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Ser demitido é a

melhor coisa que pode


acontecer na sua vida
Autor: JR CANDIDO – 16/09/2019

Posso sentir seu ar de reprovação diante da afirmativa do título, afinal, "O que
pode haver de positivo em uma demissão?". Mas sim, reafirmo, ser demitido
pode ser o "up" que você precisa para alavancar a sua carreira.

Como de hábito, você vai para a empresa, faz o que tem que fazer, empreende
seus melhores esforços e quando menos espera, recebe a fatídica notícia: "Você
está demitido!"

O golpe é duro, quase fatal. Você se sente injustiçado, se revolta, chega a chorar
escondido no banheiro e sente que foi traído "Eu entreguei meus melhores anos
aqui, como puderam fazer isso comigo? "E agora, o que farei?".

E SE VOCÊ REAGISSE DE FORMA DIFERENTE?

Após o baque, você se recompõe, aceita a realidade que você está fora, olha
para o futuro, passa a focar em seu próximo trabalho com forças renovadas e de
cabeça erguida diz para si mesmo: "Que bom que isso aconteceu! Finalmente
vou poder focar em minhas prioridades, essa demissão foi a melhor coisa que
poderia ter me acontecido".

Essa forma de encarar a demissão não é ficção e nem sempre (quase nunca)
teremos a disposição um qualificado representante da empresa (tipo o George
Clooney no filme Up in the Air), para nos lembrar de como esse episódio pode
ser fundamental para reavaliarmos nosso momento e reorientarmos nosso foco.

Estudos mostram que a demissão pode ser algo realmente significativo para seu
crescimento, desde que você a coloque na perspectiva correta. Definir-se pelo
seu emprego atual pode representar o maior dano que um profissional pode
fazer à própria carreira.

A demissão não apenas lhe proporcionará opções mais enriquecedoras antes


não disponíveis devido a sua ocupação, mas também lhe dará um choque de
realidade ao lhe mostrar o risco de apostar todas as suas fichas em uma
empresa — um ambiente controlado e de liberdade restrita para um potencial
de carreira cujo limite é desconhecido.

“Às vezes você precisa tomar um pé na bunda e estar literalmente na m*rda,


mas precisa se levantar e acreditar que, às vezes não ter dado certo o que você
queria, é a melhor coisa que podia ter acontecido.” — Dwayne Johnson

A EXPERIÊNCIA DE EMPREGADO

Trabalhar para uma empresa pode ser uma das experiências mais significativas
para seu desenvolvimento pessoal e profissional, muitas das melhores mentes
da história saíram de alguma companhia, seria um contrassenso pensar o
oposto.

As melhores empresas não medem esforços para proporcionar a melhor


experiência para seus empregados, desde a criação de ambientes acolhedores a
um discurso que privilegia o lado humano do trabalho, da política de
reconhecimento que considera os melhores benefícios e compensações
financeiras a garantia de direitos e estabilidade que um emprego proporciona.

Quem não gostaria de trabalhar em um lugar assim?


Contudo, esses mesmos atrativos podem induzi-lo a uma falsa percepção: fazê-
lo acreditar que a empresa para qual você trabalha é o seu projeto de vida, o seu
sonho — não é! É o sonho de seu fundador, é projeto de vida dele, e você foi
contratado para ajudá-lo a realizar esse sonho, portanto apegar-se a ele pode,
no final, ser motivo para suas maiores frustrações.

Paradoxalmente, não significa que você não deve comprometer-se com a


missão, visão e valores da empresa — deve! Jamais conseguirá entregar seu
melhor desempenho se não o fizer, mas precisa ficar atento aos sinais, alienar-se
em função dos outros cobra um alto preço, mais cedo ou mais tarde a conta
vêm.

DEMISSÕES: UMA REALIDADE INDIGESTA

Ao longo de uma carreira razoavelmente bem sucedida as pessoas serão


demitidas pelo menos umas 8 vezes, provavelmente acontecerá com você
também. Não há empregos vitalícios, aceite isso.

Demissões são uma realidade no mundo corporativo, não importa quão


competente ou talentoso você seja, de uma hora ou outra elas sempre vêm, na
maioria das vezes de forma muito rápida, sem direito a argumentação ou
defesa.

As razões que motivam o desligamento nem sempre são claras, às vezes os


códigos da relação profissional são tão sutis e subjetivos que só os percebemos
no momento em que são violados.

O contrato de trabalho é uma relação de benefícios mútuos e quando uma das


partes sente que a outra não está mais lhe beneficiando a consequência é seu
rompimento.

Considere 2 casos célebres:

 "Walt Disney, você está demitido! Você tem falta de imaginação e de boas
ideias, nosso jornal precisa de alguém mais criativo".
 "Srta. Lady Gaga, você está demitida! Tem algo errado com suas músicas,
nossa gravadora precisa de algo mais acabado e você não está dando
certo".
LIDANDO COM A DEMISSÃO

Estes dois exemplos e muitos outros casos de nomes que se tornaram icônicos e
até mesmo bilionários, de atores de cinema a empresários (Mozart, Leonardo da
Vinci, Harrison Ford, Michael Jordan, Dwayne Johnson, Oprah Winfrey...), todos
foram demitidos em algum ou vários momentos de suas vidas.

Olhando para trás muitos dirão que essas demissões foram erros absurdos, que
faltou visão por parte das empresas em não reconhecer o potencial que tinham
nas mãos, ainda que posteriormente tenham admitido isso, também
reconheceram que na ocasião pareceu a coisa certa a ser feita.

Mas todos sabemos que eles se recuperaram e quem se tornaram após o baque
da demissão.

"Para eles foi fácil, são fora da curva!”. Quem disse? Nunca é fácil! A demissão é
um processo traumático para qualquer um. A ideia romântica de que existem
super-humanos resilientes a todas as dores é um mito, esqueça isso.

Eles se sentiram traídos, injustiçados, enraivecidos, se revoltaram, ameaçaram


processos, choraram muito e até entraram em depressão.

Contudo, passado o período de "luto", foram suas atitudes após suas demissões
as grandes responsáveis pelas grandes viradas que deram em suas carreiras.

Se as demissões foram injustas não está em questão aqui, aliás as razões pouco
importam, o que importa é como lidaram com isso e as escolhas que fizeram a
partir desse episódio, o que aprenderam, como usaram seus revezes e traumas e
seguiram em frente.

Examinaremos as 2 principais atitudes compartilhadas por profissionais que


deram a volta por cima após sofrerem o abalo da demissão.

Atitude #1: "Eles não supervalorizaram a rejeição"

Uma pesquisa conduzida pela Universidade de Bond, Austrália, com centenas de


gerentes e líderes bem sucedidos naquele país e nos EUA, mostrou que apesar
de sentirem o impacto de suas demissões, não supervalorizavam a perda, mas
"sentiam o desejo de, a partir daquele ponto, levar suas vidas com mais
autenticidade e integridade".
Já aqueles que ficaram presos numa introspecção mórbida de culpa e remorso
tipo: eu fracassei!" , “foi minha culpa", "não sou capaz", "sou um desastre
total!", dificilmente acharam seu caminho de volta.

Reconhecer erros é condição básica para o equilíbrio psicológico, contudo


espojar-se em culpa pode ser fatal para a autoestima: o sentimento de valor que
o indivíduo atribui a si mesmo e sem o qual não se sente merecedor, sabotando
a si mesmo toda vez que tenta um novo começo.

Atitude #2 "Eles assumiram total responsabilidade sobre o que lhes sucedeu"

O baque da demissão aciona mecanismos de defesa cuja finalidade é nos


proteger de qualquer coisa que ameace o equilíbrio do nosso ego, culpar os
outros — racionalizando, negando e projetando — é o escape preferido por
nossos sentidos em estado de choque.

Responsabilizar os outros pelo que nos acontece pode até funcionar por um
tempo, mas tem um problema, reduz as possibilidades de aprendermos com
nossos erros.

Um estudo de 10 anos realizado pela consultoria de liderança ghSMART com


mais de 2.600 líderes, apontou que "profissionais fortes admitem seus erros,
descrevem o que aprenderam e como ajustaram seu comportamento e tomada
de decisão para minimizar as chances de cometer os mesmo erros no futuro".

"Não importa o que fizeram com você, mas o que você faz com o que fizeram de
você." —J.P. Sartre

#CASE: JAMES GUNN - MARVEL STUDIOS/DISNEY COMPANY


James Gunn é um visionário Diretor, Produtor e Roteirista de Cinema, ele é o
responsável pela estética cósmica que vemos nos filmes do Marvel Studios, é
dele o megassucesso bilionário Guardiões da Galáxia Vols I e II, contudo seu
êxito não o impediu de ser prontamente demitido logo que antigos tweets
polêmicos com piadas relacionadas à pedofilia e estupro vieram à tona.

Em uma entrevista ao Deadline Gunn falou de como lidou com as circunstâncias


de sua demissão, o abalo que sofreu, o período de introspecção e seu retorno,
um caso exemplar que pode nos ensinar valiosas lições sobre queda e novos
começos.

Você está demitido! O choque de realidade

A Indústria do Cinema costuma ser impiedosamente cruel com seus astros e


estrelas quando adere a uma causa e Gunn sentiu o mundo desabar sob seus
pés:

"O primeiro dia foi o mais difícil... Aconteceu e de repente e parecia que tudo
estava perdido. Eu sabia naquele momento que tudo tinha acabado muito
rápido. Eu fui demitido. Achei que minha carreira tinha acabado."

Colocando o problema em perspectiva

Gunn ficou mal por algum tempo, escolheu o silêncio e abandonou as redes
sociais, mas ao invés de supervalorizar o que lhe aconteceu culpando a si mesmo
ou ficar ressentido com a empresa jogando para os quatro cantos tudo o que fez
por ela, reavaliou seu comportamento, pediu desculpas e reorientou seu foco.

Assumindo a responsabilidade

James assumiu total responsabilidade sobre as razões que motivaram o seu


desligamento.

"A Disney tinha todo o direito de me demitir. Esse não foi um caso de liberdade
de expressão". "Sei que as pessoas se magoaram com as coisas que eu disse, e
isso ainda é minha responsabilidade, por não ter sido tão compassivo como
deveria ser no que foi dito. Me sinto mal por isso e assumo total
responsabilidade. A todos dentro e fora da indústria, e outros, eu peço profundas
desculpas".
Apreendendo com os erros

Os tuítes escritos 10 anos antes, ainda que abjetos, não refletiam quem James
Gunn é, mas sim quem ele tinha sido, desconsiderando seu amadurecimento ao
longo dos anos.

"Minhas palavras de mais de uma década atrás foram, na época, esforços


fracassados e infelizes de ser provocativo. Eu me arrependo delas há algum
tempo, não apenas porque foram estúpidas, mas também porque elas não
refletem a pessoa que sou hoje ou tenho sido há algum tempo".

"Estou sempre aprendendo e tudo que eu posso fazer agora, além de oferecer o
meu arrependimento sincero, é ser o melhor ser humano que posso ser;
compreensivo, comprometido com a igualdade, e mais ponderado sobre minhas
declarações e obrigações no discurso público".

A grande virada

O comportamento absolutamente honesto que Gunn demonstrou após sua


demissão, seu pedido de desculpas e a forma como reavaliou a si mesmo
assumindo toda a responsabilidade pelo acontecido, fez com que seus colegas
de trabalho, público e grande parte da imprensa ficassem ao seu lado.

A Warner Bros/DC Comics, principal rival da Marvel não ficou indiferente e


tomou a dianteira contratando Gunn para escrever e dirigir um de seus
principais projetos, o qual ele prontamente aceitou.

Para a surpresa de todos, mal as negociações entre a DC e Gunn estavam


esquentando, o presidente do Walt Disney Studios/Marvel Studios reconsiderou
a nova postura pública do diretor e o chamou de volta recontratando-o para a
continuação da franquia Guardiões da Galáxia Vol III.

Assumindo seu compromisso ético com sua nova identidade pública, Gunn irá
dirigir os dois projetos e cumprirá suas obrigações com as duas companhias
rivais.

"Parte daquele dia (a demissão), foi o pior da minha vida, parte foi o melhor dia
da minha vida. Foi difícil, mas valeu a pena ter esse tempo para ver as coisas em
outra perspectiva". — James Gunn

Se você foi demitido e não absorveu qualquer aprendizado é porque condenou a


si mesmo a repetir os mesmos comportamentos na próxima empresa, inclusive
aqueles que o levarão a ser demitido ou pedir sua demissão novamente, caindo
no eterno ciclo vicioso do entra e sai cuja a maior vítima é você mesmo.

A experiência de uma demissão pode ser o "choque" que irá despertá-lo para a
descoberta de um potencial que você nem sabia que estava lá. Um novo
profissional pode surgir a partir desse episódio, muito mais impactante, mais
agregador, mais produtivo e muito mais disposto a fazer a diferença, alguém que
os outros queiram seguir — um líder.

Que empresa arriscaria perdê-lo?

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