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SANTARÉM/PA
2019
Flávio Nicaretta Amorim
SANTARÉM/PA
2019
A USUCAPIÃO FAMILIAR E SUAS PRINCIPAIS
CARACTERÍSTICAS À LUZ DO CÓDIGO CIVIL DE 2002
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Graduando do curso de Bacharelado em Direito; Universidade Federal do Oeste do Pará; Instituto
de Ciências da Sociedade. Contato: flavio.nicaretta.amorim@gmail.com.
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1. INTRODUÇÃO
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Usucapião Familiar, tentaremos compreender a fundo o novel instituto, além de
trazer as críticas (positivas e negativas) dos estudiosos, as divergências
doutrinárias e os elementos essenciais que caracterizam a usucapião familiar. E,
por fim, serão tecidas, no tópico Considerações Finais, a visão do autor sobre a
Usucapião Familiar.
Por outro lado, Maria Helena Diniz (2010) defende que a usucapião é um
modo originário de aquisição da propriedade, porque ela não deriva de nenhuma
relação antecedente, sendo assim, um direito novo, autônomo.
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Quanto à grafia, segundo Sidou (1977), a palavra usucapião é do gênero
feminino, e não masculino como constava no CC/1916. Já o Código Civil de
2002, o Estatuto da Cidade e a Lei da Usucapião Agrária utilizam o gênero
feminino para expressar o termo.
[...] pois que no Livro dos Juízes, Cap.11, versículo 26, se encontra que
Jefte o alegara em favor dos hebreus, contra os amonitas, por haverem
aqueles, habitado o país de Hesebon e suas cidades, por mais de
duzentos anos, sem qualquer oposição. [...] Entre os romanos, por sua
vez, remontam ela a épocas antiguíssimas. [...] Era, em linhas gerais,
um modo de adquirir, pela posse a título de proprietário e de boa fé,
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prolongada sem interrupção pelo tempo legal, não só a propriedade,
mas as servidões, a enfiteuse e a superfície, além de, na época
clássica, o direito de hereditariedade e a manus [...]. (NEGUETE, 1977,
P.155)
Cordeiro (2011) explica que o direito à usucapião na Lei das XII Tábuas,
exigia alguns requisitos, a saber: temporalidade (dois anos para bens móveis, e
um ano para bens móveis); coisa idônea, posse continuada, justo título ou justa
coisa e boa-fé.
É importante salientar que a Lei das XII Tábuas era aplicável somente
aos romanos, ou seja, a usucapião era restritiva, não tendo esse direito os
estrangeiros, chamados também de peregrinos. Dias (2010) esclarece que
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sem criar uma nova forma de aquisição de propriedade, denominada de exceptio
(exceção), a qual se caracterizava pela defesa do titular da posse contra
quaisquer reivindicações do proprietário.
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Em 1934, no período Republicano, a usucapião ganhou status
constitucional, encontrada no seu artigo 125. Posteriormente, a Constituição de
1937 manteve o status constitucional da usucapião, reproduzindo o mesmo
dispositivo da Carta Magna antecedente. Já a Constituição de 1946 estendeu a
usucapião para os estrangeiros, substituindo a redação “a todo brasileiro” para
“todo aquele que”, ampliando o direito a qualquer pessoa, tanto nacional quanto
estrangeira.
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prescrição ordinária previa 03 anos para os bens móveis e para bens imóveis,
10 anos presentes ou 20 anos entre ausentes.
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BRASIL, República Federativa do. Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil.
Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acessado: 03 de jan. de
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tenha sido adquirido onerosamente, baseado em certidão de registro
presumivelmente correta, registrada em cartório, mas cancelada posteriormente.
Segundo Fiuza (2010), a usucapião extraordinária possui como requisitos a
posse ad usucapionem e o prazo de 15 anos. O prazo pode ser reduzido para
10 anos, se o possuidor houver se instalado no imóvel, de maneira habitual, ou
tiver feito obras ou serviços de caráter produtivo.
3. USUCAPIÃO FAMILIAR
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BRASIL, República Federativa do Brasil. Constituição da República Federativa do Brasil de
1988. Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acessado:
06 de jan de 2019.
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abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família,
adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de
outro imóvel urbano ou rural. (Incluído pela Lei nº 12.424, de 2011)
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BRASIL, República Federativa do. Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil.
Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acessado: 06 de jan. de
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CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL. Enunciados. Disponível em:<
https://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/569>. Acessado: 07 de jan de 2019.
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por exemplo, se um dos cônjuges estiver preso, não caracterizará abandono do
lar, pois falta o elemento subjetivo. Logo, o abandono do lar é o elemento
essencial para configurar essa modalidade de usucapião, pois o mero
desaparecimento, ausência, sem a vontade do abandono, não qualificará a
usucapião familiar (DONIZETT E QUINTELLA, 2013).
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CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL. Enunciados. Disponível em:<
https://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/853>. Acessado: 07 de jan de 2019.
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Outro enunciado importante aprovado na V Jornada demonstra que não
é requisito obrigatório o divórcio ou a dissolução da união estável para configurar
a usucapião familiar, bastando a mera separação de fato. Assim, as expressões
‘ex-cônjuge’ e ‘ex-companheiro’, contidas no art. 1.240-A do Código Civil,
“correspondem à situação fática da separação, independentemente de
divórcio”7.Desta maneira, o abandono do lar necessita de uma interpretação
cautelosa e objetiva.
Tartuce (2017) esclarece que o prazo para o exercício desse novo direito
só pode começar, para os interessados, a partir da vigência da lei, não podendo
retroagir. A fundamentação está no Enunciado n.º 498, aprovado na V Jornada
de Direito Civil, a saber: “A fluência do prazo de 2 (dois) anos previsto pelo art.
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CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL. Enunciados. Disponível
em:<https://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/570>. Acessado: 07 de jan de 2019.
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1.240-A para a nova modalidade de usucapião nele contemplada tem início com
a entrada em vigor da Lei n. 12.424/2011”8.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante dos fatos, percebe-se que a concepção de família não está mais
moldada no aspecto patriarcal e hierarquizado, mas sim compreendida como
ente cooperativo, fraterno e de auxílio mútuo entre os membros. Com isso, a
família é um ambiente de desenvolvimento da personalidade dos envolvidos e
de efetivação dos direitos fundamentais, os quais ajudam a propiciar novos
instrumentos para a tutela patrimonial do instituto familiar como a usucapião
familiar.
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CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL. Enunciados. Disponível em:<
https://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/567>. Acessado: 07 de jan de 2019.
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Desta forma, o foco do Código Civil de 2002 não está mais no direito de
propriedade e de patrimônio, mas sim na realização dos direitos fundamentais,
promovendo o desenvolvimento da personalidade dos atores que compõem a
família. Logo, a usucapião familiar integra a promoção dos direitos fundamentais,
tutelando o patrimônio familiar: a moradia que é direito social protegido
constitucionalmente e em favor da pessoa que permaneceu na residência,
atendendo os fins sociais e ao bem comum.
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artigos que definam e detalham os requisitos essenciais da usucapião familiar,
como por exemplo, o que seria o abandono do lar; qualificar os imóveis que
podem ser atingidos pelo instituto, evitando a generalização e a desmoralização
da usucapião familiar; adicionar os imóveis rurais, amparando grande parte das
famílias brasileiras que moram em zonas rurais.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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2013.
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