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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

TÍTULO: TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

COORDENADORES: Profª. Drª. Taís Kalil Rodrigues (UFS) - Coordenadora Geral


Profª. Drª. Neise Mare de Souza Alves (UFS) - Coordenadora Adjunta
Profª. Drª. Débora Barbosa da Silva (UFS) - Coordenadora Adjunta
Mcs.Bruna Leidiane Pereira Santana (doutoranda PPGEO/UFS) - Coordenadora do Comitê
Científico
Lucas Silva Leite (mestrando PPGEO/UFS) - Coordenador Financeiro

FORMATAÇÃO: Lucas Silva Leite, Tais Kalil Rodrigues

EDITOR: GPDMC – UFS, Grupo de Pesquisa Dinâmica e Modelagem Costeira

ISBN: 978-85-7822-665-7
ANO DE EDIÇÃO: 2019

INSTITUIÇÕES ORGANIZADORAS:
III SEMINÁRIO DE DINÂMICA E MODELAGEM COSTEIRA

COMISSÃO ORGANIZADORA:
Drª. Taís Kalil Rodrigues (UFS)
Drª. Neise Mare de Souza Alves (UFS)
Drª. Débora Barbosa da Silva (UFS)
Msc.Bruna Leidiane Pereira Santana (doutoranda PPGEO/UFS)
Lucas Silva Leite (mestrando PPGEO/UFS)

COMISSÃO CIENTÍFICA:

Drª. Taís Kalil Rodrigues (UFS)


Drª. Neise Mare de Souza Alves (UFS)
Drª. Débora Barbosa da Silva (UFS)
Drº. Hélio Mário de Araújo (UFS)
Drª. Iracema Reimão Silva (UFBA)
Drº. José Wellington Villar (IFS)
Drª. Amélia Lavenère-Wanderley (UESC)
Drª. Júnia Guimarães (UFBA)
Drª. Heloisa Helena Gomes Coe (UERJ)
Drº. Raul Reis Amorim (UNICAMP)
Drº. Ronaldo Missura (UFS)

SECRETARIADO: GPDMC – UFS, Grupo de Pesquisa Dinâmica e Modelagem Costeira

APOIOS:
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

APRESENTAÇÃO
A zona costeira, patrimônio natural do Brasil, é uma região de extrema importância para
vida e para as atividades humanas, pois se diferencia pela sua interação entre o mar, a terra e o
ar, abrigando diversos ecossistemas: mangues, dunas, praias, restingas, etc. Essa interação
influencia na redução da amplitude térmica, na localização estratégica para fins comerciais e a
existência de diversos recursos naturais.
Por tais características, há o interesse em ocupar e explorar os ambientes costeiros, onde
se desenvolvem grandes cidades, mas em compensação estes ambientes são pressionados. Esta
relação de uso e ocupação resulta em diversos conflitos: expansão urbana desordenada,
especulação imobiliária, dispersão de efluentes domésticos e industriais, pesca predatória,
exploração do setor de turismos, etc.
Assim, a zona costeira apresenta-se como espaço de contradições, pois de um lado há
uma área de grande relevância ecológica, destacando-se como um ambiente dinâmico e
vulnerável e do outro apresenta grande potencial econômico, reunindo um grande contingente
populacional e variadas atividades econômicas, as quais podem gerar situações de riscos para
a integridade da região.
O estado de Sergipe é um dos 17 estados costeiros do Brasil, possuindo litoral com
extensão de 163 km, tratando-se de uma área em crescente urbanização desde o século XX. A
interferência antrópica, atua como agente modificador das feições morfológicas das áreas
costeiras e da sua dinâmica ambiental. Cerca de 21% da costa sergipana encontra-se em
processo de erosão, o que pode provocar danos econômicos e sociais devido a propriedades
instaladas em áreas costeiras muito próximas à linha de costa.
O III Seminário de Dinâmica e Modelagem Costeira, promoveu o debate e a difusão
dos conhecimentos atuais sobre a zona costeira, entre pesquisadores, profissionais, estudantes
e gestores públicos. Isto possibilitará orientações mais adequadas para a gestão costeira, com
responsabilidade em relação às questões ambientais e à utilização racional dos recursos
naturais, e com a atribuição de subsidiar gestores públicos na ocupação ordenada do território,
promovendo assim o desenvolvimento econômico, social e ambiental. Como resultado desse
evento alguns artigos foram selecionados para compor o Livro do Evento “Tecendo Diálogos
sobre a Zona Costeira”. Tratando desde temáticas como modelagem da zona costeira,
ecossistemas costeiros, conflitos de usos múltiplos, gerenciamento costeiro, eventos extremos,
turismo, recursos naturais e geotecnologias.
No campo científico o evento proporcionou a divulgação dos estudos sobre Zona
Costeira realizados no país, com destaque para os trabalhos realizados pelos grupos de
pesquisas da Universidade Federal de Sergipe sobre o litoral sergipano. O envolvimento de
alunos de diferentes cursos nas palestras, minicursos e trabalho de campo, auxiliará na
capacitação e formação profissional do discente.
Esse evento, nacional e específico no tema, é de extrema importância para divulgação e
perpetuação do conhecimento sobre a Zona Costeira brasileira e em especial do estado de
Sergipe, principalmente nas áreas relacionados com gestão costeira, usos múltiplos, eventos
extremos, turismo, recursos naturais e geotecnologias, que serão os eixos temáticos do evento.
III SEMINÁRIO DE DINÂMICA E MODELAGEM COSTEIRA

ÍNDECE

UNIDADES GEOAMBIENTAIS E ÁREAS DE PRESERVAÇÃO 01


PERMANENTE COMO INSTRUMENTOS DE AUXÍLIO PARA O
PLANEJAMENTO AMBIENTAL NA ZONA COSTEIRA
Marceu de Melo, Luiz Antonio Cestaro

A VALORIZAÇÃO DA TERRA NO MUNICÍPIO DA BARRA DOS 20


COQUEIROS, SERGIPE
Tais Kalil Rodrigues, Maciel Santos, Paulo Henrique Neves Santos, Paloma
Santos Amorim

DINÂMICA DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NA PLANÍCIE 37


FLUVIOLAGUNAR ASSOCIADA AO RIO BETUME
Luana Pereira Lima, Hélio Mário de Araújo, Heleno dos Santos Macedo

ORDENAMENTO TERRITORIAL-AMBIENTAL NA BACIA COSTEIRA 55


CAUEIRA/ABAÍS – SERGIPE
Heleno dos Santos Macedo, Hélio Mário de Araújo, Luana Pereira Lima

MAPEAMENTO DAS UNIDADES DE PAISAGEM DA PRAIA DO ABAÍS, 72


ESTÂNCIA/SE
Rayane de Oliveira Silva, Daiany Santos Silva, Daniela Pinheiro Bitencurti Ruiz-
Esparza

AGROECOSSISTEMAS E IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NA 93


PLANÍCIE COSTEIRA DE ITAPORANGA D’AJUDA
Débora Barbosa da Silva, Marçal Lukas Martins Prata

UNIDADE DE PAISAGEM E CONTEXTUALIZAÇÃO DOS USOS E 110


OCUPAÇÃO DAS TERRAS EM BARRA DOS COQUEIROS – SE
Lucas Silve Leite, Adineide Oliveira dos Anjos, Cícero Bezerra da Silva,
José Arnaldo dos Santos Neto

RELATO DOS PROCESSOS EROSIVOS NA ÁREA LITORÂNEA DA 132


PRAIA DA CAUEIRA
Thassia Luiza Santana Costa, Heloísa Thaís Rodrigues de Souza
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

UNIDADES GEOAMBIENTAIS E ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE


COMO INSTRUMENTOS DE AUXÍLIO PARA O PLANEJAMENTO AMBIENTAL
NA ZONA COSTEIRA

GEOENVIRONMENTAL UNITS AND PERMANENT PRESERVATION AREAS AS


INSTRUMENTS OF SUPPORT FOR ENVIRONMENTAL PLANNING IN THE
COASTAL ZONE

UNIDADES GEOAMBIENTALES Y ÁREAS DE PRESERVACIÓN PERMANENTE


COMO INSTRUMENTOS DE APOYO PARA LA PLANIFICACIÓN AMBIENTAL
EN LA ZONA COSTERA

Marceu de Melo
Doutorando em Geografia no PPGE-UFRN e fiscal ambiental da SEMURB
marceudemelo@yahoo.com.br
Luiz Antonio Cestaro
Professor do Departamento de Geografia – CCHLA-UFRN
cestaro@ufrnet.br

RESUMO
A legislação brasileira dispõe de uma série de normas e ações que regulamentam o uso e
ocupação do espaço e orientam o planejamento ambiental. As Áreas de Preservação Permanente
(APPs) são exemplos de elementos criados para garantir a preservação de áreas essenciais à
manutenção da função ambiental e da paisagem. Outro importante elemento identificador de
espaços homogêneos são as unidades geoambientais, definidas a partir da integração de
informações, podendo ser utilizadas na análise de risco, fragilidade e potencialidade de uso. O
objetivo geral deste trabalho foi avaliar o potencial da utilização das unidades geoambientais
na identificação e delimitação das APPs tendo como área de estudo a Via Costeira de Natal/RN.
Os resultados mostraram que a metodologia utilizada obteve êxito parcial, possibilitando
identificar quatro das cinco APPs existentes.

Palavras-chave: litoral tropical, geomorfologia costeira, gestão ambiental costeira, legislação


ambiental.

ABSTRACT
Brazilian law provides a series of rules and policies that regulate space use and occupancy as
well as guide environmental planning. Among those are the Permanent Preservation Areas
(APPs) which purpose is to ensure the preservation of elements that are essential to maintain
the environmental function and landscape. Another important instrument identifier of spaces
are geoenvironmental units, defined by the integration of informations, can be used for the
analysis of risk, fragility and potential use of spaces. The aim of this study was to evaluate the
potential of geoenvironmental units in the identification and delineation of APPs in the study
area, the Via Costeira (coastal route) in Natal/RN. The results showed that the methodology
used was partially successful, making it possible to identify four of the five APPs.

Keywords: tropical litoral, coastal geomorphology, coastal environment management,


environmental laws.

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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

RESUMEN
La legislación brasileña dispone de una serie de normas y acciones que regulan el uso y
ocupación del espacio y orientan la planificación ambiental. Las Áreas de Preservación
Permanente (APPs) son ejemplos de elementos creados para garantizar la preservación de áreas
esenciales para el mantenimiento de la función ambiental y del paisaje. Otro importante
elemento identificador de espacios homogéneos son las unidades geoambientales, definidas a
partir de la integración de informaciones, pudiendo ser utilizadas en el análisis de riesgo,
fragilidad y potencialidad de uso. El objetivo general de este trabajo fue evaluar el potencial de
la utilización de las unidades geoambientales en la identificación y delimitación de las APPs
teniendo como área de estudio la Vía Costera de Natal/RN. Los resultados mostraron que la
metodología utilizada ha obtenido éxito parcial, permitiendo identificar cuatro de las cinco
APPs existentes.

Palabras claves: litoral tropical, geomorfología costera, gestión ambiental costera, legislación
ambiental.

INTRODUÇÃO
A legislação brasileira tem estabelecido normas e diretrizes para o uso e a ocupação do
solo, disciplinando permissões e proibições. As áreas de preservação permanente (APP) são
exemplos desses instrumentos, elencando elementos/áreas cujas características exigem
restrição de uso e ocupação visando a manutenção da sua função ambiental.
Outro importante instrumento identificador de espaços são as unidades geoambientais,
unidades espaciais de síntese, que agrupam áreas com características semelhantes e podem ser
utilizadas na análise de risco, fragilidade, potencialidade, importantes para os estudos e
planejamento ambientais (ROSS, 2001, p. 11 e 12; ROSS, 2006, p. 59; GUERRA e MARÇAL,
2012, p. 94). As unidades geoambientais apresentam a vantagem de serem definidas por
processos mais complexos (integração de informações), não se pautando em elementos
isolados, mas tendo uma visão mais ampla. (RODRIGUEZ et al., 2007, p. 68; SANTOS, 2004,
p. 138).
Apesar de alguns instrumentos legais definirem unidades geoambientais a partir de uma
visão sistêmica, este conceito não é considerado na identificação das áreas de preservação
permanente. As APP são delimitadas isoladamente, levando em conta a vegetação ou elementos
geomorfológicos, sem considerar o contexto onde estão inseridos, muitas vezes essencial para
a manutenção da função ambiental que se tenta preservar. Acredita-se que a interação entre os
elementos, a forma como estão estruturados e as funções por eles desempenhadas contribui
positivamente para o efetivo cumprimento da função ambiental das APP. Apesar da
fragmentação prática, pois considera os elementos isoladamente, a definição de APP utiliza
princípios sistêmicos, como vemos no conceito abaixo:
área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de
preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a

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biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o


bem-estar das populações humanas (BRASIL, 2012, inciso II, artigo 3º).
A partir dessa constatação se decidiu propor uma forma de compatibilizar a
identificação/delimitação de APP a partir da identificação/delimitação de unidades
geoambientais, como subsídio ao planejamento ambiental de uso e ocupação de áreas costeiras.
Este trabalho teve como objetivo geral avaliar o potencial da utilização das unidades
geoambientais na identificação e delimitação das APPs tendo como área de estudo um trecho
do litoral de Natal, capital do Rio Grande do Norte, conhecido como Via Costeira, com os
seguintes limites: oeste – Avenida Senador Dinarte Mariz, integrante da rodovia RN-301; leste
– Oceano Atlântico; norte – praia de Areia Preta; sul – praia de Ponta Negra. Inserido entre as
coordenadas geográficas 5º47’32” e 5º52’00” Sul, 35º10’35” e 35º11’11” Oeste, com uma área
aproximada de 1,15km2 (Figura 01). A área de estudo foi subdividida em quatro setores para
melhor apresentação dos mapas. Tendo como objetivos específicos: 1 – identificar, descrever e
delimitar as unidades geoambientais da área de estudo; 2 – a partir das unidades geoambientais
identificar e delimitar as áreas de preservação permanente encontradas na área de estudo.
O litoral de Natal, especialmente a Via Costeira, recebeu a partir do final da década de
1970 uma ocupação gradativa em função da política de incentivo ao turismo (FONSECA, 2005,
p. 229; FURTADO, 2005, p. 59). O projeto se constituiu no marco mais importante na expansão
do turismo na capital, com a instalação de várias unidades hoteleiras aproveitando a aptidão do
espaço, a grande beleza cênico-paisagística e a localização privilegiada, entre as principais
praias urbanas da cidade (FONSECA op. cit.; FURTADO op. cit.). A implantação do projeto
Via Costeira se deu em área composta majoritariamente por dunas, que foram loteadas e
parcialmente ocupadas, restando trechos sem ocupação efetiva, em razão disso há movimentos
que visam sua ocupação e outros que defendem sua preservação (MELO et al., 2017). Este
estudo optou por desconsiderar as áreas com ocupação consolidada (empreendimentos
hoteleiros e institucionais), escolha justificada pelo fato de o principal propósito ser orientar o
planejamento do uso e ocupação dos espaços que ainda conservam características naturais.

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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Figura 01 – Mapa de localização da área de estudo.

Fonte: Organização dos autores.

MATERIAIS E MÉTODOS
Considerando que muitos problemas geográficos poderiam ser solucionados com a
realização do parcelamento do meio natural em unidades homogêneas (SOTCHAVA, 1978, p.
2), este trabalho realizou um levantamento da caracterização da base física da área de estudo.
Para tanto, foram utilizados dois levantamentos aerofotogramétricos (MELO et al., 2017, p. 424
e 425):
1. Fotografias aéreas digitalizadas, monocromáticas, na escala 1:2.000, de 1978,
não georreferenciadas; curvas de nível com equidistância de 5 m, na escala
1:2.000, em papel, obtidas a partir das fotografias aéreas de 1978
(SEPLAN/IDEC, 1978). Adquiridas pela Fundação Instituto de Desenvolvimento
(atual IDEMA – Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente) da
SEPLAN (Secretaria de Planejamento e Finanças do Estado do Rio Grande do

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Norte), cedidas pela CAERN (Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do


Norte);
2. Fotografias aéreas individuais e mosaico digitalizados, coloridos, na escala
1:2.000, de 2006, georreferenciados em UTM (datum SAD69)
(SETUR/SIN/IDEMA, 2006).
A identificação das feições geomorfológicas presentes na área de estudo foi corroborada
por uma revisão bibliográfica dos conceitos, dos processos de formação e das principais
propostas de classificação existentes na literatura. O objetivo desta etapa foi respaldar a
identificação de elementos a respeito dos quais foram suscitadas polêmicas por exemplo, as
falésias com altura inferior a 3 metros, comuns na área de estudo. Durante a revisão
bibliográfica foi encontrada uma classificação para as falésias baseada na altura das feições, as
menores são chamadas low cliffs, clifflets ou microcliffs, não são especificadas as medidas
destas, mas os exemplos apresentados estão em torno de 1 a 2 metros de altura (BIRD, 2008, p.
69 e 77).
Objetivando entender e analisar as relações existentes entre os diversos componentes da
natureza para uma aplicação mais objetiva da ciência, pesquisadores como Dokuchaev, Troll,
Sotchava, Bertrand e Tricart desenvolveram teorias integradoras, propondo uma visão holística
das relações existentes no ambiente. Os autores citados, dentre outros, contribuíram para o
desenvolvimento do conceito de geossistema que se transformou em uma abordagem
largamente utilizada na Geografia Física.
A visão sistêmica concebe a paisagem como um sistema integrado, no qual as
propriedades integradoras somente se desenvolvem quando estudada como um sistema total
(RODRIGUEZ et al., 2007, p. 47).
Considerando o geossistema um conceito teórico aplicável a qualquer paisagem, de
qualquer tamanho (BERTRAND e BERUTCHACHVILI, 1978, p. 93; e BOLÓS, 1992, p. 18),
a área de estudo do presente trabalho se configura como um geossistema. Isachenko (1973, p.
6) informa que o estudo de geossistemas pode ser feito através de várias técnicas, sendo a mais
importante a investigação de campo acompanhada pelo mapeamento da paisagem, apesar de a
referência ser antiga a informação ainda é válida e atual, pois continua sendo largamente
empregada (CAVALCANTI, 2014, p. 41; SANTOS, 2014, p. 32 e 33).
Um dos conceitos elaborados durante o desenvolvimento da abordagem geossistêmica
foi “unidade geoambiental”, bastante utilizado em estudos ambientais e incorporado por
instrumentos legais brasileiros.

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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Há uma série de termos, denominados e definidos diferentemente por diversos autores,


propostos muitas vezes como sinônimos, para se referir a unidades espaciais semelhantes
originadas pela atuação conjunta de fatores diversos: unidades geoecológicas, unidades de
paisagem, unidades geossistêmicas (MONTEIRO, 2001); unidades ambientais, unidades de
paisagens, unidades de terras, sistemas de terras (ROSS, 2006); unidades geoecológicas,
unidades geoambientais (RODRIGUEZ et al., 2007); unidades ambientais, unidades de
paisagens (GUERRA e MARÇAL, 2012); unidade geoambiental (BRASIL, 2004, inciso XV
do artigo 2º); unidades de paisagem (BRASIL, 2006, p. 38).
Optou-se pela utilização do termo unidade geoambiental por estar referendado na
literatura, como também legalmente instituído entre os elementos de planejamento, e por
demonstrar o caráter sistêmico da abordagem utilizada neste trabalho. Assim, esse trabalho
adotou a seguinte definição:
Unidade geoambiental é uma outra denominação dada para identificar e delimitar uma
porção territorial de características próprias. Ela é definida pela convergência de
semelhanças entre litologia, estrutura, relevo, solo e água. São compartimentos
morfoestruturais, onde se identificam associações morfopedológicas que se
correlacionam às comunidades vegetais, designados por geossistemas. (SANTOS,
2004, p. 138).
Alguns autores consideram o relevo um aspecto de destaque a ser analisado no
planejamento ambiental e na definição das unidades geoambientais (ROSS, 2001, p. 12;
SANTOS, 2004, p. 78; GRAEFF, 2011, p. 193; GUERRA e MARÇAL, 2012, p. 37).
Para Santos (2004, p. 143), o “olhar sobre a paisagem deve ser feito em dois eixos: o
horizontal, que define os padrões mutuamente relacionados entre unidades; e no vertical, que
define os atributos de cada estrato” e salienta que, independente da abordagem, um dos grandes
desafios é “escolher escalas espaciais que definam unidades de paisagem diretamente
transformáveis em unidades gerenciais com suas diretrizes e programas específicos”.
Portanto, dois aspectos são essenciais para a identificação das unidades geoambientais:
o relevo e a escala. Assim, ambos receberam atenção destacada na etapa de identificação e
delimitação das unidades geoambientais.
Para integração das informações foi adotada a técnica de representação da paisagem
através da cartografia baseada em dados de campo (CAVALCANTI, 2014, p. 41), também
conhecida como método dedutivo, fisionômico ou de paisagem, no qual os limites são traçados
sobre um documento sintético (fotografias aéreas, imagens de satélite) ao qual se acrescenta os
dados coletados em campo (BOLÓS, 1992, p. 21).

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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

A partir dos enfoques estrutural e funcional (RODRIGUEZ et al., 2007), foram


consideradas as seguintes categorias sistêmicas para a identificação, delimitação e descrição
das unidades geoambientais:
- Elementos – os componentes da unidade, como tipos de solo, de formações
superficiais, de rocha, de vegetação, de relevo;
- Estrutura – disposição ou organização dos elementos na unidade;
- Interações – identificação dos tipos e formas de interação da unidade com seu
entorno;
- Funções – descrição das funções da unidade no contexto em que está inserida.
Os objetivos deste trabalho, as características da área de estudo, a escolha de uma escala
de detalhe (1:10.000) e a abordagem empregada possibilitaram a utilização destas categorias
sistêmicas na identificação das unidades geoambientais. Observando a paisagem como um
sistema integrado, a partir da visão sistêmica, tendo como suporte a pesquisa bibliográfica
realizada e o material cartográfico selecionado, foram realizados diversos caminhamentos
objetivando identificar e descrever a dinâmica da área de estudo para identificar e delimitar as
unidades geoambientais nela existentes.

RESULTADOS
As unidades geoambientais foram agrupadas em quatro categorias, apresentadas no
Quadro 01, partindo da classificação mais geral para a mais específica, através das
especificações dos elementos, estrutura, interações e funções identificadas. O presente estudo
analisou àquelas pertencentes à categoria 4.
Aplicando a metodologia descrita anteriormente, na escala de trabalho adotada
(1:10.000), foram identificadas 12 unidades geoambientais, especializadas na Figura 02.
Na denominação proposta para as unidades geoambientais foram levados em
consideração os parâmetros legais definidores das APP.

Quadro 01 – Proposta de hierarquia geoambiental para a área de estudo.


Categoria 1 Categoria 2 Categoria 3 Categoria 4
encerradas em dunas
sem recifes encerradas em falésias
Praias praias arenosas encerradas em construção
encerradas em dunas
com recifes
encerradas em falésias
dunas não vegetadas dunas não vegetadas dunas não vegetadas
Duna
dunas vegetadas dunas vegetadas dunas vegetadas
Tabuleiro costeiro escarpada falésia ativa1

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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

falésia depósitos de talude2


borda do tabuleiro inativa não vegetados
costeiro depósitos de talude
suave suave
vegetados
não vegetado não vegetado
topo do tabuleiro costeiro
vegetado vegetado
1 – integrando as bordas das unidades geoambientais “praias arenosas com/sem recifes
encerradas em falésias”;
2 – tanto as bordas de tabuleiro em falésias inativas como as bordas suaves (inclinação
gradual não abrupta) originam depósitos de talude, a diferenciação é mais acentuada pela
presença ou ausência da vegetação.
Fonte: Organização dos autores.

Figura 02 – Unidades Geoambientais da área de estudo.

Fonte: Organização dos autores.

As dunas compõem a categoria que possui maior representação na área de estudo (38,12
ha), em seguida aparecem as praias (23,56 ha). As unidades geoambientais associadas ao
tabuleiro costeiro apresentam a menor área, totalizando apenas sete hectares. Em extensão, as
praias são as mais representativas pois se estendem de uma extremidade à outra da área de
estudo, enquanto que o tabuleiro costeiro se restringe à porção Centro-Norte. As praias arenosas

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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

foram compartimentadas em cinco unidades geoambientais levando em consideração que as


definições propostas para as praias colocam como limite superior destas feições uma mudança
fisiográfica (duna, falésia, início de vegetação, etc.) e que cada uma dessas mudanças resulta
em funções e interações diferenciadas.
A limitação de páginas não permite apresentar a descrição de todas as unidades
geoambientais, portanto foram escolhidos dois exemplos representativos da metodologia
proposta.
Praias arenosas com recifes encerradas em falésias:
- Localização – esta unidade aparece apenas no setor um da área de estudo.
- Elementos constituintes – predominantemente areias quartzosas distróficas marinhas,
outros sedimentos, bem como conchas e biodetritos, arenitos ferruginosos e/ou beach-rocks
formadores de recifes.
- Estrutura – em alguns locais as areias quartzosas distróficas marinhas cobrem os
arenitos ferruginosos retrabalhados provenientes da erosão do afloramento do Grupo Barreiras
e/ou os beach-rocks, localizados na zona de estirâncio (Figuras 03 e 04).
- Interações – os sedimentos são constantemente selecionados pela ação eólica e pela
dinâmica praial (marés, ondas e correntes), e, por terem as falésias como barreira, ficam à
disposição destes processos para transporte e participação no balanço sedimentar. No entanto,
dependendo da velocidade dos ventos os sedimentos podem galgar as falésias e passar para
outras unidades. As dunas formadas em trechos paralelos a estas unidades apresentam cobertura
vegetal mais densa, devido à minimização da energia das ondas e diminuição do potencial
erosivo.
- Funções – as praias têm a função de zona tampão, ou seja, absorvem parte da energia
da dinâmica oceânica, essa função é potencializada quando existem os recifes, pois atenuam a
velocidade das ondas, diminuindo o potencial erosivo destas.

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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Figura 03 – Praia arenosa com recifes Figura 04 – Praia arenosa com recifes
encerrada em falésia. encerrada em falésia.

Foto: Marceu de Melo, 12/05/2013. Foto: Marceu de Melo, 19/12/2013.

Dunas vegetadas:
- Localização – as dunas vegetadas aparecem nos quatros setores da área de estudo,
sendo mais expressivas nos setores um e dois.
- Elementos constituintes – areias quartzosas distróficas, arenitos praiais de cores
acizentadas recobertas por sedimentos areno-quartzosos de coloração creme-avermelhadas,
sedimentos erodidos das sequências Barreiras. Neossolos quartzarênicos. A vegetação varia de
restinga herbácea esparsa a arbustiva densa.
- Estrutura – areias quartzosas distróficas, formando neossolos quartzarênicos cobertos
por restinga herbácea esparsa a restinga arbustiva densa. Algumas dunas se formaram sobre
afloramento do tabuleiro costeiro (Figura 05), enquanto outras estão em contato direto com as
ondas e marés (Figura 06). Em alguns trechos as dunas apresentam perfil menos inclinado,
enquanto outras apresentam inclinação mais acentuada. A altura das dunas varia de 5 a 25
metros, predominando aquelas com até 15 metros.
- Interações – os sedimentos são constantemente selecionados e mobilizados pela
dinâmica praial e pela ação eólica. Há uma interação muito visível entre a ação eólica e a ação
oceânica, os ventos possuem um potencial significativo para remobilizar os sedimentos
arenosos marinhos depositados na praia, inclusive galgando as falésias. A ação oceânica pode
interferir no processo de formação de campos eólicos, em eventos de maré mais alta, erodindo
a base das dunas (podendo formar dunas escarpadas) ou das falésias, trazendo de volta à ação
marinha os sedimentos arenosos depositados no continente. A intensa ação eólica atuante na
área pode ser percebida na vegetação arbustiva “penteada” pelos ventos dominantes (SE-NO)
(Figura 06). Quanto mais densa a cobertura vegetal mais fortemente fixado estará o sedimento
e menos vulnerável à ação eólica. Algumas dessas dunas foram alteradas pela ação antrópica
com terraplenagem e deposição de resíduos da construção civil, no entanto, existem

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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

instrumentos legais que recomendam e instruem quanto a recuperação de áreas degradadas,


como já ocorreu em alguns pontos da área de estudo.
- Funções – as dunas são formadas pelos sedimentos provenientes da praia e os devolve
à dinâmica costeira em eventos de maré mais intensa, contribuindo com a função de zona
tampão inerente à praia, uma forma natural de controle da erosão. Os sedimentos fixados pela
cobertura vegetal não ficam disponíveis ao transporte eólico, aumentando o estoque de
sedimentos. Nas dunas mais afastadas da praia e consequentemente mais protegidas da
dinâmica costeira, a cobertura vegetal se adensa ainda mais e aumenta de porte contribuindo
para o desenvolvimento de um ecossistema de maior complexidade das relações ecológicas.
Duas funções ambientais prestadas pelas dunas com destacada relevância social estão
associadas à disponibilidade/qualidade hídrica que é a capacidade de reter a água das chuvas,
abastecendo o lençol freático, e a capacidade de reter o avanço da cunha salina que poderia
salinizá-lo.
Figura 05 – Duna com restinga herbácea Figura 06 – Duna com restinga herbácea
esparsa e arbustiva densa. esparsa/densa e arbustiva densa.

Foto: Marceu de Melo, 26/05/2013. Foto: Marceu de Melo, 12/05/2013.

O Quadro 02 apresenta o panorama geral das áreas consideradas de preservação


permanente pelos instrumentos legais da esfera federal, estadual (RN) e municipal (Natal/RN).
Alguns especialistas advogam a permanência da vigência da Resolução CONAMA nº 303/2002
(BRASIL, 2002) após a promulgação da Lei Federal nº 12.651/2012 (BRASIL, 2012), enquanto
outros defendem que a Resolução foi revogada (MELO et al., 2017, p. 433). O Quadro 03
apresenta as APP representadas na área de estudo, especializadas na Figura 08, a Resolução
CONAMA nº 303/2002 integra o rol dos instrumentos legais em vigor, caso a mesma seja
definitivamente declarada revogada não implicará perda de proteção aos ambientes da área de
estudo, pois estão previstos em outros dispositivos legais.

11
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Quadro 02 – Áreas de Preservação e Áreas de Preservação Permanente, segundo a


legislação Federal, Estadual (RN) e Municipal (Natal/RN).
Legislação Federal Estadual1 Municipal
BRASIL BRASIL RN RN NATAL
Elemento 2012 2002 2000 1996 1992
Faixas marginais a cursos d’água X X
Faixas marginais a cursos d’água perene
X X
e intermitentes, excluído os efêmeros
Ao redor de nascentes ou olhos d’água X X
Ao redor de nascentes e olhos d’águas
X X X
perenes
Ao redor de lagos ou lagoas naturais X X X
Entorno de reservatórios d’água
X X
artificiais
Nascentes dos corpos d’água de
X
superfície, lagoas e demais mananciais
Veredas e em faixa marginal X
Veredas X X
Brejos e áreas úmidas X
Áreas estuarinas X
Manguezais X X X X X
Altitude superior a 1.800m X X
Topo de morros e montanhas X X
Topo de serras X
Linhas de cumeada X
Encostas ou partes destas com
X X
declividade superior a 45°
Borda de tabuleiros e chapadas X X
Escarpas X
Falésias X X X
Recifes de corais e de arenito X X
Arrecifes e pontais X
Praias X2 X
Dunas vegetadas X X X X
Dunas não vegetadas X X3 X X
Vegetação estabilizadora das encostas e
X
fixadora de dunas
Restingas X4 X X
Mata Atlântica X
Matas ciliares X X X
Locais de refúgio, reprodução ou
X X
nidificação de aves migratórias
Locai de refúgio ou reprodução de
X X
espécies ameaçadas de extinção
Sítios arqueológicos X
1
Áreas de Preservação (AP) – nomenclatura utilizada pela legislação estadual.
2
Nos locais de nidificação e reprodução da fauna silvestre.
3
Julgadas de importância ambiental pelo órgão competente, tendo por base estudos técnicos.
4
BRASIL, 2012, artigo 4º, VI - as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de
mangues.
Fonte: Organização dos autores.

12
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Quadro 03 – Áreas de Preservação Permanente ou Áreas de Preservação 1 com ocorrência na Via


Costeira e os instrumentos legais que assim as define.
Borda de
Legislação Falésia Duna Praia Recife
Tabuleiro
Lei nº 12.651/2012 (BRASIL, 2012) X - - - -
Federal

Resolução CONAMA nº 303/2002


X X2 X X3 -
(BRASIL, 2002)
Lei nº 7.871/2000 (RIO GRANDE DO
Estadual1

- X X X X
NORTE, 2000)
Lei nº 6.950/1996 (RIO GRANDE DO
- X X - -
NORTE, 2000)
Municipal

Lei nº 4.100/1992 (NATAL, 2000) - X X - X

Áreas de Preservação (AP) – nomenclatura utilizada pela legislação estadual.


1
2
A resolução utiliza o termo escarpa, as falésias são escarpas costeiras, logo são APP.
3
Nos locais de nidificação e reprodução da fauna silvestre.
Fonte: Melo et al. (2017, p. 433).
A identificação e delimitação das APP (Figura 07) a partir dos resultados obtidos no
mapeamento das unidades geoambientais foi realizada da seguinte maneira:
- APP em Borda de Tabuleiro – a legislação estabelece como APP uma faixa nunca
inferior a cem metros em projeção horizontal no sentido do reverso da escarpa (BRASIL, 2012;
BRASIL, 2002). Foi traçada uma linha na borda mais próxima ao oceano da unidade
geoambiental “tabuleiro costeiro vegetado” e “tabuleiro costeiro não vegetado” e a partir desta
gerado um buffer. Desta forma se conseguiu delimitar a APP a partir das unidades
geoambientais. Esta APP possui uma representação linear de 1101,55 metros. A área
correspondente a APP definida na legislação, criada a partir da ferramenta buffer, equivale a
11,02 hectares.
- APP em Falésias – um dos critérios utilizados para a identificação das unidades
geoambientais nas praias arenosas foi o tipo de mudança fisiográfica que as limitam em direção
ao continente, pelo fato destas mudanças implicarem em funções e interações diferenciadas.
Duas unidades geoambientais têm como limite as falésias: as “praias arenosas com recifes
encerradas em falésias” e as “praias arenosas encerradas em falésias”, o que possibilitou
identificar as falésias. A legislação municipal considera a falésia em si como APP, enquanto
que a Resolução CONAMA nº 303/2002 estabelece como APP a faixa nunca inferior a cem
metros em projeção horizontal no sentido do reverso da escarpa (BRASIL, 2002, art. 3º, III).
Desta forma se conseguiu delimitar a APP a partir das unidades geoambientais. Esta APP possui

13
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

uma representação linear de 1418,31 metros. A área correspondente a APP definida pela
Resolução CONAMA, criada a partir da ferramenta buffer, equivale a 14,18 hectares.
- APP em Dunas – a legislação garante proteção às dunas vegetadas (BRASIL, 2002;
RIO GRANDE DO NORTE, 1996 e 2000; NATAL, 1992) e não vegetadas (BRASIL, 2002;
RIO GRANDE DO NORTE, 1996; NATAL, 1992). Assim, as unidades geoambientais “dunas
vegetadas” e “dunas não vegetadas” foram agrupadas em uma única APP. Este trabalho defende
que mesmo as dunas que foram intensamente modificadas pela ação antrópica devem integrar
as APP, pois, dentre os critérios que asseguram o cumprimento dos objetivos dos instrumentos
de ordenamento do município de Natal, desde o Plano Diretor de 1984, estão a proteção, a
preservação e/ou a recuperação do meio ambiente e do patrimônio natural. Desta forma se
conseguiu delimitar a APP a partir das unidades geoambientais. Esta APP corresponde a uma
área de 39,11 hectares.
- APP em Praias – processo semelhante ao que foi descrito para as APP em Dunas, as
unidades geoambientais “praias arenosas com recifes encerradas em falésias”, “praias arenosas
com recifes encerradas em dunas”, “praias arenosas encerradas em dunas”, “praias arenosas
encerradas em falésias” e “praias arenosas encerradas em construção” foram agrupadas
compondo uma única APP. Vale salientar que as praias são declaradas de preservação por dois
instrumentos legais, BRASIL (2002) declara como APP os locais de nidificação e reprodução
da fauna silvestre, e RIO GRANDE DO NORTE (2000) considera a praia área de preservação.
São necessários estudos específicos para verificação da existência de locais de nidificação e
reprodução da fauna silvestre, no entanto, a legislação estadual (RIO GRANDE DO NORTE,
2000) considera as praias como AP. Desta forma se conseguiu delimitar a APP a partir das
unidades geoambientais. Esta APP corresponde a uma área de 23,56 hectares.
- APP em Recifes – a presença de recifes foi utilizada na identificação de duas unidades
geoambientais (“praias arenosas com recifes encerradas em falésias” e “praias arenosas com
recifes encerradas em dunas”). Uma ressalva importante sobre as APP em recifes se refere à
influência do balanço sedimentar na exposição destes elementos, ou seja, em épocas de
deposição os recifes podem ser parcial ou totalmente cobertos e em épocas de retirada de
sedimentos os recifes podem ser parcial ou totalmente descobertos. Sendo as unidades
geoambientais espaços de síntese, os elementos se tornam indissociáveis. Como os recifes estão
distribuídos no interior das unidades e não nas bordas não foi possível identificá-los
isoladamente. Os recifes foram delimitados a partir das imagens da ortofocarta de 2006. Esta
APP corresponde a uma área de 5,05 hectares.

14
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Figura 07 – Áreas de Preservação Permanente na área de estudo.

Fonte: Melo et al. (2017, p. 434).


CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa bibliográfica sobre as principais feições geomorfológicas encontradas na
área de estudo (dunas, falésias, praias e recifes), apresentando as definições, os processos de
formação e os tipos de classificação, por autores consagrados foi útil para dirimir dúvidas e
discordâncias sobre a ocorrência destas feições na área estudada, bem como em outras áreas.
O levantamento realizado sobre a legislação federal, estadual e municipal que trata das
áreas de preservação permanente foi fundamental para identificar as áreas que devem ser
preservadas na área de estudo. A apresentação deste levantamento em forma de quadro se
mostrou uma ferramenta útil para o planejamento, pois agiliza a consulta e pode ser facilmente
atualizado. O novo Código Florestal (BRASIL, 2012) não incorporou todas as áreas
consideradas de preservação permanente pelo Código anterior (BRASIL, 1965) e pela
Resolução CONAMA que o regulamentava (BRASIL, 2002), diminuindo o rol das áreas
consideradas de preservação permanente, não abrangendo, por exemplo, as dunas e os locais de

15
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

refúgio, reprodução e nidificação de aves. Dos elementos presentes na área de estudo, o Código
Florestal de 2012 considera APP apenas a borda de tabuleiro. Apesar disso, como a legislação
estadual e municipal continuam em vigor, os elementos da área de estudo seguem legalmente
protegidos. Essa constatação evidencia a necessidade da sociedade civil manter-se atenta às
propostas de alterações na legislação para que estes importantes elementos que desempenham
funções essenciais não percam a proteção legal que ainda lhes é garantida.
A metodologia proposta para a identificação e delimitação de unidades geoambientais
resultou na identificação e delimitação de doze unidades. A partir destas foi possível identificar
e delimitar as áreas de preservação permanente existentes na área de estudo que correspondiam
as bordas e/ou eram o elemento base das unidades geoambientais, a exceção se deu
exclusivamente aos recifes, devido ao fato de estarem dispostos no interior das unidades.
As APP e as unidades geoambientais estão previstas em Lei, sendo que a legislação das
APP considera o elemento isolado (forma do relevo ou vegetação), negligenciando o contexto
no qual está inserido. As unidades geoambientais consideram a interação entre os elementos, a
forma como estão estruturados e as funções por eles desempenhadas, evidenciando uma
capacidade mais ampla para o efetivo cumprimento da função ambiental prevista no conceito
das APP. Dessa forma, considera-se necessário uma revisão da legislação que trata das APP no
sentido de que sua delimitação envolva não apenas um elemento isolado, mas sim a unidade
geoambiental que a compõe. A Figura 08 sintetiza a comparação entre APP e unidade
geoambiental.

16
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Figura 08 – Comparação entre APP e Unidades Geoambientais.


Áreas de
Unidades
Preservação
Geoambientais
Permanente

Prevista em Elemento
LEI isolado Função Prevista em Função
Visão
ambiental LEI ambiental mais
(restrição de (relevo ou restrita sistêmica
(conceito) ampla
uso) vegetação)

Fonte: Organização dos autores.


As unidades geoambientais e as APP identificadas e delimitadas são espaços cuja
preservação é garantida pela legislação nos diferentes âmbitos, necessitando ser garantida e
implementada pelo planejamento e fiscalização dos órgãos competentes, bem como
acompanhada pela sociedade civil, pois a manutenção das funções ambientais implica em
melhor bem-estar social. O planejamento para uso e ocupação da Via Costeira deve envolver a
recuperação das áreas degradadas e a implantação dos elementos que possibilitem o uso e
atraiam a população, como previsto no projeto inicial, garantindo a utilidade pública e o
interesse social do projeto.

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maio de 1988, que institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro - PNGC, dispõe sobre
regras de uso e ocupação da zona costeira e estabelece critérios de gestão da orla marítima, e
dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

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14 de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras
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18
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

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SOTCHAVA, Viktor. Por uma teoria de classificação de geossistemas da vida terrestre.


Biogegografia, v. 14. São Paulo: USP. 1978.

19
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

A VALORIZAÇÃO DA TERRA NO MUNICÍPIO DA BARRA DOS COQUEIROS,


SERGIPE

THE VALORIZATION OF THE LAND IN THE MUNICIPALITY OF BARRA DOS


COQUEIROS, SERGIPE

LA VALORIZACIÓN DE LA TIERRA EN EL MUNICIPIO DE BARRA DOS


COQUEIROS, SERGIPE

Tais Kalil Rodrigues


Professora do departamento de Geografia – DGE/UFS
Email: tkalilr@yahoo.com.br
Maciel Santos
Graduando na Universidade Federal de Sergipe (UFS)
Email: maciel_ufs@outlook.com
Paulo Henrique Neves Santos
Graduando na Universidade Federal de Sergipe (UFS)
Email: ph.federal.ufs@gmail.com
Paloma Santos Amorim
Graduanda na Universidade Federal de Sergipe (UFS)
Email: palomasantosamorim@gmail.com

RESUMO
A zona costeira constitui-se em uma porção territorial com elevado grau atrativo para a sociedade
humana. A singularidade nas características climáticas, as quais proporcionam conforto, como também
o status elevado a quem ocupa, a zona costeira apresenta maior grau de desenvolvimento quando
comparado a ambientes onde a continentalidade é predominante. A partir da ideia básica capitalista, a
qual fundamenta-se na ideologia de que tudo torna-se mercadoria, dotado de valor de uso e troca, a
ocupação do solo é determinada por suas mãos. Diante disso, o presente artigo tem por objetivo analisar
como se deu o processo de expansão urbana na Barra dos Coqueiros, bem como as consequências
resultantes das ações antrópicas diante da face praial do litoral sul. Aderindo a lógica da especulação
imobiliária, a qual determina o valor e o uso do solo, o adensamento populacional na última década na
Barra dos Coqueiros é justificada pela facilidade de acesso a capital do estado proporcionada pela
construção da ponte Construtor João Alves, como também da expansão industrial a norte do município
com a instalação do complexo industrial.

Palavras-chave: Expansão Urbana; Especulação Mobiliaria; Mercado.

ABSTRACT
The coastal zone constitutes a territorial portion with a high degree attractive to the human society.
Because of the uniqueness of the climatic characteristics, which provide comfort, as well as the elevated
status to those who occupy it, the coastal zone presents a greater degree of development when compared
to environments where continentality is predominant. From the basic idea capitalist, which is based on
the ideology that everything becomes a commodity, endowed with value of use and exchange, the
occupation of the soil is determined by his hands. Therefore, the objective of this article is to analyze
how the process of urban expansion in Barra dos Coqueiros occurred, as well as the consequences of
anthropic actions in front of the coastal face of the south coast. Adhering to the logic of real estate
speculation, which determines land value and land use, population densification over the last decade in
Barra dos Coqueiros is justified by the ease of access to the state capital provided by the construction of
the João Alves Bridge, as well as by the industrial expansion to the north of the municipality with the
installation of the industrial complex.

20
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Keywords: Urban Expansion; Environmental Management; Marketplace.

RESUMEN
La zona costera se constituye en una porción territorial con un alto grado atractivo para la sociedad
humana. Por la singularidad en las características climáticas, las cuales proporcionan confort, como
también el estatus elevado a quien ocupa, la zona costera presenta mayor grado de desarrollo cuando
comparado a ambientes donde la continentalidad es predominante. A partir de la idea básica capitalista,
la cual se fundamenta en la ideología de que todo se vuelve mercancía, dotado de valor de uso e
intercambio, la ocupación del suelo es determinada por sus manos. Por ello, el presente artículo tiene
por objetivo analizar cómo se dio el proceso de expansión urbana en la Barra dos Coqueiros, así como
las consecuencias resultantes de las acciones antrópicas ante la cara de la costa del litoral sur. La adición
de la lógica de la especulación inmobiliaria, la cual determina el valor y el uso del suelo, el adensamiento
poblacional en la última década en la Barra dos Coqueiros está justificada por la facilidad de acceso a
la capital del estado proporcionada por la construcción del puente Constructor João Alves, expansión
industrial al norte del municipio con la instalación del complejo industrial.

Palabras clave: Expansión Urbana; Especulación Movilización; Mercado.

1 INTRODUÇÃO

O ambiente costeiro é patrimônio natural do Brasil (BRASIL, 1988), tendo extrema


importância para a vida, pela sua interação entre o mar, a terra e o ar. Trata-se de uma região
que abriga diversos ecossistemas, além de ser uma localização estratégica para fins comerciais
pela existência de diversos recursos naturais e a exploração das mesmas.
O processo de colonização do Brasil iniciou a partir do litoral com a instalação das
capitanias hereditárias, ao longo dos tempos houve a expansão para o interior do país, entretanto
o litoral ainda permanecia como o principal espaço de ocupação por ocupar uma posição
estratégica para a exportação dos produtos, principalmente a cana-de-açúcar, para a metrópole.
A partir da colonização portuguesa surge uma nova dinâmica entre a relação da atividade
humana e o meio ambiente, com a exploração deste em prol dos interesses humanos.
Ao longo do litoral brasileiro são encontrados diversos ecossistemas de grande valor
ecológico, como: mangues, campos de dunas e falésias, baías e estuários, recifes e corais, praias
e cordões arenosos, costões rochosos e planícies de marés, entre outros. Mas o que se vê é a
destruição de muitos desses ecossistemas, como os mangues que, segundo BORELLI (2007),
do ponto de vista do capital é considerado uma área marginal, de reduzido valor de mercado
sendo passível de ser transformado em outros usos mais rentáveis.
A ocupação da zona costeira brasileira constitui um espaço de muitos conflitos, sendo
uma área de riquezas ecológicas e importante para a manutenção da vida de muitos seres vivos,
em contrapartida, é uma fonte de riqueza para o capital, o qual explora estas áreas degradando-
o e contribuindo para o surgimento de diversos problemas socioambientais.

21
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Assim como ocorreu no litoral brasileiro, a ocupação do litoral do estado sergipano foi
intensificada na segunda metade do século XX a partir da valorização dos espaços litorâneos
para o lazer, segunda residência e atividades econômicas. Algo que marca essa ocupação são
as construções de obras que facilitam o acesso da população nas regiões litorâneas, sendo um
vetor importante para a ocupação do litoral.
O litoral sergipano apresenta uma área de 163 km de extensão, ocupando cerca de
5.514.7 km², sendo 23 munícipios banhados pela costa, dividido em setores, Litoral Norte,
Litoral Centro e Litoral Sul. Inserida no setor Litoral Norte, a área de estudo deste trabalho
corresponde ao município costeiro de Barra dos Coqueiros, estando localizado no leste do
estado de Sergipe, limita-se ao norte com o município de Pirambu, separado pelo rio Japaratuba;
ao sul, leste e sudeste pelo Oceano Atlântico; ao sudoeste com o município de Aracaju, separado
pelo rio Sergipe e a Oeste e Noroeste com o município de Santo Amaro das Brotas, separado
pelo canal Pomonga.
Este trabalho teve como objetivo analisar o processo de expansão urbana nas últimas
décadas no munícipio da Barra dos Coqueiros, bem como as consequências resultantes das
ações antrópicas no seu litoral. Visto que a área em estudo vem concentrado um processo de
expansão urbana através de casas de veraneio e de residências influenciadas pela expansão
industrial nessa área, consequente da instalação do complexo industrial, composto pelo Porto
de Sergipe, Usina Eólica e o Complexo Termoelétrico. Esta relação de uso e ocupação resulta
nos usos múltiplos da zona costeira, como: expansão urbana, especulação imobiliária, dispersão
de efluentes domésticos e industriais diretamente no mar, pesca, exploração do setor de
turismos, entre outros, que provocam uma intensa pressão e alteração nos ambientes costeiros.

2 METODOLOGIA

Este trabalho constitui-se de uma revisão da literatura relacionada ao tema do trabalho


que contribuiu para o levantamento de dados acerca da área de estudo e serviram de base para
a construção do referencial teórico. A pesquisa bibliográfica foi realizada através do portal
Periódicos Capes, livros, artigos, dissertações, teses, documentos fotográficos, material
disponível na Biblioteca Central da Universidade Federal de Sergipe (UFS)
Foram realizados trabalhos de campo para observações a respeito do nível de ocupação,
das estruturas erguidas e do uso da zona costeira do município, além de realizar registros
fotográficos da região e entrevistas.

22
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Para produção cartográfica foram realizados os mapeamentos e a análise da evolução da


ocupação do município, e as consequências geradas pela ocupação nos últimos 50 anos, com o
auxílio de fotografias aéreas e imagens de satélites dos anos de 1965, 2003, 2017 e 2018 . É
importante ressaltar que, os anos escolhidos foram definidos de acordo com a qualidade das
imagens, assim como imagens anteriores e posteriores a construção da ponte, que é a principal
via de acesso ao município. Com base nos dados analisados, foram confeccionados mapas
temáticos com o uso do software Quantum Gis (Qgis). A evolução nas taxas de expansão urbana
e suas consequências foram integradas ao referencial teórico para a avaliação da relação uso-
ocupação do litoral, como também para o desenvolvimento de medidas para o gerenciamento
mais sustentável da região estudada.

3 A VALORIZAÇÃO DA ZONA COSTEIRA

A zona costeira é o espaço de interação entre a terra, o mar e o ar incluindo seus recursos
ambientais e abrangendo uma faixa marítima e uma terrestre, sendo um ambiente bastante
dinâmico e vulnerável. Possui um diversificado conjunto de ecossistemas de alta relevância
ambiental, que vai desde mangues, restingas, campos de dunas, estuários, recifes de corais e
outros ambientes importantes do ponto de vista ecológico, o que caracteriza o litoral como área
de imensa riqueza de bens e recursos naturais e ambientais.
Do ponto de vista global, os terrenos à beira-mar constituem pequena fração dos
estoques territoriais disponíveis, conferindo-lhe como espaço raro e qualificando-o para
determinados usos quase exclusivos do litoral possuindo características singulares sob vários
aspectos, como socioeconômicos, humano e o ambiental. Além disso, apresentam elevado valor
estratégico para a ocupação humana, pois são zonas de enorme potencial para a exploração de
recursos naturais de interesse econômico, além de apresentar climas mais agradáveis ao homem.
Observa-se então, como todos esses fatores concedem as zonas costeiras um alto valor de
ocupação de maneira generalizada em todo o planeta. Representando no território, dois terços
da população mundial, de caráter urbano, encontrando-se concentrada na zona costeira. Além
de abrigar grande parte das instalações industriais em atividade no mundo.
A zona costeira é uma importante fonte de recursos marinhos e minerais, possibilitando,
também, a circulação de bens e pessoas através da via marítima, a utilização desse espaço como
área de lazer e exploração econômica para as atividades turísticas, tais características conferem-
lhe como espaço bastante atrativo para as atividades humanas. Entretanto, estas vantagens

23
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

acabam pressionando-o, evidenciando o seu valor estratégico, tornando o litoral uma das áreas
de maior estresse ambiental.

Talvez como resultado de tudo, a zona costeira é caracterizada pela


competição intensa por recursos e espaços terrestres e marinhos, por vários
grupos de interesse, o que frequentemente resulta em conflitos severos e
destruição da integridade funcional do sistema de recursos (ANDRIGUETTO
FILHO, 2004, p. 190).

Entre os principais conflitos resultantes do uso e ocupação do espaço costeiro, destacam-


se a expansão urbana desordenada, especulação imobiliária, turismo, privatização de praias, as
grandes variações populacionais em época de veraneio, dispersão de efluentes domésticos e
industriais, disposição de resíduos sólidos, erosão/sedimentação, pesca predatória, destruição
de recifes de corais, rotas de embarcações, invasões de áreas públicas, entre outras.
Os agentes imobiliários e construtores são grandes contribuintes para a valorização
desses espaços, os quais veem nessas áreas oportunidades de bons negócios e consumidores
que almejam a garantia de morar bem e ter reconhecido seu status social e poder aquisitivo.
Para isso contam com a mídia que contribui para os estímulos ao consumo através de anúncios,
os quais transformam o litoral em paraísos e lugar de bem-estar.
A ocupação marcada pela seletividade e exclusão social é um fenômeno que está
diretamente ligada a privatização da terra em conjunto com as determinações de uso pelo
mercado. Quando o mercado se apossa de uma determinada área, ele determinará como dar-se-
á a utilização da mesma. Construção de empreendimentos residenciais, empresariais, fabris ou
até mesmo, se será uma área de exploração, seja pelo turismo, ou de seus recursos. A coerção
exercida sobre a população para a privatização de terras é tamanha, que eles são obrigados a
migrar para outras localidades. Visto que não se é pago a essas pessoas um preço justo pela
terra, e como todos os espaços dentro das cidades já estão ocupados, essas populações ocupam
as regiões litorâneas ainda sem uso por serem áreas de grande vulnerabilidade ou de proteção.

Tais populações (mais pobres) sobrantes vão se alojar no espaço urbano


litorâneo exatamente nas áreas deixadas sem uso pelas outras atividades,
geralmente áreas de grande vulnerabilidade e/ou de proteção ambiental. No
primeiro caso, pode-se lembrar as encostas íngremes e as zonas sujeitas a
inundações; no segundo, as áreas de defesa de mananciais ou os manguezais.
(MORAES, 2007, p. 39).

24
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Nesta perspectiva, destaca-se que o valor de um lugar é dado pelas relações políticas e
sociais. A leitura de paisagem pelo homem, assim como a valorização subjetiva do espaço, é
resultado de influências culturais, são dinâmicas e se adaptam as características de suas
respectivas sociedades. A imagem do litoral sempre esteve relacionada a uma vivencia
prazerosa, com belas imagens, climas agradáveis e, sobretudo, ao alto status que confere a quem
reside ou convive diariamente nesses espaços. Todas essas particularidades resultam na alta
valorização, principalmente socioeconômicas, decorrente de todo um conjunto de fatores
sociais, políticos e econômicos, que confere aos espaços litorâneos, valores muito mais
elevados, tanto para ocupação, quanto para o lazer.
Assim em meio à valorização dos espaços costeiros, estes acabaram torando-se em
espaços-mercadorias, fruto da especulação imobiliária e da superconcentração das atividades
econômicas.

4 CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL DA ÁREA

O município da Barra dos Coqueiros tem uma extensão litorânea de 32 km, a qual é
formada por três praias: praia da Atalaia Nova com 3 km de extensão, praia da Costa com 5
km, e praia do Jatobá, que tem uma extensão total de 24 km (Figura 1). A sede municipal tem
uma altitude de 8m e coordenadas geográficas de 10º54'32" de latitude sul e 37º02'19" de
longitude oeste. A população municipal, segundo estimativas do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatísticas (IBGE) no ano de 2016, é de 29.248 habitantes numa área de 89,598
km2, com uma densidade demográfica de aproximadamente 326, 43 hab/km 2.
O clima úmido e quente é caracterizado com precipitação média anual é de 1417 mm,
sendo o período de maior concentração de chuvas de abril a julho, resultado da atuação das
massas Tropical Atlântica (mTa) e, principalmente, Massa Polar Atlântica (mPa). O mês de
maio é o mais chuvoso com média de 251 mm e dezembro o mês mais seco com 40 mm, a
temperatura média anual é de 25,6°C com baixa amplitude térmica. Os ventos predominantes
são os alísios de Sudeste e Nordeste.

25
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Figura 1: Mapa localização da Barra dos Coqueiros

Fonte: Autores, 2018

Os solos são predominantemente dos tipos podzol e areias quartzosas marinhas, típicos
dos ambientes de planície fluviomarinha e planície marinha. São solos ácidos, profundos, de
baixa fertilidade. Drenam rapidamente a água precipitada, devido à salinização dificultam o uso
agrícola. As principais formas de relevo do município são planícies marinhas e fluviomarinha,
com topografia plana e suavemente ondulada, e que se estendem ao longo da área, através das
configurações de praia, dunas, cordões arenosos, várzeas e mangues, que datam do período
Quaternário. As praias da Barra dos Coqueiros são faixas de areia de origem marinha, de cor
esbranquiçada, de textura média e fina que acompanha toda a orla marítima. A formação vegetal
encontrada ao longo do município é típica dos ecossistemas manguezal, restinga e Mata
Atlântica.
O município tem apresentado uma crescente expansão urbana nos últimos anos desde a
inauguração, no ano de 2006, da ponte que liga o município com a capital do estado, Aracaju.
Por ser um município muito próximo da capital e pela acessibilidade o município tem o seu
espaço valorizado, especialmente as regiões costeiras, as quais são alvo da especulação
imobiliária, havendo a implantação de vários condomínios fechados de luxo, o que tem
impulsionado a ocupação do litoral.

26
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

5 HISTÓRICO E EVOLUÇÃO DA EXPANSÃO URBANA/INDUSTRIAL NA BARRA


DOS COQUEIROS

A ocupação do território da Barra dos Coqueiros iniciou no período colonial a partir de


1590 com a chegada de traficantes atraídos pelo pau-brasil. Para combater a pirataria, Portugal
deu início à ocupação destas terras assegurando o seu controle. Em 1953, a lei estadual n° 525-
A criou o município da Barra dos Coqueiros, desmembrando de Aracaju e compreendendo
apenas a ilha de Coqueiros.
Inicialmente o processo de ocupação ocorre influenciado pelas atividades do setor
primário, destacando-se como principais vetores da ocupação a coqueicultura, a extração da
mangaba e a pesca. Entre as décadas de 1960 e 1970 o crescimento populacional é pouco
expressivo (Tabela 1). A ocupação limitava-se a sede municipal e a pequenas localidades rurais
com dificuldades de comunicação. Uma pequena mancha urbana próxima ao rio Sergipe e a
rodovia SE-100 ainda sem asfalto marcavam os assentamentos humanos, tendo influência do
antigo Porto de Aracaju instalado as margens do Rio Sergipe e à proximidade a sede da capital.
A dificuldade de acessibilidade ao município apresentava-se como obstáculo à ocupação
(SANTOS; VILAR, 2013).
A partir da década de 1980 há um crescimento expressivo da população resultado das
melhorias na acessibilidade e a construção de conjuntos habitacionais. Entre 1980 e 1991 a
população barra-coqueirense aumentou em 60%, devido à implantação do Terminal Portuário
Marítimo Inácio Barbosa e da expectativa criada pela construção do Polo Petroquímico, além
do crescimento vegetativo (SANTOS; VILAR, 2013).
Entre as os anos de 1991 e 2000 houve o desenvolvimento de políticas pelo Programa
de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (PRODETUR/NE I) que impulsionaram a
atividade turística, aproveitando o elevado potencial ambiental do município, assim foram
instalados equipamentos turísticos no município, principalmente na Praia da Costa e Atalaia
Nova, acarretando no deslocamento da população rural para as regiões urbanas, o que explica
o aumento da população urbana em detrimento da rural.

27
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Tabela 1: Evolução da população da Barra dos Coqueiros

Ano População Crescimento População Crescimento População Crescimento

Total Relativo (%) Urbana Relativo (%) Rural Relativo (%)

1960 4.447 - 2.551 - 2.026 -

1970 5.568 25,2 3.519 37,9 2.049 1,1

1980 7.939 40,7 5.500 56,2 2.439 19

1991 12.762 60,7 7.474 35,8 5.288 116,8

2000 17.807 39,5 15.176 103 2.631 -50,2

2010 24.976 40,2 20.886 37,6 4.090 55,4

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

Após a construção da ponte Construtor João Alves sobre o rio Sergipe, em 2006, a
intensificação da ocupação ocorre por meio de novos assentamentos humanos expandindo para
o litoral. A ponte resultou numa maior acessibilidade entre os dois municípios (Aracaju e Barra
dos Coqueiros), provocando a valorização das áreas rurais e urbanas.
Antes da construção da ponte, o processo de locomoção entre Aracaju e Barra dos
Coqueiros era realizado por meio de embarcações que atravessavam o rio Sergipe, essa
condição constituía um fator limitante a ocupação da Barra dos Coqueiros. Isto é evidenciado
na fotografia aérea e nas imagens de satélite do município dos anos de 1965, 2003 e 2018
(Figura 2), enquanto na década de 60 a ocupação era baixa, concentrada nas margens do rio
Sergipe, em 2003 há uma expansão na sede municipal, e na região da praia da Atalaia Nova,
tendo essas duas regiões como locais de concentração urbana.
Com a pavimentação da rodovia SE-100, que corta todo o litoral note sergipano,
associado a construção da ponte em 2006, ocasiona a valorização da terra na Barra dos
Coqueiros, especialmente das regiões próximo ao litoral sul, desencadeando o processo de
expansão urbana no município onde podemos observar na imagem de 2018 as grandes
mudanças na paisagem, principalmente na Praia da Costa e Atalaia Nova, que correspondem a
todo trecho sul do município.

28
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Figura 2: Comparativo do litoral sul da Barra dos Coqueiros.

Fonte: Organização dos autores.

A partir analise da evolução da mancha urbana (Figura 3), é possível ter uma melhor
compreensão da intensificação do processo de urbanização. Neste processo há a retirada da
vegetação nativa, restinga e manguezal, desmatando extensas áreas que serão utilizadas para a
instalação da infraestrutura urbana. Constata-se uma grande mudança entre os anos de 2003 e
2017, em que neste ano a ocupação expande-se por diversas áreas do município, com destaque
para as regiões litorâneas, as quais são os principais alvos desta expansão.

29
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Figura 3: Evolução da mancha urbana no litoral sul da Barra dos Coqueiros.

Fonte: Organização dos autores.

Os principais agentes dessa mudança são as incorporadoras imobiliárias internacionais


e nacionais, principais beneficiados da especulação imobiliária, os quais se apropriaram dos
territórios litorâneos, aproveitando a alta qualidade ambiental do litoral e do quão valorizadas
são estas áreas tanto como moradia, quanto para lazer e o turismo, instalando grandes
complexos residenciais turísticos de luxo para primeira e segunda residência (veraneio). De
acordo com SANTOS E VILAR (2013), os territórios imobiliário-turístico se sobrepõem ao de
moradores permanentes, e a Praia da Costa é a região que sofreu as maiores modificações, onde
foi instalado a maior parte dos empreendimentos.
Aliado aos condomínios fechados está a instalação de estabelecimentos comerciais,
como bares e restaurantes e as casas de veraneio e a construção do resort que ultrapassa a faixa

30
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

de praia, e que foi construída uma barreira de rochas para não ocasionar o desmoronamento da
estrutura do mesmo.
Por se tratar de um ambiente costeiro, o vento é um dos elementos mais abundantes e a
exploração energética é realizada através da instalação do Parque Eólico Barra dos Coqueiros.
O parque eólico é constituído por vinte unidades aerogeradores totalizando 34,5 MW de
capacidade e 10,5 MW médios de garantia física de energia. Entretanto, essa energia que é
produzida e vendida como “limpa”, acaba causando grandes impactos ambientais negativos.
Durante as visitas in loco foi possível identificar a agravante degradação causada pela
instalação dos aerogeradores e das vias de deslocamento entre essas através da terraplanagem,
do desmatamento e principalmente da alteração na morfologia e dinâmica ambiental, como dos
cordões litorâneos no pós-praia, modificando diretamente na paisagem local. Além de interferir
na vida dos nativos que residem na comunidade de praia do Jatobá, que teve a perda do livre
acesso pela área que foi ocupada pelo complexo eólico, essas barreiras produzidas pelo homem
interferem e atingem a fauna e flora da restinga, retardando a dinâmica do ambiente (Figura 4).

Figura 4: Imagens do Parque Eólico Barra dos Coqueiros (UEE).

Fonte: Statkraft; Autor (2018).

Além da UEE Barra dos Coqueiros, está em andamento a construção do Complexo


Termelétrico constituído pelas unidades; Usina Termelétrica Porto Seguro I, UTE Laranjeiras
I e UTE Marcelo Déda em uma área de 126,7 hectares. De acordo com a CELSE, ainda será
construída uma Linha de Transmissão de 34 km de extensão que levará a energia gerada até a
Substação Jardim, pertencente a Companhia Hidrelétrica do São Francisco – CHESF, situada
no Município de Nossa Senhora do Socorro e das instalações e Operações Offshore como
unidade flutuante de Armazenamento e Regaseificação – FSRU, navios metaneiros de
abastecimento, gasoduto, adutora e emissário de efluentes, na figura 5 podemos observar
imagens da construção da UTE Porto de Sergipe I.

31
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Figura 5: A- Fase da construção da UTE Porto de Sergipe I, dezembro de 2017. B- UTE


Porto de Sergipe I em abril de 2018.

Fonte: Centrais Elétricas de Sergipe – CELSE (2018).

Como o complexo das UTEs se encontra em processo de construção, não é possível


apresentar os impactos ambientais causados pela emissão dos poluentes, mas assim como na
construção do parque eólico, foi necessário realizar o processo de degradação da terra através
dos processos de terraplanagem, desmatamento e alteração da morfodinâmica do sistema
costeiro. Mesmo assim, é possível prever que haverá um aumento considerável dos gases
poluentes que contribuem para o aquecimento global através do efeito estufa e da chuva ácida.
A queima de gás natural lança na atmosfera grandes quantidades de poluentes, além de ser um
combustível fóssil que não se recupera.
É possível observar que o uso e ocupação do solo atualmente, é influenciado diretamente
pela proximidade com a capital do estado, caracterizado pela valorização da terra através da
especulação imobiliária, se expandindo para o norte do município associado a pavimentação da
rodovia SE-100. Já nas proximidades do Porto de Sergipe, a valorização do solo é caracterizada
pela especulação trabalhista, devido a construção da UTE e do Parque eólico Barra dos
Coqueiros. Já na extremidade norte do município é possível identificar ocupações derivadas da
expansão do povoado Touro e da construção do Conjunto Habitacional Quilombola Pontal da
Barra (Figura 6). É importante ressaltar que, o litoral norte do município se encontra em um
processo mais lento de desenvolvimento, tendo o predomínio de cordões litorâneos, dunas e
restinga. Mas, a tendência desse cenário é de mudar, com a instalação do Complexo Industrial
de Geração de Energia, que será o maior do gênero na América Latina, segundo a Centrais
Elétricas de Sergipe (Celse).

32
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Figura 3: Uso e ocupação do solo na Barra dos Coqueiros

Fonte: Organização dos autores (2018).

5 PROPOSTAS DE MEDIDAS DE GERENCIAMENTO COSTEIRO

Visando amenizar ou evitar problemas futuros é necessário o poder público tomar


algumas medidas para preservação do ambiente costeiro, como também proporcionar melhor
qualidade de vida dos moradores e melhores condições de uso para turistas.

33
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Dentre algumas medidas de gerenciamento costeiro é imprescindível ações de educação


ambiental como meio de conscientização da população da necessidade de preservação do meio
ambiente, por meio de placas educativas, nos meios de comunicação e abordando no ambiente
escolar, instruindo a não descartar lixo na praia ou em terrenos baldios e não usar som alto de
forma que cause poluição sonora. Também é muito importante investimento saneamento
ambiental evitando a contaminação de corpos d’água e proliferação de doenças, assegurando
tanto a qualidade do meio ambiente quanto a qualidade de vida da população.
Adotar políticas que visem disciplinar o uso e ocupação da zona costeira considerando
a dinâmica costeira, como o Projeto Orla, proposto por Muehe (2001). Segundo o qual deve ser
criado uma faixa de preservação de 50 metros em áreas urbanizadas e de 200 metros em áreas
desocupadas, levando em consideração a geomorfologia e a urbanização da zona costeira. Estas
áreas devem ser demarcadas na direção do continente a partir da linha de preamar (Figura 7).
Figura 8: Limites da faixa de proteção estabelecidos pelo projeto Orla.

Fonte: Projeto Orla: Fundamentos para Gestão Integrada (2006, MMA, p.27.)

Em áreas próximas a desembocaduras fluviais, que correspondem a áreas de alta


instabilidade, deve ser executado um levantamento de eventos erosivos pretéritos para a
definição da extensão da faixa emersa da orla marítima (RODRIGUES, 2008). É importante
frisar que estes valores estão sujeitos a flexibilização caso estudos comprovem a adequação
local da adoção de um outro valor em função da grande variedade das condições oceanográficas
e geomorfológicas da orla brasileira.

34
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de valorização da terra vem desde quando o homem transformou a terra em


mercadoria, influenciado pelo sistema capitalista. Na Barra dos Coqueiros não foi diferente,
entretanto, em processo mais lento, mesmo fazendo fronteira com a capital do estado, onde o
trajeto só era realizado através de balsas ou pela BR-101.
A terra da região passou a ser mais valorizada, devido ao fácil acesso, e, principalmente
devido a sua localização situada em zona costeira, a população tem um salto impulsionado pelo
setor imobiliário, alterando consideravelmente na paisagem do litoral do município. Junto com
o crescimento acelerado da urbanização, surgem os problemas sociais ocasionados pela falta de
infraestrutura que não acompanha a expansão da cidade.
Com base neste cenário, a presente pesquisa teve a pretensão de abordar o processo de
evolução da mancha urbana e de como a paisagem natural vem sendo substituída pela antrópica
no município da Barra dos Coqueiros. Através de um setor imobiliário-turístico onde o capital
imobiliário acaba ditando esse processo de transformação paisagista.
Sendo necessário a criação de projetos que facilitem a administração do ambiente
costeiro, de modo que possa controlar o processo de ocupação – principalmente pelos detentores
do capital – que haja fiscalização para/com as ocupações que tendem a surgir na região costeira.

REFERÊNCIAS

ANDRIGUETTO FILHO, José Milton. Das dinâmicas naturais aos usos e conflitos: uma
reflexão sobre a evolução epistemológica da linha do costeiro. Desenvolvimento e Meio
ambiente, v. 10, 2004.

BORELLI, Elizabeth. Urbanização e qualidade ambiental: o processo de produção do


espaço da costa brasileira. Florianópolis, 2007.

COSTA, Vanessa Santos. Território em mutação: a implantação de central geradora eólica


em Sergipe. São Cristóvão, SE, 2013. 131 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) -
Universidade Federal de Sergipe, 2013.

DO NORDESTE, Banco. Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste.


Memorando do Banco do Nordeste do Brasil SA Relatório final do Projeto BR-0204.
Recuperado em, v. 10, 2005.

FREITAS, Breno Braga de Souza. Políticas públicas, erosão costeira e ocupação urbana na
linha de costa entre Rio Vermelho e Pituba, Salvador/Bahia. 128f. Dissertação de Mestrado
(Programa de Pós-graduação em Geografia) – Instituto de Geociências, Universidade Federal
da Bahia, Salvador, 2016.INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA et
al. Indicadores de desenvolvimento sustentável: Brasil 2010. IBGE, 2016.

35
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

MORAES, A. C. R. Notas sobre formação territorial e políticas ambientais no Brasil. Revista


Território, v. 4, n. 7, 1999.

________________ Contribuições para a gestão da zona costeira do Brasil: elementos para


uma geografia do litoral brasileiro. Annablume, v. 47, 2007.

MUEHE, Dieter. Critérios morfodinâmicos para o estabelecimento de limites da orla costeira


para fins de gerenciamento. Revista brasileira de geomorfologia, v. 2, n. 1, 2001.

SANTOS, Priscila Pereira; VILAR, José Wellington Carvalho. Do Território do Vazio ao


“Paraíso Urbano”: o Imobiliário-Turístico na Barra dos Coqueiros (SE). In: Congresso
Norte Nordeste de Pesquisa e Inovação. 2013. p. 1.

SANTOS, Priscila Pereira. Entre a casa de praia e o imobiliário-turístico: a segunda


residência no litoral sergipano. São Cristóvão, SE, 2015. 300 f. Dissertação (Mestrado em
Geografia) - Universidade Federal de Sergipe, 2015.

VESENTINI, José William. Geografia, natureza e sociedade. Contexto, 1989.

36
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

DINÂMICA DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NA PLANÍCIE FLUVIOLAGUNAR


ASSOCIADA AO RIO BETUME

DYNAMICS OF THE USE AND OCUPATION OF THE SOIL IN LAGOON RIVER


PLAIN ASSOCIATED WITH THE BETUME RIVER

LA DINÁMICA DEL USO Y OCUPACIÓN DEL SUELO EN LA LLANURA RIO


LAGUNA ASOCIADO CON EL RÍO BETÚN

Luana Pereira Lima


Doutoranda em Geografia (PPGEO/UFS) e Membro do Grupo de Pesquisa Dinâmica
Ambiental e Geomorfologia (DAGEO/UFS) - lua.luana.lima@hotmail.com
Hélio Mário de Araújo
Professor Titular do Departamento de Geografia (UFS) e Líder do Grupo de Pesquisa
Dinâmica Ambiental e Geomorfologia (DAGEO/UFS) - heliomarioaraujo@yahoo.com.br
Heleno dos Santos Macedo
Doutorando em Geografia (PPGEO/UFS) e Membro do Grupo de Pesquisa Dinâmica
Ambiental e Geomorfologia (DAGEO/UFS) - helenosamac@bol.com.br

RESUMO
Os ambientes costeiros são complexos devido sua dinâmica natural, fragilidades e os múltiplos
interesses socioeconômicos. São ambientes peculiares e de caráter diferenciado, que devem ser
considerados como um espaço geográfico singular que necessita de atenção especial para um
correto planejamento, ordenamento e gestão. Pensar o litoral nesse contexto é necessário para
traçar estratégias de manutenção e/ou recuperação da qualidade ambiental através de uma
política de meio ambiente que vise à sustentabilidade. Os dados obtidos em fontes primária
(trabalhos de campo) e secundária (levantamento cartográfico e bibliográfico) foram
organizados a partir da metodologia Pressão-Estado-Impacto-Resposta (PEIR). O presente
trabalho tem por objetivo identificar e compreender a dinâmica do uso e ocupação do solo na
planície fluviolagunar associada ao Rio Betume e, a partir da aplicação da metodologia PEIR,
diagnosticar o estado da paisagem, detectar as pressões exercidas sobre ela, identificar os
impactos causados, como também propor respostas que possibilitem o uso sustentável dos
recursos. Os resultados obtidos com a aplicação da metodologia PEIR permitiram perceber que,
o estado da paisagem tem sido moderadamente modificado por atividades socioeconômicas que
impactam ainda de forma equilibrada, e que as respostas podem ser eficazes, se forem
consideradas.

Palavras-chave: Planejamento Ambiental; Planície Fluviolagunar; PEIR

ABSTRACT
The coastal environments are complex due to its natural dynamics, weaknesses and the
multiple socioeconomic interests. Environments are unique and distinctive character, which
should be considered as a natural geographical space that needs special attention for a proper
planning and management. Think of the coast in this context, it is necessary to devise strategies
for maintenance and/or restoration of environmental quality through an environmental politics
that seeks to sustainability. The data obtained from primary sources (field work) and secondary
(cartographic and bibliographic survey) were organized from methodology the State-Pressure-
Impacto-Response (SPIR). The present work aims to identify and understand the dynamics of

37
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

the use and occupation of the soil in lagoon river plain associated with the Betume river, and
from the application of the methodology SPIR to diagnose of the landscape, detect the pressures
exerted on it, to identify the impacts, as well as propose answers that allow the sustainable use
of resources The results obtained with the application of the methodology SPIR permitted to
perceive that the condition of the landscape has been moderately modified by socioeconomic
activities that impact even in a balanced way, and that the answers can be effective, if
considered.
Keywords: Environmental planning; Lagoon River; SPIR

RESUMEN
Los entornos costeros son complejos debido a su dinámica natural, debilidades y los múltiples
intereses socioeconómicos. Es un entorno único y su carácter distintivo, lo que debe ser
considerado como un espacio geográfico natural que necesita atención especial para una
adecuada planificación, planificación y gestión. Piense en la costa, en este contexto, es
necesario idear estrategias para el mantenimiento y/o restauración de la calidad ambiental a
través de una política medioambiental orientada a la sostenibilidad. Los datos obtenidos de
fuentes primarias (trabajo de campo) y secundaria (cartografía y revisión bibliográfica) fueron
organizados desde la metodología de Presión-Estado-Impacto-Respuesta (PEIR). El presente
trabajo tiene como objetivo identificar y entender la dinámica del uso y ocupación del suelo en
la llanura fluviolagunar asociado con el betún de Río, y de la aplicación de la metodología PEIR
diagnosticar el estado del paisaje, detectar las presiones que se ejercen sobre ella, para
identificar los impactos, así como proponer respuestas que permitan el uso sostenible de los
recursos. Los resultados obtenidos con la aplicación de la metodología PEIR permite percibir
que la condición del paisaje ha sido ligeramente modificado por las actividades
socioeconómicas que impacto incluso en forma equilibrada, y que las respuestas pueden ser
eficaces si son considerados.

Palabras clave: Planificación Ambiental; Rio laguna; PEIR

INTRODUÇÃO
Os ambientes costeiros são complexos devido sua dinâmica natural, fragilidades e os
múltiplos interesses socioeconômicos. São ambientes peculiares e de caráter diferenciado, que
devem ser considerados como um espaço geográfico singular que necessita de atenção especial
para um correto planejamento e gestão.
As mudanças de atitudes da sociedade brasileira em relação aos espaços litorâneos
juntamente com a descoberta dos benefícios dos banhos de mar e a moda elitista de morar na
praia, ocasional ou permanentemente, incutiram o desejo por espaços litorâneos no Brasil
(DANTAS, 2010). À medida que essas práticas se expandem, geram mudanças na paisagem
litorânea.
Os espaços litorâneos são concebidos como espaços de produção e consumo. Enquanto
espaço de produção, respondem a certas necessidades dos indivíduos, provocando mudanças
dos espaços litorâneos em lugar de trabalho e moradia de pescadores e migrantes. O espaço de

38
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

consumo refere-se à transformação do litoral em mercadoria oferecida aos amantes de praia. A


valorização das zonas de praia transformam-na em espaços privilegiados para o
desenvolvimento de atividades turísticas (DANTAS, 2010).
Os espaços litorâneos comportam atividades urbanas, rurais, pesqueiras, turísticas, além
de interesse ambiental em conservar a flora e fauna presentes nessas áreas. Os múltiplos usos e
interesses podem criar e/ou acentuar os conflitos de ocupação desses ambientes. As propostas
de intervenção através do planejamento devem considerar os conflitos potenciais e inerentes à
dinâmica ocupacional com a finalidade de compatibilizar os diferentes usos (VILAR e
SANTOS, 2011).
Pensar o litoral no contexto do planejamento, ordenamento e gestão é necessário para
traçar estratégias de manutenção e/ou recuperação da qualidade ambiental através de uma
política do meio ambiente que vise à sustentabilidade relacionada não somente aos usos dos
recursos naturais, mas que também busque a equidade social e econômica.
A dinâmica de ocupação no litoral norte, onde se insere a planície fluviolagunar do rio
Betume, é marcada por elementos contribuintes: as unidades de conservação que colaboram
com o desenvolvimento de ações de proteção ambiental, limitando o uso e exploração dos
recursos; a implantação e melhoria de vias de acesso, como a pavimentação asfáltica da
Rodovia Estadual SE-100 Norte que já alcança o município de Pacatuba e faz parte de uma
política macrorregional de interligação das áreas litorâneas dos estados da Bahia, Sergipe e
Alagoas, colaborando para aumento do interesse turístico e imobiliário.
Analisar a dinâmica de ocupação da paisagem e as formas de exploração dos recursos
naturais, consolidada nos diferentes tipos de uso, é essencial para subsidiar propostas de
planejamento, ordenamento e gestão ambiental. É possível identificar, a partir desta análise, o
estado dos condicionantes naturais, em função de sua adequação ou não com os usos a que estão
submetidos.
As características dos componentes naturais presentes na planície fluviolagunar
associada ao rio Betume encontram-se alteradas devido aos tipos de uso e ocupação. Os
ecossistemas aí presentes vem sendo modificados em razão das atividades econômicas. Ao
longo dos anos, a cobertura vegetal foi dando lugar a atividades de ordem primária (agricultura,
pecuária, extrativismo) principalmente, e, atualmente, à expansão do turismo e da
carcinicultura.
O objetivo desse trabalho consiste em identificar e compreender a dinâmica do uso e
ocupação do solo na planície fluviolagunar associada ao Rio Betume e, a partir da aplicação da
metodologia PEIR (Pressão-Estado-Impacto-Resposta), diagnosticar o estado da paisagem,

39
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

detectar as pressões exercidas sobre ela, identificar os impactos causados e propor respostas
que possibilitem o uso sustentável dos recursos.

RECORTE ESPACIAL DA PESQUISA


A área de estudo encontra-se inserida na Sub-bacia Hidrográfica do Rio Betume. Esse
rio nasce ao norte do município de Pirambu, na divisa deste com Japaratuba, e segue
atravessando o município de Pacatuba, até tornar-se afluente do rio São Francisco, pela margem
direita no município de Neópolis.
A planície formada por depósitos fluviolagunares associada ao Rio Betume abrange os
municípios de Pirambu, Japoatã, Japaratuba, Pacatuba, Neópolis e Ilha das Flores (figura 01).
Dentre esses, o município de Pacatuba tem maior abrangência espacial.

Figura 01: Localização da área de estudo

Fonte: CPRM 2003; Atlas SRH, 2014. Organização: Luana Pereira Lima, 2017.

Estende-se desde a margem direita do Rio São Francisco até a convergência entre os
munícipios de Japoatã, Japaratuba e Pirambu. Possui uma área de 183,5 km² delimitada pelas
coordenadas 10º 26’ 20” e 10º 32’ 14” de latitude Sul e 36º 34’ 21” e 36º 49’ 07” de longitude
Oeste. O acesso à área de estudo se dá através da ponte sobre o rio Sergipe, que interliga
Aracaju, capital do Estado, à Barra dos Coqueiros e, consequentemente, aos outros municípios

40
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

do litoral norte a partir da rodovia estadual SE-100 que atravessa os municípios costeiros num
curso paralelo à linha de costa.
A planície fluviolagunar do rio Betume possui áreas associadas a duas Unidades de
Conservação: a Reserva Biológica de Santa Isabel, que fica adjacente à planície e a Área de
Proteção Ambiental do Litoral Norte, que abrange a porção sudoeste da planície (figura 02).

Figura 02: Unidades de Conservação na planície fluviolagunar e adjacências

Fonte: CPRM 2003; Atlas SRH, 2014. Organização: Luana Pereira Lima, 2017.

A Unidade de Conservação Reserva Biológica (REBIO) de Santa Isabel foi criada em


outubro de 1988 pelo Decreto Nº 96.999 com o objetivo de proteger a fauna local,
especialmente as Tartarugas Marinhas que encontram nesse ambiente a sua principal área de
reprodução. Abrange terrenos de praias, dunas, rios e manguezais, em Pirambu e Pacatuba.
No ato de criação, a REBIO Santa Isabel possuía uma área de 2.766 hectares e 45 km
de praias e dunas. Em 2010 a área foi retificada por ser constatado que a área protegida deveria
ser maior que a área de sua definição, passando então a abranger 5.547,42 hectares. Apesar da
reserva ser da categoria de proteção integral, usos são observados como cocoicultura, viveiros
de peixe e camarão e pastagens (BRAGHINI e VILAR, 2014).
A Área de Proteção Ambiental (APA) Litoral Norte foi criada em novembro de 2004
como categoria de uso sustentável. Abrange os municípios de Pirambu, Japoatã, Pacatuba, Ilha
das Flores e Brejo Grande, em uma área de 41.312,25 hectares. Tem por objetivo “a utilização

41
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

do respectivo ambiente de maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais renováveis


e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecológicos, de
forma social e economicamente viável” (SERGIPE, 2004, p. 01).
No entanto, desde sua criação, a APA do Litoral Norte não foi regulamentada e nem
possui plano de manejo. Problemas de degradação ambiental são recorrentes devido às
transformações na paisagem – construção de rodovias, estradas, implantação de pastagens,
carcinicultura, mineração e práticas agrícolas inadequadas, entre outros – sem a preocupação
com a sustentabilidade preconizada em seu ato de criação (CORREIA, 2016).

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Os dados obtidos em fontes primária (trabalhos de campo) e secundária (levantamento
cartográfico e bibliográfico) foram organizados a partir da metodologia Pressão-Estado-
Impacto-Resposta (PEIR). Essa metodologia foi proposta pela Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) e tem por base a causalidade das atividades humanas
sobre o ambiente, alterando a quantidade e a qualidade dos recursos naturais (SANTOS, 2004).
A metodologia estabelece uma forma clara e sistemática de organizar um conjunto de
indicadores, é ajustável a diferentes realidades e é importante por mostrar a ligação entre os
diversos elementos que compõem o sistema ambiental.
Indicadores foram elencados para cada componente da PEIR. Para a categoria
ESTADO, que diz respeito às condições ambientais e respondem à pergunta: o que está
acontecendo com o ambiente? foram listados indicadores referentes aos condicionantes
ambientais. Para a categoria PRESSÃO, que diz respeito às atividades causadoras de
modificações e impactos e respondem à pergunta: por que está acontecendo? foram listados
indicadores referentes aos tipos de uso e ocupação do solo. A categoria IMPACTOS revela as
consequências dessas atividades no ambiente, e a categoria RESPOSTA apresenta um conjunto
de ideias e ações voltadas para mitigação ou prevenção desses impactos.
Para cada indicador, de cada categoria, foram atribuídos pesos qualitativos (fraco,
moderado e forte) com o intuito de melhor visualizar suas ocorrências e a relação entre eles na
área de estudo (quadro 02). Os pesos foram estabelecidos a partir de critérios que estão
representados no quadro 01. É importante salientar que a escolha dos indicadores, dos critérios
e a atribuição dos pesos foram definidas de acordo com a realidade da área de estudo.

uadro 01: Critérios para atribuição de pesos às categorias de indicadores


CATEGORIA PESOS CRITÉRIOS PARA ATRIBUIÇÃO DOS PESOS
PRESSÃO Fraco Atividade antrópica que provoca incipiente modificação dos sistemas ambientais

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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Atividade antrópica que modifica os sistemas ambientais de forma ainda


Moderado
equilibrada
Forte Atividade antrópica que gera intensas modificações dos sistemas ambientais
Fraco Condicionante ambiental extremamente frágil às interferências antrópicas
ESTADO Moderado Condicionante ambiental frágil às interferências antrópicas
Forte Condicionante ambiental resistente às interferências antrópicas
Fraco Modificação antrópica com capacidade de degradação reversível
IMPACTO Moderado Modificação antrópica com capacidade de degradação relativamente reversível
Forte Modificação antrópica com capacidade de degradação dificilmente reversível
Fraco Ação para sustentabilidade ambiental que pode esperar respostas a longo prazo
RESPOSTA Moderado Ação para sustentabilidade ambiental que requer respostas a curto prazo
Forte Ação para sustentabilidade ambiental que necessita de respostas imediatas
Elaboração: Luana Pereira Lima, 2017.

Quadro 02: Indicadores da PEIR (Pressão/Estado/Impactos/Respostas)

ESTADO PRESSÃO
Litologia Povoados
Ocorrências minerais Sedes municipais
Feições morfológicas Agricultura – cocoicultura
Condições climáticas Agricultura – rizicultura
Tipos de solo Agricultura de subsistência
Cobertura Vegetal Pecuária
Hidrografia superficial Extrativismo vegetal
Aquífero Extrativismo mineral
Qualidade das águas superficiais Aquicultura (piscicultura/ carcinicultura)
Qualidade das águas subterrâneas Turismo
IMPACTOS RESPOSTAS
Destinação do esgoto Unidades de conservação
Redução da cobertura vegetal Plano de manejo
Uso de agroquímicos Aplicação da legislação ambiental
Produção de resíduos sólidos Recuperação da cobertura vegetal
Queimadas – técnica agrícola Projetos de educação ambiental
Impermeabilização do solo Tratamento de esgoto
Perda da biodiversidade Tratamentos dos resíduos agroquímicos
Destinação dos agroquímicos pós Monitoramento da qualidade das águas
produção Planos municipais de turismo
Elaboração: Luana Pereira Lima, 2017.

OCUPAÇÃO NA PLANÍCIE FLUVIOLAGUNAR


Quanto à ocupação na Planície Fluviolagunar do rio Betume, encontram-se assentadas
duas sedes municipais (Pacatuba1 e Ilha das Flores), dez povoados e oito assentamentos rurais
federais (quadro 03). De acordo com os dados disponibilizados pelo IBGE, na área de estudo
existem 41 setores censitários.

Quadro 03: Ocupação na Planície Fluviolagunar do Rio Betume


Sede Municipal Povoado / Município Assentamento Rural / Município
Pacatuba Porteira de Cima – Neópolis Santana dos Frades – Pacatuba

1
A sede de Pacatuba está parcialmente inserida na planície fluviolagunar, pois parte de seu território está assentado
nos Tabuleiros Costeiros.

43
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Ilha das Flores Fazendinha – Neópolis Cruiri – Pacatuba


Ilha da Gameleira – Neópolis Nossa Senhora Santana – Pacatuba
Cajuípe – Ilha das Flores Independência Nossa Senhora do Carmo – Pacatuba
Saúde – Neópolis Agroextrativista São Sebastião – Pirambu
Campinas – Pacatuba Boa vista – Pacatuba
Tigre – Pacatuba Santo Antônio do Betume – Neópolis
Junça – Pacatuba Água Vermelha – Neópolis
Badajós – Japaratuba
Alagamar – Pirambu
Fonte: Atlas SRH 2014 e Atlas do Litoral Sergipano, 2015. Organização: Luana Pereira Lima, 2015.

Dos 41 setores censitários, 31 são do tipo rural e 10 do tipo urbano. Em Ilha das Flores,
são 14 setores inseridos na área da planície fluviolagunar, seguido por Pacatuba com 12,
Neópolis com 6, Japoatã com 5, Japaratuba com 3 e Pirambu apenas com 1. A soma do número
de domicílios e habitantes nesses 41 setores é de 7.568 e 21.766, respectivamente. Contudo,
nem todos os setores estão inseridos completamente na área de estudo. A quantidade de
habitantes na planície fluviolagunar é de 13.682 habitantes. Este quantitativo está distribuído
de forma irregular ao longo da planície fluviolagunar (figura 03).

Figura 03: Ocupação antrópica na planície fluviolagunar associada ao rio Betume

Fonte: CPRM 2003; IBGE, 2010. Organização: Luana Pereira Lima, 2017.

As maiores concentrações estão nas sedes municipais de Pacatuba e Ilha das Flores e ao
longo destes respectivos municípios. Ilha das Flores soma o total de 7 606 habitantes, seguido
do município de Pacatuba com 3 267 habitantes, Neópolis com 2 036 habitantes, Japoatã com

44
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

512 habitantes, Japaratuba com 254 habitantes e Pirambu com apenas 7 habitantes que ocupam
a planície fluviolagunar.
A expansão da ocupação humana exerce pressão sobre o ambiente, gerando
modificações e degradação sobre a natureza. As principais transformações são a perda da
cobertura vegetal, impermeabilização e erosão do solo, obstrução, desvios e assoreamento de
corpos de água. Essas transformações alteram processos naturais como infiltração da água no
solo e o consequente abastecimento dos lençóis freáticos, amenização da temperatura pela
vegetação, proteção do solo pela cobertura vegetal e drenagem eficiente dos cursos de água.

USOS DO SOLO NA PLANÍCIE FLUVIOLAGUNAR


Os usos atribuídos à área da planície fluviolagunar e adjacências (figura 04) estão
associados às atividades econômicas como agricultura, pecuária, extrativismo, carcinicultura e
turismo. Entre as atividades agrícolas desenvolvidas destacam-se a produção de coco-da-baía,
milho e mandioca nas proximidades dos tabuleiros costeiros, bordejando a planície, e a
rizicultura, principalmente no baixo curso do rio Betume onde encontra-se instalado um
perímetro irrigado. A cocoicultura ocupa uma considerável área de uso e divide espaço com
lavouras temporárias de subsistência, principalmente feijão, mandioca, milho e arroz.
A rizicultura é desenvolvida na área do perímetro irrigado Betume. As atividades de
irrigação se iniciaram em 1978 e ocorre entre os municípios de Neópolis, Ilha das Flores e
Pacatuba, na região do baixo São Francisco, e baixo curso do rio Betume. São administradas,
atualmente, pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba
(CODEVASF) e contempla especificamente a agricultura familiar, com cerca de 450 pequenos
produtores (BRITTO et al. 2016).
As áreas de pastagens podem ser nativas (áreas destinadas ao pastoreio do gado, que
não foram formadas mediante o plantio, ainda que tenham recebido algum trato) ou plantadas
(áreas destinadas ao pastoreio, formadas mediante plantio). Esta atividade está presente, de
forma concentrada, na porção noroeste da planície fluviolagunar e, de forma pontual, no baixo
e médio cursos do rio Betume.

45
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Figura 04: Usos do solo na planície fluviolagunar e adjacências

Fonte: CPRM 2003; Atlas SRH, 2014. Organização: Luana Pereira Lima, 2017.

Segundo o último censo agropecuário (2017), o município de Pacatuba possui 1.481


estabelecimentos de pastagens com uma área de 8.519,94 hectares; o município de Japoatã
possui 1.114 estabelecimentos com 9.248,26 hectares; o município de Neópolis possui 624
estabelecimentos em uma área de 4.892,57 hectares e o município de Ilha das Flores possui 102
estabelecimentos com uma área de 621,45 hectares. Se comparadas à área total desses
municípios, as pastagens possuem considerável parcela do uso do solo.
As pastagens estão associadas a outras atividades como a cocoicultura e rizicultura
(principalmente nas entressafras). Nos períodos de seca, em que o nível das águas é mais baixo
e diminui a parcela de terras inundadas, a planície fluviolagunar serve como pasto natural para
a criação de gado (figura 05). O maior impacto desta atividade no ambiente é o desmatamento.
A pastagem é uma das atividades econômicas responsáveis pela diminuição da vegetação
nativa, principalmente nos municípios de Pacatuba e Neópolis (VIEIRA et al., 2014).

46
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Figura 05: Pastagem na planície fluviolagunar

Crédito: Luana Pereira Lima, 2016.

A aquicultura é uma nova orientação das atividades agrícolas que vem apresentando
crescimento na região. Estão presentes em antigos lotes de rizicultura e associadas a eles,
próximos aos cursos d’água e no entorno de manguezais. A piscicultura e a carcinicultura são
as principais categorias encontradas na área de estudo. Assim como as pastagens, têm
estimulado a subtração da cobertura vegetal.
A carcinicultura foi implantada na região por volta de 1998, com a introdução da espécie
exótica Litopenaeus vannamei (camarão branco do Pacífico). A carcinicultura está presente
principalmente no município de Pacatuba e a maioria dos tanques não possuem Licenciamento
Ambiental. Ocupa ilegalmente áreas de APPs, privatiza áreas públicas, desmata, limita o fluxo
de maré com a construção de tanques semifechados e barreiras e emite resíduos remanescentes
sem tratamento. Evidentemente, a atividade precisa de regulamentação e fiscalização (VIEIRA
et al., 2014; CORREIA, 2016).
Uma importante atividade extrativista na planície fluviolagunar é a extração da taboa
(Typha dominguensis) por comunidades artesãs. Os trabalhos artesanais são desenvolvidos por
mulheres que em sua maioria são dos povoados Junça e Tigre. A taboa, matéria-prima do
artesanato, é retirada dos pântanos e brejos pelas próprias artesãs que a transformam em cestos,
tapetes, bolsas e são comercializados localmente, no estado e até exportados (em pequena
escala) para outros países. É uma atividade culturalmente e economicamente importante para a

47
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

região, mas que tem gerado impactos (ainda pequenos) para o ambiente, pois a retirada é
acompanhada, muitas vezes, de queimadas.
Quanto à extração mineral, as atividades de exploração de petróleo e gás datam de 1969
quando foi descoberto pela Petrobrás o campo de Ponta dos Mangues com a perfuração do poço
1-PDM-1-SE e posteriormente, em 1971, do poço 1-TG-1-SE. Ambos integram a Estação
Tigre. O campo de Tigre está localizado na Bacia Sedimentar Sergipe, município de Pacatuba
e abrange uma área de 20,3 km². A estimativa para o volume de petróleo e gás natural do campo
Tigre é de 70 mil m³ e 3,63 mil m³, respectivamente.
O turismo também é uma nova orientação econômica dos municípios costeiros do
Litoral Norte. A pavimentação da rodovia SE-100 Norte tem influenciado na especulação
imobiliária e na possibilidade de exploração turística. Os programas elaborados para o
desenvolvimento do turismo, tanto pelo Governo Federal, através do Programa de
Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (PRODETUR/NE), quanto pelos governos estaduais
e municipais, têm incentivado a instalação de pousadas e hotéis, visando futuramente a
expansão do potencial turístico (ALVES, 2010).
Parte da área da planície fluviolagunar associada ao rio Betume é conhecida como
“Pantanal de Pacatuba” e tem sido um roteiro turístico cada vez mais desejado e divulgado.
Facilmente são encontrados sites de viagens falando sobre as belezas paisagísticas do local
(figura 06), dando dicas e ensinando como chegar e onde se hospedar. Os equipamentos de
infraestrutura para atender aos turistas ainda são de pequenas proporções, mas com perspectivas
de crescimento.

48
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Figura 06: Belezas cênicas do “Pantanal de Pacatuba”

Crédito: Luana Pereira Lima, 2016.

APLICAÇÃO DA METODOLOGIA: PRESSÃO-ESTADO-IMPACTO-RESPOSTA


Os indicadores de Estado e suas condições de ocorrência na área de estudo permitem
concluir que a planície fluviolagunar possui condicionantes ambientais com boa potencialidade
de recursos e acentuada fragilidade. Geologia e geomorfologia de formação recente e
inconsolidada; condições climáticas de temperatura estável, devido à pequena variabilidade
anual, e pluviosidade alta, com período marcado de ocorrência; solos em vias de formação e
consolidação; cobertura vegetal frágil a modificações antrópicas; hidrografia superficial e
subterrânea abundante com boas condições de armazenamento; e qualidade natural das águas
com potabilidade alta.
Os indicadores de Pressão, a partir das intensidades de modificação dos condicionantes
ambientais, podem agravar a fragilidade da planície fluviolagunar. As modificações causadas
por atividades antrópicas na planície fluviolagunar vêm ocorrendo de forma ainda equilibrada,
mas com a necessidade de orientação para não ultrapassar a capacidade de suporte do ambiente.
As sedes municipais e povoados pressionam o ambiente com a instalação de infraestruturas e
equipamentos urbanos; as atividades agrícolas pressionam com a diminuição da vegetação
nativa, uso e despejo de agroquímicos; as pastagens com o uso de áreas que deveriam ser de
cobertura vegetal original; as atividades extrativistas com a redução dos recursos naturais e sua
não substituição; a aquicultura com o desmatamento e despejo dos resíduos sem o devido

49
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

tratamento; e o turismo com a construção de infraestruturas e as visitações sem cuidados


ecológicos.
Os indicadores de impactos, a partir das consequências da pressão sobre o estado do
ambiente, imprimem uma preocupação com a manutenção do equilíbrio ambiental e a
sustentabilidade dos recursos naturais. De modo geral, todos os tipos de uso e ocupação
produzem impactos. Na planície fluviolagunar a intensidade desses impactos ainda não é alta,
mas precisam de ações mitigadoras, e em condições ideais, de extinção. Os principais impactos
são falta de unidade de tratamento para receber os resíduos das residências, de atividades
agrícolas e de aquicultura; uso de agrotóxicos na produção agrícola; queimadas para a extração
vegetal; e o desmatamento.
Os indicadores de respostas foram elencados a partir do que já está sendo feito e do que
precisa ser feito para minimizar os impactos causados pela pressão das atividades antrópicas ao
modificar o estado dos condicionantes ambientais. Unidades de conservação que necessitam de
plano de manejo; fiscalização e aplicação da legislação ambiental; recuperação de parte da
cobertura vegetal; projetos de educação ambiental; tratamento de esgotos e resíduos
agroquímicos antes de serem lançados nos corpos d’água; e planos municipais para as atividade
do turismo, são algumas das respostas que precisam ser dadas ou aperfeiçoadas, frente aos
impactos causados e a ameaça a manutenção da qualidade dos recursos naturais e a
sustentabilidade futura.
Na matriz PEIR é possível melhor visualizar a relação entre os indicadores de cada
categoria (figura 07).

50
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Figura 07: Matriz PEIR para a planície Fluviolagunar associada ao rio Betume.

Elaboração: Luana Pereira Lima, 2017.

A matriz possui quatro quadrantes de interceptação: quadrante 1 (Pressão x Estado),


quadrante 2 (Pressão x Impactos), quadrante 3 (Respostas x Estado) e quadrante 4 (Respostas
x Impactos). Cada quadrante traduz a relação entre os indicadores elencados para as duas
categorias (quadro 04).

51
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Quadro 04 – Relação entre os indicadores em cada quadrante de interceptação da matriz PEIR


Quadrantes RELAÇÃO ENTRE OS INDICADORES
Atividade antrópica que pressiona pouco o estado do condicionante ambiental
Fraco
relacionado
PRESSÃO
Atividade antrópica que pressiona com equilíbrio o estado do condicionante
X Moderado
ambiental relacionado
ESTADO
Atividade antrópica que pressiona muito o estado do condicionante ambiental
Forte
relacionado
PRESSÃO Fraco Atividade antrópica que pouco influencia no impacto identificado
X Moderado Atividade antrópica que influencia no impacto identificado
IMPACTO Forte Atividade antrópica que muito influencia no impacto identificado
Ação pouco eficiente para a manutenção da qualidade do condicionante
Fraco
ambiental relacionado
RESPOSTA
Ação eficiente para a manutenção da qualidade do condicionante ambiental
X Moderado
relacionado
ESTADO
Ação muito eficiente para a manutenção da qualidade do condicionante
Forte
ambiental relacionado
RESPOSTA Fraco Ação não realizada para diminuir o impacto identificado
X Moderado Ação realizada de forma insatisfatória para diminuir o impacto identificado
IMPACTO Forte Ação realizada de forma satisfatória para diminuir o impacto identificado
Elaboração: Luana Pereira Lima, 2017.

O quadrante 1 (Pressão x Estado) apresenta o quanto as atividades socioeconômicas


pressionam o estado dos condicionantes ambientais. Predominam as categorias forte e
moderada, principalmente com relação aos indicadores dos agrupamentos humanos (povoados
e sede municipais); da rizicultura; e da aquicultura, que pressionam de forma intensa os
condicionantes ambientais.
No quadrante 2 (Pressão x Impactos) é possível visualizar o quanto as atividades
socioeconômicas são causadoras de impactos. Predominam as categorias fraco e forte
(principalmente nos indicadores relacionados aos agrupamentos humanos, a rizicultura e a
aquicultura, que muito impactam o ambiente).
O quadrante 3 (Respostas x Estado) apresenta o quanto as medidas que já vêm sendo
tomadas e as proposições de mitigação dos impactos podem contribuir para a manutenção da
qualidade dos condicionantes ambientais. Predomina a categoria forte, pois todos os
indicadores de respostas elencados podem contribuir para manter a qualidade do ambiente.
Por fim, no quadrante 4 (Respostas x Impactos) é possível visualizar o quanto as
respostas têm sido eficientes para a diminuição dos impactos. Predomina a categoria fraco, pois
a maioria dos indicadores de respostas não é realizado ou é de forma ineficiente.

52
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As paisagens representam as interações do homem com a natureza; é a visão de conjunto
dessas relações impressas no espaço. A forma como o homem atua sobre os componentes da
natureza e deles se apropria provoca impactos proporcionais à intensidade das modificações.
Nos ambientes costeiros essas modificações têm maior expressividade, dada à complexidade
inerente de sua dinâmica natural, fragilidade e os múltiplos interesses socioeconômicos.
A planície fluviolagunar possui uma geomorfologia desenvolvida em coberturas
sedimentares recentes, portanto ainda inconsolidadas ou pouco consolidadas, o que confere
fragilidade e capacidade de suporte limitada às ocupações e atividades humanas. A área de
estudo possui potencialidades ambientais significativas advindas da sua estrutura. Mais de 90%
da sua extensão situa-se sobre um domínio hidrogeológico granular formando um aquífero do
tipo poroso com potencial médio a alto. Nos depósitos fluviolagunares desenvolveu-se o
“Pantanal de Pacatuba”, que abriga uma fauna e flora peculiar no estado de Sergipe. É salutar,
então, a preocupação com o uso e ocupação do solo atual e futuro.
A ocupação humana não alcança grandes números e está distribuída de forma irregular.
As maiores concentrações estão nas duas sedes municipais assentadas e o restante se distribui
em pequenos núcleos (povoados e assentamentos rurais). Os usos predominantes são: pastagem,
cultivos agrícolas (cocoicultura, rizicultura e de subsistência), aquicultura (carcinicultura e
piscicultura), pesca, extrativismo vegetal e mineral. Além destes, há o interesse turístico
crescente principalmente para a área do “pantanal de Pacatuba”. Os usos e a ocupação têm
exercido pressão crescente sobre o ambiente, gerando impactos e modificando seu estado
natural e, tratando-se de uma estrutura frágil e com grande potencial ecológico, necessita de
respostas com ideias e ações voltadas para mitigação e/ou prevenção desses impactos.
Os resultados obtidos com a aplicação da metodologia Pressão-Estado-Impactos-
Respostas (PEIR) permitiram perceber que, de modo geral, o estado da paisagem tem sido
moderadamente modificado por atividades socioeconômicas que impactam ainda de forma
equilibrada, e que as respostas podem ser eficazes, se consideradas.

REFERÊNCIAS
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Litoral Norte do estado de Sergipe: diagnóstico como subsídio ao ordenamento e gestão
do território. Tese (Doutorado em Geografia) – NPGEO, UFS. São Cristóvão, 2010.

BRAGHINI, C. R.; VILAR, J. W. C. Gestão de Conflitos Ambientais em Unidades de


Conservação no Litoral Sergipano. In: VILAR, J. W. C.; VIEIRA, L. V. L. (org.). Conflitos
Ambientais em Sergipe. Aracaju: IFS, 2014. p. 83-107.

53
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

BRITTO, F. B.; SILVA, T. M. M.; VASCO, A. N.; AGUIAR NETTO. A. O. Impactos da


Produção do Arroz Inundado da Qualidade da Água do rio Betume, Sergipe. Revista
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CORREIA, A. L. F. Interações Socioambientais da Planície Costeira associada à Foz do


rio São Francisco - Município de Pacatuba-Se. Dissertação (Mestrado em Geografia) –
PPGEO, UFS. São Cristóvão, 2016.

DANTAS, E. W. C. Maritimidade nos Trópicos: por uma geografia do litoral. Fortaleza:


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SERGIPE (Estado). Decreto nº 22.995, de 09 de novembro de 2004. Declara como Área de


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VIEIRA, L. V. L.; ALMEIDA, M. G.; VILAR, J. W. C. Conflitos Ambientais no Litoral


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VILAR, J. W. C.; SANTOS, M. A. N. As áreas litorâneas de Sergipe (Brasil): da análise


geográfica à gestão integrada do território. Revista Geográfica de América Central.
Número especial EGAL, 2011 - Costa Rica II Semestre 2011, pp. 1-19.

54
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

ORDENAMENTO TERRITORIAL-AMBIENTAL NA BACIA COSTEIRA


CAUEIRA/ABAÍS – SERGIPE

ENVIRONMENTAL TERRITORIAL PLANNING OF THE COASTAL BASIN


CAUEIRA / ABAÍS – SERGIPE

LA PLANIFICACIÓN AMBIENTAL EN LA CUENCA COSTERA CAUEIRA/ABAIS


– SERGIPE

Heleno dos Santos Macedo


Doutorando em Geografia (PPGEO/UFS) e Membro do Grupo de Pesquisa Dinâmica
Ambiental e Geomorfologia (DAGEO/UFS) - helenosamac@bol.com.br
Hélio Mário de Araújo
Professor Titular do Departamento de Geografia (UFS) e Líder do Grupo de Pesquisa
Dinâmica Ambiental e Geomorfologia (DAGEO/UFS) - heliomarioaraujo@yahoo.com.br
Luana Pereira Lima
Doutoranda em Geografia (PPGEO/UFS) e Membro do Grupo de Pesquisa Dinâmica
Ambiental e Geomorfologia (DAGEO/UFS) - lua.luana.lima@hotmail.com

RESUMO
A sociedade no decorrer do processo de evolução desenvolve uma relação com o relevo pautada
no seu uso e intervenção. As formas do relevo se inserem como um importante recurso, porém,
sofrem de maneira direta as determinações que a sociedade capitalista confere. A partir de
procedimentos metodológicos como revisão da literatura, levantamento de dados secundários,
trabalho de campo, análise e tabulação dos dados coletados ao longo da pesquisa, o presente
trabalho tem como objetivo elaborar uma proposta de zoneamento ambiental para a bacia
costeira Caueira/Abais a partir dos conhecimentos sobre a natureza e a estrutura dos
Geossistemas presentes na área em questão. Foram definidas as seguintes zonas: Zonas de
Áreas de Proteção Ecológica (ZAPE); Zonas Restritas ao Uso Agrário (ZRUA); Zonas de Áreas
de Preservação Severa (ZAPS); Zonas de Interesse Turismo/Residência (ZITR) e as Zonas de
Áreas de Exploração Mineral (ZAEM). Foi possível verificar que há zonas que não comportam
um determinado tipo de uso devido a sua fragilidade e condição ambiental; outras, mesmo tendo
condições para uso, deverão ter certo cuidado em seu manejo e exigem técnicas apropriadas
para o seu uso, pois, se for ocupada de forma inadequada, poderá acarretar em graves riscos aos
sistemas ambientais da bacia.

Palavras-chave: Bacia costeira; Zoneamento Ambiental; Geossistemas.

ABSTRACT
The society in the course of its evolution develops a relationship with the relief based on its use
and in his speech. The relief an important resource, however, suffers from direct way the
determinations that the capitalist society gives. From methodological procedures as a review of
the literature survey of secondary data, field work and analysis and tabulation of data collected
during the survey, the present work has as its main objective to elaborate a proposal for
environmental zoning for the coastal basin Caueira/Abaís of knowledge about the nature and
structure of Geossistemas present in the area in question. Areas of Ecological Protection Areas
(ZAPE); the Agrarian Use Restricted Areas (ZRUA); areas of Severe Preservation Areas
(ZAPS); areas of interest Tourism/residence (ZITR) and areas of areas of Mineral Exploration
(ZAEM). It was possible to verify that there are areas that do not contain a certain type of use

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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

due to its fragility and environmental condition and that others, even having conditions for use,
should take some care in their management and require appropriate techniques for your use,
should take some care in their management and require appropriate techniques for its use, as
appropriate, if improperly, could result in serious risks to environmental systems of the basin.

Keywords: Coastal basin; Environmental Zoning; Geossistemas.

RESUMEN
La sociedad durante el proceso de la evolución desarrolla una relación con la desgravación
sobre la base de su uso y de intervención. Formas de alivio de la caída como un recurso
importante, sin embargo, sufren de manera directa las determinaciones que la sociedad
capitalista comprovar. A partir de procedimientos metodológicos como una revisión de la
literatura encuesta de datos secundarios, el trabajo de campo, tabulación y análisis de los datos
recolectados durante el estudio, el presente trabajo pretende elaborar una propuesta de
zonificación ambiental de la cuenca costera Caueira/Abaís libro de conocimientos sobre la
naturaleza y estructura de Geossistemas presente en la zona en cuestión. Se definieron las
siguientes áreas: Áreas de Zonas de Protección Ecológica (ZAPE); el uso agrario en zonas
restringidas (ZRUA); áreas de áreas de preservación severa (pulsos); áreas de interés
Turismo/residencia (ZITR) y zonas de áreas de exploración minera (ZAEM). Se pudo
comprobar que hay zonas que no contienen un determinado tipo de uso debido a su fragilidad
y condiciones ambientales; otros, incluso con las condiciones de uso, debe tener cierto cuidado
en su manejo y requieren técnicas apropiadas para su utilización, ya que si éste está ocupado
indebidamente, podría provocar graves riesgos para los sistemas ambientales de la cuenca.

Palabras-clave: Cuenca costera; zonificación ambiental; Geossistemas.

INTRODUÇÃO
A sociedade no decorrer do seu processo de evolução desenvolve uma relação com o
relevo pautada no uso e na intervenção deste, e de maneira a extrair recursos ou serviços que
tais formas poderiam oferecer (SOUZA, 2013). Esta forma de relação, segundo Schutzer
(2012), tem variado de acordo com o nível técnico que cada sociedade conseguiu atingir e
também com seus sistemas produtivos no decorrer do tempo.
Em todo este contexto de apropriação das bases naturais, as formas do relevo se inserem
como um importante recurso que sofre de maneira mais direta com as determinações que a
sociedade capitalista confere. O relevo é utilizado para abrigo, moradia, locomoção em uma
dinâmica de uso de objetos e recursos naturais que provocam ao final, alterações nos processos
que são responsáveis pela elaboração e reprodução desses objetos.
Na concepção de Ross (2006) as formas de relevo podem ser facilitadoras ou
dificultadores da ocupação humana em uma determinada porção de território e de seus
respectivos arranjos espaciais. Do mesmo modo, o traçado de rodovias e ferrovias; o
estabelecimento de empreendimentos imobiliários ou industriais e, até mesmo a definição de
atividades agrícolas, passa diretamente pelo uso e a consequente intervenção nos modelados do

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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

relevo para atender a um determinado fim e até na elaboração de propostas conservacionistas


para bens de interesse ambiental. Assim, para Ab’ Saber,
(...) é indispensável ressaltar que as nações herdaram fatias – maiores ou
menores – daqueles mesmos conjuntos paisagísticos de longa e complicada
elaboração fisiográfica e ecológica. Mais do que simples espaços territoriais,
os povos herdaram paisagens e ecologias, pelas quais certamente são
responsáveis, ou deveriam ser responsáveis (...). Para tanto, há de se conhecer
melhor as limitações de uso específicas de cada tipo de espaço e de paisagem
(2003, p. 10).

Neste sentido, considerando a compreensão do exposto, optou-se, para a definição das


unidades Geossistêmicas da bacia costeira Caueira/Abaís, em utilizar o critério
geomorfológico, já que o relevo, permite sua fácil identificação na paisagem e, como objeto de
estudo, a descrição das formas e dos processos, associados às características litológicas,
pedológicas, cobertura vegetal e uso e ocupação do solo (quadro 01).

Quadro 01: Caracterização das Unidades Geossistêmicas


GEOSSISTEMA PLANÍCIE COSTEIRA
Geofácies Litoestratigrafia/ Solo Uso e Dinâmica Intensidade
Hidrologia Ocupação da Natural de uso
Terra
Terraços Depósitos Neossolos Vegetação Sedimentaçã Forte
Marinhos Marinhos Quartzarênico de Restinga; o, fluxo antropização
Continentais; s Campos de hídrico,
Sedimentos Hidromórficos; Várzea; acumulação
inconsolidados; Espodossolos Agricultura; de matéria
Areia/ Humilúvicos Ocupação orgânica e
Sedimentos Hidromórficos. urbana abrasão
eólicos; Aquífero marinha
granular
Planície Depósitos Neossolos Vegetação Sedimentaçã Forte
Fluviomarinh Marinhos Quartzarênico de Restinga; o, fluxo antropização
a Continentais; s Campos de hídrico,
Sedimentos Hidromórficos; Várzea; acumulação
inconsolidados; Planossolos Agricultura; de matéria
Areia/ Háplicos Ocupação orgânica e
Sedimentos Eutróficos; urbana abrasão
eólicos; Aquífero Espodossolos marinha
granular Humilúvicos
Hidromórficos
Planície Depósitos Neossolos Campos de Sedimentaçã Média
Fluviolaguna Marinhos Quartzarênico Várzea / o, fluxo antropização
r Continentais; s Brejos; hídrico,
Sedimentos Hidromórficos; Agricultura; acumulação
inconsolidados; Espodossolos Aquicultura de matéria
Areia/ Humilúvicos orgânica e
Hidromórficos abrasão
marinha

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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Sedimentos
eólicos; Aquífero
granular
Dunas Depósitos Neossolos Vegetação Sedimentaçã Forte
Litorâneas Marinhos Quartzarênico de Restinga; o, fluxo antropização
Continentais; s Campos de hídrico,
Areia/ Hidromórficos; Várzea; acumulação
Sedimentos Espodossolos Agricultura; de matéria
eólicos; Humilúvicos ocupação orgânica e
Sedimentos Hidromórficos urbana abrasão
inconsolidados; marinha
Aquífero granular

Dunas Depósitos Neossolos Campos de Dissecada Média


Continentais Marinhos Quartzarênico Várzea / pela ação antropização
Continentais; s Brejos; erosiva
Sedimentos Hidromórficos; Agricultura fluvial e
inconsolidados; Espodossolos transporte
Areia/ Humilúvicos sedimentar
Sedimentos Hidromórficos
eólicos; Aquífero
granular
GEOSSISTEMA TABULEIROS COSTEIROS
Superfície Grupo Barreiras; Argissolos Floresta Dissecada Forte
Dissecada Sedimentos Vermelho Ombrófila; pela suscetibilida
Em Colinas Clásticos; Argilito; Amarelo; Agricultura; lixiviação do de à erosão
conglomerático/a Planossolos Exploração solo em
renoso; Aquífero Háplicos Mineral (fluvial e decorrência
granular Eutróficos; pluvial) e do mau uso
Distróficos transporte do
de solo
sedimentos
Elaboração: Heleno dos Santos Macedo, 2013.

INICIATIVAS DE ORDENAMENTO TERRITORIAL-AMBIENTAL NO LITORAL


SUL DE SERGIPE
A bacia costeira Caueira/Abaís integra uma área de grande relevância para o Estado de
Sergipe, o Litoral Sul, com uma variedade de ecossistemas, atividades econômicas e uma
paisagem de beleza cênica, porém, de grande fragilidade. Essas características despertam a
preocupação com a sua manutenção, para que haja um equilíbrio da relação sociedade/ natureza.
Diante disso, várias propostas de ordenamento territorial-ambiental foram elaboradas,
visando estabelecer parâmetros para o uso e ocupação do solo, nas terras pertencentes ao litoral sul do
estado. Cinco municípios integram o litoral sul: São Cristovão, Itaporanga d’ Ajuda, Estância, Santa
Luzia do Itanhy e Indiaroba. A bacia costeira está associada apenas as terras dos municípios de
Itaporanga d’Ajuda e de Estância.

58
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Essas propostas de ordenamento territorial-ambiental na costa sergipana começaram a surgir, a


partir da década de 1980, com a criação do GERCO/SE (Gerenciamento Costeiro em Sergipe), fruto do
Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC) que foi estabelecido a partir das ações da Política
Nacional para Recursos do Mar (PNRM) criados na década de 1970 pelo regime militar (VILAR e
ARAÚJO, 2010).
O PNGC foi instituído oficialmente no final da década de 1980, por intermédio da Lei
nº 7.661 de 16 de maio de 1988, cuja finalidade básica era “orientar a utilização racional dos
recursos da zona costeira, de forma a contribuir para elevar a qualidade de vida da população
(...) seu patrimônio natural, histórico, étnico e cultural” (VILAR e ARAÚJO, 2010).
Para Wanderley (1998) o PNGC, “se constituiu num dos mais importantes segmentos
técnicos-administrativos para a geração de informação e de conhecimento sobre a zona costeira e talvez
a mais completa das propostas institucionais de gestão do território em bases ambientais sustentadas”
(WANDERLEY, 1998, p. 55).
Inicialmente em Sergipe, coube a SEPLANTEC (atual Secretaria de Estado do
Planejamento, Orçamento e Gestão – SEPLAG) a execução do gerenciamento costeiro em
Sergipe, iniciada em 1989 (VILAR e ARAÚJO, 2010). Segundo os autores supracitados,
dialogando com a GEO CONSULTORIA (2001) é observado claramente uma tentativa de
disciplinar o uso e a ocupação de um espaço bastante vulnerável à ação humana.
Segundo Vilar e Araújo (2010, p. 23 e 24) os objetivos do GERCO/SE eram:
diagnosticar as potencialidades socioeconômicas e dos recursos naturais da zona costeira;
identificar as limitações naturais e as restrições legais ao uso do território, e os conflitos de usos
que já se manifestavam e causavam a diminuição da qualidade de vida da população que ali
reside; promover a participação da comunidade representada pelos dirigentes municipais,
estaduais e federais, setores privados e organizações não-governamentais na definição das
alternativas de uso do solo, do aproveitamento dos recursos naturais e do desenvolvimento da
indústria, do turismo e da agricultura, conforme os princípios do desenvolvimento ambiental
sustentável; participar da gestão ambiental oferecendo aos órgãos do meio ambiente e às
prefeituras municipais da zona costeira, o mapa de uso futuro que será utilizado pelo poder
público estadual na elaboração das leis de uso do solo e meio ambiente do litoral de Sergipe;
cooperar com a SEMA2, ADEMA e as prefeituras municipais no licenciamento de
empreendimentos a serem instalados na zona costeira, tais como indústrias, hotéis, loteamentos,
conjuntos habitacionais, obras turísticas e de lazer, avicultura e piscicultura, infraestrutura

2
Antiga Secretária de Meio Ambiente

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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

rodoviária e hidroviária, e tantos outros potencialmente causadores de impacto sobre os


recursos naturais e sobre o modo de vida das populações residentes.
A princípio esse modelo de gerenciamento visava apenas ao macrozoneamento, não
cabendo a SEPLANTEC, desenvolver atividades de gestão e monitoramento, cujas atribuições
pertenceriam a ADEMA (VILAR e ARAÚJO, 2010).
Na década de 1990, os setores responsáveis pela execução do GERCO/SE, segundo
Vilar e Araújo (2010), estavam sucateados e o foco principal que antes era o Litoral Norte,
passou a ser o Litoral Sul em convênios estabelecidos entre 1994 e 1995. Essa mudança marcou
uma nova fase no gerenciamento costeiro, inclusive com uma metodologia mais consolidada.
Em 21 de janeiro de 1993, um importante passo foi dado no tocante à proteção/mitigação
da ação antrópica no Litoral Sul, por meio do Decreto nº 13.468 que instituiu a APA Litoral
Sul, com aproximadamente 49 mil hectares do tipo uso sustentável, limitada ao norte pelo rio
Vaza-Barris, a oeste pelo Oceano Atlântico, e ao sul pelo rio Real (SEMARH, 2013).
Nessa mesma década, Vilar e Araújo (2010) afirmam que importantes documentos
foram criados, mostrando os esforços aplicados na tentativa de promover um gerenciamento
eficaz. Entre os documentos destacam: Ações do Governo Federal na zona costeira de Sergipe
(1994); Perfil dos Estados Costeiros do Brasil: Litoral de Sergipe (1995); Diagnóstico
Simplificado da Zona Costeira de Sergipe (1998), Gerenciamento Ambiental do Litoral de
Sergipe (1998), Plano de Gestão Integrada do Litoral de Sergipe (1998).
No início do século XXI, no ano de 2001, foi publicado a proposta de ZEE referente ao
Litoral Sul em convênio estabelecido entre a GEO CONSULTORIA e a
SEPLANTEC/GERCO, que apresentou, importantes pontos no qual se discute, a questão
metodológica do zoneamento, proposições teóricas quanto ao desenvolvimento sustentável e
Unidade de Conservação de uso Consultivo/APA além da elaboração de um acervo cartográfico
na escala de 1:100.000 (VILAR e ARAÚJO, 2010).
As ações mais recentes no tocante ao ordenamento e gestão das ações no Litoral Sul,
são focadas em quatro grandes grupos de políticas: o Turismo, cujo Programa mais
representativo é o PRODETUR II; o Projeto Orla, que foi criado para implementar uma política
nacional que harmonizasse e articulasse as práticas patrimoniais e ambientais com o
planejamento de uso e ocupação desse espaço que constitui a sustentação natural e econômica
da Zona Costeira; ações voltadas para os Recursos Hídricos, com a elaboração do Plano
Estadual de Recursos Hídricos de Sergipe além da sistematização das informações por meio de
um Atlas Digital e a Infraestrutura Viária.

60
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

PROPOSTA DE ZONEAMENTO AMBIENTAL PARA A BACIA COSTEIRA


CAUEIRA/ABAÍS
Nesta proposta de zoneamento geoambiental, recorre-se aos instrumentos legais de
âmbito federal e estadual (leis, decretos, normas técnicas e resoluções) para compreender os
pressupostos que regem determinados elementos e/ou características de ambientes naturais.
Um desses instrumentos foi o novo Código Florestal Brasileiro, Lei nº 12.651 de 2012, que
prevê que são áreas de preservação permanente (APP): faixas marginais de qualquer curso
d’água, desde a borda da calha do leito regular e faixas marginais de rios; áreas no entorno de
lagos, lagoas e de reservatórios artificiais; áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água
perenes, qualquer que seja a sua situação topográfica; encostas ou partes destas com declividade
superior a 45º, equivalente a 100% na linha de maior declive; as bordas de tabuleiros ou
chapadas, até a linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 metros em projeções
horizontais; topos de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de 100 metros e
inclinação medida maior que 25º; áreas de altitude superior a 1.800 metros, qualquer que seja
a vegetação; veredas - faixa marginal, em proteção horizontal, com largura mínima de 50
metros, a partir do limite do espaço brejoso e encharcado; quaisquer áreas desde que declaradas
de interesse público por ato do Chefe do Poder Executivo.
Diante disso, verifica-se que há zonas que não comportam um determinado tipo de uso
devido a sua fragilidade e condição ambiental; outras, mesmo tendo condições para uso,
deverão ter certo cuidado em seu manejo e exigem técnicas apropriadas de cultivo ou os usos
podem trazer algum risco aos sistemas ambientais da bacia.
Assim, foram definidas cinco zonas (figura 01): Zonas de Áreas de Proteção Ecológica
(ZAPE); Zonas Restritas ao Uso Agrário (ZRUA); Zonas de Áreas de Preservação Severa
(ZAPS); Zonas de Interesse Turismo/Residência (ZITR) e as Zonas de Áreas de Exploração
Mineral (ZAEM).

61
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Figura 01: Bacia Costeira Caueira/Abais – Zoneamento Ambiental.

Organização: Heleno dos Santos Macedo; Hélio Mário de Araújo, 2014.

ZONAS DE ÁREAS DE PROTEÇÃO ECOLÓGICA (ZAPE)


Representa a maior zona da bacia costeira. Isso, devido às características físico-
ambientais de tal unidade da paisagem. Essa zona está inserida nos geossistemas Planície
Costeira e Tabuleiros Costeiros, e nas geofácies Planície Fluviomarinha, Planície
Fluviolagunar, nos Terraços Marinhos, Dunas Continentais e Superfícies Dissecadas em
Colina.
Localizam-se em áreas de nascentes que estão dispostas linearmente às margens do rio
Água Doce, bem como outros riachos que compõem a rede de drenagem da bacia; complexo
lagunar, campos de dunas continentais, campos de várzea, e áreas de mangue (figuras 02).

62
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Figura 02 (A – Planície Fluviomarinha; B – Laguna na borda das paleodunas pleistocênicas; C – Tabuleiros


costeiros e D –Médio curso do rio Água Doce): Ambientes presentes na ZAPE no alto e médio curso da bacia.

A B

C D

Créditos: Heleno dos Santos Macedo, 2013.

Esses ambientes apresentam, ainda, certo grau de preservação em relação a suas


condições primitivas, porém, a expansão da infraestrutura para práticas de atividades
econômicas, coloca em risco tais sistemas ambientais.
O uso do solo de maneira desordenada sobre a ZAPE pode afetar, entre outras coisas:
mananciais, que abastecem o rio Água Doce, e seus riachos; complexos lagunares, pelo uso da
piscicultura; os topos dos tabuleiros, pela retirada de vegetação; as dunas e aterros pela
construção de residências, ou outros empreendimentos; os manguezais, pela prática da
carcinicultura, entre outros.
Para tal Zona, são sugeridas, algumas diretrizes gerais para o seu uso e ocupação,
visando sua proteção (quadro 02).

63
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Quadro 02 - Diretrizes de uso para ZAPE.


DIRETRIZES GERAIS
AÇÕES ADEQUADAS PARA O USO
Admitidas Proibidas
Fiscalização mais rigorosa, para
Pesquisas científicas Uso agrícola e pecuário
cumprimento das legislações existentes.
Ocupação urbana
Coleta de espécies vegetais para Incentivos a pesquisas científicas das
(loteamento e novas
uso medicinal espécies da área
construções)
Replantio de espécies da flora e
Atividade de extração Apoio a projetos de reflorestamento das
a reintrodução de espécies da
mineral áreas desmatadas
fauna
Reflorestamento das matas ciliares ao longo
Preservação das nascentes Alteração da drenagem
dos percursos dos corpos d’água
Preservação da vegetação de
Introdução ou criação de Implementação de projetos de conservação e
restinga, mangue, e mata
espécies exóticas preservação
secundária
Incentivo a coleta seletiva, e campanhas de
Despejo de resíduos
Coleta diária de resíduos sólidos conscientização sobre o descarte de resíduos
sólidos
sólidos.
Ordenamento e verificação da capacidade
Atividades turísticas
dos geossistemas de tal Zona
Elaboração: Heleno dos Santos Macedo, 2013.

ZONAS RESTRITAS AO USO AGRÁRIO (ZRUA)


São áreas que possuem algum tipo de restrição ao uso agrícola ou pecuário, devido por
exemplo, as características pedológicas e susceptibilidade a erosão, e, por isto, devem possuir
formas de utilização que não agridam diretamente as suas características físicas, como a
mecanização de cultivos, a não rotação de culturas e o excesso hídrico, sendo então preciso um
manejo adequado.
Essa Zona na bacia corresponde às porções onde atualmente algumas práticas agrícolas
são desenvolvidas, principalmente, a cultura do coco-da-baía, e de áreas destinadas à prática da
pastagem, que vem se proliferando nos geossistemas da bacia costeira (figuras 03 e 04).
Para essa Zona, são sugeridas, algumas diretrizes gerais para o seu uso e ocupação,
visando à sustentabilidade dessas práticas, com os demais sistemas ambientais presentes nessa
área (quadro 03).
Essas medidas em longo prazo permitirão o uso racional do solo na bacia costeira
Caueira/Abaís, não afetando os demais sistemas próximos de tais práticas.

64
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Figura 03: A criação de gado sobre a geofácies Figura 04: Prática da cocoicultura sobre a geofácies
Planície Fluviomarinha no médio curso da bacia. Planície Fluviomarinha no médio curso da bacia.

Créditos: Heleno dos Santos Macedo, 2013. Créditos: Heleno dos Santos Macedo, 2013.

Quadro 03: Diretrizes de uso para ZRUA.


DIRETRIZES GERAIS
Admitidas AÇÕES ADEQUADAS PARA O USO
Proibidas

Estudos detalhados sobre o estado de


Plantio de espécies nativas Uso agrícola em áreas
conservação do solo e dos de recursos hídricos e
da flora sujeitas a erosão
sua recuperação, se necessário.
Uso agrícola de baixa
Supressão de vegetação
intensidade de Reflorestamento vegetal nativo
nativa preexistente
mecanização
Queimada controlada pelos
Exposição do solo mesmo Adoção de práticas agrícolas menos impactantes
órgãos ambientais
que temporariamente e de baixa mecanização e intensidade
competentes
Criação ou introdução de Programas de apoio ao manejo adequado do solo
espécies exóticas a área e de práticas conservacionistas.
Retirada de espécies Estudo de espécies voltadas ao uso econômico e
nativas da fauna e da flora exploração comercial e popular.
Elaboração: Heleno dos Santos Macedo, 2014.

Essa Zona ocupa áreas do Geossistema Planície costeira, sobre a geofácies Terraços
Marinhos e trecho da geofácies Planície Fluviomarinha. São zonas que possuem restrição
quanto à exploração de recursos naturais e uso para implementação de infraestrutura, ou
qualquer tipo de ocupação antrópica, e que por isso, devem ser conservadas em sua integridade.
Abrigam ecossistemas com remanescentes da flora e fauna, campos de dunas (figura 05), áreas
próximas à linha de costa, enfim, ambientes que apresentam elevada fragilidade ambiental,
devido as suas características físicas.

65
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Figura 05: Campos de dunas na ZAPR.

Crédito: Heleno dos Santos Macedo, 2013.

Na bacia costeira Caueira/Abaís é comum encontrar várias atividades de lazer na ZAPR,


principalmente nos finais de semana, quando a população busca lazer nas praias da bacia, e
também, nas imediações próximas a foz do rio Água Doce (figura 06).

Figura 06: Banhistas na foz do rio Água Doce na praia do Abaís.

Crédito: Heleno dos Santos Macedo, 2013.

Constatou-se através dos trabalhos de campo, que essas práticas, acabam


comprometendo ecossistemas diretamente relacionados com tais ambientes, pois são
descartados resíduos sólidos ao longo das margens do rio, como também, sobre o ambiente
praial (figuras 07 e 08). Para essa Zona, são propostas as seguintes diretrizes de uso (quadro
04)

66
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Figura 07: Resíduo sólido na margem do rio. Figura 08: Resíduo sólido na praia.

Crédito: Heleno dos Santos Macedo, 2013. Crédito: Heleno dos Santos Macedo, 2013.

Quadro 04: Diretrizes de uso para ZAPS.

DIRETRIZES GERAIS AÇÕES ADEQUADAS PARA


Admitidas Proibidas O USO

Maior fiscalização e cumprimento


da legislação pelos órgãos das
Pesquisas científicas Uso agrícola e pecuário
esferas federais e estaduais e
também em âmbito municipal.
Extrativismo animal (pesca) com a Introdução ou criação de espécies Reintrodução de espécies nativas
fiscalização ADEMA da fauna e flora exóticas. aos ecossistemas da área.
Ação de recomposição de
Qualquer atividade de mineração
vegetação nativa
Atividade turística altamente
Planejamento e estudo adequado
impactante como o turismo de
da área para o uso turístico
massa.
Planejamento e estudo adequado
Construção de residências
da área para novas construções
Campanhas de conscientização
Descarte de resíduos sólidos junto aos frequentadores das
praias
Elaboração: Heleno dos Santos Macedo, 2014.

ZONAS DE ÁREAS DE EXPLORAÇÃO MINERAL (ZAEM)


Zona criada devido à presença de jazidas de exploração de argila sobre o Geossistema
Tabuleiros Costeiros. Essa atividade, causadora de impactos ambientais diretos nas áreas onde
se estabelecem, representa uma atividade econômica tradicional nas terras vinculadas à bacia
hidrográfica. As ações dessas mineradoras acabam acarretando consequências para os sistemas
ambientais presentes nesse Geossistemas (figura 09). No intuito de manter essas explorações,
mesmo sabendo dos impactos que podem causar, algumas diretrizes são sugeridas no quadro a
seguir (quadro 05).

67
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Figura 09: As atividades de exploração da argila na ZAEM no alto curso da bacia.

Crédito: Heleno dos Santos Macedo, 2013.

Quadro 05: Diretrizes de uso para ZAEM.


DIRETRIZES GERAIS AÇÕES ADEQUADAS PARA
Admitidas Proibidas O USO
Plantio de espécies nativas da flora Ocupação de APP’s Replantio de espécies nativas da
flora em jazidas desativadas
Pesquisas científicas Uso de técnicas de extração que Incentivar a pesquisa visando
aceleram os processos erosivos estabelecer medidas que reduzam
os impactos ambientais
Extração fiscalizada por equipes Exploração não adequada Qualificar a mão de obra que atua
qualificadas nas minas
Manutenção das áreas em torno da Recuperação/criação de novas
mina. APP’s no entorno das minas
Fiscalização da exploração mineral Fiscalização pelos órgãos
de jazidas clandestinas ambientais a nível municipal e
estadual, para coibir a exploração
clandestina
Elaboração: Heleno dos Santos Macedo, 2014.

ZONAS DE INTERESSE TURISMO/RESIDÊNCIA (ZITR)


São áreas destinas a ocupação para primeira e segunda residência. Essas áreas foram
criadas devido a sua existência sobre o espaço da bacia costeira e ao seu crescimento ao longo
das últimas décadas.
O processo de ocupação da linha de costa da bacia ocorreu de forma desordenada e
irregular, pois não houve a preocupação por parte da esfera pública municipal de elaborar um
projeto de urbanização que ordenasse a ocupação da planície costeira de forma que garantisse
a proteção das estruturas morfológicas do sistema praial, e que durante os períodos de mar mais
agitado impedisse a possível erosão das construções e da infraestrutura instalada sobre os
ambientes costeiros.

68
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Trata de uma Zona que ocupa o Geossistema Planície Costeira, sobre a geofácies
Terraços Marinhos e na porção centro sul da bacia, a geofácies planície fluviomarinha. Nessas
áreas encontram-se as praias de maior uso para a prática de veraneio. A constituição urbana é
formada por empreendimentos comerciais, diários e sazonais, que atendem preferencialmente
os turistas, que buscam nessas praias, práticas de lazer.
Parte da estrutura urbana é constituída por casas de veraneio, pousadas e pequenos
hotéis (figura 10). No trecho urbano, não há uma presença significante da população local,
ocupando tal infraestrutura. Para essa Zona, são propostas as diretrizes de usos apresentadas no
quadro 06.

Figura 10: Casas de veraneio, comércio, marcando a paisagem nessa Zona.

Crédito: Heleno dos Santos Macedo; Ivo Matias Campos; Manuela Maria Pereira do Nascimento, 2013.

69
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Quadro 06: Diretrizes de uso para ZITR.


DIRETRIZES GERAIS AÇÕES ADEQUADAS PARA
Admitidas Proibidas O USO
Recapiar ou calçar as vias já
existentes, e realizar uma
Construção de novas vias de
Reestruturação das vias de acesso manutenção constante, garantindo
acesso
acessibilidade dos moradores e
dos veranistas
Construção de galerias pra
Despejo de efluentes diretamente
Implementação de redes de efluentes atendendo as casas de
no solo, ou nas imediações das
esgotos primeira e segunda moradia, bem
praias
como, as atividades comerciais
A instalação de atividades
Implementação de novos turísticas, ou a construção de
Instalação de equipamentos empreendimentos sobre áreas de empreendimentos que não
turísticos sustentáveis dunas, ou avançando em direção degradem os sistemas ambientais
àlinha de costa presentes no entorno de tais
atividades
Criar um sistema de coleta diário,
acompanhado de campanhas de
Descarte de resíduos sólidos nos conscientização sobre a coleta
Coleta de resíduos sólidos
terrenos baldios. seletiva, ou, outras técnicas
adequadas para o destino final do
lixo.
Elaboração: Heleno dos Santos Macedo, 2014.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ausência de ordenamento territorial-ambiental no uso e ocupação do solo na área da
bacia Caueira/Abaís está acelerando os processos degradacionais das coberturas vegetais
remanescentes, que são berçários para diversos ecossistemas, além de servirem de proteção
natural contra os impactos erosivos sobre os solos.
Pouco mais de 20% da área da bacia possui alguma restrição no tocante a atividade
agrária e que estas acabam sendo o abrigo de culturas não rotativas e permanentes e sem grande
alcance ou orientação comercial. São cultivos familiares que usam a base dos tabuleiros
costeiros e alguns trechos das planícies fluviolagunar e fluviomarinha
As zonas destinadas a preservação permanente responderiam a 60% de toda a bacia, mas
na prática estão bem comprometidas pelo intenso uso agrário, e a expansão do turismo, com a
implementação de grandes obras de infraestruturas, o que ocasiona a supressão da vegetação
original e comprometimento das estruturas ambientais dessa zona. As unidades de conservação,
RPPN, reservas ecológicas e demais componentes da zona de conservação e uso indireto,
merecem ser ampliadas pois garantem a plena conservação de remanescentes vegetais em todos
os geossistemas e o resguardo dos recursos hídricos da bacia.
As áreas destinadas ao turismo e construção de residências na bacia respondem em torno
de 5%, bem como, a zona de uso de mineração, que só é encontrada no geossistema Tabuleiros
Costeiros, e representa também, 5% da área total da bacia.

70
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Logo com o intuito de evitar e/ou minimizar estas consequências negativas que
afetam/afetarão diretamente a bacia costeira Caueira/Abais, algumas medidas foram sugeridas
na proposta de zoneamento geoambiental.

REFERÊNCIAS
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São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.

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ambiental. São Paulo: Oficina de Textos, 2006.

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SEMARH. Atlas Digital 2011. Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de
Sergipe, Aracaju, 2011.

SEMARH. Elaboração do Plano Estadual de Recursos Hídricos de Sergipe. Secretaria de


Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos - Programa Nacional de Desenvolvimento
dos Recursos Hídricos - PROÁGUA Nacional, 2013.

SOUZA, J. C. O. Identificação de geossistemas e sua aplicação no estudo ambiental da


bacia hidrográfica do rio São Miguel – Alagoas. Universidade Federal de Pernambuco
(Dissertação de Mestrado), Recife, 2013.

VILAR, J.W.C; ARAÚJO, H.M. Iniciativas de Ordenamento Territorial do Litoral Sul de


Sergipe. In: VILAR, J.W.C.; ARAÚJO, H.M. (Org.). Território, Meio Ambiente e Turismo no
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WANDERLEY, L. de L. Litoral Sul de Sergipe: uma proposta de proteção ambiental e


desenvolvimento sustentável. Tese de Doutorado. Unesp/Rio Claro, 1998.

71
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

MAPEAMENTO DAS UNIDADES DE PAISAGEM DA PRAIA DO ABAÍS,


ESTÂNCIA/SE

MAPPING OF THE ABAÍS BEACH LANDSCAPE UNITS, ESTÂNCIA/SE

MAPEO DE LAS UNIDADES DE PAISAJE DE LA PLAYA DEL ABAIS,


ESTÂNCIA/SE

Rayane de Oliveira Silva


Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente - PRODEMA da
Universidade Federal de Sergipe/UFS, São Cristóvão/SE; rayane.triade@gmail.com
Daiany Santos Silva
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente -
PRODEMA/UFS; daiany_ufs@hotmail.com:
Daniela Pinheiro Bitencurti Ruiz-Esparza
Professora Doutora do PRODEMA/UFS; danibitencurti@yahoo.com.br

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -
Brasil (CAPES)

RESUMO
As zonas costeiras são caracterizadas pela fragilidade e riqueza do seu ecossistema, dotado de
paisagens naturais que atraem a atividade turística, gerando, em muitos casos, ocupações urbanas
nestas regiões. Este é o caso da Praia do Abaís, localizada no município de Estância, analisado por este
estudo, que tem passado por um processo de urbanização crescente, necessitando de políticas públicas
regulamentadoras ativas em prol da proteção ambiental articulada às necessidades sociais e
econômicas. Visando levantar dados específicos da localidade do Abaís, considerando suas
particularidades, o objetivo desse estudo é elaborar um mapeamento das unidades de paisagem
identificadas no Abaís, através de levantamento aerofotogramétrico feito com drone, que possibilita a
visualização em conjunto do meio ambiente natural em contraste ao meio ambiente artificial, além do
levantamento de dados quantitativos que norteiam análises dentro das esferas ambientais,
socioeconômicas e legislativas. Dentro dos resultados, considerando os dados quantitativos, a área
urbana aparece com destaque, porém, unidades de paisagem naturais como terraços marinhos, dunas e
lagoa, também se destacam, demonstrando que o Abaís ainda tem acervo ambiental a ser conservado.
Estes dados demonstram a emergência da realização de um ordenamento territorial efetivo e enfatizam
a necessidade de fiscalizações que façam a legislação atual valer .

Palavras-chave: Zonas costeiras; Meio Ambiente; Urbanização; Dunas.

ABSTRACT
Coastal areas are characterized by the fragility and richness of its ecosystem, endowed with natural
landscapes that attract tourist activity, generating, in many cases, urban occupations in these regions.
This is the Abaís beach case, located in Estância city, analyzed by this study, which has undergone a
increasing urbanization process, necessitating active public policies according
environmental protection articulated with social and economic needs. Aiming to
raise specific data of the Abaís beach locality, considering its particularities, the objective of
this study is to elaborate an landscape units mapping identified in the Abaís beach, through
aerophotogrammetric mapping made with drone, which enables the conjunction visualization of natural
environment in contrast to the artificial environment, in addition to the quantitative data
survey that guide analyses within the environmental, socioeconomic and legislative spheres.
Within the results, considering the quantitative data, the urban area appears prominently,
however, natural landscape units such as seaterraces, dunes and lagoon, also stand out, demonstrating
that the Abaís beach still has environmental acquis to be preserved. These data demonstrate the

72
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

effective territorial ordering emergence and emphasize the need for inspections
that make current legislation to be applied in practice.

Keywords: Coastal areas; Environment; Urbanization; Dunes.

RESUMEN
Las zonas costeras se caracterizan por la fragilidad y riqueza de su ecosistema, dotado de paisajes
naturales que atraen la actividad turística, generando, en muchos casos, ocupaciones urbanas en estas
regiones. Este es el caso de la playa de Abaís, ubicada en el municipio de Estancia, analizado por este
estudio, que ha experimentado un proceso de urbanización creciente, requiriendo políticas públicas
reguladoras activas en favor de la protección ambiental articulada a las necesidades sociales y
económicas. Buscando obtener datos específicos del mapeo de las unidades de paisaje identificadas en
el Abaís, el objetivo de este estudio es elaborar un mapeo de las unidades de paisaje identificadas en el
Abaís, a través de un levantamiento aerofotogramétrico hecho con drone, que posibilita la visualización
en conjunto del medio ambiente natural en contraste con el medio ambiente natural, medio ambiente
artificial, además del levantamiento de datos cuantitativos que orientan análisis dentro de las esferas
ambientales, socioeconómicas y legislativas. En los resultados, considerando los datos cuantitativos, el
área urbana aparece con destaque, sin embargo, unidades de paisaje naturales como terrazas marinas,
dunas y laguna, también se destacan, demostrando que el Abaís aún tiene acervo ambiental a ser
conservado. Estos datos demuestran la emergencia de la realización de un ordenamiento territorial
efectivo y enfatizan la necesidad de fiscalizaciones que hagan la legislación actual valer.

Palabras clave: Zonas costeras; Medio ambiente; Urbanización; Dunas.

1 INTRODUÇÃO

A zona costeira brasileira, considerada como patrimônio nacional pela Constituição


Federal, possui mais de 8,5 mil quilômetros de extensão, considerando suas reentrâncias.
Caracterizada pela riqueza e fragilidade do seu ecossistema, dotado de mangues, corais, dunas,
restingas, estuários e outros importantes ambientes, esta zona tem atributos peculiares, como
culturas e modos de vida específicos, e é alvo das atividades turísticas, configurando espaços
de grande relevância econômica, responsáveis por um processo de ocupação desordenada,
colocando em risco o acervo ambiental e cultural desta região. Dentro deste contexto, são
encontradas diversas hierarquias urbanas ao longo do litoral brasileiro, desde pequenas vilas e
bairros mais ruralizados até metrópoles multimilionárias (MORAES, 2007; FREITAS, 2011).

Este processo de ocupação litorânea se deu através da incorporação da praia na tessitura


urbana, com a inserção do ambiente praiano nos destinos turísticos, transformando as zonas
costeiras em mercadorias nobres, aspecto que tem gerado impactos socioambientais negativos
devido à intensificação da urbanização, sem o devido planejamento, nestes ambientes, estando
em inconformidade com a fragilidade ambiental e desconsiderando a capacidade de resiliência
dos mesmos (OLIVEIRA E LIMA, 2010).

O litoral sergipano, área de interesse deste estudo, vem recebendo uma série de
investimentos para a sua inserção no turismo internacional, porém, quando comparado a outros

73
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

estados que estão mais densamente ocupados, o turismo pode ser considerado pouco explorado,
fato que desperta o interesse de atores sociais, gerando “uma valorização do espaço litorâneo,
onde a especulação imobiliária, principalmente no litoral sul já é percebida” (SILVA E
SOUZA, 2011, p. 2).
O avanço do adensamento urbano nas praias do litoral sul, sem o devido planejamento,
preocupa por ocorrer sobre áreas que deveriam estar ambientalmente protegidas, em prol da
manutenção da dinâmica natural do ambiente costeiro, visando a preservação de unidades de
paisagem essenciais como dunas, praias, e encostas litorâneas ativas.
De acordo com Vilar e Araújo (2010), as políticas ambientais referentes ao Litoral Sul
de Sergipe podem ser caracterizadas como deficientes, devido à inefetividade de políticas
ambientais em seu sentido lato e à falta de instrumenos legais que atuem em esferas locais. Daí
parte-se a importância de estudos realizados em localidades específicas, visando aumentar o
leque de conhecimentos típicos de cada região, considerando suas particularidades, evitando
assim, a elaboração de megaprojetos que não são compatíveis com a estrutura e funcionamento
dos sistemas naturais da localidade.
Diante disso, esta pesquisa visa estudar de forma pontual a Praia do Abaís, localizada
no município de Estância, litoral sul do estado de Sergipe, e detentora de potencial ambiental ,
com a presença de praia, dunas e lagoa que são atrativos turísticos da região. Esta praia teve
seu processo de urbanização inicializado nos anos 80, aumentado nos anos 90 e ainda mais
intensificado nos anos 2000, devido a provenção de infraestrutura rodoviária evolutiva, desde
a abertura e pavimentação da rodovia SE-100 Sul até a construção das pontes Joel Silveira e
Gilberto Amado.
Esta urbanização, que vem se expandindo ao longo dos anos, é caracterizada pela forte
presença de segundas residências, a casa de praia tradicional, e de infraestrutura turística, com
a construção de bares, restaurantes, pousadas e orla (SANTOS, 2015). Parte destas construções
está inserida em Áreas de Preservação Permanente (APP), ocupando regiões de dunas, margens
de lagoas, praia e pós-praia, gerando modificações na paisagem natural, impactando
negativamente o meio ambiente e comprometendo a visibilidade, paisagem cênica e o acesso
livre à lagoa e à praia pela disposição das edificações.
Diante da necessidade de estudos locais que auxiliem o poder público estadual e
municipal nas tomadas de decisões, o objetivo principal desta pesquisa é elaborar um
mapeamento das unidades de paisagem identificadas na Praia do Abaís, através de um
levantamento aerofotogramétrico feito com drone para a obtenção de imagens atualizadas da
região, a fim de delimitar, da forma mais precisa possível, as áreas de relevância ambiental para

74
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

a dinâmica desta planície costeira. Este mapeamento permite a visualização das unidades em
conjunto, admitindo o levantamento de dados quantitativos que possibilitam a elaboração de
análises comparativas, podendo servir de base para posteriores estudos e auxiliar na gestão desta
área.
É importante ressaltar que já foram realizados estudos que abordam indiretamente a
Praia do Abaís, como no caso de Santos (2011) que trata do município costeiro de Estância e
Macedo (2014) que trata da Bacia Costeira Caueira/Abaís, ambos utilizados como referencial
teórico para este estudo. Contudo, a proposta desta pesquisa é trabalhar localmente, a fim de
demarcar as especificidades da praia do Abaís, para a melhor compreensão das suas
particularidades e modificações ao longo do tempo, já que de acordo com Vilar e Araújo (2010,
p. 27), o Litoral Sul de Sergipe possui um mosaico complexo de situações e “problemas de
natureza ambiental, social, fundiária e econômica são responsáveis pela homogeneidade da área
e ao mesmo tempo a heterogeneizam”.

2 METODOLOGIA

2.1 Delimitação e caracterização da área de estudo

A Praia do Abaís está situada no Litoral Sul de Sergipe e pertence ao município de


Estância (figura 1). Esta cidade se localiza a 68 km da capital Aracaju e a 257 km da capital
baiana, Salvador, ocupando uma extensão territorial de 644,487 km². De acordo com a
Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (2016), a Praia do Abaís faz
parte da Bacia Costeira Caueira/Abais criada pelo Plano Estadual de Recursos Hídricos (PERH)
com o objetivo de levantar importantes características ambientais da área, a fim de auxiliar nas
medidas de planejamento e gestão da região. Além disso, o Abaís está inserido na Área de
Preservação Ambiental (APA) do Litoral Sul, fazendo parte do grupo de Unidade de
Conservação de uso sustentável, na tentativa de encontrar um equilíbrio entre o uso humano e
a preservação dos ambientes naturais essenciais para a manutenção da dinâmica costeira.
Esta praia pode ser classificada, de acordo com as tipologias sugeridas por Moraes
(2007), como sendo de balneário em consolidação, caracterizada por terrenos à beira-mar não
totalmente ocupados, com baixa densidade de população fixa, ocupação de alta sazonalidade,
com a forte presença de segundas residências, existência de poucos equipamentos de turismo,
paisagem não antropizada completamente, ainda contando com a presença de vegetação e baixa
contaminação.

75
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Figura 1: Localização da Praia do Abaís.

Fonte: Luana Pereira Lima, 2017.

Outra pertinente classificação está associada ao Projeto Orla, que propõe algumas
tipologias gerais de orla relativas a características fisiográficas e aos níveis de ocupação e
adensamento populacional. Dentre estas, a orla da Praia do Abaís está enquadrada como sendo
do tipo exposta em processo de urbanização. Exposta por ser uma praia aberta, com
configuração mais retilínea, apresentando zona de arrebentação bem desenvolvida e forte
presença de dunas frontais, que ora aparecem com vegetação fixadora, ora descaracterizadas ou
completamente subtraídas para dar espaço ao adensamento urbano. E em processo de
urbanização por possuírem médio adensamento de construções, com indícios de instalações
recentes, forte presença de segundas residências, com um grande volume de população flutuante
e paisagens parcialmente antropizadas, com alguns remanescentes de atividades rurais e médio
potencial de poluição sanitária e estética.

2.2 Procedimentos metodológicos

Este trabalho representa um estudo de caso, possuindo natureza aplicada, caráter


exploratório, abordagem quali-quantitativa. Qualitativa porque conta com diversas análises
feitas através da observação, permitindo melhor compreensão do local e interpretações
condizentes com a realidade. E quantitativa porque são elaborados mapeamentos que permitem

76
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

a quantificação de dados para análise. Pode-se afirmar que as abordagens, qualitativa e


quantitativa, em conjunto configuram uma maneira mais eficaz para a obtenção dos resultados
desejáveis, por levantarem mais informações e considerarem as duas maneiras de coletar e
expandir informações (FONSECA, 2002).
Para a elaboração do mapeamento das unidades de paisagem da Praia do Abaís foram
utilizadas como base imagens elaboradas utilizando o método da aerofotogrametria com drone,
através de uma parceria com a empresa INVENTO GEOSOLUÇÕES, em agosto de 2018. O
método da aerofotogrametria com drone contou com três etapas:1) Planejamento de voo; 2)
Levantamento aéreo; 3) Processamento ou tratamento dos dados obtidos. Na primeira etapa,
utilizou-s software Mission Planner para alçar os planos de voo em campo, altitude (120m), a
velocidade (15m/s), seguindo as regulamentações da Agência Nacional de Aviação (ANAC), o
Ground Sample Distance (GSD) de 5 e 6 cm/pixel e taxas de sobreposição de 70% frontal e
80% lateral.
Na segunda etapa, foram realizados cinco voos autônomos, de, aproximadamente, 60
minutos cada, cobrindo cerca de 1.261,7206 hectares; os equipamentos utilizados para o voo
foram: Aeronave Remotamente Pilotada (RPA) do tipo asa fixa, modelo Aero-M, do fabricante
3DRobotics, com autonomia de voo de uma hora; GNSS embarcado Ublox (M8P) - L1/RTK;
câmera embarcada no RPA e do modelo Sony Ilce Qx1 com 20,1 MP, sensor CMOS (23,2 x
15,4mm) tipo APS-C.
A terceira etapa consistiu no georreferenciamento das imagens (geotag) utilizando o
software Mission Planner e no processamento digital das mesmas através do software suíço
Pix4D, gerando mosaicos ortorretificados e georreferenciados, nuvem de pontos e modelos
digitais de terreno, superfície e elevação.
Os resultados configuraram imagens no formato TIF que foram exportadas e
sobrepostas nas imagens do Google Earth Pro e posteriormente exportadas para o software
Autocad, no qual houve a elaboração de desenhos sobre as unidades identificadas visualmente
no mapeamento aerofotogramétrico, através do método de classificação supervisionada e
interpretação visual de imagens, reconhecendo os elementos através das cores, texturas, formas,
tamanhos e padrões (MOREIRA, 2011, apud RUIZ-ESPARZA, 2014). Assim, as unidades de
paisagem similares foram delimitadas em um mesmo layer, utilizando as mesmas cores,
visando o posterior isolamento de cada camada através do comando “layiso” para o cálculo da
área ocupada por cada unidade.
Dessa forma, as unidades de paisagem delimitadas nesse estudo correspondem ao
sentido sugerido por Diniz, Oliveira e Medeiros (2015) que consideram não só geofácies

77
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

naturais, mas também aqueles proporcionados pela ação humana que alterou o fácies da
paisagem, chegando-se a seguinte categorização: terraços com arbustos, dunas, terraços com
herbáceas, área urbana, lagoa, superfícies alagadiças, superfícies de deflação, paleodunas,
cocoicultura e faixa de areia.
Todas as unidades de paisagem delimitadas neste estudo seguiram as imagens do
levantamento aerofotogramétrico em consonância com o observado nas pesquisas de campo.
Dessa forma, os terraços marinhos mapeados foram subdivididos em “terraços com arbustos”
e “terraços com herbáceas”. Os primeiros se referem aqueles identificados nas pesquisas de
campo e nas imagens aéreas com grande concentração de árvores frondosas, destacando as
copas aproximadas em um tom de verde mais escuro; já os segundos se referem aos terraços
sem cobertura vegetal de grande porte, com maior presença de vegetações rasteiras
apresentando uma coloração de verde mais claro nas imagens aéreas. As dunas foram de fácil
identificação visual pela sua coloração esbranquiçada e continuidade de seus campos,
aparecendo ora livres, ora cobertas por vegetação.
A área urbana está marcada sobre as construções existentes na planície, identificadas
visualmente de maneira evidente pela coloração das coberturas das construções. A Lagoa Azul
apresentou delineado evidente num tom de azul escuro que contrastava com suas margens,
tendo a continuidade do seu posicionamento como um ponto-chave para a demarcação das suas
áreas de concentração. As superfícies alagadiças foram identificadas visualmente ao longo dos
terraços, onde apareciam em continuidade e com coloração mais escura (marrom) e textura
diferenciada, se destacando do entorno.
As superfícies de deflação foram delimitadas nas áreas entre dunas, aparecendo como
áreas planas com vegetação rasteira, tendo tons de verde claro e marrom. As paleodunas, que
também podem ser chamadas de dunas continentais, foram identificadas com o auxílio do mapa
geológico do Estado de Sergipe para comprovação da localização desta unidade, sendo
demarcadas na orientação oeste da lagoa, apresentando relevos mais elevados em relação aos
terraços, possuindo coloração esbranquiçada e aparecendo majoritariamente cobertas por
vegetações. A cocoicultura foi de fácil identificação visual, levando em consideração as formas
diferenciadas dos coqueiros vistos de cima em concentração, destoando das demais unidades.
A faixa de areia está demarcando o pós-praia, identificado visualmente através da diferença de
cores da areia, que aparece encharcada, com cor mais forte em contraste com a areia seca, onde
o mar não alcança, de coloração mais clara, conforme figura 3.
Após a delimitação de cada unidade de paisagem, utilizando os comandos de “polilinha”
e “hachura” do Autocad, foram calculadas as áreas ocupadas por cada uma delas através do

78
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

comando “area” utilizando a opção “objeto”. Além disso, foram quantificadas, de forma
isolada, as áreas urbanas sobre as unidades naturais de paisagem, utilizando a dedução
possibilitada pela interpretação visual da interrupção ou descontinuidade dos cenários naturais
pelas construções situadas em aglomerados ou de forma pontual. Estes dados quantitativos
nortearam as análises feitas na seção seguinte e possibilitaram a elaboração de quadros
elaborados utilizando o Microsoft Excel.

3 RESULTADOS

3.1 Classificação das unidades mapeadas na planície costeira do Abaís

A planície costeira e os terraços marinhos da Praia do Abaís estão submetidos ao clima


tropical do nordeste oriental, com chuvas constantes, apresentando estação seca de apenas dois
meses e média pluviométrica próxima aos 1500 mm/ano (Diniz; Medeiros; Cunha, 2014). As
chuvas constantes, associadas aos solos permeáveis de areais quartzosas proporcionam a
presença de extensas lagoas entre os cordões litorâneos da área.
Os principais geocomplexos presentes na área estudada, entre a foz do Rio Real e Vaza-
Barris, são os terraços marinhos holocênicos e as planícies costeiras, nestas se encontram
geofácies de dunas costeiras, paleodunas, praias e lagoas costeiras, que demonstram as
influências dos processos de origem marinha, eólica, fluviomarinha e fluviolagunar pelos
eventos variáveis durante o quaternário. Porém, outras unidades também foram mapeadas
(figura 3) na planície costeira do Abaís, a exemplo da área urbana, superfície de deflação,
superfícies alagadiças, cocoicultura, paleodunas, faixa de areia e hidrografia. Estas unidades
estão organizadas em ordem decrescente de áreas no quadro 1 e podem ser identificadas
visualmente através da fotografia aérea da região estudada, conforme figura 2.

79
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Figura 2: Unidades de Paisagem identificadas na Praia do Abaís, Estância/SE.

Fonte: Adaptado do acervo de Daniel Gomes, 2018.

Quadro 1: Quantitativo geral de todas as unidades mapeadas na Praia do Abaís, Estância//SE.


UNIDADES MAPEADAS ÁREA (m²) %
TERRAÇOS COM ARBUSTOS 7.497.361,54 19,55%
DUNAS 5.221.752,40 13,62%
TERRAÇOS COM HERBÁCEAS 5.161.707,31 13,46%
ÁREA URBANA 4.523.979,95 11,80%
LAGOA 4.367.726,66 11,39%
SUPERFÍCIES ALAGADIÇAS 3.692.477,63 9,63%
SUPERFÍCIES DE DEFLAÇÃO 3.023.291,23 7,88%
PALEODUNAS 2.811.031,28 7,33%
COCOICULTURA 2.037.846,58 5,31%
FAIXA DE AREIA 13.677,88 0,04%
Fonte: Autoras, 2018.

80
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Figura 3: Mapeamento das Unidades de Paisagem identificadas na Praia do Abaís, Estância/SE.

Fonte: Autoras, 2018.

81
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

3.1.1 Terraços Marinhos


O primeiro geocomplexo se trata dos terraços marinhos, construções holocênicas que
foram geradas durante a regressão subsequente à última transgressão e apresentam na
superfície, contínuas cristas de cordões litorâneos paralelos entre si. Mostram estruturas
sedimentares bem preservadas, representadas principalmente por estratificações de face de
praia. Seus solos são pobres, com baixa fertilidade e elevada porosidade, basicamente composto
por Espodossolo e Neossolo Quartzarênico. Os terraços presentes ao longo de toda a planície
costeira do Abaís são depósitos litologicamente constituídos de areias litorâneas bem
selecionadas. Por vezes, estão separados dos terraços marinhos pleistocênicos por uma zona
baixa pantanosa (BITTENCOURT et. al., 1983).
Foram mapeados, na figura 3, geofácies de terraços com herbáceas e com arbustos. Estes
apresentaram porcentagens marcantes em comparação às demais unidades delimitadas. Os
terraços com arbustos aparecem com 7.497.361,54 m², ocupando a primeira colocação dentre
as áreas mapeadas, com a porcentagem de 19,55%. E os terraços com herbáceas aparecem na
terceira colocação abrangendo 5.161.707,31m² e compondo 13,46% das unidades demarcadas
(quadro 1).

3.1.2 Dunas
Segundo Bird (2008), as dunas costeiras se formam no fundo da praia por sedimentos
secos da faixa de areia, transportados pelo vento até encontrar um obstáculo como troncos ou
vegetação, acumulando-se acima do nível de maré alta. Ainda segundo o autor, as
características de crescimento e modelagem das dunas estão diretamente relacionadas ao fluxo
de vento, sua fonte de areia, taxas de transporte e padrões de erosão e deposição.
Tecnicamente, as dunas exercem papel muito importante para o equilíbrio dinâmico da
praia, pois são elas que fornecem sedimento, através da ação do vento para a praia e vice-versa.
É o balanço sedimentar quem determina esse equilíbrio entre perda e ganho de sedimentos.
Quando o balanço é positivo, prevalece o ganho de sedimentos e a praia está em acresção, mas
quando o balanço é negativo, ocorrendo mais perda do que ganho de sedimentos, a praia é
determinada em estado de erosão (SOUZA et al., 2005).
De acordo com o quadro 1, as dunas demarcadas na figura 3 ocupam uma área de
52.21.752,40 m², situando a segunda colocação ao compor 13,62% das unidades mapeadas.

82
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Foram identificados campos de dunas recobrindo os depósitos holocênicos da planície costeira


e situados entre as unidades de praia e terraços marinhos. Estas dunas ora aparecem em sua
feição natural, ora subtraídas pela área urbana, tendo seu maior montante preservado na direção
nordeste, onde aparecem mais espessas, e apresentando chances de restauração e preservação
na direção sudeste, em que o adensamento urbano ainda é rarefeito e esparso. Dentro desse
contexto, cabe ressaltar a notória diminuição das superfícies dunares na região central em que
há a concentração da área urbana (figura 3).

3.1.3 Área urbana


A área urbana da Praia do Abaís delimitada neste trabalho ocupa uma área de
4.523.979,95 m², correspondendo a 11,80% das unidades de paisagem mapeadas (quadro 1).
Esta área compreende as construções identificadas nas pesquisas de campo: segundas
residências, residências fixas, multiresidenciais, comércios, edificações institucionais, terrenos
urbanos, edificações abandonadas, espaços públicos e edificações de hospedagem.
Esta área urbana aparece situada, majoritariamente, sobre os terraços marinhos,
alcançando uma porcentagem de destaque, com 47,61%, e sobre as superfícies de deflação com
31,34%. Logo em seguida se destacam as ocupações sobre dunas com 10,68% e na última
colocação, as áreas urbanas sobre paleodunas, com 10,37% (quadro 2).
Quadro 2: Área urbana sobre as unidades de paisagem naturais.
ÁREA URBANA ÁREA (m²) %
ÁREA URBANA SOBRE TERRAÇOS 2153943,40 47,61%
ÁREA URBANA SOBRE SUPERFÍCIE DE DEFLAÇÃO 1418031,47 31,34%
ÁREA URBANA SOBRE DUNAS 483030,05 10,68%
ÁREA URBANA SOBRE PALEODUNAS 468975,03 10,37%
ÁREA URBANA TOTAL 4.523.979,95 100%
Fonte: Autoras, 2018.

3.1.4 Lagoa
A lagoa mapeada na figura 3 corresponde a um reservatório de água doce alimentado
por águas pluviais e pelo lençol freático. Sua origem está diretamente relacionada aos eventos
de transgressões e regressões do nível relativo do mar durante o Quaternário que durante a
Última Transgressão (5,1 ka), os rios da região foram afogados e foi instalado um sistema de
ilhas barreiras, gerando uma série de corpos lagunares que separam os terraços marinhos
pleistocênicos dos terraços marinhos holocênicos (BITTENCOURT et al., 1983).

83
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

A Lagoa Azul, conhecida como Lagoa dos Tambaquis, é a maior do estado de Sergipe,
e no mapeamento realizado comprova sua imponência ao ocupar a quinta colocação,
correspondendo a 11,39% das unidades de paisagem delimitadas com uma área de 4.367.726,66
m² (quadro 1). Em suas margens são encontrados, de forma mais evidente, terraços com
arbustos e com herbáceas, áreas urbanas, com construções de residências e comércios que visam
o potencial de atrativo turístico da lagoa, e paleodunas. Estas construções violam a Lei nº 12.651
(2012), que estabelece encostas de lagoa como Áreas de Preservação Permanente (APP).

3.1.5 Superfícies alagadiças


As superfícies alagadiças mapeadas na figura 3 se referem aos depósitos de terras
úmidas e são resultantes dos eventos ocorridos na zona costeira durante o Quaternário. Essa
unidade é caracterizada por planícies inundadas pelas chuvas ou saturadas por água superficial
ou subterrânea em áreas baixas localizadas entre os depósitos arenosos holocênicos e
pleistocênicos (SILVA et al., 2008). Representam morfologia temporária, já que nos meses
chuvosos aparecem inundadas, mas nos períodos mais secos podem se transformar em pântanos
ou brejos.
Essa superfície está diretamente relacionada ao padrão de drenagem do Rio Água Doce
e da Lagoa Azul. No mapeamento realizado, ela aparece de forma pontual ao longo dos terraços
marinhos abrangendo 3.692.477,63 m² que corresponde a 9,63% de área da planície costeira da
Praia do Abaís (quadro 1).

3.1.6 Superfície de Deflação


A superfície de deflação corresponde a regiões onde ocorre a transposição eólica de
material superficial mais fino, permanecendo a camada de sedimentos pesados e seixos na
superfície erodida. Na área estudada, essas superfícies de deflação mapeadas se encontram
ligeiramente à frente das dunas, em relação à linha de costa, evidenciando a migração dessas
dunas para o continente porque seguem o sentindo preferencial dos ventos, ou seja, contrário à
linha de costa.
De acordo com o quadro 1, as superfícies de deflação correspondem a 7,88% das
unidades mapeadas na planície costeira do Abaís na figura 3, abrangendo uma área de
3.023.291,23 m². A área urbana da zona da praia está inserida majoritariamente sobre estas
unidades.

3.1.7 Paleodunas

84
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

As paleodunas se apresentam na paisagem em processo de evolução para morros ou


colinas, cobertas por vegetação. Segundo Bittencourt et. al. (1983), são uma geração de dunas
parabólicas e fixadas pela vegetação. Esses depósitos estão sobrepostos aos terraços marinhos
pleistocênicos, formados na parte final da penúltima transgressão e durante a regressão que a
sucedeu.
No litoral sergipano, “essas dunas por serem mais antigas datam do pleistoceno, a
exemplo das dunas recuadas da linha de costa, margeando as lagoas nas proximidades da praia
do Abaís, no município de Estância” (ARAÚJO, 2011, p.03).
De acordo com o quadro 1, foram delimitados, na figura 3, 2.811.031,28 m² de
paleodunas, compondo 7,33% das unidades de paisagem demarcadas. Estas paleodunas se
encontram na porção mais continental da área mapeada, após a lagoa, de idade pleistocênica de
120.000 e 5.100 anos AP (CPRM, 1997). Estão espacialmente distribuídas entre os rios Piauí e
Vaza Barris e suas areias são bem selecionadas com grãos subarredondados.
Ainda, estas paleodunas demarcadas na área de estudo aparecem margeando a lagoa ou
entre terraços, com arbustos ou com herbáceas, e superfícies alagadiças, possuindo
pontualmente áreas urbanas instaladas sobre elas (10,37%, quadro 2).

3.1.8 Cocoicultura
A cocoicultura identificada no mapeamento corresponde ao cultivo do coco e a
coqueirais. O estado de Sergipe possui a segunda maior produção do Brasil dessa cultura, que
representa uma importante fonte de renda e, geralmente, é localizada em áreas de baixada
litorânea e tabuleiros costeiros (JESUS et. al., 2011).
Na figura 3, de acordo com o quadro 1, foram identificados 2.037.846,58 m² de
concentrações de coqueiros, compondo 5,31% das unidades de paisagem mapeadas. Estes
coqueirais aparecem pontualmente ao longo da planície costeira do Abaís e com maiores
concentrações nas proximidades das superfícies alagadiças.

3.1.9 Faixa de areia/pós-praia


A praia é o local onde os sedimentos estão em constante movimento em um equilíbrio
dinâmico, depositados por ondas, correntes e ventos. Esses sedimentos são de origem
continental e marinha. Por causa da grande variabilidade da linha de costa, não existe uma
definição específica, mas em média, a face de praia possui aproximadamente 5 m acima da
maré alta até 10 m abaixo da maré baixa (CHRISTOPHERSON, 2012).

85
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

A praia do Abaís é arenosa com granulometria fina. O pós-praia é a zona da praia que
se estende do limite superior da zona de espraio até ao início dos corpos dunares (CORREIA E
SOVIERZOSKI, 2005). Nesse espaço, são desenvolvidas diversas atividades produtivas, sobre
a qual se destaca o desenvolvimento do turismo sol e praia.
No mapeamento, realizado na figura 3, essa unidade corresponde a 0,04% de área dentre
as unidades de paisagem delimitadas, com 13.677,88 m² (quadro 1). Em alguns pontos essa
faixa de areia aparece bem próxima às construções devido a redução dos campos de dunas nas
proximidades da área urbana e ao avanço da linha de costa em direção ao continente, ocorrido
na última década.

3.1.10 Hidrografia
O rio mapeado na planície costeira do Abais é denominado de rio Água Doce, que
segundo Macedo (2014), nasce no povoado Paruí no município de Itaporanga D’ Ajuda,
apresenta uma drenagem exorreica, ou seja, seu escoamento das águas se faz de modo contínuo
até o oceano. Seu fluxo de vazão é determinado pela intensidade da precipitação, que durante
os meses mais chuvosos, o escoamento superficial aliado à saturação do lençol freático
aumentam seu curso principal, consequentemente, nos meses mais secos essa vazão diminui.
Macedo (2014) verificou também que em um período de quatro meses, ocorre um
processo de migração do ponto de desembocadura do rio Água Doce no contato com Oceano
Atlântico, apresentando três modelos diferenciados da desembocadura ao longo do ano,
fenômeno resultante da ação conjunta dos fatores oceanográficos e correntes de deriva
litorânea.
Foram identificadas construções pontuais, a exemplo de condomínios multiresidenciais
fechados, ocupando suas margens, em desobediência à Lei nº 12.651 (2012) que define as
encostas como Áreas de Preservação Permanente (APP).

3.2 Discussões
Os dados levantados na seção anterior permitem análises embasadas do aparato
legislativo e em outras literaturas, norteando discussões associadas à esfera ambiental, social e
legislativa. Dentro da esfera ambiental, a ocupação em região de dunas, identificada nesta
pesquisa, (10,68%, quadro 2) sugere que houve a supressão de dunas para a implementação da
zona urbana na Praia do Abaís, fato que acarreta uma série de danos ambientais já que as dunas
costeiras, segundo Carter (1988) são responsáveis pela redistribuição de areia para a praia
durante e depois das tempestades, essas trocas assimétricas das duas unidades são fundamentais

86
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

para manter sua estabilidade morfológica e a densidade ecológica. A Resolução CONAMA N°


341/2003 (MMA, 2003), em seu Art. 1° considera que as dunas têm um papel muito importante
na dinâmica costeira, incluindo o controle do processo erosivo, a formação e recarga de
aquíferos, além da sua importância para o turismo por sua beleza cênica e paisagística.
Além disso, a praia é a primeira unidade ambiental da zona costeira a reagir à
degradação ambiental e às mudanças energéticas e/ou eustáticas. Essa unidade tem a capacidade
de adaptação, minimizando a ação erosiva do mar. Porém, a supressão da vegetação costeira,
dunas frontais e construção de edificações sobre a orla tem interferido no processo de transporte
sedimentar, eólico e marinho, provocando desequilíbrio no balanço sedimentar e
consequentemente na estabilidade da linha de costa (MUEHE, 2001). Esse desequilíbrio é uma
motivação para a ocorrência de erosão, trazendo sérios prejuízos socioeconômicos para as
cidades litorâneas.
Em relação às ocupações urbanas às margens da Lagoa Azul e do Rio Água Doce, é
sabido que as margens de rios e lagoas possuem espaços territoriais especialmente protegidos
de acordo com o disposto no inciso III, § 1º, do art. 225 da Constituição Federal, ou seja, são
as conhecidas Áreas de Preservação Permanente (APPs). E além do objetivo principal de
preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo
gênico de fauna e flora e proteger o solo dessas unidades, estas APPs representam a existência
de uma função ambiental muito mais abrangente. Função esta, voltada, em última instância,
para proteger espaços de relevante importância para a conservação da qualidade ambiental em
sua totalidade e assim assegurar o bem-estar das populações humanas de forma direta ou
indireta. Nesse contexto de preservação do bem-estar humano, a não ocupação dessas áreas de
maneira geral tem o objetivo de atenuar os riscos de contaminação dos recursos hídricos e
assoreamento do leito do rio.
A substituição das unidades naturais, a exemplo de dunas, cordões litorâneos, lagoas e
manguezais, por áreas antropizadas e/ou urbanizadas, manifesta um cenário de perigos
associados a alteração da estruturação da paisagem. Assim, as modificações ocorridas pela
ocupação não planejada fizeram surgir e potencializar os riscos associados aos alagamentos e
erosão costeira (MOTA, 2016). A Praia do Abais é um exemplo desse cenário de carência
sedimentar devido a ocupação em áreas frágeis do ponto de vista ambiental, causando sérios
problemas de erosão costeira nos últimos anos, como a destruição da orla. É perceptível que
os eventos erosivos ocorrem ligeiramente defronte a ocupação urbana.
Ainda tratando da esfera ambiental, de acordo com o Projeto Tamar (2016), a região do
Abaís, que faz parte da Área de Preservação Ambiental (APA) Estadual do Litoral Sul,

87
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

apresenta cerca de 1.500 desovas de tartaruga que geram 65 mil filhotes a cada temporada
reprodutiva, porém a região vem sofrendo com a especulação imobiliária, que intensifica as
ameaças às tartarugas marinhas, sobretudo através das construções irregulares, com
descaracterização do ambiente costeiro.
Em relação à esfera social, que está vinculada à esfera ambiental, a erosão costeira
intensificada pela urbanização sem planejamento em regiões dunares, já explanada, trouxe uma
série de impactos negativos para a sociedade da Praia do Abaís, como a desvalorização de
imóveis, colocando-os a preços baixos de venda, e o fechamento de estabelecimentos
comerciais devido à destruição e abandono a orla, único ponto de encontro coletivo da região.
O tipo de uso do solo urbano que mais se destaca na região estudada é o de residências
secundárias. Segundo Vilar e Vieira (2010), as segundas residências são domicílios de uso
ocasional, que satisfazem as necessidades de habitação e moradia, abrigando pessoas, nos fins
de semana e temporada de férias, e mesmo com usos sazonais, não deixam de causar impactos.
Ou seja, a dinâmica do crescimento das segundas residências na Praia do Abaís, sobretudo nas
áreas de praia e restinga, é impactante e necessita de atenção especial.
Dentro da esfera legislativa, de acordo com o Novo Código Florestal, Lei nº 12.651
(2012), as dunas e encostas são Área de Preservação Permanente (APP), devendo ser
prioritariamente conservadas ou restauradas. Além disso, as áreas de vegetação de restinga
também possuem tal caracterização, devendo ser preservadas a uma faixa mínima de trezentos
metros a partir da linha de preamar máxima, ou seja, o maior nível de maré, quando a linha
alcançada pelas águas chega ao seu extremo. Pode-se afirmar que parte da ocupação urbana da
praia do Abaís, demarcada na figura 3, está situada em APP (sobre dunas e encostas da lagoa e
do rio), configurando uma ocupação irregular, em inconformidade com a legislação.
Em relação às construções em regiões de dunas, de acordo com a Lei nº 9.605 de 1998,
a lei dos crimes ambientais, Artigo 50, “destruir ou danificar florestas nativas ou plantadas ou
vegetação fixadora de dunas, protetora de mangues, objeto de especial preservação” configura-
se como um crime contra a flora terrestre, sob pena de detenção de até um ano e aplicação de
multa. As dunas costeiras também são protegidas pelo Plano Nacional de Gerenciamento
Costeiro (PNGC), que no Art. 3° prevê o zoneamento de usos e atividades da zona costeira,
dando prioridade à conservação e proteção das dunas e outras unidades.
O município de Estância possui um Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano do ano
de 2010, seguido de uma Lei Complementar nº 09/2014 que adiciona ao referido plano, algumas
novas orientações. Em suas diretrizes de estruturação do partido urbanístico, o Plano Diretor
estabelece a necessidade da definição e preservação do patrimônio ambiental, incluindo as áreas

88
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

de manguezais e praias, buscando um uso sustentável do ambiente para as atividades de turismo


e lazer. Este plano diretor demonstra a intenção de cuidado com os recursos naturais do
município, porém, pode ser caracterizado como ineficiente, já que trata de áreas de preservação
de forma teórica, mas não apresenta demarcações destas zonas em forma de mapas, permitindo
assim, amplas interpretações e flexibilizações.
No caso da Praia do Abaís, são encontradas divergências com a teoria explanada no
Plano Diretor, como residências e comércios instalados sobre dunas e encostas, em APP,
comprometendo a visibilidade, paisagem cênica e o acesso livre pela disposição das edificações,
havendo, segundo Silva e Souza (2011) a mercantilização da natureza.

4 CONCLUSÃO

A planície costeira da praia do Abaís apresenta característica de alta vulnerabilidade e


riscos devido às formas de uso e ocupação dos ecossistemas. Para manutenção do equilíbrio
dinâmico dos ecossistemas é preciso garantir, na medida do possível, a harmonia dos processos
geológicos, geomorfológicos, oceanográficos e climáticos. Contudo, não é o que ocorre nesse
contexto, onde as atividades humanas concorrem para a descaracterização significativa desses
processos, expondo o homem a ameaças e prejuízos financeiros com a destruição das
construções pelos eventos erosivos da região. Essa desordenada ocupação e suas consequências
acentuam a necessidade de planejamentos voltados para o uso racional dos recursos.
Foi constatado que, mesmo contando com dispositivos legais que servem para orientar
o processo de ocupação das zonas costeiras, por meio de programas e projetos para a gestão do
litoral, na prática, esses normativos não são seguidos. Um exemplo disso é a inoperância da
APA do Litoral Sul, da qual a Praia do Abaís faz parte, conforme constatado por Silva e Souza
(2011), diversas APAs vêm sofrendo sequelas ambientais devido ao desenvolvimento de
atividades turísticas sem planejamento adequado. Por isso, tem sido consideradas como
inoperantes por algumas literaturas devido, principalmente, a ausência de mecanismos eficazes
de gestão ambiental, o que facilita a dilapidação dos recursos naturais para atender demandas
do turismo, fato que acontece no caso do Abaís analisado aqui.
As problemáticas identificadas na região da Praia do Abaís são decorrentes da
incompatibilidade entre a vulnerabilidade natural e a potencialidade social, com ocupações
antrópicas em áreas que deveriam estar completamente livres, como regiões de praia, dunas,
restinga e margens de lagoas (SILVA E SOUZA, 2011).

89
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

A urbanização da Praia do Abaís, por ter ocorrido sem planejamento, configura um


desafio para a formulação de políticas públicas eficientes e revela práticas sociais e espaciais
incoerentes. Porém, conforme detectado neste estudo, ainda existem porcentagens
consideráveis de unidades de paisagem naturais, que cumprem suas funções ecológicas,
preservadas e passíveis de recuperação, elevando a necessidade de se ordenar o existente na
tentativa de equilibrar os interesses econômicos e sociais com a esfera ambiental e sua sensível
dinâmica.
Diante do exposto, é preciso considerar a realização do ordenamento territorial da área,
compreendendo suas três etapas complementares e interativas: análise e diagnóstico,
planejamento e gestão territorial.
O ordenamento territorial se mostra como importante ferramenta para um
desenvolvimento sustentável, aliando desenvolvimento econômico, social e a qualidade de
vida, pois as atividades humanas precisam ser ordenadas de acordo com o suporte do território,
considerando os aspectos relacionais e integradores do sistema territorial.
Além disso, visto que existe uma área de preservação no litoral Sul, mas com
fiscalização ineficiente, é preciso que se faça valer a legislação pertinente, através do
ordenamento unido à fiscalização do o uso e a ocupação dessa área, para que assim, possa
ocorrer um desenvolvimento sustentável.

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92
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

AGROECOSSISTEMAS E IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NA PLANÍCIE


COSTEIRA DE ITAPORANGA D’AJUDA

AGROECOSYSTEMS AND SOCIOENVIRONMENTAL IMPACTS ON THE


COASTAL FLATLAND OF ITAPORANGAD'AJUDA

AGROECOSISTEMAS E IMPACTOS SOCIOAMBIENTALES EN LA LLANURA


COSTERA DE ITAPORANGA D'AJUDA

Débora Barbosa da Silva


Profª. Drª. do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Sergipe. Participante do Grupo
de pesquisa Sistema de Modelagem Costeira DGE/UFS. e-mail: deborabars@gmail.com

Marçal Lukas Martins Prata


Aluno de Graduação em Geografia/Licenciatura da Universidade Federal de Sergipe. Participante do
Grupo de pesquisa Sistema de Modelagem Costeira DGE/UFS. e-mail: mlukasmp94@gmail.com

RESUMO

Na planície costeira de Itaporanga D’Ajuda, os agroecossistemas de cocoicultura e pecuária


possibilitam problemas ambientais nos diversos ambientes de terraço marinho, praia, dunas, e
manguezal. Este estudo propõe uma análise da dinâmica ambiental da planície costeira do
município de Itaporanga D’Ajuda e dos possíveis impactos do uso das terras. Os estudos desta
pesquisa se baseia na análise da paisagem de agroecossistemas, que consiste na interpretação
da heterogeneidade espacial e sua relação com as atividades humanas e a biocenose. Os
agroecossistemas de cocoicultura propiciam a remoção de vegetação nativa, expulsão de
espécies da fauna alterando as relações ecológicas através da alteração da dinâmica dos ciclos
de matéria e energia, problemas que também estão presentes na prática de pecuária. Além destes
problemas causados pelos agroecossistemas, a expansão urbana, impulsionada pelo turismo de
segunda residência e o surgimento de condomínios fazem parte da dinâmica de uso e ocupação
da área, que tem suprimido espaços de produção dos agroecossistemas. O avanço da
urbanização bem como as atividades rurais nos agroecossistemas degradam os ambientes da
planície costeira, removendo dunas, aterrando lagoas entre os cordões litorâneos, removendo
vegetação nativa que causa expulsão de espécies da fauna. Tais impactos são potenciais
adversidades para a manutenção dos ecossistemas e até mesmo para a urbanização.

Palavras-chave: Planície Costeira; Agroecossistema; Cocoicultura; Pecuária.

ABSTRACT

On the coastal flatland of Itaporanga D'Ajuda, coconut culture and livestock agroecosystems
livestock provides environmental problems in the various coastal environments, marine beach,
dunes, and mangrove areas. This study proposes an analysis of the environmental dynamics of
the coastal flatland of the municipality of Itaporanga D'Ajuda and the possible impacts of land
use. The studies of this research is based on the analysis of the landscape of agroecosystems,
which consists in the interpretation of spatial heterogeneity and its relation with human
activities and biocenosis. The coconut culture agroecosystems provides the removal of native
vegetation, the expulsion of species from the fauna, altering the ecological relations by
changing the dynamics of the cycles of matter and energy, problems that are also present in the
practice of livestock. In addition to these problems caused by agroecosystems, urban expansion,

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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

driven by second-home tourism and the emergence of condominiums, are part of the dynamics
of use and occupation in the area, which has suppressed agroecosystems production spaces. The
advance of urbanization as well as rural activities in agroecosystems degrade the environments
of the coastal flatland, removing dunes, burying ponds present among the beach ridges,
removing native vegetation that causes expulsion of species of fauna. Such impacts are potential
adversities for the maintenance of ecosystems and even for urbanization.

Keywords: Coastal Flat Land; Agroecosytems; Coconut Culture; Livestock.

RESUMEN

En la llanura costera de Itaporanga D'Ajuda, los agroecosistemas de cocoicultura y pecuaria


posibilitan problemas ambientales en los diversos ambientes de terraza marina, playa, dunas, y
manglares. Este estudio propone un análisis de la dinámica ambiental de la llanura costera del
municipio de Itaporanga D'Ajuda y de los posibles impactos del uso de las tierras. Los estudios
de esta investigación se basan en el análisis del paisaje de agroecosistemas, que consiste en la
interpretación de la heterogeneidad espacial y su relación con las actividades humanas y la
biocenosis. Los agroecosistemas de cocoicultura propician la remoción de vegetación nativa,
expulsión de especies de la fauna alterando las relaciones ecológicas através de la alteración de
la dinámica de los ciclos de materia y energía, problemas que también están presentes en la
práctica de la ganadería. Además de estos problemas causados por los agroecosistemas, la
expansión urbana, impulsada por el turismo de segunda residencia y el surgimiento de
condominios, forman parte de la dinámica de uso y ocupación del área, que ha suprimido
espacios de producción de los agroecosistemas. El avance de la urbanización así como las
actividades rurales en los agroecosistemas degradan los ambientes de la llanura costera,
removiendo dunas, aterrizando lagunas entre los cordones costeros, removiendo vegetación
nativa que causa expulsión de especies de la fauna. Tales impactos son potenciales adversidades
para el mantenimiento de los ecosistemas e incluso para la urbanización.

Palabras clave: Llanura Costera; agroecosistema; Cocoicultura; ganadería.

1. INTRODUÇÃO

A distribuição dos seres vivos, na superfície terrestre depende das características


abióticas do espaço, existem espaços que podem apresentar favorabilidades à adaptação de
espécies e à biodiversidade, devido a fatores como precipitação pluviométrica, intensidade de
radiação solar, ventos, solos, disponibilidade hídrica, dente outros. Diversos fatores influenciam
a vida e interagem entre si para o equilíbrio da organização espacial.
A dinâmica ambiental dos ecossistemas é caracterizada por relações de
interdependência entre seus elementos. Os elementos que compõe os ecossistemas são de
natureza biótica (fauna e flora) e abiótica (clima, relevo, geologia, etc). Tais elementos

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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

dependem um dos outros para existirem no meio ambiente e a interação entre os mesmo é fator
fundamental para o equilíbrio ambiental.
Mudanças nas interações e interdependência entre os elementos dos ecossistemas são
comuns, tal característica é observada em demonstrações palaeoclimáticas e arqueológicas
encontradas na natureza em todo planeta. As mudanças ocasionadas pela dinâmica ambiental
natural é de ordem cronológica harmônica, permitindo que animais e vegetais se adaptem à
características ambientais.
Contudo, as modificações ocasionadas no meio ambiente pela ação antrópica ocorrem
de forma abrupta, impedindo que os elementos bióticos acompanhem essas modificações, por
conta disso, muitos ecossistemas estão caracterizados por desequilíbrio ambiental.
Atividades agrícolas causam mudanças na estrutura dos ecossistemas, pois objetiva
maximizar a produtividade, alterando os ciclos naturais no meio ambiente. A dinâmica
ambiental é caracterizada por fluxos de matérias e energia entre diferentes ecossistemas, biomas
e ambientes. As modificações ligadas ao uso antrópico dos ambientes rompe os fluxos de
matéria e energia, levando ao desequilíbrio ambiental.
As planícies costeiras são constituídas por ambientes como terraço marinho com
cordões litorâneos e lagoas, dunas, praia, manguezal, estuário e etc. Cada um destes ambientes
tem importância fundamental para o equilíbrio das planícies costeiras, pois todos fazem parte
de um sistema aberto caracterizado pela dinâmica de trocas de matéria e energia.
A planície costeira de Itaporanga D’Ajuda tem sido alvo de alterações ao longo dos anos
por conta de diversas atividades econômicas. Os usos da planície costeira são diversos,
destacam-se agroecossistemas de cocoicultura e pecuária, infraestruturas de comercio e
serviços para turismo de segunda residência, urbanização com aumento do povoado e
condomínios, loteamentos.
Baseando-se em alguns conceitos de diversos autores como Aquino e Assis (2005) e
Altiere (2012), pode-se definir que o agroecossistema resulta da modificação de ecossistemas
naturais a fim de aumentar a produtividade de um ou alguns grupos de espécies cultivadas.
Autores como Gliessman (2005) e Fontenelle (2005) fornecem informações importantes sobre
e agroecologia e alguns tipos de agroecossistemas, como a cocoicultura.
Nos agroecossistemas, a diversidade biológica é bastante reduzida, pois o cultivo de
poucas espécies substitui as espécies nativas e a ciclagem de matéria e energia também é
alterada através do uso de insumos, como fertilizantes e agroquímicos, para suprir as
necessidades de sua produção, além do uso da energia de fontes antrópicas.

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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

O estudo analisa as modificações dos agroecossistemas nas planícies costeiras, que são
áreas relativamente recentes em tempo geológico, geralmente originadas de sedimentos dos
períodos quaternário e terciário.
Por esse motivo, tem uma dinâmica particular, englobando ambientes sensíveis aos
processos e fenômenos naturais, e às intervenções antrópicas, onde as trocas de matéria e
energia são modificadas pela presença dos agroecossistemas. A área de estudo é na planície
costeira de Itaporanga D’Ajuda, que tem essa característica de agroecossistemas modificando
a paisagem de planície costeira.

2. MATERIAL E MÉTODO
A área de estudo é localizada na planície costeira do município de Itaporanga D’Ajuda
(Figura 1). O município de Itaporanga D’Ajuda, está localizado na região leste do Estado de
Sergipe, a sede do município tem uma altitude de 38 metros e coordenadas geográficas de 10°
59’50” de latitude sul e 37°18’22”de longitude oeste (CPRM, 2002. p.2). A planície costeira do
município está localizada a cerca de 30 km da sede municipal e limita-se entre o Oceano
Atlântico e Tabuleiros Costeiros.
Figura 1 – Localização da área de Estudo

Fonte: IBGE (2016).

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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Na planície costeira de Itaporanga D’Ajuda existe a presença de manguezais associadas


ao estuário do Rio Vaza-Barris. Esse ambiente está caracterizado pela presença de tanques e
viveiros, para a manutenção de carcinicultura e piscicultura.
O terraço marinho da planície costeira em estudo, é caracterizado pela composição de
cordões litorâneos, formados no Quaternário por conta da regressão marinha. Entre cada cordão
litorâneo existem as zonas intercordão, áreas mais baixas que permitem os afloramento hídrico,
onde formam-se lagoas perenes e intermitentes.
As dunas das área de estudo tem diversas características. Nas proximidades da praia,
existem campos de dunas frontais, que apesar de ser baixas, servem como barreiras contra as
ondas do mar. A dunas mais ao interior, tem altitude mais elevada e são caracterizadas pela
presença de vegetação de porte arbóreos. Essa características dão maior fixação aos seus
sedimentos.
Em todos ambientes da planície costeira existe presença de cocoicultura e pecuária, ou
da associação de ambos. Além disso, a área tem passado por intensa expansão urbana. Tais
características tem causado alterações na dinâmica ambiental da planície costeira de Itaporanga
D’Ajuda.
Para entender a dinâmica ambiental e as alterações decorrentes do uso fundamenta-se
em autores como Christofoletti (1999), Camargo (2005) e Santos (1988) que auxiliam na
compreensão da para entender a dinâmica ambiental sistêmica e dos efeitos das ações
antrópicas. As leituras de autores como Alves (2001), Silva (2000), Carvalho e Fontes (2006),
Nunes (2011), Pinheiro (2013) ajudaram a embasar a pesquisa de campo, fornecendo
informações preliminares sobre os subambientes da planície costeira.
A análise da paisagem foi feita em campo com a inter-relação entre referencias teóricas
e dados coletados em informações bibliográficas e cartográficas de fontes secundárias em
instituições públicas e privadas, como o IBGE e SEMARH, além disso foram realizadas
entrevistas. As imagens utilizadas para reconhecimento aéreo da área foram do Google Earth,
por conta da dificuldade de encontrar imagens recentes nos órgãos de planejamento do Estado
de Sergipe. As entrevistas foram realizadas com moradores de primeira e segunda residência,
proprietários de bares, restaurantes e pousadas, veranistas, comerciantes e prestadores de
serviço.

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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Planície Costeira de Itaporanga D’Ajuda
A formação da planície costeira de Itaporanga D’Ajuda foi caracterizada pela deposição
de sedimentos retrabalhados pela ação do mar e dos ventos durante o Quaternário. Segundo
Brasil (1983) os processos de morfogênese nos ambientes costeiros estão associados ao período
do Quaternário e os depósitos sedimentares são de origem marinha e fluviomarinha, com
granulometria principalmente de areia e em menor quantidade de argila e silte.
Além dos cordões litorâneos, terraços marinhos, a planície costeira conta também com
a presença de praias, dunas, manguezais, estuários, dentre outros. Estes subambientes interagem
entre si em relações sistêmica de troca de matéria e energia.
O terraço marinho é caracterizado pela justaposição de cordões litorâneos. Entre cada
cordão litorâneo exista a presença de uma zona de depressão, denominada de zona intercordões,
que permite a presença de lagoas temporárias e permanentes. Nas áreas de lagoas intercordões
são encontradas espécies vegetais hidrófilas e hidrófitas, a exemplo do junco (BRASIL, 1983).
A composição do terraço marinho de Itaporanga D’Ajuda é predominante de origem
sedimentar arenosa, depositados pelo recuo do mar e pela formação de cordões litorâneos.
Consequentemente a origem desses sedimentos em parte advindos do mar.
Os campos de dunas estão caracterizadas por forte antropização, tanto pela presença de
agroecossistemas como pelo avanço da expansão urbana. O campo de dunas da planície costeira
de Itaporanga D’Ajuda é caracterizado por presença de dunas frontais, dunas embrionárias,
dunas de precipitação, área de deflação, dentre outros (SILVA e SANTOS, 2016).
As dunas frontais estão localizadas em contato direto com a praia e o oceano, e são
caracterizadas por morfologia escarpada, por conta da erosão costeira causada pelo avanço da
linha de costa.
As dunas embrionárias estão localizadas na área de deflação e a origem dos sedimentos
é da praia e das dunas frontais. Por conta da presença de vegetação pouco densa e espaça, a
mobilidade nessa subunidade é maior (SILVA e SANTOS, 2016).
As dunas de precipitação, estão localizadas no interior da planície costeira, São dunas
com altitudes mais elevadas, por conta da presença de maiores obstáculos, já que nessa área a
vegetação é mais densa. Contudo, parte dessas dunas apresenta mobilidade e tem recoberto
partes do terraço marinho.
Segundo Brasil (1983), a área é recoberta por vegetação de restinga e mangue,
vegetações normalmente encontradas em áreas de influência marinha, fluvial e fluviomarinha.

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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

São encontradas em portes arbóreos, arbustivos e herbáceos. As principais espécies de


restinga nas praias são o Paspalumvaginatum, Hydrocotylebonariensis, Ipomoeapescapraee
aCanavaliaobtusifolia, são ervas estoloníferas e reptantes. Nas dunas se destacam o
Schinusthaerebentifolius e a Lythaea brasiliensis, com características arbustivas (BRASIL,
1983).
O manguezal da planície costeira de Itaporanga D’Ajuda está situado no estuário do rio
Vaza-Barris. Nos manguezais as principais espécies são a Rhizophoramangle, Laguncluria
racemosa e Conocarpuserectus, com portes arbóreos.
Informações coletadas em entrevistas apontam que as espécies da fauna nativas podem
ser vistas são o teiú, o tatu, capivara, paca e camaleões. Tais espécies são raramente avistadas
e suas presenças são registradas nas proximidades dos remanescente de restinga.
Isso ocorre devido à relação de interdependência entre a fauna e flora, pois o habitat das
espécies animais estão associados à presença da vegetação. Com a remoção da vegetação, os
animais são expulsos de seu habitat, dessa forma, existe uma ruptura nas relações ecológicas, o
que pode levar ao desequilíbrio ambiental na área.

3.2 Uso e Ocupação da terra


O uso e ocupação de planície costeira de Itaporanga D’Ajuda (Figura 2) é composto por
agroecossistemas de cocoicultura e pecuária, além disso existe a presença de tanques e viveiros
para produção de piscicultura e carcinicultura, bem como a construção civil, como casas de
veraneio e condominios residenciais.

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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Figura 2 - Povoado Caueira e proximidades, 2016.

Fontes: Radam (1983); Google Earth, (2018)

No estuário do rio Vaza-Barris existe presença de viveiros de peixes e camarões, a


dinâmica dessas atividades provoca desequilibrios ao manguezal associado à foz do rio. Além
dos desmatamento das especies de mangue e da expulsção da fauna, o manejo dos tanques e
viveiros utiliza elementos químicos que são descartados no rio, sendo assim, potenciais
poluentes dos recuros hídricos da área.
A principal atividade de agroecossistema da planície costeira de Itaporanga D’Ajuda é
a cocoicultura, caracterizada pela monocultura de coco nas áreas de produção. Essa atividade
causa transformações diretas na paisagem, principalmente por conta da remoção de vegetação
nativa para o cultivo dos coqueiros,
Assim como outras palmáceas, o coqueiro (Cocos nucifera L.) é uma planta adaptada
aos ambientes tropicais, o gênero Cocos é constituído apenas pela espécie Cocos nucifera L., a
qual é composta de algumas variedades, entre as quais as mais importantes são Typica (Var.
Gigante) e Nana (Var. Anã) (EMBRAPA, 2002). Na área de pesquisa predomina o cultivo da
variante gigante Typica, denominada pelos moradores e trabalhadores da área de “coqueiro
comum”. Muitas áreas estão caracterizadas pelo uso associado entre cocoicultura e pecuária.
A remoção da vegetação nativa, causa diversos problemas, como o aumento da remoção
de sedimentos de determinadas áreas e recobrimento de outras, por conta do avanço de dunas

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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

com maior mobilidade. Outro fato é a diminuição do recarga do lençol freático, pois a remoção
da vegetação diminui o obstáculo ao escoamento superficial, o efeito disso é a diminuição da
infiltração hídrica no solo.
Além disso, as relações ecológicas são afetadas, pois a remoção da fauna nativa causa a
expulsão de espécies de animais, devido à degradação dos habitats. A consequências desses
fatos podem ocasionar desequilíbrio ambientais nos subambientes da planície costeira.
Assim como a cocoicultura, a pecuária está presente na planície costeira e esta atividade
descaracteriza a paisagem e altera as relações ecossistêmicas através de interferências nos ciclos
de matéria e energia.
Um dos fatores de alterações ecossistêmicas a ser considerado é o pisoteio do gado sobre
o solo, causando a compactação devido à redução dos poros. Como a criação de gado na planície
costeira é feita tanto no terraço marinho quanto nas dunas, as atividades desse agroecossistema
interferem na dinâmica desses ambientes.
No terraço marinho, a compactação do solo torna os sedimentos mais coesos diminuindo
o tamanho dos poros e além de diminuir a facilidade dos sedimentos serem transportados pelo
vento, diminui as taxas de infiltração e por consequência aumenta as taxas de escoamento
superficial, alterando assim a recarga do lençol freático e possivelmente o débito hídrico das
lagoas temporárias e permanentes, situadas entre os cordões litorâneos.
Nas práticas de agropecuária as espécies vegetais nativas são substituídas por espécies
de herbáceas cultivadas podendo alterar as relações ecológicas nos ambientes onde esse tipo de
agroecossistema é presente.
Segundo informações coletadas por entrevista, a pastagem utilizada na área é nativa,
não sendo necessária a introdução de espécies cultivas. Porém, além da substituição das
herbáceas, algumas áreas de mata mais densa, como nas áreas de restinga são retiradas para dar
lugar à criação dos gados e do pasto, essas práticas expulsam espécies da fauna bem como
podem conduzir à extinção por conta da mudança na cadeia alimentar.
Além das atividades de agroecossistemas, a área está sendo alvo de uma expansão
urbana acelerada nos últimos anos. A urbanização da área é caracterizada, majoritariamente
pela presença de casas de veraneio e/ou segunda residência, que compreende o povoado
Caueira.
Apesar da crescente expansão urbana, intensificada após a construção da Ponte Joel
Silveira (Figura 3), na planície costeira de Itaporanga D’Ajuda a ocupação majoritária ainda é
caracterizada pela presença de agroecossistemas.

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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Figura 3 – Ponte Joel Silveira (RioVaza-Barris)

Fonte: Marçal Lukas(2016)

3.3 Impactos socioambientais


A associação da cocoicultura com a criação de animais bovinos e equinos é comum na
planície costeira de Itaporanga D’Ajuda. Essa associação ajuda na produção de esterco, criando
adubos orgânicos, como também num maior aproveitamento da área de produção.
No agroecossistemas, o manejo do solo provoca alteração com o uso de agroquímicos,
como na adubação para suprir os déficits de nutrientes quanto com o uso de agrotóxicos para
impedir a infestação de praga e doenças, essas ações mudam a característica do ambiente,
podendo alterar também a presença de seres vivos do solo e inclusive interferir no processos de
decomposição.
O uso dos agrotóxicos e adubos também podem interferir no lençol freático,
contaminando as águas subterrâneas com as substancias que compõem esses produtos. Além
disso, foram coletadas informações em entrevista de que a partir da adubação podem ocorrer
infestação de espécies exóticas na área, sendo necessária o controle por meio de roçagem ou
queimadas.
Na pecuária, a criação de gado pode potencializar a compactação do solo, por conta do
pisoteio, e o cultivo das gramíneas do pasto nativas pode ocasionar competição entre nutrientes
do solo e água, outro fator negativo pode ser os danos causados ao sistema de irrigação com o
pisoteio dos gados.
Nas dunas a compactação do solo e dos sedimentos além de alterar as taxas de infiltração
modifica a sua morfologia. O solo torna-se mais denso ao ser compactado e por consequência

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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

a dinâmica ecossistêmica de troca de matéria entre as unidades morfológicas são alteradas. A


altura e forma das dunas também são alteradas, pois nos flancos dunares onde a circulação do
gado é intensa formam-se terracetes, descaracterizando a forma natural das dunas.
A recarga do lençol freático também pode ser modificada a partir do manejo da
cocoicultura. A mudança da cobertura vegetal pode ocasionar diferentes processos no
escoamento superficial e na infiltração, por consequência no armazenamento de agua
subterrânea e no débito de água das lagoas (Figura 4) localizadas nos intercordões litorâneos.
Com menos cobertura vegetal, o escoamento superficial é maior, alterando o armazenamento
de água, pois a infiltração diminui na medida que o escoamento superficial aumenta.
A remoção da cobertura vegetal tem relação também com aumento do transporte eólico
dos sedimentos, que podem transformar dunas fixas em móveis ou semifixas. A retirada da
vegetação associada com a configuração da plantação dos coqueiros, que ficam em posição
favorável para permitir o transporte eólico de sedimentos, pode alterar tanto as formas das
dunas, como a altura das mesmas.
Figura 4 – Lagoa intercordão na planície costeira de Itaporanga D’Ajuda (2017)

Fonte: Marçal Lukas (2017)

A ausência de cobertura vegetal oferece menor proteção aos ambientes costeiros, como
dunas e terraço marinho contra agentes de erosão, como a chuva e o vento, desse modo,
aceleram-se os processos de remoção de solo e sedimentos.
Com a remoção da cobertura vegetal (Figura 5), a dinâmica ecossistêmica é alterada,
pois muitas espécies da fauna mais sensíveis a desorganização do ambiente devido as
interferências nos fatores abióticos e na cadeia trófica são expulsas diretamente devido a

103
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

modificação do seu habitat, podendo causar a extinção de algumas espécies nativas pois
algumas destas ficam sem alimento ou sem predadores, causando escassez de alimento ou
surgimento de praga.
Informações coletadas em entrevistas apontam que as espécies animais nativas são
vistas raramente e apenas em áreas onde ainda existem a presença de remanescentes de restinga.
Os animais citados foram o teiú, o tatu, capivara, paca e camaleões. Algumas dessas espécies
são caçadas por moradores de localidades próximas e por pessoas vinda de outras áreas,
diminuindo os indivíduos das espécies e causando alterações na cadeia trófica e relações
ecológicas.

Figura 5 – Remanescentes de restinga

Fonte: Marçal Lukas (2018).

A vegetação age como uma proteção contra a ação dos ventos e a remoção das espécies
vegetais deixam o solo exposto aumentando os níveis de transporte eólico, esse fator pode
transformar dunas fixas em dunas móveis, aumentando a mobilidades das dunas, podendo
causar a o soterramento de outras áreas como nos terraços marinhos ou das lagoas intercordões.
As lagoas localizadas nas áreas intercordões, no terraço marinho são degradadas tanto
pela diminuição das taxas de infiltração de água, como aterramento para construção civil.
A alteração da dinâmica de escoamento superficial por causar problemas nas lagoas,
pois as águas da chuva são fonte de débito hídrico para as lagoas intercordões a diminuição da
recarga do lençol diminui por consequência o fornecimento de água para as lagoas, diminuindo
o volume de água, podendo tornar lagoas permanentes em temporárias como também a total
extinção de algumas e ou reduzindo o período que as lagoas ficam cheias.

104
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

A construção de casas na áreas de lagoas também pode alterar a infiltração por diminuir
a área permeável do solo ao aterrar as lagoas. As casas presentes nessas áreas podem sofrer
danos na sua estrutura por conta da instabilidade do terreno causada pela influência do lençol
freático (Figura 6). É importante ressaltar também o barramento de áreas de lagoas para a
criação de tanque e viveiros para atividade de piscicultura e carcinicultura.
A carcinicultura e piscicultura são atividades presentes nas proximidades do estuário do
Rio Vaza-Barris, estas atividades provocam impactos ambientais no canal fluvial, pois a
limpeza dos tanques e viveiros utiliza produtos que são despejados no rio e contaminam a água.
Além do rio, essas atividades também causam degradação nas áreas de manguezais associadas
ao estuário do Rio Vaza-Barris.

Figura 6 – Construções de casas próximas a lagoas intercordões

Fonte: Marçal Lukas (2017)

O desmatamento das áreas de mangue e a caça prematura podem diminuir a quantidade


de indivíduos das espécies que habitam esse ecossistema, com isso a relações ecológicas podem
ser modificadas bem como a cadeia trófica. Além avanço do mar sobre o interior do rio Vaza-
Barris, por conta da menor vazão do rio, tem aumentado os níveis de salinidade das águas,
modificando o ecossistema do manguezal, pois algumas espécies que são comuns mais
próximas ao mar estão ocorrendo em ambientes mais à dentro do rio.
O avanço do nível do mar também tem alterado morfologias de praia e de dunas frontais.
A linha de costa tem avançado sobre as dunas, intensificando o processo de erosão costeira,
fato que tem causado prejuízos para construções civis no povoado Caueira como também perdas
de coqueiros em áreas de cocoicultura em dunas frontais (Figura 7).

105
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Além dos impactos para a biota e biocenose, as atividades de agroecossistemas têm


causado impactos sociais para os moradores fixos da planície costeira de Itaporanga D’Ajuda,
bem como para os trabalhadores que fornecem serviços para os proprietários das propriedades
de agroecossistema.
Em entrevistas realizadas, ficou constatado que o uso dos EPI’s (Equipamentos de
Proteção Individual) não é comum nas áreas dos agroecossistemas, pois os trabalhadores
utilizam apenas arreios e facões, sem nenhum tipo de treinamento ou proteção. Além disso,
pode-se considerar que as práticas nesses agroecossistemas pode colocar em risco a qualidade
de vida dos trabalhadores, pois alguns insumos químicos podem ser agressivos à saúde do
trabalhador, bem como para a espécies nativas.
Figura 7 – Dunas frontais escarpadas e exposição de raízes do coqueiros.

Fonte: Marçal Lukas (2017).

Nas entrevistas, mencionou-se que os trabalhadores da cocoicultura, majoritariamente,


são contratados temporariamente para realização da coleta de coco, limpeza dos coqueiros e
aplicação de insumos químicos. Desse modo, nas épocas em que não existem atividades nas
propriedades, os trabalhadores necessitam buscar outras formas de obter renda.
Segundo a EMBRAPA (2002), a Lei Nº 7.802, de 11 de julho de 1989, regulamenta o
uso dos agrotóxicos no Brasil e dita regras de compra, armazenamento, uso e descarte de
embalagens, bem como a identificação dos níveis de toxidade dos produtos além do uso do
EPIs (Equipamento de Proteção Individual), para que os trabalhadores estejam protegidos dos
malefícios dos agrotóxicos (EMBRAPA, 2002).

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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Segundo dados coletados em entrevistas, os profissionais que aplicam os agrotóxicos


são contratados de outra área e fazem o uso de equipamento de proteção, porém o uso dos
agrotóxicos tem potencial prejuízo às espécies da fauna e flora.
A remoção da vegetação também prejudica moradores fixos que obtém renda a partir da
exploração de espécies da flora nativa. Entrevistas realizadas apontam que apesar da fauna e
flora estarem sendo degradadas, os moradores fixos fazem a cata da fruta em suas pequenas
propriedades, ou seja, as mangabeiras utilizadas pelos morados fixos da área estão protegidas
dos impactos da expansão urbana enquanto as pequenas propriedades existirem.
Informações coletadas em entrevistas apontam que não existem políticas públicas que
amparem os moradores fixos e trabalhadores da área de estudo impactados pelas atividades dos
agroecossistemas. Além disso, entrevistados mencionaram que raramente presenciam trabalho
de fiscalização de órgãos reguladores do meio ambiente ou do trabalho.
Com o objetivo de reduzir os impactos socioambientais, é necessário que os gestores do
Estado que são responsáveis pela fiscalização e regulamentação das atividades
agroecossistêmicas na área da planície costeira de Itaporanga D’Ajuda repensem a gestão de
políticas públicas.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise da paisagem da planície costeira de Itaporanga D’Ajuda caracterizou as


relações ecossistêmicas entre biótopo e biocenose e como as atividades de agroecossistemas,
especialmente de cocoicultura e pecuária degradam os ambientes da planície costeira e as
relações que estruturam os ecossistemas.
A cocoicultura e pecuária são atividades rurais predominantes e suas atividades
degradam os ambientes da planície costeira, como dunas, terraço marinho, praia, manguezais e
lagoas causando impactos ambientais que podem ser problemas para a manutenção dos
ecossistemas.
Além disso, na área, a expansão urbana, impulsionada pelo turismo de segunda
residência, e o surgimento de condomínios com o avanço da especulação mobiliária também
estão causando impactos socioambientais na área.
O Poder Público pode utilizar de meios para minimizar os problemas socioambientais
na área. A criação de mais Unidades de Conservação, como Áreas de Proteção Ambiental, pode
ser uma alternativa para a conservação ou recuperação de vegetação nativa e habitat da fauna.

107
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Além disso, órgãos reguladores podem aumentar a fiscalização na área, com o objetivo de
diminuir atividades fora das normas que degradam o meio ambiente ou oferecem risco ao
trabalhadores das propriedades de agroecossistemas.

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109
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

UNIDADE DE PAISAGEM E CONTEXTUALIZAÇÃO DOS USOS E


OCUPAÇÃO DAS TERRAS EM BARRA DOS COQUEIROS – SE

LANDSCAPE UNIT AND CONTEXTUALIZATION OF THE USES AND


OCCUPATION OF LANDS IN BARRA DOS COQUEIROS – SE

UNIDAD DE PAISAJE Y CONTEXTUALIZACIÓN DEL USO Y OCUPACIÓN DE


LA TIERRA EN BARRA DOS COQUEIROS – SE

Lucas Silve Leite


Mestrando em Geografia no Programa de PPGEO-UFS
silwa_lukas@hotmail.com
Adineide Oliveira dos Anjos
Mestranda em Geografia no Programa de PPGEO-UFS
ady.oliveira@outlook.com
Cícero Bezerra da Silva
Mestrando em Geografia no Programa de PPGEO-UFS
cicerogeografia016@gmail.com
José Arnaldo dos Santos Neto
Mestrando em Geografia no Programa de PPGEO-UFS
arnaldonetto01@gmail.com

RESUMO
Este trabalho tem por objetivo caracterizar a Unidade de Paisagem e suas subunidades que
compõe o município Barra dos Coqueiros-SE, correlacionado com os usos e ocupação que se
processam atualmente nesses ambientes. A metodologia adotada no desenvolvimento da
pesquisa está pautada na realização de pesquisa bibliográfica, interpretação de fotografias
aéreas e produtos cartográficos, elaboração de mapas temáticos e trabalho de campo. Buscou-
se aporte teórico/metodológico no método geossistêmico (Bertrand, 2004), tornando-se
possível a realização de uma análise integrada da paisagem in loco. As análises desenvolvidas
no município Barra dos Coqueiros-SE permitiram a identificação e caracterização das
subunidades de paisagem que se desenvolvem sobre a unidade Planície Costeira, evidenciando
que a ação humana é um elemento que, no tempo-espaço, está favorecendo a descaracterização
do desenvolvimento e manutenção das morfologias dessa área, e provocando a gênese de
feições. Dessa forma, compreendemos que a caracterização da paisagem corresponde a uma
análise das potencialidades dos recursos naturais do município, através da utilização
aprimorada dos mesmos, determinadas pelo uso e ocupação da localidade.

Palavras-chave: Unidade de paisagem. Geossistema. Paisagem. Planície costeira

ABSTRACT
This work aims to characterize the Landscape Unit and its subunits that compose the
municipality of Barra dos Coqueiros-SE, correlated with the uses and occupation currently
occurring in these environments. The methodology adopted in the development of the research
is based on the accomplishment of bibliographical research, interpretation of aerial photographs
and cartographic products, elaboration of thematic maps and field work. A theoretical /
methodological contribution was sought in the geosystemic method (Bertrand, 2004), making
it possible to carry out an integrated analysis of the landscape in loco. The analysis developed

110
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

in the municipality of Barra dos Coqueiros- SE allowed the identification and characterization
of the landscape subunits that develop on the Coastal Plain unit, showing that human action is
a space-time element that is favoring the de-characterization of development and maintenance
of the morphologies of this area, and provoking the genesis of features. In this way, we
understand that the landscape characterization corresponds to an analysis of the potentialities
of the natural resources of the municipality, through the improved use of them, determined by
the use and occupation of the locality.

Keywords: Landscape unit. Geosystem. Landscape. Coastal plain

RESUMEN
Este trabajo tiene como objetivo caracterizar la Unidad de Paisaje y sus subunidades que
componen el municipio de Barra dos Coqueiros-SE, correlacionadas con los usos y la ocupación
que se producen actualmente en estos entornos. La metodología adoptada en el desarrollo de la
investigación se basa en la realización de investigaciones bibliográficas, la interpretación de
fotografías aéreas y productos cartográficos, la elaboración de mapas temáticos y el trabajo de
campo. Se buscó una contribución teórica / metodológica en el método geosistémico (Bertrand,
2004), lo que permitió realizar un análisis integrado del paisaje in loco. El análisis desarrollado
en el municipio de Barra dos Coqueiros-SE permitió la identificación y caracterización de las
subunidades de paisaje que se desarrollan en la unidad de la Planicie Costera, mostrando que la
acción humana es un elemento espacio-tiempo que está favoreciendo la des-caracterización del
desarrollo y Mantenimiento de las morfologías de esta área, y provocando la génesis de las
características. De esta manera, entendemos que la caracterización del paisaje corresponde a un
análisis de las potencialidades de los recursos naturales del municipio, a través del mejor uso
de los mismos, determinado por el uso y la ocupación de la localidad.

Palabras clave: unidad de paisaje. Geosistema. Paisaje. Llanura costera

INTRODUÇÃO
Os ambientes costeiros apresentam-se dinâmicos e interligados por diferentes processos
naturais – oceanográficos, eólicos e fluviais –, estando também suscetíveis as derivações
antropogênicas. Essas ações se manifestam por meio das diferentes formas de uso decorrentes
do trabalho humano na natureza.
Na atual conjuntura, o ambiente costeiro brasileiro apresenta-se sensível as ações
antrópicas, fruto de transformações históricas. No município sergipano de Barra dos Coqueiros,
a interação dos condicionantes naturais e antrópicos têm proporcionado o surgimento ou
modificação das morfologias existentes.
Tendo em vista a concepção sistêmica, é possível afirmar que as consequências da
interação desses condicionantes se repercutem não apenas sobre os componentes biofísicos da
paisagem, mas também no uso desses espaços pelos grupos sociais.
Considerando o exposto, este trabalho tem por objetivo caracterizar a Unidade de
Paisagem e suas subunidades que compõe o município Barra dos Coqueiros-SE, correlacionado

111
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

com os usos e ocupação que se processam atualmente nesses ambientes. A caracterização da


paisagem corresponde a uma análise das potencialidades dos recursos naturais do município,
através da utilização aprimorada dos mesmos, determinadas pelo uso e ocupação da localidade.

MATERIAL E MÉTODOS
Segundo Bertrand (2004) a paisagem pode ser entendida como resultado da interação
existente entre os componentes da dinâmica natural e do fator antrópico. Essa visão sistêmica
se aplica ao objeto da Geografia, por buscar integrar os elementos biofísicos e a dinâmica das
relações sociais definida pelos grupos humanos.
Os procedimentos metodológicos básicos requeridos para a realização dos estudos
foram:
 Pesquisa bibliográfica das obras referentes às temáticas estudadas. O levantamento
bibliográfico abrangeu leitura de artigos virtuais, livros, dissertações e teses que
englobassem as temáticas. Levantamento, análise e seleção de material cartográfico
visando conhecer aspectos fisiográficos e socioambientais do município em estudo.
 Interpretação de fotografias aéreas e produtos cartográficos para elaboração de mapas
temáticos da área de estudo;
 Elaboração de mapas temáticos com a utilização dos softwares QGIS 2.18 e do Google
Earth Pro© com a finalidade de representar as unidades de paisagem. A utilização do
mapa de propriedades da paisagem, responsável pela identificação da estrutura,
funcionalidade e dinâmica, representa a principal ferramenta de culminância dos
estudos elaborados, sendo divido em três etapas: diálogo sobre conceitos e objetivos,
investigação de informações e confecção do mapa.
 Trabalhos de campo para observação das características da paisagem e dos processos
dinâmicos atuantes na área e registros fotográficos. As campanhas de campo
correspondem a busca por dados, que evidenciem a caracterização da paisagem
predeterminadas na primeira fase (fichamentos oriundos de referencial teórico), através
da delimitação e representação delas. Os mapas evidenciaram as interpretações obtidas
em todas as etapas.

ÁREA DE ESTUDO
O estado de Sergipe possui um litoral de aproximadamente 163 km, setorizado em
Litoral Norte, Centro e Sul (FONSECA, VILAR, SANTOS, 2010). O município Barra dos

112
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Coqueiros apresenta uma extensão territorial de 89,598 km² e uma população estimada em 2017
de 29.807 habitantes (IBGE, 2018), estando situado no Litoral Norte do estado, o qual é
composto por 17 municípios (Mapa 01).

Mapa 01 – Mapa de setorização do litoral de Sergipe.

Fonte: Adapatado de Fonseca, Vilar e Santos (2010)

Os primeiros povoamentos da antiga ilha dos Coqueiros, local onde hoje se encontra o
município Barra dos Coqueiros, data da época da conquista do território da Capitania de Sergipe
d’El Rei, durante o século XVI (FERREIRA, 1959). Historicamente, os portugueses, em uma
de suas viagens exploratórias, alcançaram à área da foz do atual rio Sergipe (MENDONÇA;
SILVA, 2009).
A ocupação da área está associada às viagens exploratórias dos portugueses pela costa
brasileira. Além das visitas portuguesas, “a barra do rio Sergipe era bem conhecida dos
franceses, que entravam rio adentro para fazer comércio com os indígenas que habitavam as
margens daquele rio” (FERREIRA, 1959, p.248).
Baseando-se no pensamento de Moraes (1999), é possível compreender que essa
ocupação consiste em um modelo de colonização que se processou a partir do litoral, englobada
de importantes recursos naturais de fácil acessibilidade para exploração, podendo ser um

113
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

modelo associado a uma bacia hidrográfica. Para Diniz (1981), a ocupação do território
sergipano ocorreu através das seguintes etapas – início da colonização, instauração da cidade-
forte de São Cristóvão e crescimento para o oeste, adentrando o continente.
Segundo Ferreira (1959, p.248) a mudança da capital do estado, de São Cristóvão para
Aracaju, cidade planejada e fundada no povoado de Santo Antônio do Aracaju, em 17 de março
de 1855, absorveu “o surto de progresso da Barra dos Coqueiros” a qual permaneceu durante
aproximadamente vinte anos sendo um povoado da capital Aracaju. Contudo, em 10 de maio
de 1875, a Resolução Provincial n.º 1028, elevou a capela de Nossa Senhora dos Mares da Barra
dos Coqueiros à categoria de Freguesia.
Posteriormente, por força da Lei Estadual n.º 525 A, de 25 de novembro de 1953, foi
então o território elevada à categoria de cidade e sede do município, fazendo parte desta, toda
a Ilha dos Coqueiros (FERREIRA, 1959). O município está localizado entre as fozes dos rios
Sergipe e Japaratuba e atualmente, o possui os seguintes povoados: Atalaia Nova, Olhos d'água,
Canal de São Sebastião, Touro, Jatobá, Capuã e Pontal da Ilha.
O século XX representou o início de mudanças significativas para o município, como a
superação histórica de problemas relacionados à interligação econômica e social, associados à
inexistência de uma infraestrutura de qualidade, cabível de garantir o aumento do fluxo de
produtos e serviços.
Os principais acessos ao município se dão pela ponte Construtor João Alves, um vetor
para a urbanização e especulação imobiliária no município, que o interliga à Aracaju e a rodovia
estadual SE-100 que o conecta com os municípios do litoral Norte, além da SE-240, que dá
acesso a Santo Amaro das Brotas e a BR-101. Representando os investimentos do governo
federal e estadual, que buscam o crescimento turístico de toda região, dotada de paisagens
naturais únicas.
Industrialização, urbanização e turismo compõem uma tríade geográfica que intensifica
as formas de ocupação de grande parte do litoral do Brasil, e em Sergipe essa intensificação
autoriza a falar de uma reestruturação territorial. Conforme Fonseca, Vilar, Santos (2010), a
implantação de obras, que proporcionou o acesso para a Barra dos Coqueiros, além de
configurar-se em um progresso, também propiciou modificação na paisagem local, favorecendo
propagação de atividades socioeconômicas, originadas da ampliação do deslocamento.
Barra dos Coqueiros limita-se ao norte com Santo Amaro das Brotas e a nordeste com
Pirambu, estando separados, respectivamente, pelos rios Pomonga e Japaratuba; a sudoeste faz
divisa com a capital do estado, Aracaju, delimitados pelo rio Sergipe; e ao sul e leste com o

114
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Oceano Atlântico, segmento que abrange desde a foz do rio Sergipe até a foz do rio Japaratuba
(Mapa 02).

Mapa 02 – Mapa de localização e acesso de Barra dos Coqueiros.

Organização: LEITE, 2016.

Caracterização biofísica
Regionalmente, na área de estudo encontra-se submetida ao clima Megatérmico
Subúmido Úmido, com precipitações concentradas no período outono-inverno (ALVES,
SILVA, FONTES, 2011). Apresenta anualmente, temperatura média de 26ºC, índice
pluviométrico de 1590 mm, com período chuvoso entre os meses de março e agosto (BOMFIM
et al., 2002).
No que se refere à geologia, Barra dos Coqueiros está representada por Coberturas
Holocênicas, inseridas nas Formações Superficiais Continentais (SANTOS et al., 1998). A
unidade geomorfológica que compõe o município de Barra dos Coqueiros é a Planície Costeira.
Ela corresponde a uma faixa alongada no sentido NE-SW e integra as seguintes feições:
Terraços marinhos holocênicos atuais (Atm3), Campos de dunas atuais (Aed2, Aed3), Planície
fluviomarinha (Apmi, Apms), Campo de deflação eólica (Eeol), Cordões litorâneos e Planície
costeira de progradação artificial (Appa) (ALVES, 2010).

115
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

A gênese das cinco primeiras feições está relacionada aos processos trans-regressivos
que ocorreram durante o Quaternário. Especificamente, são fruto da regressão subsequente a
“Última Transgressão” ocorrida há 5.100 anos Antes do Presente (BITTENCOURT et al.,
1983). Entretanto, a última feição, encontrasse intimamente associada à instalação do molhe na
margem esquerda do rio Sergipe, construído para conter os processos erosivos, que ameaçam a
cidade de Aracaju na margem direita. A alteração da dinâmica de transporte da corrente de
deriva litorânea e o aprisionamento de parte dos sedimentos por essa obra de engenharia
contribuíram para a formação dessa área de progradação artificial.
Em Barra dos Coqueiros em relação à pedologia, a área se caracteriza pela presença
solos de formação recentes, pouco evoluídos. Na área do município a vegetação predominante
está composta pelas espécies de Restinga herbácea, arbustivas e arbórea, e Mangue, distribuídas
de acordo com as características dos demais componentes ambientais, principalmente os solos
(ALVES, 2010).
No tocante a hidrografia, Barra dos Coqueiros está inserido nas bacias hidrográficas dos
rios Sergipe e Japaratuba. O rio Pomonga, afluente do rio Sergipe, drena o município na sua
porção norte e constitui limite natural entre Santo Amaro das Brotas.

REFERENCIAL TEÓRICO
A discussão acerca da paisagem é antiga na Geografia. A partir do século XIX, buscou-
se entender as relações sociais e naturais que se verificam em um determinado espaço
(SCHIER, 2003). Entretanto, mesmo no âmbito da Geografia, a concepção de paisagem diverge
na dependência das múltiplas abordagens existentes.
Os geógrafos, tradicionalmente, subdividiam e diferenciavam a paisagem em duas
categorias – natural e cultural. Onde “a paisagem natural” referia-se à combinação de
componentes biofísicos - terreno, vegetação, solo, rios e lagos -, por sua vez “a paisagem
cultural, humanizada”, incluía “todas as modificações feitas pelo homem, como nos espaços
urbanos e rurais” (SCHIER, 2003, p.80). Essa abordagem deixava explicita a dicotomia
existente para o conceito paisagem.
Diante da diversidade conceitual desse termo, esse estudo adotará a concepção
integradora de paisagem do geógrafo francês Georges Bertrand (2004, p.141), o qual ressalta
que a paisagem não é a simples soma de elementos geográficos aleatórios, mas é “o resultado
da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos, físicos, biológicos e antrópicos” que,
por meio da interação entre eles, “fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em
perpétua evolução”.

116
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Essa combinação de dinâmicas em uma determinada porção do espaço não se trata


somente da paisagem “natural”, mas da paisagem na sua totalidade, que integra além dos
processos naturais todas as implicações da ação antrópica. Em sua definição, Bertrand dá a ideia
de conjunto à paisagem, integrando as esferas natural e humana. O autor compreende que a
natureza e a sociedade interagem entre si, formando uma totalidade no espaço geográfico.
Buscando contribuir no âmbito dessa análise, Bertrand (2004) propôs um sistema
hierárquico de classificação para a paisagem, composto por seis níveis têmporo-espacial,
subdividido em duas unidades, a superior e a inferior. A primeira unidade é composta por três
níveis – zona, domínio e a região natural; e a inferior, integrada pelo – geossistema, geofácies
e o geótopo.
A noção de escala é imprescindível no estudo de paisagem. Os níveis hierárquicos
propostos abrangem desde a escala mais ampla – a zona, até a mais reduzida – o geótopo. O
geossistema se destaca entre os níveis, pois “constitui uma boa base para os estudos de
organização do espaço porque ele é compatível com a escala humana” (BERTRAND, 2004,
p.146).
O conceito de geossistema foi definido, primeiramente, pelo geógrafo soviético
Sotchava, em 1963. Nessa escala analítica é possível reconhecer os detalhes da paisagem, com
base na identificação das interações entre os fatores naturais e antrópicos, com ênfase na
dinâmica da sociedade. Dentro de um geossitema, existem estruturas verticais, que representam
a as características do solo e macrorrelevo, além das estruturas horizontais, ligadas ao
escoamento superficial, relevo e deslocamento de substâncias.
A importância da compreensão holístico-sistêmica da paisagem revela a adoção de uma
visão de totalidade na formação do espaço geográfico. Vale enfatizar que “a noção de sistema
é bastante primitiva, no sentido de que ele se aplica a quase tudo o que existe e é complexo e
organizado. Por sistemas podemos entender um conjunto de elementos quaisquer ligados entre
si por cadeias de relações de modo a construir um todo organizado” (MACIEL, 1974 apud
CAMARGO, 2005, p.54).
Diante dessa afirmação depreende-se que a paisagem corresponde a um sistema
complexo, formado por partes que interagem, e essas partes compõem sistemas em uma escala
menor, subsistemas, em conformidade com a abordagem da Teoria Geral dos Sistemas.
A Teoria Geral dos Sistemas (TGS) foi enunciada pelo biólogo Ludwig Von Bertalanffy
na década de 30 e foi difundida após 1950. O diferencial dessa proposta é o esforço para a
compreensão do objeto de estudo na sua totalidade (CAMARGO, 2005). Os processos não são

117
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

estudados isoladamente, mas busca-se encontrar a resposta dos problemas a partir da análise,
da organização e unificação das partes.
A TGS tem por objetivos – “projetar uma nova análise para a compreensão das
dinâmicas sistêmicas” e; “atuar em qualquer que seja a natureza dos elementos que compõem
uma relação de forças entre eles, o que inclui qualquer disciplina científica” (BERTALANFFY,
1968 apud CAMARGO, 2005, p.52). Nessa perspectiva essa teoria torna-se abrangente.
A paisagem, enquanto geossistema representa a síntese da dinâmica estabelecida na
interação das relações entre os elementos naturais e a sociedade. Mediante o que foi abordado,
pode-se entender a paisagem como sendo o resultado de interações complexas entre os
elementos bióticos e abióticos – clima, relevo, hidrografia, geologia, fauna, flora, solo –, e as
ações humanas.
Atualmente, as sociedades humanas são importantes agentes transformadores da
paisagem. Ela revela-se um termômetro dos efeitos provenientes das interações sociais.
Dependendo da forma com que o homem se apropria dos recursos ambientais, desencadeiam-
se processos que põem em risco o equilíbrio do meio ambiente. Uma vez alterado o equilíbrio,
há repercussões em todo o sistema, pois os efeitos se propagam em cascata sobre as partes ou
subsistemas.
A determinação dos tipos de atividades que correspondem ao uso e ocupação do solo
representa o planejamento ambiental interligado à expansão econômica e social, sendo
denominada como um “diagnóstico operacional”, para “manejo e gestão de qualquer unidade
territorial”. (CAVALCANTI; RODRIGUEZ; SILVA, 2013, p.13).
A inter-relação de fatores existentes no conceito de paisagem produz um modelo que
inclui e desenvolvem recursos naturais, estes são utilizados por comunidades com
características próprias responsáveis pela geração de maneiras distintas de uso e ocupação.
Considerando-se esses aspectos se faz necessário desenvolver estudos sobre os ambientes
costeiros visando ordenar as atividades econômicas e a gestão do território. Dessa forma, é
fundamental analisar as características e a dinâmica da paisagem.

Contextualização: Unidade de Paisagem e uso e ocupação

A paisagem do município Barra dos Coqueiros corresponde à Planície Costeira


Holocênica composta por diferentes morfologias. Considerando que é um ambiente de
formação recente, está suscetível a frequentes alterações, devido à ação dinâmica de processos
naturais e antrópicos. Embora seja caracterizada como um ambiente sensível são os tipos de

118
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

uso presentes na Planície Costeira que concorrem para a descaracterização da paisagem,


resultando em modificações na dinâmica natural, com repercussões sobre as feições
morfológicas.
Os diferentes tipos de paisagens em um mesmo local podem ser definidos como
unidades locais de paisagem. Conforme Haber (1994) essas unidades emanam no processo de
secção erosivo do relevo, de infiltração da umidade nas rochas mães e sua lixiviação, influído
pelos processos de intemperismo.
Segundo Alves (2010), a Unidade Geomorfológica presente na área de Barra dos
Coqueiros está associada ao arcabouço geológico e aos eventos paleoclimáticos que atuaram na
região principalmente no Quaternário. A Planície Costeira engloba um ambiente sensível aos
processos e fenômenos naturais, e às intervenções antrópicas.
As paisagens identificadas no município Barra dos Coqueiros correspondem a unidades
locais e de pequeno ou médio porte, inseridas em outra de maior escala. Nas unidades locais
predomina-se a hierarquia, fator indispensável para delimitação de sistemas taxonômicos.
Existem quatro características essenciais para a distinção entre as unidades assim como afirma
Cavalcanti, Rodriguez, Silva (2013, p.89): “a subordinação morfológica da paisagem, a
estrutura funcional, a estrutura horizontal, disposição e características da composição
substancial”.
Alves (2010) em seu estudo dos municípios costeiros do Litoral Norte apresenta uma
compartimentação da paisagem dessa área com base na taxonomia proposta por Ross (1992).
No presente estudo, utiliza-se apenas a compartimentação referente aos níveis taxonômicos
correspondestes ao município Barra dos Coqueiros (Figura 01).

119
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Figura 01 – Unidades taxonômicas da paisagem do município de Barra dos Coqueiros.

Fonte: Adaptado de ALVES (2010).

No tocante a Planície Costeira, para compreensão dos seus aspectos evolutivos, além da
atuação dos condicionantes descritos por Bittencourt et. al. (1983), precisamos evidenciar
também a interação das oscilações do nível relativo do mar, à deriva litorânea e os aportes de
sedimentos marinhos e fluviomarinhos.
A Planície Costeira, Unidade de Paisagem que compõe Barra dos Coqueiros
corresponde a uma faixa alongada no sentido NE-SW e é integrada por feições de diferentes
temporalidades. Em seu estudo Alves (2010), destacou as seguintes subunidades: Terraços
marinhos holocênicos atuais (Atm3), Campos de dunas atuais (Aed2, Aed3), Planície
fluviomarinha (Apmi, Apms), Campo de deflação eólica (Eeol), Cordões litorâneos e Planície
costeira de progradação artificial (Appa) (Mapa 03).
Neste contexto, a Planície Costeira constitui uma área de transição entre a Interface
Continental e Interface Marinha, compreendendo um ambiente sensível aos eventos naturais e
as ações antropogênicas, responsáveis pela variedade de feições. De acordo com Alves (2010)
a Planície fluviomarinha é composta pela planície de maré inferior e a planície de maré superior.
A planície de maré inferior compreende as áreas permanentes sujeitas às oscilações das marés,
já a planície de maré superior estando localizada numa altitude mais elevada, casualmente está
sujeita às inundações das preamares equinociais, e “devido à salinidade mais elevada dos solos,
na planície de maré superior se encontra a vegetação de Apicum e o mangue-de-botão
(Conocarpus erectus) (ALVES, 2010, p. 115).

120
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Mapa 03 – Geomorfologia do município Barra dos Coqueiros

Fonte: Adaptado de ALVES (2010).

O ecossistema manguezal destaca-se nessa área como consequência da oscilação diária


das marés oceânicas e da baixa declividade do terreno da planície de maré (ALVES, 2010).
Na área do estuário do rio Japaratuba, ocupando uma área de 3,5 km²,
aproximadamente, encontram-se as espécies Rhizophora mangle, Laguncularia
racemosa, Avicennia germinans e Conocarpus eretus. Por sua vez, às margens do
canal do rio Pomonga existem duas áreas distintas de vegetação de Mangue; uma
associada à planície de maré inferior, com as espécies supracitadas, correspondendo
a 10,7 km² e, outra caracterizada pelo mangue-de-botão (Conocarpus erectus) e
pequenas manchas de Spartina sp e Sporobulus virginicus – espécie herbácea
frequente nas áreas de Apicum, que estão associados à planície de maré superior. O
Apicum (EVa) cobre uma área aproximada de apenas 3,1 km² e se encontra sobre os
solos salinos, sujeitos à inundação apenas durante às marés equinociais mais elevadas.
(ALVES, 2010, p. 72)

Assim, devido à fragilidade desse ecossistema, esse domínio possui limitações quanto
ao seu uso, sendo áreas utilizadas tradicionalmente para as práticas de extrativismo animal
(pesca artesanal e cata de crustáceos), vegetal (extração de madeira). Na atualidade, o
manguezal vem sofrendo devastação pela ação antrópica que tem removido a vegetação do

121
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

mangue para ceder lugar aos viveiros destinados a criação de camarões, fator prejudicial para
o processo hidrodinâmico natural.
As Dunas costeiras ativas e as embrionárias, assim como as demais subunidades de
paisagem, foram oriundas das flutuações paleoclimáticas ocorridas no período Quaternário e
relacionadas aos atuais eventos eólicos. No processo de formação das dunas ativas e
embrionárias enfatiza-se a atuação dos ventos de Leste, nos meses de novembro, dezembro e
janeiro, caracterizado pelo aumento de temperatura e diminuição dos níveis de precipitação,
entre a primavera e o verão (ALVES, 2010).
Conforme Filho (2016, p.43), no Nordeste os meses referentes ao outono concentram os
ventos mais fracos, enquanto os meses correspondentes à primavera os ventos mais fortes,
“porém não há uma curva bastante acentuada da sazonalidade como nas outras estações, a
velocidade do vento fica em média de 4,5 m/s”. A velocidade dos ventos no período destacado
acima é considerada forte, representando o deslocamento de sedimentos para rodovias e
residências, “com uma granulação grosseira (diâmetro médio de 0,44 mm) nas superfícies das
dunas.” (BARBOSA 1997, p.119 apud ALVES 2010, p.113).
Os solos arenoquartzosos são característicos das áreas de dunas, com a presença de
cobertura vegetal de Restinga, assim como afirma Alves (2010, p.170), “predominantemente
arbustiva e arbórea”, preenchendo as partes superiores, formando “conjuntos circulares onde se
entremeiam espécies xeromorfas”.
Os cultivos de coco-da-baía (Cocos nucifera L.) e o extrativismo da madeira usada como
lenha configuram-se uma atividade econômica para o município, gerando atribuições ao uso e
ocupação das referidas dunas, provocando modificações nas unidades paisagísticas. Além das
atividades agrícolas, evidencia-se o crescimento do turismo e a especulação imobiliária, com o
surgimento de condomínios, casas de veraneio, resorts e hotéis, fundamentados a exploração
da paisagem natural, atribuindo funções e valores de mercado.
O Campo de deflação eólica (Eeol) constitue-se em superfícies esculpidas a partir do
transporte eólico de sedimentos arenosos depositados sobre os Terraços marinhos holocenicos
atuais (ALVES, 2010). No município Barra dos Coqueiros/SE, essa subunidade, assim como
as demais, encontra-se sobreposta a Planície Costeira, com processos morfogenéticos
diretamente associados a dinâmica fluvial, marinha e eólica.
A formação dessas superficies é favorecida, fundamentalmente, pelo transporte de
sedimentos advindos das Dunas costeiras ativas e dos Lençóes de areias (Aed2), conforme
evidencia a própria nomeclatura, e apresentam baixa cobertura vegetal e material incosolidado
facilmente removível, favorecendo o tranporte de sedimentos de uma unidade a outra.

122
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Com formação predominantemente arenosa e com baixa consolidação, o Campo de


deflação eólica sofre influência de inundações periódicas e apresenta ocorrência de processeos
de acúmulo arenoso que ocorrem de maneira pontual, alterando a dinâmica fluvial de pequenos
canais de drenagem existentes na área.
A dinâmica natural dessa subunidade de paisagem vem sendo alterada ao longo dos anos
em decorrência, principalmente, da construção de grandes obras de engenharia que apresentam
influência direta sobre o dinamismo eólico, exemplificadas, aqui, pelo setor portuario e
industrial do municipio de Barra dos Coqueiros (Figura 02A). Um novo empreendimento em
implantação nessa área, que pode resultar em alteração na dinâmica do tranporte eólico é a
Usina Termoelétrica Porto Sergipe I, considerada a maior da América Latina e prevista para
comecar as operações em 2020 (CELSE, 2018) (Figura 02B).
Quanto as formas de uso e ocupação da terra nessa subunidade de paisagem, destaca-se
sobre tudo, as pastagens nativas, amplamente antropisadas em detrimento do desenvolvimento
da pecuária extensiva, que ocorre sem nenhuma forma de manejo específico, deixando o
ambinte natual em estágio de relativa vulnerabilidade e suceptível a ocorrência de processos
degredacionais dos mais diversos. Na interface com o domínio das pastagens nativas ocorre,
também, a produção da fruticultura, muito comum nos municipios costeiros do litoral
sergipano.
Dentre essa produção, tem destaque a cocoicultura e a coleta da mangaba,
influenciada pelo dominio das Restigas que mesmo apresentando amplas áreas conservadas,
vem sofrendo no tempo e no espaço intesas transformações oriundas da ocupação desordenada
e sem planejameneto.

123
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Figura 02 – Obras de engenharia que apresentam influência direta sobre o dinamismo


eólico

(A) Terminal Marítimo Inácio Barbosa - offshore; (B) Implantação da Usina Termoelétrica Porto
Sergipe I. Fonte: LEITE, 2018.

A subunidade de paisagem Terraços marinhos, existente na área de estudo,


correspondem a feições elaboradas no período Holoceno do Quaternário. Segundo Alves (2010,
p.112) na área de estudo são identificados Terraços marinhos holocênicos atuais (Atm3), os
quais “encontram-se associados a um conjunto contínuo de cordões litorâneos”. Em Barra dos
Coqueiros eles “se distribuem numa faixa de cerca de 2 km de largura com extensão linear de,
aproximadamente, 13 km”. O avanço das dunas costeiras ativas, localizadas em área próxima
ao Terminal Portuário Inácio Barbosa, interrompe a sequência dos terraços, os quais em alguns
setores do município chegam a fazer contato com a planície fluviomarinha e os lençóis de areia.
Em relação à ocupação dessa subunidade, ela assim como os cordões litorâneos
encontra-se colonizadas por espécie da Restinga herbácea e arbustiva, pastagem e coqueiral
(ALVES, 2010). No que se refere ao uso, há um predomínio do setor imobiliário, o qual é
atraído pelos novos espaços e que tem “intensificado a ampliação das áreas urbanas a partir da
construção de condomínios fechados, bem como a construção de hotéis e resorts”, tendo essa
ocupação se expandido para as áreas litorâneas, “principais alvos desta expansão”
(RODRIGUES; BARRETO; SOUZA, 2017, p.2858) (Figura 03).
Considerando-se as análises procedidas em imagens de satélites dos anos de 2003, 2005,
2009, 2010, e 2012 a 2018 por meio Google Earth Pro©, evidenciou-se a expansão urbana do
município, principalmente a partir das imagens do ano de 2009, em decorrência da ponte que
interliga desde 2006 o município à capital do estado, Aracaju (Figura 04A e 04B).

124
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Para a instalação dos empreendimentos em Barra dos Coqueiros é recorrente “a retirada


da vegetação nativa, restinga, manguezal e coqueiros, desmatando extensas áreas que serão
utilizadas para a instalação da infraestrutura urbana” (RODRIGUES; BARRETO; SOUZA,
2017, p.2858). Na atualidade, “as antigas fazendas de coco-da-baía (Cocos nucifera L.) estão
sendo substituídas por condomínios de luxo de segunda residência, rede hoteleira e outras
atividades de suporte ao desenvolvimento do turismo” (LEITE; ALVES, 2010, p.2812).

Figura 03 – Espaço para a construção de condomínio fechado, nas adjacências da Praia


da Costa.

Fonte: LEITE, 2018.

Na área de estudo os cordões litorâneos estão localizados sobre os terraços marinhos


holocênicos. De acordo com Alves (2010, p. 109), na paisagem do município os cordões
litorâneos se assemelham a suaves ondulações, e “correspondem a linhas de costa pretéritas,
portanto são evidências dos eventos que atuaram no litoral sergipano durante o Quaternário”.
Essas feições litorâneas se caracterizam pelos seguintes aspectos - possuem altitude de
entre 2 e 4 metros; no espaço intercordões encontramos lagoas de pequeno porte, as quais, em
sua maioria, apresentam alimentação temporária segundo o regime das chuvas; sua alimentação
se dá mediante sedimentação das areias da praia; sofrem constante transformação e
retrabalhamento da ação eólica.
No que condiz ao uso e ocupação dos cordões litorâneos verificamos uma intensa
atividade antrópica nessas áreas. Isto se agravou com o crescimento da especulação imobiliária,
a qual tem se multiplicado por meio de condomínios fechados e resorts de luxo em Barra dos

125
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Coqueiros. Isso tem comprometido a preservação dessas feições naturais, nas quais ainda
encontramos restinga herbácea e de arbustos, pastagem e coqueirais.

Figura 04 – Expansão urbana no município Barra dos Coqueiros

(A) Imagem de satélite referente à 11/2005; (B) Imagem de satélite referente à 03/2018.
Fonte: Google Earth Pro©.

Na atualidade é evidenciada alterações antrópicas nas características naturais dessa


subunidade. A amplitude altimétrica característica dos cordões litorâneos tem sido modificada
por meio de terraplenagem, técnica usada no âmbito da construção civil para deixar os terrenos
planos para instalação dos empreendimentos.
Algumas áreas de cordões, estrategicamente, não passaram pela técnica supracitada e
tiveram os espaços intercordões – área naturalmente deprimida onde há a formação de lagoas
de pequeno porte – apropriados como elemento cênico, pelos empreendimentos construídos
sobre esse espaço (Figura 05).

126
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

A expansão do número de moradias, associadas aos empreendimentos implantados na


área, também contribuem para a alteração da alimentação dessa subunidade, a qual além de
sofrer constante transformação e retrabalhamento da ação eólica, também tem sido abarcada
pela especulação imobiliária.

Figura 05 – Formação de lagoas nas áreas intercordões.

áreas
intercordões

Fonte: Google Earth Pro©, imagem registrada em 31/12/2017.

As subunidades de paisagem anteriormente descritas apresentam em comum uma


formação restrita à atuação isolada dos processos naturais, sem interferência da ação antrópica.
No entanto, na área da abrangência da Praia de Atalaia Nova, verifica-se a existência de uma
subunidade de paisagem que teve sua formação associada à interação entre a os processos
naturais e a ação humana. A progradação marinha artificial (Appa) apresenta a formação
relacionada à construção do molhe na faixa praial. Ele tem acarretado o aumento da largura da
praia, próximo ao rio Sergipe constatando-se a acreção dos sedimentos (ALVES, 2010).
Além da ocorrência de uma área da progradação artificial (Appa) no setor da Praia de
Atalaia Nova mencionado por Alves (2010), sobre esse ambiente atualmente é constatada a
formação e desenvolvimento de um cordão de dunas frontais ou embrionárias resultantes das
derivações antropogênicas. O molhe instalado na margem esquerda da foz do rio Sergipe,
provocou o bloqueio de parte dos sedimentos carreados pela corrente de deriva litorânea
(LEITE; ALVES, 2010).
O aporte sedimentar fornecido a essa área, favoreceu o retrabalhamento dos sedimentos
depositados, pelos processos eólicos, condicionando a formações de um cordão de Dunas
embrionárias de influência Antrópica. Essa nova subunidade aqui representada pela sigla

127
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

AediA corresponde ao ambiente eólico dunar de influência antrópica, caracterizado por uma
área de deposito eólico atual, de altitude entre 2 e 4 metros, que ocorre sobre a planície costeira
de progradação artificial (Appa) (Figura 06).

Figura 06 – Subunidades de Paisagem do município Barra dos Coqueiros.

Fonte: Adaptado de ALVES (2010).

Contudo, é evidenciado que a formação e evolução dessas duas últimas subunidades só


se processam em virtude de uma interferência antrópica, o molhe, e se não existisse essa obra
de engenharia costeira, a paisagem desse ambiente, provavelmente, se apresentaria diferente da
atual. Embora esses ambientes sejam formados por sedimentos inconsolidados, a falsa ideia de
estabilidade tida pelos gestores, em virtude da progradação, permitiu a construção de uma praça
de eventos e um complexo poliesportivo (Figura 07).
A Barra dos Coqueiros, assim como os demais municípios localizados na região
costeira, apresenta falhas respectivamente ligadas aos conceitos de preservação ambiental,

128
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

desenvolvimento sustentável e de estudos que evidenciam as causas de problemas ambientais.


Segundo Orea (2007 apud FONSECA, VILAR, SANTOS, 2010, p.42), planejamento
ambiental é “um processo racional de tomada de decisões, o qual implica necessariamente uma
reflexão sobre as condições sociais, econômicas e ambientais que orientam qualquer ação e
decisão futura”.

Figura 07 – Construção de uma praça de eventos e um complexo poliesportivo na área


de Progradação artificial (Appa).

Fonte: Google Earth Pro©, imagem registrada em (A) 02/01/2004 e (B) 06/12/2017

Além das contradições sobre os conceitos mencionados anteriormente, existem também


problemas relacionados às legislações de cunho federal, estadual e municipal. Não é difícil
identificar nos municípios costeiros de Sergipe intervenções antrópicas sem o devido respeito
às legislações pertinentes e sem o devido planejamento, colocando em risco o desejado
equilíbrio ambiental, agravando assim os conflitos e contradições presentes na estrutura
territorial. (FONSECA; VILAR; SANTOS, 2010, 41).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As análises desenvolvidas no município Barra dos Coqueiros/SE permitiram a
identificação e caracterização das subunidades de paisagem que se desenvolvem sobre a
unidade Planície Costeira, consistindo em: Terraços marinhos holocênicos, Cordões litorâneos,
Dunas ativas e embrionárias, Planície fluviomarinha e Campo de deflação eólica. As formações
dessas estruturas morfológicas estão associadas à dinâmica marinha, fluvial e eólica no
município supracitado.

129
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

A ação humana em Barra dos Coqueiros é outro elemento que, no tempo-espaço, está
favorecendo a descaracterização do desenvolvimento e manutenção dessas morfologias, e
provocando a gênese de feições, a exemplo das áreas de Progradação artificial e das Dunas
embrionárias de influência antrópica, constituídas essencialmente a partir de processos
antropogênicos diversos.
Constatou-se ainda que, os grandes projetos de engenharia (terminal marítimo, usina
termoelétrica e o molhe, na desembocadura do rio Sergipe) vêm alterando de modo significativo
às paisagens do município, resultando tanto em danos físicos/ambientais quanto sociais. Esses
danos estão relacionados à erosão marinha, ao transporte irregular de sedimentos e a criação de
áreas de alta vulnerabilidade socioambiental.
Quanto ao uso e ocupação das terras, verificou-se por meio da comparação de imagens
de satélite do Google Earth Pro©, que nos últimos treze anos Barra dos Coqueiros passou por um
intenso processo de especulação imobiliária, resultando na ocupação de áreas ainda cobertas
por vegetação natural (Restinga). Essas ocupações estão ocorrendo de forma desordenada,
alterando o transporte eólico de sedimentos, a dinâmica das pequenas lagoas que se multiplicam
entre as subunidades de paisagem e descaracterizando os canais de drenagem formadores da
rede drenagem do município.
Todos esses elementos constituem indicadores da necessidade de se atualizar propostas
de zoneamento que possam subsidiar estratégias de ocupação de maneira ordenada, a fim de
minimizar os impactos da ação no ambiente. Assim, aponta-se também a necessidade do
desenvolvimento de novas análises sobre as especificidades da morfodinâmica das subunidades
de paisagem de Barra dos Coqueiros, buscando-se aportes metodológicos que permitam
análises integradas, associando às interações antropogênicas as bases físicas da paisagem.

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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

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132
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

RELATO DOS PROCESSOS EROSIVOS NA ÁREA LITORÂNEA DA PRAIA DA


CAUEIRA
REPORT OF EROSIVE PROCESSES IN THE LITORAN AREA OF CAUEIRA
BEACH
RELATO DE LOS PROCESOS EROSIVOS EN EL ÁREA LITORÁNEA DE LA
PLAYA DE LA CAUEIRA

Thassia Luiza Santana Costa


Especialista em Pericia Ambiental (FANESE), Eng. Ambiental (UNIT), Consultora Executiva em Meio Ambiente
do Programa de Desenvolvimento do Turismo em Sergipe (PRODETUR), E-mail: thassiasantana19@hotmail.com
1
Pós Doutora, Doutora e Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/UFS.
Engenheira Florestal
Heloísa Thaís Rodrigues de Souza
Professora Colaboradora do PRODEMA/UFS. Engenheira Florestal da Secretaria Municipal de Planejamento,
Orçamento e Gestão –SEPLOG. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Geoecologia e Planejamento Territorial
– UFS/ CNPq. Email: heloisathais@hotmail.com

RESUMO
O avanço do mar sobre as estruturas urbanas são constantemente vistos na região da praia da
Caueira no município de Itaporanga D´ajuda em Sergipe, existem registros fotográficos que
apresentam essa situação ao longo do tempo, que ocorre justamente porque a região costeira do
estado de Sergipe em sua maioria vem sendo utilizado de forma desordenada, desconsiderando
as características ambientais existentes, essenciais para o equilíbrio desses ambientes. O avanço
do mar sobre as casas residenciais, orla, bares e restaurantes na Caueira tem deixado muros
deteriorados e casas de veraneios em desusos. Causando prejuízos econômicos e sociais. Tendo
em vista que inúmeras atividades se desenvolvem neste local é preciso analisar a situação de
forma específica para que seja possível compreender com maior precisão as diversas
possibilidades do comportamento do uso e exploração da Zona Costeira em questão, de modo
que através das informações aqui apresentadas, sejam somadas análises socioambientais que
possam desenhar medidas mitigadoras para amenizar o conflito entre o uso humano e o
ambiente costeiro. Sendo assim esse estudo visa apresentar dados literários sobre os fenômenos
costeiros que apresentam fatores naturais interagindo e definindo a região costeira do município
de Itaporanga D´Ájuda com foco na Praia da Caueira, uma área caracterizada por acentuada
atividade turística.

Palavras Chaves: Regiões Litorâneas, Dinâmica Costeira e Processos Erosivos.

133
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

ABSTRACT
The sea breakthrough over the urban structures is constantly reported in Caueira beach localized
in Itaporanga D'ajuda city in Sergipe, there are photographic records that show this situation
over the time, which occurs precisely because the coastal region in state of Sergipe is in the
majority, has been used in a disorderly way, disregarding the environmental characteristics
were existing, essential for the balance of these environments. The sea breakthrough over the
residential houses, waterfront, bars and restaurants in Caueira has left deteriorated walls and
vacation homes in disrepair. Generating economic and social damages. Considering that many
activities where is developed in this place, it is necessary to analyze the situation in a specific
way so that it is possible to understand with high precision of many possibilities about the use
and exploration in the coastal zone in question, so that through the information presented here
is accompanied by socio-environmental analyzes that enable mitigation measures to be taken
to mitigate the conflict between human use and the coastal environment. Thus, the study aims
to present literary data about coastal phenomena that indicate the natural interacting factors and
defining the coastal region in the municipe of Itaporanga D'Ájuda with focusing in Praia da
Caueira, where is characterized by high tourist activity.

Keywords: Coastal Regions, Coastal Dynamics and Erosive Processes

RESUMEN
El avance del mar sobre las estructuras urbanas son constantemente visto en la región de la
playa de Caueira en la ciudad de Itaporanga D'ajuda en el estado de Sergipe. Hay registros
fotográficos que muetran esta situación a lo largo del tiempo. Ella ocurren justamente porque
la región costera del estado de Sergipe a menudo se utiliza de forma desordenada,
desconsiderando las características ambientales existentes que son esenciales para el equilibrio
de estos ambientes. El avance del mar sobre las casas residenciales, orilla de playa, bares y
restaurantes en la región de la Caueira ha provocado muros deteriorados y casas de veraneos
que se quendan sin uso, lo que genera daños económicos y sociales. Considerando que muchas
actividades se desarrollan en este lugar, luego es necesario analizar la situación de forma
específica. Asi que sea posible comprender con mayor precisión las diversas posibilidades que
tiene el comportamiento del uso y explotación de la Zona Costera en cuestión. En favor de las
informaciones aquí presentadas y añadidas los análisis socioambientales será posible diseñar
medidas mitigadoras para amenizar el conflicto entre el uso humano y el ambiente costero. Asi
que, este estudio se pretende presentar datos literarios que muestram los fenómenos costeros
que presentan factores naturales interactuando y definiendo la región costera del municipio de
Itaporanga D'ájuda con foco en la Praia da Caueira, un área caracterizada por acentuada
actividad turística.

Palabras Clave: Regiones Litoráneas, Dinámica Costera y Procesos Erosivos

134
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

1. INTRODUÇÃO

A Região Costeira é alvo de muitas ações antrópicas, que desde o princípio se caracterizou
como uma região favorável, para as atividades econômicas portuárias e petrolíferas, motivando
o grande aumento de cidades costeiras. As zonas costeiras por suas condições naturais
favorecem o desenvolvimento das atividades turísticas, além de tantas outras, a exemplo da
maricultura3. Esse conjunto de atividades vem ocasionando alterações significativas,
principalmente porque o ambiente costeiro é biologicamente complexo e frágil, com
características bastantes especificas.
A complexidade desses ambientes costeiros, que na maioria da vezes são utilizados de
forma não planejada, pode ser melhor compreendida na definição da Política Nacional de
Gerenciamento Costeiro instituído pela Lei 7.661, de 16/05/88 4, que diz:
A Zona Costeira abriga um mosaico de ecossistemas de alta relevância
ambiental, cuja diversidade é marcada pela transição de ambientes terrestres e
marinhos, com interações que lhe conferem um caráter de fragilidade e que
requerem, por isso, atenção especial do poder público, conforme demonstra
sua inserção na Constituição brasileira como área de patrimônio nacional. Em
busca da conservação, inúmeros estudos visam compreender o ambiente
marinho, a fim de conhecer sua dinâmica e buscar maior conservação desse
ecossistema (NACIONAL, 1988).

Por compreender tamanha fragilidade e dinamismo é que o Ministério do Meio Ambiente


(MMA), visou a necessidade de criar definições existentes, porque contribuem para a maior
compreensão real da área em questão e facilita uma linguagem universal no estabelecimento de
normas e leis para o uso desses ambientes.

A orla marítima constitui a faixa de contato da terra firme com um corpo de


água e pode ser formado por sedimentos consolidados (praias e feições
associadas), ou rochas e sedimentos consolidado, geralmente na forma de
escarpas e falésias de variados graus de inclinação. O estabelecimento de
faixas de proteção ou de restrição de uso desses espaços vem sendo adotados
por muitos países, tanto para manter as características paisagísticas, como para
prevenir perdas materiais em decorrência de erosão costeira. (MMA, 2007).

Em resumo é valido ressaltar que a Zona Costeira de Sergipe, diferentemente da grande


parte da costa leste brasileira, está em uma vasta Bacia Sedimentar Costeira onde o mar adentra
os canais dos rios até 40 km perpendicular à orla marítima, formando mais de 500 Km² de
planícies estuarinas cobertas por densas florestas de manguezal, que são áreas de reprodução,
abrigo e alimentação de milhares de espécies dentre peixes, aves, mamíferos da costa do Brasil
(faixas marinha e terrestre). E a praia da Caueira como parte desse litoral, apresenta essa mesma

3
Atividades de pescaria e outras atividades econômicas realizadas no mar.
4
Lei Nacional de Gerenciamento Costeiro – PNGC 7.661, de 16/05/88 que estabelece os instrumentos e as
diretrizes para a gestão integrada da Orla Marítima.

135
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

diversidade e peculiaridade, com processos erosivos marcantes e frequentes registros de bens


públicos atingidos pelo avanço do mar sobre os mesmos.
O estudo em questão visa apresentar um recorte simplificado de áreas sensíveis aos
eventos climatológicos, a movimentação sedimentar se relacionando com o uso irregular da
região da Praia da Caueira no município de Itaporanga D`Ájuda, no estado de Sergipe, desse
modo foram utilizadas consultas bibliográficas para apresentar registros históricos dos
processos erosivos que já aconteceram na citada região.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1. Área de Estudo

Os Espaços Costeiros, consideram três ambientes importantes, as Zonas Costeiras, Orla


Marítima, Terrenos de Marinha e seus acrescidos, de modo que os dois primeiros espaços
admitem formas e gestão, e o último citado é considerado os terrenos de marinha e áreas de
dominialidade pública.
A Zona Costeira que considera área de interação entre ar, mar e da terra, abrangem faixa
marítima que corresponde ao espaço que se estende por 12 milhas náuticas, considerando a
partir das linhas de base e a faixa terrestre que são limitados pelos municípios costeiros ou
aqueles que sofrem interferência diretas desses ecossistemas.

O litoral Brasileiro tem 9.198 km de extensão, com inúmeras reentrâncias,


praias, falecias mangues, dunas, recifes, baías, restingas, entre outros, é um
dinamismo de interações que definem determinado litoral de acordo com a
região estudada, o estado de Sergipe possui 173 km de praias marítimas entre
os rios São Francisco ao norte e Piauí/Real ao Sul, com aspectos, físicos,
químicos e biológicos distintos. (JÚNIOR, 2012, pag 03)

Como definido no Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro – PNGC, (Lei 7.661, de


16/05/88), os municípios sergipanos litorâneos são Brejo Grande, Pacatuba, Indiaroba,
Pirambu, Santa Luzia do Itanhy, Barra dos Coqueiros, Laranjeiras (apesar de não ficar defronte
do mar, está enquadrado na área de abrangência do PNGC5), Santo Amaro das Brotas,
Riachuelo, Aracaju, Maruim, Nossa Senhora de Socorro, Rosário do Catete, São Cristóvão,
Itaporanga D`Ajuda, Estância, Ilha das Flores e Neópolis, totalizando um quantitativo de 18
municípios. Estes municípios devem, portanto, apresentar uma gestão eficiente e integrada dos

5
Do Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro II (PNGC II), definição de área de abrangência (item 3, letra d),
define que os municípios próximos ao litoral, até 50 km de linha de costa, que aloquem, em seu território atividades
ou infraestruturas de grande impacto ambiental sobre a Zona Costeira, ou ecossistemas costeiros de alta relevância.

136
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

ambientes costeiros através das políticas nacionais e estafuais propostas para garanti a
preservação do ecossistema costeiro.
A área de estudo em questão corresponde a praia da Caueira (Figura 1), localizada no
município de Itaporanga D`Ájuda. Apresenta 11,96 km de comprimento, considerando uma
linha tangencial a linha de costa, porém ressalta-se que a influência do ambiente costeiro em
questão, que seria a área do trapézio na figura abaixo apresentada, que oferta influência em toda
a área de praia. A área estudada possui peculiaridades especiais que caracterizam o ambiente
costeiro sergipano, a presença de cordões dunares, vegetação de restinga, cordões litorâneos e
outras características que configuram uma sensibilidade ambiental específica ao estado. Além
disso os registros de fenômenos de ressaca na região aqui citada são frequentes, caracterizando
a necessidade de avaliar com critério cientifico a área analisada.

Figura 1: Área de Estudo Local do Projeto Caueira.

Fonte: Imagem do Google Earth, 2016. Exposta no Projeto Executivo realizado pela Ambientec, através
do PRODETUR.

2.2. Caracterização Ambiental da Região

Considerando as características ambientais da área estudada apresenta-se algumas


definições gerais para o litoral sergipano, considerando a sua aplicabilidade a área de estudo

137
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

apresentada, de forma breve relata-se sobre os dados geológicos, da vegetação, das


características físicas e químicas e outras específicas ao ambiente estudado.
Por constituírem ambientes de formação geológicas recentes e de grande variabilidade
natural, geologicamente se caracteriza como:

A Zona Costeira do Estado de Sergipe pertence ao litoral leste Brasileiro,


estando incluído no contexto da unidade geotectônica da Bacia Sedimentar
Sergipe/Alagoas e na feição estrutural rasa denominada Plataforma de
Estância. Nestes domínios são encontrados os seguintes conjuntos litológicos:
a) rochas do complexo granulítico de idade Arqueana; b) rochas do grupo
Estância de idade Proterozóica; c) rochas da Bacia Sedimentar do Rio Sergipe
de idade Mesozoica, pertencente a formação serraria e aos grupos Baixo São
Francisco e Sergipe; d) Sedimentos do grupo Barreiras de idade Pliocênica e
Pleistocênica, e) sedimentos marinhos, fluviomarinhos, eólicos,
fluviolagunares, alúvio-coluvionares e halomórficos de mangue, de idade
Quaternária. (AB`SABER, 2001, pag 45)

Considerando a formação do grupo barreiras (Figura 2), marcada por formações recente
e pouco consolidadas, observa-se o estudo realizado por Fontes (1998), onde é muito importante
destacar que é característica da geologia da região costeira sergipana a presença de acumulações
eólicas situadas em diferentes níveis topográficos. Essa configuração propicia o surgimento de
campos dunares, e planícies arenosas, orientados segundo a incidência preferencial dos ventos
na costa.

138
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Figura 2: Mapa geológico do estado de Sergipe

Fonte: cprmv.gov.br. (2006)

Além dos aspectos geológicos citados, importantes na compreensão do contexto da região


estudada, deve-se considerar a influência das questões climáticas, que conferem peculiaridade
ao litoral sergipano, onde se enquadra a Praia da Caueira. Localizado na porção oriental da
região nordeste, está sob a influência das seguintes massas de ar, Tropical Atlântica (mTa) e
Equatorial Atlântica (mEa) e de sistemas fonológicos que se individualizam na Frente Polar
Atlântica (EPA) e nas Correntes Perturbadas de Leste (Ondas de Leste) que são decisivas na
manutenção de um regime pluviométrico caracterizado por chuvas mais abundantes no período
outono/inverno. “O litoral norte é menos úmido apresentando, anualmente, de três a cinco
meses secos, já no litoral sul ocorre um ou dois meses secos”. (FRANÇA 1988).
Como citado por José Antônio (2008), naturalmente em todo o ambiente marinho e
terrestre existe ausência ou predominância de alguns aspectos físicos e químicos, que se tornam
definidores das peculiaridades de cada ambiente especifico, entre esses fatores os principais
são: a salinidade das águas, a luminosidade, a temperatura, a densidade, o pH, os gases
dissolvidos e também o quantitativo de nutrientes existentes. Numa análise aprofundada de
fenômenos costeiros e de processos para modelagem costeiras, esses fatores precisam ser
estudados e relacionados para uma análise mais real possível.
De acordo com Oliveira (2007), existem os fatores mecânicos que apresentam função
muito importante na definição dessas regiões litorâneas, tornando-se delineadores de
determinadas paisagens, e definidores das características encontradas nestes ambientes, sendo

139
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

estes o avanço e recuo da água do mar (transgressão e regressão), assim como a movimentação
de massas de água e de ar.
Diante de todos esses aspectos seria possível dissertar resumidamente sobre esses fatores
a fim de propor um conhecimento mais sucinto a respeito da área em análise, contudo como o
objeto deste trabalho é apresentar registros históricos e recentes que demonstram que a área em
foco vem sofrendo processos erosivos, os critérios acima alecandos não estão sendo
aprofundados.
Sendo assim, tendo pontuado as considerações acima citadas, apresenta-se um relato
simplista da vegetação característica de regiões costeiras. De acordo com o livro de Biologia
Marinha (FREIRE, et al., 2007), as praias arenosas (característica do litoral sergipano) ainda
que demasiadamente atrativa para o turismo, constituem um ambiente ingrato para a vida de
espécies de plantas e animais, pois combinam os rigores do costão rochoso (impacto mecânico
das ondas, grande variação na temperatura e exposição periódica as marés) com a falta de um
substrato sólido para a fixação. O movimento das ondas e o tamanho dos grãos de areias são
fatores dominantes, a capacidade de retenção de água depende do tamanho dos grãos, tendo
maior potencial de retenção quando os grãos são maiores. A sobrevivência para pequenos
organismos intersticiais (aqueles que vivem entre os grãos de areia) depende exclusivamente
do potencial de água, a comunidade das praias arenosas possui população numerosa, mas com
baixa diversidade, consequência da escassa oferta de alimentos. (OLIVEIRA, 2007).
Em pesquisa feita em campo, Guidi (2009), afirma que as espécies de plantas também
são limitadas na região costeira devido à salinidade dos solos e outros fatores limitadores. As
praias sergipanas estão englobadas em toda a compreensão geral do litoral brasileiro, não
diferentemente, possuem sua geologia por formações sedimentares arenosas como especificado
nos aspectos geológicos. Esses aspectos caracterizam uma peculiar distribuição de restingas ao
longo do litoral sergipano, com espécies de plantas que são consideradas como fixadoras de
dunas, sendo ambientes favoráveis para determinadas espécies de animais adaptadas as
condições especificas deste ecossistema, muito embora estas espécies animais possuam pouca
variedade, devido aos limitantes fatores físicos e químicos destas regiões.
Segundo a resolução n. 261 de 1999 do Conselho Nacional do Meio Ambiente –MMA
(1984 - 2012), restinga é um conjunto de ecossistemas que compreende comunidades vegetais
de flores fisionomicamente distintas, situadas em terrenos predominantemente arenosos, de

140
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

origem marinha, fluvial, eólica ou combinações destas, com solos poucos desenvolvidos6. As
restingas compreendem flora, fauna, dunas e vales de dunas.
O termo restinga é usado vulgarmente para designar um conjunto de dunas e
areais costeiros, revestidos de vegetação baixa. A geologia usa o termo para
designar formações sedimentares arenosas costeiras, de origem relativamente
recente (alguns milhares de anos) e com variados aspectos: planícies, esporoes,
barras, etc. A Biologia tem empregado o termo para expressar um tipo de
comunidade vegetal litorânea determinada por condições edáficas (de solo),
arenosas, e pela influência marinha, possuindo origem sedimentar recente
(início do período quaternário), sendo que as espécies que ai vivem (flora e
fauna) possuem mecanismos para suportar os fatores físicos dominantes como:
salinidade, extremos de temperatura, forte presença de ventos, escassez de
água, solo instável, insolação forte e direta, entre outros. ((HENRRIQUE et al,
2010, pag 34)

Como mencionado as limitações do ambiente costeiro é definidora das espécies


encontradas na restinga, o alto índice de salinidade na região praieira caracteriza o tipo de
vegetação, como cita Oliveira (2007,p.66), no Livro de Biologia Marinha “a restinga é
considerada como uma vegetação terrestre muito influenciada pela maresia, onde a maior parte
dos vegetais são Halófilos7”.
Ainda de acordo com Oliveira (2007), a vegetação da restinga se caracteriza por folhas
rijas e resistentes, com forte poder de fixação no solo arenoso. Nas proximidades das praias
aparecem arbustos de pequenos portes de 1,5 a 2,0 metros de altura. Essa é a característica da
vegetação de linha de costa, arbustos e plantas de pequeno porte com resistência nas raízes, à
medida que a vegetação se afasta da área de influência direta do mar é possível encontrar uma
vegetação com relações de origem na Mata Atlântica com árvores que podem atingir alturas até
15 metros. As espécies animais dessas regiões são pouco diversas, são em sua maioria
crustáceos, moluscos e poucos vertebrados.
Segundo Vargas(2014), as restingas revestem as areias frontais e/ou interiores das áreas
litorâneas. Um aspecto típico das restingas é a presença de lagoas costeiras resultantes do
represamento de antigas baías e lagunas formadas entre as diversas flechas de areias que são
criadas pelas ações dos ventos. (AB`SABER, 2001)
Resumidamente Henrique et al (2010), discorre sobre a importância e valores do
ecossistema de restinga, discorrendo os principaispicos têm-se que o valor Ornamental e
Paisagístico, valor alimentício, arqueológico, ecológico, sendo esse um fator determinante, uma

6
Tais solos poucos desenvolvidos são denominados de espodossolos. São de constituição mineral e podem ser
encontrados de 200 cm da superfície do solo a 400 cm. Tem uma classificação muito variável, uma vez que é
concebido em vários tipos de horizontes de solo, como o A, B e E (EMBRAPA, 2010).
7
Adaptados a presença do sal no solo e sobre as folhas, possuindo as coriáceas e as espessas.

141
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

vez que o autor menciona que o conhecimento das espécies adaptadas a ambientes tão hostis
pode contribuir para a recuperação de áreas degradadas.
E o autor ainda salienta que o uso conservacionista de ecossistema litorâneo de restinga
facilitaria o controle em zonas urbanas costeiras, de espécies com potencial para pragas,
menciona ainda que a preservação do perfil arenosos do solo para as zonas urbanas próximas
as restingas é extremamente importante porque as águas das chuvas infiltram com facilidade, o
que reduz os riscos de enchentes e os custos com obras de drenagem. Uma importante
característica da restinga é a Contenção de Dunas, a vegetação de restinga cria obstáculos que
barram ou redirecionam os ventos, além de segurar essa areia com as raízes e com os ramos e
folhas. E conhecendo a importância que as dunas possuem para o equilíbrio de ambientes
costeiros, relata-se mais sobre tal ecossistema, uma vez que este possui uma influência e
presença acentuada na área de estudo apresentada.
As dunas possuem substrato predominantemente arenoso. Sofrem com a ação
mecânica dos ventos que moldam e remodelam constantemente sua topologia,
e com a influência direta de maré, principalmente na faixa mais interior. Ela se
forma em locais onde a velocidade do vento seja grande, constante e haja
disponibilidade de areia fina. Basta um vento constante de 18 km por hora para
mudar uma duna de posição. O que pode impedir isso é a escassa vegetação
rasteira que a cobre. Quando retirada pode causar sérios problemas com o
deslocamento das dunas que podem vim a cobrir estradas casas ou mesmo vilas
inteiras. (OLIVEIRA, 2007, pag 12)

A influência do vento pouco interfere em regiões rochosas datadas de épocas muito


remotas, no entanto, o vento é fator determinante na formação de dunas na Zona Costeira cujas
características de formação geológicas recentes são praias arenosas, porque sua força é capaz
de movimentar e carrear as partículas dessas rochas degradadas pela ação do intemperismo, a
partir desse momento os ventos com velocidades distintas surgem carregando essas partículas
e acumulando-as em determinado ponto, sendo essa areia fina barrada por obstáculos naturais
e artificiais, como vegetação, construções e etc, e como consequência desta queda de velocidade
através das barreiras, ocorre assim à deposição dos grãos formando as dunas.
As dunas constituem depósitos elevados que, geralmente, se formam quando o
vento encontra um obstáculo ao fluxo, distorcendo-o da seguinte maneira:
diante do obstáculo o vento o contorna e o ultrapassa, mas aí ocorre um setor
de redução da velocidade, favorecendo a deposição e a formação de montículos
arenosos que também alteram o fluxo. Os montículos se ligam e constituem o
início do depósito elevado. (BARROSO, 2010)

142
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Dunas são Áreas de Proteção Permanente- APP definidas na Legislação Brasileira e


regulamentadas pela Resolução nº 303 do CONAMA 8 (MMA, 1984 - 2012), onde define que
nos ambientes de restingas em qualquer localização ou extensão quando recoberta por
vegetação com função fixadora de dunas ou estabilizadora de mangue, sua importância é
inquestionável, e, portanto, não deve ser removida do local de origem. Uma vez que o ambiente
costeiro é marcado por dunas, deve ser preservado e mantido para sua máxima conservação,
apresentado daí um necessário e amplo conhecimento destas zonas.
Segundo Oliveira (2007), resumidamente existem definidos cientificamente dois tipos de
dunas: dunas móveis (migratórias) ou as dunas fixas (estacionárias). As dunas estacionárias ou
fixas são caracterizadas por que algum fator limitante, a vegetação, principalmente, ou outro
impede que o vento transfira as dunas de lugar, dificultando uma possível movimentação das
mesmas; e as dunas móveis ou migratórias, quando a ausência de uma barreira faz com que o
vento “movimente” as dunas, caracterizando um dinamismo extenso das areias finas, e o
deslocamento irregular das mesmas.
De acordo com (FREIRE, et al., 2007), um dos principais fatores que enaltece a
importância do sistema de dunas é que elas absorvem os raios solares e captam muito calor
durante o dia e o liberam vagarosamente á noite, assim a sensação térmica poderia ser mais alta
na área litorânea se elas não existissem.
Outra função importante do cordão de dunas é servir de esponja e contenção de água do
mar, sem elas, cada vez que o mar avançasse o lençol freático (reservatório de água subterrânea
decorrente de infiltração da chuva no solo), seria salinizado, prejudicando o consumo dessas
águas e a potabilidade desse lençol freático.
Diante do exposto vale ressaltar que de acordo com (OLIVEIRA, 2011) os campos de
dunas frontais abrigam espécies de fauna e flora que contribuem para o equilíbrio do
ecossistema do litoral. Espécies de aves, (migratórias ou residentes), répteis e mamíferos fazem
ninhos ou lares nessas dunas. Inúmeros fatores justificam o fato do ambiente litorâneo
(dunas/restingas) serem áreas de proteção e ter uma legislação voltada especialmente para esse
ecossistema, assim sua importância e sua necessidade para o equilíbrio geral da terra é de grande
validez.
É importante citar que o litoral Sergipano possui uma característica peculiar são os
cordões litorâneos lagunares:

8
Resolução nº 303 do Conselho Nacional de Meio Ambiente- CONAMA dispõe sobre parâmetros, definições e
limites de Áreas de Preservação Permanente. Art. 3º, IX e XI
Http://www.dicionarioinformal.com.br/isobata

143
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

A origem de cordões litorâneos que ocorre na parte central da costa brasileira


é interpretada em termos de abaixamento do nível médio do mar durante o
Holoceno e suas consequências do aporte de areias proveniente da plataforma
próxima. Mostra-se que a corrente de deriva litorânea tem um papel
fundamental no transporte das areias e que os alinhamentos dos cordões que
cobrem os terraços correspondem aos cristais de altas praias que foram
sucessivamente abandonadas no decorrer da progradação da costa. (FLEXOR
et al, 1985, pag 105)

Cordões Litorâneos são assim denominados porque são como um acidente que ocorre
junto à costa, constituído por material heterogéneo, geralmente areias e seixos, resultante do
desgaste da costa ou trazidos pelos cursos de água que desaguam no litoral, que se deposita
quando a velocidade das correntes marítimas diminui devido à baixa profundidade.
O transporte de sedimentos ao longo de uma praia arenosa se faz principalmente pelas
correntes de deriva litorânea geradas pelas ondas. De fato, próximo as praias, as ondas não
encontram profundidade suficiente para a sua propagação, ocorrendo então a sua arrebentação.
Este fenômeno acompanhado pela liberação de grande quantidade de energia, que será
traduzida, em parte, pela colocação em suspensão das areias e, parcialmente, na formação da
corrente de deriva litorânea. Naturalmente, este fenômeno ocorrerá somente se as ondas
atingirem obliquamente a linha de praia.
A velocidade desta corrente faz com que haja uma zona onde as areias foram
postas em suspensão pela arrebentação das ondas e portanto, o volume de areia
transportada por este meio será considerável. A ação combinada das águas de
espraiamento das ondas de arrebentação e da corrente de deriva litorânea
provoca o transporte considerado das areias. Evidentemente, o sentido do
transporte depende da direção de incidência das frentes de onda que atingem a
praia. Certamente, durante um período de abaixamento do nível relativo do
mar, parte da areia fornecida durante o restabe1ecimento do perfil de equilibrio
ira transitar ao longo da praia em consequência deste mecanismo. Este
transporte prosseguirá até que as areias sejam retidas por uma armadilha ou
bloqueadas por um obstáculo. Isto explica as grandes diferenças que podem
existir numa região que tenha sofrido um abaixamento uniforme do nível do
mar. Os terraços arenosos serão pouco desenvolvidos ou mesmo ausentes nas
regiões onde há predominância do trânsito litorâneo e muito importantes nas
zonas onde uma armadilha ou um obstáculo tenha permitido a retenção das
areias. Estas armadilhas ou obstáculos podem ser de tipos diferentes, tais
comomo, reentrancias da linha costeira, ilhas ou fundos rasos formando zonas
de fraca energia, pontões do embasamento rochoso que constituem um
obstáculo ao transporte litorâneo, desembocaduras fluviais importantes, etc.
(FLEXOR et al, 1985 pag 32)

O alinhamento destes cordões será dados por inúmeros fatores que só podem ser
analisados por um estudo aprofundado e especifico para cada litoral, é consideravel dizer que
no caso de Sergipe observa-se a presença de algumas lagunas que certamente são originadas
desse processo da formação de cordões litorâneos dado pela movimentação das ondas do mar

144
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

ao longo do período geológico, através do depósitos de areias barradas de forma natural, criando
algumas pequenas áreas, onde durante o período de surgência do lençol freático, ou períodos
das chuvas, aparecem e todo litoral.
É em virtude das inúmeras especificidades ambientais que o arcabouço legislativo, as
normas de regularização, os órgãos de fiscalização e controle, estão cada vez mais atentos e
direcionando ações especificas para proteger as áreas litorâneas, com base nos critérios e
normas regulamentadoras. Além disso o país estabelece leis que buscam ampliar a gestão
integrada de regiões costeira e garantir através do Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE-
Gerco) do Gerenciamento Costeiro estaduais e municipais, o uso de ferramentas
georreferenciadas para uma máxima análise que considere fatores distintos e únicos para cada
caso.
Sendo assim foi exposto da forma mais compacta possível as carcacteristicas ambientais
que se enquadram a praia da Caueira, uma área conflitante e marcada pelo uso do espaço dado
de forma irregular, sendo que esse espaço ainda preserva em determinadas zonas uma condição
natural original, ou seja áreas não urbanizadas, onde prevalece os cordões litorâneos e dunares
e a vegetação de restinga.
O fato de que parte dessa região vem sofrendo um processo ativo de urbanização, ocasiona
de forma gratdativa a perda de áreas naturalmente preservadas, provocando um conflito gritante
com as caracteristicas ambientais acima citadas, dunas e restingas foram removidas para dá
lugar a estruturas urbanas e atratativos turísticos, atividades como passeio de buggys em
cordões dunares, ofertam risco a manuntenção do equilibrio desses ambientes.
A análise irá apresentar uma área marcada por consideravéis eventos climatológicos de alta
itensidade, acentuada movimentação sedimentar através da influência de correntes marinhas,
ainda mais amplificados pela remoção das barreiras naturais. É valido observar que os processos
de movimentação sedimentalógica na citada praia é dada de forma muito intensa e precisa ser
analisada ao longo dos anos, considerando alimentar dados em programas de modelagem
costeira, e assim somente dessa forma fazer uma análise aprofundada dos processos erosivos
reais.

3. METODOLOGIA APLICADA NA PESQUISA

O referente trabalho, foi subdividio em duas etapas descritas abaixo:

145
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

 Etapa 1: Consulta a referências bibliográficas referente a conceituação técnica,


ambiental e social ao qual a região costeira da área de estudo se insere, e análise
bibliográficas de registros históricos dos processos erosivos.
 Etapa 2: Análise de fotos geoespaciais e noticías de jornais e sites a respeito dos
registros de ressacas que destruíram casas e patrimônios privados, caracterizando
processos erosivos registrados nos últimos 10 anos na costa da Praia da Caueira.
Constituindo assim, uma pesquisa de cunho exploratório e descritiva.

4. DESENVOLVIMENTO

Para compreender melhor as questões dos processos erosivos, é nescessário um estudo


aprofundado da área em questão, alguns temas são extremamente relevantes, um diagnóstico
da área, considerando os tópicos cientificos apropriados para essa análise, os Requisitos Legais,
Clima e Metodologia, Solos, Hidrografia, Aspectos de Balneailidade, Hidrogeologia,
Oceonografia, Caracterização Geoambiental, Ecossistemas, Fauna, Uso e Ocupação do Solo
entre outros estudos, dessa forma os processos erosivos naturais podem ser entendidos, não
como uma reação da natureza ao uso e ocupação irregular, mas cmo uma condição natural de
evolução do ambiente costeiro que pelas inúmeras caracteristicas apresentadas, é dinâmico e
imprevisível.
Desse modo analisar os fenômenos erosivos sem aprofundar os estudos metodologicos, com
dados precisos não é possível, porém existe indicíos dado pela presença de eventos visíveis
existentes ou registrados. Como os registros históricos noticiados que serão abordados abaixo
e que fomentam a nescessidade de compreender especificadamente a área apresentada.
Considerando as caracteristicas apresentadas nesse contexto que delimitam regiões
costeiras de alta sensibilidade ambiental, marcada por um dinâmismo muito acentuado, faz-se
nescessário entender as fragilidades do ambiente costeiro, e de que forma essas áreas sensíveis
podem estar relacionadas com áreas urbanizadas, ou com atividades pesqueiras e turísticas
acentuadas. Apresentando problemas e impactos ambientais significativos.
Existem fenômenos de erosão/acreção capazes de determinar a configuração e estabilidade
da linha da costa, onde se encontra o Núcleo Turístico de Caueira, entendidos como passíveis
de serem causados por fatores naturais que guardam relação com a foz do Rio Vaza Barris, ao
norte do Povoado e que, por sua vez, poderiam exercer influência na faixa de praia e nos
terrenos das formações costeiras quaternárias, o que fortalece as análises a respeito das
características geomorfológicas, onde é possível entender que:“a geologia recente e de fácil

146
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

movimentação sedimentalógica, caracteriza um dinamismo acentuado e que altera a


configuração das margens de praia constantemente. Logo estruturas urbanas fixas em um
ambiente em constante transformação, precisa considerar uma distância mínima, de acordo com
o que rege a Lei.
Os fenômenos de degradação de propridades privadas na região costeira da praia foram
registrados, observe por exemplo a Figura 3 e 4, inúmeras casas foram inundadas pelo avaço
do mar sobre a região, que possui força sigificativa para inundação das casas e quebra das
estruturas turísticas construídas.
Figura 3: Escarpas Erosivas na Praia da Caueira formadas durante o mar agitado.

Fonte: Arquivo da Família Evangelista, 2010.

147
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Figura 4: Calçadão da Praia da Caueira após Fenômeno de Ressaca em 2012

Fonte: http://marcolyra.blogspot.com/2012/01/mare-destroi-calcadao-da-caueira.html

Como medidas de contenção as famílias de forma autônoma removeram dunas e criam


paredões de pedras ao longo da área (Figura 5), a fim de proteger o patrimônio privado em
detrimento da ação da natureza.
Na conclusão de seus estudos Ribeiro (2012), coloca que as ocupações humanas vão
acontecendo ao longo do tempo, e afeta consideravelmente o balanço sedimentar da praia
alterando significativamente sua composição, e por isso parte da premissa em defender que a
organização governamental precisa realizar um ordenamento urbano emergencial,
considerando que esse dinamismo peculiar apresentado sempre ocasionará situações que
afetarão diretamente a região erroneamente ocupada.

148
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Figura 5: Medidas de Contenção adotadas pelas residênicas. Paredão de rochas. A –Situação das Casa
no trecho apresentado após fenômeno de ressaca; B- Condição Inicial; C –Muro de Pedras Artificial
como forma de Contenção Emergencial ; D – Situação do Muro de Pedra após novo Fenômeno de
Ressaca.

Fonte: RIBEIRO, (2012).

Analisando o Plano de Proteção de áreas Ambientalmente Frágeis o Projeto Executivo


de Obras de Recuperação de Erosão da Orla da Praia da Caueira em Itaporanga D ‘ajuda,
construído através do consórcio de empresa GEOTEC e AMBIENTEC, em um contrato
de Secretaria de Turismo, através do PRODETUR (Programa de Desenvolvimento do
Turismo de Sergipe), no ano de 2017 a 2018, realizando uma análise real e fundamentada
da evolução do processo erosivo na Praia da Caueira, o mesmo apresenta em sua
conclusão que o intemperismo da região é de caráter bastante intenso, e constantemente
as áreas sofrem fenômenos de ressaca, há uma imprevisibilidade muito grande para a
ocorrência de condições que provocarão 7alterações na costa da Caueira e consequente
avanço do mar, essa característica /784dinâmica somado ao fato de que a área possui
estruturas urbanas, acarreta situações que afetam as casas e restaurantes.
Através do estudo acima citado que analisou a movimentação sedimentalógica na
referida praia, considerando uma análise do comportamento de massas de ar e correntes
marinhas, se concluiu que existe uma substancial movimentação e deposição de
sedimentos, que caracterizam zonas e bancos de areias prováveis nas praias adjacentes

149
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Observe nas Figuras 6, 7 e 8 que seguem abaixo em distintos momentos foram


registrados deterioração da Orla da Caueira, as fotos nesse ponto focal permite uma
análise prévia dos indícios de processos erosivos ativos e frequentes na região explanada.
Cada vez mais a população tem buscado através de métodos pouco eficientes conter o
avanço do mar sobre a linha terrestre, que numa condição natural, não causaria danos,
uma vez que o ambiente na sua condição natural se adequaria a esse avanço, no entanto
existe estruturas urbanas bloqueando esse avanço e gerando conflitos entre si.
Na Figura 6 é possível observar que o calçadão da Orla da Caueira na sua condição
natural, durante o avanço do mar na ressaca de 2010, ficou inteiramente deteriorado e
comprometido, e para tanto a prefeitura municipal, no intuito de solucionar de forma
imediatista a situação, decidiu criar uma estrutura com pedras e areia para conter a água
(Figura 7).

Figura 6: Escadaria da Praia da Caueira antes e após a ressaca de 2010.

Fonte: Ambientec, 2017

150
TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

Figura 7: Medida Provisória para Conter a força do Mar realizada pela prefeitura de Itaporanga D’Ájuda

Fonte: Ambientec, 2017

Mediante a apresentação da situação e considerando como ponto de análise a Orla da Praia


da Caueria, que semelhante a outros ambientes ao longo da área de estudo apresenta processos
erosivos em determinada frequência, numa escala temporal que precisa ser investigada com o
levantamento e construção de dados científicos que garantam uma previsibilidade

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Existe uma série de fatores que delimitam as condições dos processos erosivos da praia
da Caueira, uma conclusão final só é possível mediante a análise aprofundada dos fenômenos
a nível macro e micro, que levarão em consideração inclusive a interferência das mudanças
climáticas, que nas condições atuais interferem significativamente nos fenômenos de avanço
das ondas sobre a faixa terrestre, que no caso apresenta alto nível de ocupação urbana e turística.
Se faz necessário um estudo minucioso das condições de progradação e retrogradação da linha
de costa que se substancia em análises laboratoriais e em sistemas de modelagem costeiras, a
exemplo do SMC Brasil do Ministério do Meio Ambiente e outros. Somente com tais dados,
seria possível apresentar um desenho da Zona Costeira e seu comportamento ao longo dos anos,

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TECENDO DIÁLOGOS SOBRE A ZONA COSTEIRA

além disso pontuar critérios ambientais para estabelecer mapas de sensibilidades ambientais
para a área estudada afim de propor um uso mais acertado da praia.
Os ambientes costeiros naturalmente possuem condições dinâmicas significativas e se
analisadas em um ambiente natural não ocupado, quase não é perceptível, se observado por uma
pessoa que não é especialista no assunto, por exemplo, não seria capaz de compreender que um
coqueiro caído ou um desnível no solo praial está se tratando de um evento intenso e
climatológico, que são decorrentes das áreas costeiras, mas quando o ambiente costeiro é
urbanizado, ou possui uma atividade turística/econômica intensa, provido de estruturas
artificiais, os eventos costeiros são significativos e passam a ser entendidos como desastres
naturais, a Praia da Caueira apresenta registros desse caráter.
Por isso que se defende a premissa de compreender ao máximo os fenômenos existentes
e decorrentes a fim de ter uma maior assertiva nas medidas de enfrentamento aos fenômenos
apresentados. Com base em mapas de sensibilidade ambiental é possível criar um plano de
medidas mitigadoras possíveis e aplicáveis para ajustasr as questões sociais, econômicas que
permeiam essa temática.

6. REFERÊNCIAS

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