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21/01/2020
Número: 0713309-54.2019.8.07.0020
Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL
Órgão julgador: 1º Juizado Especial Cível de Águas Claras
Última distribuição : 27/09/2019
Valor da causa: R$ 19.955,55
Assuntos: Indenização por Dano Moral, Indenização por Dano Material, Produto Impróprio
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Advogados
TASSIANA DE TOLEDO BURBA RODRIGUES (AUTOR)
ANA CAROLINA LEAO OSORIO POTI (ADVOGADO)
CARTER GONCALVES BATISTA (ADVOGADO)
PAO DOURADO INDUSTRIA E COMERCIO DE PRODUTOS
DE PANIFICACAO LTDA (RÉU)
RODRIGO PERFEITO PEGHINI (ADVOGADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
54006199 21/01/2020 Sentença Sentença
16:09
Poder Judiciário da União
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS
TERRITÓRIOS
1JECIVAGCL
1º Juizado Especial Cível de Águas Claras
SENTENÇA
Trata-se de processo de conhecimento proposto por Tassiana de Toledo Burba Rodrigues em face de Pão
Dourado Industria e Comércio de Produtos de Panificação Ltda., partes devidamente qualificadas, sob o
argumento de suposta aquisição de produto alimentício impróprio para o consumo, gerador de danos
morais.
Decido.
A questão posta sob apreciação é prevalentemente de direito, o que determina a incidência do comando
normativo do artigo 355, inciso I, do CPC/2015, não se fazendo necessária incursão na fase de dilação
probatória.
Inicialmente, no tocante à preliminar de ilegitimidade ativa da requerente suscitada pela requerida, tenho
que esta não merece prosperar.
Isso porque, embora conste na nota fiscal de compra do produto o CPF 011.368.821- 03, verifico que o
documento pertence a Wagner Luiz Rodrigues Roque, conforme comprova a Carteira Nacional de
Habilitação, documento de id 52982088 - Pág. 1, que é casado com a requerente, certidão de casamento
constante no id 52982087 - Pág. 1. É usual que casais concentrem as notas fiscais em um só número de
CPF, com vistas a utilizar as benesses do Programa Nota Legal do Governo do Distrito Federal. Ademais,
o produto foi comprado em benefício do casal, tendo a inicial relatado a suposta ingestão por parte da
parte autora, tendo esta pertinência subjetiva com a demanda, na forma do art. 17 do CDC.
Afasto também a preliminarde incompetência do juizado especial, aventada pela parte ré, sob o
argumento de necessidade de perícia técnica. É facultado ao julgador, como destinatário da prova, o
indeferimento da produção daquelas tidas como irrelevantes ao julgamento da lide, cabendo-lhe dirigir o
processo com liberdade para determinar as provas que precisam ser produzidas, para valorá-las, segundo a
persuasão racional, e para dar especial valor às regras de experiência comum ou técnica, a teor do
disposto no art. 5º, da Lei nº. 9.099/99.
Por fim, destaco que não há óbice, pois, à juntada de documentos pela autora após a petição inicial, se tais
documentos são hábeis à elucidação da causa e se oportunizada vista à parte contrária, em observância ao
A relação estabelecida entre as partes é, a toda evidência, de consumo, consoante se extrai dos arts. 2º e 3º
da Lei n. 8.078/90.
A parte autora afirma que em 26/09/2019 adquiriu junto a ré dois pães ciabata, além de quatro pães
“multifuncional”, tudo pelo valor de R$ 10,77. Narra que consumiu uma unidade e ao consumir a metade
da segunda unidade foi surpreendida por um corpo estranho dentro do pão, que trata-se de um
esparadrapo usado, o que lhe causou uma sensação de repugnância e nojo. Aduz que é lactante de um
bebê de um mês e meio de idade e ficou preocupada com a possível contaminação gerada pelo alimento
impróprio. Requer indenização pelo dano material e moral sofrido.
A ré sustenta a ausência de danos morais, vez que a parte imprópria do produto não sofreu qualquer
processo de mastigação.
No caso dos autos, o documento de id 45813763 - Pág. 1, comprova a aquisição dos pães na loja ré. A
documentação de id 45813799 – Pág 1, comprova que o esparadrapo foi assado dentro do pão fornecido
pela ré.
Analisando detidamente o conjunto probatório é possível concluir que a autora de fato consumiu produto
inapropriado, conforme fotos de id 45813846 - Pág. 1. Agiu a ré de forma indevida, ao permitir a
comercialização de produtos impróprios ao consumo.
A responsabilidade objetiva do Código de Defesa do Consumidor toma por base a teoria do risco do
negócio ou da atividade a fim de proteger a parte mais frágil da relação jurídica, o consumidor.
O Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 8º, impõe ao fornecedor que não disponibilize no
mercado de consumo produtos que tragam riscos à saúde ou à segurança dos consumidores, valores
protegidos pela Política Nacional das Relações de Consumo (art. 4º, do CDC). Nessas relações, o
fornecedor responde objetivamente pelos danos causados ao consumidor, uma vez que a responsabilidade
civil é assentada no risco da atividade econômica.
In casu, a situação é caso de fato do serviço, em razão do fornecimento de alimentação sem o devido
cuidado na higiene e no acondicionamento dos alimentos (art. 14, caput, do CDC)
O STJ, em recente decisão concluiu que a compra de produto alimentício que contenha corpo estranho no
interior na embalagem, ainda que não ocorra a ingestão de seu conteúdo, expõe a saúde do consumidor
a risco e, como consequência, dá direito à compensação por dano moral, em virtude da ofensa ao direito
fundamental à alimentação adequada, resultante do princípio da dignidade da pessoa humana. Aponta
aquele Tribunal Superior que o sentimento de repugnância vivenciado pelo consumidor não poderia ser
considerado mero aborrecimento.
É incontestável, pois, que a presença de esparadrapo usado dentro do pão, percebida após ingerir um
alimento provoca imediata repugnância e sensação de desrespeito, de risco à saúde e abalo emocional da
parte autora.
Cabível, portanto, a indenização por dano moral pleiteada. Passo à fixação do valor do mencionado dano.
A indenização, decorrente de atos ilícitos não tratados especificamente pela lei, será feita mediante
arbitramento.
Nessa linha, tantas vezes já se ouviu dizer que tão tormentosa é a atividade jurisdicional tocante ao
arbitramento do valor indenizatório em se tratamento de dano moral.
Para se evitar abusos e condutas despóticas, tanto a doutrina quanto a jurisprudência têm procurado a
estabelecer alguns critérios, tais como: a condição pessoal da vítima; a capacidade econômica da
ofensora; a efetiva prevenção e retribuição do mal causado; a natureza; e a extensão da dor, na tentativa
de minorar o puro subjetivismo do magistrado.
No caso, o arbitramento da indenização por dano moral deve ser moderado e equitativo, atento às
circunstâncias de cada caso, evitando que se converta a dor em instrumento de captação de vantagem; mas
também deve ser suficiente para inibir e reverter o comportamento faltoso do ofensor.
Analisando de forma detida os autos, e sopesadas todas essas circunstâncias, entendo bastante e razoável
para se alcançar à Justiça o arbitramento da indenização por danos morais no valor de R$ 3.000,00 (três
mil reais) a título de danos morais.
Cabível ainda o ressarcimento da despesa com a compra do pão impróprio para consumo, no valor de R$
5,55, conforme documento de id 45813763 - Pág. 1.
Dispositivo.
Ante o exposto,JULGO PROCEDENTEo pedido, nos termos do art. 487, I, do CPC, para:
a) condenar a ré a pagar à autora a quantia de R$ 3.000,00 (três mil reais), a título de danos morais,
atualizados e incidentes juros moratórios de 1% ao mês a contar da data desta sentença;
b) condenar a ré a ressarcir a autora o montante de R$ 5,55 (cinco reais e cinquenta e cinco centavos),
corrigido monetariamente desde o desembolso (26/09/2019) com a inclusão de juros moratórios de 1% ao
mês a contar da citação.
Sem custas e honorários advocatícios, conforme disposto no artigo 55, "caput" da Lei Federal n°
9.099/95.
Não sendo efetuado o pagamento voluntário da obrigação, advirto à ré que poderá ser acrescido ao
Deixo de conhecer eventual pedido de gratuidade de justiça, tendo em vista o disposto no artigo 55 da Lei
9099/95. Logo, em caso de recurso inominado, deverá a parte interessada submeter referido pedido à e.
Turma Recursal, na forma do artigo 115 do Regimento Interno das Turmas Recursais do e. TJDFT.
Cumpridas as formalidades legais e não havendo outros requerimentos, arquivem-se com baixa na
distribuição.
P.R.I.
Documento assinado eletronicamente pelo Juiz de Direito / Juiz de Direito Substituto abaixo
identificado, na data da certificação digital.