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I – O CONCEITO
Mas nem só a violação consumada leva os sujeitos de direito privado a recorrer aos
tribunais. Também a prevenção da violação, quando alguém ameaça realizá-la ou falsamente
aparenta ser titular dum interesse tutelado, e o exercício de direitos potestativos podem
justificar o recurso a juízo.
2. Estrutura
2.1. O processo como sequência de atos
O termo processo designa, no sentido vulgar, uma sequência de fenómenos (atos
humanos ou factos naturais) dirigida a um resultado. No campo do direito, o mesmo sentido
mantém-se, mas os fenómenos da sequência são factos jurídicos, máxime atos jurídicos. O
processo de formação da lei, o processo de formação do ato administrativo, o processo de
formação do contrato ou o processo dinâmico da obrigação, desde que se constitui até à sua
extinção, consiste numa ordenação não arbitrária de factos em função dum resultado jurídico
(a lei, o ato administrativo, o contrato, a realização da prestação). O mesmo acontece com o
processo jurisdicional (de constitucionalidade, administrativo, fiscal, penal, civil), que é sempre
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Estes atos ordenam-se, por sua vez em fases sucessivas. Assim, o processo comum
(art.546º e 549º/1), tem, na acção declarativa em 1ª instância, as seguintes fases:
Fase dos articulados, ao longo da qual as partes alegam a matéria de facto e de direito
relevante para a decisão (petição inicial, citação do réu, contestação, notificação desta ao
autor; eventualmente, a seguir, réplica);
Fase da condensação,visando verificar e garantir a regularidade do processo, identificar o
objecto do litígio, decidir o que possa já ser decidido e enumerar os temas da subsequente
prova para julgamento (despacho pré-saneador, marcação da data da audiência prévia,
convocação das partes para esta audiência, audiência prévia; não havendo lugar à
audiência, despacho saneador, despacho de adequação formal, simplificação ou agilização
processual, despacho de identificação do objecto do litígio e enunciação dos temas da
prova e despacho de programação da audiência final, proferidos autonomamente, e
notificação destes despachos às partes; eventualmente, a seguir, requerimento de
audiência prévia para apresentação de reclamações desses despachos, marcação da data
desta audiência, notificação às partes e apresentação e decisões das reclamações em
audiência);
Fase da instrução, repartida em diligências conducentes à prova dos factos alegados pelas
partes, tendencialmente concentradas na audiência final mas podendo, por sua natureza,
ter lugar antes dela (implicando requerimentos das partes, despachos e notificações);
Fase da discussão, em que as partes exprimem os seus pontos de vista sobre a decisão a
proferir mediante alegações sucessivas, de facto e de direito, dos mandatários judiciais do
autor e do réu;
Fase do julgamento, mediante prolação da sentença, sua notificação às partes, eventuais
reclamações quando não seja admissível recurso, notificação da contraparte para lhes
responder e decisão delas.
Constituindo o processo jurisdicional uma sequência de atos jurídicos, dele não fazem
parte factos jurídicos stricto sensu. Tal não significa que os meros factos jurídicos não possam
produzir efeitos no processo, mas sim que, quando tal acontece, estes efeitos são
mediatizados através da prática de atos jurídicos (processuais) que aí os fazem valer. Assim,
por exemplo, “a morte duma das partes suspende a instância (art.269º/1/a), mas só depois de
alegada (e provada (art.270º/1)), salvo o fenómeno da retroactividade”: o facto da morte
ocorre fora da sequência processual e, extinguindo a personalidade judiciária da parte
(art.11º), faz cessar um pressuposto processual; a alegação da parte (art.270º/2), ou a
certificação do falecimento pelo funcionário incumbido da citação (art.351º/2), são atos
integrados na sequência processual, que condicionam a verificação judicial do facto,
subsequente à respectiva prova (art.270º/1).
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Em processo civil, pelo contrário, a nulidade (ou anulação) dum ato da sequência
repercute, em regra, a sua eficácia nos atos subsequentes que entretanto hajam sido
praticados; e, num movimento inverso, o efeito da nulidade (ou anulação) do ato só se verifica
quando o vício é susceptível de afetar a realização da finalidade do processo (como sequência).
De acordo com a regra geral do art.195º/1, constituem irregularidades susceptíveis de integrar
invalidade processual a prática dum ato que a lei não admita e a omissão dum ato ou duma
formalidade que a lei prescreva. Não se trata de vícios que respeitem ao conteúdo do ato, mas
tão-só de vícios atinentes à sua existência ou formalidades. Para determinar a sua ocorrência,
há que verificar se a forma do processo (art.546º e 546º) em que o ato foi praticado ou
omitido o consentia (no primeiro caso) ou exigia (no segundo), no momento sequencial da
prática ou da omissão; se não o permitia e ele foi praticado, se o exigia e ele não foi praticado,
se, sem prejuízo da preclusão das faculdades processuais das partes, foi praticado fora do
momento processual adequando ou se, na sua prática, não fora observadas as formalidades
que a lei prescreve, o vício verifica-se.
Verificado o vício, se a lei não prescrever expressamente que ele tem como
consequência a invalidade do ato, segue-se verificar a influencia que a prática ou omissão
concreta pode ter no exame ou na decisão da causa (art.195º/1), isto é, na sua instrução,
discussão e julgamento ou, no processo executivo, na realização das providencias executivas
(penhora, venda, pagamento).
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Tal não impede, porém, que, não obstante a imprecisão da terminologia legal, o regime de
invalidade do ato processual caracterize, em regra, não tanto a nulidade propriamente dita
como a figura da anulabilidade:
Em compensação, quando o vício tenha lugar durante a prática dum ato a que o juiz
presida e seja nele conhecido, deve logo o juiz, oficiosamente, fazer cumprir a lei (art.199º/2).
3. Função
3.1. Espécie de acções
A sequência processual dirige-se a finalidades diversificadas, consoante o tipo de
pedido que o autor formula ao tribunal ao instaurar o processo.
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possuída; ou, afirmando-se credor, pretende que o réu seja condenado a efectuar a prestação
devida) sem prejuízo de o tribunal dever ainda emitir aquele juízo declarativo, dele se
pretende também (e fundamentalmente) que, em sua consequência, condene o réu na
prestação duma coisa ou dum facto. Pressuposto lógico da condenação é também a violação
dum direito; mas não é necessário que a violação esteja consumada à data do recurso a juízo
ou mesmo à data da sentença, como acontece na acção de restituição do art.1278ºCC ou na de
cumprimento ao art.817ºCC. A acção de condenação pode, com efeito, ter lugar na previsão
da violação do direito, dando então lugar a uma intimação ao réu para que se abstenha de o
violar (art.1276ºCC: acção possessória de prevenção) ou à sua condenação a satisfazer a
prestação no momento do vencimento (arts.557º e 610º). Pela acção constitutiva exerce-se
um direito potestativo (por exemplo, o autor pede ao tribunal que, com determinado
fundamento, declare a dissolução, por divórcio, do seu casamento com a ré; que seja fixada
uma pensão de alimentos; que, com fundamento em erro, seja anulado um negócio jurídico
que celebrou com o réu; etc…). O juízo do tribunal já não se apresenta limitado, como nas duas
subespécies anteriores, pela situação de direito ou de facto pré-existente: perante o pedido de
alteração das situações jurídicas das partes, o juiz, pela sentença, cria novas situações jurídicas
entre elas, constituindo, impedindo, modificando ou extinguindo direitos e deveres que,
embora fundados em situações jurídicas anteriores, só nascem com a própria sentença. O
aspeto declarativo desta, reside fundamentalmente na definição, só para o futuro ou
retroactivamente, da situação jurídica constituída. Diferentemente da acção declarativa, a
acção executiva tem por finalidade a realização coativa de uma prestação devida.
Tidas em conta estas constatações, a ideia de que o processo civil tem por função a
tutela de direitos subjectivos ou de interesses juridicamente protegidos mas não organizados
em direito subjectivo, é adequada a traduzir as finalidades objectivamente visadas pelo autor
ao propor a acção. O art.202º/2 CRP consagra esta ideia, quando diz que aos tribunais incumbe
“assegurar a defesa dos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos”. Tido em
conta o princípio do dispositivo, a perspectiva subjectivista da doutrina clássica sobre a função
do processo civil conserva importantes virtualidades definitórias do elemento teleológico do
conceito e, ao mesmo tempo que reduz a paralela perspectiva objectivista à ideia de que a
tutela do direito objectivo só mediatamente é atingida, permite também identificar alguns
desvios da função processual em normas legais do sistema que, sobrepondo a segurança à
justiça ou os interesses de pessoas públicas aos interesses das pessoas privadas, sacrificam a
tutela dos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos à realização de outras
finalidades que à primeira deviam manter-se subordinadas. Por isso também, a
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Nos sistemas processuais atuais, a dúvida insanável do juiz acerca da realidade dos
factos alegados pelas partes é resolvida, não através dum non liquet (declaração do tribunal de
que não pode decidir a causa), mas mediante a imputação a uma das partes das consequências
negativas da falta de prova. A determinação da parte que sofrerá essa consequência (e que,
portanto, tem o ónus de fazer a prova do respectivo facto) faz-se de acordo com a regra do
art.342ºCC: a cada uma das partes cabe a prova dos factos constitutivos do facto jurídico cuja
existência quer que seja declarada e à contraparte a prova dos factos impeditivos,
modificativos ou extintivos dessa situação jurídica, ou os elementos impeditivos desse facto,
que fundam as execeções perentórias. Normalmente, ao autor (e ao réu reconvinte) cabe
provar os factos constitutivos e ao réu (e ao autor reconvindo) os factos impeditivos,
modificativos e extintivos, sem prejuízo de ao autor caber ainda a prova dos factos que
impeçam, modifiquem ou extinguem os efeitos dos que o réu alegue; mas nas acções de
simples apreciação negativa dá-se o inverso (art.343º/1 CC). Assim, abstraindo destas últimas,
se não for feita a prova dum facto constitutivo da situação jurídica, ou dum elemento do facto
cuja existência o autor quer que seja declarada, o réu será absolvido do pedido; se não for
feita a prova de nenhum facto impeditivo, modificativo ou extintivo da situação jurídica que o
autor se arroga ou do facto cuja existência ele quer ver declarada, o réu será, desde que seja
feita a prova do facto constitutivo, condenado no pedido (art.414º). Em qualquer dos casos, o
tribunal profere uma sentença de mérito, isto é, uma decisão que, constituindo a resposta ao
pedido formulado pelo autor, define as situações jurídicas das partes (ou dá por existente ou
inexistente o facto), tal como faria se tivesse chegado a uma certeza sobre a realidade
(existência ou inexistência) de todos os factos alegados pelas partes. A diferença está em que,
além, a sentença pode não se conformar à realidade dos factos (ocorrida, mas não provada) e,
portanto, à existência efectiva das situações jurídicas definidas, enquanto, aqui, a sentença é
conforme a essa realidade (provada) e, portanto, às situações jurídicas existentes. Quando
exista desconformidade, a sentença acaba por não tutelar a situação jurídica que carecia da
tutela judiciária.
Por outro lado, podem as partes, unilateralmente ou por acordo, pôr cobro a um
processo pendente mediante negócio de autocomposição do litígio, com o que subtraem ao
tribunal o poder de decidir a causa. Assim, pode o autor desistir do pedido, isto é, reconhecer
que a pretensão que formulará é infundada, tal como pode o réu confessar o pedido, isto é,
reconhecer o bem-fundado da pretensão formulada pelo autor (art.283º/1); e podem autor e
réu celebrar transacção, isto é, acordar em concessões recíprocas para porem termo ao litígio
(art.1248º CC e art.283º/2). Também nestes casos se segue uma sentença de mérito, mas
agora com natureza meramente homologatória, pois o tribunal limita-se a verificar se as partes
no negócio eram capazes e tinham legitimidade para se ocupar do objecto negocial, bem como
se este era disponível, só não homologando se se verificar incapacidade duma das partes ou
indisponibilidade, subjectiva ou objectiva, do objecto (arts.289º/1 e 290º/3). Havendo
homologação, a sentença é proferida em conformidade com a vontade das partes e não
mediante aplicação do direito objectivo aos factos provados, isto é, tutelando o direito
subjectivo ou o interesse juridicamente protegido que, em decorrência desses factos, se
verifique existir.
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Além disso, por via de disposição legal que o permita ou, no campo do direito
disponível, por acordo das partes, podem os tribunais – do Estado ou arbitrais - proferir um
julgamento de equidade (art.4ºCC e art.39º/1 da Lei da Arbitragem Voluntária) e, quando o
façam, não aplicam o direito objectivo ao caso concreto nem, consequentemente, verificam a
existência do direito subjectivo, compondo o litígio sem recursos obrigatório à lei substantiva
aplicável.
A constatação destes três tipos de situação tem levado uma importante corrente
doutrinária a dizer que a tutela dos direitos e interesses legalmente protegidos só
tendencialmente constitui a função do processo civil, sendo tão-só o meio normal, ao lado de
outros, de compor os litígios e sendo a justa composição do litígio que constitui a função do
processo civil.
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terceiros, mas não entre si. Tem lugar a fraude processual quando as partes, de comum
acordo, criam a aparência dum litígio para obter uma sentença cujo efeito pretendem, mas
que lesa um direito de terceiro ou viola uma lei imperativa (o art.953ºCC proíbe a doação
entre determinadas pessoas – por exemplo, salvo em certas circunstâncias, entre pessoa
casada e terceiro com quem ela mantenha relação sexual: art.2196º CC).
A simulação do litígio, passa quase sempre, mediante prévio acordo entre as partes duma
versão fáctica não correspondente à realidade. A alegação de factos que se sabe não se terem
verificado e a omissão consciente de factos essenciais para a solução do litígio constituem má
fé processual (art.542º/2/b).
4. Objeto
4.1. A pretensão
O processo inicia-se com a apresentação da petição inicial, na qual o autor solicita ao
tribunal uma providência de tutela do seu direito ou interesse legalmente protegido, dirigida
contra o réu, titilar dum interesse em conflito com o seu (art.552º/1/e para a acção
declarativa; art.724º/1/f para a acção executiva). A esta solicitação deve o tribunal dar
resposta, concedendo ou negando a tutela pretendida pelo autor, a menos que se deva abster
de se pronunciar sobre o mérito da causa e absolver o réu da instância.
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de respeito pelos direitos absolutos alheios. Por outro lado, há situações absolutas que
diferem do direito subjectivo e que tão-pouco se integram em relações jurídicas.
4.3. O litígio
A doutrina italiana intentou ultrapassar estas dificuldades mediante o recurso à ideia
de que o objecto do processo civil é o litígio. Esta conceção, que viria a impregnar o nosso
Código de Processo Civil de 1939, encontrou o seu maior desenvolvimento em Francesco
Carnelutti. Para este autor, o litígio é constituído por dois elementos: o conflito de interesses
(elemento material) e o binómio pretensão-resistência (elemento formal). Situados em planos
distintos, o segundo é a expressão formal da incompatibilidade das posições materiais dos
sujeitos perante um bem apto à satisfação duma sua necessidade: verificado um conflito de
interesses, um dos sujeitos afirma-se titular do interesse tutelado pelo direito, ao qual o outro
deve ser sacrificado (pretensão), enquanto o titular do interesse contraposto se opõe a esta
afirmação, negando-a (resistência no plano intelectual, própria do processo declarativo) ou
recusando a satisfação do interesse (resistência no plano material, própria do processo
executivo).
Esta construção encontra, quanto ao elemento formal, uma dificuldade que Castro
Mendes apontou. A nossa lei processual admite expressamente a propositura de ações de
condenação em que estão em causa obrigações constituendas (art.557º/2) ou obrigações
constituídas, mas não vencidas (art.610º/2), não obstante o devedor (ou futuro devedor) não
as ter impugnado. Casos há, por outro lado, em que a acção de simples apreciação, proposta
contra incertos, visa satisfazer um interesse do autor a cuja satisfação ninguém se opõe: a
acção de declaração de propriedade para justificação de registo predial (art.116ºCRPr), bem
como a de declaração de titularidade de quotas e partes sociais para justificação de registo
comercial (art.115ºCRCom.), visam tão-só possibilitar a feitura duma inscrição registral, ainda
que na ausência de qualquer contestação ou oposição material. Falta então a resistência, quer
na aceção material, quer na aceção intelectual, o que levou Castro Mendes a dispensar a
resistência na configuração do litígio, reduzindo assim ao elemento material e à pretensão.
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na criação duma situação de facto fictícia que se quer que constitua fundamento da sentença,
a simulação do litígio possa também derivar da expressão, pela pretensão, duma vontade que
não se tem.
Mas ao autor não basta formular o pedido. Ele tem também de indicar a causa de
pedir, isto é, de alegar os factos constitutivos da situação jurídica que quer fazer valer ou
negar. Discutiu-se durante algum tempo na doutrina se esta indicação da causa de pedir era
necessária.
Para a teoria da individualização, (defendida por Wach) bastava ao autor indicar o pedido,
com o que todas as possíveis causas de pedir podiam ser consideradas no processo, de tal
modo que, ao responder, afirmativa ou negativamente, à pretensão, a sentença decidia em
absoluto sobre a existência ou inexistência da situação jurídica afirmada pelo autor.
Para a teoria da substanciação, ao invés, a afirmação da situação jurídica tem de ser fundada
em factos que, ao mesmo tempo que integram, tal como os outros factos alegados pelas
partes, a matéria fáctica da causa, exercem a função de individualizar a pretensão para o efeito
da conformação do objecto do processo. A teoria da substanciação está inequivocamente
consagrada no nosso sistema processual: o autor deve, na petição inicial, expor os factos que
servem de fundamento ao pedido (art.552º/1/d); esses actos constituem a causa de pedir e
esta delimita o pedido para o efeito de, juntamente com ele e com as partes, identificar a
causa (art.581º/4); esta é insusceptível de ser repetida sem ofensa de caso julgado
(arts.580º/1 e 581º/1).
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A nossa lei define a causa de pedir como o facto jurídico constitutivo do efeito
pretendido pelo autor (art.581º/4), como tal contraposto aos factos impeditivos, modificativos
e extintivos desse mesmo efeito.
A parte que invoca o direito tem, de alegar os respectivos factos constitutivos, isto é,
todos aqueles que integram a previsão da norma ou das normas materiais que estatuem o
efeito pretendido. Embora, uma vez identificadas essas normas, não haja ineptidão da petição
inicial, e seja admissível completar a sua previsão com uma alegação tardia de factos que a
petição inicial omitiu, a falta de alegação desses factos dá lugar à absolvição da parte contrária,
por insuficiência da fundamentação de facto do pedido, isto é, por insuficiência duma causa de
pedir que se deixou incompleta.
5. Sujeitos
5.1. Os sujeitos processuais
Os atos do processo são praticados pelas partes e pelo tribunal, através do respectivo
titular (o juiz – ou os juízes, quando o tribunal é colectivo, como acontece nas instâncias de
recurso) e dos serviços auxiliares (a secretaria). São eles os sujeitos da relação jurídica
processual, dita triangular (a relação processual estabelece-se entre cada uma das partes e o
tribunal e entre as duas partes), mas em que o juiz aparece colocado super partes e com
poderes de autoridade.
5.2. As partes
São partes o autor e o réu. É autor o titular dum dos interesses em conflito que solicita
a tutela judiciária, exercendo contra o titular do interesse a ele oposto (o réu) o seu direito de
acção mediante a dedução dum pedido. Pode, porém, também o réu deduzir pedidos contra o
autor, em reconvenção, que mais não é do que uma contra-ação, em que o réu assume a
posição de autor (reconvinte) e o primitivo autor a de réu (reconvindo). E pode também um
terceiro relativamente à relação jurídica processual inicial deduzir, em determinadas
condições, pedidos em processo pendente em que intervém, ou associar-se ao autor no
pedido por este deduzido, constituindo-se parte ativa, bem como pode contra um terceiro, em
determinadas condições, ser deduzido um pedido ou estendido o pedido já deduzido no
processo, ficando ele constituído como parte passiva. Estas constatações levam a uma
conceção ampla do conceito de autor, que abrange todo aquele que, independentemente de
ter sido ele a instaurar o processo, nele deduz a sua pretensão, seja originária seja
subsequentemente, ou adere à pretensão já deduzida, sendo réu no mesmo sentido amplo
todo aquele contra quem uma pretensão é deduzida ou que subsequentemente assume
posição de contrariedade a uma pretensão já deduzida. A lei processual usa normalmente os
termos autor e réu no seu sentido restrito, isto é, na perspectiva da relação jurídica processual
tal como resulta da petição inicial (por exemplo, arts.266º, 552º, 560º, 563º, 569º, 584º,
595º/5).
Além das partes principais, pode haver partes acessórias. Trata-se normalmente de
pessoas que têm interesse dependente do de uma das partes principais e que por isso
intervêm na causa para auxiliar essa parte (art.321º/1 e 326º/1), mediante o exercício de
actividade própria que obrigatoriamente se subordina à da parte que coadjuvam (art.328º/2).
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Diz-se terceiro todo aquele que não o é, ainda que seja titular dum interesse que
justificaria a sua intervenção na causa, o que o legitime a actuações processuais autónomas,
como os embargos de terceiro (art.342º/1) e o recurso extraordinário de revisão (art.631º/3),
destinadas a infirmar a eficácia de providências tomadas.
a) Quando, sendo-lhe impossível o recurso em tempo útil aos tribunais, o recurso à força
privada aparece como o meio adequado a realizar ou assegurar o direito, de outro
modo ameaçado de inutilização prática (art.366ºCC, perante o qual são especiais os
preceitos dos arts.337ºCC, 339ºCC, 1277ºCC, 1314ºCC, 1315ºCC e 397º/2;
b) Nos outros casos em que, fora desse condicionalismo, a lei admite uma atividade
privada À realização extraprocessual da composição do litígio [É o caso da venda de
bens alheios para satisfação de créditos próprios (arts.674ºCC, 675ºCC e 831ºCC) e do
arrancamento e corte de raízes e troncos de árvores e arbustos (art.1366º/1CC)].
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competência dos tribunais) e negativamente pela enunciação dos casos em que o juiz que
normalmente seria concretamente investido na função jurisdicional fica impedido de a exercer
[Por exemplo, está impedido o juiz que seja parte na causa ou que seja cônjuge, parente ou
afim, até ao segundo grau da linha colateral, duma das partes, bem como aquele que, a outro
título, taxativamente enunciado, tenha tido intervenção na causa (arts.115 e 117)] ou pode ser
afastada por suspeição [Por exemplo, está sujeito a suspeição o juiz que for parente ou afim de
uma das partes em grau para além do segundo da linha colateral, bem como aquele que tiver
grave inimizade ou grande intimidade com uma das partes (art.120)].
A convenção de arbitragem, que deve ser sempre reduzida a escrito, pode ter por
objecto um determinado litígio actual, mesmo que já na pendencia dum processo em tribunal
judicial, ou litígios eventuais emergentes de determinada relação jurídica contratual ou
extracontratual; no primeiro caso, estamos perante o compromisso arbitral; no segundo caso,
estamos perante uma cláusula compromissória normalmente inserta numa estipulação
contratual, máxime no campo do direito comercial (arts.1º/2; 2º LAV).
Os árbitros são designados pelas partes ou escolhidos pelo modo que elas tiverem
determinado, devendo ser em número ímpar; na falta de tal estipulação e se as partes nada
acordarem, cada uma indicará um árbitro e os dois assim designados escolherão um terceiro,
cabendo ao presidente do tribunal estadual competente fazer a nomeação do árbitro ou
árbitros que não forem designados, no prazo de 30 dias, de acordo com essas regras (arts.8º e
10º LAV). Os árbitros têm o dever de revelar todas as circunstâncias que possam suscitar
dúvidas sobre a sua imparcialidade ou a sua independência (art.13º/1 LAV); só podem ser
recusados se ocorrerem circunstâncias desse tipo (art.13º/3 LAV).
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Este direito à anulação da decisão dos árbitros é irrenunciável (art.46º/5 LAV), sem
prejuízo da sanação dos vícios de que a parte tenha conhecimento na pendência do processo
de arbitragem sem logo os arguir (art.46º/4 LAV). Do mesmo modo, é irrenunciável o direito
de oposição à execução da sentença arbitral, que pode ter lugar pelo decurso do prazo para a
acção de anulação nem esta tenha sido definitivamente julgada improcedente (48º LAV).
O regime dos arts.1º a 54º LAV tem aplicação a todas as arbitragens que tenham lugar
em território nacional, ainda que a causa apresente elementos de conexão com outros
espaços jurídicos (art.49º LAV), enquanto a Convenção de Nova Iorque (dentro do respectivo
âmbito de vinculação) e os arts.55º a 58º LAV (fora ou dentro do âmbito da Convenção) se
aplicam quando esteja em causa uma arbitragem efectuada no estrangeiro.
II – OS PRINCÍPIOS GERAIS
1. Introdução
1.1. A importância dos princípios gerais
O direito processual civil é um ramo do direito relativamente recente, estreitamente
conexionado com a organização do Estado e os direitos fundamentais e em que, por isso, o
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Duas décadas depois de HANS KELSEN ter posto, pela primeira vez na Europa, a
questão da necessidade duma jurisdição constitucional e sentido amplo como complemento
da garantia da vinculatividade da norma jurídica, o último pós-guerra marcou o início do
movimento de “constitucionalização das garantias processuais” e, com ele, o de uma atenção
cada vez maior aos princípios gerais do processo civil, que os sistemas autoritários haviam
desprezado. Reposta, de modo institucionalizado, a interrogação sobre os valores
enformadores dos sistemas jurídicos, inclusive no campo processual, constitucionalistas e
processualistas foram reequacionando os princípios fundamentais da jurisdição e do processo,
desenvolvendo o sentido das normas constitucionais que os reafirmaram e a estas procurando
adaptar os códigos e as práticas da sua aplicação. A jurisprudência que o Tribunal Europeu dos
Direitos do Homem vem formando na aplicação dos arts. 6 a 14 da Convenção Europeia dos
Direitos do Homem (ratificada por Portugal em 1978) constitui, desde 1953, orientações firmes
no sentido da imposição aos Estados Europeus do respeito pelos direitos processuais
fundamentais.
Mas não só da CRP são retirados os princípios gerais do processo civil. Outros há que,
resultando duma opção da lei ordinária, não deixam de constituir traves-mestras do sistema
jurídico-processual dos Estados democráticos contemporâneos: o binómio formado pelo
princípio do dispositivo e pelo princípio do inquisitório; os princípios da preclusão e da
autorresponsabilidade; o princípio da cooperação; o trio formado pelos princípios da
imediação, da oralidade e da concentração; o princípio da livre apreciação da prova; o
princípio da economia processual; o princípio da gestão processual.
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O direito de acção, é por isso, hoje pacificamente entendido como um direito público
totalmente independente da existência da situação jurídica para a qual se pede a tutela
judiciária, afirmando-se como existente: ainda que ela na realidade não exista, a afirmação
basta à existência do processo, com o consequente direito à emissão da sentença. Aliás, nem
sequer a falta dessa afirmação, nem a do conflito de interesses que está na base de todo o
processo civil, dispensa a sentença judicial. Não dispensa tão-pouco a falta de personalidade
judiciária, da qual o direito de acção, como direito abstracto, directamente dimana, nem a
falta de legitimidade do autor, não obstante o art.20º/1 CRP parece exigi-las. Apresentada a
petição inicial, a actividade jurisdicional só é evitada quando ela não apresente os requisitos
formais mínimos cuja existência à secretaria compete verificar (art.558º).
Este apelo à titularidade, ainda que meramente afirmada, do direito ou interesse que
se quer fazer valer em juízo é dispensado no exercício do direito de acção popular, que, de
acordo com o art.52º/3 CRP, com o art.1º da Leinº83/95, de 31 de agosto (LAP: Lei da Ação
Popular), e com o art.31º, é conferido, no âmbito dos interesses coletivos e difusos, a qualquer
cidadão no gozo dos seus direitos civis e políticos, bem como às associações e fundações que
tenham como objecto estatutário a defesa dos interesses em causa, nomeadamente para
defesa da saúde pública, do ambiente, da qualidade de vida, do património cultural, do
domínio público e da qualidade do consumo de bens e serviços.
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INTRODUÇÃO AO PROCESSO CIVIL – CONCEITO E PRINCÍPIOS À LUZ DO NOVO CÓDIGO
JOSÉ LEBRE DE FREITAS
O direito de acesso aos tribunais não radica apenas no autor, mas também no
réu. Este pode deduzir pedidos contra o autor (art.266º) e, se o fizer, tem lugar a figura
da reconvenção, perante a qual, em inversão de posições processuais, o réu
(reconvinte) é autor e o autor do pedido primitivo (reconvindo) é réu.
Na nossa opção, o efeito cominatório pleno foi suprimido em 1995-1996 nas formas de
processo comum sumário e sumaríssimo, que passaram a estra sujeitas ao regime cominatório
semipleno. Este continua, no CPC de 2013, a vigorar na forma de processo comum, agora
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INTRODUÇÃO AO PROCESSO CIVIL – CONCEITO E PRINCÍPIOS À LUZ DO NOVO CÓDIGO
JOSÉ LEBRE DE FREITAS
Ora a parte (autor ou réu) que careça de meios económicos suficientes para fazer face
a estas despesas pode, em qualquer estado da causa e para a propor ou com ela seguir até à
final, solicitar apoio judiciário, consistente na dispensa, total ou parcial, da taxa de justiça e de
pagamento de outros encargos. O apoio é concedido pelos serviços da segurança social, com
recurso para o tribunal (arts.20º e 26º/2 da Lei nº34/2004, de 29 de julho).
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INTRODUÇÃO AO PROCESSO CIVIL – CONCEITO E PRINCÍPIOS À LUZ DO NOVO CÓDIGO
JOSÉ LEBRE DE FREITAS
Entendeu-se, quando da revisão do CPC de 1961, que o direito do acesso aos tribunais
impunha a supressão destas cominações, à exceção da relativa à falta de preparo para
despesas, e por isso elas foram suprimidas e substituídas por multa.
3. Princípio da equidade
3.1. Suas vertentes
O direito à jurisdição não pode ser entendido em sentido meramente formal: ele não
implica apenas o direito de aceder aos tribunais, propondo acções e contraditando as acções
alheias, mas também o direito efetivo a uma jurisdição que a todos seja acessível em termos
equitativos e conduza a resultados individual e socialmente justos. Esta aceção ampla do
direito à jurisdição levou à consagração expressa, no art. 20º/4 da CRP, do direito a um
processo equitativo. Trata-se da necessidade de observar um conjunto de regras fundamentais
ao longo de todo o processo, nos vários planos em que se desenvolve.
a) Formulado um pedido ou tomada uma posição por uma parte, devia à outra ser dada
oportunidade de se pronunciar antes de qualquer decisão;
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INTRODUÇÃO AO PROCESSO CIVIL – CONCEITO E PRINCÍPIOS À LUZ DO NOVO CÓDIGO
JOSÉ LEBRE DE FREITAS
b) Oferecida uma prova por uma parte, a parte contrária devia ser chamada a controlá-la
e ambas sobre ela tinham o direito de se pronunciar.
A esta conceção, válida mas restritiva, substitui-se hoje uma noção mais lata de
contraditoriedade, entendida como garantia da participação efectiva das partes no
desenvolvimento de todo o litígio, mediante a possibilidade de, em plena igualdade, influírem
em todos os elementos (factos, provas, questões de direito) que se encontrem em ligação com
o objecto da causa e que em qualquer fase do processo apareçam como potencialmente
relevantes para a decisão. O escopo principal do princípio do contraditório deixou assim de ser
a defesa, no sentido negativo de oposição ou resistência à atuação alheia, para passar a ser a
influência, no sentido positivo de direito de incidir ativamente no desenvolvimento e no êxito
do processo.
A opção feita no CPC de 2013, em que foram reduzidas as três formas de processo
comum a uma só, a fase dos articulados nunca tem mais de três articulados, o último dos quais
(a réplica) só quando o réu tenha reconvindo ou, em acção de simples apreciação negativa,
contestando (art.584º).
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INTRODUÇÃO AO PROCESSO CIVIL – CONCEITO E PRINCÍPIOS À LUZ DO NOVO CÓDIGO
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d) que estas possam pronunciar-se sobre a apreciação das provas produzidas por si, pelo
adversário ou pelo tribunal.
a) que a proposição dos meios de prova preconstituídos, embora tenha o seu momento
preferencial na fase dos articulados (art.423º/1), possa ter lugar, quando se faça por
apresentação no tribunal (é o caso do documento e de algumas coisas móveis), até ao
encerramento da discussão da causa em primeira instância ou, se tal for considerado
perturbador da audiência final, até data próxima da realização efectiva desta
(arts.423º/2 e 416º/1);
b) que os meios de prova (constituendos) cuja produção deva – ou possa – ter lugar antes
da audiência de discussão e julgamento possam ser propostos no início do processo;
c) que os meios de prova a produzir em audiência possam ser oferecidos com a
antecedência considerada suficiente para assegurar o conhecimento da sua
proposição pela parte contrária.
A terceira derivação referida, implica que, proposta uma prova preconstituída, à parte
contrária seja facultado, antes da admissão, impugnar a sua admissibilidade e força probatória
e que, estando em causa uma prova constituenda, lhe seja facultado impugnar a sua
admissibilidade e intervir no ato da sua produção (art.415º). Mas implica também que as
mesmas faculdades sejam reconhecidas a ambas as partes quando a iniciativa da prova seja
oficiosa.
Por fim, cabendo ao juiz apreciar a prova, as partes têm o direito de, antes da
apreciação final, isto é, antes da decisão sobre a matéria de facto (hoje, integrada na sentença
final), se pronunciarem sobre os termos em que ela deve ser feita (art.3º/3). É-lhes assim
facultado, uma vez produzidas todas as provas, discuti-las, pronunciando-se sobre a matéria
de facto que consideram e aquela que não consideram provada, em debates orais que têm
lugar ainda na audiência (art.604º/3 e 5).
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convidar ambas as partes a sobre elas tomarem posição, só estando dispensado de o fazer em
casos de manifesta desnecessidade (art.3º/3).
Não basta, pois, para que esta vertente do princípio do contraditório seja assegurada,
que às partes, em igualdade, seja dada a possibilidade de, antes da decisão, alegarem de
direito (art.604º/3/e, em 1ªinstância; art.639º, em instância de recurso). É preciso que, mesmo
depois desta alegação, possam fazê-lo ainda quanto a questões de direito novas, isto é, ainda
não discutidas no processo.
Mas, ao verificar se uma questão de direito é nova, o tribunal deve atender ao facto de
as partes terem dado ou não cumprimento ao disposto nos atuais arts.552º/1/d e 572º/b, na
parte em que impõem que na petição inicial sejam expostos os fundamentos de direito da
acção e na contestação os fundamentos de direito de defesa por exceção. Estes preceitos,
tidos até 1995-1996 como meramente indicativos, por a falta dessa exposição não ser
sancionada, passaram, após a revisão do CPC de 1961, a dever ser interpretados como
impondo, respectivamente ao autor e ao réu, um ónus. Se este não for observado no
articulado respectivo, poderá o juiz convidar a parte a suprir a falta, no momento do despacho
pré-saneador (art.90º/2). A inobservância desse ónus pode vir no ato da sua produção
(art.415º). Por fim, cabendo ao juiz apreciar a prova, as partes têm o direito de, antes da
apreciação final, isto é, antes da decisão sobre a matéria de facto (hoje, integrada na sentença
final), se pronunciarem sobre os termos em que ela deve ser feita (art.3º/3). É-lhes assim
facultado, uma vez produzidas todas as provas, discuti-las, pronunciando-se sobre a matéria
de facto que consideram e aquela que não consideram provada, em debates orais que têm
lugar ainda na audiência (art.604º/3, al. e) e 604º/5).
No CPC de 2013,o princípio da igualdade das armas não é tido em conta na norma do
art.511º, que limita a 10 (ou 5, nas acções de valor até à laçada do tribunal da 1ª instância) o
número de testemunhas que todos os autores, ainda que me coligação, podem oferecer, mas
admite 10 testemunhas por cada réu que apresente contestação separada. A desigualdade já
existia no CPC de 1961, mas esbatida pelo facto de o limite ser aí até 20 testemunhas (10 no
processo sumário).Com a redução a metade, torna-se mais nítida. É-o ainda mais quando se
tenha em conta que passou a ser negada ao autor, com o novo código, a faculdade de chamar
à intervenção principal litisconsortes voluntários ativos, enquanto o réu pode chamar terceiros
a integrar com ele o lado passivo da relação processual (art.316º): também o chamado, se
intervier com novo articulado de contestação (art.319º/3), passa a ter faculdade de designar
mais 10 (ou 5) testemunhas. O juiz pode corrigir a desigualdade sempre que ela
concretamente se verifique (art.511º/4), mas a lei propicia-a.
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No novo código, é, porém, criado um novo meio de prova: a prova por declarações de
parte (art. 466º). É facultado à parte requerer, até ao início das alegações orais em 1ª
instância, a prestação de declarações sobre factos em que tenha intervindo pessoalmente ou
de que tenha conhecimento direto. Trata-se, pois, dum meio de prova de cuja produção se
pode vir a ter apenas conhecimento no decorrer da audiência. Se a outra parte estiver
presente ou representada, poderá igualmente usar dessa faculdade. Mas, não estando, tem de
lhe ser dado conhecimento (pessoalmente, se tiver advogado constituído) da pretensão da
outra parte, a fim de, ela também, se oferecer, se quiser, para prestar declarações, uma vez
que não tem o dever nem o ónus de estar presente e não é uma hipotética iniciativa da parte
contrária que lhe pode criar esse ónus.
Ao declarar os factos que julga provados e os que julga não provados, o julgador deve
analisar criticamente as provas e especificar motivadamente as que considera decisivas para a
sua convicção, formada normalmente por ilações tiradas de factos instrumentais, e as que têm
valor probatório fixado por lei (art. 607º/3 e 4). Na aplicação do direito aos factos assim
provados, o julgador deve indicar, interpretar e aplicar as normas jurídicas (art. 607º/3). Há
assim lugar a uma dupla fundamentação – de facto e de direito. A falta de fundamentação da
decisão de facto pode, em caso de recurso, dar lugar à baixa do processo à 1ª instância para o
efeito de a obter (art 662º/1/d). A falta de fundamentação da sentença gera nulidade (art.
615º/1/b). Mas, em segundo lugar, o preceito constitucional vai mais longe, estendendo-se a
qualquer a decisão duma controvérsia ou dúvida levantada (art. 154º/1).
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4. O prazo razoável
O entendimento do direito de acesso à justiça como direito efectivo à jurisdição implica
ainda que a resposta judicial à pretensão deduzida tenha lugar em prazo razoável, pois uma
decisão ou providência executiva tardia pode equivaler à denegação de justiça. Constitui
denegação de justiça a falta de resposta à pretensão, isto é, na acção declarativa a não
pronúncia da decisão de mérito.
O art. 6º/1 da Convenção Europeia dos Direitos do Homem exige que a causa proposta
seja examinada em prazo razoável, preceito que se encontra no art. 2º/1 do CPC, e que veio a
ser consagrado no art. 20º/4 da CRP em 1997 (“Todos têm direito a que uma causa em que
intervenham seja objecto de decisão em prazo razoável”).
O prazo razoável conta, em processo civil, desde a data da propositura da acção até ao
termo do processo, mas pode mostrar-se excedido no decurso deste, nomeadamente quando
ele se mantenha por um período significativo completamente parado. A sua duração só em
concreto pode ser apreciada, tidas em conta as circunstâncias do caso, sendo de atender,
designadamente, à complexidade da causa, aos interesses em jogo e à contribuição que as
partes possam ter dado para a demora do processo.
a) Três meses sobre o termo do prazo para a prática de ato próprio do juiz, sem prejuízo
de este dever consignar no processo a razão concreta da inobservância (arts. 150º/4 e
5);
b) Dez dias sobre o termo do prazo para a prática de ato próprio de secretaria, sem
prejuízo de esta dever abrir conclusão do processo com indicação da razão concreta da
inobservância do prazo (art. 162º/4 e 5).
Na indagação, interpretação e aplicação das normas jurídicas, o juiz não está sujeito às
alegações das partes (art.5º/2), o que usa exprimir-se com o brocardo latino jura novit curia.
Este conhecimento oficioso da norma jurídica tem como limite os casos em que a lei
substantiva torna dependente da vontade do interessado a invocação dum direito ou duma
exceção, bem como aqueles em que a lei processual coloca a exclusiva disponibilidade da
parte a invocação da falta de um pressuposto (art.578º), do vício duma ato processual
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(art.197º) ou da extinção dos efeitos dum ato (cf. art.763º/1, para a penhora). Trata-se de
casos em que a declaração do interessado constitui um elemento da previsão da norma, sem o
qual o seu efeito não se produz.
É questão prejudicial toda aquela cuja solução constitua pressuposto necessário da decisão
de mérito, quer esta necessidade resulte da configuração da causa de pedir, quer da arguição
ou existência duma exceção (perentória ou dilatória), quer ainda do objecto de incidentes em
correlação lógica com o objecto do processo, e seja mais ou menos direta a relação que ocorra
entre essa questão e a pretensão ou o thema decidendum.
Podem as partes, no âmbito do direito disponível, dispor das situações jurídicas objecto da
pretensão, mediante a celebração de negócios de autocomposição do litígio.
6. Princípio do dispositivo
6.1. Disponibilidade da tutela jurisdicional e responsabilidade pela matéria
de facto
O processo civil tem na sua base um conflito de interesses privados, por objecto
pretensões formuladas com fundamento no direito privado e por função a composição
daquele conflito mediante a garantia dos direitos e interesses tutelados por normas de
direito privado.
Na conceção liberal do processo liberal do processo civil, dominante no séc. XIX, o juíz
era reduzido ao papel de árbitro dum jogo que, com determinadas regras, se desenrolava
entre as partes e o princípio do dispositivo exprimiria a possibilidade que estas tinham de
dispor do processo, em termos equivalentes àqueles em que lhe era lícito dispor da relação
jurídica material. Esta conceção está hoje ultrapassada por uma outra que passa pela
atribuição de mais poderes ao julgador e pela exigência da cooperação entre o tribunal e as
partes, como meios preferenciais para alcançar a verdade e, com base nela, realizar o direito.
O princípio do dispositivo continua, porém, a constituir um dos princípios basilares do direito
processual civil. Nele se distinguem, rigorosamente, dois princípios processuais: o princípio do
dispositivo propriamente dito e o princípio da controvérsia.
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modo, redutível à ideia de disponibilidade da tutela jurisdicional, por sua vez distinguível em
disponibilidade da instância em si mesma (disponibilidade do início, do termo e da suspensão
do processo) e disponibilidade da conformação da instância (disponibilidade do objecto e das
partes).
Com a proposição (ou propositura) da acção constitui-se a instância (art. 259º/1), como
relação jurídica entre o autor (solicitante da providência jurisdicional) e o tribunal (a quem a
solicitação é dirigida).
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Sem prejuízo de os factos da causa poderem ser alegados por qualquer das partes, a
falta de alegação dos factos constitutivos do direito do autor, gerando a falta ou a deficiência
da causa de pedir, dá lugar à absolvição do réu, ao passo que a falta de alegação dos factos
impeditivos, modificativos ou extintivos em que se funda a exceção ou a contraexceção
deduzida, gerando a improcedência desta, faz precludir a possibilidade de a fazer valer,
podendo dar lugar à condenação do réu no pedido. Cada uma das partes tem assim o ónus da
alegação dos factos cujo efeito lhe é favorável.
No domínio do processo civil, a esfera civil que o caracteriza tem de abranger as partes e o
juiz da causa. A concretização do conceito varia assim consoante a localização do litígio,
considerados os sujeitos do processo: um facto notório em Bragança não o é necessariamente
em Portugal inteiro; um facto notório em Portugal pode não o ser em França ou no Japão.
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INTRODUÇÃO AO PROCESSO CIVIL – CONCEITO E PRINCÍPIOS À LUZ DO NOVO CÓDIGO
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A notoriedade do facto pressupõe que seja indiscutível ter-se verificado, de tal modo que
se torna, uma característica do próprio facto. Daí deriva que, uma vez estabelecida a
notoriedade, o facto em si não carece de prova e é insusceptível de prova contrária.
O facto notório não se confunde com as máximas de experiencia de que o juiz se serve nas
operações de prova, dado o caracter indirecto que esta normalmente reveste. As máximas de
experiencia, necessárias ao raciocínio dedutivo que caracteriza a presunção, revestem
natureza geral, ao passo que o facto notório é um facto concreto de conhecimento geral. No
entanto, as máximas de experiencia estão sujeitas ao mesmo regime dos factos notórios no
que se refere à dispensabilidade de prova e à inadmissibilidade de prova contrária.
D. De acordo com o art.612º, deve o juiz anular o processo quando verifique que entre as
partes foi simulado o litígio para fim de simulação ou fraude processual. Esta
verificação importa o conhecimento dos factos constitutivos do desvio da função
processual praticada.
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Não pode, em rigor, dizer-se que as partes têm o poder de disposição dos factos que
introduzem no processo, afirmação esta que implicaria o direito à mentira no processo civil,
que as normas que sancionam a má fé processual demonstram não existir. Nomeadamente, a
figura da admissão, embora a seu propósito a lei fale de acordo das partes (arts. 574º/2 e
607º/4), baseia-se na regra da experiência segundo a qual, na generalidade dos casos, à
manifestação de desinteresse em impugnar uma afirmação corresponde a verdade desta. As
partes são responsáveis pela constituição do material fáctico do processo, mas este não está
sob o seu domínio.
Não obstante esta possibilidade na prática forense atá hoje pouco utilizada, quase todas as
provas são requeridas pelas partes, no momento processual em que tal lhes é facultado. Sendo
seus os interesses em jogo, cada uma das partes tem o ónus da prova dos factos cujo efeito lhe
é favorável.
Este ónus, paralelo ao da alegação, dele diverge por, no campo da prova, o tribunal ter
poderes de iniciativa que lhe estão vedados no campo da alegação.
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Consideremos, no nosso direito, o caso da contestação: o réu tem, por um lado, o ónus de
contestar e o de impugnar e, por outro, o de deduzir todas as exceções que, não sendo de
conhecimento oficioso, tenha contra a pretensão do autor (art.573º). A inobservância de
qualquer deste ónus dá lugar a preclusões (de contestar, de impugnar, de excepcionar); mas
nos dois primeiros casos joga também, em princípio, a cominação da prova imediata dos factos
alegados na petição inicial, enquanto no último o réu apenas perde a possibilidade de, através
da prova do fundamento da exceção, vir a conseguir a sua absolvição, da instância ou do
pedido.
8. Princípio da cooperação
8.1. O dever de cooperar
Revestindo embora o ónus, no direito processual civil, uma importância muito maior
de que no direito civil, onde impera o direito subjectivo e o dever (genérico ou específico) de
conduta, não deixam as partes de estar também sujeitas no processo a deveres processuais,
tais como o de boa fé processual (art.8º), o de cooperação (art.7º e 417º), o de apresentar
documentos (art.430º), o de recíproca correcção (art.269º). Também os terceiros
intervenientes acidentais têm deveres para com o tribunal (cf. arts. 417º, 432º a 434º, 436º e
437º, 469º/1, 497 a contrario). A violação destes deveres dá lugar a sanções pecuniárias
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Partes e juízes devem cooperar entre si para que o processo realize a sua função em
prazo razoável (“para se obter, com brevidade e eficácia, a justa composição do litígio”: art.
7º/1). O apelo à realização da função processual aponta para a cooperação dos intervenientes
no processo no sentido de nele se apurar a verdade sobre a matéria de facto e, com base nela,
se obter a adequada decisão de direito. O apelo ao prazo razoável aponta para a sua
cooperação no sentido de, sem dilações inúteis, proporcionarem as condições para que essa
decisão seja proferida no menor período de tempo compatível com as exigências do processo.
No primeiro sentido, poder-se-á falar duma cooperação em sentido material; no segundo,
duma cooperação em sentido formal.
O art. 417º/1, colocado em sede de instrução do processo, faz recair sobre as partes –
também sobre terceiros, para tanto solicitados pelo tribunal – o dever de prestarem a sua
colaboração para a descoberta da verdade, facultando objectos que constituam meios de
prova (documentos ou monumentos: arts. 428 a 431º e 416º), submetendo-se elas próprias à
inspecção judicial e ao exame pericial, prestando depoimento de parte (art.452º) e praticando
os demais atos que o tribunal determine. Este dever tem, porém, de acordo com o art.417º/3,
dois limites: o respeito pelos direitos fundamentais (nomeadamente, o direito à integridade
pessoal, o direito à reserva da vida privada e familiar e o direito à inviolabilidade do domícilio,
da correspondência e dos outros meios de comunicação privada: arts. 25º/, 26º/1 e 34º/1 CRP)
e o respeito pelo direito ou dever de sigilo (sigilo profissional ou dos funcionários públicos, ou
segredo de Estado).
Por sua vez, o art. 7º/2, colocado no campo dos princípios gerais, consagra o poder de,
em qualquer altura do processo, o juiz ouvir as partes, seus representantes ou mandatários,
pedindo-lhes esclarecimentos sobre a matéria de facto ou sobe a matéria de direito da causa.
O art. 7º/4 impõe ao juiz o dever de providenciar pelo suprimento de obstáculos com
que as partes se defrontem na obtenção de informação ou documento necessário ao exercício
duma faculdade, à observância dum ónus ou o cumprimento dum dever processual. Assim, por
exemplo, se, falecida uma parte, o autor invocar dificuldade séria em identificar os seus
herdeiros ou em provar a qualidade destes, deve o juiz notificar o corréu ou um terceiro
familiar do falecido para que preste as informações necessárias à observância do ónus de
requerer a habilitação para poder, seguidamente, prosseguir a causa (art. 270º e 351º/1).
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INTRODUÇÃO AO PROCESSO CIVIL – CONCEITO E PRINCÍPIOS À LUZ DO NOVO CÓDIGO
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O segundo enunciado postula que, quando esteja disponível uma fonte de prova que
implique menos ilações no iter probatório, a ela se deve recorrer, em vez de a uma outra mais
distante do acto fundamental a provar. Assim, por exemplo, não está excluída a inquirição da
chamada “testemunha de ouvir dizer”, mas o depoimento daquela de quem ela ouviu o relato
de factos a provar tem maior valor probatório.
O primeiro implica que a produção dos meios de prova pessoal tenha lugar oralmente,
perante os julgadores da matéria de facto, sem prejuízo da sua gravação em registo adequado
para efeito de reprodução, sempre que necessário, em 1ª instância (antes da decisão de facto)
e no tribunal da relação (para os efeitos do art. 662º). Tem as mesmas exceções do que o
princípio da imediação.
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INTRODUÇÃO AO PROCESSO CIVIL – CONCEITO E PRINCÍPIOS À LUZ DO NOVO CÓDIGO
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Todas elas são normas permissivas: as partes podem ou não, de acordo com o
princípio do dispositivo, formular no mesmo processo todos os pedidos que a lei permite que
sejam deduzidos e fazer ou não citar para a causa, inicial ou posteriormente, todos os titulares
da relação jurídica material que não tenham de ser obrigatoriamente parte na causa. Mas, se
não o fizerem e forem propostas separadamente, perante o mesmo juiz, ações que podiam ter
sido reunidas no mesmo processo, o juiz poderá determinar oficiosamente a apensação de
todas elas (art.267º/4), sem prejuízo de as partes poderem requerê-la, mesmo que pendam
perante juízes diversos (art.267º/1).
10.2.2. O litisconsórcio
A configuração subjectiva mais simples da instância consiste na existência de um autor
e um réu (além do tribunal). Frequentemente, porém, a instância constitui-se entre vários
autores ou (e) vários réus. É o que acontece, em primeiro lugar, no caso de litisconsórcio: o
mesmo pedido é formulado ou (e) contra várias partes, dando lugar, respectivamente, ao
litisconsórcio ativo ou (e) ao litisconsórcio passivo.
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No litisconsórcio necessário, há uma só acção e duas partes, das quais uma, pelo
menos, plural; mas no litisconsórcio voluntário, tal como aliás na coligação, há várias acções e,
portanto, várias partes ocupando o mesmo lado da relação jurídica processual (art.35º). No
primeiro, a intervenção – ou citação – das partes é essencial à regularidade da instância no
aspeto da legitimidade, de tal modo que, quando falta, a parte é ilegítima; mas, para se poder
aproveitar a acção proposta, é facultado au autor o chamamento à intervenção principal do
sujeito em falta, mesmo depois de, com esse fundamento, o réu ter sido absolvido da
instância.
A cumulação simples tem lugar quando o mesmo autor (ou os mesmos autores
litisconsorciados) deduz (ou deduzem) contra o mesmo réu (ou os mesmos réus
litisconsorciados) mais de um pedido. A sua admissibilidade do ponto de vista material exige
tão-só que os pedidos sejam entre si compatíveis (art.555º/1), sob pena de se verificar a
ineptidão da petição inicial.
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INTRODUÇÃO AO PROCESSO CIVIL – CONCEITO E PRINCÍPIOS À LUZ DO NOVO CÓDIGO
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A coligação tem lugar quando os pedidos cumulados não são deduzidos por ou contra
a mesma pessoa (singular ou plural), mas sim discriminadamente deduzidos por ou contra
partes distintas. [Constituem partes distintas uma parte singular e uma parte plural integrada
pelo mesmo sujeito que constitui a primeira.] A sua admissibilidade do ponto de vista material
exige, além da compatibilidade dos pedidos entre si, alguns dos tipos de conexão referidos no
art.36º: mesma causa de pedir (exs: o mesmo contrato; a mesma deliberação social); relação
de dependência entre os pedidos (exs: anulação do negócio de transmissão/ nulidade da
transmissão subsequente; validade de negócio incumprido/ cumprimento da obrigação de
garantia); identidade de factos essenciais integradores das causas de pedir (ex: colisões de
veículos em cadeia); mesmas normas legais ou cláusulas contratuais aplicáveis (exs: várias
vendas de bens defeituosos; idêntica cláusula dum contrato-tipo).
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10.2.5. Reconvenção
A ampliação do objecto do processo pode ter também lugar por reconvenção, isto é,
por via de pedido dirigido pelo réu contra o autor (art.266º/1).
Para que a reconvenção seja admissível, tem de se verificar algum dos elementos de
conexão com o pedido do autor que vêm indicados no art.266º/2. Além dos casos específicos
da compensação e das benfeitorias e despesas relativas à coisa cuja entrega é pedida, a
reconvenção é admissível quando o pedido do réu emerge do facto jurídico que serve de
fundamento à acção ou à defesa e quando através dela o réu pretende obter, em seu
benefício, o mesmo efeito jurídico que o autor. No primeiro caso, a reconvenção funda-se na
mesma causa de pedir que o pedido do autor, ou nos factos em que o próprio réu funda uma
exceção peremptória ou com os quais indiretamente impugna os alegados na petição inicial.
No segundo caso, a causa de pedir reconvencional é diversa da invocada pelo autor, mas a
identidade do efeito jurídico pretendido (por exemplo, a declaração de propriedade sobre o
mesmo bem ou a anulação do mesmo contrato) justifica a admissão do pedido reconvencional.
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contrária à que tome a parte principal ou de praticar ato que a parte principal
tenha perdido o direito de praticar (art.337º/2). Na oposição, o terceiro constitui-
se parte principal, numa terceira posição, independente das partes primitivas, se
ambas impugnarem o seu direito, ou como autor ou réu, em substituição da parte
primitiva, se esta reconhecer o seu direito. Qualquer dos incidentes pode surgir
por iniciativa duma das partes primitivas (intervenção ou oposição provocada).
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A lei proíbe a prática de atos – do juiz, da secretaria ou das partes – que, não tendo essa
utilidade, apenas teriam o efeito de complicar o processo, impedindo-o de rapidamente atingir
o seu termos (art. 130º). Se for pela parte praticado ato inútil, pode haver lugr a
responsabilidade por má fé (art. 542º/2/d).
Para além do campo da recolha dos factos e da sua prova, assim como do da discussão
de direito (art.7º/2), ao juiz cabe, em geral, a direcção formal do processo, nos seus aspectos
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Deve, porém, ainda o juiz, oficiosamente, quando a forma legal não for a que melhor
se adeque às especificidades do caso concreto, adaptar a tramitação abstractamente prevista
na lei, designadamente determinando a prática dos atos que melhor se ajustem ao fim do
processo. O CPC de 2013 veio dar nova redacção ao preceito (agora no art.547º) e integrá-lo
no princípio da gestão processual.
Entre as normas dos arts.265º/1 e 265º-A do CPC de 1961 e a dos arts.6º/1 e 547º CPC
de 2013 são assinaláveis, além da integração da adequação formal no âmbito da gestão
processual, uma importante diferença: a adequação formal não tem só lugar quando a
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tramitação legal não se adeqúe (em absoluto) ao caso concreto; deve ter também lugar
quando, embora adequada, outra haja que melhor se lhe adeque.
11.3. Impugnabilidade
A concessão ao juiz de amplos poderes de gestão processual constitui-o no dever de o
exercer, não se tratando de um poder discricionário, embora o seu exercício envolva juízos
técnicos de conveniência e oportunidade. Daí decorre a impugnabilidade das decisões de
gestão processual que o juiz venha a tomar.
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