ATENÇÃO: este teste é comum às três narrativas românticas incluídas, para escolha, na unidade 3. Assim, o grupo I
apresenta, justamente, três alternativas, devendo a escolha ser feita de acordo com a obra estudada.
Sobre uma espécie de banco rústico de verdura, tapeçado de gramas1 e de macela brava, Joaninha, meio
recostada, meio deitada, dormia profundamente.
A luz baça do crepúsculo, coada ainda pelos ramos das árvores, iluminava tibiamente as expressivas feições
da donzela; e as formas graciosas do seu corpo se desenhavam mole e voluptuosamente no fundo vaporoso e
vago das exalações da terra, com uma incerteza e indecisão de contorno que redobrava o encanto do quadro, 5
e permite à imaginação exaltada percorrer toda a escala de harmonia das graças femininas. […]
Neste momento agora, e ao entrar na pequena espessura daquelas árvores, animava-o [a Carlos] uma viva
e inquieta expressão de interesse – quebrado contudo, suscitado, e, para assim dizer, sofreado2 de um temor
oculto, de um pensamento reservado e doloroso que lhe ia e vinha ressumbrando3 na face, como a antiga e
desbotada cor de um estofo que se tingiu de novo - que é outro agora, mas que não deixou e ser inteiramente 10
o que era...
Alegra-se assim um triste dia de novembro com o raio do sol transiente4 e inesperado que lhe rompeu
a cerração num canto do céu...
Tal era, e tal estava diante de Joaninha adormecida, o que não direi mancebo porque o não parecia – o ho-
mem singular a quem o nome, a história e as circunstâncias da donzela pareciam ter feito tamanha impressão. 15
– «Joaninha!» - murmurou ele apenas a viu à luz ainda bastante do crepúsculo, «Joaninha!» disse outra
vez, contendo a violência da exclamação: «É ela sem dúvida. Mas que diferente!... quem tal diria! Que graça!
que gentileza! Será possível que a criança que há dois anos?...»
Dizendo isto, por um movimento quase involuntário lhe tomou a mão adormecida e a levou aos lábios.
Joaninha estremeceu e acordou. 20
– «Carlos, Carlos!» balbuciou ela, com os olhos ainda meio fechados, «Carlos, meu primo... meu irmão!
Era falso, dize: era falso? Foi um sonho, não foi, meu Carlos?»...
E progressivamente abria os olhos mais e mais até se lhe espantarem e os cravar nele arregalados de
pasmo e de alegria.
– «Foi, foi» continuou ela «foi sonho, foi um sonho mau que tive. Tu não morreste... Fala à tua irmã, à 25
tua Joana: dize-lhe que estás vivo, que não és a sombra dele... Não és, não, que eu sinto a tua mão quente na
minha que queima, sinto-a estremecer como a minha... Carlos! meu Carlos! dize, fala-me: tu estás vivo e
são? E és... és o meu Carlos? Tu próprio, não é já o sonho, és tu?»...
– «Pois tu sonhavas? tu, Joana, tu sonhavas comigo?»
– «Sonhava como sonho sempre que durmo... e o mais do tempo que estou acordada... sonhava com 30
aquilo em que só penso... em ti.»
NPL11LP © RAIZ EDITORA
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E caiu nos braços dela; e abraçaram-se num longo, longo abraço – com um longo, interminável beijo...
longo, longo e interminável como um primeiro beijo de amantes...
35 O abraço desfez-se, e o beijo terminou enfim, porque os reflexos do céu na terra são limitados e imper-
feitos como as incompletas existências que a habitam...
Senão... invejariam os anjos a vida da terra.
Viagens na Minha Terra, Almeida Garrett (cap. XX)
GRUPO I
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.
2. Caracteriza o quadro constituído pela Natureza retratada e pela personagem que nela se enquadra: Joaninha.
3. Descreve as reações emocionais de Carlos perante a figura feminina observada no seu sono.
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