma coisa. mesmos, assim o educador deixa claro que a verdade
Crianças de seis anos são egocêntricas e incapazes de vem da cabeça do professor. Assim, o que os alunos têm
coordenar pontos de vista diferentes, de se colocar no lu- de fazer, mesmo que eles não entendam, é obedecer, é
gar do outro. Elas escolhem os castigos da maneira mais aceitar a autoridade, que hoje é o professor e amanhã
severa, que é a ideia que elas têm de justiça. Para elas, é pode ser o diretor, o chefe, o marido, o político.
justo pagar o preço sofrendo, para ser perdoado e aceito As crianças vão aprendendo a engolir sem entender.
no grupo, restabelecendo o elo que foi rompido. Vão engolindo e achando que é assim mesmo e quando
Nesses casos, não se pode passar a autoridade da es- crescem, continuam acreditando que as verdades vêm de
colha de sanção para a criança, mas sim elaborar a regra determinadas pessoas e não questionam essas verdades.
com eles. Um problema é colocado, discutido e decidido
pelo grupo, resultando numa regra. Mas não se combina 2. Avaliação
com as crianças o que fazer com quem não segue a re-
gra, porque isso é um problema do professor, que tem A forma de avaliação das crianças é outro aspecto.
que ser bem preparado para saber qual é a sanção mais Por exemplo, perder ponto quando conversar e ganhar
justa, com o aluno. ponto quando entregar trabalho. A maneira de usar o
instrumento de avaliação, ameaçando com frases como:
A criança tem uma interpretação de regra rígida, ao “vocês vão ver na hora da prova, vou dar uma prova sur-
pé da letra. Ela não percebe que cada caso é um caso. Ela presa”. Portanto, na avaliação, e se é avaliado o desenvol-
não tem essa noção de justiça. É um erro acharmos que vimento da criança pequena, também está sendo traba-
as crianças podem escolher qual é a sanção mais justa. lhada a moralidade.
Quando pregamos a intervenção e a não intervenção, A relação professor-aluno e a relação entre as pró-
trata-se de uma intervenção adequada, porque o pro- prias crianças são indicativas de valores, normas e regras.
fessor desempenha uma autoridade na classe. Até saber, Se é permitida a discriminação e o desrespeito no rela-
inclusive, até onde as crianças podem ir. cionamento entre os alunos, isso é legitimado pela es-
cola, que não tem esse direito e o professor não pode
A moralidade é um tema transversal porque, quer permitir esse tipo de atitude no ambiente escolar.
o professor queira, quer não queira, está trabalhando a Nós precisamos, como educadores, ter uma postu-
moral. O problema é que a maioria das escolas traba- ra extremamente exemplar. Somos modelos e sabemos
lham a moralidade não em direção à autonomia e sim à que, nesse período pré-operatório, a criança aprende
manutenção da heteronomia. Toda escola – de Educação muito por imitação, que é inconsciente. O modelo tem
Infantil, Ensino fundamental, Ensino médio, professor de
que ser exemplar porque a criança não vai aprender o
química, de física – trabalha a moral. Mas muito poucos
que é falado, mas com os atos de quem fala. Por isso, é
professores a trabalham em direção a autonomia.
fundamental que haja coerência no modo de agir e coe-
Os Parâmetros Curriculares Nacionais colocam temas
rência no discurso.
transversais como orientação sexual, educação para a
Para a criança aprender o respeito, tem que viver em
saúde, ética, pluralidade cultural, meio ambiente. Quan-
um ambiente de respeito. Para aprender a falar baixo, é
do o professor pede para as crianças escovarem os den-
preciso que se fale baixo com ela. Se as crianças utilizam
tes e a torneira fica aberta, ele está trabalhando o tema
transversal meio ambiente, mas com o desperdício. uniforme, os professores têm de usar também. Se o pro-
Em outra situação, ele vê duas crianças brincando de fessor quer que as crianças, por exemplo, respeitem uma
faz-de-conta de namorar ou se beijando e fica roxo de fila, tem que respeitar também e, na hora da merenda,
vergonha ou repreende. Ele também está trabalhando a entrar na fila, e se quer que eles falem a verdade, tem
orientação sexual. Nós precisamos conhecer muito bem que ser sincero.
os temas transversais porque, independentemente da O modelo tem que ser exemplar e isso é fundamental.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

nossa vontade, eles estão sendo trabalhados. A criança não vai seguir as mensagens passadas verbal-
A moralidade é ensinada a todo momento. O profes- mente, oralmente. Ela vai seguir o comportamento. Por
sor passa mensagens e valores constantemente. Qual- isso a postura tem que ser muito exemplar.
quer professor transmite valores e regras nos livros di-
dáticos, na organização institucional. Para cada regra da 3. Ambiente cooperativo
escola, temos de pensar se ela é realmente necessária, se
está prejudicando a aprendizagem e o desenvolvimento É muito comum na educação em geral, na Educação
da criança. Tudo tem que ter um sentido de existir. Infantil e no Ensino Fundamental, que se estudem téc-
Outro aspecto refere-se a como o conteúdo é traba- nicas e procedimentos de educação moral, mas o pro-
lhado. Se queremos “pessoas críticas”, não ensinamos fessor não faz o essencial que é construir um ambiente
história com uma visão única, dando a crítica pronta. cooperativo. Não adianta pensar em trabalhar direitos e

242
respeito com discurso e técnicas em cima de dilemas, e Nesse ambiente democrático, diante de um conflito,
não construir na classe um ambiente em que tudo isso as crianças vão pensar outra maneira de resolvê-lo, sem
está presente. usar as mãos, os dentes, cotovelo, joelho, pé. O professor
A preocupação deve ser construir esse ambiente, em evita fazer pela criança tudo aquilo que ela pode fazer
que as crianças interajam, pautado pelo respeito, sem por si mesma. Em casa é a mesma coisa.
coerção ou pressão. Favorecer que a criança tome pe- A criança pequena não pode tomar grandes decisões.
quenas decisões e assuma responsabilidades. Ela estará Por exemplo, não cabe à criança escolher em que escola
construindo esse conhecimento e o professor também quer estudar, nem se ela quer sair numa noite fria com
estará trabalhando com temas específicos, como os di- casaco ou não. Isso ela não pode decidir. Mas ela pode
reitos. decidir com qual casaco ela quer sair, se ela quer com o
Na verdade, a construção da personalidade moral vai vermelho, com o roxo ou com o amarelo. Ela pode deci-
se dar a partir da interação com os diversos ambientes: dir, por exemplo na escola, se ela quer entrar com a mãe
família, escola, amigos, meios de comunicação, etc. Cada ou se prefere entrar sozinha. Ela não vai escolher se ela
um tem um peso. Na primeira infância, até os quatro vai trabalhar ou não no dia, mas ela pode escolher quais
anos, a família tem um peso muito grande. A interação atividades. A criança pequena, em um ambiente demo-
com esses vários ambientes é que vai formando o desen- crático, não toma qualquer decisão, mas está tomando
volvimento moral da criança. pequenas decisões o tempo inteiro.
Na realidade, o que faz uma criança desenvolver mais Em virtude da educação autoritária que nós tivemos, hoje
ou menos a sua moralidade e a sua autonomia, é justa- em dia, diante de desafios, morremos de medo de errar.
mente o convívio, se ela está interagindo num ambiente Quando alguém pede para a pessoa falar em público, ela tre-
autoritário ou democrático. Mas a concepção de auto- me na base. Para tomar decisões, justificamos o nosso agir em
ritário não é apenas o “não”. Em um ambiente em que nome do outro: “Ah, mas fulano falou que era para eu fazer
tudo é não, é natural que a criança tenha mais dificulda- assim”, ou: “eu reagi assim porque o porteiro foi mal-educado
des de tomar decisões para assumir responsabilidades e comigo”, mas você poderia ter reagido de outra maneira.
ficar com medo de punições. Mas no construtivismo, o Justamente pelo fruto dessa educação é que nós so-
autoritário não é só esse ambiente. mos assim hoje. O mercado de trabalho, inclusive, exige
Autoritário é o que o adulto faz pela criança que ela mais do que apenas cumprir ordens. Exige pessoas que
pode fazer por si mesma. Autoritário é quando o pro- pensem por si mesmas, que tomem decisões, criativas,
fessor está ensinando ou instruindo algo que a criança que estejam sempre se atualizando. A escola está for-
pode descobrir ou reinventar a partir de situações que mando pessoas que não estão atendendo às necessida-
ele vai colocando, para que ela reinvente, para que ela des do próprio mercado profissional.
descubra. Autoritário, é aquele professor que coloca as O Piaget diz que as pessoas verdadeiramente autônomas
são raras. É claro, a vida inteira vivemos em um ambiente au-
normas, que diz o que é melhor para a criança. É o pro-
toritário, quando não era a escola, era mãe, o pai que diziam
fessor que não permite que as crianças interajam, que
que tinha que obedecer, que é o pai quem manda.
elas troquem ideias. Autoritário é o professor que en-
Cito o depoimento de um pai no livro “Liberdade sem
trega o trabalho na mão, recolhe o trabalho, resolve os medo”: “meus pais foram autoritários, minha escola usa-
problemas, entrega o material, diz o horário de começar, va castigo e, se não fosse por isso, eu não seria a pessoa
de ir ao banheiro etc. que eu sou hoje.” E o Hill responde assim para ele: “olha,
Eu brinco que “atire a primeira pedra quem nunca ti- eu não conheço o senhor, mas quem disse que o senhor
ver pecado”, porque no dia-a-dia do educador, acabamos não poderia ser uma pessoa melhor do que é hoje?!”. Te-
amarrando o sapato, pondo comida no prato, ajudando a mos que argumentar isso com os pais, mostrando que o
criança. E, muitas vezes, os pais que podem ter babá, po- mundo está mudando. Nós somos frutos de uma educa-
dem estar prejudicando ainda mais as crianças, porque ção autoritária, mas queremos formar pessoas cada vez
muitas vezes a babá tira a roupa, dá o banho, escolhe a rou- melhores.
pa, põe a roupa, abotoa, amarra o sapato, penteia o cabelo, Os limites vão situar a criança no espaço social e é
põe a comida no prato, dá a comida na boca, põe na frente preciso determinar os espaços da mãe, do colega, da
da televisão, coisas que a criança poderia fazer sozinha. professora. No desenvolvimento moral, para Piaget, os
limites são necessários e eles precisam existir. A crian-
Assim, um ambiente autoritário é um ambiente em ça necessita disso para se sentir amada, protegida. Para
que não é permitido que a criança faça as coisas por ela chegar à autonomia, ela precisa primeiro dos limites co-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

mesma. O democrático é o contrário, é aquele ambiente locados pelo adulto. Depois ela irá construindo os seus
em que a criança planeja junto com o professor quais próprios limites.
atividades vão ter naquele dia. Ela vai tomar decisões, es-
colher, dentre as opções oferecidas pelo professor, quais 4. Amor, temor e respeito
quer fazer. É o ambiente em que as crianças montam os
cantinhos, pegam os materiais e estes são compartilha- Ao mesmo tempo que eu amo, eu também temo.
dos. A criança é quem decide e o ritmo dela é respeitado. Esse sentimento é o respeito. Para Piaget, todo o respeito
Então, por exemplo, se uma criança demora mais para é uma mistura de amor e de temor.
fazer um desenho e outra menos, a que terminou muda de Piaget percebeu que as crianças pequenas têm um
sentimento que ele chama de sentimento de obrigação,
canto. Não tem aquela comparação entre as pessoas: “olha,
de aceitação interior a uma norma, a uma recomendação
tá vendo, está todo o mundo te esperando, só falta você.”

243
dos adultos. Por exemplo, se a criança vai colocar a mão 5. Moral heterônoma
na tomada, a mãe diz assim: “não pode! ”. Ela sabe que
lá não é para mexer, tanto que mexe escondido ou mexe O respeito unilateral, que a criança tem medo de
e olha para a mãe. Isso porque essa criança aceita inte- perder o amor, medo de ser punida, de ser censurada,
riormente aquela recomendação. Ela sabe que não é para leva a uma moral que é chamada de moral heterônoma.
mexer e se ela for flagrada mexendo, fica constrangida, É a moral da criança que é governada pelos adultos. O
perturbada, porque sabe que fez algo errado. exemplo de moral heterônoma é que a criança justifica
O Piaget perguntou: “por que as crianças, em uma uma regra, uma norma, em cima da autoridade de um
idade tão pequena, em que tudo é brincadeira, tudo é adulto.
espontaneidade, por que essas crianças aceitam o que os As crianças têm uma ideia do adulto como se este
adultos falam? Por que elas simplesmente não ignoram? fosse mágico, como se quando eles crescerem saberão
Ele descobriu que para a criança ter esse sentimen- tudo. O adulto desenvolveu determinadas estruturas que
to de aceitação interior a uma norma, a uma regra, é permitem raciocinar de uma maneira diferente da crian-
preciso que haja duas condições simultâneas. Primeiro ça, e para ela, o adulto sabe muita coisa.
essa criança precisa estar acostumada a receber normas Isso é moral heterônoma e as relações dessa moral
e recomendações que são comuns, como não mexer na são justamente consequência de respeito unilateral. A
tomada, não atravessar a rua sozinha, não brincar com criança pequena só estabelece com o adulto relações de
faca. Estar acostumada primeiro a receber limites, rece- respeito unilateral. Ela não consegue estabelecer uma re-
ber normas. lação de igual para igual, que são as relações de respei-
O segundo fator que faz com que essa criança apre- to mútuo, relações de mão dupla. Eu te respeito e você
sente esse sentimento de obrigação é que ela só vai ter me respeita. A criança pequena tem aceitação interior do
aceitação interior a uma regra quando essa norma parta que o adulto fala.
de uma pessoa que ela respeita. Ela só tem aceitação in- Mas, e o adulto tem aceitação interior ao que a crian-
terior a uma norma se essa norma vem de uma pessoa ça fala? Não. Muitas vezes nem aceitamos o que a criança
fala. No respeito mútuo, não existe mais a presença da
que ao mesmo tempo ela ame e tema.
autoridade. A legalidade, quer dizer, o que é legal, o que
Será que só o amor é suficiente para causar senti-
é justo, predomina. Nas relações de respeito mútuo, o
mento de obrigação? Não. Por exemplo, ela ama o irmão
respeito não é amor e temor? Nas relações de respeito
mais velho e não tem essa aceitação interior de uma re-
mútuo também existem amor e temor. Mas o temor nes-
gra posta por um irmão ou uma irmã.
se caso é o medo de eu decair aos olhos dos outros, não
A criança tem medo de uma pessoa estranha, tanto
é mais o medo de ser censurado, de ser castigado, de ser
que se esconde atrás da perna da mãe. Mas a recomen-
punido, de perder o amor.
dação de um estranho, a ordem de um estranho, não faz As relações de respeito mútuo, entre pessoas que se
com que uma criança se sinta obrigada a isso. O medo consideram iguais, levam à uma moral autônoma. Au-
de uma pessoa só coage, a criança não faz enquanto ela tônoma é a pessoa que governa a si mesma, mas con-
sente medo. Depois que a pessoa que causa o medo sai, siderando sempre o outro por vontade própria. Não é
ela está livre para agir. Então o medo não causa aceitação simplesmente eu fazer o que eu quero. É eu considerar o
interior à norma nenhuma. que é melhor para nós, ao tomar uma decisão.
Esse primeiro respeito, Piaget chama de respeito uni- Moral autônoma é dizer assim: “eu estou trabalhando
lateral. É o respeito de um lado só, que a criança tem pelo com Piaget porque eu estudei e concordo com as ideias.
adulto. A criança vê o adulto como o mais forte, como Não porque ele falou e eu falo amém. Eu estou estudan-
aquele que sabe mais. Então esse respeito é uma relação do e vejo que isso é coerente. ” Autonomia é decorrente
assimétrica entre o adulto e a criança. A criança por exem- de relações de igual para igual.
plo, nunca vê o professor como uma pessoa igual a ela. A criança pequena não consegue ver o adulto como
A criança vê o professor como aquele que sabe mais. igual, mas quem ela consegue tratar como igual? Os co-
Entre os colegas, elas discutem, mas se o professor falar: legas. Para a criança chegar à autonomia, ela precisa ter
“é isso, tá errado”, elas não vão questionar. relações de respeito mútuo. Para isso, ela precisa convi-
Com o pai se dá o mesmo. É uma relação desigual. A ver com crianças da mesma idade que ela.
criança nunca vê o adulto como igual. Se respeito é uma Na escola, a criança vai poder conviver com crianças
mistura de amor e temor, o temor do respeito unilateral é da mesma idade. No entanto, a escola põe uma carteira
o seguinte: a criança tem medo de ser punida, tem medo atrás da outra e não permite que as crianças troquem
de ser censurada e principalmente tem medo de perder ideias. Se elas não tiverem essas relações em que vão dis-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

o amor dos pais. cutir e resolver os conflitos, trocando ideias, percebendo


Inclusive, jamais devemos utilizar com a criança a reti- que os pontos de vista são diferentes, dificilmente vão
rada do amor como sanção. Por exemplo, falar assim: “eu chegar à autonomia.
não gosto mais de você, você é feio. A mamãe está triste, Na escola tradicional, só durante o recreio é permi-
não quer mais falar com você.” Não se usa a retirada de tido que as crianças troquem ideias. Assim, as crianças
amor porque a criança só se atreve, só se arrisca, em re- vão continuar heterônomas e se tornarão adultos hete-
lações frágeis. Aquelas relações em que se ela aprontar rônomos.
alguma coisa, o colega não vai querer mais brincar com Um princípio básico da teoria Piagetiana é a interação
ela. Isso porque existe uma segurança de ser amada, de social. Para chegar à autonomia moral e intelectual, tem
estar em casa, de que nunca vai perder o amor dos pais, que haver duas coisas: a ação do objeto sobre o conhe-
uma relação estável. cimento e a interação social.

244
É preciso colocar situações em que as crianças vão do pai e a relação entre eles piora. Só devemos levar o
interagir socialmente. Mesmo quando cada criança faz o problema para o pai quando ele tem condições de auxi-
próprio desenho, o professor vai olhar para ela e conver- liar de maneira adequada.
sar com ela. Quatro crianças em cada cantinho porque é Em vez de o professor decair a criança aos olhos do
um número que favorece essa interação social. Grupos pai, muitas vezes o remédio mais saudável é levantar a
de seis ou sete propiciam a formação de “panelinhas”, criança, mudar a maneira como o pai enxerga essa crian-
não havendo interação com todos. Tem de haver um mo- ça. Isso dá resultados.
tivo para o que está acontecendo. As decisões pedagó-
gicas têm de ser fundamentadas numa teoria científica. 7. Aprendendo a sentir
É fundamental saber porque fazer dessa maneira e não
de outra, porque dessa maneira eu desenvolvo melhor Quando nós estudamos ética, o limite da moral são
a autonomia, daquela maneira não. As decisões têm de os atos e não os sentimentos. Todo sentimento é permi-
sair do senso comum entre os profissionais da educação. tido, é aceito, não existe sentimento bom ou ruim. Faz
parte da natureza humana sentir raiva, sentir inveja, sen-
6. Os limites tir amor, sentir ódio, sentir carinho. Mas o problema é
que os atos são limitados. Eu posso desejar muito um
Está acontecendo que os limites estão se ampliando homem, mas eu não posso agarrar o homem na rua. Eu
muito. Nenhuma criança gosta de limites, nenhum ser posso ter vontade de te matar, mas eu não vou te matar.
humano gosta. É natural e é saudável que a criança teste Para lidar com a criança, nós devemos deixar claro
os limites, porque quando ela testa os limites, ela está que o problema está no ato de raiva e não no sentimen-
testando a validade dos mesmos, se são necessários. Mas to de raiva. O respeito mútuo é uma mistura de amor e
quando a mãe ameaça e chega na hora e não cumpre, a temor de decair aos olhos do outro. Assim, o primeiro
criança vai perdendo o temor que ela tem naturalmente passo para mudar um comportamento de uma pessoa é
pelo adulto. Ela sabe que não vai acontecer nada com a criar um vínculo de afeto. Se não for criado um vínculo
mãe, que a mãe não vai fazer nada, e os limites vão se de afeto com a criança, não vai existir o amor do respeito
ampliando. mútuo, e só o temor não vai causar na criança o sen-
Os limites situam a criança no espaço social: “até aqui timento de aceitação interior. É preciso, para modificar
eu posso ir. Aqui eu estou invadindo o espaço do outro”. uma criança, para trabalhar com ela, para auxiliá-la, que
É fundamental que o adulto vá mostrando o limite: “até ela goste do adulto. Se isso não ocorrer, nada do que for
aqui você pode ir, aqui o espaço é meu.” falado ou tentado com essa criança vai ter efeito, a não
Na escola ocorre o mesmo. Se uma criança vem de ser recompensa e punição.
um ambiente sem limites, é terrível para o professor. Mas A criança pequena, ou mesmo maior, se não gostar de
para a criança, talvez seja a única oportunidade que ela alguém, por que vai modificar o comportamento em fun-
tem de estar interagindo em ambiente que coloca limi- ção da censura dessa pessoa? Até um adulto reagiria assim.
tes para ela de maneira adequada. É normal uma criança Eu me lembro de uma professora que foi muito inte-
fazer com os professores o que ela faz em casa. Se em ligente. Ela tinha um aluno de seis anos que falava muito
casa ela se joga no chão para conseguir uma coisa, é na- palavrão. A professora foi conversar com a mãe, que ar-
tural que no começo, quando ela for frustrada na escola, gumentou: “ele fala a mesma coisa para mim?! Eu não sei
ela se jogue no chão para conseguir a mesma coisa do o que fazer com esse moleque! Ele é uma boca suja!” E aí
professor. começou a desfiar os palavrões. A professora entendeu a
Mas a resposta que os educadores vão dar será dife- origem do problema e a conversa ficou por isso mesmo.
rente diante do mesmo ato, e isso é saudável. Se a crian- Tudo o que a professora tentou trabalhar com a crian-
ça não tem esses limites, o fato de o professor dar uma ça não teve efeito. Então ela começou a se aproximar da
resposta adequada vai faze-la perceber algo e, talvez, criança. Sentava com ele, jogava com ele. Quando ele
seja o único ambiente em que ela interage que está auxi- fazia coisa legal, ela mostrava que tinha notado a atitude.
liando no desenvolvimento do respeito ao outro. Fazia atividades individuais, como contar uma história
e falava: “olha, eu li essa história e lembrei de você.” Foi
Se o ambiente oferecido na escola é pautado no res-
se aproximando da criança. Um dia, depois de um ou dois
peito mútuo, é um ambiente em que as crianças decidem
meses desse trabalho, ele falou um palavrão para ela. Ela
o que fazer, tomam decisões, elaboram as normas, sorte
simplesmente disse: “eu não gosto quando você me trata
dessas crianças, que têm a possibilidade de estar intera-
com palavrões. Eu não te trato com palavrões”. Ele respon-
gindo em um ambiente saudável.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

deu: “mas eu falo assim com a minha mãe.” E ela: “Mas eu


Também é fundamental saber por que e quando acio-
não sou sua mãe” e saiu de perto, não falou mais nada.
nar os pais. Geralmente, quando há algum problema, pri-
Essa criança nunca mais falou palavrão com a profes-
meiro coloca-se para a criança, antes de levar para os sora. A diferença é que agora ele gostava dela, ele não
pais. Tem problemas que quem tem que trabalhar é a queria decair aos olhos dela. É muito comum que, quan-
própria escola. Por exemplo, o problema de indisciplina do eu recebo uma criança, vem com a “ficha criminal” e
de criança que corre demais na sala, ou que está falando já se espera o pior dela.
muito, estão fora da alçada dos pais. Nós brincamos que sempre quem fica com a pior é
Temos que tomar muito cuidado em separar o que é o bonzinho, porque, em função do “terrível”, paramos
problema de casa, o que é problema da escola. Muitas a roda diversas vezes, no recreio estamos atrás dele e
vezes, quando se leva o problema para o pai, a situação até durante a noite pensamos nele. Ele acaba recebendo
piora, porque essa criança decaiu mais ainda aos olhos mais atenções pelo comportamento negativo.

245
Se você espera o pior dele, você envia mensagens que simplesmente descrever as coisas. É fundamental, em
é isso que você espera. Quando você olha e diz assim: “só uma educação, o vínculo de afeto, o cuidado em não de-
podia ser você, estava demorando”, ou mesmo: “quantas cair a criança. Ao contrário, mudar a maneira de como eu
vezes eu vou ter que te falar a mesma coisa. Será que vejo a criança.
você nunca vai aprender”, você passa mensagens como As relações de respeito lateral não ocorrem só com
se esperasse isso dele. É natural que essa criança não a criança pequena em relação ao adulto. No nosso dia-
modifique o comportamento, porque ele já decaiu aos -a-dia, mantemos com os adultos, com as pessoas, re-
seus olhos, então, por que mudar? lações de respeito lateral. Por exemplo, cada vez que a
O Yves De La Taille tem um trabalho muito interes- criança está crescendo e começa a questionar o adulto e
sante em que ele contou para crianças, desde cinco, seis este a repreende, porque “não se fala assim com a ma-
anos até 14, 15 anos, duas histórias. Na primeira histó- mãe, porque o papai não quer que faça assim”, justifica-
ria ele dizia que em uma classe, um livro que pertencia -se uma norma, uma conduta, com base no que a auto-
a todos foi furtado e que a professora descobriu quem ridade acha. Cada vez que você está associando o que
foi. Quando ela descobriu, ela tinha duas opções: deixar a criança faz ao castigo, você está mantendo com essa
quem roubou o livro sem recreio, ou contar para todo criança relações de respeito lateral.
mundo que havia sido ele quem roubou o livro. O Yves Isso pode ocorrer no casamento e até na relação que
perguntava às crianças o que elas achavam que era me- o professor mantém com o coordenador. Se o professor
lhor a professora fazer e por que. obedece e diz: “eu estou trabalhando assim porque ele
Metade das crianças de cinco anos, por causa do ego- quer”, é hora de começar a questionar a sua própria mo-
centrismo, afirmou que era para deixar sem recreio. A ralidade, a sua concepção de autonomia.
outra metade disse que podia contar para todo mundo. É diferente ele estar mudando a proposta de trabalho
A partir dos sete anos de idade, a maioria das crianças porque está convencido, está estudando que é por aí, de
afirmou que não era para contar para todo mundo, que estar fazendo porque uma autoridade quer que ele faça.
era melhor deixar sem recreio, porque elas ficavam com É preciso refletir e rever isso.
vergonha do que os outros iam pensar. Se queremos educar as crianças para a autonomia,
Depois de um tempo, o Yves contou outra história. Ele como podemos manter no dia-a-dia relações de respeito
disse que numa classe a professora decidiu deixar esse lateral com as pessoas? Consequentemente, as crianças
aluno sem recreio e numa outra classe, onde aconteceu a serão tratadas assim. O professor deve estar sempre no
mesma coisa, ela decidiu que ia contar para todo o mun- mesmo nível das crianças. Se as crianças sentam no chão,
do e contou para todos quem foi o menino que roubou ele também senta no chão, ele se abaixa para conversar
o livro. Em uma das duas classes, um livro voltou a sumir. com elas, ele procura usar um tom de voz que não seja
Em qual classe eles achavam que a criança tinha roubado elevado. O professor quer que as regras valham para to-
– a que ficou sem recreio ou a que contou para todo o dos, inclusive para ele.
mundo? Uma criança de 12 anos, muito sabiamente, dis- Tratar uma criança com respeito mútuo, mesmo que
se assim: “voltou a roubar naquela que contou para todo ela ainda não consiga tratar o professor com respeito
o mundo, porque ela já estava danada mesmo!” mútuo, vai muito mais longe. Por exemplo, é comum,
Isso significa o que? Se eu já vejo essa criança como quando as crianças brigam, o professor dizer: “vai lá,
agressiva, como terrível, como difícil, como preguiçosa pede desculpas para o seu amigo, dá o dedinho para o
e eu passo mensagens, ela não vai mudar porque ela seu amigo.” Mas se a própria professora brigou com o
já decaiu aos meus olhos. Eu mudo quando não quero namorado, está chateada com ele, qual o adulto que vai
decepcionar o outro, quando não quero decair, quando
dizer: “vai lá, pede desculpas e dá um abraço no seu na-
eu gosto do outro. Se eu já estou danada aos olhos do
morado”?
outro, para que eu vou mudar? Se ele já não me acha
É preciso ter com a criança o mesmo respeito com
grande coisa, por que eu vou ser grande coisa?
que se trata um adulto. Quem falaria para um adulto, a
O caminho da educação nunca é o da humilhação, do
respeito de uma terceira pessoa presente: “não liga não,
ataque à dignidade, do grito, do castigo. É o contrário.
ela está querendo aparecer mesmo”? Mas falamos isso
Se eu quero modificar o comportamento de uma pessoa,
da criança para uma visita.
eu tenho que mostrar que eu confio, que ela é capaz etc.
Uma professora chegou para uma criança que dese- Quanto ao pedido de desculpas, só é válido quan-
nhava muito bem e pediu alguns desenhos para ela. Em do é sincero, quando a criança está realmente arrepen-
alguns trabalhos ela colocou como ilustração o desenho dida do que fez. Esse desejo de desculpa tem que ser
que essa criança fez, acrescentando uma observação em- um desejo interno dela, não por solicitação externa. O
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

baixo: “agradeço ao Felipe pela ilustração dos trabalhos”. que podemos fazer é deixar claro para a criança, porque
Os demais alunos exclamaram: “ô Felipão, você hein?!”. as crianças aprendem a pedir desculpas para se livrar do
Na verdade, ela fez um trabalho de levantar a autoestima problema. Elas batem no colega e depois falam: “mas eu
da criança, para a própria criança e aos olhos de todo o já pedi desculpas”.
grupo. Esse é o caminho de uma educação construtiva. Nós temos culpa nisso, porque quando elas brigam,
dizemos: “pede desculpas para o seu amigo.” A criança
8. Linguagem de educador vai aprendendo que pode ficar livre dos problemas dessa
maneira. Ao invés de fazer isso, quando uma criança pede
Isso envolve muito a linguagem do educador, as san- desculpas, temos que sentar com ela e falar: “o pedido de
ções que ele utiliza. Essa linguagem deve ser construti- desculpas quer dizer que você está realmente sentido, ar-
va, nunca destrutiva. O educador nunca deve julgar, mas rependido do que você fez. É isso que você está sentindo?

246
Pedido de desculpas significa modificar, significa que você Na escola é idêntico. É preciso separar na classe quais
não está querendo mais fazer o que fez. É isso que você são as regras necessárias, que não são combinadas –
quer dizer?” como não bater, não falar palavrão, lavar as mãos, esco-
var dentes. Essas regras são só comunicadas. Por exem-
Também é necessário ensinar à criança as consequên- plo, se bateu, o professor revalida a regra: “não se bate
cias dos seus atos. Nós temos que tratar a criança com em ninguém”; puxou o cabelo de alguém: “não se puxa o
o mesmo respeito que dedicamos aos adultos. Não xin- cabelo das pessoas”; “aqui nessa escola nós não falamos
gamos um adulto, não humilhamos, não colocamos de palavrões”.
castigo um adulto. O que fazemos, com os adultos, é per- Quando se quer mostrar autoridade, deixar claro que
mitir que sintam as consequências dos atos, repararem se está falando sério, mostrar que é para valer, tem que
o erro. É assim que devemos trabalhar com as crianças. falar pouco. Quanto menos falar, mais será ouvido. A An-
Em um ambiente de respeito mútuo, as regras e os gie Noil diz isso: para passar autoridade tem que ser bre-
limites são necessários. Piaget mostra que a criança é he- ve e objetivo. Em várias palavras a mensagem se perde.
terônoma. Ela é naturalmente governada pelos adultos e Isso vale para qualquer relacionamento, não é só com
vai precisar de limites. Mas quando as crianças são pe- criança.
quenininhas, elas precisam de limites necessários. Con-
forme vão crescendo, os limites podem ir se ampliando. Não adianta desenterrar o passado ou antecipar o
Os limites são negociáveis, são combinados com ela. futuro. O incidente tem que ser lidado no momento es-
Por exemplo, o pequeno não vai decidir se vai pôr ca- pecífico. Por exemplo, aconteceu numa escola a criança
saco no dia frio. Mas com o adolescente, não há porque subir na mesa da merenda e sair correndo. A professora
brigar se ele quiser sair de camiseta num dia frio. Ele já disse: “Felipe, para que servem as mesas?! Quantas vezes
sabe que lá fora está frio. eu vou ter que falar com você? Felipe, como é que vai
Brigamos com os adolescentes por tudo. Por causa ser?”
do cabelo, pela bagunça do quarto, pela chave do carro, De repente, ela trabalhou a linguagem e resolveu mu-
porque não come direito, porque sai sem casaco, por- dar. Mas é preciso usar uma linguagem descritiva e só
que a calça dele é rasgada. Como brigamos por tudo, se descreve o que se está vendo. Aí ela falou: “Felipe, as
coisas passam, coisas não passam. Na realidade, quando mesas não foram feitas para as pessoas subirem nelas,
vocês forem elaborar as normas na classe de vocês, ou desça.” Em nenhum momento ela agrediu o Felipe, por-
na família é preciso pensar: isso é realmente importante, que em nenhum momento admite-se qualquer ataque
vale a pena eu brigar por isso? Se não valer a pena vocês à dignidade de uma criança. É terminantemente proibi-
brigarem por isso, esqueçam. do qualquer tipo de humilhação à criança. Ela conseguiu
A característica de uma regra é justamente a regula- passar autoridade e o Felipe desceu.
ridade. Isso significa que ela tem que servir para diversas
situações. Se ora ela é cumprida, ora não é cumprida, Essa mesma criança, num outro dia, colocou a vas-
não tem porque existir essa norma. A regra existe, é o soura no ventilador. Aí a professora segurou a mão dela,
contrato entre as partes que vai beneficiar a todos. A ca- contendo o ato, sem apertar, e disse: “Felipe, não se colo-
racterística dessa regra é que ela tem que ser cumprida ca nem se joga nada, absolutamente nada, no ventilador,
sempre, ela tem que estar presente sempre. entendeu?” É assim: tem que ser breve. Brincamos que
o educador de Educação Infantil tem que falar menos e
9. Da necessidade das regras ouvir mais as crianças. Nós falamos demais, o tempo in-
teiro, com as crianças. Às vezes é preciso ouvir mais do
Ao combinar uma série de coisas bobas, muitas vão que falar.
ser deixadas passar, e o adulto acaba caindo em descré- Quando se coloca uma limitação, por exemplo, não
dito aos olhos da criança. Quando fazemos uma regra se joga pedra na janela, não há que explicar que não se
com a criança, temos que ter autoridade para que se pode jogar pedra na janela, porque a criança sabe isso.
cumpra a regra. É preciso sempre questionar se vale a É simplesmente falar: “as janelas não foram feitas para
pena brigar por algo, a fim de definir-se uma regra é ne- serem quebradas”. É preciso usar uma linguagem que
cessária ou não. descreve, mas seja breve. Com discursos, em qualquer
No caso de um adolescente não vale a pena brigar situação, não se é ouvido.
porque está frio lá fora e ele quer sair de camiseta, se ele Resumindo: para mostrar autoridade, ser breve; com
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

comeu ou não comeu. Ele já sabe tudo isso. Mas vale a as regras necessárias, também usar linguagem breve. Por
pena brigar pela chave do carro, se a regra for que antes exemplo, tem que lavar a mão na hora da merenda, não
dos dezoito anos não se dirige, e não abrir mão disso, interessa se a mão está muito ou pouco suja.
deixando muito clara essa postura. As regras combinadas são muito mais importantes
O adolescente tem que perceber que há aspectos que as regras necessárias. Mas elas têm só dois objeti-
como situações de respeito, de dignidade, de preconcei- vos: garantir a justiça na classe e organizar os trabalhos.
to, de organização de determinado espaço. Pode ser que Geralmente, logo no início do ano, combinamos as re-
no quarto dele fique bagunçado, mas na sala o espaço é gras. Isso não é adequado, porque a criança precisa ter a
coletivo. Se brigarmos por tudo, esse jovem não saberá necessidade dessa regra existir. Ela precisa sentir a neces-
aquilo que é realmente importante, que é valorizado ou sidade dessa regra, e se a colocamos no começo do ano,
não. antecipamos o processo.

247
Há regras que nós sabemos que são sempre neces- assim o ano inteiro. Se na hora de ir ao cantinho, come-
sárias – não bater, não falar alto etc –, mas as crianças çar a ir em grupos de cinco, seis, e o professor finge que
não sabem. Elas precisam, num primeiro momento na não vê, ora ele cobra, vai ser assim o ano inteiro.
roda, falarem todas ao mesmo tempo. Quando ninguém Trabalhamos com 30, 32 crianças. Uma média tran-
estiver ouvindo, pára para ver o que está acontecendo. quila na sala. É claro que o ideal é ter menos alunos.
“O que é preciso fazer para ouvir o que o fulano está Acontece que o ideal é termos materiais adequados,
falando?” Diante de um problema sentido pela criança, espaço físico adequado, um grupo de alunos pequenos,
comentar e propor soluções. por exemplo 20. Se esperarmos as condições ideais para
Mas a solução não é assim: “quem falar alto, aconte- trabalhar bem, não iremos trabalhar nunca. O importante
ce tal coisa”. Não se combina regra sanção. Combina-se: é, apesar das dificuldades, adaptar-se bem à situação.
“falar um de cada vez.” No começo, nós entrevistamos as Observei o trabalho de uma professora que dava aula
crianças para perguntar o que elas achavam das regras. para crianças de seis anos numa classe em que, em outro
Era comum as crianças falarem assim: “regra é tudo o que período, funcionava o ensino técnico de Segundo Grau.
não se pode fazer”. “Tem regras que podem fazer?” e elas As carteiras eram enormes, para adolescentes. Muito ma-
falavam: “não, se pode ser feito, para que fazer regra”. terial, desenhos em que eles colocavam genitálias, xinga-
Então colocou-se a regra: não gritar. “Ah, então não pode vam crianças, destruíam.
gritar, tem que ficar todo o mundo quieto?”. “Não, tem Essa professora me ensinou muito. Ela e a turma de
que falar. Então como tem que falar? Pode falar baixo”. E seis anos montavam e desmontavam a classe todos os
aí vai se combinando. Mas tem regras que não dá. Então dias. Cada aluno, durante 15 dias, era responsável por um
vamos dar uma misturada, coisas que podem, coisas que pedaço da classe. Os cartazes e o varal do planejamen-
não podem ser feitas. to, mais o material da sucata e o canto da pintura eram
As regras têm de ser em pequeno número para que por conta da professora. O restante era dividido entre as
os professores façam com que se cumpram. Se forem em crianças.
quantidade, muitas coisas serão deixadas passar. Para
fazer com que se cumpram, pode ser de uma manei- Elas chegavam na escola e iam na sala do almoxari-
ra muito natural, muito espontânea. Por exemplo, uma fado, pegavam o material, levavam para a classe e cada
criança saiu da classe e deixou o cantinho desarrumado. uma fazia a sua parte. Pegavam as carteiras, que ficavam
O professor deve ir até ela e, tranquilamente, dizer: “olha, uma atrás da outra, empurravam, para fazerem a roda.
você esqueceu de arrumar o cantinho, vamos lá, num mi- Depois, na hora dos cantinhos, eles juntavam duas cartei-
nutinho a gente arruma.” E fazer junto com ele. O que é ras, quatro cadeiras, as outras eles empurravam. No final
importante é as crianças perceberem que não vai passar. do dia, na hora da limpeza, eles levavam todo o material
de volta para o almoxarifado, punham uma carteira atrás
Quando a criança percebe que ora a regra é cumprida da outra, deixavam do jeito que eles tinham encontrado
e ora não é cumprida, ela vai continuar tentando. a classe.
No filme apresentado, uma professora está traba- Se crianças de seis anos fazem isso, como é que os
lhando individualmente com uma criança. Existia uma mais velhos, de sete, oito, dez ou doze, não podem fazer?
regra de quando ela estivesse trabalhando individual- Há o exemplo de uma classe em que a professora che-
mente com uma criança ela não seria interrompida. Ela gou tarde e as crianças trabalharam sozinhos. Isso mos-
combinou de fazer um sinal vermelho ou verde. Quando tra que o centro pedagógico está justamente no grupo,
estivesse verde, as crianças poderiam vir e conversar com na classe, e não na mão do professor. É possível perceber
ela. Quando estivesse vermelho, significava que ela esta- claramente, em uma classe construtivista, que o centro
va conversando com uma criança e era para esperar um pedagógico não está na mão do professor.
pouquinho que depois ela atenderia. Numa classe construtivista, quando as crianças estão
Mas essas atividades individuais são rápidas, cinco ou acostumadas a resolver os problemas, a tomar decisões,
dez minutos no máximo. O que acontecia é que a criança a montar e a organizar, o professor pode sair da sala.
vinha falar alguma coisa, perguntar alguma coisa e ela Pode trabalhar individualmente, pois o centro pedagógi-
dava atenção. Depois que ela resolvia o problema ela fa- co não está mais na sua mão. O andamento, a disciplina,
lava: “mas a gente não combinou de que quando estives- a aprendizagem não dependem mais do professor.
se vermelho não poderia interromper?!” Por seis vezes foi Se conseguirmos transformar essas relações que te-
assim, ela não conseguia trabalhar individualmente, as mos com as crianças, nós estamos caminhando em di-
outras crianças interrompiam. Então, ela resolveu cobrar reção à autonomia dessas crianças. Vocês imaginem os
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

a regra mesmo. A criança chegava, ela levantava o ver- futuros adultos se isso for trabalhado nas séries iniciais,
melho e falava: “é urgente? Então daqui a pouco eu vou nos primeiros ciclos, se isso tiver continuidade. Nós per-
lá”. No começo, ela confessou que fazia com dor no cora- cebemos que não há involução, que eles não regridem
ção, mas depois de um mês ela não tinha mais problema. em um ambiente autoritário.
Com a ida ao banheiro também é assim. Há classes Por isso é fundamental que não se façam regras bo-
que têm dois colares, um verde e um vermelho, para me- bas, nem regras que reforcem relações de respeito late-
nina e para menino. Uma menina coloca o colar verde e ral. Por exemplo: “tem que obedecer a professora.” Ou
vai ao banheiro. No começo, é claro, eles formam uma “ficar quietos enquanto a professora estiver falando”. Es-
fila para ir ao banheiro. Depois isso vai ficando normal. É pera lá, tem que obedecer as regras da classe. Tem que
comum eles irem juntos em três, quatro, no banheiro. Se ficar quieto quando alguém estiver falando. Quando um
o professor ora cobra, ora não cobra, deixa passar, vai ser fala, os outros escutam.

248
Também existem regras que vão contra o desenvol- com conflitos e como podemos lidar com eles. Buscar
vimento da criança, por exemplo: “devem emprestar o também conversar com os pais. Mas é fundamental que
brinquedo ao amigo, não falar mentira”. São regras feitas a criança fale a respeito do que está sentindo, que ela
para não serem cumpridas. As regras têm que ser muito verbalize isso, que ela converse com o professor e que
elaboradas, discutidas com as crianças, em cima de pro- ela perceba que os sentimentos dela são reconhecidos.
blemas reais. Na sala de aula, precisamos abordar certos problemas
diretamente.
10. Escola para os pais Quando uma criança está presenciando uma situa-
ção de violência, é preciso lidar com ela – o que ela está
Não tem escola para pais. Nós somos profissionais, sentindo –, e com os pais também. Precisamos lidar com
estamos estudando e nos esforçando para quê? Para essas realidades distintas.
nos aperfeiçoarmos cada vez mais. E os pais acabam A nossa atuação na família é até mais limitada. Por
educando no bom senso. Às vezes, sentem-se culpados mais que conversemos com a criança, há determinadas
por trabalhar fora, por não dar atenção, e nos momen- famílias que não vamos conseguir mudar, por melhor
tos que passam com o filho, confundem o “não” com o que seja o nosso trabalho. Mas, apesar disso, o professor
desamor. Falar “não” significa que eu não amo o meu tem que trabalhar com a criança sobre o que ela sente
filho. Ou mesmo para compensar, nessas poucas horas nessa situação, o que ela pensa, como ela está lidando
que passam com o filho, não querem frustá-lo de manei- com essa situação. É o problema do cotidiano, muito
ra alguma. Sabemos que pequenas frustrações não trau- mais importante que o ensino da matemática, do portu-
matizam. É importante que a criança saiba lidar com a guês, da religião, porque isso não é religião, é a vivência
tristeza, com a alegria, com o “não”, porque na vida dela da religião.
isso vai acontecer. Por isso deve existir o canto do desabafo, o local em
É comum, em palestras, às vezes o próprio professor que a criança pode desenhar o que a está entristecendo,
perguntar: “como lidar com uma classe em que a gen- o que a está preocupando, pode escrever sobre o que ela
te não impõe limites porque ama muito as crianças?” As está sentindo, pode pintar tudo aquilo de preto, rasgar
pessoas confundem amor com superproteção. Isso não em mil pedacinhos e jogar no lixo, pode enviar a carta,
é amar. Amar é justamente esse respeito que eu dou à enfim, pode expor o que ela está sentindo naquele dia.
criança, o respeito ao desenvolvimento, atender às ne- Isso é chamado de “desvios simbólicos”. São desvios
cessidades dela. As necessidades que a criança tem, não que nós utilizamos para que a criança expresse a raiva,
é sufocá-la com atenções, não colocar limitações, super- a tristeza, de uma maneira adequada, sem causar danos
protegendo. maiores. Por exemplo, eu posso estar com raiva de al-
Nós podemos trabalhar com esses pais e eles têm nos guém, mas não posso socá-lo, mas eu posso socar uma
buscado, porque também estão perdidos a respeito de almofada, um saco de serragem sem causar danos.
como educar. Se tiver espaço na escola, que seja uma pa- Não adianta tentar controlar a raiva de uma criança,
lestra mensal, que os próprios professores estudem, por ou mesmo de um adulto. Para lidar com a raiva, é pre-
exemplo os limites, e montem uma palestra para quem ciso que na classe tenha o jogo simbólico, uma caixa de
esteja interessado em trabalhar os limites. Se for possível areia com miniaturas onde as crianças podem organizar,
convidar profissionais para dar palestras, ótimo, porque montar cenários, em que vão lidar com os sentimentos.
ajudando a família, consequentemente, a criança está Se uma criança não quiser falar com o grupo, ou falar
sendo ajudada e o trabalho da escola também. individualmente com você, que ela possa desenhar como
Mas pode ser com os próprios professores, a cada está se sentindo, que possa pintar sobre isso. Isso é estar
mês um fica responsável por um tema, escreve um re- lidando com esses sentimentos.
sumo, manda para os pais, indica livros. Acredito que Quanto menor for a criança, mais ela vai resolver os
também é função da escola orientar os pais, porque a problemas na ação, mais ela vai socar, morder. Quando
consequência é direta na formação das crianças. ela fala “eu te amo”, ela beija, abraça, sobe no colo, não
Vocês já viram crianças brincando com boneca, ou fala apenas. O mesmo ocorre quando ela está com raiva.
com o colega, de relação sexual. É porque ela já viu isso. Ela não só fala que está com muita raiva, mas também
Do mesmo jeito que viu o pai batendo na mãe ou o pai chuta, morde, bate.
sendo preso. É importante que exista na sala, esse can-
to do jogo simbólico, de faz-de-conta, ou mesmo uma Nós precisamos ensinar essas crianças a outra manei-
caixa de miniaturas em que ela possa brincar, para ter ra delas se expressarem, sem ser com as mãos, com os
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

um espaço para simbolizar. É perceptível que as crianças, pés, com os dentes. Não basta, para a criança pequena,
quando estão passando por determinados problemas, o professor falar: “eu gosto muito de você.” Ele tem que
escolhem muito mais o local do jogo simbólico, porque é abraçar e beijar a criança, o toque é importante. O mes-
uma maneira de eles lidarem com tudo isso. mo vale quando eles estão lidando com briga.
É importante que haja esse espaço para a criança Havia uma criança de quatro anos que mordia os ami-
brincar de faz-de-conta com a boneca. É preciso dar esse gos. A professora falou: “você sabia que nessa escola não
espaço para que ela lide com esses conflitos. É impor- se morde as pessoas?!” A criança respondeu: “não, não
tante também falar sobre o episódio: “o que você sentiu sabia”. A professora disse: “mas agora você fica saben-
quando isso aconteceu?” A criança ter oportunidade de do”. Mas ela teve uma intervenção inadequada quando
colocar o que sentiu. O professor não deve fingir que afirmou: “olha, você pode se morder, mas não se morde
não está acontecendo nada, mas até colocar histórias os amigos.” Essa criança começou a morder a si mesma,

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aparecia com mordidas no braço. Ficou clara a necessi- O que o Piaget diz é que nós protegemos muito as
dade que essa criança tinha de morder, porque senão ela crianças. Não permitimos que elas sintam a consequên-
não estaria mordendo a si mesma. cia do ato.
Em um caso como esse, é preciso deixar determina- Quando brigam, vamos lá imediatamente e pedimos
dos objetos para que ela possa morder. Da mesma ma- para se desculparem. É importante que o adulto permita
neira que deixamos um canto onde ela possa socar, que que as crianças sintam as consequências dos atos. “Por
ela possa bater: “Olha, quando você estiver com muita que será que o grupo não quer mais jogar com você? O
raiva, você vai ali e morde a boneca. Eu sei que você está que você vai fazer para deixar claro que você está dis-
bravo, está com raiva, mas no seu amigo não se bate.” posto a mudar.”
Não podemos permitir que a criança cause dano aos ou- Outros tipos de sanções por reciprocidade são: pri-
tros ou a si mesma. var temporariamente a criança de algo que ela está es-
Tem uma fase em que a mordida é normal, por vol- tragando; reparar o dano causado, se ela quebrou algo;
ta dos dois anos, depois desaparece, dependendo mui- sujou, limpou.
to do ambiente. Foi engraçado que depois que objetos A criança sabe exatamente o que pode fazer e em que
grandes para morder foram colocados, a menina parou ambiente. A criança sabe o que pedir para o pai, o que
de morder. É preciso deixar também desvios simbólicos pedir para a mãe, o que um professor deixa, o que o outro
para as crianças, para que eles possam se extravasar de não deixa. A coerência seria o ideal, mas nem sempre é
alguma forma. possível, por isso investe-se em formação de professores.
Agimos de maneira semelhante quando apertamos a Sempre que possível, nas reuniões pedagógicas, to-
bochecha da criança. Conheci uma criança de dois anos dos os profissionais devem participar, desde os zeladores
que, quando gostava de alguém, externava esses senti- ao professor de química, por exemplo, mesmo que ele
mentos apertando as duas bochechas. Com um bebê pe- ache que não tem nada a ver com o tema. Isso é funda-
queno, essa atitude acabava em choro, é claro. A nossa mental para adquirirem uma linguagem única.
função é mostrar para essa criança outras maneiras de
extravasar o afeto dela. Fonte
Uma solução muito criativa foi relatada por uma pro- VINHA, Telma Pileggi. O educador e a moralidade in-
fessora simples, que nem tinha magistério, lá do Norte. fantil numa perspectiva construtivista. Revista do Cogei-
Ela tinha um aluno que chutava muito e ela não sabia o me, nº 14, julho/99, pág. 15-38.
que fazer. O chão da classe era de barro e ela falou para
as crianças ficarem descalças, trabalharem descalças.
Quando o menino chutava, doía o pé dele. Ele chutou
duas vezes e nunca mais, porque doía o pé. A criatividade EXERCÍCIO COMENTADO
da professora permitiu à criança sentir as consequências
do chute. Às vezes, ao sentir as consequências dos atos, 1. (Prefeitura de Ferraz de Vasconcelos – SP – Pro-
as crianças vão modificando as ações. fessor de Ed. Básica I – VUNESP/2018) Piaget diz que
quando for necessário tomar uma atitude diante de
11, Recompensas e punições transgressões a regras e/ou conflitos vividos por uma
criança, o educador deve
Não usamos recompensas ou punições com as crian-
ças de forma alguma. Quando o adulto usa uma recom- a) se valer de sanções por reciprocidade.
pensa, quando dá alguma coisa em troca, quando fala b) criar regras que devem ser seguidas por todos.
que quem for bonzinho vai ficar no recreio, ele está ma- c) criar limitações por meio de linguagem clara e pres-
nipulando para que a criança aja como ele quer. O mes- critiva.
mo ocorre quando usa do castigo para que a criança não d) estabelecer sanções e recompensas para diferentes
tenha alguns comportamentos. Nessas circunstâncias, a comportamentos.
criança permanece heterônoma. e) promover uma moral heterônoma a ser observada em
Castigo e recompensa funcionam. Quem falar que sala.
não funcionam, está mentindo. O problema é que dei-
xam consequências na criança a longo prazo, como cál- Resposta: Letra A. Piaget diz que quando for neces-
culo de risco. A criança fica calculando qual a chance de sário tomar uma atitude diante de transgressões a re-
ela ser flagrada, mentir para escapar de punição. gras e/ou conflitos vividos por uma criança, o educa-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Piaget diz que quando for necessário tomar uma ati- dor deve se valer de sanções por reciprocidade.
tude, o educador deve se valer de sanções por recipro-
cidade. São aquelas sanções que têm relação direta com
aquilo que a criança fez. Por exemplo, as crianças estão
brincando com um jogo e uma rouba. O que elas fazem?
Não vão mais querer jogar com aquele menino.
Havia uma criança que, no meio do jogo, quando ele
via que ia perder, dizia que não queria mais jogar. Foi
assim na primeira vez, na segunda os meninos falaram
que não queriam mais jogar com ele. É uma decorrência
natural do ato.

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misso é com essas crianças - que são maioria nas escolas
WEIZ, T. O DIÁLOGO ENTRE O ENSINO E A públicas - para que superem o fracasso e tenham sucesso
APRENDIZAGEM. SÃO PAULO: ÁTICA. na escola. Apesar de ser considerada especialista em al-
fabetização, sua questão é a aprendizagem, em especial,
a aprendizagem escolar.
Weisz cursou o Normal no Instituto de Educação, no
Rio de Janeiro, possivelmente influenciada pela profes- Capítulo 2 - Um novo olhar sobre a aprendizagem.
sora de seu curso primário de quem gostava muito. Ao
longo do curso, estando envolvida com outros interesses Apesar de ter iniciado sua docência em 1962, e de
(artes plásticas) quis sair, mas seus pais a convenceram ter na época um certo conhecimento significativo quan-
a continuar. Fez, então, o Instituto de Belas Artes (atual to ao fato da criança conseguir escrever, mesmo que
escola de Artes Visuais do Parque Lage). Em 1962, quan- não ortograficamente, ela não tinha um conhecimento
do cursava o seu último ano do Curso Normal, constatou científico acumulado que lhe permitisse superar um pon-
que a repetência fabricada pelas escolas tinha ultrapas- to de vista “adultocêntrico”, ou seja, a forma como se
sado os limites, pelo fato de não haver, em consequência, concebe a aprendizagem das crianças a partir da própria
vagas para alunos novos na 1ª série. O governador, en- perspectiva do adulto que já domina o conteúdo que
tão, tomou três providencias: aprovou as crianças por de- quer ensinar. A partir dessa perspectiva, não é possível
creto - tendo ido todo mundo para a 2a. série, sabendo compreender o ponto de vista do aprendiz, pois não se
ou não ler; montou escolas de madeira, com telhado de ‘enxerga’ o objeto de seu conhecimento com os olhos de
zinco, e convocou todas as normalistas do último ano do quem ainda não sabe. A partir dessa perspectiva, o pro-
curso para dar aulas. A partir daí ela foi dar aula, para um fessor (do lugar de quem já sabe) define, a priori, o que é
grupo de crianças que tinham entre 11 e 12 anos e, que mais fácil e o que é mais difícil para os alunos e quais os
depois de terem repetido várias vezes a 1a. série, tinham caminhos que eles devem percorrer para realizar as ativi-
passado para a 2ª em função do decreto do governador. dades desejadas. Tal concepção, por parte do professor,
Eram 45 alunos, sendo que apenas 3 não eram ne- gera um tipo de procedimento pedagógico que dificulta
gros. Não eram todos analfabetos, porém não se podia o processo de aprendizagem para uma parte das crian-
considerá-los alfabetizados. Apesar de empregar as téc- ças, principalmente, aquelas que mais necessitam da aju-
nicas de ensino, sentia-se como preenchendo o tempo da da escola, por ter menos conhecimento construído
de aula. Não conseguia avaliar os resultados do trabalho, sobre os conteúdos escolares. Assim, a adoção de uma
nem o que deveria esperar das propostas que colocava postura adultocêntrica não é uma decisão voluntária dos
em prática, sentindo-se confusa e impotente. Situações professores, uma vez que, o conhecimento científico que
da sala revelavam o abismo existente entre o desempe- trazem consigo, não lhes permite enxergar e acolher uma
nho de seus alunos na escola e o que a vida fora da es- outra concepção de aprendizagem relacionada à pers-
cola exigia deles. Nesse sentido, tinha a sensação de que pectiva do aprendiz.
a escola parecia uma armadilha montada para que esses
meninos não pudessem se sair bem, e também, a convic- A metodologia embutida nas cartilhas de al-
ção de que esse tipo de situação tinha um papel político fabetização contribui para o fracasso escolar.
muito importante que devia ser enfrentado durante toda A chamada Psicogênese da Língua Escrita, resultado das
a sua vida profissional. Ficava impressionada quando pesquisas realizadas por Emília Ferreiro e Ana Teberosky
conversava com algumas mães e essas achavam natural (1970), sobre o que pensam as crianças quanto ao sis-
que seus filhos não tivessem sucesso na escola. Diziam tema alfabético de escrita, evidencia os problemas que
que ela poderia ‘bater neles’ para ver se estudavam. a metodologia embutida nas cartilhas (que faz uso do
Esse foi seu batismo de fogo que fez com que se afas- método da análise-síntese ou da palavra geradora) traz
tasse por 12 anos da educação. A sensação mais profun- para as crianças.
da que ficou dessa experiência foi a de ignorância. Ficou
claro, para ela, que as informações e ideias que circu- Por meio das pesquisas das autoras acima mencio-
lavam na educação não davam conta do problema do nadas, em uma sociedade letrada, as crianças constroem
ensino. O professor era um cego. Para ela, o professor conhecimentos sobre a escrita desde muito cedo, a partir
continua chegando hoje à escola com as mesmas insu- do que observam na interação com o seu meio físico e
ficiências com a qual ela chegou em 1962, sendo que social e das reflexões que fazem a esse respeito. As pes-
a diferença, hoje, está na possibilidade que o professor quisas evidenciaram que quando as crianças ainda não
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

tem de, se quiser, tentar resolver essa situação. Hoje, os se alfabetizaram, buscam uma lógica que explique o que
professores têm à sua disposição um corpo de conheci- não compreendem, elaborando hipóteses muito interes-
mentos que, se não dá conta de tudo, pelo menos ilumi- santes sobre o funcionamento da escrita.
na os processos através dos quais as crianças conseguem Esses estudos permitiram compreender que a me-
ou não aprender certos conteúdos. O entendimento que todologia das cartilhas pode fazer sentido para crian-
se tem do professor hoje é o de alguém com condições ças convencidas de que para escrever uma determinada
de ser sujeito de sua ação profissional. palavra, bastar uma letra para cada sílaba oral emitida
Ao final de 1962, e durante os 12 anos seguintes (hipótese silábica), mas para aquelas que ainda cultivam
trabalhou em áreas completamente diferentes, e como ideias muito mais simples a respeito da escrita, ou seja,
nenhuma outra atividade dava sentido à sua vida profis- que ainda não estabeleceram relação entre a escrita e
sional, acabou voltando para a educação. Seu compro- a fala (pré-silábica), o esforço de demonstrar que uma

251
sílaba, geralmente, se escreve com mais de uma letra não ta, o meio social coloca para as crianças uma série de
faz nenhum sentido. São essas as crianças que não con- contradições e de conflitos que a forçam a buscar solu-
seguem aprender com a cartilha e que ficam repetindo a ções, superar as hipóteses inadequadas quanto ao sis-
1ª série várias vezes, chegando a desistir da escola. tema de escrita, através da construção de novas teorias
As crianças constroem hipóteses sobre a escrita e explicativas. Nesses momentos, a atuação do professor
seus usos a partir da participação em situações nas quais é fundamental, pois a conquista de novos patamares de
os textos têm uma função social de fato. Frequentemente compreensão pelo aluno é algo que depende também
as crianças mais pobres são as que têm hipóteses mais das propostas didáticas e da intervenção que ele fizer.
simples, pois vivem poucas situações desse tipo. Para Essas teorias explicativas são formas de interpretação
elas a oportunidade de pensar e construir ideias sobre não necessariamente conscientes, mas que orientam a
a escrita é menor do que para as crianças que vivem em ação de quem está aprendendo. Tais teorias são modifi-
famílias típicas de classe média ou alta, nas quais ouvem cadas no embate com a realidade com a qual o aluno se
a leitura de bons textos, ganham livros e gibis, observam depara a todo instante e especialmente quando o pro-
os adultos manusearem jornais para buscar informa- fessor cria contextos adequados para que isso aconteça.
ções, recebem correspondências, fazem anotações, etc. Para aprender, a criança passa por um processo que não
Isso não quer dizer, que as crianças pobres não tenham tem a lógica do conhecimento final, como é visto pelos
acesso à escrita ou não façam reflexões sobre seu funcio- adultos.
namento fora da escola, mas habitualmente tais práticas Do ponto de vista do referencial construtivista, ne-
não fazem parte do cotidiano do seu grupo social de ori- nhum conceito nasce com o sujeito ou é incorporado de
gem e isso faz com que o início de sua escolarização se fora, mas precisa ser construído através da interação do
dê em condições menos favoráveis do que para aquelas sujeito com o meio (físico, social, cultural); nesse proces-
crianças que participam de práticas sociais letradas des- so de construção, as expressões do aprendiz não têm a
de pequenas. lógica do conhecimento final, concebido pelo adulto. As
Assim, independente do fato de que as crianças ve- pesquisas realizadas pelo psicólogo Jean Piaget quanto
nham de uma família pobre ou não, o que importe real- à conservação de quantidades (massa/ fichas), demons-
mente é a ação pedagógica do professor, e esta depen- tram que para crianças com idade de 5/7 anos, o fato de
derá da sua concepção de aprendizagem (todo o ensino oito fichas apresentarem-se juntas e oito fichas apresen-
se apoia numa concepção de aprendizagem). É possível tarem-se espalhadas apresentam quantidades diferen-
enxergar o que o aluno já sabe a partir do que ele produz tes, simplesmente pela disposição / configuração dessas
e pensar no que fazer para que aprenda mais. Nas últi- fichas (pensamento pré-operatório/perceptivo/ irreversí-
mas décadas muitas pesquisas pontuam uma concepção vel). Começa com Piaget, a construção de um novo olhar
de aprendizagem que é resultado da ação do aprendiz. sobre a aprendizagem.
Dessa forma, a função do professor é criar condições Piaget desenvolveu uma teoria do conhecimento
para que o aluno possa exercer a sua ação de aprender (Epistemologia e Psicologia Genética) que explica como
participando de situações que favoreçam a atividade se avança de um conhecimento menos elaborado para
mental, ou seja, o exercício intelectual. Quando o profes- um conhecimento mais elaborado, ressaltando que o co-
sor entende que o aprendiz sempre sabe alguma coisa e nhecimento é resultado da interação do sujeito com o
pode usar esse conhecimento para continuar aprenden- meio externo, que é um processo no qual o sujeito parti-
do ele pode identificar que informação é necessária para cipa ativamente, modificando o meio no qual está inseri-
que o conhecimento do aluno avance. Essa percepção do e sendo, também, modificado por esse mesmo meio.
permite ao professor compreender que a intuição não é Foram os estudos de Piaget que abriram a possibilidade
mais suficiente para guiar a sua prática e que ele precisa de se estudar a construção de conhecimentos específicos,
de um conhecimento que é produzido no território da como o fez Emília Ferreiro que mostrou que era possível
ciência. É preciso considerar o conhecimento prévio do pensar o construtivismo - o modelo geral de construção
aprendiz e as contradições que ele enfrenta no proces- do conhecimento, tal como formulado por Piaget e co-
so. Em uma concepção de aprendizagem construtivista, laboradores da Escola de Genebra - como a moldura de
o conhecimento é visto como produto da ação e refle- uma investigação sobre a aquisição de um conhecimento
xão do aprendiz. Esse aprendiz é compreendido como particular, no caso de Emília Ferreiro, o da leitura e escrita.
alguém que sabe algumas coisas e que, diante de novas A Psicogênese da Língua Escrita é um modelo psicológi-
informações que têm para ele sentido, realiza um esfor- co de aprendizagem específico da escrita que serve de
ço para assimilá-la, assim frente a um problema (conflito informação ao educador, porém a maneira como essas
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

cognitivo) o aprendiz tem a necessidade de superá-lo. informações são usadas na ação educativa pode variar
O novo conhecimento aparece como aprofundamen- muito porque nenhuma pedagogia responde apenas a
to do conhecimento anterior que ele já detém. É inerente um modelo psicológico. O modelo geral no qual se apoia
à própria concepção de aprendizagem que o aprendiz a Psicogênese da Língua Escrita é de que há um processo
busque o conhecimento prévio que ele possui sobre de aquisição no qual a criança vai construindo hipóteses
qualquer conteúdo. Através dos estudos de Emília Fer- sobre a escrita, testando-as, descartando umas e recons-
reiro e Ana Teberosky e demais colaboradores, sabemos truindo outras. Durante a alfabetização, aprende-se mais
que a criança representa a escrita de diferentes modos, do que escrever alfabeticamente. Aprendem-se, pelo
como a expressão de um conhecimento sobre a escrita uso, as funções da escrita, as características discursivas
que precede a compreensão real do funcionamento do dos textos escritos, os gêneros utilizados para escrever e
sistema alfabético. No caso da aprendizagem da escri- muito outros conteúdos.

252
O modelo de ensino atualmente relacionado ao sor sobre a produção do aprendiz (quanto ao saber não
construtivismo chama-se aprendizagem pela resolução reconhecido), permitir-lhe-á descobrir o que pensa esse
de problemas (situações-problema). Aprender a apren- aprendiz, possibilitando-lhe levantar questões e per-
der é algo possível apenas a quem já aprendeu muita guntas sobre tal produção. Ao desconsiderar o esforço
coisa. Para aprender a aprender, o aprendiz precisa do- do seu aluno, dizendo-lhe que sua produção não está
minar conhecimentos de diferentes naturezas, como as correta, acaba desvalorizando sua tentativa e esforço e,
linguagens, por exemplo. Nesse processo, a flexibilidade consequentemente, o aluno vai pensar duas vezes antes
e a capacidade de se lançar com autonomia nos desa- de produzir de novo. O conhecimento se constrói por
fios da construção do conhecimento são extremamente caminhos diferentes daqueles que o ensino supõe. Isso
importantes, pois há todo um saber necessário para po- acontece no processo de aquisição da escrita, na cons-
der aprender a aprender; e isso só é possível para quem trução dos conceitos matemáticos e na aprendizagem
aprendeu muito sobre muita coisa. Deste modo, é dese- de qualquer outro conteúdo e mesmo quando os alu-
jável que o aprendiz saiba buscar informações através do nos estão submetidos a um tipo de ensino convencional,
computador, porém é fundamental desenvolver a capa- pois o que impulsiona a criança é o esforço para acredi-
cidade de estabelecer relações inteligentes entre os da- tar que atrás das coisas que ela tem de aprender existe
dos, as informações e os conhecimentos já construídos. uma lógica. Se o professor não sabe nada sobre o que
Nesse sentido, para ser capaz de aprender permanen- o aluno pensa ou conhece a respeito do conteúdo que
temente, a bagagem básica necessária atualmente é aca- quer que ele aprenda, o ensino que ele oferece não tem
dêmico-cultural, em que se articulam conhecimentos de com quem dialogar. Conhecimentos prévios dos alunos
origem tradicionalmente escolar e aqueles relacionados não deve ser confundido com conteúdo já ensinado pelo
aos movimentos culturais da sociedade (formação geral). professor.
Assim, a escola tem uma tripla função: Na perspectiva construtivista - de resolução de pro-
1. levar o aluno a aprender a aprender; blemas - o professor não pode considerar como sinôni-
2. dar-lhe os fundamentos acadêmicos e; mos o que o aluno já sabe e o que lhe foi ensinado, pois
3. equalizar as enormes diferenças no repertório de não são necessariamente a mesma coisa. Para que isso
conhecimentos dos aprendizes. não aconteça, é preciso que o professor desenvolva uma
sensibilidade e uma escuta atenta para a reflexão que
É praticamente impossível a escola realizar sozinha as crianças fazem, supondo que o que elas pensam tem
essa terceira função, mas sua contribuição é essencial, sentido e não é fruto de sua ignorância. O professor pre-
pois é preciso pensar como agir para democratizar o cisa criar um ambiente socioafetivo para que as crianças
acesso à informação e às possibilidades e construção de possam manifestar livremente/espontaneamente o que
conhecimento. pensam; somente assim, poderá favorecer situações de
aprendizagem significativas. Tal ambiente deve possibi-
Capítulo 3 - O que sabe uma criança que parece litar que as crianças pensem sobre suas ideias. Do mes-
não saber nada mo modo, cabe ao professor oferecer conflitos/situações
problemas que possibilitem às crianças exercitarem o
Saber o que o aluno sabe e o que ele não sabe para pensamento, na busca de soluções possíveis. Isso requer
poder atuar é uma questão complexa. Esse saber não do professor estudo e uma postura reflexiva e investiga-
está relacionado ao conteúdo a ser ensinado (perspecti- tiva. A psicogênese da língua escrita abriu a possibilidade
va adulta) e sim ao ponto de vista do aprendiz porque é de o professor olhar para a criança e acreditar que para
esse o conhecimento necessário para fazer o aluno avan- aprender ela pensa, que aquilo que ela faz tem lógica e
çar do que ele já sabe para o que não sabe. O que real- o que o professor não enxerga é porque não tem ins-
mente importa são as construções e ideias que o apren- trumentos suficientes para perceber o sentido que está
diz elaborou e que não foram ensinadas pelo professor sendo manifestado pela criança. Um casamento entre a
e, sim, construídas pelo aprendiz. Quando uma criança disponibilidade da informação externa e a possibilidade
escreve fazendo uso de uma concepção silábica de es- da construção interna. Quando o professor não enten-
crita, por exemplo, essa ‘escrita’ não é reconhecida como de a produção da criança deve-se perguntar à criança,
um saber, pois do ponto de vista de como se escreve mesmo que não consiga entender suas explicações, uma
em português, essa escrita não existe. Mas, para chegar atividade indicada para isso é o trabalho em dupla, pois
a escrever em português (escrita alfabética), o aprendiz trabalhando juntas as crianças dão explicações umas às
precisa passar por uma concepção de escrita desse tipo outras e, então, o professor poderá compreender as hi-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

(silábica), imaginando que quando se escreve represen- póteses das crianças.


ta-se as emissões sonoras que ele consegue reconhecer Assim, é importante observar os procedimentos dos
(a sílaba), isolando-as pela via da audição. alunos diante de uma atividade, para que o professor
Tal conhecimento é importante e o professor deve re- possa reconhecer esses procedimentos dos alunos, de
conhecê-lo na aprendizagem da escrita. Caso contrário modo, a saber quais são os menos e os mais avançados
contribuirá muito pouco com os avanços do aluno em e que raciocínio os alunos mais avançados então rea-
relação à escrita e, se a criança aprender a ler, provavel- lizando. O trabalho em grupo permite que as crianças
mente, será por conta própria. observem os procedimentos de atuação de seus cole-
Um olhar cuidadoso sobre o que a criança errou pode gas, inclusive daqueles que utilizam procedimentos de
ajudar o professor a descobrir o que ela tentou fazer. resolução de problemas mais avançados. Ao perceberem
Somente um olhar cuidadoso e despojado do profes- a possibilidade de diferentes formas de execução, reco-

253
nhecem o procedimento do colega como mais produti- cista, voltada para criar máquinas de ensinar, métodos
vo e econômico, construindo, assim, a lógica necessária de ensino, sequências de passos programados, domi-
para poder aprender (a criança aprendeu com outra que nava a concepção de ensino e aprendizagem. No Brasil,
sabe mais). esse modelo chamava-se ensino programado. A função
Tem-se, assim, de um delicado casamento entre a dis- do professor, nesse modelo, era simplesmente, a de ad-
ponibilidade da informação externa e a possibilidade da ministrar o ensino programado e foi, justamente, esse
construção interna - construtivismo: um modelo expli- modelo o responsável por uma exigência cada vez mais
cativo da aprendizagem que considera, ao mesmo tem- baixa de qualificação dos professores.
po, as possibilidades do sujeito e as condições do meio. O ensino programado permitia o que se chamava de
Cabe ao professor tomar decisões importantes, seja na ‘ensino na medida do estudante’, que embora conside-
formação das parcerias entre alunos, seja nas questões rasse os vários ritmos de aprendizagem da criança, to-
que ele mesmo propõe no desenrolar da atividade. To- dos aprendiam, pois, seguindo os passos programados
das as crianças sabem muitas coisas, só que umas sabem chegariam todos, de alguma forma, ao final. O papel do
coisas diferentes das outras. As crianças são provenientes professor dentro de uma proposta construtivista é bem
de culturas diferentes e isso contribui para que saibam diferente deste proposto pelo modelo tecnicista. Cabe
coisas diferentes, por isso é importante que o professor ao professor construir conhecimentos de diferentes na-
tenha claro que as crianças provenientes de um nível cul- turezas, que lhe permitam ter claros os seus objetivos,
tural valorizado pela escola apresentam enormes vanta- assim como selecionar conteúdos adequados, enxergan-
gens em relação às outras crianças. Para tais crianças a do na produção de seus alunos o que eles já sabem e
escola será muito mais fácil, porque está em consonância construindo estratégias que os levem a conquistar novos
com a cultura da família e do seu ambiente. Por outro patamares de conhecimento. Não há receitas prontas a
lado, as crianças provenientes de ambientes onde as pes- serem aplicadas a grupos de alunos, uma vez que, a prá-
soas possuem menor grau de escolaridade e distantes tica pedagógica é complexa e contextualizada. O profes-
dos usos cotidianos dos conteúdos que a escola valoriza sor precisa ser alguém com autonomia intelectual.
encontrarão dificuldades. Assim, a equalização das opor-
tunidades de aprendizagem dessas crianças deve ser Capítulo 4 - As ideias, concepções e teorias que
uma tarefa da escola que deve repensar sua própria prá- sustentam a prática de qualquer professor, mesmo
tica, de modo a não prejudicar o sucesso escolar desses quando ele não tem consciência delas.
alunos. (...) “É preciso, pois, educar o olhar para enxergar
o que sabem as crianças que aparentemente não sabem A prática pedagógica do professor é sempre orien-
nada”. (p, 49) tada por um conjunto de ideias, concepções e teorias,
A equalização de oportunidades de aprendizagem mesmo que nem sempre tenha consciência disso. Para
não significa uma pedagogia compensatória. É preciso que possamos compreender a ação do professor, é pre-
socializar os conteúdos pertencentes ao mundo da cul- ciso verificar de que forma seus atos expressam sua con-
tura: literatura, ciência, arte, informação tecnológica, etc., cepção sobre:
pois isso é uma questão de inserção social e, portanto, - o conteúdo que ele espera que o aluno aprenda;
direito de todas as crianças. A escola não pode ser ins- - o processo de aprendizagem (os caminhos pelo
trumento de exclusão social. Todo professor deve levar quais a aprendizagem acontece);
todos os seus alunos a participarem da cultura. O termo - como deve ser o ensino.
cultura é utilizado não em seu sentido antropológico e
sim no do senso comum: a cultura erudita e a de larga Historicamente, a teoria empirista é a teoria que
difusão, mas produzida para e pela elite. mais vem impregnando as representações sobre o que
Todos os professores, principalmente, aqueles das é ensinar, quem é o aluno, como ele aprende e o que
classes iniciais que quiserem contribuir para que todos e como se deve ensinar (modelo de ensino e aprendi-
os alunos de sua classe tenham a mesma oportunidade zagem conhecido como estímulo-resposta). Essa teoria
de aprender, devem estimulá-los a participar da cultu- define a aprendizagem como ‘a substituição de respostas
ra. É papel do professor ler diferentes tipos de assuntos/ erradas por respostas certas’, partindo da concepção de
textos (usar o jornal e outras fontes de informação e de que o aluno precisa memorizar e fixar informações, as
pesquisa) em classe e levar as crianças para exposições mais simples e parciais possíveis e ir acumulando com o
de artistas importantes. É preciso oferecer às crianças a tempo. A cartilha está fundamentada nesse modelo (pa-
oportunidade de navegar na cultura, na Internet, na arte, lavras-chaves, famílias silábicas usadas exaustivamente,
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

em todas as áreas do conhecimento, em todas as lingua- frases desconectadas, textos com mínimo de coerência
gens, em todas as possibilidades. e coesão). Como a metodologia de ensino expressa nas
Um exemplo de alguém que sabia como tratar as cartilhas concebe os caminhos pelas quais a aprendiza-
crianças era Monteiro Lobato que escrevia livros con- gem acontece. Na concepção empirista, o conhecimento
tando coisas da Antiguidade, falando de astronomia, da está ‘fora’ do sujeito (a fonte do conhecimento é externa
história do mundo. Porém, o que normalmente se ofe- ao sujeito - é o meio físico e social) e, é interiorizado atra-
rece para as crianças lerem são histórias empobrecidas, vés dos sentidos, ativado pela ação física e perceptual.
versões resumidas e textos com supressões. Não é pos- O sujeito é concebido como uma tábula rasa – ‘va-
sível formular receitas prontas para serem aplicadas a zio’ na sua origem, sendo ‘preenchido’ pelas experiências
qualquer grupo de alunos. Nos anos 1970, uma visão de que tem com o mundo (conceito de ‘educação bancá-
escola como linha de montagem, denominada de tecni- ria’ criticada por Paulo Freire). O aprendiz é alguém que

254
vai juntando informações. O processo de ensino funda- ou problematizar / desestabilizar suas produções, inter-
mentado nessa teoria caracteriza-se pela: cópia, ditado, vindo sempre que achar que pode contribuir para que a
memorização pura e simples, utilização da memória de concepção da criança sobre o objeto de conhecimento
curto prazo para reconhecimentos das famílias silábicas, avance. É papel do professor apoiar a construção do co-
leitura mecânica para posterior leitura compreensiva. nhecimento pelo aprendiz.
Para mudar é preciso reconstruir toda a prática a par-
tir de um novo paradigma teórico. Em uma concepção Capítulo 5 - Como fazer o conhecimento do aluno
construtivista, o conhecimento não é concebido como avançar.
cópia do real, incorporado diretamente pelo sujeito. A
teoria construtivista pressupõe uma atividade, por par- O processo de ensino deve dialogar com o de apren-
te do aprendiz, que organiza e integra os novos conhe- dizagem. Isso mostra que não é o processo de aprendi-
cimentos aos já existentes. Isso acontece com alunos e zagem (aluno) que deve se adaptar ao processo de ensi-
professores em processo de transformação. no (professor), mas, sim, o processo de ensino que deve
Uma preocupação, bastante pertinente, diz respeito se adaptar ao processo de aprendizagem. Para tanto, o
ao fato do professor querer inovar a sua prática, ado- professor precisa compreender o caminho de aprendi-
tando um modelo de construção de conhecimento sem zagem que o aluno está percorrendo naquele momento
compreender, suficientemente, as questões que lhe dão e, a partir disso, identificar as informações e atividades
sustentação, correndo o risco de se deslocar de um que permitirão ao aluno avançar do patamar de conheci-
modelo que lhe é familiar para o outro meio conheci- mento que conquistou para outro que é mais avançado.
do, mesclando teorias, como se costuma afirmar. Outra Para isso, é preciso que o professor organize situações
preocupação diz respeito ao entendimento destorcido de aprendizagem: atividades planejadas (propostas e di-
por parte de professores, que acreditando ser o sujeito rigidas) com a intenção de favorecer a ação do aprendiz
sozinho quem constrói o conhecimento, veem a inter- sobre um determinado objeto de conhecimento, sendo
venção pedagógica como desnecessária. Tais concep- que essa ação está na origem de toda e qualquer apren-
ções não fazem nenhum sentido num modelo construti- dizagem.
vista. Conteúdos escolares são objetos de conhecimento Tais atividades devem reunir algumas condições e
complexos, que devem ser dados a conhecer, aos alunos, respeitar alguns princípios:
por inteiro. - os alunos devem por em jogo tudo que sabem e
Para o referencial construtivista, a aprendizagem da pensam sobre o conteúdo que se quer ensinar;
leitura e da escrita é complexa e, portanto, deve ser apre- - devem ter problemas a resolver e decisões a tomar
sentada / oferecida por inteiro ao aprendiz e de forma em função do que se propõe produzir;
funcional. Para os construtivistas, o aprendiz é um sujeito, - a organização da tarefa pelo professor deve garantir
protagonista do seu próprio processo de aprendizagem, a máxima circulação de informação possível;
alguém que vai produzir a transformação, convertendo - o conteúdo trabalhado deve manter suas caracterís-
informação em conhecimento próprio. Essa construção ticas de objeto sociocultural real, sem se transfor-
pelo aprendiz não se dá por si mesma e no vazio, mas a mar em objeto escolar vazio de significado social.
partir de situações nas quais age sobre o que é o objeto
do seu conhecimento, pensa sobre ele, recebendo ajuda, Alunos põem em jogo tudo que sabem, têm proble-
sendo desafiado a refletir, interagindo com outras pes- mas a resolver e decisões a tomar:
soas. A diferença entre o modelo empirista e o modelo O aprendiz precisa testar suas hipóteses e enfrentar
construtivista é que no primeiro a informação é introjeta- contradições, seja entre as próprias hipóteses, seja en-
da ou não; enquanto que no segundo, o aprendiz tem de tre o que consegue produzir sozinho e a produção de
transformar a informação para poder assimilá-la. Isso re- seus pares ou entre o que pode produzir e o resultado
sulta em práticas pedagógicas muito diferentes. Afirmar tido como convencionalmente correto. Partindo-se de
que o conhecimento prévio é a base da aprendizagem uma proposta construtivista, o conhecimento só avança
não é defender pré-requisitos. quando o aluno tem bons problemas sobre os quais pen-
No modelo construtivista, o conhecimento não é sar. Para isso, o professor deve criar boas situações de
gerado do nada, é uma permanente transformação a aprendizagem para os alunos, atividades que represen-
partir do conhecimento que já existe. Essa afirmação de tem possibilidades difíceis, porém dificuldades possíveis
que conhecimentos prévios constituem a base de novas de serem resolvidas.
aprendizagens não significa a crença ou a defesa de pré- A escola precisa autorizar e incentivar o aluno a
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

-requisitos e muito menos significa matéria ensinada an- acionar seus conhecimentos de experiências anteriores,
teriormente pelo professor. fazendo uso deles nas atividades escolares; é preciso
Não informar nem corrigir significa abandonar o alu- criar atividades para que isso seja de fato requisitado,
no à própria sorte. A crença espontaneísta de que o alu- sendo útil para qualquer área de conhecimento. A or-
no constrói o conhecimento, não sendo necessário ensi- ganização da tarefa garante a máxima circulação de in-
nar-lhe, faz com que o professor passe a não informar, formação possível. Os livros e demais materiais escritos,
a não corrigir e a se satisfazer com que o aluno faz ‘ do a intervenção do professor, a observação de um cole-
seu jeito’; isso significa abandonar o aluno à sua própria ga na resolução de um problema, as dúvidas, as dificul-
sorte. Cabe ao professor organizar a situação de apren- dades, o próprio objeto de conhecimento que o aluno
dizagem de forma a oferecer informação adequada. A se esforça para aprender são situações que informam.
função do professor é observar a ação da criança, acolher Por isso, é importante que se garanta a máxima circula-

255
ção de informação possível na classe e o ambiente esco- que a correção deve informar o aluno e ser feita dentro
lar deve permitir que as perguntas e as respostas circu- da situação de aprendizagem (concepção de erro cons-
lem. Nesse processo, as informações que chegam até o trutivo - que faz parte do processo de aprendizagem de
aprendiz precisam ser trabalhadas ou interpretadas por qualquer pessoa).
ele de acordo com que lhe é possível naquele momento. Os erros devem ser corrigidos no momento certo.
O professor precisa estar ciente de que o conhecimento Que nem sempre é o momento em que foram corrigidos.
avança quando o aprendiz se defronta com situações- A ideia do erro construtivo fascinou muitos educadores,
-problema nas quais não havia pensado anteriormente. que começaram a ver de outra forma os textos escritos
Situações significativas de aprendizagem em sala de aula dentro de um sistema silábico e mesmo os de escrita
acontecem quando o professor abre mão de ser o único alfabética. Porém, depois que a criança compreendeu o
informante e quando o clima sócio afetivo se baseia no sistema alfabético de escrita é necessário que o profes-
respeito mútuo e não no autoritarismo. É preciso incen- sor intervenha na questão ortográfica, considerando a
tivar a cooperação, a solidariedade, o respeito e o tuto- melhor forma de fazer isso. O que deve ser repensado
ramento (um aluno ajudando o outro) em sala de aula. é a concepção tradicional de correção. Os alunos sabem
A interação entre os alunos é necessária não somente o que achamos importantes que eles aprendam, mesmo
porque o intercâmbio é condição para o convívio social que não falemos nada. Muitos professores, por não que-
na escola, mas, também, porque informa a todos os en- rerem bloquear a criatividade do aluno, acabam deixan-
volvidos e potencializa quase infinitamente a aprendiza- do que ele escreva de qualquer jeito. Tal procedimento
gem. O conteúdo trabalhado deve manter suas caracte- acaba consolidando um contrato didático implícito, pois
rísticas de objeto sociocultural real. O ensino da língua de alguma forma o aluno percebe que o professor não
portuguesa está cheio de criações escolares que em nada valoriza esse tipo de conhecimento e acaba por desva-
coincidem com as práticas sociais de uso da língua, obje- lorizá-lo investindo nessas aprendizagens. É importante
to de ensino na escola, baseadas no senso comum. Isso que o professor tenha claro que depois de um tempo de
não acontece somente no ensino da língua portuguesa, escolaridade, são inaceitáveis.
mas em todas as outras áreas. Na escola, por exemplo,
aprende-se a linguagem matemática escrita, que é pou- Capítulo 7 – A necessidade e os bons usos da ava-
co usada na rua. Porém, não se pode deixar de lado esta liação.
competência que o aluno já traz desenvolvida (devido
a sua vivência de ‘rua’) e sobrepor a escolarização a ela. No que diz respeito à avaliação, é preciso ter claro
Quando se trata de ciência ou prática social converti- o que o aluno já sabe no momento em que lhe é apre-
da em objeto de ensino, estas acabam por sofrer modifi- sentado um conteúdo novo. O conhecimento prévio é
cações. A arte é diferente na Educação Artística, o espor- o conjunto de ideias, representações e informações que
te é diferente da Educação Física, a linguagem é diferente servem de sustentação para a nova aprendizagem, ainda
do ensino de Língua Portuguesa, a ciência é diferente do que não tenham, necessariamente, uma relação direta
ensino de Ciências. Porém, não se pode criar invenções com o conteúdo que se quer ensinar. É importante in-
pretensamente facilitadoras que acabem tendo existên- vestigar e explorar essas ideias e representações prévias
cia própria. É papel da escola garantir a aproximação má- porque permite saber de onde vai partir a aprendizagem
xima entre o use social do conhecimento e a forma de que se quer que aconteça. Conhecer essas ideias e repre-
tratá-lo didaticamente. sentações prévias ajuda muito na hora de construir uma
situação na qual o aluno terá de usar o que já sabe para
Capítulo 6 - Quando corrigir, quando não corrigir. aprender o que ainda não sabe.
Após esta avaliação inicial, relacionada aos conheci-
O professor desenvolve dois tipos de ação pedagógi- mentos prévios, é preciso que o professor utilize um ou
ca: planejamento e intervenção, uma intervenção clássica outro instrumento para verificar como os alunos estão
é a correção que não é a única intervenção possível, nem progredindo, pois, o conhecimento não é construído
a mais importante, porém é a que mais tem preocupa- igualmente, ao mesmo tempo e da mesma forma por to-
do os professores. Numa concepção construtivista de dos. Esse instrumento é a avaliação de percurso - forma-
aprendizagem, a função da intervenção é atuar de modo tiva ou processual - feita durante o processo de aprendi-
que os alunos transformem seus esquemas interpretati- zagem. Esse procedimento permitirá ao professor avaliar
vos em outros que deem conta de questões mais com- se o trabalho que está desenvolvendo com os alunos
plexas que as anteriores. A correção é algo relacionado a está sendo produtivo e se os alunos estão aprendendo
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

qualquer situação de aprendizagem, o que varia é como com as situações didáticas propostas.
ela é compreendida pelo professor. A avaliação da aprendizagem é também a avaliação
A tradição escolar normalmente vê a correção reali- do trabalho do professor.
zada longe dos alunos na qual os erros são assinalados Quando se avalia a aprendizagem do aluno, também
para que os alunos corrijam, como a mais importante se avalia a intervenção do professor, pois o ensino deve
(concepção empirista - exigente com a transmissão). ser planejado e replanejado em função das aprendiza-
Quando se trata de uma redação, o texto tem que ser gens conquistadas ou não. Assim, é importante a orga-
passado a limpo, corrigido - o erro poderá ficar fixado nização de espaços coletivos de discussão do trabalho
na memória do aluno (concepção que supõe a percep- pedagógico na escola, valorizando-se a prática de ob-
ção e a memória como núcleos na aprendizagem). Outra servação de aula pelo coordenador ou orientador peda-
visão de correção é a informativa que carrega a ideia de gógico - ou mesmo por um colega que ajude a olhar

256
de fora. O professor está sempre tão envolvido que, às dizagem significativas. Tal ambiente deve possibilitar
vezes, não lhe é possível enxergar o que salta aos olhos que as crianças pensem sobre suas ideias. Do mesmo
de um observador externo. modo, cabe ao professor oferecer conflitos/situações
Se a maioria da classe vai bem e alguns não, estes problemas que possibilitem às crianças exercitarem o
devem receber ajuda pedagógica. Quando, numa verifi- pensamento, na busca de soluções possíveis. Isso re-
cação de aprendizagem, grande parte dos alunos apre- quer do professor estudo e uma postura reflexiva e
senta dificuldades, é certo que o professor precisa rever investigativa.
o seu encaminhamento. Porém, quando a verificação
aponta que alguns alunos não estão bem, estes devem
ser atendidos imediatamente através de outras ativida-
des que possibilitem a superação das dificuldades. A
escola deve estar comprometida com a aprendizagem
de todos e, dessa forma, criar um sistema de apoio para
que os alunos não se percam no caminho. As dificulda-
des precisam ser detectadas rapidamente para que sejam
sanadas e continuem progredindo, não desenvolvendo
bloqueios. Tais crianças precisam ser atendidas por meio
de realização de atividades diferenciadas durante a aula,
trabalho conjunto com colegas que possam ajudá-los e
intervenções.

Fonte
WEISZ, Telma. O diálogo entre o ensino e a aprendi-
zagem. São Paulo: Ática, 2009.

EXERCÍCIO COMENTADO

1. (Prefeitura de Ferraz de Vasconcelos – SP – Profes-


sor de Ed. Básica I – VUNESP/2018) Segundo Weisz,
o professor que pretende se qualificar melhor para lidar
com a aprendizagem dos alunos precisa estudar e de-
senvolver uma postura investigativa. Para a autora, se o
professor quiser trabalhar com o modelo de ensino por
resolução de problemas, com uma concepção construti-
vista da aprendizagem, precisa saber que

a) as ideias prévias são pré-requisitos para aprendiza-


gem.
b) o conhecimento é apreendido pela repetição do que
já foi ensinado.
c) o que o aluno já sabe não é sinônimo do que já lhe foi
ensinado.
d) ensino e aprendizagem são dois processos que se
confundem.
e) o processo de aprendizagem deve se adequar ao de
ensino.

Resposta: Letra C. Na perspectiva construtivista - de


CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

resolução de problemas - o professor não pode con-


siderar como sinônimos o que o aluno já sabe e o que
lhe foi ensinado, pois não são necessariamente a mes-
ma coisa. Para que isso não aconteça, é preciso que o
professor desenvolva uma sensibilidade e uma escuta
atenta para a reflexão que as crianças fazem, supon-
do que o que elas pensam tem sentido e não é fruto
de sua ignorância. O professor precisa criar um am-
biente socioafetivo para que as crianças possam ma-
nifestar livremente/espontaneamente o que pensam;
somente assim, poderá favorecer situações de apren-

257
3. (VUNESP /2015) A corrente epistemológica que con-
cebe a criança como sujeito social criador e recriador de
HORA DE PRATICAR! cultura está fundamentada pela teoria:

1. (VUNESP/2015) Considere as ideias-chave de Piaget a) construtivista.


sobre como as crianças aprendem e crescem intelectual- b) behaviorista.
mente. c) sociointeracionista.
d) empirista.
I. As crianças têm estruturas mentais diferentes das dos e) escola-novista.,
adultos. Não são adultos em miniatura; elas têm seus
próprios caminhos distintos, para determinara realidade 4. (VUNESP/2015) As práticas pedagógicas que com-
e para vero mundo. põem a proposta curricular da Educação Infantil devem
II. O desenvolvimento mental infantil progride através de ter como eixos norteadores:
estágios definidos. Estes estágios ocorrem em uma se-
quência fixa - uma sequência que é a mesma para todas a) alimentação e brincadeiras.
as crianças. b) intervenções e aprendizagens.
III. Embora os estágios do desenvolvimento mental ocor- c) intervenções e brincadeiras.
ram em uma ordem fixa, crianças diferentes passam de d) interações e alimentação.
um estágio para o outro em idades diferentes. Além dis- e) interações e brincadeiras.
so, uma criança pode estar em um determinado estágio
para algumas coisas, e em outro estágio para outras. 5. (VUNESP/2015) A proposta pedagógica das institui-
IV. O desenvolvimento mental é influenciado pela cor- ções de Educação Infantil deve garantir que elas cum-
rente inatista. Portanto, a criança tem aptidões e talentos pram plenamente sua função sociopolítica e pedagógica,
que são herdados de seus familiares. oferecendo:

Estão corretas apenas as afirmativas: a) policiamento local para que as famílias se sintam aco-
lhidas e seguras.
a) I e II. b) oportunidade de trabalho entre crianças de diferentes
b) III e IV. classes sociais objetivando enriquecimento cultural e
c) II, III e IV. curricular.
d) I, II e III. c) aulas, passeios, excursões e lazer para as crianças e
e) I, II e lV. famílias.
d) condições e recursos para que as crianças usufruam
2. (VUNESP /2015) Segundo Piaget o desenvolvimento seus direitos civis, humanos e sociais.
mental é influenciado por quatro fatores inter-relacio- e) assistência médica, pediátrica e odontológica para as
nados: maturação, experiência, interação social e equili- crianças.
bração. De acordo com as definições descritas para cada
fator, estabeleça a correta correspondência. 6. (VUNESP/2015) Na visão de Piaget, a escola deve
centrar o ensino no:
1. Maturação
2. Experiência a) conteúdo, pois ele é o sujeito ativo no processo de
3. Interação Social ensino e aprendizagem.
4. Equilibração b) aluno, pois ele é o sujeito ativo no processo de ensino
e aprendizagem.
( ) o processo de reunir maturação, experiência e sociali- c) projeto, pois ele é o sujeito ativo no processo de ensi-
zação de modo a construir e reconstruir estruturas men- no e aprendizagem.
tais. d) método, pois ele é o sujeito ativo no processo de en-
( ) manipulação, movimento e pensamento sobre os ob- sino e aprendizagem.
jetos concretos e processos de pensamento que envol- e) professor, pois ele é o sujeito ativo no processo de
vem. ensino e aprendizagem.
( ) amadurecimento físico, especialmente do sistema ner-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

voso central. 7. (VUNESP/2015) Tendo o Referencial Curricular Nacio-


( ) jogo, conversa e trabalho com outras pessoas, espe- nal para a Educação Infantil como um guia de orientação
cialmente outras crianças. para a elaboração da proposta pedagógica, podem-se
destacar como eixos de trabalho:
A sequência correta é:
a) Língua Portuguesa, Ciências, Matemática, História e
a) 1,2,4,3 Geografia.
b) 4, 3, 2,1 b) Movimento, Artes Visuais, Música, Linguagem Oral, Es-
c) 2,1,3,4 crita e Estrangeira, Ciências e Matemática.
d) 4,2,1,3 c) Psicomotricidade, Artes, Música, Linguagem, Ciências
e) 3,4,1,2 e Matemática.

258
d) Movimento, Artes Visuais, Música, Linguagem Oral e a) livre, famílias.
Escrita, Natureza e Sociedade e Matemática. b) dirigida, crianças.
e) Língua Portuguesa, Língua Estrangeira, Ciências, Mate- c) permanente, crianças.
mática, História, Geografia e Educação Física. d) permanente, professoras.
e) dirigida, professoras.
8. (VUNESP/2015) As atividades permanentes são aque-
las que respondem às necessidades básicas de cuidados, 12. (VUNESP/2015) Sobre o espaço físico e recursos
aprendizagem e prazer para as crianças, cujos conteúdos materiais nas instituições de educação infantil, é INCOR-
necessitam de uma constância. Consideram-se ativida- RETO afirmar que:
des permanentes:
a) espaço físico e materiais devem ser vistos como ele-
a) roda de conversa, brincadeiras no espaço externo e mentos passivos do processo educacional, que não
interno. reflete na concepção de educação assumida pela ins-
b) brincadeiras no espaço externo e cópia. tituição.
c) roda de estória e exercício gráfico. b) os professores devem preparar o ambiente para que
d) aula passeio e exercício gráfico. a criança possa aprender de forma ativa na interação
e) cuidados com o corpo editado. com outras crianças e com os adultos.
c) a presença de materiais diversos, jogos, brinquedos,
9. (VUNESP/2015) A Lei de Diretrizes e Bases da Edu- instrumentos, desponta como um dos indicadores im-
cação, sancionada em dezembro de 1996, estabelece, na portantes para a definição de práticas educativas de
Seção II, artigo 31, que a avaliação na educação infantil qualidade em instituição de educação infantil.
far-se-á mediante: d) a estruturação do espaço físico, a forma como os ma-
teriais estão organizados, a qualidade e adequação
a) acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, dos mesmos são elementos essenciais de um projeto
sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao educativo.
Ensino Fundamental. e) a estruturação do espaço, a diversidade de materiais
b) entrevistas com as famílias e registros sobre o desen- e a forma como os materiais estão organizados cons-
volvimento da criança, sem o objetivo de promoção, tituem-se em poderosos auxiliares da aprendizagem.
mesmo para o acesso ao ensino fundamental.
c) acompanhamento e registro do seu desenvolvimento,
sem caráter reprobatório, a não ser se for com o con-
sentimento da família.
d) provas de desempenho, em que a professora possa
colher dados que ajudem a criança em seu desenvol-
vimento, sem o objetivo de promoção.
e) atividades gráficas, observação e registro sobre o de-
sempenho do aluno, visando prepará-lo para o ingres-
so no ensino fundamental.

10. (VUNESP/2015) A ampliação dos estudos sobre o


desenvolvimento infantil no campo da educação mate-
mática questiona a concepção de aprendizagem restrita
à memorização, repetição e associação. Marque a alter-
nativa que apresenta uma atividade que permita a crian-
ça construir o conceito de número de maneira concreta
e reflexiva.

a) cobrir os algarismos numéricos pontilhados caneti-


nhas coloridas.
b) propor uma roda de conversa sobre situações em que
usam os números no dia a dia.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

c) colar bolinhas de papel sobre os números.


d) associar o numeral 2 a dois patinhos.
e) copiar repetidamente o mesmo numeral.

11. (VUNESP/2015) Sobre o brincar na educação infan-


til, marque a alternativa que completa as frases a seguir.

I. Brincar deve se constituir em atividade:


II. A constância do brincar dependerá do interesse das:

259
ANOTAÇÕES
GABARITO

1 E ________________________________________________
2 E _________________________________________________
3 A
_________________________________________________
4 C
_________________________________________________
5 A
6 D _________________________________________________
7 C _________________________________________________
8 A
_________________________________________________
9 C
10 D _________________________________________________
11 C _________________________________________________
12 A _________________________________________________

_________________________________________________

_________________________________________________

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

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260
ÍNDICE

LEGISLAÇÃO

BRASIL. A criança de 6 anos, a linguagem escrita e o Ensino Fundamental de nove anos. Ministério da Educação/
Secretaria de Educação Básica. Brasília, 2009......................................................................................................................................... 01
BRASIL. Constituição Federal/88 – artigos 205 a 214 e artigo 60 das Disposições Constitucionais Transitórias.
Emenda 14/96.................................................................................................................................................................................................... 02
BRASIL. Ensino Fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade. Brasília,
2007....................................................................................................................................................................................................................... 07
BRASIL. Lei Federal nº 8.069/1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente (atualizada): artigos 7º a 24, 53 a 69,
131 a 140.............................................................................................................................................................................................................. 08
BRASIL. Lei Federal nº 9394/1996 – Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (atualizada).................... 15
BRASIL. Resolução CNE/CEB 04/2010 – Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica. Brasília:
CNE, 2010............................................................................................................................................................................................................ 34
BRASIL. Resolução CNE/CEB nº 5/09 e Parecer CNE/CEB Nº 20/2009 – Diretrizes Curriculares Nacionais para
a Educação Infantil.......................................................................................................................................................................................... 45
BRASIL. Resolução CNE/CEB 07/2010 – Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove)
anos. Brasília: CNE, 2010................................................................................................................................................................................ 48
BRASIL. Resolução CNE/CEB 4/2009 – Institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional
Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial. Brasília: CNE, 2009...................................................... 57
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Introdução. Brasília: MEC/SEF, 2ª
ed. (1ª a 4ª série), Rio de Janeiro: DP&A, 2000. Volume 1 (Itens: Princípios e Fundamentos dos Parâmetros Curriculares
Nacionais e Orientações Didáticas)........................................................................................................................................................... 60
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte. Brasília: MEC/SEF, 2ª ed. (1ª
a 4ª série), Rio de Janeiro: DP&A, 2000. Volume 6 (1ª Parte)............................................................................................................ 90
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília: MEC/
SEF, 2ª ed. (1ª a 4ª série), Rio de Janeiro: DP&A, 2000. Volume 7 (1ª Parte).............................................................................. 95
SANTO ANDRÉ. Lei municipal nº 6.833, de 15 de outubro de 1991 – ESTATUTO DO MAGISTÉRIO MUNICIPAL
(ATUALIZADA).................................................................................................................................................................................................... 114
SANTO ANDRÉ. Lei municipal nº 9.723, de 20 de julho de 2015 – PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO................................... 120
jetivos de ensino, a organização do trabalho pedagógico,
BRASIL. A CRIANÇA DE 6 ANOS, A o tipo de abordagem que se quer dar ao conhecimento
LINGUAGEM ESCRITA E O ENSINO e, por fim, que se considere a realidade sociocultural dos
FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS. alunos e o contexto da escola.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO/SECRETARIA Para mobilizar os processos de aprendizagem das
DE EDUCAÇÃO BÁSICA. BRASÍLIA, 2009. crianças de modo a ajudá-las no desenvolvimento das
capacidades relacionadas à leitura e à escrita e na cons-
trução de representações sobre esse objeto de estudo,
Prezado candidato, a seguir o texto de apresen- as situações de aprendizagem precisam ser sequencia-
tação do material oficial solicitado. Para acesso ao das, articuladas e contextualizadas, ou seja, as crian-
conteúdo na íntegra, visto seu formato e exten- ças precisam participar de um conjunto de atividades
são, o disponibilizamos em nosso site para consul- caracterizado por um ciclo de ações e procedimentos
ta. Confira em: http://portal.mec.gov.br/index. de ensino-aprendizagem – as chamadas Situações de
php?option=com_docman&view=download&alias=- aprendizagem. Organizar esses ciclos de Situações de
4034-crianca-seis-anos-opt&category_slug=marco- aprendizagem fica mais fácil quando as professoras1
-2010-pdf&Itemid=30192 têm em mente uma proposta de ensino na qual possam
buscar referências metodológicas para projetar seus tra-
APRESENTAÇÃO balhos junto às crianças.
Vale ressaltar, ainda, que, para uma proposta de en-
A inclusão das crianças de seis anos no Ensino Fun- sino tornar-se um referencial e se materializar em uma
damental amplia a escolarização para uma parcela sig- prática de ensino adequada, ela deverá ser validada e
nificativa da população brasileira que se encontrava, até reconstruída a partir do conhecimento que se tem das
então, privada da educação escolar ou sem garantia de crianças e também das interações que se estabelecem
vagas nas instituições públicas de ensino. entre os participantes do grupo escolar e deles com os
Como único nível de ensino de matrícula obrigató- objetos do conhecimento.
ria no País, o Ensino Fundamental, ao ter sua duração Dessa forma, a avaliação e o planejamento são fa-
ampliada de oito para nove anos, traz para a escola um tores determinantes para a consolidação desta prática. A
grupo de crianças que, ao serem introduzidas nessas ins- avaliação diagnóstica é um procedimento de ensino a ser
tituições, entram em contato com uma cultura da qual adotado com o objetivo de se estabelecerem relações en-
devem se apropriar. É importante também considerar tre a proposta de ensino, o perfil pedagógico da turma e as
que, ainda que algumas das crianças de seis anos já fre- necessidades de aprendizagem específicas de cada aluno.
quentassem instituições pré-escolares, a entrada desse O planejamento pedagógico, por sua vez, como pro-
segmento no Ensino Fundamental impõe novos desafios, jeto de trabalho do professor, só se torna efetivo se ela-
sobretudo pedagógicos, para a área educacional. Como borado a partir da articulação entre a proposta de ensino
se sabe, mesmo admitindo a expansão das vagas como e os sujeitos da aprendizagem.
condição fundamental para a garantia do direito à edu- Uma prática de ensino consistente tem em sua con-
cação, é no âmbito das práticas pedagógicas que a insti- formação esse conjunto de elementos bem definidos e
tuição educativa pode tornar-se ela mesma expressão ou pressupõe uma construção singular de cada professora
não desse direito. Para que esse direito se cumpra, por- com seu grupo de alunos, ao mesmo tempo em que re-
tanto, e para que se configure como promotor de novos quer um trabalho coletivo envolvendo todo o corpo do-
direitos, o acesso das crianças às instituições educativas cente e os demais profissionais na sua elaboração. Essa
e sua permanência nelas devem consolidar-se como di- construção cotidiana da prática educativa exige dos seus
reito ao conhecimento, à formação integral do ser huma- profissionais a capacidade de fazer escolhas, criar, recriar,
no e à participação no processo de construção de novos pesquisar, experimentar e avaliar constantemente suas
conhecimentos. opções. Em outras palavras, somente uma prática peda-
A construção dessa prática educativa deve ter a crian- gógica autônoma garante as condições para o exercício
ça como eixo do processo e levar em conta as diferentes profissional competente e para a construção de uma
dimensões de sua formação. educação comprometida com a qualidade referenciada
Nesta publicação, sem ignorarmos a relevância das socialmente.
demais dimensões, discutiremos uma delas, que, por seu Tomando como eixo o princípio da autonomia docen-
caráter complexo, multifacetado e precursor, cumpre um te como condição para a concretização da prática peda-
papel fundamental na garantia do direito à educação: o gógica que acreditamos ser de qualidade, pretendemos,
desenvolvimento da linguagem escrita. com esta publicação, não apenas apresentar proposições
Uma prática educativa comprometida com o desen- ou diretrizes para a construção do trabalho com a lin-
volvimento da linguagem escrita não se restringe à ela- guagem escrita em classes de seis anos, mas também
boração de atividades dirigidas aos alunos. Exige, isto articular essas proposições e diretrizes às teorias que as
sim, a superação da fragmentação dessas atividades de informam.
ensino em sala de aula. O primeiro texto, que constitui a Parte I desta publi-
LEGISLAÇÃO

Para se assegurar aos aprendizes o pleno desenvol- cação, pretende situar a discussão acerca do ensino e da
vimento de suas potencialidades, é fundamental, dentre aprendizagem da linguagem escrita, destacando o aces-
outros aspectos, que a ação educativa se baseie em uma so a esse objeto do conhecimento como um direito da
orientação teórico-metodológica, que se definam os ob- criança antes de completar sete anos de idade.

1
Na Parte II, os textos discutem os fundamentos teóricos CAPÍTULO III
e as propostas pedagógicas, considerando algumas das di- DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO
mensões presentes no processo de alfabetização2, a saber:
1. O letramento; Seção I
2. O desenvolvimento das habilidades de leitura e es- DA EDUCAÇÃO
crita de palavras, frases e textos em sala de aula;
3. A aquisição do sistema de escrita e o desenvolvi- Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Es-
mento da consciência fonológica; tado e da família, será promovida e incentivada com
4. O desenho e a brincadeira – formas de linguagem a colaboração da sociedade, visando ao pleno desen-
a serem exploradas no processo de alfabetização. volvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Para discutir essas dimensões em seus diferentes aspec-
tos, abordaremos cada uma delas por meio de quatro tópicos: Art. 206. O ensino será ministrado com base nos se-
- Objetivos gerais – objetivos gerais para o ensino da guintes princípios:
escrita; I - igualdade de condições para o acesso e permanên-
- Eixos do plano didático – correspondem aos conte- cia na escola;
údos da ação pedagógica; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar
- Objetivos de aprendizagem – correspondem ao que o pensamento, a arte e o saber;
se espera que as crianças desenvolvam em relação III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas,
às habilidades; construam em relação às represen- e coexistência de instituições públicas e privadas de
tações; e se apropriem em relação às práticas e aos ensino;
modos de se relacionarem com a língua escrita; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimen-
- Situações de aprendizagem – situações nas quais tos oficiais;
crianças e professoras adotam formas específicas V - valorização dos profissionais da educação escolar,
para aprender e ensinar no contexto da escola. garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com
ingresso exclusivamente por concurso público de pro-
vas e títulos, aos das redes públicas;
Na Parte III, são apresentados e discutidos relatos de
VI - gestão democrática do ensino público, na forma
trabalhos com a linguagem escrita e situações observa-
da lei;
das junto a crianças menores de sete anos.
VII - garantia de padrão de qualidade.
Os dois primeiros textos enfocam o processo de le-
VIII - piso salarial profissional nacional para os pro-
tramento literário por meio do qual as crianças têm a
fissionais da educação escolar pública, nos termos de
oportunidade de vivenciar momentos de elaboração
lei federal.
acerca do funcionamento do sistema de escrita e de dar
Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de
continuidade ao processo de alfabetização. trabalhadores considerados profissionais da educação
O terceiro texto descreve uma estratégia de ensino básica e sobre a fixação de prazo para a elaboração
voltada para a aquisição do sistema de escrita denomina- ou adequação de seus planos de carreira, no âmbito
da Jogo Linguístico. O jogo foi criado por uma professora da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu-
que, ao longo da sua trajetória profissional, encontrou nicípios.
formas de experimentação e registro de sua prática de
alfabetização com turmas compostas de crianças em ní- [...]
veis diferenciados de conceitualização da escrita.
O quarto e último texto é um relato de situações de Art. 208. O dever do Estado com a educação será efe-
sala de aula nas quais as crianças são motivadas a de- tivado mediante a garantia de:
senhar e a produzir textos orais e escritos. O relato nos I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (qua-
mostra como as crianças são capazes de expressarem tro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada in-
ideias originais por meio de seus desenhos e da escrita. clusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não
tiveram acesso na idade própria;
II - progressiva universalização do ensino médio gra-
BRASIL. CONSTITUIÇÃO FEDERAL/88 tuito;
– ARTIGOS 205 A 214 E ARTIGO 60 III - atendimento educacional especializado aos por-
DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS tadores de deficiência, preferencialmente na rede re-
gular de ensino;
TRANSITÓRIAS. EMENDA 14/96.
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às
crianças até 5 (cinco) anos de idade;
Dentro do terceiro capítulo do título da CF/88 voltado V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa
à ordem social, a primeira seção é dedicada à educação, e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
delineando, entre outros aspectos, seus princípios basi- VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às
condições do educando;
LEGISLAÇÃO

lares e a abrangência do dever do Estado em fornecer


educação à população, conforme artigos 205, 206 e 208. VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da
educação básica, por meio de programas suplementa-
res de material didático escolar, transporte, alimenta-
ção e assistência à saúde.

2
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito - “valorização dos profissionais da educação esco-
público subjetivo. lar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira,
§ 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo com ingresso exclusivamente por concurso público
Poder Público, ou sua oferta irregular, importa respon- de provas e títulos, aos das redes públicas”, bem
sabilidade da autoridade competente. como “piso salarial profissional nacional para os
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educan- profissionais da educação escolar pública, nos ter-
dos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e mos de lei federal”, pois sem a valorização dos pro-
zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência fissionais responsáveis pelo ensino será inatingível
à escola. o seu aperfeiçoamento. Além disso, “a lei disporá
sobre as categorias de trabalhadores considerados
[...]
profissionais da educação básica e sobre a fixação
O artigo 6º da Constituição Federal menciona o direi- de prazo para a elaboração ou adequação de seus
to à educação como um de seus direitos sociais. A edu- planos de carreira, no âmbito da União, dos Esta-
cação proporciona o pleno desenvolvimento da pessoa, dos, do Distrito Federal e dos Municípios” (artigo
não apenas capacitando-a para o trabalho, mas também 206, parágrafo único, CF);
para a vida social como um todo. Contudo, a educação - “gestão democrática do ensino público, na forma da
tem um custo para o Estado, já que nem todos podem lei”, remetendo ao direito de participação popular
arcar com o custeio de ensino privado. na tomada de decisões políticas referentes às ativi-
No título VIII, que aborda a ordem social, delimita-se dades de ensino; e
a questão da obrigação do Estado com relação ao direito - “garantia de padrão de qualidade”, posto que sem
à educação, assim como menciona-se quais outros agen- qualidade de ensino é impossível atingir uma me-
tes responsáveis pela efetivação deste direito. lhoria na qualificação pessoal e profissional dos
Neste sentido, o artigo 205, CF, prevê: “A educação, nacionais.
direito de todos e dever do Estado e da família, será pro-
movida e incentivada com a colaboração da sociedade, Enquanto que os artigos 205 e 206 da Constituição
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu prepa- possuem uma menor densidade normativa, colacionan-
ro para o exercício da cidadania e sua qualificação para do princípios diretores e ideias basilares, o artigo 208
o trabalho”. volta-se à regulamentação do modo pelo qual o Estado
Resta claro que a educação não é um dever exclusivo efetivará o direito à educação.
do Estado, mas da sociedade como um todo e, principal- Interessante notar, em primeira análise, que o Estado
mente, da família. Depreende-se que educação vai além
se exime da obrigatoriedade no fornecimento de edu-
do mero aprendizado de conteúdos e envolve a educa-
cação superior, no art. 208, V, quando assegura, apenas,
ção para a cidadania e o comportamento ético em so-
o “acesso” aos níveis mais elevados de ensino, pesquisa
ciedade – a educação da qual o constituinte fala não é
apenas a formal, mas também a informal. e criação artística. Fica denotada ausência de compro-
Por seu turno, o artigo 206 da Constituição estabelece metimento orçamentário e infraestrutural estatal com
os princípios que devem guiar o ensino: um número suficiente de universidades/faculdades pú-
- “igualdade de condições para o acesso e permanên- blicas aptas a recepcionar o maciço contingente de alu-
cia na escola”, que significa a compreensão de que nos que saem da camada básica de ensino, sendo, pois,
a educação é um direito de todos e não apenas clarividente exemplo de aplicação da reserva do possível
dos mais favorecidos, cabendo ao Estado investir dentro da Constituição. Ainda, é preciso observar que se
para que os menos favorecidos ingressem e per- utiliza a expressão “segundo a capacidade de cada um”,
maneçam na escola; de forma que o critério para admissão em universidades/
- “liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e di- faculdades públicas é, somente, pelo preparo intelectual
vulgar o pensamento, a arte e o saber”, de forma do cidadão, a ser testado em avaliações com tal fito,
que o ensino tem um caráter ativo e passivo, indo como o vestibular e o exame nacional do ensino médio.
além da compreensão de conteúdos dogmático se
abrangendo também os processos criativos;
- “pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas,
e coexistência de instituições públicas e privadas
de ensino”, de modo que não se entende haver um
único método de ensino, uma única maneira de
aprender, permitindo a exploração das atividades
educacionais também por instituições privadas.
A respeito das instituições privadas, o artigo 209,
CF prevê que “o ensino é livre à iniciativa privada,
atendidas as seguintes condições: I - cumprimento
das normas gerais da educação nacional; II - au-
LEGISLAÇÃO

torização e avaliação de qualidade pelo Poder Pú-


blico”;
- “gratuidade do ensino público em estabelecimentos
oficiais”, sendo esta a principal vertente de imple-
mentação do direito à educação pelo Estado;

3
§ 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão priorita-
#FicaDica riamente no ensino fundamental e médio. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996)
A abrangência do dever do Estado em rela- § 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a
ção à educação, nos termos do artigo 208, União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
CF, envolve: definirão formas de colaboração, de modo a assegu-
- educação básica obrigatória e gratuita dos rar a universalização do ensino obrigatório.(Redação
4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade; dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009)
- universalização progressiva do ensino mé- § 5º A educação básica pública atenderá priorita-
dio gratuito; riamente ao ensino regular. (Incluído pela Emenda
- atendimento educacional especializado aos Constitucional nº 53, de 2006)
portadores de deficiência; Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos
- educação infantil às crianças até 5 (cinco) de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Muni-
anos de idade; cípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita
- acesso aos níveis mais elevados do ensino, resultante de impostos, compreendida a proveniente
da pesquisa e da criação artística (entra aqui de transferências, na manutenção e desenvolvimento
o ensino superior); do ensino.
- oferta de ensino noturno; § 1º A parcela da arrecadação de impostos transferi-
- atendimento por programas suplementares da pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos
de material didático escolar, transporte, ali- Municípios, ou pelos Estados aos respectivos Municí-
mentação e assistência à saúde; pios, não é considerada, para efeito do cálculo pre-
- zelo, junto aos pais, da frequência dos alu- visto neste artigo, receita do governo que a transferir.
nos do ensino fundamental. § 2º Para efeito do cumprimento do disposto no «ca-
*** Apenas a educação básica – ensino fun- put» deste artigo, serão considerados os sistemas de
damental – é obrigatória e gratuita de forma ensino federal, estadual e municipal e os recursos
universal – CONSIDERA-SE DIREITO PÚBLICO aplicados na forma do art. 213.
SUBJETIVO, sendo que seu não oferecimento § 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará
gera responsabilidade do administrador. prioridade ao atendimento das necessidades do ensi-
no obrigatório, no que se refere a universalização, ga-
Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendi- rantia de padrão de qualidade e equidade, nos termos
das as seguintes condições: do plano nacional de educação. (Redação dada pela
I - cumprimento das normas gerais da educação na- Emenda Constitucional nº 59, de 2009)
cional; § 4º Os programas suplementares de alimentação e
II - autorização e avaliação de qualidade pelo Poder assistência à saúde previstos no art. 208, VII, serão
Público. financiados com recursos provenientes de contribui-
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o en- ções sociais e outros recursos orçamentários.
sino fundamental, de maneira a assegurar formação § 5º A educação básica pública terá como fonte adi-
básica comum e respeito aos valores culturais e artís- cional de financiamento a contribuição social do salá-
ticos, nacionais e regionais. rio-educação, recolhida pelas empresas na forma da
§ 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, cons- lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53,
tituirá disciplina dos horários normais das escolas pú- de 2006)
blicas de ensino fundamental.
§ 2º O ensino fundamental regular será ministrado § 6º As cotas estaduais e municipais da arrecadação
em língua portuguesa, assegurada às comunidades da contribuição social do salário-educação serão dis-
indígenas também a utilização de suas línguas ma- tribuídas proporcionalmente ao número de alunos
ternas e processos próprios de aprendizagem. matriculados na educação básica nas respectivas re-
Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os des públicas de ensino. (Incluído pela Emenda Consti-
Municípios organizarão em regime de colaboração tucional nº 53, de 2006)
seus sistemas de ensino. Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às es-
§ 1º A União organizará o sistema federal de ensino colas públicas, podendo ser dirigidos a escolas comu-
e o dos Territórios, financiará as instituições de ensino nitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas em
públicas federais e exercerá, em matéria educacional, lei, que:
função redistributiva e supletiva, de forma a garantir I - comprovem finalidade não-lucrativa e apliquem
equalização de oportunidades educacionais e padrão seus excedentes financeiros em educação;
mínimo de qualidade do ensino mediante assistência II - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra es-
técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e cola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Po-
aos Municípios; (Redação dada pela Emenda Consti- der Público, no caso de encerramento de suas atividades.
tucional nº 14, de 1996) § 1º - Os recursos de que trata este artigo poderão
LEGISLAÇÃO

§ 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no en- ser destinados a bolsas de estudo para o ensino fun-
sino fundamental e na educação infantil. (Redação damental e médio, na forma da lei, para os que de-
dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996) monstrarem insuficiência de recursos, quando houver
falta de vagas e cursos regulares da rede pública na

4
localidade da residência do educando, ficando o Poder a)  a organização dos Fundos, a distribuição propor-
Público obrigado a investir prioritariamente na expan- cional de seus recursos, as diferenças e as ponderações
são de sua rede na localidade. quanto ao valor anual por aluno entre etapas e moda-
§ 2º As atividades de pesquisa, de extensão e de estí- lidades da educação básica e tipos de estabelecimento
mulo e fomento à inovação realizadas por universi- de ensino;
dades e/ou por instituições de educação profissional b)  a forma de cálculo do valor anual mínimo por alu-
e tecnológica poderão receber apoio financeiro do no;
Poder Público.   (Redação dada pela Emenda Consti- c)  os percentuais máximos de apropriação dos recur-
tucional nº 85, de 2015) sos dos Fundos pelas diversas etapas e modalidades
Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de edu- da educação básica, observados os arts. 208 e 214 da
cação, de duração decenal, com o objetivo de articular Constituição Federal, bem como as metas do Plano
o sistema nacional de educação em regime de cola- Nacional de Educação;
boração e definir diretrizes, objetivos, metas e estraté- d)  a fiscalização e o controle dos Fundos;
gias de implementação para assegurar a manutenção e)  prazo para fixar, em lei específica, piso salarial pro-
e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, fissional nacional para os profissionais do magistério
etapas e modalidades por meio de ações integradas público da educação básica;
dos poderes públicos das diferentes esferas federativas IV  -  os recursos recebidos à conta dos Fundos ins-
que conduzam a: (Redação dada pela Emenda Consti- tituídos nos termos do inciso I do caput deste artigo
tucional nº 59, de 2009) serão aplicados pelos Estados e Municípios exclusiva-
I - erradicação do analfabetismo; mente nos respectivos âmbitos de atuação prioritária,
II - universalização do atendimento escolar; conforme estabelecido nos §§ 2º e 3º do art. 211 da
III - melhoria da qualidade do ensino; Constituição Federal;
IV - formação para o trabalho; V -  a União complementará os recursos dos Fundos a
V - promoção humanística, científica e tecnológica do País. que se refere o inciso II do caput deste artigo sempre
VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos que, no Distrito Federal e em cada Estado, o valor por
públicos em educação como proporção do produto in- aluno não alcançar o mínimo definido nacionalmen-
terno bruto. (Incluído pela Emenda Constitucional nº te, fixado em observância ao disposto no inciso VII do
59, de 2009)
caput deste artigo, vedada a utilização dos recursos
a que se refere o § 5º do art. 212 da Constituição Fe-
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias    
deral;
 
VI -  até 10% (dez por cento) da complementação da
Art. 60. Até o 14º (décimo quarto) ano a partir da pro-
União prevista no inciso V do caput deste artigo po-
mulgação desta Emenda Constitucional, os Estados, o
derá ser distribuída para os Fundos por meio de pro-
Distrito Federal e os Municípios destinarão parte dos
gramas direcionados para a melhoria da qualidade da
recursos a que se refere o caput do art. 212 da Cons-
tituição Federal à manutenção e desenvolvimento educação, na forma da lei a que se refere o inciso III do
da educação básica e à remuneração condigna dos caput deste artigo;
trabalhadores da educação, respeitadas as seguintes VII -  a complementação da União de que trata o inci-
disposições: so V do caput deste artigo será de, no mínimo:
I -  a distribuição dos recursos e de responsabilidades a)  R$ 2.000.000.000,00 (dois bilhões de reais), no pri-
entre o Distrito Federal, os Estados e seus Municípios meiro ano de vigência dos Fundos;
é assegurada mediante a criação, no âmbito de cada b)  R$ 3.000.000.000,00 (três bilhões de reais), no se-
Estado e do Distrito Federal, de um Fundo de Manu- gundo ano de vigência dos Fundos;
tenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de c)  R$ 4.500.000.000,00 (quatro bilhões e quinhentos
Valorização dos Profissionais da Educação - FUNDEB, milhões de reais), no terceiro ano de vigência dos Fun-
de natureza contábil; dos;
II -  os Fundos referidos no inciso I do caput deste ar- d)  10% (dez por cento) do total dos recursos a que
tigo serão constituídos por 20% (vinte por cento) dos se refere o inciso II do caput deste artigo, a partir do
recursos a que se referem os incisos I, II e III do art. 155; quarto ano de vigência dos Fundos;
o inciso II do caput do art. 157; os incisos II, III e IV do
caput do art. 158; e as alíneas a e b do inciso I e o inci- VIII -  a vinculação de recursos à manutenção e desen-
so II do caput do art. 159, todos da Constituição Fede- volvimento do ensino estabelecida no art. 212 da Cons-
ral, e distribuídos entre cada Estado e seus Municípios, tituição Federal suportará, no máximo, 30% (trinta por
proporcionalmente ao número de alunos das diversas cento) da complementação da União, considerando-se
etapas e modalidades da educação básica presencial, para os fins deste inciso os valores previstos no inciso VII
matriculados nas respectivas redes, nos respectivos do caput deste artigo;
âmbitos de atuação prioritária estabelecidos nos §§ 2º IX -  os valores a que se referem as alíneas a, b, e c
e 3º do art. 211 da Constituição Federal; do inciso VII do caput deste artigo serão atualizados,
III -  observadas as garantias estabelecidas nos incisos anualmente, a partir da promulgação desta Emenda
LEGISLAÇÃO

I, II, III e IV do caput do art. 208 da Constituição Fede- Constitucional, de forma a preservar, em caráter per-
ral e as metas de universalização da educação básica manente, o valor real da complementação da União;
estabelecidas no Plano Nacional de Educação, a lei X -  aplica-se à complementação da União o disposto
disporá sobre: no art. 160 da Constituição Federal;

5
XI -  o não-cumprimento do disposto nos incisos V e EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 14, DE 12 DE SE-
VII do caput deste artigo importará crime de respon- TEMBRO DE 1996
sabilidade da autoridade competente;
XII -  proporção não inferior a 60% (sessenta por cen- Modifica os arts. 34, 208, 211 e 212 da Constituição
to) de cada Fundo referido no inciso I do caput deste Federal e dá nova redação ao art. 60 do Ato das
artigo será destinada ao pagamento dos profissionais Disposições constitucionais Transitórias.
do magistério da educação básica em efetivo exercí- As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado
cio. Federal, nos termos do § 3º do art. 60 da Consti-
§ 1º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu- tuição Federal, promulgam a seguinte emenda ao
nicípios deverão assegurar, no financiamento da edu- texto constitucional:
cação básica, a melhoria da qualidade de ensino, de Art. 1º É acrescentada no inciso VII do art. 34, da
forma a garantir padrão mínimo definido nacional- Constituição Federal, a alínea “e”:
mente. “e) aplicação do mínimo exigido da receita resul-
§ 2º O valor por aluno do ensino fundamental, no tante de impostos estaduais, compreendida a pro-
Fundo de cada Estado e do Distrito Federal, não po- veniente de transferência, na manutenção e desen-
derá ser inferior ao praticado no âmbito do Fundo de volvimento do ensino.”
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Funda- Art. 2º É dada nova redação aos incisos I e II do art.
mental e de Valorização do Magistério - FUNDEF, no 208 da Constituição Federal:
ano anterior à vigência desta Emenda Constitucional. “I - ensino fundamental obrigatório e gratuito, as-
§ 3º O valor anual mínimo por aluno do ensino funda- segurada, inclusive, sua oferta gratuita para todos
mental, no âmbito do Fundo de Manutenção e Desen- os que a ele não tiveram acesso na idade própria;
volvimento da Educação Básica e de Valorização dos II - progressiva universalização do ensino médio
Profissionais da Educação - FUNDEB, não poderá ser gratuito; “
inferior ao valor mínimo fixado nacionalmente no ano Art. 3º É dada nova redação aos §§ 1º e 2º do art.
anterior ao da vigência desta Emenda Constitucional. 211 da Constituição Federal e nele são inseridos
§ 4º Para efeito de distribuição de recursos dos Fun- mais dois parágrafos:
dos a que se refere o inciso I do caput deste artigo,
“Art.211.........................
§ 1º A união organizará o sistema federal de ensino
levar-se-á em conta a totalidade das matrículas no
e o dos Territorios, financiará as instituições de en-
ensino fundamental e considerar-se-á para a educa-
sino públicas federais e exercerá, em matéria edu-
ção infantil, para o ensino médio e para a educação
cacional, função redistributiva e supletiva, de forma
de jovens e adultos 1/3 (um terço) das matrículas no
a garantir equalização de oportunidades educacio-
primeiro ano, 2/3 (dois terços) no segundo ano e sua
nais e padrão mínimo de qualidade do ensino me-
totalidade a partir do terceiro ano.
diante assistência técnica e financeira aos estados,
§ 5º A porcentagem dos recursos de constituição dos ao Distrito Federal e aos Municípios.
Fundos, conforme o inciso II do caput deste artigo, será § 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no en-
alcançada gradativamente nos primeiros 3 (três) anos sino fundamental e na educação infantil.
de vigência dos Fundos, da seguinte forma: § 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão priori-
I -  no caso dos impostos e transferências constantes tariamente no ensino fundamental e médio.
do inciso II do caput do art. 155; do inciso IV do caput § 4º Na organização de seus sistemas de ensino, os
do art. 158; e das alíneas a e b do inciso I e do inciso II Estados e os Municípios definirão formas de cola-
do caput do art. 159 da Constituição Federal: boração, de modo a assegurar a universalização do
a)  16,66% (dezesseis inteiros e sessenta e seis centési- ensino obrigatório.”
mos por cento), no primeiro ano; Art. 4º É dada nova redação ao § 5º do art. 212 da
b)  18,33% (dezoito inteiros e trinta e três centésimos Constituição Federal:
por cento), no segundo ano; “§ 5º O ensino fundamental público terá como fon-
c)  20% (vinte por cento), a partir do terceiro ano; te adicional de financiamento a contribuição social
II -  no caso dos impostos e transferências constantes do salário educação, recolhida pelas empresas, na
dos incisos I e III do caput do art. 155; do inciso II do forma da lei.”
caput do art. 157; e dos incisos II e III do caput do art. Art. 5º É alterado o art. 60 do ADCT e nele são in-
158 da Constituição Federal: seridos novos parágrafos, passando o artigo a ter a
a)  6,66% (seis inteiros e sessenta e seis centésimos por seguinte redação:
cento), no primeiro ano; “Art 60. Nos dez primeiros anos da promulgação
b)  13,33% (treze inteiros e trinta e três centésimos por desta emenda, os Estados, o Distrito Federal e os
cento), no segundo ano; Municípios destinarão não menos de sessenta por
c)  20% (vinte por cento), a partir do terceiro ano. cento dos recursos a que se refere o caput do art.
§ 6º (Revogado). 212 da Constituição Federal, a manutenção e ao
§ 7º (Revogado) desenvolvimento do ensino fundamental, com o ob-
jetivo de assegurar a universalização de seu aten-
LEGISLAÇÃO

Acesse o histórico de alterações em https:// dimento e a remuneração condigna do magistério.


www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/ § 1º A distribuição de responsabilidades e recursos
ADC1988_08.09.2016/art_60_.asp entre os estados e seus municípios a ser concretiza-
da com parte dos recursos definidos neste artigo,

6
na forma do disposto no art. 211 da Constituição e) a omissão no oferecimento do ensino obrigatório pelo
Federal, e assegurada mediante a criação, no âm- poder público importa em responsabilidade da auto-
bito de cada Estado e do Distrito Federal, de um ridade competente.
fundo de manutenção e desenvolvimento do ensino
fundamental e de valorização do magistério, de na- Resposta: Letra E.
tureza contábil. Em que pese o direito à educação ser um direito de
§ 2º O Fundo referido no parágrafo anterior será segunda dimensão, classicamente relacionado à ideia
constituído por, pelo menos, quinze por cento dos de norma programática do texto constitucional, as
recursos a que se referem os arts. 155, inciso II; 158, promessas feitas pelo constituinte não podem ser to-
inciso IV; e 159, inciso I, alíneas “a” e “b”; e inciso madas de forma vã. A omissão do Estado em garantir
II, da Constituição Federal, e será distribuído entre a gratuidade do ensino público, assegurada no artigo
cada Estado e seus Municípios, proporcionalmente 206, IV, CF, gera responsabilidade da autoridade que
ao número de alunos nas respectivas redes de ensi- deveria ter tomado providências para tanto.
no fundamental. A. Incorreto, o artigo 208, IV, CF prevê o dever do Es-
§ 3º A União complementará os recursos dos Fun- tado de fornecer creche: “educação infantil, em creche
dos a que se refere o § 1º, sempre que, em cada Es- e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade”.
tado e no Distrito Federal, seu valor por aluno não B. Incorreto, nos termos do artigo 205, CF a educação
alcançar o mínimo definido nacionalmente. é “direito de todos e dever do Estado e da família”.
§ 4º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu- C. Incorreto, a preferência é que o atendimento es-
nicípios ajustarão progressivamente, em um prazo pecializado ocorra dentro da rede regular de ensino,
de cinco anos, suas contribuições ao Fundo, de for-
conforme artigo 208, III, CF.
ma a garantir um valor por aluno correspondente a
D. Incorreto, a gratuidade do ensino público não veda
um padrão mínimo de qualidade de ensino, defini-
a percepção de valores pelos estabelecimentos ofi-
do nacionalmente.
ciais, inserindo-se aqui as contribuições de cunho vo-
§ 5º Uma proporção não inferior a sessenta por cen-
luntário e eventuais valores para cobertura de custos
to dos recursos de cada Fundo referido no § 1º será
para alunos em situação especial, entre outros.
destinada ao pagamento dos professores do ensino
fundamental em efetivo exercício no magistério.
§ 6º A União aplicará na erradicação do analfabe-
tismo e na manutenção e no desenvolvimento do BRASIL. ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE
ensino fundamental, inclusive na complementação ANOS: ORIENTAÇÕES PARA A INCLUSÃO
a que se refere o § 3º, nunca menos que o equiva- DA CRIANÇA DE SEIS ANOS DE IDADE.
lente a trinta por cento dos recursos a que se refere BRASÍLIA, 2007.
o caput do art. 212 da Constituição Federal.
§ 7º A lei disporá sobre a organização dos Fundos,
a distribuição proporcional de seus recursos, sua fis- Este governo, ao reafirmar a urgência da construção
calização e controle, bem como sobre a forma de de uma escola inclusiva, cidadã, solidária e de qualida-
cálculo do valor mínimo nacional por aluno.’ de social para todas as crianças, adolescentes e jovens
Art. 6º Esta emenda entra em vigor a primeiro de brasileiros, assume, cada vez mais, o compromisso com
janeiro do ano subseqUente ao de sua promulga- a implementação de políticas indutoras de transforma-
ção. ções significativas na estrutura da escola, na reorgani-
Brasília, 12 de setembro de 1996. zação dos tempos e dos espaços escolares, nas formas
de ensinar, aprender, avaliar, organizar e desenvolver o
currículo, e trabalhar com o conhecimento, respeitando
as singularidades do desenvolvimento humano.
EXERCÍCIO COMENTADO O Ministério da Educação vem envidando efetivos es-
forços na ampliação do ensino fundamental para nove
1. (DPE/GO - Defensor Público - UFG/2014) A leitura anos de duração, considerando a universalização do
do lema “Educação: direito de todos e dever do Estado!” acesso a essa etapa de ensino deoito anos de duração e,
à luz do Direito Constitucional favorece o entendimento ainda, a necessidade de o Brasil aumentar a duração da
de que: escolaridade obrigatória.
Essa relevância é constatada, também, ao se analisar a
a) o direito fundamental à educação exclui o direito à legislação educacional brasileira: a Lei no 4.024/1961 es-
creche, dado tratar-se de dever da família. tabeleceu quatro anos de escolaridade obrigatória; com
b) a educação é dever exclusivo do Estado, sendo, por- o Acordo de Punta Del Este e Santiago, de 1970, esten-
tanto, alheio à família e à sociedade. deu-se para seis anos o tempo do ensino obrigatório; a
c) o dever do Estado com a educação dos deficientes é Lei no 5.692/1971 determinou a extensão da obrigatorie-
de atendimento educacional especializado, obrigato- dade para oito anos; já a Lei no 9.394/1996 sinalizou para
LEGISLAÇÃO

riamente, fora da rede regular de ensino. um ensino obrigatório de nove anos de duração, a ini-
d) a gratuidade do ensino público veda a percepção de ciar-se aos seis anos de idade, o que, por sua vez, tornou-
quaisquer valores pelos estabelecimentos oficiais ain- -se meta da educação nacional pela Lei no 10.172/2001,
da que de cunho voluntário. que aprovou o Plano Nacional de Educação (PNE). Final-

7
mente, em 6 de fevereiro de 2006, a Lei no 11.274, institui na escola; As crianças de seis anos e as áreas do conhe-
o ensino fundamental de nove anos de duração com a cimento; Letramento e alfabetização: pensando a prática
inclusão das crianças de seis anos de idade. pedagógica; A organização do trabalho pedagógico: al-
Com a aprovação da Lei no 11.274/2006, ocorrerá a fabetização e letramento como eixos orientadores; Ava-
inclusão de um número maior de crianças no sistema liação e aprendizagem na escola: a prática pedagógica
educacional brasileiro, especialmente aquelas perten- como eixo da reflexão; e Modalidades organizativas do
centes aos setores populares, uma vez que as crianças trabalho pedagógico: uma possibilidade.
de seis anos de idade das classes média e alta já se en-
contram, majoritariamente, incorporadas ao sistema de
ensino – na pré-escola ou na primeira série do ensino Prezado candidato, para aproveitar bem o ma-
fundamental. terial, acesse o conteúdo disponível na íntegra em
A importância dessa decisão política relaciona-se, http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/
também, ao fato de recentes pesquisas mostrarem que ensifund9anobasefinal.pdf.
81,7% das crianças de seis anos estão na escola, sendo
que 38,9% frequentam a educação infantil, 13,6% perten-
cem às classes de alfabetização e 29,6% estão no ensino BRASIL. LEI FEDERAL Nº 8.069/1990
fundamental (IBGE, Censo Demográfico 2000). – ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
Outro fator importante para a inclusão das crianças ADOLESCENTE (ATUALIZADA): ARTIGOS 7º
de seis anos de idade na instituição escolar deve-se aos A 24, 53 A 69, 131 A 140.
resultados de estudos demonstrarem que, quando as
crianças ingressam na instituição escolar antes dos sete
anos de idade, apresentam, em sua maioria, resultados Título II
superiores em relação àquelas que ingressam somente Dos Direitos Fundamentais
aos sete anos. A exemplo desses estudos, podemos ci-
tar o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica Capítulo I
(Saeb) 2003. Tal sistema demonstra que crianças com his- Do Direito à Vida e à Saúde
tórico de experiência na pré-escola obtiveram melhores
médias de proficiência em leitura: vinte pontos a mais Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a prote-
nos resultados dos testes de leitura. ção à vida e à saúde, mediante a efetivação de polí-
Para que o ensino fundamental de nove anos seja ticas sociais públicas que permitam o nascimento e
assumido como direito público subjetivo e, portanto,
o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições
objeto de recenseamento e de chamada escolar pública
dignas de existência.
(LDB 9.394/1996, Art. 5º), é necessário, nesse momento
de sua implantação, considerar a organização federativa
Art. 8 o É assegurado a todas as mulheres o acesso
e o regime de colaboração entre os sistemas de ensino
aos programas e às políticas de saúde da mulher e
estaduais, municipais e do Distrito Federal. Deve-se ob-
de planejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição
servar, também, o que estabelece a Resolução CNE/CEB
adequada, atenção humanizada à gravidez, ao par-
no 3/2005, de 3 de agosto de 2005, que fixa, como con-
dição para a matrícula de crianças de seis anos de idade to e ao puerpério e atendimento pré-natal, perinatal
no ensino fundamental, que essas, obrigatoriamente, te- e pós-natal integral no âmbito do Sistema Único de
nham seis anos completos ou a completar no início do Saúde. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
ano letivo em curso. § 1 o O atendimento pré-natal será realizado por pro-
Ressalte-se que o ingresso dessas crianças no ensi- fissionais da atenção primária. (Redação dada pela Lei
no fundamental não pode constituir uma medida mera- nº 13.257, de 2016)
mente administrativa. É preciso atenção ao processo de § 2 o Os profissionais de saúde de referência da ges-
desenvolvimento e aprendizagem delas, o que implica tante garantirão sua vinculação, no último trimestre
conhecimento e respeito às suas características etárias, da gestação, ao estabelecimento em que será reali-
sociais, psicológicas e cognitivas. zado o parto, garantido o direito de opção da mulher.
Nesse sentido, o Ministério da Educação, por meio da (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
Secretaria de Educação Básica (SEB) e do Departamento § 3 o Os serviços de saúde onde o parto for realizado
de Políticas de Educação Infantil e Ensino Fundamental assegurarão às mulheres e aos seus filhos recém-nas-
(DPE), buscando fortalecer um processo de debate com cidos alta hospitalar responsável e contrarreferência
professores e gestores sobre a infância na educação bá- na atenção primária, bem como o acesso a outros ser-
sica, elaborou este documento, cujos focos são o desen- viços e a grupos de apoio à amamentação. (Redação
volvimento e a aprendizagem das crianças de seis anos dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
de idade ingressantes no ensino fundamental de nove § 4 o Incumbe ao poder público proporcionar assis-
anos, sem perder de vista a abrangência da infância de tência psicológica à gestante e à mãe, no período pré
seis a dez anos de idade nessa etapa de ensino. e pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou mi-
Finalmente, informamos que este documento com- norar as consequências do estado puerperal. (Incluído
LEGISLAÇÃO

põe-se de nove textos: A infância e sua singularidade; pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
A infância na escola e na vida: uma relação fundamen- § 5 o A assistência referida no § 4 o deste artigo deverá
tal; O brincar como um modo de ser e estar no mundo; ser prestada também a gestantes e mães que mani-
As diversas expressões e o desenvolvimento da criança festem interesse em entregar seus filhos para adoção,

8
bem como a gestantes e mães que se encontrem em Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de
situação de privação de liberdade. (Redação dada pela atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares,
Lei nº 13.257, de 2016) são obrigados a:
§ 6 o A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um) I - manter registro das atividades desenvolvidas, atra-
acompanhante de sua preferência durante o período vés de prontuários individuais, pelo prazo de dezoito
do pré-natal, do trabalho de parto e do pós-parto ime- anos;
diato. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) II - identificar o recém-nascido mediante o registro de
§ 7 o A gestante deverá receber orientação sobre alei- sua impressão plantar e digital e da impressão digital
tamento materno, alimentação complementar sau- da mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas
dável e crescimento e desenvolvimento infantil, bem pela autoridade administrativa competente;
como sobre formas de favorecer a criação de vínculos III - proceder a exames visando ao diagnóstico e tera-
afetivos e de estimular o desenvolvimento integral da pêutica de anormalidades no metabolismo do recém-
criança. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) -nascido, bem como prestar orientação aos pais;
§ 8 o A gestante tem direito a acompanhamento sau- IV - fornecer declaração de nascimento onde constem
dável durante toda a gestação e a parto natural cui- necessariamente as intercorrências do parto e do de-
dadoso, estabelecendo-se a aplicação de cesariana e senvolvimento do neonato;
outras intervenções cirúrgicas por motivos médicos. V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao ne-
(Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) onato a permanência junto à mãe.
§ 9 o A atenção primária à saúde fará a busca ativa VI - acompanhar a prática do processo de amamenta-
da gestante que não iniciar ou que abandonar as con- ção, prestando orientações quanto à técnica adequa-
sultas de pré-natal, bem como da puérpera que não da, enquanto a mãe permanecer na unidade hospi-
comparecer às consultas pós-parto. (Incluído pela Lei talar, utilizando o corpo técnico já existente. (Incluído
nº 13.257, de 2016) pela Lei nº 13.436, de 2017) (Vigência)
§ 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestan-
te e à mulher com filho na primeira infância que se Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de cui-
encontrem sob custódia em unidade de privação de dado voltadas à saúde da criança e do adolescente,
por intermédio do Sistema Único de Saúde, observado
liberdade, ambiência que atenda às normas sanitá-
o princípio da equidade no acesso a ações e serviços
rias e assistenciais do Sistema Único de Saúde para o
para promoção, proteção e recuperação da saúde.
acolhimento do filho, em articulação com o sistema de
(Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
ensino competente, visando ao desenvolvimento inte-
§ 1 o A criança e o adolescente com deficiência serão
gral da criança. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
atendidos, sem discriminação ou segregação, em suas
necessidades gerais de saúde e específicas de habilitação
Art. 8º-A. Fica instituída a Semana Nacional de Pre-
e reabilitação. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
venção da Gravidez na Adolescência, a ser realizada § 2 o Incumbe ao poder público fornecer gratuitamen-
anualmente na semana que incluir o dia 1º de feve- te, àqueles que necessitarem, medicamentos, órteses,
reiro, com o objetivo de disseminar informações so- próteses e outras tecnologias assistivas relativas ao
bre medidas preventivas e educativas que contribuam tratamento, habilitação ou reabilitação para crianças
para a redução da incidência da gravidez na adoles- e adolescentes, de acordo com as linhas de cuidado
cência. (Incluído pela Lei nº 13.798, de 2019) voltadas às suas necessidades específicas. (Redação
dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
Parágrafo único. As ações destinadas a efetivar o dis- § 3 o Os profissionais que atuam no cuidado diário ou
posto no caput deste artigo ficarão a cargo do poder frequente de crianças na primeira infância receberão
público, em conjunto com organizações da socieda- formação específica e permanente para a detecção de
de civil, e serão dirigidas prioritariamente ao público sinais de risco para o desenvolvimento psíquico, bem
adolescente. (Incluído pela Lei nº 13.798, de 2019) como para o acompanhamento que se fizer necessá-
rio. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
Art. 9º O poder público, as instituições e os emprega-
dores propiciarão condições adequadas ao aleitamen- Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde,
to materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a inclusive as unidades neonatais, de terapia intensiva
medida privativa de liberdade. e de cuidados intermediários, deverão proporcionar
§ 1 Os profissionais das unidades primárias de saúde condições para a permanência em tempo integral de
desenvolverão ações sistemáticas, individuais ou co- um dos pais ou responsável, nos casos de internação
letivas, visando ao planejamento, à implementação e de criança ou adolescente. (Redação dada pela Lei nº
à avaliação de ações de promoção, proteção e apoio 13.257, de 2016)
ao aleitamento materno e à alimentação complemen-
tar saudável, de forma contínua. (Incluído pela Lei nº Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de cas-
13.257, de 2016) tigo físico, de tratamento cruel ou degradante e de
§ 2 Os serviços de unidades de terapia intensiva ne- maus-tratos contra criança ou adolescente serão obri-
LEGISLAÇÃO

onatal deverão dispor de banco de leite humano ou gatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da
unidade de coleta de leite humano. (Incluído pela Lei respectiva localidade, sem prejuízo de outras provi-
nº 13.257, de 2016) dências legais. (Redação dada pela Lei nº 13.010, de
2014)

9
§ 1 As gestantes ou mães que manifestem interesse IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;
em entregar seus filhos para adoção serão obrigato- V - participar da vida familiar e comunitária, sem dis-
riamente encaminhadas, sem constrangimento, à Jus- criminação;
tiça da Infância e da Juventude. (Incluído pela Lei nº VI - participar da vida política, na forma da lei;
13.257, de 2016) VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.
§ 2 o Os serviços de saúde em suas diferentes portas
de entrada, os serviços de assistência social em seu Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilida-
componente especializado, o Centro de Referência Es- de da integridade física, psíquica e moral da criança
pecializado de Assistência Social (Creas) e os demais e do adolescente, abrangendo a preservação da ima-
órgãos do Sistema de Garantia de Direitos da Criança gem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias
e do Adolescente deverão conferir máxima prioridade e crenças, dos espaços e objetos pessoais.
ao atendimento das crianças na faixa etária da pri-
meira infância com suspeita ou confirmação de vio- Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da crian-
lência de qualquer natureza, formulando projeto te- ça e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tra-
rapêutico singular que inclua intervenção em rede e, tamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório
se necessário, acompanhamento domiciliar. (Incluído ou constrangedor.
pela Lei nº 13.257, de 2016)
Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de
Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá pro- ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico
gramas de assistência médica e odontológica para a ou de tratamento cruel ou degradante, como formas
prevenção das enfermidades que ordinariamente afe- de correção, disciplina, educação ou qualquer outro
tam a população infantil, e campanhas de educação pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família am-
sanitária para pais, educadores e alunos. pliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos exe-
§ 1 o É obrigatória a vacinação das crianças nos casos cutores de medidas socioeducativas ou por qualquer
recomendados pelas autoridades sanitárias. (Renume- pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-
rado do parágrafo único pela Lei nº 13.257, de 2016) -los ou protegê-los. (Incluído pela Lei nº 13.010, de
§ 2 o O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção 2014)
à saúde bucal das crianças e das gestantes, de forma
transversal, integral e intersetorial com as demais li- Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se:
nhas de cuidado direcionadas à mulher e à criança. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
(Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou puni-
§ 3 o A atenção odontológica à criança terá função tiva aplicada com o uso da força física sobre a criança
educativa protetiva e será prestada, inicialmente, ou o adolescente que resulte em: (Incluído pela Lei nº
antes de o bebê nascer, por meio de aconselhamen- 13.010, de 2014)
to pré-natal, e, posteriormente, no sexto e no décimo a) sofrimento físico; ou (Incluído pela Lei nº 13.010,
segundo anos de vida, com orientações sobre saúde de 2014)
bucal. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) b) lesão; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
§ 4 o A criança com necessidade de cuidados odonto- II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou for-
lógicos especiais será atendida pelo Sistema Único de ma cruel de tratamento em relação à criança ou ao
Saúde. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) adolescente que: (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
§ 5 º É obrigatória a aplicação a todas as crianças, a) humilhe; ou (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
nos seus primeiros dezoito meses de vida, de protocolo b) ameace gravemente; ou (Incluído pela Lei nº 13.010,
ou outro instrumento construído com a finalidade de de 2014)
facilitar a detecção, em consulta pediátrica de acom- c) ridicularize. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
panhamento da criança, de risco para o seu desen-
volvimento psíquico. (Incluído pela Lei nº 13.438, de Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família amplia-
2017) (Vigência) da, os responsáveis, os agentes públicos executores de
medidas socioeducativas ou qualquer pessoa encarre-
Capítulo II gada de cuidar de crianças e de adolescentes, tratá-
Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade -los, educá-los ou protegê-los que utilizarem castigo
físico ou tratamento cruel ou degradante como formas
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liber- de correção, disciplina, educação ou qualquer outro
dade, ao respeito e à dignidade como pessoas huma- pretexto estarão sujeitos, sem prejuízo de outras san-
nas em processo de desenvolvimento e como sujeitos ções cabíveis, às seguintes medidas, que serão aplica-
de direitos civis, humanos e sociais garantidos na das de acordo com a gravidade do caso: (Incluído pela
Constituição e nas leis. Lei nº 13.010, de 2014)
I - encaminhamento a programa oficial ou comunitá-
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes rio de proteção à família; (Incluído pela Lei nº 13.010,
aspectos: de 2014)
LEGISLAÇÃO

I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços II - encaminhamento a tratamento psicológico ou psi-
comunitários, ressalvadas as restrições legais; quiátrico; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
II - opinião e expressão; III - encaminhamento a cursos ou programas de orien-
III - crença e culto religioso; tação; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)

10
IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento § 1 A gestante ou mãe será ouvida pela equipe in-
especializado; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) terprofissional da Justiça da Infância e da Juventu-
V - advertência. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) de, que apresentará relatório à autoridade judiciária,
considerando inclusive os eventuais efeitos do estado
Parágrafo único. As medidas previstas neste artigo gestacional e puerperal. (Incluído pela Lei nº 13.509,
serão aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo de 2017)
de outras providências legais. (Incluído pela Lei nº § 2 De posse do relatório, a autoridade judiciária po-
13.010, de 2014) derá determinar o encaminhamento da gestante ou
mãe, mediante sua expressa concordância, à rede pú-
Capítulo III blica de saúde e assistência social para atendimento
Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária especializado. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 3 A busca à família extensa, conforme definida nos
Seção I termos do parágrafo único do art. 25 desta Lei, res-
Disposições Gerais peitará o prazo máximo de 90 (noventa) dias, prorro-
gável por igual período. (Incluído pela Lei nº 13.509,
Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser cria- de 2017)
do e educado no seio de sua família e, excepcional- § 4 Na hipótese de não haver a indicação do genitor
mente, em família substituta, assegurada a convivên- e de não existir outro representante da família exten-
cia familiar e comunitária, em ambiente que garanta sa apto a receber a guarda, a autoridade judiciária
seu desenvolvimento integral. (Redação dada pela Lei competente deverá decretar a extinção do poder fami-
nº 13.257, de 2016) liar e determinar a colocação da criança sob a guarda
§ 1 o Toda criança ou adolescente que estiver inserido provisória de quem estiver habilitado a adotá-la ou
em programa de acolhimento familiar ou institucio- de entidade que desenvolva programa de acolhimento
nal terá sua situação reavaliada, no máximo, a cada familiar ou institucional. (Incluído pela Lei nº 13.509,
3 (três) meses, devendo a autoridade judiciária com- de 2017)
petente, com base em relatório elaborado por equipe § 5 Após o nascimento da criança, a vontade da mãe
interprofissional ou multidisciplinar, decidir de forma ou de ambos os genitores, se houver pai registral ou
fundamentada pela possibilidade de reintegração fa- pai indicado, deve ser manifestada na audiência a que
miliar ou pela colocação em família substituta, em se refere o § 1 o do art. 166 desta Lei, garantido o sigilo
quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta sobre a entrega. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) § 6º Na hipótese de não comparecerem à audiência
§ 2 o A permanência da criança e do adolescente em nem o genitor nem representante da família extensa
programa de acolhimento institucional não se prolon- para confirmar a intenção de exercer o poder familiar
gará por mais de 18 (dezoito meses), salvo comprova- ou a guarda, a autoridade judiciária suspenderá o po-
da necessidade que atenda ao seu superior interesse, der familiar da mãe, e a criança será colocada sob a
devidamente fundamentada pela autoridade judiciá- guarda provisória de quem esteja habilitado a adotá-
ria. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) -la. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 3 A manutenção ou a reintegração de criança ou § 7 o Os detentores da guarda possuem o prazo de 15
adolescente à sua família terá preferência em relação (quinze) dias para propor a ação de adoção, contado
a qualquer outra providência, caso em que será esta do dia seguinte à data do término do estágio de convi-
incluída em serviços e programas de proteção, apoio vência. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
e promoção, nos termos do § 1 o do art. 23, dos inci- § 8 Na hipótese de desistência pelos genitores - ma-
sos I e IV do caput do art. 101 e dos incisos I a IV do nifestada em audiência ou perante a equipe interpro-
caput do art. 129 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº fissional - da entrega da criança após o nascimento,
13.257, de 2016) a criança será mantida com os genitores, e será de-
§ 4 Será garantida a convivência da criança e do ado- terminado pela Justiça da Infância e da Juventude o
lescente com a mãe ou o pai privado de liberdade, por acompanhamento familiar pelo prazo de 180 (cento
meio de visitas periódicas promovidas pelo respon- e oitenta) dias. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
sável ou, nas hipóteses de acolhimento institucional, § 9 É garantido à mãe o direito ao sigilo sobre o nas-
pela entidade responsável, independentemente de cimento, respeitado o disposto no art. 48 desta Lei. (In-
autorização judicial. (Incluído pela Lei nº 12.962, de cluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
2014) § 10. Serão cadastrados para adoção recém-nascidos
§ 5 Será garantida a convivência integral da criança e crianças acolhidas não procuradas por suas famílias
com a mãe adolescente que estiver em acolhimento no prazo de 30 (trinta) dias, contado a partir do dia
institucional. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) do acolhimento. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 6 A mãe adolescente será assistida por equipe espe-
cializada multidisciplinar. (Incluído pela Lei nº 13.509, Art. 19-B. A criança e o adolescente em programa de
de 2017) acolhimento institucional ou familiar poderão partici-
par de programa de apadrinhamento. (Incluído pela
LEGISLAÇÃO

Art. 19-A. A gestante ou mãe que manifeste interesse Lei nº 13.509, de 2017)
em entregar seu filho para adoção, antes ou logo após § 1 O apadrinhamento consiste em estabelecer e pro-
o nascimento, será encaminhada à Justiça da Infância porcionar à criança e ao adolescente vínculos externos
e da Juventude. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) à instituição para fins de convivência familiar e comu-

11
nitária e colaboração com o seu desenvolvimento nos obrigatoriamente ser incluída em serviços e progra-
aspectos social, moral, físico, cognitivo, educacional e mas oficiais de proteção, apoio e promoção. (Redação
financeiro. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 2º Podem ser padrinhos ou madrinhas pessoas § 2º A condenação criminal do pai ou da mãe não im-
maiores de 18 (dezoito) anos não inscritas nos ca- plicará a destituição do poder familiar, exceto na hipó-
dastros de adoção, desde que cumpram os requisitos tese de condenação por crime doloso sujeito à pena de
exigidos pelo programa de apadrinhamento de que reclusão contra outrem igualmente titular do mesmo
fazem parte. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) poder familiar ou contra filho, filha ou outro descen-
§ 3 Pessoas jurídicas podem apadrinhar criança ou dente. (Redação dada pela Lei nº 13.715, de 2018)
adolescente a fim de colaborar para o seu desenvolvi-
mento. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) Art. 24. A perda e a suspensão do pátrio poder poder
§ 4 O perfil da criança ou do adolescente a ser apa- familiar serão decretadas judicialmente, em procedi-
drinhado será definido no âmbito de cada programa mento contraditório, nos casos previstos na legislação
de apadrinhamento, com prioridade para crianças ou civil, bem como na hipótese de descumprimento in-
adolescentes com remota possibilidade de reinserção justificado dos deveres e obrigações a que alude o art.
familiar ou colocação em família adotiva. (Incluído 22. (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009)
pela Lei nº 13.509, de 2017) Vigência
§ 5 Os programas ou serviços de apadrinhamen-
to apoiados pela Justiça da Infância e da Juventude Capítulo IV
poderão ser executados por órgãos públicos ou por Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao
organizações da sociedade civil. (Incluído pela Lei nº Lazer
13.509, de 2017)
§ 6 Se ocorrer violação das regras de apadrinhamen- Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educa-
to, os responsáveis pelo programa e pelos serviços de ção, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa,
acolhimento deverão imediatamente notificar a au- preparo para o exercício da cidadania e qualificação
toridade judiciária competente. (Incluído pela Lei nº para o trabalho, assegurando-se-lhes:
13.509, de 2017) I - igualdade de condições para o acesso e permanên-
cia na escola;
Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do ca- II - direito de ser respeitado por seus educadores;
samento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo
qualificações, proibidas quaisquer designações discri- recorrer às instâncias escolares superiores;
minatórias relativas à filiação. IV - direito de organização e participação em entida-
des estudantis;
V - acesso à escola pública e gratuita, próxima de sua
Art. 21. O pátrio poder poder familiar será exercido,
residência, garantindo-se vagas no mesmo estabele-
em igualdade de condições, pelo pai e pela mãe, na
cimento a irmãos que frequentem a mesma etapa ou
forma do que dispuser a legislação civil, assegurado a
ciclo de ensino da educação básica. (Redação dada
qualquer deles o direito de, em caso de discordância,
pela Lei nº 13.845, de 2019)
recorrer à autoridade judiciária competente para a so-
lução da divergência. (Expressão substituída pela Lei
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter
nº 12.010, de 2009) Vigência
ciência do processo pedagógico, bem como participar
da definição das propostas educacionais.
Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda
e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, Art. 53-A. É dever da instituição de ensino, clubes e
no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer agremiações recreativas e de estabelecimentos con-
cumprir as determinações judiciais. gêneres assegurar medidas de conscientização, pre-
venção e enfrentamento ao uso ou dependência de
Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, drogas ilícitas. (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019)
têm direitos iguais e deveres e responsabilidades com-
partilhados no cuidado e na educação da criança, de- Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao
vendo ser resguardado o direito de transmissão fami- adolescente:
liar de suas crenças e culturas, assegurados os direitos I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclu-
da criança estabelecidos nesta Lei. (Incluído pela Lei nº sive para os que a ele não tiveram acesso na idade
13.257, de 2016) própria;
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratui-
Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não dade ao ensino médio;
constitui motivo suficiente para a perda ou a suspen- III - atendimento educacional especializado aos por-
são do pátrio poder poder familiar . (Expressão substi- tadores de deficiência, preferencialmente na rede re-
LEGISLAÇÃO

tuída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência gular de ensino;


§ 1 Não existindo outro motivo que por si só autorize IV – atendimento em creche e pré-escola às crianças
a decretação da medida, a criança ou o adolescente de zero a cinco anos de idade; (Redação dada pela Lei
será mantido em sua família de origem, a qual deverá nº 13.306, de 2016)

12
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pes- Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos
quisa e da criação artística, segundo a capacidade de seguintes princípios:
cada um; I - garantia de acesso e freqüência obrigatória ao en-
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às sino regular;
condições do adolescente trabalhador; II - atividade compatível com o desenvolvimento do
VII - atendimento no ensino fundamental, através de adolescente;
programas suplementares de material didático-esco- III - horário especial para o exercício das atividades.
lar, transporte, alimentação e assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é
público subjetivo. assegurada bolsa de aprendizagem.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo
poder público ou sua oferta irregular importa respon- Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze
sabilidade da autoridade competente. anos, são assegurados os direitos trabalhistas e pre-
§ 3º Compete ao poder público recensear os educan- videnciários.
dos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e
zelar, junto aos pais ou responsável, pela freqüência Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é asse-
à escola. gurado trabalho protegido.

Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em re-
matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de gime familiar de trabalho, aluno de escola técnica,
ensino. assistido em entidade governamental ou não-gover-
namental, é vedado trabalho:
Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de
fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os ca- um dia e as cinco horas do dia seguinte;
sos de: II - perigoso, insalubre ou penoso;
I - maus-tratos envolvendo seus alunos; III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e
II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão esco- ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social;
lar, esgotados os recursos escolares; IV - realizado em horários e locais que não permitam
III - elevados níveis de repetência. a freqüência à escola.

Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, experi- Art. 68. O programa social que tenha por base o tra-
ências e novas propostas relativas a calendário, seria- balho educativo, sob responsabilidade de entidade
ção, currículo, metodologia, didática e avaliação, com governamental ou não-governamental sem fins lu-
vistas à inserção de crianças e adolescentes excluídos crativos, deverá assegurar ao adolescente que dele
do ensino fundamental obrigatório. participe condições de capacitação para o exercício de
atividade regular remunerada.
Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os § 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade la-
valores culturais, artísticos e históricos próprios do boral em que as exigências pedagógicas relativas ao
contexto social da criança e do adolescente, garan- desenvolvimento pessoal e social do educando preva-
tindo-se a estes a liberdade da criação e o acesso às lecem sobre o aspecto produtivo.
fontes de cultura. § 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo tra-
balho efetuado ou a participação na venda dos produ-
Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da tos de seu trabalho não desfigura o caráter educativo.
União, estimularão e facilitarão a destinação de recur-
sos e espaços para programações culturais, esportivas Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização
e de lazer voltadas para a infância e a juventude. e à proteção no trabalho, observados os seguintes as-
pectos, entre outros:
Capítulo V I - respeito à condição peculiar de pessoa em desen-
Do Direito à Profissionalização e à Proteção no Tra- volvimento;
balho II - capacitação profissional adequada ao mercado de
trabalho.
Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de
quatorze anos de idade, salvo na condição de apren- Título V
diz. (Vide Constituição Federal) Do Conselho Tutelar

Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é re- Capítulo I


gulada por legislação especial, sem prejuízo do dis- Disposições Gerais
posto nesta Lei.
LEGISLAÇÃO

Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e


Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação téc- autônomo, não jurisdicional, encarregado pela socie-
nico-profissional ministrada segundo as diretrizes e dade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crian-
bases da legislação de educação em vigor. ça e do adolescente, definidos nesta Lei.

13
Art. 132. Em cada Município e em cada Região Ad- V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de
ministrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, sua competência;
1 (um) Conselho Tutelar como órgão integrante da VI - providenciar a medida estabelecida pela autorida-
administração pública local, composto de 5 (cinco) de judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI,
membros, escolhidos pela população local para man- para o adolescente autor de ato infracional;
dato de 4 (quatro) anos, permitida recondução por VII - expedir notificações;
novos processos de escolha. (Redação dada pela Lei nº VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de
13.824, de 2019) criança ou adolescente quando necessário;
IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração
Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho da proposta orçamentária para planos e programas
Tutelar, serão exigidos os seguintes requisitos: de atendimento dos direitos da criança e do adoles-
I - reconhecida idoneidade moral; cente;
II - idade superior a vinte e um anos; X - representar, em nome da pessoa e da família, con-
III - residir no município. tra a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º,
inciso II, da Constituição Federal ;
Art. 134. Lei municipal ou distrital disporá sobre o XI - representar ao Ministério Público para efeito das
local, dia e horário de funcionamento do Conselho Tu- ações de perda ou suspensão do poder familiar, após
telar, inclusive quanto à remuneração dos respectivos esgotadas as possibilidades de manutenção da crian-
membros, aos quais é assegurado o direito a: (Reda- ça ou do adolescente junto à família natural. (Redação
ção dada pela Lei nº 12.696, de 2012) dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
I - cobertura previdenciária; (Incluído pela Lei nº XII - promover e incentivar, na comunidade e nos gru-
12.696, de 2012) pos profissionais, ações de divulgação e treinamento
II - gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de para o reconhecimento de sintomas de maus-tratos
1/3 (um terço) do valor da remuneração mensal; (In- em crianças e adolescentes. (Incluído pela Lei nº
13.046, de 2014)
cluído pela Lei nº 12.696, de 2012)
III - licença-maternidade; (Incluído pela Lei nº 12.696,
Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições,
de 2012)
o Conselho Tutelar entender necessário o afastamento
IV - licença-paternidade; (Incluído pela Lei nº 12.696,
do convívio familiar, comunicará incontinenti o fato
de 2012)
ao Ministério Público, prestando-lhe informações so-
V - gratificação natalina. (Incluído pela Lei nº 12.696,
bre os motivos de tal entendimento e as providências
de 2012)
tomadas para a orientação, o apoio e a promoção so-
cial da família. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Parágrafo único. Constará da lei orçamentária mu- Vigência
nicipal e da do Distrito Federal previsão dos recursos
necessários ao funcionamento do Conselho Tutelar e à Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente po-
remuneração e formação continuada dos conselheiros derão ser revistas pela autoridade judiciária a pedido
tutelares. (Redação dada pela Lei nº 12.696, de 2012) de quem tenha legítimo interesse.
Art. 135. O exercício efetivo da função de conselhei- Capítulo III
ro constituirá serviço público relevante e estabelecerá Da Competência
presunção de idoneidade moral. (Redação dada pela
Lei nº 12.696, de 2012) Art. 138. Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de
competência constante do art. 147.
Capítulo II
Das Atribuições do Conselho Capítulo IV
Da Escolha dos Conselheiros
Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar:
I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses Art. 139. O processo para a escolha dos membros do
previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas pre- Conselho Tutelar será estabelecido em lei municipal
vistas no art. 101, I a VII; e realizado sob a responsabilidade do Conselho Mu-
II - atender e aconselhar os pais ou responsável, apli- nicipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, e a
cando as medidas previstas no art. 129, I a VII; fiscalização do Ministério Público. (Redação dada pela
III - promover a execução de suas decisões, podendo Lei nº 8.242, de 12.10.1991)
para tanto: § 1 O processo de escolha dos membros do Conselho
a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, edu- Tutelar ocorrerá em data unificada em todo o territó-
cação, serviço social, previdência, trabalho e seguran- rio nacional a cada 4 (quatro) anos, no primeiro do-
ça; mingo do mês de outubro do ano subsequente ao da
b) representar junto à autoridade judiciária nos casos eleição presidencial. (Incluído pela Lei nº 12.696, de
LEGISLAÇÃO

de descumprimento injustificado de suas deliberações. 2012)


IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato § 2 A posse dos conselheiros tutelares ocorrerá no dia
que constitua infração administrativa ou penal contra 10 de janeiro do ano subsequente ao processo de esco-
os direitos da criança ou adolescente; lha. (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)

14
§ 3 No processo de escolha dos membros do Conselho e ações coletivas cotidianas”1. A LDB disciplina apenas a
Tutelar, é vedado ao candidato doar, oferecer, prome- educação escolar, ou seja, a educação formal, que não
ter ou entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal exclui o papel das famílias e das comunidades na educa-
de qualquer natureza, inclusive brindes de pequeno ção informal.
valor. (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)
#FicaDica
Capítulo V
Dos Impedimentos Educação formal – escolar
Educação informal – comunitária, familiar,
Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Conselho religiosa.
marido e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e
genro ou nora, irmãos, cunhados, durante o cunhadio,
tio e sobrinho, padrasto ou madrasta e enteado.
TÍTULO II
Parágrafo único. Estende-se o impedimento do conse- Dos Princípios e Fins da Educação Nacional
lheiro, na forma deste artigo, em relação à autorida-
de judiciária e ao representante do Ministério Público Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, ins-
com atuação na Justiça da Infância e da Juventude, pirada nos princípios de liberdade e nos ideais de soli-
em exercício na comarca, foro regional ou distrital. dariedade humana, tem por finalidade o pleno desen-
volvimento do educando, seu preparo para o exercício
da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
BRASIL. LEI FEDERAL Nº 9394/1996 – Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguin-
ESTABELECE AS DIRETRIZES E BASES DA tes princípios:
EDUCAÇÃO NACIONAL (ATUALIZADA). I - igualdade de condições para o acesso e permanên-
cia na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar
LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NA- a cultura, o pensamento, a arte e o saber;
CIONAL Nº 9394/96 (ATUALIZADA ATÉ A LEI Nº III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;
13.796/2019). IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;
V - coexistência de instituições públicas e privadas de
A lei estudada neste tópico “estabelece as diretrizes ensino;
e bases da educação nacional”. Data de 20 de dezem- VI - gratuidade do ensino público em estabelecimen-
bro de 1996, tendo sido promulgada pelo ex-presidente tos oficiais;
Fernando Henrique Cardoso, mas já passou por inúmeras VII - valorização do profissional da educação escolar;
alterações desde então. Partamos para o comentário em VIII - gestão democrática do ensino público, na forma
bloco de seus dispositivos: desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino;
IX - garantia de padrão de qualidade;
TÍTULO I X - valorização da experiência extraescolar;
Da Educação XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e
as práticas sociais;
Art. 1º A educação abrange os processos formativos XII - consideração com a diversidade étnico-racial;
que se desenvolvem na vida familiar, na convivência XIII - garantia do direito à educação e à aprendizagem
humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pes- ao longo da vida.
quisa, nos movimentos sociais e organizações da so-
ciedade civil e nas manifestações culturais. A educação escolar deve permitir a formação do cida-
§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se de- dão e do trabalhador: uma pessoa que consiga se inserir
senvolve, predominantemente, por meio do ensino, no mercado de trabalho e ter noções adequadas de ci-
em instituições próprias. dadania e solidariedade no convívio social. Entre os prin-
§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo cípios, trabalha-se com o direito de acesso à educação
do trabalho e à prática social. de qualidade (gratuita nos estabelecimentos públicos), a
O primeiro artigo da LDB estabelece que a educação liberdade nas atividades de ensino em geral (tanto para o
é um processo que não se dá exclusivamente nas esco- educador quanto para o educado), a valorização do pro-
las. Trata-se da clássica distinção entre educação formal fessor, o incentivo à educação informal e o respeito às
e não formal ou informal: “A educação formal é aquela diversidades de ideias, gêneros, raça e cor.
desenvolvida nas escolas, com conteúdos previamente
demarcados; a informal como aquela que os indivíduos
aprendem durante seu processo de socialização - na fa-
mília, bairro, clube, amigos, etc., carregada de valores e
LEGISLAÇÃO

cultura própria, de pertencimento e sentimentos herda-


dos; e a educação não formal é aquela que se apren-
de ‘no mundo da vida’, via os processos de comparti- 1 GOHN, Maria da Glória. Educação não-formal, participação da so-
lhamento de experiências, principalmente em espaços ciedade civil e estruturas colegiadas nas escolas. Ensaio: aval. pol.
públ. Educ., Rio de Janeiro, v. 14, n. 50, p. 27-38, jan./mar. 2006.

15
§ 1º O poder público, na esfera de sua competência
#FicaDica federativa, deverá:
I - recensear anualmente as crianças e adolescentes
A educação é dever da família e do Estado. em idade escolar, bem como os jovens e adultos que
não concluíram a educação básica;
II - fazer-lhes a chamada pública;
III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequên-
TÍTULO III cia à escola.
Do Direito à Educação e do Dever de Educar § 2º Em todas as esferas administrativas, o Poder Pú-
blico assegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino
Art. 4º O dever do Estado com educação escolar públi- obrigatório, nos termos deste artigo, contemplando
ca será efetivado mediante a garantia de:
em seguida os demais níveis e modalidades de ensino,
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (qua-
conforme as prioridades constitucionais e legais.
tro) aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da
§ 3º Qualquer das partes mencionadas no caput deste
seguinte forma:
artigo tem legitimidade para peticionar no Poder Judi-
a) pré-escola;
b) ensino fundamental; ciário, na hipótese do § 2º do art. 208 da Constituição
c) ensino médio; Federal, sendo gratuita e de rito sumário a ação judi-
II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cin- cial correspondente.
co) anos de idade; § 4º Comprovada a negligência da autoridade com-
III - atendimento educacional especializado gratuito petente para garantir o oferecimento do ensino obri-
aos educandos com deficiência, transtornos globais do gatório, poderá ela ser imputada por crime de respon-
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, sabilidade.
transversal a todos os níveis, etapas e modalidades, § 5º Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade
preferencialmente na rede regular de ensino; de ensino, o Poder Público criará formas alternativas
IV - acesso público e gratuito aos ensinos fundamental de acesso aos diferentes níveis de ensino, independen-
e médio para todos os que não os concluíram na idade temente da escolarização anterior.
própria; Art. 6º É dever dos pais ou responsáveis efetuar a ma-
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pes- trícula das crianças na educação básica a partir dos 4
quisa e da criação artística, segundo a capacidade de (quatro) anos de idade.
cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às Art. 7º O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas
condições do educando; as seguintes condições:
VII - oferta de educação escolar regular para jovens e I - cumprimento das normas gerais da educação na-
adultos, com características e modalidades adequadas cional e do respectivo sistema de ensino;
às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se II - autorização de funcionamento e avaliação de qua-
aos que forem trabalhadores as condições de acesso e lidade pelo Poder Público;
permanência na escola; III - capacidade de autofinanciamento, ressalvado o
VIII - atendimento ao educando, em todas as etapas previsto no art. 213 da Constituição Federal.
da educação básica, por meio de programas suple-
mentares de material didático-escolar, transporte, ali-
Art. 7º-A Ao aluno regularmente matriculado em
mentação e assistência à saúde;
instituição de ensino pública ou privada, de qualquer
IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, defi-
nível, é assegurado, no exercício da liberdade de cons-
nidos como a variedade e quantidade mínimas, por
aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento ciência e de crença, o direito de, mediante prévio e
do processo de ensino-aprendizagem. motivado requerimento, ausentar-se de prova ou de
X - vaga na escola pública de educação infantil ou de aula marcada para dia em que, segundo os preceitos
ensino fundamental mais próxima de sua residência a de sua religião, seja vedado o exercício de tais ativida-
toda criança a partir do dia em que completar 4 (qua- des, devendo-se-lhe atribuir, a critério da instituição e
tro) anos de idade. sem custos para o aluno, uma das seguintes presta-
Art. 4º-A. É assegurado atendimento educacional, du- ções alternativas, nos termos do inciso VIII do caput do
rante o período de internação, ao aluno da educação art. 5º da Constituição Federal:
básica internado para tratamento de saúde em regime I - prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser
hospitalar ou domiciliar por tempo prolongado, con- realizada em data alternativa, no turno de estudo do
forme dispuser o Poder Público em regulamento, na aluno ou em outro horário agendado com sua anuên-
esfera de sua competência federativa. cia expressa;
II - trabalho escrito ou outra modalidade de atividade
Art. 5º O acesso à educação básica obrigatória é direi- de pesquisa, com tema, objetivo e data de entrega de-
to público subjetivo, podendo qualquer cidadão, gru- finidos pela instituição de ensino.
LEGISLAÇÃO

po de cidadãos, associação comunitária, organização § 1º A prestação alternativa deverá observar os pa-


sindical, entidade de classe ou outra legalmente cons- râmetros curriculares e o plano de aula do dia da au-
tituída e, ainda, o Ministério Público, acionar o poder sência do aluno.
público para exigi-lo.

16
§ 2º O cumprimento das formas de prestação alter- TÍTULO IV
nativa de que trata este artigo substituirá a obrigação Da Organização da Educação Nacional
original para todos os efeitos, inclusive regularização
do registro de frequência. Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
§ 3º As instituições de ensino implementarão progres- nicípios organizarão, em regime de colaboração, os
sivamente, no prazo de 2 (dois) anos, as providências e respectivos sistemas de ensino.
adaptações necessárias à adequação de seu funciona- § 1º Caberá à União a coordenação da política na-
mento às medidas previstas neste artigo. cional de educação, articulando os diferentes níveis e
§ 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino sistemas e exercendo função normativa, redistributiva
militar a que se refere o art. 83 desta Lei. e supletiva em relação às demais instâncias educa-
cionais.
Conforme se percebe pelo artigo 4º, divide-se em § 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organi-
etapas a formação escolar, nos seguintes termos: zação nos termos desta Lei.
- A educação básica é obrigatória e gratuita. Envol-
ve a pré-escola, o ensino fundamental e o ensino Art. 9º A União incumbir-se-á de:
médio. A educação infantil deve ser garantida pró- I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em cola-
xima à residência. Com efeito, existe a garantia do boração com os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
direito à creche gratuita. No mais, pessoas fora da nicípios;
idade escolar que queiram completar seus estudos II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e ins-
têm direito ao ensino fundamental e médio. tituições oficiais do sistema federal de ensino e o dos
- A educação superior envolve os níveis mais eleva- Territórios;
dos do ensino, da pesquisa e da criação artística, III - prestar assistência técnica e financeira aos Esta-
devendo ser acessível conforme a capacidade de dos, ao Distrito Federal e aos Municípios para o desen-
cada um. volvimento de seus sistemas de ensino e o atendimen-
- Neste contexto, devem ser assegurados programas to prioritário à escolaridade obrigatória, exercendo
suplementares de material didático-escolar, trans- sua função redistributiva e supletiva;
porte, alimentação e assistência à saúde. IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios, competências e dire-
O artigo 5º reitera a gratuidade e obrigatoriedade do trizes para a educação infantil, o ensino fundamental
ensino básico e assegura a possibilidade de se buscar ju- e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus
dicialmente a garantia deste direito em caso de negati- conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação
va pelo poder público. Será possível fazê-lo por meio de básica comum;
mandado de segurança ou ação civil pública. Além da ju- IV-A - estabelecer, em colaboração com os Estados, o
dicialização para fazer valer o direito na esfera cível, cabe Distrito Federal e os Municípios, diretrizes e procedi-
em caso de negligência o acionamento na esfera penal,
mentos para identificação, cadastramento e atendi-
buscando-se a punição por crime de responsabilidade.
mento, na educação básica e na educação superior, de
Adiante, coloca-se o dever dos pais ou responsáveis
alunos com altas habilidades ou superdotação;
efetuar a matrícula da criança.
V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a
Por fim, o artigo 7º estabelece a possibilidade do en-
educação;
sino particular, desde que sejam respeitadas as normas
 VI - assegurar processo nacional de avaliação do
da educação nacional, autorizado o funcionamento pelo
rendimento escolar no ensino fundamental, médio e
poder público e que tenha possibilidade de se manter
superior, em colaboração com os sistemas de ensino,
independentemente de auxílio estatal, embora exista
previsão de tais auxílios em circunstâncias determinadas objetivando a definição de prioridades e a melhoria da
descritas no artigo 213, CF. qualidade do ensino;
Já o artigo 7o-A, passando a valer em 03 de março de VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação
2019, disciplina o direito do aluno de, por motivo religio- e pós-graduação;
so, faltar à aula ou à prova, devendo ser aplicada ativida-  VIII - assegurar processo nacional de avaliação das
de ou aula substitutiva para eventual reposição. instituições de educação superior, com a cooperação
dos sistemas que tiverem responsabilidade sobre este
nível de ensino;
#FicaDica IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e
avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de
A LDB amplia o conteúdo da própria CF, ao educação superior e os estabelecimentos do seu siste-
garantir não apenas o ensino fundamental, ma de ensino.
mas todo o ensino básico (pré-escola, fun- § 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho
damental e médio) como obrigatório e gra- Nacional de Educação, com funções normativas e de
tuito, também prevendo de forma expressa supervisão e atividade permanente, criado por lei.
LEGISLAÇÃO

a gratuidade do ensino infantil (creches). § 2° Para o cumprimento do disposto nos incisos V a


IX, a União terá acesso a todos os dados e informa-
ções necessários de todos os estabelecimentos e ór-
gãos educacionais.

17
§ 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão ser III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-
delegadas aos Estados e ao Distrito Federal, desde que -aula estabelecidas;
mantenham instituições de educação superior. IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de
cada docente;
Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de: V - prover meios para a recuperação dos alunos de
I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e insti- menor rendimento;
tuições oficiais dos seus sistemas de ensino; VI - articular-se com as famílias e a comunidade,
II - definir, com os Municípios, formas de colaboração criando processos de integração da sociedade com a
na oferta do ensino fundamental, as quais devem as- escola;
segurar a distribuição proporcional das responsabili- VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus
dades, de acordo com a população a ser atendida e os filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a
recursos financeiros disponíveis em cada uma dessas frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre
esferas do Poder Público; a execução da proposta pedagógica da escola;
III - elaborar e executar políticas e planos educacio- VIII - notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao
nais, em consonância com as diretrizes e planos na- juiz competente da Comarca e ao respectivo represen-
cionais de educação, integrando e coordenando as tante do Ministério Público a relação dos alunos que
suas ações e as dos seus Municípios; apresentem quantidade de faltas acima de cinquenta
IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e por cento do percentual permitido em lei;
avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de IX - promover medidas de conscientização, de preven-
educação superior e os estabelecimentos do seu siste- ção e de combate a todos os tipos de violência, es-
ma de ensino; pecialmente a intimidação sistemática (bullying), no
âmbito das escolas;
V - baixar normas complementares para o seu sistema X - estabelecer ações destinadas a promover a cultura
de ensino; de paz nas escolas.
VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com XI - promover ambiente escolar seguro, adotando estra-
prioridade, o ensino médio a todos que o demanda- tégias de prevenção e enfrentamento ao uso ou depen-
rem, respeitado o disposto no art. 38 desta Lei; 
dência de drogas.(Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019)
VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede
estadual.
Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de:
Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as
I - participar da elaboração da proposta pedagógica
competências referentes aos Estados e aos Municípios.
do estabelecimento de ensino;
II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a
Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de:
proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;
I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e insti-
tuições oficiais dos seus sistemas de ensino, integran- III - zelar pela aprendizagem dos alunos;
do-os às políticas e planos educacionais da União e IV - estabelecer estratégias de recuperação para os
dos Estados; alunos de menor rendimento;
II - exercer ação redistributiva em relação às suas es- V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabeleci-
colas; dos, além de participar integralmente dos períodos
III - baixar normas complementares para o seu siste- dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desen-
ma de ensino; volvimento profissional;
IV - autorizar, credenciar e supervisionar os estabele- VI - colaborar com as atividades de articulação da es-
cimentos do seu sistema de ensino; cola com as famílias e a comunidade.
V - oferecer a educação infantil em creches e pré-es-
colas, e, com prioridade, o ensino fundamental, per- Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da
mitida a atuação em outros níveis de ensino somente gestão democrática do ensino público na educação
quando estiverem atendidas plenamente as neces- básica, de acordo com as suas peculiaridades e con-
sidades de sua área de competência e com recursos forme os seguintes princípios:
acima dos percentuais mínimos vinculados pela Cons- I - participação dos profissionais da educação na ela-
tituição Federal à manutenção e desenvolvimento do boração do projeto pedagógico da escola;
ensino. II - participação das comunidades escolar e local em
VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede conselhos escolares ou equivalentes.
municipal. Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unida-
Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda, des escolares públicas de educação básica que os in-
por se integrar ao sistema estadual de ensino ou com- tegram progressivos graus de autonomia pedagógica
por com ele um sistema único de educação básica. e administrativa e de gestão financeira, observadas as
normas gerais de direito financeiro público.
Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as
normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão Art. 16. O sistema federal de ensino compreende: 
LEGISLAÇÃO

a incumbência de: I - as instituições de ensino mantidas pela União;


I - elaborar e executar sua proposta pedagógica; II - as instituições de educação superior criadas e
II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais mantidas pela iniciativa privada;
e financeiros; III - os órgãos federais de educação.

18
Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito
Federal compreendem: #FicaDica
I - as instituições de ensino mantidas, respectivamen-
te, pelo Poder Público estadual e pelo Distrito Federal; O regime de colaboração impõe que a
II - as instituições de educação superior mantidas pelo União, os Estados, o DF e os Municípios
Poder Público municipal; partilhem do dever de fornecer educação
III - as instituições de ensino fundamental e médio à população, cada um em sua esfera de
criadas e mantidas pela iniciativa privada; competência, mas de forma colaborativa,
IV - os órgãos de educação estaduais e do Distrito Fe- compartilhando vivência e redistribuindo
deral, respectivamente. recursos humanos e materiais.
Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de
educação infantil, criadas e mantidas pela iniciativa
privada, integram seu sistema de ensino. TÍTULO V
Dos Níveis e das Modalidades de Educação e En-
Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreendem: sino
I - as instituições do ensino fundamental, médio e de
educação infantil mantidas pelo Poder Público muni- CAPÍTULO I
cipal; Da Composição dos Níveis Escolares
II - as instituições de educação infantil criadas e man-
tidas pela iniciativa privada; Art. 21. A educação escolar compõe-se de:
III - os órgãos municipais de educação. I - educação básica, formada pela educação infantil,
Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes níveis ensino fundamental e ensino médio;
classificam-se nas seguintes categorias administrati- II - educação superior.
vas:
I - públicas, assim entendidas as criadas ou incorpo- CAPÍTULO II
radas, mantidas e administradas pelo Poder Público; DA EDUCAÇÃO BÁSICA
II - privadas, assim entendidas as mantidas e admi-
nistradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito Seção I
privado. Das Disposições Gerais
III - comunitárias, na forma da lei.
§ 1º As instituições de ensino a que se referem os in- Art. 22. A educação básica tem por finalidades desen-
cisos II e III do caput deste artigo podem qualificar-se volver o educando, assegurar-lhe a formação comum
como confessionais, atendidas a orientação confessio- indispensável para o exercício da cidadania e forne-
nal e a ideologia específicas. cer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos
§ 2º As instituições de ensino a que se referem os inci- posteriores.
sos II e III do caput deste artigo podem ser certificadas
como filantrópicas, na forma da lei. Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em
séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância
Art. 20. (Revogado pela Lei nº 13.868, de 2019) regular de períodos de estudos, grupos não-seriados,
A LDB estabelece um regime de colaboração entre com base na idade, na competência e em outros cri-
as entidades de ensino nas esferas federativas diversas, térios, ou por forma diversa de organização, sempre
no entanto, coloca competência à União de encabeçar e que o interesse do processo de aprendizagem assim o
coordenar os sistemas de ensino. Tal papel de liderança, recomendar.
descrito no artigo 9º, envolve poderes de regulação e de § 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusi-
controle, autorizando funcionamento ou suspendendo- ve quando se tratar de transferências entre estabele-
-o, realizando avaliação constante de desempenho, entre cimentos situados no País e no exterior, tendo como
outros deveres. base as normas curriculares gerais.
Uma nota interessante é reparar que o artigo 10 es- § 2º O calendário escolar deverá adequar-se às pecu-
tabelece o dever dos Estados de garantir a educação no liaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a
ensino fundamental e priorizar a educação no ensino critério do respectivo sistema de ensino, sem com isso
médio, ao passo que o artigo 11 coloca o dever dos mu- reduzir o número de horas letivas previsto nesta Lei.
nicípios de garantir a educação infantil e priorizar a edu-
cação fundamental. É possível, ainda, integrar educação Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e
municipal e estadual em um sistema único. médio, será organizada de acordo com as seguintes
Quanto às questões pedagógicas e de gestão dos es- regras comuns:
tabelecimentos de ensino, incumbe a eles próprios, em I - a carga horária mínima anual será de oitocentas
integração com seus docentes. Este processo de intera- horas para o ensino fundamental e para o ensino mé-
dio, distribuídas por um mínimo de duzentos dias de
ção entre instituição e docente, bem como destes com
LEGISLAÇÃO

efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado


a comunidade local, é conhecido como gestão demo-
aos exames finais, quando houver; ;
crática.
II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto
a primeira do ensino fundamental, pode ser feita:

19
a) por promoção, para alunos que cursaram, com Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino
aproveitamento, a série ou fase anterior, na própria fundamental e do ensino médio devem ter base nacio-
escola; nal comum, a ser complementada, em cada sistema
b) por transferência, para candidatos procedentes de de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma
outras escolas; parte diversificada, exigida pelas características regio-
c) independentemente de escolarização anterior, me- nais e locais da sociedade, da cultura, da economia e
diante avaliação feita pela escola, que defina o grau de dos educandos.
desenvolvimento e experiência do candidato e permita § 1º Os currículos a que se refere o caput devem
sua inscrição na série ou etapa adequada, conforme abranger, obrigatoriamente, o estudo da língua portu-
regulamentação do respectivo sistema de ensino; guesa e da matemática, o conhecimento do mundo fí-
III - nos estabelecimentos que adotam a progressão sico e natural e da realidade social e política, especial-
regular por série, o regimento escolar pode admitir mente da República Federativa do Brasil, observado,
formas de progressão parcial, desde que preservada a na educação infantil, o disposto no art. 31, no ensino
sequência do currículo, observadas as normas do res- fundamental, o disposto no art. 32, e no ensino médio,
pectivo sistema de ensino; o disposto no art. 36.
IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com § 2º O ensino da arte, especialmente em suas expres-
alunos de séries distintas, com níveis equivalentes de sões regionais, constituirá componente curricular obri-
adiantamento na matéria, para o ensino de línguas es- gatório da educação básica.
trangeiras, artes, ou outros componentes curriculares; § 3º A educação física, integrada à proposta pedagó-
V - a verificação do rendimento escolar observará os gica da escola, é componente curricular obrigatório da
seguintes critérios: educação infantil e do ensino fundamental, sendo sua
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho prática facultativa ao aluno:
do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos I - que cumpra jornada de trabalho igual ou superior
sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do a seis horas;
II - maior de trinta anos de idade;
período sobre os de eventuais provas finais;
III - que estiver prestando serviço militar inicial ou que,
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos
em situação similar, estiver obrigado à prática da edu-
com atraso escolar;
cação física;
c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries me-
IV - amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de ou-
diante verificação do aprendizado;
tubro de 1969;
d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito;
V - (VETADO);
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de pre-
VI - que tenha prole.
ferência paralelos ao período letivo, para os casos de § 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as
baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas contribuições das diferentes culturas e etnias para a
instituições de ensino em seus regimentos; formação do povo brasileiro, especialmente das ma-
VI - o controle de frequência fica a cargo da escola, trizes indígena, africana e europeia.
conforme o disposto no seu regimento e nas normas § 5o No currículo do ensino fundamental, a partir do
do respectivo sistema de ensino, exigida a frequência sexto ano, será ofertada a língua inglesa.
mínima de setenta e cinco por cento do total de horas § 6o As artes visuais, a dança, a música e o teatro são
letivas para aprovação; as linguagens que constituirão o componente curricu-
VII - cabe a cada instituição de ensino expedir his- lar de que trata o § 2o deste artigo.
tóricos escolares, declarações de conclusão de série e § 7º A integralização curricular poderá incluir, a cri-
diplomas ou certificados de conclusão de cursos, com tério dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas en-
as especificações cabíveis. volvendo os temas transversais de que trata o caput.
§ 1º A carga horária mínima anual de que trata o in- § 8º A exibição de filmes de produção nacional consti-
ciso I do caput deverá ser ampliada de forma progres- tuirá componente curricular complementar integrado
siva, no ensino médio, para mil e quatrocentas horas, à proposta pedagógica da escola, sendo a sua exibição
devendo os sistemas de ensino oferecer, no prazo má- obrigatória por, no mínimo, 2 (duas) horas mensais. 
ximo de cinco anos, pelo menos mil horas anuais de § 9o  Conteúdos relativos aos direitos humanos e à
carga horária, a partir de 2 de março de 2017. prevenção de todas as formas de violência contra
§ 2º Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de a criança e o adolescente serão incluídos, como te-
educação de jovens e adultos e de ensino noturno re- mas transversais, nos currículos escolares de que
gular, adequado às condições do educando, conforme trata o caput deste artigo, tendo como diretriz a Lei
o inciso VI do art. 4º. no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e
do Adolescente), observada a produção e distribuição
Art. 25. Será objetivo permanente das autoridades res- de material didático adequado. 
ponsáveis alcançar relação adequada entre o número § 9º-A. A educação alimentar e nutricional será incluí-
de alunos e o professor, a carga horária e as condições da entre os temas transversais de que trata o caput.
materiais do estabelecimento. § 10. A inclusão de novos componentes curriculares
LEGISLAÇÃO

Parágrafo único. Cabe ao respectivo sistema de en- de caráter obrigatório na Base Nacional Comum Cur-
sino, à vista das condições disponíveis e das caracte- ricular dependerá de aprovação do Conselho Nacional
rísticas regionais e locais, estabelecer parâmetro para de Educação e de homologação pelo Ministro de Esta-
atendimento do disposto neste artigo. do da Educação.

20
Art. 26-A.  Nos estabelecimentos de ensino fundamen- e da realidade social e política. A educação física deve
tal e de ensino médio, públicos e privados, torna-se ser oferecida obrigatoriamente, mas é facultativa ao alu-
obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasi- no em certas situações, como de trabalho, serviço mili-
leira e indígena. tar, idade superior a 30 anos. Em respeito ao pluralismo,
§ 1o  O conteúdo programático a que se refere este ar- deve considerar as matrizes indígena, africana e europeia
tigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura como temas transversais. Ainda em tal condição, cabe
que caracterizam a formação da população brasileira, o aprendizado de Conteúdos relativos aos direitos hu-
a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo manos e à prevenção de todas as formas de violência
da história da África e dos africanos, a luta dos negros contra a criança e o adolescente. É obrigatório o estudo
e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e in- da história e cultura afro-brasileira e indígena. Ainda, a
dígena brasileira e o negro e o índio na formação da educação deve considerar as peculiaridades da zona ru-
sociedade nacional, resgatando as suas contribuições ral quando nela for ministrada.
nas áreas social, econômica e política, pertinentes à
história do Brasil.  Seção II
§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro- Da Educação Infantil
-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão mi-
nistrados no âmbito de todo o currículo escolar, em Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da edu-
especial nas áreas de educação artística e de literatura cação básica, tem como finalidade o desenvolvimento
e história brasileiras. integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus as-
pectos físico, psicológico, intelectual e social, comple-
Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica mentando a ação da família e da comunidade.
observarão, ainda, as seguintes diretrizes: Art. 30. A educação infantil será oferecida em:
I - a difusão de valores fundamentais ao interesse so- I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças
cial, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao de até três anos de idade;
bem comum e à ordem democrática; II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cin-
II - consideração das condições de escolaridade dos co) anos de idade.
alunos em cada estabelecimento;
III - orientação para o trabalho;
Art. 31. A educação infantil será organizada de acor-
IV - promoção do desporto educacional e apoio às
do com as seguintes regras comuns:
práticas desportivas não-formais.
I - avaliação mediante acompanhamento e registro do
desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de pro-
Art. 28. Na oferta de educação básica para a popula-
moção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental;
ção rural, os sistemas de ensino promoverão as adap-
II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas)
tações necessárias à sua adequação às peculiaridades
da vida rural e de cada região, especialmente: horas, distribuída por um mínimo de 200 (duzentos)
I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas dias de trabalho educacional;
às reais necessidades e interesses dos alunos da zona III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro)
rural; horas diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas
II - organização escolar própria, incluindo adequação para a jornada integral;
do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às IV - controle de frequência pela instituição de educa-
condições climáticas; ção pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60%
III - adequação à natureza do trabalho na zona rural. (sessenta por cento) do total de horas;
Parágrafo único.  O fechamento de escolas do campo, V - expedição de documentação que permita atestar
indígenas e quilombolas será precedido de manifes- os processos de desenvolvimento e aprendizagem da
tação do órgão normativo do respectivo sistema de criança.
ensino, que considerará a justificativa apresentada A educação infantil é ministrada em creches até os
pela Secretaria de Educação, a análise do diagnóstico 3 anos de idade e em pré-escolas dos 3 aos 5 anos de
do impacto da ação e a manifestação da comunidade idade.
escolar.
A educação básica tem por papel a formação da base Seção III
do educado. Do Ensino Fundamental
Os critérios para mudança de série podem ser pro-
moção (aprovação em etapa anterior), transferência Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com dura-
(candidatos de outras escolas) e avaliação (análise da ção de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, ini-
experiência e desenvolvimento do candidato). O ensino ciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo
poderá ser acelerado caso necessário. Nas situações de a formação básica do cidadão, mediante:
alunos que não acompanhem seu ritmo, deverá ser ga- I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, ten-
rantida recuperação. do como meios básicos o pleno domínio da leitura, da
Exige-se, além do desempenho, a frequência de 75%, escrita e do cálculo;
LEGISLAÇÃO

no mínimo, para aprovação. II - a compreensão do ambiente natural e social, do


O currículo da educação básica segue uma base na- sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores
cional comum. Devem abranger língua portuguesa e da em que se fundamenta a sociedade;
matemática, o conhecimento do mundo físico e natural

21
III - o desenvolvimento da capacidade de aprendiza- Seção IV
gem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e Do Ensino Médio
habilidades e a formação de atitudes e valores;
IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação bá-
de solidariedade humana e de tolerância recíproca em sica, com duração mínima de três anos, terá como fi-
que se assenta a vida social. nalidades:
§ 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o I - a consolidação e o aprofundamento dos conheci-
ensino fundamental em ciclos. mentos adquiridos no ensino fundamental, possibili-
§ 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão re- tando o prosseguimento de estudos;
gular por série podem adotar no ensino fundamental II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania
o regime de progressão continuada, sem prejuízo da do educando, para continuar aprendendo, de modo a
avaliação do processo de ensino-aprendizagem, ob- ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas con-
servadas as normas do respectivo sistema de ensino. dições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;
§ 3º O ensino fundamental regular será ministrado em III - o aprimoramento do educando como pessoa hu-
língua portuguesa, assegurada às comunidades indí- mana, incluindo a formação ética e o desenvolvimen-
genas a utilização de suas línguas maternas e proces- to da autonomia intelectual e do pensamento crítico;
sos próprios de aprendizagem. IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecno-
§ 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o lógicos dos processos produtivos, relacionando a teo-
ensino a distância utilizado como complementação da ria com a prática, no ensino de cada disciplina.
aprendizagem ou em situações emergenciais.
§ 5º O currículo do ensino fundamental incluirá, obri- Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular defi-
gatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das nirá direitos e objetivos de aprendizagem do ensino
crianças e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei médio, conforme diretrizes do Conselho Nacional de
nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que institui o Estatu- Educação, nas seguintes áreas do conhecimento:
to da Criança e do Adolescente, observada a produção I - linguagens e suas tecnologias;
e distribuição de material didático adequado. II - matemática e suas tecnologias;
III - ciências da natureza e suas tecnologias;
§ 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluí-
IV - ciências humanas e sociais aplicadas.
do como tema transversal nos currículos do ensino
§ 1º A parte diversificada dos currículos de que trata
fundamental.
o caput do art. 26, definida em cada sistema de en-
sino, deverá estar harmonizada à Base Nacional Co-
Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa,
mum Curricular e ser articulada a partir do contexto
é parte integrante da formação básica do cidadão e
histórico, econômico, social, ambiental e cultural.
constitui disciplina dos horários normais das escolas
§ 2º A Base Nacional Comum Curricular referente ao
públicas de ensino fundamental, assegurado o respei- ensino médio incluirá obrigatoriamente estudos e prá-
to à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas ticas de educação física, arte, sociologia e filosofia.
quaisquer formas de proselitismo. § 3º O ensino da língua portuguesa e da matemática
§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os proce- será obrigatório nos três anos do ensino médio, asse-
dimentos para a definição dos conteúdos do ensino gurada às comunidades indígenas, também, a utiliza-
religioso e estabelecerão as normas para a habilitação ção das respectivas línguas maternas.
e admissão dos professores. § 4º Os currículos do ensino médio incluirão, obriga-
§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, toriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofer-
constituída pelas diferentes denominações religiosas, tar outras línguas estrangeiras, em caráter optativo,
para a definição dos conteúdos do ensino religioso. preferencialmente o espanhol, de acordo com a dispo-
nibilidade de oferta, locais e horários definidos pelos
Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental in- sistemas de ensino.
cluirá pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em § 5º A carga horária destinada ao cumprimento da
sala de aula, sendo progressivamente ampliado o pe- Base Nacional Comum Curricular não poderá ser su-
ríodo de permanência na escola. perior a mil e oitocentas horas do total da carga ho-
§ 1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das rária do ensino médio, de acordo com a definição dos
formas alternativas de organização autorizadas nesta sistemas de ensino.
Lei. § 6º A União estabelecerá os padrões de desempenho
§ 2º O ensino fundamental será ministrado progres- esperados para o ensino médio, que serão referência
sivamente em tempo integral, a critério dos sistemas nos processos nacionais de avaliação, a partir da Base
de ensino. Nacional Comum Curricular.
O ensino fundamental inicia-se aos 6 anos de idade e § 7º Os currículos do ensino médio deverão considerar
tem duração de 9 anos. Além de objetivar a alfabetização, a formação integral do aluno, de maneira a adotar um
também incentiva a formação do cidadão, da pessoa em trabalho voltado para a construção de seu projeto de
contato com o mundo que o cerca estabelecendo víncu- vida e para sua formação nos aspectos físicos, cogniti-
LEGISLAÇÃO

los de solidariedade e amizade. O ensino fundamental vos e socioemocionais.


deve ser presencial, em regra. O ensino religioso é fa- § 8º Os conteúdos, as metodologias e as formas de
cultativo. A carga horária diária é de no mínimo 4 horas. avaliação processual e formativa serão organizados
nas redes de ensino por meio de atividades teóricas e

22
práticas, provas orais e escritas, seminários, projetos e perior ou em outros cursos ou formações para os quais
atividades on-line, de tal forma que ao final do ensino a conclusão do ensino médio seja etapa obrigatória.
médio o educando demonstre: § 10. Além das formas de organização previstas no art.
I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos 23, o ensino médio poderá ser organizado em módu-
que presidem a produção moderna; los e adotar o sistema de créditos com terminalidade
II - conhecimento das formas contemporâneas de lin- específica.
guagem. § 11. Para efeito de cumprimento das exigências cur-
riculares do ensino médio, os sistemas de ensino po-
Art. 36. O currículo do ensino médio será composto derão reconhecer competências e firmar convênios
pela Base Nacional Comum Curricular e por itinerá- com instituições de educação a distância com notó-
rios formativos, que deverão ser organizados por meio rio reconhecimento, mediante as seguintes formas de
da oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme comprovação:
a relevância para o contexto local e a possibilidade I - demonstração prática;
dos sistemas de ensino, a saber: II - experiência de trabalho supervisionado ou outra
I - linguagens e suas tecnologias; experiência adquirida fora do ambiente escolar;
II - matemática e suas tecnologias; III - atividades de educação técnica oferecidas em ou-
III - ciências da natureza e suas tecnologias; tras instituições de ensino credenciadas;
IV - ciências humanas e sociais aplicadas; IV - cursos oferecidos por centros ou programas ocu-
V - formação técnica e profissional. pacionais;
§ 1º A organização das áreas de que trata o caput e V - estudos realizados em instituições de ensino nacio-
das respectivas competências e habilidades será feita nais ou estrangeiras;
de acordo com critérios estabelecidos em cada sistema VI - cursos realizados por meio de educação a distân-
de ensino. cia ou educação presencial mediada por tecnologias.
§ 2º (Revogado) § 12. As escolas deverão orientar os alunos no processo
§ 3º A critério dos sistemas de ensino, poderá ser com- de escolha das áreas de conhecimento ou de atuação
posto itinerário formativo integrado, que se traduz profissional previstas no caput.
na composição de componentes curriculares da Base A etapa final do ensino médio tem a duração de três
Nacional Comum Curricular - BNCC e dos itinerários anos e busca fornecer a consolidação e o aprofunda-
formativos, considerando os incisos I a V do caput. mento dos conhecimentos transmitidos no ensino fun-
§ 4º (Revogado) damental, com a devida atenção a conhecimentos que
§ 5º Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade permitam o ingresso do aluno no ensino universitário e
de vagas na rede, possibilitarão ao aluno concluinte na carreira de trabalho. Neste ponto, a LDB sofreu al-
do ensino médio cursar mais um itinerário formativo terações recentes pela Medida Provisória nº 746/2016,
de que trata o caput. convertida na Lei nº 13.415, de 2017, que foi alvo de inú-
§ 6º A critério dos sistemas de ensino, a oferta de for- meras críticas, notadamente por estabelecer como facul-
mação com ênfase técnica e profissional considerará: tativos conhecimentos que antes eram tidos como obri-
I - a inclusão de vivências práticas de trabalho no se- gatórios. Para entender melhor esta questão, percebe-se
tor produtivo ou em ambientes de simulação, esta- que na verdade a proposta é a especificação de matrizes
belecendo parcerias e fazendo uso, quando aplicável, ainda durante o ensino médio: o aluno poderá escolher
de instrumentos estabelecidos pela legislação sobre em quais áreas de conhecimento pretende se concentrar.
aprendizagem profissional; Por exemplo, um aluno que não queira se especializar em
II - a possibilidade de concessão de certificados inter- ciências humanas, não teria a obrigação de cursar maté-
mediários de qualificação para o trabalho, quando rias como história e geografia. Um aluno que não tenha
a formação for estruturada e organizada em etapas interesse em ir para a universidade e já queira ingres-
com terminalidade. sar no mercado de trabalho, terá aulas concentradas em
§ 7º A oferta de formações experimentais relaciona- formação técnica e profissional, aprendendo marcenaria,
das ao inciso V do caput, em áreas que não constem mecânica, administração, entre outras questões. As áreas
do Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, depende- que podem ser optadas são as seguintes: linguagens e
rá, para sua continuidade, do reconhecimento pelo suas tecnologias; matemática e suas tecnologias; ciên-
respectivo Conselho Estadual de Educação, no prazo cias da natureza e suas tecnologias; ciências humanas
de três anos, e da inserção no Catálogo Nacional dos e sociais aplicadas; formação técnica e profissional. As
Cursos Técnicos, no prazo de cinco anos, contados da únicas matérias estabelecidas como obrigatórias são:
data de oferta inicial da formação. português, matemática, artes, educação física, filosofia e
§ 8º A oferta de formação técnica e profissional a que sociologia – estas quatro últimas inicialmente seriam fa-
se refere o inciso V do caput, realizada na própria ins- cultativas, mas devido a pressões sociais foram colocadas
tituição ou em parceria com outras instituições, deve- como obrigatórias. Ainda é cedo para dizer se realmente
rá ser aprovada previamente pelo Conselho Estadual este será o rumo conferido pela reforma, eis que a Base
de Educação, homologada pelo Secretário Estadual de Nacional Comum Curricular que detalhará estas ques-
LEGISLAÇÃO

Educação e certificada pelos sistemas de ensino. tões ainda está em discussão.


§ 9º As instituições de ensino emitirão certificado com
validade nacional, que habilitará o concluinte do ensi-
no médio ao prosseguimento dos estudos em nível su-

23
Seção IV-A ser voltado à formação técnico-profissional, preparando
Da Educação Profissional Técnica de Nível Médio o jovem para o ingresso no mercado de trabalho inde-
pendentemente de ensino universitário), quanto após o
Art. 36-A. Sem prejuízo do disposto na Seção IV deste Ensino Médio, em instituições próprias de ensino técni-
Capítulo, o ensino médio, atendida a formação geral co-profissionalizante (neste sentido, há cursos técnicos-
do educando, poderá prepará-lo para o exercício de -profissionais com menor duração que os cursos de ensi-
profissões técnicas. no superior e que são equiparados a este).
Parágrafo único. A preparação geral para o trabalho
e, facultativamente, a habilitação profissional pode- Seção V
rão ser desenvolvidas nos próprios estabelecimentos Da Educação de Jovens e Adultos
de ensino médio ou em cooperação com instituições
especializadas em educação profissional. Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada
àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de
Art. 36-B. A educação profissional técnica de nível estudos nos ensinos fundamental e médio na idade
médio será desenvolvida nas seguintes formas: própria e constituirá instrumento para a educação e a
I - articulada com o ensino médio; aprendizagem ao longo da vida.
II - subsequente, em cursos destinados a quem já te- § 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente
nha concluído o ensino médio. aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os
Parágrafo único. A educação profissional técnica de estudos na idade regular, oportunidades educacionais
nível médio deverá observar: apropriadas, consideradas as características do aluna-
I - os objetivos e definições contidos nas diretrizes cur- do, seus interesses, condições de vida e de trabalho,
riculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Na- mediante cursos e exames.
cional de Educação; § 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso
II - as normas complementares dos respectivos siste- e a permanência do trabalhador na escola, mediante
mas de ensino; ações integradas e complementares entre si.
III - as exigências de cada instituição de ensino, nos § 3º A educação de jovens e adultos deverá articular-
termos de seu projeto pedagógico. -se, preferencialmente, com a educação profissional,
na forma do regulamento.
Art. 36-C. A educação profissional técnica de nível
médio articulada, prevista no inciso I do caput do art.
Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exa-
36-B desta Lei, será desenvolvida de forma:
mes supletivos, que compreenderão a base nacional
I - integrada, oferecida somente a quem já tenha con-
comum do currículo, habilitando ao prosseguimento
cluído o ensino fundamental, sendo o curso planejado
de estudos em caráter regular.
de modo a conduzir o aluno à habilitação profissional
§ 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-
técnica de nível médio, na mesma instituição de en-
-se-ão:
sino, efetuando-se matrícula única para cada aluno;
I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para
II - concomitante, oferecida a quem ingresse no ensino
médio ou já o esteja cursando, efetuando-se matrícu- os maiores de quinze anos;
las distintas para cada curso, e podendo ocorrer: II - no nível de conclusão do ensino médio, para os
a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as maiores de dezoito anos.
oportunidades educacionais disponíveis; § 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos
b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se educandos por meios informais serão aferidos e reco-
as oportunidades educacionais disponíveis; nhecidos mediante exames.
c) em instituições de ensino distintas, mediante con- A educação de jovens e adultos objetiva permitir a
vênios de intercomplementaridade, visando ao plane- conclusão do ensino fundamental e médio para aqueles
jamento e ao desenvolvimento de projeto pedagógico que já ultrapassaram a idade regular em que isso deveria
unificado. ter acontecido.

Art. 36-D. Os diplomas de cursos de educação pro-


fissional técnica de nível médio, quando registrados, #FicaDica
terão validade nacional e habilitarão ao prossegui-
mento de estudos na educação superior. Educação básica:
Parágrafo único. Os cursos de educação profissional - Ensino infantil – creche e pré-escola;
técnica de nível médio, nas formas articulada conco- - Ensino fundamental;
mitante e subsequente, quando estruturados e orga- - Ensino médio (colegial) – pode também
nizados em etapas com terminalidade, possibilitarão abranger o ensino técnico.
a obtenção de certificados de qualificação para o Educação básica tardia – EJA – educação de
trabalho após a conclusão, com aproveitamento, de jovens e adultos.
cada etapa que caracterize uma qualificação para o
LEGISLAÇÃO

trabalho.
A educação profissional e técnica pode se dar durante
o Ensino Médio, notadamente se o estudante fizer a op-
ção por esta categoria de ensino (o ensino médio pode

24
CAPÍTULO III III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação
Da Educação Profissional e Tecnológica científica, visando o desenvolvimento da ciência e da
tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse
Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no modo, desenvolver o entendimento do homem e do
cumprimento dos objetivos da educação nacional, in- meio em que vive;
tegra-se aos diferentes níveis e modalidades de edu- IV - promover a divulgação de conhecimentos cultu-
cação e às dimensões do trabalho, da ciência e da rais, científicos e técnicos que constituem patrimônio
tecnologia. da humanidade e comunicar o saber através do en-
§ 1º Os cursos de educação profissional e tecnológica sino, de publicações ou de outras formas de comuni-
poderão ser organizados por eixos tecnológicos, pos- cação;
sibilitando a construção de diferentes itinerários for- V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento
mativos, observadas as normas do respectivo sistema cultural e profissional e possibilitar a correspondente
e nível de ensino. concretização, integrando os conhecimentos que vão
§ 2º A educação profissional e tecnológica abrangerá sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistema-
os seguintes cursos: tizadora do conhecimento de cada geração;
I – de formação inicial e continuada ou qualificação VI - estimular o conhecimento dos problemas do mun-
profissional; do presente, em particular os nacionais e regionais,
II – de educação profissional técnica de nível médio; prestar serviços especializados à comunidade e esta-
III – de educação profissional tecnológica de gradua- belecer com esta uma relação de reciprocidade;
ção e pós-graduação. VII - promover a extensão, aberta à participação da
§ 3º Os cursos de educação profissional tecnológica população, visando à difusão das conquistas e benefí-
de graduação e pós-graduação organizar-se-ão, no cios resultantes da criação cultural e da pesquisa cien-
que concerne a objetivos, características e duração, de tífica e tecnológica geradas na instituição.
acordo com as diretrizes curriculares nacionais esta- VIII - atuar em favor da universalização e do aprimo-
belecidas pelo Conselho Nacional de Educação. ramento da educação básica, mediante a formação e
a capacitação de profissionais, a realização de pesqui-
Art. 40. A educação profissional será desenvolvida em sas pedagógicas e o desenvolvimento de atividades de
articulação com o ensino regular ou por diferentes extensão que aproximem os dois níveis escolares.
estratégias de educação continuada, em instituições Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes
especializadas ou no ambiente de trabalho. cursos e programas:
I - cursos sequenciais por campo de saber, de diferen-
Art. 41. O conhecimento adquirido na educação pro- tes níveis de abrangência, abertos a candidatos que
fissional e tecnológica, inclusive no trabalho, poderá atendam aos requisitos estabelecidos pelas institui-
ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação ções de ensino, desde que tenham concluído o ensino
para prosseguimento ou conclusão de estudos. médio ou equivalente;
II - de graduação, abertos a candidatos que tenham
Art. 42. As instituições de educação profissional e tec- concluído o ensino médio ou equivalente e tenham
nológica, além dos seus cursos regulares, oferecerão sido classificados em processo seletivo;
cursos especiais, abertos à comunidade, condicionada III - de pós-graduação, compreendendo programas
a matrícula à capacidade de aproveitamento e não de mestrado e doutorado, cursos de especialização,
necessariamente ao nível de escolaridade. aperfeiçoamento e outros, abertos a candidatos di-
A educação profissional e tecnológica pode se dar plomados em cursos de graduação e que atendam às
não apenas no ensino médio, mas também em institui- exigências das instituições de ensino;
ções próprias, que podem conferir inclusive diploma de IV - de extensão, abertos a candidatos que atendam
formação em nível superior. Exemplos: FATEC, SENAI, en- aos requisitos estabelecidos em cada caso pelas insti-
tre outros. O acesso a este tipo de ensino não necessaria- tuições de ensino.
mente exige conclusão dos níveis prévios de educação, § 1º  O resultado do processo seletivo referido no in-
eis que seu principal objetivo não é o ensino de conteú- ciso II do caput deste artigo será tornado público pela
dos típicos, mas sim a capacitação profissional. instituição de ensino superior, sendo obrigatórios a
divulgação da relação nominal dos classificados, a
CAPÍTULO IV respectiva ordem de classificação e o cronograma das
DA EDUCAÇÃO SUPERIOR chamadas para matrícula, de acordo com os critérios
para preenchimento das vagas constantes do edital,
Art. 43. A educação superior tem por finalidade: assegurado o direito do candidato, classificado ou
I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do não, a ter acesso a suas notas ou indicadores de de-
espírito científico e do pensamento reflexivo; sempenho em provas, exames e demais atividades da
II - formar diplomados nas diferentes áreas de co- seleção e a sua posição na ordem de classificação de
LEGISLAÇÃO

nhecimento, aptos para a inserção em setores pro- todos os candidatos.


fissionais e para a participação no desenvolvimento § 2º No caso de empate no processo seletivo, as ins-
da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação tituições públicas de ensino superior darão prioridade
contínua; de matrícula ao candidato que comprove ter renda fa-

25
miliar inferior a dez salários mínimos, ou ao de menor letivo e outras com a mesma finalidade, deve conter
renda familiar, quando mais de um candidato preen- a ligação desta com a página específica prevista neste
cher o critério inicial. inciso;
§ 3º O processo seletivo referido no inciso II considera- c) caso a instituição de ensino superior não possua sí-
rá as competências e as habilidades definidas na Base tio eletrônico, deve criar página específica para divul-
Nacional Comum Curricular. gação das informações de que trata esta Lei;
d) a página específica deve conter a data completa de
Art. 45. A educação superior será ministrada em insti- sua última atualização;
tuições de ensino superior, públicas ou privadas, com II - em toda propaganda eletrônica da instituição de
variados graus de abrangência ou especialização. ensino superior, por meio de ligação para a página
referida no inciso I;
Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos, III - em local visível da instituição de ensino superior e
bem como o credenciamento de instituições de educa- de fácil acesso ao público;
ção superior, terão prazos limitados, sendo renovados, IV - deve ser atualizada semestralmente ou anual-
periodicamente, após processo regular de avaliação. mente, de acordo com a duração das disciplinas de
§ 1º Após um prazo para saneamento de deficiências cada curso oferecido, observando o seguinte:
eventualmente identificadas pela avaliação a que se a) caso o curso mantenha disciplinas com duração di-
refere este artigo, haverá reavaliação, que poderá re- ferenciada, a publicação deve ser semestral;
sultar, conforme o caso, em desativação de cursos e b) a publicação deve ser feita até 1 (um) mês antes do
habilitações, em intervenção na instituição, em sus- início das aulas;
pensão temporária de prerrogativas da autonomia, ou c) caso haja mudança na grade do curso ou no corpo
em descredenciamento. docente até o início das aulas, os alunos devem ser
§ 2º No caso de instituição pública, o Poder Executivo comunicados sobre as alterações;
responsável por sua manutenção acompanhará o pro- V - deve conter as seguintes informações:
cesso de saneamento e fornecerá recursos adicionais, a) a lista de todos os cursos oferecidos pela instituição
se necessários, para a superação das deficiências. de ensino superior;
§ 3o No caso de instituição privada, além das sanções b) a lista das disciplinas que compõem a grade curri-
previstas no § 1o deste artigo, o processo de reavalia- cular de cada curso e as respectivas cargas horárias;
ção poderá resultar em redução de vagas autorizadas c) a identificação dos docentes que ministrarão as
e em suspensão temporária de novos ingressos e de aulas em cada curso, as disciplinas que efetivamen-
oferta de cursos. te ministrará naquele curso ou cursos, sua titulação,
§ 4o É facultado ao Ministério da Educação, mediante abrangendo a qualificação profissional do docente e
procedimento específico e com aquiescência da insti- o tempo de casa do docente, de forma total, contínua
tuição de ensino, com vistas a resguardar os interesses ou intermitente.
dos estudantes, comutar as penalidades previstas nos § 2º Os alunos que tenham extraordinário aproveita-
§§ 1o e 3o deste artigo por outras medidas, desde que mento nos estudos, demonstrado por meio de provas
adequadas para superação das deficiências e irregula- e outros instrumentos de avaliação específicos, apli-
ridades constatadas. cados por banca examinadora especial, poderão ter
§ 5o Para fins de regulação, os Estados e o Distrito Fe- abreviada a duração dos seus cursos, de acordo com
deral deverão adotar os critérios definidos pela União as normas dos sistemas de ensino.
para autorização de funcionamento de curso de gra- § 3º É obrigatória a frequência de alunos e professores,
duação em Medicina. salvo nos programas de educação a distância.
§ 4º As instituições de educação superior oferecerão,
Art. 47. Na educação superior, o ano letivo regular, no período noturno, cursos de graduação nos mesmos
independente do ano civil, tem, no mínimo, duzentos padrões de qualidade mantidos no período diurno,
dias de trabalho acadêmico efetivo, excluído o tempo sendo obrigatória a oferta noturna nas instituições
reservado aos exames finais, quando houver. públicas, garantida a necessária previsão orçamentá-
§ 1º As instituições informarão aos interessados, antes ria.
de cada período letivo, os programas dos cursos e de-
mais componentes curriculares, sua duração, requisi- Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconhe-
tos, qualificação dos professores, recursos disponíveis e cidos, quando registrados, terão validade nacional
critérios de avaliação, obrigando-se a cumprir as res- como prova da formação recebida por seu titular.
pectivas condições, e a publicação deve ser feita, sen- § 1º Os diplomas expedidos pelas universidades serão
do as 3 (três) primeiras formas concomitantemente: por elas próprias registrados, e aqueles conferidos por
I - em página específica na internet no sítio eletrônico instituições não-universitárias serão registrados em
oficial da instituição de ensino superior, obedecido o universidades indicadas pelo Conselho Nacional de
seguinte: Educação.
a) toda publicação a que se refere esta Lei deve ter § 2º Os diplomas de graduação expedidos por univer-
LEGISLAÇÃO

como título “Grade e Corpo Docente”; sidades estrangeiras serão revalidados por universida-
b) a página principal da instituição de ensino supe- des públicas que tenham curso do mesmo nível e área
rior, bem como a página da oferta de seus cursos aos ou equivalente, respeitando-se os acordos internacio-
ingressantes sob a forma de vestibulares, processo se- nais de reciprocidade ou equiparação.

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§ 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expedidos IX - administrar os rendimentos e deles dispor na for-
por universidades estrangeiras só poderão ser reconheci- ma prevista no ato de constituição, nas leis e nos res-
dos por universidades que possuam cursos de pós-gra- pectivos estatutos;
duação reconhecidos e avaliados, na mesma área de X - receber subvenções, doações, heranças, legados e
conhecimento e em nível equivalente ou superior. cooperação financeira resultante de convênios com
entidades públicas e privadas.
Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão § 1º Para garantir a autonomia didático-científica das
a transferência de alunos regulares, para cursos afins, universidades, caberá aos seus colegiados de ensino
na hipótese de existência de vagas, e mediante pro- e pesquisa decidir, dentro dos recursos orçamentários
cesso seletivo. disponíveis, sobre:
Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão I - criação, expansão, modificação e extinção de cur-
na forma da lei. sos;
II - ampliação e diminuição de vagas;
Art. 50. As instituições de educação superior, quando III - elaboração da programação dos cursos;
da ocorrência de vagas, abrirão matrícula nas disci- IV - programação das pesquisas e das atividades de
plinas de seus cursos a alunos não regulares que de- extensão;
monstrarem capacidade de cursá-las com proveito, V - contratação e dispensa de professores;
mediante processo seletivo prévio. VI - planos de carreira docente.
§ 2o As doações, inclusive monetárias, podem ser diri-
Art. 51. As instituições de educação superior creden- gidas a setores ou projetos específicos, conforme acor-
ciadas como universidades, ao deliberar sobre critérios do entre doadores e universidades.
e normas de seleção e admissão de estudantes, leva- § 3o No caso das universidades públicas, os recursos
rão em conta os efeitos desses critérios sobre a orien- das doações devem ser dirigidos ao caixa único da
tação do ensino médio, articulando-se com os órgãos instituição, com destinação garantida às unidades a
normativos dos sistemas de ensino. serem beneficiadas.
Art. 54. As universidades mantidas pelo Poder Público
Art. 52. As universidades são instituições pluridiscipli- gozarão, na forma da lei, de estatuto jurídico especial
nares de formação dos quadros profissionais de nível para atender às peculiaridades de sua estrutura, or-
superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cul- ganização e financiamento pelo Poder Público, assim
tivo do saber humano, que se caracterizam por: como dos seus planos de carreira e do regime jurídico
I - produção intelectual institucionalizada mediante o do seu pessoal.
estudo sistemático dos temas e problemas mais rele- § 1º No exercício da sua autonomia, além das atribui-
vantes, tanto do ponto de vista científico e cultural, ções asseguradas pelo artigo anterior, as universida-
quanto regional e nacional;
des públicas poderão:
II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titula-
I - propor o seu quadro de pessoal docente, técnico
ção acadêmica de mestrado ou doutorado;
e administrativo, assim como um plano de cargos e
III - um terço do corpo docente em regime de tempo
salários, atendidas as normas gerais pertinentes e os
integral.
recursos disponíveis;
Parágrafo único. É facultada a criação de universida-
II - elaborar o regulamento de seu pessoal em confor-
des especializadas por campo do saber.
midade com as normas gerais concernentes;
Art. 53. No exercício de sua autonomia, são assegu- III - aprovar e executar planos, programas e projetos
radas às universidades, sem prejuízo de outras, as se- de investimentos referentes a obras, serviços e aqui-
guintes atribuições: sições em geral, de acordo com os recursos alocados
I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e pelo respectivo Poder mantenedor;
programas de educação superior previstos nesta Lei, IV - elaborar seus orçamentos anuais e plurianuais;
obedecendo às normas gerais da União e, quando for V - adotar regime financeiro e contábil que atenda às
o caso, do respectivo sistema de ensino; suas peculiaridades de organização e funcionamento;
II - fixar os currículos dos seus cursos e programas, VI - realizar operações de crédito ou de financiamen-
observadas as diretrizes gerais pertinentes; to, com aprovação do Poder competente, para aquisi-
III - estabelecer planos, programas e projetos de pes- ção de bens imóveis, instalações e equipamentos;
quisa científica, produção artística e atividades de ex- VII - efetuar transferências, quitações e tomar outras
tensão; providências de ordem orçamentária, financeira e pa-
IV - fixar o número de vagas de acordo com a capaci- trimonial necessárias ao seu bom desempenho.
dade institucional e as exigências do seu meio; § 2º Atribuições de autonomia universitária poderão
V - elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos ser estendidas a instituições que comprovem alta qua-
em consonância com as normas gerais atinentes; lificação para o ensino ou para a pesquisa, com base
VI - conferir graus, diplomas e outros títulos; em avaliação realizada pelo Poder Público.
VII - firmar contratos, acordos e convênios;
LEGISLAÇÃO

VIII - aprovar e executar planos, programas e projetos Art. 55. Caberá à União assegurar, anualmente, em
de investimentos referentes a obras, serviços e aqui- seu Orçamento Geral, recursos suficientes para manu-
sições em geral, bem como administrar rendimentos tenção e desenvolvimento das instituições de educa-
conforme dispositivos institucionais; ção superior por ela mantidas.

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Art. 56. As instituições públicas de educação superior
obedecerão ao princípio da gestão democrática, asse- #FicaDica
gurada a existência de órgãos colegiados deliberati-
vos, de que participarão os segmentos da comunidade Educação superior – nível universitário –
institucional, local e regional. em instituições públicas ou privadas – o
Parágrafo único. Em qualquer caso, os docentes ocu- ingresso deve se dar conforme mérito (ves-
parão setenta por cento dos assentos em cada órgão tibulares).
colegiado e comissão, inclusive nos que tratarem da
elaboração e modificações estatutárias e regimentais, CAPÍTULO V
bem como da escolha de dirigentes. DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

Art. 57. Nas instituições públicas de educação supe- Art. 58. Entende-se por educação especial, para os
rior, o professor ficará obrigado ao mínimo de oito ho- efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar
ras semanais de aulas. oferecida preferencialmente na rede regular de ensi-
A educação superior se funda no tripé: ensino, pes- no, para educandos com deficiência, transtornos glo-
quisa e extensão. No viés do ensino, objetiva-se propi- bais do desenvolvimento e altas habilidades ou super-
ciar o acesso ao conhecimento técnico e científico, tanto dotação.
dentro do ambiente acadêmico quanto fora dele; no as- § 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio es-
pecto pesquisa, busca-se desenvolver os conhecimentos pecializado, na escola regular, para atender às pecu-
já existentes; no aspecto extensão, pretende-se atingir a liaridades da clientela de educação especial.
comunidade por meio de atividades que possam ir além § 2º O atendimento educacional será feito em clas-
dos ambientes acadêmicos, inserindo-se no cotidiano da ses, escolas ou serviços especializados, sempre que,
vida social. em função das condições específicas dos alunos, não
for possível a sua integração nas classes comuns de
Classicamente, a educação superior se dá nos níveis ensino regular.
de graduação, cujo acesso se dá por meio dos vestibu- § 3º A oferta de educação especial, nos termos do
lares, e pós-graduação, cujo acesso também se dá por caput deste artigo, tem início na educação infantil e
processos seletivos próprios, funcionando como comple- estende-se ao longo da vida, observados o inciso III do
mentação ao ensino superior. Entretanto, o ensino su- art. 4º e o parágrafo único do art. 60 desta Lei.
perior também pode se dar em cursos sequenciais e em Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos edu-
cursos de extensão, de menor duração e complexidade. candos com deficiência, transtornos globais do desen-
O ensino superior pode ser ministrado em institui- volvimento e altas habilidades ou superdotação:
ções públicas ou privadas. Independentemente da natu- I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e
reza da instituição, é necessário respeitar as regras míni- organização específicos, para atender às suas neces-
mas sobre duração do ano letivo, programas de curso, sidades;
componentes curriculares, etc. II - terminalidade específica para aqueles que não
O diploma faz prova da formação. puderem atingir o nível exigido para a conclusão do
É possível a transferência entre instituições. A trans- ensino fundamental, em virtude de suas deficiências,
ferência a pedido está condicionada a número de vagas e aceleração para concluir em menor tempo o progra-
e a processo seletivo. As transferências de ofício se sujei- ma escolar para os superdotados;
tam a critérios próprios. Um exemplo de transferência de III - professores com especialização adequada em ní-
ofício se dá no caso de remoção de servidor público de vel médio ou superior, para atendimento especializa-
ofício no interesse da Administração (caso o servidor ou do, bem como professores do ensino regular capaci-
seu dependente estude em instituição pública na cidade tados para a integração desses educandos nas classes
onde estava lotado, tem o direito de ser transferido para comuns;
a instituição pública da nova lotação). IV - educação especial para o trabalho, visando a sua
É possível que uma pessoa assista aulas nas institui- efetiva integração na vida em sociedade, inclusive
ções públicas independentemente de vínculo com o cur- condições adequadas para os que não revelarem ca-
so, desde que haja vagas disponíveis. pacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante
Para propiciar o desenvolvimento institucional, exige- articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para
-se que pelo menos 1/3 do corpo docente da instituição aqueles que apresentam uma habilidade superior nas
possua mestrado ou doutorado, bem como que 1/3 do áreas artística, intelectual ou psicomotora;
corpo docente se dedique exclusivamente à docência. V - acesso igualitário aos benefícios dos programas
Em que pesem as regras mínimas acerca do ensino sociais suplementares disponíveis para o respectivo
superior, as instituições de ensino superior são dotadas nível do ensino regular.
de autonomia para se organizarem.
As universidades públicas gozam de estatuto jurídico Art. 59-A. O poder público deverá instituir cadastro
especial. nacional de alunos com altas habilidades ou superdo-
LEGISLAÇÃO

As instituições públicas devem obedecer ao princípio tação matriculados na educação básica e na educação
da gestão democrática, assegurado pela existência de superior, a fim de fomentar a execução de políticas
órgãos colegiados deliberativos que mesclem membros públicas destinadas ao desenvolvimento pleno das po-
da comunidade, do corpo docente e do corpo discente. tencialidades desse alunado.

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Parágrafo único. A identificação precoce de alunos IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos
com altas habilidades ou superdotação, os critérios respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteú-
e procedimentos para inclusão no cadastro referido dos de áreas afins à sua formação ou experiência pro-
no caput deste artigo, as entidades responsáveis pelo fissional, atestados por titulação específica ou prática
cadastramento, os mecanismos de acesso aos dados de ensino em unidades educacionais da rede pública
do cadastro e as políticas de desenvolvimento das po- ou privada ou das corporações privadas em que te-
tencialidades do alunado de que trata o caput serão nham atuado, exclusivamente para atender ao inciso
definidos em regulamento. V do caput do art. 36;
V - profissionais graduados que tenham feito comple-
Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino mentação pedagógica, conforme disposto pelo Conse-
estabelecerão critérios de caracterização das institui- lho Nacional de Educação.
ções privadas sem fins lucrativos, especializadas e com
atuação exclusiva em educação especial, para fins de Art. 62. A formação de docentes para atuar na edu-
apoio técnico e financeiro pelo Poder Público. cação básica far-se-á em nível superior, em curso de
Parágrafo único. O poder público adotará, como al- licenciatura plena, admitida, como formação mínima
ternativa preferencial, a ampliação do atendimento para o exercício do magistério na educação infantil
aos educandos com deficiência, transtornos globais do e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental, a
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação oferecida em nível médio, na modalidade normal.
na própria rede pública regular de ensino, indepen- § 1º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Muni-
dentemente do apoio às instituições previstas neste cípios, em regime de colaboração, deverão promover
artigo. a formação inicial, a continuada e a capacitação dos
A educação especial volta-se a educandos com defi- profissionais de magistério.
ciência, transtornos globais do desenvolvimento e altas § 2º A formação continuada e a capacitação dos pro-
habilidades ou superdotação. Para que ela seja efetivada, fissionais de magistério poderão utilizar recursos e
exige-se a especialização das instituições de ensino e de tecnologias de educação a distância.
seus profissionais. § 3º A formação inicial de profissionais de magisté-
rio dará preferência ao ensino presencial, subsidiaria-
TÍTULO VI mente fazendo uso de recursos e tecnologias de edu-
Dos Profissionais da Educação cação a distância.
§ 4º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Muni-
Art. 61. Consideram-se profissionais da educação es- cípios adotarão mecanismos facilitadores de acesso e
colar básica os que, nela estando em efetivo exercício permanência em cursos de formação de docentes em
e tendo sido formados em cursos reconhecidos, são: nível superior para atuar na educação básica pública.
I – professores habilitados em nível médio ou superior § 5º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu-
para a docência na educação infantil e nos ensinos nicípios incentivarão a formação de profissionais do
fundamental e médio; magistério para atuar na educação básica pública
II – trabalhadores em educação portadores de diplo- mediante programa institucional de bolsa de inicia-
ma de pedagogia, com habilitação em administração, ção à docência a estudantes matriculados em cursos
planejamento, supervisão, inspeção e orientação edu- de licenciatura, de graduação plena, nas instituições
cacional, bem como com títulos de mestrado ou dou- de educação superior.
torado nas mesmas áreas; § 6º O Ministério da Educação poderá estabelecer
III - trabalhadores em educação, portadores de diplo- nota mínima em exame nacional aplicado aos con-
ma de curso técnico ou superior em área pedagógica cluintes do ensino médio como pré-requisito para o
ou afim; e ingresso em cursos de graduação para formação de
IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos docentes, ouvido o Conselho Nacional de Educação -
CNE.
respectivos sistemas de ensino para ministrar conteú-
§ 7º (VETADO).
dos de áreas afins à sua formação para atender o dis-
§ 8º Os currículos dos cursos de formação de docentes
posto no inciso V do caput do art. 36.
terão por referência a Base Nacional Comum Curri-
Parágrafo único. A formação dos profissionais da
cular.
educação, de modo a atender às especificidades do
exercício de suas atividades, bem como aos objetivos
Art. 62-A. A formação dos profissionais a que se re-
das diferentes etapas e modalidades da educação bá-
fere o inciso III do art. 61 far-se-á por meio de cursos
sica, terá como fundamentos:
de conteúdo técnico-pedagógico, em nível médio ou
I – a presença de sólida formação básica, que propicie superior, incluindo habilitações tecnológicas.
o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada
de suas competências de trabalho; para os profissionais a que se refere o caput, no local
II – a associação entre teorias e práticas, mediante es-
LEGISLAÇÃO

de trabalho ou em instituições de educação básica e


tágios supervisionados e capacitação em serviço; superior, incluindo cursos de educação profissional,
III – o aproveitamento da formação e experiências an- cursos superiores de graduação plena ou tecnológicos
teriores, em instituições de ensino e em outras ativi- e de pós-graduação.
dades.

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Art. 62-B. O acesso de professores das redes públicas IV - progressão funcional baseada na titulação ou ha-
de educação básica a cursos superiores de pedagogia bilitação, e na avaliação do desempenho;
e licenciatura será efetivado por meio de processo se- V - período reservado a estudos, planejamento e ava-
letivo diferenciado. liação, incluído na carga de trabalho;
§ 1º Terão direito de pleitear o acesso previsto no VI - condições adequadas de trabalho.
caput deste artigo os professores das redes públicas § 1º A experiência docente é pré-requisito para o exer-
municipais, estaduais e federal que ingressaram por cício profissional de quaisquer outras funções de ma-
concurso público, tenham pelo menos três anos de gistério, nos termos das normas de cada sistema de
exercício da profissão e não sejam portadores de di- ensino.
ploma de graduação. § 2º Para os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e no
§ 2o As instituições de ensino responsáveis pela oferta § 8º do art. 201 da Constituição Federal, são conside-
de cursos de pedagogia e outras licenciaturas defini- radas funções de magistério as exercidas por profes-
rão critérios adicionais de seleção sempre que acorre- sores e especialistas em educação no desempenho de
rem aos certames interessados em número superior atividades educativas, quando exercidas em estabele-
ao de vagas disponíveis para os respectivos cursos. cimento de educação básica em seus diversos níveis e
§ 3o Sem prejuízo dos concursos seletivos a serem de- modalidades, incluídas, além do exercício da docência,
finidos em regulamento pelas universidades, terão as de direção de unidade escolar e as de coordenação
prioridade de ingresso os professores que optarem por e assessoramento pedagógico.
cursos de licenciatura em matemática, física, química, § 3º A União prestará assistência técnica aos Estados,
biologia e língua portuguesa. ao Distrito Federal e aos Municípios na elaboração
de concursos públicos para provimento de cargos dos
Art. 63. Os institutos superiores de educação mante- profissionais da educação.
rão: Os profissionais da educação devem possuir forma-
I - cursos formadores de profissionais para a educação ção específica, notadamente possuir habilitação para a
docência, que pode se dar pelas licenciaturas e magisté-
básica, inclusive o curso normal superior, destinado à
rios em geral, bem como pela pedagogia, ou ainda por
formação de docentes para a educação infantil e para
formação e área afim que habilite para o ensino de ma-
as primeiras séries do ensino fundamental;
térias específicas (ex.: profissional do Direito pode lecio-
II - programas de formação pedagógica para portado-
nar português, filosofia e sociologia). Além disso, devem
res de diplomas de educação superior que queiram se
possuir experiência em atividades de ensino. Quanto ao
dedicar à educação básica;
ensino superior, exige-se pós-graduação, que pode ser
III - programas de educação continuada para os pro-
uma simples especialização, embora deva preferencial-
fissionais de educação dos diversos níveis. mente se possuir mestrado ou doutorado. No âmbito
do ensino público, exige-se valorização do profissional,
Art. 64. A formação de profissionais de educação para criando-se plano de carreira e aperfeiçoando-se as con-
administração, planejamento, inspeção, supervisão e dições de trabalho.
orientação educacional para a educação básica, será
feita em cursos de graduação em pedagogia ou em TÍTULO VII
nível de pós-graduação, a critério da instituição de Dos Recursos Financeiros
ensino, garantida, nesta formação, a base comum na-
cional. Art. 68. Serão recursos públicos destinados à educação
os originários de:
Art. 65. A formação docente, exceto para a educação I - receita de impostos próprios da União, dos Estados,
superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, tre- do Distrito Federal e dos Municípios;
zentas horas. II - receita de transferências constitucionais e outras
transferências;
Art. 66. A preparação para o exercício do magistério III - receita do salário-educação e de outras contribui-
superior far-se-á em nível de pós-graduação, priori- ções sociais;
tariamente em programas de mestrado e doutorado. IV - receita de incentivos fiscais;
Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por uni- V - outros recursos previstos em lei.
versidade com curso de doutorado em área afim, po-
derá suprir a exigência de título acadêmico. Art. 69. A União aplicará, anualmente, nunca menos
de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valoriza- nicípios, vinte e cinco por cento, ou o que consta nas
ção dos profissionais da educação, assegurando-lhes, respectivas Constituições ou Leis Orgânicas, da receita
inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de car- resultante de impostos, compreendidas as transferên-
reira do magistério público: cias constitucionais, na manutenção e desenvolvimen-
I - ingresso exclusivamente por concurso público de to do ensino público.
provas e títulos; § 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida
LEGISLAÇÃO

II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Mu-
com licenciamento periódico remunerado para esse nicípios, ou pelos Estados aos respectivos Municípios,
fim; não será considerada, para efeito do cálculo previsto
III - piso salarial profissional; neste artigo, receita do governo que a transferir.

30
§ 2º Serão consideradas excluídas das receitas de III - formação de quadros especiais para a adminis-
impostos mencionadas neste artigo as operações de tração pública, sejam militares ou civis, inclusive di-
crédito por antecipação de receita orçamentária de plomáticos;
impostos. IV - programas suplementares de alimentação, assis-
§ 3º Para fixação inicial dos valores correspondentes tência médico-odontológica, farmacêutica e psicológi-
aos mínimos estatuídos neste artigo, será considerada ca, e outras formas de assistência social;
a receita estimada na lei do orçamento anual, ajusta- V - obras de infraestrutura, ainda que realizadas para
da, quando for o caso, por lei que autorizar a abertura beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar;
de créditos adicionais, com base no eventual excesso VI - pessoal docente e demais trabalhadores da edu-
de arrecadação. cação, quando em desvio de função ou em atividade
§ 4º As diferenças entre a receita e a despesa previs- alheia à manutenção e desenvolvimento do ensino.
tas e as efetivamente realizadas, que resultem no não
atendimento dos percentuais mínimos obrigatórios, Art. 72. As receitas e despesas com manutenção e desen-
serão apuradas e corrigidas a cada trimestre do exer- volvimento do ensino serão apuradas e publicadas nos
cício financeiro. balanços do Poder Público, assim como nos relatórios a
§ 5º O repasse dos valores referidos neste artigo do que se refere o § 3º do art. 165 da Constituição Federal.
caixa da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Art. 73. Os órgãos fiscalizadores examinarão, priorita-
Municípios ocorrerá imediatamente ao órgão respon- riamente, na prestação de contas de recursos públicos,
sável pela educação, observados os seguintes prazos: o cumprimento do disposto no art. 212 da Constitui-
I - recursos arrecadados do primeiro ao décimo dia de ção Federal, no art. 60 do Ato das Disposições Consti-
cada mês, até o vigésimo dia; tucionais Transitórias e na legislação concernente.
Art. 74. A União, em colaboração com os Estados, o
II - recursos arrecadados do décimo primeiro ao vigé-
Distrito Federal e os Municípios, estabelecerá padrão
simo dia de cada mês, até o trigésimo dia;
mínimo de oportunidades educacionais para o ensino
III - recursos arrecadados do vigésimo primeiro dia ao
fundamental, baseado no cálculo do custo mínimo por
final de cada mês, até o décimo dia do mês subse- aluno, capaz de assegurar ensino de qualidade.
quente. Parágrafo único. O custo mínimo de que trata este ar-
§ 6º O atraso da liberação sujeitará os recursos a cor- tigo será calculado pela União ao final de cada ano,
reção monetária e à responsabilização civil e criminal com validade para o ano subsequente, considerando
das autoridades competentes. variações regionais no custo dos insumos e as diversas
Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e de- modalidades de ensino.
senvolvimento do ensino as despesas realizadas com
vistas à consecução dos objetivos básicos das institui- Art. 75. A ação supletiva e redistributiva da União e
ções educacionais de todos os níveis, compreendendo dos Estados será exercida de modo a corrigir, progres-
as que se destinam a: sivamente, as disparidades de acesso e garantir o pa-
I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docen- drão mínimo de qualidade de ensino.
te e demais profissionais da educação; § 1º A ação a que se refere este artigo obedecerá a
II - aquisição, manutenção, construção e conservação fórmula de domínio público que inclua a capacidade
de instalações e equipamentos necessários ao ensino; de atendimento e a medida do esforço fiscal do res-
III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados pectivo Estado, do Distrito Federal ou do Município em
ao ensino; favor da manutenção e do desenvolvimento do ensino.
IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas § 2º A capacidade de atendimento de cada governo
visando precipuamente ao aprimoramento da quali- será definida pela razão entre os recursos de uso cons-
dade e à expansão do ensino; titucionalmente obrigatório na manutenção e desen-
V - realização de atividades-meio necessárias ao fun- volvimento do ensino e o custo anual do aluno, relati-
cionamento dos sistemas de ensino; vo ao padrão mínimo de qualidade.
VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas § 3º Com base nos critérios estabelecidos nos §§ 1º e
públicas e privadas; 2º, a União poderá fazer a transferência direta de re-
VII - amortização e custeio de operações de crédito cursos a cada estabelecimento de ensino, considerado
o número de alunos que efetivamente frequentam a
destinadas a atender ao disposto nos incisos deste ar-
escola.
tigo;
§ 4º A ação supletiva e redistributiva não poderá ser
VIII - aquisição de material didático-escolar e manu-
exercida em favor do Distrito Federal, dos Estados e
tenção de programas de transporte escolar. dos Municípios se estes oferecerem vagas, na área de
ensino de sua responsabilidade, conforme o inciso VI
Art. 71. Não constituirão despesas de manutenção e do art. 10 e o inciso V do art. 11 desta Lei, em número
desenvolvimento do ensino aquelas realizadas com: inferior à sua capacidade de atendimento.
I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de
ensino, ou, quando efetivada fora dos sistemas de en- Art. 76. A ação supletiva e redistributiva prevista no
LEGISLAÇÃO

sino, que não vise, precipuamente, ao aprimoramento artigo anterior ficará condicionada ao efetivo cumpri-
de sua qualidade ou à sua expansão; mento pelos Estados, Distrito Federal e Municípios do
II - subvenção a instituições públicas ou privadas de disposto nesta Lei, sem prejuízo de outras prescrições
caráter assistencial, desportivo ou cultural; legais.

31
Art. 77. Os recursos públicos serão destinados às esco- I - fortalecer as práticas socioculturais e a língua ma-
las públicas, podendo ser dirigidos a escolas comuni- terna de cada comunidade indígena;
tárias, confessionais ou filantrópicas que: II - manter programas de formação de pessoal espe-
I - comprovem finalidade não-lucrativa e não distri- cializado, destinado à educação escolar nas comuni-
buam resultados, dividendos, bonificações, participa- dades indígenas;
ções ou parcela de seu patrimônio sob nenhuma for- III - desenvolver currículos e programas específicos,
ma ou pretexto; neles incluindo os conteúdos culturais corresponden-
II - apliquem seus excedentes financeiros em educa- tes às respectivas comunidades;
ção; IV - elaborar e publicar sistematicamente material di-
III - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra dático específico e diferenciado.
escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao § 3º No que se refere à educação superior, sem pre-
Poder Público, no caso de encerramento de suas ati- juízo de outras ações, o atendimento aos povos indí-
vidades; genas efetivar-se-á, nas universidades públicas e pri-
IV - prestem contas ao Poder Público dos recursos re- vadas, mediante a oferta de ensino e de assistência
cebidos. estudantil, assim como de estímulo à pesquisa e de-
§ 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser senvolvimento de programas especiais.
destinados a bolsas de estudo para a educação básica, Art. 79-A. (VETADO).
na forma da lei, para os que demonstrarem insuficiên- Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de
cia de recursos, quando houver falta de vagas e cursos novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’.
regulares da rede pública de domicílio do educando,
ficando o Poder Público obrigado a investir priorita- Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimen-
riamente na expansão da sua rede local. to e a veiculação de programas de ensino a distância,
§ 2º As atividades universitárias de pesquisa e exten- em todos os níveis e modalidades de ensino, e de edu-
são poderão receber apoio financeiro do Poder Públi- cação continuada.
§ 1º A educação a distância, organizada com abertura
co, inclusive mediante bolsas de estudo.
e regime especiais, será oferecida por instituições es-
No aspecto orçamentário, merece destaque a exi-
pecificamente credenciadas pela União.
gência de dedicação de parcela mínima dos impostos da
§ 2º A União regulamentará os requisitos para a rea-
União (18%) e dos Estados e Distrito Federal (25%) voltada
lização de exames e registro de diploma relativos a
à educação. Ainda, coloca-se o papel de suplementação e
cursos de educação a distância.
redistribuição da União em relação aos Estados e Municí-
§ 3º As normas para produção, controle e avaliação
pios e dos Estados com relação aos Municípios, repassan-
de programas de educação a distância e a autoriza-
do-se verbas para permitir que estas unidades federativas ção para sua implementação, caberão aos respectivos
consigam lograr êxito em oferecer parâmetro mínimo de sistemas de ensino, podendo haver cooperação e inte-
qualidade no ensino que é de sua incumbência. gração entre os diferentes sistemas.
§ 4º A educação a distância gozará de tratamento di-
TÍTULO VIII ferenciado, que incluirá:
Das Disposições Gerais I - custos de transmissão reduzidos em canais comerciais
de radiodifusão sonora e de sons e imagens e em outros
Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colabo- meios de comunicação que sejam explorados mediante
ração das agências federais de fomento à cultura e de autorização, concessão ou permissão do poder público;
assistência aos índios, desenvolverá programas inte- II - concessão de canais com finalidades exclusiva-
grados de ensino e pesquisa, para oferta de educação mente educativas;
escolar bilíngue e intercultural aos povos indígenas, III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder
com os seguintes objetivos: Público, pelos concessionários de canais comerciais.
I - proporcionar aos índios, suas comunidades e povos,
a recuperação de suas memórias históricas; a reafir- Art. 81. É permitida a organização de cursos ou insti-
mação de suas identidades étnicas; a valorização de tuições de ensino experimentais, desde que obedeci-
suas línguas e ciências; das as disposições desta Lei.
II - garantir aos índios, suas comunidades e povos, o
acesso às informações, conhecimentos técnicos e cien- Art. 82. Os sistemas de ensino estabelecerão as nor-
tíficos da sociedade nacional e demais sociedades in- mas de realização de estágio em sua jurisdição, obser-
dígenas e não-índias. vada a lei federal sobre a matéria.

Art. 79. A União apoiará técnica e financeiramente Art. 83. O ensino militar é regulado em lei específica,
os sistemas de ensino no provimento da educação in- admitida a equivalência de estudos, de acordo com as
tercultural às comunidades indígenas, desenvolvendo normas fixadas pelos sistemas de ensino.
programas integrados de ensino e pesquisa.
§ 1º Os programas serão planejados com audiência Art. 84. Os discentes da educação superior poderão
LEGISLAÇÃO

das comunidades indígenas. ser aproveitados em tarefas de ensino e pesquisa pelas


§ 2º Os programas a que se refere este artigo, incluí- respectivas instituições, exercendo funções de moni-
dos nos Planos Nacionais de Educação, terão os se- toria, de acordo com seu rendimento e seu plano de
guintes objetivos: estudos.

32
Art. 85. Qualquer cidadão habilitado com a titulação Art. 89. As creches e pré-escolas existentes ou que ve-
própria poderá exigir a abertura de concurso públi- nham a ser criadas deverão, no prazo de três anos, a
co de provas e títulos para cargo de docente de ins- contar da publicação desta Lei, integrar-se ao respec-
tituição pública de ensino que estiver sendo ocupado tivo sistema de ensino.
por professor não concursado, por mais de seis anos,
ressalvados os direitos assegurados pelos arts. 41 Art. 90. As questões suscitadas na transição entre o regi-
da Constituição Federal e 19 do Ato das Disposições me anterior e o que se institui nesta Lei serão resolvidas
Constitucionais Transitórias. pelo Conselho Nacional de Educação ou, mediante de-
legação deste, pelos órgãos normativos dos sistemas de
Art. 86. As instituições de educação superior constituí- ensino, preservada a autonomia universitária.
das como universidades integrar-se-ão, também, na
sua condição de instituições de pesquisa, ao Sistema Art. 91. Esta Lei entra em vigor na data de sua publi-
Nacional de Ciência e Tecnologia, nos termos da le- cação.
gislação específica.
TÍTULO IX Art. 92. Revogam-se as disposições das Leis nºs 4.024,
Das Disposições Transitórias de 20 de dezembro de 1961, e 5.540, de 28 de novem-
bro de 1968, não alteradas pelas Leis nºs 9.131, de 24
Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se de novembro de 1995 e 9.192, de 21 de dezembro de
um ano a partir da publicação desta Lei. 1995 e, ainda, as Leis nºs 5.692, de 11 de agosto de
§ 1º A União, no prazo de um ano a partir da publi- 1971 e 7.044, de 18 de outubro de 1982, e as demais
cação desta Lei, encaminhará, ao Congresso Nacional, leis e decretos-lei que as modificaram e quaisquer ou-
o Plano Nacional de Educação, com diretrizes e metas tras disposições em contrário.
para os dez anos seguintes, em sintonia com a Decla-
ração Mundial sobre Educação para Todos.
§ 2º (Revogado). EXERCÍCIOS COMENTADOS
§ 3º O Distrito Federal, cada Estado e Município, e,
supletivamente, a União, devem:
1. (UFPA - Assistente de Aluno - CEPS-UFPA/2015) A
I - (Revogado).
Lei nº 9.394/1996 estabelece que:
II - prover cursos presenciais ou a distância aos jovens
e adultos insuficientemente escolarizados;
a) a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios
III - realizar programas de capacitação para todos
organizarão, em regime de colaboração, os respecti-
os professores em exercício, utilizando também, para
vos sistemas de esportes nacionais.
isto, os recursos da educação a distância;
b) a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios
IV - integrar todos os estabelecimentos de ensino
organizarão, em regime de colaboração, a merenda
fundamental do seu território ao sistema nacional de escolar, o transporte escolar, os livros didáticos, a ma-
avaliação do rendimento escolar. nutenção de veículos públicos e particulares.
§ 4º (Revogado). c) os municípios devem garantir a todos os alunos o en-
§ 5º Serão conjugados todos os esforços objetivando sino médio primeiramente e depois o ensino funda-
a progressão das redes escolares públicas urbanas de mental.
ensino fundamental para o regime de escolas de tem- d) os Estados devem assegurar primeiramente o ensino
po integral. médio, a educação de jovens e adultos, a educação
§ 6º A assistência financeira da União aos Estados, quilombola e a educação especial.
ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como a dos e) a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios
Estados aos seus Municípios, ficam condicionadas ao organizarão, em regime de colaboração, os respecti-
cumprimento do art. 212 da Constituição Federal e vos sistemas de ensino.
dispositivos legais pertinentes pelos governos benefi-
ciados. Resposta: Letra E. É o teor do artigo 8º da Lei nº
9.394/1996: “A União, os Estados, o Distrito Federal e
Art. 87-A. (VETADO). os Municípios organizarão, em regime de colabora-
ção, os respectivos sistemas de ensino”.
Art. 88. A União, os Estados, o Distrito Federal e os A, B, C, D. Incorretas, por exclusão, devido ao teor do
Municípios adaptarão sua legislação educacional e de artigo 8o, Lei nº 9.394/1996.
ensino às disposições desta Lei no prazo máximo de
um ano, a partir da data de sua publicação. 2. (CREF - 3ª Região - Assistente Administrativo -
§ 1º As instituições educacionais adaptarão seus es- Quadrix/2013 - adaptada) Assinale a alternativa con-
tatutos e regimentos aos dispositivos desta Lei e às trária ao disposto pela Lei Federal n° 9.394:
normas dos respectivos sistemas de ensino, nos prazos
por estes estabelecidos. a) A educação, dever da família e do Estado, inspirada
LEGISLAÇÃO

§ 2º O prazo para que as universidades cumpram o nos princípios de liberdade e nos ideais de solidarie-
disposto nos incisos II e III do art. 52 é de oito anos. dade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvi-
mento do educando, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho.

33
b) O acesso ao ensino fundamental é direito público sub- O Presidente da Câmara de Educação Básica do Con-
jetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, selho Nacional de Educação, no uso de suas atribuições
associação comunitária, organização sindical, entida- legais, e de conformidade com o disposto na alínea “c”
de de classe ou outra legalmente constituída, e, ain- do § 1º do artigo 9º da Lei nº 4.024/1961, com a redação
da, o Ministério Público, acionar o Poder Público para dada pela Lei nº 9.131/1995, nos artigos 36, 36A, 36-
exigi-lo. B, 36-C, 36-D, 37, 39, 40, 41 e 42 da Lei nº 9.394/1996,
c) Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escola- com a redação dada pela Lei nº 11.741/2008, bem como
res públicas de educação básica que os integram pro- no Decreto nº 5.154/2004, e com fundamento no Pare-
gressivos graus de autonomia pedagógica e adminis- cer CNE/CEB nº 7/2010, homologado por Despacho do
trativa e de gestão financeira, observadas as normas Senhor Ministro de Estado da Educação, publicado no
gerais de direito financeiro público. DOU de 9 de julho de 2010.
d) A educação física, integrada à proposta pedagógica da
escola, é componente curricular da Educação Básica, RESOLVE:
ajustando-se às faixas etárias e às condições da popu-
lação escolar, sendo obrigatória nos cursos noturnos. Art. 1º A presente Resolução define Diretrizes Curri-
culares Nacionais Gerais para o conjunto orgânico,
Resposta: Letra D. Eis o teor da Lei nº 9.394: “artigo sequencial e articulado das etapas e modalidades da
26, § 3º A educação física, integrada à proposta peda- Educação Básica, baseando-se no direito de toda pes-
gógica da escola, é componente curricular obrigatório soa ao seu pleno desenvolvimento, à preparação para
da educação infantil e do ensino fundamental, sendo o exercício da cidadania e à qualificação para o traba-
sua prática facultativa ao aluno: I - que cumpra jorna- lho, na vivência e convivência em ambiente educativo,
da de trabalho igual ou superior a seis horas; II - maior e tendo como fundamento a responsabilidade que o
de trinta anos de idade; III - que estiver prestando ser- Estado brasileiro, a família e a sociedade têm de ga-
viço militar inicial ou que, em situação similar, estiver rantir a democratização do acesso, a inclusão, a per-
obrigado à prática da educação física; IV - amparado manência e a conclusão com sucesso das crianças, dos
pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de outubro de 1969; jovens e adultos na instituição educacional, a aprendi-
V - (VETADO); VI - que tenha prole”. zagem para continuidade dos estudos e a extensão da
A. Correta, conforme artigo 2o, LDB. obrigatoriedade e da gratuidade da Educação Básica.
B. Correta, conforme artigo 5o, LDB.
C. Correta, conforme artigo 15, LDB. TÍTULO I
OBJETIVOS
3. (Prefeitura de Alto Piquiri - Cuidador Social -
KLC/2012) A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Art. 2º Estas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais
estabelece: para a Educação Básica têm por objetivos:
I - sistematizar os princípios e as diretrizes gerais da
a) os parâmetros curriculares nacionais. Educação Básica contidos na Constituição, na Lei de
b) as diretrizes e bases da educação nacional. Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e de-
c) exclusivamente as normas da educação básica. mais dispositivos legais, traduzindo-os em orienta-
d) as leis e diretrizes somente para a educação superior ções que contribuam para assegurar a formação bá-
e) unicamente o funcionamento do sistema de avaliação. sica comum nacional, tendo como foco os sujeitos que
dão vida ao currículo e à escola;
Resposta: Letra B. Conforme consta na própria Lei nº II - estimular a reflexão crítica e propositiva que deve
9.394, ela “estabelece as diretrizes e bases da educa- subsidiar a formulação, a execução e a avaliação do
ção nacional”. projeto político-pedagógico da escola de Educação
A, C, D e E. Incorretas, são abrangidas as diretrizes e Básica;
bases da educação nacional, em todos os níveis. III - orientar os cursos de formação inicial e continu-
ada de docentes e demais profissionais da Educação
Básica, os sistemas educativos dos diferentes entes fe-
BRASIL. RESOLUÇÃO CNE/CEB 04/2010 – derados e as escolas que os integram, indistintamente
DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS da rede a que pertençam.
GERAIS PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA.
BRASÍLIA: CNE, 2010. Art. 3º As Diretrizes Curriculares Nacionais específi-
cas para as etapas e modalidades da Educação Básica
devem evidenciar o seu papel de indicador de opções
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO políticas, sociais, culturais, educacionais, e a função
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO da educação, na sua relação com um projeto de Na-
CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ção, tendo como referência os objetivos constitucio-
nais, fundamentando-se na cidadania e na dignidade
LEGISLAÇÃO

RESOLUÇÃO Nº 4, DE 13 DE JULHO DE 2010 da pessoa, o que pressupõe igualdade, liberdade, plu-


ralidade, diversidade, respeito, justiça social, solida-
Define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a riedade e sustentabilidade.
Educação Básica.

34
TÍTULO II § 3º O regime de colaboração entre os entes federados
REFERÊNCIAS CONCEITUAIS pressupõe o estabelecimento de regras de equivalên-
cia entre as funções distributiva, supletiva, normati-
Art. 4º As bases que dão sustentação ao projeto na- va, de supervisão e avaliação da educação nacional,
cional de educação responsabilizam o poder público, respeitada a autonomia dos sistemas e valorizadas as
a família, a sociedade e a escola pela garantia a todos diferenças regionais.
os educandos de um ensino ministrado de acordo com
os princípios de: TÍTULO IV
I - igualdade de condições para o acesso, inclusão, ACESSO E PERMANÊNCIA PARA A CONQUISTA DA
permanência e sucesso na escola; QUALIDADE SOCIAL
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar
a cultura, o pensamento, a arte e o saber; Art. 8º A garantia de padrão de qualidade, com pleno
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; acesso, inclusão e permanência dos sujeitos das aprendi-
IV - respeito à liberdade e aos direitos; zagens na escola e seu sucesso, com redução da evasão,
V - coexistência de instituições públicas e privadas de da retenção e da distorção de idade/ano/série, resulta
ensino; na qualidade social da educação, que é uma conquista
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimen- coletiva de todos os sujeitos do processo educativo.
tos oficiais;
VII - valorização do profissional da educação escolar; Art. 9º A escola de qualidade social adota como centra-
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma lidade o estudante e a aprendizagem, o que pressupõe
da legislação e das normas dos respectivos sistemas atendimento aos seguintes requisitos:
de ensino; I - revisão das referências conceituais quanto aos dife-
IX - garantia de padrão de qualidade; rentes espaços e tempos educativos, abrangendo espa-
X - valorização da experiência extraescolar; ços sociais na escola e fora dela;
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e II - consideração sobre a inclusão, a valorização das di-
ferenças e o atendimento à pluralidade e à diversidade
as práticas sociais.
cultural, resgatando e respeitando as várias manifesta-
ções de cada comunidade;
Art. 5º A Educação Básica é direito universal e alicerce
III - foco no projeto político-pedagógico, no gosto pela
indispensável para o exercício da cidadania em pleni-
aprendizagem e na avaliação das aprendizagens como
tude, da qual depende a possibilidade de conquistar
instrumento de contínua progressão dos estudantes;
todos os demais direitos, definidos na Constituição Fe-
IV - inter-relação entre organização do currículo, do tra-
deral, no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
balho pedagógico e da jornada de trabalho do professor,
na legislação ordinária e nas demais disposições que tendo como objetivo a aprendizagem do estudante;
consagram as prerrogativas do cidadão. V - preparação dos profissionais da educação, gestores,
professores, especialistas, técnicos, monitores e outros;
Art. 6º Na Educação Básica, é necessário considerar as VI - compatibilidade entre a proposta curricular e a in-
dimensões do educar e do cuidar, em sua inseparabi- fraestrutura entendida como espaço formativo dotado
lidade, buscando recuperar, para a função social desse de efetiva disponibilidade de tempos para a sua utili-
nível da educação, a sua centralidade, que é o edu- zação e acessibilidade;
cando, pessoa em formação na sua essência humana. VII - integração dos profissionais da educação, dos
estudantes, das famílias, dos agentes da comunidade
TÍTULO III interessados na educação;
SISTEMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO VIII - valorização dos profissionais da educação, com
programa de formação continuada, critérios de acesso,
Art. 7º A concepção de educação deve orientar a insti- permanência, remuneração compatível com a jornada
tucionalização do regime de colaboração entre União, de trabalho definida no projeto político-pedagógico;
Estados, Distrito Federal e Municípios, no contexto da IX - realização de parceria com órgãos, tais como os
estrutura federativa brasileira, em que convivem sis- de assistência social e desenvolvimento humano, cida-
temas educacionais autônomos, para assegurar efe- dania, ciência e tecnologia, esporte, turismo, cultura e
tividade ao projeto da educação nacional, vencer a arte, saúde, meio ambiente.
fragmentação das políticas públicas e superar a de-
sarticulação institucional. Art. 10. A exigência legal de definição de padrões mí-
§ 1º Essa institucionalização é possibilitada por um nimos de qualidade da educação traduz a necessidade
Sistema Nacional de Educação, no qual cada ente fe- de reconhecer que a sua avaliação associa-se à ação
derativo, com suas peculiares competências, é chama- planejada, coletivamente, pelos sujeitos da escola.
do a colaborar para transformar a Educação Básica § 1º O planejamento das ações coletivas exercidas pela
em um sistema orgânico, sequencial e articulado. escola supõe que os sujeitos tenham clareza quanto:
§ 2º O que caracteriza um sistema é a atividade in- I - aos princípios e às finalidades da educação, além
LEGISLAÇÃO

tencional e organicamente concebida, que se justifica do reconhecimento e da análise dos dados indicados
pela realização de atividades voltadas para as mes- pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
mas finalidades ou para a concretização dos mesmos (IDEB) e/ou outros indicadores, que o complemen-
objetivos. tem ou substituam;

35
II - à relevância de um projeto político-pedagógico § 2º A jornada em tempo integral com qualidade im-
concebido e assumido colegiadamente pela comuni- plica a necessidade da incorporação efetiva e orgâni-
dade educacional, respeitadas as múltiplas diversida- ca, no currículo, de atividades e estudos pedagogica-
des e a pluralidade cultural; mente planejados e acompanhados.
III - à riqueza da valorização das diferenças manifes- § 3º Os cursos em tempo parcial noturno devem es-
tadas pelos sujeitos do processo educativo, em seus tabelecer metodologia adequada às idades, à maturi-
diversos segmentos, respeitados o tempo e o contexto dade e à experiência de aprendizagens, para atende-
sociocultural; rem aos jovens e adultos em escolarização no tempo
IV - aos padrões mínimos de qualidade (Custo Aluno- regular ou na modalidade de Educação de Jovens e
-Qualidade Inicial – CAQi); Adultos.
§ 2º Para que se concretize a educação escolar, exige-
-se um padrão mínimo de insumos, que tem como CAPÍTULO I
base um investimento com valor calculado a partir FORMAS PARA A ORGANIZAÇÃO CURRICULAR
das despesas essenciais ao desenvolvimento dos pro-
cessos e procedimentos formativos, que levem, gradu- Art. 13. O currículo, assumindo como referência os
almente, a uma educação integral, dotada de quali- princípios educacionais garantidos à educação, as-
dade social: segurados no artigo 4º desta Resolução, configura-se
I - creches e escolas que possuam condições de infra- como o conjunto de valores e práticas que proporcio-
estrutura e adequados equipamentos; nam a produção, a socialização de significados no es-
II - professores qualificados com remuneração ade- paço social e contribuem intensamente para a cons-
quada e compatível com a de outros profissionais com trução de identidades socioculturais dos educandos.
igual nível de formação, em regime de trabalho de 40 § 1º O currículo deve difundir os valores fundamentais
(quarenta) horas em tempo integral em uma mesma do interesse social, dos direitos e deveres dos cidadãos,
escola; do respeito ao bem comum e à ordem democrática,
III - definição de uma relação adequada entre o nú- considerando as condições de escolaridade dos estu-
mero de alunos por turma e por professor, que assegu- dantes em cada estabelecimento, a orientação para o
re aprendizagens relevantes; trabalho, a promoção de práticas educativas formais
IV - pessoal de apoio técnico e administrativo que res- e não-formais.
ponda às exigências do que se estabelece no projeto § 2º Na organização da proposta curricular, deve-
político-pedagógico. -se assegurar o entendimento de currículo como ex-
periências escolares que se desdobram em torno do
TÍTULO V conhecimento, permeadas pelas relações sociais, ar-
ORGANIZAÇÃO CURRICULAR: CONCEITO, LIMITES, ticulando vivências e saberes dos estudantes com os
POSSIBILIDADES conhecimentos historicamente acumulados e contri-
buindo para construir as identidades dos educandos.
Art. 11. A escola de Educação Básica é o espaço em que § 3º A organização do percurso formativo, aberto e
se ressignifica e se recria a cultura herdada, recons- contextualizado, deve ser construída em função das
truindo-se as identidades culturais, em que se aprende peculiaridades do meio e das características, interes-
a valorizar as raízes próprias das diferentes regiões do ses e necessidades dos estudantes, incluindo não só os
País. componentes curriculares centrais obrigatórios, pre-
Parágrafo único. Essa concepção de escola exige a su- vistos na legislação e nas normas educacionais, mas
peração do rito escolar, desde a construção do currí- outros, também, de modo flexível e variável, conforme
culo até os critérios que orientam a organização do cada projeto escolar, e assegurando:
trabalho escolar em sua multidimensionalidade, privi- I - concepção e organização do espaço curricular e fí-
legia trocas, acolhimento e aconchego, para garantir o sico que se imbriquem e alarguem, incluindo espaços,
bem-estar de crianças, adolescentes, jovens e adultos, ambientes e equipamentos que não apenas as salas
no relacionamento entre todas as pessoas. de aula da escola, mas, igualmente, os espaços de ou-
tras escolas e os socioculturais e esportivo recreativos
Art. 12. Cabe aos sistemas educacionais, em geral, de- do entorno, da cidade e mesmo da região;
finir o programa de escolas de tempo parcial diurno II - ampliação e diversificação dos tempos e espaços
(matutino ou vespertino), tempo parcial noturno, e curriculares que pressuponham profissionais da edu-
tempo integral (turno e contra turno ou turno único cação dispostos a inventar e construir a escola de qua-
com jornada escolar de 7 horas, no mínimo, durante lidade social, com responsabilidade compartilhada
todo o período letivo), tendo em vista a amplitude do com as demais autoridades que respondem pela ges-
papel socioeducativo atribuído ao conjunto orgânico tão dos órgãos do poder público, na busca de parcerias
da Educação Básica, o que requer outra organização e possíveis e necessárias, até porque educar é responsa-
gestão do trabalho pedagógico. bilidade da família, do Estado e da sociedade;
§ 1º Deve-se ampliar a jornada escolar, em único ou III - escolha da abordagem didáticopedagógica dis-
LEGISLAÇÃO

diferentes espaços educativos, nos quais a perma- ciplinar, pluridisciplinar, interdisciplinar ou transdis-
nência do estudante vincula-se tanto à quantidade e ciplinar pela escola, que oriente o projeto político-
qualidade do tempo diário de escolarização quanto à -pedagógico e resulte de pacto estabelecido entre os
diversidade de atividades de aprendizagens. profissionais da escola, conselhos escolares e comu-

36
nidade, subsidiando a organização da matriz curricu- cas e gerados nas instituições produtoras do conheci-
lar, a definição de eixos temáticos e a constituição de mento científico e tecnológico; no mundo do trabalho;
redes de aprendizagem; no desenvolvimento das linguagens; nas atividades
IV - compreensão da matriz curricular entendida desportivas e corporais; na produção artística; nas for-
como propulsora de movimento, dinamismo curricular mas diversas de exercício da cidadania; e nos movi-
e educacional, de tal modo que os diferentes campos mentos sociais.
do conhecimento possam se coadunar com o conjunto § 1º Integram a base nacional comum nacional: a) a
de atividades educativas; Língua Portuguesa;
V - organização da matriz curricular entendida como b) a Matemática;
alternativa operacional que embase a gestão do cur- c) o conhecimento do mundo físico, natural, da rea-
rículo escolar e represente subsídio para a gestão da lidade social e política, especialmente do Brasil, in-
escola (na organização do tempo e do espaço curri- cluindo-se o estudo da História e das Culturas Afro-
cular, distribuição e controle do tempo dos trabalhos -Brasileira e Indígena,
docentes), passo para uma gestão centrada na abor- d) a Arte, em suas diferentes formas de expressão,
dagem interdisciplinar, organizada por eixos temáti- incluindo-se a música;
cos, mediante interlocução entre os diferentes campos e) a Educação Física;
do conhecimento; f) o Ensino Religioso.
VI - entendimento de que eixos temáticos são uma § 2º Tais componentes curriculares são organizados
forma de organizar o trabalho pedagógico, limitando pelos sistemas educativos, em forma de áreas de co-
a dispersão do conhecimento, fornecendo o cenário nhecimento, disciplinas, eixos temáticos, preservan-
no qual se constroem objetos de estudo, propiciando do-se a especificidade dos diferentes campos do co-
a concretização da proposta pedagógica centrada na nhecimento, por meio dos quais se desenvolvem as
visão interdisciplinar, superando o isolamento das pes- habilidades indispensáveis ao exercício da cidadania,
soas e a compartimentalização de conteúdos rígidos; em ritmo compatível com as etapas do desenvolvi-
VII - estímulo à criação de métodos didático-peda- mento integral do cidadão.
gógicos utilizando-se recursos tecnológicos de infor- § 3º A base nacional comum e a parte diversificada
mação e comunicação, a serem inseridos no cotidiano não podem se constituir em dois blocos distintos, com
escolar, a fim de superar a distância entre estudan- disciplinas específicas para cada uma dessas partes,
tes que aprendem a receber informação com rapidez mas devem ser organicamente planejadas e geridas de
utilizando a linguagem digital e professores que dela tal modo que as tecnologias de informação e comu-
ainda não se apropriaram; nicação perpassem transversalmente a proposta cur-
VIII - constituição de rede de aprendizagem, entendi- ricular, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio,
da como um conjunto de ações didáticopedagógica, imprimindo direção aos projetos políticopedagógico.
com foco na aprendizagem e no gosto de aprender,
subsidiada pela consciência de que o processo de co-
Art. 15. A parte diversificada enriquece e complementa
municação entre estudantes e professores é efetivado
a base nacional comum, prevendo o estudo das carac-
por meio de práticas e recursos diversos;
terísticas regionais e locais da sociedade, da cultura, da
IX - adoção de rede de aprendizagem, também, como
economia e da comunidade escolar, perpassando todos
ferramenta didáticopedagógica relevante nos progra-
os tempos e espaços curriculares constituintes do Ensino
mas de formação inicial e continuada de profissionais
Fundamental e do Ensino Médio, independentemente do
da educação, sendo que esta opção requer planeja-
mento sistemático integrado estabelecido entre siste- ciclo da vida no qual os sujeitos tenham acesso à escola.
mas educativos ou conjunto de unidades escolares; § 1º A parte diversificada pode ser organizada em te-
§ 4º A transversalidade é entendida como uma forma mas gerais, na forma de eixos temáticos, selecionados
de organizar o trabalho didáticopedagógica em que colegiadamente pelos sistemas educativos ou pela uni-
temas e eixos temáticos são integrados às disciplinas dade escolar.
e às áreas ditas convencionais, de forma a estarem § 2º A LDB inclui o estudo de, pelo menos, uma língua
presentes em todas elas. estrangeira moderna na parte diversificada, cabendo
§ 5º A transversalidade difere da interdisciplinaridade sua escolha à comunidade escolar, dentro das possibi-
e ambas complementam-se, rejeitando a concepção lidades da escola, que deve considerar o atendimento
de conhecimento que toma a realidade como algo es- das características locais, regionais, nacionais e trans-
tável, pronto e acabado. nacionais, tendo em vista as demandas do mundo do
§ 6º A transversalidade refere-se à dimensão didáti- trabalho e da internacionalização de toda ordem de
copedagógica, e a interdisciplinaridade, à abordagem relações.
epistemológica dos objetos de conhecimento. § 3º A língua espanhola, por força da Lei nº 11.161/2005,
é obrigatoriamente ofertada no Ensino Médio, embora
CAPÍTULO II facultativa para o estudante, bem como possibilitada
FORMAÇÃO BÁSICA COMUM E PARTE DIVERSIFI- no Ensino Fundamental, do 6º ao 9º ano.
CADA
LEGISLAÇÃO

Art. 16. Leis específicas, que complementam a LDB,


Art. 14. A base nacional comum na Educação Básica determinam que sejam incluídos componentes não
constitui-se de conhecimentos, saberes e valores pro- disciplinares, como temas relativos ao trânsito, ao
duzidos culturalmente, expressos nas políticas públi- meio ambiente e à condição e direitos do idoso.

37
Art. 17. No Ensino Fundamental e no Ensino Médio, responsabilidade dos sistemas a criação de condições
destinar-se-ão, pelo menos, 20% do total da carga para que crianças, adolescentes, jovens e adultos, com
horária anual ao conjunto de programas e projetos sua diversidade, tenham a oportunidade de receber a
interdisciplinares eletivos criados pela escola, previs- formação que corresponda à idade própria de percur-
to no projeto pedagógico, de modo que os estudantes so escolar.
do Ensino Fundamental e do Médio possam escolher
aquele programa ou projeto com que se identifiquem CAPÍTULO I
e que lhes permitam melhor lidar com o conhecimen- ETAPAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA
to e a experiência.
§ 1º Tais programas e projetos devem ser desenvol- Art. 21. São etapas correspondentes a diferentes mo-
vidos de modo dinâmico, criativo e flexível, em arti- mentos constitutivos do desenvolvimento educacional:
culação com a comunidade em que a escola esteja I - a Educação Infantil, que compreende: a Creche, en-
inserida. globando as diferentes etapas do desenvolvimento da
§ 2º A interdisciplinaridade e a contextualização de- criança até 3 (três) anos e 11 (onze) meses; e a Pré-
vem assegurar a transversalidade do conhecimento de -Escola, com duração de 2 (dois) anos;
diferentes disciplinas e eixos temáticos, perpassando II - o Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, com dura-
todo o currículo e propiciando a interlocução entre os ção de 9 (nove) anos, é organizado e tratado em duas fases:
saberes e os diferentes campos do conhecimento. a dos 5 (cinco) anos iniciais e a dos 4 (quatro) anos finais;
III - o Ensino Médio, com duração mínima de 3 (três) anos.
TÍTULO VI Parágrafo único. Essas etapas e fases têm previsão
ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA de idades próprias, as quais, no entanto, são diver-
sas quando se atenta para sujeitos com características
Art. 18. Na organização da Educação Básica, devem-se que fogem à norma, como é o caso, entre outros:
observar as Diretrizes Curriculares Nacionais comuns a I - de atraso na matrícula e/ou no percurso escolar;
II - de retenção, repetência e retorno de quem havia
todas as suas etapas, modalidades e orientações temá-
abandonado os estudos;
ticas, respeitadas as suas especificidades e as dos sujei-
III - de portadores de deficiência limitadora;
tos a que se destinam.
IV - de jovens e adultos sem escolarização ou com esta
§ 1º As etapas e as modalidades do processo de esco-
incompleta;
larização estruturam-se de modo orgânico, sequencial
V - de habitantes de zonas rurais;
e articulado, de maneira complexa, embora permane-
VI - de indígenas e quilombolas;
cendo individualizadas ao logo do percurso do estu-
VII - de adolescentes em regime de acolhimento ou
dante, apesar das mudanças por que passam: internação, jovens e adultos em situação de privação
I - a dimensão orgânica é atendida quando são ob- de liberdade nos estabelecimentos penais.
servadas as especificidades e as diferenças de cada
sistema educativo, sem perder o que lhes é comum: as Seção I
semelhanças e as identidades que lhe são inerentes; Educação Infantil
II - a dimensão sequencial compreende os processos
educativos que acompanham as exigências de apren- Art. 22. A Educação Infantil tem por objetivo o desen-
dizagens definidas em cada etapa do percurso forma- volvimento integral da criança, em seus aspectos físi-
tivo, contínuo e progressivo, da Educação Básica até co, afetivo, psicológico, intelectual, social, complemen-
a Educação Superior, constituindo-se em diferentes e tando a ação da família e da comunidade.
insubstituíveis momentos da vida dos educandos; § 1º As crianças provêm de diferentes e singulares
III - a articulação das dimensões orgânica e sequencial contextos socioculturais, socioeconômicos e étnicos,
das etapas e das modalidades da Educação Básica, e por isso devem ter a oportunidade de ser acolhidas e
destas com a Educação Superior, implica ação coorde- respeitadas pela escola e pelos profissionais da edu-
nada e integradora do seu conjunto. cação, com base nos princípios da individualidade,
§ 2º A transição entre as etapas da Educação Básica e igualdade, liberdade, diversidade e pluralidade.
suas fases requer formas de articulação das dimensões § 2º Para as crianças, independentemente das dife-
orgânica e sequencial que assegurem aos educandos, rentes condições físicas, sensoriais, intelectuais, lin-
sem tensões e rupturas, a continuidade de seus proces- guísticas, étnico-raciais, socioeconômicas, de origem,
sos peculiares de aprendizagem e desenvolvimento. de religião, entre outras, as relações sociais e intersub-
jetivas no espaço escolar requerem a atenção intensi-
Art. 19. Cada etapa é delimitada por sua finalidade, va dos profissionais da educação, durante o tempo de
seus princípios, objetivos e diretrizes educacionais, desenvolvimento das atividades que lhes são peculia-
fundamentando-se na inseparabilidade dos conceitos res, pois este é o momento em que a curiosidade deve
referenciais: cuidar e educar, pois esta é uma concepção ser estimulada, a partir da brincadeira orientada pelos
norteadora do projeto político-pedagógico elaborado e profissionais da educação.
executado pela comunidade educacional. § 3º Os vínculos de família, dos laços de solidarieda-
LEGISLAÇÃO

de humana e do respeito mútuo em que se assenta


Art. 20. O respeito aos educandos e a seus tempos a vida social devem iniciar-se na Educação Infantil e
mentais, socioemocionais, culturais e identitários é um sua intensificação deve ocorrer ao longo da Educação
princípio orientador de toda a ação educativa, sendo Básica.

38
§ 4º Os sistemas educativos devem envidar esforços quente entre a primeira fase, no geral assumida pelo
promovendo ações a partir das quais as unidades de Município, e a segunda, pelo Estado, para evitar obs-
Educação Infantil sejam dotadas de condições para táculos ao acesso de estudantes que se transfiram de
acolher as crianças, em estreita relação com a famí- uma rede para outra para completar esta escolaridade
lia, com agentes sociais e com a sociedade, prevendo obrigatória, garantindo a organicidade e a totalidade
programas e projetos em parceria, formalmente esta- do processo formativo do escolar.
belecidos.
§ 5º A gestão da convivência e as situações em que Seção III
se torna necessária a solução de problemas individu- Ensino Médio
ais e coletivos pelas crianças devem ser previamente
programadas, com foco nas motivações estimuladas e Art. 26. O Ensino Médio, etapa final do processo for-
orientadas pelos professores e demais profissionais da mativo da Educação Básica, é orientado por princípios
educação e outros de áreas pertinentes, respeitados e finalidades que preveem:
os limites e as potencialidades de cada criança e os I - a consolidação e o aprofundamento dos conheci-
vínculos desta com a família ou com o seu responsável mentos adquiridos no Ensino
direto. Fundamental, possibilitando o prosseguimento de es-
tudos;
Seção II II - a preparação básica para a cidadania e o trabalho,
Ensino Fundamental tomado este como princípio educativo, para continuar
aprendendo, de modo a ser capaz de enfrentar novas
Art. 23. O Ensino Fundamental com 9 (nove) anos de condições de ocupação e aperfeiçoamento posteriores;
duração, de matrícula obrigatória para as crianças a III - o desenvolvimento do educando como pessoa hu-
partir dos 6 (seis) anos de idade, tem duas fases se- mana, incluindo a formação ética e estética, o desen-
quentes com características próprias, chamadas de volvimento da autonomia intelectual e do pensamen-
anos iniciais, com 5 (cinco) anos de duração, em regra to crítico;
para estudantes de 6 (seis) a 10 (dez) anos de idade; e IV - a compreensão dos fundamentos científicos e tec-
anos finais, com 4 (quatro) anos de duração, para os nológicos presentes na sociedade contemporânea, re-
de 11 (onze) a 14 (quatorze) anos. lacionando a teoria com a prática.
Parágrafo único. No Ensino Fundamental, acolher sig- § 1º O Ensino Médio deve ter uma base unitária so-
nifica também cuidar e educar, como forma de garan- bre a qual podem se assentar possibilidades diversas
tir a aprendizagem dos conteúdos curriculares, para como preparação geral para o trabalho ou, faculta-
que o estudante desenvolva interesses e sensibilidades tivamente, para profissões técnicas; na ciência e na
que lhe permitam usufruir dos bens culturais disponí- tecnologia, como iniciação científica e tecnológica; na
veis na comunidade, na sua cidade ou na sociedade cultura, como ampliação da formação cultural.
em geral, e que lhe possibilitem ainda sentir-se como § 2º A definição e a gestão do currículo inscrevem-se
produtor valorizado desses bens. em uma lógica que se dirige aos jovens, considerando
suas singularidades, que se situam em um tempo de-
Art. 24. Os objetivos da formação básica das crian- terminado.
ças, definidos para a Educação Infantil, prolongam- § 3º Os sistemas educativos devem prever currículos
-se durante os anos iniciais do Ensino Fundamental, flexíveis, com diferentes alternativas, para que os jo-
especialmente no primeiro, e completam-se nos anos vens tenham a oportunidade de escolher o percurso
finais, ampliando e intensificando, gradativamente, o formativo que atenda seus interesses, necessidades e
processo educativo, mediante: aspirações, para que se assegure a permanência dos
I - desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo jovens na escola, com proveito, até a conclusão da
como meios básicos o pleno domínio da leitura, da Educação Básica.
escrita e do cálculo;
II - foco central na alfabetização, ao longo dos 3 (três) CAPÍTULO II
primeiros anos; MODALIDADES DA EDUCAÇÃO BÁSICA
III - compreensão do ambiente natural e social, do sis-
tema político, da economia, da tecnologia, das artes, Art. 27. A cada etapa da Educação Básica pode cor-
da cultura e dos valores em que se fundamenta a so- responder uma ou mais das modalidades de ensino:
ciedade; Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial, Edu-
IV - o desenvolvimento da capacidade de aprendiza- cação Profissional e Tecnológica, Educação do Campo,
gem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e Educação Escolar Indígena e Educação a Distância.
habilidades e a formação de atitudes e valores;
V - fortalecimento dos vínculos de família, dos laços Seção I
de solidariedade humana e de respeito recíproco em Educação de Jovens e Adultos
que se assenta a vida social.
LEGISLAÇÃO

Art. 28. A Educação de Jovens e Adultos (EJA) destina-


Art. 25. Os sistemas estaduais e municipais devem -se aos que se situam na faixa etária superior à consi-
estabelecer especial forma de colaboração visando derada própria, no nível de conclusão do Ensino Fun-
à oferta do Ensino Fundamental e à articulação se- damental e do Ensino Médio.

39
§ 1º Cabe aos sistemas educativos viabilizar a oferta II - a oferta do atendimento educacional especializa-
de cursos gratuitos aos jovens e aos adultos, propor- do;
cionando-lhes oportunidades educacionais apropria- III - a formação de professores para o AEE e para o
das, consideradas as características do alunado, seus desenvolvimento de práticas educacionais inclusivas;
interesses, condições de vida e de trabalho, mediante IV - a participação da comunidade escolar;
cursos, exames, ações integradas e complementares V - a acessibilidade arquitetônica, nas comunicações
entre si, estruturados em um projeto pedagógico pró- e informações, nos mobiliários e equipamentos e nos
prio. transportes;
§ 2º Os cursos de EJA, preferencialmente tendo a Edu- VI - a articulação das políticas públicas intersetoriais.
cação Profissional articulada com a Educação Básica,
devem pautar-se pela flexibilidade, tanto de currículo Seção III
quanto de tempo e espaço, para que seja(m): Educação Profissional e Tecnológica
I - rompida a simetria com o ensino regular para
crianças e adolescentes, de modo a permitir percursos Art. 30. A Educação Profissional e Tecnológica, no
individualizados e conteúdos significativos para os jo- cumprimento dos objetivos da educação nacional,
vens e adultos; integra-se aos diferentes níveis e modalidades de
II - providos o suporte e a atenção individuais às di- educação e às dimensões do trabalho, da ciência e da
ferentes necessidades dos estudantes no processo de tecnologia, e articula-se com o ensino regular e com
aprendizagem, mediante atividades diversificadas; outras modalidades educacionais: Educação de Jovens
III - valorizada a realização de atividades e vivências e Adultos, Educação Especial e Educação a Distância.
socializadoras, culturais, recreativas e esportivas, ge- Art. 31. Como modalidade da Educação Básica, a Edu-
radoras de enriquecimento do percurso formativo dos cação Profissional e Tecnológica ocorre na oferta de
estudantes; cursos de formação inicial e continuada ou qualifica-
IV - desenvolvida a agregação de competências para ção profissional e nos de Educação Profissional Técni-
o trabalho; ca de nível médio.
V - promovida a motivação e a orientação permanen-
te dos estudantes, visando maior participação nas au- Art. 32. A Educação Profissional Técnica de nível mé-
las e seu melhor aproveitamento e desempenho;
dio é desenvolvida nas seguintes formas:
VI - realizada, sistematicamente, a formação continu-
I - articulada com o Ensino Médio, sob duas formas: a)
ada, destinada, especificamente, aos educadores de
integrada, na mesma instituição; ou
jovens e adultos.
b) concomitante, na mesma ou em distintas institui-
ções;
Seção II
II - subsequente, em cursos destinados a quem já te-
Educação Especial
nha concluído o Ensino Médio.
Art. 29. A Educação Especial, como modalidade trans- § 1º Os cursos articulados com o Ensino Médio, orga-
versal a todos os níveis, etapas e modalidades de en- nizados na forma integrada, são cursos de matrícula
sino, é parte integrante da educação regular, devendo única, que conduzem os educandos à habilitação pro-
ser prevista no projeto político-pedagógico da unidade fissional técnica de nível médio ao mesmo tempo em
escolar. que concluem a última etapa da Educação Básica.
§ 1º Os sistemas de ensino devem matricular os es- § 2º Os cursos técnicos articulados com o Ensino Mé-
tudantes com deficiência, transtornos globais do de- dio, ofertados na forma concomitante, com dupla ma-
senvolvimento e altas habilidades/superdotação nas trícula e dupla certificação, podem ocorrer:
classes comuns do ensino regular e no Atendimento I - na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as
Educacional Especializado (AEE), complementar ou oportunidades educacionais disponíveis;
suplementar à escolarização, ofertado em salas de re- II - em instituições de ensino distintas, aproveitando-
cursos multifuncionais ou em centros de AEE da rede -se as oportunidades educacionais disponíveis;
pública ou de instituições comunitárias, confessionais III - em instituições de ensino distintas, mediante con-
ou filantrópicas sem fins lucrativos. vênios de intercomplementaridade, com planejamen-
§ 2º Os sistemas e as escolas devem criar condições to e desenvolvimento de projeto pedagógico unificado.
para que o professor da classe comum possa explorar § 3º São admitidas, nos cursos de Educação Profissio-
as potencialidades de todos os estudantes, adotando nal Técnica de nível médio, a organização e a estrutu-
uma pedagogia dialógica, interativa, interdisciplinar ração em etapas que possibilitem qualificação profis-
e inclusiva e, na interface, o professor do AEE deve sional intermediária.
identificar habilidades e necessidades dos estudantes, § 4º A Educação Profissional e Tecnológica pode ser
organizar e orientar sobre os serviços e recursos pe- desenvolvida por diferentes estratégias de educação
dagógicos e de acessibilidade para a participação e continuada, em instituições especializadas ou no am-
aprendizagem dos estudantes. biente de trabalho, incluindo os programas e cursos de
§ 3º Na organização desta modalidade, os sistemas de aprendizagem, previstos na Consolidação das Leis do
LEGISLAÇÃO

ensino devem observar as seguintes orientações fun- Trabalho (CLT).


damentais:
I - o pleno acesso e a efetiva participação dos estudan- Art. 33. A organização curricular da Educação Profis-
tes no ensino regular; sional e Tecnológica por eixo tecnológico fundamenta-

40
-se na identificação das tecnologias que se encontram Art. 38. Na organização de escola indígena, deve ser
na base de uma dada formação profissional e dos ar- considerada a participação da comunidade, na defini-
ranjos lógicos por elas constituídos. ção do modelo de organização e gestão, bem como:
I - suas estruturas sociais;
Art. 34. Os conhecimentos e as habilidades adquiri- II - suas práticas socioculturais e religiosas;
dos tanto nos cursos de Educação Profissional e Tec- III - suas formas de produção de conhecimento, pro-
nológica, como os adquiridos na prática laboral pelos cessos próprios e métodos de ensino-aprendizagem;
trabalhadores, podem ser objeto de avaliação, reco- IV - suas atividades econômicas;
nhecimento e certificação para prosseguimento ou V - edificação de escolas que atendam aos interesses
conclusão de estudos. das comunidades indígenas;
VI - uso de materiais didático-pedagógicos produzidos
Seção IV de acordo com o contexto sociocultural de cada povo
Educação Básica do Campo indígena.

Art. 35. Na modalidade de Educação Básica do Cam- Seção VI


po, a educação para a população rural está prevista Educação a Distância
com adequações necessárias às peculiaridades da vida
no campo e de cada região, definindo-se orientações Art. 39. A modalidade Educação a Distância caracte-
para três aspectos essenciais à organização da ação riza-se pela mediação didáticopedagógica nos pro-
pedagógica: cessos de ensino e aprendizagem que ocorre com a
I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas utilização de meios e tecnologias de informação e
às reais necessidades e interesses dos estudantes da comunicação, com estudantes e professores desen-
zona rural; volvendo atividades educativas em lugares ou tempos
II - organização escolar própria, incluindo adequação diversos.
do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às
condições climáticas; Art. 40. O credenciamento para a oferta de cursos e
III - adequação à natureza do trabalho na zona rural. programas de Educação de Jovens e Adultos, de Edu-
cação Especial e de Educação Profissional Técnica de
Art. 36. A identidade da escola do campo é definida
nível médio e Tecnológica, na modalidade a distância,
pela vinculação com as questões inerentes à sua rea-
compete aos sistemas estaduais de ensino, atendidas
lidade, com propostas pedagógicas que contemplam
a regulamentação federal e as normas complementa-
sua diversidade em todos os aspectos, tais como so-
res desses sistemas.
ciais, culturais, políticos, econômicos, de gênero, ge-
ração e etnia.
Seção VII
Parágrafo único. Formas de organização e metodolo-
gias pertinentes à realidade do campo devem ter aco-
Educação Escolar Quilombola
lhidas, como a pedagogia da terra, pela qual se busca
um trabalho pedagógico fundamentado no princípio Art. 41. A Educação Escolar Quilombola é desenvolvi-
da sustentabilidade, para assegurar a preservação da em unidades educacionais inscritas em suas terras
da vida das futuras gerações, e a pedagogia da al- e cultura, requerendo pedagogia própria em respeito
ternância, na qual o estudante participa, concomitan- à especificidade étnico-cultural de cada comunidade e
te e alternadamente, de dois ambientes/situações de formação específica de seu quadro docente, observa-
aprendizagem: o escolar e o laboral, supondo parceria dos os princípios constitucionais, a base nacional co-
educativa, em que ambas as partes são corresponsá- mum e os princípios que orientam a Educação Básica
veis pelo aprendizado e pela formação do estudante. brasileira.
Parágrafo único. Na estruturação e no funcionamento
Seção V das escolas quilombolas, bem com nas demais, deve
Educação Escolar Indígena ser reconhecida e valorizada a diversidade cultural.

Art. 37. A Educação Escolar Indígena ocorre em unida- TÍTULO VII


des educacionais inscritas em suas terras e culturas, as ELEMENTOS CONSTITUTIVOS PARA A ORGANIZA-
quais têm uma realidade singular, requerendo peda- ÇÃO DAS
gogia própria em respeito à especificidade étnico-cul- DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS GERAIS
tural de cada povo ou comunidade e formação espe- PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA
cífica de seu quadro docente, observados os princípios
constitucionais, a base nacional comum e os princípios Art. 42. São elementos constitutivos para a operacio-
que orientam a Educação Básica brasileira. nalização destas Diretrizes o projeto político-pedagó-
Parágrafo único. Na estruturação e no funcionamento gico e o regimento escolar; o sistema de avaliação; a
das escolas indígenas, é reconhecida a sua condição gestão democrática e a organização da escola; o pro-
LEGISLAÇÃO

de possuidores de normas e ordenamento jurídico pró- fessor e o programa de formação docente.


prios, com ensino intercultural e bilíngue, visando à
valorização plena das culturas dos povos indígenas e
à afirmação e manutenção de sua diversidade étnica.

41
CAPÍTULO I IX - as ações de acompanhamento sistemático dos
O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO E O REGIMEN- resultados do processo de avaliação interna e exter-
TO ESCOLAR na (Sistema de Avaliação da Educação Básica – SAEB,
Prova Brasil, dados estatísticos, pesquisas sobre os su-
Art. 43. O projeto político-pedagógico, interdependen- jeitos da Educação Básica), incluindo dados referentes
temente da autonomia pedagógica, administrativa e ao IDEB e/ou que complementem ou substituam os
de gestão financeira da instituição educacional, re- desenvolvidos pelas unidades da federação e outros;
presenta mais do que um documento, sendo um dos X - a concepção da organização do espaço físico da
meios de viabilizar a escola democrática para todos e instituição escolar de tal modo que este seja compa-
de qualidade social. tível com as características de seus sujeitos, que aten-
§ 1º A autonomia da instituição educacional baseia-se da as normas de acessibilidade, além da natureza e
na busca de sua identidade, que se expressa na cons- das finalidades da educação, deliberadas e assumidas
trução de seu projeto pedagógico e do seu regimento pela comunidade educacional.
escolar, enquanto manifestação de seu ideal de educa- Art. 45. O regimento escolar, discutido e aprovado pela
ção e que permite uma nova e democrática ordenação comunidade escolar e conhecido por todos, constitui-
pedagógica das relações escolares. -se em um dos instrumentos de execução do projeto
§ 2º Cabe à escola, considerada a sua identidade e a políticopedagógico, com transparência e responsabi-
de seus sujeitos, articular a formulação do projeto po- lidade.
lítico-pedagógico com os planos de educação – nacio- Parágrafo único. O regimento escolar trata da nature-
nal, estadual, municipal –, o contexto em que a escola za e da finalidade da instituição, da relação da gestão
se situa e as necessidades locais e de seus estudantes. democrática com os órgãos colegiados, das atribui-
§ 3º A missão da unidade escolar, o papel socioedu- ções de seus órgãos e sujeitos, das suas normas pe-
cativo, artístico, cultural, ambiental, as questões de dagógicas, incluindo os critérios de acesso, promoção,
gênero, etnia e diversidade cultural que compõem as mobilidade do estudante, dos direitos e deveres dos
ações educativas, a organização e a gestão curricu- seus sujeitos: estudantes, professores, técnicos e fun-
lar são componentes integrantes do projeto político- cionários, gestores, famílias, representação estudantil
-pedagógico, devendo ser previstas as prioridades e função das suas instâncias colegiadas.
institucionais que a identificam, definindo o conjunto
das ações educativas próprias das etapas da Educação
CAPÍTULO II
AVALIAÇÃO
Básica assumidas, de acordo com as especificidades
que lhes correspondam, preservando a sua articulação
Art. 46. A avaliação no ambiente educacional compre-
sistêmica.
ende 3 (três) dimensões básicas:
I - avaliação da aprendizagem;
Art. 44. O projeto político-pedagógico, instância de
II - avaliação institucional interna e externa;
construção coletiva que respeita os sujeitos das apren-
III - avaliação de redes de Educação Básica.
dizagens, entendidos como cidadãos com direitos à
proteção e à participação social, deve contemplar: Seção I
I - o diagnóstico da realidade concreta dos sujeitos do Avaliação da aprendizagem
processo educativo, contextualizados no espaço e no
tempo; Art. 47. A avaliação da aprendizagem baseia-se na
II - a concepção sobre educação, conhecimento, ava- concepção de educação que norteia a relação pro-
liação da aprendizagem e mobilidade escolar; fessor-estudante-conhecimento-vida em movimento,
III - o perfil real dos sujeitos – crianças, jovens e adul- devendo ser um ato reflexo de reconstrução da prática
tos – que justificam e instituem a vida da e na esco- pedagógica avaliativa, premissa básica e fundamental
la, do ponto de vista intelectual, cultural, emocional, para se questionar o educar, transformando a mudan-
afetivo, socioeconômico, como base da reflexão sobre ça em ato, acima de tudo, político.
as relações vida-conhecimento-culturaprofessor-estu- § 1º A validade da avaliação, na sua função diagnósti-
dante e instituição escolar; ca, liga-se à aprendizagem, possibilitando o aprendiz
IV - as bases norteadoras da organização do trabalho a recriar, refazer o que aprendeu, criar, propor e, nes-
pedagógico; se contexto, aponta para uma avaliação global, que
V - a definição de qualidade das aprendizagens e, por vai além do aspecto quantitativo, porque identifica o
consequência, da escola, no contexto das desigualda- desenvolvimento da autonomia do estudante, que é
des que se refletem na escola; indissociavelmente ético, social, intelectual.
VI - os fundamentos da gestão democrática, compar- § 2º Em nível operacional, a avaliação da aprendi-
tilhada e participativa (órgãos colegiados e de repre- zagem tem, como referência, o conjunto de conheci-
sentação estudantil); mentos, habilidades, atitudes, valores e emoções que
VII - o programa de acompanhamento de acesso, de os sujeitos do processo educativo projetam para si de
LEGISLAÇÃO

permanência dos estudantes e de superação da reten- modo integrado e articulado com aqueles princípios
ção escolar; definidos para a Educação Básica, redimensionados
VIII - o programa de formação inicial e continuada dos para cada uma de suas etapas, bem assim no projeto
profissionais da educação, regentes e não regentes; político-pedagógico da escola.

42
§ 3º A avaliação na Educação Infantil é realizada Seção III
mediante acompanhamento e registro do desenvolvi- Avaliação institucional
mento da criança, sem o objetivo de promoção, mes-
mo em se tratando de acesso ao Ensino Fundamental. Art. 52. A avaliação institucional interna deve ser pre-
§ 4º A avaliação da aprendizagem no Ensino Funda- vista no projeto políticopedagógico e detalhada no
mental e no Ensino Médio, de caráter formativo pre- plano de gestão, realizada anualmente, levando em
dominando sobre o quantitativo e classificatório, ado- consideração as orientações contidas na regulamenta-
ta uma estratégia de progresso individual e contínuo ção vigente, para rever o conjunto de objetivos e me-
que favorece o crescimento do educando, preservando tas a serem concretizados, mediante ação dos diversos
a qualidade necessária para a sua formação escolar, segmentos da comunidade educativa, o que pressupõe
sendo organizada de acordo com regras comuns a es- delimitação de indicadores compatíveis com a missão
sas duas etapas. da escola, além de clareza quanto ao que seja qualida-
de social da aprendizagem e da escola.
Seção II
Promoção, aceleração de estudos e classificação Seção IV
Avaliação de redes de Educação Básica
Art. 48. A promoção e a classificação no Ensino Fun-
damental e no Ensino Médio podem ser utilizadas em Art. 53. A avaliação de redes de Educação Básica ocor-
qualquer ano, série, ciclo, módulo ou outra unidade re periodicamente, é realizada por órgãos externos à
de percurso adotada, exceto na primeira do Ensino escola e engloba os resultados da avaliação institucio-
Fundamental, alicerçando-se na orientação de que a nal, sendo que os resultados dessa avaliação sinali-
avaliação do rendimento escolar observará os seguin- zam para a sociedade se a escola apresenta qualidade
tes critérios: suficiente para continuar funcionando como está.
I - avaliação contínua e cumulativa do desempenho
do estudante, com prevalência dos aspectos qualita- CAPÍTULO III
tivos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo GESTÃO DEMOCRÁTICA E ORGANIZAÇÃO DA ES-
do período sobre os de eventuais provas finais; COLA
II - possibilidade de aceleração de estudos para estu-
dantes com atraso escolar; Art. 54. É pressuposto da organização do trabalho pe-
III - possibilidade de avanço nos cursos e nas séries dagógico e da gestão da escola conceber a organiza-
mediante verificação do aprendizado; ção e a gestão das pessoas, do espaço, dos processos e
IV - aproveitamento de estudos concluídos com êxito; procedimentos que viabilizam o trabalho expresso no
V - oferta obrigatória de apoio pedagógico destinado projeto político-pedagógico e em planos da escola, em
à recuperação contínua e concomitante de aprendiza- que se conformam as condições de trabalho definidas
gem de estudantes com déficit de rendimento escolar, pelas instâncias colegiadas.
a ser previsto no regimento escolar. § 1º As instituições, respeitadas as normas legais e as
do seu sistema de ensino, têm incumbências comple-
Art. 49. A aceleração de estudos destina-se a estudan- xas e abrangentes, que exigem outra concepção de or-
tes com atraso escolar, àqueles que, por algum motivo, ganização do trabalho pedagógico, como distribuição
encontram-se em descompasso de idade, por razões da carga horária, remuneração, estratégias claramen-
te definidas para a ação didáticopedagógica coletiva
como ingresso tardio, retenção, dificuldades no pro-
que inclua a pesquisa, a criação de novas abordagens
cesso de ensino-aprendizagem ou outras.
e práticas metodológicas, incluindo a produção de re-
cursos didáticos adequados às condições da escola e
Art. 50. A progressão pode ser regular ou parcial, sen-
da comunidade em que esteja ela inserida.
do que esta deve preservar a sequência do currículo e
§ 2º É obrigatória a gestão democrática no ensino
observar as normas do respectivo sistema de ensino,
público e prevista, em geral, para todas as institui-
requerendo o redesenho da organização das ações
ções de ensino, o que implica decisões coletivas que
pedagógicas, com previsão de horário de trabalho e pressupõem a participação da comunidade escolar na
espaço de atuação para professor e estudante, com gestão da escola e a observância dos princípios e fina-
conjunto próprio de recursos didáticopedagógica. lidades da educação.
§ 3º No exercício da gestão democrática, a escola
Art. 51. As escolas que utilizam organização por série deve se empenhar para constituir-se em espaço das
podem adotar, no Ensino Fundamental, sem prejuízo diferenças e da pluralidade, inscrita na diversidade do
da avaliação do processo ensino-aprendizagem, di- processo tornado possível por meio de relações inter-
versas formas de progressão, inclusive a de progres- subjetivas, cuja meta é a de se fundamentar em prin-
são continuada, jamais entendida como promoção cípio educativo emancipador, expresso na liberdade
automática, o que supõe tratar o conhecimento como de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o
processo e vivência que não se harmoniza com a ideia
LEGISLAÇÃO

pensamento, a arte e o saber.


de interrupção, mas sim de construção, em que o es-
tudante, enquanto sujeito da ação, está em processo Art. 55. A gestão democrática constitui-se em instru-
contínuo de formação, construindo significados. mento de horizontalização das relações, de vivência e
convivência colegiada, superando o autoritarismo no

43
planejamento e na concepção e organização curricu- Art. 57. Entre os princípios definidos para a educação
lar, educando para a conquista da cidadania plena e nacional está a valorização do profissional da educação,
fortalecendo a ação conjunta que busca criar e recriar com a compreensão de que valorizá-lo é valorizar a es-
o trabalho da e na escola mediante: cola, com qualidade gestorial, educativa, social, cultural,
I - a compreensão da globalidade da pessoa, enquanto ética, estética, ambiental.
ser que aprende, que sonha e ousa, em busca de uma § 1º A valorização do profissional da educação escolar
convivência social libertadora fundamentada na ética vincula-se à obrigatoriedade da garantia de qualidade e
cidadã; ambas se associam à exigência de programas de forma-
II - a superação dos processos e procedimentos buro- ção inicial e continuada de docentes e não docentes, no
cráticos, assumindo com pertinência e relevância: os contexto do conjunto de múltiplas atribuições definidas
planos pedagógicos, os objetivos institucionais e edu- para os sistemas educativos, em que se inscrevem as
cacionais, e as atividades de avaliação contínua; funções do professor.
III - a prática em que os sujeitos constitutivos da comu- § 2º Os programas de formação inicial e continuada
nidade educacional discutam a própria práxis pedagó- dos profissionais da educação, vinculados às orienta-
gica impregnando-a de entusiasmo e de compromisso ções destas Diretrizes, devem prepará-los para o de-
com a sua própria comunidade, valorizando-a, situan- sempenho de suas atribuições, considerando necessá-
do-a no contexto das relações sociais e buscando solu- rio:
ções conjuntas; a) além de um conjunto de habilidades cognitivas, sa-
IV - a construção de relações interpessoais solidárias, ber pesquisar, orientar, avaliar e elaborar propostas,
geridas de tal modo que os professores se sintam esti- isto é, interpretar e reconstruir o conhecimento cole-
mulados a conhecer melhor os seus pares (colegas de tivamente;
trabalho, estudantes, famílias), a expor as suas ideias, b) trabalhar cooperativamente em equipe;
a traduzir as suas dificuldades e expectativas pessoais e c) compreender, interpretar e aplicar a linguagem e os
profissionais; instrumentos produzidos ao longo da evolução tecno-
V - a instauração de relações entre os estudantes, pro- lógica, econômica e organizativa;
porcionando-lhes espaços de convivência e situações d) desenvolver competências para integração com a
de aprendizagem, por meio dos quais aprendam a se
comunidade e para relacionamento com as famílias.
compreender e se organizar em equipes de estudos e de
práticas esportivas, artísticas e políticas;
Art. 58. A formação inicial, nos cursos de licenciatu-
VI - a presença articuladora e mobilizadora do gestor no
ra, não esgota o desenvolvimento dos conhecimentos,
cotidiano da escola e nos espaços com os quais a esco-
saberes e habilidades referidas, razão pela qual um
la interage, em busca da qualidade social das aprendi-
programa de formação continuada dos profissionais
zagens que lhe caiba desenvolver, com transparência e
da educação será contemplado no projeto político-
responsabilidade.
-pedagógico.
CAPÍTULO IV
O PROFESSOR E A FORMAÇÃO INICIAL E CONTI- Art. 59. Os sistemas educativos devem instituir orien-
NUADA tações para que o projeto de formação dos profissio-
nais preveja:
Art. 56. A tarefa de cuidar e educar, que a fundamen- a) a consolidação da identidade dos profissionais da
tação da ação docente e os programas de formação educação, nas suas relações com a escola e com o es-
inicial e continuada dos profissionais da educação ins- tudante;
tauram, reflete-se na eleição de um ou outro método b) a criação de incentivos para o resgate da imagem
de aprendizagem, a partir do qual é determinado o social do professor, assim como da autonomia docente
perfil de docente para a Educação Básica, em atendi- tanto individual como coletiva;
mento às dimensões técnicas, políticas, éticas e esté- c) a definição de indicadores de qualidade social da
ticas. educação escolar, a fim de que as agências formado-
§ 1º Para a formação inicial e continuada, as esco- ras de profissionais da educação revejam os projetos
las de formação dos profissionais da educação, sejam dos cursos de formação inicial e continuada de docen-
gestores, professores ou especialistas, deverão incluir tes, de modo que correspondam às exigências de um
em seus currículos e programas: projeto de Nação.
a) o conhecimento da escola como organização com-
plexa que tem a função de promover a educação para Art. 60. Esta Resolução entrará em vigor na data de
e na cidadania; sua publicação.
b) a pesquisa, a análise e a aplicação dos resultados de
investigações de interesse da área educacional;
c) a participação na gestão de processos educativos e
na organização e funcionamento de sistemas e insti-
tuições de ensino;
LEGISLAÇÃO

d) a temática da gestão democrática, dando ênfase


à construção do projeto políticopedagógico, mediante
trabalho coletivo de que todos os que compõem a co-
munidade escolar são responsáveis.

44
BRASIL. RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 5/09
EXERCÍCIO COMENTADO E PARECER CNE/CEB Nº 20/2009 –
DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS
1. (SAP-SP – ANALISTA SOCIOCULTURAL – VUNESP PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL.
– 2017) A organização do sistema educacional pode ser
considerada em três grandes instâncias: o sistema de en-
sino como tal, as escolas e as salas de aula. As escolas RESOLUÇÃO Nº 5, DE 17 DE DEZEMBRO DE 2009
situam-se entre as políticas educacionais, as diretrizes, as
formas organizativas do sistema e as ações pedagógico- Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Edu-
-didáticas na sala de aula. cação Infantil
Nesse sentido, é correto afirmar que a autonomia da es-
cola pública: O Presidente da Câmara de Educação Básica do
Conselho Nacional de Educação, no uso de suas atri-
a) é a possibilidade e a capacidade de a escola elaborar e buições legais, com fundamento no art. 9º, § 1º, alínea
implementar um projeto político-pedagógico que seja “c” da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, com a
relevante à comunidade e à sociedade a que serve. redação dada pela Lei nº 9.131, de 25 de novembro de
b) é o diretor ter a liberdade para organizar e conduzir a 1995, e tendo em vista o Parecer CNE/CEB nº 20/2009,
escola da forma como achar conveniente. homologado por Despacho do Senhor Ministro de Es-
c) não existe, uma vez que ela sempre deve prestar con-
tado da Educação, publicado no DOU de 9 de dezem-
tas de suas ações a uma instância superior.
bro de 2009, resolve:
d) é definida pela ausência de uma relação de influência
mútua entre a sociedade, o sistema de ensino, a insti-
Art. 1º A presente Resolução institui as Diretrizes Curri-
tuição escolar e os sujeitos.
culares Nacionais para a Educação Infantil a serem ob-
servadas na organização de propostas pedagógicas na
Resposta: Letra A.
Educação Infantil.
A questão da autonomia na nova LDB
Com relação a esse tema, a Lei 9.394/96 representa
um extraordinário progresso, já que pela primeira vez Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Edu-
autonomia escolar e projeto pedagógico aparecem cação Infantil articulam-se com as Diretrizes Curricula-
vinculados num texto legal. O Artigo 12 (inciso I) esta- res Nacionais da Educação Básica e reúnem princípios,
belece como incumbência primordial da escola a ela- fundamentos e procedimentos definidos pela Câmara
boração e execução de seu projeto pedagógico e os de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação,
Artigos 13 (inciso I) e 14 (incisos I e II) estabelecem que para orientar as políticas públicas na área e a elabora-
esse projeto é uma tarefa coletiva, na qual devem co- ção, planejamento, execução e avaliação de propostas
laborar professores, outros profissionais da educação pedagógicas e curriculares.
e as comunidades escolar e local. Além dessas referên-
cias explícitas sobre a necessidade de que cada escola Art. 3º O currículo da Educação Infantil é concebido como
elabore e execute o seu próprio projeto pedagógico, a um conjunto de práticas que buscam articular as experiên-
nova lei retomou no Art. 32 (inciso III), como princípio cias e os saberes das crianças com os conhecimentos que
de toda educação nacional, a exigência de “pluralismo fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental,
de ideias e de concepções pedagógicas” que, embora científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvi-
já figure na Constituição Federal (Art. 205, inciso III), mento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade.
nem sempre é lembrado e obedecido. A relevância
desse princípio está justamente no fato de que ele é a Art. 4º As propostas pedagógicas da Educação Infantil
tradução no nível escolar do próprio fundamento da deverão considerar que a criança, centro do planeja-
convivência democrática que é a aceitação das dife- mento curricular, é sujeito histórico e de direitos que, nas
renças. Porque o simples fato de que cada escola, no interações, relações e práticas cotidianas que vivencia,
exercício de sua autonomia, elabore e execute o seu constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, ima-
próprio projeto escolar não elimina o risco de supres- gina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta,
são das divergências e nem mesmo a possibilidade de narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a
que existam práticas escolares continuamente frustra- sociedade, produzindo cultura.
doras de uma autêntica educação para a cidadania. Na
verdade, a autonomia escolar desligada dos pressu- Art. 5º A Educação Infantil, primeira etapa da Educação
postos éticos da tarefa educativa poderá até favorecer Básica, é oferecida em creches e pré-escolas, as quais se
a emergência e o reforço de sentimentos e atitudes caracterizam como espaços institucionais não domésti-
contrários à convivência democrática. cos que constituem estabelecimentos educacionais pú-
blicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0
LEGISLAÇÃO

a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral


ou parcial, regulados e supervisionados por órgão com-
petente do sistema de ensino e submetidos a controle
social.

45
§ 1º É dever do Estado garantir a oferta de Educação In- prever condições para o trabalho coletivo e para a or-
fantil pública, gratuita e de qualidade, sem requisito de ganização de materiais, espaços e tempos que asse-
seleção. gurem:
§ 2° É obrigatória a matrícula na Educação Infantil de I – a educação em sua integralidade, entendendo o
crianças que completam 4 ou 5 anos até o dia 31 de cuidado como algo indissociável ao processo educa-
março do ano em que ocorrer a matrícula. tivo;
§ 3º As crianças que completam 6 anos após o dia 31 II – a indivisibilidade das dimensões expressivo-moto-
de março devem ser matriculadas na Educação Infantil. ra, afetiva, cognitiva, linguística, ética, estética e socio-
§ 4º A frequência na Educação Infantil não é pré-requisi- cultural da criança;
to para a matrícula no Ensino Fundamental. III – a participação, o diálogo e a escuta cotidiana das
§ 5º As vagas em creches e pré-escolas devem ser ofere- famílias, o respeito e a valorização de suas formas de
cidas próximas às residências das crianças. organização;
§ 6º É considerada Educação Infantil em tempo parcial, a IV – o estabelecimento de uma relação efetiva com a
jornada de, no mínimo, quatro horas diárias e, em tem- comunidade local e de mecanismos que garantam a
po integral, a jornada com duração igual ou superior a gestão democrática e a consideração dos saberes da
sete horas diárias, compreendendo o tempo total que a comunidade;
criança permanece na instituição. V – o reconhecimento das especificidades etárias, das
singularidades individuais e coletivas das crianças,
Art. 6º As propostas pedagógicas de Educação Infantil promovendo interações entre crianças de mesma ida-
devem respeitar os seguintes princípios: de e crianças de diferentes idades;
I – Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solida- VI – os deslocamentos e os movimentos amplos das
riedade e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente crianças nos espaços internos e externos às salas de
e às diferentes culturas, identidades e singularidades. referência das turmas e à instituição;
II – Políticos: dos direitos de cidadania, do exercício da VII – a acessibilidade de espaços, materiais, objetos,
brinquedos e instruções para as crianças com defici-
criticidade e do respeito à ordem democrática.
ência, transtornos globais de desenvolvimento e altas
III – Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da lu-
habilidades/superdotação;
dicidade e da liberdade de expressão nas diferentes
VIII – a apropriação pelas crianças das contribuições
manifestações artísticas e culturais.
histórico-culturais dos povos indígenas, afrodescen-
dentes, asiáticos, europeus e de outros países da Amé-
Art. 7º Na observância destas Diretrizes, a proposta
rica;
pedagógica das instituições de Educação Infantil deve
IX – o reconhecimento, a valorização, o respeito e a
garantir que elas cumpram plenamente sua função interação das crianças com as histórias e as culturas
sociopolítica e pedagógica: I – oferecendo condições e africanas, afro-brasileiras, bem como o combate ao ra-
recursos para que as crianças usufruam seus direitos cismo e à discriminação;
civis, humanos e sociais; X – a dignidade da criança como pessoa humana e a
II – assumindo a responsabilidade de compartilhar e proteção contra qualquer forma de violência – física ou
complementar a educação e cuidado das crianças com simbólica – e negligência no interior da instituição ou
as famílias; praticadas pela família, prevendo os encaminhamen-
III – possibilitando tanto a convivência entre crianças e tos de violações para instâncias competentes.
entre adultos e crianças quanto a ampliação de sabe- § 2º Garantida a autonomia dos povos indígenas na
res e conhecimentos de diferentes naturezas; escolha dos modos de educação de suas crianças de 0
IV – promovendo a igualdade de oportunidades edu- a 5 anos de idade, as propostas pedagógicas para os
cacionais entre as crianças de diferentes classes sociais povos que optarem pela Educação Infantil devem:
no que se refere ao acesso a bens culturais e às possi- I – proporcionar uma relação viva com os conhecimen-
bilidades de vivência da infância; tos, crenças, valores, concepções de mundo e as me-
V – construindo novas formas de sociabilidade e de mórias de seu povo;
subjetividade comprometidas com a ludicidade, a de- II – reafirmar a identidade étnica e a língua materna
mocracia, a sustentabilidade do planeta e com o rom- como elementos de constituição das crianças;
pimento de relações de dominação etária, socioeco- III – dar continuidade à educação tradicional oferecida
nômica, étnico-racial, de gênero, regional, linguística na família e articular-se às práticas socioculturais de
e religiosa. educação e cuidado coletivos da comunidade;
IV – adequar calendário, agrupamentos etários e orga-
Art. 8º A proposta pedagógica das instituições de nização de tempos, atividades e ambientes de modo a
Educação Infantil deve ter como objetivo garantir à atender as demandas de cada povo indígena.
criança acesso a processos de apropriação, renovação § 3º – As propostas pedagógicas da Educação Infantil
e articulação de conhecimentos e aprendizagens de das crianças filhas de agricultores familiares, extrati-
diferentes linguagens, assim como o direito à prote- vistas, pescadores artesanais, ribeirinhos, assentados e
ção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à acampados da reforma agrária, quilombolas, caiçaras,
LEGISLAÇÃO

dignidade, à brincadeira, à convivência e à interação povos da floresta, devem:


com outras crianças. I – reconhecer os modos próprios de vida no campo
§ 1º Na efetivação desse objetivo, as propostas peda- como fundamentais para a constituição da identidade
gógicas das instituições de Educação Infantil deverão das crianças moradoras em territórios rurais;

46
II – ter vinculação inerente à realidade dessas popu- características, identidade institucional, escolhas co-
lações, suas culturas, tradições e identidades, assim letivas e particularidades pedagógicas, estabelecerão
como a práticas ambientalmente sustentáveis; modos de integração dessas experiências.
III – flexibilizar, se necessário, calendário, rotinas e ati-
vidades respeitando as diferenças quanto à atividade Art. 10. As instituições de Educação Infantil devem
econômica dessas populações; criar procedimentos para acompanhamento do traba-
IV – valorizar e evidenciar os saberes e o papel des- lho pedagógico e para avaliação do desenvolvimento
sas populações na produção de conhecimentos sobre o das crianças, sem objetivo de seleção, promoção ou
mundo e sobre o ambiente natural; classificação, garantindo:
V – prever a oferta de brinquedos e equipamentos que I – a observação crítica e criativa das atividades, das
respeitem as características ambientais e socioculturais brincadeiras e interações das crianças no cotidiano;
da comunidade. II – utilização de múltiplos registros realizados por
adultos e crianças (relatórios, fotografias, desenhos,
Art. 9º As práticas pedagógicas que compõem a pro- álbuns etc.);
posta curricular da Educação Infantil devem ter como III – a continuidade dos processos de aprendizagens
eixos norteadores as interações e a brincadeira, garan- por meio da criação de estratégias adequadas aos di-
tindo experiências que: ferentes momentos de transição vividos pela criança
I – promovam o conhecimento de si e do mundo por (transição casa/instituição de Educação Infantil, tran-
meio da ampliação de experiências sensoriais, expres- sições no interior da instituição, transição creche/pré-
sivas, corporais que possibilitem movimentação ampla, -escola e transição pré-escola/Ensino Fundamental);
expressão da individualidade e respeito pelos ritmos e IV – documentação específica que permita às famílias
desejos da criança; conhecer o trabalho da instituição junto às crianças e
II – favoreçam a imersão das crianças nas diferentes os processos de desenvolvimento e aprendizagem da
linguagens e o progressivo domínio por elas de vários criança na Educação Infantil;
gêneros e formas de expressão: gestual, verbal, plásti- V – a não retenção das crianças na Educação Infantil.
ca, dramática e musical;
Art. 11. Na transição para o Ensino Fundamental a
III – possibilitem às crianças experiências de narrati-
proposta pedagógica deve prever formas para ga-
vas, de apreciação e interação com a linguagem oral
rantir a continuidade no processo de aprendizagem e
e escrita, e convívio com diferentes suportes e gêneros
desenvolvimento das crianças, respeitando as especi-
textuais orais e escritos;
ficidades etárias, sem antecipação de conteúdos que
IV – recriem, em contextos significativos para as crian-
serão trabalhados no Ensino Fundamental.
ças, relações quantitativas, medidas, formas e orienta-
ções espaço temporais;
Art. 12. Cabe ao Ministério da Educação elaborar
V – ampliem a confiança e a participação das crian- orientações para a implementação dessas Diretrizes.
ças nas atividades individuais e coletivas;
VI – possibilitem situações de aprendizagem media- Art. 13. A presente Resolução entrará em vigor na
das para a elaboração da autonomia das crianças nas data de sua publicação, revogando-se as disposições
ações de cuidado pessoal, auto-organização, saúde e em contrário, especialmente a Resolução CNE/CEB
bem-estar; nº 1/99.
VII – possibilitem vivências éticas e estéticas com ou-
tras crianças e grupos culturais, que alarguem seus
padrões de referência e de identidades no diálogo e
reconhecimento da diversidade; VIII – incentivem a EXERCÍCIO COMENTADO
curiosidade, a exploração, o encantamento, o questio-
namento, a indagação e o conhecimento das crianças 1. (PREF. COLOMBO-PR – EDUCADOR INFANTIL
em relação ao mundo físico e social, ao tempo e à na- MÉDIO – UFPR – 2016) Contemplar o cuidado na esfe-
tureza; IX – promovam o relacionamento e a intera- ra da instituição da Educação Infantil significa compre-
ção das crianças com diversificadas manifestações de endê-lo como parte integrante da educação, embora
música, artes plásticas e gráficas, cinema, fotografia, possa exigir conhecimentos, habilidades e instrumen-
dança, teatro, poesia e literatura; X – promovam a tos que extrapolam a dimensão pedagógica. Ou seja,
interação, o cuidado, a preservação e o conhecimen- cuidar de uma criança em um contexto educativo de-
to da biodiversidade e da sustentabilidade da vida na manda a integração de vários campos de conhecimen-
Terra, assim como o não desperdício dos recursos na- tos e a cooperação de profissionais de diferentes áreas.
turais; (Brasil, 1998, p. 24) Com base no Referencial Curricular
XI – propiciem a interação e o conhecimento pelas Nacional para a Educação Infantil (Brasil/MEC, 1998), é
crianças das manifestações e tradições culturais bra- correto afirmar:
sileiras;
XII – possibilitem a utilização de gravadores, proje- a) As ações pedagógicas direcionadas ao educar devem
LEGISLAÇÃO

tores, computadores, máquinas fotográficas, e outros ater-se aos comportamentos familiares, para que as
recursos tecnológicos e midiáticos. aprendizagens anteriores não comprometam os no-
Parágrafo único – As creches e pré-escolas, na ela- vos conhecimentos e o desenvolvimento de habilida-
boração da proposta curricular, de acordo com suas des específicas.

47
b) A atuação na Educação Infantil requer visão integrada Art. 1º A presente Resolução fixa as Diretrizes Cur-
sobre o desenvolvimento infantil, ressaltando a arti- riculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9
culação entre o cuidar e o educar, de forma que esses (nove) anos a serem observadas na organização cur-
processos sejam complementares e indissociáveis. ricular dos sistemas de ensino e de suas unidades es-
c) O cuidar no contexto educativo infantil tem caráter colares.
predominantemente auxiliar, uma vez que a finalida- Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para o
de das ações escolares é instruir e ampliar os conhe- Ensino Fundamental de 9 (nove) anos articulam-se
cimentos específicos de cada criança. com as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para
d) A Educação Infantil visa o atendimento escolar, dele- a Educação Básica (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e
gando-se à área da saúde a responsabilidade com as Resolução CNE/CEB nº 4/2010) e reúnem princípios,
dimensões relativas ao cuidar. fundamentos e procedimentos definidos pelo Conse-
e) Cuidar, na Educação Infantil, significa criar meios de lho Nacional de Educação, para orientar as políticas
escolarização para que as crianças de 0 a 5 anos te- públicas educacionais e a elaboração, implementação
nham acesso à educação formal e aos recursos pe- e avaliação das orientações curriculares nacionais, das
dagógicos, visto que o cuidar é responsabilidade das propostas curriculares dos Estados, do Distrito Federal,
famílias e da sociedade. dos Municípios, e dos projetos político-pedagógicos
das escolas.
Resposta: Letra B. Parágrafo único. Estas Diretrizes Curriculares Nacio-
Em “b”: Certo – A afirmativa contempla a resposta cor- nais aplicam-se a todas as modalidades do Ensino
reta. De acordo com o referencial curricular nacional, Fundamental previstas na Lei de Diretrizes e Bases da
é correto: Educação Nacional, bem como à Educação do Cam-
Nas últimas décadas, os debates em nível nacional e po, à Educação Escolar Indígena e à Educação Escolar
internacional apontam para a necessidade de que as Quilombola.
instituições de educação infantil incorporem de ma-
neira integrada as funções de educar e cuidar, não FUNDAMENTOS
mais diferenciando nem hierarquizando os profissio-
nais e instituições que atuam com as crianças peque- Art. 3º O Ensino Fundamental se traduz como um di-
nas e/ou aqueles que trabalham com as maiores. As reito público subjetivo de cada um e como dever do
novas funções para a educação infantil devem estar Estado e da família na sua oferta a todos.
associadas a padrões de qualidade. Essa qualidade
advém de concepções de desenvolvimento que consi- Art. 4º É dever do Estado garantir a oferta do Ensino
deram as crianças nos seus contextos sociais, ambien- Fundamental público, gratuito e de qualidade, sem re-
tais, culturais e, mais concretamente, nas interações e quisito de seleção.
práticas sociais que lhes fornecem elementos relacio- Parágrafo único. As escolas que ministram esse ensino
nados às mais diversas linguagens e ao contato com deverão trabalhar considerando essa etapa da educação
os mais variados conhecimentos para a construção de como aquela capaz de assegurar a cada um e a todos
uma identidade autônoma. o acesso ao conhecimento e aos elementos da cultura
imprescindíveis para o seu desenvolvimento pessoal e
para a vida em sociedade, assim como os benefícios de
BRASIL. RESOLUÇÃO CNE/CEB 07/2010 – uma formação comum, independentemente da grande
DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS diversidade da população escolar e das demandas sociais.
PARA O ENSINO FUNDAMENTAL DE 9
(NOVE) ANOS. BRASÍLIA: CNE, 2010. Art. 5º O direito à educação, entendido como um direi-
to inalienável do ser humano, constitui o fundamento
maior destas Diretrizes. A educação, ao proporcionar o
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO desenvolvimento do potencial humano, permite o exer-
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO cício dos direitos civis, políticos, sociais e do direito à
diferença, sendo ela mesma também um direito social,
CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA e possibilita a formação cidadã e o usufruto dos bens
sociais e culturais.
RESOLUÇÃO Nº 7, DE 14 DE DEZEMBRO DE 2010 § 1º O Ensino Fundamental deve comprometer-se
com uma educação com qualidade social, igualmente
Fixa Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino entendida como direito humano.
Fundamental de 9 (nove) anos. § 2º A educação de qualidade, como um direito
fundamental, é, antes de tudo, relevante, pertinente e
O Presidente da Câmara de Educação Básica do Con- equitativa.
selho Nacional de Educação, de conformidade com o dis- I – A relevância reporta-se à promoção de aprendiza-
posto na alínea “c” do § 1º do art. 9º da Lei nº 4.024/61, gens significativas do ponto de vista das exigências so-
com a redação dada pela Lei nº 9.131/95, no art. 32 da Lei ciais e de desenvolvimento pessoal.
LEGISLAÇÃO

nº 9.394/96, na Lei nº 11.274/2006, e com fundamento II – A pertinência refere-se à possibilidade de atender


no Parecer CNE/CEB nº 11/2010, homologado por Des- às necessidades e às características dos estudantes de
pacho do Senhor Ministro de Estado da Educação, publi- diversos contextos sociais e culturais e com diferentes
cado no DOU de 9 de dezembro de 2010, resolve: capacidades e interesses.

48
III – A equidade alude à importância de tratar de forma I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, ten-
diferenciada o que se apresenta como desigual no ponto do como meios básicos o pleno domínio da leitura, da
de partida, com vistas a obter desenvolvimento e apren- escrita e do cálculo;
dizagens equiparáveis, assegurando a todos a igualdade II – a compreensão do ambiente natural e social, do
de direito à educação. sistema político, das artes, da tecnologia e dos valores
§ 3º Na perspectiva de contribuir para a erradicação da em que se fundamenta a sociedade;
pobreza e das desigualdades, a equidade requer que III – a aquisição de conhecimentos e habilidades, e a
sejam oferecidos mais recursos e melhores condições formação de atitudes e valores como instrumentos
às escolas menos providas e aos alunos que deles mais para uma visão crítica do mundo;
necessitem. Ao lado das políticas universais, dirigidas IV – o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços
a todos sem requisito de seleção, é preciso também de solidariedade humana e de tolerância recíproca em
sustentar políticas reparadoras que assegurem maior que se assenta a vida social.
apoio aos diferentes grupos sociais em desvantagem.
§ 4º A educação escolar, comprometida com a igualdade MATRÍCULA NO ENSINO FUNDAMENTAL DE 9
do acesso de todos ao conhecimento e especialmente (NOVE) ANOS E CARGA HORÁRIA
empenhada em garantir esse acesso aos grupos da
população em desvantagem na sociedade, será uma Art. 8º O Ensino Fundamental, com duração de 9
educação com qualidade social e contribuirá para (nove) anos, abrange a população na faixa etária dos
dirimir as desigualdades historicamente produzidas, 6 (seis) aos 14 (quatorze) anos de idade e se estende,
assegurando, assim, o ingresso, a permanência e o também, a todos os que, na idade própria, não tive-
sucesso na escola, com a consequente redução da ram condições de frequentá-lo.
evasão, da retenção e das distorções de idade/ano/série § 1º É obrigatória a matrícula no Ensino Fundamental
(Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução CNE/CEB nº de crianças com 6 (seis) anos completos ou a completar
4/2010, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais até o dia 31 de março do ano em que ocorrer a
Gerais para a Educação Básica). matrícula, nos termos da Lei e das normas nacionais
vigentes.
PRINCÍPIOS § 2º As crianças que completarem 6 (seis) anos após
essa data deverão ser matriculadas na Educação
Art. 6º Os sistemas de ensino e as escolas adotarão, Infantil (Pré-Escola).
como norteadores das políticas educativas e das ações § 3º A carga horária mínima anual do Ensino
pedagógicas, os seguintes princípios: Fundamental regular será de 800 (oitocentas) horas
I – Éticos: de justiça, solidariedade, liberdade e autono- relógio, distribuídas em, pelo menos, 200 (duzentos)
mia; de respeito à dignidade da pessoa humana e de dias de efetivo trabalho escolar.
compromisso com a promoção do bem de todos, contri-
buindo para combater e eliminar quaisquer manifes- CURRÍCULO
tações de preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade
e quaisquer outras formas de discriminação. Art. 9º O currículo do Ensino Fundamental é entendi-
II – Políticos: de reconhecimento dos direitos e deveres do, nesta Resolução, como constituído pelas experiên-
de cidadania, de respeito ao bem comum e à preser- cias escolares que se desdobram em torno do conhe-
vação do regime democrático e dos recursos ambien- cimento, permeadas pelas relações sociais, buscando
tais; da busca da equidade no acesso à educação, à articular vivências e saberes dos alunos com os conhe-
saúde, ao trabalho, aos bens culturais e outros bene- cimentos historicamente acumulados e contribuindo
fícios; da exigência de diversidade de tratamento para para construir as identidades dos estudantes.
§ 1º O foco nas experiências escolares significa que
assegurar a igualdade de direitos entre os alunos que
as orientações e as propostas curriculares que provêm
apresentam diferentes necessidades; da redução da
das diversas instâncias só terão concretude por meio
pobreza e das desigualdades sociais e regionais.
das ações educativas que envolvem os alunos.
III – Estéticos: do cultivo da sensibilidade juntamente
§ 2º As experiências escolares abrangem todos os
com o da racionalidade; do enriquecimento das for-
aspectos do ambiente escolar, aqueles que compõem a
mas de expressão e do exercício da criatividade; da
parte explícita do currículo, bem como os que também
valorização das diferentes manifestações culturais,
contribuem, de forma implícita, para a aquisição
especialmente a da cultura brasileira; da construção
de conhecimentos socialmente relevantes. Valores,
de identidades plurais e solidárias. atitudes, sensibilidade e orientações de conduta são
veiculados não só pelos conhecimentos, mas por
Art. 7º De acordo com esses princípios, e em confor- meio de rotinas, rituais, normas de convívio social,
midade com o art. 22 e o art. 32 da Lei nº 9.394/96 festividades, pela distribuição do tempo e organização
(LDB), as propostas curriculares do Ensino Fundamen- do espaço educativo, pelos materiais utilizados na
tal visarão desenvolver o educando, assegurar-lhe a aprendizagem e pelo recreio, enfim, pelas vivências
LEGISLAÇÃO

formação comum indispensável para o exercício da ci- proporcionadas pela escola.


dadania e fornecer-lhe os meios para progredir no tra- § 3º Os conhecimentos escolares são aqueles que as
balho e em estudos posteriores, mediante os objetivos diferentes instâncias que produzem orientações sobre
previstos para esta etapa da escolarização, a saber: o currículo, as escolas e os professores selecionam e

49
transformam a fim de que possam ser ensinados e gua Portuguesa e da Matemática, o conhecimento do
aprendidos, ao mesmo tempo em que servem de ele- mundo físico e natural e da realidade social e política,
mentos para a formação ética, estética e política do especialmente a do Brasil, bem como o ensino da Arte,
aluno. a Educação Física e o Ensino Religioso.

BASE NACIONAL COMUM E PARTE DIVERSIFICA- Art. 15 Os componentes curriculares obrigatórios do


DA: COMPLEMENTARIDADE Ensino Fundamental serão assim organizados em re-
lação às áreas de conhecimento:
Art. 10 O currículo do Ensino Fundamental tem uma I – Linguagens:
base nacional comum, complementada em cada siste- a) Língua Portuguesa;
ma de ensino e em cada estabelecimento escolar por b) Língua Materna, para populações indígenas;
uma parte diversificada. c) Língua Estrangeira moderna;
d) Arte; e
Art. 11 A base nacional comum e a parte diversificada e) Educação Física;
do currículo do Ensino Fundamental constituem um II – Matemática;
todo integrado e não podem ser consideradas como III – Ciências da Natureza;
dois blocos distintos. IV – Ciências Humanas:
§ 1º A articulação entre a base nacional comum e a a) História;
parte diversificada do currículo do Ensino Fundamental b) Geografia;
possibilita a sintonia dos interesses mais amplos de V – Ensino Religioso.
formação básica do cidadão com a realidade local, as § 1º O Ensino Fundamental deve ser ministrado
necessidades dos alunos, as características regionais em língua portuguesa, assegurada também às
da sociedade, da cultura e da economia e perpassa comunidades indígenas a utilização de suas línguas
todo o currículo. maternas e processos próprios de aprendizagem,
§ 2º Voltados à divulgação de valores fundamentais conforme o art. 210, § 2º, da Constituição Federal.
ao interesse social e à preservação da ordem § 2º O ensino de História do Brasil levará em conta
democrática, os conhecimentos que fazem parte da as contribuições das diferentes culturas e etnias para
base nacional comum a que todos devem ter acesso, a formação do povo brasileiro, especialmente das
independentemente da região e do lugar em que vivem, matrizes indígena, africana e europeia (art. 26, § 4º,
asseguram a característica unitária das orientações da Lei nº 9.394/96).
curriculares nacionais, das propostas curriculares dos
§ 3º A história e as culturas indígena e afro-
Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, e dos
brasileira, presentes, obrigatoriamente, nos conteúdos
projetos político-pedagógicos das escolas.
desenvolvidos no âmbito de todo o currículo escolar e,
§ 3º Os conteúdos curriculares que compõem a
em especial, no ensino de Arte, Literatura e História
parte diversificada do currículo serão definidos
do Brasil, assim como a História da África, deverão
pelos sistemas de ensino e pelas escolas, de modo a
assegurar o conhecimento e o reconhecimento desses
complementar e enriquecer o currículo, assegurando
povos para a constituição da nação (conforme
a contextualização dos conhecimentos escolares em
face das diferentes realidades. art. 26-A da Lei nº 9.394/96, alterado pela Lei nº
11.645/2008). Sua inclusão possibilita ampliar o leque
Art. 12 Os conteúdos que compõem a base nacional de referências culturais de toda a população escolar
comum e a parte diversificada têm origem nas disci- e contribui para a mudança das suas concepções de
plinas científicas, no desenvolvimento das linguagens, mundo, transformando os conhecimentos comuns
no mundo do trabalho, na cultura e na tecnologia, na veiculados pelo currículo e contribuindo para a
produção artística, nas atividades desportivas e cor- construção de identidades mais plurais e solidárias.
porais, na área da saúde e ainda incorporam saberes § 4º A Música constitui conteúdo obrigatório, mas
como os que advêm das formas diversas de exercício não exclusivo, do componente curricular Arte, o qual
da cidadania, dos movimentos sociais, da cultura esco- compreende também as artes visuais, o teatro e a
lar, da experiência docente, do cotidiano e dos alunos. dança, conforme o § 6º do art. 26 da Lei nº 9.394/96.
§ 5º A Educação Física, componente obrigatório do
Art. 13 Os conteúdos a que se refere o art. 12 são currículo do Ensino Fundamental, integra a proposta
constituídos por componentes curriculares que, por políticopedagógica da escola e será facultativa ao
sua vez, se articulam com as áreas de conhecimento, aluno apenas nas circunstâncias previstas no § 3º do
a saber: Linguagens, Matemática, Ciências da Natu- art. 26 da Lei nº 9.394/96.
reza e Ciências Humanas. As áreas de conhecimento § 6º O Ensino Religioso, de matrícula facultativa
favorecem a comunicação entre diferentes conheci- ao aluno, é parte integrante da formação básica
mentos sistematizados e entre estes e outros saberes, do cidadão e constitui componente curricular dos
mas permitem que os referenciais próprios de cada horários normais das escolas públicas de Ensino
componente curricular sejam preservados. Fundamental, assegurado o respeito à diversidade
LEGISLAÇÃO

cultural e religiosa do Brasil e vedadas quaisquer


Art. 14 O currículo da base nacional comum do Ensino formas de proselitismo, conforme o art. 33 da Lei nº
Fundamental deve abranger, obrigatoriamente, con- 9.394/96.
forme o art. 26 da Lei nº 9.394/96, o estudo da Lín-

50
Art. 16 Os componentes curriculares e as áreas de GESTÃO DEMOCRÁTICA E PARTICIPATIVA COMO
conhecimento devem articular em seus conteúdos, GARANTIA DO DIREITO À EDUCAÇÃO
a partir das possibilidades abertas pelos seus refe-
renciais, a abordagem de temas abrangentes e con- Art. 20 As escolas deverão formular o projeto político-
temporâneos que afetam a vida humana em escala -pedagógico e elaborar o regimento escolar de acordo
global, regional e local, bem como na esfera indivi- com a proposta do Ensino Fundamental de 9 (nove)
dual. Temas como saúde, sexualidade e gênero, vida anos, por meio de processos participativos relaciona-
familiar e social, assim como os direitos das crianças dos à gestão democrática.
e adolescentes, de acordo com o Estatuto da Criança § 1º O projeto político-pedagógico da escola traduz
e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), preservação do a proposta educativa construída pela comunidade
meio ambiente, nos termos da política nacional de escolar no exercício de sua autonomia, com base nas
educação ambiental (Lei nº 9.795/99), educação para características dos alunos, nos profissionais e recursos
o consumo, educação fiscal, trabalho, ciência e tecno- disponíveis, tendo como referência as orientações
logia, e diversidade cultural devem permear o desen- curriculares nacionais e dos respectivos sistemas de
volvimento dos conteúdos da base nacional comum e ensino.
da parte diversificada do currículo. § 2º Será assegurada ampla participação dos
§ 1º Outras leis específicas que complementam a Lei profissionais da escola, da família, dos alunos e
nº 9.394/96 determinam que sejam ainda incluídos da comunidade local na definição das orientações
temas relativos à condição e aos direitos dos idosos imprimidas aos processos educativos e nas formas
(Lei nº 10.741/2003) e à educação para o trânsito (Lei de implementá-las, tendo como apoio um processo
nº 9.503/97). contínuo de avaliação das ações, a fim de garantir
§ 2º A transversalidade constitui uma das maneiras a distribuição social do conhecimento e contribuir
de trabalhar os componentes curriculares, as áreas de para a construção de uma sociedade democrática e
conhecimento e os temas sociais em uma perspectiva igualitária.
integrada, conforme a Diretrizes Curriculares § 3º O regimento escolar deve assegurar as condições
Nacionais Gerais para a Educação Básica (Parecer institucionais adequadas para a execução do projeto
CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010). político-pedagógico e a oferta de uma educação
§ 3º Aos órgãos executivos dos sistemas de ensino inclusiva e com qualidade social, igualmente garantida
compete a produção e a disseminação de materiais a ampla participação da comunidade escolar na sua
subsidiários ao trabalho docente, que contribuam para elaboração.
a eliminação de discriminações, racismo, sexismo, § 4º O projeto político-pedagógico e o regimento
homofobia e outros preconceitos e que conduzam à escolar, em conformidade com a legislação e as
adoção de comportamentos responsáveis e solidários normas vigentes, conferirão espaço e tempo para que
em relação aos outros e ao meio ambiente. os profissionais da escola e, em especial, os professores,
possam participar de reuniões de trabalho coletivo,
Art. 17 Na parte diversificada do currículo do Ensino planejar e executar as ações educativas de modo
Fundamental será incluído, obrigatoriamente, a par- articulado, avaliar os trabalhos dos alunos, tomar
tir do 6º ano, o ensino de, pelo menos, uma Língua
parte em ações de formação continuada e estabelecer
Estrangeira moderna, cuja escolha ficará a cargo da
contatos com a comunidade.
comunidade escolar.
§ 5º Na implementação de seu projeto político-
Parágrafo único. Entre as línguas estrangeiras moder-
pedagógico, as escolas se articularão com as
nas, a língua espanhola poderá ser a opção, nos ter-
instituições formadoras com vistas a assegurar a
mos da Lei nº 11.161/2005.
formação continuada de seus profissionais.
PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO
Art. 21 No projeto político-pedagógico do Ensino Fun-
Art. 18 O currículo do Ensino Fundamental com 9 damental e no regimento escolar, o aluno, centro do
(nove) anos de duração exige a estruturação de um planejamento curricular, será considerado como sujei-
projeto educativo coerente, articulado e integrado, to que atribui sentidos à natureza e à sociedade nas
de acordo com os modos de ser e de se desenvolver práticas sociais que vivencia, produzindo cultura e
das crianças e adolescentes nos diferentes contextos construindo sua identidade pessoal e social.
sociais. Parágrafo único. Como sujeito de direitos, o aluno to-
mará parte ativa na discussão e na implementação
Art. 19 Ciclos, séries e outras formas de organização a das normas que regem as formas de relacionamento
que se refere a Lei nº 9.394/96 serão compreendidos na escola, fornecerá indicações relevantes a respeito
como tempos e espaços interdependentes e articula- do que deve ser trabalhado no currículo e será incenti-
dos entre si, ao longo dos 9 (nove) anos de duração do vado a participar das organizações estudantis.
Ensino Fundamental.
LEGISLAÇÃO

Art. 22 O trabalho educativo no Ensino Fundamental


deve empenhar-se na promoção de uma cultura esco-
lar acolhedora e respeitosa, que reconheça e valorize
as experiências dos alunos atendendo as suas diferen-

51
ças e necessidades específicas, de modo a contribuir IX do art. 4º da Lei nº 9.394/96 e em normas especí-
para efetivar a inclusão escolar e o direito de todos à ficas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educa-
educação. ção, com vistas à criação de um ambiente propício à
aprendizagem, com base:
Art. 23 Na implementação do projeto político-peda- I – no trabalho compartilhado e no compromisso indi-
gógico, o cuidar e o educar, indissociáveis funções da vidual e coletivo dos professores e demais profissionais
escola, resultarão em ações integradas que buscam da escola com a aprendizagem dos alunos;
articular-se, pedagogicamente, no interior da própria II – no atendimento às necessidades específicas de
instituição, e também externamente, com os serviços aprendizagem de cada um mediante abordagens
de apoio aos sistemas educacionais e com as políti- apropriadas;
cas de outras áreas, para assegurar a aprendizagem, III – na utilização dos recursos disponíveis na escola e
o bem-estar e o desenvolvimento do aluno em todas nos espaços sociais e culturais do entorno;
as suas dimensões. IV – na contextualização dos conteúdos, assegurando
que a aprendizagem seja relevante e socialmente sig-
RELEVÂNCIA DOS CONTEÚDOS, INTEGRAÇÃO E nificativa;
ABORDAGENS V – no cultivo do diálogo e de relações de parceria
com as famílias.
Art. 24 A necessária integração dos conhecimentos es- Parágrafo único. Como protagonistas das ações pe-
colares no currículo favorece a sua contextualização e dagógicas, caberá aos docentes equilibrar a ênfase no
aproxima o processo educativo das experiências dos reconhecimento e valorização da experiência do aluno
alunos. e da cultura local que contribui para construir iden-
§ 1º A oportunidade de conhecer e analisar experiências tidades afirmativas, e a necessidade de lhes fornecer
assentadas em diversas concepções de currículo instrumentos mais complexos de análise da realidade
integrado e interdisciplinar oferecerá aos docentes que possibilitem o acesso a níveis universais de expli-
subsídios para desenvolver propostas pedagógicas cação dos fenômenos, propiciando-lhes os meios para
que avancem na direção de um trabalho colaborativo, transitar entre a sua e outras realidades e culturas e
capaz de superar a fragmentação dos componentes participar de diferentes esferas da vida social, econô-
curriculares. mica e política.
§ 2º Constituem exemplos de possibilidades de
integração do currículo, entre outros, as propostas Art. 27 Os sistemas de ensino, as escolas e os profes-
curriculares ordenadas em torno de grandes eixos sores, com o apoio das famílias e da comunidade, en-
articuladores, projetos interdisciplinares com base vidarão esforços para assegurar o progresso contínuo
em temas geradores formulados a partir de questões dos alunos no que se refere ao seu desenvolvimen-
da comunidade e articulados aos componentes to pleno e à aquisição de aprendizagens significati-
curriculares e às áreas de conhecimento, currículos vas, lançando mão de todos os recursos disponíveis e
em rede, propostas ordenadas em torno de conceitos- criando renovadas oportunidades para evitar que a
chave ou conceitos nucleares que permitam trabalhar trajetória escolar discente seja retardada ou indevida-
as questões cognitivas e as questões culturais numa mente interrompida.
perspectiva transversal, e projetos de trabalho com § 1º Devem, portanto, adotar as providências
diversas acepções. necessárias para que a operacionalização do princípio
§ 3º Os projetos propostos pela escola, comunidade, da continuidade não seja traduzida como “promoção
redes e sistemas de ensino serão articulados ao automática” de alunos de um ano, série ou ciclo para
desenvolvimento dos componentes curriculares e às o seguinte, e para que o combate à repetência não
áreas de conhecimento, observadas as disposições se transforme em descompromisso com o ensino e a
contidas nas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais aprendizagem.
para a Educação Básica (Resolução CNE/CEB nº § 2º A organização do trabalho pedagógico incluirá
4/2010, art. 17) e nos termos do Parecer que dá base a mobilidade e a flexibilização dos tempos e espaços
à presente Resolução. escolares, a diversidade nos agrupamentos de alunos,
as diversas linguagens artísticas, a diversidade de
Art. 25 Os professores levarão em conta a diversidade materiais, os variados suportes literários, as atividades
sociocultural da população escolar, as desigualdades que mobilizem o raciocínio, as atitudes investigativas,
de acesso ao consumo de bens culturais e a multiplici- as abordagens complementares e as atividades de re-
dade de interesses e necessidades apresentadas pelos forço, a articulação entre a escola e a comunidade, e o
alunos no desenvolvimento de metodologias e estra- acesso aos espaços de expressão cultural.
tégias variadas que melhor respondam às diferenças
de aprendizagem entre os estudantes e às suas de- Art. 28 A utilização qualificada das tecnologias e con-
mandas. teúdos das mídias como recurso aliado ao desenvolvi-
mento do currículo contribui para o importante papel
LEGISLAÇÃO

Art. 26 Os sistemas de ensino e as escolas assegurarão que tem a escola como ambiente de inclusão digital
adequadas condições de trabalho aos seus profissio- e de utilização crítica das tecnologias da informação
nais e o provimento de outros insumos, de acordo com e comunicação, requerendo o aporte dos sistemas de
os padrões mínimos de qualidade referidos no inciso ensino no que se refere à:

52
I – provisão de recursos midiáticos atualizados e em materiais que ofereçam oportunidades de raciocinar,
número suficiente para o atendimento aos alunos; manuseando-os e explorando as suas características
II – adequada formação do professor e demais profis- e propriedades.
sionais da escola.
Art. 31 Do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, os
ARTICULAÇÕES E CONTINUIDADE DA TRAJETÓ- componentes curriculares Educação Física e Arte
RIA ESCOLAR poderão estar a cargo do professor de referência da
turma, aquele com o qual os alunos permanecem a
Art. 29 A necessidade de assegurar aos alunos um maior parte do período escolar, ou de professores li-
percurso contínuo de aprendizagens torna imperativa cenciados nos respectivos componentes.
a articulação de todas as etapas da educação, espe- § 1º Nas escolas que optarem por incluir Língua
cialmente do Ensino Fundamental com a Educação Estrangeira nos anos iniciais do Ensino Fundamental,
Infantil, dos anos iniciais e dos anos finais no interior o professor deverá ter licenciatura específica no
do Ensino Fundamental, bem como do Ensino Funda- componente curricular.
mental com o Ensino Médio, garantindo a qualidade § 2º Nos casos em que esses componentes curriculares
da Educação Básica. sejam desenvolvidos por professores com licenciatura
§ 1º O reconhecimento do que os alunos já aprenderam específica (conforme Parecer CNE/CEB nº 2/2008),
antes da sua entrada no Ensino Fundamental e a deve ser assegurada a integração com os demais
recuperação do caráter lúdico do ensino contribuirão componentes trabalhados pelo professor de referência
para melhor qualificar a ação pedagógica junto às da turma.
crianças, sobretudo nos anos iniciais dessa etapa da
escolarização. AVALIAÇÃO: PARTE INTEGRANTE DO CURRÍCULO
§ 2º Na passagem dos anos iniciais para os anos finais
Art. 32 A avaliação dos alunos, a ser realizada pelos
do Ensino Fundamental, especial atenção será dada:
professores e pela escola como parte integrante da
I – pelos sistemas de ensino, ao planejamento da ofer-
proposta curricular e da implementação do currículo,
ta educativa dos alunos transferidos das redes munici- é redimensionadora da ação pedagógica e deve:
pais para as estaduais; I – assumir um caráter processual, formativo e participa-
II – pelas escolas, à coordenação das demandas espe- tivo, ser contínua, cumulativa e diagnóstica, com vistas a:
cíficas feitas pelos diferentes professores aos alunos, a a) identificar potencialidades e dificuldades de apren-
fim de que os estudantes possam melhor organizar as dizagem e detectar problemas de ensino;
suas atividades diante das solicitações muito diversas b) subsidiar decisões sobre a utilização de estratégias
que recebem. e abordagens de acordo com as necessidades dos alu-
Art. 30 Os três anos iniciais do Ensino Fundamental nos, criar condições de intervir de modo imediato e a
devem assegurar: mais longo prazo para sanar dificuldades e redirecio-
I – a alfabetização e o letramento; nar o trabalho docente;
II – o desenvolvimento das diversas formas de expres- c) manter a família informada sobre o desempenho
são, incluindo o aprendizado da Língua Portuguesa, a dos alunos;
Literatura, a Música e demais artes, a Educação Física, d) reconhecer o direito do aluno e da família de discu-
assim como o aprendizado da Matemática, da Ciên- tir os resultados de avaliação, inclusive em instâncias
cia, da História e da Geografia; superiores à escola, revendo procedimentos sempre
III – a continuidade da aprendizagem, tendo em con- que as reivindicações forem procedentes.
ta a complexidade do processo de alfabetização e os II – utilizar vários instrumentos e procedimentos, tais
prejuízos que a repetência pode causar no Ensino Fun- como a observação, o registro descritivo e reflexivo,
damental como um todo e, particularmente, na passa- os trabalhos individuais e coletivos, os portfólios, exer-
gem do primeiro para o segundo ano de escolaridade cícios, provas, questionários, dentre outros, tendo em
e deste para o terceiro. conta a sua adequação à faixa etária e às característi-
§ 1º Mesmo quando o sistema de ensino ou a escola, cas de desenvolvimento do educando;
no uso de sua autonomia, fizerem opção pelo regime III – fazer prevalecer os aspectos qualitativos da
seriado, será necessário considerar os três anos aprendizagem do aluno sobre os quantitativos, bem
como os resultados ao longo do período sobre os de
iniciais do Ensino Fundamental como um bloco
eventuais provas finais, tal como determina a alínea
pedagógico ou um ciclo sequencial não passível de
“a” do inciso V do art. 24 da Lei nº 9.394/96;
interrupção, voltado para ampliar a todos os alunos as
IV – assegurar tempos e espaços diversos para que os
oportunidades de sistematização e aprofundamento alunos com menor rendimento tenham condições de
das aprendizagens básicas, imprescindíveis para o ser devidamente atendidos ao longo do ano letivo;
prosseguimento dos estudos. V – prover, obrigatoriamente, períodos de recupera-
§ 2º Considerando as características de ção, de preferência paralelos ao período letivo, como
desenvolvimento dos alunos, cabe aos professores
LEGISLAÇÃO

determina a Lei nº 9.394/96;


adotar formas de trabalho que proporcionem maior VI – assegurar tempos e espaços de reposição dos con-
mobilidade das crianças nas salas de aula e as levem teúdos curriculares, ao longo do ano letivo, aos alu-
a explorar mais intensamente as diversas linguagens nos com frequência insuficiente, evitando, sempre que
artísticas, a começar pela literatura, a utilizar possível, a retenção por faltas;

53
VII – possibilitar a aceleração de estudos para os alu- e, consequentemente, da carga horária anual, com
nos com defasagem idade-série. vistas à maior qualificação do processo de ensino-
-aprendizagem, tendo como horizonte o atendimento
Art. 33 Os procedimentos de avaliação adotados pelos escolar em período integral.
professores e pela escola serão articulados às avalia-
ções realizadas em nível nacional e às congêneres nos Art. 37 A proposta educacional da escola de tempo
diferentes Estados e Municípios, criadas com o objetivo integral promoverá a ampliação de tempos, espaços
de subsidiar os sistemas de ensino e as escolas nos e oportunidades educativas e o compartilhamento
esforços de melhoria da qualidade da educação e da da tarefa de educar e cuidar entre os profissionais da
aprendizagem dos alunos. escola e de outras áreas, as famílias e outros atores
§ 1º A análise do rendimento dos alunos com base sociais, sob a coordenação da escola e de seus profes-
nos indicadores produzidos por essas avaliações deve sores, visando alcançar a melhoria da qualidade da
auxiliar os sistemas de ensino e a comunidade escolar aprendizagem e da convivência social e diminuir as
a redimensionarem as práticas educativas com vistas diferenças de acesso ao conhecimento e aos bens cul-
ao alcance de melhores resultados. turais, em especial entre as populações socialmente
§ 2º A avaliação externa do rendimento dos alunos mais vulneráveis.
refere-se apenas a uma parcela restrita do que é § 1º O currículo da escola de tempo integral, concebido
trabalhado nas escolas, de sorte que as referências como um projeto educativo integrado, implica a ampliação
para o currículo devem continuar sendo as contidas da jornada escolar diária mediante o desenvolvimento
nas propostas políticopedagógicas das escolas, de atividades como o acompanhamento pedagógico,
articuladas às orientações e propostas curriculares o reforço e o aprofundamento da aprendizagem, a
dos sistemas, sem reduzir os seus propósitos ao que é experimentação e a pesquisa científica, a cultura e as
avaliado pelos testes de larga escala. artes, o esporte e o lazer, as tecnologias da comunicação
e informação, a afirmação da cultura dos direitos
Art. 34 Os sistemas, as redes de ensino e os projetos humanos, a preservação do meio ambiente, a promoção
da saúde, entre outras, articuladas aos componentes
político-pedagógicos das escolas devem expressar
curriculares e às áreas de conhecimento, a vivências e
com clareza o que é esperado dos alunos em relação
práticas socioculturais.
à sua aprendizagem.
§ 2º As atividades serão desenvolvidas dentro do
Art. 35 Os resultados de aprendizagem dos alunos de-
espaço escolar conforme a disponibilidade da escola,
vem ser aliados à avaliação das escolas e de seus pro-
ou fora dele, em espaços distintos da cidade ou do
fessores, tendo em conta os parâmetros de referência
território em que está situada a unidade escolar,
dos insumos básicos necessários à educação de quali-
mediante a utilização de equipamentos sociais e
dade para todos nesta etapa da educação e respectivo culturais aí existentes e o estabelecimento de parcerias
custo aluno-qualidade inicial (CAQi), consideradas in- com órgãos ou entidades locais, sempre de acordo com
clusive as suas modalidades e as formas diferenciadas o respectivo projeto político-pedagógico.
de atendimento como a Educação do Campo, a Edu- § 3º Ao restituir a condição de ambiente de
cação Escolar Indígena, a Educação Escolar Quilombo- aprendizagem à comunidade e à cidade, a escola
la e as escolas de tempo integral. estará contribuindo para a construção de redes sociais
Parágrafo único. A melhoria dos resultados de apren- e de cidades educadoras.
dizagem dos alunos e da qualidade da educação obri- § 4º Os órgãos executivos e normativos da União e
ga: dos sistemas estaduais e municipais de educação
I – os sistemas de ensino a incrementarem os dispo- assegurarão que o atendimento dos alunos na escola
sitivos da carreira e de condições de exercício e valo- de tempo integral possua infraestrutura adequada e
rização do magistério e dos demais profissionais da pessoal qualificado, além do que, esse atendimento
educação e a oferecerem os recursos e apoios que de- terá caráter obrigatório e será passível de avaliação
mandam as escolas e seus profissionais para melhorar em cada escola.
a sua atuação;
II – as escolas a uma apreciação mais ampla das opor- EDUCAÇÃO DO CAMPO, EDUCAÇÃO ESCOLAR IN-
tunidades educativas por elas oferecidas aos educan- DÍGENA E EDUCAÇÃO ESCOLAR QUILOMBOLA
dos, reforçando a sua responsabilidade de propiciar
renovadas oportunidades e incentivos aos que delas Art. 38 A Educação do Campo, tratada como educa-
mais necessitem. ção rural na legislação brasileira, incorpora os espaços
da floresta, da pecuária, das minas e da agricultura
A EDUCAÇÃO EM ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL e se estende, também, aos espaços pesqueiros, caiça-
ras, ribeirinhos e extrativistas, conforme as Diretrizes
Art. 36 Considera-se como de período integral a jorna- para a Educação Básica do Campo (Parecer CNE/CEB
da escolar que se organiza em 7 (sete) horas diárias, nº 36/2001 e Resolução CNE/CEB nº 1/2002; Parecer
no mínimo, perfazendo uma carga horária anual de, CNE/CEB nº 3/2008 e Resolução CNE/CEB nº 2/2008).
LEGISLAÇÃO

pelo menos, 1.400 (mil e quatrocentas) horas.


Parágrafo único. As escolas e, solidariamente, os sis- Art. 39 A Educação Escolar Indígena e a Educação Es-
temas de ensino, conjugarão esforços objetivando o colar Quilombola são, respectivamente, oferecidas em
progressivo aumento da carga horária mínima diária unidades educacionais inscritas em suas terras e cultu-

54
ras e, para essas populações, estão assegurados direi- outros bens culturais e lhes permitam estreitar o
tos específicos na Constituição Federal que lhes permi- contato com outros modos de vida e outras formas de
tem valorizar e preservar as suas culturas e reafirmar o conhecimento.
seu pertencimento étnico. § 4º A participação das populações locais pode também
§ 1º As escolas indígenas, atendendo a normas subsidiar as redes escolares e os sistemas de ensino
e ordenamentos jurídicos próprios e a Diretrizes quanto à produção e à oferta de materiais escolares e
Curriculares Nacionais específicas, terão ensino no que diz respeito a transporte e a equipamentos que
intercultural e bilíngue, com vistas à afirmação e atendam as características ambientais e socioculturais
à manutenção da diversidade étnica e linguística, das comunidades e as necessidades locais e regionais.
assegurarão a participação da comunidade no seu
modelo de edificação, organização e gestão, e deverão EDUCAÇÃO ESPECIAL
contar com materiais didáticos produzidos de acordo
com o contexto cultural de cada povo (Parecer CNE/ Art. 41 O projeto político-pedagógico da escola e o re-
CEB nº 14/99 e Resolução CNE/CEB nº 3/99). gimento escolar, amparados na legislação vigente, de-
§ 2º O detalhamento da Educação Escolar Quilombola verão contemplar a melhoria das condições de acesso
deverá ser definido pelo Conselho Nacional de e de permanência dos alunos com deficiência, trans-
Educação por meio de Diretrizes Curriculares Nacionais tornos globais do desenvolvimento e altas habilidades
específicas. nas classes comuns do ensino regular, intensificando o
processo de inclusão nas escolas públicas e privadas e
Art. 40 O atendimento escolar às populações do cam- buscando a universalização do atendimento.
po, povos indígenas e quilombolas requer respeito às Parágrafo único. Os recursos de acessibilidade são
suas peculiares condições de vida e a utilização de aqueles que asseguram condições de acesso ao currí-
pedagogias condizentes com as suas formas próprias culo dos alunos com deficiência e mobilidade reduzi-
de produzir conhecimentos, observadas as Diretrizes da, por meio da utilização de materiais didáticos, dos
Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica espaços, mobiliários e equipamentos, dos sistemas de
(Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução CNE/CEB nº comunicação e informação, dos transportes e outros
4/2010). serviços.
§ 1º As escolas das populações do campo, dos
povos indígenas e dos quilombolas, ao contar com Art. 42 O atendimento educacional especializado aos
a participação ativa das comunidades locais nas alunos da Educação Especial será promovido e expan-
decisões referentes ao currículo, estarão ampliando as dido com o apoio dos órgãos competentes. Ele não
oportunidades de: substitui a escolarização, mas contribui para ampliar
I – reconhecimento de seus modos próprios de vida, o acesso ao currículo, ao proporcionar independência
aos educandos para a realização de tarefas e favorecer
suas culturas, tradições e memórias coletivas, como
a sua autonomia (conforme Decreto nº 6.571/2008,
fundamentais para a constituição da identidade das
Parecer CNE/CEB nº 13/2009 e Resolução CNE/CEB
crianças, adolescentes e adultos;
nº 4/2009).
II – valorização dos saberes e do papel dessas popula-
Parágrafo único. O atendimento educacional especia-
ções na produção de conhecimentos sobre o mundo,
lizado poderá ser oferecido no contraturno, em salas
seu ambiente natural e cultural, assim como as práti-
de recursos multifuncionais na própria escola, em ou-
cas ambientalmente sustentáveis que utilizam;
tra escola ou em centros especializados e será imple-
III – reafirmação do pertencimento étnico, no caso das mentado por professores e profissionais com formação
comunidades quilombolas e dos povos indígenas, e do especializada, de acordo com plano de atendimento
cultivo da língua materna na escola para estes últi- aos alunos que identifique suas necessidades educa-
mos, como elementos importantes de construção da cionais específicas, defina os recursos necessários e as
identidade; atividades a serem desenvolvidas.
IV – flexibilização, se necessário, do calendário escolar,
das rotinas e atividades, tendo em conta as diferenças EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
relativas às atividades econômicas e culturais, manti-
do o total de horas anuais obrigatórias no currículo; Art. 43 Os sistemas de ensino assegurarão, gratuita-
V – superação das desigualdades sociais e escolares mente, aos jovens e adultos que não puderam efetuar
que afetam essas populações, tendo por garantia o di- os estudos na idade própria, oportunidades educa-
reito à educação; cionais adequadas às suas características, interesses,
§ 2º Os projetos político-pedagógicos das escolas do condições de vida e de trabalho mediante cursos e
campo, indígenas e quilombolas devem contemplar exames, conforme estabelece o art. 37, § 1º, da Lei nº
a diversidade nos seus aspectos sociais, culturais, 9.394/96.
políticos, econômicos, éticos e estéticos, de gênero,
geração e etnia. Art. 44 A Educação de Jovens e Adultos, voltada para
§ 3º As escolas que atendem a essas populações a garantia de formação integral, da alfabetização às
LEGISLAÇÃO

deverão ser devidamente providas pelos sistemas diferentes etapas da escolarização ao longo da vida,
de ensino de materiais didáticos e educacionais que inclusive àqueles em situação de privação de liberda-
subsidiem o trabalho com a diversidade, bem como de, é pautada pela inclusão e pela qualidade social e
de recursos que assegurem aos alunos o acesso a requer:

55
I – um processo de gestão e financiamento que lhe Art. 47 A inserção de Educação de Jovens e Adultos no
assegure isonomia em relação ao Ensino Fundamental Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica,
regular; incluindo, além da avaliação do rendimento dos alu-
II – um modelo pedagógico próprio que permita a nos, a aferição de indicadores institucionais das redes
apropriação e a contextualização das Diretrizes Curri- públicas e privadas, concorrerá para a universalização
culares Nacionais; e a melhoria da qualidade do processo educativo.
III – a implantação de um sistema de monitoramento
e avaliação; A IMPLEMENTAÇÃO DESTAS DIRETRIZES: COM-
IV – uma política de formação permanente de seus PROMISSO SOLIDÁRIO DOS SISTEMAS E REDES DE
professores; ENSINO
V – maior alocação de recursos para que seja minis-
trada por docentes licenciados. Art. 48 Tendo em vista a implementação destas Dire-
trizes, cabe aos sistemas e às redes de ensino prover:
Art. 45 A idade mínima para o ingresso nos cursos de I – os recursos necessários à ampliação dos tempos
Educação de Jovens e Adultos e para a realização de e espaços dedicados ao trabalho educativo nas esco-
exames de conclusão de EJA será de 15 (quinze) anos las e a distribuição de materiais didáticos e escolares
completos (Parecer CNE/CEB nº 6/2010 e Resolução adequados;
CNE/CEB nº 3/2010). II – a formação continuada dos professores e demais
Parágrafo único. Considerada a prioridade de aten- profissionais da escola em estreita articulação com
dimento à escolarização obrigatória, para que haja as instituições responsáveis pela formação inicial,
oferta capaz de contemplar o pleno atendimento dos dispensando especiais esforços quanto à formação
adolescentes, jovens e adultos na faixa dos 15 (quinze) dos docentes das modalidades específicas do Ensino
anos ou mais, com defasagem idade/série, tanto na Fundamental e àqueles que trabalham nas escolas do
sequência do ensino regular, quanto em Educação de campo, indígenas e quilombolas;
Jovens e Adultos, assim como nos cursos destinados à III – a coordenação do processo de implementação do
formação profissional, torna-se necessário: currículo, evitando a fragmentação dos projetos edu-
I – fazer a chamada ampliada dos estudantes em to- cativos no interior de uma mesma realidade educa-
das as modalidades do Ensino Fundamental; cional;
II – apoiar as redes e os sistemas de ensino a esta-
IV – o acompanhamento e a avaliação dos programas
belecerem política própria para o atendimento des-
e ações educativas nas respectivas redes e escolas e o
ses estudantes, que considere as suas potencialidades,
suprimento das necessidades detectadas.
necessidades, expectativas em relação à vida, às cul-
turas juvenis e ao mundo do trabalho, inclusive com
Art. 49 O Ministério da Educação, em articulação com
programas de aceleração da aprendizagem, quando
os Estados, os Municípios e o Distrito Federal, deve-
necessário;
rá encaminhar ao Conselho Nacional de Educação,
III – incentivar a oferta de Educação de Jovens e Adul-
tos nos períodos diurno e noturno, com avaliação em precedida de consulta pública nacional, proposta de
processo. expectativas de aprendizagem dos conhecimentos es-
colares que devem ser atingidas pelos alunos em dife-
Art. 46 A oferta de cursos de Educação de Jovens e rentes estágios do Ensino Fundamental (art. 9º, § 3º,
Adultos, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, será desta Resolução).
presencial e a sua duração ficará a critério de cada Parágrafo único. Cabe, ainda, ao Ministério da Edu-
sistema de ensino, nos termos do Parecer CNE/CEB cação elaborar orientações e oferecer outros subsídios
nº 29/2006, tal como remete o Parecer CNE/CEB nº para a implementação destas Diretrizes.
6/2010 e a Resolução CNE/CEB nº 3/2010. Nos anos
finais, ou seja, do 6º ano ao 9º ano, os cursos poderão Art. 50 A presente Resolução entrará em vigor na data
ser presenciais ou a distância, devidamente credencia- de sua publicação, revogando-se as disposições em
dos, e terão 1.600 (mil e seiscentas) horas de duração. contrário, especialmente a Resolução CNE/CEB nº 2,
Parágrafo único. Tendo em conta as situações, os de 7 de abril de 1998.
perfis e as faixas etárias dos adolescentes, jovens e
adultos, o projeto político-pedagógico da escola e o Fonte
regimento escolar viabilizarão um modelo pedagógico BRASIL, Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação
próprio para essa modalidade de ensino que permita a Básica, 2013
apropriação e a contextualização das Diretrizes Curri-
culares Nacionais, assegurando:
I – a identificação e o reconhecimento das formas de
aprender dos adolescentes, jovens e adultos e a valori-
zação de seus conhecimentos e experiências;
II – a distribuição dos componentes curriculares de
LEGISLAÇÃO

modo a proporcionar um patamar igualitário de for-


mação, bem como a sua disposição adequada nos
tempos e espaços educativos, em face das necessida-
des específicas dos estudantes.

56
BRASIL. RESOLUÇÃO CNE/CEB 4/2009
EXERCÍCIOS COMENTADOS – INSTITUI DIRETRIZES OPERACIONAIS
PARA O ATENDIMENTO EDUCACIONAL
1. (PREFEITURA DE SANTA ROSA-RS – PROFES- ESPECIALIZADO NA EDUCAÇÃO BÁSICA,
SOR DE ED. INFANTIL – UNIJUUI – 2013) O Art. 2º, MODALIDADE EDUCAÇÃO ESPECIAL.
da Resolução nº 7, de 14 de dezembro de 2010, no seu
BRASÍLIA: CNE, 2009.
Parágrafo único expressa que as Diretrizes Curriculares
Nacionais, para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos e
para a Educação Básica aplicam-se: Resolução CNE/CEB nº 04/2009 – Diretrizes Opera-
cionais para o atendimento educacional na Educa-
a) às modalidades Presenciais e a Distância, bem como a ção Básica, modalidade Educação Especial.
Educação Especial.
b) às modalidades Presenciais, bem como à Educação do A Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional
Campo e à Escolar Indígena. de Educação pode elaborar resoluções criando diretrizes
c) a todas as modalidades do Ensino Fundamental, bem específicas para a educação no Brasil. A Resolução nº
como à Educação do Campo, à Educação Escolar Indí- 04/2009 trata das diretrizes Operacionais para o atendi-
gena e à Educação Escolar Quilombola. mento educacional na Educação Básica, na modalidade
d) a todas as modalidades do Ensino Fundamental e Educação Especial.
Médio, à Educação de Jovens e Adultos e à Educação
Quilombola.
#FicaDica
Resposta: Letra C.
RESOLUÇÃO Nº 7, DE 14 DE DEZEMBRODE 2010 O artigo 4o, III, Lei nº 9.394/1996 disciplina
Fixa Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino sobre o dever do Estado de fornecer aten-
Fundamental de 9 (nove) anos dimento especializado às pessoas com de-
Art. 2º ficiência, de preferência na rede regular de
Parágrafo único. Estas Diretrizes Curriculares Nacio- ensino:
nais aplicam-se a todas as modalidades do Ensino Art. 4º O dever do Estado com educação es-
Fundamental previstas na Lei de Diretrizes e Bases da colar pública será efetivado mediante a ga-
Educação Nacional, bem como à Educação do Cam- rantia de: [...] III - atendimento educacional
po, à Educação Escolar Indígena e à Educação Escolar especializado gratuito aos educandos com
Quilombola. deficiência, transtornos globais do desen-
volvimento e altas habilidades ou superdo-
2. (SEDUC-PI – PROFESSOR – NUCEPE – 2013) O tação, transversal a todos os níveis, etapas
Ensino Fundamental com duração de 9 anos, (Diretrizes e modalidades, preferencialmente na rede
Curriculares Nacionais), abrange a população na faixa regular de ensino.
etária dos:

a) 5 aos 13 anos de idade. O Presidente da Câmara de Educação Básica do Con-


b) 6 aos 14 anos de idade. selho Nacional de Educação, no uso de suas atribuições
c) 6 aos 15 anos de idade. legais, de conformidade com o disposto na alínea “c” do
d) 7 aos 14 anos de idade. artigo 9º da Lei nº 4.024/1961, com a redação dada pela
Lei nº 9.131/1995, bem como no artigo 90, no § 1º do
Resposta: Letra B. A opção pela faixa etária dos 6 aos artigo 8º e no § 1º do artigo 9º da Lei nº 9.394/1996,
14 e não dos 7 aos 15 anos para o Ensino Fundamental considerando a Constituição Federal de 1988; a Lei nº
de nove anos segue a tendência das famílias e dos sis- 10.098/2000; a Lei nº 10.436/2002; a Lei nº 11.494/2007;
temas de ensino de inserir progressivamente as crian- o Decreto nº 3.956/2001; o Decreto nº 5.296/2004; o De-
ças de 6 anos na rede escolar. A inclusão, mediante a creto nº 5.626/2005; o Decreto nº 6.253/2007; o Decre-
antecipação do acesso, é uma medida contextualizada to nº 6.571/2008; e o Decreto Legislativo nº 186/2008, e
nas políticas educacionais focalizadas no Ensino Fun- com fundamento no Parecer CNE/CEB nº 13/2009, ho-
damental. A adoção de um ensino obrigatório de nove mologado por Despacho do Senhor Ministro de Estado
anos iniciando aos seis anos de idade pode contribuir da Educação, publicado no DOU de 24 de setembro de
para uma mudança na estrutura e na cultura escolar. 2009, resolve:

Art. 1º Para a implementação do Decreto nº


6.571/2008, os sistemas de ensino devem matricular
os alunos com deficiência, transtornos globais do de-
LEGISLAÇÃO

senvolvimento e altas habilidades/superdotação nas


classes comuns do ensino regular e no Atendimento
Educacional Especializado (AEE), ofertado em salas
de recursos multifuncionais ou em centros de Atendi-

57
mento Educacional Especializado da rede pública ou podendo ser realizado, também, em centro de Atendi-
de instituições comunitárias, confessionais ou filantró- mento Educacional Especializado da rede pública ou
picas sem fins lucrativos. de instituições comunitárias, confessionais ou filantró-
A LDB prevê que os alunos que precisam de tratamen- picas sem fins lucrativos, conveniadas com a Secre-
to especial serão matriculados, de preferência, na rede taria de Educação ou órgão equivalente dos Estados,
regular de ensino. Isso envolve a vinculação em classes Distrito Federal ou dos Municípios.
comuns, com recursos multifuncionais e atendimento es- Local do Atendimento Educacional Especializado
pecializado. Logo, não cabe o isolamento, a exclusão, do (AEE): prioritariamente, em sala de recursos multifuncio-
aluno que tem necessidades especiais. nais.
Horário do Atendimento Educacional Especializado
Art. 2º O AEE tem como função complementar ou (AEE): fora do turno regular da escolarização (ex.: se o
suplementar a formação do aluno por meio da dis- aluno estuda de manhã, receberá o AEE na tarde ou na
ponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e noite), pois o atendimento especializado não substitui o
estratégias que eliminem as barreiras para sua plena ensino regular.
participação na sociedade e desenvolvimento de sua
aprendizagem. Art. 6º Em casos de Atendimento Educacional Espe-
Parágrafo único. Para fins destas Diretrizes, conside- cializado em ambiente hospitalar ou domiciliar, será
ram-se recursos de acessibilidade na educação aque- ofertada aos alunos, pelo respectivo sistema de ensi-
les que asseguram condições de acesso ao currículo no, a Educação Especial de forma complementar ou
dos alunos com deficiência ou mobilidade reduzida, suplementar.
promovendo a utilização dos materiais didáticos e pe- Será de forma complementar ou suplementar o aten-
dagógicos, dos espaços, dos mobiliários e equipamen- dimento do aluno em ambiente hospitalar ou domiciliar.
tos, dos sistemas de comunicação e informação, dos
transportes e dos demais serviços. Art. 7º Os alunos com altas habilidades/superdotação
Atendimento Educacional Especializado (AEE) tem terão suas atividades de enriquecimento curricular
por papel complementar ou suplementar a formação do desenvolvidas no âmbito de escolas públicas de ensi-
aluno através de serviços, recursos e estratégias que eli- no regular em interface com os núcleos de atividades
minem as barreiras que o excluem da sociedade. para altas habilidades/superdotação e com as insti-
tuições de ensino superior e institutos voltados ao de-
Art. 3º A Educação Especial se realiza em todos os senvolvimento e promoção da pesquisa, das artes e
níveis, etapas e modalidades de ensino, tendo o AEE dos esportes.
como parte integrante do processo educacional. O ensino dos alunos superdotados ou com altas ha-
Atendimento Educacional Especializado (AEE) – inte- bilidades se dará nas escolas públicas em conjunto com
gra o processo educacional da educação especial. núcleos de atividades próprios e instituições de ensino
superior.
Art. 4º Para fins destas Diretrizes, considera-se públi-
co-alvo do AEE: Art. 8º Serão contabilizados duplamente, no âmbito
I – Alunos com deficiência: aqueles que têm impedi- do FUNDEB, de acordo com o Decreto nº 6.571/2008,
mentos de longo prazo de natureza física, intelectual, os alunos matriculados em classe comum de ensino
mental ou sensorial. regular público que tiverem matrícula concomitante
II – Alunos com transtornos globais do desenvolvimen- no AEE.
to: aqueles que apresentam um quadro de alterações Parágrafo único. O financiamento da matrícula no
no desenvolvimento neuropsicomotor, comprometi- AEE é condicionado à matrícula no ensino regular
mento nas relações sociais, na comunicação ou este- da rede pública, conforme registro no Censo Escolar/
reotipias motoras. Incluem-se nessa definição alunos MEC/INEP do ano anterior, sendo contemplada:
com autismo clássico, síndrome de Asperger, síndrome a) matrícula em classe comum e em sala de recursos
de Rett, transtorno desintegrativo da infância (psico- multifuncionais da mesma escola pública;
ses) e transtornos invasivos sem outra especificação. b) matrícula em classe comum e em sala de recursos
III – Alunos com altas habilidades/superdotação: multifuncionais de outra escola pública;
aqueles que apresentam um potencial elevado e gran- c) matrícula em classe comum e em centro de Aten-
de envolvimento com as áreas do conhecimento hu- dimento Educacional Especializado de instituição de
mano, isoladas ou combinadas: intelectual, liderança, Educação Especial pública;
psicomotora, artes e criatividade. d) matrícula em classe comum e em centro de Aten-
Público do Atendimento Educacional Especializado dimento Educacional Especializado de instituições de
(AEE): alunos com deficiência, alunos com transtornos Educação Especial comunitárias, confessionais ou fi-
globais do desenvolvimento, alunos com altas habilida- lantrópicas sem fins lucrativos.
des/superdotação. Alunos matriculados em turma regular e no AEE se-
rão computados duplamente, isto é, como se duas matrí-
LEGISLAÇÃO

Art. 5º O AEE é realizado, prioritariamente, na sala culas existissem. Contudo, não é possível a matrícula no
de recursos multifuncionais da própria escola ou em AEE sem a matrícula comum.
outra escola de ensino regular, no turno inverso da es-
colarização, não sendo substitutivo às classes comuns,

58
Art. 9º A elaboração e a execução do plano de AEE são A formação inicial do processor deve permitir que
de competência dos professores que atuam na sala de exerça a docência, ao passo que a formação específica
recursos multifuncionais ou centros de AEE, em arti- deve habilitá-lo para a educação especial.
culação com os demais professores do ensino regular,
com a participação das famílias e em interface com Art. 13. São atribuições do professor do Atendimento
os demais serviços setoriais da saúde, da assistência Educacional Especializado:
social, entre outros necessários ao atendimento. I – identificar, elaborar, produzir e organizar serviços,
Professores que atuam na sala multifuncional do AEE recursos pedagógicos, de acessibilidade e estratégias
elaboram e executam o plano de AEE, com ajuda dos de- considerando as necessidades específicas dos alunos
mais professores, da família e dos serviços setoriais. público-alvo da Educação Especial;
II – elaborar e executar plano de Atendimento Educa-
Art. 10. O projeto pedagógico da escola de ensino re- cional Especializado, avaliando a funcionalidade e a
gular deve institucionalizar a oferta do AEE prevendo aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessi-
na sua organização: bilidade;
I – sala de recursos multifuncionais: espaço físico, mo- III – organizar o tipo e o número de atendimentos aos
biliário, materiais didáticos, recursos pedagógicos e de alunos na sala de recursos multifuncionais;
acessibilidade e equipamentos específicos; IV – acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade
II – matrícula no AEE de alunos matriculados no ensi- dos recursos pedagógicos e de acessibilidade na sala
no regular da própria escola ou de outra escola; de aula comum do ensino regular, bem como em ou-
III – cronograma de atendimento aos alunos; tros ambientes da escola;
IV – plano do AEE: identificação das necessidades edu- V – estabelecer parcerias com as áreas intersetoriais
cacionais específicas dos alunos, definição dos recur- na elaboração de estratégias e na disponibilização de
sos necessários e das atividades a serem desenvolvi- recursos de acessibilidade;
das; VI – orientar professores e famílias sobre os recursos
V – professores para o exercício da docência do AEE; pedagógicos e de acessibilidade utilizados pelo aluno;
VI – outros profissionais da educação: tradutor e intér- VII – ensinar e usar a tecnologia assistiva de forma a
prete de Língua Brasileira de Sinais, guia-intérprete e ampliar habilidades funcionais dos alunos, promoven-
outros que atuem no apoio, principalmente às ativida- do autonomia e participação;
des de alimentação, higiene e locomoção; VIII – estabelecer articulação com os professores da
VII – redes de apoio no âmbito da atuação profissio- sala de aula comum, visando à disponibilização dos
nal, da formação, do desenvolvimento da pesquisa, do serviços, dos recursos pedagógicos e de acessibilidade
acesso a recursos, serviços e equipamentos, entre ou- e das estratégias que promovem a participação dos
tros que maximizem o AEE. alunos nas atividades escolares.
Parágrafo único. Os profissionais referidos no inciso
VI atuam com os alunos público alvo da Educação Es- Art. 14. Esta Resolução entrará em vigor na data de
pecial em todas as atividades escolares nas quais se sua publicação, revogadas as disposições em contrá-
fizerem necessários. rio.
O projeto pedagógico do AEE necessita de recursos
pessoais e materiais, incluindo profissionais especializa-
dos e estrutura física compatível. #FicaDica
Todo aluno no Brasil, desde a educação in-
Art. 11. A proposta de AEE, prevista no projeto peda-
fantil até a educação superior, tem direito ao
gógico do centro de Atendimento Educacional Espe-
Atendimento Educacional Especializado, que
cializado público ou privado sem fins lucrativos, con-
deve ocorrer no contraturno escolar e irá be-
veniado para essa finalidade, deve ser aprovada pela
neficiar tanto o aluno quanto o professor da
respectiva Secretaria de Educação ou órgão equiva-
sala de aula comum. O especialista do AEE
lente, contemplando a organização disposta no artigo
faz a ponte entre o aluno e o professor da
10 desta Resolução.
sala de aula comum, permitindo uma troca
Parágrafo único. Os centros de Atendimento Educacio-
de experiência que contribua nesse proces-
nal Especializado devem cumprir as exigências legais
so educacional e em todo o contexto esco-
estabelecidas pelo Conselho de Educação do respec-
lar, bem como a inserção na sociedade.
tivo sistema de ensino, quanto ao seu credenciamen-
to, autorização de funcionamento e organização, em
consonância com as orientações preconizadas nestas
Diretrizes Operacionais.
A proposta do AEE deve ser aprovada na Secretaria
de Educação ou órgão equivalente, devendo cumprir as
exigências legais do conselho de Educação.
LEGISLAÇÃO

Art. 12. Para atuação no AEE, o professor deve ter for-


mação inicial que o habilite para o exercício da docên-
cia e formação específica para a Educação Especial.

59
BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO
EXERCÍCIO COMENTADO FUNDAMENTAL. PARÂMETROS
CURRICULARES NACIONAIS:
1. (INEP - Pesquisador-Tecnologista em Informações INTRODUÇÃO. BRASÍLIA: MEC/SEF, 2ª ED.
e Avaliações Educacionais - Área III - IBFC - 2012) Com (1ª A 4ª SÉRIE), RIO DE JANEIRO: DP&A,
base na Resolução nº 4, de 2 de outubro de 2009, que 2000. VOLUME 1 (ITENS: PRINCÍPIOS
institui as Diretrizes Operacionais para o Atendimento E FUNDAMENTOS DOS PARÂMETROS
Educacional Especializado na Educação Básica, assinale
CURRICULARES NACIONAIS E
a alternativa que não apresenta uma atribuição do pro-
fessor do Atendimento Educacional Especializado (AEE):
ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS).

a) Elaborar e executar plano de Atendimento Educacio-


PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS
nal Especializado (AEE), avaliando a funcionalidade e
a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de aces-
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) são a
sibilidade.
referência básica para a elaboração das matrizes de refe-
b) Adquirir, com recursos próprios, sistemas computacio-
rência. Os PCNs foram elaborados para difundir os prin-
nais que forneçam ferramentas para o ensino e o uso
cípios da reforma curricular e orientar os professores na
de tecnologia capaz de ampliar habilidades funcionais
busca de novas abordagens e metodologias. Eles traçam
dos alunos, promovendo autonomia e participação.
um novo perfil para o currículo, apoiado em competên-
c) Organizar o tipo e o número de atendimentos aos alu-
cias básicas para a inserção dos jovens na vida adulta;
nos na sala de recursos multifuncionais.
orientam os professores quanto ao significado do co-
d) Acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade dos
nhecimento escolar quando contextualizado e quanto à
recursos pedagógicos e de acessibilidade na sala de
interdisciplinaridade, incentivando o raciocínio e a capa-
aula comum do ensino regular, bem como em outros
cidade de aprender.
ambientes da escola.
Segundo as orientações dos PCNs o currículo está
e) Estabelecer parcerias com as áreas intersetoriais na
sempre em construção e deve ser compreendido como
elaboração de estratégias e na disponibilização de re-
um processo contínuo que influencia positivamente a
cursos de acessibilidade.
prática do professor. Com base nessa prática e no pro-
cesso de aprendizagem dos alunos os currículos devem
Resposta: Letra B
ser revistos e sempre aperfeiçoados.
Não cabe ao professor adquirir com recursos próprios
A opção teórica adotada é a que pressupõe a exis-
os sistemas computacionais de AEE, sendo papel do
tência de competências cognitivas e habilidades a serem
Estado providenciar a estrutura para funcionamento
desenvolvidas pelo aluno no processo de ensino-apren-
do atendimento especializado.
dizagem.
A. Correta, conforme artigo 13, II, Resolução nº
04/2009: “são atribuições do professor do Atendimen-
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES:
to Educacional Especializado: [...] II – elaborar e execu-
O QUE SÃO OS PARÂMETROS CURRICULARES NA-
tar plano de Atendimento Educacional Especializado,
CIONAIS?
avaliando a funcionalidade e a aplicabilidade dos re-
cursos pedagógicos e de acessibilidade”.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais constituem um
C. Correta, conforme artigo 13, III, Resolução nº
referencial de qualidade para a educação no Ensino Fun-
04/2009: “são atribuições do professor do Atendimen-
damental em todo o País. Sua função é orientar e garantir
to Educacional Especializado: [...] III – organizar o tipo
a coerência dos investimentos no sistema educacional,
e o número de atendimentos aos alunos na sala de
socializando discussões, pesquisas e recomendações,
recursos multifuncionais”.
subsidiando a participação de técnicos e professores
D. Correta, conforme artigo 13, IV, Resolução nº
brasileiros, principalmente daqueles que se encontram
04/2009: “são atribuições do professor do Atendimen-
mais isolados, com menor contato com a produção pe-
to Educacional Especializado: [...] IV – acompanhar a
dagógica atual.
funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos peda-
Por sua natureza aberta, configuram uma proposta
gógicos e de acessibilidade na sala de aula comum
flexível, a ser concretizada nas decisões regionais e locais
do ensino regular, bem como em outros ambientes
sobre currículos e sobre programas de transformação da
da escola”.
realidade educacional empreendidos pelas autoridades
E. Correta, conforme artigo 13, V, Resolução nº
governamentais, pelas escolas e pelos professores. Não
04/2009: “são atribuições do professor do Atendi-
configuram, portanto, um modelo curricular homogêneo
mento Educacional Especializado: [...] V – estabelecer
e impositivo, que se sobreporia à competência político-
parcerias com as áreas intersetoriais na elaboração de
-executiva dos Estados e Municípios, à diversidade socio-
estratégias e na disponibilização de recursos de aces-
LEGISLAÇÃO

cultural das diferentes regiões do País ou à autonomia de


sibilidade”.
professores e equipes pedagógicas.
O conjunto das proposições aqui expressas responde
à necessidade de referenciais a partir dos quais o sistema
educacional do País se organize, a fim de garantir que,

60
respeitadas as diversidades culturais, regionais, étnicas, Tendo em vista o quadro atual da educação no Bra-
religiosas e políticas que atravessam uma sociedade múl- sil e os compromissos assumidos internacionalmente,
tipla, estratificada e complexa, a educação possa atuar, o Ministério da Educação e do Desporto coordenou a
decisivamente, no processo de construção da cidadania, elaboração do Plano Decenal de Educação para Todos
tendo como meta o ideal de uma crescente igualdade (1993-2003), concebido como um conjunto de diretrizes
de direitos entre os cidadãos, baseado nos princípios políticas em contínuo processo de negociação, voltado
democráticos. Essa igualdade implica necessariamente o para a recuperação da escola fundamental, a partir do
acesso à totalidade dos bens públicos, entre os quais o compromisso com a equidade e com o incremento da
conjunto dos conhecimentos socialmente relevantes. qualidade, como também com a constante avaliação dos
Entretanto, se estes Parâmetros Curriculares Nacio- sistemas escolares, visando ao seu contínuo aprimora-
nais podem funcionar como elemento catalisador de mento.
ações na busca de uma melhoria da qualidade da educa- O Plano Decenal de Educação, em consonância com
ção brasileira, de modo algum pretendem resolver todos o que estabelece a Constituição de 1988, afirma a neces-
os problemas que afetam a qualidade do ensino e da sidade e a obrigação de o Estado elaborar parâmetros
aprendizagem no País. A busca da qualidade impõe a ne- claros no campo curricular capazes de orientar as ações
cessidade de investimentos em diferentes frentes, como educativas do ensino obrigatório, de forma a adequá-lo
a formação inicial e continuada de professores, uma polí- aos ideais democráticos e à busca da melhoria da quali-
tica de salários dignos, um plano de carreira, a qualidade dade do ensino nas escolas brasileiras.
do livro didático, de recursos televisivos e de multimídia, Nesse sentido, a leitura atenta do texto constitucio-
a disponibilidade de materiais didáticos. Mas esta quali- nal vigente mostra a ampliação das responsabilidades
ficação almejada implica colocar também, no centro do do poder público para com a educação de todos, ao
debate, as atividades escolares de ensino e aprendiza- mesmo tempo que a Emenda Constitucional n. 14, de 12
gem e a questão curricular como de inegável importân- de setembro de 1996, priorizou o ensino fundamental,
cia para a política educacional da nação brasileira. disciplinando a participação de Estados e Municípios no
tocante ao financiamento desse nível de ensino.
BREVE HISTÓRICO
A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
Até dezembro de 1996 o ensino fundamental este- (Lei Federal n. 9.394), aprovada em 20 de dezembro de
ve estruturado nos termos previstos pela Lei Federal n. 1996, consolida e amplia o dever do poder público para
5.692, de 11 de agosto de 1971. Essa lei, ao definir as di- com a educação em geral e em particular para com o
retrizes e bases da educação nacional, estabeleceu como ensino fundamental. Assim, vê-se no art. 22 dessa lei que
objetivo geral, tanto para o ensino fundamental (primeiro a educação básica, da qual o ensino fundamental é parte
grau, com oito anos de escolaridade obrigatória) quan- integrante, deve assegurar a todos “a formação comum
to para o ensino médio (segundo grau, não obrigatório), indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-
proporcionar aos educandos a formação necessária ao -lhes meios para progredir no trabalho e em estudos
desenvolvimento de suas potencialidades como elemen- posteriores”, fato que confere ao ensino fundamental, ao
to de auto realização, preparação para o trabalho e para mesmo tempo, um caráter de terminalidade e de conti-
o exercício consciente da cidadania. nuidade.
Também generalizou as disposições básicas sobre o Essa LDB reforça a necessidade de se propiciar a to-
currículo, estabelecendo o núcleo comum obrigatório dos a formação básica comum, o que pressupõe a for-
em âmbito nacional para o ensino fundamental e mé- mulação de um conjunto de diretrizes capaz de nortear
dio. Manteve, porém, uma parte diversificada a fim de os currículos e seus conteúdos mínimos, incumbência
contemplar as peculiaridades locais, a especificidade dos que, nos termos do art. 9º, inciso IV, é remetida para a
planos dos estabelecimentos de ensino e as diferenças União. Para dar conta desse amplo objetivo, a LDB con-
individuais dos alunos. Coube aos Estados a formulação solida a organização curricular de modo a conferir uma
de propostas curriculares que serviriam de base às esco- maior flexibilidade no trato dos componentes curricu-
las estaduais, municipais e particulares situadas em seu lares, reafirmando desse modo o princípio da base na-
território, compondo, assim, seus respectivos sistemas de cional comum (Parâmetros Curriculares Nacionais), a ser
ensino. Essas propostas foram, na sua maioria, reformu- complementada por uma parte diversificada em cada sis-
ladas durante os anos 80, segundo as tendências educa- tema de ensino e escola na prática, repetindo o art. 210
cionais que se generalizaram nesse período. da Constituição Federal.
Em 1990 o Brasil participou da Conferência Mundial Em linha de síntese, pode-se afirmar que o currículo,
de Educação para Todos, em Jomtien, na Tailândia, con- tanto para o ensino fundamental quanto para o ensino
vocada pela Unesco, Unicef, PNUD e Banco Mundial. médio, deve obrigatoriamente propiciar oportunidades
Dessa conferência, assim como da Declaração de Nova para o estudo da língua portuguesa, da matemática, do
Delhi — assinada pelos nove países em desenvolvimento mundo físico e natural e da realidade social e política,
de maior contingente populacional do mundo —, resul- enfatizando-se o conhecimento do Brasil. Também são
taram posições consensuais na luta pela satisfação das áreas curriculares obrigatórias o ensino da Arte e da
LEGISLAÇÃO

necessidades básicas de aprendizagem para todos, ca- Educação Física, necessariamente integradas à propos-
pazes de tornar universal a educação fundamental e de ta pedagógica. O ensino de pelo menos uma língua es-
ampliar as oportunidades de aprendizagem para crian- trangeira moderna passa a se constituir um componente
ças, jovens e adultos. curricular obrigatório, a partir da quinta série do ensino

61
fundamental (art. 26, § 5o). Quanto ao ensino religioso, sem onerar as despesas públicas, a LDB manteve a orientação
já adotada pela política educacional brasileira, ou seja, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas,
mas é de matrícula facultativa, respeitadas as preferências manifestadas pelos alunos ou por seus responsáveis (art. 33).

O ensino proposto pela LDB está em função do objetivo maior do ensino fundamental, que é o de propiciar a todos
formação básica para a cidadania, a partir da criação na escola de condições de aprendizagem para:
“I- o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e
do cálculo;
II- a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se
fundamenta a sociedade;
III- o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades
e a formação de atitudes e valores;
IV- o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se
assenta a vida social” (art. 32).
Verifica-se, pois, como os atuais dispositivos relativos à organização curricular da educação escolar caminham no
sentido de conferir ao aluno, dentro da estrutura federativa, efetivação dos objetivos da educação democrática.

O processo de elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais

O processo de elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais teve início a partir do estudo de propostas curricu-
lares de Estados e Municípios brasileiros, da análise realizada pela Fundação Carlos Chagas sobre os currículos oficiais
e do contato com informações relativas a experiências de outros países. Foram analisados subsídios oriundos do Plano
Decenal de Educação, de pesquisas nacionais e internacionais, dados estatísticos sobre desempenho de alunos do en-
sino fundamental, bem como experiências de sala de aula difundidas em encontros, seminários e publicações.
Formulou-se, então, uma proposta inicial que, apresentada em versão preliminar, passou por um processo de dis-
cussão em âmbito nacional, em 1995 e 1996, do qual participaram docentes de universidades públicas e particulares,
técnicos de secretarias estaduais e municipais de educação, de instituições representativas de diferentes áreas de
conhecimento, especialistas e educadores. Desses interlocutores foram recebidos aproximadamente setecentos pare-
ceres sobre a proposta inicial, que serviram de referência para a sua reelaboração.
A discussão da proposta foi estendida em inúmeros encontros regionais, organizados pelas delegacias do MEC nos
Estados da federação, que contaram com a participação de professores do ensino fundamental, técnicos de secretarias
municipais e estaduais de educação, membros de conselhos estaduais de educação, representantes de sindicatos e
entidades ligadas ao magistério. Os resultados apurados nesses encontros também contribuíram para a reelaboração
do documento.
Os pareceres recebidos, além das análises críticas e sugestões em relação ao conteúdo dos documentos, em sua
quase-totalidade, apontaram a necessidade de uma política de implementação da proposta educacional inicialmente
explicitada. Além disso, sugeriram diversas possibilidades de atuação das universidades e das faculdades de educação
para a melhoria do ensino nas séries iniciais, as quais estão sendo incorporadas na elaboração de novos programas de
formação de professores, vinculados à implementação dos Parâmetros Curriculares Nacionais. 

A proposta dos parâmetros curriculares nacionais em face da situação do ensino fundamental

Durante as décadas de 70 e 80 a tônica da política educacional brasileira recaiu sobre a expansão das oportunidades
de escolarização, havendo um aumento expressivo no acesso à escola básica. Todavia, os altos índices de repetência e
evasão apontam problemas que evidenciam a grande insatisfação com o trabalho realizado pela escola.
Indicadores fornecidos pela Secretaria de Desenvolvimento e Avaliação Educacional (Sediae), do Ministério da Edu-
cação e do Desporto, reafirmam a necessidade de revisão do projeto educacional do País, de modo a concentrar a
atenção na qualidade do ensino e da aprendizagem.

Número de alunos e de estabelecimentos

A oferta de vagas está praticamente universalizada no País. O maior contingente de crianças fora da escola encon-
tra-se na região Nordeste. Nas regiões Sul e Sudeste há desequilíbrios na localização das escolas e, no caso das gran-
des cidades, insuficiência de vagas, provocando a existência de um número excessivo de turnos e a criação de escolas
unidocentes ou multisseriadas.
Em 1994, os 31,2 milhões de alunos do ensino fundamental concentravam-se predominantemente nas regiões
Sudeste (39%) e Nordeste (31%), seguidas das regiões Sul (14%), Norte (9%) e Centro-Oeste (7 %), conforme indicado
no gráfico 1.
LEGISLAÇÃO

62
A maioria absoluta dos alunos frequentava escolas públicas (88,4%) localizadas em áreas urbanas (82,5%), como re-
sultado do processo de urbanização do País nas últimas décadas, e da crescente participação do setor público na oferta
de matrículas. O setor privado responde apenas por 11,6% da oferta, em consequência de sua participação declinante
desde o início dos anos 70.
No que se refere ao número de estabelecimentos de ensino, ao todo 194.487, mais de 70% das escolas são rurais,
apesar de responderem por apenas 17,5% da demanda de ensino fundamental. Na verdade, as escolas rurais concen-
tram-se sobretudo na região Nordeste (50%), não só em função de suas características socioeconômicas, mas também
devido à ausência de planejamento do processo de expansão da rede física (gráfico 2).

LEGISLAÇÃO

63
A situação mostra-se grave ao se observar a evolução da distribuição da população por nível de escolaridade. Se é
verdade que houve considerável avanço na escolaridade correspondente à primeira fase do ensino fundamental (pri-
meira à quarta séries), é também verdade que em relação aos demais níveis de ensino a escolaridade ainda é muito
insuficiente: em 1990, apenas 19% da população do País possuía o primeiro grau completo; 13%, o nível médio; e 8%
possuía o nível superior. Considerando a importância do ensino fundamental e médio para assegurar a formação de
cidadãos aptos a participar democraticamente da vida social, esta situação indica a urgência das tarefas e o esforço que
o estado e a sociedade civil deverão assumir para superar a médio prazo o quadro existente.
Além das imensas diferenças regionais no que concerne ao número médio de anos de estudo, que apontam a re-
gião Nordeste bem abaixo da média nacional, cabe destacar a grande oscilação deste indicador em relação à variável
cor, mas relativo equilíbrio do ponto de vista de gênero.

Com efeito, mais do que refletir as desigualdades regionais e as diferenças de gênero e cor, o quadro de escolariza-
ção desigual do País revela os resultados do processo de extrema concentração de renda e níveis elevados de pobreza.

Promoção, repetência e evasão

Em relação às taxas de transição, houve substancial melhoria dos índices de promoção, repetência e evasão do
ensino fundamental. Verifica-se, no período de 1981-92, tendência ascendente das taxas de promoção — sobem de
55% em 1984, para 62% em 1992 — acompanhada de queda razoável das taxas médias de repetência e evasão, que
atingem, respectivamente, 33% e 5% em 1992.
Essa tendência é muito significativa. Estudos indicam que a repetência constitui um dos problemas do quadro
educacional do País, uma vez que os alunos passam, em média, 5 anos na escola antes de se evadirem ou levam cerca
de 11,2 anos para concluir as oito séries de escolaridade obrigatória. No entanto, a grande maioria da população es-
tudantil acaba desistindo da escola, desestimulada em razão das altas taxas de repetência e pressionada por fatores
socioeconômicos que obrigam boa parte dos alunos ao trabalho precoce.
Apesar da melhoria observada nos índices de evasão, o comportamento das taxas de promoção e repetência na
primeira série do ensino fundamental está ainda longe do desejável: apenas 51% do total de alunos são promovidos,
enquanto 44% repetem, reproduzindo assim o ciclo de retenção que acaba expulsando os alunos da escola (gráficos
3, 4 e 5).
LEGISLAÇÃO

64
Do ponto de vista regional, com exceção do Norte e do Nordeste, as demais regiões apresentam tendência à ele-
vação das taxas médias de promoção e à queda dos índices de repetência (gráficos 6 e 7), indicando relativo processo
de melhoria da eficiência do sistema. Ressalta-se, contudo, tendência à queda das taxas de evasão nas regiões Norte e
Nordeste que, em 1992, chegam muito próximas da média nacional (gráfico 8).
LEGISLAÇÃO

65
As taxas de repetência evidenciam a baixa qualidade do ensino e a incapacidade dos sistemas educacionais e das
escolas de garantir a permanência do aluno, penalizando principalmente os alunos de níveis de renda mais baixos.
O “represamento” no sistema causado pelo número excessivo de reprovações nas séries iniciais contribui de forma
significativa para o aumento dos gastos públicos, ainda acrescidos pela subutilização de recursos humanos e materiais
nas séries finais, devido ao número reduzido de alunos.
Uma das consequências mais nefastas das elevadas taxas de repetência manifesta-se nitidamente nas acentuadas
taxas de distorção série/idade, em todas as séries do ensino fundamental (gráfico 9). Apesar da ligeira queda observada
em todas as séries, no período 1984-94, a situação é dramática:
- mais de 63% dos alunos do ensino fundamental têm idade superior à faixa etária correspondente a cada série;
- as regiões Sul e Sudeste, embora situem-se abaixo da média nacional, ainda apresentam índices bastante eleva-
dos, respectivamente, cerca de 42% e de 54%;
- as regiões Norte e Nordeste situam-se bem acima da média nacional (respectivamente, 78% e 80%).

Para reverter esse quadro, alguns Estados e Municípios começam a implementar programas de aceleração do fluxo
escolar, com o objetivo de promover, a médio prazo, a melhoria dos indicadores de rendimento escolar. São iniciativas
extremamente importantes, uma vez que a pesquisa realizada pelo MEC, em 1995, por meio do Sistema Nacional de
Avaliação da Educação Básica (SAEB) mostra que quanto maior a distorção idade/série, pior o rendimento dos alunos
em Língua Portuguesa e Matemática, tanto no ensino fundamental como no médio. A repetência, portanto, parece não
acrescentar nada ao processo de ensino e aprendizagem.

Desempenho

O perfil da educação brasileira apresentou significativas mudanças nas duas últimas décadas.
Houve substancial queda da taxa de analfabetismo, aumento expressivo do número de matrículas em todos os
níveis de ensino e crescimento sistemático das taxas de escolaridade média da população.
A progressiva queda da taxa de analfabetismo, que passa de 39,5% para 20,1% nas quatro últimas décadas, foi para-
lela ao processo de universalização do atendimento escolar na faixa etária obrigatória (sete a quatorze anos), tendência
que se acentua de meados dos anos 70 para cá, sobretudo como resultado do esforço do setor público na promoção
das políticas educacionais.
Esse movimento não ocorreu de forma homogênea. Ele acompanhou as características de desenvolvimento socioe-
conômico do País e reflete suas desigualdades.
Por outro lado, resultados obtidos em pesquisa realizada pelo SAEB/95, baseados em uma amostra nacional que
abrangeu 90.499 alunos de 2.793 escolas públicas e privadas, reafirmam a baixa qualidade atingida no desempenho
dos alunos no ensino fundamental em relação à leitura e principalmente em habilidade matemática.

Os resultados de desempenho em matemática mostram um rendimento geral insatisfatório, pois os percentuais em


sua maioria situam-se abaixo de 50%. Ao indicarem um rendimento melhor nas questões classificadas como de com-
preensão de conceitos do que nas de conhecimento de procedimentos e resolução de problemas, os dados parecem
confirmar o que vem sendo amplamente debatido, ou seja, que o ensino da matemática ainda é feito sem levar em
conta os aspectos que a vinculam com a prática cotidiana, tornando-a desprovida de significado para o aluno. Outro
fato que chama a atenção é que o pior índice refere-se ao campo da geometria.
Os dados apresentados pela pesquisa confirmam a necessidade de investimentos substanciais para a melhoria da
qualidade do ensino e da aprendizagem no ensino fundamental.
Mesmo os alunos que conseguem completar os oito anos do ensino fundamental acabam dispondo de menos
conhecimento do que se espera de quem concluiu a escolaridade obrigatória. Aprenderam pouco, e muitas vezes o
LEGISLAÇÃO

que aprenderam não facilita sua inserção e atuação na sociedade. Dentre outras deficiências do processo de ensino e
aprendizagem, são relevantes o desinteresse geral pelo trabalho escolar, a motivação dos alunos centrada apenas na
nota e na promoção, o esquecimento precoce dos assuntos estudados e os problemas de disciplina.

66
Desde os anos 80, experiências concretas no âmbi- Para isso faz-se necessária uma proposta educacional
to dos Estados e Municípios vêm sendo tentadas para a que tenha em vista a qualidade da formação a ser ofere-
transformação desse quadro educacional mas, ainda que cida a todos os estudantes. O ensino de qualidade que a
tenham obtido sucesso, são experiências circunscritas a sociedade demanda atualmente expressa-se aqui como
realidades específicas. a possibilidade de o sistema educacional vir a propor
uma prática educativa adequada às necessidades sociais,
Professores políticas, econômicas e culturais da realidade brasileira,
que considere os interesses e as motivações dos alunos e
O desempenho dos alunos remete-nos diretamente garanta as aprendizagens essenciais para a formação de
à necessidade de se considerarem aspectos relativos à cidadãos autônomos, críticos e participativos, capazes de
formação do professor. Pelo Censo Educacional de 1994 atuar com competência, dignidade e responsabilidade na
foi feito um levantamento da quantidade de professo- sociedade em que vivem.
res que atuam no ensino fundamental, bem como grau O exercício da cidadania exige o acesso de todos à
de escolaridade. Do total de funções docentes do ensino totalidade dos recursos culturais relevantes para a in-
fundamental (cerca de 1,3 milhão), 86,3% encontram-se tervenção e a participação responsável na vida social. O
na rede pública; mais de 79% relacionam-se às escolas da domínio da língua falada e escrita, os princípios da refle-
área urbana e apenas 20,4% à zona rural. xão matemática, as coordenadas espaciais e temporais
que organizam a percepção do mundo, os princípios da
A exigência legal de formação inicial para atuação explicação científica, as condições de fruição da arte e
no ensino fundamental nem sempre pode ser cumprida, das mensagens estéticas, domínios de saber tradicional-
em função das deficiências do sistema educacional. No mente presentes nas diferentes concepções do papel da
entanto, a má qualidade do ensino não se deve simples- educação no mundo democrático, até outras tantas exi-
mente à não formação inicial de parte dos professores, gências que se impõem no mundo contemporâneo.
resultando também da má qualidade da formação que Essas exigências apontam a relevância de discussões
tem sido ministrada. Este levantamento mostra a urgên- sobre a dignidade do ser humano, a igualdade de di-
cia de se atuar na formação inicial dos professores. reitos, a recusa categórica de formas de discriminação,
Além de uma formação inicial consistente, é preciso a importância da solidariedade e do respeito. Cabe ao
considerar um investimento educativo contínuo e siste- campo educacional propiciar aos alunos as capacidades
mático para que o professor se desenvolva como profis- de vivenciar as diferentes formas de inserção sociopolí-
sional de educação. O conteúdo e a metodologia para tica e cultural. Apresenta-se para a escola, hoje mais do
essa formação precisam ser revistos para que haja pos- que nunca, a necessidade de assumir-se como espaço
sibilidade de melhoria do ensino. A formação não pode social de construção dos significados éticos necessários e
ser tratada como um acúmulo de cursos e técnicas, mas constitutivos de toda e qualquer ação de cidadania.
sim como um processo reflexivo e crítico sobre a prática
educativa. Investir no desenvolvimento profissional dos No contexto atual, a inserção no mundo do trabalho
professores é também intervir em suas reais condições e do consumo, o cuidado com o próprio corpo e com
de trabalho. a saúde, passando pela educação sexual, e a preserva-
ção do meio ambiente são temas que ganham um novo
Princípios e Fundamentos dos Parâmetros Curri- estatuto, num universo em que os referenciais tradicio-
culares Nacionais nais, a partir dos quais eram vistos como questões locais
ou individuais, já não dão conta da dimensão nacional e
até mesmo internacional que tais temas assumem, jus-
Na sociedade democrática, ao contrário do que ocor-
tificando, portanto, sua consideração. Nesse sentido, é
re nos regimes autoritários, o processo educacional não
papel preponderante da escola propiciar o domínio dos
pode ser instrumento para a imposição, por parte do go-
recursos capazes de levar à discussão dessas formas e
verno, de um projeto de sociedade e de nação. Tal pro-
sua utilização crítica na perspectiva da participação social
jeto deve resultar do próprio processo democrático, nas
e política.
suas dimensões mais amplas, envolvendo a contraposi-
Desde a construção dos primeiros computadores, na
ção de diferentes interesses e a negociação política ne-
metade deste século, novas relações entre conhecimen-
cessária para encontrar soluções para os conflitos sociais. to e trabalho começaram a ser delineadas. Um de seus
Não se pode deixar de levar em conta que, na atual efeitos é a exigência de um reequacionamento do pa-
realidade brasileira, a profunda estratificação social e a pel da educação no mundo contemporâneo, que coloca
injusta distribuição de renda têm funcionado como um para a escola um horizonte mais amplo e diversificado
entrave para que uma parte considerável da população do que aquele que, até poucas décadas atrás, orienta-
possa fazer valer os seus direitos e interesses fundamen- va a concepção e construção dos projetos educacionais.
tais. Cabe ao governo o papel de assegurar que o pro- Não basta visar à capacitação dos estudantes para futu-
cesso democrático se desenvolva de modo a que esses ras habilitações em termos das especializações tradicio-
entraves diminuam cada vez mais. É papel do Estado
LEGISLAÇÃO

nais, mas antes trata-se de ter em vista a formação dos


democrático investir na escola, para que ela prepare e estudantes em termos de sua capacitação para a aqui-
instrumentalize crianças e jovens para o processo demo- sição e o desenvolvimento de novas competências, em
crático, forçando o acesso à educação de qualidade para função de novos saberes que se produzem e demandam
todos e às possibilidades de participação social. um novo tipo de profissional, preparado para poder lidar

67
com novas tecnologias e linguagens, capaz de responder Para compreender a natureza dos Parâmetros Cur-
a novos ritmos e processos. Essas novas relações entre riculares Nacionais, é necessário situá-los em relação a
conhecimento e trabalho exigem capacidade de iniciati- quatro níveis de concretização curricular considerando
va e inovação e, mais do que nunca, “aprender a apren- a estrutura do sistema educacional brasileiro. Tais níveis
der”. Isso coloca novas demandas para a escola. A educa- não representam etapas sequenciais, mas sim amplitudes
ção básica tem assim a função de garantir condições para distintas da elaboração de propostas curriculares, com
que o aluno construa instrumentos que o capacitem para responsabilidades diferentes, que devem buscar uma in-
um processo de educação permanente. tegração e, ao mesmo tempo, autonomia.

Para tanto, é necessário que, no processo de ensino Os Parâmetros Curriculares Nacionais constituem o
e aprendizagem, sejam exploradas: a aprendizagem de primeiro nível de concretização curricular.
metodologias capazes de priorizar a construção de es- São uma referência nacional para o ensino funda-
tratégias de verificação e comprovação de hipóteses na mental; estabelecem uma meta educacional para a qual
construção do conhecimento, a construção de argumen- devem convergir as ações políticas do Ministério da Edu-
tação capaz de controlar os resultados desse processo, o cação e do Desporto, tais como os projetos ligados à sua
desenvolvimento do espírito crítico capaz de favorecer a competência na formação inicial e continuada de pro-
criatividade, a compreensão dos limites e alcances lógi- fessores, à análise e compra de livros e outros materiais
cos das explicações propostas. Além disso, é necessário didáticos e à avaliação nacional. Têm como função sub-
ter em conta uma dinâmica de ensino que favoreça não sidiar a elaboração ou a revisão curricular dos Estados e
só o descobrimento das potencialidades do trabalho in- Municípios, dialogando com as propostas e experiências
dividual, mas também, e sobretudo, do trabalho coletivo. já existentes, incentivando a discussão pedagógica in-
Isso implica o estímulo à autonomia do sujeito, desen- terna das escolas e a elaboração de projetos educativos,
volvendo o sentimento de segurança em relação às suas assim como servir de material de reflexão para a prática
próprias capacidades, interagindo de modo orgânico e de professores.
integrado num trabalho de equipe e, portanto, sendo ca- Todos os documentos aqui apresentados configuram
paz de atuar em níveis de interlocução mais complexos uma referência nacional em que são apontados conteú-
e diferenciados. dos e objetivos articulados, critérios de eleição dos pri-
meiros, questões de ensino e aprendizagem das áreas,
Natureza e função dos Parâmetros Curriculares que permeiam a prática educativa de forma explícita ou
Nacionais implícita, propostas sobre a avaliação em cada momento
da escolaridade e em cada área, envolvendo questões re-
Cada criança ou jovem brasileiro, mesmo de locais lativas a o que e como avaliar. Assim, além de conter uma
com pouca infraestrutura e condições socioeconômi- exposição sobre seus fundamentos, contém os diferentes
cas desfavoráveis, deve ter acesso ao conjunto de co- elementos curriculares — tais como Caracterização das
nhecimentos socialmente elaborados e reconhecidos Áreas, Objetivos, Organização dos Conteúdos, Critérios
como necessários para o exercício da cidadania para de Avaliação e Orientações Didáticas —, efetivando uma
deles poder usufruir. Se existem diferenças sociocultu- proposta articuladora dos propósitos mais gerais de for-
rais marcantes, que determinam diferentes necessidades mação de cidadania, com sua operacionalização no pro-
de aprendizagem, existe também aquilo que é comum cesso de aprendizagem.
a todos, que um aluno de qualquer lugar do Brasil, do Apesar de apresentar uma estrutura curricular com-
interior ou do litoral, de uma grande cidade ou da zona pleta, os Parâmetros Curriculares Nacionais são abertos e
rural, deve ter o direito de aprender e esse direito deve flexíveis, uma vez que, por sua natureza, exigem adapta-
ser garantido pelo Estado. ções para a construção do currículo de uma Secretaria ou
Mas, na medida em que o princípio da equidade re- mesmo de uma escola. Também pela sua natureza, eles
conhece a diferença e a necessidade de haver condições não se impõem como uma diretriz obrigatória: o que se
diferenciadas para o processo educacional, tendo em vis- pretende é que ocorram adaptações, por meio do diá-
ta a garantia de uma formação de qualidade para todos, logo, entre estes documentos e as práticas já existentes,
o que se apresenta é a necessidade de um referencial desde as definições dos objetivos até as orientações di-
comum para a formação escolar no Brasil, capaz de indi- dáticas para a manutenção de um todo coerente.
car aquilo que deve ser garantido a todos, numa realida-
de com características tão diferenciadas, sem promover Os Parâmetros Curriculares Nacionais estão situados
uma uniformização que descaracterize e desvalorize pe- historicamente — não são princípios atemporais. Sua
culiaridades culturais e regionais. validade depende de estarem em consonância com a
É nesse sentido que o estabelecimento de uma realidade social, necessitando, portanto, de um processo
referência curricular comum para todo o País, ao periódico de avaliação e revisão, a ser coordenado pelo
mesmo tempo que fortalece a unidade nacional e a MEC.
responsabilidade do Governo Federal com a educação, O segundo nível de concretização diz respeito às pro-
busca garantir, também, o respeito à diversidade que postas curriculares dos Estados e Municípios. Os Parâme-
LEGISLAÇÃO

é marca cultural do País, mediante a possibilidade de tros Curriculares Nacionais poderão ser utilizados como
adaptações que integrem as diferentes dimensões da recurso para adaptações ou elaborações curriculares rea-
prática educacional. lizadas pelas Secretarias de Educação, em um processo
definido pelos responsáveis em cada local.

68
O terceiro nível de concretização refere-se à elabo- e metodologias de ensino que permearam a formação
ração da proposta curricular de cada instituição escolar, educacional e o percurso profissional do professor, aí
contextualizada na discussão de seu projeto educativo. incluídas suas próprias experiências escolares, suas ex-
Entende-se por projeto educativo a expressão da iden- periências de vida, a ideologia compartilhada com seu
tidade de cada escola em um processo dinâmico de dis- grupo social e as tendências pedagógicas que lhe são
cussão, reflexão e elaboração contínua. Esse processo contemporâneas.
deve contar com a participação de toda equipe pedagó- As tendências pedagógicas que se firmam nas escolas
gica, buscando um comprometimento de todos com o brasileiras, públicas e privadas, na maioria dos casos não
trabalho realizado, com os propósitos discutidos e com a aparecem em forma pura, mas com características par-
adequação de tal projeto às características sociais e cul- ticulares, muitas vezes mesclando aspectos de mais de
turais da realidade em que a escola está inserida. É no uma linha pedagógica.
âmbito do projeto educativo que professores e equipe A análise das tendências pedagógicas no Brasil deixa
pedagógica discutem e organizam os objetivos, conteú- evidente a influência dos grandes movimentos educacio-
dos e critérios de avaliação para cada ciclo. nais internacionais, da mesma forma que expressam as
Os Parâmetros Curriculares Nacionais e as propostas especificidades de nossa história política, social e cultu-
das Secretarias devem ser vistos como materiais que sub- ral, a cada período em que são consideradas. Pode-se
sidiarão a escola na constituição de sua proposta educa- identificar, na tradição pedagógica brasileira, a presença
cional mais geral, num processo de interlocução em que de quatro grandes tendências: a tradicional, a renovada,
se compartilham e explicitam os valores e propósitos que a tecnicista e aquelas marcadas centralmente por preo-
orientam o trabalho educacional que se quer desenvol- cupações sociais e políticas. Tais tendências serão sinte-
ver e o estabelecimento do currículo capaz de atender às tizadas em grandes traços que tentam recuperar os pon-
reais necessidades dos alunos. tos mais significativos de cada uma das propostas. Este
documento não ignora o risco de uma certa redução das
O quarto nível de concretização curricular é o mo- concepções, tendo em vista a própria síntese e os limites
mento da realização da programação das atividades de desta apresentação.
ensino e aprendizagem na sala de aula. É quando o pro- A “pedagogia tradicional” é uma proposta de educa-
fessor, segundo as metas estabelecidas na fase de con- ção centrada no professor, cuja função se define como
cretização anterior, faz sua programação, adequando-a a de vigiar e aconselhar os alunos, corrigir e ensinar a
àquele grupo específico de alunos. A programação deve matéria.
garantir uma distribuição planejada de aulas, distribui- A metodologia decorrente de tal concepção baseia-
ção dos conteúdos segundo um cronograma referencial, -se na exposição oral dos conteúdos, numa sequência
definição das orientações didáticas prioritárias, seleção predeterminada e fixa, independentemente do contexto
do material a ser utilizado, planejamento de projetos e escolar; enfatiza-se a necessidade de exercícios repetidos
sua execução. Apesar de a responsabilidade ser essen- para garantir a memorização dos conteúdos. A função
cialmente de cada professor, é fundamental que esta seja primordial da escola, nesse modelo, é transmitir conhe-
compartilhada com a equipe da escola por meio da cor- cimentos disciplinares para a formação geral do aluno,
responsabilidade estabelecida no projeto educativo. formação esta que o levará, ao inserir-se futuramente
Tal proposta, no entanto, exige uma política educa- na sociedade, a optar por uma profissão valorizada. Os
cional que contemple a formação inicial e continuada conteúdos do ensino correspondem aos conhecimentos
dos professores, uma decisiva revisão das condições sa- e valores sociais acumulados pelas gerações passadas
lariais, além da organização de uma estrutura de apoio como verdades acabadas, e, embora a escola vise à pre-
que favoreça o desenvolvimento do trabalho (acervo de paração para a vida, não busca estabelecer relação entre
livros e obras de referência, equipe técnica para super- os conteúdos que se ensinam e os interesses dos alunos,
visão, materiais didáticos, instalações adequadas para a tampouco entre esses e os problemas reais que afetam a
realização de trabalho de qualidade), aspectos que, sem sociedade. Na maioria das escolas essa prática pedagó-
dúvida, implicam a valorização da atividade do professor. gica se caracteriza por sobrecarga de informações que
são veiculadas aos alunos, o que torna o processo de
FUNDAMENTOS DOS PARÂMETROS CURRICULA- aquisição de conhecimento, para os alunos, muitas vezes
RES NACIONAIS burocratizado e destituído de significação. No ensino dos
conteúdos, o que orienta é a organização lógica das dis-
A tradição pedagógica brasileira ciplinas, o aprendizado moral, disciplinado e esforçado.

A prática de todo professor, mesmo de forma incons- Nesse modelo, a escola se caracteriza pela postura
ciente, sempre pressupõe uma concepção de ensino e conservadora. O professor é visto como a autoridade
aprendizagem que determina sua compreensão dos pa- máxima, um organizador dos conteúdos e estratégias de
péis de professor e aluno, da metodologia, da função ensino e, portanto, o guia exclusivo do processo educa-
social da escola e dos conteúdos a serem trabalhados. tivo.
A discussão dessas questões é importante para que se A “pedagogia renovada” é uma concepção que inclui
LEGISLAÇÃO

explicitem os pressupostos pedagógicos que subjazem à várias correntes que, de uma forma ou de outra, estão li-
atividade de ensino, na busca de coerência entre o que gadas ao movimento da Escola Nova ou Escola Ativa. Tais
se pensa estar fazendo e o que realmente se faz. Tais prá- correntes, embora admitam divergências, assumem um
ticas se constituem a partir das concepções educativas mesmo princípio norteador de valorização do indivíduo

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como ser livre, ativo e social. O centro da atividade es- A “pedagogia libertadora” tem suas origens nos mo-
colar não é o professor nem os conteúdos disciplinares, vimentos de educação popular que ocorreram no final
mas sim o aluno, como ser ativo e curioso. O mais impor- dos anos 50 e início dos anos 60, quando foram inter-
tante não é o ensino, mas o processo de aprendizagem. rompidos pelo golpe militar de 1964; teve seu desen-
Em oposição à Escola Tradicional, a Escola Nova destaca volvimento retomado no final dos anos 70 e início dos
o princípio da aprendizagem por descoberta e estabele- anos 80. Nessa proposta, a atividade escolar pauta-se em
ce que a atitude de aprendizagem parte do interesse dos discussões de temas sociais e políticos e em ações sobre
alunos, que, por sua vez, aprendem fundamentalmente a realidade social imediata; analisam-se os problemas,
pela experiência, pelo que descobrem por si mesmos. seus fatores determinantes e organiza-se uma forma de
O professor é visto, então, como facilitador no pro- atuação para que se possa transformar a realidade social
cesso de busca de conhecimento que deve partir do alu- e política. O professor é um coordenador de atividades
no. Cabe ao professor organizar e coordenar as situações que organiza e atua conjuntamente com os alunos.
de aprendizagem, adaptando suas ações às característi- A “pedagogia crítico-social dos conteúdos” que surge
cas individuais dos alunos, para desenvolver suas capaci- no final dos anos 70 e início dos 80 se põe como uma
dades e habilidades intelectuais. reação de alguns educadores que não aceitam a pouca
A ideia de um ensino guiado pelo interesse dos alu- relevância que a “pedagogia libertadora” dá ao apren-
nos acabou, em muitos casos, por desconsiderar a neces- dizado do chamado “saber elaborado”, historicamente
sidade de um trabalho planejado, perdendo-se de vista o acumulado, que constitui parte do acervo cultural da hu-
que deve ser ensinado e aprendido. Essa tendência, que manidade.
teve grande penetração no Brasil na década de 30, no A “pedagogia crítico-social dos conteúdos” assegura
âmbito do ensino pré-escolar (jardim de infância), até a função social e política da escola mediante o trabalho
hoje influencia muitas práticas pedagógicas. com conhecimentos sistematizados, a fim de colocar as
classes populares em condições de uma efetiva partici-
Nos anos 70 proliferou o que se chamou de “tecnicis- pação nas lutas sociais. Entende que não basta ter como
mo educacional”, inspirado nas teorias behavioristas da conteúdo escolar as questões sociais atuais, mas que é
aprendizagem e da abordagem sistêmica do ensino, que necessário que se tenha domínio de conhecimentos, ha-
definiu uma prática pedagógica altamente controlada e bilidades e capacidades mais amplas para que os alunos
dirigida pelo professor, com atividades mecânicas inseri- possam interpretar suas experiências de vida e defender
das numa proposta educacional rígida e passível de ser seus interesses de classe.
totalmente programada em detalhes. A supervalorização
da tecnologia programada de ensino trouxe consequên- As tendências pedagógicas que marcam a tradição
cias: a escola se revestiu de uma grande autossuficiência, educacional brasileira e aqui foram expostas sintetica-
reconhecida por ela e por toda a comunidade atingida, mente trazem, de maneira diferente, contribuições para
criando assim a falsa ideia de que aprender não é algo uma proposta atual que busque recuperar aspectos po-
sitivos das práticas anteriores em relação ao desenvolvi-
natural do ser humano, mas que depende exclusiva-
mento e à aprendizagem, realizando uma releitura des-
mente de especialistas e de técnicas. O que é valorizado
sas práticas à luz dos avanços ocorridos nas produções
nessa perspectiva não é o professor, mas a tecnologia; o
teóricas, nas investigações e em fatos que se tornaram
professor passa a ser um mero especialista na aplicação
observáveis nas experiências educativas mais recentes
de manuais e sua criatividade fica restrita aos limites pos-
realizadas em diferentes Estados e Municípios do Brasil.
síveis e estreitos da técnica utilizada. A função do aluno
No final dos anos 70, pode-se dizer que havia no Bra-
é reduzida a um indivíduo que reage aos estímulos de
sil, entre as tendências didáticas de vanguarda, aquelas
forma a corresponder às respostas esperadas pela escola,
que tinham um viés mais psicológico e outras cujo viés
para ter êxito e avançar. Seus interesses e seu processo era mais sociológico e político; a partir dos anos 80 sur-
particular não são considerados e a atenção que recebe ge com maior evidência um movimento que pretende
é para ajustar seu ritmo de aprendizagem ao programa a integração entre essas abordagens. Se por um lado
que o professor deve implementar. Essa orientação foi não é mais possível deixar de se ter preocupações com
dada para as escolas pelos organismos oficiais durante o domínio de conhecimentos formais para a participação
os anos 60, e até hoje está presente em muitos materiais crítica na sociedade, considera-se também que é neces-
didáticos com caráter estritamente técnico e instrumen- sária uma adequação pedagógica às características de
tal. um aluno que pensa, de um professor que sabe e aos
conteúdos de valor social e formativo.
No final dos anos 70 e início dos 80, a abertura polí- Esse momento se caracteriza pelo enfoque centrado
tica decorrente do final do regime militar coincidiu com no caráter social do processo de ensino e aprendizagem
a intensa mobilização dos educadores para buscar uma e é marcado pela influência da psicologia genética.
educação crítica a serviço das transformações sociais, O enfoque social dado aos processos de ensino e
econômicas e políticas, tendo em vista a superação das aprendizagem traz para a discussão pedagógica aspec-
desigualdades existentes no interior da sociedade. Ao tos de extrema relevância, em particular no que se refe-
LEGISLAÇÃO

lado das denominadas teorias críticoreprodutivistas, fir- re à maneira como se devem entender as relações entre
ma-se no meio educacional a presença da “pedagogia desenvolvimento e aprendizagem, à importância da rela-
libertadora” e da “pedagogia crítico-social dos conteú- ção interpessoal nesse processo, à relação entre cultura e
dos”, assumida por educadores de orientação marxista. educação e ao papel da ação educativa ajustada às situa-

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ções de aprendizagem e às características da atividade do aluno, processo em que os conteúdos curriculares
mental construtiva do aluno em cada momento de sua atuam não como fins em si mesmos, mas como meios
escolaridade. para a aquisição e desenvolvimento dessas capacidades.
Nesse sentido, o que se tem em vista é que o aluno possa
A psicologia genética propiciou aprofundar a com- ser sujeito de sua própria formação, em um complexo
preensão sobre o processo de desenvolvimento na cons- processo interativo em que também o professor se veja
trução do conhecimento. Compreender os mecanismos como sujeito de conhecimento.
pelos quais as crianças constroem representações inter-
nas de conhecimentos construídos socialmente, em uma Escola e constituição da cidadania
perspectiva psicogenética, traz uma contribuição para
além das descrições dos grandes estágios de desenvol- A importância dada aos conteúdos revela um com-
vimento. promisso da instituição escolar em garantir o acesso aos
A pesquisa sobre a psicogênese da língua escrita che- saberes elaborados socialmente, pois estes se constituem
gou ao Brasil em meados dos anos 80 e causou grande como instrumentos para o desenvolvimento, a socializa-
impacto, revolucionando o ensino da língua nas séries ção, o exercício da cidadania democrática e a atuação
iniciais e, ao mesmo tempo, provocando uma revisão do no sentido de refutar ou reformular as deformações dos
tratamento dado ao ensino e à aprendizagem em outras conhecimentos, as imposições de crenças dogmáticas e
áreas do conhecimento. Essa investigação evidencia a ati- a petrificação de valores. Os conteúdos escolares que são
vidade construtiva do aluno sobre a língua escrita, objeto ensinados devem, portanto, estar em consonância com
de conhecimento reconhecidamente escolar, mostrando as questões sociais que marcam cada momento histórico.
a presença importante dos conhecimentos específicos Isso requer que a escola seja um espaço de forma-
sobre a escrita que a criança já tem, os quais, embora ção e informação, em que a aprendizagem de conteúdos
não coincidam com os dos adultos, têm sentido para ela. deve necessariamente favorecer a inserção do aluno no
A metodologia utilizada nessas pesquisas foi muitas dia-a-dia das questões sociais marcantes e em um uni-
vezes interpretada como uma proposta de pedagogia verso cultural maior. A formação escolar deve propiciar o
construtivista para alfabetização, o que expressa um du- desenvolvimento de capacidades, de modo a favorecer
plo equívoco: redução do construtivismo a uma teoria a compreensão e a intervenção nos fenômenos sociais e
culturais, assim como possibilitar aos alunos usufruir das
psicogenética de aquisição de língua escrita e transfor-
manifestações culturais nacionais e universais.
mação de uma investigação acadêmica em método de
No contexto da proposta dos Parâmetros Curriculares
ensino. Com esses equívocos, difundiram-se, sob o ró-
Nacionais se concebe a educação escolar como uma prá-
tulo de pedagogia construtivista, as ideias de que não se
tica que tem a possibilidade de criar condições para que
devem corrigir os erros e de que as crianças aprendem
todos os alunos desenvolvam suas capacidades e apren-
fazendo “do seu jeito”. Essa pedagogia, dita construti-
dam os conteúdos necessários para construir instrumen-
vista, trouxe sérios problemas ao processo de ensino e
tos de compreensão da realidade e de participação em
aprendizagem, pois desconsidera a função primordial relações sociais, políticas e culturais diversificadas e cada
da escola que é ensinar, intervindo para que os alunos vez mais amplas, condições estas fundamentais para o
aprendam o que, sozinhos, não têm condições de apren- exercício da cidadania na construção de uma sociedade
der. democrática e não excludente.
A orientação proposta nos Parâmetros Curriculares A prática escolar distingue-se de outras práticas edu-
Nacionais reconhece a importância da participação cons- cativas, como as que acontecem na família, no trabalho,
trutiva do aluno e, ao mesmo tempo, da intervenção do na mídia, no lazer e nas demais formas de convívio social,
professor para a aprendizagem de conteúdos específicos por constituir-se uma ação intencional, sistemática, pla-
que favoreçam o desenvolvimento das capacidades ne- nejada e continuada para crianças e jovens durante um
cessárias à formação do indivíduo. Ao contrário de uma período contínuo e extenso de tempo. A escola, ao tomar
concepção de ensino e aprendizagem como um proces- para si o objetivo de formar cidadãos capazes de atuar
so que se desenvolve por etapas, em que a cada uma com competência e dignidade na sociedade, buscará ele-
delas o conhecimento é “acabado”, o que se propõe é ger, como objeto de ensino, conteúdos que estejam em
uma visão da complexidade e da provisoriedade do co- consonância com as questões sociais que marcam cada
nhecimento. De um lado, porque o objeto de conheci- momento histórico, cuja aprendizagem e assimilação são
mento é “complexo” de fato e reduzi-lo seria falsificá-lo; as consideradas essenciais para que os alunos possam
de outro, porque o processo cognitivo não acontece por exercer seus direitos e deveres. Para tanto ainda é neces-
justaposição, senão por reorganização do conhecimento. sário que a instituição escolar garanta um conjunto de
É também “provisório”, uma vez que não é possível che- práticas planejadas com o propósito de contribuir para
gar de imediato ao conhecimento correto, mas somente que os alunos se apropriem dos conteúdos de manei-
por aproximações sucessivas que permitem sua recons- ra crítica e construtiva. A escola, por ser uma instituição
trução. social com propósito explicitamente educativo, tem o
Os Parâmetros Curriculares Nacionais, tanto nos ob- compromisso de intervir efetivamente para promover o
LEGISLAÇÃO

jetivos educacionais que propõem quanto na conceitua- desenvolvimento e a socialização de seus alunos.
lização do significado das áreas de ensino e dos temas Essa função socializadora remete a dois aspectos: o
da vida social contemporânea que devem permeá-las, desenvolvimento individual e o contexto social e cultural.
adotam como eixo o desenvolvimento de capacidades É nessa dupla determinação que os indivíduos se cons-

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troem como pessoas iguais, mas, ao mesmo tempo, di- nos baixos salários, na falta de condições de trabalho, de
ferentes de todas as outras. Iguais por compartilhar com metas a serem alcançadas, de prestígio social, na inér-
outras pessoas um conjunto de saberes e formas de co- cia de grande parte dos órgãos responsáveis por alterar
nhecimento que, por sua vez, só é possível graças ao que esse quadro, provoca, na maioria das pessoas, um des-
individualmente se puder incorporar. Não há desenvol- crédito na transformação da situação. Essa desvaloriza-
vimento individual possível à margem da sociedade, da ção objetiva do magistério acaba por ser interiorizada,
cultura. Os processos de diferenciação na construção de bloqueando as motivações. Outro fator de desmotivação
uma identidade pessoal e os processos de socialização dos profissionais da rede pública é a mudança de rumo
que conduzem a padrões de identidade coletiva consti- da educação diante da orientação política de cada gover-
tuem, na verdade, as duas faces de um mesmo processo. nante. Às vezes as transformações propostas reafirmam
A escola, na perspectiva de construção de cidadania, certas posições, às vezes outras. Esse movimento de vai e
precisa assumir a valorização da cultura de sua própria volta gera, para a maioria dos professores, um desânimo
comunidade e, ao mesmo tempo, buscar ultrapassar seus para se engajar nos projetos de trabalho propostos, mes-
limites, propiciando às crianças pertencentes aos diferen- mo que lhes pareçam interessantes, pois eles dificilmente
tes grupos sociais o acesso ao saber, tanto no que diz terão continuidade.
respeito aos conhecimentos socialmente relevantes da
cultura brasileira no âmbito nacional e regional como no Em síntese, as escolas brasileiras, para exercerem a
que faz parte do patrimônio universal da humanidade. função social aqui proposta, precisam possibilitar o cul-
tivo dos bens culturais e sociais, considerando as ex-
O desenvolvimento de capacidades, como as de re- pectativas e as necessidades dos alunos, dos pais, dos
lação interpessoal, as cognitivas, as afetivas, as motoras, membros da comunidade, dos professores, enfim, dos
as éticas, as estéticas de inserção social, torna-se possí- envolvidos diretamente no processo educativo. É nesse
vel mediante o processo de construção e reconstrução universo que o aluno vivencia situações diversificadas
de conhecimentos. Essa aprendizagem é exercida com o que favorecem o aprendizado, para dialogar de manei-
ra competente com a comunidade, aprender a respeitar
aporte pessoal de cada um, o que explica por que, a par-
e a ser respeitado, a ouvir e a ser ouvido, a reivindicar
tir dos mesmos saberes, há sempre lugar para a constru-
direitos e a cumprir obrigações, a participar ativamente
ção de uma infinidade de significados, e não a uniformi-
da vida científica, cultural, social e política do País e do
dade destes. Os conhecimentos que se transmitem e se
mundo.
recriam na escola ganham sentido quando são produtos
de uma construção dinâmica que se opera na interação
Escola: uma construção coletiva e permanente
constante entre o saber escolar e os demais saberes, en-
tre o que o aluno aprende na escola e o que ele traz Nessa perspectiva, é essencial a vinculação da escola
para a escola, num processo contínuo e permanente de com as questões sociais e com os valores democráticos,
aquisição, no qual interferem fatores políticos, sociais, não só do ponto de vista da seleção e tratamento dos
culturais e psicológicos. conteúdos, como também da própria organização esco-
As questões relativas à globalização, as transforma- lar. As normas de funcionamento e os valores, implícitos
ções científicas e tecnológicas e a necessária discussão e explícitos, que regem a atuação das pessoas na escola
ético-valorativa da sociedade apresentam para a escola são determinantes da qualidade do ensino, interferindo
a imensa tarefa de instrumentalizar os jovens para parti- de maneira significativa sobre a formação dos alunos.
cipar da cultura, das relações sociais e políticas. A esco-
la, ao posicionar-se dessa maneira, abre a oportunidade Com a degradação do sistema educacional brasilei-
para que os alunos aprendam sobre temas normalmente ro, pode-se dizer que a maioria das escolas tende a ser
excluídos e atua propositalmente na formação de valores apenas um local de trabalho individualizado e não uma
e atitudes do sujeito em relação ao outro, à política, à organização com objetivos próprios, elaborados e mani-
economia, ao sexo, à droga, à saúde, ao meio ambiente, festados pela ação coordenada de seus diversos profis-
à tecnologia, etc. sionais.
Um ensino de qualidade, que busca formar cida- Para ser uma organização eficaz no cumprimento de
dãos capazes de interferir criticamente na realidade para propósitos estabelecidos em conjunto por professores,
transformá-la, deve também contemplar o desenvolvi- coordenadores e diretor, e garantir a formação coeren-
mento de capacidades que possibilitem adaptações às te de seus alunos ao longo da escolaridade obrigatória,
complexas condições e alternativas de trabalho que te- é imprescindível que cada escola discuta e construa seu
mos hoje e a lidar com a rapidez na produção e na circu- projeto educativo.
lação de novos conhecimentos e informações, que têm Esse projeto deve ser entendido como um processo
sido avassaladores e crescentes. A formação escolar deve que inclui a formulação de metas e meios, segundo a
possibilitar aos alunos condições para desenvolver com- particularidade de cada escola, por meio da criação e da
petência e consciência profissional, mas não restringir-se valorização de rotinas de trabalho pedagógico em grupo
ao ensino de habilidades imediatamente demandadas e da corresponsabilidade de todos os membros da co-
pelo mercado de trabalho. munidade escolar, para além do planejamento de início
LEGISLAÇÃO

de ano ou dos períodos de “reciclagem”.


A discussão sobre a função da escola não pode igno- A experiência acumulada por seus profissionais é
rar as reais condições em que esta se encontra. A situa- naturalmente a base para a reflexão e a elaboração do
ção de precariedade vivida pelos educadores, expressa projeto educativo de uma escola. Além desse repertório,

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outras fontes importantes para a definição de um proje- A configuração do marco explicativo construtivista
to educativo são os currículos locais, a bibliografia espe- para os processos de educação escolar deu-se, entre ou-
cializada, o contato com outras experiências educacio- tras influências, a partir da psicologia genética, da teoria
nais, assim como os Parâmetros Curriculares Nacionais, sociointeracionista e das explicações da atividade signi-
que formulam questões essenciais sobre o que, como e ficativa. Vários autores partiram dessas ideias para de-
quando ensinar, constituindo um referencial significativo senvolver e conceitualizar as várias dimensões envolvidas
e atualizado sobre a função da escola, a importância dos na educação escolar, trazendo inegáveis contribuições à
conteúdos e o tratamento a ser dado a eles. teoria e à prática educativa.
Ao elaborar seu projeto educativo, a escola discute e O núcleo central da integração de todas essas contri-
explicita de forma clara os valores coletivos assumidos. buições refere-se ao reconhecimento da importância da
Delimita suas prioridades, define os resultados desejados atividade mental construtiva nos processos de aquisição
e incorpora a auto avaliação ao trabalho do professor. de conhecimento. Daí o termo construtivismo, denomi-
Assim, organiza-se o planejamento, reúne-se a equipe nando essa convergência. Assim, o conhecimento não é
de trabalho, provoca-se o estudo e a reflexão contínuos, visto como algo situado fora do indivíduo, a ser adquiri-
dando sentido às ações cotidianas, reduzindo a impro- do por meio de cópia do real, tampouco como algo que
visação e as condutas estereotipadas e rotineiras que, o indivíduo constrói independentemente da realidade
muitas vezes, são contraditórias com os objetivos educa- exterior, dos demais indivíduos e de suas próprias capa-
cionais compartilhados. cidades pessoais. É, antes de mais nada, uma construção
histórica e social, na qual interferem fatores de ordem
A contínua realização do projeto educativo possibi- cultural e psicológica.
lita o conhecimento das ações desenvolvidas pelos di- A atividade construtiva, física ou mental, permite in-
ferentes professores, sendo base de diálogo e reflexão terpretar a realidade e construir significados, ao mesmo
para toda a equipe escolar. Nesse processo evidencia-se tempo que permite construir novas possibilidades de
a necessidade da participação da comunidade, em espe- ação e de conhecimento.
cial dos pais, tomando conhecimento e interferindo nas Nesse processo de interação com o objeto a ser
propostas da escola e em suas estratégias. O resultado conhecido, o sujeito constrói representações, que fun-
que se espera é a possibilidade de os alunos terem uma cionam como verdadeiras explicações e se orientam
experiência escolar coerente e bem-sucedida. por uma lógica interna que, por mais que possa pare-
Deve ser ressaltado que uma prática de reflexão co- cer incoerente aos olhos de um outro, faz sentido para
letiva não é algo que se atinge de uma hora para outra e o sujeito. As ideias “equivocadas”, ou seja, construídas
a escola é uma realidade complexa, não sendo possível e transformadas ao longo do desenvolvimento, fruto de
tratar as questões como se fossem simples de serem re- aproximações sucessivas, são expressão de uma constru-
solvidas. Cada escola encontra uma realidade, uma tra- ção inteligente por parte do sujeito e, portanto, interpre-
ma, um conjunto de circunstâncias e de pessoas. É pre- tadas como erros construtivos.
ciso que haja incentivo do poder público local, pois o A tradição escolar — que não faz diferença entre er-
desenvolvimento do projeto requer tempo para análise, ros integrantes do processo de aprendizagem e simples
discussão e reelaboração contínua, o que só é possível enganos ou desconhecimentos — trabalha com a ideia
em um clima institucional favorável e com condições ob- de que a ausência de erros na tarefa escolar é a mani-
jetivas de realização. festação da aprendizagem. Hoje, graças ao avanço da in-
vestigação científica na área da aprendizagem, tornou-se
Aprender e ensinar, construir e interagir possível interpretar o erro como algo inerente ao proces-
so de aprendizagem e ajustar a intervenção pedagógica
para ajudar a superá-lo. A superação do erro é resulta-
Por muito tempo a pedagogia focou o processo de
do do processo de incorporação de novas ideias e de
ensino no professor, supondo que, como decorrência,
transformação das anteriores, de maneira a dar conta das
estaria valorizando o conhecimento. O ensino, então, ga-
contradições que se apresentarem ao sujeito para, assim,
nhou autonomia em relação à aprendizagem, criou seus
alcançar níveis superiores de conhecimento.
próprios métodos e o processo de aprendizagem ficou
relegado a segundo plano. Hoje sabe-se que é necessá-
O que o aluno pode aprender em determinado mo-
rio ressignificar a unidade entre aprendizagem e ensino, mento da escolaridade depende das possibilidades de-
uma vez que, em última instância, sem aprendizagem o lineadas pelas formas de pensamento de que dispõe
ensino não se realiza. naquela fase de desenvolvimento, dos conhecimentos
A busca de um marco explicativo que permita essa que já construiu anteriormente e do ensino que recebe.
ressignificação, além da criação de novos instrumentos de Isto é, a intervenção pedagógica deve-se ajustar ao que
análise, planejamento e condução da ação educativa na os alunos conseguem realizar em cada momento de sua
escola, tem se situado, atualmente, para muitos dos teóri- aprendizagem, para se constituir verdadeira ajuda edu-
cos da educação, dentro da perspectiva construtivista. cativa. O conhecimento é resultado de um complexo e
A perspectiva construtivista na educação é configu- intrincado processo de modificação, reorganização e
rada por uma série de princípios explicativos do desen- construção, utilizado pelos alunos para assimilar e inter-
LEGISLAÇÃO

volvimento e da aprendizagem humana que se comple- pretar os conteúdos escolares.


mentam, integrando um conjunto orientado a analisar, Por mais que o professor, os companheiros de classe
compreender e explicar os processos escolares de ensino e os materiais didáticos possam, e devam, contribuir para
e aprendizagem. que a aprendizagem se realize, nada pode substituir a

73
atuação do próprio aluno na tarefa de construir signifi- representações que o aluno tem de si e de seu processo
cados sobre os conteúdos da aprendizagem. É ele quem de aprendizagem também. É fundamental, portanto, que
modifica, enriquece e, portanto, constrói novos e mais a intervenção educativa escolar propicie um desenvolvi-
potentes instrumentos de ação e interpretação. mento em direção à disponibilidade exigida pela apren-
Mas o desencadeamento da atividade mental cons- dizagem significativa.
trutiva não é suficiente para que a educação escolar al- Se a aprendizagem for uma experiência de sucesso,
cance os objetivos a que se propõe: que as aprendizagens o aluno constrói uma representação de si mesmo como
estejam compatíveis com o que significam socialmente. alguém capaz. Se, ao contrário, for uma experiência de
O processo de atribuição de sentido aos conteúdos fracasso, o ato de aprender tenderá a se transformar
escolares é, portanto, individual; porém, é também cultu- em ameaça, e a ousadia necessária se transformará em
ral na medida em que os significados construídos reme- medo, para o qual a defesa possível é a manifestação de
tem a formas e saberes socialmente estruturados. desinteresse.
Conceber o processo de aprendizagem como pro- A aprendizagem é condicionada, de um lado, pelas
priedade do sujeito não implica desvalorizar o papel de- possibilidades do aluno, que englobam tanto os níveis
terminante da interação com o meio social e, particular- de organização do pensamento como os conhecimentos
mente, com a escola. Ao contrário, situações escolares de e experiências prévias, e, de outro, pela interação com os
ensino e aprendizagem são situações comunicativas, nas outros agentes.
quais os alunos e professores atuam como corresponsá- Para a estruturação da intervenção educativa é fun-
veis, ambos com uma influência decisiva para o êxito do damental distinguir o nível de desenvolvimento real do
processo. potencial. O nível de desenvolvimento real se determina
A abordagem construtivista integra, num único es- como aquilo que o aluno pode fazer sozinho em uma
quema explicativo, questões relativas ao desenvolvimen- situação determinada, sem ajuda de ninguém. O nível
to individual e à pertinência cultural, à construção de co- de desenvolvimento potencial é determinado pelo que
nhecimentos e à interação social. o aluno pode fazer ou aprender mediante a interação
Considera o desenvolvimento pessoal como o pro- com outras pessoas, conforme as observa, imitando, tro-
cesso mediante o qual o ser humano assume a cultura cando ideias com elas, ouvindo suas explicações, sendo
do grupo social a que pertence. Processo no qual o de- desafiado por elas ou contrapondo-se a elas, sejam essas
senvolvimento pessoal e a aprendizagem da experiência pessoas o professor ou seus colegas. Existe uma zona de
humana culturalmente organizada, ou seja, socialmente desenvolvimento próximo, dada pela diferença existente
produzida e historicamente acumulada, não se excluem entre o que um aluno pode fazer sozinho e o que pode
nem se confundem, mas interagem. Daí a importância fazer ou aprender com a ajuda dos outros. De acordo
das interações entre crianças e destas com parceiros ex- com essa concepção, falar dos mecanismos de interven-
perientes, dentre os quais destacam-se professores e ou- ção educativa equivale a falar dos mecanismos interati-
tros agentes educativos. vos pelos quais professores e colegas conseguem ajustar
sua ajuda aos processos de construção de significados
O conceito de aprendizagem significativa, central na realizados pelos alunos no decorrer das atividades esco-
perspectiva construtivista, implica, necessariamente, o lares de ensino e aprendizagem.
trabalho simbólico de “significar” a parcela da realidade
que se conhece. As aprendizagens que os alunos realizam Existem ainda, dentro do contexto escolar, outros
na escola serão significativas à medida que conseguirem mecanismos de influência educativa, cuja natureza e fun-
estabelecer relações substantivas e não-arbitrárias entre cionamento em grande medida são desconhecidos, mas
os conteúdos escolares e os conhecimentos previamen- que têm incidência considerável sobre a aprendizagem
te construídos por eles, num processo de articulação de dos alunos. Dentre eles destacam-se a organização e o
novos significados. funcionamento da instituição escolar e os valores im-
Cabe ao educador, por meio da intervenção peda- plícitos e explícitos que permeiam as relações entre os
gógica, promover a realização de aprendizagens com membros da escola; são fatores determinantes da qua-
o maior grau de significado possível, uma vez que esta lidade de ensino e podem chegar a influir de maneira
nunca é absoluta — sempre é possível estabelecer algu- significativa sobre o que e como os alunos aprendem. Os
ma relação entre o que se pretende conhecer e as pos- alunos não contam exclusivamente com o contexto es-
sibilidades de observação, reflexão e informação que o colar para a construção de conhecimento sobre conteú-
sujeito já possui. dos considerados escolares. A mídia, a família, a igreja, os
A aprendizagem significativa implica sempre alguma amigos, são também fontes de influência educativa que
ousadia: diante do problema posto, o aluno precisa ela- incidem sobre o processo de construção de significado
borar hipóteses e experimentá-las. Fatores e processos desses conteúdos. Essas influências sociais normalmente
afetivos, motivacionais e relacionais são importantes somam-se ao processo de aprendizagem escolar, con-
nesse momento. Os conhecimentos gerados na histó- tribuindo para consolidá-lo; por isso é importante que
ria pessoal e educativa têm um papel determinante na a escola as considere e as integre ao trabalho. Porém,
expectativa que o aluno tem da escola, do professor e algumas vezes, essa mesma influência pode apresentar
LEGISLAÇÃO

de si mesmo, nas suas motivações e interesses, em seu obstáculos à aprendizagem escolar, ao indicar uma di-
autoconceito e em sua autoestima. Assim como os sig- reção diferente, ou mesmo oposta, daquela presente no
nificados construídos pelo aluno estão destinados a ser encaminhamento escolar. É necessário que a escola con-
substituídos por outros no transcurso das atividades, as sidere tais direções e forneça uma interpretação dessas

74
diferenças, para que a intervenção pedagógica favoreça cas e critérios de avaliação. Em outras palavras, apontam
a ultrapassagem desses obstáculos num processo articu- o que e como se pode trabalhar, desde as séries iniciais,
lado de interação e integração. Se o projeto educacional para que se alcancem os objetivos pretendidos.
exige ressignificar o processo de ensino e aprendizagem, As propostas curriculares oficiais dos Estados estão
este precisa se preocupar em preservar o desejo de co- organizadas em disciplinas e/ou áreas. Apenas alguns
nhecer e de saber com que todas as crianças chegam à Municípios optam por princípios norteadores, eixos ou
escola. Precisa manter a boa qualidade do vínculo com o temas, que visam tratar os conteúdos de modo interdis-
conhecimento e não destruí-lo pelo fracasso reiterado. ciplinar, buscando integrar o cotidiano social com o sa-
Mas garantir experiências de sucesso não significa omitir ber escolar.
ou disfarçar o fracasso; ao contrário, significa conseguir
realizar a tarefa a que se propôs. Relaciona-se, portanto, Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, optou-se por
com propostas e intervenções pedagógicas adequadas. um tratamento específico das áreas, em função da im-
portância instrumental de cada uma, mas contemplou-se
O professor deve ter propostas claras sobre o que, também a integração entre elas. Quanto às questões so-
quando e como ensinar e avaliar, a fim de possibilitar o ciais relevantes, reafirma-se a necessidade de sua proble-
planejamento de atividades de ensino para a aprendi- matização e análise, incorporando-as como temas trans-
zagem de maneira adequada e coerente com seus ob- versais. As questões sociais abordadas são: ética, saúde,
jetivos. É a partir dessas determinações que o professor meio ambiente, orientação sexual e pluralidade cultural.
elabora a programação diária de sala de aula e organiza Quanto ao modo de incorporação desses temas no
sua intervenção de maneira a propor situações de apren- currículo, propõe-se um tratamento transversal, tendên-
dizagem ajustadas às capacidades cognitivas dos alunos. cia que se manifesta em algumas experiências nacionais
Em síntese, não é a aprendizagem que deve se ajus- e internacionais, em que as questões sociais se integram
tar ao ensino, mas sim o ensino que deve potencializar a na própria concepção teórica das áreas e de seus com-
aprendizagem. ponentes curriculares.
De acordo com os princípios já apontados, os conteú-
Organização dos parâmetros curriculares nacio- dos são considerados como um meio para o desenvolvi-
nais mento amplo do aluno e para a sua formação como ci-
dadão. Portanto, cabe à escola o propósito de possibilitar
A análise das propostas curriculares oficiais para o aos alunos o domínio de instrumentos que os capacitem
ensino fundamental, elaborada pela Fundação Carlos a relacionar conhecimentos de modo significativo, bem
Chagas, aponta dados relevantes que auxiliam a reflexão como a utilizar esses conhecimentos na transformação e
sobre a organização curricular e a forma como seus com- construção de novas relações sociais.
ponentes são abordados. Os Parâmetros Curriculares Nacionais apresentam os
Segundo essa análise, as propostas, de forma geral, conteúdos de tal forma que se possa determinar, no mo-
apontam como grandes diretrizes uma perspectiva de- mento de sua adequação às particularidades de Estados
mocrática e participativa, e que o ensino fundamental e Municípios, o grau de profundidade apropriado e a sua
deve se comprometer com a educação necessária para melhor forma de distribuição no decorrer da escolarida-
a formação de cidadãos críticos, autônomos e atuantes. de, de modo a constituir um corpo de conteúdos consis-
No entanto, a maioria delas apresenta um descompasso tentes e coerentes com os objetivos.
entre os objetivos anunciados e o que é proposto para A avaliação é considerada como elemento favorece-
alcançá-los, entre os pressupostos teóricos e a definição dor da melhoria de qualidade da aprendizagem, deixan-
de conteúdos e aspectos metodológicos. do de funcionar como arma contra o aluno. É assumida
como parte integrante e instrumento de autorregulação
A estrutura dos Parâmetros Curriculares Nacionais do processo de ensino e aprendizagem, para que os ob-
buscou contribuir para a superação dessa contradição. A jetivos propostos sejam atingidos. A avaliação diz res-
integração curricular assume as especificidades de cada peito não só ao aluno, mas também ao professor e ao
componente e delineia a operacionalização do proces- próprio sistema escolar.
so educativo desde os objetivos gerais do ensino fun-
damental, passando por sua especificação nos objetivos A opção de organização da escolaridade em ciclos,
gerais de cada área e de cada tema transversal, deduzin- tendência predominante nas propostas mais atuais, é
referendada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais. A
do desses objetivos os conteúdos apropriados para con-
organização em ciclos é uma tentativa de superar a seg-
figurar as reais intenções educativas. Assim, os objetivos,
mentação excessiva produzida pelo regime seriado e de
que definem capacidades, e os conteúdos, que estarão a
buscar princípios de ordenação que possibilitem maior
serviço do desenvolvimento dessas capacidades, formam
integração do conhecimento.
uma unidade orientadora da proposta curricular.
Os componentes curriculares foram formulados a
Para que se possa discutir uma prática escolar que
partir da análise da experiência educacional acumulada
realmente atinja seus objetivos, os Parâmetros Curricula-
LEGISLAÇÃO

em todo o território nacional. Pautaram-se, também, pela


res Nacionais apontam questões de tratamento didático
análise das tendências mais atuais de investigação cientí-
por área e por ciclo, procurando garantir coerência entre fica, a fim de poderem expressar um avanço na discussão
os pressupostos teóricos, os objetivos e os conteúdos, em torno da busca de qualidade de ensino e aprendiza-
mediante sua operacionalização em orientações didáti- gem.

75
A organização da escolaridade em ciclos É fundamental que se considerem esses aspectos e é
necessário que o professor possa intervir para alterar as
Na década de 80, vários Estados e Municípios reestru- situações desfavoráveis ao aluno.
turaram o ensino fundamental a partir das séries iniciais. Em suma, o que acontece é que cada aluno tem, ha-
Esse processo de reorganização, que tinha como objetivo bitualmente, desempenhos muito diferentes na relação
político minimizar o problema da repetência e da evasão com objetos de conhecimento diferentes e a prática es-
escolar, adotou como princípio norteador a flexibilização colar tem buscado incorporar essa diversidade de modo
da seriação, o que abriria a possibilidade de o currículo a garantir respeito aos alunos e a criar condições para
ser trabalhado ao longo de um período de tempo maior que possam progredir nas suas aprendizagens.
e permitiria respeitar os diferentes ritmos de aprendiza- A adoção de ciclos, pela flexibilidade que permite,
gem que os alunos apresentam. possibilita trabalhar melhor com as diferenças e está ple-
Desse modo, a seriação inicial deu lugar ao ciclo bá- namente coerente com os fundamentos psicopedagógi-
sico com a duração de dois anos, tendo como objetivo cos, com a concepção de conhecimento e da função da
propiciar maiores oportunidades de escolarização vol- escola que estão explicitados no item Fundamentos dos
tada para a alfabetização efetiva das crianças. As expe- Parâmetros Curriculares Nacionais.
riências, ainda que tenham apresentado problemas es-
truturais e necessidades de ajustes da prática, acabaram
Os conhecimentos adquiridos na escola passam por
por mostrar que a organização por ciclos contribui efeti-
um processo de construção e reconstrução contínua e
vamente para a superação dos problemas do desenvol-
não por etapas fixadas e definidas no tempo. As apren-
vimento escolar. Tanto isso é verdade que, onde foram
implantados, os ciclos se mantiveram, mesmo com mu- dizagens não se processam como a subida de degraus
danças de governantes. regulares, mas como avanços de diferentes magnitudes.
Embora a organização da escola seja estruturada em
Os Parâmetros Curriculares Nacionais adotam a pro- anos letivos, é importante uma perspectiva pedagógica
posta de estruturação por ciclos, pelo reconhecimento de em que a vida escolar e o currículo possam ser assumi-
que tal proposta permite compensar a pressão do tem- dos e trabalhados em dimensões de tempo mais flexíveis.
po que é inerente à instituição escolar, tornando possível Vale ressaltar que para o processo de ensino e aprendiza-
distribuir os conteúdos de forma mais adequada à natu- gem se desenvolver com sucesso não basta flexibilizar o
reza do processo de aprendizagem. Além disso, favorece tempo: dispor de mais tempo sem uma intervenção efe-
uma apresentação menos parcelada do conhecimento e tiva para garantir melhores condições de aprendizagem
possibilita as aproximações sucessivas necessárias para pode apenas adiar o problema e perpetuar o sentimento
que os alunos se apropriem de os complexos saberes negativo de autoestima do aluno, consagrando, da mes-
que se intenciona transmitir. ma forma, o fracasso da escola.
Sabe-se que, fora da escola, os alunos não têm as A lógica da opção por ciclos consiste em evitar que
mesmas oportunidades de acesso a certos objetos de o processo de aprendizagem tenha obstáculos inúteis,
conhecimento que fazem parte do repertório escolar. Sa- desnecessários e nocivos. Portanto, é preciso que a equi-
be-se também que isso influencia o modo e o processo pe pedagógica das escolas se co-responsabilize com o
como atribuirão significados aos objetos de conhecimen- processo de ensino e aprendizagem de seus alunos. Para
to na situação escolar: alguns alunos poderão estar mais a concretização dos ciclos como modalidade organiza-
avançados na reconstrução de significados do que outros. tiva, é necessário que se criem condições institucionais
Ao se falar em ritmos diferentes de aprendizagem, é que permitam destinar espaço e tempo à realização de
preciso cuidado para não incorrer em mal-entendidos reuniões de professores, para discutir os diferentes as-
perigosos. Uma vez que não há uma definição precisa e pectos do processo educacional.
clara de quais seriam esses ritmos, os educadores podem Ao se considerar que dois ou três anos de escolari-
ser levados a rotular alguns alunos como mais lentos que
dade pertencem a um único ciclo de ensino e aprendi-
outros, estigmatizando aqueles que estão se iniciando na
zagem, podem-se definir objetivos e práticas educativas
interação com os objetos de conhecimento escolar.
que permitam aos alunos avançar continuadamente na
No caso da aprendizagem da língua escrita, por concretização das metas do ciclo. A organização por ci-
exemplo, se um aluno ingressa na primeira série sabendo clos tende a evitar as frequentes rupturas e a excessiva
escrever alfabeticamente, isso se explica porque seu rit- fragmentação do percurso escolar, assegurando a conti-
mo é mais rápido ou porque teve múltiplas oportunida- nuidade do processo educativo, dentro do ciclo e na pas-
des de atuar como leitor e escritor? Se outros ingressam sagem de um ciclo ao outro, ao permitir que os professo-
sem saber sequer como se pega um livro, é porque são res realizem adaptações sucessivas da ação pedagógica
lentos ou porque estão interatuando pela primeira vez às diferentes necessidades dos alunos, sem que deixem
com os objetos com que os outros interatuam desde que de orientar sua prática pelas expectativas de aprendiza-
nasceram? E, no caso desta última hipótese, por mais rá- gem referentes ao período em questão.
pidos que possam ser, será que poderão em alguns dias Os Parâmetros Curriculares Nacionais estão organi-
percorrer o caminho que outros realizaram em anos? zados em ciclos de dois anos, mais pela limitação con-
LEGISLAÇÃO

Outras vezes, o que se interpreta como “lentidão” é a juntural em que estão inseridos do que por justificativas
expressão de dificuldades relacionadas a um sentimento pedagógicas. Da forma como estão aqui organizados,
de incapacidade para a aprendizagem que chega a cau- os ciclos não trazem incompatibilidade com a atual es-
sar bloqueios nesse processo. trutura do ensino fundamental. Assim, o primeiro ciclo

76
se refere às primeira e segunda séries; o segundo ciclo, por meio de um breve histórico no contexto educacional
à terceira e à quarta séries; e assim subsequentemente brasileiro; justificativa de sua presença no ensino funda-
para as outras quatro séries. mental; fundamentação epistemológica da área; sua re-
Essa estruturação não contempla os principais pro- levância na sociedade atual; fundamentação psicopeda-
blemas da escolaridade no ensino fundamental: não une gógica da proposta de ensino e aprendizagem da área;
as quarta e quinta séries para eliminar a ruptura desas- critérios para organização e seleção de conteúdos e ob-
trosa que aí se dá e tem causado muita repetência e eva- jetivos gerais da área para o ensino fundamental.
são, como também não define uma etapa maior para o A partir da Concepção de Área assim fundamentada,
início da escolaridade, que deveria (a exemplo da imensa segue-se o detalhamento da estrutura dos Parâmetros
maioria dos países) incorporar à escolaridade obrigató- Curriculares para cada ciclo (primeiro e segundo), espe-
ria as crianças desde os seis anos. Portanto, o critério de cificando Objetivos e Conteúdos, bem como Critérios de
dois anos para a organização dos ciclos, nos Parâmetros Avaliação, Orientações para Avaliação e Orientações Di-
Curriculares Nacionais, não deve ser considerado como dáticas.
decorrência de seus princípios e fundamentações, nem Se a escola pretende estar em consonância com as
como a única estratégia de intervenção no contexto atual demandas atuais da sociedade, é necessário que trate
da problemática educacional. de questões que interferem na vida dos alunos e com
as quais se veem confrontados no seu dia-a-dia. As te-
A organização do conhecimento escolar: Áreas e máticas sociais, por essa importância inegável que têm
Temas Transversais na formação dos alunos, já há muito têm sido discutidas
e frequentemente incorporadas aos currículos das áreas
As diferentes áreas, os conteúdos selecionados em ligadas às Ciências Naturais e Sociais, chegando até mes-
cada uma delas e o tratamento transversal de questões mo, em algumas propostas, a constituir novas áreas.
sociais constituem uma representação ampla e plural dos Mais recentemente, algumas propostas indicaram
campos de conhecimento e de cultura de nosso tempo, a necessidade do tratamento transversal de temáticas
cuja aquisição contribui para o desenvolvimento das ca- sociais na escola, como forma de contemplá-las na sua
pacidades expressas nos objetivos gerais. complexidade, sem restringi-las à abordagem de uma
O tratamento da área e de seus conteúdos integra única área.
uma série de conhecimentos de diferentes disciplinas, Adotando essa perspectiva, as problemáticas sociais
que contribuem para a construção de instrumentos de são integradas na proposta educacional dos Parâmetros
compreensão e intervenção na realidade em que vivem Curriculares Nacionais como Temas Transversais. Não
os alunos. A concepção da área evidencia a natureza dos constituem novas áreas, mas antes um conjunto de temas
conteúdos tratados, definindo claramente o corpo de co- que aparecem transversalizados nas áreas definidas, isto
nhecimentos e o objeto de aprendizagem, favorecendo é, permeando a concepção, os objetivos, os conteúdos
aos alunos a construção de representações sobre o que e as orientações didáticas de cada área, no decorrer de
estudam. Essa caracterização da área é importante tam- toda a escolaridade obrigatória. A transversalidade pres-
bém para que os professores possam se situar dentro de supõe um tratamento integrado das áreas e um compro-
um conjunto definido e conceitualizado de conhecimen- misso das relações interpessoais e sociais escolares com
tos que pretendam que seus alunos aprendam, condição as questões que estão envolvidas nos temas, a fim de
necessária para proceder a encaminhamentos que auxi- que haja uma coerência entre os valores experimentados
liem as aprendizagens com sucesso. na vivência que a escola propicia aos alunos e o contato
Se é importante definir os contornos das áreas, é intelectual com tais valores.
também essencial que estes se fundamentem em uma As aprendizagens relativas a esses temas se expli-
concepção que os integre conceitualmente, e essa inte- citam na organização dos conteúdos das áreas, mas a
gração seja efetivada na prática didática. Por exemplo, discussão da conceitualização e da forma de tratamento
ao trabalhar conteúdos de Ciências Naturais, os alunos que devem receber no todo da ação educativa escolar
buscam informações em suas pesquisas, registram ob- está especificada em textos de fundamentação por tema.
servações, anotam e quantificam dados. Portanto, utili-
zam-se de conhecimentos relacionados à área de Língua O conjunto de documentos dos Temas Transversais
Portuguesa, à de Matemática, além de outras, dependen- comporta uma primeira parte em que se discute a sua
do do estudo em questão. O professor, considerando a necessidade para que a escola possa cumprir sua função
multiplicidade de conhecimentos em jogo nas diferentes social, os valores mais gerais e unificadores que definem
situações, pode tomar decisões a respeito de suas inter- todo o posicionamento relativo às questões que são tra-
venções e da maneira como tratará os temas, de forma a tadas nos temas, a justificativa e a conceitualização do
propiciar aos alunos uma abordagem mais significativa e tratamento transversal para os temas sociais e um docu-
contextualizada. mento específico para cada tema: Ética, Saúde, Meio Am-
Para que estes parâmetros não se limitassem a uma biente, Pluralidade Cultural e Orientação Sexual, eleitos
orientação técnica da prática pedagógica, foi considera- por envolverem problemáticas sociais atuais e urgentes,
da a fundamentação das opções teóricas e metodológi- consideradas de abrangência nacional e até mesmo de
LEGISLAÇÃO

cas da área para que, a partir destas, seja possível instau- caráter universal.
rar reflexões sobre a proposta educacional indicada. Na A grande abrangência dos temas não significa que
apresentação de cada área são abordados os seguintes devam ser tratados igualmente; ao contrário, exigem
aspectos: descrição da problemática específica da área adaptações para que possam corresponder às reais ne-

77
cessidades de cada região ou mesmo de cada escola. As trabalho escolar o desenvolvimento dessa capacidade é
características das questões ambientais, por exemplo, propiciado pela realização de trabalhos em grupo, por
ganham especificidades diferentes nos campos de serin- práticas de cooperação que incorporam formas partici-
ga no interior da Amazônia e na periferia de uma grande pativas e possibilitam a tomada de posição em conjunto
cidade. com os outros. A capacidade estética permite produzir
Além das adaptações dos temas apresentados, é im- arte e apreciar as diferentes produções artísticas produ-
portante que sejam eleitos temas locais para integrar o zidas em diferentes culturas e em diferentes momentos
componente Temas Transversais; por exemplo, muitas históricos. A capacidade ética é a possibilidade de reger
cidades têm elevadíssimos índices de acidentes com víti- as próprias ações e tomadas de decisão por um sistema
mas no trânsito, o que faz com que suas escolas necessi- de princípios segundo o qual se analisam, nas diferentes
tem incorporar a educação para o trânsito em seu currí- situações da vida, os valores e opções que envolvem. A
culo. Além deste, outros temas relativos, por exemplo, à construção interna, pessoal, de princípios considerados
paz ou ao uso de drogas podem constituir subtemas dos válidos para si e para os demais implica considerar-se
temas gerais; outras vezes, no entanto, podem exigir um um sujeito em meio a outros sujeitos. O desenvolvimen-
tratamento específico e intenso, dependendo da realida- to dessa capacidade permite considerar e buscar com-
de de cada contexto social, político, econômico e cultu- preender razões, nuanças, condicionantes, consequên-
ral. Nesse caso, devem ser incluídos como temas básicos. cias e intenções, isto é, permite a superação da rigidez
moral, no julgamento e na atuação pessoal, na relação
Objetivos interpessoal e na compreensão das relações sociais. A
ação pedagógica contribui com tal desenvolvimento, en-
Os objetivos propostos nos Parâmetros Curriculares tre outras formas afirmando claramente seus princípios
Nacionais concretizam as intenções educativas em ter- éticos, incentivando a reflexão e a análise crítica de valo-
mos de capacidades que devem ser desenvolvidas pelos res, atitudes e tomadas de decisão e possibilitando o co-
alunos ao longo da escolaridade. nhecimento de que a formulação de tais sistemas é fruto
A decisão de definir os objetivos educacionais em de relações humanas, historicamente situadas. Quanto à
termos de capacidades é crucial nesta proposta, pois as capacidade de inserção social, refere-se à possibilidade
capacidades, uma vez desenvolvidas, podem se expres- de o aluno perceber-se como parte de uma comunidade,
sar numa variedade de comportamentos. O professor, de uma classe, de um ou vários grupos sociais e de com-
consciente de que condutas diversas podem estar vin- prometer-se pessoalmente com questões que considere
culadas ao desenvolvimento de uma mesma capacidade, relevantes para a vida coletiva. Essa capacidade é nuclear
tem diante de si maiores possibilidades de atender à di- ao exercício da cidadania, pois seu desenvolvimento é
versidade de seus alunos. necessário para que se possa superar o individualismo e
Assim, os objetivos se definem em termos de capaci- atuar (no cotidiano ou na vida política) levando em conta
dades de ordem cognitiva, física, afetiva, de relação inter- a dimensão coletiva. O aprendizado de diferentes formas
pessoal e inserção social, ética e estética, tendo em vista e possibilidades de participação social é essencial ao de-
uma formação ampla. senvolvimento dessa capacidade.

A capacidade cognitiva tem grande influência na pos- Para garantir o desenvolvimento dessas capacidades
tura do indivíduo em relação às metas que quer atingir é preciso uma disponibilidade para a aprendizagem de
nas mais diversas situações da vida, vinculando-se direta- modo geral. Esta, por sua vez, depende em boa parte da
mente ao uso de formas de representação e de comuni- história de êxitos ou fracassos escolares que o aluno traz
cação, envolvendo a resolução de problemas, de maneira e vão determinar o grau de motivação que apresentará
consciente ou não. A aquisição progressiva de códigos em relação às aprendizagens atualmente propostas. Mas
de representação e a possibilidade de operar com eles depende também de que os conteúdos de aprendizagem
interfere diretamente na aprendizagem da língua, da tenham sentido para ele e sejam funcionais. O papel do
matemática, da representação espacial, temporal e grá- professor nesse processo é, portanto, crucial, pois a ele
fica e na leitura de imagens. A capacidade física engloba cabe apresentar os conteúdos e atividades de aprendiza-
o autoconhecimento e o uso do corpo na expressão de gem de forma que os alunos compreendam o porquê e o
emoções, na superação de estereotipias de movimentos, para que do que aprendem, e assim desenvolvam expec-
nos jogos, no deslocamento com segurança. A afetiva tativas positivas em relação à aprendizagem e sintam-se
refere-se às motivações, à autoestima, à sensibilidade motivados para o trabalho escolar.
e à adequação de atitudes no convívio social, estando Para tanto, é preciso considerar que nem todas as
vinculada à valorização do resultado dos trabalhos pro- pessoas têm os mesmos interesses ou habilidades, nem
duzidos e das atividades realizadas. Esses fatores levam aprendem da mesma maneira, o que muitas vezes exi-
o aluno a compreender a si mesmo e aos outros. A capa- ge uma atenção especial por parte do professor a um
cidade afetiva está estreitamente ligada à capacidade de ou outro aluno, para que todos possam se integrar no
relação interpessoal, que envolve compreender, conviver processo de aprender. A partir do reconhecimento das
e produzir com os outros, percebendo distinções entre diferenças existentes entre pessoas, fruto do processo de
LEGISLAÇÃO

as pessoas, contrastes de temperamento, de intenções socialização e do desenvolvimento individual, será pos-


e de estados de ânimo. O desenvolvimento da inter-re- sível conduzir um ensino pautado em aprendizados que
lação permite ao aluno se colocar do ponto de vista do sirvam a novos aprendizados.
outro e a refletir sobre seus próprios pensamentos. No

78
A escola preocupada em fazer com que os alunos de- duações e o reequacionamento de prioridades, desen-
senvolvam capacidades ajusta sua maneira de ensinar e volvendo alguns aspectos e acrescentando outros que
seleciona os conteúdos de modo a auxiliá-los a se ade- não estejam explícitos.
quarem às várias vivências a que são expostos em seu
universo cultural; considera as capacidades que os alu- Conteúdos
nos já têm e as potencializa; preocupa-se com aqueles
alunos que encontram dificuldade no desenvolvimento Os Parâmetros Curriculares Nacionais propõem uma
das capacidades básicas. mudança de enfoque em relação aos conteúdos curri-
Embora os indivíduos tendam, em função de sua culares: ao invés de um ensino em que o conteúdo seja
natureza, a desenvolver capacidades de maneira hete- visto como fim em si mesmo, o que se propõe é um ensi-
rogênea, é importante salientar que a escola tem como no em que o conteúdo seja visto como meio para que os
função potencializar o desenvolvimento de todas as alunos desenvolvam as capacidades que lhes permitam
capacidades, de modo a tornar o ensino mais humano, produzir e usufruir dos bens culturais, sociais e econô-
mais ético. micos.
A tendência predominante na abordagem de conteú-
Os Parâmetros Curriculares Nacionais, na explicitação dos na educação escolar se assenta no binômio trans-
das mencionadas capacidades, apresentam inicialmente missão-incorporação, considerando a incorporação de
os Objetivos Gerais do ensino fundamental, que são as conteúdos pelo aluno como a finalidade essencial do
grandes metas educacionais que orientam a estrutura- ensino. Existem, no entanto, outros posicionamentos: há
ção curricular. A partir deles são definidos os Objetivos quem defenda a posição de indiferença em relação aos
Gerais de Área, os dos Temas Transversais, bem como o conteúdos por considerá-los somente como suporte ao
desdobramento que estes devem receber no primeiro e desenvolvimento cognitivo dos alunos e há ainda quem
no segundo ciclos, como forma de conduzir às conquis- acuse a determinação prévia de conteúdos como uma
tas intermediárias necessárias ao alcance dos objetivos afronta às questões sociais e políticas vivenciadas pelos
gerais. Um exemplo de desdobramento dos objetivos é o diversos grupos.
que se apresenta a seguir. No entanto, qualquer que seja a linha pedagógica,
- Objetivo Geral do Ensino Fundamental: utilizar dife- professores e alunos trabalham, necessariamente, com
rentes linguagens — verbal, matemática, gráfica, plástica, conteúdos. O que diferencia radicalmente as propostas
corporal — como meio para expressar e comunicar suas é a função que se atribui aos conteúdos no contexto es-
ideias, interpretar e usufruir das produções da cultura. colar e, em decorrência disso, as diferentes concepções
- Objetivo Geral do Ensino de Matemática: analisar quanto à maneira como devem ser selecionados e tra-
informações relevantes do ponto de vista do conheci- tados.
mento e estabelecer o maior número de relações entre Nesta proposta, os conteúdos e o tratamento que
a eles deve ser dado assumem papel central, uma vez
elas, fazendo uso do conhecimento matemático para in-
que é por meio deles que os propósitos da escola são
terpretá-las e avaliá-las criticamente.
operacionalizados, ou seja, manifestados em ações pe-
- Objetivo do Ensino de Matemática para o Primeiro
dagógicas. No entanto, não se trata de compreendê-los
Ciclo: identificar, em situações práticas, que muitas infor-
da forma como são comumente aceitos pela tradição
mações são organizadas em tabelas e gráficos para facili-
escolar. O projeto educacional expresso nos Parâmetros
tar a leitura e a interpretação, e construir formas pessoais
Curriculares Nacionais demanda uma reflexão sobre a
de registro para comunicar informações coletadas.
seleção de conteúdos, como também exige uma ressig-
Os objetivos constituem o ponto de partida para se
nificação, em que a noção de conteúdo escolar se amplia
refletir sobre qual é a formação que se pretende que para além de fatos e conceitos, passando a incluir pro-
os alunos obtenham, que a escola deseja proporcionar cedimentos, valores, normas e atitudes. Ao tomar como
e tem possibilidades de realizar, sendo, nesse senti- objeto de aprendizagem escolar conteúdos de diferentes
do, pontos de referência que devem orientar a atuação naturezas, reafirma-se a responsabilidade da escola com
educativa em todas as áreas, ao longo da escolaridade a formação ampla do aluno e a necessidade de interven-
obrigatória. Devem, portanto, orientar a seleção de con- ções conscientes e planejadas nessa direção.
teúdos a serem aprendidos como meio para o desenvol-
vimento das capacidades e indicar os encaminhamentos Neste documento, os conteúdos são abordados em
didáticos apropriados para que os conteúdos estudados três grandes categorias: conteúdos conceituais, que en-
façam sentido para os alunos. Finalmente, devem cons- volvem fatos e princípios; conteúdos procedimentais e
tituir-se uma referência indireta da avaliação da atuação conteúdos atitudinais, que envolvem a abordagem de
pedagógica da escola. valores, normas e atitudes.
Conteúdos conceituais referem-se à construção ativa
As capacidades expressas nos Objetivos dos Parâme- das capacidades intelectuais para operar com símbolos,
tros Curriculares Nacionais são propostas como referen- ideias, imagens e representações que permitem organi-
ciais gerais e demandam adequações a serem realizadas zar a realidade. A aprendizagem de conceitos se dá por
LEGISLAÇÃO

nos níveis de concretização curricular das secretarias es- aproximações sucessivas. Para aprender sobre digestão,
taduais e municipais, bem como das escolas, a fim de subtração ou qualquer outro objeto de conhecimento,
atender às demandas específicas de cada localidade. Essa o aluno precisa adquirir informações, vivenciar situações
adequação pode ser feita mediante a redefinição de gra- em que esses conceitos estejam em jogo, para poder

79
construir generalizações parciais que, ao longo de suas exemplo: para realizar uma pesquisa, o aluno pode
experiências, possibilitarão atingir conceitualizações copiar um trecho da enciclopédia, embora esse não
cada vez mais abrangentes; estas o levarão à compreen- seja o procedimento mais adequado. É preciso auxiliá-
são de princípios, ou seja, conceitos de maior nível de lo, ensinando os procedimentos apropriados, para que
abstração, como o princípio da igualdade na matemática, possa responder com êxito à tarefa que lhe foi proposta.
o princípio da conservação nas ciências, etc. A aprendi- É preciso que o aluno aprenda a pesquisar em mais
zagem de conceitos permite organizar a realidade, mas de uma fonte, registrar o que for relevante, relacionar
só é possível a partir da aprendizagem de conteúdos re- as informações obtidas para produzir um texto de
ferentes a fatos (nomes, imagens, representações), que pesquisa. Dependendo do assunto a ser pesquisado,
ocorre, num primeiro momento, de maneira eminente- é possível orientá-lo para fazer entrevistas e organizar
mente mnemônica. A memorização não deve ser enten- os dados obtidos, procurar referências em diferentes
dida como processo mecânico, mas antes como recurso jornais, em filmes, comparar as informações obtidas
que torna o aluno capaz de representar informações de para apresentá-las num seminário, produzir um texto.
maneira genérica — memória significativa — para poder Ao exercer um determinado procedimento, é possível
relacioná-las com outros conteúdos. ao aluno, com ajuda ou não do professor, analisar cada
Dependendo da diversidade presente nas atividades etapa realizada para adequá-la ou corrigi-la, a fim de
realizadas, os alunos buscam informações (fatos), notam atingir a meta proposta. A consideração dos conteúdos
regularidades, realizam produtos e generalizações que, procedimentais no processo de ensino é de fundamental
mesmo sendo sínteses ou análises parciais, permitem ve- importância, pois permite incluir conhecimentos que
rificar se o conceito está sendo aprendido. Exemplo 1: têm sido tradicionalmente excluídos do ensino, como a
para compreender o que vem a ser um texto jornalístico revisão do texto escrito, a argumentação construída, a
é necessário que o aluno tenha contato com esse texto, comparação dos dados, a verificação, a documentação e
use-o para obter informações, conheça seu vocabulário, a organização, entre outros.
conheça sua estrutura e sua função social. Exemplo 2: a
solidariedade só pode ser compreendida quando o alu- Ao ensinar procedimentos também se ensina um cer-
no passa por situações em que atitudes que a suscitem to modo de pensar e produzir conhecimento. Exemplo:
estejam em jogo, de modo que, ao longo de suas ex- uma das questões centrais do trabalho em matemática
periências, adquira informações que contribuam para a refere-se à validação.
construção de tal conceito. Aprender conceitos permite Trata-se de o aluno saber por seus próprios meios se
atribuir significados aos conteúdos aprendidos e relacio- o resultado que obteve é razoável ou absurdo, se o pro-
ná-los a outros. cedimento utilizado é correto ou não, se o argumento de
Tal aprendizado está diretamente relacionado à se- seu colega é consistente ou contraditório.
gunda categoria de conteúdos: a procedimental. Os Já os conteúdos atitudinais permeiam todo o conhe-
procedimentos expressam um saber fazer, que envolve cimento escolar. A escola é um contexto socializador,
tomar decisões e realizar uma série de ações, de forma gerador de atitudes relativas ao conhecimento, ao pro-
ordenada e não aleatória, para atingir uma meta. Assim, fessor, aos colegas, às disciplinas, às tarefas e à socie-
os conteúdos procedimentais sempre estão presentes dade. A não-compreensão de atitudes, valores e normas
nos projetos de ensino, pois uma pesquisa, um experi- como conteúdos escolares faz com estes sejam comu-
mento, um resumo, uma maquete, são proposições de nicados sobretudo de forma inadvertida — acabam por
ações presentes nas salas de aula. ser aprendidos sem que haja uma deliberação clara so-
No entanto, conteúdos procedimentais são abor- bre esse ensinamento. Por isso, é imprescindível adotar
dados muitas vezes de maneira equivocada, não sendo uma posição crítica em relação aos valores que a escola
tratados como objeto de ensino, que necessitam de in- transmite explícita e implicitamente mediante atitudes
tervenção direta do professor para serem de fato apren- cotidianas. A consideração positiva de certos fatos ou
didos. O aprendizado de procedimentos é, por vezes, personagens históricos em detrimento de outros é um
considerado como algo espontâneo, dependente das posicionamento de valor, o que contradiz a pretensa
habilidades individuais. Ensinam-se procedimentos acre- neutralidade que caracteriza a apresentação escolar do
ditando estar-se ensinando conceitos; a realização de um saber científico.
procedimento adequado passa, então, a ser interpretada Ensinar e aprender atitudes requer um posicionamen-
como o aprendizado do conceito. O exemplo mais evi- to claro e consciente sobre o que e como se ensina na
dente dessa abordagem ocorre no ensino das operações: escola. Esse posicionamento só pode ocorrer a partir do
o fato de uma criança saber resolver contas de adição estabelecimento das intenções do projeto educativo da
não necessariamente corresponde à compreensão do escola, para que se possam adequar e selecionar conteú-
conceito de adição. dos básicos, necessários e recorrentes.
É sabido que a aprendizagem de valores e atitudes
É preciso analisar os conteúdos referentes a é de natureza complexa e pouco explorada do ponto
procedimentos não do ponto de vista de uma de vista pedagógico. Muitas pesquisas apontam para a
aprendizagem mecânica, mas a partir do propósito importância da informação como fator de transformação
LEGISLAÇÃO

fundamental da educação, que é fazer com que os alunos de valores e atitudes; sem dúvida, a informação é
construam instrumentos para analisar, por si mesmos, necessária, mas não é suficiente. Para a aprendizagem de
os resultados que obtêm e os processos que colocam atitudes é necessária uma prática constante, coerente e
em ação para atingir as metas a que se propõem. Por sistemática, em que valores e atitudes almejados sejam

80
expressos no relacionamento entre as pessoas e na es- tida de bolinha de gude. Na segunda partida, perdeu 3
colha dos assuntos a serem tratados. Além das questões bolinhas, ficando com 5 no final. Quantas bolinhas Pedro
de ordem emocional, tem relevância no aprendizado dos ganhou na primeira partida? (? - 3 = 5 ou 8 - 3 = 5 ou
conteúdos atitudinais o fato de cada aluno pertencer a 3 + ? = 8). O problema 1 é resolvido pela maioria das
um grupo social, com seus próprios valores e atitudes. crianças no início da escolaridade obrigatória em função
do conhecimento matemático que já têm; no entanto,
Embora esteja sempre presente nos conteúdos espe- o problema 2 para ser resolvido necessita que o aluno
cíficos que são ensinados, os conteúdos atitudinais não tenha tido diferentes oportunidades para operar com os
têm sido formalmente reconhecidos como tal. A análise conceitos envolvidos, caso contrário não o resolverá. O
dos conteúdos, à luz dessa dimensão, exige uma toma- mesmo conteúdo — adição e subtração — para ser com-
da de decisão consciente e eticamente comprometida, preendido requer uma abordagem mais ampla dos con-
interferindo diretamente no esclarecimento do papel da ceitos que o envolvem. Com esses exemplos buscou-se
escola na formação do cidadão. Ao enfocar os conteúdos apontar também que situações aparentemente fáceis e
escolares sob essa dimensão, questões de convívio social simples são complexas tanto do ponto de vista do objeto
assumem um outro status no rol dos conteúdos a serem como da aprendizagem. No problema 2 a variação no
abordados. local da incógnita solicita um tipo de raciocínio diferente
Considerar conteúdos procedimentais e atitudinais do problema 1. A complexidade dos próprios conteúdos
como conteúdos do mesmo nível que os conceituais não e as necessidades das aprendizagens compõem um todo
implica aumento na quantidade de conteúdos a serem dinâmico, sendo impossível esgotar a aprendizagem em
trabalhados, porque eles já estão presentes no dia-a- um curto espaço de tempo. O conhecimento não é um
-dia da sala de aula; o que acontece é que, na maioria bem passível de acumulação, como uma espécie de doa-
das vezes, não estão explicitados nem são tratados de ção da fonte de informações para o aprendiz.
maneira consciente. A diferente natureza dos conteúdos Para o tratamento didático dos conteúdos é preciso
escolares deve ser contemplada de maneira integrada no considerar também o estabelecimento de relações inter-
processo de ensino e aprendizagem e não em atividades nas ao bloco e entre blocos. Exemplificando: os blocos
específicas. de conteúdos de Língua Portuguesa são língua oral, lín-
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, os conteúdos gua escrita, análise e reflexão sobre a língua; é possível
referentes a conceitos, procedimentos, valores, normas e aprender sobre a língua escrita sem necessariamente es-
atitudes estão presentes nos documentos tanto de áreas tabelecer uma relação direta com a língua oral; por outro
quanto de Temas Transversais, por contribuírem para a lado, não é possível aprender a analisar e a refletir sobre
aquisição das capacidades definidas nos Objetivos Gerais a língua sem o apoio da língua oral, ou da escrita. Dessa
do Ensino Fundamental. A consciência da importância forma, a inter-relação dos elementos de um bloco, ou
desses conteúdos é essencial para garantir-lhes trata- entre blocos, é determinada pelo objeto da aprendiza-
mento apropriado, em que se vise um desenvolvimento
gem, configurado pela proposta didática realizada pelo
amplo, harmônico e equilibrado dos alunos, tendo em
professor.
vista sua vinculação à função social da escola. Eles são
apresentados nos blocos de conteúdos e/ou organiza-
Dada a diversidade existente no País, é natural e de-
ções temáticas.
sejável que ocorram alterações no quadro proposto. A
definição dos conteúdos a serem tratados deve consi-
Os blocos de conteúdos e/ou organizações temáticas
derar o desenvolvimento de capacidades adequadas às
são agrupamentos que representam recortes internos
à área e visam explicitar objetos de estudo essenciais à características sociais, culturais e econômicas particulares
aprendizagem. Distinguem as especificidades dos con- de cada localidade.
teúdos, para que haja clareza sobre qual é o objeto do Assim, a definição de conteúdos nos Parâmetros Cur-
trabalho, tanto para o aluno como para o professor — é riculares Nacionais é uma referência suficientemente
importante ter consciência do que se está ensinando e aberta para técnicos e professores analisarem, refletirem
do que se está aprendendo. Os conteúdos são organi- e tomarem decisões, resultando em ampliações ou redu-
zados em função da necessidade de receberem um tra- ções de certos aspectos, em função das necessidades de
tamento didático que propicie um avanço contínuo na aprendizagem de seus alunos.
ampliação de conhecimentos, tanto em extensão quanto
em profundidade, pois o processo de aprendizagem dos Avaliação
alunos requer que os mesmos conteúdos sejam tratados
de diferentes maneiras e em diferentes momentos da A concepção de avaliação dos Parâmetros Curricula-
escolaridade, de forma a serem “revisitados”, em função res Nacionais vai além da visão tradicional, que focaliza o
das possibilidades de compreensão que se alteram pela controle externo do aluno mediante notas ou conceitos,
contínua construção de conhecimentos e em função da para ser compreendida como parte integrante e intrínse-
complexidade conceitual de determinados conteúdos. ca ao processo educacional.
Por exemplo, ao apresentar problemas referentes às ope- A avaliação, ao não se restringir ao julgamento sobre
rações de adição e subtração. sucessos ou fracassos do aluno, é compreendida como
LEGISLAÇÃO

um conjunto de atuações que tem a função de alimentar,


Exemplo 1: Pedro tinha 8 bolinhas de gude, jogou sustentar e orientar a intervenção pedagógica. Aconte-
uma partida e perdeu 3. Com quantas bolinhas ficou? (8 ce contínua e sistematicamente por meio da interpreta-
- 3 = 5 ou 3 + ? = 8). Exemplo 2: Pedro jogou uma par- ção qualitativa do conhecimento construído pelo aluno.

81
Possibilita conhecer o quanto ele se aproxima ou não da está em curso, no qual o professor não avança em suas
expectativa de aprendizagem que o professor tem em propostas, perdendo o escasso e precioso tempo escolar
determinados momentos da escolaridade, em função da de que dispõe. Ela pode se realizar no interior mesmo de
intervenção pedagógica realizada. Portanto, a avaliação um processo de ensino e aprendizagem, já que os alunos
das aprendizagens só pode acontecer se forem relacio- põem inevitavelmente em jogo seus conhecimentos
nadas com as oportunidades oferecidas, isto é, analisan- prévios ao enfrentar qualquer situação didática.
do a adequação das situações didáticas propostas aos O processo também contempla a observação dos
conhecimentos prévios dos alunos e aos desafios que avanços e da qualidade da aprendizagem alcançada pe-
estão em condições de enfrentar. los alunos ao final de um período de trabalho, seja este
determinado pelo fim de um bimestre, ou de um ano,
A avaliação subsidia o professor com elementos para seja pelo encerramento de um projeto ou sequência
uma reflexão contínua sobre a sua prática, sobre a cria- didática. Na verdade, a avaliação contínua do processo
ção de novos instrumentos de trabalho e a retomada de acaba por subsidiar a avaliação final, isto é, se o professor
aspectos que devem ser revistos, ajustados ou reconhe- acompanha o aluno sistematicamente ao longo do pro-
cidos como adequados para o processo de aprendiza- cesso pode saber, em determinados momentos, o que o
gem individual ou de todo grupo. Para o aluno, é o ins- aluno já aprendeu sobre os conteúdos trabalhados. Es-
trumento de tomada de consciência de suas conquistas, ses momentos, por outro lado, são importantes por se
dificuldades e possibilidades para reorganização de seu constituírem boas situações para que alunos e profes-
investimento na tarefa de aprender. Para a escola, pos- sores formalizem o que foi e o que não foi aprendido.
sibilita definir prioridades e localizar quais aspectos das Esta avaliação, que intenciona averiguar a relação entre
ações educacionais demandam maior apoio. a construção do conhecimento por parte dos alunos e
Tomar a avaliação nessa perspectiva e em todas es- os objetivos a que o professor se propôs, é indispensá-
sas dimensões requer que esta ocorra sistematicamente vel para se saber se todos os alunos estão aprendendo
durante todo o processo de ensino e aprendizagem e e quais condições estão sendo ou não favoráveis para
não somente após o fechamento de etapas do trabalho, isso, o que diz respeito às responsabilidades do sistema
como é o habitual. Isso possibilita ajustes constantes, educacional.
num mecanismo de regulação do processo de ensino e Um sistema educacional comprometido com o de-
aprendizagem, que contribui efetivamente para que a ta- senvolvimento das capacidades dos alunos, que se ex-
refa educativa tenha sucesso. pressam pela qualidade das relações que estabelecem e
O acompanhamento e a reorganização do processo pela profundidade dos saberes constituídos, encontra, na
de ensino e aprendizagem na escola inclui, necessaria- avaliação, uma referência à análise de seus propósitos,
mente, uma avaliação inicial, para o planejamento do que lhe permite redimensionar investimentos, a fim de
professor, e uma avaliação ao final de uma etapa de tra- que os alunos aprendam cada vez mais e melhor e atin-
balho. jam os objetivos propostos.
A avaliação investigativa inicial instrumentalizará o Esse uso da avaliação, numa perspectiva democráti-
professor para que possa pôr em prática seu planejamen- ca, só poderá acontecer se forem superados o caráter
to de forma adequada às características de seus alunos. de terminalidade e de medição de conteúdos aprendidos
Esse é o momento em que o professor vai se informar — tão arraigados nas práticas escolares — a fim de que
sobre o que o aluno já sabe sobre determinado conteúdo os resultados da avaliação possam ser concebidos como
para, a partir daí, estruturar sua programação, definindo indicadores para a reorientação da prática educacional e
os conteúdos e o nível de profundidade em que devem
nunca como um meio de estigmatizar os alunos.
ser abordados. A avaliação inicial serve para o professor
Utilizar a avaliação como instrumento para o desen-
obter informações necessárias para propor atividades e
volvimento das atividades didáticas requer que ela não
gerar novos conhecimentos, assim como para o aluno
seja interpretada como um momento estático, mas antes
tomar consciência do que já sabe e do que pode ainda
como um momento de observação de um processo dinâ-
aprender sobre um determinado conjunto de conteúdos.
mico e não-linear de construção de conhecimento.
É importante que ocorra uma avaliação no início do ano;
o fato de o aluno estar iniciando uma série não é infor-
mação suficiente para que o professor saiba sobre suas Em suma, a avaliação contemplada nos Parâmetros
necessidades de aprendizagem. Mesmo que o professor Curriculares Nacionais é compreendida como: elemento
acompanhe a classe de um ano para o outro, e tenha integrador entre a aprendizagem e o ensino; conjunto
registros detalhados sobre o desempenho dos alunos no de ações cujo objetivo é o ajuste e a orientação da inter-
ano anterior, não se exclui essa investigação inicial, pois venção pedagógica para que o aluno aprenda da melhor
os alunos não deixam de aprender durante as férias e forma; conjunto de ações que busca obter informações
muita coisa pode ser alterada no intervalo dos períodos sobre o que foi aprendido e como; elemento de reflexão
letivos. Mas essas avaliações não devem ser aplicadas contínua para o professor sobre sua prática educativa;
exclusivamente nos inícios de ano ou de semestre; são instrumento que possibilita ao aluno tomar consciência
pertinentes sempre que o professor propuser novos con- de seus avanços, dificuldades e possibilidades; ação que
teúdos ou novas sequências de situações didáticas. ocorre durante todo o processo de ensino e aprendiza-
LEGISLAÇÃO

gem e não apenas em momentos específicos caracteri-


É importante ter claro que a avaliação inicial não implica zados como fechamento de grandes etapas de trabalho.
a instauração de um longo período de diagnóstico, que Uma concepção desse tipo pressupõe considerar tanto
acabe por se destacar do processo de aprendizagem que o processo que o aluno desenvolve ao aprender como o

82
produto alcançado. Pressupõe também que a avaliação Quanto mais os alunos tenham clareza dos conteú-
se aplique não apenas ao aluno, considerando as expec- dos e do grau de expectativa da aprendizagem que se
tativas de aprendizagem, mas às condições oferecidas espera, mais terão condições de desenvolver, com a
para que isso ocorra. Avaliar a aprendizagem, portanto, ajuda do professor, estratégias pessoais e recursos para
implica avaliar o ensino oferecido — se, por exemplo, vencer dificuldades.
não há a aprendizagem esperada significa que o ensino A avaliação, apesar de ser responsabilidade do profes-
não cumpriu com sua finalidade: a de fazer aprender. sor, não deve ser considerada função exclusiva dele. De-
legá-la aos alunos, em determinados momentos, é uma
Orientações para avaliação condição didática necessária para que construam instru-
mentos de auto regulação para as diferentes aprendiza-
Como avaliar se define a partir da concepção de ensi- gens. A auto avaliação é uma situação de aprendizagem
no e aprendizagem, da função da avaliação no processo em que o aluno desenvolve estratégias de análise e in-
educativo e das orientações didáticas postas em prática. terpretação de suas produções e dos diferentes procedi-
Embora a avaliação, na perspectiva aqui apontada, acon- mentos para se avaliar. Além desse aprendizado ser, em
teça sistematicamente durante as atividades de ensino e si, importante, porque é central para a construção da au-
aprendizagem, é preciso que a perspectiva de cada mo- tonomia dos alunos, cumpre o papel de contribuir com a
mento da avaliação seja definida claramente, para que se objetividade desejada na avaliação, uma vez que esta só
possa alcançar o máximo de objetividade possível. poderá ser construída com a coordenação dos diferentes
Para obter informações em relação aos processos de pontos de vista tanto do aluno quanto do professor.
aprendizagem, é necessário considerar a importância de
uma diversidade de instrumentos e situações, para pos- Critérios de avaliação
sibilitar, por um lado, avaliar as diferentes capacidades e
conteúdos curriculares em jogo e, por outro lado, con- Avaliar significa emitir um juízo de valor sobre a rea-
trastar os dados obtidos e observar a transferência das lidade que se questiona, seja a propósito das exigências
aprendizagens em contextos diferentes. de uma ação que se projetou realizar sobre ela, seja a
propósito das suas consequências.
É fundamental a utilização de diferentes códigos, Portanto, a atividade de avaliação exige critérios cla-
como o verbal, o oral, o escrito, o gráfico, o numérico, o ros que orientem a leitura dos aspectos a serem avalia-
pictórico, de forma a se considerar as diferentes aptidões dos.
dos alunos. Por exemplo, muitas vezes o aluno não domina No caso da avaliação escolar, é necessário que se
a escrita suficientemente para expor um raciocínio mais estabeleçam expectativas de aprendizagem dos alunos
complexo sobre como compreende um fato histórico, em consequência do ensino, que devem se expressar nos
mas pode fazê-lo perfeitamente bem em uma situação objetivos, nos critérios de avaliação propostos e na de-
de intercâmbio oral, como em diálogos, entrevistas ou finição do que será considerado como testemunho das
debates. Considerando essas preocupações, o professor
aprendizagens.
pode realizar a avaliação por meio de:
Do contraste entre os critérios de avaliação e os in-
- observação sistemática: acompanhamento do pro-
dicadores expressos na produção dos alunos surgirá o
cesso de aprendizagem dos alunos, utilizando al-
juízo de valor, que se constitui a essência da avaliação.
guns instrumentos, como registro em tabelas, lis-
Os critérios de avaliação têm um papel importante,
tas de controle, diário de classe e outros;
pois explicitam as expectativas de aprendizagem, consi-
- análise das produções dos alunos: considerar a va-
derando objetivos e conteúdos propostos para a área e
riedade de produções realizadas pelos alunos, para
que se possa ter um quadro real das aprendiza- para o ciclo, a organização lógica e interna dos conteú-
gens conquistadas. Por exemplo: se a avaliação se dos, as particularidades de cada momento da escolari-
dá sobre a competência dos alunos na produção dade e as possibilidades de aprendizagem decorrentes
de textos, deve-se considerar a totalidade dessa de cada etapa do desenvolvimento cognitivo, afetivo e
produção, que envolve desde os primeiros regis- social em uma determinada situação, na qual os alunos
tros escritos, no caderno de lição, até os registros tenham boas condições de desenvolvimento do ponto
das atividades de outras áreas e das atividades re- de vista pessoal e social. Os critérios de avaliação apon-
alizadas especificamente para esse aprendizado, tam as experiências educativas a que os alunos devem
além do texto produzido pelo aluno para os fins ter acesso e são consideradas essenciais para o seu de-
específicos desta avaliação; senvolvimento e socialização. Nesse sentido, os critérios
- atividades específicas para a avaliação: nestas, os de avaliação devem refletir de forma equilibrada os di-
alunos devem ter objetividade ao expor sobre um ferentes tipos de capacidades e as três dimensões de
tema, ao responder um questionário. Para isso é conteúdos, e servir para encaminhar a programação e as
importante, em primeiro lugar, garantir que se- atividades de ensino e aprendizagem.
jam semelhantes às situações de aprendizagem
comumente estruturadas em sala de aula, isto é, É importante assinalar que os critérios de avaliação
que não se diferenciem, em sua estrutura, das ati- representam as aprendizagens imprescindíveis ao final
LEGISLAÇÃO

vidades que já foram realizadas; em segundo lugar, do ciclo e possíveis à maioria dos alunos submetidos
deixar claro para os alunos o que se pretende ava- às condições de aprendizagem propostas; não podem,
liar, pois, inevitavelmente, os alunos estarão mais no entanto, ser tomados como objetivos, pois isso
atentos a esses aspectos. significaria um injustificável rebaixamento da oferta

83
de ensino e, consequentemente, o impedimento a Decisões associadas aos resultados da avaliação
priori da possibilidade de realização de aprendizagens
consideradas essenciais. Tão importante quanto o que e como avaliar são as
Os critérios não expressam todos os conteúdos que decisões pedagógicas decorrentes dos resultados da
foram trabalhados no ciclo, mas apenas aqueles que são avaliação, que não devem se restringir à reorganização
fundamentais para que se possa considerar que um alu- da prática educativa encaminhada pelo professor no dia-
no adquiriu as capacidades previstas de modo a poder -a-dia; devem se referir, também, a uma série de medi-
continuar aprendendo no ciclo seguinte, sem que seu das didáticas complementares que necessitem de apoio
aproveitamento seja comprometido. institucional, como o acompanhamento individualizado
Os Critérios de Avaliação por Área e por Ciclo, defini- feito pelo professor fora da classe, o grupo de apoio, as
dos nestes Parâmetros Curriculares Nacionais, ainda que lições extras e outras que cada escola pode criar, ou até
indiquem o tipo e o grau de aprendizagem que se espera mesmo a solicitação de profissionais externos à escola
que os alunos tenham realizado a respeito dos diferen- para debate sobre questões emergentes ao trabalho. A
tes conteúdos, apresentam formulação suficientemente dificuldade de contar com o apoio institucional para es-
ampla para ser referência para as adaptações necessá- ses encaminhamentos é uma realidade que precisa ser
rias em cada escola, de modo a poderem se constituir alterada gradativamente, para que se possam oferecer
critérios reais para a avaliação e, portanto, contribuírem condições de desenvolvimento para os alunos com ne-
para efetivar a concretização das intenções educativas cessidades diferentes de aprendizagem.
no decorrer do trabalho nos ciclos. Os critérios de ava- A aprovação ou a reprovação é uma decisão pedagó-
liação devem permitir concretizações diversas por meio gica que visa garantir as melhores condições de apren-
de diferentes indicadores; assim, além do enunciado que dizagem para os alunos. Para tal, requer-se uma análise
os define, deverá haver um breve comentário explicati- dos professores a respeito das diferentes capacidades
vo que contribua para a identificação de indicadores nas do aluno, que permitirão o aproveitamento do ensino na
produções a serem avaliadas, facilitando a interpretação próxima série ou ciclo. Se a avaliação está a serviço do
e a flexibilização desses critérios, em função das caracte- processo de ensino e aprendizagem, a decisão de apro-
rísticas do aluno e dos objetivos e conteúdos definidos. var ou reprovar não deve ser a expressão de um “castigo”
Exemplo de um critério de avaliação de Língua Por- nem ser unicamente pautada no quanto se aprendeu ou
tuguesa para o primeiro ciclo: “Escrever utilizando tanto se deixou de aprender dos conteúdos propostos. Para tal
o conhecimento sobre a correspondência fonográfica decisão é importante considerar, simultaneamente aos
como sobre a segmentação do texto em palavras e fra- critérios de avaliação, os aspectos de sociabilidade e de
ses. ordem emocional, para que a decisão seja a melhor pos-
Com este critério espera-se que o aluno escreva tex- sível, tendo em vista a continuidade da escolaridade sem
tos alfabeticamente. Isso significa utilizar corretamente fracassos. No caso de reprovação, a discussão nos conse-
a letra (o grafema) que corresponda ao som (o fonema), lhos de classe, assim como a consideração das questões
ainda que a convenção ortográfica não esteja sendo trazidas pelos pais nesse processo decisório, podem sub-
respeitada. Espera-se, também, que o aluno utilize seu sidiar o professor para a tomada de decisão amadurecida
conhecimento sobre a segmentação das palavras e de e compartilhada pela equipe da escola.
frases, ainda que a convenção não esteja sendo respeita-
da (no caso da palavra, podem tanto ocorrer uma escri- Os altos índices de repetência em nosso país têm
ta sem segmentação, como em ‘derepente’, como uma sido objeto de muita discussão, uma vez que explicitam
segmentação indevida, como em ‘de pois’; no caso da o fracasso do sistema público de ensino, incomodando
frase, o aluno pode separar frases sem utilizar o siste- demais tanto educadores como políticos. No entanto,
ma de pontuação, fazendo uso de recursos como ‘e’, ‘aí’, muitas vezes se cria uma falsa questão, em que a repe-
‘daí’, por exemplo)”. tência é vista como um problema em si e não como um
A definição dos critérios de avaliação deve conside- sintoma da má qualidade do ensino e, consequentemen-
rar aspectos estruturais de cada realidade; por exemplo, te, da aprendizagem, que, de forma geral, o sistema edu-
muitas vezes, seja por conta das repetências ou de um cacional não tem conseguido resolver.
ingresso tardio na escola, a faixa etária dos alunos de Como resultado, ao reprovar os alunos que não rea-
primeiro ciclo não corresponde aos sete ou oito anos. lizam as aprendizagens esperadas, cristaliza-se uma si-
Sabe-se, também, que as condições de escolaridade em tuação em que o problema é do aluno e não do sistema
uma escola rural e multisseriada são bastante singulares, educacional.
o que determinará expectativas de aprendizagem e, por- A repetência deve ser um recurso extremo; deve ser
tanto, de critérios de avaliação bastante diferenciados. estudada caso a caso, no momento que mais se adequar
A adequação dos critérios estabelecidos nestes parâ- a cada aluno, para que esteja de fato a serviço da escola-
metros e dos indicadores especificados ao trabalho que ridade com sucesso.
cada escola se propõe a realizar não deve perder de vista A permanência em um ano ou mais no ciclo deve ser
a busca de uma meta de qualidade de ensino e aprendi-
LEGISLAÇÃO

compreendida como uma medida educativa para que


zagem explicitada na presente proposta. o aluno tenha oportunidade e expectativa de sucesso e
motivação, para garantir a melhoria de condições para
a aprendizagem. Quer a decisão seja de reprovar ou
aprovar um aluno com dificuldades, esta deve sempre

84
ser acompanhada de encaminhamentos de apoio e ajuda Para cada tema e área de conhecimento correspon-
para garantir a qualidade das aprendizagens e o desen- de um conjunto de orientações didáticas de caráter mais
volvimento das capacidades esperadas. abrangente — orientações didáticas gerais — que indi-
cam como a concepção de ensino proposta se estabele-
As avaliações oficiais: boletins e diplomas ce no tratamento da área. Para cada bloco de conteúdo
correspondem orientações didáticas específicas, que ex-
Um outro lado na questão da avaliação é o aspecto pressam como determinados conteúdos podem ser tra-
normativo do sistema de ensino que diz respeito ao con- tados.
trole social. À escola é socialmente delegada a tarefa de Assim, as orientações didáticas permeiam as explici-
promover o ensino e a aprendizagem de determinados tações sobre o ensinar e o aprender, bem como as ex-
conteúdos e contribuir de maneira efetiva na formação plicações dos blocos de conteúdos ou temas, uma vez
de seus cidadãos; por isso, a escola deve responder à so- que a opção de recorte de conteúdos para uma situação
ciedade por essa responsabilidade. Para tal, estabelece de ensino e aprendizagem é também determinada pelo
uma série de instrumentos para registro e documentação enfoque didático da área.
da avaliação e cria os atestados oficiais de aproveitamen- No entanto, há determinadas considerações a fazer a
to. Assim, as notas, conceitos, boletins, recuperações, respeito do trabalho em sala de aula, que extravasam as
aprovações, reprovações, diplomas, etc., fazem parte das fronteiras de um tema ou área de conhecimento. Estas
decisões que o professor deve tomar em seu dia-a-dia considerações evidenciam que o ensino não pode estar
para responder à necessidade de um testemunho oficial limitado ao estabelecimento de um padrão de inter-
e social do aproveitamento do aluno. O professor pode venção homogêneo e idêntico para todos os alunos. A
aproveitar os momentos de avaliação bimestral ou se- prática educativa é bastante complexa, pois o contexto
mestral, quando precisa dar notas ou conceitos, para de sala de aula traz questões de ordem afetiva, emocio-
sistematizar os procedimentos que selecionou para o nal, cognitiva, física e de relação pessoal. A dinâmica dos
processo de avaliação, em função das necessidades psi- acontecimentos em uma sala de aula é tal que mesmo
copedagógicas. uma aula planejada, detalhada e consistente dificilmen-
É importante ressaltar a diferença que existe entre a te ocorre conforme o imaginado: olhares, tons de voz,
comunicação da avaliação e a qualificação. manifestações de afeto ou desafeto e diversas outras va-
Uma coisa é a necessidade de comunicar o que se riáveis interferem diretamente na dinâmica prevista. No
observou na avaliação, isto é, o retorno que o professor texto que se segue, são apontados alguns tópicos sobre
dá aos alunos e aos pais do que pôde observar sobre didática considerados essenciais pela maioria dos profis-
o processo de aprendizagem, incluindo também o diá- sionais em educação: autonomia; diversidade; interação
logo entre a sua avaliação e a auto avaliação realizada e cooperação; disponibilidade para a aprendizagem; or-
pelo aluno. Outra coisa é a qualificação que se extrai ganização do tempo; organização do espaço; e seleção
dela, e se expressa em notas ou conceitos, histórico es- de material.
colar, boletins, diplomas, e cumprem uma função social.
Se a comunicação da avaliação estiver pautada apenas Autonomia
em qualificações, pouco poderá contribuir para o avan-
ço significativo das aprendizagens; mas, se as notas não Nos Parâmetros Curriculares Nacionais a autonomia
forem o único canal que o professor oferece de comu- é tomada ao mesmo tempo como capacidade a ser de-
nicação sobre a avaliação, podem constituir-se uma re- senvolvida pelos alunos e como princípio didático geral,
ferência importante, uma vez que já se instituem como orientador das práticas pedagógicas.
representação social do aproveitamento escolar. A realização dos objetivos propostos implica necessa-
riamente que sejam desde sempre praticados, pois não
Orientações didáticas se desenvolve uma capacidade sem exercê-la. Por isso
didática é um instrumento de fundamental importância,
A conquista dos objetivos propostos para o ensino na medida em que possibilita e conforma as relações que
fundamental depende de uma prática educativa que te- alunos e educadores estabelecem entre si, com o conhe-
nha como eixo a formação de um cidadão autônomo e cimento que constroem, com a tarefa que realizam e com
participativo. Nessa medida, os Parâmetros Curriculares a instituição escolar. Por exemplo, para que possa refletir,
Nacionais incluem orientações didáticas, que são subsí- participar e assumir responsabilidades, o aluno necessi-
dios à reflexão sobre como ensinar. ta estar inserido em um processo educativo que valorize
Na visão aqui assumida, os alunos constroem signifi- tais ações.
cados a partir de múltiplas e complexas interações. Cada Este é o sentido da autonomia como princípio didáti-
aluno é sujeito de seu processo de aprendizagem, en- co geral proposto nos Parâmetros Curriculares Nacionais:
quanto o professor é o mediador na interação dos alunos uma opção metodológica que considera a atuação do
com os objetos de conhecimento; o processo de apren- aluno na construção de seus próprios conhecimentos,
dizagem compreende também a interação dos alunos valoriza suas experiências, seus conhecimentos prévios
e a interação professor-aluno e aluno-aluno, buscando
LEGISLAÇÃO

entre si, essencial à socialização. Assim sendo, as orienta-


ções didáticas apresentadas enfocam fundamentalmente essencialmente a passagem progressiva de situações em
a intervenção do professor na criação de situações de que o aluno é dirigido por outrem a situações dirigidas
aprendizagem coerentes com essa concepção. pelo próprio aluno.

85
A autonomia refere-se à capacidade de posicionar-se, de poder e autoridade é possível que alguém exerça a
elaborar projetos pessoais e participar enunciativa e coo- capacidade de agir com autonomia em algumas situações
perativamente de projetos coletivos, ter discernimento, e não noutras, nas quais não pode interferir. É portanto
organizar-se em função de metas eleitas, governar-se, necessário que a escola busque sua extensão aos
participar da gestão de ações coletivas, estabelecer crité- diferentes campos de atuação. Para tanto, é necessário
rios e eleger princípios éticos, etc. Isto é, a autonomia fala que as decisões assumidas pelo professor auxiliem os
de uma relação emancipada, íntegra com as diferentes alunos a desenvolver essas atitudes e a aprender os
dimensões da vida, o que envolve aspectos intelectuais, procedimentos adequados a uma postura autônoma, que
morais, afetivos e sociopolíticos. Ainda que na escola se só será efetivamente alcançada mediante investimentos
destaque a autonomia na relação com o conhecimento sistemáticos ao longo de toda a escolaridade.
— saber o que se quer saber, como fazer para buscar É importante ressaltar que a construção da autonomia
informações e possibilidades de desenvolvimento de tal não se confunde com atitudes de independência. O
conhecimento, manter uma postura crítica comparando aluno pode ser independente para realizar uma série
diferentes visões e reservando para si o direito de con- de atividades, enquanto seus recursos internos para se
clusão, por exemplo —, ela não ocorre sem o desen- governar são ainda incipientes. A independência é uma
volvimento da autonomia moral (capacidade ética) e manifestação importante para o desenvolvimento, mas
emocional que envolvem auto respeito, respeito mútuo, não deve ser confundida com autonomia.
segurança, sensibilidade, etc.
Como no desenvolvimento de outras capacidades, Diversidade
a aprendizagem de determinados procedimentos e ati-
tudes — tais como planejar a realização de uma tare- As adaptações curriculares previstas nos níveis de
fa, identificar formas de resolver um problema, formular concretização apontam a necessidade de adequar ob-
boas perguntas e boas respostas, levantar hipóteses e jetivos, conteúdos e critérios de avaliação, de forma a
buscar meios de verificá-las, validar raciocínios, resolver atender a diversidade existente no País. Essas adapta-
conflitos, cuidar da própria saúde e da de outros, colo- ções, porém, não dão conta da diversidade no plano dos
car-se no lugar do outro para melhor refletir sobre uma indivíduos em uma sala de aula.
determinada situação, considerar as regras estabeleci- Para corresponder aos propósitos explicitados nestes
das — é o instrumento para a construção da autonomia. parâmetros, a educação escolar deve considerar a diver-
Procedimentos e atitudes dessa natureza são objeto de sidade dos alunos como elemento essencial a ser tratado
aprendizagem escolar, ou seja, a escola pode ensiná-los para a melhoria da qualidade de ensino e aprendizagem.
planejada e sistematicamente criando situações que au- Atender necessidades singulares de determinados
xiliem os alunos a se tornarem progressivamente mais alunos é estar atento à diversidade: é atribuição do pro-
autônomos. Por isso é importante que desde as séries fessor considerar a especificidade do indivíduo, analisar
iniciais as propostas didáticas busquem, em aproxima- suas possibilidades de aprendizagem e avaliar a eficácia
ções sucessivas, cada vez mais essa meta. das medidas adotadas.
O desenvolvimento da autonomia depende de supor- A atenção à diversidade deve se concretizar em me-
tes materiais, intelectuais e emocionais. didas que levem em conta não só as capacidades inte-
No início da escolaridade, a intervenção do professor lectuais e os conhecimentos de que o aluno dispõe, mas
é mais intensa na definição desses suportes: tempo e for- também seus interesses e motivações. Esse conjunto
ma de realização das atividades, organização dos grupos, constitui a capacidade geral do aluno para aprendizagem
materiais a serem utilizados, resolução de conflitos, cui- em um determinado momento.
dados físicos, estabelecimentos de etapas para a realiza- Desta forma, a atuação do professor em sala de aula
ção das atividades. deve levar em conta fatores sociais, culturais e a história
Também é preciso considerar tanto o trabalho indivi- educativa de cada aluno, como também características
dual como o coletivo-cooperativo. O individual é poten- pessoais de déficit sensorial, motor ou psíquico, ou de
cializado pelas exigências feitas aos alunos para se res- superdotação intelectual. Deve-se dar especial atenção
ponsabilizarem por suas ações, suas ideias, suas tarefas, ao aluno que demonstrar a necessidade de resgatar a
pela organização pessoal e coletiva, pelo envolvimento autoestima. Trata-se de garantir condições de aprendiza-
com o objeto de estudo. gem a todos os alunos, seja por meio de incrementos na
O trabalho em grupo, ao valorizar a interação como intervenção pedagógica ou de medidas extras que aten-
instrumento de desenvolvimento pessoal, exige que os dam às necessidades individuais.
alunos considerem diferenças individuais, tragam contri- A escola, ao considerar a diversidade, tem como valor
buições, respeitem as regras estabelecidas, proponham máximo o respeito às diferenças — não o elogio à desi-
outras, atitudes que propiciam o desenvolvimento da au- gualdade. As diferenças não são obstáculos para o cum-
tonomia na dimensão grupal. primento da ação educativa; podem e devem, portanto,
É importante salientar que a autonomia não é um ser fator de enriquecimento.
estado psicológico geral que, uma vez atingido, esteja Concluindo, a atenção à diversidade é um princípio
garantido para qualquer situação. Por um lado, por comprometido com a equidade, ou seja, com o direito de
LEGISLAÇÃO

envolver a necessidade de conhecimentos e condições todos os alunos realizarem as aprendizagens fundamen-


específicas, uma pessoa pode ter autonomia para atuar tais para seu desenvolvimento e socialização.
em determinados campos e não em outros; por outro,
por implicar o estabelecimento de relações democráticas

86
Interação e cooperação aprendizagem, em função daqueles alunos específicos.
Agrupamentos adequados, que levem em conta a diver-
Um dos objetivos da educação escolar é que os alu- sidade dos alunos, tornam-se eficazes na individualiza-
nos aprendam a assumir a palavra enunciada e a convi- ção do ensino.
ver em grupo de maneira produtiva e cooperativa. Dessa Nas escolas multisseriadas, as decisões sobre agru-
forma, são fundamentais as situações em que possam pamentos adquirem especial relevância. É possível reunir
aprender a dialogar, a ouvir o outro e ajudá-lo, a pe- grupos que não sejam estruturados por série e sim por
dir ajuda, aproveitar críticas, explicar um ponto de vis- objetivos, em que a diferenciação se dê pela exigência
ta, coordenar ações para obter sucesso em uma tarefa adequada ao desempenho de cada um.
conjunta, etc. É essencial aprender procedimentos dessa O convívio escolar pretendido depende do estabe-
natureza e valorizá-los como forma de convívio escolar lecimento de regras e normas de funcionamento e de
e social. Trabalhar em grupo de maneira cooperativa é comportamento que sejam coerentes com os objetivos
sempre uma tarefa difícil, mesmo para adultos convenci- definidos no projeto educativo. A comunicação clara
dos de sua necessidade. dessas normas possibilita a compreensão pelos alunos
A criação de um clima favorável a esse aprendizado das atitudes de disciplina demonstradas pelos professo-
depende do compromisso do professor em aceitar con- res dentro e fora da classe.
tribuições dos alunos (respeitando-as, mesmo quando
apresentadas de forma confusa ou incorreta) e em fa- Disponibilidade para a aprendizagem
vorecer o respeito, por parte do grupo, assegurando a
participação de todos os alunos. Para que uma aprendizagem significativa possa acon-
Assim, a organização de atividades que favoreçam a tecer, é necessária a disponibilidade para o envolvimento
fala e a escrita como meios de reorganização e reconstru- do aluno na aprendizagem, o empenho em estabelecer
ção das experiências compartilhadas pelos alunos ocupa relações entre o que já sabe e o que está aprendendo,
papel de destaque no trabalho em sala de aula. A co- em usar os instrumentos adequados que conhece e dis-
municação propiciada nas atividades em grupo levará os põe para alcançar a maior compreensão possível. Essa
alunos a perceberem a necessidade de dialogar, resolver aprendizagem exige uma ousadia para se colocar proble-
mal-entendidos, ressaltar diferenças e semelhanças, ex- mas, buscar soluções e experimentar novos caminhos, de
plicar e exemplificar, apropriando-se de conhecimentos. maneira totalmente diferente da aprendizagem mecâni-
O estabelecimento de condições adequadas para a ca, na qual o aluno limita seu esforço apenas em memo-
interação não pode estar pautado somente em questões rizar ou estabelecer relações diretas e superficiais.
cognitivas. Os aspectos emocionais e afetivos são tão A aprendizagem significativa depende de uma mo-
relevantes quanto os cognitivos, principalmente para os tivação intrínseca, isto é, o aluno precisa tomar para si a
alunos prejudicados por fracassos escolares ou que não necessidade e a vontade de aprender. Aquele que estuda
estejam interessados no que a escola pode oferecer. A apenas para passar de ano, ou para tirar notas, não terá
afetividade, o grau de aceitação ou rejeição, a compe- motivos suficientes para empenhar-se em profundidade
titividade e o ritmo de produção estabelecidos em um na aprendizagem.
grupo interferem diretamente na produção do trabalho. A disposição para a aprendizagem não depende ex-
clusivamente do aluno, demanda que a prática didática
A participação de um aluno muitas vezes varia em garanta condições para que essa atitude favorável se
função do grupo em que está inserido. manifeste e prevaleça. Primeiramente, a expectativa que
Em síntese, a disponibilidade cognitiva e emocional o professor tem do tipo de aprendizagem de seus alu-
dos alunos para a aprendizagem é fator essencial para nos fica definida no contrato didático estabelecido. Se
que haja uma interação cooperativa, sem depreciação o professor espera uma atitude curiosa e investigativa,
do colega por sua eventual falta de informação ou in- deve propor prioritariamente atividades que exijam essa
compreensão. Aprender a conviver em grupo supõe um postura, e não a passividade. Deve valorizar o processo e
domínio progressivo de procedimentos, valores, normas a qualidade, e não apenas a rapidez na realização. Deve
e atitudes. esperar estratégias criativas e originais e não a mesma
A organização dos alunos em grupos de trabalho in- resposta de todos.
fluencia o processo de ensino e aprendizagem, e pode A intervenção do professor precisa, então, garantir
ser otimizada quando o professor interfere na organiza- que o aluno conheça o objetivo da atividade, situe-se
ção dos grupos. Organizar por ordem alfabética ou por em relação à tarefa, reconheça os problemas que a si-
idade não é a mesma coisa que organizar por gênero ou tuação apresenta, e seja capaz de resolvê-los. Para tal, é
por capacidades específicas; por isso é importante que o necessário que o professor proponha situações didáticas
professor discuta e decida os critérios de agrupamento com objetivos e determinações claros, para que os alu-
dos alunos. Por exemplo: desempenho diferenciado ou nos possam tomar decisões pensadas sobre o encami-
próximo, equilíbrio entre meninos e meninas, afinidades nhamento de seu trabalho, além de selecionar e tratar
para o trabalho e afetividade, possibilidade de coopera- ajustadamente os conteúdos. A complexidade da ativi-
ção, ritmo de trabalho, etc. dade também interfere no envolvimento do aluno. Um
LEGISLAÇÃO

Não existe critério melhor ou pior de organização de nível de complexidade muito elevado, ou muito baixo,
grupos para uma atividade. É necessário que o professor não contribui para a reflexão e o debate, situação que
decida a forma de organização social em cada tipo de indica a participação ativa e compromissada do aluno
atividade, em cada momento do processo de ensino e no processo de aprendizagem. As atividades propostas

87
precisam garantir organização e ajuste às reais possibili- Em geral, os alunos buscam corresponder às expec-
dades dos alunos, de forma que cada uma não seja nem tativas de aprendizagem significativa, desde que haja um
muito difícil nem demasiado fácil. Os alunos devem po- clima favorável de trabalho, no qual a avaliação e a ob-
der realizá-la numa situação desafiadora. servação do caminho por eles percorrido seja, de fato,
instrumento de autorregulação do processo de ensino e
Nesse enfoque de abordagem profunda da aprendi- aprendizagem.
zagem, o tempo reservado para a atuação dos alunos é Quando não se instaura na classe um clima favorável
determinante. Se a exigência é de rapidez, a saída mais de confiança, compromisso e responsabilidade, os enca-
comum é estudar de forma superficial. O professor preci- minhamentos do professor ficam comprometidos.
sa buscar um equilíbrio entre as necessidades da apren-
dizagem e o exíguo tempo escolar, coordenando-o para Organização do tempo
cada proposta que encaminha.
Outro fator que interfere na disponibilidade do aluno A consideração do tempo como variável que interfere
para a aprendizagem é a unidade entre escola, socieda- na construção da autonomia permite ao professor criar
de e cultura, o que exige trabalho com objetos socio- situações em que o aluno possa progressivamente con-
culturais do cotidiano extraescolar, como, por exemplo, trolar a realização de suas atividades. Por meio de erros e
jornais, revistas, filmes, instrumentos de medida, etc., acertos, o aluno toma consciência de suas possibilidades
sem esvaziá-los de significado, ou seja, sem que percam e constrói mecanismos de autorregulação que possibili-
sua função social real, contribuindo, assim, para imprimir tam decidir como alocar seu tempo.
sentido às atividades escolares. Por essa razão, são importantes as atividades em que
Mas isso tudo não basta. Mesmo garantindo todas o professor seja somente um orientador do trabalho, ca-
essas condições, pode acontecer que a ansiedade pre- bendo aos alunos o planejamento e a execução, o que os
sente na situação de aprendizagem se torne muito in- levará a decidir e a vivenciar o resultado de suas decisões
tensa e impeça uma atitude favorável. A ansiedade pode sobre o uso do tempo.
estar ligada ao medo de fracasso, desencadeado pelo
Delegar esse controle não quer dizer, de modo al-
sentimento de incapacidade para realização da tarefa ou
gum, que os alunos devam arbitrar livremente a respeito
de insegurança em relação à ajuda que pode ou não re-
de como e quando atuar na escola. A vivência do con-
ceber de seu professor, ou de seus colegas, e consolidar
trole do tempo pelos alunos se insere dentro de limites
um bloqueio para aprender.
criteriosamente estabelecidos pelo professor, que se tor-
Quando o sujeito está aprendendo, se envolve intei-
narão menos restritivos à medida que o grupo desenvol-
ramente. O processo, assim como seu resultado, repercu-
va sua autonomia.
tem de forma global. Assim, o aluno, ao desenvolver as
Assim, é preciso que o professor defina claramente as
atividades escolares, aprende não só sobre o conteúdo
em questão mas também sobre o modo como aprende, atividades, estabeleça a organização em grupos, dispo-
construindo uma imagem de si como estudante. Essa au- nibilize recursos materiais adequados e defina o período
toimagem é também influenciada pelas representações de execução previsto, dentro do qual os alunos serão li-
que o professor e seus colegas fazem dele e, de uma for- vres para tomar suas decisões. Caso contrário, a prática
ma ou outra, são explicitadas nas relações interpessoais de sala de aula torna-se insustentável pela indisciplina
do convívio escolar. Falta de respeito e forte competitivi- que gera.
dade, se estabelecidas na classe, podem reforçar os sen- Outra questão relevante é o horário escolar, que deve
timentos de incompetência de certos alunos e contribuir obedecer ao tempo mínimo estabelecido pela legislação
de forma efetiva para consolidar o seu fracasso. vigente para cada uma das áreas de aprendizagem do
O aluno com um autoconceito negativo, que se con- currículo. A partir desse critério, e em função das opções
sidera fracassado na escola, ou admite que a culpa é sua do projeto educativo da escola, é que se poderá fazer a
e se convence de que é um incapaz, ou vai buscar ao distribuição horária mais adequada.
seu redor outros culpados: o professor é chato, as lições No terceiro e no quarto ciclos, nos quais as aulas se
não servem para nada. Acaba por desenvolver compor- organizam por áreas com professores específicos e tem-
tamentos problemáticos e de indisciplina. po previamente estabelecido, é interessante pensar que
uma das maneiras de otimizar o tempo escolar é orga-
Aprender é uma tarefa árdua, na qual se convive o nizar aulas duplas, pois assim o professor tem condições
tempo inteiro com o que ainda não é conhecido. Para o de propor atividades em grupo que demandam maior
sucesso da empreitada, é fundamental que exista uma tempo (aulas curtas tendem a ser expositivas).
relação de confiança e respeito mútuo entre professor e
aluno, de maneira que a situação escolar possa dar conta Organização do espaço
de todas as questões de ordem afetiva. Mas isso não fica
garantido apenas e exclusivamente pelas ações do pro- Uma sala de aula com carteiras fixas dificulta o traba-
fessor, embora sejam fundamentais dada a autoridade lho em grupo, o diálogo e a cooperação; armários tran-
que ele representa, mas também deve ser conseguido cados não ajudam a desenvolver a autonomia do aluno,
LEGISLAÇÃO

nas relações entre os alunos. O trabalho educacional in- como também não favorecem o aprendizado da preser-
clui as intervenções para que os alunos aprendam a res- vação do bem coletivo. A organização do espaço refle-
peitar diferenças, a estabelecer vínculos de confiança e te a concepção metodológica adotada pelo professor e
uma prática cooperativa e solidária. pela escola.

88
Em um espaço que expresse o trabalho proposto nos A menção ao uso de computadores, dentro de um
Parâmetros Curriculares Nacionais é preciso que as car- amplo leque de materiais, pode parecer descabida pe-
teiras sejam móveis, que as crianças tenham acesso aos rante as reais condições das escolas, pois muitas não têm
materiais de uso frequente, as paredes sejam utilizadas sequer giz para trabalhar.
para exposição de trabalhos individuais ou coletivos, de- Sem dúvida essa é uma preocupação que exige posi-
senhos, murais. cionamento e investimento em alternativas criativas para
Nessa organização é preciso considerar a possibilida- que as metas sejam atingidas.
de de os alunos assumirem a responsabilidade pela de-
coração, ordem e limpeza da classe. Quando o espaço Considerações finais
é tratado dessa maneira, passa a ser objeto de aprendi-
zagem e respeito, o que somente ocorrerá por meio de A qualidade da atuação da escola não pode depender
investimentos sistemáticos ao longo da escolaridade. somente da vontade de um ou outro professor. É preciso
É importante salientar que o espaço de aprendizagem a participação conjunta dos profissionais (orientadores,
não se restringe à escola, sendo necessário propor supervisores, professores polivalentes e especialistas)
atividades que ocorram fora dela. A programação para tomada de decisões sobre aspectos da prática didá-
deve contar com passeios, excursões, teatro, cinema, tica, bem como sua execução. Essas decisões serão ne-
visitas a fábricas, marcenarias, padarias, enfim, com as cessariamente diferenciadas de escola para escola, pois
possibilidades existentes em cada local e as necessidades dependem do ambiente local e da formação dos pro-
de realização do trabalho escolar. fessores.
No dia-a-dia devem-se aproveitar os espaços exter- As metas propostas não se efetivarão a curto prazo. É
nos para realizar atividades cotidianas, como ler, contar necessário que os profissionais estejam comprometidos,
histórias, fazer desenho de observação, buscar materiais disponham de tempo e de recursos. Mesmo em condi-
para coleções. Dada a pouca infraestrutura de muitas ções ótimas de recursos, dificuldades e limitações sem-
escolas, é preciso contar com a improvisação de espa- pre estarão presentes, pois na escola se manifestam os
ços para o desenvolvimento de atividades específicas de conflitos existentes na sociedade.
laboratório, teatro, artes plásticas, música, esportes, etc. As considerações feitas pretendem auxiliar os profes-
Concluindo, a utilização e a organização do espaço e sores na reflexão sobre suas práticas e na elaboração do
do tempo refletem a concepção pedagógica e interferem projeto educativo de sua escola. Não são regras a respei-
diretamente na construção da autonomia. to do que devem ou não fazer. No entanto, é necessário
estabelecer acordos nas escolas em relação às estraté-
Seleção de material gias didáticas mais adequadas. A qualidade da interven-
ção do professor sobre o aluno ou grupo de alunos, os
Todo material é fonte de informação, mas nenhum materiais didáticos, horários, espaço, organização e es-
deve ser utilizado com exclusividade. É importante haver trutura das classes, a seleção de conteúdos e a propo-
diversidade de materiais para que os conteúdos possam sição de atividades concorrem para que o caminho seja
ser tratados da maneira mais ampla possível. percorrido com sucesso.
O livro didático é um material de forte influência na
prática de ensino brasileira. É preciso que os professores Objetivos gerais do ensino fundamental
estejam atentos à qualidade, à coerência e a eventuais
restrições que apresentem em relação aos objetivos edu- Os Parâmetros Curriculares Nacionais indicam como
cacionais propostos. Além disso, é importante considerar objetivos do ensino fundamental que os alunos sejam
que o livro didático não deve ser o único material a ser capazes de:
utilizado, pois a variedade de fontes de informação é que - compreender a cidadania como participação social
contribuirá para o aluno ter uma visão ampla do conhe- e política, assim como exercício de direitos e deve-
cimento. res políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia,
Materiais de uso social frequente são ótimos recur- atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às
sos de trabalho, pois os alunos aprendem sobre algo que injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o
tem função social real e se mantêm atualizados sobre o mesmo respeito;
que acontece no mundo, estabelecendo o vínculo neces- - posicionar-se de maneira crítica, responsável e
sário entre o que é aprendido na escola e o conhecimen- construtiva nas diferentes situações sociais, utili-
to extraescolar. zando o diálogo como forma de mediar conflitos e
A utilização de materiais diversificados como jornais, de tomar decisões coletivas;
revistas, folhetos, propagandas, computadores, calcula- - conhecer características fundamentais do Brasil nas
doras, filmes, faz o aluno sentir-se inserido no mundo à dimensões sociais, materiais e culturais como meio
sua volta. para construir progressivamente a noção de iden-
É indiscutível a necessidade crescente do uso de tidade nacional e pessoal e o sentimento de perti-
LEGISLAÇÃO

computadores pelos alunos como instrumento de nência ao País;


aprendizagem escolar, para que possam estar atualizados - conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio
em relação às novas tecnologias da informação e se sociocultural brasileiro, bem como aspectos socio-
instrumentalizarem para as demandas sociais presentes culturais de outros povos e nações, posicionando-
e futuras. -se contra qualquer discriminação baseada em di-

89
ferenças culturais, de classe social, de crenças, de cada área. Os Objetivos Gerais do Ensino Fundamental
sexo, de etnia ou outras características individuais e os Objetivos Gerais de Área para o Ensino Fundamen-
e sociais; tal foram formulados de modo a respeitar a diversidade
- perceber-se integrante, dependente e agente trans- social e cultural e são suficientemente amplos e abran-
formador do ambiente, identificando seus elemen- gentes para que possam conter as especificidades locais.
tos e as interações entre eles, contribuindo ativa- O ensinar e o aprender em cada ciclo enfoca as ne-
mente para a melhoria do meio ambiente; cessidades e possibilidades de trabalho da área no ciclo
- desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e indica os Objetivos de Ciclo por Área, estabelecendo as
e o sentimento de confiança em suas capacidades conquistas intermediárias que os alunos deverão atingir
afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de inter- para que progressivamente cumpram com as intenções
-relação pessoal e de inserção social, para agir educativas gerais. Segue-se a apresentação dos Blocos
com perseverança na busca de conhecimento e no de Conteúdos e/ou Organizações Temáticas de Área por
exercício da cidadania; Ciclo. Esses conteúdos estão detalhados em um texto
- conhecer e cuidar do próprio corpo, valorizando explicativo dos conteúdos que abrangem e das princi-
e adotando hábitos saudáveis como um dos as- pais orientações didáticas que envolvem. Nesta primeira
pectos básicos da qualidade de vida e agindo com fase de definição dos Parâmetros Curriculares Nacionais,
responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde segundo prioridade dada pelo Ministério da Educação e
coletiva; do Desporto, há especificação dos Blocos de Conteúdos
- utilizar as diferentes linguagens — verbal, matemá- apenas para primeiro e segundo ciclos.
tica, gráfica, plástica e corporal — como meio para A eleição de objetivos e conteúdos de área por ciclo
produzir, expressar e comunicar suas ideias, inter- está diretamente relacionada com os Objetivos Gerais do
pretar e usufruir das produções culturais, em con- Ensino Fundamental e com os Objetivos Gerais de Área,
textos públicos e privados, atendendo a diferentes da mesma forma que também expressa a concepção de
intenções e situações de comunicação; área adotada.
- saber utilizar diferentes fontes de informação e re- Os Critérios de Avaliação explicitam as aprendizagens
cursos tecnológicos para adquirir e construir co- fundamentais a serem realizadas em cada ciclo e se cons-
nhecimentos; tituem em indicadores para a reorganização do processo
- questionar a realidade formulando-se problemas e de ensino e aprendizagem. Vale reforçar que tais critérios
tratando de resolvê-los, utilizando para isso o pen- não devem ser confundidos com critérios de aprovação e
samento lógico, a criatividade, a intuição, a capaci- reprovação de alunos.
dade de análise crítica, selecionando procedimen- O último item são as Orientações Didáticas, que dis-
tos e verificando sua adequação. cutem questões sobre a aprendizagem de determinados
conteúdos e sobre como ensiná-los de maneira coerente
Estrutura organizacional dos Parâmetros Curricu- com a fundamentação explicitada anteriormente.
lares Nacionais

Todas as definições conceituais, bem como a estru- BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO


tura organizacional dos Parâmetros Curriculares Nacio- FUNDAMENTAL. PARÂMETROS
nais, foram pautadas nos Objetivos Gerais do Ensino CURRICULARES NACIONAIS: ARTE.
Fundamental, que estabelecem as capacidades relativas BRASÍLIA: MEC/SEF, 2ª ED. (1ª A 4ª SÉRIE),
aos aspectos cognitivo, afetivo, físico, ético, estético, de RIO DE JANEIRO: DP&A, 2000. VOLUME 6
atuação e de inserção social, de forma a expressar a for- (1ª PARTE).
mação básica necessária para o exercício da cidadania.
Essas capacidades, que os alunos devem ter adquirido ao
término da escolaridade obrigatória, devem receber uma Na proposta geral dos Parâmetros Curriculares Na-
abordagem integrada em todas as áreas constituintes do cionais, Arte tem uma função tão importante quanto
ensino fundamental. A seleção adequada dos elementos à dos outros conhecimentos no processo de ensino e
da cultura — conteúdos — é que contribuirá para o de- aprendizagem. A área de Arte está relacionada com as
senvolvimento de tais capacidades arroladas como Obje- demais áreas e tem suas especificidades.
tivos Gerais do Ensino Fundamental. A educação em arte propicia o desenvolvimento do
Os documentos das áreas têm uma estrutura comum: pensamento artístico e da percepção estética, que ca-
iniciam com a exposição da Concepção de Área para racterizam um modo próprio de ordenar e dar sentido
todo o ensino fundamental, na qual aparece definida a à experiência humana: o aluno desenvolve sua sensibili-
fundamentação teórica do tratamento da área nos Parâ- dade, percepção e imaginação, tanto ao realizar formas
metros Curriculares Nacionais. artísticas quanto na ação de apreciar e conhecer as for-
Os Objetivos Gerais de Área, da mesma forma que os mas produzidas por ele e pelos colegas, pela natureza e
Objetivos Gerais do Ensino Fundamental, expressam ca- nas diferentes culturas.
pacidades que os alunos devem adquirir ao final da esco- Esta área também favorece ao aluno relacionar-se
LEGISLAÇÃO

laridade obrigatória, mas diferenciam-se destes últimos criadoramente com as outras disciplinas do currículo.
por explicitar a contribuição específica dos diferentes Uma função igualmente importante que o ensino da
âmbitos do saber presentes na cultura; trata-se, portanto, arte tem a cumprir diz respeito à dimensão social das
de objetivos vinculados ao corpo de conhecimentos de manifestações artísticas. A arte de cada cultura revela o

90
modo de perceber, sentir e articular significados e valo- da expressão artística da criança e procurando definir a
res que governam os diferentes tipos de relações entre contribuição específica da arte para a educação do ser
os indivíduos na sociedade.  humano.
A arte também está presente na sociedade em pro- No início da década de 70 autores responsáveis pela
fissões que são exercidas nos mais diferentes ramos mudança de rumo do ensino de arte nos Estados Unidos
de atividades; o conhecimento em artes é necessário afirmavam que o desenvolvimento artístico é resultado
no mundo do trabalho e faz parte do desenvolvimento de formas complexas de aprendizagem e que, portan-
profissional dos cidadãos. O conhecimento da arte abre to, não ocorre automaticamente à medida que a criança
perspectivas para que o aluno tenha uma compreensão cresce; é tarefa do professor propiciar essa aprendizagem
do mundo na qual a dimensão poética esteja presente: por meio da instrução. Segundo esses autores, as habili-
a arte ensina que é possível transformar continuamen- dades artísticas se desenvolvem através de questões que
te a existência, que é preciso mudar referências a cada se apresentam à criança no decorrer de suas experiências
momento, ser flexível. Isso quer dizer que criar e conhe- de buscar meios para transformar idéias, sentimentos e
cer são indissociáveis e a flexibilidade é condição funda- imagens num objeto material. Tal experiência pode ser
mental para aprender.  orientada pelo professor e nisso consiste sua contribui-
ção para a educação da criança no campo da arte.
A ARTE E A EDUCAÇÃO
HISTÓRICO DO ENSINO DE ARTE NO BRASIL E
Desde o início da história da humanidade a arte sem- PERSPECTÍVAS
pre esteve presente em praticamente todas as forma-
ções cultura  No entanto, a área que trata da educação Ao recuperar, mesmo que brevemente, história do
escolar em artes tem um percurso relativamente recente ensino de Arte no Brasil, pode-se observar a integração
e coincide com as transformações educacionais que ca- de diferentes orientações quanto às suas finalidades, à
racterizaram o século XX em várias partes do mundo. As formação e atuação dos professores, mas, principal-
pesquisas desenvolvidas a partir do início do século em mente, quanto às políticas educacionais e os enfoques
vários campos das ciências humanas trouxeram dados filosóficos, pedagógicos e estéticos. O ensino de arte é
importantes sobre o desenvolvimento da criança, sobre identificado pela visão humanista e filosófica que demar-
o processo criador, sobre a arte de outras culturas. Na cou as tendências tradicionalistas e escolanovista. Essas
confluência da antropologia, da filosofia, da psicologia, tendências vigoraram desde o início do século e ainda
da psicanálise, da crítica de arte, da psicopedagogia e hoje participam das escolhas pedagógicas e estéticas de
das tendências estéticas da modernidade surgiram au- professores de Arte. 
tores que formularam os princípios inovadores para o Na primeira metade do século XX, as disciplinas De-
ensino de artes plásticas, música, teatro e dança. Tais senho, Trabalhos Manuais, Música e Canto Orfeônico
princípios reconheciam a arte da criança como manifes- faziam parte dos programas das escolas primárias e se-
tação espontânea e auto-expressiva: valorizavam a livre cundárias, concentrando o conhecimento na transmissão
expressão e a sensibilização para a experimentação artís- de padrões e modelos das culturas predominantes. Na
tica como orientações que visavam o desenvolvimento escola tradicional, valorizavam-se principalmente as ha-
do potencial criador, ou seja, eram propostas centradas bilidades manuais, os “dons artísticos”, os hábitos de or-
na questão do desenvolvimento do aluno. ganização e precisão, mostrando ao mesmo tempo uma
É importante salientar que tais orientações trouxeram visão utilitarista e imediatista da arte. Os professores tra-
uma contribuição inegável no sentido da valorização da balhavam com exercícios e modelos convencionais sele-
produção criadora da criança, o que não ocorria na es- cionados por eles em manuais e livros didáticos.
cola tradicional. A disciplina Desenho, apresentada sob a forma de
Ao professor destinava-se um papel cada vez mais Desenho Geométrico, Desenho do Natural e Desenho
irrelevante e passivo. Pedagógico, era considerada mais por seu aspecto fun-
O princípio da livre expressão enraizou-se e espalhou- cional do que uma experiência em arte; ou seja, todas
-se pelas escolas, acompanhado pelo “imprescindível” as orientações e conhecimentos visavam uma aplicação
conceito de criatividade, curioso fenômeno de consenso imediata e a qualificação para o trabalho.
pedagógico, presença obrigatória em qualquer planeja- Em Música, a tendência tradicionalista teve seu repre-
mento, sem que parecesse necessário definir o que esse sentante máximo no Canto Orfeônico, projeto preparado
termo queria dizer. pelo compositor Heitor Villa-Lobos, na década de 30.
O objetivo fundamental era o de facilitar o desenvol- O Canto Orfeônico difundia idéias de coletividade e
vimento criador da criança. No entanto, o que se desen- civismo, princípios condizentes com o momento político
cadeou como resultado da aplicação indiscriminada de de então. Depois de cerca de trinta anos de atividades
idéias vagas e imprecisas sobre a função da educação em todo o Brasil, o Canto Orfeônico foi substituído pela
artística foi uma descaracterização progressiva da área. Educação Musical, criada pela Lei de Diretrizes e Bases
Tal estrutura conceitual foi perdendo o sentido, principal- da Educação Brasileira de 1961, vigorando efetivamente
mente para os alunos. a partir de meados da década de 60.
LEGISLAÇÃO

Na entrada da década de 60, arte-educadora, princi- Entre os anos 20 e 70, as escolas brasileiras viveram
palmente americanos, lançaram as bases para uma nova outras experiências no âmbito do ensino e aprendizagem
mudança de foco dentro do ensino de arte, questionan- de arte, fortemente sustentadas pela estética modernis-
do basicamente a idéia do desenvolvimento espontâneo ta e com base na tendência escolanovista. O ensino de

91
arte volta-se para o desenvolvimento natural da criança, bastavam propostas de atividades expressivas espontâ-
centrado no respeito às suas necessidades e aspirações, neas para que os alunos conhecessem muito bem músi-
valorizando suas formas de expressão e de compreensão ca, artes plásticas, cênica, dança etc.
do mundo. A partir dos anos 80 constitui-se o movimento Arte-E-
Os professores da época estudam as novas teorias ducação, inicialmente com a finalidade de conscientizar e
sobre o ensino de arte divulgada no Brasil e no exterior, organizar os profissionais, resultando na mobilização de
as quais favorecem o rompimento com a rigidez esté- grupos de professores de arte, tanto da educação formal
tica, marcadamente reprodutivista da escola tradicional. como da informal. Em 1988, com a promulgação da Cons-
Com a Educação Musical, incorporaram-se nas escolas tituição, iniciam-se as discussões sobre a nova Lei de Dire-
também os novos métodos que estavam sendo dissemi- trizes e Bases da Educação Nacional, que seria sancionada
nados na Europa. Contrapondo-se ao Canto Orfeônico, apenas em 20 de dezembro de 1996. Convictos da im-
passa a existir no ensino de música um outro enfoque, portância de acesso escolar dos alunos de ensino básico
quando a música pode ser sentida, tocado, dançado, também à área de Arte, houve manifestações e protestos
além de cantada.  de inúmeros educadores contrários a uma das versões da
No período que vai dos anos 20 aos dias de hoje, fai- referida lei que retirava a obrigatoriedade da área.
xa de tempo concomitante àquela em que se assistiu a Com a Lei no 9.394/96, revogam-se as disposições
várias tentativas de trabalhar-se a arte também fora das anteriores e Arte é considerada obrigatória na educação
escolas, vive-se o crescimento de movimentos culturais, básica: “O ensino da arte constituirá componente curri-
anunciando a modernidade e vanguardas. cular obrigatório, nos diversos níveis da educação bási-
Foi marcante para a caracterização de um pensamen- ca, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos
to modernista a “Semana de Arte Moderna de São Paulo”, alunos” (artigo 26, parágrafo 2o).
em 1922, na qual estiveram envolvidos artistas de várias É com este cenário que se chegou ao final da déca-
modalidades: artes plásticas, música, poesia, dança, etc. da de 90, mobilizando novas tendências curriculares em
Em fins dos anos 60 e na década de 70 nota-se uma arte, pensando no terceiro milênio. São características
tentativa de aproximação entre as manifestações artís- desse novo marco curricular as reivindicações de identi-
ticas ocorridas fora do espaço escolar e a que se ensina ficar a área por Arte (e não mais por Educação Artística)
dentro dele: é a época dos festivais da canção e das no- e de incluí-la na estrutura curricular como área com con-
teúdos próprios ligados à cultura artística e não apenas
vas experiências teatrais, quando as escolas promovem
como atividade.
festivais de música e teatro com grande mobilização dos
Dentre as várias propostas que estão sendo difundi-
estudantes.
das no Brasil na transição para o século XXI, destacam-se
Até os anos 60, existiam pouquíssimos cursos de for-
aquelas que têm se afirmado pela abrangência e por en-
mação de professores nesse campo, e professores de
volver ações que, sem dúvida, estão interferindo na me-
quaisquer matérias ou pessoas com alguma habilidade
lhoria do ensino e da aprendizagem de arte.
na área (artistas e estudiosos de cursos de belas-artes, de
conservatórios, etc.) poderiam assumir as disciplinas de TEORIA E PRÁTRICA EM ARTE NAS ESCOLAS BRA-
Desenho, Desenho Geométrico, Artes Plásticas e Música. SILEIRAS
Em 1971, através da Lei de Diretrizes e Bases da Educa-
ção Nacional, a arte é incluída no currículo escolar com o A questão central do ensino de arte no Brasil diz
título de Educação Artística, mas é considerada “atividade respeito a um enorme descompasso entre a produção
educativa” e não disciplina. A introdução da Educação Ar- teórica, que tem um trajeto de constantes perguntas e
tística no currículo escolar foi um avanço, principalmente formulações, e o acesso dos professores a essa produ-
se considerar que houve um entendimento em relação à ção, que é dificultado pela fragilidade de sua formação,
arte na formação dos indivíduos, seguindo os ditames de pela pequena quantidade de livros editados sobre o as-
um pensamento renovador. No entanto, o resultado dessa sunto, sem falar nas inúmeras visões preconcebidas que
proposição foi contraditório e paradoxal. Muitos profes- reduzem a atividade artística na escola a um verniz de
sores não estavam habilitados e, menos ainda, prepara- superfície, que visa às comemorações de datas cívicas e
dos para o domínio de várias linguagens, que deveriam enfeitar o cotidiano escolar. 
ser incluídas no conjunto das atividades artísticas (Artes Em muitas escolas ainda se utiliza, por exemplo, os
Plásticas, Educação Musical, Artes Cênicas). desenhos mimeografados com formas estereotipadas
De maneira geral, entre os anos 70 e 80, os antigos para as crianças colorirem ou se apresentam “musiqui-
professores de Artes Plásticas, Desenho, Música, Ar- nhas” indicando ações para a rotina escolar (hora do lan-
tes Industriais, Artes Cênicas e os recém-formados em che, hora da saída).
Educação Artística viram-se responsabilizados por edu-
car os alunos (em escolas de ensino médio) em todas A ARTE COMO OBJETO DE CONHECIMENRO
as linguagens artísticas, configurando-se a formação do
professor polivalente em Arte. Com isso, inúmeros pro- O universo da arte caracteriza um tipo particular de
fessores deixaram as suas áreas específicas de formação conhecimento que o ser humano produz a partir das
e estudos, tentando assimilar superficialmente as demais, perguntas fundamentais que desde sempre se fez com
LEGISLAÇÃO

na ilusão de que as dominariam em seu conjunto. A ten- relação ao seu lugar no mundo
dência passou a ser a diminuição qualitativa dos saberes A manifestação artística tem em comum com o co-
referentes às especificidades de cada uma das formas de nhecimento científico, técnico ou filosófico seu caráter
arte e, no lugar destas, desenvolveu-se a crença de que de criação e inovação.

92
O ser humano sempre organizou e classificou os fe- Assim como cada frase ganha sentido no conjunto
nômenos da natureza, o ciclo das estações, os astros no do texto, realizando o todo da forma literária, cada ele-
céu, as diferentes plantas e animais, as relações sociais, mento visual, musical, dramático ou de movimento tem
políticas e econômicas, para compreender seu lugar no seu lugar e se relaciona com os demais daquela forma
universo, buscando a significação da vida. Tanto a ciência artística específica.
quanto a arte, respondem a essa necessidade através da A forma artística fala por si mesma, independe e vai
construção de objetos de conhecimento que, juntamente além das intenções do artista.
com as relações sociais, políticas e econômicas, sistemas A forma artística pode significar coisas diferentes, re-
filosóficos e éticos, formam o conjunto de manifesta- sultantes da experiência de apreciação de cada um. Seja
ções simbólicas de uma determinada cultura. Ciência e na forma de alegoria, de formulação crítica, de desco-
arte são, assim, produtos que expressam as representa- berta de padrões formais, de propaganda ideológica, de
ções imaginárias das distintas culturas, que se renovam pura poesia, a obra de arte ganha significado na fruição
através dos tempos, construindo o percurso da história de cada espectador.
humana. A própria ideia de ciência como disciplina au- A percepção estética é a chave da comunicação ar-
tônoma, distinta da arte, é produto recente da cultura tística.
ocidental. Mesmo na cultura moderna, a relação entre No processo de conhecimento artístico, do qual faz
arte e ciência apresenta-se de diferentes maneiras, do parte à apreciação estética, o canal privilegiado de com-
início do mundo ocidental até os dias de hoje. preensão é a qualidade da experiência sensível da per-
Os dinamismos do homem que apreende a realidade cepção. Diante de uma obra de arte, habilidades de per-
de forma poética e os do homem que a pensa cientifi- cepção, intuição, raciocínio e imaginação atuam tanto no
camente são vias peculiares e irredutíveis de acesso ao artista quanto no espectador.
conhecimento, mas, ao mesmo tempo, são dois aspectos Quando Guimarães Rosa escreveu: “Nuvens, fiapos de
da unidade psíquica. Há uma tendência cada vez mais sorvete de coco” criou uma forma artística na qual a me-
acentuada nas investigações contemporâneas no sentido táfora, uma maneira especial de utilização da linguagem,
de dimensionar a complementaridade entre arte e ciên- reuniu elementos que, na realidade, estavam separados,
cia, precisando a distinção entre elas e, ao mesmo tempo, mas se juntaram numa frase poética pela ação criadora
integrando-as numa nova compreensão do ser humano. do artista.
A personalidade do artista é ingrediente que se trans-
O CONHECIMENTO ARTÍSTICO COMO PRODUÇÃO forma em gesto criador, fazendo parte da substância
E FRUIÇÃO mesma da obra.
A imaginação criadora transforma a existência huma-
A obra de arte situa-se no ponto de encontro entre o na através da pergunta que dá sentido à aventura de co-
particular e o universal da experiência humana. nhecer: “Já pensou se fosse possível?”.
“Até mesmo asa branca/ Bateu asas do sertão/ Então
eu disse adeus Rosinha/ Guarda contigo meu coração.” O CONHECIMENTO ÁRTÍSTICO COMO REFLEXÃO
(Luís Gonzaga e Humberto Teixeira) Além do conhecimento artístico como experiência
estética direta da obra de arte, o universo da arte contém
No exemplo da canção “Asa Branca”, o voo do pás-
também um outro tipo de conhecimento, gerado pela ne-
saro (experiência humana universal) retrata a figura do
cessidade de investigar o campo artístico como atividade
retirante (experiência particular de algumas regiões).
humana. Tal conhecimento delimita o fenômeno artístico:
Por isso, uma obra de arte não é mais avançada,
- como produto das culturas;
mais evoluída, nem mais correta do que outra qualquer.
- como parte da história;
A obra de arte revela para o artista e para o especta-
- como estrutura formal na qual podem ser identifica-
dor uma possibilidade de existência e comunicação, além
dos os elementos que compõem os trabalhos ar-
da realidade de fatos e relações habitualmente conheci- tísticos e os princípios que regem sua combinação.
dos.
O conhecimento artístico não tem como objetivo Em síntese o conhecimento da arte envolve:
compreender e definir leis gerais que expliquem porque - a experiência de fazer formas artísticas e tudo que
as coisas são como são. entra em jogo nessa ação criadora: recursos pesso-
“Tudo certo como dois e dois são cinco.” (Caetano Ve- ais, habilidades, pesquisa de materiais e técnicas, a
loso) relação entre perceber, imaginar e realizar um tra-
balho de arte;
O artista desafia as coisas como são, para revelar - a experiência de fruir formas artísticas, utilizando
como poderiam ser, segundo certo modo de significar informações e qualidades perceptivas e imaginati-
o mundo que lhe é próprio. vas para estabelecer um contato, uma conversa em
O que distingue essencialmente a criação artística das que as formas signifiquem coisas diferentes para
outras modalidades de conhecimento humano é a qua- cada pessoa;
lidade de comunicação entre os seres humanos que a - a experiência de refletir sobre a arte como objeto
obra de arte propicia, por uma utilização particular das de conhecimento, onde importam dados sobre a
LEGISLAÇÃO

formas de linguagem. cultura em que o trabalho artístico foi realizado, a


A corporificação de ideias e sentimentos do artis- história da arte e os elementos e princípios formais
ta numa forma apreensível pelos sentidos caracteriza a que constituem a produção artística, tanto de artis-
obra artística como produto da criação humana. tas quanto dos próprios alunos.

93
Assim, a partir desse quadro de referências, situa-se a adequados para apresentar as informações, observando
área de Arte dentro dos Parâmetros Curriculares Nacio- sempre a necessidade de introduzir formas artísticas por-
nais como um tipo de conhecimento que envolve tanto que ensinar arte com arte é o caminho mais eficaz.
a experiência de apropriação de produtos artísticos (que É papel da escola incluir as informações sobre a arte
incluem as obras originais e as produções relativas à arte, produzida nos âmbitos regional, nacional e internacional,
tais como textos, reproduções, vídeos, gravações, entre compreendendo criticamente também aquelas produzi-
outros) quanto o desenvolvimento da competência de das pelas mídias para democratizar o conhecimento e
configurar significações através da realização de formas ampliar as possibilidades de participação social do aluno. 
artísticas. O ensino fundamental configura-se como um mo-
Através do convívio com o universo da arte, os alunos mento escolar especial na vida dos alunos, porque é nes-
podem conhecer: se momento de seu desenvolvimento que eles tendem a
- O fazer artístico como experiência poética (a técnica se aproximar mais das questões do universo do adulto
e o fazer como articulação de significados e experi- e tentam compreendê-las dentro de suas possibilidades.
mentação de materiais e suportes variados); O aluno pode observar ainda que os trabalhos artís-
- O fazer artístico como desenvolvimento de poten- ticos envolvem a aquisição de códigos e habilidades que
cialidades: percepção, reflexão, sensibilidade, ima- passa a querer dominar para incorporar em seus traba-
ginação, intuição, curiosidade e flexibilidade; lhos.
- O fazer artístico como experiência de interação (ce- A aprendizagem em arte acompanha o processo de
lebração e simbolização de histórias grupais); desenvolvimento geral da criança e do jovem desse pe-
- O objeto artístico como forma (sua estrutura ou leis ríodo, que observa que sua participação nas atividades
internas de formatividade); do cotidiano social estão envoltas nas regularidades,
- O objeto artístico como produção cultural (docu- acordos, construções e leis que reconhece na dinâmica
mento do imaginário humano, sua historicidade e social da comunidade à qual pertence, pelo fato de se
sua diversidade). perceber como parte constitutiva desta. Cabe também
ao professor tanto alimentar os alunos com informações
A aprendizagem artística envolve, portanto, um con- e procedimentos de artes que podem e querem domi-
junto de diferentes tipos de conhecimentos, que visam à nar quanto saber orientar e preservar o desenvolvimento
criação de significações, exercitando fundamentalmente do trabalho pessoal, proporcionando ao aluno oportuni-
a constante possibilidade de transformação do ser huma- dade de realizar suas próprias escolhas para concretizar
no. projetos pessoais e grupais.
A arte é um modo privilegiado de conhecimento e Com relação aos conteúdos, orienta-se o ensino da
aproximação entre indivíduos de culturas distintas, pois área de modo a acolher a diversidade do repertório cul-
favorece o reconhecimento de semelhanças e diferenças tural que a criança traz para a escola, a trabalhar com
expressas nos produtos artísticos e concepções estéticas, os produtos da comunidade na qual a escola está inse-
num plano que vai além do discurso verbal: uma criança rida e também que se introduza informações da produ-
da cidade, ao observar uma dança indígena, estabelece ção social a partir de critérios de seleção adequados à
um contato com o índio que pode revelar mais sobre o participação do estudante na sociedade como cidadão
valor e a extensão de seu universo do que uma explana- informado.O ensino de Arte é área de conhecimento
ção sobre a função do rito nas comunidades indígenas. com conteúdos específicos e deve ser consolidada como
E vice-versa. parte constitutiva dos currículos escolares, requerendo,
portanto, capacitação dos professores para orientar a
APRENDER E ENSINAR ARTE NO ENSINO FUNDA- formação do aluno.
MENTAL
OBJETIVOS GERAIS DE ARTE PARA O ENSINO
Aprender arte é desenvolver progressivamente um FUNDMENTAL
percurso de criação pessoal cultivado, ou seja, alimen-
tado pelas interações significativas que o aluno realiza No transcorrer do ensino fundamental, o aluno po-
com aqueles que trazem informações pertinentes para o derá desenvolver sua competência estética e artística
processo de aprendizagem (outros alunos, professores, nas diversas modalidades da área de Arte (Artes Visuais,
artistas, especialistas), com fontes de informação (obras, Dança, Música, Teatro), tanto para produzir trabalhos
trabalhos dos colegas, acervos, reproduções, mostras, pessoais e grupais quanto para que possa, progressiva-
apresentações) e com o seu próprio percurso de criador. mente, apreciar, desfrutar, valorizar e julgar os bens artís-
ticos de distintos povos e culturas produzidos ao longo
Ensinar arte em consonância com os modos de aprendi-
da história e na contemporaneidade.
zagem do aluno significa, então, não isolar a escola da
informação sobre a produção histórica e social da arte e,
OS CONTEÚDOS DE ARTE NO ENSINO FUNDA-
ao mesmo tempo, garantir ao aluno a liberdade de ima-
MENTAL
ginar e edificar propostas artísticas pessoais ou grupais
LEGISLAÇÃO

com base em intenções próprias.


Os Parâmetros Curriculares Nacionais enfatizam o en-
Assim, aprender com sentido e prazer está associado
sino e a aprendizagem de conteúdos que colaboram para
à compreensão mais clara daquilo que é ensinado. Cabe
a formação do cidadão, buscando igualdade de partici-
ao professor escolher os modos e recursos didáticos

94
pação e compreensão sobre a produção nacional e inter-
nacional de arte. A seleção e a ordenação de conteúdos BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO
gerais de Arte têm como pressupostos a clarificação de FUNDAMENTAL. PARÂMETROS
alguns critérios, que também encaminham a elaboração CURRICULARES NACIONAIS: EDUCAÇÃO
dos conteúdos de Artes Visuais, Música, Teatro e Dança FÍSICA. BRASÍLIA: MEC/SEF, 2ª ED. (1ª A
e, no conjunto, procuram promover a formação artística 4ª SÉRIE), RIO DE JANEIRO: DP&A, 2000.
e estética do aprendiz e a sua participação na sociedade. VOLUME 7 (1ª PARTE).
O conjunto de conteúdos está articulado dentro do
contexto de ensino e aprendizagem em três eixos nor-
teadores: a produção, a fruição e a reflexão. A produção Os Parâmetros Curriculares Nacionais para a área de
refere-se ao fazer artístico e ao conjunto de questões a Educação Física escolar trazem como contribuição para a
ele relacionadas, no âmbito do fazer do aluno e dos pro- reflexão e discussão da prática pedagógica, três aspectos
dutores sociais de arte.  fundamentais, expostos a seguir.
A fruição refere-se à apreciação significativa de arte e
do universo a ela relacionado. Tal ação contempla a frui- Princípio da inclusão
ção da produção dos alunos e da produção histórico-so-
cial em sua diversidade. A reflexão refere-se à construção A sistematização de objetivos, conteúdos, processos
de conhecimento sobre o trabalho artístico pessoal e dos de ensino e aprendizagem e avaliação tem como meta a
colegas e sobre a arte como produto da história e da inclusão do aluno na cultura corporal de movimento, por
multiplicidade das culturas humanas, com ênfase na for- meio da participação e reflexão concretas e efetivas. Bus-
mação cultivada do cidadão. ca-se reverter o quadro histórico da área de seleção en-
tre indivíduos aptos e inaptos para as práticas corporais,
CRITÉRIOS PARA A SELEÇÃO DE CONTEÚDOS resultante da valorização exacerbada do desempenho e
da eficiência.
É preciso considerar os seguintes critérios:
- conteúdos compatíveis com as possibilidades de Princípio da diversidade
aprendizagem do aluno;
- valorização do ensino de conteúdos básicos de arte O princípio da diversidade aplica-se na construção
necessários à formação do cidadão, considerando, dos processos de ensino e aprendizagem e orienta a
ao longo dos ciclos de escolaridade, manifestações escolha de objetivos e conteúdos, visando a ampliar as
artísticas de povos e culturas de diferentes épocas, relações entre os conhecimentos da cultura corporal de
incluindo a contemporaneidade; movimento e os sujeitos da aprendizagem.
- especificidades do conhecimento e da ação artística. Busca-se legitimar as diversas possibilidades de
aprendizagem que se estabelecem com a consideração
CONTEÚDOS GERAIS DE ARTE das dimensões afetivas, cognitivas, motoras e sociocul-
turais dos alunos.
Os conteúdos gerais de Arte estão propostos para
serem trabalhados de primeira a oitava séries, seguindo Categorias de conteúdos
os critérios para seleção e ordenação dos conteúdos cir-
cunscritos neste documento. Os conteúdos de primeira a Os conteúdos são apresentados segundo sua cate-
quarta séries serão definidos nas modalidades artísticas goria conceitual (fatos, conceitos e princípios), procedi-
específicas. Assim, os conteúdos gerais do ensino funda- mental (ligados ao fazer) e atitudinal (normas, valores
mental em Arte são: e atitudes). Os conteúdos conceituais e procedimentais
- a arte como expressão e comunicação dos indiví- mantêm uma grande proximidade, na medida em que o
duos; objeto central da cultura corporal de movimento gira em
- elementos básicos das formas artísticas, modos de torno do fazer, do compreender e do sentir com o cor-
articulação formal, técnicas, materiais e procedi- po. Incluem-se nessas categorias os próprios processos
mentos na criação em arte; de aprendizagem, organização e avaliação. Os conteú-
- produtores em arte: vidas, épocas e produtos em dos atitudinais apresentam-se como objetos de ensino e
conexões; aprendizagem, e apontam para a necessidade de o aluno
- diversidade das formas de arte e concepções esté- vivênciá-los de modo concreto no cotidiano escolar, bus-
ticas da cultura regional, nacional e internacional: cando minimizar a construção de valores e atitudes por
produções, reproduções e suas histórias; meio do “currículo oculto”.
- a arte na sociedade, considerando os produtores em
arte, as produções e suas formas de documenta- CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA
ção, preservação e divulgação em diferentes cultu-
ras e momentos históricos.2 Influências, tendências e quadro atual
LEGISLAÇÃO

Veja o conteúdo na íntegra acessando o link a seguir: No século XX, a Educação Física escolar sofreu, no
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro06.pdf Brasil, influências de correntes de pensamento filosófico,
tendências políticas, científicas e pedagógicas. Assim, até
2 Fonte: www.educacaotictic.blogspot.com.br
a década de 50, a Educação Física ora sofreu influências

95
provenientes da filosofia positivista, da área médica (por expressiva nas políticas educacionais: a Educação Física
exemplo, o higienismo), de interesses militares (naciona- escolar, que estava voltada principalmente para a esco-
lismo, instrução pré-militar), ora acompanhou as mudan- laridade de quinta a oitava séries do primeiro grau, pas-
ças no próprio pensamento pedagógico (por exemplo, a sou a dar prioridade ao segmento de primeira a quarta
vertente escola-novista na década de 50). séries e também à pré-escola. O objetivo passou a ser
Nesse mesmo período histórico ocorreu a importa- o desenvolvimento psicomotor do aluno, propondo-se
ção de modelos de práticas corporais, como os sistemas retirar da escola a função de promover os esportes de
ginásticos alemão e sueco e o método francês, entre as alto rendimento.
décadas de 10 e 20, e o método desportivo generalizado, O campo de debates se fertilizou e as primeiras pro-
nas décadas de 50 e 60. duções surgiram apontando o rumo das novas tendên-
Contudo, observa-se na história da Educação Física cias da Educação Física. Às recém-criadas organizações
uma distância entre as concepções teóricas e a prática da sociedade civil, bem como entidades estudantis, sin-
real nas escolas. Ou seja, nem sempre os processos de dicais e partidárias, somaram-se setores do meio uni-
ensino e aprendizagem acompanharam as mudanças, às versitário identificados com as tendências progressistas.
vezes bastante profundas, que ocorreram no pensamen- Simultaneamente, a criação dos primeiros cursos de pós-
to pedagógico desta área. Por exemplo, a co-educação -graduação em Educação Física, o retorno de professores
(meninos e meninas na mesma turma) era uma propos- doutorados que estavam fora do Brasil, as publicações
ta dos escola-novistas desde a década de 20, mas essa de um número maior de livros e revistas, bem como o
discussão só alcançou a Educação Física escolar muito aumento do número de congressos e outros eventos
tempo depois. dessa natureza foram fatores que contribuíram para esse
Mais recentemente, na década de 70, a Educação Fí- debate.
sica sofreu, mais uma vez, influências importantes no as- As relações entre Educação Física e sociedade passa-
pecto político. O governo militar investiu nessa disciplina ram a ser discutidas sob a influência das teorias críticas
em função de diretrizes pautadas no nacionalismo, na da educação: seu papel e sua dimensão política foram
integração (entre os Estados) e na segurança nacionais,
questionados.
objetivando tanto a formação de um exército composto
por uma juventude forte e saudável como a desmobi-
ALGUMAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS DA EDU-
lização das forças políticas oposicionistas. As atividades
CAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
esportivas também foram consideradas importantes na
melhoria da força de trabalho para o “milagre econômi-
Em oposição à vertente mais tecnicista, esportivista e
co brasileiro”. Nesse período, estreitaram-se os vínculos
biologicista surgem novas abordagens na Educação Fí-
entre esporte e nacionalismo. Um bom exemplo é o uso
sica escolar a partir do final da década de 70, inspiradas
que se fez da campanha da seleção brasileira de futebol,
na Copa do Mundo de 1970. no momento histórico social pelo qual passou o país, nas
Em relação ao âmbito escolar, a partir do Decreto no novas tendências da educação de uma maneira geral,
69.450, de 1971, a Educação Física passou a ser conside- além de questões específicas da própria Educação Física.
rada como “a atividade que, por seus meios, processos Atualmente coexistem na área várias concepções, to-
e técnicas, desenvolve e aprimora forças físicas, morais, das elas tendo em comum a tentativa de romper com o
cívicas, psíquicas e sociais do educando”. O decreto deu modelo anterior, fruto de uma etapa recente da Educa-
ênfase à aptidão física, tanto na organização das ativi- ção Física.
dades como no seu controle e avaliação, e a iniciação Essas abordagens resultam da articulação de diferen-
esportiva, a partir da quinta série, se tornou um dos ei- tes teorias psicológicas, sociológicas e concepções filo-
xos fundamentais de ensino; buscava-se a descoberta de sóficas. Todas essas correntes têm ampliado os campos
novos talentos que pudessem participar de competições de ação e reflexão para a área, o que a aproxima das
internacionais, representando a pátria. ciências humanas. Embora contenham enfoques diferen-
Nesse período, o chamado - modelo piramidal - nor- ciados entre si, com pontos muitas vezes divergentes,
teou as diretrizes políticas para a Educação Física: a Edu- têm em comum a busca de uma Educação Física que ar-
cação Física escolar e o desporto estudantil seriam a base ticule as múltiplas dimensões do ser humano.
da pirâmide; a melhoria da aptidão física da população As abordagens que tiveram maior impacto a partir de
urbana e o empreendimento da iniciativa privada na or- meados da década de 70 são comumente denominadas
ganização desportiva para a comunidade comporiam o de psicomotora, construtivista e desenvolvimentista com
desporto de massa, o segundo nível da pirâmide. Este se enfoques da psicologia crítica, com enfoque sociopolí-
desenvolveria, tornando-se um desporto de elite, com a tico, embora outras transitem pelos meios acadêmico e
seleção de indivíduos aptos para competir dentro e fora profissional, como, por exemplo, a sociológica-sistêmica
do país. e a antropológica-cultural.
Na década de 80 os efeitos desse modelo começa-
ram a ser sentidos e contestados: o Brasil não se tornou Abordagem psicomotora
uma nação olímpica e a competição esportiva da elite
LEGISLAÇÃO

não aumentou significativamente o número de pratican- A psicomotricidade é o primeiro movimento mais ar-
tes de atividades físicas. Iniciou-se então uma profunda ticulado que aparece a partir da década de 70 em con-
crise de identidade nos pressupostos e no próprio dis- traposição aos modelos anteriores. Nele, o envolvimento
curso da Educação Física, que originou uma mudança da Educação Física é com o desenvolvimento da criança,

96
com o ato de aprender, com os processos cognitivos, no e aprendizagem. Essa perspectiva também procurou
afetivos e psicomotores, ou seja, buscando garantir a alertar os professores sobre a importância da participa-
formação integral do aluno. ção ativa dos alunos na solução de problemas.
A Educação Física é, assim, apenas um meio para
ensinar Matemática, Língua Portuguesa, sociabilização... Abordagem desenvolvimentista
Para este modelo, a Educação Física não tem um conteú-
do próprio, mas é um conjunto de meios para a reabilita- A abordagem desenvolvimentista é dirigida especifi-
ção, readaptação e integração, substituindo o conteúdo camente para a faixa etária até 14 anos e busca nos pro-
que até então era predominantemente esportivo, o qual cessos de aprendizagem e desenvolvimento uma funda-
valorizava a aquisição do esquema motor, lateralidade, mentação para a Educação Física escolar. É uma tentativa
consciência corporal e coordenação viso-motora. de caracterizar a progressão normal do crescimento físi-
Este discurso penetrou no contexto escolar, tendo co, do desenvolvimento motor e da aprendizagem mo-
sido aceito pelos diferentes segmentos que o compõem, tora em relação à faixa etária e, em função dessas ca-
como diretores, coordenadores e professores. O discurso racterísticas, sugerir aspectos ou elementos relevantes à
e a prática da Educação Física sob a influência da psico- estruturação de um programa para a Educação Física na
motricidade conduzem à necessidade de o professor de escola.
Educação Física sentir-se um professor com responsabi- A abordagem defende a ideia de que o movimento é
lidades escolares e pedagógicas. Buscam desatrelar sua o principal meio e fim da Educação Física, propugnando
atuação na escola dos pressupostos da instituição des- a especificidade do seu objeto. Sua função não é desen-
portiva, valorizando o processo de aprendizagem e não volver capacidades que auxiliem a alfabetização e o pen-
mais a execução de um gesto técnico isolado. samento lógico-matemático, embora tal possa ocorrer
A principal vantagem desta abordagem é que ela como um subproduto da prática motora. Em suma, uma
possibilitou uma maior integração com a proposta pe- aula de Educação Física deve privilegiar a aprendizagem
dagógica ampla e integrada da Educação Física nos pri- do movimento, conquanto possam estar ocorrendo ou-
meiros anos de educação formal. Porém, representou tras aprendizagens, de ordem afetivo-social e cognitiva,
o abandono do que era específico da Educação Física, em decorrência da prática das habilidades motoras.
como se o conhecimento do esporte, da dança, da ginás- Grande parte do modelo conceitual desta abordagem
tica e dos jogos fosse, em si, inadequado para os alunos. relaciona-se com o conceito de habilidade motora, pois
é por meio dela que os seres humanos se adaptam aos
Abordagem construtivista problemas do cotidiano. Como as habilidades mudam
ao longo da vida do indivíduo, desde a concepção até a
É preciso lembrar que, no âmbito da Educação Física, morte, constituíram-se numa área de conhecimento da
a psicomotricidade influenciou a perspectiva constru- Educação Física – o Desenvolvimento Motor. Ao mesmo
tivista-interacionista na questão da busca da formação tempo, estruturou-se também uma outra área em torno
integral, com a inclusão das dimensões afetivas e cogni- da questão de como os seres humanos aprendem as ha-
tivas ao movimento humano. Na discussão do objeto da bilidades motoras – a Aprendizagem Motora.
Educação Física escolar, ambas trazem uma proposta de Para a abordagem desenvolvimentista, a Educação Fí-
ensino para a área que abrange principalmente crianças sica deve proporcionar ao aluno condições para que seu
na faixa etária até os 10-11 anos. comportamento motor seja desenvolvido pela interação
Na perspectiva construtivista, a intenção é a cons- entre o aumento da diversificação e a complexidade dos
trução do conhecimento a partir da interação do sujeito movimentos. Assim, o principal objetivo da Educação Fí-
com o mundo, e para cada criança a construção desse sica é oferecer experiências de movimento adequadas
conhecimento exige elaboração, ou seja, uma ação sobre ao seu nível de crescimento e desenvolvimento, a fim
o mundo. Nesta concepção, a aquisição do conhecimen- de que a aprendizagem das habilidades motoras seja al-
to é um processo construído pelo indivíduo durante toda cançada. A criança deve aprender a se movimentar para
a sua vida, não estando pronto ao nascer nem sendo adaptar-se às demandas e às exigências do cotidiano, ou
adquirido passivamente de acordo com as pressões do seja, corresponder aos desafios motores.
meio. A partir dessa perspectiva passou a ser extremamen-
Conhecer é sempre uma ação que implica esquemas te difundida a questão da adequação dos conteúdos ao
de assimilação e acomodação num processo de constan- longo das faixas etárias. A exemplo do domínio cogniti-
te reorganização. vo, foi proposta uma taxionomia para o desenvolvimento
A meta da construção do conhecimento é eviden- motor, ou seja, uma classificação hierárquica dos movi-
te quando alguns autores propõem como objetivo da mentos dos seres humanos.
Educação Física respeitar o universo cultural dos alunos,
explorar a gama múltipla de possibilidades educativas Abordagens críticas
de sua atividade lúdica e, gradativamente, propor tare-
fas cada vez mais complexas e desafiadoras com vista à Com apoio nas discussões que vinham ocorrendo nas
áreas educacionais e na tentativa de romper com o mo-
LEGISLAÇÃO

construção do conhecimento.
A proposta teve o mérito de levantar a questão da delo hegemônico do esporte praticado nas aulas de Edu-
importância de se considerar o conhecimento que a cação Física, a partir da década de 80 são elaborados os
criança já possui na Educação Física escolar, incluindo os primeiros pressupostos teóricos num referencial crítico,
conhecimentos prévios dos alunos no processo de ensi- com fundamento no materialismo histórico e dialético.

97
As abordagens críticas passaram a questionar o cará- geral, e da sistematização decorrente da reflexão sobre
ter alienante da Educação Física na escola, propondo um a prática pedagógica concreta de escolas e professores,
modelo de superação das contradições e injustiças so- que, muitas vezes dentro de situações desfavoráveis, se-
ciais. Assim, uma Educação Física crítica estaria atrelada guem inovando. Ao mesmo tempo, infelizmente, encon-
às transformações sociais, econômicas e políticas, tendo tra-se ainda, em muitos contextos, a prática de propostas
em vista a superação das desigualdades sociais. de ensino pautadas em concepções ultrapassadas, que
Esta abordagem levanta questões de poder, interesse não suprem as necessidades e as possibilidades da edu-
e contestação. Acredita que qualquer consideração sobre cação contemporânea.
a pedagogia mais apropriada deve versar não somen- Nesse contexto, instala-se um novo ordenamento
te sobre como se ensinam e como se aprendem esses legal na proposição da atual Lei de Diretrizes e Bases,
conhecimentos, mas também sobre as suas implicações que orienta para a integração da Educação Física na pro-
valorativas e ideológicas, valorizando a questão da con- posta pedagógica da escola. Ao delegar autonomia para
textualização dos fatos e do resgate histórico. Busca a construção de uma proposta pedagógica integrada,
possibilitar a compreensão, por parte do aluno, de que a nova lei responsabiliza a própria escola e o professor
a produção cultural da humanidade expressa uma deter- pela adaptação da ação educativa escolar às diferentes
minada fase e que houve mudanças ao longo do tempo. realidades e demandas sociais.
Essa reflexão pedagógica é compreendida como sendo É importante ressaltar que essa autonomia deve
um projeto políticopedagógico. Político porque encami- pressupor a valorização do professor e da instituição
nha propostas de intervenção em determinada direção, escolar, criando condições concretas e objetivas para o
e pedagógico porque propõe uma reflexão sobre a ação exercício produtivo dessa responsabilidade, pois a possi-
dos homens na realidade, explicitando suas determina- bilidade de construção deve gerar um avanço em direção
ções. ao exercício pleno da cidadania, garantindo a todos os
Quanto à seleção de conteúdos para as aulas de Edu- alunos o acesso aos conhecimentos da cultura corporal
cação Física, sugere que se considere a sua relevância de movimento. Por outro lado, interesses políticos e eco-
nômicos escusos podem, a partir de uma interpretação
social, sua contemporaneidade e sua adequação às ca-
distorcida da lei, legitimar a descaracterização da Edu-
racterísticas sociocognitivas dos alunos. Em relação à or-
cação Física escolar, tornando-a mera área técnica ou
ganização do currículo, ressalta que é preciso fazer o alu-
recreativa, desprovida de função no processo educativo
no confrontar os conhecimentos do senso comum com o
pleno.
conhecimento científico, para ampliar o seu acervo.
É fundamental, portanto, que a escola, a comunidade
Além disso, sugere que os conteúdos selecionados
de pais e alunos e principalmente o professor valorizem-
para as aulas de Educação Física devem propiciar uma
-se e sejam valorizados, assumindo a responsabilidade
melhor leitura da realidade pelos alunos e possibilitar, da integração desta área de conhecimento humano ao
assim, sua inserção transformadora nessa realidade. projeto pedagógico de cada escola, exigindo plenas con-
A Educação Física é entendida como uma área que dições para o exercício de seu trabalho, garantindo para
trata de um tipo de conhecimento, denominado cultura o aluno a manutenção de número adequado de aulas
corporal de movimento, que tem como temas o jogo, a e de condições efetivas para a aprendizagem. Os Parâ-
ginástica, o esporte, a dança, a capoeira e outras temáti- metros Curriculares Nacionais se propõem a contribuir
cas que apresentarem relações com os principais proble- nessa construção, fornecendo subsídios para a discussão
mas dessa cultura corporal de movimento e o contexto e concretização da proposta curricular de cada escola.
histórico-social dos alunos.
Em resumo, a introdução das abordagens psicomo- Educação Física e a cultura corporal de movimento
tora, construtivista, desenvolvimentista, e críticas no es-
paço do debate da Educação Física proporcionou uma O ser humano, desde suas origens, produziu cultura.
ampliação da visão da área, tanto no que diz respeito à Sua história é uma história de cultura na medida em que
natureza de seus conteúdos quanto no que refere aos tudo o que faz é parte de um contexto em que se produ-
seus pressupostos pedagógicos de ensino e aprendiza- zem e reproduzem conhecimentos. O conceito de cultu-
gem. ra é aqui entendido, simultaneamente, como produto da
Reavaliaram-se e enfatizaram-se as dimensões psi- sociedade e como processo dinâmico que vai constituin-
cológicas, sociais, cognitivas, afetivas e políticas, conce- do e transformando a coletividade à qual os indivíduos
bendo o aluno como ser humano integral. Além disso, pertencem, antecedendo-os e transcendendo-os.
foram englobados objetivos educacionais mais amplos, Não se trata aqui do termo cultura no sentido mais
não apenas voltados para a formação de físico que pu- usual, empregado para definir certo saber, ilustração,
desse sustentar a atividade intelectual, e conteúdos mais refinamento de maneiras. No sentido antropológico do
diversificados, não só restritos a exercícios ginásticos e termo, afirma-se que todo e qualquer indivíduo nasce no
esportes. contexto de uma cultura. Não existe homem sem cultura,
mesmo que não saiba ler, escrever e fazer contas. Po-
Quadro atual de-se dizer que o homem é biologicamente incompleto;
não sobreviveria sozinho sem a participação das pessoas
LEGISLAÇÃO

Na atualidade, as quatro grandes tendências aponta- e do grupo que o geraram.


das têm se desdobrado em novas propostas pedagógi- A cultura é o conjunto de códigos simbólicos reco-
cas, em função do avanço da pesquisa e da reflexão teó- nhecíveis pelo grupo, e é por intermédio desses códigos
rica específicas da área e da educação escolar de forma que o indivíduo é formado desde o nascimento. Durante

98
a infância, por esses mesmos códigos, aprende os valores O trabalho na área da Educação Física tem seus fun-
do grupo; por eles é mais tarde introduzido nas obriga- damentos nas concepções socioculturais de corpo e mo-
ções da vida adulta, da maneira como cada grupo social vimento, e a natureza do trabalho desenvolvido nessa
as concebe. A fragilidade de recursos biológicos fez com área se relaciona intimamente com a compreensão que
que os seres humanos buscassem suprir as insuficiências se tem desses dois conceitos.
com criações que tornassem os movimentos mais efi- Historicamente, suas origens militares e médicas e
cientes e satisfatórios, procurando desenvolver diversas seu atrelamento quase servil aos mecanismos de ma-
possibilidades de uso do corpo com o intuito de solucio- nutenção do status quo vigente na sociedade brasileira
nar as mais variadas necessidades. contribuíram para que tanto a prática como a reflexão
Entre essas possibilidades e necessidades podem-se teórica no campo da Educação Física restringissem os
incluir motivos militares, relativos ao domínio e ao uso de conceitos de corpo e movimento “fundamentos de seu
espaço; motivos econômicos, que dizem respeito às tec- trabalho” aos seus aspectos fisiológicos e técnicos.
nologias de caça, pesca e agricultura; motivos de saúde, No entanto, é necessário superar a ênfase na aptidão
pelas práticas compensatórias e profiláticas. física para o rendimento padronizado, decorrente deste
Podem-se incluir, ainda, motivos religiosos, no que se referencial conceitual, e caracterizar a Educação Física de
referem aos rituais e festas; motivos artísticos, ligados à forma mais abrangente, incluindo todas as dimensões do
construção e à expressão de ideias e sentimentos; e por ser humano envolvidas em cada prática corporal.
motivações lúdicas, relacionadas ao lazer e ao diverti- Atualmente, a análise crítica e a busca de superação
mento. dessa concepção apontam a necessidade de que se con-
Algumas práticas com motivos de caráter utilitário re- siderem também as dimensões cultural, social, política
lacionam-se mais diretamente à realidade objetiva com e afetiva, presentes no corpo vivo, isto é, no corpo das
suas exigências de sobrevivência, adaptação ao meio, pessoas, que interagem e se movimentam como sujeitos
produção de bens, resolução de problemas e, nesse sen- sociais e como cidadãos.
tido, são conceitualmente mais próximas do trabalho. Buscando uma compreensão que melhor contemple
Outras, com motivos de caráter eminentemente sub- a complexidade da questão, a proposta dos Parâmetros
jetivo e simbólico, são realizadas com fim em si mesmas, Curriculares Nacionais adotou a distinção entre organis-
por prazer e divertimento. Estão mais próximas do lazer mo “no sentido estritamente fisiológico” e corpo “que se
e da fantasia, embora suas origens, em muitos casos, es- relaciona dentro de um contexto sociocultural” e abor-
tejam em práticas utilitárias. Por exemplo, a prática do da os conteúdos da Educação Física como expressão de
remo, da caça e da pesca por lazer e não por sobrevi-
produções culturais, como conhecimentos historicamen-
vência, o caminhar como passeio e o correr como com-
te acumulados e socialmente transmitidos.
petição e não como forma de locomoção. Assim, às ati-
Portanto, entende-se a Educação Física como uma
vidades desse segundo agrupamento pode-se atribuir o
área de conhecimento da cultura corporal de movimen-
conceito de atividade lúdica, de certo modo diferenciada
to e a Educação Física escolar como uma disciplina que
do trabalho.
introduz e integra o aluno na cultura corporal de movi-
Com um caráter predominantemente utilitário ou lú-
mento, formando o cidadão que vai produzi-la, reprodu-
dico, todas visam, a seu modo, a combinar o aumento
da eficiência dos movimentos corporais com a busca da zi-la e transformá-la, instrumentalizando-o para usufruir
satisfação e do prazer na sua execução. A rigor, o que de- dos jogos, dos esportes, das danças, das lutas e das gi-
fine o caráter lúdico ou utilitário não é a atividade em si, násticas em benefício do exercício crítico da cidadania e
mas a intenção do praticante; por exemplo, um esporte da melhoria da qualidade de vida.
pode ser praticado com fins utilitários, no caso do espor- Trata-se, portanto, de localizar em cada uma dessas
tista profissional, e pode ser praticado numa perspectiva modalidades (jogo, esporte, dança, ginástica e luta) seus
de prazer e divertimento, pelo cidadão comum. benefícios humanos e suas possibilidades de utilização
Derivaram daí conhecimentos e representações que como instrumentos de comunicação, expressão de senti-
se transformam ao longo do tempo. Ressignificadas, suas mentos e emoções, de lazer e de manutenção e melhoria
intencionalidades, formas de expressão e sistematização da saúde. E a partir deste recorte, formular as propostas
constituem o que se pode chamar de cultura corporal de de ensino e aprendizagem da Educação Física escolar.
movimento. É fundamental também que se faça uma clara
Dentro desse universo de produções da cultura cor- distinção entre os objetivos da Educação Física escolar e
poral de movimento, algumas foram incorporadas pela os objetivos do esporte, da dança, da ginástica e da luta
Educação Física como objetos de ação e reflexão: os jo- profissionais. Embora sejam uma fonte de informações,
gos e brincadeiras, os esportes, as danças, as ginásticas e não podem transformar-se em meta a ser almejada pela
as lutas, que têm em comum a representação corporal de escola, como se fossem fins em si mesmos.
diversos aspectos da cultura humana. São atividades que A Educação Física escolar deve dar oportunidades a
ressignificam a cultura corporal humana e o fazem utili- todos os alunos para que desenvolvam suas potencia-
zando ora uma intenção mais próxima do caráter lúdico, lidades, de forma democrática e não seletiva, visando
ora mais próxima do pragmatismo e da objetividade. seu aprimoramento como seres humanos. Cabe assinalar
A Educação Física tem uma história de pelo menos um que os alunos portadores de necessidades especiais não
LEGISLAÇÃO

século e meio no mundo ocidental moderno. Possui uma podem ser privados das aulas de Educação Física. Seja
tradição e um saber-fazer ligados ao jogo, ao esporte, à qual for o objeto de conhecimento em questão, os pro-
luta, à dança e à ginástica, e, a partir deles, tem buscado a cessos de ensino e aprendizagem devem considerar as
formulação de um recorte epistemológico próprio. características dos alunos em todas as suas dimensões

99
(cognitiva, corporal, afetiva, ética, estética, de relação in- lar. Esta deve fornecer informações políticas, históricas e
terpessoal e inserção social). Sobre o jogo da amarelinha, sociais que possibilitem a análise crítica da violência, dos
o de voleibol ou uma dança, o aluno deve aprender, para interesses políticos e econômicos, do doping, dos sor-
além das técnicas de execução (conteúdos procedimen- teios e loterias, entre outros aspectos.
tais), a discutir regras e estratégias, apreciá-los critica- O vínculo direto que a indústria cultural e do lazer
mente, analisá-los esteticamente, avaliá-los eticamente, estabelece entre o acesso aos conhecimentos da cultura
ressignificá-los e recriá-los (conteúdos atitudinais e con- corporal de movimento e o consumo de produtos deve
ceituais). ser alvo de esclarecimento e reflexão.
É tarefa da Educação Física escolar, portanto, garantir A compreensão da organização institucional da cultu-
o acesso dos alunos às práticas da cultura corporal, con- ra corporal de movimento na sociedade, incluindo uma
tribuir para a construção de um estilo pessoal de praticá- visão crítica do sistema esportivo profissional, deve dar
-las, e oferecer instrumentos para que sejam capazes de subsídios para uma discussão sobre a ética do espor-
apreciá-las criticamente. te profissional e amador, sobre a discriminação sexual
e racial que neles existe. Essa discriminação pode ser
Educação Física e cidadania compreendida pela explicitação de atitudes cotidianas,
muitas vezes inconscientes e automáticas, pautadas em
A concepção de cultura corporal de movimento am- preconceitos.
plia a contribuição da Educação Física escolar para o ple- Contribui para essa compreensão, por exemplo, o
no exercício da cidadania, na medida em que, tomando conhecimento do processo político e histórico de inclu-
seus conteúdos e as capacidades que se propõe a de- são dos negros e das mulheres nas práticas organizadas
senvolver como produtos socioculturais, afirma como di- dos esportes em olimpíadas e campeonatos mundiais.
reito de todos o acesso e a participação no processo de Pode, ainda, favorecer a formação de uma consciência
aprendizagem. individual e social pautada no bem-estar, em posturas
Favorece, com isso, a modificação do histórico da não-preconceituosas e não discriminatórias e, ainda, no
área, que aponta para um processo de ensino e aprendi- cultivo dos valores coerentes com a ética democrática.
zagem centrado no desempenho físico e técnico, resul-
tando em muitos momentos numa seleção entre indiví- Mídia e cultura corporal de movimento
duos aptos e inaptos para as práticas da cultura corporal
de movimento. A adolescência tem como uma de suas características
O princípio da inclusão do aluno é o eixo fundamen- atuais a capacidade de produzir formas culturais pró-
tal que norteia a concepção e a ação pedagógica da Edu- prias. Essa “cultura dos jovens” está muito associada aos
cação Física escolar, considerando todos os aspectos ou meios de comunicação, em especial a televisão, e valori-
elementos, seja na sistematização de conteúdos e obje- za o uso de uma linguagem audiovisual (combinação de
tivos, seja no processo de ensino e aprendizagem, para palavras, imagens e música) que se manifesta na própria
evitar a exclusão ou alienação na relação com a cultura comunicação entre os jovens (uso de gestos corporais,
corporal de movimento. onomatopéias, gírias, palavras e frases truncadas etc.) e
Além disso, aponta para uma perspectiva metodoló- na linguagem da mídia6 (videoclipes, imagens produzi-
gica de ensino e aprendizagem que busca o desenvolvi- das por computação gráfica, desenhos e fotos associadas
mento da autonomia, a cooperação, a participação social a textos concisos nas revistas e jornais etc.).
e a afirmação de valores e princípios democráticos. A mídia está presente no cotidiano dos alunos, trans-
O lazer e a disponibilidade de espaços públicos para mitindo informações, alimentando um imaginário e cons-
as práticas da cultura corporal de movimento são neces- truindo um entendimento de mundo. Os alunos perma-
sidades essenciais ao homem contemporâneo e, por isso, necem muitas horas diante do aparelho de televisão, que
direitos do cidadão. Os alunos podem compreender que hoje rivaliza com a escola e com a família como fonte de
os esportes e as demais atividades corporais não devem formação de valores e atitudes. Contudo, o que a mídia
ser privilégio apenas dos esportistas profissionais ou das propicia, num primeiro momento, é um grande mosaico
pessoas em condições de pagar por academias e clubes. sem estrutura lógica aparente, composto de informações
Dar valor a essas atividades e reivindicar o acesso a cen- desconexas e, em geral, descontextualizadas.
tros esportivos e de lazer, e a programas de práticas cor- Também no campo da cultura corporal de movimento
porais dirigidos à população em geral, é um posiciona- a atuação da mídia é crescente e decisiva na construção
mento que pode ser adotado a partir dos conhecimentos de novos significados e modalidades de entretenimento
adquiridos nas aulas de Educação Física. e consumo.
No âmbito da Educação Física, os conhecimentos O esporte, as ginásticas, as danças e as lutas tornam-
construídos devem possibilitar a análise crítica dos valo- -se, cada vez mais, produtos de consumo (mesmo que
res sociais, como os padrões de beleza e saúde, desem- apenas como imagens) e objetos de conhecimento e in-
penho, competição exacerbada, que se tornaram domi- formações amplamente divulgados ao grande público.
nantes na sociedade, e do seu papel como instrumento Jornais, revistas, videogames, rádio e televisão difundem
de exclusão e discriminação social. ideias sobre a cultura corporal de movimento, e muitas
LEGISLAÇÃO

A atuação dos meios de comunicação e da indústria dessas produções são dirigidas especificamente ao pú-
do lazer em produzir, transmitir e impor esses valores, ao blico adolescente e infantil. Os alunos também tomam
adotar o esporte-espetáculo como produto de consumo, contato, às vezes precocemente, com práticas corporais
torna imprescindível a atuação da Educação Física esco- e esportivas do mundo adulto. Hoje, todos os indivíduos

100
são consumidores potenciais do esporte-espetáculo, se- lógica de espetacularização que é em parte motivada por
não como torcedores nos estádios e quadras, ao menos interesses econômicos, em parte pela própria especifi-
como espectadores de televisão. cidade da linguagem televisiva, cujas possibilidades são
É evidente que, na mídia, existe uma participação levadas às últimas consequências. Isso leva, em geral, à
majoritária do esporte como notícia, transmissão de fragmentação e à descontextualização do fenômeno es-
eventos ao vivo ou simplesmente como temática (por portivo e corporal em geral, dissociando-o, ainda mais,
exemplo, na publicidade). Basta ligar a televisão para da experiência primeira de praticar modalidades da cul-
perceber que o esporte está em toda parte. Em nove- tura corporal ativamente.
las, noticiários, programas de auditório, filmes, seriados, Por exemplo, a cada final de semana realizam-se
desenhos animados, para não falar nos programas espe- centenas de milhares de partidas de futebol em todo
cificamente esportivos de reportagens e comentários. É o mundo. Terão destaque no noticiário de domingo à
possível assistir ao campeonato americano de basque- noite, além das partidas de nível técnico mais elevado,
tebol, ao campeonato espanhol ou japonês de futebol, em geral dos países mais importantes do cenário do
à maratona de Nova York, a ciclismo ou hóquei, e assim futebol mundial, aquela ou aquelas em que ocorreram
por diante. A mídia apresenta uma concepção prevale- cenas de violência, independentemente da origem geo-
cente do que é esporte e do que é ser esportista, muitas gráfica ou nível técnico, induzindo os telespectadores à
vezes associada a “vencer na vida”, cultivando como va- falsa opinião de que o futebol é, ou está se tornando, um
lores o esforço intenso, o dinheiro, as medalhas olímpi- esporte violento. E as outras milhares de partidas, nas
cas e recordes. Por outro lado, numa aparente contradi- quais tantas pessoas, sejam atletas ou não, vivenciaram
ção, ela tende a chamar de “esporte” todas as atividades uma experiência corporal que lhes propiciou satisfação
corporais que visam à melhoria da condição física (andar, e bem-estar, oportunidades de sociabilização e autoco-
correr, “malhar” na academia etc.), à superação de desa- nhecimento no confronto com outrem etc.? A televisão
fios (body-jumping, asa-delta) ou a atividades na nature- raramente fala sobre isso.
za (montanhismo, trilhas ecológicas). Nesse contexto, aparecem consequências importantes
Mas também há aulas de ginástica aeróbica pela te- para a Educação Física. Em primeiro lugar, os alunos pos-
levisão, médicos dão entrevistas falando dos benefícios suem muitas informações sobre a cultura corporal de
e riscos da atividade física, comentaristas informam so- movimento em geral e sobre esportes em particular, exi-
bre táticas e regras nas partidas de futebol, vôlei ou bas- gindo do professor uma atualização constante.
quete, e revistas femininas e para adolescentes sugerem A mídia exerce uma função genérica de conhecimento
exercícios e equipamentos para deixar o corpo em forma. sobre essa cultura, o que pode enriquecer a sua aprecia-
Informações nem sempre corretas, nem sempre confiá- ção e interpretação pelos alunos. A imagem possui uma
veis, mas que se sobrepõem pela baixa capacidade crí- importância cognitiva na atualidade e vai ao encontro da
tica da maioria dos telespectadores e leitores. Tudo isso cultura audiovisual cultivada pelos alunos. O professor
levou o nível de informações publicamente partilhadas precisa estar permanentemente atento à mídia, a fim de
na área da cultura corporal de movimento a um patamar não perder um importante canal de diálogo e compar-
nunca antes atingido na História. tilhamento de interesses. Em segundo lugar, há um evi-
No caso do esporte, a televisão produziu uma nova dente descompasso entre o nível técnico difundido pelo
modalidade “o esporte espetáculo” que se apoia na so- esporte-espetáculo da TV e as reais possibilidades de
fisticação de modernos recursos tecnológicos. Nas trans- alunos, professores e escola atingirem-no. Como atingir
missões de natação, ginástica, hóquei, paraquedismo, o nível técnico dos astros do basquete americano, ou de
vôlei, corrida de automóveis, esportes na neve, ciclismo, qualquer outra modalidade exercida profissionalmente?
e esportes radicais, o close, a câmara lenta, o replay, os Não se podem ignorar a mídia e as práticas corporais
recursos gráficos propiciados pela informática, as mini- que ela retrata. Esse é o universo em que as novas ge-
câmaras acopladas nos capacetes dos atletas e nos au- rações socializam-se na cultura corporal de movimento,
tomóveis de corrida tornam quase todas as modalidades pois o futebol, por exemplo, não é mais só uma pelada
espetáculos televisivos em potencial. Mesmo as tradicio- num terreno baldio, é também videogame e espetácu-
nais transmissões de partidas de futebol utilizam cada lo da TV. Portanto, a Educação Física deverá manter um
vez mais câmaras, microfones no campo, replay compu- permanente diálogo crítico com a mídia, trazendo-a para
tadorizado (o tira-teima) e outros recursos que propi- dentro da escola como um novo dado relacionado à cul-
ciam ao telespectador uma experiência muito diferente tura corporal de movimento.
de assistir ao vivo.
Nas atividades rítmicas e expressivas, particularmente Educação Física e os temas transversais
nas danças urbanas do universo pop, ocorre o mesmo
fenômeno de espetacularização nos videoclipes reali- A Educação Física dentro da sua especificidade deve-
zados com edições em velocidade alucinante e efeitos rá abordar os temas transversais, apontados como temas
especiais. de urgência para o país como um todo, além de poder
Na verdade, a televisão ilude o espectador, dando- tratar outros relacionados às necessidades específicas de
-lhe a falsa sensação de contato direto com a realidade, cada região. Sobre cada tema este documento traz al-
LEGISLAÇÃO

quando existe uma distância entre a prática real do es- gumas reflexões para serem tratadas pela área, com a
porte e da dança e o que se vê na TV. Há um processo intenção de ampliar o olhar sobre a prática cotidiana e,
de mediação entre a realidade e a imagem, que envolve ao mesmo tempo, estimular a reflexão para a construção
a seleção e a edição de fatos e aspectos, segundo uma de novas formas de abordagem dos conteúdos.

101
ÉTICA de pode ser exercida e valorizada. Em relação à postura
frente ao adversário, podem-se desenvolver atitudes de
O desenvolvimento moral do indivíduo, que resulta solidariedade e dignidade nos momentos em que, por
das relações entre a afetividade e a racionalidade, encon- exemplo, quem ganha é capaz de não provocar e não
tra no universo da cultura corporal um contexto bastante humilhar, e quem perde pode reconhecer a vitória dos
peculiar, no qual a intensidade e a qualidade dos estados outros sem se sentir humilhado.
afetivos experimentados corporalmente nas práticas da Nos jogos, esportes e lutas em que existem regras de-
cultura de movimento literalmente afetam as atitudes e limitando as ações, surgem dois elementos interessantes
decisões racionais. para a discussão de valores éticos: um deles é a simula-
A vivência concreta de sensações de excitação, irri- ção de fatos e o outro é a figura do árbitro. Por exemplo,
tação, prazer, cansaço e eventualmente até dor, junto à num jogo de futebol, um atacante entra na área, dribla
mobilização intensa de emoções e sentimentos de sa- o jogador da defesa, mas adianta demais a bola e, ao
tisfação, medo, vergonha, alegria e tristeza, configuram perceber que perdeu a jogada, imediatamente se lança
um desafio à racionalidade. Desafio no melhor sentido ao chão, simulando ter sofrido uma falta. Essa situação
de controle e de adequação na expressão desses sen- pode ser pano de fundo para uma interessante discus-
timentos e emoções, pois se processam em contextos são, pois apesar das possíveis “vantagens” resultantes da
em que as regras, os gestos, as relações interpessoais, as simulação, o jogador segue sendo responsável por um
atitudes pessoais e suas consequências são claramente ato que sabe desonesto.
delimitadas. E, habitualmente, distintas das experimenta- A figura do árbitro potencializa essa situação, na me-
das na vida cotidiana. dida em que permite aos jogadores transferirem a res-
Aqui reside a riqueza e o paradoxo das práticas da ponsabilidade moral para o juiz, incorporando a figura
cultura corporal, particularmente nas situações que en- do árbitro ao jogo, como mais um elemento que pode
volvem interação social, de criar uma situação de intensa ser manipulado. Ou seja, toda simulação não percebida
pelo juiz tornar-se legítima e em muitos contextos essa
mobilização afetiva, em que o caráter ético do indivíduo
capacidade de simulação é tão valorizada como as habi-
se explicita para si mesmo e para o outro por meio de
lidades técnicas.
suas atitudes, permitindo a tomada de consciência e a
Em ambas as situações a discussão deve incluir a di-
reflexão sobre esses valores mais íntimos.
mensão pessoal da ética no valor atribuído às atitudes
O que se quer ressaltar é a possibilidade de construir
certas ou erradas, positivas ou negativas, construtivas ou
formas operacionais de praticar e refletir sobre esses va-
destrutivas.
lores, a partir da constatação de que apenas a prática
Deve incluir, ainda, a dimensão social da ética que
das atividades e o discurso verbal do professor resultam atribui valores às atitudes pessoais, e que, em muitos
insuficientes na sua transmissão e incorporação pelo es- contextos, acaba por legitimar a transferência da respon-
tudante. sabilidade das atitudes pessoais para o grupo ou para o
O respeito mútuo, a justiça, a dignidade e a solidarie- juiz. Em qualquer âmbito, a responsabilidade moral pelas
dade podem, portanto, ser exercidos dentro de contex- atitudes é consequência do ato em si, independente de
tos significativos, estabelecidos em muitos casos de ma- ter sido percebido ou não pelo outro. O futebol profis-
neira autônoma pelos próprios participantes. E podem, sional atualmente traz elementos para essa discussão,
para além de valores éticos tomados como referência na medida em que as tentativas de simulação são con-
de conduta e relacionamento, tornar-se procedimentos sideradas passíveis de punição pela regra e, em algumas
concretos a serem exercidos e cultivados nas práticas da transmissões pela TV, existe um comentarista específico
cultura corporal. para o árbitro.
No caso específico dos jogos, esportes e lutas, certa- A apreciação do esporte-espetáculo permite conhe-
mente não se pode estabelecer uma relação direta entre cer e diferenciar as referências de valores e atitudes pre-
uma atitude pautada na ética dentro e fora da situação sentes nas práticas da cultura corporal exercidas profis-
de jogo, ou seja, ser justo no jogo não implica necessa- sionalmente, nas quais, obviamente, a vitória, a derrota, a
riamente ser justo nas relações sociais concretas e obje- regra e a transgressão da regra adquirem outra conota-
tivas. O inverso também é verdadeiro, pois nem sempre ção, outro tipo de consequência.
uma atitude pautada no respeito mútuo se mantém no
calor de uma disputa lúdica. Nesse universo de situações, SAÚDE
portanto, podem-se valorizar a possibilidade de constru-
ção coletiva e a priori das regras e os acordos firmados As relações que se estabelecem entre o tema trans-
entre os participantes. Pois quando ocorre um descum- versal Saúde e a Educação Física são quase que imediatas
primento do que foi combinado se estabelece uma rela- e automáticas ao considerar-se a proximidade dos obje-
ção de responsabilidade pela consequência das atitudes tos de conhecimento envolvidos e relevantes em ambas
intrínsecas à própria atividade. as abordagens. Dessa forma, a preocupação e a respon-
Ao interagirem com os adversários, os alunos podem sabilidade na valorização de conhecimentos relativos à
exercer o respeito mútuo, buscando participar de forma construção da autoestima e da identidade pessoal, ao
leal e não-violenta. Confrontar-se com o resultado de um cuidado do corpo, à nutrição, à valorização dos vínculos
LEGISLAÇÃO

jogo e com a presença de um árbitro permite a vivência afetivos e a negociação de atitudes e todas as implica-
e o desenvolvimento da capacidade de julgamento de ções relativas à saúde da coletividade, são compartilha-
justiça (e de injustiça). Principalmente nos jogos, em que das e constituem um campo de interação na atuação
é fundamental que se trabalhe em equipe, a solidarieda- escolar.

102
No entanto, como apontado de forma acertada e ine- Além disso, deve-se ressaltar que grande parte das
quívoca no documento de Saúde, a mera informação tem informações conceituais disponíveis no ambiente socio-
se mostrado insuficiente para a alteração ou construção cultural relativas às práticas da cultura corporal de mo-
de comportamentos favoráveis à proteção e à promoção vimento dizem respeito ao exercício profissional dessas
da saúde do educando, e cabe à Educação Física escolar atividades, com enfoques e valores muitas vezes contra-
a responsabilidade de lidar de forma específica com al- ditórios que contribuem para a construção tanto de uma
guns aspectos relativos aos conhecimentos procedimen- imagem distorcida do exercício profissional de esportes,
tais, conceituais e atitudinais característicos da cultura lutas, danças e ginástica, como numa referência equivo-
corporal de movimento. cada para o cotidiano do cidadão comum. Consideran-
Nesse sentido, algumas ressalvas devem ser fei- do a força que a cultura de massa consegue imprimir na
tas ao tratamento específico que a área dá aos valores constituição/geração de modelos de comportamentos
e conceitos que circulam no ambiente sociocultural, e atitudes, resultam dessas distorções, por exemplo no
veiculados principalmente pela mídia, e aos aspectos plano institucional, a manipulação demagógica de pode-
procedimentais como fonte de informações direta e ne- res públicos, na prestação de serviços de lazer e progra-
cessariamente vinculada ao fazer corporal. mas de atividade física, e o uso de instituições públicas
de pesquisa na geração de tecnologia e conhecimento a
Valores e conceitos serem utilizados pelo setor privado. No plano pessoal, da
vida cotidiana do cidadão, abre-se um espaço que favo-
A prática de jogos, esportes, lutas, danças e ginásticas rece os modismos, o consumismo exacerbado ou a im-
é considerada, no senso comum, como sinônimo de saú- possibilidade de acesso, a anorexia entre adolescentes,
de. Essa relação direta de causa e efeito linear e incondi- a exclusão calcada em estereótipos e padrões corporais,
cional é explorada e estimulada pela indústria cultural, do no comércio clandestino de anabolizantes, entre outros.
lazer e da saúde ao reforçar conceitos e cultivar valores, Nesse sentido, para além do suporte de informa-
no mínimo questionáveis, de dieta, forma física e mode- ções de caráter científico e cultural, é responsabilidade
los de corpo ideais. da Educação Física escolar diversificar, desmistificar,
Atrelada a essas premissas inevitavelmente carrega- contextualizar, e, principalmente, relativizar valores e
das de valores ideológicos e a interesses econômicos, conceitos da cultura corporal de movimento.
a prática da atividade física é vinculada diretamente ao Assim, o aprendizado das relações entre a prática de
consumo de bens e de serviços (equipamentos, acade- atividades corporais e a recuperação, manutenção e pro-
mias, espaços de lazer, complementos alimentares, pres- moção da saúde deve incluir o sujeito e sua experiência
crições de treinamento), citada como método infalível no pessoal ao considerar os benefícios, os riscos, as indica-
combate ao uso abusivo de álcool, fumo e drogas, e como ções e as contraindicações das diferentes práticas da cul-
recurso de integração social do jovem e do adolescente. tura corporal de movimento e as medidas de segurança
Em síntese, os conceitos e valores sobre as práticas no seu exercício. O cotidiano postural, o tipo de trabalho
corporais são divulgados dando mais ênfase aos pro- físico exercido, os hábitos de alimentação, sono, lazer e
dutos da prática e menos aos processos. Assim, a prá- interação social, o histórico pessoal de relação com as
tica do esporte resultaria necessariamente em saúde, a atividades corporais constituem um sujeito real que deve
dança em capacidade expressiva, a convivência lúdica ser considerado na formulação de qualquer programa de
em relacionamento integrado, o exercício em boa forma, saúde que envolva atividade física.
o esforço em sucesso e bem-estar, a prática sistemáti-
ca em disciplina, e a superação de limites na satisfação Procedimentos
e no prazer. As práticas da cultura corporal aparecem,
quase sempre, em relações de causa e efeito que não Principalmente nas zonas urbanas, as atuais condi-
são necessariamente verdadeiras e, em alguns casos, em ções socioeconômicas, como o desemprego crescente, a
premissas efetivamente falsas (por exemplo, de que exer- informatização e automatização do trabalho, a urbaniza-
cícios abdominais emagrecem). Parece restar ao sujeito ção descontrolada e o consumismo, favorecem a forma-
apenas submeter-se, adaptar-se a metas e padrões esta- ção de um ambiente em que o cidadão convive com a po-
belecidos de antemão. luição, a violência, a deterioração dos espaços públicos de
Ou, sentindo-se incapaz, alienar-se, não se permi- lazer e a falta de tempo para a atividade física e convívio
tindo vivenciar a experiência. É necessário fazer um social. Esse contexto contribui para a geração de um estilo
contraponto ao incluir outras interpretações sobre os de vida caracterizado pelo sedentarismo, pelo estresse e
elementos e as possibilidades que se abrem ao educan- pela alimentação inadequada, resultando num crescente
do durante os processos. Por exemplo, a mobilização de aumento de mortes por doenças cardiovasculares.
afetos e sentimentos de medo, vergonha, prazer, inclu- Essa situação, somada à falta de infraestrutura públi-
são e exclusão; as sensações de prazer, dor, preguiça, ca para atividades corporais, transforma as horas diante
exaustão e satisfação; a negociação de interesses pes- da televisão em uma das poucas opções de lazer para
soais e grupais; a diversidade de formas de sistematiza- a maioria da população, especialmente para crianças e
ção de programas de atividade física, os riscos de con- adolescentes, o que leva à diminuição da atividade mo-
LEGISLAÇÃO

tusão a curto e longo prazos. O exemplo mais gritante tora, ao abandono da cultura de jogos infantis e à subs-
dessa distorção é o discurso sobre os talentos inatos que tituição da experiência de praticar atividades pela de
omitem os processos de treinamento e desenvolvimento assistir passivamente às práticas da cultura corporal de
que antecedem as conquistas e as vitórias. movimento.

103
Não bastasse essa conjuntura, a Educação Física es- ficativo, que permita, por exemplo, comparar a capoeira
colar, em muitos contextos, ainda reproduz modelos de que se pratica na Bahia com a capoeira que se pratica em
alienação e consumismo no próprio tratamento metodo- São Paulo. Pode-se, ao contextualizar aspectos relativos
lógico, excluindo alunos do processo de aprendizagem à expressão cultural e ao treinamento para competição,
por não resolver uma questão básica: como fazer para explicitar a trajetória da imigração de uma cultura, sua
que todos tenham a experiência de fazer? Como permitir apropriação por outras culturas, trazendo à tona os valo-
que cada um, a seu modo, tenha as oportunidades de res e usos dados por seus protagonistas.
experimentar?
Nenhum discurso racional, por mais elaborado que MEIO AMBIENTE
seja, pode substituir a experiência prática e a vivência
corporal. O movimento é real e não virtual. O gesto é a As interseções da Educação Física com este tema
sensação, a emoção, a reflexão, a possibilidade de comu- transversal, no que diz respeito ao cuidado de si mes-
nicação e satisfação. Todas as modalidades de esporte, mo como um elemento integrante do meio ambiente e
dança ou ginástica, têm existência na medida em que são à responsabilidade social decorrente, estão diretamente
exercidas por pessoas. Pode parecer óbvio, mas a cultura vinculadas aos aspectos desenvolvidos no item Saúde.
corporal existe na medida em que é cultivada. No entanto, algumas outras reflexões são necessárias.
Na sociedade contemporânea assiste-se ao cultivo de
PLURALIDADE CULTURAL atividades corporais praticadas em ambientes abertos e
próximos da natureza. São exemplos dessa valorização o
A Educação Física permite que se vivenciem diferentes surfe, o alpinismo, o bicicross, o jet-ski, entre os esportes
práticas corporais advindas das mais diversas manifes- radicais; e o montanhismo, as caminhadas, o mergulho
tações culturais. Permite também que se perceba como e a exploração de cavernas, entre as atividades de lazer
essa variada combinação de influências está presente ecológico. Se por um lado é possível perceber nessas prá-
na vida cotidiana. Particularmente no Brasil, as danças, ticas uma busca de proximidade com o ambiente natural,
os esportes, as lutas, os jogos e as ginásticas, das mais também é necessário estar atento para as consequências
variadas origens étnicas, sociais e regionais, compõem da poluição sonora, visual e ambiental que essas ativida-
um vasto patrimônio cultural que deve ser valorizado, des podem causar. As características básicas de algumas
conhecido e desfrutado. O acesso a esse conhecimento dessas modalidades, como o individualismo, a busca da
contribui para a adoção de uma postura não preconcei- emoção violenta (adrenalina), a necessidade de equipa-
mentos sofisticados e caros, devem ser discutidas e com-
tuosa e não discriminatória diante das manifestações e
preendidas no contexto da indústria do lazer. Ou seja, é
expressões dos diferentes grupos étnicos e sociais (reli-
ingênuo pensar que apenas a prática de atividades junto
giosos, econômicos e de diferentes origens regionais) e
à natureza, por si só, é suficiente para a compreensão das
das pessoas que deles fazem parte.
questões ambientais emergentes.
Na escola, a Educação Física pode fazer um trabalho
Embora possa existir, entre os adeptos dessas mo-
de pesquisa e cultivo de brincadeiras, jogos, lutas e dan-
dalidades, o envolvimento com as questões ambientais,
ças produzidos na cultura popular, que por diversas ra-
o que determinará o nível reflexivo sobre uma ou outra
zões correm o risco de ser esquecidos ou marginalizados questão ambiental é a reflexão crítica e atenta realizada
pela sociedade. Pesquisar informações sobre essas práti- pelos praticantes de cada atividade.
cas na comunidade e incorporá-las ao cotidiano escolar, Sempre que possível é interessante trazer para o coti-
criando espaços de exercício, registro, divulgação e de- diano uma visão sobre o equilíbrio dos sistemas e de so-
senvolvimento dessas manifestações, possibilita ampliar ciedade sustentável que seja a mais próxima da realidade
o espectro de conhecimentos sobre a cultura corporal local. Com a realização de atividades no meio natural,
de movimento. Dessa forma, a construção de brinque- pode-se desenvolver uma atitude de observador aten-
dos, a prática de brincadeiras de rua dentro da escola, to às mudanças, traçando possíveis relações que o meio
a inclusão de danças populares de forma sistemática - e estabelece com o organismo durante uma prática, e de
não apenas eventual - nas festas e comemorações contri- uma atitude no cotidiano que busque minimizar as mar-
buem para a construção de efetivas opções de exercício cas deixadas pelo homem no meio ambiente.
de lazer cultural e para o diálogo entre a produção cultu- Pode-se, ainda, desenvolver o hábito de silenciar
ral da comunidade e da escola. quando em meio à natureza, ampliando a capacidade
A intensa veiculação pela mídia e o caráter quase uni- de percebê-la, de sentir-se parte, de responsabilizar-se
versal de determinadas modalidades esportivas, como o pela sua manutenção. Esse enfoque pode representar
futebol, o vôlei, o basquete, o boxe e o atletismo, permi- um grande diferencial, pois desperta para a percepção
tem a apreciação e a comparação de estilos e maneiras de que os seres humanos são parte integrante do meio
de praticá-las, relacionando-as a diversos grupos sociais ambiente, e que poder observá-lo, estudá-lo, deve con-
e culturais. No caso da dança, é possível questionar as tribuir para a compreensão de seus próprios desequilí-
distorções decorrentes da massificação, da banalização e brios, projetados no meio por intermédio das suas ações
do caráter competitivo impostos pela indústria do lazer e e interferências.
do turismo, em manifestações como o samba e a capoei- Dentro do projeto pedagógico de cada escola, por
LEGISLAÇÃO

ra, por exemplo. meio das aulas de Educação Física, inclui-se essa dimen-
As regras dos jogos, as adaptações dos esportes, as- são no trabalho cotidiano, com a utilização tanto dos es-
sim como as expressões regionais, ganham um sentido paços da escolacomo das áreas próximas, tais como par-
maior quando vivenciadas dentro de um contexto signi- ques, praças e praias, espaços possíveis para as práticas.

104
Representam o meio ambiente com o qual o indiví- pregam a busca da aptidão física por meio do sofrimen-
duo se relaciona e são oportunos para o desenvolvimen- to, subjugando o corpo pela vontade apoiada em um
to das propostas de trabalho, pois viabilizam a discussão modelo de dominação e no consumo de bens e serviços.
sobre a adequação de espaços para a prática da cultura Outra questão presente no universo da cultura cor-
corporal, seja em locais mais próximos da natureza, seja poral de movimento e da sexualidade diz respeito à con-
nos centros urbanos. figuração de padrões de gênero homem e mulher e sua
relação com o corpo e a motricidade, padrões que se
ORIENTAÇÃO SEXUAL constroem e que são cultivados desde a infância, pauta-
dos em referências biológicas e socioculturais.
As práticas da cultura corporal de movimento se ca- Essa construção pode ser compreendida pela explici-
racterizam, entre outros aspectos, por serem espaços de tação das atitudes cotidianas, muitas vezes inconscien-
produção simbólica, de linguagens por meio das quais o tes e automáticas, pautadas em valores preconceituo-
homem se relaciona e se comunica com o outro e com sos. Por exemplo, com relação à habilidade das meninas
sua própria cultura. Jogar, lutar e dançar pode represen- para jogar futebol, é comum surgirem frases como: “ela
tar, portanto, a possibilidade de expressar afetos e sen- joga bem, parece até homem jogando”, “aquela menina
timentos, de explicitar desejos, de seduzir, de exibir-se. é meio macho, olha como ela joga bem, pode até jo-
Essa comunicação ocorre dentro de certos padrões gar com a gente”, e, nesses casos, é fundamental que se
estabelecidos pela própria cultura corporal de movimen- questione o modelo de eficiência que tem como referên-
to, o que envolve valores, normas, atitudes, conceitos e, cia o jogo masculino. Essa visão em si já está permeada
inevitavelmente, preconceitos. de valores culturais e estabelece padrões de identificação
Para o jovem e o adolescente, as práticas da cultura para a caracterização de gênero em relação com a mo-
corporal de movimento podem constituir-se num instru- tricidade, pois as características mais genéricas da motri-
mento interessante de comunicação e construção de au- cidade do gênero masculino, como força e velocidade,
toimagem, mas podem também, se certos cuidados não e do gênero feminino, como coordenação e equilíbrio,
forem tomados, constituir-se num contexto ameaçador e devem ser compreendidas independentemente do valor
desfavorável para essa mesma autoimagem. O ambiente que socialmente se atribui a elas.
sociocultural, permeado de valores preestabelecidos de Pode-se estimular os alunos a comparar o desenvol-
beleza, estética corporal e gestual, eficiência e desempe- vimento do futebol a outros esportes, como o basquete,
nho, se não for objeto de uma postura crítica e reflexiva, que inicialmente foram praticados apenas por homens e
pode estabelecer padrões cruéis para a maioria da po- que, num segundo momento, desenvolveram-se sob as
pulação, abrindo espaço para a tirania dos modelos de características femininas, criando um estilo próprio, nem
corpo e comportamento. melhor nem pior que o modelo masculino. Pode-se atuar
Nesse sentido, a valorização do estilo pessoal e do in- concretamente contra o preconceito expresso na falsa
teresse de cada pessoa em aperfeiçoar-se numa ou nou- ideia de que “homem não dança”, cultivando as possibi-
tra modalidade contribui para o cultivo da cultura cor- lidades de expressão masculina nas atividades rítmicas e
poral de movimento como instrumento de sociabilidade expressivas.
e convivência saudável. Por exemplo, numa atividade de Uma breve análise sobre a parceria coreográfica que
vivência e apreciação crítica, pode-se conhecer a diver- se estabelece entre uma porta bandeira e um mestre-sa-
sidade de linguagens corporais que se expressam num la, em que uma movimentação centrada e sutil da pri-
desfile de escolas de samba, em que crianças, passistas, meira atua em complementariedade e como referência
malabaristas, ritmistas, ala das baianas compõem, cada para uma movimentação mais dinâmica do segundo,
um a seu modo, uma manifestação de intensa riqueza pode ilustrar uma reflexão sobre a riqueza de expressão
simbólica. Essa experiência pode ser pano de fundo para que pode resultar do diálogo de características gestuais
uma reflexão sobre conceitos e preconceitos relativos à relativas ao gênero. As aulas mistas de Educação Física
nudez, ao corpo do idoso e do jovem, e à diversidade de podem dar oportunidade para que meninos e meninas
biotipos e formas de expressão corporal. Outra vez se convivam, observem-se, descubram-se e possam apren-
pretende evitar uma abordagem apenas discursiva, mas der a ser tolerantes, a não discriminar e a compreender
sim buscar a construção de situações nas quais concei- as diferenças, de forma a não reproduzir, de forma este-
tos, preconceitos, valores e atitudes tenham consequên- reotipada, relações sociais autoritárias.
cias efetivas, reais, concretas. Cabe, por último, alertar para a importância de uma
Ainda em relação à valorização do corpo e do mo- reflexão dos professores sobre quais são os valores e os
vimento como instrumento de relação, é comum a conceitos, cultivados implicitamente, que mantêm, ins-
seguinte equação: a possibilidade de satisfação depende talam ou ainda reforçam um papel de submissão nas re-
da aparência; a aparência se constrói com esforço; e o lações que ocorrem no ambiente escolar, pautadas nas
esforço é sinônimo de sofrimento. Nesse contexto, se questões de gênero.
justificariam falsas ideias como a de que “o exercício para
fazer efeito tem de doer”, ou de que “determinado ali- TRABALHO E CONSUMO
mento engorda”.
LEGISLAÇÃO

Abordar essa dimensão dentro de uma ótica de au- A crescente divulgação, pela mídia, das atividades
toconhecimento para o autocuidado e ampliá-la como corporais pode ser positiva como estimulo à prática e
sendo um direito almejar uma vida prazerosa possibili- à divulgação da cultura corporal, mas negativa quando
tarão uma contraposição aos interesses econômicos que agrega valores e reproduz modelos estereotipados. Mais

105
uma vez busca-se apontar para a necessidade de esti- como isso ocorre atualmente; relacionar o surgimento
mular no aluno a reflexão crítica sobre as relações que das escolinhas de futebol com o desaparecimento, qua-
envolvem o consumo. se que por completo, dos campos de futebol de várzea
Pode-se considerar, junto aos alunos, quais são os nos grandes centros urbanos; questionar os critérios uti-
equipamentos esportivos realmente fundamentais para a lizados para os recortes que são feitos sobre o conheci-
realização de uma determinada prática e, por meio dessa mento da cultura corporal, por exemplo pelas academias
mesma análise, abordar a evolução desses equipamen- de natação, quando elegem os quatro estilos de compe-
tos, relacionando-os com aspectos técnicos de conforto tição como objetos de ensino e aprendizagem represen-
ou moda. Trata-se de refletir, principalmente junto aos tativos desse universo de conhecimento.
grupos de jovens e adolescentes, de que modo esses
produtos são vinculados pela mídia à prática de ativida- APRENDER E ENSINAR EDUCAÇÃO FÍSICA NO EN-
des e em que medida se tornam objeto de desejo, pois SINO FUNDAMENTAL
sua aquisição (tênis, skate, roupas) implica a inclusão ou
não a um determinado grupo de referência. É necessário visualizar com nitidez os diversos
Torna-se muito importante ao professor que trabalha caminhos que se estabelecem entre os sujeitos da apren-
com essa faixa etária ampliar seu olhar para essa questão, dizagem e os objetos de ensino. E, nesse sentido, precisar
pois o adolescente, ao lidar com as questões de consumo, com clareza as relações entre o que, para quem, e como
deve poder criticar e reconstruir seus modelos e ideais de se ensina e se aprende a cultura corporal de movimento
vida. Essa situação de transformação, com todos os con- na escola.
flitos que acarreta, fica oculta muitas vezes, pois o foco
é colocado na ação de consumir: o consumo é apresen- O que ensinar?
tado como forma e objetivo da vida, com a criação per-
manente de novas necessidades, transformando bens de O principal instrumento que os Parâmetros Curricu-
consumo supérfluos ou conspícuos em vitais. A isto cha- lares Nacionais trazem nesta direção é a abordagem dos
ma-se consumismo. O consumismo pode ser visto como conteúdos escolares em procedimentos, conceitos e ati-
uma das chaves para a interpretação da vida cotidiana tudes.
na atualidade, tanto da vida cotidiana dos setores sociais Apontam para uma valorização dos procedimentos
que podem consumir como também por sua incorpo- sem restringi-los ao universo das habilidades motoras e
ração como desejo e expectativa nos setores que têm
dos fundamentos dos esportes, incluindo procedimentos
menos acesso “ou estão fortemente excluídos” aos bens
de organização, sistematização de informações, aperfei-
e serviços oferecidos pelo mercado. Como exemplo, po-
çoamento, entre outros. Aos conteúdos conceituais de
de-se apontar o modelo de boa forma física veiculado
regras, táticas e alguns dados históricos factuais de mo-
com as práticas e os equipamentos nas academias, que
dalidades somam-se reflexões sobre os conceitos de éti-
pode ser analisado como inclusivo de alguns grupos que
ca, estética, desempenho, satisfação, eficiência, entre ou-
podem consumir, afirmando determinados valores esté-
tros. E, finalmente, os conteúdos de natureza atitudinal
ticos e de moda, e exclusivo daqueles que não podem
são explicitados como objeto de ensino e aprendizagem
consumir nem a moda, nem pagar a academia. Não se
trata de ser contra a academia e suas práticas, pois elas e propostos como vivências concretas pelo aluno, o que
representam significativa e benéfica influência nos há- viabiliza a construção de uma postura de responsabili-
bitos de vida de parte da população, mas sim, a partir dade perante si e o outro. Essa explicitação minimiza a
de uma análise contextualizada e mais aprofundada, de construção de valores e atitudes, por meio do chamado
trazer para a discussão com os alunos quais os conheci- “currículo oculto” .
mentos científicos que embasam suas práticas, quais os Propõe-se, ainda, a inclusão de conteúdos concei-
modismos e como se exploram comercialmente certos tuais, procedimentais e atitudinais relativos aos próprios
produtos gerando o ato de consumir inconscientemente. processos de aprendizagem, visando à construção de
Ainda com relação ao tema Trabalho e Consumo, é uma autonomia para aprender a aprender.
interessante lembrar da produção de jogos, brinquedos
e materiais necessários para determinadas práticas. Po- Para quem ensinar?
de-se desenvolver a visão histórica da produção desses
equipamentos e conhecimentos tratados dentro da cul- Quem é o aluno do ensino fundamental? Quais são os
tura corporal de movimento e sua forma de divulgação seus interesses de aprendizagem? Quais são os seus co-
através dos tempos. nhecimentos prévios? Como são compostas as classes?
Por exemplo, sobre as chamadas pipas ou papagaios, Quais as transformações corporais, cognitivas, afetivas e
podem-se levantar algumas questões: como se ensina e sociais que ocorrem neste aluno durante o ensino fun-
se aprende a fazer e a usar? Qual é o valor de saber fazer damental? Que grau de autonomia em relação ao pró-
e utilizar a sua produção? Como as crianças têm apren- prio processo de aprendizagem o aluno pode assumir
dido, tanto no passado como atualmente, a construir os em cada etapa da escolaridade? As respostas a essas e
próprios brinquedos? Para refletir sobre a transforma- a inúmeras outras perguntas devem dar subsídios para
LEGISLAÇÃO

ção da produção cultural em produto a ser consumido, que os processos de ensino e aprendizagem incluam o
podem-se levantar vários exemplos: tendo como objeto aluno em relação interativa com os objetos de conhe-
de análise a capoeira, considerar como foram historica- cimento da área. É fundamental que não se percam de
mente produzidos e transmitidos seus conhecimentos e vista a duração e a complexidade dessa interação, pois

106
da mesma forma que os objetos de ensino transformam Em síntese, o que se quer ressaltar é que nem os alu-
os sujeitos da aprendizagem, são, ao mesmo tempo, por nos, nem os conteúdos e tampouco os processos de en-
eles transformados. sino e aprendizagem são virtuais ou ideais, mas sim reais,
É interessante refletir e considerar a qualidade e a vinculados ao que é possível em cada situação e em cada
quantidade de experiências de aprendizagem oferecidas momento.
pela escola, em relação com o meio sociocultural vivi-
do pelo aluno fora dela, no qual é bombardeado pela Prazer, técnica e interesses
indústria de massa da cultura e do lazer com falsas ne-
cessidades de consumo, carregado de mitos de saúde, Em função da própria natureza lúdica de muitas das
desempenho e beleza, de informações pseudocientíficas práticas da cultura corporal e dos diferentes contextos e
e falácias. Em suma, uma sociedade que promete para intenções em que são exercidas, muito facilmente uma
muitos e viabiliza para poucos. série de confusões se estabelecem na concepção dos
Os valores, os preconceitos, e os estereótipos presen- processos de ensino e aprendizagem. Essas concepções
tes no ambiente são o pano de fundo determinante para se expressam nas propostas curriculares originárias de
a geração de interesses e motivações dos alunos e, nes- vários estados brasileiros da seguinte forma:
se contexto, deve-se valorizar a função social da escola - em alguns casos, julga-se adequado nos dois pri-
como espaço de experiências em que ampla parcela da meiros ciclos uma ênfase nas atividades lúdicas
população pode ter acesso à prática e à reflexão da cul- por meio de jogos e brincadeiras, considerando os
tura corporal de movimento. perigos de uma especialização técnica precoce e
seus efeitos decorrentes;
Como ensinar? - noutras, justamente em função da suposta preca-
riedade técnica dos jogos e brincadeiras exercidos
Nas aulas de Educação Física, os aspectos procedi- nesses primeiros ciclos, propõem-se exercícios de
mentais são mais facilmente observáveis, pois a aprendi- habilidades e fundamentos esportivos como cons-
zagem desses conteúdos está necessariamente vinculada trução de pré-requisitos para a aprendizagem de
à experiência prática. No entanto, a valorização do de- modalidades esportivas nos ciclos posteriores.
sempenho técnico com pouca ênfase no prazer ou vice-
-versa, a abordagem técnica com referência em modelos Em ambos os casos, o lúdico é visto como necessa-
muito avançados, a desvalorização de conteúdos concei- riamente satisfatório e como sinônimo de ausência de
tuais e atitudinais e, principalmente, uma concepção de técnica ou, no mínimo, como descompromisso com a
ensino que deixa como única alternativa ao aluno adap- eficiência.
tar-se ou não a modelos predeterminados têm resultado, Em oposição, em busca da eficiência técnica é atribuí-
em muitos casos, na exclusão dos alunos. Portanto, além do um caráter de seriedade e de mecanicismo, pautado
de buscar meios para garantir a vivência prática da ex- em critérios de desempenho via de regra equivocados.
periência corporal, ao incluir o aluno na elaboração das Se, de fato, as atividades lúdicas contêm um caráter de
propostas de ensino e aprendizagem são consideradas fruição, de liberdade, de prazer e de improvisação, tam-
sua realidade social e pessoal, sua percepção de si e do bém é fato que constituem um universo de desafios na
outro, suas dúvidas e necessidades de compreensão des- direção da eficiência e do aperfeiçoamento técnico. E
sa mesma realidade. A partir da inclusão, pode-se consti- vice-versa, todo esforço na direção do aperfeiçoamento
tuir um ambiente de aprendizagem significativa, que faça técnico, seja em que grau for, pode e deve ser fonte de
sentido para o aluno, no qual ele tenha a possibilidade satisfação e prazer.
de fazer escolhas, trocar informações, estabelecer ques- Por exemplo, um jogo de futebol de crianças inician-
tões e construir hipóteses na tentativa de respondê-las. tes na modalidade, mesmo sendo tecnicamente não mui-
Na aprendizagem e no ensino da cultura corporal de to elaborado, apresenta procedimentos que são frutos
movimento, trata-se basicamente de acompanhar a ex- de aprendizagem, resultantes de esforços e adaptações.
periência prática e reflexiva dos conteúdos na aplicação Mesmo sendo cativante e prazeroso, nem por isso deixa
dentro de contextos significativos. Durante esse acom- de conter momentos de frustração e insatisfação. Revela
panhamento, diversificando estratégias de abordagem o que é possível realizar a partir das referências obtidas
dos conteúdos, professor e aluno podem participar de no ambiente sociocultural, dos recursos corporais dispo-
uma integração cooperativa de construção e descober- níveis e das experiências anteriores daqueles jogadores.
ta, em que o professor promove uma visão organizada Trata-se de compreender, na construção das pro-
do processo, como possibilidades reais (experiência so- postas de ensino e aprendizagem, a busca da eficiência
cioculturalmente construída, referência para a leitura da (técnica) e da satisfação (prazer) como aspectos simultâ-
tentativa do aluno), e o aluno contribui com o elemento neos e complementares e não como antagônicos ou ex-
novo (o seu estilo pessoal de executar e refletir, e, por-
cludentes. Aspectos que podem co-existir, mas que não
tanto, de aprender), de que se apropria, trazendo a sínte-
são, necessariamente, vinculados ou decorrentes um do
se da atualidade para o momento da aprendizagem (co-
outro.
LEGISLAÇÃO

nhecimentos prévios, recursos de troca de informações,


Nesse sentido, é fundamental compreender de que
informações da mídia etc.). Desse modo, ambos podem
modo se articulam os conhecimentos técnicos, a satis-
ressignificar suas estruturas interiores de aprendizagem
fação/prazer e, principalmente, os interesses do aluno
e de ensino e elaborar a intenção e a predisposição ne-
como motivação para a aprendizagem, assim como si-
cessárias para a construção do novo e do atual.

107
tuar quais conceitos de técnica, satisfação e interesse es- apenas os exercícios baseados em recortes e aspectos
tão implícitos em cada concepção de ensino e aprendi- isolados (os fundamentos de uma modalidade esporti-
zagem presente em cada contexto. va, por exemplo) não serão suficientes para, somados,
Para refletir sobre como se estabelecem os referen- contemplarem a aprendizagem de cada uma dessas prá-
ciais para a aprendizagem técnica, pode-se utilizar, por ticas da cultura corporal de movimento, principalmente
exemplo, o ensino da natação. Por uma série de razões nas dinâmicas que envolvem aspectos relacionais. Nem
históricas e sociais, e de interesses econômicos, dentre por isso a aprendizagem dos aspectos técnicos, táticos
todo o universo de conhecimentos construídos pelo ho- ou estratégicos deve ser vista como possível apenas por
mem na sua relação com o meio líquido se faz um recor- meio de exercícios de repetição, descontextualizados,
te priorizando os quatro estilos de natação presentes nas sérios, mecânicos, inclusive nas situações específicas de
competições esportivas. Muito facilmente, esses estilos aprendizagem motora. Deve-se buscar sempre a formu-
vão sendo considerados como sinônimo de natação, ou lação de atividades significativas, que façam sentido para
seja, aprender a nadar significa aprender a nadar os es- o aluno.
tilos clássico, costas, peito e borboleta. Outras situações Para considerar quanto de prazer e satisfação podem
como o nadar em rios, o nadar no mar, os vários tipos de estar presentes na aprendizagem de técnicas específicas,
mergulho e salto, as brincadeiras na água, são excluídas quanto a aprendizagem técnica pode contribuir para uma
como referenciais de técnica e situações de produção de melhor e mais satisfatória movimentação, e, ao mesmo
conhecimento. No extremo seria considerar que, nessas tempo, como os interesses do aluno contribuem, a cada
situações, os conhecimentos utilizados são inatos e não contexto, no interesse pelo processo de aprendizagem
frutos de um processo de aprendizagem, ou, no mínimo, e de ensino, sugere-se a análise de três eixos motivacio-
que neles a técnica não está presente. O mesmo raciocí- nais para a aprendizagem e o ensino da cultura corporal
nio poderia ser aplicado à dança, ao futebol ou ao judô, de movimento: a resolução de problemas, o exercício de
entre outros. soluções por prazer funcional e de manutenção, e a in-
No exemplo da natação, sob esse critério de valo- serção nos grupos de referência social.
rização dos quatro estilos como referencial de análise Nos dois primeiros está presente, com maior ênfa-
técnica, são construídas as propostas de ensino e apren- se, a busca da eficiência e da satisfação, localizada na
dizagem, o que via de regra resulta numa visão restrita aprendizagem de aspectos procedimentais e conceituais
e excludente de outras possibilidades de aprendizagem. e na consequente possibilidade de usufruir das conquis-
Talvez a mais restritiva delas seja a noção de certo e er- tas realizadas. No terceiro, predomina a valorização da
rado a partir de um referencial absoluto e não relativo. aprendizagem pela possibilidade de utilização de sua
Sempre que se falar em ensino e aprendizagem de produção, como instrumento de inserção social, de co-
alguma técnica corporal, é necessário ter claro qual o municação e diálogo, de expressão de afetos e sentimen-
universo de conhecimento que se está elegendo como tos.
referencial; e qualquer que seja esse referencial, omitir
a técnica é obrigar o sujeito a “reinventar a roda”, alie- A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
nando-o dos conhecimentos socialmente construídos.
Valorizar o conhecimento técnico como referência ideal Dentro de cada prática da cultura corporal de mo-
e imutável é desconsiderar o sujeito da aprendizagem e vimento existe um saber-fazer em constante mudança,
inviabilizar a sua contribuição nessa construção. um conjunto de procedimentos que, ao longo do tempo,
Em determinados momentos, optar por uma tentativa mostra-se mais eficiente e adequado para a solução de
gestual mais elaborada pode significar uma possibilidade determinados problemas ou circunstâncias.
mais arriscada de obter satisfação, embora com menos Esses conhecimentos evoluem e se detalhando de
chances de eficiência objetiva, como, por exemplo, ao maneira cada vez mais sutil e complexa, constituindo a
tentar, num jogo de futebol, um drible numa situação em técnica específica de cada modalidade da cultura corpo-
que um passe seria o mais previsível. Em caso de suces- ral de movimento, cuja expressão máxima, via de regra,
so, a satisfação obtida decorre justamente da eficiência se encontra no exercício profissional dessas mesmas prá-
na execução de um gesto com um grau de dificuldade ticas.
maior. Na perspectiva do estudante, os conhecimentos téc-
Nesse contexto, quando se diz popularmente que nicos de cada modalidade corporal disponíveis no am-
“jogo é jogo e treino é treino”, o que se explicita é o al- biente sociocultural são ao mesmo tempo um problema
cance e a limitação que a própria técnica traz em si mes- e uma solução.
ma. O exercício de alguma prática da cultura corporal Problema porque conseguir incorporá-los na prática
numa situação em que todas as variáveis pudessem ser envolve um esforço adaptativo; solução porque utilizá-
controladas e previstas inviabilizaria a ligação entre a téc- -los significa a ampliação de recursos para obter eficiên-
nica e o uso intencional que o sujeito faz dessa mesma cia e satisfação.
técnica, com o seu estilo pessoal, e da improvisação de- Durante o processo de aprendizagem, os procedi-
terminada pelo momento. No caso específico dos jogos mentos técnicos de coordenação de gestos, de adap-
e dos esportes, tornaria mecânica uma ação cuja riqueza tação de movimentos a determinadas regras e ritmos,
LEGISLAÇÃO

reside na sua fascinante imponderabilidade. e de uso do espaço e dos objetos constituem-se em


No caso específico dos jogos e esportes, é preciso problemas a serem resolvidos pelos alunos. Além deles,
ter claro que apenas as situações de jogo são insuficien- incluem-se ainda o controle e a expressão de sentimen-
tes para garantir a aprendizagem do próprio jogo e que tos e emoções, a superação de inibições, a resolução de

108
problemas táticos e estratégicos, a comunicação e a ne- Especificamente nos procedimentos gestuais/moto-
gociação de atitudes de maneira adequada com os par- res, a sua realização produz sensações corporais de ex-
ceiros ou eventuais adversários. citação, tensão, alteração de tônus, relaxamento, fruição,
Resta saber, a cada momento da aprendizagem, em cansaço, percepção de si e do outro por meio do toque,
que grau de complexidade a referência técnica é obser- ou seja, experiências corporais ricas o suficiente para que
vável para o aluno e de que maneira esses conhecimen- se justifiquem por si só, em determinados contextos.
tos possam ser considerados como problemas possíveis Ainda no plano gestual, a possibilidade de utilização
de serem solucionados. E o que constitui esse observável, se coloca pela própria natureza desse conhecimento,
para o aluno, são os seus conhecimentos prévios, são as pois o gesto só tem existência ao ser realizado. É possível
vivências anteriores que de alguma maneira possam ser filmá-lo, fotografá-lo, desenhá-lo, mas a sua concretitu-
relacionadas com a situação-problema colocada. de só é plena na execução, não deixa produto da ação,
Os conhecimentos prévios podem ser mobilizados pois é ela própria. Fazer de novo o que já se conhece é
por diversos recursos operacionais, diversificando as sempre, em última análise, fazer o novo.
possibilidades de localização dos problemas e no esta- Vale lembrar a importância, ao discernir o prazer fun-
belecimento de metas. Fazem parte desses recursos as cional e de manutenção, da repetição pura e simples de
informações, os modelos e as interferências do educa- automatismos estereotipados.
dor, as informações veiculadas pela mídia, a observa- É fundamental que no cotidiano escolar se garantam
ção e apreciação do desempenho de outros praticantes as condições para o usufruto dos conhecimentos resul-
(colegas, alunos de mais idade, educadores, praticantes tantes dessas vivências, que se dê destino à produção
adultos), as tentativas de imitação, a auto-avaliação a dos alunos.
partir de sensações proprioceptivas e de imagens refle- Da valorização dessa utilização de conhecimentos, no
tidas num espelho, a observação de registros em vídeo, plano pessoal e grupal, pode derivar a prática sistemática
entre outros. para a manutenção e a promoção da saúde, e como re-
Especificamente em relação aos aspectos técnicos, a curso para o uso do tempo disponível para o lazer, tanto
utilização de modelos pode ser útil na medida em que dentro como fora da escola.
situa o aluno tanto no que diz respeito às coordenações
executadas com êxito quanto àquelas em que o êxito não A INSERÇÃO NOS GRUPOS DE REFERÊNCIA SOCIAL
é obtido. Por isso, assim como é importante ressaltar di-
ficuldades que ainda podem ser superadas, também o A posse e o uso de conhecimentos da cultura cor-
é ressaltar os ganhos já realizados. O modelo externo poral de movimento possibilitam o cultivo de um sen-
deve ser sentido e compreendido como referência or- timento de pertinência ao grupo, desde o sociocultural
ganizadora para a busca do modelo interno, do modelo mais abrangente até os grupos de convivência cotidia-
individual, e como foco do processo de aprendizagem e na. Podem constituir-se em valioso instrumento de re-
ensino no presente, no possível e no desejável de cada lacionamento social, pois, ao jogar, lutar, dançar ou fa-
momento. zer ginástica, o aluno pode revelar intenções, expressar
A adequação do referencial utilizado é fundamental, sentimentos, construir estratégias e criar códigos de co-
pois uma expectativa muito além da possibilidade de êxi- municação.
to, se for sistemática, pode criar uma sensação de frus- Conhecer para pertencer ao grupo, conhecer para
tração (incapacidade). Da mesma forma, uma expectativa poder se relacionar e compartilhar experiências, conhe-
muito aquém das possibilidades do aluno no limite ex- cer para trazer ao grupo vivências de outros ambientes
tremo vai gerar desinteresse. socioculturais.
Todas as considerações feitas até aqui permitem que Pode-se incluir aqui a satisfação gerada pela possi-
se relativizem definitivamente as noções de certo e erra- bilidade de exibir aos outros as conquistas realizadas,
do na aprendizagem das práticas da cultura corporal de comparar desempenhos, viabilizar atividades competi-
movimento. tivas, cooperar servindo de modelo e referência para a
Em suma, as situações de resolução de problemas aprendizagem dos outros, utilizar esses conhecimentos
são promotoras de aprendizagem na medida em que, ao em situações de recreação.
mobilizar os conhecimentos prévios do sujeito, trazem
simultaneamente um desafio na direção da eficiência e Automatismo e atenção
da satisfação. A mediação entre o interesse pessoal e o
valor socialmente atribuído constitui, a cada situação, No ser humano constata-se uma tendência para a
motivação para a aprendizagem. automatização do controle na execução de movimentos,
desde os mais básicos e simples até os mais sofistica-
O EXERCÍCIO DE SOLUÇÕES POR PRAZER FUNCIO- dos. Essa tendência para a automatização é favorável
NAL E DE MANUTENÇÃO aos processos de aprendizagem das práticas da cultura
corporal de movimento desde que compreendida como
Os conhecimentos que derivam das situações de re- uma função dinâmica, mutável, como parte integrante
solução de problemas podem ser utilizados por prazer e não como meta final do processo de aprendizagem.
funcional e de manutenção. Ou seja, fazer por prazer e Nesse sentido, estabelecer uma relação entre a automa-
LEGISLAÇÃO

para não esquecer, utilizar um conhecimento que resul- tização de movimentos com a atenção necessária para o
tou de um esforço adaptativo de aprendizagem e que, controle de sua execução pode contribuir para torná-la
uma vez incorporado, pode ser exercido com um fim em um meio interessante na ampliação de recursos motores,
si mesmo. gestuais e da consciência corporal do indivíduo.

109
Em determinadas situações, poder realizar movimen- espaciais propostas pelo futebol constitui um problema
tos de forma automatizada, sem que seja necessária mui- a ser resolvido e esse problema solicita toda a atenção
ta atenção no controle da sua execução, é um recurso da criança durante as execuções iniciais. Com a prática
favorável sob o aspecto funcional. Por exemplo, quanto atenta, e à medida que as execuções ocorrerem de forma
mais automatizados estiverem os gestos de digitar um cada vez mais satisfatória e eficiente, a criança será capaz
texto, mais o autor pode se concentrar no assunto que de realizá-las de forma cada vez mais automática. Nesse
está escrevendo. No basquetebol, se o aluno já consegue momento, a introdução de uma regra limitando o má-
bater a bola com alguma segurança, sem precisar olhá-la ximo de dois “toques” na bola por jogada constitui um
o tempo todo, pode olhar para os seus companheiros problema a ser resolvido que chama a atenção do aluno
de jogo, situar-se melhor no espaço, planejar algumas para a reorganização de gestos que já estavam sendo
ações, e isso o torna um jogador melhor, mais eficiente, realizados de forma automática.
capaz de adaptar-se a uma variedade maior de situações. Propor a execução simultânea de duas situações de
Desse modo, a demanda atencional pode dirigir-se para movimento já previamente conhecidas constitui uma ou-
a coordenação com outros movimentos e a superação de tra forma de realizar esse tipo de intervenção. Por exem-
outros desafios. plo, solicitar do aluno a execução dos movimentos do
Esse processo se constrói a partir da quantidade de jogo de elástico dentro da estrutura rítmica de uma co-
execuções e da qualidade de experiências gestuais no reografia de rap ou funk.
sentido da atenção envolvida nas execuções. As práticas da cultura corporal de movimento, com-
No entanto, a repetição pura e simples, realizada de petitivas ou não, são contextos favoráveis de aprendiza-
forma mecânica e desatenta, além de ser desagradável, gem, pois permitem o exercício de uma ampla gama de
pode resultar num automatismo estereotipado. Assim, movimentos que solicitam a atenção do aluno na tentati-
em cada situação é necessário que o professor analise va de executá-los de forma satisfatória e adequada.
quais dos gestos envolvidos já podem ser realizados au- Elas incluem, simultaneamente, a possibilidade de
tomaticamente, sem prejuízo de qualidade, e quais soli- repetição para manutenção e prazer funcional e a opor-
citam a atenção do aluno no controle de sua execução. tunidade de ter diferentes problemas a resolver. Além
A intervenção do professor se dá a fim de criar situações disso, pelo fato de constituírem momentos de interação
em que os automatismos sejam insuficientes para a rea- social bastante significativos, as questões de sociabilida-
lização dos movimentos e que a atenção seja necessária de constituem motivação suficiente para que o interesse
para o seu aperfeiçoamento. pela atividade seja mantido.
A quantidade de execuções se justifica pela neces- Nesse sentido, uma atividade poderá se tornar desin-
sidade de alimentar funcionalmente os mecanismos de teressante para o aluno quando não representar mais um
controle dos movimentos e, se num primeiro momento é problema a ser resolvido, uma possibilidade de prazer
necessário um esforço adaptativo para que o aluno con- funcional pela execução em si ou uma motivação relacio-
siga executar um determinado movimento ou coordenar nada à interação social.
uma sequência deles, em seguida essa realização pode A interação e a complementaridade permanente en-
ser exercida e repetida por prazer funcional, de manuten-
tre a atenção e o automatismo no controle da execução
ção e de aperfeiçoamento.
de movimentos poderiam ser ilustradas pela imagem de
Simultaneamente, da quantidade de execuções de-
uma pessoa andando de bicicleta. Na roda de trás e nos
correm os efeitos fisiológicos de melhora da condição
pedais flui uma dinâmica repetitiva, de caráter automá-
respiratória e cardiovascular e o aumento da massa mus-
tico e constante, responsável pela manutenção do mo-
cular.
vimento e da impulsão. No guidão e na roda da frente
Em relação à atenção, ou seja, ao aspecto qualitativo,
predomina um estado de atenção, um alerta consciente
estão envolvidos complexos processos de ajuste neuro-
que opta, decide, direciona, estabelece desafios e metas,
muscular e de equilíbrio, regulações de tônus muscular,
interpretação de informações perceptivas, que são pos- resolve problemas de trajetória, enfim, que dá sentido
tos em ação sempre que os automatismos já construídos à força pulsional e constante que o pedalar representa.
forem insuficientes para a execução de determinado mo- Em relação ao interesse do aluno pela atividade, cabe
vimento ou sequência deles. ainda ao professor questionar os seus procedimentos de
O processo de ensino e aprendizagem deve, portan- ensino que porventura se repitam automaticamente, nos
to, contemplar essas duas variáveis simultaneamente, quais a possibilidade de prestar atenção no aluno e no
permitindo que o aluno possa executar cada movimento processo de aprendizagem fica relegada a um segundo
ou conjunto de movimentos o maior número de vezes plano.
e criando solicitações adequadas para que essa realiza-
ção ocorra da forma mais atenta possível. Tome-se como Estilo pessoal e relacionamento
exemplo um jogo de futebol. Quando uma criança se
depara pela primeira vez com esse jogo, em princípio Neste item pretende-se refletir de que forma os afe-
já dispõe de alguns esquemas motores solicitados, ou tos, os sentimentos e as sensações do aluno interagem
seja, deslocar-se pelo espaço em várias direções e velo- com a aprendizagem das práticas da cultura corporal
LEGISLAÇÃO

cidades e realizar os movimentos de chutar e cabecear e, ao mesmo tempo, de que maneira a aprendizagem
uma bola. São conhecimentos prévios e sua execução já dessas práticas contribui para a construção de um estilo
ocorre de forma mais ou menos automática. No entan- pessoal de atuação e relação interpessoal dentro desses
to, a coordenação desses movimentos nas circunstâncias contextos.

110
Alguns fatores serão considerados para essa reflexão: por uma expectativa de desempenho predeterminada.
os riscos de segurança física, o grau de excitação somá- Por isso, as situações de ensino e aprendizagem con-
tica, as características individuais e vivências anteriores templam as possibilidades de o aluno arriscar, vacilar,
(como o aluno vivencia a satisfação e a frustração de seus decidir, simular e errar, sem que isso implique algum
desejos de aprendizagem) e a exposição do indivíduo tipo de humilhação ou constrangimento. A valorização
num contexto social. do investimento que o indivíduo faz contribui para a
A aprendizagem em Educação Física envolve alguns construção de uma postura positiva em relação à expe-
riscos do ponto de vista físico inerentes ao próprio ato rimentação corporal, mesmo porque, a rigor, não existe
de se movimentar, como, por exemplo, nas situações em um gesto certo ou errado e sim um gesto mais ou menos
que o equilíbrio corporal é solicitado, a possibilidade de adequado para cada contexto.
desequilíbrio estará inevitavelmente presente. Dessa for- No âmbito das práticas coletivas da cultura corporal
ma, mesmo considerando que escorregões, pequenas com fins de vivência e expressão de emoções, sentimen-
trombadas, quedas, impacto de bolas e cordas não pos- tos e sensações, as relações de afetividade se configu-
sam ser evitados por completo, cabe ao professor a tarefa ram, em muitos casos, a partir de regras e valores pecu-
de organizar as situações de ensino e aprendizagem de liares a determinado contexto estabelecido pelo grupo
forma a minimizar esses pequenos incidentes. O receio de participantes. Assim, é a partir do fato de uma ativida-
ou a vergonha do aluno em correr riscos de segurança de se revestir de um caráter competitivo ou recreativo, se
física é motivo suficiente para que ele se negue a parti- a eficiência ou a plasticidade estética serão valorizadas,
cipar de uma atividade, e em hipótese alguma o aluno ou se as regras serão mais ou menos flexíveis, que serão
deve ser obrigado ou constrangido a realizar qualquer determinadas as relações de inclusão e exclusão do indi-
atividade. As propostas devem desafiar e não ameaçar o víduo no grupo. Na escola, ao considerar as opiniões e os
aluno. E como essa medida varia de pessoa para pessoa, a interesses dos alunos no intuito de viabilizar a inclusão
organização das atividades tem de contemplar individual- de todos, em última instância quem determina o caráter
mente esse aspecto relativo à segurança física. de cada dinâmica coletiva é o professor. Esse é um dos
Uma outra característica da maioria das situações de aspectos que distingue a prática da cultura corporal de
prática corporal é o grau elevado de excitação somática movimento dentro e fora da escola.
que o próprio movimento produz no corpo, particularmen- Gradualmente, ao longo do processo de aprendiza-
te em danças, lutas, jogos e brincadeiras. A elevação de ba- gem, o aluno concebe as práticas culturais de movimento
timentos cardíacos e de tônus muscular, a expectativa de como instrumentos para o conhecimento e a expressão
prazer e satisfação e a possibilidade de gritar e comemo- de sensações, sentimentos e emoções individuais nas re-
rar configuram um contexto em que sentimentos e emo- lações com o outro.
ções de raiva, euforia, medo, coragem, vergonha, alegria, Em paralelo com a construção de uma melhor coor-
entre outros, são vividos e expressos de maneira intensa. denação corporal ocorre uma construção de natureza
Os tênues limites entre o controle e o descontrole dessas mais sutil, de caráter mais subjetivo, que diz respeito ao
emoções são postos à prova, vivenciados corporalmente e estilo pessoal de se movimentar dentro das práticas cor-
numa intensidade que, em muitos casos, pode ser inédita porais cultivadas socialmente.
para o aluno. A expressão desses sentimentos em manifes- Essas práticas corporais constituem um espaço de de-
tações verbais, de riso, de choro ou de agressividade deve senvolvimento e formação da personalidade, na medida
ser reconhecida como objeto de ensino e aprendizagem, em que permitem ao indivíduo experimentar e expressar
para que possa ser pautada pelo respeito por si e pelo ou-
diversas formas de ser e estar no mundo, contribuindo
tro.
para a construção de seu estilo pessoal de jogar, lutar,
As características individuais e as vivências anteriores
dançar e brincar. Mais ainda, de sua maneira pessoal de
do aluno ao deparar-se com cada situação constituem
aprender a jogar, a lutar, a dançar e a brincar. Pode-se fa-
o ponto de partida para o processo de ensino e apren-
lar em estilo agressivo, irreverente, obstinado, elegante,
dizagem das práticas da cultura corporal. As formas de
cerebral, ousado, retraído, entre outros. Nessas práticas
compreender e relacionar-se com o próprio corpo, com
o aluno explicita para si mesmo e para o outro como é,
o espaço e os objetos, com os outros, a presença de de-
ficiências físicas e perceptivas configuram um aluno com como se imagina ser, como gostaria de ser e, portanto,
características próprias e com livre-arbítrio para deter- conhece e se permite conhecer pelo outro.
minar suas próprias metas de superação, sua capacidade Quanto mais domínio sobre os próprios movimen-
de lidar com a frustração e a satisfação, e mediar suas tos o indivíduo conquistar, quanto mais conhecimentos
escolhas com os valores socialmente atribuídos a elas. construir sobre a especificidade gestual de determinada
Deparar-se com suas potencialidades e limitações modalidade esportiva, de dança ou de luta que exerce,
para buscar desenvolvê-las é parte integrante do proces- mais pode se utilizar dessa mesma linguagem para ex-
so de aprendizagem das práticas da cultura corporal e pressar seus sentimentos, suas emoções e o seu estilo
envolve sempre um desafio para o aluno, pois o êxito pessoal de forma intencional e espontânea. Dito de outra
gera um sentimento de satisfação e competência, mas forma, a aprendizagem das práticas da cultura corporal
experiências sucessivas de fracasso e frustração acabam inclui a reconstrução dessa mesma técnica ou modali-
por gerar uma sensação de impotência que, num limite dade, pelo sujeito, com a criação de seu estilo pessoal
LEGISLAÇÃO

extremo, inviabiliza a aprendizagem. de exercê-las, nas quais a espontaneidade deve ser vista
O êxito e o fracasso devem ser dimensionados tendo como uma construção e não apenas como um estado de
como referência os avanços realizados pelo aluno em re- ausência de inibições.
lação ao seu próprio processo de aprendizagem, e não

111
Portadores de necessidades especiais Curso noturno

Por desconhecimento, receio ou mesmo preconcei- A seleção dos conteúdos e a distribuição das ativi-
to, a maioria dos portadores de necessidades especiais dades desenvolvidas pela área para o curso noturno, em
tendem a ser excluídos das aulas de Educação Física. A função das características do curso e do grupo, devem
participação nessa aula pode trazer muitos benefícios a receber uma atenção especial. Mais do que qualquer ou-
essas crianças, particularmente no que diz respeito ao tro contexto, cabe em relação aos cursos noturnos um
desenvolvimento das capacidades perceptivas, afetivas, esforço para a otimização na transmissão dos conteúdos
de integração e inserção social, que levam este aluno a listados como relevantes. Cabe, no momento, uma refle-
uma maior condição de consciência, em busca da sua fu- xão sobre o papel social da Educação Física:
tura independência. . promover a integração e a inserção no grupo;
É fundamental, entretanto, que alguns cuidados . representar uma via de acesso, de valorização e de
sejam tomados. Em primeiro lugar, deve-se analisar o apreciação da cultura corporal;
tipo de necessidade especial que esse aluno tem, pois . apontar a relação entre a cultura corporal e o exer-
existem diferentes tipos e graus de limitações, que re- cício da cidadania;
querem procedimentos específicos. Embora existam inú- . validar e instrumentalizar o lazer, resgatando o pra-
meros cursos de aprofundamento, de especialização, de zer enquanto aspecto fundamental para a Saúde e
mestrado e mesmo de doutorado no país, que preparam melhoria da qualidade de vida;
professores de Educação Física para a atuação na área de . promover, por meio do conhecimento sobre o cor-
educação motora adaptada, nos contextos em que não po, a formação de hábitos de autocuidado;
houver professores preparados para atuar com este tipo . criar condições para que os conhecimentos cons-
de população é necessário que haja orientação médica truídos possibilitem uma análise crítica dos valores
e, em alguns casos, a supervisão de um especialista em sociais, como os padrões de beleza, as relações de
fisioterapia, um neurologista, psicomotricista ou psicólo- gênero e preconceitos.
go, pois as restrições de movimentos, posturas e esforço
Pode-se afirmar que a não valorização da Educação
podem implicar graves riscos.
Física nos cursos noturnos representa uma legalização da
Garantidas as condições de segurança, o professor
exclusão de cidadãos dos seus direitos de acesso a um
deve fazer adaptações, criar situações de modo a pos-
universo de cultura. Novamente ressalta-se a necessida-
sibilitar a participação dos alunos especiais. Esse aluno
de de construção do conhecimento com uma acentuada
poderá participar dos jogos ou danças, por exemplo,
participação do aluno.
criando-se um papel específico para sua atuação, onde
Os procedimentos de ensino e aprendizagem serão
cada limitação gerará um nível de solução, pois o de-
os mesmos do ensino diurno, cabendo as adaptações ao
senvolvimento da percepção das possibilidades permi-
tempo das aulas e às características dos grupos. O fato
te a sua consequente potencialização. O professor deve
de os alunos dos cursos noturnos serem em sua maio-
ser flexível, fazendo as adequações necessárias no plano
ria trabalhadores e com idade mais avançada que os
gestual, nas regras das atividades, na utilização de mate-
dos cursos diurnos caracterizará um padrão próprio de
riais e do espaço para estimular, tanto no aluno portador
abordagem, que não deve significar diferencial quanto a
de necessidades especiais como no grupo, todas as pos-
qualidade do ensino e aprendizagem oferecidas. Pois as
sibilidades que favoreçam o princípio da inclusão.
diferenças se expressam no trato de todos os conteúdos
Caminham, também nesta direção, a informação e a
nas inúmeras regiões do país, com escolas e comunida-
discussão sobre a participação de portadores de necessi-
des com características específicas.
dades especiais em competições oficiais, adaptadas para
É necessário, no momento, um esforço significativo
cada condição específica, em que se pode valorizar a su-
de todos os profissionais envolvidos com os cursos no-
peração de limitações e impedimentos.
turnos para que se criem as condições de valorização
Outro ponto importante é em relação a situações de
desse universo de conhecimento, de modo que se possa
vergonha e exposição nas aulas de Educação Física. A
ter mais um núcleo de difusão dessa cultura, que, antes
maioria das pessoas portadoras de deficiências têm tra-
de ser regida pela obrigatoriedade legal, tem seu valor
ços fisionômicos, alterações morfológicas ou problemas
na construção da cidadania.
de coordenação que as destacam das demais. Uma ati-
tude positiva de todos diante dessas diferenças é algo
Avaliação no ensino fundamental
que se construirá na convivência e que dependerá muito
da postura pedagógica que o professor adotar concreta-
Os Parâmetros Curriculares Nacionais consideram
mente nesta direção.
que a avaliação deva ser de utilidade, tanto para o aluno
A aula de Educação Física deve favorecer a constru-
como para o professor, para que ambos possam dimen-
ção de uma atitude digna e de respeito próprio por parte
sionar os avanços e as dificuldades dentro do processo
do portador de necessidades especiais, e a convivência
de ensino e aprendizagem e torná-lo cada vez mais pro-
com ele pode possibilitar a construção de atitudes de so-
dutivo.
LEGISLAÇÃO

lidariedade, respeito e aceitação, sem preconceitos.


Os instrumentos de avaliação deverão atender à de-
manda dos objetivos educativos expressos na seleção
dos conteúdos, abordados dentro das categorias con-
ceitual, procedimental e atitudinal. A predominância das

112
intenções avaliativas ocorrerá dentro de uma perspectiva . considerar de forma integrada os conteúdos concei-
processual, ou seja, facilitará a observação do aluno no tuais, procedimentais e atitudinais;
processo de construção do conhecimento. Essa avaliação . ser claros o suficiente para que o aluno saiba o que,
contínua compreende as fases que se convencionou de- como e quando será avaliado;
nominar diagnóstica ou inicial, formativa ou concomitan- . incluir a valorização do aluno, não apenas como au-
te e somativa ou final. toavaliação, mas também como aquele que opina
A avaliação diagnóstica ou inicial fornecerá os dados sobre o processo que vivencia;
para a elaboração de um projeto de desenvolvimento . reconhecer o desenvolvimento individual valorizan-
dos conteúdos, a partir da consideração dos conheci- do o aluno e contribuindo com a autoestima;
mentos prévios do aluno. . avaliar a construção do conhecimento como um
A avaliação formativa ou concomitante é aquela que, processo;
como o nome sugere, ocorre junto ao processo de ensi- . aferir a capacidade do aluno de expressar-se, pela
no e aprendizagem, fornecendo dados importantes para linguagem escrita e falada, sobre a sistematização
o ajustamento das ações educativas, possibilitando a to- dos conhecimentos relativos à cultura corporal de
mada de decisões quanto à continuidade do programa- movimento, e da sua capacidade de movimentar-
do ou da necessidade de alterações. Poderá, além disso, -se nas formas elaboradas por esta cultura.
tornar-se em si um objeto de ensino, pois dela derivam
as reflexões sobre os valores e conceitos envolvidos e INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO
sobre a validade do próprio instrumento.
Os instrumentos de avaliação estão diretamente re-
A avaliação final ou somativa se refere aos instru-
lacionados com o grau de abordagem dos conteúdos
mentos que pretendem avaliar o final de um processo
em função dos objetivos propostos. Assim, os professo-
de aquisição de um conteúdo. Poderá ser utilizada en- res poderão construir inúmeros instrumentos de avalia-
quanto momento de formalização do processo e deverá ção para cada conteúdo e para cada objetivo específico,
expressar para o aluno o nível atingido dentro dos obje- como por exemplo:
tivos de aprendizagem propostos. . fichas de acompanhamento do desenvolvimento
Outro fator importante a ser ressaltado é a clareza pessoal;
dos instrumentos de avaliação; mesmo para os aspec- . relatório de uma atividade em grupo ou fichas de
tos mais subjetivos, como, por exemplo, “participar com observação com critérios definidos sobre a parti-
interesse”, o aluno deverá saber logo de início como, cipação e a contribuição no desenvolvimento de
quando e de que modo estará sendo avaliado, para que algumas atividades em grupo;
sua participação e entendimento do processo de ensino . relatório de apreciação de um evento esportivo ou
e aprendizagem sejam ampliados. O professor de Edu- de um espetáculo de dança, onde determinados
cação Física encontra-se em uma posição privilegiada aspectos fossem ressaltados;
para avaliar a partir desses critérios informais, como o . ficha de avaliação do professor quanto à capacidade
interesse, a participação, a organização para o trabalho do grupo de aplicar as regras de um determinado
cooperativo, o respeito aos materiais e aos colegas, pois jogo, reconhecendo as transgressões e atuando
esses aspectos tornam-se bastante evidentes nas situa- com autonomia;
ções de aula. O fundamental é que esses critérios devem . dinâmicas de criação de jogos, produção e transmis-
estar claros para o professor e serem explicitados para são para outros grupos;
os alunos. . relatórios ou fichas de observação e autoavaliação
É importante ressaltar que o processo de avaliação sobre a participação na organização de um evento
não se restringe em estabelecer uma nota. A nota pode- escolar ou para a comunidade;
rá adquirir um significado maior quando tornar-se uma . relatórios para avaliação das etapas em trabalhos
referência qualitativa ou quantitativa, que expressa e faz sobre projetos;
parte do próprio processo de ensino e aprendizagem, e . fichas de autoavaliação mapeando o interesse sobre
os diversos conteúdos, propiciando uma reflexão
não apenas como um produto resultante dele.
sobre interesse e participação.
A avaliação processual dos conteúdos conceituais,
procedimentais e atitudinais deverá ser integrada, po-
OBJETIVOS GERAIS PARA O ENSINO FUNDAMENTAL
dendo ter momentos formalizados que enfatizem uma
ou outra categoria. Espera-se que, ao final do ensino fundamental, os
É aconselhável que esse processo integre também alunos sejam capazes de:
a avaliação do aluno, não só como auto-avaliação, mas . participar de atividades corporais, estabelecendo re-
também como reflexão sobre a metodologia e a orga- lações equilibradas e construtivas com os outros,
nização do processo de trabalho, dando subsídios para reconhecendo e respeitando características físicas
o professor avaliar seu próprio trabalho e planejar sua e de desempenho de si próprio e dos outros, sem
continuidade. discriminar por características pessoais, físicas, se-
Em síntese, os instrumentos de avaliação deverão: xuais ou sociais;
LEGISLAÇÃO

. explicitar os objetivos específicos propostos pelo . repudiar qualquer espécie de violência, adotando
programa de ensino; atitudes de respeito mútuo, dignidade e solidarie-
. situar alunos e professor dentro do processo de en- dade nas práticas da cultura corporal de movimen-
sino e aprendizagem; to;

113
. conhecer, valorizar, respeitar e desfrutar da plura- Parágrafo único - Para o previsto no «caput» manter-
lidade de manifestações de cultura corporal do se-ão inalterados os requisitos para o seu provimento,
Brasil e do mundo, percebendo-as como recurso bem como as classificações correspondentes.
valioso para a integração entre pessoas e entre di- Artigo 3 - O cargo de Professor de Pré-Escola, bem
ferentes grupos sociais e étnicos; como a função gratificada de Dirigente de EMEI, pas-
. reconhecer-se como elemento integrante do am- sam a denominar-se, respectivamente, Professor de
biente, adotando hábitos saudáveis de higiene, ali- Educação Infantil e Diretor da Unidade Escolar, inte-
mentação e atividades corporais, relacionando-os grando o Quadro do Magistério Municipal.
com os efeitos sobre a própria saúde e de melhoria Artigo 4 - Uma função gratificada de Assistente Peda-
da saúde coletiva; gógico, constante da Tabela D - Cargos em Comissão
. solucionar problemas de ordem corporal em dife- e Funções Gratificadas, Anexo I, da Lei nº 6.608, de 12
rentes contextos, regulando e dosando o esforço de março de 1990, passa a denominar-se Assistente
em um nível compatível com as possibilidades, Pedagógico de Creche, permanecendo no Quadro de
considerando que o aperfeiçoamento e o desen- Servidores da Prefeitura Municipal de Santo André.
volvimento das competências corporais decorrem Artigo 5 - Ficam criados no Quadro do Magistério Mu-
de perseverança e regularidade e que devem ocor- nicipal, Anexo I da presente lei, os seguintes cargos e
rer de modo saudável e equilibrado; funções gratificadas:
. reconhecer condições de trabalho que comprome- I - 60 (sessenta) cargos de Professor de Educação
tam os processos de crescimento e desenvolvi- Infantil;
mento, não as aceitando para si nem para os ou- II -  16 (dezesseis) funções gratificadas de Assistente
tros, reivindicando condições de vida dignas; Pedagógico;
. conhecer a diversidade de padrões de saúde, beleza III -  19 (dezenove) funções gratificadas de Professor
e desempenho que existem nos diferentes grupos Coordenador de Atividades Esportivas.
sociais, compreendendo sua inserção dentro da Parágrafo único - As despesas decorrentes da
cultura em que são produzidos, analisando critica- execução da presente lei correrão por conta de verbas
mente os padrões divulgados pela mídia e evitan- orçamentárias próprias.
do o consumismo e o preconceito; Artigo 6 - Esta lei entrará em vigor no 1º (primeiro)
. conhecer, organizar e interferir no espaço de forma dia do mês subsequente ao da data de sua publica-
autônoma, bem como reivindicar locais adequa- ção. VIDE LEI 8.153/00
dos para promover atividades corporais de lazer, Artigo 7 - Revogam-se as disposições em contrário, em
reconhecendo-as como uma necessidade do ser especial a Lei nº 6.755, de 21 de dezembro de 1990.
humano e um direito do cidadão, em busca de
uma melhor qualidade de vida. ESTATUTO DO MAGISTÉRIO MUNICIPAL

Veja o documento na íntegra acessando o link a seguir: CAPÍTULO I


http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/fisica.pdf DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Artigo 1 - O presente Estatuto estrutura e organiza o


SANTO ANDRÉ. LEI MUNICIPAL Nº Magistério Público do Município de Santo André, nos
6.833, DE 15 DE OUTUBRO DE 1991 – termos das seguintes disposições legais:
ESTATUTO DO MAGISTÉRIO MUNICIPAL I - Lei de Diretrizes e Bases;
(ATUALIZADA). II - artigo 206, V, da Constituição Federal;
III - Lei Orgânica do Município.
Artigo 2 - As disposições do presente Estatuto apli-
DISPÕE SOBRE A ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATI- cam-se aos profissionais de ensino devidamente habi-
VA DO MAGISTÉRIO MUNICIPAL. litados para o exercício da atividade educacional, que
A Câmara Municipal de Santo André decreta e eu atuam no ensino regular bem como nos programas
promulgo a seguinte lei: de atendimento escolar e comunitário mantidos pela
Secretaria de Educação, Cultura e Esportes - S.E.C.E.
Artigo 1 - A organização administrativa do Magistério
Municipal fica instituída nos estritos termos do Estatu- CAPÍTULO II
to em anexo, parte integrante da presente lei. DO QUADRO DO MAGISTÉRIO
Parágrafo único - O Quadro do Magistério Municipal
compor-se-á de cargos e funções constantes do Anexo Artigo 3 - O Quadro do Magistério Municipal de Santo
I, parte integrante da presente lei. André é composto de cargos, funções docentes e grati-
Artigo 2 - As funções gratificadas de Chefe de Serviço ficadas, a seguir: VIDE LEI 7.602/97
de Educação Especial, Chefe de Serviço de Pré-Escola, I - Professor de Educação Infantil;
Chefe de Serviço de Educação de Jovens e Adultos e II - Professor de Educação de Jovens e Adultos;
Chefe de Serviço de Educação Física, constantes do Ane- III - Professor de Educação Especial;
LEGISLAÇÃO

xo I, Tabela D - Cargos em Comissão e Funções Gratifi- IV - Professor de Educação Física.


cadas, da Lei nº 6.608, de 12 de março de 1990, passam Artigo 4 - Integram ainda o Quadro do Magistério
a denominar-se Coordenador de Serviço Educacional, Municipal de Santo André os servidores designados
integrando o Quadro do Magistério Municipal. para o exercício das seguintes funções gratificadas:

114
I - Diretor de Unidade Escolar; III - Professor de Educação Física: habilitação específica
II - Professor Coordenador de Atividades Esportivas; de grau superior correspondente a licenciatura plena
III - Assistente Pedagógico; em educação física;
IV - Coordenador de Serviço Educacional. IV - Professor de Educação Especial: habilitação específica
de grau superior correspondente a licenciatura plena
CAPÍTULO III em uma das áreas da educação especial.
DO CAMPO DE ATUAÇÃO Artigo 7 - Para as funções gratificadas de Diretor de Uni-
dade Escolar serão escolhidos mediante eleição na forma a
Artigo 5 - Ficam definidos os seguintes campos de atu- ser estabelecida em lei, designados através de portaria do
ação aos ocupantes de cargo ou de função do Quadro Prefeito Municipal, profissionais com os seguintes requisitos:
do Magistério Municipal: VIDE LEI 7.602/97 I - portador de licenciatura plena em pedagogia;
I - Professor de Educação Infantil: ensino pré-escolar I - experiência educacional anterior de 03 (três) anos
compreendidas as escolas de Educação Infantil; na rede de ensino mantida pelo Poder Público Muni-
II -  Professor de Educação de Jovens e Adultos: cipal de Santo André, dos quais, no mínimo, 02 (dois)
alfabetização de jovens e adultos para pessoas anos em docência.
que na idade própria não tiveram acesso ao ensino Artigo 8  - Para as funções gratificadas de Professor
fundamental bem como na educação supletiva; Coordenador de Atividades Esportivas serão designa-
III - Professor de Educação Física: dos, mediante portaria do Prefeito Municipal, dentre
a) ensino pré-escolar, de jovens e adultos, supletivo; os integrantes do Quadro do Magistério Municipal,
b) programas comunitários de educação física organi- selecionados pelo Departamento respectivo através
zados pela S.E.C.E.; de avaliação da capacidade técnica, observados os se-
IV - Professor de Educação Especial: guintes requisitos:
a) ensino pré-escolar, compreendidas as escolas de I - portador de habilitação específica de grau superior,
educação infantil e as creches; correspondente a licenciatura plena em educação física;
b) serviço de educação de jovens e adultos; II - experiência educacional anterior de 3 (três) anos
c) atendimento de portadores de deficiência e do au- na rede de ensino de Santo André, dos quais, no míni-
tista; mo, 02 (dois) anos de docência.
V - Diretor de Unidade Escolar: atividades referentes Artigo 9  - Para as funções gratificadas de Assistente
à coordenação administrativa e pedagógica junto às Pedagógico serão designados, mediante portaria do
escolas de educação infantil do Município; Prefeito Municipal, dentre os integrantes do Quadro
VI - Assistente Pedagógico: tarefas relacionadas com do Magistério Municipal, selecionados pelo Departa-
o planejamento, assessoramento e acompanhamento mento respectivo através de avaliação da capacidade
das atividades educacionais, em todo o ensino mantido técnica, que preencham os seguintes requisitos:
pelo Município; I - portador de licenciatura plena;
VII - Professor Coordenador de Atividades Esportivas: II - experiência educacional anterior de 03 (três) anos
coordenação administrativa e pedagógica das na rede de ensino de Santo André, dos quais, no míni-
atividades relacionadas com a educação física mo, 02 (dois) anos de docência.
desenvolvidas pela S.E.C.E; Artigo 10 - Para as funções gratificadas de Coordena-
VIII - Coordenador de Serviço Educacional: atividades dor de Serviço Educacional serão designados, mediante
referentes à coordenação administrativa, pedagógica portaria do Prefeito Municipal, dentre os integrantes do
Quadro do Magistério Municipal, selecionados pelo De-
e de planejamento de cada um dos serviços mantidos
partamento respectivo, através de avaliação da capa-
pelos Departamentos de Educação e de Esportes da
cidade técnica, que preencham os seguintes requisitos:
S.E.C.E.
I - portador de licenciatura plena;
II - experiência educacional mínima de 03 (três) anos
CAPÍTULO IV
na rede municipal de educação de Santo André.
DO PROVIMENTO DOS CARGOS
Artigo 11 - Os cargos mencionados no artigo 3º serão
providos mediante prévia aprovação em concurso pú-
Artigo 6 - O provimento dos cargos e funções constan-
blico de provas, ou de provas e títulos, organizado pela
tes do Quadro do Magistério observará os requisitos Secretaria de Educação, Cultura e Esportes.
fixados pela legislação municipal, bem como as exi-
gências de habilitação e experiência a seguir discrimi- CAPÍTULO V
nadas: VIDE LEI 7.891/99 E LEI 8.153/00 DA JORNADA DE TRABALHO
I - Professor de Educação Infantil:
a) habilitação específica de 2º grau para o magistério SEÇÃO I
com especialização em pré-escola ou DA JORNADA REGULAR
b) licenciatura plena em pedagogia com especializa- VIDE LEI 7.494/97
ção em pré-escola;
LEGISLAÇÃO

II - Professor de Educação de Jovens e Adultos: Artigo 12 - Os ocupantes de cargos e funções de Pro-


a) habilitação específica de 2º grau para o magistério fessor de Educação Infantil ficam sujeitos a jornada de
ou trabalho de 24 (vinte e quatro) horas, sendo: VIDE LEI
b) licenciatura plena em pedagogia; 9.196/09

115
I - 20 (vinte) horas semanais dedicadas à ministração Artigo 16 - Os integrantes do Quadro do Magistério
de aula e Municipal ocupantes de função gratificada ficam su-
II -  04 (quatro) horas destinadas às atividades de jeitos a jornada semanal de trabalho de 40 (quarenta)
planejamento, preparação de aulas e de material horas.
didático-pedagógico, participação em cursos de Artigo 17 - Para efeito de cálculo da remuneração
atualização e capacitação, e reuniões pedagógicas ou mensal dos integrantes do Quadro do Magistério Mu-
de atendimento à comunidade usuária do serviço. nicipal, o período de 01 (um) mês será considerado
Parágrafo único  - As horas semanais de trabalho como de 05 (cinco) semanas. VIDE LEI 9.196/09
relacionadas com o desenvolvimento de atividades ex-
tra-classe serão cumpridas da seguinte forma: SEÇÃO II
I - 50% (cinquenta por cento) em local e horário de DA JORNADA SUPLEMENTAR
livre escolha do professor;
II - 50% (cinquenta por cento) em local e horário a Artigo 18 - Fica facultado aos Professores de Educação
serem estabelecidos pelo Departamento de Educação. de Jovens e Adultos, bem como de Educação Física,
Artigo 13 - Os ocupantes de cargos e funções de Pro- exercer carga suplementar de jornada além das horas
fessor de Educação de Jovens e Adultos ficam sujei- semanais de trabalho, até o limite de 20 (vinte) horas
semanais.
tos  a  jornada de trabalho de 20 (vinte) horas sema-
Artigo 19 - Fica facultado aos Professores de Educa-
nais, das quais: VIDE LEI 9.196/09
ção Infantil exercer carga suplementar de jornada
I - 15 (quinze) horas semanais dedicadas à ministração
além das horas semanais de trabalho, até o limite de
de aulas; 16 (dezesseis) horas semanais.  VIDE LEI 9.196/09 e
II - 05 (cinco) horas semanais destinadas às atividades 9.413/12
de planejamento, preparação de aulas e de material Artigo 20 - A distribuição da carga suplementar de
didático-pedagógico, participação em cursos de trabalho realizar-se-á de acordo com processo classifi-
atualização e capacitação, e reuniões pedagógicas ou catório e se destina a suprir as necessidades de serviço
de atendimento à comunidade usuária do serviço. relacionadas com a vacância, impedimentos ou afas-
Parágrafo único  - As horas semanais de trabalho tamentos de seus titulares. VIDE LEI 9.196/09
relacionadas com o desenvolvimento de atividades ex- § 1º - O valor de cada aula que integra a carga
tra-classe serão cumpridas em local e horário a serem suplementar de trabalho referida no «caput» será
estabelecidos pelo Departamento de Educação. calculado com base no valor do padrão de vencimento
Artigo 14 - Os ocupantes de cargos e funções de Pro- onde esteja enquadrado o docente que vier a ministrá-
fessor de Educação Especial ficam sujeitos  a  jornada la.
de trabalho de 40 (quarenta) horas semanais, sendo: § 2º - Para o processo classificatório, considerar-se-á
I - 32 (trinta e duas) horas semanais dedicadas a: o tempo de serviço prestado em atividade educacional
a) ministração de aula aos alunos portadores de de- no Magistério Público Municipal de Santo André sob o
ficiência, devidamente matriculados na rede pública regime de 40 (quarenta) horas semanais.
municipal e
b) orientação pedagógica específica aos seus respecti- CAPÍTULO VI
vos professores; DA REMOÇÃO
II - 08 (oito) horas semanais destinadas às atividades
de planejamento, participação em cursos de Artigo 21 - A remoção dos ocupantes de cargo docen-
atualização e capacitação, e reuniões pedagógicas e te do Quadro do Magistério Municipal processar-se-á
de atendimento à comunidade usuária do serviço. anualmente mediante:
Parágrafo único  - As horas semanais de trabalho I - permuta;
II - concurso de títulos e tempo de serviço.
relacionadas com o desenvolvimento de atividades ex-
Artigo 22 - A remoção precederá o provimento inicial
tra-classe serão cumpridas em local e horário a serem
de cargos docentes do Quadro do Magistério Munici-
estabelecidos pelo Departamento de Educação.
pal, de forma que os cargos vagos a serem providos
Artigo 15 - Os ocupantes de cargos e funções de Pro- mediante concurso público compor-se-ão daqueles
fessor de Educação Física ficam sujeitos a jornada de remanescentes de remoção.
trabalho de 20 (vinte) horas semanais, das quais: Artigo 23 - A remoção por permuta processar-se-á
I -  16 (dezesseis) horas semanais dedicadas à por ato do Secretário de Educação, Cultura e Esportes,
ministração de aulas e mediante requerimento de docentes estatutários que
II -  04 (quatro) horas semanais destinadas às ocupem cargo da mesma denominação e de lotação
atividades de planejamento, preparação de aulas e de em unidades escolares distintas.
material didático-pedagógico, participação em cursos Parágrafo único - Fica vedada a remoção por permuta
de atualização e capacitação, e reuniões pedagógicas nos casos em que um dos requerentes de permuta
ou de atendimento à comunidade usuária do enquadrar-se nas seguintes situações:
serviço.  VIDE LEI 9.413/12 I - exercer cargo em comissão, função gratificada ou
LEGISLAÇÃO

Parágrafo único  - As horas semanais de trabalho estar afastado a qualquer título;


relacionadas com o desenvolvimento de atividades ex- II - encontrar-se a menos de 03 (três) anos da data em
tra-classe  serão cumpridas em local e horário que completar tempo necessário à passagem para a
estabelecidos pelo Departamento de Esportes. inatividade.

116
Artigo 24 - A remoção por títulos e tempo de serviço CAPÍTULO IX
realizar-se-á por ato do Secretário de Educação, Cul- DA APOSENTADORIA
tura e Esportes de acordo com a classificação dos do-
centes lotados nas unidades escolares do Município. Artigo 28 - O integrante do Quadro do Magistério Mu-
Parágrafo único - A Secretaria de Educação, Cultura e nicipal será aposentado, voluntariamente, de acordo
Esportes definirá normas complementares bem como com as disposições previstas nas normas constitucio-
regulamentará a matéria do presente capítulo. nais e legislação municipal, por efetivo exercício em
funções de magistério: REVOGADO P/ LEI 8.703/04
CAPÍTULO VII I - aos 30 (trinta) anos de efetivo exercício, se profes-
DAS SUBSTITUIÇÕES sor;
II - aos 25 (vinte e cinco) anos, se professora.
Artigo 25 - Ocorrerá substituição durante o impedi- Parágrafo único - Para efeitos de aposentadoria,
mento ou afastamento temporário do titular do car- consideram-se funções de magistério as atividades
go, desde que exerça atividade cuja interrupção cause relacionadas com a docência, administração,
prejuízo ao desenvolvimento do processo educacional coordenação, orientação, planejamento e
ou à prestação de serviços à comunidade.  VIDE LEI assessoramento na área do ensino mantido pela
7.529/97 Secretaria de Educação, Cultura e Esportes.
Parágrafo único - Em se tratando de substituições Artigo 29 - Os proventos dos servidores abrangidos
de caráter temporário, fica facultado utilizar-se das pelo presente estatuto serão calculados de acordo com
disposições referentes à jornada suplementar. a jornada de trabalho a que estiveram sujeitos nos úl-
Artigo 26 - Fica autorizada a Prefeitura Municipal a, timos 36 (trinta e seis) meses anteriores à data do pe-
através da Secretaria de Educação, Cultura e Espor- dido de aposentadoria. REVOGADO P/ LEI 8.703/04
tes, realizar contratação temporária de excepcional Artigo 30 - Para efeito do cálculo dos proventos, con-
interesse público para prover provisoriamente cargos, siderar-se-ão as horas referentes à carga suplementar
mediante substituição, por prazo máximo de 01 (um) de trabalho e a jornada de trabalho cumprida pelo
ano, observados os requisitos dos respectivos cargos. ocupante de função gratificada.  REVOGADO P/ LEI
§ 1º  - Os substitutos deverão ser chamados, 8.703/04
obrigatoriamente, entre os excedentes aprovados em Artigo 31 - Fica facultado o direito de opção pelo cál-
concurso público, obedecendo a ordem de classificação culo dos proventos com base na jornada de 1/72 (um,
no respectivo concurso, para provimento de cargos da setenta e dois avos) para cada mês em que, durante
mesma denominação do cargo ou função ocupado quaisquer 72 (setenta e dois) meses, contínuos ou não,
pelo substituído. tenha exercido jornada semanal de trabalho superior
§ 2º  - Os ocupantes de função gratificada serão àquelas fixadas para: REVOGADO P/ LEI 8.703/04
substituídos de acordo com critérios estabelecidos pela I - Professor de Educação Infantil;
SECE, ressalvadas as funções preenchidas mediante II - Professor de Educação de Jovens e Adultos;
eleição e aprovação do respectivo Conselho de Escola. III - Professor de Educação Física.

CAPÍTULO VIII CAPÍTULO X


DOS AFASTAMENTOS DA ATRIBUIÇÃO DE CLASSES

Artigo 27 - Conceder-se-ão ao integrante do Quadro Artigo 32 - Para efeitos de atribuição de classes e au-
do Magistério Municipal de Santo André as licenças las os docentes estatutários do mesmo campo de atu-
e afastamentos previstos no Estatuto dos Servidores ação serão classificados de acordo com:
Públicos Municipais e, de acordo com os interesses e I - títulos:
necessidades da Administração Municipal, as seguin- a - comprovante de aprovação em concurso público
tes licenças ou afastamentos, com ou sem prejuízo de para o provimento do cargo ocupado pelo docente;
vencimentos e demais vantagens inerentes ao cargo b - grau de mestre ou doutor;
ou função, para: c - diplomas de graduação correspondentes às licen-
I - prover cargo em comissão; ciaturas plena e de curta duração;
II -  exercer atividades correlatas em cargos ou fun- d - certificados de participação em cursos de aperfei-
ções, inclusive as gratificadas, previstas nas unidades çoamento com carga horária mínima de 180 (cento e
ou órgãos da SECE, bem como do Conselho Municipal oitenta) horas;
de Educação; e - certificados de participação em cursos de especia-
III - frequentar cursos de pós-graduação para obten- lização com carga horária mínima de 360 (trezentas
ção do título de mestre ou doutor por no máximo 24 e sessenta) horas.
(vinte e quatro) meses, com prejuízo de vencimentos e f - certificados de participação em congressos afins, de
salários; VIDE LEI 9.692/15 entidades regulamentadas junto aos órgãos estaduais
IV - exercer por prazo determinado atividades em ór- e federais;
gãos ou entidades da União, dos Estados, Municípios, II - tempo de serviço prestado em funções de magisté-
LEGISLAÇÃO

bem como em autarquias e fundações mantidas pelo rio junto à rede municipal de Santo André.
Município de Santo André. Parágrafo único - Os docentes contratados pelo
Parágrafo único - Lei específica disciplinará os critérios regime da Consolidação das Leis do Trabalho serão
para o seu deferimento. classificados em lista separada, observados os mesmos

117
critérios definidos no presente capítulo, e atribuir-se- Artigo 38 - A avaliação do desempenho do integrante
-lhe-ão as classes ou aulas remanescentes da escolha do Quadro do Magistério Municipal, baseada na efici-
feita pelos ocupantes de cargo. ência, na dedicação ao serviço e no cumprimento dos
Artigo 33 - Para efeitos da classificação de que trata o deveres fixados pelo artigo 41 do presente estatuto,
presente capítulo considerar-se-á o tempo de serviço bem como por outras normas disciplinares da legis-
prestado na unidade escolar quando se tratar de do- lação municipal, será realizada pelo Departamento
cente que atua na pré-escola. respectivo da SECE, nos termos do que dispuser o re-
Artigo 34 - A SECE expedirá normas complementares gulamento.
necessárias ao cumprimento do disposto neste capítu-
lo, estabelecendo inclusive as ponderações quanto aos CAPÍTULO XII
títulos, bem como ao tempo de serviço. DA TABELA DOS PADRÕES DE VENCIMENTOS
Artigo 35 - A atribuição de classes relacionadas com o
atendimento escolar de Jovens e Adultos, bem como Artigo 39 - Ficam definidos 20 (vinte) padrões de ven-
das aulas ou atividades de Educação Física desenvol- cimentos para os integrantes do Quadro do Magistério
vidas por integrantes do Quadro do Magistério Muni- Municipal, fixados nos valores constantes na Tabela de
cipal em programas comunitários, obedecerão igual- Padrões de Vencimentos - Quadro do Magistério, Ane-
mente aos princípios e critérios fixados neste capítulo. xo “I”, parte integrante do presente estatuto.

CAPÍTULO XI CAPÍTULO XIII


DA EVOLUÇÃO FUNCIONAL DOS DIREITOS E DEVERES
Artigo 36 - Evolução funcional é a passagem de pa- Artigo 40 - Constituem-se direitos do integrante do
drão de vencimentos mais elevado ao integrante do Quadro do Magistério do Município de Santo André:
Quadro do Magistério Municipal em decorrência de I -  ter ao seu alcance informações educacionais, bi-
títulos, habilitação e avaliação do desempenho. bliográficas, material didático e outros instrumentos,
Artigo 37 - A evolução funcional decorrente de título bem como contar com assistência técnica que auxilie
ou habilitação realizar-se-á da seguinte forma: e estimule a melhoria de seu desempenho profissional
I -  aos cargos ou funções de Professor de Educação
e a ampliação de seus conhecimentos;
Infantil ou de Educação de Jovens e Adultos:
II - ter assegurada a oportunidade de frequentar cur-
a) quando portador de habilitação de grau superior
sos de formação, atualização e especialização profis-
correspondente à licenciatura de 1º grau fará jus a
sional, a critério da Administração;
progressão de 2 (dois) padrões de vencimentos;
III - dispor, no ambiente de trabalho, de instalações e
b) quando portador de habilitação de grau superior
material técnico-pedagógico suficientes e adequados,
correspondente a licenciatura plena fará jus a pro-
para que possa exercer com eficiência e eficácia suas
gressão de 04 (quatro) padrões de vencimentos;
c) quando portador de certificado de conclusão de funções;
curso de aperfeiçoamento com carga horária de, no IV -  ter liberdade de escolha e de utilização de ma-
mínimo, 180 (cento e oitenta) horas e/ou de cursos teriais, de procedimentos didáticos e de instrumentos
de especialização, com carga horária de, no mínimo, de avaliação do processo ensino-aprendizagem, ob-
360 (trezentas e sessenta) horas, na área da educação, jetivando alcançar o respeito à pessoa humana e o
fará jus a progressão de, respectivamente, 01 (um) e preparo do aluno para o exercício da cidadania;
02 (dois) padrões de vencimentos; V -  receber auxílio para a publicação de trabalho e
d) quando portador de título de mestre ou doutor, con- livros didáticos ou técnico-científicos, quando for da
ferido de acordo com a legislação federal aplicável à conveniência da Administração;
matéria, fará jus, respectivamente, a progressão de 05 VI - ter assegurada igualdade de tratamento técnico-
(cinco) e 10 (dez) padrões de vencimentos; -pedagógico independente de ser ocupante de cargo
II - aos cargos e funções de Professor de Educação Fí- ou de função;
sica ou Professor de Educação Especial: VII - receber, através dos serviços especializados de
a) quando portador de certificado de conclusão de educação, assistência ao exercício profissional;
cursos de aperfeiçoamento com carga horária de, no VIII - votar e ser votado nas eleições para o Conselho
mínimo, 180 (cento e oitenta) horas e/ou especializa- de Escola e participar, se eleito, das deliberações
ção, com carga horária de no mínimo 360 (trezentos e tomadas pelo mesmo;
sessenta) horas, na área da educação, fará jus a pro- IX - participar do processo de planejamento, execução
gressão de, respectivamente, 01 (um) e 02 (dois) pa- e avaliação das atividades escolares;
drões de vencimentos; X -  reunir-se no local de trabalho para tratar de as-
b) quando portador do título de mestre ou doutor, suntos de interesse da categoria profissional e da
conferido de acordo com a legislação federal aplicável educação em geral, sem prejuízo das atividades que
à matéria, fará jus, respectivamente, a progressão de desempenham, desde que fora da jornada normal de
05 (cinco) e 10 (dez) padrões de vencimentos. trabalho;
LEGISLAÇÃO

Parágrafo único - A evolução funcional referida na XI -  garantia de segurança para o desempenho das
alínea «c» do inciso I e na alínea «a» do inciso II deste atividades profissionais;
artigo limitar-se-á, no máximo, a 02 (dois) cursos de XII - recesso escolar anual de, no mínimo, 15 (quinze)
aperfeiçoamento ou especialização. dias corridos;

118
XIII - receber remuneração pelo serviço extraordinário, IV - Coordenador de Serviço Educacional: 50%
desde que devidamente convocado para tal fim. (cinquenta por cento).
Artigo 41 - Ao integrante do Quadro do Magisté- Artigo 44 - As gratificações e adicionais previstos no
rio, ciente da relevância social de suas atribuições, presente capítulo serão concedidas nas condições e si-
são conferidos os seguintes deveres: tuações específicas do servidor, não se incorporando
I - conhecer e respeitar as leis; aos vencimentos para nenhum efeito.
II - preservar os princípios, os ideais e os fins da edu-
cação brasileira, através de seu desempenho profissio- CAPÍTULO XV
nal; DA GESTÃO DEMOCRÁTICA
III -  empenhar-se em prol do desenvolvimento do
aluno, utilizando processos que acompanhem o Artigo 45 - Ficam instituídos os Conselhos de Escola,
progresso científico da educação; para cada unidade ou estabelecimento de ensino, vin-
IV - participar das atividades educacionais que forem culados à Secretaria de Educação, Cultura e Esportes.
próprias do cargo ou da função que ocupa; Parágrafo único  - Os Conselhos de Escola terão
V - ser assíduo e pontual; natureza deliberativa e constituição paritária.
VI - Manter espírito de cooperação, respeito e
solidariedade com a equipe escolar, com os superiores CAPÍTULO XVI
hierárquicos e com a comunidade em geral. DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E FINAIS
§ 1º - Constitui falta grave imputável ao integrante do
Quadro do Magistério Municipal impedir que o aluno Artigo 46 - Os integrantes do Quadro do Magistério
participe das atividades escolares ou dos programas Municipal ficam impedidos de se transferir às demais
comunitários desenvolvidos pela SECE, em razão de unidades administrativas da Prefeitura Municipal, au-
qualquer carência material. tarquias e fundações públicas municipais.
§ 2º - Ao integrante do Quadro do Magistério que Artigo 47 - Consideram-se efetivamente exercidas as
infligir castigo físico ou submeter o aluno a situação horas-aula que o docente deixar de prestar por motivo
humilhante ou degradante, será aplicada a pena de
de:
demissão, observado o princípio do contraditório, bem
I - férias escolares;
como assegurada ampla defesa.
II - suspensão de aulas por determinação superior de
acordo com o interesse da Administração;
CAPÍTULO XIV
III - recesso escolar;
DAS DEMAIS VANTAGENS PECUNIÁRIAS
IV -  demais ausências consideradas como de efetivo
exercício para efeitos legais.
Artigo 42 - São concedidas aos integrantes do Quadro
Parágrafo único - As aulas não ministradas em razão
do Magistério as seguintes vantagens pecuniárias:
I - gratificação pela prestação de serviços extraordiná- de licença para tratamento de saúde considerar-se-ão
rios correspondente à remuneração adicional de 50% como efetivo exercício apenas:
(cinquenta por cento) sobre o valor da hora normal de I - para fins de pagamento;
trabalho; II -  para efeitos de cálculo dos proventos da inativi-
II -  gratificação pela prestação de serviço no perío- dade.
do noturno, assim entendido aquele prestado após Artigo 48 - O piso salarial profissional dos integran-
as 19:00 (dezenove) horas, correspondente à remune- tes do Quadro do Magistério Municipal corresponderá
ração adicional de 25% (vinte e cinco por cento) sobre a 03 (três) vezes o valor do vencimento constante da
o valor da hora normal de trabalho; Classe I, da Tabela A, da Lei nº 6.608, de 12 de março
III - gratificação pela prestação de serviços em região de 1990, para uma jornada de 40 (quarenta) horas
adversa, assim considerada pelo Conselho Municipal semanais, e seu valor reajustar-se-á de acordo com
de Educação, calculada sobre a hora normal de a política salarial da Prefeitura Municipal. VIDE LEI
trabalho, enquanto estiverem em efetivo exercício, em 6.857/91 - ART. 17
percentual a ser estabelecido por legislação específica. Artigo 49 - As Escolas Municipais de Educação Infan-
Parágrafo único  - Para os fins previstos no inciso til constituir-se-ão em unidades administrativas com
I, considera-se serviço extraordinário o trabalho módulo próprio de lotação de cargos e de funções gra-
eventual que exceda o limite de 40 (quarenta) horas tificadas a ser instituído por regulamento. VIDE DEC.
semanais, desde que especialmente convocado pelo 13.658/96
respectivo Departamento. Parágrafo único - O regulamento de que trata
Artigo 43 - De acordo com o padrão de vencimento, o «caput» conterá também disposições sobre
serão concedidos os seguintes adicionais: REVOGADO distribuição das funções ocupadas por servidores
P/ LEI 8.887/06 abrangidos pelo presente estatuto, contratados pelo
I - Diretor de Unidade Escolar: 35% (trinta e cinco por regime da Consolidação das Leis do Trabalho.
cento); Artigo 50 - Excetuados os afastamentos previstos no
LEGISLAÇÃO

II - Professor Coordenador de Atividades Esportivas: capítulo VIII do presente estatuto, fica vedada a atri-
20% (vinte por cento); buição de encargos ou tarefas aos integrantes do
III - Assistente Pedagógico: 35% (trinta e cinco por Quadro do Magistério Municipal consideradas estra-
cento); nhas às atividades inerentes ou correlatas à função

119
educativa, ou mesmo a transferência para outra ins-
tituição que não seja o Poder Público Municipal de SANTO ANDRÉ. LEI MUNICIPAL Nº
Santo André. 9.723, DE 20 DE JULHO DE 2015 – PLANO
Artigo 51 - Aplica-se, no que couber, aos integrantes MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO.
do Quadro do Magistério Municipal, a legislação re-
ferente aos servidores públicos municipais. VIDE LEI
6.955/92 O Plano Municipal de Educação de Santo André
sancionado pela lei 9.723 , de 20 de julho de 2015 de-
CAPÍTULO XVII finiu mecanismos e instâncias para o monitoramento e
DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS avaliação de suas metas e estratégias periodicamente,
atendendo desta forma o Plano Nacional de Educação,
Artigo 52 - Em substituição ao disposto no artigo 12, aprovado em 25 de junho de 2014 sob a lei 13.005, que
fica assegurado aos ocupantes de cargo ou função de estabelece metas e estratégias para educação em âmbito
Professor de Educação Infantil em exercício na data Nacional, Estadual e Municipal, cabendo a cada um dos
da promulgação do presente Estatuto do Magistério o entes federados adequarem os seus planos para a próxi-
direito de optar por jornada semanal de trabalho de ma década e, consequentemente, melhorar a qualidade
22 (vinte e duas) horas, sendo: da educação nas três esferas.
I - 20 (vinte) horas dedicadas à ministração de aulas e Santo André foi além, e propôs a criação de um “Ob-
II -  02 (duas) horas destinadas às atividades de servatório da Educação” no município com o objetivo de
planejamento, preparação de material didático e/ou desenvolver estudos e acompanhar as matrículas, de-
pedagógico, participação em curso de atualização e mandas, a evasão escolar, o financiamento da educação,
capacitação, reuniões pedagógicas ou atendimento à entre outras informações que subsidiem a implementa-
comunidade usuária do serviço. ção das metas deste plano e relatórios anuais de moni-
§ 1º - As horas semanais de trabalho relacionadas com toramento e bianuais de avaliação. Esses relatórios são
o desenvolvimento de atividade extra-classe serão de consulta pública e estão disponíveis à população no
cumpridas da seguinte forma: link abaixo:
I - 50% (cinquenta por cento) em local e horário de https://www2.santoandre.sp.gov.br/index.php/plano-
livre escolha do docente; -municipal-de-educacao
II - 50% (cinquenta por cento) em local e horário a
serem estabelecidos pela SECE.
§ 2º - O direito de opção de que trata o presente artigo LEI MUNICIPAL Nº 9.723, DE 20 DE JULHO DE
será exercido por escrito, pelo docente, dentro do prazo 2015
de 30 (trinta) dias subsequentes à vigência do presente
estatuto, sob pena de preclusão do direito. APROVA o Plano Municipal de Educação do Municí-
§ 3º - Os docentes que optarem pela jornada de trabalho pio de Santo André – PME para o decênio de 2015-2025
referida neste artigo somente poderão retratar-se da e dá outras providências.
opção nas ocasiões seguintes: CARLOS GRANA, Prefeito do Município de Santo
I - durante o mês de dezembro de 1991; André, Estado de São Paulo, no uso e gozo de suas atri-
II - durante o mês de dezembro de 1992. buições legais,
Artigo 53 - Em decorrência da aplicação do presente FAZ SABER que a Câmara Municipal aprovou e ele
estatuto, nenhum servidor sofrerá redução em sua re- sanciona e promulga a seguinte lei:
muneração.
§ 1º - Ocorrendo diferenças a favor do servidor, ser- Art. 1º Fica aprovado o Plano Municipal de Educação
lhe-á assegurado o pagamento a título de vantagem do Município de Santo André - PME, com vigência de
pessoal nominalmente identificada, incorporando- 10 (dez) anos, a contar da publicação desta Lei, na
se aos proventos em casos de aposentadoria ou forma do Anexo Único, com vistas ao cumprimento do
disponibilidade. disposto no inciso I do art. 11 da Lei Federal nº. 9.394,
§ 2º - A vantagem pessoal, na forma do parágrafo de 20 de dezembro de 1996, no art. 8º da Lei Federal
anterior, incorporar-se-á aos vencimentos, total nº 13.005, de 25 de junho de 2014 e nos artigos 259
ou parcialmente, se ocorrer evolução funcional do e 262 da Lei Orgânica do Município de Santo André.
servidor. Art. 2º São diretrizes do PME:
Artigo 54 - O Poder Executivo encaminhará as normas I – superação do analfabetismo;
referentes à legislação complementar no prazo de 120 II – universalização do atendimento escolar nas mo-
(cento e vinte) dias, a contar da sua publicação. dalidades de educação infantil entre 4 e 5 anos, ensino
Artigo 55 - Fica definido o prazo de 180 (cento e oi- fundamental e ensino médio;
tenta) dias para a revisão do presente estatuto, pela III – superação das desigualdades educacionais, com
Comissão Paritária Especial. ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de
Artigo 56 - As disposições constantes no inciso II, dos todas as formas de discriminação;
artigos 7º e 9º, somente passarão a ser aplicadas aos IV – melhoria da qualidade social da educação, com
LEGISLAÇÃO

Professores de Educação de Jovens e Adultos, quando vistas à educação integral;


da conclusão de 03 (três) anos da instituição do Serviço V – formação para o trabalho e para a cidadania, com
de Educação de Jovens e Adultos, qual seja, a partir de ênfase nos princípios éticos em que se fundamenta a
dezembro de 1992. ACRESCIDO P/ LEI 6.955/92 sociedade e no fortalecimento das relações familiares;

120
VI – promoção da educação em direitos humanos, Art. 6º O município promoverá, em colaboração com o
com respeito à diversidade e à sustentabilidade socio- Estado e a União, a realização de, pelo menos 2 (duas)
ambiental; Conferências Municipais de Educação até o final da
VII – promoção humanística, cultural, científica e tec- vigência deste PME, com intervalo de até 4 (quatro)
nológica do município; anos entre elas, coordenadas pelo Conselho Munici-
VIII – estabelecimento de meta de aplicação de re- pal de Educação e Fórum Municipal de Educação, com
cursos públicos em educação pública, resultantes da o mínimo objetivo de avaliar e monitorar a execução
receita de impostos, compreendida a proveniente de deste Plano.
transferências, na manutenção e desenvolvimento da Parágrafo Único. As conferências municipais de edu-
educação infantil, do ensino fundamental e da educa- cação e o processo de elaboração do próximo Plano
ção inclusiva; Municipal de Educação serão realizados com ampla
IX – valorização dos(as) profissionais de educação; participação de representantes da comunidade edu-
X – difusão dos princípios da equidade e do respeito à cacional e da sociedade civil.
dignidade da pessoa humana; Art. 7º Fica assegurado o regime de colaboração entre
XI – fortalecimento da gestão democrática da educa- o Município, o Estado de São Paulo e a União para a
ção e dos princípios que a fundamentam. consecução das metas deste PME e a implementação
Art. 3º As metas previstas no Anexo Único integrante das estratégias a serem realizadas.
desta lei deverão ser cumpridas no prazo de vigência §1º As estratégias definidas no Anexo Único
do PME, desde que não haja prazo inferior definido integrante desta lei e os mecanismos de colaboração e
para metas e estratégias específicas. cooperação interfederativa instituídos nos parágrafos
Art. 4º As metas previstas no Anexo Único integrante 1º e 2º do art. 10º desta lei não excluem a adoção
desta lei deverão ter como referência os censos mais de medidas, visando aformalizar a cooperação entre
atualizados da educação básica e superior, disponíveis os entes federados, podendo ser complementadas por
na data da publicação desta lei. mecanismos nacionais e locais de coordenação e cola-
Parágrafo único. Será criado, até o quinto ano de boração recíproca, inclusive no âmbito das regiões do
vigência deste Plano, o “Observatório da Educação Grande ABC e Metropolitana de São Paulo.
do Município de Santo André”, a fim de desenvolver §2º O sistema municipal de ensino deverá prever
estudos e acompanhar as matrículas, a demanda, a mecanismos de acompanhamento para consecução
evasão escolar, o financiamento da educação, entre das metas e para o desenvolvimento dos mecanismos
outras informações que subsidiem a implementação de colaboração e cooperação definidos nesta lei.
das metas deste plano. Art. 8º Para garantir a equidade educacional, o mu-
Art. 5º O monitoramento do cumprimento das metas nicípio, por meio dos entes federados das redes muni-
contidas no PME será objeto de avaliação periódica cipal e estadual deverá considerar o atendimento às
das seguintes instâncias: necessidades específicas da Educação Especial, asse-
I – Secretaria Municipal de Educação; gurando um sistema inclusivo em todos os níveis, eta-
II – Comissão de Educação e Cultura da Câmara Mu- pas e modalidades de ensino.
nicipal de Vereadores; Art. 9º O município de Santo André deverá aprovar
III – Conselho Municipal de Educação; leis específicas, disciplinando a gestão democrática da
IV - Fórum Municipal de Educação. educação em seus respectivos âmbitos de atuação.
§1º Compete, ainda, às instâncias referidas no caput: Art. 10. O Plano Municipal de Educação do município
I – divulgar os resultados do monitoramento e das de Santo André abrangerá, prioritariamente, o Siste-
avaliações nos respectivos sítios institucionais da in- ma Municipal de Ensino, definindo as metas e estra-
ternet; tégias que atendam às incumbências que lhe forem
II – analisar e propor políticas públicas para assegu- destinadas por lei.
rar a implementação das estratégias e o cumprimento §1º Será criado, no prazo de 6 (seis) meses contados
das metas; da entrada desta lei em vigor, um Comitê Municipal
III – analisar e propor a ampliação progressiva do in- de Articulação Interfederativa, com previsão de par-
vestimento público em educação, podendo este ser re- ticipação de representantes do poder executivo mu-
visto conforme o caso, para atender às necessidades nicipal, estadual, federal e do Conselho Municipal
financeiras que permitam o cumprimento das demais da Educação, com o objetivo de pactuar as ações de
metas deste PME. colaboração técnica e financeira para atendimento
§2º A cada 2 (dois) anos, ao longo do período de da demanda e a melhoria da qualidade, nos termos
vigência deste PME, a Secretaria Municipal de do Plano Municipal de Educação da Cidade de Santo
Educação, com o suporte do “Observatório da André e respeitadas as incumbências estabelecidas na
Educação do Município de Santo André”, publicará Constituição Federal e na Lei Federal nº 9.394, de 20
estudos para aferir a evolução no cumprimento das de dezembro de 1996.
metas estabelecidas no Anexo desta Lei. §2º O Comitê de Articulação interfederativa de que
§3º A meta progressiva do investimento público em trata o parágrafo anterior desenvolverá e publicará,
LEGISLAÇÃO

educação será avaliada no quarto ano de vigência no prazo de 1 (um) ano, plano articulado de trabalho
do PME e poderá ser ampliada por meio de lei para para a implementação, em regime de colaboração e
atender às necessidades financeiras do cumprimento respeitadas as atribuições legais de cada ente federa-
das demais metas. do do presente Plano Municipal de Educação do muni-

121
cípio de Santo André, atualizando-o permanentemen-
te para acompanhamento da sociedade e do Fórum
Municipal de Educação. HORA DE PRATICAR!
Art. 11. O Plano Plurianual, as diretrizes orçamen-
tárias e os orçamentos anuais do município deverão 1. (TCE-PA - Auditor de Controle Externo - Área Ad-
ser formulados de modo a assegurar a consignação ministrativa - Serviço Social - CESPE/2016) Julgue o
de dotações orçamentárias compatíveis com as dire- item subsecutivo, acerca do Estatuto da Criança e do
trizes, metas e estratégias do PME, a fim de viabilizar Adolescente (ECA).
sua plena execução. De acordo com o ECA, é considerada criança a pessoa
Parágrafo único. Os investimentos em educação pú- com até doze anos de idade incompletos.
blica representarão, até o final do decênio, no mínimo
30% (trinta por cento) da receita do município, que ( ) CERTO ( ) ERRADO
serão destinados à qualificação e remuneração do
pessoal docente e dos demais profissionais da educa- 2. (DPU - Assistente Social - CESPE/2016) Segundo as
ção pública, despesas com manutenção, construção e normas contidas na legislação social voltada para os di-
conservação de instalações e equipamentos necessá- reitos sociais e proteção de crianças e adolescentes, jul-
rios ao ensino, como também à aquisição de mate- gue o seguinte item.
rial didático-escolar, alimentação, transporte escolar e Para o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo,
uniformes e complementarão os recursos financeiros é prioritária a aplicação de medidas privativas ou restri-
com a colaboração dos entes federados. tivas de liberdade em estabelecimento educacional, de
Art. 12. Até o final do primeiro semestre do nono ano modo a garantir a inclusão social dos egressos do siste-
de vigência deste PME, o Poder Executivo encaminha- ma socioeducativo.
rá à Câmara Municipal de Santo André, sem prejuízo
das prerrogativas deste Poder, o projeto de lei referen- ( ) CERTO ( ) ERRADO
te ao Plano Municipal de Educação a vigorar no perí-
odo subsequente, que incluirá diagnóstico, diretrizes, 3. (TJ-DFT - Analista Judiciário - Judiciária - CES-
metas e estratégias para o próximo decênio. PE/2015) Julgue o próximo item, de acordo com o dis-
Parágrafo único. O Conselho Municipal de Educação posto no Código de Defesa do Consumidor e no Estatuto
e o Fórum Municipal de Educação coordenarão o pro- da Criança e do Adolescente (ECA).
cesso de elaboração da proposta de PME, que deverá De acordo com o ECA, o conselho tutelar pode aplicar,
ser realizado com ampla participação de representan- conforme a gravidade do caso, medida de encaminha-
tes da comunidade educacional e da sociedade civil e, mento a tratamento psicológico ou psiquiátrico aos
posteriormente, encaminhar tal proposta pelo Poder pais que apliquem castigo físico ou tratamento cruel ou
Executivo. degradante como formas de disciplina ou correção do
Art. 13. Não será permitida, na promoção dos direi- comportamento de criança ou adolescente.
tos de crianças e adolescentes, quaisquer definições,
orientações, diretrizes e metas, no que diz respeito a ( ) CERTO ( ) ERRADO
diversidade de gênero, orientação sexual.
Art. 14. Não será permitido qualquer forma de indu- 4. (DPE-PE - Defensor Público - CESPE/2015) No item
ção à orientação sexual das crianças e adolescentes, abaixo, é apresentada uma situação hipotética, seguida
inclusive na confecção de material publicitário e ma- de uma assertiva a ser julgada conforme as normas do
terial didático. ECA e o entendimento do STJ.
Art. 15. Esta lei entra em vigor na data de sua publi- Alberto, adolescente condenado a cumprir medida so-
cação. cioeducativa de internação, diante da inexistência de
Art. 16. Fica revogada a Lei n° 9.092, de 03 de dezem- estabelecimento apropriado na cidade de residência de
bro de 2008. seus pais, foi custodiado em unidade distante, em razão
da superlotação da unidade mais próxima. Nessa situa-
Prefeitura Municipal de Santo André, 20 de julho de ção, houve violação ao direito absoluto do adolescente
2015 previsto no ECA: Alberto deveria ter sido enviado para a
localidade mais próxima do domicílio dos seus pais, mes-
Veja na íntegra o Plano Municipal de Educação aces- mo que a unidade de custódia estivesse superlotada.
sando o link a seguir:
https://consulta.siscam.com.br/camarasantoandre/ ( ) CERTO ( ) ERRADO
arquivo?Id=35833
LEGISLAÇÃO

122
5. (DPE-PE - Defensor Público - CESPE/2015) No item
abaixo, é apresentada uma situação hipotética, seguida
de uma assertiva a ser julgada conforme as normas do GABARITO
ECA e o entendimento do STJ.
Marcelino, maior imputável, fotografou sua sobrinha, 1 CERTO
de treze anos de idade, enquanto ela tomava banho.
As fotos mostravam as partes íntimas da adolescente e 2 ERRADO
algumas imagens mostravam apenas os órgãos geni- 3 ERRADO
tais da garota. Apurou-se que Marcelino jamais praticou
qualquer ato libidinoso com a sobrinha nem divulgou o 4 ERRADO
material fotográfico obtido e que ele utilizava as fotos 5 CERTO
apenas para satisfazer a própria lascívia. Nessa situação,
Marcelino responderá por crime previsto no ECA, uma
vez que registrou cena pornográfica envolvendo adoles-
cente.

( ) CERTO ( ) ERRADO

LEGISLAÇÃO

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ANOTAÇÕES

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LEGISLAÇÃO

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