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ISBN: 978-85-7822-665-7
ANO DE EDIÇÃO: 2019
INSTITUIÇÕES ORGANIZADORAS:
III SEMINÁRIO DE DINÂMICA E MODELAGEM COSTEIRA
COMISSÃO ORGANIZADORA:
Drª. Taís Kalil Rodrigues (UFS)
Drª. Neise Mare de Souza Alves (UFS)
Drª. Débora Barbosa da Silva (UFS)
Msc.Bruna Leidiane Pereira Santana (doutoranda PPGEO/UFS)
Lucas Silva Leite (mestrando PPGEO/UFS)
COMISSÃO CIENTÍFICA:
APOIOS:
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
APRESENTAÇÃO
A zona costeira, patrimônio natural do Brasil, é uma região de extrema importância para
vida e para as atividades humanas, pois se diferencia pela sua interação entre o mar, a terra e o
ar, abrigando diversos ecossistemas: mangues, dunas, praias, restingas, etc. Essa interação
influencia na redução da amplitude térmica, na localização estratégica para fins comerciais e a
existência de diversos recursos naturais.
Por tais características, há o interesse em ocupar e explorar os ambientes costeiros, onde
se desenvolvem grandes cidades, mas em compensação estes ambientes são pressionados. Esta
relação de uso e ocupação resulta em diversos conflitos: expansão urbana desordenada,
especulação imobiliária, dispersão de efluentes domésticos e industriais, pesca predatória,
exploração do setor de turismos, etc.
Assim, a zona costeira apresenta-se como espaço de contradições, pois de um lado há
uma área de grande relevância ecológica, destacando-se como um ambiente dinâmico e
vulnerável e do outro apresenta grande potencial econômico, reunindo um grande contingente
populacional e variadas atividades econômicas, as quais podem gerar situações de riscos para
a integridade da região.
O estado de Sergipe é um dos 17 estados costeiros do Brasil, possuindo litoral com
extensão de 163 km, tratando-se de uma área em crescente urbanização desde o século XX. A
interferência antrópica, atua como agente modificador das feições morfológicas das áreas
costeiras e da sua dinâmica ambiental. Cerca de 21% da costa sergipana encontra-se em
processo de erosão, o que pode provocar danos econômicos e sociais devido a propriedades
instaladas em áreas costeiras muito próximas à linha de costa.
O III Seminário de Dinâmica e Modelagem Costeira, promoveu o debate e a difusão
dos conhecimentos atuais sobre a zona costeira, entre pesquisadores, profissionais, estudantes
e gestores públicos. Isto possibilitará orientações mais adequadas para a gestão costeira, com
responsabilidade em relação às questões ambientais e à utilização racional dos recursos
naturais, e com a atribuição de subsidiar gestores públicos na ocupação ordenada do território,
promovendo assim o desenvolvimento econômico, social e ambiental. Como resultado desse
evento alguns artigos foram selecionados para compor o Livro do Evento “Tecendo Diálogos
sobre a Zona Costeira”. Tratando desde temáticas como modelagem da zona costeira,
ecossistemas costeiros, conflitos de usos múltiplos, gerenciamento costeiro, eventos extremos,
turismo, recursos naturais e geotecnologias.
No campo científico o evento proporcionou a divulgação dos estudos sobre Zona
Costeira realizados no país, com destaque para os trabalhos realizados pelos grupos de
pesquisas da Universidade Federal de Sergipe sobre o litoral sergipano. O envolvimento de
alunos de diferentes cursos nas palestras, minicursos e trabalho de campo, auxiliará na
capacitação e formação profissional do discente.
Esse evento, nacional e específico no tema, é de extrema importância para divulgação e
perpetuação do conhecimento sobre a Zona Costeira brasileira e em especial do estado de
Sergipe, principalmente nas áreas relacionados com gestão costeira, usos múltiplos, eventos
extremos, turismo, recursos naturais e geotecnologias, que serão os eixos temáticos do evento.
III SEMINÁRIO DE DINÂMICA E MODELAGEM COSTEIRA
ÍNDECE
Marceu de Melo
Doutorando em Geografia no PPGE-UFRN e fiscal ambiental da SEMURB
marceudemelo@yahoo.com.br
Luiz Antonio Cestaro
Professor do Departamento de Geografia – CCHLA-UFRN
cestaro@ufrnet.br
RESUMO
A legislação brasileira dispõe de uma série de normas e ações que regulamentam o uso e
ocupação do espaço e orientam o planejamento ambiental. As Áreas de Preservação Permanente
(APPs) são exemplos de elementos criados para garantir a preservação de áreas essenciais à
manutenção da função ambiental e da paisagem. Outro importante elemento identificador de
espaços homogêneos são as unidades geoambientais, definidas a partir da integração de
informações, podendo ser utilizadas na análise de risco, fragilidade e potencialidade de uso. O
objetivo geral deste trabalho foi avaliar o potencial da utilização das unidades geoambientais
na identificação e delimitação das APPs tendo como área de estudo a Via Costeira de Natal/RN.
Os resultados mostraram que a metodologia utilizada obteve êxito parcial, possibilitando
identificar quatro das cinco APPs existentes.
ABSTRACT
Brazilian law provides a series of rules and policies that regulate space use and occupancy as
well as guide environmental planning. Among those are the Permanent Preservation Areas
(APPs) which purpose is to ensure the preservation of elements that are essential to maintain
the environmental function and landscape. Another important instrument identifier of spaces
are geoenvironmental units, defined by the integration of informations, can be used for the
analysis of risk, fragility and potential use of spaces. The aim of this study was to evaluate the
potential of geoenvironmental units in the identification and delineation of APPs in the study
area, the Via Costeira (coastal route) in Natal/RN. The results showed that the methodology
used was partially successful, making it possible to identify four of the five APPs.
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
RESUMEN
La legislación brasileña dispone de una serie de normas y acciones que regulan el uso y
ocupación del espacio y orientan la planificación ambiental. Las Áreas de Preservación
Permanente (APPs) son ejemplos de elementos creados para garantizar la preservación de áreas
esenciales para el mantenimiento de la función ambiental y del paisaje. Otro importante
elemento identificador de espacios homogéneos son las unidades geoambientales, definidas a
partir de la integración de informaciones, pudiendo ser utilizadas en el análisis de riesgo,
fragilidad y potencialidad de uso. El objetivo general de este trabajo fue evaluar el potencial de
la utilización de las unidades geoambientales en la identificación y delimitación de las APPs
teniendo como área de estudio la Vía Costera de Natal/RN. Los resultados mostraron que la
metodología utilizada ha obtenido éxito parcial, permitiendo identificar cuatro de las cinco
APPs existentes.
Palabras claves: litoral tropical, geomorfología costera, gestión ambiental costera, legislación
ambiental.
INTRODUÇÃO
A legislação brasileira tem estabelecido normas e diretrizes para o uso e a ocupação do
solo, disciplinando permissões e proibições. As áreas de preservação permanente (APP) são
exemplos desses instrumentos, elencando elementos/áreas cujas características exigem
restrição de uso e ocupação visando a manutenção da sua função ambiental.
Outro importante instrumento identificador de espaços são as unidades geoambientais,
unidades espaciais de síntese, que agrupam áreas com características semelhantes e podem ser
utilizadas na análise de risco, fragilidade, potencialidade, importantes para os estudos e
planejamento ambientais (ROSS, 2001, p. 11 e 12; ROSS, 2006, p. 59; GUERRA e MARÇAL,
2012, p. 94). As unidades geoambientais apresentam a vantagem de serem definidas por
processos mais complexos (integração de informações), não se pautando em elementos
isolados, mas tendo uma visão mais ampla. (RODRIGUEZ et al., 2007, p. 68; SANTOS, 2004,
p. 138).
Apesar de alguns instrumentos legais definirem unidades geoambientais a partir de uma
visão sistêmica, este conceito não é considerado na identificação das áreas de preservação
permanente. As APP são delimitadas isoladamente, levando em conta a vegetação ou elementos
geomorfológicos, sem considerar o contexto onde estão inseridos, muitas vezes essencial para
a manutenção da função ambiental que se tenta preservar. Acredita-se que a interação entre os
elementos, a forma como estão estruturados e as funções por eles desempenhadas contribui
positivamente para o efetivo cumprimento da função ambiental das APP. Apesar da
fragmentação prática, pois considera os elementos isoladamente, a definição de APP utiliza
princípios sistêmicos, como vemos no conceito abaixo:
área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de
preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
MATERIAIS E MÉTODOS
Considerando que muitos problemas geográficos poderiam ser solucionados com a
realização do parcelamento do meio natural em unidades homogêneas (SOTCHAVA, 1978, p.
2), este trabalho realizou um levantamento da caracterização da base física da área de estudo.
Para tanto, foram utilizados dois levantamentos aerofotogramétricos (MELO et al., 2017, p. 424
e 425):
1. Fotografias aéreas digitalizadas, monocromáticas, na escala 1:2.000, de 1978,
não georreferenciadas; curvas de nível com equidistância de 5 m, na escala
1:2.000, em papel, obtidas a partir das fotografias aéreas de 1978
(SEPLAN/IDEC, 1978). Adquiridas pela Fundação Instituto de Desenvolvimento
(atual IDEMA – Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente) da
SEPLAN (Secretaria de Planejamento e Finanças do Estado do Rio Grande do
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
RESULTADOS
As unidades geoambientais foram agrupadas em quatro categorias, apresentadas no
Quadro 01, partindo da classificação mais geral para a mais específica, através das
especificações dos elementos, estrutura, interações e funções identificadas. O presente estudo
analisou àquelas pertencentes à categoria 4.
Aplicando a metodologia descrita anteriormente, na escala de trabalho adotada
(1:10.000), foram identificadas 12 unidades geoambientais, especializadas na Figura 02.
Na denominação proposta para as unidades geoambientais foram levados em
consideração os parâmetros legais definidores das APP.
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As dunas compõem a categoria que possui maior representação na área de estudo (38,12
ha), em seguida aparecem as praias (23,56 ha). As unidades geoambientais associadas ao
tabuleiro costeiro apresentam a menor área, totalizando apenas sete hectares. Em extensão, as
praias são as mais representativas pois se estendem de uma extremidade à outra da área de
estudo, enquanto que o tabuleiro costeiro se restringe à porção Centro-Norte. As praias arenosas
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Figura 03 – Praia arenosa com recifes Figura 04 – Praia arenosa com recifes
encerrada em falésia. encerrada em falésia.
Dunas vegetadas:
- Localização – as dunas vegetadas aparecem nos quatros setores da área de estudo,
sendo mais expressivas nos setores um e dois.
- Elementos constituintes – areias quartzosas distróficas, arenitos praiais de cores
acizentadas recobertas por sedimentos areno-quartzosos de coloração creme-avermelhadas,
sedimentos erodidos das sequências Barreiras. Neossolos quartzarênicos. A vegetação varia de
restinga herbácea esparsa a arbustiva densa.
- Estrutura – areias quartzosas distróficas, formando neossolos quartzarênicos cobertos
por restinga herbácea esparsa a restinga arbustiva densa. Algumas dunas se formaram sobre
afloramento do tabuleiro costeiro (Figura 05), enquanto outras estão em contato direto com as
ondas e marés (Figura 06). Em alguns trechos as dunas apresentam perfil menos inclinado,
enquanto outras apresentam inclinação mais acentuada. A altura das dunas varia de 5 a 25
metros, predominando aquelas com até 15 metros.
- Interações – os sedimentos são constantemente selecionados e mobilizados pela
dinâmica praial e pela ação eólica. Há uma interação muito visível entre a ação eólica e a ação
oceânica, os ventos possuem um potencial significativo para remobilizar os sedimentos
arenosos marinhos depositados na praia, inclusive galgando as falésias. A ação oceânica pode
interferir no processo de formação de campos eólicos, em eventos de maré mais alta, erodindo
a base das dunas (podendo formar dunas escarpadas) ou das falésias, trazendo de volta à ação
marinha os sedimentos arenosos depositados no continente. A intensa ação eólica atuante na
área pode ser percebida na vegetação arbustiva “penteada” pelos ventos dominantes (SE-NO)
(Figura 06). Quanto mais densa a cobertura vegetal mais fortemente fixado estará o sedimento
e menos vulnerável à ação eólica. Algumas dessas dunas foram alteradas pela ação antrópica
com terraplenagem e deposição de resíduos da construção civil, no entanto, existem
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- X X X X
NORTE, 2000)
Lei nº 6.950/1996 (RIO GRANDE DO
- X X - -
NORTE, 2000)
Municipal
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uma representação linear de 1418,31 metros. A área correspondente a APP definida pela
Resolução CONAMA, criada a partir da ferramenta buffer, equivale a 14,18 hectares.
- APP em Dunas – a legislação garante proteção às dunas vegetadas (BRASIL, 2002;
RIO GRANDE DO NORTE, 1996 e 2000; NATAL, 1992) e não vegetadas (BRASIL, 2002;
RIO GRANDE DO NORTE, 1996; NATAL, 1992). Assim, as unidades geoambientais “dunas
vegetadas” e “dunas não vegetadas” foram agrupadas em uma única APP. Este trabalho defende
que mesmo as dunas que foram intensamente modificadas pela ação antrópica devem integrar
as APP, pois, dentre os critérios que asseguram o cumprimento dos objetivos dos instrumentos
de ordenamento do município de Natal, desde o Plano Diretor de 1984, estão a proteção, a
preservação e/ou a recuperação do meio ambiente e do patrimônio natural. Desta forma se
conseguiu delimitar a APP a partir das unidades geoambientais. Esta APP corresponde a uma
área de 39,11 hectares.
- APP em Praias – processo semelhante ao que foi descrito para as APP em Dunas, as
unidades geoambientais “praias arenosas com recifes encerradas em falésias”, “praias arenosas
com recifes encerradas em dunas”, “praias arenosas encerradas em dunas”, “praias arenosas
encerradas em falésias” e “praias arenosas encerradas em construção” foram agrupadas
compondo uma única APP. Vale salientar que as praias são declaradas de preservação por dois
instrumentos legais, BRASIL (2002) declara como APP os locais de nidificação e reprodução
da fauna silvestre, e RIO GRANDE DO NORTE (2000) considera a praia área de preservação.
São necessários estudos específicos para verificação da existência de locais de nidificação e
reprodução da fauna silvestre, no entanto, a legislação estadual (RIO GRANDE DO NORTE,
2000) considera as praias como AP. Desta forma se conseguiu delimitar a APP a partir das
unidades geoambientais. Esta APP corresponde a uma área de 23,56 hectares.
- APP em Recifes – a presença de recifes foi utilizada na identificação de duas unidades
geoambientais (“praias arenosas com recifes encerradas em falésias” e “praias arenosas com
recifes encerradas em dunas”). Uma ressalva importante sobre as APP em recifes se refere à
influência do balanço sedimentar na exposição destes elementos, ou seja, em épocas de
deposição os recifes podem ser parcial ou totalmente cobertos e em épocas de retirada de
sedimentos os recifes podem ser parcial ou totalmente descobertos. Sendo as unidades
geoambientais espaços de síntese, os elementos se tornam indissociáveis. Como os recifes estão
distribuídos no interior das unidades e não nas bordas não foi possível identificá-los
isoladamente. Os recifes foram delimitados a partir das imagens da ortofocarta de 2006. Esta
APP corresponde a uma área de 5,05 hectares.
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refúgio, reprodução e nidificação de aves. Dos elementos presentes na área de estudo, o Código
Florestal de 2012 considera APP apenas a borda de tabuleiro. Apesar disso, como a legislação
estadual e municipal continuam em vigor, os elementos da área de estudo seguem legalmente
protegidos. Essa constatação evidencia a necessidade da sociedade civil manter-se atenta às
propostas de alterações na legislação para que estes importantes elementos que desempenham
funções essenciais não percam a proteção legal que ainda lhes é garantida.
A metodologia proposta para a identificação e delimitação de unidades geoambientais
resultou na identificação e delimitação de doze unidades. A partir destas foi possível identificar
e delimitar as áreas de preservação permanente existentes na área de estudo que correspondiam
as bordas e/ou eram o elemento base das unidades geoambientais, a exceção se deu
exclusivamente aos recifes, devido ao fato de estarem dispostos no interior das unidades.
As APP e as unidades geoambientais estão previstas em Lei, sendo que a legislação das
APP considera o elemento isolado (forma do relevo ou vegetação), negligenciando o contexto
no qual está inserido. As unidades geoambientais consideram a interação entre os elementos, a
forma como estão estruturados e as funções por eles desempenhadas, evidenciando uma
capacidade mais ampla para o efetivo cumprimento da função ambiental prevista no conceito
das APP. Dessa forma, considera-se necessário uma revisão da legislação que trata das APP no
sentido de que sua delimitação envolva não apenas um elemento isolado, mas sim a unidade
geoambiental que a compõe. A Figura 08 sintetiza a comparação entre APP e unidade
geoambiental.
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Prevista em Elemento
LEI isolado Função Prevista em Função
Visão
ambiental LEI ambiental mais
(restrição de (relevo ou restrita sistêmica
(conceito) ampla
uso) vegetação)
REFERÊNCIAS
BOLÓS, Maria de (org.). Manual de ciencia del paisaje: teoria, métodos y aplicaciones.
Barcelona: Masson. 1992.
BRASIL. Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965. Institui o novo Código Florestal (Revogada
pela Lei nº 12.651, de 2012). Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/leis/L4771.htm. Acesso em 17 jun. 2013.
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
BRASIL. Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa;
altera as Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428,
de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de
14 de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2012/lei/l12651.htm. Acesso em 29 mai. 2013.
MONTEIRO, Carlos. Geossistemas: a história de uma procura. São Paulo: Contexto. 2001.
NATAL. Lei nº 4.100, de 19 de junho de 1992. Dispõe sobre o Código do Meio Ambiente do
Município do Natal. Disponível em:
http://www.natal.rn.gov.br/bvn/publicacoes/lei_n_4100.pdf. Acesso em 05 jan. 2014.
RIO GRANDE DO NORTE. Lei nº 6.950, de 20 de agosto de 1996. Dispõe sobre o Plano
Estadual de Gerenciamento Costeiro e dá outras providências. Disponível em:
http://www.mprn.mp.br/portal/inicio/meio-ambiente/meio-ambiente-material-de-
apoio/legislacao/meio-ambiente-legislacao-estadual/306-lei-no-6950-de-20-de-agosto-de-
1996-plano-estadual-de-gerenciamento-costeiro/file.. Acesso em 25 abr. 2013.
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
RIO GRANDE DO NORTE. Lei nº 7.871, de 20 de julho de 2000. Dispõe sobre o Zoneamento
Ecológico-Econômico do Litoral Oriental do Rio Grande do Norte e dá outras providências.
Disponível em: http://www.mprn.mp.br/portal/inicio/meio-ambiente/meio-ambiente-material-
de-apoio/legislacao/meio-ambiente-legislacao-estadual/307-lei-no-7871-de-20-de-julho-de-
2000-zoneamento-ecologico-economico-do-litoral-oriental-do-rn/file. Acesso em 15 ago.
2014.
ROSS, Jurandyr. Ecogeografia do Brasil. Subsídios para o planejamento ambiental. São Paul:
Oficina de Textos. 2006.
SANTOS, Rozely. Planejamento Ambiental. Teoria e Prática. São Paulo: Oficina de Textos.
2004.
SOTCHAVA, Viktor. O estudo de geossistemas. Métodos em Questão, v. 16. São Paulo: USP.
1977.
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
RESUMO
A zona costeira constitui-se em uma porção territorial com elevado grau atrativo para a sociedade
humana. A singularidade nas características climáticas, as quais proporcionam conforto, como também
o status elevado a quem ocupa, a zona costeira apresenta maior grau de desenvolvimento quando
comparado a ambientes onde a continentalidade é predominante. A partir da ideia básica capitalista, a
qual fundamenta-se na ideologia de que tudo torna-se mercadoria, dotado de valor de uso e troca, a
ocupação do solo é determinada por suas mãos. Diante disso, o presente artigo tem por objetivo analisar
como se deu o processo de expansão urbana na Barra dos Coqueiros, bem como as consequências
resultantes das ações antrópicas diante da face praial do litoral sul. Aderindo a lógica da especulação
imobiliária, a qual determina o valor e o uso do solo, o adensamento populacional na última década na
Barra dos Coqueiros é justificada pela facilidade de acesso a capital do estado proporcionada pela
construção da ponte Construtor João Alves, como também da expansão industrial a norte do município
com a instalação do complexo industrial.
ABSTRACT
The coastal zone constitutes a territorial portion with a high degree attractive to the human society.
Because of the uniqueness of the climatic characteristics, which provide comfort, as well as the elevated
status to those who occupy it, the coastal zone presents a greater degree of development when compared
to environments where continentality is predominant. From the basic idea capitalist, which is based on
the ideology that everything becomes a commodity, endowed with value of use and exchange, the
occupation of the soil is determined by his hands. Therefore, the objective of this article is to analyze
how the process of urban expansion in Barra dos Coqueiros occurred, as well as the consequences of
anthropic actions in front of the coastal face of the south coast. Adhering to the logic of real estate
speculation, which determines land value and land use, population densification over the last decade in
Barra dos Coqueiros is justified by the ease of access to the state capital provided by the construction of
the João Alves Bridge, as well as by the industrial expansion to the north of the municipality with the
installation of the industrial complex.
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
RESUMEN
La zona costera se constituye en una porción territorial con un alto grado atractivo para la sociedad
humana. Por la singularidad en las características climáticas, las cuales proporcionan confort, como
también el estatus elevado a quien ocupa, la zona costera presenta mayor grado de desarrollo cuando
comparado a ambientes donde la continentalidad es predominante. A partir de la idea básica capitalista,
la cual se fundamenta en la ideología de que todo se vuelve mercancía, dotado de valor de uso e
intercambio, la ocupación del suelo es determinada por sus manos. Por ello, el presente artículo tiene
por objetivo analizar cómo se dio el proceso de expansión urbana en la Barra dos Coqueiros, así como
las consecuencias resultantes de las acciones antrópicas ante la cara de la costa del litoral sur. La adición
de la lógica de la especulación inmobiliaria, la cual determina el valor y el uso del suelo, el adensamiento
poblacional en la última década en la Barra dos Coqueiros está justificada por la facilidad de acceso a
la capital del estado proporcionada por la construcción del puente Constructor João Alves, expansión
industrial al norte del municipio con la instalación del complejo industrial.
1 INTRODUÇÃO
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
Assim como ocorreu no litoral brasileiro, a ocupação do litoral do estado sergipano foi
intensificada na segunda metade do século XX a partir da valorização dos espaços litorâneos
para o lazer, segunda residência e atividades econômicas. Algo que marca essa ocupação são
as construções de obras que facilitam o acesso da população nas regiões litorâneas, sendo um
vetor importante para a ocupação do litoral.
O litoral sergipano apresenta uma área de 163 km de extensão, ocupando cerca de
5.514.7 km², sendo 23 munícipios banhados pela costa, dividido em setores, Litoral Norte,
Litoral Centro e Litoral Sul. Inserida no setor Litoral Norte, a área de estudo deste trabalho
corresponde ao município costeiro de Barra dos Coqueiros, estando localizado no leste do
estado de Sergipe, limita-se ao norte com o município de Pirambu, separado pelo rio Japaratuba;
ao sul, leste e sudeste pelo Oceano Atlântico; ao sudoeste com o município de Aracaju, separado
pelo rio Sergipe e a Oeste e Noroeste com o município de Santo Amaro das Brotas, separado
pelo canal Pomonga.
Este trabalho teve como objetivo analisar o processo de expansão urbana nas últimas
décadas no munícipio da Barra dos Coqueiros, bem como as consequências resultantes das
ações antrópicas no seu litoral. Visto que a área em estudo vem concentrado um processo de
expansão urbana através de casas de veraneio e de residências influenciadas pela expansão
industrial nessa área, consequente da instalação do complexo industrial, composto pelo Porto
de Sergipe, Usina Eólica e o Complexo Termoelétrico. Esta relação de uso e ocupação resulta
nos usos múltiplos da zona costeira, como: expansão urbana, especulação imobiliária, dispersão
de efluentes domésticos e industriais diretamente no mar, pesca, exploração do setor de
turismos, entre outros, que provocam uma intensa pressão e alteração nos ambientes costeiros.
2 METODOLOGIA
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
A zona costeira é o espaço de interação entre a terra, o mar e o ar incluindo seus recursos
ambientais e abrangendo uma faixa marítima e uma terrestre, sendo um ambiente bastante
dinâmico e vulnerável. Possui um diversificado conjunto de ecossistemas de alta relevância
ambiental, que vai desde mangues, restingas, campos de dunas, estuários, recifes de corais e
outros ambientes importantes do ponto de vista ecológico, o que caracteriza o litoral como área
de imensa riqueza de bens e recursos naturais e ambientais.
Do ponto de vista global, os terrenos à beira-mar constituem pequena fração dos
estoques territoriais disponíveis, conferindo-lhe como espaço raro e qualificando-o para
determinados usos quase exclusivos do litoral possuindo características singulares sob vários
aspectos, como socioeconômicos, humano e o ambiental. Além disso, apresentam elevado valor
estratégico para a ocupação humana, pois são zonas de enorme potencial para a exploração de
recursos naturais de interesse econômico, além de apresentar climas mais agradáveis ao homem.
Observa-se então, como todos esses fatores concedem as zonas costeiras um alto valor de
ocupação de maneira generalizada em todo o planeta. Representando no território, dois terços
da população mundial, de caráter urbano, encontrando-se concentrada na zona costeira. Além
de abrigar grande parte das instalações industriais em atividade no mundo.
A zona costeira é uma importante fonte de recursos marinhos e minerais, possibilitando,
também, a circulação de bens e pessoas através da via marítima, a utilização desse espaço como
área de lazer e exploração econômica para as atividades turísticas, tais características conferem-
lhe como espaço bastante atrativo para as atividades humanas. Entretanto, estas vantagens
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
acabam pressionando-o, evidenciando o seu valor estratégico, tornando o litoral uma das áreas
de maior estresse ambiental.
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
Nesta perspectiva, destaca-se que o valor de um lugar é dado pelas relações políticas e
sociais. A leitura de paisagem pelo homem, assim como a valorização subjetiva do espaço, é
resultado de influências culturais, são dinâmicas e se adaptam as características de suas
respectivas sociedades. A imagem do litoral sempre esteve relacionada a uma vivencia
prazerosa, com belas imagens, climas agradáveis e, sobretudo, ao alto status que confere a quem
reside ou convive diariamente nesses espaços. Todas essas particularidades resultam na alta
valorização, principalmente socioeconômicas, decorrente de todo um conjunto de fatores
sociais, políticos e econômicos, que confere aos espaços litorâneos, valores muito mais
elevados, tanto para ocupação, quanto para o lazer.
Assim em meio à valorização dos espaços costeiros, estes acabaram torando-se em
espaços-mercadorias, fruto da especulação imobiliária e da superconcentração das atividades
econômicas.
O município da Barra dos Coqueiros tem uma extensão litorânea de 32 km, a qual é
formada por três praias: praia da Atalaia Nova com 3 km de extensão, praia da Costa com 5
km, e praia do Jatobá, que tem uma extensão total de 24 km (Figura 1). A sede municipal tem
uma altitude de 8m e coordenadas geográficas de 10º54'32" de latitude sul e 37º02'19" de
longitude oeste. A população municipal, segundo estimativas do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatísticas (IBGE) no ano de 2016, é de 29.248 habitantes numa área de 89,598
km2, com uma densidade demográfica de aproximadamente 326, 43 hab/km 2.
O clima úmido e quente é caracterizado com precipitação média anual é de 1417 mm,
sendo o período de maior concentração de chuvas de abril a julho, resultado da atuação das
massas Tropical Atlântica (mTa) e, principalmente, Massa Polar Atlântica (mPa). O mês de
maio é o mais chuvoso com média de 251 mm e dezembro o mês mais seco com 40 mm, a
temperatura média anual é de 25,6°C com baixa amplitude térmica. Os ventos predominantes
são os alísios de Sudeste e Nordeste.
25
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
Os solos são predominantemente dos tipos podzol e areias quartzosas marinhas, típicos
dos ambientes de planície fluviomarinha e planície marinha. São solos ácidos, profundos, de
baixa fertilidade. Drenam rapidamente a água precipitada, devido à salinização dificultam o uso
agrícola. As principais formas de relevo do município são planícies marinhas e fluviomarinha,
com topografia plana e suavemente ondulada, e que se estendem ao longo da área, através das
configurações de praia, dunas, cordões arenosos, várzeas e mangues, que datam do período
Quaternário. As praias da Barra dos Coqueiros são faixas de areia de origem marinha, de cor
esbranquiçada, de textura média e fina que acompanha toda a orla marítima. A formação vegetal
encontrada ao longo do município é típica dos ecossistemas manguezal, restinga e Mata
Atlântica.
O município tem apresentado uma crescente expansão urbana nos últimos anos desde a
inauguração, no ano de 2006, da ponte que liga o município com a capital do estado, Aracaju.
Por ser um município muito próximo da capital e pela acessibilidade o município tem o seu
espaço valorizado, especialmente as regiões costeiras, as quais são alvo da especulação
imobiliária, havendo a implantação de vários condomínios fechados de luxo, o que tem
impulsionado a ocupação do litoral.
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
Após a construção da ponte Construtor João Alves sobre o rio Sergipe, em 2006, a
intensificação da ocupação ocorre por meio de novos assentamentos humanos expandindo para
o litoral. A ponte resultou numa maior acessibilidade entre os dois municípios (Aracaju e Barra
dos Coqueiros), provocando a valorização das áreas rurais e urbanas.
Antes da construção da ponte, o processo de locomoção entre Aracaju e Barra dos
Coqueiros era realizado por meio de embarcações que atravessavam o rio Sergipe, essa
condição constituía um fator limitante a ocupação da Barra dos Coqueiros. Isto é evidenciado
na fotografia aérea e nas imagens de satélite do município dos anos de 1965, 2003 e 2018
(Figura 2), enquanto na década de 60 a ocupação era baixa, concentrada nas margens do rio
Sergipe, em 2003 há uma expansão na sede municipal, e na região da praia da Atalaia Nova,
tendo essas duas regiões como locais de concentração urbana.
Com a pavimentação da rodovia SE-100, que corta todo o litoral note sergipano,
associado a construção da ponte em 2006, ocasiona a valorização da terra na Barra dos
Coqueiros, especialmente das regiões próximo ao litoral sul, desencadeando o processo de
expansão urbana no município onde podemos observar na imagem de 2018 as grandes
mudanças na paisagem, principalmente na Praia da Costa e Atalaia Nova, que correspondem a
todo trecho sul do município.
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
A partir analise da evolução da mancha urbana (Figura 3), é possível ter uma melhor
compreensão da intensificação do processo de urbanização. Neste processo há a retirada da
vegetação nativa, restinga e manguezal, desmatando extensas áreas que serão utilizadas para a
instalação da infraestrutura urbana. Constata-se uma grande mudança entre os anos de 2003 e
2017, em que neste ano a ocupação expande-se por diversas áreas do município, com destaque
para as regiões litorâneas, as quais são os principais alvos desta expansão.
29
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
de praia, e que foi construída uma barreira de rochas para não ocasionar o desmoronamento da
estrutura do mesmo.
Por se tratar de um ambiente costeiro, o vento é um dos elementos mais abundantes e a
exploração energética é realizada através da instalação do Parque Eólico Barra dos Coqueiros.
O parque eólico é constituído por vinte unidades aerogeradores totalizando 34,5 MW de
capacidade e 10,5 MW médios de garantia física de energia. Entretanto, essa energia que é
produzida e vendida como “limpa”, acaba causando grandes impactos ambientais negativos.
Durante as visitas in loco foi possível identificar a agravante degradação causada pela
instalação dos aerogeradores e das vias de deslocamento entre essas através da terraplanagem,
do desmatamento e principalmente da alteração na morfologia e dinâmica ambiental, como dos
cordões litorâneos no pós-praia, modificando diretamente na paisagem local. Além de interferir
na vida dos nativos que residem na comunidade de praia do Jatobá, que teve a perda do livre
acesso pela área que foi ocupada pelo complexo eólico, essas barreiras produzidas pelo homem
interferem e atingem a fauna e flora da restinga, retardando a dinâmica do ambiente (Figura 4).
31
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
Fonte: Projeto Orla: Fundamentos para Gestão Integrada (2006, MMA, p.27.)
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ANDRIGUETTO FILHO, José Milton. Das dinâmicas naturais aos usos e conflitos: uma
reflexão sobre a evolução epistemológica da linha do costeiro. Desenvolvimento e Meio
ambiente, v. 10, 2004.
FREITAS, Breno Braga de Souza. Políticas públicas, erosão costeira e ocupação urbana na
linha de costa entre Rio Vermelho e Pituba, Salvador/Bahia. 128f. Dissertação de Mestrado
(Programa de Pós-graduação em Geografia) – Instituto de Geociências, Universidade Federal
da Bahia, Salvador, 2016.INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA et
al. Indicadores de desenvolvimento sustentável: Brasil 2010. IBGE, 2016.
35
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
RESUMO
Os ambientes costeiros são complexos devido sua dinâmica natural, fragilidades e os múltiplos
interesses socioeconômicos. São ambientes peculiares e de caráter diferenciado, que devem ser
considerados como um espaço geográfico singular que necessita de atenção especial para um
correto planejamento, ordenamento e gestão. Pensar o litoral nesse contexto é necessário para
traçar estratégias de manutenção e/ou recuperação da qualidade ambiental através de uma
política de meio ambiente que vise à sustentabilidade. Os dados obtidos em fontes primária
(trabalhos de campo) e secundária (levantamento cartográfico e bibliográfico) foram
organizados a partir da metodologia Pressão-Estado-Impacto-Resposta (PEIR). O presente
trabalho tem por objetivo identificar e compreender a dinâmica do uso e ocupação do solo na
planície fluviolagunar associada ao Rio Betume e, a partir da aplicação da metodologia PEIR,
diagnosticar o estado da paisagem, detectar as pressões exercidas sobre ela, identificar os
impactos causados, como também propor respostas que possibilitem o uso sustentável dos
recursos. Os resultados obtidos com a aplicação da metodologia PEIR permitiram perceber que,
o estado da paisagem tem sido moderadamente modificado por atividades socioeconômicas que
impactam ainda de forma equilibrada, e que as respostas podem ser eficazes, se forem
consideradas.
ABSTRACT
The coastal environments are complex due to its natural dynamics, weaknesses and the
multiple socioeconomic interests. Environments are unique and distinctive character, which
should be considered as a natural geographical space that needs special attention for a proper
planning and management. Think of the coast in this context, it is necessary to devise strategies
for maintenance and/or restoration of environmental quality through an environmental politics
that seeks to sustainability. The data obtained from primary sources (field work) and secondary
(cartographic and bibliographic survey) were organized from methodology the State-Pressure-
Impacto-Response (SPIR). The present work aims to identify and understand the dynamics of
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
the use and occupation of the soil in lagoon river plain associated with the Betume river, and
from the application of the methodology SPIR to diagnose of the landscape, detect the pressures
exerted on it, to identify the impacts, as well as propose answers that allow the sustainable use
of resources The results obtained with the application of the methodology SPIR permitted to
perceive that the condition of the landscape has been moderately modified by socioeconomic
activities that impact even in a balanced way, and that the answers can be effective, if
considered.
Keywords: Environmental planning; Lagoon River; SPIR
RESUMEN
Los entornos costeros son complejos debido a su dinámica natural, debilidades y los múltiples
intereses socioeconómicos. Es un entorno único y su carácter distintivo, lo que debe ser
considerado como un espacio geográfico natural que necesita atención especial para una
adecuada planificación, planificación y gestión. Piense en la costa, en este contexto, es
necesario idear estrategias para el mantenimiento y/o restauración de la calidad ambiental a
través de una política medioambiental orientada a la sostenibilidad. Los datos obtenidos de
fuentes primarias (trabajo de campo) y secundaria (cartografía y revisión bibliográfica) fueron
organizados desde la metodología de Presión-Estado-Impacto-Respuesta (PEIR). El presente
trabajo tiene como objetivo identificar y entender la dinámica del uso y ocupación del suelo en
la llanura fluviolagunar asociado con el betún de Río, y de la aplicación de la metodología PEIR
diagnosticar el estado del paisaje, detectar las presiones que se ejercen sobre ella, para
identificar los impactos, así como proponer respuestas que permitan el uso sostenible de los
recursos. Los resultados obtenidos con la aplicación de la metodología PEIR permite percibir
que la condición del paisaje ha sido ligeramente modificado por las actividades
socioeconómicas que impacto incluso en forma equilibrada, y que las respuestas pueden ser
eficaces si son considerados.
INTRODUÇÃO
Os ambientes costeiros são complexos devido sua dinâmica natural, fragilidades e os
múltiplos interesses socioeconômicos. São ambientes peculiares e de caráter diferenciado, que
devem ser considerados como um espaço geográfico singular que necessita de atenção especial
para um correto planejamento e gestão.
As mudanças de atitudes da sociedade brasileira em relação aos espaços litorâneos
juntamente com a descoberta dos benefícios dos banhos de mar e a moda elitista de morar na
praia, ocasional ou permanentemente, incutiram o desejo por espaços litorâneos no Brasil
(DANTAS, 2010). À medida que essas práticas se expandem, geram mudanças na paisagem
litorânea.
Os espaços litorâneos são concebidos como espaços de produção e consumo. Enquanto
espaço de produção, respondem a certas necessidades dos indivíduos, provocando mudanças
dos espaços litorâneos em lugar de trabalho e moradia de pescadores e migrantes. O espaço de
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
detectar as pressões exercidas sobre ela, identificar os impactos causados e propor respostas
que possibilitem o uso sustentável dos recursos.
Fonte: CPRM 2003; Atlas SRH, 2014. Organização: Luana Pereira Lima, 2017.
Estende-se desde a margem direita do Rio São Francisco até a convergência entre os
munícipios de Japoatã, Japaratuba e Pirambu. Possui uma área de 183,5 km² delimitada pelas
coordenadas 10º 26’ 20” e 10º 32’ 14” de latitude Sul e 36º 34’ 21” e 36º 49’ 07” de longitude
Oeste. O acesso à área de estudo se dá através da ponte sobre o rio Sergipe, que interliga
Aracaju, capital do Estado, à Barra dos Coqueiros e, consequentemente, aos outros municípios
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
do litoral norte a partir da rodovia estadual SE-100 que atravessa os municípios costeiros num
curso paralelo à linha de costa.
A planície fluviolagunar do rio Betume possui áreas associadas a duas Unidades de
Conservação: a Reserva Biológica de Santa Isabel, que fica adjacente à planície e a Área de
Proteção Ambiental do Litoral Norte, que abrange a porção sudoeste da planície (figura 02).
Fonte: CPRM 2003; Atlas SRH, 2014. Organização: Luana Pereira Lima, 2017.
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Os dados obtidos em fontes primária (trabalhos de campo) e secundária (levantamento
cartográfico e bibliográfico) foram organizados a partir da metodologia Pressão-Estado-
Impacto-Resposta (PEIR). Essa metodologia foi proposta pela Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) e tem por base a causalidade das atividades humanas
sobre o ambiente, alterando a quantidade e a qualidade dos recursos naturais (SANTOS, 2004).
A metodologia estabelece uma forma clara e sistemática de organizar um conjunto de
indicadores, é ajustável a diferentes realidades e é importante por mostrar a ligação entre os
diversos elementos que compõem o sistema ambiental.
Indicadores foram elencados para cada componente da PEIR. Para a categoria
ESTADO, que diz respeito às condições ambientais e respondem à pergunta: o que está
acontecendo com o ambiente? foram listados indicadores referentes aos condicionantes
ambientais. Para a categoria PRESSÃO, que diz respeito às atividades causadoras de
modificações e impactos e respondem à pergunta: por que está acontecendo? foram listados
indicadores referentes aos tipos de uso e ocupação do solo. A categoria IMPACTOS revela as
consequências dessas atividades no ambiente, e a categoria RESPOSTA apresenta um conjunto
de ideias e ações voltadas para mitigação ou prevenção desses impactos.
Para cada indicador, de cada categoria, foram atribuídos pesos qualitativos (fraco,
moderado e forte) com o intuito de melhor visualizar suas ocorrências e a relação entre eles na
área de estudo (quadro 02). Os pesos foram estabelecidos a partir de critérios que estão
representados no quadro 01. É importante salientar que a escolha dos indicadores, dos critérios
e a atribuição dos pesos foram definidas de acordo com a realidade da área de estudo.
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
ESTADO PRESSÃO
Litologia Povoados
Ocorrências minerais Sedes municipais
Feições morfológicas Agricultura – cocoicultura
Condições climáticas Agricultura – rizicultura
Tipos de solo Agricultura de subsistência
Cobertura Vegetal Pecuária
Hidrografia superficial Extrativismo vegetal
Aquífero Extrativismo mineral
Qualidade das águas superficiais Aquicultura (piscicultura/ carcinicultura)
Qualidade das águas subterrâneas Turismo
IMPACTOS RESPOSTAS
Destinação do esgoto Unidades de conservação
Redução da cobertura vegetal Plano de manejo
Uso de agroquímicos Aplicação da legislação ambiental
Produção de resíduos sólidos Recuperação da cobertura vegetal
Queimadas – técnica agrícola Projetos de educação ambiental
Impermeabilização do solo Tratamento de esgoto
Perda da biodiversidade Tratamentos dos resíduos agroquímicos
Destinação dos agroquímicos pós Monitoramento da qualidade das águas
produção Planos municipais de turismo
Elaboração: Luana Pereira Lima, 2017.
1
A sede de Pacatuba está parcialmente inserida na planície fluviolagunar, pois parte de seu território está assentado
nos Tabuleiros Costeiros.
43
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
Dos 41 setores censitários, 31 são do tipo rural e 10 do tipo urbano. Em Ilha das Flores,
são 14 setores inseridos na área da planície fluviolagunar, seguido por Pacatuba com 12,
Neópolis com 6, Japoatã com 5, Japaratuba com 3 e Pirambu apenas com 1. A soma do número
de domicílios e habitantes nesses 41 setores é de 7.568 e 21.766, respectivamente. Contudo,
nem todos os setores estão inseridos completamente na área de estudo. A quantidade de
habitantes na planície fluviolagunar é de 13.682 habitantes. Este quantitativo está distribuído
de forma irregular ao longo da planície fluviolagunar (figura 03).
Fonte: CPRM 2003; IBGE, 2010. Organização: Luana Pereira Lima, 2017.
As maiores concentrações estão nas sedes municipais de Pacatuba e Ilha das Flores e ao
longo destes respectivos municípios. Ilha das Flores soma o total de 7 606 habitantes, seguido
do município de Pacatuba com 3 267 habitantes, Neópolis com 2 036 habitantes, Japoatã com
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
512 habitantes, Japaratuba com 254 habitantes e Pirambu com apenas 7 habitantes que ocupam
a planície fluviolagunar.
A expansão da ocupação humana exerce pressão sobre o ambiente, gerando
modificações e degradação sobre a natureza. As principais transformações são a perda da
cobertura vegetal, impermeabilização e erosão do solo, obstrução, desvios e assoreamento de
corpos de água. Essas transformações alteram processos naturais como infiltração da água no
solo e o consequente abastecimento dos lençóis freáticos, amenização da temperatura pela
vegetação, proteção do solo pela cobertura vegetal e drenagem eficiente dos cursos de água.
45
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
Fonte: CPRM 2003; Atlas SRH, 2014. Organização: Luana Pereira Lima, 2017.
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
A aquicultura é uma nova orientação das atividades agrícolas que vem apresentando
crescimento na região. Estão presentes em antigos lotes de rizicultura e associadas a eles,
próximos aos cursos d’água e no entorno de manguezais. A piscicultura e a carcinicultura são
as principais categorias encontradas na área de estudo. Assim como as pastagens, têm
estimulado a subtração da cobertura vegetal.
A carcinicultura foi implantada na região por volta de 1998, com a introdução da espécie
exótica Litopenaeus vannamei (camarão branco do Pacífico). A carcinicultura está presente
principalmente no município de Pacatuba e a maioria dos tanques não possuem Licenciamento
Ambiental. Ocupa ilegalmente áreas de APPs, privatiza áreas públicas, desmata, limita o fluxo
de maré com a construção de tanques semifechados e barreiras e emite resíduos remanescentes
sem tratamento. Evidentemente, a atividade precisa de regulamentação e fiscalização (VIEIRA
et al., 2014; CORREIA, 2016).
Uma importante atividade extrativista na planície fluviolagunar é a extração da taboa
(Typha dominguensis) por comunidades artesãs. Os trabalhos artesanais são desenvolvidos por
mulheres que em sua maioria são dos povoados Junça e Tigre. A taboa, matéria-prima do
artesanato, é retirada dos pântanos e brejos pelas próprias artesãs que a transformam em cestos,
tapetes, bolsas e são comercializados localmente, no estado e até exportados (em pequena
escala) para outros países. É uma atividade culturalmente e economicamente importante para a
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
região, mas que tem gerado impactos (ainda pequenos) para o ambiente, pois a retirada é
acompanhada, muitas vezes, de queimadas.
Quanto à extração mineral, as atividades de exploração de petróleo e gás datam de 1969
quando foi descoberto pela Petrobrás o campo de Ponta dos Mangues com a perfuração do poço
1-PDM-1-SE e posteriormente, em 1971, do poço 1-TG-1-SE. Ambos integram a Estação
Tigre. O campo de Tigre está localizado na Bacia Sedimentar Sergipe, município de Pacatuba
e abrange uma área de 20,3 km². A estimativa para o volume de petróleo e gás natural do campo
Tigre é de 70 mil m³ e 3,63 mil m³, respectivamente.
O turismo também é uma nova orientação econômica dos municípios costeiros do
Litoral Norte. A pavimentação da rodovia SE-100 Norte tem influenciado na especulação
imobiliária e na possibilidade de exploração turística. Os programas elaborados para o
desenvolvimento do turismo, tanto pelo Governo Federal, através do Programa de
Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (PRODETUR/NE), quanto pelos governos estaduais
e municipais, têm incentivado a instalação de pousadas e hotéis, visando futuramente a
expansão do potencial turístico (ALVES, 2010).
Parte da área da planície fluviolagunar associada ao rio Betume é conhecida como
“Pantanal de Pacatuba” e tem sido um roteiro turístico cada vez mais desejado e divulgado.
Facilmente são encontrados sites de viagens falando sobre as belezas paisagísticas do local
(figura 06), dando dicas e ensinando como chegar e onde se hospedar. Os equipamentos de
infraestrutura para atender aos turistas ainda são de pequenas proporções, mas com perspectivas
de crescimento.
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
Figura 07: Matriz PEIR para a planície Fluviolagunar associada ao rio Betume.
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As paisagens representam as interações do homem com a natureza; é a visão de conjunto
dessas relações impressas no espaço. A forma como o homem atua sobre os componentes da
natureza e deles se apropria provoca impactos proporcionais à intensidade das modificações.
Nos ambientes costeiros essas modificações têm maior expressividade, dada à complexidade
inerente de sua dinâmica natural, fragilidade e os múltiplos interesses socioeconômicos.
A planície fluviolagunar possui uma geomorfologia desenvolvida em coberturas
sedimentares recentes, portanto ainda inconsolidadas ou pouco consolidadas, o que confere
fragilidade e capacidade de suporte limitada às ocupações e atividades humanas. A área de
estudo possui potencialidades ambientais significativas advindas da sua estrutura. Mais de 90%
da sua extensão situa-se sobre um domínio hidrogeológico granular formando um aquífero do
tipo poroso com potencial médio a alto. Nos depósitos fluviolagunares desenvolveu-se o
“Pantanal de Pacatuba”, que abriga uma fauna e flora peculiar no estado de Sergipe. É salutar,
então, a preocupação com o uso e ocupação do solo atual e futuro.
A ocupação humana não alcança grandes números e está distribuída de forma irregular.
As maiores concentrações estão nas duas sedes municipais assentadas e o restante se distribui
em pequenos núcleos (povoados e assentamentos rurais). Os usos predominantes são: pastagem,
cultivos agrícolas (cocoicultura, rizicultura e de subsistência), aquicultura (carcinicultura e
piscicultura), pesca, extrativismo vegetal e mineral. Além destes, há o interesse turístico
crescente principalmente para a área do “pantanal de Pacatuba”. Os usos e a ocupação têm
exercido pressão crescente sobre o ambiente, gerando impactos e modificando seu estado
natural e, tratando-se de uma estrutura frágil e com grande potencial ecológico, necessita de
respostas com ideias e ações voltadas para mitigação e/ou prevenção desses impactos.
Os resultados obtidos com a aplicação da metodologia Pressão-Estado-Impactos-
Respostas (PEIR) permitiram perceber que, de modo geral, o estado da paisagem tem sido
moderadamente modificado por atividades socioeconômicas que impactam ainda de forma
equilibrada, e que as respostas podem ser eficazes, se consideradas.
REFERÊNCIAS
ALVES, N. M. S. Análise Geoambiental e Socioeconômica dos municípios costeiros do
Litoral Norte do estado de Sergipe: diagnóstico como subsídio ao ordenamento e gestão
do território. Tese (Doutorado em Geografia) – NPGEO, UFS. São Cristóvão, 2010.
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
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RESUMO
A sociedade no decorrer do processo de evolução desenvolve uma relação com o relevo pautada
no seu uso e intervenção. As formas do relevo se inserem como um importante recurso, porém,
sofrem de maneira direta as determinações que a sociedade capitalista confere. A partir de
procedimentos metodológicos como revisão da literatura, levantamento de dados secundários,
trabalho de campo, análise e tabulação dos dados coletados ao longo da pesquisa, o presente
trabalho tem como objetivo elaborar uma proposta de zoneamento ambiental para a bacia
costeira Caueira/Abais a partir dos conhecimentos sobre a natureza e a estrutura dos
Geossistemas presentes na área em questão. Foram definidas as seguintes zonas: Zonas de
Áreas de Proteção Ecológica (ZAPE); Zonas Restritas ao Uso Agrário (ZRUA); Zonas de Áreas
de Preservação Severa (ZAPS); Zonas de Interesse Turismo/Residência (ZITR) e as Zonas de
Áreas de Exploração Mineral (ZAEM). Foi possível verificar que há zonas que não comportam
um determinado tipo de uso devido a sua fragilidade e condição ambiental; outras, mesmo tendo
condições para uso, deverão ter certo cuidado em seu manejo e exigem técnicas apropriadas
para o seu uso, pois, se for ocupada de forma inadequada, poderá acarretar em graves riscos aos
sistemas ambientais da bacia.
ABSTRACT
The society in the course of its evolution develops a relationship with the relief based on its use
and in his speech. The relief an important resource, however, suffers from direct way the
determinations that the capitalist society gives. From methodological procedures as a review of
the literature survey of secondary data, field work and analysis and tabulation of data collected
during the survey, the present work has as its main objective to elaborate a proposal for
environmental zoning for the coastal basin Caueira/Abaís of knowledge about the nature and
structure of Geossistemas present in the area in question. Areas of Ecological Protection Areas
(ZAPE); the Agrarian Use Restricted Areas (ZRUA); areas of Severe Preservation Areas
(ZAPS); areas of interest Tourism/residence (ZITR) and areas of areas of Mineral Exploration
(ZAEM). It was possible to verify that there are areas that do not contain a certain type of use
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due to its fragility and environmental condition and that others, even having conditions for use,
should take some care in their management and require appropriate techniques for your use,
should take some care in their management and require appropriate techniques for its use, as
appropriate, if improperly, could result in serious risks to environmental systems of the basin.
RESUMEN
La sociedad durante el proceso de la evolución desarrolla una relación con la desgravación
sobre la base de su uso y de intervención. Formas de alivio de la caída como un recurso
importante, sin embargo, sufren de manera directa las determinaciones que la sociedad
capitalista comprovar. A partir de procedimientos metodológicos como una revisión de la
literatura encuesta de datos secundarios, el trabajo de campo, tabulación y análisis de los datos
recolectados durante el estudio, el presente trabajo pretende elaborar una propuesta de
zonificación ambiental de la cuenca costera Caueira/Abaís libro de conocimientos sobre la
naturaleza y estructura de Geossistemas presente en la zona en cuestión. Se definieron las
siguientes áreas: Áreas de Zonas de Protección Ecológica (ZAPE); el uso agrario en zonas
restringidas (ZRUA); áreas de áreas de preservación severa (pulsos); áreas de interés
Turismo/residencia (ZITR) y zonas de áreas de exploración minera (ZAEM). Se pudo
comprobar que hay zonas que no contienen un determinado tipo de uso debido a su fragilidad
y condiciones ambientales; otros, incluso con las condiciones de uso, debe tener cierto cuidado
en su manejo y requieren técnicas apropiadas para su utilización, ya que si éste está ocupado
indebidamente, podría provocar graves riesgos para los sistemas ambientales de la cuenca.
INTRODUÇÃO
A sociedade no decorrer do seu processo de evolução desenvolve uma relação com o
relevo pautada no uso e na intervenção deste, e de maneira a extrair recursos ou serviços que
tais formas poderiam oferecer (SOUZA, 2013). Esta forma de relação, segundo Schutzer
(2012), tem variado de acordo com o nível técnico que cada sociedade conseguiu atingir e
também com seus sistemas produtivos no decorrer do tempo.
Em todo este contexto de apropriação das bases naturais, as formas do relevo se inserem
como um importante recurso que sofre de maneira mais direta com as determinações que a
sociedade capitalista confere. O relevo é utilizado para abrigo, moradia, locomoção em uma
dinâmica de uso de objetos e recursos naturais que provocam ao final, alterações nos processos
que são responsáveis pela elaboração e reprodução desses objetos.
Na concepção de Ross (2006) as formas de relevo podem ser facilitadoras ou
dificultadores da ocupação humana em uma determinada porção de território e de seus
respectivos arranjos espaciais. Do mesmo modo, o traçado de rodovias e ferrovias; o
estabelecimento de empreendimentos imobiliários ou industriais e, até mesmo a definição de
atividades agrícolas, passa diretamente pelo uso e a consequente intervenção nos modelados do
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Sedimentos
eólicos; Aquífero
granular
Dunas Depósitos Neossolos Vegetação Sedimentaçã Forte
Litorâneas Marinhos Quartzarênico de Restinga; o, fluxo antropização
Continentais; s Campos de hídrico,
Areia/ Hidromórficos; Várzea; acumulação
Sedimentos Espodossolos Agricultura; de matéria
eólicos; Humilúvicos ocupação orgânica e
Sedimentos Hidromórficos urbana abrasão
inconsolidados; marinha
Aquífero granular
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2
Antiga Secretária de Meio Ambiente
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A B
C D
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Figura 03: A criação de gado sobre a geofácies Figura 04: Prática da cocoicultura sobre a geofácies
Planície Fluviomarinha no médio curso da bacia. Planície Fluviomarinha no médio curso da bacia.
Créditos: Heleno dos Santos Macedo, 2013. Créditos: Heleno dos Santos Macedo, 2013.
Essa Zona ocupa áreas do Geossistema Planície costeira, sobre a geofácies Terraços
Marinhos e trecho da geofácies Planície Fluviomarinha. São zonas que possuem restrição
quanto à exploração de recursos naturais e uso para implementação de infraestrutura, ou
qualquer tipo de ocupação antrópica, e que por isso, devem ser conservadas em sua integridade.
Abrigam ecossistemas com remanescentes da flora e fauna, campos de dunas (figura 05), áreas
próximas à linha de costa, enfim, ambientes que apresentam elevada fragilidade ambiental,
devido as suas características físicas.
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
Figura 07: Resíduo sólido na margem do rio. Figura 08: Resíduo sólido na praia.
Crédito: Heleno dos Santos Macedo, 2013. Crédito: Heleno dos Santos Macedo, 2013.
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
Trata de uma Zona que ocupa o Geossistema Planície Costeira, sobre a geofácies
Terraços Marinhos e na porção centro sul da bacia, a geofácies planície fluviomarinha. Nessas
áreas encontram-se as praias de maior uso para a prática de veraneio. A constituição urbana é
formada por empreendimentos comerciais, diários e sazonais, que atendem preferencialmente
os turistas, que buscam nessas praias, práticas de lazer.
Parte da estrutura urbana é constituída por casas de veraneio, pousadas e pequenos
hotéis (figura 10). No trecho urbano, não há uma presença significante da população local,
ocupando tal infraestrutura. Para essa Zona, são propostas as diretrizes de usos apresentadas no
quadro 06.
Crédito: Heleno dos Santos Macedo; Ivo Matias Campos; Manuela Maria Pereira do Nascimento, 2013.
69
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ausência de ordenamento territorial-ambiental no uso e ocupação do solo na área da
bacia Caueira/Abaís está acelerando os processos degradacionais das coberturas vegetais
remanescentes, que são berçários para diversos ecossistemas, além de servirem de proteção
natural contra os impactos erosivos sobre os solos.
Pouco mais de 20% da área da bacia possui alguma restrição no tocante a atividade
agrária e que estas acabam sendo o abrigo de culturas não rotativas e permanentes e sem grande
alcance ou orientação comercial. São cultivos familiares que usam a base dos tabuleiros
costeiros e alguns trechos das planícies fluviolagunar e fluviomarinha
As zonas destinadas a preservação permanente responderiam a 60% de toda a bacia, mas
na prática estão bem comprometidas pelo intenso uso agrário, e a expansão do turismo, com a
implementação de grandes obras de infraestruturas, o que ocasiona a supressão da vegetação
original e comprometimento das estruturas ambientais dessa zona. As unidades de conservação,
RPPN, reservas ecológicas e demais componentes da zona de conservação e uso indireto,
merecem ser ampliadas pois garantem a plena conservação de remanescentes vegetais em todos
os geossistemas e o resguardo dos recursos hídricos da bacia.
As áreas destinadas ao turismo e construção de residências na bacia respondem em torno
de 5%, bem como, a zona de uso de mineração, que só é encontrada no geossistema Tabuleiros
Costeiros, e representa também, 5% da área total da bacia.
70
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
Logo com o intuito de evitar e/ou minimizar estas consequências negativas que
afetam/afetarão diretamente a bacia costeira Caueira/Abais, algumas medidas foram sugeridas
na proposta de zoneamento geoambiental.
REFERÊNCIAS
AB’ SABER, A.N.Os domínios da natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. 4.ed.
São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.
SEMARH. Atlas Digital 2011. Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de
Sergipe, Aracaju, 2011.
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -
Brasil (CAPES)
RESUMO
As zonas costeiras são caracterizadas pela fragilidade e riqueza do seu ecossistema, dotado de
paisagens naturais que atraem a atividade turística, gerando, em muitos casos, ocupações urbanas
nestas regiões. Este é o caso da Praia do Abaís, localizada no município de Estância, analisado por este
estudo, que tem passado por um processo de urbanização crescente, necessitando de políticas públicas
regulamentadoras ativas em prol da proteção ambiental articulada às necessidades sociais e
econômicas. Visando levantar dados específicos da localidade do Abaís, considerando suas
particularidades, o objetivo desse estudo é elaborar um mapeamento das unidades de paisagem
identificadas no Abaís, através de levantamento aerofotogramétrico feito com drone, que possibilita a
visualização em conjunto do meio ambiente natural em contraste ao meio ambiente artificial, além do
levantamento de dados quantitativos que norteiam análises dentro das esferas ambientais,
socioeconômicas e legislativas. Dentro dos resultados, considerando os dados quantitativos, a área
urbana aparece com destaque, porém, unidades de paisagem naturais como terraços marinhos, dunas e
lagoa, também se destacam, demonstrando que o Abaís ainda tem acervo ambiental a ser conservado.
Estes dados demonstram a emergência da realização de um ordenamento territorial efetivo e enfatizam
a necessidade de fiscalizações que façam a legislação atual valer .
ABSTRACT
Coastal areas are characterized by the fragility and richness of its ecosystem, endowed with natural
landscapes that attract tourist activity, generating, in many cases, urban occupations in these regions.
This is the Abaís beach case, located in Estância city, analyzed by this study, which has undergone a
increasing urbanization process, necessitating active public policies according
environmental protection articulated with social and economic needs. Aiming to
raise specific data of the Abaís beach locality, considering its particularities, the objective of
this study is to elaborate an landscape units mapping identified in the Abaís beach, through
aerophotogrammetric mapping made with drone, which enables the conjunction visualization of natural
environment in contrast to the artificial environment, in addition to the quantitative data
survey that guide analyses within the environmental, socioeconomic and legislative spheres.
Within the results, considering the quantitative data, the urban area appears prominently,
however, natural landscape units such as seaterraces, dunes and lagoon, also stand out, demonstrating
that the Abaís beach still has environmental acquis to be preserved. These data demonstrate the
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
effective territorial ordering emergence and emphasize the need for inspections
that make current legislation to be applied in practice.
RESUMEN
Las zonas costeras se caracterizan por la fragilidad y riqueza de su ecosistema, dotado de paisajes
naturales que atraen la actividad turística, generando, en muchos casos, ocupaciones urbanas en estas
regiones. Este es el caso de la playa de Abaís, ubicada en el municipio de Estancia, analizado por este
estudio, que ha experimentado un proceso de urbanización creciente, requiriendo políticas públicas
reguladoras activas en favor de la protección ambiental articulada a las necesidades sociales y
económicas. Buscando obtener datos específicos del mapeo de las unidades de paisaje identificadas en
el Abaís, el objetivo de este estudio es elaborar un mapeo de las unidades de paisaje identificadas en el
Abaís, a través de un levantamiento aerofotogramétrico hecho con drone, que posibilita la visualización
en conjunto del medio ambiente natural en contraste con el medio ambiente natural, medio ambiente
artificial, además del levantamiento de datos cuantitativos que orientan análisis dentro de las esferas
ambientales, socioeconómicas y legislativas. En los resultados, considerando los datos cuantitativos, el
área urbana aparece con destaque, sin embargo, unidades de paisaje naturales como terrazas marinas,
dunas y laguna, también se destacan, demostrando que el Abaís aún tiene acervo ambiental a ser
conservado. Estos datos demuestran la emergencia de la realización de un ordenamiento territorial
efectivo y enfatizan la necesidad de fiscalizaciones que hagan la legislación actual valer.
1 INTRODUÇÃO
O litoral sergipano, área de interesse deste estudo, vem recebendo uma série de
investimentos para a sua inserção no turismo internacional, porém, quando comparado a outros
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
estados que estão mais densamente ocupados, o turismo pode ser considerado pouco explorado,
fato que desperta o interesse de atores sociais, gerando “uma valorização do espaço litorâneo,
onde a especulação imobiliária, principalmente no litoral sul já é percebida” (SILVA E
SOUZA, 2011, p. 2).
O avanço do adensamento urbano nas praias do litoral sul, sem o devido planejamento,
preocupa por ocorrer sobre áreas que deveriam estar ambientalmente protegidas, em prol da
manutenção da dinâmica natural do ambiente costeiro, visando a preservação de unidades de
paisagem essenciais como dunas, praias, e encostas litorâneas ativas.
De acordo com Vilar e Araújo (2010), as políticas ambientais referentes ao Litoral Sul
de Sergipe podem ser caracterizadas como deficientes, devido à inefetividade de políticas
ambientais em seu sentido lato e à falta de instrumenos legais que atuem em esferas locais. Daí
parte-se a importância de estudos realizados em localidades específicas, visando aumentar o
leque de conhecimentos típicos de cada região, considerando suas particularidades, evitando
assim, a elaboração de megaprojetos que não são compatíveis com a estrutura e funcionamento
dos sistemas naturais da localidade.
Diante disso, esta pesquisa visa estudar de forma pontual a Praia do Abaís, localizada
no município de Estância, litoral sul do estado de Sergipe, e detentora de potencial ambiental ,
com a presença de praia, dunas e lagoa que são atrativos turísticos da região. Esta praia teve
seu processo de urbanização inicializado nos anos 80, aumentado nos anos 90 e ainda mais
intensificado nos anos 2000, devido a provenção de infraestrutura rodoviária evolutiva, desde
a abertura e pavimentação da rodovia SE-100 Sul até a construção das pontes Joel Silveira e
Gilberto Amado.
Esta urbanização, que vem se expandindo ao longo dos anos, é caracterizada pela forte
presença de segundas residências, a casa de praia tradicional, e de infraestrutura turística, com
a construção de bares, restaurantes, pousadas e orla (SANTOS, 2015). Parte destas construções
está inserida em Áreas de Preservação Permanente (APP), ocupando regiões de dunas, margens
de lagoas, praia e pós-praia, gerando modificações na paisagem natural, impactando
negativamente o meio ambiente e comprometendo a visibilidade, paisagem cênica e o acesso
livre à lagoa e à praia pela disposição das edificações.
Diante da necessidade de estudos locais que auxiliem o poder público estadual e
municipal nas tomadas de decisões, o objetivo principal desta pesquisa é elaborar um
mapeamento das unidades de paisagem identificadas na Praia do Abaís, através de um
levantamento aerofotogramétrico feito com drone para a obtenção de imagens atualizadas da
região, a fim de delimitar, da forma mais precisa possível, as áreas de relevância ambiental para
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
a dinâmica desta planície costeira. Este mapeamento permite a visualização das unidades em
conjunto, admitindo o levantamento de dados quantitativos que possibilitam a elaboração de
análises comparativas, podendo servir de base para posteriores estudos e auxiliar na gestão desta
área.
É importante ressaltar que já foram realizados estudos que abordam indiretamente a
Praia do Abaís, como no caso de Santos (2011) que trata do município costeiro de Estância e
Macedo (2014) que trata da Bacia Costeira Caueira/Abaís, ambos utilizados como referencial
teórico para este estudo. Contudo, a proposta desta pesquisa é trabalhar localmente, a fim de
demarcar as especificidades da praia do Abaís, para a melhor compreensão das suas
particularidades e modificações ao longo do tempo, já que de acordo com Vilar e Araújo (2010,
p. 27), o Litoral Sul de Sergipe possui um mosaico complexo de situações e “problemas de
natureza ambiental, social, fundiária e econômica são responsáveis pela homogeneidade da área
e ao mesmo tempo a heterogeneizam”.
2 METODOLOGIA
75
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
Outra pertinente classificação está associada ao Projeto Orla, que propõe algumas
tipologias gerais de orla relativas a características fisiográficas e aos níveis de ocupação e
adensamento populacional. Dentre estas, a orla da Praia do Abaís está enquadrada como sendo
do tipo exposta em processo de urbanização. Exposta por ser uma praia aberta, com
configuração mais retilínea, apresentando zona de arrebentação bem desenvolvida e forte
presença de dunas frontais, que ora aparecem com vegetação fixadora, ora descaracterizadas ou
completamente subtraídas para dar espaço ao adensamento urbano. E em processo de
urbanização por possuírem médio adensamento de construções, com indícios de instalações
recentes, forte presença de segundas residências, com um grande volume de população flutuante
e paisagens parcialmente antropizadas, com alguns remanescentes de atividades rurais e médio
potencial de poluição sanitária e estética.
76
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
77
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
naturais, mas também aqueles proporcionados pela ação humana que alterou o fácies da
paisagem, chegando-se a seguinte categorização: terraços com arbustos, dunas, terraços com
herbáceas, área urbana, lagoa, superfícies alagadiças, superfícies de deflação, paleodunas,
cocoicultura e faixa de areia.
Todas as unidades de paisagem delimitadas neste estudo seguiram as imagens do
levantamento aerofotogramétrico em consonância com o observado nas pesquisas de campo.
Dessa forma, os terraços marinhos mapeados foram subdivididos em “terraços com arbustos”
e “terraços com herbáceas”. Os primeiros se referem aqueles identificados nas pesquisas de
campo e nas imagens aéreas com grande concentração de árvores frondosas, destacando as
copas aproximadas em um tom de verde mais escuro; já os segundos se referem aos terraços
sem cobertura vegetal de grande porte, com maior presença de vegetações rasteiras
apresentando uma coloração de verde mais claro nas imagens aéreas. As dunas foram de fácil
identificação visual pela sua coloração esbranquiçada e continuidade de seus campos,
aparecendo ora livres, ora cobertas por vegetação.
A área urbana está marcada sobre as construções existentes na planície, identificadas
visualmente de maneira evidente pela coloração das coberturas das construções. A Lagoa Azul
apresentou delineado evidente num tom de azul escuro que contrastava com suas margens,
tendo a continuidade do seu posicionamento como um ponto-chave para a demarcação das suas
áreas de concentração. As superfícies alagadiças foram identificadas visualmente ao longo dos
terraços, onde apareciam em continuidade e com coloração mais escura (marrom) e textura
diferenciada, se destacando do entorno.
As superfícies de deflação foram delimitadas nas áreas entre dunas, aparecendo como
áreas planas com vegetação rasteira, tendo tons de verde claro e marrom. As paleodunas, que
também podem ser chamadas de dunas continentais, foram identificadas com o auxílio do mapa
geológico do Estado de Sergipe para comprovação da localização desta unidade, sendo
demarcadas na orientação oeste da lagoa, apresentando relevos mais elevados em relação aos
terraços, possuindo coloração esbranquiçada e aparecendo majoritariamente cobertas por
vegetações. A cocoicultura foi de fácil identificação visual, levando em consideração as formas
diferenciadas dos coqueiros vistos de cima em concentração, destoando das demais unidades.
A faixa de areia está demarcando o pós-praia, identificado visualmente através da diferença de
cores da areia, que aparece encharcada, com cor mais forte em contraste com a areia seca, onde
o mar não alcança, de coloração mais clara, conforme figura 3.
Após a delimitação de cada unidade de paisagem, utilizando os comandos de “polilinha”
e “hachura” do Autocad, foram calculadas as áreas ocupadas por cada uma delas através do
78
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
comando “area” utilizando a opção “objeto”. Além disso, foram quantificadas, de forma
isolada, as áreas urbanas sobre as unidades naturais de paisagem, utilizando a dedução
possibilitada pela interpretação visual da interrupção ou descontinuidade dos cenários naturais
pelas construções situadas em aglomerados ou de forma pontual. Estes dados quantitativos
nortearam as análises feitas na seção seguinte e possibilitaram a elaboração de quadros
elaborados utilizando o Microsoft Excel.
3 RESULTADOS
79
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
80
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
81
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
3.1.2 Dunas
Segundo Bird (2008), as dunas costeiras se formam no fundo da praia por sedimentos
secos da faixa de areia, transportados pelo vento até encontrar um obstáculo como troncos ou
vegetação, acumulando-se acima do nível de maré alta. Ainda segundo o autor, as
características de crescimento e modelagem das dunas estão diretamente relacionadas ao fluxo
de vento, sua fonte de areia, taxas de transporte e padrões de erosão e deposição.
Tecnicamente, as dunas exercem papel muito importante para o equilíbrio dinâmico da
praia, pois são elas que fornecem sedimento, através da ação do vento para a praia e vice-versa.
É o balanço sedimentar quem determina esse equilíbrio entre perda e ganho de sedimentos.
Quando o balanço é positivo, prevalece o ganho de sedimentos e a praia está em acresção, mas
quando o balanço é negativo, ocorrendo mais perda do que ganho de sedimentos, a praia é
determinada em estado de erosão (SOUZA et al., 2005).
De acordo com o quadro 1, as dunas demarcadas na figura 3 ocupam uma área de
52.21.752,40 m², situando a segunda colocação ao compor 13,62% das unidades mapeadas.
82
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
3.1.4 Lagoa
A lagoa mapeada na figura 3 corresponde a um reservatório de água doce alimentado
por águas pluviais e pelo lençol freático. Sua origem está diretamente relacionada aos eventos
de transgressões e regressões do nível relativo do mar durante o Quaternário que durante a
Última Transgressão (5,1 ka), os rios da região foram afogados e foi instalado um sistema de
ilhas barreiras, gerando uma série de corpos lagunares que separam os terraços marinhos
pleistocênicos dos terraços marinhos holocênicos (BITTENCOURT et al., 1983).
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
A Lagoa Azul, conhecida como Lagoa dos Tambaquis, é a maior do estado de Sergipe,
e no mapeamento realizado comprova sua imponência ao ocupar a quinta colocação,
correspondendo a 11,39% das unidades de paisagem delimitadas com uma área de 4.367.726,66
m² (quadro 1). Em suas margens são encontrados, de forma mais evidente, terraços com
arbustos e com herbáceas, áreas urbanas, com construções de residências e comércios que visam
o potencial de atrativo turístico da lagoa, e paleodunas. Estas construções violam a Lei nº 12.651
(2012), que estabelece encostas de lagoa como Áreas de Preservação Permanente (APP).
3.1.7 Paleodunas
84
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
3.1.8 Cocoicultura
A cocoicultura identificada no mapeamento corresponde ao cultivo do coco e a
coqueirais. O estado de Sergipe possui a segunda maior produção do Brasil dessa cultura, que
representa uma importante fonte de renda e, geralmente, é localizada em áreas de baixada
litorânea e tabuleiros costeiros (JESUS et. al., 2011).
Na figura 3, de acordo com o quadro 1, foram identificados 2.037.846,58 m² de
concentrações de coqueiros, compondo 5,31% das unidades de paisagem mapeadas. Estes
coqueirais aparecem pontualmente ao longo da planície costeira do Abaís e com maiores
concentrações nas proximidades das superfícies alagadiças.
85
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
A praia do Abaís é arenosa com granulometria fina. O pós-praia é a zona da praia que
se estende do limite superior da zona de espraio até ao início dos corpos dunares (CORREIA E
SOVIERZOSKI, 2005). Nesse espaço, são desenvolvidas diversas atividades produtivas, sobre
a qual se destaca o desenvolvimento do turismo sol e praia.
No mapeamento, realizado na figura 3, essa unidade corresponde a 0,04% de área dentre
as unidades de paisagem delimitadas, com 13.677,88 m² (quadro 1). Em alguns pontos essa
faixa de areia aparece bem próxima às construções devido a redução dos campos de dunas nas
proximidades da área urbana e ao avanço da linha de costa em direção ao continente, ocorrido
na última década.
3.1.10 Hidrografia
O rio mapeado na planície costeira do Abais é denominado de rio Água Doce, que
segundo Macedo (2014), nasce no povoado Paruí no município de Itaporanga D’ Ajuda,
apresenta uma drenagem exorreica, ou seja, seu escoamento das águas se faz de modo contínuo
até o oceano. Seu fluxo de vazão é determinado pela intensidade da precipitação, que durante
os meses mais chuvosos, o escoamento superficial aliado à saturação do lençol freático
aumentam seu curso principal, consequentemente, nos meses mais secos essa vazão diminui.
Macedo (2014) verificou também que em um período de quatro meses, ocorre um
processo de migração do ponto de desembocadura do rio Água Doce no contato com Oceano
Atlântico, apresentando três modelos diferenciados da desembocadura ao longo do ano,
fenômeno resultante da ação conjunta dos fatores oceanográficos e correntes de deriva
litorânea.
Foram identificadas construções pontuais, a exemplo de condomínios multiresidenciais
fechados, ocupando suas margens, em desobediência à Lei nº 12.651 (2012) que define as
encostas como Áreas de Preservação Permanente (APP).
3.2 Discussões
Os dados levantados na seção anterior permitem análises embasadas do aparato
legislativo e em outras literaturas, norteando discussões associadas à esfera ambiental, social e
legislativa. Dentro da esfera ambiental, a ocupação em região de dunas, identificada nesta
pesquisa, (10,68%, quadro 2) sugere que houve a supressão de dunas para a implementação da
zona urbana na Praia do Abaís, fato que acarreta uma série de danos ambientais já que as dunas
costeiras, segundo Carter (1988) são responsáveis pela redistribuição de areia para a praia
durante e depois das tempestades, essas trocas assimétricas das duas unidades são fundamentais
86
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
apresenta cerca de 1.500 desovas de tartaruga que geram 65 mil filhotes a cada temporada
reprodutiva, porém a região vem sofrendo com a especulação imobiliária, que intensifica as
ameaças às tartarugas marinhas, sobretudo através das construções irregulares, com
descaracterização do ambiente costeiro.
Em relação à esfera social, que está vinculada à esfera ambiental, a erosão costeira
intensificada pela urbanização sem planejamento em regiões dunares, já explanada, trouxe uma
série de impactos negativos para a sociedade da Praia do Abaís, como a desvalorização de
imóveis, colocando-os a preços baixos de venda, e o fechamento de estabelecimentos
comerciais devido à destruição e abandono a orla, único ponto de encontro coletivo da região.
O tipo de uso do solo urbano que mais se destaca na região estudada é o de residências
secundárias. Segundo Vilar e Vieira (2010), as segundas residências são domicílios de uso
ocasional, que satisfazem as necessidades de habitação e moradia, abrigando pessoas, nos fins
de semana e temporada de férias, e mesmo com usos sazonais, não deixam de causar impactos.
Ou seja, a dinâmica do crescimento das segundas residências na Praia do Abaís, sobretudo nas
áreas de praia e restinga, é impactante e necessita de atenção especial.
Dentro da esfera legislativa, de acordo com o Novo Código Florestal, Lei nº 12.651
(2012), as dunas e encostas são Área de Preservação Permanente (APP), devendo ser
prioritariamente conservadas ou restauradas. Além disso, as áreas de vegetação de restinga
também possuem tal caracterização, devendo ser preservadas a uma faixa mínima de trezentos
metros a partir da linha de preamar máxima, ou seja, o maior nível de maré, quando a linha
alcançada pelas águas chega ao seu extremo. Pode-se afirmar que parte da ocupação urbana da
praia do Abaís, demarcada na figura 3, está situada em APP (sobre dunas e encostas da lagoa e
do rio), configurando uma ocupação irregular, em inconformidade com a legislação.
Em relação às construções em regiões de dunas, de acordo com a Lei nº 9.605 de 1998,
a lei dos crimes ambientais, Artigo 50, “destruir ou danificar florestas nativas ou plantadas ou
vegetação fixadora de dunas, protetora de mangues, objeto de especial preservação” configura-
se como um crime contra a flora terrestre, sob pena de detenção de até um ano e aplicação de
multa. As dunas costeiras também são protegidas pelo Plano Nacional de Gerenciamento
Costeiro (PNGC), que no Art. 3° prevê o zoneamento de usos e atividades da zona costeira,
dando prioridade à conservação e proteção das dunas e outras unidades.
O município de Estância possui um Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano do ano
de 2010, seguido de uma Lei Complementar nº 09/2014 que adiciona ao referido plano, algumas
novas orientações. Em suas diretrizes de estruturação do partido urbanístico, o Plano Diretor
estabelece a necessidade da definição e preservação do patrimônio ambiental, incluindo as áreas
88
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
4 CONCLUSÃO
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012: Novo Código Florestal. Dispõe sobre a
proteção da vegetação nativa; altera as Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19
de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15
de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de
24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Brasília, DF, 2012.
90
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
BRASIL. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Lei dos crimes ambientais. Brasília, DF,
1998.
DINIZ, M. T. M.; MEDEIROS, S. C.; CUNHA, C. J., 2014. Sistemas atmosféricos atuantes e
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Disponível: https://www.revistas.ufg.br/bgg/article/viewFile/38839/19692 Acesso: 22 out.
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
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vulnerabilidade e Riscos associados. In: SOUZA, R.M., SANTOS, S.S.C., SANTOS, E.A.,
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SOUZA, C.R. de G.; SOUZA FILHO, P.W.M.; ESTEVES, SL.; VITAL, H. DILLENBURG,
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92
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
RESUMO
ABSTRACT
On the coastal flatland of Itaporanga D'Ajuda, coconut culture and livestock agroecosystems
livestock provides environmental problems in the various coastal environments, marine beach,
dunes, and mangrove areas. This study proposes an analysis of the environmental dynamics of
the coastal flatland of the municipality of Itaporanga D'Ajuda and the possible impacts of land
use. The studies of this research is based on the analysis of the landscape of agroecosystems,
which consists in the interpretation of spatial heterogeneity and its relation with human
activities and biocenosis. The coconut culture agroecosystems provides the removal of native
vegetation, the expulsion of species from the fauna, altering the ecological relations by
changing the dynamics of the cycles of matter and energy, problems that are also present in the
practice of livestock. In addition to these problems caused by agroecosystems, urban expansion,
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
driven by second-home tourism and the emergence of condominiums, are part of the dynamics
of use and occupation in the area, which has suppressed agroecosystems production spaces. The
advance of urbanization as well as rural activities in agroecosystems degrade the environments
of the coastal flatland, removing dunes, burying ponds present among the beach ridges,
removing native vegetation that causes expulsion of species of fauna. Such impacts are potential
adversities for the maintenance of ecosystems and even for urbanization.
RESUMEN
1. INTRODUÇÃO
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
dependem um dos outros para existirem no meio ambiente e a interação entre os mesmo é fator
fundamental para o equilíbrio ambiental.
Mudanças nas interações e interdependência entre os elementos dos ecossistemas são
comuns, tal característica é observada em demonstrações palaeoclimáticas e arqueológicas
encontradas na natureza em todo planeta. As mudanças ocasionadas pela dinâmica ambiental
natural é de ordem cronológica harmônica, permitindo que animais e vegetais se adaptem à
características ambientais.
Contudo, as modificações ocasionadas no meio ambiente pela ação antrópica ocorrem
de forma abrupta, impedindo que os elementos bióticos acompanhem essas modificações, por
conta disso, muitos ecossistemas estão caracterizados por desequilíbrio ambiental.
Atividades agrícolas causam mudanças na estrutura dos ecossistemas, pois objetiva
maximizar a produtividade, alterando os ciclos naturais no meio ambiente. A dinâmica
ambiental é caracterizada por fluxos de matérias e energia entre diferentes ecossistemas, biomas
e ambientes. As modificações ligadas ao uso antrópico dos ambientes rompe os fluxos de
matéria e energia, levando ao desequilíbrio ambiental.
As planícies costeiras são constituídas por ambientes como terraço marinho com
cordões litorâneos e lagoas, dunas, praia, manguezal, estuário e etc. Cada um destes ambientes
tem importância fundamental para o equilíbrio das planícies costeiras, pois todos fazem parte
de um sistema aberto caracterizado pela dinâmica de trocas de matéria e energia.
A planície costeira de Itaporanga D’Ajuda tem sido alvo de alterações ao longo dos anos
por conta de diversas atividades econômicas. Os usos da planície costeira são diversos,
destacam-se agroecossistemas de cocoicultura e pecuária, infraestruturas de comercio e
serviços para turismo de segunda residência, urbanização com aumento do povoado e
condomínios, loteamentos.
Baseando-se em alguns conceitos de diversos autores como Aquino e Assis (2005) e
Altiere (2012), pode-se definir que o agroecossistema resulta da modificação de ecossistemas
naturais a fim de aumentar a produtividade de um ou alguns grupos de espécies cultivadas.
Autores como Gliessman (2005) e Fontenelle (2005) fornecem informações importantes sobre
e agroecologia e alguns tipos de agroecossistemas, como a cocoicultura.
Nos agroecossistemas, a diversidade biológica é bastante reduzida, pois o cultivo de
poucas espécies substitui as espécies nativas e a ciclagem de matéria e energia também é
alterada através do uso de insumos, como fertilizantes e agroquímicos, para suprir as
necessidades de sua produção, além do uso da energia de fontes antrópicas.
95
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
O estudo analisa as modificações dos agroecossistemas nas planícies costeiras, que são
áreas relativamente recentes em tempo geológico, geralmente originadas de sedimentos dos
períodos quaternário e terciário.
Por esse motivo, tem uma dinâmica particular, englobando ambientes sensíveis aos
processos e fenômenos naturais, e às intervenções antrópicas, onde as trocas de matéria e
energia são modificadas pela presença dos agroecossistemas. A área de estudo é na planície
costeira de Itaporanga D’Ajuda, que tem essa característica de agroecossistemas modificando
a paisagem de planície costeira.
2. MATERIAL E MÉTODO
A área de estudo é localizada na planície costeira do município de Itaporanga D’Ajuda
(Figura 1). O município de Itaporanga D’Ajuda, está localizado na região leste do Estado de
Sergipe, a sede do município tem uma altitude de 38 metros e coordenadas geográficas de 10°
59’50” de latitude sul e 37°18’22”de longitude oeste (CPRM, 2002. p.2). A planície costeira do
município está localizada a cerca de 30 km da sede municipal e limita-se entre o Oceano
Atlântico e Tabuleiros Costeiros.
Figura 1 – Localização da área de Estudo
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
97
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Planície Costeira de Itaporanga D’Ajuda
A formação da planície costeira de Itaporanga D’Ajuda foi caracterizada pela deposição
de sedimentos retrabalhados pela ação do mar e dos ventos durante o Quaternário. Segundo
Brasil (1983) os processos de morfogênese nos ambientes costeiros estão associados ao período
do Quaternário e os depósitos sedimentares são de origem marinha e fluviomarinha, com
granulometria principalmente de areia e em menor quantidade de argila e silte.
Além dos cordões litorâneos, terraços marinhos, a planície costeira conta também com
a presença de praias, dunas, manguezais, estuários, dentre outros. Estes subambientes interagem
entre si em relações sistêmica de troca de matéria e energia.
O terraço marinho é caracterizado pela justaposição de cordões litorâneos. Entre cada
cordão litorâneo exista a presença de uma zona de depressão, denominada de zona intercordões,
que permite a presença de lagoas temporárias e permanentes. Nas áreas de lagoas intercordões
são encontradas espécies vegetais hidrófilas e hidrófitas, a exemplo do junco (BRASIL, 1983).
A composição do terraço marinho de Itaporanga D’Ajuda é predominante de origem
sedimentar arenosa, depositados pelo recuo do mar e pela formação de cordões litorâneos.
Consequentemente a origem desses sedimentos em parte advindos do mar.
Os campos de dunas estão caracterizadas por forte antropização, tanto pela presença de
agroecossistemas como pelo avanço da expansão urbana. O campo de dunas da planície costeira
de Itaporanga D’Ajuda é caracterizado por presença de dunas frontais, dunas embrionárias,
dunas de precipitação, área de deflação, dentre outros (SILVA e SANTOS, 2016).
As dunas frontais estão localizadas em contato direto com a praia e o oceano, e são
caracterizadas por morfologia escarpada, por conta da erosão costeira causada pelo avanço da
linha de costa.
As dunas embrionárias estão localizadas na área de deflação e a origem dos sedimentos
é da praia e das dunas frontais. Por conta da presença de vegetação pouco densa e espaça, a
mobilidade nessa subunidade é maior (SILVA e SANTOS, 2016).
As dunas de precipitação, estão localizadas no interior da planície costeira, São dunas
com altitudes mais elevadas, por conta da presença de maiores obstáculos, já que nessa área a
vegetação é mais densa. Contudo, parte dessas dunas apresenta mobilidade e tem recoberto
partes do terraço marinho.
Segundo Brasil (1983), a área é recoberta por vegetação de restinga e mangue,
vegetações normalmente encontradas em áreas de influência marinha, fluvial e fluviomarinha.
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
com maior mobilidade. Outro fato é a diminuição do recarga do lençol freático, pois a remoção
da vegetação diminui o obstáculo ao escoamento superficial, o efeito disso é a diminuição da
infiltração hídrica no solo.
Além disso, as relações ecológicas são afetadas, pois a remoção da fauna nativa causa a
expulsão de espécies de animais, devido à degradação dos habitats. A consequências desses
fatos podem ocasionar desequilíbrio ambientais nos subambientes da planície costeira.
Assim como a cocoicultura, a pecuária está presente na planície costeira e esta atividade
descaracteriza a paisagem e altera as relações ecossistêmicas através de interferências nos ciclos
de matéria e energia.
Um dos fatores de alterações ecossistêmicas a ser considerado é o pisoteio do gado sobre
o solo, causando a compactação devido à redução dos poros. Como a criação de gado na planície
costeira é feita tanto no terraço marinho quanto nas dunas, as atividades desse agroecossistema
interferem na dinâmica desses ambientes.
No terraço marinho, a compactação do solo torna os sedimentos mais coesos diminuindo
o tamanho dos poros e além de diminuir a facilidade dos sedimentos serem transportados pelo
vento, diminui as taxas de infiltração e por consequência aumenta as taxas de escoamento
superficial, alterando assim a recarga do lençol freático e possivelmente o débito hídrico das
lagoas temporárias e permanentes, situadas entre os cordões litorâneos.
Nas práticas de agropecuária as espécies vegetais nativas são substituídas por espécies
de herbáceas cultivadas podendo alterar as relações ecológicas nos ambientes onde esse tipo de
agroecossistema é presente.
Segundo informações coletadas por entrevista, a pastagem utilizada na área é nativa,
não sendo necessária a introdução de espécies cultivas. Porém, além da substituição das
herbáceas, algumas áreas de mata mais densa, como nas áreas de restinga são retiradas para dar
lugar à criação dos gados e do pasto, essas práticas expulsam espécies da fauna bem como
podem conduzir à extinção por conta da mudança na cadeia alimentar.
Além das atividades de agroecossistemas, a área está sendo alvo de uma expansão
urbana acelerada nos últimos anos. A urbanização da área é caracterizada, majoritariamente
pela presença de casas de veraneio e/ou segunda residência, que compreende o povoado
Caueira.
Apesar da crescente expansão urbana, intensificada após a construção da Ponte Joel
Silveira (Figura 3), na planície costeira de Itaporanga D’Ajuda a ocupação majoritária ainda é
caracterizada pela presença de agroecossistemas.
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
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A ausência de cobertura vegetal oferece menor proteção aos ambientes costeiros, como
dunas e terraço marinho contra agentes de erosão, como a chuva e o vento, desse modo,
aceleram-se os processos de remoção de solo e sedimentos.
Com a remoção da cobertura vegetal (Figura 5), a dinâmica ecossistêmica é alterada,
pois muitas espécies da fauna mais sensíveis a desorganização do ambiente devido as
interferências nos fatores abióticos e na cadeia trófica são expulsas diretamente devido a
103
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
modificação do seu habitat, podendo causar a extinção de algumas espécies nativas pois
algumas destas ficam sem alimento ou sem predadores, causando escassez de alimento ou
surgimento de praga.
Informações coletadas em entrevistas apontam que as espécies animais nativas são
vistas raramente e apenas em áreas onde ainda existem a presença de remanescentes de restinga.
Os animais citados foram o teiú, o tatu, capivara, paca e camaleões. Algumas dessas espécies
são caçadas por moradores de localidades próximas e por pessoas vinda de outras áreas,
diminuindo os indivíduos das espécies e causando alterações na cadeia trófica e relações
ecológicas.
A vegetação age como uma proteção contra a ação dos ventos e a remoção das espécies
vegetais deixam o solo exposto aumentando os níveis de transporte eólico, esse fator pode
transformar dunas fixas em dunas móveis, aumentando a mobilidades das dunas, podendo
causar a o soterramento de outras áreas como nos terraços marinhos ou das lagoas intercordões.
As lagoas localizadas nas áreas intercordões, no terraço marinho são degradadas tanto
pela diminuição das taxas de infiltração de água, como aterramento para construção civil.
A alteração da dinâmica de escoamento superficial por causar problemas nas lagoas,
pois as águas da chuva são fonte de débito hídrico para as lagoas intercordões a diminuição da
recarga do lençol diminui por consequência o fornecimento de água para as lagoas, diminuindo
o volume de água, podendo tornar lagoas permanentes em temporárias como também a total
extinção de algumas e ou reduzindo o período que as lagoas ficam cheias.
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
A construção de casas na áreas de lagoas também pode alterar a infiltração por diminuir
a área permeável do solo ao aterrar as lagoas. As casas presentes nessas áreas podem sofrer
danos na sua estrutura por conta da instabilidade do terreno causada pela influência do lençol
freático (Figura 6). É importante ressaltar também o barramento de áreas de lagoas para a
criação de tanque e viveiros para atividade de piscicultura e carcinicultura.
A carcinicultura e piscicultura são atividades presentes nas proximidades do estuário do
Rio Vaza-Barris, estas atividades provocam impactos ambientais no canal fluvial, pois a
limpeza dos tanques e viveiros utiliza produtos que são despejados no rio e contaminam a água.
Além do rio, essas atividades também causam degradação nas áreas de manguezais associadas
ao estuário do Rio Vaza-Barris.
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
Além disso, órgãos reguladores podem aumentar a fiscalização na área, com o objetivo de
diminuir atividades fora das normas que degradam o meio ambiente ou oferecem risco ao
trabalhadores das propriedades de agroecossistemas.
REFERÊNCIAS
ALTIERI, M. Agroecologia: bases científicas para uma agricultura sustentável. 3ª ed. São
Paulo, Rio de Janeiro: Expressão Popular, AS-PTA, 2012. 400 p.
ALVES. J. R. P. Manguezais: educar para proteger - Rio de Janeiro: FEMAR: SEMADS, 2001.
96 p.: il.
108
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
METZGER, J.P. O que é ecologia das paisagens? São Paulo, 2001. Departamento de
Ecologia. Universidade de São Paulo.
PINHEIRO, M. V. A. Et. al. Dunas móveis: áreas de preservação permanente? Soc. & Nat.,
Uberlândia, 25 (3): 595-607, set/dez/2013. Disponível em:
http://www.seer.ufu.br/index.php/sociedadenatureza/article/view/21010/pdf_58. Acesso em
29/11/2016.
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo caracterizar a Unidade de Paisagem e suas subunidades que
compõe o município Barra dos Coqueiros-SE, correlacionado com os usos e ocupação que se
processam atualmente nesses ambientes. A metodologia adotada no desenvolvimento da
pesquisa está pautada na realização de pesquisa bibliográfica, interpretação de fotografias
aéreas e produtos cartográficos, elaboração de mapas temáticos e trabalho de campo. Buscou-
se aporte teórico/metodológico no método geossistêmico (Bertrand, 2004), tornando-se
possível a realização de uma análise integrada da paisagem in loco. As análises desenvolvidas
no município Barra dos Coqueiros-SE permitiram a identificação e caracterização das
subunidades de paisagem que se desenvolvem sobre a unidade Planície Costeira, evidenciando
que a ação humana é um elemento que, no tempo-espaço, está favorecendo a descaracterização
do desenvolvimento e manutenção das morfologias dessa área, e provocando a gênese de
feições. Dessa forma, compreendemos que a caracterização da paisagem corresponde a uma
análise das potencialidades dos recursos naturais do município, através da utilização
aprimorada dos mesmos, determinadas pelo uso e ocupação da localidade.
ABSTRACT
This work aims to characterize the Landscape Unit and its subunits that compose the
municipality of Barra dos Coqueiros-SE, correlated with the uses and occupation currently
occurring in these environments. The methodology adopted in the development of the research
is based on the accomplishment of bibliographical research, interpretation of aerial photographs
and cartographic products, elaboration of thematic maps and field work. A theoretical /
methodological contribution was sought in the geosystemic method (Bertrand, 2004), making
it possible to carry out an integrated analysis of the landscape in loco. The analysis developed
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
in the municipality of Barra dos Coqueiros- SE allowed the identification and characterization
of the landscape subunits that develop on the Coastal Plain unit, showing that human action is
a space-time element that is favoring the de-characterization of development and maintenance
of the morphologies of this area, and provoking the genesis of features. In this way, we
understand that the landscape characterization corresponds to an analysis of the potentialities
of the natural resources of the municipality, through the improved use of them, determined by
the use and occupation of the locality.
RESUMEN
Este trabajo tiene como objetivo caracterizar la Unidad de Paisaje y sus subunidades que
componen el municipio de Barra dos Coqueiros-SE, correlacionadas con los usos y la ocupación
que se producen actualmente en estos entornos. La metodología adoptada en el desarrollo de la
investigación se basa en la realización de investigaciones bibliográficas, la interpretación de
fotografías aéreas y productos cartográficos, la elaboración de mapas temáticos y el trabajo de
campo. Se buscó una contribución teórica / metodológica en el método geosistémico (Bertrand,
2004), lo que permitió realizar un análisis integrado del paisaje in loco. El análisis desarrollado
en el municipio de Barra dos Coqueiros-SE permitió la identificación y caracterización de las
subunidades de paisaje que se desarrollan en la unidad de la Planicie Costera, mostrando que la
acción humana es un elemento espacio-tiempo que está favoreciendo la des-caracterización del
desarrollo y Mantenimiento de las morfologías de esta área, y provocando la génesis de las
características. De esta manera, entendemos que la caracterización del paisaje corresponde a un
análisis de las potencialidades de los recursos naturales del municipio, a través del mejor uso
de los mismos, determinado por el uso y la ocupación de la localidad.
INTRODUÇÃO
Os ambientes costeiros apresentam-se dinâmicos e interligados por diferentes processos
naturais – oceanográficos, eólicos e fluviais –, estando também suscetíveis as derivações
antropogênicas. Essas ações se manifestam por meio das diferentes formas de uso decorrentes
do trabalho humano na natureza.
Na atual conjuntura, o ambiente costeiro brasileiro apresenta-se sensível as ações
antrópicas, fruto de transformações históricas. No município sergipano de Barra dos Coqueiros,
a interação dos condicionantes naturais e antrópicos têm proporcionado o surgimento ou
modificação das morfologias existentes.
Tendo em vista a concepção sistêmica, é possível afirmar que as consequências da
interação desses condicionantes se repercutem não apenas sobre os componentes biofísicos da
paisagem, mas também no uso desses espaços pelos grupos sociais.
Considerando o exposto, este trabalho tem por objetivo caracterizar a Unidade de
Paisagem e suas subunidades que compõe o município Barra dos Coqueiros-SE, correlacionado
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
MATERIAL E MÉTODOS
Segundo Bertrand (2004) a paisagem pode ser entendida como resultado da interação
existente entre os componentes da dinâmica natural e do fator antrópico. Essa visão sistêmica
se aplica ao objeto da Geografia, por buscar integrar os elementos biofísicos e a dinâmica das
relações sociais definida pelos grupos humanos.
Os procedimentos metodológicos básicos requeridos para a realização dos estudos
foram:
Pesquisa bibliográfica das obras referentes às temáticas estudadas. O levantamento
bibliográfico abrangeu leitura de artigos virtuais, livros, dissertações e teses que
englobassem as temáticas. Levantamento, análise e seleção de material cartográfico
visando conhecer aspectos fisiográficos e socioambientais do município em estudo.
Interpretação de fotografias aéreas e produtos cartográficos para elaboração de mapas
temáticos da área de estudo;
Elaboração de mapas temáticos com a utilização dos softwares QGIS 2.18 e do Google
Earth Pro© com a finalidade de representar as unidades de paisagem. A utilização do
mapa de propriedades da paisagem, responsável pela identificação da estrutura,
funcionalidade e dinâmica, representa a principal ferramenta de culminância dos
estudos elaborados, sendo divido em três etapas: diálogo sobre conceitos e objetivos,
investigação de informações e confecção do mapa.
Trabalhos de campo para observação das características da paisagem e dos processos
dinâmicos atuantes na área e registros fotográficos. As campanhas de campo
correspondem a busca por dados, que evidenciem a caracterização da paisagem
predeterminadas na primeira fase (fichamentos oriundos de referencial teórico), através
da delimitação e representação delas. Os mapas evidenciaram as interpretações obtidas
em todas as etapas.
ÁREA DE ESTUDO
O estado de Sergipe possui um litoral de aproximadamente 163 km, setorizado em
Litoral Norte, Centro e Sul (FONSECA, VILAR, SANTOS, 2010). O município Barra dos
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
Coqueiros apresenta uma extensão territorial de 89,598 km² e uma população estimada em 2017
de 29.807 habitantes (IBGE, 2018), estando situado no Litoral Norte do estado, o qual é
composto por 17 municípios (Mapa 01).
Os primeiros povoamentos da antiga ilha dos Coqueiros, local onde hoje se encontra o
município Barra dos Coqueiros, data da época da conquista do território da Capitania de Sergipe
d’El Rei, durante o século XVI (FERREIRA, 1959). Historicamente, os portugueses, em uma
de suas viagens exploratórias, alcançaram à área da foz do atual rio Sergipe (MENDONÇA;
SILVA, 2009).
A ocupação da área está associada às viagens exploratórias dos portugueses pela costa
brasileira. Além das visitas portuguesas, “a barra do rio Sergipe era bem conhecida dos
franceses, que entravam rio adentro para fazer comércio com os indígenas que habitavam as
margens daquele rio” (FERREIRA, 1959, p.248).
Baseando-se no pensamento de Moraes (1999), é possível compreender que essa
ocupação consiste em um modelo de colonização que se processou a partir do litoral, englobada
de importantes recursos naturais de fácil acessibilidade para exploração, podendo ser um
113
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
modelo associado a uma bacia hidrográfica. Para Diniz (1981), a ocupação do território
sergipano ocorreu através das seguintes etapas – início da colonização, instauração da cidade-
forte de São Cristóvão e crescimento para o oeste, adentrando o continente.
Segundo Ferreira (1959, p.248) a mudança da capital do estado, de São Cristóvão para
Aracaju, cidade planejada e fundada no povoado de Santo Antônio do Aracaju, em 17 de março
de 1855, absorveu “o surto de progresso da Barra dos Coqueiros” a qual permaneceu durante
aproximadamente vinte anos sendo um povoado da capital Aracaju. Contudo, em 10 de maio
de 1875, a Resolução Provincial n.º 1028, elevou a capela de Nossa Senhora dos Mares da Barra
dos Coqueiros à categoria de Freguesia.
Posteriormente, por força da Lei Estadual n.º 525 A, de 25 de novembro de 1953, foi
então o território elevada à categoria de cidade e sede do município, fazendo parte desta, toda
a Ilha dos Coqueiros (FERREIRA, 1959). O município está localizado entre as fozes dos rios
Sergipe e Japaratuba e atualmente, o possui os seguintes povoados: Atalaia Nova, Olhos d'água,
Canal de São Sebastião, Touro, Jatobá, Capuã e Pontal da Ilha.
O século XX representou o início de mudanças significativas para o município, como a
superação histórica de problemas relacionados à interligação econômica e social, associados à
inexistência de uma infraestrutura de qualidade, cabível de garantir o aumento do fluxo de
produtos e serviços.
Os principais acessos ao município se dão pela ponte Construtor João Alves, um vetor
para a urbanização e especulação imobiliária no município, que o interliga à Aracaju e a rodovia
estadual SE-100 que o conecta com os municípios do litoral Norte, além da SE-240, que dá
acesso a Santo Amaro das Brotas e a BR-101. Representando os investimentos do governo
federal e estadual, que buscam o crescimento turístico de toda região, dotada de paisagens
naturais únicas.
Industrialização, urbanização e turismo compõem uma tríade geográfica que intensifica
as formas de ocupação de grande parte do litoral do Brasil, e em Sergipe essa intensificação
autoriza a falar de uma reestruturação territorial. Conforme Fonseca, Vilar, Santos (2010), a
implantação de obras, que proporcionou o acesso para a Barra dos Coqueiros, além de
configurar-se em um progresso, também propiciou modificação na paisagem local, favorecendo
propagação de atividades socioeconômicas, originadas da ampliação do deslocamento.
Barra dos Coqueiros limita-se ao norte com Santo Amaro das Brotas e a nordeste com
Pirambu, estando separados, respectivamente, pelos rios Pomonga e Japaratuba; a sudoeste faz
divisa com a capital do estado, Aracaju, delimitados pelo rio Sergipe; e ao sul e leste com o
114
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
Oceano Atlântico, segmento que abrange desde a foz do rio Sergipe até a foz do rio Japaratuba
(Mapa 02).
Caracterização biofísica
Regionalmente, na área de estudo encontra-se submetida ao clima Megatérmico
Subúmido Úmido, com precipitações concentradas no período outono-inverno (ALVES,
SILVA, FONTES, 2011). Apresenta anualmente, temperatura média de 26ºC, índice
pluviométrico de 1590 mm, com período chuvoso entre os meses de março e agosto (BOMFIM
et al., 2002).
No que se refere à geologia, Barra dos Coqueiros está representada por Coberturas
Holocênicas, inseridas nas Formações Superficiais Continentais (SANTOS et al., 1998). A
unidade geomorfológica que compõe o município de Barra dos Coqueiros é a Planície Costeira.
Ela corresponde a uma faixa alongada no sentido NE-SW e integra as seguintes feições:
Terraços marinhos holocênicos atuais (Atm3), Campos de dunas atuais (Aed2, Aed3), Planície
fluviomarinha (Apmi, Apms), Campo de deflação eólica (Eeol), Cordões litorâneos e Planície
costeira de progradação artificial (Appa) (ALVES, 2010).
115
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
A gênese das cinco primeiras feições está relacionada aos processos trans-regressivos
que ocorreram durante o Quaternário. Especificamente, são fruto da regressão subsequente a
“Última Transgressão” ocorrida há 5.100 anos Antes do Presente (BITTENCOURT et al.,
1983). Entretanto, a última feição, encontrasse intimamente associada à instalação do molhe na
margem esquerda do rio Sergipe, construído para conter os processos erosivos, que ameaçam a
cidade de Aracaju na margem direita. A alteração da dinâmica de transporte da corrente de
deriva litorânea e o aprisionamento de parte dos sedimentos por essa obra de engenharia
contribuíram para a formação dessa área de progradação artificial.
Em Barra dos Coqueiros em relação à pedologia, a área se caracteriza pela presença
solos de formação recentes, pouco evoluídos. Na área do município a vegetação predominante
está composta pelas espécies de Restinga herbácea, arbustivas e arbórea, e Mangue, distribuídas
de acordo com as características dos demais componentes ambientais, principalmente os solos
(ALVES, 2010).
No tocante a hidrografia, Barra dos Coqueiros está inserido nas bacias hidrográficas dos
rios Sergipe e Japaratuba. O rio Pomonga, afluente do rio Sergipe, drena o município na sua
porção norte e constitui limite natural entre Santo Amaro das Brotas.
REFERENCIAL TEÓRICO
A discussão acerca da paisagem é antiga na Geografia. A partir do século XIX, buscou-
se entender as relações sociais e naturais que se verificam em um determinado espaço
(SCHIER, 2003). Entretanto, mesmo no âmbito da Geografia, a concepção de paisagem diverge
na dependência das múltiplas abordagens existentes.
Os geógrafos, tradicionalmente, subdividiam e diferenciavam a paisagem em duas
categorias – natural e cultural. Onde “a paisagem natural” referia-se à combinação de
componentes biofísicos - terreno, vegetação, solo, rios e lagos -, por sua vez “a paisagem
cultural, humanizada”, incluía “todas as modificações feitas pelo homem, como nos espaços
urbanos e rurais” (SCHIER, 2003, p.80). Essa abordagem deixava explicita a dicotomia
existente para o conceito paisagem.
Diante da diversidade conceitual desse termo, esse estudo adotará a concepção
integradora de paisagem do geógrafo francês Georges Bertrand (2004, p.141), o qual ressalta
que a paisagem não é a simples soma de elementos geográficos aleatórios, mas é “o resultado
da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos, físicos, biológicos e antrópicos” que,
por meio da interação entre eles, “fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em
perpétua evolução”.
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
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estudados isoladamente, mas busca-se encontrar a resposta dos problemas a partir da análise,
da organização e unificação das partes.
A TGS tem por objetivos – “projetar uma nova análise para a compreensão das
dinâmicas sistêmicas” e; “atuar em qualquer que seja a natureza dos elementos que compõem
uma relação de forças entre eles, o que inclui qualquer disciplina científica” (BERTALANFFY,
1968 apud CAMARGO, 2005, p.52). Nessa perspectiva essa teoria torna-se abrangente.
A paisagem, enquanto geossistema representa a síntese da dinâmica estabelecida na
interação das relações entre os elementos naturais e a sociedade. Mediante o que foi abordado,
pode-se entender a paisagem como sendo o resultado de interações complexas entre os
elementos bióticos e abióticos – clima, relevo, hidrografia, geologia, fauna, flora, solo –, e as
ações humanas.
Atualmente, as sociedades humanas são importantes agentes transformadores da
paisagem. Ela revela-se um termômetro dos efeitos provenientes das interações sociais.
Dependendo da forma com que o homem se apropria dos recursos ambientais, desencadeiam-
se processos que põem em risco o equilíbrio do meio ambiente. Uma vez alterado o equilíbrio,
há repercussões em todo o sistema, pois os efeitos se propagam em cascata sobre as partes ou
subsistemas.
A determinação dos tipos de atividades que correspondem ao uso e ocupação do solo
representa o planejamento ambiental interligado à expansão econômica e social, sendo
denominada como um “diagnóstico operacional”, para “manejo e gestão de qualquer unidade
territorial”. (CAVALCANTI; RODRIGUEZ; SILVA, 2013, p.13).
A inter-relação de fatores existentes no conceito de paisagem produz um modelo que
inclui e desenvolvem recursos naturais, estes são utilizados por comunidades com
características próprias responsáveis pela geração de maneiras distintas de uso e ocupação.
Considerando-se esses aspectos se faz necessário desenvolver estudos sobre os ambientes
costeiros visando ordenar as atividades econômicas e a gestão do território. Dessa forma, é
fundamental analisar as características e a dinâmica da paisagem.
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No tocante a Planície Costeira, para compreensão dos seus aspectos evolutivos, além da
atuação dos condicionantes descritos por Bittencourt et. al. (1983), precisamos evidenciar
também a interação das oscilações do nível relativo do mar, à deriva litorânea e os aportes de
sedimentos marinhos e fluviomarinhos.
A Planície Costeira, Unidade de Paisagem que compõe Barra dos Coqueiros
corresponde a uma faixa alongada no sentido NE-SW e é integrada por feições de diferentes
temporalidades. Em seu estudo Alves (2010), destacou as seguintes subunidades: Terraços
marinhos holocênicos atuais (Atm3), Campos de dunas atuais (Aed2, Aed3), Planície
fluviomarinha (Apmi, Apms), Campo de deflação eólica (Eeol), Cordões litorâneos e Planície
costeira de progradação artificial (Appa) (Mapa 03).
Neste contexto, a Planície Costeira constitui uma área de transição entre a Interface
Continental e Interface Marinha, compreendendo um ambiente sensível aos eventos naturais e
as ações antropogênicas, responsáveis pela variedade de feições. De acordo com Alves (2010)
a Planície fluviomarinha é composta pela planície de maré inferior e a planície de maré superior.
A planície de maré inferior compreende as áreas permanentes sujeitas às oscilações das marés,
já a planície de maré superior estando localizada numa altitude mais elevada, casualmente está
sujeita às inundações das preamares equinociais, e “devido à salinidade mais elevada dos solos,
na planície de maré superior se encontra a vegetação de Apicum e o mangue-de-botão
(Conocarpus erectus) (ALVES, 2010, p. 115).
120
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
Assim, devido à fragilidade desse ecossistema, esse domínio possui limitações quanto
ao seu uso, sendo áreas utilizadas tradicionalmente para as práticas de extrativismo animal
(pesca artesanal e cata de crustáceos), vegetal (extração de madeira). Na atualidade, o
manguezal vem sofrendo devastação pela ação antrópica que tem removido a vegetação do
121
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
mangue para ceder lugar aos viveiros destinados a criação de camarões, fator prejudicial para
o processo hidrodinâmico natural.
As Dunas costeiras ativas e as embrionárias, assim como as demais subunidades de
paisagem, foram oriundas das flutuações paleoclimáticas ocorridas no período Quaternário e
relacionadas aos atuais eventos eólicos. No processo de formação das dunas ativas e
embrionárias enfatiza-se a atuação dos ventos de Leste, nos meses de novembro, dezembro e
janeiro, caracterizado pelo aumento de temperatura e diminuição dos níveis de precipitação,
entre a primavera e o verão (ALVES, 2010).
Conforme Filho (2016, p.43), no Nordeste os meses referentes ao outono concentram os
ventos mais fracos, enquanto os meses correspondentes à primavera os ventos mais fortes,
“porém não há uma curva bastante acentuada da sazonalidade como nas outras estações, a
velocidade do vento fica em média de 4,5 m/s”. A velocidade dos ventos no período destacado
acima é considerada forte, representando o deslocamento de sedimentos para rodovias e
residências, “com uma granulação grosseira (diâmetro médio de 0,44 mm) nas superfícies das
dunas.” (BARBOSA 1997, p.119 apud ALVES 2010, p.113).
Os solos arenoquartzosos são característicos das áreas de dunas, com a presença de
cobertura vegetal de Restinga, assim como afirma Alves (2010, p.170), “predominantemente
arbustiva e arbórea”, preenchendo as partes superiores, formando “conjuntos circulares onde se
entremeiam espécies xeromorfas”.
Os cultivos de coco-da-baía (Cocos nucifera L.) e o extrativismo da madeira usada como
lenha configuram-se uma atividade econômica para o município, gerando atribuições ao uso e
ocupação das referidas dunas, provocando modificações nas unidades paisagísticas. Além das
atividades agrícolas, evidencia-se o crescimento do turismo e a especulação imobiliária, com o
surgimento de condomínios, casas de veraneio, resorts e hotéis, fundamentados a exploração
da paisagem natural, atribuindo funções e valores de mercado.
O Campo de deflação eólica (Eeol) constitue-se em superfícies esculpidas a partir do
transporte eólico de sedimentos arenosos depositados sobre os Terraços marinhos holocenicos
atuais (ALVES, 2010). No município Barra dos Coqueiros/SE, essa subunidade, assim como
as demais, encontra-se sobreposta a Planície Costeira, com processos morfogenéticos
diretamente associados a dinâmica fluvial, marinha e eólica.
A formação dessas superficies é favorecida, fundamentalmente, pelo transporte de
sedimentos advindos das Dunas costeiras ativas e dos Lençóes de areias (Aed2), conforme
evidencia a própria nomeclatura, e apresentam baixa cobertura vegetal e material incosolidado
facilmente removível, favorecendo o tranporte de sedimentos de uma unidade a outra.
122
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
123
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
(A) Terminal Marítimo Inácio Barbosa - offshore; (B) Implantação da Usina Termoelétrica Porto
Sergipe I. Fonte: LEITE, 2018.
124
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
125
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
Coqueiros. Isso tem comprometido a preservação dessas feições naturais, nas quais ainda
encontramos restinga herbácea e de arbustos, pastagem e coqueirais.
(A) Imagem de satélite referente à 11/2005; (B) Imagem de satélite referente à 03/2018.
Fonte: Google Earth Pro©.
126
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
áreas
intercordões
127
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
AediA corresponde ao ambiente eólico dunar de influência antrópica, caracterizado por uma
área de deposito eólico atual, de altitude entre 2 e 4 metros, que ocorre sobre a planície costeira
de progradação artificial (Appa) (Figura 06).
128
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
Fonte: Google Earth Pro©, imagem registrada em (A) 02/01/2004 e (B) 06/12/2017
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As análises desenvolvidas no município Barra dos Coqueiros/SE permitiram a
identificação e caracterização das subunidades de paisagem que se desenvolvem sobre a
unidade Planície Costeira, consistindo em: Terraços marinhos holocênicos, Cordões litorâneos,
Dunas ativas e embrionárias, Planície fluviomarinha e Campo de deflação eólica. As formações
dessas estruturas morfológicas estão associadas à dinâmica marinha, fluvial e eólica no
município supracitado.
129
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
A ação humana em Barra dos Coqueiros é outro elemento que, no tempo-espaço, está
favorecendo a descaracterização do desenvolvimento e manutenção dessas morfologias, e
provocando a gênese de feições, a exemplo das áreas de Progradação artificial e das Dunas
embrionárias de influência antrópica, constituídas essencialmente a partir de processos
antropogênicos diversos.
Constatou-se ainda que, os grandes projetos de engenharia (terminal marítimo, usina
termoelétrica e o molhe, na desembocadura do rio Sergipe) vêm alterando de modo significativo
às paisagens do município, resultando tanto em danos físicos/ambientais quanto sociais. Esses
danos estão relacionados à erosão marinha, ao transporte irregular de sedimentos e a criação de
áreas de alta vulnerabilidade socioambiental.
Quanto ao uso e ocupação das terras, verificou-se por meio da comparação de imagens
de satélite do Google Earth Pro©, que nos últimos treze anos Barra dos Coqueiros passou por um
intenso processo de especulação imobiliária, resultando na ocupação de áreas ainda cobertas
por vegetação natural (Restinga). Essas ocupações estão ocorrendo de forma desordenada,
alterando o transporte eólico de sedimentos, a dinâmica das pequenas lagoas que se multiplicam
entre as subunidades de paisagem e descaracterizando os canais de drenagem formadores da
rede drenagem do município.
Todos esses elementos constituem indicadores da necessidade de se atualizar propostas
de zoneamento que possam subsidiar estratégias de ocupação de maneira ordenada, a fim de
minimizar os impactos da ação no ambiente. Assim, aponta-se também a necessidade do
desenvolvimento de novas análises sobre as especificidades da morfodinâmica das subunidades
de paisagem de Barra dos Coqueiros, buscando-se aportes metodológicos que permitam
análises integradas, associando às interações antropogênicas as bases físicas da paisagem.
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131
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
132
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
RESUMO
O avanço do mar sobre as estruturas urbanas são constantemente vistos na região da praia da
Caueira no município de Itaporanga D´ajuda em Sergipe, existem registros fotográficos que
apresentam essa situação ao longo do tempo, que ocorre justamente porque a região costeira do
estado de Sergipe em sua maioria vem sendo utilizado de forma desordenada, desconsiderando
as características ambientais existentes, essenciais para o equilíbrio desses ambientes. O avanço
do mar sobre as casas residenciais, orla, bares e restaurantes na Caueira tem deixado muros
deteriorados e casas de veraneios em desusos. Causando prejuízos econômicos e sociais. Tendo
em vista que inúmeras atividades se desenvolvem neste local é preciso analisar a situação de
forma específica para que seja possível compreender com maior precisão as diversas
possibilidades do comportamento do uso e exploração da Zona Costeira em questão, de modo
que através das informações aqui apresentadas, sejam somadas análises socioambientais que
possam desenhar medidas mitigadoras para amenizar o conflito entre o uso humano e o
ambiente costeiro. Sendo assim esse estudo visa apresentar dados literários sobre os fenômenos
costeiros que apresentam fatores naturais interagindo e definindo a região costeira do município
de Itaporanga D´Ájuda com foco na Praia da Caueira, uma área caracterizada por acentuada
atividade turística.
133
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
ABSTRACT
The sea breakthrough over the urban structures is constantly reported in Caueira beach localized
in Itaporanga D'ajuda city in Sergipe, there are photographic records that show this situation
over the time, which occurs precisely because the coastal region in state of Sergipe is in the
majority, has been used in a disorderly way, disregarding the environmental characteristics
were existing, essential for the balance of these environments. The sea breakthrough over the
residential houses, waterfront, bars and restaurants in Caueira has left deteriorated walls and
vacation homes in disrepair. Generating economic and social damages. Considering that many
activities where is developed in this place, it is necessary to analyze the situation in a specific
way so that it is possible to understand with high precision of many possibilities about the use
and exploration in the coastal zone in question, so that through the information presented here
is accompanied by socio-environmental analyzes that enable mitigation measures to be taken
to mitigate the conflict between human use and the coastal environment. Thus, the study aims
to present literary data about coastal phenomena that indicate the natural interacting factors and
defining the coastal region in the municipe of Itaporanga D'Ájuda with focusing in Praia da
Caueira, where is characterized by high tourist activity.
RESUMEN
El avance del mar sobre las estructuras urbanas son constantemente visto en la región de la
playa de Caueira en la ciudad de Itaporanga D'ajuda en el estado de Sergipe. Hay registros
fotográficos que muetran esta situación a lo largo del tiempo. Ella ocurren justamente porque
la región costera del estado de Sergipe a menudo se utiliza de forma desordenada,
desconsiderando las características ambientales existentes que son esenciales para el equilibrio
de estos ambientes. El avance del mar sobre las casas residenciales, orilla de playa, bares y
restaurantes en la región de la Caueira ha provocado muros deteriorados y casas de veraneos
que se quendan sin uso, lo que genera daños económicos y sociales. Considerando que muchas
actividades se desarrollan en este lugar, luego es necesario analizar la situación de forma
específica. Asi que sea posible comprender con mayor precisión las diversas posibilidades que
tiene el comportamiento del uso y explotación de la Zona Costera en cuestión. En favor de las
informaciones aquí presentadas y añadidas los análisis socioambientales será posible diseñar
medidas mitigadoras para amenizar el conflicto entre el uso humano y el ambiente costero. Asi
que, este estudio se pretende presentar datos literarios que muestram los fenómenos costeros
que presentan factores naturales interactuando y definiendo la región costera del municipio de
Itaporanga D'ájuda con foco en la Praia da Caueira, un área caracterizada por acentuada
actividad turística.
134
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
1. INTRODUÇÃO
A Região Costeira é alvo de muitas ações antrópicas, que desde o princípio se caracterizou
como uma região favorável, para as atividades econômicas portuárias e petrolíferas, motivando
o grande aumento de cidades costeiras. As zonas costeiras por suas condições naturais
favorecem o desenvolvimento das atividades turísticas, além de tantas outras, a exemplo da
maricultura3. Esse conjunto de atividades vem ocasionando alterações significativas,
principalmente porque o ambiente costeiro é biologicamente complexo e frágil, com
características bastantes especificas.
A complexidade desses ambientes costeiros, que na maioria da vezes são utilizados de
forma não planejada, pode ser melhor compreendida na definição da Política Nacional de
Gerenciamento Costeiro instituído pela Lei 7.661, de 16/05/88 4, que diz:
A Zona Costeira abriga um mosaico de ecossistemas de alta relevância
ambiental, cuja diversidade é marcada pela transição de ambientes terrestres e
marinhos, com interações que lhe conferem um caráter de fragilidade e que
requerem, por isso, atenção especial do poder público, conforme demonstra
sua inserção na Constituição brasileira como área de patrimônio nacional. Em
busca da conservação, inúmeros estudos visam compreender o ambiente
marinho, a fim de conhecer sua dinâmica e buscar maior conservação desse
ecossistema (NACIONAL, 1988).
3
Atividades de pescaria e outras atividades econômicas realizadas no mar.
4
Lei Nacional de Gerenciamento Costeiro – PNGC 7.661, de 16/05/88 que estabelece os instrumentos e as
diretrizes para a gestão integrada da Orla Marítima.
135
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
2. DESENVOLVIMENTO
5
Do Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro II (PNGC II), definição de área de abrangência (item 3, letra d),
define que os municípios próximos ao litoral, até 50 km de linha de costa, que aloquem, em seu território atividades
ou infraestruturas de grande impacto ambiental sobre a Zona Costeira, ou ecossistemas costeiros de alta relevância.
136
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
ambientes costeiros através das políticas nacionais e estafuais propostas para garanti a
preservação do ecossistema costeiro.
A área de estudo em questão corresponde a praia da Caueira (Figura 1), localizada no
município de Itaporanga D`Ájuda. Apresenta 11,96 km de comprimento, considerando uma
linha tangencial a linha de costa, porém ressalta-se que a influência do ambiente costeiro em
questão, que seria a área do trapézio na figura abaixo apresentada, que oferta influência em toda
a área de praia. A área estudada possui peculiaridades especiais que caracterizam o ambiente
costeiro sergipano, a presença de cordões dunares, vegetação de restinga, cordões litorâneos e
outras características que configuram uma sensibilidade ambiental específica ao estado. Além
disso os registros de fenômenos de ressaca na região aqui citada são frequentes, caracterizando
a necessidade de avaliar com critério cientifico a área analisada.
Fonte: Imagem do Google Earth, 2016. Exposta no Projeto Executivo realizado pela Ambientec, através
do PRODETUR.
137
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
Considerando a formação do grupo barreiras (Figura 2), marcada por formações recente
e pouco consolidadas, observa-se o estudo realizado por Fontes (1998), onde é muito importante
destacar que é característica da geologia da região costeira sergipana a presença de acumulações
eólicas situadas em diferentes níveis topográficos. Essa configuração propicia o surgimento de
campos dunares, e planícies arenosas, orientados segundo a incidência preferencial dos ventos
na costa.
138
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
139
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
estes o avanço e recuo da água do mar (transgressão e regressão), assim como a movimentação
de massas de água e de ar.
Diante de todos esses aspectos seria possível dissertar resumidamente sobre esses fatores
a fim de propor um conhecimento mais sucinto a respeito da área em análise, contudo como o
objeto deste trabalho é apresentar registros históricos e recentes que demonstram que a área em
foco vem sofrendo processos erosivos, os critérios acima alecandos não estão sendo
aprofundados.
Sendo assim, tendo pontuado as considerações acima citadas, apresenta-se um relato
simplista da vegetação característica de regiões costeiras. De acordo com o livro de Biologia
Marinha (FREIRE, et al., 2007), as praias arenosas (característica do litoral sergipano) ainda
que demasiadamente atrativa para o turismo, constituem um ambiente ingrato para a vida de
espécies de plantas e animais, pois combinam os rigores do costão rochoso (impacto mecânico
das ondas, grande variação na temperatura e exposição periódica as marés) com a falta de um
substrato sólido para a fixação. O movimento das ondas e o tamanho dos grãos de areias são
fatores dominantes, a capacidade de retenção de água depende do tamanho dos grãos, tendo
maior potencial de retenção quando os grãos são maiores. A sobrevivência para pequenos
organismos intersticiais (aqueles que vivem entre os grãos de areia) depende exclusivamente
do potencial de água, a comunidade das praias arenosas possui população numerosa, mas com
baixa diversidade, consequência da escassa oferta de alimentos. (OLIVEIRA, 2007).
Em pesquisa feita em campo, Guidi (2009), afirma que as espécies de plantas também
são limitadas na região costeira devido à salinidade dos solos e outros fatores limitadores. As
praias sergipanas estão englobadas em toda a compreensão geral do litoral brasileiro, não
diferentemente, possuem sua geologia por formações sedimentares arenosas como especificado
nos aspectos geológicos. Esses aspectos caracterizam uma peculiar distribuição de restingas ao
longo do litoral sergipano, com espécies de plantas que são consideradas como fixadoras de
dunas, sendo ambientes favoráveis para determinadas espécies de animais adaptadas as
condições especificas deste ecossistema, muito embora estas espécies animais possuam pouca
variedade, devido aos limitantes fatores físicos e químicos destas regiões.
Segundo a resolução n. 261 de 1999 do Conselho Nacional do Meio Ambiente –MMA
(1984 - 2012), restinga é um conjunto de ecossistemas que compreende comunidades vegetais
de flores fisionomicamente distintas, situadas em terrenos predominantemente arenosos, de
140
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
origem marinha, fluvial, eólica ou combinações destas, com solos poucos desenvolvidos6. As
restingas compreendem flora, fauna, dunas e vales de dunas.
O termo restinga é usado vulgarmente para designar um conjunto de dunas e
areais costeiros, revestidos de vegetação baixa. A geologia usa o termo para
designar formações sedimentares arenosas costeiras, de origem relativamente
recente (alguns milhares de anos) e com variados aspectos: planícies, esporoes,
barras, etc. A Biologia tem empregado o termo para expressar um tipo de
comunidade vegetal litorânea determinada por condições edáficas (de solo),
arenosas, e pela influência marinha, possuindo origem sedimentar recente
(início do período quaternário), sendo que as espécies que ai vivem (flora e
fauna) possuem mecanismos para suportar os fatores físicos dominantes como:
salinidade, extremos de temperatura, forte presença de ventos, escassez de
água, solo instável, insolação forte e direta, entre outros. ((HENRRIQUE et al,
2010, pag 34)
6
Tais solos poucos desenvolvidos são denominados de espodossolos. São de constituição mineral e podem ser
encontrados de 200 cm da superfície do solo a 400 cm. Tem uma classificação muito variável, uma vez que é
concebido em vários tipos de horizontes de solo, como o A, B e E (EMBRAPA, 2010).
7
Adaptados a presença do sal no solo e sobre as folhas, possuindo as coriáceas e as espessas.
141
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
vez que o autor menciona que o conhecimento das espécies adaptadas a ambientes tão hostis
pode contribuir para a recuperação de áreas degradadas.
E o autor ainda salienta que o uso conservacionista de ecossistema litorâneo de restinga
facilitaria o controle em zonas urbanas costeiras, de espécies com potencial para pragas,
menciona ainda que a preservação do perfil arenosos do solo para as zonas urbanas próximas
as restingas é extremamente importante porque as águas das chuvas infiltram com facilidade, o
que reduz os riscos de enchentes e os custos com obras de drenagem. Uma importante
característica da restinga é a Contenção de Dunas, a vegetação de restinga cria obstáculos que
barram ou redirecionam os ventos, além de segurar essa areia com as raízes e com os ramos e
folhas. E conhecendo a importância que as dunas possuem para o equilíbrio de ambientes
costeiros, relata-se mais sobre tal ecossistema, uma vez que este possui uma influência e
presença acentuada na área de estudo apresentada.
As dunas possuem substrato predominantemente arenoso. Sofrem com a ação
mecânica dos ventos que moldam e remodelam constantemente sua topologia,
e com a influência direta de maré, principalmente na faixa mais interior. Ela se
forma em locais onde a velocidade do vento seja grande, constante e haja
disponibilidade de areia fina. Basta um vento constante de 18 km por hora para
mudar uma duna de posição. O que pode impedir isso é a escassa vegetação
rasteira que a cobre. Quando retirada pode causar sérios problemas com o
deslocamento das dunas que podem vim a cobrir estradas casas ou mesmo vilas
inteiras. (OLIVEIRA, 2007, pag 12)
142
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
8
Resolução nº 303 do Conselho Nacional de Meio Ambiente- CONAMA dispõe sobre parâmetros, definições e
limites de Áreas de Preservação Permanente. Art. 3º, IX e XI
Http://www.dicionarioinformal.com.br/isobata
143
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
Cordões Litorâneos são assim denominados porque são como um acidente que ocorre
junto à costa, constituído por material heterogéneo, geralmente areias e seixos, resultante do
desgaste da costa ou trazidos pelos cursos de água que desaguam no litoral, que se deposita
quando a velocidade das correntes marítimas diminui devido à baixa profundidade.
O transporte de sedimentos ao longo de uma praia arenosa se faz principalmente pelas
correntes de deriva litorânea geradas pelas ondas. De fato, próximo as praias, as ondas não
encontram profundidade suficiente para a sua propagação, ocorrendo então a sua arrebentação.
Este fenômeno acompanhado pela liberação de grande quantidade de energia, que será
traduzida, em parte, pela colocação em suspensão das areias e, parcialmente, na formação da
corrente de deriva litorânea. Naturalmente, este fenômeno ocorrerá somente se as ondas
atingirem obliquamente a linha de praia.
A velocidade desta corrente faz com que haja uma zona onde as areias foram
postas em suspensão pela arrebentação das ondas e portanto, o volume de areia
transportada por este meio será considerável. A ação combinada das águas de
espraiamento das ondas de arrebentação e da corrente de deriva litorânea
provoca o transporte considerado das areias. Evidentemente, o sentido do
transporte depende da direção de incidência das frentes de onda que atingem a
praia. Certamente, durante um período de abaixamento do nível relativo do
mar, parte da areia fornecida durante o restabe1ecimento do perfil de equilibrio
ira transitar ao longo da praia em consequência deste mecanismo. Este
transporte prosseguirá até que as areias sejam retidas por uma armadilha ou
bloqueadas por um obstáculo. Isto explica as grandes diferenças que podem
existir numa região que tenha sofrido um abaixamento uniforme do nível do
mar. Os terraços arenosos serão pouco desenvolvidos ou mesmo ausentes nas
regiões onde há predominância do trânsito litorâneo e muito importantes nas
zonas onde uma armadilha ou um obstáculo tenha permitido a retenção das
areias. Estas armadilhas ou obstáculos podem ser de tipos diferentes, tais
comomo, reentrancias da linha costeira, ilhas ou fundos rasos formando zonas
de fraca energia, pontões do embasamento rochoso que constituem um
obstáculo ao transporte litorâneo, desembocaduras fluviais importantes, etc.
(FLEXOR et al, 1985 pag 32)
O alinhamento destes cordões será dados por inúmeros fatores que só podem ser
analisados por um estudo aprofundado e especifico para cada litoral, é consideravel dizer que
no caso de Sergipe observa-se a presença de algumas lagunas que certamente são originadas
desse processo da formação de cordões litorâneos dado pela movimentação das ondas do mar
144
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA
ao longo do período geológico, através do depósitos de areias barradas de forma natural, criando
algumas pequenas áreas, onde durante o período de surgência do lençol freático, ou períodos
das chuvas, aparecem e todo litoral.
É em virtude das inúmeras especificidades ambientais que o arcabouço legislativo, as
normas de regularização, os órgãos de fiscalização e controle, estão cada vez mais atentos e
direcionando ações especificas para proteger as áreas litorâneas, com base nos critérios e
normas regulamentadoras. Além disso o país estabelece leis que buscam ampliar a gestão
integrada de regiões costeira e garantir através do Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE-
Gerco) do Gerenciamento Costeiro estaduais e municipais, o uso de ferramentas
georreferenciadas para uma máxima análise que considere fatores distintos e únicos para cada
caso.
Sendo assim foi exposto da forma mais compacta possível as carcacteristicas ambientais
que se enquadram a praia da Caueira, uma área conflitante e marcada pelo uso do espaço dado
de forma irregular, sendo que esse espaço ainda preserva em determinadas zonas uma condição
natural original, ou seja áreas não urbanizadas, onde prevalece os cordões litorâneos e dunares
e a vegetação de restinga.
O fato de que parte dessa região vem sofrendo um processo ativo de urbanização, ocasiona
de forma gratdativa a perda de áreas naturalmente preservadas, provocando um conflito gritante
com as caracteristicas ambientais acima citadas, dunas e restingas foram removidas para dá
lugar a estruturas urbanas e atratativos turísticos, atividades como passeio de buggys em
cordões dunares, ofertam risco a manuntenção do equilibrio desses ambientes.
A análise irá apresentar uma área marcada por consideravéis eventos climatológicos de alta
itensidade, acentuada movimentação sedimentar através da influência de correntes marinhas,
ainda mais amplificados pela remoção das barreiras naturais. É valido observar que os processos
de movimentação sedimentalógica na citada praia é dada de forma muito intensa e precisa ser
analisada ao longo dos anos, considerando alimentar dados em programas de modelagem
costeira, e assim somente dessa forma fazer uma análise aprofundada dos processos erosivos
reais.
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4. DESENVOLVIMENTO
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Fonte: http://marcolyra.blogspot.com/2012/01/mare-destroi-calcadao-da-caueira.html
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Figura 5: Medidas de Contenção adotadas pelas residênicas. Paredão de rochas. A –Situação das Casa
no trecho apresentado após fenômeno de ressaca; B- Condição Inicial; C –Muro de Pedras Artificial
como forma de Contenção Emergencial ; D – Situação do Muro de Pedra após novo Fenômeno de
Ressaca.
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Figura 7: Medida Provisória para Conter a força do Mar realizada pela prefeitura de Itaporanga D’Ájuda
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Existe uma série de fatores que delimitam as condições dos processos erosivos da praia
da Caueira, uma conclusão final só é possível mediante a análise aprofundada dos fenômenos
a nível macro e micro, que levarão em consideração inclusive a interferência das mudanças
climáticas, que nas condições atuais interferem significativamente nos fenômenos de avanço
das ondas sobre a faixa terrestre, que no caso apresenta alto nível de ocupação urbana e turística.
Se faz necessário um estudo minucioso das condições de progradação e retrogradação da linha
de costa que se substancia em análises laboratoriais e em sistemas de modelagem costeiras, a
exemplo do SMC Brasil do Ministério do Meio Ambiente e outros. Somente com tais dados,
seria possível apresentar um desenho da Zona Costeira e seu comportamento ao longo dos anos,
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além disso pontuar critérios ambientais para estabelecer mapas de sensibilidades ambientais
para a área estudada afim de propor um uso mais acertado da praia.
Os ambientes costeiros naturalmente possuem condições dinâmicas significativas e se
analisadas em um ambiente natural não ocupado, quase não é perceptível, se observado por uma
pessoa que não é especialista no assunto, por exemplo, não seria capaz de compreender que um
coqueiro caído ou um desnível no solo praial está se tratando de um evento intenso e
climatológico, que são decorrentes das áreas costeiras, mas quando o ambiente costeiro é
urbanizado, ou possui uma atividade turística/econômica intensa, provido de estruturas
artificiais, os eventos costeiros são significativos e passam a ser entendidos como desastres
naturais, a Praia da Caueira apresenta registros desse caráter.
Por isso que se defende a premissa de compreender ao máximo os fenômenos existentes
e decorrentes a fim de ter uma maior assertiva nas medidas de enfrentamento aos fenômenos
apresentados. Com base em mapas de sensibilidade ambiental é possível criar um plano de
medidas mitigadoras possíveis e aplicáveis para ajustasr as questões sociais, econômicas que
permeiam essa temática.
6. REFERÊNCIAS
FREIRE, J., AMORIM, A. P., MACHADO, L., JUNIOR, C. A., JACOMEL, J., &
ALMEIDA, C. M. (2007). Biologia Marinha. São Paulo: FTC.
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FLEXOR, MARTIN L., SUGUIO KINÍTRIO. Gênese dos Cordões Litorâneos da Parte
Central da Costa do Brasil. Horizon Documentation. [Online] julho de 17 de 1985. [Citado
em: 05 de dezembro de 2015.] http://horizon.documentation.ird.fr/exl-
doc/pleins_textes/pleins_textes_6/b_fdi_35-36/419.
SZLAFSZTEIN, C., STERR, H., & LARA, R. Estratégias e medidas de proteção contra
desastres naturais na zona costeira da região Amazônica,Brasil. Terra Livre. pp. Ano 22, v.
1, n. 26. 2006.
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