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16.

Espaços de Hausdorff
16.1. Definição. Diremos que um espaço topológico X é um espaço T0 se
dados dois pontos distintos em X, existe uma vizinhança de um deles que não
contém o outro.
16.2. Exemplos.
(a) Cada espaço topológico discreto é um espaço T0 .
(b) Seja X um espaço topológico trivial, com pelo menos dois pontos. Então
X não é um espaço T0 .
16.3. Proposição. Um espaço topológico X é um espaço T0 se e só se,
dados a, b ∈ X, com a 6= b, tem-se que {a} =
6 {b}.
Demonstração. (⇒) Seja X um espaço T0 , e sejam a, b ∈ X, a 6= b. Se
existir U ∈ Ua tal que b ∈ / U , então a ∈ {a}, mas a ∈
/ {b}. Se existir V ∈ Ub tal
que a ∈/ V , então b ∈ {b}, mas b ∈/ {a}. Em ambos casos {a} = 6 {b}.
(⇐) Suponhamos que X não seja um espaço T0 . Então existem a, b ∈ X,
com a 6= b, tais que b ∈ U para cada U ∈ Ua , e a ∈ V para cada V ∈ Ub . Logo
a ∈ {b} e b ∈ {a}. Segue que {a} = {b}.
16.4. Definição. Diremos que um espaço topológico X é um espaço T1 se
dados dois pontos distintos em X, existe uma vizinhança de cada um deles que
não contém o outro.
É claro que cada espaço T1 é um espaço T0 .
16.5. Exemplos.
(a) Cada espaço topológico discreto é um espaço T1 .
(b) O espaço de Sierpinski é um espaço T0 , mas não é um espaço T1 .
16.6. Proposição. Um espaço topológico X é um espaço T1 se e só se cada
subconjunto unitário de X é fechado.
Demonstração. (⇒) Seja X um espaço T1 , e seja a ∈ X. Para cada b ∈ X,
com b 6= a, existe V ∈ Ub tal que a ∈
/ V . Segue que X \ {a} é aberto, ou seja
{a} é fechado.
(⇐) Suponhamos que {a} seja fechado para cada a ∈ X. Dados a, b ∈ X,
com a 6= b, sejam U = X \ {b} e V = X \ {a}. Então U e V são abertos, a ∈ U ,
b∈/ U, b ∈ V , a ∈
/ V.
16.7. Definição. Diremos que um espaço topológico X é um espaço de
Hausdorff ou um espaço T2 se dados a, b ∈ X, com a 6= b, existem U ∈ Ua e
V ∈ Ub , com U ∩ V = ∅.
É claro que cada espaço T2 é um espaço T1 .
16.8. Exemplos.
(a) Cada espaço topológico discreto é um espaço de Hausdorff.
(b) Cada espaço métrico é um espaço de Hausdorff.

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(c) Seja X um conjunto infinito, com a topologia cofinita. Então X é um
espaço T1 , mas não é um espaço T2 . Deixamos a demonstração como exercı́cio.

16.9. Proposição. Para um espaço topológico X as seguintes condições


são equivalentes:
(a) X é Hausdorff.
(b) Cada rede convergente em X tem um limite único.
(c) Cada filtro convergente em X tem um limite único.
Demonstração. (a) ⇒ (b): Suponhamos que X seja Hausdorff, e seja
(xλ )λ∈Λ uma rede em X que converge a x e a y, com x 6= y. Sejam U ∈ Ux e
V ∈ Uy , com U ∩ V = ∅. Como xλ → x, existe λ1 ∈ Λ tal que xλ ∈ U para todo
λ ≥ λ1 . Como xλ → y, existe λ2 ∈ Λ tal que xλ ∈ V para todo λ ≥ λ2 . Seja
λ ∈ Λ tal que λ ≥ λ1 e λ ≥ λ2 . Então xλ ∈ U ∩ V , contradição.
(b) ⇒ (a): Suponhamos que X não seja Hausdorff. Então existem x, y ∈ X,
com x 6= y, tais que U ∩ V 6= ∅ para todo U ∈ Ux e V ∈ Uy . Seja xU V ∈ U ∩ V
para cada U ∈ Ux e V ∈ Uy . Segue que (xU V )(U,V )∈Ux ×Uy é uma rede em X
que converge a x e a y, com x 6= y.
(a) ⇒ (c): Suponhamos que X seja Hausdorff, e seja F um filtro em X que
converge a x e a y, com x 6= y. Sejam U ∈ Ux e V ∈ Uy , com U ∩ V = ∅. Como
F → x, tem-se que U ∈ Ux ⊂ F. Como F → y, tem-se que V ∈ Uy ⊂ F. Logo
U ∩ V ∈ F, absurdo, pois U ∩ V = ∅.
(c) ⇒ (a): Suponhamos que X não seja Hausdorff. Então existem x, y ∈ X,
com x 6= y, tais que U ∩ V 6= ∅ para todo U ∈ Ux e V ∈ Uy . Seja

B = {U ∩ V : U ∈ Ux , V ∈ Uy }.

É claro que B é uma base de filtro em X. Seja F o filtro gerado por B. É claro
que Ux ⊂ F e Uy ⊂ F. Logo F converge a x e a y, com x 6= y.
16.10. Proposição. Cada subespaço de um espaço de Hausdorff é um
espaço de Hausdorff.
Demonstração. Seja X um espaço de Hausdorff, e seja S um subespaço
de X. Sejam a, b ∈ S, com a 6= b. Como X é Hausdorff, existem abertos U1 e
V1 em X tais que a ∈ U1 , b ∈ V1 e U1 ∩ V1 = ∅. Sejam U = S ∩ U1 e V = S ∩ V1 .
Então U e V são abertos em S, a ∈ U , b ∈ V e U ∩ V = ∅.
16.11. Proposição. Seja {Xi : i ∈ I} uma Q famı́lia não vazia de espaços
topológicos não vazios. Então o produto X = i∈I Xi é Hausdorff se e só se
cada Xi é Hausdorff.
Demonstração. (⇒) Esta implicação segue da Proposição 16.10 e do
Exercı́cio 10.C.
(⇐) Suponhamos que cada Xi seja Hausdorff, e sejam a, b ∈ X, com a 6= b.
Escrevamos a = (ai )i∈I , b = (bi )i∈I . Como a 6= b, existe i ∈ I tal que ai 6= bi .
Como Xi é Hausdorff, existem abertos Ui e Vi em Xi tais que ai ∈ Ui , bi ∈ Vi e

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Ui ∩ Vi = ∅. Sejam U = πi−1 (Ui ) e V = πi−1 (Vi ). Então U e V são abertos em
X, a ∈ U , b ∈ V e U ∩ V = ∅.
16.12. Proposição. Sejam X e Y espaços topológicos, com Y Hausdorff.
Sejam f e g duas funções contı́nuas de X em Y tais que f (x) = g(x) para todo
x num subconjunto denso D ⊂ X. Então f (x) = g(x) para todo x ∈ X.
Demonstração. Como X = D, para cada x ∈ X, existe uma rede (xi )i∈I ⊂
D tal que xi → x. Como f e g são contı́nuas, segue que f (xi ) → f (x) e g(xi ) →
g(x). Como f (xi ) = g(xi ) para todo i ∈ I, e Y é Hausdorff, a Proposição 16.9
garante que f (x) = g(x).

Exercı́cios
16.A. Seja X = N, com a topologia do Exercı́cio 4.F. Prove que X é um
espaço T0 , mas não é um espaço T1 .
16.B. Prove que cada subespaço de um espaço T0 (resp. T1 ) é um espaço
T0 (resp. T1 ).
16.C. Seja {Xi : i ∈ I} uma famı́lia
Q não vazia de espaços topológicos não
vazios. Prove que o produto X = i∈I Xi é um espaço T0 (resp. T1 ) se e só se
cada Xi é um espaço T0 (resp. T1 ).
16.D. Sejam X e Y espaços topológicos, e seja f : X → Y uma aplicação
sobrejetiva e fechada. Prove que se X é um espaço T1 , então Y também é um
espaço T1 .
16.E. Seja X um conjunto infinito, com a topologia cofinita. Prove que X
é um espaço T1 , mas não é um espaço T2 .
16.F. Seja X um espaço de Hausdorff. Dados n pontos distintos x1 , ..., xn ∈
X, prove que existem n abertos disjuntos U1 , ..., Un ⊂ X tais que xj ∈ Uj para
j = 1, ..., n.
16.G. Seja X um espaço topológico.
T (a) Prove que X é um espaço T1 se e só se, para cada a ∈ X tem-se que
{U : U ∈ Ua } = {a}.
T (b) Prove que X é um espaço T2 se e só se, para cada a ∈ X tem-se que
{U : U ∈ Ua } = {a}.
16.H. Prove que um espaço topológico X é Hausdorff se e só se o conjunto
D = {(x, x) : x ∈ X} é fechado em X × X.
16.I. Sejam X e Y espaços topológicos, com Y Hausdorff. Sejam f e g duas
funções contı́nuas de X em Y .
(a) Prove que o conjunto {x ∈ X : f (x) = g(x)} é fechado em X.
(b) Use (a) para dar outra demonstração da Proposição 16.12.

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