Edição Lisboa • Ano XXX • n.º 10.

864 • 1,30€ • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020 • Director: Manuel Carvalho Adjuntos: Amílcar Correia, Ana Sá Lopes, David Pontes, Tiago Luz Pedro Directora de Arte: Sónia Matos

Festival Angola
de Roterdão O tempo dos
O lado negro “intocáveis”
da Grande está mesmo
Guerra em a passar
Moçambique à história?
Cultura, 34/35
Cul Destaque, 2 a 5

Novas tabelas do IRS ainda não

compensam todo o corte de 2018
Dois anos após a revisão de escalões, as novas taxas de retenção aplicadas a salários e pensões aproximam-se
do que os contribuintes pagam no final. Mas esse valor ainda é cobrado em excesso Economia, 22/23

Parkinson S. João no Porto faz cirurgia inédita para estimulação profunda do cérebro p33 Carlos Silva não
deixa UGT sem
dar “um murro

PAULO PIMENTA
na mesa”
Dirigente sindical acusa PS
de António Costa de
“escorraçar” sindicalistas
das listas à AR p10/11

Aves em risco
no Montijo
motivam queixa
contra Portugal
Processo em defesa das aves.
Declaração Änal de impacte
ambiental esperada após
fecho desta edição p14

Vírus da nova
pneumonia que
surgiu na China
chega à América
Doente infectado com
o coronavírus tinha
regressado de Wuhan,
o epicentro do surto p32
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ISNN-0872-1548

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2 • Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020

DESTAQUE
LUANDA LEAKS

Dúvidas sobre se
Eurobic fez alerta à
conta da Sonangol
Banco de Portugal é a única entidade que poderá inspeccionar
Eurobic para veriÄcar se avisou as autoridades sobre o
esvaziamento da conta da Sonangol. Se detectar infracção
pode aplicar uma multa até cinco milhões de euros
sem origem a uma ou a várias comu- de fundos do erário público angola-
Mariana Oliveira nicações de operações suspeitas ao no e o seu envio para Portugal. Este Prevenção do branqueamento
Departamento Central de Investiga- inquérito esteve parado mais de qua-

F
oram quase 58 milhões de dóla- ção e Acção Penal (DCIAP) e, simulta- tro anos devido a uma disputa judicial
res transferidos a 16 de Novem- neamente, à Unidade de Informação relacionada com uma decisão do juiz Bancos são dos que reportam
bro de 2017, o dia seguinte à Financeira (UIF) da Polícia Judiciária Ivo Rosa, que considerou que as auto- mais transacções suspeitas

exoneração de Isabel dos San-
tos da liderança da Sonangol e
o dia da tomada de posse do
seu sucessor, de uma conta da petro-
lífera angolana no Eurobic, em Lis-
boa, que teve como destino a conta
bancária de uma sociedade oèshore
gerida pelo braço-direito da Ælha do
ex-Presidente angolano, Mário Leite
da Silva, e detida por uma amiga
daquela que é considerada a mulher
mais rica de África. A justiÆcação para
as transferências seria um contrato
assinado uns dias antes entre uma
subsidiária da Sonangol no Reino Uni-
do e a tal sociedade oèshore, a Matter
Business Solutions, que prestaria ser-
viços de consultadoria à petrolífera e
que justiÆcaram a emissão de dezenas
de facturas em poucos dias.
O normal é que as três transacções
de quantias elevadas (uma no valor
de 38 milhões de dólares, outra de
15,3 milhões e uma terceira de 4,3
milhões) feitas neste contexto, des-
(PJ). Mas não é claro que o Eurobic,
banco onde Isabel dos Santos tem
uma quota de 42,5%, tenha de facto
feito esses alertas.
Uma fonte do DCIAP explicou ao
PÚBLICO que é pouco provável que
tal tenha ocorrido, já que não existe
qualquer inquérito aberto relativa-
mente a estas operações, que segun-
do o Expresso e a SIC, deram origem
a uma investigação em Angola. A mes-
ma fonte referiu que a situação pode
conÆgurar um crime de burla ou de
abuso de conÆança, agravado devido
aos valores envolvidos, que o Minis-
tério Público português poderá inves-
tigar sem necessidade de queixa. É
provável que esta averiguação seja
feita no âmbito de um inquérito já
existente que visa Isabel dos Santos,
a par de várias Æguras da elite angola-
na, aberto na sequência de uma quei-
xa-crime apresentada em 2011 pelo
antigo embaixador angolano, Adriano
Parreira. Este queixava-se do desvio
ridades portuguesas não possuíam
competência para investigar o caso.
O inquérito ainda não tem nenhum
arguido constituído.
O PÚBLICO questionou a PJ e o
DCIAP sobre se receberam alguma
comunicação destas operações. A
Procuradoria-Geral da República não
respondeu, mas a Judiciária aÆrmou
estar proibida de prestar essa infor-
mação. “Sobre as questões especiÆ#
camente colocadas consideramos não
ser possível satisfazer o solicitado,
sendo-nos vedado transmitir qual-
quer tipo de informação concreta
sobre comunicações efectuadas à UIF
por parte de entidades obrigadas a
reporte”, justiÆcou a PJ.
Isto porque a própria lei de preven-
ção do branqueamento de capitais
prevê que a “divulgação ilegítima, a
clientes ou a terceiros, das informa-
ções, das comunicações, das análises
ou de quaisquer outros elementos” é
um ilícito criminal punido com pena
D
eterminadas entidades
como os bancos ou as
imobiliárias são obrigados a
comunicar transacções
suspeitas “sempre que saibam,
suspeitem ou tenham razões
suficientes para suspeitar que
certos fundos ou outros bens,
independentemente do
montante ou valor envolvido,
provêm de actividades
criminosas ou estão
relacionados com o
financiamento do terrorismo”. A
exigência está prevista na lei de
prevenção do branqueamento
de capitais e de combate ao
financiamento do terrorismo,
que entrou em vigor em
Setembro de 2017, substituindo
uma outra que concretizava de
forma mais detalhada os
requisitos que permitiam
classificar determinadas
operações como de risco. Os
bancos e as agências de câmbio
são os que reportam mais
suspeitas à PJ e ao Ministério
Público, seguidos pelos casinos
que estão obrigados a identificar
e a registar os frequentadores. O
branqueamento implica que o
dinheiro que se quer “lavar”
tenha proveniência ilícita, logo é
necessária a existência de um
crime anterior. A fraude fiscal é
o ilícito precedente mais
comum. O dinheiro que se quer
branquear pode ter origem em
burlas, corrupção, tráfico de
droga ou de armas, entre outros.
A obrigação de comunicar
transacções suspeitas abarca,
entre outros, notários,
conservadores de registos e
revisores de contas.

de prisão até três anos ou multa. O
objectivo é proteger as entidades e os
funcionários obrigados a reportar as
transacções suspeitas, que visam seus
próprios clientes.
Num comunicado emitido segun-
da-feira, o Eurobic garante que “os
pagamentos ordenados pela cliente
Sociedade Nacional de Combustíveis
de Angola (Sonangol) à Matter Busi-
ness Solutions respeitaram os proce-
dimentos legais e regulamentares
formalmente aplicáveis no âmbito da
regular relação comercial existente
entre este Banco e a Sonangol, desi-
gnadamente os que se referem à pre-
venção do branqueamento de capi-
tais”. Questionado pelo PÚBLICO
sobre se efectuou alguma comunica-
ção às autoridades, o porta-voz do
banco disse não ter mais informação
a acrescentar. Mas a nota da institui-
ção não signiÆca que o banco tenha
de facto reportado as operações hoje
sob suspeita. Como a lei é relativa-
mente vaga, o banco pode ter enten-
dido que não havia nada de suspeito
naquelas transacções, logo não se
sentia obrigado a comunicá-las.
O Banco de Portugal é a única enti-
dade que poderá inspeccionar o Euro-
FERNANDO VELUDO/NFACTOS
bic, para veriÆcar se cumpriu a lei da
prevenção do branqueamento de
capitais. Se detectar alguma infracção
pode aplicar uma multa que pode
chegar aos cinco milhões de euros.
Isabel dos Santos garantiu que “con-
tinuou como chairman da Sonangol
até às 14h00 do dia 16 de Novembro
de 2017 e as suas acções relativamente
à ordem de pagamento e a todos os
outros assuntos relacionados com a
Matter foram inteiramente lícitas”. Já
a dona da Matter Business Solu-
tions alega que as facturas em ques-
tão estão relacionadas com honorá-
rios de consultoria de Maio a Dezem-
bro de 2017, incorridas por várias
empresas internacionais subcontrata-
das, como Boston Consulting Group,
McKinsey, PWC, VdA e Odkas. Estas
facturas, insiste ao Expresso, “já
tinham sido elaboradas no sistema da
Matter mas precisavam de ser liquida-
das” para que a oèshore pagasse às
empresas subcontratadas”. A saída de
Isabel dos Santos da Sonangol e o risco
de eventual incumprimento contra-
tual, admite a Matter, levaram-na a
emitir as facturas em conjunto.
mariana.oliveira@publico.pt
Transferência feita
um dia depois de
Isabel dos Santos
sair da Sonangol,
em favor de uma
conta offshore
gerida pelo seu
braço-direito, está
a suscitar dúvidas
Câmara do Porto mantém medalha a Sindika
Dokolo e desconhece futuro da fundação
Mariana Correia Pinto
A
Câmara do Porto, que em
Fevereiro de 2015 entregou
uma medalha municipal de
mérito, grau ouro, a Sindika
Dokolo, coleccionador de
arte e marido de Isabel dos
Santos, dupla no epicentro do caso
Luanda Leaks, não deverá retirar a
distinção ao congolês. “Neste
momento, essa questão não se colo-
ca”, admite o gabinete de comunica-
ção da autarquia ao PÚBLICO. A
medalha foi atribuída no decorrer da
“realização de uma das mais impor-
tantes exposições de arte contempo-
rânea realizada na Galeria Municipal
em 2015”, argumenta, e foi “unani-
memente aprovada por todas as for-
ças políticas”.
A empresa Supreme Treasure, liga-
da ao casal, adquiriu à autarquia, por
1,58 milhões de euros, em hasta públi-
ca realizada em 2016, a chamada
“Casa de Manoel de Oliveira”. Ali,
queria instalar a sede da Fundação
Sindika Dokolo — mas o projecto nun-
ca saiu do papel. Sobre o tema, a
Câmara do Porto nada sabe: “Relati-
vamente ao edifício adquirido pela
fundação em hasta pública, a câmara
não tem nenhuma indicação relativa-
mente ao uso futuro dado a este equi-
pamento por essa mesma institui-
ção.” O PÚBLICO questionou tam-
bém a fundação, mas não obteve
resposta.
Mas voltemos à condecoração. O
regulamento da medalha municipal
prevê a possibilidade de os distingui-
dos perderem o direito à medalha e
seus distintivos, nomeadamente em
duas situações: se o agraciado for
“condenado pelos tribunais compe-
tentes por qualquer dos crimes a que
corresponda a pena maior” ou no
caso de um funcionário ou serven-
tuário municipal distinguido ter sido
demitido.
A atribuição desta distinção a Sin-
dika, que estará envolvido no desvio
de centenas de milhões de dólares de
dinheiro estatal para um conjunto de
empresas, como revelou um consór-
Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020 • 3
cio internacional de jornalistas, foi,
de facto, votada por unanimidade.
Mas não sem polémica. A 23 de Feve-
reiro de 2015, em reunião de câmara,
os vereadores disseram sim à atribui-
ção da medalha ao coleccionador de
arte, mas foi preciso algum debate
para convencer a socialista Carla
Miranda a prescindir de uma absten-
ção — e o tema levou mesmo a algum
confronto dentro do PS, com Manuel
Pizarro a mostrar-se desagradado
com a falta de sintonia.
Para a socialista, a distinção não
cumpria o regulamento subjacente
às distinções, tal como havia aconte-
cido com a medalha dada por Morei-
ra ao realizador norte-americano
Oliver Stone. Um “devaneio”, acusou
Carla Miranda: “Não são pessoas que
tenham feito alguma coisa pela cida-
de. Este senhor, contra quem nada
tenho, vai trazer cá uma exposição,
promover o seu próprio património,
deixá-la cá um tempinho e depois vai
embora. As pessoas devem, primeiro,
trazer benefícios à cidade e mais tar-
de logo se pensa que medalha se dá”,
Medalha de mérito
foi entregue ao
coleccionador de
arte em 2015 pela
realização de uma
exposição na cidade
disse, na altura, ao PÚBLICO. Na ban-
cada comunista, o incómodo era
também palpável, embora com argu-
mentos distintos. Pedro Carvalho
dizia-se preocupado por as medalhas
serem distribuídas casuisticamente,
em vez de num dia só, o que poderia
resultar numa “desvalorização” da
distinção anual.
O tema transitou depois para a
Assembleia Municipal, onde a dis-
cussão se acendeu ainda mais. A
aprovação foi por maioria – mas já
não por unanimidade. A medalha,
atribuída pela promoção da exposi-
ção de arte contemporânea africana
You love me, You love me not, mereceu
40 votos favoráveis, quatro contra e
uma abstenção. A CDU e PS votaram
a favor, os dois deputados do Bloco
votaram contra, assim como um do
PSD e outro do movimento de Rui
Moreira. A abstenção veio também
da bancada de Rui Moreira. Aliás, já
ontem, o grupo municipal do BE
anunciou que “tudo fará na assem-
bleia municipal para que este órgão
retire a condecoração atribuída ao
marido de Isabel dos Santos e exigirá
ao executivo municipal que esclareça
a cidade sobre actuais fundos rece-
bidos por via da fundação de Sindika
Dokolo.”
Cerca de um ano depois, já com a
medalha na lapela, o congolês acaba-
ria por licitar o valor mais elevado na
hasta pública da Casa Manoel de Oli-
veira, desenhada por Souto de Mou-
ra, mas que nunca foi usada e esteve
12 anos ao abandono. O entusiasmo
foi grande na altura. A reabilitação
seria feita e o espaço transformado
na sede da Fundação Sindika Dokolo,
a partir da qual se promoveria a liga-
ção entre Portugal, e Europa, e países
de origem africana.
Mas a reabilitação demorou mais
do que o previsto e a abertura previs-
ta para 2017 foi sendo adiada. Em
Novembro de 2018, disse a fundação
ao PÚBLICO, já se via luz ao fundo do
túnel: a empreitada estava pratica-
mente concluída. O que aconteceu
depois não se sabe.
mariana.pinto@publico.pt
4 • Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020
DESTAQUE
LUANDA LEAKS
A “Angola dos intocáveis”
está mesmo a passar
à história?
A Justiça continua manipulada e a família Dos Santos é um alvo
apetecível. O que não quer dizer que outras Äguras do regime
de José Eduardo dos Santos não tenham problemas legais
António Rodrigues
J
oão Lourenço garantiu: “A
Angola dos intocáveis que
tudo podiam pertence à his-
tória.” O Presidente angolano
falava na abertura da reunião
extraordinária do comité cen-
tral do MPLA, em Novembro de 2018,
já depois de ter assumido o comando
do partido, um ano depois de ter
sucedido a José Eduardo dos Santos
na cheÆa do Estado.
O discurso não trazia nomes aco-
plados, mas era tão óbvio na sua
intenção e nos seus alvos que hoje,
pouco mais de um ano depois, se
podem colocar lá alguns integrantes
da família Dos Santos. Isabel dos San-
tos e o marido, Sindika Dokolo, têm
os bens arrestados, José Filomeno dos
Santos (Zenu) está a ser julgado e
Tchizé dos Santos perdeu o mandato
de deputada e foi expulsa do MPLA.
Mas serão os “intocáveis” de João
Lourenço apenas estes, o núcleo mais
visível da família do seu antecessor?
Ou havia que começar por alguém e
nada melhor que a família “real”
angolana? Um Governo que empe-
nhou grande parte do seu esforço na
luta contra a corrupção está aquém
ou além do que poderia ter feito nes-
tes pouco mais de dois anos?
Francesc Baldia, num artigo para a
Open Democracy, é cru na aprecia-
ção. “Sob o disfarce” da campanha
anticorrupção, “o Estado de direito
deteriorou-se signiÆcativamente em
Angola”. Baldia refere que Lourenço
pressionou de forma “implacável” o
juiz principal do Supremo Tribunal,
Rui Ferreira, para que se demitisse.
O magistrado acabou por bater
com a porta, denunciando na carta
de demissão a “intensa e cruel cam-
panha de mentiras, deturpação de
factos, intrigas, calúnias e insultos”
que sofreu, acusando o chefe dos ser-
viços secretos, o general Francisco
Miala (caído em desgraça no tempo
de Eduardo dos Santos, recuperado
e condecorado por Lourenço), de o
pressionar para abandonar o cargo.
Manuel Augusto, ministro das Rela-
ções Exteriores, garantia recentemen-
te que o processo contra Isabel dos
Santos “não é um acto isolado ou diri-
gido a alguém em particular, mas a
todos aqueles que, não tendo aderido
à possibilidade que o Estado deu
quando estabeleceu a primeira lei de
repatriamento voluntário, vão fazê-
lo, agora, de forma coerciva”.
Outros exemplos
Sempre que se dá exemplos extrafa-
miliares, fala-se do antigo ministro
dos Transportes Augusto Tomás, con-
denado em Agosto a 14 anos de prisão
por corrupção, ou de Manuel Rabe-
lais, deputado do MPLA e antigo
ministro da Comunicação Social, acu-
sado em Setembro de branqueamen-
to de capitais, peculato, recebimento
indevido de vantagens e violação das
normas orçamentais. Mas estas são
Æguras de segundo plano.
“Servidores públicos são regular-
mente processados por corrupção e
outros crimes. Muitas vezes, esses
casos têm grande divulgação e sur-
gem em conjunto com anúncios pre-
sidenciais de um novo ataque contra
a corrupção, mas esses esforços são
episódicos e não sistemáticos”, escre-
via recentemente a organização não-
governamental Freedom House.
Nomes como os dos generais Hél-
der Vieira Dias (Kopelipa), Higino
Carneiro, Leopoldo Fragoso do Nas-
cimento (Dino), do ex-vice-presiden-
te Manuel Vicente, do antigo presi-
dente do Banco Espírito Santo Ango-
la (BESA) Álvaro Sobrinho, embora
surjam algumas vezes ligados a pro-
cessos judiciais, parecem continuar
a salvo do braço anticorrupção.
Todos eles beneÆciaram da sombra
do poder do ex-Presidente para uma
acumulação primitiva de riqueza que
os tornou multimilionários. Os seus
percursos empresariais têm tanta
obscuridade como milhões acumula-
dos. São o topo da pirâmide dos 320
multimilionários que Angola tinha em
2017, segundo a New World Wealth.
Higino Carneiro foi constituído
arguido em Fevereiro do ano passado
num processo de má gestão enquan-
to era governador de Luanda e, em
Agosto, a Inspecção-Geral da Admi-
nistração do Estado denunciou que
havia 80 milhões de dólares em falta
nas contas do Ministério das Obras
Públicas, quando o general era o titu-
u entre os dois países, como lhe cha-
lar do cargo. De acordo com o Jornalal
de Angola, os processos contra Higinoo
Carneiro e Rabelais foram enviados os
para o Supremo Tribunal em Agosto, o,
mas a 2 de Janeiro, Américo Cuono- o-
noca, líder da bancada parlamentar ar
do MPLA, garantia que nenhum pedi- i-
do de levantamento de imunidade e empresa
dos dois deputados tinha dado entra-a-
da na Assembleia Nacional.
“Além de querer aparentar estar a
fazer algo pelo povo, Lourenço tam-m-
bém quer consolidar o seu poder na a sermos
elite dominante do país”, referia a O general tem sido pouco visto
Francesc Badia. “É por esse motivo o em Luanda, dizem ao PÚBLICO, e
que a campanha de corrupção se con-
centrou na primeira família, além de
poupar outras Æguras importantes do
Governo. É o caso do ex-vice-presi-
dente Manuel Vicente”. O antigo
todo-poderoso presidente da Sonan-
gol, apesar de ser do núcleo próximo
de Eduardo dos Santos — foi criado
pela irmã mais velha do ex-Presiden-
te —, conseguiu fazer a transferência
aparentemente incólume do velho
para o novo poder em Angola.
Lourenço empenhou mesmo as
relações com Lisboa para conseguir
evitar que Vicente fosse julgado em
Portugal por ter subornado um pro-
curador. “O irritante” diplomático
ENRIC VIVES-RUBIO
DR
mou Marcelo Rebelo de Sousa, só se
resolveu quando a Justiça portuguesa
enviou o processo da Operação Fizz
para Luanda, onde ainda hoje está
sem desenvolvimentos.
Recentemente, um jornal angolano
e um site em língua inglesa relaciona-
vam Vicente e outra das Æguras de
proa do tempo de Eduardo dos San-
tos, o general Kopelipa, na empresa
de gestão de participações Lektron
Capital, através das quais teriam com-
prado uma posição maioritária no
Banco Económico, nascido das cinzas
do BESA, o banco que Álvaro Sobri-
nho presidiu e cujo buraco contribuiu
para o Æm do Banco Espírito Santo
m Portugal e a queda em desgraça
em
dee Ricardo Salgado.
Kopelipa, o ex-chefe da Casa de
Segurança
Se
e do Presidente, “entregou”
em
m Agosto a gestão de dois portos (o
terminal
te
e multiusos do porto de Luan-
daa e o porto mineiro de Benguela) ao
Estado,
Ess que era assegurada pela
em
m Soportos. O general garante
que
quu só actuou no processo como
representante
re
e legal de José Cordeiro
dos
doo Santos, o seu familiar accionista,
ausente
auu do país por doença, se qui-
s acreditar na sua história.
e
 Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020 • 5

DR
Desde a esquerda, no
sentido dos ponteiros
do relógio: Álvaro
Sobrinho, general
Dino, Higino Carneiro e
Manuel Vicente. Em
baixo, o general
Kopelipa

As ligações de Dokolo em Kinshasa

do que uma garantia de que o Gover- anunciou a sua intenção de lançar
António Rodrigues no angolano não interfere no anda- um New Deal com o sector privado
mento dos tribunais e que “o melhor congolês, demasiado fraco, ou mes-

poderá estar em Portugal, onde tem
vários negócios, nomeadamente a
produtora de vinhos Colinas do Dou-
ro, gerida pelo sobrinho, Kelson Gio-
vetti, comprada em 2008, de acordo
com uma notícia do Observador.
JOOST DE RAEYMAEKER/LUSA
depois de o Estado ter recuado na
garantia soberana de cinco mil
milhões de dólares que dera ao BESA,
e que tinha sido utilizado como uma
espécie de saco azul da elite ligada ao
poder — de acordo com Álvaro Sobri-
A
chegada de João Lourenço
ao poder em Angola pres-
supôs para Sindika Dokolo,
marido de Isabel dos San-
tos, primogénita do ex-Pre-
sidente José Eduardo dos
Santos, um afastamento dos centros
de decisão. O novo chefe de Estado
desconÆa a dobrar do coleccionador
de arte congolês, por pertencer à
família Dos Santos e pelas suas liga-
ções políticas na vizinha República
Democrática do Congo.
Filho de Augustin Dokolo, funda-
dor nos anos 1960, no então Zaire,
do Banque de Kinshasa, o primeiro
banco de capitais inteiramente afri-
canos da África subsariana, Dokolo
Sindika herdou do pai o jeito para os
negócios e a paixão pelo coleccio-
nismo de arte e, apesar de ter pas-
saporte dinamarquês por via da mãe
e de ter crescido entre a Bélgica e
França, mantém a sua inÇuência em
Kinshasa.
Quando João Lourenço assumiu a
presidência, em Setembro de 2017,
ainda Joseph Kabila procurava por
caminho para os visados será a máxi-
ma colaboração com as autoridades
competentes do Estado e com a Jus-
tiça angolana”.
Em Maio de 2019, no seu regresso
a Kinshasa depois de cinco anos de
exílio, Sindika Dokolo tinha-se multi-
plicado em contactos políticos e tinha
sido recebido em audiência por Tshi-
sekedi, com quem já se tinha encon-
trado em Washington no mês ante-
rior, acompanhado por Isabel dos
Santos. Como explicava em entrevis-
ta à Jeune Afrique, o seu intuito era
aproveitar a “oportunidade” de “par-
ticipar o mais activamente possível
na reconstrução” do seu país.
Garantindo ser “mais útil” à RD
Congo como “empreendedor” do
que assumindo um lugar no Gover-
no, Dokolo explicava: “O novo poder
Dokolo esperava
agora de Tshisekedi
um apoio nesta
mo completamente ausente. As úni-
cas pessoas com dinheiro no Congo
pertencem à diáspora, como eu, ou
à classe política — isto é, pessoas que
não têm vocação para ser ricas.”
Daí que se tenha mostrado logo
disponível para se envolver no mega-
lómano projecto Grande Inga, uma
gigantesca rede hidráulica no rio
Congo, a maior da África austral,
cuja construção esteve parada por
problemas de Ænanciamento. Félix
Tshisekedi reatou o projecto com
objectivos menos ambiciosos e o
marido de Isabel dos Santos ofere-
ceu-se para construir o porto de
águas profundas, superando com o
seu nome a falta de “credibilidade”
da RD Congo.
“[Tshisekedi] disse-me: ‘Só uma
pessoa, é impossível’”, contava Doko-
lo ao Mediacongo. “Eu disse-lhe que
a minha oferta é pública, com uma
primeira fase de 350 milhões ou 400
milhões [de dólares]. A minha fábri-
ca de cimento, que inaugurei há dois
anos custou 450 milhões. Portanto,
é possível. Pode fazer-se. E gostaria

Participações cruzadas
Kopelipa e o general Dino — o homem
da fortuna de mil milhões de dólares
que o Tribunal Provincial de Luanda
aÆrma ter tentado transferir dez
milhões de dólares de Isabel dos San-
tos para a Rússia — têm negócios
comuns, nomeadamente na Nazaki
Oil & Gas, detida também por Vicen-
te, e que tinha 15% dos interesses par-
ticipativos nos consórcios de explo-
ração de dois blocos de petróleo.
Ao general Dino, o Estado exigiu,
em Junho, 29 milhões de dólares de
um empréstimo concedido à empre-
sa Geni, de que é proprietário, para
adquirir 19,9% do Banco Económico.
Leopoldino do Nascimento, exonera-
do por João Lourenço do cargo de
chefe da Casa de Segurança do Presi-
dente da República em Junho de 2018,
recebeu 53,2 milhões de dólares e
saldou apenas 23,6 milhões de dóla-
res desse crédito.
O Banco Económico foi nacionali-
zado por José Eduardo dos Santos,
nho, o ex-Presidente, Dino e Kopelipa
“roubaram três mil milhões de euros
aos portugueses”.
Sobrinho manteve-se ausente de
Angola depois da queda do BESA,
regressando no Ænal do período de
Dos Santos no poder. Suspeito de des-
viar 615 milhões de dólares desta ins-
tituição Ænanceira, o banqueiro acusa
os accionistas angolanos de quererem
tomar o banco de assalto.
O banqueiro, que levou à demissão
da Presidente da Maurícia, Ammenah
Gurib-Fakim, acusada de usar um
cartão de crédito da ONG de Sobrinho
(Planet Earth Institute) para compras
pessoais processou em Setembro o
líder da UNITA por “difamação”. No
programa Repensar Angola, Adalber-
to da Costa Júnior aÆrmou que mais
de mil milhões de dólares do erário
público foram desviados para contas
pessoais na Maurícia e nas Seychelles,
“dos quais 70 a 80% eram pertença
de Sobrinho, director do BESA”.
antonio.rodrigues@publico.pt
todos os meios permanecer na cheÆa
do Estado para lá do Æm do seu man-
guerra com o chefe muito de fazer isso pela minha pro-
víncia do Congo central.”
dato (devia ter acabado em 2016, só
terminou em Janeiro de 2019, com-
de Estado angolano É, provável, que os últimos acon-
tecimentos tenham tornado a pro-
pletando 18 anos no poder) e Dokolo posta menos “possível”.
Ænanciava activistas políticos para DR
afastar o homem que o impedia de
ir à RD Congo desde 2014.
Na visão de Lourenço, as delicadas
relações entre Luanda e Kinshasa, a
bem da estabilidade regional, não se
coadunavam com interferências
externas a partir de Angola. Dokolo
criou o movimento de cidadãos Les
Congolais Debout! (Os congoleses de
pé!) em Agosto de 2017 e mantém
uma relação de amizade com o
actual Presidente, Félix Tshisekedi,
de quem esperava agora um apoio
nesta guerra com o chefe de Estado
angolano.
Tshisekedi visitou Lourenço no dia
6 de Janeiro, em Luanda, com o tema
do arresto de bens de Sindika Doko-
lo e de Isabel dos Santos no topo da
agenda. No entanto, o chefe de Esta-
do congolês pouco mais conseguiu Sindika Dokolo com o Presidente Tshisekedi em Maio de 2019
6 • Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020

ESPAÇO PÚBLICO
O seu “casamento” com o Sp. Braga continua
em lua-de-mel e estes últimos dias têm sido
particularmente felizes: depois de vencer o
FC Porto no Dragão para o campeonato, ontem
apurou-se para a final da Taça da Liga com um
triunfo sobre o Sporting, que vive um Janeiro terrível.
Perdeu com FC Porto e Benfica para o campeonato
e, com esta derrota, os “leões” despediram-se das
competições nacionais. Um desastre. Será difícil a
Rúben Amorim Silas segurar o lugar. (Pág. 45) J.J.M.
A aventura de Portugal no Europeu de
andebol pode hoje chegar ao fim (ainda há a
hipótese de disputar o acesso aos Jogos
Olímpicos), mas a participação é mais do que
positiva. Com vitórias (e excelentes exibições) sobre
as poderosas França e Suécia, Portugal mostrou ao
mundo que está pronto para um novo patamar.
Ontem, a Eslovénia foi mais forte mas não apagou
aquela que é a melhor participação de sempre de
Paulo Pereira Portugal em Europeus. (Pág. 47) J.J.M.

Quando a polícia alimenta o extremismo

independentemente da raça ou cor.
Uma cidadã apanhada num autocarro
com um Ælho menor sem título de
transporte jamais poderia ser alvo de
uma agressão com a violência que as
Manuel Carvalho imagens difundidas pelos jornais
Editorial atestam; mesmo que essa cidadã
que a PSP seja contaminada pela
suspeita de que está a ser alvo da
inÆltração da extrema-direita; e para
retirar argumentos aos extremistas
dos movimentos antirracistas que
encontram nestes tristes exemplos
terreno fértil para transformar
burocráticos dos inquéritos que
tantas vezes esconde um propósito
corporativo. Um polícia que humilha
uma cidadã em público, que
alegadamente a agride dentro de um
carro oÆcial e depois chama uma
ambulância alegando uma queda está

S
ó há uma forma de a PSP salvar a
face no episódio de extrema
violência exercida sobre uma
cidadã na Amadora: provar de
forma clara e inequívoca que
não foi um dos seus agentes a
deixar-lhe as marcas que revelam
uma agressão tão bárbara como
covarde. Num país onde prevalece o
Estado de direito, as forças de
segurança têm de ser as primeiras a
respeitar regras básicas consagradas
na Constituição, como as da
proporcionalidade ou da igualdade,
tenha ripostado, nada justiÆca que,
como tudo parece indicar, fosse
metida num carro da polícia e sovada
por agentes da autoridade.
Ainda que a prudência e o bom
senso nos convidem a analisar com
cautela uma situação sobre a qual
ainda não sabemos tudo, o que é
conhecido é suÆcientemente grave
para que se exija ao comando da PSP
e ao ministro da Administração
Interna um inquérito rigoroso e
imparcial. Por três razões de supremo
interesse público: para que se faça
justiça à cidadã agredida; para evitar
Portugal e os portugueses em
expoentes máximos do racismo. Para
lá de um intolerável abuso sobre uma
cidadã cujo “crime” foi não ter levado
o passe de um Ælho menor, a agressão
bárbara de um agente da PSP acentua
a sensação de que, no país,
caminhamos para um conÇito que,
em vez de demolir as graves barreiras
raciais que existem, apenas servirá
para as erguer mais alto.
O que aconteceu na Amadora tem
de ser esclarecido rapidamente. O
que sabemos é demasiado horrível
para suportar a teia de procedimentos
longe de cumprir os mínimos que se
exigem a um agente da autoridade.
Mesmo que tenha de beneÆciar da
presunção de inocência, deve ser
suspenso das suas actividades. E
enquanto tudo não se esclarecer, é
urgente avançar com a obrigação de
os polícias Ælmarem as suas
intervenções. Os portugueses
precisam de continuar a conÆar nos
seus polícias. Episódios como o de
ontem apenas servem os propósitos
dos que a querem destruir.
manuel.carvalho@publico.pt

As cartas destinadas a esta secção
devem indicar o nome e a morada
do autor, bem como um número
telefónico de contacto. O PÚBLICO
reserva-se o direito de seleccionar e
eventualmente reduzir os textos não
solicitados e não prestará
informação postal sobre eles.
Email: cartasdirector@publico.pt
Telefone: 210 111 000
CARTAS AO DIRECTOR
O debate
que interessa
Assisti na segunda-feira ao
programa Prós e Contras.
Mais de cem jovens estiveram
presentes no programa a mostrar
o seu interesse e competências
para participar na vida
pública e dar outro rumo ao país
e ao mundo. Do que ouvi,
permite-me pensar que temos,
de facto, aí uma geração
capaz de mudar o rumo da
política actual.
Não se falou, infelizmente, dos
dois principais problemas que
cerceiam as nossas vidas: a
incompetência política instalada e
a corrupção colectiva. Só vale a
pena mudar se forem eliminados
estes dois cancros que existem em
Portugal e em tantos outros países.
É o debate que interessa.
Guilherme da Conceição Duarte,
Lisboa
O vencedor
Eu sei que alguns costumam
desvalorizar as vitórias políticas
de Rio, mas quem vence Fernando
Gomes, Francisco Assis, Elisa
Ferreira, Santana Lopes,
redacções de jornais, caciques e
pseudonotáveis do Norte, claques,
presidentes de clubes de futebol e
quem derrota o Æel discípulo de
Passos, Luís Montenegro, por três
vezes, merece um pouco de
consideração, pois é um homem
corajoso, frontal e equilibrado. É
hora dos militantes do PSD
apoiarem o vencedor, baixarem os
egos e deixarem-se de
politiquices, de jogos de
interesses, dos compadrios, de
clientelismo, para recuperarem os
votos dos descontentes que
fugiram para a direita radical, pois
o país só tem a ganhar com uma
oposição forte e credível.
Emanuel Caetano, Ermesinde
Erro fatal
Joacine Katar Moreira, desde que
foi eleita para deputada da
Assembleia da República, tem
protagonizado um “estrelato”
negativo, com acções
rocambolescas recheadas com
atitudes de vaidade pessoal,
atritos contínuos com a direcção
do seu partido, egocentrismo
extremado, arrogância inusitada
e inconcebível.
Rui Tavares, colunista deste
jornal, escolheu como primeira
candidata nas últimas eleições
para o seu Livre uma mulher
negra, gaga e divorciada,
apostando porventura nessas
“qualidades” para ostentar a
novidade e, sejamos sinceros,
exibi-la como troféu presencial
dum partido que se arroga de
“progressista” e diferente. Pura
ilusão! Ser deputado/a requer
oratória vibrante, convicta e
perceptível.
Por outro lado, uma preparação
bem cuidada, que necessita de
estudo, conhecimento e também
a humildade necessária para ser
ouvida e respeitada, atributos
que, no meu entender, Joacine
não possui.
Os últimos episódios passados
na convenção do Livre, realizada
no último Æm-de-semana,
apontam para um espectáculo
confrangedor, um caos de moções
e adiamentos, a confusão
instalada, a premonição do Æm
trágico.
Rui Tavares, homem a que
reconheço erudição e inteligência,
cometeu um erro fatal e será
muito difícil recompor-se deste
imbróglio. O Livre está num coma
profundo, descerebrado e
irreversível. Haja alguém que o
desligue da máquina.
José Alberto Mesquita,
Lisboa
 Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020 • 7

A opinião publicada no jornal respeita a norma ortográfica escolhida pelos autores

Carlos Silva é um dos sindicalistas que nos
tempos actuais e mais próximos vão sair de
cena. Uns porque fecham um ciclo, mas no
caso do líder da UGT é por desilusão. António Costa
deve ler bem o que diz este militante socialista que
não encontrou no Governo do seu partido o
comportamento que esperava, referindo-se à
presença sindical na AR, à proposta de aumento para
a função pública ou à (falta de) negociação do OE, ao
Carlos Silva arrepio do legado socialista. (Págs. 10/11) J.J.M.
A perder protagonismo em casa, com o apoio
popular em queda, Guaidó desafiou uma
ordem judicial que o proíbe de sair do país e
está a fazer um périplo para reavivar a pressão
internacional, política e económica, sobre o Governo
venezuelano. A situação da oposição esmoreceu e
estes contactos servem para o presidente da
Assembleia Nacional mostrar para dentro e fora de
portas que a oposição está bem viva e empenhada.
Juan Guaidó Mas a situação no terreno mudou. (Pág. 26) J.J.M.

ESCRITO NA PEDRA
A precipitação tudo destrói, porque é cega e nada prevê
Galegas das
Tito Lívio (59 a.C.-17 d.C.), historiador
Azenhas
SEM COMENTÁRIOS CELEBRAÇÃO DO NASCIMENTO DE MARTIN LUTHER KING EM LOS ANGELES, EUA
ETIENNE LAURENT/EPA

EM PUBLICO.PT
Um recreio escondido na cidade
Um escola no Bom Sucesso, no Porto, foi
sendo rodeada de prédios ao longo de
décadas. Uma renovação devolveu-lhe luz,
e transformou-a num recreio dourado
publico.pt/p3
Michelle Obama com
um olho negro?
Sim. E também Angela Merkel, Hillary
Clinton ou Brigitte Macron. É uma
campanha contra a violência doméstica
nas ruas de Milão publico.pt/impar
P
O Porto no top da Monocole
A cidade do Porto é uma das melhores
cidades pequenas do mundo para se viver,
considera a Monocle, que a coloca a par de
Bergen, na Noruega, ou de Lausanne, na
Suíça publico.pt/fugas
Miguel Esteves Cardoso
Ainda ontem
residindo às arribas das Azenhas
do Mar, mais alta (e mais à mão)
do que o tridente de Neptuno,
está uma couve-galega. Mentira: é
quase uma dúzia de couves-
-galegas, todas elas a fazer troça
do precipício, a usar as folhas
como pulmões para converter a
maresia em hortaliça.
Para chegar às couves é preciso
galgar um muro de pedra que, imagina-se,
está ali para impedir os hortelões amadores
de ceder à tentação de exercer o sacho e
arrancar um caldo-verde daqueles talos
endurecidos por décadas de cobiça.
Fotografei-as e iria jurar que incharam
com cada clique. Quando virei as costas para
fazer um intervalo das vergastadas do
ciclone, pareceu-me ouvir risotas vegetais.
Estavam cercadas de chorões e azedas,
essas garbosas espécies invasivas que os
estrangeiros estupidamente confundem com
paisagens.
“Já nós”, ciciavam as couves, “estamos cá
desde a primeira dinastia. Não temos
inimigos naturais. Nenhuma escola — nem
mesmo a escola oÆcial das Azenhas — se
organiza para nos vir arrancar. Somos
intocáveis. Respeitem-nos e piem mais
Æninho, se Æzerem favor”.
Esquecida e perdoada — para não dizer
profundamente agradecida — está a invasão
original destas majestáticas plantas, vindas
da nossa irmã-gémea, a Galiza.
Resta esclarecer que não chamamos
galegas às couves por serem galegas.
Chamamos galegas às couves porque
gostamos muito delas: tanto como gostamos
dos galegos.
É impossível fotografá-las com terra à
volta. Só com mar e céu. Se a objectiva fosse
melhor, talvez se conseguisse a Estátua da
Liberdade.
8 • Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020
ESPAÇO PÚBLICO
Ao menos os ratos abandonam o navio,
não o afundam
Luís Aguiar-Conraria
Se a única incriminada for
Isabel dos Santos, ficamos
a saber que a esperança
que muitos viram em João
1.
Lourenço é vã
Isabel dos Santos
Com o escândalo do Luanda Leaks a
afectar tantas grandes empresas
portuguesas, e sendo eu economista,
imagino que muitos esperem algum
comentário da minha parte. Mas não
há muito que eu possa dizer que não
tenha sido dito já por outrem. A isto
acresce que, ao contrário de outros,
como Ana Gomes, recentemente, ou
José Manuel Fernandes, nos últimos 20 anos,
não posso dizer “já tinha avisado”.
No máximo, terei dito que o investimento
estrangeiro era bem-vindo em Portugal, mas
que dispensava bem o capital chinês e
angolano. Quer um quer outro vêm de
regimes despóticos e corruptos e os seus
investimentos têm motivações políticas e não
só económicas. Se não vejo nenhum mal em
entregar a rede eléctrica portuguesa a um
capitalista estrangeiro, não percebo a lógica
de o fazer a um capital que está refém dos
interesses de um governo estrangeiro
corrupto, como o chinês, e que poderá usar
essa força como forma de pressão política.
Uma das grandes vantagens do
investimento estrangeiro é o know-how que
traz. Gosto do investimento estrangeiro para
aprendermos com eles, não para eles
aprenderem connosco. O capital estrangeiro
torna a economia portuguesa mais produtiva
e exportadora. É o caso dos investimentos da
Autoeuropa, da Bosch, aqui em Braga, ou da
Ikea, entre outros. Mas duvido que tenhamos
muito a aprender com o capital angolano, a
não ser, claro, sobre como capturar governos.
Desde 2017, quando João Lourenço tomou
posse como Presidente angolano, tem-se
falado numa abertura e limpeza do regime
angolano. Nunca me entusiasmei; quis
esperar para ver. Também na União Soviética,
sempre que se mudava de líder, havia uma
razia: limpavam-se os apparatchiks leais ao
anterior poder apenas para serem
substituídos por novos. Como sucedeu com
Khrushchov, que em 1956 denunciou os
crimes do seu antecessor, Estaline,
acusando-o de ter usurpado o Estado
soviético para benefício pessoal.
No caso angolano, acreditamos que o
regime de José Eduardo dos Santos era
despótico e que usava o sistema de justiça
em seu favor. E o actual Presidente de
FERNANDO VELUDO/NFACTOS
e as políticas identitárias estavam a entrar
com mais força em Portugal, apresentaram
uma negra gaga como candidata para
assegurar a subvenção que lhes tinha
escapado nas eleições anteriores. Portanto,
aproveitaram-se e, agora, querem ver-se livres
dela. Ou foram ingénuos, para não dizer
tontos, ou são desprezíveis.
É difícil acreditar que não soubessem. Na
melhor das hipóteses, não quiseram saber.
Por exemplo, Ricardo Gaio Alves, antigo
dirigente do Livre, escreveu, em reacção à
entrevista de Rui Tavares, que discordava
absolutamente da desculpa dada. Diz mesmo
que não só era previsível como houve quem
os alertasse. Também Pedro Mendonça,
membro da direcção do Livre, em entrevista
na segunda-feira ao PÚBLICO, respondeu
assim à pergunta sobre quando tinham
começado as fricções: “Foi ainda a meio da
campanha eleitoral que as coisas começaram
a azedar. Nós tínhamos mais experiência em
campanhas eleitorais do que Joacine Katar
Moreira e sabíamos que as campanhas são
situações tensas, em que não podemos avaliar
as pessoas e onde é natural que certas
quezílias aconteçam. E por isso não
valorizámos. Houve situações desagradáveis
que não vou comentar.” Só mais um exemplo,
Jorge Pinto, cabeça de lista do Livre pelo
Porto, escreveu no seu mural do Facebook
que sofreu “menorizações, agressões verbais
e até tentativas de boicote” por parte de Katar
Moreira, que até tentou que ele “não
Angola também não parece acreditar da digo que é provável que os Luanda Leaks participasse numa entrevista”. Eu traduzo:
independência da justiça, ou já nos tenham sido libertados pelo regime angolano. Katar Moreira desancou-o por ter dado uma
esquecemos de como se empenhou para que Isabel dos Santos não ergueu um império entrevista à TSF.
Manuel Vicente, acusado no âmbito da sozinha. Fê-lo com ajuda de muitos que Portanto, pelo menos durante a campanha,
Operação Fizz, não fosse julgado em Portugal? estavam e estão no poder. Se a fonte dos 700 já sabiam do que a casa gastava. A desculpa de
Um “pequeno mil documentos for independente e Rui Tavares é só isso: uma desculpa. Aposto
irritante” que desinteressada, os nomes dos cúmplices de que, depois de a terem nomeado e quando se
entretanto se Isabel dos Santos serão conhecidos em breve. aperceberam da pessoa que estavam a
resolveu. Portanto, Se a única incriminada for ela, então Æcamos promover, encetaram uma fuga para a frente.
ou acreditamos que, a saber que a esperança que muitos viram em Neste momento, tirar-lhe a conÆança política
O Livre desde 2017, João João Lourenço é vã e que apenas estamos a sem, pelo menos, fazerem um enorme mea
Lourenço já fez uma ver um déspota a destruir os restos de poder culpa é pura hipocrisia.
polarizou votos reforma judicial do déspota anterior. Já os jornalistas serão Acresce a isso que o Livre é, na minha
graças à sua profunda que tornou meros instrumentos desse poder. opinião subjectiva, um projecto não
candidata. Com o sistema de justiça
independente, ou 2. Joacine Katar Moreira
diferenciado. Diz-se de esquerda, feminista,
europeísta e ecologista. Ora, o PCP é mais de
qualquer outro aceitamos que os O Livre quer livrar-se de Joacine Katar esquerda do que o Livre, e bem mais
candidato seus tribunais
continuam a
Moreira. Se o Æzer, Æca uma questão: qual a
legitimidade de Katar Moreira para continuar
consistente nas propostas que faz, o BE é
feminista, o PS é europeísta e o PEV é
tradicional, trabalhar para o a deputar no Parlamento? Sob o ponto de ecologista (tal como o PAN). O Livre não trazia
voltariam a ser regime. E, nesse caso, vista legal, não há qualquer dúvida de que nada de novo em relação aos partidos
Isabel dos Santos está tem todo o direito de se recusar a sair. Sob o parlamentares e que se conÆguravam como
o fiasco que a ser tramada pelo ponto de vista político, como votamos em parceiros naturais do PS. O Livre polarizou
sempre foram regime. Sublinho que listas fechadas propostas por partidos, a votos precisamente graças à sua candidata e
não estou a dizer que resposta não é óbvia. postura anti-racista identitária. Com qualquer
a senhora é impoluta, Na TSF, Rui Tavares disse que foi outro candidato tradicional, voltariam a ser o
estou a dizer que se “inesperada a atitude da Joacine da eleição Æasco que sempre foram.
trata de substituir os para a frente”. Quer convencer-nos de que a
antigos poderes por apoiou e fez campanha por ela por engano. Professor da Escola de Economia
novos poderes. Uma explicação alternativa foi enunciada por e Gestão da Universidade do Minho.
Vou mais longe e Katar Moreira: numa altura em que o racismo Escreve à quarta-feira
 Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020 • 9

ESPAÇO PÚBLICO

Com muita honra Assim vamos

1.
promoções que, tivesse a lei vigente sido

H
Paula Teixeira da Cruz Santana Castilho aplicada, se deveriam ter veriÆcado em 2011,
Mil anos e um dia mas servem agora para branquear a
O ministro da Educação esteve mais provocação de uma proposta de aumentos de
á derrotas mesmo muito de cinco horas no Parlamento, qual 0,3%, para salários estagnados há dez anos.
honrosas. louvaminhas de vacuidades, a 4. António Lacerda, secretário de Estado da
Confesso que me senti muito defender “o mais robusto” Saúde, receitou chá e bolos para combater os
confortada na derrota que em orçamento que já apresentou. Em agressores dos médicos. Do entender meloso
comunhão sofri, ao apoiar Luís síntese, diz o Governo que vai rever o do governante depreende-se mesmo que se as
Montenegro, que está longe, modelo de recrutamento de paredes das salas de espera dos hospitais
muito longe, de morrer professores, estudar a hipótese de forem pintadas de rosa, talvez se diluam os
politicamente, como o próprio substituir aulas por outras níveis de tensão. Razão tem o governante para
aÆrmou no seu discurso (ao actividades para os que tenham mais reÇectir com tamanha profundidade, porque
tomar conhecimento dos de 60 anos, considerar a criação de incentivos professores, médicos, enfermeiros e
resultados eleitorais que deram a vitória ao para determinados grupos de recrutamento, assistentes
seu adversário nas eleições internas do PSD, alargar ao 2.º ciclo do ensino básico a operacionais viraram
que ocorreram no sábado). malfadada “escola a tempo inteiro”, rever a sacos de pancada de
Revi-me na esperança, revi-me no partido portaria de rácios funcionários/alunos e agressores que Æcam
das causas, reformista e empenhado, da promover uma nova geração de “contratos livres, com simples
união e do futuro.
Revi-me na transversalidade de tantos que
locais de segurança”.
O que se pode dizer sobre o orçamento para
Eis a ideologia termo de identidade
e residência.
me rodeavam, no interclassismo em a Educação varia segundo o que tomarmos grunha para a Entretanto, a mulher
igualdade. por comparação. O seu valor tem aumentado Educação do que agrediu uma
Revi-me no partido de cultura e de Expresso, foi conseguida com a distância ano após ano do Governo PS, depois de uma procuradora e uma
tolerância, na sua integral diversidade. mais curta entre candidatos na história do década em que foi reduzido em 12%? Sim, mas séc. XXI: que juíza foi
Ali naquela sala, na noite eleitoral, PSD: 6,12%, e 1991 votos de diferença (53,11% ainda está aquém da expressão que tinha todos passem imediatamente presa
também vi o futuro qualiÆcado e sério,
personalizado, em particular, na mandatária
contra 46,89%), com a sombra dos votos da
Madeira a pairar.
antes da troika e, por referência ao PIB, os três
últimos orçamentos são os piores desde que
sabendo o que e assim continuará
até ser julgada. Será
do então candidato e no seu incansável Mas em algo o aderimos ao euro. Admitiram-se cerca de souberem, que este exemplo
braço direito, com provas dadas também na
liderança do grupo parlamentar do PSD.
actual presidente
tem razão: não se
5500 novos funcionários? Sim! Mas esses
devem ser comparados com os 24.000 que
desde que a passará a servir de
modelo para
Luís Montenegro não precisa, podem repetir as saíram de 2011 a 2015. escola os situações similares de
deÆnitivamente, que lhe digam que “se ele O PSD deslealdades ao Da lista vasta de promessas não cumpridas guarde a tempo outros exercícios
tiver juízo e maturidade pode não morrer partido que tiveram pelo Governo do PS, este orçamento retoma a proÆssionais? Será
politicamente”, como aÆrmou o seu sobreviverá lugar durante o universalização da educação pré-escolar a inteiro, para que que a mão pesada
adversário na SIC, a 16 de Janeiro, num e ganhará se exercício do XIX partir dos três anos. Porém, pelo andar das os pais que se ergueu para
manifesto assomo de suposta superioridade
e arrogância, que ninguém na vida deve o deixarem Governo
Constitucional ou as
negociações, não me surpreenderá que
medidas protectoras de cães e gatos se
trabalhem cada proteger a
integridade física de
assumir. no espaço que tiveram lugar sobreponham a medidas protectoras de vez mais, juízes e procuradores
Também não me surpreende, pois, em
entrevista à Antena 1, a 14 de Janeiro, já o
dos partidos nas autárquicas de
2017, na cidade do
crianças que teimam em não nascer.
2. Agora, aulas de português podem ser
ganhando cada passará a proteger o
ventre das
adversário de Luís Montenegro aÆrmara não de liberdade, Porto, perpetradas dadas por professores de inglês, francês, vez menos professoras grávidas
ter outro plano a não ser “chegar a
primeiro-ministro” e, se não o conseguir,
em tempos de pelo próprio.
O problema é que,
alemão ou espanhol, de geograÆa por
professores de história, e de informática não
agredidas no seu
local de trabalho?
“preparar pessoas” para lhe sucederem. tantas e tão como aÆrmou a 6 de importa por quem, desde que tenha 5. Na reabertura da
Como conceber num partido democrático dissimuladas Janeiro: “Nos frequentado uma qualquer acção de oÆcina da Comboios
uma escola formativa de sucessores feitos à próximos dois anos formação sobre a matéria. Ora o problema de Portugal, António
medida, quais cópias dinásticas? tentações será igual, quem não não se resolve com uma “nota” Costa disse ter o
O plano do presidente do partido é apenas totalitárias concorda é melhor manifestamente ilegal e desqualiÆcante da sonho de passarmos
chegar a primeiro-ministro? Que belos, não votar em mim.” classe e da escola pública. Em vez de criarem a fazer parte do clube dos produtores de
motivadores e enaltecedores projectos: “ser Logo, depois de duas condições para que proÆssionais com comboios e que, para tal, o país tem de ser
chefe” e formar tropas. derrotas eleitorais — habilitação (que os há) aceitem os lugares “persistente e não voltar a cometer erros que
Mas na mesma linha, já a 11 de Janeiro, o europeias e vagos, os responsáveis puxaram pela cabeça e no passado foram cometidos”. Ao sonho, o
agora presidente apelara a uma maioria legislativas —, não se actuaram segundo a ideologia grunha para a primeiro-ministro parece ter acrescentado o
expressiva na segunda volta argumentando: percebe como é que, Educação do século XXI (que todos passem remorso, que poderia ter explicitado melhor.
“A união faz-se mais rapidamente em torno não mudando de sabendo o que souberem, desde que a escola É que a Sorefame foi totalmente extinta em
do mais forte do que do mais fraco.” Fortes e estratégia, pretende obter um resultado os guarde a tempo inteiro, para que os pais 2001, era António Costa ministro no Governo
fracos? Quem dita a fraqueza ou a fortaleza diferente. trabalhem cada vez mais, ganhando cada vez de António Guterres. Para os mais novos,
de cada um, conceitos, aliás, muito O PSD sobreviverá e ganhará se o deixarem menos). recordo que a Sorefame foi uma das maiores
subjectivos? É que há muitas vezes mais no espaço dos partidos de liberdade, em 3. A imprensa afanou-se a noticiar que empresas portuguesas que, há mais de 40
fortaleza na fraqueza e mais fraqueza na tempos de tantas e tão dissimuladas 45.000 docentes foram promovidos em 2019 anos, nos fez entrar no clube dos construtores
fortaleza. tentações totalitárias. e que mais de 6000 atingiram o topo da de comboios.
Santa simplicidade. carreira, graças ao milagre do
A vitória do actual presidente do PSD, Advogada. Escreve quinzenalmente descongelamento e recuperação de tempo de Professor do ensino superior.
segundo dados publicados pelo jornal à quarta-feira serviço. Providencial ênfase dada a Escreve quinzenalmente à quarta-feira
10 • Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020
POLÍTICA
“Não me vou embora sem dar um
murro na mesa!”, avisa Carlos Silva
Líder da UGT explica a sua desilusão com
o Governo, conta como o sindicalista
Rui Riso foi afastado de deputado e alega
que aumento de 0,3% na função pública
é “bofetada com luva de boxe”
Partido Socialista
Leonete Botelho
São questões “político-sindicais” e
não pessoais as que levaram Carlos
Silva a anunciar que deixará a lide-
rança da UGT no próximo congresso
da central sindical em Abril de 2021.
Com mais de um ano de antecedên-
cia, Carlos Silva fez saber, no domin-
go em entrevista ao Porto Canal, que
não será candidato a um terceiro
mandato.
“Se me vou embora é porque estou
amargurado com o comportamento
do PS em relação ao movimento sin-
dical. Eu não tenho quaisquer razões
para continuar neste combate. Não
atiro a toalha ao chão e cumpro o
meu mandato até ao Æm, mas não me
calo e não me vou embora sem dar
um murro na mesa”, aÆrmou ao
PÚBLICO.
Uma sucessão de acontecimentos
motivou a sua decisão, que já estava
na sua cabeça por defender a neces-
sidade de renovação nos cargos. Mas
foram as atitudes do Governo que
tomaram a decisão irreversível.
“Esperava, de um governo socialista,
que houvesse outra capacidade de
entendimento com o movimento
sindical, e as coisas não começaram
bem quando os sindicalistas socia-
listas, pela primeira vez na história
do PS, foram escorraçados das listas
para a Assembleia da República”,
diz.
Se a ex-deputada Wanda Guima-
rães saiu do Parlamento por sua pró-
pria iniciativa, já Rui Riso, o sindica-
lista que integrara as listas socialistas
nas eleições de 2015, foi afastado
unilateralmente: “Nem sequer foi
abordado, nem lhe deram qualquer
explicação. Trataram-no como um
cão abandonado à beira da estrada.”
Não foi convidado mais nenhum sin-
dicalista, aÆrma Carlos Silva, com
um desabafo: “É de um ostracismo
a que eu não estava habituado em 40
anos de militância do PS.”
Se esse é o tipo de coisa “que não
se esquece mas passa”, o pior veio
depois, prossegue o líder da UGT.
Quando ouviram a promessa de
valorizar os salários feita pelo PS na
campanha eleitoral, os sindicalistas
Æcaram expectantes, após dez anos
sem aumentos da função pública e
com o ratio de baixos salários do país
nos rankings europeus. “Eis senão
quando o Governo alterou o discur-
so na concertação social e coloca a
questão da competitividade, da eco-
nomia e do apoio às empresas como
prioridade absoluta, relegando as
questões dos trabalhadores even-
tualmente para 2021”, aponta.
A seguir veio a proposta de aumen-
to de 0,3% para a função pública. “É
uma bofetada e não é de luva branca,
é de luva de boxe”, considera Carlos
Silva, acrescentando que a situação
se agravou com o facto de o Governo
defender aumentos de 2,7% para o
sector privado. E, por último, critica
a “recusa do Governo em negociar”
com os sindicatos antes da aprova-
ção Ænal do Orçamento do Estado.
“Isso é um ultraje”, atira, referindo-
se ao facto de na semana passada a
ministra da Modernização do Esta-
do, Alexandra Leitão, ter anunciado
que as reuniões com os sindicatos da Nas eleições internas de 2014, Carlos Silva apoiou António José Seguro contra António Costa
função pública arrancarão a 10 de
Fevereiro, a primeira segunda-feira “O Governo conseguiu congregar uma questão pessoal entre Carlos
depois da aprovação do OE. contra si todos os sindicatos da fun- Silva e o primeiro-ministro”, disse o
“Quem tanto criticou o Governo ção pública, das duas centrais e até ex-líder da UGT ao PÚBLICO. “Antó-
de Passos Coelho por inÇexibilidade, independentes, que aderiram à gre- nio Costa tem alguma diÆculdade em
por ir para além da troika, como fez ve marcada para 31 de Janeiro, por aceitar as diferenças. Como Carlos
o PS, além do movimento sindical, decidir afrontar o movimento sindi- Silva esteve contra a ‘geringonça’,
agora que tem a oportunidade de,
Como Carlos Silva cal de forma gratuita. É uma arro- começaram-se a criar algumas diÆ#
num segundo mandato, inverter esteve contra gância inaceitável.” culdades nas relações pessoais entre
alguns desses retrocessos, melhorar eles”, acrescenta
as condições de vida dos trabalhado-
a ‘geringonça’, Sucessor até ao Verão É uma questão pessoal? “Essa é
res e apostar no diálogo, agora vira começaram-se Quanto à antecipação com que fez o uma boa pergunta para António Cos-
as costas aos sindicatos e trata-nos anúncio, Carlos Silva diz que é o nor- ta. Para mim, é uma questão institu-
como se fôssemos dispensáveis? Que
a criar algumas mal e lembra que o seu nome como cional, política”, responde Carlos
diabo, já se esqueceram de que foi o diÄculdades sucessor de João Proença foi indica- Silva. Agora que está aberto o pro-
Mário Soares, o Salgado Zenha, o do em Julho de 2012, embora só con- cesso da sua sucessão, Carlos Silva
Maldonado Gonelha e outros socia-
nas relações Ærmado no Congresso de Abril de diz que não há nenhum motivo de
listas que deram o pontapé de saída entre eles 2013. Já João Proença não tem certe- preocupação: “Temos muita gente
para o movimento sindical que za de que esse seja um assunto fecha- com qualidade na UGT.” O seu suces-
temos?” João Proença do, acreditando que Carlos Silva sor deverá ser “por princípio um
O desconforto de Carlos Silva não Ex-secretário-geral da UGT ainda se possa manter no cargo. socialista, porque a tendência socia-
é só seu, sequer só da UGT, aÆrma: “O problema não é com a UGT, é lista é a mais relevante, deverá mere-

MIGUEL MANSO
cer o consenso dos companheiros
sociais-democratas e essa escolha
deve acontecer até ao Verão, como
é tradição da UGT”, expõe ao PÚBLI-
CO.
Apesar do descontentamento,
Carlos Silva garante que não vai dei-
xar de ser militante do PS, como fez
Paulo Pedroso. No dia seguinte à
entrevista ao Porto Canal, o líder da
UGT recebeu a solidariedade daque-
le antigo ministro do Trabalho do PS,
que num post no Facebook criticou
a forma como o Governo socialista
tem lidado com o movimento sindi-
cal e foi nesse texto que Pedroso
revelou já não ser militante do PS.
“Fiquei estupefacto, tenho muita
pena”, diz Carlos Silva. “De quem foi
ministro do Trabalho, que aguentou
estoicamente um processo compli-
Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020 • 11
Adeus,
sindicalistas
É
uma espécie de fim de
ciclo. Em poucos meses,
várias das caras principais
do mundo sindical
desaparecem de cena.
Arménio Carlos,
secretário-geral da CGTP,
abandona o cargo no
congresso da central sindical
marcado para Fevereiro,
por limite de idade (todos os
dirigentes com 65 anos assim
têm de o fazer).
Ainda não se conhece o nome
do substituto. Ana Avoila,
dirigente da Frente Comum,
passou o testemunho, ao fim
de 34 anos de dedicação
exclusiva, a Sebastião Santana
no último fim-de-semana.
Wanda Guimarães,
que foi deputada do PS
e dirigente sindical dos
bancários, deixou a política
no final da anterior legislatura,
aos 75 anos, tendo sido
homenageada por todas
as bancadas parlamentares.
Por último, Carlos Silva, líder
da UGT desde 2013, já
anunciou que não tenciona
recandidatar-se a novo
mandato naquela central
sindical, cujo congresso
se realiza em 2021. H.P.
cado contra a sua pessoa, acabando
por ser absolvido e indemnizado
pelo Estado, teve a conÆança do
Governo para ir para o Banco Mun-
dial, é o marido da líder parlamentar
do PS, [esta decisão] é surpreenden-
te. E tenho muita pena, porque o
Paulo é um grande pensador, que
reÇecte muito bem sobre o mundo
do trabalho e é profundamente
conhecedor da Segurança Social”,
sublinha o líder da UGT.
O PÚBLICO tentou contactar Pau-
lo Pedroso para perceber os motivos
da sua desÆliação, sem sucesso. O
professor universitário está a termi-
nar o mandato no Banco Mundial e
tudo indica que não quer falar antes
disso.
leonete.botelho@publico.pt
PODCASTS
ANTES DE
TUDO: P24.
Pedroso diz
não estar “em
trânsito” para
O SEU DIA
outro partido
COMEÇA AQUI
Depois de ter criticado a relação do
PS com o mundo sindical e ter con-
Ærmado que deixara de ser militante
daquele partido há vários meses,
Paulo Pedroso garante que não está
a trabalhar para nenhum outro pro-
jecto político.
“Fui, sou e serei um socialista
democrático, não estou em trânsito
para nenhum outro espaço político
nem desconfortável com este espa-
ço”, escreveu ontem no Facebook o
ex-ministro da Segurança Social,
dizendo querer pôr uma pedra nas
especulações que começaram a cir-
cular. Todas as manhãs,
“Não entrei em ruptura com o tudo o que precisa
líder do PS nem em divergência ideo- de saber sobre
lógica global com o partido. Tenho o que vai marcar
diferenças de opinião, como no caso o seu dia, num
da relação do partido com os sindi- podcast leve
catos, e é sabido em que quadrante mas completo
do PS me posicionei sempre. Apenas
decidi, na preparação do meu regres-
so a Portugal, que deveria tornar
mais radical o virar de página em
relação à política partidária que já Æz
há alguns anos”, acrescenta.
Paulo Pedroso é também adminis-
trador do Banco Mundial, cargo que
deixará a 15 de Fevereiro, e no regres-
so a Portugal irá dar aulas no ISC-
TE.
“Não há nenhuma ruptura,
nenhum drama, apenas a decisão de
que não é no quadro partidário nem
balizado por ele que tenho a inter- Como ouvir e subscrever os podcasts do Público:
venção que decidir ter. De algum
modo, antes tinha virado uma pági- 1 | Abra a sua app de podcasts
na, agora atravessei uma ponte para IOS: App pré-instalada com o nome Podcasts;
outro tipo de intervenção cívica. Android: Descarregue uma app na Playstore;
Nada mais, para alívio de alguns e Computador: No site em publico.pt/podcasts
desilusão de outros”, explicou. 2 | Procure por “Público” ou pelo programa que quer ouvir (ex.: P24)
Ontem, alguns socialistas lamen-
3 | Subscreva para ouvir em primeira mão os novos episódios
taram a saída de Pedroso do partido,
como Porfírio Silva ou Ferro Rodri-
gues, que, segundo soube o PÚBLI-
CO, Æcou surpreendido com a rup- Disponível no
tura do ex-ministro de António
Guterres e que integrou a direcção
do partido com Ferro.H.P.
12 • Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020
POLÍTICA
Bagão Félix
dá apoio a
“Chicão” para
líder do CDS
Congresso
Sofia Rodrigues
Líder da Juventude Popular
é um dos candidatos à
liderança do partido no
congresso do próximo
fim-de-semana
António Bagão Félix, antigo ministro
das Finanças do Governo PSD-CDS
liderado por Pedro Santana Lopes,
revê-se na candidatura de Francisco
Rodrigues dos Santos à liderança do
CDS. “É muito aliciante que o CDS
tenha um líder que faça o aggiorna-
mento, que provoque uma corrente
de ar, um refrescar de ideias”, disse
ao PÚBLICO o antigo governante, que
não é Æliado no partido.
Defendendo que o CDS “tem de se
aÆrmar de direita democrática”,
Bagão Félix considera que o partido
“precisa de uma alteração com algu-
ma profundidade e que precisa de
sangue novo”, apontando o líder da
Juventude Popular ( JP) como tendo
o perÆl para essa renovação. O eco-
nomista, que assume votar habitual-
mente no CDS, lembra a diferença de
idades entre si e o candidato — cerca
de 40 anos — mas assume identiÆcar-
se com ideias de Rodrigues dos Santos
como o “personalismo”, a “economia
social de mercado” e o “Estado de
direito e de ética”.
António Bagão
Félix foi
ministro das
Finanças
e ministro da
Segurança
Social
O antigo ministro do Governo lide-
rado por Durão Barroso (com a pasta
da Segurança Social), indicado pelo
CDS presidido na altura por Paulo
Portas, diz apreciar a “experiência
interessante” do candidato na lide-
rança da JP (desde 2015), a sua “gran-
de capacidade de discernimento” e o
facto de não alinhar pelo “politica-
mente correcto”.
O sucessor de Assunção Cristas na
liderança do CDS vai ser eleito em
congresso no Æm-de-semana. Na cor-
rida há outros quatro candidatos:
Filipe Lobo d’Ávila, João Almeida,
Abel Matos Santos e Carlos Meira.
srodrigues@publico.pt
PAN quer apertar as regras de lobbying, que esperam aprovação há meses
PAN propõe que deputados
advogados sejam
considerados lobbyistas
Parlamento
Maria Lopes
Familiares até ao segundo
grau de políticos e altos
cargos públicos (cônjuges,
filhos, netos, pais e avós)
não poderão ser lobbyistas
Criar um registo único de represen-
tação de interesses e de lobbies,
permitir que os advogados se regis-
tem como lobbyistas, proibir a acti-
vidade de lobbying a familiares até
segundo grau de políticos ou cargos
públicos, Æxar um período de nojo
de quatro anos para se poder fazer
lobby junto do cargo de que se foi
titular, criar um registo da pegada
legislativa no Parlamento. Estas são
algumas das regras que o PAN quer
inscrever na regulamentação da
actividade de lobbying, de acordo
com a proposta que entregou na
Assembleia da República.
Depois de o CDS ter avançado em
Novembro com uma proposta sobre
o lobby, o PAN acaba de se juntar com
um projecto de lei para regulamentar
os contactos entre grupos ou pessoas
que representam interesses e as enti-
dades públicas que sobre eles deci-
dem. Mas o partido de André Silva vai
mais longe do que o previsto na pro-
posta centrista (que recupera o texto
que Æcou pelo caminho por culpa do
PSD e que já incorporava as altera-
ções pedidas pelo Presidente da
República quando vetou a primeira
lei).
Se em Julho votou contra a propos-
ta do lobby que saíra da Comissão
para o Reforço da Transparência (fei-
ta a partir de textos do PS, do CDS e
de alguns deputados do PSD), porque
se propõe agora legalizar a activida-
de? O PAN diz que então só votou
contra porque se tratava de um texto
de “mera operação de estética que
não iria trazer o aumento de transpa-
rência que se exigia”.
Agora, o PAN quer que se crie um
registo único e centralizado de
representação de interesses e de
lobbies onde têm de se inscrever
todas as entidades (sejam singulares
ou colectivas) que representem gru-
pos de interesses ou lobbies e que
tencionem, de forma directa ou
indirecta, “inÇuenciar a execução
ou os resultados das políticas públi-
cas”, de actos legislativos, regula-
mentares, administrativos ou de
contratos públicos.
O registo deve conter informação
sobre o lobbyista e a entidade, como,
NUNO FERREIRA SANTOS
por exemplo, a propriedade da
empresa, a descrição de todos os inte-
resses e pessoas representados,
número de funcionários e os que
foram políticos ou altos cargos públi-
cos nos dez anos anteriores, os fun-
dos públicos recebidos, o volume de
negócios da actividade de lobby (e os
custos implicados), e até dos clientes
representados.
A lista de entidades públicas que
podem ser “inÇuenciadas” e que
devem reportar à Entidade todos os
contactos e conteúdos inclui a Presi-
dência da República, Parlamento,
Governo, governos regionais, órgãos
dos municípios e das freguesias com
mais de dez mil eleitores.
Ao contrário da proposta do CDS,
e para prevenir “válvulas de escape”,
o PAN defende que os advogados
também se possam inscrever como
lobbyistas — “ninguém duvida de que
estão aqui os lobbyistas mais convin-
centes”, ironiza o partido —, como
acontece no quadro legal em uso na
Comissão e no Parlamento europeus.
Quem o PAN não permite que faça
lobby são os altos cargos públicos e os
políticos em actividade assim como
quem trabalha nos seus gabinetes, e
os familiares até ao segundo grau em
linha recta — ou seja, cônjuges, pais,
Ælhos, avós, netos, e irmãos.
Prendas de
mais de 150
euros serão
divulgadas
Deputados
Maria Lopes
Comissão da Transparência
aprovou as regras para o
Parlamento lidar com as
ofertas aos deputados
A Comissão da Transparência apro-
vou ontem as regras para a Assem-
bleia da República (AR) lidar com as
ofertas de bens e hospitalidade feitas
aos deputados, decidindo que as
prendas de valor estimado superior
a 150 euros devem Æcar registadas no
site do Parlamento e dos deputados,
mas sem a indicação da “circunstân-
cia” em que essa oferta foi feita.
Assim, será possível ficar a saber
as prendas de valor superior a 150
euros que cada deputado recebeu
(ou o pacote de prendas do mesmo
ofertante que ultrapasse 150 euros),
quem ofereceu, quando o fez, a data
em que o parlamentar as apresentou
ou entregou na Assembleia da Repú-
blica e o destino que esta decidiu
dar-lhe, mas não a razão da oferta
— se foi por mera cortesia (imagine-
se, por exemplo, uma peça de cristal
pelo aniversário de um deputado),
ou pela intervenção num processo
legislativo (imagine-se um cachimbo
de madeira rara porque o deputado
apresentou um diploma sobre o
tabaco).
O PAN apresentou uma proposta
de alteração ao texto inicial construí-
do pelo socialista Pedro Delgado
Alves para incluir uma lista de infor-
mações que deveriam ser considera-
das no registo público das prendas
que foi aprovada, mas acabou por
ser amputado o critério das “circuns-
tâncias” da oferta pela mão do PS e
do PSD.
André Silva bem insistiu (sem
sucesso) que é preciso saber o “con-
texto em que a oferta é feita”, porque
pode vir de uma entidade que tenha
um “processo legislativo do seu inte-
resse em curso”. O PSD alegou que
explicar as razões da prenda seria
alimentar o princípio da “descon-
Æança” em relação ao deputado, o
PS chegou a dizer que isso feria a
“dignidade” dos deputados. E a pro-
posta Æcou pelo caminho com o voto
do PS e PSD. Só o Bloco votou ao lado
do PAN.
maria.lopes@publico.pt

E agora, Joacine e Livre?
Opinião
Ricardo Sá Fernandes
Rui Tavares teve uma contribuição
decisiva e luminosa na criação e
desenvolvimento do projecto do
Livre. Sou amigo do Rui e
reconheço-lhe as maiores
qualidades intelectuais,
proÆssionais, cidadãs e humanas.
Revejo-me nos princípios e na acção
política do Livre, o primeiro partido
da esquerda portuguesa que não
nasceu da matriz ideológica do
marxismo. É universalista e
europeísta. Defende a liberdade, a
igualdade e a tolerância. Guia se
pelos valores da justiça social e da
justiça ambiental. É humanista,
feminista, anti-racista e defende as
minorias.
Não conhecia Joacine Katar
Moreira. Durante as campanhas
eleitorais, conversámos uns
escassos minutos durante um
jantar. Tornei a estar com ela,
quando, durante cerca de cinco
horas, a inquiri, como relator de um
parecer do conselho de jurisdição
(CJ) do Livre. Falámos ainda uns
breves minutos durante o congresso
do último Æm-de-semana.
Admiro-lhe a coragem, a resistência
e a persistência naquilo em que
acredita. Lastimo profundamente
uma das mais inqualiÆcáveis
campanhas que alguma vez surgiu
em Portugal em relação a quem
acaba de chegar à política. Das fake
news aos falsos perÆs, da severidade
no julgamento de qualquer deslize à
crítica mesquinha a coisas sem a
menor importância. Até chegaram a
criticar-lhe o penteado! Tanto ódio
ou mero desconforto em relação a
Joacine talvez não venha de ela ser
negra, gaga e de origem pobre. Mas
— na minha avaliação, é claro — vem,
seguramente, da estranheza com o
desassombro de quem não
pertence às elites tradicionais. Entre
nós, quando alguém põe a cabeça
de fora, há quem não resista a
cortar-lha o mais depressa possível.
O que provocou este choque
trágico entre Joacine e a direcção do
Livre?
Não foram com certeza as
deÆciências do processo de eleições
primárias. É que Joacine nem queria
ser candidata e foram os dirigentes
do Livre que a convenceram a isso.
Também não foram divergências
políticas de fundo, nem sobre
qualquer proposta política. Joacine
tem reaÆrmado a sua Ædelidade aos
princípios do Livre, e no
Parlamento tem-lhes sido Æel. Nem
venham com a abstenção no voto
do PCP sobre a Palestina, porque,
como o CJ concluiu, Joacine agiu de
boa-fé, convencida que essa
abstenção era prudente no quadro
das dúvidas que então teve acerca
dos considerandos da moção, com a
qual, de resto, até estava, em
substância, de acordo.
No parecer acima referido,
concluiu-se, por unanimidade, que
os problemas surgidos eram de
natureza procedimental: “O Livre
privilegia soluções colegiais, que
exigem tempos de debate e
maturação com que, às vezes, a
deputada não se tem
comprometido”; “por outro lado, o
grupo de contacto também não
soube prevenir atempadamente a
necessidade de integração da
deputada no seu colectivo”.
Assinalou-se que os conÇitos
gerados eram, na sua quase
totalidade, inerentes a uma vida
política aguerrida, mas referiu-se
igualmente que, nalgumas ocasiões,
se adulterara a relação de
normalidade do conÇito a merecer
uma chamada de atenção
(apontaram-se duas situações à
deputada e uma à direcção do
partido). Concluiu-se ainda que não
havia evidência de qualquer ilícito
disciplinar e apontou-se para a
necessidade de serem encontrados
os adequados mecanismos de
colaboração. Em todo o caso, a
avaliação política do que acontecera
cabia aos órgãos competentes do
partido para esse efeito.
A assembleia do Livre reuniu-se a
8 e a 9 de Dezembro, tendo a
deputada estado presente durante a
primeira parte dos trabalhos. Não
lhe foi retirada a conÆança política,
mas foram estabelecidas uma
espécie de condições que a
deputada devia cumprir. Não me
pareceu que fosse a melhor técnica
para construir um compromisso,
mas foi aquilo que foi decidido. De
nada mais soube, até que, no dia 14
de Janeiro, foi comunicado ao CJ
que a assembleia teria decidido
retirar a conÆança política à Joacine,
após ter dado como assente um
longo rol de actos da deputada, de
natureza procedimental, que
inviabilizariam uma relação
política. Sem tomar posição sobre
os factos, disse que me parecia
Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020 • 13
POLÍTICA
errado que fosse tomada tal
deliberação na véspera do
congresso e no quadro de uma
deliberação para a qual Joacine não
fora convocada para se defender.
Fui ao congresso No dia 15 de Janeiro, a assembleia
animado do decidiu levar a deliberação em
apreço ao congresso, para efeitos de
propósito de eventual ratiÆcação.
Logo na comunicação social se
evitar o desastre. difundiu o juízo praticamente
Infelizmente, unânime de que Joacine era culpada
e o seu destino estava traçado. Eu
as acusações abstivera-me até então de qualquer
à deputada foram posição pública sobre o que se
estava a passar, até por causa das
renovadas funções em que fora investido. Mas
e esta reagiu não podia Æcar calado. Nunca me
conformei com a injustiça. Alertei,
como o país viu por isso, para a injustiça
democrática que estava a ser
cometida. Em nenhum partido
O Livre está numa democrático do mundo se retira a
encruzilhada: conÆança política à sua única
deputada por divergências
ou é capaz de procedimentais e sem lhe dar a
construir as oportunidade de se defender, o que
não havia condições nem tempo
pontes que até para poder fazer num congresso
agora faltaram que não fora convocado para esse
efeito. Seria uma indignidade.
ou Äca amputado Fui ao congresso animado do
de uma parte de si propósito de evitar o desastre.
Infelizmente, as acusações à
deputada foram renovadas e esta
reagiu como o país viu. Ainda assim,
DANIEL ROCHA
evitou-se o assassinato em público.
Por uma escassa maioria (52 votos
contra 50), diferiu-se a discussão do
problema para os órgãos a eleger no
congresso. O vexame do partido
não foi evitado, mas do mal, ainda
assim, Æcou o menos.
O Livre está numa encruzilhada:
ou é capaz de construir as pontes
que até agora faltaram ou Æca
amputado de uma parte de si. O
partido deve ter a ambição de ser
plural e de absorver várias
maneiras de estar na política e na
sociedade. Não tem de ter receio de
fazer conviver personalidades
dissonantes e até contraditórias.
Essa é uma riqueza, não uma
fraqueza. Com Ædelidade aos
princípios, é certo, mas sem
esquecer que o bom senso e a
tolerância são imprescindíveis
quando se desce das alturas dos
valores para o concreto das
pessoas.
Advogado e membro do
conselho de jurisdição do Livre
14 • Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020

SOCIEDADE
Aves em risco no Montijo
motivam queixa contra Portugal
Sociedade de Estudo das Aves e dois cientistas dizem que país viola acordo de protecção de aves aquáticas
migratórias. APA ainda não tinha divulgado ontem declaração de impacte ambiental Änal do aeroporto
DANIEL ROCHA

Aeroporto
Patrícia Carvalho
A Sociedade Portuguesa para o Estu-
do das Aves (SPEA) e dois cientistas
enviaram uma queixa contra Portugal
para a agência que supervisiona a
aplicação do AEWA — African-Eura-
sian Waterbird Agreement (Acordo
para a Conservação das Aves Aquáti-
cas Migratórias Áfrico-Euro-Asiáti-
cas), por considerarem que Portugal,
signatário deste acordo, não está a
cumprir as suas obrigações, no pro-
cesso do aeroporto do Montijo.
As consequências directas para o
país, caso o projecto avance — ontem
esperava-se que a Agência Portugue-
sa do Ambiente emitisse a declaração
de impacte ambiental Ænal do aero-
porto do Montijo, mas até ao fecho
desta edição a mesma ainda não era
conhecida — e se considere que os
queixosos têm razão poderão não ir
muito além da “má imagem” para
Portugal, apontado como incumpri-
dor, mas uma decisão desse género
engrossará os argumentos dos
ambientalistas que ainda não puse-
ram de parte a possibilidade de avan-
çar para tribunal contra o projecto.
A queixa da SPEA e de dois investi-
gadores — um do CESAM (Centro de
Estudos do Ambiente e do Mar da
Universidade de Aveiro) e outro do O futuro aeroporto previsto para o Montijo irá afectar a Reserva Natural do Estuário do Tejo
MARE (Centro de Ciências do Mar e
do Ambiente do Instituto Superior de só de passagem a caminho de outros protecção. Além disso, o impacto ambiental de um aeroporto no Mon- diz o responsável da SPEA. Várias
Psicologia Aplicada) —, divulgada pelo locais ou para nidiÆcarem aqui e pas- para estas espécies não é só a nível tijo “devia ser sempre avaliado associações ambientalistas manifes-
publicação online Wilder, seguiu no sarem o resto do ano noutro sítio. O local, como é mal assumido no pro- incluindo os países onde estas espé- taram-se contra a instalação de um
início do ano e já foi avaliada pela projecto, ao colocar em causa algu- jecto, mas também a nível interna- cies completam o seu ciclo anual”. aeroporto nas imediações da mais
equipa técnica do AEWA, que a mas destas espécies, mostra que cional, já que terá impacto nos ecos- Porque o ciclo, garante, “não é ape- importante área húmida do país e a
enviou para o comité executivo, res- Portugal não está a cumprir a sua sistemas para que estas aves nas local, na verdade tem repercus- Zero já avançou mesmo com uma
ponsável por decidir se ela dará ou migram”, defende o especialista da sões noutras regiões”. acção em tribunal.
não origem à abertura de um proce- SPEA. O futuro aeroporto previsto para o A possibilidade de novas acções
dimento contra Portugal, explica
Queixa seguiu Na lista enviada para o AEWA, Montijo irá afectar a Reserva Natural judiciais virem a acontecer, caso a
Joaquim Teodósio, coordenador do para agência constam “poucas dezenas de espécies do Estuário do Tejo, com o Estudo de obra venha a ser viabilizada, não está
Departamento de Conservação Ter- de aves” que serão afectadas, entre Impacte Ambiental a admitir que, descartada. Joaquim Teodósio admi-
restre da SPEA.
que supervisiona elas, o milherango. “Na invernada, anualmente, há três milhões de te que a decisão que o AEWA venha
O AEWA engloba 225 espécies de a aplicação do chegamos a ter no estuário do Tejo potenciais alvos, entre as várias espé- a tomar sobre a queixa agora apre-
aves dependentes de zonas húmidas cerca de 60 mil indivíduos desta espé- cies de aves, com que os aviões sentada poderá ser importante tam-
e é administrado pelo Programa
Acordo para cie que, depois, se irá reproduzir no podem colidir. As perturbações para bém a esse nível: “Irá contribuir,
Ambiental das Nações Unidas (UNEP, a Conservação Norte e Centro da Europa, onde exis- as aves provocadas pela actividade certamente, no caso de uma even-
na sigla inglesa). “O projecto do aero- tem projectos de conservação para normal de uma infra-estrutura desta tual queixa em tribunal, porque aju-
porto do Montijo irá afectar uma
das Aves Aquáticas proteger a sua nidiÆcação. Estes paí- dimensão, como a redução do tempo da a mostrar a importância que tem
grande quantidade de espécies que Migratórias ses também Æcam preocupados com de descanso de espécies migratórias uma correcta avaliação dos impactos
são migradoras, que só ocorrem em o que lhes poderá acontecer aqui”, que realizam voos de centenas ou deste tipo de projectos.”
Portugal em determinadas alturas do
Áfrico-Euro- diz Joaquim Teodósio, defendendo milhares de quilómetros, são factores
ano, seja a época de invernada, seja -Asiáticas que, por isso mesmo, o impacto que “nem sequer foram avaliados”, patricia.carvalho@publico.pt

Conselho Superior da
Magistratura analisa casos
de juízas prejudicadas
por serem mães
Justiça
Em causa estão as ausências
devido a licenças de
maternidade. Há 1888 juízes
no país, 1136 são mulheres
e 752 são homens
O Conselho Superior da Magistratu-
ra mostrou ontem abertura para
analisar questões relativas a prejuí-
zos na progressão das carreiras das
juízas por tirarem licença de mater-
nidade, disse Paula Ferreira Pinto,
presidente da Associação das Juízas
Portuguesas.
Paula Ferreira Pinto falava à agên-
cia Lusa após se ter reunido com o
presidente do Conselho Superior da
Magistratura (CSM), António Joa-
quim Piçarra, em Lisboa.
“O senhor presidente [do Conse-
lho Superior da Magistratura] disse
que a questão das licenças também
é uma preocupação do conselho e
que fará tudo para obviar essas
situações. Pediu-nos que colaborás-
semos e reportássemos as situações
concretas”, relatou a presidente da
Associação das Juízas Portugue-
sas.
Em causa estão as ausências das
juízas devido a licenças de materni-
dade e o facto de em algumas ava-
liações do Conselho Superior da
Magistratura (órgão superior de ges-
tão e disciplina dos juízes) haver
casos em que são prejudicadas na
progressão da carreira devido a essa
ausência.
Para a presidente da Associação
Há 1136 mulheres juízas em Portugal
das Juízas Portuguesas, “no caso das
licenças de maternidade bastava
que o Conselho Superior da Magis-
tratura aplicasse a lei, rigorosamen-
te. A Constituição da República
Portuguesa diz que os progenitores
não podem ser prejudicados de
qualquer maneira por virtude de
exercerem as suas prerrogativas de
parentalidade”.
Ao não terem nota de mérito, os
juízes não podem ascender a tribu-
nais superiores.
Segundo dados revelados ao Jor-
nal de Notícias em Novembro, há
1888 juízes em Portugal: 1136 (60%)
são mulheres e 752 são homens.
As mulheres estão
sobretudo nos
tribunais de
primeira instância,
onde são cerca de
68% dos 1364 juízes
As mulheres estão sobretudo nos
tribunais de primeira instância,
onde são cerca de 68% dos 1364 juí-
zes, mas nos tribunais de relação
esse valor desce para 41,5% de 465
magistrados e no Supremo Tribunal
é ainda menor: 25,4% de um univer-
so de 59 juízes.
A Associação das Juízas Portugue-
sas também se reuniu com o Conse-
lho Superior dos Tribunais Adminis-
trativos e Fiscais, tendo Paula Fer-
reira Pinto contado que obteve
“abertura total para colaborar na
resolução das questões”.
NELSON GARRIDO
José Paulo Pinto de Sousa foi ouvido ontem pelo juiz Ivo Rosa
Primo de Sócrates assegura
que dinheiro que tinha nas
contas era mesmo seu
Operação Marquês
Ana Henriques
José Paulo Pinto de Sousa
foi ouvido ontem
presencialmente pela
primeira vez pela Justiça
portuguesa
O primo de José Sócrates, José Pau-
lo Pinto de Sousa, que o Ministério
Público acusa de ter ajudado a
esconder na Suíça luvas pagas ao
antigo primeiro-ministro pelo ban-
queiro Ricardo Salgado, diz que o
dinheiro que passou pelas suas
empresas offshore e pelas respecti-
vas contas bancárias era mesmo
seu.
José Paulo Pinto de Sousa foi ouvi-
do pela primeira vez pela Justiça
portuguesa ontem na fase instrutó-
ria da Operação Marquês, em que é
arguido por suspeitas de branquea-
mento de capitais. Como mora fora
do país, até aqui o empresário só
tinha sido interrogado por carta
rogatória.
Ao longo de mais de sete horas, o
primo de José Sócrates foi interro-
gado pelo juiz Ivo Rosa e também
pelos procuradores deste caso sobre
Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020 • 15
a proveniência do dinheiro. Segun-
do a acusação do Departamento
Central de Investigação e Acção
Penal, entre 2006 e 2007, recebeu
em contas bancárias na Suíça nove
milhões de euros provenientes de
subornos do Grupo Espírito Santo
ao então primeiro-ministro, como
forma de lhe pagar a defesa dos seus
interesses na Portugal Telecom.
Levantamentos na Suíça
Parte do dinheiro seria depois cana-
lizado para José Sócrates quer atra-
vés de levantamentos de dinheiro
que José Paulo Pinto de Sousa fazia
na Suíça e trazia para Portugal quer
através de transferências bancárias
fraudulentas, destinadas a despistar
a origem destas elevadas somas,
com a colaboração de “Zé das Meda-
lhas”, alcunha do principal arguido
do caso Monte Branco que tinha nes-
te tipo de negócios, pelos quais
cobrava uma comissão, a sua prin-
cipal fonte de rendimentos. Com
uma velha loja de moedas na Baixa
de Lisboa que servia de fachada
para os seus negócios ilícitos, “Zé
das Medalhas” — cujo verdadeiro
nome era Francisco Canas — nunca
chegou a ser julgado, porque mor-
reu há três anos.
Mas, a acreditar no que disse o
SOCIEDADE
JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA
primo de José Sócrates ontem no
Tribunal Central de Instrução Cri-
minal, os dois milhões que fez che-
gar a Portugal através dos esquemas
de Francisco Canas, que proporcio-
nava aos seus clientes a fuga aos
impostos, era mesmo seu, tendo
origem nos seus negócios empresa-
riais.
Além de amigo do ex-primeiro-
ministro, José Paulo Pinto de Sousa
conheceu através do seu primo José
Sócrates o empresário Carlos Santos
Silva, que na tese do Ministério
Público foi quem passou a bran-
quear o dinheiro de José Sócrates
quando ele caiu no radar das auto-
ridades judiciais.
O familiar do ex-governante José
Sócrates justificou a Ivo Rosa os ele-
vados fluxos financeiros entre ele e
Santos Silva com um empréstimo
que o empresário da Covilhã fez ao
seu pai, tio do ex-primeiro-ministro,
por via da sua entrada para sócio de
umas salinas em Benguela, Angola.
Admitiu, porém, que esse negócio
nunca foi escriturado.
José Sócrates vive neste momento
numa casa na Ericeira que pertence
a este primo e que este terá trocado
pelas salinas.
ana.henriques@publico.pt
16 • Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020
SOCIEDADE
Mulher acusa polícia de agressão. PSP
disse a bombeiros que era “queda”
Bombeiros chegaram a esquadra e encontraram Cláudia Simões à porta. Agente acusa-a de o morder.
Mulher apresentou queixa. Direcção Nacional da PSP abriu processo de averiguações
Justiça
Joana Gorjão Henriques
Cláudia Simões, de 42 anos, tem um
cachecol a tapar-lhe o rosto. Os olhos
estão inchados. Os lábios também
têm um inchaço, além de feridas. No
centro da testa salienta-se um hema-
toma alto. A sua face está deformada.
Cláudia Simões diz que aquelas são as
marcas deixadas pela agressão de um
agente da PSP no domingo à noite.
Embora aÆrme ser vítima, Cláudia
Simões está sentada a um canto no
Tribunal da Amadora porque vai ali
depor como arguida, acusada pelo
agente da PSP, Carlos Canha.
Portuguesa e angolana, fala ao
PÚBLICO momentos antes de ir pres-
tar declarações ao Ministério Público
(MP) e Æcará com termo de identida-
de e residência como medida de coac-
ção. Ela própria apresentou queixa
contra o agente da PSP, na segunda-
feira. A PSP, por seu lado, aÆrma que
a cidadã “se mostrou agressiva” e
“mordeu ao agente”. De qualquer
forma, a Direcção Nacional da PSP já
abriu um processo de averiguação
interna e irá “apurar se os danos físi-
cos são consentâneos com uma actua-
ção policial correcta ou se aparentam
uso excessivo de força”, referiu o por-
ta-voz ao PÚBLICO.
No Tribunal da Amadora, ao lado
de Cláudia Simões está a Ælha de oito
anos, que terá assistido a tudo, e o
marido, Vítor Almada. Segundo acu-
sa Cláudia Simões, que contou a sua
versão na segunda-feira ao jornal Con-
tacto, as agressões ocorreram em dois
momentos. O primeiro terá sido pou-
co depois das 20h30, na rua. Num
vídeo que foi Ælmado por um jovem
vê-se um agente a manietar a senho-
ra, com as pernas dobradas em cima
das suas costas e as mãos a agarrar no
cabelo, puxando-o para trás. Vê-se o
rosto de Cláudia sem feridas.
A Ælha diz ao PÚBLICO: “Ele estava
a sufocar a mãe. Cada vez que alguém
dizia alguma coisa o polícia sufocava
mais a mãe. A mãe conseguiu morder
para ele largar”. O marido continua:
“Ele a agarrar na cabeça, a subir em
cima de uma mulher e a sentar, tipo
animal. Que é que esse homem mere-
cia? Isso é covardia!”
Cláudia Simões fotografada ontem, dois dias depois das alegadas agressões do agente da PSP
Admilson Barros, de 23 anos, esta-
va a passar de moto, viu pessoas para-
das à volta. Agarrou no telemóvel e
Ælmou. “Vi a senhora com barriga
para cima e o agente com a mão a
enforcar. O agente disse que ela esta-
va a morder e eu respondi: ‘O senhor
está a enforcar ela’. O senhor é auto-
ridade, não pode fazer isso’. Mas ele
Æcou mais revoltado.”
Tudo começara no autocarro 163,
da Vimeca, que faz o percurso Colégio
Só me dava socos
na boca e na cara
(...). Dizia: ‘Grita
agora, sua Älha
da puta, preta!
Macacos, vocês
são lixo, são
uma merda!
Cláudia Simões
Militar-Massamá. Quando entrou, o
motorista pediu o passe e Cláudia
Simões, que mostrara o seu, perce-
beu que a Ælha se tinha esquecido (os
passes de ambas estão em dia, mos-
traram ao PÚBLICO, mas de qualquer
forma até aos 12 anos as crianças não
pagam, apenas precisam de ter o
documento). Disse que ia ligar ao Ælho
para o levar até à estação de saída,
que Æcava a três paragens dali. Senta-
ram-se e tudo decorreu normalmen-
te. “Na paragem a seguir sobe uma
brasileira de idade com uma menina
de quatro anos”, conta Gerson Calve-
to, o sobrinho que assistiu. “Ele obri-
gou a senhora a descer porque a
menina não tinha o passe.” Depois
insultou, relata: “Seus pretos, andam
a estragar o nosso país’.”
Quando chegaram à paragem de
destino, o motorista não queria abrir
as portas, mas “reparou que havia um
polícia” e acabou por fazê-lo, em fren-
te ao Restaurante Porcalhota, na Rua
Elias Garcia. “Nós descemos, ele foi a
correr ter com o senhor agente, não
sei o que disse”. O polícia aproxima-
se e questiona: “Então são os senho-
res que querem agredir o motorista?”
Ela respondeu: “Não queremos agre-
RUI GAUDÊNCIO
dir ninguém, a minha Ælha está a
andar sem passe, mas o meu Ælho já
está a chegar com o passe.” O agente,
diz, queria que ela se sentasse no
chão — ela levantava-se e ele atirava-a
de novo para o chão, acusa. A dada
altura, segundo Gerson, o polícia dis-
se: “‘Estás detida.’” A tia ripostou. A
gota de água terá sido um comentário
que Cláudia fez acusando o agente de
estar “a cheirar a álcool”, diz Gerson.
“O tipo agarrou o pescoço da minha
tia e jogou-a ao chão de imediato.”
A Ælha gritava, “muito assustada”:
“Não faz isso à minha mãe!” Cláudia
admite que sim, que mordeu o polí-
cia, para se defender. Segundo a ver-
são da PSP, o agente disse que havia
outras pessoas a darem-lhe pontapés
e a empurrarem-no dentro do auto-
carro. Nenhuma das testemunhas
situa o local dos acontecimentos den-
tro do transporte público, mas sim na
rua. Segundo o comunicado oÆcial,
o agente foi chamado pelo motorista
e entrou dentro do autocarro por a
cidadã se recusar a pagar o bilhete de
transporte da Ælha, e de o ter amea-
çado e injuriado. AÆrma ainda que
Cláudia Simões estava “agressiva” e
empurrava o agente. Baseado no auto
de notícia, o comunicado refere que
o polícia procedeu à algemagem, “uti-
lizando a força estritamente necessá-
ria para o efeito”. Diz que o agente
recebeu tratamento hospitalar.
A agressão maior terá, porém,
decorrido dentro da viatura policial,
depois de ter sido detida, acusa. “Só
me dava socos na boca e na cara, por
isso tenho a boca toda rebentada.
Perdi os sentidos. Dizia: ‘Grita agora,
sua Ælha da puta, preta! Macacos,
vocês são lixo, uma merda!’”, conta.
No carro ia outro agente. “O outro
[polícia] disse: ‘Vamos levá-la à esqua-
dra da Venda Nova’. E ele: ‘Não, não,
a puta vai ver o que é bom!’. Começou
logo a bater.” Acrescenta: “Parou na
esquadra da Boba [Mina de Água], e
deixou-me cair, larga-me no chão e
dá-me um bico [pontapé]. O outro
disse: ‘Vais matá-la, pára de lhe bater’.
E ele entrou na esquadra. Fiquei de
barriga para cima, estava a deitar san-
gue e eles viraram-me de lado.”
Segundo diz ao PÚBLICO o coman-
dante dos Bombeiros da Amadora,
Mário Conde, os meios foram accio-
nados “como queda”, por iniciativa
da esquadra. Cláudia Simões estava
fora da esquadra quando lá chega-
ram. No local, foi visível que se tratava
de outro motivo — os bombeiros refe-
riram que tinha existido um conÇito
entre a cidadã e a PSP. “A senhora
estava com traumatismos na face e na
cabeça, não respondia a questões. Foi
transportada para o Hospital Amado-
ra-Sintra.” O agente também foi para
o hospital, “por causa dos ferimentos
de dentada e de alguns arranhões.”
Questionado sobre os ferimentos
de ambos e os cuidados que inspira-
vam, o comandante aÆrmou: “Os
traumatismos causam maior preo-
cupação do que um arranhão ou
uma dentada.”
Até à hora do fecho desta edição,
a queixa de Cláudia Simões contra o
agente, redigida na segunda-feira,
ainda não tinha chegado ao Depar-
tamento de Investigação e Acção
Penal da Amadora, mas o PÚBLICO
sabe que tudo indica que será cons-
tituído arguido. Contactada pelo
PÚBLICO, a Vimeca não respondeu
até à hora do fecho desta edição.
jgh@publico.pt

Polícias mostram cartão vermelho
a Centeno em protestos marcados
por fraca adesão
Segurança Interna
Nuno Ribeiro, Luciano
Alvarez, Tiago Mendes
Dias e Idálio Revez
Elementos da PSP e GNR
protestaram em Braga,
Lisboa e Faro. E entregaram
carta no Ministério das
Finanças
“A descentralização do protesto refor-
ça a mensagem”, disse ontem José
Miguel, vice-presidente da Associação
de ProÆssionais da Guarda (APG/
GNR), uma das nove organizações
sindicais e associativas de polícias e
militares que convocou o dia de con-
centrações em Braga, Lisboa e Faro.
A adesão, porém, não acompanhou
a referida força da mensagem.
À beira Tejo, o protesto dos agentes
da PSP e militares da GNR não teve
uma legião de seguidores, pondo de
parte o previsto prolongamento da
concentração. Estão marcadas novas
acções todos os meses.
No Campo das Cebolas, cerca de
150 polícias e guardas cumpriram o
seu protesto junto ao Ministério das
Finanças. Entregaram no ministério
de Mário Centeno uma carta aberta
dirigida ao titular da pasta, resumin-
do os problemas que os afectam. Da
logística, meios e equipamentos, à
assistência na saúde, dos suplemen-
tos e subsídios à necessidade de mais
efectivos, à alteração da lei orgânica
da PSP. E recordaram as promessas
governamentais que, segundo sindi-
catos e associações, ainda não foram
cumpridas. “A desmotivação, a revol-
ta e até o desespero apoderam-se da
grande maioria dos efectivos”, pode
ler-se na missiva. “O apelo Æca lança-
do, resta saber quais serão a reacção
e intervenção do primeiro-ministro
de Portugal e de todos os portugue-
ses”, conclui a carta aberta.
“Viemos concentrar-nos junto ao
Ministério das Finanças porque esta-
mos a negociar com o Ministério da
Administração Interna (MAI) e sempre
nos é dito que as Finanças não permi-
tem”, argumentou José Miguel. Dos
bolsos, num mimetismo arbitral, saca-
ram cartolinas vermelhas simbolizan-
do a expulsão dirigidas a Centeno.
Já no Aeroporto Humberto Delga-
do, em Lisboa, foram pouco mais de
uma centena os agentes da PSP e GNR
que responderam ao apelo, neste
Protestos contaram com algumas centenas de agentes da PSP e GNR
caso, do Movimento Zero (MZ) para
se reunirem em vigília de protesto. A
Æm de evitar uma eventual invasão
das instalações do aeroporto, os agen-
tes de serviço, por ordem da PSP, con-
dicionaram as entradas. Só passava as
portas da aerogare quem tivesse bilhe-
te de viagem ou quem lá trabalhasse.
Foi uma manhã calma e os agentes
recusaram falar à comunicação
social.
A excepção veio de António Ramos,
antigo presidente do Sindicato dos
ProÆssionais da Polícia e um dos fun-
RUI GAUDÊNCIO
dadores do sindicalismo na PSP. Jus-
tiÆcou a fraca adesão à vigília com
“medo” dos seus colegas “de serem
alvo de processos disciplinares”.
A vigília só ganhou alguma anima-
ção por volta das 13h. Um agente com
a cara pintada à palhaço abriu um
cartaz com uma frase em inglês de
autoria do antigo presidente do EUA
John Kennedy: “Não perguntes o que
o país pode fazer por ti, mas o que
podes tu fazer pelo país.” Esta vigília
foi convocada pelo MZ nas redes
sociais sem data de Æm marcada. Hoje
Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020 • 17
NUNO FERREIRA SANTOS
se verá se os polícias voltam ao aero-
porto. Sem o apoio dos sindicatos, o
MZ é um movimento social inorgâni-
co criado em Maio de 2019 por ele-
mentos da PSP e da GNR.
Já em Braga, o protesto reuniu cer-
ca de 200 polícias a partir das 18h,
junto ao Estádio Municipal, na ante-
câmara do jogo de futebol entre Spor-
ting de Braga e Sporting, para a Taça
da Liga. “Esta manifestação foi posi-
tiva, por ter dado visibilidade às nos-
sas reivindicações. É também uma
motivação para a nossa próxima
manifestação, a ocorrer em Feverei-
ro, caso o ministério não atenda as
nossas exigências”, disse o presiden-
te da ASPP/PSP, Paulo Rodrigues.
Em Faro, a manifestação junto cer-
ca de 50 agentes, no Jardim Manuel
Bivar. O número de participantes,
aquém das expectativas, não sur-
preendeu Francisco Passinhas da
ASPP: “Tivemos de conjugar a vinda
com as folgas”, justiÆcou. “De Beja
viemos dez, mas chegámos a pensar
num autocarro”. O secretário nacio-
nal da ASPP para o Algarve, Fernando
Raposo, subscreve a explicação. “Isto
é para assinalar que estamos presen-
tes, e a quantidade não é sinónimo de
qualidade. Estamos na luta e vamos
continuar.”
nuno.ribeiro@publico.pt
SOCIEDADE
Breves
Caldas da Rainha
Urgência sobrelotada
obriga a reencaminhar
doentes críticos
O Centro Hospitalar do Oeste
(CHO) pediu ao Centro de
Orientação de Doentes
Urgentes (CODU) para
reencaminhar doentes críticos
para outros hospitais por
sobrelotação da urgência e do
internamento de Caldas da
Rainha, confirmou ontem a
administração. A presidente
do conselho de administração
do CHO, Elsa Baião, confirmou
que informou o CODU para a
necessidade de reencaminhar
para outros hospitais doentes
críticos que cheguem em
ambulância de socorro à
unidade de Caldas da Rainha,
no distrito de Leiria. “Estamos
no pico da gripe, temos tido
uma afluência fora do normal e
a urgência está sobrelotada
desde o Natal”, justificou.
Ponte de Lima
Responsáveis de IPSS
acusados de burla
à Segurança Social
O Ministério Público acusou
de burla tributária o
presidente e duas directoras
técnicas de uma instituição
particular de solidariedade
social (IPSS) de Ponte de Lima,
por alegadamente terem
declarado à Segurança Social
serviços que não prestaram.
A Procuradoria-Geral Distrital
do Porto diz que a IPSS do
distrito de Viana do Castelo
também vai responder pelo
mesmo crime. O MP
considerou indiciado que o
presidente e duas directoras
técnicas declararam à
Segurança Social, “para
efeitos de atribuição de
prestações, serviços nunca
prestados". Com esta conduta
a IPSS terá tido uma vantagem
patrimonial ilegítima superior
a 33.600 euros, "à custa" da
Segurança Social.
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Quem deve leccionar Português?
Um contributo
Opinião
António Carlos Cortez
Segundo o que se lê na imprensa
escrita, professores de línguas
estrangeiras poderão leccionar a
disciplina de Português no ensino
secundário, “desde que tenham
‘estágio pedagógico habilitante’ ou
‘adequada formação cientíÆca’
nestas áreas”. É esta a resolução da
Direção-Geral da Administração
Escolar (DGAE), entidade que
igualmente propõe para a
disciplina de GeograÆa a sua
lecionação por professores de
História. Tal realidade aplicar-se-á
às turmas que tenham falta de
professores dessas disciplinas. Não
discuto a boa intenção desta
proposta, mas confesso que, a
implementar-se semelhante
política, não se ganhará
absolutamente nada no que à
qualidade do ensino do Português
importa.
Sendo o Portugal educativo o
país que se sabe — reformas feitas a
reboque das modas e modismos
pedagógicos de importação e sem a
devida análise do custo-benefício
para os alunos e professores —,
receio que a porta que se abre não
mais se volte a fechar. Pode suceder
mesmo que, com o acriticismo
geral da classe docente (e em
especial dos professores de
Português), esta disciplina que, há
anos, se vê desprezada pelos seus
próprios docentes veja,
gradualmente, a responsabilidade
do seu ensino transitar para colegas
vindos de outras áreas.
Experimentalismos vários
conÆrmam, ao longo das últimas
duas décadas, o raciocínio daqueles
que consideram que a disciplina de
Português pode, no limite, não
necessitar de professores de
Português. Dois exemplos magnos:
ter-se sujeitado milhares de alunos,
entre 2002 e 2014 (ano em que a
Literatura veio a ser reconduzida ao
seu lugar central na lógica de
ensino do Português, de que é a
essência), à aprendizagem dos
então chamados “textos
transaccionais” (actas, currículos,
regulamentos, ofícios, cartas
comerciais...) e, espelhando bem o
projecto oculto de muitos decisores
educativos, considerar que o
ensino da Língua Portuguesa pode
dispensar o estudo do texto
literário.
O argumento é sempre o mesmo:
ir ao encontro dos interesses dos
mais jovens de maneira a que
possam estar motivados para a
leitura. Não se concebe que um
aluno, justamente por ignorar o seu
património literário, se sente
fascinado face à poesia de Camões,
ou dos trovadores; se sente
desaÆado perante o mundo
relatado por Fernão Lopes, ou até
mais apto a compreender o nosso
tempo se souber — ao nível do texto
— inferir quanto Cesário ou Pessoa
antecipam esta nossa época,
também ela entregue aos tubarões
do progressismo.
Pois é justamente em nome da
qualidade do ensino do Português
no secundário que se deve recusar
que outros colegas, oriundos de
outras áreas, leccionem esta
disciplina. A questão não é senão
de mera e elementar justiça:
colegas que tiveram formação em
Estudos Literários e Literatura
Portuguesa, mas que leccionam no
2.º ciclo, estão impedidos de
leccionar Português no secundário.
Mas os de línguas estrangeiras
poderão fazê-lo. Advoga a DGAE
que apenas “desde” que tenham
“estágio pedagógico habilitante” e
“adequada formação cientíÆca”.
Pergunto-me se, perante um soneto
de Camões, será fácil a um colega
de inglês ou de francês (há quantos
anos leram Camões? Que ensaios a
respeito releram para sua nova
responsabilidade?) descortinar a
estética do maneirismo, os
elementos retóricos ocultos de que,
não raro, Camões se serviu para
tecer a sua estética do oxímoro...
Se, em virtude do pouco tempo
disponível e da quase absoluta
ausência de leitura de crítica e
ensaio, muitos são os que,
leccionando Português, continuam
a seguir uma explicação dos textos
próxima das sempre equívocas
leituras biograÆstas — imagine-se o
obstáculo que será o soneto Cá
nesta Babilónia, ou (o mais escolar)
Mudam-se os tempos, mudam-se as
vontades, para um colega que,
desde a licenciatura (ou desde o seu
secundário!), não lê a poesia de
Camões. E quem diz de Camões,
pode dizer da poesia de quase
todos os outros autores insertos no
programa do 10.º ao 12.º anos. Falo
de poesia, mas e o teatro? Ou o
romance? Que abordagem há, nas
línguas estrangeiras, ao texto
literário? Por acaso, entre o 7.º e o
9.º anos, há conteúdos literários
em inglês e francês? É de uma total
incoerência esta decisão.
Além de, muito provavelmente,
os colegas das línguas estrangeiras,
na sua boa vontade, poderem vir a
cair no experimentalismo pelo
experimentalismo, substituindo os
textos literários portugueses por
Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020 • 19
MARIA JOÃO GALA
É em nome da
qualidade do
ensino do
Português no
secundário que se
deve recusar que
outros colegas,
oriundos de outras
áreas, leccionem
esta disciplina
outros textos que, apesar de
escritos em português, estão mais
de acordo com o modus operandi
das disciplinas para que foram
formados (lá iremos cair em testes
sobre temas, consolidar-se-á a
tendência para respostas curtas ou
testes com cruzinhas, numa
infantilização soez de alguns
instrumentos de aferição de
competências: veja-se a charada
dos testes orais...), coloca-se uma
questão de rigor cientíÆco. Noções
de periodologia literária, de
conceitos operatórios para
compreender a génese e a evolução
de dada obra (Os Maias, por
exemplo, não podem ler-se sem o
estudo aprofundado das noções de
‘biopsia’, segundo Cleonice
SOCIEDADE
Berardinelli, e sem o entendimento
do que foi o ‘antibritanismo’ para a
Geração de 70, e mesmo para
Cesário...), terão os colegas de
línguas estrangeiras a “adequada
formação cientíÆca”?
Por tudo isto é que me parece
que, no horizonte, o que se
pretende é transformar o Português
numa disciplina onde vale tudo,
sobretudo se esse “tudo”for feito
por todos em nome de um imenso
nada... Não sei como reagirão
aqueles que, mais críticos e atentos,
perceberem que o hábito
pedagógico nas disciplinas
estrangeiras não passa pela análise
e comentário de texto... Pode
suceder que um colega de francês
ou de inglês pergunte “como dar” a
crónica de Fernão Lopes, ou como
motivar para o Frei Luís de Sousa...
Se for culto, pode lembrar-se de
estabelecer alguns paralelos entre
essas obras portuguesas e outras
daquelas latitudes literárias (Garrett
refere Shakespeare a propósito do
seu drama...), mas é em termos de
cultura literária que tudo periga...
Lembro, para que conste,
palavras sábias de Jacinto do Prado
Coelho: “Ensinar a ler (a ler
integralmente e em profundidade)
— eis, repito, em qualquer grau de
ensino, o objectivo fundamental das
disciplinas literárias” (Ao Contrário
de Penélope, Lisboa, Bertrand, 1976,
p. 63). Ora, é justamente isso que
está sempre em causa no nosso
famigerado caso de professores de
Português. Em abono da verdade,
como poderão outros ensinar a ler
se toda a aprendizagem pressupõe
uma transmissão de
conhecimentos? Análises
apressadas, pouco informadas, uma
orientação lateral ao texto e não
dentro do texto, eis o que nos espera
se tão iluminada ideia vingar. Com
uma última consequência, não
despicienda: e não fomentará esta
solução, entre colegas de proÆssão,
um certo mal-estar?
EnÆm, as contradições são
tantas, mas já tão banalizadas, que
não será de estranhar se daqui a
poucos anos os professores de
Português puderem (com a devida
formação cientíÆca) leccionar
Física e Química, ou Geometria
Descritiva. Absurdo por absurdo...
Poeta, crítico literário
e professor
20 • Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020

LOCAL
“Já se disse tudo sobre o arquivo
municipal. Falta fazer”
Quem esperava um anúncio sobre o novo edifício para o Arquivo Municipal saiu desiludido da assembleia
municipal. Câmara mantém mudança de parte do acervo para o Alto da Eira, trabalhadores discordam
ANTONIO BORGES

Lisboa
João Pedro Pincha
Os problemas têm barbas, as queixas
ouvem-se há anos e as promessas
sucedem-se, mas continua sem se
conhecer uma solução para o Arqui-
vo Municipal de Lisboa. A vereadora
da Cultura diz que está para “breve”,
o vice-presidente aÆrma que será
“nos próximos meses”, os trabalha-
dores do arquivo acusam a câmara
de “autismo”.
Discutiu-se ontem na assembleia
municipal a petição “Por um edifício
digno para o Arquivo Municipal de
Lisboa”, lançada pelos funcionários
que lá trabalham e assinada por mais
de mil pessoas. Todos os partidos, e
mesmo a autarquia, foram unânimes
em reconhecer a urgência de tirar os
arquivos dos prédios de habitação
que actualmente ocupam e concen-
trá-los num só local.
Mas a intenção da câmara de des-
locar provisoriamente o arquivo do
Bairro da Liberdade, em Campolide,
para as torres do Alto da Eira, junto à
Av. General Roçadas, deixa os traba-
lhadores inquietos. Dizem que o sítio
“não é adequado”, que a transferên-
cia contraria “todas as normas nacio-
nais e internacionais” sobre arquivís-
tica e temem que o provisório se
torne deÆnitivo. “É um autismo com-
pleto”, criticou Vitória Pinheiro, uma
das peticionárias, ao PÚBLICO. No arquivo do Bairro da Liberdade, os trabalhadores falam em infiltrações, degradação de documentos e problemas de segurança
O arquivo municipal já chegou a
estar no Alto da Eira, mas saiu de lá de documentos, problemas de segu- uma construção nova, como já che- o arquivo. O que falta fazer? Fazer. O instou a autarquia a apresentar “o
em 2004 por falta de salubridade. A rança. Daí o seu pedido para que a gou a estar previsto. “São tempos que falta é que os senhores decidam”, quanto antes a solução deÆnitiva”. Já
câmara fez obras entretanto e garan- câmara decida o quanto antes o futu- que nós não controlamos”, descul- aÆrmou, dirigindo-se à autarquia. “A Aline de Beuvink, do PPM, acusou o
te que o espaço tem condições. “Foi ro a dar ao arquivo. pou-se. “Em breve será apresentada câmara não tem falta de dinheiro. PS de ter “dois pesos e duas medidas”
reabilitado para cumprir as regras “Passará provavelmente por um a solução.” Temos de ter um arquivo digno de porque, em Junho do ano passado,
necessárias para receber espólios edifício que não pertence à câmara”, “O arquivo tem de estar num local uma grande capital de um país euro- “os senhores deputados do PS vota-
arquivísticos”, aÆrmou Catarina Vaz disse Vaz Pinto, conÆrmando que central, acessível. Se não tiver boas peu com uma grande História.” ram contra” uma recomendação que
Pinto, vereadora da Cultura. “Embo- decorrem negociações com o Gover- acessibilidades, uma boa rede de “Como é possível os funcionários propunha um edifício único para o
ra tenha sido recentemente reabilita- no para a cedência de um imóvel transportes, não serve”, comentou terem de recorrer à condição de peti- arquivo.
do, apresenta já inÆltrações”, disse, estatal e afastando a hipótese de Vitória Pinheiro. “Não foi por acaso cionários para chamar a atenção do “Todos os que falaram também
por seu turno, Helena Nunes, uma que a Torre do Tombo foi para onde executivo?”, questionou Luís tiveram responsabilidades no muni-
das peticionárias. foi. Estas decisões são as que preci- Newton, do PSD. “É realmente ina- cípio”, respondeu Manuel Lage, do
Existem quatro núcleos do arquivo
Todos sam de ser tomadas.” creditável, depois de tudo o que já PS, acusando os restantes partidos de
lisboeta: o histórico está no Bairro da reconheceram Durante a discussão, os deputados vimos, continuarmos a ter de discu- nada terem feito para resolver o pro-
Liberdade, o intermédio está no Arco de todas as bancadas sublinharam tir esta matéria”, disse Miguel San- blema. “O tempo corre contra nós e
do Cego, o fotográÆco está na Rua da
a urgência que este debate já se arrasta há dema- tos, do PAN. contra a preservação da memória
Palma e a videoteca está no Calvário. de concentrar siado tempo. “Não há direito que a Diogo Moura, do CDS, acusou a histórica da cidade”, lembrou o inde-
Em todos, mas sobretudo no Bairro situação se mantenha neste estado câmara de “insistir numa solução que pendente Rodrigo Mello Gonçalves.
da Liberdade, os trabalhadores
os arquivos de coisas”, insurgiu-se Simonetta Luz é um erro” ao optar pelo Alto da Eira,
denunciam inÆltrações, degradação num só local Afonso, do PS. “Já se disse tudo sobre enquanto Natacha Amaro, do PCP, joao.pincha@publico.pt

Tribunal de Contas diz que
declarações “inaceitáveis”
de Medina desrespeitam
órgão de soberania
Património
Cristiana Faria Moreira
Tribunal de Contas diz
ter agido com “neutralidade
política, isenção
e imparcialidade” na
auditoria à Segurança Social
O Tribunal de Contas (TdC) diz que
agiu “com neutralidade política,
isenção e imparcialidade” na audito-
ria que realizou à gestão do patrimó-
nio da Segurança Social e que
“enquanto órgão independente
actua em estrita conformidade com
a Constituição e a Lei”. É a resposta
do TdC às declarações do presidente
da Câmara de Lisboa, Fernando
Medina, que acusou este tribunal de
estar a fazer política e a “gastar o seu
tempo e os seus recursos a fazer rela-
tórios que são de baixíssima qualida-
de técnica”. O autarca reagia à con-
clusão do TdC de que a venda de 11
edifícios à câmara pela Segurança
Social foi feita a preços abaixo do
valor do mercado.
“O tribunal respeita eventuais opi-
niões divergentes em relação aos
seus relatórios ou decisões, mas con-
sidera inaceitáveis tomadas de posi-
ção públicas que não respeitem ins-
titucionalmente o tribunal enquanto
órgão de soberania, os seus juízes e
os seus técnicos”, escreve o TdC num
comunicado divulgado ontem.
A auditoria do Tribunal de Contas
sobre a gestão do património da
Segurança Social entre 2016 e 2018
foi divulgada na semana passada e
concluiu que o instituto não cuidou
de maximizar a sua receita, tanto nas
vendas como na gestão dos arrenda-
Medina disse que o relatório do TdC era incompetente
mentos. Parte do relatório incidiu
sobre o acordo celebrado entre a
Segurança Social e a Câmara de Lis-
boa, em Julho de 2018, para o arren-
damento (e opção de compra, já
sinalizada pelo município) de 11 pré-
dios, quase todos nas Avenidas
Novas, onde antes funcionaram ser-
viços da Segurança Social e que a
câmara está a transformar em habi-
tações (e quartos para estudantes)
para alocar ao Programa de Renda
Acessível.
Ora, o TdC concluiu que o montan-
te Æxado para a venda (57,2 milhões
de euros) está cerca de 3,5 milhões
abaixo do valor de mercado das ava-
liações contratadas pelo Instituto de
Gestão Financeira da Segurança
Social (IGFSS).
Estas conclusões mereceram duras
críticas de Fernando Medina, que
convocou uma conferência de
imprensa, na quinta-feira, para criti-
car a actuação do tribunal, que acu-
sou mesmo de querer promover a
especulação imobiliária na capital.
“É um relatório lamentável a
todos os títulos e é um relatório
incompetente”, disse então o autar-
ca, que garante que a câmara cum-
priu nesta operação todas as “for-
malidades legais”, tendo recebido,
inclusive, luz verde do Tribunal de
Contas. “O TdC analisou a escruti-
nou toda esta operação e visou-a”,
notou Medina.
No comunicado agora divulgado,
o TdC também responde a estas acu-
sações”: O tribunal “apreciou, no
âmbito da Æscalização prévia, a lega-
lidade de um contrato gerador de
despesa no Município de Lisboa e
realizou uma auditoria, de âmbito
alargado, à gestão e alienação do
património da Segurança Social”.
BRUNO LISITA
Jump termina com passes
mensais para bicicletas
em Lisboa
Mobilidade
Cristiana Faria Moreira
Projecto-piloto de
subscrição mensal lançado
pela empresa vai terminar
no final do mês. Adesão foi
“surpreendente e positiva”
Em Outubro passado, a Jump lançou
uma espécie de “passes” mensais
para os utilizadores que recorrente-
mente pedalavam nas suas bicicle-
tas eléctricas partilhadas. Na altura,
o projecto foi anunciado como sen-
do um “piloto” e passados os quatro
meses de teste a empresa decidiu
terminar com as subscrições.
Em resposta a questões do PÚBLI-
CO, fonte oÆcial da Uber, que detém
a Jump, conÆrmou que o projecto-
piloto de subscrições vai mesmo
terminar no Ænal de Janeiro e que a
“adesão foi surpreendente e positi-
va”, sem referir, contudo, as razões
que levaram a esta decisão, nem
quantos utilizadores subscreveram
os planos.
“Este piloto tem como objectivo
testar um produto que considera-
mos um importante contributo
para a mobilidade na cidade de Lis-
boa. Conforme previsto, vamos
agora analisar os resultados com o
objectivo de criar as ofertas mais
adequadas ao mercado, sempre
com o objectivo de resolver desaÆos
de mobilidade das cidades onde
operamos”, disse ainda a mesma
fonte.
Quando o projecto-piloto foi
anunciado, a Jump oferecia duas
opções de subscrição: 24,90 euros
por mês para viajar 15 minutos por
dia (Plano Electric); 39,90 euros
para quem quisesse fazer viagens
mais longas e pedalar 30 minutos
por dia (Plano Electric +). Umas
semanas mais tarde, os planos
foram actualizados: o Plano Electric
passou a custar 14,90 euros e a per-
mitir pedalar 30 minutos por dia. Já
o Plano Electric+ passou a custar
24,90 por mês, oferecendo 1800
minutos de viagens por mês.
No início de Outubro, o preço das
viagens fora dos planos de subscri-
ção também mudou, passando de
15 para 20 cêntimos por minuto.
Segundo fonte da Uber, esse preço
vai manter-se. A Jump avisa ainda
que quem fez a sua última renova-
Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020 • 21
Empresa diz que houve muita adesão aos passes mensais da Jump
ção a 10 de Janeiro, por exemplo, vai
poder continuar a beneÆciar do pla-
no até 10 de Fevereiro, embora o
piloto termine no Ænal de Janeiro.
As bicicletas eléctricas partilhadas
da Uber começaram a circular por
Lisboa no Ænal de Fevereiro do ano
passado. Ao contrário do sistema de
bicicletas partilhadas da Câmara de
Lisboa, as Gira, estas podem ser esta-
cionadas sem ser em docas. Actual-
mente, há 1750 bicicletas pela cida-
de, disponíveis 24h por dia.
Transportes na app da Uber
Ontem, numa entrevista ao Obser-
vador, o novo director-geral da Uber
em Portugal, Manuel Pina — o suces-
sor de Rui Bento que deixou o cargo
há quase um ano —, anunciou que a
partir de ontem, a app da Uber pas-
sará a integrar informação sobre
transportes públicos da Grande Lis-
boa, em tempo real.
Segundo explicou, cerca de 50%
Vamos agora
analisar os
resultados com
o objectivo
de criar as ofertas
mais adequadas
ao mercado
Fonte oficial da Uber
LOCAL
ANDREIA CARVALHO
dos utilizadores já vão conseguir ver
informação sobre os horários do
metro, Carris, comboio ou barcos
na aplicação da Uber, juntando-se
assim ao serviço dos carros, trotine-
tes e bicicletas Jump que a empresa
já oferece. Na prática, esta funcio-
nalidade permitirá ver a duração e
custo de um trajecto, quer num dos
carros da Uber, quer em transporte
público.
Segunda a informação que apare-
ce disponível na app, uma viagem
da redacção do PÚBLICO, em Alcân-
tara, para o terminal rodoviário de
Sete Rios, por exemplo, custaria
6,97 euros de UberX. De autocarro
e metro, a viagem custaria 3,5 euros
(o preço apresentado corresponde
ao valor do bilhete da Carris adqui-
rido a bordo, que custa 2 euros,
mais o bilhete de metro, que custa
1,5 euros). Do mesmo local para
Cacilhas, a viagem custaria, 10,51
euros de UberX. Apanhando o eléc-
trico e depois o barco, a viagem Æca-
ria a 4,30 euros.
Manuel Pina deixou ainda em
aberto a possibilidade de no futuro
ser possível comprar bilhetes de
metro ou da Carris através da apli-
cação. “Aquilo que achamos que é
importante, mesmo já existindo
essas outras aplicações, é que ter
essa informação na Uber transforma
ou reforça o ponto de que a aplica-
ção Uber é uma aplicação de mobi-
lidade por excelência. Seja essa
mobilidade através do UberX, das
bicicletas Jump e amanhã dos trans-
portes públicos”, disse.
cristiana.moreira@publico.pt
22 • Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020
ECONOMIA
Tabelas mensais do IRS ainda não
assumem toda a descida de 2018
Dois anos após a revisão de escalões,
só uma parte da redução foi transposta
para o desconto mensal. Taxas de
retenção encurtam a distância para o IRS
Änal, mas continuam a cobrar a mais
OE2020
Pedro Crisóstomo
Passados dois anos das mudanças
nos escalões do IRS, a descida do
imposto continua a não ser assumi-
da pelo Governo, por completo, nos
descontos mensais feitos nos salá-
rios ou nas pensões através do
mecanismo das retenções da fonte.
Mesmo com os ajustes introduzidos
nas tabelas de retenção de 2020
pela equipa do ministro das Finan-
ças, Mário Centeno, os novos valo-
res “ainda não reÇectem a totalida-
de” da reformulação dos escalões
lançada em 2018, concluiu a consul-
tora da PwC em simulações realiza-
das para o PÚBLICO.
O desfasamento que existe entre
as taxas de retenção do IRS (o des-
conto mensal do imposto realizado
nos salários dos trabalhadores por
conta de outrem e nas pensões) e o
valor do imposto Ænal a pagar é um
tema que se debate há muitos
anos.
É uma das razões, mas não a úni-
ca, para que muitos contribuintes
recebam reembolsos no ano seguin-
te, pois é nessa altura que se faz o
acerto do imposto e, como as taxas
deÆnidas nas tabelas mensais têm
sido mais altas, o resultado é devol-
ver o que foi cobrado a mais.
Se já era assim antes do desdobra-
mento dos escalões em 2018, tam-
bém não foi diferente quando, nes-
se ano, Mário Centeno desdobrou
os cinco escalões do tempo de Vítor
Gaspar e criou sete patamares de
rendimento.
É que, ao adaptar as tabelas men-
sais às taxas gerais que contam para
calcular o imposto Ænal, o Governo
de António Costa decidiu só reÇectir
uma parte dessa redução, como, de
resto, assumiu na altura, dizendo
que faria uma descida a dois tem-
pos. Entretanto, reduziu essa dife-
rença nas tabelas de retenção men-
sal de 2019 e voltou a fazê-lo este
ano, mas ainda não a reverteu na
totalidade.
Na prática, as empresas, as enti-
dades públicas e outras a quem cabe
processar os salários ou as pensões
continuam a ter de efectuar reten-
ções “excessivas face ao imposto
Ænal que será devido” relativamen-
te a 2020 por esses contribuintes,
vinca Ana Duarte, do departamento
Æscal da consultora PwC, embora
haja “uma aproximação dos valores
dessa retenção na fonte ao montan-
te total de IRS devido”.
Ressalva: a questão aqui em causa
tem a ver com o desconto mensal
do imposto (aquilo que os trabalha-
dores por conta de outrem e os pen-
sionistas têm de ir adiantando ao
Æsco todos os meses) porque, no
Ænal de contas, o que determina o
valor do IRS a pagar são as taxas a
aplicar consoante o nível rendimen-
to colectável do ano completo — e,
aí, a redução do IR S de 2018 está
cumprida com a aplicação das taxas
gerais (o que, por simpliÆcação, se
costuma chamar os “escalões do
IRS”).
A diferença está na tradução des-
sa descida todos os meses no
momento em que as pessoas rece-
bem o seu vencimento, pelo desa-
justamento entre essas taxas gerais
e as taxas mensais que são, tão só,
um mecanismo de previsão.
Retenções e taxas efectivas
Ao assinar o despacho publicado no
Diário da República de ontem no
qual aprova as novas tabelas, o Primeiros salários e pensões deste ano que foram processados antes de as tabelas serem conhecidas serão al
secretário de Estado dos Assuntos
Fiscais, António Mendonça Mendes, dos sete escalões do IRS em 0,3% mudanças nos escalões) por com-
sublinhava que as taxas reÇectiam
Governo reduziu prevista na proposta de Orçamento paração com as taxas efectivas do
um “progressivo esforço de ajusta- a diferença nas do Estado (à inÇação registada em IRS.
mento” entre as retenções e o valor Novembro passado). Um exemplo: um contribuinte
Ænal do imposto “decorrente das
tabelas de retenção Tendo presentes estes dois últi- solteiro e sem Ælhos que receba mil
alterações aprovadas em matéria de mensal de 2019 mos impactos, a PwC foi aferir se, euros brutos por mês vai pagar em
IRS”. além deles, a redução do IRS de 2020 menos 1,81 euros de IRS quan-
Isto, além do facto de os novos
e voltou a fazê-lo 2018 já estava reÇectida por com- do na Primavera de 2021 o Æsco emi-
valores terem em conta a subida do este ano, mas ainda pleto nas tabelas de retenção na tir a nota de liquidação relativamen-
patamar de isenção do IRS de fonte, medindo esses efeitos e veri- te ao IRS de 2020.
9150,96 euros para 9215 euros
não a reverteu Æcando como variaram as retenções No entanto, ao longo deste ano,
anuais e a actualização aos limites na totalidade desde 2017 (o ano anterior às calcula a mesma consultora, irá
 Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020 • 23

100
O Ministério das Finanças
calcula que as alterações nas
tabelas de retenção, conhecidas
ontem, têm um impacto na
ordem dos 100 milhões de euros

PAULO PIMENTA
reformulação dos escalões de IRS
O IRS ao longo de 2020
ocorrida em 2018”, explica Ana
Duarte. O impacto mensal das novas tabelas

Acertos até Fevereiro Solteiro sem filhos Casado, 1 filho

Trabalhador dependente Trabalhador dependente*
É o novo valor do “mínimo de exis-
tência” — a regra do IRS que garante 750€ por mês 1000€ por mês
que, depois de aplicadas as taxas do Rendimento bruto Rendimento bruto
imposto, nenhum contribuinte Æca 2019 2020 Dif. 2019 2020 Dif.
com um rendimento líquido anual
abaixo de um determinado montan- Retenção Retenção
62,25€ 61,5€ 57€ 56€
na fonte na fonte
te — que faz com que haja um novo
valor a partir do qual começa a ser Rend. líquido 605,25€ 606€ Rend. líquido 833€ 834€
retido IRS. Este ano, as novas tabe- mensal 0,75€ mensal 1€
las estabelecem que os cidadãos que
Solteiro sem filhos Casado, 1 filho
ganham até 659 euros brutos por Trabalhador dependente Trabalhador dependente*
mês, seja trabalhadores dependen-
tes, seja pensionistas, não serão 1000€ por mês 2000€ por mês
alvo de cobrança mensal. Rendimento bruto Rendimento bruto
Este limiar aumenta 0,7% face aos 2019 2020 Dif. 2019 2020 Dif.
654 euros do ano passado, acompa- Retenção Retenção
nhando a actualização automática 117€ 116€ 294€ 292€
na fonte na fonte
do “mínimo de existência” (decor-
rente da subida do Indexante dos Rend. líquido 773€ 774€ Rend. líquido 1486€ 1488€
mensal 1€ mensal 2€
Apoios Sociais) e o aumento das
pensões mais baixas. *Só um titular tem rendimento
Segundo as simulações da PwC, As mudanças entre 2017 e 2019
num casal com um Ælho em que só
um dos elementos do casal tem ren- Casal, 2 filhos 1000€ por mês (28.000€ anuais)
dimentos (um salário de 2000 euros Trabalhadores
por mês), a pessoa vai descontar dependentes 2017 2018 2019 2020
todos os meses 292 euros de IRS, Taxa efectiva de IRS 6,98% 5,88% 5,88% 5,86%
Æcando com um rendimento líquido Taxa de retenção na fonte 8,7% 8,3% 8,2% 8,1%
mensal, após os descontos para a Retenções na fonte (anuais) 2436€ 2324€ 2296€ 2268€
Segurança Social, de 1488 euros, Reembolso 481€ 677€ 649€ 625€
uma diferença de dois euros face ao
que se passava em 2019, ano em que
a retenção mensal era de 294 Casal, 2 filhos 1500€ por mês (42.000€ anuais)
euros. Trabalhadores
Num salário mais baixo, de 750 dependentes 2017 2018 2019 2020
euros, não há qualquer diferença Taxa efectiva de IRS 14,16% 13,21% 13,21% 13,19%
em relação ao ano passado, porque, Taxa de retenção na fonte 15,8% 15,3% 15,1% 15%
neste caso concreto, este contri- Retenções na fonte (anuais) 6636€ 6412€ 6328€ 6300€
buinte já não era alvo de retenção
Reembolso 690,76€ 863,76€ 779,76€ 758,89€
na fonte (pois nos casos em que só
há um titular de rendimento o limiar
de isenção já era mais alto do que o Casal, 2 filhos 2000€ por mês (56.000€ anuais)
valor comum). Trabalhadores
dependentes 2017 2018 2019 2020
Para os primeiros salários deste
ano que foram processados antes de Taxa efectiva de IRS 18,84% 17,88% 17,88% 17,85%
lvo de acertos “até final do mês de Fevereiro” as tabelas serem conhecidas, as Taxa de retenção na fonte 21,2% 20,6% 20,3% 20,2%
empresas, as entidades públicas ou Retenções na fonte (anuais) 11.872€ 11.536€ 11.368€ 11.312€
pagar menos 14 euros anuais de outras que têm de pagar os venci-
retenção na fonte, portanto, menos
Novas tabelas mentos aos trabalhadores ou pen-
Reembolso 1318,82€ 1525,2€ 1357,2€ 1316,07€

um euro por mês (14 salários), fazen-
do com que o reembolso anual seja
inferior ao do ano anterior em 12,19
estabelecem que sionistas devem fazer os acertos
“até Ænal do mês de Fevereiro”. A Casal, 2 filhos
os cidadãos que própria Segurança Social também Trabalhadores
2500€ por mês (70.000€ anuais)

2017 2018 2019 2020

euros. “Do valor total do ajustamen- ganham até 659 terá de realizar, nessa altura, as cor- dependentes
to à retenção na fonte (14 euros), recções relativamente às pensões Taxa efectiva de IRS 22,48% 21,63% 21,63% 21,61%
somente 1,81 euros corresponde ao
euros brutos por processadas no primeiro mês do Taxa de retenção na fonte 25,2% 24,7% 24,4% 24,3%
ajustamento decorrente da actuali- mês não serão alvo ano de acordo com os novos valo- Retenções na fonte (anuais) 17.640€ 17.276€ 17.080€ 16.996€
zação dos escalões das taxas gerais res.
de IRS (em 0,3%) para 2020, sendo
de cobrança Reembolso 1906,82€ 2129,36€ 1933,36€ 1867,51€
Fonte: Pwc PÚBLICO
o restante (12,19 euros) relativo à mensal pedro.crisostomo@publico.pt
24 • Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020
ECONOMIA
Finanças admite
“documento de trabalho”
sobre injecção
no Novo Banco
Banca
Cristina Ferreira
Ministério não comenta
o documento que prevê
injecção de 1,4 mil milhões
no Novo Banco. Mas não
o nega. E reafirma OE 2020
Depois de ter desmentido ter recebi-
do uma proposta do Banco de Portu-
gal com um cenário de injecção Ænal
de 1,4 mil milhões no sucessor do
BES, o ministério liderado por Mário
Centeno já não nega ter em cima da
mesa um “documento de trabalho”
onde esta hipótese é estudada. Ape-
nas refere que não o comenta. E rea-
Ærma que o Orçamento do Estado só
tem 850 milhões de euros autoriza-
dos para este efeito.
Ontem, à questão colocada pelo
PÚBLICO sobre se confirmava a exis-
tência de um relatório de trabalho
enviado pelo Fundo de Resolução a
prever a injecção de 1,4 mil milhões
de euros no Novo Banco, e preferen-
cialmente de uma só vez, o Ministério
das Finanças respondeu que “não
comenta documentos de trabalho”.
Deste modo, Mário Centeno reco-
nhece ter em cima da mesa um estu-
do sobre a recapitalização do Novo
Banco realizado pelo Fundo de Reso-
lução, um veículo de risco público
gerido pelo Banco de Portugal. Isto,
depois de, na sexta-feira passada, o
ministro ter dito: “O Governo não tem
nenhuma proposta para análise rela-
tiva à ‘estratégia de limpeza dos cré-
ditos problemáticos do banco’”, uma
posição repetida pelo ministro e
secretário de Estado na segunda-feira
em Bruxelas.
O PÚBLICO noticiou na sexta-feira
que, entre outros cenários, o Governo
poderia vir a injectar, e preferencial-
mente de uma só vez, até 1,4 mil
milhões de euros no Novo Banco, evi-
tando novos auxílios ao banco con-
trolado em 75% pelo Lone Star.
A verba de 1,4 mil milhões, se
somada aos 1,94 mil milhões de
euros que o Estado já afectou à insti-
tuição desde a sua venda ao fundo
texano Lone Star (2017), totalizaria
3,3 mil milhões de euros, Æcando
600 milhões aquém do limite máxi-
mo previsto na almofada de protec-
ção, de 3,9 mil milhões de euros,
negociada com o Governo.
Apesar de o cálculo das necessida-
des totais de recapitalização do banco
cheÆado por António Ramalho cons-
tar de documentos carimbados pelo
Fundo de Resolução, e na posse da
equipa de Mário Centeno, o ministro
começou por desmentir a informação
divulgada pelo PÚBLICO. E logo na
manhã de sexta-feira garantiu catego-
ricamente que o Banco de Portugal
não lhe Æzera chegar qualquer docu-
mento sobre uma injecção de 1,4 mil
milhões.
Dali a horas, Pedro Santos Guer-
reiro, na TVI 24, declarava: “No
âmbito de uma negociação que ainda
não começou para vender o Novo
Banco, o Governo encomendou ao
Banco de Portugal um estudo para
poder tomar decisões.” E era o que
justiÆcara o “documento de traba-
lho” do Fundo de Resolução, que
identiÆcara uma necessidade de
capital do Novo Banco de 1,4 mil
milhões de euros: “Um número de
referência para dar arranque a uma
negociação com o Lone Star.”
Ao mesmo tempo que, ontem, não
negava ao PÚBLICO ter recebido um
documento de trabalho do Fundo de
Resolução, o Ministério das Finanças
clariÆcou ainda que “não está a ava-
liar qualquer injecção de capital no
Novo Banco para 2020 constante de
qualquer documento de trabalho”,
tal “como inscrito na proposta de
Orçamento do Estado para 2020”. E
acrescentou que o Governo “reaÆrma
que continuará a cumprir os termos
do contrato de Ænanciamento com o
Fundo de Resolução”.
cferreira@publico.pt
Ministro das Finanças previu
850 milhões no OE 2020
O Conselho das Finanças Públicas é liderado por Nazaré Costa Cabral
Despesa com o Novo Banco
prevista pelo OE é um “risco”
Contas públicas
Sérgio Aníbal
Conselho das Finanças
Públicas elogia redução
da dívida, mas alerta para
a dependência da
conjuntura económica
A previsão na proposta de Orçamen-
to do Estado para 2020 de um mon-
tante de apenas 600 milhões de euros
para a injecção de capital no Novo
Banco é um dos riscos identiÆcados
no documento pelo Conselho das
Finanças Públicas (CFP).
No relatório de análise à proposta
de OE publicado ontem, a entidade
liderada por Nazaré Costa Cabral
destaca a existência, em 2020, de
uma intenção de continuidade na
política orçamental do Governo, elo-
giando em particular a previsão de
um excedente orçamental e conse-
quente redução do peso da dívida
pública no PIB.
No entanto, é assinalada a existên-
cia de riscos. Um deles está relaciona-
do com o facto de o OE prever uma
injecção de capital de 600 milhões de
euros no Novo Banco, um valor que
Æca abaixo dos 1149 milhões de euros
injectados no ano passado.
O CFP receia que, tal como aconte-
ceu em 2019, o valor agora orçamen-
tado se venha a revelar insuÆciente
para o saneamento de curto prazo da
instituição. “A previsão pelo Ministé-
rio das Finanças de um montante de
recapitalização para o Novo Banco
inferior ao concretizado em 2019
constitui um risco, dadas as obriga-
ções decorrentes do Acordo de Capi-
talização Contingente daquela insti-
tuição bancária”, aÆrma o relatório,
que assinala ainda que, já no OE do
ano passado, “estava previsto que o
impacto em contas nacionais decor-
rente desse aumento de capital ascen-
desse a 400 milhões de euros, tendo
acabado por totalizar 1149 milhões”.
Outros riscos detectados pelo CFP
estão relacionados com a conjuntura
económica, da qual depende uma
parte decisiva da evolução prevista
para o saldo orçamental. O Conselho
diz que “a previsão para o saldo orça-
mental de 2020 em termos nominais
depende mais da conjuntura econó-
mica e de “outros efeitos” não identi-
Æcados do que do efeito líquido de
medidas de política permanentes
com impacto orçamental adoptadas”,
alertando que, a esse nível, os “riscos
associados são descendentes e sobre-
tudo de natureza externa”.
O CFP recorda ainda que, no que
diz respeito ao crescimento económi-
co, o desaÆo que Portugal enfrenta
agora é mais exigente, uma vez que já
não parece haver espaço de manobra
para um crescimento com base no
aumento do factor emprego, sendo
necessário que haja progressos ao
DANIEL ROCHA
nível da produtividade. “Para além da
manutenção dos necessários esforços
de disciplina orçamental (desde logo
com vista à redução mais expressiva
da dívida pública no PIB), deverá o
reforço da produtividade da econo-
mia portuguesa ser deÆnitivamente
colocado no centro das atenções dos
responsáveis políticos”, avisa.
Para além disso, em linha com
aquilo que foi recentemente dito pela
Comissão Europeia, o CFP refere que
existe um “risco de desvio” face às
regras orçamentais europeias. Ao
contrário do Governo, que projecta
uma redução para zero do saldo
estrutural (o saldo orçamental des-
contando o efeito do ciclo económico
e das medidas temporárias e não
recorrentes), o CFP diz que este indi-
cador ainda será negativo em 0,1%
este ano. É ainda registado que a evo-
lução prevista na despesa não cum-
pre o valor de referência exigido pelas
regras europeias.
Por Æm, referindo-se a um dos
temas mais debatidos no Parlamen-
to sobre o OE — o aumento da carga
Æscal — o CFP dá alguns argumentos
ao Governo, assinalando que “o
comportamento esperado para as
contribuições sociais efectivas expli-
ca, exclusivamente, a previsão de
aumento do indicador de carga Æs-
cal de 34,9% do PIB em 2019 para
35,1% do PIB em 2020”.
sergio.anibal@publico.pt

Breves
Agricultura
Casa do Douro vai ter
eleições em Maio,
garante a ministra
Maria do Céu Albuquerque
assegurou ontem no
Parlamento que o Ministério
da Agricultura se encontra “a
preparar a legislação” para se
realizarem as eleições dos
órgãos sociais da Casa do
Douro, “previstas para Maio de
2020”. A ministra da
Agricultura, que esteve a
debater na especialidade a
proposta do OE2020 em
comissão parlamentar,
adiantou ainda que se prevê
para este ano a conclusão do
processo de regularização de
dívidas da instituição. “Vasilha
a vasilha”, disse, os stocks de
vinho da Casa do Douro foram
já avaliados pelos serviços da
tutela a fim de saldar com os
credores a dívida acumulada,
que não quantificou.
Jogos
SCML aposta no
Euromilhões com três
novos jackpots
A Santa Casa da Misericórdia
de Lisboa (SCML) vai passar a
realizar três novos jackpots
promocionais do Euromilhões
por ano e que, segundo a
instituição liderada por
Edmundo Martinho, “irão
oferecer prémios no valor de
130 milhões de euros (ou
aproximado)”,
independentemente das
apostas realizadas. Intitulado
“superjackpot mínimo
garantido”, o primeiro deste
ano vai realizar-se a 7 de
Fevereiro (uma sexta-feira),
de acordo com o comunicado
ontem enviado às redacções.
Esta estratégia surge em
paralelo com o anunciado
aumento do valor máximo
dos jackpots para 200
milhões de euros (mais dez
milhões face ao valor em
vigor).
Este é o segundo ano em que a activista participa no Fórum de Davos
Greta Thunberg:
“Praticamente
ainda nada foi feito”
Fórum de Davos
Renata Monteiro
Activista sueca deixa alerta:
apesar da mobilização pelo
clima, nada foi feito para
reduzir as emissões globais
dos gases com efeito estufa
É como um lembrete que desperta a
cada conferência internacional: Gre-
ta Thunberg voltou a apelar à acção
dos líderes políticos e económicos
mundiais, desta vez no Fórum Eco-
nómico Mundial.
“O clima e o ambiente são um tópi-
co quente neste momento. E muito
graças à pressão dos jovens. Mas se
virmos de outra perspectiva, pratica-
mente nada foi feito, já que as emis-
sões globais de dióxido de carbono
não foram reduzidas”, disse ontem a
activista pelo clima, em Davos, na
Suíça, num painel com outros jovens
activistas pelo clima, no arranque do
fórum.
Mais tarde, às 12h (de Lisboa), a
jovem de 17 de anos voltou a ter pre-
sença em palco, no mesmo dia em
que discursou também Donald
Trump, um dos mais vocais negacio-
nistas da crise climática e do efeito
Thunberg — activista que, pela segun-
da vez, participa no encontro que
reúne 3000 participantes.
“Há um ano vim a Davos e disse-vos
que a nossa casa estava a arder”, leu
a activista, recordando a famosa frase
que dá título ao livro que conta a his-
tória de Greta e da família. Um ano
depois, “a vossa inacção está a ali-
DENIS BALIBOUSE/REUTERS
mentar as chamas a cada hora”, disse,
dirigindo-se aos líderes económicos
e políticos ali reunidos.
“Vamos ser claros. Nós não preci-
samos de uma ‘economia de baixo
carbono’. Nós não precisamos de
‘reduzir as emissões’. As nossas emis-
sões têm de parar”, defendeu. “Qual-
quer plano ou política vossa que não
inclua cortes radicais de emissões na
fonte, começando hoje, é absoluta-
mente insuÆciente” para atingir as
metas do Acordo de Paris, disse.
Os activistas pelo clima foram a
Davos “exigir” às empresas, bancos,
instituições e governos que “paras-
sem imediatamente” os investimen-
tos e subsídios a explorações de com-
bustíveis fósseis. “Não queremos
estas coisas feitas até 2050, 2030 ou
2021. Queremos isto feito agora.”
O Fórum de Davos celebra 50 anos
com uma chamada para uma mudan-
ça económica justa, para um mundo
mais sustentável, que se espera que
dure para lá de sexta-feira, Ænal do
encontro mundial cujo tema principal
é “agentes para um mundo coeso e
sustentável”. Greta Thunberg marca
presença em Davos com outros jovens
activistas do movimento Fridays For
Future, que se manifestaram na sex-
ta-feira em Lausanne.
O fórum vai também homenagear
jovens cientistas e investigadores,
entre eles Fionn Ferreira, o lusodes-
cendente de 18 anos que criou um
método para remover os microplás-
ticos dos oceanos, premiado em
Agosto último na Google Science Fair
2019.
renata.monteiro@publico.pt
Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020 • 25
Donald Trump
aproveita Davos para
vender “sucesso”
económico dos EUA
Fórum de Davos
Sérgio Aníbal
Discurso do Presidente
norte-americano passou
ao lado de temas como
o aquecimento global e o
seu julgamento no Senado
Com o julgamento para a sua desti-
tuição a decorrer no Senado, Donald
Trump esteve ontem em Davos para,
na conferência que reúne alguns dos
principais líderes empresariais e
políticos do mundo, vender os Esta-
dos Unidos da América como o
melhor destino possível para o
investimento, não poupando nos
elogios à sua própria política econó-
mica e criticando a estratégia segui-
da pela Reserva Federal norte-ame-
ricana. As alterações climáticas e o
seu julgamento no Senado não
foram referidos.
“Para todos os negócios à procura
de um lugar para ter sucesso… não
há melhor lugar que os Estados Uni-
dos”, aÆrmou o Presidente norte-
americano, que fez da tentativa de
convencer mais empresas a investi-
rem no seu país o tema central do
discurso. Como se previa, um estilo
bem diferente do de outros chefes de
Estado, que usam a plateia de Davos
para exporem a posição do seu país
em relação aos grandes temas mun-
diais do momento.
Donald Trump defendeu que os
EUA, com a sua administração, tive-
ram “um sucesso que ninguém con-
O sonho americano está de
volta, nas palavras de Trump
ECONOMIA
seguia imaginar”, estando neste
momento “melhor do que nunca”.
O sonho americano está de volta,
disse, “maior, melhor e mais forte”,
garantindo que os benefícios do
crescimento económico registado
estavam a ir para os trabalhadores
de mais baixos rendimentos. E isto
apesar do que disse ser a política
monetária errada seguida no país.
“A Reserva Federal aumentou as
taxas de juro muito rapidamente e
baixou-as de forma demasiado len-
ta”, aÆrmou.
Esta descrição de sucesso econó-
mico feita por Trump está longe de
ser consensual. Também em Davos,
o Prémio Nobel Joseph Stiglitz foi
rápido a contrariar o Presidente nor-
te-americano: “As análises revelam
que Trump normalmente diz cinco
ou seis mentiras por dia. Hoje exce-
deu claramente esses números.”
Embora o Fórum de Davos deste
ano tenha como um dos seus princi-
pais temas as alterações climáticas,
Donald Trump praticamente não fez
qualquer referência ao problema.
Com a activista Greta Thunberg na
audiência (a sua intervenção seria
feita cerca de uma hora depois), o
Presidente norte-americano limitou-
se a dizer que era “um grande
apoiante do ambiente” e que queria
“o ar mais limpo e a água mais lim-
pa”, classiÆcando os activistas que
alertam para os perigos das altera-
ções climáticas de “herdeiros dos
videntes insensatos do passado” e de
“profetas do apocalipse”.
Donald Trump aproveitou a visita
a Davos para encontros bilateriais
com líderes europeus, como a presi-
dente da Comissão Europeia, Ursula
von der Leyen. À entrada para a reu-
nião disse querer assinar um “grande
acordo comercial” com a UE. No dia
anterior esteve com o presidente
francês Emmanuel Macron. Um dos
principais temas discutidos foi a
intenção francesa de aplicar um
imposto especial sobre as grandes
empresas digitais, como o Google ou
o Facebook, algo a que os EUA res-
ponderam com a ameaça de aplica-
ção de taxas alfandegárias extrema-
mente elevadas sobre as importações
provenientes da França. Macron
escreveu na sua conta de Twitter a
seguir ao encontro que tinha conÆan-
ça de que seria alcançado “um bom
acordo para evitar a escalada das
taxas”, ao que Donald Trump res-
pondeu com “excelente!”.
26 • Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020

MUNDO
Guaidó anda em digressão para
reavivar apoio para a sua causa
A perder protagonismo em casa, presidente da Assembleia Nacional venezuelana reuniu-se com Johnson,
em Londres, e com Pompeo, em Bogotá. Etapas seguintes são Bruxelas, Davos e algures em Espanha
EPA

Venezuela
António Saraiva Lima
Um ano depois de ter desaÆado Nico-
lás Maduro, declarando-se presiden-
te interino da Venezuela, e recebendo
o apoio de mais de 50 países, incluin-
do Portugal, Estados Unidos e Brasil,
e numa altura em que o braço-de-fer-
ro com o chavismo atingiu um ponto
de bloqueio e o apoio popular está
em queda, Juan Guaidó procura rea-
vivar a pressão internacional sobre o
Governo venezuelano, através de um
périplo por vários países, onde tem
encontros agendados com altas Ægu-
ras políticas dos seus aliados.
Ontem foi recebido em Londres
pelo ministro dos Negócios Estrangei-
ros do Reino Unido, Dominic Raab, e
reuniu-se com o primeiro-ministro
britânico, Boris Johnson.
Uma visita que sucede a uma pas-
sagem por Bogotá, na Colômbia, onde
Guaidó teve como anÆtrião o chefe de
Estado colombiano, Iván Duque, e se
reuniu com o secretário de Estado
norte-americano, Mike Pompeo, e
com o ministro dos Negócios Estran-
geiros brasileiro, Ernesto Araújo.
Nestes encontros, o presidente da
Assembleia Nacional venezuelana
tem procurado mostrar — para dentro
e fora de portas — que a oposição a
Maduro continua bem viva e empe- Juan Guaidó (à direita) foi recebido em Londres pelo ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Dominic Raab
nhada, mesmo que as vitórias inter-
nas se contem pelos dedos de uma Arancha González Laya, ministra dos país e que se têm desdobrado em dos países ocidentais, como Portugal, quatro milhões de venezuelanos que
mão. Nesse sentido, tem insistido que Negócios Estrangeiros de Espanha, interpretações, mais ou menos exten- a colocar-se ao lado de Guaidó. Uns fugiram à pobreza e à insegurança.
necessita dos apoios dos seus aliados possivelmente em Madrid. sivas, da Constituição para reclama- reforçando as sanções económicas, Da reunião com Pompeo resulta-
internacionais para prosseguir com Pelo meio está o principal momen- rem o poder para si. outros a pedirem a saída do Presiden- ram várias críticas ao apoio do “Esta-
a estratégia de pressão económica e to da digressão de Guaidó, que ama- O Presidente Maduro é acusado te e o agendamento de eleições “livres do falhado” de Maduro a “grupos
política sobre o regime. nhã se desloca até Davos, na Suíça, pelos opositores de encabeçar um e justas” na Venezuela. terroristas”, como a guerrilha colom-
“Estamos absolutamente encanta- onde decorre o Fórum Económico Estado responsável por violações de Mas um braço-de-ferro que nos biana ELN ou o grupo fundamentalis-
dos por ter aqui o Juan. Quero reaÆr- Mundial. E onde, no cenário ideal, direitos humanos, repressão e abuso primeiros meses de 2019 dava a ta xiita Hezbollah, e um renovado
mar pessoalmente o apoio do Reino poderá encontrar-se pessoalmente de poder, para se eternizar na presi- entender que a Venezuela estaria a apelo ao incremento do auxílio da
Unido ao presidente interino”, disse com Donald Trump e Emmanuel Mar- dência, ao passo que o presidente da caminho de uma etapa de mudança comunidade internacional.
Raab aos jornalistas, aÆançando que con, presidentes de EUA e França, Assembleia Nacional é visto pelo cha- — temeu-se (e teme-se) uma guerra E o norte-americano deu o mote:
o Downing Street vai “continuar a respectivamente. vismo como um “inÆltrado” dos civil — foi perdendo ímpeto nos últi- “Tenho ouvido dizer que subestima-
trabalhar com os parceiros europeus” “imperialistas norte-americanos” que mos meses, e Guaidó e os seus aliados mos Maduro. O que foi subestimado
para se assistir a uma “transição pací- Dois presidentes querem levar a cabo um golpe de acabaram por ser acusados de não foi o desejo de liberdade que reside
Æca e democrática” na Venezuela. Assolada por uma grave crise econó- Estado no país de Hugo Chávez, por terem avaliado correctamente a capa- nos corações dos venezuelanos. Nós
Na agenda de Juan Guaidó cabem mica há vários anos, que desenca- razões ideológicas e económicas. cidade do regime para se manter uni- — os europeus, os outros países da
ainda pelo menos mais três destinos deou uma série de outras crises de Com a autoproclamação de Juan do. A estratégia para evitar a estagna- América do Sul e os EUA — estamos
e uma maratona de encontros bilate- ordem política, social, securitária e Guaidó, em Janeiro do ano passado, ção da sua causa foi desaÆar uma colectivamente determinados em
rais. Hoje conversará com o chefe da humanitária, a Venezuela é disputada a fractura estendeu-se à arena inter- ordem judicial que o proíbe de sair da cumprir esse desígnio para a popula-
diplomacia da União Europeia, Josep há cerca de um ano por dois homens nacional, com russos, chineses, tur- Venezuela e partir para a vizinha ção venezuelana.”
Borrel, em Bruxelas, e no Ænal da que entendem deter a legitimidade cos, iranianos e cubanos a declararem Colômbia, país de acolhimento de
semana tem reunião marcada com política para liderar os destinos do apoio a Maduro, e a grande maioria uma importante fatia dos mais de antonio.lima@publico.pt

Breves
Guiné-Bissau
Umaro Sissoco
Embaló pode tomar
JOSE TORRES/REUTERS
posse, diz CNE
A Comissão Eleitoral da
Guiné-Bissau deu ontem por
encerrado o seu trabalho
relativo às presidenciais de 29
de Dezembro e considerou que
estão reunidas as condições
para Umaro Sissoco Embaló
tomar posse como Presidente.
Pouco depois, o Supremo
Tribunal esclareceu que não
determinou a recontagem dos
votos. Embaló marcou a tomada
de posse para 19 de Fevereiro.
Brasil
Justiça acusa
Greenwald de ajudar
piratas informáticos
A Justiça federal brasileira
acusou ontem o jornalista
americano Glenn Greenwald de
cibercrimes, por ter “ajudado,
encorajado e guiado” o grupo
de hackers que acederam às
mensagens trocadas por
telemóvel de figuras ligadas à
Lava-Jato, entre elas o agora
ministro da Justiça Sérgio Moro.
As mensagens revelaram que
Moro, que era procurador,
interferiu com os juízes.
Terrorismo
Secretas confirmam
nome do novo
líder do Daesh
Amir Mohammed Abdul
Rahman al-Mawli al-Salb,
membro fundador do Daesh,
é o novo líder do grupo
jihadista. Segundo os dados
revelados por dois serviços
secretos, foi o responsável pelo
ataque que levou à morte e
escravatura da minoria yazidi no
Iraque e supervisionava as
operações pelo mundo. O The
Guardian diz que foi escolhido
logo após a morte de Abu Bakr
al-Baghdadi, em Outubro.
México Obrador justifica confrontos com imigrantes
O Presidente mexicano justiÆcou
ontem a brutalidade com que as
forças de segurança impediram a
passagem de uma caravana de
imigrantes, sobretudo
hondurenhos, para os Estados
Unidos, na fronteira em Ciudad
Hidalgo. Foi para os proteger do
que os esperava nos EUA, sugeriu
Andrés Manuel López Obrador, a
Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020 • 27
MUNDO
O ornitorrinco, animal nativo da Austrália
com bico de pato e cauda de castor, pode
desaparecer devido às alterações climáticas
e à destruição do seu habitat pela ocupação
humana, diz um estudo divulgado ontem
Israel
Benny Gantz também
promete anexar
vale do Jordão
O líder do Partido Azul e Branco
(centro-esquerda), Benny
Gantz, disse que após as
eleições de 2 de Maio em Israel
quer avançar com a anexação
do vale do Jordão. O primeiro-
-ministro e rival de Gantz,
Benjamin Netanyahu, fez uma
promessa semelhante na
véspera das eleições de
Setembro (nas quais ambos
ficaram empatados, levando a
nova eleição). Netanyahu foi,
em Setembro, acusado de
propor uma medida que, se
quisesse, poderia ter antes
realizado (está no cargo desde
2005). Agora, desafiou Gantz a
cumprir já a promessa: “Para
quê esperar até depois da
eleição, quando podemos
aplicar a soberania sobre o vale
do Jordão já, com apoio
alargado no Parlamento?”
Irão
Deputado oferece
2,7 milhões de euros
a quem mate Trump
Um deputado iraniano da
província de Kermán, Ahmad
Hamzeh, ofereceu ontem, numa
intervenção no Parlamento de
Teerão, três milhões de dólares
(2,7 milhões de euros) a “qualquer
pessoa que mate” o Presidente
dos Estados Unidos, Donald
Trump, em vingança pelo
quem Donald Trump exigiu que assassínio do general Qassem
travasse este Çuxo. Os imigrantes Soleimani. Não disse de onde
fazem parte de um grupo de vem o dinheiro e se a oferta tem o
vários milhares que deixou as apoio oficial, diz o jornal
Honduras na semana passada. espanhol El País.

O compromisso franco-alemão com
a UE no início de uma década decisiva
Opinião
Florence Mangin
e Martin Ney
A Alemanha e a França continuam a
empenhar-se ativamente em prol de
uma União Europeia forte,
soberana e solidária também neste
novo ciclo institucional que
começou na sequência das eleições
de maio de 2019. As ditas eleições
foram marcadas, de forma geral,
por uma participação cidadã mais
elevada, o que mostra um apego
forte dos cidadãos à União
Europeia. Essas eleições
provocaram uma renovação
profunda das instituições europeias
com a constituição de um novo
Parlamento Europeu, mais
fragmentado que o anterior, e a
entrada em funções, no passado dia
1 de dezembro, de uma nova
Comissão sob a liderança da
presidente Ursula von der Leyen.
A seguir, cada uma das
instituições europeias apresentou as
suas prioridades para os próximos
anos, e todas elas têm como
objectivo comum tornar a Europa
mais forte e capaz de enfrentar os
numerosos desaÆos com os quais é
confrontada: económicos,
comerciais, sociais, climáticos,
digitais e isso num mundo cada vez
mais incerto. No que diz respeito aos
chefes de Estado e de Governo, as
linhas orientadoras Æcaram
deÆnidas no mês de Junho com a
adopção da Agenda Estratégica e
das quatro prioridades seguintes:
proteger os cidadãos e as liberdades,
criar uma base económica sólida e
dinâmica, construir uma Europa
neutra para o clima, verde e
socialmente justa, assim como
promover os interesses e os valores
da Europa na cena mundial.
O principal desaÆo para o ano de
2020 é conseguir ter um quadro
Ænanceiro plurianual
modernizado. A União Europeia
deve também prosseguir com as
iniciativas já empreendidas para
aprofundar tanto a sua legitimidade
como a das suas acções, e
aproximar-se dos seus cidadãos.
É com este objectivo que a França
e a Alemanha prosseguirão a sua
atuação, em conjunto com os
parceiros europeus, e em primeiro
lugar com Portugal, que partilha a
nossa ambição relativamente à
Celebramos hoje União Europeia. O trio das
presidências que em 2020-21
o primeiro juntará Alemanha, Portugal e
aniversário Eslovénia e a presidência francesa
no início de 2022 apresentam-se
do Tratado como momentos oportunos para
de Aix-la-Chapelle. intensiÆcar ainda mais esta
colaboração já estreita. Mesmo que
É com base nesta a tarefa seja árdua e os desaÆos
cooperação que sejam muitos, estamos convictos
que, ao estarmos unidos, vamos
compromissos vencer.
continuarão Prioridade central
a ser encontrados Na perspectiva de se tornar no
para permitir primeiro continente neutro em
carbono em 2050, a União
que a União Europeia está a dar um sinal forte
Europeia seja um quanto à sua ambição climática.
Ao ter publicado no início do mês
interveniente de dezembro o “Green Deal”, a
responsável e de nova Comissão Europeia colocou
a transição climática como
primeiro plano nas prioridade central e mostrou
próximas décadas vontade em articular todas as suas
políticas com esta prioridade,
Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020 • 29
HANNIBAL HANSCHKE/REUTERS
sejam elas relacionadas com a
indústria, a mobilidade, a
agricultura ou os fundos
estruturais. No mês passado, e em
conformidade com os
compromissos dos países no
âmbito do Acordo de Paris, os
chefes de Estado e Governo
comprometeram-se a chegar à
neutralidade carbónica até 2050.
A Polónia foi o único
Estado-membro a pedir um
adiamento e o Conselho voltará a
analisar o caso em Junho próximo.
Trata-se aqui de um verdadeiro
sucesso para a coligação de países
ambiciosos, dos quais fazem parte
a França, a Alemanha e Portugal, e
que desde a Cimeira de Sibiu em
Maio de 2019 defendiam a meta de
emissões líquidas zero.
A transição climática é um desaÆo
fundamental e multidimensional
desta nova década. Portugal foi o
primeiro país a comprometer-se a
ser neutro em carbono daqui até
2050 e um dos primeiros a chamar
a atenção para os custos sociais
desta transição climática, assim
como para a inclusão das
populações mais frágeis e que são,
MUNDO
na maior parte dos casos, as mais
expostas às consequências das
alterações climáticas. Vimos com
apreço o facto de Elisa Ferreira,
comissária portuguesa para a
Coesão e Reformas, ter apresentado
na semana passada, no Parlamento
Europeu, um projecto de criação de
um Fundo para a Transição Justa
para ajudar à descarbonização de
regiões especialmente dependentes
dos combustíveis fósseis.
DesaÄos fundamentais
O ano de 2020 será marcado pela
realização de uma conferência
sobre o futuro da Europa que
deverá ser um verdadeiro
exercício de introspecção da
própria União Europeia.
Tratar-se-á de encontrar os
mecanismos necessários para ter
em conta a voz dos cidadãos e dar
uma resposta à desconÆança
democrática que se tem traduzido
numa ascensão do populismo.
Esta conferência deverá também
reÇectir sobre a questão da
eÆcácia da União Europeia de
forma a dar resposta às
expectativas dos cidadãos.
Muitos mais projectos esperam
por nós, com o aprofundamento da
União Económica e Monetária e o
fortalecimento da zona euro. Temos
de avançar no aperfeiçoamento da
dimensão social da União Europeia
assim como nas questões de defesa,
de política industrial, de
investigação e até de mobilidade.
Os desaÆos são muitos e só
podemos actuar em conjunto.
Celebramos hoje, 22 de Janeiro,
o primeiro aniversário do Tratado
de Aix-la-Chapelle, que permitiu
reaÆrmar e dar um novo impulso
à amizade franco-alemã,
46 anos depois da assinatura do
histórico Tratado do Eliseu de
1963. É com base nesta cooperação
e graças ao apoio dos nossos
parceiros europeus que partilham
da nossa ambição para a União
Europeia, tais como Portugal, que
foram feitos progressos
signiÆcativos e que compromissos
continuarão a ser encontrados
para permitir que a União
Europeia seja um interveniente
responsável e de primeiro plano
nas próximas décadas.
Embaixadores de França
e da Alemanha em Portugal
30 • Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020
MUNDO
É como se a UE tivesse
um país inteiro de cuidadoras
Aos 25 anos da Pequim — Plataforma de Acção para e Igualdade,
Desenvolvimento e Paz, a igualdade entre homens e mulheres
continua longe de alcançada na União Europeia. A disparidade
de distribuição de trabalho não-pago é o grande entrave
Igualdade
Ana Cristina Pereira
Pode ser uma criança pequena, um
adulto com um problema de saúde
ou uma doença incapacitante, um
idoso mais ou menos dependente.
Na União Europeia, há 7,7 milhões de
mulheres e meio milhão de homens
que estão fora do mercado de traba-
lho porque precisam de cuidar de
alguém. Chegariam para formar a
população de um país.
Esses números ressaltam no balan-
ço que o Instituto Europeu de Igual-
dade de Género (EIGE na sigla ingle-
sa) fez dos 25 anos da Pequim – Pla-
taforma de Acção para e Igualdade,
Desenvolvimento e Paz, adaptada
por 189 países, incluindo Portugal. E
servem de base à actual discussão
sobre o que devem ser as prioridades
e as orientações nesta matéria nos
próximos cinco anos.
Uma das tarefas da EIGE é prestar
assistência às presidências do Con-
selho da UE na avaliação e desenvol-
vimento de indicadores estabeleci-
dos no âmbito da Plataforma de
Acção de Pequim. Desde 2010, já
publicou cinco relatórios. Este últi-
mo reconhece avanços (por exem-
plo, na participação das mulheres na
política e nos conselhos de adminis-
tração das grandes empresas), mas
salienta que nenhum Estado-mem-
bro conseguiu alcançar os objectivos
traçados. E que há novos desaÆos
relacionados com o envelhecimento,
as migração, as mudanças climática
e o progresso tecnológico.
Hoje, como há 25 anos, as mulhe-
res tendem a correr maior risco de
pobreza e exclusão social do que os
homens. E há umas mais vulneráveis
do que outras — por encabeçarem
famílias monoparentais, por serem
migrantes, por já terem atingido a
idade da reforma, por exemplo.
Nos últimos 25 anos, cresceu de
forma signiÆcativa a participação das
mulheres no mercado de trabalho
pago. Subsistem, todavia, as diferen-
ças de género a esse nível. No espaço
comunitário, o fosso é de 11%.
A origem dessa disparidade eco-
nómica não é secreta: o trabalho
(não-pago) relacionado com a casa
e com a família continua a penalizar
muito mais as mulheres. Elas fazem,
em média, mais 13 horas por sema-
na. Cerca de 7,7 milhões de mulhe-
res e meio milhão de homens estão
fora do mercado de trabalho para
cuidar de alguém. E 9 milhões de
mulheres e 0,6 milhões de homens
trabalham a tempo parcial por cau-
sa disso.
“Não é uma opção”, enfatiza Ana
SoÆa Fernandes, secretária-geral da
Plataforma Portuguesa para os Direi-
tos das Mulheres e vice-presidente
do Lobby Europeu das Mulheres, a
maior organização de mulheres do
espaço comunitário. “Elas vêem a
sua carreira condicionada por os
homens não assumirem a sua res-
ponsabilidade e pela impossibilidade
de recorrerem a estruturas de
apoio”, salienta.
Ao apresentar o relatório, Virginija
Langbakk, que no próximo mês dei-
xa de ser directora da EIGE, tem
apontado para os estereótipos e os
papéis tradicionais de género, mas
também para a insuÆciência de pro-
tecção social e para a escassez ou a
carestia de serviços destinados a
crianças, idosos e pessoas incapaci-
tadas. Dentro da União Europeia, tem
repetido, um sexto das famílias não
vêem satisfeitas as suas necessidades
com serviços para a infância. E um
terço não tem o serviço de apoio ao
domicílio de que precisava.
Não é só a exclusão total ou parcial
do mercado de trabalho. As mulhe-
res que o integram também não
encontram igualdade. A disparidade
nos salários alcança uma média de
16% na União Europeia. E cresce ao
longo da vida, mais do que duplican-
do quando chega à altura de receber
a pensão (34,8%).
Do princípio ao Äm da vida
Tudo começa na infância. Embora
os rapazes tendam a abandonar a
escola mais cedo e as raparigas
sejam mais susceptíveis de terminar
um curso superior, elas continuam
a estar sobre-representadas nas
áreas associadas à prestação de cui-
dados, isto é, educação, saúde e
trabalho social. Na tentativa de con-
ciliar a vida proÆssional com a vida
familiar e pessoal, amiúde as mulhe-
res optam por trabalhos temporá-
rios, precários, que garantem pouca
ou nenhuma protecção social e pior
remuneração. E isso tem custos até
ao Æm da vida.
No documento que prepararam
para a consulta sobre a estratégia
europeia para a igualdade de géne-
ro que há-de ver a luz do dia este
ano, Philippe Seidel Leroy e Maciej
Kucharczyk, da Age Platform Euro-
pe Policy Statement, lembram que
as mulheres vivem mais tempo
do que os homens e ganham menos,
pelo que são ainda mais afectadas
pelo elevado custo da prestação
de cuidados, o que agrava o isola-
mento e a solidão. “Onde a saúde e
sistemas de cuidados de longa
duração não estão acessíveis, é mui-
tas vezes a família, incluindo pes-
soas idosas, que cuidam dos fami-
liares dependentes”, referem, “Os cuidados são a cola humana que faz as sociedades funcionarem”, diz S
pedindo protecção social para
os cuidadores informais, como transferência de recursos das
apoio Ænanceiro, créditos para o mulheres para a economia que é
sistema de pensões, formação, invisível porque não entra nas con-
acompanhamento, apoio ao domi- tas públicas”. “Sabendo que o cui-
cílio. Em Portugal, só a partir de dado tem um valor económico,
Julho os cuidadores informais deve- Onde a saúde e sabendo que é pernicioso para a
rão poder pedi que a sua condição participação das mulheres no mer-
seja reconhecida. sistemas de cado de trabalho, sabendo que se as
“Os cuidados são a cola humana cuidados de longa mulheres participam mais no mer-
que faz as sociedades funcionarem”, cado de trabalho a economia como
diz Ana SoÆa Fernandes. “Cuidar duração não estão um todo beneÆciaria, é fundamen-
e ser cuidada devia ser considerado acessíveis, é muitas tal que haja um investimento, não
um direito humano! Não é. Nós só no que chamamos a infra-estru-
vivemos numa sociedade que tam- vezes a família, tura física, mas também na infra-es-
bém não nos deixa cuidar!”, insur- incluindo pessoas trutura social.”
ge-se, referindo-se às longas jorna-
das de trabalho e à disponibilidade idosas, que cuidam Novas ameaças
permanente exigida a diversos pro- dos dependentes Ana SoÆa Fernandes esteve na con-
Æssionais. ferência de alto nível organizada
A avaliação salienta o contributo Philippe Seidel Leroy pela presidência Ænlandesa da
da prestação de cuidados para a e Maciej Kucharczyk União Europeia em Outubro e nou-
economia. O problema, torna Ana Age Platform Europe tros eventos destinados a olhar para
SoÆa Fernandes, é que “há uma Policy Statement os últimos 25 anos. E saiu de lá con-

Sofia Fernandes
vencida de que “este processo de
revisão da implementação da plata-
forma de Pequim pela União Euro-
peia é feito num momento-chave
para o futuro da realização da igual-
dade entre mulheres e homens”.
Para lá de uma nova Estratégia Euro-
peia para a Igualdade entre Homens
e Mulheres, está em cima da mesa o
novo quadro Ænanceiro plurianual
(2021-2027).
A avaliação reconhece que as ati-
tudes têm estado a mudar, mas
reconhece que as gerações mais
novas não são imunes. Persistem
desigualdades na educação. As
raparigas inclinam-se pouco para as
áreas de ciência, tecnologia, enge-
nharia e matemática. O alerta mais
estridente deixado pelo relatório do
EIGE prende-se com o reduzido
número de mulheres que opta por
estudar Tecnologias da Informação
ANA MARIA COELHO
e da Comunicação e para o ainda
menor número que acaba por des-
envolver uma carreira nesses secto-
res — só 17% dos especialistas desta
área são do sexo feminino.
Nem só de economia trata este
olhar retrospectivo. Também de
alterações climáticas, media e vio-
lência contra as mulheres. As velhas
formas de violência doméstica e de
género continuam a fazer vítimas.
E emergem novas formas através da
Internet, sobretudo quando as
mulheres ocupam posições de rele-
vo — 80% das deputadas sabem bem
o que é violência psicológica, meta-
de das jovens até hesita em partici-
par em debates nas redes sociais,
com receio de abusos, um quinto
das mulheres é afectado pelo assé-
dio online.
acpereira@publico.pt
Vem aí uma estratégia europeia
para a igualdade de género
Ana Cristina Pereira
A União Europeia prepara-se para
adoptar, ainda este ano, uma Estra-
tégia para a Igualdade entre Homens
e Mulheres. A presidente da Comis-
são Europeia, Ursula von der Leyen,
já disse que a igualdade salarial será
o princípio fundador desse docu-
mento.
Há quem fale num ímpeto. É
como se nada pudesse parar a
mudança que está em curso. Cele-
bram-se os 25 anos da Pequim — Pla-
taforma de Acção para e Igualdade,
Desenvolvimento e Paz e os cinco
anos dos Objectivos do Desenvolvi-
mento Sustentável — agenda global
2030. Pela primeira vez, há uma
Comissão Europeia quase paritária
e encabeçada por uma mulher. Com
as eleições europeias de Maio de
2019, as mulheres passaram a ocu-
par 41% dos lugares do Parlamento
Europeu. Chegam ao Æm de vida
diversos documentos estratégicos:
o Compromisso Estratégico da
Comissão Europeia para a Igualda-
de de Género (2016-2019), o Plano
de Acção da União Europeia para a
Igualdade de Género e Empodera-
mento das Mulheres (2016-2020), o
Pacto Europeu para a Igualdade de
Género (2011-2020).
Ao que tem aÆrmado Tiina Astola,
directora-geral de Justiça e Consumi-
dores, a estratégia deverá estar pron-
ta neste semestre. “A presidente da
Comissão Europeia identiÆcou a
igualdade entre homens e mulheres
como um objectivo maior”, subli-
nha.
Von der Leyen já disse que a nova
estratégia abordará a forma como as
leis inÇuenciam a tomada de decisão
das mulheres ao longo de toda a sua
vida (escolher uma carreira, casar-se,
ter Ælhos, investir, descontar para
uma pensão). E prometeu introduzir
logo nos primeiros cem dias medidas
de transparência salarial para elimi-
nar as diferenças entre homens e
mulheres (16%), que se agravam na
hora de cobrar a pensão (34,8%).
O processo está a gerar expectati-
Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020 • 31
A presidente da Comissão
identiÄcou a igualdade entre
homens e mulheres como
um objectivo maior
Tiina Astola
Directora-geral de Justiça e Consumidores
vas entre activistas espalhados por
toda a União. “Desde 2015 que não
existe uma estratégia europeia para
a igualdade entre mulheres e
homens”, comenta Ana SoÆa Fernan-
des, secretária-geral da Plataforma
Portuguesa para os Direitos das
Mulheres e vice-presidente do Lobby
Europeu das Mulheres. “A comissão
liderada por Jean-Claude Juncker era
adversa a estratégias desse tipo. O que
adoptou foi um enquadramento
estratégico.”
Até pode parecer, mas um com-
promisso estratégico não é igual a
ter uma estratégia europeia. “Uma
estratégia tem de ser discutida ao
nível do Conselho, ou seja, tem uma
dimensão política grande, tem
metas associadas, tem recursos
associados, uma monitorização
associada, uma dimensão temporal,
o que quer dizer que pode ser ava-
liada”, explica. O compromisso
estratégico, esse, “na prática, não
era mais do que um plano de activi-
dades da Comissão Europeia”.
O diagnóstico dos últimos 25 anos
feito pelo Instituto Europeu para a
Igualdade de Género (EIGE na sigla
inglesa) está a servir de base à dis-
cussão e foi adaptado pelo Conselho
da União Europeia em Dezembro.
No documento conclusivo, o Con-
selho instou a Comissão Europeia e
os Estados-membros a fortalecer a
As mulheres ocupam 41% dos lugares do Parlamento Europeu
MUNDO
ligação entre as políticas europeias
e os seus compromissos internacio-
nais. Pediu à Comissão Europeia
para fazer da igualdade de género
uma prioridade e adoptar uma
estratégia europeia que integre a
perspectiva de género em todas as
políticas e actividades e inclua medi-
das de promoção da igualdade.
Pelo que depreende da fase da
consulta pública desencadeada no
ano passado, as prioridades do que
foi o compromisso estratégico man-
têm-se válidas: igualdade económi-
ca; igualdade salarial; igualdade no
processo de tomada de decisões;
Æm da violência baseada no género;
igualdade entre homens e mulheres
fora da UE. E o contexto não é pro-
pício em todo o território.
A palavra género foi banida do
discurso institucional em diversos
Estados-membros e em pelo menos
um deles até foi banida das univer-
sidades. Alguns têm assistido a mani-
festações contra a Convenção de
Istambul, isto é, a Convenção do
Conselho da Europa para a Preven-
ção e o Combate à Violência Contra
as Mulheres e a Violência Doméstica.
Até o aumento de participação das
mulheres no mercado de trabalho é
visto com maus olhos por líderes que
a culpam pelas quebras de natalida-
de. Há tentativas de restringir o aces-
so à interrupção da gravidez.
VINCENT KESSLER/REUTERS
32 • Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020

CIÊNCIA
Novo vírus da pneumonia que
afecta a China já chegou aos EUA
Estado de Washington registou caso de cidadão infectado com o novo coronavírus originário da China.
Centros de Controlo e Prevenção de Doenças conÄrmaram o caso ontem ao início da noite em Portugal
EPA

Saúde pública
Miguel Dantas
e Inês Chaíça
O novo coronavírus responsável por
um surto de pneumonia na China
chegou aos Estados Unidos, conÆr-
maram ontem os Centros de Contro-
lo e Prevenção de Doenças (CDC, na
sigla em inglês). O doente tinha
regressado há poucos dias de Wuhan,
o epicentro do surto, e com este caso
são já cinco os países que registam
doentes infectados além da China —
Japão, Tailândia, Coreia do Sul,
Taiwan e agora os Estados Unidos.
As autoridades de saúde norte-ame-
ricanas identiÆcaram um homem, com
cerca de 30 anos e residente no estado
de Washington, infectado pelo coro-
navírus, após ter regressado de uma
viagem até Wuhan. “O doente procu-
rou assistência numa instituição médi-
ca no estado de Washington, onde foi
tratado. Dado o registo de viagem e
sintomas, os proÆssionais de saúde
suspeitaram do novo coronavírus.
Uma amostra clínica foi recolhida e
enviada para os CDC, onde testes labo-
ratoriais conÆrmaram ontem [anteon-
tem] o diagnóstico”, informa a institui-
ção em comunicado.
O homem entrou no país a 15 de Transferência de doentes para hospital na cidade chinesa de Wuhan, na província de Hubei
Janeiro, antes de as autoridades nor-
te-americanas terem instalado pontos surto e salvar vidas, numa altura em tenham sido infectadas por este doença é transmissível entre huma-
de rastreio nos aeroportos de Nova
O caso identiÄcado que milhões de chineses viajam pelo vírus. nos, o que aumenta o potencial de
Iorque, São Francisco e Los Angeles. nos Estados país para as festividades do Ano Novo A Organização Mundial da Saúde contágio. Noutro comunicado, a
À chegada a solo norte-americano, os chinês, que começam esta semana. (OMS) está a considerar uma declara- comissão de saúde de Wuhan, cidade
passageiros de voos provenientes
Unidos, por “A vida e saúde das pessoas devem ser ção de emergência de saúde pública onde se pensa que este surto terá
desta região chinesa são agora avalia- exemplo, a grande prioridade, e a disseminação internacional — como aconteceu com começado, informou que 15 funcio-
dos pelas equipas de saúde, numa do surto tem de ser controlada”, disse a gripe suína e com o vírus do Ébola nários das equipas médicas que mais
tentativa de detectar atempadamen-
é um dos que Xi Jinping à televisão estatal. —, mas a decisão só vai ser tomada contacto tiveram com estes doentes
te possíveis casos de infecção do coro- aparentam não ter De acordo com os números apre- hoje após uma reunião de um grupo estão infectados com o mesmo coro-
navírus. Estas medidas de segurança sentados pela comissão nacional de de peritos em Genebra. A maior par- navírus. Um deles está em condição
nos aeroportos foram imitadas por
ligação com saúde e citados pela BBC, mais de 300 te dos casos parece estar relacionada crítica, informa a BBC.
vários outros países. o mercado: pessoas estão infectadas com o novo com um mercado de marisco da cida- Em Taiwan, foi também conÆrma-
No total, foram registados 216 vírus um pouco por toda a China, mas de de Wuhan, mas as autoridades do ontem o primeiro caso de uma
casos de infecção com o coronavírus,
a CNN diz que estudos cientíÆcos apontam para que chinesas já admitiram que alguns dos infecção do género. Trata-se de uma
encontrando-se 51 pessoas em esta- o homem garantiu o vírus tenha atingido 20 cidades só infectados pelo coronavírus “não mulher de 50 anos que tinha regres-
do grave e 12 em estado crítico. O nos primeiros 17 dias do ano. tinham um historial de contacto com sado de Wuhan na segunda-feira. O
número de mortes subiu ontem,
não ter visitado A equipa de Neil Ferguson, do Cen- este local de comércio que se acredi- Centro de Controlo de Doenças de
depois de se conÆrmar o falecimen- este local tro de Análise Global de Doenças ta estar no centro do surto”. O caso Taiwan relatou à agência Reuters que
to de mais três pessoas infectadas. Infecciosas do Imperial College de identiÆcado nos Estados Unidos, por a mulher foi encaminhada directa-
São já seis as vítimas mortais na
da cidade Londres, acredita que o número de exemplo, é um dos que aparentam mente do aeroporto para o hospital
sequência deste surto. pessoas infectadas supere em muito não ter ligação com o mercado: a CNN com sinais de febre e tosse.
O Presidente chinês, Xi Jinping, o valor reconhecido pelas autoridades diz que o homem garantiu não ter
aÆrmou anteontem que a prioridade locais. Estes investigadores britânicos visitado este local da cidade. miguel.dantas@publico.pt
das autoridades chinesas é conter o estimam que mais de 1700 pessoas ConÆrmou-se anteontem que a ines.chaica@publico.pt

“Hoje está bom tempo”, repetiu
M.S. nos testes de novo dispositivo
cerebral para Parkinson
Neurocirurgia
Andrea Cunha Freitas
BrainSense é um novo
passo na estimulação
cerebral profunda. Cirurgia
inédita foi ontem no
Hospital de S. João, no Porto
Uma mulher, de 70 anos, com doença
de Parkinson recebeu ontem um
novo dispositivo que, além da estimu-
lação cerebral profunda, permite o
registo contínuo de ondas cerebrais
implicadas nos sintomas da doença.
Foi a primeira cirurgia deste tipo em
Portugal e a terceira em todo o mun-
do, segundo anunciou o neurocirur-
gião Rui Vaz, responsável pela equipa
do Hospital de S. João que realizou a
delicada cirurgia que envolve a colo-
cação de eléctrodos no cérebro e de
um dispositivo debaixo da pele, no
tórax. Para o especialista, este avanço
é mais do que um simples upgrade do
equipamento tradicional e pode
“abrir novas portas” para tratar esta
e outras doenças, como epilepsia ou
doença obsessiva-compulsiva.
“Este dia é difícil. Tem de ter
paciência e pensar no futuro”, pedia
Rui Vaz à sua doente, que esteve sem-
pre consciente ao longo da delicada
cirurgia para a colocação do novo
dispositivo. Na verdade, as palavras
do neurocirurgião foram as mesmas
de sempre, desde que em 2002 come-
çou a fazer este procedimento no
Hospital de S. João. Rui Vaz foi o pri-
meiro em Portugal a colocar um dis-
positivo para estimulação cerebral
profunda em doentes de Parkinson
(até hoje já conta com 350 doentes
operados) e, agora, foi também pio-
neiro na colocação de uma versão
melhorada deste equipamento. Além
da estimulação, o BrainSense regista
os sinais cerebrais (neste caso especí-
Æco foi programado para registar as
ondas beta) do doente com Parkin-
son. A cirurgia é praticamente igual à
tradicional mas, desta vez, o equipa-
mento vai registar continuamente a
actividade cerebral do doente e enviar
todos os dados para um tablet que vai
funcionar como “agenda digital” do
seu dia-a-dia.
Tradicionalmente, um doente com
Parkinson que seja submetido a uma
cirurgia para estimulação cerebral
profunda (para isso terá de cumprir
uma série de critérios, sendo que o
principal será não responder mais ao
tratamento com medicação) tem de
registar à mão, quando pode e se lem-
bra, o que vai sentindo no dia-a-dia.
Com esses dados mais ou menos Æá-
veis e outro tipo de exames, o médico
vai adaptando a terapêutica. “O doen-
te vai registando quando está melhor
ou pior numa agenda manual, mas é
uma informação parcial e muito falí-
vel”, reconhece Rui Vaz.
Com o registo dos sinais cerebrais
associados aos sintomas da doença
de Parkinson, esta nova tecnologia –
lançada na Alemanha, onde se reali-
zaram as únicas duas cirurgias com
este dispositivo — é, defende o médi-
co, “um primeiro passo no sentido de
passarmos de tratar a doença para
tratar o doente”. É que o tratamento
actual é baseado numa estimulação
praticamente constante quando a
doença em si oscila ao longo do dia e,
por isso, os sintomas variam de doen-
te para doente.
M.S. surgiu como a candidata ideal
para a estreia desta nova versão.
É uma doente com Parkinson, um
distúrbio neurodegenerativo do
movimento que afecta cerca de 20
mil portugueses, com sintomas de
rigidez ou, recorrendo ao termo
médico, com a forma acinético-rígi-
Cirurgia começou ontem por volta das dez da manhã e só terminou depois das 17h
da desta doença, sem tremores.
O novo equipamento, explica, tem
uma duração idêntica ao que tem
sido usado até agora (cerca de cinco
anos de bateria), assegura também
uma estimulação contínua, é ligeira-
mente mais pequeno e “é 25% mais
caro”, sendo que a colocação do
“modelo” tradicional que foi (e con-
tinuará ainda a ser) usado no serviço
custa cerca de 25 mil euros. M.S.
deverá Æcar internada até sexta-feira
e vai para casa. Os dados serão regis-
tados e dentro de um mês será feita
a primeira avaliação.
Três doentes aprovados
Numa primeira fase, a administração
do hospital aprovou a colocação do
novo modelo em três doentes. Esta
primeira operação com o BrainSen-
se — bem como as próximas duas
intervenções previstas — serão ape-
nas para doentes com Parkinson e só
nas formas acinético-rígidas. Porém,
Rui Vaz conÆrma que o dispositivo
tem outras indicações, cientiÆca-
mente comprovadas, como o trata-
mento da distonia, tremor, epilepsia
e doença obsessiva-compulsiva. O
que muda é o alvo (o tipo de ondas
cerebrais que se captam e registam)
e a programação do dispositivo.
Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020 • 33
Ontem, no oitavo andar do Hospital
de S. João, no bloco operatório do
serviço de neurocirurgia, foi um dia
igual a tantos outros. A invulgar agi-
tação só era perceptível pela presen-
ça de intrusos ao serviço. No bloco,
M.S. nem se terá apercebido da “equi-
pa alargada” que por alguns momen-
tos teve à sua volta e que, obviamente,
autorizou. O importante era deixar
os cirurgiões encontrarem o melhor
alvo no núcleo subtalâmico do seu
cérebro e, para isso, ajudar os médi-
cos cumprindo os pedidos para abrir
e fechar a mão, contar “um, dois, três,
quatro…”, olhar para a direita,
esquerda, para cima e para baixo,
conÆrmar se via um ou dois dedos e
repetindo a frase que lhe pediram
várias vezes para dizer: “Hoje está
bom tempo.”
A cirurgia começou por volta das
dez da manhã e já passava das 17h
quando chegou ao Æm. Num canto do
bloco operatório e, debaixo da más-
cara, Rui Vaz comentava baixinho:
“Isto é fantástico, não é? O efeito é
imediato. Mas o melhor de tudo não
é isto. O melhor de tudo é ver a doen-
te na sexta-feira, quando lhe dermos
alta e ela for bem para casa.”
acfreitas@publico.pt
PAULO PIMENTA
CIÊNCIA
Como o
Instagram via
os cigarros
electrónicos
Saúde
Um estudo na revista Frontiers in
Communication analisou 245.894
publicações no Instagram, entre 2017
e 2019, sobre cigarros electrónicos
para perceber como estes produtos
consumidos pelos jovens são retrata-
dos nas redes sociais.
A equipa da Universidade da Cali-
fórnia em Berkeley e do Centro de
Investigação Integrada em Leucemia
Infantil e Ambiente dos EUA analisou
as hashtags ligadas a cigarros electró-
nicos no Instagram, concluindo que
aquelas que incentivam o seu consu-
mo eram usadas dez mil vezes mais
frequentemente do que a hashtag
#TheRealCost (“O Custo Real”), criada
na campanha de sensibilização con-
tra o consumo de cigarros electróni-
cos, lançada em 2018 pela FDA, a
agência para os alimentos e medica-
mentos dos EUA.
Os especialistas realizaram ainda
entrevistas a cinco “inÇuenciadores”
e oito utilizadores regulares das redes
sociais, que identiÆcaram o Instagram
como “a plataforma mais importante
de marketing nas redes sociais”,
explica a principal autora Julia Vassey.
Porém, em Dezembro, o Instagram
proibiu a publicidade a estes produ-
tos devido a mortes nos EUA associa-
das ao uso destes cigarros.
As conclusões revelaram que a
campanha da FDA teve um impacto
limitado nos consumidores mais
jovens de cigarros electrónicos. Os
dados mostraram ainda que as publi-
cações ligadas aos cigarros electróni-
cos tiveram quase três vezes mais
“gostos” depois de a campanha da
FDA contra o uso destes produtos ter
sido lançada, com a campanha a reve-
lar-se até contraproducente.
A análise de 49.655 imagens reve-
lou que mais de 70% retratavam líqui-
dos de sabores para os cigarros elec-
trónicos, bem como os próprios dis-
positivos electrónicos, que muitas
vezes têm cores vibrantes e atraem os
jovens. “O grande desequilíbrio no
volume de publicações [contra e a
favor destes cigarros] levou a que a
mensagem da FDA fosse abafada pelo
marketing das marcas de cigarros
electrónicos”, nota Julia Vassey.
Em Dezembro, a Direcção-Geral da
Saúde portuguesa alertou para os
riscos do tabaco aquecido e cigarros
electrónicos e aconselhou a que não
se usem estes produtos. PÚBLICO
34 • Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020

CULTURA
Uma odisseia pelo lado negro
da colonização portuguesa
A segunda longa de João Nuno Pinto abre
hoje o festival de Roterdão. Inspirada
pela história verídica do avô, que não
conheceu, é um Älme para se “redimir
por ser Älho de colonizadores”
Cinema
Jorge Mourinha
“Quando a organização me disse
que as expectativas para o Mosquito
são de 3000 espectadores só para a
sessão de abertura do festival...”
João Nuno Pinto (Maputo, 1969)
parece nem sequer conseguir abran-
ger o número. “Quer dizer, o meu
outro Ælme não fez sequer isso na
carreira comercial cá em Portugal!”
E, se formos ao site do Festival Inter-
nacional de Cinema de Roterdão
(IFFR), veremos que Mosquito esgo-
tou já as primeiras das suas quatro
exibições públicas — entre elas a
sessão de abertura, esta noite às
21h15.
É, para João Nuno Pinto, um alívio
que assim seja — porque Mosquito,
que se estreará em Portugal a 8 de
Março e se inspira na Ægura do seu
próprio avô, tem (como diz entre
risos) qualquer coisa de Ælme “amal-
diçoado”. A odisseia de um soldado
de 17 anos (interpretado pelo jovem
João Nunes Monteiro), que sonhava
com a glória nos campos de França
mas é enviado para Moçambique
durante a Primeira Guerra Mundial
para proteger a então colónia por-
tuguesa dos inimigos alemães, exis-
tia na cabeça do realizador mesmo
antes da sua primeira longa, Améri-
ca (2010). “Mas eu não me sentia
preparado para que este fosse o
porto — numa produção tão atribu-
lada que daria, por si só, outro Ælme.
“Só o Ænanciamento foram dois
anos”, enumera o cineasta, que se
“formou” originalmente na publici-
dade. “Depois, quando íamos Ænal-
mente arrancar, começou a haver
ataques em Moçambique na zona
onde íamos Ælmar. Tivemos de can-
celar, voltar a fazer nova repérage
de locais. E acabou por ir havendo
sucessivos adiamentos... ora por
questões de Ænanciamento, ora por
instabilidade política em Moçambi-
que, ora por questões de agenda. A
dada altura, Æquei sem equipa — o
meu director de fotograÆa ia ser pai,
outros técnicos já tinham aceitado
outros trabalhos… Para já não falar
das aventuras quando estivemos a
Ælmar em Moçambique.”
Mas isso acabou também por ali-
mentar a própria história: “Queria
que o Ælme respirasse, absorvesse a
angústia, o tormento que eu sabia
que as Ælmagens iam ser.” A perso-
nagem principal, o soldado Zaca-
rias, chega a África para combater
e, depois de cair de cama à chegada
com paludismo, parte sozinho em
busca da sua companhia que entre-
tanto partiu, viajando inocentemen-
te em direcção a um “coração das
trevas” que é, também, o poço
negro do colonialismo português
em África. “Havia muito pouca
informação sobre a participação
portuguesa na Primeira Guerra
O mosquito não vai sozinho a Roterdão

meu primeiro Ælme,” diz Pinto ao
PÚBLICO poucos dias antes de par-
tir para a cidade holandesa, onde
Mosquito é o Ælme de abertura oÆ#
cial do festival, conÆrmando o inte-
resse regular do IFFR pelo cinema
nacional, depois de em anos ante-
riores receber Susana Nobre, Teresa
Villaverde, Filipa Reis e João Miller
Guerra, Edgar Pêra ou Ico Costa.
Foram precisos sete dos dez anos
decorridos desde América para que
a segunda longa de Pinto, co-produ-
ção com França, Brasil e Moçambi-
que liderada pela Leopardo Filmes
de Paulo Branco, chegasse a bom
Mundial em África, e quando come-
çámos a pesquisar começámos a
entender a dimensão do horror, da
repressão. Existe uma amnésia his-
tórica: aquilo foi tão atroz, tão hor-
rível, uma vergonha nacional tão
grande que, quando o Estado Novo
surge, não se fala mais sobre o
assunto. Ia contra tudo o que era a
doutrina da raça lusitana, o nosso
direito de estar em África…”
Três pátrias
É um dos mitos com os quais Mos-
quito se quer medir, o primeiro dos
quais de natureza familiar. “Nunca
M
osquito é a primeira,
mas não a única, das
presenças portuguesas
em Roterdão 2020. Ao
lado do filme de João Nuno Pinto
na competição Big Screen —
cujo vencedor será distribuído
nos Países Baixos — estará a
nova longa do cineasta brasileiro
Felipe Bragança, Um Animal
Amarelo, rodada em Portugal
com Catarina Wallenstein e
Isabel Zuáa; é o regresso do par
formado por Wallenstein e
Bragança ao festival, onde
mostrou no ano passado
Tragam-me a Cabeça de Carmen
M. Fora de concurso, Sandro
Aguilar estreará uma nova
média-metragem de 45 minutos,
Armour, resultante de uma
residência artística canadiana;
Teresa Villaverde (que estreou o
seu documentário O
Termómetro de Galileu em
Roterdão) projectará
Où en êtes-vous, Teresa
Villaverde?, encomenda do
centro Georges Pompidou
para a sua retrospectiva de 2019;
Luísa Homem exibirá o seu
documentário Suzanne Daveau,
estreado no Doclisboa; e Pedro
Costa vai dar uma masterclass e
mostrar Vitalina Varela.
A destacar ainda a segunda
longa da brasileira Maria Clara
Escobar, Desterro,
co-produção com a portuguesa
Terratreme Filmes que
concorre na competição Bright
Future. J.M.

conheci o meu avô”, explica Pinto.
“Ele já tinha falecido há muito quan-
do eu nasci, mas havia o mito do
homem que tinha atravessado
Moçambique a pé com 17 anos… Eu
nasci em Moçambique, o meu pai
também, e tudo por causa desta via-
gem feita pelo meu avô. O que é que
ele viu? O que é que ele viveu? Ele
deve ter sofrido imenso, mas algu-
ma coisa aconteceu para ele não ter
querido voltar para Portugal.”
O que Pinto e os seus argumentis-
tas, Fernanda Polakow e o actor
Gonçalo Waddington, inventaram
então foi uma “contranarrativa”
inscrita na verdade histórica da Pri-
meira Guerra Mundial. As aventuras
de Zacarias são uma história clássi-
FOTOS: DR
ca de crescimento — “a jornada do
herói, que começa uma criança e
termina um homem” — onde injec-
taram referências à mundivisão da
cultura macua, e uma vontade de
desmontar as narrativas colonialis-
tas e belicistas.
Personagem que vem de um lugar
austero, “que tem de provar alguma
coisa”, doutrinado nos mitos nacio-
nalistas, Zacarias sofre uma “africa-
nização” à medida que avança numa
paisagem que não corresponde em
nada às suas expectativas. “O Ælme
começa claramente com uma visão
eurocêntrica de África”, explica Pin-
to. “A criação dos mitos e dos medos
da África negra, dos selvagens, a
arrogância de um colonizador que
Aquilo foi uma vergonha nacional
tão grande que, quando o Estado
Novo surge, não se fala sobre
o assunto. Ia contra o que era
a doutrina da raça lusitana
João Nuno Pinto
Cineasta
Mosquito tem estreia
em Portugal para 8 de Março
e conta a odisseia
de um soldado de 17 anos
(João Nunes Monteiro
no papel) que sonhava
com a glória nos campos
de França mas é enviado
para Moçambique na Primeira
Guerra Mundial
cria uma bolha para Ængir que ainda
vive num mundo civilizado. E ao
longo da sua viagem o Zacarias vai-
se africanizando, mas não com o
olhar eurocêntrico de um África
Minha ou do bom selvagem: ele vive
Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020 • 35
a realidade, sem hipocrisias nem
loucuras.”
A questão da colonização, perce-
bemos ao longo da conversa, é
importante — sobretudo para alguém
como João Nuno Pinto, que reivindi-
ca múltiplas identidades. “Nasci em
Moçambique, cresci em Portugal,
vivi muitos anos no Brasil e a minha
mulher e Ælhos são brasileiros e tenho
família nos três países”, diz. “Na ver-
dade, tenho três pátrias, mas não sou
de um só lugar. E isso transformou-se
num olhar sobre as pessoas, sobre o
lado humano das histórias, a injusti-
ça, a opressão, a repressão. E conti-
nua a fazer-me muita confusão como
estamos atrasados nesta conversa
sobre colonialismo. Não há bons
colonizadores, como achamos que
fomos, há só colonizadores! Não
vamos crescer enquanto não aceitar-
mos que Æzemos coisas horríveis:
escravizámos milhões de pessoas,
fomos mercadores de escravos, como
é que não falamos disso? Este Ælme é
um pouco uma forma de me redimir
perante Moçambique por ser Ælho de
colonizadores. ”
Acima de tudo, há a vontade de
lançar luz sobre um momento
escondido, esquecido, da história
de Portugal. “A oportunidade de
fazer um Ælme é um privilégio, e se
eu consigo ter esse privilégio, tenho
de falar de coisas importantes”, diz
João Nuno Pinto. “Não vou desper-
diçar esta oportunidade.”
36 • Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020
CULTURA
Este auto-retrato é mesmo de Van Gogh
e foi feito durante uma crise psicótica
Cinco anos de pesquisa dissiparam décadas de dúvidas em relação à autoria desta pintura.
Executada num hospital psiquiátrico, foi um instrumento terapêutico e um acto de coragem
Pintura
Lucinda Canelas
Cinco anos de pesquisa no Museu Van
Gogh, em Amesterdão, bastaram
para dissipar as dúvidas que há déca-
das pairavam sobre a autoria de um
retrato de Vincent Van Gogh que faz
parte das colecções públicas norue-
guesas há mais de um século.
Auto-retrato (1889) saiu mesmo das
mãos do autor de A Noite Estrelada,
defendem agora os especialistas res-
ponsáveis pelo estudo desta pintura
em tons esverdeados e castanho-acin-
zentados que foge às cores luminosas
de muitas das obras mais celebradas
do artista.
Segundo um comunicado do
Museu Van Gogh de Amesterdão que
dá conta dos resultados da análise
técnica e estilística que esteve na base
desta investigação, o artista holandês
executou este auto-retrato meses
depois do episódio de Dezembro de
1888 em que cortou a própria orelha.
“Que se saiba, é o único trabalho que
pintou enquanto sofria de psicose”,
pode ler-se no mesmo documento.
A psicose pode deÆnir-se como a
incapacidade de distinguir entre a
experiência subjectiva e a realidade
exterior. Os doentes podem ter aluci-
nações, delírios, mudanças de com-
portamento, diÆculdade em dormir,
comportamentos inapropriados ou
falta de motivação. Os casos extremos
podem mesmo conduzir à automuti-
lação e ao suicídio.
Uma carta ao irmão Theo
O Museu Nacional de Oslo comprou
esta pintura do artista em 1910, o que
faz dela o primeiro auto-retrato de
Van Gogh a integrar uma colecção
pública. Sessenta anos depois, a sua
autoria começou a ser posta em cau-
sa devido à proveniência incerta e ao
facto de as cores usadas e o seu estilo
não serem comuns no percurso do
artista. A partir de 1970, os especia-
listas não conseguiam, sequer, acor-
dar na data e no local onde teria sido
executado, avançando como possibi-
lidades Arles, onde Van Gogh se muti-
lou, Saint-Rémy de Provence, o asilo
no Sul de França onde esteve um ano
em tratamento, e Auvers-sur-Oise, a
Este auto-retrato “representa com firmeza alguém que está mentalmente doente”, dizem os especialistas
cidade em que viria a morrer.
Apostada em clariÆcar a autoria da
pintura, em 2006 a equipa do museu
norueguês começou a tentar apurar
a sua proveniência e, oito anos mais
tarde, convidou o museu de Amester-
dão a estudar a obra.
“Com base no estilo, na técnica, no
material, na proveniência e na sua
iconograÆa incomum, os investigado-
res chegaram agora à conclusão de
que as dúvidas previamente expres-
sas são infundadas”, continua o
museu holandês no comunicado.
Este auto-retrato é também a única
obra que pode ser associada a uma
carta que o pintor dirige ao irmão,
Theo, aparentemente consciente de
que a obra pode vir a causar-lhe estra-
nheza: “[É] uma tentativa de quando
eu estava doente”, escreve.
Um ano no asilo
O estudo detalhado da pintura, feito
por uma equipa de conservadores
composta por Louis van Tilborgh,
Teio Meedendorp e Kathrin Pilz,
será publicado em Fevereiro na Bur-
lington Magazine, uma revista de
artes plásticas e decorativas.
Este auto-retrato terá pertencido
aos donos do café-estalagem de Arles
onde o artista se hospedou em 1888,
Joseph e Marie Ginoux, que o vende-
ram através de um intermediário,
oito anos mais tarde, ao marchand
parisiense Ambroise Vollard, escreve
a publicação The Art Newspaper.
Graças à análise do suporte, dos
pigmentos e da pincelada, associada
a uma paleta de tons escuros, som-
brios, Louis van Tilborgh, investiga-
dor sénior do museu holandês, está
convicto de que este auto-retrato terá
sido pintado em Agosto de 1889, no
asilo de Saint-Paul de Mausole, em
Saint-Rémy de Provence, onde Van
Gogh decidira instalar-se no início de
Maio, depois de ter estado meses
num hospital de Arles.
Van Gogh pintou e desenhou mui-
to no asilo e nos seus jardins, primei-
ro, e nas montanhas e na vila próxi-
ma, depois. Esta intensa actividade
não signiÆca, no entanto, que o artis-
ta não enfrentasse graves problemas
de saúde. Continuava mentalmente
instável, chegando a engolir tintas e
PIROSCHKA VAN DE WOUW /REUTERS
óleo de lamparina durante uma crise
psicótica que duraria um mês e
meio.
Ainda “perturbado”, a 22 de Agos-
to escreve a Theo, a presença mais
constante da sua vida, para que vol-
tasse a dar-lhe acesso aos seus mate-
riais de trabalho. Terá sido entre essa
data e o começo de Setembro que
Van Gogh pintou o retrato que duran-
te anos teve a autoria em causa,
defende a equipa de Van Tilborgh.
Pouco depois faria dois dos seus mais
famosos auto-retratos, hoje no Museu
D’Orsay, em Paris, e na National
Gallery de Washington.
Um acto corajoso
Os investigadores tiveram de encon-
trar “uma explicação” para o facto de
o auto-retrato do museu norueguês
ser tão “diferente” dos dois já men-
cionados, o que não foi fácil, disse
Tilborgh à Agência France Presse.
“Esta não é a melhor pintura que
Van Gogh fez, mas acabei por gostar
bastante dela”, reconheceu mais tar-
de ao Guardian. “Ele diz, algures, que
as suas pinturas eram por vezes gritos
de angústia. Bom, esta é um grito de
angústia. Pertence a um pequeno
grupo que revela os seus problemas
de saúde mental e a forma como lidou
ou tentou lidar com eles.”
Ao contrário das de Washington e
Paris, a pintura de Oslo “representa
com Ærmeza alguém que está mental-
mente doente”. Ao invés de optar por
pintar apenas naturezas-mortas ou
paisagens depois de mais uma crise
que o deixou deformado, o artista
teve a coragem de voltar a represen-
tar-se, e sem esconder a sua condi-
ção, sublinha o professor de História
de Arte da Universidade de Amester-
dão. O resultado é um auto-retrato
“inquietante” em que Van Gogh está
ligeiramente cabisbaixo, com o olhar
sem vida, diz Van Tilborgh.
“Embora Van Gogh tivesse medo
de admitir naquela altura que estava
num estado semelhante ao dos
outros residentes do asilo, provavel-
mente pintou este retrato para se
reconciliar com o que via no espelho:
uma pessoa que não queria ser mas
que, no entanto, era”, acrescenta o
investigador, falando desta pintura
como um instrumento terapêutico e
detendo-se na representação da ore-
lha que, oito meses antes, cortara. A
parte de cima é quase um esboço, ao
passo que a de baixo praticamente
não existe.
Ao Art Newspaper este professor
explica que o artista a terá pintado,
ao espelho, a partir daquilo que seria
o reÇexo da sua orelha direita, ainda
intacta, usando depois uma espátula
para raspar a tinta em toda a superfí-
cie do rosto para que pareça despro-
vido de vida. Resultado? “Uma pintu-
ra expressiva do sofrimento.”
Em Saint-Rémy, Van Gogh era
acompanhado pelo médico Théophi-
le Peyron, que o considerou curado
passado pouco mais de um ano, altu-
ra em que deixou o antigo mosteiro e
se Æxou em Auvers-sur-Oise, onde
viria a morrer depois de ter disparado
sobre si próprio, se de forma delibe-
rada ou não é ainda um assunto em
aberto. Tinha passado menos de um
ano da data em que pintara o auto-
retrato “angustiado” que Amesterdão
reconhece agora como seu.
lucinda.canelas@publico.pt

Streaming Disney+, com filmes
e séries Marvel e Star Wars,
chega a Portugal este Verão
Streaming
Joana Amaral Cardoso
Plataforma será uma nova
entrada num mercado
em expansão. Vai custar
6,99 euros por mês
O serviço de streaming Disney+, que
deterá o exclusivo do catálogo dos
estúdios Disney bem como da Mar-
vel, Pixar, Fox, National Geographic
e LucasÆlm, vai chegar a Portugal no
Verão deste ano, anunciou a empre-
sa ontem de madrugada. O preço da
subscrição será de 6,99 euros ou de
69,99 euros por uma assinatura
anual, indica a Disney em nota envia-
da às redacções.
Em comunicado, a Disney explica
ainda que antecipa o seu lançamen-
to para a Europa Ocidental já para 24
de Março. Portugal encontra-se num
segundo grupo, ao lado da Bélgica e
dos países nórdicos, que são remeti-
dos para o Verão sem se precisar a
data exacta de lançamento.
O Disney+ é um dos grandes agen-
tes nas actuais “streaming wars”, a
corrida dos estúdios, canais e gran-
des grupos de media norte-america-
nos pelo domínio de um mercado de
audiovisual digital inaugurado e
dominado pela NetÇix e seus cerca
de 159 milhões de assinantes. Na
semana passada, a consultora Sen-
sor Tower indicava, citada pelo jor-
nal USA Today, que desde o seu lan-
çamento o Disney+ já angariou 41
milhões de subscritores.
A sua chegada à Europa segue-se a
uma estreia nos EUA em Novembro
de 2019 (está também presen-
te no Canadá, Austrália, Nova
Zelândia e no mercado euro-
peu que lhe serviu de balão de
teste, a Holanda) marcada por
novidades como a série The
Mandalorian, a primeira
declinação televisiva em
acção real do milionário fran-
chise Star Wars. A revista espe-
cializada Hollywood Reporter
estima que a Disney esteja a
investir 21,6 mil milhões de
euros na operação de progra-
mação do Disney+.
A sua oferta incluirá origi-
nais exclusivos, como as séries
Marvel WandaVision, Loki ou
Falcon and The Winter Soldier,
magazines como The
World According To Jeff Goldblum mas
também e cada vez mais os novos Æl-
mes produzidos pelo vasto império
Disney — quando chegar ao mercado
de home video, Toy Story 4, por exem-
plo, já só estará no Disney+.
A NetÇix mudou este mercado,
que actualmente compete com a
televisão por subscrição (cabo, saté-
lite, IPTV) e com a televisão linear
ou generalista, logo em 2013 quan-
do se lançou na produção original
(com a série House of Cards) além
da sua biblioteca de Ælmes e séries
de outros produtores, canais e estú-
dios. As mudanças de hábitos de
consumo, aliadas às movimenta-
ções do mercado, tornaram o strea-
ming num terreno essencial para a
indústria de cinema, televisão e
audiovisual e nos últimos meses
sucedem-se as iniciativas de grupos
como a NBCUniversal (Comcast), a
HBO (WarnerMedia) ou, no digital,
a Apple, para produção própria e/
ou aproveitamento dos seus con-
O Disney+ é um dos
grandes agentes
nas actuais
“streaming wars”,
a corrida dos
estúdios, canais
e grupos de media
pelo domínio de
um mercado de
audiovisual digital
teúdos originais em plataformas
exclusivas.
Em Portugal estão actualmente
presentes a NetÇix, a Amazon Prime
Video, a HBO Portugal e a Apple TV+,
só para falar de operadoras estran-
geiras. Existem também serviços de
video on demand de base nacional ou
adaptados ao mercado como o Nos
Play, a Fox+, o Filmin ou a plataforma
do Canal Q, o Q Play. No que toca aos
preços, a nova plataforma chegará
no meio da tabela em relação aos
principais players: a HBO Portugal,
Amazon Prime, e NetÇix, por exem-
plo, têm mensalidades a partir de
4,99 euros, 5,99 euros e 7,99 euros,
respectivamente.
A fatia do mercado do audiovisual
dedicada ao streaming está em cres-
cimento em Portugal — que continua
a ser o país da Nos, Meo, Vodafone
ou Nowo, com a televisão por subs-
crição a ser detida por 86% das famí-
lias, segundo dados da Autoridade
Nacional de Comunicações (Ana-
com). Embora a Anacom não tenha
dados mais recentes do que o pri-
meiro semestre de 2018 sobre o
streaming, estes indicavam já que
8,1% dos indivíduos com 10 ou mais
anos eram subscritores de serviços
de vídeo streaming on demand, um
aumento de 3,6% em relação ao
mesmo período do ano anterior. O
Barómetro de Telecomunicações da
Marktest indicava por seu turno que
até Agosto de 2019 havia já 1,5
milhões de portugueses que assinam
serviços de streaming de Ælmes e
séries.
joana.cardoso@publico.pt
Imagem de
ambiente do
novo serviço
Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020 • 37
França em festa
na Casa da Música
Crítica de música
Orquestra Sinfónica do Porto
mmmmm
Casa da Música.
Baldur Brönnimann, direcção. Obras
de Boulez, Debussy e Mannoury
Porto, Casa da Música — Sala Suggia
Sábado, 18 de Janeiro, 18h
Sala quase cheia
Orquestra Barroca
mmmmm
Casa da Música.Coro
Casa da Música. Hervé Niquet,
direcção. Obras de Charpentier
Porto, Casa da Música – Sala Suggia
Domingo, 19 de Janeiro, 18h
Sala quase cheia
A festa que a Casa da Música dedicou
à abertura do “Ano França” terminou
no domingo com programas inteira-
mente preenchidos por obras de
compositores franceses e a Orquestra
Sinfónica do Porto Casa da Música
(OSPCdM) e o Coro e Orquestra Bar-
roca Casa da Música (OBCdM) estive-
ram muito perto de encher a Sala
Suggia em ambos os concertos.
Não é todos os dias que se consegue
assistir à interpretação ao vivo de
Rituel, in memoriam Bruno Maderna
[1974-5], de Pierre Boulez (1925-2016),
aspecto que poderá ter sido o ponto
alto desse concerto de música dos
séculos XIX e XX, em que Baldur
Brönnimann dirigiu a OSPCdM. Não
será uma obra tão emblemática como
Prélude à l’après-midi d’un faune
[1894], com que foi aberta a segunda
parte do concerto, mas é uma obra
muito singular no catálogo do mais
inÇuente compositor francês da
segunda metade do século XX.
Se nos detivermos na linha cronoló-
gica do programa proposto, com início
em Debussy, a evolução da música
francesa não sai propriamente favore-
cida. Sound and fury [1998-99], do
CULTURA
DR
compositor em residência Philippe
Manoury (1952), põe-nos perante um
trabalho tecnicamente bem realizado,
mas que nos faz questionar se não
haveria formas mais interessantes de
atingir a fúria que não exigisse tantas
cordas em uníssono. Pode-se sempre
argumentar que também Boulez se
serviu de uma formação invulgar (tam-
bém exigente em recursos Ænancei-
ros), mas a diferença do nível de inte-
resse suscitado por uma obra e a outra
parece inquestionável.
A OSPCdM, naquele que poderá ter
sido o último concerto da futura
Ministra da Cultura e do Turismo de
Moçambique, esteve bem, mesmo
sabendo que não foi dos dias em que
melhor revisitou aquela obra de
Debussy e que a Boulez faltou aquele
quase nada que faria com que tivesse
sido uma óptima execução.
Já Hervé Niquet, no dia seguinte,
com um programa muito mais festivo
e um bocadinho menos de público,
deixaria menos espaço para insatis-
fações. À frente do Coro Casa da Músi-
ca e da OBCdM, o maestro e cravista
fundador do agrupamento Le Con-
cert Spirituel obteve um óptimo resul-
tado sonoro, tirando partido da sin-
gularidade das vozes que a solo se
mostravam tão heterogéneas e que
em tutti formaram um poderoso e
uno instrumento. Possivelmente
melhor ainda esteve a OBCdM, cuja
prestação não deixou margem para
o menor equívoco: cordas limpas,
madeiras seguras, um órgão que, com
toda a clareza, convidou à contempla-
ção são alguns dos elementos que
distinguiram esta de algumas outras
apresentações do agrupamento.
Se a Missa “Assumpta est Maria”
H.11 foi bastante aplaudida, o célebre
Te Deum H. 146, que Niquet havia
encadeado no Ænal da Marche de
Triomphe & Second Air, H. 547, e o ges-
to conclusivo com que denunciara o
último acorde valeram-lhe uma entu-
siástica ovação, que mereceu ao
público a repetição do último núme-
ro do Te Deum. Diana Ferreira
38 • Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020
CULTURA
Guerra cultural e acefalia:
ressentimento como forma
Opinião
João Cezar de Castro Rocha
No dia 16 de janeiro, o hoje
ex-secretário da Cultura Roberto
Alvim anunciou o Prêmio Nacional
de Artes, a Æm de apoiar diversas
manifestações artísticas com uma
dotação orçamentária de 20,5
milhões de reais. Em tese, nada a
objetar; muito pelo contrário.
Porém, em seu discurso
kamikaze, o ex-diretor de teatro
não somente parafraseou um texto
de Joseph Goebbels, como também
lançou mão de uma estética
claramente associada à
propaganda nazista: música de
Richard Wagner como fundo, uma
impostação de voz que parecia
involuntariamente saída de um
número cômico, olhares e esgares
dignos de um canastrão talentoso
emulando Jack Nicholson em O
Iluminado, de Stanley Kubrick.
Melhor não falar muito do
conteúdo constrangedor das ideias
do ex-cruzado bolsonarista. Um
pequeno e assustador exemplo: “A
arte brasileira da próxima década
será heroica e será nacional (...) ou
então não será nada.”
Ironicamente, o ultranacionalismo
tropical se baseia no Discurso sobre
o Teatro, proferido por Goebbels
em 1933.
Em menos de 24 horas, em
virtude da repercussão do
episódio, um relutante Presidente
demitiu um de seus mais leais
seguidores. Ao que tudo indica, o
Presidente desejava preservá-lo em
seu cargo. Nesse caso, mais
importante do que a inevitável
demissão é o enfrentamento da
pergunta decisiva: como é possível
que alguém com as inclinações do
ex-secretário tenha chegado tão
longe?
A resposta aponta para uma
inédita guerra cultural no cenário
brasileiro, levada adiante com
entusiasmo insensato pelo Governo
de Jair Messias Bolsonaro. Para as
artes e as universidades, seu
Governo é o próprio apocalipse.
A guerra cultural bolsonarista
depende duma intepretação
profundamente equivocada da
história política brasileira;
equívoco agravado por uma
analogia delirante, que, por sua
vez, ameaça as instituições
culturais e as universidades com
uma virulência que não encontra
paralelo nem mesmo durante a
ditadura militar, iniciada com o
golpe de 1964. A maneira mais
econômica de surpreender a
inanidade intelectual da cruzada
bolsonarista consiste em analisar o
documentário 1964 — O Brasil entre
Armas e Livros.
Trata-se de documentário
revisionista realizado por uma
produtora, cujo nome é um
autorretrato involuntário do atual
Governo: Brasil Paralelo. É
importante, contudo, reconhecer o
alcance incomum de sua narrativa
conservadora da história nacional.
A produtora já atingiu nada menos
do que 20 milhões de
espectadores.
O eixo narrativo do Ælme fornece
a base teórica da guerra cultural
tupiniquim. Destaque-se o
subtítulo: ele vale por uma síntese
de todo o projeto. Eis: em 1964, os
militares tomaram o poder pelas
armas, vencendo uma batalha
decisiva, mas perderam a guerra ao
descuidar dos livros, isto é, ao
deixar de impor sua visão do
mundo no universo da cultura.
Tudo se passa como se um obscuro
acordo tivesse sido Ærmado entre
os militares e a “esquerda” — na
ideologia bolsonarista, ela é a
encarnação do Mal sem banalidade
alguma. Numa enigmática
“distensão”, a esquerda abriu mão
de disputar o poder após o fracasso
da resistência armada, e, em troca,
os generosos generais da ditadura
entregaram à esquerda a cultura e
especialmente as universidades.
Essa interpretação é tão absurda
que beira o grotesco. Dois ou três
fatos bastam para refutá-la.
Menos de dez dias depois do
golpe de Estado, os militares
promulgaram o primeiro dos Atos
Institucionais que violentaram o
que restava da ordem jurídica
nacional. No dia 9 de abril, no que
se refere à educação pública, o AI-1,
além de suspender as primeiras
semanas de aula, desencadeou a
Operação Limpeza, denominação
sutil dada pelos oÆciais do regime,
com a Ænalidade de “expurgar” as
universidades públicas de
“elementos esquerdistas”. Reitores
e professores foram cassados e
tiveram seus direitos políticos
revogados. Aliás, no dia 1 de abril, a
União Nacional dos Estudantes
(UNE) já tinha sido incendiada e
reduzida a cinzas. No mesmo 9 de
ADRIANO MACHADO/REUTERS
Eliminar os
adversários:
eis a perversão
que domina
a mentalidade
bolsonarista,
travestida na
forma de uma
guerra cultural
conduzida por
acéfalos e
ressentidos
abril, a Universidade de Brasília
sofreu a primeira de duas invasões
militares. Em 9 de novembro do
mesmo ano, um acuado Congresso
Nacional aprovou a Lei Suplicy,
extinguindo a UNE e todas as outras
inúmeras entidades estudantis.
Na esteira do AI-5, o mais infame
dos atos “jurídicos” da ditadura,
que, ao abolir o direito ao habeas
corpus, na prática liberou a tortura
como política de Estado, editou-se
em 26 de fevereiro de 1969 o
draconiano Decreto-Lei 477, que
permitia “legalmente” demitir
professores e expulsar alunos.
Como se não bastasse, o Ato
Complementar n.º 75, de outubro
do mesmo ano, bania os
professores da própria proÆssão!
Aqueles “punidos”, nos termos da
lei, “Æcam proibidos de exercer, a
qualquer título, cargo, função,
emprego ou atividades em
estabelecimento de ensino”.
Esses fatos são suÆcientes para
mostrar que o fundamento da
guerra cultural bolsonarista é uma
rematada caricatura, imaginada
por pessoas de repertório limitado
e informação wikipédica: são os
autodidatas do nada.
Mas, se o mito é o nada que é tudo,
a acefalia bolsonarista tornou
aquela caricatura a realidade das
políticas de Estado relativas à
educação e à cultura no Brasil. As
pontas se atam e Ænalmente
entendemos porque o ex-secretário
acreditou que sua patética
performance passaria incólume. A
guerra cultural liderada por
incultos que hostilizam, dia sim e o
outro também, as conjugações
verbais e a ortograÆa da língua de
Camões, tem como motor uma
analogia delirante, cujo corolário
evoca a “solução Ænal” nazista.
Ora, se em 1964 os militares
venceram a batalha das armas, mas
perderam a guerra dos livros, de
igual modo, a vitória do Messias
Bolsonaro pelo voto, demanda o
triunfo na área da cultura — ou o
sucesso eleitoral não será nada.
Como fazê-lo? Os ideólogos do
bolsonarismo não hesitam em
empregar um verbo imprudente: o
passo deÆnitivo exige eliminar a
esquerda, “inÆltrada” no aparelho
estatal. Logo, se a ditadura alvejou
indivíduos, o bolsonarismo é ainda
mais radical e busca destruir por
dentro as universidades e as
instituições culturais.
Eliminar os adversários: eis a
perversão que domina a
mentalidade bolsonarista,
travestida na forma de uma guerra
cultural conduzida por acéfalos e
ressentidos.
Professor titular de Literatura
Comparada da Universidade
Federal do Rio de Janeiro
e ensaísta
 Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020 • 39

Edif. Diogo Cão, Doca de Alcântara Norte, Tel. 21 011 10 10/20 Fax 21 011 10 30
1350-352 Lisboa
pequenosa@publico.pt
De seg a sex das 09H às 19H
Sábado 11H às 17H
CLASSIFICADOS

AVISO (Extrato) MINISTÉRIO DA SAÚDE

O Hospital de Braga, E.P.E. informa todos os possíveis interessados CENTRO HOSPITALAR UNIVERSITÁRIO Instituto Politécnico de Setúbal
(m/f) que se encontra aberto, pelo prazo de 15 dias úteis a contar da
data da públicação do aviso no Diário da Républica, procedimento DE LISBOA CENTRAL, EPE Aviso
concural no âmbito da carreira especial médica e médica, de acesso
à categoria de Assistente Graduado Sénior das Especialidades de AVISO 1 - Nos termos do n.º 2 do artigo 21.º da Lei n.º 2/2004, de
Anestesiologia (1 vaga), Radiologia (1 vaga), Cardiologia (1 vaga), Nos termos da alínea d) do n.º 1 do artigo 5.º da Portaria n.º 207/2011, 15 de janeiro, na redação atualizada, faz-se público que por
Dermatovenereologia (1 vaga), Ginecologia/Obstetrícia (1 vaga), de 2-05, republicada pela Portaria n.º 229-A/2015, de 03-08, e da alínea despacho de 16 de maio de 2019, do Professor Doutor João
conforme Aviso n.º 1054/2020, publicado no Diário da República, 2.ª c) do número 1 da cláusula 7.ª do Acordo Coletivo de Trabalho publicado Vinagre Nascimento dos Santos, à data Vice Presidente do
Série, n.º 14, de 21 de Janeiro de 2020. no Boletim do Trabalho e Emprego n.º 48, de 29-12-2011, alterado e Instituto Politécnico de Setúbal (IPS), em regime de suplên-
O Presidente do Conselho de Administração, Dr. João Oliveira republicado pelo Acordo Coletivo de Trabalho publicado no Boletim do
Trabalho e Emprego n.º 43, de 22-11-2015, e deliberação do Conselho de cia do Presidente, se encontra aberto, pelo prazo de 10 dias
Administração de 21-11-2019, faz-se público que foi publicitado pelo Aviso úteis contados a partir da data da publicitação na Bolsa de
Fundada em 1988 pelo Professor Doutor Carlos Garcia, a Associação Portuguesa de
Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer - Alzheimer Portugal é uma Instituição
(extrato) n.º. 1052/2020, inserto no Diário da República, 2.ª Série, n.º 14, de Emprego Público (BEP), procedimento concursal para pro-
Particular de Solidariedade Social. É a única organização em Portugal, de âmbito nacional, 21-01-2020, o procedimento concursal comum conducente ao recrutamento vimento do cargo de direção intermédia de 2.º grau, chefe
especificamente constituída para promover a qualidade de vida das pessoas com demência de pessoal médico, para a categoria de Assistente Graduado Sénior de
e dos seus familiares e cuidadores. Tem cerca de dez mil associados em todo o país.
Cardiologia Pediátrica da carreira médica e especial médica – área de de Divisão Informática previsto no mapa de pessoal do IPS,
Oferece Informação sobre a doença, Formação para cuidadores formais e informais, Apoio domiciliário, Apoio Social e
Psicológico e Consultas Médicas da Especialidade. exercício hospitalar, do mapa de pessoal do Centro Hospitalar Universitário publicitado no Diário da República, 2.ª série n.º 12, de 17 de
Como membro da Alzheimer Europe, a Alzheimer Portugal participa ativamente no movimento mundial e europeu sobre
as demências, procurando reunir e divulgar os conhecimentos mais recentes sobre a Doença de Alzheimer, promovendo o de Lisboa Central, EPE, cujo prazo de entrega das candidaturas é de 10 dias janeiro, por Aviso (extrato) n.º 948/2020.
seu estudo, a investigação das suas causas, efeitos, profilaxia e tratamentos. úteis, contados do dia seguinte ao da publicitação do mesmo no Diário da 2 – Os requisitos formais de provimento, o perfil exigido, a
Contactos República.
Sede: Av. de Ceuta Norte, Lote 15, Piso 3, Quinta do Loureiro, 1300-125 Lisboa - Tel.: 21 361 04 60/8 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org composição do júri, os métodos de seleção e outras infor-
Centro de Dia Prof. Dr. Carlos Garcia: Av. de Ceuta Norte, Lote 1, Loja 1 e 2 - Quinta do Loureiro, 1350-410 Lisboa - Tel.: 21 360 93 00 Para mais informações, consultar a página eletrónica do CHULC, EPE, http://
Lar, Centro de Dia e Apoio Domiciliário «Casa do Alecrim»: Rua Joaquim Miguel Serra Moura, n.º 256 - Alapraia, 2765-029 Estoril www.chlc.min-saude.pt/concursos-de-admissao-de-pessoal/, onde estão mações de interesse para a apresentação da candidatura
Tel. 214 525 145 - E-mail: casadoalecrim@alzheimerportugal.org
Delegação Norte: Centro de Dia “Memória de Mim” - Rua do Farol Nascente, n.º 47A R/C, 4455-301 Lavra disponíveis as informações complementares para formalização do processo encontram-se publicitados na BEP com o código da oferta
Tel. 229 260 912 | 226 066 863 - E-mail: geral.norte@alzheimerportugal.org
Delegação Centro: Urb. Casal Galego - Rua Raul Testa Fortunato n.º 17, 3100-523 Pombal Tel. 236 219 469 - E-mail: geral.centro@alzheimerportugal.org
de apresentação de candidaturas. OE202001/0859, no endereço www.bep.gov.pt e no portal
Delegação da Madeira: Avenida do Colégio Militar, Complexo Habitacional da Nazaré, Cave do Bloco 21 - Sala E, 9000-135 FUNCHAL Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, EPE, 21 de janeiro de 2020 do Instituto Politécnico de Setúbal, em www.ips.pt
Tel. 291 772 021 - E-mail: geral.madeira@alzheimerportugal.org
Núcleo do Ribatejo: R. Dom Gonçalo da Silveira n.º 31-A, 2080-114 Almeirim - Tel. 24 300 00 87 - E-mail: geral.ribatejo@alzheimerportugal.org O Diretor da Área de Gestão de Recursos Humanos
Núcleo de Aveiro: Santa Casa da Misericórdia de Aveiro - Complexo Social da Quinta da Moita - Oliveirinha, 3810 Aveiro
Tel. 23 494 04 80 - E-mail: geral.aveiro@alzheimeportugal.org António Pedro Romano Delgado Instituto Politécnico de Setúbal, 21 de janeiro de 2020.

TRIBUNAL JUDICIAL TRIBUNAL JUDICIAL DA COMARCA VENDA DE IMÓVEIS VENDA DE IMÓVEIS

DA COMARCA DE BRAGANÇA Concelho de Valongo – Freguesia de Alfena Concelho de Valongo – Freguesias de Ermesinde
DE LISBOA OESTE Juízo Central Cível e Criminal - J2 Tribunal Judicial da Comarca do Porto Tribunal Judicial da Comarca do Porto
Juízo Local Cível de Cascais Francisco Vidoedo
- Juiz 4 Agente de Execução
Processo: 932/19.2T8BGC Juízo de Comércio de Santo Tirso – Juiz 2 Juízo de Comércio de Santo Tirso – Juiz 2
Execução Comum
Processo: 131/20.0T8CSC Cédula n.º 5228 Referência. Interna: PE-49/2019 - Data: 15-01-2020 Proc. 1233/18.9T8STS – Insolvente: SÉRGIO ARMINDO LIMA FERREIRA Proc. 1233/18.9T8STS – Insolvente: SÉRGIO ARMINDO LIMA FERREIRA
ANÚNCIO ANÚNCIO DE VENDA Administrador da Insolvência – J. Cruz Marques Administrador da Insolvência – J. Cruz Marques
Exequente: Caixa de Crédito Agrícola Mútuo do Alto Douro, C.R.L.
Acompanhamento de Maior
Executado(s): Paulo Sérgio Lourenço Afonso e Outros Tribunal Judicial da Comarca do Porto Pelo presente anúncio se faz saber que, é posto à venda através de aceitação de
Requerente: Ministério Público Agente de Execução, Francisco Vidoedo CP 5228, com endereço profissional em Rua 5 de Juízo de Comércio de Santo Tirso – Juiz 2 propostas em carta fechada, os seguintes imóveis e valores mínimos:
Acompanhada: Maria Margarida Outubro n.º 28 – 3.º Dto. Frente, 5300-112 Bragança.
do Pezo Arranhado Nos termos do disposto no artigo 817.º do Código de Processo Civil, anuncia-se a venda Proc. 1264//18.9T8STS – Insolvente: ANA MARIA DE SOUSA CARDOSO Metade Indivisa na fração autónoma designada pela letra “U” no rés do chão
Faz-se saber que foi distribuído dos bens adiante designados: Administrador da Insolvência – Dr. Miguel Fernandes Gomes esquerdo traseiras, destinada a habitação, do tipo T-2, com arrumos no vão do
Bens em Venda
neste tribunal, o processo de Tipo de bem: Imóveis Pelo presente anúncio se faz saber que, é posto à venda através de aceitação de telhado, identificado com a mesma letra da fração, com área bruta privativa de
Acompanhamento de Maior, em DESCRIÇÃO: 101,00 m2, do prédio urbano afeto ao regime da propriedade horizontal, sito na
que é requerida Maria Margarida Os constantes das verbas n.º 1 e 2 do auto de penhora elaborado na data de 03-09-2019
propostas em carta fechada, os seguintes imóveis e valores mínimos:
do Pezo Arranhado, nascido em Verba 1: Prédio urbano em propriedade total sem andares nem divisões susc. de utilização, Prédio urbano composto de casa de rés do chão e andar, destinado a habitação, Rua Elias Garcia, nºs 1109 e 1115, da freguesia de Ermesinde, concelho de Valon-
11-04-1954, com domicílio nas Re-
situado em: Bairro de Cima, área total: 120m2, área coberta: 120m2 descrito na Conservatória com anexo, destinado a garagem e arrumos, com área coberta de 153,00 m2 e go, descrito na Conservatória dos Registos Civil, Predial, Comercial e Automóveis
do Registo Predial de Bragança sob o n.º 1386/20190718 e inscrito na matriz predial com o
sidências Montepio - Parede, Rua artigo 215 da freguesia de Nogueira, concelho de Bragança; área descoberta de 160,00 m2, sito na Rua Egas Moniz, nº 66, da freguesia de de Valongo sob o nº 858 e inscrito na matriz urbana sob o artigo nº 6154-U, titular
Marquês de Pombal, N.º 6, 2775- Verba 2: Prédio urbano em propriedade total sem andares nem divisões susc. de utilização, Alfena, concelho de Valongo, descrito na Conservatória dos Registos Civil, Predial, da Autorização de Utilização Nº 12 emitida em 24 de Janeiro de 1989 pela Câmara
265 Parede, com vista a serem situado em: Largo da Igreja, área total: 142,58m2; área coberta:68,69m2; área coberta: Comercial e Automóveis de Valongo sob o nº 511, inscrito na matriz urbana sob
definidas as medidas de acompa-
73,89m2; edifício de dois pisos e logradouro, descrito na Conservatória do Registo Predial de
o artigo nº 2356, pelo valo mínimo de € 158.400,00 (cento e cinquenta e oito mil e Municipal de Valongo, pelo valor mínimo de € 35.000,00 (trinta e cinco mil euros).
Bragança sob. º o n. º1195/20190718 e inscrito na matriz predial com artigo matricial 38.º da As propostas deverão ser enviadas, até ao próximo dia 14 de Fevereiro de 2020,
nhamento adequadas. freguesia de Quintanilha, concelho de Bragança; quatrocentos euros).
N/ Referência: 123303405 VALOR-BASE DA VENDA: As propostas deverão ser enviadas, até ao próximo dia 14 de Fevereiro de 2020, por correio registado, para o escritório do administrador da insolvência, Dr José
VERBA 1:
Cascais, 16-01-2020. VALOR-BASE: 90.000,00€ por correio registado, para o escritório do administrador da insolvência, Dr. José da Cruz Marques, sito na Rua Padre António Vieira, 5 – 3º, 1070-194 Lisboa, ou
A Juíza de Direito Será aceite, para a verba 1, a proposta de melhor preço, em montante igual ou superior a da Cruz Marques, sito na Rua Padre António Vieira, 5 – 3º 1070 – 194 Lisboa, ou entregues em mão, até 12 horas do dia 20 de Fevereiro.
76.500,00€, correspondente a 85% do valor-base.
Dr.ª Cátia Costa Santos VERBA 2: entregues em mão, até 12 horas do dia 20 de Fevereiro. Deverão ser enviadas / entregues, através de envelope fechado, dentro de outro
A Oficial de Justiça VALOR-BASE: 60.000,00€ Deverão ser enviadas / entregues, através de envelope fechado, dentro de outro envelope, com indicação no exterior de que se trata de proposta para aquisição
Maria José Ventura Será aceite, para a verba 2, a proposta de melhor preço, em montante igual ou superior a envelope, com indicação no exterior de que se trata de proposta para aquisição
51.000,00€, correspondente a 85% do valor-base. do imóvel da Massa Insolvente de SÉRGIO ARMINDO LIMA FERREIRA e deverão
Público, 22/01/2020 Tipo de bem: Veículos do imóvel das Massas Insolventes de SÉRGIO ARMINDO LIMA FERREIRA e de conter, sob pena de serem excluídas, a identificação do proponente, morada, nú-
DESCRIÇÃO: ANA MARIA DE SOUSA CARDOSO e conter, sob pena de serem excluídas, a iden- mero de contribuinte, telefone, endereço de email, valor por extenso e um cheque
Os constantes das verbas 1 e 3 do auto de penhora elaborado na data 22-07-2019:
TRIBUNAL JUDICIAL tificação do proponente, morada, número de contribuinte, telefone, endereço de
Verba 1: Veículo automóvel com matrícula 94-11-VO; ligeiro de passageiros; marca: BMW;
email, valor por extenso e um cheque à ordem da Massa Insolvente de Sérgio à ordem da Massa Insolvente de Sérgio Armindo Lima Ferreira, no montante cor-
quadro: WBABV51070PN00537; Motor: 84995465; Cilindrada: 1995; Combustível: Gasóleo;
DA COMARCA Cor: Cinzento; respondente a 20% do valor da proposta.
Armindo Lima Ferreira e de Ana Maria S. Cardoso, no montante correspondente a
DE LISBOA OESTE Verba 3: Motociclo com matrícula: 28-27-TS; Marca: Polaris; Modelo: SCRAMBLER 500; Cilin-
20% do valor da proposta. A abertura das propostas será efetuada no dia 20 de Fevereiro 2020, na morada
Juízo Local Cível de Cascais drada 499; Combustível: Gasolina; Cor: Vermelho;
- Juiz 3
VALOR BASE DA VENDA: A abertura das propostas será efetuada no dia 20 de Fevereiro de 2020, na mo- atrás indicada, pelas 15:00 horas, na presença do administrador da insolvência,
VERBA 1: querendo assistir ao ato, os interessados, credores, insolventes e proponentes,
Processo: 158/20.2T8CSC VALOR BASE: 10.500,00€ rada atrás indicada, pelas 15:00 horas, na presença dos administradores das in-
Será aceite, para a verba 1, a proposta de melhor preço, em montante igual ou superior a solvências, querendo assistir ao ato, os interessados, credores, insolventes e pro- não sendo impeditivo a falta de algum destes de se efetuar a respetiva abertura.
ANÚNCIO 8.925,00€, correspondente a 85% do valor-base.
VERBA 3:
ponentes, não sendo impeditivo a falta de algum destes de se efetuar a respetiva O imóvel / direito é vendido no estado físico e jurídico em que se encontra, livre de
Acompanhamento de Maior
Requerente: Ministério Público VALOR BASE: 2.300,00€ abertura. ónus, sendo da responsabilidade do proponente os encargos à compra, nomea-
Acompanhada: Custódia Maria
Será aceite, para a verba 2, a proposta de melhor preço, em montante igual ou superior a O imóvel é vendido no estado físico e jurídico em que se encontra, livre de ónus, damente obrigações fiscais e registos.
1.955,00€, correspondente a 85% do valor-base.
Nunes Gomes Pinelas MODALIDADE DA VENDA: Venda mediante proposta em carta fechada, a serem entregues na sendo da responsabilidade do proponente os encargos à compra, nomeadamente Caso exista mais de uma proposta de igual valor, será aberta licitação entre os
Faz-se saber que foi distribuído Secretaria da supramencionado Tribunal Judicial da Comarca de Bragança – JC Cível e Crimi- obrigações fiscais e registos.
neste tribunal, o processo de nal – Juiz 2, pelos interessados na compra, ficando como data para abertura das propostas o proponentes.
Caso exista mais de uma proposta de igual valor, será aberta licitação entre os
Acompanhamento de Maior, em dia 10 de Fevereiro de 2020, pelas 14:00 Horas.
proponentes. A escritura será efetuada, no prazo máximo de trinta dias, após reunida toda a
INTERVENIENTES ASSOCIADOS AOS BENS:
que é requerida Custódia Maria Executados: Paulo Sérgio Lourenço Afonso, NIF: 217111190; Ana Patrícia Fernandes Vieira A escritura será efetuada, no prazo máximo de trinta dias, após reunida toda a documentação necessária para o efeito, em data, hora e local a notificar o propo-
Nunes Gomes Pinelas, nascida
em 04-05-1940, nacional de Portu-
NIF: 216868882; Manuel Sérgio Afonso, NIF: 177228199; Jorge António Lourenço Afonso, NIF:
documentação necessária para o efeito, em data, hora e local a notificar o propo- nente com a antecedência mínima de quinze dias, salvo expressa dispensa dessa
225290448; Rui Alberto Vieira, NIF: 107866749 e Adélia do Carmo Fernandes, NIF: 107866757.
gal, com domicílio no Hospital Dr. INFORMAÇÃO ADICIONAL: nente com a antecedência mínima de quinze dias, salvo expressa dispensa dessa notificação por parte deste.
José de Almeida - Cascais, Av.ª Nos termos do n.º 1 do art.º 824.º C.P.Civil “os proponentes devem juntar obrigatoriamente notificação por parte deste. Qualquer situação de incumprimento imputável ao proponente, determinará a per-
com a sua proposta, como caução, um cheque visado, à ordem do Agente de Execução, no
Brigadeiro Victor Novais Gonçal- montante correspondente a 5% do valor anunciado ou garantia bancária no mesmo valor”. Qualquer situação de incumprimento imputável ao proponente, determinará a per- da dos montantes pagos seja a que título for.
ves, 2755-009 Alcabideche, com Os proponentes deverão indicar o seu nome completo, morada, números de bilhete de iden- da dos montantes pagos seja a que título for.
vista a serem definidas as medidas tidade e contribuinte e apresentar as propostas até ao dia e hora designados para a sua Se por motivos alheios à vontade do administrador da insolvência, a venda for
de acompanhamento. abertura. Se por motivos alheios à vontade dos administradores das insolvências, a venda for considerada sem efeito, por quem de direito, as quantias recebidas serão devolvi-
N/ Referência: 123356221
Mais faço constar expressamente que, no caso de serem efetuadas contra propostas presen-
ciais de valor superior à proposta em carta fechada de valor mais elevado, as mesmas serão
considerada sem efeito, por quem de direito, as quantias recebidas serão devolvi- das em singelo, não havendo lugar ao prejuízo da massa insolvente em qualquer
Cascais, 20-01-2020. também apreciadas na diligência de abertura de propostas. das em singelo, não havendo lugar ao prejuízo da massa insolvente em qualquer circunstância.
A sentença que se executa está pendente de recurso ordinário: Não circunstância.
O Juiz de Direito Está pendente oposição à execução: Não
Para mais esclarecimentos contactar o Sr. Administrador da Insolvência pelo tele- Para mais esclarecimentos contactar o Sr. Administrador da Insolvência pelo tele-
Dr. Nuno Tomás Cardoso Está pendente oposição à penhora: Não
Agente de Execução - Francisco Vidoedo fone 21 386 28 65, fax.: 21 386 27 64 ou na morada Rua Padre António Vieira, nº fone 21 386 28 65, fax.: 21 386 27 64 ou na morada Rua Padre António Vieira, nº
A Oficial de Justiça
Maria José Ventura
Rua 5 de Outubro, n.º 28, 3.º Dt.º Frente - 5300-112 Bragança
5 – 3º em Lisboa. 5 – 3º em Lisboa.
E-mail: 5228@solicitador.net - Tel/ Fax: 273 404 996
Público, 22/01/2020 Público, 22/01/2020 - 1.ª Pub. Público, 22/01/2020 - 1.ª Pub. Público, 22/01/2020 - 1.ª Pub.

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REPÚBLICA REPÚBLICA REPÚBLICA

FEDERATIVA DO BRASIL
Consulado-Geral do Brasil em Lisboa
EDITAL DE CASAMENTO
ANÚNCIO Vera Lúcia Espírito Santo Cardoso, Vi-
ce-Cônsul do Brasil em Lisboa, usando
das atribuições que lhe confere o art.º
18 da Lei de Introdução ao Código Civil,
Processo de recrutamento de um Assistente faz saber que pretendem casar ROMIL-
SON SANTOS DE ALMEIDA natural de
FEDERATIVA DO BRASIL
Consulado-Geral do Brasil em Lisboa
EDITAL DE CASAMENTO
Vera Lúcia Espírito Santo Cardoso, Vi-
ce-Cônsul do Brasil em Lisboa, usando
das atribuições que lhe confere o art.º 18
da Lei de Introdução ao Código Civil, faz
saber que pretendem casar SIDEVAL TA-
VARES DA SILVA natural de Cruz, Ceará,
FEDERATIVA DO BRASIL
Consulado-Geral do Brasil em Lisboa
EDITAL DE CASAMENTO
Vera Lúcia Espírito Santo Cardoso, Vi-
ce-Cônsul do Brasil em Lisboa, usando
das atribuições que lhe confere o art.º
18 da Lei de Introdução ao Código Civil,
faz saber que pretendem casar MAR-
CIO GUIMARÃES LINHARES natural de

Graduado Sénior de Psiquiatria Manaus, Amazonas, Brasil nascido a

12/06/1985, residente e domiciliado na
Rua Luís de Camões, n.º 13 – R/C F –
Paivas, Amora, Portugal, Código Postal:
Encontra-se publicado no Diário da República, 2845-376, nesta jurisdição consular, filho
de Carlos Francisco Farias de Almeida e
2.ª Série, procedimento concursal para o Centro de Vezenilza Santos de Almeida e MAR-
QUIRIA PINTO LEMOS natural de Borba,
Amazonas, Brasil nascida a 31/01/1988,
Hospitalar Universitário do Algarve, E.P.E., com residente e domiciliada na Rua Luís de
Camões, n.º 13 – R/C F – Paivas, Amora,
vista ao recrutamento de um Assistente Graduado Portugal, Código Postal: 2845-376, nesta
jurisdição consular, filha de Amarildo
Sénior de Psiquiatria. Moreira Lemos e de Marineide Noguei-
ra Pinto.
Apresentaram os documentos exigidos
pelo Art.º 1.525 do Código Civil.
A Diretora do Serviço de Gestão de Recursos Se alguém souber de algum impedimen-
to, oponha-o na forma da Lei. Lavrado o
Humanos presente para ser afixado em lugar visível
da Chancelaria deste Consulado-Geral.
Adriana Sabas Doralice Lincoln
Oficial de Registro Civil “ad-hoc”
Brasil nascido a 20/02/1989, residente e
domiciliado na Rua do Zaire, n.º 18 – 1.º
andar, Lisboa, Portugal, Código Postal:
1170-398, nesta jurisdição consular, filho
de Cicero Tavares de Freitas e de Fran-
cisca da Silva Tavares e ROBHERTA AL-
VES DE ALMEIDA natural de Maracanaú,
Ceará, Brasil nascida a 16/09/1990, resi-
dente e domiciliada na Rua do Zaire, n.º
18 – 1.º andar, Lisboa, Portugal, Código
Postal: 1170-398, nesta jurisdição consu-
lar, filha de Francisco Ferreira de Almeida
e de Francisca Alves de Almeida.
Apresentaram os documentos exigidos
pelo Art.º 1.525 do Código Civil.
Se alguém souber de algum impedimen-
to, oponha-o na forma da Lei. Lavrado o
presente para ser afixado em lugar visível
da Chancelaria deste Consulado-Geral.
Doralice Lincoln
Oficial de Registro Civil “ad-hoc”
São Paulo, São Paulo, Brasil nascido
a 24/04/1970, residente e domiciliado
na Rua José Flordindo, Lote 11 - 2.º D,
Cascais, Portugal, Código Postal: 2750-
401, nesta jurisdição consular, filho de
Adhemar Ivan Linhares e de Marcia
Iaconis Guimarães e DANIELA ESCARA-
BELI DE CARVALHO natural do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil nascida
a 13/07/1979, residente e domiciliada na
Rua José Florindo, Lote 11 - 2.º D, Cas-
cais, Portugal, Código Postal: 2750-401,
nesta jurisdição consular, filha de Sebas-
tião Odair Borges de Carvalho e de Eva
Escarabeli de Carvalho.
Apresentaram os documentos exigidos
pelo Art.º 1.525 do Código Civil.
Se alguém souber de algum impedimen-
to, oponha-o na forma da Lei. Lavrado o
presente para ser afixado em lugar visível
da Chancelaria deste Consulado-Geral.
Doralice Lincoln
Oficial de Registro Civil “ad-hoc”

✝
Direção de Finanças de FARO - 7081

ÉDITOS / ANÚNCIO
ÉDITOS DE 30 DIAS / ANÚNCIO DE VENDA OFEREÇA
N.º de Processo de Execução Fiscal: 1074201601040340 (e apensos) ANTÓNIO MARIA CULTURA
Identificação do Executado:
N.º de Processo de Execução Fiscal: 1074201601040340
NIF/NIPC: 506801500
BORGES FIALHO
Nome: UNIVERSAL OCEÂNICO CONSULTADORIA DE NEGÓCIOS E GESTÃO UNIPESSOAL, LDA.
Morada: R. CAPITÃO SALGUEIRO MAIA, LOTE 14 - LOJA D, APARTADO N.º 8 - LAGOS
IDENTIFICAÇÃO DO(S) BEM(NS)
DE BRITTO EDIFÍCIO
N..º da Venda: 1074.2020.12 - Fracção autónoma designada pelas letras CE, destinada a Comércio, com uma DIOGO CÃO
PARTICIPAÇÃO DE FALECIMENTO
EM BANCA divisão, localizada na Marina de Lagos, Núcleo Gil Eanes, Lote 25 a 29, R/C, 8600-315 LAGOS, inscrito na
matriz predial urbana da freguesia de São Gonçalo de Lagos, Concelho de Lagos, no ano de 1999, sob o artigo DOCA DE ALCÂNTARA
6611. A referida fracção tem a área bruta privativa de 58, 1300 m2 e o valor patrimonial atual de € 92.840,90,
atribuído nos termos do CIMI no ano de 2019. Está descrita na Conservatória do Registo Predial de Lagos, sob
Miguel Fialho de Brito, Margarida de NORTE, LISBOA
o n.º 3141/19970822-CE - Freguesia de Lagos (S. Sebastião). Aboim Borges e Francisco Maria Fia- (JUNTO AO
Executado - UNIVERSAL OCEÂNICO CONSULTADORIA DE NEGÓCIOS E GESTÃO UNIPESSOAL
LDA, NIPC 506801500
lho de Brito, participam o falecimen- MUSEU DO ORIENTE)
Processo Executivo - 1074201601040340 e apensos. to do seu irmão, cunhado e tio, cujas HORÁRIO:
Encontra-se a funcionar no local os serviços administrativos de uma empresa de venda e mediação de em-
barcações novas e usadas, sem qualquer título de ocupação conhecido, representada pelo fiel depositário na cerimónias fúnebres se realizaram 2.ª – 6.ª FEIRA: 9H – 19H
presente venda. dia 20 para Capela de Família. SÁBADO: 11H – 17H
Francisco Carlos da Silva Lima Dias, Diretor de Finanças de FARO-7081, sito em R. COMANDANTE FRAN-
CISCO MANUEL, 3 - A, faz saber que por esta Direção de Finanças, no âmbito do(s) processo(s) de execução
fiscal, infra-identificado(s), instaurado(s) para cobrança da(s) dívida(s) em baixo identificada(s), correm Éditos P.N. A.M.
de 30 dias, citando o(a) executado(a) abaixo melhor identificado(a), hoje, ausente em parte incerta, para, no
prazo de 30 (trinta) dias, contados do termo dos presentes Éditos, acrescidos da dilação de 30 (trinta) dias, Funerária de Arroios, Lda.
prevista no n.º 3 do artigo 245.º do Código de Processo Civil (CPC), querendo, deduzir oposição ou requerer Rua Lucinda Simões 1-B, Lisboa
a dação em pagamento, nos termos dos artigos 203.º n.º 1 e 201.º n.º 1, ambos do Código de Procedimento e
de Processo Tributário (CPPT).
218 137 162 e 808 101 134
INFO: 210 111 010
Processo de Execução Fiscal n.º 1074201601040340 e apensos, e outros , instaurados por dívidas de IRC, IVA,
IMI e Coimas, cujos processos podem ser consultados no Serviço de Finanças de Lagos.
Mais se faz saber que irá proceder à venda do(s) bem(ns) penhorado(s) supra-indicado(s), penhorado(s) ao(à)

✝
executado(a), abaixo identificado(a), na modalidade de «Leilão eletrónico», nos termos do artigo 248.º e se-
guintes do CPPT «e da Portaria n.º 2019/2011, de 1 de junho».
O valor-base da venda (250.º CPPT) será de € 64.988,63.
É fiel depositário(a) o(a) Sr(a) ANTÓNIO RICARDO CABRITA MARTINS, residente em LAGOS, «con-
tacto 926271894, que deverá mostrar o(s) bem(s) aos potenciais interessados (249.º/6 CPPT), entre as 09:00
horas do dia 2020-04-27 e as 15:00 horas do dia 2020-05-12.
As licitações deverão ser apresentadas via Internet, mediante acesso ao “Portal das Finanças” e autenticação
enquanto utilizador registado, em www.portaldasfinancas.gov.pt, na opção “Venda de bens penhorados”, ou
seguindo consecutivamente as opções, “Cidadãos”, “Outros Serviços”, “Venda Eletrónica de Bens”, “Leilão
Eletrónico”.
Só serão aceites licitações de valor igual ou superior ao valor-base da venda e desde que superiores a qualquer

MANUEL ANTUNES
das propostas anteriormente apresentadas para a mesma venda (n.º 2 do artigo 6.º da Portaria n.º 219/2011,
de 1 de junho).
O prazo para apresentação de propostas tem início no dia 2020-04-27, pelas 15.00 horas, e termina às 15.00
horas do dia 2020-05-12, salvo pagamento nos termos do n.º 4 do artigo 264.º do CPPT.
As propostas, uma vez submetidas, não podem ser retiradas, salvo em caso de adiamento da abertura por
mais de 90 dias (n.º 4 do artigo 5.º da Portaria n.º 219/2011, de 1 de junho e n.º 4 do artigo 893.º do Código
de Processo Civil - CPC).
BASTOS
No dia e hora designados para o termo do leilão, o Órgão de Execução Fiscal decide sobre a adjudicação do
bem (artigo 6.º da Portaria n.º 219/2011, de 1 de junho).
A totalidade do preço deverá ser depositada, à ordem do Órgão de Execução Fiscal, no prazo de 15 dias, FALECEU
contados da decisão de adjudicação, mediante guia a solicitar junto daquele órgão, sob pena de ficar sujeito às
sanções legalmente previstas [256.º/1/e) CPPT e 825.º/1/c)/2 CPC].
Caso o preço de venda seja superior a 500 unidades de conta (1 UC = € 102) e mediante requerimento funda-
Sua Esposa, Filhos, Nora, Genro e Ne-
mentado, entregue no prazo de 5 dias contados da decisão de adjudicação, poderá ser autorizado o depósito,
no prazo mencionado no parágrafo anterior, de apenas parte do preço, não inferior a um terço, e o restante no tos participam o seu falecimento. Terá
prazo máximo de 8 meses [256.º/1/f) CPPT].
O não pagamento do preço devido, no prazo legalmente determinado, impede o adjudicatário faltoso de apre- cerimónia religiosa hoje, 4ª feira pelas
sentar qualquer proposta, em qualquer venda em execução fiscal, durante um período de 2 anos (256.º/4 CPPT).
A emissão do título de transmissão depende do pagamento integral do preço e dos impostos que se mostrem 14:30 horas, seguindo-se o funeral para o
devidos, designadamente, Imposto Municipal Sobre as Transmissöes Onerosas de Imóveis, Imposto do Selo,
Imposto Sobre o Valor Acrescentado ou outros. Cemitério dos Prazeres.
Mais correm éditos de 10 dias (239.º/2 CPPT), citando os credores desconhecidos e os sucessores dos credores
preferentes para, no prazo de 15 dias, contados da data da citação, reclamarem o pagamento dos seus créditos
que gozem de garantia real sobre o(s) bem(ns) penhorado(s) acima melhor descrito(s) (240.º/1 CPPT). Agência Funerária de Telheiras
O Chefe de Finanças - Jorge Guerreiro Pereira Servilusa - Número Verde Grátis 800 204 222
(Por delegação de competências - Despacho 5467/2018, DR 106 - 2.ª Série, de 4/06/2018) Serviço Funerário Permanente 24 Horas
Público, 22/01/2020 - 1.ª Pub.

EMPREGO
INSCREVA-SE EM EM PARCERIA COM
PESQUISE EMPREGO AQUI EMPREGO.PUBLICO.PT

CINEMA
Waterworld
Fox Movies, 21h15
Aventura futurista de Kevin
Reynolds. A Terra tornou-se num
imenso oceano e os seres humanos
tiveram de se adaptar. Kevin
Costner é um perpétuo viajante
dos mares, que vai ter de defender
uma mulher ( Jeanne Tripplehorn)
e uma menina, perseguidas pelo
malévolo Deacon (Dennis Hopper),
na sua busca pelo mundo
maravilhoso de Terra Seca.
O Diário da Nossa Paixão
Hollywood, 21h30
Baseado no livro-êxito de Nicholas
Sparks, um Ælme comovente que
mostra que nunca se esquece o
primeiro amor. A história de um
homem que todos os dias lê um
diário a uma mulher, no lar de
idosos onde ambos vivem. O diário
conta as vidas de dois jovens, Noah
e Allie, de esferas sociais
diferentes, que primeiro são
separados pelos pais e mais tarde
pela Guerra. Mas quando Allie lê
no jornal uma notícia sobre Noah,
ela parte ao seu encontro. De Nick
Cassavetes, com James Garner,
Rachel McAdams e Ryan Gosling.
Réplicas
TVCine Top, 21h30
William Foster (Keanu Reeves) é
um neurocientista que trabalha em
pesquisa biomédica em Porto Rico.
Após conseguir transferir com
sucesso a consciência de um
soldado que morreu para um
andróide, recorre ao mesmo
método para trazer a sua mulher e
os seus três Ælhos de volta depois
de estes terem morrido num
desastre de viação do qual William
foi o único sobrevivente. Mas a sua
decisão acaba por trazer-lhe
inúmeras complicações. Ficção
cientíÆca por Jeèrey Nachmanoè.
DOCUMENTÁRIOS
Senna
Cinemundo, 21h10
De Asif Kapadia, um premiado
documentário, tendo reunido o
aval tanto da indústria (conquistou
os BAFTA de melhores
documentário e montagem) como
do público, que conta a trajectória
de Ayrton Senna na Fórmula 1. O
piloto brasileiro, tricampeão da
modalidade, morreu aos 34 anos
num acidente enquanto disputava
o Grande Prémio de San Marino.
Extinção
RTP2, 23h13
De Salomé Lamas (Terra de
Ninguém, Eldorado XXI), um
Televisão
lazer@publico.pt
RTP 1
6.30 Bom Dia Portugal 10.00 Praça da
Alegria 13.00 Jornal da Tarde 14.10
Bem-vindos a Beirais 15.00 A Nossa
Tarde 17.30 Portugal em Directo 19.08
O Preço Certo 19.59 Telejornal 21.00
Mesa Portuguesa... com Estrelas Com
Certeza! 21.28 Joker 22.32 Cá por Casa
com Herman José 0.06 Desliga a
Televisão 0.56 Anatomia de Grey 1.45
Janela Indiscreta 2.38 Grande
Entrevista: Ana Gomes 3.32 O Sábio
4.13 Televendas 5.59 Manchetes 3
RTP 2
6.32 Repórter África - 2.ª Edição 7.00
Espaço Zig Zag 10.54 Faça Chuva Faça
Sol 11.21 À Descoberta dos Sentidos
12.18 O Regresso de Lucas 13.05 Os
Daltons 13.21 O Amanhecer dos
Croods 13.43 O Carlos Escolhe 13.54
Folha de Sala 14.00 Sociedade Civil:
Sem Abrigo 15.03 A Fé dos Homens
15.38 Nada Será como Dante 16.10 Os
Andes Selvagens 17.01 Espaço Zig Zag
21.01 Encontra-me em Paris 21.30
Jornal 2 22.04 Folha de Sala 22.12
Patrick Melrose 23.13 Extinção 0.41
Fortitude 1.30 Sociedade Civil 2.34
Euronews 5.06 Aqui Tão Longe 5.48
Os Nossos Dias
SIC
6.00 Edição da Manhã 9.15 Alô
Portugal 10.15 O Programa da Cristina
13.00 Primeiro Jornal 14.45 Amor
Maior 16.15 Júlia 18.15 Amor à Vida
19.10 Amigos Improváveis 19.57 Jornal
da Noite 21.40 Nazaré 22.20 Terra
Brava 23.20 A Dona do Pedaço 0.20
Passadeira Vermelha 2.15 Mentes
Criminosas 3.10 Televendas
TVI
6.00 1.ª Hora 7.00 Diário da Manhã
10.14 Você na TV! 13.00 Jornal da Uma
14.45 Belmonte 15.42 Doce Tentação
16.15 A Tarde É Sua 19.13 Ver P’ra Crer
19.57 Jornal das 8 21.50 Na Corda
Bamba 23.05 Prisioneira 0.10 Mais
Transferências 1.00 Chicago Med 2.45
Mundo ao Contrário 3.15 Louco Amor
3.47 Apanha se Puderes 4.30 TV Shop
TVCINE TOP
10.00 Aquaman 12.20 Dumbo (2019)
(VP) 14.10 Miss XL 16.05 Monstros
Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald
Os mais vistos da TV
Segunda, 20
Nazaré
% Aud. Share
SIC 14,7 29,5
Terra Brava SIC 11,9 29,1
Jornal da Noite SIC 11,7 22,7
Telejornal RTP1 9,9 19,3
O Preço Certo RTP1 9,7 21,8
FONTE: CAEM
18.15 O Cavalheiro Com Arma 19.45 O
Predador (2018) 21.30 Réplicas 23.20
The Equalizer 2 - A Vingança 1.20 Cesar
Chavez 3.00 Com Estilo 4.55 Cucuy: O
Papão
FOX MOVIES
10.04 Agora Fico Bem 11.43 Sem Ti
13.14 Grace de Mónaco 14.48
Mulheres Procuram-se Para Ir a
Casamento 16.20 Ride - Na Onda 17.50
Barb Wire: Bela e Perigosa 19.19
Batman Regressa 21.15 Waterworld
23.25 Espécie Mortal 3 1.16 Baptismo
de Fogo 2.44 Força de Vingança 4.24
Espécie Mortal II
CANAL HOLLYWOOD
9.40 Zoolander 11.05 Se Eu Ficar 12.50
Carlos 15.35 Umas Férias Inesperadas
17.30 Detonação 19.40 Os Três
Mosqueteiros (2011) 21.30 O Diário da
Nossa Paixão 23.35 Centurião 1.15
Gritos 4 3.05 As Vantagens de Ser
Invisível 4.45 Um Pedacinho de Paraíso
AXN
13.29 Mentes Criminosas 15.04 O
Corpo da Mentira 17.13 Eu,
Frankenstein 18.45 Investigação
Criminal 21.15 The Blacklist 22.05
Mentes Criminosas 22.50 Ocean’s
Thirteen 0.57 Mystic River 3.20
Investigação Criminal 4.04 Arma
Mortífera 5.32 Mentes Criminosas
AXN BLACK
14.04 Código de Honra 15.53 Dia e
Noite 17.43 Predestinado 19.20 Capote
21.14 The International - A Organização
23.13 O Espião Sou Eu 0.51 O Meu
Primeiro Beijo 2.36 O Meu Primeiro
Beijo 2 4.18 Segurança Nacional (2003)
AXN WHITE
13.11 O Mentalista 13.56 Os Estagiários
15.55 Legalmente Loira 17.30 O
Mentalista 19.00 A Teoria do Big Bang
21.24 Sobrenatural 22.09 A Casa
Fantasma (VO) 23.44 Jack e Jill 1.18
Sobrenatural 2.48 The Catch 4.14 The
Catch 4.57 Psych - Agentes Especiais
FOX
11.29 Chicago P.D. 14.28 Investigação
Criminal: Los Angeles 15.59 Hawai
Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020 • 41
RTP1 13,1
RTP2 1,4
SIC 21,2
TVI
15,5
Cabo
35,9
Força Especial 17.28 C.S.I. Miami 18.57
Investigação Criminal: Los Angeles
20.32 Hawai Força Especial 22.15 FBI
23.55 Corrida Mortal 1.49 C.S.I. Miami
4.40 Investigação Criminal: Los
Angeles
FOX LIFE
10.03 Eve of Abduction 11.33 Anatomia
de Grey 13.01 Station 19 13.46 Chicago
Med 14.30 Nora Roberts: O Pântano da
Meia Noite 16.02 A Friend’s Obsession
17.35 Nora Roberts: Tributo 19.08 Lei &
Ordem: Unidade Especial 20.45
Station 19 21.30 Chicago Med 22.20
The Resident 23.11 StreetDance 2 0.48
High School Lover 2.18 Lei & Ordem:
Unidade Especial 3.43 Station 19 4.26
Chicago Med 5.08 No Limite
DISNEY
15.00 A Irmã do Meio 15.48 A Raven
Voltou 16.36 Coop & Cami 17.25
Phineas e Ferb 17.48 Star Contra as
Forças do Mal 18.35 Os Green na
Cidade Grande 19.20 Gravity Falls
20.06 Miraculous - As Aventuras de
Ladybug
DISCOVERY
17.30 A Minha Família Vive no Alasca
19.15 Desmontar a História 21.00
Controlo de Fronteiras 2.20
Desmontando o Cosmos 3.05 Já
Estavas Avisado!
HISTÓRIA
17.17 O Preço da História 20.42
Grandes Descobertas 22.15 A Comida
Que Mudou O Mundo 23.37 Grandes
Descobertas 0.23 A História Secreta
do Air Force One 1.06 A Maldição de
Oak Island 2.28 Alienígenas 4.34 A
Maldição de Oak Island
ODISSEIA
17.46 Vulcão: Destruição e Criação
18.32 Rio Resgate 19.17 Perigo Extremo
20.05 Aviões SOS Viral 20.51 Aviões
Que Mudaram o Mundo 21.38
Guerreiros do Ar 22.30 Aviões SOS
Viral 23.15 Aviões Que Mudaram o
Mundo 0.02 Guerreiros do Ar 0.54
Aviões SOS Viral 1.40 Aviões Que
Mudaram o Mundo 2.27 Perigo
Extremo 3.15 Os Nossos Sentidos a
Descoberto 4.24 Ataque e Defesa
FICAR
documentário sobre “questões de
identidade” e “conÇitos de
fronteira”, Ælmado na conturbada
região da Transnístria, que não é
oÆcialmente reconhecida como
um Estado independente. A preto
e branco, o Ælme segue Kolja, que
nasceu na União Soviética em 1990
e é um cidadão da Transnístria que
tem também passaporte russo, ao
mesmo tempo que desenha um
comentário abstracto sobre as
últimas posições políticas de
Vladimir Putin, de “guerra sem
guerra, ocupação sem ocupação”.
INFORMAÇÃO
Grande Entrevista: Ana Gomes
RTP3, 23h05
A eurodeputada Ana Gomes, que
recentemente foi absolvida num
processo de difamação movido por
Isabel dos Santos, fala sobre o
Luanda Leaks e o envolvimento da
empresária angolana, Ælha do
antigo Presidente de Angola
Eduardo dos Santos. Na entrevista,
conduzida por Vítor Gonçalves, a
jurista analisa ainda o caso Rui
Pinto e o combate à corrupção
económica e Ænanceira.
TALK-SHOW
Cá por Casa com Herman José
RTP1, 22h32
Herman José recebe Cláudia Raia
e Jarbas Homem de Mello, que
estão em Lisboa para apresentar
Conserto para Dois no palco do
Teatro Tivoli; Capicua, que tem
novo trabalho, Madrepérola;
Salvador Sobral, que entre os dias
7 e 10 de Fevereiro andará em
concertos por Lisboa, Porto e
Aveiro; Tino Costa, o histórico
músico português; e Mariana
Alvim, que acaba de lançar o livro
Estou Tramada, sobre os
entendimentos e
desentendimentos de jovens em
contexto escolar (e fora dele).
INFANTIL
Dumbo (V. Port.)
TVCine Top, 12h20
O dono de um circo em
diÆculdades económicas contrata
Holt e os seus dois Ælhos para
cuidarem de Dumbo, uma
estranha cria de elefante cujas
orelhas descomunalmente
grandes o transformaram num
motivo de chacota. Mas quando as
crianças descobrem que o
animalzinho consegue voar,
encontram ali uma maneira de
fazer o público regressar ao circo.
Mas nem tudo correrá como o
previsto…
42 • Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020
SAIR
CINEMA
Lisboa
Cinema City Alvalade
Av. de Roma, nº 100. T. 218413040
Dor e Glória M16. 13h35, 15h40; Parasitas
M14. 20h40; Que Mal Fiz Eu a Deus Agora?
M12. 13h10; A Ovelha Choné: A Quinta
Contra-Ataca M6. 13h30 (V.P./2D); Star
Wars: Episódio IX - A Ascensão de
Skywalker M12. 17h50; O Caso de Richard
Jewell M12. 15h, 17h30, 20h30; A
Despedida M12. 13h20, 15h10, 17h, 18h50,
21h10; Uma Vida Escondida M14. 15h20,
20h; Alva M12. 19h
Cinema Ideal
Rua do Loreto, 15/17. T. 210998295
Apocalypse Now - Final Cut M16. 16h; Clara
e Claire 14h10, 19h15; Parasitas M14. 21h15
CinemaCity Campo Pequeno
Centro Lazer Campo Pequeno. T. 217981420
Frozen II - O Reino do Gelo M6. 17h20 (V.
O./2D); Knives Out: Todos São
Suspeitos M12. 16h10, 21h, 23h45; A Ovelha
Choné: A Quinta Contra-Ataca M6. 15h25
(V.P./2D); Jumanji: O Nível Seguinte M12.
21h40; Star Wars: Episódio IX - A Ascensão
de Skywalker M12. 15h30, 21h15, 00h05;
Armados em Espiões M6. 13h30, 15h30,
19h35 (V.P./2D); Cats M12. 19h25; O Caso de
Richard Jewell M12. 21h45, 00h25; The
Grudge: Maldição M16. 13h30, 00h30;
Bayala M6. 17h40 (V.P./2D); Dark Waters -
Verdade Envenenada M12. 21h30, 00h10;
As Aventuras do Dr. Dolittle M6. 13h25,
15h20, 17h30, 19h45 (V.P./2D), 13h20, 15h35,
17h45, 19h40, 21h55, 00h15 (V.O./2D); Bad
Boys Para Sempre M14. 13h10, 15h45,
18h30, 21h50, 00h25; Tudo Pela Justiça
M12. 13h10, 16h, 18h50, 21h10, 24h; A
Princesa e o Dragão M6. 13h50 (V.P./2D)
Cinemas Nos Alvaláxia
Estádio José Alvalade, Cpo Grande. T. 16996
O Informador M16. 13h25, 16h20, 18h55,
21h25; Joker M14. 13h10, 16h, 18h50, 21h35;
Le Mans ‘66: O Duelo M12. 13h35, 17h,
20h35; Instinto Predador M12. 13h20,
15h35, 17h50, 21h; Knives Out: Todos São
Suspeitos M12. 14h10, 17h30, 20h50; Que
Mal Fiz Eu a Deus Agora? M12. 13h55, 16h30,
19h, 21h30; Jumanji: O Nível Seguinte M12.
13h15, 16h05, 18h45, 21h40; Star Wars:
Episódio IX - A Ascensão de Skywalker
M12. 13h50, 17h10, 20h40; Correio de Alto
Risco M16. 21h05; The Grudge: Maldição
M16. 14h05, 16h25, 19h05, 21h50; Bayala
M6. 13h40 (V.P./2D); Dark Waters - Verdade
Envenenada M12. 15h45, 18h30, 21h15; Bad
Boys Para Sempre M14. 13h10, 15h55,
18h40, 21h30; Tudo Pela Justiça M12. 14h,
17h, 21h05, 21h05
Cinemas Nos Amoreiras
Av. Eng. Duarte Pacheco. T. 16996
Parasitas M14. 18h30; Que Mal Fiz Eu a
Deus Agora? M12. 13h10, 15h50, 18h10,
20h40, 23h10; Armados em Espiões M6.
13h20, 16h10, 18h50 (V.P./2D); Mr. Jones - A
Verdade da Mentira 21h20, 24h; O Caso de
Richard Jewell M12. 12h40, 15h30, 18h40,
21h30, 00h20; A Despedida M12. 13h,
15h20, 18h, 20h50, 23h50; Dark Waters -
Verdade Envenenada M12. 12h30, 15h40,
21h40, 00h25; Tudo Pela Justiça M12.
13h30, 17h, 21h10, 00h10 ; Uma Vida
Escondida M14. 12h50, 16h40, 20h30,
00h05
Cinemas Nos Colombo
Av. Lusíada. T. 16996
O Informador M16. 13h25, 16h, 18h50,
21h20, 24h; Era Uma Vez em... Hollywood
M16. 18h; Instinto Predador M12. 13h05,
15h25, 21h25, 00h10; Frozen II - O Reino do
Gelo M6. 13h30, 15h50, 18h25 (V.P./2D);
Jumanji: O Nível Seguinte M12. 13h, 15h40,
18h40, 21h35, 00h15; Star Wars: Episódio
IX - A Ascensão de Skywalker M12. 14h,
17h10, 20h30, 23h40; The Grudge:
Maldição M16. 15h20, 17h30, 19h40, 21h50,
00h20; Bayala M6. 13h10 (V.P./2D); Dark
Waters - Verdade Envenenada M12. 20h50,
23h50; Bad Boys Para Sempre M14. 12h50,
15h30, 18h20, 21h10, 23h55; Tudo Pela
Justiça M12. 12h40, 15h35, 18h30, 21h30,
00h30; Bad Boys Para Sempre M14. Sala
Imax - 13h20, 16h10, 19h, 21h40, 00h25
Cinemas Nos Vasco da Gama
Parque das Nações. T. 16996
O Informador M16. 13h10, 16h10, 21h40,
00h30; Joker M14. 19h; Jumanji: O Nível
Seguinte M12. 12h40, 15h30, 18h20, 21h10,
00h10; Star Wars: Episódio IX - A Ascensão
de Skywalker M12. 12h10, 15h10, 21h, 24h;
The Grudge: Maldição M16. 13h20, 16h20,
19h, 21h50, 00h10; Dark Waters - Verdade
Envenenada M12. 18h10; Bad Boys Para
Sempre M14. 13h, 15h50, 18h40, 21h30,
00h20; Tudo Pela Justiça M12. 13h40,
16h40, 20h50, 23h50
Nimas
Av. 5 Outubro, 42B. T. 213574362
Vitalina Varela M12. 21h; Uma Vida
Escondida M14. 14h15; A Ilha dos Silvos
M12. 17h30; PJ Harvey: A Dog Called
Money M12. 12h30, 19h15
UCI Cinemas - El Corte Inglés
Av. Ant. Aug. Aguiar, 31. T. 213801400
O Informador M16. 14h, 16h30, 00h25;
Joker M14. 19h, 21h45; Parasitas M14.
18h40, 21h30, 00h25; Frozen II - O Reino do
Gelo M6. 13h35, 16h (V.P./2D); Knives Out:
Todos São Suspeitos M12. 00h15; La Belle
Époque M14. 13h45, 19h15; Que Mal Fiz Eu a
Deus Agora? M12. 16h35, 21h40, 00h30;
Star Wars: Episódio IX - A Ascensão de
Skywalker M12. 14h15, 17h30, 21h10,
23h30; Cats M12. 13h50; Mr. Jones - A
Verdade da Mentira 14h05, 16h40, 19h20,
21h50, 00h25; O Caso de Richard Jewell
M12. 13h30, 16h10, 18h55, 21h40, 00h25; A
Despedida M12. 14h20, 16h50, 19h10, 21h20,
00h20; Dark Waters - Verdade
Envenenada M12. 13h35, 16h15, 18h55,
21h35, 00h05; As Aventuras do Dr. Dolittle
M6. 13h55, 16h20 (V.P./2D), 14h10, 16h35,
18h50, 21h15, 23h45 (V.O./2D); Bad Boys
Para Sempre M14. 14h05, 16h45, 19h20,
21h55, 00h30; Tudo Pela Justiça M12.
13h20, 16h15, 19h05, 21h55, 00h25; Uma
Vida Escondida M14. 13h30, 17h15, 21h05,
23h50
Almada
Cinemas Nos Almada Fórum
Estr. Caminho Municipal, 1011 - Vale de
Mourelos. T. 16996
O Informador M16. 13h30, 16h10, 18h50,
21h40, 00h20; Joker M14. 17h50; Parasitas
M14. 18h; Instinto Predador M12. 13h45,
16h20, 19h10, 22h, 00h25; Knives Out:
Todos São Suspeitos M12. 14h, 20h55,
23h55; Jumanji: O Nível Seguinte M12.
12h50, 15h40, 18h40, 21h30, 00h15; Star
Wars: Episódio IX - A Ascensão de
Skywalker M12. 13h10, 16h30, 20h30,
23h50; Mr. Jones - A Verdade da Mentira
12h30, 15h15, 21h10, 24h; O Caso de Richard
Jewell M12. 13h50, 17h10, 20h45, 23h30;
The Grudge: Maldição M16. 12h45, 15h10,
20h50, 00h15; A Despedida M12. 13h,
15h45, 18h15, 21h, 00h30; Bayala M6. 12h35
(V.P./2D); Dark Waters - Verdade
Envenenada M12. 15h25, 18h10, 21h05,
00h05; Bad Boys Para Sempre M14. 12h40,
15h30, 18h20, 21h15, 00h10; Bad Boys Para
Sempre M14. Sala 4 DX - 13h40, 16h15, 19h,
21h45, 00h20; Tudo Pela Justiça M12.
12h20, 15h20, 18h25, 21h25, 23h40; Uma
Vida Escondida M14. 13h20, 17h, 20h40,
23h10
Amadora
CinemaCity Alegro Alfragide
C.C. Alegro Alfragide. T. 214221030
21 Pontes M14. 00h20; Instinto Predador
M12. 19h50, 23h45; Frozen II - O Reino do
Gelo M6. 13h15, 15h20, 17h35 (V.P./2D);
Knives Out: Todos São Suspeitos M12.
21h40, 00h20; Que Mal Fiz Eu a Deus
Agora? M12. 22h10; Jumanji: O Nível
Em estreia
lazer@publico.pt
Alva
De Ico Costa. POR/ARG/FRA.
2019. 98m. Drama, Crime. M12.
Henrique é um homem simples
que vive sozinho na sua pequena
quinta. Um dia, pega numa
caçadeira e dirige-se a uma vila
próxima, onde comete um
crime. Depois disso,
embrenha-se na Çoresta, em
fuga.
As Aventuras do Dr. Dolittle
De Stephen Gaghan. Com Tom
Holland, Robert Downey Jr.,
Emma Thompson. EUA. 2020.
106m. Comédia, Aventura. M6.
Desde a morte da mulher, há
vários anos, que o famoso
médico inglês John Dolittle se
transformou num eremita,
evitando ao máximo qualquer
contacto humano. Em
contrapartida, rodeou-se de
todo o tipo de animais, cuja
linguagem consegue
compreender. Mas quando é
contactado pela Rainha Vitória,
que se encontra muito doente,
Dolittle vê-se na obrigação de
voltar ao activo.
Bad Boys Para Sempre
De Adil El Arbi, Bilall Fallah.
Com Vanessa Hudgens, Will
Smith, Alexander Ludwig,
Martin Lawrence. EUA. 2020.
123m. Comédia, Acção. M14.
Will Smith e Martin Lawrence
estão de volta às ruas de Miami,
a dar corpo aos detectives Mike
e Marcus. Desta vez, vão
enfrentar o líder do mais
perigoso cartel de drogas a
actuar na Flórida.
PJ Harvey: A Dog Called Money
De Seamus Murphy. EUA/IRL/
GB. 2019. 94m. Documentário.
M12.
Fotojornalista que viaja o
mundo há largos anos, Seamus
Murphy trabalha com PJ Harvey
desde 2008. Em 2011, lançou-se
na realização e assinou o
complemento visual do álbum
“Let England Shake“. Uns anos
depois, levou-a em viagem pelo
Kosovo, o Afeganistão e
Washington, D.C., nos Estados
Unidos, uma experiência que
inspirou o álbum “The Hope Six
Demolition Project“, lançado
em 2016. Este documentário, a
primeira longa-metragem do
fotógrafo, junta as viagens dos
dois e a produção do álbum.
Tudo Pela Justiça
De Destin Daniel Cretton. Com
Brie Larson, Tim Blake Nelson,
Rafe Spall, Michael B. Jordan,
Jamie Foxx. EUA. 2019. 136m.
Drama. M12.
Baseado numa história real, um
Ælme dramático que adapta o
livro de memórias “Just Mercy:
A Story of Justice and
Redemption“, escrito por Bryan
Stevenson, fundador da Equal
Justice Initiative, uma
organização não lucrativa no
Alabama (EUA) que se dedica a
defender pessoas que se
encontram no corredor da
morte.
Uma Vida Escondida
De Terrence Malick. Com
Matthias Schoenaerts, Michael
Nyqvist, Bruno Ganz, August
Diehl. EUA/ALE. 2019. 174m.
Drama, Guerra. M14.
Um drama histórico assinado
por Terrence Malick que se
baseia na inspiradora vida de
Franz Jägerstätter (1907-1943),
um agricultor austríaco
condenado à morte por se ter
recusado a incorporar o exército
nazi durante Segunda Grande
Guerra.
Alva
Seguinte M12. 13h50, 16h20, 19h, 21h35,
00h10; Star Wars: Episódio IX - A Ascensão
de Skywalker M12. 13h, 15h50, 17h40,
19h40, 21h30; Armados em Espiões M6.
13h25, 15h35, 17h45, 19h55 (V.P./2D); Cats
M12. 15h20; O Caso de Richard Jewell M12.
15h30, 18h10, 21h20, 00h05; The Grudge:
Maldição M16. 00h30; Bayala M6. 13h25 (V.
P./2D); Dark Waters - Verdade Envenenada
M12. 21h, 23h40; As Aventuras do Dr.
Dolittle M6. 13h25, 15h30, 17h40, 19h35 (V.
P./2D), 13h30, 15h25, 19h50, 21h45, 23h55 (V.
O./2D); Bad Boys Para Sempre M14. 13h20,
15h55, 18h30, 21h50, 00h25; Tudo Pela
Justiça M12. 13h10, 16h, 18h50, 21h10, 24h
UCI Ubbo
Estrada Nacional 249/1, Venteira.
O Informador M16. 14h, 16h45, 19h15,
21h45; Instinto Predador M12. 19h10,
21h50; Frozen II - O Reino do Gelo M6.
13h30, 16h15 (V.P./2D); Que Mal Fiz Eu a
Deus Agora? M12. 19h15, 21h40; A Ovelha
Choné: A Quinta Contra-Ataca M6. 14h05,
16h25 (V.P./2D); Jumanji: O Nível Seguinte
M12. 13h45, 16h20, 19h10, 21h40; Star Wars:
Episódio IX - A Ascensão de Skywalker
M12. 18h20, 21h35; Armados em Espiões
M6. 13h50, 16h30 (V.P./2D); O Caso de
Richard Jewell M12. 16h, 18h45, 21h30; The
Grudge: Maldição M16. 19h05, 21h45;
Bayala M6. 13h40 (V.P./2D); Dark Waters -
Verdade Envenenada M12. 13h35, 16h15,
18h55, 21h35; As Aventuras do Dr. Dolittle
M6. 14h, 16h25 (V.P./2D), 13h20, 15h55,
18h55, 21h25 (V.O./2D); Bad Boys Para
Sempre M14. 13h40, 16h20, 19h05, 21h45;
Tudo Pela Justiça M12. 14h30, 18h, 21h30
Barreiro
Castello Lopes - Fórum Barreiro
Campo das Cordoarias. T. 212069440
O Informador M16. 21h; Jexi 19h10; Jumanji:
O Nível Seguinte M12. 13h30, 16h20, 21h20;
Star Wars: Episódio IX - A Ascensão de
Skywalker M12. 17h55; Armados em
Espiões M6. 15h35 (V.P./2D); The Grudge:
Maldição M16. 13h20; As Aventuras do Dr.
Dolittle M6. 13h30, 16h, 18h30, 21h (V.
O./2D); Bad Boys Para Sempre M14. 13h10,
15h55, 18h40, 21h25
Cascais
Cinemas Nos CascaiShopping
CascaiShopping-EN 9, Alcabideche. T. 16996
O Informador M16. 13h10, 15h40, 18h10,
20h45, 23h30; Jumanji: O Nível Seguinte
M12. 12h50, 15h50, 18h35, 21h20, 00h15;
Armados em Espiões M6. 13h40, 16h,
18h30 (V.P./2D); The Grudge: Maldição M16.
21h50, 23h10; A Despedida M12. 15h50, 18h,
20h30, 23h20; Bayala M6. 13h20 (V.P./2D);
Dark Waters - Verdade Envenenada M12.
12h45, 16h, 18h55, 21h45, 00h25; Bad Boys
Para Sempre M14. 12h40, 15h30, 18h20,
21h10, 24h; Tudo Pela Justiça M12. 12h30,
15h20, 18h15, 21h15, 00h10; Bad Boys Para
Sempre M14. Sala Imax 13h, 15h50, 18h40,
21h40, 00h20
O Cinema da Villa - Cascais
Avenida Dom Pedro I, Lote 1/2 (CascaisVilla
Shopping Center). T. 215887311
Parasitas M14. 16h15, 21h20; Que Mal Fiz Eu
a Deus Agora? M12. 13h20, 21h30; O Caso
de Richard Jewell M12. 13h40, 18h50,
21h30; A Despedida M12. 15h25, 17h30,
19h35; Dark Waters - Verdade Envenenada
M12. 14h, 16h30, 19h, 21h30; Tudo Pela
Justiça M12. 13h30, 16h10, 18h50, 21h30;
Uma Vida Escondida M14. 14h10, 17h30
Caldas da Rainha
Cineplace - Caldas da Rainha
La Vie Caldas da Rainha Shopping Center.
O Informador M16. 19h20, 21h40; Frozen II -
O Reino do Gelo M6. 16h40 (V.P./2D);
Jumanji: O Nível Seguinte M12. 18h50,
21h20; Star Wars: Episódio IX - A Ascensão
de Skywalker M12. 18h; Armados em
Espiões M6. 15h, 17h10 (V.P./2D); Bayala M6.

16h (V.P./2D); Dark Waters - Verdade
Envenenada M12. 21h10; As Aventuras do
Dr. Dolittle M6. 15h, 17h15 (V.P./2D), 19h30,
21h45 (V.O./2D); Bad Boys Para Sempre
M14. 16h30, 19h, 21h30
Carcavelos
Atlântida-Cine
R. Dr. Manuel Arriaga, Centro Comercial
Carcavelos. T. 214565653
O Caso de Richard Jewell M12. 15h, 21h30;
Dark Waters - Verdade Envenenada M12.
15h, 21h30
Sintra
Cinema City Beloura
Beloura Shopping, R. Matos Cruzadas, EN 9,
Quinta da Beloura II, Linhó. T. 219247643
Le Mans ‘66: O Duelo M12. 21h10; Frozen II -
O Reino do Gelo M6. 15h35 (V.P./2D); Knives
Out: Todos São Suspeitos M12. 18h30,
21h35; Que Mal Fiz Eu a Deus Agora? M12.
19h45, 21h55; Star Wars: Episódio IX - A
Ascensão de Skywalker M12. 15h30; O
Caso de Richard Jewell M12. 16h10, 18h50,
21h40; Bayala M6. 17h50 (V.P./2D); Dark
Waters - Verdade Envenenada M12. 15h40,
18h20, 21h20; As Aventuras do Dr.
Dolittle M6. 15h30, 17h40, 19h35 (V.P./2D),
15h25, 17h35, 19h50, 21h45 (V.O./2D); Bad
Boys Para Sempre M14. 15h55, 19h, 21h50;
Tudo Pela Justiça M12. 15h50, 18h40, 21h30
Castello Lopes - Alegro Sintra
Loja 2.21 - Alto do Forte. T. 219184352
O Informador M16. 13h20, 15h55, 18h30,
21h15; Frozen II - O Reino do Gelo M6.
13h55, 16h20 (V.P./2D); Jumanji: O Nível
Seguinte M12. 13h20, 16h, 18h45, 21h30;
Star Wars: Episódio IX - A Ascensão de
Skywalker M12. 13h, 18h05, 21h10; Armados
em Espiões M6. 18h45 (V.P./2D); The
Grudge: Maldição M16. 21h50; Bayala M6.
16h (V.P./2D); As Aventuras do Dr. Dolittle
M6. 13h30, 16h, 18h30, 21h (V.P./2D); Bad
Boys Para Sempre M14. 13h10, 15h55,
18h40, 21h25; Tudo Pela Justiça M12. 13h05,
16h, 18h55, 21h05
Leiria
Cinema City Leiria
Rua Dr. Virgílio Vieira da Cunha, Ponte das
Mestras. T. 244845071
O Informador M16. 19h30, 21h45; Jexi
20h10; Instinto Predador M12. 15h35,
17h35; Que Mal Fiz Eu a Deus Agora? M12.
21h55; Jumanji: O Nível Seguinte M12.
16h10, 21h30; Star Wars: Episódio IX - A
Ascensão de Skywalker M12. 15h30,
18h30; Armados em Espiões M6. 15h30 (V.
P./2D); O Caso de Richard Jewell M12.
21h20; The Grudge: Maldição M16.
21h40; Bayala M6. 15h50, 17h45 (V.P./2D);
As Aventuras do Dr. Dolittle M6. 15h20,
17h30, 19h40 (V.P./2D), 21h50 (V.O./2D); Bad
Boys Para Sempre M14. 16h, 17h40, 19h,
21h35; Alva M12. 19h40
Cineplace - Leiria Shopping
CC Leiria Shopping, IC2. T. 244826516
O Informador M16. 19h20, 21h40; Frozen II -
O Reino do Gelo M6. 16h40 (V.P./2D);
Jumanji: O Nível Seguinte M12. 18h50,
21h30; Star Wars: Episódio IX - A Ascensão
de Skywalker M12. 21h10; Armados em
Espiões M6. 16h50, 19h (V.P./2D); Mr. Jones -
A Verdade da Mentira 18h30; O Caso de
Richard Jewell M12. 19h10; The Grudge:
Maldição M16. 21h50; Bayala M6. 16h20 (V.
P./2D); Dark Waters - Verdade Envenenada
M12. 16h10; As Aventuras do Dr. Dolittle M6.
15h, 17h15 (V.P./2D), 19h30, 21h45 (V.O./2D);
Bad Boys Para Sempre M14. 16h30, 19h,
21h30; Tudo Pela Justiça M12. 16h30, 21h20
Loures
Cineplace - Loures Shopping
Quinta do Infantado, Loja A003.
O Informador M16. 19h20, 21h40, 00h05;
Instinto Predador M12. 19h; Frozen II - O
Reino do Gelo M6. 14h20, 16h30, 18h40 (V.
P./2D); A Ovelha Choné: A Quinta Contra-
Ataca M6. 15h20 (V.P./2D); Jumanji: O Nível
Seguinte M12. 19h, 21h30, 24h; Star Wars:
Episódio IX - A Ascensão de Skywalker
M12. 21h10; Armados em Espiões M6.
14h30, 16h40 (V.P./2D); The Grudge:
Maldição M16. 13h40; Bayala M6. 13h20,
17h20 (V.P./2D); Dark Waters - Verdade
Envenenada M12. 18h40; As Aventuras do
Dr. Dolittle M6. 12h45, 15h, 17h15 (V.P./2D),
19h30, 21h45, 00h05 (V.O./2D); Bad Boys
Para Sempre M14. 14h, 16h30, 19h, 21h30,
24h; Tudo Pela Justiça M12. 15h50, 21h20,
00h10; Uma Vida Escondida M14. 15h40,
21h10 A Princesa e o Dragão M6. 14h
(VP/2D)
Oeiras
Cinemas Nos Oeiras Parque
C. C. Oeirashopping. T. 16996
O Informador M16. 13h, 15h35, 18h10,
20h50, 23h30; Jumanji: O Nível Seguinte
M12. 13h10, 15h50, 18h30, 21h10, 23h50; Mr.
Jones - A Verdade da Mentira 18h25; O
Caso de Richard Jewell M12. 12h45, 15h30,
18h20, 21h20, 00h10; Bad Boys Para
Sempre M14. 12h50, 15h40, 18h40, 21h30,
00h20; Tudo Pela Justiça M12. 12h30,
15h25, 21h, 00h05; Uma Vida Escondida
M14. 12h40, 16h30, 20h30, 24h
Santarém
Castello Lopes - Santarém
Largo Cândido dos Reis. T. 243309340
O Informador M16. 13h15. 21h10; Frozen II -
O Reino do Gelo M6. 13h25, 15h50, 18h30
(V.P./2D); A Ovelha Choné: A Quinta
Contra-Ataca M6. 15h55 (V.P./2D); Jumanji:
O Nível Seguinte M12. 15h35. 18h20; Star
Wars: Episódio IX - A Ascensão de
Skywalker M12. 13h25, 18h05; The Grudge:
Maldição M16. 21h50; Dark Waters -
Verdade Envenenada M12. 21h05; As
Aventuras do Dr. Dolittle M6. 13h10, 16h30,
19h, 21h35 (V.P./2D); Bad Boys Para Sempre
M14. 13h20, 16h05, 18h50, 21h30; Tudo Pela
Justiça M12. 13h05, 16h, 18h55, 21h
Setúbal
Auditório Charlot
Av. Dr. Ant. Manuel Gamito, 11.
T. 265522446
Uma Vida Escondida M14. 21h30
Cinema City Alegro Setúbal
C. Comercial Alegro Setúbal. T. 265239853
O Informador M16. 17h35, 21h55, 00h20;
Joker M14. 00h30; Countdown M14. 13h30,
00h15; Jexi 19h55; Instinto Predador M12.
19h40, 00h05; Frozen II - O Reino do
Gelo M6. 13h10 (V.P./2D); Knives Out: Todos
São Suspeitos M12. 21h25; A Ovelha
Choné: A Quinta Contra-Ataca M6. 15h25
(V.P./2D); Jumanji: O Nível Seguinte M12.
13h45, 16h20, 19h, 21h35, 00h10; Star Wars:
Episódio IX - A Ascensão de Skywalker
M12. 15h20, 18h20, 21h20; Armados em
Espiões M6. 15h20, 17h30 (V.P./2D); Cats
M12. 19h45; O Caso de Richard Jewell M12.
16h, 21h40; The Grudge: Maldição M16.
21h40, 23h50; Bayala M6. 13h40, 15h40 (V.
P./2D); As Aventuras do Dr. Dolittle M6.
13h25, 15h30, 17h40, 19h35 (V.P./2D), 13h30,
15h25, 17h35, 19h50, 21h45, 23h55 (V.O./2D)
Bad Boys Para Sempre M14. 13h30, 16h10,
18h50, 21h50, 00h25; Tudo Pela Justiça
M12. 13h10, 15h50, 18h40, 21h30, 00h20
Seixal
Cineplace - Seixal
Qta. Nova do Rio Judeu.
O Informador M16. 19h20, 21h40; Instinto
Predador M12. 17h30, 19h40, 21h50; Frozen
II - O Reino do Gelo M6. 15h, 17h10 (V.P./2D);
Jumanji: O Nível Seguinte M12. 16h20,
18h50, 21h20; Star Wars: Episódio IX - A
Ascensão de Skywalker M12. 18h, 21h10;
Armados em Espiões M6. 15h50 (V.P./2D);
Bayala M6. 15h30 (V.P./2D); As Aventuras
do Dr. Dolittle M6. 15h, 17h15 (V.P./2D),
19h30, 21h45 (V.O./2D); Bad Boys Para
Sempre M14. 16h30, 19h, 21h30; Tudo Pela
Justiça M12. 15h40, 18h30, 21h20
Évora
Cinemas Nos Évora Plaza
Rua Luís Adelino Fonseca, lote 4.
O Informador M16. 13h, 15h40, 18h20, 21h;
Jumanji: O Nível Seguinte M12. 12h50,
15h30, 18h15, 21h10; Armados em Espiões
M6. 13h10, 15h50, 18h10 (V.P./2D); Dark
Waters - Verdade Envenenada M12. 20h50;
Bad Boys Para Sempre M14. 12h45, 15h20,
18h30, 21h30; Tudo Pela Justiça M12.
12h40, 15h25, 18h25, 21h20
Faro
Cinemas Nos Fórum Algarve
C. C. Fórum Algarve. T. 289887212
Jumanji: O Nível Seguinte M12. 12h40,
15h35, 18h15, 21h05; O Caso de Richard
Jewell M12. 19h20, 22h10; Bayala M6. 13h10,
15h15, 17h20 (V.P./2D); Dark Waters -
Verdade Envenenada M12. 12h50, 15h45,
18h35, 21h15, 24h; Bad Boys Para Sempre
M14. 13h, 15h55, 18h45, 21h25, 00h05 ; Tudo
Pela Justiça M12. 12h30, 15h25, 18h25,
21h35, 23h50
Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020 • 43
Albufeira
Cineplace - AlgarveShopping
Estrada Nacional 125 - Vale Verde.
O Informador M16. 17h, 19h20, 21h40;
Instinto Predador M12. 17h30, 21h50;
Frozen II - O Reino do Gelo M6. 16h (V.P./2D)
A Ovelha Choné: A Quinta Contra-Ataca
M6. 15h30 (V.P./2D); Jumanji: O Nível
Seguinte M12. 16h30, 19h, 21h30; Star
Wars: Episódio IX - A Ascensão de
Skywalker M12. 18h10, 21h20; Armados em
Espiões M6. 15h30, 17h40 (V.P./2D); Mr.
Jones - A Verdade da Mentira 18h20; O
Caso de Richard Jewell M12. 18h40; The
Grudge: Maldição M16. 19h50, 21h50; A
Despedida M12. 19h40; Bayala M6. 16h20
(V.P./2D); Dark Waters - Verdade
Envenenada M12. 21h10; As Aventuras do
Dr. Dolittle M6. 15h, 17h15 (V.P./2D), 19h30,
21h45 (V.O./2D); Bad Boys Para Sempre
M14. 16h30, 19h, 21h30; Tudo Pela Justiça
M12. 15h50, 21h20; A Princesa e o Dragão
M6. 15h10 (V.P./2D)
TEATRO
Lisboa
Cinema São Jorge
Avenida da Liberdade, 175. T. 213103400
Mário, A História de Um Bailarino no Estado
Novo Enc. Fernando Heitor. Com Flávio Gil.
De 7/1 a 28/1. 3ª e 4ª às 19h. 2ª às 19h (dia 27).
Teatro da Politécnica
Rua da Escola Politécnica, 56. T. 961960281
A Máquina Hamlet Comp.: Artistas Unidos.
Enc. Jorge Silva Melo. De 15/1 a 22/2. 3ª e 4ª
às 19h. 5ª e 6ª às 21h. Sáb às 16h e 21h.
Teatro da Trindade
Largo da Trindade, 7A. T. 213420000
Chicago Enc. Diogo Infante. De 11/9 a 29/3.
4ª, 5ª e 6ª às 21h. Sáb às 16h30 e 21h. Dom
às 16h30. Um Número Enc. André
Murraças. Com Virgílio Castelo e José
Pimentão. De 15/1 a 8/3. 4ª a Dom às 19h.
Teatro do Bairro
R. Luz Soriano, 63 (Bairro Alto). T. 213473358
Hamlet Enc. Luís Moreira. De 8/1 a 2/2. 4ª a
Sáb às 21h30. Dom às 17h. M/14.
Teatro Meridional
R. Açúcar, 64 (Poço do Bispo). T. 218689245
Ca_Minho Comp.: Teatro Meridional e
Comédias do Minho. Enc. Miguel Seabra. De
9/1 a 2/2. 4ª a Sáb às 21h30. Dom às 16h.
Teatro Nacional D. Maria II
Praça Dom Pedro IV. T. 800213250
Canto da Europa Enc. Jacinto Lucas Pires.
De 10/1 a 26/1. 4ª e Sáb às 19h30. 5ª e 6ª às
21h30. Dom às 16h30 (Sala Estúdio). M/12.
Teatro Tivoli BBVA
Avenida da Liberdade, 182. T. 213572025
Conserto para Dois - Uma Comédia
Musical Com Cláudia Raia e Jarbas Homem
de Mello. De 22/1 a 23/2. 4ª a Sáb às 21h30.
Dom às 17h. M/12. Duração: 1h50.
Teatro Villaret
Av. Fontes Pereira Melo, 30A. T. 213538586
Sincera.mente Com Jorge Mourato. De
22/1 a 26/2. 4ª às 21h30. M/16.
MÚSICA
Lisboa
Coliseu dos Recreios
R. Portas de Santo Antão, 96. T. 213240580
Madonna De 12/1 a 23/1. 3ª, 4ª, 5ª, Sáb e
Dom às 21h30 (dias 22 e 23).
Hot Clube de Portugal
Praça da Alegria, 48. T. 213619740
Alfonso de Miguel & ADM Collective
Dia 22/1 às 22h30 e 24h.
Teatro e Cinema Capitólio
Parque Mayer.
Angel Olsen De 22/1 a 23/1. 4ª e 5ª às 21h30
(com Hand Habits).
SAIR
FARMÁCIAS
Lisboa/Serviço Permanente
Curie (Palhavã) - Av. Madame Curie, 15 - A - Tel.
217270194 Ivone (Amoreiras) - Rua Silva
Carvalho, 232 - C - Tel. 213850760 Normal de
Lisboa (Baixa) - Rua da Prata, 220 - Tel.
218878342 Santa Maria (Feira Popular) - Av. 5 de
Outubro, 283-A - Tel. 217963016
Outras Localidades/Serviço Permanente
Abrantes - Sousa Trincão (S.Miguel do Rio Torto)
Alandroal - Santiago Maior, Alandroalense
Albufeira - Santos Pinto Alcácer do Sal -
Misericórdia Alcanena - Ramalho Alcobaça -
Magalhães Alcochete - Cavaquinha, Póvoas
(Samouco) Alenquer - Nobre Rito Aljustrel - Dias
Almada - Louro (Cova da Piedade) Almeirim -
Barreto do Carmo Almodôvar - Aurea Alpiarça -
Gameiro Alter do Chão - Alter, Portugal
(Chança) Alvaiázere - Ferreira da Gama, Castro
Machado (Alvorge), Pacheco Pereira (Cabaços),
Anubis (Maçãs D. Maria) Alvito - Nobre Sobrinho
Amadora - Soares Correia, Clabel (Ermesinde)
Ansião - Medeiros (Avelar), Rego (Chão de
Couce), Pires (Santiago da Guarda) Arraiolos -
Vieira Arronches - Batista, Esperança
(Esperança/Arronches) Arruda dos Vinhos - Da
Misericórdia Avis - Nova de Aviz Azambuja - Dias
da Silva, Miranda, Peralta (Alcoentre), Ferreira
Camilo (Manique do Intendente) Barrancos -
Barranquense Batalha - Moreira Padrão, Silva
Fernandes (Golpilheira) Beja - Silveira Suc.
Belmonte - Costa, Central (Caria) Benavente -
Miguens Bombarral - Hipodermia Borba -
Central Cadaval - Misericórdia Caldas da
Rainha - Freitas Campo Maior - Central Cartaxo
- Central do Cartaxo Cascais - da Amoreira, São
Pedro (Estoril), Ribeiro do Arneiro (São Domingos
de Rana) Castelo Branco - Rodrigues dos Santos
(Sarzedas) Castelo de Vide - Freixedas Castro
Verde - Alentejana Chamusca - Santa Catarina
(Carregueira), Joaquim Maria Cabeça
Constância - Vila Farma Constância,
Carrasqueira (Montalvo) Coruche - Misericórdia
Covilhã - Pedroso Cuba - Da Misericórdia Elvas -
Moutta Entroncamento - Carvalho Estremoz -
Costa Évora - Galeno Faro - Almeida, Da Penha
Ferreira do Alentejo - Salgado Ferreira do
Zêzere - Graciosa, Soeiro, Moderna (Frazoeira/
Ferreira do Zezere) Figueiró dos Vinhos -
Campos (Aguda), Correia Suc. Fronteira - Costa
Coelho Fundão - Diamantino Gavião - Mendes
(Belver), Pimentel Golegã - Lusitano Grândola -
Pablo Idanha-a-Nova - Andrade (Idanha A Nova)
Loulé - Almancil (Almancil), Chagas, Algarve
(Quarteira) Loures - Santo António dos
Cavaleiros, Banha (S. Cosme) Lourinhã - Correia
Mendes (Moita dos Ferreiros), Leal (Rio Tinto)
Mação - Saldanha Mafra - Ericeirense (Ericeira),
Rolim (S. Cosme) Marinha Grande - Moderna
Marvão - Roque Pinto Mértola - Nova de Mértola
Monchique - Moderna Monforte - Jardim
Montemor-o-Novo - Novalentejo Montijo - Nova
Circular Mora - Canelas Pais (Cabeção), Falcão,
Central (Pavia) Moura - São Miguel Mourão -
Central Nazaré - Sousa, Maria Orlanda (Sitio da
Nazaré) Nisa - São Damião Óbidos - Vital
(Amoreira/Óbidos), Senhora da Ajuda (Gaeiras),
Oliveira Odivelas - Serra, Tanara Oeiras -
Trindade Brás (Paço de Arcos) Oleiros - Martins
Gonçalves (Estreito - Oleiros), Garcia Guerra,
Xavier Gomes (Orvalho-Oleiros) Olhão - Nobre
Sousa Ourém - Leitão Ourique - Nova (Garvão),
Ouriquense Pedrógão Grande - Baeta Rebelo
Penamacor - Nova Peniche - Central Pombal -
Torres e Correia Lda. Ponte de Sor - Matos
Fernandes Portalegre - Elvas Portel -
Misericordia Portimão - Central Porto de Mós -
Lopes Proença-a-Nova - Roda, Daniel de Matos
(Sobreira Formosa) Redondo - Holon Redondo
Reguengos de Monsaraz - Moderna Rio Maior -
Ferraria Paulino Salvaterra de Magos - Costa
(Foros de Salvaterra/Salvaterra de Magos)
Santarém - Flamma Vitae Santiago do Cacém -
Corte Real São Brás de Alportel - São Brás
Sardoal - Passarinho Serpa - Central Sertã -
Lima da Silva, Farinha (Cernache do Bonjardim)
Sesimbra - Lopes Setúbal - Alice, Sália Silves -
Ass. Soc. Mutuos João de Deus Sines - Monteiro
Telhada (Porto Covo), Central Sintra - Dumas
Brousse Mem Martins (Mem Martins), Mira Sintra
(Mira Sintra), Simões Lopes (Queluz) Sobral
Monte Agraço - Moderna Sousel - Mendes
Dordio (Cano), Andrade Tavira - Central Tomar -
Dos Olivais Torres Novas - Nicolau Torres
Vedras - Quintela Vendas Novas - Nova Viana
do Alentejo - Viana Vidigueira - Costa Vila de
Rei - Silva Domingos Vila Franca de Xira -
Central de Alverca (Alverca), Roldão Vila Nova
da Barquinha - Tente (Atalaia), Carvalho (Praia do
Ribatejo), Barquinha Vila Real de Santo António -
Carrilho Vila Velha de Rodão - Pinto Vila Viçosa
- Torrinha Alvito - Baronia Ansião - Moniz
Nogueira Redondo - Alentejo
44 • Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020

JOGOS

CRUZADAS 10.864 TEMPO PARA HOJE

Horizontais: 1. Lugar de paragem informado. Grupo musical organizado
(palavra inglesa). Nocivo. 2. Destruíres principalmente por estudantes.
pelo fogo. 3. Juntar. Turvar-se. 4. Tens Símbolo de nordeste. 4. Bastão
a natureza de. Antílope russo de enfeitado com hera e pâmpanos, Viana do Bragança
focinho grosso e rombo. Abreviatura terminado em forma de pinha e que era Castelo 2º 9º
de frei. 5. Aparelho onde se faz girar o emblema de Baco. Intervalo. 5. O 6º 16º
Braga
uma peça de madeira ou metal que se mantra mais importante do Hinduísmo 2º 16º Vila Real
quer tornear. Partícula de negação. 6. e outras religiões. Adquiras. 6. Espécie
5º 10º
A tua pessoa. Prefixo (repetição). A de verdete que se forma sobre o 13º Porto
mim. 7. Nome genérico da madeira bronze antigo. Rijo. 7. Súplica. 7º 15º
empregada para alimentar a Pequeno pão de farinha ordinária. 8.
Viseu
combustão. Preposição que indica Espécie de rã arborícola. Símbolo de Guarda
1-1,5m 3º 10º
destino, fim. 8. Até agora. Interjeição miliampere. 9. Dólar americano Aveiro
0º 7º
que designa dúvida ou menosprezo. 9. (abreviatura). Quinto imperador 8º 15º Penhas
Milímetro (abrev.). Auxílio. Doutor romano. No caso de. 10. Canseira. Douradas
(abrev.). 10. Mamífero carnívoro felino, Astúcia. 11. A cor da casca da castanha. Coimbra -1º 3º
de pele mosqueada. Textualmente Porção da circunferência.
7º 14º
(adv.). 11. Que tem óleo. Diligência e Castelo
pontualidade em qualquer serviço. Depois do problema resolvido Branco
Verticais: 1. Da parte de cá. Asseado. encontre o provérbio nele inscrito Leiria 5º 11º
2. Alguns. A ti. Erradamente. 3. Estou (6 palavras). 2º 15º

Santarém
Solução do problema anterior: Portalegre
6º 14º
Horizontais: 1. Sacar. Pedal. 2. Apogeu. Mini. 3. Felá. Mi. Pus. 4. Ali. FAMÍLIA. 5. 6º 10º
Doble. Icor. 6. Ruir. Om. 7. QI. Reinado. 8. Ou. Passe. Ur. 9. Camarim. Aro. 10. Asir. Lisboa
NORMAL. 11. Remada. Nora. 7º 12º
Verticais: 1. Safado. Ocar. 2. Apelo. QUASE. 3. Colibri. Mim. 4. Agá. Lu. Para. 5. Re.
Feirar. 6. UMA. Resina. 7. IMI. Ismo. 8. Em. Ícone. Rn. 9. Diploma. Amo. 10. Anuir. Setúbal
Durar. 11. Lisa. Corola. 6º 13º Évora
Título da obra: Uma Família Quase Normal. 6º 12º
AMANHÃ

14º Beja
Sines
BRIDGE SUDOKU 8º 13º
7º 12º

Dador: Oeste 1-1,5m

pena de ir para o cabide. Problema
Vul: Todos As vazas já decorridas fornecem-nos os
dados de que precisamos para decidir a
9502 Sagres
Faro
melhor maneira de jogar, Oeste está Dificuldade: 7º 14º
NORTE 9º 14º
Ƅ A109854 marcado com o Ás e o Rei de ouros pela Fácil 16º
saída, e o ataque a copas coloca-o com
Ɔ J3 0,5-1m
a Dama de copas. Se lhe dermos tam-
Ƈ J5
ƅ K87 bém o Rei de espadas, ficará com 12 Açores
pontos e nessa altura poderia ter aberto Corvo
o leilão. Uma vez que não o fez, deve- Graciosa
mos partir do princípio de que o monar- Terceira
OESTE ESTE Flores
ca deverá estar em Este. Solução do S. Jorge 12º 16º
Ƅ 72 Ƅ KJ3 problema 9500 13º 17º
Assim, a melhor forma de continuar é
Ɔ Q1042 Ɔ K876 17º 17º
ceder a vaza para o Rei de copas, ga- Pico
Ƈ AK98 Ƈ 742
nhar a vaza seguinte com o Ás de copas, 2m
ƅ 542 ƅ A103 Faial
cortar uma copa e jogar um trunfo para
a Dama. A melhor defesa neste momen- 13º 17º
3m S. Miguel
to é jogar Rei de ouros e ouro. Balda um
SUL 12º 16º
pau do morto e faz o 10 de ouros da
Ƅ Q6 Ponta
mão, tira a Dama de espadas e joga a 17º Delgada
Ɔ A95
Dama de paus.
Ƈ Q1063 2,5m
ƅ QJ96 Seja o que for que Este faça, conseguirá Madeira Sta Maria

sempre ir ao morto, ora no Rei de paus

ora num corte de paus, para destrunfar Porto Santo
e apresentar as oito vazas que eram ne- Problema 12º 18º
Oeste Norte Este Sul cessárias para cumprir. 9503 19º
passo 2 Ƈ1 passo 2Ƅ 2
Todos passam Considere o seguinte leilão:
Dificuldade:
Oeste Norte Este Sul Médiosz Funchal
2,5-3,5m
1-1,5m 12º 18º
Leilão: Equipas ou partida livre. 1. A 1Ƈ 1Ƅ ? 19º
abertura de Norte é artificial, conhecido
por multicolor, podendo ser fraco com “Dobres negativos” – dobre ou voz? Sol Lua Nova
seis cartas de copas ou de espadas, ou Ƅ 3 Ɔ KQ1064 Ƈ 93 ƅ KJ732 Nascente 7h50
uma mão com 22 ou 23 pontos e balan-
Poente 17h46 23 Fev. 15h32
çada. 2. A resposta de Sul, em traços lar- Resposta: Marque duas copas. Solução do
gos, diz: “Parceiro, se a sua mão for fraca Potencialmente, é uma boa mão. problema 9501
com um naipe de seis cartas a espadas,
este é o nosso limite.”
Marque duas copas, planeando mostrar
os seus paus se o espaço de marcação
Marés
o permitir. Leixões Cascais Faro
Carteio: Saída: A Ƈ. Depois de fazer a
primeira vaza, Oeste ataca com uma pe- Preia-mar 00h59 3,1 00h34 3,1 00h34 3,1
quena copa para o Rei de Este. Como 13h28 3,0 13h04 3,0 13h02 3,0
continuaria?
Baixa-mar 07h15 0,9 06h52 1,1 06h44 0,9
Solução: O destino deste jogo depende 19h34 0,9 19h07 1,1 19h01 1,0
do bom manejo do naipe de trunfo, não
pode ceder duas vazas a trunfo sob João Fanha/Pedro Morbey
Fonte: www.AccuWeather.com
(bridgepublico@gmail.com) © Alastair Chisholm 2008 and www.indigopuzzles.com
 Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020 • 45

DESPORTO
Sp. Braga vence um Sporting
diminuído e garante final
O apuramento para a Änal da Taça da Liga chegou aos 90’, com um golo de Paulinho, numa altura em que
Silas já preparava a entrada do guarda-redes Renan, para defender a baliza no desempate por penáltis
HUGO DELGADO/LUSA

Sp. Braga 2
Ricardo Horta 8’, Paulinho 90’

Sporting 1
Mathieu 44’,

Jogo no Estádio Municipal de Braga

Assistência 10.047 espectadores

Sp. Braga Tiago Sá, Tormena, Bruno

Viana, Raúl Silva, Esgaio a20’,
Sequeira a17’ (Rui Fonte, 78’),
Fransérgio, João Novais (André Horta,
83’), R. Horta (Trincão, 69’), Galeno
a90’, Paulinho a79’. Treinador Rúben
Amorim.

Sporting Maximiano, Ristovski a90’,

Coates a45’, Mathieu a90’, Acuña,
Doumbia (Bolasie, 46’ a61’), Battaglia
a67’, Wendel, B. Fernandes a56’,
Camacho, Luiz Phellype (Luís Neto,
69’). Treinador Silas.

Árbitro Nuno Almeida (AF Algarve)

Positivo/Negativo

Ricardo Horta
Continua a ser dos
jogadores mais letais na
definição das jogadas e
voltou a ser decisivo.
Rúben Amorim
Este novo Sp. Braga ainda
tem por onde crescer na
transição defensiva, mas
parece já ter valências
interessantes para tão
pouco tempo de trabalho.
Silas
Reduzido a 10 jogadores,
quis que a equipa recuasse
em demasia e “colocou-se
a jeito”.
Jogadores do Sp. Braga festejam o triunfo frente ao Sporting, que lhes valeu a ida à final da Taça da Liga
Crónica de jogo
Diogo Cardoso Oliveira
O Sp. Braga é o primeiro Ænalista da
Taça da Liga. Os minhotos venceram
o Sporting, por 2-1, num jogo em que
a equipa “leonina” esteve diminuída.
Em vários sentidos. Diminuída pela
pressão asÆxiante do Sp. Braga, dimi-
nuída por Bolasie, que foi expulso, e
diminuída por si própria, com a pos-
de Bruno Fernandes, desta feita mais
adiantado no terreno e colocado na
faixa. Assim, a primeira parte mostrou
um Sp. Braga asÆxiante.
O Sporting demorou a adaptar-se a
esta pressão tão alta, mantendo os
seus padrões de saída de bola, e foi
desta forma que, aos 8’, a linha defen-
siva minhota recuperou a bola em
zona ofensiva e deixou Ricardo Horta
com espaço para Ænalizar com um
remate em arco.
REACÇÃO
O Sporting colocou uma
linha de cinco e
obrigou-nos a ter
paciência para chegar ao
golo. Mas penso que a
vitória foi justa. Queríamos
A segunda parte trouxe um jogo
mais “morno” e um Sp. Braga apos-
tado, essencialmente, nas “aventu-
ras” de Galeno, que falhou boas opor-
tunidades aos 64’ e 83’, além da já
falhada aos 36’.
Com a expulsão de Bolasie, aos 61’,
o Sporting voltou a estar subjugado
como nos primeiros minutos. A equi-
pa recuou demasiado e não mais con-
seguiu “esticar o jogo” e sair com qua-
lidade, remetendo-se à própria área.

Luiz Phellype
Sempre passivo, deu
poucas soluções aos
colegas. Outro jogo fraco.
Bolasie
Com intenção ou não, a
entrada sobre Sequeira foi
despropositada e
descuidada. Penalizou
muito o Sporting.
tura demasiado subjugada na última
meia hora. E pagou caro tudo isto,
sofrendo, aos 90’, o golo que lhe tira
a possibilidade de defender o título
na competição.
Pressão deu golo
Rúben Amorim pareceu ter pedido
ainda mais adiantamento à equipa do
que tinha feito nos últimos jogos, pos-
sivelmente por ver que, com Battaglia,
Doumbia e Wendel, a primeira fase de
construção do Sporting estaria refém
A partir da primeira meia-hora o
Sporting começou a colocar a bola de
forma mais directa, saltando a pri-
meira fase de construção, e os “leões”
exploraram o adiantamento excessi-
vo dos minhotos. Foi assim que Cama-
cho, aos 30’, e Wendel, aos 34’ e 39’,
protagonizaram boas transições.
Aos 44’, Bruno Fernandes, sempre
concentrado e capaz no passe, bateu
rapidamente um livre e, com toda a
equipa do Sp. Braga “a dormir”,
Mathieu surgiu isolado e Ænalizou.
muito ganhar nos 90’, fruto
da excelente exibição dos
jogadores. Hoje o Sp. Braga
não foi melhor, foi muito
melhor do que o Sporting,
mas sabemos que ainda
não ganhámos nada
Micael Sequeira
Treinador adjunto do Sp. Braga
E, aos 90’, numa fase em que Silas
já preparava a entrada de Renan para
o desempate por penáltis, chegou o
golo decisivo. Paulinho, de cabeça,
Ænalizou nas costas de Mathieu, que
calculou mal o tempo de salto.
O desfecho é justo pelo domínio
dos minhotos e penaliza um Sporting
pouco capaz de criar perigo e sair das
amarras montadas por Rúben Amo-
rim neste novo Sp. Braga.
diogo.oliveira@publico.pt
46 • Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020

DESPORTO

V. Guimarães e FC Porto numa

competição que nada lhes tem dado
A Taça da Liga tem sido um pesadelo para vitorianos e portistas, sedentos de uma conquista na prova
que tem ganho peso em Portugal. Hoje (19h45), em Braga, alguém voltará a falhar nesta competição
FERNANDO VELUDO/LUSA

Futebol nacional
Diogo Cardoso Oliveira
Entre os cinco clubes mais pujantes
deste milénio na Liga portuguesa,
Vitória de Guimarães e FC Porto são
os que menos têm tirado da Taça da
Liga. Enquanto BenÆca, Sporting e
Sp. Braga já venceram esta competi-
ção, vitorianos e portistas continuam
a passar por ela sem brilho. Motivo
suÆciente para que, hoje (19h45), a
meia-Ænal da Taça da Liga, entre V.
Guimarães e FC Porto, signiÆque
mais do que uma passagem à Ænal.
SigniÆca, acima disso, lutar por fazer
história nos respectivos museus.
Sendo certo que a Taça da Liga é
apenas a terceira competição mais
importante do país, poucos negarão,
porém, que a prova está em claro
crescimento, sobretudo com o tra-
balho feito no formato Ænal a quatro.
Também por isso a conquista desta
prova não é algo de se enjeitar em
qualquer dos lados. O FC Porto que-
rerá quebrar a “maldição” desta
prova, depois de duas Ænais e cinco
meias-Ænais perdidas em 12 edições,
enquanto o Vitória chegou, apenas,
a duas meias-Ænais.
No Vitória há, ainda, outro aspec-
to relevante: com a Taça de Portugal
perdida, a Liga Europa Ænalizada e
a difícil luta europeia no campeona-
to, a Taça da Liga pode ser, para os
minhotos, o colorido adicional que V. Guimarães e FC Porto defrontam-se hoje, nas meias-finais da Taça da Liga, competição que nenhuma das equipas venceu ainda
lhes falta na temporada.
de pontos perdidos seguiram-se de postura das equipas. É que os
FC Porto reage bem triunfos em cinco deles. números dizem que V. Guimarães e
O FC Porto chega a este jogo com o O Vitória, por outro lado, chega a FC Porto são as duas formações que,
tradicional favoritismo teórico, mas este jogo num momento “morno”. em Portugal, mais tempo passam no
em claro momento delicado do pon- Pouco concretizadora, a equipa tem meio-campo dos adversários e são a
to de vista mental. Na antevisão des- mostrado mais capacidade a criar segunda e terceira que mais remates
te jogo — que se segue à derrota
Temos tido É sempre melhor jogadas do que a Ænalizá-las, algo que fazem por jogo — dados que poderão
caseira frente ao Sp. Braga, no cam- tanta qualidade trabalhar em cima poderá pesar num jogo a eliminar indicar uma partida ofensiva e com
peonato — Sérgio Conceição assumiu como é este frente ao FC Porto. O várias oportunidades de golo.
que “é sempre melhor trabalhar em
de jogo e tantas de vitórias (...) treinador, Ivo Vieira, abordou-o. Outro aspecto que poderá ter
cima de vitórias do que de resultados oportunidades não sou hipócrita “Não temos tido resultados abonató- relevância é o peso das bolas para-
negativos”. E acrescentou: “Não sou rios contra as equipas ditas “gran- das. O FC Porto é, de longe, a equipa
hipócrita para dizer que está tudo
de golo como as para dizer que está des”. Nós também somos e temos de que mais aproveita esses lances,
bem e tudo extremamente feliz.” equipas ‘grandes’, tudo bem e tudo equilibrar essa questão. Temos tido enquanto o Vitória é a terceira equi-
Mas Conceição poderia ter dado tanta qualidade de jogo e tantas pa da Liga mais frágil a defender
uma resposta mais contundente e
mas a diferença extremamente oportunidades como essas equipas, jogadas deste tipo. E nestes dois
baseada em números. É que, nesta faz-se nos golos feliz mas a diferença faz-se nos golos”, aspectos pode decidir-se quem sor-
temporada, o FC Porto tem sido cate- apontou, antes desta meia-Ænal. rirá em Braga.
górico a recuperar de momentos Ivo Vieira Sérgio Conceição Uma meia-Ænal na qual pode espe-
animicamente negativos: a seis jogos Treinador do V. Guimarães Treinador do FC Porto rar-se um duelo curioso em termos diogo.oliveira@publico.pt

Portugal perde
e está fora das
“meias” do Europeu
Andebol
David Andrade
A selecção portuguesa
chegou ao intervalo a
vencer a Eslovénia, mas
cometeu erros no ataque
que custaram a derrota
Do outro lado estava uma selecção
que marca presença no 12.º Europeu
em 14 possíveis, que tinha vencido o
Grupo F da ronda preliminar com
vitórias em todos os jogos e tinha ao
seu dispor jogadores da qualidade de
Ferlin, Dolenec ou Zarabec, mas
durante 45 minutos Portugal mostrou
ter trunfos para vencer mais um favo-
rito no Campeonato da Europa e che-
gar ao último dia do Grupo II da ronda
principal na luta por um lugar nas
meias-finais. Porém, um último quar-
to de jogo repleto de erros ofensivos
deitou por terra qualquer esperança
portuguesa. Com a derrota frente à
Eslovénia, por 29-24, Portugal está
fora do top-4, embora ainda possa
alcançar a sua melhor classificação de
sempre na prova.
Em Malmo, na Suécia, a equipa
comandada por Paulo Pereira não
acusou a pressão de estar obrigada a
vencer para manter as possibilidades
de chegar às meias-finais e a 10 minu-
tos do final da primeira parte, liderava
o marcador, por 11-9. Os portugueses,
no entanto, exibiam já dificuldades no
ataque, permitindo intercepções de
bola aos eslovenos, que aproveitaram
para assumir o comando (14-12).
Os erros ofensivos iam sendo, toda-
Portugal perdeu o controlo do jogo na segunda parte
via, camuflados por Alfredo Quintana,
que com mais uma exibição de grande
nível, permitiu que Portugal chegasse
ao intervalo na frente, por um golo
(15-14).
Na segunda parte bastaram 30
segundos para que surgisse o primei-
ro turnover português (no final foram
14 para Portugal, contra seis dos eslo-
venos), mas Quintana manteve a
selecção portuguesa na discussão da
vitória até aos 45 minutos, altura em
que a Eslovénia reassumiu a liderança
(22-21).
A partir daí, os jogadores da equipa
nacional começaram a denotar muito
nervosismo e não conseguiram tirar
proveito do 7x6 no ataque, enquanto
a formação liderada pelo sueco Lju-
bomir Vranjes, quase sempre com
Dolenec em evidência — o jogador do
Barcelona foi o homem do jogo —,
mostrava-se mais eficiente no ataque,
conseguindo nos últimos 15 minutos
um decisivo parcial de 8-3.
No final, Paulo Pereira admitiu
algum “amargo na boca” depois de
um jogo onde perdeu “o controlo na
segunda parte”, mas garantiu que
hoje, contra a Hungria (15h), Portugal
vai “lutar outra vez”: “Do que depen-
der de nós vamos tentar manter-nos
focados mais tempo do que estivemos
hoje [ontem]. À medida que vamos
avançando instala-se também a fadi-
ga mental, que está a obrigar-nos a
fazer coisas que, provavelmente, ain-
da não estamos preparados para
fazer”, analisou o seleccionador por-
tuguês, que coloca agora como objec-
tivo “ficar nos sete primeiros”.
dandrade@publico.pt
ANDREAS HILLERGREN/REUTERS
Breves
Violência no desporto
Conselho de
Disciplina instaura
processo ao Sporting
O Conselho de Disciplina (CD)
da Federação Portuguesa de
Futebol (FPF) instaurou ontem
um processo disciplinar ao
Sporting, na sequência dos
incidentes registados no
encontro com o Benfica, da I
Liga. A instauração do
processo aos “leões” consta
do mapa de castigos da 17.ª
jornada da I Liga, divulgado
ontem no site oficial da Liga
Portuguesa de Futebol
Profissional na Internet.
Durante o encontro, que o
Benfica venceu por 2-0, com
dois golos de Rafa, o árbitro
Hugo Miguel foi obrigado a
interromper a partida durante
mais de cinco minutos, no
início da segunda parte,
devido ao arremesso de tochas
e potes de fumo para o relvado.
Violência no desporto
TAD mantém jogo à
porta fechada na Luz,
Benfica recorre
O Tribunal Arbitral do
Desporto (TAD) considerou
improcedente o recurso do
Benfica ao castigo de disputar
um jogo de futebol à porta
fechada, uma decisão que vai
ser alvo de recurso do clube
para o Tribunal Central e
Administrativo do Sul,
adiantou ontem fonte oficial
do Benfica. Em primeira
instância o Conselho de
Disciplina (CD) da Federação
Portuguesa de Futebol (FPF)
deliberou punir o clube da Luz
com a pena de um jogo à porta
fechada e de uma multa de
11.475 euros. Em causa está o
comportamento dos adeptos
“encarnados” na visita ao
terreno do Estoril, em 21 de
Abril de 2018, “traduzido no
arremesso de algumas tochas
para o terreno de jogo”.
Público • Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020 • 47
A jogar em casa, Nick Kyrgios entrou a ganhar no Open da Austrália
Nova perspectiva
ajuda Nick Kyrgios
a vencer
Ténis
Pedro Keul
João Sousa foi eliminado
do Open da Austrália
no seu primeiro encontro
na competição
Horas depois de anunciar que ia dupli-
car o valor a doar às vítimas dos incên-
dios por cada ás que Æzer no torneio
— para 200 dólares australianos —,
Nick Kyrgios fez a sua estreia nesta
edição do Open da Austrália, na Mel-
bourne Arena como tinha pedido.
Embora seja o terceiro court mais
importante em Melbourne Park, com
capacidade para 7500 espectadores,
a proximidade dos adeptos cria um
ambiente único, bastante útil para os
jogadores da casa. Kyrgios correspon-
deu ao apoio que recebeu, ultrapassou
o primeiro adversário, assinou 14 ases
e conÆrmou que está com outra ambi-
ção para a sua carreira.
Ainda a cumprir os seis meses de
pena suspensa de 16 semanas, devido
ao seu comportamento no torneio de
Cincinnati, no Verão passado, o 26.º
jogador do ranking mostrou-se bastan-
te concentrado, mesmo quando o
italiano Lorenzo Sonego (53.º) o obri-
gou a discutir dois sets no tie-break.
Mas em pouco mais de duas horas,
Kyrgios celebrou a vitória, por 6-2, 7-6
(7/3) e 7-6 (7/1).
“Estou a jogar por muito mais do
que eu. É uma questão de perspectiva:
por que hei-de Æcar louco no court,
com tudo o que se está passar?”, ques-
tionou o australiano de 24 anos, que
iniciou a angariação de fundos para o
WildÆre Relief Fund na comunidade
DESPORTO
DAVE HUNT/EPA
tenística. No Ænal do encontro, Kyrgios
recebeu um incentivo extra do antigo
número um mundial (e seu grande
admirador) John McEnroe, que anun-
ciou ir doar mil dólares por cada set
que o tenista “aussie” ganhar nas pró-
ximas rondas.
Rafael Nadal, Daniil Medvedev,
Dominic Thiem, Alexander Zverev e
Stan Wawrinka avançaram igualmen-
te para a segunda ronda, tal como a
grande esperança do ténis italiano,
Jannik Sinner.
O tenista de 18 anos, que há um ano
estava a competir no circuito ITF fora
do top-500, realizou uma época notá-
vel em 2019, encerrada com o triunfo
nas Next Gen ATP Finals — que reúne
os melhores tenistas com menos de 22
anos — e o 78.º posto no ranking mun-
dial. Na sua estreia absoluta no Open
da Austrália, Sinner obteve a primeira
vitória em quadros principais do
Grand Slam, batendo Max Purcell
(216.º) por 7-6 (7/2), 6-2 e 6-4.
Pelo caminho Æcou também João
Sousa (59.º), eliminado pelo argentino
Federico Delbonis (76.º), com os par-
ciais de 6-3, 6-4 e 7-6 (7/3).
No torneio feminino, os espectado-
res da Rod Laver Arena podem ter
testemunhado a última exibição de
Maria Sharapova no Open da Austrá-
lia. A disputar apenas o segundo
encontro desde que foi eliminada por
Serena Williams no Open dos EUA
— devido aos problemas crónicos no
ombro direito — a campeã de 2008
elevou o nível desde que Donna Vekic
vencia o set inicial, por 5-1, para coman-
dar o segundo set por 4-1, mas acusou
a falta de competição e a croata recu-
perou para vencer, por 6-3, 6-4.
pkeul@publico.pt
Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2020

BARTOON LUÍS AFONSO

CONSOANTE MUDA

Crónica de uma absolvição anunciada

aqui: à medida em que cada lado, e
o país, foi Æcando mais surdo,
aquilo que só se fazia uma vez em
cada dois séculos (o impeachment
de Andrew Johnson) passou a
fazer-se duas vezes a cada geração
Rui Tavares
direita à esquerda, discutem com
imensa seriedade uma parte de
uma frasezinha escrita no século
XVIII — “altos crimes e
contravenções” — na tentativa de
cernir com exatidão impossível o
Para começo de conversa, no Aquilo que a partidarização
século XVIII, os pais fundadores criou a polarização agravou. Como
não só não tinham pensado que o hoje nenhum senador republicano
Senado fosse dominado por ou democrático pode ser visto a
partidos políticos, como tinham concordar com o adversário sobre
feito tudo para evitar que houvesse se o aquecimento global é um facto

B
(os impeachments de Clinton e
Trump) e a continuar assim far-se-á
oston, Massachusetts, EUA. uma vez a cada mandato. Mas
— Chego no primeiro dia do servirá de pouco, porque o próprio
julgamento de Trump no mecanismo de impeachment dá
Senado dos EUA, e seria fácil sinais de esvaziamento.
começar pelo tom Reparem, não estou com isto a
grandiloquente dos dias dizer que a presidência de Trump
históricos. AÆnal, é apenas a não é histórica (pelas piores
terceira vez em mais de 200 anos razões, em meu entender) e que os
de independência que um atos do Presidente não são graves e
Presidente dos EUA chega a este até criminosos. O seu abuso de
ponto em que é considerada a sua poder e a forma como ele corrói o
“remoção” (tecnicamente, a cargo e a Constituição são
“impugnação” ou impeachment de claríssimos — usar dinheiro dos
Trump já se deu na Câmara de contribuintes para pressionar um
Representantes, faltando ao governo estrangeiro a investigar
Senado considerar as penas um adversário político e depois
associadas, que poderão ser de usar o seu poder executivo para
“remoção” do cargo e impedir funcionários do estado de
eventualmente “desqualiÆcação” testemunhar sobre isso — mas o
de exercer futuros cargos). Mas resultado do processo só pode ser
não, nada há que nos faça sentir um e extremamente previsível: a
que este dia é mais do que apenas o absolvição. Trump tem a maioria
habitual hiperventilar dos dos senadores e no fundo é apenas
polarizadíssimos órgãos de isso que conta.
comunicação social O debate constitucional nos
estado-unidenses. Há sempre uma EUA, não só por estes dias mas
discussão a altos decibéis entre sempre, é extremamente curioso.
democratas e republicanos por Todos os canais de televisão, da
que queriam dizer com essa
expressão umas dezenas de
homens já mortos há muito tempo.
Mas a maior parte das vezes
esquecem-se de que no tempo em
que a Constituição foi escrita não
havia ainda crimes ou
contravenções deÆnidos na Lei
Federal (a Constituição é de
1789-90, o suborno só passou a ser
crime federal em 1837) e que por
isso os “pais fundadores” optaram
pela solução mais simples: “altos
crimes e contravenções” signiÆca
aquilo que os senadores quiserem
que signiÆque no momento do
julgamento.
Ou seja, ao mesmo tempo que o
país se dedica à obsessão de saber
qual é o “sentido original” de
qualquer coisa escrita na
Constituição, também opta por um
esquecimento quase amnésico em
relação ao mecanismo pelo qual
esse sentido original se revela. É
que o Senado dos EUA de hoje não
tem nada, mas mesmo
rigorosamente nada, que ver com o
que os pais fundadores
conceberam.
partidos políticos no sentido cientíÆco, quanto mais sobre se o
moderno do termo. Em segundo seu Presidente é um corrupto
lugar, na mente deles, seria criminoso ou um auto-descrito
inconcebível que os senadores “génio estável”, é praticamente
fossem eleitos (só o são desde 1913, impossível que o julgamento de
em primeiro lugar no estado de impugnação resulte em qualquer
Oregon, é só depois disso resultado que não seja já
federalmente) e até foi antecipado pelos números dos
completamente proibido que os senadores na sala. E, como os
senadores pudessem fazer republicanos têm a maioria,
campanha para aceder ao cargo. Trump será absolvido. A não ser
Na época constituinte, o que os que seja visto a assassinar um
fundadores queriam para os adversário político em direto na
senadores é que eles fossem Sala Oval da Casa Branca e mesmo
homens (todos homens) velhos, assim não sei se os seus apoiantes
alegadamente sábios, e escolhidos não saltariam em coro a gritar que
pelos congressos dos estados pela em 1800 e troca o passo Aaron Burr
sua probidade e imparcialidade, e não foi exonerado de
que fosse nessa condição que vice-presidente depois de matar
julgassem o Presidente se Alexander Hamilton. Tais são os
necessário fosse. Mas durante o milagres da dissociação cognitiva
século XIX cada vez mais o cargo que a polarização cria nas mentes
de senador se tornou uma sectárias...
mercadoria a ser vendida ao maior Portanto, não. Cheguei aos EUA
pagador pelos governadores dos num dia histórico, mas não se
estados e a eleição democrática sente como um dia histórico. Será
dos senadores resolveu esse só o início de algo interessante, e
problema mas partidarizou irei escrevendo sobre isso.
inevitavelmente o cargo de
senador. Historiador

Esta informação não dispensa a

consulta da lista oficial de prémios Euromilhões 10 11 24 36 46 3 5 1.º Prémio
17.000.000€
Contribuinte n.º 502265094 | Depósito legal n.º 45458/91 | Registo ERC n.º 114410 | Conselho de Administração - Presidente: Ângelo Paupério Vogais: Cláudia Azevedo, Ana Cristina Soares e João Günther Amaral
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E-mail publico@publico.pt Estatuto Editorial publico.pt/nos/estatuto-editorial Lisboa Edifício Diogo Cão, Doca de Alcântara Norte, 1350-352 Lisboa; Telef.:210111000 (PPCA); Fax: Dir. Empresa 210111015; Dir. Editorial
210111006; Redacção 210111008; Publicidade 210111013/210111014 Porto Rua Júlio Dinis, n.º270, Bloco A, 3.º, 4050-318 Porto; Telef: 226151000 (PPCA) / 226103214; Fax: Redacção 226151099 / 226102213; Publicidade,
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Detentor de 100% de capital: Sonaecom, SGPS, S.A. Impressão Unipress, Travessa de Anselmo Braancamp, 220, 4410-350 Arcozelo, Valadares; Telef.: 227537030; Empresa Gráfica Funchalense,
SA, Rua da Capela de Nossa senhora da Conceição, nº. 50- Morelena – 2715-029 Pêro Pinheiro Telf.: 219677450 Distribuição VASP – Distribuidora de Publicações, SA, Quinta do Grajal - Venda
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